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POLÍTICAS SOCIAIS NO

BRASIL: descentralização em
um Estado federativo*

Marta T. S. Arretche

A estrutura organizacional do Sistema de destas políticas eram, no início dos anos 90, centra-
Proteção Social Brasileiro vem sendo profunda- lizadas no governo federal, temos a dimensão da
mente redesenhada. À exceção da área de previ- transformação institucional que se vem operando
dência, nas demais áreas da política social — no Sistema Brasileiro de Proteção Social.
educação fundamental, assistência social, saúde, Há expressiva variação no alcance da des-
saneamento e habitação popular — estão sendo centralização entre cada uma destas políticas.3 Se
implantados programas de descentralização que a alocação dos recursos do FGTS e a merenda
vêm transferindo, paulatinamente, um conjunto escolar estão totalmente descentralizadas, os re-
significativo de atribuições de gestão para os níveis sultados alcançados no território nacional nas áre-
estadual e municipal de governo. Em 1997, instân-
cias colegiadas estaduais, com representação pari-
tária de estados e municípios, eram responsáveis * Este trabalho foi extraído da Parte I de minha tese de
pela alocação da totalidade dos recursos da princi- doutorado, O processo de descentralização das políticas
sociais no Brasil e seus determinantes, defendida junto
pal fonte financeira da política federal de sanea-
ao IFCH/Unicamp em 1998, sob a orientação da Dra.
mento e habitação popular — o FGTS;1 a oferta de Argelina Cheibub Figueiredo. Uma versão preliminar foi
merenda escolar era inteiramente gerida por esta- apresentada no XXI Encontro da LASA, 24-26 de setem-
dos e municípios; pelo menos 33% dos municípios bro de 1998, Chicago, EUA. Agradeço à FAPESP o apoio
financeiro para a participação no XXI Encontro da LASA;
brasileiros estavam habilitados a gerir os recursos à Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pes-
federais destinados à oferta de serviços assistenci- soal de Nível Superior (CAPES) e à Escola Nacional de
ais; 58% dos municípios brasileiros estavam enqua- Administração Pública (ENAP), pela concessão de bolsa
do Programa de Apoio à Pesquisa em Administração
drados em alguma das condições de gestão previs- Pública, aporte financeiro que foi fundamental para a
tas pelo Sistema Único de Saúde (SUS),2 e 69% das realização deste trabalho; ao Instituto de Pesquisa Eco-
consultas médicas eram realizadas através de pres- nômica Aplicada (IPEA) e à Fundação do Desenvolvi-
mento Administrativo (Fundap), pela possibilidade de
tadores estaduais ou municipais, sendo que, destas,
realizar a pesquisa de campo. Finalmente, registro que
54% eram prestadas pelos municípios. Se conside- a última versão deste artigo beneficiou-se das contribui-
rarmos que todas as atividades relativas à gestão ções dos pareceristas anônimos desta Revista.

RBCS Vol. 14 no 40 junho/99


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as de assistência social e saúde são mais modes- caracterizado por expressivas desigualdades estru-
tos. Também é expressiva a variação do grau de turais de natureza econômica, social, política e de
descentralização alcançado por cada uma destas capacidade administrativa de seus governos —,
políticas entre os estados brasileiros. No Estado atributos estruturais das unidades locais de gover-
do Ceará, em 1996, a participação dos municípios no, tais como a capacidade fiscal e administrativa
no total das consultas médicas realizadas era su- e a cultura cívica local, têm um peso determinante
perior à média nacional, ao passo que na Bahia para a descentralização. Mas, tais fatores não são
esta participação era de apenas 24% do total das determinantes em si. Seu peso e importância vari-
consultas prestadas no estado. No Estado do Para- am de acordo com requisitos institucionais postos
ná, alterou-se substancialmente o padrão de ofer- pelas políticas a serem assumidas pelos governos
ta de vagas no ensino fundamental, de tal modo locais, tais como o legado das políticas prévias, as
que estas passaram a ser dominantemente oferta- regras constitucionais e a própria engenharia ope-
das pelos municípios, ao passo que nos demais racional de cada política social. No entanto, a
estados não ocorreram, entre 1987 e 1994, altera- ação política deliberada, vale dizer, estratégias de
ções significativas na distribuição prévia das ma- indução eficientemente desenhadas para delegar
trículas neste nível de ensino. Portanto, o alcance a outro nível de governo a responsabilidade pela
desta reforma é bastante variável, seja entre as gestão destas políticas, pode compensar obstácu-
diversas políticas, seja entre as unidades da Fede- los à descentralização derivados daqueles fatores
ração no tocante a cada política particular. de natureza estrutural ou institucional. Tais estra-
Embora avançando a diferentes velocidades, tégias de indução, por sua vez, podem ser analiti-
é inegável, contudo, que há um processo de rede- camente apreendidas por meio do exame da re-
finição de atribuições e competências na área social gulamentação dos programas e seu modo efetivo
que, se mantido, modificará radicalmente o padrão de implementação.
centralizado característico do formato prévio de Portanto, nas condições brasileiras, não é
nosso Sistema de Proteção Social, tal como consti- suficiente que a União se retire da cena para que,
tuído ao longo dos anos 60 e 70. por efeito das novas prerrogativas fiscais e políticas
Este artigo examinará os fatores que têm de estados e municípios, estes passem a assumir de
determinado a descentralização das políticas soci- modo mais ou menos espontâneo competências de
ais no Brasil. Parte do pressuposto de que este gestão. Na mesma direção, a descentralização das
processo se vem realizando sob condições institu- políticas sociais não é simplesmente um subprodu-
cionais inteiramente distintas daquelas que viabili- to da descentralização fiscal, nem das novas dispo-
zaram a consolidação do Sistema Brasileiro de sições constitucionais derivadas da Carta de 1988.
Proteção Social. Alterações profundas na natureza Ao contrário, ela ocorreu nas políticas e nos estados
das relações intergovernamentais, relacionadas à em que a ação política deliberada operou de modo
recuperação das bases federativas do Estado bra- eficiente.
sileiro ao longo dos anos 80, têm impacto nas A base empírica deste trabalho compreende
condições sob as quais se vem realizando o pro- as cinco políticas sociais nas quais a descentraliza-
cesso de transferência de atribuições na área soci- ção estava na agenda de reformas desde os anos
al. No Estado federativo brasileiro pós-1988, esta- 80 e seis estados brasileiros suficientemente diver-
dos e municípios passaram a ser, de fato, politica- sos entre si para permitir observar o comporta-
mente autônomos. Isto implica que os governos mento das variáveis consideradas relevantes: o
interessados em transferir atribuições de gestão de Estado de São Paulo, o mais rico da Federação;
políticas públicas devem implementar estratégias dois estados da Região Sul, o Rio Grande do Sul e
bem-sucedidas de indução para obter a adesão o Paraná, bastante assemelhados do ponto de
dos governos locais. vista da riqueza econômica, capacidade fiscal e
O trabalho busca demonstrar que, no caso administrativa e tradição de participação cívica; e
brasileiro — um Estado federativo, em um país três estados da Região Nordeste — Bahia, Per-
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Quadro 1
Características Populacionais, Econômicas,
Fiscais e de Participação Associativa de Estados Selecionados
Brasil - 1987-95
1 2 3 4 5 6
População PIB Receita Receita % de Filiação a Associações Civis
(em per capita Disponível Média Municípios Entidades Partidos Associações
mil hab.) (em per capita dos com mais de classe(b) políticos voluntárias (c)
(em 1994) R$ 1,00)(a) do Gov. Municípios de (% da população declarante - 1988)
(média Estadual (em 50.000 hab.
1987-94) (em R$ 1,00)(a) (em
R$ 1,00) (a) (média jan/1997)
(média 1989-95)
1987-94)

Rio G. do Sul 9.502 4.495 513 4.667 8% 18,8 5,4 52,2


Paraná 8.740 3.386 377 4.335 8% 18,9 4,5 21,7
São Paulo 33.162 6.134 610 11.914 16% 12,1 2,4 13,5
Bahia 12.610 2.739 275 3.094 8% 10,8 4,8 7,6
Pernambuco 7.389 2.185 245 3.607 14% 13,8 2,6 7,5
Ceará 6.756 1.711 252 2.771 11% 11,8 3,6 5,5
BRASIL ... ... ... ... 8% ... ... ...

Fontes: (1), (2) e (3): FEE, IPARDES, SEADE, SEI, FUNDAJ e IPLANCE.
(4): STN/MINFAZ, Finanças do Brasil, 1989, 1993, 1991, 1995.
(5): IBGE, Contagem Populacional, 1996.
(6): IBGE, Suplemento político-social da PNAD, 1988.

(a) Valores deflacionados a preços de dez/95 pelo IGP-DI/FGV.


(b) Obtido pela soma do número de filiados a sindicatos e a associações de empregados.
(c) Obtido pela soma do número de filiados a associações de bairros ou de moradores,
associações religiosas ou filantrópicas e associações esportivas ou culturais.

