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JB Online 16mb 1 PDF
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RIO DE JANEIRO • Domingo • 25 de Fevereiro de 2018 FUN DADO EM 9 DE ABRIL DE 1891 Ano 127 • nº 01 • www.jb.com.br
COISAS DA POLÍTICA
Um adversário temido volta às bancas
Ex-editores comentam o retorno do JB ao papel
CP Doc-JB
ALBERTO DINES*
O JB está de volta
São 127 anos do jornal que fez história
Em defesa da monarquia após a proclamação de 1891, com o anúncio em edição especial da Seu genro, Manoel Francisco do Nascimento Brito Em 2001, o título é vendido a Nelson Tanure
da República, Rodolfo Dantas funda o JORNAL morte do imperador D. Pedro II. Floriano Peixoto lidera em, 1958, sob a direção do editor chefe Odilo e sua sede é transferida para o edifício Conde
DO BRASIL em abril de 1891, com a colaboração fecha o jornal por mais de um ano em 1893, pela Costa Filho, a modernização do desenho gráfico Pereira Carneiro, no prédio erguido no local da
de Joaquim Nabuco. O periódico inova com sua publicação de um manifesto. A circulação volta conduzido por Amilcar de Castro. antiga sede, na Rio Branco. A partir de abril de
estrutura empresarial, parque gráfico e corres- em novembro de 1894, sob a direção da família A partir do AI-5, o JB sofre perseguição da 2006 adota o “formato europeu”. Em novembro de
pondentes estrangeiros, como Eça de Queiroz. Mendes de Almeida. O JB se transfere para a recém ditadura. Na década de 70, muda-se para o pré- 2010 desaparece a versão impressa. Licenciado em
A orientação conservadora foi quebrada em 1893 -inaugurada Avenida Central no início do século dio da Av. Brasil, 500, que previa a instalação da dezembro de 2017 ao empresário Omar Resende
pelo novo redator-chefe, Rui Barbosa. A redação XX. Passa às mãos do conde Pereira Carneiro e, TV JB. Perdeu a concessão em represália à linha Peres, o JORNAL DO BRASIL volta às bancas
do jornal sofre seu primeiro ataque em dezembro após a sua morte, à Condessa Pereira Carneiro. editorial crítica ao regime. em 25 de fevereiro no formato standard.
Prêmio Esso
O JORNAL DO BRASIL é o recordista da mais importante premiação da imprensa brasileira
Erno Schneider/1961
Antônio Andrade/1958
Pelé sentiu a côxa e se despediu da Copa do Chile. O Brasil temeu pelo pior com a foto de Alberto Ferreira Luciano Andrade flagrou deputados votando por colegas ausentes. Assim nasceram “os pianistas da Câmara”
Alberto Jacob/1971 Marco Terranova/1999
A freira caiu e quase foi atropelada no centro do Rio. Alberto Jacob, a caminho da redação, fez o flagrante No meio do tiroteio na orla do Leblon, Marco Terranova não se protegeu. E teve sua coragem premiada.
Domingo, 25 de fevereiro de 2018 Política Conheça nosso site www.jb.com.br • 5
Prêmio Esso
Com suas lentes mágicas, os fotógrafos do JORNAL DO BRASIL foram premiados dez vezes
A primeira conquista de um Prêmio Esso na categoria principal to, com 10 conquistas. A primeira delas foi obtida por Erno Schnei- Kubitscheck estendendo a mão para o secretário de Estado do EUA,
pelo JB coube à repórter Silvia Donato em 1961, com a matéria “Ad- der em 1962 com a célebre foto “Qual o rumo?”, que mostra o pres- Foster Dulles. A foto foi batizada de “Me dá um dinheiro aí”, música
ote uma criança”. Antes dela, Ana Arruda havia merecido menção idente Jânio Quadros trocando as pernas. No ano seguinte, graças a de carnaval da época, e JK, muito irritado, cancelou a concessão de
honrosa em 1960, com a reportagem “A infância precisa de socorro Alberto Ferreira, o JB bisou o feito com a foto de Pelé contundido na TV prometida ao JB.
urgente”. Ambos os temas continuam bastante atuais. Na década de Copa do Chile . Em 1964, Walter Firmo, com reportagem fotográfi- Impossível deixar de citar a famosa bicicleta de Pelé no Maracanã
60, o JB ganhou quatro prêmios principais, graças também ao brilho ca sobre a Amazônia, ganhou o Prêmio Principal. E em 1965, o Prê- em 1965, pelas lentes magicas de Alberto Ferreira. E também são
de José Gonçalves Fontes, Walter Firmo e João Máximo. mio Esso foi para Kaoru Higuchi, que registrou o presidente francês sempre lembradas com emoção as fotos impressionantes de Evan-
Foram, ao todo, nove Prêmios Esso de Jornalismo e mais dois de Charles De Gaulle de braços abertos para crianças. Ou seja, quatro dro Teixeira sobre as passeatas e a repressão da PM em 1968, du-
Reportagem, além de prêmios de informação econômica e esportiva repórteres fotográficos do JB premiados em quatro anos seguidos. rante a ditadura militar.
e dezenas de menções honrosas. Em 1981, por exemplo, a equipe de Fotografia no JB era missão para artistas. Além dos já citados, Com suas fotos maravilhosas e seus textos de altíssimo nível, o
reportagem do JB levou o Prêmio Esso principal com a cobertura do levaram o Esso para casa Alberto Jacob, Ronaldo Theobald, Luiz JORNAL DO BRASIL tornou-se uma inigualável escola de jornal-
atentado ao Riocentro, na noite de 30 de abril de 1981. Morier (duas vezes), Luciano Andrade, Michel Filho e Marcos Ter- ismo, que exerceu forte influência sobre a imprensa brasileira por
Merece capítulo à parte o desempenho do JORNAL DO BRASIL ranova. Algumas fotos não foram premiadas, mas também fizeram várias décadas. Suas páginas marcantes de coragem, ousadia e cred-
no Prêmio Esso de Fotografia. Novamente, o JB é recordista absolu- história. Em 1958, Antonio Andrade clicou o presidente Juscelino ibilidade voltam às bancas a partir deste 25 de fevereiro.
Luiz Morier/1983
Registrada por Luiz Morier, bicampeão do Prêmio Esso, a cena será sempre chocante. Um policial militar trata seus prisioneiros como se fosse um feitor dos tempos da escravidão. aamarrá-los pelo pescoço
No Rio, o presidente Charles De Gaulle, ao assustar as crianças, não escapou do olhar de Kaoru Higuchi Evandro Teixeira correu risco de ser preso ao documentar a repressão aos estudantes em abril de 1968
Michel Filho antecipou uma cena que se tornou comum nas décadas seguintes: tiroteio na Linha Vermelha A foto de Alberto Ferreira não ganhou o Esso, mas a perfeição da bicicleta de Pelé ganhou o mundo
6 • Conheça nosso site www.jb.com.br Política Domingo, 25 de fevereiro de 2018
INFORME JB
Prêmio Esso
O JORNAL DO BRASIL também foi premiado várias vezes
pela qualidade editorial e a criação gráfica de suas páginas
Reprodução
Jan Theophilo
jan@jb.com.br
Nasce um colunista
P ode parecer esquisito. Mas devo minha relação com o
Informe JB a Edir Macedo e um grupo de bispos da
Igreja Universal do Reino de Deus. Corriam os anos 90 e um
video obteve imensa repercussão mostrando os integrantes
da igreja dividindo verdadeiras montanhas de dinheiro.
Naquela época, uma das grandes tradições do Informe JB
era a última linha do “Lance Livre”, sempre uma frase cur-
ta que brincava com algum fato rumoroso do momento.
Era apenas um foca, apelido dos estagiários, que sonhava
em um dia trabalhar na coluna que tinha como DNA um
composto fascinante de elegância, bom gosto e sofisticação,
tornando-a a mais importante coluna de notas políticas do
país. Naquele dia me enchi de coragem, entrei na sala do
editor, Mauricio Dias, e sugeri uma última linha para aquela
edição; “eu sou o seu pastor e nada me faltará”. Foi um baita
sucesso. Dia seguinte estava integrado à equipe e começava
modesta carreira de escritor de poucas palavras que circu-
lou por algumas das principais redações do Brasil.
A redação do novo JB
Gilberto Menezes Côrtes Ziraldo Alves Pinto Hildegard Angel Romildo Guerrante Lenise Figueiredo Jan Theophilo
Diretor de Redação Diretor de Arte Colunista Editor de Cidade Correspondente na Europa Editor do Informe JB
Ziraldo Alves Pinto nasceu em Atriz de formação, atua na Romildo Guerrante, fluminense Formada em Comunicação Jan Theophilo estreou como
Foi um JB que passou na minha vida.
Caratinga-MG. Começou a carreira imprensa desde os 18 anos, de Cambuci, começou sua carreira pela UFJF, Lenise iniciou repórter no JORNAL DO BRASIL
São 68 anos de vida, 46 de jornalismo,
nos anos 50 em jornais e revistas, como quando ingressou no jornal O no Jornal do Brasil em abril de sua carreira na TV Globo entre 1993 e 1998. Passou pelo
25 deles no JORNAL DO BRASIL.
Comecei foca da Economia e estagiário JORNAL DO BRASIL, O Cruzeiro e Globo, em 1968, onde atuou 1971, ainda na sede da Av. Rio em Juiz de Fora-MG, cidade O Dia (RJ), onde ficou até o ano
no Serviço Econômico Especial (da Folha de Minas. É cartazista, jornalista, cerca de 30 anos, em três fases, Branco, 110, quando cursava onde nasceu. Em seguida, 2000. quando deixou o jornal para
AJB). Na Economia fui de repórter teatrólogo, chargista, caricaturista e nas colunas Nina Chavs, Carlos Comunicação na UFF. Cumprido transferida a Belo Horizonte, fazer parte da equipe que lançou
a sub-editor e Editor (1982-83). O escritor. Fez sucesso seu desenho Saci Swann, Zona Franca, Veneno, o estágio, foi contratado como o site pioneiro NO.: Notícia e
apresenta o Telejornal MG-
fato mais marcante foi a quebra do Pererê na 1ª revista em quadrinhos Por dentro da TV por Hildegard repórter de cidade. A redação Opinião, lançado por Marcos
TV, da Rede Globo, líder de
Brasil em 1982. Em dezembro, cobri nacional feita por um só autor: A Angel, Perla Sigaud (seu era chefiada pelo triunvirato Sá Corrêa em 2000. Conquistou
audiência no estado. Dois
a renegociação em Nova Iorque. Turma do Pererê. Sob a Ditadura pseudônimo), Hildegard Angel Alberto Dines/Carlos Lemos/ anos depois, é convidada o Prêmio Unesco Mídia da Paz
Manchetaço do Editor Paulo H. fundou com outros humoristas O (aos sábados no Caderno ELA Luiz Orlando Carneiro. para trabalhar na Globo-Rio, 2001, na categoria Webjornalismo.
Amorim, para desgosto do Delfim, Pasquim, jornal alternativo que fez e diária no Segundo Caderno). Cinco anos depois, assumiu em continuidade à carreira Foi para O Globo, em fevereiro de
que dizia ser mero “refinanciamento escola. Os quadrinhos para adultos, Duas passagens pela Última sucessivamente a subchefia e a de repórter. Convidada para 2003, participar do lançamento
da dívida”. No serviço público, onde como Supermãe e Mineirinho, o Hora, onde, além de entrevistas chefia de reportagem. Afastou- ser correspondente da Rede da coluna Gente Boa, Em 2006
a dupla função conta em dobro, o Comequieto têm legião de fãs. Em de capa do Segundo Caderno, se do JB em 1979 para exercer Globo na Itália, permaneceu passou para a revista Veja (SP),
Editorial (1988 a 2001) paralelo à 1969 Ziraldo publicou o livro infantil assinou colunas diárias e outras atividades, especialmente na função 10 anos em Roma. onde foi editor-adjunto da coluna
gerência de Jornalismo da Rádio JB-AM Flicts, que ganhou o mundo. Desde páginas duplas semanais comunicação empresarial, mas Na Europa, Lenise realizou Radar, colaborando na criação da
(1992-93) e mais a de colunista (1998 a 1979 concentra-se na produção de cobrindo sociedade, bem como voltou ao jornal posteriormente centenas de matérias para o versão digital da coluna. Retornou
maio de 2001), e períodos bissextos na livros infantis. Em 1980 lançou O página diária sobre TV. Manteve como redator da primeira Jornal Nacional e o Fantástico, a O Dia em 2007, assinando a
gestão Tanure, dariam quase 28 anos. Menino Maluquinho, um fenômeno quadro de entrevistas de página. Atuou nos últimos entrevistando personalidades coluna Informe do Dia, sobre
Parodiando Paulinho da Viola sobre a editorial no Brasil, sucesso no bastidores da televisão no “TV anos no JB como redator das do mundo cultural, político Política e Economia carioca. Após
Mangueira... “é um pouco mais...que teatro, quadrinhos, Internet e Mulher”, jornalístico matinal editorias Nacional, Economia e e artístico, como Federico deixar o jornal, tornou-se diretor
os olhos não conseguem perceber”... cinema. Traduzidos para o inglês, da Rede Globo, de 1980 a 1984. Política. Passou quase 20 anos Fellini, Marcello Mastroianni, da FSB Comunicações. Voltou
Os tempos de Relatório Reservado, os espanhol, alemão, francês, italiano Apresentou programa semanal no jornal, do qual se afastou
Ayrton Senna e Bill Clynton às redações para ocupar o cargo
três anos e meio de O Globo (1983-86) e basco, os trabalhos representam jornalístico de entrevistas “As para voltar agora como Editor
dentre outros. Deixou a de diretor de Redação da Editora
como sub-editor e responsável pela o talento e o humor brasileiros no pessoas”, na TV Educativa, de Cidade nesta nova fase do
televisão para trabalhar na Todas as Culturas, especializada
coluna Panorama Econômico, os cinco mundo. Cartunista do JB durante de 1988 a 1992. Manteve velho JB. Colaborou com artigos,
Rádio Vaticano. Se junta agora no segmento editorial de Luxo.
anos de GloboNews (1997-2001) e os 30 anos, Ziraldo tem vários prêmios coluna diária por oito anos, reportagens e também fotografias
ao JORNAL DO BRASIL, Estreou, em dezembro de 2016,
18 meses como diretor da Globo.Com internacionais. no JORNAL DO BRASIL, até para diversas publicações ao longo
como nossa correspondente o JabuticabaTube, no YouTube,
foram marcantes. Mas o JORNAL DO seu fechamento, em 2010. Lá, de sua vida profissional. Morador
em Roma e na Europa, onde onde conta causos de viagem em
BRASIL é bem mais que isso. Como o editou, aos sábados, o Caderno de Santa Teresa, é casado com a
fará matérias para o impresso vídeos curtos, de três minutos em
Flamengo e o Salgueiro, ficou na alma, H e coluna com seis páginas na jornalista Franca Di Sabato e tem
e a JB-TV. média.
para sempre. Revista de Domingo. dois filhos engenheiros.
