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How to Climb 5.

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Autor: Eric J. Hörst
Tradução/Resumo: Júlio “Francês”

Capítulo 1: Sim, você pode escalar 8º grau!

“A escalada é um esporte incrivelmente complexo. Não é apenas uma


questão de força. É preciso ainda se considerar tanto o fator mental,
assim como o técnico, a experiência e a confiança”.

– Tony Yaniro

As nove verdades absolutas sobre desempenho em escalada:


#1: O melhor treinamento para técnica de escalada (técnica e
tática) é escalar;
i. Tempo gasto praticando outro esporte com o pensamento
“isso vai ajudar a minha escalada” é tempo perdido;
ii. Apesar de poder haver uma pequena contribuição no
condicionamento físico, a prática de outro esporte não
traz nenhum ganho em habilidade;
iii. Em resumo, gaste seu tempo escalando que é o melhor
que você faz.

#2: As técnicas de escalada são específicas ao tipo de rocha,


ângulo de inclinação e textura (propriedades de atrito);
i. Escale nas mais diferentes áreas possíveis para aumentar
o seu grau de proficiência na rocha.

#3: Desenvolver a técnica, ao invés de treinamento físico, trás


mais benefícios para a maioria dos escaladores, exceto para
os escaladores de elite;
i. A curva de aprendizado técnico na escalada é mais
acentuada, e continua crescendo por um período de
tempo maior, que a curva de ganho de força na escalada
obtida com treinamento físico;

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ii. Priorize o treinamento de técnica em relação ao
treinamento de força numa razão de 3/1. A exceção são
os escaladores de elite, para os quais a razão é de 1/2.

#4: Condicionamento físico geral é o treinamento físico mais


efetivo para escaladores iniciantes;
i. O objetivo é minimizar a gordura corporal e a massa
muscular desnecessária.

#5: Condicionamento físico específico do esporte é o treinamento


físico mais efetivo para escaladores avançados;
i. Reduzir ou eliminar o treinamento de condicionamento
físico geral e focar os esforços no desenvolvimento de
força máxima nos braços e antebraços.

#6: Treinamento de força desenvolve resistência, mas


treinamento de resistência não desenvolve força;
i. Um nível mais elevado de força máxima o tornará melhor
preparado para enfrentar a seqüência mais forte do crux.
ii. Nos movimentos sub-máximos seguintes você estará apto
a utilizar um menor percentual da força máxima. Isto
significa mais resistência!
iii. O foco do treinamento deve ser desenvolver força
máxima específica para o esporte, particularmente dos
dedos, ao invés de resistência.

#7: Energia e tempo desperdiçados estão perdidos para sempre;


i. A maneira mais rápida de aumentar a sua força aparente
e resistência não é treinando e sim reduzindo a energia
desperdiçada (escalando muito devagar, apertando
demais as agarras “overgrip”, posicionamento
inadequado, esquecimento de uma agarra...);
ii. Trabalhe o seu auto-conhecimento da energia e do tempo
desperdiçados, seja no muro ou na rocha.
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#8: Seu corpo não pode ir onde sua mente nunca esteve antes;
i. Crie um “filme” na sua mente com a melhor seqüência de
ações a tomar e sempre finalize o mesmo com uma
imagem vívida do resultado ideal.

#9: Treinar e escalar provêem apenas o estímulo para o


desenvolvimento muscular. A recomposição e o fortalecimento
muscular ocorrem apenas durante o sono ou nos dias de
descanso.
i. Seus músculos se tornam mais fortes e seu sistema
nervoso se adapta aos novos movimentos e solicitações
durante os períodos de descanso, não durante os
exercícios;
ii. Aumente o período de descanso proporcionalmente ao
aumento de intensidade dos treinos.

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Capítulo 2: Desenvolvendo suas habilidades – rápido!

“Se existe realmente algum segredo (no sucesso extraordinário dos


escaladores franceses), deve ser o fato de nós buscarmos a graça, o
controle e a fluidez nos movimentos”.
– François Legrand

Existem vários elementos na escalada, incluindo movimentos,


posicionamentos de corpo, táticas e estratégias. O objetivo deste
capítulo é prover técnicas e regras através das quais você pode
acelerar o aprendizado de técnicas de escalada e maximizar sua
habilidade no esporte.

