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AULA 1

APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA
E COLABORATIVA

Prof.ª Marilene S. S. Garcia


TEMA 1 – INTRODUÇÃO À APRENDIZAGEM COLABORATIVA E
SIGNIFICATIVA

A presente aula, de caráter introdutório, propõe-se a articular uma visão


mais geral sobre o que se entende atualmente por aprendizagem significativa e
aprendizagem colaborativa, buscando espaços comuns entre esses dois grandes
constructos teóricos.
Dessa maneira, destacam-se os seguintes aspectos nesta aula
introdutória.

• O conceito geral de aprendizagem significativa.


• O conceito geral de aprendizagem colaborativa.
• A relação entre esses conceitos e o sujeito ativo.

Assim, vamos tratar desses conceitos tanto individualmente como por meio
de sua combinação, buscando promover uma reflexão sobre o que se pode
entender por “significativo” e por “colaborativo” na aprendizagem.
Trata-se de dois temas muito relevantes no cenário atual das práticas e
estudos pedagógicos, pois direta e indiretamente sustentam atividades de ensino
e aprendizagem mais inovadoras, abrangendo desde o nível básico ao superior
de instituições de ensino, e incorpora o que denominamos sujeito ativo, ou seja,
aquele que participa, se engaja e tem condições de desenvolver respostas
criativas.
O importante é entender que aprendizagens significativas e colaborativas
se tornam um constructo da cultura e da sociedade atual que, muito em função da
mediação tecnológica no contexto educacional, procuram destacar as
capacidades de aprendizagem dos sujeitos, considerados tanto individual quanto
coletivamente.
Assim, pode-se destacar os seguintes aspectos que sustentam esses
construtos.

• Aos alunos são dadas oportunidades de exercer escolhas mais autônomas


e trabalhar de forma engajada em projetos coletivos. Isso é feito de forma
dialógica, negociada, em consenso.
• A cultura de participação e de colaboração torna-se uma escolha didática
que pode partir dos interesses dos aprendizes e traz mais consistência a
motivação à aprendizagem.

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• Esse aluno, envolto em um senso de participação, tem sua autoestima,
autoconfiança, e condições cognitivas e afetivas, para ser responsável e
tornar-se centro das ações pedagógicas, construindo inserindo-se
produtivamente em comunidades de aprendizagem.
• Trabalhar em colaboração é uma forma de praticar metodologias ativas,
movidas por novas experiências educacionais, envolvendo tomadas de
decisões, observação de problemas da realidade, aspectos críticos, entre
outros.

Nesse sentido, percebe-se um suporte muito consistente em que implicam


aprendizagens mais interativas e reflexivas, que renovam posturas didáticas tanto
de professores quanto de seus alunos.
Devemos entender, nesse sentido, que o significativo e o colaborativo
remetem a processos cognitivos autônomos e sociointerativos.

TEMA 2 – ALGUNS PARÂMETROS DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

O tema da aprendizagem significativa tem sido explorado ao longo das


últimas décadas, de forma que se pode combinar seus parâmetros, principalmente
em função de alguns fatores, ora mencionados.

a. A projeção e a abrangência da teoria de Ausubel (1962, 1968), reconhecida


como significativa e denominada dessa forma, principalmente por pautar-
se no entendimento de que, para toda forma de aprendizagem, o sujeito
traz um conhecimento prévio que vai se agregando ao novo, visto como
diferencial significativo.
b. A noção de que o aluno pode construir o conhecimento mais
autonomamente, passando por experiências, avaliando o significado do
que aprende.
c. A emergência das tecnologias digitais, interativas e de base social, que
destacam referenciais diversificados, levando os alunos a explorar
diferentes fontes e tomar decisões sobre o que estudar e de que forma.
d. A aprendizagem entendida como um processo contínuo, na construção do
conhecimento (Ausubel, 1962).

O termo que remete ao “significativo” na aprendizagem nasce, inicialmente,


de um senso comum de que o que se aprende deve estar envolto por um valor
intrínseco, com percepção de uma necessidade, visando a uma funcionalidade,

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utilidade, aplicação, ampliação. Portanto, pode-se entender que algo se torna
significativo na aprendizagem por meio, por exemplo, de seu uso, do seu domínio,
criatividade, reapropriação, formas de expansão.
O conceito de significativo também pode se associar à motivação. Um
estudante se motiva a aprender algo, investigar, buscar referências, fazer
relações, à medida que enxerga algum tipo de significado, podendo não ser só
envolver o lado racional e criativo, mas também o emocional e afetivo.
Os sujeitos levados a aprender algo com motivação, seguramente
observam algum tipo de significação, seja para sua vida individualmente, para o
meio em que vive, para os projetos que quer realizar, entre outros aspectos. Por
isso é que os preceitos da aprendizagem significativa abrangem a consciência
sobre a própria aprendizagem.

