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Fazia um mês que eu chegara ao colégio. Um mês de um duro aprendizado que me custara
suores frios. Tinha também ganho o meu apelido: chamavam-me de Doidinho. O meu nervoso, a minha
impaciência mórbida de não parar em um lugar, de fazer tudo às carreiras, os meus recolhimentos, os
meus choros inexplicáveis, me batizaram assim pela segunda vez. Só me chamavam de Doidinho.
E a verdade é que eu não repelia o apelido. Todos tinham o seu. Havia o Coruja, o Pão-Duro, o
Papa-Figo. Este era o pobre do Aurélio, um amarelo inchado não sei de que doença, que dormia junto
de mim. Vinha um parente levá-lo e trazê-lo todos os anos.
Em S. João não ia para casa, e só voltava no fim do ano porque não havia outro jeito. A família
tinha vergonha dele em casa. Nunca vi uma pessoa tão feia, com aquele corpanzil bambo de papangu.
Apanhava dos outros somente com o grito: – Vou dizer a Seu Maciel! – Mas não ia, coitado. Nem esta
coragem de enredo, ele tinha. Dormia com um ronco de gente morrendo e a boca aberta, babando. Às
vezes, quando eu acordava de noite, ficava com medo do pobre do Aurélio. Ouvia falar que era de
amarelos assim que saíam os lobisomens. Certas ocasiões não podia se levantar, e dias inteiros ficava na
cama, com um lenço amarrado na cabeça. E o seu Maciel não respeitava nem esta enfermidade
ambulante: dava no pobre também.
a) Doidinho, cuja primeira edição é de 1933, é obra inserida no “Regionalismo de 30”. Transcreva um
fragmento do texto que apresente algum aspecto ligado a essa tendência, justificando sua escolha.
b) Levante três características da personagem Papa-Figo e, além disso, transcreva um trecho do texto
em que fique patente que ela era vítima de intolerância no colégio.
RESPOSTA:
"Este era o pobre do Aurélio, um amarelo inchado não sei de que doença, que dormia junto de mim.
Vinha um parente levá-lo e trazê-lo todos os anos. Em S. João não ia para casa, e só voltava no fim do
ano porque não havia outro jeito. A família tinha vergonha dele em casa. Nunca vi uma pessoa tão feia,
com aquele corpanzil bambo de papangu. Apanhava dos outros somente com o grito: – Vou dizer a Seu
Maciel! – Mas não ia, coitado. Nem esta coragem de enredo, ele tinha."
B) Papa-Figo era um rapaz doente (“um amarelo inchado não sei de que doença”), feio (“Nunca vi uma
pessoa tão feia”) e covarde (“Nem esta coragem de enredo, ele tinha”). Além de ser rejeitado pela
própria família (“A família tinha vergonha dele em casa”) sofria violência física por parte de colegas e do
próprio diretor do colégio (“Apanhava dos outros”, “E o seu Maciel não respeitava nem esta
enfermidade ambulante: dava no pobre também”).
20. (Unesp-SP) O chamado "ciclo nordestino" da moderna ficção brasileira compreende obras
inspiradas em motivos sociais, entre os quais o flagelo das secas. São escritores representativos Raquel
de Queirós (Ceará, 1910-), Graciliano Ramos (Alagoas, 1892-1953), José Lins do Rego (Paraíba, 1901-
1957) e Jorge Amado (Bahia, 1912-). "Vidas Secas" focaliza uma família de retirantes que vive numa
espécie de mudez introspectiva, em precárias condições físicas e num estado degradante de condição
humana. Mediante estas observações:
a) Demonstre como se revela no texto essa espécie de "silêncio introspectivo" dos personagens.
b) Explique, com base em elementos do texto, por que "Vidas Secas" é considerado um romance
regionalista.
RESPOSTA:
a) O narrador utiliza o discurso indireto livre e os personagens quase não falam. O estilo “seco”
de Graciliano Ramos, com poucas palavras, reforça a precariedade das personagens.
b) O romance aborda a trajetória da família de retirantes que foge da seca e se estabelece em
um fazenda. Não se trata, portanto de um espaço urbano, mas do universo do campo, em que
Fabiano trabalha como vaqueiro, Uma nova seca faz a família bater em retirada novamente,
dando um caráter cíclico à obra que se fecha num espaço do interior nordestino.
AULA 26
19. (Fuvest SP) Leia o seguinte excerto de Capitães da areia, de Jorge Amado, e responda ao
que se pede.
O sertão comove os olhos de Volta Seca. O trem não corre, este vai devagar, cortando as
terras do sertão. Aqui tudo é lírico, pobre e belo. Só a miséria dos homens é terrível. Mas estes
homens são tão fortes que conseguem criar beleza dentro desta miséria. Que não farão
quando Lampião libertar toda a caatinga, implantar a justiça e a liberdade?
Compare a visão do sertão que aparece no excerto de Capitães da areia com a que está
presente no livro Vidas secas, de Graciliano Ramos, considerando os seguintes aspectos:
Responda, conforme solicitado, considerando cada um desses aspectos nas duas obras
citadas.
RESPOSTA
20- Leia o trecho a seguir, do romance “Porteira Fechada”, de Cyro Martins, e explique o motivo pelo
qual a crítica literária considera o final do romance em questão excepcionalmente irônico.
“A tarde desse dia, nos campos, caiu serena, sem um frêmito. (...) Não se avistava um vulto de
campeiro, não se ouvia um latido de cachorro numa porta de toca, não tremulava um pala
endomingado, não chiava uma carreta, os arados não rompiam a terra. Mas que engorde dava aquela
invernada!”
RESPOSTA:
O romance, como o título sugere, trata de uma família expulsa do campo e obrigada ao êxodo para a
zona urbana, onde ocorre um processo de degradação que culmina com o suicídio do protagonista. É
irônico o modo sereno como o narrador observa a terra servindo de pasto para engordar o gado,
enquanto sabemos que na cidade o homem está condenado à fome e à morte.
AULA 27
RESPOSTA
a) A ironia está em desejar a revolução não lutar por ela.
20. (Ufu MG) "Toda viagem destina-se a ultrapassar fronteiras, tanto dissolvendo-as como
recriando-as. Ao mesmo tempo que demarca diferenças, singularidades ou alteridades,
demarca semelhanças, continuidades, ressonâncias. Tanto singulariza como universaliza.
Projeta no espaço e no tempo um eu nômade, reconhecendo as diversidades e tecendo as
continuidades".
("A Metáfora da Viagem", de Otávio Ianni)
RESPOSTA
a) A viagem seria metáfora da própria existência.
b) A vida se assemelha a uma viagem porque nela nada é permanente. Na obra de Cecília
Meireles, são constantes as referências a elementos da natureza, que simbolizam a
transitoriedade e, consequentemente, a efemeridade da existência, como, por exemplo: o mar
em ondas que passam, a flor que perece, as nuvens transitórias na imensidão do céu, etc.