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Caps. 1-7
LEANDRO LIMA
© Leandro Lima
Projeto Gráfico
Vanessa Sousa
Editora Agathos
Revisão
Carlos Henrique
ISBN: 978-85-99704-18-9
2015
Todos os direitos reservados e protegidos
pela Lei 9.610 de 19/02/1998.
Agathos Editora
(011) 5521-4495
Exposição do Apocalipse
Caps. 1-7
LEANDRO LIMA
1ª Edição
2015
4 EXPOSIÇÃO DO APOCALIPSE
SUMÁRIO
Caps. 1-7
11 O LIVRO E O CORDEIRO 87
BIBLIOGRAFIA 127
SUMÁRIO 5
6 EXPOSIÇÃO DO APOCALIPSE
PARTE 1: AS SETE IGREJAS
Ap 1.1-3.22
SUMÁRIO 7
8 EXPOSIÇÃO DO APOCALIPSE
1
Apocalipse 1.1-3
10 EXPOSIÇÃO DO APOCALIPSE
“face a face”. Eles testemunharam que João, o que, sem dúvida, era algo singular para o pri-
Apóstolo, era o autor do Apocalipse. meiro século, quando a expectativa de vida era
de 38 a 45 anos.
A evidência interna, além da identificação ex-
plícita do autor que se denomina João, vem II. O ESTILO APOCALÍPTICO
das semelhanças do Apocalipse com os ou-
tros escritos atribuídos ao Apóstolo (Evange- Toda a Bíblia é revelação inspirada por Deus.
lho e Cartas). Há, todavia, diferenças gramati- Mas o Apocalipse é uma revelação especial
cais entre os referidos escritos. O Apocalipse dentro desta revelação, porque ele tem cará-
tem um estilo gramatical mais “pobre” do que ter e peculiaridade exclusivos, que não serão
o do Evangelho e o das cartas. Isso poderia ser achados facilmente em outros livros da Bíblia.
explicado pelo fato de que, em Patmos, João Pelo menos não em livros completos do An-
não teria ajuda de um secretário para redigir o tigo Testamento. Há porções apocalípticas
texto. (que usam o mesmo estilo) em livros como
Isaías, Ezequiel, Zacarias e especialmente em
A época da escrita é importante para o en- Daniel. O livro de Daniel é considerado o
tendimento da obra. A data mais provável é o Apocalipse do AT. Mas ele não é inteiramen-
final do reinado de Domiciano (81-96 d.C.). te apocalíptico, porque tem uma grande parte
Irineu afirma explicitamente que o livro havia histórica, onde são narrados os períodos de
sido revelado nessa época: “Pois que foi visto Daniel e seus amigos na corte da Babilônia. A
não muito tempo atrás, mas quase em nossos segunda parte do livro, quando Daniel recebe
dias, no final do reino de Domiciano” (1895, visões do céu e do futuro, e através de anjos
XXX, 3, p. 560). recebe interpretação dos eventos e os registra,
é, tecnicamente falando, apocalíptica.
Domiciano foi o primeiro imperador roma-
no a reivindicar para si todos os direitos divi- Há porções assim também no Novo Tes-
nos. A adoração ao Imperador se tornou uma tamento. Por exemplo, em Mateus 24, no
questão difícil para o Cristianismo, uma vez chamado sermão profético, quando Cristo
que esta se opõe ao primeiro mandamento. A começou a falar a respeito da destruição de
religião tornou-se, assim, oficialmente inimiga Jerusalém e do fim do mundo. Nos textos si-
do Estado (POHL, 2001, p. 23). Esse acabou nópticos de Marcos e Lucas há repetições pa-
sendo o maior teste para o Cristianismo no fi- recidas com essa de Mateus 24.
nal do primeiro século.
