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– O jor nal do B r as il –

RIO DE JANEIRO • Domingo • 25 de Fevereiro de 2018 FUN DADO EM 9 DE ABRIL DE 1891 Ano 127 • nº 01 • www.jb.com.br

O Rio tem solução

A prova de que nosso Estado e o país balhadores qualificados. Neste sentido, a


têm futuro está em nosso retorno com o defesa do conteúdo local na construção de
jornal impresso. Mesmo diante da crise equipamentos para a indústria petrolífera
econômica e institucional que atravessa é fundamental para a geração de empregos
o Estado do Rio de Janeiro, o JORNAL para nossos jovens. Nada diferente do que
DO BRASIL volta a ser diário. Convic- fizeram e, fazem, países produtores como
tos de que o Rio é viável, a crise não nos Noruega, Inglaterra e mais, recentemente,
amedronta. Ao contrário, nos encoraja a os Estados Unidos.
voltarmos a ser, novamente, uma bandei-
ra para o debate, que tem como objetivo Que seja bem vindo todo capital estran-
impulsionar temas que produzam justiça, geiro que chegue aqui para investir em
riqueza e desenvolvimento. nosso Estado, criando, renda e empregos
para nosso povo.
Com essa certeza, com esses princípios,
presentes em nossas páginas, o leitor terá E, para mostrar que temos futuro, o
acesso aos mais importantes temas que nos JORNAL DO BRASIL traz hoje uma
afligem. Também mostraremos os pontos retrospectiva histórica de nossa traje-
positivos de uma sociedade plural e que tória ao longo de mais de 100 anos de
tem se mostrado firme diante de tantas sua existência.
dificuldades e desilusões.
Estamos de volta sem qualquer
Sim, o Rio e o Brasil têm futuro. Es- realidade institucional. Isso nos dá alento vínculo ou comprometimento com se-
tamos atravessando, por mais parado- para continuarmos acreditando em nossa tores da economia, o que dará ao leitor a
xal que possa parecer, um momento democracia. No âmbito federal, empresá- certeza de que praticamos um jornalismo
de incerteza de nossa democracia que, rios e chefes de quadrilhas organizadas profissional e isento.
ao mesmo tempo, demonstra ter forças legalmente denominadas “partidos políti-
para combater nossas mazelas políticas cos” também se encontram encarcerados. Estamos de volta, trazendo aos nossos
e a fragilidade das instituições do Esta- milhares de leitores que jamais esquece-
do, ao expor de forma tão contundente, Mas, se convivemos com todas essas ram o JB, o que sempre fomos: críticos,
a corrupção, principal razão de nossa mazelas, somos um dos países com maior criativos, independentes. Estamos de volta
pobreza e subdesenvolvimento. índice de produção e produtividade de para levar ao leitor o que ele quer ver e
alimentos do planeta, usando tecnologias ler: a notícia como ela aconteceu. Isenta e
Ex-Governador, Deputados Federais e desenvolvidas aqui. sem partidarismo político ou ideológico.
estaduais, membros de Tribunal de Contas A notícia não se transforma. A notícia,
e o Presidente da Assembleia do Estado do O Rio de Janeiro é rico em petróleo. simplesmente, é! É o que vamos fazer.
Rio de Janeiro estão presos. Assim como as Somos recordistas mundiais em explo-
cúpulas da Fetranspor e da Fecomércio. Até ração de petróleo em águas profundas. O Rio de Janeiro tem solução. O retorno
pouco tempo, ato inimaginável em nossa O Rio tem tecnologia, empresas e tra- do JORNAL DO BRASIL é uma bela prova.
2 • Conheça nosso site www.jb.com.br Política Domingo, 25 de fevereiro de 2018

COISAS DA POLÍTICA
Um adversário temido volta às bancas
Ex-editores comentam o retorno do JB ao papel
CP Doc-JB
ALBERTO DINES*

Café, jornal, cigarro. Cigarro, não mais,


mas jornal sempre foi fundamental.
O JORNAL DO BRASIL ia além, era vício.
Bibliotecas eram paraísos para Jorge Luís
Borges; o JB era alimento para os cariocas
Tereza Cruvinel e leitores de outros estados que corriam de
tereza.cruvinel@jb.com.br banca em banca atrás de um exemplar.
“Correio da Manhã”, revistas “Se-

Lugar da política nhor” e “Realidade”, “O Pasquim” e tantos


tabloides de literatura atormentaram os

N o Jornal do Brasil que hoje ressurge impresso,


este será, como em outros tempos, um espaço
reservado à decifração dos signos da política, à análise
nostálgicos, mas não voltaram.
O JB voltou. Para fazer barulho bom e
peso na leveza das redes. Pedra firme em
e à interpretação dos fatos reportados como notícia. água fluida. Um adversário temido volta
Ocupá-lo, neste momento delicadíssimo para o Brasil às bancas.
e para o Rio, é desafio que assumo com reverência a Caixa de ressonância, guia seguro,
seu significado na história do jornal e à memória de imprensa séria, comprometida, consis-
quem nele escreveu por 30 anos, o mestre maior do tente, inovadora, tudo combina com o JB. Dines: “O jornal tem de atrair o leitor para a maravilhosa aventura de saber um pouco mais”
colunismo político, Carlos Castello Branco. Repórter bom que briga com a matéria
Traduzir o jogo político nunca foi fácil num país e com o editor. O redator que acredita: Um grande jornal faz-se com a consciên-
como o Brasil, em que a própria República nasceu de a matéria mais importante do jornal é a cia do tempo e a capacidade de atrair o
uma quartelada, abrindo a sequência de crises, golpes dele, ou a dela – como uma vez eu disse leitor, todos os dias, para a maravilhosa
e sobressaltos, alternando ciclos autoritários com ex- para a então estreante colunista Clarice aventura de saber um pouco mais.
perimentos democráticos. Agora, este período mais Lispector. Se as vendas dos Há um caminho aí que é o de fazer pen-
longo de democracia que sucedeu à ditadura está sen-
do testado ao máximo, estressando as instituições no
Os livros não interessavam aos tablets, e
os apressados preconizavam: vão aca-
jornais caem, há sar. Oferecer alternativas de pensamento
e marcar presença, fazer história. Pensar
limite da anomia. A crise política conjugada com o bar. Não acabaram. As vendas de livros sempre um grande.
revés econômico, a ruína do sistema herdado de 1988
e a inegável falência das elites pintam um quadro som-
até aumentaram 6% no ano passado, no
Brasil. E se as vendas dos jornais caem, há
Warren Buffett Mario Sergio Conti, em coluna recente,
lembrou de “Memórias de um Antisse-
brio e dramático. sempre um Warren Buffett que acredita e que acredita mita”, o romance de Gregor von Rezzori:
Não menos delicada é a situação do Rio de Janeiro.
A corrupção foi elemento importante, mas não único,
compra, compra, compra jornais.
O jornalismo está impregnado do espírito
e compra, compra, “O sangue jorra como antes. A única
dignidade que se pode manter no nosso
no processo de falência do estado. A queda nos preços sequencial, de passagem, de prolonga- compra jornais” tempo é a dignidade de estar entre as
do petróleo e o desarranjo em sua cadeia produtiva, mento e continuidade. Nosso ofício, que vítimas”.
a partir da Lava Jato, também facilitaram o açoite da começa e se esgota a cada fluxo, a cada No caso do JB, é brigar pelas vítimas.
recessão. Com ela vieram a ruína fiscal, os atrasos no novo dia, é o exercício da permanência, Não é fácil, mas é possível. Agora mais
pagamento de servidores e fornecedores e o aumento da duração. Por melhor ou pior que tenha do que nunca.
do desemprego, criando a pastagem ideal para o avan- sido a edição anterior, o que vale é a se-
ço do tráfico e da violência. A incapacidade do gover- guinte. E depois dela, a outra. É um nunca *Jornalista e escritor, foi editor-chefe do
no estadual para enfrentar a situação ficou patente há acabar, ou eterno renascer. JORNAL DO BRASIL de 1962 a 1973
algum tempo, exigindo uma atitude do governo fede-

Agora, sem máquina e mais emprego


ral. A intervenção, apesar do improviso, do temerário
emprego das Forças Armadas e dos riscos de fracasso,
neste momento conforta boa parte da população. O
que o Rio não pode aceitar é que ela seja mesmo o
plano eleitoreiro e populista de que se tornou suspeita, PAULO HENRIQUE AMORIM* nista italiano. Capital da República, ainda hoje, o Rio,
depois que o marqueteiro do presidente da República Foram a andar por andar, visita- perdeu um interlocutor valioso.
confirmou sua candidatura à reeleição. Um povo já tão Manuel Francisco do Nascimento Brito ram a rotativa americana – último O jornal era conservador na linha
castigado não merece um estelionato eleitoral em que, teve três oportunidades de montar uma modelo de uma linha logo após editorial.
passado o pleito, tudo volte a ser como antes. Ou pior. Rede de Televisão, de JK a Figueiredo. desativada … - e, ao deixar o prédio Mas, era plural, ou mais poroso que
Mas é alvissareiro que, em hora tão crucial res- Jogou as três fora. monumental, perguntou ao Gazza: O Globo. Mais aberto, com traços de
surja, na concretude do papel, um jornal que carre- Por incompetência e inapetência. - Quantos jornais saem daqui, por Drummond e Alceu Amoroso Lima.
ga, como o JB, a marca do pluralismo, da liberdade Como cheguei a dizer: ele não era dia. Sem falar de seu editor-chefe Janio de
de expressão e da inovação. O Brasil da polarização “dono de jornal”, atividade que dispensa- - Um. Freitas, cuja influencia lá perdurou por
raivosa precisa reaprender o convívio na divergência va ser empresário e empreendedor. - Quantos exemplares roda ? muito tempo.
e libertar-se das bolhas de pensamento único. São Ser “dono de jornal” significava ter - 120 mil, 150 mil durante a sema- Quando fui ser Editor de Economia,
compreensíveis o pessimismo e o desalento dos bra- poder político e glamour. E isso lhe bas- na; 200 mil aos domingos. o lendário Secretário José Silveira me
sileiros, que nas pesquisas chegam a manifestar des- tava. E não era pouco… - Melhor procurar emprego, advertiu, no dia da chegada.
crença na democracia. Foram muitos os descaminhos (Eu estava na sala, numa reunião de Luigi... - Na Economia, até o contínuo é
recentes mas a hora é de olhar para a frente, Estamos “primeira página”, no início da noite, Quando o melhor jornal do Brasil gordo.
a sete meses de uma eleição geral que pode devolver quando Delfim Netto ligou para o editor- fechou, uma parcela significativa da Walter Fontoura me tinha dito para
ao povo a oportunidade de escolher governantes e re- -chefe Walter Fontoura para avisar que fazer uma limpeza.
novar o Congresso, ditando um caminho legítimo a tinha acabado de desvalorizar a moeda...) O sub-editor de “Indústria” era rela-
ser trilhado. Brito deveria ter ido ao CADE, Conse- ções públicas da Shell…
Numa conjuntura tão complexa, mais exigidos de- lho de Defesa Econômica para denunciar O sub-editor de “Bolsa” trabalhava na
vem ser os que se arriscam como analistas. Espero o massacre que passou a sofrer com a Bolsa e a Bolsa do Rio só subia, porque
corresponder, na medida da minha experiência e das publicidade maciça do jornal O Globo na não caía. Quando caía “oscilava”…
minhas limitações. Os leitores do Rio me conhecem
de longa data. Escrevi por mais de 20 anos uma coluna
Rede Globo.
Mas, não foi, porque era arrogante
Quando o melhor Quem me jogou uma boia de sal-
vamento foi o sub-editor de Finanças,
política em O Globo. Foi a partir da TVE do Rio que e não se rebaixaria a demonstrar que o jornal do Brasil Gilberto Menezes Côrtes.
liderei a implantação da TV Brasil. Mineira, radicada
em Brasilia, atei-me para sempre ao Rio desde quando
odiado rival estava para destruí-lo.
Quando o JB fechou não era mais o
fechou, uma parcela Que se tornou meu dedicado, eficiente
e labor-maníaco colaborador - e, depois,
aqui vivi na clandestinidade, durante a ditadura. Aqui melhor jornal do Brasil. significativa da Editor de Economia.
tenho uma segunda morada. Acredito em dias melho- Culpa mais do Brito do que do Rober- Agora, Gilberto vai dirigir a redação
res para o Brasil e o Rio. to Marinho. capital da República, do JB do Catito. O Rio merece!
Luiz Mario Gazzaneo era o chefe de perdeu um
reportagem e recebeu no transatlântico *Editor de Economia, redator-chefe e editor-
Ao mestre, com carinho da Avenida Brasil 500 um amigo comu- interlocutor valioso” -chefe do melhor jornal do Brasil!
Castellinho foi único Generoso, ele me incenti-
e insubstituível e por isso vava, elogiando uma nota
não usaremos o título ou enviando um bilheti-
“Coluna do Castello” mas nho. “A coluna está indo
o “Coisas da Política”, da bem mas aumente a nota
coluna de segunda-fei- de abertura”. Os mais jo-
ra, quando ele folgava. vens e os saudosos podem
Dele fui e continuo sen- visitar seu legado no site
do aprendiz, como nos construído por sua filha
anos 80, quando ele era Luciana, reunindo todas
um monstro sagrado e eu as suas colunas e textos.
uma jovem repórter trei- O endereço é www.carlos
nando como colunista. castellobranco@com.br
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O JB está de volta
São 127 anos do jornal que fez história
Em defesa da monarquia após a proclamação de 1891, com o anúncio em edição especial da Seu genro, Manoel Francisco do Nascimento Brito Em 2001, o título é vendido a Nelson Tanure
da República, Rodolfo Dantas funda o JORNAL morte do imperador D. Pedro II. Floriano Peixoto lidera em, 1958, sob a direção do editor chefe Odilo e sua sede é transferida para o edifício Conde
DO BRASIL em abril de 1891, com a colaboração fecha o jornal por mais de um ano em 1893, pela Costa Filho, a modernização do desenho gráfico Pereira Carneiro, no prédio erguido no local da
de Joaquim Nabuco. O periódico inova com sua publicação de um manifesto. A circulação volta conduzido por Amilcar de Castro. antiga sede, na Rio Branco. A partir de abril de
estrutura empresarial, parque gráfico e corres- em novembro de 1894, sob a direção da família A partir do AI-5, o JB sofre perseguição da 2006 adota o “formato europeu”. Em novembro de
pondentes estrangeiros, como Eça de Queiroz. Mendes de Almeida. O JB se transfere para a recém ditadura. Na década de 70, muda-se para o pré- 2010 desaparece a versão impressa. Licenciado em
A orientação conservadora foi quebrada em 1893 -inaugurada Avenida Central no início do século dio da Av. Brasil, 500, que previa a instalação da dezembro de 2017 ao empresário Omar Resende
pelo novo redator-chefe, Rui Barbosa. A redação XX. Passa às mãos do conde Pereira Carneiro e, TV JB. Perdeu a concessão em represália à linha Peres, o JORNAL DO BRASIL volta às bancas
do jornal sofre seu primeiro ataque em dezembro após a sua morte, à Condessa Pereira Carneiro. editorial crítica ao regime. em 25 de fevereiro no formato standard.

O primeiro exemplar do Jornal do BRAZIL


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Prêmio Esso
O JORNAL DO BRASIL é o recordista da mais importante premiação da imprensa brasileira
Erno Schneider/1961

Antônio Andrade/1958

A coragem nas reportagens e as fo-


tos marcantes construíram a credibi-
lidade do JORNAL DO BRASIL, que
resiste ao tempo e faz parte da história.
Graças aos prêmios conquistados em
sua brilhante trajetória, o JB segue na
memória dos jornalistas como um dos
mais influentes veículos da imprensa
brasileira. Mesmo após deixar as ban-
cas em 2010.
Quem informa é o conceituado
site Jornalistas&Cia. Na última edição
da pesquisa os +Premiados Veículos A foto de Antônio Andrade que mostra Juscelino de mão estendida diante do
da História, publicada em janeiro de secretário de Estado dos EUA, Foster Dulles, foi batizada de “Me dá um din-
heiro aí”, música de carnaval da época. JK se irritou e cancelou a concessão
2018, com dados atualizados até 2017,
de TV que havia prometido ao JORNAL DO BRASIL
o JORNAL DO BRASIL aparece como
o 7º veículo mais premiado do Brasil
em todos os tempos. Na região Sud- Luiz Morier/1993
este, o reconhecimento pela coragem e
a excelência de seu conteúdo o situam
como o 5º mais laureado.
Vale ressaltar que, quando o JB deix-
ou as bancas há oito anos, não existiam
tantas premiações na imprensa brasilei-
ra. A maior variedade de prêmios con-
tribuiu para diluir os feitos anteriores,
quando a competição entre os jornais
era bem mais árdua. Mesmo assim,
o JORNAL DO BRASIL manteve-se
como recordista absoluto do Prêmio
Esso de Jornalismo, a maior e mais res-
peitada honraria da imprensa brasileira.
O Prêmio Esso foi criado pela em-
presa de petróleo americana em 1956,
com inspiração no tradicional Prêmio
Pulitzer, dos Estados Unidos. Durante
décadas foi a principal distinção da do
jornalismo nacional. Nas 60 edições do
Prêmio Esso (a última em 2015), o JB
tornou-se o veículo com maior número
de conquistas, ao todo são 71 vitórias.
Luiz Morier acompanhou turistas em passeio de jipe pela Floresta da Tijuca
E passou a ser referência de qualidade O primeiro Prêmio Esso de Fotografia do JB: Jânio Quadros trocando as pernas, como um para uma matéria do Caderno B. Foram todos assaltados. O fotógrafo per-
tanto nos textos quanto nas fotos. bêbado. A foto de Erno Schneider entrou para a antologia do jornalismo brasileiro deu a máquina, mas salvou o filme e ganhou o Prêmio Esso de 1993.

Alberto Ferreira/1962 Luciano Andrade/1985

Pelé sentiu a côxa e se despediu da Copa do Chile. O Brasil temeu pelo pior com a foto de Alberto Ferreira Luciano Andrade flagrou deputados votando por colegas ausentes. Assim nasceram “os pianistas da Câmara”
Alberto Jacob/1971 Marco Terranova/1999

A freira caiu e quase foi atropelada no centro do Rio. Alberto Jacob, a caminho da redação, fez o flagrante No meio do tiroteio na orla do Leblon, Marco Terranova não se protegeu. E teve sua coragem premiada.
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Prêmio Esso
Com suas lentes mágicas, os fotógrafos do JORNAL DO BRASIL foram premiados dez vezes
A primeira conquista de um Prêmio Esso na categoria principal to, com 10 conquistas. A primeira delas foi obtida por Erno Schnei- Kubitscheck estendendo a mão para o secretário de Estado do EUA,
pelo JB coube à repórter Silvia Donato em 1961, com a matéria “Ad- der em 1962 com a célebre foto “Qual o rumo?”, que mostra o pres- Foster Dulles. A foto foi batizada de “Me dá um dinheiro aí”, música
ote uma criança”. Antes dela, Ana Arruda havia merecido menção idente Jânio Quadros trocando as pernas. No ano seguinte, graças a de carnaval da época, e JK, muito irritado, cancelou a concessão de
honrosa em 1960, com a reportagem “A infância precisa de socorro Alberto Ferreira, o JB bisou o feito com a foto de Pelé contundido na TV prometida ao JB.
urgente”. Ambos os temas continuam bastante atuais. Na década de Copa do Chile . Em 1964, Walter Firmo, com reportagem fotográfi- Impossível deixar de citar a famosa bicicleta de Pelé no Maracanã
60, o JB ganhou quatro prêmios principais, graças também ao brilho ca sobre a Amazônia, ganhou o Prêmio Principal. E em 1965, o Prê- em 1965, pelas lentes magicas de Alberto Ferreira. E também são
de José Gonçalves Fontes, Walter Firmo e João Máximo. mio Esso foi para Kaoru Higuchi, que registrou o presidente francês sempre lembradas com emoção as fotos impressionantes de Evan-
Foram, ao todo, nove Prêmios Esso de Jornalismo e mais dois de Charles De Gaulle de braços abertos para crianças. Ou seja, quatro dro Teixeira sobre as passeatas e a repressão da PM em 1968, du-
Reportagem, além de prêmios de informação econômica e esportiva repórteres fotográficos do JB premiados em quatro anos seguidos. rante a ditadura militar.
e dezenas de menções honrosas. Em 1981, por exemplo, a equipe de Fotografia no JB era missão para artistas. Além dos já citados, Com suas fotos maravilhosas e seus textos de altíssimo nível, o
reportagem do JB levou o Prêmio Esso principal com a cobertura do levaram o Esso para casa Alberto Jacob, Ronaldo Theobald, Luiz JORNAL DO BRASIL tornou-se uma inigualável escola de jornal-
atentado ao Riocentro, na noite de 30 de abril de 1981. Morier (duas vezes), Luciano Andrade, Michel Filho e Marcos Ter- ismo, que exerceu forte influência sobre a imprensa brasileira por
Merece capítulo à parte o desempenho do JORNAL DO BRASIL ranova. Algumas fotos não foram premiadas, mas também fizeram várias décadas. Suas páginas marcantes de coragem, ousadia e cred-
no Prêmio Esso de Fotografia. Novamente, o JB é recordista absolu- história. Em 1958, Antonio Andrade clicou o presidente Juscelino ibilidade voltam às bancas a partir deste 25 de fevereiro.

Luiz Morier/1983

Registrada por Luiz Morier, bicampeão do Prêmio Esso, a cena será sempre chocante. Um policial militar trata seus prisioneiros como se fosse um feitor dos tempos da escravidão. aamarrá-los pelo pescoço

Kaoru Higuchi/1964 Evandro Teixeira/1968

No Rio, o presidente Charles De Gaulle, ao assustar as crianças, não escapou do olhar de Kaoru Higuchi Evandro Teixeira correu risco de ser preso ao documentar a repressão aos estudantes em abril de 1968

Michel Filho/1995 Alberto Ferreira/1965

Michel Filho antecipou uma cena que se tornou comum nas décadas seguintes: tiroteio na Linha Vermelha A foto de Alberto Ferreira não ganhou o Esso, mas a perfeição da bicicleta de Pelé ganhou o mundo
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INFORME JB
Prêmio Esso
O JORNAL DO BRASIL também foi premiado várias vezes
pela qualidade editorial e a criação gráfica de suas páginas
Reprodução

Jan Theophilo
jan@jb.com.br

Nasce um colunista
P ode parecer esquisito. Mas devo minha relação com o
Informe JB a Edir Macedo e um grupo de bispos da
Igreja Universal do Reino de Deus. Corriam os anos 90 e um
video obteve imensa repercussão mostrando os integrantes
da igreja dividindo verdadeiras montanhas de dinheiro.
Naquela época, uma das grandes tradições do Informe JB
era a última linha do “Lance Livre”, sempre uma frase cur-
ta que brincava com algum fato rumoroso do momento.
Era apenas um foca, apelido dos estagiários, que sonhava
em um dia trabalhar na coluna que tinha como DNA um
composto fascinante de elegância, bom gosto e sofisticação,
tornando-a a mais importante coluna de notas políticas do
país. Naquele dia me enchi de coragem, entrei na sala do
editor, Mauricio Dias, e sugeri uma última linha para aquela
edição; “eu sou o seu pastor e nada me faltará”. Foi um baita
sucesso. Dia seguinte estava integrado à equipe e começava
modesta carreira de escritor de poucas palavras que circu-
lou por algumas das principais redações do Brasil.

O começo ter sido editado em Brasília.


O Informe JB surgiu em Apesar de ser formalmente
9 de março de 1965, na uma coluna de política, vá-
Página 10. substituindo a rios de seus grandes “furos”
“Segunda Seção”, então um trataram de assuntos que
dos espaços mais valoriza- nada tinham a ver com a co-
dos do jornal, criada em bertura da “corte” brasiliense
1963 por Wilson Figueire- com seus “líderes”, lobistas e
do, uma das lendas vivas juízes vestidos em trajes me-
do jornalismo brasileiro. dievais.
“A idéia era arejar o gênero
e consolidar uma área so- O revéillon de 96
cialmente ampla, de gente Outro exemplo dos gran-
com repercussão no nível des furos do Informe JB
político dos interessados foi o famoso “réveillon
em opiniões e indiscri- do Paulinho da Viola” em Reprodução
Reprodução

ções”, conta Figueiró. 1996. A Prefeitura resol-


vera fazer um megashow
A ironia do nome de réveillon na praia de
O primeiro titular do Infor- Copacabana. Um evento
me JB foi um jornalista de para botar pra quebrar,
inteligência mordaz e texto juntando no mesmo palco
brilhante chamado Pedro Caetano Veloso, Gilberto
Gomes. Já o nome da co- Gil, Gal Costa, Milton Nas-
luna, idéia do então editor- cimento, Paulinho da Viola
-chefe Alberto Dines, foi e Chico Buarque.
uma ironia com o serviço Dias antes porém, Mauri-
secreto do Exército. “Infor- cio Dias escreveu que to-
me” remete a algo incerto. dos os artistas receberiam
um cachê de R$ 100 mil.
DNA de colunistas Menos Paulinho, que leva-
Antes o espaço, chamado ria apenas R$ 30 mil.
“JB em Sociedade”, era as- A diferença gerou uma po-
Reprodução
sinado por Pedro Müller, lêmica que durou semanas.
primo de outra lenda da
imprensa nacional: Ma- Surge um padrão
neco Muller, o Jacinto de Diversas vezes, vários de-
Thormes. signers tentaram mudar a
premiada diagramação do
Time de craques JB, criada por Amilcar de
Entre os titulares do Infor- Castro, nos anos 50. E o
me figuraram alguns dos Informe era alvo constante.
maiores jornalistas brasi- Um deles sugeriu ao dono
leiros. São nomes como do JB, M. F. do Nascimento
Walter Fontoura, Elio Gas- Brito, fazer um Informe JB
pari, Ancelmo Gois, Mar- na horizontal. Dr. Brito, re-
celo Pontes, Mauricio Dias cusou secamente: “Coluna é
e Ricardo Boechat. coluna. O sentido, por isto, é
vertical”, decretou.
Segredo do sucesso O modelo acabou descara-
Há quem garanta que talvez damente copiado por vá-
o maior motivo do suces- rios dos principais jornais
so do Informe JB foi jamais do país.
Desde o projeto pioneiro de Amílcar de Castro em 1958, o JORNAL
DO BRASIL sempre se destacou em artes gráficas. Serviu de referên-
LANCE LIVRE cia e acumulou prêmiações. Nas últimas décadas, conquistou dois
Prêmios Esso de Primeira Página, em 2000 e 2004, e o Prêmio Esso
•A partir de amanhã teremos colunismo, o titular apenas de Criação Gráfica também em 2000, além dos dois únicos Prêmios
novas histórias, divertidas, assina o espaço. Quem efeti- Esso de Charge, com trabalhos do cartunista Ique (Victor Henrique
curiosas ou transformadoras vamente faz a coluna são os Woitschack), em 1990 e 1991. A comissão julgadora do Esso conferiu
nesta mesma coluna, em novo amigos. Conversaremos mui- ao JORNAL DO BRASIL, em 1991, o prêmio de melhor contribuição
formato. Lembrando que em to nos próximos dias. à imprensa, “pela passagem de seu centenário, um marco na história
e na evolução da imprensa brasileira”.
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A redação do novo JB

Gilberto Menezes Côrtes Ziraldo Alves Pinto Hildegard Angel Romildo Guerrante Lenise Figueiredo Jan Theophilo
Diretor de Redação Diretor de Arte Colunista Editor de Cidade Correspondente na Europa Editor do Informe JB

Ziraldo Alves Pinto nasceu em Atriz de formação, atua na Romildo Guerrante, fluminense Formada em Comunicação Jan Theophilo estreou como
Foi um JB que passou na minha vida.
Caratinga-MG. Começou a carreira imprensa desde os 18 anos, de Cambuci, começou sua carreira pela UFJF, Lenise iniciou repórter no JORNAL DO BRASIL
São 68 anos de vida, 46 de jornalismo,
nos anos 50 em jornais e revistas, como quando ingressou no jornal O no Jornal do Brasil em abril de sua carreira na TV Globo entre 1993 e 1998. Passou pelo
25 deles no JORNAL DO BRASIL.
Comecei foca da Economia e estagiário JORNAL DO BRASIL, O Cruzeiro e Globo, em 1968, onde atuou 1971, ainda na sede da Av. Rio em Juiz de Fora-MG, cidade O Dia (RJ), onde ficou até o ano
no Serviço Econômico Especial (da Folha de Minas. É cartazista, jornalista, cerca de 30 anos, em três fases, Branco, 110, quando cursava onde nasceu. Em seguida, 2000. quando deixou o jornal para
AJB). Na Economia fui de repórter teatrólogo, chargista, caricaturista e nas colunas Nina Chavs, Carlos Comunicação na UFF. Cumprido transferida a Belo Horizonte, fazer parte da equipe que lançou
a sub-editor e Editor (1982-83). O escritor. Fez sucesso seu desenho Saci Swann, Zona Franca, Veneno, o estágio, foi contratado como o site pioneiro NO.: Notícia e
apresenta o Telejornal MG-
fato mais marcante foi a quebra do Pererê na 1ª revista em quadrinhos Por dentro da TV por Hildegard repórter de cidade. A redação Opinião, lançado por Marcos
TV, da Rede Globo, líder de
Brasil em 1982. Em dezembro, cobri nacional feita por um só autor: A Angel, Perla Sigaud (seu era chefiada pelo triunvirato Sá Corrêa em 2000. Conquistou
audiência no estado. Dois
a renegociação em Nova Iorque. Turma do Pererê. Sob a Ditadura pseudônimo), Hildegard Angel Alberto Dines/Carlos Lemos/ anos depois, é convidada o Prêmio Unesco Mídia da Paz
Manchetaço do Editor Paulo H. fundou com outros humoristas O (aos sábados no Caderno ELA Luiz Orlando Carneiro. para trabalhar na Globo-Rio, 2001, na categoria Webjornalismo.
Amorim, para desgosto do Delfim, Pasquim, jornal alternativo que fez e diária no Segundo Caderno). Cinco anos depois, assumiu em continuidade à carreira Foi para O Globo, em fevereiro de
que dizia ser mero “refinanciamento escola. Os quadrinhos para adultos, Duas passagens pela Última sucessivamente a subchefia e a de repórter. Convidada para 2003, participar do lançamento
da dívida”. No serviço público, onde como Supermãe e Mineirinho, o Hora, onde, além de entrevistas chefia de reportagem. Afastou- ser correspondente da Rede da coluna Gente Boa, Em 2006
a dupla função conta em dobro, o Comequieto têm legião de fãs. Em de capa do Segundo Caderno, se do JB em 1979 para exercer Globo na Itália, permaneceu passou para a revista Veja (SP),
Editorial (1988 a 2001) paralelo à 1969 Ziraldo publicou o livro infantil assinou colunas diárias e outras atividades, especialmente na função 10 anos em Roma. onde foi editor-adjunto da coluna
gerência de Jornalismo da Rádio JB-AM Flicts, que ganhou o mundo. Desde páginas duplas semanais comunicação empresarial, mas Na Europa, Lenise realizou Radar, colaborando na criação da
(1992-93) e mais a de colunista (1998 a 1979 concentra-se na produção de cobrindo sociedade, bem como voltou ao jornal posteriormente centenas de matérias para o versão digital da coluna. Retornou
maio de 2001), e períodos bissextos na livros infantis. Em 1980 lançou O página diária sobre TV. Manteve como redator da primeira Jornal Nacional e o Fantástico, a O Dia em 2007, assinando a
gestão Tanure, dariam quase 28 anos. Menino Maluquinho, um fenômeno quadro de entrevistas de página. Atuou nos últimos entrevistando personalidades coluna Informe do Dia, sobre
Parodiando Paulinho da Viola sobre a editorial no Brasil, sucesso no bastidores da televisão no “TV anos no JB como redator das do mundo cultural, político Política e Economia carioca. Após
Mangueira... “é um pouco mais...que teatro, quadrinhos, Internet e Mulher”, jornalístico matinal editorias Nacional, Economia e e artístico, como Federico deixar o jornal, tornou-se diretor
os olhos não conseguem perceber”... cinema. Traduzidos para o inglês, da Rede Globo, de 1980 a 1984. Política. Passou quase 20 anos Fellini, Marcello Mastroianni, da FSB Comunicações. Voltou
Os tempos de Relatório Reservado, os espanhol, alemão, francês, italiano Apresentou programa semanal no jornal, do qual se afastou
Ayrton Senna e Bill Clynton às redações para ocupar o cargo
três anos e meio de O Globo (1983-86) e basco, os trabalhos representam jornalístico de entrevistas “As para voltar agora como Editor
dentre outros. Deixou a de diretor de Redação da Editora
como sub-editor e responsável pela o talento e o humor brasileiros no pessoas”, na TV Educativa, de Cidade nesta nova fase do
televisão para trabalhar na Todas as Culturas, especializada
coluna Panorama Econômico, os cinco mundo. Cartunista do JB durante de 1988 a 1992. Manteve velho JB. Colaborou com artigos,
Rádio Vaticano. Se junta agora no segmento editorial de Luxo.
anos de GloboNews (1997-2001) e os 30 anos, Ziraldo tem vários prêmios coluna diária por oito anos, reportagens e também fotografias
ao JORNAL DO BRASIL, Estreou, em dezembro de 2016,
18 meses como diretor da Globo.Com internacionais. no JORNAL DO BRASIL, até para diversas publicações ao longo
como nossa correspondente o JabuticabaTube, no YouTube,
foram marcantes. Mas o JORNAL DO seu fechamento, em 2010. Lá, de sua vida profissional. Morador
em Roma e na Europa, onde onde conta causos de viagem em
BRASIL é bem mais que isso. Como o editou, aos sábados, o Caderno de Santa Teresa, é casado com a
fará matérias para o impresso vídeos curtos, de três minutos em
Flamengo e o Salgueiro, ficou na alma, H e coluna com seis páginas na jornalista Franca Di Sabato e tem
e a JB-TV. média.
para sempre. Revista de Domingo. dois filhos engenheiros.

