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PORTUGUÊS 7.

O ANO – TESTE DE
AVALIAÇÃO

ESCOLA________________________________________________ D ATA ___/ ___/ 20__

NOME________________________________________________ N. O____ TURMA_____

GRUPO I
Texto A

Leandro, Bobo
(Muitos anos depois o rei Leandro e o Bobo caminham pela estrada. Vestem farrapos e
vão cansados da longa jornada)

REI: Há quantos anos caminhamos, meu pobre amigo?


BOBO: Tantos que já lhes perdi o conto, meu senhor! Desde aquele dia em que tuas
5 filhas…
REI (zangado): Eu não tenho filhas!
BOBO: Pronto, pronto, senhor, não te amofines por tão pouco… Ia eu a dizer que, a
princípio, ainda tentei contar. Via nascer o Sol de madrugada, via a minha sombra e a tua
desenhadas no chão, a gente a querer apanhá-la e ela sempre à nossa frente!, via depois o
10 Sol desaparecer do outro lado das montanhas, e então dizia: passou-se um dia. Fechava os
olhos, dormia um pouco, e de novo o Sol se erguia de madrugada e desaparecia do outro
lado das montanhas, e então eu dizia: passou-se outro dia. E tentei contá-los. (Conta pelos
dedos) Um… dois… três… quatro… mas, de repente, eram tantos dias que não havia
dedos para eles todos, mesmo que eu contasse da mão esquerda para a mão direita, da
15 mão direita para a mão esquerda, mesmo que eu contasse as duas mãos juntas e ainda os
pés… Acho que se me acabaram os números, senhor! Deve ter sido isso!
REI: Meu pobre tonto… e eu aqui sem te poder ajudar em nada… De tanto chorar, cegaram
os meus olhos. De tanto pensar, tenho a memória enfraquecida. De tanto caminhar,
esvaem-se em sangue os meus pés… E dizer que eu sou rei…
20 BOBO: Rei?! Quem foi que aqui falou em rei? Aqui não vejo rei nenhum…
REI: Não provoques a minha ira, que eu ainda tenho poder para…
BOBO (interrompe-o): Poder? Falaste em poder? Que poder tens tu, que nem uma mísera
côdea de pão consegues encontrar?
REI: Eu sou Leandro, o rei de Helíria!
25 BOBO (virando-se para a assistência): A sério: veem aqui algum rei? Digam lá: veem? O
quê? Aquele? (Aponta para o rei) Se o encontrassem aí pelas vossas ruas, ou nalgum
corredor do metropolitano, não iriam a correr deixar-lhe uma esmola no colo? Se então

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alguém vos dissesse «cuidado que ele é rei» o que fariam? Riam à gargalhada, com
certeza!
REI (murmura): Eu sou Leandro, o rei da Helíria...
30 BOBO (continua a falar para a assistência): É verdade que o viram há pouco ali ao fundo,
gritando, dando ordens, senhor do mundo! Nessa altura – há tantos anos que isso foi! –,
nessa altura aquele homem era rei. Escorraçado pelas filhas, mendiga agora um bocado de
pão, pede por amor de Deus um telhado para se abrigar das chuvas e dos ventos...
REI (murmura): Eu sou Leandro, o rei da Helíria...
35 BOBO (continuando a dirigir-se à assistência): E agora pergunto-vos: que foi que mudou
nele? Terá... outra cara? Outras pernas? Outros braços? Olhem-no bem. O que foi que nele
mudou?
REI (murmura): Eu sou Leandro, o rei da Helíria!
BOBO (id.): Tinha um manto e já não tem. Tinha uma coroa e entregou-a a outros. Tinha
40 um cetro e deixou-o em mãos alheias. Assim se faz e desfaz um rei. Assim passa o poder
neste mundo...
REI (murmura): Eu sou Leandro, o rei da Helíria...
BOBO: Assim se transforma um soberano na mais insignificante das criaturas.
REI (cansado, canta devagar):
45 Tinha um reino, tive um manto,
tive um cetro e uma coroa
filhas que eram o meu encanto
– que mais podia querer
uma pessoa?
50 BOBO (em contraponto):
Deste o reino, deste o manto,
deste o cetro, deste a coroa
às filhas do teu encanto
– como pode ser tão louca

55 uma pessoa?
REI:
Agora só tenho um bobo,
um cajado e meia broa,
estou cego, cansado, roto
60 – que mais pode aguentar
uma pessoa?
BOBO:

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Agora só tens um bobo,
e é ele que te arranja a broa!
65 Assim estás por tua culpa
– como pode ser tão louca
uma pessoa?
BOBO (ainda para a assistência): Às vezes olho para ele e não sei se o meu coração se
enche de uma pena imensa ou de uma raiva sem limites...
70 REI: Que resmungas tu?
BOBO: Nada, senhor, falava com as pedras do caminho...
REI: E bem duras são elas...
BOBO: Pois são, mas vamos depressa que, ou muito me engano, ou vem aí tempestade da
grossa! Abriguemo-nos nesta gruta.
75

(Entram para a gruta)

Alice Vieira, Leandro, Rei da Helíria (2.o Ato, Cena I), 11. o Edição, Lisboa, Editorial Caminho, 2010.