• A quantidade ótima, não a máxima, de treinamento produz os


melhores resultados em habilidade. Aproximadamente 1 hora
real de escalada (cerca de 12 vias de 5 minutos no muro)
durante o treinamento é uma boa quantidade. Faça um
planejamento para um total de 3 a 5 dias de treinamento e
escalada por semana dependendo da intensidade – quanto mais
intenso o treinamento/escalada, menos freqüente este deve
ser.

• Dias para praticar (praticar novos movimentos, experimentar


encontrar novas posições de descanso, tentar novas táticas e
estratégias, sem se preocupar em “não cair”) traz mais
benefícios que os dias de desempenho (mandando projetos ou
em competições), exceto para os escaladores de elite. A cada
dia de treinamento ou escalada, determine a priori se o objetivo
é a prática ou desempenho. A razão entre os dias de prática e
de desempenho deve ser de 3/1.

• A prática de novas técnicas é mais efetiva quando você está


bem descansado, completamente aquecido e em um ambiente
seguro (p.ex. indoor, top-rope e boulders). Use os 30 minutos
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após o aquecimento para praticar novos movimentos, novas
técnicas e desenvolver seus pontos fracos.

• Utilize a prática “em blocos”, isto é, repetições idênticas de um


mesmo movimento, para acelerar a curva de aprendizado
durante as tentativas iniciais de um novo movimento, técnica
ou seqüência. Após duas ou três repetições bem sucedidas,
substitua a prática “em blocos” pela prática “variável”, descrita
a seguir.

• A prática “variável” visa desenvolver a habilidade recém


adquirida através do seu uso em diferentes cenários e
condições (inclinação, tamanhos das agarras, etc). Desta
forma, a prática “variável” o torna apto a enfrentar melhor uma
maior variedade de condições (ângulo, tamanho de agarras,
tipo de rocha, entre outros). Sempre modifique as condições
após algumas tentativas a fim de evitar a prática em “blocos”
excessiva.

• Faça uso dos betas para acelerar o aprendizado de movimentos


e seqüências. Solicite ajuda verbal ou física quando estiver
tentando uma nova técnica. No entanto, evite a “necessidade”
excessiva de betas uma vez que isto produzirá resultados
negativos a longo prazo. Não hesite em pedir para alguém calar
a boca e desvende o movimento você mesmo!

• A constante busca pelo auto-conhecimento é essencial para


aperfeiçoar técnicas pouco apuradas, eliminar maus hábitos e
melhorar o desempenho. Faça perguntas a si mesmo visando
melhorar seu auto-conhecimento. Por exemplo, esta é a melhor
posição de corpo? Eu estou usando corretamente os pés e
reduzindo a carga nos braços? Eu estou respirando
corretamente?

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• Copiar as técnicas e táticas (não o treinamento) dos
escaladores de elite é uma poderosa ferramenta de
aprendizado. Comece a passar tanto tempo observando outros
escaladores escalando, inclusive através de vídeos, quanto você
realmente escala. Tome nota de movimentos, posições de
descanso, táticas, etc e experimente realizá-los você mesmo.
As imagens que você captura são as sementes dos avanços
futuros.

• Escalar na maior variedade de rochas possível é o elemento


mais importante do seu treinamento. Vá para a rocha e viaje o
máximo possível para desenvolver um vasto repertório de
técnicas, táticas e movimentos. Evite a especialização, isto
limitará seu potencial a longo prazo. Lembre-se que a
habilidade não se transmite de um determinado tipo de
rocha/escalada para outra.

• A escalada é um complexo jogo de solução de problemas,


estratégia, movimento e fortaleza mental. Escalar à vista é a
maneira mais poderosa de desenvolver estas habilidades.
Escale à vista semanalmente, seja no ginásio ou na rocha.

• Entrelaçar a prática de habilidades mentais e físicas produz


melhores resultados que a prática física isoladamente. Visualize
um novo movimento ou seqüência pelo menos uma vez antes
de cada tentativa a fim de melhorar o aprendizado e aumentar
as chances de sucesso. Faça uso regular da prática mental
durante os momentos de descanso (ou dias de descanso) para
melhorar a confiança e “gravar” seqüências conhecidas.

• Executar seqüências e/ou vias conhecidas mais rapidamente


melhora a proficiência a longo prazo. Pratique a “speed
climbing” pelo menos uma vez por semana para estender as

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fronteiras da região na qual você pode escalar rápido sem
perder em precisão.

• Desescalar vias é um poderoso exercício de treinamento de


habilidade. Não subestime este método de treinamento de
habilidades técnicas, físicas e mentais. Nos dias de práticas
desescale (na medida do possível) cada via que você mandar.

