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Jurídica e Classificação
l Na etünologia, derivado do latiin navigiurn e do grego naus, o navio assu1nia conotação de ben1
sagrado. "En1 Rbodes, os navios eran1 gua.rdados por tuna 1nagistratura especial. Os gregos ad
n1iravan1 nos céus o navio Argo. Os atenienses, por n1ttitas centenas de anos, conservaran1 a cé
lebre galera Salaminiana, na qual eran1 conduzidas as oblações destinadas ao ten1plo de Delos.
Era no navio sagrado que Cartago mandava anualmente suas oferendas à Tyro. À Diana, repre
sentada na lua, deusa do mar, enviavam os antigos u1n navio, pela pri1navera - como prirnícias
da navegação 1narítima." (COSTA, l899, p.67) Para aprofundan1ento no tema, v. SAMPAIO DE LA
CERDA (1984, p.47), ALVAREZ (1954, p.69), BRUNEITI (1929, t.I, p.3) e AHAt.1ADA (1970, p.213-4).
Navio: Conceito, Natureza Juridica e Classificação 13 9
Alvarez ( 1954, p.69), Brunetti ( 1929, p.3) e Ripert ( 1954, p.37) restringen1
o conceito de navio à construção flutuante destinada à navegação n1arítima,
demarcando, em decorrência, o â1nbito de aplicação do direito inarítilno.
Tais definições atendem às legislações que demarcam por tal critério de
definição o campo de aplicabilidade das normas do direito marítimo.
A restrição da concepção de navio como embarcação destinada ao trans
porte por mar é encontrada, aden1ais, na definição proposta no art. 1° da
Co11venção l11ternacional para Unificação de Certas Regras e1n .Nlatéria de
Conheci1nentos Marítin1os, c1ue estabelece navio con10 toda en1barcação des
tinada ao tra11sporte de nlercadorias por mar. A Inglaterra adota a defi11ição
contida na Convenção supra no Carriage of Goods by Sea Act ( 1971) e estipu
la: "Ship means any vessel used for the carriage ofgoods by sea".
3 "Nessas condições, para a conceituação de navio pouco importa a sua forn1a de construção,
isto é, qualquer que seja o tamanho ou 1neio de propulsão. [ ] É essencial, portanto, para que
...
se tenha corno tal, possa a construção realizar percurso sobre águas, independente1nente de
Navio: Conceito, Natureza Jurídica e Classificação 141
qualquer auxílio estranho. Desse modo, a todos os corpos flutuantes que não estejam nas con
dições especificadas acin1a deve111 ser aplicados os princípios de direito con1un1, pennanec.en
do alheios, pois, às regras do direito 111arítüno. (...] Nos tennos de nossa legislação não interes
sa o destino efetivo do navio, isto é, pode ele destinar-se ao recreio, à pesca ou ao comércio, em
nada in1portando tenha a navegação fim lucrativo, ou não:' (SAMPAIO DE LACERDA, 1963, p.48)
4 Partidários dessa tendência, destacam-se ainda GALVAO ( 1963, t.1, p.26) e GONÇALVES ( 1922,
p.236).
142 Curso de Direito Marftimo -Volume 1
1 . Flutuabilidade
5 Fato ocorrido a bordo de pequena etnbarcação, que não se equipara a navio (STF, Conflito de Ju
risdição n. 4.707/A.\1, 2• T., rei. Nlin. Eloy da Rocha,j. 07.03.1969). \T. DEMO, 2005, p.20-2, a respei
to da con1petência da Justiça federal atinente a crin1es con1etidos a bordo de navio de tan1anho
considerável. V. Decreto-lei n. 253/67 e CF, art. 109. Consulte tan1bém o Capítulo 11 desta obra.
