Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Graciela Haydée Barbero - Homossexualidade e Perversão Na Psicanálise PDF
Graciela Haydée Barbero - Homossexualidade e Perversão Na Psicanálise PDF
Homossexualidade e
Perversão na Psicanálise:
Uma Resposta aos Gay & Lesbian Studies
facebook.com/lacanempdf
~~~
~.,.~
~
~
Casa do Psicólogo® lftJAPESP
© 2005 Casa do Psicólogo Livraria e Editora Ltda.
É proibida a reprodução total ou parcial desta publicação, para qualquer
finalidade, sem autoriza~ão por escrito dos editores.
l" edição
2005
Editores
lngo Bernd Gii11tert e Myriam Chi11alli
Editora Assistente
Christiane Gradvohl Colas
Produção Gráfica & Capa
Re11ata Vieira Nunes
Ilustração de Capa
Parle do quadro A Família Real, de Diego Velâzque::.
Editoração Eletrônica
Valquíria Kloss
Revisão
Fátima Alcântara
Bibliografia.
ISBN 85-7396-468-5
Impresso no Brasil
Pri11ted in Bra::.il
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 5
Um caso paradigmático ........................................................ 27
CAPÍTULO 1
Interlocuções e novas referências para a
psicanálise ................................................................ 41
Os Gay & Lesbian Studies e o
Movin1ento Queer ................................................................ 41
Lacan, Foucault, Allouch e a Psicanálise
co1no Erotologia .................................................................... 53
CAPÍTULO li
Concepções que sobrepõem homossexualidade e
perversão ................................................................. 6 9
Alguns autores do campo psicanalítico ................................ 69
Sidonie Csillag, "a jovem homossexual" ............................. 102
CAPÍTULO Ili
Homossexualidade e perversão na obra de Freud ..... 1 li !,
A homossexualidade na obra de Freud:
um percurso crítico ................................................... _ 1 1·,
A renegação e o fetichismo generalizado .. ... .. .. ... .. . 1r ,r,
8 Homossexualidade e Perversão na Psicanálise
CAPÍTULO IV
Lacan e a perversão: um percurso .......................... 1 7 9
Algumas precisões conceituais: a invenção do objeto a ........ 223
CAPÍTULO V
Conclusões e perspectivas ...................................... 229
' Veja-se por exemplo Zizek, Slavoj (org.). Um mapa da ideologia. Rio de Janeiro:
Contraponto, 1999.
Prefácio 11
desp/aza ai terreno político y se asiste a partir de/ final de las aiíos sesenta a un nuevo
modo de afirmación dei sfntoma social homosexualidad: e/ gay.".
Gradeia Haydée Barbero 17
génem e identidades sexuales. Buenos Aires, Edelp, julho de 2000, pp. 53-86.
·1 Termo que se utiliza em contraposição ao "queer" (raro, torto, não heterossexual).
'Na dissertação de mestrado da autora, não publicada, chamada "Outras Mullll'r,·.,". qu,·
se encontra na se~ão correspondente, na biblioteca da PUC-SP.
22 Homossexualidade e Perversão na Psicanálise
" Tnmsmitida pela Rede Gloho, no ano de 2(Xl3, durante vá1ios meses, no hnrá1io das 20 horas.
111 Esta "lista" smgida do p·upo de mulheres lésbicas U111as ,. Outra.1·, ,0111 sede na cidade
11 Lacan, J. (1962/62). Seminário 10. A Angústia. Inédito. (na época qm, foi escrito esse
trabalho)
" Lacan, J. (1965/66). Seminário 13. O objeto da psicanálise. lnédirn.
D Lacan, J. (1956/57). O Seminário. Livro 4. A Relação de obje/o. Rio de Janeiro, Jorge
Zahar, 1995.
Gradeia Haydée Barbero 27
Um caso paradigmático
14 Ver o artigo de Allouch, J. "Acoger lo~ Gay & Lesbian Srudies". ln: l.ito1,1/. 11 • 'I.
Córdoba, Edelp, abril de 1999, pp. 171-177.
i; Nome dado por Lacan e que logo fora utilizado pelos psicanalistns '""' rn,,1
28 Homossexualidade e Perversão na Psicanálise
18 ''Adriana Pax, 22, e l!arntrina, 34, contaram para o Mixbrasi/ rnmo .f<,i a cerimônia
Não pelo casamento em si, mas pela forma como nosso beijo de
língua foi explorado. Parecia que nós queríamos chocar a
sociedade, quando, na realidade, só estávamos sendo naturais.
O "GLS" existe, se casa, se divorcia e isso não tem nada de
fantâstico. Fantástico e espantoso é a situaçüo precária em que o
nosso país se encontra (. .. )
Para /tacatrina, a barra.foi pior do que quando ela saiu na Época:
perdeu o emprego quando a reportagem ainda estava no ar e nós
recebemos ameaças por tele.fone. Na casa da minha miie o tele.fone
não parava: eram os .familiares tomando satis.fàção. Tive parente
enfartando ao ver a matéria na TV e o tal beijo que chocou. Estamos
agüentando a maior barra e nossa lua-de-mel está sendo uma lua
de fel. (. .. ) Nós não fizemos nada de errado! Apenas estamos
seguindo o curso de nossas vidas. (. .. ) Isso é natural, sempre existiu,
só que ninguém o havia mostrado por aqui. Houve quem me dissesse
que .foi o primeiro rnsamento de duas mulheres do Brasil. Eu não
sei!( ... )
O importante é que estamosfirmes e fortes. O nosso amor e o nosso
orgulho é maior do que tudo isso. O casamento.foi lindo. Estamos
gratas a todos que nos apoiaram e que estão apoiando. Nüo nos
arrependemos nem um pouquinho e estamos aí para o que vie,: As
pessoas pliquenas podem ameaçar ou enfartar porque nós vamos
continuar beijando muuiiito!!! !! ! ! "
Estas duas moças, fazendo de conta que tudo é tão normal quanto
elas o sentem, representam aquela parcela da população lésbica que
luta para ser aceita e pensa que está lutando por uma mera questão
de direitos humanos, de defesa de uma minoria.
Sem intenções de diagnosticar as pessoas, eu diria que se trata de
um discurso histérico, do tipo "eu não tenho nada a ver com isso" (com
isso sexual que desperto no outro). O que está em jogo aqui, na realidade,
é a dialética entre o desejo e o gozo, entre o permitido e o proibido, entre
o velho e o novo. O problema não é somente o de uma minoria discrimi-
nada e sim o que a visibilidade destas imagens, até há pouco tempo inad-
missíveis, escancarada na imprensa, pode significar para a maioria.
Gradeia Haydée Barbero 33
'" "Sair do armârio" é uma expressão utilizada no meio GLS que significa se mostrar,
abrir sua orientação sexual ao conhecimento püblico, pari:ial ou totalmente.
34 Homossexualidade e Perversão na Psicanálise
INTERLOCUÇÕES E NOVAS
REFERÊNCIAS PARA A PSICANÁLISE
"'Allouch, J. "Acogcr los Gay anti leshicm Sttulies". Revista litoral, nº 27. pp. 171 e
174: "Allí donde habrâ dominado e/ adaptatil'o psicoanâlisis dei yo, tan dummente
criticado por Lacun wues de que terminara por reducir el psicoanálisis u ca.1·i nada e11
los lugares mismos donde se pretendía ejercer/o ( ... ), al/í mi.m10 apareciô este nuevo
campo. (... ) Cômo acoger esos gay and lesbian stlldies? No hay 111ús que u11u respuesta
c1ue esté, digamos, en e/ estilo, e11 la m,meru de Lacan: contribuir a eso! ".
42 Homossexualidade e Perversão na Psicanálise
" Alemán, J. "Lacan, Foucault: el debate sobre cl constrnccionismo". /11: Colofón, nº 21,
Boletín de la Federaciún Internacional de Bibliotecas dcl Campo Freudiano. Madri, ELI',
2002.
~0Não estou diferenciando aqui as diferentes facetas do movimento quel'r. j:í qut· isso
implicaria uma pesquisa mais aprofundada e não me pareceu neccss:írio para os rins
atuais.
44 Homossexualidade e Perversão na Psicanálise
Uma das figuras que se destaca neste campo pelas suas impor-
tantes e profusas contribuições, Judith Butler, parte da afirmação
aparentemente contraditória de que não quer ser identificada como
uma teórica lésbica nem queer já que isto a colocaria contra suas
próprias idéias antinormativas, mas ao mesmo tempo, politicamente,
afirma não poder deixar de nomear-se lesbiana, já que é um signo
que define a posição desde a qual fala.
Em um texto que discute a "insubordinaçüo de gênero" 27 ela
desenvolve esta aporia, mostrando quanto este campo é complexo e
difícil de generalizar ou sintetizar. Começa especificando que não se
sente urna teórica lésbica ou gay, já que qualquer categoria de identi-
dade, segundo ela, tende a ser um instrumento normativo, a favor ou
contra alguma opressão, mas, ao mesmo tempo, estaria identificada
com este ''signo'' referente a uma posição política. Para ela, as ca-
tegorias identitárias são sítios de conflito necessários. Também ques-
tiona a própria palavra teoria, que ocultaria o sentido político que
inevitavelmente carrega. Ela mostra, entre outras coisas, como fora
construída a identidade lésbica na teoria e na ideologia de forma a
parecer uma cópia errada, uma cópia ruim de alguma identidade que
seria a verdadeira, a original, a certa (a heterossexual), mas, para ela,
todas as categorias sexuais identitárias são sempre cópias, quer dizer,
não há original e derivação, somos todos "transexuais".
género e identidwles sexuales. Buenos Aires, Edelp, julho de 2000, pp. 87-113.