• Pratique técnicas recém adquiridas enquanto o nível de cansaço


ainda estiver moderado para maximizar o domínio da técnica e
garantir a retenção da mesma a longo prazo. Exercitar técnicas
e seqüências bem conhecidas durante os elevados níveis de
cansaço também é benéfico.

• Pratique as técnicas conhecidas de maneira aleatória para


melhorar seu uso funcional e sedimentá-las na mente de
maneira mais definitiva. Faça um treinamento de habilidade
aleatória pelo menos uma vez por semana. Use a maior
variedade possível de movimentos e vias para maximizar a
eficiência do treinamento, por exemplo, linkar uma seqüência
de movimentos de boulder bem diferentes ou subir 5 a 10 top-
ropes de características bem distintas em uma hora.

• Solicite feedbacks de seu parceiro, treinador ou de um


escalador mais avançado. Melhor ainda, use uma análise de
vídeo para fazer uma auto crítica e identificar todas as suas
fraquezas em cada tipo de escalada. Tome nota de tudo que for
observado, então use a visualização para imaginar uma solução
alternativa para ser executada na rocha.

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Capítulo 3: Bem vindo ao condicionamento

“A parte mais difícil do treinamento é tomar a decisão de começá-lo”.


– Wolfgang Güllich

Condicionamento físico geral:

O condicionamento físico geral é o mais indicado para escaladores


de nível iniciante a intermediário.

• Perder peso é normalmente a maneira mais rápida de aumentar


a razão força/peso. Se você estiver acima do peso (ou com
excesso de massa muscular), priorize exercícios aeróbicos e
uma dieta de alta qualidade. Lembre-se, o peso perdido
proporcionará ganhos mais rápidos na força aparente que os
exercícios de força propriamente ditos. Corra até 30 minutos, 3
a 7 dias por semana. Reduza a quantidade de atividade
aeróbica à medida que você for se aproximando do peso ideal.

• O treinamento de flexibilidade ajuda a desenvolver certas


habilidades técnicas e reduz o risco potencial de adquirir lesões.
Execute uma série de 5 a 10 minutos de alongamento antes e
depois de cada sessão de treinamento.
ƒ Borboleta – crucial para escalada em paredes verticais
ƒ Abertura de pernas
ƒ High step – habilidade de alcançar agarras próximas à
altura da cintura
ƒ Antebraços e dedos – mandatório!
ƒ Ombro e parte superior das costas
ƒ Braços e laterais

• Faça um leve aquecimento de alguns minutos de exercício


aeróbico (por exemplo, correr ou pular corda) antes de iniciar o
alongamento. Após o alongamento, massageie seus dedos,
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mãos e antebraços por alguns minutos. Isto melhora o fluxo do
sangue aquecido para os tecidos conectivos, tendões e
músculos mais exigidos durante a escalada.

• Escalar por si só já é o melhor treinamento de força geral para


a escalada. Se você escala pelo menos 3 dias por semana, não
há necessidade de treinamento suplementar de força durante
seus anos de formação. Varie o tipo de escalada para
maximizar o efeito do treinamento nas diversas áreas.

• Mantenha os treinamentos suplementares específicos à


escalada. Compre uma barra ou um fingerboard ou, melhor
ainda, construa um boulder em casa. Dê preferência aos
exercícios com peso corporal ao invés dos aparelhos de
musculação e mantenha a resistência baixa.