nambuco e Ceará — que apresentam distinções res e prefeitos das capitais e de cerca de 150
entre si no que diz respeito à capacidade fiscal e cidades de médio e grande portes foram destituí-
tradição cívica, mas que, para efeito de compara- dos de base própria de autonomia política: seleci-
ção com estados do Sul e Sudeste, podem ser onados formalmente por eleições indiretas e, de
considerados um bloco com características asse- fato, por indicação da cúpula militar, sua autori-
melhadas (ver Quadro 1). dade política não era derivada do voto popular.
Além disto, todos os governadores e prefeitos
detinham escassa autonomia fiscal: a centraliza-
Estado federativo e descentralização
ção financeira instituída pela reforma fiscal de
do Sistema Brasileiro de Proteção
meados dos anos 60 concentrou os principais
Social
tributos nas mãos do governo federal e, ainda que
Durante o regime militar, as relações inter- tenha ampliado o volume da receita disponível
governamentais do Estado brasileiro eram, na prá- dos municípios, uma vez realizadas as transferên-
tica, muito mais próximas às formas que caracteri- cias, estas estavam sujeitas a estritos controles do
zam um Estado unitário do que àquelas que ca- governo federal. Finalmente, os governadores não
racterizam as federações. Com efeito, governado- tinham autoridade sobre suas bases militares, uma
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vez que as polícias militares estaduais foram colo- diretas para todos os níveis de governo — e a
cadas sob o controle do Exército nacional. Ora, descentralização fiscal da Constituição de 1988
relações intergovernamentais desta natureza ca- alteraram profundamente a natureza das relações
racterizam os estados unitários, nos quais o poder intergovernamentais. A autoridade política de go-
político no plano local é uma delegação do go- vernadores e prefeitos não deriva do governo
verno central, fonte exclusiva da autoridade polí- central, mas do voto popular direto. Paralelamente,
tica (Riker, 1987). estes últimos também expandiram expressivamen-
Foi um Estado dotado destas características te sua autoridade sobre recursos fiscais — uma vez
que consolidou o Sistema Brasileiro de Proteção que se ampliou a parcela dos tributos federais que
Social, até então um conjunto disperso, fragmen- é automaticamente transferida aos governos subna-
tado, com reduzidos índices de cobertura e fragil- cionais —, assim como passaram a ter autoridade
mente financiado de iniciativas governamentais tributária sobre impostos de significativa importân-
na área social. Esta forma de Estado moldou uma cia. Em suma, no Brasil pós-1988, a autoridade
das principais características institucionais do Sis- política de cada nível de governo é soberana e
tema brasileiro: sua centralização financeira e ad- independente das demais. Diferentemente de ou-
ministrativa. As políticas federais de habitação e tros países, os municípios brasileiros foram declara-
saneamento básico eram formuladas, financiadas dos entes federativos autônomos, o que implica
e avaliadas por uma agência federal e executadas que um prefeito é autoridade soberana em sua
por uma série de agências locais dela dependen- circunscrição.
tes. Os diversos programas de assistência social Nestas condições, a redefinição de compe-
eram formulados e financiados por organismos tências e atribuições da gestão das políticas sociais
federais e implementados por meio de diversas tem-se realizado sob as bases institucionais de um
agências públicas e organizações semi-autônomas Estado federativo, o que significa dizer que o modo
privadas. As fatias federais da oferta de ensino pelo qual os governos locais assumem funções de
fundamental — particularmente, os programas de gestão de políticas públicas é inteiramente distinto
reforço alimentar e de apoio à educação básica — daquele sob o qual elas foram assumidas no
eram diretamente formuladas, financiadas e im- regime militar.
plementadas por agências do governo federal.4 A Em Estados federativos, estados e municípi-
política de saúde, ainda que dispersa entre dife- os — porque dotados de autonomia política e
rentes instituições, também era executada supon- fiscal — assumem funções de gestão de políticas
do a centralização financeira e administrativa do públicas ou por própria iniciativa, ou por adesão
Instituto Nacional de Assistência Médica e Previ- a algum programa proposto por outro nível mais
dência Social (INAMPS) e os programas verticais abrangente de governo, ou ainda por expressa
do Ministério da Saúde. Tal formato institucional imposição constitucional. Assim, a transferência
era compatível com o tipo de Estado vigente de atribuições entre níveis de governo supõe a
durante a ditadura militar, para o qual estados e adesão do nível de governo que passará a de-
municípios eram agentes da expansão do Estado sempenhar as funções que se pretende que sejam
e da execução local de políticas centralmente transferidas. A recuperação das bases federativas
formuladas. Nestes termos, grande parte da ativi- do Estado brasileiro tem impacto sobre o proces-
dade de planejamento no plano local consistia em so de descentralização das políticas sociais no
formular projetos de solicitação de recursos para país pelo fato de que, resguardados pelo princí-
o governo federal, nos termos previstos pela pio da soberania, estados e/ou municípios assu-
agência federal encarregada da gestão de uma mem a gestão de políticas públicas sob a prerro-
dada política (Medeiros, 1986). gativa da adesão, precisando, portanto, ser incen-
Ao longo dos anos 80, recuperaram-se as tivados para tal. Isto significa que as agências
bases do Estado federativo no Brasil. A democrati- federais já não dispõem dos mecanismos de ali-
zação — particularmente, a retomada de eleições nhamento dos governos locais — autoridade polí-
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tica delegada pelo centro e centralização fiscal — menos, que considerem que os custos com os
de que dispunham sob o regime militar. Assim, quais deveriam arcar poderiam ser minimizados
no Estado federativo, tornam-se essenciais estraté- pela ação dos demais níveis de governo. Assim,
gias de indução capazes de obter a adesão dos nas condições brasileiras atuais, a adesão dos
governos locais. Ou, dito de outro modo, as difi- governos locais à transferência de atribuições de-
culdades para que a União — ou um governo pende diretamente de um cálculo no qual são
estadual — delegue funções a um nível de go- considerados, de um lado, os custos e benefícios
verno menos abrangente são maiores hoje do que fiscais e políticos derivados da decisão de assu-
sob o regime militar. mir a gestão de uma dada política e, de outro, os
Mas, além disto, em Estados federativos com próprios recursos fiscais e administrativos com os
sistema partidário competitivo, o controle de pos- quais cada administração conta para desempe-
tos no Executivo e nas agências de governo cons- nhar tal tarefa.
titui um importante recurso institucional das partes
em disputa, o que implica dizer que tais sistemas
Determinantes da descentralização
tendem a estimular conflitos intergovernamentais
das políticas sociais nos anos 90
(Schaps e Riker, 1987, pp. 73-77). Estados federati-
vos e competição eleitoral engendram barganhas Nestes anos 90, o governo federal vem
federativas, pelas quais cada nível de governo delegando a estados e municípios grande parte
pretende transferir a uma outra administração a das funções de gestão das políticas de saúde,
maior parte dos custos políticos e financeiros da habitação, saneamento básico e assistência soci-
gestão das políticas e reservar para si a maior parte al. Em 1997, instâncias colegiadas estaduais, com
dos benefícios dela derivados. representação paritária de estados e municípios,
No caso brasileiro, a responsabilidade públi- eram responsáveis pela alocação da totalidade
ca pela gestão de políticas sociais passou a ser dos recursos da principal fonte financeira da
um dos elementos da barganha federativa. Dadas política nacional de saneamento e habitação po-
as dimensões da pobreza brasileira e, portanto, da pular, o FGTS, o que significa que o executivo
população-alvo dos programas sociais, a gestão federal perdeu grande parte de seu poder aloca-
de políticas sociais em nosso país tende a ser tivo sobre os recursos do Fundo; a oferta de
simultaneamente cara e inefetiva, na medida em merenda escolar era inteiramente gerida por es-
que tende a consumir um elevado volume de tados e municípios; 58% dos municípios brasilei-
recursos e apresentar baixos níveis de proteção ros estavam enquadrados em alguma das condi-
efetiva. Neste caso, nas situações em que os cus- ções de gestão previstas pelo SUS, o que signifi-
tos políticos e/ou financeiros da gestão de uma ca que estes assumiram funções de gestão da
dada política forem avaliados como muito eleva- oferta local de serviços de saúde até então de-
dos, a barganha federativa consiste em buscar sempenhadas pela União; 69% das consultas mé-
atribuí-los ou imputá-los a um outro nível de dicas eram realizadas através de prestadores es-
governo. Tais custos serão tanto maiores quanto taduais ou municipais, sendo que, destas, 54%
mais elevados forem os recursos exigidos pela eram prestadas pelos municípios, o que significa
engenharia operacional de uma dada política5 e que mais da metade das consultas médicas pas-
na medida direta da extensão legal do escopo de saram a ser oferecidas por prestadores munici-
beneficiários. 6 pais, os quais eram, até o final dos anos 80 —
É devido à dimensão de barganha federati- respeitadas as exceções —, o nível de governo
va que o processo de descentralização das polí- menos envolvido na oferta de serviços de saúde
ticas sociais no Brasil só pode ser efetivo na (ver coluna “extensão da descentralização no
medida em que as administrações locais avaliem plano nacional”, no Quadro 2).
positivamente os ganhos a serem obtidos a partir Por outro lado, nos estados examinados, a
da assunção de atribuições de gestão; ou, pelo municipalização dos serviços de saneamento bási-
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Quadro 2
Atributos Institucionais das Áreas e Programas Selecionados
Áreas de Programas Política Níveis de Extensão da
política ativa de governo descentralização
descentralização envolvidos no plano nacional
Saneamento Municipalização não Governo estadual para Em nenhum estado ocorreu
dos serviços de governos municipais um processo significativo
saneamento básico de municipalização
(dez/1997)
Habitação Emergência de não Governo federal para Criou-se um sistema estadual
Sistemas Estaduais governos estaduais de habitação apenas
de Habitação nos estados de São Paulo e
Ceará (final de 1994)
Habitação e Programa (federal) sim Governo federal para Houve 100% de adesão dos
Saneamento de criação de governos estaduais governos estaduais
instâncias colegiadas ao programa (dez/1995)
estaduais para a
distribuição dos
recursos do FGTS
Educação Municipalização sim (Paraná) Governo estadual para A municipalização da rede
das redes não (Rio G. do Sul, governos municipais estadual de ensino
(estaduais) São Paulo, Bahia, fundamental ocorreu
de ensino Pernambuco apenas no Estado do Paraná
fundamental e Ceará) (final de 1994)
Educação Programa (federal) sim Governo estadual para A municipalização
de municipalização governos estaduais da merenda escolar está
da merenda escolar e municipais integralmente descentralizada
(outubro/1997)
Assistência Programa (federal) sim Governo federal para 33% de adesão
de municipalização governos municipais dos governos municipais
da política ao programa
de assistência (agosto/1997)
Saúde Municipalização sim Governos federal e 54% das consultas médicas
das consultas estaduais para foram prestadas pelos
médicas governos municipais municípios (ano de 1996)
Saúde Processo sim Governo federal para 58% dos municípios haviam
da habilitação governos municipais aderido ao programa
municipal ao SUS (janeiro/1997)

co não passou de uma expectativa frustrada; até Que fatores determinaram esta variação, de
1995, a emergência de sistemas estaduais de habi- um gradiente de total adesão, nos casos das ins-
tação ocorreu apenas nos estados de São Paulo e do tâncias colegiadas do FGTS e da merenda escolar,
Ceará; a municipalização da rede de ensino funda- à ausência de municipalização, no caso do sanea-
mental ocorreu somente no Estado do Paraná; e, mento? Que fatores determinaram que, nos de-
finalmente, em 1997, apenas 33% dos municípios mais casos estudados — redes de educação fun-
brasileiros estavam habilitados a gerir os recursos damental, consultas médicas, habilitação ao SUS,
federais destinados à oferta de serviços assistenci- municipalização da assistência social e criação de
ais (ver coluna “extensão da descentralização no sistemas estaduais de habitação —, tenha ocorri-
plano nacional”, no Quadro 2). do expressiva variação no grau de descentraliza-
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ção observado nos estados? Tomemos, inicial- processos de descentralização que envolvem re-
mente, os determinantes da variação entre as áre- lações do governo federal com governos estadu-
as de política social para, em seguida, examinar- ais, do governo federal com estados e municípi-
mos a variação entre os estados. os e dos governos estaduais com seus respecti-
vos municípios, para testar se tais relações pode-
Determinantes da variação entre as políticas riam ter impactos sobre o processo de transfe-
sociais rência de atribuições; e (c) processos nos quais
Tomemos os resultados alcançados no plano ocorreram políticas ativas de descentralização,
nacional para avaliar o alcance da descentraliza- bem como situações nas quais estas não ocorre-
ção em cada uma das áreas de política social. ram, para testar se estratégias de indução desti-
Para operacionalizar a análise da descentra- nadas a transferir atribuições poderiam afetar os
lização em cada política, tomei como objeto em- resultados da descentralização (ver Quadro 2).
pírico de análise um conjunto selecionado de Observemos nos resultados apresentados no
“programas”, os quais estão apresentados no Quadro 2 que temos aí três casos situados nos
Quadro 2. Assim, para compreender a descen- pontos extremos da escala de variação: de um
tralização na área de educação fundamental, fo- lado, a municipalização dos serviços de sanea-
ram observadas as trajetórias do programa de mento básico, cujo grau de descentralização foi
merenda escolar e a municipalização das matrí- praticamente nulo em todos os estados e, de
culas no ensino fundamental. Portanto, a trajetó- outro lado, a descentralização da merenda escolar
ria destes “programas” será tomada como repre- — já totalmente transferida a estados e municípi-
sentativa da descentralização na área de educa- os — e o programa (federal) de criação de instân-
ção fundamental. cias colegiadas para a alocação do FGTS, os quais
Observe-se que foi adotada aqui uma no- obtiveram elevados graus de descentralização em
ção alargada do conceito de programa, uma vez todos os estados.10 Entre estas situações polares,
que esta seleção abrangeu inclusive situações temos os casos da municipalização dos recursos
em que não ocorreu uma ação deliberada do federais para assistência social; da emergência de
governo na direção da descentralização. Aqui, o sistemas estaduais de habitação; das dimensões
conceito de “programa” está relacionado a uma avaliadas de municipalização de funções na área
possível área de atuação do Estado, no interior da saúde, e da municipalização das redes de
de uma dada área de política social, mesmo que ensino fundamental.
esta atuação não tenha ocorrido,7 ou mesmo O que revelam as situações polares, vale
que este “programa” cuja trajetória foi objeto de dizer, aquelas nas quais encontramos “zero” ou
observação seja um componente de um progra- “100%” de descentralização?
ma governamental de dimensões mais abrangen- Comecemos pela municipalização dos servi-
tes.8 Neste caso, cada “programa” refere-se a ços de saneamento no período 1987-1994. Os
uma dimensão observável da área de política municípios cujos serviços de saneamento básico
social em questão, dimensão esta que deveria não são municipalizados são servidos por empresas
ser simultaneamente o mais representativa possí- públicas estaduais, detentoras de contratos de con-
vel do processo de descentralização em curso e cessão. Além disto, esta política, por ser operada
mensurável por indicadores de cobertura ou ca- como monopólio natural, deve ser gerida sob a
pacitação institucional.9 Portanto, esta seleção forma de competências exclusivas, independente-
compreendeu: (a) processos quantificáveis por mente de qualquer definição constitucional. Nos
indicadores de cobertura ou de capacitação insti- anos 80, quando a proposta de municipalização
tucional em todas as áreas de política social em dos serviços ganhou espaço na agenda de refor-
que a questão da descentralização está na agen- mas, operavam no setor companhias estaduais já
da de reformas desde os anos 80, para testar a instaladas, com contratos de concessão municipal
importância de variáveis de tipo institucional; (b) em vigência, e com alguma capacidade para reali-
118 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 14 No 40

