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Resumo: O presente artigo tem por finalidade analisar os fanzines feministas produzidos no
Brasil, impressos e digitalizados, com base nas implicações que os diferentes suportes
técnicos podem causar às publicações. Com as transformações advindas da passagem do
impresso para o digital, vieram as afirmações de que a nova mídia extinguiria a antiga, uma
vez que a rede mundial de computadores representaria um modelo de comunicação ideal.
Questiona-se, então, a eficácia da transição do fanzine impresso, veículo de comunicação
alternativa de pequena circulação, para o zine eletrônico, nova forma de configuração dos
fanzines na Internet, no movimento feminista. São discutidas as conseqüências da
digitalização desse meio de comunicação, tomando por base os impactos da utilização da
Internet nos movimentos sociais.
1. Introdução
O movimento feminista, assim como várias outras esferas sociais, está passando
pelos impactos advindos da esfera da comunicação, com a transição do impresso para o
digital.
O presente trabalho tem por objetivo analisar como vem acontecendo esse processo,
a partir da análise da passagem dos fanzines feministas impressos para os fanzines
eletrônicos. Partimos da hipótese de que as publicações do movimento feminista, como as
de qualquer movimento social, necessitam atingir uma base grande de leitores que, com a
utilização do fanzine impresso, fica restringida, uma vez que esse é um veículo de
comunicação alternativa de pequeno alcance. Segundo a autora Raquel Paiva, no livro “O
Espírito Comum – Comunidade, mídia e globalismo”: “A comunicação pode ser o espaço
por meio do qual pode ser formada a esfera pública, vista como conjunto de cidadãos
participantes, comprometidos com o veículo, a interatividade, a horizontalidade do discurso
e atuando como sujeitos políticos. Nesse sentido, a comunicação por rede pode se constituir
no paradigma da nova democracia”. A partir disso, busca-se compreender se o fanzine
eletrônico, transposição do antigo zine de papel para o computador, seria a forma de
comunicação que mais contemplaria os objetivos do feminismo.
O fanzine é um tipo de veículo que não objetiva o lucro, portanto, não é produzido
em função do mercado. Dissociado de empresas, governos ou instituições, ele apresenta
independência editorial, e, sem periodicidade, formato e tiragem definidos, abre espaço
para o experimentalismo estético e temático. O sucesso da linguagem inovadora e da
liberdade editorial dos fanzines também se reflete no uso que diversos grupos fizeram dele,
tais como - além dos fãs de música e de quadrinhos - os fãs de literatura, do anarquismo, da
ecologia, do skate, do socialismo e, claro, do feminismo.
O coletivo feminista Maria Maria – Mulheres em Movimento (Juiz de Fora, MG),
existente desde 2006, produz o fanzine “Maria Maria”, que, mesmo com apenas duas
edições, é o principal veículo de comunicação adotado pelo grupo. O material, impresso em
papel reciclado, possui, além da Apresentação e do Editorial, quatro seções, uma agenda,
com as principais atividades do grupo, e um espaço destinado a contatos, com email e
telefone das Marias. Para Carolina Matozinhos, integrante do Maria Maria, o formato é
ideal: “O fanzine é um veículo de diálogo com a militância feminista e simpatizante, mas o
que mais o aproxima dessa militância é seu formato original, feito manualmente e
coletivamente. Fazemos discussão política no zine, mas também temos dicas culturais e
espaço para arte. Trazer esses elementos complementando a discussão feminista agrega
muito, e, desta forma, estamos politizando com irreverência, e sem ser chatas.”
O fanzine, como qualquer impresso, possui a vantagem de poder ser carregado para
qualquer lugar, sem necessidade do computador, da energia elétrica ou mesmo de uma
conexão com a Internet. É um meio de comunicação de fácil manuseio e que permite
contato direto com o receptor. No caso dos zines feministas, pode ser bastante útil, uma vez
que o editor, ao entregar o material diretamente para o público, como em um show
alternativo, cria possibilidade de diálogo instantâneo. Caso um leitor se interesse em
discutir o tema, é possível o embate presencial de idéias, essencial para os objetivos de um
movimento social de massas. Esse contato direto facilita, então, o convencimento político,
que pode aproximar mais pessoas da causa feminista. Segundo Carolina, no impresso “a
circulação é mais garantida, além de termos contato direto com os/as leitoras do zine
quando vamos fazer a distribuição.”
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http://portalfeminista.org.br/
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http://www.redefem.ufrgs.br
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http://www.cfemea.org.br
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http://www.sof.org.br
ainda não se consideram feministas “Só sabemos que não queimamos sutiãs, mas que
achamos que a mulher tem direito de agarrar os homens e de ter barriga de cerveja”. O blog
retrata assuntos do cotidiano das mulheres, com textos leves, bem escritos e bem
humorados.
4. Conclusão
Referências
Livros
KUCINSKI, Bernardo. Jornalistas e Revolucionários nos tempos da imprensa
alternativa. Editora da Universidade de São Paulo, 2003.
PAIVA, Raquel. O Espírito Comum – Comunidade, mídia e globalismo. Ed. Vozes,
Petrópolis, 1998.
FUSER, Bruno (org.). Comunicação Alternativa – Cenários e perspectivas. 1. ed.
Centro de Memória, Unicamp/Puc-Campinas, 2005.
LEÃO, Carlos Albuquerque e Tom. Rio Fanzine – 18 anos de cultura alternativa,
2004.
Trabalhos
MAGALHÃES, Henrique Magalhães. A Mutação Radical dos Fanzines. Trabalho
apresentado no Núcleo de História em Quadrinhos, no XXVI Congresso Anual em Ciência
da Comunicação, Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.
FALABELLA, Bruno Vasconcellos. “Solução Impressa – Thorazine e os fanzines
no Brasil e no mundo”. Trabalho de conclusão de curso, Faculdade de Comunicação Social,
UFJF, 2005.
DICKEL, Douglas. “A Internet como meio de Comunicação: Possibilidades e
limitações”.
Trabalho apresentado no INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos
Interdisciplinares da Comunicação, XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação – Campo
Grande /MS – setembro 2001.
Páginas da Internet
02 neurônio, acessado em 9 de abril de 2008:
http://02neuronio.blog.uol.com.br/fuckforever/
Fanzines impressos
Maria Maria, Juiz de Fora (MG)
Zineide, Ponta Grossa (PR)
Respeito!, Juiz de Fora (MG)
Expressão, São Paulo (SP)
Mútuo Ação, São Paulo (SP)
Mujeres Que Hablan, Florianópolis (SC)
Fairy Zine, São Paulo (SP)