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Ciências & Cognição 2007; Vol 12: 72-85 <http://www.cienciasecognicao.

org> © Ciências & Cognição


S u b me t i d o e m 1 3 / 1 0 / 2 0 0 7 | A c e i t o e m 2 6 / 1 1 / 2 0 0 7 | I S S N 1 8 0 6 - 5 8 2 1 – P u b l i c a d o o n l i n e e m 0 3 d e d e z e mb r o d e 2 0 0 7

Artigo Científico

Construindo mapas conceituais


Constructing concept maps

Romero Tavares

Departamento de Física, Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa, Paraíba, Brasil

Resumo

O mapa conceitual é uma estrutura esquemática para representar um conjunto de conceitos imersos
numa rede de proposições. Ele é considerado como um estruturador do conhecimento, na medida em
que permite mostrar como o conhecimento sobre determinado assunto está organizado na estrutura
cognitiva de seu autor, que assim pode visualizar e analisar a sua profundidade e a extensão. Ele pode
ser entendido como uma representação visual utilizada para partilhar significados, pois explicita como
o autor entende as relações entre os conceitos enunciados. O mapa conceitual se apóia fortemente na
teoria da aprendizagem significativa de David Ausubel, que menciona que o ser humano organiza o
seu conhecimento através de uma hierarquização dos conceitos. © Ciências & Cognição 2007; Vol.
12: 72-85.

Palavras-chave: aprendizagem significativa; construção de significados; estrutura


cognitiva; hierarquia de conceitos.

Abstract

A concept map is a schematic framework that represents a group of concepts immersed in a web of
propositions. It is considered as a structure maker of knowledge, as it permits to show how knowledge
about a topic is organized in the cognitive structure of his author, that can visualize and analyze its
deep and extension. It can be seen as a visual representation used to share meanings, because it
makes evident how the author understands the relations among the mentioned concepts. The concept
map is strongly supported theoretically by the meaningful theory of David Ausubel that says the hu-
man being organize their knowledge in a hierarchical way. © Ciências & Cognição 2007; Vol. 12:
72-85.

Key Words: meaningful learning; construction of meanings; cognitive structure; hi-


erarchy of concepts.

1. Introdução aprendizagem como um processo no qual o


aprendiz relaciona a informação que lhe é a-
O construtivismo tem diversas verten- presentada com seu conhecimento prévio so-
tes, mas todas concordam em considerar a bre esse tema. A história da construção do

 - R. Tavares é Bacharel em Física (UFPE), Mestre em Astronomia (Universidade de São Paulo, USP) e Doutor em
Física (USP). Atualmente é Professor Associado I do Departamento de Física (UFPB) e atua na Área de Educação no
PPGE/CE/UFPB, com projetos sobre “Aprendizagem significativa e o ensino de Ciências”; “Codificação dual, esforço
cognitivo e aprendizagem multimídia”; “Mapa conceitual como estruturador do conhecimento”. Página pessoal:
http://www.fisica.ufpb.br/~romero/.

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conhecimento pessoal é a história da vida de nhecida, quer a um ramo desconhecido


