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História do Estado de Rondônia

GOVERNO DO ESTADO DE RONDÔNIA


SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
REPRESENTAÇÃO DE ENSINO DE COSTA MARQUES
CEEJA JOSÉ ALVES DE ALMEIDA

ORGANIZAÇÃO: PROF. SÍLVIO MELO 1


História do Estado de Rondônia

Formação Histórica

O primeiro explorador europeu que teria alcançado o vale do rio Guaporé foi o
espanhol Ñuflo de Chávez, de passagem entre 1541 e 1542. Mais tarde, no século
XVII, a região foi percorrida pela épica bandeira de Antônio Raposo Tavares. Tendo
ainda alguns missionários se aventurado isoladamente pela região, no século seguinte, a
partir da descoberta de ouro no vale do rio Cuiabá, os bandeirantes começaram a
explorar o Vale do Guaporé. Por esse motivo, em 1748, as instruções da Coroa
portuguesa para o primeiro Governador e Capitão General da Capitania do Mato
Grosso, Antônio Rolim de Moura Tavares (1751-1764), foram as de que mantivesse - a
qualquer custo - a ocupação da margem direita do rio Guaporé.
Rolim de Moura instalou a sua capital em Vila Bela da Santíssima Trindade (19
de março de 1752), tomando as primeiras providências para a defesa da Capitania que
lhe fora confiada. Em 1772, Francisco de Melo Palheta, partindo de Belém do Pará,
atingiu sucessivamente o rio Mamoré, o rio Madeira e o rio Guaporé, alcançando Santa
Cruz de La Sierra. Com o declínio da mineração, e a Independência do Brasil, a região
perdeu importância econômica até que, ao final do século XIX, com o auge da
exploração da borracha, passou a receber imigrantes nordestinos para o trabalho nos
seringais amazônicos.
Formado por terras anteriormente pertencentes aos Estados do Amazonas e Mato
Grosso, o Estado de Rondônia foi originalmente criado como Território do Guaporé em
1943. A denominação atual foi dada em 17 de fevereiro de 1956, em homenagem ao
Marechal Rondon, desbravador dos sertões de Mato Grosso e da Amazônia em 17 de
fevereiro de 1956. Em 1981, o Território de Rondônia passou a Estado da Federação.
Até o século XVII apenas algumas missões religiosas haviam chegado até a região onde
hoje se encontra o Estado de Rondônia. No início do século XVIII os portugueses,
partindo de Belém, subiram o rio Madeira até o rio Guaporé e chegaram ao arraial de
Bom Jesus, antigo nome da localidade de Cuiabá, onde descobriram ouro. Começaram
então a aparecer explorações de bandeirantes pelo vale do rio Guaporé em busca das
riquezas minerais da nova área descoberta.
Pelo Tratado de Tordesilhas toda essa região pertencia à Espanha. Com a
penetração das Bandeiras e o mapeamento dos rios Madeira, Guaporé e Mamoré, no
período de 1722 a 1747, houve uma redefinição dos limites entre Portugal e Espanha,
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realizada através dos Tratados de Madri (1750) e de Santo Ildefonso (1777). Portugal
passou então a ter a posse definitiva da região e a defesa dos limites territoriais. As
demarcações da área ocorreram a partir de 1781. O povoamento da região teve início no
século XIX, na fase do ciclo da borracha, com a construção da ferrovia Madeira-
Mamoré e a exploração dos seringais existentes.

O quilombo do Piolho e os pretos de Vila Bela

Antes de ser abatido pelas forças de Luiz Pinto de Souza Coutinho em 1770, o
quilombo do Piolho, conhecido também como quilombo do Quariterê (ou Quariteté,
tendo por referência um outro nome do mesmo rio) foi, segundo os pesquisadores
matogrossenses, o maior e mais significativo da região de Vila Bela (na Chapada e no
vale do Guaporé), não só pela sua população mas também pela organização social e
fartura das suas roças, tendo sido encontradas ali até mesmo duas tendas de ferreiro.

Teresa de Benguela séc XVIII Mulher de José Piolho, que chefiava o Quilombo do
Piolho ou Quariterê, em Guaporé, Mato Grosso. Quando seu marido,José Piolho,
morreu Teresa de Benguela assumiu o comando. Revela-se uma líder ainda mais
implacável e obstinada. Valente e guerreira ela comandou uma comunidade de três mil
pessoas, o quilombo cresceu tanto ao seu comando que agregou índios bolivianos e
brasileiros, isto incomodou muito a Coroa, pois isto influenciaria a luta dos bolivianos
e americanos (ingleses e espanhóis) para a passagem de mercadorias e
internacionalização da Amazônia. A Coroa age rápido e envia uma bandeira de alto
poder de fogo para acabar com os quilombolas. Presa Teresa suicidou-se. Em 1994
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vira samba enredo da Unidos deo Viradouro por obra de Joãzinho Trinta, Teresa de
Benguela - Uma Raínha Negra no Pantanal.

Em sua tese de doutorado, a antropóloga Maria de Lourdes Bandeira assim


destacou sua importância:
Há muitas referências a esse quilombo na documentação e literatura sobre a
região. Formou-se às margens do Rio Quariterê ou Piolho, afluente da margem
ocidental do Guaporé. Foi abatido pela primeira vez em 1770, quando o capitão-general
João Costa Pinto armou contra ele poderosa bandeira. Esse quilombo era formado de
escravos fugidos das minas do Mato Grosso (Vila Bela), de pretos livres e de índios.
Na organização política residia a especificidade do quilombo Quariterê, que
nisso se distinguia de Palmares e dos quilombos do Ambrósio e de Campo Grande. A
forma de governo adotada foi a realeza. Havia rei, mas à época da primeira destruição
era governado por uma preta viúva, a Rainha Teresa de Benguela, assistida por uma
espécie de parlamentar, com capitão-mor e conselheiro. A alcunha do conselheiro da
rainha, José Piolho, transformou-se em uma das designações do quilombo.
Nos quilombos de Alagoas e de Minas Gerais, a chefia era masculina e não
assumia o caráter de reinado formal, como no quilombo de Vila Bela. Na sua rigidez
disciplinadora, a rainha ficou conhecida por aplicar duros castigos aos desertores, como
enforcamentos, fraturas das pernas e enterramento vivo. Como em Palmares, na religião
havia um sincretismo entre cristianismo e valores religiosos africanos. Quando abatido
pela primeira vez, sua população era de 79 negros, homens e mulheres, e 30 índios,
levados a ferros para Vila Bela, morrendo e fugindo muitos.
A rainha Teresa ficou de tal modo chocada e inconformada com a destruição do
quilombo que enlouqueceu. Taunay (1891:150) diz que “quando foi presa, esta negra
Amazona parecia furiosa. E foi tal a paixão que tomou em vê-la conduzir para esta Vila
que morreu enfurecida”. Os vexames e a grande violência que se abateram sobre a
Rainha e seu povo, com o objetivo expresso da subjugação humilhante, foram demais
para Teresa que encontrou na loucura uma forma de reação, recusando-se a se
entregar e a curvar-se à autoridade dos brancos. Os quilombolas sofreram castigos
cruéis em praça pública, expostos à curiosidade do povo, e foram marcados a ferro
com a letra F, conforme determinação de alvará régio. Traumatizada pela ruína e
aniquilamento de seu quilombo, num dos acessos de furor, expressão de revolta, a

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Rainha matou-se. O suicídio foi o gesto supremo de rebelião da Rainha à dominação


dos brancos.

