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INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!

7/7/2015

Copyright © desta edição:


ESETec Editores Associados, Santo André, 2009
Todos os direitos reservados

Dias, André Luiz Freitas


Ciência do Comportamento - Conhecer e Avançar. - Vol.7. Orgs.
André Luiz Freitas Dias et. al. 1a ed. Santo André, SP: ESETec
Editores Associados, 2009.

228p. 21 cm

INDEX
1. Psicologia do Comportamento e Cognição
2. Behaviorismo
3. Psicologia Individual

CDD 155.2
CDU 159.9.019.4 ISBN 978-85-7918-010-1

BOOKS
ESETec Editores Associados

Capa: Flávia Castanheira

GROUPS
Solicitação de exemplares: comercial@esetec.com.br
Santo André - SP
4990 5683
www.esetec.com.br

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INDEX
BOOKS
GROUPS

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CIÊNCIA DO COMPORTAMENTO
conhecer e avançar
André Luiz Freitas Dias
Anna Christina Porto Maia Passarelli
Fernanda Uma de Melo
Marcela Almeida Sousa de Morais

Organizadores

Adélia Maria Santos Teixeira


Adriana Guimarães Rodrigues

INDEX
Ailton Amélio da Silva
Ana Karina Curado Rangel de-Farias
André Luiz Freitas Dias
Daniela Cristina Sampaio de Brito
Ernani Henrique Fazzi
Fabiana Aparecida Dutra Fernandes
Fabiana de Menezes Soares
Fernanda Lima de Melo
Gabriela Macedo Rodrigues da Cunha
Guilherme Massara Rocha

BOOKS
Jair Aurélio Borges
João Claudio Todorov
Juliana Prieto Bruckner
Leticia Siqueira Lemos
Luciana Leão Moreira
Naiara Minto de Sousa
Patrícia De Paula Martins
Patrícia Genelhu de Abreu Guilherme
Paulo Henrique Martins de Aimeida
Rafaela Santos de Araújo
Renata Guimarães Horta

GROUPS
Robson Nascimento da Cruz
Rodrigo Lopes Miranda
Ronaldo Rodrigues Teixeira Júnior
Samara Melo Moura
Sérgio Dias Cirino
Thais Porlan de Oliveira
Thtago Vai é rio Ruas
Vitor Geraldi Haase
Weverton de Barros Fonseca

ESETec
E d ito re s A sso cia d o s
2009

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S u m á r io

P r e f á c i o ...............................................................................................7

INTERDISCIPLINARIDADE EM TRECHOS DA OBRA DE S k INNER!


LIMITES E POSSIBILIDADES ......................................................... 9

A PSICOLOGIA COMPORTAMENTAL DE B. F. SkINNER E A BUS­

INDEX
CA POR UMA EXPLICAÇÃO COMPLEXA DO COMPORTAMENTO

................................................................................. 21
B .F . S k in n e r e M . M . B a k h t in : d iá lo g o s p o s s ív e is o u
POSSÍVEIS D IÁLO G O S?..............................................................4 5

Um DIÁLOGO ENTRE FREUD E SKINNER! DOS SONHOS AO


PROBLEMA DA CONTINGÊNCIA................................................ 5 4

BOOKS
O DEBATE HOMANS - PARSONS SOBRE A PERTINÊNCIA DE
EXPLICAÇÕES BEHAVIORISTAS NA SOCIOLOGIA ............... 6 9

D e s e n v o l v im e n t o e m o d if ic a ç ã o d e p r á t ic a s c u l t u r a is

.................................................................................................................7 9

G r u p o d e p e s q u is a e m t e o r ia d a l e g is l a ç ã o : o p o r t u n i ­
dade DE DIÁLOGO E INTEGRAÇÃO ENTRE O DiREITO E A

GROUPS
C iê n c ia d o C o m p o r t a m e n t o ............................................. 91

C o n t r ib u iç õ e s d a a n á l is e d o c o m p o r t a m e n t o p a r a p r á ­
t ic a s d a P s ic o l o g ia o r g a n iz a c io n a l ........................... 9 8

E s c o l h a p r o f is s io n a l : u m a p r o p o s t a d e a v a l ia ç ã o d e
in t e r e s s e s a p a r t ir d a a n á l is e d o c o m p o r t a m e n t o

......................................................................... 108

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A lg u m a s c o n s id e r a ç õ e s s o b r e o c o n c e ito d e b e h a v io r a l
CUSPS E a v is ã o c o m p o r ta m e n ta l d o d e s e n v o lv im e n ­
t o INFANTIL ................................................................................ 1 1 5

O BRINCAR COMO COMPORTAMENTO E COMO INSTRUMENTO


DE INTERVENÇÃO ANALÍTICO-COMPORTAMEIMTAL: APLICA­
ÇÕES EM DIVERSOS CONTEXTOS.................................. 1 2 5

T e x t o e c o n t e x t o n a p e r s p e c t iv a d a s a ú d e a m b ie n t a l :
ANÁLISE DAS OBRAS INFANTIS DE MONTEIRO LOBATO

.............................................................................................................. 1 3 9

A n á l is e d o c o m p o r t a m e n t o : u m a p r á t ic a d e s a ú d e

INDEX
.............................................................................................................. 1 6 7

T e r a p ia a n a l ít ic o - c o m p o r t a m e n t a l d e c a s a is : c o n s id e ­
r a ç õ e s t e ó r ic a s e e s t u d o d e c a s o c l in ic o ..........1 7 5

A d o ç ã o a f e t iv a : u m e l o d e l ig a ç ã o e n t r e id o s o s a s il a ­
d o s e a s o c i e d a d e ............................................................... 1 8 4

BOOKS
Q u a l id a d e d e v id a n a t e r c e ir a i d a d e .............................1 9 4

C o n s t r u in d o o f u t u r o d a P s ic o l o g ia a p a r t ir d o s c u r ­
s o s d e g r a d u a ç ã o ..............................................................2 0 2

A d if íc il in c l u s ã o d a a n á l is e e x p e r im e n t a l d o c o m p o r ­
ta m e n to no c u r s o de P s ic o l o g ia - U F M G ............ 2 1 5

GROUPS

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P r e f á c io

INDEX A coleção “Ciência do Comportamento: conhecer e


avançar tradicionalmente publica trabalhos que foram apre­
sentados em eventos científicos de Análise do Comportamento
em Minas Gerais, principalmente na Jornada Mineira de Ciên­
cia do Comportamento. De maneira que ilustra como tem sido,

BOOKS
e está sendo atualmente, a produção e a prática da Análise do
Comportamento no nosso estado.
Desde o primeiro volume os temas têm sido variados,
os autores diversos, revelando muitas vezes jovens analistas
do comportamento mineiros. O que traz a todos nós a enorme
satisfação de ver nossa ciência crescendo e se multiplicando.
Nesse volume em especial, é notável o esforço e o
empenho para estabelecer um intercâmbio com outras ciênci­

GROUPS
as. Já o primeiro capítulo tem como foco a interdisciplinaridade,
questão atual que atravessa e aproxima todos os campos da
ciência. A partir daí, temos autores mostrando de que maneira
um mesmo fenômeno pode ser compreendido por teóricos
diferentes, e para nossa surpresa com muitas similaridades.
Esse diálogo não fica restrito à Psicologia, convida também
outras áreas do saber como a Sociologia, o Direito e a
Fonoaudiologia.
Esse esforço sinaliza um amadurecimento da nossa
ciência, e como a ciência é o produto do comportamento dos

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cientistas, dos nossos analistas do comportamento. Esses


parecem apontar que, para que a Análise do Comportamento
se desenvolva, é necessário o convívio e a troca com outras
áreas e que cientistas que só dialogam entre si, provavelmen­
te estão construindo um conhecimento que perde em riqueza
e complexidade. Indicam a superação de ultrapassadas dis­
putas entre perspectivas teóricas e demonstram, em coerên­
cia com sua própria teoria, que a diversidade tem uma impor­
tante função.
Paradoxalmente, percebemos o amadurecimento e a
ousadia de uma nova postura, que não acha mau gosto e nem
feio o que não é espelho.

INDEX
Parabéns aos autores e boa leitura aos leitores.

Adriana Cunha Cruvinel

BOOKS
GROUPS

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I n t e r d is c ip l in a r id a d e em t r e c h o s da

obra de S k in n e r : l im it e s e

POSSIBILIDADES1

Ronaldo Rodrigues Teixeira Júnior2


Universidade Federal do Pará

INDEX Com bastante freqüência podemos observar na obra


de Skinner uma tentativa de delimitar a área e objetos de estu­
do da Análise do Comportamento (Skinner, 1938, 1953M989,
1974\1991 a). Também, não é rara sua menção a outras disci­
plinas e formulações a respeito das possíveis aproximações

BOOKS
e/ou distanciamento com a Análise do Comportamento (Skinner
1969\1984, 1977a, 1981, 1989\1991 b e 1990).
Skinner define como objeto de estudo da Análise do
Comportamento aqueles comportamentos que ocorrem no
nível ontogenético, deixando para a Etologia o estudo do com­
portamento no nível filogenético, e uma parte da Antropologia
responsável pelo estudo do comportamento no nível cultural
(Skinner, 1990). Para ele, a escolha desse nível de investiga­

GROUPS
ção para a Análise do Comportamento seria explicada pelo
fato destas variáveis serem passíveis de investigação através
do condicionamento operante. Este forneceria meios de se ter

1Trabalho final produzido para a disciplina Fundamentos de Análise


Experimental do Comportamento no ano de 2005, parte integrante
do curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Teoria e
Pesquisa do Comportamento da Universidade Federal do Pará.
2 Endereço para correspondência: Rua Serzedelo Correa, 15/911-
Bairro Nazaré, Cep: 66035-400 - Belém, Pará

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acesso às contingências de reforçamento que estão em vigor


de uma forma, segundo ele, muito mais privilegiada do que
nos outros níveis. No nível ontogenético, os processos de va­
riação e seleção estariam muito mais próximo temporalmente
da intervenção do cientista (Skinner, 1981).
Ao propor essa divisão, Skinner destacou a importância
do condicionamento operante para o estudo do comportamen­
to, provocando uma reação geral de críticas por parte de di­
versos setores da comunidade científica (ver comentários a
alguns artigos de Skinner em uma coletânea de textos do au­
tor organizados por Catania & Harnad, 1984). Biólogos, Antro­
pólogos, Neurocientistas, Cientistas Sociais e vários outros
representantes da comunidade científica condenaram, entre

INDEX
outros pontos, o isolamento que Skinner teria mantido de ou­
tras áreas de estudo do comportamento, e a supervalorização
que este deu à Análise do Comportamento frente a outras áre­
as do conhecimento.
Tal contexto de crítica pode ser observado no título do
primeiro comentário feito sobre seu artigo “selection by
consequences”: o título dado foi “Skinner sobre seleção - O
estudo de um caso de isolamento intelectual” (Barlow, 1984).

BOOKS
Outro exemplo se mostra claro em um outro comentário, ago­
ra sobre o artigo “The phylogeny and ontogeny of behavior”:

“Ciência não é só uma metodologia, é uma consistência. As


leis de qualquer área sâo perfeitamente consistentes com as
leis de outras (...) A teoria Skinneriana, se quer ser parte da
ciência moderna e não uma ilha isolada, precisa ser consis­
tente com a biologia evolucionária - a qual com certeza é”
(Barkow; 1984).

GROUPS
Konrad Lorenz, fundador da Etologia, em muitos mo­
mentos de sua obra também critica algumas posturas de
Skinner. Ele chama a atenção para a limitação dos métodos
da Análise do Comportamento, que, segundo ele, acabam por
deixar uma série de dados importantes sobre o comportamen­
to de fora de seu estudo:

“O que os Behavioristas excluem do seu limitado círculo de


interesses não sâo somente outros processos de aprendiza-

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gem, mas simplesmente qualquer coisa que não esteja con­


tida no processo de aprendizagem por reforçamento - e este
resto negligenciado não é nada mais do que o resto do orga­
nismo!" (Lorenz, 1978M981, p.71).

Acrescenta ainda:

"Não rejeito nada do que os Skinneríanos fazem, mas os re­


provo pelo número de coisas que não fazem - por exemplo,
a observação simples da adaptação de um animal ao seu
meio (...) poderiam obter algumas informações valiosas quan­
to aos reforçadores efetivos, se o fizessem” (Lorenz,
1974\1979, p. 35).

INDEX
Com vários outros exemplos contidos nesses e em ou­
tros trechos, poderíamos nos fazer algumas perguntas: Skinner
teria sido realmente tão extremo em suas delimitações? A Aná­
lise do Comportamento de fato possuiria tal autonomia para
estudar o comportamento? Haveria margem para uma
integração entre áreas que estudam o comportamento e a
Análise do Comportamento, de acordo com a proposta de
Skinner? A seguir tentaremos explorar o tema.

BOOKS A lg uns tr e c h o s da o b r a de

Para Skinner, basicamente duas ciências teriam rela­


ção com o comportamento humano: a fisiologia e o conjunto
S k in n e r

das três ciências já citadas - a Etologia, a Análise do Compor­


tamento e uma parte da Antropologia. A primeira, fisiologia,
seria responsável basicamente pelo estudo do corpo (órgãos,
células, etc). As outras três tratariam dos processos de varia­

GROUPS
ção e seleção envolvidos na determinação do comportamento
(Skinner, 1990). A filogênese envolveria as contingências de
sobrevivência responsáveis pela seleção natural; a ontogênese
envolveria as contingências de reforçamento responsáveis pelo
repertório dos indivíduos; e a cultura envolveria contingências
mantidas por um ambiente social (Skinner, 1981).
Conforme afirmado acima, além de propor uma sepa­
ração entre as ciências de variação e seleção, Skinner ainda
diferencia as três da.fisiologia:

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”a fisiologia estuda o produto enquanto as outras ciências de


variação e de seleção estudam a produção (...) A fisiologia
nos conta como o corpo funciona: as ciências de variação e
de seleção nos contam porque aquele corpo trabalha daque­
la maneira" (Skinner, 1990, p. 1208).

Skinner deixa clara sua distinção entre o que o corpo


faz e o que entra como possibilidade de explicação do com­
portamento. Ele tenta com isso delimitar também as variáveis
de controle do comportamento. Uma vez que coloca a fisiolo­
gia como produto do comportamento e não como causa, ele
acredita estar evitando incluir noções mentalistas no corpo te­
órico da Análise do Comportamento. Ou seja, em nenhum

INDEX
momento o autor nega a influência dessas variáveis no estudo
do comportamento, porém limita sua interferência quando tra­
ta de buscar os determinantes do comportamento.
Entretanto, em alguns trechos de sua obra,
Skinner parece apresentar diferentes visões acerca do grau
de influência e importância destas variáveis para o estudo do
comportamento e suas relações com a Análise do Comporta­
mento. Em alguns momentos suas falas parecem pressupor

BOOKS
uma maior autonomia da Análise do Comportamento no estu­
do do comportamento:

"Uma análise do comportamento essencialmente é uma afir­


mação de fatos a serem explicados pelo estudo do sistema
nervoso. Ela mostra ao fisiólogo aquilo que deve procurar. A
recíproca não é verdadeira. Podemos prever e controlar
o comportamento sem saber como nossas variáveis de­
pendentes e independentes estão ligadas. As descober­

GROUPS
tas fisiológicas não podem refutar uma anáfise experi­
mentai ou invalidar seus avanços tecnológicos” (Skinner,
1969\1984, p.384, negrito acrescentado).

Ou em outro trecho:

“Não acredito realmente no organismo va zioE ssa expres­


são não é minha. Espero, quanto a este particular, que algu­
ma coisa seja investigada, tão rápido quanto for possível. Ao
mesmo tempo, não quero pedir apoio a fisiologia quando mi­
nha formulação falhar. Se não posso dar uma definição clara
da relação entre o comportamento e as variáveis anteceden­

te
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tes, não traz nenhuma ajuda para mim a especulação so­


bre alguma coisa que esteja dentro do organismo e que
venha preencher a falha. Tanto quanto sei, o organismo
é irrelevante seja como terreno de processos fisiológi­
cos, seja como local de atividades mentais.” (Skinner,
1968\1979, p. 116, negrito acrescentado).

Já em outros momentos sua delimitação parece mais


flexível, dando um pouco mais de margem para possíveis
interações com outras áreas:

"O fisiólogo do futuro nos dirá tudo quanto pode ser conheci­

INDEX
do acerca do que está ocorrendo no interior do organismo
em ação. Sua descrição constituirá um progresso impor­
tante em relação a uma análise comportamental, porque
esta é necessariamente 'h is tó rica q u er dizer, está limi­
tada às relações funcionais que revelam lacunas tempo­
rais. Faz-se hoje algo que virá a afetar amanhã o comporta­
mento de um organismo. Não importa quão claramente se
possa estabelecer esse fato, faita uma etapa, e devemos
esperar que o fisiólogo a estabeleça. Eie é capaz de mos­
trar como um organismo se modifica quando é exposto

BOOKS
às contingências de reforço e por que então o organis­
mo modificado se comporta diferente, em data possivel­
mente muito posterior. O que ele descobrir não pode in­
validar as leis de uma ciência do comportamento, mas
tornará o quadro da ação humana mais completo.”
(Skinner, 1974\1991a, p. 183, negrito acrescentado).

E em outro exemplo:

GROUPS
“Quando pudermos gerar ou usar um estado diretamente,
seremos capazes de usá-lo para controlar o comportamento.
Entretanto, assim nem a ciência nem a tecnologia do com­
portamento desaparecerão. As manipulações fisiológicas
simplesmente serão acrescentadas ao armamento do ci­
entista do comportamento". (Skinner, 1969\1984, p. 384,
negrito acrescentado).

Tais exemplos deixam no mínimo dúvidas quanto à ver­


dadeira intenção de Skinner de adotar algum tipo de postura
interdisciplinar, Os dois primeiros trechos não parecem ser bons
exemplos de alguém que realmente queira uma aproximação

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entre áreas. Muitas de suas frases podem ser consideradas


por muitos como agressivas, ou pelo menos excessivamente
contundentes ao falar de outras ciências. Por outro lado, ob­
servamos nos dois últimos trechos que em alguns momentos
Skinner apresenta uma maior abertura para o conhecimento
proveniente de outras áreas, reconhecendo sua importância
para a Análise do Comportamento.
Deve-se considerar que os trechos representam dife­
rentes momentos da obra do autor, mas isso não impede uma
análise dessas diferenças que foram apontadas. Abordando
esse tema, Carvalho Neto (1996, 1999) discute que Skinner
parece sempre “levar em conta” as variáveis de outras ciênci­

INDEX
as, mas isso não seria o mesmo que “incluir na análise” os
dados destas outras áreas. Assim, cada área produziria um
tipo de conhecimento específico com seu próprio objeto e
metodologia. Nenhuma dessa formas de conhecimento nega­
ria a existência da outra, porém cada uma disporia de seus
meios para dar conta de “sua parte do bolo”. Uma outra cita­
ção de Skinner fala sobre esse ponto:

BOOKS
“Podemos predizer e controlar o comportamento sem saber
nada sobre o que acontece dentro dele. Um relato completo,
todavia, exige a ação conjunta de ambas as ciências [Fisiolo­
gia e Análise Experimental do Comportamento], cada uma
com seus próprios instrumentos e métodos” (Skinner,
1989\1991a, p. 175).

Novamente observamos certa divergência nas afirma­


ções de Skinner. “Podemos predizer e controlar o comporta­

GROUPS
mento sem saber nada sobre o que acontece dentro dele”,
porém, um relato completo “exige a ação conjunta de ambas
as ciências”. Afinal de contas, o que seria esse relato comple­
to? Não estaríamos deixando variáveis importantes de fora
em um relato “incompleto”? Quando é falado “cada uma com
seus próprios instrumentos e métodos”, que tipo de interação
ele propõe? Daremos sequência ao trabalho discutindo essas
questões.

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C o n t e x t o s q u e p o d e m e x ig ir u m t r a b a l h o c o n j u n t o

Em Skinner (1969YI984), no capítulo “A filogênese e a


ontogênese do comportamento”, o autor apresenta alguns exem­
plos em que comportamentos ditos “inatos” interferem em com-
portamentos tipicamente aprendidos em contextos de pesquisa
(e vice-versa). Como exemplo do primeiro, ele cita os experi­
mentos de Breland e Breland (1961) que envolviam condiciona­
mento de animais. Porcos que eram treinados para depositar
moedas em um cofre, muitas vezes, com o aumento de interva­
los, interrompiam seu desempenho para fuçá-las no chão. Em
outro experimento, galinhas que eram treinadas a empurrar
cápsulas de plástico para um comprador, também sob certos
intervalos, começavam a sacudir e jogar as cápsulas no chão.

INDEX
Ambos exemplos de comportamentos que são próprios de cada
espécie. Outros exemplos também podem ocorrer na direção
oposta. Em um experimento do próprio autor (Skinner, 1960),
observou-se que pombos treinados para guiar mísseis muitas
vezes apresentavam uma taxa tão alta de bicar o alvo que eles
mostravam dificuldade de pegar grãos com o bico. Tais casos
dariam exemplos da importância de se adotar uma postura
interdísciplinar. Uma fragmentação do conhecimento pode não

BOOKS
só nos privar de dados importantes sobre o comportamento,
mas também nos levar a sérios erros de análise e intervenção.
Sobre isso, Lorenz (1978\1981) e Carvalho Neto (1996)
discutem acerca do problema da manutenção da dicotomia
inato X aprendido. A abordagem comportamental adota, so­
bretudo, uma visão funcional dos eventos que ocorrem no
mundo. Tal distinção, assim como outras (organismo X ambi­
ente, etc), podem se mostrar incoerentes com a abordagem

GROUPS
dado que nenhum evento em nossa investigação ocorre de
forma isolada, mas sim em relação a algum outro. Dado que o
comportamento é multicontrolado, deveríamos “incluir na aná­
lise” todo e qualquer evento que possa interferir, de alguma
maneira, no comportamento em questão. Se não possuímos
o domínio sobre a variável, cabe ao profissional ou cientista
unir-se ao profissional da área em questão que tenha tal co­
nhecimento. Não adotar essa postura significa correr o risco
de prejudicar o poder de predição e controle do comportamen­
to, objetivos centrais da Análise do Comportamento.

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A Medicina pode nos fornecer um bom exemplo em um


contexto aplicado. Ainda hoje não é raro sermos “empurra­
dos” de um a outro especialista para tratarmos de doenças
que não estão restritas a apenas uma área isolada. Da mes­
ma maneira, outros profissionais da saúde como fisioterapeu­
tas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e psicólogos se
deparam com a mesma questão. Vários problemas de ordem
orgânica que chegam aos consultórios de alguns destes pro­
fissionais têm estreitas relações com problemas de ordem
psicológica. A recíproca é verdadeira. Se essa é uma realida­
de e os resultados podem ser bem mais vantajosos utilizando-
se um tratamento conjunto, porque a Análise do Comporta­
mento ainda não enfatiza essa postura em todas suas áreas

INDEX
de atuação?
Tomando o exemplo da clínica, podemos pensar em uma
série de casos onde a relação da Análise do Comportamento
com outras áreas não torna a análise apenas mais completa
ou refinada, mas necessária. A “especialidade” do analista do
comportamento é analisar e intervir nos condicionamentos -
respondente e operante - presentes na história individual do
sujeito. Entretanto, outros fortes fatores de ordem biológica e

BOOKS
social podem estar presentes. Atender um cliente adolescente
sem "incluir na análise” alterações hormonais ou pressões
sociais aos quais ele está submetido pode levar a graves omis­
sões ou erros por parte de um especialista em comportamen­
to. O mesmo pode ser dito de clientes que apresentam algum
tipo de deficiência, lesão orgânica, doença ou sensibilidade a
algumas substâncias. Sabe-se, por exemplo, que os
psicofármacos alteram substancialmente o comportamento
daqueles que o utilizam, podendo muitas vezes auxiliar muito

GROUPS
no tratamento psicológico. Boas discussões a respeito desta
integração têm sido publicadas {ver Cavalcante & Tourinho,
2000).
Assim como esses exemplos, vários outros podem ser
pensados nesses ou em outros contextos. Isso não quer dizer
que o analista do comportamento deva possuir conhecimento
em todas essas áreas que exercem influência sobre o com­
portamento. O que se está chamando a atenção é justamente
para uma maior aproximação que deveríamos ter de profissi­

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onais de outras áreas que melhor analisam e manipulam es­


sas e outras variáveis.

I n t e r d is c ip l in a r id a d e e a n á l is e d o c o m p o r t a m e n t o

A partir da discussão realizada nesse trabalho, uma su­


posição possível de ser realizada seria de que a forma muitas
vezes dura com que Skinner tratava as outras ciências pode
ter sido responsável por pelo menos parte do distanciamento
que a Análise do Comportamento ainda mantém de outras áre­
as do conhecimento. Talvez a falta de uma postura mais polí­
tica do autor em alguns momentos de sua obra pode ter inibi­
do o desenvolvimento de estratégias metodológicas mais

INDEX
integrativas entre as áreas de estudo do comportamento.
Novamente, cabe ressaltar que isso não quer dizer que
o autor não reconhecia a importância de um trabalho conjun­
to. Sobre isso ele escreve em outro trecho:

“o comportamento dos organismos é um campo singular no


qual tanto a filogenia quanto a ontogenia devem ser levadas
em conta. Como em todas as ciências, ele deve ter seus es­

BOOKS
pecialistas, já que é improvável que alguém possa ser um
expert no campo como um todo”. (Skinner; 1977b, p. 1012).

Esse trecho reafirma o que tem sido falado nesse tra­


balho: a filosofia do Behaviorismo Radical de fato parece dar
margem para a integração entre abordagens, mas muito pou­
co é visto na sua prática. Análises e planejamento de interven­
ções de forma conjunta (não só “levar em conta”, mas tam­

GROUPS
bém analisar, manipular e controlar variáveis) não só parecem
nos dar descrições mais completas sobre o comportamento,
mas se mostram muitas vezes essenciais para atender aos
rigorosos critérios de predição e controle científicos estabele­
cidos em nossa área.
Mas seria bom salientar que trabalhar de forma conjun­
ta não quer dizer abrir mão do rigor e qualidade de uma área
para trabalhar fora de seu domínio específico. Da mesma for­
ma que especializar-se em certa área não quer dizer isolar-se
de outras. A proposta interdisciplinar aqui levantada é de um

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trabalho em equipe, sempre que se mostrar necessário. Con­


forme sugerido pelo próprio Skinner na citação acima, “é im­
provável sermos experts em um campo como um todo”. Cada
um deve possuir sua própria especialidade, somando conhe­
cimentos ou criando áreas de fronteira que permitam forma­
ção múltipla. Para tal, espera-se a criação de uma grande área
de estudo do comportamento onde profissionais de forma
unificada possam integrar seus domínios específicos com o
de outras áreas (Carvalho Neto, 1996).
Para tal desafio precisamos ir além do bom tratamento,
mas o que já representaria um grande avanço. Deveríamos
sair de nossos guetos, publicar com mais freqüência em peri­
ódicos fora de nossas áreas e investirmos em formações con­

INDEX
juntas, tanto de estudantes quanto de profissionais. Ou seja,
ampliar nossa exposição à comunidade científica e à popula­
ção em geral. Em outras palavras, para atendermos os requi­
sitos básicos de uma postura interdisciplinar, não precisamos
nada mais do que avançar nos critérios que nos permitem ser
uma verdadeira ciência.

BOOKS R efer ên c ias


Barkow, J.H. (1984). Of false dichotomies and larger frames Em A.C
Catania & S. Harnad (Orgs.), Canonical Papers of B. F.
Skinner. The Behavioral and Brain Sciences, 7, 680-681.
Barlow, G.W. (1984). Skinner on selection - Acase study of intellectual
isolation. Em A.C. Catania & S. Harnad (Orgs.), Canonical
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GROUPS
Breland, K. & Breland, M. (1961). The misbehavior of organisms.
American Psychologist, 16, 681.
Carvalho Neto, M. B. (1996). Skinner e o papel das variáveis biológi­
cas em uma explicação comportamental: uma discussão do
modelo explicativo skinneriano a partir da contraposição desta
proposta ao pensamento etológico de K.Lorenz. Dissertação
de Mestrado. Universidade Federal do Pará. BelémiPará.
Carvalho Neto, M.B. (1999). Fisiologia & Behaviorismo Radical: con­
siderações sobre a caixa preta. Em R.R. Kerbauy & R.C.

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7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!


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Wielenska (org.) Sobre comportamento e cognição - Psico­


logia comportamental e cognitiva: da reflexão teórica à diver­
sidade da aplicação, vol. 4, cap. 30 (p.267-277). Santo André:
ESETec Editores Associados.
Catania, A. C. & Harnad, S. (1984). Canonical Papers of B. F. Skinner.
The Behavioral and Brain Sciences, 7, 473-724.
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psicoativas na intervenção clínica: considerações de uma
perspectiva analítico comportamental. Em H.J.Guilhardi (Org.)
Sobre comportamento e cognição - Expondo a variabilidade,
vol.8, cap. 40 (p.420-433). Santo André: ESETec Editores
Associados.

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Lorenz, K. (1979). Lorenz. Em R.l Evans, Construtores da Psicolo­
gia. São Paulo: Summus\Edusp. (trabalho original publicado
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Verlag, Inc. (trabalho original publicado em 1978).
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Skinner, B.F. (1977b). Herrnstein and the evolution of behaviorism.
American Psychologist, 32, 1006-1012.
Skinner, B.F. (1979). B.F. Skinner. Em R.l. Evans, Construtores da
Psicologia. São Paulo: Summus\Edusp. (trabalho original
publicado em 1968).

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Skinner, B.F. (1981). Selection by consequences. Science, 213, 501-

Skinner, B.F. (1984). Pavlov\Skinner. Contingências de reforço - uma


análise teórica (Coleção - Os Pensadores). São Paulo: Abril
cultural, (trabalho original publicado em 1969).
Skinner, B.F. (1989). Ciência e Comportamento Humano. São Pau­
lo: Martins Fontes, (trabalho original publicado em 1953).
Skinner, B.F. (1990). Can Psychology be a science of mind? American
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Skinner, B.F. (1991a). Sobre o Behaviorismo. São Paulo: Cultrix. (tra­


balho original publicado ©m 1974).
Skinner, B.F. (1991b). Questões recentes na análise comportamental.
Campinas: Papirus. (trabalho original publicado em 1989).

INDEX
BOOKS
GROUPS

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A PSICOLOGIA COMPORTAMENTAL DE
B . F. S k in n e r e a b u s c a p o r u m a

EXPLICAÇÃO COMPLEXA DO
COMPORTAMENTO

Robson Nascimento da Cruz


Universidade Federal de Minas Gerais / Pontifícia Universidade Católica
de Minas Gerais

INDEX Buhrrus Frederic Skinner inicia sua carreira acadêmica


no Hamilton College, onde se gradua em Letras no ano de
1926. O período entre o final de sua graduação, no ano de
1926, e a decisão por estudar Psicologia, em 1927, é descrito

BOOKS
pelo próprio Skinner (1984a) como seu darkyear, um momento
de crise existencial em diversos sentidos. É durante essa fase,
após uma tentativa frustrada de ser escritor, que ele decide
estudar Psicologia. Na primeira parte de sua autobiografia, ao
se referir a esse episódio e a sua posterior escolha pela Psi­
cologia, ete sugere que seu interesse pela literatura foi na ver­
dade uma introdução àquilo que ele realmente queria estudar.
“Eu estava interessado no comportamento humano, mas esti­
ve investigando de forma errada”. (Skinner, 1984a, p.291).

GROUPS
Ao se inserir no campo da psicologia, Skinner formula
duas áreas do conhecimento, uma ciência experimental preo­
cupada em estudar os processos comportamentais básicos,
denominada de análise experimental do comportamento, e a
posteriori uma filosofia dessa ciência, o Behaviorismo Radi­
cal. “É possível tal ciência? Pode ela explicar cada aspecto do
comportamento humano? Que métodos pode empregar? São
suas leis tão válidas quanto as da Física e da Biologia? Pro­
porcionará ela uma tecnologia e, em caso positivo, que papel
desempenhará nos assuntos humanos?” (Skinner, 2002, p.7).

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Essas são algumas das questões que o Behaviorismo Radical


como filosofia da ciência do comportamento pretende discutir.
A elaboração de uma filosofia da ciência após a formu­
lação de uma ciência do comportamento revela, no mínimo,
duas características peculiares do pensamento skinneriano, a
ênfase inicial em um projeto científico e a posteriori uma preo­
cupação em estabelecer seus fundamentos filosóficos. Nesse
sentido, Skinner não se apóia na metáfora arquitetônica sob
qual a metafísica se constitui como fundamento necessário
para o estabelecimento de uma ciência (Dittrich, 2004). A pri­
meira vista parece não haver nada de novo nessa proposta, já
que Skinner, supostamente, comete o mesmo equívoco de

INDEX
grande parte dos pensadores modernos que negam criticar
suas bases metafísicas e deixam assim de observar as diver­
sas influências filosóficas inerentes a qualquer formulação ci­
entífica (Burtt, 1983). Contudo, no caso do pensamento
skinneriano, esse equívoco é, em grande medida, apenas apa­
rente, porque, como aponta Dittrich (2004):

É preciso deixar claro, portanto, que a metáfora arquitetônica

BOOKS
é um artifício lingüístico limitado. A metafísica, de fato, cons­
titui o fundamento de todos os projetos científicos. Porém, a
gênese de tais projetos não segue, obrigatoriamente, a lógi­
ca arquitetônica: seus fundamentos podem, sem prejuízo de
legitimidade, ser lançados a posteriori. A censura deve diri­
gir-se, isto sim, aos projetos científicos que, arrogando-se
uma existência independente de fundamentos metafísicos,
desconhecem que os carregam em seu próprio ceme, ou tra­
tam-nos como corpos estranhos, os quais cabe extirpar. Nesse
sentido, o trajeto de Skinner é particularmente legítimo. Tão

GROUPS
logo estabelece a originalidade de seu método, o autor lan­
ça-se à tarefa de fundamentá-lo filosoficamente - uma tarefa
que exigirá parte significativa de seus esforços posteriores.
(Dittrich, 2004, p. 13)

Isto não significa dizer Skinner deixou de recorrer à filo­


sofia para elaborar suas formulações iniciais e se dedicou ex­
clusivamente à pesquisa experimental e que disso decorreu
uma transição simétrica - da ciência à metafísica, ou seja, da
análise experimental do comportamento ao Behaviorismo Ra­
dical. A despeito da prioridade metodológica, para Skinner, as
relações entre ciência e filosofia não são mais descartadas. A
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própria definição de Behaviorismo Radical como filosofia de


uma ciência do comportamento é prova dessa preocupação
que behavioristas como Watson deixaram de lado. (Lopes-
Junior, 1993)
Na verdade, preocupações de cunho filosófico sempre
o acompanharam, tanto é que reconheceu ser seu interesse
inicial pela psicologia de cunho epistemológico (Skinner, 1984a;
Bjork, 2006; Moore, 2005). Bertrand Russell, Ernst Mach,
Francis Bacon e Henry Poincaré são citados como alguns dos
nomes que o levaram a se interessar pelo estudo do compor­
tamento e orientaram algumas de suas concepções científi­
cas. (Skinner 1984a; 1979)

INDEX
Ao lembrar algumas dessas influências, ele destaca o
papel da filosofia de Russel em sua escolha pelo campo da
psicologia. Skinner (1984a) relata que, através da leitura de
alguns artigos que o filósofo publicou em um periódico cha­
mado Dial, ele ficou interessado em seu trabalho e leu o livro
Philosophyóe 1927. Livro em que Russell se dedica, em gran­
de parte, a debater questões relacionadas ao behaviorismo
de Watson e as implicações do estudo do comportamento para
compreensão de aspectos relacionados à teoria do conheci­

BOOKS
mento e significado.
Para Skinner (1984a) havia naquele trabalho uma abor­
dagem diferente sobre a teoria do conhecimento que lhe cha­
mou bastante atenção, pois uma das conseqüências da leitu­
ra do trabalho de Russel foi entrar em contato direto com as
formulações de Watson. “Inspirado por Russel, eu comprei o
livro “Behaviorismo” de Watson. Eu perdi o interesse em
epistemologia e voltei-me para questões científicas”. “(...) Eu

p.299). GROUPS
mudei da “filosofia” para uma análise empírica.” (Skinner, 1984a,

Para ele os comentários que Russell realizou sobre o


trabalho de Watson foram em geral positivos, destacando-se
o elogio ao método de observação utilizado por Watson e o
seu desejo de que o método behaviorista fosse o mais possi­
velmente desenvolvido. Skinner (1984a) também alega que, a
partir da leitura do referido livro, entrou em contato com o rela­
to de experimentos e .trabalhos sobre aprendizagem animal

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apresentados por importantes psicólogos experimentais do fi­


nal do século XIX e início do século XX, como, por exemplo, o
clássico Animal Intelligence de Thorndike.
No entanto, é preciso dizer que, embora Skinner (1984a)
assuma a importância e a influência de Russell e Watson em
sua decisão pela escolha do estudo do comportamento, ele
ressalta que levou um “longo” tempo para perceber o erro que
estava cometendo ao concordar com esses autores sobre uma
psicologia estímulo-resposta. Declara também que a psicolo­
gia como ciência do comportamento seguiu um caminho im­
produtivo por muitos anos ao adotar esse modelo.
Ainda durante o período que antecede a sua entrada no

INDEX
doutorado em Harvard, Skinner relata procurar o seu antigo
professor em Hamilton, Bugsy Morril, para discutir seu inte­
resse pela psicologia e a indicação de um possível curso de
doutorado (Skinner, 1979). Esse professor, além de indicar a
Universidade Harvard, foi responsável por apresentá-lo os li­
vros Conditioned Reflex: an investigation of the physiological
activlty of the cerebral cortex de Ivan P. Pavlov e Physiology of
the Brain and Comparative Psychology, de Jacques Loeb, que
foi o mestre de seu futuro professor e importante influência

BOOKS
em Havard, o fisiologista Willian John Crozier. (Skinner, 1984a).
De acordo com Moore (2005), alguns dos motivos que
tornaram a proposta desses dois cientistas atraente para
Skinner foi que, no caso de Pavlov, seus estudos sobre condi­
cionamento reflexo tinham implicações empíricas importantes
para o estudo do comportamento, em particular, a relevância
dada ao controle das condições experimentais e a busca pela
ordem no comportamento, além, é claro, da sua descoberta

GROUPS
acerca do processo de condicionamento reflexo. Já Loeb de­
fendia uma explicação do comportamento dos organismos sem
recorrer ao sistema nervoso como causa do comportamento
ao mesmo tempo em que defendia uma explicação determinista
e não mentalista do comportamento. Proposta essa bastante
atraente para Skinner e que influenciou suas futuras formula­
ções acerca da explicação do comportamento. (Skinner, 1979)
Ao descrever os primeiros livros que constituíram sua
biblioteca, ele revela como alguns desses autores influencia-

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ram sua concepção inicial de psicologia. “(...) Eu comecei a


construir uma biblioteca, começando com o livro Filosofia de
Bertrand Russell, Behaviorismo de John B. Watson e Reflexo
Condicionado de I.P. Pavlov - os livros que tinha, eu pensei,
me preparado para uma carreira em psicologia”. (Skinner, 1979,
p.4). Assim, Skinner ingressa na Universidade de Harvard no
Outono de 1928, onde defende seu doutorado em psicologia
em 1931, estudando processos básicos do comportamento e
fisiologia. Mas são as formulações após o período de seu dou­
torado, entre os anos de 1931 e 1935, que representam a fase
de construção do arcabouço de sua ciência do comportamen­
to, em especial, a partir da descoberta do processo

INDEX
comportamental que sustenta toda sua ciência, o condiciona­
mento operante.

E m BUSCA DE UMA EXPLICAÇÃO NÃO MECANICISTA DO


COMPORTAMENTO

Skinner inicia seu estudo sobre o comportamento inse­


rido em um contexto onde uma psicologia e fisiologia

BOOKS
notadamente mecanicistas predominavam. A escolha do con­
ceito de reflexo como base para seu programa inicial de pes­
quisa demonstra isso e o seu comprometimento com esse
modelo de ciência. Seu artigo de 1931, The concept of the
refiex in the description of behavior, é representativo dessa
posição, mas é, ao mesmo tempo, prova de que Skinner, des­
de cedo, apresenta indícios de rompimento com essa tradi­
ção. No trabalho de 1931, que é parte de sua tese de
doutoramento, Skinner estabelece as bases iniciais de seu

GROUPS
programa de pesquisa a partir de um conceito mecanicista, o
reflexo, e destaca igualmente a influência do físico e filósofo
da ciência Ernst Mach, um dos principais críticos do
mecanicismo do final do século XIX e início do Século XX
(Einstein, 1982). Mais especificadamente, Skinner (1961 a) cita
a leitura da obra: The science of mechanics: a criticai and
historícal account of its deveiopment e a importância do con­
ceito de relações funcionais formulada por Mach.
De forma geral, a noção de relações funcionais propos­
ta por Mach apresenta como fundamento a idéia humeana de

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que não podemos afirmar que um evento é causado por outro


evento anterior, mas somente que percebemos que certos
eventos são seguidos por outros eventos, em situações se­
melhantes. De acordo com Laurenti (2004), isso denota: “(...)
uma aproximação de Hume tanto com Mach quanto com
Skinner. Estes últimos também recusam as noções de força
ou agência, o primeiro no campo da física, o segundo, no cam­
po da psicologia para deterem-se nas relações constantes ou,
posteriormente, relações funcionais”.(p.32). A noção de rela­
ções funcionais, que perpassa a obra desses três autores, traz
uma crítica bem direcionada à noção de força inicial tão co­
mum nas explicações mecanicistas.

INDEX
No caso de Skinner (1961 a), a idéia de relações funcio­
nais torna-se fundamental para aquilo que ele denomina de
análise funcional do comportamento. Nesse tipo de análise, o
comportamento, que era explicado em termos de uma relação
necessária entre um estímulo e uma resposta, é mitigado. Ele
passa a ser descrito e explicado em termos de relações funci­
onais, que são constantes e prováveis de ocorrência. Nessa
perspectiva as demonstrações de relações funcionais assu­

BOOKS
mem algum nível de probabilidade para eventos empíricos.
Para Moxley (1999): “Isto reflete um pragmatismo Machiano
que estava em conflito com a necessidade mecanicista.”
(p. 109). No entanto, como já mencionado, o que precisa ser
notado é que Skinner adota essa perspectiva quando ainda
acreditava que o conceito de reflexo poderia ser a base de sua
ciência do comportamento.
Sério (1990), ao fazer uma minuciosa análise da pri­

GROUPS
meira década do programa de pesquisa skinneriano, período
esse que abrange sua desvinculação do conceito de reflexo e
a formulação do conceito de operante, aponta os motivos des­
sa suposta incoerência - recorrer a um conceito que presumia
uma relação necessária ao mesmo tempo em que se propõe
estudar o comportamento através de uma relação funcional.
De forma geral, durante esse período (primeiros anos
da década de trinta), Skinner começa a observar, em especial,
o efeito que uma resposta provoca no ambiente e sua relação
com o controle do comportamento. Skinner deixa dessa forma
de analisar o comportamento como um fenômeno determina­

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do por um estímulo antecedente e passa a dar atenção espe­


cial à relação resposta-conseqüência. (Sério, 1990). Ou seja,
aquilo que vem antes (o estímulo antecedente) não é mais
considerado como causa inexorável do comportamento, como
no modelo reflexo. É aquilo que vem após a resposta, sua
conseqüência, que se torna a base para a explicação do com­
portamento dito voluntário.
Há, dessa forma, uma extrapolação ou transgressão do
conceito de reflexo que é caracterizado como uma relação
inexorável entre estímulo e resposta. Mesmo não sendo obje­
tivo no presente trabalho fazer uma análise pormenorizada das
implicações dessa questão, é interessante observar a passa­
gem de Sério (1990) que auxilia no esclarecimento dessa apa­

INDEX
rente contradição. Segundo a autora: “O projeto inicial de
Skinner de estender o conceito de reflexo ao comportamento
total o conduz a um tipo de comportamento que não cabe den­
tro do paradigma do reflexo, seu compromisso com este pro­
jeto parece obrigá-lo a manter o conceito e seu paradigma: o
S (estímulo) se mantém mesmo quando não tem mais sentido
algum, o operante é dito um tipo de reflexo mesmo não haven­
do um reflexo no caso do operante.” (Sério, 1990, p.174).

BOOKS
Os motivos que levaram Skinner inicialmente a manter
o conceito de reflexo, para explicar um tipo de comportamento
que não cabia dentro desse modelo, são diversos. A tradição
do conceito de reflexo, um autêntico representante da tradi­
ção mecanicista, o contexto acadêmico onde Skinner estava
inserido, dentre outros fatores, dificultou a transição do mode­
lo reflexo para o modelo operante, que ocorreu de forma gra­
dual ao longo da década de 1930. Na realidade, mesmo quan­

GROUPS
do Skinner define pela primeira vez o condicionamento
operante, este é definido como um tipo de comportamento re­
flexo. Assim, para ele há dois tipos de comportamento reflexo,
o respondente e o operante.
O comportamento respondente é um tipo de comporta­
mento controlado por um evento antecedente, ou seja, é aquele
disparado (eliciado) por um estímulo, portanto explicado por
uma relação de necessidade entre um estímulo e uma res­
posta. Por exemplo, a diminuição da luz em determinado am­
biente irá eliciar a resposta de dilatação da pupila, o contato

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com alimentos ácidos irá eliciar a produção de saliva. Assim,


no que tange ao comportamento respondente as respostas
são executadas pelos músculos lisos, glândulas ou músculos
estriados. Essa relação necessária sinaliza que esse tipo de
comportamento mantém-se dentro dos limites de uma expli­
cação reflexa do comportamento.
Posteriormente, o próprio Skinner (2000), embora des­
taque a relevância de uma explicação reflexa do comporta­
mento, indica um grave problema dessa explicação para o
comportamento total dos organismos. Porque mesmo que to­
dos os reflexos fossem agrupados, eles fariam parte somente
de uma pequena fração do comportamento. Dessa maneira,
“(...) a mera coleção de reflexos (a “botanização” do reflexo)

INDEX
não era suficiente. (Skinner, 1979, p.202).
Ao se referir aos investigadores passados que davam
ao conceito de reflexo papel central na explicação do compor­
tamento, Skinner (2000) argumenta que “Vemos agora que o
princípio do reflexo ficou sobrecarregado. A entusiasmante
descoberta do estímulo levou a exageros.” “(...) a maior parte
do comportamento do organismo intacto não está sob este
tipo de controle primário”. (2000, p.54). Dessa forma, para ele,

BOOKS
o reflexo deixa de ser considerado o principal modelo de expli­
cação do comportamento, portanto tem sua abrangência
explicativa bastante restringida.
Já no caso do comportamento operante, proposto inici­
almente como um tipo de comportamento reflexo, Skinner
(1935) demonstra uma relação em que a resposta (comporta­
mento) não era totalmente controlada por um evento antece­
dente. Para explicar o comportamento dito voluntário, aquele

GROUPS
que supostamente não era possível observar um estímulo cau­
sando uma resposta, Skinner identifica um processo denomi­
nado por ele de condicionamento operante. O primeiro pará­
grafo de seu livro Verbal Behavior, de 1957, é uma das passa­
gens mais citadas da obra de Skinner. Nela, é descrita uma
genérica, mas clara definição do funcionamento desse tipo de
condicionamento.

