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A Revolução (ainda) não será virtualizada:

Os fanzines feministas na Era da Comunicação Digital

BARREIROS, Bruna Provazi


Graduanda em Comunicação Social – UFJF
Universidade Federal de Juiz de Fora, MG

Palavras-chave: Comunicação Alternativa, Fanzines, Internet, Feminismo

Resumo: O presente artigo tem por finalidade analisar os fanzines feministas produzidos no
Brasil, impressos e digitalizados, com base nas implicações que os diferentes suportes
técnicos podem causar às publicações. Com as transformações advindas da passagem do
impresso para o digital, vieram as afirmações de que a nova mídia extinguiria a antiga, uma
vez que a rede mundial de computadores representaria um modelo de comunicação ideal.
Questiona-se, então, a eficácia da transição do fanzine impresso, veículo de comunicação
alternativa de pequena circulação, para o zine eletrônico, nova forma de configuração dos
fanzines na Internet, no movimento feminista. São discutidas as conseqüências da
digitalização desse meio de comunicação, tomando por base os impactos da utilização da
Internet nos movimentos sociais.

1. Introdução

O movimento feminista, assim como várias outras esferas sociais, está passando
pelos impactos advindos da esfera da comunicação, com a transição do impresso para o
digital.
O presente trabalho tem por objetivo analisar como vem acontecendo esse processo,
a partir da análise da passagem dos fanzines feministas impressos para os fanzines
eletrônicos. Partimos da hipótese de que as publicações do movimento feminista, como as
de qualquer movimento social, necessitam atingir uma base grande de leitores que, com a
utilização do fanzine impresso, fica restringida, uma vez que esse é um veículo de
comunicação alternativa de pequeno alcance. Segundo a autora Raquel Paiva, no livro “O
Espírito Comum – Comunidade, mídia e globalismo”: “A comunicação pode ser o espaço
por meio do qual pode ser formada a esfera pública, vista como conjunto de cidadãos
participantes, comprometidos com o veículo, a interatividade, a horizontalidade do discurso
e atuando como sujeitos políticos. Nesse sentido, a comunicação por rede pode se constituir
no paradigma da nova democracia”. A partir disso, busca-se compreender se o fanzine
eletrônico, transposição do antigo zine de papel para o computador, seria a forma de
comunicação que mais contemplaria os objetivos do feminismo.

2. O movimento feminista e a comunicação impressa

Enquanto o mundo assistia, desde a década de 1960, à chamada segunda onda do


feminismo, através de vozes como as da norte-americana Betty Friedan e da francesa
Simone de Beauvoir, lutando pela descriminalização do aborto e pela abolição da dupla
jornada de trabalho, a mulher brasileira ainda tinha sua representação na imprensa restrita a
revistas femininas como “Querida” e “Jornal das Moças”, que tratavam exclusivamente de
temas relacionados ao mundo doméstico, tais quais: família, moda e dicas de beleza. A
mais famosa delas, a revista Cláudia, criada em 1961, chegava a aconselhar as leitoras no
casamento: “Se desconfiar da infidelidade do marido, a esposa deve redobrar seu carinho e
provas de afeto” (1962); “Não acredite que uma fatia de queijo e um sorriso luminoso
podem substituir um jantar malogrado” (1963).
Segundo Bernardo Kucinski, no livro “Jornalistas e Revolucionários – nos tempos
da imprensa alternativa”, até a década de 1970, o movimento feminista quase não tinha
representação na imprensa brasileira, sendo inclusive motivo de chacota na imprensa
alternativa, tal como n´O Pasquim. Diz o autor: “Enquanto um novo movimento feminista
explodia na Europa desde o começo dos anos de 1970, no Brasil a questão da mulher era
desprezada por diversos jornais alternativos importantes”.
Para Kucinski, o movimento feminista tem como precursor o jornal Brasil Mulher,
que, lançado por Joana Lopes, com apoio do movimento feminino pela anistia, já em sua
primeira edição publicava no editorial: “Não há liberdade para a mulher enquanto não
houver liberdade para o ser humano”. O Brasil Mulher possuía marcada influência
esquerdista e tratava de temas como prostituição infantil e aborto, denunciando mortes
causadas por abortos clandestinos no país. Outros jornais feministas importantes: são Nós
Mulheres (1976), Maria Quitéria (1977) e Mulherio (1981), o mais duradouro deles, que,
produzido por Adélia Borges, nasce no final do ciclo alternativo de publicações, à época da
ditadura militar brasileira, e, em 1990, continua a existir.
Ainda segundo Kucinski, inicialmente, esses jornais tinham por objetivo organizar
as trabalhadoras e subsidiar suas lutas. Já com a criação de associações de mulheres,
passaram a implicar em um associativismo e em uma prática específica no plano social,
além de exigirem mudanças de hábitos de vida e divisão de trabalho familiar. No entanto,
essas publicações não atingiram autonomia conceitual, e acabam ligando-se ao meio
acadêmico e à pesquisa de campo.

