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Dez Poemas da Palestina

Article  in  Tiraz · November 2016


DOI: 10.11606/issn.2594-5955.tiraz.2016.135391

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5 authors, including:

Michel Sleiman Alexandre Chareti


University of São Paulo University of São Paulo
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FONTES

Dez Poemas da Palestina

Apresentação, tradução e notas:


Michel Sleiman, Alexandre Facuri Chareti,
Renata Parpolov Costa, Beatriz Negreiros
Gemignani e William Diego Montecinos*

C ompondo a antologia em árabe Mawsūcat al’adab alfilisṭīnī almucāṣir (An-


tologia da literatura palestina contemporânea), de Salma Khadra Jayyusi1,
os dez poemas que aqui se apresentam na língua original e na tradução ao portu-
2016

guês representam cada qual um poeta central da Palestina do nosso tempo: Ahmad
Dahbour (nascido em Haifa, em 1946); Mahmoud Darwish (Birwah, 1942-2008);
Salma Khadra Jayyusi (Safad, Jordânia, 1926); Fadwa Tuqan (Nablus, 1917-
2003); Jabra Ibrahim Jabra (Belém, 1919-1994); Khairi Mansour (Deir Ghusun,
1945); Mourid Barghouti (Deir Ghassana, 1944); Samih Alqasim (Zarqah, 1939-
2014); Tawfiq Sayigh (Tiberíades, 1923-1971) e Tawfiq Zayyad (Galileia, 1932-
1994) – intelectuais com trajetórias marcadas pela militância política e o engaja-
ANO VIII

mento cultural que sublinham a causa emblemática da Palestina.


O conjunto desses poemas tematiza o “exílio” e a “desterritorialização”
em torno de tendências da linguagem poética as mais variadas, que sacaram a
literatura árabe do longo leito da tradição medieval, inserindo-a no fluxo contínuo
e autofágico que na última centúria marca a renovação da poesia. Os poemas ar-
ticulam, por isto mesmo, características multifacetadas à luz de um discurso que
de certo modo busca a homogeneização, dispondo, a inovação do experimento ao

* Michel Sleiman é professor do Departamento de Letras Orientais da Universidade de São


Paulo, coordenador do Grupo de Tradução da Poesia Árabe Contemporânea – GTPAC, do qual
fazem parte os demais autores, alunos do Programa de Pós-Graduação em Estudos Judaicos e
Árabes.
1
A antologia, em dois volumes, se publicou em 1997, pela editora libanesa Almu’assasah
Al arabiyyah Liddirāsāt Wannašr. A organização dessa obra seguiu-se à Anthology of Modern
c

Palestinian Literature (Neva York, Columbia University Press, 1986), em um volume de 755 pp., pp. 91-113
realizada no âmbito do PROTA – Project of Translation from Arabic, que a autora fundou em 1980
envolvendo para a publicação até agora dos mais de trinta títulos uma larga equipe de tradutores
arabistas e/ou poetas em língua inglesa.
TIGOS
R
A
FONTES
ARTIGOS Dez Poemas da Palestina

lado da confirmação do consabido, o que confere ao conjunto desses textos um teor orgânico que faz
as diferentes vozes confluírem para uma mesma garganta. É como se evidenciassem uma trajetória
poética coletiva, que é, dessa perspectiva, o que esses poemas almejariam ser: a voz aglutinadora de
um povo e um território expostos ora à ruptura e à dispersão, ora à usurpação e ao apagamento. Para
tal voz cantante, são um mesmo o chão da Palestina e o terreno da poesia; para ela – exilada dentro e
fora de seu país – a Pátria que se inscreve em versos se escreve em meio a falares estranhos.
A tradução segue tais pistas, buscando localizar o denominador comum a esses textos e o que
em cada um deles sublinha a experiência pessoal e intransferível da composição e seu autor.

As mãos, de novo

Ahmad Dahbour

Não há mares nos livros.


Pergunto por eles, não respondem.
Não há leitos nas árvores.
92
Chega o sono, mas os galhos me acordam com perigo.
Não há diálogos na língua.
Tocam meus lábios, mas não os nervos mais íntimos.
Não há campos nas nuvens,
mas sangue, levando adiante sua história.
Não há mares não há livros
não há leitos não há árvores
não há diálogos não há línguas
não há campos não há nuvens.
Ergam-se, então, minhas mãos...
quem sabe, erguidas, me atenderão.
Michel Sleiman, Alexandre Facuri Chareti...

‫ ﻣﻦ ﺟﺪﻳﯾﺪ‬،٬ ‫ﺍاﻻﻳﯾﺪﻱي‬

ِ ‫ﻻ ﺑﺤﺎ َﺭر ﻓﻲ ﺍاﻟ ُﻜﺘ‬


‫ﺐ‬
‫ﺐ‬ِ ‫ﺃأﻁطﻠﺐُ ﺍاﻟﺒﺤﺎ َﺭر ﻓﻼ ﺗﺴﺘﺠﻴﯿﺐُ ﻟﻠﻄﻠ‬
‫ﻻ ﺳﺮﻳﯾ َﺮ ﻓﻲ ﺍاﻟﺸﺠﺮ ْﺓة‬
‫َﻄﺮ ْﺓة‬ ِ ‫ﺃأﻓﺎﻗﺖ ﻏﺼﻮﻧُﻬﮭﺎ ﺍاﻟﺨ‬ ْ ُ ‫ﻛﻠﻤﺎ ﻧﻌ‬
‫ْﺴﺖ‬
‫ﻻ ﺣﻮﺍا َﺭر ﻓﻲ ﺍاﻟﻠﻐ ِﺔ‬
‫ ﺑﻞ َﺷﻔﺘﻲ‬،٬‫ﻲ‬ ‫ﻲ ﺍاﻟﺪﺍاﺧﻠ ﱠ‬
‫ﺼﺒ ﱠ‬ َ ‫ﻳﯾﺪﺭرﻛﻮﻥنَ – ﻻ َﻋ‬
‫ﻻ ﻣﺮﻭو َﺝج ﻓﻲ ﺍاﻟ ﱡﺴﺤُﺐ‬
‫ﺑﻞ ﺩد ٌﻡم ﻳﯾﺤﺎﻭو ُﻝل ﺃأﻥن ﻳﯾُﺴْﻤ َﻊ ﺍاﻟﻤﺪﻯى َﺧﺒَﺮ ْﻩه‬
ُ‫ﻻ ﺑﺤﺎ ُﺭر ﻻ ُﻛﺘﺐ‬
‫ﻻ ﺳﺮﻳﯾ ُﺮ ﻻ ﺷﺠﺮﺓة‬
ٌ‫ﻻ ﺣﻮﺍا ُﺭر ﻻ ﻟﻐﺔ‬
. ُ‫ﻻ ﻣﺮﻭو ُﺝج ﻻ ﺳُﺤﺐ‬
.‫ﻳﯾﺪﺍاﻥن ﻻَ ْﻟﺘَﻔَﺘُﻮﺍا‬
ِ ‫ﺖ ﻟﻲ‬ ْ ‫ ﻓَ ْﻠﻮ ﻁطَﻠ َﻌ‬...‫ﺇإﻁطﻠﻌﺎ‬

 
 
 
 
 
Nota
  O poema árabe mistura a rima à moda “estrangeira” −como a entendemos na tradição ociden-
  tal− com um tipo de arranjo rímico do árabe, aparentado, como lembrança (dikr), ao dístico matnawī,
  tão explorado, outrora, vg., na poesia persa sufi do Rumi dos Masnavis. Neste poema a rima age propri- 93

  amente como eco, livre do vínculo para a formação do pé métrico, como seria a norma do arūḍ clássi-
c

co. Com isso a linha sonora bi/bi/ra/ra/ti/ti/bi/ra/bu/ra/tu/bu/tu, desenhada nos finais dos versos, confere
 
a harmonia desejada aos enunciados do poema. Apoiado nesse eco e no paralelismo sintático flagrante,
 
o poema busca um tônus rítmico-melódico que estabeleça simetria entre som e sentido.
  Em português o poema está centrado no paralelismo e na deflagração resultante das oposições
  que o texto árabe sugere. Vale-se de um eco rímico, a vogal “i” (com harmonizações buscadas na con-
  soante nasal “n”), em vários finais de versos. Especial incidência de rimas em sílabas acentuadas no
  último par de versos: três vezes o som “ão”: na 4ª. e 7ª. sílabas do penúltimo verso e na 8ª sílaba do
  último, mais o som “i” na 4ª sílaba do último verso, que retomando o eco comum, arremata a pauta
fônica do poema.
 
TIGOS
R
A
FONTES
ARTIGOS Dez Poemas da Palestina

Salmos
Mahmoud Darwish

Rosa fora do tempo e dos sentidos,


beijo trazido nos véus do vento,
minha loucura me afasta de você,
me cure, rosa, com um sonho!

Me afastei de você
para estar mais perto
− encontrei o tempo.

Me aproximei de você
para estar mais longe
− encontrei os sentidos.

Entre o longe e o perto


há uma pedra do tamanho de um sonho,
nem perto,
nem longe,
e você é o meu país.

Não sou uma pedra,


não alcanço o céu,
nem abraço a terra.