Os homens agem sobre o mundo, modificam-no e, por sua


vez, são modificados peias conseqüências de sua ação. Al-

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guns processos que o organismo humano compartilha com


outras espécies alteram o comportamento para que ele obte­
nha um intercâmbio mais útil e mais seguro em determinado
meio ambiente. (Skinner, 1978, p. 15)

O operante é, portanto, definido como um comporta­


mento que é produto das conseqüências da ação do organis­
mo sobre o ambiente. Nesse caso, para que o condiciona­
mento operante ocorra, é preciso que o organismo seja esti­
mulado peias conseqüências de sua ação. A idéia de condici­
onamento operante assume um mecanismo de retroação, de
uma conseqüência afetando o comportamento e alterando-o
de forma a voltar a ocorrer ou não em um ambiente semelhan­
te no futuro. Ao contrário de uma psicologia estímulo-resposta

INDEX
ou de uma explicação mentalista que recorrem a um evento
antecedente, seja um estímulo seja um estado mental como
causa do comportamento.
Nessa perspectiva, o homem é visto como um organis­
mo que modifica e é modificado pelo ambiente, o homem se
relaciona com o mundo não como um receptáculo de estímu­
los ambientais ou através de uma mente gerenciadora. Como
aponta Matos (1995): “(...) o organismo não é nem gerente

BOOKS
nem iniciador de ações, é o palco onde as interações Compor­
tamento - Ambiente se dão". ( p.34). A origem do fenômeno
comportamental deixa de ser algo que está apenas no orga­
nismo ou somente no ambiente, e passa a ser explicado como
resultado de uma constante e indivisível relação organismo-
ambiente. Uma breve descrição da fórmula que define o
operante demonstra como se dá essa relação.
O modelo operante é estabelecido de forma inicial a partir

GROUPS
da noção de tríplice contingência (SD: R ’! C). A tríplice contin­
gência significa que há sempre pelo menos três termos envol­
vidos no momento em que um comportamento operante é
emitido. São eles: uma condição antecedente (estímulo
discriminativo - SD), uma resposta (R) e uma conseqüência
(C). A condição antecedente tem como função estabelecer uma
ocasião que aumenta a probabilidade de ocorrência de uma
resposta semelhante àquela que foi reforçada no passado em
um determinado ambiente. Em outras palavras, um comporta­
mento tem mais chanpes de ser efetivamente emitido e, por-

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tanto, reforçado em certas ocasiões do que em outras de acor­


do com a história (história de reforçamento) de cada organis­
mo. Os eventos que antecedem (estímulos discriminativos) o
comportamento perdem seu status de causa do comportamen­
to, tornam-se parte da explicação do comportamento. Além
disso, o SD, no caso do comportamento humano em ambien­
te natural, não é visto como um único estímulo, mas como um
contexto complexo no qual o comportamento tem probabilida­
de de ocorrer ou não em função das diversas conseqüências
que afetaram o organismo ao longo de sua história.
Sobre esse aspecto, é relevante a observação de Moxley
(1992) que alega que Skinner demonstra insatisfação com a
expressão SD ao longo de sua obra. De acordo com esse

INDEX
autor a diminuição do uso dessa expressão em seus traba­
lhos e o aumento significativo de expressões tais como: con­
dição antecedente e ambiente antecedente é a prova dessa
insatisfação. O que sinaliza a busca de Skinner por uma expli­
cação que evite a idéia de uma causa única e antecedente
que a expressão SD parece suscitar. De acordo com Moxley
(1999), essa posição faz com que Skinner se afaste do
mecanicismo e se aproxime de um selecionismo pragmático.

BOOKS
Para Moxley (1999), a influência do pragmatismo de John
Dewey, William James e Charles Peirce, e principalmente do
trabalho de Darwin, são fundamentais para essa transforma­
ção que deixa de lado uma causa antecedente como principal
variável no controle do comportamento. Para ele a definição
de comportamento operante como uma probabilística contin­
gência de três termos - condição antecedente, comportamen­
to e conseqüência, é similar aos conceitos chave da seleção
natural - condições de vida, variação e seleção. Dessa manei­

GROUPS
ra: “Com o desenvolvimento de sua probabilística contingên­
cia de três termos, Skinner tem implicitamente refutado toda
alegação de necessidade: nenhuma alegação de necessida­
de pode ser mais que probabilística porque todas essas ale­
gações são comportamentos verbais analisáveis em termos
de comportamentos operantes, que são inerentemente
probabilísticos.” (Moxley, 1999, p.120).
A influência do selecionismo de Darwin no pensamento
skinneriano é um dos aspectos mais importantes no desen-

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volvimento de seu sistema explicativo. Sobretudo, a partir, da


década de 1950, quando a proposta de um modelo de seleção
por conseqüências, torna-se cada vez mais explícita em seu
trabalho. Nesse modelo o condicionamento operante é visto
através de uma analogia com a seleção natural das espécies.
Para Skinner (1981/1984) o comportamento deve ser descrito
e explicado a partir de três níveis de variação e seleção do
comportamento, a filogenia, a ontogenia e a cultura.
O primeiro nível de seleção, a filogenia, é resultado de
milhares de anos de evolução. Não sendo somente responsá­
vel pelo desenvolvimento de aspectos anatômicos, fisiológi­
cos e neurológicos, como também pelo aparecimento e evolu­

INDEX
ção de uma série de padrões comportamentais, por exemplo,
o próprio comportamento operante (Andery, Micheletto & Sé­
rio, 2002).
O condicionamento operante é, nesse sentido para
Skinner (2002), um processo que suplementa a seleção natu­
ral, é um produto filogenético. Isso porque a filogenia como
produto de contingências de sobrevivência da espécie desen­
volve-se em períodos de milhares de anos, o que resulta em

BOOKS
falhas na seleção natural, uma vez que o comportamento foi
selecionado para ser adaptado em um ambiente que não exis­
te mais, já se transformou. Portanto, o condicionamento
operante tem como função estabilizar a ação do organismo no
ambiente atual. Conforme Skinner (2002): “Conseqüências
importantes do comportamento, que não poderiam desempe­
nhar um papel na evolução porque não constituem traços su­
ficientemente estáveis do meio, tornam-se eficazes, por inter­
médio do condicionamento operante, durante a vida do indiví­

GROUPS
duo, cujo poder de haver-se com seu mundo é assim
grandemente ampliado.” (p.43).
A ontogenia, como o segundo nível de seleção do com­
portamento, surge através do condicionamento operante. As­
sim cada organismo, é modificado pelas conseqüências de
sua ação, o que leva a emissão de respostas únicas e, por
conseguinte, repertórios comportamentais singulares. No caso
do comportamento humano, isso culmina naquilo que Skinner
(1989) nomeia de pessoa, porque nenhum ser humano vai
apresentar uma história ontogenética idêntica, mesmo sub-

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metido aos processos de variação e seleção do comportamento


como qualquer outro membro da espécie (Andery, Micheletto
& Sério, 2002). Já para o aparecimento do terceiro nível, o
nível cultural, é preciso que outros indivíduos façam parte desse
ambiente e exerçam controle entre si. Para Andery, Micheletto
e Sério (2002), através dessa interação um indivíduo torna-se
para outros indivíduos um estímulo antecedente e/ou conse­
qüente. Sendo estabelecidos processos como a imitação, a
modelagem do comportamento controlado por regras ou por
contingências, dentre outros.
O papel da linguagem é fundamental no último nível ci­
tado de seleção do comportamento, uma vez que é através

INDEX
dela que se torna possível a transmissão de práticas culturais
que garantem a sobrevivência da cultura. Todavia, nesse nível
de seleção, diferentemente dos dois primeiros, o efeito sobre
o indivíduo não é responsável pela sua evolução, mas sim o
efeito sobre o grupo que cria condições para a variação e se­
leção dessas práticas. Em suma, para Skinner (1981):

(...) o comportamento humano é um produto da junção de (I)

BOOKS
as contingências de sobrevivência responsáveis pela seleção
natural das espécies e (II) as contingências de reforço res­
ponsáveis pelos repertórios adquiridos pelos seus membros,
incluindo (III) as contingências especiais mantidas por um
ambiente social evoluído. (Definitivamente, é claro, tudo isso
é uma questão de seleção natural, uma vez que o condicio­
namento operante é um processo evoluído, no qual as práti­
cas culturais são aplicações especiais.), (p.501).

Essa posição faz com que a noção de comportamento

GROUPS
no Behaviorismo Radical extrapole a busca por relações
comportamentais lineares e apenas episódicas. Ou seja, a
tríplice contingência só faz sentido como ferramenta
interpretativa se o behaviorista radical volta-se para os pro­
cessos comportamentais como eles ocorrem ao longo do tem­
po. Assim, a relação organismo e ambiente atual constituem
apenas parte da história comportamental. Como bem aponta
Chiesa (1994):

A determinação não é, portanto, necessariamente contígua,


e as descrições causais se referem a propriedades não in-

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cluídas ordinariamente nas pesquisas episódicas. Padrões


de comportamento, por exemplo, podem ser estabelecidos
ao longo de períodos de tempo por padrões de conseqüênci­
as (esquemas de reforço). Uma relação ponto-a-ponto entre
unidades discretas de comportamentos e conseqüências dis­
cretas não é essencial para uma descrição dessa interação
dinâmica, porque padrões integrais podem ser abstraídos e
explicados peia referência aos eventos ocorrendo ao longo
do tempo no ambiente do organismo, (p. 120).

Nessa perspectiva, a metáfora de uma teia causal seria


mais adequada para a explicação do comportamento no
Behaviorismo Radical do que uma metáfora que conceba o
comportamento como uma seqüência de eventos lineares

INDEX
(Chiesa, 1994).
Neste ponto, é preciso retomar a importância, como já
dito, do papel da linguagem, considerando sua função no se­
gundo e no terceiro nível de seleção do comportamento. Para
caracterizar esse aspecto, iremos a seguir realizar uma intro­
dução acerca da formulação skinneriana da linguagem e da
subjetividade.

BOOKS
A SUBJETIVIDADE COMO COMPORTAMENTO

Nada mais comum nas críticas à obra de B.F. Skinner


do que as alegações de que sua teoria do comportamento
abandona aquilo que mais define o ser humano, a sua subje­
tividade. Portanto, expor, mesmo que de forma introdutória,
como Skinner vai lidar com essa temática é essencial. É a
partir dessa que ele diferencia de vez seu behaviorismo dos
demais, passando sua abordagem a ser denominada de

GROUPS
behaviorista radical.
A própria definição propedêutica da expressão
Behaviorismo Radical carrega em si a síntese da concepção
de subjetividade veiculada nessa abordagem. Ao contrário do
que possa parecer à primeira vista, a expressão radical não
significa intransigência ou extremismo. A palavra radical re-
mete-se a expressão Radixque, em latim, significa raiz. Então
o objetivo de Skinner é estudar a origem, a raiz do comporta­
mento, mas sem recorrer à mente para explicá-lo e, ao mes­

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mo tempo, sem deixá-la de fora da explicação do comporta­


mento. Isso é possível para Skinner a partir do momento em
que se define tudo aquilo que é chamado de mental como um
tipo de comportamento como outro qualquer. Tendo é claro,
suas especificidades preservadas, como veremos a seguir.
O momento em que Skinner apresenta pela primeira vez
sua proposição acerca da subjetividade, denominada por ele
de eventos privados, é para muitos o momento em que se defi­
ne o surgimento do Behaviorismo Radical. Segundo Tourinho
(1987), é possível analisarmos o surgimento do Behaviorismo
Radical de Skinner de duas formas, uma a partir de textos de
pesquisas empíricas e teóricas e outra a partir do momento no
qual o próprio Skinner propõe uma diferenciação de seu

INDEX
behaviorismo dos demais. E é com base na publicação do texto
de 1945, The operationalAnalysis of Psychologicai, fruto de um
trabalho apresentado em um simpósio sobre operacionismo na
psicologia que isso ocorre. Skinner (1961b) discute, nesse tra­
balho, sua versão do uso de um princípio operacionísta na psi­
cologia, já que naquele período versões do operacionismo es­
tavam sendo utilizadas por diversos behavioristas. No entanto,
Skinner (1961b) ressalta que havia uma grande distância entre

BOOKS
o seu tipo de operacionismo e o adotado pelos demais
behavioristas.
O trabalho Logic of Modern Physics, do físico Percy
Bridgman, foi a base para discussão do uso de princípios
operacionais na ciência. Bridgman (1961), dentre outros pon­
tos relevantes, discutiu como conceitos formulados por Newton,
como massa, força, espaço e comprimento foram elaborados
a partir da suposição sobre as propriedades da natureza “(...)

GROUPS
ou seja, explicava conceitos físicos em termos de proprieda­
des sobre as quais não indicava uma relação precisa com o
próprio mundo físico.” (Tourinho, 1987, p.1).
Para Bridgman (1961) era preciso uma constante revi­
são dos conceitos realizada de acordo com o desenvolvimen­
to de pesquisas que indicasse novos fatos. “Isso seria possí­
vel definindo-se os conceitos físicos em termos de eventos
igualmente físicos.” (Tourinho, 1987, p.1). De modo geral, o
que Bridgman (1961) postulava é que os conceitos não deve­

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riam ser definidos em termos de suas supostas propriedades,


mas a partir do conjunto de operações relativas às circunstân­
cias em que são empregadas. Para ele: “Em geral, queremos
dizer com um conceito nada mais do que um conjunto de ope­
rações, o conceito é sinônimo do correspondente conjunto de
operações.” (Bridgman, 1961, p.5). Esse procedimento elimi­
naria a possibilidade de explicação de fenômenos através do
recurso a conceitos por natureza não verificáveis
empiricamente.
De acordo com Boring (1950), a influência do
operacionismo na psicologia se deu via influência inicial do
positivista lógico do ciclo de Viena, Herbert Feigl. O resultado
foi uma forma exagerada de interpretar a obra de Bridgman, o

INDEX
que acarretou uma defesa extremada da objetividade, a partir
da qual somente fenômenos publicamente observáveis, fun­
damentados pelo critério de verdade por consenso público
seriam válidos. Nesse modelo, a linguagem do cientista era
interpretada como uma representação lógica de sua experiên­
cia privada. Houve então o desenvolvimento de uma forma de
operacionismo que pretendia resolver os problemas da psico­
logia mentalista, mas que cai na mesma armadilha que pre­

BOOKS
tendia evitar. Ao interpretar a linguagem como representação
lógica dos fatos, esse modelo ultrapassava o campo descriti­
vo do próprio comportamento.
É contra esse tipo de operacionismo que Skinner (1961 b)
apresenta o Behaviorismo Radical. Para ele o primeiro fator a
ser observado é que os eventos privados são tão físicos quan­
to qualquer fenômeno natural observado publicamente. A dife­
rença para ele estaria no fato de que, entre os eventos públi­

GROUPS
cos e privados, os segundos seriam acessíveis para os obser­
vadores do comportamento apenas indiretamente através do
relato verbal. Com isso, não adota e nem aceita o critério por
consenso público para investigar a experiência privada. Se­
gundo Tourinho (1987), nessa situação: “(...) O problema da
concordância pública deve ser tomado como secundário, em
favor de um critério mais pragmático e de coerência interna do
sistema teórico." (p.4). Assim para Skinner: “O critério último
para a boa qualidade de um conceito não é se duas pessoas
entram em acordo, mas se o cientista que usa o conceito pode

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operar com sucesso sobre seu material - sozinho, se preci­


sar. O que importa para Robison Crusoé não é se ele está
concordando consigo mesmo, mas se ele está chegando a
algum lugar com seu controle sobre a natureza.” (Skinner,
1961b, p.375). Nesse modelo torna-se desnecessário e infru­
tífero o uso de expressões como referente e significado. Es­
ses termos só teriam sentido caso fossem analisados funcio­
nalmente como qualquer outro comportamento. Então, é a
especificação das contingências em que uma dada resposta
verbal ocorre que deverá ser útil para explicação behaviorista
radical da experiência privada.
Isso posto, Skinner (1961b) afirma que a linguagem é
matéria de estudo da Psicologia. Brevemente, é preciso dizer

INDEX
que Skinner prefere o uso da expressão comportamento ver­
bal ao invés de linguagem para evitar possíveis confusões, já
que para ele a expressão linguagem, além de ser utilizada
amplamente no vocabulário coloquial é fruto de uma tradição
representacionista, posição essa que ele procura evitar.
Para Skinner (1978) o comportamento verbal é definido
como um tipo de comportamento operante, ou seja, é um com­
portamento que age sobre o mundo e é afetado por suas con­

BOOKS
seqüências. A diferença é que esse é um comportamento que
age de forma indireta sobre o mundo, através da mediação de
outras pessoas. Para esclarecer o papei da mediação nesse
tipo de comportamento, Skinner diz que:

(...) â maior parte do tempo o homem age indiretamente so­


bre o ambiente a partir do qual emergem as conseqüências
últimas de seu comportamento. Seu primeiro efeito é sobre

GROUPS
outro homem. Ao invés de ir até um bebedouro, um homem
sedento pode simplesmente “pedir um copo de água” - isto
é, ele pode engajar-se em comportamento que produz um
determinado tipo de padrão sonoro que, por sua vez, induz
alguém a trazer-lhe um copo de água. (Skinner; 1978, p.1).

Se a experiência privada é expressa em grande medida


através do comportamento verbal, por quais processos o sujei­
to adquire esse comportamento é uma questão crucial para
compreendê-la. Para Skinner (1978), a primeira premissa de
que precisamos saber é que todos aqueles eventos que cha-

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mamos de privados devem ser considerados eventos


comportamentais. Eventos esses que envolvem uma classe de
respostas que estão sob o controle de uma classe de estímu­
los. Eles, por sua vez, são denominados como tais e aprendi­
dos somente a partir da interação do indivíduo com as contin­
gências sociais. Neste ponto torna-se nítida a importância da
comunidade verbal na qual o indivíduo está inserido, porque ela
é responsável por ensinar comportamentos de descrição dos
chamados eventos privados - da própria subjetividade.
Para compreendermos melhor essa asserção, recorre­
mos a uma freqüente observação feita por Skinner sobre o
papel da comunidade verbal e os problemas envolvidos no
processo de aprendizagem de descrição de eventos privados.

INDEX
De acordo com Skinner (2000), a comunidade verbal muitas
vezes se confunde e é embaraçosa ao tentar ensinar a descri­
ção de eventos privados, isso porque ela se propõe a ensinar
o sujeito a relatar um estado ao qual a comunidade verbal não
tem acesso direto. É fácil ensinar uma pessoa diferenciar ver­
balmente o preto do branco em uma contingência de
reforçamento na qual o preto seja reforçado na presença do
preto e o branco na presença do branco. Mas é quase impos­

BOOKS
sível ensinar uma pessoa a descrever seu estado interno com
precisão em situações onde não há observação pública dos
possíveis determinantes do estado interno do organismo. Para
Skinner, isso ocorreria porque a única pessoa que consegue
observar seu estado interno de forma direta é a própria pes­
soa. Mas, isso não impede a comunidade verbal de ensinar o
sujeito a nomear seus estados internos através de observa­
ções públicas de seu comportamento. Por exemplo, uma cri­
ança que está com dor de estômago, chora e fica nervosa e

GROUPS
expressa isso através de lágrimas e expressões faciais. A co­
munidade verbal não vê toda a dor que a criança está sentin­
do e muito menos sente a dor, contudo isso não é obstáculo
para ensinar a criança a descrever sua dor.
Apesar das diferenças de condições internas que pos­
sam existir de indivíduo para indivíduo, existem padrões
comportamentais que estão associados a certos tipos de res­
posta, como a dor, alegria, raiva, etc. Mesmo assim Skinner
(2002) ressalta que: “Embora a comunidade verbal solucione

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o problema da privacidade dessa maneira e consiga ensinar


uma pessoa a descrever muitos de seus estados orgânicos,
as descrições nunca são totalmente precisas”, (p.26). Logo, é
possível afirmar que uma pessoa dificilmente aprende a des­
crever seus sentimentos e outros estados internos precisa­
mente (Skinner, 2002). Essa proposição nos leva de maneira
intrigante a concluir que, quando afirmamos que nos conhe­
cemos porque temos consciência daquilo que estamos sen­
tindo ou pensando, podemos estar enganados uma vez que
quem nos ensinou a descrever nossos estados internos e su­
postamente a nos conhecer foi uma comunidade verbal que
não teve acesso direto a esses estados. Com isso, a crença
de que o indivíduo tem conhecimento especial sobre aquilo

INDEX
que acontece dentro dele coloca o sujeito em uma posição
confusa, não tendo como entender muitas vezes o seu próprio
relato que se apresenta de forma distorcida (Skinner, 2000).
Segundo Catânia (1999), um possível motivo pelo qual acha­
mos ter esse suposto conhecimento especial sobre nossos
estados internos, é porque: ‘Provavelmente, achamos que os
eventos privados, como nossos sentimentos e pensamentos
são aqueles aos quais temos um acesso privilegiado e, por­

BOOKS
tanto, um conhecimento especial sobre eles”.(p.265).
Sobre esse aspecto, o Behaviorismo Radical assume
uma postura bastante particular em relação ao conhecimento
da experiência subjetiva. Skinner inverte a noção tradicional
de que o homem só pode conhecer sua experiência subjetiva.
Ele, na realidade, não vai considerar que o homem está fada­
do a conhecer somente aquilo que é subjetivo e que o mundo
externo é somente um constructo. O que ele vai afirmar é que

GROUPS
o mundo privado, pelos motivos que acabamos de apresentar,
é que não pode ser conhecido de maneira satisfatória, mas
sim o mundo externo. (Abib, 1982)
Essa posição também leva a conclusão de que ter aces­
so direto aos estados internos que acometem o organismo
não é garantia de autoconhecimento. Para que isso ocorra
minimamente, é preciso que o indivíduo consiga descrever os
determinantes atuais e históricos de seu comportamento. Sa­
ber que os estados internos não são a causa do comporta­
mento seria, portanto, somente o primeiro passo para evitar o

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desvio de atençao das causas públicas do comportamento


(Catânia, 1999).
O relato verbal torna-se, dessa maneira, a principal fon
te de análise para o estudo da subjetividade, que deve ser
acompanhada de uma investigação da história de reforçamento
do indivíduo e do ambiente onde o comportamento está sendo
emitido. A introspecção é, nessa perspectiva, objeto legítimo
de investigação em uma análise behaviorista radical da subje­
tividade. Sobre isso, Skinner (1984b) sugere que alegações
de que a interpretação não é uma prática científica podem
surgir, mas contra-argumenta que a interpretação feita a partir
de dados obtidos de uma ciência, nesse caso, a análise expe­

INDEX
rimental do comportamento, é prática comum em diversas áre­
as do conhecimento e que de modo algum diminui o valor da
análise.
Não restam dúvidas de que, para Skinner, a subjetivida­
de é produto de contingências de reforçamento social (Tourinho,
1997; 1999). Ou seja, as vantagens ou desvantagens desse
comportamento não estão relacionadas ao nível individual, mas
sim ao nível social. Nessa perspectiva, Skinner (1961b) afir­

BOOKS
ma que “O indivíduo torna-se consciente do que está fazendo
somente depois que a sociedade reforçou suas respostas ver­
bais relacionadas ao seu comportamento como origem de um
estímulo discriminativo”, (p.281).
Uma das implicações dessa noção de subjetividade é
que, ao estudar, por exemplo, os relatos dos indivíduos sobre
os eventos privados como sua consciência, deve-se conside­
rar que essa consciência é social (Tourinho, 1997;1999). O

GROUPS
que, contudo, não significa que o indivíduo não possua carac­
terísticas idiossincráticas, já que cada pessoa tem uma histó­
ria única, ou seja, vivenciou situações singulares em sua vida,
logo, repertórios comportamentais singulares foram modela­
dos. Essas questões se fazem importante à medida que seja
possível demonstrar que a subjetividade não é algo inato ou
estruturado, mas produto das relações que o indivíduo man­
tém com a cultura. Dessa maneira, qualquer investigação em
relação aos eventos privados em uma perspectiva behaviorista
radical considera sua origem e função em uma dada cultura
que selecionou e mantêm esse comportamento.

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A citação abaixo de Figueiredo e Santi (2000) destaca


a importância e sintetiza a posição básica skinneriana acerca
da subjetividade. Para eles:

Skinner torna-se importante para a psicologia - além da sua


importância para o estudo do comportamento dos organis­
mos - quando se põe a falar da subjetividade: do mundo
‘'privado” das sensações, dos pensamentos, das imagens,
etc. Skinner não rejeita a experiência imediata, mas trata de
entender sua gênese e sua natureza. Ele não duvida que os
homens sintam sem expressar seus sentimentos, que os
homens se iludam, alucinem, reflitam sobre coisas e sobre si
mesmos, relatem temores, aspirações e desejos. Tudo isso é

INDEX
real, mas, segundo Skinner, devemos investigar em que con­
dições a vida subjetiva privatizada se desenvolve. A resposta
do autor remete às relações sociais. É em sociedade que se
aprender a falar e uma pane da fala pode referir-se ao pró­
prio corpo e ao próprio comportamento do sujeito. Contudo,
essa capacidade para falar de si é aprendida na convivência
com os outros. Toda linguagem é, assim, social, mesmo quan­
do se refere ao ,lmundo privado". Por isso mesmo, o mundo
privado de cada um é uma construção social. O que eu sinto,
vejo, pressinto, lembro, penso, desejo, etc. Sempre depende

BOOKS
da maneira como a sociedade me ensinou a falar e a prestar
atenção aos estados do meu organismo. Numa condição
social em que os sentimentos e as intenções de um sujeito
passam a ser fatores socialmente importantes para o contro­
le do comportamento, já que outras formas de controle estão
reduzidas, é natural que a sociedade se preocupe muito com
a “vida privada” e desenvolva em cada sujeito uma habilida­
de especial para falar e “pensar" em si mesmo, para preocu­
par-se consigo e relatar claramente suas experiências "ime­

GROUPS
diatas” a fim de formular seus projetos, etc. O uso de aspas
em imediatas justifica-se porque, de fato, segundo Skinner,
as experiências subjetivas não têm nada de imediato; são
sempre construídas pela sociedade. ( p.75-76).

Embora a formulação Skinneriana sobre a subjetivida­


de tenha sido apresentada de forma introdutória, não é preci­
so ir além para afirmamos que Skinner não rejeita o papel e
nem muito menos a importância da subjetividade na explica­
ção do comportamento. O que pode ser dito é que ele apre­
senta uma versão não tradicional para esse fenômeno. Além

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disso, faz-se necessário dizer que essas formulações acerca


da subjetividade representam em grande parte a posição inici­
al do Behaviorismo Radical formulada a mais de meio século
e que investigações empíricas e teóricas acerca desse fenô­
meno continuam sendo realizadas por analistas do comporta­
mento de modo a ampliar essa explicação. Principalmente,
nas últimas décadas, quando aumentaram substancialmente
as pesquisas sobre comportamento verbal.

C o n s id e r a ç õ e s f in a is

Com as breves considerações tecidas até aqui, pode-

INDEX
se argumentar que o pensamento skinneriano apresenta um
nítido afastamento e crítica a uma explicação mecanicista do
comportamento desde seus primórdios. O abandono de expli­
cações baseadas em relações necessárias entre estímulos e
respostas para a busca de relações funcionais constantes e
prováveis de ocorrência é um dos produtos dessas transfor­
mações. Como sugere Moxley(1992):

A significância do trabalho de Skinner reside na sua evolu­

BOOKS
ção ao longo do tempo - suas contribuições para o
behaviorismo funcional. Ao fazer estas contribuições, Skinner
afastou-se das relações necessárias, tais como a relação
estímulo-resposta da tradição mecanicista, e buscou uma
ampla gama de relações funcionais entre a probabilidade de
eventos, em seus contextos. Como resultado, seu
behaviorismo tomou alinhado com uma tradição funcional ao
Invés de mecanicista. (Moxley, 1992, p. 1308-1309).

GROUPS
Também foi possível observar que as formulações, mes­
mo iniciais acerca da linguagem e subjetividade, no Behaviorismo
Radical, estão alinhadas às críticas pós-modernas ao
fundacionismo na epistemologia e ao representacionismo na
linguagem (Abib, 1999). Com essas questões, alguns aspectos
que compõem o arcabouço teórico dessa ciência e sua filoso­
fia, destoam de muitas das críticas mais comuns a essa abor­
dagem. Como a idéia de uma psicologia estímulo-resposta e a
negação dos estados subjetivos numa explicação do compor­
tamento. Nesse sentido, a colocação de Figueiredo e Santi
(2000) sobre a concepção skinneriana de subjetividade é bas-

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tante esclarecedora e discrepante das alegações ainda recor­


rentes de que essa abordagem não se ocupa em estudar tais
fenômenos.
Por fim, é preciso ter o cuidado de não pensar no de­
senvolvimento do pensamento skinneriano como linear e pro­
gressista e nem muito menos que a ênfase dada às questões
aqui tratadas signifique que essa abordagem seja imune a crí­
ticas e muito menos que ela não apresente nenhum resquício
de filosofias da ciência comprometidas com o mecanicismo e
positivismo, por exemplo. Não é essa a perspectiva do pre­
sente trabalho. Na verdade, nosso objetivo foi destacar que
uma explicação cada vez mais complexa do comportamento

INDEX
parece ser uma das principais marcas do desenvolvimento do
pensamento skinneriano.

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Skinner, B.F. (1978). O comportamento verbal. São Paulo: Cultrix:
Editora Universidade de São Paulo. (Texto original publicado
em 1957)
Skinner, B.F. (1979). The shapping of behaviorist: Part two of an
Autobiography. New York, Alfred A. konpf.

INDEX
Skinner, B.F. (1981). Selection by consequences. Science, 213,501-504.
Skinner, B.F. (1984a) Particulars of my life: Part one of an
Autobiography. New York University Press.
Skinner, B.F. (1984b). A matter of consequences: Part three of an
Autobiography. New York University Press.
Skinner, B. F. (1991). Questões Recentes na Análise Comportamental.
Campinas: Ed. Papirus.

BOOKS
Skinner, B. F. (2000). Ciência e comportamento humano. São Paulo,
SP: Martins Fontes. (Texto original publicado em 1953)
Skinner, B.F. (2002). Sobre o behaviorismo. São Paulo, SP: Cultrix.
(Texto original publicado em 1974)
Tourinho, E. Z. (1987). Sobre o surgimento do Behaviorismo Radical
de Skinner. Psicologia, 13 (3), 1-11.
Tourinho, E. Z. (1997). Eventos privados em uma ciência do com­
portamento.. In: R. A. Banaco. Sobre Comportamento e

p. 174-187. GROUPS
Cognição. Santo André, São Paulo: ABPMC/ARBytes, v. 1,

Tourinho, E. Z. (1999). Eventos Privados: O que, Como e Por Quê


Estudar. In: Kerbauy, R.R. Kerbauy et al. Sobre Comporta­
mento e Cognição: Psicologia Comportamental e Cognitiva:
Da Reflexão Teórica à Diversidade na Aplicação. 1 ed. Santo
André: ESETec, v. 4, p. 13-25.

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7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

B.F. S kinner e M .M . B akhtin :


DIÁLOGOS POSSÍVEIS OU POSSÍVEIS
DIÁLOGOS ? 1

Rodrigo Lopes Miranda


FAE/UFMG.
LAPED-FAE/UFMG

Thiago Valério Ruas


UNIPAC - Campus Vale do Aço

INDEX
Juliana Prieto Bruckner
Clínica Particular

Sérgio Dias Cirino


FAE/UFMG
LAPED-FAE/UFMG.

BOOKS I n tr o d u ç ão

Skinner, ao escrever o livro Verbal Behavior, que ele


indica ser sua principal obra (Skinner, 1976), aponta que o tra­
tamento dado ao comportamento verbal já era um campo de
estudos perpassado por outras teorias da linguagem extrema­

GROUPS
mente sofisticadas. Ao longo dessa mesma obra, ele salienta
que seu intuito não era o de suprimir os demais estudos exis-

1 Trabalho desenvolvido como parte constituinte da pesquisa


“Aproxim ações entre a Interação Verbal de Bakhtin e o
Comportamento Verbal da Psicologia Analítico-comportamental:
contribuições para o ensino de língua portuguesa a escolares de
primeira à quarta série do ensino fundamental”, desenvolvida com
bolsa de iniciação científica PIBIC/CNPq (Edital 01/2006) para o
primeiro autor sob orientação do quarto autor.

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/
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015
/
tentes, mas sim, fornecer outros instrumentos de anáfise ao
campo lingüístico. Dessa maneira, desde 1957, data /e publi­
cação do Verbal Behavior, pode-se pensar que Skiniler criava
condições para um trabalho interdisciplinar sobre o/ratamen-
to da língua entre a Análise do Comportamento e os estudos
lingüísticos.
Se considerarmos, como indica (Dorna, 2005), que todo
comportamento humano é social, o comportamento verbal tam­
bém caracteriza-se como social. Primeiramente, porque sua
definição determina que é necessária a existência de ao me­
nos dois sujeitos em interação para sua ocorrência, uma vez
que a ação verbal de um sujeito é conseqüencíada pelo res­

INDEX
ponder de um outro (Vargas, 1991). Em segundo lugar, pelo
fato de que esse tipo de operante é aprendido e mantido em
comunidade verbal, composta por pessoas que partilham prá­
ticas culturais, dentre elas, a língua.
Uma possibilidade de trabalho interdisciplinar refere-se
justamente ao fato do comportamento verbal ser social. No
campo de estudos da linguagem existe uma área denominada
Sociolingüística que se preocupa com as relações que a lín­

BOOKS
gua estabelece com as estruturas sociais. Um dos principais
autores dessa área é Mikhail Mikhailovitch Bakhtin que, ele
mesmo comenta, interessava-se pelas relações entre a ideo­
logia e as manifestações da língua, pela objetivação desses
elementos em sujeitos socialmente orientados (Bakhtin, 1986).
Bakhtin (1986) indica que, para esse tratamento do fa­
zer verbal dos sujeitos, a Psicologia poderia contribuir, desde
que fornecesse explicações sobre os fenômenos da consci­

GROUPS
ência e da língua fora do escopo subjetivista e biologicista.
Para tanto, essa Psicologia deveria se preocupar com a im­
portância do mundo material (físico e social), e portanto cultu­
ral, ao qual o indivíduo se integra. Assim, se a determinação
social é indispensável para a aprendizagem de uma língua,
pode-se colocar em diálogo o pensamento de Skinner e Bakhtin
sobre o fazer verbal do sujeito.
O intuito do presente capítulo é apontar um dos princi­
pais resultados de uma pesquisa realizada que objetivo en­
contrar consonâncias e dissonâncias entre o pensamento des-

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INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

ses dote autores. Os pontos em questão foram, principalmen­


te, os cViceitos de “interação verbal” em Bakhtin e de “episó­
dio verbal” em Skinner. Dois cuidados foram tomados para a
aproximarão dos autores: (1) o interesse não é o de reduzir
uma á re a \ outra, uma vez que cada uma delas fornece con­
tribuições válidas para o estudo do fenômeno lingüístico; (2)
deve-se atentar para o fato de qe, mesmo com possíveis se­
melhanças, Bakhtin trata sobre uma sociologia da linguagem
enquanto quejSkinner trabalha com o fazer, necessariamente
relacional, daquele que comporta-se verbalmente.

M étodo

INDEX O método utilizado foi o bibliométrico, pelo fato desse


constituir-se como aquele que se utiliza de referências biblio­
gráficas como a principal fonte de informações sobre um dado
tema. Com isso, os instrumentos de trabalho foram livros e
artigos tanto da Análise do Comportamento quanto da
Sociolingüística, principalmente as obras: “Marxismo e Filoso­
fia da Linguagem” de Bakhtin e “ VerbalBehaviof' de Skinner.

BOOKS R esultados e D iscussão

Foram encontrados aproximadamente quatorze pontos


de possível consonância e seis de provável dissonância entre
o pensamento de Skinner e o de Bakhtin, sendo que esses
últimos, não estavam vinculados ao fato dos autores serem
de áreas do saber diferentes. Neste capítulo, serão apresen­
tados os principais aspectos que nos auxiliam a compreender

GROUPS
a aproximação entre os conceitos de “interação verbal” e de
“episódio verbal”.
Já em um primeiro momento, a leitura de Skinner e
Bakhtin indica uma semelhança entre o pensamento detes:
ambos indicam que o foco de análise no estudo da língua cons­
titui-se como as práticas verbais entre pessoas, ou seja, o fa­
zer verbal necessariamente relacional entre sujeitos. O estu­
do do “episódio verbal” requer a busca das variáveis com as
quais a ação verbal se relaciona, em outra palavras, na verifi­
cação das contingências ao qual o responder é função. A aná-

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INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

lise da “interação verbal” aborda a linguagem como uma ação


do indivíduo em situações sociais concretas, já que a/íngua é
composta de signos que surgem apenas pela relaçao verbal
entre sujeitos socialmente orientados. Dessa maneirá, as duas
áreas concebem a língua como uma unidade dinârifica, pois a
ação verbal se constitui como um fazer sobre o mando, crian­
do mudanças sobre e sofrendo os efeitos de taip alterações
que ele produziu. /
A ação verbal, por provir de um sujeito irjlserido (e pro­
duzido por) em um continuum sócio-histórico-çíiltural, implica
necessariamente em uma relação indissociávél entre a ação,
o indivíduo e o contexto que integram. Parte desse contexto é

INDEX
composto pelas outras pessoas que partilham das práticas
verbais daquele que comporta-se verbalmente, a esse grupo
é dado o nome de comunidade verbal em Skinner e comuni­
dade de fala em Bakhtin.
Tendo-se em vista a comunidade verbal (ou de fala),
surge um ponto interessante de aproximação entre o pensa­
mento dos autores em questão. Para a Skinner, aquele que
comporta-se verbalmente é chamado de falante, mesmo con-

BOOKS
siderando-se a existência de práticas verbais que não são vo­
cais, tais como a escrita. Aquele com quem essa pessoa se
relaciona, dá-se o nome de ouvinte, inclusive para nos casos
de comportamentos verbais não-vocais e, sua importância re­
side no fato de que: (1) faz parte do contexto da produção
verbal do falante e; (2) provê a maior parte das conseqüências
para as respostas desse segundo.
Essa nomenclatura, embora usual na área analítico-

GROUPS
comportamental, a nosso ver possui limitações em detrimento
aos nomes empregados por Bakhtin. Primeiramente, pelo fato
de que existem práticas verbais que não são vocais, mas que
são verbais pela definição analítico-comportamental, como dis­
semos no caso da escrita. Em segundo lugar, essa nomencla­
tura deixa implícita a noção relacional que é imprescindível
para a compreensão tanto do comportamento verbal quanto
do episódio verbal. Acentua assim, aquele que comporta-se
verbalmente, ou seja, que faz ao algo, ao invés de incidir so­
bre a questão da relação interindividual.

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Bakhtin, talvez justamente por priorizar a questão da


intersub)etividade socialmente determinada, explicita a noção
relacional ao elaborar a nomenclatura que diz daqueles que
atuam em\um contexto de produção verbal. Assim, denomina
aquele quá\ age verbalmente de locutor e aquele a quem se
dirige de ityerlocutor. Essas denominações mostram-se, a
nosso ver, mais pertinente, uma vez que elas já indicam o ponto
nodal de umat\compreensão socialmente determinada da ação
verbal: a interâção entre os sujeitos que compõem a comuni­
dade verbal (ou de fala).
Nesse mesmo sentido, optar-se-á pela adoção do ter­
mo comunidade verbal quando referirmo-nos a um grupo de

INDEX
pessoas que partilham práticas verbais. A primeira justificativa
para tal procedimento se deve ao fato de que a expressão
bakhtiniana, embora não se refira são às ações verbais, po­
dem dar a entender que as práticas verbais se restringem a
apenas esse tipo de fazer. A segunda justificativa, por sua vez,
reside no fato de que tanto Skinner quanto Bakhtin propõem
que as práticas verbais não são apenas vocais, mas também
circunscrevem outras modalidades de ação (como a escrita e

BOOKS
os gestos, por exemplo). Dessa forma, a adoção do termo
comunidade verbal, pode ampliar o leque compreensivo da
aproximação entre as áreas em questão.
O interlocutor é de suma importância tanto para a ocor­
rência da ação verbal quanto para seu desenvolvimento, pois
é pelo contato com a comunidade verbal que as pessoas apren­
dem a agir verbalmente. Como parte do ambiente social com
o qual o locutor se relaciona, o interlocutor cria condições para

GROUPS
que aquele aja lingüisticamente; ele estabelece ocasião para
as respostas verbais e as conseqüencia. Bakhtin (1986), des­
sa forma, indica que a configuração do enunciado se dá, em
grande medida, pelo fato de que ele se dirige à alguém, pois
se isso não ocorresse, a própria resposta verbal não poderia
ser decomposta e analisada.
A língua, assim, se constitui pela interação que os locu­
tores e interlocutores estabelecem, tendo em vista o contexto
imediato da relação, bem como o horizonte social que lhes
configura. Para Bakhtin, todo ato verbal dialoga com as

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verbalizações que lhe antecederam, trazendo consigy a sus­


ceptibilidade a uma resposta, pois ele também se diri/e a uma
outra pessoa. Skinner, por sua vez, indica que embora o com­
portamento verbal se refira ao fazer do falante, ouvinte é
indispensável para a ocorrência desse tipo de opq/ante, mes­
mo que seu comportamento não seja verbal seguddo a defini­
ção analítico-comportamental. A relação falaofe-ouvinte é
indissociável, uma vez que, como comenta Vargas (1991), uma
particularidade dessa classe de respostas é o fato de que o
comportamento verbal é obrigatoriamente vinculado a outra
ação, sendo essa segunda, um fazer do ouvinte.
Na continuidade da aproximação dos conceitos em ques­

INDEX
tão, apontar mais uma consonância se faz necessário: os dois
campos definem duas unidades de análise, uma formal e ou­
tra real, na nomenclatura bakhtiniana e; no jargão skinneriano,
uma topográfica e outra funcional.
A unidade formal para Bakhtin é a oração e a real, a
enunciação. Essa segunda se concretiza como o ato verbal
do locutor em contato com um interlocutor, sendo que os dois
encontram-se socialmente orientados. A palavra sempre se

BOOKS
destina a um outro, mesmo quando o interlocutor se faz au­
sente, pois o locutor responde a um sujeito constituído por um
horizonte social. A unidade formal, a oração, constitui-se como
o conjunto de elementos com os quais a lingüística tradicional
trabalha, uma vez que geralmente delega a um segundo plano
a determinação ideológica (e portanto social) da ação verbal
e, assim, ela se orienta lidando com uma entidade estática.
Estática pelo fato de que o campo utiliza como material, fontes

GROUPS
escritas e descontextualizadas do momento sócio-histórico em
que tais recursos foram produzidos (Bakhtin, 1986). No pris­
ma bakhtiniano, a oração não tem autor e nem destinatário,
não suscitando uma resposta, ao contrário da enunciação.
Skinner (1957) por sua vez, aponta que o estudo do
comportamento verbal contempla duas direções: uma descri­
tiva e outra explicativa. No rumo descritivo, o trabalho com
esses operantes implica em detalhar sua topografia (forma),
enquanto que, o percurso explicativo, diz da busca das variá­
veis das quais a resposta verbal é função. Em outras palavras,
devemos verificar com quais aspectos do contexto o sujeito

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se integra tanto no momento em que comporta-se verbalmen­


te quanto como o fez ao longo de sua ontogenia. Dessa ma­
neira, os estudos descritivos indicariam que a atividade lin­
güística se apresenta de uma dada forma (tais como fonemas,
morfemas, palavras, etc), enquanto que os trabalhos
explicativos, apontariam para o estudo das conseqüências
advindas do fazer verbal, pelo contato do falante com seu
ambiente (físico e, sobretudo, social).
A topografia da resposta verbal possui dimensões vari­
adas, composta por pequenas unidades significativas que,
mesmo podendo se repetir, as conseqüências que produzem
podem ser diferentes. Em decorrência dessa maleabilidade

INDEX
da função dos operantes verbais, Skinner (1957) indica que a
topografia, embora importante para o estudo para o estudo
completo do fenômeno lingüístico, não carrega em si mesma
sua conseqüência sobre o ambiente social, ou seja, seu signi­
ficado. Esse aspecto situa-se na relação que o sujeito, o con­
texto imediato e o remoto (história de vida) em que a pessoa
figura. Portanto, também para Skinner, o foco de análise con­
cretiza-se na função do fazer verbal, já que necessariamente

BOOKS
seu estudo requer o contato com os elementos sócio-históri-
co-culturais que constroem a ação verbal.
Existem dois aspectos dissonantes entre os dois auto­
res que fazem parte do diálogo que aqui se situa. A primeira
trata sobre um tipo de comportamento privado, o pensamento
verbal. Esse tipo de ação encoberta que apenas o sujeito que
se comporta tem acesso ao responder, para Skinner, não é
um elemento imperativo para a ocorrência de outras respos­

GROUPS
tas. Nesse sentido, não seriam as variáveis mediacionais que
deveriam ser buscadas para a explicação do fazer verbal, mas
sim, com quais os aspectos sócio-culturais, quando e como
faz a pessoa ao se comportar verbalmente. Contudo, pode-se
apontar que em uma cadeia comportamental, uma resposta
pode criar condições para a ocorrência de uma sucessora tem­
poral e que, dentre essas, podem existir respostas preceden­
tes que podem ser concomitantemente verbais e privadas, mas
isso não se caracteriza como uma relação sine qua non.
Já em Bakhtin (1986), a enunciação se configura como
um produto da interindividualidade, na qual o locutor possui

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como um dos elementos fundamentais de controle^obre a


ação verbal, a expectativa/intenção daquilo que é c/nhecido
pelo interlocutor, bem como, daquilo que pretende tfausar so­
bre esse. Dessa maneira, para a existência da efiunciação,
iminentemente social e relação, faz-se imperativa a ocorrên­
cia de um monólogo interior que, mesmo socialmente demar­
cado, atua obrigatoriamente antes da resposta verbal pública.
O outro aspecto de distinção entre Bakhtin e Skinner
reside no que está por detrás da utilização do termo “contex­
to”. Para o primeiro autor, o contexto de produção verbal é
social, contudo, subsidiado necessariamente pelas relações
econômicas e de classe, uma vez que produz sua teoria a

INDEX
partir de um referencial materialista dialético. Ainda nesse
âmbito, o contexto que fornece elementos com os quais o su­
jeito se integra para construir a si e o mundo ao seu redor, é
ideológico, implicando que a “palavra” nunca é neutra. Em
Skinner, a marca econômica, de classe e a ideológica não fa­
zem parte obrigatoriamente da análise do comportamento ver­
bal, sendo elementos que apenas podem constituir parte do
contexto de produção verbal.

BOOKS C o n c lu s ã o

A partir de parte dos elementos discutidos ao longo do


presente capítulo, pode-se concluir que existem pontos que
permitem a aproximação entre a Análise do Comportamento e
a Sociolingüística, sobretudo, quando tem-se em vista Skinner
e Bakhtin.

GROUPS
Podemos verificar que os dois autores, mesmo com di­
ferenças epistemológicas, buscam, sobretudo a história de
relações que os sujeitos mantêm com seu ambiente sócio-
cultural (e portanto verbal). Assim os conceitos de “interação
verbal” e de “episódio verbal” , embora tenham suas
especificidades, são definidos como ações que são aprendi­
das e mantidas por meio de relações interindividuais, impli­
cando na necessidade de haver ao menos dois sujeitos em
interação.
Esse conceitos, se definem também pelo fato de serem
dinâmicos, produzindo e sendo produtos das mudanças que
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criam com sua ocorrência. Com isso, implicam na busca dos


elementos sócio-hitórico-culturais do contexto de produção
verbal para seu estudo, em detrimento dos aspectos lingüísticos
formais.
Para além daquilo que nos propomos, pode-se indicar
que trabalhos de aproximação entre a Psicologia e a Lingüís­
tica podem auxiliar aos dois campos incrementando seus ins­
trumentos de análise. Essa afirmação se deve ao fato de que
a língua pode ser compreendida como um conjunto de práti­
cas verbais de uma comunidade verbal - tornando-se o cam­
po da lingüística (Calvet, 2002) -, mas também, podendo ser
vista como o fazer verbal de sujeitos socialmente organiza­

INDEX
dos, sendo que cada indivíduo (Abib, 1997).

R efer ê n c ia s
ABIB, J.A.D. (1997) Teorias do Comportamento e Subjetividade na
Psicologia. São Carlos: Editora da UFSCAR.
BAKHTIN, M. (VOLOCHINOV, V.N.) (1986). Marxismo e Filosofia da
Linguagem: problemas fundamentais do método sociológico

BOOKS
na ciência da linguagem. São Paulo: Hucitec, 3a edição. (Ori­
ginal publicado em 1929)
CALVET, L.J. (2002) La Sociolinguistique. Paris: Presses
Universitaires de France, 4- edição. (Original publicado em
1993)
DORNA, A. (2005) Skinner et I’utopie sociale. Le Journal de Thérapie
Comportamentale et Cognitive, v. 15(1), p.5-14.
SKINNER, B.F. (1957) Verbal Behavior. New York: Appleton Century
Crofts.
GROUPS
SKINNER, B.F. (1969) Contingencies of Reinforcement: a theohcal
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SKINNER, B.F. (1976) Particulars of my Life. New York: Knopf.
SSKINNER, B.F. (1979) The Shapping of a Behaviorist: part two of
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VARGAS, E. (1991). Verbal Behavior: a four-term contingency relation.
In.: Ishaq, W. (Ed.) Human Behavior in Today's World. New
York: Praeger, p.99-108.

