1) O documento discute as principais correntes de pensamento geográfico, incluindo o determinismo ambiental, possibilismo e método regional.
2) O determinismo ambiental foi o primeiro paradigma da geografia moderna, defendendo que as condições naturais, especialmente o clima, determinam o comportamento humano.
3) Em reação, o possibilismo emergiu na França, rejeitando a ideia de determinação ambiental e enfatizando a contingência da ação humana e a fixidez das obras humanas na paisagem.
Descrição original:
Capítulo 2 do Livro Região e organização espacial de Roberto Lobato Correa
1) O documento discute as principais correntes de pensamento geográfico, incluindo o determinismo ambiental, possibilismo e método regional.
2) O determinismo ambiental foi o primeiro paradigma da geografia moderna, defendendo que as condições naturais, especialmente o clima, determinam o comportamento humano.
3) Em reação, o possibilismo emergiu na França, rejeitando a ideia de determinação ambiental e enfatizando a contingência da ação humana e a fixidez das obras humanas na paisagem.
1) O documento discute as principais correntes de pensamento geográfico, incluindo o determinismo ambiental, possibilismo e método regional.
2) O determinismo ambiental foi o primeiro paradigma da geografia moderna, defendendo que as condições naturais, especialmente o clima, determinam o comportamento humano.
3) Em reação, o possibilismo emergiu na França, rejeitando a ideia de determinação ambiental e enfatizando a contingência da ação humana e a fixidez das obras humanas na paisagem.
No nosso entender, as principais correntes de pensamento geogrfico ou paradigmas da geografia so os seguintes: o determinismo ambiental, o possibilismo, o mtodo regional, a nova geografia e a geografia crtica. Foram formalmente explicitadas a partir do final do sculo XIX, constituindo uma seqncia histrica de incorporaes de prticas tericas, empricas e polticas que, no excluindo nenhuma delas, apresenta a cada momento um ou dois padres dominantes. Assim, o determinismo ambiental e, menos ainda, o possibilismo no desapareceram totalmente, mas perderam o destaque, sobretudo o determinismo ambiental. Por outro lado, a geografia crtica o ltimo modelo a ser incorporado, passando a coexistir conflitivamente com os outros, principalmente a nova geografia. Estas tendncias esto fundamentadas, de um modo, na considerao da geografia como um saber calcado em uma das trs abordagens: o estudo das relaes homem/meio, o de reas e os locacionais. Adicionalmente, tem sido adotada uma combinao de duas ou trs das abordagens acima referidas. De outro, as correntes fundamentam-se em diferentes mtodos de apreenso da realidade. Entre eles, destaca-se o positivismo, quer na sua verso clssica, quer na do positivismo lgico. O materialismo histrico e a dialtica marxista, que do base ao segmento mais importante da geografia crtica, so mtodos de incorporao recente geografia. Subjacente a todos os paradigmas h um denominador comum: a geografia tem suas razes na busca e no entendimento da diferenciao de lugares, regies, pases e continentes, resultante das relaes entre os homens e entre estes' e a natureza. No houvesse diferenciao de reas, para usar uma expresso consagrada, certamente a geografia no teria surgido. Estamos falando, pois, do cerne da geografia, ainda que o seu significado no tenha sido sempre o mesmo. Os conceitos de regio e organizao espacial esto vinculados a esta idia bsica em geografia.