Tereza Cruvinel Octávio Costa René Garcia Jr. Marcelo Auler Toninho Nascimento Carlos Negreiros
Colunista de Política Editor de Política Colunista de Economia Repórter Especial Editor de Esporte Editor de Arte
Sou graduada em jornalismo Minha ligação com o JORNAL
pela Universidade de Brasilia, DO BRASIL vem de muito longe. Formado em Economia e Volto ao JORNAL DO BRASIL Minha paixão pelo jornalismo Paulista de nascimento e carioca
onde cursei também o mestrado Tinha 8 anos quando meu pai me Administração Pública pela Fundação pela quarta vez. A primeira, pela esportivo se tornou definitiva na Copa de coração, formado em História,
em Comunicação Social e desde levou à sede do JB na Rio Branco e, Getúlio Vargas (FGV), mestre em Carteira do Trabalho, foi em de 1982, aos 22 anos. E por “culpa” jornalista e publicitario, trabalhou
1981 atuo no jornalismo político. na oficina, pediu que o linotipista Economia pela EPGE /FGV. Tem setembro de 1978, como estagiário do JORNAL DO BRASIL. Mais no JB em dois períodos 83 e 91. Tem
Cobri os grandes fatos da gravasse meu nome no chumbo. passagens por diversas instituições da sucursal em Brasília. Verdade especificamente por causa da capa do passagem por diversas editoras como
redemocratização, vi a passagem Fiquei maravilhado e tomei uma financeiras em cargo de direção que começava, com 4 anos na Caderno de Esportes com o “Perder, diretor de arte nas revistas Amiga,
de oito legislaturas do Congresso, decisão: trabalharia no JB, como e na administração pública. Foi profissão, eu ainda engatinhava, ganhar, viver”, de Carlos Drummond Mulher de Hoje do grupo Bloch
de sete eleições presidenciais e meu pai Álvaro e meu tio Odylo diretor da Comissão de Valores mas o trabalho era igual ao dos de Andrade, dois dias após a derrota editores, jornal Tribuna da Imprensa,
os governos de seis presidentes. Costa, filho, que comandou a Mobiliários (CVM /MF), secretário outros profissionais. Na sucursal do Brasil para a Itália por 3 a 2, na Pais Modernos da editora Vecchi,
Entre 1985 e 2007, escrevi a coluna histórica reforma do jornal da estadual de Controle do Estado do foi mais um ano. A experiência Tragédia do Sarriá. Genial. Um vitória Boletim Cambial e jornal Adbussiness.
Panorama Político, no jornal O condessa Pereira Carneiro. Cursei Rio de Janeiro e superintendente da mais rica, porém, viria entre 1987 e na derrota da seleção: o JB ganhou o Responsável pela criação de diversos
Globo, atuando simultaneamente Direito na UFRJ, mas o jornalismo Superintendência de Seguros Privados 1991, na sede do Rio. Circulei pelas Prêmio Esso de Jornalismo. Nos 33 projetos gráficos como o jornal Ponto
como comentarista da Globonews. era o destino. Aos 22 anos, entrei (Susep/MF), além de conselheiro do editorias de economia, cidade e anos que estou nesta profissão, tive de Apoio da Shell e Nosso Jornal da
Neste período, tive uma rápida pela primeira vez para o JB, no BNDESpar/BNDES. Colaborador política. Viajei pelo país, conhecen- como Norte a cobertura do JB naquela Confederação Nacional da Indústria,
passagem pelo Jornal do Brasil. Serviço Econômico Especial da do JB, Valor Econômico e colunista do e aprendendo. Em 2012, uma Copa. Neste período, fui Editor de atuou em diversas agências de
Em 2007, tornei-me a primeira Agência JB. Em 1980, participei da do Jornal O Dia, além de editor- rápida passagem no On Line. Aos Esportes de O Globo por 16 anos, propaganda Rio de Janeiro e Espírito
diretora-presidente da Empresa equipe que cobria um escândalo associado da Revista Brasil Sempre. 62 anos, 46 como repórter em três entre 1996 e 2012, responsável pela Santo como diretor de arte, supervisor
Brasil de Comunicação - EBC, na Bolsa. Ganhamos (e Gilberto Terá uma coluna fixa de economia de cidades e dois prêmios Esso na cobertura de quatro Copas (1998 a e diretor de criação. Professor de
enfrentando o desafio de implantar Menezes Côrtes também) o Prêmio segunda a sexta-feira e no domingo. bagagem, aceitei o desafio de aju- 2010) e cinco Olimpíadas (1996 a Direção de Arte do departamento
a TV Brasil e o sistema público Esso Sudeste, com o Caso Vale. Pretende abordar os fatos econômicos dar a relançar o JB. Afinal, ele é a 2012). Também ganhei um Esso: de de Comunicação da PUC- Rio,
de comunicação. Encerrei meu Em 1990, dirigi a Agência JB, que com uma visão interdisciplinar, alma do Rio. Os tempos são outros; criação gráfica em jornal, em outra professor na Agência experimental
mandato em 2011 e nos dois anos vendia textos e fotos para todo o relatando e analisando os fenômenos a imprensa é outra; o jornalismo derrota, na Alemanha, em 2006. da PUC durante 10 anos, criou o
seguintes escrevi uma coluna País. Retornei ao JB em 1998. Fui com base em pesquisas no âmbito mudou. Algo, porém, permanece Em 2013, resolvi conhecer o outro programa Publicidade & Etecetera
política no Correio Braziliense. editor de política, editorialista, nacional e internacional. A coluna na tarefa de informar: a credibili- lado do esporte e assumi a secretaria no Portal da PUC e foi Coordenador
Depois, atuei como comentarista editor-executivo e diretor da terá a colaboração da jornalista dade que dá aos leitores garantias Nacional de Futebol do Ministério do da semana de publicidade PUC-Rio
política na RedeTV e na TV Brasil. sucursal de Brasília. Agora o JB Renata Batista, profissional do sobre o que lê. Isso, a marca JB acu- Esporte. Não me arrependo. Agora, (evento semestral com profissionais
Desde 2014, escrevo uma coluna está de volta. E me vejo pensando jornalismo econômico com passagens mula. Continuará tendo. Pois será possa unir três paixões, o jornalismo, do mercado publicitário). E agora
política no portal Brasil247, onde na plaquinha de chumbo com meu pelos jornaisww Valor Econômico, o principal motivador do projeto. o esporte e o JORNAL DO BRASIL. voltando às raízes no mercado
atuei até agora. nome. Brasil Econômico e Jornal do dar certo. BRASILasiçnal doBrasil. editorial.
Renato Mauricio Prado Geraldo Samor Evandro Guimarâes. José Marinho Peres
Colunista de Esporte Repórter Especial de Economia O JB no Campo Editor de Fotografia
Cursava comunicação na PUC Geraldo Samor começou no jor- Publicada aos domingos, a coluna José Peres nasceu no Rio de
quando (sonho dos sonhos) nalismo em 1996, como correspon- terá como titular o pecuarista Janeiro. Engenheiro Agrônomo,
consegui um estágio no JORNAL dente da agência Dow Jones no Evandro Guimarães. Mineiro trabalhou muitos anos com o seu
DO BRASIL. De terno e gravata, Brasil. Formado pela Universidade de Leopoldina, Evandro é pai, o jornalista e agropecuarista
me vi diante do editor-chefe, de Kansas, Samor trabalhou em administrador de empresas, tendo José Rezende Peres, em sua fazen-
Walter Fontoura, que me olhou dois jornais nos EUA e obteve a dedicado, a maior parte de sua da em São Pedro dos Ferros-MG.
de cima abaixo e, com um sorriso Nieman Fellowship de Jornalismo vida profissional como, Diretor Mas a fotografia absorveu todos
amigável, sentenciou: “Você tem de Harvard em 2001. Em 2004, da Rede Globo de Televisão. os seus sonhos e o transformou
cara de repórter político! Vou virou correspondente do The Wall Hoje, é um dos mais renomados em um fotógrafo apaixonado pela
colocá-lo com o nosso melhor Street Journal no Rio. Em seguida, pecuaristas do país, se dedicando à arte.
editor, o Elio Gaspari”. Que trabalhou para o Farallon Capital, melhoria genética de raças zebuínas Tornou-se um fotógrafo da vida –
privilégio! Da política me transferi fundo de investimentos de São brasileiras. Evandro, levará aos das pessoas e da natureza.
para o esporte e foi pelo JB que Francisco. Voltou ao jornalismo agropecuaristas informações, Com trabalhos fotográficos nos
cobri minha primeira Copa, em em 2010, como correspondente da propostas e preocupações do Agro quatro cantos do Brasil e larga
1978, na Argentina. Depois dela, Debtwire. Por sete anos produziu o Negócio, esse importante setor da experiência, Zezinho como é
me transferi para O Globo, onde Podcast Rio Bravo. Em 2014, lançou economia brasileira. conhecido, é um profissional que
fiz carreira mas, no fundo da o Veja Mercados, blog sobre empre- consegue colocar toda a mecânica
alma, sempre restou uma ponta sas e mercados. É fundador e editor das câmeras e lentes, usando sua
de saudade do início no JB. Que do site Brazil Journal, que fornece sensibilidade para ver e buscar a
prazer, voltar! conteúdo ao JORNAL DO BRASIL. beleza na vida e nas pessoas.
8 • Conheça nosso site www.jb.com.br Política Domingo, 25 de fevereiro de 2018
JB – Um retorno bem-vindo
EUNÍCIO OLIVEIRA* a existência de uma imprensa livre e plural minados. Pelo contrário. O equilíbrio
para consolidar a hegemonia democrática emerge da transparência, do diálogo, da
A existência de um órgão de imprensa de um povo na condução do seu desenvolvi- negociação política. Também é assim
é sempre a reafirmação do espaço de mento. no caso do jornalismo e da necessária
liberdade na vida de um povo. E quando isenção informativa.
o veículo carrega consigo uma história Na era digital, foi A despeito da influência crescente das redes
e uma tradição iniciadas em 1891, essa
afirmação ganha relevo e densidade
para o papel. E que sociais e outras novidades desta era da
internet, a imprensa tradicional ainda fixa
Sem dúvida, a mediação de uma im-
prensa isenta e democrática – a exem-
adicionais. O retorno do Jornal do Brasil papel! O das Bancas agendas, pauta a conversa pública, forma e plo do jornalismo praticado histori-
portanto, é uma excelente manchete.
de Jornais, claman- informa a cidadania e vocaliza as discussões
na sociedade. Nesse contexto, o jornalismo
camente pelo Jornal do Brasil – pode
contribuir de forma inestimável para
O JB durante décadas foi narrador do os cariocas, a deve ser livre e plural para exercer, com que esse espírito, ao mesmo tempo
privilegiado das conquistas da Nação equilíbrio, o papel de grande praça de deba- crítico e comprometido com a verdade,
Brasileira. Mas também enfrentou cora- voltar no tempo e ir tes onde os diferentes anseios e demandas da predomine.
josamente os reveses de nossa história,
quando a prática do bom jornalismo e o
à esquina, comprar o Nação sejam representados.
Vida longa ao ‘velho JB’ novo.
exercício da liberdade de imprensa fo- jornal que faz parte Idéias e interesses distintos estão presentes
ram cerceados por medidas autoritárias.
Sabemos hoje o quanto é importante
da nossa história.” na construção do desenvolvimento. Não
podem e não devem ser evitados ou discri-
* Senador (MDB CE),Presidente do Sena-
do e do Congresso Nacional
Domingo, 25 de fevereiro de 2018 Política Conheça nosso site www.jb.com.br • 9
O renascimento do JB
MICHEL TEMER* muito bem vinda. A objetividade e mercado - inclusive destacan-
o rigor na apuração das informa- do-se pelas inovações, como é
A volta do Jornal do Brasil às ções são ferramentas fundamentais o caso recente, por exemplo, do
bancas, inicialmente no Rio de A objetividade e o para balizar o debate e auxiliar a Washington Post.
Janeiro e em Brasília, é uma boa rigor na apuração sociedade no processo de formação Sinônimo de prestígio no jor-
notícia que de imediato desperta de opinião e na busca do consenso. nalismo brasileiro, o JORNAL
das informações são
curiosidade. Numa inversão de Sempre, é claro, a partir de fatos e DO BRASIL, em suas novas
ferramentas funda-
expectativas, o jornal ressurge premissas verdadeiras. páginas, certamente fará jus a
em papel, depois de editado
mentais para balizar É extremamente auspicioso tam- sua história centenária. Uma
desde 2010 apenas na internet.
o debate e auxiliar bém que novos investimentos este- trajetória marcada pela excelên-
A volta em 2018 ao “mundo a sociedade no pro- jam sendo feitos na nossa imprensa. cia de seus profissionais e cola-
real”, sem abandono, é claro, do cesso de formação de Como em todo o mundo, o processo boradores – só para citar um, o
virtual, servirá sem dúvida para opinião e na busca de produção dos jornais brasilei- JB proporcionou aos brasileiros,
fortalecer a marca JB para anti- do consenso” ros foi impactado por contínuas durante 15 anos, a leitura das
gos e novos leitores. mudanças tecnológicas. Os jornais crônicas de nosso grande poeta
Num momento em que a cha- vivem as turbulências econômicas Carlos Drummond de Andrade.
mada pós-verdade e as fake news de uma transição cujos horizontes A qualidade dos textos, muito
se espalham pelas redes sociais, ainda não estão muito claros. Os além do padrão dos manuais de
confundindo e induzindo a erro desafios não são pequenos, mas redação, e a inovação gráfica
os cidadãos, a escalação de um estamos vendo exemplos do quanto e visual sempre foram alvo de
novo time de jornalistas profis- é importante a credibilidade para admiração nacional.
sionais para produzir, hierar- conquistar cada vez mais leitores. Isso sem falar na firme defesa
quizar e analisar o noticiário Assim, os veículos de comunicação da liberdade de expressão, in-
– como anuncia agora o JB – é conseguem se manter fortes no clusive nos períodos difíceis, em
que a democracia esteve sub-
Gilberto Alves/1996 CPDoc JB
mersa e a censura imperou. Na
política, o JORNAL DO BRA-
SIL sempre foi referência. Basta
lembrar que ninguém em Brasí-
lia poderia começar a trabalhar
sem ler antes a bem informada
coluna do saudoso escritor e
jornalista Carlos Castello Bran-
co. Que, aliás, dá nome à sala de
redação da Secretaria de Im-
prensa do Palácio do Planalto –
singela homenagem, feita já há
alguns anos.
Na minha atividade política,
seja como constituinte, presi-
dente da Câmara e agora como
presidente da República, sempre
enalteci a liberdade de impren-
sa. Respeito as instituições, as
pessoas, as ideias divergentes e,
por mais que a imprensa possa
fazer isto ou aquilo – e não foi
pouco o que sofri em 2017 com
informações distorcidas e inve-
rídicas -, brado em alto e bom
som: viva a liberdade de im-
prensa! Porque ela tem, acima
de eventuais equívocos, papel
fiscalizador e pode auxiliar na
busca do bem comum.
Acredito que é com esta boa
vibração que o JB renasce no
Rio de Janeiro – sua cidade
natal, que muito precisará de
acompanhamento jornalístico
neste momento especial. Deixo
aqui meus sinceros votos de
sucesso a toda a equipe do
JORNAL DO BRASIL.