zar investimentos. Para municipalizar, os municípi- Os casos da instalação de instâncias colegia-


os deveriam romper unilateralmente seus contratos das para a alocação dos recursos do FGTS e da
de concessão com estas empresas, o que implicaria descentralização da merenda escolar situam-se no
uma longa batalha jurídica com alto risco de insu- pólo oposto. O programa federal que transferiu
cesso do ponto de vista legal. Mas, caso viessem a integralmente a colegiados estaduais a autoridade
ser bem-sucedidos nesta estratégia, deveriam arcar para alocar os recursos do FGTS em seu território
com a parcela do endividamento destas empresas foi lançado em junho de 1995 e, em outubro
relacionada aos investimentos realizados no muni- seguinte, todos os estados brasileiros já haviam
cípio, bem como negociar os termos de transferên- cumprido as exigências legais para deter autorida-
cia do patrimônio instalado e do quadro de pessoal. de alocativa sobre estes recursos. Isto ocorreu, de
Além disto, deveriam fazer novos investimentos um lado, porque as políticas de habitação e sanea-
para melhorar a qualidade dos serviços, uma vez mento envolvem vultosos investimentos, isto é, a
que o rompimento com a empresa estadual justifi- engenharia operacional destas políticas envolve
cava-se por descontentamentos na prestação de elevados custos financeiros para os agentes que
serviços. Ademais, a engenharia operacional da quiserem assumir sua gestão. De outro lado, desde
área de saneamento básico supõe que sejam reali- a extinção do Banco Nacional da Habitação (BNH),
zados vultosos investimentos concentrados no tem- a alocação dos recursos do FGTS vinha sendo
po. Estes dois fatores — natureza da política e crescentemente submetida a critérios de lealdade
legado das políticas prévias — implicariam, para os política e, de 1992 a 1995, por decorrência de um
municípios dispostos a assumir a gestão dos servi- rombo financeiro produzido para “comprar” o
ços, que estes deveriam arcar com elevados custos apoio ao presidente Fernando Collor de Mello no
financeiros e (incertos) custos jurídicos para obter a episódio do impeachment, nenhum novo contrato
transferência de funções. havia sido firmado entre governo federal e os
Naquela conjuntura (1987-1994), as decisões estados e municípios. Em suma, às dificuldades
tomadas no âmbito federal e pelos governos esta- derivadas da natureza da política acrescentava-se a
duais detentores das concessões não visaram mi- escassez de recursos que caracterizou a gestão
nimizar tais custos para as administrações munici- federal do FGTS previamente à proposta de instala-
pais. Não havia qualquer regra constitucional que ção das instâncias colegiadas.
incentivasse a alteração da distribuição prévia de A partir de 1995, o governo federal instituiu
atribuições, o que na prática favoreceu a manu- um programa cujo desenho operacional tornava
tenção do status quo. Mas, além disto, não houve extremamente atrativo aos governos estaduais as-
qualquer programa federal — ou de iniciativa de sumirem determinadas funções de gestão. O pro-
algum governo estadual — que, a exemplo do grama (1) transferia vultosos recursos para serem
Planasa, criasse incentivos para que os municípios alocados com relativo grau de liberdade pelas
se dispusessem a reverter a modalidade de oferta instâncias colegiadas estaduais; além disto, (2)
de serviços preexistente. Ao contrário, as compa- exigia baixos custos de instalação — bastava criar
nhias estaduais de saneamento atuaram de modo um colegiado nos termos previstos pelo governo
a preservar seus mercados, pelas vias da disputa federal — e (3) conferia forte poder decisório aos
jurídica, da melhoria de seus serviços e de uma executivos estaduais, uma vez que estes detêm o
política mais agressiva de renovação dos contra- poder de convocar os membros da comissão e
tos de concessão. Dados os custos derivados da podem com facilidade “fazer a maioria” em sua
natureza da política e do legado das políticas composição.11 Nestes termos, a estratégia de des-
prévias, e dada a ausência de incentivos à muni- centralização adotada pela União, cujo desenho
cipalização derivada das decisões tomadas nos institucional levou em consideração os elevados
planos federal e estadual, o cálculo das adminis- custos financeiros a serem assumidos para o exer-
trações municipais foi francamente desfavorável à cício destas políticas e o legado das políticas
municipalização. implementadas previamente, implicava elevados
POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL 119

benefícios e custos reduzidos aos governos estadu- da descentralização. Em um Estado federativo, ca-
ais. Adesão rápida e massiva foi a resposta dos racterizado pela efetiva autonomia política dos
governos locais. níveis subnacionais de governo, a assunção de
No caso da descentralização da merenda atribuições em qualquer área de políticas públicas
escolar, a natureza do serviço a ser oferecido não — na ausência de imposições constitucionais —
envolve elevados custos de investimento ou cus- está diretamente associada à estrutura de incenti-
teio. Até uma certa escala de operações, trata-se vos oferecida pelo nível de governo interessado na
de oferecer alimentos gratuitamente à população transferência de atribuições.
escolar — o que permite angariar benefícios polí- Mas, não é a simples “presença ou ausência
ticos com baixo custo financeiro —, refeição esta de programas” que define a extensão da descentra-
sobre a qual não existe um rigoroso controle de lização. Se assim fosse, em todos os casos em que
qualidade e cuja preparação permite a contrata- houvesse sido instituído um programa, teríamos os
ção de funcionários de baixa qualificação e bai- mesmos resultados. A existência de programas —
xos salários. ou a disposição do nível de governo interessado —
Por sua vez, o desenho do programa federal é uma condição necessária, mas não suficiente para
apresenta poucas exigências para a adesão. Na que ocorra descentralização.
verdade, as exigências do MEC apenas referen- Na verdade, o grau de sucesso de um progra-
dam o que estados e municípios já deveriam ma de descentralização está diretamente associado
fazer: estar em dia com os impostos federais, à decisão pela implantação de regras de operação
cumprir a vinculação constitucional de gasto e que efetivamente incentivem a adesão do nível de
criar conselhos de alimentação escolar. Mas, o governo ao qual se dirigem: reduzindo os custos
que é mais importante, o programa federal acres- financeiros envolvidos na execução das funções de
centa recursos automáticos aos cofres locais — gestão; minimizando os custos de instalação da
vale dizer, recursos que não estão sujeitos à nego- infra-estrutura necessária ao exercício das funções
ciação política —, cujos montantes serão tanto a serem descentralizadas; elevando o volume da
maiores quanto maiores forem as populações es- receita disponível; transferindo recursos em uma
colares sob sua responsabilidade. Ou seja, o nível escala em que a adesão se torne atraente; e,
de governo que tiver bancos escolares e cumprir finalmente, revertendo as condições adversas deri-
as exigências para inscrever-se junto ao FNDE12 vadas da natureza das políticas, do legado das
estará apto a receber os recursos federais. Neste políticas prévias e — como veremos no próximo
caso, portanto, à natureza do serviço a ser ofere- item — dos atributos estruturais de estados e
cido, que implica baixos custos financeiros de municípios. Inversamente, na ausência de progra-
instalação e custeio, agregou-se a decisão federal mas que gerem tais incentivos, os recursos dos
de instituir um programa cujo desenho operacio- cofres locais serão disputados pelas demais áreas
nal oferece uma estrutura de incentivos muito possíveis de aplicação.
favorável à adesão. Nestes termos, o resultado do É por esta razão que a descentralização fis-
cálculo das administrações locais (estaduais ou cal não é condição suficiente para que uma dada
municipais) revela-se no amplo alcance da des- administração decida aplicar o acréscimo de re-
centralização. ceitas dela derivado na implementação de progra-
Em suma, embora os possíveis custos políti- mas em uma dada área das políticas públicas. Isto
cos e financeiros derivados da engenharia operaci- apenas significa que este executivo local terá mais
onal das políticas e do legado das políticas prévias recursos a serem aplicados, mas não é suficiente
sejam elementos importantes do cálculo que reali- para definir em qual política os aplicará. Consi-
zam as administrações locais para vir a assumir derando um leque possível de áreas de aplicação
determinadas funções de gestão na área social, a de recursos, esta decisão será o resultado de um
variável “existência de programas deliberados” é cálculo no qual a natureza da política, o legado
fundamental para explicar o alcance ou a extensão das políticas prévias, as regras constitucionais e a
120 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 14 No 40

existência de uma estratégia eficientemente dese- séries no Estado do Paraná explica a expressiva
nhada e implementada por parte de um nível de alteração da distribuição das matrículas no nível
governo mais abrangente são componentes de- fundamental naquele estado. Contrariamente, o
cisivos. insucesso das medidas tomadas no Estado de São
A importância da variável “existência de Paulo e a ausência de programas desta natureza
programas que gerem incentivos à ação dos go- nos estados do Rio Grande do Sul, Bahia e Per-
vernos locais” pode ser claramente identificada nambuco explicam por que não ocorreu a munici-
com relação ao caso das redes de ensino funda- palização das matrículas nestes estados (ver Qua-
mental. Assumir a gestão de tais redes implica dro 2). Assim, embora a Constituição de 1988
gastos de investimento relativos à construção e estabeleça que o ensino fundamental deva ser
instalação de escolas e gastos de custeio relativos oferecido preferencialmente pelos municípios e
à sua manutenção e ao pagamento de professo- os obrigue a aplicar ao menos 25% de suas recei-
res. Tais custos financeiros serão tão maiores tas de impostos e transferências em ensino, ape-
quanto maior for sua provável população-alvo, nas no Estado do Paraná, devido à existência de
isto é, quanto maior for a população em idade uma estratégia de indução eficientemente dese-
escolar de uma dada cidade. Aos custos financei- nhada e implementada, ocorreu uma alteração
ros, contudo, contrapõem-se os custos políticos significativa da distribuição prévia das matrículas
de não oferecer vagas escolares; tais custos políti- entre os níveis de governo.
cos tornam-se ainda mais elevados por tratar-se Até o momento, vimos como, para cada um
de uma política com relação à qual existe uma dos casos acima examinados, a existência de uma
regra constitucional que obriga o poder público à estratégia de indução eficientemente desenhada e
oferta universal de serviços. Embora esta não seja, implementada foi decisiva para os resultados da
constitucionalmente, uma obrigação exclusiva dos descentralização. Uma estratégia de indução efici-
governos municipais, a responsabilidade política ente, por sua vez, supõe que o nível de governo
pela oferta de vagas escolares recai também so- interessado na descentralização tenha disposição e
bre as administrações municipais. meios para formular e implementar um programa
Nestas circunstâncias, a existência de progra- cujo desenho torne a decisão pela assunção de
mas que minimizem os custos de instalação e atribuições de gestão suficientemente atrativa para
manutenção das redes escolares funciona como um as administrações locais. Ora, se os requisitos da
incentivo para que as administrações municipais engenharia operacional de cada política, o legado
decidam canalizar seus esforços para a oferta de das políticas prévias e as regras constitucionais
vagas no ensino fundamental. Para municípios podem gerar — de modo diferente para cada
pobres, a existência de tais recursos funciona inclu- política particular — (des)incentivos à decisão
sive como uma estratégia de captação — perma- local pela descentralização, um programa destina-
nente ou provisória — de recursos externos, sejam do a transferir atribuições deve, no mínimo, incor-
eles estaduais, federais ou internacionais. porar e permitir superar tais obstáculos.
Os programas federais das décadas de 70 e Este mesmo argumento pode ser utilizado
80, que ofereciam recursos para a instalação de para explicar a variação de resultados dos demais
redes municipais no ensino de 1a a 4a séries e casos. O programa (federal) de municipalização da
apoio técnico e financeiro à sua manutenção, assistência social alcançou, até setembro de 1997,
foram decisivos para a expansão da oferta de 33% de adesão municipal. Por que uma taxa assim
vagas escolares municipais nos estados do Nor- tão baixa?
deste, particularmente naqueles municípios po- O programa propõe que as administrações
bres, pouco populosos e distantes dos centros municipais venham a assumir em seu território a
administrativos. Da mesma forma, no período gestão integral das ações de assistência social. A
1987-1994, a existência de um programa delibera- assunção de tais atribuições implicaria um certo
do de transferência da rede de ensino de 1a a 4a risco financeiro, visto que, uma vez habilitado, o
POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL 121

