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EXERCÍCIO DE RESUMO

Jose Antonio GOENAGA. A constituição de liturgia do Vaticano II e o pós-concílio in BOROBIO,


Dionísio; CANALS, J. M; BASURKO, Xabier; GOENAGA, J. A; MALDONADO, Luis;
FERNANDEZ, P; FLORISTÁN. A celebraçao na Igreja: Liturgia e sacramentologia fundamental.
São Paulo: Loyola, 1990, p.136-160.

A constituição Sacrosanctum Concilium possui sete capítulos, sendo que o primeiro versa
sobre os princípios que fundamentam o plano litúrgico do Vaticano II e os demais tratam da eucaristia,
dos outros sacramentos e sacramentais, do ofício divino, do ano litúrgico, da música sacra, da arte e
dos objetos sagrados. No texto conciliar entrelaça-se princípios e práxis, tal dinâmica expressa o
binômio teologia-celebração que é a essência da liturgia. GOENAGA apresenta esse documento
conciliar a partir de três elementos: temas polêmicos, temas de amplo alcance e temas vazios.
Os temas polêmicos são: (a) a faculdade dos bispos – a autoridade da Igreja é monárquica e
colegiada, sob esse aspecto definiu-se a competência e a jurisdição dos bispos, das conferências
episcopais e da Santa Sé no que tange a liturgia. (b) adaptação da liturgia – devido a diferença entre
os povos a adaptação da liturgia é uma necessidade. Assim há a adaptação ordinária, já prevista nos
livros litúrgico e a adaptação extraordinária que depende da aprovação da Santa Sé. (c) As línguas
vernáculas – não obstante a definição do latim como língua litúrgica da Igreja latina, abriu-se a
possibilidade para o uso do vernáculo em alguns momentos da liturgia. (d) A concelebração –
possibilitou a concelebração eucarística pois ela é a manifestação autêntica da unidade do sacerdócio.
(e) a comunhão sob as duas espécies – assim como em Trento, admite que a comunhão do cálice é
uma participação mais perfeita na Missa e propõe para que os bispos julguem a oportunidade do uso
prático dessa concessão.
Os temas de amplo alcance são: (a) que é a liturgia da Igreja? – o Concílio apresenta a liturgia
terrena como o adiantamento da salvação eterna do homem e da glorificação eterna de Deus pelo
homem, um adiantamento da liturgia eterna. Através da liturgia Cristo está presente e na simbologia
e gestualidade do culto a salvação alcança os homens. (b) a formação litúrgica – a cátedra de liturgia
deixa o segundo plano e torna-se importante e necessária no curso teológico, pois a liturgia é o centro
da salvação de Deus para a Igreja, com isso o seu estudo é necessário e fundamental. (c) a palavra de
Deus na liturgia – a palavra celebrada traz o mistério da salvação à Igreja. A Sagrada escritura é de
máxima importância na celebração litúrgica.
Para o autor, os vazios na constituição de liturgia se dá por uma abordagem tímida do
sacerdócio comum como fundamento para a participação do povo na liturgia. Outro aspecto
deficitário foi na abordagem ao movimento ecumênico. Os capítulos que tratam do ano litúrgico, da
música, da arte e dos objetos sagrados foram muitos restritos, pouco aprofundados.
Para implementar a reforma litúrgica exigida pelo Vaticano II, Paulo VI criou, em 1964, o
Consilium, cujas atividades eram acompanhadas e submetidas à Sagrada Congregação de Ritos. Os
novos livros litúrgicos foram escritos em menos de dez anos e segundo Paulo VI expressam uma nova
pedagogia espiritual nascida do Concílio. Eles são grandes educadores de sacerdotes e de fieis se
acolhidos e assimilados.
Houve uma grande quantidade de documentos do magistério que auxiliaram para que o
programa litúrgico do Vaticano II fosse implementado. Nas alocuções de Paulo VI aos membros do
Consilium foi traçado o perfil que estes deveriam possuir para participar de tal órgão: sentido do
sagrado, vida de oração, percepção das riquezas da Tradição, conhecimento sapiencial da lex credendi
e que esta se refletisse na lex orandi, sensibilidade humana para aproximar os fiéis da liturgia da
Igreja. A tarefa desse grupo de trabalho não era buscar inovações, mas o melhor para tornar a liturgia
mais bela e universal como a Igreja.
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O Consilium publicou uma série de documentos que ordenavam a imediata aplicação das