Tereza Cruvinel Octávio Costa René Garcia Jr. Marcelo Auler Toninho Nascimento Carlos Negreiros
Colunista de Política Editor de Política Colunista de Economia Repórter Especial Editor de Esporte Editor de Arte
Sou graduada em jornalismo Minha ligação com o JORNAL
pela Universidade de Brasilia, DO BRASIL vem de muito longe. Formado em Economia e Volto ao JORNAL DO BRASIL Minha paixão pelo jornalismo Paulista de nascimento e carioca
onde cursei também o mestrado Tinha 8 anos quando meu pai me Administração Pública pela Fundação pela quarta vez. A primeira, pela esportivo se tornou definitiva na Copa de coração, formado em História,
em Comunicação Social e desde levou à sede do JB na Rio Branco e, Getúlio Vargas (FGV), mestre em Carteira do Trabalho, foi em de 1982, aos 22 anos. E por “culpa” jornalista e publicitario, trabalhou
1981 atuo no jornalismo político. na oficina, pediu que o linotipista Economia pela EPGE /FGV. Tem setembro de 1978, como estagiário do JORNAL DO BRASIL. Mais no JB em dois períodos 83 e 91. Tem
Cobri os grandes fatos da gravasse meu nome no chumbo. passagens por diversas instituições da sucursal em Brasília. Verdade especificamente por causa da capa do passagem por diversas editoras como
redemocratização, vi a passagem Fiquei maravilhado e tomei uma financeiras em cargo de direção que começava, com 4 anos na Caderno de Esportes com o “Perder, diretor de arte nas revistas Amiga,
de oito legislaturas do Congresso, decisão: trabalharia no JB, como e na administração pública. Foi profissão, eu ainda engatinhava, ganhar, viver”, de Carlos Drummond Mulher de Hoje do grupo Bloch
de sete eleições presidenciais e meu pai Álvaro e meu tio Odylo diretor da Comissão de Valores mas o trabalho era igual ao dos de Andrade, dois dias após a derrota editores, jornal Tribuna da Imprensa,
os governos de seis presidentes. Costa, filho, que comandou a Mobiliários (CVM /MF), secretário outros profissionais. Na sucursal do Brasil para a Itália por 3 a 2, na Pais Modernos da editora Vecchi,
Entre 1985 e 2007, escrevi a coluna histórica reforma do jornal da estadual de Controle do Estado do foi mais um ano. A experiência Tragédia do Sarriá. Genial. Um vitória Boletim Cambial e jornal Adbussiness.
Panorama Político, no jornal O condessa Pereira Carneiro. Cursei Rio de Janeiro e superintendente da mais rica, porém, viria entre 1987 e na derrota da seleção: o JB ganhou o Responsável pela criação de diversos
Globo, atuando simultaneamente Direito na UFRJ, mas o jornalismo Superintendência de Seguros Privados 1991, na sede do Rio. Circulei pelas Prêmio Esso de Jornalismo. Nos 33 projetos gráficos como o jornal Ponto
como comentarista da Globonews. era o destino. Aos 22 anos, entrei (Susep/MF), além de conselheiro do editorias de economia, cidade e anos que estou nesta profissão, tive de Apoio da Shell e Nosso Jornal da
Neste período, tive uma rápida pela primeira vez para o JB, no BNDESpar/BNDES. Colaborador política. Viajei pelo país, conhecen- como Norte a cobertura do JB naquela Confederação Nacional da Indústria,
passagem pelo Jornal do Brasil. Serviço Econômico Especial da do JB, Valor Econômico e colunista do e aprendendo. Em 2012, uma Copa. Neste período, fui Editor de atuou em diversas agências de
Em 2007, tornei-me a primeira Agência JB. Em 1980, participei da do Jornal O Dia, além de editor- rápida passagem no On Line. Aos Esportes de O Globo por 16 anos, propaganda Rio de Janeiro e Espírito
diretora-presidente da Empresa equipe que cobria um escândalo associado da Revista Brasil Sempre. 62 anos, 46 como repórter em três entre 1996 e 2012, responsável pela Santo como diretor de arte, supervisor
Brasil de Comunicação - EBC, na Bolsa. Ganhamos (e Gilberto Terá uma coluna fixa de economia de cidades e dois prêmios Esso na cobertura de quatro Copas (1998 a e diretor de criação. Professor de
enfrentando o desafio de implantar Menezes Côrtes também) o Prêmio segunda a sexta-feira e no domingo. bagagem, aceitei o desafio de aju- 2010) e cinco Olimpíadas (1996 a Direção de Arte do departamento
a TV Brasil e o sistema público Esso Sudeste, com o Caso Vale. Pretende abordar os fatos econômicos dar a relançar o JB. Afinal, ele é a 2012). Também ganhei um Esso: de de Comunicação da PUC- Rio,
de comunicação. Encerrei meu Em 1990, dirigi a Agência JB, que com uma visão interdisciplinar, alma do Rio. Os tempos são outros; criação gráfica em jornal, em outra professor na Agência experimental
mandato em 2011 e nos dois anos vendia textos e fotos para todo o relatando e analisando os fenômenos a imprensa é outra; o jornalismo derrota, na Alemanha, em 2006. da PUC durante 10 anos, criou o
seguintes escrevi uma coluna País. Retornei ao JB em 1998. Fui com base em pesquisas no âmbito mudou. Algo, porém, permanece Em 2013, resolvi conhecer o outro programa Publicidade & Etecetera
política no Correio Braziliense. editor de política, editorialista, nacional e internacional. A coluna na tarefa de informar: a credibili- lado do esporte e assumi a secretaria no Portal da PUC e foi Coordenador
Depois, atuei como comentarista editor-executivo e diretor da terá a colaboração da jornalista dade que dá aos leitores garantias Nacional de Futebol do Ministério do da semana de publicidade PUC-Rio
política na RedeTV e na TV Brasil. sucursal de Brasília. Agora o JB Renata Batista, profissional do sobre o que lê. Isso, a marca JB acu- Esporte. Não me arrependo. Agora, (evento semestral com profissionais
Desde 2014, escrevo uma coluna está de volta. E me vejo pensando jornalismo econômico com passagens mula. Continuará tendo. Pois será possa unir três paixões, o jornalismo, do mercado publicitário). E agora
política no portal Brasil247, onde na plaquinha de chumbo com meu pelos jornaisww Valor Econômico, o principal motivador do projeto. o esporte e o JORNAL DO BRASIL. voltando às raízes no mercado
atuei até agora. nome. Brasil Econômico e Jornal do dar certo. BRASILasiçnal doBrasil. editorial.

Renato Mauricio Prado Geraldo Samor Evandro Guimarâes. José Marinho Peres
Colunista de Esporte Repórter Especial de Economia O JB no Campo Editor de Fotografia

Cursava comunicação na PUC Geraldo Samor começou no jor- Publicada aos domingos, a coluna José Peres nasceu no Rio de
quando (sonho dos sonhos) nalismo em 1996, como correspon- terá como titular o pecuarista Janeiro. Engenheiro Agrônomo,
consegui um estágio no JORNAL dente da agência Dow Jones no Evandro Guimarães. Mineiro trabalhou muitos anos com o seu
DO BRASIL. De terno e gravata, Brasil. Formado pela Universidade de Leopoldina, Evandro é pai, o jornalista e agropecuarista
me vi diante do editor-chefe, de Kansas, Samor trabalhou em administrador de empresas, tendo José Rezende Peres, em sua fazen-
Walter Fontoura, que me olhou dois jornais nos EUA e obteve a dedicado, a maior parte de sua da em São Pedro dos Ferros-MG.
de cima abaixo e, com um sorriso Nieman Fellowship de Jornalismo vida profissional como, Diretor Mas a fotografia absorveu todos
amigável, sentenciou: “Você tem de Harvard em 2001. Em 2004, da Rede Globo de Televisão. os seus sonhos e o transformou
cara de repórter político! Vou virou correspondente do The Wall Hoje, é um dos mais renomados em um fotógrafo apaixonado pela
colocá-lo com o nosso melhor Street Journal no Rio. Em seguida, pecuaristas do país, se dedicando à arte.
editor, o Elio Gaspari”. Que trabalhou para o Farallon Capital, melhoria genética de raças zebuínas Tornou-se um fotógrafo da vida –
privilégio! Da política me transferi fundo de investimentos de São brasileiras. Evandro, levará aos das pessoas e da natureza.
para o esporte e foi pelo JB que Francisco. Voltou ao jornalismo agropecuaristas informações, Com trabalhos fotográficos nos
cobri minha primeira Copa, em em 2010, como correspondente da propostas e preocupações do Agro quatro cantos do Brasil e larga
1978, na Argentina. Depois dela, Debtwire. Por sete anos produziu o Negócio, esse importante setor da experiência, Zezinho como é
me transferi para O Globo, onde Podcast Rio Bravo. Em 2014, lançou economia brasileira. conhecido, é um profissional que
fiz carreira mas, no fundo da o Veja Mercados, blog sobre empre- consegue colocar toda a mecânica
alma, sempre restou uma ponta sas e mercados. É fundador e editor das câmeras e lentes, usando sua
de saudade do início no JB. Que do site Brazil Journal, que fornece sensibilidade para ver e buscar a
prazer, voltar! conteúdo ao JORNAL DO BRASIL. beleza na vida e nas pessoas.
8 • Conheça nosso site www.jb.com.br Política Domingo, 25 de fevereiro de 2018

Um símbolo do Rio está de volta


RODRIGO MAIA* área de Segurança Pública. e melhorar a qualidade de nossos de-
bates deve ser incentivado.
O mais que centenário Jornal do Brasil Para honrar e valorizar este que, sem dúvida,
faz parte do imaginário do Rio de é um dos mais simbólicos nomes para um Outro motivo de comemoração, em
Janeiro na parte em que, arrisco dizer,
cada cidadão fluminense guarda suas
A leitura é um periódico brasileiro – Jornal do Brasil –, tor-
ço para que suas novas páginas promovam o
uma avalição mais pessoal, é poder
desfrutar novamente do prazer de ler
memórias mais afetivas. Desde quan- dique para não fortalecimento da cidadania em nosso País, os textos bem cuidados que marcaram
do o jornal deixou de ser impresso, as permitindo o amplo debate do nossos pro- a história do jornal e se transforma-
bancas perderam uma parcela signifi- transbordarmos, blemas (que não se restringem à insegurança ram em uma escola. Difícil ter um
cativa de encanto por não mais exibir
as colunas tradicionais e inconfundí-
para conter nossos nas ruas), garantindo que a pluralidade e a
diversidade de nossa sociedade sejam refleti-
preferido num time que já reuniu
Zózimo Barroso do Amaral, Carlos
veis da capa do JB, que por décadas escombros quando das em suas reportagens, artigos e colunas. Castelo Branco, Armando Nogueira,
foram sinônimo de credibilidade e
correção jornalística.
somos destruídos A democracia é uma obra em constante
Oldemário Touguinhó e tantos outros.
Como carioca apaixonado pelas coisas
por uma realidade construção, e a retomada da versão imprensa que o Rio tem de melhor, fico honra-
A notícia de sua retomada na versão
impressa deve ser muito comemorada,
que pode nos levar à do jornal ganha ainda mais relevância por
representar o fortalecimento da imprensa
do de participar deste momento his-
tórico, que é o resgate de um veículo
ainda mais pela feliz coincidência de beira do desespero.” responsável no combate de outro problema que carrega o País em seu título, e a
ocorrer no momento em que o Rio de de nossa época, as notícias falsas, que circu- alma do Rio em seu estilo. Vida longa
Janeiro se prepara para reagir de forma lam especialmente nas redes sociais. Princi- ao Jornal do Brasil.
mais contundente contra a violência palmente em ano eleitoral, tudo que funcione
generalizada que nos aflige há tanto para resgatar a credibilidade das informações *Deputado federal e presidente da Câ-
tempo, com a intervenção federal na mara dos Deputados

JB – Um retorno bem-vindo
EUNÍCIO OLIVEIRA* a existência de uma imprensa livre e plural minados. Pelo contrário. O equilíbrio
para consolidar a hegemonia democrática emerge da transparência, do diálogo, da
A existência de um órgão de imprensa de um povo na condução do seu desenvolvi- negociação política. Também é assim
é sempre a reafirmação do espaço de mento.   no caso do jornalismo e da necessária
liberdade na vida de um povo. E quando   isenção informativa.
o veículo carrega consigo uma história Na era digital, foi A despeito da influência crescente das redes  
e uma tradição iniciadas em 1891, essa
afirmação ganha relevo e densidade
para o papel. E que sociais e outras novidades desta era da
internet, a imprensa tradicional ainda fixa
Sem dúvida, a mediação de uma im-
prensa isenta e democrática – a exem-
adicionais. O retorno do Jornal do Brasil papel! O das Bancas agendas, pauta a conversa pública, forma e plo do jornalismo praticado histori-
portanto, é uma excelente manchete.
 
de Jornais, claman- informa a cidadania e vocaliza as discussões
na sociedade. Nesse contexto, o jornalismo
camente pelo Jornal do Brasil – pode
contribuir de forma inestimável para
O JB durante décadas foi narrador do os cariocas, a deve ser livre e plural para exercer, com que esse espírito, ao mesmo tempo
privilegiado das conquistas da Nação equilíbrio, o papel de grande praça de deba- crítico e comprometido com a verdade,
Brasileira. Mas também enfrentou cora- voltar no tempo e ir tes onde os diferentes anseios e demandas da predomine.
josamente os reveses de nossa história,
quando a prática do bom jornalismo e o
à esquina, comprar o Nação sejam representados.
 
 
Vida longa ao ‘velho JB’ novo.
exercício da liberdade de imprensa fo- jornal que faz parte Idéias e interesses distintos estão presentes
ram cerceados por medidas autoritárias.
 Sabemos hoje o quanto é importante
da nossa história.” na construção do desenvolvimento. Não
podem e não devem ser evitados ou discri-
* Senador (MDB CE),Presidente do Sena-
do e do Congresso Nacional
Domingo, 25 de fevereiro de 2018 Política Conheça nosso site www.jb.com.br • 9

O renascimento do JB
MICHEL TEMER* muito bem vinda. A objetividade e mercado - inclusive destacan-
o rigor na apuração das informa- do-se pelas inovações, como é
A volta do Jornal do Brasil às ções são ferramentas fundamentais o caso recente, por exemplo, do
bancas, inicialmente no Rio de A objetividade e o para balizar o debate e auxiliar a Washington Post.
Janeiro e em Brasília, é uma boa rigor na apuração sociedade no processo de formação Sinônimo de prestígio no jor-
notícia que de imediato desperta de opinião e na busca do consenso. nalismo brasileiro, o JORNAL
das informações são
curiosidade. Numa inversão de Sempre, é claro, a partir de fatos e DO BRASIL, em suas novas
ferramentas funda-
expectativas, o jornal ressurge premissas verdadeiras. páginas, certamente fará jus a
em papel, depois de editado
mentais para balizar É extremamente auspicioso tam- sua história centenária. Uma
desde 2010 apenas na internet.
o debate e auxiliar bém que novos investimentos este- trajetória marcada pela excelên-
A volta em 2018 ao “mundo a sociedade no pro- jam sendo feitos na nossa imprensa. cia de seus profissionais e cola-
real”, sem abandono, é claro, do cesso de formação de Como em todo o mundo, o processo boradores – só para citar um, o
virtual, servirá sem dúvida para opinião e na busca de produção dos jornais brasilei- JB proporcionou aos brasileiros,
fortalecer a marca JB para anti- do consenso” ros foi impactado por contínuas durante 15 anos, a leitura das
gos e novos leitores. mudanças tecnológicas. Os jornais crônicas de nosso grande poeta
Num momento em que a cha- vivem as turbulências econômicas Carlos Drummond de Andrade.
mada pós-verdade e as fake news de uma transição cujos horizontes A qualidade dos textos, muito
se espalham pelas redes sociais, ainda não estão muito claros. Os além do padrão dos manuais de
confundindo e induzindo a erro desafios não são pequenos, mas redação, e a inovação gráfica
os cidadãos, a escalação de um estamos vendo exemplos do quanto e visual sempre foram alvo de
novo time de jornalistas profis- é importante a credibilidade para admiração nacional.
sionais para produzir, hierar- conquistar cada vez mais leitores. Isso sem falar na firme defesa
quizar e analisar o noticiário Assim, os veículos de comunicação da liberdade de expressão, in-
– como anuncia agora o JB – é conseguem se manter fortes no clusive nos períodos difíceis, em
que a democracia esteve sub-
Gilberto Alves/1996 CPDoc JB
mersa e a censura imperou. Na
política, o JORNAL DO BRA-
SIL sempre foi referência. Basta
lembrar que ninguém em Brasí-
lia poderia começar a trabalhar
sem ler antes a bem informada
coluna do saudoso escritor e
jornalista Carlos Castello Bran-
co. Que, aliás, dá nome à sala de
redação da Secretaria de Im-
prensa do Palácio do Planalto –
singela homenagem, feita já há
alguns anos.
Na minha atividade política,
seja como constituinte, presi-
dente da Câmara e agora como
presidente da República, sempre
enalteci a liberdade de impren-
sa. Respeito as instituições, as
pessoas, as ideias divergentes e,
por mais que a imprensa possa
fazer isto ou aquilo – e não foi
pouco o que sofri em 2017 com
informações distorcidas e inve-
rídicas -, brado em alto e bom
som: viva a liberdade de im-
prensa! Porque ela tem, acima
de eventuais equívocos, papel
fiscalizador e pode auxiliar na
busca do bem comum.
Acredito que é com esta boa
vibração que o JB renasce no
Rio de Janeiro – sua cidade
natal, que muito precisará de
acompanhamento jornalístico
neste momento especial. Deixo
aqui meus sinceros votos de
sucesso a toda a equipe do
JORNAL DO BRASIL.
O presidente Temer elogiou a escalação de um time de jornalistas profissionais para produzir, hierarquizar e analisar o noticiário * Presidente da República
10 • Conheça nosso site www.jb.com.br Política Domingo, 25 de fevereiro de 2018

A democracia precisa
de muitas vozes
Fernado Pereira/1979 CPDoc JB

LUIZ IGNÁCIO LULA DA SILVA *

Num um país com uma das


mídias mais concentradas do
mundo, a circulação de mais um
diário impresso já é por si uma
boa notícia. Melhor ainda se este
diário é o  JORNAL DO BRASIL,
retomando uma longa tradição
de jornalismo crítico, análise
politica e tribuna de debates.
 
A imprensa brasileira teve ao
longo da sua história inúmeros
exemplos de bom jornalismo e
de coragem editorial, dos quais a
trajetória do  JORNAL DO BRA-
SIL está repleta. A edição de 14 de
dezembro de 1968, denunciando
com inteligência e sutileza o ar-
2.   do AI-5; a primeira página
bítrio
sem manchete (vetada pela cen-
sura) de 12 de setembro de 1973,
denunciando o golpe militar no
Chile; a trágica imagem do flagela-
do nordestino com o calango que
tinha caçado para comer; e não O metalúrgico Lula comanda assembleia no estádio de São Bernardo do Campo

posso me esquecer que o JB foi


Delfim Vieira 1983/CPDoc JB
culpas por ter apoiado o golpe
o único jornal a publicar na pri- de 64, origem do poder que ela
meira página a greve da Scania de hoje ostenta. Nem a história
1978, a primeira de uma série que deixou de ser história nem a
iria mudar a história do Brasil. Globo deixou de se envolver em
  ataques contra a democracia,
São exemplos da ousadia e criati- como se comprovou na campa-
vidade que fizeram do JB uma de nha para derrubar a presidenta
nossas maiores escolas de jorna- Dilma Rousseff em 2016.
lismo.  
  Em nosso governo, tentamos,
Os tempos que vivemos, no mas não conseguimos avançar
entanto, exigem uma abordagem num projeto de regulamenta-
extremamente crítica dos gran- ção dos meios de comunicação.
Cidadão cearense mostrando um calango, sua única refeição durante o flagelo da seca em 1983
des meios de comunicação bra- Hoje estou mais convencido do
sileiros. A democracia não é o tória, os maiores veículos da im- que nunca de que o liberdade
silêncio, mas também não pode prensa atuaram abertamente contra de expressão e a liberdade de
se resumir à voz única de uma a democracia. Foi assim em 1954, imprensa têm de ser para todos,
na campanha de difamações que não apenas para os setores da so-
mídia concentrada em poucos Saúdo o retorno à
e poderosos grupos familiares, levou Getúlio Vargas ao suicídio, e ciedade que detêm os jornais e as
praticamente unânimes nas suas
circulação do em 1964, dando cobertura ao golpe concessões de rádio e televisão.
posições políticas. JORNAL DO contra o governo de João Goulart.  
  BRASIL e torço   Democratizar o acesso à infor-
Um jornal sem opinião seria para que volte a ser Em 1984, o mais poderoso conglo- mação correta e aos meios de
merado de comunicação do país, comunicação tornou-se priori-
um jornal sem alma. Mas o que a referência de as Organizações Globo, colocou-se
vemos no Brasil é a opinião e dade na pauta democrática do
a posição política dos donos
jornalismo que mais uma vez contra a vontade po- país. Por isso, saúdo o retorno
da imprensa distorcendo fatos, um dia foi e a pular, censurando a campanha das
à circulação do JORNAL DO
Diretas até o momento em que se
silenciando e censurando  ex- democracia tornou impossível vencer a maré das
BRASIL e torço para que o
pressivos setores da sociedade, brasileira tanto ruas. jornal volte a ser a referência de
jornalismo que um dia foi e que
validando mentiras de autorida- precisa”  
des sempre que lhes convém. Décadas depois, a Globo falsificou a a democracia brasileira tanto
  própria história, para esconder que precisa.
Mais de uma vez em nossa his- censurou as diretas, e pediu des- * Ex-presidente da República
Domingo, 25 de fevereiro de 2018 Política Conheça nosso site www.jb.com.br • 11

O Jornal Brasil continua mais importância. Seu sustentáculo não era dias, seu par. A mudança introduzida
JOSÉ SARNEY*
a indústria ou o comércio, mas os humildes por Odylo foi de forma e conteúdo,
que buscavam os classificados, que cobriam criando um paradigma de qualidade
Pouco depois da República, Rodol- o jornal quase todo, a começar da 1ª página. de texto, na exatidão da notícia, na
fo Dantas, conselheiro do Império, O conde casara-se em segundas núpcias apresentação, na profundidade dos
filho do Senador Dantas e intelectual Estamos todos ten- com uma filha do professor maranhense temas, na separação entre notícia e
Dunshee de Abrantes, Maurina, a condessa
importante, criou o JORNAL DO
BRASIL. A ideia que o animava — a
tando nos adaptar Pereira Carneiro, que, ao enviuvar, resolvera
opinião — e, aí, no assegurar a liber-
dade dos colaboradores.
ele e a seus amigos, como o Barão do aos novos tempos. transformar o jornal em coisa que importas-
se para a cidade e o país. Convocou Odylo.
Aquele tempo ficou marcado na histó-
Rio Branco, Joaquim Nabuco e José ria do jornalismo brasileiro. O JOR-
Veríssimo — era a ressurreição da Mo- Novas práticas, po- Com uma longa experiência — começara a NAL DO BRASIL tornou-se o primei-
narquia. Foi extraordinária aventura, rém, não prescindem trabalhar no “Jornal do Comércio” em 1930,
aos 16 anos — e seu temperamento conci-
ro jornal do Brasil. Passaram-se mais
de 50 anos, ele teve altos e baixos — e
inclusive industrial, pois Dantas inves-
tira em máquinas e métodos revolu- de compromissos pé- liador, Odylo conciliou a tradição de ve- não posso deixar de mencionar dois
cionários para a época. Pouco tempo
depois, empastelado porque expressara
treos com a verdade lhas figuras, como a colaboração de Aníbal
Freire, com a renovação, trazendo Amílcar
grandes jornalistas que por muitos
anos aí fizeram a melhor crônica polí-
luto pelo falecimento de D. Pedro II, o e a democracia" de Castro para fazer a arte gráfica e, para a tica do Brasil, Carlos Castello Branco
jornal passou para a responsabilidade redação, Wilson Figueiredo, Quintino de e Luiz Antônio Villas-Bôas Corrêa —,
de Rui Barbosa e para o lado da Repú- Carvalho, Araújo Neto, Armando Nogueira acabou deixando de ser impresso e
blica. Também essa foi uma aventura ao lado de muitos jovens, jovens mesmo. passando a existir apenas no mundo
efêmera, pois o Marechal Floriano Fiz parte indiretamente desse grupo, como virtual. Parecia seguir a tendência
colocou seus esbirros atrás do opositor. correspondente no Maranhão — e, por mundial.
Durante muitos anos, então, esteve nas ordem da condessa, com um cabo da Wes- Agora ressurge. Numa época em que
mãos dos Mendes de Almeida, e com tern Co franqueado para meu uso. O JOR- todos falam que vai acabar o jornal
eles instalou-se na Avenida Rio Bran- NAL DO BRASIL, com a equipe de Odylo, impresso, demonstra que há lugar
co, entre as Ruas Sete de Setembro e rapidamente saiu de seu apagado papel de para ele. O seu passado, sua história,
da Quitanda, onde o frequentei pelas vendedor de anúncios classificados para a coragem do desafio, a esperança de
mãos de Odylo Costa, filho. Tratava-se competir, e logo ultrapassar em importância que volte aquela época dourada impõe
de uma aventura maranhense. Nos com os grandes jornais da capital e do país: a todos que acompanhem atentamen-
anos 20, o jornal tornou-se proprieda- o “Correio da Manhã”, “O Globo”, o “Diá- te esse recomeço.
de do conde Pereira Carneiro. Torna- rio de Notícias”, o “Diário Carioca”. Só “O
ra-se um fenômeno, um jornal que era Estado de S. Paulo”, ainda sob o comando de *José Sarney, escritor e político, presi-
extremamente lucrativo, mas não tinha Dr. Júlio de Mesquita, foi, durante aqueles dente da República entre 1985 e 1990

Foto Orlando Brito

O JB está de volta
FERNANDO COLLOR DE MELLO* extrapolou os limites do Rio de Janeiro para mo. Um jornalismo que faz da apuração
se transformar, durante décadas, no mais rigorosa uma regra mestra. Um jorna-
É dispensável aquilatar o peso de um influente e apreciado jornal do país. lismo que, mais do que o texto, respeita
jornal que teve entre seus colabora- No final dos anos 1960, tive o prazer de fazer o contexto dos acontecimentos; mais
dores e redatores, nos primeiros anos Na era digital, foi parte na sucursal de Brasília de um time de do que a tendência da versão, respeita a
de circulação há mais de um século, jornalistas e repórteres do mais alto gabarito veracidade dos fatos.
figuras da estatura de Joaquim Nabuco, para o papel. E que da imprensa nacional, como Carlos Castelo É dessa credibilidade da notícia, da apu-
Barão do Rio Branco, Eça de Queirós,
Rui Barbosa e, mais recentemente,
papel! O das Bancas Branco, João Emílio Falcão, D’Alembert Jac-
coud e Abdias Nascimento. Foi um período
ração, da correção e da fonte legítima,
que o Brasil tanto precisa hoje. Vivemos
Odylo Costa Filho. de Jornais, claman- importante de minha formação. Em 1992, tempos de pós-verdades, de fake news;
A história do JORNAL DO BRASIL por
si só revela sua relevância como veículo
do os cariocas, a trazido por Etevaldo Dias, meu secretário de
imprensa à época da Presidência da Repú-
vivemos tempos de desvirtuamento da
realidade, de degeneração institucional
de comunicação. A partir dos primei- voltar no tempo e ir blica, recebi do Dr. Nascimento Brito, então e de desilusão com a política. Vivemos,
ros anos da nossa República, atraves- presidente do grupo, minha ficha funcio- enfim, tempos de um progressivo pro-
sou todo o século XX conferindo ao à esquina, comprar o nal de repórter do JB emoldurada. Foi um cesso de anestesia com a dura realidade
público uma qualificada cobertura dos jornal que faz parte momento de recordação e emoção, a mesma do dia a dia de um país violento e de-
acontecimentos do Brasil e do mundo que senti, mais de duas décadas antes, quan- sorganizado. Que o JB, com sua força de
e oferecendo a opinião de respeitáveis da nossa história.” do vi meu nome na publicação da minha opinião e o talento de sua equipe consiga
colunistas e articulistas. primeira matéria assinada. ajudar a resgatar um pouco da esperança
O retorno às bancas no formato em pa- Tenho certeza que a volta do JB às bancas es- e do otimismo dos brasileiros.
pel, sempre revolucionado pelo próprio tará imbuída do mesmo espírito que sempre
JB, é mais uma etapa de sua importante o caracterizou ao reportar notícias no mais *Senador pelo PTC/AL,
trajetória. Desde o início, sua edição puro conceito do bom e responsável jornalis- foi presidente da República
12 • Conheça nosso site www.jb.com.br Editoria
Opinião Domingo, 25 de fevereiro de 2018

Fundado em 9 de abril de 1891

Diretor Presidente
Omar Resende Peres

Diretor de Redação ••• Diretor Adminstrativo-Financeiro


Gilberto Menezes Côrtes Antonio Carlos Mello Affonso

Conselho Editorial

Presidente:
Omar Resende Peres

Conselheiros: Gilberto Menezes Côrtes - René Garcia Jr - Octávio Costa - Wilson Cid - Hildeberto Aleluia

Editorial

Uma história que não acabou


Neste momento de profundas e radicais mudanças na imprensa 1. Defenderemos a democracia ocidental e o pluralismo político.
mundial, com o jornal impresso sendo o veículo mais atingido  
pela força das mídias sociais eletrônicas, decidimos retornar 2. Defenderemos a liberdade de expressão.
com o JORNAL DO BRASIL em papel.  
Estamos, portanto, na contramão da história? O que nos motiva 3. Denunciaremos, sistematicamente, a corrupção.
a enfrentar esse enorme desafio diante da profunda crise que  
abate a maioria dos jornais impressos em todo o planeta? 4. Exigiremos ética e transparência nas instituições estatais.
   