2.1 Os primeiros fanzines: da ficção científica ao feminismo

Os primeiros fanzines eram revistas de fãs (fanatic + magazine) que tratavam de


temas relacionados a ficção científica e história em quadrinhos. O inglês William Blake
(1757-1827) é considerado o primeiro fanzineiro da história, e contava com o auxílio de sua
esposa. Em 1976, surge o Sniffing Glue, de Mark Perry, o primeiro fanzine punk. Já os
zines feministas vão surgir nos EUA, país pioneiro no ramo e maior produtor do mundo,
seguido da França.
No início da década de 1990, os Estados Unidos conheceram o movimento Riot
Grrrl. Em oposição ao machismo da cena punk, que pregava a liberdade do indivíduo, mas
que, anacronicamente, reservava às mulheres o papel de namoradas e meras coadjuvantes
do movimento, surgiram as “garotas rebeladas”: mulheres que saíram dos bastidores da
cena para tocar instrumentos pesados, montar bandas e escrever fanzines. Com uso
marcante na Europa, em especial na França, durante os movimentos de contracultura de
1968, o veículo foi largamente utilizado pelo movimento de mulheres. O primeiro fanzine
feminista de que se tem notícia é o “Riot Grrrl”, produzido por Molly Neuman, da banda
punk Bratmobile, e que intitulou o movimento. Nessa época, a produção de fanzines nos
Estados Unidos foi bastante significativa, podendo ser citados o “Riottemptresses”, o “Riot
Grrrl DC” e o “Psychobitch”.
Já no Brasil, a influência do movimento Riot Grrrl foi mais forte durante a segunda
metade da década de 1990. A banda Dominatrix, principal representante da cena punk-
feminista no país desde 1996, foi responsável pela produção do fanzine “KAÓSTICA”, e
hoje é responsável pelo “Quitéria”, um dos mais conhecidos portais feministas da Internet.
Atualmente, ainda é comum a distribuição de fanzines em shows e eventos
alternativos. O “Ao Ataque” é um zine do coletivo homônimo, formado por cinco jovens de
cidades diferentes, e que pode ser adquirido pelo correio, conforme indicado no blog do
coletivo na Internet. Outros exemplos de zines feministas no Brasil são o “Mujeres Que
Hablan” (Florianópolis/SC), o “Mútua Ação” (São Paulo/SP) e o “Respeito!” (Juiz de
Fora/MG), ambos impressos.