94 Permaneço um estranho.

‫ﻣﺰﺍاﻣﻴﯿﺮ‬

ّ‫ﺍاﻟﺰﻣﻦ ﻭوﺍاﻟﺤﻮﺍاﺱس‬
ِ ‫ﺃأﻳﯾﺘﱠﻬﮭﺎ ﺍاﻟﻮﺭرﺩدﺓةُ ﺍاﻟﻮﺍاﻗﻔﺔُ ﺧﺎﺭر َﺝج‬
...‫ﻣﻨﺎﺩدﻳﯾﻞ ﺍاﻟﺮﻳﯾﺎﺡح‬
ِ ‫ﻳﯾﺎ ﻗُﺒﻠﺔً ﻓﻲ‬
‫ﻓﺎﺟﺌﻴﯿﻨﻲ ﺑﺤﻠُ ٍﻢ ﻭوﺍاﺣﺪ‬
..! ‫ﻋﻨﻚ ﺟﻨﻮﻧﻲ‬ ِ ‫ﻳﯾﺮﺗ ﱡﺪ‬
‫ﻓﺎﺟﺌﻴﯿﻨﻲ ﺑﺤﻠُ ٍﻢ ﻭوﺍاﺣﺪ‬
Michel Sleiman, Alexandre Facuri Chareti... ..! ‫ﻋﻨﻚ ﺟﻨﻮﻧﻲ‬ ِ ‫ﻳﯾﺮﺗ ﱡﺪ‬

‫ﻋﻨﻚ‬
ِ ُ
‫ﺍاﺑﺘﻌﺪﺕت‬ ‫ﻟﻘﺪ‬
‫ﻷﻗﺘﺮﺏب ﻣﻨﻚ‬
َ
ُ ‫ﻓَ َﻮ‬
.‫ﺟﺪﺕت ﺍاﻟﺰﻣﻦ‬

ُ
‫ﻭوﺍاﻗﺘﺮﺑﺖ ﻣﻨﻚ‬
‫ﻋﻨﻚ‬
ِ ‫ﻷﺑﺘﻌ َﺪ‬
ُ
. ّ‫ﻓﻮﺟﺪﺕت ﺍاﻟﺤﻮﺍاﺱس‬

‫ﺏب‬
ِ ‫ﺑﻴﯿﻦ ﺍاﻹﺑﺘﻌﺎ ِﺩد ﻭوﺍاﻻﻗﺘﺮﺍا‬
‫ﺣﺠ ٌﺮ ﻓﻲ ﺣﺠﻢ ﺍاﻟﺤﻠُ ِﻢ‬
ُ‫ﻻ ﻳﯾﻘﺘﺮﺏب‬
‫ﻭوﻻ ﻳﯾﺒﺘﻌ ُﺪ‬
‫ﺖ ﺑﻼﺩدﻱي‬ ِ ‫ﻭوﺃأﻧ‬

ً‫ﻟﺴﺖ ﺣﺠﺮﺍا‬ ُ ‫ﻭوﺃأﻧﺎ‬


‫ﻻ ﺃأﺣﺎﺫذﻱي ﺍاﻟﺴﻤﺎء‬،٬‫ﻟﻬﮭﺬﺍا‬
‫ﺍاﻷﺭرﺽض‬
َ ‫ﻭوﻻ ﺃأﻭوﺍاﺯزﻱي‬
. ً ‫ﻭوﺃأﺑﻘﻰ ﻏﺮﻳﯾﺒﺎ‬

Nota  
Neste poema, a tradução opera com base na interpretação.
Nota
No quarto verso (v4) da primeira estrofe, a tradução insere o vocativo “rosa”, em
Neste poema, a tradução opera com base na interpretação.
releitura modeladora dos (v4)
No quarto verso sentidos de v3estrofe,
da primeira e v4. ado poemainsere
tradução árabe, que se“rosa”,
o vocativo expressa assim: mode-
em releitura
“meladora
surpreenda comde um
dos sentidos v3 e sonho que afaste
v4. do poema de sevocê
árabe, que a minha
expressa assim: loucura”. O poema
“me surpreenda com umem
sonho que
95
português
afaste deevidencia a ação
você a minha curadora
loucura”. da rosa.
O poema em português evidencia a ação curadora da rosa.
Na Na segunda
segunda e terceiraestrofes
e terceira estrofesdo
do poema
poema árabe,
árabe,osossemas
semasverbais ibtaibta
verbais adtu...
c
c
li’aqtariba
(v1)(v1)
adtu...
(v2) “afastei-me para mee iqtarabtu...
para me aproximar” (v1)e li’abta ida (v2)(v1)
“aproximei-me
li’abtacidapara
(v2)me afas-
c
li’aqtariba (v2) “afastei-me aproximar” iqtarabtu...
tar” são mantidos somente nos v1, pois eles aí indicam movimentos de lucidez da voz em digressão
a partir de um presente marcado pela loucura. No v2, o poema usa as perífrases “estar mais perto” e
“estar mais longe” para modular os graus da referida lucidez.
Na quarta estrofe do poema, o par “perto-longe” parece menos denotativo que nas estrofes
anteriores, pois, nesta, a voz se encontra no terreno intermédio da loucura e do sonho, instâncias
entendidas como da imprecisão e do delírio. É nessa condição da voz que ela identifica a Palestina
como a Rosa Alquímica que curará o desterrado e desterritorializado, tornado estranho e estrangeiro.
TIGOS
R
A
FONTES
ARTIGOS Dez Poemas da Palestina

Junho, 1967
Salma Jayyusi

O verão passado cortou minha última veia.


Você ouviu se falaram da minha morte,
do meu enterro silencioso e tímido?
A grande farsa é o morto ser enterrado, falarem dele, carregarem-no pelas ruas da cidade e de-
pois o ocultarem numa vala.
Quem dera o caixão derretesse como o meu coração
e desaparecesse como os sonhos de uma criança!
Você ouviu se falaram da minha morte,
desse cálice venenoso,
dessa morte que anseia pela morte?
Devem ter falado, sim.
Fomos jogados, eu e o seu coveiro, na mesma vala.

96
Fomos jogados, eu e o seu coveiro, na mesma vala.
Michel Sleiman, Alexandre Facuri Chareti...

١۱٩۹٦٧۷ ‫ﺣﺰﻳﯾﺮﺍاﻥن‬

‫ﻕق ﻣﻦ ﻗﻠﺒﻲ‬ ٍ ‫ﺍاﻟﺼﻴﯿﻒ ﺍاﻟﻤﺎﺿﻲ ﺁآﺧ َﺮ ﻋﺮ‬ ُ ‫ﻗﻄ َﻊ‬


‫ﺃأﺳﻤﻌﺖَ ﺑﺄﺧﺒﺎﺭر ﻭوﻓﺎﺗﻲ؟‬
‫ﺑﺠﻨﺎﺯزﺗ َﻲ ﺍاﻟﺼﺎﻣﺘ ِﺔ ﺍاﻟ َﺨﻔِ َﺮﺓة؟‬
‫ﻉع ﻣﺤﻤﻮﻻً ﻭوﻳﯾُﻐﻴﯿّﺐُ ﻓﻲ ﺣﻔ َﺮ ْﺓة‬ ُ ‫ ﻳﯾُﺴﺎ‬،٬‫ ﻳﯾُﻌﻠَﻦ ﻋﻨﻪﮫ‬،٬‫ﺃأﻥن ﺍاﻟﻤﻴﯿّﺖَ ﻳﯾُﺪﻓَ ُﻦ‬
ُ ‫ ﻳﯾَﺮﺍاﻩه ﺍاﻟﺸﺎﺭر‬،٬‫ﻕق‬ ّ ‫ﺍاﻟﻤﻬﮭﺰﻟﺔُ ﺍاﻟﻜﺒﺮﻯى‬
،٬‫ﻟﻴﯿﺖ ﺍاﻟﺘﺎﺑﻮﺕتَ ﻳﯾﺬﻭوﺏبُ ﻛﻘﻠﺒﻲ‬
‫ﻛﺎﻷﺣﻼﻡم ﺍاﻟﻨﻀﺮ ْﺓة‬
ِ ‫ﻳﯾﺘﻼﺷﻰ‬
‫ﺃأﺳﻤﻌﺖَ ﺑﻤﻮﺗﻲ؟‬
،٬‫ﺏب‬
ِ ‫ﺍاﻟﻜﺄﺱس ﺍاﻟﻌﻘﺮ‬
ِ ‫ﺫذﺍاﻙك‬
ْ
‫ﺍاﻟﻤﻮﺕت؟‬ ‫ﺍاﻟﻤﺸﺘﺎﻕق ﺇإﻟﻰ‬
ِ ‫ﺕت‬
ِ ‫ﺫذﺍاﻙك ﺍاﻟﻤﻮ‬
‫ﻻ ﺑ ﱠﺪ‬
.‫ﻓﻨﺎﻋﻴﯿﻚ ﺭرﺁآﻧﻲ ﺃأُﺩدﻓَ ُﻦ ﺇإﺫذ ﺃأﻟﻘَﻮْ ﻩه ﺇإﻟﻰ ﺟﻨﺒﻲ‬

Nota
O poema explora os binômios pessoalidade-impessoalidade e privado-coletivo. Usa o tão
árabe “coração” para indicar o “self”, em dois momentos do poema. E se vale do interlocutor impes-
soal, um “você”, que a tradução se pergunta se não é o mesmo que o “eu” nesse diálogo/monólogo
da voz do poema.
97
No v1 exclui-se a palavra “coração” que, no entanto, mantém-se em verso adiante. O poema
em português foca o sema “veia”. Em v2 e v3 a expressão da tradução marca certa intimidade entre
a voz e seu interlocutor e certa ironia da voz em relação aos terceiros: “minha morte”, “meu enterro”
marcam a pessoalidade da morte anunciada pela voz. Em v5, yuðayyibu “o ocultarem” recupera o
sema contido em ðayb, termo que no islã corânico remete ao Oculto, à Outra Vida. “Vala” ao invés de
“cova” (¬afrah) marca o enterro nas mortes coletivas. “Desse”, “dessa”, em v9 e v10, impessoalizam
já a morte, que deixa de ser somente a da própria voz para ser a de muitos (a morte ansiando pela
morte, como um anseio coletivo, ou uma praga que se estende a contragosto). Em v11 lā budda “sem
dúvida que sim” tanto se refere ao que as pessoas falaram como ao que o interlocutor terá ouvido. A
tradução opta pela primeira, marcando o “diz-que-diz-que” costumeiro quando dos falecimentos. Em
v12 o aposto da tradução sublinha o absurdo que fomentou os comentários prenunciados no poema.
TIGOS
R
A
FONTES
ARTIGOS Dez Poemas da Palestina

O dilúvio e a árvore
Fadwa Tuqan

Durante as primeiras semanas após a guerra de junho de 1967, jornais estrangeiros e


estações de rádio enviesaram as notícias de forma a se deliciarem com a desgraça, como
se o fim do povo árabe tivesse sido decidido por esse retrocesso. Daí surgiu este poema.