Em primeiro lugar, entendemos que o JB impresso ainda possui 5. Defenderemos a sociedade dos grupos que historicamente
leitores ávidos -- no Rio de Janeiro e no Brasil -- pelo retorno dominam as instituições políticas, de forma hereditária, em
dessa marca genuinamente carioca, que foi fonte de informação detrimento da alternância do poder.
e cultura de gerações em nossa cidade e em todo o país. Por  
elas, tomamos esse imenso desafio.    6. Defenderemos a sociedade contra os abusos do Estado,
  exigindo transparência de quem, politicamente, tem a função
Nossa iniciativa não tem como objetivo a criação de mais um de gerir nossos impostos.
jornal impresso, mas retornar com o JORNAL DO BRASIL!   
Sim, este é um título que traz em suas páginas, a história do 7. Defenderemos a livre economia.
Brasil e do jornalismo brasileiro, marcado, fundamentalmente,  
por seu papel em defesa dos interesses nacionais. 8. Vamos  expor, combater e contestar os oligopólios de
  importantes segmentos da economia brasileira que atuando
Vamos, portanto, refazer da consagrada trajetória do JB com a conivência legal do Estado, obtêm lucros “ilegais e
impresso, o nosso compromisso, mas atentos à velocidade das abusivos”, exclusivamente, pela concentração de suas atividades,
mudanças tecnológicas impostas pelas novas mídias. Ainda em detrimento da maioria da população.
este ano vamos lançar pela internet um Portal de notícias e a  
JB-TV, nossa grande novidade, com jornalismo 24 h no ar. 9.  Expor, combater e contestar os privilégios das organizações
  patronais e de empregados, cuja estrutura de poder prejudica
Daremos continuidade ao que sempre fez o JORNAL DO o conjunto de quem produz e paga pela manutenção dessas
BRASIL e o tornou referência na imprensa de nosso país: dizer instituições.
a verdade, contar o fato, fazer do acontecimento, notícia. As   
opiniões serão livres. A notícia jamais!  E, claro, vamos contestar 10. Dizer a verdade. Sempre.
sempre que necessário.  
   Estar ao lado do cidadão e defender os princípios e os pilares
Para os múltiplos desafios de relançar o impresso, o Portal e a da democracia sempre foi e continuará sendo o compromisso
JB-TV,  convidamos jornalistas e colaboradores que além do do nosso JORNAL DO BRASIL. No papel e na internet.
talento apresentam em suas trajetórias profissionais a palavra-  
chave de nossa atividade: credibilidade. Assim pretendemos Trata-se de um enorme desafio retornar o JB às bancas. Todavia,
levar aos nossos leitores a certeza de que serão informados de mais do que tudo, é uma honra estar à frente deste projeto que
maneira precisa e isenta. devolve ao Rio e ao Brasil uma parte valiosa da sua memória,
  pois o que mora na alma, não morre. Assim é o JORNAL DO
 O grave momento político e econômico que atravessa o Brasil BRASIL.
exige que veículos de mídia consagrados pela história, como o  
JORNAL DO BRASIL, estejam ao lado da população e em defesa O Rio de Janeiro tem futuro!
de nossa democracia, hoje desafiada pela corrupção sistêmica,  
pela falência das instituições públicas, particularmente no Estado O retorno do JORNAL DO BRASIL é uma bela prova. 
do Rio de Janeiro, e pela violência nos grandes centros urbanos. 
  Omar Resende Peres
  Resumimos o compromisso do JORNAL DO BRASIL em um Presidente
decálogo:

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Oportunidades de encontro e solidariedade


DOM ORANI JOÃO TEMPESTA* fere o papa Francisco. Na Exortação Apos- Vivemos em uma sociedade plu-
tólica Evangelii Gaudium, ele afirma: “Neste ral, que em nosso país também traz a
As transformações econômicas, tempo em que as redes e demais instrumen- marca de graves desigualdades e in-
sociais e culturais se tornam cada vez tos da comunicação humana alcançaram justiças. Por isso, a democratização da
mais presentes e aceleradas no mundo
de hoje, colocando-nos diante de uma
A democratização progressos inauditos, sentimos o desafio de
descobrir e transmitir a “mística” de viver
nossa mídia é fundamental para que
se criem canais de informação confiá-
inegável mudança de época, com suas da nossa mídia é juntos, misturar-nos, encontrar-nos, dar vel, aptos a proporcionarem espaços
peculiaridades e desafios. A realidade o braço, apoiar-nos, participar nesta maré de debate e subsídios para a formação
multifacetada do nosso tempo supe- fundamental para um pouco caótica que pode transformar-se de opinião. Este é um caminho impor-
ra em muito a capacidade humana que se criem canais numa verdadeira experiência de frater- tante para que o nosso povo aprenda a
de apreender o contexto em que o nidade, numa caravana solidária, numa discernir e construir os futuros rumos
indivíduo se situa. Deste modo, ou de informação peregrinação sagrada. Assim, as maiores do Brasil.
ficamos sujeitos à ansiedade e frus-
tração pela perda de controle do que
confiável, aptos a possibilidades de comunicação traduzir-se-
-ão em novas oportunidades de encontro e
Congratulo-me também com a
direção do JORNAL DO BRASIL
acontece, ou nos iludimos com uma proporcionarem solidariedade entre todos.” pela iniciativa de oferecer ao nosso
visão unilateral que aparentemente
apazígua nossas dúvidas, mas que, por
espaços de debate É no âmbito deste contexto que tenho a
satisfação de participar do lançamento desta
país uma opção de imprensa de boa
qualidade, sobretudo neste tempo
outro lado, nos isola da convivência e e subsídios para edição histórica do JORNAL DO BRASIL, em que necessitamos de novas pers-
do diálogo com aqueles que pensam que marca a volta dos exemplares impressos pectivas para a retomada de nossos
de forma diferente. a formação de e a venda nas bancas deste veículo de co- valores de justiça, cidadania, solida-
Justamente, o diálogo é a possibi- opiniãos” municação, reconhecido pela seriedade de riedade e paz.
lidade de construirmos a “cultura do sua atuação na imprensa brasileira, ao longo
encontro”, a que frequentemente se re- dos seus 127 anos de presença na mídia. *Arcebispo Metropolitano do Rio de Janeiro

Jean Batista Debret/1822

Coroação do Imperador Dom PedroI. Igreja da Nossa Senhora do Carmo, antiga Sé Rio de Janeiro, 1822

O Rio e o Jornal do Brasil


DOM JOÃO DE ORLEANS frequentemente se vêm como inimigos e não co e Joaquim Nabuco como chefes de
E BRAGANÇA * como oponentes Redação, em 1891 em uma série de ar-
Sabemos que a democracia está sempre tigos com o titulo de “Ilusões Republi-
Vivemos dias de intolerância, de se aprimorando com as mudanças sociais e canas” e com o destaque dado à morte
falsas notícias, de polarização política, culturais mas sabemos também que ela pode do Imperador no exilio o jornal foi in-
de maniqueísmo. Dias onde o “viés de ser frágil e que precisa de cuidado e atenção vadido e depredado e Joaquim Nabuco
confirmação“ faz com que só se acre- A boa notícia é a ininterruptos. teve que deixar o Jornal. O republicano
dite naquilo que confirme suas crenças chegada do Jornal do A boa notícia é a chegada do Jornal do Rui Barbosa passa a dirigir o JB mas faz
e se rejeite tudo que é contrário aos Brasil, instrumento importante da cidada- oposição à ditadura de Floriano Peixoto
seus dogmas, dias de alerta onde o Brasil, instrumento nia, liberdade, diversidade de opinião e do e o jornal é empastelado. Com a Revolta
Presidente Trump diz que a imprensa é
inimigo do povo e a ONG Repórteres
importante da fortalecimento da democracia. Chegada,
talvez, não seja a palavra certa, pois o JB está
da Armada e posições claras contra os
partidários de Floriano, Rui Barbosa se
sem Fronteiras diz que a liberdade de cidadania, liberdade, entre nós desde 1891. Nasceu no começo da refugia na Inglaterra para não ser preso
imprensa nunca esteve tão ameaçada
não só em regimes autoritários como
diversidade de República mas tinha DNA monarquista, D.
Pedro II dizia “A Tribuna e a Imprensa são
e o Governo suspende a liberdade de
imprensa. Invadido e empastelado em
China, Rússia e Venezuela como na opinião e do os melhores informantes do Monarca”, “A 1929 passa pelo Estado Novo quando é
Europa, que teve a maior queda no nossa principal necessidade política é a li- censurado e nem mesmo as caricaturas,
ranking Mundial da Liberdade de fortalecimento da berdade de eleição: sem esta e a de Imprensa famosas no JB da época, escaparam da
Imprensa, em países como Hungria, democracia” não ha sistema Constitucional”. Certa vez o tesoura. Intentona Comunista, Getulio,
Polônia e Turquia. Professor Darci Ribeiro me disse que Pedro Golpe militar de 1964, redemocratiza-
Na América Latina jornalistas são II era um dos maiores Progressistas de seu ção, Constituinte de 1988, alternância
assassinados. No Brasil a classe polí- tempo pela postura em relação as liberdades de poder e o JB presente.
tica está desacreditada e a representa- e à livre expressão. Como sob o reinado de Parabenizo Omar Peres e a todos que
ção através de nossas Instituições de Pedro II havia total liberdade de imprensa e tiveram a coragem e o ideal de trazer
Estado e Governo, importantes bases politica o JB não foi muito “bem-vindo” no de volta este importante Jornal para dar
da democracia, não podem perder a começo do Governo militar que com o golpe voz, transparência e espaço à diversida-
confiança dos brasileiros. Não é um da República fechou jornais e perseguiu de de opiniões.
quadro tranquilo de nossa realidade jornalistas.
política onde partidos e candidatos O JORNAL DO BRASIL teve Rio Bran- * Principe
14 • Conheça nosso site www.jb.com.br Cidade Domingo, 25 de fevereiro de 2018

Jornal impresso-Reflexões
MARCO AURÉLIO MELLO * transformações ocorridas no País desde a audição mesclam-se no lírico momento de
monarquia, posicionando-se com firmeza saciar-se dos acontecimentos, de analisar os
na defesa dos ideais almejados, ao tempo editoriais, de degustar os cadernos especiais.
A causa não é do Juiz, a notícia não é do jorna-
em que soube adequar-se à nova realidade. Muitas imagens vêm-me à mente. A ida às
lista. Ambas desenvolvem-se a partir de atuação A leitura do Inovador desde a longínqua época em que a bancas para ver as manchetes, a lembrança
isenta. E isenção não se confunde com opinião.
Opinião é do ser capaz de pensar. A formação jornal, muito mais distribuição em carroças tornou-se a grande
novidade, foi o primeiro a ter edição inteira-
de meu pai lendo os jornais pela manhã, o
farfalhar das folhas que antes manchavam
humanística individualiza a ação de julgar, assim
como a de escrever, sendo pautadas pela confor-
do que a busca mente digital. Retorna a circular em papel. as mãos, a dobra do exemplar lido sobre a

mação do fato ao resultado anunciado. O magis- pelas novidades, Aplaudo a iniciativa. mesinha, o local de ponto de encontro da
família... A leitura do jornal, muito mais do
trado realiza o julgamento com imparcialidade,
e o jornalista, a divulgação com credibilidade.
é um ritual que Parafraseando Humberto Eco, afirmo: não que a busca pelas novidades, é um ritual que

só encontra contem com o fim do jornal impresso. As


plataformas de disseminação da informa-
só encontra completude na forma impressa.

Devoto da imprensa livre, considero-a atividade


das mais necessárias ao bom funcionamento
completude na ção a partir da tecnologia têm vantagens, A materialização do veiculado em meio
sobretudo a rapidez e a acessibilidade, per- físico contribui para o aquecimento da alma
das instituições, ao Estado. Surgida da luta de forma impressa" mitindo a transmissão da notícia em tempo e propicia a reflexão. Nada supera, para
poucos, tantas vezes levada a efeito em difíceis
real. Mas o uso do computador e de outros os que gostam de ler, o toque e o virar das
condições materiais e perseguições políticas,
meios digitais, apesar de prático, é cansativo páginas vencidas. E quem já se sentou com
consagrou-se, aqui e no mundo, como instru-
aos olhos, desconfortável ao corpo e frio ao um exemplar de jornal em frente ao mar, na
mento de transformação social, na medida em
espírito. perfeita junção do útil ao agradável, sabe o
que, além de informar, expõe deficiências e
quão carioca é essa experiência. Aclamo o
cobra soluções.
Assim como há muitas diferenças entre o retorno do
comer e o alimentar-se, a leitura do jornal JORNAL DO BRASIL às bancas.
Na consolidação da democracia brasileira, o
envolve outros sentimentos além do mero
JORNAL DO BRASIL tem contribuição ímpar.
engolir da notícia. Visão, tato e até olfato e *Ministro do Supremo Tribunal Federal
Periódico dos mais antigos, acompanhou as

Liberdade de expressão, valor inegociável


MILTON FERNANDES DE SOUZA* e das interrogações sobre suas formas de de expressão é um valor inegociável para
financiamento. Além disso, o ressurgimen- que avancemos rumo à um país melhor
to do Jornal do Brasil torna-se ainda mais para a grande maioria de seus cidadãos.
A história mundial tem de sobra
apropriado em função de ameaça emergente Com todas as dificuldades, entre erros e
exemplos de regimes autoritários que
à qualidade das informações divulgadas acertos, o Judiciário tem feito sua parte.
subjugaram ao menos uma das duas
instituições que servem de base para a
O JB sempre foi pela internet, que são as chamadas fake No combate à corrupção, o Brasil tem sido
news (notícias falsas e propositalmente er- sacudido por decisões judiciais polêmicas,
democracia: um Judiciário autônomo e uma tribuna livre rôneas), movidas por interesses pecuniários mas que encontram amparo nas leis e na
uma imprensa independente. Quando
não as duas. E toda vez quem pagou em defesa de causas ou político-ideológicos. Constituição.
Fundado em 1891 por Rodolfo Dantas, o
sozinho a conta foi o contribuinte.
A imprensa livre é um direito funda-
como a igualdade Judiciário e imprensa, unidos em torno da
mental do cidadão. E é dever de cada ci- de direitos entre Em 1968, após a edição histórica do AI-5,
no qual publicara uma primeira página
Constituição, têm colaborado de modo de-
cisivo na luta pela redução da impunidade,
dadão lutar pela oferta de mais informa-
ção de qualidade, que lhe é oferecida de
homens e mulheres” cheia de mensagens subliminares contra os algo que corrói os sonhos de toda uma gera-
excessos do regime militar, um dos diretores ção. Por isso, vamos precisar cada vez mais
maneira a criar uma consciência crítica
acabou sendo preso para dar explicações. de uma imprensa livre e sintonizada com os
a fim de se manifestar de maneira livre
Além do compromisso com a notícia, o grandes interesses nacionais. Aprimorar o
e independente. Como diria Thomas
desenvolvimento político, social e cultural, além JORNAL DO BRASIL se notabilizou por ter diálogo entre imprensa e Judiciário é tarefa
Jefferson, “onde a imprensa é livre e todo
de maturidade de seus cidadãos, quando tem sido uma das maiores escolas do jornalis- de cada magistrado, de cada servidor, dos
homem é capaz de ler, tudo está a salvo”.
diante de si maior diversidade de veículos de mo no país, formando várias gerações de mais distantes rincões aos grandes centros
A democracia tem aprendido que sua
comunicação que apresentem os fatos de modo jornalistas, sobretudo a partir da década de urbanos. O juridiquês pode ser um obstácu-
existência depende de um jornalismo
mais isento possível, com toda a responsabilida- 50, com a reforma gráfica de 1957, iniciada lo a uma comunicação plena, mas felizmen-
cívico, comissionado pela essência de
de, e a busca de um diálogo permanente com os por Odylo Costa, filho, e Amílcar de Castro, te os jornalistas estão cada vez mais preocu-
informar os cidadãos sobre seus direitos
diversos setores desta mesma sociedade. Sendo que acabou influenciando a modernização pados em se capacitar para a cobertura do
e deveres, a obrigação de fiscalizar as
assim, é alvissareira a notícia da volta do Jornal gráfico-visual dos grandes jornais brasilei- Poder Judiciário. Desejamos boa sorte aos
ações dos administradores públicos e
do Brasil às bancas. ros. Com uma posição editorial firme e ele- repórteres do querido JB e todo sucesso à
tudo aquilo que afeta a qualidade de vida
A iniciativa merece todo apoio de cada um de gante, o jornal da condessa Pereira Carneiro gestão de seu diretor de redação, Gilberto
de uma comunidade.
nós. Sobretudo agora em que a imprensa mun- contribuiu para traçar caminhos políticos Menezes Côrtes.
Por isso não resta dúvida que a im-
dial passa por uma inegável crise financeira, em direção à democratização.
prensa, cada vez mais, cumpre papel
determinante em nossas vidas. Uma também resultado da crise do modelo de negó-
cios, diante do crescimento dos meios digitais Essa tradição do JB em favor da liberdade *Presidente do TJ-RJ
sociedade vai demonstrar seu nível de
Domingo, 25 de fevereiro de 2018 Cidade Conheça nosso site www.jb.com.br • 15

Dias de violência e decepção


Os governadores se sucedem, prometem dias de paz, mas a insegurança não para de aumentar
Marcos Tristão/1983
OCTÁVIO COSTA
octavio.costa@jb.com.br

A escalada da violência é, sem qualquer dúvida, o maior


problema do Rio de Janeiro há décadas. Entra ano, sai
ano, e o problema só se agrava, sem qualquer sinal de luz
no fim do túnel. Há quem insista que tudo começou com
a política de direitos humanos adotada nos dois gover-
nos de Leonel Brizola. Mas hoje isso soa como uma gros-
sa bobagem, no mínimo um contrassenso. Se o respeito
à cidadania fosse causa de violência pelo mundo afora, o
que seria dos países desenvolvidos que zelam pelos direi-
tos básicos de seus cidadãos? Não há muito o que discu-
tir. A violência no Rio de Janeiro tem raizes profundas
na incompetência dos governantes. Todos eles, sem exce-
ção. Diante da perplexidade e da inoperância das autori-
dades, o tráfico de drogas tornou-se soberano na cidade
e no estado. É quem dá as cartas. Com todo os males que
isso traz para o cotidiano e a economia do Rio.
Agora, a cidade vive mais uma tentativa de se livrar do
domínio do tráfico. Com a intervenção das Forças Ar-
madas, surge, novamente, a promessa de pôr ordem na
casa, sob manu militari. Pode ser que dê certo e não há
motivo para torcer contra. Espera-se, porém, que os co-
mandados do general Walter Braga Netto se comportem
com civilidade e respeitem os direitos do povo, princi-
palmente dos mais humildes que vivem em comunida-
des. Por melhores que sejam os propósitos, o JORNAL
DO BRASIL não pode deixar de lembrar que esta não
é a primeira vez que o poder público (seja estadual, seja
federal) promete dias mais seguros para a população
do Rio de Janeiro. Promessas não faltaram. E fracassos
também.

Os donos do pedaço

Quem vem de longe e acompanha a vida da Cidade Ma-


ravilhosa sabe que,a partir dos anos 70, os traficantes
começaram a determinar quem podia ou não subir as
ladeiras dos morros. Nos anos 80, foram mais longe e
deixaram de dar acesso aos serviços públicos. Leonel
Brizola não levou muito a sério a ameaça crescente. O
A origem da insegurança é conhecida de toda a população: vem do crescimento do tráfico de drogas e do aumento de seu exército
tráfico ganhava força e se sofisticava, mas o líder traba-
lhista continuava a apostar na eficiência das forças de se-
gurança. E tornava públicas suas certezas: “Nós estamos
firmes. Nossos serviços policiais estão atuando sempre
com eficiência maior”, diz Brizola, também convicto de
que as causas da violência estavam sendo atacadas.
Se Brizola se enganou, o que dizer de Wellington Morei- O Rio de Janeiro
ra Franco que, após derrotar o professor Darcy Ribeiro,
lançou um desafio assim que assumiu a principal cadeira
resiste às intempéries.
do Palácio Guanabara em março de 1987. “Vou acabar Da mesma forma
com a violência no estado em 100 dias”, trombeteou Mo-
reira, garantindo que se sairia muito melhor do que Bri-
que se incrustrou no
zola. Sua bravata não resistiu aos fatos. Os casos de vio- alto dos morros, o
lência continuaram a se multiplicar. E o governador do
PMDB meses depois de empossado viu-se obrigado a ir
tráfico, um dia, será
além da retórica. Criou uma comissão especial para in- extirpado
vestigar a ação de grupos de extermínio na Baixada Flu-
minense, ligados a policiais civis e militares. Era o início
da ação das famigeradas milícias. E a comissão caiu no
mesmo vazio de todas as comissões criadas às pressas.
O governador Moreira Franco deu com os burros n’água.
E ganharam o mesmo destino as iniciativas dos gover-
nadores que o sucederam. Issso valeu para Brizola no
segundo mandato e também para Marcelo Alencar, seu
sucessor. Marcelo enveredou pelo mesmo equívoco de
Moreira, achou que o inimigo era fraco. No discurso de
posse, afirmou que seu governo seria o símbolo da “re-
versão do processo de violência no Rio”. Não só não foi,
como ficou muito longe disso.

Fronteira ampliada

Vieram depois Anthony Garotinho, Benedita da Silva e Enquanto os governadores do Rio colecionam medidas inúteis, os cariocas sofrem cada vez mais com a escalada da violência
Rosinha Matheus. Todos fracassaram. Mas palavras de
otimismo não faltaram. “O policiamento ostensivo vai alto, armados até os dentes, impondo o terror às famílias
das UPPs, que, ao menos no papel, deveria ser capaz de
ser maior, e nós vamos tombar gradativamente todos os e trocanod tiros com a PM, muitas vezes despreparada. O operar o milagre e restabelecer a paz na cidade. Funcio-
itens da criminalidade”, garantiu Garotinho, ao falar de resultado é morte de inocentes por balas perdidas, além nou de início, mas não resistiu à mundo real.
uma mudança de conceito no combate à violência. Até da morte em combate de policiais. E a população cada Agora, sabe-se que a prioridade do Sérgio Cabral era ou-
hoje não sabe exatamente o que o ex-radialista de Cam- vez mais amedrontada. Nas reações possíveis, são orga- tra. De dimensão bem menor e mais fácil de ser alcança-
pos quis dizer com “mudança de conceito”. Rosinha, nizadas passeatas e pequenas manifestações para tirar asda. Enriquecer em cargo público, graças a gordas propinas,
mais acanhada, dizia apenas que não iria negociar com autoridades da zona de sossego. Enquanto o quadro se mostrou-se um objetivo mais palpável do que combater o
bandidos. O certo é que, nos governos de Garotinho e agrava, as pesquisas de opinião mostram a violência no tráfico de drogas e toda a cadeia de violência que acarreta.
de sua mulher Rosinha, a fronteira do tráfico de drogas primeiro lugar das preocupações dos cariocas. Sérgio Cabral perdeu a guerra e também os escrúpulos.
se expandiu para o interior do estado e chegou ao Norte O Rio de Janeiro, porém, é mais forte do que seus gover-
Fluminense, reduto eleitoral da família Garotinho. A prioridade de Cabral nantes. E resiste às intempéries. da mesma forma que se
Enquanto os governantes repetiam suas falsas promes- incrustou no alto dos morros, o tráfico, um dia, será ex-
sas, a população assistia ao avanço do exército de trafi- Nos dois governos de Sérgio Cabral, o cenário pouco mu- tirpado. Com ou sem intervenção militar, os dias de paz
cantes nas maiores comunidades do Rio. Ficam eles lá no dou, quase nada. De início, houve o aparato espetacular vão voltar. Quem viver verá.
16 • Conheça nosso site www.jb.com.br Cidade Domingo, 25 de fevereiro de 2018

Pioneiro na desfesa do feminismo


artigo de Otto Prazeres, intitulado “A sobe- brasileiras, como destacado por mais
LETICIA SARDAS*
rania ... decotada”, repetindo trecho do voto uma instigante matéria publicada pelo
“Quem poderá, à priori, afirmar que a do senador amazonense Lopes Gonçalves, JB, conseguiram manter une coiffeuse
mulher nesse contacto com o homem, que, numa ironia terrivelmente francesa, na Câmara aguardando a lei que deu
farfalhando com as saias nos colégios não deixa claro se tem a intenção de cha- às mulheres o direito de votar e onde,
eleitoraes, cobrindo-se com as plu- O JB sempre foi mar as cabeças das mulheres de regiões de por uma ironia do destino, foi aumen-
mas e aigrettes dos chapéos nas altas soberania ou se há uma crítica às mulheres,
regiões da soberania, decotada ou não, uma tribuna livre mostrando que, sem plumas, sem aigrettes
tado o imposto sobre o pó de arroz
(JB 03.02.1920).
perfumada, com as suas mãosinhas
delicadas extensas meias a esconderem
em defesa de causas e sem saias farfalhantes elas não devem A análise do articulista abordando o
comparecer nas altas regiões da soberania farfalhar das saias, as plumas e as ai-
a musculatura das pernas, batendo ve- como a igualdade nacional. grettes, assim como a sensível matéria
zes muitas com o tacão a Luiz XV, não
concorrerá a melhores dias, na direc-
de direitos entre Neste cenário, as ativistas inglesas, pejorati-
vamente chamadas de suffragettes, dentre as
que destaca a emblemática coiffeuse,
escritas há quase um século, deixam
ção das contas publicas, asseverando o homens e mulheres” quais se destaca Emily Davison, obtiveram o claro que o JB nunca teve um papel de
progresso, o evoluir dos povos, espe- direito de votar em 1918 (JB 01.10.1916). mero observador da sociedade brasi-
cialmente em paizes onde a machina As feministas brasileiras não estavam alheias leira, mas sim uma tribuna livre em
administrativa não caminha com ao movimento mundial. A baiana Leolinda defesa de causas como a igualdade de
regularidade e emperra, dando o ma- Daltro fundou em 23.12.1910 o Partido Re- direitos entre homens e mulheres. E,
chinista, por qualquer circunstancia e publicano Feminino (JB 23.09.1911). A bió- por isso, a felicidade ao ver o retorno
quasi sempre para traz e precitando o loga Bertha Lutz, presidente da Federação às bancas do nosso Jornal do Brasil,
aparelho ao abysmo.” (JB 12.06.1921) Brasileira pelo Progresso Feminino, viajava certa de que seu papel de protagonista
O ano 1921. O JORNAL DO BRASIL, fazendo discursos, distribuindo panfletos e em defesa da liberdade continuará a
demonstrando seu comprometimento dando entrevistas (JB 28.07.1925). ser escrito.
com o movimento feminista que se Em fevereiro de 1932 o direito ao voto femi-
espalhava pelo mundo no século XX, nino é consagrado no Código Eleitoral. *Desembargadora TJ-RJ (aposentada),
publica na edição dominical do JB, o Foi longo o caminho, mas as sufragistas Presidente TRE-RJ (2011)

Charge publicada em 1988

O jornal que é do Brasil


ANTÔNIO CARLOS DE ALMEIDA política, as notícias que compõem este de Ataíde e do Castelinho representavam
CASTRO, KAKAY* caleidoscópio fantástico que é a vida; é o pensamento da liberdade.
impossível não ter nas mãos um jornal. Mesmo com a linha editorial definida
O que tem em comum Joaquim Na- A notícia na fria tela de um compu- a alma de um jornal vai além disso. Ela
buco, Ruy Barbosa, Barão do Rio Bran-
co, Barbosa Lima Sobrinho, Ferreira
O JB sempre foi tador parece ganhar vida, cor e forma
quando estampada no jornal impresso.
se forma pela multiplicidade de posicio-
namentos, liberdade de ideias e apoio às
Gullar, Augusto de Campos, Carlos uma tribuna livre Existe para minha geração uma cumpli- mais diversas manifestações de pensa-
Drummond, Clarice Lispector, Henfil, cidade entre o toque no papel e a leitura. mento.
Ziraldo, Carlos Castelo Branco, João em defesa de causas Uma interação ao passar as páginas do A leitura é um dique para não trans-
Saldanha, Armando Nogueira, Alceu de
Amoroso Lima, Assis Chateaubriand,
como a igualdade jornal, certa certeza, ou ilusão, de que
estamos participando daquilo que esta-
bordarmos, para conter nossos escom-
bros quando somos destruídos por uma
Jânio de Freitas, Tristão de Ataíde, Fer- de direitos entre mos lendo. realidade que pode nos levar à beira do
nando Sabino, Millôr Fernandes e Va-
léria Vieira? Todos escreveram para o
homens e mulheres” O jornal serve para resistência. A nota
publicada no JB no dia seguinte a edição
desespero. Uma pá que pode recolher os
nossos restos de esperança nos momen-
JORNAL DO BRASIL. do AI-5 diz tudo: “Tempo negro. Tempe- tos difíceis. É através da leitura que vi-
Quando jovem, ao chegar no Rio de ratura sufocante. O ar está irrespirável. vemos.
Janeiro, vindo de carro de Minas Ge- O país está sendo varrido por fortes ven- Saúdo a volta do JB. Será um espaço
rais, só me sentia no Rio quando avista- tos. Máxima 38º C em Brasília. Mínima não só da construção de um país mais
va o prédio do JB. 5º C nas Laranjeiras.” solidário, justo e igual, mas, principal-
Sempre me neguei a acreditar que o O jornal serve para marcar posições. mente, um espaço plural onde podere-
jornal impresso tinha os dias contados. O JB sempre se posicionou desde a mo- mos debater nossas diferenças tentando
Todas as manhãs tenho o indizível pra- narquia. Mas sua linha editorial nunca encontrar as convergências necessárias
zer de, antes de abrir a internet, manu- censurou a presença dos mais diversos para fortalecer o estado democrático de
sear, com calma, e às vezes com certa matizes ideológicos, políticos ou cultu- direito.
volúpia os jornais. Quando foi anuncia- rais. Essa talvez seja a maior riqueza de Em um momento punitivo como este
do o fim da edição impressa do JB uma um jornal. que passa o país é muito bom ter de volta
tristeza doída tomou conta de mim. Era Quem acompanhou o JB sabe que o o nosso velho JORNAL DO BRASIL.
uma espécie de derrota. jornal apoiou em dado momento o go-
Para os que amam literatura, futebol, verno militar, mas as colunas do Tristão *Kakay, é advogado
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O Rio que passa em nossas vidas


MOREIRA FRANCO*

Era aluno do Santo Inácio quando li


pela primeira vez o mote pré-socráti-
co: “Ninguém se banha duas vezes no
mesmo rio”. Desde então, foi inevitável
traçar o paralelo do rio de Heráclito
com o Rio de Janeiro. Um, assim como
outro, vivem uma eterna e constante
transformação e nunca permanecem
os mesmos.
Percebi isso pela primeira vez aos
nove anos, quando vim estudar na
capital do Brasil que se chamava Rio.
Mas cinco anos depois, veio a primeira
mudança. O Distrito Federal mudava
para o planalto central do país. O Rio
seguiu seu curso e eu também. Estudei
sociologia na PUC e economia na Uni-
versidade do Brasil, que mudou e hoje
é conhecida como UFRJ. O país sofria
sua trágica mudança de um estado de-
mocrático para uma ditadura militar,
em 1964.
Entrei para o movimento estudantil,
defendendo a democracia e a liber-
dade. Mudei para Paris e voltei anos
depois. Fui deputado pelo MDB, um
mês antes do Rio e a Guanabara mu-
darem e se transformarem em um só.
Fui prefeito de Niterói, e em meio a
tantas mudanças, há uma data que não
sai da memória, o dia 9/9/1979. Nes-
se dia, dei uma entrevista ao JORNAL
DO BRASIL. O periódico, que teste-
munhava a nossa história desde a sua
fundação em 1891, nasceu na monar-
quia, atravessou a República, encarou
o Estado Novo e desafiou a ditadura
militar. Pela primeira vez, eu desco-
bria algo que não havia mudado no
Rio, o JB.
Em frente a sua sede na Av. Brasil, Correa, e tantos outros que a emoção aqui prio estado do Rio de Janeiro expõem O gesto de intervenção, por si só, já
500, como o prefácio de um livro as- embarga a memória. a violência de todo o Brasil. Priorizar o representa uma mudança significativa e
sinado por um convidado especial, os Assim o JB permanecia como o jornal combate em qualquer cidade precede acertada. Certamente, haverá novas mu-
versos do profeta urbano Gentileza mais inovador do Rio. Mudar era a garan- da atenção necessária às fronteiras do danças como em todo processo natural
estampavam os pilares do viaduto do tia da sua continuidade. E eu, assim como o país e impedir, principalmente, a en- de mudança.
Caju. E esse ar poético, literário e ca- Rio, seguia o meu curso. Mudei de partido, trada de armas e drogas. E hoje, mais uma vez, estou aqui no JB
rioca que já começava nas colunas da concorri ao governo do estado e perdi. Vol- Como gestor público, tenho plena expondo essa mudança de pensamento,
entrada, seguia pelas colunas do pró- tei ao meu partido de origem. Costurei uma consciência de que a justiça social, a de opinião e de percepção. O jornal, as-
prio jornal que teve como colaborado- frente ampla e venci. Prometi, aos 42 anos educação e a promoção da cidadania pa- sim como eu, também acabou mudando
res nomes como Carlos Drummond de de idade, terminar com a violência em seis vimentam o caminho para acabar com a e renasceu! Creio que o Rio nos ensinou
Andrade, Clarice Lispector e Ferreira meses. Mas dessa vez, o Rio resolveu seguir violência. Mas, se ver uma criança dor- a lição de que toda mudança é necessá-
Gullar. Aos domingos, trazia o humor sem mudar e a violência permaneceu assus- mir ao relento é uma forma de violên- ria para o nosso renascimento e a nossa
refinado do Veríssimo, claro, na deli- tadora, revelando sua face mais terrível. Ali, cia inaceitável, ver uma criança tombar permanência. Bem-vindo JORNAL DO
ciosa Revista de Domingo. Aos sába- percebi que a solução não estava na cane- assassinada é inconcebível. E isso está se BRASIL, ao Rio que passou, que passa e
dos, chegava cheio de ideias no Cader- ta de um governador ou muito menos nas tornando uma tragédia cotidiana. A in- que sempre passará em nossas vidas.
no Ideias. O Caderno B trazia Zózimo. mãos de um único homem. tervenção federal na segurança pública
E nomes como Sergio Noronha, Aos 73 anos, mudei a forma de pensar, mu- chega para estancar esta sangria cruel e *Wellington Moreira Franco é minis-
João Máximo, José Ramos Tinhorão, dei a percepção sobre este assunto tão com- brutal do mais grave momento de caos tro-chefe da Secretaria-Geral da Presi-
Armando Nogueira, Carlos Castelo plexo. A violência no Rio não é exclusiva do urbano no Rio de Janeiro. dência da República e ex-governador do
Branco, Walter Fontoura, Marcos Sá Rio. Como vitrine do país, a cidade e o pró- E isso tem que mudar! Estado do Rio de Janeiro