08Il>id., p. 98: "No hay un género propio, un género propio de un sexo más que de
otro ... ··.
46 Homossexualidade e Perversão na Psicanálise
' 9 No dél:imo primeiro número do Cadernos Pagu, cm 1998, seu quinto uno de existên-
cia, propõe-se um debate sobre a forma que a cotegoria de gênero tem influenciado as
pesquisas acadêmicas, depois de mais de dez anos sendo utilizado em nosso meio. Este
número, denominado "Trnjetórias de gênero, masculinidades ... " e publicado pelo Núcleo
de Estudos de Gênero da Unicamp (Campinas, SP) é representativo das inúmeras contri-
buições que existiram e continuam a ser desenvolvidas sob esta perspectiva nas ciências
sociais.
"' Opacidades - Revista de psicanálise, nº 1: Erotvlôgica .. Edigraf, Buenos Aires, agosto
de 2001. Apresentação: pp. 7-11.
11 Butler, J. "E! falo lesbiano y e! imaginario morfológico··. ln: Sexualidad, género y
.,, Estarei incluindo estas referências, quando não façam parte da bibliogr.if'ia geral, cm um
anexo bibliográfico.
33 Santos, R. e Garcia W. (organizadores). A Escrita de Adé - 1'1•r.,1}(·cti1•as 11',íricas dos
Estudos Gays e Lésbicos no Brasil. Vários autores. São Paulo. Xam;i Edi1ora. julho de
2002.
Gradeia Haydée Barbero 49
·'" Ver l'undamcntalmentc a esse respeito: Bersani, L Homo.1·, E/ recto es 1111a tumba e dois
artigos publicados na revista Liwral: "Sociabilidad y Levante", e "Sociabilidad y
sexualidad". As referências respectivas aparecem na bibliografia final.
3~ Halperin, D. ( 1995). San Fo11cau/t - Para una hagiografia gay. Córdoba, Cuadernos
37lbid., p. 87.
38Tal e qual o explica no primeiro volume da História da Sexualidade (ver referências na
nota número 29 deste mesmo capítulo). Remeto, entre muitos coml'lllários existentes
sobre este termo, ao capítulo respectivo da minha dissertação de mestrado (PUC, SP,
1997).
<iraciela Haydée Barbero 51
39 Slavov Zizec faz uma afirmação rápida sobre isto na revista Clique, 11º 2, de agosto
2003, p. 37, no artigo chamado "Nada de sexo, por favor, somos pós-humanos''.
40 Atualmente publicado em espanhol: Preciado. B. M1111ijiesto Contra-sexual. Madri,
"' Ele diz exatamente, em E/ Psicomuílisis, una eroto/ogía de pasqje, Córdoba, Cuadernos
de Litoral, Edelp, 1998, p. 169: "Te11go una dec/araciôn 1111e hacerl<!.~: la posición dei
psicowuílisis, digo, será Jóucaulliana o <!l psicoanúlisis no será más. Ade11uís, reremos
que ese fue siempre e/ caso.".
"' Pasternac, M. "Hcterogeneidad de las referencias a Foucault". ln: Revista Litoral, n"
28. La opc1cidml .l'<'.rnal li. Lacem - Fouccllllt. Córdoba, Edelp, 1999, p. 166. " ... -:,
indispensable para el Psicoanálisis, arnenazado de desaparecer de la especificidad d,, la
prática corno consequencia dei desliz para una normatización moralizunt~ ...
54 Homossexualidade e Peiversão na Psicanálise
lhid., p. 166: "Allouch, enronces, ha encontrado en los textos dl' lo., ,·.rtudiosos que
·16
testimonian ele .,·u conjronraciôn vivida y reflexiva de las cuestiones d<' la aôtica y dei
género, los /lamados Gay &Lesbian Studies, un gran estímulo pura /ornlbir cómo por
e! lado de la ignorcmcia de sus aportes pertinentes se prese111a l'Í riesgo 111uyor de la
recuperación dei psicoanálisis para una técnica normurizadom. ".
Graciela Haydée Barbero 55
" Há um artigo de J. Allouch que mostra como podem ser articulados alguns conceitos ,h-
Lacan e Foucault, para além das aparências: "A intensificação do prazer é um pl11, d,·
gozo". (Fonte, revista virtual Acheronta, nº IOJ. Título em espanhol em 1101:i <, 1.
" Lacan, J. (1970-7 l ). O Seminário, livro 20. Mais Ainda. São Paulo. Jorge /aliar.
1985.
'" Lacan, J. (1962-63). A Angústia. Seminário 10. Inédito.
56 Homossexualidade e Perversão na Psicanálise
plo, de que durante trinta anos (de 1930 aos anos sessenta, quando Lacan
abriu as portas da Psicanálise para as pessoas homossexuais, segundo
afirmam Roudinesco e Plon no seu dicionário 50 ) tinha sido barrado o
acesso delas às instituições psicanalíticas. Um fato que faz com que
ainda precisemos falar de homossexuais, sem que isto signifique tomar
partido pela existência de identidades petrificadas ou essenciais.
Lembremo-nos de que o próprio Lacan afirmara claramente (em
resposta às reflexões de Foucault sobre a perversão, segundo afirma
Mayette Viltard em artigo mencionado em nota de rodapé nº 55) que:
"Esses trl.1· ensaios sobre uma teoria sexual! Bem, é que a perversão
é normal. Temos que voltar a partir daí, de uma vez por todas,
então, o problema da construção clínica seria saber porque há
perversos anormais( ... )". 51
Esta é uma frase que diz muito para quem pode ouvir. Qual
seria a diferença entre uma homossexualidade normal e uma perver-
sa, por exemplo? Talvez ele esteja indicando, com este comentário,
justamente a diferença que pretendemos remarcar entre um sujeito
que "sofre" de uma perversão e as variedades atuais do erotismo.
Tratarei disto no Capítulo IV.
Esta frase, apesar das diferenças de perspectiva, não entra em
desacordo com as postulações de Foucault. Como vimos anterior-
mente, ele pensava que o projeto ético mais urgente dos homossexuais
era o de definir novos modos relacionais, um novo modo de vida com
uma cultura e uma ética distintas, algo um pouco difícil de entender
se não considerássemos que, para Foucault, a homossexualidade não
'º Roudinesco, E. e Plon, M. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro, Jorge Zahar. Ver
verbete: homossexualidade (p. 350).
51 Lacan, J. (1965-66). O obje10 da Psicwzâlise. Inédito. Apud Beatriz Aguad, in: "Qué
"Aguad, Beatriz. "Qué cs la Scxualidad ". ln: Me cayô el veillle, op. cit., pp. 105-123.
~3 Lacan, J. O Ohjeto da Psicanálise. Op.Cil. Apud Aguad, B. Op. Cit.: "( ... ) lo que se trata
de articular cs e! fundamento dei deseo y - cn tanto que no se llega hasta ahí - ni siquiera
se ha asegurado el campo de la sexualidad. El mito de Edipo no nos ensefía nada en
absoluto sobre lo que es ser hombre o mujer.".
54 Lacan, J. (1975-76). O sintoma. Inédito. Apud Aguad, B. Op. Ci1.: ·Todo debe ser
op. cit., pp. 115-161. (Original publicado em L'Unbévue, 11º 12. Paris, 1999.)
56 lbid., p. 115.
<iraciela Haydée Barbero 59
·' Esta conferênda !'oi publicada, em espanhol na revista Litoral, nº 25/26. La jimâôn
11·crewrio. Córdoba, Edelp, 1998.
Lacan, J. O Ohjero da Psicwuí/i.1·(', op. cit.
··• Ver nos Anexos.
"' Foucault, M. (1976). Histâria da sexualidade. Vol. 1. A vontade de saber. 2ª ed. em
l"'1·tuguês. Rio de Janeiro, Graal, 1979.
'·' /\Jlouch, J. "La inlensificación dei placer es un plus de gozo". Artigo encontrado na
,,·vista virtual Acheronta, nº 10, 29/06/2000. A tradução deste "plus de gozar" em
i'''rtuguês costuma ser "mais gozar". Eu preferi deixar o termo da forma como Allouch
·.,· utiliza em espanhol.
60 Homossexualidade e Perversão na Psicanálise
"Do sujeito por fim em questão"62 , cujo mesmo título sugere que o
sujeito é tomado como pergunta e não como ponto de partida.
Depois deste momento, porém, ambos parecem ter desviado sua
atenção. Foucault deixa de se interessar nos seminários de Lacan de-
pois da invenção do objeto a, talvez pelo seu hermetismo. Mas, segun-
do Allouch, foi justamente este o ponto de encontro fundamental: a
invenção maior de Lacan, o objeto a, é justamente aquilo que está em
jogo na erotologia contemporânea, e aquilo que Foucault procura com
sua "intensificação do prazer". Adi vergência entre eles, pensa Allouch,
tem a ver com seus diferentes pontos de vista sobre o discurso. Lacan
desenvolve, no Seminário 17, O avesso da psicanálise63 , urna teoria
dos discursos, e Foucault pensa que isto não é possível.
Mas eles estariam criando ao redor de um mesmo problema: a
erótica do objeto a, que em Foucault se escreve como relação do
intenso com o verdadeiro.
