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1. «rabo» — cauda do manto; «caro» — parte inferior das vergas das velas; «ré» — no
sentido da popa; «atesa» — estica; «palanco» — corda da vela; «poja» — corda para
virar a vela; «sus» — Olha lál; «leito» — espaço entre o mastro grande e a popa; «lesta»
— frouxa; «alija» — alivia; «Berzebu» — nome do Diabo; «driça» — cabo para içar as
velas.
2. Por parte do Companheiro em relação ao Diabo, existe uma relação de subalternidade e
de subserviência., ou seja, o Diabo manda e o Companheiro obedece.
3. Para o Diabo é dia de festa, porque ele sabe que irá receber muitos convidados. Esses
convidados são os mortos que serão condenados.
4. O Diabo mostra ser um barqueiro experiente. No texto diz-se, por exemplo, «Ora venha
o caro a ré!»; «Faze aquela poja lesta / e alija aquela driça», expressões que
demonstram claramente a experiência do Diabo na arte de navegação.
5. A fala do Diabo que anuncia a chegada de uma nova personagem é a seguinte: «Ó
poderoso dom Anrique, / cá vindes vós? Que cousa esta?».
6. A indicação inicial é um texto em que o autor pretende dar informações sobre as suas
personagens; sobre o primeiro passageiro, a personagem e o objecto que o
acompanham, o seu guarda-roupa e a personagem que começa a falar.
6.1. Esse tipo de indicações é designado como didascálias ou indicações cénicas.

Página 56 (Cena do Fidalgo)


. Anjo e Diabo; Fidalgo; Pajem (servo que leva as mãos ocupadas); espada, manto, cadeira que o Pajem
transporta, chapéu, botas; numa das barcas.

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1.° momento: diálogo com o Diabo, junto à barca do Inferno (vv. «Esta barca onde vai ora» )— «Do que
vós vos contentastes»);
2.° momento: diálogo com o Anjo, junto à barca do Paraíso (vv. «A estroutra barca me vou”) — «quanto
mais fostes fumoso”);
3.° momento: diálogo com o Diabo, de regresso à barca do Inferno, onde a personagem acaba por entrar
(vv. «À barca, à barca, senhores!» — «Oh! Que barca tão valente!”).

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1. cais; 2. manto; 3. cadeira; 4. Pajem; 5. nobreza; 6. Anjo; 7. Diabo (tirania).
2. A expressão «ilha perdida» é usada pelo Diabo para designar o Inferno, destino da sua barca.
A expressão «senhora” é usada pelo Fidalgo ao confundir o Diabo com uma mulher, sendo que este
o corrige.
A expressão «cortiço”é usada pelo Fidalgo, referindo-se desdenhosamente à barca do Diabo, que o
convida então a vê-la por dentro.
2.1. Ao usar a expressão «ilha perdida” para designar o Inferno, o Diabo emprega um eufemismo,
pois suaviza assim o destino da sua barca.
O Diabo faz uso da ironia quando convida o Fidalgo a entrar na sua barca como se o seu aspecto
interior pudesse alguma vez agradar à personagem, sabendo ambas que o destino da mesma barca
é o terrível Inferno.
O facto de o Fidalgo confundir o Diabo com uma mulher e de este ter de o corrigir gera o cómico de
situação.
3. Acusações:
«Quê? E também cá zombais?» (verso 36);
«Vejo-vos eu em feição / pera ir ao nosso cais.. .» (versos 39-40);
«E tu viveste a teu prazer, / cuidando cá guarecer / porque rezam lá por ti?» (versos 47-49).
Significados:
O Fidalgo fez escolhas erradas ao longo da sua vida, pela quais terá agora de pagar.
O Fidalgo pecou e tirou prazer desses pecados.
4. «Embarcai! Hou! Embarcai / que havês de ir à derradeira» (versos 50-51);
«Pois que já a morte passastes, / havês de passar o rio» (versos 58-59);
«Não, senhor, que este fretastes, / e primeiro que espirastes / me destes logo sinal» (versos 61-63).
5. «Mandai meter a cadeira, / que assi passou vosso pai» (versos 53-54).