Amizade antiga
LUIZ FERNADO PEZÃO* era por suas páginas que chegavam antes tógrafos, uma gama de profissionais de
ao público. Sem, é claro, jamais deixar excelência ajudaram a formar gerações
JORNAL DO BRASIL. Rever essas três de lado os principais temas nacionais e de leitores que, ao folhearem as páginas
palavras estampadas em uma página, mundiais. Cosmopolita e genuinamente do jornal, ainda eram presenteados com
formando o título de uma das mais im-
portantes marcas da história de nossa
Estamos todos carioca – esta é a identidade do JB.
A capacidade de aliar tradição e modernida-
encontros diários com nomes como
Manuel Bandeira, Carlos Drummond
imprensa, é como reencontrar um ve- tentando nos de é outro traço marcante do JORNAL DO de Andrade, Clarice Lispector, Antô-
lho amigo que estava distante há muito BRASIL. Fundado ainda antes da Proclama- nio Callado, João Saldanha, Sandro
tempo. Uma antiga parceria que reaviva adaptar aos novos ção da República, acompanhou as mudan- Moreyra, Carlos Castelo Branco, Villas
lembranças guardadas em algum lugar tempos. Novas ças da sociedade desde então. Sua reforma Boas Corrêa, Zózimo Barroso do Ama-
especial da memória e retoma uma re- gráfica, que revolucionou a imprensa brasi- ral e muitos outros.
lação de intimidade que permite voltar práticas, porém, leira no fim da década de 1950, por exemplo, Em um tempo cada vez mais veloz
a chamar o querido companheiro pelo
apelido carinhoso: JB.
não prescindem coincidiu com o momento de transformações
por que passava o país, com a aceleração do
como o atual, o retorno do Jornal do
Brasil representa o acesso à informação
Essa abreviação para duas letras de compromissos processo de urbanização e o surgimento da relevante e analítica. É uma notícia a
traduz a cumplicidade entre o
leitor e um jornal que tem o Rio
pétreos com Bossa Nova e do Cinema Novo.
Em paralelo às mudanças na forma, vieram
ser comemorada tanto pelos admira-
dores de longa data, como eu, quanto
de Janeiro em seu DNA. Ao longo a verdade e a as de conteúdo. Reportagens mais aprofun- pelos mais jovens, que conhecerão um
das décadas, o JB sempre manteve dadas, valorização de fotos, textos precisos veículo que traz o Brasil em seu nome
um olhar atento e ao mesmo tempo democracia" e sempre com o compromisso da isenção na e o Rio de Janeiro em sua alma. Um
original sobre o que se passava na busca pela notícia. Qualidade a serviço da presente a cariocas e fluminenses.
cidade e no estado. Se havia uma criatividade dos talentos que consolidaram JB, que bom que você voltou!
notícia relevante, uma transforma- o JB como sinônimo de bom jornalismo. De
ção cultural, uma nova tendência, repórteres a diagramadores, de editores a fo- *Governador do Rio de Janeiro
18 • Conheça nosso site www.jb.com.br Cidade Domingo, 25 de fevereiro de 2018
Domingo, 25 de fevereiro de 2018 Cidade Conheça nosso site www.jb.com.br • 19

A cilada da militarização
NILO BATISTA* “espólio de guerra”, compreende-se me- arrecadação de butim por seus in-
lhor a utilidade desta cena: num arrou- tegrantes. O roubo e a extorsão “em
bo, explicável pelos anos de tirania, os zona de operações militares ou em
Recordemos a chacina do Pan, vizinhos saquearam a casa do suspeito. território militarmente ocupado”
aquelas dezenove execuções no Aquele saque popular, televisionado com pode ser punido, em tempo de guer-
Alemão antes dos Jogos. Recor- Ainda há tempo simpatia – dos PM’s e dos âncoras – era ra, com a pena de morte (art. 405
demos especialmente as capas das de salvar as Forças um excelente álibi para outros saques, CPM). Mas basta olhar, no cenário
revistas semanais, que saudavam a mais bem direcionados às economias do internacional, as frentes de conflitos
operação como alvissareira “novi- Armadas da cilada comércio ilegal. Nenhum programa de bélicos para constatar a frequência
dade” nas técnicas policiais. Na foto
da capa, um inspetor da Polícia Ci-
da militarização tevê deu maior importância, e era um
flagrante delito (de quem saqueava e
de abusos que tais situações extre-
mas fomentam.
vil conhecido por Trovão, em trajes da segurança de quem deixava saquear) no ar! Com-
de expedicionário norte-americano
no Iraque, degustava um charuto
pública" preende-se; afinal, era o Dia da Vitória. Recentíssimo episódio, no qual
soldados do Exército oriundos de co-
caminhando numa viela sobre o A militarização da segurança pública munidades pobres com presença de
corpo de algumas das vítimas da constitui um enorme equívoco no qual grupos rivais do chamado Comando
operação. Cândido, dissuadia toda resistência, lá levianamente se insiste entre nós. Re- Vermelho (CV) – o alvo preferen-
em cima era Serra Pelada, mangueiras centemente, Raúl Zaffaroni recordava cial e quase exclusivo da política de
Dezenove execuções não eram e bateias a mil. que todos os genocídios do século XX UPP’s – declinavam desafiadora-
em si qualquer novidade. Afinal, a foram praticados por forças policiais, e mente sua procedência para mora-
polícia carioca está matando anual- Recordemos duas cenas daquela quando forças armadas institucionaliza- doresdo Alemão é especialmente
mente uns mil e duzentos suspeitos, cobertura ufanista, do que foi chama- das neles se envolveram, estavam exer- preocupante. Não pela emergência
e esta cifra espantosa, este récorde do de “Tropa de Elite 3”. A primeira se cendo funções policiais (como essas que de um suposto “Comando Verde”,
mundial, alcançado gota a gota – deu quando aquele magote de favela- recentemente lhes foram atribuídas para como desafortunadamente sugeriu
dois traficantes aqui, um assaltante dos armados fugia por uma estrada de as fronteiras). O núcleo desse equívoco um prósperoongueiro de origem
acolá etc – jamais despertou maior terra. De repente, um deles foi alve- provém da confusão, comum nas ciências popular, mas sim porque essas rivali-
comoção na mídia. Se todos fossem jado. Não é recente a criminalização sociais – veja-se, por exemplo, Elias – dades – fenômeno urbano frequente
mortos num dia só, teríamos em desse fato, a execução de um suspeito entre poder militar e poder punitivo. No – começam, por efeito da atividade
perdas humanas mais do que na tra- que esteja fugindo, que Sérgio Vera- Estado de direito, esses dois poderes não de patrulhamento policial, a intro-
gédia das chuvas na região serrana, ni estudou pioneiramente entre nós; podem se aproximar sem riscos gravís- duzir-se na tropa. Como os recrutas
incluindo desaparecidos – na serra quer perante o direito internacional, simos. Mas essa aproximação foi muito oriundos de favelas com presença do
como nos registros policiais. Diluí- quer perante nosso direito interno, dinamizada por um projeto, gestado no CV reagirão às insolências ou chistes
das porém no noticiário cotidiano, aquilo foi um crime. No século XV, hemisfério norte, de converter as Forças que seus camaradas, provindos de
essas mortes oferecem a base para a uma ordenação determinava que o Armadas latino-americanas em gran- favelas com presença por exemplo
disseminação de um conformismo oficial de Justiça “nom o (o suspei- des milícias, a perder sua higidez e sua do ADA ou de milícias, porventura
perigoso para o Estado de direito. to) deva matar por fogir, ainda que orientação estratégica no incontestável dirijam a moradores ou mesmo a
A “novidade” em uníssono saudada d’outra guisa prender nom possa; e fracasso da “guerra contra as drogas”. infratores? Este conflito, que jamais
pela mídia não residia, por certo, em matando-o, averá pena de Justiça, se- Onde há guerra não pode haver direito. havia transposto de forma significa-
ter aquela operação policial obtido gundo no caso couber” (Ord. Afo. II, tiva o portão dos quartéis das Forças
num só dia o produto funesto de VIII, 10). Temos algo a aprender com O militar é adestrado para o inimigo, Armadas, pode sorrateiramente
três ou quatro. A “novidade” era a Afonso V, pois ninguém se interessou o policial para o cidadão. Na estrutura introduzir-se agora neles. Certas
própria legitimação da brutalidade por aquele homicídio a sangue frio, militar, a obediência integra a legalidade; funções policiais são brutalizantes e
policial. É isso aí. Vamos mostrar- visto por mais de cem milhões de pes- na policial, a legalidade é condição prévia produzem efeitos deteriorantes sobre
-lhes quem tem mais fuzis. Quem soas. Ninguém se interessou. Nenhum da obediência. São formações distintas, aqueles que as realizam. Trata-se do
com ferro fere... Não apenas tolerân- jornalista, nenhum membro do Mi- dirigidas a realidades também distintas. fenômeno denominado “policização”,
cia, mas também culpa zero. E, por nistério Público, nenhuma autoridade O sistema de responsabilização é também que pode acontecer também com
que não, cumprida a tarefa, por que do Executivo, nenhum parlamentar, diferente: não há ordens vinculantes para outros operadores do sistema penal,
não saborear um purito pisando o silêncio obsequioso da OAB-RJ. Ao um policial, adstrito a aferir a legalidade carcereiros, advogados, promoto-
sangue ainda quente dos inimigos? contrário, soube que uma repórter de todas elas (num teatro de guerra, ini- res de Justiça e magistrados. Quem
indagou a um constrangido oficial da ciativa similar significaria derrota certa). não conhece a policização passará o
Nos jornais de 12 de fevereiro PM por que a polícia não tinha resol- Na economia, o arrogante discurso resto da vida reclamando do pouco
de 2011, estampou-se a prisão do vido tudo naqueles instantes de fuga. neoliberal levou um tranco. Sabemos rigor na admissão e adestramento
inspetor Trovão, suspeito “de ter A segunda cena deve ser antecedida agora o que é que a mão invisível do dos policiais, quando o problema
participado da garimpagem no por um esclarecimento. Bens adquiri- mercado fazia depois do expediente. Mas não está na seleção e sim na prática.
Complexo do Alemão”, dentro da dos com o produto de práticas ilícitas a política criminal genocida do neolibe- Quem está disposto a correr o risco
prática alcunhada “espólio de guer- serão perdidos para o Estado – este ralismo parece sobreviver a ele. A indús- de policização de algumas unidades
ra” (O Globo, p. 21). Pobre Trovão. é um dos mais conhecidos efeitos da tria do controle do crime responde um de nossas Forças Armadas? Guerra
Ele não só se vestia e se sentia condenação (art. 91, inc. II, al. b CP). pouco por essa permanência. De outro é uma coisa muito séria, como o é a
como um soldado em plena batalha O patrimônio dos infratores – quando lado, nunca o sistema penal acolitou tão soberania e a integridade do territó-
dentro de território inimigo, mas e apenas quando comprovadamen- visivelmente a acumulação capitalista. rio nacional. Precisamos de Forças
sobretudo confirmava seus figuri- te oriundo da atividade criminosa Ainda há tempo de salvar as Forças Armadas bem adestradas para aque-
nos e sentimentos lendo os jornais. – deve ser apreendido e preservado, Armadas da cilada que é a militari- las tarefas constitucionais em que
Guerra é guerra. para que sobre sua guarda, posse ou zação da segurança pública. O jovem elas são únicas e insubstituíveis. Já
Essa pilhagem teria ocorrido no depósito decida o Juiz. Pois no Ale- tenente, suspeito de furtar um aparelho passou da hora de brincar de guerra
que poderíamos chamar de segun- mão, sob as vistas complacentes de de ar condicionado, e o inspetor Trovão nas ruas da cidade.
da tomada do Alemão, com o apoio policiaismilitares fardados, alguns acreditaram que estavam participando
de equipamentos bélicos e pessoal moradores saqueavam móveis, utensí- de batalha em território inimigo. *Ex-Governador do Rio de Janeiro, Profes-
militar. Enquanto embaixo um tan- lios e materiais da casa que pertence- Foram muito incentivados a acreditar sor Titular de Direito Penal da Universidade
que, que poderia estar sendo pilo- ria ao chefe local do comércio ilícito. nisso pela mídia. É claro que exércitos Federal do Rio de Janeiro e da Universidade
tado por Marcílio Dias ou por João Hoje, desvelada a “garimpagem”, o regulares impedem o quanto podem a do Estado do Rio de Janeiro.

Bem-vindo JB
BENEDITA DA SILVA* como se nesta não vivessem também
Por isso saúdo a volta do JB, com a espe- cidadãs e cidadãos brasileiros.
rança de uma voz independente, de um
A volta do Jornal do Brasil, em espaço para o jornalismo investigativo e da Colocar a intervenção federal na lupa do
sua versão impressa, tem a cara da ressonância para o pluralismo das ruas. jornal, acompanhando cada passo dos
retomada daquele JB independente Saúdo o JB, com a militares e ecoando o grito dos que não
e crítico que não vergava diante da O estado do Rio de Janeiro, rebaixado, têm voz, é função do jornalismo inde-
censura imposta pela ditadura. Hoje esperança de uma depenado, maltratado e humilhado, des- pendente que o JB promete ser.
a “censura” é do mercado, que con-
seguiu fazer a imprensa brasileira ter
voz independente, de o golpe do impeachment da legítima
presidenta Dilma, enfrenta agora mais um
Benvindo às dores da vida real, mas
também às alegrias do dever cumprido.
somente a mesma opinião – a que lhe e ressonãncia do suplício: a intervenção militar para com-
interessa.
pluralismo das ruas" bater, supostamente, o crime organizado.
Mas os fuzis estão apontados para a favela,
*Deputada Federal (PT-RJ) e ex-governa-
dora do RJ.
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MEMÓRIA DA CIDADE

Vivendo o sentimento da cidade


Na volta às bancas, o jornal mantém o compromisso de divulgar a verdade dos fatos
Fotos CPDoc JB

Na alegria e na tristeza, o JB sempre rama lágrimas em suas páginas. Muita


viveu o sentimento da cidade. É um tristeza e muita dor nas inundações fa-
casamento antigo com seus morado- tais, grandes alegrias na inauguração
res. O jornal refletiu ao longo de to- de novos sistemas de transporte, de
dos esses anos os momentos alegres e novas vias, de um grande palco para
também os desapontamentos. Esteve o Carnaval. Muita tristeza nos desa-
presente defendendo ideias que pu- bamentos, nos grandes acidentes, nos
dessem melhorar a vida de todos, lu- episódios políticos que ameaçaram a
tou contra o arbítrio, enfrentou a in- democracia. O JORNAL DO BRASIL
diferença, incomodou poderosos. Este acompanhou tudo isso. Contou tudo
jornal que volta às bancas traz na sua que sabia. Foi sempre assim na memó-
essência essa cultura que vem de sua ria deste jornal. Vamos mantê-lo desta
raiz. Quando a cidade sofre, o JB der- forma.

1966 - Temporal de quatro horas inundou a cidade e matou mais de cem pessoas

1971 - Erro de cálculo derruba Elevado da Perimetral. Dezoito pessoas morreram 1975 - Médici inaugura a Ponte Rio-Niterói

1979 - Geisel inaugura primeiro trecho do Metrô entre a Glória e a Praça Onze 1981 - Duas bombas explodem no Rio Centro. Um capitão do Exército perdeu a vida
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A vocação inovadora do JB
EDUARDO PAES* a felicidade de todos nós. Rio e ao Brasil, certamente, poderemos
contar com o restaurado JB na luta
Pois é, quando a gente menos espera, Vivemos quadras complexas. No âmbito pelas boas causas contemporâneas e
percebe que nem tudo é desalento, midiático, a imprensa talvez passe pelos contra todas as variantes de racismo.
neste instante, no nosso Rio. O retorno
do JORNAL DO BRASIL às bancas re-
Estamos todos seus momentos mais difíceis de identidade,
diante de um mundo que se transforma, Hoje, vivenciamos conexões tecnológi-
coloca em cena um dos maiores ícones tentando nos totalmente, a um ritmo inimaginável e cas. Quase tudo migra para o planeta
da cidade. alucinante. Os arcabouços das relações são digital. Algumas mercadorias, porém,
adaptar aos novos outros, mais horizontais do que verticais. por melhor que tenham feito a transpo-
Fundado em 1891, o JB, desde cedo,
forjou a sua vocação histórica e teve
tempos. Novas Estamos todos tentando nos adaptar aos
novos tempos. Novas práticas, porém, não
sição para outra plataforma, continuam
ainda se expressando mais adequada-
papel relevantíssimo na modernização práticas, porém, prescindem de compromissos pétreos com mente em seus formatos originais. Os
e no profissionalismo da imprensa
brasileira, sobretudo após a reforma
não prescindem a verdade e com a democracia. As clandes-
tinas e deletérias fábricas de fake news não
frutos da galáxia de Gutenberg - jor-
nais, livros, etc. - exemplificam. Na
editorial empreendida na segunda de compromissos podem prevalecer nem prejudicar os interes- contramão das tendências, voltar ao
metade dos anos 50. De influência na-
cional, contribuiu sobremaneira para
pétreos com ses soberanos e majoritários das sociedades.
O mesmo vale para o entulho fascista que
padrão impresso é mais um passo re-
volucionário dado pelo JB, um veículo
irradiação dos aspectos mais reluzen- a verdade e a viceja em todos os setores, com o despudor que tem como marca a inovação.
tes da cultura carioca, disseminando-a de suas intolerâncias.
por todo o Brasil. Por suas redações democracia" No mais, é congratular-me com Catito
passaram gigantes do jornalismo, do Nesse contexto, mais importante torna-se Peres e com toda a equipe de jornalis-
ambiente cultural e da vida política a imprensa profissional e livre de cabrestos tas que nos presenteiam com esta bela
do país. Em 2010, o jornal tornou-se alheios aos seus ofícios públicos. Com a sua ousadia.
apenas digital, com o fim das edições secular tradição de independência e com
impressas, que, agora, ressurgem para o seu rol de grandes serviços prestados ao *ex-prefeito do Rio de Janeiro

O porto seguro do bom jornalismo


MARCELO CRIVELLA* leitores ao ser o primeiro a exibir cores em em meio a um debate intenso sobre os
suas páginas, a ter duas edições diárias e rumos que, esperamos, nos levem à
Desde seu surgimento, o JORNAL DO ao passar por uma transformação gráfica e prosperidade, à distribuição de riquezas
BRASIL demonstra seu compromisso editorial, nos anos 50 e 60 do século passa- e ao bem comum. A história, a tradição
com o Rio de Janeiro e o país. Quando
a República ainda engatinhava, de-
A credibilidade do, que influenciou a imprensa do país. Mais
recentemente, tornou-se o primeiro jornal a
e o comprometimento centenário do
Jornal do Brasil com a democracia são
fendeu a criação de um instituto para do JB, sua busca ter um site jornalístico. essenciais nesta hora decisiva.
combater a febre amarela, quando a A trajetória do JB confunde-se com mo- A credibilidade do JORNAL DO BRA-
vacinação ainda era uma novidade incessante pela mentos importantes da minha vida. Aos 15 SIL, sua busca incessante pela notícia
científica, assim como a abertura de
avenidas que melhorassem as condi-
notícia isenta e anos, fui à banca e comprei o JORNAL DO
BRASIL onde, nos classificados, encontrei
isenta e bem apurada, é artigo valioso
neste momento de notícias instantâ-
ções de saneamento de nossa cidade. bem apurada, meu primeiro emprego. neas, de fake news, de informações de
Da mesma forma, sempre esteve ali-
nhado aos anseios dos que desejavam
é artigo valioso O JB foi a casa de pensadores e jornalistas
que, com seus textos primorosos e informa-
origem desconhecida que confundem
mais do que elucidam e, muitas vezes,
construir uma nação livre e soberana, neste momento ções valiosas, elevaram o debate sobre os servem a interesses sombrios. Por isso,
mesmo nos momentos mais sombrios,
quando a democracia foi sufocada pelo
de notícias grandes temas nacionais a um novo patamar.
Nomes como Rui Barbosa, Alceu Amoroso
a volta do Jornal Brasil em sua versão
impressa é tão bem vinda, um porto
autoritarismo. instantâneas, de Lima e Carlos Castelo Branco. seguro do bom jornalismo e do com-
Ao longo de sua história, prestes a A versão impressa do JB renasce no momen- promisso com a verdade.
completar 127 anos, o JB foi sempre fake news” to em que o país e a República travam uma
pioneiro e inovador. Surpreendeu seus luta contra a corrupção sem precedentes, *Prefeito do Rio de Janeiro
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O JB, a democracia e o Rio


CESAR MAIA* candidatos a governador com maior peso eliminava a lógica do Diferencial Delta.
popular.  O Jornal do Brasil e a Rádio JB bancaram
Listar os momentos em que o JB lide- Este argumento serviu de justificativa seus números que convergiam pela apu-
rou mudanças no jornalismo brasileiro para uma eventual identificação de fraude.  ração feita pela candidatura de Brizola.
é tarefa simples. Mudanças de todo o Na era digital, foi Ao tempo que os resultados das urnas eram Estabeleceu-se um quadro de incertezas
tipo de forma e de conteúdo e de ino- divulgados no Rio, construía-se a sensação que passou a ser coberto pela imprensa
vação como com o caderno B. Ao fazer para o papel. E que que o candidato do governo militar seria internacional. 
um levantamento e destacar entre estes
momentos os que produziram maior
papel! O das Bancas vencedor. 
O Jornal do Brasil e em especial a Rádio JB
A postura inflexível do JB levou o
TRE a convocar os responsáveis pela
impacto político, especialmente no Rio, de Jornais, claman- decidiram fazer uma apuração paralela voto apuração oficial e pela apuração da equi-
é inevitável lembrar as eleições de 1982
para governador do Rio.  
do os cariocas, a a voto. Os resultados oficiais iam surgindo de
um lado e os resultados apurados pela Rádio
pe de Brizola. Era - como afirmaram
Procópio Mineiro e Pery Cotta da Rádio
A expectativa de fraude eleitoral foi voltar no tempo e ir JB e divulgados pelo Jornal do Brasil, do ou- JB - uma conta de somar e, portanto
antecipada pela coluna Informe JB. E o tro. Eles não coincidiam.                          não havia como a apuração do JB estar
Jornal do Brasil e a Rádio JB se prepara- à esquina, comprar o Os arquitetos da fraude tentavam justificar equivocada. 
ram para uma eleição que seria um mar- jornal que faz parte seus números através do que chamaram de O TRE determinou a recontagem com
co, uma fronteira no processo democrá- Diferencial Delta. Ou seja, as pesquisas pré- a divulgação da listagem urna a urna.
tico. As pesquisas de opinião mostravam da nossa história.” -eleitorais que apontavam Brizola na frente A fraude ficou estampada. Os números
um resultado indefinido, especialmente poderiam estar certas, mas com a vinculação do JB eram os corretos. A democracia
pela mudança orquestrada pelo regime do voto e o menor nível de instrução dos seus foi salva e garantida, no principal palco
autoritário. A obrigação de vinculação eleitores, a vinculação levaria a erros e assim político do Brasil na época. 
dos votos entre os candidatos a Governa- à anulação de votos de Brizola. 
dor, Deputados e Senador de um mesmo A Rádio JB somava nas mesas de apura- *Vereador (DEM) e ex-prefeito do Rio de
partido poderia impactar a votação dos ção os votos já incluídos nas planilhas, o que Janeiro  

Foto Orlando Brito

O Jornal do Brasil
ROBERTO SATURNINO BRAGA* Realmente, parece sem sentido, mas o quem sabe, muita gente que deixou o
Grande Capital pode querer mais um apoio, jornal-papel e não encontrou o mesmo
O prazer inesquecido, o complemento novo, limpo, sem o desgaste e a sujeira dos aprazimento no exercício digital. Mesmo
do meu saboroso café da manhã naquele velhos. os textos do noticiário mais plano podem
tempo, o sentar-me na poltrona da sala Na era digital, foi Enfim, não sei, mas algo no coração me diz ter ou não ter alguma arte que agrade ao
à luz das frescas horas e abrir o Jornal que não. E também na mente, porque conhe- leitor. E assim era, realmente, o Jornal do
do Brasil, olhar as manchetes e ir logo à para o papel. E que ço as pessoas envolvidas neste novo projeto; Brasil, o jornal dos brasileiros que gosta-
Coluna do Castelo, ganhar uns quarenta
a sessenta minutos de vida interessante a
papel! O das Bancas não tenho com elas uma proximidade de
amigo mas uma admiração longínqua, sufi-
vam de ler, que se informavam bem sobre
o mundo, o Brasil e especialmente sobre
ler aquelas páginas; oh, faz tempo!... de Jornais, claman- ciente entretanto para me levar a crer que não o Rio, e ainda saboreavam o que sentiam
Será que vou revivê-lo? Como será o
novo JB?
do os cariocas, a vão seguir o cantochão regido pelo Grande
Capital.
de qualidade jornalístico-literária.
Espero, sim, espero um jornal renova-
Na mesma linha dos outros que estão voltar no tempo e ir Alvíssaras, pois! do, de linha bem diferente dessas tradu-
nas bancas? Na busca dos anúncios Teremos, enfim, no todo dia dos jornais ções mal feitas da imprensa do Capital.
financiados pelo Grande Capital? à esquina, comprar o impressos, uma dose de variedade tão impor- Espero, sim, que possa reviver aqueles
O mais provável, dizem todos, porque jornal que faz parte tante. Imprescindível, mesmo; porque não é tempos de um jornalismo mais artístico,
parece ser o único caminho da viabilida- a tão proclamada liberdade de imprensa que cativante para a leitura, de gosto mais
de econômica de um órgão da mídia no da nossa história.” caracteriza a democracia, mas a diversidade apurado, mais elegante, sim, mais confiá-
Brasil desses nossos dias esquisitos. da imprensa; a variedade de opiniões que vel e mais elegante.
Bem, entendo, mas qual então o sen- abra a mente do leitor a julgamentos mais Espero, anseio, estimo, creio.
tido deste relançamento custoso e difícil, informados, mais assentados em visões e E deixo aqui registrado, logo no pri-
brigar por espaço com outros empreen- argumentos diferenciados. meiro número, este sentimento muito
dimentos já tão bem estabelecidos, tão E, mais: o prazer da leitura em si, que brasileiro, oferecido quase em oração:
fortalecidos por ligações inconstitucio- ainda tenho na lembrança. A qualidade dos Viva, de novo, o Jornal do Brasil!
nais (mas e daí?) com estações de rádio e textos apresentados com arte foi o que sem-
de televisão por todo o País? pre destacou o JB dos demais. Reconfortará, *Ex-Senador e ex-prefeito do Rio de Janeiro
Domingo, 25 de fevereiro de 2018 Sociedade Conheça nosso site www.jb.com.br • 23

ABI: Habemus JB A velocidade vertiginosa das transforma- burocráticos, inodoros, despojados de


DOMINGOS MEIRELLES *
ções tecnológicas colocaram em xeque os sentimentos. Lugar de repórter é na
modelos tradicionais de acesso e produção rua, ensina Ricardo Kostcho, um dos
No momento em que os grandes de notícias em todo o mundo. Navega-se profissionais mais exuberantes da sua
veículos de comunicação perdem mus- nos dias de hoje enlouquecidamente pela geração.
culatura no confronto desigual com as O leitor gosta de superficialidade das alamedas digitais. Nos As reportagens dos dias de hoje
mídias digitais, é importante celebrar
a abertura de um novo espaço no
boas histórias e o deixamos contaminar pela falsa sensação de
liberdade que as plataformas virtuais ofe-
não têm mais “cheiro de asfalto”, como
observa Carlos Alberto de Franco, um
conturbado território do jornalismo Jornal do Brasil recem ao nos convencerem de que somos estudioso do mundo da comunicação.
impresso. ÁngelusDómini à assunção
do velho e bom Jornal do Brasilao
tem a obrigação de livres para preparar nossa própria ração de
informações de cada dia.
Como a mesma fulguração das pin-
turas impressionistas do século XIX
universo da informação. voltar a O advento desse carrossel digital não é preciso produzir textos capazes de
Ao se despir nos anos 60 da imagem veio, entretanto, acompanhado do selo de
de preferido das empregadas domés- contá-las com a garantia que o público encontrava na mídia
capturar atmosferas, aromas e afetos
como no passado. O leitor gosta de
ticas, pelo volume de classificados que velha e a boa receita impressa. Talvez o maior compromisso
do JB seja justamente resgatar a magia do
boas histórias e o JORNAL DO BRA-
exibia na primeira página, o JB não SIL tem a obrigação de voltar a contá-
trocara apenas de roupa. O audacio- que só o verdadeiro jornalismo impresso num terreno infestado -las com a velha e a boa receita que só
so projeto gráfico e editorial acabaria
revolucionando também a imprensa
jornalismo possui.” de fakenews e outras pragas que proliferam
sem controle por esse oceano líquido. Não
o verdadeiro jornalismo possui.
Benedictus es
contemporânea. Como no passado o podemos continuar consumindo reporta-
JBprecisa reinventar-se outra vez para gens produzidas entre quatro paredes. Não * Presidente da ABI
enfrentar os desafios dos novos tempos. é aceitável que se ofereça ao público textos

Charge publicada em/1988

Acreditar no Rio
FERNANDO XIMENES* movimento inverso. Cada vez vai fincando só merece aplausos porque, quando as
mais as raízes em nossa cidade. Ressuscitou palavras não são suficientes e o papel
Tenho dois grupos de amigos. Aqueles símbolos como o Estaleiro Mauá, Fiorentina, simplesmente as aceita, restam os sím-
que estão emigrando (agora parece o Bar Lagoa, o Hippopotamus (juntamente bolos. E é disso que precisamos.
ser a vez de Portugal) e os que pen-
sam em emigrar mas que ainda não o
Na era digital, foi com Ricardo Amaral) e, agora, corajosamen-
te, o Jornal do Brasil. Não se trata, apenas,
Mais do que um jornal e mais do que
textos. Precisamos de símbolos, de
fizeram porque a Arca de Noé é difícil para o papel. E que de um empreendedor mas de um cidadão esperança, para ficarmos aqui, para
de ser acomodada. Os que não querem carioca que manda uma mensagem ao nosso querermos ficar aqui. Esse Estado nos
usualmente são os visionários. E em papel! O das Bancas povo. Fiquem! Aqui é o nosso lugar. Nada pertence e a nós também pertence o
razão disso o nosso país, especial- de Jornais, claman- lhe contem; sequer as leis trabalhistas que Jornal do Brasil. Parabéns Catito pela
mente, o nosso Estado, parece estar começaram a ser refeitas e cujas interpre- gota de esperança e de fé. Oxalá pos-
querendo parar. Basta passar os olhos do os cariocas, a tações não contam, na maioria das vezes, samos ter uma fração dos seus sonhos
no mercado imobiliário onde nin-
guém compra, ninguém aluga. Enfim,
voltar no tempo e ir com a bússola da jurisprudência. Em uma
era digital, foi para o papel. E que papel! O
para transformar as utopias em realida-
des e reavermos aquilo que sempre foi
ninguém se mexe por não se ver luz no à esquina, comprar o das Bancas de Jornais, clamando para nós, nosso. O nosso Estado. E tal é a missão
final do túnel. Eis que surge um senhor
de nome Omar Peres, carinhosamen-
jornal que faz parte cariocas, voltarmos no tempo, sairmos de
casa, ir à esquina, comprar o jornal. Aquele
do Jornal do Brasil.

te conhecido como Catito, e faz um da nossa história” jornal que faz parte de nossa história. Isso * Advogado
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Domingo, 25 de fevereiro de 2018 Economia Conheça nosso site www.jb.com.br • 25

127 anos acompanhando


a economia brasileira
Concentração de renda é a herança maldita, desde o fim da Escravidão

GILBERTO MENEZES CORTES * neiro. No período de 2014 a 2017, o maior


aumento na taxa de desemprego entre os
Na maior recessão da história brasileira estados brasileiros foi de Santa Catarina
– de 2014 a 2017 – quando o Produto Inter- (+170,2%). Mas, em números absolutos o nú-
no Bruto (PIB) encolheu 9,9% e a queda da mero de desempregados saltou de 10 mil para
renda per capital em dólar (o bolo de produ- 270 mil pessoas (e a retomada veio forte no
ção e renda da economia gerado a cada ano), segundo semestre de 2017). Agora vamos ao
atualizada pela taxa de câmbio, tomou tombo RJ: o desemprego saltou de 494 mil para 1,2
acumulado de 33%, o JORNAL DO BRASIL milhões de pessoas. Um aumento de 140%.
não pôde trazer para o papel o tamanho da O drama do desemprego, que insufla a
crise. A crise, mediu o IBGE, chegou a deixar onda de violência nos grandes centros, onde
mais de 14 milhões de brasileiros sem em- as atividades marginais atraem sobretudo os
prego. Mesmo com a tênue recuperação do jovens, é o outro lado da moeda da grande
ano passado, com um PIB positivo em torno chaga brasileira. O descaso com a educação
1,1%, ainda há 26,4 milhões de pessoas com nas últimas quatro décadas gerou imensa
a capacidade de trabalho subutilizada. Em re- massa de mão de obra não qualificada para
lação à força de trabalho, é um contingente as exigências do mercado de trabalho. A agri-
de 23,8% dos brasileiros aptos ao trabalho. cultura está cada vez mais mecanizada. Nas
Para uma população na casa dos 208,5 mi- indústrias, robôs e sistemas de tecnologia
lhões de habitantes - a 5ª do mundo (atrás substituem os peões nas fábricas. E no mer-
da China e Índia, com 1.300 milhões cada, cado de serviços, que carrega nas costas 63%
os 328 milhões dos EUA e os 266,4 milhões do PIB brasileiro, quem não sabe línguas ou é
da Indonésia, sim a 4ª população do mundo analfabeto em tecnologia da informação está
e maior nação muçulmana) -, é um núme- condenado a empregos de baixa qualificação.
ro assustador. Que mostra o enorme desafio A deficiência no ensino tem outra implica-
para a retomada lenta da economia devolver ção: o baixo índice tecnológico da produção
esperança ao mercado de trabalho. Números brasileira prejudica o país na guerra comer-
divulgados esta semana pelo IBGE reforça a cial da economia global e na integração das
situação dramática do Estado do Rio de Ja- cadeias produtivas.