A CONSTRUÇÃO DO REAL FORTE PRÍNCIPE DA BEIRA

A construção do Real Forte do Príncipe da Beira foi uma conseqüência direta do


Ciclo do Ouro e marcou o primeiro processo de colonização do espaço físico que
constitui o Estado de Rondônia. Sua pedra fundamental foi lançada em 20 de junho de
1776, sob a chefia do intendente Domingos Sambucetti, engenheiro italiano a serviço da
Coroa portuguesa, falecido em 1780, vítima de malária. Em seu lugar assumiu o capitão
José Pinheiro de Lacerda, substituído em 1781 pelo sargento-mor do Real Corpo de
Engenheiros do Exército português, Ricardo Franco d’Almeida Serra.
Chefe da 3ª Comissão Demarcadora de Limites, encarregada de demarcar as
novas fronteiras amazônicas entre os domínios de Portugal e Espanha, o sargento-mor
Ricardo Franco d’Almeida Serra cumpria mais uma de suas missões, quando, após
percorrer os rios Negro e Mauá, recebeu ordens para juntar-se á expedição de Francisco
José Lacerda Almeida, que vinha de Barcelos, percorrendo os rios Mamoré e Guaporé.
Essa expedição destinava-se a concluir as obras do Real Forte do Príncipe da Beira e era
composta pelos engenheiros Joaquim José Ferreira e Antônio Pires da Silva Pontes, que
ficaram sob seu comando.
Apesar de não estar totalmente concluído, o Real Forte do Príncipe da Beira foi
inaugurado em 31 de agosto de 1783. Esta fortaleza é uma obra arquitetônica construída
no sistema Vauban ( Sebastian Lê Préte, conde de Vauban ) ou de baluartes, que utiliza
o tipo de fortificação de bastiões, num quadrado de 970 metros de perímetro. Em suas
muralhas de dez metros de altura destacam-se quatro baluartes protegidos por catorze
canhoneiras em cada um.

A LOCALIZAÇÃO DO FORTE DO PRÍNCIPE DA BEIRA

Localizado no município de Costa Marques, à margem direita do rio Guaporé,


na localidade denominada Príncipe da Beira, o velho Forte faz parte do Patrimônio

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Histórico Nacional, inscrito no livro de Tombo das Belas Artes, através do decreto-lei
nº 25, de 30 de novembro de 1937.

O Real Forte do Príncipe da Beira serviu para manter o domínio português sobre
as duas principais vias de comunicação da região, os rios Guaporé e Jauru, ambos
componentes da bacia do Amazonas e do Paraguai, respectivamente. Sua construção
atraiu a fixação de centenas de agricultores em suas cercanias, que cultivavam fumo e
café, e marcou o início do primeiro processo de ocupação militar, e povoamento efetivo
das terras rondonienses, na medida em que modificou o tipo de povoadores, até então
predominantemente formados por comercializadores de ouro e religiosos.
Politicamente concebido por Sebastião José de Carvalho Mello, marquês de
Pombal, ministro e principal figura política do governo de D. José I, rei de Portugal e
avô do príncipe da Beira, o Real Forte do Príncipe da Beira perdeu seu valor estratégico
e suas funções militares em decorrência do declínio do ciclo do ouro, tendo sido
transformado em um grande presídio. Após proclamação da República, por razões
políticas e econômicas, foi abandonado pelo governo. Posteriormente, passou a ser
designado simplesmente Forte do Príncipe da Beira.
Com a assinatura do Tratado de Madri em 1750 e o acordo entre Portugal e
Espanha sobre os limites dos territórios, fato associado ao esgotamento dos metais
preciosos na região, a Fortaleza entrará em decadência, mas somente será
definitivamente abandonado em 1895. Após a Proclamação da República em
15/11/1889, a última guarnição do Forte não teve mais assistência, ficando sem
comunicação e sem mantimentos. Seu último Comandante foi o Sargento Queiroz,
conhecido por Xiboca, que sequer sabia que a monarquia no Brasil tinha chegado ao
fim.
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“Isso representou o isolamento de sua população, que deixou de estar em contato com a
capital. E foi tão doloroso esse insulamento, que em 1931, quando foi inaugurada a Empresa
de Navegação nos rios Mamoré e Guaporé, que tinha a finalidade de fazer uma ligação
mensal de Guajará-Mirim a Vila Bela, quando a lancha aproximava-se do porto, o barulho de
suas máquinas apavorou a população, que saiu correndo para a mata, julgando que era o fim
do mundo ou uma provação de Deus. Os poucos que ficaram, quando ouviam o apito
estridente da lancha, também procuraram a floresta. E foi com muita paciência e um dia de
entendimento para aquela pobre gente tomar contato com o pessoal da embarcação e voltasse
tranqüila para a casa. Esse abandono influiu dolorosamente na alma e na concepção daquele
povo; contaremos para melhor elucidar esse estado de abandono, quando o Comandante da
embarcação que fazia o correio, montado em uma bicicleta, dirigiu-se àquela repartição, para
entregar malas postais e ao passar em frente a um pobre casebre, achava-se, debruçada a uma
bem modesta janela, fechou bruscamente a tosca janela”. (Saldanha, pág.64)

Durante muitos anos o Forte do Príncipe da Beira foi submetido a um intenso


processo de sucateamento, ao tempo em que era totalmente abandonado pelas
autoridades brasileiras. Entretanto, 1914, o militar e sertanista Cândido Mariano da
Silva Rondon, numa de suas expedições redescobriu o Forte comunicando o fato às
autoridades da República. Em 1930, ao retornar ao local, na qualidade de inspetor de
fronteiras, observou que aquela monumental obra da antiga arquitetura portuguesa
continuava esquecida e perdida no meio da floresta.

A partir de então, Rondon passou insistir para que o governo brasileiro


reativasse as funções militares do Forte. Em conseqüência, no ano de 1937, o Exército
resolveu enviar para a localidade um contingente de fronteira, o 7º Pelotão de Fronteira,
cuja pedra fundamental do edifício do Quartel foi lançada em 1934. Será tombado
historicamente em 30 de novembro de 1937, mesmo tendo muitas das suas relíquias
roubadas.

A EXPRESSÃO PRÍNCIPE DA BEIRA

A expressão “Príncipe da Beira” é na verdade, um título honorífico da família


Bragança, representante da realeza portuguesa, presenteado ao varão primogênito da
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dinastia. Eles chamavam de “Príncipe da Beira” o primeiro filho homem a nascer no


seio da realeza familiar, aquele que no futuro viria a ser Rei de Portugal e dar
continuidade ao sangue azul dos Bragança.
Brag

Um profundo fosso aberto ao seu redor servia para proteger o Forte do avanço
de inimigos por terra. O único acesso ao seu interior era feito através de uma ponte
elevadiça, com três metros de comprimento, no setor norte de sua muralha. Em suas
dependências
pendências foram construídos alojamentos para oficiais e praças, uma capela,
armazém, paiol e uma cadeia.
A cal de pedra necessária para sua edificação foi trazida inicialmente de Belém
do Pará, através dos rios Amazonas e Madeira, seguindo daí por terra, num difícil
percurso de 1.500 quilômetros. Posteriormente, essa matéria-prima
matéria prima passou a vir de
Corumbá, no Grosso, subindo os rios Paraguai, Jauru e Guaporé. Em suas obras
trabalharam Mato duzentos operários especializados, entre carpinteiros, pedreiros e
artífices,
rtífices, contratados no Rio de Janeiro e em Belém do Pará, centenas de índios, além de
mil negros escravos. Sua guarnição militar somente foi acantonada em março de 1784, e
a principal artilharia, formada por quatro canhões calibre 24, feitos de bronze, somente
s
foi enviada de Belém em 1825, e levou cinco anos para chegar ao destino.
O primeiro comandante do Real Forte do Príncipe da Beira foi o capitão de
Dragões José Mello de Souza Castro e Vilhena, oficial português desterrado para o
Mato Grosso, que servia
rvia na Companhia de Goiás. A denominação Príncipe da Beira foi

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dada em homenagem a D. José Francisco Xavier de Paula Domingos Antônio


Agostinho Anastácio, príncipe da Beira, importante província portuguesa.
A construção do Real Forte do Príncipe da Beira ocorreu durante o governo do
capitão-general Luiz Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres, que havia substituído a
Luiz Pinto de Souza Coutinho no governo da capitania de Mato Grosso. Seu principal
objetivo, assim como o de outros fortes construídos na região, era o de efetivar a
política de expansão da Coroa portuguesa, assegurar a posse das terras conquistadas,
além de funcionar como posto avançado de vigilância e combate na defesa dos
interesses de Portugal, do avanço militar e da cobiça espanhola, funcionando também
com feitoria.
Segundo Emanuel Pontes Pinto, o Forte foi construído sobre um quadrado de
mais ou menos 119 metros, com quatro baluartes do estilo francês. Cada qual com 14
canhões montados em suas muralhas. No interior são 14 residências destinadas aos
Comandantes e Oficiais, além de capela, armazém, depósito, alojamento para os
soldados, prisão e poço. Ali, ao lado do fosso, estão as residências para os soldados.