2.2. Um instrumento a favor do movimento

O fanzine é um tipo de veículo que não objetiva o lucro, portanto, não é produzido
em função do mercado. Dissociado de empresas, governos ou instituições, ele apresenta
independência editorial, e, sem periodicidade, formato e tiragem definidos, abre espaço
para o experimentalismo estético e temático. O sucesso da linguagem inovadora e da
liberdade editorial dos fanzines também se reflete no uso que diversos grupos fizeram dele,
tais como - além dos fãs de música e de quadrinhos - os fãs de literatura, do anarquismo, da
ecologia, do skate, do socialismo e, claro, do feminismo.
O coletivo feminista Maria Maria – Mulheres em Movimento (Juiz de Fora, MG),
existente desde 2006, produz o fanzine “Maria Maria”, que, mesmo com apenas duas
edições, é o principal veículo de comunicação adotado pelo grupo. O material, impresso em
papel reciclado, possui, além da Apresentação e do Editorial, quatro seções, uma agenda,
com as principais atividades do grupo, e um espaço destinado a contatos, com email e
telefone das Marias. Para Carolina Matozinhos, integrante do Maria Maria, o formato é
ideal: “O fanzine é um veículo de diálogo com a militância feminista e simpatizante, mas o
que mais o aproxima dessa militância é seu formato original, feito manualmente e
coletivamente. Fazemos discussão política no zine, mas também temos dicas culturais e
espaço para arte. Trazer esses elementos complementando a discussão feminista agrega
muito, e, desta forma, estamos politizando com irreverência, e sem ser chatas.”
O fanzine, como qualquer impresso, possui a vantagem de poder ser carregado para
qualquer lugar, sem necessidade do computador, da energia elétrica ou mesmo de uma
conexão com a Internet. É um meio de comunicação de fácil manuseio e que permite
contato direto com o receptor. No caso dos zines feministas, pode ser bastante útil, uma vez
que o editor, ao entregar o material diretamente para o público, como em um show
alternativo, cria possibilidade de diálogo instantâneo. Caso um leitor se interesse em
discutir o tema, é possível o embate presencial de idéias, essencial para os objetivos de um
movimento social de massas. Esse contato direto facilita, então, o convencimento político,
que pode aproximar mais pessoas da causa feminista. Segundo Carolina, no impresso “a
circulação é mais garantida, além de termos contato direto com os/as leitoras do zine
quando vamos fazer a distribuição.”

2.3. As limitações do suporte impresso

Apesar da imensa liberdade editorial que o fanzine permite, devido à sua


independência financeira, esse repúdio ao lucro se refletirá em recursos escassos (dos
próprios editores e colaboradores) para sua distribuição - através do correio ou mesmo “de
mão-em-mão”.
Esse é o principal problema enfrentado pelo coletivo Maria Maria. Seu primeiro
zine circulou gratuitamente, sendo entregue pelas próprias membras do coletivo, em
palestras e eventos organizados por elas, ou mesmo para pessoas próximas. Já o segundo
número, foi vendido pelo valor simbólico de 50 centavos, para ajudar o financiamento do
coletivo. Apesar do desejo, por parte dos movimentos sociais, em especial aqui o feminista,
de formar um público-leitor nacional, esse caráter antieconômico das publicações acaba
restringindo sua distribuição à rede de contatos das militantes, ou à sua divulgação em
eventos específicos.
Outro problema relacionado ao caráter alternativo do fanzine é o fato de seus
colaboradores não serem pagos pelo serviço, o que pode gerar descompromisso com a
entrega dos materiais, e, com isso, sua aperiodicidade. O zine do Maria Maria é produzido
em conjunto - para que fique “com a cara do coletivo” - o que acaba dificultando a tarefa,
uma vez que é necessário encaixar a atividade na agenda do movimento.
Antes datilografado e mimeografado, atualmente o zine é copiado através das
máquinas Xerox. Ainda que disponha do computador para a produção de textos e
diagramação, em modernos programas de editoração, ele não pode se beneficiar de todos os
recursos que a informática trouxe à impressão, pois, em sua quase totalidade, os fanzines
são copiados, em preto e branco, em gráficas de preços mais acessíveis. Talvez seja esse o
motivo dos zines permanecerem com um visual artesanal, amador, uma vez que seus
editores, além de optarem por um meio de comunicação alternativo, que privilegia a
confecção rudimentar, também não dispõem de verba para impressão de melhor qualidade.