cada um de nós, pois construímos esse conhe- de um conjunto de conhecimentos fami-
cimento de uma maneira específica e indivi- liar. Também corresponde à forma pos-
dual. A construção do conceito sobre um ob- tulada, através da qual se representam,
jeto de uso corriqueiro, como cadeira, tem organizam e armazenam estes conheci-
características comuns a todos nós, tais como mentos nas estruturas cognitivas huma-
a sua forma e funcionalidade. Mas existe algo nas.
de específico na maneira que cada um de nós Por outras palavras, elaboram-se
vê uma cadeira, que reflete a forma idiossin- aqui dois pressupostos:
crática que construímos esse conceito. Cada
um de nós foi apresentado a uma cadeira e foi (1) é menos difícil para os seres huma-
construindo esse conceito de maneira absolu- nos apreenderem os aspectos diferenci-
tamente pessoal. Essa forma idiossincrática ados de um todo, anteriormente apreen-
foi sendo definida com as condições que en- dido e mais inclusivo, do que formular
contramos ao nascer e viver as primeiras ex- o todo inclusivo a partir das partes dife-
periências, o estilo de vida e as oportunidades renciadas anteriormente aprendidas;
de vivências que nos foram oferecidos. (2) a organização que o indivíduo faz do
Numa frase que ficou famosa, Ausub- conteúdo de uma determinada disciplina
el mencionou que se tivesse que reduzir toda no próprio intelecto consiste numa es-
a Psicologia Educacional a um único princí- trutura hierárquica, onde as idéias mais
pio, diria isto: inclusivas ocupam uma posição no vér-
tice da estrutura e subsumem, progres-
“O fator isolado mais importante que sivamente, as proposições, conceitos e
influencia a aprendizagem é aquilo que dados factuais menos inclusivos e mais
o aprendiz já conhece. Descubra o que diferenciados.” (Ausubel, 2003: 166)
ele sabe e baseie nisso os seus ensina-
mentos.” (Ausubel et al., 1980) A construção de mapas conceituais na
maneira proposta por Novak e Gowin (Novak,
Segundo David Ausubel o ser humano 1998; Novak e Gowin, 1999) considera uma
constrói significados de maneira mais eficien- estruturação hierárquica dos conceitos que
te quando considera inicialmente a aprendiza- serão apresentados tanto através de uma dife-
gem das questões mais gerais e inclusivas de renciação progressiva quanto de uma reconci-
um tema, ao invés de trabalhar inicialmente liação integrativa. A figura 1 mostra um mapa
com as questões mais específicas desse assun- conceitual que apresenta tanto a diferenciação
to: progressiva quanto a reconciliação integrati-
va. Esses mapas hierárquicos se estruturam de
“Quando se programa a matéria a ser acordo com a Teoria da Aprendizagem Signi-
lecionada de acordo com o princípio de ficativa de David Ausubel, e desse modo con-
diferenciação progressiva, apresentam- tribuem, de maneira mais eficiente, para a
se, em primeiro lugar, as idéias mais ge- construção do conhecimento do aprendiz.
rais e inclusivas da disciplina e, depois, Na diferenciação progressiva um de-
estas são progressivamente diferencia- terminado conceito é desdobrado em outros
das em termos de pormenor e de especi- conceitos que estão contidos (em parte ou in-
ficidade. Esta ordem de apresentação tegralmente) em si. Por exemplo, na figura1,
corresponde, presumivelmente, à se- o conceito Processos engloba os conceitos
qüência natural de aquisição de consci- Avaliação da aprendizagem e Construção
ência cognitiva e de sofisticação, quan- do conhecimento, e essa espécie de bifurca-
do os seres humanos estão expostos, de ção configura uma diferenciação progressiva;
forma espontânea, quer a uma área de estaremos indo de conceitos mais globais para
conhecimentos completamente desco- conceitos menos inclusivos.

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Figura 1 – Mapa conceitual sobre uma disciplina de Física.

Na reconciliação integrativa um de- especialista tornar mais clara as conexões que