município passaria a responder pelo pagamento SUS: a regra constitucional de universalidade do


dos convênios com as instituições não-governa- atendimento em saúde, as regras de operação do
mentais prestadoras de serviços, cujo credencia- SUS e o modo pelo qual o Ministério da Saúde vem
mento é — segundo a regulamentação do progra- implantando a descentralização, marcado pela pre-
ma — realizado pelo governo federal. E o municí- cariedade no desempenho de suas funções de
pio deveria assumir tal compromisso em condições financiamento do sistema. No entanto, para cada
de incerteza quanto ao efetivo cumprimento das um destes dois casos, a adesão à municipalização
transferências financeiras por parte da União. Além implica custos diferentes, dado que são diferente-
disto, dado que passaria a responder por todas as mente afetados pelas regras de operação do SUS e
ações diretas de assistência em seu território, a pela natureza mesma das funções a serem desem-
assunção de tais funções implicaria que União e penhadas.
governo estadual estariam desobrigados de desem- No caso do programa federal de habilitação
penhar tais tarefas, exceto em casos de calamidade municipal ao SUS, a adesão envolve o custo políti-
pública. Em suma, não são irrelevantes os custos co e financeiro de arcar com a responsabilidade
financeiros e políticos derivados da proposta de pública pela oferta universal de serviços de saúde
municipalização do governo federal, vale dizer, das em condições de elevada incerteza quanto ao fato
regras de operação do programa e de seu modo de que o governo federal venha efetivamente a
efetivo de implementação. cumprir com sua função de financiamento do
Acrescente-se a isto que o modo efetivo de sistema. Paralelamente, supõe que o município
implantação do programa não foi capaz de minimi- disponha de uma dada capacidade técnica instala-
zar as incertezas das administrações municipais da que o habilite a desempenhar as funções previs-
quanto aos prováveis custos derivados da munici- tas em cada uma das condições de gestão. No caso
palização da assistência social. A regulamentação das consultas médicas, embora as regras do SUS —
do programa completou-se apenas em 1997, suas o pagamento por número de procedimentos —
regras efetivas de operação favoreceram executi- incentivem a maximização dos atos médicos, o
vos estaduais contrários à municipalização das volume de atendimentos depende diretamente da
ações e o repasse automático de recursos efetiva- capacidade de os municípios instalarem os recursos
mente não ocorreu. Nestes termos, na prática, o técnicos — equipamentos, recursos humanos e
modo efetivo de implementação do programa o conhecimento especializado — necessários à sua
aproxima da situação de “ausência de política de oferta. Neste caso, é o custo financeiro para a
descentralização”, uma vez que seu processo de instalação de tal capacidade técnica que interfere
implantação é recente e seu desenho operacional é mais fortemente nas taxas municipais de atendi-
marcado por contradições internas, as quais permi- mento em saúde. É preciso não esquecer que,
tem amplo espaço de manobra aos interesses como um legado das políticas previamente imple-
contrários à municipalização. Nestas condições, mentadas — as quais não privilegiaram a oferta
não é de surpreender que o cálculo realizado pelas municipal de serviços —, é muito provável que
administrações municipais tenha-se traduzido em grande parte dos municípios esteja ampliando seus
baixas taxas de adesão. equipamentos em saúde por ocasião da implanta-
Os programas de descentralização na área da ção do modelo do SUS, o que significa que grande
saúde aqui analisados apresentam, por sua vez, parte do esforço de ampliação da capacidade
taxas mais elevadas de adesão. Em janeiro de 1997, técnica de prestação de serviços está sendo realiza-
58% dos municípios brasileiros estavam habilitados do a partir do final dos anos 80.
em alguma condição de gestão do SUS e, ao longo Por outro lado, o fato de que a municipali-
do ano de 1996, 54% das consultas médicas foram zação da saúde tenha obtido elevado grau de
prestadas por unidades municipais de saúde (Qua- consenso na agenda de reformas da área social e
dro 2). Estes resultados são condicionados pelo o fato de que a coalizão pró-reformas nesta área
conjunto de regras que envolvem a implantação do seja fortemente articulada e estável geram intensa
122 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 14 No 40

pressão local pela adesão municipal ao SUS. implementada — o que supõe que o nível de gover-
Além disto, a flexibilidade do desenho do progra- no interessado tenha disposição e meios econômi-
ma de municipalização, que contempla distintas cos e administrativos para tal — é um elemento
modalidades de adesão — incorporando, portan- central desta estrutura de incentivos, na medida
to, as possíveis resistências das administrações em que, associada a requisitos ou exigências postos
locais, derivadas dos custos financeiros e políticos pela engenharia operacional de cada política, pe-
a serem assumidos —, facilita a adesão ao progra- las regras constitucionais que normatizam sua
ma, na medida em que permite uma maior ade- oferta e pelo legado das políticas prévias — fatores
quação entre custos prováveis da adesão e capa- estes cujo comportamento varia para cada política
cidade local de assunção de atribuições. Final- —, constituem elementos importantes da decisão
mente, a regra constitucional da universalidade local pela assunção de competências de gestão de
do acesso — que implica o fato de que custos políticas públicas.
políticos de não oferecer serviços em uma dada
quantidade e qualidade também recaem sobre as Determinantes da variação entre os estados
administrações municipais — representa também Como já apontado mais acima, a variação na
um poderoso incentivo à municipalização. Sime- extensão da descentralização das políticas sociais
tricamente, os benefícios políticos de oferecer o no Brasil não diz respeito apenas aos programas
serviço representam um poderoso incentivo à analisados. Há também uma substancial variação
municipalização. quanto aos graus de descentralização alcançados
Em suma, o SUS alcançou taxas de adesão pelos estados. No Quadro 3 são apresentados
em cerca de 60% dos municípios brasileiros e indicadores de cobertura ou de capacitação insti-
estes, por sua vez, eram responsáveis por mais da tucional que evidenciam o alcance da descentrali-
metade das consultas médicas no Brasil em 1997 zação em cada um dos programas analisados nos
porque, nestes casos, o comportamento das variá- seis estados da amostra observada. Observe-se,
veis determinantes — disposição de descentrali- por exemplo, a taxa de adesão municipal ao
zar, desenho do programa e meios para a imple- programa federal de descentralização da assistên-
mentação do programa de descentralização —, cia social em agosto de 1977: no Estado da Bahia,
associado aos custos derivados da natureza da apenas 2% dos municípios haviam cumprido as
política e das regras constitucionais, compõem, exigências do art. 30 da LOAS13 para habilitar-se
nesta política particular, uma estrutura de incenti- a gerir os recursos federais, ao passo que no
vos que é mais favorável à adesão do que aquela Estado do Ceará esta taxa era de 55% e, para o
da municipalização da assistência social, e menos conjunto dos municípios brasileiros, de 33%. Ob-
favorável do que a do programa de merenda serve-se ainda as variações no índice municipal
escolar. de habilitação ao SUS em cada estado: se no
Portanto, quando comparados entre si, o su- Brasil este índice era de 0,74 em janeiro de 1997,
cesso de cada programa é determinado por uma na Bahia era de 0,42 e no Ceará, de 0,93.
dada estrutura de incentivos à adesão. Vale dizer, Para tornar estes diferentes indicadores
dado que, em Estados federativos, a assunção de comparáveis entre si, utilizei os critérios apresen-
atribuições de gestão em políticas públicas depende tados no Quadro 4 para atribuir diferentes “graus”
da decisão soberana dos governos locais — salvo de descentralização a cada estado. Assim, os
expressas imposições constitucionais —, e dado que graus “baixo”, “médio” ou “alto” revelam diferen-
esta decisão é resultado de um cálculo destas admi- ças na extensão da transferência de atribuições de
nistrações quanto aos custos e benefícios nela im- cada programa observado em cada um dos esta-
plicados, a extensão da descentralização depende, dos da amostra. O Quadro 5, portanto, é o resul-
em grande parte, da estrutura de incentivos associ- tado da aplicação dos critérios expostos no Qua-
ada a cada política particular. A existência de uma dro 4 sobre os diferentes indicadores apresenta-
estratégia de indução eficientemente desenhada e dos no Quadro 3.
POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL 123

Quadro 3
Indicadores de Descentralização em Estados Selecionados
Brasil — 1987-97
Rio Grande Paraná São Paulo Bahia Pernambuco Ceará BRASIL
do Sul
(1) Taxa de 0 0 0,60 0,30 0 0 0
municipalização de
serviços de
saneamento básico (a)
(2) Política Extinção Programas Programas Programas Programas Programas ...
habitacional da COHAB; próprios; próprios; próprios; próprios; próprios;
estadual redução manutenção expansão redução redução manutenção ...
(1987-94) da oferta; da oferta; da oferta da oferta; da oferta; da oferta;
redução recursos recursos recursos recursos recursos
do gasto federais estaduais federais federais próprios ...
(3) Criação e sim sim sim sim sim sim sim
funcionamento de
instância colegiada
estadual para
alocação do FGTS
(4) Crescimento Matrícula Matrícula Matrícula Matrícula Matrícula Matrícula ...
das matrículas municipal municipal municipal municipal municipal municipal
no ensino total das total das total das total das total das total das
fundamental matrículas matrículas matrículas matrículas matrículas matrículas
(1988-94) (b)
(5) Taxa de 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
descentralização da
merenda escolar
(outubro/1997)
(6) Taxa de 75% 68% 77% 66% 76% 71% 66%
municipalização da
merenda escolar
(outubro/1997)
(7) Taxa de adesão 32% 42% 7% 2% 13% 55% 33%
municipal ao
programa federal de
descentralização
da assistência social
(agosto/1997) (c)
(8) Índice municipal 0,53 0,95 0,76 0,42 0,77 0,93 0,74
de habilitação ao SUS
(janeiro/1997) (d)
(9) Taxa de habilitação 48% 83% 54% 42% 69% 80% 58%
municipal ao SUS
(janeiro/1997) (e)
(10) Taxa de 42% 72% 58% 24% 44% 55% 54%
municipalização das
consultas médicas
Fontes: (1): Anjos Jr. (1996); Araújo e Loureiro (1996); Freitas (1996); Mendonça (1996); Morais e Vidal (1996); Raggio (1996);
(2): Anjos Jr (1996); Arretche (1996); Barbosa (1996); Ferreira, Silva e Rocha (1996); Luz (1996); Raggio (1996); (3): SEPURB/MPO;
(4): FEE, IPARDES, SE/SP, SEI, FUNDAJ, IPLANCE; (5) e (6): FNDE/MEC; (7): SAS/MPAS; (8), (9) e (10): DATASUS.
Número de municípios por estado: Contagem Populacional do IBGE.

