Você está na página 1de 102

Coleção Cultura

Contemporânea

Textos modernos sobre assuntos de interesse para


o leitor de hoje. No conjunto, uma verdadeira
enciclopédia ao dispor do estudante, do estudioso e
do autodidata.
JEAN-CLAUDE DETYMOWSKI
MADELEINE FIÉVET-IZARD
MADELEINE J. GUILLAUME

A ACUPUNTURA
Apresentação:
Dr. Frederico Spaeth

Tradução:
Júlia E. Ruiz de Souza
Revisão Técnica:
Dr. Geraldo Achiame
Médico e Professor de Acupuntura

Jorge Zahar Editor


Rio de Janeiro
Título original : L 'Acupuncture
Tradução autorizada da quarta edição francesa
publicada em 1985 por Presses Universitaires de France,
de Paris, França, na coleção "G je Sais-Je?"

Copyright © 1975, Presses Universitaires de France


Copyright © 1985 da edição em língua portuguesa:
Jorge Zahar Editor Ltda,
rua México 31 sobreloja
20031 Rio de Janeiro, RJ
Todos os direitos reservados
A reprodução não-autorizada desta publicação, no todo
ou em parte, constitui violação do copyright. (Lei 5.988)

Produção editorial Revisão: Lucia Jahn (copy); Marcia


Cherman, Nair Dametto (tip.); Composição: Ed. Interciência Ltda.;
Arte-final: José Geraldo de Lacerda (texto); Capa: Ana Cristina Zahar
com arte-final de Antonio Sampaio. '

ISBN: 85-85061-61-8
SUMÁRIO

Apresentação: Dr. Frederico Spaeth 7

Nota do Revisor 10

capítulo I HISTÓRICO 11
I As Origens 13
II O Período Pré-lmperial 17
III O Período Imperial 18
IV A Fundação da República 20
V A República Popular da China 20
VI Fora da China 21

capítulo I I NOÇÕES DE BASE 23


I Generalidades 23
II A Energia 30
III As Vias da Energia e os Pontos Chineses 32
A) As Vias, 32; B) Os Pontos, 54
capítulo I I I O EXAME DO DOENTE E O DIAGNÓSTICO 62
I O Exame Clínico 62
II O Estudo das Pulsações 64
III A Patologia Energética 68
IV A Patologia dos Órgãos e das Vísceras 70
capítulo IV A TERAPÊUTICA 74

capítulo V A TÉCNICA 80

capítulo VI AS INDICAÇÕES DA ACUPUNTURA 86


I A que Afecções a Acupuntura se Dirige? 87
II A Anestesia por Acupuntura 88
III Os Limites da Acupuntura 93

capítulo VII TENTATIVAS DE EXPLICAÇÕES DA


ACUPUNTURA 94

Conclusão 104

Bibliografia Sumária 106


INDICE DAS FIGURAS

1. Caractere chinês: King 12


2. Emblema do Dao 14
3. As varas de Logos ou Pa-Kua 16
4. Os cinco potenciais 26
5. Ciclo Sheng e ciclo Ko 28
6. Ideograma do QI 30
7. Horário e mutações dos meridianos principais 35
8. Trajetos dos meridianos principais
(face posterior do corpo) 38
9. Trajetos dos meridianos principais
(face anterior do corpo) 39
10. Trajetos dos meridianos principais
(face lateral do corpo) 43
11. Trajetos dos meridianos principais
no crânio, face e pescoço 44
12. Zonas de conexões dos meridianos 47
13. Circulação da energia: os três Yang, os três Yin 48
14. Esquema das pulsações 66
15. Os modelos de agulhas clássicas 81
APRESENTAÇÃO

À EDIÇÃO B R A S ILE IR A

O interesse do Dr. Jean-Claude de T ym ow ski pela acup un­


tura teve o seu início em 1946, quando estudante de m e d i­
cina, em um encontro que teve com Dr. Roger de La Fuye,
fundador da Sociedade Internacional de A cupuntura, de
quem se tornou amigo, aluno em acupuntura e, enfim , su­
cessor na presidência da Sociedade.
Chuang-Tse, seguidor de Lao-Tse, dizia: "Q uando um
homem superior emprega a sua mente, ele é um espelho;
ele não demonstra nem antecipa nada; ele responde ao que
está diante dele, mas não permanece no que está diante de
si; então, ele se torna apto a lidar, com sucesso, com todas
as coisas e não ofende a nenhuma."
Na Maison du Médecin, em Paris, realizou-se, em maio
de 1955, um Congresso Internacional de A cupuntura para
o qual fom os convidados pelo seu presidente, Dr. Roger de
La Fuye, para representar o Brasil e presidir parte dos tra ­
balhos científicos. Nessa ocasião, tive o prazer de o u vir o
Dr. J.-C. de Tym owski pronunciar a sua prim eira conferên­
cia diante de um auditório internacional, dem onstrando
uma inteligência viva que deixou antever um fu tu ro líder.
De fato, o Dr. de Tym owski desenvolveu grande atividade
dentro da Sociedade de Acupuntura, fundada em 1943,
sendo, também, o fundador da prim eira escola de mas­
sagem chinesa dentro do Cercle de Massothérapie Chinoise,
em 1949. Dedicou-se ao ensino da acupuntura não som en ­
a acupuntura

te nos países d a Europa como, também, nas Américas. Os


seus conhecimentos foram respeitados a tal ponto que, du­
rante os preparos da viagem do presidente dos Estados U ni­
dos, N ixon, à China, o Dr. de Tym ow ski fo i convidado a
pronunciar conferências sobre acupuntura, nos dias 6 e 7
de dezembro de 1971, na Fogarty International Center, do
In stitu te o f Health, em Washington, a fim de preparar a
equipe de acompanhantes na viagem do presidente N ixon
à China. Tal acontecimento deu início a uma nova época na
divulgação da acupuntura que, neste período significativo,
prom etia modificações profundas nos tratamentos de saú­
de no Ocidente. O Dr. de Tym ow ski fo i, igualmente, o pio­
neiro no tratam ento por acupuntura do tabagismo e da
intoxicação por drogas.
E m pen hado sempre em alargar os conhecimentos
médicos, fez inúmeras viagens a vários países (em todos os
continentes), incluindo o Brasil. Através de um o fíc io , de
01.10.79, pediu ao presidente da República Federativa do
Brasil a in clusão do ensino da acupuntura nas faculdades
de m edicina, im pulsionando, assim, a divulgação da acu­
puntura já existente no país. Apresentou-se, como confe­
rencista, em m uitos congressos realizados na área da saúde,
dem onstrando conhecimentos profundos tanto em medi­
cina ocidental e oriental como, também, em bioeletrônica
e eletrônica em geral, usada em medicina. Em Laserterapia,
foi pioneiro m undial e fundou a Sociedade Internacional
de S oft laserterapia.
Como fundador de algumas escolas e como Magister
adm inistrou vários cursos em diversos países sobre acupun­
tura, alimentação, massagem chinesa, aromaterapia, e soft
laserterapia. Entre os títu lo s, sobressai o de presidente fu n ­
dador da Alliance Médicale Internationale, presidente ho­
norário da Sociedade Internacional de Acupuntura e profes­
sor da Académie Internationale de Manternach, em Luxem ­
burgo. No Brasil, fo i agraciado com a Ordem do Marechal
Rondon, devido a suas atividades no setor de saúde, em
favor do Brasil.
Desta form a, o Dr. Jean-Claude de Tym ow ski, sábio
de nosso tem po, continua colaborando para o esclareci-

3
apresentação

mento cie n tífico da terapia milenar, propondo um cami­


nho a fim de que a ciência médica de hoje compreenda que
a verdadeira saúde é o e q u ilíb rio entre quím ica e energia,
as quais têm o seu encontro nas células e se harmonizam
na manutenção da saúde.
Dessa maneira, a ciência colabora com a Organização
Mundial da Saúde na realização de um bem-estar social, f í ­
sico e mental da humanidade.

FR ED ER IC O SPAETH
Presidente fundador da
Associação Brasileira de Acupuntura
Fundador do Instituto Brasileiro de Acupuntura
NOTA DO R E V I S O R

O livro A A cupuntura possui um texto fluente e acessível


ao leigo que usa ou pretende usar esta terapia. De fácil lei­
tura, presta-se também a inform ar bem mais que o neces­
sário para a simples compreensão do método, seus recursos
e lim ites, estando indicado ao médico que inicia seu estu­
do. Quanto aos colegas que manipulam este material há
mais tem po, abre-se a oportunidade de uma revisão rápida,
sucinta e abrangente de quase todos os assuntos que dizem
respeito à matéria.
Procurou-se manter a linguagem dentro dos parâme­
tros vigentes na comunidade de médicos acupuntores. De­
vido à m ultiplicidade das fontes de informação, cada uma
delas possuindo diferente grafia fonética, foi proposital a
utilização de termos variados. Dúvidas e detalhes podem
ser esclarecidos e obtidos nos cursos, congressos e pales­
tras ou ju n to aos professores e médicos mais experientes.
Certo de ter co n tribu ído para a divulgação de uma
das prim eiras obras em língua portuguesa que não peca
pela falta de informações mas possui profundidade sufi­
ciente para a compreensão da acupuntura, desejo aos que
a lerem um proveito que faça j us ao esforço dos autores,
tradutores e editores.

Geraldo Achiame
Setembro de 1986

10
CAPÍTULO I

H IS T Ó R IC O

A acupuntura, m étodo terapêutico milenar e parte inte­


grante da m edicina chinesa, nasceu no fé rtil vale do rio
Am arelo, nas costas setentrionais do mar da China.
A partir daí, sua prática estendeu-se progressivamente
a todo o império chinês, depois, transpondo suas fro n te i­
ras, atingiu a totalidade do continente asiático, onde se
desenvolveu e se expandiu em especial na Coréia e no Japão,
e, já no século X V II, até os confins da Eurásia e da África
para, finalm ente, interessar ao mundo ocidental.
Trata-se de uma arte de curar, cujo espírito está vin­
culado às concepções cosmogônicas chinesas e cuja técnica
assenta na colocação judiciosa de agulhas metálicas em
pontos precisos do corpo humano, segundo leis decorren­
tes dessas mesmas concepções.
As bases dessa terapêutica são constituídas por duas
noções pacientemente elaboradas no transcurso de longas
observações:

1. A noção de energia: QI , 1 incluída na idéia de unidade,


base da filosofia e da medicina chinesa, energia que rege o
universo-macrocosmo e seu reflexo, o homem-microcosmo,
e que se manifesta sob duas formas alternantes e comple­
mentares: a energia Yang, positiva, e a energia Yin, negati­

1 QI — energia: pronuncia-se T 'chi. (N. R.)


a acupuntura

va, cuja fo n te seria talvez a polarização original e perma­


nente do p rincípio Ta H i (a grande vacuidade prim itiva que
não é o nada, mas engloba o ser e o não-ser, a matéria e o
espírito), p rincípio que engendrou o mundo e cuja ação se
situa no seio de uma grande lei fundamental, a regra dos
Cinco Elementos (regra esta que se pode, aliás, considerar
hoje como a concepção prem onitória da importância da
ecologia e da primeira tentativa de suas aplicações p rá ti­
cas).

2. A existência de zonas cutâneas privilegiadas a que chama­


mos pontos mas a que os chineses chamam mais correta­
mente Tsing (poços), porquanto são mais um lugar, uma
z ona, do que po ntos no sentido geométrico do term o; pon­
t o s que estão repartidos pelo corpo humano em trajetos

lineares: meridianos dos ocidentais, Kings dos chineses, em


cujos percursos é possível, com a ajuda de agulhas, obter
uma ação sobre a energia.
O term o meridiano, proposto na França por Soulié
de M orant, mas m uito contestado no plano lingüístico,
tem o m érito de assinalar a invisibilidade do trajeto mas
deixa de lado o seu aspecto energético.
O King é uma linha m uito fina, "um fio de seda" tão
tênue que não se pode vê-lo, ao longo do qual se sucedem
os Yu (casulos) e que, como uma espécie de vaso, contêm
um flu id o invisível, "a grande onda subterrânea" que tra ­
balha e está dotada de "dinamismo (o esquadro = traba­
lho).

2
O te rm o king adotado pela m aio ria dos autores franceses é a transcrição de
orig em inglesa ( W ade-Giles) para o a lfa b e to latin o do caractere ch inês corres-

12
histórico

Todas essas noções nos foram transm itidas, em partes


iguais, por uma documentação arqueológica de im p o rtâ n ­
cia e qualidade variáveis segundo as épocas, e pela tradição
oral — o ensino de mestre a aluno, o qual vem sendo exer­
cido desde os prim eiros m ilênios praticam ente até os nos­
sos dias.

I. AS O RIGENS

Elas remontam à pré-história. Os chineses p rim itiv o s t i ­


nham observado o fato de que certos d is tú rb io s orgânicos
são freqüentemente acompanhados de uma localização d o ­
lorosa precisa num ponto do revestim ento cutâneo do c o r­
po. Tratavam suas doenças enterrando nesses p o n to s lascas
afiadas de sílex. Era um gesto supersticioso, te n d o por
finalidade im olar o gênio m a lfe ito r da dor, ou u m esboço
de interpretação dos mecanismos com plicados e progressi­
vamente valorizados na seqüência dos tempos?
Em todo o caso, o poder da tradição é ta l que deu
força de vida aos grandes chefes m íticos, a três dos quais
serão incansavelmente atribuídos pelos autores fu tu ro s t o ­
dos os dados da filo sofia e da m edicina chinesa: Fu X i,
Shen Nong e Huang D i.

Fu Xi seria o prim eiro desses grandes chefes: a ele se


a trib u i a elaboração das concepções chinesas d o universo.
Vivendo em estreito contato com a natureza e cerca­
do de seus auxiliares:
— Ele observou no alto, o céu: o agrupam ento de es­
trelas sempre visível no mais fu n d o da abóbada celeste: a
Polar, cercada de circumpolares, fez-lhe d e lim ita r uma z o ­
na axial, "o Palácio central do cé u "; outras estrelas que,
descrevendo suas curvas acima do horizonte, só são vistas
periodicamente, e cuja aparição e posição no céu marcam,
com o movimento do sol, o ciclo das estações, fize ra m im a­
ginar a Fu Xi os quatro Palácios: da prim avera, do verão,

pondente; na transcrição oficial pinyin ou sistema A F C (A lfa b e to F onético


Chinês) adotado e aconselhado por Pequim, traduz-se por ching .
a acupuntura

do outono e do inverno, assim como o prim eiro calendário


lunissolar com seus doze meses.
— Ele observou em baixo, a Terra: reencontrou no
tem po e no espaço o reflexo do que se passava no céu: a
alternância do dia e da noite, dos períodos quentes e enso­
larados e dos períodos frios e sombrios, a vegetação lu x u ­
riante e depois o despojamento da terra, a dissemelhança
na montanha entre a vertente ensolarada e a vertente m er­
gulhada na som bra; enfim , o m ovimento aparente do sol
em to rn o do lugar fix o de sua habitação: Palácio central da
Terra cercado dos quatro orientes: leste, sul, oeste e norte.
Essa observação do universo levou Fu Xi, em prim eiro
lugar, a concluir a existência de uma força: a energia (QI)
que rege os m ovim entos dos astros e os ciclos das manifes­
tações da vida terrestre; depois, a lançar as bases dos gran­
des princípios: binário e quinário, os quais se manterão co­
mo dogma fundam ental do pensamento chinês.

O p rin cíp io binário decorre do fato de que tu d o é


ritm o e alternância no universo, repartido entre dois te r­
mos antitéticos e complementares: o Yang e o Yin, cujos
ideogramas chineses são literalm ente o "lado exposto ao
sol e o "la d o exposto à so m b r a " daí resultou uma p r i­
meira classificação geral:
— tudo o que é Yang é calor, atividade, claridade, solidez,
dureza, rapidez, compressão, masculinidade;
— tudo o que Yin é frio , passividade, obscuridade, fra g ili­
dade, flexibilidade, fluidez, lentidão, expansão, fe m in ili­
dade.
Mas assim como no céu os ciclos dos astros se enca­
deiam sem brusca transição, também na Terra o Yin e o

14
histórico

Yang alternam, interpenetrando-se. Nada é to ta lm e n te


Yang, nada é totalm ente Y in : há sempre Y in no Yang e
Yang n o Y in .
Todas essas oposições e alternâncias, to d a essa oscila­
ção universal, o Dao (tradução literal: a Via) encerra num
conjunto que se materializa mediante um sím b o lo que hoje
é m uito conhecido: um círculo dividido por u m traço em
S, delim itando uma parte Yang e uma parte Y in , no in te ­
rior das quais se encontra um pequeno círculo representan­
do o Yin no Yang e o Yang no Yin.

O p rincípio qu in á rio , ou lei dos Cinco E lem entos, de­


corre da noção de concordância, cara ao povo chinês mas
que não deixa de nos surpreender, é a resultante, não de
uma análise, mas da busca de afinidades e semelhanças en­
tre as coisas e os seres, bem como de suas relações aparen­
tes ou íntimas; daí decorre uma segunda classificação que
se estende indefinidam ente, mas cujos term os básicos f o ­
ram:

— Palácio central do Céu e Palácio central da Terra (que,


de momento, é apenas a cabana do chefe mas será, mais
tarde. palácio ou cidade): meio do ano (fim de verão),
elemento Terra, cor amarela (como a terra da China cen­
tral);
— Palácio da Primavera: Oriente Leste, elem ento M adeira,
cor verde (símbolo da vegetação que renasce);
— Palácio do Verão: O riente Sul; elemento F o g o ; cor ver­
melha (símbolo do calor e da claridade);
— Palácio do O utono: Oriente Oeste; elemento M etal , cor
branca (símbolo das montanhas do Oeste, cobertas de
neve);
— Palácio do Inverno: O riente Norte; elem ento Á g u a ; cor
negra (símbolo do frio e da sombra).

Entre o céu e a Terra, o homem incorpora-se a essa


cosmogonia, suas ações físicas e seu funcio nam ento orgâ­
nico seguem o mesmo ritm o universal e isso levará os
imperadores chineses a dirigirem sua vida e a de seus sú d i­
tos na aplicação desses princípios, e a co n stru íre m seus
a acupuntura

palácios, suas cidades e seus impérios em função da lei dos


Cinco Elementos.
Fu X i ficou célebre pelos oito trigramas (Pa Kua) ou
varas de Logos, que simbolizam a síntese universal.

Os Pa-Kua ou varas de Logos são um sistema abstrato,


no qual o crescimento e o decréscimo do Yin e do Yang
são transcritos por traços contínuos claros, Yang, e descon­
tín u o s escuros, Yin. As três linhas de traços correspondem:
a prim eira ao céu, a últim a à Terra, a mediana ao homem, e
as mutações podem aplicar-se a todo e qualquer fenômeno
com o, por exem plo, as fases da lua, e exprimem em lingua­
gem abstrata a passagem da parte ao todo, e do todo à par­

te. Note-se a semelhança com certas linguagens modernas,


como as dos computadores, do Morse e, sobretudo, com a
lógica matemática de Georges Boole, o pai da análise mate­
mática moderna das transformações. Três espécies de con­
juntos são possíveis:
— os digramas que dão 4 possibilidades e representam os
4 pontos cardeais;
— os trigramas que dão 8 possibilidades e dão a rosa-dos-
ventos;
— os hexagr amas: conjunto de 6 linhas que realizam 64
possibilidades diferentes. Eles representam uma síntese

16
histórico

global da evolução das coisas e do universo por suas m u­


tações. Aliás, o livro chinês mais antigo, aquele que reve­
la o detalhe dos Kua, o Y K ing (/ Ching) ou Livro das
Mutações estaria, segundo parece, na origem de muitas
descobertas (Leibnitz estudou-o e fo i graças a ele que os
chineses teriam elim inado o atraso que tinham em ciên­
cias atômicas, segundo dizem).

Shen Nong (o espírito trabalhador), segundo grande


chefe m ítico, teria dado a conhecer a seus súditos não só
os segredos da agricultura, os cinco cereais, mas também as
plantas que curam.

Huang Di teria dado à m edicina chinesa sua autonomia


e à acupuntura seu impulso, recomendando aos médicos da
corte — num edito que ficou célebre — que substituíssem
os furadores de sílex, utilizados anteriorm ente, por agulhas
metálicas. Remonta a essa época a descoberta do bronze e
de diversos metais.

II. OPERÍODO PRÉ-IMPERIAL

Essa época, que corresponde à Idade do Bronze e ao início


da Idade do Ferro (dinastias Shang, 1766-1112 a.C., e
Zhou, 1111-221 a.C.), e se estende até à criação do impé­
rio (221 a.C.), dota-nos, por um lado, de uma documenta­
ção arqueológica m uito abundante: ossos, carapaças quelo­
nianas e bronzes gravados que ostentam os primeiros carac­
teres de escritura pictográfica ou ideogramas muito p rim iti­
vos; e, por outro lado, de uma documentação escrita em
caracteres que se tornaram rapidamente ideográficos, tra ­
çados em lamelas de bambu, plaquetas de madeira ou pe­
quenos lenços de seda reunidos em rolos, constituindo as
relações fundamentais do pensamento chinês, cujas obras
mestras, se não são especializadas, com portam , entretanto,
os importantes dados básicos relativos à disciplina que nos
interessa; são elas:

— O T i King" (Livro das M utações) (século X-XI


a.C.), obra maior, a mais antiga que chegou até nós, na
a acupuntura

qual, como dissemos, os comentadores quiseram ver


reunida a obra do grande Fu Xi.

— O “Chou King" (Livro da História) (século IX- V l l l


a.C.), do qua l u m c a p ítu lo , o "H ong Fan", constitui por si
só um tratado, uma espécie de meditação sobre as estrutu­
ras do universo, que expõe todas as correspondências en­
tre o homem e o cosmo, contém todas as receitas que
um soberano digno desse nome deve conhecer e com por­
ta a prim eira enumeração escrita dos Cinco Elementos —
água, fogo, madeira, metal, terra - indicando já um sis­
tema geral de classificação.

