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A Ess Ncia Do Catolicismo Karl Adam PDF
A Ess Ncia Do Catolicismo Karl Adam PDF
A Ess Ncia Do Catolicismo Karl Adam PDF
KARL ADAM
A ESSÊNCI A
DO
CATOLICISMO
TRADUÇÃO
DE
TASSO DA SILVEIRA
19 4 2
E D I T O R A V O Z E S L T D A.
PETRÓPOLIS — EST. DO RIO
I M P R I M A T U R
P OR COMISSÃO E S P E C IA L DO
EXMO. E REVM O. SR. B ISPO D E
N IT E R Ó I, D. JOSE P E R E IR A A L
VES. PETRÓ PO LIS, 16-12-1941. F R E I
ATICO EY N G , O. F. M.
tal do que toda essa fria filosofia. Ele clama com todas
as suas forças pela vida, a vida plena, inteira, pessoal.
Está cansado de negar, quer poder afirmar. A ação, a
vida, tem necessidade de afirmações nítidas, de posições
francas e audazes.
Será, pois, surpreendente que esse homem tome pelo
Catolicismo um interesse que não é simplesmente especu
lativo, acadêmico? Mostraremos minuciosamente que o
Catolicismo — e é o que o distingue das outras confis
sões cristãs — é essencialmente tese, afirmação, aferi
ção de todos os valores e realidades do céu e da terra.
As confissõc3 não-católicas se colocam todas, não no ter
reno de uma afirmação firme e absoluta, mas no da ne
gação, da supressão, da escolha subjetiva. A história do
Catolicismo é a da afirmação sem restrições, rigorosa,
completa, da inteira realidade da revelação, da plenitude
do Espirito de Deus, que se propagou no Cristo com toda
a sua força de desenvolvimento. Dá a resposta decisiva,
absoluta, completa à vida interior do homem sob todos
os aspectos, fornecendo-lhe as suas bases verdadeiras. An
tes de nada mais, a afirmação absoluta do primeiro fun
damento do nosso ser, Deus vivo, Deus no sentido pleno,
Deus da força criadora e da justiça, e não apenas o Deus-
Pai das crianças e dos pecadores, e ainda menos simples
mente o Deus da filosofia e do deismo, que tem medo
aos milagres, ou o Deus dos acomodatícios; o Cristo tam
bém completo, o Cristo em quem Deus se nos revelou,
o Cristo em duas naturezas, o Homem-Deus em quem o
Céu e a Terra se unem, e não somente o Cristo-Bom Pas
tor do Salão ou o Cristo extático dos círculos de escol;
a comunidade completa igualmente, isto é, o conjunto da
humanidade da terra, na qual enxergamos o próprio Cristo.
A comunidade é o só dado primitivo que permite às
individualidades cristãs o ser e o crescer. — Ora, a per
sonalidade deve desenvolver-se toda inteira: não apenas
o sentimento de piedade, mas a fria razão que examina;
não apenas a razão, mas também a vontade enérgica e
ativa; não apenas o homem interior e espiritual, mas o
homem exterior e sensivel. O Catolicismo, na sua essên
cia integral, responde completamente e fortemente ao ho
mem todo. O Catolicismo é, numa palavra, a religião po
sitiva, essenciàlmente tese, afirmação no sentido pleno
14 Introdução
Cristo na Igreja
Eis que estarei convosco
até ao fim dos séculos.
(Mt 28, 20).
mem veio, não para ser servido, mas para servir e dar
a vida em resgate de um grande número” (Mc 10, 42 s).
Aqui, evidentemente, repele Jesús, com relação a seus
discípulos, o exercício brutal da autoridade dos monaT-
cas do seu tempo, particularmente no mundo pagão. Os
discípulos de Jesús serão reconhecidos, não por essa am
bição de domínio, mas pelo seu anelo de servir. No Rei
no de Deus, nada de “querer ser Senhor” nem “autori
dade que se faça sentir brutalmente”, mas apenas um Ser
viço amoroso e um Amor humilde. Os terrros mesmos
claramente indicam que o Senhor pretende excluir de sua
Comunidade, não toda espécie de autoridade, mas so
mente a que se mostra brutal e despótica. Tal sentido
mais claro ainda aparece se o compararmos com a pas
sagem de são Lucas (22, 24), que assim transforma o
logion de são Marcos: “Que o maior de entre vós seja
como o último, e o que governa como o que serve”. E’,
pois, evidente que, na comunidade dos seus discípulos,
deve haver os que sejam “maiores” e “governem” . A re
comendação de humildade e de amor fraternal vem con
tra o abuso egoista do princípio de autoridade, e de ma
neira nenhuma contra o próprio princípio. De que ma
neira, sem isso, poderia Jesús dar-se a si mesmo como o
tipo do amor, servo dos irmãos, quando se apresenta, na
mesma proporção, e com certa ênfase, como o “Filho do
homem”, isto é, como o Senhor do futuro, do juizo, co
mo o que de todo o poder dispõe. As«im como o seu amor
servo dos irmãos não exclue sua eminente dignidade de
Filho do homem, seu mandamento de humildade e de
amofr aos irmãos não exclue a hierarquia. Ver na idéia
de primado uma contradição direta da recomendação de
Jesús sobre a humildade e o amor, com ela inconciliável,
seria dar falsa interpretação ao pensamento do Mestre.