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Um d iá l o g o e n t r e F reud e S k in n e r :

DOS SONHOS AO PROBLEMA DA


CONTINGÊNCIA

Ernani Henrique Fazzi


FAME-BH, UFMG

Guilherme Massara Rocha


UFMG

INDEX I n tr o d u ç ã o

Quando o assunto é a interpretação de sonhos, um dos


primeiros nomes que nos vêm à cabeça é o de Sigmund Freud,
já que ele desbravou esse campo de investigação e publicou
livros e artigos que se tornaram verdadeiros clássicos. Entre­
tanto, poucos sabem que B. F. Skinner deixou valiosas contri­

BOOKS
buições relativas ao tema em algumas passagens de sua obra.
Destas, há uma que incita de modo especial aqueles que se
interessam pelo diálogo entre a Análise do Comportamento e
a Psicanálise. Ela pertence a um tópico do livro “Ciência e
comportamento humano”, intitulado “Símbolos”, no qual Skinner
afirma que “Freud conseguiu demonstrar certas relações plau­
síveis entre sonhos e variáveis na vida do indivíduo. A presen­
te análise essencialmente concorda com sua interpretação.”

GROUPS
(Skinner, 1953/1994, p. 281)
A despeito das marcantes diferenças no campo dos pres­
supostos epistemológicos e éticos, Psicanálise e Analise do
Comportamento consistem em práticas articuladas ao concei­
to de contingência. As “relações plausíveis” que Skinner apro­
va no procedimento epistêmico de Freud referem-se às cone-

*Os autores agradecem a Carlos Augusto de Medeiros e Hérika de


Mesquita Sadi pelas valiosas observações que fizeram a partir da
leitura de um esboço do presente trabalho.

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xões e relações causais entre uma história individual e a inter­


pretação do sonho. Contudo, Freud disseca os sonhos, assim
como as demais formações do inconsciente - o sintoma, os
atos falhos, os chistes, o fantasiar com vistas a identificar a
estrutura, senão do comportamento, mais exatamente do dis­
curso que o comanda. Nessa investigação, Freud se depara
com o campo da contingência. Noção que em sua obra, dife­
rentemente da de Skinner, não designa a causalidade que se
descobre entre “variáveis independentes” e comportamentos.
Para Freud, as contingências em jogo na busca do sentido de
um sonho são de natureza discursiva. São significantes. Es­
ses variam, mas revelam-se “dependentes” uns dos outros,

INDEX
encadeando-se de modo a fornecerem os elementos para
discernir-lhes as leis.
Quando Skinner afirma que sua análise concorda es­
sencialmente com a de Freud, quer dizer que ambos tentam
explicar os sonhos a partir da história de vida dos sujeitos.
Não existem fórmulas para interpretar os sonhos, pois eles
dependem das experiências, daquilo que cada um viveu e está
vivendo. Todavia, se existe esta semelhança essencial entre

BOOKS
Freud e Skinner, não podemos esquecer de que também exis­
te uma diferença crucial entre os modelos por eles propostos.
Para mostrar onde reside esta diferença, podemos retomar
um trecho do primeiro parágrafo do artigo “Sobre os sonhos”,
no qual Freud discorre sobre o modo como os sonhos eram
associados a fenômenos místicos, e conclui dizendo que: “[...]
hoje apenas uma pequena minoria de pessoas cultas duvida
de que os sonhos sejam um produto do próprio psiquismo
do sonhador” (Freud, 1901/1996c, p. 655, negrito incluído).

GROUPS
Grifamos o final da citação porque é neste ponto que Skinner
vai discordar de Freud. Ele diria que não é o psiquismo do
sonhador que produz os sonhos, mas que são as contingênci­
as. Numa passagem do livro “Sobre o Behaviorismo”, que não
é específica sobre os sonhos, ele nos ajuda a entender esta
diferença de postura:

“Os outros dinamismos ou mecanismos de defesa freudianos


podem ser tratados da mesma maneira. Eles não são pro­
cessos psíquicos que ocorrem nas profundezas da men­
te, consciente ou inconsciente; são os efeitos de contin-

55
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gências de reforço, quase sempre envolvendo punição.”


(Skinner, 197411995b, p. 136, negrito incluído)

“Contingência” é um dos principais conceitos do siste­


ma skinneriano. Skinner está sempre em busca das contin­
gências. Por quê? Cabe definirmos o que é uma contingência
e apontar algumas de suas implicações analíticas e práticas.

O PROBLEMA DA CONTINGÊNCIA

Contingência é uma relação de dependência entre aquilo


que um sujeito faz e o que acontece em seu ambiente. São
nestas relações que Skinner buscará as condições nas quais

INDEX
os comportamentos ocorrem. Se perguntarmos a uma pessoa
qual o seu nome, por exemplo, ela responderá: “Pedro”. A res­
posta “Pedro” dependeu, entre outras coisas, da pergunta fei­
ta e de uma história na qual esta pessoa aprendeu a falar tal
palavra, recebendo atenção ou reprovação de acordo com o
que falou. No caso do nome próprio, ele é acompanhado des­
de cedo (antes mesmo do nascimento) por uma multiplicidade
de contingências. Imaginemos que “Pedro” era o nome do avõ

BOOKS
materno desse sujeito e que eles jamais se encontraram, pois
o avô faleceu há muitos anos. Por que será que lhe deram
esse nome? O nome carrega expectativas, cobranças? Será
que os pais tinham consciência dos motivos dessa escolha?
Provavelmente não. Há uma dificuldade para “re-arranjar” tais
contingências, porque elas transcendem o nível de compre­
ensão de toda a família, mas mostram seus efeitos naquilo
que cada um faz e fala. As contingências operam em três ní­
veis: filogenético, ontogenético e cultural.

GROUPS
Ao afirmar que “uma análise rigorosa mostra que, de
modo algum, a palavra é a unidade funcional” (Skinner, 1953/
1994, p. 101), Skinner adota um procedimento epistemológico
diferente daquele de Freud, para quem a palavra “Pedro”, por
exemplo, consiste numa unidade constitutiva de uma estrutu­
ra discursiva. Se, por um lado, podemos aventar que Skinner
e Freud partiam da pressuposição da exterioridade da lingua­
gem ao sujeito e nela reconheciam a ação de contingências
claramente determinantes de comportamentos, Freud, entre­
tanto, reconheceria a funcionalidade em jogo na linguagem,

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mesmo em seus elementos mais discretos: a palavra e a letra.


Em termos skinnerianos, a funcionalidade da linguagem cos­
tuma ser perpassada, simultaneamente, por contingências
reforçadoras e punitivas, ou seja, para Skinner as contingênci­
as vêm primeiro.
Contingência é um conceito que oferece à Análise do
Comportamento uma plasticidade semelhante àquela dada à
Psicanálise pelo conceito de “pulsão” . São as relações
contingenciais que criam aquilo que se pode chamar, em Psi­
canálise, de “um curto-circuito no comportamento, expresso
na figura de um sintoma”. Esta foi a grande tentativa de Skinner;
entender o que uma pessoa faz a partir de sua interação com

INDEX
o ambiente, lembrando que o conceito de ambiente possui um
sentido amplo, e pode ser dividido em externo (físico e social)
e interno (biológico e histórico). (Cf. Todorov, 2007)

C o n t in g ê n c ia , com po rtam ento e interpretação dos


so nho s

Por que Skinner tratou os sonhos como comportamen­

BOOKS
tos? Porque para ele, comportamento é qualquer ação do su­
jeito, manifesta ou encoberta, inata ou aprendida; e que de­
pende de todas as nuances do contexto que a envolve e afeta.
Para sonhar, dependemos de um aparato orgânico resultante
do processo de evolução da nossa espécie, mas que não é
suficiente para produzir os sonhos, ou seja, os sonhos depen­
dem do cérebro, mas não apenas dele. O sonhador precisa
ser inserido numa cultura e nela viver uma história na qual
aprenderá a perceber coisas na ausência de determinados

GROUPS
estímulos externos. Exemplo: podemos agora fechar os olhos
e visualizar um cenário qualquer, com seus prazeres, perigos
etc. Da mesma forma que o devaneio, o sonhar é uma ativida­
de encoberta adquirida a partir do contato que o sujeito esta­
belece com seu ambiente. Quando dormimos, continuamos a
nos comportar sob a influência de nosso passado e presente.
O sonho é o melhor exemplo de comportamento durante o
sono. Para entendê-lo, seguimos o mesmo caminho usado
para os comportamentos manifestos: buscamos as contingên­
cias. Maiores informações sobre as razões pelas quais os so-

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INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

nhos são considerados comportamentos podem ser encon­


tradas em: Araújo, Oliveira, Piccoloto, Magrinelli e Szupszynski,
2004; Bachtold, 1999; Conte, 2001; Delitti, 2001; Ferreira, 2006;
Guilhardi, 1998; Melo e Silva, 2000; Vandenberghe, 2004;
Vandenberghe & Pitanga, 2007.

/... Meu amigo R. era meu tio. - Eu tinha por ele um grande
sentimento de afeição.

II. Vi seu rosto diante de mim, um tanto modificado. Era como


se tivesse sido repuxado no sentido do comprimento. Uma
barba amarela que o circundava destacava-se de maneira

INDEX
especialmente nítida. (Freud, 1900/1996a, p. 172)

Este é o “conteúdo manifesto”, o sonho que veio à ca­


beça de Freud antes de ser submetido à análise. Equivale ao
sonho que um paciente traz para o consultório. O que fazer
com este material? Primeiro, Freud descreveu o contexto no
qual sonhou. Ele ficou muito alegre quando soube que fora
indicado para o cargo de professor, mas logo começou a pon­
derar suas expectativas, pois outros colegas receberam se­

BOOKS
melhante indicação e não foram nomeados. Freud conversou
com um desses colegas, chamado R., que assim como ele
era judeu, e no dia seguinte teve o referido sonho. R. apare­
ceu no sonho como sendo o tio de Freud. E Freud encontrou
com R. no dia anterior ao sonho. Deparamo-nos aqui com uma
instância daquela semelhança essencial entre os modelos
interpretativos propostos por Freud e Skinner: o sonho depen­
de da história do sonhador. R. só apareceu no sonho porque,
entre outras coisas, Freud o conhecia, encontrou com ele um

GROUPS
dia antes, e corria o risco de não ser nomeado para o cargo,
assim como R. não foi.
Freud buscou o sentido de cada elemento do sonho na
sua própria história, começando pela palavra “Tio”. O primeiro
nome que lhe veio à cabeça foi o do seu Tio Josef. E o que se
lembrou? Que trinta anos antes seu tio praticou uma
desonestidade e foi punido. O pai de Freud, irmão de Josef,
ficou atormentado e sempre se desculpava dizendo que ele
não fez aquilo por maldade, mas por burrice. Freud racioci­

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nou: se R. é o Tio Josef, e se Josef é burro, então R. é burro.


Freud ficou assustado. Por que deveria pensar que R. é bur­
ro? Isto seria muito desagradável. Agora, como Skinner avali­
aria este momento da interpretação freudiana? Cada fragmento
do sonho, que Freud recortou e procurou suas respectivas
associações, pode ser considerado uma “resposta”. Esta é uma
das palavras mais usadas pelos analistas do comportamento.
Existe uma diferença, que nem sempre é evidenciada, entre
“resposta” e “comportamento”. Falamos em “resposta” quan­
do pensamos na ação do sujeito, didaticamente isolada. A ima­
gem do Tio Josef é uma resposta. “Comportamento” é a res­
posta mais o contexto ambiental em que ocorre, se possível o

INDEX
contexto antecedente e conseqüente.
Por mais que o senso comum tenha o equivocado hábi­
to de relacionar um único estímulo a uma única resposta, sa­
bemos que as relações comportamentais são muito mais com­
plexas. No caso da resposta “Tio Josef”, não existe um único
estímulo capaz de trazê-la à tona incondicionalmente. Assim
como Freud, Skinner acredita que os elementos do sonho pos­
suem múltiplos determinantes. Skinner chamou esta rede de

BOOKS
influências de “causação múltipla”, e Freud a chamou de
“sobredeteminação” . No livro “O comportamento verbal”,
Skinner esclareceu esta característica dos comportamentos
em geral:

“De nosso estudo sobre as relações funcionais do comporta­


mento verbal emergem dois fatos: 1) a força de uma única
resposta pode ser, e usualmente é, função de mais de uma
variável e 2) uma única variável costuma afetar mais de uma

GROUPS
resposta.” (Skinner, 1957/1978, p. 273)

Articular variáveis e respostas pressupõem o estabele­


cimento de “inferências”. Freud descrevia o processo de
sobredetermínação nos sonhos para discernir suas regras de
funcionamento. Pode ser que Skinner recusasse tais
inferências freudianas por saber que elas ultrapassam a pos­
sibilidade de confirmação empírica. Mas para Freud, o efeito
que elas produzem a posteriori sobre o discurso e o sintoma
do paciente é que sustenta o valor de verdade que portam. A
interpretação analítica, como disse Tânia Rivera, tem efeito

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de corte e, com Lacan, é algo feito para “produzir ondas” (Rivera


apud Rocha, 2008, p 9).
Por mais que Skinner se apoiasse na pesquisa produzi­
da em laboratório, uma parcela significativa da sua obra é de
caráter “interpretativo” ou “filosófico”, e não experimental. Para
sermos mais claros, o que Skinner temia eram as “ficções
explicativas”, e não a interpretação em si. Ao contrário de ou­
tros behavioristas, que influenciados pelo operacionismo e pelo
positivismo lógico adotaram um critério de verdade baseado
na concordância entre observadores, Skinner preferiu um cri­
tério pragmático de verdade, sustentado na possibilidade de
intervenção decorrente do conhecimento.

INDEX C o n t in g ê n c ia , ling uag em e r e fo r ç a m e n to .

Podemos agora falar de outro elemento do sonho: o rosto


alongado e a barba. Freud se lembrou que o Tio Josef tinha
um rosto como aquele, coberto por uma barba loura. A barba
de R. também possuía esta coloração. Para Freud, o rosto
que ele viu no sonho era ao mesmo tempo de seu amigo R. e

BOOKS
de seu Tio Josef. Este seria um exemplo de “condensação”,
um dos mecanismos que participam do trabalho do sonho. O
que um analista do comportamento pensa a esse respeito?
Em vez de falar que existe um mecanismo psíquico chamado
“condensação”, ele prefere dizer, lembrando a primeira parte
daquela definição de “causação múltipla”, que "a força de uma
única resposta pode ser, e usualmente é, função de mais de
uma variável”. Em outras palavras, aquilo a que os psicanalis­
tas chamam de “condensação” seria para o analista do com­

GROUPS
portamento uma inferência que fazemos quando partimos da
resposta e chegamos aos seus múltiplos determinantes, sem
nos esquecermos daqueles estímulos cuja função controladora
decorre de um processo de generalização. Skinner evitou
inferências nos moldes freudianos porque temia que intérpre­
tes desavisados pudessem tomar a inferência como entidade
concreta, interrompendo a busca pelas causas reais. O meca­
nismo do “deslocamento” corresponderia à segunda parte da
definição, quando “uma única variável costuma afetar mais de
uma resposta, e a resposta menos passível de sofrer punição
é emitida.
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Na seqüência da interpretação de seu sonho, Freud


continuou surpreso com a associação entre R. e o Tio Joseí.
Não podia ser apenas isto. Não bastava pensar que R. á bur­
ro. Ele também via seu tio como um criminoso. Mas R. pos­
suía bom caráter. Foi aí, ao pensar no caráter, que ele se lem­
brou de outra conversa que teve dias antes, com outro amigo,
N., que também fora indicado para o cargo de professor, mas
não foi nomeado. N., também judeu, explicou que sua indica­
ção não ocorreu porque havia um processo contra ele na jus­
tiça. Ele alegou que a situação poderia ser diferente para Freud,
porque via em Freud um caráter inabalável. Com isto, Freud
entendeu melhor o sentido daquelas imagens:

INDEX
‘‘Fora esse o método adotado por meu sonho: ele transfor­
mara um deles, R., num tolo, e o outro, N., num criminoso, ao
passo que eu não era uma coisa nem outra; assim, já não
tínhamos mais nada em comum; eu podia me regozijar com
minha nomeação para o cargo de professor [...]. "(Freud, 1900/
1996a, p. 174)

A resposta “imagem do tio Josef” é condensada (como


uma fotografia de Galton), mas o interesse de Freud não se

BOOKS
refere às demais imagens que ali se superpõem, mas aos
significantes que definem a trama do sonho. Os processos de
significação do sonho são dotados por Freud de uma autono­
mia em relação às condutas manifestas. Talvez fosse oportu­
no, nesse momento, uma breve retomada do tema relativo ao
conceito de unidade funcional. Suponhamos que uma terapeuta
se utilize da fábula do menino e o lobo com a finalidade de
inibir o comportamento de mentir de um paciente de cinco anos.

GROUPS
Toda a história (palavras, frases e parágrafos) pode ser consi­
derada uma unidade funcional, dado seu efeito sobre a dimi­
nuição da freqüência do comportamento em questão. Para a
Análise do Comportamento, é o efeito da narrativa que deter­
mina seu estatuto de unidade funcional. No caso da Psicaná­
lise, a formulação teria que ser diferente sob diversos aspec­
tos. De um ponto de vista mais teórico, a narrativa teria valor
de estrutura significante, não propriamente de significado.
Mesmo que se saiba que a fábula tem uma “moral da história”,
ou seja, uma direção de sentido. O psicanalista supõe que
não se pode dizer a priori, para sujeitos diferentes, se e como

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cada elemento discursivo vai incidir sobre eles. O “pequeno


Hans”, por exemplo, escuta uma história a respeito de um bom­
beiro e desenvolve uma fantasia de que existe um bebê na
barriga dele, que um bombeiro deveria tirá-lo de lá. De uma
fábula, por assim dizer, ele extrai um elemento, um significante,
que reaparece numa formação do inconsciente como o fanta­
siar infantil. Mas, talvez, outra diferença crucial seja a ética.
Dificilmente, para a Psicanálise, o recurso a uma narrativa seria
compreendido como uma ferramenta clínica para intervir na
modificação de um comportamento como o mentir. Lacan brin­
cava que aquele que mente diz sempre a verdade1. Isso quer
dizer que, psicanaliticamente, a mentira só pode ser abordada

INDEX
sem referência à norma, ou seja, à obrigatoriedade de dizer a
verdade. A Psicanálise pressupõe que toda relação de um in­
divíduo com a linguagem é distorcida. Então, a proposta da
Psicanálise seria menos de retificar essas distorções, e mais
de investigar seus sentidos, suas origens e desdobramentos.
Talvez para a Psicanálise a palavra “comportamento” seja ex­
cessivamente carregada de conteúdo moral, teleológico; e não
combina bem com uma ética que não é prescritiva, que não
tem como miragem a funcionalidade adaptativa da conduta,

BOOKS
mas algo muito diferente disso. Não custa ressaltar que o uso
de uma palavra não corresponde ao uso de um mesmo con­
ceito: “comportamento” não significa a mesma “coisa” para
freudianos e skinnerianos.
Retornando ao sonho de Freud, o Tio Josef é conside­
rado um “cabeça fraca” (tête faible): na Psicanálise, o rearranjo
da imagem é comandado pela função da linguagem. Assim,
as imagens oníricas têm importância secundária. A operação

GROUPS
1 Freud, no livro dos chistes, lembra o paradoxo verdade/mentira
contido na anedota: “Dois judeus encontraram-se num vagão de
trem em uma estação na Galícia. ‘Onde vai?’ perguntou um, ‘À
Cracóvia’, foi a resposta. ‘Como você é mentiroso!’, não se conteve
o outro. ‘Se você dissesse que ia à Cracóvia, você estaria querendo
fazer-me acreditar que estava indo a Lemberg. Mas sei que, de
fato, você vai à Cracóvia. Portanto, por que você está mentindo pra
mim?” Aqui Freud quer fazer destacar que, numa estrutura narrativa,
é possível que alguém esteja “mentindo quando fala a verdade e
fale a verdade por meio da mentira”. (Freud, 1905/1996b, p. 113)

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de distorção da imagem do Tio Josef é comandada pelo


significante “cabeça fraca”. Um significante do Outro, do pai
de Freud. Esse significante, por representar um sujeito para
Outro significante, comanda as operações metafóricas e
metonímicas do sonho. O vínculo entre os significantes “Tio
Josef’ e “amigo R.” é dado pela irrupção do significante “bur­
ro”. “Burro” e “criminoso” são os significantes que, por deslo­
camento, advêm de “cabeça fraca”. Também comandam a
função onírica. Aparentemente o sonho realiza o desejo de
Freud de, não sendo burro nem criminoso, estar à altura de
uma “nomeação”. Ele seria nomeado Professor-extraordiná-
rio e “reforçado” por isso, tornando-se um “semi-deus” aos
olhos de seus pacientes. Mas, quanto ao desejo, ele deve ser

INDEX
localizado para além da empiria do comportamento manifes­
to. O desejo que se imiscui no sonho, ainda que jamais possa
ser completamente revelado, aqui se mostra claramente liga­
do ao Complexo de Édipo e ao Nome-do-pai. O sonho pode
ser referenciado no âmbito da questão do reconhecimento
paterno, da filiação e da nomeação no sentido mais profundo
do termo. Mas a palavra “nomeação" deve aqui ser observada
em seu sentido próprio. O sonho é um paradigma do caráter

BOOKS
inominável do desejo, por isso mesmo, às voltas com sua no­
meação (a frase de R: “agora pelo menos eu sei onde eu es­
tou”; essa é a frase que liga o sonho ao desejo). Todo sonho
expressa o fato de que a nomeação do desejo é essencial­
mente vacilante.
Numa visão skinneriana, o principal modelo adotado para
entendermos um comportamento operante é o da tríplice con­
tingência, e ele abarca a noção lacaniana de significante. O

GROUPS
comportamento é uma função de contingências passadas e
presentes: “significante para outro significante”. No futuro, se­
ria válido explorar possíveis relações entre os conceitos de 1)
“comunidade verbal” e “Outro”, 2) “ouvinte” e “outro", 3) “uni­
dade funcional” e “significante”, e 4) “classe de respostas” e
“traço unário”. Este esforço não pode se limitar a simplesmen­
te traduzir conceitos de um sistema para a linguagem de seu
vizinho, o que seria absurdo, pois “um termo, ou mesmo uma
noção, pode pertencer a dois espaços do saber distintos, mas
um conceito teórico só se define por referência a um campo
teórico específico.” (Garcia-Roza, 2003, p. 13)

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C o n t in g ê n c ia , a d a p t a ç ã o e d e s e j o

O conteúdo do sonho que vêm à nossa cabeça quando


acordamos é diferente daquele que a análise revela. A per­
gunta é: para um analista do comportamento, como o “conteú­
do latente” é transformado em “conteúdo manifesto”? Ele diria
que aquilo a que os psicanalistas chamam de “conteúdo laten­
te” se refere às variáveis das quais a resposta é função, e o
“conteúdo manifesto” são as respostas propriamente ditas.
Voltamos àquela semelhança e àquela diferença que aponta­
mos entre os dois autores: eles buscam respostas na história
dos sujeitos, mas Skinner evitou utilizar certas metáforas ou
inferências que Freud soube aproveitar muito bem. Abrindo

INDEX
um parêntese, o temor skinneriano de que a análise se perca
com o uso de ficções explanatórias é válido, mas apenas para
o leitor ingênuo e incapaz de entender que a função dessas
metáforas é organizar os dados coletados. Isto faz parte do
processo de construção teórica. Os dados carecem de elabo­
ração, de sentido. E existem “inferências” e “inferências”. Freud,
profundo conhecedor da neurologia de sua época, sabia que
não há dentro da cabeça das pessoas uma espécie de

BOOKS
homúnculo que articula as operações mentais e que nossos
atos surgem como epifenômenos. Os conceitos que Freud
criou, desde que bem compreendidos, funcionam como ata­
lho para esse processo de investigação das relações que o
sujeito vivência, e não como barreira.
De volta ao sonho, quando Freud afirma que viu, na
figura do seu tio, R. como um tolo e N. como um criminoso,
porque assim ele poderia evitar a conclusão de que sua no­

GROUPS
meação fracassaria pelo fato de ser judeu, ele estava se com­
portando em função de contingências de reforçamento e puni­
ção. Segundo Skinner:

“Um símbolo, tal como o termo foi usado por Freud na análi­
se de sonhos e da arte, é qualquer padrão temporal ou espa­
cial que seja reforçador em razão da semelhança com outros
padrões, mas que escape de punição por causa das diferen­
ças.” (Skinner, 1953/1994, p. 280)

A imagem do Tio Josef, da forma como apareceu no


sonho, é um meio-termo entre não receber a nomeação pelo
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fato de ser judeu, e ser nomeado por ser um judeu que não é
nem tolo nem criminoso. Como em qualquer situação
comportamental, a resposta que aparece é sempre a mais
adaptativa. Quem determina esta adaptabilidade são as con­
tingências, as relações de dependência que o sujeito estabe­
lece com seu ambiente, ou seja, suas experiências.
E onde fica o desejo? Qual o seu lugar na Análise do
Comportamento? O sonho aqui relatado mostra-se atravessa­
do pelo desejo de Freud de ser nomeado professor. Então,
como Skinner vê a questão do desejo? Esta discussão mere­
ce um “capítulo” à parte. Todavia, para ao menos apontarmos
um operador de leitura, usaremos as seguintes palavras, ex­

INDEX
traídas de uma literatura “não-comportamentaíista”:

“Desejo é sintoma de privação, de ausência. Não se tem


saudade da bem-amada presente. A saudade só aparecerá
na distância, quando estiver longe do carinho. Também não
se tem fome - desejo supremo de sobrevivência física - com
o estômago cheio. A fome só surge quando o corpo é priva­
do do pão. Ela é testemunho da ausência do alimento. E
assim é, sempre, com o desejo.” (Alves, 1996, p. 16, negrito

BOOKS
incluído)

O que os psicanalistas chamam de desejo seria para os


comportamentalistas a inferência de uma operação análoga à
privação, capaz de criar uma falta. “O desejo freudiano é um
artifício para representar uma resposta com uma dada proba­
bilidade de ocorrência” . (Skinner, 1953/1994, p. 355). Contu­
do, Freud acredita que o objeto do desejo não pode ser enten­
dido como um reforçador alcançável. O objeto do desejo é

GROUPS
intangível, porque o desejo, como tal, jamais é tornado consci­
ente. E na medida em que o desejo se articula na linguagem,
talvez a correlação entre desejo e “privação” seja mais delica­
da. Aqui vemos que Skinner se aproxima de uma vertente da
investigação de Freud, para quem também o mundo verbal
fornece contingências: “Todo o comportamento, seja ele hu­
mano ou não-humano, é inconsciente; ele se torna ‘conscien­
te’ quando os ambientes verbais fornecem as contingências
necessárias à auto-observação.” (Skinner, 1989/1995a, p. 88).
Mesmo que essas contingências, na obra de Freud, ao forne­

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cerem as condições para uma “auto-observação”, forneçam


ainda a determinação significante dos fenômenos do incons­
ciente. Como se pode deduzir das proposições desse traba­
lho, para Freud o inconsciente não coincide com aquele com­
portamento passível de observação externa, uma vez que as
leis que o regem são, fundamentalmente, aquelas da lingua­
gem. AAnálise do Comportamento se preocupa com o caráter
adaptativo das respostas, enquanto a Psicanálise visa justa­
mente o não-adaptativo, o inoperante, o disfuncional. Mas ela
também se interessa pela contingência, por aquilo que surge
espontaneamente no curso de um tratamento e que pode, even­
tualmente, re-configurar as experiências e os sintomas do su­
jeito. Para os analistas do comportamento, os sintomas estão

INDEX
submetidos aos mesmos princípios que regulam as ações “nor­
mais”. Isso oferece à noção de “adaptação” um sentido inclu­
sivo: o sintoma é "operante”, por mais que pareça disfuncional
e cause sofrimento.
Para concluir, o que se pretendeu evidenciar aqui é a
prodigalidade do debate entre Análise do Comportamento e
Psicanálise, com destaque para alguns dos efeitos epistêmicos,
éticos e clínicos. “O lamentável sectarismo entre as duas abor­

BOOKS
dagens parece residir muito mais em posturas preconceituosas
dos seguidores das mesmas do que em impasses conceituais. ”
(Medeiros & Rocha, 2004, p. 27)

R e fer ê n c ia s
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GROUPS

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INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

O DEBATE HOMANS - PARSONS SOBRE


A PERTINÊNCIA DE EXPLICAÇÕES
BEHAVIORISTAS NA SOCIOLOGIA

Fernanda Lima de Melo*


UFMG

INDEX George Caspar Homans é conhecido na sociologia por


sua defesa do uso dos conceitos behavioristas nas análises
de fenômenos sociológicos. Para ele, um caminho para o en­
tendimento comum no campo das ciências sociais pode se
dar pelo reconhecimento da existência de elementos funda­
mentais da ação humana. Esses elementos, para o autor são
descritos pela teoria psicológica behaviorista, como proposta

BOOKS
por Skinner. Seu posicionamento é bastante criticado na soci­
ologia (Davisand, Boulding, 1962; Deutsch, 1964; Allwood,
1973, Parsons, 1964). Com a finalidade de discutir algumas
dessas críticas, o texto a seguir trata de apresentar breve­
mente o debate entre Homans e Parsons sobre a pertinência
do uso das proposições behaviorista no campo das ciências
sociais.
Homans (1987), em seu ensaio intitulado Behaviorismo

GROUPS
e pós-behaviorismo, trata de examinar a corrente psicológica
conhecida como behaviorismo, defendendo seu uso na soci­
ologia, Para tanto, ele procede a uma explicação dos princípi­
os gerais do comportamento, distinguindo inicialmente dois
conceitos fundamentais, o comportamento respondente e o
comportamento operante e seus componentes básicos e, em
seguida faz um esforço de mostrar como tal teoria pode se
inserir no debate teórico sociológico.

*nandalimamelo@ gmail.com

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O comportamento respondente, segundo ele, é aquele


comportamento produzido automaticamente pela exposição a
um estímulo desencadeador, como o reflexo de retirar as mãos
de uma superfície quente. Esse tipo de comportamento tem
origem genética, mas pode ser condicionado por estímulos
inicialmente neutros, assim, caso se apresente, por exemplo,
um bicho de pelúcia a um bebê toda vez que se provocar um
barulho para assustá-lo, o estímulo inicialmente neutro bicho
de pelúcia será associado por condicionamento à resposta de
medo, tendo assim o poder de eliciar uma resposta de medo
mesmo sem o susto. Homans (1987) ressalta que tal tipo de
comportamento é menos importante para a sociologia do que
o comportamento operante, excetuando-se os casos de com­

INDEX
portamento emocional, característicos de uma mistura de
respondente com operante.
O comportamento operante, por outro lado não é auto­
maticamente gerado por um tipo de estímulo, ele é, na verda­
de, controlado pelas próprias conseqüências que produz. Um
comportamento exploratório qualquer, que for seguido de uma
recompensa, que pode ser um alimento (estímulo naturalmente
reforçador), por exemplo, provavelmente se repetirá por ter

BOOKS
alcançado sucesso no passado. Assim, o efeito da recompen­
sa de induzir o indivíduo a repetir o ato é, portanto, o que jus­
tifica a afirmativa de que o comportamento foi reforçado e, por
assim dizer, aprendido, pois se observa que a pessoa é capaz
de se comportar de maneira eficaz para alcançar o reforço
desejado. Como a ação não gera automaticamente um refor­
ço, a relação entre o comportamento e o estímulo que se se­
gue pode ser fortuita, podendo criar, assim, o que chamamos

GROUPS
de comportamento supersticioso. Os estímulos reforçadores,
portanto, podem ser de natureza diversa. Alguns deles são
naturalmente reforçadores como o prazer sexual, outros, como
o dinheiro, são reconhecidos como tal no processo de apren­
dizagem dos indivíduos mesmo que não tenham uma nature­
za reforçadora.
A partir da análise da aprendizagem operante, Homans
(1987) ressalta que devemos tomar o behaviorismo como uma
ciência histórica, pois as ações futuras são sempre orientadas
em função de conseqüências passadas de ações anteriores.

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Isso, entretanto não implica que as pessoas tenham sempre,


deliberadamente, um objetivo em suas ações. As ações, se­
gundo essa perspectiva, se orientam em função de conseqüên­
cias mesmo que as pessoas não estejam conscientes disso.
O autor pontua ainda a importância de se compreender
o que é o valor de um reforço. Esse conceito é uma importante
ferramenta para se analisar as escolhas, pois, em algumas
situações mesmo que o montante absoluto de um reforço seja
maior em uma das alternativas, ela pode não ser a mais esco­
lhida, pois o valor do reforço de se responder a ela pode ser
menor se comparado às outras alternativas. Para se encon­
trar o valor de um reforço deve-se descontar de seu valor ab­

INDEX
soluto o custo para alcançá-lo. Esse custo pode ser a dificul­
dade da ação que leva ao reforço ou mesmo o atraso de sua
liberação.
Para o autor, se comportar de forma que, diante de cur­
sos de ações alternativos a escolha seja feita por aquele cur­
so que tenha o maior retorno relativo (isso porque desconta­
mos sempre o custo da ação) lembra o que alguns teóricos da
sociologia ou da economia chamam de princípio da escolha

BOOKS
racional. Homans (1987), entretanto, argumenta que usar o
rótulo racional nada acrescenta ao significado das ações.
O autor argumenta que muitos cientistas sociais utili­
zam de uma explicação behaviorista e não se dão conta disso,
chamam-na de utilitarismo ou teoria da escolha racional. Es­
sas teorias, entretanto, deixariam de lado diversos elementos
da psicologia behaviorista, o que faz com que o autor as intitule
“versões despojadas do behaviorismo”. Para Homans (1967),

GROUPS
o que falta a essas teorias é a consideração sobre o processo
de aprendizagem que gera os valores que orientam a ação,
bem como a importância do caráter histórico dos comporta­
mentos.
Segundo Homans (1967) o behaviorismo e suas ver­
sões despojadas, que se dedicam à explicação do comporta­
mento individual ou social, usualmente servem às doutrinas
individualistas e a chamada doutrina teórica da “lei explicativa”.
Na doutrina individualista, as leis gerais estabelecidas pela
psicologia behaviorista servem à argumentação de que as leis

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são sempre as mesmas para qualquer comportamento, mes­


mo que os comportamentos sejam diversos e se manifestam
quando o indivíduo está sozinho e quando interage com ou­
tros no que se chama de comportamento social, assim, não
haveria nenhuma natureza distinta de funcionamento das re­
lações de grupo que não funcionariam segundo as leis
estabelecidas para o comportamento individual. Os fenôme­
nos sociais, segundo essa perspectiva seriam, então, um com­
plexo arranjo dos resultantes das ações de vários indivíduos.
Adotando uma visão de teoria, que corresponde à ado­
tada pelas ciências físicas, em que uma teoria é entendida
como um conjunto de leis explicativas que são deduzidas a

INDEX
partir de um conjunto de proposições, Homans (1987) defen­
de a posição de que as leis explicativas de todas as ciências
sociais são as leis da psicologia behaviorista, com a diferença
de que algumas dessas ciências aplicarão mais do que outras
tais leis. Dizer, portanto, que certas proposições de uma ciên­
cia decorrem, sob condições dadas, das proposições de outra
significa dizer que as primeiras são reduzidas às segundas,
assim, o autor não considera a psicologia como sendo uma

BOOKS
das ciências sociais, mas como sendo a ciência de cujas pro­
posições gerais as outras ciências sociais decorrem.
O autor ressalta que, de fato a sociologia pode ser re­
duzida à psicologia, mas que, dados alguns problemas práti­
cos, muitas vezes relacionados à agenda de pesquisa, não há
uma fusão entre essas ciências.
Para o autor, a aplicação behaviorista na sociologia será
bem sucedida se dedicar ao estudo de reguiaridades que es­

GROUPS
tão presentes em diversos grupos sociais antes de examinar
aspectos específicos de grandes sociedades, entretanto, o
autor supõe que isso nunca acontecerá, pois os cientistas bus­
carão o que lhes interessa, assim, mesmo que eles percam
em estratégia, eles ganham em motivação.
Tratando do tema das instituições, Homans (1987) defi­
ne estrutura social como qualquer traço de um grupo que se
mantêm estável no tempo. Após o surgimento dessa estrutu­
ra, pelas conseqüências das ações dos indivíduos, e a manu­
tenção dela pelo grupo, ela própria provê condições para os

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comportamentos futuros dos membros, que podem consoli­


dar essa estrutura ou fomentar uma nova. Dessa forma, am­
bos processos nos quais os indivíduos influenciem a forma­
ção das instituições e as instituições, por sua vez, influenciem
o comportamento dos indivíduos, podem ser explicados pelos
mesmos princípios behavioristas. O autor admite, entretanto,
que a explicação da formação de grandes instituições é mui­
tas vezes impossibilitada de ser realizada a partir da utilização
das proposições comportamentais, mas argumenta que isso
se deve à falta de informações pertinentes.
Nesse sentido, o autor ressalta que uma das dificulda­
des da aplicação dos princípios behavioristas à sociologia re­

INDEX
sulta do fato de o behaviorismo ser uma ciência histórica, em
que contam para sua explicação tanto as condições atuais
quanto os acontecimentos passados. A sociologia conhece
muito das condições atuais, mas tem pouco acesso às infor­
mações sobre as condições passadas para explicar o com­
portamento atual.
O autor conclui seus argumentos afirmando que as mais
diversas escolas em sociologia, excetuando-se a sua, costu­

BOOKS
mam não esclarecer suas leis explicativas, sendo
teoreticamente débeis. Se tais teorias não conseguem esta­
belecer princípios gerais, a comparabilidade entre elas fica di­
ficultada, dando a impressão de que elas são radicalmente
diferentes, o que é um erro, segundo o autor. Para ele, caso
as teorias fizessem o esforço de formalizar suas proposições
em termos de uma explicação behaviorista, mesmo que isso
seja feito apenas uma vez, pois não seria preciso recorrer todo

GROUPS
tempo a uma explicação dos princípios mais básicos, elas
descobririam que fazem uso dos princípios da psicologia
behaviorista e, a partir daí seria possível reconhecer as apro­
ximações das teorias.
Dessa forma, Homans (1987) afirma que tal busca por
leis explicativas, que as teorias tenham em comum, nada afe­
ta na devoção às diferentes áreas de pesquisa empírica. Tal
empreendimento, de utilizar a psicologia behaviorista não só
como fornecedora de premissas gerais pra a explicação de
fenômenos empíricos como também na forma de um guia geral
para a natureza da explicação nas ciências sociais, teria como

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objetivo a criação de uma unidade intelectual na disciplina,


entretanto, o próprio autor admite que a implementação de
seu projeto está longe de acontecer, pois os membros das
diversas escolas teriam muita vaidade em suas diferenciações
para renunciarem a elas.
Parsons (1964) em seu artigo intitulado Leveis of
organization and the mediation of social interaction tem por
objetivo construir uma critica à obra de Homans por estar limi­
tada aos aspectos, ditos elementares, do comportamento so­
cial, que são definidos como processos de ação e interação
face-a-face que envolvem apenas um pequeno número de
pessoas desinstitucionalizadas. Tal estudo com pequenos gru­

INDEX
pos, que estariam representando uma pequena escala dos sis­
temas sociais, tem como objetivo a discussão da relevância
de princípios psicológicos, para o comportamento social, que
seriam generalizáveis a ponto de cobrir a explicação de todos
os sistemas sociais em quaisquer níveis.
Para Parsons (1964), um dos grandes problemas da
teoria em questão é que ela, apesar de se pretender geral,
chegando a sugerir o reducionismo da sociologia à psicologia,

BOOKS
não consegue sucesso em mostrar como tais princípios psi­
cológicos poderiam ser úteis na explicação de níveis macro
sociais. Um dos erros então estaria na generalização de sua
doutrina para a sociologia como um todo.
Além disso, o autor considera errônea a pouca relevân­
cia dada por Homans às diferenças entre os comportamentos
dos ratos de laboratório estudados por Skinner e o comporta­
mento humano, que, segundo o autor, são de vital importân­

GROUPS
cia, tanto quando se considera o aspecto psicológico quanto
quando se considera o sociológico. A economia, por exemplo,
seria uma teoria muito mais abstrata, com alto grau de especi­
alização na organização social, que tais princípios elementa­
res do comportamento não poderiam explicar. Assim, apesar
do argumento de Homans de que o dinheiro seria um reforçador
generalizado, por possuir a propriedade de poder ser trocado
por diversos objetos, a existência do mercado e dos proces­
sos institucionalizados que promovem seu controle são ferra­
mentas indispensáveis para a explicação do uso do dinheiro.

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Dessa forma, Parsons sugere que, nas mais diversas


esferas do comportamento em sociedades organizadas, po­
demos encontrar problemas complexos que não podem ser
resolvidos simplesmente com a adoção dos princípios elemen­
tares do comportamento.
Parsons critica a facilidade com que Homans equipara
dinheiro e aprovação social como simples espécies de refor­
ço, chamados generalizados por não possuírem valor intrín­
seco como um alimento, por exemplo. Para o autor, entretan­
to, elementos como a aprovação social e o dinheiro seriam
meios generalizados de interação simbólica, que devem ser
tratados de forma diferenciada em relação aos outros tipos de

INDEX
reforços, na linguagem homansiana. Os meios simbólicos,
nesse sentido não poderiam ser tratados como elementares.
Para o autor tais meios simbólicos só puderam desen­
volver uma função em um sistema social organizado, portan­
to, a distinção entre tais meios e os reforçadores, comuns aos
comportamentos animais, deveria ter sido privilegiada na obra
de Homans, que negligencia a explicação das condições
organizacionais a partir das quais tais meios simbólicos pude­

BOOKS
ram ocupar um papel tão importante para o comportamento
humano.
Por fim, Parsons (1964) diz concordar com Homans no
sentido de que existem princípios elementares que governam
o comportamento dos organismos em geral e, que governam
o comportamento dos homens, entretanto, ressalta a impor­
tância da distinção de um nível cultural de organização da vida
em sociedade, que torna o comportamento humano diferente

GROUPS
daqueles exibidos por ratos ou pombos de laboratório. Além
disso, ele considera a importância da divisão analítica dos
subsistemas cultural, psicológico, sociológico e orgânico, os
quais Homans insiste em reduzi-los ao psicológico que é co­
mum tanto aos animais quanto aos homens em qualquer nível
de interação.
Em um comentário sobre a crítica de Parsons, Homans
(1964) defende sua teoria afirmando que o autor estava equi­
vocado em sua interpretação de alguns elementos cruciais.
Os principais pontos de debate entre os autores são a questão

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das expressões utilizadas, a visão sobre a economia e a expli­


cação sobre a emergência das instituições sociais.
Justificando sua utilização do termo elementar, Homans
(1964) admite que tal expressão não parece ser a melhor pos­
sível, mas na ausência de um termo específico que designas­
se os comportamentos sub-institucionais, essa foi a melhor
expressão encontrada. Ressalta ainda que tal expressão não
é um conceito operativo na teoria como o valor, por exemplo,
assim, mesmo que eta fosse eliminada, os argumentos teóri­
cos permaneceriam intactos. Sobre o termo psicológico, o autor
declara que, sua utilização se deve ao fato de que as proposi­
ções presentes em sua teoria foram formuladas por pessoas

INDEX
intituladas psicólogas, entretanto, a importância dessas pro­
posições é que elas tratam do comportamento dos indivíduos
tanto quando se comportam sozinhos, quanto em situação de
interação.
Em relação à querela sobre os princípios econômicos,
o autor diz haver certa tensão na critica de Parsons à sua teo­
ria. Primeiramente Parsons parece tratar o comportamento
econômico como apenas aquele que envolve o uso do dinhei­

BOOKS
ro, Homans, por outro lado, considera como econômico ou­
tros tipos de comportamento como o de uma pessoa que te­
nha conhecimentos escassos sobre algo e que oferece ajuda
a outra pessoa que necessita de tais conhecimentos e recebe,
em troca de sua ajuda, prestígio e aprovação social. Para o
autor tal situação estaria perfeitamente de acordo com a lei
econômica da oferta e da demanda, sem, entretanto, envolver
o dinheiro.

GROUPS
Parsons (1964) ainda ressalta que não seria possível
utilizar uma explicação psicológica para o uso do dinheiro, pois
para isso seria crucial lançar mão de elementos institucionais
como o mercado. Homans (1964) se defende dizendo que
nenhuma psicologia pode explicar a origem do dinheiro ou dos
mercados por falta de informações históricas das condições
de surgimento de tais elementos. Dessa forma, o autor argu­
menta que as proposições psicológicas do behaviorismo seri­
am suficientes para a explicação do surgimento de padrões
chamados institucionais, desde que se possa recorrer às in­
formações históricas e, chega a desafiar seus críticos a for­

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mular uma explicação dedutiva sobre a origem de qualquer


instituição sem recorrer a proposições psicológicas.
Finalmente, outro ponto em que Parsons (1964) critica
a teoria de Homans é quando o primeiro autor afirma a carên­
cia de uma distinção de alguns elementos que possuem uma
dimensão simbólica, nas proposições de Homans para o com­
portamento social. Para Parsons os elementos sociais como o
dinheiro ou a aprovação social não poderiam ser comparados
com os elementos reforçadores comuns aos homens e aos
animais, como é o caso dos alimentos, pois aqueles teriam a
propriedade de funcionarem como meios simbólicos em um
ambiente cultural.

INDEX Homans, em seu comentário sobre a crítica de Parsons,


não se ateve a este ponto, mas é importante considerar certo
equívoco nas considerações do autor sobre tal aspecto pecu­
liar dos chamados elementos simbólicos. Homans não veria
problema algum se qualquer pesquisador empreendesse um
esforço de categorizar os mais diversos tipos de reforços pre­
sentes em um ambiente social, isso porque, a intitulação de
simbólico não retiraria a propriedade de tal elemento ser um

BOOKS
reforçador e atuar de forma a aumentar a probabilidade de
ocorrência do comportamento em um contexto semelhante.
O equívoco parsoniano estaria, portanto, em perder de
vista a idéia de que as proposições da teoria que pretende
criticar tratam dos mecanismos gerais da ação, independente
de seus conteúdos. É, portanto, insuficiente utilizar os argu­
mentos da semântica para criticar o que faz parte da sintaxe.

GROUPS R e fer ên c ias


Allwood, J. (1973) The Concepts of Holism and Reductionism in
Sociological Theory.Research report no 27, Göteborg
University, Department of Sociology.
Davisand, J. A., Boulding, K. E. (1962). Two critiques of Homans'
Social Behavior: Its Elementary Forms. American Journal of
Sociology, v.67, 4.

77
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Homans C. G. (1987). Behaviorism and After. Em Giddens and Turner


(eds) Sociology Today. Stanford University press 1987.
Homans, G. C.(1964) Commentary. Sociological Inquiry, vol XXXIV,
no.2.
Homans, G. C. (1967 a). Fundamental Social Processes. Pp 27-78
in Neil J. Smelser, ed., Sociolgy.New York: Wiley & Sons.
Parsons, T. (1964). Levels of Organization and the mediation of Social
Interaction. Sociological Inquiry, vol. XXXIV, no. 2.
Deutsch, M. (1964). Homans in the Skinner Box. Sociological Inquiry,
vol XXXIV no. 2.

INDEX
BOOKS
GROUPS

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D e s e n v o lv im e n to e m o d ific a ç ã o de
PRÁTICAS CULTURAIS1

João Cláudio Todorov


Universidade Católica de Goiás e Instituto de Educação Superior de
Brasília

Ana Karina Curado Range! de-Farias


UnB, Centro Universitário de Brasília e IBAC

INDEX Os temas sociais têm sido alvos de interesse de analis­


tas do comportamento já há algum tempo (Botomé, 1981;
Ferreira, & Botomé, 1984; Hake, & Vukelich, 1972; Keller, &
Schoenfeld, 1950/1971; Malagodi, 1986; Melchiori, 1987;
Mithaug, & Burgess, 1967; Skinner, 1948/1973, 1953, 1971/
1992), Apenas para registrar um documento recente desta
afirmação, o Volume 4 da presente coleção de livros (“Ciência

BOOKS
do Comportamento: Conhecer e Avançar”) trouxe textos refe­
rentes a apresentações na IV Jornada Mineira de Análise do
Comportamento, realizada em 2003, em Belo Horizonte. Fica
claro já no Prefácio, quando a Professora Adélia Maria S.
Teixeira faz um tributo póstumo à dona Carolina Martuscelli
Bori, o grande interesse da Análise do Comportamento em
tornar-se “uma ciência forte e influente nos demais campos
de investigação científica” (p. vii). A Profa. Dra. Carolina, den­

GROUPS
tre suas inúmeras contribuições à Análise do Comportamen­
to, e à Psicologia como um todo no Brasil, já na década de 70,
discutia um importante procedimento para melhor planejar o
processo de ensino-aprendizagem2, procedimento este que

1 Conferência de abertura da VII Jornada Mineira de Análise do


Comportamento, realizada na Universidade Vale do Rio Doce,
Governador Valadares - MG.
2 Deve-se citar aí, obviamente, a influência do trabalho de Fred S.
Keller, com seu Sistema Personalizado de Ensino - PSI (e.g., 1968).