Também há algumas porções escatológicas
Portanto, João estava bastante envelhecido nas cartas. Por exemplo, as duas cartas aos tes-
quando teve a visão e escreveu o livro. João, salonicenses e o capítulo 15 de 1 Coríntios.
entre os apóstolos, foi quem viveu mais tem- Há grandes porções escatológicas nesses tex-
po. Havia até mesmo uma lenda de que ele tos porque falam do futuro e usam linguagem
não morreria. Isso está registrado no final de figurada para descrever como será a ressurrei-
seu Evangelho (Jo 20.20-24). Muitos pensa- ção, a segunda vinda de Jesus, além de quem
vam que ele nunca morreria, pois ele estava será, como será e quando aparecerá o anticris-
bem idoso - perto dos 100 anos de idade, o to.
Porém, muitos desses escritos eram famosos e • II Esdras (=4 Ezra) 3-14 (c. 90 d.C.).
circularam pela Palestina e também pelo mun-
do greco-romano daqueles dias. Depois que o • II Baruque ou O Apocalipse de Baruque
Apocalipse de João foi escrito, surgiram mui- (depois de 90 d.C.).
tos outros “apocalipses” cristãos atribuídos a
Pedro, Paulo, Tomé e Nicodemos. Nenhum • III Baruque (segundo século d.C.).
desses autores escreveu livros assim. O único
“apocalipse” considerado canônico é o atribu- • Os Oráculos Sibilinos, Livro V (segundo sé-
ído a João. culo d.C.).
12 EXPOSIÇÃO DO APOCALIPSE
III. O PORQUÊ DOS APOCALIPSES se tornou rainha da Pérsia (470 a.C.). Esdras
(456 a.C.) e Neemias (443 a.C.) voltaram ao
A literatura apocalíptica situa-se como o últi- país e instituíram reconstrução.
2
Ou seja, aqueles que se
mo estágio no conceito judaico a respeito de enquadram na chamada
Deus no período bíblico. Os livros chamados O Império Persa foi derrubado por Alexandre literatura apocalíptica,
cujo nome se deu a partir
de “apocalípticos”2 são um desenvolvimento Magno (335-323 a.C.), que passou a gover- do Livro do Apocalipse.
do profetismo, ou talvez, poderíamos dizer, nar grande parte do mundo. Alexandre con-
uma consumação3. O melhor modo de de- quistou a terra de Israel, e pouca coisa mudou 3
Uma das diferenças
básicas entre a profecia
finir a literatura apocalíptica é dizer que ela nesse período no sentido político. Alexandre e os apocalipses está
justamente no gênero.
mescla elementos tanto do profetismo quanto morreu jovem e não deixou sucessor. Basi- Como diz Rowley, “Os
da sabedoria. É profetismo porque tenta ver o camente, o gigantesco Império Grego ficou oráculos [proféticos] são
apresentados usualmen-
futuro e a vontade de Deus de forma mística divido em dois: ao sul, com os Ptolomeus do te em forma poética; os
apocalípticos, em prosa,
tanto quanto os profetas; é sabedoria porque Egito, e ao norte, com os Selêucidas da Síria. com ocasionais trechos
poéticos” (1980b, p. 14).
demonstra paixão pelo conhecimento, que Mas a diferença maior é
justamente o conteúdo
somente pode ser alcançado por aqueles que Os judeus ficaram primeiramente sob o domí- e a forma como este é
apresentado.
são iluminados por Deus; vai além de ambos, nio do Egito (323-204 a.C.) e posteriormente
porque a resposta final para a razão das coisas foram subjugados por Antíoco, o Grande, da
não está no tempo presente, mas num futuro, Síria (204-166 a.C.). Este segundo período foi
no escaton. bem mais difícil do que o primeiro, pois com a
ascensão de Antíoco Epifânio ao trono da Sí-
Segundo Paul Hanson, no fundo de todo mo- ria, iniciou-se uma das mais sombrias épocas
vimento apocalíptico há um “colapso de uma da história judaica. O novo rei, em seu desejo
cosmovisão que estava em ordem e que de- de helenizar os judeus, desestimulou os velhos
finia para um povo os valores e as ordens do costumes e as práticas religiosas nacionais.