3. Os fanzines eletrônicos: o impacto no movimento

Na década de 1990, com o desenvolvimento da informática e o barateamento dos


micro-computadores, alguns fanzines passaram a ter sua diagramação eletrônica. No início,
a estética limpa prevalecia nas publicações, aproximando-as às revistas de mercado; em
seguida, tentou-se retornar à estética artesanal e suja.
No entanto, longe de permanecerem restritos à editoração, os computadores logo
passaram a ser utilizados para a própria veiculação dos zines. Segundo Henrique
Magalhães, pioneiro nos estudos de fanzines no Brasil: “O barateamento da impressão fez
com que surgissem cada vez mais fanzines em todos os recantos do país numa onda de
democratização dos veículos de comunicação e liberdade de expressão sem igual. Por
outro lado, os fanzines ganharam outros formatos, com o aparecimento de novos recursos
tecnológicos. Do papel, o fanzine migrou para o Cd-rom, para o disquete, para a tela do
computador, para a internet, incorporando elementos inovadores no seu modo de
produção, em sua concepção e linguagem.”
A rigor, existem dois tipos de fanzines on line: os e-zines e os webzines. Os
primeiros são arquivos de texto, enviados por e-mail, em formato newsletter. Já os
webzines funcionam como páginas da Internet, e permitem um trabalho visual na
publicação, pois suportam diferentes mídias. Estes exploram mais os recursos da
hipermídia, podendo conter arquivos de som e vídeo.
O Zine Riot é um e-zine feminista criado em julho de 2007 e que já está em sua
sexta edição. O zine é enviado por e-mail para uma lista de leitores, e sua divulgação é feita
através da própria Internet: em comunidades do Orkut, sua editora informa sobre o
lançamento de uma nova edição e os(as) interessados(a) publicam seus endereços
eletrônicos para o recebimento do zine.
O site Banheiro Feminino, hospedado no portal Terra, existe desde 1996, e pode ser
considerado um exemplo de webzine feminista. Com um humor característico, a temática
do site gira em torno de sexo e relacionamentos. É dividido em seções, como “Toque de
amiga”, “Tio da limpeza” e “Procon WC”. A página permite grande interatividade com o
público, tendo várias seções destinadas exclusivamente à postagem dos(as) leitores(as).
Explora ainda recursos além dos textuais, como o Podcast, que é um programa gravado em
arquivo sonoro (mp3) e que pode ser copiado para o computador.
Atualmente, existem diversos sites, como o Portal Feminista1 e a Rede Brasileira de
Estudos e Pesquisas Feministas2, que funcionam como portais de caráter acadêmico. Já o
CFEMEA - Centro Feminista de Estudos e Assessoria3 e a SOF – Sempreviva Organização
Feminista4 operam mais com caráter de movimento social. Estes não têm características de
fanzine, mas são importantes para pesquisas e para a organização das mulheres.
Há ainda quem considere os weblogs típicos fanzines, devido à sua semelhança com
algumas características da produção impressa, tais como: a comunicação e expressão
individual ou de um grupo de pessoas, a utilização de recursos simples (o blog não é tão
elaborado quanto um site) para a publicação, o amadorismo e o vínculo com outros
produtores (blogueiros).
O “02 Neurônio” é um dos mais conhecidos casos de zine que migrou para a
Internet no Brasil. Inicialmente como site e hoje no formato blog, ele é produzido por Jô
Hallack, Nina Lemos e Raq Affonso, e tem versão almanaque, coluna de jornal, de
programa de rádio e de TV, além de ter gerado vários livros. No entanto, suas editoras

1
http://portalfeminista.org.br/

2
http://www.redefem.ufrgs.br

3
http://www.cfemea.org.br

4
http://www.sof.org.br
ainda não se consideram feministas “Só sabemos que não queimamos sutiãs, mas que
achamos que a mulher tem direito de agarrar os homens e de ter barriga de cerveja”. O blog
retrata assuntos do cotidiano das mulheres, com textos leves, bem escritos e bem
humorados.

