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Despersonalização e Desrealização

A despersonalização e desrealização são sintomas que podem surgir associados ao


pânico/ansiedade/medo e pertencem a um grupo de sensações/sentimentos
conhecidos por Dissociação.

Existe uma escala que avalia o grau de dissociação que varia numa pontuação entre 0 e
10. Por exemplo algumas das pessoas com perturbação de pânico obtêm nesta escala
valores entre 4 e 5. Muitas pessoas com ataques de pânico afirmam que os ataques
começam com a experiência de despersonalização e/ou desrealização.

As sensações de dissociação são muitas e variadas.

Sensações dissociativas:

-sensibilidade à luz e ao som

- visão em túnel

- sensação de que o corpo aumentou, sentido-o maior que o normal

- sentir que o corpo diminuíu a proporções mínimas

- objectos parados parecem mexer-se

- estar a guiar no carro e aperceber-se que não se lembra de uma parte ou da


totalidade da viagem

- estar a ouvir alguém a falar e aperceber-se de que não ouviu nada ou partes do que
a outra pessoa disse

- por vezes “ficar a olhar para o espaço” e não ter a noção de que o tempo passou

atenção: muitas destas sensações dissociativas são normais. Elas só constituem


problema quando influenciam a vida da pessoa causando desconforto e/ou problemas
emocionais/psicológicos.

Compreender os sentimentos e sensações de despersonalização e desrealização

As pessoas que sentem despersonalização/desrealização sentem-se divorciadas tanto


do mundo como do seu próprio corpo. Geralmente as pessoas alegam sentir “que a
vida é vivida como se tivessem num sonho”; as coisas parecem irreais, desfocadas; há
quem diga que se sente separado do seu próprio corpo. Outra característica desta
condição poderá incluir pensamentos “estranhos” ou uma constante preocupação das
quais as pessoas acham difícil “desligar”.

Em seguida transcrevo um texto escrito por Paul David (2009) relativo às sensações e
sentimentos de despersonalização/desrealização:
“É como se as pessoas por mais que tentem, sentem que não conseguem lidar bem
com o mundo à sua volta. Sentem-se distanciadas daquilo que as rodeia, sendo difícil
falarem e ligarem-se a outras pessoas. Podem sentir que já não nutrem sentimentos
por outras pessoas que lhes são próximas. A pessoa parece que já não se sente como
normal e isso pode custar muito a quem passa por esta experiência.

A despersonalização é em muitos casos um sub-produto da ansiedade, uma vez que


as pessoas engrenam por um caminho de preocupações, medos, receios e constante
vigília sobre aquilo que pensam, sentem ou fazem. Há uma auto-consciencialização
das coisas enorme, fazendo assim com que a pessoa se sinta absorta aos seus
próprios processos internos. É extremamente frequente as pessoas sentirem medo de
poderem ficar loucas, perder o controle, mas não - não vão ficar loucas ou perder o
controlo. Este estado surge por estar constantemente preocupado(a) em relação aos
seus problemas. A despersonalização/desrealização não faz mal por si só, não é
perigosa nem consitui uma perturbação grave. É natural que as pessoas poderão ser
mais ou menos afectadas consoante o tipo de situação, ansiedade e contexto em que
se inserem, mas com paciência e compreensão esta sintomatologia passa.

A despersonalização ocorre com a ansiedade porque você está tão habituado(a) a


observar-se a si mesmo(a), a questionar o que tem, dia sim-dia sim que começa a
sentir-se afastado do mundo exterior. A sua mente tornou-se mais “cansada” e
menos resiliente (facilidade para ultrapassar obstáculos, resistência emocional e
psicológica) pois aquilo que faz é observar e preocupar-se com todos os seus
sintomas. É como se a mente tivesse sido bombardeada com pensamentos de
preocupação e se torna-se fatigada. Quando a mente se cansa psicologicamente e
emocionalmente sentimos estes estranhos sentimentos de distanciamento do
mundo à nossa volta e de nós mesmos, experienciando um estado de pseudo-
sonho. É aí que podemos começar a convencer-nos de que estamos a piorar, a ficar
loucos, que estamos a perder o controlo. Mas não estamos a enloquecer, a nossa
mente é que está tão cansada que nos pede uma pausa, um descanço de toda esta
introspeção, análise internana e absorção.