O presidente Temer elogiou a escalação de um time de jornalistas profissionais para produzir, hierarquizar e analisar o noticiário * Presidente da República
10 • Conheça nosso site www.jb.com.br Política Domingo, 25 de fevereiro de 2018
A democracia precisa
de muitas vozes
Fernado Pereira/1979 CPDoc JB
O Jornal Brasil continua mais importância. Seu sustentáculo não era dias, seu par. A mudança introduzida
JOSÉ SARNEY*
a indústria ou o comércio, mas os humildes por Odylo foi de forma e conteúdo,
que buscavam os classificados, que cobriam criando um paradigma de qualidade
Pouco depois da República, Rodol- o jornal quase todo, a começar da 1ª página. de texto, na exatidão da notícia, na
fo Dantas, conselheiro do Império, O conde casara-se em segundas núpcias apresentação, na profundidade dos
filho do Senador Dantas e intelectual Estamos todos ten- com uma filha do professor maranhense temas, na separação entre notícia e
Dunshee de Abrantes, Maurina, a condessa
importante, criou o JORNAL DO
BRASIL. A ideia que o animava — a
tando nos adaptar Pereira Carneiro, que, ao enviuvar, resolvera
opinião — e, aí, no assegurar a liber-
dade dos colaboradores.
ele e a seus amigos, como o Barão do aos novos tempos. transformar o jornal em coisa que importas-
se para a cidade e o país. Convocou Odylo.
Aquele tempo ficou marcado na histó-
Rio Branco, Joaquim Nabuco e José ria do jornalismo brasileiro. O JOR-
Veríssimo — era a ressurreição da Mo- Novas práticas, po- Com uma longa experiência — começara a NAL DO BRASIL tornou-se o primei-
narquia. Foi extraordinária aventura, rém, não prescindem trabalhar no “Jornal do Comércio” em 1930,
aos 16 anos — e seu temperamento conci-
ro jornal do Brasil. Passaram-se mais
de 50 anos, ele teve altos e baixos — e
inclusive industrial, pois Dantas inves-
tira em máquinas e métodos revolu- de compromissos pé- liador, Odylo conciliou a tradição de ve- não posso deixar de mencionar dois
cionários para a época. Pouco tempo
depois, empastelado porque expressara
treos com a verdade lhas figuras, como a colaboração de Aníbal
Freire, com a renovação, trazendo Amílcar
grandes jornalistas que por muitos
anos aí fizeram a melhor crônica polí-
luto pelo falecimento de D. Pedro II, o e a democracia" de Castro para fazer a arte gráfica e, para a tica do Brasil, Carlos Castello Branco
jornal passou para a responsabilidade redação, Wilson Figueiredo, Quintino de e Luiz Antônio Villas-Bôas Corrêa —,
de Rui Barbosa e para o lado da Repú- Carvalho, Araújo Neto, Armando Nogueira acabou deixando de ser impresso e
blica. Também essa foi uma aventura ao lado de muitos jovens, jovens mesmo. passando a existir apenas no mundo
efêmera, pois o Marechal Floriano Fiz parte indiretamente desse grupo, como virtual. Parecia seguir a tendência
colocou seus esbirros atrás do opositor. correspondente no Maranhão — e, por mundial.
Durante muitos anos, então, esteve nas ordem da condessa, com um cabo da Wes- Agora ressurge. Numa época em que
mãos dos Mendes de Almeida, e com tern Co franqueado para meu uso. O JOR- todos falam que vai acabar o jornal
eles instalou-se na Avenida Rio Bran- NAL DO BRASIL, com a equipe de Odylo, impresso, demonstra que há lugar
co, entre as Ruas Sete de Setembro e rapidamente saiu de seu apagado papel de para ele. O seu passado, sua história,
da Quitanda, onde o frequentei pelas vendedor de anúncios classificados para a coragem do desafio, a esperança de
mãos de Odylo Costa, filho. Tratava-se competir, e logo ultrapassar em importância que volte aquela época dourada impõe
de uma aventura maranhense. Nos com os grandes jornais da capital e do país: a todos que acompanhem atentamen-
anos 20, o jornal tornou-se proprieda- o “Correio da Manhã”, “O Globo”, o “Diá- te esse recomeço.
de do conde Pereira Carneiro. Torna- rio de Notícias”, o “Diário Carioca”. Só “O
ra-se um fenômeno, um jornal que era Estado de S. Paulo”, ainda sob o comando de *José Sarney, escritor e político, presi-
extremamente lucrativo, mas não tinha Dr. Júlio de Mesquita, foi, durante aqueles dente da República entre 1985 e 1990
O JB está de volta
FERNANDO COLLOR DE MELLO* extrapolou os limites do Rio de Janeiro para mo. Um jornalismo que faz da apuração
se transformar, durante décadas, no mais rigorosa uma regra mestra. Um jorna-
É dispensável aquilatar o peso de um influente e apreciado jornal do país. lismo que, mais do que o texto, respeita
jornal que teve entre seus colabora- No final dos anos 1960, tive o prazer de fazer o contexto dos acontecimentos; mais
dores e redatores, nos primeiros anos Na era digital, foi parte na sucursal de Brasília de um time de do que a tendência da versão, respeita a
de circulação há mais de um século, jornalistas e repórteres do mais alto gabarito veracidade dos fatos.
figuras da estatura de Joaquim Nabuco, para o papel. E que da imprensa nacional, como Carlos Castelo É dessa credibilidade da notícia, da apu-
Barão do Rio Branco, Eça de Queirós,
Rui Barbosa e, mais recentemente,
papel! O das Bancas Branco, João Emílio Falcão, D’Alembert Jac-
coud e Abdias Nascimento. Foi um período
ração, da correção e da fonte legítima,
que o Brasil tanto precisa hoje. Vivemos
Odylo Costa Filho. de Jornais, claman- importante de minha formação. Em 1992, tempos de pós-verdades, de fake news;
A história do JORNAL DO BRASIL por
si só revela sua relevância como veículo
do os cariocas, a trazido por Etevaldo Dias, meu secretário de
imprensa à época da Presidência da Repú-
vivemos tempos de desvirtuamento da
realidade, de degeneração institucional
de comunicação. A partir dos primei- voltar no tempo e ir blica, recebi do Dr. Nascimento Brito, então e de desilusão com a política. Vivemos,
ros anos da nossa República, atraves- presidente do grupo, minha ficha funcio- enfim, tempos de um progressivo pro-
sou todo o século XX conferindo ao à esquina, comprar o nal de repórter do JB emoldurada. Foi um cesso de anestesia com a dura realidade
público uma qualificada cobertura dos jornal que faz parte momento de recordação e emoção, a mesma do dia a dia de um país violento e de-
acontecimentos do Brasil e do mundo que senti, mais de duas décadas antes, quan- sorganizado. Que o JB, com sua força de
e oferecendo a opinião de respeitáveis da nossa história.” do vi meu nome na publicação da minha opinião e o talento de sua equipe consiga
colunistas e articulistas. primeira matéria assinada. ajudar a resgatar um pouco da esperança
O retorno às bancas no formato em pa- Tenho certeza que a volta do JB às bancas es- e do otimismo dos brasileiros.
pel, sempre revolucionado pelo próprio tará imbuída do mesmo espírito que sempre
JB, é mais uma etapa de sua importante o caracterizou ao reportar notícias no mais *Senador pelo PTC/AL,
trajetória. Desde o início, sua edição puro conceito do bom e responsável jornalis- foi presidente da República
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Opinião Domingo, 25 de fevereiro de 2018
Diretor Presidente
Omar Resende Peres
Conselho Editorial
Presidente:
Omar Resende Peres
Conselheiros: Gilberto Menezes Côrtes - René Garcia Jr - Octávio Costa - Wilson Cid - Hildeberto Aleluia
Editorial
Coroação do Imperador Dom PedroI. Igreja da Nossa Senhora do Carmo, antiga Sé Rio de Janeiro, 1822
Jornal impresso-Reflexões
MARCO AURÉLIO MELLO * transformações ocorridas no País desde a audição mesclam-se no lírico momento de
monarquia, posicionando-se com firmeza saciar-se dos acontecimentos, de analisar os
na defesa dos ideais almejados, ao tempo editoriais, de degustar os cadernos especiais.
A causa não é do Juiz, a notícia não é do jorna-
em que soube adequar-se à nova realidade. Muitas imagens vêm-me à mente. A ida às
lista. Ambas desenvolvem-se a partir de atuação A leitura do Inovador desde a longínqua época em que a bancas para ver as manchetes, a lembrança
isenta. E isenção não se confunde com opinião.
Opinião é do ser capaz de pensar. A formação jornal, muito mais distribuição em carroças tornou-se a grande
novidade, foi o primeiro a ter edição inteira-
de meu pai lendo os jornais pela manhã, o
farfalhar das folhas que antes manchavam
humanística individualiza a ação de julgar, assim
como a de escrever, sendo pautadas pela confor-
do que a busca mente digital. Retorna a circular em papel. as mãos, a dobra do exemplar lido sobre a
mação do fato ao resultado anunciado. O magis- pelas novidades, Aplaudo a iniciativa. mesinha, o local de ponto de encontro da
família... A leitura do jornal, muito mais do
trado realiza o julgamento com imparcialidade,
e o jornalista, a divulgação com credibilidade.
é um ritual que Parafraseando Humberto Eco, afirmo: não que a busca pelas novidades, é um ritual que
Os donos do pedaço
Fronteira ampliada
Vieram depois Anthony Garotinho, Benedita da Silva e Enquanto os governadores do Rio colecionam medidas inúteis, os cariocas sofrem cada vez mais com a escalada da violência
Rosinha Matheus. Todos fracassaram. Mas palavras de
otimismo não faltaram. “O policiamento ostensivo vai alto, armados até os dentes, impondo o terror às famílias
das UPPs, que, ao menos no papel, deveria ser capaz de
ser maior, e nós vamos tombar gradativamente todos os e trocanod tiros com a PM, muitas vezes despreparada. O operar o milagre e restabelecer a paz na cidade. Funcio-
itens da criminalidade”, garantiu Garotinho, ao falar de resultado é morte de inocentes por balas perdidas, além nou de início, mas não resistiu à mundo real.
uma mudança de conceito no combate à violência. Até da morte em combate de policiais. E a população cada Agora, sabe-se que a prioridade do Sérgio Cabral era ou-
hoje não sabe exatamente o que o ex-radialista de Cam- vez mais amedrontada. Nas reações possíveis, são orga- tra. De dimensão bem menor e mais fácil de ser alcança-
pos quis dizer com “mudança de conceito”. Rosinha, nizadas passeatas e pequenas manifestações para tirar asda. Enriquecer em cargo público, graças a gordas propinas,
mais acanhada, dizia apenas que não iria negociar com autoridades da zona de sossego. Enquanto o quadro se mostrou-se um objetivo mais palpável do que combater o
bandidos. O certo é que, nos governos de Garotinho e agrava, as pesquisas de opinião mostram a violência no tráfico de drogas e toda a cadeia de violência que acarreta.
de sua mulher Rosinha, a fronteira do tráfico de drogas primeiro lugar das preocupações dos cariocas. Sérgio Cabral perdeu a guerra e também os escrúpulos.
se expandiu para o interior do estado e chegou ao Norte O Rio de Janeiro, porém, é mais forte do que seus gover-
Fluminense, reduto eleitoral da família Garotinho. A prioridade de Cabral nantes. E resiste às intempéries. da mesma forma que se
Enquanto os governantes repetiam suas falsas promes- incrustou no alto dos morros, o tráfico, um dia, será ex-
sas, a população assistia ao avanço do exército de trafi- Nos dois governos de Sérgio Cabral, o cenário pouco mu- tirpado. Com ou sem intervenção militar, os dias de paz
cantes nas maiores comunidades do Rio. Ficam eles lá no dou, quase nada. De início, houve o aparato espetacular vão voltar. Quem viver verá.
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Amizade antiga
LUIZ FERNADO PEZÃO* era por suas páginas que chegavam antes tógrafos, uma gama de profissionais de
ao público. Sem, é claro, jamais deixar excelência ajudaram a formar gerações
JORNAL DO BRASIL. Rever essas três de lado os principais temas nacionais e de leitores que, ao folhearem as páginas
palavras estampadas em uma página, mundiais. Cosmopolita e genuinamente do jornal, ainda eram presenteados com
formando o título de uma das mais im-
portantes marcas da história de nossa
Estamos todos carioca – esta é a identidade do JB.
A capacidade de aliar tradição e modernida-
encontros diários com nomes como
Manuel Bandeira, Carlos Drummond
imprensa, é como reencontrar um ve- tentando nos de é outro traço marcante do JORNAL DO de Andrade, Clarice Lispector, Antô-
lho amigo que estava distante há muito BRASIL. Fundado ainda antes da Proclama- nio Callado, João Saldanha, Sandro
tempo. Uma antiga parceria que reaviva adaptar aos novos ção da República, acompanhou as mudan- Moreyra, Carlos Castelo Branco, Villas
lembranças guardadas em algum lugar tempos. Novas ças da sociedade desde então. Sua reforma Boas Corrêa, Zózimo Barroso do Ama-
especial da memória e retoma uma re- gráfica, que revolucionou a imprensa brasi- ral e muitos outros.
lação de intimidade que permite voltar práticas, porém, leira no fim da década de 1950, por exemplo, Em um tempo cada vez mais veloz
a chamar o querido companheiro pelo
apelido carinhoso: JB.
não prescindem coincidiu com o momento de transformações
por que passava o país, com a aceleração do
como o atual, o retorno do Jornal do
Brasil representa o acesso à informação
Essa abreviação para duas letras de compromissos processo de urbanização e o surgimento da relevante e analítica. É uma notícia a
traduz a cumplicidade entre o
leitor e um jornal que tem o Rio
pétreos com Bossa Nova e do Cinema Novo.
Em paralelo às mudanças na forma, vieram
ser comemorada tanto pelos admira-
dores de longa data, como eu, quanto
de Janeiro em seu DNA. Ao longo a verdade e a as de conteúdo. Reportagens mais aprofun- pelos mais jovens, que conhecerão um
das décadas, o JB sempre manteve dadas, valorização de fotos, textos precisos veículo que traz o Brasil em seu nome
um olhar atento e ao mesmo tempo democracia" e sempre com o compromisso da isenção na e o Rio de Janeiro em sua alma. Um
original sobre o que se passava na busca pela notícia. Qualidade a serviço da presente a cariocas e fluminenses.
cidade e no estado. Se havia uma criatividade dos talentos que consolidaram JB, que bom que você voltou!
notícia relevante, uma transforma- o JB como sinônimo de bom jornalismo. De
ção cultural, uma nova tendência, repórteres a diagramadores, de editores a fo- *Governador do Rio de Janeiro
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A cilada da militarização
NILO BATISTA* “espólio de guerra”, compreende-se me- arrecadação de butim por seus in-
lhor a utilidade desta cena: num arrou- tegrantes. O roubo e a extorsão “em
bo, explicável pelos anos de tirania, os zona de operações militares ou em
Recordemos a chacina do Pan, vizinhos saquearam a casa do suspeito. território militarmente ocupado”
aquelas dezenove execuções no Aquele saque popular, televisionado com pode ser punido, em tempo de guer-
Alemão antes dos Jogos. Recor- Ainda há tempo simpatia – dos PM’s e dos âncoras – era ra, com a pena de morte (art. 405
demos especialmente as capas das de salvar as Forças um excelente álibi para outros saques, CPM). Mas basta olhar, no cenário
revistas semanais, que saudavam a mais bem direcionados às economias do internacional, as frentes de conflitos
operação como alvissareira “novi- Armadas da cilada comércio ilegal. Nenhum programa de bélicos para constatar a frequência
dade” nas técnicas policiais. Na foto
da capa, um inspetor da Polícia Ci-
da militarização tevê deu maior importância, e era um
flagrante delito (de quem saqueava e
de abusos que tais situações extre-
mas fomentam.