terminado conceito é relacionado a outro apa- ele percebe entre os conceitos sobre determi-
rentemente díspar. Um mapa conceitual hie- nado tema.
rárquico se ramifica em diversos ramos de Quando um aprendiz utiliza o mapa
uma raiz central. Na reconciliação integrativa durante o seu processo de aprendizagem de
um conceito de um ramo da raiz é relacionado determinado tema, vai ficando claro para si as
a um outro conceito de outro ramo da raiz, suas dificuldades de entendimento desse te-
propiciando uma reconciliação, uma conexão ma. Um aprendiz não tem muita clareza sobre
entre conceitos que não era claramente per- quais são os conceitos relevantes de determi-
ceptível. No mapa conceitual da figura 1 estão nado tema, e ainda mais, quais as relações
apresentadas duas situações com reconcilia- sobre esses conceitos. Ao perceber com clare-
ção integrativa, e as conexões estão apresen- za e especificidade essas lacunas, ele poderá
tadas num tracejado em negrito. Essas liga- voltar a procurar subsídios (livro ou outro ma-
ções cruzadas podem indicar capacidade cria- terial instrucional) sobre suas dúvidas, e daí
tiva (Novak e Gowin, 1999: 52) na percepção voltar para a construção de seu mapa. Esse ir
de um elo conceitual entre dois segmentos de e vir entre a construção do mapa e a procura
um mapa. de respostas para suas dúvidas irá facilitar a
O mapa conceitual hierárquico se co- construção de significados sobre conteúdo
loca como um instrumento adequado para es- que está sendo estudado. O aluno que desen-
truturar o conhecimento que está sendo cons- volver essa habilidade de construir seu mapa
truído pelo aprendiz, assim como uma forma conceitual enquanto estuda determinado as-
de explicitar o conhecimento de um especia- sunto, está se tornando capaz de encontrar
lista. Ele é adequado como instrumento facili- autonomamente o seu caminho no processo
tador da meta-aprendizagem, possibilitando de aprendizagem. Caso ele não consiga en-
uma oportunidade do estudante aprender a contrar as respostas nas consultas ao material
aprender, mas também é conveniente para um instrucional, ele ainda assim terá conseguido

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ter clareza sobre as suas perguntas, e desse Quando se deseja otimizar um deter-
modo já terá encaminhado a sua aprendiza- minado processo, a utilização do mapa tipo
gem de maneira conveniente e segura. Pois fluxograma é a representação mais adequada.
quando se tem clareza das perguntas, ou das Esse tipo de mapa deixa claro quais são as
dúvidas, é mais fácil procurar ajuda de pesso- confluências e as possíveis opções a serem
as mais experientes. escolhidas. Ele ainda é extremamente utiliza-
Normalmente, a aprendizagem por re- do na elaboração de programas de computa-
cepção significativa ocorre à medida que o dor, quando se deseja construir um algoritmo
material de instrução potencialmente signifi- eficiente para determinada função.
cativo entra no campo cognitivo do aprendiz, No entanto, o único tipo de mapa que
interage com o mesmo e é ancorado, de forma explicitamente utiliza uma teoria cognitiva em
adequada, a um sistema conceitual relevante e sua elaboração é o mapa hierárquico do tipo
mais inclusivo. (Ausubel, 2003: 60). Esse ir e proposto por Novak e Gowin (1999).
vir entre o material instrucional e a construção
do mapa conceitual, colocado anteriormente, 2.1. Mapa conceitual do tipo teia de aranha
possibilita uma elaboração eficaz dos signifi- (figura 2)
cados sobre um tema. Caso não existam con-
ceitos âncora adequados na estrutura cogniti-
va, esse ir e vir será uma oportunidade da Ele é organizado colocando-se o con-
consecução dessa tarefa, na medida em que ceito central (ou gerador) no meio do mapa.
são elucidadas as lacunas conceituais sobre o Os demais conceitos vão se irradiando na me-
assunto. dida que nos afastamos do centro.
Embora os mapas conceituais possam
transmitir informações factuais tão bem quan- Vantagens: Fácil de estruturar, pois todas as
to os textos, esses organizadores gráficos são informações estão unificadas em torno de um
mais efetivos que os textos para ajudar os lei- ou vários temas centrais. O foco principal é a
tores a construir inferências complexas e inte- irradiação das relações conceituais, sem preo-
grar as informações que eles fornecem (Veki- cupação com as relações hierárquicas, ou
ri, 2002: 287). Eles também têm o potencial transversais.
de melhorar a acessibilidade e usabilidade
materiais durante uma pesquisa na medida Desvantagens: Dificuldade em mostrar as
que apresentam marcas visuais-espaciais que relações entre os conceitos, e desse modo
podem guiar uma seleção ou categorização. permitir a percepção de uma integração entre
Existe a comprovação empírica sobre a efici- as informações. Não fica clara a opinião do
ência de buscas, onde se comprova a que os autor sobre a importância relativa entre os vá-
interessados localizam mais informações rios conceitos e o conceito central.
quando elas são apresentadas em formas de
mapas ao invés de textos (O´Donnel, 1993: 2.2. Mapa conceitual tipo fluxograma (fi-
222). gura 3)
Ele organiza a informação de uma
2. Alguns tipos de mapas maneira linear. Ele é utilizado para mostrar
passo a passo determinado procedimento, e
Existe uma grande variedade de tipos normalmente inclui um ponto inicial e outro
mapas disponíveis, que foram imaginados e ponto final. Um fluxograma é normalmente
construídos pelas mais diversas razões. Al- usado para melhorar a performance de um
guns são preferidos pela facilidade de elabo- procedimento.
ração (tipo aranha), pela clareza que explicita
processos (tipo fluxograma), pela ênfase no Vantagens: Fácil de ler; as informações estão
produto que descreve, ou pela hierarquia con- organizadas de uma maneira lógica e seqüen-
ceitual que apresenta. cial.