o determinismo ambiental
A geografia emerge como uma disciplina acadmica a partir de 1870. At
ento, e desde a Antigidade, a geografia compunha um saber totalizante, no desvinculado da filosofia, das cincias da natureza e da matemtica. Com Varenius no sculo XVII, Kant no XVIII, e Humboldt e Ritter j na primeira metade do XIX, a geografia vai gradativamente configurando um conhecimento especfico, sem contudo perder de vez a viso globalizante da realidade. As ltimas dcadas do sculo XIX caracterizam-se por dois processos que so extremamente importantes para a histria do homem e da geografia. De um lado, o capitalismo passa a apresentar uma progressiva concentrao de capitais, gerando poderosas corporaes monopolistas e uma nova expanso territorial. Inaugura-se a sua fase imperialista. O outro processo, que se vincula ao primeiro, o da fragmentao do saber universal em vrias disciplinas. Assim, criam-se departamentos de geografia nas universidades europias e, mais tarde, nas norte-americanas, conforme aponta, entre outros, Brian Hudson1. Foi o determinismo ambiental o primeiro paradigma a caracterizar a geografia que emerge no final do sculo XIX, com a passagem do capitalismo concorrencial para uma fase monopolista e imperialista. Seus defensores afirmam que as condies naturais, especialmente as climticas, e dentro delas a variao da temperatura ao longo das estaes do ano, determinam o comportamento do homem, interferindo na sua capacidade de progredir. Cresceriam aqueles pases ou povos que estivessem localizados em reas climticas mais propcias. Fundamentando a tese do determinismo ambiental, estavam as teorias naturalistas de Lamarck sobre a hereditariedade dos caracteres adquiridos e as de Darwin sobre a sobrevivncia e a adaptao dos indivduos mais bem dotados em face do meio natural. Estas teorias foram adotadas pelas cincias sociais, que viam nelas a possibilidade de explicar a sociedade atravs de mecanismos que ocorrem na natureza. Foi Herbert Spencer, filsofo ingls do sculo XIX, o grande defensor das idias naturalistas nas cincias sociais. Na geografia, no entanto, as idias deterministas tiveram no gegrafo alemo Frederic Ratzel seu grande organizador e divulgador, ainda que ele no tivesse sido o expoente mximo. A formao bsica de Ratzel passou pela zoologia, geologia e anatomia comparada; foi aluno de Haeckel, o fundador da ecologia, que o introduziu no darwinismo. No entanto, seu determinismo ambiental foi amenizado pela influncia humanista de Ritter, Criou, desta forma, a geografia humana, denominada por ele de antropogeografia e marcada pelas idias oriundas das cincias naturais. Nos Estados Unidos e, em menor escala, na Inglaterra, o determinismo imprimiu-se profundamente no nascimento da geografia. O primeiro dos pases passava, no final do sculo passado e incio deste, por uma fase de afirmao nacional, em que se justificava o progresso atravs das riquezas naturais. Ellen Semple, discpula de Ratzel, discorre sobre as influncias das condies geogrficas (configurao da costa, padro dos rios, cadeias de montanhas, climas etc.) na histria norte-americana. A Inglaterra tornara-se, nesse momento, a grande metrpole imperialista. O determinismo ambiental justificava a expanso territorial atravs da criao de colnias de explorao no continente africano, e de povoamento em regies temperadas, a serem ocupadas pelo excedente demogrfico britnico e europeu. Na realidade, o determinismo ambiental configura uma ideologia, a das classes sociais, pases ou povos vencedores, que incorporam as pretensas virtudes e efetivam as admitidas potencialidades do meio natural onde vivem. Justificam, assim, o sucesso, o poder, o desenvolvimento, a expanso e o domnio. No de estranhar, pois, que na Grcia da Antigidade se atribussem s caractersticas do clima mediterrneo o progresso e o poderio de seu povo em face dos asiticos que viviam em reas caracterizadas pela invariabilidade anual das temperaturas. Muito mais tarde, no final do sculo XIX, seriam outras as caractersticas climticas consideradas como favorveis ao crescimento intra e extraterritorial. Transformava-se assim em natural, portanto fora do controle humano, uma situao que econmica e social, histrica portanto, denominada imperialismo. Estabeleceu-se uma relao causal entre o comportamento humano e a natureza, na qual esta aparece como elemento de determinao. As expresses fator geogrfico e condies geogrficas, entendidas como clima, relevo, vegetao etc., so heranas do discurso ideolgico determinista. Outra delas, particularmente relevante para ns, a regio natural. Voltaremos a ela em breve. Ratzel, por sua vez engajado no projeto de expanso alem, legou-nos o conceito de espao vital, quer dizer, o territrio que representaria o equilbrio entre a populao ali residente e os recursos disponveis para as suas necessidades, definindo e relacionando, deste modo, as possibilidades de progresso e as demandas territoriais. O espao vital est implicitamente contido na organizao espacial, delimitando, no campo do capitalismo, parte da superfcie da terra organizada pelo capital e pelo Estado capitalista, extenso que se tornou necessria reproduo do mesmo. Em linguagem organicista, espao vital equivale expresso espao do capital.