vil conhecido por Trovão, em trajes da segurança de quem deixava saquear) no ar! Com-
de expedicionário norte-americano
no Iraque, degustava um charuto
pública" preende-se; afinal, era o Dia da Vitória. Recentíssimo episódio, no qual
soldados do Exército oriundos de co-
caminhando numa viela sobre o A militarização da segurança pública munidades pobres com presença de
corpo de algumas das vítimas da constitui um enorme equívoco no qual grupos rivais do chamado Comando
operação. Cândido, dissuadia toda resistência, lá levianamente se insiste entre nós. Re- Vermelho (CV) – o alvo preferen-
em cima era Serra Pelada, mangueiras centemente, Raúl Zaffaroni recordava cial e quase exclusivo da política de
Dezenove execuções não eram e bateias a mil. que todos os genocídios do século XX UPP’s – declinavam desafiadora-
em si qualquer novidade. Afinal, a foram praticados por forças policiais, e mente sua procedência para mora-
polícia carioca está matando anual- Recordemos duas cenas daquela quando forças armadas institucionaliza- doresdo Alemão é especialmente
mente uns mil e duzentos suspeitos, cobertura ufanista, do que foi chama- das neles se envolveram, estavam exer- preocupante. Não pela emergência
e esta cifra espantosa, este récorde do de “Tropa de Elite 3”. A primeira se cendo funções policiais (como essas que de um suposto “Comando Verde”,
mundial, alcançado gota a gota – deu quando aquele magote de favela- recentemente lhes foram atribuídas para como desafortunadamente sugeriu
dois traficantes aqui, um assaltante dos armados fugia por uma estrada de as fronteiras). O núcleo desse equívoco um prósperoongueiro de origem
acolá etc – jamais despertou maior terra. De repente, um deles foi alve- provém da confusão, comum nas ciências popular, mas sim porque essas rivali-
comoção na mídia. Se todos fossem jado. Não é recente a criminalização sociais – veja-se, por exemplo, Elias – dades – fenômeno urbano frequente
mortos num dia só, teríamos em desse fato, a execução de um suspeito entre poder militar e poder punitivo. No – começam, por efeito da atividade
perdas humanas mais do que na tra- que esteja fugindo, que Sérgio Vera- Estado de direito, esses dois poderes não de patrulhamento policial, a intro-
gédia das chuvas na região serrana, ni estudou pioneiramente entre nós; podem se aproximar sem riscos gravís- duzir-se na tropa. Como os recrutas
incluindo desaparecidos – na serra quer perante o direito internacional, simos. Mas essa aproximação foi muito oriundos de favelas com presença do
como nos registros policiais. Diluí- quer perante nosso direito interno, dinamizada por um projeto, gestado no CV reagirão às insolências ou chistes
das porém no noticiário cotidiano, aquilo foi um crime. No século XV, hemisfério norte, de converter as Forças que seus camaradas, provindos de
essas mortes oferecem a base para a uma ordenação determinava que o Armadas latino-americanas em gran- favelas com presença por exemplo
disseminação de um conformismo oficial de Justiça “nom o (o suspei- des milícias, a perder sua higidez e sua do ADA ou de milícias, porventura
perigoso para o Estado de direito. to) deva matar por fogir, ainda que orientação estratégica no incontestável dirijam a moradores ou mesmo a
A “novidade” em uníssono saudada d’outra guisa prender nom possa; e fracasso da “guerra contra as drogas”. infratores? Este conflito, que jamais
pela mídia não residia, por certo, em matando-o, averá pena de Justiça, se- Onde há guerra não pode haver direito. havia transposto de forma significa-
ter aquela operação policial obtido gundo no caso couber” (Ord. Afo. II, tiva o portão dos quartéis das Forças
num só dia o produto funesto de VIII, 10). Temos algo a aprender com O militar é adestrado para o inimigo, Armadas, pode sorrateiramente
três ou quatro. A “novidade” era a Afonso V, pois ninguém se interessou o policial para o cidadão. Na estrutura introduzir-se agora neles. Certas
própria legitimação da brutalidade por aquele homicídio a sangue frio, militar, a obediência integra a legalidade; funções policiais são brutalizantes e
policial. É isso aí. Vamos mostrar- visto por mais de cem milhões de pes- na policial, a legalidade é condição prévia produzem efeitos deteriorantes sobre
-lhes quem tem mais fuzis. Quem soas. Ninguém se interessou. Nenhum da obediência. São formações distintas, aqueles que as realizam. Trata-se do
com ferro fere... Não apenas tolerân- jornalista, nenhum membro do Mi- dirigidas a realidades também distintas. fenômeno denominado “policização”,
cia, mas também culpa zero. E, por nistério Público, nenhuma autoridade O sistema de responsabilização é também que pode acontecer também com
que não, cumprida a tarefa, por que do Executivo, nenhum parlamentar, diferente: não há ordens vinculantes para outros operadores do sistema penal,
não saborear um purito pisando o silêncio obsequioso da OAB-RJ. Ao um policial, adstrito a aferir a legalidade carcereiros, advogados, promoto-
sangue ainda quente dos inimigos? contrário, soube que uma repórter de todas elas (num teatro de guerra, ini- res de Justiça e magistrados. Quem
indagou a um constrangido oficial da ciativa similar significaria derrota certa). não conhece a policização passará o
Nos jornais de 12 de fevereiro PM por que a polícia não tinha resol- Na economia, o arrogante discurso resto da vida reclamando do pouco
de 2011, estampou-se a prisão do vido tudo naqueles instantes de fuga. neoliberal levou um tranco. Sabemos rigor na admissão e adestramento
inspetor Trovão, suspeito “de ter A segunda cena deve ser antecedida agora o que é que a mão invisível do dos policiais, quando o problema
participado da garimpagem no por um esclarecimento. Bens adquiri- mercado fazia depois do expediente. Mas não está na seleção e sim na prática.
Complexo do Alemão”, dentro da dos com o produto de práticas ilícitas a política criminal genocida do neolibe- Quem está disposto a correr o risco
prática alcunhada “espólio de guer- serão perdidos para o Estado – este ralismo parece sobreviver a ele. A indús- de policização de algumas unidades
ra” (O Globo, p. 21). Pobre Trovão. é um dos mais conhecidos efeitos da tria do controle do crime responde um de nossas Forças Armadas? Guerra
Ele não só se vestia e se sentia condenação (art. 91, inc. II, al. b CP). pouco por essa permanência. De outro é uma coisa muito séria, como o é a
como um soldado em plena batalha O patrimônio dos infratores – quando lado, nunca o sistema penal acolitou tão soberania e a integridade do territó-
dentro de território inimigo, mas e apenas quando comprovadamen- visivelmente a acumulação capitalista. rio nacional. Precisamos de Forças
sobretudo confirmava seus figuri- te oriundo da atividade criminosa Ainda há tempo de salvar as Forças Armadas bem adestradas para aque-
nos e sentimentos lendo os jornais. – deve ser apreendido e preservado, Armadas da cilada que é a militari- las tarefas constitucionais em que
Guerra é guerra. para que sobre sua guarda, posse ou zação da segurança pública. O jovem elas são únicas e insubstituíveis. Já
Essa pilhagem teria ocorrido no depósito decida o Juiz. Pois no Ale- tenente, suspeito de furtar um aparelho passou da hora de brincar de guerra
que poderíamos chamar de segun- mão, sob as vistas complacentes de de ar condicionado, e o inspetor Trovão nas ruas da cidade.
da tomada do Alemão, com o apoio policiaismilitares fardados, alguns acreditaram que estavam participando
de equipamentos bélicos e pessoal moradores saqueavam móveis, utensí- de batalha em território inimigo. *Ex-Governador do Rio de Janeiro, Profes-
militar. Enquanto embaixo um tan- lios e materiais da casa que pertence- Foram muito incentivados a acreditar sor Titular de Direito Penal da Universidade
que, que poderia estar sendo pilo- ria ao chefe local do comércio ilícito. nisso pela mídia. É claro que exércitos Federal do Rio de Janeiro e da Universidade
tado por Marcílio Dias ou por João Hoje, desvelada a “garimpagem”, o regulares impedem o quanto podem a do Estado do Rio de Janeiro.
Bem-vindo JB
BENEDITA DA SILVA* como se nesta não vivessem também
Por isso saúdo a volta do JB, com a espe- cidadãs e cidadãos brasileiros.
rança de uma voz independente, de um
A volta do Jornal do Brasil, em espaço para o jornalismo investigativo e da Colocar a intervenção federal na lupa do
sua versão impressa, tem a cara da ressonância para o pluralismo das ruas. jornal, acompanhando cada passo dos
retomada daquele JB independente Saúdo o JB, com a militares e ecoando o grito dos que não
e crítico que não vergava diante da O estado do Rio de Janeiro, rebaixado, têm voz, é função do jornalismo inde-
censura imposta pela ditadura. Hoje esperança de uma depenado, maltratado e humilhado, des- pendente que o JB promete ser.
a “censura” é do mercado, que con-
seguiu fazer a imprensa brasileira ter
voz independente, de o golpe do impeachment da legítima
presidenta Dilma, enfrenta agora mais um
Benvindo às dores da vida real, mas
também às alegrias do dever cumprido.
somente a mesma opinião – a que lhe e ressonãncia do suplício: a intervenção militar para com-
interessa.
pluralismo das ruas" bater, supostamente, o crime organizado.
Mas os fuzis estão apontados para a favela,
*Deputada Federal (PT-RJ) e ex-governa-
dora do RJ.
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MEMÓRIA DA CIDADE
1966 - Temporal de quatro horas inundou a cidade e matou mais de cem pessoas
1971 - Erro de cálculo derruba Elevado da Perimetral. Dezoito pessoas morreram 1975 - Médici inaugura a Ponte Rio-Niterói
1979 - Geisel inaugura primeiro trecho do Metrô entre a Glória e a Praça Onze 1981 - Duas bombas explodem no Rio Centro. Um capitão do Exército perdeu a vida
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A vocação inovadora do JB
EDUARDO PAES* a felicidade de todos nós. Rio e ao Brasil, certamente, poderemos
contar com o restaurado JB na luta
Pois é, quando a gente menos espera, Vivemos quadras complexas. No âmbito pelas boas causas contemporâneas e
percebe que nem tudo é desalento, midiático, a imprensa talvez passe pelos contra todas as variantes de racismo.
neste instante, no nosso Rio. O retorno
do JORNAL DO BRASIL às bancas re-
Estamos todos seus momentos mais difíceis de identidade,
diante de um mundo que se transforma, Hoje, vivenciamos conexões tecnológi-
coloca em cena um dos maiores ícones tentando nos totalmente, a um ritmo inimaginável e cas. Quase tudo migra para o planeta
da cidade. alucinante. Os arcabouços das relações são digital. Algumas mercadorias, porém,
adaptar aos novos outros, mais horizontais do que verticais. por melhor que tenham feito a transpo-
Fundado em 1891, o JB, desde cedo,
forjou a sua vocação histórica e teve
tempos. Novas Estamos todos tentando nos adaptar aos
novos tempos. Novas práticas, porém, não
sição para outra plataforma, continuam
ainda se expressando mais adequada-
papel relevantíssimo na modernização práticas, porém, prescindem de compromissos pétreos com mente em seus formatos originais. Os
e no profissionalismo da imprensa
brasileira, sobretudo após a reforma
não prescindem a verdade e com a democracia. As clandes-
tinas e deletérias fábricas de fake news não
frutos da galáxia de Gutenberg - jor-
nais, livros, etc. - exemplificam. Na
editorial empreendida na segunda de compromissos podem prevalecer nem prejudicar os interes- contramão das tendências, voltar ao
metade dos anos 50. De influência na-
cional, contribuiu sobremaneira para
pétreos com ses soberanos e majoritários das sociedades.
O mesmo vale para o entulho fascista que
padrão impresso é mais um passo re-
volucionário dado pelo JB, um veículo
irradiação dos aspectos mais reluzen- a verdade e a viceja em todos os setores, com o despudor que tem como marca a inovação.
tes da cultura carioca, disseminando-a de suas intolerâncias.
por todo o Brasil. Por suas redações democracia" No mais, é congratular-me com Catito
passaram gigantes do jornalismo, do Nesse contexto, mais importante torna-se Peres e com toda a equipe de jornalis-
ambiente cultural e da vida política a imprensa profissional e livre de cabrestos tas que nos presenteiam com esta bela
do país. Em 2010, o jornal tornou-se alheios aos seus ofícios públicos. Com a sua ousadia.
apenas digital, com o fim das edições secular tradição de independência e com
impressas, que, agora, ressurgem para o seu rol de grandes serviços prestados ao *ex-prefeito do Rio de Janeiro
O Jornal do Brasil
ROBERTO SATURNINO BRAGA* Realmente, parece sem sentido, mas o quem sabe, muita gente que deixou o
Grande Capital pode querer mais um apoio, jornal-papel e não encontrou o mesmo
O prazer inesquecido, o complemento novo, limpo, sem o desgaste e a sujeira dos aprazimento no exercício digital. Mesmo
do meu saboroso café da manhã naquele velhos. os textos do noticiário mais plano podem
tempo, o sentar-me na poltrona da sala Na era digital, foi Enfim, não sei, mas algo no coração me diz ter ou não ter alguma arte que agrade ao
à luz das frescas horas e abrir o Jornal que não. E também na mente, porque conhe- leitor. E assim era, realmente, o Jornal do
do Brasil, olhar as manchetes e ir logo à para o papel. E que ço as pessoas envolvidas neste novo projeto; Brasil, o jornal dos brasileiros que gosta-
Coluna do Castelo, ganhar uns quarenta
a sessenta minutos de vida interessante a
papel! O das Bancas não tenho com elas uma proximidade de
amigo mas uma admiração longínqua, sufi-
vam de ler, que se informavam bem sobre
o mundo, o Brasil e especialmente sobre
ler aquelas páginas; oh, faz tempo!... de Jornais, claman- ciente entretanto para me levar a crer que não o Rio, e ainda saboreavam o que sentiam
Será que vou revivê-lo? Como será o
novo JB?
do os cariocas, a vão seguir o cantochão regido pelo Grande
Capital.
de qualidade jornalístico-literária.
Espero, sim, espero um jornal renova-
Na mesma linha dos outros que estão voltar no tempo e ir Alvíssaras, pois! do, de linha bem diferente dessas tradu-
nas bancas? Na busca dos anúncios Teremos, enfim, no todo dia dos jornais ções mal feitas da imprensa do Capital.
financiados pelo Grande Capital? à esquina, comprar o impressos, uma dose de variedade tão impor- Espero, sim, que possa reviver aqueles
O mais provável, dizem todos, porque jornal que faz parte tante. Imprescindível, mesmo; porque não é tempos de um jornalismo mais artístico,
parece ser o único caminho da viabilida- a tão proclamada liberdade de imprensa que cativante para a leitura, de gosto mais
de econômica de um órgão da mídia no da nossa história.” caracteriza a democracia, mas a diversidade apurado, mais elegante, sim, mais confiá-
Brasil desses nossos dias esquisitos. da imprensa; a variedade de opiniões que vel e mais elegante.