universo, colapso este que então o lança no Aos poucos a situação entre os judeus e Antí-
caos da anomia e da falta de sentido” (1983, p. oco foi se tornando insustentável, até que, para
36). O exílio, de fato, foi um colapso. Por isso mostrar seu desprezo pela religião judaica e
ele é o grande pano de fundo do surgimento impor a helenização sobre o território, o rei en-
da literatura apocalíptica. trou no Santo dos Santos do Templo de Israel,
sacrificou uma porca sobre o altar e espargiu
O exílio babilônico foi uma catástrofe nacio- o sangue sobre o edifício. Os sacrifícios e os
nal sem precedentes que nunca foi completa- cultos foram proibidos e o templo passou a ser
mente revertida. A volta dos exilados após o de Zeus (ROWLEY, 1980b, p. 47-48). É neste
decreto de Ciro não significou uma verdadeira período que apareceram os livros que foram
recuperação do orgulho nacional. Os judeus reconhecidos como “apocalípticos”. Surgiram
foram autorizados a retornar para a Judeia no para “preencher um vácuo”, explicando os mo-
período do Império Persa, que substituiu o tivos do domínio do mal e apontando para
Império Babilônico, responsável pela captura uma futura intervenção de Deus que salvaria
do reino dos judeus em 586 a.C. Posterior- os oprimidos (DOUGLAS, 1995, p. 89-90).
mente, Ciro permitiu aos judeus voltar à terra Mounce diz que “o maior objetivo dos apoca-
prometida para reconstruir o templo, em 538 lipses foi explicar porque o justo sofre e por-
a.C. Segundo o texto bíblico, Ester, uma judia, que o reino de Deus demora” (1997, p. 03).
“Para os profetas, os grandes impérios mun- “A história terrena transcorre segundo uma se-
diais eram instrumento nas mãos de Deus, quência sólida subdividida em períodos, que
para executar sua vontade em benefício do tem de ser obedecida. Tudo somente acon-
seu povo fiel, controlados por Deus, cuja von- tece quando o tempo previsto por Deus está
tade domina toda a história. Para os autores cumprido” (2005, p. 337).
de apocalipses, os grandes impérios mundiais
são adversários de Deus, tenazmente resistin- Diante da terrível situação aparentemente
do a sua vontade, que não triunfaria por meio insolúvel do tempo presente, os profetas apo-
deles, mas com sua aniquilação” (ROWLEY, calípticos lançam-se totalmente na noção da
1980b, p. 38). soberania de Deus, e tentam consolar o povo
dizendo que, apesar de tudo o que está acon-
Assim, os apocalipses (livros com semelhan- tecendo, Deus ainda está no controle, condu-
ças com o Apocalipse de João), ou a literatura zindo a história para o cumprimento de seus
apocalíptica, desenvolvem o conceito dos ver- secretos e misteriosos propósitos. Ao mesmo
dadeiros adversários de Deus. Há forças espi- tempo, desafiam o povo a permanecer fiel a
rituais malignas agindo no mundo. Mais uma Deus, pois, sem isso, não desfrutará da liber-
vez, o exílio babilônico foi fundamental para tação futura.
isso. A partir do exílio, a pessoa de Satanás co-
meçou a ganhar destaque. Não há nenhuma IV. A SINGULARIDADE DO APOCALIPSE DE
referência a Satanás na Bíblia Hebraica antes JOÃO
4
Exceto no livro de Jó, o
qual conta uma história do exílio4 . A partir daí, o inimigo de Deus é
anterior, mas que prova-
velmente foi registrada revelado como a razão invisível para todo o Há várias semelhanças entre o Apocalipse e
por volta do século V.