Diabólico dia do furacão, 


dia sombrio do dilúvio!
Desbordou, transbordou,
e a costa brava o anunciou à terra verde.

Aclamaram, e a notícia se espalhou


cruzando alegre os céus do Oeste:
Caiu a Árvore!, disseram,
o grande tronco está em pedaços!
A tormenta não deixou nenhum resto de vida para a Árvore!

Caiu a Árvore?
Apesar de nossos rios vermelhos
e as raízes irrigadas
com o vinho que escorre
de nossos membros cortados,
apesar das raízes árabes
fincadas como rochas
98 e esparramadas nas profundezas?

Há de se erguer a Árvore.
Hão de se erguer tronco e galhos.
Hão de brotar diante do sol os risos da Árvore.

E hão de voltar
os pássaros hão de voltar.
‫‪Michel Sleiman, Alexandre Facuri Chareti...‬‬

‫ﺍاﻟﻄﻮﻓﺎﻥن ﻭوﺍاﻟﺸﺠﺮﺓة‬

‫ﻓﻲ ﺍاﻷﺳﺎﺑﻴﯿﻊ ﺍاﻷﻭوﻟﻰ ﺍاﻟﺘﻲ ﺗﻠﺖ ﺍاﻟﺤﺮﺏب ‪ ،٬‬ﻛﺎﻧﺖ ﺍاﻟﺼﺤﻒ ﻭوﺍاﻹﺫذﺍاﻋﺎﺕت ﺍاﻷﺟﻨﺒﻴﯿﺔ‬
‫ﺍاﻟﻤﻌﺎﺩدﻳﯾﺔ ﺗﺘﺤ ّﺪﺙث ﺑﺘَﺸَﻒً ﻭوﺷﻤﺎﺗﺔ ﻋﻦ ﺣﺮﺏب ﺣﺰﻳﯾﺮﺍاﻥن ﻭوﻛﺄﻧﻤﺎ ﻧﻬﮭﺎﻳﯾﺔ ﺍاﻷﻣﺔ ﺍاﻟﻌﺮﺑﻴﯿﺔ‬
‫ﻛﺎﻧﺖ ﻣﻨﻮﻁطﺔ ﺑﺘﻠﻚ ﺍاﻟﻨﻜﺴﺔ ﻣﻦ ﻫﮬﮪھﻨﺎ ﻛﺎﻧﺖ ﻗﺼﻴﯿﺪﺓة )ﺍاﻟﻄﻮﻓﺎﻥن ﻭوﺍاﻟﺸﺠﺮﺓة (‪.‬‬

‫ﺍاﻟﺸﻴﯿﻄﺎﻧﻲ ﻁطَﻐﻰ ﻭوﺍاﻣﺘ ّﺪ‬


‫ﱡ‬ ‫ﺍاﻹﻋﺼﺎﺭر‬
‫ِ‬ ‫ﻳﯾﻮ ُﻡم‬
‫ﺍاﻟﻄﻮﻓﺎﻥن ﺍاﻷﺳﻮ ْﺩد‬
‫ِ‬ ‫ﻳﯾﻮ ُﻡم‬
‫ﻟﻔﻈَ ْﺘﻪﮫُ ﺳﻮﺍاﺣ ُﻞ ﻫﮬﮪھﻤﺠﻴﯿﱠ ْﺔ‬
‫ﻟﻸﺭرﺽض ﺍاﻟﻄﻴﯿّﺒ ِﺔ ﺍاﻟﺨﻀﺮﺍاء‬ ‫ِ‬
‫ﻫﮬﮪھَﺘَﻔﻮﺍا ‪ ،٬‬ﻭوﻣﻀﺖ ﻋﺒﺮ ﺍاﻷﺟﻮﺍا ِء ﺍاﻟﻐﺮﺑﻴﯿّﺔْ‬
‫ﺗﺘﺼﺎﺩدﻯى ﺑﺎﻟﺒ ُﺸﺮﻯى ﺍاﻷﻧﺒﺎءْ ‪:‬‬
‫ﻫﮬﮪھﻮﺕت ﺍاﻟ َﺸ َﺠﺮﺓة !‬
‫ﻉع ﺍاﻟﻄّﻮﺩد ﺗﺤﻄّ َﻢ ‪ ،٬‬ﻟﻢ ﺗُ ِ‬
‫ﺒﻖ‬ ‫ﻭوﺍاﻟﺠﺬ ُ‬
‫ﺍاﻷﻧﻮﺍاءْ‬
‫ﺑﺎﻗﻴﯿﺔً ﺗَﺤﻴﯿﺎﻫﮬﮪھﺎ ﺍاﻟ َﺸ َﺠﺮ ْﺓة !‬

‫ﻫﮬﮪھَ َﻮﺕت ﺍاﻟ َﺸ َﺠﺮ ْﺓة ؟‬


‫ﺟﺪﺍاﻭوﻟﻨﺎ ﺍاﻟﺤﻤﺮﺍاءْ‬ ‫ِ‬ ‫ﻋﻔَﻮ‬
‫ﺟﺬﻭوﺭر ﻣﺮﺗﻮﻳﯾ ْﺔ‬ ‫ٍ‬ ‫ﻋﻔ َﻮ‬
‫ﺑﻨﺒﻴﯿ ٍﺬ َﺳﻔَ َﺤﺘﻪﮫ ﺍاﻷﺷﻼءْ‬
‫ﺟﺬﻭوﺭر ﻋﺮﺑﻴﯿﱠ ْﺔ‬
‫ٍ‬ ‫ﻋﻔ َﻮ‬
‫ﻛﺼﺨﻮﺭر ﺍاﻷﻋﻤﺎ ْﻕق‬ ‫ِ‬ ‫ﺗُﻮﻏﻞ‬
‫ﻭوﺗﻤ ﱡﺪ ﺑﻌﻴﯿﺪﺍاً ﻓﻲ ﺍاﻷﻋﻤﺎ ْﻕق‬ ‫‪99‬‬

‫ﺳﺘﻘﻮ ُﻡم ﺍاﻟﺸﺠﺮﺓةُ‬


‫ُ‬
‫ﻭوﺍاﻷﻏﺼﺎﻥن –‬ ‫ﺳﺘﻘﻮ ُﻡم ﺍاﻟﺸﺠﺮﺓةُ‬
‫ﺍاﻟﺸﻤﺲ ﻭوﺗﺨﻀ ّﺮ‬
‫ِ‬ ‫ﺳﺘﻨﻤﻮﻓﻲ‬
‫ﺤﻜﺎﺕت ﺍاﻟﺸﺠﺮ ْﺓة‬
‫ُ‬ ‫ﺿ‬ ‫ﻕق َ‬ ‫ﻭوﺳﺘﻮﺭر ُ‬
‫ﻓﻲ ﻭوﺟ ِﻪﮫ ﺍاﻟ ّﺸﻤﺲْ‬
‫ﻭوﺳﻴﯿﺄﺗﻲ ﺍاﻟﻄﻴﯿﺮْ‬
‫ﻻ ﺑُ ﱠﺪ ﺳﻴﯿﺄﺗﻲ ﺍاﻟﻄﻴﯿ ُﺮ‬
‫ﺳﻴﯿﺄﺗﻲ ﺍاﻟﻄﻴﯿ ُﺮ‬
‫ﺳﻴﯿﺄﺗﻲ ﺍاﻟﻄﻴﯿﺮْ‬
TIGOS
R
A
FONTES
ARTIGOS Dez Poemas da Palestina

Para Sócrates
Jabra Ibrahim Jabra

Por que o fizeram tomar veneno, Sócrates?

Repetimos a pergunta apesar de saber toda a história.


Sabemos como você passou os últimos dias
na companhia dos discípulos
consolando-os de sua decisão
(como se o veneno fosse a vontade dos deuses).
Sabemos como você preencheu a solidão
repassando outra vez as fábulas de Esopo
(como se a sabedoria cortasse o veneno).
Sabemos como no último instante
você mencionou o culto a Asclépio
encomendando-lhe um galo por oferenda
(como se o veneno exigisse consciência limpa).
E isso foi muito mais do que os seus juízes poderiam suportar.
Não suportavam a maravilha da dúvida que você semeou no solo de Atenas,
ameaçando as frágeis certezas.
Porque questionou, deram-lhe o veneno.
E você não hesitou.
Levou o cálice aos lábios
e, tomando-o, matou-os todos.

