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A história das políticas

públicas no Brasil

Descentralização e as
novas
responsabilidades dos
governos municipais
Thelma Santos - UEPB
• Período Republicano (1889-
A lenta construção de atual)
um Sistema Brasileiro ✓ República Velha (1889-1930)
✓ Era Vargas (1930-1945)
de Proteção Social ✓ República Populista (1945-1964)
✓ Regime Militar (1964-1985)
✓ Nova República (1985-atual)

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Arretche (1999) explica que durante o regime militar, as
práticas do Estado brasileiro se aproximavam muito mais
de um Estado unitário do que de uma federação, e foi um
Estado dotado destas características que consolidou o
Sistema Brasileiro de Proteção Social.
Esta forma de Estado moldou uma das principais
características institucionais do Sistema brasileiro: sua
centralização financeira e administrativa.

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O movimento pela
redemocratização
no Brasil
“A Constituição de 1988 instituiu o arcabouço jurídico que
permitiu a consolidação do regime democrático no Brasil.
Um conjunto de direitos sociais foi ali estabelecido como
resultado de um longo e conflituoso processo de
mobilizações sociais e políticas que marcaram os anos
1970 e 1980. Nessa trajetória, buscou-se ampliar o
envolvimento dos atores sociais nos processos de decisão
e implementação das políticas sociais, respondendo a
demandas em torno da descentralização e da
democratização do Estado brasileiro” (SILVA, JACCOUD e
BEGHIN, 2005, p. 373) .

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“A constituição de 1988 trouxe
entre outros resultados a
restauração do federalismo, com
o reconhecimento dos
municípios como entes
federativos, ao lado da União e
dos estados-membros. O
princípio da descentralização
administrativa e política incluiu
também os municípios [...]”
(SALLES, 2013, p.155).

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“Em Estados federativos, estados e municípios — porque
dotados de autonomia política e fiscal — assumem funções
de gestão de políticas públicas ou por própria iniciativa, ou
por adesão a algum programa proposto por outro nível
mais abrangente de governo, ou ainda por expressa
imposição constitucional. Assim, a transferência de
atribuições entre níveis de governo supõe a adesão do
nível de governo que passará a desempenhar as funções
que se pretende que sejam transferidas. A recuperação das
bases federativas do Estado brasileiro tem impacto sobre o
processo de descentralização das políticas sociais no país ”
(ARRETCHE,1999, p. 114).

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O Processo de
Descentralização
no Brasil
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É nos municípios que “os
cidadãos exercem em
primeiro lugar sua
cidadania, entram em
contato com as questões
que os afetam e
participam da vida
pública, mesmo quando a
participação é orientada
para os temas mais
amplos, nacionais”
(SALLES, 2013, p.155).
O aprofundamento
da municipalização
• Crise fiscal e distribuição
das competências
tributárias.
• Iniciativas do governo
federal no sentido de
transformar os governos
locais nos principais
responsáveis pelos serviços
universais de saúde e
educação fundamental.

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Anos 1990
• A “crise do Estado”
• O fortalecimento do
ideário Neoliberal
• Reforma gerencial das
políticas sociais
• Fortalecimento das
parcerias público
privadas.

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Recursos municipais
+ Transferências federais garantidas pela Constituição de 1988:
Recursos do Imposto de Renda (IR) e do imposto sobre
produtos industrializados (IPI) que compõem o Fundo de
participação do município (FPM);
+ O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de
Serviços (ICMS), de competência do governo estadual;
+ Recursos para o desenvolvimento de políticas sociais
universais;
+ Recursos próprios dos municípios, oriundos dos impostos
locais, como o Imposto sobre serviços (ISS) e o Imposto sobre
propriedade territorial urbana (IPTU).

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Apesar dos avanços garantidos pelo processo de
redemocratização, Arretche (1999, p. 112) alerta que “nas
condições brasileiras, não é suficiente que a União se retire
da cena para que, por efeito das novas prerrogativas fiscais
e políticas de estados e municípios, estes passem a assumir
de modo mais ou menos espontâneo competências de
gestão. Na mesma direção, a descentralização das políticas
sociais não é simplesmente um subproduto da
descentralização fiscal, nem das novas disposições
constitucionais derivadas da Carta de 1988”.

