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Ensaio Iconográfico
Resumo
O abdome agudo obstrutivo é uma doença comum, cujo manejo seguro e efetivo depende do diag-
nóstico rápido e preciso. A radiografia simples permanece a primeira escolha dentre os exames de
imagem, por possuir fácil acesso, baixo custo e poder ser realizada seriada conforme a evolução
clínica do paciente. A ultra-sonografia não possui radiação ionizante, é um exame dinâmico e em
tempo real. A tomografia computadorizada fornece informações adicionais não aparentes nas radio-
grafias, como confirmação da obstrução, grau e local de uma oclusão, presença de isquemia e causas
Descritores: de obstrução. A ressonância magnética tem apresentado grandes avanços tecnológicos e, futura-
Dor abdominal; Abdome agudo; Radio-
grafia convencional; Tomografia compu- mente, pode ser uma opção viável. O objetivo deste ensaio pictórico é revisar os diferentes méto-
tadorizada; Ressonância magnética. dos de imagem usados no diagnóstico de abdome agudo obstrutivo.
A B
Fig. 2 – Íleo biliar. Fístula colecisto-entérica. Oclusão intestinal do delgado. (A) Tomografia computadorizada com contraste intravenoso. A área
circulada representa o duodeno e o estômago em íntimo contato. Há densificação da gordura adjacente e gás dentro da vesícula. Há alças do
delgado muito dilatadas, por vezes com válvulas coniventes individualizadas. (B) Tomografia computadorizada com contraste intravenoso. Nota-
se, no íleo terminal, imagem arredondada com calcificação periférica representando cálculo biliar (cabeça de seta). As setas tortuosas demons-
tram alças do delgado dilatadas, por vezes com níveis de líquido.
noma (Fig. 6), metástases peritoneais, tumores mesen- Quando longos segmentos intestinais estão acome-
teriais) e massas abdominais não-tumorais (apendicite tidos, deve-se ter três causas em mente: carcinoma, di-
(Fig. 7), diverticulite, invaginação, doença de Crohn verticulite e volvo (Fig. 10)[5].
(Fig. 8), endometriose, pólipos (Fig. 9), hematomas in- A idade do paciente é um dado importante, pois cer-
tramurais)[4]. Compressões extrínsecas também podem tas causas têm sua maior freqüência em determinadas
levar a obstruções, causadas por abscessos, pseudocis- faixas etárias. No neonato devem ser lembrados volvo,
tos, aneurismas e pseudo-aneurismas. íleo meconeal, má-rotação (Fig. 11), imperfuração anal
A principal causa de obstrução colônica são os ade- (Fig. 12), atresia duodenal (Fig. 13) e doença de Hirsch-
nocarcinomas primários do cólon, responsáveis por 55% sprung. Nos lactentes devem ser consideradas invagina-
dos casos, seguidos por torção ou volvo em 12% dos ção intestinal (Fig. 14), hérnias complicadas e obstruções
casos e diverticulite em cerca de 10%[2]. por divertículo de Meckel (Fig. 15)[6]. No adulto jovem e
A B
Fig. 5 – Estrongiloidíase maciça do intestino delgado. Hiper-infestação. (A)
Radiografia do epigástrio em ântero-posterior, decúbito dorsal. Observa-
se o estômago (Est) com discreto aumento das dimensões. Alças jejunais
(J) e jejuno-ileais (J/I) são bem demonstradas, com aumento do calibre. A
seta aponta o bulbo duodenal. (B) Tomografia computadorizada com con-
traste intravenoso e por via oral. Corte efetuado no nível do pâncreas.
Demonstra-se a cabeça do pâncreas (seta), bem como o corpo e a cauda
(cabeça de seta) com aspecto normal. (C) Tomografia computadorizada com
contraste intravenoso e por via oral. Corte realizado no pólo inferior dos
rins. Espessamento regular, concêntrico e difuso de alças do delgado (ca-
beças de setas). O colo tem aspecto normal (seta curva).
A B
Fig. 7 – Apendicite aguda com quadro de oclusão intestinal. (A) Tomografia computadorizada sem contraste. Corte realizado na altura da pelve.
Observa-se grande apendicólito (seta grossa) na fossa ilíaca direita com densidade cálcica. Alças do delgado ocluídas, com aumento do calibre,
conteúdo líquido (seta fina). Há níveis de líquido (seta tortuosa). (B) Tomografia computadorizada sem contraste, corte realizado logo abaixo
da figura anterior. O delgado (del) está dilatado, com nível de líquido (seta tortuosa). O apêndice cecal apresenta-se espessado, com borramento
da gordura vizinha (cabeças de setas).