6 BRUNETTI, 1929, p.293-8.
Navio: Conceito, Natureza Jurídica e Classificação 143
2. Navegabilidade
7 Na esteira da exegese, navio naufragado não é navio, 1nas coisa. Na hipótese de un1 choque vio
lento entre urn navio que trafega e un1 navio naufragado há que se enquadrar o acidente en1
,
15 Para aprofundan1ento no ten1a inavegabilidade do navio, v. ALBIZU (1992, p.23), SOROA e GAR
CIA (1999, p.416), MARTINEZ ( 1991, p.272) e GYZAGUIRRI) (200 1, p.1-5). V. ademais o Capítulo
navigetJ, bien pude asegurar-se que esta1nos ante una condición que va a erígirse
en pieza central de su regin1én jurídico a lo largo de toda la vida del 1nis1no.
O conceito de navegabilidade abrange, it1trinseca1ne11te, a flutuabilidade,
pois é evidente que 11avio que não flutua, não navega. Todavia, a flutuabilida
de é apenas u1n dos elementos que poderão resultar no estado físico de ina
vegabilidade do navio. Outras variantes, contudo, ta1nbém se inserem em
contexto de pressuposto de navegabilidade e po(ierão ensejar a inavegabilida
de absoluta do navio; nomeadarnente, i1este parâmetro se destacan1 as hipó
teses de danos ao casco, à estrutura ou ao maquiI1ário e co11dições precárias
de segurança e 1na11ute11ção. Destarte, de 1naneira geral, enquadrariam-se to
dos e qualquer ele1nento que se afigure essencial a perfeita condição e apti
dão de trafegar.
Em essência, nas palavras de Ferreira ( 1 964, p.376): "Ou navega ou não é
. "
navio .
tripulação competente que lhe permita entrar e sair dos portos sem riscos de
atrasos (navegabilidade operativa).
Abalizados os parâmetros hern1enêuticos, a it1avegabilidade absoluta en
seja a iinpossibilidade ou ii1aptidão do 11avio trafegar de 1na11eira geral. O
conceito de inavegabilidade relativa sintetiza a hipótese de o navio estar apto
a trafegar de for1na geral, ou seja, em perfeitas condições de navegabilidade e
flutuabilidade, todavia inapto para aquela destinação que se pretende, seja no
contrato de freta1nento, seja no co11trato de tra11sporte.
No Direito brasileiro, nã.o se detectam precedentes doutrinários e preto
ria11os. Na doutri11a e na jurisprudência i11ternacio11al, a expressão é comu
mente utilizada nas hipóteses de rescisão contratual decorrentes dos casos de
navios sere1n destinados a transportar deter1ninada carga, 1nas não ser possí
vel a efetivação do transporte devido a inadequação do navio para a utiJjza
ção para qual foi destit1ado.
Efetiva1ne11te, a 1naioria dos cases se refere1n a cargas que deverian1 ser
embarcadas em um tipo específico de 11avio, v. g., hipóteses de líquidos que
deveriam ser transportados em navios tanque, todavia lhes é disponibilizado
um navio graneleiro ou porta-contêineres, e vice-versa. Efetivamente, decor
re hipótese de inavegabilidade relativa, ou seja, o navio está em estado de na
vegabilidade absoluta, posto que apto a trafegar, no e11tanto é it1apto a trafe
gar e transportar aquele tipo de mercadoria. 1 8
Destacam-se alguns casos da jurisprudência inglesa. O caso "Cian1pa vs. Bri
tish India" refere-se à inavegabilidade funcio11al. O fretador a tempo foi consi
derado responsável perante o afretador pelos danos sofridos pela carga de li
n1ões pelo incun1primento da obrigação de 11avegabilidade. Em que pese o fato
do navio ter sido e11tregt1e em tempo e livre de gases sulfurosos, a nor1nativa
francesa obrigou a fumigar na França o navio e a carga. Os casos "Hong Kong
Fir" e "Clifford vs. Haunter" se referem à navegabilidade operativa, no que tan
ge à tripulação dever ser devidamente qualificada. No caso "The Derby': estabe
leceu-se que os documentos legaln1ente exigidos são 11ão somente os requeridos
pela norn1ativa da ba11deira do navio, 1nas esse11cialmente aqueles exigidos pe
las i1orn1as e práticas do porto 011de o serviço de fretan1ento será prestado. 19
18 V. algun1as decisões arbitrais das cortes inglesas a respeito do assunto en1 MARTIN-CLARK, 2006,
passi111.