Bem, entendo, mas qual então o sen- abra a mente do leitor a julgamentos mais Espero, anseio, estimo, creio.
tido deste relançamento custoso e difícil, informados, mais assentados em visões e E deixo aqui registrado, logo no pri-
brigar por espaço com outros empreen- argumentos diferenciados. meiro número, este sentimento muito
dimentos já tão bem estabelecidos, tão E, mais: o prazer da leitura em si, que brasileiro, oferecido quase em oração:
fortalecidos por ligações inconstitucio- ainda tenho na lembrança. A qualidade dos Viva, de novo, o Jornal do Brasil!
nais (mas e daí?) com estações de rádio e textos apresentados com arte foi o que sem-
de televisão por todo o País? pre destacou o JB dos demais. Reconfortará, *Ex-Senador e ex-prefeito do Rio de Janeiro
Domingo, 25 de fevereiro de 2018 Sociedade Conheça nosso site www.jb.com.br • 23
Acreditar no Rio
FERNANDO XIMENES* movimento inverso. Cada vez vai fincando só merece aplausos porque, quando as
mais as raízes em nossa cidade. Ressuscitou palavras não são suficientes e o papel
Tenho dois grupos de amigos. Aqueles símbolos como o Estaleiro Mauá, Fiorentina, simplesmente as aceita, restam os sím-
que estão emigrando (agora parece o Bar Lagoa, o Hippopotamus (juntamente bolos. E é disso que precisamos.
ser a vez de Portugal) e os que pen-
sam em emigrar mas que ainda não o
Na era digital, foi com Ricardo Amaral) e, agora, corajosamen-
te, o Jornal do Brasil. Não se trata, apenas,
Mais do que um jornal e mais do que
textos. Precisamos de símbolos, de
fizeram porque a Arca de Noé é difícil para o papel. E que de um empreendedor mas de um cidadão esperança, para ficarmos aqui, para
de ser acomodada. Os que não querem carioca que manda uma mensagem ao nosso querermos ficar aqui. Esse Estado nos
usualmente são os visionários. E em papel! O das Bancas povo. Fiquem! Aqui é o nosso lugar. Nada pertence e a nós também pertence o
razão disso o nosso país, especial- de Jornais, claman- lhe contem; sequer as leis trabalhistas que Jornal do Brasil. Parabéns Catito pela
mente, o nosso Estado, parece estar começaram a ser refeitas e cujas interpre- gota de esperança e de fé. Oxalá pos-
querendo parar. Basta passar os olhos do os cariocas, a tações não contam, na maioria das vezes, samos ter uma fração dos seus sonhos
no mercado imobiliário onde nin-
guém compra, ninguém aluga. Enfim,
voltar no tempo e ir com a bússola da jurisprudência. Em uma
era digital, foi para o papel. E que papel! O
para transformar as utopias em realida-
des e reavermos aquilo que sempre foi
ninguém se mexe por não se ver luz no à esquina, comprar o das Bancas de Jornais, clamando para nós, nosso. O nosso Estado. E tal é a missão
final do túnel. Eis que surge um senhor
de nome Omar Peres, carinhosamen-
jornal que faz parte cariocas, voltarmos no tempo, sairmos de
casa, ir à esquina, comprar o jornal. Aquele
do Jornal do Brasil.
te conhecido como Catito, e faz um da nossa história” jornal que faz parte de nossa história. Isso * Advogado
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Domingo, 25 de fevereiro de 2018 Economia Conheça nosso site www.jb.com.br • 25
Café e escravidão
É claro que o Brasil evolui muito nos últi- Uma autópsia na História vai identificar
mos 50/60 anos. Ou ainda mais se tomarmos que a gênese do capitalismo de compadrio,
o fim do século 19, quando o JORNAL DO que viceja à sombra do Estado e que expôs
BRASIL surgiu no começo da República, de- suas vísceras em episódios recentes, acelerou
fendendo os pilares da Monarquia que havia exatamente na época em que o JORNAL DO
provocado enorme turbulência econômica e BRASIL entrou no debate nacional. Mas a ga-
social com a tardia Abolição da Escravatura. nância e a irresponsabilidade continuaram a
O mundo estava entrando na era do empreen- provocar vários estouros no mercado de capi-
dedorismo e o Brasil não ficou atrás. Trens e tais, como no boom da Bolsa nos anos 70. Ou
máquinas substituíam a mão de obra escra- mais recentemente na febre das ponto.com,
va. E o lançamento simultâneo de vários em- importada dos Estados Unidos. No momen-
preendimentos gerou uma febre de emissões to, há a tentação desenfreada e perigosa das
de ações em Bolsa. Com 10% do capital subs- Bitcoins...
crito, as ações eram negociadas no pregão. Rui Outro corte na estrutura econômica bra-
Barbosa tentou pôr um freio na especulação e sileira revela uma dependência extrema ao
aumento o limite para 20%. Veio o grande lan- café, que fez a riqueza das elites dos barões,
çamento da época: o da Leopoldina Railway, mas manteve a maior parte da população sob
de John Lowndes, que enfrentou exigência de o jugo da Escravidão. Sem acesso à terra –
30% de subscrição e encalhou. Foi o Encilha- facilitado aos colonos italianos, espanhóis,
mento. A reação do governo Floriano Peixoto alemães e depois aos japoneses, que vieram
(militares perderam dinheiro nos papéis) foi todos cós seus núcleos familiares – , e sem
drástica: criou a Lei das Travas que dificultou apoio posterior da educação, os negros per-
a disseminação do capitalismo no Brasil nas maneceram na escala mais pobre e miserável
décadas seguintes. Só na Reforma do Mercado da população brasileira. Situação raríssima
de Capitais, na metade dos anos 60, o dina- aos que tiveram acesso ao principal meio de
mismo foi retomado. produção da época: a terra.
Clássico e Elegante
LINDBERGH FARIAS* perceber as novas correntes e movimentos austeridade de Michel Temer e Pezão, dois
emergentes. cadáveres políticos que insistem em nos
Existe um consenso de que o Rio de assombrar. Os governos de Lula e Dilma
O JORNAL DO BRASILé um clássico Janeiro vive uma hora de aguda crise. Mas foram responsáveis do ponto de vista
da modernidade brasileira. Renasce em à crise pode sobrevir a virada. O jornal fiscal. Porém, nos momentos de crise,
tinta e papel o mais elegante dos jornais Existe um consenso pode ser uma peça de opinião indispensá- o papel do Estado reside em formular e
brasileiros, cuja beleza parecia uma forma
livre de concreto da arquitetura de Oscar
de que o Rio de vel no movimento de superação da crise.
Sobre a segurança pública, é urgente
implantar políticas anticíclicas, nas quais
o investimento público tem um papel
Niemeyer. José Américo de Almeida dizia Janeiro vive uma instaurar um debate iluminador, e aberto estratégico.
que ninguém se perde na volta. Carlos
Drummond de Andrade, poeta maior,
hora de aguda crise. às diversas tendências de opinião, de pro-
postas de superação da crise. Por exemplo,
Por outro lado, Temer e Pezão,
seguindo a bíblia do plano neoliberal
colunista por décadas deste jornal, cantou Mas à crise pode instaurar um debate de formulação de um “Ponte para o futuro” fizeram tudo
um dia que havia cansado de ser moder- Plano Integrado de Segurança Pública. errado. Desmontou a cadeia produtiva
no. Agora seria eterno. sobrevir a virada. O Desde julho de 2017, quando foi anun- do petróleo e gás, fundamental alavan-
No retorno em papel impresso, o JB,
que clássico moderno já é, encara o desa-
jornal pode ser uma ciada a GLO no Rio, governos federal e
estadual se comprometeram a apresentar
ca da economia carioca e fluminense.
“Resultado: em 2014, havia 450 mil
fio da eternidade. Para ser eterno precisa peça de opinião um Plano Integrado. Até hoje não aconte- desempregados no estado, hoje esse
ser diferente. Escapar do partidarismo e
da mesmice da grande mídia brasileira
indispensável no ceu. No plano de segurança, deve ganhar
destaque a reforma da polícia. A polícia
número triplicou, é de 1,3 milhão. Sem
atacar as causas da crise econômica, que
hoje. movimento de militar em todo o Brasil não investiga. requisitam investimentos e não cortes,
Antes de tudo, precisa investir em
grandes reportagens investigativas. Não
superação da crise. Precisamos estabelecer o ciclo comple-
to de investigação no âmbito da polícia
agravaremos nossos problemas.
Enfim, repito: não falta assunto emer-
falta assunto no Brasil e no Rio de Janeiro. militar. Temos muitas outras propostas, gente no Brasil e no Rio de Janeiro. Augu-
Depois, precisa ser plural como um arco- sou autor da PEC 51, que reestrutura o ro que o JORNAL DO BRASIL preencha
-íris e abrir espaços a todas as correntes de modelo de segurança pública no Brasil. uma lacuna na impressa brasileira.
opinião da sociedade. Mas também pre- O Rio de Janeiro foi o Estado mais aba-
cisa estar de olhos e ouvidos atentos para lado do Brasil pela política de neoliberal * Senador PT-RJ
Domingo, 25 de fevereiro de 2018 Economia Conheça nosso site www.jb.com.br • 27
O JB e seu Castelo cafés. Assim conheci de José Sarney a Sobral Freitas, em 1958, quem modernizou
HÉLIO COSTA *
Pinto; de Dona Sara Kubitscheck a Oscar o jornal com o projeto JB, que teve o
Niemayer. De Mario Soares aos Secretários design gráfico de Amílcar de Castro,
O retorno do JORNAL DO BRASIL Gerais da ONU e da OEA. E muitas outras e coube a Alberto Dinis levar o jornal
às bancas com no seu formato tradi- personalidades nacionais e estrangeiras. ao seu apogeu nos anos 60.
cional é um marco histórico para a O leitor gosta de Lembro do dia em que Aparecido me O JB e Castelo sobreviveram ao
imprensa brasileira. Primeiro porque
no mundo inteiro os jornais estão can-
boas histórias e o convidou para tomar um café da manhã com
um uma pessoa que ele classificava como
Estado Novo de Getúlio, ao regime
militar, ao impeachment do primeiro
celando ou preparando o cancelamen- Jornal do Brasil “muito importante no cenário político na- presidente eleito democraticamente
to de suas edições impressas, que não
podem mais competir com a velocida-
tem a obrigação de cional.” Ao chegar a sua residência fui apre-
sentado a um dos jornalistas que eu mais
depois de 64. Agora o JORNAL DO
BRASIL chega ao ano 2018 com a
de dos jornais online e a fúria avassala- voltar a admirava e que ainda não conhecia pessoal- disposição de ser o padrão de jornal
dora das grandes corporações de mídia mente: Carlos Castelo Branco. Castelinho,
como Google, Facebook, Instagram e contá-las com a como era chamado pelos amigos, tinha sido
digital e traz uma proposta de vol-
tar a circular em edição impressa no
outros. Ninguém na imprensa brasilei-
ra está imune a esta onda que veio do
velha e a boa receita o secretário de imprensa de Jânio Quadros
e à época compartilhava o mesmo andar
seu formato tradicional. A Coluna
do Castelo também renascerá, assim
Norte e mudou a maneira de todos se que só o verdadeiro do Palácio do Planalto com José Aparecido, como o Informe JB e outras páginas
comunicarem, mesmo com o descrédi-
to das fake news e mentiras deslavadas
jornalismo possui.” então chefe de gabinete do presidente Jânio.
Fui uma manhã memorável.
consagradas.
“O carioca guarda tradições seme-
que passam por verdadeiras, tamanha Aparecido sempre me dizia que, muito lhantes às dos parisienses que ainda
a força das mídias sociais na Internet. embora vitorioso na carreira de jornalista, vão comprar o pão na padaria da
O que o empresário Omar Resende eu só seria reconhecido como político no esquina e sentam no café da calçada
Peres está fazendo é um movimento, Minha referência e modelo de vida dia em que Carlos Castelo Branco fizesse um para ler as notícias do dia”, diz Omar
no mínimo, ousado, mas que pode, pública exemplar era o ex-governa- comentário a meu respeito na sua respeitada Peres. E ele tem razão. Isto só já ga-
e vai dar certo, porque ele está acos- dor de Brasília e Ministro de Estado, Coluna do Castelo, no Jornal do Brasil. rante o sucesso do empreendimento.
tumado a trabalhar bem os ícones José Aparecido de Oliveira. Amigo Castelinho era o ídolo de todos nós jorna- Para minha honra maior, em 1990,
da Cidade Maravilhosa. Foi assim de muitos políticos e de jornalistas, listas do seu tempo, discípulos de seu estilo, na campanha para o governo de
que ressuscitou o Estaleiro Mauá, e o Brasil afora. seguidores de sua carreira, testemunhas de Minas, que perdi por apenas 1%, para
restaurante La Fiorentina, ponto de en- Mineiro de Conceição do Mato seu carisma e de sua credibilidade. Ele era, Hélio Garcia, a Coluna do Castelo, no
contro de artistas, no Leme. Da mesma Dentro, uma pequena cidade no alto como disse Augusto Nunes em sua passa- canto esquerda do caderno 2 do JB,
forma manteve viva uma tradição de da serra do Intendente, José Apa- gem pelo JB, “o maior comentarista político reconhecia a minha força política em
cem anos, o famoso Bar da Lagoa. recido era respeitado nos círculos da imprensa brasileira. Nunca empunhou Minas Gerais, lutando sozinho contra
O JORNAL DO BRASIL volta políticos mineiro e nacional como um gravadores. Jamais sacou do bolso do paletó as poderosas forças do Palácio da
às bancas com sua edição impressa habilidoso negociador e estrategis- o bloco de papel e a caneta que inevita- Liberdade.
paralelamente a uma moderna apre- ta. Tancredo, Teotônio Vilela, Paulo velmente inibem, quando não emudecem, O empresário Omar Resende Peres,
sentação digital, trazendo lembranças Brossard, Ulisses Guimarães, Maga- até campeões de loquacidade. Em vez de ao assumir a gestão do JORNAL DO
de um tempo que marcou a vida e a lhães Pinto, Juscelino Kubitscheck, anotar o que ouvia, armazenava na memó- BRASIL, em 2018, tem a responsabi-
carreira de muitos jornalistas. Eu fui João Goulart faziam parte de sua ria prodigiosa informações que, na manhã lidade de manter a tradição histórica
um destes privilegiados. enorme lista de amigos. seguinte, balizariam o que para uma imen- deste ícone da imprensa brasileira.
Em 1986, depois de uma vitoriosa O telefone era uma arma extraordi- sidão de leitores era mapa, bússola e guia: a
carreira como repórter internacional, nária nas mãos de José Aparecido. Ele Coluna do Castello, um templo devotado ao
que me levou a 73 países, e a chefe ligava para o meu gabinete e me “con- culto da verdade que se podia encontrar no *Ex-ministro de Estado das Comunica-
da Sucursal da Rede Globo em Nova vocava” para conhecer figuras impor- canto esquerdo da página 2 do JORNAL DO ções. Atualmente é Diretor da Oi Tele-
York, eu decidi entrar na política e fui tantes da vida pública nacional e in- BRASIL.” com e presidente do Conselho da ABT.
eleito deputado federal constituinte. ternacional em memoráveis almoços e Foi o respeitado jornalista Jânio de
Nota da Redação
Em respeito aos leitores, aos eleitores e aos con- sido incluídos entre as autoridades às quais foram
tribuintes do Estado do Rio de Janeiro, o Conse- solicitados depoimentos sobre a importância da
lho Editorial do JORNAL DO BRASIL tomou a volta do JB às bancas.
decisão de não convidar o ex-governador Sérgio
Cabral, preso e condenado por corrupção, assim Convidados a escrever, os ex-governadores An-
como o presidente licenciado da Assembleia Le- thony Garotinho e Rosinha Matheus não envia-
gislativa do Estado, deputado Jorge Picciani, acu- ram seus depoimentos até o fechamento desta
sado e preso pelo mesmo motivo. Ambos teriam edição.