— O "Lu Che Tch'uen Ts'ieu" (Anais do Rei no de Lu)


(772-481 a.C.), que dá grande destaque ao prodigioso mé­
d ico Pienn Ts'i o , célebre por seus diagnósticos e suas faça­
nhas cirúrgicas, e por seu dom mágico de ver, dizia-se, os
órgãos doentes pela observação da pele.

— Os "Tcheu-Li, Yi-Li, Li-Ki" (Livros dos R itos), que


relatam os ensinamentos de Kong-Tseu (Confúcio).

— O "Tao-To-King'' (Livro do Dao e do Do), atribuído


a Lao-Tseu, o qual constitui, com as publicações (séculos
IV -I a . C.) de Chuang-Tseu, Lie-Tseo. Huai-Nan-Tseu, a
exposição das doutrinas do taoísmo.

III o período imperial

Assinala-se pela publicação de outras grandes obras básicas:

— O "Nei-King" (O Livro do Interno) (453 a.C.-220


d.C.), verdadeiro m onumento do pensamento chinês, que
resume todos os conhecimentos transm itidos desde as
origens pelas diferentes escolas e contém, na sua primeira
parte — o "So-U enn" — toda a patologia, higiene e terapêu­
tica pelas agulhas e os medicamentos; e na segunda parte —
o "L in g -C h u " — um verdadeiro tratado da acupuntura
clássica; ele ainda hoje constitui a obra de base de todos
os acupuntores. A China Popular acaba de publicar, em
data recente, uma nova tradução dessa obra.

18
histórico

Uma idéia mestra se destaca da leitura da obra e resu­


me-se em um de seus aforismos: homem deve procurar
prevenir as doenças para não ter que as curar; aquele que
espera estar enfermo para cuidar-se é semelhante àquele
que se põe a cavar um poço quando está atorm entado pela
sede.

— O "Nan-King" (O Livro dos Problemas D ifíc e is ) (sé­


culo IV a.C. ) , que pretende ser, sob a direção de Pien-Ts'io,
um esclarecimento e uma interpretação das passagens d if í ­
ceis do Nei-King, e expõe em detalhe "a teoria dos pulsos",
cujo estudo não está atualmente encerrado.

— O "Kin-Kuei-Yao-Lio-Fang" (Resumo das Receitas do


Cofre de Ouro) (século II a.C.), q u e consiste na exposição
por seu autor, Tchang-Chong-King, dos elementos do diag­
nóstico médico (sintomatologia e pulsologia) e da terapêu­
tica.

Após a edificação dessas obras fundam entais, em fu n ­


ção dos progressos técnicos, invenção do pincel, da pasta
para fabricação de papel, da xilogravura e da tip o g ra fia , e
do aperfeiçoamento dos meios de observação e medição,
surgiu uma quantidade considerável de obras, em sua
maioria constituídas por sucessivas compilações. Elas
ainda têm grande repercussão em nossos dias:

— O"Kia-Yi-King" (Livro das Verdades) (220-265 d.C.),


redigido por Huang-Pu-Mi, o qual precisa a situação e o nú­
mero de pontos chineses.

— O "Mo-King" (Tratado dos Pulsos) de Wang-Chu-Ho


(265-289 d.C.).

— O "Tong-Jen-Tchen-Kieu-King" ( Tratado do Hom em


de Bronze), por Wong-Wel-Yi (1020 d.C.), que fo i editado
na dinastia dos Song, durante a qual a acupuntura conhe­
ceu um enorme progresso, é uma explicação das estatuetas
de bronze ou manequins de acupuntura, utilizados para
submeter a exame os candidatos acupuntores que tin h a m
a acupuntura

de encontrar os pontos através de um invólucro de cera ou


de papel.

Paralelamente ao aparecimento dessas publicações, os


grupos de estudos tornam-se cada vez mais importantes e
em 1068 é criada uma faculdade para o ensino da acupun­
tu ra .

IV. A FUNDAÇÃO DA REPÚBLICA

Após sua fundação por Sun-Yat-Sen, em 1911. a acupuntu­


ra sofreu um eclipse em proveito da medicina ocidental,
enquanto que na Europa começava a expandir-se a partir
de 1929.

V. A REPÚBLICA POPULAR DA CHINA

Desde o advento da República Popular, a acupuntura re­


encontra um período de esplendor. As grandes obras clás­
sicas foram reeditadas e diversas obras importantes marcam
a orientação das pesquisas:

— "Chong-Kuo Chen Kieu Che Liai Hiue": estudo da tera­


pêutica pelas agulhas e as "m oxas" chinesas (1930).
— "Chong-Kuo Chen Kieu Hiue Kiang Yi": comentários SO­
bre o estudo das agulhas e "m oxas" chinesas (1940).
— "Chong-Kuo Chen Kieu Hiue": estudo das agulhas e
"m o xa s" chinesas (1955).

Essas três obras são de autoria de Tch'eng Tan-An,


fundador d a s primeiras escolas modernas de acupuntura.

— "Sin Chen Kieu Hiue": novo estudo das agulhas e "m o ­


xas" chinesas (1955), de Mme. Chu-Lien, diretora do Cen­
tro de A cupuntura E xp erim e ntal de Pequim.

— "Chen Kieu Liao Fa King Hiue Cheng-che Pei K'ao": com­


pêndio que trata da terapêutica pelas agulhas e "m oxas",
com um estudo dos vasos e pontos (1956), de Tsiang Yu-
Po.

20
histórico

—"Tien Chen Liao Fa": m étodo terapêutico por eletro­


puntura (1957), de Chu Long-Yu.

A
VL FORA DA CHINA

A escola japonesa (na Antigüidade m u ito dependente dos


traba lh o s ch in eses) viu surgir entre os mestres de nossa
época os grandes nomes de Sakurazawa, Nakijam a, M orita
e Fujita. Quanto aos europeus, conheceram essa dou trin a
no século X V II, data em que os prim eiros m issionários je ­
suítas, que tinham criado o term o "a c u p u n tu ra " a p a rtir
do latim , trouxeram do Extremo O riente "esses fatos cien­
tífic o s " para o nosso continente surpreendido: fo i o padre
Hervieu quem publicou o prim eiro tratado sobre a matéria
em Grenoble, com o títu lo Les secrets de la médecine des
chinois (1671).
— No século X V IIl, 18 autores tratam da acupuntu­
ra; as publicações mais im portantes foram as de Valsalva
(1707), Kaempfer (1712), Du Haide (1735 ), D ujardin
(1774) e V ic q d 'A z y r (1787).
— No século X IX , mais de uma centena de autores
publicam artigos. Os mais notáveis fora m : o Dr. Berlioz,
pai do com positor, (Mémoire sur les maladies chroniques
et l'acupuncture, 1816); o Cavaleiro de Sarlandière (Mé­
m oire sur l'électropuncture et sur l'e m p lo i du m oxa ja p o ­
nais en France, 1825), cujo espírito de oportunidade p ro ­
duziu um pequeno livro inteiram ente atual, depois que a
eletrônica aperfeiçoou os aparelhos para detectar os pontos
chineses; Le Dantu de Vannes ( Traité de l'acupuncture
d'après les observations de M. Jules C loquet, 1826, livro in ­
com pleto); e Dabry [La médecine chez les chinois, 1863).
— Foi em nossos dias, em 1927, após um período de
indiferença, que Hunan publicou em Berlim um com pên­
dio, Die Chinesische M edizin, que pode ser considerado a
primeira obra européia completa sobre acupuntura. Em
1929, na França, o D r. Ferreyrolles obtém de Soulié de
M orant — que não era médico, mas sinólogo — a concor­
dância para traduzir os textos antigos: este concebe então,
em 1934, o Précis de la vraie acupuncture chinoise, e é a
a acupuntura

p a rtir desse momento que se inicia o estudo da acupuntura


na França.
— Finalmente, os chefes de escolas francesas: R. de la
Füye, que publicou em 1947 o seu im portante Traité
d'a cupun cture; J.-E.-H. N iboyet, A. Cham frault, em cola­
boração com Nguyen V an-Nghi, J. Choain , cujas obras des­
fru ta m de autoridade, criaram o ensino e a formação de
médicos acupuntores das gerações européias atuais.

22
C A P íT U L O II

N O Ç Õ ES DE BASE

O resumo histórico dos dados tran sm itidos até nossos dias


põe em destaque as bases teóricas da a cup untura, e são es­
ses modos de raciocínio que explicam e ju s tific a m os m éto­
dos médicos chineses. De fato, toda a acup untura e suas te ­
rapias anexas — a m ox ibustão e a massagem chinesa — não
podem ser estudadas sem que seja explicitada uma concep­
ção particular da fis io logia humana e suas relações com a
organização do universo.

I. GENERALIDADES

Três grandes princípios dominam a medicina chinesa:1


— o homem é estudado como in divíduo co m p le to ;
— o homem responde ao céu e à Terra (noção do Y in e do
Yang);
— a vida do homem é regida pela regra dos C inco Elem en­
tos (noção de concordância).

1.O homem visto em seu todo. A m edicina chinesa estu­


da o homem em seu conjunto psicofisio lógico, seus pensa­
mentos, seus sentimentos e seu soma. Estuda um ser vivo

1 Cf. La médec in e chinoise, por Pierre Huard e Ming Wong, col. "Que Sais­
J e?", nº 1112.
a acupuntura

não num plano estático e analítico, mas cada função e ca­


da órgão em relação com os outros num plano de perpétua
evolução e transform ação, o que explica a sua grande com­
plexidade.

2.O homem cósmico e a teoria do "Yin" e "Yang". Não só os


chineses encaram o homem em seu todo mas também no
meio am biente, sensível aos diferentes climas, às estações,
às radiações que agem sobre ele, provenientes do Sol, da
Lua ou da Terra, na qual vive.
O hom em é para eles um reflexo da arquitetura do
m undo e do m ovim ento do universo: ele "responde ao céu
e à T e rra ". Em seu corpo inteiro, no mais íntim o de sua f i ­
siologia, ele está submetido às grandes leis fundamentais:
como to d o objeto na superfície da Terra, ele está sujeito às
influências cósmicas e telúricas. Faz pouco tempo que se
estuda am plamente a ecologia, ciência do meio ambiente;
mas os chineses já tinham notado sua im portância há milê­
nios e estabelecido a pertença do homem à grande lei biná­
ria universal da alternância e da complementaridade Yin-
Yang, sim bolizada no Dao.
Aliás, o Yang atrai o Yin e o Yin atrai o Yang, e essa
com plem entaridade binária encontra-se por toda a parte:
Ela é visível em todas as ciências: na eletricidade, os
pólos positivo e negativo da corrente; na biologia, o helio­
tropism o positivo e negativo dos vegetais; em química, ba­
ses e ácidos; em cristalografia e óptica, desvios levogiros e
dextrogiros da luz.
No universo, o Yin e o Yang aplicam-se às estações e
aos ciclos dos dias e das noites: à meia-noite, o Yin está em
seu auge; nesse momento, nasce o Yang, que aumenta até
ao meio-dia, q uando está em seu m áxim o; é a hora em que
nasce o Yin. Assim, quando o Yang cresce, o Yin decresce,
e essa evolução aplica-se igualmente aos ciclos das estações;
na primavera, o Yang cresce até ao verão, época de seu
apogeu, depois dá-se o nascimento do Yin, que cresce até
seu m áxim o: o inverno.
No homem, o corpo é Yin e Yang: "seu corpo tem ne­
cessidade do Yin e do Yang como a terra tem necessidade

24
noções de base

da água e do sol" (Neiking-So-Uen), e sua fisiologia reflete


o Yin e o Yang do universo.
(a) As vísceras de seu corpo, desde há m uito inventa­
riadas, são classificadas pelos chineses em duas categorias:
— umas com função de oficina (fu) ou "entranhas": estô­
mago, intestino delgado, intestino grosso, vesícula b ilia r,
bexiga; presidem à absorção e triagem dos alimentos e à
eliminação de resíduos; sua função consiste em produ zir
energia: são chamadas Yang;
— as outras com função de tesouro (tsang) ou "ó rg ã o s":
pulmões, fígado, coração, baço, rins, têm por missão a
depuração e a redistribuição, e supõe-se que conservam e
concentram a energia: são chamadas Yin.
(b) Além disso, dois grandes sistemas se somam a essa
distribuição Yang e Yin:
— o sistema tríp lice reaquecedor que se soma ac grupo o f i­
cina;
— o sistema circulação, sexualidade, que se junta ao grupo
tesouro.
(c) A fisiologia chinesa agrupa dois a dois esses d ife ­
rentes elementos, realizando seis formações funcionais
Yin-Yang de órgãos e entranhas "em parelhadas":
Coração P ulm ão F ígad o Baço R im C ircu la ção -
I ntestino In testin o Vesícula Estôm ago Bexiga S e x u alid ade
delgado grosso b iliar T r ip lic a re aq u ec ed o r

e a patologia responde a essa bipolaridade — po is a doença


é desequilíbrio nesse ritm o binário — assim como o diag­
nóstico e a terapêutica, que reconhecem e corrigem esta
patologia.

3. A regra dos Cinco Elementos. Ela integra-se estreitam en­


te às considerações precedentes e, a fim de ser bem co m ­
preendida, deve ser vista no contexto da China antiga (aliás,
não m uito distanciado do da China atual), a China do tr a ­
balho nos campos, cuja vida é ritmada pela natureza, pela
sucessão das estações, dos dias e das noites.
Transpondo a alternância dos ritm os observados, pe­
ríodos de atividade máxima do verão durante os quais se

25
a a c u p u n tu ra

realizam os trabalhos, e períodos de repouso do inverno,


no plano nictem eral e sazonal, os chineses estabeleceram
(noção de concordância) que o nascimento do sol pela
manhã corresponde à primavera e ao leste; a culminação
solar, ao meio-dia e ao sul; o outono ao oeste: o ocaso; o
inverno, à noite, ao repouso, ao norte.
Se unirm os por um traço vertical o norte ao sul, o les­
te ao oeste, constatamos que o eixo vertical é o eixo dos
solstícios, o eixo horizontal o dos equinócios.

Mas esse ciclo dinâmico não pode girar sem um centro


fix o : a Terra, um quinto dinamismo que se soma aos ou­
tros a fim de co nstituir o sistema Wu-Hing: os "cinco po­
tenciais", cada um dos quais se inscreve sob as rubricas dos
"C inco Elem entos":
— fogo: sím bolo do Yang supremo e do verão;
— água: sím bolo do Yin supremo e do inverno;
— m adeira: sím bolo do crescimento e da primavera;
— m etal: sinal de acúmulo e de concentração, símbolo do
trabalho (pois serve para fazer ferramentas) e do outono;
— terra, enfim , que entra no ciclo no fin a l do verão, refe­
rência geral contendo todos os elementos.
A p a rtir desse conjunto, " tu d o " fo i classificado sob
os emblemas dos cinco elementos: as estações, as cores, os
sabores, os sentimentos e o psiquismo, as diferentes partes
corpo humano, os órgãos dos sentidos com seus diferen­
tes orifício s, os tecidos do nosso corpo, certos pontos de

26
acupuntura, os chamados Su antigos, os órgãos e as vísce­
ras com seu período de atividade e de dinam ism o máximo
em certos m om entos do ano (explicando assim, 3 m il anos
antes dos nossos biólogos, os ritm o s circadianos e circania­
nos), tudo isso em intermináveis tabelas de correspondên­
cias (para uns, um m undo de sutileza de interpretação, pa­
ra outros, simples meios mnemotécnicos).

Resumo da tabela de correspondências

Elementos

Madeira Fogo Terra M etal Água

E stações................ Primavera Verão F im do ve­ O u to n o Inverno


rão (caní­
cula)
E n e rg ia s ................ V ento Calor Umidade Secura Frio
ó rg ã o s ................... Fígado Coração Baço Pulmão Rim
E n tra n h a s ............. Vesícula Intestino Estômago In te stin o Bexiga
biliar delgado grosso
S e n tid o s ............... Olhos Língua Boca N ariz Orelhas
Camadas do
corpo ............... Músculos Vasos Derm e (te­ Pele, Ossos
c id o celu­ pêlos
la r subcu­
tâneo)
S entim entos. . . . Cólera Alegria Obsessão Tristeza Medo
S a b o re s ............... Azedo Amargo Doce Picante Salgado
Pontos Su anti­
gos: Y i n ............ Ting long Yu-Yunn King Ho
Y a n g .................. Yu King H o Ting long
C ores...................... Verde Vermelho A m arelo Branco Negro
Planetas ............... Júpiter Marte Saturno Vênus Mercú­
rio

Assim esquematizada, a organização do universo apre­


senta-se essencialmente cíclica, cada ciclo passando por
cinco estados sucessivos, simbolizados por um elemento, e
estando todos esses elementos em e q u ilíb rio instável em re­
lação uns aos outros.
Para que esse conjunto fique perfeitam ente equilibra­
do e o ciclo gire corretamente, deverá obedecer a duas leis:
a acupuntura

Uma lei de produção: ciclo Sheng ou de criação, que


evoca a natureza, em que a madeira produz o fogo, o fogo
estim ula a terra (?), a terra produz o metal mineral, o me­
tal engendra a água (explicação, talvez, no hidrogênio (?)),
esse gás de propriedade metálica (Lavier), e a água, a ma­
deira; esse ciclo "pentagonal" de produção constitui o que
se chama em acupuntura "a lei da Mãe e do F ilh o ", donde
decorre que:
— para os órgãos tesouro: o coração é mãe do baço e filh o
do fígado; o baço é mãe do pulmão e filh o do coração;
o pulmão é mãe dos rins e filh o do baço; o rim é mãe
do fígado e filh o do pulmão; o fígado é mãe do coração
e filh o do rim ;
— para os órgãos o ficina: o intestino delgado é mãe do es­
tômago e filh o da vesícula biliar; o estômago é mãe do
intestino grosso e filh o do intestino delgado; o intestino
grosso é mãe da bexiga e filh o do estômago; a bexiga é
mãe da vesícula biliar e filh o do intestino grosso; a vesí­
cula biliar é mãe do intestino delgado e filh o da bexiga.
Uma lei de inibição: ciclo Ko ou de destruição, que
servirá de freio. Diz-se que cada elemento "in ib e aquele
que sucede a seu filh o " . Existe, portanto, no in terio r de
cada ciclo, passando pelos Cinco Elementos sucessivos,
uma outra lei de freagem, realizando um e qu ilíbrio in te r­
no que proíbe a dominação de um elemento em relação a

28
noções de base

um o u tro : é o "c ic lo estrelado” : o fogo fu n d e o m etal, o


metal corta a madeira, a madeira cobre a te rra , a terra ab­
sorve a água, a água extingue o fogo.
Existem ainda duas outras leis, as leis de "usurpa ção e
desprezo", mais complicadas e mais raramente utilizadas?
Obtém-se assim uma espécie de código, q u e e x te rio ri­
za a in t e r d e p e n d ê n c ia d o h o m e m e d o u n iv e r s o
e permite, raciocinando por analogia, detectar um desequilíbrio ener­
gético.
Com efeito:
— ao fogo correspondem o coração e o in testin o delgado;
— à terra, o baço, o pâncreas e o estômago;
— ao metal, os pulmões e o in testin o grosso;
— à água, os rins e a bexiga;
— à madeira, o fígado e a vesícula biliar.
Se nos ciclos precedentes observamos a correspondência
orgânica, o ciclo sheng traduzir-se-á assim:
— o fígado sustentará a função do coração e a vesícula b i­
liar a função do intestino delgado;
— o coração, a do baço e do pâncreas, e o in te stin o delga­
do a do estômago;
— o baço, a dos pulmões, e o estômago a do in te stin o gros­
so;
— os pulmões, a dos rins, e o intestino grosso a da bexiga;
— os rins, a do fígado, e a bexiga a da vesícula b ilia r.

O ciclo Ko ou destruidor poderá exprim ir-se da se­


guinte maneira:
— o fígado doente porá em perigo o baço e o pâncreas, co ­
mo a madeira recobre a terra, e a vesícula b ilia r ameaça­
rá o estômago;
— o baço doente porá em perigo os rins com o a terra ab­
sorve a água, e o estômago ameaçará a bexiga;
— os rins doentes porão em perigo o coração com o a água
extingue o fogo, e a bexiga ameaçará o in te stin o delgado;
— o coração doente porá em perigo os pulm ões com o o
fogo funde o metal, e o intestino delgado ameaçará o
intestino grosso;

29
a acupuntura

— enfim os pulmões doentes porão em perigo o fígado co­


mo o metal corta a madeira, e o intestino grosso ameaça­
rá a vesícula b ilia r.
Dessas considerações decorrerão facilmente as aplica­
ções práticas para o diagnóstico e a escolha dos pontos a
u tiliz a r na terapêutica.

II. A ENERGIA

Todas essas tentativas de explicações: lei do Yin e do Yang,


lei dos Cinco Elementos, só são possíveis e compreensíveis
se supusermos a existência do que os chineses chamam Q I :
a energia.
O conceito dessa energia, base da acupuntura, marca
duradouram ente o pensamento médico do Extremo O rien­
te, ao passo que a nossa, medicina ocidental permanece es­
sencialmente marcada pela noção orgânica.

No ideograma representante do QI , ao lado do grão de arroz, sím bo­


lo do alimento proveniente da terra, encontra-se o termo "vapor", sím ­
bolo da energia "im palpável" proveniente do céu. O QI aparece como o
sím bolo da força, mas é tam bém a matéria essencial e universal comum
a tud o o que existe. Os chineses dizem: "T u d o no universo é con stituí­
do pelo Q I Essa teoria revela-se de uma grande atualidade, pois a ciên­
cia moderna nos ensina que matéria e energia são uma mesma coisa e
podem , portanto, transformar-se uma na outra, por exemplo: a madeira
que arde e o átomo que perde sua massa libertando energia. D aí uma
nova particularidade da energia, o seu dinamismo.