100 Quem hoje se lembra dos nomes de quem o condenou?


‫‪Michel Sleiman, Alexandre Facuri Chareti...‬‬

‫ﺳﻘﺮﺍاﻁط‬
‫ﺇإﻟﻰ ُ‬

‫ﻟﻤﺎﺫذﺍا َﺳﻘَﻮْ ﻙك ﺍاﻟ ُﺴ ﱠﻢ ﻳﯾﺎ ﺳﻘﺮﺍاﻁط؟‬


‫ﻧﺴﺘﻌﻴﯿ ُﺪ ﺍاﻟﺴﺆﺍا َﻝل ﻭوﺇإﻥن ﻛﻨّﺎ‬
‫ﻭوﻧﻌﺮﻑف ﻛﻴﯿﻒ ﺃأﻧّﻚ‬ ‫ُ‬ ‫ﺼﺔَ ﻛﻠﱠﻬﮭﺎ‪،٬‬‬ ‫ُ‬
‫ﻧﻌﺮﻑف ﺍاﻟﻘ ّ‬
‫ﺚ ﺇإﻟﻰ ﺗﻼﻣﻴﯿ ِﺬﻙك‬‫ﻗﻀﻴﯿﺖَ ﺍاﻷﻳﯾّﺎ َﻡم ﻗﺒ َﻞ ﺍاﻟﻤﻮﺕت ﺑﺎﻟﺤﺪﻳﯾ ِ‬
‫ﺗُﻮﺍاﺳﻴﯿﻬﮭﻢ ﻋﻦ ﻓﻘﺪﺍاﻧﻚ ﺍاﻟﻤﺰ َﻣﻊ‬
‫ﻛﺄﻥن ﺍاﻟ ُﺴ ﱠﻢ ﻣﺸﻴﯿﺌﺔُ ﺍاﻵﻟﻬﮭﺔ(‬ ‫) ﱠ‬
‫ﻭوﻛﻴﯿﻒَ ﺃأﻧّﻚ ﻓﻲ ﻭوﺣﺪﺗﻚ ﺳﻠﻴﯿّﺖَ ﻧﻔ َﺴﻚ‬
‫ﺇإﻳﯾﺴﻮﺏب ﻣﻦ ﺟﺪﻳﯾﺪ‪.‬‬ ‫َ‬ ‫ﺕت‬
‫ﺑﻨﻈﻢ ﺧﺮﺍاﻓﺎ ِ‬
‫ﻛﺄﻥن ﻓﻲ ﺍاﻟﺤﻜﻤ ِﺔ ﻗﻀﺎ ًء ﻋﻠﻰ ﺍاﻟ ّﺴ ّﻢ(‬ ‫) ّ‬
‫ﻭوﻛﻴﯿﻒ ﺃأﻧّﻚ ﻓﻲ ﺍاﻟﻠﺤﻈ ِﺔ ﺍاﻷﺧﻴﯿﺮ ِﺓة‬
‫ﻁطﻘﺲ ﺇإﺳﻜﻼﺑﻴﯿﻮﺱس‬ ‫َ‬ ‫ﺗﻨﺲ ﺣﺘّﻰ‬
‫ﻟﻢ َ‬
‫ﻓﺄﻭوﺻﻴﯿﺖَ ﺑﺘﻘﺪﻳﯾﻢ ٍ‬
‫ﺩدﻳﯾﻚ ﺇإﻟﻴﯿﻪﮫ‬
‫ﻛﺄﻥن ﺍاﻟ ُﺴ ّﻢ ﻳﯾﻘﺘﻀﻲ ﺑﺮﺍاءﺓةَ ﺍاﻟﺬ ّﻣﺔ(‪.‬‬ ‫) ّ‬
‫ﺑﻜﺜﻴﯿﺮ‬
‫ٍ‬ ‫ﻭوﻫﮬﮪھﺬﺍا ﻛﺎﻥن ﺃأﻛﺜ َﺮ‬ ‫‪101‬‬
‫ّﻣﻤﺎ ﻳﯾُﻄﻴﯿﻘُﻪﮫ ﺣﺎﻛﻤﻮﻙك‪.‬‬
‫ﻭوﻻ ﻫﮬﮪھﻢ ﻛﺎﻧﻮﺍا ﻳﯾﻄﻴﯿﻘﻮﻥن‬
‫ﺭرﻭوﺍاﺋ َﻊ ﺍاﻟﺸﻚﱢ ﺍاﻟﺘﻲ ُﺭرﺣﺖَ ﺗﺒﺬﺭرُﻫﮬﮪھﺎ‬
‫ﻓﻲ ﺃأﺭرﺽض ﺃأﺛﻴﯿﻨﺎ‪ ،٬‬ﻣﻬﮭ ّﺪﺩدﺍاً ﺑﻬﮭﺎ‬
‫ﻳﯾﻘﻴﯿﻨﺎﺗِﻬﮭﻢ ﺍاﻟﻬﮭﺰﻳﯾﻠﺔ‪.‬‬
‫ﻋﻠﻰ ﺍاﻟﺘﺴﺎ ُﺅؤ ِﻝل ﺟﺎ َﺯزﻭوْ ﻙك ﺑﺎﻟ ُﺴ ﱢﻢ‪،٬‬‬
‫ﻓﻠﻢ ﺗﺘﺴﺎءﻝل ﺃأﻧﺖ‪.‬‬
‫ﺍاﻟﺸﻴﯿﻜﺮﺍاﻥن ﺇإﻟﻰ ﺷﻔﺘﻴﯿﻚ‬‫ِ‬ ‫ﺭرﻓﻌﺖَ ﻛﺄﺱس‬
‫ﻭوﻟﻤﺎ ﺟﺮﻋﺘَﻬﮭﺎ‪ ،٬‬ﻗﺘﻠﺘَﻬﮭﻢ ﺟﻤﻴﯿﻌﺎ ً‪.‬‬

‫ﻣﻦ ﻳﯾﺬﻛ ُﺮ ﺍاﻟﻴﯿﻮ َﻡم ﺃأﺳﻤﺎء ﺍاﻟﺬﻳﯾﻦ ﺣﺎﻛﻤﻮﻙك؟‬


TIGOS
R
A
FONTES
ARTIGOS Dez Poemas da Palestina

Biografia não autobiográfica


Khairi Mansur

Num quarto úmido,


no hotel inclinado perto da ponte,
passei duas semanas.
Leio até a vista embaçar
um romance... sobre alguém que morava num hotel inclinado,
num quarto de paredes rabiscadas.

Num quarto escuro,


no hotel adormecido debaixo da água,
passei dias sem nomes.
Leio até morrer
um romance...
de heróis sem voz,
de episódios sem voz,
tem um título borrado... este tempo.

102
‫‪Michel Sleiman, Alexandre Facuri Chareti...‬‬

‫ﺳﻴﯿﺮﺓة ﻏﻴﯿﺮ ﺫذﺍاﺗﻴﯿﺔ‬

‫ﻓﻲ ﻏﺮﻓ ٍﺔ ﺭرﻁطﺒ ْﺔ‬


‫ﺍاﻟﺠﺴﺮْ‬
‫ﻗﺮﺏب ِ‬
‫َ‬ ‫ﺍاﻟﻤﺎﺋﻞ‬
‫ِ‬ ‫ﺍاﻟﻔﻨﺪﻕق‬
‫ِ‬ ‫ﻓﻲ‬
‫ُ‬
‫ﺃأﻗﻤﺖ ﺃأﺳﺒﻮﻋﻴﯿﻦ‪.‬‬
‫ﺃأﻗﺮﺃأُ ﺣﺘّﻰ ﺍاﻟﻔﺠﺮْ‬ ‫‪103‬‬
‫ﻕق ﻣﺎﺋﻞ‬
‫ﺳﺎﻛﻦ ﻓﻲ ﻓﻨﺪ ٍ‬
‫ٍ‬ ‫ﺭرﻭوﺍاﻳﯾﺔً ‪ ....‬ﻋﻦ‬
‫ﻓﻲ ﻏﺮﻓ ٍﺔ ﺣﻴﯿﻄﺎﻧُﻬﮭﺎ ﻣﺪﻫﮬﮪھﻮﻧﺔٌ ِ‬
‫ﺑﺎﻟﺤﺒْﺮ‪.‬‬

‫ﻓﻲ ﻏﺮﻓ ٍﺔ ﻋﻤﻴﯿﺎء‬


‫ﺍاﻟﻨﺎﺋﻢ ﺗﺤﺖَ ﺍاﻟﻤﺎء‬ ‫ِ‬ ‫ﺍاﻟﻔﻨﺪﻕق‬
‫ِ‬ ‫ﻓﻲ‬
‫ً‬ ‫ُ‬
‫ﻗﻀﻴﯿﺖ ﺃأﻳﯾّﺎﻣﺎ ﺑﻼ ﺃأﺳﻤﺎء‬
‫ﺃأﻗﺮﺃأُ ﺣﺘّﻰ ﺍاﻟﻤﻮﺕت‬
‫ﺭرﻭوﺍاﻳﯾﺔً ‪...‬‬
‫ﺻﻤﺖ‬ ‫)ﺃأﺑﻄﺎﻟﻬﮭﺎ( ِﻣﻦ َ‬
‫ﺻﻤﺖ‬ ‫)ﺃأﺣﺪﺍاﺛُﻬﮭﺎ( ﻣﻦ َ‬
‫ﻋﻨﻮﺍاﻧُﻬﮭﺎ ﺍاﻟﻤﻤﺴﻮ ُﺡح ‪ ....‬ﻫﮬﮪھﺬﺍا ﺍاﻟﻮﻗﺖ‪.‬‬
TIGOS
R
A
FONTES
ARTIGOS Dez Poemas da Palestina

Tribos
Mourid Barghouti

Nossas tribos recobram seus encantos:


tendas e tendas,
tendas de pedras tranquilas, estacas de mármore,
inscrições no teto.
Nas paredes
papéis de veludo, retratos de família e o quadro da Monalisa,
um amuleto, para afastar o mau-olhado
e, ao lado, o diploma universitário do filho,
emoldurado em ouro e coberto de pó.
Tendas, janelas de vidro,
armadilha para as jovens curiosas
que temem as descubram os mais velhos.
O vapor do chá se eleva, soda e whisky
e... “Não aprecio o vinho”, “Sinto muito”,
“Alcançaste a prosperidade junto à quarta esposa?”
Tendas e tendas
o lustre ilumina a mobília
enquanto as moscas da conversa dançam
e nas portas de cobre se arrastam correntes.
Nossas tribos recobram seus encantos
em seus últimos dias.