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processo, sem a preocupação de explicar de-


Desvantagens: Ausência de pensamento crí- terminado tema; na sua gênese não pretende
tico, normalmente é incompleto na exposição facilitar a compreensão do processo, mas oti-
do tema. Ele é construído para explicitar um mizar a sua execução.

Figura 2 – Mapa conceitual do tipo TEIA de ARANHA.

2.3. Mapa conceitual tipo sistema: entrada Vantagens: Mostra várias relações entre os
e saída (figura 4) conceitos.

Organiza a informação num formato Desvantagens: Alguma vezes é difícil de se


que é semelhante ao fluxograma, mas com o ler devido ao grande número de relações entre
acréscimo da imposição das possibilidades os conceitos. Na sua gênese pretende explicar
“entrada” e “saída”. a transformação de insumos em produto aca-
bado. É adequado para explicar processos que
impliquem em entrada e saída.

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Figura 3 – Mapa conceitual do tipo FLUXOGRAMA.

Figura 4 – Mapa conceitual do tipo ENTRADA e SAÍDA (mapa acessado em 19/7/2007, no ende-
reço eletrônico: http://classes.aces.uiuc.edu/ACES100/Mind/graphics/food-map.gif).

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2.4. Mapa conceitual hierárquico (figura 5) balhos serão expressões pessoais que cada um
tem sobre o tema.
A informação é apresentada numa or- Novak mostra o mapa conceitual feito
dem descendente de importância. A informa- por um aluno do ensino fundamental, conside-
ção mais importante (inclusiva) é colocada na rando uma lista de conceitos que lhe foi apre-
parte superior. Um mapa hierárquico é usado sentada (ver Figura 7). Esse aluno era o me-
para nos dizer algo sobre um procedimento. lhor leitor em voz alta da sua turma, mas mos-
trou pouca compreensão a respeito do que lia.
Vantagens: Os conceitos mais inclusivos es- O seu mapa sugere uma abordagem de cor à
tão explícitos; os conceitos auxiliares e menos leitura, que não conduziu à aquisição de signi-
inclusivos estão inter-relacionados. Estrutura ficados (Novak e Gowin, 1999: 124). Nós
o conhecimento de maneira mais adequada a consideramos esse mapa como um MAU ma-
compreensão humana, considerando em posi- pa, e em contraposição, estamos apresentando
ção de destaque os conceitos mais inclusivos. um BOM mapa.
Um BOM (figura 6) mapa começa
Desvantagens: Mais difícil de externar e com uma boa seleção de conceitos relaciona-
construir, visto que expõe a estrutura cogniti- dos ao tema principal. Cada conceito pode
va do autor sobre o assunto. A clareza do au- estar relacionado a mais de um outro concei-
tor sobre o tema fica evidente quando da sua to. A existência de grande número de cone-
construção. A sua construção sempre repre- xões entre os conceitos revela a familiaridade
senta um desafio, visto que explicita (princi- do autor com o tema considerado. Mesmo que
palmente para si) a profundidade do conheci- ele não tenha feito a escolha dos conceitos a
mento do autor sobre o tema do mapa. serem mapeados, ele conseguirá perceber as
relações entre eles se tiver algum domínio so-
3. Construindo um mapa bre o tema.
Podemos exercitar as habilidades dos