1. As energias cósmicas vêm dos elementos da natureza e


podem ser, segundo as leis que conhecemos, Yin ou Yang.
A energia que se encontra no alto é a energia do céu; a que
se encontra embaixo é a energia da Terra; mas essas ener­

30
noções de base

gias não são estáveis, elas intercalam-se, evoluem e tra n s fo r­


mam-se para criar as energias cósmicas: o v e n to , o fogo, o
calor, a umidade, a seca, o frio .
Se essas energias do céu e da Terra estão em co n co r­
dância no tem po e no espaço, a evolução far-se-á p e rfe ita ­
mente e haverá produção. Mas quando essas energias estão
transtornadas, dessincronizadas, tornar-se-ão nocivas, p o r­
que o fenôm eno é anormal. Recebem o nome de energias
patológicas (Sie-qi).

2.A energia do homem, sim bolicam ente apresentada co­


mo uma emanação do sopro o rig in a l, nem p o r isso é uma
entidade metafísica. Ela provém da associação:
— da energia pré-natal, chamada energia ancestral (Z a i she­
ng yuan q i) transm itida hereditariam errte pelas células
sexuais, mantida pela atividade destas, e p o rta d o ra de
todas as aquisições físicas e psico-intelectuais da descen­
dência;
— da energia respiratória absorvida na atm osfera (a alma
aérea);
— da energia alimentar (o sopro dos cinco grãos) elaborada
e conservada pelo trabalho das vísceras e dos órgãos.
Assim, ela está presente ta n to na supe rfície do corpo
quanto na profundidade dos tecidos e órgãos; mas nessa
energia difusa que banha até as menores células form am -se
correntes preferenciais cujo co n ju n to realiza a rede da c ir­
culação da energia (rede puramente dinâm ica que, de certo
modo, duplicaria a rede n u tricio n a l da circulação sangüí­
nea).
No estado de saúde, a energia circula nesses trajetos
que lhe são próprios segundo um ritm o im utável e segundo
um equilíbrio definido de suas qualidades Y in e Yang.
Quando o homem é atacado p o r uma energia p e rtu r­
badora devida ou a uma alteração das energias cósmicas
normais ou a um distúrbio in terno , físico ou p síq u ico , seu
corpo reage pela mobilização da energia su p e rficia l, defen­
siva, a chamada energia Oé (W ei-Qí), que c ircula na derme,
nos músculos, nas aponeuroses. Tem por missão evitar a

31
a acupuntura

penetração da energia patológica agressiva nos meridianos,


depois nos órgãos. Quando a agressão se prolonga, ou em
caso de insuficiência da ação da energia Oé, há o risco de
fortes perturbações da circulação da energia vegetativa, nu­
tritiv a profunda, a chamada energia Yong ( Yong-QI), rea­
ções que poderíamos aproxim ar, na fisiologia ocidental, da
resposta escalonada e progressivamente mais severa dos
centros neurovegetativos às agressões diversas. J
Enquanto a relação Yin-Yang se mantém em e q u ilí­
brio , durante essas manifestações, o homem defende-se, o
curso da energia permanece regular, a doença não aparece;
em contrapartida, todo o desequilíbrio entre os dois te r­
mos a lterará o curso da energia e acarretará perturbações
em relação com a natureza Yin ou Yang da função fis io ló ­
gica a tin g id a . Para curar, será necessário restabelecer o
eq u ilíb rio desfeito e, para isso, agir sobre a energia e, se­
gundo os diferentes casos, em pontos determinados de seu
circ u ito .

IA. AS VIA S DE E N ER G IA E
OS PONTOS CHINESES

A) As Vias

Essas vias não deixam de lembrar as da circulação da água


na superfície da Terra. Com efeito, assim como a água de­
pois da chuva se espalha por toda a superfície do solo,
depois concentra-se em poças, arroios, regatos, ribeiros,
rios e lagos, também a energia vital, presente em todo o
corpo humano, canaliza-se em diferentes circuitos que in i­
cialm ente se intercomunicam para depois relacionar-se com
as regiões orgânicas mais profundas e as zonas mais super­
ficiais dos tegumentos, circuitos que se classificam atual­
mente em duas séries:
— uma série de meridianos principais;
— uma série de meridianos secundários.2

2
A tradução da palavra chinesa King pelo term o geográfico meridiano é um
anacronismo devido a um erro dos primeiros tradutores, mas a palavra m eridia­
no é a mais correntemente empregada.

32
noções de base

1. Os meridianos principais ou "Kings". Em número de do ­


ze, eles constituem o pivô da acupuntura e sua descrição
fo i motivada pelo conhecimento da topografia dos pontos
cutâneos.
Dispostos simetricamente em relação ao eixo sagital
do corpo, eles percorrem a cabeça, o tronco, o abdome e
os membros, ora sobre a parte anterior do corpo, ora sobre
a parte posterior, form ando um sistema de circulação fe ­
chada. Cada um deles apresenta seu trajeto próprio, seu
horário energético determinado, e corresponde a um órgão,
a uma víscera ou a uma função de que recebe o nome:
— os meridianos correspondentes aos cinco órgãos, sendo
como estes de natureza Yin, são: os meridianos do fíg a ­
do, pulmão, coração, baço e pâncreas, rim ;
— os meridianos correspondentes às cinco vísceras, sendo
como estas de natureza Yang, são os meridianos do estô­
mago, intestino delgado, vesícula biliar, intestino grosso,
bexiga;
— os meridianos correspondentes às duas funções especiais
são o meridiano da "circulação — sexualidade", de natu­
reza Yin, e o meridiano do "tríp lic e reaquecedor", de
natureza Yang.

Nesses trajetos, a circulação da energia efetua-se de


acordo com um horário imutável.

— Nas 24 horas, ela evolui numa progressão in ic ia l­


mente centrífuga e depois centrípeta, entre o corpo e os
membros (50 vezes o percurso to ta l).
— Ao mesmo tempo, ela sofre de duas em duas horas
uma variação de seu flu xo que outorga a cada m eridiano
um período de atividade máxima, e esse período de p le n i­
tude, que corresponde às horas em que se situam de prefe ­
rência as manifestações patológicas inerentes à função
abrangida por esse meridiano (todos conhecemos as crises
hepatobiliares no meio da noite, a crise de asma nas p ri­
meiras horas da manhã, as manifestações cardiovasculares
no meio-dia e no fim do dia), condiciona também o pe río ­
do de melh o r resposta à terapêutica pelas agulhas.

33
a acupuntura

— Ainda, ao mesmo tempo, submetida à lei da alter­


nância universal, ela sofre de quatro em quatro horas uma
mutação Yin-Yang ou Yang-Yin.
Assim, em resumo, a energia:
Yin de 1 h a 5 h está em plenitude;
de 1 h a 3 h no meridiano do Fígado;
de 3 h a 5 h no meridiano do Pulmão;
Yang de 5 h a 9 h está em plenitude;
de 5 h a 7 h no meridiano do Intestino grosso;
de 7 h a 9 h no meridiano do Estômago;
Yin de 9 h a 13 h está em plenitude;
de 9 h a 11 h no meridiano do Baço-Pâncreas;
de 11 h a 13 h no meridiano do Coração;
Yang de 13 h a 17h está em plenitude;
de 13 h a 15 h no meridiano do Intestino delgado;
de 15 h a 1 7 h no meridiano da Bexiga;
Yin de 17 h a 21 h está em plenitude;
de 17 h a 19 h no meridiano do Rim;
de 19 h a 21 h no meridiano de Circ.-sexualidade;
Yang de 21 h a 1 h está em plenitude;
de 21 h a 23 h no meridiano do Tríplice reaquecedor;
de 23 h a 1 h no meridiano da Vesícula biliar.

No m om ento do nascimento a energia — que no trans­


curso da vida embrionária teve que seguir as linhas de força
do desenvolvimento dos órgãos, sistemas e aparelhos senso­
riais, traçando assim seus 12 vetores, e extraiu seus elemen­
tos da energia materna —, assume então, com o prim eiro
grito e a prim eira respiração, toda a sua autonomia no me­
ridiano do pulmão.
A p a rtir daí, portanto, o périplo da energia toma su­
cessivamente cada um dos meridianos ligado ao seguinte
por uma anastomose:

e, uma vez mais, como no ciclo dos Cinco Elementos, mas


numa ordem diferente, um meridiano é a mãe daquele que
lhe segue e o filh o daquele que o precede.

a) O m eridiano " Y in " de P (P ulm ão ): "C heu-Tae-Y in"


(possui 11 p on tos):

34
noções de base

— começa no centro do estômago;


— atravessa o diafragma;
— entra no pulm ão, traquéia e garganta, e volta a descer
para a f ace anterior da axila, para sair na superfície cutâ­
nea em seu prim eiro ponto: P 1;
— passa então para a face ântero-interna do braço e chega
ao nível do cotovelo (ponto P 5 );
— caminha pelo meio da face anterio r do antebraço, depois
na calha radial (pontos P 7, 8 e 9) e term ina no ângulo
interno do polegar (ponto P 11).

35
a acupuntura

Recebe o flu xo energético proveniente do meridiano


de F (Fígado) que o precede no ciclo em seu pr imeiro pon­
to, e um vaso que parte do sétimo ponto em direção ao in­
dicador estabelece a comunicação com o meridiano Yang
acoplado: o meridiano do intestino grosso (IG) que o segue.

b) O meridiano "Y an g " de IG (Intestino grosso):


"Cheu-Yang-Ming" (possui 20 pontos):
— começa no ângulo exterior do indicador, do lado do po­
legar (ponto IG 1);
— segue a borda súpero-externa do dedo, chega ao punho
(pontos IG 4 e 5);
— acompanha a face posterior do rádio, chega ao cotovelo
(ponto IG 11);
— passa para a face anterior do ombro (pontos IG 14 e IG
15);
— depois para a borda póstero-superior da articulação (pon­
to IG 16), donde uma ramificação atinge a face ântero ­
lateral do pescoço (pontos IG 17 e 18) para terminar no
rosto, na extremidade superior do sulco naso-geniano
(ponto IG 20);
— enquanto um outro ramo penetra em profundidade na
cavidade subclavicular, a fim de alcançar o pulmão e o
intestino grosso.
Recebe o flu xo energético proveniente do meridiano
do P (Pulmão) no ponto IG 4 e um vaso que sai do ponto
IG 20 estabelece a comunicação com o meridiano de E (Es­
tômago) que lhe segue.

c) O meridiano "Y ang" de E (Estômago): "Tsu-Yang-


M in g " (possui 45 pontos):
— começa no frontal, uma distância3 para trás e quatro
acima do ângulo externo da órbita (ponto E 1);
— desce pela frente do trágus (ponto E 2), depois no ângu­
lo do maxilar inferior (ponto E 3);

3 Para a expressão francesa travers de doigt (c o m p rim e n to de dedo, largura de


d e d o ) u tiliza m o s o te rm o ''d is tâ n c ia '' (em chinês': — tsun) que vem a ser o
espaço que separa as pregas de fle x ã o do dedo m édio do in d iv íd u o em questão.
( N.R. )

36
noções de base

— volta a subir no meio do rebordo inferior da ó rb ita (p o n ­


to E 4);
— passa uma distância por fora do sulco naso-geniano (p o n ­
to E 6 e em seguida por fora da comissura dos lábios
(ponto E 7), descendo depois sobre a parte â n tero-late ­
ral do pescoço até à sua base (ponto E 11-E 12), desce
passando pelo mamilo (ponto E 17), até à v irilh a (p o n to
E 30), para, continuando a descer pela coxa, face ânte ­
ro-lateral do joelho e perna (ponto E 36) e bordo e x te r­
no da tíb ia , chegar à face dorsal do pé (p o n to E 42 ), e
— atingir o ângulo ungueal externo do segundo arte lho
(ponto E 45).
Um vaso parte do ponto E 3 e mergulha em direção à
garganta; um outro parte do ponto E 1 2 e m ergulha p ro ­
fundamente, em direção ao estômago e ao baço.
Recebe o flu x o energético proveniente do m eridiano
do intestino grosso em seu prim eiro ponto, em um vaso
que sai do 4 2 º ponto na face dorsal do pé estabelece co­
municação com o m eridiano do baço, que o segue.

d) O m eridiano " Y in " do baço, também chamado do


baço-pâncreas: "Tsu-Tae-Y in" (possui 21 pontos):
— começa no ângulo ungueal interno do p rim e iro a rte lh o
(BP 1), passando sucessivamente na articulação m e ta ta r ­
so-falangiana do hallux e adiante do m aléolo in te rn o
(ponto BP 5);
— na face interna da perna (pontos BP 6, 7, 8, 9 );
— na coxa e na virilha (ponto BP 13);
— sobre o abdome, lateralmente (pontos BP 14, 15);
— depois, sobre o gradil costal até o terceiro espaço in te r­
costal (ponto BP 20), donde volta a descer até o sexto
espaço (ponto BP 21 ).
Uma ramificação de BP 16 penetra no baço e estôm a­
go à esquerda, pâncreas e estômago à direita, sobe até à
garganta e termina na base da língua.
Recebe o flu xo energético proveniente do m eridiano
do estômago em seu prim eiro ponto, e um vaso que parte
do seu 21ºponto estabelece comunicação com o m e rid ia ­
no do coração que o segue.

37
a acupuntura

e) O m eridiano " Y in " do coração: "Cheu-Chao-Yin "


(possui 9 pontos):
— começa no centro do coração;
— envia um vaso que desce através d o diafragma e penetra
no intestino delgado, e um vaso que sobe à garganta e
aos olhos;
— depois, cruzando o pulmão, aparece na axila (ponto C 1);
— desce ao longo da face interna do braço, da prega in te r­
na do cotovelo (ponto C 3), da face interna do antebra­
ço, até o punho (ponto C 7) e, pela palma da mão, chega
à extremidade do auricular, do lado do anular (ponto
C 9).
Recebe o flu x o energético proveniente do meridiano
do baço em seu prim eiro ponto, e um vaso curto, que sai
do seu nono ponto, estabelece a comunicação com o me­
ridiano do intestino delgado que o segue.

f) O m eridiano "Y a n g " do intestino delgado: "Cheu-


Tae-Yang" (possui 19 pontos):
— principia no ângulo ungueal do auricular (ponto ld 1);
— acompanha a borda interna da mão até o punho;
— chega ao cotovelo na calha cubital (ponto Id 8);
— acompanha a parte póstero-interna do braço;
— passa à espádua (pontos ld 11, 12, 13);
— envia um vaso que desce para a concavidade subclavicu ­
lar e mergulha diretamente no intestino delgado; fin a l­
mente, sobe ao pescoço no ângulo do maxilar inferio r
(ponto ld 17), à face, no nível da arcada zigomática
(ponto ld 18) e term ina adiante da orelha no ponto ld
19.
Recebe o flu xo energético proveniente do meridiano
do coração em seu prim eiro ponto, e um vaso que sai do
seu 18º ponto estabelece a comunicação com o meridiano
da bexiga que o segue.

g) O meridiano Yang da bexiga: "Tsu-Tae-Yang" (pos­


sui 67 pontos):
— começa no ângulo interno do olho (ponto B 1);
— ascende à testa e depois ao crânio (pontos B 4 a 9), nu­

40
noções de base

ma linha paramediana, e chega à nuca (ponto B 10). o n ­


de se divide em dois ramos:
— um ramo intern o que, após enviar um vaso a o 1 4 º p o n to
do vaso governador, ladeia as apófises espinhais cervi­
cais, a duas dist âncias da linha média, para descer v e rti­
calmente a partir do ponto B 11 situado entre as a p ó fi­
ses transversas da prim eira e segunda vértebras dorsais,
duas distâncias da linha média, e alcançar a face poste­
rio r da nádega para chegar à prega glútea; ramo m u ito
im portante, no qual estão situados os pontos " I U " m e­
taméricos das costas que correspondem a todas as
funções orgânicas;
— um ramo externo que desce num trajeto paralelo a qua­
tro distâncias da l i nha média, ao encontro do precedente
no meio do sulco glúteo (ponto B 50), acompanha a fa ­
ce posterior do joelho (ponto B 54) e da perna com o
im portante B 58 deslocado para o lado, passa por trás do
m aléolo externo (ponto B 60), finalm ente acompanha a
borda externa do pé (pontos B 62 a 65) e term ina atrás
e fora do ângulo ungueal externo do quinto artelho (pon­
to B 67).
Um ramo enviado do ponto B 7 mergulha em direção
ao cérebro. Um segundo ramo enviado do ponto B 23 al­
cança os rins e depois a bexiga.
Recebe o flu x o energético proveniente do m eridiano
do intestino delgado em seu prim eiro ponto, e um vaso que
sai de seu 679 ponto estabelece a comunicação com o me­
ridiano dos rins que o segue.

h) O meridiano " Y in " dos rins: "Tsu-C hao-Y in" (pos­


sui 27 pontos):
— começa no meio da planta do pé (ponto R 1);
— ganha a borda interna do pé;
— sobe por trás do maléolo interno (ponto R 6);
— faz um anel entre o maléolo interno e o tendão de A q u i­
les (pontos R 3, 4 e 5);
— acompanha a borda interna da tíbia (ponto R 7);
— chega à extermidade interna da prega do joelho (ponto
R 10);
a acupuntura

— atinge, pela face póstero-interna da coxa, o púbis (ponto


R 11 ), a face anterior do abdome (pontos R 12 a R 21 ),
depois a face anterior do tórax (pontos R 22 a 27).
Entre os pontos 11 e 27, envia:
— um vaso para o p e r íneo, a bexiga e os rins;
— um vaso para o fíg a d o ;
— um vaso que alcança a garganta e a raiz da língua;
— um vaso para o coração.
Recebe o flu x o energético proveniente do meridiano
da bexiga em seu prim eiro ponto, e um vaso que parte do
seu 27º ponto estabelece a comunicação com o m eridiano
da circulação-sexualidade que o segue.

i) O m eridiano " Y in " da circulação-sexualidade:


"C heu-T siue-Y in" (possui 9 pontos):
— começa no meio do tó rax;
— segue o quarto espaço intercostal e emerge na borda su­
perior da quinta costela, uma distância por fora do ma­
m ilo (ponto CS 1 );
— alcança a axila e acompanha a face interna do braço en­
tre os meridianos dos pulmões e do coração;
— chega ao cotovelo (ponto CS 3);
— ao punho (pontos CS 6 e 7);
— ao centro da palma da mão (ponto CS 8);
— e term ina na extremidade do dedo médio, ângulo un ­
gueal externo do lado do rádio (ponto CS 9).
Recebe o flu x o energético proveniente do meridiano
dos rins em seu prim eiro ponto, e um vaso parte da palma
da mão em seu 8 º ponto e atinge a extremidade do anular
para estabelecer a comunicação com o meridiano do t r í ­
plice reaquecedor que o segue.

j) O meridiano "Y a n g " do tríplice reaquecedor:


"Cheu-Chao-Yang" (possui 23 pontos):
— começa no ângulo ungueal interno do anular, do lado do
auricular (ponto TR 1);
— passa pelo dorso da mão e do punho, acompanha o ante­
braço entre o cúbito e o rádio, até o cotovelo (ponto TR
10);

42
a acupuntura

— depois, pela face posterior do braço, chega ao om bro e à


espádua (pontos T r 14 e 15);
— envia um vaso que penetra no peito e liga-se ao m eridia­
no da circulação-sexualidade;
— depois passa por trás da nuca, contorna a orelha (pontos
TR 17, 18, 1 9 ,2 0 );
— com pleta o contorno da orelha (pontos TR 21 e 22) pa­
ra term in ar na extremidade externa da sobrancelha
(ponto TR 23).

* As discrepâncias dos trajetos faciais dos meridianos, notadamente do Estô­


mago e Ves. b ilia r, devem-se às diferentes escolas. Observar que a seqüência de
pontos varia, mas não a sua localização. Em caso de dúvida, identificar os pon­
tos pelo nome e localização (classificação chinesa) e não pelo número de o r­
dem de ntro do m eridiano (classificação européia). (N. R.)

44
noções de base

Recebe o flu xo energético proveniente do m eridiano


da circulação-sexualidade em seu prim eiro p o n to , e um
curto vaso que sai do seu 23º ponto estabelece a c o m u n i­
cação com o meridiano da vesícula biliar que o segue.
k) O m eridiano "Y a ng” da vesícula b ilia r: "Tsu-Chao-
Yang" (possui 44 pontos):
— começa no ângulo externo do o lh o (ponto V B 1);
— atinge a frente da orelha, depois a região te m p o ra l, des­
crevendo várias curvas (pontos V B 2 a 11), segue a parte
lateral do crânio por fora do m eridiano da bexiga, a nu­
ca (ponto VB 20) e chega à espádua (ponto V B 21);
— envia um vaso que alcança o fígado e a vesícula b ilia r
— passa então à axila (ponto VB 22) e desce pela face late­
ral do tronco até o quadril (p o n to VB 30);
— segue a face externa da coxa, do joelho (p o n to VB 34),
da perna (pontos VB 37 e 38) e chega ao pé (p o n to VB
41) e ao quarto artelho (ponto V B 44), onde te rm in a .
Recebe o fluxo energético proveniente do m eridiano
do t r í pli c e reaquecedor em seu prim eiro p o n to , e um vaso
que sai do seu 41º ponto estabelece a com unicação com o
meridiano do fígado que o segue.