Outro ponto que pareceria diferenciá-los é aquele do prazer:
Foucault faz valer o prazer perante o desejo, mas, diz Allouch, con-
vém não endurecer esta oposição, já que em última instância Foucault
quer "fazer seguir" o desejo ao prazer ("Nôs devemos criar praze-
res novos, entao, talvez o desejo siga."). 64
Por isso, ele conclui que não é uma oposição que exclua os ter-
mos. A paitir daí, ele faz uma relação afirmando que se trataria pelo
menos de três termos e não de dois: prazer, desejo e ato, que jogariam
de forma diferente em diferentes culturas e momentos históricos. As-
sim fica mais claro que o prazer de Foucault, não é o freudiano, de
diminuição das tensões, e sim o que corresponde ao conceito lacaniano
de gozo. A crítica de Foucault sobre a relação do desejo com o sujeito
na psicanálise, é superada quando Lacan, ulu·apassando sua própria
6' Lacan, J. (1966). "Dei sujetn por fin cuestionado". ln: Escritos /, 15° edição em
6' lbid., p. 9: "El paquete de gozo que hace al sujeto deseante, em ranto perdido."
ln: Nota 38, p. 32.
'' 6
www.jeanallouch.com.
Gradeia Haydée Barbero 63
68 lbid.. p. 10: ''E.I· ali;o producido por w1 grupo oficial y muy imporflmle de larnnianos.
La nueva norma es lo que el/os /laman el orden simbólico. Creen que en el orden
simbólico habría algo //amado complejo de Edipo que .fimciona para normalizar el
sujeto. No dieron todavía e/ paso que diô Lacan cuwulo redujo d simbólico a la
rdación entre dos significantes, creen que e11 el simbólico hay formaciones como el
complejo de Edipo y e11 realidad só/o hay signijirnntes. Se rejieren a lo que Lacan d(io
en los anos cincuema sin tomar en cuenta sus cambias de posición. ··
"º Allouch, J. "Dialogar com Lacan". ln: Litoral. Lacan cmz Freud, nº 14. Córdoba,
Edelp, fevereiro de 1993.
64 Homossexualidade e Perversão na Psicanálise
"' /hid., p. 129: "Hoy es evidente que la lectura de Lacan estú apenas iniciada; que
cuando se pretende decir lo que é/ dijo, a menudo lo único que se hace es ais/ar
arbitrariamente tal o cual }ltse de su camino. En particulm; el impasse es casi general
sobre sus últimos pasos. Acaso serían prescindibles? No habría a partir de allí un efecto
de apres coup susceptible de esclarecer el conjunto de su recorrido? 'Nuestro diálogo
com Lacan es ahora un a.1·u11to de lectura. (... ) poseemo.1· l/11 principio de experiencia,
algunas muleta.\' para esta lel.'tura (... ) 110 ig11ora1110.1· que es más cómodo abordar a
Lacan a partir de SII.I' seminarios. Y además .l'abemos que solo la lectura de los seminarios
permite el desciframiento de numerosos textos escritos. (... ) hay, corre/ativamente, un
cierro número de conferencias o intervenciones que no Jueron jamá.l' publicadas. (... )
tales transcripciones s011 ampliamente erróneas... '".
71 Há numerosos artigos sobre esses erotismos novos e "perigosos''; ver, por exemplo, o
último número dos Cademos Pagu - Eroti.vmo, Prazer, Perigo. Rcvisla do "Núcleo de
Estudos de Gênero Pagu", da Universidade Estadual de Campinas, n" 20. Campinas, São
Paulo, primeiro semestre de 2003.
72 "( ... ) los conceptos de homosexualidad y de perversicín ji11•1w1 111w i11venció11 cultural
y no existen más como tales." (Da mesma reportagem que estamos citando.)
Gradeia Haydée Barbero 65
Ele afüma que Freud construiu sua teoria contra a normalização so-
cial (campo sensivelmente mais amplo do que o da lei, diz Foucault) que já
teria sido estabelecida de um modo particular (ética do puritanismo), mas
não conseguiu desprendê-la totalmente da teoria da degeneração (elemen-
tos "constitucionais"). É por isso, segundo Allouch, que precisamos de Lacan
e de outros pi.mt continuar neste caminho. Por outra parte sublinha a forma
abcrw. da ternia, que teria permitido mudanças fundamentais, em ambos
autores, à medida que se desenvolveu. Não deveriamos ignorá-las.
7-' lbid., p. 178: "fo no digo otra cosa. Sobre el estatlllo dei psicoan.álisis como erotología,
Iras haber sido sin duda precedido por l1.1ca11 en 1962-63, Foucault nos ha precedido; y
1w podemos hacer nada mejor, rnn Lacem. tie que alcanzarlo. Es tan tonto como eso. ".
1• lbid., pp. 180/ l 8 I: "Lacan no es una tesis, 110 es w1 'sistema de pen.samie,uo ·• es un camino
abierto, es un movimiento, es un recorrido. Así, cuando abandona como una 1•ieja pie[ la
inter.mbjetividad o la palabra plena, el deseo definido hegelianamellle wmo de.1·eo dei Otro,
o el estatuto paradig11uítico de RS/, lo vemos en efecto separarse él mi.1·1110 d,• él mismo, pensar
contra él mi~mo, y con un detenninado Freud, el de la resistencia a la 110111w. Sin embargo
él estaba, de esta fomza, gustándole o no, contribuyendo para <T<'t/1" 11110 1111e1•a norma.".
<iraciela Haydée Barbero 67
" lbicl., p. 182: Texlualmenle Allouch diz: "Decir que el psicowuílisi.1· e.1· una autvlogía,
en q11é lo es, en qué esa erotología 110 es lmena para cualquieru, es muy precisamente
resistir a e.m norma/izaciô11, a esse 'arcaí.mw erótico' que Foucault (sin dud11 más librt•
que Lanm a esse respecto) se1ialaba en Freud.".
' 6 Allouch, J. "Cuando e! falo fa!La". bi: GrajTas de Eros, op. cit., pp. 199-210: "Pueclo
indicar algo que hizo Lacan en /963, una operaciôn extrana y todavía desatendida
ampliamenle, cuyas conseq11e11cias 110 se lum acabado de medir: la destrucci<Í11, tle
hecho, de la heterosexualidacl. ".
68 Homossexualidade e Petversão na Psicanálise
77 Allouch, J. "Acoger los Gay & Lesbian S1udies". Op. Ci1., p. 176: "( ... ) como si esa
... Ga11ha .fi>r("ll a idéia de lnt~er à ce11a as bruxas, e penso que ela vai direto ao alvo.
Começam a l/volumar-se os detalhes. O se11 "vôo" estâ explicado; o cabo de
,·assoura c•m que montam é provavelmente o grande Senhor Pê11is. Suas reuni<ies
sc•,.,-e1e1s, cum danças e owros dil'ertimelllos. pudem ser vistas, 1odos os dias,
nas ruas onde há crianças .
... Em minha mente está-se ji1rmando a idéia de que, nas perl'er.1·<1es, das quais a
histeria ,; 11 11eglltivo, podemos ter diante de nós um remanescente de um culto sexual
primel'o que, no Oriente semítico (Moloch, Astarte), em certll época, ji>i,
e wlvez. ainda seja, wna re/igitio ...
... As ll\'(JC',\' pervertidas, além disso, süo sempre as 111es11111.1· --- 1h11 um sig11Uh:mlo e
.wio executadas segundo um pacirtio q11e hâ de ser possí1•el co111pree11cie1:
l'orlcmlo, 1·e11ho .rnnlumdo com 11111a religiiio demoníllc·a pri111e1·a, c11jos ritos sc7o
e.rec·utado.\· se<'reta111e11/c 1, e ,·0111prC'n1elo o lrala111e1110 se1 ero prescrito pelos j11í;:,es (Is
1
Sigmund Freud'"
'° Freud, S. ( 1892-1899) (primeira publicação: 1950). Carta nº 57. ln: AE, vol. I:
"Extrato dos documentos dirigidos a Fliess", pp. 211-322. Daqui cm diante estarei
citando os textos freudianos, tais como aparecem nas Obras Completas de Sigm1111d
Freud (AE), publicadas entre 1978 e 1985 por Amorrortu Editores, em Buenos Aires e
cuja tradução para o português fora realizada por mim.
70 Homossexualidade e Perversão na Psicanálise
e1llre les ji:mmes, Paris, Editions Odile Jacob, 1995) também faz esse comentário.
74 Homossexualidade e Perversão na Psicanálise
"' Lévi-Strauss, C. Las es1ruc111ras e/eme111ares dei pare111esco. Buenos Aires, Editorial
Paidos, 1969.
76 Homossexualidade e Petversão na Psicanálise
83 Calligaris, C. "As diferenças sexuais". ln: Pulsional. Boletim ,Je Novidades, nº 86,
''' Alves Ferreira Neto, Geraldino. "Perversão ou Perversões". ln: Espaços da Clínica,
vol. IV, nº 6, São Paulo, julho de 1999.
84 Homossexualidade e Peiversão na Psicanálise
92 Freud, S. (1905). Tres ensayos de teoria sexual. ln: op. cit., vol. VII, pp. 109-224.
Gradeia Haydée Barbero 85
,,., McDougall, J. As múltiplas júces de F,ro.1·. São Paulo, Martins Fontes, 1997.
86 Homossexualidade e Perversão na Psicanálise
'°' Freud, S. (1913; 1924). Neuro.1·is y Psicosis. /11: op. cit., vol. XIX, pp. 151-160.
1"' Freud, S. (1929; 1930). El ma/estar en la cultura. ln: op. cit., vol. XXI, pp. 57-140.
<.raciela Haydée Barbero 91
107 'felles, S. Este trabalho foi publicado na coluna do autor no Psychiatry on tine: Brazil
114 Torres, E. •·uma perversão chamada desejo". /11: Interpretação: sobre o método da
Publicada em texto pela cooperativa cultural Jacques Lacan de Salvador, pp. 9-19.