sofrimento do povo de Deus. a literatura apocalíptica. Richard Bauckham
(1993, p. 09-12), por sua vez, assinala algumas
Os apocalipses tentam demonstrar que existe diferenças relevantes para a nossa análise: o
uma realidade oculta por trás da realidade fí- Apocalipse de João é mais prolixo no uso de
sica. Essa realidade oculta é o que dá sentido imagens, e tem menos informações e/ou in-
para a realidade física. Assim, o profeta que terpretações de visões decorrentes dos seres
teve a visão apocalíptica é alguém que aden- angelicais, em comparação aos outros textos
trou a esse mundo invisível e, através de um da literatura apocalíptica. João insere, em seu
anjo mediador, recebeu a revelação de misté- texto, narrativas proféticas bem menores do
rios (ver Ap 4). Ao ver o mundo invisível, ele que a de outros textos apocalípticos. O livro
percebe quem são os verdadeiros inimigos de João é bem mais coeso do que os demais
do povo, mas também percebe que o curso apocalipses. Além disso, cria um mundo de
inteiro da história do mundo já foi predeter- imagens que adquirem significados diversos
minado por Deus, e todos os acontecimentos que podem ser evocados a qualquer momento
estão seguindo este cronograma que parece ao longo de sua narrativa. A unidade e a conti-
incompreensível a princípio, mas que no fi- nuidade das imagens fazem do Apocalipse de
nal demonstrará toda a sua harmonia (ver Ap João um livro distinto. Os outros apocalipses
14 EXPOSIÇÃO DO APOCALIPSE
são pseudepígrafos, ou seja, foram escritos in- poderiam ocorrer no futuro. Entretanto, como
vocando a autoridade de alguém do passado, ressalta Marshall (2004, p. 548), o propósito
enquanto o Apocalipse de João fala das coisas do livro não é satisfazer a curiosidade sobre
do presente e não apenas de eventos futuros. o curso de eventos futuros, e sim preparar e
encorajar um grupo de igrejas a enfrentar as
Uma importante diferença entre o Apocalipse dificuldades que testariam a fé até o seu limite 5
Com isso não se preten-
de João e os outros Apocalipses é o caráter de máximo5. Portanto, em consonância com o de dizer que o Apocalipse
não contém informações
otimismo da obra. Os textos da apocalíptica restante da Bíblia, o Apocalipse traz um con- importantes para outras
épocas.
judaica são essencialmente pessimistas e só teúdo teológico e moral. O grande conteúdo
veem a redenção em termos de uma era vin- do Apocalipse é “a revelação de Jesus Cristo”.
doura. João, apesar de antever a era vindoura
como o momento final de libertação, vê a His-
tória como o desenrolar do soberano propó-
sito redentor de Deus, ou seja, descreve Deus
agindo no presente, transformando as reali-
dades, dirigindo os eventos para a realização
final de seus propósitos. O recorrente tema
da necessidade de evangelização ao longo do
livro aponta para isso. Logo, a Igreja deve não
só confiar, mas também se purificar no tempo
presente, e servir a Deus, pregando a mensa-
gem salvadora ao mundo. Deus é o Senhor
da Igreja, do futuro e da História, e usa a Igreja
para transformar o presente.
CONCLUSÃO
16 EXPOSIÇÃO DO APOCALIPSE
2
Apocalipse 1.1-3
18 EXPOSIÇÃO DO APOCALIPSE
passado; resgata, revela e traz o passado; revela As pessoas daqueles dias eram mais treinadas
o significado profundo daqueles eventos rela- a prestar atenção na leitura de um texto. E, cer-
cionados ao nascimento, a vida, morte, ressur- tamente, ao ouvirem, já no começo do livro,
reição e ascensão de Jesus. E, a partir deles, o que havia uma bem-aventurança para o leitor
futuro daqueles crentes e dos crentes de todos e para os ouvintes, compreendiam que ali es-
os tempos é construído. tava um texto para se prestar muita atenção. O
simples fato de ter sido escrito pelo último dos
Se isso não ficar claro para nós, leitores de Apóstolos, prisioneiro do império, era motivo
hoje, correremos o risco de nos perder em um para desejar ansiosamente conhecer as coisas
labirinto de interpretações. O Apocalipse fala que ele havia escrito. Talvez, eles esperassem
essencialmente do que Deus já fez, já realizou uma carta como as que Paulo escreveu para
e já operou. Demonstra que os feitos de Deus eles muito tempo antes, ou um texto parecido
realizados são a base e fundamento sobre o com o Evangelho de João, o qual eles certa-
qual ele vai construir o futuro. O futuro não mente conheciam. Mas quando começaram a
está solto, não é uma mera previsão ou proba- ouvir, perceberam que se tratava de algo mui-
bilidade, mas algo certo e garantido, porque é to diferente, porém não menos inspirativo.