I) O m eridiano " Y in " do fígado: "T s u -T s iu e -Y in "


(possui 14 pontos):
— começa no ângulo ungueal externo do grande arte lho ;
— acompanha a face dorsal do pé até o to rn o z e lo (p o n to
F 4 no centro da articulação do navicular com o tálus);
— passa para a face interna da perna (pontos F 5, 6 e 7 );
— na extremidade interna da prega do joelho (p o n to F 8)
alcança o trígono femural (ponto F 12), cruza o púbis,
segue um trajeto oblíquo até a face lateral do abdom e e
à extremidade livre da 11ª costela (ponto F 13), te rm i­
nando no tórax, entre a sexta e sétima costelas (p o n to F
14), onde penetra no tórax e, ao mesmo tem p o, envia
um vaso que ascende à garganta, ao olho, à fro n te e te r­
mina na linha mediana, na direção do to p o d o crânio.
Recebe o flu xo energético proveniente do m eridiano
da vesícula biliar em seu segundo p o n to e um vaso que sai
do seu 14º ponto estabelece a comunicação com o m eridia ­

45
a acupuntura

no dos pulmões para term inar o ciclo da grande circulação


de energia.
A evolução recomeça então, a energia só pára de ca­
m inhar no momento da m o rte . e ter-se-á observado que:

Por um lado,
— os seis meridianos Yin estão dispostos na face interna
ou ântero-interna dos membros, o sentido da circulação
de energia sendo centrífugo nos três meridianos Yin dos
membros superiores, centrípeto nos três meridianos Yin
dos membros inferiores;
— os seis meridianos Yang estão dispostos na face externa
ou póstero-externa dos membros, com exceção do m eri­
diano do Estômago, que possui trajeto em face anterior
do m embro inferior; o sentido da circulação da energia é
centrípeto nos três meridianos Yang dos membros supe­
riores e centrífugo nos três meridianos Yang dos mem­
bros inferiores.
(Os meridianos cujos trajetos se seguem nas faces
opostas de cada um dos membros são aqueles mesmos dos
órgãos e funções Yin-Yang "acoplados" no quadro de cor­
respondências a que estão ligados; por isso são chamados
m eridianos "acoplados".)

Por outro lado,


— em sua evolução, a energia, tendo caminhado sucessiva­
mente em dois meridianos Yin, depois em dois m eridia­
nos Yang, só faz sua mutação específica nas extrem ida­
des distais desses vetores: Yin-Yang ao nível das mãos,
Yang-Yin ao nível dos pés.
A proporção de energia dom inante de cada um vai as­
sim aumentando desde sua extremidade distal até à sua
extrem idade proxim al (dedos para o rosto, dedos dos pés
para o tó ra x), onde ela atingirá seu máximo de especifici­
dade, Y in no tórax, Yang no rosto.
O sentido da variação específica de cada meridiano
não se sobrepõe ao da circulação energética do circuito;
coincidente nos meridianos Yang do membro superior e
nos meridianos Yin do membro inferior, ela é de sentido

46
noções de base

contrário nos meridianos Yin do membro superior e nos


meridianos Yang do membro inferior.
Ainda:
— essa variação rapidamente progressiva das extremidades
para o cotovelo ou o joelho é mantida praticamente es­
tável a partir destas articulações, no sentido proximal.
a acupuntura

48
noções de base

Finalmente, cumpre notar que, simultaneamente com


essa noção linear, intervém uma noção de nível e de plano:
— os meridianos Yang form am três planos superficiais:
Tae Yang ( Yang superficial): meridianos intestino del ­
gado-bexiga;
Chao Yang ( Yang m édio): meridianos tríp lic e reaque ­
cedor-vesícula biliar;
Yang M ing ( Yang profundo): meridianos intestino
grosso-estômago;
— os meridianos Yin form am três planos profundos:
Tae Yin ( Yin superficial): meridianos baço-pulmão;
Tsiue Yin ( Yin médio): meridianos fígado-circulação-
sexualidade;
Chao Yin ( Yin pro fu n d o ): meridianos rim-coração.

2. Os meridianos secundários. Somando-se aos meridianos


principais, esses meridianos, que têm um papel m uito de­
term inante e cuja existência, aliás, explica em grande parte
a fisiologia energética, são objeto de estudos cada vez mais
precisos Formando uma verdadeira cobertura de relés en­
tre os meridianos principais, de um lado; e entre a rede as­
sim constituída, os diferentes órgãos e as camadas de ener­
gia Oé e Yong, de outro lado, são:
a) os vasos Lo ou Lo Bie
b) os meridianos distintos ou de conexão ou colaterais;
c) os meridianos tendino-musculares;
d) os meridianos curiosos ou vasos maravilhosos ou va­
sos extraordinários.
Sobre este ponto, citamos como referências essenciais
as obras de Chamfrault e Nguy en Van Nghi (cf. Bibliogra­
fia sumária).

a) Os vasos " L o " ou "L o B i e ": bilaterais e simétricos,


são de duas espécies : 12 vasos Lo longitudinais e 12 vasos
Lo transversais, mas seu ponto de origem, situado em cada
um dos meridianos principais, é o mesmo para as duas va­
riedades: é o ponto Lo situado nos antebraços e nas pernas:
P 7, IG 6, E 40 BP 4 , C 5, ID 7, B 58, R 4, CS 6, T R 5,
VB 37, F 5.
a acupuntura

— Os vasos " L o " longitudinais duplicam os m eridia­


nos principais numa grande parte de seu trajeto. A p a rtir
do p o n to Lo, sua direção é ascendente, salvo para os me­
ridianos do pulmão e da vesícula biliar; eles vão em d ire ­
ção aos órgãos correspondentes e, com freqüência, aos ó r­
gãos acoplados, atingindo-os ou detendo-se antes, na face
ou no crânio, no tó ra x, abdome e nas extremidades.
— Os vasos " L o " transversais são vasos curtos que
põem em comunicação dois meridianos principais empare­
lhados em suas extrem idades distais partindo do p o n to Lo
de um m eridiano Y in ou Yang, vão (nisso são m uito d ife ­
rentes dos vasos longitudinais) sempre na direção de um
o u tro m eridiano: o meridiano acoplado de natureza opos­
ta, a que se juntam no seu ponto Yunn. Portanto, seus
trajetos respectivos são os seguintes:

— Aos vasos " L o " ligam-se três vasos também chama­


dos " L o " , que, por sua anátomo-fisiologia, se aproximam
sobretudo dos vasos longitudinais: dois não pertencem a
meridianos principais mas a dois outros meridianos secun­
dários m u ito im portantes: os meridianos de Tu-Mo e de
Jen-Mo (vaso "governador” e vaso "concepção"), e descre­
ve-los-emos com estes; um pertence ao m eridiano do baço:
o grande Lo do baço, que se destaca do ponto BP 21 e logo
se dispersa em m últiplas ramificações em todas as direções,
relacionando-se com todos os outros Lo.

b) Os meridianos distintos também form am uma rede.


de comunicação entre os meridianos principais. Vias de
união de longos trajetos, nascem como os vasos Lo dos me­
ridianos acoplados, mas deles se desligam ao nível das gran­
des articulações: cintura escapular, quadril, joelho; mergu­
lham então na direção das vísceras correspondentes a seu
m eridiano de origem. Ascendem em seguida na direção da
garganta, face, nuca e crânio, onde vasos distintos de o ri­
gem Yin e vasos distintos de origem Yang se unem para
lançar-se nos meridianos principais Yang. Sua topografia

50
noções de base

leva a pensar que, de uma parte, eles são importantes p o r ­


tadores de energia Oé de alerta e de defesa e, de outra, que
por seu interm édio se explica a ação a dist ância de certos
pontos dos vasos principais cujos trajetos não atingem estas
regiões.

c) Os meridianos tendino-musculares, vasos m uito ex­


tensos como os preced entes, com uma zona de impacto
mais im portante que a zona periarticular dos vasos distin­
tos. drenam como eles a energia superficial defensiva do
corpo, então repartida peia pele, os tendões e os músculos,
Principiam nas extremidades dos quatro membros no p o n ­
to Su mais distal dos meridianos principais, situado nos
dedos das mãos e dos pés: o p o n to Ting. Jamais penetram
em profundidade, cobrem os trajetos dos meridianos p rin ­
cipais com uma re d e m u ito fin a que recolhe ao longo de
todo o seu percurso a energia superficial das regiões que
atravessa, e toca nos denominados "p o n to s de inserção" as
articulações que encontra, e se reúnem em suas extrem ida­
des proxim ais:
— Para os três meridianos Yang da mão, sobre a face
lateral do crânio, na zona do ponto VB 13.
— Para os três meridianos Yang do pé, na face, ao n í­
vel da apófise zigomática, na zona do ponto ID 18.
— Para os três meridianos Yin da m ão, sobre a face la­
teral do tórax na região VB 22.
— Para os três meridianos Yin do pé,..na região gênito-
pubiana do p o n to VC 3.
Por sua topografia superficial, esses meridianos são,
através da epiderme, camin h os de penetração da energia
patológica, mas também são os elementos que lhe form am
uma barragem, e fornecem com freqüência os primeiros si­
nais de alarme que perm item uma ação terapêutica imedia­
ta e geralmente fácil.

d) Os meridianos curiosos, ou vasos maravilhosos, ou


vasos extraordinários, em número de o ito, apenas dois pos­
suem pontos e trajetos próprios, sendo os demais co n stitu í­
dos de pontos que tom am dos meridianos principais.

51
a acupuntura

Os dois meridianos que são medianos e possuem traje­


to e pontos próprios são: o Tu-Mo ou vaso governador
(V G ), situado na linha mediana do dorso, o Jen-Mo, ou va­
so concepção (VC), situado na parte anterior do corpo. Os
outros são o Tchong-Mo, o Tae-Mo, o Yin-Oé, o Yang-Oé,
o Yin-Kéo e o Yang-Kéo.
São vasos m uito im portantes: de uma parte, em v irtu ­
de de sua origem e de seus trajetos, eles transportam para
to d o o organismo a maior parcela da energia ancestra l d e
outra parte, desempenham o papel de reservatórios que
captam o excesso de energia quando esta é demas iada, e a
cedem quando ela se torna insuficiente.
O nome desses meridianos é explicativo de suas fu n ­
ções.
— O Tu-Mo, cujo nome significa comandar, governar,
apresenta 28 pontos próprios. Nascido em profundidade
do rim Yang dos chineses (a supra-renal), vai até ao perí­
neo para atingir superficialmente o seu ponto de emergên­
cia cutânea: o ponto VG 1, logo adiante da ponta do cóc­
cix, seguir num trajeto ascendente (Fig. 8, p. 38) a linha
mediana posterior desde o cóccix até o topo do crânio —
pontos VG 2 a VG 20 — e descer, enfim , na linha mediana
da face até à gengiva superior: ponto VG 28 entre as raízes
dos incisivos medianos.
Ele com porta: — um vaso " L o " bilateral, mas que
não tem a função reguladora interm eridianos dos verdadei­
ros vasos L o ; destaca-se do ponto VG 1, envia ramificações
para a nuca, cérebro e cabeça, para os meridianos secundá­
rios do baço e do estômago, e para a região gênito-urinária;
— numerosas anastomoses que drenam para ele a energia
Yong e Oé dos três Yang; é o m ar de todos os Yang (o pon­
to VG 1 é chamado o p o n to Lo g e ra l d e Y ang, os pontos
VG 13 e 19, pontos centros de reunião do Yang); - vasos
de comunicação com Jen-Mo. O seu ponto chave é o ponto
intestino delgado 3.

— O "Jen-M o" ou vaso concepção apresenta 24 pon­


tos próprios. Proveniente como o vaso governador do rim
Yang, surge no períneo (ponto VC 1) sobre a linha media­
noções de base

na, na raiz do escroto no homem, na comissura vulvar pos­


te rior na mulher. Segue então com o o Tu-M o, mas na linha
mediana anterior do co rpo (Fig. 9, p. 39), um tra je to
ascendente desde o seu ponto V C 2, na borda superior do
púbis, até'seu ú ltim o ponto VC 24, no queixo.
Com porta dois vasos secundários bilaterais: um des­
cendente, desde seu ponto VC 15, ram ificando-se na pare­
de abdom inal interna, e outro partind o de seu p o n to te r­
minal em direção à região ó culo-orbital. V e rte d o u ro da
energia dos três Yin, é o mar de todos os Yin (o seu ponto
V C 1 é chamado o ponto Lo geral dos Y in). Seus vasos de
ligação com Tu-M o constituem u m a v i a d e e q u i l í b r i o Yin-
Yang ântero-posterior. Seu ponto chave é o p o n to Pulmão
7 .
— O Tchong-Mo ou vaso central, nascido tam bém do
rim Yang, após o seu trajeto interno, perfaz o percurso do
meridiano dos rins, do ponto R 11 ao R 21. Envia im p o r­
tantes ramificações na direção da garganta e da boca, do
tubo digestivo e do aparelho urogenital, e dos m em bros in ­
feriores. Seu ponto chave é o ponto Baço 4.
— O "T ae-M o", ou vaso cintura, é um m eridiano que
rodeia a cin tura n u m ún ico círculo; cruza, p o rta n to , vários
meridianos; e "seus distúrbios são sempre nefastos para os
meridianos que estão sob o seu com ando". Depende do
meridiano principal da vesícula biliar, que toca e m seu
ponto VB 26. Seu ponto chave é o ponto Vesícula B iliar

— O " Yin-Oe" , que começa acima do m aléolo in te r­


no, no cruzamento de todos os Y in, é um m eridiano secun­
dário do meridiano dos rins que se inicia no ponto R 9. O
seu trajeto no espaço Yin liga todos os Y in; te m um tra je to
segmentário: uma parte no meridiano d o Baço-pâncreas, BP
13, 15, 16, uma parte no meridiano do fíga do, F 14, uma
parte no meridiano dos rins, R 22 e 23, e term in a no ponto
23 do vaso concepção. (Um sintoma possui p a rticu la r valor
para o diagnóstico: “ a dor no coração". Não existe sinal de,
Inn Oe sem dor no coração.) Seu ponto chave é o ponto
Circulação-Sexualidade 6.

53
a acupuntura

— O "Y ang O e" une todas as energias Yang, é um va­


so secundário d o m e rid ia n o d a b e xig a . Nasce em seu 63º
pon to e passa sucessivamente pelos pontos VB 35, 29, IG
14, TR 13, TR 14, VB 21, ID 10, VB 20, 19, 18, 17, 16;
15, 14, para term inar no ponto VB 13. O seu ponto chave.
é o pon to tríp lic e reaquecedor 5.R .)(T
5
— O "Y a n g-Keo" . vaso secundário do meridiano da
bexiga, que começa no ponto B 6 2 passa por V 61, 59, VB
29, IG 15, 16, E 4, 3, 1, B 1, e term ina em VB 20, e o Yin-
Keo, m eridiano secundário do m eridiano dos rins, que co­
meça no ponto R 2 , sobe verticalm ente pelos pontos R 6,
8, para term inar em B 1, são os meridianos do movimento
(Keo significa agilidade). Eles dirigem todos os movimen­
tos do corpo e, pelo ponto B 1, conservam sob sua d epen­
dência o fechamento das pálpebras.
O ponto chave do Yang-Keo é o ponto B 62, o ponto
chave de Yin-Keo é o ponto R 6.

B) Os Pontos

Como já dissemos, é graças à constatação de suas qualida­


des m u ito especiais que esses pontos do revestimento cutâ­
neo corporal contribuíram para a edificação da terapêutica
pelas agulhas. Eles possuem:
— a propriedade de se tornarem dolorosos, seja es­
pontaneam ente, seja à pressão, em regiões eletivas por v i ­
ves próxim as mas, outras vezes, m uito distanciadas de um
órgão doente, regiões em que se agrupam em série lineares
contantes, quando atingidos os mesmos órgãos ou as mes­
mas funções;
— a característica, quando estimulados (e a agulha do
a cupuntor dirige e regula neles este estím ulo), de determ i­
nar um efeito curativo sobre as perturbações observadas.
A existência deles é inegável, o próprio doente o s as­
sinala com freqüência, e o médico os identifica, em relação
a rigorosos pontos de referência anatômicos.
Em número de oitocentos, sendo, em sua maioria,
pontos bilaterais, qualificam-se ao mesmo tempo no plano
físico , fisiológico, e no plano psico-intelectual, do qual ca-

54
noções de base

da um dos meridianos contém um re fle x o p o r duas ordens


de ações: uma ação de comando d ire to da energia que de­
corre objetivamente da sistematização da c irc u lação ener­
gética, ta l como a descrevemos; uma ação sin to m á tic a , de
que os chineses não codificaram a m odalida de de tra n sfe ­
rência energética mas que é líc ito pensar, co m o sugere
Choaim, que os term os estão em ressonância harm ônica
com os da ação precedente e, com o propõe Cazès, que res­
pondem a desequilíbrios típicos.
Alguns desses pontos possuem uma e o u tra q u a lific a ­
ção. Outros possuem apenas uma delas.

1. A ação de comando direto da energia (p rin c íp io essencial


de um tratam ento pelas agulhas e elem ento c a p ita l da d u ra ­
ção do resultado o b tid o ), é assegurada:

A) Por pontos que são comuns a todos os m eridianos e


têm sobre estes uma ação idêntica; são eles:
a) No p ró p rio trajeto dos m eridianos:
1) Os sessenta pontos antigos ou p o n to s elem entares, os
quais são de grande valor porque to d os est ão situ a d o s na
extremidade distal dos membros, na zona o n d e o e q u ilí­
brio energético é mais instável, por conseguinte, onde é
mais fácil m odificá-lo, todos estão escalonados no senti­
do do aumento da energia dom inante de cada um dos me­
ridianos, a qual, como já dissemos, cresce a p a rtir dessa
mesma extremidade distal e, nessa "escala de relações",
todos estão dispostos segundo o ciclo dos C in c o Elem en­
tos. (Serão de um emprego fa cilita d o pela regra do c ic lo
Cheng ou do ciclo Ko na correção da m a io ria dos desequi­
líbrios energéticos em um ou o u tro sentido.)
Alinhados entre as extremidades dos dedos e o c o to ­
velo (segmento term inal dos m eridianos Y in , segmento de
origem dos meridianos Yang do m em bro s u p e rio r), entre as
extremidades dos dedos dos pés e o joelho (segm ento te r­
minal dos meridianos Yang, segmento de o rig e m dos m e ri­
dianos Yin), são em número de cinco por m e rid ia n o :
— o ponto Tsing: ponto das extremidades das mãos e dos
pés, prim eiro ou ú ltim o ponto segundo se trate de um
a acupuntura

m eridiano centrífugo ou centrípeto; ponto de mudança


de polaridade da energia;
— ponto Yong: segundo ou antepenúltim o;
— ponto Yu: terceiro a contar do início ou do fim do m eri­
dia n o , exceto para o meridiano da vesícula biliar, onde é
o quarto;
— o ponto King: situado logo acima dos punhos e dos to r ­
nozelos ;
— o ponto Ho: situado ao nível dos cotovelos e dos jo e ­
l hos, a p a rtir do qual a energia é estabilizada.
Sua relação com os elementos varia segundo a nature­
za dos meridianos; com efeito, o flu x o energético chega
nas prim eiras horas do dia (do mesmo modo que a energia
sazonal nascente chega na primavera) como energia Yin ao
m eridiano do fígado (1 hora), correspondência: madeira,
primavera; como energia Yang (5 horas) ao meridiano do
intestino grosso, correspondência: metal, outono; eles têm,
p o rta n to , por correspondências:
— o ponto Tsing: para os meridianos Yin: madeira e p ri­
mavera; para os meridianos Yang: metal e outono;
— o ponto Yong: para os meridianos Y in : fogo e verão; pa­
ra os meridianos Yang: água e inverno;
— o ponto Yu: para os meridianos Yin: terra e canícula;
para os meridianos Yang: madeira e primavera;
— o p on to King: para os meridianos Yin: metal e outono;
para os meridianos Yang: fogo e verão;
— o ponto Ho: para os meridianos Yin: água e inverno;
para os meridianos Yang: terra e ca nícula.
Do ciclo desses pontos capitais, certos autores, pelo
fato de um meridiano receber a energia do que o precede e
transm iti-la ao que lhe segue, deduziram a qualificação de
pontos freqüentem ente utilizados no Ocidente:
— o chamado ponto de “ tonificação": ponto, num deter­
m inado m eridiano, do elemento correspondente ao seu
m eridiano "m ãe", tido como sendo aquele que "o nu
tre .
— o chamado ponto de "dispersão": ponto nesse meridia­
no do elemento correspondente ao meridiano " f ilh o "
noções de base

Por exemplo, para o meridiano Coração: sendo o seu


m eridiano "m ãe” no ciclo Cheng dos elementos o m eridia­
no do fígado = elemento madeira = ponto Tsing, o seu
ponto de t onificação será seu ponto Tsing = nono ponto
(C 9); sendo o m eridiano " filh o " o meridiano do baço e
pâncreas = elemento terra = ponto Yu, o seu ponto de dis­
persão será o seu ponto Yu = sétimo ponto (C 7).