98 Homossexualidade e Peiversão na Psicanálise
116 Laurentis, T. de. The prai·tice uf {ove: Lesbia11 sexuality and perva.w' desire. Indiana,
masculinos.
100 Homossexualidade e Perversão na Psicanálise
'"' Refiro-me à jovem cujo tratamento, realizado por Sigmund Freud, foi publicado sob o
título: "Sobre a psicogênese de um caso de homossexualidade feminina" ( 1920). ln:
Freud, Sigmund.- Op. Cit., vol. XVlll, pp. 1:17-164. Poderei me referir a ela como "a
jovem·· ou "a jovem homossexual" indistintamente, já que seu nome s(Í nos é conhecido
por outras referências que não a freudiana e que explicitarei mais adiante neste mesmo
capítulo.
1~1 Freud, S. ( 1901; 1905). "Fragmento de análise de um caso de histeria''. ln: op .cit., vol.
Vll-1, pp. 1-108. "Dora" é o nome com que Freud denomina a paciente neste comentá-
rio de um caso clínico de histeria.
104 Homossexualidade e Perversão na Psicanálise
çou a pensar-se nela, então, como uma prática sexual distinta, o que
fez com que se falasse de homossexualidades e não mais de homos-
sex uai idade, para deixar claro que não se tratava de uma es-
trutura específica e sim de um componente da sexualidade humana
que incluía numerosos comportamentos que se apresentavam em to-
das as estruturas psíquicas (se bem que com características diferen-
tes) assim como a heterossexualidade, ainda que nunca tenha se fa-
lado de heterossexualidades.
Porém, como acabo de mostrar, muitos psicanalistas utilizam
ainda indistintamente o termo homossexualidade e o de desvio ou
perversão, baseados no qualificativo de inversão (genital) com o qual
Freud se referiu às pessoas homossexuais, ou generalizando, como
veremos, o mecanismo da renegação descoberto por Freud no
fetichismo.
Inverter significa tornar ou voltar em sentido contrário ao natu-
ral, segundo o dicionário, mas não existe nada "natural" no comporta-
mento nem no desejo humano. Portanto, inverter, neste caso, signifi-
cmia tornar do avesso o quê? Simplesmente o esperado, por quem?
Pela cultura, é claro, mas a cultura não é fixa, nem eterna, e contém
sempre elementos de transformação; este é claramente um deles.
Muitas vezes, como vimos, os próprios autores lacanianos utili-
zam ambos os termos como sinônimos. Serge André ( ver mais adian-
te), por exemplo, considera "a jovem" como o paradigma de uma
estrutura perversa, enquanto Dora o seria da histeria, levando a pen-
sar somente em duas possibilidades para a homossexualidade femini-
na: perversão ou histeria. Freud considerou que o caso da "jovem" se
tratava de uma inversão, não neurótica, sem sintomas histéricos e
"amando à maneira de um homem"; ela sofreria, segundo ele, de
um complexo de masculinidade. Mas, será que ela "sofria" de al-
guma doença, neurótica ou perversa, ou sofria pela rejeição paterna,
derivada do fato de ela se apaixonar por mulheres, e pela rejeição
social que provavelmente causara o fato de ela amar uma mulher,
além de tudo considerada uma "cocotte", alguém de cuja moralidade
podia se duvidar?
108 Homossexualidade e Perversão na Psicanálise
Que variam até certo grau com independência umas das outras e
se apresentam em cada indivíduo dentro de múltiplas permutações.
A literatura tendenciosa tem dificultado a compreensão desses
11exos, enquanto por motivos práticos empurrou ao primeiro plano
a única conduta chamati1•a para o leigo, a correspondente ao
terceiro ponto, ou seja. a eleição de ol~jeto, e também exagerou a
fixidez da associação entre este ponto e o primeiro. Além disso,
bloqueia o caminho que permitiria uma visiío mais prc?funda de
tudo que uniformemente se designa como homossexualidade, ao
rejeitar dois fatos fundamentais, revelados pela investigação
AE, cap. IV, pp. 163/164: "Por tanro, el misterio de la homosexualidad en modo
alguno es um simple como se propende a imaginar/o en el uso popular: 1111 alma
femenina, forzada por t'.l'U a amar ai varôn, instalada para desdicha e11 un cuerpo
masculino; o un alma viril, 111raíd11 irresis1ih/eme11te por la mujer, desterrada para .1·u
desgracia a um cuerpo femenino. Mú.1· hien se /rala de tres series de caracteres:
]) Caracteres sexualcs somálirns.
(Hermafroditismo físiw.)
2) Carácter sexual psíquico:
Actitud masculina o femenina.
3) Tipo de elección de objeto.
Que h11.1·ta cieno grado varían co11 independencia u110.1· til' otro.l' y .w· 1m•senta11 en cada
individuo dentro de múlliples permutaciones. La literatura t,•11cl,·1wios11 ha dificultado
lu intelección de e.ws nexos, en cuwuo por motivos prúclico.1· lw ,·111p11jado al prirner
plano la única conduc/a llamativa para el lego, la correspondiellll' ai tacer punto, el
de la e/ecciôn de objeto, y ademâs ha exagerado la fijeza dei PÍ11c11lo e111re este y el
primer punto. Por aiíadidura, derra e/ camino que lleva a la vi.1·ití11 111ú.1· profunda de
todo cuanto se designa u11ifi1mU'me111e como homosexualidad, ai reclur;.ar dos hechos
fundamentales que la investigadón psicoanalítica ha descubierto. fü primero, que los
hombres homosexuales han experimentado una j,jación particularmenfl' fuerle a la
madre; el segundo, que todos los normales, junto a su heterosexualidad manifieslll,
dejan l'er u11a cuota muy elevada de homosexualidad latente o inco11.1·,·ienle. Y cuando
se ha tomado en cuenta esle descubrimiento, no ha sido sino para abonar el supuesto
de admitir un 'tercer sexo', que la natura/eza habría creado por travieso capricho.".
Gradeia Haydée Barbero 111
1.1n 1-'rcud, S. (1892-99; 1950). Fragmentos de la corre.11Jo11de11cie1 nm F/iess. ln: AE, vol.
1, pp. 211-322.
"' 1-'rcud, S. ( 1900). J111erpretación de los sueiíos. ln: Op. Cit., vol. IV. Capítulo "Sueiíos
típicos", pp. 252-284.
1-' 2 Freud, S. Sobre 1m tipo particular de elección de objeto en e/ hombre. ln: AE, vol. XI,
pp. 155-169.
m Freud, S. Op. Cit. (1921). J'.l'ico/o[?ía de las masus y aná/isis dei yo. /11: AE, vol. XVIlJ,
pp. 63-136.
"" Freud, S. Op. Cil. (1923). E/ yo y e/ e/lo. ln: AE, vol. XIX, pp. 1-66.
i), 1-'reud, S. Op. Cit. (1923). La orga11iwció11 genital infantil. /11: AE, vol. XIX, pp. 141-
150.
"º Freud, S. AE. Respectivamente: ( 1931) Sobre la sexualidad femenina, vol. XXI, pp.
223-245 e ( 1932) La feminilidad, vol. XXII, pp. 104-125.
Gradeia Haydée Barbero 113
Freud, S. (1893). Charcot. ln: AE, vol. III, p. 15. Esta frase, que traduzida, diria:
1-' 7
"Teoria está bem, mas não impede as coisas de existirem", Freud a ouviu pela primeira
vez de Charcot, perante um comentário que, segundo consta em nota de rodapé da edição
de Amorrortu, teria sido do próprio Freud, no qual a pessoa teria dito para Charcot: "Isso
não pode ser, pois contradiz a teoria de Young-Helmoltz.". Freud ficou impressionado
com a sentença e a repetiu em toda a sua vida.
<iraciela Haydée Barbero 115
ções, sendo que o pai é nada mais do que uma delas, especialmente
porque pai é aqui somente uma função.
A existência desta terceira fase do Édipo nos permite separar
masculino-feminino das funções paterna e materna e pensar com
elementos distantes da empiria e do concreto.
Segundo este esquema, seria a "jovem homossexual" uma per-
versa? Não concordo, para começar, com o comentário de Serge
André, cujo trabalho sobre este tema comentarei a seguir, de que isto
estaria demonstrado porque a "dama" adorada pela jovem, por con-
ter elementos matemos e semelhanças com o irmão (figura paterna
neste caso), seria a representação de uma mãe fálica. A dinâmica
correspondente ao primeiro e segundo tempo do Édipo não se baseia
em considerações tão superficiais. Cremos que estas teorizações sobre
a perversão são insuficientes e deixam alguns pontos sem explica-
ção. O mesmo Lacan vai modificar suas idéias a respeito, entre 1958
e 1963, como veremos mais adiante.
Parece-me interessante introduzir, neste ponto, as idéias do psica-
nalista francês Serge André 139 , com alguns detaJhes, que me permiti-
rão certas reflexões críticas. Vou me centrar nos capítulos 9, 1Oe 11 do
livro citado, onde ele faz um percurso da obra freudiana em relação à
sexualidade feminina, a partir dos seus últimos textos a este respeito,
ou seja, de Unw criança é e.\plmctula 140 em diante. No capítulo ante-
rior, André tinha concluído sua análise do caso Dora (da clínica
freudiana) mostrando que, até aí, Freud tinha se deparado com um
impasse criado pela sua crença de que a mulher teria sempre de subs-
tituir seu desejo de falo (inveja do pênis) pelo desejo de um filho. Dessa
forma fecharia, se bem que não tão conclusivamente, seu complexo de
Édipo. Isto faria, segundo Freud (comentário que despertou a reação
adversa do pensamento feminista), com que o superego feminino não
fosse tão rígido e eficaz como o masculino. André pensa que o que
aconteceu foi que Freud fez uma interpretação errada da gravidez in-
,w André, S. O que quer uma mulher? Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1987.