Pelo contrário: esta palavra do Cristo só se explica e ple
namente realiza quando bem se compreende a idéia do
Papado e do Episcopado: o cargo do soberano Pontifi
cado, considerado do ponto de vista da realidade sobre
natural da Igreja, outra coisa não sendo senão o amor
que se fez uma pessoa, a unidade, que se tornou visivel,
na caridade do corpo de Cristo na terra. Em si mesmo, é
precisamente o contrário de um poder despótico, deve
sua origem, não à violência e ao orgulho, mas à cari-
Adam, A essência do Catolicismo 45
Desde então, não era mais uma simples idéia, era uma
certeza vivida, mais forte do que a certeza da cólera do
sanedrim e dos imperadores romanos. “ Este Jesús, Deus
Pai o ressuscitou e foi erguido à direita do Pai” (At 2,
32 s). Era a hora do nascimento da nova fé, ao mesmo
tempo que da nova Igreja. Por que acreditaram os após
tolos? Porque o sopro do Espírito Santo os havia tor
nado clarividentes para as realidades de que estavam
rodeados: a aparição de Jesús, a sua vida, a sua morte
e a sua ressurreição. Foi o que permitiu que todos vis
sem, numa espécie de intuição de conjunto e sem nenhuma
dúvida possível, através de sua humanidade, a “Majesta
de divina” , que irradiava do seu rosto. Tudo o que eles
tinham pressentido, esperado, crido no mistério de Jesús
enquanto viviam com ele na terra, tudo isso não passara
de fé ainda humana e, portanto, de frágil certeza. De
quando em vez apenas, como em Cesaréia de Felipe (Mt
16, 16, 17), uma visão mais profunda lhes fora conce
dida. Mas esta mesma não os havia penetrado inteira
mente e, em breve, sob as impressões da vida quotidiana,
e sobretudo em face do terror da sexta-feira da Paixão,
fora expelida para o recanto mais exterior de sua con-
ciência. Hoje, na viva e quente claridade do Pentecostes,
acabava de nascer a fé verdadeiramente divina e salutar.
Neste dia, todos os raios da luz ainda fracos e esparsos
se tinham reunido num feixe de fulgurante claridade que
diretamente lhes fizera ver a divindade de Jesús, assim
como todo o mundo de realidades sobrenaturais que a
acompanham. Tão clara foi essa visão intuitiva, tão gran
de essa certeza, que inteiramente os transformou. Esses
homens de pouca fé, preocupados sempre em fazer per
guntas, esses egoístas de infantil ingenuidade, agora se
lançavam, cheios de espírito de sacrifício e de coragem,
à conquista do mundo civilizado. Iam levar a flama nova
tanto aos palácios de Cesar quanto às cabanas dos es
cravos. Doze pescadores simples e sem cultura apanha
ram o mundo em suas redes e isto sem outros meios que
não o de sua fé e a disposição em que estavam de afron
tar a morte por ela. Assim, a fé nova não fez a sua en
trada na história como uma obra humana, mas, sim, como
uma manifestação do Espírito, como uma Força divina.
54 Cap. III. Ao Cristo pela Igreja
A fundação da Igreja
à luz da mensagem de Jesús
Eu não vim ab o lir...
mas cumprir (M t 5, 17).
4) F. H e i 1e r, Op. cit., p. 3.
72 Cap. IV. A fundação da Igreja à luz da mensagem de Jesús
“pela virtude do alto”, como diz são Lucas (24, 49), pelo
“Consolador”, como lhe chama são João. Era nitidamen
te persuasão da comunidade primitiva que essa promessa
se realizaria no ruido e na tempestade do Pentecostes, e
que a partir desse momento o pequeno embrião do Reino
de Deus começaria a desenvolver-se e a encher o mundo
da plenitude de sua vida e de seus frutos.
