Você está na página 1de 1

Direito e Literatura O Encontro entre Themis e Apolo

Morawetz tambm nos d conta da compreenso do direito como


literatura. Investiga-se o conjunto de transmisso de significados, no espao jurdico, marcado pelo autoritarismo e pelas injunes polticas.
Instrumentos e estratgias literrias so aplicadas aos textos legais. Estudam-se mtodos estilsticos e retricos. Insiste-se na problematizao do
uso das metforas. Ocupa-se de controvrsias caractersticas da epistemologia e da filosofia da linguagem. O espao ocupado pela discusso
chamada ps-moderna, proliferam tcnicas de desconstruo, de
trashing. O ambiente conta com seus magos. Desfilam Derrida, Paul de
Man, Foucault, Mark Tushnet. Recorre-se a Wittgenstein, Gadamer,
Heidegger. Aponta-se o significado como algo implantado pelos autores
e construdo pelos leitores. Cuida-se da hermenutica. Preocupa-se com
estudos dos papis representados por autores e leitores no contexto institucional (cf. MORAWETZ, cit.). Ao direito reserva-se funo de narrativa. Tenta-se encontrar o literrio no jurdico, subliminar e explicitamente.
Thomas Morawetz ainda descortina um terceiro campo. Busca-se a
literatura como instrumento e fator para a reforma do direito. Tenta-se verificar como a literatura popular poderia influenciar movimentos para mudana da legislao e das prticasjudicirias. Orienta-se para uma literatura politicamente inspirada. Pesquisa-se os efeitos scio-legais da literatura
(cf. MORAWETZ, cit.). A sugesto ento nos remete a Dostoievsky (Recordao da Casa dos Mortos), Beecher-Stowe (A Cabana do Pai Toms), Victor Hugo (Os Miserveis), Zola (Germinal), Jorge Amado
(Capites de Areia). E citei um nmero muito pequeno. Mais pontualmente, h literatura de pregao revolucionria propriamente dita, de
feio proselitista. Exemplo ilustrador Leon Trotsky, que escreveu ensaios de sabor absolutamente revolucionrio, a propsito de Cultura e
Arte Proletrias, Companheiros Literrios de Viagem de Revoluo,
entre outros (TROTSKY, 2007).
Essa linha propicia literatura secundria que explora a produo
literria a partir de problematizao ordinariamente jurdica. Estuda-se o
advogado na obra de Charles Dickens (VAUGHAN, 1955), o sentido de
direito no mesmo Dickens (GOULD, 1967), a descrio do criminoso
lombrosiano em Zola, Dostoievski e Tolstoy (GAAKER, 2004), o formalismo jurdico no Mercador de Veneza de Shakespeare (NISKIER,
2006), as referncias ao pesadelo do Processo de Franz Kafka nas decises de magistrados norte-americanos (POTTER JR., 2004).
Continua Morawetz com designao de campo que reuniria direito e fico, riqussimo em vises utpicas e distpicas, marcado por
certo uso didtico do direito. Neste sentido, por exemplo, Sidney Sheldon
(A Ira dos Anjos) ou John Grisham (O Dossi Pelicano) instrumentalizariam adequadamente estudos sobre direito norte-americano. Creio que

23

Você também pode gostar