o possibilismo
Em reao ao determinismo ambiental surge, na Frana no final do sculo
XIX, na Alemanha no comeo do XX e nos Estados Unidos na dcada de 20, um outro paradigma da geografia, o possibilismo. semelhana do determinismo ambiental, a viso possibilista focaliza as relaes entre o homem e o meio natural, mas no o faz considerando a natureza determinante do comportamento humano. A reao ao determinismo ambiental, mais forte na Frana, tem como motivao externa a situao de confronto entre ela e a Alemanha. O possibilismo, francs em sua origem, ope-se ao determinismo ambiental germnico. Esta oposio fundamenta-se nas diferenas entre os dois pases. Ao contrrio da Alemanha, unificada em 1871, a Frana j era Frana h muito tempo. L a revoluo burguesa tinha se dado de modo mais completo, extirpando os resqucios feudais, ainda existentes na Alemanha. Esta chega tardiamente corrida colonial, enquanto a Frana dispunha, ento, de um vasto imprio; os interesses expansionistas alemes voltaram-se, em grande parte, para a prpria Europa. Acrescente-se ao quadro a luta de classes, que assumia formas mais acirradas na Frana, a exemplo da Comuna de Paris. Neste contexto, a geografia francesa teria de cumprir simultaneamente vrios papis: a) Desmascarar o expansionismo germnico criticando o conceito de espao vital sem, no entanto, inviabilizar intelectualmente o colonialismo francs; b) Abolir qualquer forma de determinao, da natureza ou no, adotando a idia de que a ao humana marcada pela contingncia; c) Enfatizar a fixidez das obras do homem, criadas atravs de um longo processo de transformao da natureza; assim os elementos mais estveis, solidamente implantados na paisagem, so ressaltados, no se privilegiando os mais recentes, resultantes de transformaes que podem colocar em risco a estabilidade e o equilbrio, alcanados anteriormente. Da a nfase no estudo dos stios predominantemente rurais. No plano interno geografia, havia a reao a ela ter sido definida por uma relao de causa e efeito a natureza determinando a ao humana - e no por um objeto empiricamente identificvel. Pensou-se, ento, na paisagem como uma criao humana, elaborada ao longo do tempo, sendo a paisagem natural transformada em cultural ou geogrfica. Na realidade, para Vidal de Ia Blache, o mestre do possibilismo, as relaes entre o homem e a natureza eram bastante complexas. A natureza foi considerada como fornecedora de possibilidades para que o homem a modificasse: o homem o principal agente geogrfico. Vidal de Ia Blache redefine o conceito de gnero de vida herdado do determinismo, conforme aponta Paul Claval (1974): trata-se no mais de uma conseqncia inevitvel da natureza, mas de
um acervo de tcnicas, hbitos, usos e costumes, que lhe permitiram
utilizar os recursos naturais disponveis
tal como Moraes (1981) a ele se refere. Os gneros de vida pensados
anteriormente exprimiam uma situao de equilbrio entre populao e os recursos naturais. Uma paisagem geogrfica enquadraria, na verdade, a rea de ocorrncia de' uma forma de vida. A paisagem geogrfica tem, ainda, uma extenso territorial e limites razoavelmente identificveis. Nestes termos, a regio a expresso espacial da ocorrncia de uma mesma paisagem geogrfica. O objeto da geografia possibilista , portanto, a regio, e a geografia confunde-se, ento, com a geografia regional. Enquanto formas criadas pelo homem sobre a superfcie da Terra, a paisagem poderia ser considerada sinnimo de organizao espacial? Primeiramente, lembre-se de que este conceito no foi cogitado pela geografia vidaliana. Em segundo lugar, no nosso entender, o conceito de paisagem - campos agrcolas dispostos pelas encostas suaves de um vale, florestas nas ngremes, caminhos entre os campos e ao longo do rio onde se localizam os ncleos de povoamento etc. - aproxima-se do de organizao espacial que adotamos neste estudo. No entanto, o conceito de paisagem apresenta uma limitao dada pela nfase em um aspecto exterior, derivado de sua apreenso via mtodo emprico- indutivo. Por outro lado, o conceito de paisagem, que acaba se confundindo com o de regio, est associado viso de uni cidade, isto , de um fenmeno que ocorre uma nica vez, sem se repetir. O conceito de organizao espacial , para ns, mais abrangente e rico que o de paisagem.