'"" Freud, S. (1919). Op. Cit.
118 Homossexualidade e Perversão na Psicanálise
consciente de Dora, que aparece no seu segundo sonho. Ela teria dito
que a interpretação não era grande coisa e, logo a seguir, abandonado
sua análise. Por quê? Dora tinha endereçado este sonho a Freud, se-
gundo André, porque ela apresentava uma demanda de saber, saber
sobre o centro vazio da sua fascinação, o órgão genital feminino, que
não pôde ser simbolizado sob este ponto de vista, porque não haveria
um significante que o representasse. Freud responde a essa demanda
de saber sobre A Mulher, com o desejo (anseio) de receber um filho.
Entre 1919 e 1925, a doutrina freudiana sobre a mulher muda,
nos lembra André. Os textos-chave para a compreensão deste per-
curso, segundo ele, são, justamente: Bate-se numa criança 141 ,
Psico8ênese de um caso de homossexualidade feminina 142 , Algu-
mas conseqüências psíquicas da diferença anatômica entre os
sexos 143 e, finalmente, Sexualidade feminina e a Feminilidade, tex-
tos com os quais termina sua elaboração sobre o assunto, em 1931 e
1932, respectivamente.·
Em 1919 (Bate-se numa criança), o ponto de origem da pro-
blemática feminina teria sido colocado por Freud na relação ou fixa-
ção amorosa ao pai e a sua saída numa identificação masculina. A
menina, no terceiro momento da fantasia apareceria identificada com
um menino. Em 1925 (Algumas conseqüências psíquicas da dife-
rença anatômica entre os sexos), o ponto de origem seria a fixação
à mãe e a saída o desvio pelo pai diante do qual se assegura uma
posição feminina. Por um lado, diz André, o complexo de Édipo apa-
rece como fundador da perversão, por outro, ele é garantia da posi-
ção normal da menina, o que seria uma contradição. 144
"'' Freud, S. (1919). Op. Cit.
'" Freud, S. (1920). Op. Cit.
14 :i Freud, S. (1925). Alg1mas nmsernencias psíquicas de la diferencia anatómica entre
um cavalheiro que quer venerar e salvar sua dama. Ela era, por outra
parte, uma pessoa que não apresentara nada de anormal na sua in-
fãncia, segundo Freud. Na adolescência teria mostrado sinais de um
Édipo não invertido, mas posteriormente parece ter voltado atrás (no
caminho evolutivo) a partir de uma nova gravidez da mãe, o que lhe
produz uma grande decepção em relação ao pai. Nesta interpreta-
ção, a dama amada aparece como substituta da mãe e do irmão mais
velho, desta forma incluindo os dois lados do complexo. O objeto
correspondia a seu ideal feminino e ao masculino. Mas, por que ela
se volta para a mãe que a tratava como uma rival, se pergunta Freud?
Para responder a esta questão, ele discrimina, na vida amorosa de
um sujeito, entre identificação sexuada e escolha de objeto. A moça,
neste caso, teria na sua mãe o objeto de identificação e também da
sua escolha amorosa. O pai estaria em um lugar de testemunha do
que ocorre entre duas mulheres. Quando ela sofre essa decepção
amorosa, se volta para um substituto da mãe (e do irmão). A menina
troca de identificação sexuada, "torna-se um homem". A relação com
a mãe parece sempre ser ambi valente. André percebe que a questão
da identificação, neste caso pelo menos, não é simples:
"liste amor antigo pela mãe é tanto mais sólido quanto se alimenta
do narcisismo, podendo a que ama identificar-se com seu objeto,
nivelando assim a separação de planos entre a identificação
sexuada e a escolha de objeto.". w,
1-15 Lacan, J. (1956/57) O Seminário. Livro IV. A refarão ele objeto. Rio de Janeiro,
e da escolha de objeto deveria ser mais bem esclarecida, mas no momento não entrare-
mos nela j,í que nos desviaria do assunto que estamos colocando. De qualquer modo, se é
possível que o objeto de amor e de identificação sejam referidos a uma mesma pessoa,
isto não implica necessnriamente na existência de um elemento narcisista patológico
como às vezes se supõe.
Gradeia Haydée Barbero 121
com o feminino, já que este não existe. Por isso o complexo de castra-
ção da menina está carregado de violenta hostiJidade em relação à
mãe. Por um lado (nos homens), surge a ameaça de perder este impor-
tante traço (o signo de virilidade), por outro (nas mulheres) inveja e
ciúme. Mas o traço unário, que oferece a primeira base identificatória,
não vem da mãe ou do pai, vem simplesmente do Outro.
Voltamos às três vias de saída possíveis para uma mulher:
1) A via da neurose, com abandono parcial da sexualidade, que
Freud diz ser o normal. Renuncia à masturbação; a posição
passiva fica parcialmente dirigida ao pai. Ligada ao desejo
de filho, esta posição identifica mulher com mãe. Posição
difícil de sustentar que dá lugar à segunda via (freqüente,
creio cu).
2) A segunda via seria a do complexo de masculinidade. Agarra-
se à atividade masturbatória e à identificação à mãe fálica
ou ao pai (que não é a mesma coisa). André diz que:
15 z Ver, por exemplo, o trabalho de Emilce Dio Bleichmar, na sua obra: O .fi'111i11i.,·1110
1.<1 Favarcl Lucicn: "El Niederkommen. Hacer vibrar armónicamente un sentido lll:ís
161 Existe, por exemplo, um texto de Agnes Aflalo chamado Homo-sexualité femi11i11e er
ravag1•, veiculado pela revista digital Omicar (2002) que generaliza este "niederkommen"
(laiser tomber) para mulheres lésbicas, exemplificando com casos da sua clínica. Segundo
ela, elas foram "deixadas cair", antes do momento de uma identificação (massiva, clara)
ao pai. E mais, este deixar cair seria muito sério: "Le sujet a été reduit par l'Outre, /e plus
souvent /e pere, a un pur statut d'objet humilié, maltraité et devalorisé (... ). ". Poderia-
se entender facilmente que aqui se sugere a interpretação de que as lésbicas, em geral,
tiveram de se dirigir às mulheres como objetos de amor, por terem sido anteriormente
humilhadas e desvalorizadas pelos pais, com quem logo se identificariam massivamente,
o que não que pode ser sempre o caso.
Gradeia Haydée Barbero
165 Ficamos sabendo, na apresentação do livro mencionado, que "a jovem" não gostaria de
que seu verdadeiro nome fosse conhecido, pelo que daqui em diante, a chamarei Sidonie.
166 Uma meia verdade.
Gradeia Haydée Barbero 141
amiga, Dorothy, cujos filhos ela mesma analisou? Uma filha que, com
outros psicanalistas, conseguiu barrar a entrada de pessoas homos-
sexuais na instituição analítica por muitos anos? Minimamente, co-
nhecer os fatos e as diversas interpretações que deles existem.
O ditame do "Professor" - "demasiada resistência" - não tinha
em conta a si mesmo quando diz que o objetivo de uma análise não
pode ser o de mudar as preferências sexuais e menos ainda proibir
uma conduta como condição de análise. Proibindo Sidonie de ver e
relacionar-se com sua dama, ele não terá colaborado, por abstenção,
para que sua vida fosse uma sucessão de desencontros amorosos
com mulheres e homens de diferentes maneiras?
E, voltando ao começo, poderemos saber se esta jovem era per-
versa? Temos alguma resposta para isto nos seus dados biográficos?
Homocrotismo é sinônimo de perversão na psicanálise?
O qualificativo de perverso saiu do âmbito jurídico e entrou no
campo médico perto de 1890 (dez anos antes do nascimento de
Sidonie), sem deixar por isso de ser um conceito ligado à desvaloriza-
ção, à imoralidade, desvio, psicopatia, etc., além de representar, ou
quem sabe, por representar, algo secretamente desejado por muitos:
as fantasias "perversas" do neurótico.
Posso constatar a existência de certo grau de cinismo, neste
momento, atravessando as relações humanas, o que seria, talvez, um
sintoma social importante, no sentido de mostrar algo que não anda
bem nas relações entre os homens, mas, teria isto alguma relação
com as novas possibilidades de expressão da sexualidade, da identi-
dade e do amor homossexual de fórma socialmente visível? Algo a
ver com a jovem - as jovens ou velhas - homossexuais?
Se de cinismo ou de moral se trata, não é de moral sexual com o
que a psicanálise tem de se preocupar. Ou melhor, tem de se preocu-
par, mas não tomar partido.
Sem entrar aqui na longa reflexão necessária para determinar
qual é, ou deveria ser, a relação da psicanálise com a ética e com a
moral, deixo-a assinalada.
Por enquanto, voltarei na minha pesquisa a focalizar o que Freud
e Lacan, e não mais seus comentadores, disseram sobre o tema.
CAPÍTULO III
HOMOSSEXUALIDADE E
PERVERSÃO NA OBRA DE FREUD
"'' frcud, S. Cartas a Fliess, carta 54. ''En la sexualidad, lo más sublime y lo 111;i·. 11.-1 ..... 1..
aparecen por doquier en íntima dependencia". Na continuação, Freud lr:i, 11111:1 , 11.,,•. 11, d,·
Goethe, Fausto, ªPrólogo en e/ teatro": ªDesde el cielo, pasando por l'i 111111111 ... l1.1·,lo1 .-1
infierno.".