construído sobre o fundamento do passado.
Se eles prestassem muita atenção, veriam coi-
II. A IMPORTÂNCIA DOS DETALHES sas extraordinárias. Se fizessem muito silêncio
e seus ouvidos estivessem atentos a cada pa-
O verso 3 diz: Bem-aventurados aqueles que lavra, eles entenderiam que o livro não é fan-
leem e aqueles que ouvem as palavras da tástico apenas por causa das suas imagens e
profecia e guardam as coisas nelas escritas, símbolos, mas também pelos detalhes impres-
pois o tempo está próximo. sionantes de seu estilo literário.
O texto grego diz “Bem-aventurados são: O Apocalipse é um texto literário muito bem
aquele que lê e aqueles que ouvem” (Μακάριος construído, com detalhes e recursos estilísti-
ὁ ἀναγινώσκων καὶ οἱ ἀκούοντες). Ou seja, o cos impressionantes que reforçam seu sentido.
leitor está no singular. Provavelmente, seja a Estudar a arte literária do Apocalipse, portan-
descrição da metodologia como o livro era to, ajuda a entender melhor o seu conteúdo
recepcionado e seu conteúdo compartilhado teológico e/ou moral, além de causar ainda
nas igrejas que o leram pela primeira vez. Uma mais admiração pelo livro.
pessoa ia à frente da igreja (pastor) e lia o livro
para que as demais ouvissem. Por exemplo, eles ouviriam pela primeira vez
João dizer “bem-aventurados” já no começo
O livro foi escrito provavelmente em papiro, do livro para o leitor e para os ouvintes. Du-
e de algum modo foi contrabandeado de Pat- rante o livro inteiro, eles poderiam perceber
mos, onde João estava como prisioneiro. Pro- que João repetiria o termo “bem-aventurados”
vavelmente, a primeira igreja a receber o livro mais seis vezes, num total de sete. Somente o
foi Éfeso, a principal cidade da Ásia menor, leitor e os ouvintes atentos perceberiam isso.
onde João foi pastor no passado.
João usa muitos números no Apocalipse, mas
• Eis que venho como vem o ladrão. Bem- Mais um exemplo pode ser útil. Existem sete
-aventurado aquele que vigia e guarda as suas referências à volta, à vinda iminente de Cristo:
vestes, para que não ande nu, e não se veja a
sua vergonha. (Ap 16.15) • Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu
para mostrar aos seus servos as coisas que em
• Então, me falou o anjo: Escreve: Bem-aven- breve devem acontecer e que ele, enviando
turados aqueles que são chamados à ceia das por intermédio do seu anjo, notificou ao seu
bodas do Cordeiro. E acrescentou: São estas servo João, (Ap 1.11)
as verdadeiras palavras de Deus. (Ap 19.9)
• Portanto, arrepende-te; e, se não, venho a ti
• Bem-aventurado e santo é aquele que tem sem demora e contra eles pelejarei com a es-
parte na primeira ressurreição; sobre esses a pada da minha boca. (Ap 2.16)
segunda morte não tem autoridade; pelo con-
trário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e • Venho sem demora. Conserva o que tens,
reinarão com ele os mil anos. (Ap 20.6) para que ninguém tome a tua coroa. (Ap 3.11)
• Eis que venho sem demora. Bem-aventura- • Disse-me ainda: Estas palavras são fiéis e
do aquele que guarda as palavras da profecia verdadeiras. O Senhor, o Deus dos espíritos
20 EXPOSIÇÃO DO APOCALIPSE
dos profetas, enviou seu anjo para mostrar menciona o estado de bem-aventurança dos
aos seus servos as coisas que em breve devem que morreram na fé. Porém, além disso, deve
acontecer. (Ap 22.6) ser lembrado que a expectativa do retorno de
Cristo é uma das características da verdadei-
• Eis que venho sem demora. Bem-aventura- ra fé. O cristão não faz contas, não tenta adi-
do aquele que guarda as palavras da profecia vinhar o dia do retorno, mas espera isso para
deste livro. (Ap 22.7) qualquer momento, sem jamais descrer dessa
possibilidade, pois o próprio Cristo disse que
• E eis que venho sem demora, e comigo está viria como “ladrão na noite” (1Ts 5.2).