TEMA 3 – COMO RECONHECER O QUE É SIGNIFICATIVO NA TEORIA DE


AUSUBEL

Tratando-se da teoria da aprendizagem significativa de Ausubel, o


componente “significativo”, por assim dizer, é assim entendido na medida em que
uma nova informação “ancora-se” em conhecimentos pré-existentes, ou seja,
aqueles que já estão presentes na estrutura cognitiva do aprendiz.
Por estrutura cognitiva, Ausubel entende como uma formação hierárquica
de conceitos e conhecimentos que representam as experiências vivenciadas por
meio dos cinco sentidos do aprendiz. Isso significa dizer que a estrutura cognitiva
se organiza e se alimenta por tais experiências.
Dessa maneira, a aprendizagem significativa pode ser interpretada pelo
fato de precedente real, que nasce dessas experiências que alimentam as
estruturas cognitivas. Trata-se de uma aprendizagem relacional, ou seja, aquela
que se relaciona às experiências prévias, constituindo-se em aprendizagens.
Esse fato traz uma consistência e coerência ao que se aprende, de modo
que não faz sentido a simples memorização, mas sim a profundidade da
aprendizagem pela experiência e pelo uso da cognição. Entender algo significativo
passa por um processo de consciência sobre as aprendizagens adquiridas nas
experiências.
Com base nas referidas experiências, Ausubel entende que os sujeitos
constroem marcos conceituais, os quais são produtos das diferentes formas de

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interações com o mundo real. Dessa maneira, vão sendo organizados
conhecimentos e esquemas prévios.
Na medida em que se relaciona com o mundo, o aprendiz constitui novas
experiências, vai também compondo novas representações, que se incorporam a
esse marco conceitual, alterando, ou mesmo, complementando, o conhecimento
existente.
As representações são, dessa forma, desenvolvidas dinamicamente e
criam a cada ciclo um novo marco conceitual. Em se tratando de um ciclo, pode-
se prever a rotatividade das ações. Assim, como é possível ver na figura 1.

Figura 1 – Ciclo de representação

Experiências
prévias dos
sujeitos

Novos marcos Marcos


conceituais e conceituais e
representações representações

Novas
Interações com
experiências
o mundo para
que se
novos
ampliam ao
conhecimentos
que já existia

Fonte: Com base em Ausubel, 1962.

No referido ciclo de representação, configura-se com os seguintes


elementos.

• Experiências prévias dos sujeitos – que sempre trazem algum tipo de


contribuição, abrindo espaços para as experiências novas.
• Marcos conceituais e representações.
• Interações com o mundo para a aquisição de novos conhecimentos.
• Novas experiências, visando ampliar o que já se domina.
• Novos marcos conceituais, que expandem as representações.

Todos esses aspectos constituem um movimento que se amplia sempre,


em função de novas experiências.

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Esse dinamismo ocorre na medida em que os aprendizes são estimulados
e convivem em ambientes diversificados.

TEMA 4 – ASPECTOS GERAIS DA APRENDIZAGEM COLABORATIVA

Da mesma maneira, o conceito de aprendizagem colaborativa ganha força


em muitas das atividades pedagógicas atuais, principalmente pelo construto de
aprendizagem coletiva, que engaja e explora o universo de ideias variadas dos
demais aprendizes.
Assim, pode-se relacionar os seguintes aspectos.

A. O surgimento do conceito de coautoria, que valoriza o coletivo e institui um


novo modelo de atuação de forma criativa e produtiva para os alunos.
B. A valorização das experiências e da cultura “mão na massa”, também
conhecida como cultura maker, que valoriza a participação de todos
conjuntamente em busca da solução de um problema comum.
C. O desenvolvimento de atividades pedagógicas que valorizam o ambiente
social, interativo e de trocas, provendo valor a atitudes que lidam com
problemas reais e soluções possíveis.
D. A colaboração exigindo uma visão sistêmica, que busca relações
contextuais, envolvendo, por exemplo, de uma problemática local em que
um projeto educacional que pode ser desenvolvido pelos alunos (Silveira,
2019).