146 Homossexualidade e Perversão na Psicanálise
fatos clínicos ou sociais atuais. Ele teria considerado como fato prin-
cipal o horror frente à falta de pênis na mulher. É isto um fato de
estrutura ligado a todas as "perversões"? Quais os argumentos? No
conceito de "estrutura perversa" de Lacan haveria uma mudança ou
esta sistematização também ajudou a colocar os homossexuais, os
transexuais, os bissexuais, os fetichistas, as mulheres que se apaixo-
naram por mulheres (em qualquer momento da sua vida) e todas as
outras variantes eróticas subjetivas dentro de uma categoria que os
classificasse como um todo, uma categoria nosográfica, patológica?
Parecetia haver em Freud uma tensão entre pênis e falo, uma osci-
lação que não se resolve e ajuda a confundir o campo, mas esta explica-
ção não é suficiente para a determinação de efeitos que até hqje subsis-
tem, mesmo depois de Lacan ter deixado dara esta distinção. De que
sintomas ou efeitos psíquicos estaria dando conta o conceito de estrutura
perversa, se deixarmos de fora a descrição de práticas sexuais que estão
sendo lenta, mas insistentemente, aceitas como legítimas na sociedade
contemporânea? Será que a mesma consegue dar conta de todos os
sujeitos que escolhem, de uma ou outra forma, estas variaçôes eróticas?
Não haveria que se perguntar de que modo está inscrita qualquer prática
sexual no mundo simbólico e imagin{uio de um sujeito?
Se pensarmos que todo sujeito não heterossexual (ou fora dos
padrões convencionais da sexualidade) é perverso, poderíamos ade-
rir à seguinte afirmação de um conceituado psicanalista lacaniano:
""' Dor, J. (1987). Estrutura e perversões. Porto Alegre, Artes Médicas, 1991, p. 103. Os
negritos são da autora.
148 Homossexualidade e Perversão na Psicanálise
"' Freud, S. (1982-99; 1950). Fragmentos de la correspondência com Fliess. bz: AE,
vol. 1, pp. 211-322.
m Freud, S. (1899; 1900). la interpretación de los suenos. ln: AE, vol. IV, pp.1-610
175 Freud, S. (1901; 1905). Op. Cit.
177 Freud, S. (1914). lntroducciôn ai 11arcisi.wno. ln: AE, vol. XIV, pp.65-98.
17" Freud, S. (1905). Op. Cit.
179 Freud, S. (1915). Pulsümes y desti11os de pulsiôn. /11: AE, vol. XIV, pp. 105-134.
"º Freud, S. (1908). Las fa11tasías histéricas y s11 relaciôn con la bisexualidad. ln: AE,
vol. IX, pp. 137-148.
'"' Freud, S. (1908). La moral sexual 'cultural' y la 11erviosidad moderna. ln: AE, vol.
IX, pp. 159-182.
18 ~ Freud, S. (1909). Análisis de la fobia de um nilio de cinco wíos. ln: AE, vol. X, p. 1-118.
l!,O Homossexualidade e Perversão na Psicanálise
187 Freud, S. (1927). Fetichümo. ln: AE, vol. XXI, pp. 141-152.
188 Freud, S. (1938; 1940). La escisiôn dei yo en e/ p,vceso defensivo. ln: AE, vol. XXIII,
pp. 271-278.
18' 1 Freud, S. (1924). E/ problema económico del masoquismo. ln: AE, vol. XIX, pp.
161-176.
'''º Freud, S. (1923; 1924). Neurosis y psicosis. ln: AE, vol. XIX, pp. 151-160.
"" Freud, S. (1921;1922). Sobre algunos mecanismos neuróticos en los celos, la paranoia
1· la homosexualidad. ln: AE, vol. XVlll, pp. 213-226.
,.,. !'reire Costa, J. A face e o Verso - Estudos sobre o homoerotismo li. São Paulo,
l·'.ditora Esi;uta, setembro de 1995. Especialmente o Capítulo 5: "Freud e a homossexu-
:tlid;odc". pp. 185-256.
Gradeia Haydée Barbero 151
51.
154 Homossexualidade e Perversão na Psicanálise
2"' Freud, S.( 1908). Sobre las teorías sexuales infantiles. ln: AE, vai. IX, pp. 183-202.
201 Freud, S.( 1909). Op. Cit.
2"' Freud, S. ( 1925). Op. Cit.
Gradeia Haydée Barbero 155
dade não é uma vantagem, mas também não é uma doença, um cri-
me ou uma desgraça. A psicanálise, diz, a considera como uma vari-
ante daJunção sexual, produto de uma detenção do desenvolvimento
e não se propõe a curá-la. Esta carta é de 1939, quando todas as
teorizações que acabei de resumir já tinham sido desenvolvidas. Con-
cordaríamos com ele sem precisar explicar que se trata de uma de-
tenção do desenvolvimento, que nos parece uma hipótese evolucionista
e desnecess{rria. Muitos anos atrás, o autor tinha dito o mesmo, fa-
lando dos invertidos, se bem que afirmando que uma perversão não
é uma doença, já vimos como ele usou este termo para se referir à
sexualidade desligada da função reprodutora.
Freud colocou explícitamente sua posição política: só deveria
ser acusado em um tribunal aquele que molestasse alguém que não
pudesse (ou quisesse) dar seu consentimento. Este julgamento éti-
co de Freud é, ainda hoje, sustentável. A moral sexual é uma ideo-
logia que atravessa um momento de grandes mudanças enquanto a
ética atinge os comportamentos que devem ser regidos por leis,
aqueles que tratam das relações de uso ou abuso de poder entre as
pessoas. A igualdade perante a lei e o respeito assegurado definem
o estado de direito em que vivemos, incluindo todos os mandamen-
tos da declaração universal dos direitos humanos que governam a
sociedade ocidental democrática. As "variantes da função sexual"
não constituem, já faz muito tempo em nosso mundo, crimes, e,
portanto, não merecem sanções nem propostas de mudança por
parte dos especialistas. Em 1930, Freud se pronunciara em Viena
para a imprensa, declarando estes mesmos princípios em um mo-
mento em que se discutiam mudanças no Código Penal. Ele pensa-
va que as leis que penalizavam a homossexualidade, prática esta
que teria existido em todo tempo e lugar, constituíam uma violação
aos direitos humanos. Esta mesma foi sua posição na instituição
analítica: o que importava para determinar se alguém poderia ser
aceito não era sua forma de sexualidade.
Outros analistas reagiram ideologicamente, negando este direito
às pessoas homossexuais. Freud acabou por aceitar. Porém, parece
1[i8 Homossexualidade e Perversão na Psicanálise
'· ·\·.,andri. fosé. ''Fetichismus··. ln: Litoral 32. Lu invención dei sadismo. Córdoba,
1 • .,1,c1 :1t·;11111irnc' de psychanalyse, Ediciones literales, março de 2002, pp. 111-145.
Gradeia Haydée Barbero 167
218 lbid., p. 120: "Porque ese paso dei fetichismo por el agujero de la mujer sin pene en
en e/ sentido térnic:o dei término y tanto más Cllanto que a vezes es totalmente invellla-
da. Conc:ordaría únicamente con la fábula en la que Longo nos muestra la iniciaciún
de Dafnis y Cloe subordinada a los esclarecimientos de una anciana?".
Gradeia Haydée Barbero 173
''" lbid., p. 134: " (. .. ) Ji111da111e11tar la teoría de las perversümes y servir de prueba para
la misma, cuando ,m realidad se hacía pre.wmte aquí todo el artifício dei erotismo en
general, la e11cenijicacüí11 erótica para la c:ual no lzay rwturaleza hombre ni mujer sino
revelándose como enc:enijkaciones, c:onslrucc:iones, artifícios eróticos con los que
ulgwws, independientemente de la sexuac:ic5n con que jileran marcados, fabrican el
artif'ício de sus satisfaccione.1· en un resplandeciente politeísmo. "
"" Freud, S. (1905). Op. Cit.
As numerosas notas de rodapé deste artigo foram sendo agregadas em anos posteriores,
a partir das modificações e especificações que Freud ia introduzindo na teoria.
Gradeia Haydée Barbero 175
"(. .. ) niio por acaso me servirei do fetiche como tal, onde se revela
a dimensão do objeto como causa do de.l'C'.ͺ· Porque o desejado
não é o sapatinho, nem o peito, nem qualquer coisa que encarne o
fetiche; o fetiche causa o desejo que vai se ligar onde pode, sobre
o que de forma alguma é necessário que carregue o sapatinho, o
sapatinho pode estar por perto, também mio é ne<"essário que leve
o peito: o peito pode estar dentro da cabera. Como todo mundo
sabe, para o fetichista é prl'Ciso que o.fetiche esteja ali, o.fetiche é
a condiçüo na t/Util se sustenta o desejo. "~35
"-'-' Este grafo, que liga o (objeto) a e a morte, est,í desenvolvido também no seminário
mencionado e apresenta uma representação dos viírios objetos a (seio, excremento, voz,
olhar e falo), difrrenciando este último somente na medida em 4ue pode "smrbhmtear"
todos os outros.
,J., Alusão ao título do artigo de J. Allouch, já citado.
