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Bhuta Shuddhi Dos Elementos
Bhuta Shuddhi Dos Elementos
Rotina ao acordar
Esta pequena rotina pode ser feita ao acordar. Não nos levará mais de 10 minutos,
podendo incluir algumas das seguintes sugestões:
Fazer uma pequena meditação matinal, mesmo que seja de alguns poucos
minutos. Em caso de falta de tempo, é melhor meditar pouco do que deixar
passar esse momento em branco.
Tomar uma ducha fria ou banho alternado. O banho alternado consiste em tomar
uma ducha na qual intercala-se um minuto de água fria, um minuto de água bem
quente, um de fria, um de quente, alternando assim seis ou sete vezes,
começando e terminando com água fria.
Almoçar da forma mais sadia e frugal possível, evitando comer demasiado para
não ficar com sono à tarde.
Permanecer atentos aos sinais que o corpo nos envia, utilizando seus recursos da
forma mais sábia.
Deitar antes da meia-noite. Evitar dormir com mãos e/ou pés frios.
Georg Feuerstein
Naquele conhecidíssimo conto de fadas, antes que o príncipe pudesse beijar a princesa
adormecida, ele teve de combater dragões e abrir caminho até o castelo. Do mesmo
modo, antes que o sagrado matrimônio de Shiva e Shakti possa acontecer no corpo-
mente do ser humano, o yogin tem de remover obstáculos de todo tipo. Por isso, o
caminho de realização (sadhana) é muitas vezes concebido como um caminho de
purificação (shodhana). Com efeito, o próprio processo de ascensão da kundalini é
compreendido como uma purificação progressiva dos elementos (bhuta) que compõem
o corpo ? a terra, a água, o fogo, o ar e o éter. Essa purificação é chamada de bhuta
shuddhi.
À medida que a kundalini é conduzida para cima ao longo do canal axial (sushumna
nadi), ela aos poucos 'dissolve' o elemento dominante de cada região somática, ou
chakra. Assim, quando chega por fim ao sexto chakra, ao ajna, a kundalini já dissolveu
os cinco elementos: terra, água, fogo, ar e éter. O que isso significa na prática é que a
retirada da força vital do corpo gera um estado de frio e insensibilidade no tronco e nos
membros. Quando a kundalini sobe mais e chega ao topo da cabeça, ao sahasrara
chakra, provoca a dissolução temporária da mente (manas) no estado de êxtase 'sem
forma', ou nirvikalpa samadhi, marcado pela cessação completa da consciência
individuada que os yogins têm do ambiente à sua volta e inclusive do próprio corpo. A
consciência de sua identidade repousa então na Identidade Absoluta do Si Mesmo
transcendente, que é indescritivelmente feliz.
Num nível inferior, bhuta shuddhi é um ritual que se cumpre como prática preliminar à
adoração da divindade ou das divindades escolhidas, no contexto do estilo de vida
tântrico. É a dissolução simbólica dos elementos do corpo. Esse procedimento, descrito
no Mahanirvana Tantra (5.93 et seq.), envolve a visualização em ordem inversa do
processo de criação dos elementos. Assim, o yogin imagina o elemento mais baixo, a
terra, ligada ao chakra da base da coluna, dissolvendo-se no elemento água do segundo
chakra; imagina a água dissolvendo-se no elemento fogo no chakra do umbigo, o fogo
dissolvendo-se no elemento ar no lótus do coração, o ar dissolvendo-se no éter na
garganta e o éter dissolvendo-se no espaço infinito da Consciência no chakra coronário.
Nesse ponto, o corpo e a mente do praticante estariam perfeitamente purificados.
A esse ritual deve seguir-se uma série de outras práticas pelas quais o corpo é aos
poucos convertido num templo ou num monte sagrado prontos para receber o grande
Ser sob a forma da divindade escolhida (ishta devatta) pela pessoa. Assim, através da
prática de 'infusão de vida' (jiva nyasa), os yogins assimilam a força vital da divindade
por eles escolhida (ishta). Isso se faz pela transmissão de poder a certas partes do corpo
através do toque; essas partes são preenchidas com a vida do Deus ou da Deusa
prediletos. Outra forma de 'infusão', 'instalação' ou 'colocação' (nyasa) é a matrika
nyasa, através da qual os cinqüenta sons sagrados do alfabeto sânscrito são colocados
no corpo do yogin. As 'matrizes' ou 'mãezinhas' (matrika), como se chamam os sons
alfabéticos do sânscrito, são concebidas como filhas do som primordial (shabda) do
Absoluto. Imagina-se que as partes do corpo da divindade escolhidas são feitas das
diversas letras do alfabeto, que por sua vez são visualizadas nas regiões correspondentes
do corpo do yogin.
Entre os ritos do mesmo tipo temos a 'instalação dos videntes' (rishi nyasa), a 'instalação
dos seis membros' (shad anga nyasa), que se faz colocando-se as mãos sobre seis
diferentes partes do corpo e transmitindo-lhes poder, e a 'instalação das mãos' (kara
nyasa), que é o mesmo tipo de exercício feito somente nos dedos e palmas das mãos.
Nos períodos que medeiam entre as práticas dos diversos ritos encaixam-se práticas
complexas de visualização (chamadas dhyana), geralmente da divindade e do seu
paraíso celestial. Tudo isso se resume em energias sutis captadas pelo adepto que se
identifica com a divindade da sua eleição. Cada divindade em si representa uma
qualidade energética particular. Essa prática tântrica é associada a muitas recitações de
mantras, normas de respiração e concentração intensa. Já falei dos mantras no Capítulo
2 de A Tradição do Yoga, e são eles também o principal instrumento do praticante do
Tantra.