Há controvérsias sobre a melhor abordagem para ção do grau e fator obstrutivo. Os autores referem que
a avaliação das obstruções intestinais[8]. Recentemente, a ultra-sonografia e a ressonância magnética são opções
foram publicadas diretrizes sobre a conduta que os ci- diagnósticas, com sensibilidade similar à tomografia, e
rurgiões devem tomar na suspeita de abdome agudo acrescentam que, caso os sintomas persistam por tempo
obstrutivo, e a radiografia simples é apontada como o superior a 48 horas com tratamento conservador, radio-
primeiro exame de imagem a ser solicitado, visto que, grafias contrastadas auxiliam no diagnóstico[9].
ao ser comparada à tomografia computadorizada, apre-
senta sensibilidade semelhante na diferenciação de qua-
RADIOGRAFIA SIMPLES DO ABDOME
dro obstrutivo e não-obstrutivo. Caso a radiografia seja
inconclusiva, sugere-se prosseguir a investigação diag- A radiografia simples do abdome continua sendo a
nóstica com tomografia computadorizada para elucida- principal ferramenta para o diagnóstico de abdome
A B
Fig. 9 – Síndrome de Peutz-Jegher. Invaginação intestinal do delgado. (A)
Tomografia computadorizada com contraste. Alças de delgado dilatadas
(setas grossas) com conteúdo líquido no seu interior. Evidenciam-se as val-
vas coniventes (setas finas) atravessando as alças de parede a parede. O
colo aparece em vários segmentos com aspecto colabado, caracterizando
status pós-obstrutivo (cabeças de setas). (B) Tomografia computadorizada
com contraste. Corte realizado abaixo da figura anterior. Em meio às al-
ças de delgado distendidas evidenciam-se duas imagens de pólipos pro-
jetando-se para dentro da luz da alça (cabeças de setas). (C) Tomografia
computadorizada com contraste. Corte realizado alguns centímetros abai-
xo da figura anterior. Em meio à cavidade pélvica observa-se grupo de
alças de delgado formando figura circular (seta) em torno de pedículo
vascular. Demonstram-se alças de intestino grosso com aspecto normal
(cabeças de setas).
A B
Fig. 10 – Volvo de sigmóide. Doente com megacolo chagásico. (A) Radiografia em ântero-posterior, decúbito dorsal. Observa-se alça colônica
dilatada apresentando clássico aspecto em “grão de café”. O íntimo contato das paredes da alça em volvo forma a imagem da prega medial
(seta) e as pregas convergentes formam um “Y” (cabeças de setas). O colo proximal ao volvo tem discreta dilatação (seta tortuosa). (B) Enema
baritado. Radiografia em ântero-posterior, decúbito dorsal. Reto dilatado (R) em razão da pressão exercida para introduzir o contraste. O sig-
móide está dilatado, apresentando a clássica imagem em “grão de café”. A prega medial (seta) e as convergentes (cabeças de setas) compõem o
“Y”. Há pequena quantidade de contraste no interior das alças torcidas, pois o contraste ultrapassava o reto com dificuldade.
agudo obstrutivo. Freqüentemente, é o primeiro, senão Dependendo da causa da obstrução, existem sinais
o único método utilizado. Pode indicar o ponto da obs- que podem sugerir sua etiologia[1,2,10]. A obstrução do
trução em até 80% dos casos e, em exames seriados, a intestino delgado pode apresentar distensão do delgado
eficácia do método pode se tornar ainda maior[8,10]. A superior com calibre maior que 3 cm, colo colapsado,
presença de sonda nasogástrica diminui a sensibilidade nível de líquido e espessamento de parede. O sinal do
do exame, por esse motivo, a radiografia deve ser obtida empilhamento de moedas também pode ser observado
antes da sua introdução[2]. e é causado por uma lentificação na reabsorção do ar
intraluminar, ficando acumulado entre as válvulas co-
niventes. Sinais de estrangulamento incluem edema das
válvulas, pneumatose intestinal e gás na veia porta[2,10].