104
‫‪Michel Sleiman, Alexandre Facuri Chareti...‬‬

‫ﺍاﻟﻘﺒﺎﺋﻞ‬
‫‪  ‬‬

‫ﻗﺒﺎﺋﻠُﻨﺎ ﺗﺴﺘﺮ ﱡﺩد ﻣﻔﺎﺗﻨَﻬﮭﺎ‪:‬‬


‫ﺧﻴﯿﺎ ٌﻡم ﺧﻴﯿﺎ ْﻡم‪.‬‬
‫ﺧﻴﯿﺎ ٌﻡم ﻣﻦ ﺍاﻟ َﺤ َﺠ ِﺮ ﺍاﻟﻤﺴﺘﺮﻳﯾﺢ‪ ،٬‬ﻭوﺃأﻭوﺗﺎ ُﺩدﻫﮬﮪھﺎ ﻣﺮﻣ ٌﺮ ﺃأﻭو ﺭرُﺧﺎ ْﻡم‪.‬‬
‫ﺍاﻟﻤﺨﻤﻠﻲ ﻳﯾﻐﻄّﻲ ﺍاﻟﺤﻮﺍاﺋﻂَ ‪،٬‬‬
‫ﱡ‬ ‫ﺍاﻟﺴﻘﻒ‪ ،٬‬ﻭوﺍاﻟﻮﺭر ُ‬
‫ﻕق‬ ‫ِ‬ ‫ﻧﻘﻮﺵشٌ ﻋﻠﻰ‬
‫ﻭوﺍاﻟﺼﻮ ُﺭر ﺍاﻟﻌﺎﺋﻠﻴﯿّﺔُ ﻭو ﺍاﻟﺠﻴﯿﻮﻛﺎﻧﺪﺍا‬
‫ﺗﺤﺎﺫذﻱي ﺣﺠﺎﺑﺎ ً ﻟﺮ ﱢﺩد ﺍاﻟﺤﺴﻮ ِﺩد‪،٬‬‬
‫ﺇإﺑﻦ ﺗﺨﺮﱠﺝج ﻓﻲ ﺍاﻟﺠﺎﻣﻌﺔ ‪-‬‬ ‫ﺏب ﺷﻬﮭﺎﺩد ِﺓة ٍ‬ ‫ﺑﻘﺮ ِ‬
‫ﺇإﻁطﺎﺭرﺍاﺗُﻬﮭﺎ َﺫذﻫﮬﮪھَﺐٌ ﻳﯾﻌﺘﻠﻴﯿﻪﮫ ﺍاﻟﻐﺒﺎﺭرْ ‪.‬‬
‫ﺯزﺟﺎﺝج‬
‫ِ‬ ‫ﺧﻴﯿﺎ ٌﻡم‪ ،٬‬ﻭوﻧﺎﻓﺬﺓةٌ ﻣﻦ‬
‫‪105‬‬
‫ﺕت ﻣﻨﻪﮫُ‬ ‫ﺍاﻟﻔﺘﻴﯿﺎﺕت ﺍاﻟﻤﻄﻼّ ُ‬ ‫ُ‬ ‫ﺍاﻟﻔﺦ ﺗﺮﺗﻌ ُﺪ‬ ‫ﻫﮬﮪھﻲ ﱡ‬
‫ﺇإﺫذﺍا ﻣﺎ ﺍاﻟﺼﻐﻴﯿ ُﺮ ﻭوﺷﻰ ﻟﻠﻜﺒﺎﺭرْ ‪.‬‬
‫ﺑﺨﺎ ٌﺭر ﻣﻦ ﺍاﻟﺸﺎﻱي ﻳﯾﺼﻌ ُﺪ‪ ،٬‬ﺻﻮﺩدﺍا ﻭوﻭوﻳﯾﺴﻜﻲ‪،٬‬‬
‫ﻭو‪" ...‬ﻻ ﺃأﺳﺘﺴﻴﯿ ُﻎ ﺍاﻟﻨﺒﻴﯿ َﺬ" ﻭو"ﻣﻌﺬﺭرﺓةً‪،٬‬‬
‫ﻫﮬﮪھﻞ ﻧﺠﺤﺖَ ﻣﻊ ﺍاﻟﺰﻭوﺟ ِﺔ ﺍاﻟﺮﺍاﺑﻌﺔ؟‬
‫ﺧﻴﯿﺎ ٌﻡم ﺧﻴﯿﺎ ْﻡم‪.‬‬
‫َ‬
‫ﺍاﻷﺛﺎﺙث ﺍاﻟﻮﺛﻴﯿ َﺮ‬ ‫ﺗﻀﻲ ُء ﺍاﻟﺜﺮﻳﯾّﺎﺕت ﻓﻴﯿﻬﮭﺎ‬
‫ﻭوﻳﯾ ْﻤ َﺮ ُﺡح ﻓﻴﯿﻬﮭﺎ ﺫذﺑﺎﺏبُ ﺍاﻟ َﻜﻼ ْﻡم‪.‬‬
‫ﺱس ﺗُ َﺠﺮﱡ ﻋﻠﻴﯿ ِﻪﮫ ﺍاﻟﺴﻼﺳﻞْ‬ ‫ﻭوﺃأﺑﻮﺍاﺑُﻬﮭﺎ ﻣﻦ ﻧﺤﺎ ٍ‬
‫ﻗﺒﺎﺋﻠُﻨﺎ ﺗﺴﺘﺮ ﱡﺩد ﻣﻔﺎﺗﻨَﻬﮭﺎ‬
‫ﺍاﻧﻘﺮﺍاﺽض ﺍاﻟﻘﺒﺎﺋﻞ! ‪  ‬‬ ‫ِ‬ ‫ﺯزﻣﺎﻥن‬
‫ِ‬ ‫ﻓﻲ‬
TIGOS
R
A
FONTES
ARTIGOS Dez Poemas da Palestina

Você sabe o quanto te amamos


Samih Alqasim

A Muin Bseiso, que finge estar morto

Uma kufiya balança ao vento.


As mechas de seu cabelo pagão
balançam
encharcadas pelo sal do mar,
balança o rouxinol de seu espirito.
Um suspiro é sufocado
pela tormenta em seu peito...

...Marinheiro, você está ilhado!

Estrela caída na relva.


Rosa sacudida pelas ondas.
Aí está o seu coração.

De onde você veio?


E como você era? onde está? para onde vai?

Homens e gênios você leva nas vestes.


O Versículo do Trono não intercedeu,
não o acolheu.
Suas preces erraram o rumo.
Os céus fecharam as portas.
E Deus descansou.
106
Aceite o conselho deste morto.
Ele sabe e você sabe o quanto ele te ama.
À morte, crédulo,
na taça ainda lhe resta algo!
À morte, incrédulo,
o brinde à morte extasia as tertúlias!

Entre mim e você, meu caro,


uma criança sangra com as esporas do cavaleiro covarde.
Entre mim e você há algo do seu tempo
que se deixou cair em meu espaço.
Michel Sleiman, Alexandre Facuri Chareti...

Entre mim e você


há duas lágrimas e um poema exilado.
Elegias e canções embalam.
Nosso sangue está impresso
como uma espiga
nos campos de joio.

Vá!
e não vá!
O que me ajudou na minha partida
também o ajuda,
filho das esferas profundas,
amante das amêndoas e dos limões...
Como é sua esfera mais íntima?
A noiva estava de branco?
Como foi a cerimônia nesse exílio
incerto e distante?

Lembrou-se de nós?
do tempo das paixões juvenis,
de como o espírito explodia em suas mãos?
Em sua estrela misteriosa
alguma vidente lhe traz hoje as novas?

Uma corda de aço vibra nos escombros de seu coração.

Estas são as últimas, ouça:


“Uma boneca teve as pernas decepadas.
Embaixo da varanda negra 107
uma senhora recolhe roupas carbonizadas.
De cima da varanda negra
mísseis miram sobre o jardim.”

Você ouve?
É a sinfonia de cowboys tocada
pelo esquadrão de lendários nos rituais da mudez,
tocada
sobre as cordas de seu coração.

É o som do pregão na Bolsa de Valores.