19 Exen1plica-se a exigência da pern1issão de livre trânsito exigida habitualrnente pela Coast
Guard dos EUA. Não são considerados docun1entos exigiveis os solicitados por organisrnos não
oficiais, con10 o blue card da InternationaJ Transport Federation (ITF).
148 Curso de Direito Marftimo - Volume 1
20 Sustenta1n a classificação do navio corno bern rnóvel de natureza especial SAMPAIO DE !,;\CERDA
(1984, p.51), CHAVEAU {1969, p.71-2), GIBERTONI (1998, p.46), COSTA (1899, t.I, p.82), VIDAIH
(1896, p.444), PIP!A ( 1922, p.22), VENTURA (1998, p.50) e BRUNETTI ( 1929, passi111). JV[oura ( 1991,
p.122) assevera o caráter nlultiforn1e da figura do navio: "O navio é considerado un1 ben1 1116-
vel e imóvel, é registrável con10 pessoa (o non1e, o don1icilio, a arqueação e os papéis de bor
do (ship's papers) que servem como elementos de identificação), é tido como parte flutuante
do território ao qual se acha submetido por laços políticos (nacionalidade); por isso torna-se
difícil apresentar tuna definição c.on1pleta do navio [ .. . ]''.
2 1 \T. SíF, RE n. 63.283/SP, l• T., rei. Nlin. Alio1nar Baleeiro,j. 12.09.1969.
22 \r. CCon1, arts. 477 e 478; Lei n. 7.652/88; Nonnan1-l; cc, art. 1.473, v1; International Conven
tion for the Unification of Certain Rules relating to Maritime Liens and Mortgages (Bruxelas,
Navio: Conceito, Natureza Jurídica e Classificação 149
O navio possui unia estrutura física, c1ue se constitui pelo casco (membra
navis - n1embros do 11avio) e pelos acessórios ( instrun1enta navis - instru
mentos do navio).24
1967) e Decretos ns. 351/35 e 15.788/22. A respeito de alienação e111 hasta pública, v. arts. 686 a
707 do CPC. A vigência do Decreto n. 15.788/22 resvala-se en1 intensa polên1ica. E111 1991, esse
decreto foi revogado totaln1ente pelo Decreto s/n, de 26.04.1991, que, por sua vez, foi revogado
em 1992, mas não houve repristinação. Todavia, há entendiinentos que propugnam pela vigên
cia dos decretos em questão, tendo em visat que tais normas foram promulgadas na época da di
tadura militar e, conseqüente1nente, têm força de lei, não podendo, portanto, ser revogados pelo
Decreto s/n de 199 l , n101nento ern que já vigorava no 13rasil o Estado Dernocrático de Direito.
23 Para aproftu1da1nento a respeito de hipoteca 1narítuna, v. VILLAS BôAS (1942, passi1n), SAMPAIO
DE LACERDA (1982, passirn) e GIBERTONI (1998, passhn).
24 V. SANTOS, 1968, p.38 e SIMAS, 1938, p.59.
150 Curso de Direito Marftimo Volume 1
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25 A Lei n. 6.288/75 (revogada pela Lei n. 9.6 l l/98) considerava o contéiner u1n acessório do veí
culo t ransportador .
De acordo com a CNUDM 111, art. 29, a expressão navio de guerra designa
qualquer navio pertencente às forças armadas de um Estado, que ostente si
nais ex1:eriores próprios de navios de guerra da sua nacionalidade, sob o co
ma11do de u1n oficial devida1nente desig11ado pelo Estado, cujo nome figure
na correspondente lista de oficiais ou seu equivalente e cuja tripulação esteja
submetida às regras da disciplina militar.