Quadro de pontos antigos

Meridianos Yin

P ulm ão ............................. P 11 P 10 P9 P8 P 5
Baço, p â n c r e a s .............. BP 1 BP 2 BP 3 BP 5 BP 9
C o r a ç ã o ............................. C 9 C 8 C 7 C 4 C 3
R im ................................... R 1 R 2 R 3 R 7 R 10
C ircu la ção -S exu alid ad e. CS 9 CS 8 CS 7 CS 5 CS 3
F í g a d o ................................ F 1 F 2 F 3 F 4 F 8

Meridianos Yang
Tsing Yong Yu King Ho
M etal Água Madeira Fogo Terra

In te s tin o g ro s s o .............. IG 1 IG 2 IG 3 IG 5 IG 11
E s t ô m a g o ......................... E 45 E 44 E 43 E 41 E 36
In testin o delgado . . . . ID 1 ID 2 ID 3 ID 5 ID 8
B e x i g a ................................ B 67 B 66 B 65 B 60 B 54
T ríp lic e reaquecedor . . TR 1 TR 2 TR 3 TR 6 T R 10
V esícula biliar .............. V B 44 VB 43 V B 41 V B 38 V B 34

Mas, de fato, o uso desses pontos consiste tão-somen­


te numa acepção parcial da regra dos Cinco Elementos, que
certos acupuntores principiantes utilizam assim sem o sa­
ber.
2) Os pontos " lu n n " ou pontos "fo n te ", os quais têm por
característica essencial uma ação direta sobre o órgão o u a
função a que está ligado o meridiano. Esses pontos coinci­
dem com os pontos Yu ou pontos terra no que diz respeito
aos meridianos Yin e respondem ao ponto consecutivo ao
a acupuntura

ponto Yu para os meridianos Yang. Especialmente indica­


dos em presença de sintomas orgânicos, eles reforçam,
além disso, a ação dos pontos precedentemente descritos.
3) Os pontos " L o " ou pontos de "passagem". pontos de
partida dos vasos Lo, cujo papel consiste em estabelecer o
e q u ilíb rio entre dois meridianos de órgãos empara hados,
dos quais um estaria em excesso. Estão situados seja entre
os pontos Yu e King, seja entre os pontos King e Ho.
4) Os pontos "P e n n " ou pontos "h o rá rio s", que correspon­
dem ao ponto do elemento a que está ligado o órgão no
quadro de correspondências e dos quais se obterá os me­
lhores resultados se forem picados na hora do in flu xo ener­
gético m áxim o do meridiano.
b) Fora do trajeto dos meridianos:
1) Os pontos " M o " ou pontos "a ra u to " ou pontos "alar­
m e ", que, situados no tórax ou no abdome, são pontos de
condensação energética de um órgão que lhes está subja­
cente e tornam-se sensíveis no caso de ele ser atingido;
pontos im portantes, portanto, para o diagnóstico e a te­
rapêutica. São eles (Fig. 10, p. 43):
VC 3 :
ponto Mo de: bexiga.
VC 4 :
ponto Mo de: intestino delgado.
E 25 :
ponto Mo de: intestino grosso.
VC 12 :
ponto Mo de: estômago.
VC 14 :
ponto Mo de: coração.
F 13 :
ponto Mo de: baço (à esquerda), pâncreas (à d i­
reita).
F 14 : ponto Mo de: fígado.
VB 23 : ponto Mo de: vesícula biliar.
VB 25 : ponto Mo de: rim.
P1 : ponto Mo de: pulmão.
2) Os pon tos " l u " do dorso ou pontos "assentim ento", os
quais, escalonados paralelamente à cadeia dos gânglios sim­
páticos paravertebrais, no ramo interno do meridiano da
bexiga, são pontos de ação direta sobre as diferentes fu n ­
ções orgânicas e sobre as funções psicomentais dos m eridia­
nos correspondentes. M uito interessantes, sobretudo, do
ponto de vista terapêutico, são eles (Fig. 8, p. 38):

58
noções de base

V 13 : ponto lu de: pulmão.


V 14 : ponto / u de: circulação-sexualidade.
V 15 : ponto lu de: coração.
V 18 : ponto l u de: fígado.
V 19 : ponto lu de: vesícula biliar.
V 20 : ponto lu de: baço e pâncreas.
V 21 : ponto lu de: estômago.
V 22 : ponto lu de: tríp lice reaquecedor.
V 23 : ponto lu de: rim
V 25 : ponto lu de: intestino grosso.
V 27 : ponto lu de: intestino delgado.
V 28 : ponto lu de: bexiga.

B)Por pontos que pertencem apenas a certos meridia­


nos e que possuem uma ação particular; são eles:
1) Os pontos " L o " gerais que agem sobre o equilíbrio geral
Yin-Yang e que, quando indicados, serão sempre picados
no início da sessão de tratam ento: pontos Y in : CS 6, P 7,
V C 1; pontos Yang: TR 5, VG 1.
2) Os pontos " L o " de grupo, que equilibram em cada um
dos membros a energia dos três meridianos Yin e dos três
meridianos Yang correspondentes; pontos Yin: CS 5, BP 6;
pontos Yang TR 8, VB 39.

Quadro complementar dos pontos comuns

Meridianos Yin
T on ifi ­ Disper­ Fonte Passa­ Horário Arauto Assenti­
cação são Yunn gem Lo Penn Mo mento
Yu

Pulm ão . . P9 P 5 P 9 P 7 P8 P 1 B 13
Baço, p ân­
creas . . . BP 2 BP 5 BP 3 BP 4 BP 3 F 13 B 20
Coração . . C 9 C 7 C 7 C 5 C8 V C 14 B 15
R im . . . . R 7 R 1 R 3 R 4 R 10 V B 25 B 23
Circulação-
S exualidade CS 9 CS 7 CS 7 CS 6 CS 8 CS 1 B 14
e R 11
F íg ad o . . . . F 8 F 2 F 3 F 5 F 1 F 14 B 18

*
a acupuntura

Quadro complementar dos pontos comuns (c o n t.)

Meridianos Yang
Tonifi- Disper­ Fonte Passa­ Horário Arauto Assenti­
cação são Yunn gem Lo Penn Mo mento
Yu

In te s tin o
grosso . . . IG 11 IG 2 IG 4 IG 6 IG 1 E 25 B 25
E stô m ago . . E 41 E 45 E 42 E 40 E 36 V C 12 B 21
In te s tin o
delgado . . ID 3 ID 8 ID 4 ID 7 ID 5 VC 4 B 27
B exiga . . . . B 67 B 65 B 64 B 58 B 66 VC 3 B 28
T r íp lic e
reaq u ec ed o r TR 3 T R 10 TR 4 TR 5 TR 6 VC 5 B 22
V e s íc u la
b ilia r . . . . VB 43 V B 38 V B 40 V B 37 V B 41 VB 23 B 19

3) Os pontos "centro reunião gerais" que têm uma ação


m u ito global sobr e a energia: três pontos "Reunião do
Yang" IG 4, VG 13 e 19; um ponto "Reunião do Yang e
do Y in " : B 17; cinco pontos "Reunião da energia geral":
E 36, F 13, VC 12, 15 e 17.
4) Os p on tos "chave" que ligam os meridianos curiosos aos
m eridianos principais de que dependem, pelos quais a ener­
gia em excesso que circula nos primeiros retorna na grande
circulação Yong: indicamo-los ao estudar os meridianos
curiosos: para os meridianos Yin: BP 4, CS 6, P 7, R 6; pa­
ra os m eridianos Yang: TR 5 , VB 41, ID 3, B 62.

2. A ação sintomática dos pontos, complementar da ação ener­


gética, é assegurada pelos:
a) Os pontos especializados que têm uma ação pode­
rosa sobre, urra conjunto de tecidos, uma função, uma re­
gião do corpo: músculos, articulações, artérias e veias, os­
sos, sangue; pontos que regem a cabeça e o pescoço, o ros­
to , o ventre, a região dorso-lombar, e que se comportam
como se catalisassem o efeito de reequilíbrio energético ao
nível do com partim ento que comandam.
Relacionam-se a certas afecções:
— das artérias: pontos CS 9 — CS 6 — P 9.
— das articulações: pontos BP 5 — TR 5 — VB 38.

60
noções de base

— do coração: pontos B 17 — CS 7.
— do estômago: pontos E 36 — V C 12.
— das funções genitais: pontos BP 6 — E 30 — V B 26 — VC
4.
— do intestino: pontos E 30 — E 25.
— dos músculos: ponto VB 34.
— dos nervos: ponto B 60.
— da nutrição: ponto E 30.
— dos ossos: pontos B 11 — VB 34.
— da pele: pontos B 54 — IG 11.
— do pulmão: pontos B 13 — VC 17.
— do sangue: pontos B 17 — B 38.
— do simpático: pontos B 1 0 — R 2 — VB 20.
— do vago (pneumogástrico): pontos B 10 — V C 12.
— das veias: pontos B 31 — VB 38 — BP 5.
Certas localizações:
— cervicais: pontos ID 3, P 7.
— dentárias: pontos IG 12, IG 3, IG 4, E 2.
— dorsais: pontos B 54.
— lombares: ponto B 54.
— no membro in fe rio r: ponto B 62.
— no membro superior: pontos IG 4, IG 11.
b) Os pontos de sintomas, ligados a tal doença, a tal
sí ndrome, a tal sintoma, aos quais a ação terapêutica ha­
bitual perm itiu vinculá-los. Sua nom enclatura transcende o
âmbito deste trabalho, mas são apontados em numerosos
repertórios. Convém adicionar-lhes os chamados pon tos
fora dos meridianos, que se encontram , com efe ito , fo ra
dos trajetos clássicos descritos, sendo que alguns parecem
estar ligados a meridianos próxim os, enquanto que o u tro s
podem constituir meridianos pertencentes a funções des­
conhecidas dos prim eiros observadores.

6l
C A PÍT U L O III

O EXAME DO DOENTE E O DIAGNÓSTICO

Como é que o médico acupuntor, conhecendo todos esses


dados, se conduz para fazer um diagnóstico e iniciar um
tratam ento?

I. O EXAME CLINICO

Em prim eiro lugar, como em toda a medicina, as diferentes


fases da exploração clínica chinesa resumem-se em quatro
palavras: Wang (examinar), Ting (escutar), Wen (interro­
gar), Tsie (palpar) — palpar as zonas correspondentes ao
exame ocidental, palpar os trajetos dos meridianos e os
pontos M o, palpar os pulsos.
Em seguida, o estudo mais específico do Yin e do
Yang, do interio r e do e x terior, do frio e do calor, do vazio
e da plenitude, ajudará a encontrar os pontos indicados em
cada caso, a chave do sistema que perm itirá estabelecer
uma terapêutica Válida.

1. O "Yin" e o "Yang" são continuamente considerados em


medicina chinesa e sabemos que são complementares e re­
lativos. A relatividade desses dois princípios é, portanto, a
noção essencial. E eles são tanto mais im portantes por­
quanto englobam os outros princípios, uma vez que a su­
perfície, o calor e a plenitude são classificados no Yang, o
in te rio r, o frio e o vazio no Yin. O seu equilíbrio é a boa

62
exame do doente e diagnóstico

saúde, e todo o desequilíbrio, isto é, o predom ínio de um


term o acarretando a deficiência do outro, caracteriza a
doença.
As modificações do Yin e do Yang podem ser de o r­
dem geral ou afetar somente um sistema orgânico ou fu n ­
cional.
a) Quanto às modificações gerais, já o aspecto do
doente é particularm ente claro: aquele que apresenta uma
tez colorida, que é agitado, loquaz, extro vertid o, que sente
calor e busca um ambiente fresco, que tem tendência para
a insônia, para as contrações, para os espasmos, é um doen­
te Yang; o seu oposto, que é pálido, que se fatiga com fa c i­
lidade, é arqueado, frio re n to , detesta a companhia e o ru í­
do, fala pouco, é propenso à apatia e à sonolência, que
"em sua cama se volta para o lado da parede", é um doente
Yin.
b) As modificações específicas traduzem-se p o r um
desequilíbrio qua litativo de um ou vários órgãos em estado
de excesso ou de insuficiência. Os sintomas de h ip e ra tivid a ­
de ou espasticidade do sistema afetado: digestivo, respira­
tó rio , nervoso, cardiovascular, genital ou u rin á rio , evocam
seu estado Yang e, pelo contrário, os sintomas de h ip o fu n ­
cionamento ou de atonia traduzem seu estado Yin.

2. A distinção entre interior e exterior inform a-nos não so­


mente sobre a localização da doença, mas tam bém sobre
seu tratam ento e sua evolução: tudo o que é e x te rio r é de
bom prognóstico; tu d o o que evolui para a profundidade
agrava-se.

3. O frio e o calor, ligados também à grande lei fu n d a ­


mental, consistem seja no temor do frio ou do calor, seja
na sensação de frio ou de calor no corpo. R u bor, calor, são
Yang; palidez, frio , são Yin.

4. O vazio e a plenitude são, enfim , dois p rin cíp io s fu n ­


damentais para o diagnóstico e o tratam ento. Os doentes
que apresentam um excesso de energia, uma evolução agu­
da, um estado de retenção ou de estagnação, uma alergia,

63
a acupuntura

um estado convulsivo, são considerados como estando em


plenitude.
Os doentes crônicos com enfraquecim ento da energia,
com degenerescência e atrofia, im potência e paralisia são
considerados em estado de vazio.
Estes dois princípios recorrem às noções de energia
essencial do homem e de energia patológica proveniente do
exterior. Com efeito, se a energia patológica está em pleni­
tude, esta só poderá "e n tra r" se a energia essencial do cor­
po estiver insuficiente (em va zio ).N a fisiopatologia ener­
gética chinesa, a doença produz-se por dim inuição da ener­
gia de defesa, ou por um aumento considerável e insuportá­
vel da energia patológica agressora.

n. O ESTUDO DAS PULSAÇÕES

Após ter praticado um interrogatório preciso e examinado


o d o e n te , o prim eiro gesto do médico acupuntor é o exame
do pulso.
A pulsologia chinesa é uma arte de extrema com plexi­
dade: em p rin c íp io , dever- se-i a, estudar as pulsações pela
manhã, em jejum , quando o equilíbrio energético ainda
não está perturbado pelas contingências cotidianas; lamen­
tavelm ente, é raro encontrar essas condições ideais e seria
necessário levar em conta os elementos circunstanciais, as­
sim como o horário do flu x o energético.
Os chineses conheceram milênios antes de nós o cará­
ter circu la tó rio do sangue, e descobriram as pulsações ao
mesmo tem po que os vasos sangüíneos. Palpando o corpo,
eles assinalaram nove zonas onde é possível sentir os bati­
mentos arteriais: três pulsações na cabeça, três nos braços
e três nas pernas.
Os prim eiros fenômenos constatados foram que as
pulsações variam com as estações e reproduzem o seu dina­
mismo. As pulsações radiais (lados esquerdo e direito), a
parte mais acessível, foram escolhidas como meio prim or­
dial de estudo por razões práticas, mas também porque os
três dedos apoiados sobre a artéria radial representam a t r i­
logia: o Céu, o Homem e a Terra. E ntretanto, fo i somente
exame do doente e diagnóstico

300 anos a.C., após numerosas discussões, que foram esta­


belecidas as relações do pulso radial com os Cinco Elem en­
tos, e o aspecto da pulsologia é o mesmo desde essa data.
— Anatom icam ente, existe uma defasagem e n tre os
pulsos dire ito e esquerdo, devido a uma dissim etria vascu­
lar que o tro n co braquiocefálico comum cria. Os chineses,
observadores precisos, já tinham notado isso. P o rtanto, o
pulso da esquerda é Yang (origem direta do arco aó rtico ) e
o pulso da direita é Yin (origem a partir do tro n co b ra q u io ­
cefálico).
— Por o u tro lado, cada calha r adial está dividida em
três níveis: o polegar, entre o estilóide radial e a prega do
punho; a barreira, ao nível da apófise estilóide, e o pé, aci­
ma do estilóide; os próprios níveis, por sua vez, estão d iv i­
didos em parte superior e parte profunda. Há, p o rta n to ,
três níveis e seis pulsos de cada lado, ou seja, doze pulsa­
ções radiais, e cada uma das seis localizações corresponde a
um dos Cinco Elementos, sendo o elemento fogo d u p la ­
mente representado: fogo príncipe Yang e fogo m in is tro
Yin. Portanto, isto dá:
Na calha radial esquerda:
— no polegar: elemento fogo príncipe, em superfície: in te s­
tino delgado, em profundidade: coração;
— na barreira: elemento madeira, em superfície: vesícula
biliar, em profundidade: fígado;
— no pé: elemento água, em superfície: bexiga, em p ro fu n ­
didade: rins.
Na calha radial d ire ita :
— no polegar: elemento metal, em superfície: in te stin o
grosso, em profundidade: pulmões;
— na barreira: elemento terra, em superfície: estômago, em
profundidade: baço e pâncreas;
— no pé: elemento fogo m inistro, em superfície: tríp lic e
reaquecedor, em profundidade: circulação-sexualidade.
Todas as pulsações superficiais correspondem às f u n ­
ções orgânicas Yang; todas as pulsações profundas às fu n ­
ções orgânicas Y in; e constata-se: prim eiro, que o ciclo, se­
guindo a ordem das pulsações no sentido da corrente arte-

65
a acupuntura

66
exame do doente e diagnóstico

rial, sobrepõe-se ao ciclo Cheng (Fig. 5, p. 28) e à própria


regra da Mãe e do Filho, podendo, com efeito, a progressão
energética da água para o fogo em sua metade esquerda ser
considerada Yang, ao passo que a regressão do fogo para a
terra e o metal, à direita, é Yin; segundo, que se conside­
rarmos a relação entre os meridianos cujas pulsações batem
no mesmo lugar e no mesmo nível em cada pulso, essa rela­
ção é a mesma que o pentágono estrelado representa, se­
gundo o ciclo Ko dos Cinco Elementos (é a regra "esposo,
esposa", "pulso esquerdo: pulsação mais fo rte , pulso d ire i­
to : pulsação mais fra ca "); terceiro, que a relação entre os
meridianos cujas pulsações batem sobrepostas ao mesmo
pulso, no mesmo segmento, correspondem aos m eridia­
nos de órgãos acoplados que são reunidos por seus vasos
Lo.
De todas essas considerações ressalta a grande im por­
tância da pulsologia. Ela contribui em considerável medida
para o diagnóstico do desequilíbrio energético e perm ite
reconhecer os órgãos ou as funções fora de ritm o , respon­
sáveis por doenças ou síndromes.
Quatro casos se apresentam:
Primeiro caso. As pulsações são extremamente fracas,
inexistentes. O pulso bate antes de sua localização normal,
na direção do antebraço. Estamos em presença de um vazio
energético Yin e Yang to ta l. O caso depende mais da fa r­
macopéia do que da acupuntura.
Segundo caso. As pulsações, em seu conjunto, são am­
plas, duras, rápidas. O pulso bate além de sua localização,
em direção à mão. Há pletora de Yin e Yang, e seria tam ­
bém aconselhável, em prim eiro lugar, considerar uma outra
terapêutica.
Terceiro caso. Estamos em presença de um desequilí­
brio Yin e Yang suscetível de engendrar uma doença Yin
ou Yang. Neste caso, cumpre-nos averiguar se são as pulsa­
ções superficiais ou profundas que dominam, recordando
que as pulsações superficiais são Yang e as profundas são
Yin.
Quarto c a s o . O desequilíbrio geral Yin e Yang é
acompanhado , comoocorre freqüentemente, d e desequilí­
a acupuntura

brios locais. As pulsações nos indicariam se se trata de um


desequilíbrio isolado de um ou vários meridianos em rela­
ção aos outros, ou ainda em relação ao seu meridiano em­
parelhado.
Por o u tro lado, realizando o ideal do médico chinês, a
pulsologia dá-nos a possibilidade de descobrir os pequenos
sinais precursores de um estado patológico que ainda não
se exprime e de praticar uma terapêutica preventiva.
Mas esse m étodo não é um exame fácil, e faz-se neces­
sário um longo e paciente treinam ento para se chegar a
apreender todas as informações que a análise de seus
três tempos proporciona:
— o Tchin que corresponde à percepção observada quando
os dedos, após a interrupção da onda sangüínea, rece­
bem o impulso vascular no momento em que se reduz a
pressão;
— o Chu que é a percepção transmitida pelos três dedos
que pressionam ligeiramente a artéria;
— o F u , pulsação apenas perceptível quando os dedos, ten­
do captado o pulso Chu, diminuem ainda a pressão.
Os japoneses estudaram m uito essa questão e seus tra ­
balhos forneceram uma im portante contribuição: publica­
ção de tabelas em função da amplitude do ritm o , da firm e ­
za e da delicadeza das pulsações, que perm item determinar
os meridianos a tratar; construção de aparelhos de medição
(eletro-oscilopulsím etro de Rokuro-Fujita, como resultado
das pesquisas de M orita, no Japão, e de A lle n d y e Maury,
na França).

LU. A P A T O L O G IA E N E R G É T IC A

Os órgãos e as vísceras estão em inter-relações energéticas,


segundo a lei dos Cinco Elementos; como sabemos, são
essas relações dinâmicas e descontínuas que asseguram o
e qu ilíbrio do corpo humano. Se se produz uma perturba­
ção, um desequilíbrio, uma função que se torna preponde­
rante, "em p le n itu d e ", a função emparelhada está "em va­
z io "; já que a energia é uma, o que está em excesso de um

68
exame do doente e diagnóstico

lado está forçosamente em d é fic it do o u tro lado. Esse esta­


do de coisas pode se produzir seja por penetração da ener­
gia exterior cósmica, seja por uma perturbação da energia
essencial do corpo, o que nos perm ite encarar a patologia
energética -chinesa sob dois aspectos, dois grandes capítu­
los, considerando a etiologia das doenças: as doenças sazo­
nais e as doenças de origem interna.
1. As doenças sazonais, ou exteriores, de caráter Yang,
são causadas pelas energias patológicas cósmicas que pene­
traram no organismo.
As energias patológicas só podem atacar o homem se
sua energia vital essencial estiver em deficiência. As doen­
ças sazonais estão classificadas segundo a natureza da ener­
gia patológica cósmica que l hes deu origem. Distinguem-se
as doenças do vento, do calor, da umidade e do frio . Se es­
sa energia patológica se localiza na superfície, nos meridia­
nos tendino-musculares, elas são relativam ente benignas,
mais fáceis de tratar, mas se ela penetra no "órgão,” , pro­
vocando aí uma plenitude, gera um con ju n to de sintomas
mais graves e mais rebeldes à terapêutica.