‫‪TIGOS‬‬
‫‪R‬‬
‫‪A‬‬
‫‪FONTES‬‬
‫‪ARTIGOS‬‬ ‫‪Dez Poemas da Palestina‬‬

‫ﺃأﻧﺖ ﺗﺪﺭرﻱي ﻛﻢ ﻧﺤﺒﻚ‬

‫ﺇإﻟﻰ ﺍاﻟﻤﺘﻤﺎﻭوﺕت ﻣﻌﻴﯿﻦ ﺑﺴﻴﯿﺴﻮ‬

‫ﺍاﻟﺮﻳﯾﺢ ﺗﺨﻔ ُ‬
‫ﻖ‬ ‫ِ‬ ‫ﻛﻮﻓﻴﯿّﺔٌ ﻓﻰ‬
‫ﺍاﻟﻮﺛﻨﻰ‬
‫ﱢ‬ ‫ُﺧﺼﻠﺔٌ ﻣﻦ َﺷﻌْﺮﻙك‬
‫ﺍاﻟﺒﺤﺮ‬
‫ِ‬ ‫ﺑﻤﻠﺢ‬
‫ِ‬ ‫ﻣﺸﺒﻌﺔٌ‬
‫ﻖ‬‫ﺗﺨﻔ ُ‬
‫ﺍاﻟﺮﻭوﺡح ﻳﯾﺨﻔ ُ‬
‫ﻖ‬ ‫ِ‬ ‫ﻋﻨﺪﻟﻴﯿﺐُ‬
‫ﺻﺪﺭرﻙك‬
‫ِ‬ ‫ﻗﻀﺒﺎﻥن‬
‫ِ‬ ‫ﺥخ ﻣﻦ‬ ‫ﺁآ ِ‬
‫ﺑﺎﻹﻋﺼﺎﺭر‬
‫ِ‬ ‫ﻕق‬
‫ﺿﺎ َ‬
‫ﺻ ٌﺮ‬ ‫ﺃأﻧﺖَ ﻣﺤﺎ َ‬
‫ﺍاﻟﻨﻮﺗﻰ‬
‫ﱡ‬ ‫ﻳﯾﺎ ﺃأﻳﯾﱡﻬﮭﺎ‬
‫ﺕت‬
‫ﺳﻘﻄﺖ ﻋﻠﻰ ﺍاﻟﻐﺎﺑﺎ ِ‬ ‫ْ‬ ‫ﺃأﻳﯾّﺔُ ﻧﺠﻤ ٍﺔ‬
‫ﺍاﻷﻣﻮﺍاﺝج‬
‫ِ‬ ‫ﺧﻔﻘﺖ ﻋﻠﻰ‬ ‫ْ‬ ‫ﺃأﻳﯾﺔُ ﻭوﺭرﺩد ٍﺓة‬
‫ﻗﻠﺒ ُْﻚ !‬

‫ﻣﻦ ﺃأﻳﯾﻦَ ﺟﺌﺖَ ؟‬


‫ﻭوﻛﻴﯿﻒَ ﻛﻨﺖَ ؟‬
‫ﻭوﺃأﻳﯾﻦَ ﺃأﻧﺖَ ؟‬
‫ﻭوﺃأﻳﯾﻦ ﺩدﺭرﺑُﻚ؟‬

‫ﻚ‬‫ﻭوﺟﻦ ﻓﻰ ﺛﻴﯿﺎﺑِ َ‬‫ﱞ‬ ‫ﺇإﻧﺲٌ‬


‫ﺍاﻟﻜﺮﺳﻰ‬
‫ﱢ‬ ‫ﺁآﻳﯾﺔُ‬
‫ﻟ ْﻢ ﺗﺸﻔ ْﻊ‬
‫ﻭوﻟﻢ ﺗﺮﺩد ْﻉع‬
‫ْ‬
‫ﺃأﺧﻄﺄﺕت ﻣﺤﺮﺍاﺑَﻬﮭﺎ‬ ‫ﺻﻼﺗُﻚ‬
‫‪108‬‬ ‫ﺣﺎ ِﺫذﺭرْ‬
‫ْ‬
‫ﺃأﻭوﺻﺪﺕت ﺃأﺑﻮﺍاﺑَﻬﮭﺎ‬ ‫ﻙك‬
‫ﺳﻤﺎﺅؤ َ‬
‫ﻭوﺍاﺭرﺗﺎ َﺡح ﺭرﺑ ْﱡﻚ ‪.‬‬

‫ُﺧ ْﺬﻫﮬﮪھﺎ ﻧﺼﻴﯿﺤﺔَ ﻣﻴﯿﱢ ٍ‬


‫ﺖ‬
‫ﻳﯾﺪﺭرﻯى ﻭوﺗﺪﺭرﻯى ﻛﻢ ﻳﯾُﺤﺒ ْﱡﻚ‬
‫ﺖ‬‫ﻖ ُﻣ ْ‬ ‫ﻳﯾﺎ ﺃأﻳﯾﱡﻬﮭﺎ ﺍاﻟﺼﺪﻳﯾ ُ‬
‫ﺖ ﺳُﺆﺭرﺓةٌ‬ ‫ﺍاﻟﻜﺄﺱس ﻅظﻠﱠ ْ‬
‫ِ‬ ‫ﻓﻰ‬
‫ﺖ‬ ‫ﻖ ُﻣ ْ‬ ‫ﻳﯾﺎ ﺃأﻳﯾﱡﻬﮭﺎ ﺍاﻟﺰﻧﺪﻳﯾ ُ‬
‫ﺳﻴﯿُﺮﻧّ ُﺢ ﺍاﻟ ُﺴ ﱠﻤﺎﺭر ﻧﺨﺒُﻚ ‪...‬‬
‫ﺑﻴﯿﻨﻰ ﻭوﺑﻴﯿﻨَﻚ ﻳﯾﺎﺣﺒﻴﯿﺒﻰ‬
‫‪Michel Sleiman, Alexandre Facuri Chareti...‬‬

‫ْ‬
‫ﻧﺰﻓﺖ‬ ‫ﻁطﻔﻠﺔٌ‬
‫ﺍاﻟﺠﺒﺎﻥن‬
‫ِ‬ ‫ﻓﺎﺭرﺳﻬﮭﺎ‬
‫ﻣﻬﮭﻤﺎﺯز ِ‬ ‫ِ‬ ‫ﻋﻠﻰ‬
‫ﺑﻴﯿﻨﻰ ﻭوﺑﻴﯿﻨَ َ‬
‫ﻚ‬
‫ﻣﺎ ﺗﺴﺎﻗﻂَ ﻣﻦ ﺯزﻣﺎﻧِﻚ ﻓﻰ ﻣﻜﺎﻧﻰ‬
‫ﻚ‬‫ﺑﻴﯿﻨﻰ ﻭوﺑﻴﯿﻨ َ‬
‫ﺩدﻣﻌﺘﺎﻥن‬
‫ِ‬
‫ﻭوﻗﺼﻴﯿﺪﺓةٌ ﻣﻨﻔﻴﯿﱠﺔٌ‬
‫ﺧﻠﻒَ ﺍاﻟﻤﺮﺍاﺛﻰ ﻭوﺍاﻷﻏﺎﻧﻰ‬
‫ﻭوﻟﻨﺎ ﺍاﻟﺪ ُﻡم ﺍاﻟﻤﺮﺳﻮ ُﻡم ﺳُﻨﺒﻠﺔً‬
‫ﺍاﻟﺰﺅؤﺍاﻥن‬
‫ِ‬ ‫ﻣﺮﺝج‬
‫ِ‬ ‫ﻋﻠﻰ‬
‫ﻓﺎﺭر َﺣﻞْ‬
‫]ﻭوﻻ ﺗﺮﺣﻞ[ ﻛﻔﺎﻧﻰ ﻣﻦ ﺭرﺣﻴﯿﻠﻲ‬
‫ﻙك ﻭوﻣﺎ ﻛﻔﺎﻧﻰ ‪...‬‬ ‫ﻣﺎ ﻛﻔﺎ َ‬
‫ﺕت ﺍاﻟﺴﺤﻴﯿﻘ ِﺔ‬ ‫ﻳﯾﺎ ﺍاﺑﻦَ ﺍاﻟﻤﺪﺍاﺭرﺍا ِ‬
‫ﻭوﺍاﻟﻠﻴﯿﻤﻮﻥن‬
‫ِ‬ ‫ﺍاﻟﻠﻮﺯز‬
‫ِ‬ ‫ﻋﺮﻳﯾﺲ‬
‫َ‬ ‫ﻳﯾﺎ‬
‫ﺍاﻟﺠﻮﻓﻰ ؟‬
‫ﱡ‬ ‫ﻙك‬
‫ﻛﻴﯿﻒَ ﻣﺪﺍا ُﺭر َ‬
‫ﻛﻴﯿﻒ ﻋﺮﻭوﺳُﻚ ﺍاﻟﺒﻴﯿﻀﺎ ُء ‪،٬‬‬
‫ﺍاﻟﻬﮭﻼﻣﻲ ﺍاﻟﺒﻌﻴﯿﺪ؟‬
‫ﱢ‬ ‫ﻓﻰ ﺍاﻟﻤﻨﻔﻰ‬
‫ﻛﻴﯿﻒَ ﺍاﻟﻄﻘﻮﺱسُ ﻟﺪﻳﯾﻚَ؟‬
‫ﻫﮬﮪھﻞ ﻣﺎﺯزﻟﺖَ ﺗﺬ ُﻛﺮﻧﺎ؟‬
‫ﺻﺒْﻮﺗِﻚ ﺍاﻟﻌﻨﻴﯿﺪ ِﺓة‬ ‫ﻁطﻘﺲ َ‬ ‫َ‬ ‫ﺃأﺗﺬ ُﻛ ُﺮ‬
‫ﺍاﻟﺮﻭوﺡح ﺑﻴﯿﻦ ﻳﯾﺪﻳﯾﻚ‬ ‫ِ‬ ‫ﻭوﺍاﻧﻔﺠﺎ َﺭر‬
‫ﺐ ﺍاﻟﺴﺮﱢ ﻯىﱢ ﻣﻦ ﻋﺮّﺍاﻓ ٍﺔ‬ ‫ﻫﮬﮪھﻞ ﻓﻰ ﺍاﻟﻜﻮﻛ ِ‬
‫ﻚ ﺑﺎﻟﻨﺒﺄ ﺍاﻟﺠﺪﻳﯾﺪ؟‬ ‫ﺗﺄﺗﻴﯿ َ‬

