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Unidade02 His PDF
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Revolução
Francesa
Para início de conversa...
Liberdade
abaixo a Autoridade
Direitos Iguais
para os nossos ideais
Essa é a nossa vocação
Passar essa ideia pra população
Guerras sem razão
Se expressar para mudar essa situação
Não adianta querer paz
E só pensar no que o outro faz
Faça sua parte e não se importe
com os demais
{Chorus}
Liberdade, Igualdade e Fraternidade
é tudo que precisa a Humanidade
com força para lutar pela verdade
solidariedade para acabar com a desigualdade.
http://www.myspace.com/zerocoletivo/music/songs/liber-
dad-igualdad-fraternidade-22559120
Foi na França, no final do século XVIII, que os três ideais tornaram-se o principal lema daqueles que lutavam por
uma profunda transformação da sociedade francesa. Mais do que isso, essas palavras foram compreendidas pelos
revolucionários franceses como princípios universais, direitos fundamentais, válidos para todos os seres humanos em
todos os tempos. Desde então, tais princípios inspiraram lutas pela elaboração de leis ou por profundas mudanças
Em certo sentido, a palavra liberdade significava estar isento de qualquer opressão política, estar livre de
imposições por parte daqueles que detêm o poder dos governos. Significava que o governo não deveria controlar a
vida diária das pessoas comuns obrigando-as a seguir normas e leis injustas, intimidando e prendendo sem qualquer
direito de defesa aqueles que se opusessem a ele, impedindo as pessoas de participarem das decisões que afetariam
a vida comum da população. Significava também que nenhum governante poderia forçar valores a toda população,
como impor uma determinada religião.
A igualdade era entendida no sentido de que todas as pessoas nascem iguais e deveriam permanecer assim
diante da lei. Mas a palavra inspirou movimentos mais radicais que combateram qualquer diferença social.
A fraternidade era pensada no sentido de irmandade da humanidade. Todas as pessoas – sejam crianças,
idosos, mulheres, homens, ricos e pobres - fazem parte de uma única família humana, compartilham uma centelha
Ainda hoje, muitos movimentos políticos são relacionados a esses princípios. Na chamada Primavera Árabe,
numa onda de protestos e manifestações, a população de vários países do Oriente Médio e do Norte da África
enfrentou os estados autoritários existentes para protestar contra as más condições de vida da maioria da população,
a falta de liberdade, a militarização e o desemprego. Dessa forma, voltaram-se contra a injustiça política e social de
seus governos nos quais os benefícios de suas economias ficam nas mãos de uma minoria corrupta.
De certo modo, sempre quando nos indignamos e nos organizamos coletivamente para protestar contra
a precariedade no sistema de transporte público, a baixa qualidade da educação e da saúde pública, a enorme
desigualdade de oportunidades e a corrupção na política, estamos de certa forma ecoando esses princípios,
recriando e dando a eles novos significados. Fazemos greves, saímos nas ruas, pintamos nossos rostos e gritamos por
justiça e direitos iguais. Nesses momentos de revolta em que buscamos direitos relacionados à liberdade, igualdade
e fraternidade nos tornamos um pouco revolucionários franceses ou, talvez, apenas seres humanos em luta por um
Entretanto, nem todos sabem que muitas das ideias e lutas políticas que ainda buscam garantir direitos básicos
às pessoas foram inspiradas nesse longínquo acontecimento do final do século XVIII: a Revolução Francesa. Mesmo
eclodida há mais de dois séculos, suas reivindicações são atuais e a busca por uma sociedade humana fraterna, livre
26 Módulo 2 • Unidade 2
Nesta unidade estudaremos esse importante momento da história e problematizaremos suas consequências
para o mundo - suas ideologias, ações e comportamentos -, que se refletem em nossa vida cotidiana. E, também,
abordaremos a Revolução Francesa como primeira grande expressão política do Iluminismo, questionando o que foi
afinal esta Revolução e a proporção que tomou em si mesma e nos séculos posteriores.
Figura 2.1 – Retrato do Rei da França, Figura 2.2 – Cena do “Juramento do jogo de péla”.
Luís XVI.
Figura 2.3 – Cena que retrata a Tomada da Bastilha. Figura 2.4 – O Rei Luís XVI diante da guilhotina.
Há várias imagens que representam a França no período da Revolução. A primeira é o retrato do rei da França,
Luís XVI. A França era uma monarquia absoluta e centralizada, ou seja, um país onde o rei era considerado soberano
absoluto do estado pela graça de Deus, suserano de todos os senhores do reino, “pai” de todos os franceses, possuindo
teoricamente um poder ilimitado, pois não havia uma constituição escrita. Assim, ele podia decidir sobre a paz ou a
guerra, e dispor a seu bel-prazer de todos os recursos do estado. Como fonte da lei e da justiça, podia aprisionar qualquer
pessoa sem julgamento. Obviamente, devia respeitar as leis costumeiras e seguir princípios morais, mas tinha que prestar
contas somente a Deus. Ele vivia nos arredores de Paris, em Versalhes, num vasto palácio, cercado por uma corte luxuosa.