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As causas por trás da variação do grau de
descentralização
Através de suas investigações, Arretche (1999, p. 112)
explicita que “no caso brasileiro — um Estado federativo,
em um país caracterizado por expressivas desigualdades
estruturais de natureza econômica, social, política e de
capacidade administrativa de seus governos —, atributos
estruturais das unidades locais de governo, tais como a
capacidade fiscal e administrativa e a cultura cívica local,
têm um peso determinante para a descentralização. Mas,
tais fatores não são determinantes em si”.

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“Seu peso e importância variam de acordo com requisitos
institucionais postos pelas políticas a serem assumidas
pelos governos locais, tais como o legado das políticas
prévias, as regras constitucionais e a própria engenharia
operacional de cada política social” (ARRETCHE,1999, p.
112).
“No entanto, a ação política deliberada, vale dizer,
estratégias de indução eficientemente desenhadas para
delegar a outro nível de governo a responsabilidade pela
gestão destas políticas, pode compensar obstáculos à
descentralização derivados daqueles fatores de natureza
estrutural ou institucional” (ARRETCHE,1999, p. 112).

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Descentralização,
democracia,
heterogeneidade
socioeconômica e
demográfica e
desigualdades

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Ainda de acordo com Arretche (1999), o nível de riqueza
econômica ou o PIB, o porte dos municípios, a participação
política (cultura cívica da população), a capacidade fiscal
dos governos, a participação política e a capacidade de
gasto não são variáveis que isoladamente contribuem para
o maior nível de descentralização das políticas sociais.
Entretanto, a ação política e a ação dos governos estaduais
aparecem nos estudos da autora como variáveis
promotoras da municipalização das políticas sociais.

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“[...] nas condições brasileiras atuais, a adesão dos
governos locais à transferência de atribuições depende
diretamente de um cálculo no qual são considerados, de
um lado, os custos e benefícios fiscais e políticos derivados
da decisão de assumir a gestão de uma dada política e, de
outro, os próprios recursos fiscais e administrativos com os
quais cada administração conta para desempenhar tal
tarefa” (ARRETCHE,1999, p. 115).

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“Em um Estado federativo, caracterizado pela efetiva
autonomia política dos níveis subnacionais de governo, a
assunção de atribuições em qualquer área de políticas
públicas — na ausência de imposições constitucionais —
está diretamente associada à estrutura de incentivos
oferecida pelo nível de governo interessado na
transferência de atribuições” (ARRETCHE,1999, p. 119).

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“Mas, não é a simples ‘presença ou ausência de programas’
que define a extensão da descentralização [...] o grau de
sucesso de um programa de descentralização está
diretamente associado à decisão pela implantação de
regras de operação que efetivamente incentivem a adesão
do nível de governo ao qual se dirigem” (ARRETCHE,1999,
p. 119).

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Ademais, “[...] dotado de uma esmagadora maioria de
municípios de pequeno porte e historicamente
dependentes da capacitação institucional dos governos
estaduais e federal para a prestação de serviços sociais, o
Brasil, para reformar — ou descentralizar — seu Sistema de
Proteção Social, depende da ação política deliberada dos
níveis mais abrangentes de governo.” (ARRETCHE,1999, p.
133-134).

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“Políticas continuadas de capacitação municipal revelaram-
se decisivas para explicar variações no escopo da
transferência de atribuições sociais às administrações
municipais em cada estado” (ARRETCHE,1999, p. 133-134).

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“Apesar do reconhecimento de que a descentralização não
garante por si só a Democracia e de que ela trouxe alguns
efeitos indesejáveis, é preciso ressaltar que ela concorreu
para o fortalecimento do município, a ampliação de sua
autonomia e a valorização do governo local. Não é pouco
num país de tradição autoritária em que, ao longo da
história, o município não ocupou lugar de destaque na
partilha de poder na federação” (SALLES, 2013, p.157).