Considerando mapas onde os concei- alunos na construção de mapas fornecendo
tos estão de acordo com o que é aceito pela seis ou oito conceitos chave que sejam fun-
comunidade científica sobre determinado te- damentais para compreender um tema que se
ma, não existe um mapa certo ou mapa erra- quer cobrir, e pedir aos estudantes que elabo-
do. Existem mapas com uma demonstração de rem um mapa conceitual que relacione tais
grande conhecimento sobre as possíveis rela- conceitos, e que acrescentem conceitos adi-
ções entre os conceitos mostrados. Dois gran- cionais relevantes e os ligues de modo a for-
des especialistas sobre um assunto dificilmen- marem proposições que tenha sentido (Novak
te construirão mapas iguais. Talvez eles con- e Gowin, 1999: 56).
cordem em linhas gerais sobre quais são os Um MAU mapa (figura 7) conceitual
conceitos mais importantes, mas dificilmente faz uma conexão linear entre os conceitos. Ele
eles escolherão as mesmas relações entre es- evidencia que seu autor não visualiza outras
ses conceitos. Dois especialistas não contesta- conexões, outras possibilidades de entendi-
rão os respectivos mapas, visto que esses tra- mento da questão (Novak e Gowin, 1999:
124).

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Figura 5 – Mapa conceitual do tipo HIERÁRQUICO.

Figura 6 – Um bom mapa conceitual.

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Figura 7 – Um mau mapa conceitual.

4. Mapa como estruturador do conheci- percepção clara do estágio cognitivo em


mento que se encontram. A possível dificuldade
inicial em traçar um mapa com os conceitos
Existem diversas aplicações em Edu- fornecidos pelo mestre será um indício cla-
cação dos Mapas Conceituais (Novak e Go- ro do estágio de conhecimento em que eles
win, 1999: 56), onde poderemos exemplificar se encontram. Ao se dirigirem para os ma-
algumas: teriais instrucionais (ou ao mestre) eles po-
derão ir construindo significados e desse
• Exploração do que os alunos já sabem – Na modo enriquecer o mapa inicial. Se a opção
figura 8, o então estudante de Mestrado, da estratégia for construir um mapa colabo-
demonstra suas idéias sobre determinado rativo, os estudantes terão a oportunidade
tema. de entrar em contato com as semelhanças e
• O traçado de um roteiro para a aprendiza- diferenças entre seus valores (e conceitos) e
gem – Quando um professor fornece uma aqueles de seus colegas; percebendo desse
lista de conceitos sobre determinado tema, modo que o conhecimento é idiossincráti-
e sugere que seus alunos façam um mapa co. Nesse ir e vir, construindo um mapa e
conceitual ele estará traçando um roteiro buscando novos conhecimentos, o estudan-
para a aprendizagem, estará indicando um te está elaborando as suas habilidades em
caminho que funciona como um andaime construir seu próprio conhecimento, está
cognitivo; facilita ao estudante chegar aon- aumentando a sua destreza na meta-
de não conseguiria ir sozinho. Com a sua aprendizagem.
ajuda ou de materiais instrucionais, os alu- • Leitura de artigos em jornais e revistas, ou
nos irão se debruçar sobre a tarefa, com a a extração de significados de livros de texto