o mtodo regional
A mtodo regional consiste no terceiro paradigma da geografia, opondo-
se ao determinismo ambiental e ao possibilismo. Nele, a diferenciao de reas no vista a partir das relaes entre o homem e a natureza, mas sim da integrao de fenmenos heterogneos em uma dada poro da superfcie da Terra. O mtodo regional focaliza assim o estudo de reas, erigindo no uma relao causal ou a paisagem regional, mas a sua diferenciao de per si como objeto da geografia. O mtodo regional tem merecido ateno de gegrafos desde pelo menos o sculo XVIII, com Varenius. O filsofo Kant e o gegrafo Carl Ritter, respectivamente no final do sculo XVIII e na primeira metade do XIX, ampliaram as bases dos estudos de rea. No final do sculo passado, Richthofen estabelece o conceito de corologia (integrao de fenmenos heterogneos sobre uma dada rea), desenvolvido mais tarde por Alfred Hettner. Contudo, a geografia do final do sculo passado e incio deste vivenciava a disputa entre as correntes determinista e possibilista, no se valorizando o mtodo regional. Apenas a partir dos anos 40, e nos Estados Unidos sobretudo, a tradio de estudos de rea assume expresso. No centro da valorizao do mtodo regional est o gegrafo norte-americano Hartshorne2. Com ele, o novo paradigma ganha outra dimenso. No plano externo, o mtodo regional evidencia a necessidade de produzir uma geografia regional, ou seja, um conhecimento sinttico sobre diferentes reas da superfcie da Terra. Preocupao antiga, derivada da expanso mercantilista dos sculos XVI e XVII, aparecia, ento, como resultado da demanda das grandes corporaes e dos aparelhos de Estado. No plano interno, registra a procura de uma identidade para a geografia, que se obteria no a partir de um objeto prprio, mas atravs de um mtodo exclusivo. Resumindo, diferenciao de reas passa a se considerar o resultado do mtodo geogrfico e, simultaneamente, o objeto da geografia. Para Hartshorne, o cerne da geografia a regional que, como vimos, busca a integrao entre fenmenos heterogneos em sees do espao terrestre. Estes fenmenos apresentam um significado geogrfico, isto , contribuem para a diferenciao de reas. Da integrao destes - estudados sistematicamente pelas outras cincias -, surge a geografia como uma cincia de sntese. Em sua proposio, Hartshorne no adota a regio Como o objeto da geografia. Para ele, importante o mtodo de identificar as diferenciaes de rea, que resultam de uma integrao nica de fenmenos heterogneos. Diz ele em seu clssico estudo de 1939:
o objeto da geografia regional unicamente o carter varivel da
superfcie da Terra - uma unidade que s pode ser dividida arbitrariamente em partes, as quais, em qualquer nvel da diviso, so como as partes temporais da histria, nicas em suas caractersticas3.