Intervenção na informacão
CHICO ALENCAR* Sem a operação intelectual da leitu- da pluralidade, da diversidade de
ra não nos constituímos plenamente, opiniões, da consciência crítica.
como indivíduos ou como povo. Mas Fenda no processo de monopoli-
Nos anos 50, chegavam em casa, zação da notícia, na limitação da
faço uma observação derivada de minha
na Tijuca, todo dia, o leiteiro e o É alvissareiro experiência pessoal: a leitura no con- análise. Agregação de democracia
carteiro. E, pelas mãos do meu termos, nas bancas, creto do papel – de um livro ou de um da comunicação no nosso sistema
saudoso pai, o Correio da Manhã, na cena pública, nas jornal – imprime mais profundidade e democrático formal, banal, de bai-
a Tribuna da Imprensa, O Globo e
nossas mãos, desde o durabilidade na minha mente. Meu lado xa intensidade, vítima de frequen-
o Jornal do Brasil. Jornalista com
carteirinha da ABI, seu Alencar era
café da manhã, mais “neanderthal” recorta artigos e repor- tes espasmos autoritários.
Avô que gosta de passear nas
obcecado pela informação e diversi- um ponto de vista. tagens para colar no meu caderno de
apontamentos... Sigo considerando jor- memórias da infância, perguntei
dade de fontes. Não havia noticiário Água no moinho nais os diários da maravilhosa e trágica ao Emanuel, meu amado filho
de rádio e da iniciante TV que ma- da pluralidade, caminhada da humanidade. jornalista, o que achava da volta
tasse sua sede de saber. Herdei isso da diversidade Hoje, quase todos os jovens e vários da do JB. Ele me revelou, talvez sem
dele: não consigo ficar sem a leitura
de opiniões, da minha geração sexagenária se satisfazem querer, que eu repeti meu pai:
diária, no papel, de pelo menos dois
jornais.
consciência crítica" com a leitura na telinha. Mas volta e meia “a volta do JB é o retorno à casa
os surpreendo desinformados de dados daquele parente querido, depois
“Quem não lê, mal fala, mal ouve, de muito tempo. O JB, para mim,
trazidos por matérias imprescindíveis
mal vê”. Esse anúncio, em enorme é a leitura diária da adolescência,
para formação de opinião qualificada.
placa no centro do Rio, sempre me salpicada por uma gostosa sensa-
Talvez porque o atraente brilho do jornal
impressionou. Como me impres- ção de tinta nas mãos – vai expli-
digitalizado canse a vista e induza à cele-
sionaram, na juventude que resistia car isso para os mais novos... Até
ridade, marca do nosso tempo fugaz.
à ditadura da censura e da tortura, hoje me lembro da fonte usada
O JB que volta abre novos postos
colunas e capas do JB. Guardo, ama- nos títulos!”.
de trabalho no jornalismo tão atingi-
reladas, a do AI-5 e a do golpe de Que a chama reacesa não se
do pelo desemprego, e isso é positivo.
Pinochet. Em livros de História que apague, para o bem do Rio e do
Mas é igualmente alvissareiro termos,
ajudei a escrever lá também estão Brasil!
nas bancas, na cena pública, nas nos-
elas. O Caderno B foi uma revolu-
sas mãos, desde o café da manhã, mais *Professor de História, escritor e deputa-
ção gráfica e cultural.
um ponto de vista. Água no moinho do federal (PSOL/RJ)
Domingo, 25 de fevereiro de 2018 Sociedade Conheça nosso site www.jb.com.br • 31
- Tem, sim. Se ele fosse o escriba, do jornalismo" neses séculos antes. Lutero imprime
seus textos reformistas, traduz para
mais de mil imagens circulavam
pela Internet.
os Dez Mandamentos seriam o alemão os livros sagrados – escri-
cinco. tos em latim, grego ou sânscrito - e Disponível o limpo ambiente
sua Reforma se propaga. A censura da verdade imediata, volta o JB
Otto foi contratado. da Inquisição, sem facebook, youtu- impresso às bancas de nossas
be, Whatsapp, também. Gutenberg esquinas e, seguramente, em
Desde as cavernas e por intuição inventou tal prensa e a censura (rs). versão eletrônica, com os espa-
ou sabedoria inata, a Humani- ços de interação com os leitores.
dade percebeu a necessidade Com as transmissões de informações Boa notícia para todos. Essa é
de deixar suas experiências e pelo rádio, imaginou-se o fim dos a primeira boa notícia do JB,
conhecimentos resumidos aos jornais impressos e com a televisão, muito em especial para o mun-
pósteros, palavra que não seria profetizou-se o fim da era do rádio. do profissional do jornalismo, à
usada pelo Otto. Com a Internet, adivinharam o fim vista da ampliação do mercado
dos dois meios de comunicação. de trabalho.
Assim foi com Moisés, que Para meu uso, entendo que as tec-
recebeu de Jeová, no Monte nologias se completam a oferecer No velho jargão da imprensa,
Sinai, duas pedras com os Dez experiências aos novos meios. gravatões (financistas), fecham
Mandamentos nelas escritos. jornais. Jornalistas os fazem.
Se o próprio Deus decidiu que A informação objetiva, direta, a Viva o papel do JB.
era melhor deixar publicadas quem estava interessado em comprar
Suas leis, como posso eu negar ou vender era tuitada nos classifica- *Deputado federal (Rede-RJ)
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Significa dizer, ato contínuo, que grande contribuição trabalhar o jornalismo numa pers- um mundo que exige equilíbrio,
pectiva mais profunda, mais analítica. temperança e raciocínio para a
eu, rapidamente, lia as informa- para a informação e construção de um discernimento
E, ao observar a equipe que agora o
ções principais do que acontecia no a notícia no Brasil" resgata, tenho a tranquilidade de que sólido.
Brasil, na cidade, no mundo, tentava
o JB do século XXI trará algo mais a Vejo, portanto, com satisfação
absorver as linhas e entrelinhas do
oferecer aos seus assinantes e leito- e alegria o grande retorno do JB
Castelinho e, ao mesmo tempo, ti-
res, além de ingredientes exclusivos, ao cotidiano da sociedade brasilei-
nha as notícias desportivas. Além de
abordagens de mais fôlego, com a ra e quero abraçar todos os que se
tirar dúvidas e trocar ideias com ele,
dimensão especial da experiência dos emprenharam para trazer de volta
que havia sido Senador da Repúbli-
profissionais que farão o jornal. às bancas, físicas e digitais, esse
ca, por Sergipe.
A liberdade de imprensa e a plu- emblema do jornalismo do país,
Essa sistemática perdurou du-
ralidade de veículos são pressupostos que é o JORNAL DO BRASIL.
rante anos na minha vida e foi, sem
fundamentais para a democracia. *Deputado Federal (PSDB-RJ)
Domingo, 25 de fevereiro de 2018 Sociedade Conheça nosso site www.jb.com.br • 33
MEMÓRIA DO MUNDO
MEMÓRIA DO MUNDO
Esportes
JORNAL DO BRASIL
“Ué! Eles falam a nossa língua!” lia. Não seria possível, porque a avacalhação (pessoal ou de
entidade) não tem preço. Mas aqui tem.
Eles se vendem muito barato. Fosse na Inglaterra e a
Agradecimentos a André Iki Siqueira, autor da biografia “João Saldanha, uma vida em jogo”, e a Paulo Cezar Guimarães, autor de “Sandro Moreyra, um autor a procura de um personagem” e que prepara a biografia de Armando Nogueira
Domingo, 25 de fevereiro de 2018 Esportes Conheça nosso site www.jb.com.br • 3
“Deus de calção e chuteira”: a foto de Ronaldo Theobald, vencedora do Prêmio Esso, mostra torcedores tentando encostar em Roberto Dinamite na volta para o segundo tempo contra a Portuguesa, na Ilha
Um balãozinho de antologia
Roberto Dinamite relembra o gol do lençol em Osmar e a foto “Deus de calção e chuteira”
Reprodução
GUILHERME BIANCHINI gundo tempo, e virou aos 44, no
guilherme.bianchini@jb.com.br gol que entrou para a história do
Maracanã e do futebol brasilei-
Maior artilheiro da história ro. Beneficiados pelo empate do
do Campeonato Carioca, Ro- Flamengo com o Fluminense na
berto Dinamite marcou 284 última rodada, os vascaínos se O JORNAL DO BRASIL
gols com a camisa do Vasco no igualaram em pontos aos rubro
torneio. O atacante colecionou -negros e conquistaram a Taça sempre foi um jornal sério.
grandes momentos e conquis-
tou cinco títulos estaduais ao
Guanabara no jogo de desem-
pate, nos pênaltis.
Mostrava tudo do Rio,
longo das três passagens pelo Nessa decisão, Roberto Di- do Brasil e do futebol.
clube. Na hora de definir seu namite marcou o gol do Vasco
jogo mais marcante na com- no tempo normal, de pênalti, e O retorno às bancas
petição, ele não tem dúvidas:
o clássico com o Botafogo que
também converteu sua cobrança
na disputa de penalidades. Abel dá a dimensão de sua
ficou famoso pelo gol do lençol
em Osmar, no Maracanã, pela
Braga foi o único a desperdiçar
do lado vascaíno. Pelo Flamengo,
importância e vai mostrar
Taça Guanabara de 1976. Zico e Geraldo perderam. Para ao torcedor carioca e
“É uma história bonita de um Roberto, ter jogado na época de
gol muito importante. Recebi o uma geração vencedora do maior brasileiro o que é o futebol
passe do Zanata, dominei no
peito, dei o lençol e bati antes
rival, com Zico como principal
expoente, não o impediu de al-
do Rio de Janeiro. O JB é um
de a bola cair. Em razão da be- cançar um reconhecimento à veículo com competência e
leza do lance e de estar faltando altura de seus feitos. Pelo con-
um minuto para o fim, marcou trário: o ajudou. qualidade”
muito para mim. Foi o gol mais “Ser da mesma geração do
bonito da minha carreira. Um Zico fez com que eu tivesse meu ROBERTO DINAMITE
momento único e especial no valor. Mesmo sendo adversário,
Daniel Marques
Maracanã”, lembra Roberto. muitos rubro-negros me encon-
O Vasco x Botafogo daquele tram e conversam comigo por
9 de maio de 1976 era de vida causa do que eu fazia contra eles
ou morte para o time de São em campo”.
Januário. Na penúltima rodada Um ano depois de protago-
da Taça Guanabara, a equipe nizar o épico gol contra o Bo-
precisava da vitória para manter tafogo, Roberto Dinamite foi o
a perseguição ao líder Flamen- destaque da foto que rendeu o
go. O Botafogo saiu na frente Prêmio Esso ao fotógrafo Ro-
no primeiro tempo, com gol de naldo Theobald, do JORNAL
Ademir Vicente. DO BRASIL. A imagem foi feita
No intervalo, Roberto su- quando o Vasco voltava para o
biu à tribuna em que estavam segundo tempo da vitória por
o ministro da Fazenda, Mário 3 a 1 contra a Portuguesa, na
Henrique Simonsen, e o cônsul Ilha do Governador, em 15 de
dos Estados Unidos no Brasil, e maio de 1977. Roberto
entregou sua camisa. “Pergunta- “É uma imagem significativa Dinamite:
ram se viraríamos aquele jogo, do torcedor querendo me tocar. o sorriso
mas eu não poderia imaginar Tenho essa foto na minha sala, do ídolo do
Vasco, maior
que conseguiria fazer dois gols”, guardo com carinho. O Ronaldo
artilheiro
revela o artilheiro. Theobald foi muito feliz. É um do clube
Depois de tanto insistir, o momento de explosão da torcida em todos os
Vasco empatou aos 17 do se- vascaína”, define Roberto. tempos
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Marcos Tristão
treinador do mundo
177.656 pagantes
194.603 presentes
DO BRASIL pelo
161.989 pagantes
O começo do
Reprodução
grande Fla
Título carioca de 1978, com gol de cabeça de
Rondinelli no fim, é marcante para Zico
MAURICIO FONSECA Carioca de 1978, aquele do gol do Jogo truncado, nervoso, como
esportes@jornaldobrasil.com.br Rondinelli. de cabeça Foi o iní- são quase todos os clássicos decisi-
cio de tudo, daquele Flamengo vos. O empate de 0 a 0 persistiu até
Ninguém ganhou mais títulos que entrou para a história, que os 42 minutos do segundo tempo.
e fez mais gols no Maracanã do ganhou muitos títulos”, afirma A torcida do Vasco começava a
que Zico. O ex-maior estádio do o ex-camisa 10. comemorar a conquista quando
mundo era o quintal do craque, O Flamengo vinha de três o Flamengo teve um córner a seu
maior ídolo da centenária histó- anos sem títulos e a pressão favor. Zico ficou encarregado da
ria do Flamengo. Jogando com a era grande na Gávea. “Nós já cobrança. E colocou a bola na
camisa rubro-negra, Arthur An- tínhamos conquistado a Taça cabeça do zagueiro Rondinelli, o
tunes Coimbra conquistou dois Guanabara (primeiro turno) e “Deus da Raça” para os rubro-ne-
títulos brasileiros, sete cariocas, chegamos à última rodada do gros. A bola foi quase no segun-
nove Taças Guanabara e marcou segundo turno um ponto atrás do pau e Rondinelli acertou uma
333 gols num dos templos do do Vasco. Com um empate eles cabeçada certeira, no ângulo do
futebol mundial. Quase 40% dos seriam campeões e teríamos que goleiro Leão.
seus 826 gols como profissional disputar uma final para saber A história deste jogo não acaba
foram marcados no Mario Filho. quem seria o campeão carioca no gol de Rondinelli. Quatro mi-
Gols de falta, de pênalti, de cabe- de 1978”, relembra Zico. nutos depois, já nos acréscimos,
ça, de voleio, de direta, de esquerda. Zico fez uma falta no volante He-
Ninguém se sentiu até hoje tão à linho. Guina, meia vascaíno de
vontade no Maracanã quanto Zico. temperamento forte, não gostou
Prestes a completar 65 anos, o e agrediu Zico, que revidou. Os
ex-camisa 10 do Flamengo sente dois foram expulsos pelo árbitro
uma dor no peito quando fala
do Maracanã. Vê-lo maltratado,
Este título José Roberto Wright e a confusão
foi total. O jogo só terminou aos
sendo utilizado para todo tipo de tem uma 54 minutos.
evento – menos o futebol – corta o
coração do ídolo, que viveu ali os
importância “Devolvemos na mesma moe-
da. Fomos campeões direto, sem
maiores momentos de sua carreira histórica, não só precisar de final. Aquele título
profissional. Entre tantas emoções era muito importante para nós.
que viveu no estádio, Zico destaca para mim, mas Dali em diante, ganhamos muitos
uma partida em que não fez gol.
Mas valeu título.
principalmente títulos, até nos tornarmos cam-
peões mundiais em 1981. Foi a
“Para mim, o jogo mais mar- para o Flamengo” arrancada, um divisor de águas
cante foi a vitória de 1 a 0 sobre o na história do Flamengo”, atesta
Vasco, na final do Campeonato ZICO o maior goleador do Maracanã.