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5.1. A personagem do Fidalgo é uma personagem-tipo, pois ele representa todos os
fidalgos tiranos (que oprimem e exploram os mais pobres).
6. No aparte, o Fidalgo utiliza o registo de língua familiar.
6.1. Desse aparte resulta o cómico de linguagem.
7. Para forçar a sua entrada na barca do Anjo, o Fidalgo apresenta os seguintes argumentos: «Sou
fidalgo de solar, / é bem que me recolhais» (versos 80-81); «Não sei porque havês por mal / que
entre a minha senhoria.. .» (versos 84-85); «Pera senhor de tal marca! nom há aqui mais cortesia?»
(versos 88-89).
7.1. A arrogância, pois mesmo diante do representante de Deus, o Fidalgo argumenta de acordo com
o estatuto social que tivera em vida, não se mostrando suficientemente humilde para aceitar que
é um pecador igual a tantos outros diante de Deus e para acatar de imediato a justiça divina, a
qual imaginara capaz de o absolver em virtude da sua condição social passada
8. A réplica é a seguinte: «Pera vossa fantesia / mui estreita é esta barca» (versos 86-87).
9. O Anjo refere a cadeira e o «rabo» (manto).
9.1. Esses objectos representam a presunção, a vaidade, a tirania e a exploração dos mais fracos.
9.2. Esses objectos são Símbolos cénicos.
10. Na sua canção, o Diabo dirige-se aos pecadores que, inevitavelmente, lhe «virão à mão», ou seja,
seguirão com ele para o Inferno, sendo este o caso do Fidalgo, o qual tentara, sem sucesso, alterar o
seu destino.
11. Constatando a impossibilidade de alterar o seu destino, o Fidalgo já não se mostra confiante nas
regalias sociais de que desfrutara em vida, lamentando agora esse seu engano.
11.1. O destinatário desse aviso são todos os que julgam poder contar, no momento do juízo
final, com o estatuto social de que gozaram em vida, sem se preocuparem com a última
consequência dos actos que praticam.
12. A sua amante e a sua mulher, respectivamente.
12.1. A infidelidade e a hipocrisia.
12.2. Gil Vicente critica a hipocrisia e a infidelidade da mulher da corte, sendo esta mais uma
forma de denunciar os vícios da nobreza do seu tempo.
13. Para além de humilhar o Fidalgo, ridicularizando a sua visão pretensiosa das relações amorosas
mantidas em vida, o Diabo, dirigindo-se a essa personagem, passa a utilizar a segunda pessoa do
singular em vez da respeitosa segunda pessoa do plural, que predomina no primeiro diálogo entre
ambos.
14. Sendo o Pajem apenas uma personagem figurante, que acompanha o Fidalgo para representar um
dos seus pecados (a tirania), não se encontra ele mesmo em julgamento, razão por que não lhe é
atribuído nenhum destino. Quanto à cadeira d’espaldas, a mesma estivera na igreja, segundo as
palavras do Diabo, pelo que este não está interessado em transportá-la na sua barca.

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15. «Cá lha darão de marfim, / marchetada de dolores, / com tais modos de lavores, / que estará tora de
si. . » (versos 171-175): o Diabo refere-se com ironia aos sofrimentos que estão destinados ao
Fidalgo, dizendo que lhe darão uma cadeira especial no Inferno. «À barca, à barca, boa gente, /que
queremos dar a vela! / Chegar a ela! Chegar a ela!/Muitos e de boa mente! / Oh! que barca tão
valente!» (versos 176-180): o Diabo dirige-se com ironia aos passageiros da sua barca, convidando-
os a entrar como se lhes tivessem preparado uma viagem e um destino muito agradáveis.
16. Um fidalgo é alguém que tem títulos de nobreza.
16.1. Evolução semântica (de sentido)
16.2. Composição por aglutinação.

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