‫ﻚ‬
‫ﺃأﻧﻘﺎﺽض ﻗﻠﺒِ َ‬
‫ِ‬ ‫ﻧﺤﺎﺳﻲ ﻋﻠﻰ‬‫ﱞ‬ ‫ﻭوﺗ ٌﺮ‬
‫ﺁآﺧ ُﺮ ﺍاﻷﻧﺒﺎ ِء‬
‫ُﺩدﻣﻴﯿﺔُ ﻁطﻔﻠ ٍﺔ ﻣﺒﺘﻮﺭرﺓة ﺍاﻟﺴﺎﻗَﻴﯿْﻦ‬ ‫‪109‬‬
‫ﺗﺤﺖَ ﺍاﻟﺸﺮﻓ ِﺔ ﺍاﻟﺴﻮﺩدﺍا ِء‬
‫ﺳﻴﯿّﺪﺓةٌ ﺗَﻠُ ﱡﻢ ﻏﺴﻴﯿﻠَﻬﮭﺎ ﺍاﻟﻨﺎﺭر ﱠ‬
‫ﻱي‬
‫ﻕق ﺍاﻟﺸﺮﻓ ِﺔ ﺍاﻟﺴﻮﺩدﺍا ِء‬ ‫ﻓﻮ َ‬
‫ﻗﺎﺫذﻓﺔٌ ﺗُﻐﻴﯿ ُﺮ ﻋﻠﻰ ﺣﺪﻳﯾﻘﺔ ‪.‬‬
‫ﻫﮬﮪھﻞ ﺃأﻧﺖَ ُﻣﺼْ ٍﻎ؟‬
‫ﻚ ﺳﻤﻔﻮﻧﻴﯿّﺔُ ﺍاﻟﻜﺎﻭوﺑﻮﻱي‬ ‫ﺗﻠ َ‬
‫ﺗﻌﺰﻓُﻬﮭﺎ ﺃأﺳﺎﻁطﻴﯿ ُﻞ ﺍاﻟﺨﺮﺍاﻓ ِﺔ‬
‫ﻁطﻘﻮﺱس ﺍاﻟﺼ ﱢﻢ‬
‫ِ‬ ‫ﻓﻰ‬
‫ﺃأﻭوﺗﺎﺭر ﻗﻠﺒِﻚ ﺃأﻧﺖَ‬
‫ِ‬ ‫ﺗﻌﺰﻓُﻬﮭﺎ ﻋﻠﻰ‬
‫ﺕت‬
‫ﻣﻮﻋﻈﺔ ﻣﻦ ﺍاﻟﺸﺮﻛﺎ ِ‬
‫ﻭوﺍاﻟﺒﻮﺭرﺻﺎﺕت‬
TIGOS
R
A
FONTES
ARTIGOS Dez Poemas da Palestina

Poema 28
Tawfiq Sayigh

De noite vesti minha roupa de festa,


fiz a barba e cortei o cabelo.
Jantei no Copacabana
com minha namorada e com meus amigos e suas namoradas.
Depois passeamos na orla escura
e dissemos ao mar Quebre! Esbraveje!
e às estrelas dissemos Uau!
e os lábios ficaram sem falar.

Peguei a caneta para escrever um soneto à minha amada.


Ensaiei escolher umas rimas
e a caneta escapou dos meus dedos,
foi-se ao chão e gritou na minha cara
Você canta, mas é só um fio de cabelo
numa cabeça farta.

De dia apresentei minha demissão ao diretor


(nunca deixei de lhe atender um pedido).
O sol me queimou
e logo desapareceu ao meio-dia.
Baguncei, e o barman caolho me chutou.
Voltei a apalpar meus trocados no bolso
para ver se não me escaparam pelo largo remendo.
Peguei um papel para desabafar a injúria
e a lancei sobre todos os mares.
110 O papel saiu voando antes de queimar com meu poema
e me disse num antigo tom acusador
Você canta, mas é só um fio branco
numa cabeça jovem.

Tampei a caneta,
embrulhei minhas coisas no papel,
beijei a amada sem soneto,
insultei o barman e o diretor desbotados,
me contorci e, como um só fio de cabelo,
saí em busca de uma cabeça careca
onde me plantar.
‫‪Michel Sleiman, Alexandre Facuri Chareti...‬‬

‫ﻗﺼﻴﯿﺪﺓة ‪٢۲٨۸‬‬

‫ْﺖ ﺑﺪﻟﺔَ ﺍاﻟﻤﻮﺍاﺳﻢ‪،٬‬‬ ‫ﻟﻴﯿﻠﺔَ ﺍاﺭرﺗﺪﻳﯾ ُ‬


‫ﺖ َﺷﻌﺮﻱي‪،٬‬‬ ‫ﺖ ﻭو ﻗﺼﺼْ ُ‬ ‫ﻭو ﺯزﻳﯾﱠ ْﻨ ُ‬
‫ْﺖ ﻓﻲ ﺍاﻟﻜﻮﺑﺎ ﻛﺎﺑﺎﻧﺎ‬ ‫ﻭو ﺗﻌ ّﺸﻴﯿ ُ‬
‫ﻣﻊ ﺭرﻓﻴﯿﻘﺘﻲ‪ ،٬‬ﻭوﺃأﺻﺤﺎﺑﻲ ﻭوﺭرﻓﻴﯿﻘﺎﺗﻬﮭﻢ‪،٬‬‬
‫ﺛ ّﻢ ﺗﻤ ّﺸﻴﯿْﻨﺎ ﻋﻠﻰ ﺍاﻟﻜﻮﺭرﻧﻴﯿﺶ ﺍاﻟ ُﻤﻌﺘِﻢ‪،٬‬‬
‫ﻟﻠﺒﺤﺮ ﺍاﺯزﺑِ ْﺪ ﻭو ﻁطَﺮْ ِﻁطﺶْ ‪،٬‬‬ ‫ِ‬ ‫ﻭوﻗُﻠﻨﺎ‬
‫ﻭوﻟﻠﻨﺠﻮﻡم ﻫﮬﮪھَﻪﮫْ! ﻫﮬﮪھَﻪﮫْ!‪،٬‬‬
‫ِ‬
‫ﻭوﺍاﻧﺸﻐﻠﺖ ﻋﻦ ﺍاﻟﻘَﻮْ ِﻝل ﺍاﻟﺸﻔﺎﻩهُ‪،٬‬‬ ‫ْ‬
‫ﻛﺘﺐ ﻓﻲ ﺣﺒﻴﯿﺒﺘﻲ ﺳﻮﻧﻴﯿﺘﺔ‪،٬‬‬ ‫ﺃأﺧﺬﺕت ﺍاﻟﻘﻠَ َﻢ ﻷ َ‬ ‫ُ‬
‫ْﺖ ﺃأﻟﺘﻘﻂُ ﺍاﻟﻘﻮﺍاﻓﻲ‪،٬‬‬ ‫َﺣ ْﺴ َﻤﺴ ُ‬
‫ﻓﻔ ﱠﺮ ﺍاﻟﻘﻠ ُﻢ ﺑﻴﯿﻦَ ﺃأﺻﺎﺑﻌﻲ‪،٬‬‬
‫ﺣﻴﯿﺚ ﺍاﺭرﺗﻤﻰ‬ ‫ُ‬ ‫ﺍاﻷﺭرﺽض‬
‫ِ‬ ‫ﻭو ﻋﻠﻰ‬
‫ﺷ َﺨﻂَ ﻓﻲ ﻭوﺟﻬﮭﻲ ‪ ،٬‬ﻭوﻗﺎﻝل‪:‬‬
‫"ﺗُ َﻐﻨِ ّﻲ‪ ،٬‬ﻭوﺃأﻧﺖَ ﺷﻌﺮﺓةٌ‬
‫ﺱس ُﺟ ّﻤﺔ"؟‬ ‫ﻭوﻋﻠﻰ ﺍاﻟﺮﺃأِ ِ‬