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se mostrava útil para o planejamento/programação de contin­


gências comportamentais. Dos demais 17 textos que compõem
o volume em questão, seis têm relação direta com o que se
denomina “responsabilidade social”, tema bastante em voga
atualmente em nossos diversos meios de mídia.
O Behaviorismo Radical defende uma ciência comprome­
tida com o estabelecimento de relações adaptativas com os mei­
os biológicos, físicos e sociais, sempre respaldadas na seleção
de comportamentos e práticas culturais (Glenn, 1986,1988,2004;
Martinelli, & Chequer, 2004; Moreira, Martone, & Todorov, 2005;
Skinner, 1953; Todorov, 2006). Isto nos remete ao conceito de
três níveis de variação e seleção por conseqüências, base da

INDEX
análise skinneriana (Skinner, 1981). A seleção por conseqüênci­
as é mais conhecida no nível biológico (com autores como Darwin,
Mendel e Dobzhansky), quando nos deparamos, por exemplo,
com a explicação para mutações genéticas e a extinção de dife­
rentes espécies (e.g., dinossauros). Menos conhecida no nível
comportamental, que trata de variações e seleções que ocorreri­
am na relação de um organismo individual e seu ambiente espe­
cífico (estudo representado por autores como Thorndike e
Skinner). Este segundo nível poderia explicar a aquisição e pos­

BOOKS
terior extinção de respostas tais como chupar o dedo, choramin­
gar, queixar-se, etc., ao longo das etapas de desenvolvimento de
um indivíduo (infância, adolescência, idade adulta e velhice). O
terceiro nível, o cultural, no qual poderíamos citar Homans, Veblen
(como precursores), Skinner e Glenn (mais atuais), é ainda me­
nos difundido, apesar de sua aplicação para a investigação de
usos e costumes tais como palmatória, assédio, escravidão, moda
e padrões de elegância, ou extermínio de línguas indígenas.

GROUPS
O parágrafo acima pode ser reescrito da seguinte for­
ma: a Teoria da Evolução das Espécies tem mais de 100 anos.
A Teoria do Reforço de Skinner tem mais de 50 anos, enquan­
to a sua aplicação a práticas culturais, retomada por Sigrid
Glenn, é mais recente. No que se refere à diferença no conhe­
cimento e aceitação dos estudos destes três níveis de varia­
ção e seleção, vaie a pena citar o que o Prêmio Nobel de Físi­
ca em 2004, David Gross, afirmou, em entrevista à Garcia
(2006), da Folha de São Paulo:

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“As pessoas não entendem as teorias hoje porque nós, físi­


cos, não as explicamos bem. E não o fazemos bem porque é
tudo muito novo. Hoje nós entendemos a mecânica clássica
muito melhor do que Newton. Ele tinha acabado de inventar
aquilo, afinal.

E nós entendemos hoje a relatividade geral de maneira mui­


to mais fácil do que Einstein. Em teoria de cordas a matemá­
tica é mesmo muito difícil. Eu tive de aprendê-la muito tarde,
mas meus colegas mais jovens já a consideram mais fácil.
Daqui a cem anos, se ela estiver no ensino médio, também
vai parecer fácil.

INDEX
Se as novas idéias sobrevivem, elas se tornam mais fáceis
de entender para as gerações futuras”.

Esta citação deixa claro que a melhor maneira de uma


“idéia sobreviver” é, sem dúvida, sua disseminação e discus­
são em contextos relevantes da área. Deve-se ressaltar que
propor um novo conceito se torna aceitável a partir do mo­
mento em que isso gera desenvolvimento científico, ou seja,
mais estudos e discussões (Glenn, & Malott, 2004; Todorov,

BOOKS
2006). É, portanto, sobre o terceiro nível de variação e sele­
ção, que visa explicar a evolução e manutenção de práticas
culturais, que trataremos mais a fundo no presente capítulo.
A proposta de Glenn (1986, 1988, 1991), utilizando-se
dos conceitos de prática cultural e metacontingências, permi­
te tratar o comportamento social, em seus diferentes níveis de
complexidade, sem pressupor novos princípios teóricos ou
métodos de investigação (Glenn, & Mallott, 2004; Kunkel, &

GROUPS
Lamal, 1991; Todorov, Moreira, & Moreira, 2004).
O conceito de prática cultural envolve o conjunto de prá­
ticas semelhantes aos membros de um grupo. Desse modo,
práticas culturais caracterizam o grupo; descrevem comporta­
mentos emitidos por seus membros, assim como suas regras
(valores, normas, leis); apontam formas de controle da natu­
reza, e práticas inexistentes na natureza (i.e., “invenções” da­
quele grupo específico); especificam procedimentos de
reforçamento social e natural, e a utilização (e.g., frequência e
tipo) de reforçadores imediatos versus atrasados. O estudo

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analítico-comportamental de práticas culturais vem sendo de­


senvolvido a partir da análise de “metacontingências” .
Metacontingência é definida como a unidade de análise que
descreve as relações funcionais de classes de operantes, cada
operante tendo suas conseqüências imediatas específicas,
bem como uma conseqüência em longo prazo comum a todos
os operantes. Deste modo, o conceito de metacontingência
engloba o de práticas culturais. Com o desenvolvimento do
conceito, a introdução de elementos e a necessidade de que a
seleção aja sobre o entrelaçamento de contingências em si e
não sobre os operantes individuais, o processo seletivo em
terceiro nível foi enfatizado (Glenn, 1986, 1988, 1991, 2004).
Analisar uma metacontingência envolve, portanto, analisar re­

INDEX
lações entre contingências comportamentais entrelaçadas e
seus ambientes selecionadores, o que promove uma transi­
ção do nível de análise para os efeitos selecionadores do am­
biente sobre o comportamento do grupo, não mais do indiví­
duo (Andery, Micheletto, & Sério, 2005; Kunkel, & Lamal, 1991).
Analistas do comportamento têm se dedicado a identifi­
car metacontingências (ou o entrelaçamento de contingências
tríplices) em importantes contextos, o que deve resultar em

BOOKS
desenvolvimento teórico-conceitual e metodológico. Pode-ci-
tar a análise da constituição brasileira (Todorov, 1987), ou a
análise de Todorov, Moreira, Prudêncio e Pereira (2004), so­
bre estudos de metacontingências descritas no Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), que podem nos ajudar a
entender o planejamento de leis, suas falhas, assim como pro­
mover a ampliação do seguimento de tais leis que visem mo­
dificar práticas culturais. De forma mais geral, o reconheci­

GROUPS
mento e investigação das variáveis ambientais em um sentido
macro permitir-nos-á o planejamento cultural, necessário para
modificações sociais tão almejadas, tais como melhoria nas
desigualdades sociais e raciais (Buvinic, & Morrison, 2000; de-
Farias, & Lima-Parolin, 2007; Guerin, 1994, 2004; Mattaini,
2002), diminuição da violência (Andery, & Sério, 2001; Assun­
ção, 2002; Buvinic, & Morrison, 2000; Mattaini, 2002, 2003,
2006; Villani, 2004), mudanças no sistema judiciário (Pereira,
2006; Prudêncio, 2006), respeito às leis de trânsito (Lé
Sénéchal-Machado, 2007), mudanças organizacionais (Glenn,
& Malott, 2005; Martone, & Todorov, 2005), comportamento

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pró-ambiental e consumo solidário (Cortegoso, 2006; Lehman,


& Geller, 2004; Ribeiro, Oliveira, & Rodrigues, 2006), ética no
controle dos meios de comunicação sobre a população
(Martone, & Banaco, 2005; Rakos, 1992, 1993), distribuição
de ganhos em uma sociedade (Martone, 2007), melhorias no
sistema educacional (Ellis, & Magee, 2007).
Entretanto, deve-se ter clara a imensa complexidade do
ambiente social quando comparado ao não social (Andery, e
cols., 2005; de-Farias, 2005; Skinner, 1953). A extensão e fle­
xibilidade de qualquer comportamento social se explicam, além
do já exposto, pelo fato de que o agente reforçador é bem
mais complexo, sensível e dinâmico do que no caso de um

INDEX
comportamento não-social. A sutileza desse tipo de agente
reforçador pode gerar, portanto, comportamentos mais instá­
veis. Isso, somado à dificuldade de descrição operacional dos
estímulos sociais e ao atraso das consequências, amplia o
trabalho do analista do comportamento, que deverá identificar
“os participantes, os elementos do ambiente social e os ele­
mentos do ambiente não social que participam das contingên­
cias” (Andery, e cols., 2005, p. 157).

BOOKS
Apesar da complexidade, mudanças em práticas cultu­
rais podem depender de uma só intervenção. Isso foi tentado
na economia brasileira, sem sucesso nos Planos Cruzado e
Collor, porém adequadamente no Plano Real. Além disso, uma
única intervenção bem planejada funcionou para que os moto­
ristas passassem a respeitar a faixa de pedestres em Brasília,
o que se tornou exemplo em todo o país (Lé Sénéchal-Macha-
do, 2007).

GROUPS
Deve-se ter claro que, como no caso dos comportamen­
tos individuais, práticas culturais não podem apenas ser modifi­
cadas. Deve-se também planejar a manutenção dessas mu­
danças, o que, certamente, requer cuidados. A aquisição e ma­
nutenção dos comportamentos envolvidos dar-se-ão pelas ma­
neiras já bem conhecidas por analistas do comportamento:
modelagem (exposição direta às contingências), modelação
(aprendizagem por observação) e comportamento governado
por regras. O estabelecimento de leis e punições para seu não-
cumprimento, exibições do comportamento em locais públicos
ou na mídia, e a divulgação de informações e resultados de

83
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

alguma prática (e.g., de ganhadores da loteria) consistem em


maneiras de modificar e manter novas práticas culturais.
Desta forma, desenvolver e modificar práticas culturais
envolve promover aumento da sensibilidade às consequências
das ações individuais e em grupo (em curto e longo prazo).
Para tanto, podem-se programar regras e consequências
reforçadoras para os denominados “comportamentos politica­
mente corretos”. A isto, pode-se dar o nome de “planejamento
deliberado de uma cultura” (Skinner, 1953). O planejamento é
necessário tendo em vista que o comportamento controlado
pelas contingências de reforçamento e punição atuais pode, e
constantemente é, pouco produtivo ou prejudicial em longo

INDEX
prazo. Exemplos desses prejuízos não nos faltam, principal­
mente em sociedades que fazem grande uso de controle
aversivo (Andery, 2001; Glenn, 2006; Horta, 2004; Lé Sénéchal-
Machado, 2007; Malott, 1988; Mattaini, 2001; Otero, 2004;
Sidman, 1989/1995; Skinner, 1953, 1971/1992; Villani, 2004).
Analisar e intervir em questões culturais são cruciais
para os analistas do comportamento por dois motivos. Em pri­
meiro lugar, grande parte das variáveis de controle do com­

BOOKS
portamento humano encontra-se no ambiente social. Além dis­
so, a aplicação dos conhecimentos obtidos por analistas do
comportamento validará o corpo teórico-conceitual e empírico
dos estudos operantes realizados em laboratório. A análise de
práticas culturais não impõe limites aos estudos já realizados
por analistas do comportamento. Ao contrário, defende-se a
inclusão e ampliação de análise das contingências que influ­
enciam o comportamento individual, além de uma ampliação
da unidade de análise utilizada (Andery, e cols., 2005; de-Fari-

GROUPS
as, 2005; Houmanfar, & Fredericks, 1999; Skinner, 1953). Uma
das questões centrais seria: “uma vez especificada a
metacontingência, como garantir a especificação das novas
regras a serem apreendidas por todos e que afetará o com­
portamento de cada um?” (Todorov, & Moreira, 2005, p. 40).

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GROUPS

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INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

G r u p o d e p e s q u is a e m t e o r ia d a

l e g is l a ç ã o : o p o r t u n id a d e d e

DIÁLOGO E INTEGRAÇÃO ENTRE O


D ir e it o e a C iê n c ia d o

C om po rtam ento

Fabiana de Menezes Soares


Faculdade de Direito - UFMG
André Luiz Freitas Dias

INDEX
LabAC; Departamento de Psicologia / FAFICH - UFMG

A língua portuguesa é falada por mais de 200 milhões


de pessoas espalhadas pelos quatro continentes. Neste con­
texto, o Brasil ocupa uma posição de proeminência, em razao
da diversidade de sua agricultura, a rede de relações econô­
micas, culturais e um sistema normativo complexo e denso.
Desde 1995, a OECD (Recommendation of the Council

BOOKS
of the OECD on improving the quality of Government
Regulation) vem dedicando especial atenção à qualidade da
legislaçao/regulaçao com o fim de reforçar a sua eficácia e
legitimidade, além de apontar a relação entre boa regulaçao e
desenvolvimento econômico e social. Tal fato se deve ao in­
cremento de processos de elaboraçao normativa impulsiona­
dos por organismos multilaterais que impactam a legislaçao
nacional. A preocupaçao com law-making processes que di­
minuam a assimetria informacional no momento de escolha

GROUPS
de um dado conteúdo para uma certa legislaçao integra o elen­
co de boas práticas de better legislation, documentados em
vários atos normativos e políticas multilaterais de boa legisla­
ção/regulação (OECD, 1997).
Neste quadro, o papel do componente linguístico assu­
me uma singular importância, haja vista a existência de servi­
ços de jurilinguistas responsávies pela idoneidade dos textos
de atos normativos válidos em diversas línguas.
A necessidade de compreensão do “contexto” dos vári­
os envolvidos e possíveis interessados e atingidos por uma

91
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

nova legislação/regulação exige um ambiente em que as vári­


as visões e olhares acerca do mundo possam ser expressas
na língua dos envolvidos. O processo de produção do direito,
na sua qualidade de processo comunicativo, acha-se ligado à
efetividade do direito à informaçao e possibilita, materialmen­
te, e não só, formalmente, a participação de todos os mem­
bros do comitê. A RES/62/111 A-B, da Assembléia Geral das
Nações Unidas, reafirma o seguinte :

“organizations of the United Nations system as a whole and all


others concerned, reaffirming their commitment to the principles
of the Charter of the United Nations and to the principles of
freedom of the press and freedom of information, as well as to

INDEX
those of the independence, pluralism and diversity of the me­
dia, deeply concerned by the disparities existing between
developed and developing countries and the consequences of
every kind arising from those disparities that affect the capability
of the public, private or other media and individuals in developing
countries to disseminate information and communicate their
views and their cultural and ethical values through endogenous
cultural production, as well as to ensure the diversity of sources
and their free access to information. ”

BOOKS
Durante a primeira década do século XXI a OECD (OECD
Guiding Principles for Regulatory Quality ans Performance,
2005), a UE, (Tratados de Lisboa e de Amsterdã, Mandelkern
Report, Better Regulation Policy) evidenciaram as ações no piano
legislativo-regulatório, em prol da boa governaça e a efetividade
de normativas elaboradas distantes dos parlamentos nacionais
e seu impacto sobre a realidade dos países envolvidos. A expe­
riência em processos de elaboraçao multilíngues da UE, bem
como em países como Canadá e Suíça reforçaram algumas

GROUPS
ações e princípios necessários a uma Better Regulation strategy,
como por exemplo:

"Working more closely with Member States to ensure that


better regulation principles are applied consistently
throughout the EU by all regulators. Reinforcing the
constructive dialogue between stakeholders and all
regulators at the EU and national levels. ”

Dentre os vários princípios que emergem do conjunto


de políticas e atos normativos no setor de Better Regulation,

92
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
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tanto na UN, OECD e EU, alguns justificam a necessidade de


paridade e igualdade linguística durante os processos de ela­
boração de normativas tais como a : Proporcionalidade,
Subsidiariedade, Transparência, Responsabilidade,
Inteligibilidade.
A proporcionalidade baseia-se num equilíbrio entre as
vantagens que oferece e os condicionalismos que impõe. A
subsidiariedade permite que as decisões sejam tomadas ao
nível mais próximo possível dos cidadãos, garantindo siste­
maticamente que qualquer ação levada a cabo a nível nacio­
nal seja justificada em relação às opções disponíveis a nível
local. Neste sentido, determina uma reconstrução do contex­
to/realidade dos envolvidos no processo de law-making que

INDEX
pode ser comprometido pela assimetria em diálogos que ex­
cluam manifestações na própria língua.
A transparência melhora a qualidade dos atos
normativos, na medida em que identifica mais eficazmente os
efeitos imprevistos e tendo em conta os pontos de vista das
partes diretamente envolvidas. É por isso que a elaboração da
legislação não deve estar confinada às estreitas fronteiras dos
organismos da administração pública e do legislativo.

BOOKS As autoridades responsáveis pelos atos normativos de­


vem interessar-se pela questão da sua aplicabilidade. O princípio
da autoridade é otimizado quando todas as partes envolvidas
devem estar aptas a identificar claramente as autoridades de
aonde emanam as políticas e os atos normativos que a ela se
aplicam e ainda informá-las das dificuldades de aplicação das
políticas ou dos atos normativos, com vistas à sua alteração.

GROUPS
Um grande problema à recepção de atos normativos
oriundos de organismos internacionais sobre a legislação na­
cional é o seu impacto sobre a coerência do sistema jurídico.
Uma legislação coerente, compreensível e acessível àqueles
a quem se destina é essencial à sua aplicação. O princípio de
inteligibilidade pode exigir um esforço particular de comuni­
cação de poderes envolvidos, por exemplo, em relação a pes­
soas que, devido à sua situação, encontrem dificuldades em
fazer valer os seus direitos. Muitas vezes uma novidade será
introduzida e merece uma especial atenção quanto á circula­
ção de modelos jurídicos desconhecidos.

93
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

Muitas questões na esfera da compreensão e


implementação de um novo ato normativo poderiam ser
evitados em processos de elaboração com maior simetria
comunicativa que permita um trânsito de informações sobre a
realidade e as normas já existentes. Um processo law-making
responsável deve que levar em consideração os valores
culturais e as realidades envolvidas no processo comunicativo
para a due devida ponderação, no momento da decisão de
definição do conteúdo da nova regulação. Atos normativos,
pouco compreensíveis, ambíguos, que exigiriam um
planejamento para garantir sua implementação custam e
oneram países, mas estes problemas podem ser antecipados
em processos de elaboração mais inclusivos.

INDEX Para uma compreensão mais clara dos atos normativos,


uma nova tendência vem sendo observada em algumas
pesquisas e aplicações, tendo como área de interface o Direito
e a Ciência da Análise do Comportamento (Macedo, 2004;
Todorov, 1987, 2005; Todorov et. al., 2004).
Diferentemente da interpretação tradicional que atribui
o significado como algo inerente a determinado objeto e/ou

BOOKS
palavra, para a ciência da Análise do Comportamento o mesmo
deve ser buscado na história das relações estabelecidas pelo
indivíduo (sujeito de sua história) em suas interações com o
mundo, com as outras pessoas e consigo mesmo (Skinner,
1974/1999)1.
Nesse sentido, os conjuntos políticos e atos normativos
são entendidos enquanto processos relacionais complexos,
nos quais diversos sujeitos, grupos e instituições atuam em

GROUPS
redes intrincadas de controle mútuo, de grande influência e
impacto social, econômico e político sobre todos os seus inte­
grantes (Skinner, 1953/1994; 1969/1980; 1971/1983).
De acordo com a ciência da Análise do Comportamen­
to, a lei pode ser compreendida como um “enunciado de uma
contingência de reforço mantida por uma agência governa-

1 Durante todo o texto, aparecerão referências contendo duas datas,


sendo a primeira referente ao ano da publicação original e a segunda
da consultada.

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mental” (Skinner, 1953/1994). Por contingência de reforço en­


tende-se as relações de interdependência estabelecidas entre
o comportamento do sujeito (tanto aberto como encoberto),
seu contexto de ocorrência e os efeitos decorrentes.
Enquanto um recurso verbal, a lei especifica parte des­
sas contingências de reforço com as quais os sujeitos
interagem (em sua função descritiva) ou deverão interagir (em
sua função prescritiva). Nas palavras de Skinner (1953/1994):

“A contingência pode ter prevalecido como prática


controladora antes de sua codificação como lei, ou pode re­
presentar um novo procedimento que entra em efeito com a

INDEX
passagem da lei. Assim, as leis são tanto descrições de pro­
cedimentos passados como garantias de procedimentos se­
melhantes no futuro. Uma lei é uma regra de conduta no sen­
tido de que especifica as consequências de certas ações que
por seu turno “regem” o comportamento.” (p. 322)

Já o termo “agência governamental” diz respeito a um


sistema social organizado responsável pelo arranjo de um
conjunto particular de contingências de reforço. Conforme afir­

BOOKS
ma Skinner (1953/1994), o procedimento mais comumente
utilizado pela agência governamental para o controle
comportamental é a coerção, percebida tanto na aplicação de
sanções quanto na retirada de benefícios ao indivíduo, grupo
e/ou instituição que se comporta.
Os efeitos desse controle coercitivo sobre os cidadãos
são evidenciados pelos comportamentos de revolta, violência,
fuga, esquiva, resistência passiva e apatia. Atribuir a respon­

GROUPS
sabilidade pelos ditos atos “ilegais” aos sujeitos e desenvolver
técnicas mais refinadas para o efetivo controle do almejado
comportamento “legal” ou “obediente” são os objetivos e me­
tas da maioria dos Governos (Skinner, 1953/1994).
Discordando das práticas vigentes, Skinner (1953/1994)
contraponhe o uso do controle coercitivo, compreendido por
ele como letal ao desenvolvimento e sobrevivência de uma
cultura, a médio e longo prazos, a métodos alternativos mais
efetivos, eficientes, eficazes e éticos de planejamento cultu­
ral. Em sua proposta nota-se claramente um predomínio de
contingências de reforçamento positivo, um equilíbrio entre os

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INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

interesses privados e públicos e o investimento em direitos


fundamentais para todos os seres humanos, a saber a segu­
rança, a liberdade, a felicidade e a justiça.
Avaliar os seus efeitos a médio e longo prazo, sua efici­
ência, eficácia e as questões éticas envolvidas, porém, mos­
tra-se o grande desafio para o planejador cultural. As leis como
recursos verbais complexos utilizados no processo de plane­
jamento cultural também deveriam ser objeto de maior estudo
por parte dos planejadores e gestores em uma sociedade.
Esse vem sendo o principal foco de interesse do Grupo
de Pesquisa em Teoria da Legislação, um núcleo interdisciplinar
de investigação, estudos e aplicações sociais, fundado na Fa­

INDEX
culdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), em 2004.
O objetivo principal do grupo é o exame crítico da legis­
lação e seu processo constitutivo, observando todos os critéri­
os abordados e já comentados anteriormente nesse texto, e a
formação de profissionais do direito e áreas afins para uma
atuação política e responsável enquanto operadores de um
grande e importante sistema que necessita, no âmbito brasi­

BOOKS
leiro, de maior organização, coesão, transparência, acessibili­
dade e coerência com a realidade das estruturas sócio-cultu-
rais, econômicas e políticas do país.
Sua maior virtude, a interdisciplinaridade, também vem
se apresentando como sua grande dificuldade. Aprender a co­
municar os conhecimentos de seus campos específicos de
conhecimento e interagir visando uma efetiva transformação
social são os grandes desafios para os cientistas e aplicadores-

GROUPS
membros deste núcleo de investigação. Em breve, espera­
mos apresentar à comunidade científica os primeiros produ­
tos desta profícua união.

R efer ên c ias
Macedo, L. M. D. S. (2004). Os projetos de lei municipal sobre
violência da cidade de São Paulo (1991 a 2003): uma ca­
racterização comportamental. Dissertação de mestrado
apresentada ao Programa de Estudos Pós-Graduados em

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INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

Psicologia Experimental; Análise do Comportamental da


Pontifícia Universidade Católica de São Paulo;
OECD (1997). L'analyse de I'im pact de la r'eglem entation
meilleures pratiques dans les pays de L'OCDE. Paris,
France;
Skinner, B. F. (1980). Contingências de reforço: uma análise teórica.
Em: CIVITA, V, (Ed.). Os pensadores: Pavlov e Skinner.
São Paulo: Abril Cultural. Original de 1969;
Skinner, B. F. (1983). O mito da liberdade. São Paulo: Summus.
Original de 1971;
Skinner, B. F. (1994). Ciência e comportamento humano. São Paulo:
Martins Fontes. Original de 1953;

INDEX
Skinner, B. F. (1999). Sobre o Behaviorismo. São Paulo: Cultrix.
Original de 1974;
Todorov, J. C. (1987). A constituição como metacontingência. Psico­
logia: ciência e profissão, 7, 9-13;
Todorov, J. C.; MOREIRA, M.; PRUDÊNCIO, M. R. A. & PEREIRA, G.
C. C. (2004). O estatuto da criança e do adolescente como
metacontingência. Em: BRANDÃO, M. Z. S.; CONTE, F. C. S;
BRANDÃO, F. S.; INGBERMAN, Y. K.; SILVA, V. L. M. &

BOOKS
OLIANI, S. M. (Eds.). Sobre comportamento e cognição: con­
tingências e metacontingências, contextos sócio-verbais e o
comportamento do terapeuta. Santo André: ESETec;
Todorov, J. C. (2005). Laws and the complex control of behavior.
Behavior and Social Issues, 14, 86-91;

GROUPS

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C o n t r ib u iç õ e s d a a n á l is e d o

c o m p o r t a m e n t o p a r a p r á t ic a s d a

P s ic o l o g ia o r g a n iz a c io n a l

Patrícia De Paula Martins1


Clinica particular

Renata Guimarães Horta2


Instituto Inovação

INDEX
C o n t r ib u iç õ e s d a a n á l is e d o c o m p o r t a m e n t o p a r a a s
PRÁTICAS DA PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL

No contexto Organizacional são vários os fatores


dificultadores de um planejamento estratégico ser seguido, por
exemplo, fatores ligados a interação entre os atores

BOOKS
organizacionais ou da infra-estrutura da empresa. O caso que
será apresentado nesse trabalho descreve uma consultoria
realizada em uma pequena empresa, na qual os resultados do
Diagnóstico Organizacional apontam para problemas
comportamentais, para a necessidade de mudanças no
processo de interação entre os atores devido a ocorrência de
divergências no relacionamento, nos valores e nas atitudes
dos envolvidos.

GROUPS
O termo Diagnóstico será discutido nas subáreas de
conhecimento da Psicologia a Psicologia Organizacional e a
Análise do Comportamento com o intuito de verificar as
implicações da aplicação da Análise Funcional do
Comportamento, própria da Análise do Comportamento, nas
práticas de um Psicólogo que atue em organizações, em

’ patriciadpmartins@yahoo.com.br
? renataghorta@gmail.com

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INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

atividades como diagnóstico e planejamento do desenvolvimento


da organização.
O caso apresentado será, então, usado como exemplo
para demonstrar como a Análise Funcional do Comportamento
pode ser utilizada com recurso para práticas da Psicologia
Organizacional.

D iag nó stico na P sic o lo g ia O rg anizacio nal

De acordo com Hesketh (1979), para o Psicólogo em uma


Organização o Diagnóstico é a primeira etapa de consultoria e
assistência, com ele é possível visualizar as condições
necessárias para o desenvolvimento e o aprimoramento do

INDEX
desempenho em níveis satisfatórios de eficiência e eficácia.
A análise dos dados coletados para o Diagnóstico
permite verificar fatores organizacionais e também relativos
as características pessoais dos envolvidos como, por exemplo,
aptidão, conhecimentos, habilidades e atitudes para o trabalho,
necessidades pessoais, valores e crenças, entre outras.
O Diagnóstico, de acordo com Bennis (1969), visa

BOOKS
representar um quadro com a situação real e atual da
organização, para onde ela quer ir ou onde quer chegar,
demonstrando seus objetivos e metas. É capaz de fornecer um
modelo de desempenho organizacional identificando quais os
comportamentos influenciam outros e como se dá essa relação;
auxiliando na formulação de metas e na definição dos objetivos.
Assim possibilita a identificação de comportamentos
disfuncionais existentes identificando suas causas e agentes
mantenedores; permite levantar as necessidades de treinamento

GROUPS
através da análise e compreensão das observações feitas ou
de outras fontes de dados e, ainda, que áreas de risco possam
ser identificadas antes de se tornarem problemas e serem, então,
aperfeiçoadas como medida preventiva.
Para um planejamento estratégico ser feito é necessário
traçar planos, ações, táticas, regras, padrões, deixando claro
os caminhos a serem seguidos. Vieira (2002) propõem que ao
planejar intervenções no contexto organizacional é preciso
perceber o que está acontecendo na organização, analisá-la
em todos os seus aspectos: as relações que se estabelecem,

99
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a organização do trabalho, as relações de poder, os níveis de


insatisfação e de satisfação, os objetivos e as dificuldades para
a realização dos mesmos, a cultura organizacional e os limites
dessa. Para o Diagnóstico ser feito da melhor forma possível
deve ficar claro para os colaboradores o porquê da pesquisa,
eles devem ser conscientizados de que seu trabalho tem reflexo
na organização e de que o diagnóstico é a base de mudanças
que podem trazer grandes benefícios a todos da organização.
O Diagnóstico dá possibilidades para intervenções que visem
o Desenvolvimento Organizacional e está ligado diretamente
à eficiência e a saúde da organização, servindo de base para
o planejamento das estratégias a serem adotadas.
A principal fonte de informações para a realização do

INDEX
Diagnóstico são os colaboradores da empresa, seja por
entrevistas com as pessoas chaves nos casos ou mesmo com a
observação dos trabalhos e das relações pessoais entre os
colaboradores e entre colaboradores e chefes durante a execução
das tarefas. Mota e Vasconcelos (2004). É comum que seja
atribuída uma ênfase excessiva em fatores comportamentais nos
Diagnósticos Organizacionais, fazendo com que todas as
propostas de mudanças para o Desenvolvimento Organizacional
sejam atribuídas diretamente aos comportamentos dos atores

BOOKS
organizacionais em detrimento dos aspectos estruturais da
organização como, por exemplo, a desconsideração da estrutura
burocrática da organização poder ser causadora de desajustes
individuais ou grupais, de modo a que o problema não seja
diretamente tratado.

D ia g n ó s t ic o pa r a a A n á l is e do C om portam ento

GROUPS
Assim como na área da Psicologia Organizacional na
Análise do Comportamento o Diagnóstico visa fornecer
insumos para a tomada de decisão sobre intervenções
específicas em ambientes clínicos ou em outros ambientes.
Através da Análise Funcional do Comportamento proposta por
Skinner (1953) é possível analisar as causas, os estímulos
que levam a emissão de determinados comportamentos
apenas em determinados contextos e as conseqüências
desses comportamentos a curto prazo e ainda traçar as
possíveis conseqüências a longo prazo.

100
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Tomando como referência o planejamento estratégico da


empresa é possível no Diagnóstico determinar a freqüência de
emissão de certos comportamentos como excessivos ou
deficitários e observá-los como acontecem nas atividades de
trabalho. Descrevendo quais são os antecedentes que
favorecem uma maior freqüência desses comportamentos e
quais as conseqüências decorrentes para a organização e para
seus colaboradores.
Para diagnosticar como é a atual situação de uma
organização é preciso perceber as variáveis que estão ligadas
ao desempenho dos agentes (sociais, religiosas, culturais,
história de vida, repertório comportamental, variáveis
motivacionais, privação e estimulação aversiva, por exemplo).

INDEX
E para a Análise Funcional do Comportamento é preciso saber
sobre as conseqüências de curto, médio e longo prazo, quais
contingências sustentam os comportamentos mais efetivos e
sobre as fontes de reforçamento positivo disponíveis para
comportamentos concorrentes ou incompatíveis. Deve-se indicar
e descrever o efeito comportamental de freqüência, duração e
intensidade dos comportamentos em questão, como o cuidado
de não fazer juízos de valores, e a partir dessa análise diferenciar

BOOKS
como esses indicadores fornecem dados para as intervenções,
alinhado ao planejamento estratégico da organização.

A nálise de um caso

D e m a n d a in ic ia l:

Esse trabalho de consultoria realizado em uma empresa

GROUPS
de pequeno porte teve como demanda inicial o relato do Diretor
da empresa de que a organização estava passando por uma
fase de mudanças devido a um grande crescimento e que por
isso ele próprio teve as suas tarefas rearranjadas e estava
com dificuldades para se organizar. Ele precisava assumir
diversas funções com exigências diferentes para conseguir
cuidar de todo o trabalho, funções essas que lhe ocupavam a
maior parte de seu dia. Com isso procurou pelo Recursos
Humanos de uma empresa parceira para prestação de
consultoria.

101
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M étodo
O Rh contratado teve como primeira ação o
agendamento de uma entrevista com o Diretor da empresa
para mais informações sobre a demanda inicial e também sobre
características de funcionamento da empresa. A partir dessa
primeira entrevista foram outras duas pessoas da empresa
consideradas como agentes importantes para o diagnóstico
que estava sendo montado foram também entrevistadas.
As entrevistas foram realizadas, preferencialmente, no
ambiente de trabalho próprio dessas pessoas para que além
das informações colhidas no relato verbal fossem feitas ainda
algumas observações sobre a dinâmica de trabalho da empresa.

INDEX E n t r e v is t a

Nessa entrevista ele descreveu sua rotina de trabalho na


organização, seu comportamento diante de situações
desagradáveis no trabalho e quais eram as suas expectativas
para o desenvolvimento da empresa e de seus funcionários.
Relatou que o relacionamento com sua secretária era conflituoso,
e demonstrou sua opinião acerca do desempenho dos demais
com o D ir e t o r

BOOKS
funcionários da empresa.
Nessa entrevista a principal demanda levantada pelo Diretor
é de que a secretária não era proativa e que só conseguia
desempenhar suas funções após ser solicitada. Reconhece que
o trabalho da secretária quando demandado por outras pessoas
da organização é satisfatório e que o problema se encontrava no
relacionamento direto: chefe/secretária. Demonstrou valorizar os
seus colaboradores e se preocupar muito com o funcionamento

GROUPS
das atividades desempenhadas por eles.
Como resumo das queixas do Diretor pode-se colocar em
evidência o relacionamento com a secretária e as reclamações
sobre o desempenho do funcionário da área de comunicação.

E n t r e v is t a com o f u n c io n á r io da á r e a d e C o m u n ic a ç ã o

Pelo fato de o Diretor não poder se dedicar inteiramente


no seu ambiente de trabalho, por ter outras ocupações relativas

102
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a outro emprego e também por exigências da própria empresa


como viagens e reuniões em outros tocais designou uma
pessoa para lhe manter informado sobre o desempenho das
tarefas e dos trabalhos desenvolvidos na organização.
A preocupação ao procurar por esse funcionário era de
que as informações necessárias não estavam sendo
repassadas ao Diretor, mas o que foi observado é que a
empresa já havia experimentado algumas diferentes formas
de repasse de informações como até mesmo um software
específico, mas sem resultados satisfatórios.
Esse funcionário fez relatos de como o Diretor da

INDEX
empresa é exigente com o trabalho dos demais da empresa e
em como tem dificuldade para se manter informado sobre o
desempenho dos funcionários na rotina de trabalho e que em
vários momentos o relacionamento do Diretor com seus
funcionários é bastante turbulento.

E n t r e v is t a c o m a s e c r e t a r ia

Na entrevista com a secretária ela concordou com a

BOOKS
maior parte das queixas levantadas pelo Diretor e relatou sobre
outro aspecto da dinâmica de trabalho muito importante, a falta
de paciência e o mau humor do Diretor da empresa. A secretária
afirmou que sente medo de lidar com o Diretor e que prefere
se manter o mais afastada possível, mesmo que isso atrapalhe
o desempenho de seu trabalho.
Segundo ela, é capaz de se relacionar bem com todos
os outros integrantes de seu ambiente de trabalho sem

GROUPS
nenhuma reclamação, sempre fora tímida e mais reservada,
não gosta muito de conversar e de sair, por isso não gosta de
participar das reuniões e festas da empresa. Outro fator que
dificultava a convivência é que trabalha em apenas meio
horário, no turno da manhã, e esse não é o horário que
normalmente o Diretor se encontra na organização, por isso
precisa passar muitas das informações de seu trabalho para
seu chefe via email ou recados em papeizinhos.
A secretária respondeu ainda a uma auto-avaliação e
uma avaliação de perspectivas de desenvolvimento, além da
entrevista semi-dirigida.
103
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R e s u l t a d o s e d is c u s s ã o

De acordo com os dados coletados através das


entrevistas concluiu-se que o principal foco de atuação da
consultoria deveria ser o relacionamento entre o chefe e sua
secretária. Com relação as condições de trabalho com exceção
da falta de organização do ambiente físico eram viáveis para a
execução das tarefas, e esse ponto ainda não representava um
problema para a empresa, por isso o Diretor e os funcionários
que participaram da pesquisa diagnostica foram apenas
alertados sobre a necessidade de organização física da
empresa. O impasse com o funcionário da comunicação foi

INDEX
momentaneamente retirado de foco já que estavam testando
um novo método, aparentemente promissor, para resolução do
problema e foi esclarecido ao Diretor que muitas informações
não lhe estavam sendo acessíveis porque o próprio não se
mobilizava para consegui-las. A empresa passava por um
período de grande crescimento e reconhecimento de seu produto
no mercado nacional, demonstrando qualidade e eficiência, por
isso essa parte também não foi incluída na pesquisa diagnostica.
Então, o fator considerado como mais relevante no diagnóstico

BOOKS
foi o entrave na comunicação entre Diretor e a Secretária. E a
melhora no relacionamento entre Diretor e Secretária
provavelmente melhoria outros problemas com relação ao
acompanhamento do Diretor da dinâmica da empresa, já que
uma das responsabilidades da secretária era a manutenção do
escritório.
Foram analisados os principais pontos negativos em
cada um que poderia atrapalhar a intervenção e os principais

GROUPS
pontos a serem valorizados e que colaborariam com a proposta
de mudança. Os comportamentos considerados problemas
foram descritos e analisados a partir da Análise Funcional do
Comportamento, foi dada maior atenção aos antecedentes e
aos conseqüentes de cada um, analisando as variáveis
mantenedoras e os comportamentos que já aconteciam e
precisavam ter sua freqüência aumentada.
Com a utilização da Análise Funcional do Comportamento
diagnosticou-se que a comunicação dos dois agentes era
baseada em padrões de interação diferentes. O Diretor preferia

104
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utilizar de comunicações informais e cobrava para que sua


secretária se comportasse da mesma forma, já a secretária
preferia a comunicação por meios mais formais, como emails e
recados. Como conseqüência o Diretor ficava insatisfeito e
adotava comportamentos cada vez mais agressivos com a
secretária, com os quais ela sente-se punida e afasta-se mais.
A mudança comportamental foi proposta para ambos.
Ao Diretor foi proposto ser menos agressivo e que comportasse
de maneira menos aversiva com sua funcionária durante todas
as suas interações. Aconselhou-se a ele que sorrisse e olhasse
para ela enquanto conversassem e que se engajasse nas
propostas de trabalho feitas por ela, de forma a demonstrar-
se colaborativo e aberto às possíveis aproximações por parte

INDEX
da secretária. A ela foi proposto ter mais iniciativa nas
conversas, principalmente com o Diretor, acompanhar a agenda
pessoal do chefe e procurar por ocasiões nas quais pudesse
agir informalmente, como, dar bom dia, desejar um bom fim
de semana e perguntar pelos locais de viagem do Diretor. E
aos dois juntos que escolhessem atividades nas quais
pudessem se envolver mais um com o outro, ambos foram
encorajados a generalizar essas dicas comportamentais para

BOOKS
outros ambientes que não apenas na relação de um com o
outro com base na argumentação de que essas alterações
poderiam trazer ganhos em outros tipos de relacionamentos.
Outro tema trabalhado com o Diretor foi o fato de que
caso a secretária fosse substituída seria contratada em seu
lugar uma pessoa que possivelmente também teria problemas
de relacionamento com ele, devido as grandes exigências
impostas, ao cargo ser apenas de meio horário e a

GROUPS
principalmente o temperamento do próprio Diretor. Foi
trabalhado ainda o fato de a substituição requerer um tempo
de treinamento e a atual secretária não receber nenhum tipo
de reclamação de nenhum outro funcionário da empresa.
O Diagnóstico Organizacional é uma das etapas do
planejamento do Desenvolvimento Organizacional, com o
Diagnóstico é possível traçar e planejar uma estratégia de
mudança, direcionar para a educação dos membros
envolvidos, propor uma consultoria e ou treinamentos e fazer
uma avaliação do processo para se necessário um novo

105
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diagnóstico. O Diagnóstico Organizacional apoiado pela Análise


do Comportamento fornece uma visão mais ampla do modelo
de Desenvolvimento Organizacional esclarecendo como a
freqüência de determinados padrões comportamentais podem
influenciar na eficiência dos trabalhos da organização. Através
de uma visão mais clara sobre o surgimento e a manutenção
de comportamentos favoráveis e desfavoráveis dos agentes e
na forma como as pessoas se relacionam e em como esses
aspectos influenciam na dinâmica da empresa.

R e f e r ê n c ia s

INDEX
Banaco, R. A. (2004) Análise Funcional em Clínica comportamentai.
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Bechard, R. (1972). Desenvolvimento Organizacional: estratégias e
modelos. São Paulo: Ed. Edgard Blücher Ltda.
Bennis, W. G. (1969). Desenvolvimento Organizacional: sua nature­
za, origens eperspectivas. São Paulo: Ed. Edgard Blücher Ltda.
Boog, G. G.(1999). Manual de Treinamento e Desenvolvimento-ABTD

BOOKS
(Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento).
3ã Ed. São Paulo: Makron Books Ltda.
Cavalcanti, M.; Farah, O. E. e Mello, Álvaro A. A. (1981). Diagnóstico
Organizacional: Uma metodologia para pequenas e médias
empresas. São Paulo: Edições Loyola.
Hesket, J. L.(1979). Diagnóstico Organizacional: modelo e instru­
mentos de execução. Petrópolis: Editora Vozes.
Kanfer, F. H. e Saslow, G. (1976) Um roteiro para diagnóstico

GROUPS
comportamentai. In: E. J. Mash e L. G. Terdal (Ed.). Behavioral
Therapy Assesment. Nova York: Sringer Publishing Company.
Silva, K. P. e BatistaATISTA, C. B. (2004). Diagnóstico Organizacional
de oficinas de Produção e Profissionalização em Entidade
Filantrópica. In: Qualidade de vida no trabalho e Psicologia
Social. Jader R. Sampaio(org.). 2ãedição. São Paulo: Casa
do Psicólogo.
Skinner, B. F. (1978). Ciência e Comportamento Humano. Tradução
organizada por João Carlos Todorov. 4- edição. São Paulo:
Martins Fontes.

106
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Vieira, F. R. C.(2002). Dimensões para o diagnóstico de uma gestão


estratégica voltada para o ambiente de empresas de peque­
no porte.

INDEX
BOOKS
GROUPS

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E scolha p r o f is s io n a l : u m a

PROPOSTA DE AVALIAÇÃO DE
INTERESSES A PARTIR DA ANÁLISE DO
COMPORTAMENTO

Weverton de Barros Fonseca1


Espaço Terapêutico
Psicólogo clínico e orientador protissional

INDEX A criação desta técnica começou com a necessidade


percebida pelo autor, de um instrumento que fosse mais preci­
so na identificação dos interesses profissionais e que possibi­
litasse ao cliente entrar em contato com o maior número pos­
sível de profissões universitárias.
A técnica teve como base uma atividade muito utilizada

BOOKS
na orientação profissional chamada “Gosto e faço” e a técnica
R-O (Realidade Ocupacional). Este trabalho iniciou-se em se­
tembro de 2005 e encontra-se ainda em desenvolvimento.
O levantamento de interesses profissionais tem ocupa­
do um lugar de destaque na orientação profissional contem­
porânea. Identificar quais são os interesses mais fortes do cli­
ente propicia o autoconhecimento e direciona os esforços na

GROUPS
busca de informações, aumentando a probabilidade de que a
escolha do cliente seja reforçadora para ele futuramente.
Vários instrumentos foram criados com o objetivo de
levantar tais interesses e ajudar os clientes na difícil tarefa de
escolher uma profissão. Levenfus (2005) cita os seguintes:
Inventário de Interesses de E.K Strong (1985), Registro de
Preferências Vocacionais de Kuder, Cuestionario de intereses

Endereço para correspondência: Rua Antares, 185, Ap. 203 B, Bairro


Jardim Riacho - Contagem/ Minas Gerais - Cep: 32.241-200
Agradecimentos às professoras Marisa Tavares Lima e Adriana
Cunha Cruvinel
108
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INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

profesionales de L. L. Thurstone (1957), Inventário de intereses


vocacionales de J. L. Holand (1973), LIP - Levantamento de
Interesses Profissionais (Del Nero, 1982), QVI - Questionário
vocacional de interesses (Oliveira, 1982), Inventário Pictório
de interesses de H. Geist (1988), Inventário Cirino de Intereses
(1988), Cuestionario de intereses profesionales de H. M.
Fogliatto (1991), SOVI-3 - Sistema de orientación vocacional
informatizado (Fogliatto & Perez, 2003).
Os inventários de levantamento de interesses são im­
portantes ferramentas de trabalho do orientador profissional,
sendo muito utilizados na prática clínica. Freqüentemente os
clientes chegam à orientação sem saber o que querem, ou

INDEX
então com uma gama muito ampla de interesses, ambas con­
dições dificultam a tomada de decisão, e são nestes casos
que o levantamento de interesse mais pode contribuir.

Interesses p r o fis s io n a is :

É interessante observar a diversidade dos interesses


das pessoas por atividades, objetos, ocupações, profissões e

BOOKS
formas de lazer disponíveis nos ambientes sociais. A partir
daí surgem perguntas como: Por que cada pessoa se interes­
sa por coisas específicas? O que determina tais interesses?
Levenfus (2005) comenta que “para alguns autores, os
interesses são estados motivacionais estáveis caracterizados por
despertar a atenção dirigindo-a a certos objetos e atividades”.
Para a Análise do Comportamento os interesses estão
relacionados à história de reforçamento, em outras palavras,

GROUPS
são classes de reforçadores que exercem controle sobre o
comportamento dos indivíduos.
A explicação para estes interesses pode ser fundamen­
tado na generalização e no processo de imitação. Comporta­
mentos que foram fortemente reforçados na história de vida
do indivíduo podem futuramente ser generalizados para cate­
gorias mais amplas. Por exemplo, desenhar pode ser genera­
lizado em um “interesse” pelas artes plásticas, se jogar futebol
foi muito reforçador, futuramente pode ser generalizado em
“interesse” pela área de esportes.

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Um outro processo também presente na determinação


dos interesses pessoais é a imitação. Segundo DERDYK E
GROBERMAN (2004) imitação é um processo de aprendiza­
gem pelo qual os indivíduos aprendem comportamentos no­
vos ou modificam antigos por meio da observação de um mo­
delo. Isso ocorre porque imitar aumenta a probabilidade das
pessoas serem reforçadas pelas mesmas conseqüências que
reforçam o comportamento do modelo.

O pro c esso de d e c id ir :

Para a Análise do Comportamento o ato de decidir com­

INDEX
preende uma seqüência de comportamentos operantes que
resultam em um comportamento final de decidir. Entende-se
por comportamento operante toda classe de comportamentos
que são afetados pelas suas conseqüências, aumentando ou
diminuindo a probabilidade de sua ocorrência. A maioria dos
comportamentos humanos classificam-se nesta categoria e
são chamados de operantes porque operam sobre o ambien­
te gerando modificações no mesmo e no organismo que se
comporta.

BOOKS
Skinner (1981) afirma que o processo de decidir carac­
teriza-se pela manipulação das variáveis das quais o compor­
tamento é função, e que nem todas as pessoas emitem com
freqüência este comportamento. Embora o comportamento de
decidir possa ser adquirido acidentalmente, no geral ele é
aprendido com a comunidade verbal. Para Skinner toda vez
que se ensina uma criança a “parar e pensar” antes de agir e a
“avaliar todas as conseqüências possíveis” de uma ação, está

GROUPS
sendo modelado o comportamento de decidir.
O processo decisório envolve uma cadeia de comporta­
mentos públicos e privados, que culminam em um comporta­
mento final que afetará o ambiente. Nesta cadeia ocorrem di­
versos comportamentos privados, tais como pensar, compa­
rar, analisar, sentimentos como angústia, ansiedade, apreen­
são, e comportamentos públicos como conversar com outras
pessoas sobre a sua dúvida, pedir opinião, buscar informa­
ções através de leituras, etc. É importante ressaltar que para
que esta cadeia comportamental seja acionada é necessário

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a existência de uma situação conflitante que coloque o indiví­


duo em dúvida.
Escolher fazer uma coisa em detrimento de outra, pode
estar relacionado ao fato de em outras circunstâncias semelhan­
tes o mesmo comportamento ter sido reforçado. Se uma situa­
ção (contingência) for totalmente nova, sem precedentes na his­
tória de vida do indivíduo, é possível que ele venha a se sentir em
dúvida, demore ou não consiga tomar a decisão sozinho.
Skinner (1981) afirma que “as alternativas em conflito
levam a uma oscilação entre formas incompletas de respos­
tas as quais, ocupando boa parte do tempo do indivíduo po­
dem ser poderosamente aversivas” Quando isto acontece, o

INDEX
indivíduo pode tomar uma decisão precipitada com o intuito
de remover o incômodo da indecisão ou então não decidir,
fugindo dos estímulos conflitantes. Uma decisão precipitada é
aquela em que as variáveis importantes não foram devida­
mente consideradas e analisadas, partindo-se para a ação sem
reflexão prévia. Muitos se comportam desta forma evitando o
sofrimento da indecisão, mas muitas vezes, sofrendo com
conseqüências aversivas posteriormente.