2. As doenças de origem interna, de Caráter Y in , são de ori­


gem alimentar ou psíquica, e criam um desequilíbrio ener­
gético entre os órgãos e as vísceras. Elas evoluem segundo
as leis: da Mãe e do Filho ou de destruição, de usurpação
ou de desprezo, em relação ao ciclo dos C inco Elementos.
a) As doenças de origem alim entar (das quais cumpre
excluir as indigestões e intoxicações, que são infecções agu­
das e de origem externa) entram no d o m ín io do sabor. Sa­
bemos que, segundo a tabela de correspondências no ciclo
dos Cinco Elementos, cada elemento corresponde a um da­
do sabor. Diz-se ser o baço acoplado com o estômago que
reparte a energia pura dos "sabores". Uma alimentação de­
sequilibrada provoca uma plenitude do órgão considerado.
O doente detesta o sabor que tem em excesso, por exem­
plo, o doente que detesta açúcar tem uma plenitude de
baço.
b) As doenças de origem psíquica tam bém se repar­
tem no ciclo dos Cinco Elementos:
a acupuntura

Elem entos Concordâncias


M a d e ira (fíg a d o ) Cólera
F o go (coração ) A legria
T e rra (baço) R eflexão , preocupação
M e ta l (p ulm ões) T risteza
Á g u a (rins) V o n tad e

Tal com o para os sabores, o excesso é nocivo ("a có­


lera é nociva ao fíg a d o "), mas já não provoca plenitude
mas uma insuficiência, um vazio da energia Yin do órgão,
produzindo um bloqueio, uma obstrução, e fenômenos de
liberação de Yang.

IV. A P A T O L O G IA D O S Ó R G Ã O S E D A S V ÍS C E R A S

Cada dupla órgão-víscera apresenta uma patologia particu­


lar que com porta:
a) Uma sintom atologia visceral: que é supérfluo des­
crever aqui, pois é aquela que os ocidentais conhecem, mas
que se estudará, além de nossa maneira clássica, segundo o
vazio e a plenitude, e evoluirá de acordo com as leis dos
Cinco Elementos.

b) Uma sintom atologia de trajetos: a dos meridianos


principal e secundário de determinado órgão, e de seu aco­
plado:
1) 0 pulm ã o, além de sua função respiratória, é "o senhor
absolu to da energia do hom em ", comanda a astenia e a fa­
diga.
Por o u tro lado, o par form ado por esse meridiano
com o do intestino grosso, meridiano de depuração, está
em relação, de uma parte, com a epiderme e tudo o que se
refere às qualidades da pele e dos fâneros; por outra parte,
com a voz, o olfa to , todo o maciço facial anterior, e de­
sempenha um grande papel nas laringites, anginas, amigda­
lites, na anosmia, nas rinites, faringites, sinusites e cefaléias;
relaciona-se com o pescoço, os braços, os ombros, suas do­
res nevrálgicas e articulares, as contraturas em geral; enfim,
no plano psíquico, envolve a memória, a emotividade, o
mau hum or, as preocupações, os estados depressivos.
exame do doente e diagnóstico

2) Para os chineses, os rins representam os órgãos de filtr a ­


ção e, com sua víscera acoplada — a bexiga —, de e lim ina­
ção de dejetos orgânicos, o que com partilha com o in te s ti­
no grosso; é o "rim Y in " , o qual possui tam bém uma ação
sobre todos os líquidos do organismo; por o u tro lado, re­
presenta o órgão de conservação da energia ancestral, o
"rim Y ang", o qual, de fato, responde ao c ó rte x supra-renal
e ao aparelho genital, cujas funções os p rim e iro s observa­
dores tinham reconhecido, mas cuja anátom o-patologia
não haviam individualizado.
Além disso, essa fisiopatologia visceral especial, com
seu meridiano acoplado — o m eridiano da bexiga —, relacio­
na-se com o sistema ósseo, com todos os tip o s de dor, des­
de as cefaléias frontais e occipitais (com ou_sem vertigens),
dores oculares, dores cervicais, dorsais, lombo-sacras, até
às dos membros inferiores, inclusive os artelhos; com todas
as tensões, contraturas e cãibras; com as paresias d o s
membros; com as m odificações hiper e hipotensivas e as
dores precordiais, com as palpitações; com as hemorragias;
com o diabetes; com os distúrbios cutâneos; com as afec­
ções do aparelho genital fe m in in o ou m asculino. E n fim , no
plano psico-intelectual, o par rim-bexiga age sobre a indeci­
são, a inquietação, o desejo de isolamento a irrita b ilid a d e ,
a força moral (ação da córtico-supra-renal ) .
3) O fígado tem a propriedade de "conservar o sangue" e
de manter sua composição constante. e isso resume todas
as suas funções: biliar, glicogênica, uréica, a n titó x ic a . Com
o meridiano de sua víscera acoplada p ro d u to ra da bílis, a
vesícula biliar, ele está em relação com tu d o o que é con­
tratura muscular, tendinites, cãibras, espasmos arteriais;
com os zumbidos de ouvidos e as vertigens; com a acuida­
de visual; com os maus cheiros do corpo. Sua atividade psi­
co-intelectual rege a hipocondria, a m elancolia, a tendência
para a cólera, a mania de perseguição.
4) O baço e o pâncreas: a função baço (ram o esquerdo do
meridiano) é "o meridiano do sangue", com ação sobre a
hematopoese as síndromes hemorrágicas, a regulação do
flu xo menstrual; a função pâncreas (ramo d ire ito do me-
t a acupuntura

ridiano) é responsável pela ação endócrina da glândula e


pela m aior parte da fisiopatologia enzimática da digestão.
Com seu m eridiano acoplado, o meridiano do estômago,
que tem a função de digestão física e psíquica, pois "é pre­
ciso digerir as preocupações” , suprime a ansiedade defla­
grada pelas circunstâncias exteriores psicologicamente tra u ­
matizantes; envolve, além disso, as cefaléias com peso na
cabeça, os escotomas cintilantes ou dores oculares, as ve rti­
gens, as conjuntivites, as rinites e anginas, as dispnéias, as
dores constritivas to rácicas, as palpitações, as modificações
tensionais, a inapetência com aerogastria, aerocolia e cons­
tipação, as nevralgias dos membros inferiores; certas afec­
ções cutâneas.
No plano psico-intelectual, seus pontos de impacto
são a fadiga cerebral, os desgostos, as obsessões, os pesade­
los, as dificuldades de caráter das crianças; teria, segundo
N iboye t, uma ação sobre a inteligência.
5) O coração: mestre de todos os órgãos como o pulmão, é
o mestre da energia, não pode ser atingido pela energia pa­
tológica porque, dizem os chineses, "o palácio real é defen­
dido p or duas filas de muralhas” . Não com porta, para os
chineses, uma concepção fisiológica distinta da nossa; o
mesmo pode ser d ito , aliás, de sua víscera acoplada: o in ­
testino delgado. Esse par de meridianos envolve, além dis­
so, as cefaléias frontais, a obstrução nasal, as conjuntivites,
a surdez, os zumbidos, a coriza, as amigdalites, as b ronq ui­
tes e as gripes; as gastralgias crônicas; as indigestões severas;
a constipação; os torcicolos, as contraturas e dores na nu­
ca, do membro superior e da região dorso-lombar; os tre ­
mores das extremidades; mas é essencialmente no plano
psíquico que ele tem sua m elhor atividade paralela: rege a
em otividade, a tim idez, o tem or do futu ro, o nervosismo
dos artistas e dos candidatos a exames, o torp or intelectual;
dá o tônus e a coragem.

6 ) A c irculação-sexualidade, em que os ocidentais reconhe­


cem o sistema si mpático , conserva para os chineses a sua
função essencial, que consiste em manter sob sua depen­
dência a m otricidade das artérias e veias — diz-se que ele

72
exame do doente e diagnóstico

"protege o coração" — e, por interm édio de seu papel na


vasoconstrição e na vasodilatação, está em relação com a
sexualidade. Acoplado com o tríp lice reaquecedor que
representa b sistema pneumogástrico e desempenha um
papel de proteção de três patamares,p a ta m a r su p e rio r: res­
piratório e vascular, patamar médio: digestivo, e patam ar
inferior: gênito-urinário, e relacionando-se aos im p o rta n te s
pl exo s nervosos tóraco-abdom inais afeta, além das funções
vascular e se x u a l q u e conhecemos, a term o-regulação, a
sensibilidade ao frio , a agravação das doenças pela u m id a ­
de, insônia, estados depressivos severos, surdez, to rc ic o lo s ,
dores de braços, punhos e dedos, as paresias de m em bros e,
no plano psíquico, to d o o lado profundo da afeição, da
amizade e do amor.
O diagnóstico chinês, tal como acabamos de ver, não
deve, evidentemente, dispensar os meios m odernos d is p o n í­
veis: radiografias e exames de laboratórios e até certas té c ­
nicas de vanguarda: a term ografia e a b io e le trô n ica , que,
pelo estabelecimento do bioeletronigrama, investiga três
fatores:
— o pH : fa to r de ionização (magnético);
— o Rh2 : fa to r de eletronização (elétrico);
— o Ro : fato r de resistividade.
Tendo assim estudado o seu doente na lin h a da e x p lo ­
ração completa à maneira ocidental, na linha energética, na
linha de investigação dos meridianos envolvidos, o m édico
acupuntor vai descobrir como a doença se in sta lo u e a que
estágio evoluiu, e não deverá se contentar com o o pequeno
operário (textos antigos) — que somente coloca um a agu­
lha numa zona dolorosa —, mas, aplicando as noções que
indicamos, praticar a grande acupuntura.
CAPITU LO IV

A TERAPÊUTICA

Uma vez estabelecido o seu diagnóstico, o médico acupun­


to r encontra-se em presença de dois casos diferentes.

1.Caso de desordens energéticas puras, sem acompanhamento


de afecções características,

a) Trata-se de um desequilíbrio geral entre o " Y in " e


o "Y a n g ". Cumpre, nesse caso, to n ifica r o que estiver insu­
ficiente (haverá paralelamente dispersão do excesso), pelos
pontos de ação direta sobre o Yin e o Yang bilateralm ente:
— excesso geral de Yang ou insuficiência de Yin: to n ifica r
os pontos Lo gerais de Yin: CS 6 e P 7. Só secundaria­
mente se dispersará o ponto Lo geral de Yang: TR 5 e os
pontos "centro-reunião gerais” do Yang: vaso governa­
dor 19-13 e ID 4;
— excesso geral de Yin ou insuficiência de Yang: to n ifica r
o ponto, Lo geral de Yang: TR 5, e os pontos "centro-
reunião gerais" do Yang: VG 19-13, IG 4; secundaria­
mente, se necessário, dispersar o ponto Lo geral de Yin:
CS 6.

b) Trata-se de um desequilíbrio numa parte do corpo,


quer dom ine o Yang, quer o Yin, quer se trate do excesso
ou insuficiência de um em relação ao outro, haverá interes­
se em praticar o "tratam ento do oposto".
terapêutica

Parte superior:
— dom inância de Yang: to n ific a r o Yin "n o a lto " por
CS 6 e P 7, como precedentemente, depois to n ific a r o
Yang "e m b a ix o " pelo ponto Lo do grupo Yang da perna:
VB 3 9 .
— dom inância de Y in : to n ifica r o Yang "n o a lto " pe­
lo ponto Lo de grupo Yang do braço TR 8 e pelos pontos
chave TR 5 e ID 3; depois to n ifica r o Yin "e m b a ixo " pelo
ponto Lo de grupo Yin da perna: BP 6.
Parte in fe rio r:
— dom inância de Yang: to n ifica r o Yin "e m b a ixo "
pelo ponto Lo do grupo Yin da perna BP 6, depois to n ifi­
car o Yang "n o a lto " pelo ponto Lo Yang do braço: TR 8.
— dom inância de Y in : tonifica r o Yang "e m b a ixo "
pelo ponto Lo de grupo Yang da perna VB 39, depois to n i­
ficar o Yin "n o a lto " pelo ponto Lo de grupo Yin do bra­
ço: CS 5.
Parte direita do corpo:
— dominância de Yang: tonifica r o Yang à esquerda
pelos pontos Lo Yang de grupo TR 8 e VB 39 e, se neces­
sário, to n ifica r o Yin à direita pelos pontos Lo Yin de gru­
po CS 5 e BP 6;
— dominância de Yin: tonifica r o Yin à esquerda pe­
los pontos Lo Yin de grupo CS 5 e BP 6 e, se necessário,
tonifica r o Yang à direita pelos pontos Lo Yang de grupo
TR 8 e VB 39.
Parte esquerda do corpo:
— dominância de Yang: tonifica r o Yang à direita pe­
los pontos Lo Yang de grupo TR 8 e VB 39 e, se necessá­
rio, tonifica r o Yin à esquerda pelos pontos Lo Yin de gru­
po CS 5 e BP 6;
— dominância de Yin: tonifica r o Yin à direita pelos
pontos Lo Yin de grupo CS 5 e BP 6 e, se necessário, to n i­
ficar o Yang à esquerda pelos pontos Lo Yang de grupo TR
8 e VB 39.

c) Trata-se de um desequilíbrio mais localiz a d o seja


de um ou vários sistema ó rgão-meridiano ou função-m eri­
a acupuntura

diano em relação a um ou vários outros, seja entre dois me­


ridianos acoplados, seja entre ramos de um mesmo m eridia­
no. Tendo feito o balanço dos sistemas considerados, é pe­
lo jogo dos pontos de comando su-antigos, dos pontos Lo e
do jogo de meridianos distintos e de regras dos Cinco Ele­
mentos aplicadas no ciclo Cheng e no ciclo K o, e o apoio
eventual dos outros pontos energéticos, cujas atribuições
demos, que se terá reequilibrado a energia, fazendo prevalecer
também nesse caso a tonificação de um sistema ataca­
do por uma "energia patológica” ou "posto em perigo"
por um outro conjunto funcional, em vez da dispersão.

2. Caso de afecção caracterizada.


— Em prim eiro lugar, é bom começar por m inorar a
dor local ou reflexa, cuja intensidade e localização pode
m odificar certos dados do diagnóstico.
— Em seguida, quando se reconhece a sintom atologia
correspondente à patologia de um dos "vasos extraordiná­
rio s", é necessário dispersar bilateralmente seu ponto chave:
— Pontos chave " Y in " :
P7 : para Jenn-Mo, vaso concepção, mar de todos os
Yin patologia: diminuição das funções de te r­
mogênese (contém vários pontos "a ra u to ” do
tríp lice reaquecedor), das funções respiratórias,
nutricional e sexual;
R6 : para Y in-K eo; patologia: perturbações do sono;
perturbações atônicas renais, vesicais, genitais;
BP 4 : para Tchong-Mo, o vaso central; presume-se que
tem sob seu comando o eixo endócrino tálamo-
hipófise-ovariano; patologia: aerogastria, aeroco­
lia, distensão do ventre, atonia digestiva;
CS 6 : para Yin Oé; patologia: vômitos, diarréias, de­
pressão física e mental, distúrbios circulatórios,
toda precordialgia.
— Pontos chave "Y a n g ":
TR 5 : para Yang-Oé: patologia: hemorragias de qual­
quer origem, cefaléias congestivas, astralgias, der­
matoses;
terapêutica

VB 41 : para Tae-Mo, o vaso cintura; patologia; dorso-


lombalgias (pela sua topografia), cervicalgias, ce­
faléias, certas perturbações genitais, alteração do
estado geral;
ID 3 : para Tu-Mo, vaso governador, mar de todos os
Yang; patologia: dores e contraturas em geral,
sobretudo dos om bros, da nuca e do dorso, di­
minuição da energia física e m ora l;
B 62 : para Yang-Keo; patologia: hemiplegias por he­
morragia cerebral, lom balgias, contraturas, supu­
rações, perturbações do sono.
— Em seguida, trata-se os sintomas da doença pelos
pontos cutâneos sensíveis percebidos nos m eridianos em
causa, e pelos "p o n to s especializados" e os "p o n to s de
sintomas", cujas atribuições m u ito precisas, ensinadas na
China em pequenos poemas, perm itiram estabelecer os re­
pertórios cujo uso facilita m u ito , para os principiantes, a
prática da acupuntura1; esses pontos são picados bilateral­
mente, salvo quando se trata do envolvim ento unila teral de
um órgão. Utiliza-se os pontos Yu do dorso, em caso de
afecção crônica ou de recidiva.
— Enfim, verifica-se a persistência, após esse tra ta ­
mento, de algum desequilíbrio energético que pode te r si­
do o ponto de partida da doença e que cum pre solucionar
para obter-se um resultado duradouro.

3. As oito regras. Para com pletar, faz-se necessário enun­


ciar "as oito regras terapêuticas" chinesas, nas quais se in­
corpora a cupuntura. São elas:
A sudorificação, m étodo que consiste em fazer o do­
ente transpirar, ou seja, dilatar os poros da pele; é um pro­
cedimento voltado às localizações "e x te rio re s " da "ene r­
gia patológica fria ", na pele e nos músculos; ela trata a fe­
bre, devolve a energia Oé à superfície; o o b je tivo é atra ir o
Yin para o exterior.

1 V e r em particular as obras de C h a m fra u lt, de La F u y e, D a n ia u d , G o u x , N g u ­


yen V an Nghi e V oisin.
a acupuntura

A vom ificação, técnica de urgência: "se a energia pa­


tológica se encontra na parte alta do corpo, é preciso fazê-
la jo rra r" . Só é utilizada em caso de acúmulo e estase ali­
mentar no estômago; ela dim inui a energia essencial do
corpo.
A purgação, técnica vizinha; é uma terapêutica longa­
mente utilizada por todos os médicos de todos os tempos.
A regularização, que deve ser entendida numa acep­
ção m u ito ampla; ela pode ser utilizada no final do tra ta ­
mento a fim de elim inar os ú ltim o s sintomas e equilibrar
o doente. Seu objetivo consiste em harmonizar o in te rio r e
o exterior, o Yin e o Yang, o alto e o baixo, a direita e a
esquerda.
O reaq uecim ento (calorificação), que se aplica às do­
enças devidas ao frio . O doente é astênico, está gelado, ina­
petente, inchado e com o corpo cansado, é necessário de­
volver-lhe a energia Yang, tratando os órgãos que a p ro du­
zem: o estômago e o baço, os reaquecedores superior, mé­
dio e in fe rio r, e puncturando os pontos su-a n tigos nos me­
ridianos atingidos que correspondem ao fogo (ciclo dos
Cinco Elementos).
A refrigeração, que consiste, como seu nome indica,
em com bater a febre e é utilizada em todas as doenças que
apresentam sinais de calor. Ela consiste em u tiliza r os pon­
tos su-antigos que co rrespondem à água e ao frio .
A tonificação, técnica que se utiliza em todos os casos
em que se o b serva um vazio da energia ou do Yang. Desem­
penha secundariamente o papel de dispersar "a energia pa­
to lóg ica", to n ifica ndo a energia essencial do corpo. Age-se,
portanto, sobre o Yin e o Yang, sobre a energia; deve-se
agir também sobre os órgãos de maneira direta ou indireta,
pelo procedim ento da Mãe e do Filho na lei dos Cinco Ele­
mentos.
A dispersão, que consiste, segundo o So-Ouen, em
" ra ch a r o que é duro, espalhar o que está agrupado"; por
esse procedim ento, trata-se o que está acumulado. O obje­
tivo é fazer circular a energia. Dirige-se mais às afecções.
crônicas do que às afecções agudas, por exemplo, certos
edemas, sinal de "acúm ulo de um idade". Usa-se os pontos

78
terapêutica

de dispersão correspondentes ao m eridiano a tra ta r, mas se


a utilização fo r errônea, pode tornar-se uma agravante.
Não falaremos aqui da enorme farm acopéia chinesa;
utilizam os, bem entendido, a nossa, se necessário, e com
um impacto certamente excelente. Além disso, é óbvio que
não modificamos, de im ediato, uma terapêutica devida­
mente estabelecida (tratam ento antidiabético, antidepres­
sor ou corticoesteróide, por exemplo).
Aliás, o So-Ouen conclui assim: "C onhecendo o tip o e
a origem das doenças, tratar é curar; desconhecê-las é agir
sem discernim ento."

79
CAPÍTULO V

A TÉCNICA

0 médico acupuntor desempenha o papel de interm ediário


entre as energias do Céu, da Terra e do Homem.
Age sobre a pele, que é o órgão em contato com um e
o o u tro . É com as agulhas que e le fará variar a energia do
homem em função da energia do universo.

1. As agulhas. É graças, como dissemos, ao imperador


Huang-Ti que foram utilizadas as agulhas. O Nei King re­
produz o te x to de seu decreto im pondo o metal: "Lam en­
to — diz ele — que meu Povo, aprisionado pelas doenças,
não resgata mais os impostos e corvéias que me deve. O
meu desejo é que não se dê mais medicamentos que o apri­
sionam nem se usem mais as antigas punções de pedra. De­
sejo que se utilizem unicamente as misteriosas agulhas de
metal, com as quais se dirige a energia."
Os chineses não podiam contentar-se com um só m o­
delo de agulhas; era evidente que não se podia puncturar os
pontos superficiais com os mesmos instrumentos usados
para perturbações que correspondem a um distúrbio orgâ­
nico em que é preciso ir buscar a energia Yong em p ro fu n ­
didade. Assim nasceram as diferentes espécies de agulhas;
segundo os antigos autores, haveria nove espécies de agu­
lhas descritas no So Ouen (cap. 54) e no Nei King (caps. 2
e 78).

80
técnica

Existem atualmente todas as espécies de agulhas: agu­


lhas rígidas ou m uito flexíveis de todos os co m p rim e n to s;
agulhas especiais, chamadas sete estrelas, utilizadas para as
crianças: sete cabeças finas de agulhas incrustadas num su­
porte e designadas poeticamente como flores de ameixeira;
enfim, agulhas m uito curtas, espécies de tachinhas, que se
deixa no lugar durante vários dias num ponto eletivam ente
determinado, fixadas com esparadrapo.
Elas são predominantem ente em aço; na Europa u t ili­
za-se m uito os metais preciosos: ouro, Yang, para to n ific a r;
prata, Yin, para dispersar. Serve-se inclusive do tu n g stênio.
Pensou-se que os chineses ignorassem os metais pre­
ciosos, o que está em contradição com o fa to de duas agu­
lhas, uma de ouro, outra de prata, expostas na Exposição
de Antiguidades Chinesas do Petit Palais em Paris em 1973,
terem sido descobertas num tú m u lo que data de 200 anos
a.C.
As agulhas medem 3, 10 e 30cm de c o m p rim e n to ,
20/100 a 40/100 de m ilím etro de diâmetro. O cabo é, na
maioria das vezes, de cobre.