Café e escravidão
É claro que o Brasil evolui muito nos últi- Uma autópsia na História vai identificar
mos 50/60 anos. Ou ainda mais se tomarmos que a gênese do capitalismo de compadrio,
o fim do século 19, quando o JORNAL DO que viceja à sombra do Estado e que expôs
BRASIL surgiu no começo da República, de- suas vísceras em episódios recentes, acelerou
fendendo os pilares da Monarquia que havia exatamente na época em que o JORNAL DO
provocado enorme turbulência econômica e BRASIL entrou no debate nacional. Mas a ga-
social com a tardia Abolição da Escravatura. nância e a irresponsabilidade continuaram a
O mundo estava entrando na era do empreen- provocar vários estouros no mercado de capi-
dedorismo e o Brasil não ficou atrás. Trens e tais, como no boom da Bolsa nos anos 70. Ou
máquinas substituíam a mão de obra escra- mais recentemente na febre das ponto.com,
va. E o lançamento simultâneo de vários em- importada dos Estados Unidos. No momen-
preendimentos gerou uma febre de emissões to, há a tentação desenfreada e perigosa das
de ações em Bolsa. Com 10% do capital subs- Bitcoins...
crito, as ações eram negociadas no pregão. Rui Outro corte na estrutura econômica bra-
Barbosa tentou pôr um freio na especulação e sileira revela uma dependência extrema ao
aumento o limite para 20%. Veio o grande lan- café, que fez a riqueza das elites dos barões,
çamento da época: o da Leopoldina Railway, mas manteve a maior parte da população sob
de John Lowndes, que enfrentou exigência de o jugo da Escravidão. Sem acesso à terra –
30% de subscrição e encalhou. Foi o Encilha- facilitado aos colonos italianos, espanhóis,
mento. A reação do governo Floriano Peixoto alemães e depois aos japoneses, que vieram
(militares perderam dinheiro nos papéis) foi todos cós seus núcleos familiares – , e sem
drástica: criou a Lei das Travas que dificultou apoio posterior da educação, os negros per-
a disseminação do capitalismo no Brasil nas maneceram na escala mais pobre e miserável
décadas seguintes. Só na Reforma do Mercado da população brasileira. Situação raríssima
de Capitais, na metade dos anos 60, o dina- aos que tiveram acesso ao principal meio de
mismo foi retomado. produção da época: a terra.

Os planos contra a inflação


Até os anos 60, o ‘general café’ era responsá- a renegociação em Nova Iorque, às vésperas
vel por 70% da receita cambial do Brasil. Ima- do Natal, o Brasil mergulhou em sete anos de
gine-se o impacto social e econômico quando crises, na chamada “década perdida”.
o crash da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, Vários planos econômicos, uns mais mira-
jogou o preço da saca de café na lona... Num bolantes que outros, tentaram tirar o país da
país sem petróleo e uma indústria incipiente, crise. Sem sucesso. Até que veio o Plano Real,
as crises cambiais se sucediam. E a economia no governo Itamar Franco, com a transição de
se equilibrava entre a crise cambial e os sur- três meses da URV até a entrada em campo
tos inflacionários provocados pelo descontrole do real, em julho de 1994. Quase 24 anos de
das contas públicas. Um cobertor curto. Hoje existência, a moeda resistiu a várias crises (a
o café representa menos de 2% das receitas de maior, antes do quinto aniversário, no gover-
exportações, que tiveram saldo de US$ 64 bi- no FHC, quando o Brasil, quebrado, implorou
lhões em 2017, frente às importações. ajuda do FMI). Neste século, com a demanda
O desequilíbrio do petróleo ficou também de mercadorias da insaciável China, as contas
claro em 1973, quando houve o primeiro cho- do país, que chegaram a ter déficit de US$ 4,4
que da OPEP. O Brasil só produzia 15% das bilhões em 2014, embicaram novamente na
necessidades. Com a produção do pré-sal re- recessão. O desequilíbrio estrutural entre o
presentando mais de 50% do total, as perspec- valor dos produtos primários exportados pelo
tivas são finalmente de auto suficiência. Entre Brasil e os altos valores tecnológicos dos bens
1973 e 2018 foram várias as crises na balança importados pode gerar novas crises cambiais.
comercial e no balanço de pagamentos. A cri- O cobertor continua curto, enquanto o país
se eclodiu de forma aguda em setembro, de- não tem um projeto estrutural. É sempre bom
pois que o México declarou moratória. Após ficar atento. O JB está novamente ao seu lado.
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Não há atalho para o país


GERALDO ALCKMIN* substituto para o papel fiscalizador da im- complexos a abordar, é a busca permanen-
prensa: é ela que traduz para a população te da precisão informativa que constrói a
as decisões e o desempenho dos poderes confiança dos leitores e dá aos veículos o
A duríssimas penas, ainda sofrendo os Executivo, Legislativo e Judiciário. valioso selo da credibilidade. Essa era uma
efeitos da maior crise econômica da nossa Quem prega sufocar o jornalismo profis- marca do velho JB, indispensável ao Rio
história, os brasileiros descobriram que Quem prega sufocar sional, sob variadas fórmulas de controle, de Janeiro pela qualidade da cobertura de
não existe atalho para chegar ao Brasil
que queremos. Nas ruas e nas escolas,
o jornalismo o faz porque não suporta ver revelada a
natureza de seus negócios e de seus privilé-
temas locais e da prestação de serviço e
influente, em todo o Brasil, pela sofistica-
vivendo de seu trabalho honesto ou à profissional, sob gios. Por isso, sobretudo na era da internet, ção informativa do seu noticiário político
procura de emprego digno, eles exigem
seriedade com o dinheiro público e cla-
variadas fórmulas é nosso dever protegê-lo dos ataques do
populismo e de outras forças, veladas ou
nacional. Eu mesmo, quando deputado
constituinte, tinha o JB entre minhas
mam por segurança pública, educação de de controle, o faz escancaradas, que emperram a transforma- leituras obrigatórias todas as manhãs.
qualidade, serviços eficientes de saúde e ção do Brasil em nação moderna. No fim dos anos 1950, o JORNAL DO
de transporte e oportunidades verdadei- porque não suporta Com isso em mente é que, muito hon- BRASIL revolucionou o jornalismo brasileiro
ras para construir uma vida melhor.
Os brasileiros já perderam muito com os
ver revelada a rado pelo convite de escrever neste espaço,
comemoro o retorno às bancas da versão
e foi, por décadas, uma importante escola de
jornalistas. A volta da sua versão impressa é
projetos de poder daqueles que se conside- natureza de seus impressa do JORNAL DO BRASIL. Ela será uma excelente notícia. Nessa época de desa-
ram acima da lei. E são justamente os que
se consideram acima da lei os que afirmam
negócios e de seus uma das faces de um projeto de jornalismo
de qualidade que, afinado com nosso tempo,
fios grandes para o Brasil e para a imprensa
livre, que seja um marco da renovação do
que a liberdade de imprensa faz mal para o privilégios pretende atender o consumidor de infor- jornalismo profissional e da prestação de
Brasil. Essa pregação é perigosamente con- mação e serviços em várias plataformas de serviços essenciais à democracia brasileira.
trária à democracia, pois nas sociedades comunicação.
verdadeiramente democráticas não existe Num mundo de temas cada vez mais * Governador do Estado de São Paulo

Clássico e Elegante
LINDBERGH FARIAS* perceber as novas correntes e movimentos austeridade de Michel Temer e Pezão, dois
emergentes. cadáveres políticos que insistem em nos
Existe um consenso de que o Rio de assombrar. Os governos de Lula e Dilma
O JORNAL DO BRASILé um clássico Janeiro vive uma hora de aguda crise. Mas foram responsáveis do ponto de vista
da modernidade brasileira. Renasce em à crise pode sobrevir a virada. O jornal fiscal. Porém, nos momentos de crise,
tinta e papel o mais elegante dos jornais Existe um consenso pode ser uma peça de opinião indispensá- o papel do Estado reside em formular e
brasileiros, cuja beleza parecia uma forma
livre de concreto da arquitetura de Oscar
de que o Rio de vel no movimento de superação da crise.
Sobre a segurança pública, é urgente
implantar políticas anticíclicas, nas quais
o investimento público tem um papel
Niemeyer. José Américo de Almeida dizia Janeiro vive uma instaurar um debate iluminador, e aberto estratégico.
que ninguém se perde na volta. Carlos
Drummond de Andrade, poeta maior,
hora de aguda crise. às diversas tendências de opinião, de pro-
postas de superação da crise. Por exemplo,
Por outro lado, Temer e Pezão,
seguindo a bíblia do plano neoliberal
colunista por décadas deste jornal, cantou Mas à crise pode instaurar um debate de formulação de um “Ponte para o futuro” fizeram tudo
um dia que havia cansado de ser moder- Plano Integrado de Segurança Pública. errado. Desmontou a cadeia produtiva
no. Agora seria eterno. sobrevir a virada. O Desde julho de 2017, quando foi anun- do petróleo e gás, fundamental alavan-
No retorno em papel impresso, o JB,
que clássico moderno já é, encara o desa-
jornal pode ser uma ciada a GLO no Rio, governos federal e
estadual se comprometeram a apresentar
ca da economia carioca e fluminense.
“Resultado: em 2014, havia 450 mil
fio da eternidade. Para ser eterno precisa peça de opinião um Plano Integrado. Até hoje não aconte- desempregados no estado, hoje esse
ser diferente. Escapar do partidarismo e
da mesmice da grande mídia brasileira
indispensável no ceu. No plano de segurança, deve ganhar
destaque a reforma da polícia. A polícia
número triplicou, é de 1,3 milhão. Sem
atacar as causas da crise econômica, que
hoje. movimento de militar em todo o Brasil não investiga. requisitam investimentos e não cortes,
Antes de tudo, precisa investir em
grandes reportagens investigativas. Não
superação da crise. Precisamos estabelecer o ciclo comple-
to de investigação no âmbito da polícia
agravaremos nossos problemas.
Enfim, repito: não falta assunto emer-
falta assunto no Brasil e no Rio de Janeiro. militar. Temos muitas outras propostas, gente no Brasil e no Rio de Janeiro. Augu-
Depois, precisa ser plural como um arco- sou autor da PEC 51, que reestrutura o ro que o JORNAL DO BRASIL preencha
-íris e abrir espaços a todas as correntes de modelo de segurança pública no Brasil. uma lacuna na impressa brasileira.
opinião da sociedade. Mas também pre- O Rio de Janeiro foi o Estado mais aba-
cisa estar de olhos e ouvidos atentos para lado do Brasil pela política de neoliberal * Senador PT-RJ
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O JB e seu Castelo cafés. Assim conheci de José Sarney a Sobral Freitas, em 1958, quem modernizou
HÉLIO COSTA *
Pinto; de Dona Sara Kubitscheck a Oscar o jornal com o projeto JB, que teve o
Niemayer. De Mario Soares aos Secretários design gráfico de Amílcar de Castro,
O retorno do JORNAL DO BRASIL Gerais da ONU e da OEA. E muitas outras e coube a Alberto Dinis levar o jornal
às bancas com no seu formato tradi- personalidades nacionais e estrangeiras. ao seu apogeu nos anos 60.
cional é um marco histórico para a O leitor gosta de Lembro do dia em que Aparecido me O JB e Castelo sobreviveram ao
imprensa brasileira. Primeiro porque
no mundo inteiro os jornais estão can-
boas histórias e o convidou para tomar um café da manhã com
um uma pessoa que ele classificava como
Estado Novo de Getúlio, ao regime
militar, ao impeachment do primeiro
celando ou preparando o cancelamen- Jornal do Brasil “muito importante no cenário político na- presidente eleito democraticamente
to de suas edições impressas, que não
podem mais competir com a velocida-
tem a obrigação de cional.” Ao chegar a sua residência fui apre-
sentado a um dos jornalistas que eu mais
depois de 64. Agora o JORNAL DO
BRASIL chega ao ano 2018 com a
de dos jornais online e a fúria avassala- voltar a admirava e que ainda não conhecia pessoal- disposição de ser o padrão de jornal
dora das grandes corporações de mídia mente: Carlos Castelo Branco. Castelinho,
como Google, Facebook, Instagram e contá-las com a como era chamado pelos amigos, tinha sido
digital e traz uma proposta de vol-
tar a circular em edição impressa no
outros. Ninguém na imprensa brasilei-
ra está imune a esta onda que veio do
velha e a boa receita o secretário de imprensa de Jânio Quadros
e à época compartilhava o mesmo andar
seu formato tradicional. A Coluna
do Castelo também renascerá, assim
Norte e mudou a maneira de todos se que só o verdadeiro do Palácio do Planalto com José Aparecido, como o Informe JB e outras páginas
comunicarem, mesmo com o descrédi-
to das fake news e mentiras deslavadas
jornalismo possui.” então chefe de gabinete do presidente Jânio.
Fui uma manhã memorável.
consagradas.
“O carioca guarda tradições seme-
que passam por verdadeiras, tamanha Aparecido sempre me dizia que, muito lhantes às dos parisienses que ainda
a força das mídias sociais na Internet. embora vitorioso na carreira de jornalista, vão comprar o pão na padaria da
O que o empresário Omar Resende eu só seria reconhecido como político no esquina e sentam no café da calçada
Peres está fazendo é um movimento, Minha referência e modelo de vida dia em que Carlos Castelo Branco fizesse um para ler as notícias do dia”, diz Omar
no mínimo, ousado, mas que pode, pública exemplar era o ex-governa- comentário a meu respeito na sua respeitada Peres. E ele tem razão. Isto só já ga-
e vai dar certo, porque ele está acos- dor de Brasília e Ministro de Estado, Coluna do Castelo, no Jornal do Brasil. rante o sucesso do empreendimento.
tumado a trabalhar bem os ícones José Aparecido de Oliveira. Amigo Castelinho era o ídolo de todos nós jorna- Para minha honra maior, em 1990,
da Cidade Maravilhosa. Foi assim de muitos políticos e de jornalistas, listas do seu tempo, discípulos de seu estilo, na campanha para o governo de
que ressuscitou o Estaleiro Mauá, e o Brasil afora. seguidores de sua carreira, testemunhas de Minas, que perdi por apenas 1%, para
restaurante La Fiorentina, ponto de en- Mineiro de Conceição do Mato seu carisma e de sua credibilidade. Ele era, Hélio Garcia, a Coluna do Castelo, no
contro de artistas, no Leme. Da mesma Dentro, uma pequena cidade no alto como disse Augusto Nunes em sua passa- canto esquerda do caderno 2 do JB,
forma manteve viva uma tradição de da serra do Intendente, José Apa- gem pelo JB, “o maior comentarista político reconhecia a minha força política em
cem anos, o famoso Bar da Lagoa. recido era respeitado nos círculos da imprensa brasileira. Nunca empunhou Minas Gerais, lutando sozinho contra
O JORNAL DO BRASIL volta políticos mineiro e nacional como um gravadores. Jamais sacou do bolso do paletó as poderosas forças do Palácio da
às bancas com sua edição impressa habilidoso negociador e estrategis- o bloco de papel e a caneta que inevita- Liberdade.
paralelamente a uma moderna apre- ta. Tancredo, Teotônio Vilela, Paulo velmente inibem, quando não emudecem, O empresário Omar Resende Peres,
sentação digital, trazendo lembranças Brossard, Ulisses Guimarães, Maga- até campeões de loquacidade. Em vez de ao assumir a gestão do JORNAL DO
de um tempo que marcou a vida e a lhães Pinto, Juscelino Kubitscheck, anotar o que ouvia, armazenava na memó- BRASIL, em 2018, tem a responsabi-
carreira de muitos jornalistas. Eu fui João Goulart faziam parte de sua ria prodigiosa informações que, na manhã lidade de manter a tradição histórica
um destes privilegiados. enorme lista de amigos. seguinte, balizariam o que para uma imen- deste ícone da imprensa brasileira.
Em 1986, depois de uma vitoriosa O telefone era uma arma extraordi- sidão de leitores era mapa, bússola e guia: a
carreira como repórter internacional, nária nas mãos de José Aparecido. Ele Coluna do Castello, um templo devotado ao
que me levou a 73 países, e a chefe ligava para o meu gabinete e me “con- culto da verdade que se podia encontrar no *Ex-ministro de Estado das Comunica-
da Sucursal da Rede Globo em Nova vocava” para conhecer figuras impor- canto esquerdo da página 2 do JORNAL DO ções. Atualmente é Diretor da Oi Tele-
York, eu decidi entrar na política e fui tantes da vida pública nacional e in- BRASIL.” com e presidente do Conselho da ABT.
eleito deputado federal constituinte. ternacional em memoráveis almoços e Foi o respeitado jornalista Jânio de

Importância para o Rio e o Brasil


PAULO RABELLO DE CASTRO* conhecimentos pelo fluxo constante de jornal funciona como um hub cultural
informações pouco relevantes, qualquer se- e de notícias.
“Era dos que se consideram em jejum melhança com o “Admirável Mundo Novo” De fato, a versão impressa do jornal
e ficam de cabeça oca, se ao acordarem de Aldous Huxley não é mera coincidência. traz em si guardada, como um cader-
não espreguiçam o espírito por essas Nesse mundo de tantas realidades virtuais, no B e parte indissociável da publi-
toalhas de papel com que a civiliza- Faço alusão trazer de volta o contato físico com a infor- cação, a promoção da inclusão social
ção enxuga a cara ao público todas as também ao seu mação é uma inovação de grande mérito. pela descentralização e o aumento
manhãs”. José de Alencar in “Senhora” Satisfação essa que as mais novas gerações da oferta de serviços de informação
(1875). papel primordial de também merecem conhecer, e vão conhecer! relevante.
Os tempos atuais talvez estejam menos
acostumados à leitura do jornal im-
contribuir para o O retorno do JORNAL DO BRASIL recoloca
a publicação em um lugar de onde nunca
No Brasil, portanto, a cultura e a in-
formação - dois bens intangíveis - são
presso nas primeiras horas da manhã. desenvolvimento e o deveria ter saído. Não me refiro somente às tão concretamente necessários que
A internet, as redes sociais e outras
mídias digitais modernas têm exercido
fortalecimento das residências dos brasileiros e à proximidade
física com o leitor. Faço alusão também ao
estão entrelaçados à nossa busca pelo
desenvolvimento. Que as seis milhões
cada vez mais a função informativa. cadeias produtivas seu papel primordial de contribuir para o de páginas desta edição histórica se
Independente do veículo, ter acesso desenvolvimento e o fortalecimento das multipliquem, e marquem o início de
à informação imparcial, precisa, e de da economia cadeias produtivas da economia criativa no uma nova fase de sucesso na trajetória
qualidade, é essencial para o pleno criativa no país” país. A volta da versão impressa do Jornal do JORNAL DO BRASIL, do Rio de
exercício da cidadania. Em um mundo do Brasil dinamiza a atividade econômica Janeiro, e do país.
caracterizado pelo excesso de dados, nos centros de impressão em particular e em
sob o risco de uma banalização dos sua área de distribuição em especial, pois o *Presidente do BNDES
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René Garcia Jr. O Outro Lado da Moeda rene.garciajr@jb.com.br

Robôs e governos A construção da informação Jornalismo para quê


Um dos maiores problemas das notí-
cias falsas é que elas são majoritariamen- em um ambiente disruptivo O grande dilema da atividade jornalística hoje
é reconstruir o espaço para a verdade em um am-
te difundidas nas redes sociais por perfis biente contaminado por um vírus que compromete
igualmente falsos, controlados por robôs. A imagem de uma seta apontada para o leste é utilizada com frequência como sím- o próprio processo democrático. O jornalismo res-
As estimativas são de que cerca de 15% bolo de progresso. Ocorre que, de certa forma, esta visão quase cega de um porvir ponsável, papel que este JB desempenhou por mais
dos perfis do Twitter são falsos. No Face- glorioso, decorrente dos avanços da tecnologia, mascara e frustra as inquietudes. Leva de um século, é hoje, mais do que nunca, uma es-
book, os cálculos são de aproximadamen- à inação, como a que vemos quanto à questão ambiental, ao colapso climático, às de- pécie de vacina apta a extirpar a epidemia de que
te 10% de perfis falsos ou duplicados. mandas sociais e ao combate às desigualdades. falamos.
Isso explica a recente preocupação da Na realidade de 2018, esse mecanismo é potencializado por outras tendências con- Esses são os princípios e compromissos que vão
empresa criada por Mark Zuckerberg em temporâneas. O aparato quase fundamentalista de determinadas seitas, por exemplo, nortear esta coluna. De domingo a sexta-feira, bus-
frear a disseminação de notícias em ge- tem efeitos anestésicos sobre o pensamento crítico e combativo. Já a internet, com sua caremos entender e tratar os dilemas econômicos
ral, e não apenas as falsas cujo controle ampla e feroz multiplicidade de atores, trouxe um elemento anárquico ao processo. É e sociais do Brasil com um olhar diferente, privile-
tem se mostrado falho. Na verdade, o que uma ferramenta poderosa para ações de iconoclastas que derrubam convenções e au- giando o pensamento econômico contemporêneo,
o Facebook tentou ao mostrar que pode toridades estabelecidas, mas são incapaz de colocar algo construtivo no lugar. mas sem perder a perspectiva do passado, que ainda
abrir seus algoritmos para os usuários foi Boxell, Gentzkow e Shapiro realizaram uma pesquisa intitulada “Is the Internet nos cobra um preço tão alto, e do futuro, que apre-
neutralizar um movimento que é crescen- Causing Political Polarization? Evidence from Demographics” (http://www.nber.org/ senta desafios tão diversos.
te entre analistas e governos. papers/w23258). Analisaram o aumento da polarização na política norte-americana
Leis como a )instituída recentemente
pelo governo alemão (Netzwerkdurch-
ao longo das últimas cinco décadas e constataram que, no período recente, as mídias
sociais de fato contribuíram para criar uma espécie de estratificação de eleitores.
Desconfiança digital
setzungsgesetz, apelidade de NetzDG) O efeito das informações que circulam nesse meio, segundo a pesquisa, é maior em Para a consultoria Gartner, uma das maiores do
obrigam as mídias sociais a detectar e alguns grupos, especialmente jovens sem formação universitária, idosos, segmentos da mundo na área de tecnologia, apesar do desenvolvi-
remover os chamados discursos de ódio. população com tendência a radicalismo religioso e trabalhadores menos qualificados. mento dos instrumentos de Inteligência Artificial-
Já a Comunidade Europeia criou um site Também foi notado o efeito na criação de crenças e na polarização dogmática. Os in- -IA, a dificuldade de detecção de notícias falsas será
contra fake news e tem uma força-tarefa tegrantes desses grupos têm em comum o costume quase que exclusivo de acessar as crescente. Com isso, até 2020, deve aumentar con-
para estudar e eventualmente regulamen- mídias sociais como reforço de suas crenças e exacerbação dos posicionamentos ideoló- sideravelmente a desconfiança digital. Na verdade,
tar o assunto. gicos. O efeito prático e o resultado de tal constatação podem ser vistos pela eleição de muitos dos instrumentos de IA estarão direcionados
Mesmo entre os analistas da área de Donald Trump em 2016. para produzir realidades falsas em formatos tão di-
tecnologia, é pequena a resistência a esse Os fenômenos do culto aos fatos alternativos e da propagação de notícias falsas é versos como fotos, vídeos e documentos.
tipo de iniciativa. Em artigo recente, o es- mais um sintoma desse contexto, ajudando a agravar o quadro geral do doente, que A previsão está no relatório da consultoria que
pecialista em ética digital da consultoria padece também de uma crescente desigualdade socioeconômica e de enormes desafios lista as principais tendências para a área de Tecnolo-
Gartner Group, Frank Buytendijk, defen- em campos tão diversos quanto segurança pública, educação, emprego e saúde pública. gia da Informação e Comunicação (TIC) para 2018
deu o papel dos governos na governança Não somente implicam na incapacidade do ser humano em discernir sobre a sua pró- e os anos seguintes. Na avaliação da consultoria, até
das redes sociais. Segundo ele, é preciso pria existência, como, na prática, equivalem a um vírus, sendo o hospedeiro e agente 2022, a maioria das pessoas nas economias maduras
ter certeza de que os objetivos comerciais de contaminação, pois carente de doses maciças de “fatos e eventos alternativos”, notí- irá consumir mais notícias falsas do que informação
e da sociedade não são conflitantes. cias falsas que confirmem a valoração de suas escolhas. verdadeira.

Colaborou Renata Batista


Domingo, 25 de fevereiro de 2018 Sociedade Conheça nosso site www.jb.com.br • 29

Nota da Redação
Em respeito aos leitores, aos eleitores e aos con- sido incluídos entre as autoridades às quais foram
tribuintes do Estado do Rio de Janeiro, o Conse- solicitados depoimentos sobre a importância da
lho Editorial do JORNAL DO BRASIL tomou a volta do JB às bancas.
decisão de não convidar o ex-governador Sérgio
Cabral, preso e condenado por corrupção, assim Convidados a escrever, os ex-governadores An-
como o presidente licenciado da Assembleia Le- thony Garotinho e Rosinha Matheus não envia-
gislativa do Estado, deputado Jorge Picciani, acu- ram seus depoimentos até o fechamento desta
sado e preso pelo mesmo motivo. Ambos teriam edição.

Uma nova parceria


LUIZ GASTÃO BITTENCOURT * história e a fazer a diferença para o povo flu- suas vidas.
minense. JB, Sesc e Senac, temos tudo a ver. O JB nasceu no pós-República, em
O renascimento do JB, em sua ver- Após a vitória dos aliados na Segunda um país em formação civil e demo-
são impressa, além das óbvias conse- Guerra Mundial e a queda do Estado Novo, crática. Sua história brilhante incluiu
quências sobre o mercado e o leitor, empresários brasileiros comprometidos com a contestação a uma República in-
carrega um simbolismo arrebatador: o
fortalecimento de uma imprensa livre
Vivemos hoje um o desenvolvimento econômico, em harmonia cipiente e, muito anos mais tarde, a
com o bem-estar social, participaram como
e autônoma. Fundado em 1891, o JB momento difícil nunca da democratização do país. Surgia aí o
resistência à ditadura de 1964. Foi um
dos raros veículos a perseverar. Suas
volta depois de 7 anos e seis meses ao
formato papel, além de um realinha-
para o nosso Rio de Sesc e o Senac, no bairro Engenho de Den- capas ajudaram a contar a verdadeira
tro, com seu papel histórico, de onde nunca história de nosso país. Esse espírito
mento total em suas versões online e Janeiro. Mais do que deveria ter se arredado.  está vivo.
tecnológica. Não como mais uma pilha
de folhas, mas como o resgate de um nunca, ele precisa de Vivemos hoje um momento difícil para o
nosso Rio de Janeiro. Mais do que nunca, ele
Neste momento em que o JB renas-
ce, e que Sesc e Senac resgatam, sob
ícone carioca, fluminense, brasileiro. 
A volta do JB às bancas coincide
nós. E nós, do nosso precisa de nós. E nós, do nosso lado, temos nova administração, suas missões, te-
com o renascimento de outro símbolo, lado, temos um um papel importante a cumprir. De recu-
peração de valores de transparência, ética,
mos o papel de nos unirmos em torno
de todas as organizações que queiram
as instituições Sesc/Senac, criadas em
1946, não por acaso também no Rio de
papel importante a na prestação de serviços sociais nas áreas de construir novo futuro para o nosso
educação, saúde, esporte, cultura, lazer, as-
Janeiro. Por isso, a nova gestão do Sesc cumprir. sistência e mais opções de cursos de capaci-
castigado Rio de Janeiro. A missão está
dada. Vamos cumpri-la.
e do Senac RJ, iniciada em dezembro de tação e formação para o mercado de traba- Viva o JB! Viva o Sesc/Senac!
2017, não só se congratula, mas se une lho, com o objetivo de dar oportunidades a
ao JB para voltarmos a protagonizar a milhares de trabalhadores de transformarem * Administrador do Sesc/Senac Rio
30 • Conheça nosso site www.jb.com.br Sociedade Domingo, 25 de fevereiro de 2018

Intervenção na informacão
CHICO ALENCAR* Sem a operação intelectual da leitu- da pluralidade, da diversidade de
ra não nos constituímos plenamente, opiniões, da consciência crítica.
como indivíduos ou como povo. Mas Fenda no processo de monopoli-
Nos anos 50, chegavam em casa, zação da notícia, na limitação da
faço uma observação derivada de minha
na Tijuca, todo dia, o leiteiro e o É alvissareiro experiência pessoal: a leitura no con- análise. Agregação de democracia
carteiro. E, pelas mãos do meu termos, nas bancas, creto do papel – de um livro ou de um da comunicação no nosso sistema
saudoso pai, o Correio da Manhã, na cena pública, nas jornal – imprime mais profundidade e democrático formal, banal, de bai-
a Tribuna da Imprensa, O Globo e
nossas mãos, desde o durabilidade na minha mente. Meu lado xa intensidade, vítima de frequen-
o Jornal do Brasil. Jornalista com
carteirinha da ABI, seu Alencar era
café da manhã, mais “neanderthal” recorta artigos e repor- tes espasmos autoritários.
Avô que gosta de passear nas
obcecado pela informação e diversi- um ponto de vista. tagens para colar no meu caderno de
apontamentos... Sigo considerando jor- memórias da infância, perguntei
dade de fontes. Não havia noticiário Água no moinho nais os diários da maravilhosa e trágica ao Emanuel, meu amado filho
de rádio e da iniciante TV que ma- da pluralidade, caminhada da humanidade. jornalista, o que achava da volta
tasse sua sede de saber. Herdei isso da diversidade Hoje, quase todos os jovens e vários da do JB. Ele me revelou, talvez sem
dele: não consigo ficar sem a leitura
de opiniões, da minha geração sexagenária se satisfazem querer, que eu repeti meu pai:
diária, no papel, de pelo menos dois
jornais.
consciência crítica" com a leitura na telinha. Mas volta e meia “a volta do JB é o retorno à casa
os surpreendo desinformados de dados daquele parente querido, depois
“Quem não lê, mal fala, mal ouve, de muito tempo. O JB, para mim,
trazidos por matérias imprescindíveis
mal vê”. Esse anúncio, em enorme é a leitura diária da adolescência,
para formação de opinião qualificada.
placa no centro do Rio, sempre me salpicada por uma gostosa sensa-
Talvez porque o atraente brilho do jornal
impressionou. Como me impres- ção de tinta nas mãos – vai expli-
digitalizado canse a vista e induza à cele-
sionaram, na juventude que resistia car isso para os mais novos... Até
ridade, marca do nosso tempo fugaz.
à ditadura da censura e da tortura, hoje me lembro da fonte usada
O JB que volta abre novos postos
colunas e capas do JB. Guardo, ama- nos títulos!”.
de trabalho no jornalismo tão atingi-
reladas, a do AI-5 e a do golpe de Que a chama reacesa não se
do pelo desemprego, e isso é positivo.
Pinochet. Em livros de História que apague, para o bem do Rio e do
Mas é igualmente alvissareiro termos,
ajudei a escrever lá também estão Brasil!
nas bancas, na cena pública, nas nos-
elas. O Caderno B foi uma revolu-
sas mãos, desde o café da manhã, mais *Professor de História, escritor e deputa-
ção gráfica e cultural.
um ponto de vista. Água no moinho do federal (PSOL/RJ)
Domingo, 25 de fevereiro de 2018 Sociedade Conheça nosso site www.jb.com.br • 31