O Forte foi erguido por ordem do Rei de Portugal D. José I, em substituição ao


antigo Fortim de Conceição que no ano de 1771, foi inundado por uma grande enchente
do Rio Guaporé, sendo reconstruído em 1772, com a mudança do nome para Forte de
Bragança. A pedra fundamental da futura fortaleza foi colocada no dia 20 de junho de
1776. Seu primeiro Comandante foi o Capitão de Dragões é José de Melo de Souza
Castro e Vilhena.

A ECONOMIA NO OESTE AMAZÔNICO

O 1º Ciclo da Borracha, a descoberta da Vulcanização em 1839, por Charles


Goodyear acelerou o interesse mundial pela hevea brasiliensis (denominada por La
Conda-Mine), desencadeando uma corrida imperialista em busca da borracha
amazônica. A exploração do látex levou a formação de vastos seringais dominado pelos
seringalistas ou coronéis de barranco. Os trabalhadores eram os seringueiros, que
podiam ser nativos (mansos) ou nordestinos (brabos). O regime do toco ou barracão, era

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a forma de trabalho, utilizada, que condenava o seringueiro a dúvida eterna do


seringalista.

Os seringueiros são oriundos dos estados do nordeste do Brasil, sobretudo do


Ceará. Vieram para o Acre, primeiramente, motivados pela seca que atingiu o nordeste a
partir de 1877, arrasando as plantações e criações de animais. Vieram também, em
grande parte, motivados pela busca de melhoria de vida através do tão falado "ouro
negro" (a borracha). Já chegavam endividados pelos custos gerados pela longa viagem,
e logo se viam obrigados a aumentar sua dívida adquirindo junto ao patrão seringalista
os mantimentos e ferramentas necessárias para a sobrevivência e o trabalho diário na
extração do látex.

Carne seca, espingarda, munição, a faca de cortar seringa, o balde, eram alguns
dos utensílios que o barracão costumava fornecer. Essa forma de endividamento ficou
historicamente conhecida por "sistema de aviamento", através do qual o seringueiro
tinha que se aviar com o patrão, que ditava os preços. Nesse sentido, era quase
impossível o seringueiro se libertar do patrão.

De início, como não conheciam ainda as técnicas do corte e de sobrevivência na


floresta, eram apelidados de "brabos", denominação que carregavam consigo até
adquirirem experiência com a nova rotina com a qual se deparavam. O seringueiro
passou a trabalhar duro, diariamente, se dedicando exclusivamente à extração da
seringa, pois inicialmente não podia plantar, nem para subsistência, nem tão pouco criar
animais.

Essa realidade só começou mudar quando, em 1913, a produção dos seringais de


plantio da Ásia superou a produção brasileira ocasionando uma queda no preço do
produto, levando os seringais da Amazônia a uma grave crise. A partir de então, o
seringueiro converteu-se em agricultor e criador de pequenos animais e, após ter
sobrevivido à crise do primeiro ciclo da borracha, desenvolveu uma economia familiar
baseada em múltiplos usos dos recursos da floresta, da qual ele passou a ser profundo
conhecedor.
O Comércio era realizado pela casas de aviamento de Belém e Manaus.
A exploração da borracha, nos vales do Madeira Mamoré e Guaporé era realizado por
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seringueiros bolivianos, entre eles estavam a Empresa Suarez & Hermano D. Ramon, D.
Inácio Arauz, D. Pastor Oyola e Santos Mercado. Durante este 1º Ciclo, os Nordestinos
ocuparam e interiorizaram a exploração da borracha pelo Oeste Amazônico,
desbravando os vales do Rio Juruá, Purús, Acre, Madeira e Javari.
A concorrência da borracha da Malásia e Cingapura derrubou os preços da borracha
Amazônica, a partir de 1912.

A BORRACHA E AS TENTATIVAS DE CONSTRUÇÃO DA E. F. M. M

A ideia de ligar a Bolívia ao oceano atlântico, remonta aos meados do século


XIX, quando os bolivianos perderam o canal de Antofogasta para o Chile, região de
acesso dos produtos bolivianos para o oceano pacífico. Foi o General Quentin Quevedo
que em 1861, levantou duas hipóteses para ultrapassar o trecho encachoeirado do
Madeira, a sua canalização ou a construção de uma ferrovia.

Em 1871 é criada a Madeira Mamoré R. Company sob a direção de George Earl


Church. Entre 1873 e 1881 foram realizadas duas tentativas de construção da ferrovia a
primeira pela Public Works, inglesa e a Norte Americana P&T Collins. Esta última
assentou 7 km de trilho. O governo brasileiro impediu a falência da Madeira-Mamoré R.
CO.

O TRATADO DE PETRÓPOLIS E A CONSTRUÇÃO DA FERROVIA MADEIRA


MAMORÉ

A questão do Acre (1899-1902), promoveu a assinatura do T. de Petrópolis em


1903 que definia a compra da Região do Acre por 2 milhões de libras esterlinas e
viabilizava a construção do E. F. M. M por parte do governo brasileiro, interessado na
borracha do Acre e do noroeste boliviano. As obras foram reiniciadas em 1907, pela

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empresa May, Jekill e Randolph, que pertencia a Percival Farquar, americano que
comprara a concessão de construção do Engenheiro Joaquim Catramby.

As condições sanitárias de Santo Antônio fizeram com que a Empreiteira


transferi-se para 7 km abaixo do ponto inicial da Ferrovia, surgindo daí a cidade de
Porto Velho. No ponto final da ferrovia encontra-se a cidade de Guajará-Mirim, que
possuía vastos seringais explorados pela Guaporé Rubber Company, capitaneado por
Paulo Saldanha.

A FERROVIA MADEIRA-MAMORÉ FICA PRONTA

O Tratado de Petrópolis, firmado pelos governos brasileiro e boliviano em 17 de


novembro de 1903, definiu a situação política, administrativa e geográfica do Acre e
obrigou o Brasil a construir a ferrovia Madeira-Mamoré, em terras pertencentes ao
estado do Mato Grosso. Sua estação inicial deveria localizar-se na vila de Santo
Antônio do Rio Madeira, última fronteira do Mato Grosso com o Amazonas, e a estação
terminal na localidade de Porto Esperidião Marques, às margens do rio Mamoré.
Portanto, quarenta e dois anos depois das primeiras tentativas, a Bolívia finalmente iria
conquistar seu caminho para o Oceano Atlântico, via rio Madeira.
Para cumprir as determinações do Tratado de Petrópolis o governo brasileiro
realizou a licitação das obras da ferrovia, cujo edital foi publicado em 12 de maio de
1905. Aberta somente a empresários brasileiros, a concorrência teve dois participantes,
os engenheiros Raimundo Pereira da Silva e Joaquim Catramby. Contemplado, soube-
se que Joaquim Catramby concorreu com intuitos meramente especulativos, na
qualidade de testa-de-ferro do poderoso magnata norte-americano Percival Farquhar, a
quem transferiu o contrato tão logo recebeu a homologação da concorrência.