4.1 Onde se reconhecer o que é colaborativo

A aprendizagem colaborativa é reconhecida por meio das ações realizadas


pelos sujeitos a partir do momento em que eles percebem que a aprendizagem
com o outro é mais enriquecedora e vem mais para somar conhecimentos do que
para dividir.
Os exercícios colaborativos vencem barreiras de comparações negativas
entre os indivíduos, entre os que sabem bem mais ou sabem menos, e instituem
processos de respeito à opinião e soluções conjuntas.
Nesse processo, é importante salientar o espírito crítico, a atenção, o
respeito, para manutenção da consistência e coerência das ações.
Para tanto, metas comuns estabelecidas entre professores e grupos de
alunos podem instituir um norte, que direciona as ações colaborativas. Portanto,

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o valor da participação, da troca, da posição crítica, envolvendo o interesse por
assuntos que extrapolam o limite do individual, ocorrem na medida em que a
orientação do professor se torna clara.

TEMA 5 – O SUJEITO ATIVO NA APRENDIZAGEM

Os pressupostos de colaboração e de aprendizagem significativa implicam


relacionar-se pedagogicamente com um sujeito mais ativo, de forma a envolvê-lo
em processos de colaboração, levando-o a tomar consciência de sua
aprendizagem como significativa.
Dessa maneira, o sujeito da aprendizagem entendido por Ausubel (1962)
é capaz de construir conhecimentos com capacidades próprias e adquiridas em
suas experiências de aprendizagem.
Ausubel inspira-se teoricamente em uma base cognitivista e construtivista,
com foco no sujeito que busca seu próprio conhecimento, facilitado pelo professor.
Sua teoria professa que alguém consegue aprender algo quando seus
conhecimentos prévios são associados aos novos e isso leva a uma condição
significativa, de fazer sentido ao que está aprendendo.
Desse modo, entende-se inicialmente que a aprendizagem significativa
pode levar o aluno, com o suporte da orientação do professor, a ampliar a
informação anterior, transformando-a em uma mais atualizada.
O pressuposto construtivista é definido por Jonassen (1996, p. 70), da
seguinte maneira.

Os construtivistas acreditam que o conhecimento é uma construção


humana de significados que procura fazer sentido no seu mundo. Os
seres humanos são observadores e intérpretes naturais do mundo físico.
A fim de realizar isto, eles explicam ideias e fenômenos novos em termos
de conhecimento existente.

Entretanto, o tema da aprendizagem colaborativa adiciona um valor ao que


se pensa sobre construção do conhecimento, trabalhando valores como
responsabilidade, uso de habilidades metacognitivas, incorporando também a
qualidade e a forma das interações interpessoais, o que abrange as formas de
negociação argumentativas e de sustentação de trocas amparadas por interesses
comuns.
O projeto colaborativo proposto em uma sala de aula, nesse caso, visa
extrair de diversas mentes ativas e criativas soluções comuns para problemas

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também levantados conjuntamente. Isso promove mais motivação e retenção por
conta da experiência.

Figura 2 – Interação entre aprendizagem significativa e colaborativa

Aprendizagem
significativa

Aprendiz ativo/
produz
conhecimento/
interativo/ coautor/
pesquisador/
criativo

Aprendizagem
colaborativa

Fonte: A autora.

Dessa maneira, o sujeito ativo em sua aprendizagem pode reunir as


seguintes características.

• É orientado a usar sua capacidade de pensar e refletir sobre sua


aprendizagem.
• Coloca seus pontos de vista, relacionando-se com outros pensamentos
divergentes.
• Procura desenvolver soluções criativas por meio da observação de suas
próprias experiências e também de terceiros.
• Tem autoconfiança equilibrada, que o qualifica a se posicionar sem invadir
o espaço de expressão e ação do outro.
• Trabalha dialogicamente com professores e colegas.

Para Almeida (2002), o aluno ativo pode ser orientado com o treino de
funções cognitivas, a saber: atenção, percepção, codificação, memória, raciocínio
e criatividade.
O autor entende que, nesse tipo de orientação, deve também trabalhar
percepções, bem como imagens pessoais dos alunos, o que abrange a motivação,
o controle da impulsividade, a perseverança no comportamento e a autoconfiança.
A psicologia educacional fornece alguns caminhos para o treino cognitivo.
O quadro 1 demonstra alguns exemplos desse tipo de estudo e prática.