Marcos Tristão
minha
gols. O craque não se lembra de todos “Não achei nada de mais a come- junto aos geraldinos. do Maracanã.
que marcou, mas de uma coisa não moração do Vinícius Júnior contra “Ficava tão feliz que queria dividir “Ele corria em direção à geral e
tem dúvida: jamais comemorou um o Botafogo, só acho desnecessário. minha alegria com o meu torcedor, parava no limite. Ficava gritando e
O guardião do
1983
tricampeonato
Ex-goleiro Paulo Vítor se emociona ao lembrar
do Fla-Flu de 84, decidido com gol de Assis
GUILHERME BIANCHINI de 1984, definida pela cabeçada nal seria a revanche para eles.
guilherme.bianchini@jb.com.br de Assis aos 30 minutos do se- E o Assis teve mais uma vez a
gundo tempo, depois de jogada felicidade de fazer o gol para
O tricampeonato carioca do bem trabalhada e cruzamento levarmos o bicampeonato. Foi
Fluminense, entre 1983 e 1985, preciso do lateral-direito Aldo. muito emocionante”, recorda o
ficou marcado pelos gols de Assis “Apareci muito nesse jogo. ex-goleiro.
contra o Flamengo, nas partidas Todos foram importantes na Paulo Vítor destaca, ainda,
decisivas no Maracanã. O cami- ocasião, mas tive a oportuni- um fato curioso do bicampeo-
sa 10 compunha o famoso Casal dade de me destacar. Foi uma nato em cima do maior rival.
20 com Washington, e a dupla das melhores partidas que fiz no “Pelos gols terem acontecido na
foi responsável por momentos Maracanã, e de suma importân- reta final das partidas, alguns
memoráveis do time que tam- cia para o Fluminense”, explica torcedores já estavam indo em-
bém conquistou o Campeonato Paulo Vítor. bora do estádio e perderam esses
Brasileiro de 1984. O tricolor estava atravessado momentos”.
O goleiro daquele vitorioso na garganta dos rubro-negros Uma das principais dife-
elenco era o paraense Paulo Ví- desde o triangular decisivo de renças entre aquela época e a
tor, que marcou época com a 1983, que também contou com o atual, para o ídolo tricolor, é o
camisa tricolor entre 1981 e 1987. Bangu. Após conquistar o Cam- ambiente em torno de um clás-
Foram 361 jogos. Ele só perde peonato Brasileiro, o Flamengo sico decisivo. “Procurávamos
para Castilho na lista de golei- buscava o título carioca, mas colocar o clássico acima de tudo.
ros recordistas em participações Assis, o carrasco, destruiu as Brincávamos um com o outro,
pelo clube de Laranjeiras. Ele pretensões rubro-negras com para o torcedor vivenciar aquele
também está atrás de Castilho o gol da vitória por 1 a 0, aos 45 clima. Hoje você já não pode
em número de partidas sem so- minutos do segundo tempo, no falar com o jogador do adversá-
frer gol: com Paulo Vítor, a meta confronto direto entre os rivais. rio. Motivávamos o confronto,
tricolor não foi vazada em 179 A dose se repetiu em 1984. falávamos que íamos ganhar, que
oportunidades. “Nós tínhamos ganhado o o Flamengo era freguês, e eles
A decisão de Carioca mais Carioca de 1983 em cima do falavam o mesmo. Isso aquecia
especial para o ex-arqueiro foi a Flamengo. Esse outro jogo fi- o clássico”. Paulo Vitor, chorando, abraça Ricardo Gomes após a conquista do título do Carioca em 1984
ACREDITA
clássicos com públicos que
passavam — e muito — de
100 mil pessoas. O recorde
NO FUTURO
de presença em jogos de clu-
bes no Brasil pertence, até
hoje, ao Fla-Flu decisivo de
DO RIO.
1963, com 194.603 torcedo-
res no velho Maracanã. No
clássico de 16 de dezembro
de 1984, eleito por Paulo
Vítor como o principal de
Quando o JB volta a investir no Rio, confirma quanto sua carreira no Campeonato
estávamos certos em trabalhar para tornar o nosso Carioca, o público presente
mercado cada vez mais forte e relevante. foi de 153.520.
Bem-vindo JB. A gente estava com saudade. O ex-goleiro do Fluminense
é nostálgico ao relembrar os
grandes momentos vividos
no Templo do Futebol. “Era
diferente e emocionante jogar
um Fla-Flu com quase 200
mil pessoas. Só quem pas- Morador de Brasília, Paulo Vítor tem saudade do Maracanã
sou por essa experiência pode
contar sobre ela. A atmosfera A maior ruptura entre o geral. Adorávamos chegar
era maravilhosa. Todo mundo velho e o novo Maracanã mais cedo para ver os geral-
sorrindo, alegre, com famílias se deu na extinção da geral, dinos chegando. Não tinha
no Maracanã. Agora a atmos- em 2005, nas obras para os briga, não tinha nada. Era
fera é outra, e não cabem nem Jogos Pan-Americanos de um glamour jogar no Rio de
100 mil pessoas no estádio”, 2007. “Perdemos a essência Janeiro. Hoje não dá para di-
lamenta Paulo Vítor. do Maracanã com o fim da zer isso”, conclui o ex-atleta.
Domingo, 25 de fevereiro de 2018 Esportes Conheça nosso site www.jb.com.br • 7
Para encerrar o caderno Esportes, nada mais óbvio que o texto “Perder, ganhar, viver”, de Carlos Drummond de
Andrade, dois dias após a derrota da seleção brasileira para a Itália, na Copa da Espanha, em 1982, na Tragédia do
Sarriá. A equipe de esportes do Jornal do Brasil ganhou o Prêmio Esso com a cobertura do Mundial.
Conheça nosso site www.jb.com.br •
Maluquinho
pelo JB
Ziraldo comanda time de craques que
B
fará as charges diárias no jornal
CELINA CÔRTES
celina.cortes@jb.com.br
Alegria. Esse é o sentimento de Ziraldo ao voltar às páginas do Jornal do Brasil, com um time de craques
que promete resgatar a mais forte característica das charges: o traço ferino. Ao lembrar uma história
do passado, ele define sua função como ‘assessor de
palpite’, com o humor que lhe é peculiar. Ziraldo
vai se alternar em páginas diárias com um
time de craques, formado por Jaguar,
Claudius, Aroeira e Miguel Paiva. “Sou o
maior entusiasta dessa volta do JB. Não vamos
fazer uma continuidade, estamos inventando o que será o jornal stan-
dard do século XXI”, propõe, do alto de seus 85 anos.
O cartunista e escritor Ziraldo Alves Pinto vai sacar da cartola a máxima do grande poeta espanhol
Antonio Machado (1875-1939), cantado em prosa e verso pela chilena Violeta Parra: “O caminho se faz
enquanto se caminha, então vamos fazer esse jornal enquanto caminhamos”. Experiência para isso não
falta a este fundador do Pasquim, o tablóide que não deixava pedra sobre pedra em matéria de crítica
política e social e reinventou o humor em plena ditadura militar. Sua relação com o JB, onde entrou
em 1959, a convite do jornalista Wilson Figueiredo, foi tão visceral que este mineiro de Caratinga
não acha exagero admitir: “Fui criado no Rio pelo JB”, o que significa que o jornal foi diretamente
responsável por sua adaptação à Cidade Maravilhosa, de onde nunca mais saiu.
Ziraldo era uma pedra no sapato dos militares durante a ditadura. Junto com Lan, por anos a fio
produziu charges antológicas sem que houvesse algum tipo de orientação ou sofresse qualquer
censura dos editores. Numa época em que os jornais eram incapazes de atacar os generais que estavam
no poder, publicou um desenho que foi parar no Diário Oficial, cujos responsáveis acabaram penaliza-
dos pela ousadia. Logo em seguida à posse de Ernesto Geisel, em 1974, enquanto a imprensa chamava o
novo presidente-general de estadista, o militar aparecia ao fundo da imagem de uma prostituta rodando
bolsinha, com o nome Arena estampado na camiseta, exclamando, “ele sorriu pra mim!”. “O JB enfrentou
a ditadura e eu, como chargista, deitei e rolei”, diverte-se, com sua voz rascante.
Outra lembrança que marcou época foi o “Oh!”, de exclamação, na charge criada
quando os militares divulgaram os resultados sobre o inquérito da bomba do Riocentro. “Foi a charge mais
sintética da história”, pontifica. Para quem não se lembra, havia cerca de 20 mil pessoas no centro de convenções
em 30 de abril de 1981, a maioria jovens, para comemorar o Primeiro de Maio, Dia do Trabalhador. A cantora
Elba Ramalho se apresentava quando a bomba – que seria destinada ao público – explodiu dentro do carro
Puma estacionado no local, onde estavam dois agentes do DOI-CODI do 1º Exército, o capitão Wilson
Rosário e o sargento do Exército Guilherme Pereira Rosário, que morreu na hora. A intenção era criar
pânico e responsabilizar a esquerda pelo atentado. A farsa do inquérito criou uma crise no governo
de João Batista Figueiredo e acabou acelerando o processo de abertura política. “A charge virou
adesivo e circulava nos carros por toda a parte”, orgulha-se, numa fase do jornal que define
como “gloriosa”. Não por acaso, a cobertura do atentado rendeu um prêmio Esso ao JB.
“vazio de ideias”. O que ele critica sem dó é o conceito do politicamente correto. “A intolerância não conduz
Vanguarda do Humor a nada, há muita gente lutando por causas que só ajudam a destruir a humanidade. Qualquer coisa é taxada
de atitude indecorosa. Outro dia quase fui crucificado por chamar um amigo, de forma carinhosa, de crioulo.
Se a ideia é fazer o caminho enquanto se caminha, Ziraldo não hesita em apontar onde está a vanguarda do Sempre o chamei assim e ele mesmo se surpreendeu com a reação”, lamenta. “Daqui a pouco não poderemos
humor no país: o grupo Porta dos Fundos, coletivo de humor criado em 2012 por cinco amigos, insatisfei- nem usar a palavra cabrocha porque vão dizer que é diminutivo de cabrita”, brinca.
tos com a falta de liberdade criativa da TV brasileira. “Eles criam situações profundamente engraçadas, são
invenção pura. Não têm bordões, maneira fácil de fazer as pessoas rirem. Ousaria até compará-los a grandes Com afeto
autores, como Molière, por exemplo”, arrisca.
E para quem já ganhou um prêmio Jabuti (1982) por Menino maluquinho e Nobel Internacional do Humor No entender do mestre, essas e outras questões devem ser tratadas de forma afetuosa, sem preconceitos,
(1969), entre outros, seu maior orgulho foi o Prêmio Íbero Americano de Humor Gráfico, concedido em 2008 maniqueísmos e sobretudo intolerância. “Fora do afeto não tem solução”, filosofa. E não perde a piada: “A
pela Universidade espanhola Alcalá, uma das mais antiga da Europa, fundada em 1293. proposta mais antiga é ‘amai-vos uns aos outros’, resolve tudo! Não é a toa que Jesus Cristo ficou tão famoso!’’’
“Fui o único autor de língua portuguesa premiado por eles, pela qualidade e importância da obra e pelo com- O pai da cineasta Daniela Thomas, Antonio e Fabrícia, é casado com Márcia Martins da Silva e sua
promisso com o social. Me senti muito honrado ao receber essa distinção no púlpito do dramaturgo e poeta primeira mulher chamava-se Vilma Gontijo. Tem sete netos, a mais velha Ina, com 25 anos, e o caçula
espanhol Lope de Veja”, recorda. Sebastião, com 6. “São todos paulistanos e moram em São Paulo, para onde ele costuma ir muito.
Neste desafio de fazer humor e crítica no século XXI, o autor de Flicts prefere não chamar os jovens de alienados, Com os mais velhos tem uma relação mais intelectual, sobre o que eles andam lendo, por exemplo.
tolerante com o perfil dos que passam o dia conectados aos videogames e redes sociais. “Cada sujeito vive seu Com os menores gosta de trocar ideias”, conta Márcia. Do que ele mais gosta de fazer? “Desenhar e
tempo, não se pode culpá-los por suas escolhas”, contemporiza, embora admita que passamos por tempos de escrever, nessa ordem”, resume a sra Ziraldo.
O regresso do A inovação
velho urso do JB
RUY GUERRA* LUIZ CARLOS BARRETO*
Hildegard
Angel
Assim como o Benjamin Button do cinema,
com o passar do tempo a colunista ganha
vigor infantil e intrepidez adolescente
C atito Peres me pede que escreva sobre a
minha trajetória como colunista até o
advento do novo JORNAL DO BRASIL. Sou
mes da moda americana. A Sétima Avenida
abriu-se para mim. Entrevistei a maior colunis-
ta social do mundo, e quando eventualmente a
rencia do que aproxima de nossos vizinhos.
Lá no Equador, na década dos meus 20
anos, pude pela primeira vez me perceber con-
te, ninguém do poder travaria novas relações.
Ficaria todo mundo girando em torno do mes-
mo círculo. Às suas próprias custas, o segundo
uma Benjamin Button* do jornalismo brasilei- encontrava em alguma festa nos Estados Unidos tinental, e passear pela Quito antiga, em cujas casal abriu o Jaburu para eventos diversos de
ro. Comecei, aos meus 18 anos, uma senhora ou na Europa ela logo me cumprimentava ardo- igrejas, frutas, flores e astros celestes se mistu- confraternização, de modo descontraído e dis-
conservadora, contida, assustada, fazendo um rosa: “Hildegard Angel from Brazil!”. Chamava- ram a símbolos sacros cristãos, num sincretis- creto, jamais ostentando.
colunismo cor-de-rosa, vendo um mundo sob -se Aileen Mehle, a Suzy Knickerbocker do New mo de religiões e costumes dos povos espanhol Foi assim, graças a Marisa e José Alencar,
a lente do encantamento, totalmente vedada à York Post, posteriormente simplesmente Suzy, e indígena equatoriano. Assim como lembro a que, quando voltei a cobrir Brasília, encontrei
minha realidade pessoal, que evitava encarar da W. Eleanor era o “Abre-te Sésamo”. adoração de todos por Simon Bolívar, o con- uma capital diferente. Passei a ouvir outras
de frente, tal sofrimento me causaria. Régine Choukron, a das boates Régine’s, foi quistador, e a guia do ônibus de turismo narra- preocupações. Fui convidada por eles para a
E assim fui caminhando, com meus sapati- outra pessoa que me descortinou um mundo va seus feitos com entusiasmo patriótico como posse no Planalto. Na véspera, houve aque-
nhos de Perla Sigaud, saltitando sobre minha de gente interessante. A começar pela prince- nunca vi aqui falarem dos nossos heróis. le réveillon íntimo dos Alencar, em que Lula
perdas familiares dolorosas e trágicas. Conse- sa Grace Kelly, com quem passei boas horas, a A festa de aniversário de Frank Sina- apareceu e fez um discurso, de mãos dadas
gui seguir adiante, ultrapassando a dura fase ponto de preencher página inteira de jornal tra no Caesar Palace, em Las Vegas. Toda a com o vice-presidente, prometendo vida me-
brasileira, ao olhar desconfiado de muitos, com entrevista exclusiva. E comemorou meus Hollywood presente. Apenas os amigos dele. lhor para os pobres, comida na mesa dos mi-
que se arvoravam o direito, não sei advindo 30 anos com festa para 300 no seu Crystal Do Brasil, as amizades feitas no Rio de Janeiro, seráveis. Cumpriu.