(a) Número de municipalizações efetivas (até dezembro de 1997)/número de municípios não-municipalizados (em 1987).
(b) O indicador considera o índice de crescimento das matrículas municipais em relação ao índice de crescimento do total das
matrículas no estado.
(c) Percentual de municípios em cada estado que cumpriram as exigências regulamentares para habilitar-se à descentralização.
(d) (No de municípios na gestão incipiente x 1)+(no de municípios na gestão parcial x 2)+(no de municípios na gestão semi-
plena x 3)/total de municípios do estado.
(e) Proporção de municípios habilitados ao SUS em cada estado.
124 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 14 No 40

Quadro 4
Critérios para Identificação de Graus de Descentralização em Políticas Selecionadas
PROGRAMA GRAU BAIXO GRAU MÉDIO GRAU ALTO
Municipalização Taxa estadual de Taxa estadual de Taxa estadual de
dos serviços de municipalização é inferior municipalização está próxima municipalização é superior
saneamento básico à taxa nacional à taxa nacional à taxa nacional
Emergência de - existência de órgãos - existência de órgãos - existência de órgãos
Sistemas Estaduais especializados especializados (COHABs) + especializados (COHABs) +
de Habitação (COHABs) + continuidade existência de programas existência de programas
dos programas federais com desenho próprio com desenho próprio +
- média de unidades - média de unidades existência de fontes
(87-90) > média (87-90) ≅ média de de financiamento próprias
de unidades (91-94) unidades (91-94) - média de unidades
- média de gasto per capita - média de gasto per (87-90) ≤ ou ≅ média de
(87-90) > média de gasto capita (87-90) ≥ média de unidades (91-94)
per capita (91-94) gasto per capita (91-94) - média de gasto per capita
(87-90) ≤ ou ≅ média
de gasto per capita (91-94)
Programa (federal) O governo estadual não O governo estadual criou O governo estadual criou
de criação de criou uma instância uma instância colegiada, uma instância colegiada e
instâncias colegiadas colegiada mas esta não funciona esta funciona
estaduais para a
alocação do FGTS
Municipalização das - sem alteração no perfil de - sem alteração significativa - alteração significativa
redes (estaduais) de distribuição das matrículas no perfil de distribuição no perfil de distribuição
ensino fundamental - taxa de crescimento das matrículas das matrículas
das matrículas municipais - taxa de crescimento das - taxa de crescimento das
é < ou ≅ à taxa de matrículas municipais é pouco matrículas municipais é
crescimento do total superior à taxa de crescimento muito superior à taxa de
das matrículas do total das matrículas crescimento do total
das matrículas
Programa (federal) Taxa estadual de Taxa estadual de Taxa estadual de
de municipalização municipalização é inferior municipalização está próxima municipalização é superior
da merenda escolar à taxa nacional à taxa nacional à taxa nacional
Programa (federal) Percentual de municípios Percentual de municípios Percentual de municípios
de municipalização com conselhos, planos com conselhos, planos com conselhos, planos
da política e fundos de assistência é e fundos de assistência está e fundos de assistência é
de assistência inferior à taxa nacional próximo à taxa nacional superior à taxa nacional
Processo de Índice estadual de Índice estadual de Taxa estadual de
habilitação municipalização é inferior municipalização está próximo municipalização é superior
municipal ao SUS à taxa nacional à taxa nacional à taxa nacional
Municipalização do Taxa estadual de Taxa estadual de Taxa estadual de
atendimento municipalização é inferior municipalização está próxima municipalização é superior
básico em saúde à taxa nacional à taxa nacional à taxa nacional

Observemos o Quadro 5, onde estão apre- amostra: estes são inferiores a 16, score que
sentados os scores globais de cada estado em corresponderia à situação na qual o estado teria
todos os casos analisados. Em uma escala de alcançado no mínimo índices médios em todos os
variação que poderia ir de 8 a 24, os estados da casos. Em outras palavras, estes estados alcança-
Bahia (12), Pernambuco (13) e Rio Grande do Sul ram um score médio inferior a 2. O Estado de
(13) obtiveram os mais baixos scores globais da São Paulo (16), por sua vez, obteve um score
POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL 125

Quadro 5
Graus de Descentralização em Programas Sociais e Estados Selecionados
OBJETO DE ESTUDO RS PR SP BA PE CE
Municipalização da rede de BAIXO ALTO BAIXO BAIXO BAIXO MÉDIO
ensino fundamental (1) (3) (1) (1) (1) (2)
Programa (federal) de ALTO ALTO ALTO ALTO ALTO ALTO
municipalização da (3) (3) (3) (3) (3) (3)
merenda escolar
Processo de habilitação BAIXO ALTO MÉDIO BAIXO MÉDIO ALTO
municipal ao SUS (1) (3) (2) (1) (2) (3)
Municipalização BAIXO ALTO MÉDIO BAIXO BAIXO MÉDIO
do atendimento básico (1) (3) (2) (1) (1) (2)
em saúde do SUS
Emergência de Sistemas BAIXO MÉDIO ALTO BAIXO BAIXO ALTO
Estaduais de Habitação (1) (2) (3) (1) (1) (3)
Programa (federal) de criação ALTO ALTO ALTO ALTO ALTO ALTO
de instâncias colegiadas (3) (3) (3) (3) (3) (3)
estaduais para a distribuição
dos recursos do FGTS
Municipalização dos serviços BAIXO BAIXO BAIXO BAIXO BAIXO BAIXO
de saneamento básico (1) (1) (1) (1) (1) (1)
Programa (federal) de MÉDIO ALTO BAIXO BAIXO BAIXO ALTO
municipalização da política (2) (3) (1) (1) (1) (3)
de assistência social
Score de Estadualização 4 5 6 4 4 6
Score de Municipalização 9 16 10 8 9 14
Score Global 13 21 16 12 13 20

médio de 2. Finalmente, os estados do Paraná e ção para transferir atribuições de gestão de políti-
do Ceará, com scores globais de 21 e 20, respec- cas públicas são decisivos para a extensão do
tivamente, apresentaram um score médio de 2,6 processo de descentralização. Que outros fatores
e 2,5, muito próximo de 3, isto é, muito próximo interferem na decisão local de aderir a tais progra-
do score máximo possível. mas, de modo que uma mesma estratégia de
Observe-se ainda, no Quadro 5, que o Paraná indução no plano nacional venha a obter resulta-
e o Ceará não apresentaram um alto grau de dos diferentes entre as unidades da Federação?
descentralização em situações muito particulares: Há atributos das unidades locais de governo que
em situações nas quais não houve um programa aí interferem? Que variáveis são capazes de pro-
federal para tal fim, ambos apresentaram baixos duzir mais baixas ou mais elevadas taxas de ade-
graus de municipalização dos serviços de sanea- são local aos programas desenhados para transfe-
mento básico, caso este no qual nenhum estado do rir competências?
Brasil obteve qualquer alteração da distribuição Para responder a estas questões, é necessário,
prévia de atribuições; o Estado do Paraná apresen- inicialmente, testar a relação de cada uma das
tou grau médio no que diz respeito à instituciona- variáveis, consideradas como atributos das unida-
lização de seu sistema estadual de habitação e o des de governo, com os resultados da descentrali-
Estado do Ceará apresentou grau médio nos casos zação obtidos em cada um dos estados examina-
da municipalização de sua rede estadual de ensino dos. Assim, a princípio, cada uma das variáveis será
fundamental e do atendimento básico em saúde. tomada isoladamente, para, posteriormente, ser
Já foi demonstrado que o desenho e o modo integrada em uma análise que contempla o conjun-
efetivo de implementação de estratégias de indu- to das variáveis consideradas.
126 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 14 No 40

Graus de descentralização e nível de riqueza de, isoladamente, representar um fator de diferen-


econômica ciação no processo de transferência de atribuições
Examinemos a hipótese de que seja a varia- de gestão na área social. Não há correlação entre
ção nos níveis de riqueza econômica dos estados e os scores globais de descentralização alcançados
municípios que tenha a faculdade de alterar o pelos estados da amostra e seus respectivos PIBs.
escopo da descentralização. Por este argumento, as É suficiente observar que há dois casos nos pon-
desigualdades econômicas regionais — próprias a tos 20 e 21 do eixo y (Estados do Paraná e do
um país estruturalmente dividido em duas grandes Ceará) situados em pontos distantes no eixo x.
regiões: Norte, Nordeste e Centro-Oeste, de um Há um caso (São Paulo), situado no ponto mais
lado, e Sul e Sudeste, de outro — expressar-se-iam elevado do eixo x, cujo score de descentralização
nos rumos da municipalização e/ou estadualização é inferior aos dos estados do Paraná e Ceará.
de atribuições. Além disto, Rio Grande do Sul, Bahia e Pernam-
Examinemos esta hipótese tomando como buco alcançaram scores globais de descentraliza-
indicadores, de um lado, o PIB de cada um dos ção muito próximos, sendo que seus respectivos
estados da amostra e, de outro lado, seus respec- PIBs são muito distintos.
tivos scores globais de descentralização14 (res- Examinemos agora a hipótese da existência de
pectivamente, Quadros 1 e 5). O Gráfico 1 não uma relação entre a variação nos graus de descen-
confirma a hipótese de que o nível de riqueza tralização alcançados pelo conjunto dos municípios
econômica seja uma variável independente capaz de cada um dos estados e o grau de riqueza

Gráfico 1
Graus de descentralização de programas sociais por PIB estadual

25

20

15
score global

Seqüência1

10

0
0 2000 4000 6000 8000
PIB
pib estadual
estadual

Média do PIB estadual/score global de descentralização: RS: 4495/13; PR: 3386/21; SP: 6134/16; BA: 2739/12; PE: 2185/13;
CE: 1171/20.
POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL 127

econômica destes municípios. Admitamos que vari- desta variável com a extensão da descentralização,
ações no porte socioeconômico dos municípios é necessário tomar como score de comparação a
possam ser avaliadas pelo tamanho de sua popula- soma dos scores alcançados em cada estado naque-
ção, aceitando a proposição de que um município les casos que envolvem a municipalização de
com população superior a 50 mil habitantes tenha funções sociais (coluna “score de municipalização”
uma relativa densidade social e econômica que o do Quadro 5).
habilitaria a dispor de um conjunto de recursos Novamente, não é possível afirmar, com
técnicos e administrativos para gerir programas base nestes indicadores, que o porte dos municí-
sociais. Portanto, estou supondo que, se esta é uma pios de um dado estado, aqui medido pelo tama-
variável decisiva em si mesma, então, caso um dado nho de sua população, possa ser uma variável
estado tenha um expressivo número de municípios independente capaz de, isoladamente, explicar a
com porte populacional superior a 50 mil habitan- variação dos resultados nos casos de municipali-
tes, este estado tenderá a apresentar taxas mais zação. Observe-se no Gráfico 2 que não há uma
elevadas de municipalização. relação direta ou inversa entre estas duas variá-
Neste caso, a unidade utilizada para compara- veis. Basta observar que três casos situados no
ção entre os estados será a proporção de municípi- mesmo ponto do eixo x (8% de municípios com
os com população acima de 50 mil habitantes população superior a 50 mil habitantes) situam-se
(Quadro 1). De outro lado, para avaliar a relação em pontos distintos no eixo y (Bahia, Rio Grande

Gráfico 2
Graus de municipalização de programas sociais por proporção de municípios
com população acima de 50.000 habitantes

16

14

12
score de municipalização

10

8 Seqüência1

0
0 5 10 15 20
proporção de municípios com mais de 50.000 hab

Proporção de municípios com população acima de 50.000 hab/grau de municipalização: RS: 8/9; PR: 8/16; SP: 16/10;
BA: 8/8; PE: 14/9; CE: 11/14.
128 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 14 No 40