Sem jornalista não há jornal


a necessidade da escrita? E com tal dos desde a primeira página do
MIRO TEIXEIRA *
síntese? nascente Jornal do Brasil, mais
de um século atrás.
Desejando contratar um jor- Em peles de animais papiros e ou- O estilo das análises de Carlos
nalista com grande poder de
síntese Roberto Marinho pediu
Boa notícia para tros suportes das épocas, foram Castelo Branco, o Castelinho,
escritos e transmitidos a gerações o
conselho a Armando Nogueira, todos. Essa é a Velho e o
hoje é encontrado em sites e nos
horários de rádio e TV.
que indicou Otto Lara Resende. primeira boa notícia
- Ele tem mesmo poder de
do JB, muito em Novo Testamento. E aí chegamos a novo ponto.
Tudo se acelera com as inovações de A tecnologia acabou com o
síntese? - perguntou o dono da especial para o Gutenberg à prensa de tipos móveis, “dono da notícia”. Um meteoro
Globo. mundo profissional usada rudimentarmente pelos chi- caiu na Rússia e em segundos

- Tem, sim. Se ele fosse o escriba, do jornalismo" neses séculos antes. Lutero imprime
seus textos reformistas, traduz para
mais de mil imagens circulavam
pela Internet.
os Dez Mandamentos seriam o alemão os livros sagrados – escri-
cinco. tos em latim, grego ou sânscrito - e Disponível o limpo ambiente
sua Reforma se propaga. A censura da verdade imediata, volta o JB
Otto foi contratado. da Inquisição, sem facebook, youtu- impresso às bancas de nossas
be, Whatsapp, também. Gutenberg esquinas e, seguramente, em
Desde as cavernas e por intuição inventou tal prensa e a censura (rs). versão eletrônica, com os espa-
ou sabedoria inata, a Humani- ços de interação com os leitores.
dade percebeu a necessidade Com as transmissões de informações Boa notícia para todos. Essa é
de deixar suas experiências e pelo rádio, imaginou-se o fim dos a primeira boa notícia do JB,
conhecimentos resumidos aos jornais impressos e com a televisão, muito em especial para o mun-
pósteros, palavra que não seria profetizou-se o fim da era do rádio. do profissional do jornalismo, à
usada pelo Otto. Com a Internet, adivinharam o fim vista da ampliação do mercado
dos dois meios de comunicação. de trabalho.
Assim foi com Moisés, que Para meu uso, entendo que as tec-
recebeu de Jeová, no Monte nologias se completam a oferecer No velho jargão da imprensa,
Sinai, duas pedras com os Dez experiências aos novos meios. gravatões (financistas), fecham
Mandamentos nelas escritos. jornais. Jornalistas os fazem.
Se o próprio Deus decidiu que A informação objetiva, direta, a Viva o papel do JB.
era melhor deixar publicadas quem estava interessado em comprar
Suas leis, como posso eu negar ou vender era tuitada nos classifica- *Deputado federal (Rede-RJ)
32 • Conheça nosso site www.jb.com.br Sociedade Domingo, 25 de fevereiro de 2018

Na casa do meu avô 


OTAVIO LEITE* dúvida, um fator muito importante Nesse sentido, a presença de um
para expandir meus horizontes e veículo que traz a positiva carga
O retorno do JORNAL DO BRA-
curiosidades. histórica que só o JB possui sig-
SIL me traz, de saída, uma agradável
 Outro aspecto que sempre me nificará uma grande contribuição
lembrança, que guarda relação com  A liberdade chamava atenção era um ingredien- para a informação e a notícia no
a construção da minha consciência de imprensa e te imaterial que eu poderia traduzir Brasil. É hora de fazer com que as
de cidadão. a pluralidade numa espécie de “charme exclusivo” novas gerações tenham acesso ao
 O fato é que todos os dias pela
de veículos são que só o JB possuía: um jornal de maior número de variantes jorna-
manhã, quando da chegada do
exemplar do JB na casa do meu avô
pressupostos conteúdo, um jornal moderno, um lísticas distintas, para que com-
preendam e incorporem às suas
Julio – onde eu residia –, seguia- fundamentais para jornal a cara do Rio, um jornal para o
Brasil.  consciências a importância do res-
-se um ritual curioso. Sentava-me a democracia. A Passado tanto tempo, nos dias peito ao contrário, da tolerância e
próximo a ele, e ficava à espreita presença de um de hoje, em meio aos bombardeios da predisposição a ouvir e aceitar
aguardando sua conclusão da leitura veículo com a positiva e multiplicidades de informações interpretações distintas daquela
das duas primeiras páginas, pois,
carga histórica do associadas à velocidade sem igual das que até então possuía. O JB aju-
em seguida, seriam repassadas para
mim.
JB significará uma notícias, enxergo a necessidade de se dará, e muito, essa perspectiva de

 Significa dizer, ato contínuo, que grande contribuição trabalhar o jornalismo numa pers- um mundo que exige equilíbrio,
pectiva mais profunda, mais analítica. temperança e raciocínio para a
eu, rapidamente, lia as informa- para a informação e construção de um discernimento
E, ao observar a equipe que agora o
ções principais do que acontecia no a notícia no Brasil" resgata, tenho a tranquilidade de que sólido.
Brasil, na cidade, no mundo, tentava
o JB do século XXI trará algo mais a   Vejo, portanto, com satisfação
absorver as linhas e entrelinhas do
oferecer aos seus assinantes e leito- e alegria o grande retorno do JB
Castelinho e, ao mesmo tempo, ti-
res, além de ingredientes exclusivos, ao cotidiano da sociedade brasilei-
nha as notícias desportivas. Além de
abordagens de mais fôlego, com a ra e quero abraçar todos os que se
tirar dúvidas e trocar ideias com ele,
dimensão especial da experiência dos emprenharam para trazer de volta
que havia sido Senador da Repúbli-
profissionais que farão o jornal. às bancas, físicas e digitais, esse
ca, por Sergipe.
 A liberdade de imprensa e a plu- emblema do jornalismo do país,
 Essa sistemática perdurou du-
ralidade de veículos são pressupostos que é o JORNAL DO BRASIL.
rante anos na minha vida e foi, sem
fundamentais para a democracia. *Deputado Federal (PSDB-RJ)
Domingo, 25 de fevereiro de 2018 Sociedade Conheça nosso site www.jb.com.br • 33

JB: jornal de gerações Intervenção na informacão


são cada vez mais atingidos por uma en-
CARLOS MINC* tas e pacifistas contra a presença CARLOS ROBERTO OSÓRIO* xurrada de notícias rasas, recheadas de
de submarinos americanos com parcialidade, além de fake news de toda
Em meio a tantos problemas que sorte, vejo no JORNAL DO BRASIL um
Com enorme alegria recebemos armas nucleares. A qualidade dos assolam a rotina dos cariocas, incer- convite a análises mais profundas das
a volta do Jornal do Brasil! Nosso jornalistas, dos colunistas, os furos tezas políticas, sociais, e a crise no seu questões que nos cercam.
companheiro fiel do café da manhã do Informe JB, as matérias de momento mais agudo, eis que a volta
de todos os dias está de volta. Que do JORNAL DO BRASIL impresso Nosso velho jornal encontrará um Rio
fundo sobre as inovações culturais surge como um farol para ajudar o Rio de Janeiro de pernas para o ar, sob
saudades! Tenho, como muitos da constituíam nosso oxigênio mati- a reencontrar o seu caminho. intervenção federal, com um governo
minha geração, uma grande rela- nal, estímulo para pensar, comen- estadual podre em todas
ção afetiva, política tar e agir. É inegável que as suas entranhas, ao lado de
boas lembranças uma prefeitura inepta e
e existencial com o sobrevivem e resistem ausente. Perdemos o rumo,
JB. Desde os anos de Nestes tempos bi- ao tempo. Agora, o mas teremos a oportuni-
chumbo, de resistên- cudos que vivemos, prazer de poder des- dade de retomá-lo a partir
cia à ditadura militar, frutar diariamente do das eleições deste ano.
“Patrulha especial com a onda obscu- hábito de folhear as “Patrulha especial Precisamos olhar de frente
nossas passeatas do rantista, ameaças aos páginas desse querido
movimento estudantil e vigilância e vigilância as nossas mazelas, anali-
direitos dos traba- impresso, de tantas sar suas causas, e buscar
sempre destacadas constante. Pressão lhadores, dos LGBTs, tradições e serviços constante. Pressão um novo caminho para o
prestados ao Bra-
em fotos e matérias para aprovar das mulheres, às sil, poderá ser revivi- para aprovar futuro. Isso passa obrigato-
riamente pela política, hoje
corajosas, nos tempos as emendas terras indígenas, aos do a cada manhã.  as emendas tão desacreditada! Não
em que a liberdade de parques nacionais,
Diversidade um Não havia melhor Diversidade um tenho dúvidas, precisamos
de ampla renovação em
imprensa era violada por parte de banca-
diariamente. Parece
tema cada vez das fundamentalistas,
momento para a tema cada vez todos os níveis e isso só se
retomada. A volta do
que alguns esquece- mais presente em ruralistas, da bala, JORNAL DO BRASIL mais presente em
conquista com participa-
ção, engajamento e diálogo.
ram, ou sequer conhe- nossa sociedade” vemos com forte se faz especialmente nossa sociedade” E é aí que entra novamente
importante nesse pe- em cena o JB, para sorte do
ceram essa dolorosa esperança a volta do ríodo de riscos e tur- Rio de Janeiro.
página da nossa história, e clamam JB, como mais um espaço inde- bulências em que a democracia precisa
pela volta da ditadura. Com a pendente para leituras críticas da ser defendida e a cidadania reafirmada. A sociedade brasileira, em especial os
anistia e a volta dos exilados o JB realidade, para debates de fundo Quem foi ou é leitor assíduo como eu, cariocas, aguardavam ansiosos por esse
sabe que a linha editorial do JB nunca domingo. Nenhum outro veículo foi tão
abrigou as novas tendências, movi- sobre a nossa realidade, e como se definiu por replicar informações. É importante na luta pelas liberdades e
mentos culturais e políticos. Com um contraponto à supremacia con- uma relação que vai muito, muito além pela democracia como o JORNAL DO
o crescimento das lutas ecológicas, servadora, liberal e preconceituosa disso. Por meio de um jornalismo co- BRASIL. Nas suas páginas a cultura e
nos anos 80, lembro de capas do rajoso e de qualidade, sempre conse- modo de viver dos cariocas ganhavam
que navega na desesperança e na guiu instigar debates construtivos e alma. É preciso recomeçar. Temos o
JB estampando fotos de ecologistas desinformação. Benvindo de volta jogar luz sobre temas fundamentais dever de crer e lutar por um Rio me-
protestando contra a poluição dos nosso saudoso e querido JB. para o fortalecimento de nossas insti- lhor. Que a retomada deste importante
ônibus com batatas nos canos de tuições e a construção de uma socieda- impresso sirva como força para que nos
de mais justa. reencontremos com nosso destino.
escape, com a rolha ecológica. E das *deputado estadual (RJ), foi ministro do
meio ambiente (2008/2010)
manifestações em barcos de artis- Em uma conjuntura em que cidadãos *Deputado estadual do Rio de Janeiro
34 • Conheça nosso site www.jb.com.br Sociedade Domingo, 25 de fevereiro de 2018
Domingo, 25 de fevereiro de 2018 Internacional Conheça nosso site www.jb.com.br • 35

MEMÓRIA DO MUNDO

A manchete que Allende não teve


Censura militar proíbe título e foto na primeira página sobre morte de presidente chileno
em setembro de 1973 e equipe de Alberto Dines entra para a história do jornalismo
Reprodução
36 • Conheça nosso site www.jb.com.br Internacional Domingo, 25 de fevereiro de 2018

MEMÓRIA DO MUNDO

Repórteres acima de tudo


Na história do JB, “furo” mundial com a foto de Neruda morto e o fim da Primavera de Praga
Não existe jornalismo sem repórteres, como serviu para desmentir versões sobre a morte Varsóvia. No mesmo ano, a ofensiva do Tet
mostrou a editoria Internacional do JORNAL do poeta. Há 50 anos, na Tchecoslováquia, foi o marco inicial da derrota dos EUA no
DO BRASIL . Em 1973, Evandro Teixeira foi outro repórter brilhou. Mauro Santayana Vietnã. Em 1991, a Guerra do Golfo trouxe
o único a fotografar Pablo Neruda em seu narrou o fim da Primavera de Praga com um novo desafio: cobrir um conflito que
caixão. Um “furo” mundial, que, inclusive, invasão do país pelos tanques do Pacto de começou nas telas da CNN.
Reproduções
Rio de Janeiro — Domingo, 25 de fevereiro de 2018 Não pode ser vendido separadamente

Esportes
JORNAL DO BRASIL

O Maraca era nosso Ronaldo Theobald/1969

Precisa voltar a ser


GUILHERME BIANCHINI todos. Alguns, no entanto, com mais derrotar o Paraguai por 1 a 0, com gol Zico, Roberto Dinamite, Jairzinho e
guilherme.bianchini@jb.com.br protagonismo: autoridades estaduais, de Pelé, para alegria de Tostão (foto Paulo Vítor contam os momentos ines-
dirigentes da Federação do Rio e dos clu- acima), nas eliminatórias para a Copa quecíveis que viveram no estádio em
Uma final da tradicional Taça Guana- bes, e, evidentemente, a concessionária. de 1970, virou palco para shows, como o Cariocas. Outros craques, João Saldanha,
bara fora do Rio. No Espírito Santo, em O futebol não pode ficar sem o Mara- de quinta-feira, com Phil Collins. Nada Armando Nogueira, Sandro Moreyra e
Cariacica. Um Fla-Flu em... Cuiabá. O canã. O Maracanã não pode ficar sem o contra o grande músico. Renato Maurício Prado, fazem o mesmo.
futebol do Rio está exilado. Não é possí- futebol. O local em que 183.341 torcedo- Nesta edição, voltamos ao passado O Maracanã precisa recuperar sua alma.
vel apontar um culpado. Talvez sejamos res pagaram ingresso para ver o Brasil mas apostando num futuro diferente. O futebol. Mãos à obra.
Felipe Alvarez-Que Vista!
2 • Conheça nosso site www.jb.com.br Esportes Domingo, 25 de fevereiro de 2018

Renato Mauricio Prado Futebol & Cia renato.mprado@jb.com.br

Grito parado no ar e lição no assobio


Q uando Toninho Baiano bateu o quarto pênalti, estufando
a rede de Mazaropi, o coro de “é campeão” ecoou forte
às minhas costas. Ato contínuo, à minha frente, a torcida
E eu, em mais de 40 anos de carreira, iniciada naquele ano de 1976,
no JORNAL DO BRASIL, nunca escondi que sou rubro-negro.
Sem jeito e, para não contrariá-lo, fui perguntando e
anotando as respostas, sem muito entusiasmo. Dias de-
pois, enfim, consegui falar com Pelé e escrevi o texto.
do Vasco começou a deixar as arquibancadas do Maracanã. E o que o negão disse? Exatamente o que Oldemário dissera...
Explico: eu estava deitado atrás da baliza, à esquerda da tri- Timaço, aço, aço
buna de honra, onde se disputava a decisão por pênaltis, da No JORNAL DO BRASIL tive a honra de trabalhar com
Taça Guanabara de 1976. E faltava apenas um batedor para jornalistas do mais alto calibre. A editoria de esportes era então A profecia do João
o Flamengo. Zico... comandada por João Máximo, assessorado pelos saudosos Viajar com João Saldanha era uma delícia e equivalia a
O que eu fazia ali? Bem, essa é a história. Porque a daquela subeditores Roberto Porto e Vicente Senna. Faziam parte do autêntico MBA de jornalismo. No exterior, ele dava mais
final, todos sabem. O craque do Mais Querido perdeu, o grito time craques como Marcos de Castro, Oldemário Touguinhó, entrevistas do que qualquer jogador ou técnico da seleção.
da Nação ficou parado no ar; os vascaínos voltaram correndo e Sandro Moreyra, Victor Garcia, Octávio Name, José Inácio Certa vez, numa viagem para a Bolívia, falando sobre
o Gigante da Colina conquistou o título nas cobranças extras: Werneck, Antônio Maria Filho, Milton Costa Carvalho, Márcio a companhia aérea que nos transportaria e nos deixava
Geraldo Assobiador perdeu, Luís Augusto converteu. Guedes, Maria Helena Araújo, Márcio Tavares, Lúcia Regina apreensivos, a LAB (Loyd Aéreo Boliviano), sentenciou:
Assisti a tudo tão de perto, porque a missão que me tinha sido Novaes, Fernando Calazans, Sandra Chaves e, claro, João Salda- – Os aviões deles são até mais modernos que os nossos. E os
dada pelo editor João Máximo, era descrever, numa reportagem nha! Imagine para um estagiário, como eu, de repente, passar bolivianos são ótimos pilotos. O perigo é pegar um brasileiro,
assinada no JORNAL DO BRASIL (a primeira de minha carreira!) a conviver com o “João sem Medo”. Devo ter esquecido alguns porque eles contratam a turma que foi mandada embora da
todas as reações do treinador rubro-negro, Carlos Froner, durante nomes e, antecipadamente, me desculpo. Era tanto craque junto Varig por imperícia!
o duelo. Por isso, resolvi ver a decisão no fosso dos fotógrafos, que dava para formar umas três seleções de jornalistas. Embarcamos e, claro, o piloto era brasileiro. E tomamos
bem atrás do banco do Flamengo. um tremendo susto, logo no início da viagem! Menos mal que
Terminados os 90 minutos (empate em 1 a 1), aproveitei a ficou só sobressalto...
confusão antes da cobrança dos pênaltis, me escafedi campo Oldemário e Pelé
adentro e deitei-me junto ao pé da trave esquerda, antes que No majestoso prédio da Avenida Brasil, vivi histórias ines-
alguém me expulsasse (repórteres de jornal não podiam ficar quecíveis. Uma delas aconteceu numa noite em que fiquei até Carnaval no JB
no campo, somente os de rádio). mais tarde na redação, para adiantar um “freela” que fazia para Na redação do JB havia também personagens folclóricos. Num
Encerrado o drama, sim porque aquela decisão, ao menos a Interbrás - um lançamento de produtos brasileiros na Nigéria, carnaval, com o horário de fechamento antecipado, todos chega-
para os rubro-negros, teve todos os ingredientes de uma tragédia badalado por um amistoso do Fluminense, com Pelé atuando ram cedo. Menos um. Faltava o repórter que cobria o América,
grega, me dirigi cabisbaixo para os vestiários, onde a entrevista um tempo pelo tricolor e outro pelo time nigeriano. uma figuraça chamada Oswaldo Tinoco. Quando João Máximo
do técnico gaúcho seria o fecho das minhas apurações. Eu precisava, então, fazer 10 perguntas ao Rei do Futebol e não já estava arrancando os cabelos, eis que ele chega, envergando
As portas do lado rubro-negro demoraram mais de 45 minutos havia jeito de encontrá-lo. Já tinha ligado para a casa dele, para a a fantasia do bloco “Canarinhos da Engenhoca”, senta-se na
para se abrir e, quando enfim, pudemos entrar (naqueles tempos família e para os amigos e ninguém sabia onde ele estava. Por volta máquina de escrever, batuca o seu texto, o entrega e sai, feliz da
jurássicos, os jornalistas entrevistavam os jogadores enquanto de 2 horas da manhã, com o andar da redação completamente vazio, vida, para se entregar aos braços de Momo...
tomavam banho e se vestiam para sair) o primeiro que vislum- eis que ouço passos no corredor! Seria o fantasma do “conde”? Não.
brei foi Geraldo, se enxugando com uma toalha e, fazendo jus Era o Oldemário, que abriu a porta da sala do esporte assobiando
ao apelido, assobiando, como se nada tivesse acontecido - e fora e tomou um susto ao me ver. Expliquei-lhe meu drama (ele era o Honra
ele quem perdera o último pênalti! Que lição! Afinal, por que maior amigo de Pelé na imprensa), mas nem ele conseguiu achá-lo. Dividir uma página de colunistas com Armando Nogueira,
estava eu sofrendo como um condenado? – Deve estar em NY. Faz o seguinte, me diz quais são as per- João Saldanha e Sandro Moreyra é muito mais do que um sonho
Por questão de justiça, registro: Zico também estava arrasado. guntas que eu respondo. Eu sei o que ele pensa! para aquele foca de 1976.

MEMÓRIA /JORNAL DO BRASIL

Maracanã O fim da picada


R evejo, com saudade, as bandeiras
das tuas batalhas repartidas sobre
o campo
divide: louvor e blasfêmia, alegria e desdita
És o gol de Gigghia, celebrado com
um minuto de silencio à soberba nacional
rara nobreza que tratava a bola como se
trata uma flor
És Ademir Menezes correndo, olím-
Q uando o Maracanã anuncia a renda — com a voz
grave e séria do Gutemberg ou agora pelo placar — e
se trata de um rendão, a exclamação vem uníssono. No
Revejo, com saudade, a tua multidão És o Ignorado herói de uma tarde pico, pelos indizíveis caminhos do gol placar, então, em números barricais (maiores do que
que torce e distorce a verdade até morrer, cujo gol restou sem data corto se nunca És Carlos Castilho, santo goleiro que fa- garrafais), lá vem: “OITO MILHÕES não sei quantos
doa a quem doer houvera sido feito zia milagres pelos confins da pequena área mil e tantos cruzeiros”. Nós ficamos muito orgulhosos,
Revejo, com saudade, as esperanças És gol de placa que ninguém sabe ao És Pelé, cujos gols eram tramados na ingenuamente.
que se perdiam pela linha de fundo no certo como nasceu mas que o tempo vem véspera (ele trazia de casa as traves e a Nosso futebol é o mais rentável do mundo. É o que
entardecer de cada jogo tratando de fazê-lo cada dia mais bonito bola do jogo) tem maior público, quando os jogos são bons. Claro, o
Quantas vezes foste a minha pátria Gol de fábula És Garrincha, que dobrava as esquinas povão não é trouxa. Viram que povinho tinha lá, outro
amada, idolatrada, salve, salve a seleção!! És o craque que passa, sem pressa, da área driblando Deus-e-o-Mundo com dia, quando jogaram Brasil e Uruguai, dois campeões
Quantas vezes a minha alma escapava de tecendo a promessa de gol com a bola a bola jovial da nossa infância do mundo mais de uma vez?
mim e, sem que o árbitro notasse, aparecia nos pés e os olhos na linha do horizonte Quanta saudade daquele drible pela Lógico, noite fria e televisão em casa, quem iria?
na pequena área, providencial, para fazer És Gérson e Jair da Rosa Pinto, que ti- direita que alegrava as minhas jovens Vinte e poucas mil pessoas, o que é um fracasso em
o gol da vitória nham no pé esquerdo o rigor da fita métrica tardes de domingo. És, enfim, a vitória e matéria de seleção nacional.
Perdi a conta dos gols que fiz com pés És Nilton Santos futebol de fino trato, a derrota, caprichosa imitação da minha Mas interesses inconfessáveis, monetários e de sim-
que nunca foram meus na majestade e no saber vida; E porque és uma parte da minha ples faturamento de prestígio ou de tráfico de influência
Saudade de certa lágrima de vitória És Zizinho, que conhecia, como nin- memória seguirei cantando, comigo, a fazem do futebol mais rentável do mundo um dos mais
que, um dia, vi brilhar no rosto quase guém, todos os atalhos da tua geometria melodia de teu doce nome pobres, senão o mais pobre, proporcionalmente. Todo o
meu de uma criança És Zico, que driblava ciscando a grama, Maracanã, Maracanã. mundo bicando, bicando, e a entidade, clube ou a alegria
Maracanã suave como uma pluma do povão que se danem.
És a fantasia da paixão que aproxima e És a “folha-seca” de Didi, fidalgo de Texto para os 40 anos do Maracanã Temos aqui nosso Campeonato. Com sua péssima
tabela, organizada poucos dias antes das competições e
até durante.
De repente, uma rodada inteira é adiada, porque o
Cosmos e a seleção argentina jogam em Nova Iorque. O
jogo vai ser televisado diretamente para o Brasil e pronto.
Fizessem isto na Inglaterra, na França, Paraguai ou Itá-

“Ué! Eles falam a nossa língua!” lia. Não seria possível, porque a avacalhação (pessoal ou de
entidade) não tem preço. Mas aqui tem.
Eles se vendem muito barato. Fosse na Inglaterra e a

D e passagem pelo Rio em viagem de


treinamento, um grupo de marinhei-
ros ingleses resolveu ir ao Maracanã na
cida rubro-negra. Essa, desconfiada, sem
saber a procedência daquela marujada,
não parecia muito satisfeita.
também corner e off-side.
De repente, Nunes entra pela área vas-
caína e leva um tapa, caindo. A galera
televisão jamais mostraria um jogo externo, pois as leis
severas e de proteção aos interesses esportivos nacionais
fariam valer sua letra.
tarde em que se jogava o sempre agitado – Marinheiro deve ser Vasco – disse rubro-negra levanta-se num impulso só, É o fim da picada — e todos sabem que depois do fim da
clássico Vasco e Flamengo. Com seus um. Vasco foi Almirante e eles são ligados a reclamar pênalti e junto com ela os 12 picada vem a ribanceira, o precipício ou o grande buraco.
uniformes brancos, aboletaram-se nas a essas coisas do mar. ingleses, mãos em concha na boca, gri- Também uma pedra intransponível. Do contrário, a picada
arquibancadas, maravilhados com o es- Mas inicia-se o jogo, e logo os ingleses tando ao mesmo tempo: penalty, penalty! continuaria.
petáculo do estádio repleto, barulhento e interessados começam a torcer: – Foul - Foi quando um crioulo, bandeira na É vergonhoso e cheira a asco que os homens que dirigem
embandeirado. berravam em coro, depois de uma entrada mão, fitinha na testa, vira-se para o par- o futebol carioca, em busca de triste notoriedade, adiem uma
Eram 12, e se colocaram do lado es- violenta em Bebeto. E pouco depois outro ceiro ao lado e diz surpreso: rodada inteira, todos os jogos, porque foram miseravelmente
querdo das tribunas, onde se aloja a tor- grito unânime: – Hands! Hands! Gritaram – Ué! Eles falam a nossa língua! vendidos.

Agradecimentos a André Iki Siqueira, autor da biografia “João Saldanha, uma vida em jogo”, e a Paulo Cezar Guimarães, autor de “Sandro Moreyra, um autor a procura de um personagem” e que prepara a biografia de Armando Nogueira
Domingo, 25 de fevereiro de 2018 Esportes Conheça nosso site www.jb.com.br • 3

MEU MOMENTO INESQUECÍVEL NO MARACANÃ EM CARIOCAS


Ronaldo Theobald/1977

“Deus de calção e chuteira”: a foto de Ronaldo Theobald, vencedora do Prêmio Esso, mostra torcedores tentando encostar em Roberto Dinamite na volta para o segundo tempo contra a Portuguesa, na Ilha

Um balãozinho de antologia
Roberto Dinamite relembra o gol do lençol em Osmar e a foto “Deus de calção e chuteira”
Reprodução
GUILHERME BIANCHINI gundo tempo, e virou aos 44, no
guilherme.bianchini@jb.com.br gol que entrou para a história do
Maracanã e do futebol brasilei-
Maior artilheiro da história ro. Beneficiados pelo empate do
do Campeonato Carioca, Ro- Flamengo com o Fluminense na
berto Dinamite marcou 284 última rodada, os vascaínos se O JORNAL DO BRASIL
gols com a camisa do Vasco no igualaram em pontos aos rubro
torneio. O atacante colecionou -negros e conquistaram a Taça sempre foi um jornal sério.
grandes momentos e conquis-
tou cinco títulos estaduais ao
Guanabara no jogo de desem-
pate, nos pênaltis.
Mostrava tudo do Rio,
longo das três passagens pelo Nessa decisão, Roberto Di- do Brasil e do futebol.
clube. Na hora de definir seu namite marcou o gol do Vasco
jogo mais marcante na com- no tempo normal, de pênalti, e O retorno às bancas
petição, ele não tem dúvidas:
o clássico com o Botafogo que
também converteu sua cobrança
na disputa de penalidades. Abel dá a dimensão de sua
ficou famoso pelo gol do lençol
em Osmar, no Maracanã, pela
Braga foi o único a desperdiçar
do lado vascaíno. Pelo Flamengo,
importância e vai mostrar
Taça Guanabara de 1976. Zico e Geraldo perderam. Para ao torcedor carioca e
“É uma história bonita de um Roberto, ter jogado na época de
gol muito importante. Recebi o uma geração vencedora do maior brasileiro o que é o futebol
passe do Zanata, dominei no
peito, dei o lençol e bati antes
rival, com Zico como principal
expoente, não o impediu de al-
do Rio de Janeiro. O JB é um
de a bola cair. Em razão da be- cançar um reconhecimento à veículo com competência e
leza do lance e de estar faltando altura de seus feitos. Pelo con-
um minuto para o fim, marcou trário: o ajudou. qualidade”
muito para mim. Foi o gol mais “Ser da mesma geração do
bonito da minha carreira. Um Zico fez com que eu tivesse meu ROBERTO DINAMITE
momento único e especial no valor. Mesmo sendo adversário,
Daniel Marques
Maracanã”, lembra Roberto. muitos rubro-negros me encon-
O Vasco x Botafogo daquele tram e conversam comigo por
9 de maio de 1976 era de vida causa do que eu fazia contra eles
ou morte para o time de São em campo”.
Januário. Na penúltima rodada Um ano depois de protago-
da Taça Guanabara, a equipe nizar o épico gol contra o Bo-
precisava da vitória para manter tafogo, Roberto Dinamite foi o
a perseguição ao líder Flamen- destaque da foto que rendeu o
go. O Botafogo saiu na frente Prêmio Esso ao fotógrafo Ro-
no primeiro tempo, com gol de naldo Theobald, do JORNAL
Ademir Vicente. DO BRASIL. A imagem foi feita
No intervalo, Roberto su- quando o Vasco voltava para o
biu à tribuna em que estavam segundo tempo da vitória por
o ministro da Fazenda, Mário 3 a 1 contra a Portuguesa, na
Henrique Simonsen, e o cônsul Ilha do Governador, em 15 de
dos Estados Unidos no Brasil, e maio de 1977. Roberto
entregou sua camisa. “Pergunta- “É uma imagem significativa Dinamite:
ram se viraríamos aquele jogo, do torcedor querendo me tocar. o sorriso
mas eu não poderia imaginar Tenho essa foto na minha sala, do ídolo do
Vasco, maior
que conseguiria fazer dois gols”, guardo com carinho. O Ronaldo
artilheiro
revela o artilheiro. Theobald foi muito feliz. É um do clube
Depois de tanto insistir, o momento de explosão da torcida em todos os
Vasco empatou aos 17 do se- vascaína”, define Roberto. tempos
4 • Conheça nosso site www.jb.com.br Esportes Domingo, 25 de fevereiro de 2018

MEU MOMENTO INESQUECÍVEL NO MARACANÃ EM CARIOCAS

Um ataque todo de seleção


Para Jairzinho, goleada de 4 a 0 sobre o Vasco na final de 68 é o ponto alto de uma era de ouro
MAURICIO FONSECA O Vasco, que tinha uma equi- terceiro e o Gérson fechou a gado de tentar parar o Furacão. “Eu e o Gérson nos entendía- bairro onde mora desde sempre.
esportes@jornaldobrasil.com.br pe bem inferior, chegou à final goleada. Aquele time era fan- “Quando nos olhamos, o mos de olhos fechados. Bastava Orgulhoso de sua carreira
com a vantagem do empate. tástico”, recorda o pai de Jair Ananias fez o sinal da cruz, eu me mexer para ele saber o e de seus feitos, Jairizinho tem
Tricampeão mundial, o Fu- Não deu nem para saída. Mes- Ventura, atual técnico do Santos como que dizendo ‘sai para lá, que fazer. Ele me deu um pas- um carinho especial pelo time
racão da Copa de 70 ainda fica mo debaixo de muita chuva, o Jairzinho cai na gargalhada ao capeta’. Eu não era diabo nada. se açucarado. Entrei na área, bicampeão carioca.
com os olhos brilhando quando Botafogo passeou no Maracanã. lembrar de uma passagem antes Era jogador, atacante”. driblei o Ananias, passei pelo “Foram momentos inesquecí-
fala do Maracanã. O fascínio vem “Foi um show. O Roberto de a bola rolar. Com os times per- Não adiantou nada Ananias se goleiro Pedro Paulo e toquei para veis. Além do bicampeonato ca-
desde garoto. Juvenil do Botafogo, abriu o placar e o Rogério fez filados para o início da partida, o benzer. Jairzinho foi um dos des- o gol. Aquele time era demais”, rioca, fomos bicampeõers da Taça
sonhava pisar no palco por onde o segundo, ainda no primeiro olhar do atacante cruzou com o taques da goleada. Fez um golaço, afirma Jairzinho, que até hoje é Guanabara e ainda conquistamos
desfilava Garrincha, seu grande tempo. Na etapa final eu fiz o de Ananias, que estava encarre- mesmo com o gramado pesado. reverenciado nas ruas do Leme, a Taça Brasil. Ganhamos tudo”.
ídolo. A chance que tanto que- Hamilton Correia/1968
ria surgiu em 1964. O Botafogo
acabara de se sagrar tricampeão
carioca de juvenis e a diretoria
decidiu que os garotos iriam re-
presentar o clube no torneio início.
“Ficamos loucos. Era um sonho,
um prêmio melhor do que dinhei-
ro. Acabamos sendo campeões”,
recorda o ex-atacante alvinegro.
A ascensão de Jairzinho foi
meteórica. Dois anos depois, com
17 anos, disputava a Copa do
Mundo de 1966, na Inglatera. No
ano seguinte, começava umas das
fases mais gloriosas do Botafogo.
O time foi campeão carioca em
1967, com um ataque que fez his-
tória: Rogério, Jairzinho, Gérson,
Roberto e Paulo César. Não por
acaso, os cinco foram convoca-
dos para a Copa de 70 – Rogério
acabou cortado pouco antes da
estreia no México.
Em 1968, o time atingiu o
ápice. Conquistou o bicampeo-
nato Carioca e a Taça Brasil,
o Campeonato Brasileiro da
época. O Carioca era bem mais
valorizado, tanto que Jairizinho
considera a vitória de 4 a 0 sobre
o Vasco um dos seus grandes
momentos no Maracanã. Rogério, Gérson, Roberto, Jairzinho e Paulo César. O ataque bicampeão carioca em 1967/1968 foi todo convocado por Zagallo para a disputa da Copa de 70, no México