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– Na figura 9, temos um mapa conceitual uma rede de conceitos extremamente densa.


sobre um artigo científico sobre esforço Uma solução adotada é o desdobramento de
cognitivo. um mapa mais inclusivo em diversos mapas
• Preparação de trabalhos escritos ou de ex- mais específicos. Na figura 10 um mapa con-
posições orais - Na Figura 5 nós temos um ceitual delineia as possibilidades de desenvol-
exemplo de mapa hierárquico conveniente vimento do ser humano ao longo de sua vida.
para mostrar a estruturação conceitual de Na figura 11, um mapa conceitual apresenta
uma Dissertação de Mestrado, e que foi uti- uma rede de conceitos Sobre o desenvolvi-
lizado quando da apresentação dessa Dis- mento cognitivo durante a infância, segundo
sertação. Esse tipo de estratégia facilita o duas correntes teóricas.
acompanhamento do desenvolvimento das A função mais importante da escola é
teorias, modelos, conceitos e idéias que fa- dotar o ser humano de uma capacidade de es-
zem parte de determinado trabalho. truturar internamente a informação e trans-
• Avaliação formativa – na medida em que formá-la em conhecimento. A escola deve
ele explicita o estágio da aprendizagem em propiciar o acesso à meta-aprendizagem, o
que se encontra um estudante, o mapa se saber aprender a aprender. Nesse sentido, o
apresenta como uma radiografia da estrutu- mapa conceitual é uma estratégia facilitadora
ra cognitiva do aprendiz. Desse modo pos- da tarefa de aprender a aprender. A meta-
sibilita ao professor encaminhar o estudante aprendizagem torna possível ao estudante a
para processos cognitivos adequados a sua compreensão da estrutura de determinado as-
situação. sunto. Aprender a estrutura de uma disciplina
é compreendê-la de um modo que permita que
Quando os alunos aprendem determi- muitas outras coisas com ela significativa-
nado tema utilizando mapas conceituais, eles mente se relacionem. Por outras palavras, co-
desenvolvem seu próprio entendimento atra- nhecer uma estrutura é saber como as coisas
vés da internalização da informação. Por ou- se ligam entre si. O ensino e a aprendizagem
tro lado, quando os estudantes constroem seu da estrutura, ao contrário do simples domínio
próprio mapa conceitual, eles necessitam de- dos fatos e técnicas, são o centro do clássico
senvolver inicialmente uma compreensão so- problema de transferência. O que importa não
bre os conceitos que estão estudando, antes de é a transferência de uma habilidade mas de
poder representar seu conhecimento através uma noção, que pode ser usada como base
de um mapa pessoal (Vekiri, 2002: 266). Uti- para reconhecer problemas subseqüentes, co-
lizar um mapa construído por uma especialis- mo casos especiais da idéia inicialmente do-
ta e construir seu próprio mapa são duas ver- minada. Esse tipo de transferência encontra-se
tentes da utilidade dos mapas no processo en- no centro do processo educacional – o contí-
sino/aprendizagem. nuo alargamento e aprofundamento do conhe-
Eventualmente nos deparamos com a cimento, em termos de idéias básicas e gerais
situação de construir um mapa sobre um tema (Bruner, 1966).
amplo, e com a possibilidade de construir

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Figura 8 – Mapa conceitual de um aluno sobre modelos.

Figura 9 – Mapa conceitual sobre artigo científico.

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Figura 10 – Desdobramento de um mapa - Desenvolvimento do ser humano (mapa acessado


em 19/7/2007, no endereço eletrônico: http://cmapspublic3.ihmc.us/servlet/SBRead Resour-
ceServlet? rid=1040074302312 _73323607_11802&partName=htmltext).

Figura 11 – Desdobramento de um mapa – desenvolvimento cognitivo na infância (mapa


acessado em 19/7/2007, no endereço eletrônico: http://cmapspublic3.ihmc.us/servlet/SBRead
ResourceServlet ?rid=1040074302718_1361810910 11833&partName=htmltext).