1. As frases a seguir apresentadas correspondem a afirmações sobre o Bobo.


Ordena as frases de A. a F., de acordo com a ordem pela qual essas informações
aparecem no texto. Começa pela letra C.
A. Esclarece o motivo da decadência do rei Leandro.
B. Manifesta sentimentos contraditórios em relação ao rei.
C. Deambula pela estrada ao lado do rei Leandro.
D. Salienta a miséria atual do rei Leandro.
E. Admite que perdeu a noção do tempo.
F. Acusa o rei Leandro de ter sido responsável pela sua situação precária.

2. Seleciona, em cada item, a alínea que completa cada frase de forma adequada, de
acordo com o sentido do texto.
2.1. Na afirmação “[...] ainda tentei contar.” (linha 8), o Bobo refere-se à contagem:
a) das filhas do rei Leandro.
b) das pedras do caminho.
c) dos dias.
d) dos anos.

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2.2. Nas palavras do Bobo, o rei Leandro tornou-se um mendigo porque:
a) as filhas o acolheram no seu reino.
b) perdeu o manto, a coroa e o cetro.
c) ficou cego.
d) perdeu as faculdades mentais.

2.3. No expressão “Meu pobre tonto...”, (linha 17), o adjetivo significa:


a) coitado.
b) mísero.
c) inofensivo.
d) tolo.

2.4. No segundo aparte (linhas 31-34), o Bobo:


a) evidencia a condição de pobreza do rei Leandro.
b) contrapõe o passado e o presente do rei Leandro.
c) questiona a mudança operada no rei Leandro.
d) aponta a causa da situação atual do rei Leandro.

2.5. Na repetição dos dois últimos versos nas quintilhas, o Bobo pretende salientar:
a) que se refere ao rei Leandro.
b) a loucura do rei Leandro.
c) a imprudência do rei Leandro.
d) a soberania do rei Leandro.

Texto B

Lê o poema. Se necessário, consulta o vocabulário.

Impressão digital
Os meus olhos são uns olhos.
E é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos1
onde outros, com outros olhos,
5 não veem escolhos nenhuns.

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Quem diz escolhos diz flores.
De tudo o mesmo se diz.
Onde uns veem luto e dores
uns descobrem cores
10 do mais formoso matiz2.

Nas ruas ou nas estradas


onde passa tanta gente,
uns veem pedras pisadas,
mas outros, gnomos e fadas
15 num halo3 resplandecente.

Inútil seguir vizinhos,


querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos.
Onde Sancho vê moinhos
VOCABULÁRIO
20 D. Quixote vê gigantes. 1
obstáculos, perigos, dificuldades;
2
tonalidade, colorido;
3
brilho.
Vê moinhos? São moinhos.
Vê gigantes? São gigantes.
António Gedeão, Obra Completa, Lisboa, Relógio d´Água, 2004.

3. Considerando a primeira estrofe, comprova que o sujeito poético vê a realidade de


forma distinta dos “outros”.

4. Ao longo do poema, evidenciam-se perspetivas diferentes na apreensão da


realidade circundante.
4.1. Demonstra que essas perspetivas se opõem.

5. “Cada um é seus caminhos.” (verso 18).


5.1. Esclarece o sentido da afirmação anterior, relacionando-a com o título do
poema.

6. Relê as duas últimas estrofes do poema.


6.1. Identifica o recurso expressivo presente no dístico e interpreta o seu significado.
6.2. Esclarece em que medida se poderá afirmar que a última estrofe reafirma a
ideia desenvolvida ao longo do poema.
GRUPO II

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AVALIAÇÃO

1. “Aqui não vejo rei nenhum...” (linha 20, texto A)


1.1. Transcreve os advérbios da frase.
1.2. Refere o valor semântico dos advérbios que identificaste.

2. Indica as funções sintáticas desempenhadas pelas expressões destacadas nas


frases a seguir apresentadas, retiradas do texto A.
a) “Há quantos anos caminhamos, meu pobre amigo?”. (linha 3)
b) “Tantos que já lhes perdi o conto, meu senhor!” (linha 4)
c) “De tanto chorar, cegaram os meus olhos.” (linhas 17-18)
d) “Escorraçado pelas filhas, mendiga agora um bocado de pão [...].” (linhas 33-34)

3. Reescreve as frases seguintes, substituindo o complemento direto por um


pronomes pessoal adequado.
a) “[...] via a minha sombra e a tua desenhadas no chão [...].” (linhas 8-9, texto A)
b) “[...] não iriam a correr deixar-lhe uma esmola no colo?” (linha 27, texto A)

4. “REI: Não provoques a minha ira, que eu ainda tenho poder [...]” (linha 21, texto A)
4.1. Reescreve a frase anterior, iniciando-a por O rei Leandro advertiu-o que...
Faz apenas as alterações necessárias.