• Se você não tem disponibilidade de treinar 3 ou 4 dias por


semana é recomendado fazer algum treinamento suplementar
de força. Este treinamento deve ser focado na escalada, quanto
mais próximo dos movimentos da escalada for o exercício
melhor.
ƒ Pagar barra – 5 séries até o limite (no mínimo 8
repetições em cada série, caso não consiga executar as 8
repetições peça ajuda a alguém ou use uma cadeira para
apoiar os pés) com 2 a 3 minutos de descanso entre as
séries, 3 vezes por semana. Seu objetivo a longo prazo é
executar 5 séries de 15, a partir daí comece a adicionar
peso.
ƒ Barra com pegadas assimétricas – uma mão na barra e a
outra de 15 a 30cm mais baixa (você pode usar uma
toalha ou um loop de fita). 2 vezes por semana.
ƒ “Frenchies” (pagar barras com paradas intermediárias) –
Segura em cima por 7 segundos, baixa, sobe até 90º e
segura mais 7s, baixa e sobe até 120º segurando por
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mais 7s. Execute 3 séries uma vez por semana em adição
a outro exercício muscular de puxada.
ƒ Fingerboard – “Deadhang” (ficar pendurado nas agarras)
é o melhor treinamento para desenvolver pressão na
pegada. Uma seqüência consiste em uma série de 6
deadhangs (nas mesmas agarras) durante 3 a 10
segundos cada, separados por descansos de apenas 5
segundos. Dê preferência a agarras médias e pequenas,
buracos e pinças. Faça 2 seqüências consecutivas em
cada uma das 6 a 10 agarras diferentes (total de 12 ou
20 seqüências). Cada seqüência deve ser de intensidade
máxima, portanto, adicione peso ao seu corpo para
assegurar um limite máximo de 10 segundos em cada
repetição. Limite-se a 2 treinamentos semanais.
ƒ Abdominais – Podem ser feitos no chão, com os pés sobre
uma cadeira (joelhos fletidos a 90º) ou numa prancha. À
medida que você progride para vias mais negativas é
interessante executar os abdominais pendurado em uma
barra e elevando os joelhos em direção ao peito (3 séries
até o limite).
ƒ Punho reverso – Utilizando halteres de 4 a 6kg, execute
20 repetições deste exercício com a palma da mão para
baixo e com o antebraço apoiado na perna ou em um
banco.
ƒ Pronador de mão (rotacionar para fora) – na mesma
posição do exercício anterior, utilize um halteres
assimétrico para executar 2 a 3 séries de 20 rotações.

Condicionamento físico avançado:

Se você já estala a alguns anos, é capaz de mandar um 6º grau


com um pé nas costas e suas habilidades técnicas e táticas estão
bastante apuradas, você está pronto para embarcar em um
treinamento de força específico para o esporte.
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• Condicionamento físico avançado para a escalada se resume
basicamente aos músculos de puxada. Você pode ainda dar um
passo adiante e dizer que tudo se resume à força nos dedos.

• O tipo de treinamento mais específico para a força nos dedos é,


obviamente, a própria escalada. Portanto, é altamente
recomendável que cada escalador sério freqüente um muro ou
construa um boulder em casa.

O ciclo de treinamento “4-3-2-1”:

• Fase 1 – 4 semanas de treinamento de resistência de antebraço


ƒ O ciclo inicia com uma fase básica de resistência.
ƒ O foco aqui é a escalada – muita escalada!
ƒ O volume de escalada deve ir aumentando até a 4ª
semana, no entanto, a intensidade do treinamento deve
permanecer em uma faixa média entre 40 e 70% da
máxima intensidade. Evite negativos, que demandam
força, assim como vias próximas ao seu limite. Escale
para ganhar “milhagem”.
ƒ Ocasionalmente você pode ter um dia de intensidade
máxima, como trabalhando uma cadena.
ƒ Esta fase é a ideal para trabalhar novas habilidades
técnicas. Você pode quebrar o seu treinamento em duas
partes: comece por treinar as novas técnicas e finalize
com treino de resistência.
ƒ Priorize vias longas com grau bem abaixo do seu limite e
evite ficar “bombado”. No muro incorpore a razão
escalada descanso de 3 para 1.

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Fase 2 – 3 semanas de treinamento de fortalecimento dos
dedos
ƒ A eficácia do exercício de fortalecimento dos dedos
depende de quatro requisitos fundamentais:
1. O exercício deve ser de alta intensidade durante toda a
série. Na escalada, a alta intensidade é obtida através
do aumento do ângulo de inclinação, da diminuição do
tamanho das agarras, aumentando a velocidade dos
movimentos ou através da adição de peso ao corpo.
2. O exercício deve produzir falha muscular em menos de
um minuto (durante a fase anaeróbica).
3. O exercício deve ser específico para os movimentos e
posicionamentos da escalada.
4. O exercício deve focar em um determinado tipo de
agarra durante toda a série.

1 2 3 4
Boulder Sim Talvez Sim Não
Fingerboard Sim Sim Não Sim
Campus Sim Sim Não Talvez
HIT Sim Sim Sim Sim
Nota: HIT (Hypergravity Isolation Training) é um método de
treinamento proposto pelo autor, que necessita de uma
estrutura de muro (determinados tipos de agarras) específica
e não será abordado neste resumo.