do Sul e Paraná). Embora não tenha sido feito Os dados não confirmam, para a amostra de
nenhum teste que avalie a correlação estatística estados brasileiros examinada, que variações nas
entre estas variáveis, é possível observar que, por taxas de filiação a associações civis sejam fatores
exemplo, o Estado de São Paulo, com 16% de determinantes para que os governos locais se
seus municípios com população superior a 50 mil sintam decisivamente pressionados a assumir a
habitantes, alcançou um grau de descentralização gestão de programas sociais. Ou, dito de outro
muito inferior aos dos estados do Paraná e Ceará, modo, se a cultura cívica de um dado estado
respectivamente com 8% e 11% de seus municípi- pode ser medida pelas taxas de pertencimento a
os nessa condição. associações civis, não há evidências de que esta
Isto não significa, contudo, que o nível de tenha uma relação direta com a variação nos
riqueza econômica — ou a densidade econômica e graus de descentralização alcançados pelos esta-
social — de um dado município não seja uma dos.
variável capaz de interferir nas decisões de uma O Estado do Rio Grande do Sul apresenta as
dada administração municipal. Significa apenas taxas mais elevadas de filiação a associações civis
que isoladamente esta variável não explica a da amostra — 19% de filiados a entidades de classe,
variação na disposição dos municípios para assu- 5% a partidos políticos e 52% a associações volun-
mir funções de gestão nos casos examinados. Na tárias15 — e um score global de descentralização
verdade, esta variável pode condicionar o grau de (13) equivalente ao Estado de Pernambuco e pouco
autonomia municipal para a oferta de serviços superior ao da Bahia (12), cujas taxas de filiação
públicos, bem como sua capacidade de resistir a são bastante inferiores — 14% e 12%, respectiva-
eventuais pressões advindas dos programas formu- mente, para a filiação a entidades de classe; 2,6% e
lados pelos demais níveis de governo. Porém, neste 3,6%, respectivamente, para filiação a partidos e
caso, sua interferência nos resultados não é direta, 7,5% e 5,5%, respectivamente, para a filiação a
mas é um dos componentes do cálculo realizado associações civis. Os scores de descentralização no
por cada administração local com vistas à decisão Paraná (21) e Ceará (20) são muito próximos, com
de descentralizar atribuições. taxas de filiação a entidades civis bastante distintas
(ver Quadro 1). Os estados do Ceará e do Rio
Graus de descentralização e participação política Grande do Sul encontram-se em pólos opostos no
Examinemos agora a hipótese de que a vari- que diz respeito à extensão do processo de descen-
ação na descentralização possa ser atribuída a tralização, sendo que este último apresenta taxas
uma característica política dos estados: sua cultura muito mais elevadas de participação cívica. Com
cívica. Este argumento considera que a participa- base nos dados disponíveis, não é possível afirmar
ção em associações civis — seja qual for sua que a participação política seja uma variável que
natureza — geraria sociedades fortes, cuja capaci- isoladamente possa explicar a variação na dispo-
dade de pressão geraria governos fortes, os quais, sição de governos locais para assumir funções de
por sua vez, seriam caracterizados por sua capaci- gestão em programas sociais.
dade de instituir e manter políticas públicas de
qualidade (Putnam, 1993). Assim, seria de se es- Graus de descentralização e capacidade fiscal
perar que, no caso brasileiro, a mais elevadas dos governos
taxas de participação em associações civis corres- Examinemos agora a hipótese de que a des-
pondessem mais elevados graus de iniciativa local centralização seria menos viável nos estados ou
para a gestão de políticas sociais. Observemos a regiões mais pobres do país, dado que esta pobreza
possibilidade desta relação causal com base, de econômica expressar-se-ia também sob a forma de
um lado, nos scores globais de descentralização reduzida capacidade de gasto público.16 Esta pro-
em cada estado (Quadro 5) e, de outro, nas taxas posição, portanto, associa diretamente possibilida-
de filiação a associações civis apresentadas no des de gestão descentralizada a capacidade de gasto
Quadro 1. dos governos. Neste caso, seria de se esperar que
POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL 129

Gráfico 3
Graus de estadualização de programas sociais por receita estadual disponível

5
score de estadualização

3 Seqüência1

0
0 200 400 600 800
média da receita estadual disponível per capita

Média da receita estadual disponível per capita/score de estadualização: RS: 513/4; PR: 377/5; SP: 610/6; BA: 275/4;
PE: 275/4; CE: 252/6.

graus mais elevados de descentralização fossem fazê-lo, temos de tomar como objeto de compara-
encontrados nos estados cuja capacidade de gasto ção os casos de descentralização nos quais estives-
seja elevada e que, inversamente, graus mais baixos se colocada a perspectiva de o governo estadual
fossem encontrados nos estados mais pobres. assumir atribuições de gestão: a instalação de
Para testar esta hipótese, tomei como indica- instâncias colegiadas para alocação dos recursos do
dor de “capacidade de gasto” a receita disponível FGTS e a emergência de sistemas estaduais de
das unidades de governo em questão. Embora as habitação. Assim, o eixo y do Gráfico 3 correspon-
receitas disponíveis dos estados e municípios bra- de aos “scores de estadualização” de cada estado
sileiros tenham sofrido expressiva variação por (Quadro 5) e o eixo x corresponde à média da
efeito da descentralização fiscal de 1988, este é um receita estadual disponível no período 1987-1994
fenômeno que afetou igualmente todas as unidades (Quadro 1).
sob análise. Assim, para efeitos de comparação O Gráfico 3 indica que não há uma relação
entre os estados, o indicador a ser utilizado aqui direta entre a variação nas iniciativas dos governos
será a média da receita disponível per capita estaduais para instituir seus próprios sistemas de
(Quadro 1). oferta de unidades residenciais públicas, ou para
Examinemos inicialmente a hipótese de que a instalar suas instâncias colegiadas, e sua capacida-
receita disponível dos governos estaduais analisa- de de gasto. O score 4, correspondente a um baixo
dos tenha afetado decisivamente sua disposição grau de descentralização, é encontrado em três
para assumir a gestão de programas sociais. Para estados cuja média da receita estadual disponível é
130 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 14 No 40

inteiramente distinta; o mesmo pode ser dito com capita de cada estado e, de outro, seus respectivos
relação ao score 6, casos dos estados de São Paulo scores de municipalização, os quais estão apresen-
e Ceará, situados em pontos extremos da escala de tados no Gráfico 4.
variação do indicador “média da receita estadual Como podemos claramente observar, não
disponível per capita”. há uma relação direta entre a capacidade de gasto
Mas, examinemos ainda a possibilidade de dos governos estaduais analisados e os resultados
que capacidade de gasto e descentralização sejam alcançados na municipalização de programas so-
negativamente relacionados, isto é, quanto menor a ciais. Estados com médias de receitas estaduais
capacidade de gasto do nível estadual de governo, per capita bastante próximas, como Bahia, Per-
mais elevados seriam os scores de municipaliza- nambuco e Ceará — respectivamente, R$ 275, R$
ção, dado que, nesta situação, os governos estadu- 245 e R$ 252 —, encontram-se em pontos bastan-
ais teriam poderosos incentivos financeiros para te distantes no eixo y. O Estado de São Paulo,
buscar transferir atribuições — e responsabilidade cuja média da receita estadual disponível per ca-
pública — de gestão na área social. Nesta linha de pita é quase três vezes a cearense, apresentou
argumentação, quanto menor a capacidade de um score de municipalização muito inferior ao
gasto de um estado, mais municipalizados seriam deste estado.
os resultados. Assim, a capacidade fiscal dos estados não é
Para testar esta proposição, temos de tomar, uma variável independente capaz de isoladamen-
de um lado, a média da receita disponível per te explicar os resultados da municipalização no

Gráfico 4
Graus de municipalização de programas sociais
por receita estadual disponível

16

14

12
score de municipalização

10

8 Seqüência1

0
0 200 400 600 800
média da receita estadual disponível per capita

Média da receita estadual disponível per capita/score de estadualização: RS: 513/9; PR: 377/16; SP: 610/10; BA: 275/8;
PE: 245/9; CE: 252/14.
POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL 131

período analisado: nem os governos estaduais restrição orçamentária, seria racional, do ponto de
analisados assumiram a gestão de políticas sociais vista da contenção de custos, que os governos
apenas porque dispunham de mais recursos, estaduais buscassem a municipalização. Mas, para
nem os municípios foram levados a assumir estas que esta se torne uma realidade, é necessário que
atribuições exclusivamente por referência à situa- os governos tomem decisões em favor da descen-
ção orçamentária de seus respectivos governos tralização e — como vimos — que, além disto, as
estaduais. decisões tomadas sejam de tal natureza que ve-
Isto não significa, contudo, que a situação das nham a obter a adesão das administrações munici-
finanças estaduais não possa ser um fator importan- pais. Portanto, a relação entre a situação fiscal de
te para que os governos adotem programas de um nível de governo mais abrangente e a descen-
descentralização. De fato, restrições orçamentárias tralização efetiva é mediada pela decisão de des-
podem representar um incentivo para que os go- centralizar e pela implementação de uma eficiente
vernos busquem transferir a uma outra administra- estratégia nesta direção, vale dizer, é mediada pela
ção pelo menos parte dos custos financeiros impli- existência de disposição e meios para descentrali-
cados na gestão de uma dada política social. zar por parte deste nível de governo. A situação
Mas, existe uma diferença entre condições fiscal é, tal como os requisitos institucionais de uma
estruturais para que governos tomem determinados dada política, um dos elementos do cálculo realiza-
cursos de ação e o fato de que estes venham do por um dado nível de governo para adotar uma
efetivamente a tomá-los. Em uma situação de estratégia de descentralização.

Gráfico 5
Graus de municipalização de programas sociais por receita dos governos municipais

16

14

12
score de municipalização

10

8 Seqüência1

0
0 2000 4000 6000 8000 10000 12000
média da receita orçamentária "per município"

Relação: Média da receita municipal/score de municipalização: RS: 4667/9; PR: 4335/16; SP: 11914/10; BA: 3094/8;
PE: 3607/9; CE: 2771/14.
132 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 14 No 40

Ainda examinando o argumento de que a mais baixa a receita orçamentária dos municípios,
capacidade fiscal possa ser uma variável indepen- mais elevados seriam os graus de municipalização
dente capaz de influir decisivamente no ritmo da em cada estado, porque, nesta situação, as admi-
descentralização, analisemos agora o impacto da nistrações municipais teriam mais incentivos para
capacidade de gasto dos municípios dos estados aderir aos programas propostos pelos níveis mais
pesquisados sobre o alcance da municipalização, abrangentes de governo, para, por esta via, elevar
com base na receita média dos municípios de cada sua receita disponível.
estado, excluídas as capitais.17
Mais uma vez, o Gráfico 5 não autoriza que, Descentralização e ação política
nos casos examinados, a variação nas taxas de Como vimos acima, variações no nível de
municipalização possa ser atribuída a variações na riqueza econômica dos estados, no porte dos mu-
receita orçamentária das administrações munici- nicípios, no grau de participação política dos ci-
pais. Os municípios paulistas dispõem, em média, dadãos na vida política de cada estado e na capa-
de uma capacidade de gasto três ou quatro vezes cidade fiscal de estados e municípios não são
superior à do conjunto dos municípios dos demais variáveis que isoladamente possam determinar
estados e seu score de municipalização é pouco os rumos da descentralização. A capacidade fiscal
superior ao dos estados do Rio Grande do Sul e dos governos e sua capacitação político-adminis-
Pernambuco. Os estados do Rio Grande do Sul e do trativa influem no processo de transferência de
Paraná apresentam uma média de receita orçamen- atribuições, na medida em que configuram os
tária municipal bastante próxima — R$ 4.667 e R$ recursos com que conta uma dada administração
4.335, respectivamente (Quadro 1) — e a mesma local para desempenhar funções de gestão de
proporção de municípios com população superior políticas públicas. Mas tais variáveis não são de-
a 50 mil habitantes — 8% (Quadro 1) — e, no terminantes em si; seu peso e importância variam
entanto, obtiveram scores de municipalização bas- de acordo com os atributos institucionais da polí-
tante desiguais: 9 e 16, respectivamente. tica que se pretende descentralizar. Os recursos
Tomemos ainda os estados da Bahia e do fiscais e administrativos exigidos para a municipa-
Ceará. A média da receita orçamentária municipal lização da política de saneamento básico — cuja
dos municípios cearenses é ligeiramente inferior à operação exige vultosos recursos fiscais e admi-
baiana — R$ 2.771 e R$ 3.094, respectivamente nistrativos, em um mercado controlado por com-
(Quadro 1) — e, por outro lado, a proporção de panhias estaduais já instaladas e na ausência de
municípios com população superior a 50 mil ha- regras constitucionais que imponham a descentra-
bitantes no Ceará é um pouco superior à do lização — são muito superiores àqueles exigidos
Estado da Bahia: 11% e 8%, respectivamente para a municipalização da merenda escolar —
(Quadro 1). No entanto, o score de municipaliza- cuja operação exige reduzido montante de recur-
ção no Ceará é muito superior ao baiano: 14 sos. Do mesmo modo, variações no porte popula-
contra 8 (Quadro 5). Com base nestas compara- cional das cidades pode ser uma variável mais
ções, não é possível sustentar que a capacidade importante para a decisão pela municipalização
de gasto dos municípios possa ser uma variável das redes de ensino fundamental do que para a
independente capaz de, decisiva e isoladamente, municipalização da merenda escolar, uma vez
interferir no ritmo da municipalização dos progra- que, dadas as dimensões da mesma população
mas sociais. Não é possível afirmar que quanto escolar, são os custos de operação de cada uma
mais elevada a receita orçamentária dos municípi- destas políticas que variam.18
os de uma dada unidade da Federação, mais Assim, como já vimos, atributos estruturais
elevada seria a quantidade de municípios que das unidades de governo — como riqueza econô-
teriam disposição para aderir a programas estadu- mica, capacidade de gasto e capacitação adminis-
ais ou federais de municipalização. Também não trativa — fazem parte do conjunto de elementos
é possível afirmar o inverso, isto é, que quanto que entram no cálculo de uma administração local
POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL 133