A regio, para Hartshorne, no passa de uma rea mostrando a sua
unicidade, resultado de uma integrao de natureza nica de fenmenos heterogneos. O conceito de organizao espacial tambm no cogitado pelo mtodo regional. Para tanto, pressupe-se pensar a priori na existncia de uma lgica em ao, resultante da efetivao de regras ou leis de natureza social. Ora, a proposio hartshorniana no admite a existncia de outras leis alm da unicidade do carter integrativo dos fenmenos sobre a superfcie da Terra. Deste modo, as contribuies do paradigma do mtodo regional para os conceitos de regio e de organizao espacial so, em si mesmas, muito limitadas. Iriam suscitar, no entanto, enorme crtica, na qual aquilo que nos interessa considerado de modo privilegiado. A nova geografia
Aps a 2 Guerra Mundial, verifica-se uma nova fase de expanso
capitalista. Ela se d no contexto da recuperao econmica da Europa e da "guerra fria", envolvendo maior concentrao de capital e progresso tcnico, resultando na ampliao das grandes corporaes j existentes. Esta expanso defronta-se, ainda, com o desmantelamento dos imprios coloniais, sobretudo a partir dos anos 60. No se trata mais de uma expanso marcada pela conquista territorial, como ocorreu no final do sculo passado; ela se d de outra maneira e traz enormes conseqncias, afetando tanto a organizao social como as formas espaciais criadas pelo homem. Uma nova diviso social e territorial do trabalho posta em ao, envolvendo introduo e difuso de novas culturas, industrializao, urbanizao e outras relaes espaciais. As regies elaboradas anteriormente guerra so desfeitas, ao mesmo tempo que a ao humana, sob a gide do grande capital, destri e constri novas formas espaciais, reproduzindo outras: rodovias, ferrovias, represas, novos espaos urbanos, extensos campos agrcolas despovoados e percorridos por modernos tratores, shopping centers etc. Trata- se de uma mudana tanto no contedo como nos limites regionais, ou seja, no arranjo espacial criado pelo homem. Estas transformaes inviabilizariam os paradigmas tradicionais da geografia - o determinismo ambiental, o possibilismo e o mtodo regional -, suscitando um novo, calcado em uma abordagem locacional: o espao alterado resulta de um agregado de decises locacionais. A geografia que surge em meados da dcada de 50, conhecida como nova geografia, tem um papel ideolgico a ser cumprido. preciso justificar a expanso capitalista, escamotear as transformaes que afetaram os gneros de vida e paisagens solidamente estabelecidas, assim como dar esperanas aos "deserdados da terra", acenando com a perspectiva de desenvolvimento a curto e mdio prazo: o subdesenvolvimento encarado como uma etapa necessria, superada em pouco tempo. A teoria dos plos de desenvolvimento um dos melhores exemplos desta ideologia. A nova geografia nasce simultaneamente na Sucia, na Inglaterra e nos Estados Unidos, neste ltimo pas como uma ferrenha crtica geografia hartshorniana. Adota uma postura pragmtica que se associa difuso do sistema de planejamento do Estado capitalista, e o positivismo lgico como mtodo de apreenso do real, assumindo assim uma pretensa neutralidade cientfica. Ao contrrio do paradigma possibilista e da geografia hartshorniana, a nova procura leis ou regularidades empricas sob a forma de padres espaciais. O emprego de tcnicas estatsticas, dotadas de maior ou menor grau de sofisticao - mdia, desvio-padro, coeficiente de correlao, anlise fatorial, cadeia de Markov etc. -, a utilizao da geometria, exemplificada com a teoria dos grafos, o uso de modelos normativos, a adoo de certas analogias com as cincias da natureza e o emprego de princpios da economia burguesa caracterizam o arsenal de regras e princpios adotados por ela. conhecida tambm como geografia teortica ou geografia quantitativa. A nova geografia considera a regio um caso particular de classificao, tal como se procede nas cincias naturais. E toda discusso sobre regio no seu mbito corresponde a uma crtica aos conceitos derivados do determinismo ambiental e do possibilismo. O conceito de organizao espacial tem todas as condies para aparecer na nova geografia. Pois o rpido processo de mudana locacional que se verifica no ps-guerra, afetando o arranjo sobre a superfcie da Terra das formas criadas pelo homem, e envolvendo vultosos recursos, suscita a questo da eficincia mxima de cada localizao rearranjada. Eficincia mxima, naturalmente, na tica do capital. Desenvolve-se o conceito de organizao espacial entendido como padro espacial resultante de decises locacionais, privilegiando as formas e os movimentos sobre a superfcie da Terra (interao espacial)4. Surge tambm na Frana, onde, a nosso ver, estava latente no pensamento vidaliano. Mas no dentro da nova geografia, tal como era definida nos pases anglo--saxes e na Sucia, e sim numa geografia econmica e aplicada, em cujo centro situa-se Pierre George e a poltica de amnagement du territoire 5.