BOOKS
Skinner (1981) afirma que “quando examinamos cuida­
dosamente uma situação, o tomar uma decisão,
presumivelmente, aumenta a probabilidade de que a resposta
finalmente feita consiga reforço máximo.” O processo de Ori­
entação Profissional é, em última análise, uma forma de ensi­
nar o indivíduo a decidir, examinando da forma mais completa
possível, as variáveis envolvidas na escolha profissional. Co­
nhecer a si mesmo e conhecer as profissões/ mercado de tra­

GROUPS
balho, são maneiras de manipular variáveis, aumentando as
chances do cliente decidir por uma profissão que seja
reforçadora para ele futuramente, ou seja, que lhe traga satis­
fação em diversos níveis.

A TÉCNICA
Os objetivos desta nova técnica são:
• Avaliar o grau de informação geral do cliente sobre as
profissões de graduação;

111
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• Proporcionar ao cliente conhecer a definição de um


grupo grande de profissões;
• Identificar as profissões que despertam interesse do
cliente no início do processo de orientação profissional;
• Elaborar um plano que oriente a busca de mais infor­
mações profissionais.
Basicamente a técnica consiste em apresentar a des­
crição de um extenso número de profissões, uma a uma. Em
seguida pede-se que o cliente tente identificar qual profissão a
descrição lida se refere e indique uma categoria relacionada
ao interesse e à vontade de fazer ou não aquele curso. Este

INDEX
procedimento é realizado com cada profissão e no final explo­
ra-se com o cliente cada categoria formada.
Etapas de aplicação:

BOOKS V antag ens da t é c n ic a :

• No final da técnica obtém-se uma lista de profissões


de interesse e não áreas profissionais como a maioria
dos inventários;

GROUPS
• Tem formato de “jogo” portanto mais lúdica e prazerosa
para o cliente, principalmente jovens e adolescentes;
• Ao mesmo tempo que avalia, a técnica também informa,
possibilitando uma ampliação do repertório do cliente;
• A técnica possibilita organizar e planejar todo o pro­
cesso de busca de informação profissional.
• É uma técnica com base na Análise do Comporta­
mento, portanto coerente com a fundamentação teórica
de orientadores que trabalham nesta abordagem.

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L im it a ç õ e s :

Como todo instrumento de avaliação psicológica, esta


técnica apresenta algumas limitações relacionadas à forma
de aplicação e à estrutura da técnica em si:
• Avalia o interesse por profissões universitárias, não
contemplando as profissões de nível técnico;
• A avaliação abrange 80 profissões mais comuns nas
Universidades do país, algumas profissões não cons­
tam por serem oferecidas em apenas alguns estados
brasileiros;
• Só pode ser aplicado individualmente;

INDEX • O tempo de aplicação é aproximadamente de 90 mi­


nutos. (tempo superior à duração normal de uma ses­
são de orientação profissional).

C o n c lu s ã o

Apesar da técnica estar em desenvolvimento, pôde-se


observar em aplicações realizadas com voluntários, os seguin­

BOOKS
tes resultados: A técnica auxilia na discriminação de variáveis
que interferem na escolha profissional, organiza o processo
de busca de informação, avalia e amplia o conhecimento do
cliente sobre as profissões universitárias. Devido ao seu for­
mato de jogo, a técnica é mais interativa e lúdica do que os
inventários existentes, fazendo com que sua aplicação seja
prazerosa tanto para o cliente quanto para o orientador.
Para as próximas etapas há necessidade de aperfeiçoar

GROUPS
as definições das profissões, aplicar a técnica em um maior
número de voluntários, principalmente que estejam em proces­
so de orientação profissional, aplicação por outros orientadores
profissionais e aprofundar a fundamentação teórica.

R efer ên c ias
Ivatiuk, Ana Lucia. (2004). Orientação profissional para profissões
não universitárias: perspectiva da análise do comporta’
mento. Dissertação de mestrado. Pontifícia Universidade
Católica de Campinas. Campinas - SP.

113
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INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

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Skinner, B. F. (1974). Sobre o Behaviorismo. São Paulo: Cultrix.

INDEX
BOOKS
GROUPS

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A lg u m a s c o n s id e r a ç õ e s s o b r e o
CONCEITO DE BEHAVIORAL CUSPS E A
VISÃO COMPORTAMENTAL DO
DESENVOLVIMENTO INFANTIL1

Thais Porlan de Oliveira


UFMG
Naiara Minto de Sousa
UFSCar

INDEX A visão tradicional do desenvolvimento humano remete


a alguns aspectos que serão brevemente discutidos no pre­
sente trabalho: a questão da determinação inata ou aprendida
das mudanças psicológicas e comportamentais; a concepção
de estados inicial e final do desenvolvimento e a visão de que
o desenvolvimento ocorre em estágios.

BOOKS
Com relação à questão de se as mudanças que ocor­
rem ao longo do desenvolvimento infantil são decorrentes de
variáveis inatas e maturacionais ou recebem maior influência
de variáveis ambientais, alguns autores (Carvalho Neto &
Tourinho, 2001; Catania, 1999; Tourinho & Carvalho Neto, 2004)
analisam que esta dicotomia referente à determinação inata
ou aprendida dos fenômenos comportamentais é uma ques­
tão limitada haja vista a evolução das pesquisas que demons­

GROUPS
traram a complexidade dos processos de determinação do
comportamento. A respeito da influência exercida pela
filogênese e ontogênese para a compreensão do comporta­
mento humano, Tourinho & Carvalho Neto (2004) afirmaram:

1 Agradecimentos: agradecemos às contribuições da Profa. Dra.


Maria Stella C. de A. Gil e ao apoio financeiro do CNPq.

Endereços para correspondência: porlan tha@yahoo.com.br:


naiaraminto@bol.com.br.

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“Se é inegável que certas capacidades humanas para a ação


foram selecionadas na história da espécie (fiíogênese), é tam­
bém evidente que esses produtos são apenas parte do que
encontramos no extenso repertório de um homem adulto, e
uma parte que começa a ser modelada ou modificada desde
o momento em que o homem começa a interagir com o ambi­
ente físico e social (ontogênese) ” (p. 115).
Esta afirmação nos leva a concluir que, para a perspecti­
va comportamental, a discussão a respeito da determinação
inata ou aprendida dos fenômenos comportamentais é uma dis­
cussão infrutífera e ultrapassada. É inegável a existência de
capacidades determinadas ao longo da história da espécie (que

INDEX
seriam variáveis filogenéticas ou inatas); porém é inegável tam­
bém que a partir do nascimento o homem interage com um
ambiente físico e principalmente social, que proverão variáveis
ontogenéticas (incluindo variáveis culturais) que interagem de
forma dinâmica e complexa entre si e com as variáveis
filogenéticas, de forma que é impossível diferenciar ou determi­
nar qual o peso exercido por cada uma destas variáveis na com­
preensão de como ocorre a aquisição e o desenvolvimento de
uma capacidade ou comportamento.

BOOKS
Em relação às concepções acerca do peso que as influ­
ências inatas e aprendidas desempenham nos comportamen­
tos humanos, Oliva (2004) discutiu a noção de estado inicial
nas teorias de desenvolvimento e as evoluções empíricas ne­
cessárias para que as concepções sobre desenvolvimento se­
jam capazes de abarcar a complexidade dos fenômenos
comportamentais. Segundo a autora, o estudo do desenvolvi­
mento sob a perspectiva da existência de um estado inicial ao

GROUPS
nascimento de um organismo traz como pressupostos: 1) que o
bebê ao nascer estaria no estado inicial, momento no qual o
organismo estaria livre das influências do meio; 2) que a crian­
ça passaria por uma série de estados intermediários, nos quais
os comportamentos estariam sendo desenvolvidos; tais aquisi­
ções são explicadas de diferentes maneiras dependendo da
perspectiva adotada para compreensão do desenvolvimento;
3) que os comportamentos dos organismos chegariam ao esta­
do final, no qual uma determinada competência ou capacidade
se estabelece. É importante notar que as estruturas de funcio­
namento dos estados inicial, final e intermediários não poderi­
am ser observadas diretamente.

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Estudos realizados principalmente a partir da década


de 1970 evidenciaram uma série de competências dos bebês,
relacionadas a diferentes aspectos do desenvolvimento, ob­
servadas desde os primeiros dias de vida e mesmo antes do
nascimento, em pesquisas sobre capacidades sensoriais em
fetos - para uma síntese de grande parte dos resultados so­
bre as competências dos bebês veja o capítulo elaborado por
Seidl de Moura e Ribas (2004). O que Oliva (2004) discutiu a
respeito da noção de estado inicial nos leva a considerar que
um dos principais problemas em adotar essa concepção para
a compreensão do desenvolvimento á a existência de um su­
posto momento, o do nascimento, no qual se supõe que o

INDEX
organismo ainda não foi “influenciado” pelo ambiente. Porém,
numa perspectiva condizente com a de outros autores (Bijou,
1995; Rosales-Ruiz & Baer, 1997; Tourinho & Carvalho Neto,
2004), Oliva (2004) defende que a evolução dos estudos tem
evidenciado ser impossível delimitar algum momento no de­
senvolvimento humano em que a experiência não esteja inter­
ferindo nesse processo.
A noção de estados não se mostra útil ao considerar­

BOOKS
mos o desenvolvimento um amplo e complexo processo no
qual estão interligadas dimensões da ontogênese e da
filogênese da espécie. Conforme analisaram Seidl de Moura e
Ribas (2004), os estudos sobre as capacidades dos recém
nascidos mostram que seu repertório não é simples ou desor­
ganizado; é um repertório com características de flexibilidade
e abertura para aprendizagem e tem diversas funções com
bastante espaço para plasticidade comportamental e desen­
volvimento.
GROUPS
Em concordância com a concepção de estados inicial e
final do desenvolvimento, podemos analisar a visão de que o
desenvolvimento ocorre em estágios, ou seja, períodos com
características próprias que se constituem em seqüências
invariantes vividas pelas crianças. A passagem por tais estági­
os explicaria a complexidade crescente dos comportamentos
do indivíduo em função de uma variável fundamental: a idade.
Podem-se destacar alguns dos principais exemplos de expli­
cação do desenvolvimento segundo estágios: a teoria do de­
senvolvimento cognitivo proposto por Piaget (1971), a teoria

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do desenvolvimento psicossexual proposto por Freud (1905),


do desenvolvimento moral proposto por Kohlberg (Kohlberg,
Levine & Hewer, 1983) e do desenvolvimento psicossocial pro­
posto por Erikson (1950).
As perspectivas segundo as quais o desenvolvimento
infantil ocorre seguindo estágios têm sido defendidas e
criticadas em seus diversos aspectos. Dentre as críticas,
Rosales-Ruiz e Baer (1997) destacam principalmente o cará­
ter geral das explicações de que o desenvolvimento ocorre de
forma descontínua, essencialmente em relação a três aspec­
tos: 1) quais as características definidoras de um estágio (ha­
bilidades, idade cronológica); 2) quais os determinantes, para

INDEX
o estudioso, de quantos estágios são necessários para expli­
car o desenvolvimento (qual o critério de divisão de determi­
nado período do desenvolvimento em um número específico
de estágios); 3) quais os fatores determinantes ou definidores
da transição de um estágio para o próximo (como identificar a
passagem de um estágio para outro).
Tomemos como exemplo a visão do desenvolvimento
infantil através de explicações que remetem a estágios se­

BOOKS
gundo os quais se desenvolvem estruturas mentais, como as
estruturas cognitivas de Piaget. Tal concepção prioriza a exis­
tência de um caráter maturacional pelo qual capacidades
cognitivas das crianças são possibilitadas e, desta forma,
minimizam muito o aspecto comportamental e ontogenético
do desenvolvimento que seria dado pela importância que as
conseqüências decorrentes da ação da criança no seu meio
físico e social exercem para que uma habilidade seja adquiri­

GROUPS
da e mantida. Uma análise comportamental dos fenômenos
psicológicos concentra-se na investigação do papel das variá­
veis ontogenéticas na constituição dos repertórios
comportamentais. Numa compreensão do desenvolvimento
baseada nesta perspectiva, portanto, à medida que a criança
interage com seu ambiente físico e social, o repertório
comportamental é estabelecido, mantido e modificado em de­
corrência de relações únicas estabelecidas entre o organismo
e o ambiente, incluindo as variáveis contextuais e culturais que
adquirem função ao longo da vida da criança (Bijou, 1995; Oli­
veira & Gil, 2008; Schlinger, 1992, 1995; Skinner, 1953; Souza
& Pontes, 2007; Tourinho & Carvalho Neto, 2004).

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Este trabalho visa elucidar o conceito de behavioral


cusps para a Análise do Comportamento e propor um olhar
para o desenvolvimento infantil enquanto um processo que
pode ser favorecido se analisado sob a perspectiva
comportamental. Não devemos esquecer que uma análise
comportamental do desenvolvimento deve considerar seu pro­
cesso básico de análise: o comportamento operante, modela­
do pelas conseqüências {Skinner, 1953).
Ao ponderar a importância das contingências na modifi­
cação do repertório comportamental dos indivíduos Rosales-
Ruiz e Baer (1997) propuseram o conceito de behavioral cusp
(em português: cúspide ou cunha comportamental). Tal con­
ceito implica a compreensão de uma mudança comportamental

INDEX
que tem conseqüências para o organismo que se sobrepõem
às conseqüências diretas da própria mudança, resultando em
modificações nas interações entre o organismo e seu ambien­
te. O que define uma behavioral cusp não é o aspecto topo­
gráfico da mudança ou sua magnitude comportamental, mas
é fundamentalmente a função que novas aquisições adquirem
para o organismo ao expor o repertório individual a novos
ambientes, especialmente novos reforçadores e punidores,

BOOKS
novas contingências, novas respostas, novos controles de
estímulos e novas comunidades de contingências de manu­
tenção ou de extinção. Assim como no caso do reforçamento,
cusps são analisadas pelos seus efeitos: sua importância para
a expansão do repertório do indivíduo, podendo inclusive ge­
rar novas cusps (Rosales-Ruiz & Baer, 1997).
Bosch e Fuqua (2001) propuseram alguns critérios para
a análise de mudanças comportamentais que poderiam ser

GROUPS
consideradas cusps, são eles: a) acesso a novos reforçadores,
novas contingências e a novos ambientes; b) validade social
ou função exercida para a comunidade verbal do indivíduo; c)
potencial gerativo ou capacidade da modificação de propiciar
a ampliação do repertório comportamental do indivíduo; d)
competição com respostas inapropriadas; e) número e impor­
tância relativa das pessoas afetadas. De acordo com tais cri­
térios, cusps tendem a ser classes de respostas relativamente
amplas como a imitação generalizada, a leitura, engatinhar ou
manter contato visual. Por ser uma definição funcional, cusps

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comportamentais também podem incluir repertórios conside­


rados simples e específicos, como abrir uma maçaneta ou
apertar um botão, desde que atendam aos critérios anteriores
de definição do conceito.
Um exemplo citado pelos autores em seu artigo semi­
nal consiste do relato do pai de uma criança com retardo men­
tal severo (Rosales-Ruiz & Baer, 1997). Neste caso, ensinar a
criança a manipular a maçaneta da porta que a separava do
quintal cercado transformou-a de uma criança que solicitava
que abrissem as portas geralmente todos os dias (e geral­
mente sem sucesso) em uma criança que conseguia manipulá-
las sozinha. A nova habilidade da criança expandiu enorme­

INDEX
mente as oportunidades de aprendizagem e de atividades para
além de ambientes internos fechados e obviamente aumen­
tou seu controle sobre algumas de suas atividades diárias.
Além disso, os autores salientam a mudança de percepção da
família em relação à criança: de um “eterno problema” para
um aprendiz, que por meio da aquisição de novas habilidades
poderia melhorar a vida de todos; de alguém que deveria ser
cuidada para alguém que poderia ser ensinada com maior in­
dependência.

BOOKS
Outra cusp que envolve a aquisição de um repertório
comportamental relativamente específico é apertar um botão,
por exemplo, de um computador. Retomando o exemplo anteri­
or da criança com retardo mental severo, a nova habilidade per­
mitiria a ela realizar treinos de tarefas complexas que poderiam
melhorar seu repertório verbal, inclusive estabelecerem algu­
mas respostas envolvidas no comportamento de leitura e com­
preensão de texto (de Rose, de Souza & Hanna, 1996).

GROUPS
O conceito de behaviorai cusps pode envolver a apren­
dizagem de habilidades que promovam o desenvolvimento do
indivíduo, ou seja, que envolvam a aquisição de habilidades
socialmente desejadas ou ainda a aprendizagem de compor­
tamentos considerados socialmente inadequados, tal qual o
comportamento anti-social em crianças (Bosch & Hixson,
2005). Estes autores consideraram os efeitos cumulativos do
comportamento anti-social em crianças, que estaria relacio­
nado ao fracasso escolar, rejeição dos pares e delinqüência.
Tais conseqüências do comportamento anti-social em longo

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prazo poderiam, por sua vez, levar ao envolvimento com


gangues e criminalidade. Desta maneira, deve-se considerar
que comportamentos previamente adquiridos (cusps) podem
prover acesso a novas contingências que funcionam de forma
complexa para favorecer o desenvolvimento de repertórios que
podem ser considerados socialmente aceitos ou socialmente
desviantes.
O que foi discutido até aqui e os exemplos anteriores
ilustram uma das contribuições do conceito de Behavioral cusps
para a Análise do Comportamento: uma perspectiva comple­
xa e ampla dos processos de aprendizagem ao longo do de­

INDEX
senvolvimento dos organismos, ao considerar os efeitos cu­
mulativos que uma mudança no repertório pode proporcionar
para a aquisição e manutenção de outros repertórios.
Quanto a este aspecto, o conceito aproxima-se da cha­
mada hierarchical learning (aprendizagem hierárquica), defi­
nida por Staats (1977) como “habilidades comportamentais que
uma criança deveria ter antes de tentar uma nova tarefa de
aprendizagem”. Segundo o autor, a criança está envolvida em

BOOKS
uma progressão de aprendizagem que se move da aquisição
de repertórios básicos para a aquisição de habilidades mais
avançadas baseadas na aprendizagem anterior.
Hixson (2004) salienta o caráter cumulativo da aprendi­
zagem envolvido no conceito de Behavioral cusps. Segundo o
autor, muito do desenvolvimento do comportamento é cumu­
lativo e hierárquico, pois a aprendizagem subseqüente é de­
pendente da aprendizagem prévia. O comportamento ou mu­

GROUPS
danças de classes de respostas que produzem importantes
mudanças comportamentais subseqüentes são designados
como repertórios comportamentais básicos (basic behavioral
repertories) ou cúspides comportamentais (behavioral cusps).
Esta progressão da aprendizagem é chamada “aprendizagem
hierárquica-cumulativa” (cumulative-hierarchical learning) e
deve ser um importante conceito para entender muitos dos
comportamentos humanos complexos.
Diante desta perspectiva de progressão contínua e cu­
mulativa de repertórios proposta por estudiosos da Análise do
Comportamento, é interessante pensarmos na contraposição

121
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com os conceitos tradicionais de estágios do desenvolvimen­


to. Como vimos o conceito de estágios ou etapas tem por base
a premissa de que a cada etapa do desenvolvimento os indiví­
duos teriam capacidades distintas e mais complexas do que
no estágio anterior, que foram adquiridas abruptamente, sob a
comparação do desenvolvimento como uma escada, marcada
por mudanças súbitas, até culminar num objetivo final do de­
senvolvimento.
As concepções tradicionais da Psicologia do Desenvol­
vimento preconizam a existência de uma relação direta entre
a idade ou maturação de estruturas mentais/ cognitivas en­
quanto pré-requisito para a aquisição de capacidades pelas

INDEX
crianças e minimizam o papel das contingências ambientais
para que os comportamentos sejam adquiridos (Bosch &
Hixson, 2004). As estruturas cada vez mais complexas ao lon­
go dos estágios são as variáveis que proporcionam a aquisi­
ção de capacidades pelas crianças. A perspectiva
comportamental, por sua vez, prioriza a aprendizagem dos
comportamentos uma vez que o desenvolvimento só se dá a
partir da interação singular e funcional entre o repertório

BOOKS
filogenético da criança desde a sua concepção e a complexa
rede de relações estabelecida com variáveis ontogenéticas e
culturais. Para compreendermos o desenvolvimento na pers­
pectiva comportamental devemos olhar para a aquisição de
repertórios pelas crianças enquanto um aumento progressivo
de acesso ao ambiente e suas contingências sem perdermos
de vista que a aquisição de novos comportamentos foi prece­
dida por relações funcionais estabelecidas com o meio e não
apenas decorreu da maturação de estruturas internas do or­

GROUPS
ganismo. Desta forma, o conceito de Behavioral cusps é um
instrumento que facilita a análise de que o comportamento
humano é adquirido em um processo de aprendizagem de lon­
ga duração e complexidade no qual a interação organismo-
ambiente e a aquisição de uma habilidade capacitam o orga­
nismo a adquirir outras habilidades.

R efer ên c ias
Bijou, S. W. (1995). Behavior Analysis of Child Development. Reno:
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124
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

O BRINCAR COMO COMPORTAMENTO E


COMO INSTRUMENTO DE INTERVENÇÃO
a n a l ít ic o - c o m p o r t a m e n t a l :

APLICAÇÕES EM DIVERSOS CONTEXTOS1

Letícia Siqueira Lemos


FAE/UFMG, IBAC
Rodrigo Lopes Miranda
FAE/UFMG
Gabriela Macedo Rodrigues da Cunha

INDEX
UFMG

In t r o d u ç ã o

Vários autores (Moura e Azevedo, 2000; Guerrelhas,


Bueno e Silvares, 2000) se engajaram no estudo e na defini­
ção do brincar. O brincar pode ser definido tanto quanto um
comportamento, quanto uma categoria comportamental, sen­
do que existem inúmeras divergências teóricas relacionadas

BOOKS
a tal conceituação. Segundo De Rose & Gil (2003), a maioria
das definições requerem que esse comportamento seja es­
pontâneo e prazeroso. Em vista disso, esses autores apontam
o brincar como um comportamento que não pode ser definido
por sua topografia, pois, a depender de sua função, enquanto
uma brincadeira, diferentes formas de se comportar podem
ser identificadas. Além disso, eles definem esta atividade lúdica
como um comportamento mantido por conseqüências natu­

GROUPS
rais. E essas conseqüências são mais eficientes que os
reforçadores extrínsecos, comuns na manutenção e na modi­
ficação comportamental.
Em concordância com essa posição, é possível indicar
três definições do comportamento de brincar;

I1Os autores agradecem à professora Sônia dos Santos Castanheira


pela leitura atenta de versões deste manuscrito e pelas indicações
feitas sobre ele.
ecivia @yahoo.com. br,dingoh @gmail .com., gabriela.cunha@arcelor.com.br.

125
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

• o brincar não gera conseqüências punitivas e está


sobre controle prioritário de contingências de
reforçamento positivo - Skinner {1968/1975. pág.152);
• o brincar é definido como uma categoria comportamental
ampla, determinada por contingências intrinsecamente
reforçadoras - Carvalho, Souza & Ferraz (2003) e
• o brincar pode ser conceituado como uma categoria
comportamental que compreende uma diversificada
gama de operantes que são similares pelo fato de se­
rem mantidos, principalmente, por contingências de re­
forço positivo e serem conseqüenciados, em baixa es­
cala, por estímulos punitiyps - Miranda (2007).

INDEX
Essas definições nos possibilitam pensar sobre o com­
portamento de brincar e verificar sua importância, tanto para o
atendimento infantil, como também para o desenvolvimento
da criança. Segundo Ortega & Rosseti (2000), de maneira
geral quando a criança brinca, atua como agente histórico.
Isto exige dela o desenvolvimento de autonomia, de autentici­
dade, de pertinência e de responsabilidades com o meio soci­
al no qual está inserida. %

BOOKS
Essa atividade lúdica mostra-se eficiente no desenvol­
vimento de alguns operantes importantes, tais como o
autocontrole e o autoconhecimento, ou seja, medeia o contato
com ouvintes e uma audiência e, dessa forma, com
reforçadores sociais (verbais e não verbais) que possibilitam a
aprendizagem de respostas verbais de auto-descrição. Brin­
cando, em interação com outras crianças ou com adultos, a
criança pode também demonstrar respostas colaterais asso­

GROUPS
ciadas a sentimentos e, a partir desses, justamente pelo con­
tato com interlocutores, ficar sob controle de seu corpo e de
seus próprios comportamentos.
O brincar permite que a criança aprenda pelo contato
com regras. Os comportamentos controlados por regras po­
dem ser aprendidos sem o contato direto do sujeito com a
contingência que as produziu (Baum, 1999) o que é, de certa
forma, vantajoso, pois diminui a interação da criança com os
estímulos aversivos. E, como estímulo discriminativo que indi­
ca respostas possíveis a uma dada conseqüência, a regra

126
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INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

possibilita o desenvolvimento de habilidades de enfrentamento


de forma mais eficiente.
Em última instância, o brincar ainda permite que a cri­
ança entre em contato com algumas contingências aversivas,
mesmo que de forma esporádica e amena, como suas defini­
ções já indicam. Em contato com essas contingências
aversivas atenuadas, a criança poderá aprender outras for­
mas de comportar-se que minimizam os impactos de respos­
tas contraproducentes. Isso acarretará em maior durabilidade
dos comportamentos aprendidos, maior variabilidade destas
respostas - adequando-as à criança - e menor intensidade de
todos os sentimentos quiç porventura acompanham a

INDEX
estimulação aversiva.
Observa-se que a atividade lúdica traz contribuições
importantes para o refinamento de todas aquelas respostas
com alta probabilidade de reforçamento que estão atreladas
ao desenvolvimento infantil. Isso ocorre ou por meio da extinção
de “comportamentos problemas”, ou pelo surgimento de com­
portamentos que concorrem com aqueles apresentados como
queixa. Desta forma, o brincar auxilia na discriminação das

BOOKS
variáveis de controle do comportamento, na descrição de en­
cobertos e na expressão de experiências desagradáveis, co­
laborando para a atenuação de respostas emocionais tais como
tensão e raiva (Carvalho, Souza e Ferraz, 2003).
Além disso, as estratégias lúdicas utilizadas como uma
abordagem indireta aos comportamentos encobertos das cri­
anças possibilita o contato com contingências presentes no
seu contexto. Por meio do brincar pode-se avaliar e intervir

GROUPS
diretamente no comportamento infantil, o que nos permite con­
siderar que o brincar pode (e deve) ser contingenciado nos
mais variados contextos nos quais se trabalha com crianças,
por ex: na educação, no atendimento hospitalar e na clínica.

O BRINCAR NO CONTEXTO EDUCACIONAL

Do ponto de vista dos autores deste trabalho, a


educação pode ser vista como uma relação entre sujeitos, rela­
ção essa que habilita um deles a desenvolver certas habilida-

127
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des que lhes serão úteis ao longo de seu desenvolvimento.


Skinner aponta em 1968 (p.4) que a prática de ensino é o meio
pelo qual a aprendizagem é facilitada, ou seja, quem é ensina­
do aprende mais rapidamente do que quem não o é2. A educa­
ção, portanto, funcionaria como a forma pela qual os contextos
seriam arranjados, oportunizando ou facilitando condições para
que certas ações ocorressem e esses comportamentos, sendo
desenvolvidos pelas pessoas, seriam vantajosos, no futuro, tanto
para aquele que se comporta quanto para seus pares.
A aprendizagem, nesse sentido, pode ser entendida como
a modificação de hierarquias comportamentais, o desenvolvi­

INDEX
mento de novas classes de resposta, o estabelecimento de dis­
criminações e a formação de classes de equivalência, ou seja,
ela trata de desenvolvimento de comportamentos complexos
através do refinamento das contingências (Catania, 1984).
Dessa forma, considerando-se que a aprendizagem está
constantemente ocorrendo e já que o sujeito está sempre em
contato com um ambiente (físico e social), faz-se necessária a
sistematização das condições para a emissão de respostas

BOOKS
específicas, sobremaneira no contexto escolar. Essa impor­
tância é maior quando o sujeito que se comporta é uma crian­
ça, que possui uma longa história_a construir e, por esse moti­
vo, os impactos de conseqüências contraproducentes podem
influir tanto a curto quanto em longo prazo, na história de vida
da mesma (Carvalho, Souza e Ferraz, 2003).
O contexto educativo se consolida como uma extensão
dos demais ambientes nos quais a criança se insere e fornece

GROUPS
condições para o contato dela com contingências que podem
ser encontradas cotidianamente. Por suas particularidades, a
escola permite o desenvolvimento da criatividade, com sua
exposição aos vários aspectos ambientais com os quais a cri­
ança ainda não teve contato permitindo, também, que ocor­

2 Essa definição não implica na consideração de que o conhecimento


é transmitido do professor para o aluno, numa relação de
desigualdade. A aprendizagem no contexto educacional ocorre,
como indicado por Castro (2001), pela correlação na qual todos os
sujeitos envolvidos detêm certo grau de conhecimento sobre o tema,
de maneira diferenciada, específica e relevante.

128
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ram generalizações, já que parte do contexto escolar guarda


similaridades com os demais ambientes com os quais ela
interage.
No Brasil, observa-se uma preocupação crescente com
a educação infantil (Kuhlmann Jr., 2000). As Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (Res. CEB 01,
de 04/04/99) determinam que as instituições devam promover
práticas de cuidado além da educação formal. Isso está em
conformidade com a visão presente nas atuais Leis e Bases
da Educação Nacional (LDB) de integrar os aspectos físicos,
sociais, psicológicos e intelectuais da criança, permitindo seu

INDEX
desenvolvimento integral. Apropriada e convenientemente, um
dos fundamentos norteadores da educação infantil, nessa
Resolução, é a atividade lúdica. O brincar, associado a essas
características, tende a potencializar os efeitos da prática
educativa, principalmente porque a aprendizagem torna-se
mais efetiva quando é divertida (Soares e Zamberlan, 2001).
Essa atividade lúdica abre possibilidades para se pen­
sar também na redução do ‘Iracasso escolar"’, pois permite o

BOOKS
contato da criança com alguns reforçadores que, com toda
certeza, fazem parte de seu ambiente extra-escolar, parte des­
ses, conseqüências naturais da brincadeira, possibilitando aos
professores tornarem a escola um elemento bastante
reforçador para a criança, ampliando sua motivação e as
chances de um comparecimento mais assíduo à escola.
O brincar, ao articular o ensino e a aprendizagem exige,
outrossim, da criança uma postura mais ativa, auxiliando no

GROUPS
desenvolvimento da pró-atividade (Ortega e Rosseti, 2000),
elemento este que se adequa à definição de educação como
um processo correlacionai entre crianças e professores. Além
disso, o ambiente escolar, com a função de favorecer a elabo­
ração de uma nova interpretação de mundo, cria condições
para este brincar, permite a aproximação entre professores e
alunos, cria uma história coletiva que implica diferentes traje­
tórias e relações, constituindo uma belíssima experiência cul­
tural (Debortoli, 2005).
Como permite o contato do brincante com contingênci­
as sociais, essa atividade lúdica, parte constituinte de um re­

7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!


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pertório social, cria condições para que aquele que brinca te­
nha oportunidades de exercitar, ampliar e refinar suas habili­
dades sociais (Gil e de Rose, 2003). O comportamento lúdico
concede o aumento das interações sociais e, permitindo a
aprendizagem social, amplia o contato com reforçadores soci­
ais e a ampliação dos vínculos entre criança e professores.
Além disto, como conseqüência, possibilita o trato com o com­
portamento verbal, viabilizando o contato com os comporta­
mentos encobertos e o responder mais apropriado por parte
dos ouvintes (Baum, 1999; Skinner, 1974/2003). Acrescente-
se que, brincadeiras de grupo e jogos, por envolverem a parti­
cipação de outras pessoas, fazem com que a criança entre

INDEX
em contato não apenas com um novo contexto social, mas
também, como observado anteriormente, com regras.

O BRINCAR NO CONTEXTO HOSPITALAR

Dentre os diversos contextos de aprendizagem aos quais


uma pessoa pode se expor, é importante destacar o ambiente
hospitalar, local onde se concentram especificidades observa­
das nos estímulos e/ou nas operações estabelecedoras dos

BOOKS
quais esta pessoa fica sob controle.
Por exemplo, num hospital, os pacientes são frequente­
mente submetidos a vários procedimentos técnicos, a exa­
mes invasivos, a medicações e curativos, a cirurgias, a exer­
cícios físicos e imobilização de pequenas ou extensas partes
do corpo, dentre outros procedimentos eliciadores de respos­
tas estressoras. As limitações durante a internação também
extrapolam as condições impostas pelo quadro clínico (como

GROUPS
as diversas intensidades de dor, o mal-estar geral, a incapaci­
dade para caminhar, a sonolência, etc.). Neste ambiente, o
paciente torna-se dependente de cuidados e das decisões de
outras pessoas, seja de um profissional ou de um acompa­
nhante. Como se não bastasse, a internação ainda se confi­
gura pela privação de atividades e práticas cotidianas. O paci­
ente separa-se de seu ambiente familiar e passa a conviver
com um conjunto de hábitos bastante limitado como por ex:
horários rígidos, cardápio de alimentação específico, restrições
de visitas, etc.

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INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

Desta forma, o contexto hospitalar se torna caracteriza­


do de um lado, por um déficit de reforçadores positivos e de
outro, por uma ampla diversidade de estimulação aversiva que
podem estabelecer uma ótima ocasião para respostas de fuga-
esquiva, além de eliciar alguns subprodutos tais como frustra­
ção, medo e ansiedade (Soares e Zamberlan, 2001). A partir
dessa conjuntura, é importante considerar certas
especificidades que são observadas quando se trata de
internação infantil. Este é um evento pouco esperado e de di­
fícil aceitação por parte da família e da equipe de saúde, pois
esta fase está, comumente, relacionada com as expectativas
de bem-estar, alegria e liberdade.

INDEX
Neste caso, a hospitalização é encarada, muitas vezes,
como a interrupção da infância. Esta concepção tem em vista,
especialmente, o afastamento da criança de suas atividades
diárias, dentre as quais se destacam a escola, bem como o
espaço e o momento para brincar. As restrições e imposições
do ambiente hospitalar podem contribuir na emissão de respos­
tas que não auxiliam no tratamento. A criança pode apresentar
regressões em habilidades e competências já adquiridas: de­
sordens de sono e de alimentação, medos imaginários, depen­

BOOKS
dência, agressividade, apatia, negativismo e todo um conjunto
de manifestações ansiogênicas (Gariépy e Howe, 2003; Rennick
et al., 2002). A partir dessa configuração, a inclusão do brincar
na hospitalização infantil, é plenamente justificada.
Soares & Zamberlan (2001) descrevem como a quali­
dade do meio pode influenciar o processo de recuperação de
pessoas inseridas em condições de enfermidade e
hospitalização. Aí, então, a atividade lúdica se caracteriza como

GROUPS
uma possibilidade de intervenção eficiente, permitindo à cri­
ança entrar em contato com o contexto hospitalar de outra
maneira experimentando um número maior de conseqüênci­
as positivas. O paciente infantil constrói, por meio do brincar,
formas de lidar com contingências às quais não está habitua­
da, facilitando a sua compreensão sobre os elementos
integrativos do contexto abordado nesta seção.
O brincar permite o desenvolvimento do repertório
com porta mental infantil, incrementando-o com diferentes res­

131
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INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

postas de adequação ao ambiente de internação hospitalar. A


brincadeira cria condições, ainda, para a ocorrência de senti­
mentos concorrentes àqueles inerentes a esse contexto, bem
como o desenvolvimento de um maior senso de controle so­
bre sentimentos e acontecimentos que cercam o paciente in­
fantil durante a internação.
Em sua inserção no contexto hospitalar, essa atividade
lúdica não só auxilia a criança internada, como influencia posi­
tivamente os acompanhantes e os profissionais de saúde. Para
os primeiros, quando a criança brinca, ela demonstra capaci­
dade de agir para além de sua enfermidade. No engajamento
destas pessoas na brincadeira com a criança, identifica-se o

INDEX
estreitamento dos laços afetivos entre adulto e criança. Con­
seqüentemente, estes fatores levam à redução de alterações
emocionais e comportamentais geradas pela hospitalização
pediátrica também entre aqueles que acompanham a criança
internada. (Soares e Zamberlan, 2001 e 2003; Felde-Puig et
al., 2003).
Já para os profissionais, observar a criança brincar gera
sentimentos positivos e de relaxamento e eles percebem que

BOOKS
os efeitos desagradáveis que o tratamento pode trazer e/ou
os sinais e sintomas da enfermidade não trouxeram danos
totalmente insuportáveis para seu paciente. Além disso, o
envolvimento desses profissionais em atividades lúdicas, com
a criança, permite o estabelecimento de um vínculo mais pró­
ximo, tanto com a criança, quanto com seu acompanhante. E
esta vinculação, por sua vez, facilita a adesão ao tratamento e
a adaptação da criança ao ambiente hospitalar (Soares e
Zamberlan, 2001).

GROUPS
Considerando-se todos esses aspectos, a inclusão do
brincar na rotina da internação pediátrica contribui para uma
visão da atenção hospitalar enquanto um processo, que prima
pela qualidade de vida do público que atende não só durante a
realização de seus procedimentos, mas também nos perío­
dos que os antecede e sucede. A presença do lúdico no hospi­
tal reduz a distância entre esses três momentos da vida da
criança, fazendo com que a internação acarrete menos sofri­
mentos e dificuldades desnecessárias.

132
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

O que se tem observado, então, é que, promover saú­


de, está além da ordem curativa e do tempo de permanência
no hospital sendo necessário, portanto, auxiliar a criança a
atravessar a situação de hospitalização ou de doença com mais
benefícios, tentando fazer com que este período não acarrete
somente sofrimento. Isto pode ser obtido por meio do ofereci­
mento de um ambiente que contribua para a recuperação do
bem-estar físico, psíquico e social.

O B r incar no C o n texto C línico

A Terapia Analítico-Comportamental Infantil é baseada


nas pesquisas sobre o comportamento verbal, no comporta­

INDEX
mento governado por regras, assim como no comportamento
mantidos pelas contingências.
O trabalho psicoterápico com criança tem as seguintes
características em sua atuação: (1) a observação direta do
comportamento infantil; (2) a ampliação do problema-queixa e
da tríplice relação de contingências e; (3) a participação da
criança e dos adultos significativos no ambiente infantil.

BOOKS
A observação direta pode ocorrer tanto dentro do con­
sultório como em outros espaços freqüentados pela criança
(casa, escola, parques, etc.). Essa observação direta do com­
portamento da criança passou a contribuir também para análi­
ses funcionais da relação cliente-terapeuta e da fala dos clien­
tes em sessão. A fala da criança passa a ser um recurso res­
peitado e, através dela, o terapeuta pode ter acesso a com­
portamentos públicos e privados da criança.

GROUPS
No que tange à ampliação do problema-queixa e à tríplice
contingência, propõe-se que esta última mantém-se como a
base e a sustentação para a análise funcional do problema.
Entretanto, esta análise inclui outros eventos significativos como
as variáveis orgânicas, os comportamentos encobertos e os
relatos verbais.
O objetivo do trabalho terapêutico passa a ser mais
amplo e mais complexo, bastante diferente da pura extinção
de determinados comportamentos e da aprendizagem de ou­
tros incompatíveis. O desenvolvimento do comportamento de

133
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

observação da criança e o autoconhecimento são focos do


trabalho, ensinando a criança a descrever o que pensa e a
descrever o que viveu. Dessa forma, o terapeuta vai modelan­
do, aos poucos, o comportamento de lembrar e de descrever
da criança, tendo a cautela de exigir apenas um desempenho
adequado ao seu repertório.

“Quando o cliente consegue identificar as relações entre seus


comportamentos abertos e encobertos e perceber de que
variáveis eles são função, está mais apto a modificar seu
próprio comportamento e interferir nas contingências a ele
relacionadas, podendo ampliar seu repertório de forma mais
independente. Isso é valido e possível mesmo para crianças,

INDEX
resguardando-se os limites impostos por seu desenvolvimento
global" (Conte e Regra, 2000, p.89-90 - o grifo é nosso)

Além da criança, o terapeuta deve trabalhar com os adul­


tos significativos, por exemplo, os pais, os professores e outros
profissionais que trabalham com ela. Segundo Silvares &
Gongora (1998), a participação dos adultos significativos é mui­
to importante uma vez que são eles que encaminham a criança
para o trabalho psicológico; são eles que podem estar envol­

BOOKS
vendo a criança em contingências relacionadas ao comporta­
mento problema; são eles que podem acrescentar informações
relacionadas aos aspectos do meio e ao histórico da criança.
Trabalhar com os adultos significativos possibilita trabalhar com
estratégias familiares e alterar contingências ambientais.
Segundo Conte & Regra (2000) a participação das cri­
anças não exclui a participação dos adultos significativos no
ambiente infantil.

GROUPS
"Mais do que instruir pais ou treinar com eles respostas espe­
cificas, pode ser necessário fazê-los analisar seu próprio com­
portamento e a relação deste com o comportamento da cri­
ança, lidar com seus próprios comportamentos abertos e
encobertos (como regras, conceitos, sentimentos e sensa­
ções relacionados ao problema)”, (p.94)

Esse conjunto de participações permite ao terapeuta ter


acesso a uma cadeia comportamental mais complexa, relaci­
onada ao comportamento queixa, auxiliando em suas análi-

134
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

ses sobre a rede de relações que envolvem o comportamen­


to. Dessa forma, o terapeuta, munido dessas informações, terá
melhor condição para planejar suas intervenções com a crian­
ça, analisar a conduta dos pais e orientá-los.
A utilização do brincar na clínica relaciona-se muito bem
com os propósitos da análise do comportamento. O brincar
tornou-se um importante instrumento da psicoterapia
comportamental infantil. Utilizar o brincar ajuda o terapeuta e
a terapia a serem mais bem aceitos pela criança e esta, a
valorizar o espaço e a atividade. Auxilia também na identifica­
ção das características das interações estabelecidas entre a

INDEX
criança e pessoas significativas de seu ambiente; na percep­
ção das relações de contingências envolvidas na queixa, as­
sim como na identificação dos sentimentos, sensações e pen­
samentos que a criança tem diante de determinadas situa­
ções e pessoas.
O brincar na clínica permite que o terapeuta analise com
a criança, “ao vivo”, comportamentos públicos e privados que
ela emite diante de determinadas situações. Possibilita, ainda,

BOOKS
modelar respostas alternativas mais adaptativas e desenvol­
ver outras habilidades.
No brincar, a criança expressa ao terapeuta o quanto
ela está sensível a contingências ambientais diretamente rela­
cionadas a seu comportamento e sua alteração. Quanto me­
nor a criança e menos complexo seu desenvolvimento verbal,
mais facilmente ela está sensível às essas contingências, pois
os recursos lúdicos permitem uma abordagem indireta dos seus

GROUPS
comportamentos encobertos, facilitando ao terapeuta informa­
ções sobre as reais contingências presentes no seu contexto,
e possibilitando à criança o desenvolvimento do comportamento
de observação e o autoconhecimento.
São diversas as estratégias e os recursos que o terapeuta
pode utilizar com crianças na clínica. Como forma de ilustração,
são sugeridos: brincar com bonecos, bichos e casinha de bone­
cas; dramatizar com fantoches ou máscaras; formar, comple­
tar, interpretar e recontar histórias; elaborar desenhos com base
nas fantasias, vivências pessoais ou sob instruções; construir
painéis e murais; assistir a filmes e interpretá-los.

7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!


135
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

"As sessões de psicoterapia comportamental infantil podem


proporcionar situações de grande emoção ao terapeuta na sua
interação com a criança e com o seu mundo privado. ses­
sões se revestem de grande prazer e alegria e trazem um en­
canto peculiar que, talvez, só as crianças possam ainda ofere­
cer aos que com elas trabalham. ” (Conte e Regra, 2000, p. 132)

C o n sid er aç õ es F inais

Com a inclusão da criança no processo, não só os


terapeutas comportamentais, mas os analistas do
comportamento de maneira geral precisarão apoiar-se em

INDEX
estratégias lúdicas.
O brincar possui inúmeras potencialidades de inserção
nos contextos assinalados no presente texto, o que torna
importante um maior número de estudos por parte dos analistas
do comportamento. Para tanto, indica-se a necessidade de maior
interesse da área ao se debruçar sobre essa atividade lúdica,
em todos os contextos em que o trabalho envolva crianças.
Além disso, já que é conhecida a existência de outros

BOOKS
referenciais teóricos que atuam diretamente com a criança,
aponta-se a necessidade de diálogo entre os teóricos da Análise
do Comportamento com os de outros campos do conhecimento,
tanto dentro quanto fora da Psicologia. É importante conhecer e
fazer uma releitura, dentro do enfoque comportamental, dos
procedimentos e das estratégias desenvolvidas por esses
profissionais.

GROUPS R efer ên c ias


Baum, W. M. (1999) Compreender o Behaviorismo: ciência, com­
portamento e cultura. Editora Artes Médicas Sul Ltda.: Porto
Alegre. (Original publicado em 1994).
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de abril de 1999. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação Infantil. Disponível em: http://
portal.mec.aov.br/cne/arquivos/pdf/CEB0199.pdf
Castro, P.C.S. (2001) Emprego dos Métodos de Educação a Distân­
cia na Otimização do Processo de Ensino-aprendizagem.
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-

136
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

graduação do Instituto de Educação da Universidade Fede­


ral de Mato Grosso sob orientação do Prof. Dr. José de Sou­
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Carvalho, A. M.; Souza, M. & Ferraz, P. (2003) Brincarem Unidades
de Atendimento Pediátrico: Aplicações e Perspectivas. Tra­
balho apresentado na XII Semana da Iniciação Científica da
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Guerrelha, F.; Bueno, M. & Silvares, E.F.M. (2000) Grupo de
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137
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

Infantil. Revista Brasileira de Terapia Comportamentai e


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Sidman, M. (1995). Coerção e suas implicações. Campinas: Livro
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Silvares, E.F.M. & Gongora, M.A.N. (1998). Psicologia clínica
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Skinner, B.F. (1975) Tecnologia do Ensino. São Paulo: EPU. (Origi­
nal publicado em 1968)
Skinner, B.F. (2003) Sobre o Behaviorismo (8a edição). São Paulo:
Cultrix. (Original publicado em 1974).

GROUPS
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de intervenção na infância e na adolescência. Londrina: Edi­
tora da UEL. pág. 193-207.

138
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

T e x t o e c o n t e x t o n a p e r s p e c t iv a d a

S a ú d e A m b ie n t a l : a n á l is e d a s o b r a s

INFANTIS DE MONTEIRO LOBATO

Rafaela Santos de Araújo


CPqRR / FIOCRUZ-Minas

André Luiz Freitas Dias


CPqRR / FIOCRUZ - Minas; UFMG

INDEX
Entende-se por Saúde Ambiental o campo do conheci­
mento que tem como objeto de investigação a relação entre o
ambiente - físico, social, natural, construído - e o padrão de
saúde de uma população ou coletividade (TAMBELLINI &
CÂMARA, 1998).
De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde
(OPAS/OMS), compreende tal campo do conhecimento todos os
processos, condicionantes e fatores ambientais que exercem al­

BOOKS
gum efeito sobre a saúde e bem-estar do homem e sociedade.
Apesar do interesse e investimento inicial muito restri­
tos à temática do saneamento básico, encontra-se hoje na
literatura científica uma grande diversidade de temas, objetos,
público-alvo e elementos considerados na relação saúde e
ambiente (PHIUPPI JR., 2005). A seguir, citaremos alguns
estudos para exemplificar essa variedade de interesse, pre­
sente no campo da Saúde Ambiental.