quando da tomada de decisão pela assunção de elevada capacidade de mobilização podem revelar-
atribuições de gestão em uma dada política social. se insensíveis à natureza das pressões política dela
Mas, o peso de cada uma destas variáveis para a advindas.
decisão pode ser maior ou menor, a depender de
sua importância para a gestão da política em Descentralização e ação dos governos estaduais
questão. É certo que, para a estadualização de políti-
No entanto, a força determinante destes cons- cas, a orientação do executivo estadual é decisiva.
trangimentos pode ser compensada por estratégias Mas, também as probabilidades da municipalização
de indução eficientemente desenhadas e imple- aumentam quando os governos estaduais instituem
mentadas por parte do nível de governo interessa- mecanismos — políticas, programas e medidas de
do na descentralização. Para constituir as instâncias governo — que minimizem tais custos. Seja quando
colegiadas estaduais, variáveis tais como o PIB, o os programas federais instituem regras de operação
grau de participação de sua população em associ- que conferem autoridade aos governos estaduais
ações civis, ou mesmo a capacidade fiscal de cada na implementação de um dado programa,19 seja na
estado seguramente tiveram menor importância. ausência de tais prerrogativas, a ação dos governos
Isto porque se tratava de um programa dotado de estaduais pode influir decisivamente nos rumos da
uma estrutura de incentivos muito favorável à municipalização dos programas sociais no Brasil.
adesão: os custos de adesão são baixíssimos e os Por quê?
benefícios são elevados. Por outro lado, para que O Brasil é estruturalmente um país caracteri-
uma dada administração municipal tome a decisão zado pela existência de uma esmagadora maioria
de buscar enquadrar-se na condição de gestão de municípios fracos, com pequeno porte popula-
semiplena do SUS, variáveis tais como a pressão cional, densidade econômica pouca expressiva e
dos membros politicamente ativos da cidade e a significativa dependência de transferências fiscais.
capacidade fiscal do município podem ter uma Neste caso, a ação dos governos estaduais contribui
importância maior. Isto porque se trata de um decisivamente para compensar adversidades à pos-
programa que impõe razoáveis custos financeiros e sibilidade técnica de gestão destas políticas, obstá-
administrativos aos municípios, assim como as culos estes de ordem econômica ou fiscal ou,
dificuldades do Ministério da Saúde para sua imple- ainda, derivados das políticas prévias.
mentação efetiva contribuem para elevar o grau de É certo que há administrações municipais
incerteza das administrações municipais quanto à que, por sua densidade econômica, populacional e
“retaguarda” oferecida pelo governo federal. política, são mais independentes dos reforços ou
Em suma, variáveis de natureza estrutural e pressões dos governos estaduais. Há municípios
institucional são determinantes da descentraliza- brasileiros cujas características estruturais lhes per-
ção, na medida em que são elementos da tomada mitem assumir a gestão de programas sociais com
de decisão pela qual uma dada administração virá algum grau de autonomia em relação aos incenti-
a assumir (ou não) a gestão de uma política qual- vos advindos dos demais níveis de governo. A
quer. São fatores do cálculo realizado por uma partir de um dado patamar de riqueza econômica
dada administração, mas não constituem, em si e capacitação político-administrativa, o impacto
mesmas, variáveis definitivas para a transferência das estratégias de indução sobre os governos locais
de atribuições. Em primeiro lugar, a importância pode vir a tornar-se cada vez menos decisivo.
dos atributos estruturais varia de acordo com os Mas, esta não é a realidade da maioria dos
atributos institucionais das políticas. E, além disto, municípios brasileiros. Ao contrário, dotado de
para o desempenho de funções de gestão na área uma esmagadora maioria de municípios de peque-
social, obstáculos de natureza econômica ou fiscal no porte e historicamente dependentes da capacita-
podem ser compensados pela ação política delibe- ção institucional dos governos estaduais e federal
rada de níveis mais abrangentes de governo, assim para a prestação de serviços sociais, o Brasil, para
como governos eleitos em estados ou regiões com reformar — ou descentralizar — seu Sistema de
134 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 14 No 40

Proteção Social, depende da ação política delibera- relativa independência dos incentivos derivados da
da dos níveis mais abrangentes de governo. ação do governo estadual. No entanto, neste esta-
Assim, para que os estados do Ceará e Paraná do, não ocorreu uma política continuada de
alcançassem os mais elevados graus de descentra- descentralização. Na gestão Miguel Arraes (1987-
lização da amostra, foi decisivo que seus sucessivos 1990), quando as perspectivas da descentralização
governos estaduais tenham instituído políticas ati- ainda estavam sendo esboçadas no cenário nacio-
vas e continuadas de capacitação municipal e de nal, o governo estadual empreendeu algumas me-
transferência formal de atribuições de gestão a seus didas de municipalização, descentralização e des-
municípios. Esta ação do executivo estadual foi concentração administrativa associadas fortemente
mais decisiva para as taxas de municipalização do à participação. No governo seguinte, quando co-
que o fato de que, no Estado do Ceará, apenas 11% meçavam a ser implementados alguns dos progra-
de seus municípios tenham mais de 50 mil habitan- mas federais de municipalização, a ação do gover-
tes e que apenas esta classe de municípios nos no estadual foi desfavorável à municipalização.
estados do Nordeste disponha de uma receita Finalmente, na atual gestão, observa-se novamente
própria média superior a R$ 10 per capita, ou ainda uma orientação favorável. Neste caso, portanto,
que, no caso do Estado do Paraná, apenas 8% de dada a intermitência da ação do governo estadual,
seus municípios tenham população superior a 50 fatores de natureza estrutural — econômicos, fis-
mil habitantes e uma receita própria média superior cais e o legado de políticas prévias — pesaram mais
a R$ 53.20 fortemente.
O Estado do Rio Grande do Sul, com caracte- Finalmente, o Estado de São Paulo é aquele
rísticas econômicas e populacionais equivalentes cujos municípios contam com as mais elevadas
às paranaenses e dotado de taxas de participação taxas de receita orçamentária do país; quer tome-
em associações civis mais elevadas, foi gerido, no mos a receita disponível, quer tomemos a receita
período 1983-1994, por sucessivas administrações própria, estas são no mínimo quatro vezes superi-
que pouco ou nenhum incentivo deram à munici- ores às taxas dos estados nordestinos. Este estado
palização das políticas sociais. A natureza da ação conta ainda com cerca de 16% de seus municípios
dos executivos estaduais gaúchos foi decisiva para com população superior a 50 mil habitantes (Qua-
que o estado tenha alcançado tão baixas taxas de dro 1), o que permite inferir que tais municípios
descentralização. podem tomar suas decisões com maior grau de
O Estado da Bahia, com apenas 8% de seus independência em relação às estratégias de indu-
municípios com população superior a 50 mil habi- ção advindas do executivo estadual. Em outras
tantes, em uma região cuja receita própria média palavras, o fato de que as taxas de municipalização
per capita dos municípios com tamanho populaci- neste estado sejam superiores às taxas pernambu-
onal inferior a esta cifra é inferior a R$ 10, foi gerido canas — a despeito da ausência de qualquer
por sucessivos governos desfavoráveis à municipa- política de municipalização por parte do governo
lização. Com escassos recursos próprios e sem estadual — pode ser explicado pelo fato de que, no
incentivos por parte do governo estadual, não é de Estado de São Paulo, há um maior número de
estranhar que estejam aí as mais baixas taxas de municípios cujas características estruturais permi-
municipalização da amostra. Dito de outro modo, tem que a variável “ação do executivo estadual”
dados os atributos estruturais da esmagadora maio- seja menos decisiva como elemento do cálculo
ria dos municípios no Estado da Bahia, a possibili- realizado pelas administrações municipais para a
dade de descentralização efetiva das políticas soci- tomada de decisão pela assunção de funções de
ais supõe necessariamente políticas ativas e conti- gestão em uma dada política social.
nuadas de capacitação municipal. As “estratégias de indução dos executivos
No Estado de Pernambuco, 14% de seus estaduais” são, na verdade, o resultado de um
municípios teriam, hipoteticamente, maior proba- conjunto de variáveis — tais como a orientação
bilidade de assumir a gestão de programas com do governador e do secretário estadual, a ação
POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL 135

das burocracias do setor, a pressão dos interesses esmagadora maioria de municípios fracos, a capa-
organizados em conjunturas específicas e a pró- cidade fiscal e administrativa das administrações
pria pressão dos municípios — que não estão locais influi no processo de reforma. Isto porque as
sendo analisadas neste trabalho.21 Em outras pa- próprias capacidades para assumir a responsabili-
lavras, a variável “ação do executivo estadual” é dade pública pela gestão de um dado programa
uma variável dependente de um conjunto de ou- social entram como um dos elementos do cálculo
tras variáveis, mas está sendo considerada aqui que realizam as administrações locais com vistas à
como uma variável independente para explicar tomada de decisão.
diferentes graus de descentralização de políticas Mas, estes fatores não são determinantes em
sociais. si. Seu peso varia de acordo com os requisitos
postos pelos atributos institucionais das políticas
que se pretende descentralizar, vale dizer, de
Conclusões
acordo com os custos operacionais implicados em
O Sistema Brasileiro de Proteção Social vem sua gestão, com as dificuldades à transferência de
modificando radicalmente seu formato institucional atribuições derivadas do legado das políticas prévi-
nestes anos 90. Mas, esta reforma está longe de ser as e com as prerrogativas legais estabelecidas
homogênea para as diversas políticas e para o constitucionalmente.
território nacional. Há grande variação no que diz Estas variáveis — atributos estruturais dos
respeito à extensão do processo de descentraliza- governos locais e requisitos institucionais das po-
ção entre as diversas políticas sociais e entre os líticas — são elementos decisivos do cálculo rea-
distintos estados brasileiros. lizado por cada administração local com vistas à
Em primeiro lugar, o contexto institucional decisão de assumir funções de gestão em cada
em que se vem realizando esta dimensão da re- política particular. Quanto mais elevados forem os
forma do Estado brasileiro é inteiramente distinto custos implicados na gestão de uma dada política
daquele sob o qual se consolidou o Sistema Bra- e mais reduzidos os benefícios dela derivados,
sileiro de Proteção Social, durante o regime mili- menor será a propensão dos governos locais a
tar. A retomada das eleições diretas para todos os assumirem competências na área social. Simetri-
níveis de governo, bem como a descentralização camente, quanto mais reduzidos os custos e mais
fiscal e a definição dos municípios como entes elevados os benefícios implicados na descentrali-
federativos autônomos na Constituição de 1988 zação da gestão, maior será a propensão dos
modificaram a natureza das relações intergoverna- governos locais a aderirem a um processo de
mentais e, por extensão, tiveram impacto sobre o (re)definição de atribuições. Evidentemente, o
processo de redefinição de competências na área peso e importância destes fatores variam para
social. Sob o Estado federativo pós-1988, os go- cada administração local e com relação a cada
vernos locais são de fato politicamente soberanos política particular.
e aderem à descentralização com base em um No entanto, estratégias de indução eficiente-
cálculo em que são avaliados os custos e benefí- mente desenhadas e implementadas por parte dos
cios prováveis desta decisão. Isto implica que, níveis de governo interessados nas reformas po-
para obter a adesão dos governos locais a um dem compensar obstáculos à descentralização de-
programa de transferência de atribuições, gover- rivados dos atributos estruturais de estados e mu-
nos centrais devem implementar estratégias bem- nicípios ou dos atributos institucionais das políti-
sucedidas de indução. cas. Dito de outro modo, estratégias de indução
Nestas condições, em um processo de refor- que minimizem custos ou tragam benefícios ao
ma do Estado no qual se reconfigura o desenho nível de governo que assumirá a gestão de uma
institucional de um modelo nacional de prestação dada política alteram os termos do cálculo apre-
de serviços sociais, sob um Estado federativo com sentado acima, em que os componentes da deci-
marcadas diferenças regionais e dotado de uma são eram apenas fatores relacionados aos atribu-
136 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 14 No 40

