Formalmente, este poema é bastante regular: é composto de três estrofes, cada
uma com dois versos decassílabos e dois versos de seis sílabas poéticas, estes como um refrão; o poeta não faz uso de rimas. Predomina no poema a conjugação dos verbos na primeira pessoa do plural, indicando que o poeta fala por si, mas incluso em uma coletividade, no caso, a humanidade; estruturalmente, as frases nem sempre respeitam a ordem direta do português, como se vê na segunda estrofe, construída com inversões sintáticas. No poema, Ricardo Reis deixa aflorar um tom niilista face à existência: a vida é efêmera, nossa existência é passageira como as horas, portanto, para ele, o esforço é inútil. Para o poeta, cada momento deve ser aproveitado – carpe diem -, mas sem esforço, sem preocupações, pois “Melhor vida é a vida/ Que dura sem medir-se”.
“Dia após dia a mesma vida é a mesma.” (p.98)
À semelhança do poema anteriormente analisado, aqui o poeta intercala versos
decassílabos com versos de seis sílabas poéticas, mas agora na razão de um para um e o poema não forma mais do que uma estrofe. Também predomina neste poema o uso da primeira pessoa do plural, e agora o poeta tem uma interlocutora, Lídia, uma de suas musas. Novamente destaca-se a quebra da ordem direta das frases, com o uso de inversões e intercalações de elementos. Para Lídia, Ricardo Reis expõe sua visão sobre a vida: para ele, independentemente das nossas escolhas durante a vida, nosso fim é um mesmo, nossa existência – assim como a de um fruto -, um dia chegará ao fim; estamos todos subordinados ao destino, que é incontornável.
REFERÊNCIA
PESSOA, Fernando. Odes de Ricardo Reis. Porto Alegre: L&PM, 2011.