GROUPS
S aúde A m b ie n ta l : diversidade de interesse e
INVESTIMENTO

Em se tratando de saneamento básico e qualidade da


água, em um trabalho realizado em 1973, Araújo considerou a

Apoio: Fundaçao de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais


(FAPEMIG)/ PROVOC-Programa de vocação científica (CPqRR/
FIOCRUZ-Minas)

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139
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

existência de uma estreita ligação entre as condições


ambientais e o nível sócio-econômíco das populações com a
mortalidade infantil no estado da Bahia.
A partir do mesmo tema e público-alvo, Monteiro e
Nazário (2000) publicaram um estudo sobre a influência das
condições ambientais sobre a evolução de diferentes indica­
dores de saúde das crianças da cidade de São Paulo.
Mantendo-se no mesmo tema, Teixeira e Heller (2004)
caracterizaram a morbidade por infecções intestinais por
helmintos, identificando os fatores ambientais associados a
estas doenças, tanto em crianças quanto em adultos.

INDEX
Considerando outros objetos e focos de análise, alguns
estudiosos vêm dedicando suas pesquisas à relação entre os
espaços urbanos e os costumes, modos de vida e condições
de saúde de cidadãos e coletividades. A correta e adequada
orientação e localização de prédios, ruas, parques, restauran­
tes e praças e os efeitos nos comportamentos das pessoas e
populações são o principal interesse desses pesquisadores
(FERREIRA, EDUARDO & DANTAS, 2003).

BOOKS
No que diz respeito à poluição ambiental, um artigo de
revisão publicado por Duchiade (1992) listou os diversos tipos
de agentes poluidores, tais como o fumo, partículas em sus­
pensão, óxidos de nitrogênio, sulfatos e ozônio, entre outros e
seus efeitos sobre a saúde de adultos e crianças.
Cançado et. al. (2006) foi além, atualizando a lista dos
principais agentes poluidores e seus efeitos sob a saúde res­

GROUPS
piratória e cardiovascular, dando ênfase à queima de combus­
tíveis fósseis e de biomassa.
Lopes e Ribeiro (2006), também preocupados com a
influência da poluição ambiental na saúde da população, ino­
varam na construção de um Sistema de Informação Geográfi­
ca (SIG), objetivando verificar a possível correlação entre os
produtos das queimadas de cana-de-açúcar no estado de São
Paulo e a incidência de problemas respiratórios em morado­
res da região.
Outro assunto que vem ganhando grande destaque no
campo da Saúde Ambiental é o da exposição a fatores especí-

7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

ficos como substâncias e produtos químicos, como o mercú­


rio, e seus efeitos no estado de saúde das pessoas (NAOUM,
MOURÃO & RUIZ, 1984; SANTOS ET. AL., 1995; CÂMARA
ET. AL., 1996; NOGUEIRA, 1997).
Em um artigo de 2005, Stoppelli e Magalhães recordam
os efeitos danosos dos agrotóxicos e dos produtos químicos
presentes nos mesmos sobre a saúde da população, sendo
sugeridas diversas ações para minimizar tais efeitos e para
facilitar a fiscalização do uso dos mesmos.
Rohlman et. al. (2003) modificaram e adequaram um
sistema computadorizado de pesquisa e avaliação

INDEX
comportamental (BARS), visando detectar padrões de
neurotoxicidade em pessoas com pouca instrução ou índice
de alfabetização expostas a agentes tóxicos.
Também sensível aos efeitos dos produtos e elementos
químicos, mas em um contexto mais específico, a área de
Saúde do Trabalhador, especialmente no que tange o
gerenciamento de riscos, trouxe grandes contribuições para a
Saúde Ambiental (RIGOTTO, 2003).

BOOKS
São antigos os estudos nos quais se procura relacionar
a situação da classe trabalhadora às condições ambientais,
tanto no nível micro - no âmbito da própria empresa ou indús­
tria - quanto no macro - havendo a consideração de questões
mais amplas, como as práticas culturais, as condições sócio-
econômicas e políticas de uma sociedade e o modelo de de­
senvolvimento propostos e seguidos por determinados países
e regiões (PORTO & FREITAS, 1997; PHILLIPI JR.,

GROUPS
MALHEIROS & AGUIAR, 2005).
Mesmo considerando toda essa diversidade de temas,
vale ressaltar que o interesse na relação entre saúde e ambi­
ente não é uma novidade para a Saúde Pública, fazendo parte
de toda sua história. Como aponta Freitas (2005) em um le­
vantamento sobre a produção científica acerca do tema ambi­
ente na saúde coletiva, novo mesmo é o termo saúde ambiental
para se referir a um determinado campo de investigação.
Desde os tempos do movimento higienista e do
sanitarismo à promoção da saúde dos dias atuais, a interação

141
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

entre a saúde humana e os fatores do meio ambiente natural


e atrópico que a influenciam, vêm interessando não somente
cientistas como também diversos intelectuais, dentre os quais
Monteiro Lobato, Renato Kehl, Arthur Neiva, Belisário Pena,
Lima Barreto e Guimarães Rosa (SANTOS, 1985; LIMA &
HOCHMAN, 1996; GÓIS JÚNIOR, 2003; SILVEIRA, 2005).
Por exemplo, em Triste fim de Policarpo Quaresma
(1915), de Afonso Henriques de Lima Barreto, o personagem
Quaresma lamenta o insucesso do seu projeto de desenvol­
ver uma agricultura sem implementos artificiais e sua conse­
qüência na qualidade de vida da população.

INDEX
Monteiro Lobato também, mediante sua extensa partici­
pação em jornais como O Estado de São Paulo e a publicação de
vários livros, tem a atuação destacada na divulgação de temas
relacionados à saúde e ao meio ambiente (OLIVEIRA, 2005).
Segundo Silveira (2005) e Bertolli Filho (2003), o autor,
coerente com a época em que viveu, travou uma “cruzada higi­
enista”, havendo pouco espaço para uma atuação ativa do su­
jeito, que deveria seguir normas para um agir mais higiênico.

BOOKS
Em um estudo divergente, Carvalho (2007), ao analisar
a obra A reforma da natureza (1941), ressalta a maneira como
Lobato dialoga com a criança, entendendo-a como ser atuan­
te e passível de conscientização de suas ações e impactos
sobre o ambiente, protagonista de sua realidade e não somente
uma seguidora de regras e normas.
Análises semelhantes fazem Piola & Saito (2007),
Gregorin Filho (2006) e Souza da Silva e Barcelos (2006), para

GROUPS
quem a maior virtude de Monteiro Lobato é o estabelecimento
de uma condição de reflexão crítica e autônoma do sujeito e o
exercício de cidadania. Uma tentativa de despertar no leitor
uma flexibilidade diante do modo habitual de ver o mundo e
resolver os seus problemas.
Na visão da ciência da Análise do Comportamento, se­
gundo ressalta Vasconcelos et. al. (2008), a literatura infantil e,
mais especificamente, a obra de Monteiro Lobato poderia esta­
belecer uma oportunidade para o desenvolvimento do repertório
comportamental das crianças, ao possibilitar o refinamento do:

142
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
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“(1) seu comportamento verbal, aprendendo a descrever seus


próprios sentimentos e pensamentos, adquirindo vocabulá­
rio novo e aumentando a sua fluência verbal; (2) dos compor­
tamentos criativos, apresentando soluções originais e
flexibilizando o pensamento ao considerar várias perspecti­
vas sobre uma mesma situação; (3) do comportamento de
ler, tornando a leitura atraente; e (A) uma visão crítica da re­
alidade. (p. 11; acréscimos em itálico nossos)

A partir das contradições acima mencionadas, reconhe­


cendo a importância da literatura para a divulgação de conhe­
cimentos científicos, o papel de destaque de Monteiro Lobato
e a ampla utilização de suas obras no processo de Educação
em Saúde e Ambiente, o objetivo do presente trabalho foi de

INDEX
analisar as obras infantis de Monteiro Lobato, na perspectiva
da Saúde Ambiental.

M étodo

1. DO OBJETO

No presente trabalho, procedeu-se a leitura da obra com­

BOOKS
pleta de Monteiro Lobato, direcionada ao público infantil (perí­
odo: 1920-1947). A coleção é composta pelas seguintes obras.

Quadro 1 - Obras infantis de Monteiro Lobato (1920-1947)

Ano Título

1920
1921
1921
1921
GROUPS A menina do narizinho arrebitado
Fábulas de Narizinho
Narizinho arrebitado
0 Saci
1922 0 marquês de Rabicó
1922 Fábulas
1924 A caçada da onça
1924 Jeca Tatuzinho
1924 O noivado de Narizinho
1927 As aventuras de Hans Staden
1928 Aventuras do príncipe
1928 0 Gato Félix

143

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1928 A cara de coruja


1929 0 irmão de Pinóquio
1929 0 circo de escavalinho
1930 Peter Pan
1930 A pena de papagaio
1931 Reinações de Narizinho
1931 0 pó de pirlimpimpim
1932 Viagem ao céu
1933 Caçadas de Pedrinho
1933 Novas Reinações de Narizinho
1933 História do mundo para as crianças
1934 Emília no país da gramática
1935 Aritmética da Emília
1935 Geografia de Dona Benta

INDEX
1935 História das invenções
1936 Dom Quixote das Crianças
1936 Memórias da Emília
1937 Serões de Dona Benta
1937 0 poço do Visconde
1937 Histórias de Tia Nastácia
1938 0 museu da Emília
1939 0 Picapau Amarelo
1939 0 minotauro
1941 A reforma da natureza

BOOKS
1942 A chave do tamanho
1944 Os doze trabalhos de Hércules
1947 Histórias diversas

Ao todo, foram lidos e consultados trinta e cinco textos.


Os textos que não se teve acesso foram: Fábulas de Narizinho
(1921), A caçada da onça (1924), Jeca Tatuzinho (1924) e
Novas reinações de Narizinho (1933).

GROUPS 2 . P r o c e d im e n t o

A ) Id e n t if ic a ç ã o d e t r e c h o s a f in s a o c a m p o d a S a ú d e A m b ie n t a l

Buscou-se identificar nas histórias trechos afins ao cam­


po da Saúde Ambiental, tendo como referência os temas e
subtemas propostos pela Organização Pan- Americana da
Saúde (OPAS), a saber:

144
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INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

A) Avaliação e Gerenciamento de Riscos


A.1) Avaliação de Impacto

“(...} pode ser definida como qualquer combinação de proce­


dimentos ou métodos através dos quais se possibilita julgar
os efeitos que uma política ou um programa poderiam ter na
saúde da população.”

A.2) Desastres Naturais


"De acordo com OPAS/OMS, Desastre/Emergência pode ser
definido como sendo um fenômeno natural ou causado pela
ação humana, que produz um distúrbio massivo no sistema
dos serviços de saúde, produzindo tão grande e imediata

INDEX
ameaça à saúde pública que o país afetado necessite de
assistência externa para enfrentar a situação.
Já os acidentes referem-se a incidentes ou situações perigo­
sas provocadas por descargas acidentais de uma substância
de risco para a saúde humana e/ou ao meio ambiente. Estas
situações incluem incêndios, explosões, fugas ou descargas
de substâncias perigosas que podem causar a morte ou le­
sões a um grande número de pessoas.
O mandato da OPAS/OMS é cooperar com os países da re­

BOOKS
gião da América Latina e do Caribe na redução dos efeitos
das situações de emergência e de acidentes, através dos
seus programas de prevenção, mitigação e preparação, e
através do apoio para uma administração eficiente da ajuda
internacional, quando situações de emergência ocorrem.
O trabalho do Programa na Preparação e Mitigação de de­
sastres da OPAS/OMS envolve todos os setores da socieda­
de e abrange uma visão global de todas as necessidades
humanas físicas, mentais e sociais, importantes para o im­

GROUPS
pacto na saúde.
Outra atividade essencial da OPAS nesta área tem sido a
publicação de informação técnica e a produção de materiais
de capacitação para desastres e a criação da Biblioteca Vir­
tual de Desastres é um exemplo disso. ”

A.3) Desastres Tecnológicos


“De acordo com OPAS/OMS, Desastre/Emergência pode ser
definido como sendo um fenômeno natural ou causado pela
ação humana, que produz um distúrbio massivo no sistema
dos serviços de saúde, produzindo tão grande e imediata

145
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

ameaça à saúde pública que o país afetado necessite de


assistência externa para enfrentar a situação.
Já os acidentes referem-se a incidentes ou situações perigo­
sas provocadas por descargas acidentais de uma substância
de risco para a saúde humana e/ou ao meio ambiente. Estas
situações incluem incêndios, explosões, fugas ou descargas
de substâncias perigosas que podem causar a morte ou le­
sões a um grande número de pessoas.
O mandato da OPAS/OMS é cooperar com os países da re­
gião da América Latina e do Caribe na redução dos efeitos
das situações de emergência e de acidentes, através dos
seus programas de prevenção, mitigação e preparação, e
através do apoio para uma administração eficiente da ajuda
internacional, quando situações de emergência ocorrem.

INDEX
O trabalho do Programa na Preparação e Mitigação de de­
sastres da OPAS/OMS envolve todos os setores da socieda­
de e abrange uma visão global de todas as necessidades
humanas físicas, mentais e sociais, importantes para o im­
pacto na saúde.
Outra atividade essencial da OPAS nesta área tem sido a
publicação de informação técnica e a produção de materiais
de capacitação para desastres e a criação da Biblioteca Vir­
tual de Desastres é um exemplo disso."

BOOKS
A.4) Gerenciamento de Riscos
(...) é um processo complexo que combina ciências físicas,
biológicas e sociais. O primeiro passo neste processo é a
avaliação que é um exercício quantitativo no qual o resultado
de risco é avaliado e comparado com padrões e diretrizes de
riscos existentes. Depois desta comparação, a presença de
risco significante pode ser determinada por um profissional
na área de saúde ambiental.

GROUPS
A percepção de risco por parte de um indivíduo ou por parte
de comunidades ameaçadas pelo risco também devem ser
levadas em consideração na avaliação.
Após a avaliação, a exposição ao risco deve ser controlada
apropriadamente, e o risco monitorado. Embora algumas
vezes o problema possa ser resolvido através destes pas­
sos, normalmente o processo é interativo, necessitando de
uma constante reavaliação de risco e da perceção de risco
pela comunidade.”

146
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INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

A.5) Qualidade do Ar
“A qualidade do ar é um tema de grande importância mundial
por afetar a saúde humana, de animais e de plantas. Por
exemplo, há uma grande evidência que a saúde de 900 mi­
lhões de pessoas que vivem em centros urbanos é compro­
metida diariamente pelos altos níveis de concentrações de
dióxido de enxofre. A poluição do ar afeta mais
significantemente a saúde humana quando estes compostos
são acumulados em altas concentrações, produzindo efeitos
biologicamente significativos.
Estudos recentes tem mostrado que mesmo baixos níveis de
exposição a estes compostos podem causar doenças e até
mesmo levar a morte numa comunidade. Frequentemente,

INDEX
estes efeitos não são tão visíveis comparados com o grande
número de mortes causadas por outros fatores mais fáceis
de serem identificados. A poluição do ar pode também afetar
as propriedades de materiais, visibilidade e comprometer a
qualidade de vida em geral."

A.6) Qualidade do Solo

“Uma área contaminada pode ser definida como uma área,

BOOKS
local ou terreno onde há comprovadamente poluição ou con­
taminação causada peia introdução de quaisquer substânci­
as ou resíduos que nela tenham sido depositados, acumula­
dos, armazenados, enterrados ou infiltrados de forma
planejada, acidental ou até mesmo natural. Nessa área, os
poluentes ou contaminantes podem concentrar-se em
subsuperfície nos diferentes compartimentos do ambiente,
como por exemplo, no solo, nos sedimentos, nas rochas, nos
materiais utilizados para aterrar os terrenos, nas águas sub­

GROUPS
terrâneas ou, de uma forma geral, nas zonas não saturadas
e saturadas, além de poderem concentrar-se nas paredes,
nos pisos e nas estruturas de construções. Os poluentes ou
contaminantes podem ser transportados a partir desses mei­
os, propagando-se por diferentes vias, como o ar, o próprio
solo, as águas subterrâneas e superficiais, alterando suas
características naturais de qualidade e determinando impac­
tos negativos e/ou riscos sobre os bens a proteger, localiza­
dos na própria área ou em seus arredores. ”

147
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

A.7) Recursos Hídricos / Qualidade da Água


“(...) constituem-se em um importante aliado para a
implementação de ações de saúde e ambiente, haja vista a
importância da água para a vida humana, agricultura e a ge­
ração de energia. Há que se levar em conta o papel dos cur­
sos d7água na veiculação de inúmeras enfermidades. Além
disso, intervenções no campo dos aproveitamentos hidráuli­
cos, como barragens, hidrovias, aduções e projetos de irriga­
ção acarretam riscos de incremento na incidência de algu­
mas doenças.
Uma gestão dos recursos hídricos eficiente deve estar base­
ada em políticas e estratégias claras e mecanismos e ferra­
mentas efetivos para proteger a poluição dos recursos hídricos

INDEX
existentes e para garantir que a água seja utilizada de me­
lhor forma, limitando os conflitos decorrentes do seu uso.
A área de Recursos Hídricos no Brasil promove atualmente a
gestão integrada das bacias hidrográficas. Esta forma de
gestão facilita a descentralização das ações e permite que
os diversos usuários do recurso organizem suas ações em
consonância com uma estratégia de desenvolvimento social
e econômico sustentável."

BOOKS
A.8) Saúde do Trabalhador
“(...) os maiores desafios para a saúde do trabalhador
atualmente e no futuro são os problemas de saúde
ocupacional com as novas tecnologias de informação e
automação, novas substâncias químicas e energias físicas,
riscos de saúde associados a novas biotecnologías, transfe­
rência de tecnologias perigosas, envelhecimento da popula­
ção trabalhadora, problemas especiais dos grupos vulnerá­
veis (doenças crônicas e deficientes físicos), incluindo

GROUPS
migrantes e desempregados, problemas relacionados com a
crescente mobilidade dos trabalhadores e ocorrência de no­
vas doenças ocupacionais de várias origens.
A saúde do trabalhador e um ambiente de trabalhao saudá­
vel são valiosos bens individuais, comunitários e dos países.
A saúde ocupacional é uma importante estratégia não so­
mente para garantir a saúde dos trabalhadores, mas também
para contribuir positivamente para a produtividade, qualida­
de dos produtos, motivação e satisfação do trabalho e, por­
tanto, para a melhoria geral na qualidade de vida dos
indivíduos e da sociedade como um todo."

7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

A.9) Segurança Química e Toxicologia

"... é a prevenção dos efeitos adversos, para o ser humano e


o meio ambiente, decorrentes da produção, armazenagem,
transporte, manuseio, uso e descarte de produtos químicos."

A. 10) Vigilância Ambiental


“(...) conjunto de ações que proporcionam o conhecimento e
a detecção de qualquer mudança nos fatores determinantes
e condicionantes do meio ambiente que interferem na saúde
humana, com a finalidade de recomendar e adotar as medi­
das de prevenção e controle dos fatores de riscos e das do­

INDEX
enças ou agravos relacionados à variável ambiental.
As tarefas fundamentais da vigilância ambiental em saúde
referem-se aos processos de produção, integração,
processamento e interpretação de informações, visando o
conhecimento dos problemas de saúde existentes, relacio­
nados aos fatores ambientais, sua priorização para a tomada
de decisão e execução de ações relativas às atividades de
promoção, prevenção e controle recomendadas e executa­
das por este sistema e sua permanente avaliação. A estrutu­

BOOKS
ra da vigilância ambiental em saúde abrange a diversidade
de setores e instituições por meio das quais se cumprirão os
objetivos e ações do sistema de vigilância."

B) Desenvolvimento Sustentável
B.1) Atenção Primária Ambiental (APA)
"... é uma estratégia de ação ambiental, basicamente pre­
ventiva e participativa a nível local, que reconhece o direito
do ser humano de viver em um ambiente saudável e adequa­

GROUPS
do, e de ser informado sobre os riscos do ambiente em rela­
ção à saúde, bem-estar e sobrevivência, ao mesmo tempo
em que define suas responsabilidades e deveres em relação
ã proteção, conservação e recuperação do ambiente e da
saúde.
Este conceito foi elaborado a partir de importantes atividades
como a Conferência Pan-Americana sobre Saúde e Ambien­
te no Desenvolvimento Humano Sustentável realizada em
Washington em 1995, a Reunião Regional sobre Atenção
Primária Ambiental realizada no Chile em 1997, a Reunião
Sub-regional para a América Central sobre a APA realizada
em Costa Rica em 1998 entre outras. Constitui-se, assim, em

7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 149


INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

uma proposta de associação organizada e voluntária de ci­


dadãos, baseada nas práticas de ajuda mútua e relações
solidárias.
Municípios, cidades e/ou comunidades saudáveis é uma filo­
sofia e também uma estratégia que permite fortalecer a exe­
cução das atividades de promoção da saúde como a mais
alta prioridade dentro de uma agenda política local. Uma ci­
dade saudável, na definição da OMS, "... é aquela que colo­
ca em prática de modo contínuo a melhoria de seu meio
ambiente físico e social, utilizando todos os recursos de sua
comunidadePortanto, considera-se uma cidade ou municí­
pio saudável aquela em que os seus dirigentes municipais
enfatizam a saúde de seus cidadãos dentro de uma ótica

INDEX
ampliada de qualidade de vida.
Os principais pilares de uma iniciativa de municípios/cidades
saudáveis são a ação intersetorial e a participação social e
por isso existe uma forte complementaridade com a APA.
A primeira experiência no Brasil ocorreu no município de
Toledo no Paraná. ”

B.2) Desenvolvimento Sustentável

BOOKS
"Em 1987 a Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desen­
volvimento das Nações Unidas publicou o Relatório de
Brundiand, que apresentou o conceito de “Desenvolvimento
Sustentável". Esse conceito implica no uso racional dos re­
cursos naturais, de forma a evitar comprometer o capitai eco­
lógico do planeta. Trata-se de incluir considerações de or­
dem ambiental no processo de tomada de decisões
econômicas, com vista ao desenvolvimento. Desenvolvimento
Sustentável deve, portanto, significar desenvolvimento soci­

GROUPS
al e econômico estável, com distribuição de riquezas gera­
das, considerando a fragilidade, a interdependência e as es­
calas de tempos próprios dos recursos naturais. Este concei­
to foi consolidado como diretriz para a mudança de rumos no
desenvolvimento global, que foi definida pelos 170 países
presentes à Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro,
em 1992. Para tornar realidade as novas inspirações, a Con­
ferência aprovou a Agenda 21, documento contendo uma série
de compromissos acordados pelos países signatários, que
assumiram o desafio de incorporar, em suas políticas públi­
cas, princípios do Desenvolvimento Sustentável.

150
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INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

O governo brasileiro representado pelo Ministério do Meio


Ambiente mobilizou segmentos da sociedade e desencadeou
um processo de planejamento participativo para a constru­
ção da Agenda 21 Brasileira.”

B.3) Epidemiologia Ambiental

"É da natureza da epidemiologia o seu envolvimento


interdiscipiinar. Esta área de conhecimento utiliza o método
cientifico para atingir seus objetivos no estudo da distribui­
ção e determinantes do estado de saúde-doença, incapaci­
dade, morbidade e mortalidade nas populações. A
epidemiologia oferece os instrumentos metodológicos para
orientar o processo de vigilância ambiental em saúde. Neste

INDEX
contexto, esta disciplina tem sido denominada de
Epidemiologia Ambiental, tendo em vista algumas caracte­
rísticas próprias que se verificam em sua aplicação nos estu­
dos sobre a relação entre o ambiente e a saúde. A
epidemiologia ambiental utiliza informações sobre fatores de
risco existentes (físicos, químicos, biológicos, mecânicos,
ergonômicos e psicossociais); as características especiais do
ambiente que interferem no padrão de saúde da população;
as pessoas expostas; e os efeitos adversos à saúde. ”

BOOKS
B.4) Espaços saudáveis (municípios, habitação, empresa)
“Habitação Saudável é a concepção da habitação como
um agente da saúde de seus moradores. Implica em um
enfoque sociológico e técnico de enfrentamento dos fatores
de risco, e promove uma orientação para a localização, cons­
trução, moradia, adaptação e manuseio, uso e manutenção
da habitação e do seu ambiente. O conceito de Habitação
Saudável se introduz desde o ato do projeto da habitação, sua

GROUPS
micro-localização e construção, e se estende ao seu uso e
manutenção. Este conceito está relacionado com o território
geográfico e social onde está localizada a habitação, os mate­
riais usados para a sua construção, a segurança e qualidade
dos elementos usados, o processo construtivo, a composição
do seu espaço, a qualidade do seu acabamento, o contexto
periférico global (comunicações, energia, vizinhança) e a edu­
cação sanitária dos seus moradores sobre os estilos e condi­
ções de vida saudável.

151
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INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

Um dos ambientes habituais onde convive o ser huma­


no no curso cíclico de sua vida é na sua habitação, ademais
estão a escola, o lugar de trabalho, a cidade e o município. O
conceito de ambientes saudáveis incorpora o saneamento
básico, espaços físicos limpos e estruturalmente adequados
e redes de apoio para obter recintos psicosociais sanos e se­
guros, isentos de violência (abuso físico, verbal e emocional).
A carência e deficiências nas habitações e a falta de sanea­
mento constituem em um determinante no excesso de morta­
lidade e uma característica sistematicamente vinculada aos
níveis de pobreza, ao resto socioeconômico e a ineqüidade
territorial na América Latina e no Caribe (OPAS/OMS: Saúde
nas Américas, 1998).”

INDEX
C) Informação para decisão
C.1) Informação para decisão
“A disponibilidade de informação apoiada em dados válidos
e confiáveis é condição essencial para a análise objetiva da
situação da Saúde e Ambiente, assim como para a tomada
de decisões baseadas em evidências e para a programação
de ações nesta área. A busca de medidas do estado de saú­

BOOKS
de da população é uma antiga tradição em saúde pública.
Com os avanços obtidos no controle de doenças e a melhor
compreensão do conceito de saúde e de seus determinantes,
a análise da situação sanitária passou a incorporar outras
dimensões do estado de saúde incluindo fatores ambientais,
acesso aos serviços, qualidade da atenção e condições de
vida. ”

D) Mudanças Climáticas

GROUPS
D.1) Protegendo a saúde frente às mudanças climáticas

“A OPAS/OMS está trabalhando no tema de mudanças cli­


máticas nas Américas, aumentando a concientização acerca
das conseqüências para a saúde, avaliando os riscos espe­
cíficos de cada país, fortalecendo os sistemas de saúde de
modo a proporcionar proteção contra os riscos climáticos,
facilitando a melhoria da saúde pública mediante decisões
sobre mudança climática em outros setores e estabelecendo
relações interdisciplinares para implementar prioridades de
adaptação baseadas nas evideências científicas.”

152
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INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

E) Saneamento Ambiental
E.1) Abastecimento de água

“A água e a saúde das populações são duas coisas


inseparáveis. A disponibilidade de água de qualidade é uma
condição indispensável para a própria vida e mais que qual­
quer outro fator, a qualidade da água condiciona a qualidade
de vida. Portanto, o entendimento de como a água e saúde
estão relacionadas permitirá a tomada de decisões com mais
efetividade e impacto. ”

E.2) Controle de vetores

INDEX
“O meio ambiente possui um importante papel na determina­
ção da distribuição das doenças transmitidas por vetores.
Além da água e da temperatura, outros fatores tais como a
umidade e a densidade, tipo do cultivo da safra, densidade
da vegetação e habitação podem ser críticos para a sobrevi­
vência de espécies diferentes de vetores transmissores de
doenças. Todas essas doenças são mais presentes nos paí­
ses mais pobres, e entre aqueles que vivem em condições
de empobrecimento. Eles contribuem com o círculo vicioso

BOOKS
de pobreza-doença.
O Gerenciamento Ambiental para o Controle de Vetores -
(Environmental Management for Vector Control - EMVC) é
uma das várias estratégias utilizadas pela Organização Mun­
dial da Saúde (OMS) e muitas outras agências de saúde pú­
blica na administração integrada e controle de insetos vetores,
com o objetivo de reduzir a gravidade das doenças causadas
por vetores na população humana. A estratégia vem associ­
ada a intervenções em outros setores. A OMS coordena o
trabalho do Painel de Especialistas em Gerenciamento

GROUPS
Ambiental para Controle de Vetores da OMS (Panel of Experts
on Environmental Management for Vector Control - PEEM).
Esta coordenação visa criar uma estrutura de colaboração
entre as agências envolvidas a fim de promover o uso do
EMVC como garantia de saúde nos projetos de desenvolvi­
mento envolvendo os recursos hídricos e do solo e para pro­
moção de saúde através dos programas e projetos de agri­
cultura, ambiente, assentamento urbano e urbanização. ”

E.3) Esgotamento Sanitário


“Os dejetos gerados pelas atividades humanas, comerciais,

153
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

e industriais necessitam ser coletados, transportados, trata­


dos e dispostos mediante a processos técnicos, de forma que
não gerem ameaça à saúde e ao meio ambiente.
Para muitas pessoas, principalmente nos países em desen­
volvimento, a falta de um adequado sistema de coleta, trata­
mento e destino dos dejetos é a mais importante das ques­
tões ambientais. O problema é particularmente acentuado nas
áreas periurbanas e em áreas rurais onde a maioria da popu­
lação é compostas de pessoas de baixa renda. É estimado
que acima de um bilhão de pessoas que vivem nas cidades e
acima de 2 bilhões que vivem nas áreas rurais não possuem
serviços adequados de coleta, tratamento e destino dos
dejetos. Estas condições são as causas primárias da alta in­

INDEX
cidência de diarréia observada nos países em desenvolvi­
mento e que é responsável pela morte de cerca de 2 milhões
de crianças e causa cerca de 900 milhões de episódios de
doenças por ano.
Além disso, a falta de um adequado sistema de coleta, trata­
mento e destino dos dejetos é a maior causa da degradação
da qualidade das águas subterrâneas e superficiais.
Apesar dos esforços nas últimas duas décadas, os investi­
mentos nesta área continuam inadequados enquanto a ne­
cessidade continua a crescer, principalmente em relação ao

BOOKS
tratamento dos dejetos. Esta situação é o resultado da baixa
prioridade dada ao tratamento dos dejetos. ”

E.4) Manejo de águas pluviais


“No processo de assentamento dos agrupamentos
populacionais, o sistema de drenagem urbana se sobressai
como um dos mais sensíveis dos problemas causados pela
urbanização, tanto em razão das dificuldades de esgotamento

GROUPS
das águas pluviais como devido à interferência com os demais
sistemas de infra-estrutura. A retenção da água na superfície
do solo pode propiciar a proliferação dos mosquitos responsá­
vel pela disseminação da malária e dengue. Além disso, a fal­
ta de um sistema de drenagem urbana apropriada pode trazer
transtornos ã população com inundações e alagamentos fa­
zendo com que as águas a serem drenadas se misturem a
resíduos sólidos, esgotos sanitários e/ou fezes, propiciando
com isso o aparecimento de doenças como a leptospirose,
diarréias, febre tifóide etc. Portanto, a falta de atenção ã dre­
nagem urbana pode afetar diretamente a qualidade de vida
das populações e representar uma ameaça para a saúde hu­
mana. ”

154
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INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

E.5) Manejo de resíduos sólidos


“O problema dos resíduos sólidos na grande maioria
dos países e particularmente em determinadas regiões vem
se agravando como conseqüência do acelerado crescimento
populacional, concentração das áreas urbanas, desenvolvimen­
to industrial e mudanças de hábitos e consumo.
Geralmente o desenvolvimento econômico de qualquer
região vem acompanhado de uma maior produção de resídu­
os sólidos. Esta maior produção tem um papel importante en­
tre os fatores que afetam a saúde da comunidade, constituin­
do assim um motivo para que se implantem políticas e solu­
ções técnicas adequadas para resolver os problemas da sua

INDEX
gestão e disposição final.”

B ) A nálise C o m portam ental dos trechos


IDENTIFICADOS

Após a identificação dos trechos afins ao campo da


Saúde Ambiental, procedeu-se a uma análise dos mesmos,
tendo como referência a teoria psicológica da Análise do Com­

BOOKS
portamento {SKINNER, 2003), conforme sugerido por Vascon­
celos et. al. (2008).
Segundo essa teoria, todo comportamento deve ser com­
preendido a partir das interações estabelecidas entre o sujeito e
o ambiente, levando-se em consideração o contexto atual, sua
história de ocorrência, assim como as implicações ou
consequências. Às relações estabelecidas entre os elementos
constituintes de tais interações dá-se o nome “contingências”.

GROUPS
R esultados e discussão

Primeiramente, vale destacar que, em somente seis dos


trinta e cinco textos ou obras de Monteiro Lobato lidos, foram
identificados trechos passíveis de relação com os temas propos­
tos pela OPAS para o campo da Saúde Ambiental. São eles:

155
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Quadro 2 - Obras infantis de Monteiro Lobato selecionadas, trechos e temas identificados afins ao campo da Saúde Ambiental

Ano Título Trechos Temas


1933 Caçadas de "Não há mais terras habitáveis neste país.Os homens andam a B)Desenvolvimento
Pedrinho destruir todas as matas, a queimálas."(p. 14) SustentávelB.4)Espaços
Saudáveis
1935 Geografia de Dona "...Deu começo às obras ... mas foi tanta malária e febre amarela a
E)Saneamento Ambiental
Benta atacar os trabalhadores que nada conseguiu. Sua empresa levou a E.2)Controle de Vetores
breca. Mais tarde. os americanos retomaram a tarefa, fazendo a coisa E.4)Manejo de águas
bem feita. Primeiro sanearam a zona, isto é, mataram os mosquitos... ” pluviais
(p.88) "... O melhor meio de acabar com os mosquistos consiste em B)Desenvolvimento
drenar as águas paradas ou derramar petróleo sobre as lagoas SustentáveIB.
mortas. É nessas águas estagnadas que se desenvolvem as larvas 2)Desenvolvimento
dos mosquistos. Drenando-as, isto é. secando-as, ou petrolizando-as , SustentáveIB.
4) Espaços
acaba-se com as larvas, e não havendo larvas, não há mosquistos. As
SaudáveisA)Avaliação e
iarvinhas não podem viver sem respirar. Quando sobem de dentro da Gerenciamento de
água para respirar na superfície, dão com a camadinha de petróleo aii RiscosA.
espalhada e morrem." Hoje, porém, em vez de dar drogas aos 8)Saúde do Trabalhador
febrentos e maláricos, a higiene suprime os mosquitos ... evitando, C)Informação para decisão
assim, que haja febrentos e maláricos.'' (p. 89)
1937 Serões de Dona
Benta “... Nós aqui da roça não prestamos atenção a esse problema do ar, A)Avaliação e
Gerenciamento de

INDEX
porque não existe problema de ar na roça. Têmo-lo do mais puro ar e
na maior abundância. Mas os moradores das grandes cidades sofrem RiscosA.5)Qualidade do Ar
muito com o mau ar, de modo que para eles o condicionamento seria a
maravilha das maravilhas, “(p. 139)

1937 O poço do
Visconde
BOOKS Estava u cibrir um poço e clescuidou-se de colocar o
tom arão. Subitamente o petróleo jorrou com enorme
violência, varrendo com a sonda e arrancando os tubos de aço
do encanamento. Não houve jeito de estancar o repuxo. O
A)Avaliação e
Gerenciamento de
RiscosA. 3)Desastres
TecnológicosA .7) Recursos

GROUPS
petróleo inundou tudo, formou uma lagoa em redor, invadiu os Hídricos e Qualidade da
riachos próximos - uma verdadeira calamidade! Av ÁguaA.9)Segurança
indenizações que os vizinhos exigiram da pobre companhia Química e Toxicologia
arrastaram-na à falência, f (p. 27)

- Es tá ciaro. Esses ainda são piores, porque transmitem E)Saneamento


1941 A reforma da
moléstias e fazem Dona Benta gastar muito dinheiro com Flit. AmbientalE.2)Controle de
natureza
0 Visconde diz que a febre amarela, a malária e outras VetoresC)lnformação para
decisão
doenças são transmitidas pelos pernilongos. Corto-lhes as asas
e adeus pernilongos, adeus febre amarela, adeus malária... f
tp . 3 4 9 1

1944 Os doze trabalhos ... Os sintomas sã<> de envenenamento. Meu amo envenenou- A)Avaliação e
se com gases mefítico<das cavalariças de Au g ias. Até eu sentir Gerenciamento de
de Hércules
dor naquele dia. - L eu. uma tontura - ileclarou Emília.- E eu. RiscosA.5)Qualidade do
uma azia de estômago ' declarou Pedrinho. - E eu. um calafrio ArA.9)Segurança Química e
Toxicologia
- declarou Mcioamaein- Pois é ' concluiu o Visconde ' Tudo
isso, efeitos dos í>ases letais daquela infame esterqueira. Mas
como estávamos muito longe, respiramos apenas mínimo de
gás... (p. 9H)

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INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

cn Quadro 3 - Trecho e contingências descritas dos trechos das obras infantis selecionadas de Monteiro Lobato
oo
Ano Título Trechos Contingências descritas(contexto:
comportamento - implicações ou
consequências)

1933 Caçadas de Pedrinho "Não há mais terras habitáveis neste Contexto: incidente de morte de uma
país.Os homens andam a destruir todas onça envolvendo Pedrinho
Comportamento: “os homens andam a
as matas, a queimá-las:' (p. 14)
destruir todas as matas, a queimá-las”
Implicações /Consequências: “não há
mais terras habitáveis neste país'’

1935 Geografia de Dona Benta “...Deu começo às obras ... mas foi tanta Contexto:Comportamento: ... Deu
malária e febre amarela a atacar os começo às obras...”
trabalhadores que nada conseguiu. Sua Implicações / Consequências: 1)”mas
foi tanta malária e febre amarela a
empresa levou a breca. Mais tarde, os
atacar os trabalhadores que nada
americanos retomaram a tarefa, fazendo conseguiu.” 2)"Sua empresa levou a
a coisa bem feita. Primeiro sanearam a breca”.
zona, isto é, mataram os mosquitos..." Contexto: “Mais tarde, os americanos
(p.88) "... O melhor meio de acabar com retomaram a tarefa...”
os mosquistos consiste em drenar as Comportamento: "... fazendo a coisa

INDEX
águas paradas ou derramar petróleo bem feita. Primeiro sanearam a zona,
sobre as lagoas mortas. É nessas águas isto é, mataram os mosquitos”
Descrição da “técnica” utilizada para o
estagnadas que se desenvolvem as combate aos mosquitos:"... O melhor
larvas dos mosquistos. Drenando-as, isto

BOOKS é. secando-as, ou petrolizando-as ,


acaba-se com as larvas, e não havendo
larvas, não há mosquistos. larvinhas
não podem viver sem respirar. Quando
meio de acabar com os mosquistos
consiste em drenar as águas paradas
ou derramar petróleo sobre as lagoas
monas. E nessas águas estagnadas
que se desenvolvem as larvas dos

GROUPS
sobem de dentro da água para respirar mosquistos. Drenando-as, isto é,
na superfície, dão com a camadinha de secando-as, ou petrolizando-as ,
petróleo ali espalhada e morrem. " "... acaba-se com as larvas, e não
Hoje, porém, em vez de dar drogas aos havendo larvas, não há mosquistos.
febrentos e maláricos, a higiene suprime larvinhas não podem viver sem
os mosquitos ... evitando, assim, que respirar. Quando sobem de dentro da
água para respirar na superfície, dão
haja febrentos e maláricos.'' (p. 89)
com a camadinha de petróleo ali
espalhada e morrem
Contexto: "... Hoje, porém, ...”
Comportamento: em vez de dar
drogas aos febrentos e maláricos, a
higiene suprime os mosquitos ...”
Implicações / Consequências: ... a
higiene suprime os mosquitos ...
evitando, assim, que haja febrentos e
maláricos.”

Contexto: “... não existe problema de


1937 Serões de Dona Benta “... Nós aqui da roça não prestamos ar na roça. Tèmo-lo do mais puro ar e
atenção a esse problema do ar, porque na maior
não existe problema de ar na roça. abundância”.Comportamento: Nós
cn Têmo-lo do mais puro ar e na maior aqui da roça não prestamos atenção a
co

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abundância. Mas os moradores esse problema do ar ..."Contexto: “Mas


160

das grandes cidades sofrem muito os moradores das grandes cidades


com o mau ar, de modo que para sofrem muito com o mau ar. ...”
eles o condicionamento seria a Comportamento: "... de modo que para
maravilha das maravilhas, “(p. 139) eles o condicionamento seria a maravilha
das maravilhas.’’

1937 O poço do "Estava a abrir um poço e Contexto: “Estava a abrir um poço ...”
Visconde descuidou-se de colocar o Comportamento: "... descuidou-se de
torneirão. Subitamente o petróleo colocar o torneirão.”
jorrou com enorme violência, Implicações / Consequências:
varrendo com a sonda e “Subitamente o petróleo jorrou com
arrancando os tubos de aço do enorme violência, varrendo com a sonda
encanamento. Nâc houve jeito de e arrancando os tubos de aço do
estancar o repuxo. O petróleo encanamento. Não houve jeito de
inundou tudo, formou uma lagoa estancar o repuxo. O petróleo inundou
tudo, formou uma lagoa em redor, invadiu
em redor, invadiu os riachos
os riachos próximos - uma verdadeira
próximos - uma verdadeira
calamidade! As indenizações que os
calamidade! As indenizações que vizinhos exigiram da pobre companhia
os vizinhos exigiram da pobre arrastaram-na à falência.”
companhia arrastaram-na à
falência."(p. 27)
Contexto: moléstias
Está claro. Esses ainda são gravesComportamento: "... fazem Dona
1941 A reforma da

INDEX
piores, porque transmitem Benta gastar muito dinheiro com Flit.”
natureza Contexto: “O Visconde diz que a febre
moléstias e fazem Dona Benta
gastar muito dinheiro com Flit. O amarela, a malária e outras doenças são
transmitidas pelos pernilongos”

BOOKS Visconde diz que a febre amarela, a


malária e outras doenças são
transmitidas pelos pernilongos. Corto-
lhes as asas e adeus pernilongos,
Comportamento: “Corto-lhes as asas ...”
Implicações / Consequências: "... adeus
pernilongos, adeus febre amarela, adeus
malária.”

GROUPS
adeus febre amarela, adeus malária..:
(p. 349)

1944 Os doze trabalhos “... Os sintomas são de Contexto: gases mefíticos das
de Hércules envenenamento. Meu amo cavalariças de Augias (mesmo estando
envenenou-se com gases mefíticos muito longe).
Comportamento: "Até eu sentir dor
das cavalariças de Augias. Até eu
naquele dia.”- - E eu, uma tontura -
sentir dor naquele dia.- E eu, uma declarou Emília.- E eu, uma azia de
tontura - declarou Fmília.- E eu, uma estômago - declarou Pedrinho.- E eu, um
azia de estômago - declarou calafrio - declarou Meioamaeio
Pedrinho.- E eu, um calafrio - declarou Implicações / Consequências:
Meioamaeio- Pois é - concluiu o envenenamento
Visconde - Tudo isso, efeitos dos
gases letais daquela infame
esterqueira. Mas como estávamos
muito longe, respiramos apenas
mínimo de gás... “ (p. 98)

O)

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Como pode ser percebido no Quadro 2, coerente com o


campo da Saúde Ambiental, diversos temas estiveram pre­
sentes nos trechos identificados. O único tema ausente foi
“mudança climática”, provavelmente, pelo contexto da época
vivido pelo autor. Não que a questão da “mudança climática”
não existisse na época, mas, com certeza, não estava tão em
evidência quanto nos dias de hoje.
Na análise das contingências descritas nos trechos des­
tacados, destaque para os conteúdos das informações relaci­
onadas aos problemas de saúde e, principalmente, à forma
de combatê-los, também coerente com o contexto histórico
de Monteiro Lobato - higienismo e o movimento sanitariasta

INDEX
da Primeira República, conforme o já citado estudo de Santos
(1985). Segundo o autor:

De todos (os intelectuais), apenas Lobato sofreu a influência


da “idéia-força avassaladora” do saneamento. A influência
de Monteiro Lobato somou-se a disposição da corrente
ruralista e nacionalista de resgatar os sertões do abandono,
criando condições favoráveis junto às elites para a difusão

BOOKS
do sanitarismo. (p. 198)

O autor também não faz menção às dimensões sociais


do processo de adoecimento, assim como os efeitos de pa­
drões de desenvolvimento pouco e quase nada sustentáveis.
Nesse sentido, vale a pena destacar alguns fatos da
história do autor, como o seu envolvimento com o petróleo e
sua declarada ficção pela autonomia energética do país, fato
que acabou por gerar várias indisposições, brigas com gran­

GROUPS
des políticos e empresas brasileiras, assim como sua deca­
dência financeira (GREGORIN FILHO, 2006).

C o n s id e r a ç õ e s f in a is (ou in ic ia is )

Ao considerar o esforço inicial de relativização e


contextualização de alguns trechos dos textos infantis de
Monteiro Lobato, é preciso que o leitor esteja atento para o
fato dessa análise não poder ser generalizada para toda a obra
do referido autor. O fato de ter-se identificado alguns trechos
com regras para um agir higiênico, não implica em uma postu-

162
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

ra pouco dialógica do autor para outros temas ou momentos


da obra.
Diversas temáticas e campos do conhecimento podem
se trabalhados, a partir da literatura infantil lobatina, havendo
a possibilidade de uma abertura para o exercício de discussão
e interpretação de questões variadas. Uma oportunidade de
refletir, opinar, participar da construção de novas histórias e
uma postura diferenciada frente a problemas políticos, econô­
micos, ecológicos e de saúde.
Conforme sugerem Skinner (2003) e Schall (2005), a
busca dos significados dos textos lidos deve ser buscada nos
contextos históricos de produção e de leitura dos mesmos,

INDEX
dizendo respeito à uma interação ou um diálogo estabelecido
entre o autor e o leitor, também ser ativo, atuante e operante
sobre o mundo e sua realidade.
Para finalizar, gostaríamos novamente de citar algumas
passagens do livro organizado por Vasconcelos (2008), ao tratar
da importância das histórias infantis para o desenvolvimento
da criança:

BOOKS
“O desenvolvimento dos padrões de comportamentos (...)
pode ser facilitado quando os primeiros educadores, sejam
pais ou professores, apresentam histórias por meio de livros,
músicas, filmes ou peças teatrais. A leitura pode se tornar
parte do mundo da criança desde os primeiros anos de vida.”
(p. 11)

“(...) As estratégias alternativas para abordar as várias partes

GROUPS
da história podem auxiliar na programação da exposição da
criança à história, de modo a despertar seu interesse." (p. 19)

“(...) A discussão dos vários temas tratados na história pode


incentivar a criança a pensar em diferentes formas de solu­
ção de problemas. Comportamentos criativos podem ser de­
senvolvidos quando elas recontam uma história a panir de
outra versão, que poderia ser criada por ela mesma, ou ain­
da, a partir de um dos personagens da história.” (p. 19)

163
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

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164
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

à exposição humana aos produtos da queima da palha de


cana-de-açúcar no estado de São Pauio. Revista Brasileira
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7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!


INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

A n á l is e d o C o m p o r ta m e n to : uma

p r á t ic a d e S aúde

Danieta Cristina Sampaio de Brito1


Divisão de Serviços de Hemodiálise
do Hospital Público Regional de Betim

INDEX São indiscutíveis os avanços e conquistas alcançados


pela sociedade moderna a partir da Revolução Industrial: no­
vas tecnologias, produção em alta escala, rapidez nos meios
de comunicação etc. Porém, ao mesmo tempo, presencia-se
um aumento significativo de problemas em diferentes âmbi­
tos, localizados em áreas sociais, econômicas e políticas, por

BOOKS
exemplo. Questões essas que responsabilizam o profissional
psicólogo a repensar no seu campo de estudo e de pesquisa,
assim como em suas práticas e condutas, freqüentemente
voltadas ao ambiente do consultório particular.
Skinner (1947/1972, citado por Andery, 1997) descre­
veu a importância do compromisso da ciência do comporta­
mento em realizar uma abordagem mais crítica sobre os pro­
blemas atuais, ressaltando a necessidade de uma reflexão e

GROUPS
transformação da cultura e da sociedade. De acordo com
Andery (1997), a análise da interação entre o sujeito e seu
contexto leva ao conhecimento dos fatores do ambiente soci­
al; espaço no qual se encontram as mais importantes variá­
veis do controle do comportamento humano. A autora com­
pleta com uma afirmativa de Skinner, em 1947, sobre a não
restrição da ciência experimental, sendo possível e indicado
a extensão de suas práticas no mundo em geral, Assunção
(2002) menciona a responsabilidade dos analistas do com­

1 danielacbrito@hotmail.com

167
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portamento em se envolverem com as questões do tempo atual,


firmando um compromisso com uma prática mais promotora
de bem estar da população, não se esquecendo da sua fun­
ção social e política.
Sob essas considerações, somadas às novas deman­
das envolvidas no cenário da saúde coletiva serão expostas, a
seguir, as contribuições da inclusão do analista do comporta­
mento nesse contexto, o que vem a promover uma compreen­
são e intervenção mais eficazes e amplas sobre os diferentes
aspectos envolvidos na saúde e na doença.