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Democracia Participativa x
Democracia Representativa?
Desgaste ou crise da
Democracia
Representativa e a
participação das
organizações da
sociedade no processo
político como
complemento à
representação.
“[...] a Constituição alargou o projeto de democracia,
compatibilizando princípios da democracia representativa
e da democracia participativa, e reconhecendo a
participação social como um dos elementos-chave na
organização das políticas públicas” (SILVA, JACCOUD e
BEGHIN, 2005, p. 374) .

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“A Constituição de 1988 criou vários mecanismos para o
exercício da Democracia Direta (referendo, plebiscito, leis
de iniciativa popular), além de estabelecer o sistema
representativo; por isso, nossa Democracia pode ser
chamada de semidireta” (BENEVIDES, 1991 apud SALLES,
2013, p.159)

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O que são
projetos de lei
de iniciativa
popular?

O que são projetos de lei


de iniciativa popular?

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A Constituição de 1988 assegurou aos cidadãos o direito
de apresentarem projetos de lei nas seguintes condições:

+ O projeto tem que receber a assinatura de apoio de


pelo menos 1% dos eleitores brasileiros;
+ Divididos entre cinco estados;
+ Com, no mínimo, 0,3% do eleitorado de cada um dos
estados.

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Dimensões da participação social

+ Participação social nos espaços de debate, deliberação e


controle das políticas sociais;
+ Participação na execução destas políticas.

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Sentidos da participação
+ A participação social promove transparência na deliberação
e visibilidade das ações, democratizando o sistema
decisório;
+ A participação social permite maior expressão e
visibilidade das demandas sociais, provocando um avanço
na promoção da igualdade e da equidade nas políticas
públicas; e
+ A sociedade, por meio de inúmeros movimentos e formas de
associativismo, permeia as ações estatais na defesa e
alargamento de direitos, demanda ações e é capaz de
executá-las no interesse público (SILVA, JACCOUD e BEGHIN,
2005).

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Mecanismos que buscam promover
a participação social
+ Conselhos
+ Conferências
+ Fóruns
+ Câmaras
+ Comissões
+ Ouvidorias.

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Conselhos nacionais
No Sistema Brasileiro de Proteção Social (SBPS), existem
conselhos nacionais que contam com a participação da
sociedade, cobrindo políticas setoriais como: educação,
saúde, trabalho, previdência social, assistência social,
segurança alimentar, cidades e desenvolvimento rural
(SILVA, JACCOUD e BEGHIN, 2005, p.379-380).

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Categorias dos Conselhos Nacionais

+ Conselhos gestores amplos


+ Conselhos consultivos
+ Conselhos gestores tripartites

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Os Conselhos
Municipais
“Segundo Avritzer (2007),
surgiram no país, após a
redemocratização, formas de
representação não eleitoral, ou
representação por afinidade,
categoria na qual se incluem os
Conselhos Municipais” (SALLES,
2013, p.160).

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Características dos Conselhos
+ Instituições híbridas (há participação do Executivo e de
atores da sociedade civil);
+ São órgãos públicos do Poder Executivo local;
+ São dotados de natureza própria, são independentes,
colegiados e deliberativos;
+ Novo formato de interação entre Estado e sociedade.

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Atribuições dos conselhos
+ Propor
+ Fiscalizar A execução das
+ Controlar políticas públicas
setoriais.
+ Deliberar

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“Um dos efeitos da atuação dos conselhos é a
reivindicação pela inclusão de novos atores no processo de
participação e na demanda pela inserção de novos temas
na agenda pública. Em geral, a participação ampliada tem
esse efeito de trazer à baila temas até então ignorados
pelo sistema político” (SALLES, 2013, p.164).

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“[...] os Conselhos fazem a interface entre a democracia
participativa e a representativa” (SALLES, 2013, p.165).