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5. Mapa conceitual, codificação dual e a- verbal (ou visual) pode ativar as representa-
prendizagem multimídia ções verbal e visual (Vekiri, 2002: 267).
O mapa conceitual apresenta a informação
Considera-se que uma representação através de uma rede hierárquica, e desse mo-
gráfica é mais efetiva que um texto para a do oferece essa informação utilizando ima-
comunicação de conteúdos complexos porque gens, apreendidas pelo sistema visual. Por
o processamento mental das imagens pode ser outro lado, cada conceito é definido através
menos exigente cognitivamente que o proces- de palavras, e essa informação é apreendida
samento verbal de um texto (Vekiri, 2002: usando o canal verbal. Desse modo, o mapa
262). conceitual utiliza a um só tempo os dois sub-
O mapa conceitual é uma estrutura es- sistemas cognitivos. O caminho entre dois
quemática para representar um conjunto de conceitos está claro e evidente visual e ver-
conceitos imersos numa rede de proposições. balmente, deixando explícita e inequivo-
Ele pode ser entendido como uma represen- camente a opinião do autor sobre essa cone-
tação visual utilizada para partilhar significa- xão e sobre essa relação hierárquica. As pecu-
dos. liaridades de entendimento (dubiedade, exal-
A teoria da codificação dual de Allan tação, etc.) são graficamente evidentes, facili-
Paivio (1991) indica que existem dois subsis- tando o debate, a compreensão clara das posi-
temas cognitivos; um especializado em obje- ções pessoais, e a possibilidade de uma rees-
tos e/ou eventos não verbais (i.e. imagético), e truturação cooperativa do mapa conceitual.
o outro especializado em lidar com a lingua-
gem (i.e. verbal). Imagens e palavras são có- 6. Discussão
digos diferentes, mas inter-relacionados. Eles
podem ser ativados independentemente, mas De maneira geral um mapa conceitual
quando interconectados, as informações são torna mais fácil a percepção e compreensão
codificadas de modo dual. A informação de eventos por diversos motivos, por exem-
quando é oferecida de maneira interconectada plo, existe uma grande proximidade entre a
verbal e visualmente, facilita a construção de memória visual e as imagens que são apresen-
conexões, relações e entendimento na estrutu- tadas, e devido as suas propriedades visuais-
ra cognitiva; e desse modo facilita o resgate espaciais, seu processamento requer um nú-
desta informação que usa a codificação dual. mero menos de transformações cognitivas que
Uma apresentação multimídia consiste o processamento de um texto, e desse modo
numa apresentação visual e verbal, e se fun- não excede as limitações da memória de curto
damenta inicialmente na codificação dual. Em prazo (Vekiri, 2002: 281). Em outro exemplo,
contraste podemos comparar uma apresen- um mapa geográfico (assim como outros tipos
tação multimídia com aquela que consiste u- de mapas) apresenta uma seleção de facetas
nicamente de uma mensagem verbal (Mayer, gráficas, enquanto uma fotografia aérea apre-
2001: 187). senta todas as características visuais possíveis
A informação visual tem a vantagem de serem captadas por uma câmera, e desse
de ser organizada de uma maneira síncrona, modo revela apenas algumas nuances da rea-
que permite a muitas partes de uma imagem lidade, e com essa diminuição do esforço
mental estar disponível para um processamen- cognitivo poder facilitar o entendimento des-
to simultâneo. Quando informações visuais e sas especificidades. Em um mapa nós enfati-
verbais são apresentadas contiguamente no zamos as características relevantes aos nossos
tempo e espaço, é possibilitado ao aprendiz propósitos; por exemplo, num estudo hidroló-
formar associações entre esses materiais visu- gico de determinado local pode ser conveni-
ais e verbais durante a codificação mental. ente apresentar apenas os rios dessa região.
Essa potencialidade pode aumentar o número Noutro estudo mais detalhado pode ser con-
de caminhos que o aprendiz pode utilizar para veniente representar além dos rios, as caracte-
resgatar essa informação, porque um estímulo rísticas topográficas e as matas.