decisões conciliares na formação religiosa-sacerdotal para levar a uma mudança de mentalidade, na
qual a liturgia seria redescoberta como o centro da vida da Igreja. Também foi indicada a passagem
imediata e total do latim para o vernáculo e das mudanças no culto.
Foram publicados diversos documentos sobre a Eucaristia entre 1965 e 1980. A intenção era
sublinhar a transubstanciação e, por conseguinte valorizar e reconhecer a presença real de Cristo na
Eucaristia para que haja a celebração eucarística e o culto extra sacrificial devido a dignidade do que
é celebrado. Outra série de documentos reforçou a formação litúrgica dos candidatos ao sacerdócio;
as celebrações realizadas com grupos particulares podem se adequar as circunstâncias desde que o
caráter eclesial seja evidente. Também foi aberta a possibilidade de se adequar à missa celebrada com
crianças, contudo não se deve criar um novo rito, mas foram previstas algumas reduções, ênfases e
omissões. O novo Direito Canônico apresenta uma definição de liturgia bem como as normas
fundamentais para a ação sacramental, destacando sua dimensão eclesial-comunitária.
A reforma litúrgia foi muita acertada na valorização da riqueza bíblica e na eucologia dos
textos, que em geral, são oriundos das melhores fontes da Tradição. O vernáculo ressaltou o sentido
eclesial e comunitário da liturgia e também se provocou a redescoberta da liturgia como centro da
vida da Igreja. Todavia a expectativa gerada pelas reformas litúrgicas provocadas pelo Vaticano II
foi grande, e isso levou dois grupos minoritários, mas provocaram grandes polêmicas: um grupo não
aceitou as mudanças e continuou preso ao Missal de Pio V. O Outro grupo queria ainda mais
modificações a fim de deixar o caráter político-social da salvação mais evidente.
Nas correntes de opinião que surgiram no pós-concílio destacam-se: (a) dessacralização:
muito forte nos primeiros anos após o concílio, ela defende uma liturgia secular. Em sua radicalidade
foi muito perniciosa, contudo foi um bom instrumento para podar alguns excessos. (b) fé-sacramento:
considerou-se esse binômio como opostos, o que levou, por exemplo, a questionar-se o batismo de
crianças. Entretanto viu-se que fé-sacramento não são opostos, mas se implicam mutuamente. (c)
celebrações festivas: como reação as celebrações didáticas e moralizantes surgiram as liturgias
festivas que pretendiam devolver ao culto a fantasia simbólica e o prazer lúdico. Entretanto a teologia
da festa não é capaz de abarcar a celebração do trágico e gozoso mistério pascal. (d) adaptação
litúrgica – a enculturação do mistério de Cristo é necessária, mas ao considerar as peculiaridades do
povo, não se deve contradizer o sentido objetivo da liturgia. (e) Liturgia e ciências humanas: a virada
antropológica do século XX oferece novos campos para a teologia litúrgica devido a descrição mais
precisa que as ciências humanas oferecem acerca do ser humano, contudo é importante destacar que
a liturgia não contém apenas realidades humanas, mas também realidades que a transcendem. (f) os
movimentos de oração: houve um novo impulso oracional extra litúrgico, desde do pentecostalismo
até aos movimentos mais simples de oração. (g) criatividade litúrgica – o ato litúrgico sempre foi
receptivo a criatividade. Todavia no período pós conciliar, devido a dessacralização, em alguns
ambientes houve um abuso, criando-se até mesmo outros ritos. (h) liturgia e movimento ecumênico
– a valorização da Escritura possibilitou uma maior proximidade entre os diferentes grupos de
cristãos. Estes passaram até mesmo a se reunirem para discutir sobre liturgia. Também houve o
diálogo e o surgimento de acordo para a validade dos sacramentos nos diferentes credos cristãos.
Deve-se insistir, segundo GOENAGA, na liturgia como oração, pois sempre que esta tem
apenas o seu caráter imanente acentuado, esta se deforma e fecha-se ao homem a dimensão
transcendente da realidade.

Referências:

BOROBIO, Dionísio; CANALS, J. M; BASURKO, Xabier; GOENAGA, J. A; MALDONADO, Luis;


FERNANDEZ, P; FLORISTÁN. A celebraçao na Igreja: Liturgia e sacramentologia fundamental.
São Paulo: Loyola, 1990.

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