3.1. A transição bem-sucedida

Um dos aspectos positivos da passagem do zine para o meio eletrônico é a


facilidade de comunicação e interação, características da rede. Segundo o professor doutor
Henrique Magalhães, “Com a internet, tornou-se possível uma comunicação imediata entre
editores e leitores por intermédio das salas de discussões e grupos de estudos. O correio
eletrônico veio reduzir as despesas com os custos postais e acelerar a troca de informações.
Os sítios ou fanzines eletrônicos lançaram mão de novas possibilidades estéticas, com a
inserção de cores e até mesmo de som e movimento”.
Para a editora do Zine Riot (Rio de Janeiro/RJ), Jéssica Cuervo, de 18 anos, a
Internet é um meio “mais fácil, barato e interessante” de levar informação às pessoas: “Se
eu fizesse um zine impresso, as pessoas poderiam receber, rasgar e nem ler, e aqui onde eu
moro não existem muitas oportunidades de distribuir, nem tanta gente interessada. Mas, no
caso do zine on line, só recebem as pessoas que realmente querem receber. A Internet abre
um espaço muito maior para as pessoas e é de mais fácil acesso para mim e para todos.”
Jéssica cita as principais vantagens do meio: o barateamento da produção, já que o fanzine
não precisa ser impresso, a facilidade de distribuição e o acesso a um público específico,
interessado em receber o zine. Apesar disso, Jéssica conta que pretende fazer uma versão
impressa, para quem não tem acesso à rede.
Outro aspecto importante é a gama de recursos gráficos que a publicação on line
oferece. O webzine tem a vantagem de dispor de efeitos visuais, já que não há o custo
econômico da impressão, e pode inserir ainda arquivos de som e vídeo.
O 02 Neurônio, agora em sua fase blog, restringe-se à publicação textual, sem
utilização de outros recursos da hipermídia, mas destaca-se por apresentar bastante
interação com os leitores, tendo em média 30 comentários por postagem. Em uma delas,
uma leitora demonstra a importância da comunicação através do veículo: “Sempre passo
aqui pra ler os posts, e toda semana leio a coluna de vocês na Folhateen. Lendo hoje a
coluna de ontem quis comentar, mas não sei como fazer isso pelo site da Folha, então achei
mais prático escrever aqui.”
Outro aspecto interessante é a “pirataria”. Como há pouco ou, geralmente, nenhum
retorno econômico com o fanzine, a maioria dos impressos nunca teve preocupação com a
reprodução do material através das máquinas Xerox. No fanzine “Zineide”, de Ponta
Grossa (PR), 2007, aparece o aviso “Feito com software livre. Faça você mesmo! Copie,
espalhe idéias, faça seu próprio zine. Se quiser, mande e-mail e colagens”. No caso da
Internet, conhecida como um meio “anárquico”, em que há pouco cumprimento do direito
autoral, a pirataria é ainda mais simples de ser feita, basta usar os recursos “copiar/colar”.
Nos fanzines de movimentos sociais, essa cópia não autorizada vai, especialmente, ao
encontro dos propósitos do movimento, uma vez que a preocupação com créditos é menor
do que o objetivo de ser lido pelo maior número de pessoas possível.

3.2. As limitações do novo suporte eletrônico

Enquanto o fanzine tradicional (impresso) apresenta problemas econômicos que


dificultam sua distribuição, o fanzine online apresenta outros tipos de problemas, tais como
a dispersão e desatenção. A Internet é constituída por uma infinidade de links que, para um
usuário menos cuidadoso, pode significar a perda do foco e, no caso dos zines, a
interrupção da leitura dos textos. Ainda que este leitor esteja centrado em seu objetivo, há
ainda o risco da desatenção. A possibilidade de multitarefa, surgida com o Windows,
permite que um usuário pesquise em uma página da web, converse no MSN, verifique a
caixa de e-mails e responda a recados no Orkut, simultaneamente. Como não se perder?
Somam-se a isso, os problemas característicos de qualquer computador: vírus, bugs
e acesso restrito à Internet. A exclusão digital talvez seja o mais complexo dos problemas,
uma vez que a maioria da população não tem acesso à rede mundial de computadores. A
aparente democratização da informação, que a Internet propõe, vai de encontro a questões
mais profundas, perpassando pelas necessidades básicas do ser humano, como educação,
saúde e alimentação. Esse fator de segregação já afeta qualquer publicação on line – uma
vez que o objetivo de qualquer delas é chegar até o público -, mas afeta, em especial, os
veículos de comunicação dos movimentos sociais, que têm em sua base a população de
menor poder econômico.
Na produção do fanzine ainda encontram-se alguns obstáculos, como o fato de que
nem sempre o zineiro domina o processo de construção de uma página na Internet, e é
obrigado a apelar para outra pessoa que possa preparar o suporte técnico.
A aperiodicidade é um problema encontrado também nos zines impressos, mas que
nesse caso é agravado, pois, na rede, as informações circulam de forma muito mais
dinâmica, e a atualização de conteúdo torna-se mais necessária.
Por fim, há ainda atuando contra o público, a fadiga causada pela leitura em tela. Se,
por um lado, é economicamente inviável que um fanzine impresso apresente grande
quantidade de páginas, por outro, o cansaço provocado pela leitura no computador atua da
mesma forma, restringindo o tamanho dos textos do zine eletrônico.