A geografia crtica
O debate interno geografia prossegue durante as dcadas de 70 e 80.
A nova geografia e os paradigmas tradicionais so submetidos a severa crtica por parte de uma geografia nascida de novas circunstncias que passam a caracterizar o capitalismo. Trata-se da geografia crtica, cujo vetor mais significativo aquele calcado no materialismo histrico e na dialtica marxista. As origens de uma geografia crtica, que no s contestasse o pensamento dominante, mas tivesse tambm a inteno de participar de um processo de transformao da sociedade, situam-se no final do sculo XIX. Trata-se da geografia proposta pelos anarquistas lise Reclus e Piotr Kropotkin. Ela no fez escola, submergida pela geografia "oficial", vinculada aos interesses dominantes. A partir da segunda metade da dcada de 60, verifica-se nos pases de capitalismo avanado o agravamento de tenses sociais, originado por crise de desemprego, habitao, envolvendo ainda questes raciais. Simultaneamente, em vrios pases do Terceiro Mundo, surgem movimentos nacionalistas e de libertao. O que se pensava at ento em termos de geografia no satisfaz, isto , no mascara mais a dramtica realidade. Os modelos normativos e as teorias de desenvolvimento foram reduzidos ao que efetivamente so: discursos ideolgicos, no melhor dos casos empregados por pesquisadores ingnuos e bem intencionados. Uma geografia crtica comea a se esboar, congregando gegrafos de mentes abertas, que tinham se dedicado nova geografia, como William Bunge e David Harvey, ou que tinham uma posio poltica de esquerda na geografia herdeira das tradies vidalianas, a exemplo de Yves Lacoste. Esta viso crtica aceita sob reservas pelo Estado capitalista, na medida cm que este no pode desempenhar seu papel de controle, apoiado em informaes provenientes de seu servio de propaganda. Vrios so os peridicos que focalizam criticamente a geografia: Antipode, Newsletter (Union of Socialist Geographers), Hrodote, Espace Temps e Espace et Luttes. Adicionalmente, em numerosos outros peridicos, h contribuies de gegrafos crticos. No caso do Brasil, a geografia crtica nasce no final da dcada de 70, cujo marco foi o 3 Encontro Nacional de Gegrafos, realizado em 'julho de 1978 em Fortaleza, sob os auspcios da Associao dos Gegrafos Brasileiros. Alm das acirradas crticas aos paradigmas que a precederam, as contribuies da geografia crtica, ainda em curso, so numerosas. Dizem respeito reinterpretao, com base na teoria marxista, de aspectos que tinham sido abordados pela nova geografia. Assim, reexamina-se questo da Jornada de trabalho, da terra urbana, da habitao, dos transportes regionais e da localizao industrial. A geografia crtica descobre o Estado e os demais agentes da organizao espacial: os proprietrios fundirios, os industriais, os incorporadores imobilirios etc. A questo das relaes entre o homem e a natureza, central no temrio do determinismo ambiental e do possibilismo, tambm repensada luz do marxismo. O tema da regio, questo clssica na histria do pensamento