• Fase 3 – 2 semanas de treinamento de resistência anaeróbica


ƒ Assumindo que você tenha força suficiente para fazer
cada movimento em uma via individualmente é a
resistência anaeróbica que garantirá o seu sucesso ou
não.
ƒ O melhor método de treino é tentar executar boulders
difíceis sem descanso intermediário (sem balançar os
braços) com falha muscular em no máximo 5 minutos.
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Varie a intensidade dos movimentos entre 60 e 90%. O
objetivo aqui é prolongar a “bomba” o máximo possível.
ƒ É importante salientar que o treinamento de resistência
anaeróbica provoca um elevado nível de stress nos
sistemas nervoso e muscular. Além de um determinado
ponto o corpo não é capaz de se recuperar
eficientemente. Portanto, este treinamento deve ser
limitado a no máximo 2 semanas. Tome cuidado, alguns
escaladores rotineiramente treinam desta forma durante
meses a fio e, portanto, não vêem os benefícios, além de
estarem mais sujeitos à lesões.

• Fase 4 – 1 semana de descanso e recuperação


ƒ Muito da eficácia do ciclo depende da sua disciplina de
parar o treinamento durante uma semana.
ƒ Apesar dos intervalos de 1 a 3 dias de descanso entre os
treinamentos serem normalmente suficientes para
recuperar a musculatura, desgaste e pequenas lesões nas
juntas e tendões além da fadiga mental continuam a se
acumular durante este período.
ƒ Esta semana de descanso servirá para aliviar a fadiga
mental e para dar tempo aos tecidos conectivos de
sararem e se recuperarem.
ƒ Ao final desta semana avalie o seu estado físico e mental.
Caso não esteja se sentindo 100% pronto para retornar
ao treinamento tire mais uns dias de descanso. Além
disso, investir 1 ou 2 semanas tratando um tendão trará
muito mais benefícios a longo prazo do que os dias de
treino que você vai perder.

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Prevenindo lesões e acelerando a recuperação:

• A escalada trabalha bastante os músculos flexores, mas


demanda muito pouco dos extensores causando um
desbalanceamento muscular. Portanto, exercite sua
musculatura antagônica para ajudar a evitar possíveis lesões:
ƒ Punho reverso – 3 séries de 25 repetições com pouca
carga devem ser executados religiosamente ao final de
cada treino.
ƒ Pronador de mão – 2 a 3 séries de 20 repetições antes
(como aquecimento) de cada treino.
ƒ Apoio de frente – 3 séries, 1 a 2 vezes por semana.
ƒ Supino vertical (trapézio) – pode também ser feito com
halteres. A carga máxima não deve ultrapassar 30 a 40%
do seu peso e devem ser executados 1 ou, no máximo, 2
vezes por semana.
ƒ Barras paralelas – com as mãos o mais próximas ao
corpo possível, execute 3 séries até o limite 1 ou 2x por
semana.

• Descanso de qualidade é tão importante quanto o estímulo


(treinamento) de qualidade para produzir ganho de força.
Somente realize seu próximo treinamento quando estiver
completamente recuperado. Utilize o nível de “dolorimento” e
sua energia total para medir onde você está no processo de
recuperação. Fazer um apanhado dos seus treinamentos, do
sono, da dieta e de “como você está se sentindo” vai ajudá-lo a
melhor se conhecer.

• Após um treinamento intenso são necessárias no mínimo 9


horas de sono para uma recuperação ideal. Oito horas de sono
são suficientes nas demais noites.

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• Seus hábitos alimentares após os treinamentos são
fundamentais para minimizar o tempo de recuperação e
maximizar a reconstrução muscular:
ƒ Consumir carboidratos simples imediatamente após o
final do treinamento. Por exemplo, bebidas esportivas
que contenham glicose, sacarose ou mesmo um doce com
baixo teor em gordura.
ƒ Durante as 2 primeiras horas seguintes ao treinamento,
ingerir carboidratos complexos e alimentos de alto teor
protéico.
ƒ Adicionalmente, consumir pequenas doses de
carboidratos aproximadamente a cada 2 horas para
“manter” o processo de recuperação.

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Capítulo 4: Vencendo o jogo psicológico

“Eu quero fazer alguma coisa absolutamente no meu limite, onde


meu corpo inteiro está gritando de dor, tudo quer cair, mas eu
continuo”.
– Jerry Moffatt

É o psicológico que separa os homens (e mulheres) dos garotos


neste esporte. Um axioma bem conhecido na escalada é que “grande
parte dos maiores feitos resultam mais da superação mental do que
da física”.