º·'·' Lacan, J. Apud: Assandri, J. Op. Cit. p. 144: " (... ) 110 por azar me serviré dei fetiche
como tal, donde se revela la di111ensirí11 dei obje/0 como causa dei deseo. Porque lo
deseado no es e/ ::,apatiw, 11i e/ pecho, 11i c:ualquier c:osa que encarne el fetiche; el fetiche
causa e/ deseo que vu a ligarse donde puede, sobre e/ que 110 es necesario de Jimna
a[f?una que cargue e/ zapalito, e/ zapatito puede estar cerca, tampoco es necesario que
/leve el pecho: el pecho puede estar dentro de la cabeza. Como wdo e/ mundo sabe,
para el fetichista es preciso que e/ fetiche este ahí, el fetiche es la c:ondiciôn en la que se
sustenta el deseo ".
178 Homossexualidade e Perversão na Psicanálise
Cerumen la Orina lus Nulgas los Exaementos la Sangre la Linfa la Gelatina el Agua el
Quilo e/ Quimo, los Humores las Secreciones el Pus las Sa11ies las Supuraciones la Bitis
el Pecho los Senos lo.1· Omoplatos las Nalgas los Codos las Piernas los Dedos de los pies
los Talmws los Ri11mw.1· la Nuca la Garganta la cabeza los Tobillos las lngles la Lengua
e/ Occipucio el E.lpinazo los Flancos el Ombligo el Pubis el Cuerpo Lel·biano. ". (Capa
e contracapa).
A tradução e adaptação do texto é da autora.
CAPÍTULO IV
LACAN E A PERVERSÃO:
UM PERCURSO
"... o parceiro sexual, quer ele S<'.ia h"mem ou mu/11('1; ist" mio tem
e.1·tri1m11e11te nenhuma i111portâ11cia. É 11111 ol(i<'to jiílirn. Isto é tudo.
E 11<Ís podemos sempre 110s cansar de se.rnar tudo </li<' nós
quere11ws: isto é 11111 objeto Jiílico.
Ora, um objeto, é assexuado (a/sexuado)." 238
"O universalismo do qual falo, nada tem a ver com a noção de uma
universalidade neutra e acima de todos os conflitos. ( ... ) Meu
univer:l'Cllismo é cm1flituo.1·0. no sentido de acreditar que nüo é uma
noçiio neutra que nos une. O que nos 1me é a universalidade do conflito.
( ... ) Isto podeficar claro se pensarmos em uma idéia presente tallfo
no cri.1·tümismo antigo como no marxismo. Ela t!firma que, em uma
situapio concreta de cm{flito social, a verdade niio é neutra, como
se precisássemos sair da situaçüo para a percebermos. A verdade
é própria de um lado, da só é acessível por meio de uma posiçiio
partidária. Para alcanrar a l'erdade, devemos assumir um lado "2 ·19 •
139 Entrevista de Zlavov Zizek. Caderno "Mais", do jornal Folha de S. Paulo, 30/11/2003.
Gradeia Haydée Barbero 181
Não por nada evoco aos deuses, já que também teria podido trazer
o tema das metamorfoses e toda a relação mística, um certo vínculo
pagão com o mundo que é aquele, onde, a dimensão perversa
encontra seu valor clássico, por assim dizer.
É a primeira vez que <'scutofalar num certo tom que é verdadeiramente
decisivo, que é a abertura da que temos necessidade neste campo no
momento que vou explicar a vocês o que é o falo. "
'·" Devo esta referência a Estela Maldonado (Córdoha, Argentina) no texto que citarei a
conlinuação.
245 Maldonado, E. Sobre e! Padre. Texto inédito. Apresentado em um seminário dedicado
a Nijinsky. Ela tem vários textos dedicados à "Erótica da Arte" respeitando essa idéia.
°''' Lacan, J. Les complexes familiaux. Paris, Navarin editor, 1984. Há versão em
castelhano La familia, Homo Sapiens, Co!ección El Hombre y su Mente, 1977.
186 Homossexualidade e Peiversão na Psicanálise
"( ... ) ali onde o descobrimento freudiano convoca um pai que não
se discute, Lacan opta pelo valor de um pai de família cujo 'curso
edípicu' varia segundo as condições sócio-históricas do exercício
de sua autoridade". 2-1 7
,.., Apud Maldonado. Op. Cit., p. 13. "( ... ) allí donde e! descubrimiento freudiano
convoca un 'padre que no se discute', Lacan opta por el valor de 1111 padre de familia
cuyo 'curso edípico' varía según las condiciones socio-histôricas dei ejercicio de su
autorid{ld." ln: Zafiropoulos, Op. Cit., p. 58.
''" Anomia. "Um est{ldo de caos e ruptura. O termo é particularmente associado a
Durkheim, para quem a anomia caracteriza os períodos de dissoluçüo das normas
sociais, quando a perda de autoridade tende a relaxar as obrigações morais, a produzir
desejos ilimitados e a causar aumento nas taxas de suicídio", segundo o Dicionário
Oxford de filosofia, de Simon Blackburn. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1997, p. 16.
Gradeia Haydée Barbero 187
249 Maldonado, E. Op. Cit., p. 19: "Cette localisation imaginaire s 'appellera phal/us
/orsque Lacem .fáa un autre tour dans sa /ecture de Freud".
188 Homossexualidade e Perversão na Psicanálise
21" Particularmente o texto "Kant com Sade", publicado nos Escritos trabalha este tema
mas ele tem interpretações completamente contrárias. Alguns autores pensam que este
é o texto fundamental onde Lacan analisa o fantasma, e particularmente o fantasma
perverso. Allouch nega ambas afirmações. (Ver: Allouch, J. Faltar a la cita, Kant con
Sade de Jacques Lacan. Córdoba, Ediciones Literales, 2003.)
m Lacan, 1. O Seminário. Os escritos técnicos de Freud. Livro 1. Rio de Janeiro, Jorge
Zahar, 3" edição, 1986, p. 245.
252 lbid., p. 246.
Graciela Haydée Barbero 189
E mais adiante:
Mas,
"( ... ) por um lado, nüo podemos perder o co11tato com a noçiío de
que a gênese do fetichismo está es.1·encialme11te articulada ao
complexo de castraçüo. Por outro lado, é nas relações pré-
edipianas, e em nenhum outro lugar, que aparece mais assegurado
que a mãe fálica é o elemento central, a mola decisiva. Como unir
as duas coisas? '""65
E ainda:
m lbid., p. 214.
* Lacan, J. Seminário 6 - Inédito - 1958, p.59.
274 "El a, he dicho que era el t!j'ecto de La castral'ión. No he diclw que es el objeto de la
castraciôn. Este objeto de la castraciôn, lo llwnaremos e[ falo. El falo, qué es?"
Daqui em diante, as falas traduzidas do castelhano dos seminários inéditos não serão citadas
no original, já que, de qualquer forma, trata-se de versões não oficiais dos Seminários.
Gradeia Haydée Barbero 197
"( ... ) desde que tento com vocês ficar perto daquilo que se trata no
complexo de castraçüo, devem ter notado as amhi,?üídades que
commulwn em /Orno li funçâo desse .ftilo. " 277
"O que nos permite falar dela, F, assim mesmo, como significante,
e isolar como tal(. .. ) é isso que chamo o mecanismo perverso. " 280
ln: (1966) Escritos. Siglo Veintiuno, 1989. 15" edição em espanhol, vol. 2, pp. 627-664.
Graciela Haydée Barbero 201
"Hâ ,u•s.1·c nó com o Outro, tal e com.o está aqui ilustrado, uma
relurüo de senhuelo o desejo estâ pr<~f'unda e radicalmente
estruturculo por esse m, que se chama Édipo. (. .. ) esse nô interno
que se duuna É.'dipo. no entanto é essencialmente o seguinte: uma
relaçüo nitre' uma demanda que toma um valor privilegiado que
se tran.forma em mandato absoluto, a lei, e um desejo que é o
desejo do Outro, do Outro do que se trata no É'dipo. (. .. ) o ol~jeto
do desc~jo existe como essa nada mesma da que Outro não pode
sabe 1: "lxx
E logo:
°'
1 lbid., 27/02/1963.
:lOH Homossexualidade e Perversão na Psicanálise
"(. .. ) porque fá la, diz, mas ela sabe, apesar dtt reivindicaçãofâlica
e do pênis-neid. que a insatisfaçüo fundamental do desejo é pré-
castrativa. Para a mulher, procura-se o que não tem, para o homem,
o que não é. O homem que fala está implicado em seu corpo por
essa palavra. No estádio oral luí uma demanda com relaçâo ao
de.w:jo veludo da müe. No estádio anal, uma resposta à demanda
do Outro, no.fêJlico, a entrada da negatividade, o -cp(menosfi), em
tanto instrumento do desejo. ":.w
m lhid., 03/1963.
' 95 lbid., 0311963.
Gradeia Haydée Barbero 209
Castração que já não significa não ter um órgão, mas sim o fato
de que ele é transitório. Na cópula se juntam a pulsão de morte e a
sobrevivência da espécie. É isso que se pede ao parceiro (sem espe-
cificar gênero), diz Lacan.
"O suporte do desejo nüo está feito para a unü7o sexual porque,
generalizado, não me especifica mais como homem ou como mulher;
senão como o um e o outro".
O signo menos (do menos fi) indica o defeito do falo como
constituindo a disjunção que une o desejo ao gozo. ···m
"Que ofalo ncio se encontre ali onde se espera, diz Lacan, ali onde
se exige que esteja, a saber, no plano da mediação genital, eis o
que explica que a angústia é a verdade da sexualidade, quer dizer,
o que aparece cada vez que o fluxo se retira. A castraçcio é o preço
dessa estrutura, ela substitui essa verdade, explica. Mas, na
verdade, isso seria um jogo ilusório. Na realidade, não há
castração, pensa o mestre, porque no lugar onde ela se produz
não há objeto a castrar. Seria necessário, di::., que para isso, o falo
estivesse lá. Ora, ele só estâ lá para que não haja angústia. E tudo
isto quer di::.er que o falo é chamado para funcionar como
instrumento de potência. (. .. ) O ser humano cmifitnde o gow com
os instrumentos da potência. "299
Então, como continua Lacan depois disto? Como muda sua teoria?