‫ﻟﻠﻤﺪﻳﯾﺮ ﺍاﺳﺘﻘﺎﻟﺘﻲ‬ ‫ِ‬ ‫ُ‬


‫ﺭرﻓﻌﺖ‬ ‫ﻭوﻳﯾﻮ َﻡم‬
‫)ﻻ ﺃأﺭرﻓﺾُ ﻟﻪﮫُ ﻁطﻠﺒِﺎ(‪،٬‬‬
‫ﻭوﻟﻔﺤ ْﺘﻨﻲ ﺍاﻟﺸﻤﺲُ‬
‫ﺍاﺣﺘﺠﺒﺖ ﻋﻨ َﺪ ﺍاﻟﻈﻬﮭﻴﯿﺮ ِﺓة‪،٬‬‬ ‫ْ‬ ‫ﺛ ّﻢ‬
‫ُ‬
‫ﺍاﻟﺒﺎﺭرﻣﺎﻥن ﺍاﻷﻋﻮ ُﺭر‬ ‫ﺕت‪ ،٬‬ﻭوﺭر َﻛﻠَﻨﻲ‬ ‫ﻭوﻋﺮﺑ ْﺪ ُ‬
‫ﻭوﻋﺪﺕت ﺃأﻗﺒﺾُ ﻓﻲ ﺟﻴﯿﺒﻲ ﻋﻠﻰ ﻗﺮﻭوﺷﻲ ﺍاﻟﻬﮭﺰﻳﯾﻠ ِﺔ‬ ‫ُ‬
‫ﺍاﻟﻮﺳﻴﯿﻊ‪،٬‬‬
‫ِ‬ ‫ﻖ‬‫ﻟﺌﻼ ﺗﺘﺴﻠّ َﻞ ِﻣﻦ ﺍاﻟﺮ ْﺗ ِ‬ ‫ّ‬
‫ﺍاﻟﺴﺒﺎﺏب‬
‫َ‬ ‫ﺖ ﻭوﺭرﻗﺔً ﻷﻧﻔ َﻲ ﻋﻠﻴﯿﻬﮭﺎ‬ ‫ْ‬
‫ﺍاﻧﺘﺸﻠ ُ‬
‫ﺍاﻟﺒﺤﻮﺭر‪،٬‬‬
‫ِ‬ ‫ﺟﻤﻴﯿﻊ‬
‫ِ‬ ‫ﺃأﻭو ّﺯزﻋﻪﮫُ ﻋﻠﻰ‬
‫‪111‬‬
‫ﺑﺸﻌﺮﻱي‪،٬‬‬ ‫ﺃأﻥن ﺗﺼﻄﻠ َﻲ ِ‬ ‫ﻓﺘﻄﺎﻳﯾﺮﺕت ﺍاﻟﻮﺭرﻗﺔُ ﻗﺒ َﻞ ْ‬
‫ﻭوﻓﺎﻟﺖ ﺑﻠﻬﮭﺠ ِﺔ ُﻣﺒ ّﺸﺮ ٍﺓة ُﻣ ِﺴﻨّ ٍﺔ‪:‬‬ ‫ْ‬
‫"ﺗُ َﻐﻨﱢﻲ‪ ،٬‬ﻭوﺃأﻧﺖَ ﺷﻌﺮﺓةٌ ﺑﻴﯿﻀﺎ ُء‬
‫ﺭرﺃأﺱس ﻳﯾﺎﻓﻊ"؟‬ ‫ِ‬ ‫ﻋﻠﻰ‬
‫ﺕت ﺍاﻟﻘﻠَ َﻢ‪،٬‬‬‫ﻭوﺃأﻏﻤ ْﺪ ُ‬
‫ﺖ ﻓﻲ ﺍاﻟﻮﺭرﻗ ِﺔ ﺯزﺍاﺩدﻱي‪.‬‬ ‫ﻭوﻟَ ْﻔﻠَ ْﻔ ُ‬
‫ﺑﺪﻭوﻥن ﺳﻮﻧﻴﯿﺘ ٍﺔ‪،٬‬‬ ‫ِ‬ ‫ْﺖ ﺣﺒﻴﯿﺒﺘﻲ‬ ‫ﻭوﺑُﺴ ُ‬
‫ﻏﻴﯿﺮ ﻧﺎﺭر‪.‬‬
‫ﻭوﺷﺘﻤﺖ ﺍاﻟﺒﺎﺭرﻣﺎﻥنَ ﻭوﺍاﻟﻤﺪﻳﯾ َﺮ ﻣﻦ ِ‬ ‫ُ‬
‫ْﺖ‪ ،٬‬ﺷﻌﺮﺓةً ﻭوﺣﻴﯿﺪﺓةً‪،٬‬‬ ‫ﻭوﺗﻠ ّﻮﻳﯾ ُ‬
‫ﺭرﺃأﺱس ﺃأﺻﻠ َﻊ‬ ‫ِ‬ ‫ﻭوﺭرﺣﺖ ﺃأﻓﺘّﺶُ ْ‬
‫ﻋﻦ‬ ‫ُ‬
‫ُﻂ ﻋﻠﻴﯿﻪﮫ‪.‬‬ ‫ﺃأﺣ ﱡ‬
TIGOS
R
A
FONTES
ARTIGOS Dez Poemas da Palestina

Mil sóis no meu sangue


Tawfiq Zayyad

Me tiraram a água, o azeite


e o sal do meu pão,
o gosto de aprender, o mar
e os raios de sol,
e um amigo que se foi
há vinte anos e ainda quero abraçar.
 
Me tiraram tudo:
a porta da casa, as flores da varanda,
mas não me tiraram
o coração,
e a consciência,
e a voz.
 
Me prenderam,
mas meu orgulho é mais forte
que a soberba deles.
Meu sangue rebate com mil sóis
a escuridão
enquanto escalo os sete céus
pelo amor que sinto por vocês,
povo de brutais tragédias,
sou um filho, estou em sua espinha dorsal

112 como um coração,


como uma consciência,
e como uma voz.
 
Nossa mão é firme, bem firme,
e a mão do opressor,
por mais firme que seja,
treme.
‫‪Michel Sleiman, Alexandre Facuri Chareti...‬‬

‫ﻣﻠﻴﯿﻮﻥن ﺷﻤﺲ ﻓﻲ ﺩدﻣﻲ‬

‫ﺳﻠﺒﻮﻧﻲ ﺍاﻟﻤﺎء‪ ،٬‬ﻭوﺍاﻟﺰﻳﯾﺖ‪،٬‬‬


‫ﻭوﻣﻠﺢ ﺍاﻷﺭرﻏﻔﺔ‬
‫ﻭوﺷﻌﺎﻉع ﺍاﻟﺸﻤﺲ‪ ،٬‬ﻭوﺍاﻟﺒﺤﺮ‪،٬‬‬
‫ﻭوﻁطﻌﻢ ﺍاﻟﻤﻌﺮﻓﺔ‬
‫ﻭوﺣﺒﻴﯿﺒﺎ ً ‪ -‬ﻣﻨﺬ ﻋﺸﺮﻳﯾﻦ ‪ -‬ﻣﻀﻰ‪,‬‬
‫ﺃأﺗﻤﻨﻰ ﻟﺤﻈﺔً ﺃأﻥن ﺃأﻋﻄﻔﻪﮫ‬

‫ﺳﻠﺒﻮﻧﻲ ﻛ ﱠﻞ ﺷﻲء‪:‬‬
‫ﻋﺘﺒﺔَ ﺍاﻟﺒﻴﯿ ِ‬
‫ﺖ‪ ،٬‬ﻭوﺯزﻫﮬﮪھﺮ ﺍاﻟﺸﺮﻓﺔ‬
‫ﺳﺎﺑﻮﻧﻲ ﻛ ﱠﻞ ﺷﻲء‬
‫ﻏﻴﯿ َﺮ ‪..‬‬
‫ﺐ‪،٬‬‬‫ﻗﻠ ٍ‬
‫ﻭوﺿﻤﻴﯿﺮ‪،٬‬‬
‫ٍ‬
‫ﻭوﺷﻔﺔ!!‬

‫ﻛﺒﺮﻳﯾﺎﺋﻲ‪ ،٬‬ﻭوﺃأﻧﺎ ﻓﻲ ﻗﻴﯿﺪﻫﮬﮪھﻢ‪،٬‬‬


‫ﺃأﻋﻨﻒ ﻣﻦ ﻛﻞﱢ ﺟﻨﻮﻥن ﺍاﻟﻌﺠﺮﻓﺔ‬ ‫ُ‬
‫ﺲ‬
‫ﻓﻲ ﺩدﻣﻲ ﻣﻠﻴﯿﻮﻥن ﺷﻤ ٍ‬
‫ﺗﺘﺤ ّﺪﻯى ﱡ‬
‫ﺍاﻟﻈﻠَ َﻢ ﺍاﻟﻤﺨﺘﻠﻔﺔ‬
‫ﺕت‬
‫ﻭوﺃأﻧﺎ ﺃأﻗﺘﺤ ُﻢ ﺍاﻟﺴﺒ َﻊ ﺍاﻟﺴﻤﺎﻭوﺍا ِ‬
‫ﻚ ‪..‬‬ ‫ﺑﺤﺒّﻲ ﻟ َ‬
‫ﺷﻌﺐ ﺍاﻟﻤﺂﺳﻲ ﺍاﻟﻤﺴﺮﻓﺔ‬ ‫َ‬ ‫ﻳﯾﺎ‬
‫ﻚ ‪ ..‬ﻣﻦ ﺻُﻠﺒﻚ‬ ‫ﻓﺄﻧﺎ ‪ ..‬ﺍاﺑﻨُ َ‬
‫ﻗﻠﺒﺎً‪،٬‬‬
‫‪113‬‬
‫ﻭوﺿﻤﻴﯿﺮﺍاً‪،٬‬‬
‫ﻭوﺷﻔﺔ ‪!!..‬‬

‫ﻳﯾ ُﺪﻧﺎ ﺛﺎﺑﺘﺔٌ ‪ ..‬ﺛﺎﺑﺘﺔٌ‬


‫ﻭوﻳﯾ ُﺪ ﺍاﻟﻈﺎﻟﻢ‪،٬‬‬
‫ﻣﻬﮭﻤﺎ ﺛَ ْ‬
‫ﺒﺘﺖ‪،٬‬‬
‫ﻣﺮﺗﺠﻔﺔ!!‬

‫‪View publication stats‬‬

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