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Percival Farquhar - o “Último Titã”

O objetivo de Percival Farquhar era controlar todo o sistema ferroviário da


América Latina. Por isso, ele constituiu a EMPRESA Madeira-Mamoré Railway
Company, na qual investiram, inicialmente, onze milhões de dólares, financiados pelo
Bank of Scotland, e contratou os serviços do grupo de empreiteiras Robert May e ªB.
Jeckyll. A esse grupo associou-se posteriormente o empreiteiro John Randolph. Desta
forma constituiu-se a empresa May, Jeckyll & Rondolph que, em 1906, instalou seu
canteiro de obras na localidade de Santo Antônio do Rio Madeira.
A empreiteira May, Jeckyll & Rondolph enfrentou sérias dificuldades
operacionais, devido à localização geográfica do povoado de Santo Antônio e de suas
péssimas condições sanitárias, ao trecho encachoeirado do rio Madeira e às doenças
regionais, como a malária e o beribéri, que mataram centenas de operários em pouco
tempo. Por tudo isto, a direção da empresa decidiu modificar o cronograma da ferrovia,
mesmo ferindo cláusulas contratuais, haja vista as condições gerais da localidade de
Santo Antônio do Rio Madeira inviabilizar completamente a execução e a administração
da obra.
Autorizada por Percival Farquhar e pelo governo brasileiro, a May, Jeckyll &
Randolph transferiu, em 19 de abril de 1907, suas instalações para o porto amazônico
situado sete quilômetros ã jusante da cachoeira de Santo Antônio, no local conhecido
como Porto Velho, onde implantou o centro administrativo, construiu o cais, residências
para técnicos, e deu início, em junho do mesmo ano, ã construção da estação inicial da
ferrovia Madeira-Mamoré. Com essa atitude, foram alterados o cronograma inicial da
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ferrovia em sete quilômetros, sua rota e, sobretudo, a localização de sua estação inicial,
antes prevista para ser construída em terras pertencentes ao estado de Mato Grosso,
passava então a situar-se em terras do Amazonas.
Através do decreto-lei nº 6.775, de 28 de novembro de 1907, o governo
brasileiro autorizou à empresa The Madeira-Mamoré Railway Company Ltda., a
funcionar no Brasil. É muito difícil avaliar as dificuldades enfrentadas pela empresa
May, Jeckyll & Randolph para executar este grandioso empreendimento em condições
tão adversas para técnicos e operários. A construção da ferrovia Madeira-Mamoré bateu
o recorde mundial de acidentes de trabalho, e teve centenas de homens mortos ou
desaparecidos na imensidão da floresta e nas viagens para a região.
No ano de 1908, a May, Jeckyll & Randolph contratou operários espanhóis
dispensados das construções ferroviárias que o grupo realizava em Cuba. No entanto,
de um total de trezentos e cinqüenta homens, somente setenta e cinco chegaram a Porto
Velho. O restante desistiu no Porto de Belém, em razão das notícias sobre as doenças
regionais que ceifavam a vida dos operários e dos constantes ataques dos índios
Caripunas aos trechos em obras.
Realmente era muito grave a questão de saúde na região. Em apenas três meses
de trabalho já existiam inúmeros operários doentes, o que levou à empresa a construir,
entre os povoados de Porto Velho e de Santo Antônio, o Hospital da Candelária, que
chegou a ter onze médicos. Mas, nem eles resistiram. Três morreram e dois ficaram
inválidos.

Fonte: acervo Jkerdy - Trecho da ferrovia em construção

Em 1909, os médicos do hospital da Candelária, todos norte-americanos,


declararam-se sem condições de combater as doenças regionais, por desconhecerem os
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tipos de males que afetavam os operários da Madeira-Mamoré. Por isto, solicitam que a
empresa contratasse os serviços do médico sanitarista brasileiro Oswaldo Cruz. Aos 37
anos de idade, o Dr. Oswaldo Cruz chegou a Porto Velho no dia 09 de julho de 1910,
acompanhado por seu médico particular, Dr. Belizário Pena. Após profundos estudos
sobre a região, o grande sanitarista concluiu que as doenças regionais, como a malária e
o beribéri, eram conhecidas e tinham tratamento.

Fonte: acervo: Jkerdy


Ao centro o médico Oswaldo Cruz, á esquerda Dr. Carl Lovelace, e a Direita Dr.
Belizário Pena

Para combater os índios Karipunas, que, além de flechar os operários também


arrancavam os trilhos e dormentes da ferrovia à noite, a direção da empresa mandava a
segurança eletrificar os trilhos ao final de cada jornada diária de trabalho. Em pouco
tempo, centenas de índios foram mortos eletrocutados, o que provocou um verdadeiro
genocídio. No dia 30 de abril de 1912, a May, Jeckyll e Randolph entregou a estação
terminal Mamoré, localizada no porto mato-grossense de Esperidião Marques, onde está
situada a cidade de Guajará-mirim. Entre entusiasmados discursos das autoridades
presentes que saudavam o término da construção dos 364quilômetros de via férrea, um
prego de ouro foi simbolicamente batido no último dormente. A ferrovia Madeira-
Mamoré foi inaugurada no dia 1º de agosto de 1912.

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Fonte: acervo: Jkerdy


A soma de dificuldades que acompanhou toda a construção da ferrovia Madeira-
Mamoré deu-lhe um aspecto exageradamente catastrófico, no Brasil e no exterior. Por
tudo o que ocorreu, a Madeira-Mamoré recebeu várias denominações que procuravam
identificá-la muito mais com seus graves problemas do que com seus posteriores
benefícios sociais, políticos e econômicos. Entre os diversos, epítetos que recebeu,
estão: “Estrada dos Trilhos de Ouro”, “Ferrovia do Diabo”, “Ferrovia de Deus”, e
“Ferrovia da Morte”, que serviram para ligar sua construção aos seus dramas. Dizia-se
também que cada um dos seus dormentes representa uma vida, para avaliar de forma
exagerada o número de trabalhadores mortos durante suas obras.
Entre 1920 e 1922, a ferrovia Madeira-Mamoré sofreu uma modificação de rota.
Nesse período foi construída uma variante entre os quilômetros 237 e 242, no setor
Penha Colorada, devido à proximidade do barranco do rio Madeira e ao perigo que isto
causava. Essa nova rota acrescentou 2.485 metros à extensão da ferrovia, que passou a
ter os 366.485 metros atuais.

A COMISSÃO RONDON E A CONSTRUÇÃO DAS LINHAS TELEGRÁFICAS

Paralelamente à construção da ferrovia Madeira-Mamoré e a ocupação da região


do Alto Madeira, uma outra ação política contribuiu para aumentar a densidade
demográfica das terras que constituem o Estado de Telegráficas Estratégicas do Mato
Grosso ao Amazonas, seção Cuiabá/Santo Antônio do Rio Madeira, com ramal em
Guajará-Mirim. Criada pelo presidente da República, Afonso Pena, essa Comissão tinha

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História do Estado de Rondônia

por finalidade implantar linhas e estações telegráficas nos sertões mato-grossenses. Seus
pontos extremos ficavam em Cuiabá e na Vila de Santo Antônio do Rio Madeira,
localizada à margem direita do rio Madeira, à sete quilômetros da fronteira do Estado do
Mato Grosso com o do Amazonas. O comando de tão importante missão foi entregue ao
militar e sertanista Cândido Mariano da Silva Rondon, oficial do Exército e engenheiro-
militar, de quem a Comissão herdou o próprio nome. Ficou nacionalmente conhecida
como Comissão Rondon.
Além de implantar as linhas telegráficas, a Comissão Rondon exerceu outras
importantes funções nos sertões mato-grossenses, como o reconhecimento de fronteiras,
inclusive entre os seringais da região, as determinações geográficas, o estudo e a
pesquisa de riquezas minerais, do solo, do clima, das florestas, dos rios conhecidos e
dos que foram descobertos. O estudo do meio-ambiente e do ecossistema também fazia
parte de suas ações. Entre 1908 e 1915, a Comissão catalogou 350 espécies de árvores e
colecionou 752 tipos de animais e insetos. Outra proposta da Comissão Rondon era
estimular a ocupação humana da região, definitivamente, a partir de suas estações
telegráficas e da construção de trechos de estradas que lhe davam acesso. Formada
basicamente por militares e civis indicados pelo governo ou escolhidos por seu próprio
chefe, a Comissão Rondon também recebia prisioneiros políticos e criminosos comuns,
desterrados para o Amazonas ou Acre. Estes, eram requisitados nos navios ou já vinham
previamente destinados para realizar os serviços mais pesados. Portanto, era comum
ocorrerem motins, deserções e sabotagens. Esses casos eram severamente punidos com
castigos físicos, muitas vezes aplicados pelo próprio Rondon.
O principal objetivo da Comissão Rondon era o de ligar, pelo fio telegráfico, os
territórios do Amazonas e do Mato Grosso, completando o trecho Cuiabá / Rio de
Janeiro. Para cumprir sua missão, Cândido Mariano da Silva Rondon penetrou nos
sertões dos Parecis com destino ao vale do Madeira, no início de 1907. No dia 1º de
agosto daquele ano, alcançou o vale do Juruena. No dia 7 de setembro de 1908 foi
inaugurado o destacamento central de Juruena, sob o comando do tenente Joaquim
Ferreira da Silva. Em 12 de outubro de 1911, era inaugurada a Estação Telegráfica de
Vilhena, cuja denominação foi uma homenagem de Rondon ao seu ex-chefe, Álvaro
Coutinho de Melo e Vilhena, maranhense, engenheiro-chefe da Organização da Carta
Telegráfica Pública. A partir de então, formou-se uma coincidência histórica: no mesmo