Destacam-se na categoria dos navios de guerra os Destroyers, Fragatas,
Corvetas, Varredores de Minas (Classe 1v1) e Porta-aviões. E1n alto-111ar, os na
vios de guerra goza1n de co111pleta imunidade de jurisdição relativa1nente a
qualquer outro Estado que não seja o da sua bandeira (CNUD!v1 111, art. 95).
Sob a égide da Lei n. 2.1 80/54, art. 1 1 , considera-se embarcação mercante to
da co11strução utilizada como ineio de transporte por água e destinada à indús
tria da navegação, quaisquer que seja111 suas características e lugar de tráfego.30
No que ta11ge à atividade 1nerca11til dos navios privados, co11sagra-se a se
guinte classificação comercial:
1) navio cargueiro: projetado para o transporte de cargas;
11) navio de passageiros: utiJizado somente no transporte de passageiros;3 1
111) navio misto: projetado para o transporte de cargas e passageiros.
Os navios privados ou inerca11tes se sub1netem às leis do Estado a que
pertencem o território em que se encontrain (pri11cípio da soberania do Es
tado costeiro).32
30 "O IPVA é sucedâneo da antiga Taxa Rodoviária Única TRU, cujo campo de incidência não in
-
clui e.1nbarcações e aeronaves." (srr, RE n. 134.509/A.tvl, TP, rei. Min. !Vlarco Aurélio, j. 29.05.2002,
DIU 13.09.2002).
3 1 Nos tennos da Solas, 1974, considera-se navio de passageiro aquele que transporta n1ais de 12
passageiros. V. Normam-3, 301.
32 Para aprofundatnento no ten1a con1petência jurisdicional, consulte o Capítulo 111.
Navio: Conceito, Natureza Jurídica e Classificação 15 3
33 Esses navios pescam e industrializan1 o pescado. São muito utilizados pelos n1ssos, finlande
ses, espanhóis e noruegueses.
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34 A respeito da classificação ora apresentada, v. KEEDI e MENDONÇA (2000, passin1), VIEIRA et ai.
(2000, passi111) e GJBERTONI ( 1998, p.68 e segs.).
Navio: Conceito, Natureza Juridica e Classificação 15 5
gar o n1áximo possível de carga e c.ie gás inerte que visa, pela diminuição do ní
vel de oxigênio dentro dos ta11ques, a evitar incêndios e explosões.
Os navios-tanque são equipados co111 rígidos siste1nas de segurança devi
do ao risco pote11cial de incê11dio ou explosão e, prit1cipalmente, o risco de
poluição devido à natureza da carga transportada.
Existem tanqueiros especializados em determinadas cargas, como: petro
leiros, gaseiros e navios químicos. Destacam-se ainda os navios supertanques:
são navios-tanque con1 capacidade de n1ais de 75 mil toneladas. Existen1 ain
da muitos outros tipos de navios especializados, dos quais se destaca1n os na
vios propaneiros (para transporte de gás liquefeito de petróleo) e navios
minibulks, pequenos navios para transporte de carga líquida.
36 Lastro é definido con10 qualquer volun1e sólido ou líquido colocado e111 un1 navio pa1·a garan
tir sua estabilidade e condições de flutuação. O tenno água de lastro refere-se à água utilizada
nos tanques dos carguer i os para que tenham mais estabilidade quando estão se deslocando va
zios. V. Norn1arn-20. Para aprofundan1ento no ten1a, v. ALONSO, 2005, passi111.
Navio: Conceito, Natureza Juridica e Classificação 157
37 O termo mercado spot (spot 1narket) refere-se, em regra, ao mercado com disponibilidade ime
diata de cargas.
38 Consulte volu111e 11 desta obra a respeito dos contratos de utilização de navio e tipos de freta-
111ento.
Navio: Conceito, Natureza Juridica e Classificação 15 9
siJ; n) navio estrangeiro, que ostenta pavilhão estrangeiro; e rn) navio apátri
da, que 11ão tem registro.