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Tipos de conselhos
+ Conselhos de Programas
+ Conselhos de Políticas
+ Conselhos temáticos

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Benefícios dos Conselhos
+ O Estado ganha em transparência quando suas decisões
e orientações são discutidas e seus procedimentos e
ações acompanhados;
+ A população ganha em experiência de exercer sua
cidadania;
+ As decisões estatais se tornam mais democráticas.

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Limites e vícios dos Conselhos
+ Dificuldade de manter-se como espaços efetivos de diálogo
entre sociedade e governantes;
+ Práticas antidemocráticas por parte de alguns gestores
públicos;
+ Captura dos espaços participativos por interesses privados
ou corporativos;
+ Predominância do Executivo nos processos decisórios;
+ Falta de interesse e de preparação da sociedade para ocupar
esses espaços;
+ Papel mais consultivo que deliberativo.

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“Mas, a despeito de todos os problemas enumerados, os
conselhos têm tido relevante papel pedagógico, no
sentido da educação para a democracia” (TATAGIBA, 2002
apud SALLES, 2013, p.165).

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Planejamento:
Compatível com
a participação?
O caráter
político do
planejamento
Tecnocracia Democracia

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A importância da Lei
Orgânica Municipal para
a determinação dos
instrumentos e formas de
participação popular.
Conflitos na participação
popular do orçamento
público municipal

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Aspectos mais relevantes do OP
+ A democratização do processo decisório quanto a
distribuição de recursos;
+ A submissão das estruturas do Estado ao controle direto da
população;
+ A inversão das prioridades das políticas públicas, colocando
os bairros mais carentes como os de atendimento prioritário;
+ A função pedagógica em relação à Democracia Participativa.

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Lembrando que não basta a participação no momento da
montagem do orçamento; é fundamental o
acompanhamento da execução orçamentária!

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Os órgãos
Oficiais de
controle
Ministério Público
Com a CF/88, a tarefa de
fiscalizar o cumprimento da lei,
agora em defesa da sociedade,
passou a ser função atribuída
ao MP. Para atuar como
advogado ou defensor da
sociedade, o MP adquiriu
autonomia administrativa e
funcional frente ao Executivo.

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O Tribunal de
Contas
O Tribunal de Contas foi instituído
especialmente para o controle
dos orçamentos públicos. É um
órgão auxiliar do Poder legislativo,
e não do Poder Judiciário. De
natureza administrativa, sua
finalidade é fiscalizar a atividade
financeira da administração
pública.

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A Constituição de 1988 proíbe a criação de Tribunais e de
Conselhos de Contas na esfera municipal;
Para realizar o controle externo à administração no caso
dos municípios contamos com as Câmaras Municipais, com
apoio do Tribunal de Contas do Estado ou dos Conselhos;
Assim como o Ministério Público, o Tribunal de Contas é
um importante aliado dos cidadãos na luta por seus
direitos, entre os quais o de acesso à informação sobre o
uso dos recursos públicos de cuja arrecadação participa
como contribuinte (SALLES, 2013).

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Cidadania
restrita x
Cidadania
ampliada?

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“A consolidação e o aprimoramento da Democracia em
nosso país incluem entre seus requisitos essenciais a
efetiva participação dos cidadãos no processo político, ao
lado dos mecanismos já consolidados da representação”
(SALLES, 2013).

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Referências bibliográficas
• SALLES, H. da M. Município e Democracia
Participativa. In: SANABIO, M. T.; SANTOS, G. J.
dos; DAVID, M. V. Administração Pública
Contemporânea: política, democracia e gestão.
Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2013, p. 151-174.
• ARRETCHE, M. T. S. Políticas sociais no Brasil:
descentralização em um Estado federativo.
RBCS, v.14, n. 40, pp.111-141, 1999.

• SILVA, F. B. da; JACCOUD, L.; BEGHIN, N.


Políticas Sociais no Brasil: participação social,
conselhos e parcerias. In: Questão Social e
Políticas Sociais no Brasil Contemporâneo.
Brasília: Ipea, 2005, p. 373-407.

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