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História do Estado de Rondônia

período em que na região do Alto Madeira ocorria a épica construção da ferrovia


Madeira Mamoré e Porto Velho surgia como núcleo habitacional, uma outra epopéia
tinha início nos sertões do Parecis que deu origem ao povoamento da região onde se
ergueria a cidade de Vilhena.
A Comissão Rondon empreendeu várias expedições. A que se dirigiu a Santo
Antônio do Rio Madeira, conhecida como Seção Norte, ficou constituída por quarenta e
dois homens, comandada pelo próprio Rondon e tinha os seguintes chefes: Dr. Alípio
Miranda Ribeiro, geólogo; Dr. Joaquim Augusto Tanajura, médico; tenentes João
Salustiano Lira, astrônomo; Emanuel Silva do Amarantes e Alencarliense Fernandes
Costa, topógrafos, além de Antônio Pirineus de Souza, chefe de comboio. Todas as
atividades da Comissão Rondon eram documentadas pelos fotógrafos Luiz Leduc e
Benjamim Rondon e pelo cinegrafista Luiz Thomas Reis. Posteriormente, formou-se
uma segunda expedição para o mesmo percurso, na qual foram incluídos o farmacêutico
Canavários e o tenente Antônio Vilhena. Em 13 de junho de 1913 a Comissão Rondon
inaugurou a Estação Telegráfica do Jamary. No ano seguinte era inaugurada a Estação
Provisória de Santo Antônio do Rio Madeira.
Para instalar os postes, os fios telegráficos e as estações, a Comissão Rondon
levou, somente no ano de 1914, sete meses e nove dias para percorrem o trecho Vilhena
/ Vila de Santo Antônio. Foram 1.297 quilômetros por terra e 1.138 por via fluvial, em
canoas. Destes, 713 pelo rio Ji-Paraná, 135 pelo Jaru, e 290 pelo Jacy-Paraná.
Acrescentem-se ainda duzentos quilômetros percorridos nas variações estudadas. No
total foram 2.635 quilômetros explorados em terras dos sertões mato-grossenses.
Entre abril e dezembro de 1914 foram construídos 372.235 metros de linha
telegráfica e inauguradas as estações de Jaru, Pimenta Bueno, Presidente Hermes e
Presidente Pena. No dia 1º de janeiro de 1915, em solenidade na Câmara Municipal de
Santo Antônio do Rio Madeira, o então major Cândido Mariano da Silva Rondon
inaugurou a Linha Telegráfica Estratégica Cuiabá / Santo Antônio, com ramal em
Guajará-Mirim.
A missão estava cumprida. Naquele dia, Rondon recebeu uma comitiva da
associação comercial da Vila de Santo Antônio, que lhe entregou um cartão de ouro,
simbolizando a gratidão dos munícipes. Em 1916, Rondon inaugurava a Estação
Telegráfica de Ariquemes, na região que os seringueiros denominavam “Papagaio”, às

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História do Estado de Rondônia

margens do rio Jamary. Os objetivos da Comissão Rondon foram alcançados. As linhas


telegráficas foram implantadas e o processo de ocupação humana da região ganhou um
novo modelo, a partir das estações telegráficas que geraram em suas cercanias
importantes aglomerados urbanos. Ao longo do tempo, a maioria desses núcleos foi
transformada em vilas, cidades e em grandes municípios como Vilhena, Pimenta Bueno,
Presidente Hermes, (hoje Presidente Médici). Presidente Pena, (hoje Ji-Paraná), Jaru e
Ariquemes.
O povoamento inicial ao redor das estações telegráficas era feito através dos
picadões de quarenta metros, abertos para que em seu eixo fossem plantados os postes
que sustentavam os fios telegráficos. Assim, a Comissão Rondon constituiu-se em uma
nova via de comunicação terrestre, na medida em que modificou as trilhas primitivas
então existentes. A esta nova via de acesso os seringueiros chamavam “O Fiel de
Rondon”, posto que, passaram a orientar-se pelos picadões, pelos postes, e, sobretudo,
pelos fios telegráficos que chamavam de “As Línguas de Mariano”, em virtude de o
grande desbravador preferir ser tratado pelo seu segundo nome, Mariano. Coube ao
etnólogo Roquette Pinto, legionário da Comissão Rondon, o entendimento da função
política dos picadões abertos pela comissão chefiada por Cândido Mariano da Silva
Rondon, ao designá-los “A Estrada de Rondon” ou simplesmente “Rondônia”. Que se
construiu a partir de 1932, a rodovia BR-364, a estrada de Rondon.
Mas, a Comissão Rondon teve sérias complicações de ordem política. Foi
severamente criticada e perseguida pelo governo revolucionário de Getúlio Vargas, a
partir de 1930, que culminou com a prisão do general Rondon e a quase destruição das
estações e linhas telegráficas.
O governo Vargas transformou a estrutura das estações telegráficas da Comissão
Rondon, setor Cuiabá / Santo Antônio do Rio Madeira, no 3º Distrito Telegráfico de
Mato Grosso, sob a chefia do capitão Aluízio Pinheiro Ferreira.

O SEGUNDO CICLO DA BORRACHA

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História do Estado de Rondônia

Quando a borracha da Malásia tornou proibitivo o preço da borracha da


Amazônia no mercado mundial, a economia regional estagnou. Devido à gravidade da
crise, e à falta de visão empresarial e governamental, que resultou na ausência de
alternativas para o desenvolvimento regional. Estagnaram também as cidades. Da vila
de Santo Antonio do Madeira, que chegou a contar com uma pequena linha de bonde e
jornal semanal ao tempo em que se iniciava Porto Velho, resta hoje uma única
construção. A sobrevivência de Porto Velho está associada às melhores condições de
salubridade da área onde foi construída, da facilidade de acesso pelo rio durante o ano
todo, do seu porto, da necessidade que a ferrovia sentia de exercer maior controle sobre
os operários para garantir o bom andamento das obras, construindo para tanto
residências em sua área de concessão, e, até mesmo, de uma certa forma, ao bairro onde
moravam principalmente os barbadianos trazidos para a construção.
Desenvolvendo-se sobre uma pequena colina ao sul da cidade, ainda em área da
ferrovia, surgiu o bairro denominado originalmente de Barbadoes Town (ou Barbedian
Town), embora posteriormente se tenha tornado mais conhecido como o Alto do Bode.
O núcleo urbano que então existia em torno das instalações da EFMM, inclusive e com
muito significado, o Alto do Bode, serviu de justificativa para a consolidação de Porto
Velho como a capital do Território Federal do Guaporé, em 1943. Essa pequena colina
foi arrasada no final dos anos 60, e o Alto do Bode desapareceu. Ao longo do período
que vai de 1925 a 1960, o centro urbano adquiriu feições definitivas.
O sistema viário de bom traçado e o sistema de esgotos da região central são
heranças dos previdentes pioneiros; os prédios públicos, o bairro Caiarí, etc..., são
provas de que, mesmo em meio à grandes dificuldades, é possível construir e avançar.
Somente com a erupção da segunda guerra mundial, e a criação dos territórios federais
em 1943, ocorreu novo e rápido ciclo de progresso regional. Esse surto decorreu das
necessidades de borracha das forças aliadas, que haviam perdido os seringais malaios na
guerra do Pacífico, e produziu o denominado segundo ciclo da borracha. Finda a guerra,
novamente a economia regional baseada na borracha, e dirigida com imprevidência e
incapacidade empreendedora, entrou em paralisia.
Na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) o Japão, aliado da Alemanha e da
Itália ( países do Eixo) conquista e ocupa o Sudeste Asiático área que produzia borracha
e, os aliados ficam sem esse importante produto para a sua indústria. Os Estados Unidos

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História do Estado de Rondônia

que entraram na guerra em decorrência do ataque japonês a base americana de Pearl


Harbour no Havaí, necessitava da borracha para a sua indústria. O presidente dos
Estados Unidos Franklin Delano Roosevelt e o presidente do Brasil Getúlio Dorneles
Vargas, assinaram os Acordos de Washington ( 1942), pelo qual o Brasil comprometia-
se a reativar os seringais amazônicos, através de uma operação conjunta com os EUA.