GRUPO III

A FORMA COMO VEMOS O OUTRO REVELA MUITO SOBRE NÓS PRÓPRIOS.

Escreve um texto de opinião, entre 180 a 240 palavras, que pudesse ser
publicado num jornal escolar, no qual defendas a ideia contida na afirmação anterior.
Para tal, apresenta argumentos que justifiquem a tua posição e exemplos que ilustrem
o teu ponto de vista.
Antes de escreveres o teu texto, atenta nas indicações que se seguem:
– seleciona um vocabulário variado e adequado ao género textual;
– redige frases claras e coerentes;
– aplica conectores do discurso;
– respeita as normas de ortografia;
– pontua corretamente o texto;
– revê o texto que escreveste e corrige-o, se necessário.

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AVALIAÇÃO
COTAÇÃO DO TESTE
GRUPO I GRUPO II GRUPO III

1. .….... 5 pontos 1.1. ...... 2 pontos  Tema, tipologia e extensão do texto


2.1. .…. 3 pontos 1.2. ...... 2 pontos  Coerência e pertinência da informação
2.2. .…. 3 pontos 2. ......... 8 pontos  Estrutura e coesão
2.3. .…. 3 pontos 3. ......... 4 pontos  Morfologia e sintaxe
2.4. ...... 3 pontos 4.1. ...... 4 pontos  Ortografia
2.5. …... 3 pontos ___________  Repertório vocabular
3. …….. 6 pontos 20 pontos
_____________
4.1. ….. 6 pontos
30 pontos
5.1. ….. 6 pontos
6.1. …... 6 pontos
6.2. …... 6 pontos
___________
50 pontos
TOTAL: 100 pontos
CENÁRIOS DE RESPOSTA DO TESTE

ITENS DE RESPOSTA
COTAÇÕES
Grupo I – Leitura e Escrita

1. C, E, D, A, F, B. 5
…………………………………………………………………………………….................... ……….……
2.1. d)
2.2. b)
2.3. a) 3X5=15
2.4. d)
2.5. c)
…………………………………………………………………………………….................... ……….……
3. O sujeito poético perceciona o mundo de forma distinta dos “outros”, pois, onde
ele vê “escolhos”, outros “não veem escolhos nenhuns”. 4+2=6
…………………………………………………………………………………….................... ……….……
4.1. Onde alguns “veem luto e dores”, outros descobrem “cores / do mais formoso
matiz”; por sua vez, há quem apenas veja “pedras pisadas” nas ruas ou nas
estradas, onde outros veem “gnomos e fadas”, expondo perspetivas diversas da 4+2=6
mesma realidade.
…………………………………………………………………………………….................... ……….…..
5.1. Tal como não há duas pessoas com a mesma “impressão digital”, também cada
um perceciona o mundo de forma diferente e age de acordo com a sua visão da 4+2=6
realidade.
…………………………………………………………………………………….................... ……….……
6.1. A anáfora dos verbos “ver” e “ser” evidencia a ideia de que cada pessoa tem a
liberdade de fazer a sua própria interpretação da realidade. 4+2=6
…………………………………………………………………………………….................... ……….……
6.2. Ao aceitar que uma mesma realidade pode ser “moinhos” ou “gigantes”,
conforme aquele que a vê, o sujeito poético reafirma a ideia de que todos têm 4+2=6
uma maneira diferente de ver o mundo, mas também que cada um deve ser
respeitado na sua individualidade.

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AVALIAÇÃO

Grupo II – Gramática

1.1. Advérbios: “Aqui”, “não”. 2


…………………………………………………………………………………….................... …..…….……
1.2. “Aqui” – valor/advérbio de lugar; “não” – valor/advérbio de negação 2
…………………………………………………………………………………….................... …….....….….
2. Funções sintáticas:
a) vocativo
b) complemento indireto 2X4=8
c) sujeito
d) complemento agente da passiva
.……………………………………………………………………………………................... …….….….....
3. Pronome pessoal em adjacência verbal:
a) [...] via-as desenhadas no chão [...] 2X2=4
b) [...] não iriam a correr deixar-lha no colo?
…………………………………………………………………………………….................... …….….….....
4.1. O rei Leandro advertiu-o que não provocasse a sua ira, que ele ainda tinha 4
poder [...]

Grupo III – Escrita

Na redação do texto, o aluno deverá:


– cumprir as instruções fornecidas relativamente ao tema, ao género textual e à
extensão do texto;
– produzir um discurso coerente do ponto de vista da informação fornecida, da 30
progressão textual;
– usar adequadamente parágrafos, marcadores do discurso, pontuação;
– utilizar vocabulário adequado, pertinente e variado;
– escrever com correção ortográfica e morfossintática.

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