81
a acupuntura

Como utilizá-las. Sobre as maneiras de proceder, se os


texto s antigos não falam das leis da assepsia, que eles não
conheciam, estendem-se, pelo contrário, m u ito longamen­
te, acerca do modo de manipular as agulhas.
O m anipulador deve picar "de uma form a atenta, co­
mo se caminhasse à beira de uma ravina” , e segurar a agu­
Iha fortem ente, com a "mesma força que para sujeitar um
tig re .
Como puncturar. é evidente que se deve instalar con­
fortavelm ente o doente, que deve conservar sua postura
por cerca de vinte m inutos.
Punctura-se sempre do Yang para o Y in: de cima para
baixo, da esquerda para a direita, de trás para a frente, mais
ou menos profundamente segundo a afecção.
Toda essa técnica tem por finalidade "m o b iliza r a
energia" e cada manipulação da agulha tem sua im portância.
Para tonificar, é necessário picar no sentido da circu­
lação da energia, na expiração, girando a agulha entre o po­
legar e o indicador, da direita para a esquerda, enterrando-
a lentamente e retirando-a com rapidez.
Para dispersar, deve-se puncturar em Contracorrente,
na inspiração, girando a agulha em sentido inverso, enter­
rando-a rapidamente para retirá-:la lentamente.
A associação dos dois métodos acelera a circulação da
energia: utiliza-se para a anestesia.
É preciso estar sempre atento: podem se produzir al­
guns incidentes (perda de consciência e náuseas).
Certos pontos são interditos: todo o acupuntor deve
conhecê-los perfeitam ente: as fontanelas nas crianças, os
olhos, os mamilos, o pênis (24 pontos, dizem os antigos).
Na m ulher grávida, é imprescindível uma grande prudência.

2. Os métodos anexos da acupuntura. São a m oxibustão, a


massagem chinesa, a sangria e, inteiramente à parte, a auri­
culoterapia. Esses procedimentos foram tomados da m edi­
cina chinesa. Não se pica apenas os pontos: são aquecidos
ou massageados. Utiliza-se a exploração terapêutica dos
pontos sem implantação das agulhas, mas esses métodos
técnica

estão submetidos às mesmas leis e à mesma doutrina já


explicada.

a) A m oxibustão (moxa é um termo português (me­


cha), Kao é o term o chinês, mas trata-se da mesma técnica)
consiste numa terapêutica de reaquecimento que se baseia
na introdução de calor no organismo do doente, pela pele,
ao nível dos pontos, dos meridianos principais. Seu o b je ti­
vo é tonifica r, procurar a energia em caso d e vazio ou de
frio : isto nas afecções agudas e certas afecções crônicas (pa­
ralisia).
Utiliza-se as folhas secas de artemísia (artemia sinensis),
reduzidas a pó e chamadas veludo de artem ísia; forma-se
com esse pó pequenos cones cujo tamanho varia de um
grão de arroz a uma noz; fabrica-se igualmente rolos da
dimensão de um charuto.
Temos assim moxas diretas quando se coloca o cone
de artemísia sobre a pele. Esse procedimento é delicado,
pois é d ifíc il evitar as queimaduras, mas um m anipulador
precavido pode colocar de três a cinco cones sobre um
mesmo meridiano; acende-se o cone e retira-se-o logo que o
paciente acusa uma sensação de calor.
Mais fácil é a m oxa indireta em charuto de artemísia;
aproxima-se a extremidade incandescente no ponto esco­
lhido do meridiano, e distancia-se assim que o calor se to r­
na insuportável.
Técnicas m uito antigas utilizam substâncias que con­
ferem um valor suplementar à terapêutica: o gengibre, o sal
e o alho em finas fatias, que se coloca entre a pele e o cone
de artemísia queimando lentamente.
É fácil compreender que essas últimas formas de Kao
são pouco utilizadas pelos médicos ocidentais que, se são
levados a servir-se da m oxibustão, empregarão mais fa c il­
mente a agulha aquecida com isqueiro de gás, ou o charuto
de artemísia.
É interdito praticar essas moxas no rosto, nos traje­
tos onde circula a energia do coração, ao nível dos tendões
e em toda a parte onde uma queimadura, mesmo leve, pos­
sa ser penosa.
83
a acupuntura

b) As sangrias fazem-se com a agulha triangular que se


enterra e retira rapidamente ao nível dos capilares conges­
tionados, que são o testemunho da penetração de uma
energia patológica a este nível. Essa terapêutica, sendo um
ato cirúrgico, deve cercar-se da assepsia necessária, e certos
pontos são interditos.

c) A massagem chinesa é m uito utilizada, como todas


as técnicas de massagem no Extremo Oriente. Pode-se dis­
tin g u ir uma massagem a que chamaríamos clássica e que d i­
fere pouco da que se pratica no Ocidente, e uma outra mas­
sagem, a que se deu o nome de digipuntura ou massopun­
tu ra é uma massagem energética que utiliza as proprieda­
des particulares de certos pontos cutâneos do corpo huma­
no e dos meridianos.
é , em suma, uma acupuntura praticada com os dedos
da mão, e a China Popular interessou-se m uito por essa téc­
nica, quando do regresso às antigas tradições, criando em
1960 o In stitu to de Medicina Chinesa de Chan-Tong, que
especializou-se nas questões de estudos da higiene, das mas­
sagens e da ginástica.
Além dos gestos habituais, a massagem chinesa é uma
massagem quer linear, ao longo dos meridianos, quer p o n ti­
form e, ao nível dos pontos chineses.
O ritm o , o valor da pressão exercida, o sentido da
massagem, proporcionam efeitos diferentes.
Essa massagem é freqüentemente utilizada em crian­
ças e em velhos, que podem sentir medo das agulhas; é
igualmente usada sobre certos pontos proibidos para as
agulhas.
Os resultados são obtidos amiúde com m u ito menos
fadiga que nas massagens ordinárias.
Além de todas as indicações da massagem habitual, a
massagem chinesa é particularm ente indicada no tratam en­
to da obesidade, da fadiga, das perturbações digestivas e
em traum atologia.

d) A auriculoterapia baseia-se na utilização das zonas


reflexas da orelha, tendo propriedades curativas. Foi o Dr.

84
técnica

Paul Nogier quem, por uma longa observação e um a rigo­


rosa experimentação, pôde determ inar ao nível da orelha
uma série de pontos que têm uma ação a distância.
Esses pontos projetam-se sobre o pavilhão auricular,
isto é, o lóbulo da orelha representa a cabeça e a parte alta
do pavilhão, o resto do corpo. A aproximação estabelecida
entre a orelha e o feto fo i notada na bacia m editerrânea há
mais de 2.000 anos. Utilizava-se a cauterização do pavilhão
auricular na neuralgia ciática. Encontra-se em H ip ó c ra te s e
em autores antigos descrições que falam dessas analogias.
A 19 de maio de 1850, o Dr. Luciano apresentou um rela­
to intitulado De la cauterisation de l'o re ille dans le tra ite ­
m ent radical de la scia tique.
O Dr. R abichong, da Faculdade de M o n tp e llie r, e xp li­
ca essa ação pelo fato de a orelha ter uma inervação em rela­
ção direta com o córtex. Também se conhece o re fle x o au­
rículo-cardíaco que evidencia as relações orelhas-ór g ãos.
Os chineses retomaram esses trabalhos, u tiliz a ra m-nos
em anestesia por acupuntura e em anestesia dentária.
A estimulação faz-se quer pelas agulhas de a cu p u n tu ­
ra, quer por massagens com estilete, quer ainda com apare­
lhos de detecção e tratam ento eletrônicos.
Recentemente, novos meios de estimulação, ta n to dos
pontos de acupuntura q u a n to de pontos reflexogênicos de
somatotopias nasais e auriculares, passaram a ser emprega­
dos: são os lasers (tendo sido até criado o te rm o laserpunc­
tura). Utilizam-se duas espécies de aparelhos: os lasers de
gás hélio-néon, trabalhando na faixa dos 623 nanôm etros e
os lasers a infravermelho na faixa dos 940 nanôm etros. Es­
tes últim os podem ser considerados uma variante moderna
da moxibustão. São particularm ente interessantes no tra ta ­
mento das dermatoses e igualmente nas crianças ou pessoas
que temem ou não suportam a punctura.
C A PÍT U L O V I

AS I N D I C A Ç Õ E S D A A C U P U N T U R A

As indicações da acupuntura não podem ser vistas sob o


prisma da medicina ocidental. Com efeito, os médicos oci­
dentais não têm o hábito de receber seus pacientes antes
que a doença se declare, sendo a profilaxia das doenças a
parte pobre da medicina.
Na China, os doentes eram assinantes de um médico;
este recebia seus honorários para manter seus clientes em
boa saúde. A acupuntura, medicina energética, destinada a
reforçar a energia essencial do corpo humano e a conservar
um estado fisiológico normal, era uma medicina preven­
tiv a .
É devido a sinais desconhecidos dos médicos ociden­
tais e graças à pulsologia, que o acupuntor detecta os dese­
q u ilíb rio s que traduzem o vazio e a plenitude, podendo in­
tervir antes que a doença se declare. É por isso que el e
aconselha a seus pacientes algumas sessões de reequiIíbrio
no momento dos grandes períodos de perturbações atmos­
féricas, nos equinócios da primavera e do outono.
Atualmente, o grande público inquieta-se com o em­
prego crescente da terapia alopática, daí a aceitação cada
vez m aior da acupuntura, terapêutica mais natural. Lamen­
tavelmente, os doentes recorrem ao médico acupuntor
quando as afecções já chegaram a um estágio lesionai e,
com freqüência, quando todas as outras terapias fracassa­
ram. Nesse caso, o reequilíbrio exigirá m uito mais tempo.

86
indicações

I. A QUE AFECÇÕES A ACUPUNTURA SE DIRIGE?

1. Às algias. Por um lado, a tu d o o que o term o re u m a ­


tismo engloba, doenças causadas pelo vento, frio , u m id a ­
de, que ficam bloqueados nos m eridianos p rincipais ou se­
cundários, provocando a rtrite , artrose e todas as afecções
dolorosas, articulares ou periarticulares, ou seja, aquelas
que afetam os músculos, tendões, bainhas, aponeuroses,
bolsas serosas, ou que são provocadas pela repetição de um
movimento (tendinite) ou devidas aos processos de enve­
lhecimento.
Por outro lado, a tudo o que é neuralgia: neuralgias
do plexo braquial, neuralgias ciáticas, neuralgias faciais; as
cefaléias e enxaquecas, o herpes-zoster. A acupuntura alivia
as dores, cura-as freqüentem ente e, em to d o o caso, p e rm i­
te reduzir a dose dos analgésicos e dos a n tiin fla m a tó rio s .

2. Às afecções espasmódicas. Espasmos viscerais, g á stri­


cos, intestinais (constipações, diarréias, úlceras gástricas);
contraturas e espasmos musculares (daí a sua u tilid a d e na
reeducação e no tratam ento dos hem iplégicos e dos p o lio ­
m ielíticos).

3. Às perturbações do sono.

4. À enurese.

5. Às afecções alérgicas. Os resultados são, com fre q ü ê n ­


cia, inesperados e surpreendentes, em especial, na coriza
dos fenos, rinites espasmódicas, eczema, p ru rid o e asma
(ela permite ao asmático que responde mal às terapêuticas
modernas libertar-se dos tratam entos corticoesteróides in ­
tensivos).

6. Aos pequenos estados depressivos e à angústia, que reagem


notavelmente às agulhas.

7. À traumatologia e medicina pós-operatória. Propicia uma


recuperação mais rápida e de m elhor qualidade. Pensa-se
que facilitaria a formação do calo ósseo nas fraturas em
que a ossificação é d ifíc il ao nível das peças metálicas.
a acupuntura

8. Aos surdos e surdos-mudos, que podem ter sua reeduca­


ção facilitada: "o acupuntor pica atrás da orelha profunda­
mente e chega a am pliar a faixa de percepção auditiva, o
que perm ite aos surdos ouvirem ".

9. Durante a gravidez e o parto. Trabalhos recentes em­


preendidos no H ô p ita l des Diaconnesses, em Paris, e no
Hospital Universitário de Caen perm itiram estabelecer as
indicações com precisão.
As estatísticas divulgadas mostram a eficácia da acu­
puntura em combater as perturbações concomitantes da
gestação: náuseas, vôm itos, soluços, distúrbios circu la tó ­
rios, ansiedade, apreensão.
Quando da deflagração do trabalho de parto, a acu­
puntura pode em certos casos, substituir vantajosamente
os ocitócicos.D urante o trabalho, a dilatação é acelerada e
em 70% das parturientes observa-se uma dim inuição das
dores e otimização do ritm o das contrações. O nascimento
é fa cilita d o e a duração do parto encurtada.

II. A ANESTESIA POR ACUPUNTURA

É um tema de atualidade m uito controvertido; milhares.de


anestesias desse gênero foram praticadas na China Popular,
m uitas na França, Itália e Áustria.
As vantagens indicadas pelos chineses são a ausência
de m aterial sofisticado, a facilidade de aplicação em zonas
rurais, em lugares isolados e em caso de guerra, a s im p lifi­
cação das seqüências operatórias, a diminuição das infec­
ções (isso fo i verificado em odontologia na Europa), a pos­
sibilidade de anestesias oculares e de anestesia em pacientes
alérgicos e em cardíacos.
Dada a im portância da questão, pareceu-nos interes­
sante recordar as características da anestesia clássica, tal
como as entende o médico anestesista, para compará-la à
anestesia por acupuntura (trabalhos do Dr. Janine M irabel).

1. Os elementos de uma anestesia. As bases da anestesia


moderna já estavam constituídas no início do nosso século,

88
indicações

graças a um certo número de precursores: dentistas, c ir u r ­


giões e químicos.
Se o prim eiro médico anestesista fo i Snow, em 1 8 5 0 ,
fo i necessário esperar quase cem anos para que essa espe­
cialidade se generalizasse, a p a rtir da Segunda Guerra M u n ­
dial.
Na acepção moderna do term o, a anestesia deve p re ­
encher cinco papéis:
— assegurar a analgesia, isto é, suprim ir a faculdade de sen­
t ir dor;
— instalar e manter a inconsciência do paciente visando as
condições necessárias a uma intervenção cirúrgica segura;
— d im in u ir ou suprim ir o tônus muscular, o que p ro p ic ia
ao cirurgião o conforto operatório;
— isolar o sistema neurovegetativo da agressão que re p re ­
senta a intervenção cirúrgica, e que se traduz p o r m o d if i­
cações brutais da tensão arterial e do ritm o cardíaco,
náuseas, suores, etc.;
— finalm ente, o anestesista deve p o d e r "re a n in a r' ', ou se­
ja, oxigenar, transfundir, praticar a respiração a r tific ia l,
a reanimação cardíaca, o reequilíbrio h id ro e le tro lític o .
É evidente, portanto, que a anestesi a não é s in ô n im o
de analgesia, representando esta apenas um de seus aspec­
tos.

2. A questão da analgesia. Segundo parece, é esse o p r o ­


blema de maior importância para o paciente. A a cu p u n tu ra
pára a dor, eis uma noção m u ito conhecida; em clín ica m é­
dica, inúmeros são os resultados obtidos: lumbagos, dores
de cabeça e dentária, entre outras.
Em clínica cirúrgica, durante a anestesia, convém p re ­
venir a dor provocada; o acupuntor poderia, p o rta n to , p re ­
parar o doente em função do te rritó rio operado.
São estudadas desde longa data as grandes vias da d o r,
isto é, as vias capazes de tra n sm itir a dor ao cére bro . M u i­
tas incertezas pairavam ainda em torn o desses m ecanismos
de transmissão, mas argumentava-se até o presente com o se
fosse unicamente necessário e indispensável, para se o b te r a
analgesia, cortar essas vias ascendentes da transmissão d o lo -

89
a acupuntura

rosa da periferia para o cérebro mediante a anestesia local


ou os anestésicos quím icos gerais.
Um fato im portante e inexplorado surgiu no decorrer
destes últim os anos. Com e fe ito nos diferentes níveis do
sistema nervoso foram evidenciados sistemas inibidores,
que consistem em zonas de controle que podem im pedir a
difusão das informações dolorosas da periferia para o cére­
b ro .
Esses sistemas inibidores, cuja utilização tem sido ne­
gligenciada pela m edicina clássica, são, segundo tudo leva a
crer, os que são estimulados pela acupuntura.
A partir desses dados, a acupuntura começa a tornar-
se explicável em linguagem neurofisiológica.
É v erossímil que, com o tempo, o acupuntor aneste­
sista adquira um d o m ínio cada vez maior da sua nova téc­
nica e melhore seu desempenho, mas os progressos da anal­
gesia quím ica tam pouco param de evoluir e ela continuará
sendo no Ocidente, certamente por m uito tempo, talvez
sempre, a técnica dom inante.

3. A questão da consciência. É evidentemente mais con­


fortável para o paciente perder a consciência durante toda
a fase operatória, o que é facilm ente obtido pela anestesia
geral.
A neuroleptanalgesia, outra forma de anestesia que
utiliza um analgésico potente combinando-o com um neu­
roléptico (isto é, com um produto depressor do nível de
consciência), atinge igualmente esse objetivo.
O acupuntor também é capaz de tranqüilizar, de acal­
mar o doente. Numa certa medida, o segundo papel do
anestesista pode igualmente ser satisfeito pela técnica da
acupuntura. Mas essa propriedade é freqüentemente negli­
genciada e fala-se de sugestão, de motivação, de influência
sócio-cultural.
Acrescentemos que essas noções, consideradas com
desdém, revestem-se, entretanto, de extrema importância,
visto que, quando convenientemente manipulada, a suges­
tão pode, por si só, perm itir uma intervenção sem qual­
quer form a de anestesia. Antes da era científica da aneste­

90
indicações

sia, milhares de doentes puderam ser operados sob hipnose:


e, mais recentemente, experiências semelhantes foram re­
produzidas tanto na França como na Espanha, sob o vocá­
bulo de sofronização.
Pensamos que seria um erro desprezar esses fenôm e­
nos e é m uito admissível que esse mecanismo intervenha,
em certa medida, no transcurso da anestesia por acupuntu­
ra. De fato, encontramos aí elementos que intervêm no
processo de sofronização:
— a m otivação: o indivíduo não deseja sofrer e espera que
o procedimento seja eficaz;
— a transferência ou aliança sofrônica, ou seja, a confiança
do doente em seu médico ou numa idéia;
— o signo-sinal da agulha: por sugestão, faz-se saber ao in­
divíduo que, ao cabo de alguns m inutos, as agulhas ma­
nipuladas lhe proporcionarão a analgesia.
Esses fenômenos são correntemente usados inconsci­
entemente nos cuidados cotidianos que o médico pode dis­
pensar ao doente. Também são explorados quando da u t ili­
zação de placebo e seria um erro monum ental desconhecê-
los. Pelo contrário, é m uito desejável potencializar os efei­
tos da acupuntura pela sofronização.

4. A questão do tônus muscular. Perfeitamente dominada


pelo curare, a hipertonia muscular deveria poder sê-lo pelo
acupuntor. Esses pontos estão em correspondência com os
dermátomos correspondentes.

5. O isolamento neurovegetativo. Na medida em que a dor


persiste, a tração exercida sobre as vísceras representa uma
agressão neurovegetativa. Ela existe, por vezes, a julgar pe­
los suores frios, as modificações de tensão, as perturbações
do ritm o cardíaco, que puderam ser observados no decor­
rer da anestesia acupuntural, e que o público pôde ver
quando da projeção do film e sobre anestesia por acupuntu­
ra realizado na França e na China. Esse fa to r ainda não está
totalm ente dominado, o que explica a freqüência da pré
medicação protetora e das perfusões de novocaína ao cur­
so da intervenção.
a acupuntura

Em contrapartida, na fase pós-operatória, a acupuntu­


ra tradicional pode ser de grande valia para d im in u ir as per­
turbações de origem neurovegetativa.

6. A reanimação pós-operatória. Pode ser feita pelo anes­


tesista em todas as circunstâncias; insistimos no fato de
que a acupuntura pode ser de grande auxílio para acelerar
o processo de cicatrização e minorar as conseqüências ope­
ratórias, mesmo numa grande cirurgia.

7. A auriculoterapia. É uma técnica moderna, baseada


na neuroanatomia a p a rtir de uma notável idéia do Dr. No­
gier, de Lyon, que vê na orelha o esquema do embrião in­
vertido. Ele encontra aí todos os segmentos do corpo, toda
a representação do sistema nervoso central e dos diversos
órgãos. As virtudes analgésicas da auriculoterapia provam
um certo controle da sensibilidade. É m uito possível que
técnicas ainda não comprovadas experimentalmente levem,
na verdade, ao com pleto dom ínio da analgesia.

8. O interesse da acupuntura para os anestesiologistas. Ela pa


rece-nos ser um acontecimento importante; abre a porta à
pesquisa sobre as aplicações dos sistemas inibidores em
neurofisiologia.
Permitirá, sem dúvida, por esse fato, estudar novos
mediadores quím icos; com efeito, através de experimentos
de circulação cruzada, pôde-se reproduzir uma analgesia
no animal receptor da perfusão e o isolamento do fato r res­
ponsável perm itirá certamente sintetizar substâncias in ib i­
doras ou com petitivas que serão a vanguarda de toda uma
farmacopéia eventualmente utilizável pelo anestesista em
alguns anos.
A acupuntura será para esses especialistas uma am plia­
ção de seus horizontes profissionais. No plano técnico, ela
já encontra aplicações certas em cirurgia ocular, na maxilo-
facial e no parto.
Na preparação do operado, e das seqüências operató­
rias, no tratam ento da infecção, a acupuntura fornece no­
ções novas e m uito importantes. Mas não se deve esquecer
que, até ao presente, a técnica anestésica acupuntural é

92
indicações

longa, estando longe de abranger o espaço ocupado pela


anestesia química.