RADIOGRAFIA CONTRASTADA
ULTRA-SONOGRAFIA
Fig. 11 – Má rotação intestinal. Radiografia do estômago e duodeno
com meio de contraste. Evidenciam-se o estômago (Est) com volume A ultra-sonografia pode ser utilizada com a finali-
um pouco aumentado e o arco duodenal (D.II) dilatado até o local dade de distinguir íleo paralítico de um quadro obstru-
apontado pela seta. Após este ponto, o intestino situa-se do lado di-
reito, de calibre normal. O ângulo duodenojejunal está deslocado para tivo; mediante identificação das válvulas coniventes,
a direita. pode-se diferenciar alças de delgado das alças de intes-
tino grosso[2,11]. A combinação de peristalse, distensão gravidade, compressão, mobilidade e flexibilidade, via-
com conteúdo líquido e espessamento de parede sugere bilizando a realização no exame no leito, que são vanta-
o diagnóstico de infarto de parede intestinal[10]. gens que devem ser somadas[10,11].
O exame apresenta grande valor em condições gi- Sugere-se que, por ser um exame não-invasivo e
necológicas e obstétricas, além de poder ser utilizado com boa sensibilidade, a ultra-sonografia seja realizada,
com segurança em pacientes gestantes[11,12]. A ultra-so- em crianças, logo após a radiografia simples[6].
nografia transvaginal oferece vantagens sobre a abdo-
minal na visualização de doenças profundas na pelve,
TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA
como divertículo localizado inferiormente, apendicite e
abscesso no fundo de saco de Douglas[11]. A eficácia da tomografia no diagnóstico de abdome
Por ser um exame dinâmico, também pode eviden- agudo obstrutivo de grau variado oscila entre 75% e
ciar o fluxo sanguíneo e a pulsatilidade por meio de es- 95%, altera a conduta que seria tomada sem a sua utili-
tudo Doppler colorido, manobra de Valsalva, efeito da zação em 50% dos casos, evita internações e cirurgias
desnecessárias, além de reduzir a morbi-mortalidade[3,12].
A tomografia é um método rápido e eficaz, todavia,
apresenta queda de cerca de 30% na sua sensibilidade
e 20% em sua especificidade nos casos de obstrução
baixa ou intermitente[8,10].
O exame tomográfico sem contraste via oral pode
ser realizado em grande parte dos pacientes com obs-
trução intestinal, nos quais há acúmulo de líquido in-
traluminal. A presença desse líquido funciona como um
contraste natural e, assim, o exame pode ser realizado
imediatamente, evitando o atraso do preparo via oral[8].
Os principais sinais tomográficos de obstrução in-
testinal são distensão de alças de delgado (acima de 2,5
a 3 cm de diâmetro), presença de níveis líquidos e des-
proporção do calibre da alça, identificando-se segmen-
tos de fino calibre e, dessa forma, podendo-se estabele-
Fig. 13 – Atresia duodenal. Radiografias em ântero-posterior, decúbito cer o diagnóstico. A utilização desses sinais prescinde de
dorsal, ortostáticas, feitas poucas horas após o nascimento. Demons- contraste intravenoso e via oral[2,8,10].
tra-se o estômago (Est) distendido com nível de líquido (cabeça de
seta). O duodeno encontra-se distendido (seta branca) até o joelho in- Alguns sinais podem sugerir malignidade, como
ferior, onde a coluna aérea interrompe-se bruscamente (seta preta). massa, linfadenopatia ou transição abrupta associada a
A B C
Fig. 15 – Divertículo de Meckel. Sétimo dia de pós-operatório de laparotomia branca por sus-
peita de apendicite aguda, evoluiu com oclusão intestinal, devido a inflamação de divertículo
de Meckel. (A) Radiografia em ântero-posterior. Há alça jejunal dilatada de situação transversa
no hemiabdome superior (seta reta). Abaixo desta alça, todo o abdome tem aspecto homogê-
neo, “vazio”, característico de grande quantidade de líquido nas alças (setas tortuosas). (B) Ra-
diografia em ântero-posterior. Observam-se alças do delgado muito dilatadas no hemiabdome
superior (setas). Há níveis de líquido (cabeça de seta). O nível mais baixo demonstrado corres-
ponde a alça do delgado muito longa. (C) Trânsito intestinal. Radiografia de 30 minutos. O con-
traste percorre o jejuno proximal com o calibre normal, à direita da coluna, a seta aponta alça
do delgado muito dilatada com sinais de diluição do contraste. Desde que a progressão do con-
traste era muito lenta, o exame foi suspenso neste momento. (D) Detalhe do hemiabdome su-
perior direito. Observa-se alça de aspecto e calibres normais (seta preta). A seta branca aponta
alça muito distendida, com diluição do contraste, portanto, mais próxima do obstáculo.