INDEX
A n á l is e d o c o m p o r t a m e n t o e s a ú d e c o l e t iv a

Os conceitos de saúde e doença vêm sofrendo modifi­


cações ao longo dos anos. De acordo com a Organização
Mundial da Saúde (1948), saúde refere-se a um completo bem
estar físico, psíquico e social e não meramente ausência de
doença. No Brasil, a reforma sanitária, iniciada na década de
70, foi um marco que desencadeou uma reformulação tanto
no conceito, quanto no modo de se produzir saúde no país,

BOOKS
expressamente instituídos na Constituição de 1988.
Na I Conferência Internacional de Promoção de Saúde,
em 1986, Ottawa, a saúde, também definida como o mais com­
pleto bem estar físico, mental e social, é determinada por con­
dições biológicas, sociais, econômicas, culturais, educacionais
e ambientais. Essa ampla determinação também é reforçada
nas leis brasileiras em que “A saúde tem como fatores
determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação,

GROUPS
a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho,
a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens
e serviços essenciais.” (Lei n° 8.080, Art. 3o).
Desta forma, saúde e doença deixam de ser entidades
antagônicas, constituindo-se em um processo complexo, de con­
tínuo movimento e influenciado por diversos fatores. O homem
doente não deve ser reduzido apenas ao seu substrato biológico,
mas sim compreendido e tratado dentro do seu contexto social,
cultural, religioso e familiar. Sua história de aprendizado é consi­
derada, assim como a sua condição de ser pensante, responsá­
vel e ativo sobre a sua vida, sua saúde e seu tratamento. Esses

168
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são os alguns dos elementos resgatados peia saúde coletiva,


apontados por Carvalho e Ceccim (2006), necessários para uma
abordagem mais ampliada do modo de se produzir saúde. As
intervenções e cuidados devem partir de um projeto terapêutico
que englobe a pessoa doente, sua história e sua interação com
os ambientes social e cultural. Em conseqüência, torna-se es­
sencial uma clínica interdisciplinar, articulada e envolvida por di­
ferentes escutas e olhares; e não uma clínica meramente execu­
tora de procedimentos e técnicas. A promoção de saúde, a pre­
venção e/ou tratamento de doenças não podem ser ações focadas
apenas no nível biológico, devendo também levar a mudanças
nos fatores sociais e culturais determinantes, assim como no pa­
drão comportamental do indivíduo.

INDEX O comportamento é o objeto de estudo da Análise do Com­


portamento. A ele, incluem-se todos os níveis da ação humana,
tais como os eventos privados, a moral, o pensamento, a consci­
ência, as emoções etc. Todo comportamento é determinado na
medida em que é um produto de uma herança genética e de
eventos ambientais que ocorreram durante a vida do indivíduo,
como descreve Matos (1999). Micheletto (1997) acrescenta que
o comportamento deve ser analisado não somente como um pro­

BOOKS
duto do ambiente, mas principalmente como resultado do con­
texto social. Assim, as determinações do comportamento não
são todas diretamente observáveis e Skinner (1945 citado por
Micheletto, 1997), propõe a determinação conjugada do ambien­
te em três níveis: o da espécie, o que opera na vida do indivíduo
e o social.
O comportamento passa a ser descrito de acordo com a
sua multideterminação, devendo o homem ser compreendido a

GROUPS
partir de sua história genétíco-fisiológica, história cultural/social e
história de vida. “Qualquer procedimento de fragmentação e iso­
lamento e qualquer suposição de que a compreensão do com­
portamento ocorre inteiramente a partir de sua manifestação, da
simples observação direta, não permitirá entender dimensões tão
complexas e múltiplas que o comportamento agora assume.”
(Micheletto, 1997, p. 40).
Essa determinação não implica que o homem respon­
de passivamente ao ambiente em que se encontra inserido.
Esse indivíduo que comporta, não responde apenas sob a in­
fluência de um estímulo eliciador; ele age sobre o ambiente,

169
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modificando-o e modificando-se. Ele produz conseqüências,


seleciona os reflexos que são importantes e descarta aqueles
que não são, como relata Micheletto (1997). O homem, para a
ciência do comportamento, não é passivo, mas sim operante,
capaz de formar e mudar a sua história, estando o comporta­
mento amplamente sob o seu controle.
O comportamento humano está sob a influência de inú­
meras variáveis, conforme foi exposto. Porém esse
determinismo não indica uma noção de causalidade mecâni­
ca, mas sim de uma relação funcional. Skinner (1947, citado
por Andery, Micheletto, Sério, 2001) relata que a relação funci­
onal inclui correlações e descrições mais completas entre os
eventos e vem a substituir os termos causa e efeito. Assim, a

INDEX
ciência do comportamento deve propor a descrever o compor­
tamento não só por si mesmo, mas em sua relação com os
outros eventos, ou seja, a descrição da sua relação funcional,
como menciona Micheletto (2000).
Para Meyer (1997), a análise funcional refere-se a um
instrumento básico de trabalho do analista do comportamento
que irá contribuir tanto para uma melhor compreensão do com­
portamento alvo, como estabelecer relações de contingências

BOOKS
que alterem, reduzam e até eliminem comportamentos pre­
sentes no repertório do indivíduo. E será a partir dessa
metodologia de trabalho, associada às interlocuções entre a
ciência do comportamento e a saúde coletiva, que se institui o
lugar do analista do comportamento no campo da saúde. Com­
portamento e saúde, de acordo com essas duas ciências, são
conceitos com grande semelhança e influência, assim como a
própria concepção do homem e de seus determinantes, o que
vem a tornar a inclusão do analista do comportamento nos

GROUPS
serviços de saúde fundamental para uma compreensão am­
pliada e uma ação mais efetiva nos processos saúde e doen­
ça e nos tratamentos das enfermidades.

O bjetivos d o a n a l is t a d o c o m p o r t a m e n t o n o c a m p o

da saúde

Conforme Ogden(1999), a Psicologia da Saúde consti­


tui o campo mais recente no processo de inserção da Psicolo­

170
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gia na compreensão da saúde. Descrita por Matarazzo, em


1980, como “o conjunto das contribuições específicas, educa­
cionais, científicas e práxicas da disciplina da Psicologia, para
a promoção e manutenção da saúde, prevenção e tratamento
da doença e disfunções relacionadas.”. Os objetivos da psico­
logia da Saúde, como descreve Ogden (1999), referem-se à
compreensão, explicação e desenvolvimento de teorias; e à
intervenção propriamente dita dos modelos teóricos desen­
volvidos. Dentro desses, encontra-se a avaliação do papel do
comportamento na etiologia e desenvolvimento das doenças
e também na evolução do tratamento; o prognóstico dos com­
portamentos prejudiciais para a saúde; e a identificação das

INDEX
principais emoções desencadeadas a partir do adoecimento,
tratamento e reabilitação. A Psicologia da Saúde também exe­
cuta ações que vem a promover comportamentos saudáveis,
ao mesmo tempo em que previnem aparecimento de quadros
patológicos.
Dentro da Psicologia da Saúde, existem várias aborda­
gens teóricas do campo da Psicologia, estando a ciência do
comportamento entre elas. O trabalho do analista do compor­

BOOKS
tamento embasa-se na filosofia em que o comportamento não
é independente do organismo biológico, podendo as funções
orgânicas do indivíduo serem diretamente afetadas pelo seu
padrão comportamental e vice versa. O modo em que esse
indivíduo interage com o ambiente aumenta, ou não, a sua
possibilidade de adquirir fatores de risco para alterações orgâ­
nicas específicas, levando a um processo de adoecimento. O
comportamento do indivíduo também é fundamental para a

GROUPS
uma alta eficácia do tratamento e da reabilitação. Do mesmo
modo, as respostas emitidas pelo indivíduo podem contribuir
para a aquisição de uma boa condição de saúde e assim para
uma melhor qualidade de vida.
O analista do comportamento, seja em qual área da
saúde em que esteja atuando, sempre irá focar as suas ações
a partir da análise funcional do comportamento do indivíduo
doente, considerando que, conforme Laloni (2001), não exis­
tem comportamentos ou respostas doentes, mas sim
adaptativos. Deve-se, portanto, identificar as variáveis do am­
biente que controlam o comportamento alvo, compreendendo

171
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INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

que a resposta dada pelo indivíduo, mesmo que considerada


como patológica, é a única que poderia ser emitida em deter­
minadas contingências. Para Otero (2001), a análise funcio­
nal possibilita que os profissionais da saúde olhem para além
das queixas verbais, dos exames clínicos e laboratoriais, per­
cebendo os sintoma físicos de outras formas, saindo de um
modelo médico de doença, para o referencial da análise do
comportamento. Este contribui para uma compreensão mais
ampliada do processo saúde e doença na medida em que con­
sidera as diferentes variáveis controladoras do comportamen­
to e dos estados de saúde e doença, conforme preconiza a
própria saúde coletiva.

INDEX
O analista do comportamento deve buscar investigar a
relação entre o comportamento e os estados de saúde e do­
ença, identificando as respostas emitidas pelo indivíduo que
direta ou indiretamente aumentam a probabilidade de adquirir
fatores de risco ou de desenvolver algum quadro patológico
específico. Comportamentos diretos referem-se àqueles que
produzem contato direto com o agente patogênico; e os indire­
tos são os que aumentam a vulnerabilidade do organismo para

BOOKS
o adoecimento. Por exemplo, comportamentos associados ao
uso de tabaco e hábitos alimentares ricos em gordura e
sedentarismo aumentam a possibilidade de desenvolver do­
enças coronarianas ou diabetes mellitus. A condução de veí­
culo, após o uso abusivo de bebida alcoólica, pode acarretar
em morte por acidente de trânsito. Estados de estresse eleva­
dos e contínuos elevam os níveis da pressão arterial, constitu-
indo-se em fator de risco para várias patologias como o aci­
dente vascular cerebral e a insuficiência renal crônica.

GROUPS
Há comportamentos que podem vir a piorar um estado
patológico já existente, como não seguir corretamente a pres­
crição proposta. Os comportamentos relacionados a adequa­
da adesão ao tratamento também se constituem como um foco
importante de intervenção do analista do comportamento, prin­
cipalmente devido a alta prevalência de baixo repertório refe­
rente ao auto cuidado, apresentado por pacientes crônicos,
por exemplo. Muitas estratégias de intervenção dentro do
referencial da ciência do comportamento têm sido planejadas
a fim de melhorar o grau de adesão do indivíduo doente em

172
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seu tratamento, como mostra Malerbi (2001). O profissional


também deve atuar no processo de enfrentamento da doen­
ça, considerando as crenças relacionadas à enfermidade e ao
tratamento e os impactos sofridos em todo o contexto de vida
do indivíduo doente. Identificar as principais mudanças e rea­
ções como medo, raiva, tristeza, apatia etc, assim como as
novas demandas comportamentais advindas com o
adoecimento e suas seqüelas, contribui para uma melhor adap­
tação e reabilitação por parte do indivíduo e também de seu
núcleo familiar.
É função do analista do comportamento identificar pa­
drões comportamentais que reduzem o risco de contrair doen­

INDEX
ças ou que promovam saúde e qualidade de vida. Ações volta­
das às políticas públicas saudáveis, com foco à população
geral, ou até mesmo, intervenções com grupos de risco, a partir
de mudanças de hábitos e redução de comportamentos de
risco como deixar de fumar, também se inclui em sua prática.
A ciência do comportamento pode e deve contribuir com
pesquisas e novos modelos teóricos para uma melhor com­
preensão e identificação de variáveis controladoras para os

BOOKS
estados de saúde e doença, subsidiando as intervenções no
campo de atuação do analista do comportamento e também
as de outros profissionais de saúde. Isto, pois, será a partir do
trabalho em equipe interdisciplinar que poderá ser possível
abranger toda a complexidade que envolve os temas saúde e
doença, estimulando desta forma o desenvolvimento de com­
portamentos saudáveis no indivíduo e na população, promo­
vendo uma melhor qualidade de vida.

GROUPS R efer ên c ias


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7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

T e r a p ia a n a l ít ic o - c o m p o r t a m e n t a l

d e c a s a is : c o n s id e r a ç õ e s t e ó r ic a s

E ESTUDO DE CASO CLÍNICO.

Luciana Leão Moreira


Clínica privada

Patrícia Genelhu de Abreu Guilherme


Núcleo de Apoio à Saúde de Família - NASF/ Prefeitura Municipal de
Belo Horizonte

INDEX Este capítulo tem como objetivo apresentar um modelo


de Terapia Analítico- Comportamental de Casais em que ocor­
rem sessões com o casal e os dois terapeutas, e sessões
individuais em que cada terapeuta atende um dos membros
do par. Para isso, apresentaremos algumas considerações
teóricas sobre a terapia de casal e, em seguida, serão apre­
sentadas propostas de intervenção analítíco-comportamentais.

BOOKS
Por fim, um caso clínico atendido pelas autoras será apresen­
tado para ilustrar a aplicação da proposta descrita.

T e r a p ia d e C a s a is : c o n s id e r a ç õ e s g e r a is

O conflito entre casais é um assunto bastante estudado


nos dias atuais e que recebe o empenho de vários terapeutas,
de diversas abordagens teóricas, para melhor conhecimento

GROUPS
e tratamento dos problemas conjugais. ATerapia de Casal tem
hoje, ajudado vários casais a viverem melhor (namorados, jo­
vens, idosos, heterossexuais, homossexuais, noivos) e, além
da constatação da ampliação do perfil daqueles que procuram
por terapia, é possível observar também uma mudança no que
diz respeito às queixas apresentadas por eles. Hoje, as quei­
xas mais comuns estão relacionadas às peculiaridades dos
novos contextos sociais, econômicos e profissionais
vivenciados pelo casal, além de queixas relacionadas às dife­
renças de costumes e valores de vida entre os membros do
par. As mudanças no perfil de quem procura por terapia de

175
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

casal e também as mudanças nas queixas aparecem como


conseqüências das novas realidades sociais, econômicas e
culturais de nossa sociedade, como, por exemplo, os novos
papéis da mulher: profissionalização, independência econô­
mica e desempenho de funções semelhantes à do homem.
Vandenberghe (2006) afirma que:

“O fim da segregação de papéis tradicionais tomou imperati­


va, para os cônjuges, a negociação aberta de suas próprias
soluções para as tarefas da vida, (...) Para viverem casal, os
parceiros precisam agora, mais do que antes, de habilidades
de comunicação e de solução de problemas” (Vandenberghe,
2006, p. 146)

INDEX O que a pessoa quer dizer, quando, porque e como são


elementos essenciais para uma comunicação habilidosa e sem
uma presença exagerada de mandos disfarçados (respostas
verbais com topografia de tato, mas sob controle de algum
reforçador específico), e tatos distorcidos, isto é, “mentiras”
que surgem como contracontrole verbal ao controle aversivo
do parceiro ou uso excessivo de reforçadores arbitrários e
aparecem como queixas freqüentes naquelas relações em que

BOOKS
predominam sentimentos de insegurança e ciúmes. Casos em
que queixas tais como essas são colocadas, uma intervenção
analítico-comportamental tenderia a melhorar o repertório
afetivo-conjugal e, logo, a qualidade de vida do casal.

P r o p o s t a d e in t e r v e n ç ã o a n a l ít ic o - c o m p o r t a m e n t a l

O trabalho clínico de base analítico-comportamental tem

GROUPS
como principal objetivo identificar e alterar as variáveis
ambientais responsáveis pela instalação e manutenção de
padrões comportamentais apresentados pelo cliente. A pro­
posta da Terapia Analítico-Comportamental de Casais é iden­
tificar os padrões que trazem prejuízo ao casal. Após a discri­
minação das contingências controladoras, estratégias para
mudança são propostas para a instalação de outros repertóri­
os de interação entre o casal que aumentem as interações
positivas e diminuam as negativas. A história de vida dos côn­
juges também será analisada, já que é ela que determina o
que cada um é hoje. As pessoas são influenciadas pelo ambi-

176
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

ente em que vivem (família, cultura, profissão, religião) e es­


tas experiências determinam seus valores, preferências, es­
colhas, auto-regras. Cada membro do casal deve identificar
em sua história aspectos importantes que determinam con­
juntos de regras ou valores, escolhas e padrões de comporta­
mentos. Além disso, é importante que o cônjuge se coloque
no lugar do outro e entenda um pouco as razões de seu par­
ceiro ser como é e se comportar de determinada maneira. O
abandono da luta para mudar o outro e a compreensão de que
o outro tem limites e dificuldades são essenciais para uma
vida mais harmoniosa entre o casal.
Alguns dos procedimentos terapêuticos utilizados pelos

INDEX
terapeutas analítico-comportamentais são: 1) contraposição
de regras e auto-regras, modificando, assim, expectativas ir­
reais; 2) apresentação, na sessão terapêutica, de estímulos
antecedentes para uma comunicação mais eficiente entre o
casal e reforçamento positivo dos avanços do casal no “aqui-
agora” da sessão, ou seja, modelar os novos comportamen­
tos que aparecem na sessão a partir de estímulos anteceden­
tes dos terapeutas; 3) modelação - terapeuta servindo como
modelo de comunicação para o casal; 4) ensino, através de

BOOKS
instrução, de estratégias para solução de problemas; 5) apre­
sentação de tarefas para o casai realizar no ambiente natural
com o objetivo de facilitar a generalização dos novos padrões
comportamentais,

D if e r e n t e s p o s s ib il id a d e s d e c o n d u ç ã o d a T e r a p ia
A n a l ít ic o - C o m p o r t a m e n t a l d e C a s a is

GROUPS
Existem diferentes possibilidades para a condução de
uma Terapia Analítico-Comportamental de Casais, tais como
a opção por sessões conjuntas, sessões conjuntas e individu­
ais ou sessões basicamente individuais. Além disso, o atendi­
mento pode ser realizado por um terapeuta ou por duplas tera­
pêuticas. Os critérios de escolha baseiam-se nas característi­
cas pessoais de cada terapeuta e na natureza do problema
apresentado pelo casal. Neste capítulo, damos ênfase ao aten­
dimento em duplas terapêuticas em que os dois terapeutas
realizam sessões com o casal, além de sessões individuais
nas quais cada terapeuta atende um dos membros do par. O
177
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

início da terapia de casal pode ocorrer de diferentes maneiras:


no decorrer do processo terapêutico de um dos parceiros, com
a presença de apenas um deles na primeira sessão ou com a
presença dos dois naquele momento. Na situação terapêutica
configurada pelas quatro pessoas são enfatizadas as mudan­
ças comportamentais, sendo necessário levantar alternativas,
ensinar estratégias para solucionar problemas prevendo con­
seqüências a curto, médio e longo prazo. Já as sessões indivi­
duais proporcionam maior auto-observação e, conseqüente­
mente, maior auto-conhecimento de cada um dos cônjuges.
Algumas das principais vantagens deste modelo terapêutico
são: evitar a triangulação (cônjuge 1 - terapeuta - cônjuge 2),
oferecer um ambiente terapêutico em que cada um dos mem­

INDEX
bros do casal sinta-se acolhido para falar sobre alguma intimi­
dade que não queira expor na presença de seu parceiro, bem
como à vontade na situação terapêutica configurada pelas
quatro pessoas.

E s t u d o de c a s o

A terapia do casal iniciou-se no decorrer do processo

BOOKS
terapêutico de Sônia (nome fictício), 36 anos, segundo grau
completo, e conselheira tutelar. Seu marido, Milton (nome fic­
tício), 38 anos, tinha primeiro grau incompleto e trabalhava
como pedreiro. O casal tinha três filhos, o mais velho com 12
anos, outro com 10 anos e o mais novo com 7 anos e estavam
casados há 14 anos.
Na primeira sessão com o casal, Sônia queixou-se de que
tinham poucos momentos juntos. “Nosso casamento foi muito

GROUPS
rápido e conturbado. Os meninos vieram muito rápido! (...) Rara­
mente a gente consegue ficar só nós dois. Nunca tiramos tempo
para nós dois. (...) Quando fato do meu casamento me dá vonta­
de de chorar." (Sônia) Sônia chorou bastante neste momento.
Além disso, outras queixas também apareceram na primeira ses­
são do casal como: falta de carinho, conflitos relacionados a ques­
tões financeiras, principalmente, falta de diálogo. A falta de diálo­
go ficou evidente na sessão, já que Milton ficou surpreso com as
colocações da esposa e disse que nunca haviam conversado
sobre isto antes.

178
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

Verbalizações do casal que ilustram a falta de diálogo


entre eles:
• “Eu não falo muito as coisas. Quando falo, ela diz que
sou grosso” (Milton)
• “Sônia fica cobrando, diz que eu sou muito fechado,
acha que eu tenho que falar tudo que acontece comigo. Mas
acho que é um direito meu não falaras coisas que acontecem,
por exemplo, no trabalho. ” (Milton)
• “Me dá uma raiva quando chego em casa, com a ca­
beça quente do trabalho e ainda vejo aquela bagunçai Aí não
tenho paciência de conversar com ninguém!" (Sônia)

INDEX *“Cansei de chamar ele para conversar!”{Sônia)


A grande maioria dos problemas de relacionamento de
um casal está na qualidade da comunicação. É importante
ressaltar que fazem parte de uma conversa características
pessoais, hábitos pessoais e valores de cada um dos mem­
bros do casal. Otero e Guerrelhas (2003) afirmam que:

BOOKS
“Os problemas vividos por um casal, na maioria das vezes,
são desencadeados pelas dificuldades inerentes à qualida­
de de comunicação que eles têm. (...) Se não sabem falar e
não sabem ouvir, eles não sabem ser assertivos. Ser assertivo
é saber dizer o que quer, respeitando a si e ao outro." (Otero
e Guerrelhas, 2003, p.73)

A comunicação é uma habilidade aprendida e facilitar


esta aprendizagem é um dos objetivos da terapia analítico-

GROUPS
comportamental de casais. O ambiente terapêutico é uma opor­
tunidade para que o casal: 1) explicite comportamentos enco­
bertos, desenvolvendo, assim, a assertividade; 2) fique sensí­
vel às reações do parceiro durante a sessão; 3) dessensibilize
reações produzidas por interações negativas; 4) generalize
comportamentos para o ambiente natural.
Além das dificuldades de comunicação, Milton e Sônia
também tinham dificuldades de elogiar e receber elogios; de
ficar sob controle de comportamentos adequados do cônjuge
e de organizarem-se financeiram ente. Tais padrões
comportamentais produziam vários conflitos entre o casal. Di­

179
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ante disso, estes foram os objetivos terapêuticos: 1) aumentar


a qualidade da comunicação e também a assertividade entre
eles; 2) ajudar o casal identificar as contingências em opera­
ção e modificá-las; 3) ajudá-los a produzir reforço positivo na
relação; 4) ajudá-los a conseqüenciar diferencialmente com­
portamentos adequados e inadequados do cônjuge; 5) aumen­
tar a freqüência de comportamentos de auto-observação de
cada um dos membros do par e, conseqüentemente, aumen­
tar o auto-conhecimento.
Para tanto, as intervenções terapêuticas realizadas fo­
ram: 1) ensaio comportamental em que as terapeutas e o ca­
sal realizavam treino de assertividade na sessão - terapeutas

INDEX
forneciam modelo de assertividade e também modelavam com­
portamentos assertivos que apareciam nas sessões ou que
eram relatados pelo casal; 2) sugestão de tarefas para o am­
biente natural; 3) apresentação de estímulos discriminativos
para comportamentos assertivos do casal na sessão; 4)
terapeuta como facilitador da compreensão e aceitação entre
os membros do par.
Para que haja essa aceitação entre os cônjuges, é impor­

BOOKS
tante que cada um entenda a história de contingências de seu
parceiro. No caso de Milton, sua dificuldade em ser assertivo, em
elogiar e receber elogios, sua inabilidade em solucionar proble­
mas e em ficar sob controle dos comportamentos adequados da
esposa são produto de uma história de vida caracterizada por
pouco reforço social e excesso de contingências aversivas. Quan­
do criança, Milton convivia apenas com seus irmãos, já que a
mãe os abandonou quando ele tinha oito anos e o pai trabalhava

GROUPS
o dia todo. Esse era bastante agressivo e não permitia que os
filhos fizessem qualquer tipo de reivindicação. Não conversava
com os filhos e tampouco era carinhoso. Assim, podemos dizer
que a comunidade verbal de Milton não o ajudou a desenvolver
comportamentos de auto-observação, ou seja, não o ajudou a
identificar e expressar sentimentos e a ficar sob controle do com­
portamento do outro. Já no caso de Sônia, as dificuldades em ser
assertiva, organizar-se nas tarefas domésticas, ser carinhosa com
o marido e com os filhos são produto de uma história de contin­
gências aversivas. O pai de Sônia faleceu muito cedo e a mãe
trabalhava o dia todo. A mãe sempre foi muito agressiva com os

180
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INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

filhos, “batia de arrancar sangue”, segundo Sônia, e sempre pro­


feriu muitas críticas e poucos elogios. Não forneceu modelo de
carinho e assertividade, além de nunca ter cobrado da filha orga­
nização, o que mais tarde fez com que Sônia ficasse mais sob
controle das contingências do que de regras, por isso tinha tanta
dificuldade em manter a organização da casa.
Histórias de vida diferentes e inabilidade para empatia, para
colocar-se sob controle dos mesmos estímulos do outro, suge­
rem a necessidade de uma intervenção terapêutica. O terapeuta
busca intervir de forma a promover a aceitação através da cons­
trução de tolerância entre o casal. O treino de tolerância tem como
objetivo expor os parceiros aos comportamentos negativos do

INDEX
outro num ambiente seguro (sessão terapêutica) com a expecta­
tiva de que estes possam ser tolerados e aceitos mais facilmen­
te. Vandenberghe (2006) aponta que:

“As técnicas de aceitação promovem o abandono da luta con­


tra aspectos de si ou do outro que antes eram vistos como
causas do problema. Exemplos de técnicas de aceitação são:
a união sobre o problema, (os parceiros se permitem entrar

BOOKS
plenamente em contato com seu sofrimento sem acusar -
defender - atacar ou recuar); transformar o problema em
atrativo (...); promover a expressão de emoções agradáveis;
prever problemas futuros como também situações em que o
problema não acontece; promover tolerância (...); ênfase no
positivo (...); valorizar diferenças (...); planejar recaída (...);
simular problemas em casa; a prática de autocuidados (...).’’
(Vandenberghe, 2006, p. 155)

Tendo por base a proposta de intervenção terapêutica

GROUPS
exposta acima, apresentaremos a seguir alguns resultados
obtidos no processo terapêutico do casal:
1) Aumento do repertório de produção de reforço positi­
vo na interação entre o casal - ambos ficaram mais carinhos.
Ex.: “Estou tentando ser mais carinhoso. Acho que ela tam­
bém mudou. Está mais carinhosa." {Milton)
2) Melhoria na qualidade da comunicação - ambos pas­
saram a tomar iniciativa de conversar e solucionar os proble­
mas e, conseqüentemente, conquistaram uma maior organi­
zação financeira. Ex.: a) ‘‘Comecei a fazer o planejamento.

181
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INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

Comecei a anotar. (...) Segunda-feira eu sentei para planejar.


Não sabia nem o que gastamos por mês com alimentação. Aí
fui perguntar para ela (Sônia). Eu levei o planejamento para
ela. Aí deu certo. Foi bom! Perguntei sobre as despesas com
alimentação e ela me ajudou.” (Milton); b) “Às vezes eu con­
versava com ele e parecia que estava falando para as pare­
des. Amadurecemos! Estamos tendo mais diálogo!’7(Sônia)
3) Aumento de comportamentos de discriminação das
contingências. Ex.: a) “A gente sempre resolveu as coisas em
conflito, sempre a gente deixou para falar as coisas num mo­
mento de raiva. Nunca tivemos esse hábito de conversar so­
bre as coisas.” (Sônia); b) “A gente está mudando! Parece que

INDEX
a gente estava dormindo! Estamos pensando mais na gente!
Fazendo planos.” (Sônia)
4) Aumento de comportamentos de auto-observação e
autoconhecimento de cada um dos membros do casal. Ex.; a)
“A mâe sempre foi muito durona, sabe... Teve que cuidar sozi­
nha dos filhos e ficava muito nervosa com a gente... Sempre
criticou muito, não sabe elogiar, falar alguma coisa boa para
gente. (...) Acho que por isso eu tenho dificuldade de me soltar

BOOKS
(...) não quero se igual a ela.” (Sônia); b) “Alguma coisa me
impedia de crescer. Não conseguia tocara obra da minha casa.
Estou conseguindo analisar isso agora. Eu nunca tive boa auto-
estima. Tinha dificuldade de me apresentar diante das pesso­
as. Não tinha cuidado comigo. (...) Não sei como chegou a
esse ponto, demorei para perceber que aquilo não estava me
fazendo bem.” (Milton)
Podemos dizer, então, que cada membro do casal tor­

GROUPS
nou-se um agente ativo de produção de reforços positivos e
de redução de estimulação aversiva.

C o n sid er aç õ es finais

É importante ressaltar que a Terapia Analítico-


Comportamental de Casais baseia-se no fato de que cada casal
é único e, portanto, sua terapia requer objetivos e estratégias
próprias. A terapia não acaba quando o casal resolveu todos
os problemas, mas quando está instrumentalizado a resolvê-
los, ou seja, quando adquire autonomia.

182
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Em resumo, a Terapia Analítico-Comportamental de


Casais tem como base o princípio da aprendizagem, ou seja,
viver junto com outra pessoa é uma arte a ser aprendida. Po­
demos dizer que não basta amar seu (sua) parceiro (a) para
viver bem com ele (a). Apesar do amor ser uma condição ne­
cessária, vemos que não é suficiente para um bom relaciona­
mento. Auxiliar nesta aprendizagem é o nosso objetivo como
terapeutas de casais.

R e f e r ê n c ia s

INDEX
Deliti, M.; Derdyk, P. (2006) Notas de aula. ITCR - Campinas - mar­
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Ingberman, I.K; Otero, V.R.L. (2008) Curso Terapia Comportamental
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B. (org) Psicoterapias cognitivo-comportamentais: um diálo­
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ra de Terapia Comportamental e Cognitiva, vol. 8. n. 2. pp.145-
160.

183
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INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

A d o ç ã o a f e t iv a : u m e l o d e l ig a ç ã o

e n t r e id o s o s a s il a d o s e a

SOCIEDADE
Fabiana Aparecida Dutra Fernandes
Puc Minas em Arcos

Jair Aurélio Borges


Puc Minas em Arcos

Adriana Guimarães Rodrigues


Puc Minas em Arcos; USP

INDEX Ailton Amélio da Silva


IPUSP

I ntr o d u ç ão

BOOKS
Este artigo descreve parte de uma pesquisa de desen­
volvimento que objetivou elaborar intervenções
psicoterapêuticas breves fundamentadas nos princípios do
ouvir ativo e da empatia que pudessem facilitar a criação, o
desenvolvimento e a manutenção de um vínculo de afeto en­
tre idosos asilados e famílias da comunidade, favorecendo
assim, a adoção afetiva dos idosos pelas famílias.
Entende-se por adoção afetiva, a disponibilidade e a

GROUPS
responsabilidade do adotante em envolver-se e oferecer afe­
tos e cuidados ao adotado, sem compromisso material ou fi­
nanceiro, bem como a receptividade do adotado em acolher e
oferecer o afeto e o cuidado ao adotante. O objetivo era que
as famílias reconhecessem os idosos asilados como parte in­
tegrante de sua convivência familiar, desenvolvendo por eles

Agradecimentos à professora Júlia Maria Amorim de Freitas do curso


de Comunicação Social da PUC Minas em Arcos pelas valiosas
contribuições.

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INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

atitudes e sentimentos de carinho, afeição, aceitação, respei­


to, cuidado e compreensão.
As intervenções psicoterapêuticas desenvolvidas nesta
pesquisa foram fundamentadas nas habilidades empáticas e
de ouvir ativamente que tanto eram manifestadas pelo
terapeuta no decorrer dos atendimentos quanto ensinadas aos
idosos e familiares como um modo de entendimento e com­
preensão mútuas.
Falcone (2001) define a empatia como “a capacidade
de expressar compreensão acurada sobre a perspectiva e
sentimentos de outra pessoa, além de experimentar sentimen­

INDEX
tos de compaixão e de interesse pelo bem-estar desta.” (p.
198). Sendo essa uma habilidade importante para o estabele­
cimento de boas relações interpessoais.
Assim, a utilização da empatia com um aspecto
norteador das intervenções psicoterapêuticas foi relevante,
porque a partir do entendimento empático das famílias sobre
as condições de vida do idoso asilado e deste sobre a disponi­
bilidade da família em adotá-lo que favoreceu o surgimento do

BOOKS
respeito, da compreensão mais profunda e do afeto entre eles.
Outro aspecto de fundamental importância no processo refe­
re-se à habilidade de ouvir ativamente.
De acordo com Silva (2002) e Rodrigues (2005), o ouvir
ativo refere-se à capacidade do indivíduo de ouvir o outro com
compreensão, aceitação e respeito, promovendo um clima de
confiança que faz com que a pessoa que é ouvida dessa for­
ma sinta-se aceita e segura para aprofundar e compartilhar os

GROUPS
aspectos mais íntimos de sua vida, minimizando a carga de
sofrimento, tristeza e solidão, favorecendo, assim, o estabele­
cimento de laços de amizade, carinho e compreensão.
Para esses autores, a habilidade de ouvir ativamente é
uma das mais importantes para o estabelecimento de relacio­
namentos interpessoais gratificantes. Pelo fato de favorecer
uma relação de compreensão, aceitação e de intimidade entre
os envolvidos que a habilidade de ouvir ativamente foi utiliza­
da como um recurso complementar à empatia e facilitador do
desenvolvimento do afeto entre os participantes.

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INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

Segundo Beauvoir (1990), a condição das pessoas ido­


sas é, atualmente, deprimente uma vez que a sociedade fe­
cha os olhos para os abusos, o abandono e os dramas em
que vive a grande maioria de idosos. Para essa autora, a clas­
se dominante impõe às pessoas idosas um fardo pesado de
discriminação e descaso e, a maioria da população ativa se
faz conivente com essa atitude.
Se a velhice por si só é uma fase com muitas limita­
ções, mais delicada, ainda, é a daqueles que são entregues
aos asilos, pois nesses espaços, o que se percebe é a deses­
perança e o desafeto, talvez pela própria situação de abando­
no em que vive uma boa parte dos asilados, deixada na insti­

INDEX
tuição pelos familiares, ou mesmo por amigos e/ou vizinhos.
Com a intenção de amenizar o impacto destas duas
variáveis, abandono e solidão, o objetivo da pesquisa fora ten­
tar a aproximação do idoso asilado de uma convivência fami­
liar saudável, através de intervenções psicoterapêuticas bre­
ves, motivacionais e específicas para esse fim.

BOOKS
M e to d o lo g ia

1. P articipan tes

30 idosos, (15 do sexo masculino e 15 feminino), resi­


dentes em três asilos de três cidades do centro-oeste mineiro,
Arcos, Formiga e Piumhi; 30 famílias (dez de cada cidade),
sensibilizadas pelo projeto e dispostas a adotarem afetivamente

GROUPS
um idoso e 06 funcionários dos respectivos asilos, sendo dois
de cada um.

2 . In s t r u m e n t o s :

Entrevistas com os envolvidos; regimento guia, ou seja,


instrumento que visava nortear a adoção afetiva esclarecendo
as variáveis presentes no processo; intervenções individuais
com os idosos; intervenções com as famílias; intervenções
com os idosos e as famílias; entrevistas de acompanhamento
após a efetivação do processo de adoção e entrevistas de
feedback com os idosos, famílias e funcionários dos asilos.
186
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INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

P r o c e d im e n t o s :

Inicialmente foi feito contato com os asilos para explicar


aos administradores e aos idosos os objetivos, modo de parti­
cipação na pesquisa e solicitada a assinatura do termo de con­
sentimento livre e esclarecido de todos os envolvidos. Após,
iniciaram-se as entrevistas com os idosos, visando selecionar
aqueles que iam participar da pesquisa. Durante esse perío­
do, iniciou-se a elaboração do regimento guia.
Para a seleção dos 10 idosos de cada instituição, consi­
deraram-se os seguintes critérios: o idoso querer participar da
adoção, ter capacidade cognitiva para entender seu modo de
participação, fornecer seu consentimento livre e esclarecido,

INDEX
não receber visitas freqüentes de familiares, amigos e conhe­
cidos no asilo e ter idade mais elevada comparada com a média
de idade dos demais idosos do asilo. Também foram incluídos
nesses critérios aqueles asilados que, apesar de não serem
idosos, apresentavam deficiência física.
Concomitantemente houve uma ampla divulgação do
projeto (por meio de folhetos, cartazes, entrevistas em rádios,
jornais e TV) com o objetivo de mobilizar as famílias dos três

BOOKS
municípios para aderirem à proposta de adoção afetiva dos
idosos.
No acolhimento das famílias, buscou-se explicar sobre
os objetivos da pesquisa, modo de participação e assinatura
do termo de consentimento livre e esclarecido, bem como fei­
to o levantamento dos dados de identificação, expectativas,
interesses, motivações e temores quanto à participação no

GROUPS
processo.
Quanto à seleção das famílias, os critérios considera­
dos foram: aceite ao convite, conhecimento dos objetivos da
pesquisa e consentimento livre e esclarecido de sua participa­
ção, disponibilidade, interesse e motivação para participar do
processo.
Após a análise do perfil dos idosos e das famílias envolvi­
das, buscando adequar o perfil do idoso ao perfil da família, deu-se
início as intervenções que visavam desenvolver o vínculo de afeto
entre os idosos e as famílias para assim favorecer a adoção.

187
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INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

O desenvolvimento das atividades descritas nesse pro­


cedimento, atrelados aos objetivos, viabilizaram a pesquisa e
favoreceram o surgimento dos resultados que seguem abaixo.

R esultados e discussão

Foram entrevistados todos os idosos dos três asilos,


somando um total de 163 idosos, sendo 35 do asilo de Arcos,
99 do de Formiga e 38 do de Piumhi. Desses, selecionaram-
se 30 idosos. A prioridade seletiva para a adoção afetiva dos
idosos asilados se deu em conformidade com o regimento-
guia, atendendo os critérios especificados no tópico de
metodologia.

INDEX Posteriormente, realizaram-se entrevistas com 30 famí­


lias inscritas, sendo 10 da cidade de Arcos, 10 da cidade de
Formiga e 10 da cidade de Piumhi, das quais 27 cumpriram o
processo até o final. A seleção das famílias, também, se deu
em conformidade com o regimento-guia.
Através da categorização e análise dos dados foi identi­
ficado o perfil dos idosos adotados e percebeu-se que 55,5%

BOOKS
dos idosos adotados eram do sexo masculino e 44,4% do sexo
feminino, havendo assim uma equivalência relativa entre ho­
mens e mulheres. Dentre eles, 74% eram analfabetos, e os
demais apresentavam o 1- grau incompleto, ou seja, houve
um predomínio de baixa escolaridade entre os idosos, dado
que justificou a necessidade de um número maior de interven­
ções ao longo do processo de adoção afetiva.
Outro dado relevante identificado foi que 100% dos ido­

GROUPS
sos selecionados para a adoção não recebiam visitas com fre­
qüência, embora 63% desses possuíam familiares vivos, ou
seja, a maioria deles se encontrava em situação de abando­
no. Também foi verificado que a maioria dos idosos recebeu
as famílias adotantes com interesse e disponibilidade.
A média de idade dos idosos adotados foi de 72 anos,
sendo, portanto, considerados idosos, de acordo com a Orga­
nização Mundial de Saúde (OMS). Entretanto, três dos
adotados são deficientes físicos com idade inferior a 60 anos,
que, no entanto, foram incluídos na proposta de adoção afetiva

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INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

pelo fato de não receberem visitas e nem possuírem víncuios


afetivos aparentes.
Sobre o tempo de residência dos idosos nos asilos, ve­
rificou-se estarem asilados em média há 11 anos, ou seja,
muitos deles encontravam-se sem a possibilidade de uma
convivência familiar durante um tempo significativo, o que pa­
rece ter favorecido o embotamento afetivo dos idosos partici­
pantes percebido no início das intervenções.
Quanto ao perfil das famílias adotantes, verificou-se que
85,2% dos envolvidos eram católicos, e 14,8% evangélicos,
ou seja, a maioria das famílias e pessoas adotantes possuía
vivência religiosa, o que indica que o fator religiosidade parece

INDEX
ter contribuído para uma sensibilização delas em aderir à pro­
posta de adoção afetiva. Cabe ressaltar que, para melhor aná­
lise dos dados, considerou-se apenas um membro da família
como adotante.
A primeira sessão de entrevista e intervenção foi de
acolhimento do idoso e objetivava conscientizá-lo sobre sua
participação no processo, ou seja, informá-lo de forma empática
que passaria a receber visitas de uma família que manifestou

BOOKS
interesse e disponibilidade para adotá-lo afetivamente. Tam­
bém fora objetivo dessa intervenção criar um contexto para o
idoso expressar seus anseios, medos, expectativas e afetos,
através de uma postura empática e do ouvir ativo do terapeuta.
A segunda sessão de entrevista e intervenção constou
do acolhimento dos membros da família e teve como objetivo
conscientizar a família quanto a sua participação no processo,
bem como levantar suas expectativas, crenças sobre a ado­

GROUPS
ção afetiva, receios, interesse e disponibilidade de tempo para
o convívio com o idoso.
Na terceira sessão de intervenção, foi realizado um en­
contro coletivo com todos os idosos adotados e as famílias
adotantes em um café interativo nos respectivos asilos. Essa
intervenção teve como objetivo apresentar todos os envolvi­
dos no processo de adoção afetiva e distribuir o termo de com­
promisso sobre as responsabilidades assumidas perante a
adoção.

189
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INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

Na quarta sessão de intervenção buscou-se motivar o


idoso para participar do processo e continuar levantando suas
expectativas, medos, inseguranças e alegrias em relação à
adoção a fim de serem trabalhadas de forma compreensiva e
empática. Também foi elaborada uma carta sobre os senti­
mentos e expectativas do idoso em relação ao processo de
adoção para ser entregue à família.
A quinta sessão de intervenção visou à sensibilização
das famílias envolvidas, pautadas na leitura e reflexão da car­
ta do idoso e a elaboração de uma carta-resposta da família
para o idoso adotado.
Na sexta sessão de intervenção, foi lida para o idoso a

INDEX
carta escrita pela família adotante, assim como feita uma re­
flexão sobre o conteúdo nela contido com a participação do
idoso, ressaltando o interesse e a disponibilidade da família
em adotá-lo, bem como os sentimentos expressos em rela­
ção à sua pessoa.
A sétima sessão de intervenção visou proporcionar
meios de fortalecer a amizade e a intimidade entre os idosos e
as famílias pela expressão de seus sentimentos na dinâmica

BOOKS
das cores. Nessa dinâmica, a família e o idoso fizeram um
mosaico com diferentes formas e cores que expressavam os
sentimentos de cada um.
Na oitava sessão de intervenção foi trabalhada a fideli­
dade do vínculo entre idoso adotado e família adotante, atra­
vés da dinâmica do lenço de bolso para que o idoso e família
pudessem considerar-se amigos de todas as horas, com quem
é possível contar nos momentos tristes e felizes.

GROUPS
Na nona sessão de intervenção, foi realizado um pas­
seio terapêutico em ambiente extra-asilar com cada família
adotante e idoso adotado para observar a interação entre eles.
A décima sessão de intervenção visou integrar todos os
envolvidos no processo de adoção afetiva em um café
interativo, avaliar o processo e refletir sobre uma poesia inspi­
rada na fábula do “Pequeno Príncipe” de Antoine de Saint-
Exupéry (1983) que abrange a premissa da responsabilidade
por quem cativamos.

190
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

Na décima primeira sessão de intervenção, foram reali­


zadas entrevistas conjuntas com os idosos e as famílias para
avaliar o processo de adoção afetiva, auxiliar nas possíveis
dificuldades ocorridas e verificar a efetividade do processo em
propiciar uma melhoria na qualidade de vida deles. Essa ses­
são ocorreu após 15 dias da sessão anterior.
Na décima segunda de intervenção, procurou-se averi­
guar a efetividade do processo de adoção afetiva para o idoso
adotado e família adotante, considerando o ponto de vista e a
argumentação deles. Essa sessão ocorreu 30 dias após a
décima primeira sessão.

INDEX
A décima terceira sessão de entrevista e intervenção foi
realizada com dois funcionários de cada asilo a fim de levantar
o grau de satisfação da administração dos asilos com o pro­
cesso de adoção afetiva e a efetividade do mesmo.
Além das intervenções descritas acima, foi necessário
realizar intervenções terapêuticas individuais tanto com os ido­
sos como com os familiares, conforme suas necessidades e
dificuldades com a adoção.

BOOKS
Cabe ressaltar que durante todas as intervenções bus-
cou-se otimizar a relação de amizade e vínculo entre família e
idoso adotado, procurando sanar as dúvidas e anseios dos
envolvidos para concretizar efetivamente a adoção.
Percebeu-se, então, que todas as intervenções realiza­
das conseguiram atingir seus objetivos, ou seja, a efetivação
do vínculo entre idosos adotados e famílias adotantes.

GROUPS
Foram iniciadas 30 adoções, porém, três delas foram
interrompidas durante o processo em função de morte de uma
pessoa adotante, morte de uma idosa adotada e mudança de
cidade de uma família. Foi oferecido suporte terapêutico para
a família e os idosos das adoções interrompidas.
Com as três últimas sessões de intervenções foi possí­
vel observar que o vínculo afetivo, o compromisso e a adoção
afetiva mantinham-se bem estabelecidos mesmo com o
espaçamento de tempo entre as sessões e a perspectiva do
fim delas.

191
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

C onclusão

O vínculo afetivo criado entre idosos asilados e famílias


adotantes foi fortalecendo-se a cada intervenção, permitindo
que a adoção afetiva fosse concretizada. Percebeu-se, tam­
bém, um significativo aumento na capacidade dos idosos de
expressar afetos tanto para a família adotante como para os
demais idosos e funcionários dos asilos; bem como houve uma
diminuição significativa de suas queixas relativas às doenças,
ao ambiente asilar, a convivência com outros idosos e a pers­
pectiva de vida. Esse fato parece demonstrar que a adoção
afetiva favoreceu o processo de ressocialização dos idosos
asilados e otimizou a qualidade de vida antes apresentada.

INDEX Algumas dificuldades foram encontradas durante o de­


senvolvimento da pesquisa: as limitações físicas e cognitivas
dos idosos que demandavam a repetição de algumas sessões
para a realização das intervenções, o número reduzido de fa­
mílias interessadas na adoção o que dificultou a seleção mais
criteriosa entre elas, a demanda de outros idosos e da admi­
nistração dos asilos para incluir mais idosos no processo, o
que não foi possível em função do baixo número de famílias

BOOKS
interessadas.
Apesar dessas dificuldades que gradativamente foram
contornadas e do baixo número de participantes da amostra,
foi possível concluir que as intervenções pautadas pela empatia
e pelo ouvir ativo manifestados pelo terapeuta e ensinados
aos idosos e familia, como um modo de entendimento e com­
preensão mútuos, favoreceram a criação do vínculo afetivo
entre eles e concretizaram a adoção afetiva dos idosos asila­

GROUPS
dos pelas famílias.

R e f e r ê n c ia s

Beauvoir, S. (1990). A Velhice. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.


Falcone, E. (2001). Uma proposta de um sistema de classificação
das habilidades sociais. In: H. J. Guilhardi (Org.) Sobre com­
portamento e cognição: expondo a variabilidade, (pp. 195-
209). Santo André, SP: Esetec.
Rodrigues A. G. (2005). O Ouvir na relação terapêutica: um estudo

192
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

exploratório. Dissertação de Mestrado, Instituto de Psicolo­


gia, Universidade de São Paulo, São Paulo.
Saint-Exupéry, Antoine de. O pequeno príncipe. Tradução Maria
Helena Trigueiros. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983.
Silva, A. A. (2002). Ouvir ativamente. Universidade de São Paulo.
Texto não-publicado.

INDEX
BOOKS
GROUPS

193
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

Q u a l id a d e de v id a

NA TERCEIRA IDADE

Samara Melo Moura


UFMG - LND/UFMG
Paulo Henrique Martins de Almeida
Centro Universitário Newton Paiva - BH-MG.
Vitor Geraldi Haase
UFMG - LND/UFMG

INDEX Q u a l id a d e d e v id a

Segundo a Organização Mundial de Saúde “qualidade


de vida (QDV) é a percepção do indivíduo de sua posição na
- C onceito

vida no contexto de sua cultura e dos sistemas de valores da


sociedade em que vive e em que relação aos seus objetivos,
expectativas, padrões e preocupações” (OMS,1995).