III. OS LIMITES DA ACUPUNTURA

É evidente que a resposta à acupuntura dim inui quando as


perturbações são profundam ente orgânicas, com m odifica­
ção e destruição de órgãos. Nas afecções microbianas, nos
estados agudos e infecciosos, o médico acupuntor deve
manter-se no papel de médico alopata e servir-se da anti-
bioticoterapia, mas pode, além disso, to n ifica r a energia vi­
tal do corpo humano, visto que, como dizem os chineses,
"Para que serve perseguir o inim igo, se se deixa a porta
aberta?" Enfim, nos estados degenerativos, como o câncer
e a tuberculose, a acupuntura, se não deve ser com pleta­
mente rejeitada, só pode aliviar o doente nas algias secun­
dárias.
M uito recentemente, as experiências de circulação
cruzada com coelhos levaram Bruce Pomeranz a pensar que
o neuromediador procurado pelos acupuntores podia ser
a e n d o r f i n a 1, cujo estudo quím ico fo i empreendido no
Canadá e m 1 977 pelo Prof. Chrétien e sua equipe, e cujos
trabalhos iniciais decorrem dos de G uillem in.
A crítica feita à acupuntura de falta de experimenta­
ção está em recuo: durante o prim eiro trimestre de 1980,
um interessante experimento com três grupos de doentes
(200 pacientes) fo i realizado pela Academia Sueca de Me­
dicina Chinesa Tradicional, em Estocolmo, em colabora­
ção com um estatístico da Universidade de Upsala, e mos­
tro u de maneira peremptória a ação de um tratamento por
acupuntura na desintoxicação tabágica.

1 E n dem orfinas ou endorfinas: substâncias secretadas pela hipófise, tendo um


e fe ito analgésico e destinadas a locais recep to res no céreb ro . Esses ne u ro m ed ia ­
dores seriam secretados sob a in flu ê n cia de u m a estim ulação cutânea.
C A PÍT U LO V II

T E N T A T I V A S DE E X P L I C A Ç Õ E S
DA ACUPUNTURA

A pesquisa em acupuntura está orientada em eixos m uito


diferentes, segundo a competência e, sobretudo, de acordo
com as orientações pessoais mais profundas do investiga­
dor:
Aqueles que são tradicionalistas concentram suas pes­
quisas na exegese dos textos antigos e na publicação de no­
vas traduções.
Aqueles cuja tendência é para a psicossomática procu­
ram ver na acupuntura mais a sua ação psicológica do que a
sua ação física e material, e alguns, que puderam falar de
"psicoterapia armada", querem aduzir do estudo das rela­
ções médicos-pacientes as realidades do fato acupuntura, e
estudaram igualmente a chamada relação do "m eridiano-
fu n çã o ", na qual certas atitudes corporais acarretam a titu ­
des psíquicas e vice-versa. (Assim, "o punho cerrado, que
põe em tensão o Rokou (4 IG), é o reflexo do constipado
físico e psíquico, e sua dispersão pela agulha relaxa ao mes­
mo tem po o corpo e o espírito" [ Leprestre e Donnars].)
Os investigadores científicos tentam estabelecer uma
ponte entre a medicina chinesa e a medicina ocidental.
A primeira dificuldade para esses médicos e esses f i ­
siologistas é que se deve levar em conta os textos antigos
que constituem toda a trama comum e os dados de base,
tendo esses textos sido remodelados e variado mesmo com
cada escola. Entretanto, subsistem certas constantes abso­

94
tentativas de explicações

lutas, por exem plo: a noção de energia, os trajetos dos me­


ridianos, os pontos e sua utilização te ra pêutica. É sobre is­
so que os investigadores trabalham , com o o b je tiv o de en­
contrar uma lógica, um argumento racional, que rejeite t o ­
da a fórm ula cega, toda a "re c e ita ", e que se apóie em da­
dos clássicos e estatísticos, verificados pela clínica.
Cumpre dizer, desde já, que não são pesquisas tão re­
centes e que no século X IX , quando se acabava de desco­
b rir a eletricidade, todos aqueles que se interessavam pela
questão pensavam que a acupuntura era um fenôm eno elé­
trico (Sarlandière, já citado, aplicava correntes galvânicas
em agulhas espetadas em pontos precisos dos m eridianos).
Tendo criado a palavra "e le tro p u n tu ra " em 1825, 0
Dr. Sarlandière abria cam inh o, por um lado, para o estu­
do da relação entre a eletricidade e a acupuntura; por o u ­
tro lado, para a experimentação em acupuntura. Podemos
considerá-lo o pai da analgesia p or acupuntura e e letrop un­
tura. Assim, na p. 55 de sua obra Mémoires sur l'é l e ctro ­
puncture, le moxa et l'a cu p u n ctu re , ele escreve:

Os lumbagos atacados pela eletropuntura, as dores entre os ombros,


em resultado de grandes fadigas, a m aior parte das dores articulares não
periódicas cedem com maior facilidade e sem retorno a esse método.

Ele aplicou seu método em diferentes doenças, com


profundidades variáveis de penetração, e não se decidiu a
publicar seu trabalho antes de vários anos de experim enta­
ção:
Se até aqui me demorei em dá-lo a conhecer, é porque queria contar
com um volume imponente de fatos a opor à c rítica, sempre pronta a
atacar as novas descobertas por um cepticismo ora invejoso, ora m eticu­
loso, ora ditado por motivos de interesses que tendem sempre a travar
o progresso das luzes; pois ao destruírem com observações insidiosas a
confiança nascente do público ou dos interessados, essas críticas encora­
jam pouco, cumpre confessá-lo, àqueles que estariam dispostos a consa­
grar suas horas de vigília ao progresso de uma arte a que estão afeiçoa­
dos acima de tu d o : a arma do rid ículo , o tem or de ser acusado de char­
latanismo são, para o médico que aspira a percorrer honrosam ente sua
carreira, a cabeça da Medusa. Ele fica petrificado d iante do enxame de
jornalistas e de uma multidão de escritores, cujo único o fíc io é denegrir
tudo que os cerca.
a a cu pu ntu ra

Mas, como para a maioria dos médicos ocidentais a


acupuntura era uma reflexoterapia, m uitos serviam-se de
fórm ulas feitas: tal doença, tal ponto, sem procurar o por­
quê e o como.
Os fisiologistas e os médicos debruçaram-se sobre três
problemas:

1. A comprovação das propriedades físicas e elétricas dos pontos


e a pesquisa sobre a impedância cutânea fe ito pelo Dr. N i
boyet e pelo Dr. Grall sugeriram várias teses de doutorado
em medicina.
Está há m uito tem po evidenciada a existência de fe ­
nômenos elétricos na matéria viva; a prática de eletrocar­
diogramas e eletroencefalogramas tem mais de 30 anos. Ca­
da fenômeno biológico é um fenômeno de ionização e de
polarização. O tecido cutâneo fo i objeto de numerosos ex­
perime ntos que perm itiram descobrir na pele zonas de me­
nor resistência, coincidentes com pontos de acupuntura. É
assim que se pode explicar o papel da dispersão e da to n ifi­
cação.
Quando se coloca uma agulha (um condutor m etáli­
co) em qualquer ponto do corpo, a parte fixada no corpo é
levada a uma certa temperatura. Estabelece-se, portanto,
uma diferença de temperatura entre a ponta e a parte me­
tálica que permanece ao ar livre, o que provoca uma pola­
rização da ponta, resultante do fenômeno term elétrico.
Esse eletrodo positivo polarizará o contingente de íons ne­
gativos em redor do eletrodo. Ocorreria, portanto, uma d i­
m inuição da concentração de eletrólitos, o que faria d im i­
nuir a resistência ôhmica local e aumentar a condução elé­
trica.
Isso corresponde à dispersão que seria uma reparti­
ção diferente de íons; portanto, o fato de plantar uma agu­
lha cria uma nova condição.
A tonificação é o inverso, e a esse efeito de tropism o
eletroIítico acrescenta-se um efeito de despolarização-repo­
larização que se propaga segundo uma onda sinusoidal. Se
a excitação se faz num ponto do meridiano, ela seguirá so­

96
tentativas de explicações

bre todo o seu com prim ento, p o rq u a n to se sabe que o me­


ridiano apresenta uma zona de m enor resistência elétrica.
Isto concorda com os te x to s antigos, q u e aconselham
aquecer agulha (moxa) ou girar a agulha para procurar a
energia.
0 corpo humano poderia ser considerado um "saco
de eletrólitos" provenientes de numerosos m etabolism os,
dos líquidos celulares e intersticiais, nos quais circulam os
íons positivos e negativos e que estão em constante m o vi­
mento. A introdução de uma agulha m etálica no tecido cu­
tâneo produziria uma m odificação da re p a rtiçã o e le tr o líti­
ca subjacente.
Becker, nos Estados Unidos, que investigava procedi­
mentos capazes de melhorar o enxerto cutâneo, em seus
trabalhos de polarim etria de superfície, p e rm itiu aos acu­
puntores verificarem trajetos cutâneos lineares conhecidos
há séculos.
2. A pulsologia. As mais antigas pesquisas fo ra m realiza­
das no Japão com a ajuda de esfigm ôm etros. Recentemen­
te, os estudos sobre reologia vêm u tiliz a n d o novos apare­
lhos registradores que são esfigm ôm etros eletrônicos de
variações luminosas, que assinalam m o difica ções ínfim as
das pulsações radiais.
3. Múltiplas pesquisas foram feitas em todos os domínios:
a) A biometeorologia, que estuda o fenôm eno atm os­
férico em relação com as constantes hum orais do corpo hu­
mano (ionogramas sangüíneos), a tensão a rte ria l, o eletro­
cardiograma antes e depois da p u n ctura e sua relação com
os dados barométricos e a tem peratura e x te rio r.
b) A cronobiologia, que estuda o ritm o dos órgãos,
seu metabolismo e os ritm os circadianos e circanianos.
c) A cibernética e a eletrônica, que estudam as organi­
zações e a combinação dos conjuntos, baseando-se em fe ­
nômenos de feedback (bipolaridade Y in -Y a n g ). A teoria do
gate control explicaria o papel da acupuntura na anestesia.
A termografia, que se revela um in s tru m e n to interes­
sante na pesquisa e como meio de co n tro le dos efeitos da
acupuntura.
a acupuntura

d) Em fisiopatologia, as pesquisas foram levadas a efei­


to no homem e no animal.
Em certas afecções crônicas, o organismo encontra-se
em estado debilitado. Carece de reação em face de proces­
sos agressivos, m icrobianos traum áticos ou degenerativos.
A agulha do acupuntor, transformando-se em estím u­
lo nociceptivo, revela o poder reativo do organismo, quer
por via direta, ou seja, o estím ulo doloroso sobe ao longo
das vias sensitivas até o córtex, sendo seguido de uma res­
posta m otora, ou secretória, ou metabólica; quer, tam bém ,
por aprendizagem lím bica e pela função associativa do cór­
tex ó rb ito -fro n ta l, ou seja, o paciente deflagra mais ou me­
nos conscientemente uma reação neuroorgânica por assi­
milação da agulha a um processo nociceptivo. Recentemen­
te, H. Laborit, no Congresso de Fisiopatologia da U.R.S.S.,
falou de reação orgânica resultante da função associativa
do córtex ó rb ito -fro n ta l.
4. A acupuntura veterinária. No plano da experimentação
e em relação com a fisiopatologia, a acupuntura veterinária
reveste-se de grande interesse.
O governo chinês lançou em 1950, em seguida à " P r i­
meira Conferência Plenária de Saúde", um programa de h i­
giene pública, programa que adotou o nome de Campanha
dos Quatro Asseios e das Cinco Exterminações. Para to ­
dos os fins úteis, recordamos quais eram:
— os quatro asseios: alim entos e cozinha; privadas e p o c il­
gas; vestuário e roupas de cama; ruas, casas e pátios;
— as cinco exterminações: moscas, mosquitos, pulgas, ra­
tos, piolhos.
Isto significa que uma grande campanha fo i feita ao
mesmo tempo para a higiene animal e, em particular, a h i­
giene do porco nas pocilgas. Apareceram então nos muros
da China Popular numerosos cartazes e desenhos m uito
simples, uns mostrando as diferentes afecções que podem
ating ir os animais e o modo de curá-las, outros m ostrando
certos pontos de acupuntura dos animais domésticos, em
especial do boi, porco, cavalo e mesmo de certas aves de
q u in ta l: c pato e a galinha.

98
tentativas de explicações

A existência desses pontos no animal dem onstra que,


contrariamente à opinião de médicos mal in fo rm a d o s, a
acupuntura não é simplesmente uma m edicina de persua­
são mas uma medicina que tem um efeito m u ito mais do
que psicossomático, pois dificilm e n te se poderia ta x a r uma
galinha de ser sensível à psicologia.
Na França, desde sua form ação, a Associação France­
sa de Acupuntura (1946) e a Sociedade Inte rn a cio n a l de
Acupuntura tinham criado uma seção veterinária d irig id a
pelo Dr. M illin , que realizou um certo número de investiga­
ções sobre a localização dos pontos: em particular, no cava­
lo, em M aisons-Alfort, e no cão, em laboratório ve te rin á rio .
Foram tratados numerosos indivíduos e os resultados o b t i­
dos com o cão jovem nas seqüelas da doença de Carré f o ­
ram m uito bons, assim como os obtidos nas artroses.
No cavalo e, sobretudo, o cavalo de corrida, a a cu p u n ­
tura dá excelentes resultados nas tendinites e é u tiliz a d a ,
por vezes, com o propósito de doping, e direm os mesmo
que é o único doping não-medicamentoso a d m itid o pelas
sociedades hípicas. Numerosas publicações e teses m ostram
o interesse dos veterinários por essa ciência; elas c o n s ti­
tuem não só depoimentos sobre os excelentes resultados
terapêuticos pela acupuntura mas também um p ro p ó s ito
de pesquisas fisiológicas. Assim, apontamos a tese de
Lepetit em 1950, Essais d'acupuncture sur les a n im a u x, a
de J. Bernard em 1954, C o n trib u tio n à l 'étude de l ' a cu­
puncture chez les carnivores, e, m uito recentem ente, a do
Dr. Frédéric M olinier, C o n trib u tio n à l 'étude des p o te n tie ls
du tissu co n jo n ctif sous-cutané et relations avec l 'a cu p u n c­
ture.
A experimentação animal prossegue, aliás, na França,
China e Japão, e é assim que experimentos recentes fo ra m
realizados para ajuizar da eficácia da analgesia no coelho.
Em particular, Chifuya Takeshige, da Universidade de
Showa (Japão), realizou em circulação cruzada a anestesia
por acupuntura de dois coelhos; um fo i picado e o o u tro
sofreu os mesmos sintomas, o que fez considerar-se a lib e ­
ração de uma substância por via sangüínea.

99
a acupuntura

Experimentos semelhantes foram feitos na China, e o


Dr. Roustan, representante das associações francesas in te r­
nacionais de acupuntura, pôde assistir a numerosas aneste­
sias veterinárias por acupuntura, mormente de um cavalo.

O estudo estatístico dos dados clínicos com putadorizados,


o estudo de vários grupos de doentes tratados com ou sem
acupuntura (hospital Lariboisière), deram sua c o n trib u i­
ção no sentido de penetrar a arte, o espírito e o valor cien­
tífic o da acupuntura.
Todos esses trabalhos culminaram, prim eiro no plano
prático, na colocação à disposição dos médicos de apare­
lhos detectores de pontos que amplificam suas variações
energéticas através de sistemas sonoros ou ópticos, fa c ili­
tando sua localização e perm itindo uma terapêutica mais
precisa; no plano m oral, em fazer da acupuntura uma rea­
lidade, uma verdadeira terapêutica que se apóia em ciências
de atualidade, pois se "vive r tem lim ites", o conhecimento
não tem. Também gostaríamos, para term inar, de citar os
autores de trabalhos em curso atualmente e prestar home­
nagem às suas descobertas.
Na França, entre os numerosos investigadores, Canto­
ni, ex-diretor do Centro de Pesquisas de Medicina Aerospa­
cial, que, em colaboração com Borsarello, Sério e Roche-
Bruyn, estudaram os problemas de registro de pulsações,
de biologia adaptativa, e divulgaram os trabalhos de Becker.
Fizeram construir um com putador eletrônico de acupuntu­
ra, que fornece os pontos a picar em função dos parâme­
tros do pulso.
Roche-Bruyn estudou igualmente o tratam ento da in ­
form ação em acupuntura.
N iboyet, autor de uma tese de doutorado em ciências
sobre Moindre résistance à l'électricité de surfaces punc ­
turées et de trajets cutanés correspondant aux points et aux
méridiens, favoreceu o melhor conhecimento das proprie­
dades elétricas da pele ao nível dos pontos chineses.
GraII, após sua tese de 1962 em Argel, Contribution à
l'étude de la conductibilité électrique de la peau, deu con­
tinuidade a seus trabalhos como assistente no Laboratório

100
tentativas de explicações

de Biofísica da Faculdade de Medicina de Paris sobre a im ­


portância da pele e fix o u as possibilidades de estabelecer
cartografias de impedância.
Vicent, de Tym ow ski e Lapeyronie estudaram as rela­
ções com a bioeletricidade e o biomagnetismo.
Pellin, na esteira de diversos trabalhos, realizou detec­
tores de pontos, dos quais existem atualmente vários m o­
delos no mercado.
Limoge, em colaboração com acupuntores do grupo
de pesquisas da Associação Francesa de Acupuntura (M on­
nier, Darras, Kespi, Mussat), estudou mais particularmente
o problema da analgesia elétrica.
A n to n ie tti, do serviço de eletroencefalografia do hos­
pital neurológico de Lyon, estudou as variações de am pli­
tude do flu x o sangüíneo cerebral após a punctura de pontos
especiais, como o Nei Koann, e registrou no pletismógrafo
os aumentos desse flu x o .
Na Romênia, o interesse pela acupuntura tem sido
enorme: pesquisas têm sido realizadas no Centro Experi­
mental do hospital Coltzea, em Bucareste, sobre o san­
gue, o aparelho circulatório, o aparelho digestivo, a dinâm i­
ca do útero e as endócrinas (Profs. Gheorgiu, Gracium, Pa­
tiu e G luck). A equipe do Dr. lonesco-Tirgoviste estudou a
ação das agulhas ao nível do eixo hipófise-córtico-supra-re-
nal, em relação com a eosinofilia e o teste de Thorn.
Na U.R.S.S., a Dra. Tykotchinskaja, do Instituto Neu­
rológico de Leningrado, efetuou igualmente numerosas
pesquisas teóricas e práticas, mais recentemente sobre a as­
ma in fa n til.
Nos Estados Unidos, a acupuntura penetra com d ifi­
culdade nos meios médicos. Era praticada esporadicamen­
te nas colônias sino-americanas, mas mesmo os chineses
americanos dela falavam pouco. Entretanto, era conhecida
nos meios artísticos e intelectuais: Aldous Huxley, o clã
Kennedy, os meios cinematográficos da Califórnia, que via­
javam na Europa e na Ásia e se faziam tratar periodicamen­
te por esse método.
A guerra do Vietnã, o interesse pela China e sua rein­
tegração no mundo ocidental provocaram numerosos a rti­

101
a acupuntura

gos e, finalm ente, o grande público norte-americano inte­


ressou-se pelo Extrem o Oriente, pela medicina chinesa e
igualmente pela anestesia.
Antes da visita do Presidente N ixon à China, o gover­
no americano levou a efeito uma pesquisa sobre essa tera­
pêutica: da uma parte, para fins de informação e, de outra,
para decidir sobre a autorização de sua prática nos Estados
Unidos. Nos dias 6 e 7 de dezembro de 1971, o N ational
In stitu te o f Health convidou a Bethesda três membros da
Sociedade Internacional de A cupuntura: os Drs. Tym ow s­
ki, de Paris, Bischko, de Viena, e Mann, de Londres, para
uma discussão com funcionários e médicos norte-america­
nos.
Em resultado dessa conferência, a acupuntura será
aceita como uma terapêutica, mas a hesitação dos meios
oficiais persistirá para saber se a sua prática deverá ser con­
fiada exclusivamente aos doutores em medicina ou tam ­
bém a paramédicos e aos mestres acupuntores chegados do
Extrem o Oriente.
A 11 de fevereiro de 1973, quando da 167ª Conven­
ção da Associação Médica de Nova Y o rk, uma jornada fo i
consagrada à acupuntura e 2.000 médicos norte-americanos
assistem à descoberta de suas possibilidades.
Entre os prim eiros centros criados, o do Dr. Fox, mé­
dico anestesista do Down Medical Center da Universidade
de Nova Y o rk , fo i a origem da formação de um pequeno
núcleo de médicos americanos que se interessaram pela
acupuntura. Foi assim que ele entrou em contato com o
Dr. Kao, que depois fundaria uma das primeiras associa­
ções de médicos acupuntores.
Como os americanos não gostam de perder tem po, em
poucos meses já duas revistas de acupuntura começavam a
ser publicadas; não obstante, se a informação sobre acu­
puntura progride, a formação de bons acupuntores deixa
um pouco a desejar nos Estados Unidos.
Entretanto, uma decisão proporciona muita esperan­
ça aos acupuntores. A Organização Mundial de Saúde
(O.M.S.), de Genebra, após o VI Congresso M undial de
Acupuntura de junho de 1979, em Paris, onde ela enviara
tentativas de explicações

um observador, M. Torfs, considerou to d o o interesse que


a acupuntura poderia com portar como medicina eficaz e
econômica, tanto nos países do Terceiro M undo com o
nos países ricos onde os serviços médicos se torn ara m ex­
cessivamente caros. O número de dezembro de 1979 de
sua revista Santé du Monde, publicada em nove línguas, é
inteiram ente dedicado à acupuntura. Fornece a lista de
44 afecções e doenças suscetíveis de serem tratadas p o r es­
sa terapêutica. A tomada de posição da O.M.S. é uma co n ­
sagração da acupuntura.

103

Você também pode gostar