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No processo de representar e organizar Ausubel, D.P.; Novak, J.D. e Hanesian, H.


o conhecimento do autor sobre um tema, o (1980). Psicologia Educacional. Rio de Janei-
mapa conceitual transforma em concreto o ro: Editora Interamericana.
que antes era abstrato. A principal distinção Bruner, J. (1966). Toward a theory of instruc-
entre itens abstratos e factuais é em termos de tion. New York: W.W. Norton and Company.
nível de particularidade ou de proximidade Krischner, P.A. (2002). Cognitive load
com experiências empíricas concretas. Ge- theory. Learning and Instruction, 12, 1 .
ralmente, também se caracteriza o material Mayer, R. (2001). Multimedia Learning.
abstrato por uma maior conexão ou menor Cambridge: University Press.
discrição do que o material factual. (Ausubel, Novak, J.D. (1998). Conocimiento e Aprendi-
2003: 116). E assim, temas que antes estavam zaje: Los mapas conceptuales como herra-
afastados da realidade do autor, ganham rela- mientas facilitadoras para escuelas y empre-
ções com seus significados prévios. sas. Madrid: Editorial Alianza.
Um mapa conceitual apresenta uma Novak, J.D. e Gowin, D. B. (1999) Aprender
visão idiossincrática do autor sobre a realida- a aprender. Lisboa: Plátano Edições Técni-
de a que se refere. Quando um especialista cas.
constrói um mapa ele expressa a sua visão Novak, J.D.; Mintzes, J.J. e Wandersee, J.H.
madura e profunda sobre um tema. Por outro (Ed.) (2000). Ensinando ciência para a com-
lado, quando um aprendiz constrói o seu ma- preensão: Uma visão construtivista. Lisboa:
pa conceitual ele desenvolve e exercita a sua Plátano Edições Técnicas.
capacidade de perceber as generalidades e O´Donnel, A. (1993). Searching for informa-
peculiaridades do tema escolhido. E nesse tion in knowledge maps and texts. Contempo-
sentido pode construir uma hierarquia concei- rary Ed. Psychol., 18, 222.
tual, iniciando de características mais inclusi- Paivio, A. (1991). Dual coding theory: retro-
vas para as mais específicas, tornando clara a spect and current status. Can. J. Psychol., 45,
diferenciação progressiva, um dos conceitos 255.
chaves da teoria de Ausubel. Ele também é Rodrigues, G.L. (2005). Animação interativa
instado a construir relações de significados e construção dos conceitos da Física: tri-
entre conceitos aparentemente díspares, tor- lhando novas veredas pedagógicas - Disserta-
nando clara a reconciliação progressiva, outro ção de Mestrado – PPGE/UFPB.
conceito chaves da teoria de Ausubel. Nesse Silva, J.T. (2006). A representação Social do
sentido, o mapa conceitual se coloca como Pombo no meio urbano - Dissertação de Mes-
um facilitador da meta-aprendizagem, ao faci- trado – PRODEMA - UFPB – João Pessoa.
litar que o aprendiz adquira a habilidade ne- Tavares, R. (2007). Ambiente colaborativo
cessária para construir seus próprios conhe- on-line e a aprendizagem significativa de Fí-
cimentos. sica 13º CIED - Congresso Internacional
ABED de Educação a Distância – Curitiba.
7. Referências bibliográficas Vekiri, I. (2002). What Is the Value of
Graphical Displays in Learning? Ed. Psychol.
Ausubel, D.P. (2003). Aquisição e Retenção Rev., 14, 261.
de Conhecimentos: Uma Perspectiva Cogniti-
va. Lisboa: Plátano Edições Técnicas.

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