• Motivação constante é fundamental para atingir o potencial


atlético. Com este objetivo, crie incentivos para treinar,
mantenha o pensamento positivo enquanto escala e comece
com o resultado final esperado em mente. Desta forma você
sempre estará motivado.

• Estabelecer objetivos detalhados ajudam a estimular suas


ações diárias e a longo prazo. Pergunte-se “o que eu posso
fazer na próxima hora, dia, semana, mês ou ano para melhorar
meu desempenho na escalada?”. Estabeleça objetivos de curto,
médio e longo prazos de acordo.

• Disciplina é fundamental na busca pela excelência. Procure


sempre distinguir o que é importante do que é urgente. Dê
preferência a atividades que posturas que o conduzam ao seu
objetivo final e apenas ocasionalmente se deleite com festas,
comidas e bebidas quando atingir um objetivo de médio prazo.

• Confiança é essencial para atingir o seu limite. Sempre se


“aclimate” com as condições nas quais você vai atuar. Nada
desenvolve melhor a confiança do que já ter estado na dada
situação antes. Desta forma, um dos seus objetivos no
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treinamento deve ser “imitar” ao máximo a atmosfera,
situações e o terreno do projeto ou competição para a qual
você está se preparando.

• A visualização ajuda a pré-programar a realidade do futuro. Use


esta técnica diariamente seja na preparação para o
treinamento, na escalada ou em qualquer outra atividade
importante.
ƒ Pratique a visualização com todos os seus sentidos.
Trabalhe sua habilidade de criar imagens mentais frescas
e claras de pessoas, lugares e eventos;
ƒ Imagine as cenas ricas em detalhes. Quanto mais vívidas
as imagens, mais poderosos serão os efeitos da
visualização no seu desempenho;
ƒ Use fotos, croquis, mapa de crux ou vídeos para melhorar
a precisão dos “filmes” mentais da sua escalada;
ƒ Visualize repetidamente o projeto ou seqüência com a
qual você está tendo problema;
ƒ Crie e armazene na mente imagens positivas para
substituir as imagens, pensamentos e sentimentos
negativos;
ƒ Crie mentalmente um filme de você mesmo lidando com
várias situações e problemas que podem surgir durante
uma escalada.

• “Rituais” pré-escalada dão origem a desempenhos consistentes.


Observe o “ritual” dos jogadores de basquete antes de cada
arremesso livre. Estabeleça uma rotina detalhada a ser
executada antes da escalada incluindo todas as tarefas
preparatórias desde se equipar até o “ensaio” mental da via.

• Determine se um medo particular é razoável ou não. Fique


sempre atento aos medos razoáveis, mas lute contra os medos
não razoáveis. Manter-se relaxado e ter um bom discernimento
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é um antídoto eficiente contra a maioria dos medos infundados
com os quais nos deparamos na rocha. Mantenha o foco no que
é mais provável de ocorrer e não na situação de pior caso
possível, que é apenas remotamente possível.

• Pressão psicológica moderada, e não a ausência completa de


pressão, conduz aos melhores desempenhos. Aprenda a
canalizar a boa pressão e se livrar da má quando estiver “na
cadeira do piloto”. Suas ações e pensamentos nos dias e horas
anteriores ao evento (seja uma cadena, campeonato, etc)
determinam seu nível de pressão. Use técnicas de relaxamento
como antídoto para as pressões negativas.

• No mundo da escalada, o termo “foco” significa manter um


elevado nível de concentração da energia mental na tarefa mais
importante em cada instante dado. O foco melhora a conexão
mente-corpo-rocha e, conseqüentemente, as chances de
sucesso. Invista algumas semanas para treinar ativamente o
foco. Após aproximadamente 10 sessões de treinamento de
foco você vai começar a se sentir mais “conectado” com a rocha
e mais capaz de manter-se focado no meio das situações mais
estressantes. Seu desempenho vai disparar.

• Controlar suas emoções enquanto escala significa controlar o


seu desempenho final. Divida a escalada em trechos lógicos
definidos por posições de descanso. Em cada uma destas
posições de descanso efetue a seguinte seqüência:
ƒ Respire de maneira ininterrupta: recupere seu ciclo de
respiração, concentre-se em uma respiração suave e
profunda;
ƒ Feição facial positiva: abra um pequeno sorriso
independente do seu estado mental. Você vai sentir a
diferença imediatamente;

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ƒ Postura equilibrada: levante a cabeça, mantenha seus
ombros relaxados, sua coluna confortavelmente ereta e o
abdome livre de tensão;
ƒ Onda de relaxamento: faça uma rápida varredura de
todos os seus músculos para localizar e eliminar a tensão
desnecessária;
ƒ Checagem mental: mantenha-se focado, com
pensamento positivo e não intimidado pela tarefa a
seguir. Então, mande a via!