O Brasil entrou com os seringais, mão-de-obra e 58% de capital para a criação


do Banco de Crédito da Borracha. Os EUA entraram com 42% de capital para o Banco
de Crédito da Borracha e, forneciam meios para a produção, transporte e escoamento.
Inicialmente, os norte-americanos investiram 5 milhões de dólares para serem aplicados
pelo Instituto Agronômico do Norte, nas pesquisas científicas para a melhoria e fomento
da produção e mais 5 milhões de dólares para o saneamento a ser feito pela Fundação
Rockfeller.

Esses acordos proporcionaram à região, a montagem de um esquema logístico


institucional do qual participou ativamente o governo brasileiro com o apoio norte-
americano, abrindo-se muitas frentes operacionais e estratégicas na área. Os objetivos,
no entanto, de um e de outro governo, eram em certo ponto conflitante, os norte-
americanos tinham seus interesses marcado pela urgência e pelo prazo curto, enquanto o
governo brasileiro tinha o interesse voltado para o permanente e o duradouro desejo de
manter na Amazônia uma política de desenvolvimento.

Migrantes nordestinos: mão-de-obra para o Seringal

Com o apoio financeiro dos EUA, o governo brasileiro montou uma infra-
estrutura que possibilitou aos seringais uma expressiva produção. A infra-estrutura
criada foi a seguinte:

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História do Estado de Rondônia

SEMTA ( Serviço de Encaminhamento de Trabalhadores para a Amazônia) e CAETA


( Comissão Administrativa de Encaminhamento de Trabalhadores para a Amazônia)
com o objetivo de recrutar, encaminhar e colocar trabalhadores, principalmente
nordestinos, nos seringais, sob a supervisão do Departamento Nacional de Imigração.

SAVA ( Superintendência de Abastecimento da Vale Amazônico) que fazia o


abastecimento direto dos seringais com gêneros de primeira necessidade.

RRC ( Rubber Reserve Company) que passou a posteriormente a denominar-se RDC (


Rubber Devenlopment Company) encarregada de transporte de passageiros e de
suprimentos através da SAVA.

SESP (Serviço Especial de Saúde Pública): foi criado para promover o melhoramento
urbano, o combate a Malária e o saneamento

Banco da Borracha-1942: Que realizava operações de crédito, fomento à produção e


financiamento aos seringalistas. O Banco exercia o monopólio da compra e venda da
borracha.

CRIAÇÃO DOS TERRITÓRIOS

O Território Federal do Guaporé (hoje Rondônia), Rio Branco ( hoje Roraima) e


Amapá, em 1943, iniciando-se assim o processo de reorganização do espaço político
amazônico. O movimento migratório da Batalha da Borracha, que se desenvolveu no
decorrer dos anos de 1941 e início de 1943, adquiriu um novo colorido com a chegada a
partir de 1943 e durante os anos de 1944/1945, de novos contingentes humanos, os
nordestinos que ficaram sendo conhecidos como soldados da borracha. A diferença
entre essas duas correntes de migrantes era flagrante, enquanto a primeira se constituía
na sua maioria de cearenses que se deslocavam do interior.

A partir de 1943 até 1945, provinha dos centros urbanos, geralmente composta
de homens solteiros ou desgarrados de sua parentela, muito deles desempregados ou
sem profissão definida, vinham para a Amazônia pelo simples sabor da aventura e para
fugir à convocação para a FEB ( Força Expedicionária Brasileira) que lutava na Itália.
Com o término da Guerra em 1945, foram liberadas as plantações de borracha da região
asiática, cessando o interesse norte-americano pela borracha produzida na Amazônia,

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História do Estado de Rondônia

que passou a acumular em estoques crescentes, já que o mercado interno não tinha
capacidade de absorver toda a produção. A tentativa de produzir borracha ainda
permaneceu até os idos de 1960. A partir desta data, paulatinamente a produção de
borracha cai, ocasionando o fim desse ciclo.

2º Ciclo da Borracha- Nº de Migrantes Nordestinos

Ano Homens Mulheres Total


1941 13.910 8.267 22.177
1942 17.928 9.023 26.951
1943 24.399 9.419 33.818
1944 27.139 10.287 37.426
1945 21.807 9.959 31.766
Total 105.183 46.955 152.138

1. Fonte: Benchimol, Samuel.Amazônia: um pouco antes-além depois.


O TERRITÓRIO FEDERAL DO GUAPORÉ

Getúlio Vargas: criou o Território Federal do Guaporé

A elevação da região em Território Federal está intimamente ligada à liderança e


atuação de Aluízio Ferreira, que articulou as forças para atingir a emancipação. A Crise

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História do Estado de Rondônia

da Borracha Amazônica provocada pela concorrência da Malásia originou o abandono


dos seringais e a conseqüente retirada da empresa de Farquhar da administração da E. F.
M. M. Em 10 de julho de 1931 inicia-se a intervenção do governo brasileiro na
Ferrovia, já em 1937 o contrato é rescindido e a Ferrovia é estatizada.
A Ferrovia funciona até 1972, quando é sucateado pelo 5º Batalhão de
Engenharia e Construção. Durante a Crise da Borracha amazônica nas décadas de 1920
e 1930, nem os grandes empreendimentos resistiram, como é o caso da Fordlândia,
grande projeto de produção da borracha no Pará de propriedade do norte americano
Henry Ford. O advento do 2ª Grande Guerra e o controle japonês sobre a Malásia e
Cingapura, promoveram nova corrida pela borracha amazônica.
Em 1942 foram assinados os acordos de Washington, que visavam implementar
um programa denominado guerra pela borracha. Grandes levas de nordestinos chegaram
a região, foi ainda criado um programa de sanitarização de algumas regiões.
O Governo Brasileiro criou o Banco da Borracha, a Rubber Corporation e a Sava
(Superintendência de Abastecimento do Vale Amazônico) com o intuito de quebrar a
estrutura arcaica do aviamento, mas não obtiveram sucesso.
Em 13 de Setembro de 1943, foi criado o Território Federal do Guaporé, com terras
desmembradas do Mato Grosso, e do Amazonas, contando, com 04 municípios: Porto
Velho (capital), Lábrea, Guajará-Mirim e Santo Antônio.
O primeiro governador foi o Major Aluízio Ferreira que logo após tornou-se
Deputado Federal pela região, e chefe do grupo político Cutuba (situação), que se
conflitava com os Peles Curtas, sob a liderança de Joaquim Vicente Rondon e Renato
Medeiros. Em 1944 ocorreu a reorganização do mapa do território do Guaporé, que
passou a contar com 02 municípios - Porto Velho e Guajará-Mirim.
O decreto-lei nº 7.470, editado em 17 de abril de 1945, fixou a divisão
administração e judiciária do Território Federal de Guaporé dividindo-o em dois
municípios Porto Velho e Guajará Mirim e nove distritos. Na condição de capital, Porto
Velho passou a contar com órgãos da administração direta com Jurisdição federal.
Outras mudanças também ocorreram na transformação da capital, na sua arquitetura,
nos meio de transporte, inúmeros bairros foram aos poucos sendo formados, essas
mudanças diretas ou indiretamente influenciaram no seu desenvolvimento e crescimento
demográfico. A cidade que em 1940 possuía 3.184 habitantes, na década de 50 contava

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História do Estado de Rondônia

com 10.036 habitantes. por parte do município de Mato Grosso. Porto Velho foi
confirmado como capital do novo Território.
Em 1956, o Território do Guaporé passou para Território Federal de Rondônia
na mesma época do Governo J.K foi iniciado a abertura da BR - 029 (atual - 364) que
auxiliou no novo surto migratório para a região juntamente com os garimpos de
Cassiterita e pedras preciosas. Em fevereiro de 1960, o então Presidente Juscelino
Kubistchek de Oliveira, determinou ao Departamento Nacional de Estradas e Rodagens
(DNER), a abertura e construção da estrada que acabou se tornando o leito da BR 364.