Marcos Tristão

OS DEZ MAIORES PÚBLICOS


PAGANTES DO MARACANÃ
EM ESTADUAIS

O Zagallo foi o único 1°. Fla 0 x 0 Flu


15/12/1963

treinador do mundo
177.656 pagantes
194.603 presentes

que teve coragem de 2°. Fla 1 x 1 Vasco


4/4/1976
escalar cinco camisas 174.770 pagantes

10 no ataque da seleção 3°. Fla 2 x 3 Flu/


Botafogo 0 x 0 Portuguesa*
de 70. Ele deu um jeito 15/6/1969
171.599 pagantes
de colocar no mesmo 4°. Fla 0 x 0 Vasco
time eu, Gérson (que já 22/12/1974
165.358 pagantes
estava no São Paulo), 5°. Fla 2 x 1 Vasco
Pelé, Tostão e Rivellino” 17/10/1954
141.697 pagantes
162.506 presentes

Parabenizo o JORNAL 6°. Fla 2 x 1 Vasco


6/12/1981

DO BRASIL pelo
161.989 pagantes

7°. Fla 0 x 0 Vasco/


retorno. Estava fazendo Bangu 2 x 1 Madureira*
6/5/1973
falta para o Rio e para 160.342 pagantes

os cariocas. Precisamos 8°. Botafogo 0 x 1 Fluminense


27/6/1971
de um outro jornal 142.339 pagantes
160.000 presentes
na cidade e o JB vem 9°. Botafogo 3 x 0 Flamengo
ocupar este espaço. 15/12/1962
147.043 pagantes
Vai ser bom para todo 158.994 presentes

mundo. Uma ótima 10°. Botafogo 2 x 2 Flamengo


29/4/1979

iniciativa” 147.043 pagantes


158.94 presentes
*Rodada dupla
FONTE: Federação de Futebol do Rio de Janeiro (Ferj)
JAIRZINHO Jairzinho no Leme. O Furacão da Copa acha muito difícil surgir novamente um ataque como o do Botafogo de 1968
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MEU MOMENTO INESQUECÍVEL NO MARACANÃ EM CARIOCAS

O começo do
Reprodução

grande Fla
Título carioca de 1978, com gol de cabeça de
Rondinelli no fim, é marcante para Zico
MAURICIO FONSECA Carioca de 1978, aquele do gol do Jogo truncado, nervoso, como
esportes@jornaldobrasil.com.br Rondinelli. de cabeça Foi o iní- são quase todos os clássicos decisi-
cio de tudo, daquele Flamengo vos. O empate de 0 a 0 persistiu até
Ninguém ganhou mais títulos que entrou para a história, que os 42 minutos do segundo tempo.
e fez mais gols no Maracanã do ganhou muitos títulos”, afirma A torcida do Vasco começava a
que Zico. O ex-maior estádio do o ex-camisa 10. comemorar a conquista quando
mundo era o quintal do craque, O Flamengo vinha de três o Flamengo teve um córner a seu
maior ídolo da centenária histó- anos sem títulos e a pressão favor. Zico ficou encarregado da
ria do Flamengo. Jogando com a era grande na Gávea. “Nós já cobrança. E colocou a bola na
camisa rubro-negra, Arthur An- tínhamos conquistado a Taça cabeça do zagueiro Rondinelli, o
tunes Coimbra conquistou dois Guanabara (primeiro turno) e “Deus da Raça” para os rubro-ne-
títulos brasileiros, sete cariocas, chegamos à última rodada do gros. A bola foi quase no segun-
nove Taças Guanabara e marcou segundo turno um ponto atrás do pau e Rondinelli acertou uma
333 gols num dos templos do do Vasco. Com um empate eles cabeçada certeira, no ângulo do
futebol mundial. Quase 40% dos seriam campeões e teríamos que goleiro Leão.
seus 826 gols como profissional disputar uma final para saber A história deste jogo não acaba
foram marcados no Mario Filho. quem seria o campeão carioca no gol de Rondinelli. Quatro mi-
Gols de falta, de pênalti, de cabe- de 1978”, relembra Zico. nutos depois, já nos acréscimos,
ça, de voleio, de direta, de esquerda. Zico fez uma falta no volante He-
Ninguém se sentiu até hoje tão à linho. Guina, meia vascaíno de
vontade no Maracanã quanto Zico. temperamento forte, não gostou
Prestes a completar 65 anos, o e agrediu Zico, que revidou. Os
ex-camisa 10 do Flamengo sente dois foram expulsos pelo árbitro
uma dor no peito quando fala
do Maracanã. Vê-lo maltratado,
Este título José Roberto Wright e a confusão
foi total. O jogo só terminou aos
sendo utilizado para todo tipo de tem uma 54 minutos.
evento – menos o futebol – corta o
coração do ídolo, que viveu ali os
importância “Devolvemos na mesma moe-
da. Fomos campeões direto, sem
maiores momentos de sua carreira histórica, não só precisar de final. Aquele título
profissional. Entre tantas emoções era muito importante para nós.
que viveu no estádio, Zico destaca para mim, mas Dali em diante, ganhamos muitos
uma partida em que não fez gol.
Mas valeu título.
principalmente títulos, até nos tornarmos cam-
peões mundiais em 1981. Foi a
“Para mim, o jogo mais mar- para o Flamengo” arrancada, um divisor de águas
cante foi a vitória de 1 a 0 sobre o na história do Flamengo”, atesta
Vasco, na final do Campeonato ZICO o maior goleador do Maracanã.

Marcos Tristão

Espero uma volta em


grande estilo do
JORNAL DO BRASIL.
Ele foi muito importante
na minha vida, um dos
responsáveis pela
divulgação da minha
carreira. Sempre teve
muita credibilidade e
me lembro da tristeza
quando parou de
circular. Vida longa ao
JORNAL DO BRASIL”
Zico em sua sala no CFZ. O ex-craque rubro-negro lembra como se fosse hoje da conquista do Campeonato Carioca de 1978, em cima do Vasco ZICO

Festa só O gol é o momento sublime do fu-


tebol. Tem jogador que compara
o balançar das redes com um orgas-
ceu, por exemplo, no Ba-Vi da semana
passada, que terminou em pancadaria,
depois que o meia Vinícius, do Bahia,
Normalmente, quando fazia um
gol, Zico corria em direção à torcida do
Flamengo com os braços erguidos. Às
que foi ídolo dos rubro-negros no
início da década de 1970, ficava tão
enlouquecido quando marcava um gol

com a mo. Zico teve esta sensação centenas


de vezes. Só no Maracanã foram 333
comemorou o gol provocando a torcida
do Vitória.
vezes dava um soco no ar, mas quase
sempre terminava a comemoração
que parecia que ia se jogar em cima
dos torcedores que vibravam na geral

minha
gols. O craque não se lembra de todos “Não achei nada de mais a come- junto aos geraldinos. do Maracanã.
que marcou, mas de uma coisa não moração do Vinícius Júnior contra “Ficava tão feliz que queria dividir “Ele corria em direção à geral e
tem dúvida: jamais comemorou um o Botafogo, só acho desnecessário. minha alegria com o meu torcedor, parava no limite. Ficava gritando e

torcida gol provocando a torcida adversária.


Zico sabe que os tempos são outros.
Não critica quem faz provocações, des-
Não acrescenta nada. Agora, não pode
haver desrespeito com a instituição,
com o torcedor adversário”, afirma
extravasar. Nem passava pela minha
cabeça ir provocar a torcida adversária.
Só queria ver a massa vibrando”.
balançando os braços. Parecia que ia
se atirar. O pior é que às vezes dava
mesmo vontade de se jogar nos braços
de que não seja ofensivo, como aconte- o ex-jogador. Ele lembra que Doval, argentino dos torcedores”, finaliza Zico.
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MEU MOMENTO INESQUECÍVEL NO MARACANÃ EM CARIOCAS

O guardião do
1983

tricampeonato
Ex-goleiro Paulo Vítor se emociona ao lembrar
do Fla-Flu de 84, decidido com gol de Assis
GUILHERME BIANCHINI de 1984, definida pela cabeçada nal seria a revanche para eles.
guilherme.bianchini@jb.com.br de Assis aos 30 minutos do se- E o Assis teve mais uma vez a
gundo tempo, depois de jogada felicidade de fazer o gol para
O tricampeonato carioca do bem trabalhada e cruzamento levarmos o bicampeonato. Foi
Fluminense, entre 1983 e 1985, preciso do lateral-direito Aldo. muito emocionante”, recorda o
ficou marcado pelos gols de Assis “Apareci muito nesse jogo. ex-goleiro.
contra o Flamengo, nas partidas Todos foram importantes na Paulo Vítor destaca, ainda,
decisivas no Maracanã. O cami- ocasião, mas tive a oportuni- um fato curioso do bicampeo-
sa 10 compunha o famoso Casal dade de me destacar. Foi uma nato em cima do maior rival.
20 com Washington, e a dupla das melhores partidas que fiz no “Pelos gols terem acontecido na
foi responsável por momentos Maracanã, e de suma importân- reta final das partidas, alguns
memoráveis do time que tam- cia para o Fluminense”, explica torcedores já estavam indo em-
bém conquistou o Campeonato Paulo Vítor. bora do estádio e perderam esses
Brasileiro de 1984. O tricolor estava atravessado momentos”.
O goleiro daquele vitorioso na garganta dos rubro-negros Uma das principais dife-
elenco era o paraense Paulo Ví- desde o triangular decisivo de renças entre aquela época e a
tor, que marcou época com a 1983, que também contou com o atual, para o ídolo tricolor, é o
camisa tricolor entre 1981 e 1987. Bangu. Após conquistar o Cam- ambiente em torno de um clás-
Foram 361 jogos. Ele só perde peonato Brasileiro, o Flamengo sico decisivo. “Procurávamos
para Castilho na lista de golei- buscava o título carioca, mas colocar o clássico acima de tudo.
ros recordistas em participações Assis, o carrasco, destruiu as Brincávamos um com o outro,
pelo clube de Laranjeiras. Ele pretensões rubro-negras com para o torcedor vivenciar aquele
também está atrás de Castilho o gol da vitória por 1 a 0, aos 45 clima. Hoje você já não pode
em número de partidas sem so- minutos do segundo tempo, no falar com o jogador do adversá-
frer gol: com Paulo Vítor, a meta confronto direto entre os rivais. rio. Motivávamos o confronto,
tricolor não foi vazada em 179 A dose se repetiu em 1984. falávamos que íamos ganhar, que
oportunidades. “Nós tínhamos ganhado o o Flamengo era freguês, e eles
A decisão de Carioca mais Carioca de 1983 em cima do falavam o mesmo. Isso aquecia
especial para o ex-arqueiro foi a Flamengo. Esse outro jogo fi- o clássico”. Paulo Vitor, chorando, abraça Ricardo Gomes após a conquista do título do Carioca em 1984

“Eu ia às bancas para comprar os jornais e


ASSIM ver a nota que tirava. Era maravilhoso. A
COMO volta do JORNAL DO BRASIL é excelente,
vai resgatar a história do futebol carioca”
O JB,
O MERCADO
PAULO VÍTOR

PUBLICITÁRIO Maracanã de nostalgia


TAMBÉM N o século passado, o
Maracanã era palco de
Arquivo pessoal

ACREDITA
clássicos com públicos que
passavam — e muito — de
100 mil pessoas. O recorde

NO FUTURO
de presença em jogos de clu-
bes no Brasil pertence, até
hoje, ao Fla-Flu decisivo de

DO RIO.
1963, com 194.603 torcedo-
res no velho Maracanã. No
clássico de 16 de dezembro
de 1984, eleito por Paulo
Vítor como o principal de
Quando o JB volta a investir no Rio, confirma quanto sua carreira no Campeonato
estávamos certos em trabalhar para tornar o nosso Carioca, o público presente
mercado cada vez mais forte e relevante. foi de 153.520.
Bem-vindo JB. A gente estava com saudade. O ex-goleiro do Fluminense
é nostálgico ao relembrar os
grandes momentos vividos
no Templo do Futebol. “Era
diferente e emocionante jogar
um Fla-Flu com quase 200
mil pessoas. Só quem pas- Morador de Brasília, Paulo Vítor tem saudade do Maracanã
sou por essa experiência pode
contar sobre ela. A atmosfera A maior ruptura entre o geral. Adorávamos chegar
era maravilhosa. Todo mundo velho e o novo Maracanã mais cedo para ver os geral-
sorrindo, alegre, com famílias se deu na extinção da geral, dinos chegando. Não tinha
no Maracanã. Agora a atmos- em 2005, nas obras para os briga, não tinha nada. Era
fera é outra, e não cabem nem Jogos Pan-Americanos de um glamour jogar no Rio de
100 mil pessoas no estádio”, 2007. “Perdemos a essência Janeiro. Hoje não dá para di-
lamenta Paulo Vítor. do Maracanã com o fim da zer isso”, conclui o ex-atleta.
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O FUTEBOL COM SAUDADES DO MARACANÃ


Fotos de Felipe Alvarez-Que Vista!

Cadê o futebol? Foi para Cariacica,


para Cuiabá. No Maracanã a bola
não rola mais. Em vez de Zico,
Jairzinho, Roberto, Paulo Vítor, o
mítico gramado é pisado pelos mais
variados artistas. “O Maracanã virou
palco de samba. É ridículo um Fla-
Flu ser realizado em Cuiabá”, lamenta
o técnico Abel Braga.
8 • Conheça nosso site www.jb.com.br Esportes Domingo, 25 de fevereiro de 2018

MEMÓRIA /JORNAL DO BRASIL


Reprodução

Para encerrar o caderno Esportes, nada mais óbvio que o texto “Perder, ganhar, viver”, de Carlos Drummond de
Andrade, dois dias após a derrota da seleção brasileira para a Itália, na Copa da Espanha, em 1982, na Tragédia do
Sarriá. A equipe de esportes do Jornal do Brasil ganhou o Prêmio Esso com a cobertura do Mundial.
Conheça nosso site www.jb.com.br •

Maluquinho
pelo JB
Ziraldo comanda time de craques que

B
fará as charges diárias no jornal
CELINA CÔRTES
celina.cortes@jb.com.br

Alegria. Esse é o sentimento de Ziraldo ao voltar às páginas do Jornal do Brasil, com um time de craques
que promete resgatar a mais forte característica das charges: o traço ferino. Ao lembrar uma história
do passado, ele define sua função como ‘assessor de
palpite’, com o humor que lhe é peculiar. Ziraldo
vai se alternar em páginas diárias com um
time de craques, formado por Jaguar,
Claudius, Aroeira e Miguel Paiva. “Sou o
maior entusiasta dessa volta do JB. Não vamos
fazer uma continuidade, estamos inventando o que será o jornal stan-
dard do século XXI”, propõe, do alto de seus 85 anos.
O cartunista e escritor Ziraldo Alves Pinto vai sacar da cartola a máxima do grande poeta espanhol
Antonio Machado (1875-1939), cantado em prosa e verso pela chilena Violeta Parra: “O caminho se faz
enquanto se caminha, então vamos fazer esse jornal enquanto caminhamos”. Experiência para isso não
falta a este fundador do Pasquim, o tablóide que não deixava pedra sobre pedra em matéria de crítica
política e social e reinventou o humor em plena ditadura militar. Sua relação com o JB, onde entrou
em 1959, a convite do jornalista Wilson Figueiredo, foi tão visceral que este mineiro de Caratinga
não acha exagero admitir: “Fui criado no Rio pelo JB”, o que significa que o jornal foi diretamente
responsável por sua adaptação à Cidade Maravilhosa, de onde nunca mais saiu.
Ziraldo era uma pedra no sapato dos militares durante a ditadura. Junto com Lan, por anos a fio
produziu charges antológicas sem que houvesse algum tipo de orientação ou sofresse qualquer
censura dos editores. Numa época em que os jornais eram incapazes de atacar os generais que estavam
no poder, publicou um desenho que foi parar no Diário Oficial, cujos responsáveis acabaram penaliza-
dos pela ousadia. Logo em seguida à posse de Ernesto Geisel, em 1974, enquanto a imprensa chamava o
novo presidente-general de estadista, o militar aparecia ao fundo da imagem de uma prostituta rodando
bolsinha, com o nome Arena estampado na camiseta, exclamando, “ele sorriu pra mim!”. “O JB enfrentou
a ditadura e eu, como chargista, deitei e rolei”, diverte-se, com sua voz rascante.
Outra lembrança que marcou época foi o “Oh!”, de exclamação, na charge criada
quando os militares divulgaram os resultados sobre o inquérito da bomba do Riocentro. “Foi a charge mais
sintética da história”, pontifica. Para quem não se lembra, havia cerca de 20 mil pessoas no centro de convenções
em 30 de abril de 1981, a maioria jovens, para comemorar o Primeiro de Maio, Dia do Trabalhador. A cantora
Elba Ramalho se apresentava quando a bomba – que seria destinada ao público – explodiu dentro do carro
Puma estacionado no local, onde estavam dois agentes do DOI-CODI do 1º Exército, o capitão Wilson
Rosário e o sargento do Exército Guilherme Pereira Rosário, que morreu na hora. A intenção era criar
pânico e responsabilizar a esquerda pelo atentado. A farsa do inquérito criou uma crise no governo
de João Batista Figueiredo e acabou acelerando o processo de abertura política. “A charge virou
adesivo e circulava nos carros por toda a parte”, orgulha-se, numa fase do jornal que define
como “gloriosa”. Não por acaso, a cobertura do atentado rendeu um prêmio Esso ao JB.
“vazio de ideias”. O que ele critica sem dó é o conceito do politicamente correto. “A intolerância não conduz
Vanguarda do Humor a nada, há muita gente lutando por causas que só ajudam a destruir a humanidade. Qualquer coisa é taxada
de atitude indecorosa. Outro dia quase fui crucificado por chamar um amigo, de forma carinhosa, de crioulo.
Se a ideia é fazer o caminho enquanto se caminha, Ziraldo não hesita em apontar onde está a vanguarda do Sempre o chamei assim e ele mesmo se surpreendeu com a reação”, lamenta. “Daqui a pouco não poderemos
humor no país: o grupo Porta dos Fundos, coletivo de humor criado em 2012 por cinco amigos, insatisfei- nem usar a palavra cabrocha porque vão dizer que é diminutivo de cabrita”, brinca.
tos com a falta de liberdade criativa da TV brasileira. “Eles criam situações profundamente engraçadas, são
invenção pura. Não têm bordões, maneira fácil de fazer as pessoas rirem. Ousaria até compará-los a grandes Com afeto
autores, como Molière, por exemplo”, arrisca.
E para quem já ganhou um prêmio Jabuti (1982) por Menino maluquinho e Nobel Internacional do Humor No entender do mestre, essas e outras questões devem ser tratadas de forma afetuosa, sem preconceitos,
(1969), entre outros, seu maior orgulho foi o Prêmio Íbero Americano de Humor Gráfico, concedido em 2008 maniqueísmos e sobretudo intolerância. “Fora do afeto não tem solução”, filosofa. E não perde a piada: “A
pela Universidade espanhola Alcalá, uma das mais antiga da Europa, fundada em 1293. proposta mais antiga é ‘amai-vos uns aos outros’, resolve tudo! Não é a toa que Jesus Cristo ficou tão famoso!’’’
“Fui o único autor de língua portuguesa premiado por eles, pela qualidade e importância da obra e pelo com- O pai da cineasta Daniela Thomas, Antonio e Fabrícia, é casado com Márcia Martins da Silva e sua
promisso com o social. Me senti muito honrado ao receber essa distinção no púlpito do dramaturgo e poeta primeira mulher chamava-se Vilma Gontijo. Tem sete netos, a mais velha Ina, com 25 anos, e o caçula
espanhol Lope de Veja”, recorda. Sebastião, com 6. “São todos paulistanos e moram em São Paulo, para onde ele costuma ir muito.
Neste desafio de fazer humor e crítica no século XXI, o autor de Flicts prefere não chamar os jovens de alienados, Com os mais velhos tem uma relação mais intelectual, sobre o que eles andam lendo, por exemplo.
tolerante com o perfil dos que passam o dia conectados aos videogames e redes sociais. “Cada sujeito vive seu Com os menores gosta de trocar ideias”, conta Márcia. Do que ele mais gosta de fazer? “Desenhar e
tempo, não se pode culpá-los por suas escolhas”, contemporiza, embora admita que passamos por tempos de escrever, nessa ordem”, resume a sra Ziraldo.

Ziraldo, o mineiro do traço e do humor


ROMILDO GUERRANTE Caratinga e de lá foi para Belo Horizonte estudar. Supermãe; e posteriormente o Mineirinho. nos cinco idiomas. Ziraldo também fez cartazes
romildo.guerrante@jb.com.br Antes de formar-se em Direito, começou a cola- Com um grupo de humoristas amigos, criou o para inúmeros filmes do cinema brasileiro, entre
borar com jornais mineiros. Além de desenhar Pasquim, um jornal revolucionário em lingua- eles Os Fuzis, Os Cafajestes, Selva Trágica.
O cartunista Ziraldo Alves Pinto, um dos setes fi- muito bem, instintivamente, era um leitor atento gem, grafismo e humor que se tornou celeiro de É um de nossos artistas gráficos mais premiados.
lhos de dona Zizinha e seu Geraldo, nasceu em desde a infância. artistas. Em 1968, Ziraldo teve reconhecido o seu Ganhou, entre outros prêmios importantes, o Os-
Caratinga (MG) em 1932. Aos 85 anos, esse mi- No encontro com os jornalistas no Rio, cidade talento internacional com a publicação de seus car Internacional de Humor no 32º Salão Inter-
neiro engraçado, que fez do humor gráfico a sua que adotou em 1960, Ziraldo disse que o desenho trabalhos na revista Graphis, o suprassumo das nacional de Caricaturas de Bruxelas e o prêmio
vida, não deixa de brincar com a própria sorte. que faz “é velho”, e que é preciso pensar nas novas publicações em artes gráficas. Teve ainda traba- Merghantealler, prêmio máximo da imprensa li-
Dias atrás, refazendo-se das consequências de gerações de cartunistas que estão surgindo por aí. lhos publicados nas revistas internacionais Pen- vre da América Latina, patrocinado pela Associa-
uma queda em casa, disse aos jornalistas que fo- Abrir espaço para eles, sugere. E ressalva, sério: thouse e Private Eye da Inglaterra, Plexus e Planè- ção Internacional de Imprensa.
ram visitá-lo para anunciar a volta do JORNAL “Meu desenho é velho, mas é bom”. te, da França, e Mad, nos Estados Unidos. Grande carnavalesco, Ziraldo foi um dos funda-
DO BRASIL em papel que todos estavam todos Minas ficou pequena para esse criativo filho de Em 1969, publicou seu primeiro livro infantil, dores da Banda de Ipanema, ao lado de Albino
muito velhos, ele inclusive. “Aliás, eu envelheci na Caratinga. No Rio, Ziraldo começou a colaborar Flicts, que vazou as fronteiras do Brasil. Daí pra Pinheiro, Leila Diniz e a turma do Pasquim. Tam-
semana passada. Eu tava bem...”. E riu da ironia com o JORNAL DO BRASIL e a revista O Cruzei- frente Ziraldo produziu grande número de livros bém teve passagens pela Ao fazer 80 anos, foi ho-
que ele mesmo fez. ro. Não tardou o sucesso: sua criação do Saci Pere- para crianças, lançando em 1980 seu maior suces- menageado com uma grande festa. Lá já havia um
Ziraldo veio ao RIo pela primeira vez em 1949, rê estourou com o lançamento da primeira revista so, O Menino Maluquinho, adaptado posterior- estátua do Menino Maluquinho e a Casa Ziraldo
para estudar na MABE, um colégio que funciona- em quadrinhos brasileira feita por um só autor, A mente para teatro, quadrinhos, internet e cinema. de Cultura. que guarda acervo valioso de sua vida
va na Lapa onde hoje é o hotel Vila Galé, na Rua Turma do Pererê. Criou outros personagens que Sua obra começou a ser traduzida para outras lín- e sua obra. Ziraldo tem três filhos do seu primeiro
do Riachuelo. Mas não ficou por aqui. Voltou a fizeram muito sucesso, como Jeremias, o Bom; a guas e hoje são mais que conhecidas em pelo me- casamento, com dona Vilma Gontijo.
2 • Conheça nosso site www.jb.com.br Caderno B Domingo, 25 de fevereiro de 2018

O regresso do A inovação
velho urso do JB
RUY GUERRA* LUIZ CARLOS BARRETO*

Aqui o temos, de volta, o urso. “Faz Escuro, Mas Eu Canto”


Estou curioso de lhe ver a cara, que espero, (Thiago de Mello.)
esteja reconhecível. Espero reencontrar o
mesmo olhar firme, sereno, a fala sem arro- Canto porque o JB está de vol-
gância. Como um urso sábio, após um inver- ta às bancas. É uma luz, um fa-
no rigoroso, espreguiça-se, renovado, pronto rol que se acende na escuridão
para outras aventuras. Que já foram muitas, de uma noite na qual o Rio
diga-se de passagem, e que ficaram para sem- de Janeiro (Estado e cidade)
pre na memória de muitos. A minha registra
mergulharam sob a regência
momentos importantes. Vários. Muitos.
de governantes incompetentes
Bem.
e sem escrúpulos.
Sem medo das palavras, diria que esta é uma
primavera assustadora, inquietante, para os Ao completar 90 anos, agora
animais da floresta. O nosso urso vai ter que (maio 2018), percebo que
rebolar, cortar um dobrado. Mas ele não é vivi aqui no Rio 73 anos e
de se abalar com chuvas ou saraivadas, com que, no mínimo, durante 50
as manchas de sangue no uniforme dos ca- anos passei boa parte das
çadores. Sabe pisar firme, manter o prumo, minhas manhãs lendo o JB.
dar a cara. E não é de se assustar à toa. Tira As matérias de primeira pá-
de letra, mais bem dito, em muitas letras, os gina, nunca sensacionalistas,
rosnados da alcateia ameaçadora e não foge sobre tudo informativas sem
da cobiça arreganhada dos lobos. É sabida a textos opinativos. A Coluna
capacidade que o urso tem para dançar, se do Castelo, A Grande Área,
necessário, à música das balas.
do Armando Nogueira, o
É assim que eu me lembro do velho
Informe JB, os editoriais mais
JORNAL DO BRASIL. O que espero deste
analíticos do que doutriná-
novo JB?
Antes, uma nota nostálgica: aguardo im- rios ou opinativos. Tudo isto
paciente o delicioso cheiro de tinta e papel, emoldurado por um formato
aroma de pãozinho quente, recém saído das gráfico moderno, sóbrio e ele-
rotativas. Sinto falta do corpo a corpo, do gante na concepção do grande
mão a mão com as folhas do jornal, atrapa- artista Amílcar de Castro.
lhadas pela brisa praieira. Para mim e não O Caderno B com suas maté-
devo ser o único terráqueo a sentir isso, o rias sobre cultura e entrete-
noticiário eletrônico tem um quê de fantasma nimento era uma fonte de
sem lençol. Assusta e deixa inseguro, pela conhecimento. Foi, através
quantidade, imaterialidade e velocidade, do Caderno B, que foram
desumanas. Pior, me deixa de mãos a abanar. lançados e revelados impor-
Como esfregar na cara de alguém, como
tantes movimentos: Bossa
prova num eventual desacordo, os piolhentos
Nova, Cinema Novo, Artes
bites e bytes, com um “eu não te falei”!!!.?...
Plásticas, Poesia Concre-
Não tem como, adeus boas brigas! Confesso.
A nuvem, lá onde estão situados os galpões ta (Ferreira Gullar, Mario
onde a papelada do éter está armazenada, é Faustino).
demais para o entendimento do meu cerebro- Enfim, o JB foi um fator
zinho de troglodita formatado no século XX. de inovação (não se usava
É triste que o futuro negue a possibilidade de essa palavra no varejo) no
me deparar com velhos jornais, o cupim esca- jornalismo brasileiro como
rafunchando as noticias amareladas e eu, de agora, seguramente, será um
cócoras, bermudão sem camisa, me coçando, clarão no túnel escuro em
perceber que vivi. Melhor mudar de assunto. que vivemos.
“Não sou esses machos todos” - como diria Parabéns Omar Peres!
o Sargento Getúlio do João Ubaldo (corra e
leia), para afrontar aqui a ira dos incondicio-
*Produtor e cineasta
nais da tecnologia - outra conversa.
Quando o JORNAL DO BRASIL hibernou,
vai lá para uma década, abriu-se um vazio. O

Amor, cinema e jornal


Rio de Janeiro sentiu na pele a monocultura
da imprensa escrita. A cidade não merecia
esse castigo. Exige uma voz plural, dissonan-
te, águas de outras fontes.
Estou sendo claro? Em bom botafoguense, passava longe. Não ia dar chance ao acaso. devia estar muito nervoso, fazendo hora
SERGIO REZENDE*
estou certo que vem comigo a torcida do em alguma calçada com medo da reação
Flamengo. Não sei se foi antes da sessão, se foi no do público. Mas ela assistiu e me disse que
Lance 1
O que espero deste novo JB é um diário intervalo entre os filmes, não sei. Mas de tinha sido boa.
carioca e brasileiro, lutando pela cidade e repente ela estava no corredor. Sozinha
Eu tinha brigado com ela. Não me lembro
pelo país, com unhas e dentes, pelo mel de no corredor. Desfilava no corredor. Pra A premiação não era uma cerimônia pública, o
exatamente porque. Tinha brigado. O namoro
cada dia, ao lado do Rio do trabalho, dos quem? Pra mim? Ou para outro qualquer resultado seria publicado no JB.
acabou. Logo cheguei à conclusão de que
carnavais e das mazelas, os rios de todos - e – mas não havia outro “qualquer”, ali só Rua das Palmeiras, 23. Uma noite inteira em
tinha feito uma besteira. Mas fazer o quê?
não o dos predadores, com garras de rapina, havia os mais interessantes, os mais bri- claro. A ansiedade, a excitação. A possí-
Acabou. Eu não vou ligar, dar esse mole. Não
dentes de cifrão, esfomeados de supérfluos lhantes, os mais talentosos. Eu ia ficar no vel premiação para um curta-metragem,
liguei mesmo. Mas fiquei esperando. Aquele
e poder. fim da fila. E ela vinha pelo corredor. Pas- impossível descrever o que provocava na
joguinho. Quem vai piscar primeiro?
Espero um JB nunca omisso. sou por mim. Foi até perto da tela e voltou cabeça de um jovem casal.
Pra valer. É preciso que este JB, o mesmo pela passarela. De longe me achou, mas
Era no Rio de Janeiro, ali por volta de 1973.
que também agora é outro, siga as pegadas Madrugada. A banca de jornal da esquina.
Eu era apaixonado por ela, mas também era fingiu que não viu. E veio vindo. Parou ao
do urso velho, quando este fazia ecoar por Sucessivas idas à janela. Abriu? Não abriu?
louco por cinema. Ela sabia disso muito bem. lado de minha poltrona, desde então eu só
toda a floresta seus urros veementes, por Glauber Rocha morava na rua, era quem, em
Ela sabia que eu não ia deixar de ir ao Cine me sentava no corredor.
causas importantes. Como o fez pelo cinema geral, inaugurava a compra dos jornais. Mas
Ópera, na praia de Botafogo durante aquela
brasileiro - isto para ficar apenas no meu semana. Não ia mesmo. Era tempo do Fes- nesse dia, nós chegamos antes. Abrimos o
- Oi...
descampado, aquele ali, que namora o hori- tival de Curtas, o maior do Rio, o maior do Caderno B como o jogador de pôquer jogando
zonte. Por que das outras artes e da política Brasil. Um tremendo acontecimento. Realiza- Com os olhos completou: “que coincidência, o lance de sua vida.
- ah! a política - os meus companheiros de dores do país inteiro, veteranos e estreantes. né?” Estava lá: “P.S.: TE AMO” premiado! Melhor
página, sei, vão se regalar. Eu não tinha feito filme algum, mas já me filme! Cacilda! Prêmio!
O que eu espero é que o JORNAL DO sentia parte daquele mundo. - É...
BRASILque temos nas mãos - as minhas, Comemoramos. Um café com pão e manteiga
piegas, um tanto nervosas - e que está aí, na Não ia perder o Festival JB de Curta-Metragem. Lance 2 muito melhor que champanhe com caviar.
boca das bancas, venha sem papas na língua.
Que trace uma linha reta, deixe a beleza das Fui. Um olho na tela, outro na plateia imensa 1977. A gente estava casado. Eu já tinha feito Mariza se tornou produtora, eu continuei
curvas sinuosas para a paisagem e siga cami- – os cinemas ainda não tinham sido fatiados dois curtas, mas nenhum tinha passado no dirigindo.
nhando pela floresta com olhos bem abertos, em várias salas menores. Mil e quinhentos lu- Festival JB. Inscrevi o terceiro, inspirado
o coração íntegro. gares, no barato. Vinte fileiras com cinquenta num conto de Abel Silva. Ela também fez O cinema é bom, o cinema acolhe!
E a palavra afiada. poltronas, isso sem contar o balcão. Ela veio? o seu. O meu foi selecionado, o dela, não.
Onde está? Chato.
* Cineasta Mas a ela nunca faltou inteligência. E timidez Não me lembro onde foi a exibição, *Cineasta
Domingo, 25 de fevereiro de 2018 Caderno B Conheça nosso site www.jb.com.br • 3