tos dos governos locais e das políticas a serem No Brasil, há municípios cujos atributos estru-
adotadas. Assim, ao contrário das análises que turais lhes permitiriam assumir a gestão de políticas
consideram que uma reforma desta extensão pu- sociais sem incentivos derivados de estratégias de
desse ocorrer a partir de iniciativas espontâneas indução advindas dos níveis mais abrangentes de
dos governos locais, ou ainda, ao contrário das governo. Nestes casos, estratégias de indução po-
expectativas que julgavam ser suficiente descen- dem até mesmo ser desnecessárias. Mas, a grande
tralizar recursos e liberar as unidades subnacio- maioria dos municípios brasileiros caracteriza-se
nais de governo das “amarras” do governo cen- por baixa capacidade econômica, expressiva de-
tral, este trabalho concluiu que estratégias de in- pendência das transferências fiscais e fraca tradição
dução eficientemente desenhadas e implementa- administrativa. Nestas condições, programas de
das são decisivas para o sucesso de processos de descentralização desenhados de forma a minimizar
transferência de atribuições. os custos financeiros e administrativos de gestão
Isto implica que, para que uma estratégia de passam a ter um peso decisivo na decisão das
indução seja bem-sucedida, é necessário que os administrações locais. Dado que a esmagadora
níveis de governo interessados nas reformas te- maioria dos municípios brasileiros tem baixa capa-
nham disposição — isto é, tomem decisões favorá- cidade financeira e administrativa, o sucesso de um
veis a programas de descentralização — e meios — programa abrangente de reforma do Estado que
isto é, contem com recursos financeiros, políticos e implique o (re)desenho do modelo nacional de
administrativos — para implementar políticas cujo prestação de serviços sociais depende, necessaria-
desenho institucional obtenha a adesão dos demais mente, da implementação de estratégias delibera-
níveis de governo. das e adequadas de incentivo à adesão dos gover-
A extensão da descentralização em cada esta- nos locais. Ou seja, não basta aumentar as fontes
do depende ainda, diretamente, da ação dos execu- autônomas de recursos das unidades locais da
tivos estaduais, isto é, quanto maior for o grau de Federação ou transferir recursos de uma maneira
coincidência das ações dos níveis mais abrangentes geral para que essas unidades passem a assumir
de governo — no nosso caso, governo federal e funções de gestão das políticas sociais. Da mesma
governos estaduais —, maior será o alcance da forma, não basta a existência de recursos adminis-
municipalização em cada unidade da Federação. trativos, freqüentemente herdados de políticas im-
Quando se trata de municipalizar atribuições de plementadas de forma centralizada, para que estes
gestão, estratégias eficientemente implementadas sejam postos na operação de programas e serviços
por parte do governo federal são decisivas. Mas, a sociais.
ação dos executivos estaduais também o é, na Na mesma direção, o escopo da descentrali-
medida em que políticas favoráveis à municipaliza- zação depende diretamente da continuidade no
ção minimizam os custos prováveis que a assunção tempo da implementação de estratégias de indu-
de tais atribuições tende a acarretar. Simetricamen- ção destinadas a compensar obstáculos derivados
te, a ausência de tais políticas implica que cada da (in)capacidade fiscal e/ou administrativa dos
administração municipal deverá arcar sozinha com governos locais. Políticas continuadas de capacita-
tais custos. Nestes casos, portanto, variáveis como ção municipal revelaram-se decisivas para expli-
“a capacidade fiscal dos governos locais”, “o porte car variações no escopo da transferência de atri-
socioeconômico das localidades”, “a natureza da buições sociais às administrações municipais em
política” e a “capacidade técnica instalada em cada cada estado.
unidade de governo” tendem a operar sem o
contrapeso da variável “ação política deliberada”.
Sem políticas deliberadas de transferência de atri-
buições, a importância e o peso das variáveis acima
tendem a reproduzir as condições previamente
existentes.
POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL 137

NOTAS 9 Penso que indicadores de cobertura e de capacitação


institucional são superiores a indicadores de gasto para
examinar se um nível de governo está efetivamente
1 Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS): fundo assumindo a gestão de uma dada política social. Apre-
federal obtido da arrecadação compulsória de 8% sobre sento argumentos em favor desta proposição em Arret-
a folha salarial e vinculado ao financiamento dos pro- che (1998).
gramas federais de desenvolvimento urbano: habitação,
saneamento e infra-estrutura urbana. 10 Observe-se aqui, novamente, a distinção entre política e
programa adotada pelo modelo de análise empregado
2 Sistema Único de Saúde (SUS): programa federal que neste trabalho. A trajetória das políticas de saneamento
pretende implantar um modelo descentralizado e hie- básico e habitação popular está sendo analisada em dois
rarquizado de prestação de serviços de saúde. Para momentos distintos: o período 1987-1994, no qual não
implementar a descentralização, o programa estabelece havia um programa federal de descentralização (linhas
que cada estado ou município poderá optar por enqua- 1 e 2 do Quadro 2), e o período posterior a 1995,
drar-se em diferentes condições de gestão, às quais quando o governo federal implementa um programa de
correspondem diferentes funções a serem desempenha- descentralização da alocação dos recursos do FGTS
das, em graus crescentes de complexidade. (linha 3 do Quadro 2) que afeta igualmente a trajetória
3 “Descentralização”, aqui, significa, genericamente, a destas duas políticas setoriais.
“institucionalização no plano local de condições técni- 11 Na verdade, as condições para ter acesso efetivo aos
cas para a implementação de tarefas de gestão de recursos do FGTS permanecem bastante rigorosas. As
políticas sociais”. Assim, é indiferente se esta toma a instâncias estaduais passaram a ter poder para decidir
forma da estadualização e/ou da municipalização. A quais são os projetos prioritários no estado, mas a
noção de “local” estará, na verdade, referida à unidade capacidade de endividamento dos solicitantes, analisa-
de governo para a qual se pretende transferir atribui- da pelas agências federais, pode barrar o acesso aos
ções. Por exemplo, nas políticas educacional e de empréstimos.
saúde, os programas de descentralização têm como
meta municipalizar a gestão de determinadas tarefas. 12 Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação,
Nestes casos, a descentralização é entendida como órgão que substituiu a antiga Fundação de Apoio ao
municipalização. Diferentemente, na política habitacio- Estudante (FAE) na gestão do programa federal de
nal, a perspectiva era de que se constituíssem sistemas alimentação escolar.
estaduais de prestação de serviços; neste caso, a descen- 13 Lei Orgânica da Assistência Social, legislação aprovada
tralização é encarada como estadualização da política em 1993 que regulamenta o processo de descentraliza-
habitacional. ção na área de assistência social.
4 Nos programas de merenda escolar e do livro didático, 14 Como unidade de comparação para o PIB estadual foi
a compra do material era realizada pelas agências do calculada a média dos valores absolutos per capita para
governo federal e, posteriormente, distribuída pelo o período 1987-1994, dado que este período é quase
território nacional, o que dá uma idéia de seu grau de equivalente àquele sobre o qual foi realizada a análise
centralização, uma vez que o transporte de alimentos dos casos (ver Quadro 1).
adquiridos de forma centralizada em um país com
dimensões continentais é indiscutivelmente irracional. 15 Seguramente, na taxa de 52% de filiação a associações
voluntárias há um problema de superestimação, dado
5 Por exemplo, a oferta de unidades residenciais é indis- que este indicador foi obtido pela soma dos que
cutivelmente mais cara do que a oferta de merendas declararam “sim” à filiação a associações de bairros ou
escolares. de moradores, a associações religiosas ou filantrópicas e
6 Políticas constitucionalmente garantidas como univer- a associações esportivas ou culturais. A operação de
sais tendem a exigir um maior aporte de recursos, dada soma, neste caso, pode contabilizar três vezes um
a obrigatoriedade de ofertá-las em grande escala e mesmo declarante com triplo pertencimento. Mas, por
dados os custos políticos de não produzí-las na escala outro lado, esta distorção está igualmente dada para
compatível com o princípio da universalidade. todos os estados da amostra.
7 Observe-se no Quadro 1 que, a rigor, a “municipaliza- 16 No caso brasileiro, dada a expressiva redistribuição
ção dos serviços de saneamento básico” e a “emergên- inter-regional de recursos viabilizada pelo sistema fiscal,
cia de sistemas estaduais de habitação” envolvem “não- o comportamento das variáveis “riqueza econômica” e
programas”. “capacidade fiscal dos governos” pode ser distinto, o
que implica que, para efeitos de comparação, é neces-
8 O SUS é o grande projeto de reforma na área da saúde; sário tomar indicadores diferentes para cada uma destas
mas, para analisar os resultados deste programa, que en- duas variáveis.
volve a descentralização de uma variedade de ações em
saúde, foram considerados dois “programas”: o processo 17 Este indicador permite observar a capacidade média de
de habilitação municipal ao SUS e a municipalização das gasto do conjunto dos municípios de cada estado,
consultas médicas. Estes são os “programas” de descen- contornando a possível distorção das informações deri-
tralização examinados no interior da área da saúde. vada da expressiva superioridade de gasto das capitais
138 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 14 No 40

em cada estado vis-à-vis os municípios do interior. BIBLIOGRAFIA


Além disto, excluída a capital, a unidade de comparação
entre os estados não é a média da receita disponível per
capita, mas a receita disponível por município. Neste ABRUCIO, Fernando Luiz. (1994), “Os barões da
caso, à receita orçamentária do conjunto dos municípios Federação”. Lua Nova, 33: 165-83.
de cada estado foi subtraída a receita das capitais e, em AFFONSO, Rui de Britto Álvares. (1990), “A ruptura do
seguida, a capacidade de gasto média dos municípios padrão de financiamento do setor público e a
do estado foi calculada sobre o total de municípios que
crise do planejamento no Brasil nos anos 80”.
declararam suas receitas à Secretaria do Tesouro Nacio-
nal, com informações disponíveis para o período 1989- Planejamento e Políticas Públicas, 4: 37-66.
1995 (Quadro 1). AFFONSO, Rui de Britto Álvares e SILVA, Pedro Luiz
18 Observe-se, novamente, a utilidade de distinguir “pro- Barros (orgs.). (1995), Desigualdades regio-
gramas” e “áreas de política social” no modelo de nais e desenvolvimento. São Paulo, Fundap/
análise empregado neste trabalho, pois municipalização Unesp.
das matrículas e merenda escolar são “programas”
diferentes no interior de uma mesma “área de política
AFONSO, José Roberto Rodrigues. (1992), “Sistema
social”. Suas trajetórias variam porque seus requisitos tributário, federalismo e a revisão constitucio-
institucionais são distintos. nal de 1993”. Tributação em Revista, 1(2): 37-
46.
19 Por exemplo, a habilitação dos municípios ao SUS é
operacionalizada por uma comissão bipartite estadual, a __________. (1995), Notas para o debate: a questão
partir de uma normatização federal. As regras de funci- tributária e o financiamento dos diferentes
onamento desta comissão dão ampla margem de mano- níveis de governo. Trabalho apresentado ao
bra aos secretários estaduais de Saúde. Na mesma seminário Impasses e Perspectivas da Federa-
direção, os recursos do programa federal de municipa- ção no Brasil, realizado pela Fundap em São
lização da assistência social, até o final de 1997, eram
Paulo.
repassados às secretarias estaduais de Assistência Social
que, por esta via, podiam sinalizar às administrações AFONSO, José Roberto Rodrigues e SENRA, Nelson
municipais se valia a pena aderir ao programa federal. de Castro. (1994), “Despesa pública. Compe-
20 Para a proporção de municípios com população superi- tências, serviços locais, descentralização: o
or a 50 mil habitantes em cada estado da amostra, ver papel dos municípios”. Texto para Discussão
Quadro 1. Para os dados de receita corrente própria em CEPP, Rio de Janeiro, CEPP, 23, datilo.
cada região brasileira, ver Gomes e Mac Dowell (1997).
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das por governos, respectivamente, do PMDB e do ANDRADE, Ilza Araújo Leão de. (1996), Descentraliza-
PSDB. Contudo, no Estado de São Paulo, sucessivas ção e poder municipal no Nordeste: os dois
gestões do PMDB e o atual governo do PSDB não lados da nova moeda. Trabalho apresentado
adotaram políticas ativas nesta direção. Da mesma ao GT de Políticas Públicas no XX Encontro
forma, os governos do PMDB no Rio Grande do Sul e na Nacional da Anpocs, datilo.
Bahia no período 1987-1990 também não implementa-
ram políticas ativas de municipalização. Em outras ANJOS JR., Moacir dos (coord.). (1996), Balanço e
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