O ESTADO DE RONDÔNIA

Os surtos migratórios da década de 70 ao longo da BR - 364, os garimpos de


cassiterita e pedras preciosas, a crise estrutural do sistema de territórios federais foram
fatores determinantes para desencadear campanhas em prol da elevação de Rondônia à
categoria de Estado. A partir do governo do Coronel Humberto da Silva Guedes já
denotava os caminhos profícuos para a emancipação, culminando com a criação de
novos municípios e o fortalecimento da imagem de Eldorado da Amazônia.
Em 1979 chega a Rondônia, indicado pelo ministro Mário Andreazza, com total
respaldo do Pres. João Figueiredo, o condutor da elevação do Território em Estado, o
Coronel Jorge Teixeira de Oliveira, que toca a preparação final da estrutura e conjuntura
para o grande salto. Em 22 de dezembro de 1981 é criado Estado de Rondônia, e em 04
de Janeiro de 1982, o Estado é instalado, tendo como seu 1º governador o Coronel Jorge
Teixeira de Oliveira, nomeado no dia 29 de dezembro de 1981, pelo presidente da
República João Baptista de Oliveira Figueiredo. No ano de sua criação o Estado de
Rondônia estava constituído por 13 municípios (Porto Velho, a capital, Guajará-Mirim,
Ariquemes, Jaru, Ouro Preto do Oeste, Ji-Paraná, Presidente Médici, Cacoal, Espigão
do Oeste, Pimenta Bueno, Vilhena, Colorado do Oeste e Costa Marques).

A CRIAÇÃO DE PORTO VELHO

Porto Velho nasceu oficialmente no dia 02 de outubro de 1914, como município


do Estado do Amazonas. A lei foi sancionada por Jônatas de Freitas Pedroza, que dá

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História do Estado de Rondônia

nome a uma das praças centrais. Determinada corrente de pesquisadores defende a tese
de que o marco histórico de nascimento da cidade é 1907, e por isso comemora um
século de história de Porto Velho este ano. Há outro segmento de historiadores que
discorda dessa tese. A origem do nome da cidade também é motivo de polêmica. Para
uns, ele teria nascido em razão das referências que os primeiros habitantes faziam a um
pequeno comércio flutuante localizado à margem direita do rio Madeira (mais ou menos
onde hoje é o Cai N'água), que pertenceria ao mascate conhecido por "Velho Pimentel".
Das citações populares ao local é que teriam surgido as expressões "Ponto do Velho" ou
"Porto do Velho" - posteriormente Porto Velho. Para outros, tudo isso não passa de
lenda. Os estudiosos pretendem passar a limpo esses e outros aspectos controvertidos e
apresentar versão consensual e definitiva sobre a história da cidade.

ATUALIDADES

Após os surtos mineradores que se estenderam dos anos 1950 a 1990, e


coroando este século de destruição ambiental, teve lugar a “arrancada” da indústria
madeireira que devastou as florestas e deixou um caminho de fogo e cinzas em todo o
estado e, de forma significativa, atingiu o vale do Madeira. A situação configura-se
como alarmante e não tem sido controlada até o presente momento, mesmo diante da
intensificação de medidas severas anunciadas pelo governo federal através do IBAMA.
Rondônia possui o segundo lugar no ranking de desmatamento da Amazônia, sendo
superado apenas pelo Pará. Segundo dados apresentados por Rocha e Bacha, a indústria
madeireira respondia, em 1989 por 60% dos produtos industriais de Rondônia. Segundo
esses mesmos autores, as causas da expansão do setor industrial madeireiro em
Rondônia na década de 80 são similares às de outros estados da Amazônia. A expansão
da malha rodoviária foi um dos fatores que estavam por trás desse crescimento. Em
Rondônia, a década de 1980 caracterizou-se como o período de pavimentação da BR
364 e de abertura de outras rodovias como a BR 429, além da finalização das obras da
rodovia BR 319 que foi construída para responder pela ligação entre Porto Velho a
Guajará-Mirim após a extinção da EFMM.

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História do Estado de Rondônia

O avanço do desmatamento foi agravado nas décadas posteriores e contou com o


apoio e conivência de autoridades municipais e estaduais. Diante da pressão por
madeira tanto bruta quanto beneficiada, nem mesmo as áreas de proteção ambiental e as
reservas indígenas foram poupadas. No conjunto das áreas de proteção ambiental mais
afetadas na região do Madeira figuram: o Parque Estadual de Candeias, com 68% (cerca
de 58km²) de sua área desmatada, e sendo devastado a um ritmo anual de 1,4%; a
Floresta de Rendimento Sustentado do Abunã ( Florsu Abunã) com área total de 507
km² e com uma área de desmatamento de 48% de seu território e um índice de
desmatamento de 3,9% ao ano para o período de 2001 a 2004.[1] Segundo Ribeiro,
Veríssimo e Pereira: “As Unidades de Conservação estaduais de Rondônia tiveram as
maiores taxas anuais de desmatamento entre 1997 a 2004, enquanto as Terras
Indígenas apresentaram as menores taxas nesse período. Em uma posição
intermediária encontram-se as Unidades de Conservação federais. As taxas anuais de
desmatamento das Unidades de Conservação estaduais e federais têm aumentando
desde 1997, enquanto a das Terras Indígenas se mantém praticamente constante.”

RONDÔNIA, UM ESTADO DEVASTADO

Mais de um terço de toda a superfície de Rondônia está devastada. O estado tem


o maior índice, 38%, de desmatamento acumulado em toda a Amazônia Legal, formada
por áreas de oito estados (veja quadro). Isso significa que, proporcionalmente, Rondônia
devastou mais a floresta que Mato Grosso e Pará, tradicionalmente os campeões da
destruição ambiental. Relatório divulgado ontem pelo Grupo de Trabalho Amazônico
(GTA), formado por cerca de 600 entidades da sociedade civil, faz o alerta: a
devastação tem se descolado do eixo da BR-364, hoje dominado pela pecuária, rumo às
unidades de conservação e terras indígenas rondonianas. Os conflitos sociais na área
estão cada vez mais intensos, diz o documento.

As causas do desmatamento alarmante, segundo a engenheira florestal Ana


Euler, colaboradora do GTA, têm relação direta com a falta de fiscalização e conivência
do poder público. Ela ressalta que o Executivo e Legislativo locais reduziram, nos
últimos 20 anos, cerca de 20 mil km² das áreas protegidas do estado, que somam hoje
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História do Estado de Rondônia

quase 90 mil km². “Essas porções retiradas das unidades de conservação são sempre
alvo de grupos econômicos com fins de exploração comercial”, destaca Ana. “As
políticas públicas ambientais consideram Rondônia um estado perdido. Discordo dessa
posição. Acho que precisamos tentar segurar pelo menos as unidades de conservação.”
Em Rondônia, tais regiões representam pouco menos de 40% do estado. São quatro
reservas extrativistas, oito florestas, duas áreas de proteção ambiental, 14 unidades de
conservação e 24 terras indígenas. Segundo Nanci Maria Rodrigues da Silva,
superintendente substituta do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (IBAMA) no estado, a criação de porções de terra protegidas tem
sido um eficaz instrumento de combate à devastação, mas a situação ainda é
incontrolável em algumas áreas. A Floresta do Bom Futuro, que registrou taxa anual de
desmatamento de 4,3% desde 2002, passa por uma situação grave. “Naquele local, só
com a ajuda do Exército”, afirma Nanci.

Uma liminar da Justiça Federal, fruto de ação civil movida pelo Ministério
Público (tanto federal quanto estadual, que costumam agir em conjunto em Rondônia),
determinou, em agosto de 2004, a retirada de grileiros, madeireiros e demais invasores
ilegais da Floresta do Bom Futuro, do Parque Estadual de Guajará-Mirim, da Reserva
Extrativista Jaci - Paraná e da terra indígena Karipuna. Em respeito à determinação
judicial, o IBAMA providenciou uma operação imediata na região. E só assim conheceu
a real dimensão do problema que se instalou ali. “Tivemos que usar até helicópteros
para retirar os agentes de lá. Cortaram pontes, fizeram barreiras com tábuas de pregos
nas estradas”, conta Nanci. A engenheira Ana compara a região onde se localiza a
Floresta do Bom Futuro à Terra do Meio, no Pará, famosa pelos conflitos sociais. “É
uma área sem regras, onde uma liminar da Justiça, de mais de três anos, não foi
cumprida”, constata. Por meio da assessoria de imprensa, o Ministério Público estadual
confirmou que a determinação judicial ainda espera para ser atendida, devido às
dificuldades enfrentadas pelo IBAMA e pelas polícias envolvidas nas ações (guarda
ambiental, Polícia Civil e Polícia Federal, dependendo da operação).