Voltamos a encontrar referências à perversão, à castração e ao
falo, cm alguns seminários seguintes. Não significa que sejam os úni-
cos, mas podem servir como baliza.
Há algumas pistas no seminário 13, seminário chamado do Ob-
jeto300 (uma espécie de revisão do Seminário 4, já citado por nós).
Na aula nº 22 301 , há uma referência clara. Está falando de um livro
de Clavreul, um analista que comparecia ao Seminário, e disse o
seguinte:
2'" Em uma reportagem feita ao mesmo, que apareceu na Internet, em novembro de 2003
"( ... ) não pensam vocês que isso sempre volta num complô con-
tra o doente? Não é isso o que falseia a coisa? O que faz que se
chel{ttem a dizer algumas coisas que ultrapassam um pouco,
enfim. se posso dizer, o estrito pensamento cient(fzco. que poderia
ser aquele no qual a gente se sustentaria, se se tratasse de
Perdadeiras reuniões científicas?(... ) Há comunicações que se
dizem científicas e que não o süo tanto.
(... ) Mediante o qual, sobre o plano da notaçüo clínica, algo
centrado ao redor do casal perverso. Clavreul, de quem sinto
.falta, porque teria lhe renovado minha feliciraçào. nos fez algo
excelente. nüo falta seniio isto que foi dito finalmente na
discussão, mas que ninguém ouviu, porque não foi dito cla-
ramente. É que, em resumo, para falar totalmente, cientificamente
da perversão, seria necessário partir disto que é, muito
simplesmente, a base, em Freud. Disse-se, se trousse timidamente
esses 'Três Ensaios sobre a sexualidade'. Bem, é que a perversão
é normal.
Tem que se tornar a partir daí, de uma vez, enü7o o problema. o
problema de uma construção clínica, seria saber porque lzá
perverso.1· wwrmais. Porque há perverso.1· a1wmwis? Isso nos
permitiria entrar em toda uma ,·mifzguraçüo histórica, por uma
parte histórica, porque as coisas históricas mio são histáricas
somente porque aconteceu um acidente, süo históricas porque
era muito necessário, que de uma certa forma, uma certa
rnnfiguraçüo saísse à luz.
É muito claro que é o problema de nosso amigo Michel Fou-
cault. que mio está tampouco (... ) nosso amigo Foucault aborda
com excelentes livros (... )
(... ) lamento a ausência de Clavreul porque 1/ze recomendaria
um livro (trata-se de um velho livro intitulado 'As memórias do
abade Choicy' que gostava de se vestir de mulher e nunca teve
problemas de qualquer tipo com isso).
(... ) a sua conferência (de Clavreul) estava intitulada 'O casal
perverso', como se os houvesse, puros e simples casais perversos,
justamente é todo o drama".
212 Homossexualidade e Perversão na Psicanálise
"( ... ) depois disto faremos melhor não falando desses dados da
maduração genital, da existência de um acordo perfeito. (... ) a
relação que se tenta estabelecer na união sexual tem a l'er com o
estabelecimento de um gozo fálico. "305
'º"Barbero, Graciela. "O Segredo do Nome do Pai". ln: Temas da Clínica psicanalítica
(Alejandro Viviani, org.). São Paulo, Experimento, 1998, pp.103-114.
305 Lacan, J. Seminário 13. Op. Cit.
3"" Lacan, J. Seminário 14. Op. Cit.
214 Homossexualidade e Petversão na Psicanálise
Entretanto,
m lbid., s/p.
216 Homossexualidade e Perversão na Psicanálise
mos nos confundir com isso. Não há nada natural, no mundo animal,
que implique uma bipolaridade sexual necessária, afirma.
No Seminário 20, "Mais Ainda" 316 , desenvolve já todos os argu-
mentos relacionados às fórmulas da sexuação. Este é um seminário
conhecido por ter trabalhado, fundamentalmente, sobre a existência,
no "lado mulher", de um gozo a mais, um suplemento ao gozo fálico,
o gozo Outro, que corresponde a uma lógica do "não-todo". Este
lado da fórmula (lado mulher), será não-todo fálico. E qualquer um,
independentemente dos órgãos que porte, pode se posicionar nele,
segundo o autor.
Neste Seminário insiste em que os perversos não são como os
neuróticos, mas que os neuróticos precisam sonhar com eles para
atingir seus parceiros.
"'"1Existem dois números da publicação A causa freudiana, ligada a este grupo de analis-
tas, dedicados a este tema. A primeira, de 1997, denominada L' incmzscienr homosexue/
(0 Inconsciente homossexual), Paris, Publication de l' El:ole de la Cause freudienne. e a
outra, de 2003, Des Gays em anlyse? (Gays em análise?) citada na próxima nota de
rodapé.
220 Homossexualidade e Perversão na Psicanálise
eles, o da primazia do falo, um tema popular, diz ela, que acaba por
reafirmar a obsessão da castração, seu reverso inseparável.
Com relação a este conceito, o primeiro texto de referência,
segundo Marini, seria justamente "A significação do falo" 327 , texto
que é utilizado por muitos comentadores, às vezes, como se fosse o
definitivo. Aqui, esta problemática aparece depois de ter criado a
trilogia SRI, da noção do inconsciente estruturado como linguagem e
da metáfora paterna, lembra-nos Marini. A primazia do falo lhe é
necessária para sustentar a preeminência do pai no individual e na
cultura. Isto se observa claramente no Seminário da Psicose 328 ,
onde a forclusão do Nome do Pai é atribuída a um fracasso da metá-
fora paterna que não teria permitido ao sujeito e\'Ocar a significa-
ção do Falo. Na "Significação do falo", mostra o falo como objeto
paradoxal, objeto erótico e com vocação simbólica. Aqui é o
significante dos significantes. Não há significante do sexo feminino,
não há outro significante da diferença dos sexos, só o falo é a refe-
rência. Como se transforma este órgão, derivado da representação
do pênis, no símbolo dos símbolos? Marini afirma que seria usado
como os "equivalentes gerais" no marxismo, sendo que falamos de
uma lógica falocêntrica. Lacan teria revelado assim, o caráter
androcêntrico de nossas sociedades (Op. Cit.). Como vimos esta
revelação foi totalmente consciente em Lacan. Teríamos que consi-
derar também, diz a autora, a ambigüidade do fa1o - significante do
desejo -, signo e objeto ao mesmo tempo, e a dificuldade de separar
falo de o~jeto a (objeto parcial convertido em causa do desejo) e do
agâlma, essa forma brilhante e fascinante, quase um fetiche que
joga entre Sócrates e Alcebíades no Seminário 8. Como possuir (ou
representar) o símbolo do objeto desejável e continuar com seu esta-
tuto de sujeito desejante? - pergunta-se.
m Lacan, J. (1958). "La significación dei falo". ln: (1966) Escritos, vol. 2, pp. 665-675.
15" edição em espanhol. México, Siglo Veintiuno, 1989.
32 ~ Lacan, J. O Seminário. Livro 3. Op. Cit.
Homossexualidade e Perversão na Psicanálise
de 2001.
Gradeia Haydée Barbero 225
''' Allouch, J. "Lacan et les minorities sexuellcs". /n: Revista Cilé, nº 16, Paris, outubro
de 2003.
228 Homossexualidade e Perversão na Psicanálise
CONCLUSÕES E
PERSPECTIVAS
2001.
Gradeia Haydée Barbero 231
"' Ver especialmente o texto citado de C. Calligaris. Perversão, 11m laço social?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Le 8 III 68
Cher Foucault
Ceei n'est pas une pipe ...
J'adore ça.
J' ai parlé de vous (non,je vous ai nommé) à 111011 séminaire d' aujourd'hui.
C'est ce que j'ai dit dans ce séminaire, qui parlait de vous
sans vous nommer.
Je vous en envoie le début, à charge pour vous d'en faire usage.
Écrit au tableau:
Jc'temps
Je ne cormais pas De la poésie
J'ignore
2"111ctemps
Je ne connais pas tout De la poésie
J'ignore tout
4cmc Mais:
I don't know everything about poety
I don't know anything
lei c'est l'anything qui inclut la négation
8.IIl.68 2
Estimado Foucault,
Isto não é um cachimbo ...
Isso me encanta. Falei do senhor
(não, nomeei-o) no meu seminário de hoje.
O que eu disse,
nesse seminário, é que falava do senhor sem nomeá-lo
Envio-lhe o começo, fica a seu critério a decisão de utilizá-lo. Escrito
na louça:
1º tempo
Eu não conheço
II a poesia
Eu ignoro
2º tempo
Eu não conheço tudo
II da poesia
Eu ignoro tudo
4º Mas
1 don 't know every thing (Não sei tudo)
About poetry (da poesia)
l don ·t knmv an.vthing (Não sei nada)
aqui é o anything que inclui a negação
Seu J. L.
RESOLVE:
Resoluções4
Esta questão pode parecer irrelevante para o comum dos mortais, mas
nós na ILGA acreditamos que há muito que cada um pode fazer indivi-
dualmente para que a nossa voz seja ouvida em Março em Genebra.
17/04/2004
Mundo
Mundo
J - reclamação do ofendido;
1 - advertência;
GERALDO ALCKMIN
João Caramez -
Secretário-Chefe da Casa Civil
Antonio Angarita -
Secretário do Governo e Gestão Estratégica