Quando as pessoas dão por elas no ciclo da procupação/ruminação começam a


pensar profundamente e constantemente, é um ciclo. Estudam-se em
profundidade, verificando, observando e concentrando-se nos seus sintomas. Até
podem acordar de manhã apenas para continuar este hábito “Como é que eu me
sinto hoje de manhã?” “Será que consigo sentir-me bem durante o dia?” “Que nova
sensação é esta que eu sinto?” Isto pode durar todo o dia, provocando assim um
cansaço adiccional ao que já existe na nossa mente. Esta constante verificação e
observação dos seus sintomas torna-se então um hábito, mas tal como todos os
outros hábitos, este também pode ser mudado.

Ruminação, preocupação, receios; ficamos tão preocupados acerca do modo como


nos sentimos que não pensamos em mais nada. É de espantar que se sinta tão
distanciado e afastado dauilo que o(a) rodeia? É de espantar que não se consiga
concentrar?

Algumas pessoas quando estudam para os exames durante horas a fio, chegam ao
ponto em que já não conseguem assimilar informação por isso fazem uma pausa e
continuam no dia seguinte. Para si não há cá pausas ou time-outs.

O que muitas pessoas não sabem é que a despersonalização pode ocorrer em


pessoas sem ansiedade ou questões de pânico. Pode acontecer quando alguém
perdeu uma pessoa que ama, quando se tem um acidente de viação, ou um choque
emocional de qualquer tipo recente. É um mecanismo de defesa, é como se fosse o
modo que o corpo encontra para nos proteger de toda a preocupação ou mágoa
que possamos estar a sentir. Isto normalmente é temporário e quando a pessoa que
está em luto ultrapassa alguma da sua mágoa, a despersonalização diminui e/ou
desaparece.

O problema com a ansiedade é que as pessoas que sofrem dela têm uma tendência
para se preocupar e a despersonalização surge como proteção a todo este stresse e
preocupação diária. As pessoas podem então sentir-se distanciadas, distantes,
vazias, sem emoções. O que acontece nessa altura é que as pessoas começam a
preocupar-se e a obcecar sobre este novo sentimento, pensando que é algo sério e
grave, ou que poderão enlouquecer. Até poderão mesmo “esquecer” a sua
ansiedade e focarem-se apenas neste novo sentimento o que poderá fazer com que
estes sentimentos e sensações aumentem. A desrealização cresce à medida que
entramos no cliclo de preocupação e medo e por isso o nosso corpo protege-nos
destes sentimentos cada vez mais, fazendo-o(a) sentir-se mais distanciado(a) e
distanciado(a). É esta preocupação e medo sobre estas sensações e sentimentos
que o(a) mantêm no ciclo.

A maneira de ultrapassar a despersonalização não é preocupar-se ou obcecar


acerca dela, mas dando-lhe espaço, dando-lhe o espaço necessário e não se sentir
“dominado(a)” ou “arrebatado(a)” por ela. Ver a despersonalização como um
mecanismo que o corpo encontra para nos proteger e não como um sinal de que
algo terrível irá acontecer ou que poderá enlouquecer. Este sintoma é como
qualquer outro e quanto mais se preocupa ou obceca acerca dele maior o problema
se poderá tornar e mais tempo poderá manter-se no ciclo.”

Paul David,2009.

Este autor britânico sofreu desta mesma sintomatologia de ansiedade,


despersonalização/desrealização e hoje em dia dedica-se em ajudar pessoas a
libertarem-se das sensações, sentimentos e pensamentos de pânico e/ou asiedade.
Por vezes ultrapassar todos estes sentimentos e sensações poderá ser difícil se o
fizer sozinho(a). Lembre-se de que não tem de fazer as coisas sozinho(a) e a ajuda
de um profissional serve para isso mesmo. O maior sinal é o seu desconforto!Fale
connosco.