Outro grave problema em Rondônia, que culmina em violência nas comunidades


tradicionais, são os constantes furtos de madeiras em terras indígenas. “Essas denúncias
procedem e nós estamos trabalhando”, diz Nanci. Uma das lideranças indígenas mais

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História do Estado de Rondônia

ativas do estado, Almir Suruí foi obrigado a deixar sua terra depois que denunciou a
exploração de madeireiras nas áreas indígenas e começou a ser ameaçado. O caso
acabou denunciado à Comissão dos Direitos Humanos da Organização dos Estados
(OEA). Proporcionalmente, Rondônia é recordista em desmatamento acumulado na
Amazônia Legal, com 38% de todo o território devastado. Veja abaixo os índices de
destruição em cada estado:

Área desmatada*

ACRE 12%
AMAZONAS 2%
AMAPÁ 2%
MATO GROSSO 22%

PARÁ 19%
RONDÔNIA 38%
RORAIMA 4%
TOCANTINS 11%

* Percentual referente à área total do estado

A CONSTRUÇÃO DAS HIDRELÉTICAS DO RIO MADEIRA

Com o advento do século XXI, as perspectivas para o Vale do Madeira, suas


populações e seus ecossistemas sofreram grandes alterações, pois a região que
mergulhara em uma profunda estagnação na década anterior, viu iniciar outro novo
surto desenvolvimentista. Trata-se agora dos preparativos para a construção das Usinas
Hidrelétricas do Madeira em Santo Antônio e do Jirau. Inseridas no PAC, as obras das
Hidrelétricas anunciam um investimento superior a vinte bilhões de reais. Trata-se de
uma obra que em proporções supera a grandiosidade da EFMM. Novamente a
modernidade se anuncia nos confins da Amazônia. As expectativas de migração são
ORGANIZAÇÃO: PROF. SÍLVIO MELO
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História do Estado de Rondônia

discutidas por especialistas das mais variadas tendências. Enquanto os empreiteiros das
Hidrelétricas falam em algo em torno de 30.000 pessoas, setores ligados aos
movimentos ambientalistas e grupos intelectuais anunciam que essa cifra pode chegar a
mais de 100.000 pessoas que, atraídas por promessas de emprego e bons negócios, já
começam a desembaraçar em Porto Velho.

As Hidrelétricas têm provocado acirrados debates, muitos são contra e seus


motivos são validos. A capital ficará a apenas 6 km abaixo de uma das maiores
barragens do Brasil, o meio ambiente será inevitavelmente alterado, espécies de plantas
e animais irão desaparecer, outras serão afetadas pelas barragens e pelas enormes
turbinas das hidrelétricas, doenças infecto-contagiosas prometem se multiplicar como
nos tempos da ferrovia, o custo de vida tende a sofrer considerável alta. Especula-se
sobre a falta de moradias para atender a toda demanda e sobre a elevação descontrolada
do preços da construção civil. Cientistas sociais alertam para o aumento dos casos de
prostituição, tráfico de drogas e criminalidade em uma região que já é, potencialmente
explosiva do ponto de vista social. A tudo isso, o coro das vozes de ambientalistas,
intelectuais e de diversos outros segmentos da sociedade acrescenta o grave problema
dos danos aos ecossistemas locais, tanto nas florestas e pântanos, quanto no próprio rio.

De acordo com Tavares: “O projeto do Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira é


composto por duas usinas de grande porte: UHE Jirau ( 3.300 MW) e UHE Santo
Antônio (3.150 W). (...) A importância destas usinas está assinalada nos estudos da
EPE e mostram que por volta de 2010 – 12, o país estará sob risco de escassez de
eletricidade. O equilíbrio só será garantido com as obras das usinas de Jirau e Santo
Antônio no Madeira. O problema maior é saber se existem condições políticas,
ORGANIZAÇÃO: PROF. SÍLVIO MELO
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História do Estado de Rondônia

ambientais e financeiras para a construção do empreendimento que faz parte do


Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o êxito do programa como um todo
depende assim do planejamento e ampliação da capacidade de infra-estrutura.”

As obras têm um custo estimado em torno de R$18.400.000.000,00 (dezoito


bilhões e quatrocentos milhões de reais). Tomando-se a estimativa de que a EFMM teria
custado o equivalente a 28 toneladas de ouro e partindo-se do custo de R$35.000,00
para o quilo deste metal, as hidrelétricas teriam um custo mais de 18 vezes superior ao
custo da ferrovia que teria representado um gasto correspondente a R$980.000.000,00
(segundo valores para o ouro em agosto de 2008).

Governadores de Rondônia
Território Federal do Guaporé

Nº Nome Início do mandato Fim do mandato


1 Aluísio Pinheiro Ferreira 1 de novembro de 1943 7 de fevereiro de 1946
2 Joaquim Vicente Rondon 7 de fevereiro de 1946 31 de outubro de 1947
3 Frederico Trotta 31 de outubro de 1947 9 de junho de 1948
4 Joaquim Araújo Lima 9 de junho de 1948 22 de fevereiro de 1951
5 Petrônio Barcelos 22 de fevereiro de 1951 7 de fevereiro de 1952
6 Jesus Burlamaque Hosanah 6 de fevereiro de 1952 18 de novembro de 1953
7 Ênio dos Santos Pinheiro 18 de novembro de 1953 13 de setembro de 1954
8 Paulo Nunes Leal 13 de setembro de 1954 5 de abril de 1955
9 José Ribamar de Miranda 5 de abril de 1955 14 de outubro de 1956
10 Jaime Araújo dos Santos 14 de outubro de 1956 6 de novembro de 1958
11 Paulo Nunes Leal 6 de novembro de 1958 8 de setembro de 1961
12 Abelardo Alvarenga Mafra 18 de março de 1961 8 de setembro de 1961
13 Ênio dos Santos Pinheiro 13 de setembro de 1961 3 de julho de 1962
14 Nilton Lima 3 de julho de 1962 12 de dezembro de 1962
15 Wadih Darwich Zacarias 12 de dezembro de 1962 27 de maio de 1963
16 Ari Marcos da Silva 27 de maio de 1963 14 de outubro de 1963
17 Paulo Eugênio Pinto Guedes 14 de outubro de 1963 27 de janeiro de 1964
18 Abelardo Alvarenga Mafra 27 de janeiro de 1964 6 de abril de 1964

ORGANIZAÇÃO: PROF. SÍLVIO MELO


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História do Estado de Rondônia

19 José Manuel Luís da Cunha Menezes 24 de abril de 1964 29 de março de 1965


20 João Carlos dos Santos Mader 29 de março de 1965 10 de abril de 1967
21 Flávio de Assunção Cardoso 10 de abril de 1967 30 de novembro de 1967
22 José Campedelli 30 de novembro de 1967 13 de fevereiro de 1969
23 João Carlos Marques Henrique Neto 7 de fevereiro de 1969 31 de outubro de 1972
24 Teodorico Gaíva 31 de outubro de 1972 23 de abril de 1974
25 João Carlos Henrique Neto 23 de abril de 1974 20 de maio de 1975
26 Humberto da Silva Guedes 20 de maio de 1975 2 de abril de 1979
26 Jorge Teixeira de Oliveira 10 de abril de 1979 4 de janeiro de 1982

Estado de Rondônia

Nº Nome Início do mandato Fim do mandato


1 Jorge Teixeira de Oliveira 4 de janeiro de 1982 10 de maio de 1985
2 Ângelo Angelim 10 de maio de 1985 15 de março de 1987
3 Jerônimo Garcia de Santana 15 de março de 1987 15 de março de 1991
4 Osvaldo Piana Filho 15 de março de 1991 1 de janeiro de 1995
5 Valdir Raupp 1 de janeiro de 1995 1 de janeiro de 1999
6 José Bianco 1 de janeiro de 1999 1 de janeiro de 2003
7 Ivo Cassol 1 de janeiro de 2003 1 de janeiro de 2006
8 Ivo Cassol 1 de janeiro de 2007 Atualidade

ORGANIZAÇÃO: PROF. SÍLVIO MELO


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