Podemos daí tirar esta conclusão: o anúncio do fim
dos tempos feito por Jesús não visava o fim dos tempos
considerado em si mesmo, mas, sim, tudo o que de fato lhe
era essencialmente unido, isto é, os acontecimentos que
iam produzir a grande separação dos espíritos, e antes
de tudo mais, sua morte e sua ressurreição, a descida
do Espírito Santo, a fundação da Igreja neste mundo e —
em relação necessária com essa fundação — o fim da
antiga aliança e a ruina de Jerusalém. Jesús sabia que o
reino de Deus estava já fundado em sua própria pessoa;
era, para ele, um dos pontos fundamentais de sua mis
são, que já com a sua própria pessoa começava, se rea
lizava já a grande discriminação dos espíritos, a justiça
do mundo. Sendo assim, todos os acontecimentos que de
viam ocorrer e saíam, por assim dizer, de sua pessoa,
apareciam-lhe necessariamente como momentos do julga
mento do mundo, de fato e essencialmente ligado à sua
própria pessoa. Sua maneira profética de ver e apreciar
não distinguia entre o presente e o futuro. Não chegava
a misturar uns com os outros os acontecimentos históri
cos, mas ligava, numa possante intuição de conjunto, sua
unidade essencial, efetiva e a dependência, em que eles
estavam, de sua própria pessoa. O futuro em conjunto,
tanto a ruina de Jerusalém quanto o estabelecimento e a
difusão de sua Igreja, lhe era presente, era o presente de
sua Justiça. Pode-se por esta forma compreender que a
sua expectação do fim do mundo incluia o futuro da ge
ração presente, e que ele podia ameaçá-la com a vinda
do Filho do Homem.
Quais serão o dia preciso e a hora exata de sua vinda?
Propor a questão por esta forma é fazer-lhe ressaltar a
inteira ingenuidade. Tal como pelos Evangelhos o conhe
cemos, o Mestre tão positivo, tão mais preso ao essencial,
à substância das coisas do que às circunstâncias secun
76 Cap. IV. A fundação da Igreja à luz da mensagem de Jesús
A essência — 6
Capítulo V
A Igreja e Pedro
"Sobre esta pedra construirei
minha Igreja” (Mt 16, 18).
1) Cf. D e n z i g e r - B a n n w a r t h , n° 464.
2) Ibid. n”. 693.
3) Ibid. n". 983.
104 Cap. VI. A comunhão dos santos
A catolicidade
fica sujeito o fiel à lei objetiva. Ele deve fazer o que sua
conciência lhe apresenta como sendo a vontade de Deus,
mesmo que sua conciência esteja objetivamente em erro.
A autoridade de sua conciência é que decide em última
instância em todas as questões de fé e de costumes e,
pois, na de sua atitude religiosa e moral. E’ ela mesma
que decide na questão de saber se pode jamais o cató
lico ser autorizado a recusar obediência à Igreja.
Como, neste ponto, a autoridade decisiva que a Igreja
reconhece à conciência, e as relações da norma subjetiva
da conciência com a norma objetiva da lei se apresenta
mais nitidamente do que em qualquer outro lugar, vamos
tratá-lo um pouco mais a fundo.
Tendo conciência de ser a mensageira infalível da ver
dade revelada e a única instituição fundada pelo Cristo
para comunicar aos homens a graça da salvação, a Igreja
não pode evidentemente admitir que os crentes se encon
trem “na mesma situação” que os que jamais tiveram fé.
Não admite que um católico possa ter jamais “um justo
motivo” de provisoriamente suspender o seu assentimento
e de assim pôr em dúvida as verdades de fé já admitidas
sob a autoridade da Igreja, até que a si mesmo se tenha
podido cientificamente demonstrar sua credibilidade e ver
dade” (1). A atitude intelectual e moral do católico
em presença do conjunto da fé e dos problemas que
ela suscita é, pois, segundo o Concílio do Vatica
no, inteiramente diversa da de um não-católico. Se
gundo o Concílio, os motivos de credibilidade sobre
os quais a Igreja, e só ela pode apoiar-se, são muito
numerosos e muito fulgurantes para que a fé de um ca
tólico se abale a razões objetivamente válidas. A conciên
cia que tem a Igreja de ser a detentora da verdade e a
afirmação que ela faz em tal sentido são tão profunda
mente enraizadas no terreno sólido dos fatos históricos
e da lógica, tão nitidamente fundadas sobre as mais pro
fundas exigências da conciência e de seu respeito da san
tidade e da divindade, que podem resistir vitoriosamen
te a todas as dificuldades possíveis do passado, do pre
sente e do futuro. Mesmo em razões puramente subjeti
vas, em idéias falsas, em raciocínios errôneos, não sucum-
5
Cristo na Ig r e ja .................................. 17
A Igreja, corpo do C ris to .................. 33
Ao Cristo pela Ig r e ja ......................... 48
A fundação da Igreja à luz da men
sagem de Jesús ................................... 64
A Igreja e P e d ro ................................ 82
A comunhão dos S a n to s ................... 97
A catolicidade..................................... 138
Fora da Igreja não há salvação . . . 155
A ação santificante da Igreja pelos
Sacramentos........................................ 171
A ação educativa da Ig r e ja ............... 188
A luta entre o ideal e a realidade . . 204