BOOKS
Tal definição abrange três aspectos essenciais: é
subjetiva, multidimensional e inclui aspectos positivos e
negativos. É subjetiva se considerando: bem estar, prazer,
realização pessoal, e objetiva quando se considera: satisfação
de necessidades básicas.
O termo Qualidade de Vida tem sido abordado
amplamente no âmbito da saúde, como tema de estudos,
congressos e conferências, em um sentido bem genérico. Há,

GROUPS
no entanto, uma falta de clareza e consistência quanto à
definição e operacionalização do termo, de modo que os
fatores que compõem o constructo podem variar de autor para
autor. Assim, para relacionarmos o termo “qualidade de vida”
à terceira idade faz-se necessário a exposição de alguns
conceitos.
Após a segunda guerra mundial, QDV era referência
de posses e usufrutos materiais como propriedades, casa,
carro, quantidade de eletrodomésticos, dinheiro para viagens
(QDV subjetiva), o termo, no entanto foi sendo “alargado” e

194
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

passou a abranger um maior número de fatores a serem


considerados para classificar “qualidade de vida”. Em 1960, o
termo também foi utilizado em um relatório da Comissão
Nacional de Metas do presidente Eisenhower, para se referir
à educação, a preocupações com o indivíduo, ao crescimento
econômico, à saúde e ao bem estar.
Na medicina, QDV é associada ã relação custo benefício
primordial à manutenção da vida ou a capacidade funcional
dos doentes, e na economia é associada a medidas objetivas
como renda per capita que funciona como indicador de acesso
a serviços básicos da sociedade, por exemplo: educação,
saúde, habitação (QDV objetiva).

INDEX Para Minayo (2000), o conceito de QDV é relativamente


recente e decorre, em partes, do novo paradigma que tem
influenciado as políticas e as áreas do setor nas últimas
décadas. Os determinantes do processo de saúde-doença são
multifatoriais relacionados aos aspectos econômicos,
socioculturais, às experiências pessoais e estilos de vida.
“Na psicologia social, a referência mais forte é a

BOOKS
experiência subjetiva de qualidade de vida, representada peio
conceito de satisfação” (NERI.2000).
No âmbito da saúde coletiva e das políticas públicas,
QDV tem sido incluída como indicador de eficiência e impacto
de determinados tratamentos para grupos de portadores de
agravos diversos. Outro interesse está diretamente ligado às
práticas assistenciais cotidianas dos serviços de saúde que
se refere à QDV como indicador nos julgamentos clínicos de

GROUPS
doenças específicas, Trata-se do impacto físico e psicossocial
que as enfermidades podem acarretar para pessoas
acometidas, permitindo um melhor conhecimento do paciente
e de suas adaptações à condição.
Para Zannom (2004), existem duas tendências à
conceituação do termo em questão: qualidade de vida como
um conceito mais genérico, e qualidade de vida relacionada à
saúde. Os conceitos mais genéricos apresentam uma
concepção mais ampla, influenciada por estudos sociológicos
sem fazer referencias a disfunções ou agravos. Uma
característica importante nessa tendência genérica é a não

195
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

restrição a pessoas portadoras de agravos específicos em seus


estudos, mas a inclusão de pessoas saudáveis da população.
Relacionada à saúde o termo qualidade de vida, parece implicar
os aspectos mais diretamente ligados às enfermidades ou as
intervenções em saúde.
Pesquisadores da área reforçam que a medida de
qualidade de vida tem se tornado especialmente importante
como uma variável de impacto global das doenças e dos
tratamentos médicos, a partir da perspectiva de vida do
paciente. Existe uma grande variabilidade entre as pessoas
em suas capacidades de enfretamento de limitações físicas e
doenças e em suas expectativas em relação aos aspectos de

INDEX
sua saúde.
Os conceitos individuais podem influenciar de maneira
determinante a percepção e valoração que a pessoa faz de
seu estado de saúde e de sua satisfação com a vida. É dessa
maneira que duas pessoas com o mesmo estado funcional ou
a mesma situação objetiva de saúde podem apresentar
qualidades de vida muito diferentes, devido a aspectos
subjetivos. Entende-se, nesse contexto, subjetividade como a

BOOKS
percepção que o sujeito tem sobre sua própria QDV.
Alguns autores propõem que as necessidades humanas
são fundamentos da qualidade de vida e que QDV seria o grau
de satisfação atingido a partir dessa necessidade, podendo
ser ela, física ou psicológica, assim qualidade de vida é a
extensão com que o prazer e realização pessoal são obtidos.
Existe um consenso sobre a natureza de várias
dimensões da qualidade de vida entre os diferentes conceitos

GROUPS
a ela atribuídos (multidimensional). Mesmo que os domínios
de saúde física ou psicológica e de função social permeiem a
maioria das definições, há uma menor concordância quanto a
outros campos como, por exemplo: espiritualidade, níveis de
independência, situação socioeconômica, auto-estima, estado
funcional, desempenho no trabalho, grau e qualidade de
interação na comunicação e na interação social, enfretamento
e satisfação com a vida.
Há ainda a presença de aspectos tanto positivos quanto
negativos, o conceito de “qualidade” não deve se restringir à

196
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

idéia de “positividade”, mais especificamente nesse caso de


ser atribuído o sentido de “estado” de vida. Assim, os níveis de
QDV abrangem tanto as dimensões boas da vida da pessoa
(independência, contentamento e mobilidade) quanto as
dimensões negativas (sentimentos negativos, dependência de
medicação, fadiga e dor).
É importante observar, que nas sondagens feitas sobre
o tema em questão, valores não materiais, como amor,
liberdade, solidariedade, inclusão social, realização pessoal e
felicidade, compõem sua concepção.
Portanto, o tema Qualidade de Vida é trabalhado sob os
mais diferentes olhares. No âmbito da saúde, quando visto no

INDEX
sentido amplo, ele se apóia na compreensão das necessidades
humanas fundamentais, material e espiritual e tem no conceito
de promoção da saúde seu foco mais relevante. Quando vista
de forma mais focalizada concentra-se na capacidade de viver
sem doenças ou de conviver com elas, superando as
dificuldades dos estados ou condições de morbidade. Embora
se saiba que o estado de saúde, assim como, o sistema de
saúde, influenciam e são influenciados pelo ambiente global.

BOOKS
Desse modo pode se dizer que a questão de qualidade de
vida diz respeito ao padrão que a própria sociedade define e
se mobiliza para conquistar, consciente, ou inconscientemente,
e aos conjuntos das políticas públicas e sociais que induzem e
norteiam o desenvolvimento humano, as mudanças positivas
no modo, nas condições e estilos de vida, cabendo parcelas
significativas da formação e das responsabilidades ao
denominado setor de saúde.

GROUPS Q u alidade de vida na t e r c e ir a idade

De acordo com a exposição acima apresentada, consi­


deramos que Qualidade de Vida é a combinação de bem estar
objetivo e subjetivo em múltiplos domínios da vida tidos como
importantes sócio-culturalmente. O objetivo é identificar as
variáveis que mais influenciam a qualidade de vida no enve­
lhecimento. Foi realizada uma revisão bibliográfica da literatu­
ra cientifica latino-americana, nos indexes Bireme e Pubmed.
A análise dos artigos indica níveis satisfatórios de QDV no

197
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

envelhecimento, sendo menor para idosos com déficitis


cognitivos graves e dependentes. O domínio que mais influen­
cia a qualidade de vida na 3® idade é o físico, seguido do
ambiental e psicológico. Os maiores indicadores de bem-es­
tar são: capacidade funcional, autonomia, continuidade de
papéis sociais e ocupacionais, nível de atividade, saúde, com­
petência social, produtividade, eficácia cognitiva, status soci­
al, nível socioeconômico, gênero, coping focado no problema,
a aceitação da velhice, satisfação com a vida, relações com
familiares, participação social.
Vários problemas que costumavam ser considerados
característicos da idade avançada não são, hoje em dia, atri­

INDEX
buídos ao envelhecimento propriamente dito, mas a fatores
de estilo de vida ou a doenças que podem acompanhar ou
não o processo de envelhecimento. Nesse sentido pesquisa­
dores definiram como primário ou secundário. O envelheci­
mento primário seria um processo gradual, irreversível, pro­
gressivo, inevitável e universal de deterioração corporal que
começa mais cedo na vida e continua com o passar dos anos;
por outro lado, o envelhecimento secundário compreenderia

BOOKS
as mudanças (abuso ou desuso), fatores que, por vezes são
evitáveis e estão dentro do controle do indivíduo. Acredita-se
que, com a manutenção dos hábitos de vida adequados, mui­
tos idosos poderão afastar os efeitos secundários do envelhe­
cimento.
Existem três domínios gerais a serem considerados na
velhice, exceto por algumas variações individuais:
1g- há um aumento nas perdas físicas; a saúde tende

mular;
GROUPS
as ser um problema crescente;
2-- as pressões e as perdas sociais tendem a se acu­

3g- os idosos defrontam-se com a idéia de que o tempo


está se tornando cada vez mais curto.
Conclui-se que o entendimento da qualidade de vida do
idoso deve compreender diversos critérios multidimensionais
de natureza biológica, psicológica e socioestrutural. Tendo-se
em vista a expectativa de vida cada vez mais alta, vários estu­

198
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

dos têm sido desenvolvidos de modo a contribuir para melhoria


da qualidade de vida na terceira idade. Os resultados indicam
a existência de três grupos de idosos segundo suas defini­
ções de qualidade de vida: o primeiro valorizou a questão afetiva
e familiar; o segundo priorizou obtenção do prazer e conforto;
o terceiro identifica a qualidade de vida colocando em prática
seu ideário de vida.
Segundo Vecchia (2005), um estudo realizado pela Fa­
culdade de Medicina de Botucatu (FMB), em parceria com a
UNESP, teve o intuito de identificar o significado de qualidade
de vida para os idosos, tendo como objeto de estudo a satisfa­
ção com a vida e o estilo de vida dos idosos. Tal estudo iden­

INDEX
tificou três perfis de idosos segundo suas definições sobre o
que é qualidade de vida: o primeiro mencionou situações refe­
rentes a relacionamentos interpessoais (49%), equilíbrio emo­
cional, e boa saúde (72,34%), ou seja, é o idoso que prioriza a
questão afetiva e familiar; o segundo grupo mencionou hábi­
tos saudáveis(38,9%), lazer e bens materiais (50,51 %), ou seja,
é o idoso que prioriza prazer e conforto; o terceiro mencionou
espiritualidade (8,22%), trabalho (6,3%), retidão e caridade

BOOKS
(4,93%), conhecimento e ambientes favoráveis (6,57%), po­
deria ser sintetizado como idoso que identifica como qualida­
de de vida, conseguir colocar em prática seus ideários de vida.
Segundo Santos (2002), uma pesquisa de natureza
quantitativa, feita na cidade de João Pessoa no estado da
Paraíba, utilizou cinco grupos de indivíduos em diferentes co­
munidades, na faixa etária de 60 anos ou mais. Tal estudo
utilizou uma entrevista composta de duas partes: a primeira,

GROUPS
constituindo-se de dados sociodemográficos e a segunda, da
escala de Qualidade de Vida de Flanagan, que conceitua qua­
lidade de vida a partir de cinco dimensões: bem-estar físico e
material, relações com outras pessoas, atividade social, co­
munitárias e cívicas, desenvolvimento pessoal e realização, e
recreação/lazer. Concluiu-se em tal estudo que, a qualidade
de vida da amostra de idosos, numa graduação, varia de pou­
ca a moderada satisfação, decorrente da condição
biopsicossocial experimentada por esses grupos de indivídu­
os no contexto brasileiro.

199
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

Um estudo exploratório na população idosa portuguesa


utilizou no recolhimento dos dados a versão portuguesa do
EASY care (Elderly Assessment System/ Sistema de Avalia­
ção de Idosos). Segundo Sousa (2003), tal instrumento tem
como intuito caracterizar a qualidade de vida e bem-estar da
população idosa, com 75 anos ou mais. Este instrumento ava­
lia a percepção dos idosos em relação as suas capacidades.
Ainda, segundo Sousa (2003), trata-se de um instrumento de
avaliação multidimensional, desenvolvido para avaliar as ne­
cessidades dos idosos em nível social e de saúde. Tal estudo
identificou um panorama de qualidade de vida e bem-estar
dos idosos e classificou como sendo bom, mas chama a aten­

INDEX
ção na diminuição das competências desses idosos aos fami­
liares, o que diminui significativamente seus conceitos sobre
qualidade de vida.
De uma forma geral o conceito de Qualidade de Vida
está relacionado à auto-estima e ao bem estar pessoal. Abran­
ge uma série de aspectos como a capacidade funcional, o ní­
vel socioeconômico, o estado emocional, a interação social, a
atividade intelectual, o autocuídado, o suporte familiar, o pró­

BOOKS
prio estado de saúde, os valores culturais e éticos da realida­
de, o estilo de vida, a satisfação como emprego e/ou com ati­
vidades diárias e o ambiente em que vive.

C onclusão

Durante toda a revisão bibliográfica feita a partir da lite­


ratura científica latino-americana, pode se perceber que, para
o idoso, Qualidade de Vida se resume ao mínimo de condição

GROUPS
de sobrevivência/convivência na sociedade, para que o
individuo nela inserido possa desenvolver o máximo de suas
potencialidades, sejam estas de cunho subjetivo (bem-estar,
realização pessoal, prazer, etc), objetiva (satisfação de neces­
sidades básicas), ou ainda multidimensional (domínio da saú­
de física e psicológica e das funções sociais).
Vale lembrar que o conceito de QDV pode variar de as­
pectos quantitativos de uma determinada região para outra,
mas seu parâmetro de abordagem é essencialmente o mes­
mo.

200
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

Considerando a expectativa de vida cada vez mais alta


e a inquestionável transformação demográfica vivida nos últi­
mos tempos, torna-se necessário a devida atenção no que diz
respeito ao suporte assistencial na terceira idade, garantindo
aos idosos não só uma sobrevida maior, mas também uma
boa qualidade de vida.

R e fer ê n c ia s
Pereira, RJ. et al. Contribuição dos domínios físico, social, psicoló­
gico e ambientai para a qualidade de vida global de idosos.
Rev Psiquiatr RS jan/abr 2006; 28(1):27-38.

INDEX
Santos, S.R.; Santos, I.B.C.; Fernandes, M.G.M.; Henriques, M.E.R.M.
Qualidade de Vida do Idoso na Comunidade: Aplicação da
escala Flanagan. Latino-am Enfermagem. São Paulo, nQ10,
p.757-764, jun. 2002.
Sousa, L.; Galante, H.; Figueiredo, D. Qualidade de Vida e Bem-
Estar dos Idosos: Um Estudo Exploratório na população por-
tuguesa. Saúde Pública. Portugal, n9 37, p. 364-371.
mar,2003.
Trentini, C.M.; Xavier, F.M.F.; Fleck, M.P.A. Qualidade de Vida em

BOOKS
Idosos. In: Parente, M.A.M.P. Cognição e Envelhecimento,
Cap.1, p.18-20. 2005.
Vecchia, R.D.; Ruiz T.; Bocchi, S.C.M.; Corrente, J.E. Qualidade de
Vida na Terceira Idade: Um Conceito Subjetivo. Rev Bras
Epdemiol. n98, p.246-252. mar.2005.

GROUPS

201
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

C o n s t r u in d o o f u t u r o d a

PSICOLOGIA A PARTIR DOS CURSOS DE


GRADUAÇÃO*

Adélia Maria Santos Teixeira


UFMG

INDEX
Vocês não podem imaginar o que significa, para mim,
estar aqui, diante de tantos coordenadores, dirigentes e/ou
responsáveis pela gestão didático-pedagógica dos cursos de
graduação em Psicologia. O mesmo se registra em relação aos
nossos parceiros convidados: ANPEPP - Associação Nacional
de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia; SBP - Sociedade
Brasileira de Psicologia; CFP - Conselho Federal de Psicologia

BOOKS
eABEP-Associação Brasileira de Ensino de Psicologia e IBAP
- Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica.
Quando nos aproximamos do final de uma carreira
profissional, supomos ter algo a dizer para aqueles que estão
iniciando-a ou ingressando-se nela. E, podem crer, temos
mesmo.
Sem dúvida, o Exame Nacional de Cursos (ENC)
acumulou dados que permitem conhecer e aprimorar a

GROUPS
organização e o funcionamento dos cursos de graduação em
nosso País. Os resultados apurados nas duas avaliações dos
cursos de Psicologia, realizadas nos anos 2000 e 2001, retratam
a trajetória de todos que estiveram envolvidos com esses cursos,
desde suas implantações até o momento presente.

Texto originai apresentado no I Seminário-Avaliação, Informação


e Qualidade/Psicologia. MEC, 2002. Brasília, DF. Na presente
versão, foram acrescentados alguns dados referentes aos anos
2002 e 2003 e introduzidas algumas análises.

202
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

Pretende-se, nesta apresentação, analisar e avaliar o


produto atual do trabalho, de cerca de 50 anos, de uma geração
que já deixou ou está deixando o ambiente universitário. Serão
apontados os entraves, enfrentados no período correspondente
e as lacunas que, tendo remanescido, aguardam soluções da
geração que está ingressando no mesmo ambiente. Isto é
transmissão de cultura, uma função que interliga gerações
diversificadas.
Com o objetivo de dar sustentação a proposições que
serão desenvolvidas, alguns resultados obtidos nas avaliações
dos cursos de Psicologia serão retomados, embora já tenham
sido objeto de análises e discussões anteriores, neste Seminário.

INDEX
Em primeiro lugar, vejamos os resultados gerais obtidos
pelos formandos de Psicologia nos anos 2000 e 2001.

QUADRO 1 - ENC/PROVÃO/2OOO/PSICOLOGIA
Desempenho geral no Brasil e em uma instituição com conceito A
(escala: 0/1000)

Mediana P

BOOKS
Categorias P25 P7S 1 <30

o
-O
« (0 Brasil 501.0 436,3 567,3 624,5
3 L_CD

<D a ' Instit, A


CO
613.1 533,0 658,8 696,9
cc

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GROUPS
<D Instit. A
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563,4
621,1
678,9

CO
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> C/5
Brasil 497,0 426,8 573,1 631,6
u D
O
CL w
Instit. A 579,0 491,2 655,1 701,9
b

ENC - Exame Nacional de Cursos

203
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

QUADRO 2 - ENC/PROVÃO/2001/PSICOLOGIA
Desempenho geral no Brasil e em uma instituição com conceito A
(escala: 0/1000)

Categorias Mediana
o
■o Brasil 508,7 448,6 558,8 618,9
4<—
0*
3 Instit. A 608,9 568,8 659,0 709.1
w
<D
cc
ro
D
Brasil 517,9 457,0 654,8 609.2

INDEX
Instit. A 609,2 578,7 563,5 670.0

Brasil 581,2 427,3 559,2 625.1

Instit. A 493,2 515,2 647,1 779,0

BOOKS
ENC - Exame Nacional de Cursos

De uma maneira inequívoca, os dados dos Quadros 1 e


2 não recomendam as práticas de organização e de ensino
dos cursos de Psicologia.
Embora aceitáveis, como produto inevitável da organi­

GROUPS
zação e do ensino praticados nesses cursos, não permitem
qualquer nível de tolerância ou conformismo em relação a eles.
Não é possível conviver com um padrão de organização e de
ensino que produz um nível de desempenho abaixo de 70%
em cerca de 90% dos alunos, e que concentra 50% de
formandos (com base na mediana) num nível de desempenho
entre 50% e 60%.
A esses dados, acrescentam-se, agora, os resultados
gerais obtidos pelos formandos de Psicologia nos anos 2002
e 2003.

204
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

QUADRO 3 - ENC/PROVAO/2 OO2/PSICOLOGIA


Desempenho geral no Brasil e em uma instituição com conceito A
(escala: 0/1000)
Categorias Mediana
Ö
u Brasil 509,1 447,9 560,0 611,0
B
aeral

</) Instit. A 590,6 549,8 651,8 697,7


<D
cc
03
Q
c0
Brasil 499,8 462,2 556,2 612,6
| o
/uN
> co Instit. A 612,6 556,2 631,4 669,0

INDEX
O <u
a.
CC
>
CO CO Brasil 496,3 446,0 567,9 620,1
>
vj 13
O
CL CO Instit. A 567,9 507,0 655,0 715,9
b

ENC - Exame Nacional de Cursos

BOOKS
QUADRO 4 - ENC/PROVÃO/2003/PSICOLOGIA
Desempenho geral no Brasil e em uma instituição com conceito A
(escala:
■ 0/1000)
- ’ "JOC
Categorias Mediana • ?<=; 7f i -------

o
"O
03 Brasil 506,6 452,1 570,2 616,2
3
CO
CU Instit. A 606,7 543,2 661,4 679,6
cr
Q
GROUPS
Brasil 513,5 455,5 571,5 614.9

667.4
Instit. A 614,9 571,5 571,2

Brasil 496,1 421,0 571,2 627.5

Instit. A 571,2 496,2 646,3 683.9

ENC - Exame Nacional de Cursos

205
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Como se constata, a tendência dos resultados nos Qua­


dros 3 e 4 reproduz a encontrada nos anos de 2000 e 2001, o
que induz o mesmo repúdio e os mesmos comentários feitos
após a apresentação dos Quadros 1 e 2.
Em segundo lugar, vejamos os resultados obtidos pe­
los alunos nas questões discursivas referentes a sub-áreas
de conhecimento da Psicologia

QUADRO 5 - ENC/PROVÃO/2000; 2001/PSICOLOGIA


Questões discursivas/sub-áreas de conhecimento
(Média - escala 0/100)

INDEX
Ano Teorias e Avaliação Pesquisa Clínica Social
Sub-área Sistema Psicológica
de (teoria (Testes)
conhe­ sócio-
cimento histórica

o Brasil 27,6 26,9 20.7 38,4 44,0


o\l
C
o Instituição 38,5 36,4 28.8 55,3 55,8

BOOKS
< A

o Brasil

WêÊÊÊ
OJ 14,2 33,6 16,1
o Instituição
< A 24,0 42,1 28,7

ENC - Exame Nacional de Cursos

GROUPS
No ano de 2000, foram avaliadas cinco sub-áreas de
conhecimento em Psicologia: teorias e sistemas, privilegiando
a teoria sócio-histórica; avaliação psicológica: pesquisa: clínica
e Psicologia Social. No ano de 2001, foram avaliadas as sub-
áreas: pesquisa; clínica e Psicologia Social. Novamente, os
dados são alarmantes. Sub-áreas, reconhecidas como
concentradoras de maior investimento pedagógico - clínica e
Psicologia Social produzem resultados que revelam absoluta
falta de retorno. No ano de 2000, o padrão médio de desempe­
nho dos formandos, nestas sub-áreas, oscilou num nível entre
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40% e 55%. Isto significa que os clínicos e os psicólogos soci­


ais que estão ingressando no mercado de trabalho dispõem de
cerca de 50% do conhecimento que deveriam possuir. No ano
de 2001, a situação mostrou-se mais grave. Nas mesmas sub-
áreas, os valores médios de desempenho dos formandos vari­
aram entre 30% e 42% em clínica, e entre 16% e 29% em Psi­
cologia Social. No campo da pesquisa, os resultados são mais
baixos ainda. No entanto, neste caso, há um atenuante a ser
considerado: a prática de pesquisa encontra mais oportunida­
des e é mais valorizada apenas nas universidades federais.
Entretanto, a Instituição A apresentada no Quadro 3 é uma ins­
tituição federal e, mesmo assim, seu resultado é muito baixo,

INDEX
especialmente, quando se registra a presença de número ele­
vado de professores titulados e que se auto-denominam pes­
quisadores. O mesmo Quadro 5 mostra o pouco conhecimento
dos alunos da abordagem sócio-histórica, super valorizada e
mencionada no meio universitário, e de práticas relacionadas
com avaíiação psicológica (aplicação de testes), prerrogativa
do profissional em Psicologia.
Lamentavelmente, este trabalho não dispõe dos dados

BOOKS
correspondentes aos anos de 2002 e 2003 na categoria - Ques­
tões discursivas/sub-áreas de conhecimento. No entanto, os
interessados poderão obtê-los diretamente no INEP - Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais - no Ministério
da Educação (MEC).
Pode-se antecipar, contudo, que a tendência dos resulta­
dos não apresentará alterações, o que permite reiterar a conde­
nação das práticas de ensino nos cursos de graduação em Psi­
cologia.
GROUPS
Em terceiro lugar, observemos o Quadro 6 disponibilizado
no presente artigo. Mostram-se nele as notas mínimas e máxi­
mas obtidas pelos formandos nos anos 2000,2001,2002 e 2003.
Os números são tão alarmantes que dispensam
comentários. Os resultados na Instituição A mostram que
alunos formaram-se e se habilitaram para a profissão de
Psicólogo com repertório de conhecimento que varia de 10 a
30% do que deveriam conhecer. As notas máximas, cuja
freqüência é mínima, não ultrapassam 80% do conhecimento

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QUADRO 6 - ENC/PROVAO 2000, 2001, 2002 E 2003 -


PSICOLOGIA RG - PME - PD*
(escala: 0/1000)'
2000 Mínima Máxima
Brasil RG 182,5 828,7
PME 101,4 852,1
PD 315,6 824,8
Instituição A RG 182,5 780,7
PME 101,4 755,9
PD 315,6 789,7

2001 Mínima Máxima

INDEX
Brasil RG 218,1 829,3
PME 196,3 730,9
PD 317,4 1.020,8
Instituição A RG 218,1 829,3
PME 198,3 715,7
PD 317,4 976,8

2002 Mínima Máxima

BOOKS
Brasil RG 233,8 835,3
PME 217,8 781,8
PD 306,7 898,7
Instituição A RG 305,2 784,3
PME 349,4 763,0
PD 306,7 794,3

2003 Mínima Máxima


Brasil RG 278,5 816,7

Instituição A
GROUPS PME 267,1
PD 345,8
RG 278,5
759,9
946,8
743,8
PME 267,1 745,4
PD 345,8 759,0

RG - Resultado Geral
PME - Prova Múltipla Escolha
PD - Prova Discursiva

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esperado de um profissional de Psicologia. Há apenas um caso


acima de 90% quando uma aluna da Instituição A, mostrada
em todo este trabalho, obteve a maior nota do ENC - Psicologia
no ano de 2001.
Não existem diferenças significativas entre o
desempenho dos formandos no Brasil, de um modo geral, e
na Instituição A.
Essa classificação A é um artifício estatístico, e o
conceito de excelência a ela associado é uma ficção. Esse A,
na verdade, significa menos ruim.
A seqüência de conceitos A, B, C, D e E, atribuídos às

INDEX
Instituições, deveria corresponder, respectivamente, a uma
classificação do tipo: menos ruim, ruim, muito ruim, horrível e
abaixo da crítica.
Em quarto lugar, vejamos os dados apresentados nos
Quadros 7 e 8.
No ano de 2000, os alunos percebem o grau de
dificuldade da prova entre médio e difícil; no ano 2001, entre
médio e fácil. No dois anos, os dados convergem para o nível

BOOKS
médio. Os coordenadores, quase em sua totalidade, percebem-
no como médio nos dois anos (97%).

QUADRO 7 - ENC/PROVÃO/2000; 2001/PSICOLOGIA


Percepção do grau de dificuldade da prova (alunos)

Ano Escala' Variação aprox. (%)"

2000
2001
GROUPS
MF F M

<---- -—
D

----------->
MD

(50/70) (40/20)
(30/20) 4r- (50/60)

A direção das setas indica a força relativa das respostas dos alunos.
"Esses dados representam uma faixa de variação de valores médios
em cinco categorias: 1. instituição; 2. região geográfica; 3. categoria
administrativa (federal, estadual, municipal, privada); 4. organização
acadêmica (universidade, centro universitário, faculdade integrada,
estabelecimento isolado); 5. Brasil.

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QUADRO 8 - ENC/PROVÃO/2000; 2001/PSICOLOGIA


Percepção do grau de dificuldade da prova (coordenadores)

F (fácil); M (médio); D (difícil)

INDEX Tendo em vista as análises já apresentadas sobre os


resultados do Provão/2000, 2001, como entender uma
distorção perceptiva dessa natureza? Se o grau de dificuldade
das provas é médio, como explicar o baixo nível de
desempenho dos alunos? Convém lembrar a existência de
instituições com conceitos de desempenhos B, C, D e E. Parece
que os coordenadores não dispõem de conhecimentos

BOOKS
realísticos sobre o que ocorre nos cursos de Psicologia, o que
pode produzir expectativas falsas acerca das possibilidades
acadêmicas dos formandos. Por outro lado, parece que os
alunos não têm conhecimento de si mesmos (do que sabem
ou do que deveriam saber). Supõem estar respondendo
corretamente questões, que, de fato, não estão. Ou então, as
duas populações - coordenadores e formandos em Psicologia
- estariam inseridas numa prática cultural que aceita a

GROUPS
mediocridade como padrão de desempenho.
Lamentavelmente, dados correspondentes nos anos
2002 e 2003 não estão disponíveis neste trabalho.
Concluídas as análises e avaliações dos dados
retomados do Provão/2000, 2001, 2002 e 2003, pergunta-se:
o que projetar para a formação do psicólogo em nosso País?
Como construir o futuro da Psicologia a partir dos cursos de
graduação?
Em primeiro lugar, as declarações anteriores sugerem
a necessidade de uma mudança radical e imediata nos cursos

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7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
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de Psicologia. O único princípio que deverá orientar essa


mudança é o de um compromisso real com a qualidade da
organização e do ensino de Psicologia, de modo a garantir
uma formação profissional efetiva. Desde os anos 70, os cursos
de Psicologia foram perdendo sua identidade ao priorizar e
focalizar tendências e propósitos que foram distanciando-os
de seus objetivos reais. Propunha-se, então, formar alunos
criativos, críticos, engajados em questões sócio-políticas e
orientados pela realidade brasileira. Tudo isso é relevante,
especialmente quando se sabe o significado do que se está
propondo. Sem esta condição, não ultrapassam os limites de
expressões vazias, destituídas de sentido e redutíveis a

INDEX
verdadeiras expressões retóricas de efeito. Além disso,
registraram-se fortes influências “sociologizantes” ,
“culturalistas”, “historicistas” , filosóficas, psicanalíticas,
“econom icistas” , que produziram grades curriculares
dispersivas, desarticuladas e fragmentadas. O aluno crítico,
criativo e engajado é produto dos procedimentos de ensino
utilizados. Ninguém adquire esse perfil, apenas interagindo com
textos e discursos correlatos. Pode-se indagar: nossos
formandos são críticos, criativos e engajados? O custo destas

BOOKS
influências nos cursos foi muito alto e o benefício muito baixo.
Não se deve esperar mais para mudar a organização e o ensino
de Psicologia no País. Discussões retóricas sobre para onde
apontar esses cursos devem ser evitadas porque atrasam o
processo de mudança e costumam, mesmo, bloqueá-lo.
Precisamos de ações. Há a necessidade de um esforço
organizado e unificado da comunidade envolvida em prol de
uma mudança urgente. Quando se constata que se está muito

GROUPS
mal, qualquer mudança desencadeia um processo que tira da
inércia o status quo de qualquer instituição. Assim, sugere-se
a mudança imediata dos cursos de Psicologia.
Em segundo lugar, ressalta-se que esta mudança
sugerida precisa estar em consonância com o que vem
caracterizando as tendências da Psicologia Científica, hoje.
Convém atentar para o que está sendo produzido nos Centros
mais avançados de ensino e pesquisa nesta área de
conhecimento científico. A arte e a ciência sempre foram
“globalizadas” e “globalizantes”. Não faz sentido particularizar
experiências numa busca obcecada por um projeto próprio do

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Brasil. Em qualquer campo científico, que justifique tal


reconhecimento, o conhecimento produzido não se restringe
às fronteiras do local onde foi produzido. Enfim, o conhecimento
não tem nacionalidade. O que se descobre em um ponto do
planeta, se for conhecimento, de fato, valerá para todo o
planeta. As variações observadas nos acontecimentos em
decorrência de diversidades culturais, sociais, políticas, não
anulam os princípios descobertos que constituem o cerne do
conhecimento científico acumulado.
Finalmente, considera-se que uma mudança radical e
imediata deva ser produzida nos Programas de Pós-Graduação
em nosso País. Os professores de 1- grau (ensino fundamental)

INDEX
costumam declarar que seus alunos não estão preparados para
aprender. Teriam de ter passado pelo ensino pré-escolar. Os
do 2- grau dizem o mesmo em relação aos alunos egressos
do 19 grau. Os docentes de 32 grau (ensino superior) repetem
a fala, declarando que estão recebendo alunos muito mal
ensinados no 25 grau (não sabem nem escrever!). Começa-
se agora a ouvir que os programas de pós-graduação
dependem da qualidade do aluno egresso do 3- grau. Esse

BOOKS
tipo de avaliação retira de foco os verdadeiros problemas do
ensino - organização e método - deslocando-os para a figura
dos alunos envolvidos nele. Com isso, torna-se mais fácil
conviver com fracassos institucionais e de docência. Essa visão
distorcida do foco do problema faz supor um aluno idealizado
que aprenda sem ser ensinado e que esteja sempre no padrão
desejado pelos professores que o recebem. Isso realmente
pode acontecer. Alguns alunos podem aprender sem ser
ensinados; mas isto, além de constituir raridade, pode mostrar-

GROUPS
se muito demorado quando comparado com o processo
experimentado pelo aluno que é ensinado, de fato.
A partir destas declarações, pode-se, portanto,
vislumbrar a construção da Psicologia a partir dos cursos de
graduação.
O Exame Nacional de Cursos permite avaliar toda a
seqüência dos níveis de ensino. Os cursos de pós-graduação
formam os professores que ensinam no nível de graduação.
Os egressos dos cursos de graduação ainda ocupam alguns

212
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
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espaços em cursos de 3Qgrau, e formam os alunos do 19 e 2-


graus. Anteriormente, cursos específicos de 2S grau
(magistério), desenvolvidos por egressos do 3* grau (graduação
universitária), formavam os docentes das quatro primeiras
séries do 19 grau e do ensino pré-escolar. Como se vê, a
influência dos egressos do ensino de 3g grau se espalha por
todo o sistema educacional, do ensino pré-escolar aos ensinos
de 19e 2- graus e, até mesmo, do 3ggrau. Estes egressos são
formados, cada vez mais, por docentes provindos dos cursos
de pós-graduação. Organizada dessa forma, a ponta do
iceberg, ou o foco principal do problema é a pós-graduação.
Os resultados do Provão/2000, 2001, 2002 e 2003

INDEX
mostram que os formandos não estão interagindo com o padrão
de ensino desejável.
Os concursos públicos para preenchimento de vagas
docentes, nos cursos de Psicologia, nas universidades federais
estão enfrentando muitas dificuldades para encontrarem
candidatos qualificados para as demandas de seu ensino,
especialmente nas sub-áreas de conhecimento básico. Os
candidatos que aparecem são titulados, mas não se

BOOKS
apresentam preparados para as demandas identificadas. A
visão desfocada dos problemas de ensino, apresentada
anteriormente, favorece uma organização e um ensino no nível
de pós-graduação que não responde às demandas do ensino
no nível de graduação, de maneira adequada.
Os cursos de graduação em Psicologia, a partir dos
problemas identificados no Provão/2000, 2001, 2002 e 2003,
devem demandar mudanças dos programas de pós-graduação

GROUPS
em Psicologia, que supram suas necessidades e, então,
observar-se-á um reordenamento em todo o sistema de ensino.
Ao fazê-lo, estarão contribuindo, de maneira efetiva, na
construção da Psicologia em nosso País.
De imediato, recomenda-se uma revisão nos programas
de pós-graduação com concentrações em clínica, Psicologia
Social, avaliação psicológica (psicometria) e uma formação
científica mais apurada dos pós-graduandos. Além disso,
sugere-se a expansão na oferta de programas de pós-
graduação com concentrações em áreas básicas: psicologia

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7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

experimental, psicologia cognitiva, processos psicológicos


básicos, psicologia do desenvolvimento, psicologia
com portam ental e avaliação psicológica. A ênfase na formação
de pesquisadores e de professores de 3- grau precisa tornar-
se mais efetiva. Os egressos de cursos de pós-graduação
conhecem apenas o que pesquisaram para suas dissertações
e teses. Quando penetram nos cursos de graduação, tentam
impor os conhecimentos adquiridos na pós-graduação. Mas,
na maioria das vezes, não há correlação entre as grades
curriculares da graduação e os temas trabalhados na pós-
graduação. Faz-se necessário diferenciar temas ou problemas
de pesquisa, próprios na pós-graduação, de temas ou

INDEX
conteúdos de disciplinas curriculares nos cursos de graduação.
Admite-se que esta proposta apresenta dificuldades para
sua efetivação e aceitação. Urge, no entanto, que seja
realizada.

BOOKS
GROUPS

214
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
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A DIFÍCIL INCLUSÃO DA ANÁLISE


EXPERIMENTAL DO COMPORTAMENTO
NO CURSO DE P sicologia-U FM G
Adélia Maria Santos Teixeira
UFMG

INDEX Tudo começou em 1970. O curso de Psicologia, desde


sua implantação na UFMG em 1963, apontava em direção a
dois tipos de tendências: uma de cunho mais científico influ­
enciada pela formação médica de um de seus catedráticos e
outra orientada para uma visão humanista, representada pelo
grupo do outro catedrático, fundador do curso, e com mais

BOOKS
impacto sobre ele. Entre esses dois eixos vislumbrava-se, de
uma maneira pouco clara, a emergência de uma terceira força
acadêmica interessada em questões mais políticas. A primei­
ra tendência ocupou-se de algumas disciplinas básicas e obri­
gatórias do currículo em vigor na área de Psicologia Experi­
mental (Processos Psicológicos Básicos); a segunda ocupou-
se também de algumas disciplinas básicas e obrigatórias e de
disciplinas de formação profissional (Psicologia do Desenvol­

GROUPS
vimento, Técnicas de Exame e disciplinas orientadas para o
atendimento clínico). A terceira, que emergia, ocupou-se do
campo da Psicologia Social. Esta, embora recorresse a todas
as metodologias tradicionais, inclusive experimentação, apre­
sentava-se como forma de ensino mais flexível e como uma
maneira de pensar mais progressista. Os alunos, já naquela
época, sentiam-se atraídos e deslumbrados com o professor
encarregado das disciplinas correspondentes.
Em 1969, o professor responsável pela área de Psico­
logia Social convidou a Profa. Dra. Carolina Martuscelli Bori
para ministrar um curso em Belo Horizonte sobre algumas ino­
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vações pedagógicas que estavam sendo introduzidas no cur­


so de Psicologia da USR Um grupo restrito participou dessa
atividade. O material pedagógico estava acoplado a textos de
abordagem comportamental. Alguns dos participantes ficaram
muito impressionados com textos de B.F.Skinner. Na Psicolo­
gia Social, a abordagem de Skinner não floresceu. No entan­
to, dois jovens professores muito vigorosos e com muita capa­
cidade de liderança introduziram essa abordagem nos cursos
da área de Psicologia Experimental já em 1970. Inicialmente
foi um sucesso. Só se falava em Psicologia Científica, em
Aprendizagem, em Condicionamentos Respondente e
Operante, em Skinner, em Pavlov, em Laboratórios de Ani­

INDEX
mais (pombos e ratos). Naturalmente isso repercutia em todo
o curso. No conjunto de docentes, podia-se notar que alguns
não estavam interessados no que estava acontecendo, outros
estavam observando à distância, outros ainda defendiam a
inovação “quase como seita” e outros já começavam a olhar
para aqueles rompantes inovadores com desconfiança.
Em 1972, o grande professor de Psicologia Social anun­
ciou, na condição de membro de uma banca de doutoramento,

BOOKS
na qual estava sendo defendida uma tese sobre punição no
enfoque comportamental, que a contestação daquela aborda­
gem iria começar. E começou mesmo!
Mas, diferentemente do que anunciara, não foi uma con­
testação que observamos e testemunhamos; foi uma tentativa
de massacre da nova abordagem e de sua eliminação a qual­
quer custo do curso de Psicologia.
Em 1974, a contestação estava parcialmente vitoriosa.

GROUPS
Com uma proposta de mudança curricular, liderada pelo gru­
po de Psicologia Social e apoiada pela grande maioria dos
alunos, o curso de Psicologia passou a abrigar fortes tendên­
cias filosóficas contra ciência natural, psicanalíticas,
sociologizantes, econômicas, políticas, existencialistas,
historicistas, marxistas.
Começa então a trajetória de dificuldades para manuten­
ção e sustentação da Análise Experimental do Comportamento
no Departamento de Psicologia da UFMG. Paralelamente po­
dia-se observar a perda gradativa da identidade do curso com a
Psicologia, a partir da introdução das novas tendências.
216
7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

Um processo de luta contínua se estabelece: alguns


docentes defendiam com ardor o enfoque da Psicologia con­
forme o modelo das Ciências Naturais; outros rejeitavam essa
tendência com veemência; e outros ainda assistiam essas di­
vergências, ora inclinando para um lado, ora para outro. Os
alunos envolvidos com política sempre acompanharam as
posições do grupo de professores de Psicologia Social: uma
grande maioria assistia aos debates e confrontos mas não se
posicionava claramente. Esta grande maioria não votava nos
órgãos colegiados.
A partir de 1976, estive presente no Departamento de
Psicologia de uma maneira constante e sem interrupções.

INDEX
Havia me ausentado dele, desde 1973, para cumprir progra­
ma de doutorado, na USP, em Psicologia Experimental / Aná­
lise Experimental do Comportamento. Foi então que pude no­
tar a mudança ocorrida nesse Departamento. Fiquei estarrecida
inicialmente; posteriormente passei a interagir com as novas
condições vigentes. Não havia nada a fazer senão isso. A re­
ferida mudança curricular já estava devidamente aprovada e
em processos de plena implantação.

BOOKS
Participei durante cerca de 20 anos, juntamente com
meus colegas de docência, de calorosas, extraordinárias e
apaixonadas discussões entre professores e alunos sobre
concepções de Psicologia, metodologias científicas, relações
Psicologia/ Filosofia, lugar da Psicanálise no curso de Psicolo­
gia. Nesse período ocorreu, de tudo, um pouco. Havia até
mesmo os que defendiam a destruição da instituição educativa.
Qualquer reunião administrativa era um palco para essas dis­

GROUPS
cussões. Os alunos pareciam gostar muito dessas disputas
entre os professores. Especialmente as Assembléias no De­
partamento eram muito freqüentadas. Algumas expressões
novas eram lançadas anualmente. Como se fossem “bandei­
ras de luta”: hermenêutica, pesquisa qualitativa, humanismo,
epistemologia, inconsciente freudiano, inconsciente coletivo,
dialética, Psicologia Existencialista... Para o grupo de Psico­
logia Experimental, esses termos não significavam nada. Mas
alguns de seus professores mais ansiosos intimidavam-se e
começavam a estudar materiais correspondentes. Os alunos
cobravam dos professores informações a respeito. Rapida­

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7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
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mente percebi que essa estratégia distraía os docentes do


grupo que dedicavam horas de seu trabalho estudando as­
suntos não ligados diretamente às suas obrigações didáticas.
Calmamente devolvia as novas expressões a seus defenso­
res e indicava aos alunos a quem recorrer para esclarecê-las.
Pouco a pouco essa cobrança foi sendo eliminada. Penso que
os alunos não encontravam respostas satisfatórias de seus
postulantes. Os professores de disciplinas de áreas afins de
conhecimento - Filosofia, Sociologia (Ciências Sociais), An­
tropologia, Economia também colaboravam no período desen­
volvendo um discurso contra uma concepção de Psicologia
fundada nas Ciências Naturais.

INDEX
É claro que esse período de grandes debates nem sem­
pre foi calmo, elegante, civilizado. Havia muita agressão no
meio de tudo isso. O grupo de Psicologia Experimental era
alvo de freqüentes punições, ameaças e extinções. Natural­
mente contracontrolava com os mesmos procedimentos: pu­
nição, ameaça, extinção No início dos anos 90, parecia estar
ocorrendo um empate técnico entre as interlocuções teóricas
e metodológicas no Departamento de Psicologia. Parecia que

BOOKS
quatro campos de abordagens se delineavam e demarcavam
seus territórios: Análise Com porta mental que reconhecia e
abrigava a Psicologia Cognitiva; Psicanálise; Humanismo que
foi se transformando em abordagem fenomenológica e Psico­
logia Social cuja identidade teórico-metodológica era menos
distinta, embora passasse uma imagem de tendência marxis­
ta. Tinha-se a impressão de que as divergências apaixonadas
estavam se diluindo e um convívio mais ameno se delinean­
do. Lamentavelmente, no mesmo início dos anos 90, come­

GROUPS
çou um movimento de aposentadorias em massa dos profes­
sores que atravessaram todo esse período juntos. Naturalmen­
te isso refletiu na dinâmica que vinha se instalando no Depar­
tamento de Psicologia.
Nessa mesma década de 90, foi fundada a Associação
Brasileira de Psicoterapia e Medicina Comportamental com sede
em Campinas no estado de São Paulo. Essa Associação foi
muito bem sucedida e reuniu Analistas do Comportamento de
todo o Brasil. Com ela, a Análise Experimental do Comporta­
mento retornou ao cenário das abordagens relevantes em Psi­

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cologia. Houve um avanço muito grande na área de atendimen­


to clínico e nos temas que emergiram e passaram a ser discuti­
dos na comunidade correspondente. Uma Coletânea - Sobre
Comportamento e Cognição que constitui referência na área
de conhecimento, começou a ser editada em 1997, incluindo
trabalhos apresentados nos encontros realizados desde 1993.
Essa publicação tem sido anual e regular e já se encontra no
Volume 18.0 crescimento notável dessa associação e o “boom”
observado na Clínica Comportamental, fez com que um grupo
de professores da disciplina Análise do Comportamento convi­
dasse algumas vezes o seu fundador e também um dos maio­
res representantes no campo do trabalho clínico comportamental

INDEX
viesse a Belo Horizonte ministrar curso para os interessados na
abordagem correspondente. Com muita surpresa, vimos esse
grupo de interessados crescer a cada curso ministrado. Esses
encontros periódicos refletiram nos cursos de Psicologia de Belo
Horizonte. Os professores, analistas do comportamento, pas­
saram a oferecer estágios supervisionados em Terapia
Comportamental com grande aceitação e demanda por parte
dos alunos de Psicologia.

BOOKS
Todos esses acontecimentos permitiram que notásse­
mos que éramos um grupo e que devíamos organizar-nos como
tal. No fim do ano de 1999, numa ainda pequena reunião, dis­
cutimos essa questão e resolvemos organizar a I Jornada Mi­
neira de Ciência do Comportamento a ser realizada no ano
2000. Dois outros eventos ocorreram em 2001:1Seminário de
Análise do Comportamento e II Encontro das Escolas de Psi­
cologia de Belo Horizonte. As Jornadas se tornaram anuais e
regulares assim como os Seminários. Em 2002, começamos

GROUPS
a editar a Coletânea: Ciência do Comportamento - Conhecer
e Avançar composta pelos trabalhos apresentados nos even­
tos. Essa publicação se tornou regular e anual. Nesse ano
estaremos divulgando o Volume 6. Essas Jornadas geralmen­
te são freqüentadas por cerca de 400 participantes. Isso sur­
preendeu até mesmo nossos colegas de São Paulo quando
viram a movimentação e os trabalhos dos mineiros na Associ­
ação Brasileira de Psicoterapia e Medicina Comportamental.
Depois de tudo isso, penso que a Análise Experimental
do Comportamento ou a Análise do Comportamento está defi-

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7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015

nitivamente incluída no Curso de Psicologia da UFMG e em


outras instituições de ensino superior de Belo Horizonte e de
Minas Gerais. Desconhecer esse fato ou tentar desconstruir
esse trabalho seria uma demonstração de pobreza intelectual
ou mesmo de insanidade psicológica.

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A coleção “Ciência do Comportamento: conhecer e avançar"


tradicionalmente publica trabalhos que foram apresentados em eventos científicos
de Análise do Comportamento em Minas Gerais, principalmente na Jornada
Mineira de Ciência do Comportamento.
(...)
Nesse volume, em especial, é notável o esforço e o empenho para
estabelecer um intercâmbio com outras ciências. Já o primeiro capítulo tem como
foco a interdisciplinaridade, questão atual que atravessa e aproxima todos os
campos da ciência. A partir daí, temos autores mostrando de que maneira um

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mesmo fenômeno pode ser compreendido por teóricos diferentes, e para nossa
surpresa com muitas similaridades. Esse diálogo não fica restrito à Psicologia,
convida também outras áreas do saber como a Sociologia, o Direito e a
Fonoaudiologia.____________________________________________________

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