4. Conclusão

A revolução tecnológica da informática surgiu prometendo acabar com o monopólio


do papel no processo comunicacional. Chegou-se até mesmo a se pensar que o impresso
deixaria de existir. No entanto, o consumo de papel aumenta a cada ano, e parte disso é
devido à introdução de computadores nos escritórios. Atualmente, mesmo os entusiastas da
digitalização reconhecem que este meio apresenta inúmeros entraves que não lhe permite
ser considerado como forma ideal de comunicação.
A velocidade, a abrangência, a chamada comunicação “multilateral”, os recursos
tecnológicos e a redução de gastos financeiros são os principais fatores que levam milhares
de pessoas a acessarem, diariamente, a rede mundial de computadores. Apesar disso,
obstáculos como a dificuldade de se manusear e transportar o texto, o incômodo causado
pela leitura em tela, a dispersão em meio a tantos links, os problemas típicos dos softwares
e, sobretudo, a exclusão digital da maioria da população mundial do acesso a essa
tecnologia, ainda são indícios que ratificam a idéia de que o papel nunca desaparecerá.
Não é possível prever os avanços tecnológicos, assim como nunca foi possível
prever que a escrita em tabuletas de argila seria substituída por um moderno artefato,
produzido a partir de fibras de celulose. Da mesma forma, nada pode ser dito acerca do
futuro dos fanzines de papel. Os zines eletrônicos até podem ter sido revolucionários, mas
ainda não podem ser usados para a Revolução.

Referências

Livros
KUCINSKI, Bernardo. Jornalistas e Revolucionários nos tempos da imprensa
alternativa. Editora da Universidade de São Paulo, 2003.
PAIVA, Raquel. O Espírito Comum – Comunidade, mídia e globalismo. Ed. Vozes,
Petrópolis, 1998.
FUSER, Bruno (org.). Comunicação Alternativa – Cenários e perspectivas. 1. ed.
Centro de Memória, Unicamp/Puc-Campinas, 2005.
LEÃO, Carlos Albuquerque e Tom. Rio Fanzine – 18 anos de cultura alternativa,
2004.

Trabalhos
MAGALHÃES, Henrique Magalhães. A Mutação Radical dos Fanzines. Trabalho
apresentado no Núcleo de História em Quadrinhos, no XXVI Congresso Anual em Ciência
da Comunicação, Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.
FALABELLA, Bruno Vasconcellos. “Solução Impressa – Thorazine e os fanzines
no Brasil e no mundo”. Trabalho de conclusão de curso, Faculdade de Comunicação Social,
UFJF, 2005.
DICKEL, Douglas. “A Internet como meio de Comunicação: Possibilidades e
limitações”.
Trabalho apresentado no INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos
Interdisciplinares da Comunicação, XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação – Campo
Grande /MS – setembro 2001.

Páginas da Internet
02 neurônio, acessado em 9 de abril de 2008:
http://02neuronio.blog.uol.com.br/fuckforever/

Banheiro feminino, acessado em 9 de abril de 2008:


http://banheirofeminino.terra.com.br

Blog do coletivo AO ATAQUE, acessado em 8 de abril de 2008:


http://coletivoaoataque.blogspot.com/2008/03/zines-para-voc-comprar.html

Fanzine Expressão, acessado em 1 de abril de 2008:


http://fotolog.terra.com.br/movimento_riot:10
Fanzine Comeongrrrl, acessado em 5 de abril de 2008:
http://www.geocities.com/comeongrrrl/resenhas.html

Site sobre o Riot Grrrl, acessado em 8 de abril de 2008:


http://www.riotgrrrl-rebelgirl.org/

Guia de sites feministas brasileiros, acessado em 8 de abril de 2008:


http://www.sitesnobrasil.com/categorias/sociedade/generos-
sexuais/mulheres/feminismo.htm

Fanzines impressos
Maria Maria, Juiz de Fora (MG)
Zineide, Ponta Grossa (PR)
Respeito!, Juiz de Fora (MG)
Expressão, São Paulo (SP)
Mútuo Ação, São Paulo (SP)
Mujeres Que Hablan, Florianópolis (SC)
Fairy Zine, São Paulo (SP)

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