Em seguida transcrevo um texto de uma profissional experiente em perturbações de


ansiedade e sua relação com estados dissociativos:

“É interessante reparar que, apesar dos sintomas de despersonalização e desrealização


serem conhecidos como dois dos sintomas mais comuns dos ataques de pânico, a
capacidade para dissociar não é mencionada na literatura relativa à perturbação de
pânico. Nem é mencionado que muitas pessoas dissociam primeiro e experienciam um
ataque de pânico como reacção à dissociação.

Houve alguma especulação entre psiquiatras que trabalhavam na area da dissociação –


de que as pessoas com perturbação de pânico de facto dissociam primeiro e têm
pânico de seguida, mas não há pesquisa substancial nesta área. Profissionais da saúde
mental australianos que trabalham com clientes com ansiedade reportaram ser esta
uma das causas da reacção de pânico para muita gente – os sintomas dissociativos.
As pessoas que dissociam têm esta tendência desde a infância, muito embora muitas
dessas pessoas se tenham esquecido que tinham essa capacidade em crianças. Esta
tendência pode ser de novo activada mais tarde na vida como resultado de um evento
stressor e/ou não comer/dormir apropriadamente.

Muita da pesquisa indica que estes estados podem ser induzidos numa fracção de
segundo. A maioria de nós que tem ataques de pânico não está ciente do modo como
o fazemos tão facilmente e consequentemente entramos em pânico cada vez que
entramos num estado de consciência alterado. A nossa experiência também demonstra
que as pessoas podem experienciar uma sensação de “choque eléctrico” ou um “calor
dormente” nestes estados alterados. Isto também aumenta o medo e pânico que
podemos estar a morrer ou a ficar loucos.”
Uma outra experiência demonstra que as pessoas podem experienciar sensações de
tonturas como resultado da desrealização. A pesquisa demonstra que não é tanto a
desrealização que causa as tonturas mas sim a magnitude na mudança de estado de
consciência que pode causar sentimentos e sensações de tonturas.

Muitas pessoas que experienciam despersonalização e desrealização podem acordar a


meio da noite, com um ataque de pânico nocturno. A pesquisa indica que estes
ataques ocorrem na mudança de consciência, ao entrar no sono, ao fazer a mudança
entre os diferentes estágios do sono (do sono leve para o profundo, do profundo para
o leve). A mudança de consciência durante o sono é semelhante à mudança de
consciência que as pessoas conseguem experienciar quando dissociam durante o dia.

Muitas pessoas com a perturação de pânico estão assustadas com a sua capacidade
para dissociar, outras nem tanto. Uma das maneiras mais fáceis de as pessoas
entrarem num estado dissociativo é quando estão relaxadas e/ou quando estão com o
“olhar fixo”: fora da janela, a guiar, a ver TV, a ler um livro, ao utilzar o PC, quando
estão a falar com alguém. As luzes fluorescentes também podem desencadear um
estado de trance tal como a auto-absorção (estado em que a pessoa está hiper-atenta
aos processos internos, sejam eles sensações, pensamentos, sentimentos). Quanto
mais absorvidos em nós mesmos ficamos, mais poderemos induzir um estado
dissociativo.

É importante ensinar as pessoas a tornarem-se conscientes do momento em que estão


a induzir um estado dissociativo. Quando as pessoas conseguem aperceber-se disto
ensina-se a TRABALHAR o seu pensamento - a não entrar no ciclo de pensamentos
ansiosos de pânico/ansiedade, “o que é que me está a acontecer...”estou a ficar louco”.
O modo como pensamos acerca dos nossos sintomas só aumenta e cria mais stresse e
ansiedade – o que por sua vez ainda nos torna mais vulneráveis aos estados
dissociativos.”

Bronwyn Fox,

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