O documento discute a importância dos símbolos para a política e sociedade. Apesar da emancipação da política em relação à religião, os símbolos continuam desempenhando um papel fundamental na integração social e na dimensão mítica do poder político. A falta de símbolos pode levar a uma "dessimbolização" que enfraquece a democracia.
O documento discute a importância dos símbolos para a política e sociedade. Apesar da emancipação da política em relação à religião, os símbolos continuam desempenhando um papel fundamental na integração social e na dimensão mítica do poder político. A falta de símbolos pode levar a uma "dessimbolização" que enfraquece a democracia.
O documento discute a importância dos símbolos para a política e sociedade. Apesar da emancipação da política em relação à religião, os símbolos continuam desempenhando um papel fundamental na integração social e na dimensão mítica do poder político. A falta de símbolos pode levar a uma "dessimbolização" que enfraquece a democracia.
1. A emancipação das democracias em relação à religião não
significa perda de dimensão mítica. 2. Trata-se daquele fenômeno degenerativo que Zagrebelsky sintetiza com o termo "dessimbolização". Ao contrário de autores como Rawls ou Habermas, que veem na política uma atividade guiada por procedimentos racionais, ele reconhece na dimensão simbólica uma reserva de sentido fundamental do agir coletivo. Como foi destacado pela grande cultura sociológica de Weber e Durkheim, mas também pelas pesquisas históricas fundamentais de Marc Bloch e de Ernst Kantorowicz, a fenomenologia do poder é inacessível se separada da função que nela desempenha a esfera do mito. 3. A emancipação da política com relação à ancoragem religiosa, consequente da secularização, não significa de fato perda de dimensão mítica, como ingenuamente supôs a tradição iluminista, contrapondo frontalmente mythos elogos. Segundo o próprio Weber, aliás, é precisamente da "gaiola de aço" da burocratização que se gerou, por reação, nas primeiras décadas do século XX, a exigência de uma nova política carismática, com os resultados, até mesmo trágicos, que conhecemos. 4. Zagrebelsky intensifica essa linha de raciocínio, reconhecendo no símbolo uma entidade de dupla face [...]uma vez objetivado em normas e instituições, se torna um poderoso fator de integração social. 5. Sem o símbolo, se reduzíssemos a experiência humana à abstração da pura razão calculante, não poderia haver nem sociedade nem política. Porque, na base de ambas, está aquela capacidade de referência a algo diferente, aquele impulso projetual, que constitui, ao mesmo tempo, a condição e o significado da vida coletiva. 6. Symbolon, como contado no Banquete de Platão, é o resultado da reunião de duas partes desconexas, que, declarando a sua própria insuficiência, se combinam em um todo que as compreende na forma da atração recíproca. Mas sem jamais perder a sua tensão constitutiva, sem jamais repousar em uma paz definitiva. Porque, por trás da face de luz do symbolon, sempre se assoma a ameaça obscura do diabolon – de uma nova e mais letal cisão entre diferentes que se interpretam como absolutos opostos. 7. É por isso que Zagrebelsky recorda, com Simmel, que, para fazer sociedade, não basta o "dois", dividido entre o amor e inimizade, mas é preciso o "três", em que os contrastes subjetivos se desfazem na objetividade de instituições terceiras. 8. Poder do símbolo. De grande sugestão é o exemplo, central na nossa tradição, da Cruz – passagem sem solução de continuidade de sinal, nu e despojado, de dor e contrição, a símbolo de triunfo e também de perseguição contra hereges e infiéis, para depois fluir novamente em uma espécie de insignificância, miséria posta em jogo de luta política entre inclinações adversas. Sem falar da sua terrível perversão na cruz gamada nazista, que também acendeu a chama do entusiasmo em um povo inteiro, mobilizando-o contra outros mitos contrapostos. 9. Como também lembra Clare Bottici em Filosofia del mito (Ed. Bollati Boringhieri), se lermos em sobreposição O Mito do Estado, de Cassirer, e Reflexões sobre a Violência, de Sorel, se capta o pivô secreto em torno do qual um mesmo símbolo agressivo parece girar sobre si mesmo, percorrendo de um polo ao outro do quadrante ideológico do tempo. 10. É de Franz Rosenzweig a aguda observação de que, ao contrário da monarquia, vinculada à continuidade biológica da sucessão dinástica, o mecanismo eleitoral da democracia levou a romper o fio entre as gerações. Zagrebelsky remete esse dado institucional àquele déficit simbólico que constitui doença mais insidiosa das democracias contemporâneas. 11. Restrita entre as receitas técnicas de pura administração do existente e as aspirações de movimentos sem programas e sem perspectivas, a política continua perdendo terreno. Mas o que pode parecer ser um destino ainda depende sempre de atitudes e opções que ainda é possível, e necessário, mudar.