• Use o pensamento positivo para melhorar seu estado mental e


suas chances de sucesso. Converse consigo mesmo para
espantar o pensamento negativo, relembre suas habilidades e
reforce suas qualidades positivas.

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Capítulo 5: Escalando o seu primeiro 8º grau (e além disso!)

“A melhor maneira de se dar ao máximo e fazer as coisas mais


interessantes é se divertindo – não faça alguma coisa porque alguém
disse que seria impressionante, mas apenas porque você não
imaginaria nenhum outro lugar do planeta onde você poderia estar”.
– Peter Croft

Escolhendo a via correta:

• Determine se o dia é para “prática” ou de “desempenho”. Nos


dias de prática, escolha tipos de vias com os quais você tem
dificuldade. Já nos dias de desempenho, explore seus pontos
fortes para obter um melhores resultados.

• Se possível, dedique dois terços do seu tempo (e dias) na rocha


escalando vias à vista. A escalada à vista provê um potencial de
aprendizado maior.

• Quando for entrar à vista em alguma via, escolha aquelas com


grau variando entre um número abaixo (na escala americana) e
uma letra (na escala americana) acima do grau mais forte que
você já mandou à vista.

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VIAS BOULDER
BRASIL França EUA Austrália UIAA Hueco (USA)
5 5C 5.9 18 VI -
5 Sup 5C+ 5.10A 19 VI+ -
6 6A 5.10B 19/20 VII- V3
6A+ 5.10C 20 VII V3
6 Sup
6B 5.10D 21 VII+ V3/V4
7A 6B+ 5.11A 21/22 VII+/VIII- V4
7B 6C+ 5.11B/C 22 VIII- V5
7C 7A 5.11D 23 VIII V6
8A 7A+ 5.12A 24 VIII/VIII+ V7
8B 7B 5.12B 25 VIII+ V8
8C 7B+ 5.12C 26 IX- V8/9
9A 7C 5.12D 27 IX V9/10
9B 7C+ 5.13A 28 IX/IX+ V10
9C 8A 5.13D 29 IX+ V11
10A 8A+ 5.13C 30 X- V12
10B 8B 5.13D 31 X V13
10C 8B+ 5.14A 32 X+ V14
11A 8C 5.14B 33 XI- -
11B 8C+ 5.14C 34 XI -
11C 9A 5.14D 35 XI+ -
12A 9A+ 5.15A 36 XII- -

• Trabalhe a cadena de vias graduadas em até um número (na


escala americana) acima do seu grau mais forte à vista.

• Consolide o seu nível de habilidade escalando sempre próximo


ao seu nível máximo. Acompanhe o seu progresso através de
uma pirâmide composta pelas vias que mandou e a data da
cadena. Para cada via de um determinado grau, você deve ter
escalado pelo menos 2 vias com graduação imediatamente
inferior, compondo assim uma pirâmide sólida.

Dicas para escalar à vista:

• Um aquecimento adequado é fundamental. Inicie o


aquecimento efetuando um bom alongamento e massageando
os dedos e antebraços. Em seguida, a grande dica é ganhar um
pouco de “milhagem” em algumas vias mais “tranqüilas”.
Comece escalando dois números (escala americana) abaixo da
sua cadena à vista de maior grau e escale cerca de 4 vias,
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aumentando gradativamente a dificuldade. Este procedimento
evita que você fique “inexplicavelmente tijolado” de maneira
precoce. Em seguida, descanse por cerca de 20 a 60 minutos
antes de tentar a via desejada.

• Observe a via em questão de pelo menos 3 perspectivas


diferentes e não apenas a vista frontal, como é de costume.
Procure por agarras escondidas, posições de descanso,
colocação de equipamentos, posições para clipar a corda e pela
melhor seqüência de movimentos.

• Escale um boulder nas proximidades da via, árvore ou mesmo


uma via ao lado para obter um novo ângulo da via. Considere
também o uso de binóculos.

• “Decifre” pelo menos duas possíveis soluções para os crux


aparentes.

• Use a seqüência reversa, seguindo as agarras de cima para


baixo, para ajudar a decifrar sessões mais complicadas.