de que entidade divina, de julgar esta sobre- Room, em Nova York, quando sua boate de em 1980, convites de Barbara Sinatra: Josias Até que veio o Mentirão, como eu chamei,
vivente, que hoje aqui está, não digo inteira, Park Avenue era o must dos musts. Os brasi- e Heralda Cordeiro e... eu! Usei um vestido e ainda chamo, o Mensalão, com salvo con-
mas viva, liberta e coerente, buscando honrar leiros foram daqui muitos deles e, de lá, os com amarelo coberto de paetês bordado a mão pelo duto para tal concedido por um dos membros
a memórias dos meus com todas as minhas maior expressão no exterior estavam: Ivo Pi- Michel. Sinatra cantou no palco com os ami- da corte suprema ao dizer a frase: “Não tenho
possibilidades. tanguy, Pelé e Marcia Kubitscheck com o ma- gos Sammy Davis e Dean Martin. O que mais provas, mas vou condenar porque a literatu-
Rompi o bloqueio que me paralisava e, ao rido, primeiro bailarino do American Ballet eu poderia desejar? E eu fotografando enlou- ra jurídica me permite”. Com essa permissão
passar do tempo, fui me enriquecendo de in- Theatre, Fernando Bujones. E as celebs amigas quecida. Tudo devidamente publicado. literária, cravei a alcunha, lançada em meu
formações, valores, consciente do verdadeiro de Régine, como Stevie Wonder. Consultem as Vieram os anos de Brasília, levada pelos discurso na ABI, de defesa do réu José Dir-
serviço, que, como jornalista, posso prestar à colunas da época. amigos Rai e Said Farhat, nomeado Secretário ceu, depois reproduzido em minha coluna e
sociedade. Tive a chance de expressar opiniões, Duas viagens me marcaram para a vida de Comunicação Social, status de ministro, de muitas outras.
sem medo, indo contra a maioria das pessoas inteira. Ao Equador, em 1980, e à China, em João Figueiredo, por influência de seu irmão, E por que fiz defesa tão ardorosa? Porque
do meu círculo social, sem me preocupar em 1979, no início de seu processo de abertura Guilherme Figueiredo, grande escritor e dra- desde o início intuí, naquele julgamento das
ser contestada. Logo eu, que sempre tive como para o capitalismo. Uma China ainda tosca, maturgo consagrado. capas pretas voadoras, um objetivo muito mais
maior prazer e preocupação ser agradável a com riquixás e poucos carros, remanescentes Said era um liberal de centro, em sua casa amplo: o de demolir a aura heróica dos jovens
todos! Hilde Benjamin Button, na medida em do que havia no período pré-comunismo, uma faziam pouso todos os jornalistas políticos de de 68 como um todo. Aqueles bravos, que
que amadurecia, estava rejuvenescendo. Passa- China com civis uniformizados (de verde) e prestígio, a começar por Carlos Castelo Bran- deram suas vidas pela nossa democracia nos
va a ser uma formadora de opinião de fato. militares (de azul). E todos de boné com estre- co. Foi Said quem escreveu o discurso de posse porões dos torturadores. Satanizando os so-
Tive alguns reconhecimentos que foram sa- linha vermelha. do presidente, quando Figueiredo proclamou breviventes, destruiriam todas aquelas louvá-
tisfações. Quando fui a primeira na imprensa a Uma China pobre, sem luxo, sem tecnolo- “Juro que hei de fazer deste país uma democra- veis biografias e tornariam palatável qualquer
noticiar o namoro de Carla Bruni e o presiden- gia, com higiene discutível, porém, sem mi- cia”. E como falou (o que estava escrito), estava forma de ditadura. Esperneei o que pude. Ob-
te da França, Sarkozy, antecipando inclusive séria. Este último item particularmente me falado. Não era homem de voltar atrás em suas tive grande leitura, mas não grande resultado.
seu casamento, repercuti na mídia internacio- encantou. Falavam que a China era uma De- palavras. Foi mesmo o governo da abertura. O fake Batman tornou-se pop.
nal. havia furado inclusive meus companhei- mocracia. Mas todos vigiavam todos. Os militares da linha dura do governo e de fora E foi o que se viu. Não bastou prenderem
ros franceses! E os italianos do Corriere della Da China, trouxe material para seis páginas dele não engoliam o Said por isso. Dirceu, Genoíno, Vaccari, Pizzolato. Queriam
Sera me chamaram de Rainha das colunas. de reportagens, publicadas seriadas. E um furo Em Brasília, eu me hospedava com os mais. Eles foram os aperitivos. Queriam tam-
Quando criei a Sociedade Emergente, o que valeu primeira página: “O Globo é o pri- Farhat. Havia um grande carinho entre nós. bém Dilma e, por conseguinte, a cereja do
impacto superou qualquer expectativa. Perdi meiro jornal do Ocidente a figurar num Dazi- Rai levava a foto de meu irmão em sua cartei- bolo, o mote principal: queriam Lula. Vieram
a conta dos jornais estrangeiros que a comen- bao chinês”. Dazibaos eram os chamados Mu- ra. Era uma mulher especial. Quando voltei da as manifestações de 2013 por causa de 20 cen-
taram e me pediam para eu teorizar sobre o ros da Democracia onde o povo chinês colava China, precisava estar em lugar sossegado para tavos de aumento de passagens de ônibus. E
assunto, como o britânico The Economist e o seus comentários e reclamações. Com a ajuda escrever minha longa reportagem, fui pra casa vieram as ofensas graves a Dilma em estádio
Miami Herald. O New York Times fez menção. de minhas amigas colamos várias páginas mi- deles no Lago Sul, onde, não só escrevi o texto, de futebol. E veio o Pixuleco. E a grande mídia,
No Brasil, o feito me valeu capa da Vejinha. nhas no Dazibao. Colunas com as “dondocas” como diagramei todas as páginas, distribuindo em uníssono, rotulada de PIG (Partido da Im-
Emergente virou verbete de dicionário com a e os “dondocos” no capricho. Longos, smokin- as fotos no chão, sentada sobre o piso acarpe- prensa Golpista), repercutindo e estimulando,
conotação dada por mim. Isso sim foi um gol gs, chapéus. E os chineses, naquela sua simpli- tado do quarto de hóspedes. de seu jeito torto, as insatisfações; omitindo as
do colunismo social. cidade, riam às gargalhadas, como se assistis- Numa determinada manhã, acordei e en- conquistas inúmeras dos governos daqueles
Aos 24 anos, fui passar uma temporada em sem a um espetáculo de humor. Considerei as contrei a casa alvoroçada, “secretas” entravam períodos. Era o golpe já a galope. Vieram as
Nova York, hospedada com uma amiga de risadas, aplausos. e saíam. Rai, madrugadora como sempre, no manifestações verde-amarelas e, enfim, o Im-
minha mãe, que se tornou amiga, orientado- Minha entrevista com Imelda Marcos foi, café da manhã recebera um pacote, um li- peachment.
ra e referência em todos os aspectos da minha esta sim, um grande lance de humor. Quando vro. Como de hábito, ela o abriu de trás para O ciclo não estava completo. Saiu Dilma,
vida, pessoal e profissional. Foi minha madri- entrei em sua townhouse das ruas 80s, próxi- a frente. O “livro” explodiu em suas mãos. Se faltava Lula. Impedi-lo de se candidatar a pre-
nha de casamento. Eleanor Lambert. Chama- ma ao Central Park, jamais imaginei encontrar ela o tivesse folheado do modo convencional, sidente. Como massa de bolo sovado, quanto
da pela mídia dos EUA de “Czarina da moda”. uma imagem de Nossa Senhora de Fátima da frente para trás, a bomba teria feito enorme mais o juiz Sergio Moro o condenava, e mais
Eu estava na Última Hora e precisava de uma florida, em tamanho natural, encarando uma estrago. Sem saber, Rai desativou o petardo. a mídia lhe batia, mais crescia a pontuação de
máquina de escrever para redigir minhas co- imagem, numa redoma, de Buda gordo sen- Mesmo assim saiu machucada. Lula nas pesquisas do eleitorado.
lunas diárias, que enviaria via Varig. Eleanor tado, também em tamanho natural, todo de Foi um aviso. Farhat estava desagradando As sovas no bolo de Lula eram e são dire-
emprestou-me a de seu marido, jornalista já jade, com uma linguinha que se mexia, com aqueles que desejavam endurecer ou mesmo, tamente desproporcionais aos tapinhas de leve
falecido, Samuel Berkson: uma Remington um imenso rubi sobre ela. Show! perpetuar a ditadura. Ele foi defenestrado an- nas costas de políticos da situação flagrados
toda folheada a ouro, troféu que ele recebeu Pedi a madame Marcos para ver sua famosa tes do fim do governo. com a mão no pote de dinheiro. O que, para
com o Prêmio Pulitzer. Foi uma emoção mui- coleção de sapatos. Ela me levou para conhecer A solenidade do anúncio da eleição de nós, que sempre confiamos na Justiça, só traz
to forte. Minha primeira coluna de Nova York sua coleção de processos a que respondia. Numa Tancredo Neves foi realizada numa sala do desalento e desesperança.
teve o título: “Escrevo numa máquina de ouro”. imensa biblioteca, as paredes eram todas cober- Congresso, apenas para um grupo reduzido. Hildezinha Benjamin Button, fato, na me-
Houve quem duvidasse... tas por estantes todas ocupadas por processos A família de Tancredo convidou-me a assistir, dida em que fica mais velha na idade, perde a
Muito do que aprendi de moda, de gente, devidamente encadernados em couro pirogra- como única jornalista presente entre eles. E me noção do perigo, torna-se desafiadora e intré-
beautiful people, elegância e de lutar por uma fado com letras douradas. Fiz a foto e publiquei. deram lugar na primeira fila. Sempre amáveis pida adolescente, pronta a revelar sua alma, a
posição através do trabalho, e só do trabalho, Mergulhar no universo de Darwin, as comigo. falar o que acredita ser o certo e justo.
aprendi com duas mulheres exemplares: mi- Ilhas Galápagos, foi experiência única. Des- No governo Collor, tudo era motivo para Num processo de regressão fantástica, tor-
nha mãe e Eleanor Lambert. cobrir, in loco, a evolução das espécies de festas. Os voos seguiam para a Capital Federal no-me criança inconveniente, agindo como se
Eleanor criou a “Eleição dos Mais Bem-ves- acordo com cada habitat. Conferir a dança cheios de cariocas e paulistas, levando os sacos na democracia estivesse, quando esta não pas-
tidos do Mundo”, cujos direitos cedeu antes de do acasalamento do albatroz, pássaro mo- de smokings e vestidos longos. A festa come- sa de leve sombra, remoto conto de alta ma-
morrer para a revista Vanity Fair. O resultado nogâmico. E as praias de decomposição de çava a bordo. Itamar não recebeu para nada. gia, uma pedra filosofal que se perde, pronta
final era decidido por um Conselho de alto ní- coral rosa ou de coral branco? Experiências Fernando Henrique Cardoso e dona Ruth re- a se dissipar ou a ser surrupiada pelo bruxo
vel, do qual tive a honra de participar em casa acompanhadas da consciência de ser uma abriram a temporada das recepções no Itama- das trevas, o nosso Lord Voldemort, que pre-
de Eleanor, com monstros sagrados da elegân- sul americana, e não aquela coisa brasileira raty, e elas foram muitas. tendia se tornar imortal, subjugar as pessoas e
cia como Nan Kempner, Oscar De La Renta e enclausurada em um Brasil narcisista, com No governo Lula, não fosse o traquejo mi- destruí-las, especialmente o Lula, ops, digo, o
Jeromy Zipkin. cultura, valores, idioma, culinária, enfim, neiro e a generosidade pessoal de Marisa e Harry Potter.
Entrevistei todos, mas todos os grandes no- um conjunto de fatores que mais nos dife- José Alencar Gomes da Silva, o vice-presiden- Eu não disse que virei criança?
4 • Conheça nosso site www.jb.com.br Caderno B Domingo, 25 de fevereiro de 2018
Quando a alma
mergulha no passado para
resgatar o futuro
A Casa volta a mim pelas mãos de Drummond e leva minha memória a revisitar os mestres
Revisitar Drummond e ainda mais fa- nho agora a missão de liderar a volta do
lando sobre a mudança do JORNAL DO JORNAL DO BRASIL. No formato origi-
BRASIL, da Rio Branco 110 para a Aveni- nal, standard. Jornal de papel. A rotativa,
da Brasil 500 - missão para a qual o mero a oficina, o linotipo, o copidesque, a ra-
foca da Economia fora convocado na ter- diofoto, o telex, tudo o mais se foi. O cor-
ça-feira do Carnaval de 1973 -, é um salto po, envelhecido, poderia ser tratado pelos
emocionante no passado. No grande pré- médicos do INTO, que hoje ocupa salas e
dio, quase marco zero da Avenida Brasil, andares que guardam episódios marcan-
fiz minha carreira e passei boa parte da tes. Na alma, ainda pulsa e vibra o ines-
vida. Fui de repórter a Editor de Econo- quecível JORNAL DO BRASIL. A credi-
mia. Saí por cinco anos e voltei em 1988, bilidade volta para provar que a história
no Editorial. não acabou, pois “o que está na alma, não
Grandes mestres: Alberto Dines, Car- morre”, garante nosso presidente.
los Lemos, José Silveira, Carlos Caste- Se o poeta maior Carlos Drummond
lo Branco, Noenio Spinola, Ruy Castro de Andrade assevera que:
(me orientou em estágio no B, no Curso
de Jornalismo do JB, onde fui colega de “Todo jornal
Norma Couri), Carlos Leonan, Marina
há de ser explosão
Colassanti, Carlinhos de Oliveira, Hum-
berto Vasconcellos, Luiz Orlando Carnei-
de amor feito lucidez
ro, Walter Fontoura, Elio Gaspari, Paulo a serviço pacífico
Henrique Amorim, Joaquim Campelo, do ser”.
José Gonçalves Fontes, Lutero Soares,
Sérgio Fleury, Armando Strozenberg, Ju- Não cabe dizer mais nada sobre esses
venal Portela, Luiz Mario Gazzaneo, Ar- versos que, durante 13 anos, orientaram
mando Nogueira, Sandro Moreyra, João os editoriais e minha vida profissional.
Saldanha, Oldemário Touguinhó, Luiz Só deixar a alma do JB fluir.
Gonzaga Larqué, Zózimo, José Carlos Lúcida, para estar a serviço do leitor.
Avelar, Wilson Figueiredo, Dr. Britto... No papel, no site, no twitter e na TV-JB.
Grandes furos. Grandes emoções. Gran-
des amigos. Gilberto Menezes Côrtes
Pelas mãos de Omar Resende Peres, te- Diretor de Redação
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CPDoc JB
Acompanhando o
sucesso pelo mundo
O show no Carnegie Hall gerou debates
É voltar,
por que não,
anos da
“
aos melhores
minha vida.
FERNANDA MONTENEGRO*
NASCEU CARIOCA,
cada manhã. No mundo da grande imprensa o retorno do
SE TORNOU NACIONAL
JORNAL DO BRASIL dimensiona a nossa cultura não só
na área jornalística.
E NUNCA DEIXOU
Tê-lo novamente diante dos olhos é voltar aos grandes anos DE ACREDITAR NO RIO.
da nossa imprensa. É voltar, por que não, aos melhores
jornais diários, incluindo o Correio da Manhã - lendo esse A Binder nasceu no Rio e hoje é uma agência
grande matutino que sempre destacou em suas páginas de comunicação nacional. Mas nós, assim como
o Teatro, o Cinema, Artes Plásticas, a Música Clássica e o JB, acreditamos nessa cidade. Tanto que
trabalhamos e investimos há 15 anos no mercado
Popular, e a Literatura. Só que o JORNAL DO BRASIL era,
publicitário carioca, gerando crescimento,
definitivamente, o nosso xodó por tudo que ele representou
oportunidades e negócios para cada
pelos anos em que existiu.
um dos nossos clientes.
Muito me alegra e honra o convite para estar presente neste JB, é muito bom ter você de volta.