RESSONÂNCIA MAGNÉTICA of the CT scan in patients with acute abdomen. Colorectal Dis
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guem avaliar o abdome agudo obstrutivo com alta acu- 5. Leschka S, Alkadhi H, Wildermuth S, Marincek B. Multi-detec-
rácia e rapidez. Podem utilizar o ar intraluminal como tor computed tomography of acute abdomen. Eur Radiol 2005;
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6. Babcock DS. Sonography of the acute abdomen in the pediatric
bário ou contrastes específicos. Os sinais que represen- patient. J Ultrasound Med 2002;21:887–99.
tam oclusão são similares aos encontrados na tomogra- 7. Elsayes KM, Menias CO, Smullen TL, Platt JF. Closed-loop small-
fia, com dilatação das alças proximais à obstrução, um bowel obstruction: diagnostic patterns by multidetector com-
puted tomography. J Comput Assist Tomogr 2007;31:697–701.
ponto de transição e alças distais com calibre variando
8. Freire Filho EO, Jesus PEM, D’Ippolito G, Szejnfeld J. Tomogra-
de normal a colapsado[10]. fia computadorizada sem contraste intravenoso no abdome agu-
Em gestantes em que a ultra-sonografia não estabe- do: quando e por que usar. Radiol Bras 2006;39:51–62.
leceu o diagnóstico, a ressonância magnética é uma al- 9. Diaz JJ, Bokhari F, Mowery NT, et al. Guidelines for management
of small bowel obstruction. J Trauma 2008;64:1651–64.
ternativa viável[9,15].
10. Nicolaou S, Kai B, Ho S, Su J, Ahamed K. Imaging of acute small-
Embora ainda não seja um método acessível à tec- bowel obstruction. AJR Am J Roentgenol 2005;185:1036–44.
nologia da ressonância magnética, continua a se apri- 11. Puylaert JBCM. Ultrasonography of the acute abdomen: lost art
morar e possui potencial para se tornar um excelente or future stethoscope? Eur Radiol 2003;13:1203–6.
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obstrutivo.
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tinal pseudo-obstruction in adult patients: multidetector row
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CONCLUSÃO
14. Shah ZK, Uppot RN, Wargo JA, Hahn PF, Sahani DV. Small bowel
obstruction: the value of coronal reformatted images from 16-
O abdome agudo obstrutivo é uma doença comum, multidetector computed tomography – a clinicoradiological per-
cujo manejo seguro e efetivo depende do diagnóstico spective. J Comput Assist Tomogr 2008;32:23–31.
rápido e efetivo. Os exames de imagem podem firmar 15. Birchard KR, Brown MA, Hyslop WB, Firat Z, Semelka RC. MRI
of acute abdominal and pelvic pain in pregnant patients. AJR Am
o diagnóstico e auxiliar na escolha do manejo mais apro- J Roentgenol 2005;184:452–8.
priado.
A radiografia simples permanece a primeira esco-
Abstract. Obstructive acute abdomen: reviewing important points.
lha dentre os exames de imagem, por possuir fácil aces-
The obstructive acute abdomen is a common presentation, for
so, baixo custo e poder ser feita seriada conforme a evo-
which safe and effective management depends on a fast and ac-
lução clínica do paciente. A ultra-sonografia apresenta
curate diagnosis. Conventional radiograph remains the first choice
a vantagem de não possuir radiação ionizante e ser um among the imaging exams because of its availability, low cost and
método dinâmico e de fácil mobilização. A tomografia the possibility to be done serially to follow the patient’s clinical
computadorizada fornece informações adicionais como progression. The ultrasonography does not require ionizing radia-
confirmação da obstrução, grau e local de uma oclusão, tion. It is a dynamic and in realtime exam. Computed tomography
presença de isquemia e causas de obstrução. A ressonân- is used increasingly due to the provision of essential diagnostic
cia magnética tem apresentado grandes avanços tecno- information not apparent from radiographs, such as the confirma-
lógicos e, futuramente, pode ser uma opção viável. tion of the obstruction, degree and place of the occlusion, pres-
ence of ischemia as well as the causes of the obstruction. Mag-
REFERÊNCIAS netic resonance imaging has presented great technological ad-
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