o galardão que tenho para retribuir a cada um
segundo as suas obras. (Ap 22.12) Do mesmo modo, há sete referências à Palavra
de Deus.
• Aquele que dá testemunho destas coisas
diz: Certamente, venho sem demora. Amém! • O qual atestou a palavra de Deus e o teste-
Vem, Senhor Jesus! (Ap 22.20) munho de Jesus Cristo, quanto a tudo o que
viu. (Ap 1.2)
E, novamente, por que sete? Ele quer trans-
mitir uma mensagem com essas informações. • Eu, João, irmão vosso e companheiro na tri-
Considerando que os cristãos do final do pri- bulação, no reino e na perseverança, em Jesus,
meiro século aguardavam ansiosamente o re- achei-me na ilha chamada Patmos, por causa
torno de Cristo, que parecia demorado diante da palavra de Deus e do testemunho de Jesus.
do sofrimento ao qual eram submetidos, ou- (Ap 1.9)
vir sete vezes que ele virá “em breve” e “sem de-
mora” certamente reforçava essa expectativa • Quando ele abriu o quinto selo, vi, debaixo
e esperança. É igualmente interessante notar do altar, as almas daqueles que tinham sido
que essas alusões sobre o retorno iminente de mortos por causa da palavra de Deus e por
Cristo aparecem nos capítulos iniciais e finais causa do testemunho que sustentavam. (Ap
do livro. Três no início e quatro acumuladas 6.9)
no fim. Assim, o livro começa e termina com
a repetida asseveração de que Cristo não vai • Porque em seu coração incutiu Deus que re-
demorar. E, junto com essa notícia, aparece, alizem o seu pensamento, o executem à uma
em várias das declarações, uma exortação para e deem à besta o reino que possuem, até que
“permanecer firme”, para guardar as palavras se cumpram as palavras de Deus. (Ap 17.17)
do livro, o que resultará em recompensa.