• Pré-programe sua subida. Recapitule todas as imagens de


agarras, localização, ordem, descansos e equipamentos que
você colheu anteriormente da via e construa um “filme”
extremamente detalhado em sua mente.

• Determine a melhor cadência para cada trecho da via,


distinguindo as seqüências de pura força daquelas mais
técnicas e complexas.

• Controle a ansiedade diminuindo as expectativas e a pressão –


foque no processo e não no possível resultado.

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• A tática a ser utilizada depende da via, não existe a “melhor”
estratégia. Faça a leitura cuidadosa de cada via e planeje a
melhor estratégia a ser utilizada, baseado nas suas
experiências anteriores.

• Acredite na via! Mesmo a menor das dúvidas pode se


transformar em um peso a mais a carregar nas suas costas.

• Finalmente, não deixe nada pela metade. Você só tem uma


chance de mandar a via à vista – portanto, caia tentando o
movimento e não desistindo dele!

Trabalhando a cadena de uma via:

• Obtenha o máximo de informações possível com outros


escaladores que fizeram a via. Pergunte sobre equipamentos
necessários, posições de descanso, agarras escondidas e/ou
difíceis de encontrar e onde estão os crux da via.

• Comece com uma subida de reconhecimento da via. Use a


corda livremente para descansar e economizar energia.
Identifique onde estão localizadas as partes difíceis, moderadas
e fáceis.

• Divida a via em trechos “possíveis”. A importância disso se


deve ao fato de que, normalmente, as vias difíceis parecem
impossíveis quando consideradas por inteiro. Comece a
trabalhar inicialmente na parte mais difícil. Em seguida,
trabalhe os demais trechos da via finalizando pela parte mais
fácil.

• A linkagem dos movimentos da via deve ser feita de cima para


baixo. Por exemplo, link os últimos 6 metros da via. Se você for

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bem sucedido, descanse e tente mandar os últimos 15 metros e
assim por diante.

• Exercite a visualização da via entre as tentativas e durante os


dias descanso. Prepare um desenho com o mapa do crux para
ajudar a visualização dos movimentos. O mapa deve conter
agarras de mão e de pé (numere a seqüência das agarras e
adicione a indicação de “direita” ou “esquerda”), posições de
descanso, de balançar os braços e de clipada, e qualquer outro
comentário que o ajude a mandar o projeto.

• Construa no muro de treinamento um “simulador” dos seus


projetos mais complicados. Monte com as agarras do muro uma
cópia do crux para um treinamento mais específico.

Encadenando o seu projeto:

• Não se precipite na tentativa de uma cadena. Invista apenas a


carga de trabalho necessária e descanse bastante. Durante um
dia de trabalho de uma cadena, triplique o tempo de descanso
entre as tentativas. Considere também descansar alguns dias
antes de enfrentar os problemas mais difíceis.

• Visualize o sucesso na subida de cada trecho da via em


questão. Entre na via confiante, relaxado e preparado.

• Ataque um trecho da via de cada vez como se estivesse


seqüenciando uma série de boulders. Mantenha o foco no
processo de escalada de cada trecho e esqueça o resultado
final.

• Aprenda a conviver com os seus erros. “Passe por cima” dos


pequenos erros e os esqueça imediatamente. Se você cometer
um “erro fatal”, segure na corda e tente descobrir o que houve
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de errado. Reescale o trecho, desça, descanse e visualize a
solução correta do problema.

• Dê tudo de si. Uma cadena trabalhada consiste em absoluta


perfeição e entrega.

Truques para ambas as escaladas:

• Varie ao máximo o tipo de pegada na rocha para evitar o


cansaço excessivo de um determinado grupo muscular. Se você
souber que vai precisar de “potência máxima” de um
determinado tipo de pegada no crux, evite o seu uso antes
disso.

• Quando ficar difícil continuar, esqueça o instinto natural de se


preocupar com o posicionamento das mãos e focalize nos pés.
Tente manter a atenção constante em encontrar as melhores
agarras de pés, uma vez que as pernas são mais fortes que os
braços.

• Escale mais rápido, e não mais devagar, nas seqüências mais


difíceis para economizar energia.

• Use a gravidade para melhorar a recuperação durante os


descansos no meio da via. Alterne a posição do braço a ser
descansado para cima e para baixo, balançando o mesmo por
cerca de 5 a 10 segundos em cada posição. Repita este
procedimento o máximo de tempo que a posição de descanso
permitir.

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