Hildegard
Angel
Assim como o Benjamin Button do cinema,
com o passar do tempo a colunista ganha
vigor infantil e intrepidez adolescente
C atito Peres me pede que escreva sobre a
minha trajetória como colunista até o
advento do novo JORNAL DO BRASIL. Sou
mes da moda americana. A Sétima Avenida
abriu-se para mim. Entrevistei a maior colunis-
ta social do mundo, e quando eventualmente a
rencia do que aproxima de nossos vizinhos.
Lá no Equador, na década dos meus 20
anos, pude pela primeira vez me perceber con-
te, ninguém do poder travaria novas relações.
Ficaria todo mundo girando em torno do mes-
mo círculo. Às suas próprias custas, o segundo
uma Benjamin Button* do jornalismo brasilei- encontrava em alguma festa nos Estados Unidos tinental, e passear pela Quito antiga, em cujas casal abriu o Jaburu para eventos diversos de
ro. Comecei, aos meus 18 anos, uma senhora ou na Europa ela logo me cumprimentava ardo- igrejas, frutas, flores e astros celestes se mistu- confraternização, de modo descontraído e dis-
conservadora, contida, assustada, fazendo um rosa: “Hildegard Angel from Brazil!”. Chamava- ram a símbolos sacros cristãos, num sincretis- creto, jamais ostentando.
colunismo cor-de-rosa, vendo um mundo sob -se Aileen Mehle, a Suzy Knickerbocker do New mo de religiões e costumes dos povos espanhol Foi assim, graças a Marisa e José Alencar,
a lente do encantamento, totalmente vedada à York Post, posteriormente simplesmente Suzy, e indígena equatoriano. Assim como lembro a que, quando voltei a cobrir Brasília, encontrei
minha realidade pessoal, que evitava encarar da W. Eleanor era o “Abre-te Sésamo”. adoração de todos por Simon Bolívar, o con- uma capital diferente. Passei a ouvir outras
de frente, tal sofrimento me causaria. Régine Choukron, a das boates Régine’s, foi quistador, e a guia do ônibus de turismo narra- preocupações. Fui convidada por eles para a
E assim fui caminhando, com meus sapati- outra pessoa que me descortinou um mundo va seus feitos com entusiasmo patriótico como posse no Planalto. Na véspera, houve aque-
nhos de Perla Sigaud, saltitando sobre minha de gente interessante. A começar pela prince- nunca vi aqui falarem dos nossos heróis. le réveillon íntimo dos Alencar, em que Lula
perdas familiares dolorosas e trágicas. Conse- sa Grace Kelly, com quem passei boas horas, a A festa de aniversário de Frank Sina- apareceu e fez um discurso, de mãos dadas
gui seguir adiante, ultrapassando a dura fase ponto de preencher página inteira de jornal tra no Caesar Palace, em Las Vegas. Toda a com o vice-presidente, prometendo vida me-
brasileira, ao olhar desconfiado de muitos, com entrevista exclusiva. E comemorou meus Hollywood presente. Apenas os amigos dele. lhor para os pobres, comida na mesa dos mi-
que se arvoravam o direito, não sei advindo 30 anos com festa para 300 no seu Crystal Do Brasil, as amizades feitas no Rio de Janeiro, seráveis. Cumpriu.
de que entidade divina, de julgar esta sobre- Room, em Nova York, quando sua boate de em 1980, convites de Barbara Sinatra: Josias Até que veio o Mentirão, como eu chamei,
vivente, que hoje aqui está, não digo inteira, Park Avenue era o must dos musts. Os brasi- e Heralda Cordeiro e... eu! Usei um vestido e ainda chamo, o Mensalão, com salvo con-
mas viva, liberta e coerente, buscando honrar leiros foram daqui muitos deles e, de lá, os com amarelo coberto de paetês bordado a mão pelo duto para tal concedido por um dos membros
a memórias dos meus com todas as minhas maior expressão no exterior estavam: Ivo Pi- Michel. Sinatra cantou no palco com os ami- da corte suprema ao dizer a frase: “Não tenho
possibilidades. tanguy, Pelé e Marcia Kubitscheck com o ma- gos Sammy Davis e Dean Martin. O que mais provas, mas vou condenar porque a literatu-
Rompi o bloqueio que me paralisava e, ao rido, primeiro bailarino do American Ballet eu poderia desejar? E eu fotografando enlou- ra jurídica me permite”. Com essa permissão
passar do tempo, fui me enriquecendo de in- Theatre, Fernando Bujones. E as celebs amigas quecida. Tudo devidamente publicado. literária, cravei a alcunha, lançada em meu
formações, valores, consciente do verdadeiro de Régine, como Stevie Wonder. Consultem as Vieram os anos de Brasília, levada pelos discurso na ABI, de defesa do réu José Dir-
serviço, que, como jornalista, posso prestar à colunas da época. amigos Rai e Said Farhat, nomeado Secretário ceu, depois reproduzido em minha coluna e
sociedade. Tive a chance de expressar opiniões, Duas viagens me marcaram para a vida de Comunicação Social, status de ministro, de muitas outras.
sem medo, indo contra a maioria das pessoas inteira. Ao Equador, em 1980, e à China, em João Figueiredo, por influência de seu irmão, E por que fiz defesa tão ardorosa? Porque
do meu círculo social, sem me preocupar em 1979, no início de seu processo de abertura Guilherme Figueiredo, grande escritor e dra- desde o início intuí, naquele julgamento das
ser contestada. Logo eu, que sempre tive como para o capitalismo. Uma China ainda tosca, maturgo consagrado. capas pretas voadoras, um objetivo muito mais
maior prazer e preocupação ser agradável a com riquixás e poucos carros, remanescentes Said era um liberal de centro, em sua casa amplo: o de demolir a aura heróica dos jovens
todos! Hilde Benjamin Button, na medida em do que havia no período pré-comunismo, uma faziam pouso todos os jornalistas políticos de de 68 como um todo. Aqueles bravos, que
que amadurecia, estava rejuvenescendo. Passa- China com civis uniformizados (de verde) e prestígio, a começar por Carlos Castelo Bran- deram suas vidas pela nossa democracia nos
va a ser uma formadora de opinião de fato. militares (de azul). E todos de boné com estre- co. Foi Said quem escreveu o discurso de posse porões dos torturadores. Satanizando os so-
Tive alguns reconhecimentos que foram sa- linha vermelha. do presidente, quando Figueiredo proclamou breviventes, destruiriam todas aquelas louvá-
tisfações. Quando fui a primeira na imprensa a Uma China pobre, sem luxo, sem tecnolo- “Juro que hei de fazer deste país uma democra- veis biografias e tornariam palatável qualquer
noticiar o namoro de Carla Bruni e o presiden- gia, com higiene discutível, porém, sem mi- cia”. E como falou (o que estava escrito), estava forma de ditadura. Esperneei o que pude. Ob-
te da França, Sarkozy, antecipando inclusive séria. Este último item particularmente me falado. Não era homem de voltar atrás em suas tive grande leitura, mas não grande resultado.
seu casamento, repercuti na mídia internacio- encantou. Falavam que a China era uma De- palavras. Foi mesmo o governo da abertura. O fake Batman tornou-se pop.
nal. havia furado inclusive meus companhei- mocracia. Mas todos vigiavam todos. Os militares da linha dura do governo e de fora E foi o que se viu. Não bastou prenderem
ros franceses! E os italianos do Corriere della Da China, trouxe material para seis páginas dele não engoliam o Said por isso. Dirceu, Genoíno, Vaccari, Pizzolato. Queriam
Sera me chamaram de Rainha das colunas. de reportagens, publicadas seriadas. E um furo Em Brasília, eu me hospedava com os mais. Eles foram os aperitivos. Queriam tam-
Quando criei a Sociedade Emergente, o que valeu primeira página: “O Globo é o pri- Farhat. Havia um grande carinho entre nós. bém Dilma e, por conseguinte, a cereja do
impacto superou qualquer expectativa. Perdi meiro jornal do Ocidente a figurar num Dazi- Rai levava a foto de meu irmão em sua cartei- bolo, o mote principal: queriam Lula. Vieram
a conta dos jornais estrangeiros que a comen- bao chinês”. Dazibaos eram os chamados Mu- ra. Era uma mulher especial. Quando voltei da as manifestações de 2013 por causa de 20 cen-
taram e me pediam para eu teorizar sobre o ros da Democracia onde o povo chinês colava China, precisava estar em lugar sossegado para tavos de aumento de passagens de ônibus. E
assunto, como o britânico The Economist e o seus comentários e reclamações. Com a ajuda escrever minha longa reportagem, fui pra casa vieram as ofensas graves a Dilma em estádio
Miami Herald. O New York Times fez menção. de minhas amigas colamos várias páginas mi- deles no Lago Sul, onde, não só escrevi o texto, de futebol. E veio o Pixuleco. E a grande mídia,
No Brasil, o feito me valeu capa da Vejinha. nhas no Dazibao. Colunas com as “dondocas” como diagramei todas as páginas, distribuindo em uníssono, rotulada de PIG (Partido da Im-
Emergente virou verbete de dicionário com a e os “dondocos” no capricho. Longos, smokin- as fotos no chão, sentada sobre o piso acarpe- prensa Golpista), repercutindo e estimulando,
conotação dada por mim. Isso sim foi um gol gs, chapéus. E os chineses, naquela sua simpli- tado do quarto de hóspedes. de seu jeito torto, as insatisfações; omitindo as
do colunismo social. cidade, riam às gargalhadas, como se assistis- Numa determinada manhã, acordei e en- conquistas inúmeras dos governos daqueles
Aos 24 anos, fui passar uma temporada em sem a um espetáculo de humor. Considerei as contrei a casa alvoroçada, “secretas” entravam períodos. Era o golpe já a galope. Vieram as
Nova York, hospedada com uma amiga de risadas, aplausos. e saíam. Rai, madrugadora como sempre, no manifestações verde-amarelas e, enfim, o Im-
minha mãe, que se tornou amiga, orientado- Minha entrevista com Imelda Marcos foi, café da manhã recebera um pacote, um li- peachment.
ra e referência em todos os aspectos da minha esta sim, um grande lance de humor. Quando vro. Como de hábito, ela o abriu de trás para O ciclo não estava completo. Saiu Dilma,
vida, pessoal e profissional. Foi minha madri- entrei em sua townhouse das ruas 80s, próxi- a frente. O “livro” explodiu em suas mãos. Se faltava Lula. Impedi-lo de se candidatar a pre-
nha de casamento. Eleanor Lambert. Chama- ma ao Central Park, jamais imaginei encontrar ela o tivesse folheado do modo convencional, sidente. Como massa de bolo sovado, quanto
da pela mídia dos EUA de “Czarina da moda”. uma imagem de Nossa Senhora de Fátima da frente para trás, a bomba teria feito enorme mais o juiz Sergio Moro o condenava, e mais
Eu estava na Última Hora e precisava de uma florida, em tamanho natural, encarando uma estrago. Sem saber, Rai desativou o petardo. a mídia lhe batia, mais crescia a pontuação de
máquina de escrever para redigir minhas co- imagem, numa redoma, de Buda gordo sen- Mesmo assim saiu machucada. Lula nas pesquisas do eleitorado.
lunas diárias, que enviaria via Varig. Eleanor tado, também em tamanho natural, todo de Foi um aviso. Farhat estava desagradando As sovas no bolo de Lula eram e são dire-
emprestou-me a de seu marido, jornalista já jade, com uma linguinha que se mexia, com aqueles que desejavam endurecer ou mesmo, tamente desproporcionais aos tapinhas de leve
falecido, Samuel Berkson: uma Remington um imenso rubi sobre ela. Show! perpetuar a ditadura. Ele foi defenestrado an- nas costas de políticos da situação flagrados
toda folheada a ouro, troféu que ele recebeu Pedi a madame Marcos para ver sua famosa tes do fim do governo. com a mão no pote de dinheiro. O que, para
com o Prêmio Pulitzer. Foi uma emoção mui- coleção de sapatos. Ela me levou para conhecer A solenidade do anúncio da eleição de nós, que sempre confiamos na Justiça, só traz
to forte. Minha primeira coluna de Nova York sua coleção de processos a que respondia. Numa Tancredo Neves foi realizada numa sala do desalento e desesperança.
teve o título: “Escrevo numa máquina de ouro”. imensa biblioteca, as paredes eram todas cober- Congresso, apenas para um grupo reduzido. Hildezinha Benjamin Button, fato, na me-
Houve quem duvidasse... tas por estantes todas ocupadas por processos A família de Tancredo convidou-me a assistir, dida em que fica mais velha na idade, perde a
Muito do que aprendi de moda, de gente, devidamente encadernados em couro pirogra- como única jornalista presente entre eles. E me noção do perigo, torna-se desafiadora e intré-
beautiful people, elegância e de lutar por uma fado com letras douradas. Fiz a foto e publiquei. deram lugar na primeira fila. Sempre amáveis pida adolescente, pronta a revelar sua alma, a
posição através do trabalho, e só do trabalho, Mergulhar no universo de Darwin, as comigo. falar o que acredita ser o certo e justo.
aprendi com duas mulheres exemplares: mi- Ilhas Galápagos, foi experiência única. Des- No governo Collor, tudo era motivo para Num processo de regressão fantástica, tor-
nha mãe e Eleanor Lambert. cobrir, in loco, a evolução das espécies de festas. Os voos seguiam para a Capital Federal no-me criança inconveniente, agindo como se
Eleanor criou a “Eleição dos Mais Bem-ves- acordo com cada habitat. Conferir a dança cheios de cariocas e paulistas, levando os sacos na democracia estivesse, quando esta não pas-
tidos do Mundo”, cujos direitos cedeu antes de do acasalamento do albatroz, pássaro mo- de smokings e vestidos longos. A festa come- sa de leve sombra, remoto conto de alta ma-
morrer para a revista Vanity Fair. O resultado nogâmico. E as praias de decomposição de çava a bordo. Itamar não recebeu para nada. gia, uma pedra filosofal que se perde, pronta
final era decidido por um Conselho de alto ní- coral rosa ou de coral branco? Experiências Fernando Henrique Cardoso e dona Ruth re- a se dissipar ou a ser surrupiada pelo bruxo
vel, do qual tive a honra de participar em casa acompanhadas da consciência de ser uma abriram a temporada das recepções no Itama- das trevas, o nosso Lord Voldemort, que pre-
de Eleanor, com monstros sagrados da elegân- sul americana, e não aquela coisa brasileira raty, e elas foram muitas. tendia se tornar imortal, subjugar as pessoas e
cia como Nan Kempner, Oscar De La Renta e enclausurada em um Brasil narcisista, com No governo Lula, não fosse o traquejo mi- destruí-las, especialmente o Lula, ops, digo, o
Jeromy Zipkin. cultura, valores, idioma, culinária, enfim, neiro e a generosidade pessoal de Marisa e Harry Potter.
Entrevistei todos, mas todos os grandes no- um conjunto de fatores que mais nos dife- José Alencar Gomes da Silva, o vice-presiden- Eu não disse que virei criança?
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MENSAGENS DAS AGÊNCIAS CARIOCAS


DE PUBLICIDADE
PARA O JORNAL DO BRASIL
“O Jornal do Brasil é a cara do Rio. “JB é parte integrante da história “Em tempos de fake news, “Mais do que um jornal, o JB é “A volta do JB mostra a força da
É bom voltar a ter uma opção com do Rio e do Brasil. O retorno é muito bom ler good news uma marca de credibilidade, de comunicação e da marca, que
a credibilidade que o JB sempre da marca torna nosso dia a dia no jornalismo. O Rio estava isenção e de notícia bem escrita. pode ter ficado quase adorme-
teve. O mercado carioca só tem a mais rico e todos os debates precisando de uma boa notícia.” Espero que esse relançamento
ganhar.” cida com sua discreta presença
mais plurais e exuberantes. Álvaro Rodrigues, CEO/CCO seja um primeiro passo para
Roberto Amarante, Presidente on-line nestes anos, mas que,
Para o mercado é sempre da Fullpack termos o melhor do Rio de volta.
do Conselho Global de Diretores
mais uma eficiente forma de Estamos todos na torcida!” ao acordar, desperta o mesmo
da 3A Worldwide interesse, o mesmo amor, a
alcançar um determinado tipo Cyd Alvarez, Presidente da
de consumidor.” NBS mesma carioquice de sempre.
Glaucio Binder, Presidente da É como aquele amigo que você
Binder fica um tempão sem ver, mas
quando encontra parece que foi
ontem. Bem-vindo de volta JB.
O mercado, o Rio e principal-
mente as notícias agradecem”.
Gustavo Bastos, CEO / Diretor
“O JB está de volta. Mas na
verdade ele nunca se foi. Porque de Criação da Onzevinteum
“De verdade, a minha porta
estava morrendo de saudade.” durante todo esse tempo au- “O JB é muitíssimo bem-vindo.
Beto Werneck, Sócio-Diretor sente, ele sempre esteve presente Tanto na pessoa física quanto
de Criação da 8020 Rio na nossa mente e nos nossos na jurídica. Aprendi a ler jornal,
corações. Afinal, o JB é parte me acostumei a me informar,
“Uma marca como o Jornal importante do nosso mercado
do Brasil estar de volta é uma lendo o JB. Hábito que veio do
e da nossa história. Reencontrar meu avô, passou pelo meu pai e
ótima notícia. Não só pelo que o Jornal do Brasil é ter o prazer
representa para o mercado e chegou em mim. Ao me tornar
de poder voltar a abrir todos os publicitário, a primeira PI que
para a cidade, mas por tudo dias as páginas da credibilidade,
o que essa marca ainda vai emiti foi para o JB. Faz parte da
da tradição e da transparência.” minha vida. E nesse momento
realizar daqui para frente.” Clóvis Speroni, Presidente
Luiz Eduardo Soutello, pelo qual estamos passando, ver “O JB voltou! Só acreditei nessa
da Agência3 essa grande marca voltar com
Diretor Geral da DPZ&T RJ notícia porque veio pelo JB.
força, é um alento. O Rio e o
Credibilidade é tudo.”
país precisam do JB. O merca-
“Mesmo com toda imparciali- Lula Vieira, Diretor de
do publicitário também. O ano
dade que o jornalismo pede, é
começou muito bem!” Criação de Conteúdo da
impossível deixar de comemo-
Marcelo Gorodicht, Diretor Approach - Grupo Mesa
rar a volta do JB. Jornal para o
Geral da X-Tudo Comunicação
qual já criei campanhas publi-
Completa
citárias e que fez parte da minha
formação. Pela importância
da marca e do veículo, para o
cenário carioca, esta notícia M E
merece a primeira página.” “O Jornal do Brasil sempre foi
Alexandre Leão, Sócio-Dire-
“Os tempos são outros, mas a um dos grandes defensores S A
volta do JB é muito bem-vinda. da democracia, do direito do
tor da A/Partners Que retorne com a credibi- cidadão, de um país mais trans-
lidade, a coragem e a indepen- parente. No momento em que o
dência de sempre.” povo brasileiro – e em especial
Eduardo Almeida, Diretor de o carioca – se depara com uma “Ele voltou! O jornal mais
Criação da Heads grande discussão sobre as insti- “Ávido pelos quadrinhos, carioca de todos os tempos. Não
tuições e o nosso futuro como o mundo do cinema e meu é saudosismo, é informação com
sociedade, nada melhor que ter Flamengo, eu abria a porta e lá a cara do Rio. O JB de sempre,
de volta o JB. Seja bem-vindo.” estava ele me esperando. Com com charme, carisma, simpatia,
Gustavo Oliveira, VP de o tempo, uma janela ainda isenção e compromisso com a
Operações/RJ da FCB Brasil e maior pro mundo foi aberta – verdade. O jornal que marcou
Presidente da Abap Rio meu interesse pela política veio
“A volta do Jornal do Brasil é época agora retorna às bancas.
por meio do Informe JB. Sim,
uma grande notícia. Vai ser bom Seja bem-vindo de volta! O
me marcou, é parte de quem eu
para o mercado, para a cidade, sou. Que bom que ele voltou.” Rio está de braços abertos para
para o país, para os novos e para Leonardo Brossa, Sócio- você!”
os antigos leitores que voltam a Planejador da Quintal Cristiano Junqueira, Diretor
ter um grande jornal formador “É muito bom ter o JB de volta. de Criação da Saravah
de opinião. Bem-vindo, JB! Bom para a autoestima do Comunicação
Você fez muita falta.” carioca e bom para o mercado
Alessandra Sadock, Diretora publicitário.
de Criação da Artplan É bom até para a saúde, pois as
pessoas vão acordar cedo para
caminhar até a banca. Todo dia.” “Neste momento que o Rio de
Paulo de Tarso, Presidente da Janeiro precisa de boas notí-
Nacional cias, o relançamento do Jornal
do Brasil é muito bem-vindo.
Resgatar esse veículo de comu- “Construir marcas contando
nicação, ícone da cidade e do histórias capazes de encantar
país, é fundamental para rea- o consumidor é um grande “Uma notícia maravilhosa.
firmar a importância do mer- desafio, mas fazer isso tendo
Importantíssimo que o Rio
cado carioca. a credibilidade do Jornal do
volte a ter um grande jornal
Brasil ao nosso lado é, sem dúvi-
“Somos órfãos do JB. Durante Sua visão crítica e construtiva é formador de opinião, ajudando
das, um motivo para comemo-
anos uma leitura imparcial e necessária para que possamos rar. Bem-vindo de volta, JB!” a restaurar a concorrência no
obrigatória para o carioca.” vislumbrar um futuro melhor.” Pedro Portugal, Diretor de mercado. O Rio merece.”
Bruno Richter, Diretor Geral Antonio Jorge Alaby Pinheiro Criação da Wide e Presidente Ricardo Real, Sócio-Diretor
de Criação da Camisa 10 “Depois de conhecer a equipe – Diretor Geral da Mídia1 do CCRJ de Criação da Script
de redação, estou confiante que
o novo JB, como o dos meus
tempos no time, estará sin-
tonizado com a recomendação
de Arthur Miller (1915 - 2005)
– Um bom jornal é uma nação
falando para si mesma.”
Elysio Pires, Diretor da
Thenard Set
Domingo, 25 de fevereiro de 2018 Caderno B Conheça nosso site www.jb.com.br • 5

Quando a alma
mergulha no passado para
resgatar o futuro
A Casa volta a mim pelas mãos de Drummond e leva minha memória a revisitar os mestres

Revisitar Drummond e ainda mais fa- nho agora a missão de liderar a volta do
lando sobre a mudança do JORNAL DO JORNAL DO BRASIL. No formato origi-
BRASIL, da Rio Branco 110 para a Aveni- nal, standard. Jornal de papel. A rotativa,
da Brasil 500 - missão para a qual o mero a oficina, o linotipo, o copidesque, a ra-
foca da Economia fora convocado na ter- diofoto, o telex, tudo o mais se foi. O cor-
ça-feira do Carnaval de 1973 -, é um salto po, envelhecido, poderia ser tratado pelos
emocionante no passado. No grande pré- médicos do INTO, que hoje ocupa salas e
dio, quase marco zero da Avenida Brasil, andares que guardam episódios marcan-
fiz minha carreira e passei boa parte da tes. Na alma, ainda pulsa e vibra o ines-
vida. Fui de repórter a Editor de Econo- quecível JORNAL DO BRASIL. A credi-
mia. Saí por cinco anos e voltei em 1988, bilidade volta para provar que a história
no Editorial. não acabou, pois “o que está na alma, não
Grandes mestres: Alberto Dines, Car- morre”, garante nosso presidente.
los Lemos, José Silveira, Carlos Caste- Se o poeta maior Carlos Drummond
lo Branco, Noenio Spinola, Ruy Castro de Andrade assevera que:
(me orientou em estágio no B, no Curso
de Jornalismo do JB, onde fui colega de “Todo jornal
Norma Couri), Carlos Leonan, Marina
há de ser explosão
Colassanti, Carlinhos de Oliveira, Hum-
berto Vasconcellos, Luiz Orlando Carnei-
de amor feito lucidez
ro, Walter Fontoura, Elio Gaspari, Paulo a serviço pacífico
Henrique Amorim, Joaquim Campelo, do ser”.
José Gonçalves Fontes, Lutero Soares,
Sérgio Fleury, Armando Strozenberg, Ju- Não cabe dizer mais nada sobre esses
venal Portela, Luiz Mario Gazzaneo, Ar- versos que, durante 13 anos, orientaram
mando Nogueira, Sandro Moreyra, João os editoriais e minha vida profissional.
Saldanha, Oldemário Touguinhó, Luiz Só deixar a alma do JB fluir.
Gonzaga Larqué, Zózimo, José Carlos Lúcida, para estar a serviço do leitor.
Avelar, Wilson Figueiredo, Dr. Britto... No papel, no site, no twitter e na TV-JB.
Grandes furos. Grandes emoções. Gran-
des amigos. Gilberto Menezes Côrtes
Pelas mãos de Omar Resende Peres, te- Diretor de Redação
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Evandro Teixeira CPDoc JB


Ao longo do tempo
o JORNAL DO
BRASIL não apenas
noticiou o surgi-
mento do novo
ritmo musical como,
por muitas vezes,
acompanhou de
perto os responsá-
veis pela inovação.

Com a Bossa Nova,


uma simbiose
O jornal incentivou o novo ritmo
Ao longo da sua existência, o JORNAL DO BRASIL foi um di- dro-negro. Ninguém sabe quem pegou o giz para escrever Bossa Nova,
vulgador e incentivador da Bossa Nova brasileira, criada em me- mas daí para a frente a expressão – que não era novidade , mas que só
ados dos anos 50. Pelas suas páginas, tanto do primeiro caderno naquele instante ganhava sentido e fôrça – passou a batizar a música
como, a partir dos anos 60, do Caderno B, o ritmo brasileiro cria- cantada e tocada num compasso diferente por moças e rapazes que lhe
do por João Gilberto, Antônio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes davam interpretação inteiramente diversa de qualquer outra. E, agora,
e alguns outros sempre mereceu destaque. a nova fase da música popular brasileira só tem um nome: Bossa Nova”
Em 31 de janeiro de 1960, quando o Caderno B ainda não exis- Naquela época os nomes envolvidos na novidade musical brasilei-
tia, no chamado “3 º Caderno”, Miriam Lima de Alencar escre- ra ainda eram poucos, mas significativos.
veu uma página sobre o assunto com o título “Música só tem um “João Gilberto – sempre chamado pai da BN -, Antônio Carlos
nome: Bossa Nova”. Jobim, Vinicius de Moraes, Ronaldo Bôscoli, Arruda Pais, Luís Eça,
No subtítulo da página ela explicava sucintamente, a partir de Billy Blanco, Carlinhos Lyra, Aloísio de Oliveira, Roberto Menescal,
uma definição de Ronaldo Bôscoli: “Compasso diferente não tem Astor, João Donato, Luís Carlos Vinhas, Chico Fim de Noite, Nor-
definição: quem é é que pode entender BN.” mando, Daniel Caetano” destacavam-se entre os compositores que
A reportagem apresentou um pequeno histórico daquele mo- também apresentavam suas canções.
vimento que marcou definitivamente a música popular brasileira. Já como cantores apareciam Silvia Telles, Nara Leão, Norma Ben-
A Bossa Nova apareceu, pela primeira vez, rabiscada num qua- guel, Sérgio Ricardo, Alaíde Costa.
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CPDoc JB

Acompanhando o
sucesso pelo mundo
O show no Carnegie Hall gerou debates

Em setembro de 1962, o JB deu des-


taque ao muito falado e discutido show O jornal acompanhou as
ocorrido no Carnegie Hall, em Nova apresentações dos músicos
Iorque. Ali, em novembro, ocuparam brasileiros em outros
países como nos Estados
o palco Tom, João Gilberto e diversos
Unidos e na França. José
brasileiros, acompanhados também dos Carlos Oliveira, com sua
americanos Stan Getz, Dizzy Gillespie, irreverência, também
Lalo Shifrin, mais ligados ao jazz. defendia a juventude que
A discussão em torno deste show es- modificou completamente
tendeu-se por várias edições. Em 12 de o estilo de nossa música
dezembro, o assunto foi abordado, com
sua tradicional irreverência, pelo cro-
nista José Carlos Oliveira – “não dou a
menor pelota para a reação do público
norte-americano: se eles detestam ou
adoram a nossa nova música, o proble-
ma é deles: quanto a mim, sempre fui
fã dessa juventude que modificou com-
pletamente o estilo de nossa música
popular”, comentou, na sua coluna “O do ritmo brasileiro. O francês viu, gostou e Na sua coluna – O Pai da Bossa Nova –
homem e a fábula”, naquele dia intitu- aplaudiu. De pé.” descrevia como o músico baiano inventou
lada “Elogio da Bossa Nova” João Gilberto, por sinal, dominava o no- as batidas no violão que diferenciava aquele
Na mesma página, o já Caderno B, ticiário. Em abril de 1962, foi personagem ritmo:
noticiava a chegada do novo ritmo bra- da coluna Lições de Samba, assinada por Ti- “João Gilberto começaria então a procurar
sileiro à França. A notícia dava conta: nhorão, que ainda não adotara o nome com efeitos diferentes ao violão, tendo descoberto
“Bossa Nova chegou, viu e venceu em o qual se tornou uma referência nacional a batida, depois chamada de bossa nova, por
Paris”. Informou ainda que “Sacha Distel em termos de música brasileira: José Ramos acaso, ao tentar imitar com ritmo o requebro
mostrou ao povo de Paris as maravilhas Tinhorão. das lavadeiras de sua cidade de Juazeiro”

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É voltar,
por que não,
anos da

aos melhores
minha vida.

FERNANDA MONTENEGRO*

O JORNAL DO BRASIL formou e informou gerações e

gerações de brasileiros. Vivo na saudade de folheá-lo a

NASCEU CARIOCA,
cada manhã. No mundo da grande imprensa o retorno do

SE TORNOU NACIONAL
JORNAL DO BRASIL dimensiona a nossa cultura não só

na área jornalística.
E NUNCA DEIXOU
Tê-lo novamente diante dos olhos é voltar aos grandes anos DE ACREDITAR NO RIO.
da nossa imprensa. É voltar, por que não, aos melhores

anos da minha vida. É desejar que tão importante jornal É O JB.


permaneça, por sua qualidade, na memória de gerações
MAS PODERIA
futuras.
SER A BINDER.
Cresci e me eduquei - num período em que havia dez

jornais diários, incluindo o Correio da Manhã - lendo esse A Binder nasceu no Rio e hoje é uma agência

grande matutino que sempre destacou em suas páginas de comunicação nacional. Mas nós, assim como

o Teatro, o Cinema, Artes Plásticas, a Música Clássica e o JB, acreditamos nessa cidade. Tanto que
trabalhamos e investimos há 15 anos no mercado
Popular, e a Literatura. Só que o JORNAL DO BRASIL era,
publicitário carioca, gerando crescimento,
definitivamente, o nosso xodó por tudo que ele representou
oportunidades e negócios para cada
pelos anos em que existiu.
um dos nossos clientes.

Muito me alegra e honra o convite para estar presente neste JB, é muito bom ter você de volta.

feliz e fundamental retorno do JORNAL DO BRASIL.

P.S. Para dar sorte, assim como se faz no Teatro, a atriz

deseja ao Jornal “merda na estreia e sempre!!!”

* Atriz. A Dama do Brasil

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