• Então, me falou o anjo: Escreve: Bem-aven-
É evidente que Cristo não retornou no pri- turados aqueles que são chamados à ceia das
meiro século. Então, como isso poderia ser bodas do Cordeiro. E acrescentou: São estas
aplicado àqueles cristãos? Talvez, num sen- as verdadeiras palavras de Deus. (Ap 19.9. )
tido, a volta de Cristo também acontece
quando o cristão parte desse mundo para se • Está vestido com um manto tinto de sangue,
encontrar com ele. A morte dos crentes ocupa e o seu nome se chama o Verbo de Deus; (Ap
um destaque central no livro. Várias vezes ele 19.13)
• Dizendo: Graças te damos, Senhor Deus, O número sete ainda é usado de maneira mais
Todo-Poderoso, que és e que eras, porque as- implícita no livro. Kistemaker (2004, p. 15)
sumiste o teu grande poder e passaste a reinar. nota que há dois cânticos de louvor entoados
(Ap 11.:17) pelas hostes celestiais e há um padrão de sete
na composição dos cânticos: “Proclamando
• E entoavam o cântico de Moisés, servo de em grande voz: Digno é o Cordeiro que foi
Deus, e o cântico do Cordeiro, dizendo: Gran- morto de receber o poder, e riqueza, e sabe-
des e admiráveis são as tuas obras, Senhor doria, e força, e honra, e glória, e louvor” (Ap
Deus, Todo-Poderoso! Justos e verdadeiros 5.12). Em Apocalipse 7.12, outra vez: “Dizen-
são os teus caminhos, ó Rei das nações! (Ap do: Amém! O louvor, e a glória, e a sabedoria,
15.3) e as ações de graças, e a honra, e o poder, e a
força sejam ao nosso Deus, pelos séculos dos
22 EXPOSIÇÃO DO APOCALIPSE
séculos. Amém!”. Tanto o Cordeiro, quanto o 4. O dragão e as sete vozes (Ap 12-14)
próprio Deus são exaltados com cânticos que
atribuem sete expressões similares de adora- 5. As sete taças (Ap 15-16)
ção. A igualdade do Pai e do Filho, a perfeição
de sua glória e louvor são sugeridas por esse 6. As visões de julgamento (Ap 17-19)
padrão.
7. As últimas visões da consumação (Ap 20-
Essas marcas não podem ser vistas numa leitu- 22)
ra superficial, mas são percebidas quando se lê,
se ouve e se estuda atentamente o livro. Que isso significa? Que essas seções não são
contínuas, mas circulares. João vai contar a
E há muitos outros números no livro, todos mesma historia sete vezes, nas sete seções. As-
cheios de simbolismos, os quais, à medida que sim, se alguém ler cronologicamente, como
são considerados, revelam a grandiosidade uma sequência do 1 ao 22, verá muita coisa
dessa visão e o seu significado, como veremos repetida como se fosse continuação. Parece
ao longo desses estudos. que o mundo acabará meia dúzia de vezes,
que Jesus voltará quatro vezes, que haverá três
Ainda sobre o número sete, a importância au- ressurreições dos crentes, que acontecerão vá-
menta, pois ele divide o livro em sete partes. rias batalhas finais, quando, na verdade, todos
E aqui está outro detalhe interessante, pois se esses eventos são únicos. A história é contada
alguém não vê e compreende essas sete divi- sete vezes.
sões do livro, vai ter dificuldades de entender
a estrutura da mensagem da obra. A causa O livro era para ser lido e ouvido nas igrejas.
da maior parte dos erros de interpretação do Repetir a história é um modo de fixar o mate-
Apocalipse é considerá-lo como uma história rial e o assunto na mente do ouvinte.
que vai do capítulo 1 ao capítulo 22 de forma
cronológica ou linear. Qual história é contada sete vezes? A história
que envolve os acontecimentos relativos aos
Ele foi escrito em sete seções paralelas. Como crentes do primeiro século, desde a primeira
sabemos disso? Porque há marcas claras disso. vinda de Jesus, e em prospecção os aconteci-
Não só pela abundância do numero sete con- mentos que se sucederão genericamente no
forme vimos, mas porque temos marcas claras mundo até a segunda vinda de Cristo. Num
dessa divisão sétupla. Vejamos: resumo: toda a história da salvação envolven-
do a primeira e a segunda vinda de Jesus.
Sete seções Paralelas
A história é contada sete vezes, mas cada vez
1. Cristo e os sete candeeiros (Ap 1-3) tem um novo ângulo e progressão. Não é uma
mera repetição; antes, é uma repetição extre-
2. O cordeiro e os sete selos (Ap 4-7) mamente criativa. É como se estivéssemos
vendo um filme que se repete através de câ-
3. As sete trombetas (Ap 8-11) meras diferentes, mostrando aspectos diferen-
tes, ao mesmo tempo em que a história vai se
24 EXPOSIÇÃO DO APOCALIPSE
Anotações