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Quadro 1 – Treinos cognitivos

Tipologia Idealizadores
Enriquecimento instrumental Feuerstein & colaboradores
Projeto inteligência Universidade de Harvard
Desenvolvimento do pensamento produtivo Covington & colaboradores
Compreensão e solução de problemas Whimbey & Lochhead
Inteligência aplicada Sternberg
Filosofia para crianças Lipman & colaborares
Estratégias de pensamento e aprendizagem Ehrenberg & Sydelle
Padrões de resolução de problemas Rubenstein
Cognitive Research Trust – CoRT De Bono
Promoção cognitiva Almeida & Morais
Fonte: Com base em Almeida, 2002; Almeida; Morais, 2001.

Assim, constata-se, por meio de Almeida (2002), que, para se elevar a


condição cognitiva para a aprendizagem, deve-se ter em conta uma série de
possibilidades que associem elementos teóricos e práticos, em que se valorize o
que o estudante traz em seu perfil, natureza e interesses.

FINALIZANDO

Quando se menciona aspectos da aprendizagem colaborativa, inicialmente


se tem uma sensação de que não se está tratando de nada inovador em termos
de abordagens e metodologias ativas de sala de aula, pois no ensino escolar
tradicional, os trabalhos em grupo ou em equipe já eram práticas comuns
adotadas pelos professores. Sim, isso é verdade, mas em parte.
Mas por que a aprendizagem colaborativa ganha um novo valor agora?
Primeiro, porque a aprendizagem colaborativa está contextualizada no
âmbito das aprendizagens ativas e das metodologias ativas, ou seja, parte do
reconhecimento de que o aluno é um sujeito ativo, de opinião que tem voz e se
qualifica pelas formas de interação.
Segundo, porque existe uma variedade de teorias de aprendizagem como
suporte para quem ensina, de forma que se conhece muito mais sobre como a
aprendizagem funciona, como indivíduos reagem cognitiva e afetivamente frente
às suas aprendizagens.
E finalmente, o terceiro aspecto, porque hoje se pode produzir e aplicar no
âmbito escolar novas metodologias de ensino para promover ações mais
engajadoras e autônomas dos alunos.
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Assim, entende-se que a diferença atual está no foco que se dá à
abordagem pedagógica e como se orienta o aluno a produzir conhecimento. O
professor, nesse contexto, deve ressignificar seu papel, conduzindo ações de
ensino que incorporem esses conhecimentos e cada vez mais dialogando com
seus alunos, aproximando-se deles e conhecendo o que lhe é mais valioso
aprender, explorar, experimentar e tirar suas próprias conclusões.
Nesse caso, o aluno consegue protagonizar a busca do conhecimento de
seu interesse e aprender a valorizar o que o outro está trazendo como diferente
visão e perspectiva.
Portanto, o aprendiz é visto como um indivíduo com capacidade de
trabalhar com outras pessoas, tratando problemas reais, buscando dados,
investigando, propondo e participando de soluções conjuntas e criativas.

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REFERÊNCIAS

ALMEIDA, L. S. Facilitar a aprendizagem: ajudar aos alunos a aprender a pensar.


Psicologia Escolar e Educacional, Campinas, v. 6, n. 2, dez. 2002. Disponível
em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
85572002000200006>. Acesso em: 23 jun. 2023.

ALMEIDA, L. S.; MORAIS, M. F. Programa “Promoção Cognitiva”. Braga:


Psiquilíbrios, 2001.

AUSUBEL, D. P. A subsumption theory of meaningful verbal learning and retention.


Journal of General Psychology, v. 66, p. 213-224, 1962.

_____. Educational Psychology: A Cognitive View. New York: Holt, Rinehart and
Winston, 1968.

JONASSEN, D. O uso das novas tecnologias em educação a distância e a


aprendizagem construtivista. Aberto, Brasília, n. 16, jun./abr. 1996.

SILVEIRA, F. Design Thinking no ensino fundamental. Revista Pátio – ensino


fundamental, Porto Alegre, ano 22, jan. 2019.

TORRES, P. L.; IRALA, E. A. Aprendizagem colaborativa: teoria e prática. In:


TORRES, P. L. (Org.). Complexidade: redes e conexões na produção do
conhecimento. Curitiba: Senar, 2014.

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