Suserano
Era o soberano de um feudo a quem os membros de outros feudos lhe rendiam vassalagem ou lhe pagavam tributos.
A segunda imagem mostra uma cena de um grande grupo de pessoas em uma manifestação de euforia
erguendo as mãos, os chapéus, fazendo gestos. Uma pessoa ao centro, sobre uma mesa, ergue o braço direito enquanto
lê um papel que segura na outra mão. O local é um salão, com janelas bem ao alto. É a cena do “Juramento do jogo de
péla”. Realizado em 20 de junho de 1789, foi feito pelos membros da “Assembleia Nacional”, que, ao encontrar a sala
onde se reuniam fechada por ordem do rei, transferiram a reunião para um salão de jogos do palácio de Versalhes,
onde decidiram ficar juntos até que a constituição do reino fosse estabelecida. A cena marca o conflito entre o rei e a
Assembleia Nacional, e o momento em que o “terceiro estado”, os representantes do “povo” francês, se impõe ao rei,
28 Módulo 2 • Unidade 2
A terceira imagem é um ícone da Revolução Francesa. Nela vemos destacar-se uma enorme fortaleza de pedra,
como um antigo castelo medieval, cercado por algumas construções e um pórtico. A fumaça ergue-se ao céu. Dois
canhões ocupam a cena. Há pessoas caídas no chão. Grupos de pessoas, algumas uniformizadas, outras não, estão
portando armas e lanças. Podemos perceber que um homem está sendo detido, chamando a atenção de toda a cena.
Era o Marquês de Launay, governador da Bastilha, o nome dado a essa fortaleza, uma prisão, onde eram detidos os
inimigos do regime absolutista, e também depósito de armas e pólvora. A cena retrata a tomada da Bastilha, episódio
que marca o início da Revolução Francesa, em 14 de julho de 1789. Ele revela a participação ativa população tomando
em armas na luta contra aqueles que poderiam representar uma resistência às transformações que começavam a
se anunciar. No assalto à fortaleza, vários populares foram mortos. Launay foi decapitado e sua cabeça espetada
numa lança que desfilou nas mãos da multidão pelas ruas de Paris. Um ano depois a Bastilha havia sido inteiramente
demolida. Segundo o historiador Eric Hobsbawn, a queda da Bastilha fez do 14 de julho a festa nacional francesa,
ratificou a queda do despotismo e foi saudada em todo o mundo como o princípio de libertação.
Na quarta imagem vemos o rei Luís XVI diante da guilhotina, aparelho inventado durante a Revolução, utilizado
para aplicar a sentença de morte por decapitação. Luís XVI subiu ao trono em 1774. Em 1792, viu a monarquia ser
abolida na França. Perdeu totalmente o respeito da população ao tentar fugir da França e encontrar-se com as tropas
da coalizão que pretendia lhe restituir o poder. Acusado de traição, foi julgado pela “Convenção”, órgão político
formado por 794 deputados que passou a governar a França com a queda da monarquia, e condenado à morte. Sua
Na quinta imagem vemos uma cena que retrata a noite de 9 Termidor (27 de julho de 1794). Um grupo armado
invade o salão onde se reúnem os deputados da Convenção, causando confronto e mortes. Vê-se o disparo de uma
arma atingindo mortalmente um homem. Outro ocupa uma tribuna, segurando um papel e apontando para ele com
uma espada; parece fazer uma declaração em meio ao tumulto. Trata-se de mais uma virada do processo revolucionário,
a tomada violenta do poder, ou seja, do controle da Convenção por um grupo que passará a ser denominado
termidoriano. A reação termidoriana coloca fim ao governo da Convenção liderado pelos jacobinos, desorganiza o
governo revolucionário, combate os realistas e encerra a participação popular no movimento revolucionário. Inicia-se
um período autoritário dominado pelo exército, que enfrenta a coalizão estrangeira que combate o governo francês.
Nesse período é elaborada uma nova constituição, a terceira desde o início da Revolução.
A sexta imagem retrata o chamado golpe de 18 Brumário. Para alguns historiadores, esse é o último na sucessão
de golpes e contragolpes que marcaram 10 de anos de Revolução, e consolida o processo da ascensão política de
Como a sucessão das imagens revela, podemos perceber o fenômeno francês como um conjunto de eventos,
ou até mesmo uma sucessão de “revoluções”, e não uma única revolução, por tratar-se de ações heterogêneas que
e social da época. Com ele caem o absolutismo, o regime feudal, os privilégios hereditários da nobreza, a Igreja se
separa do estado. Essa extraordinária sucessão de acontecimentos será o nosso objeto de estudo a partir de agora.
Objetivos de aprendizagem
Analisar a atuação dos diversos segmentos sociais e seus interesses ao participarem da Revolução Francesa,
ideias disseminadas pela Revolução Francesa dão significado ainda hoje para nossas experiências pessoais
e coletivas na atualidade;
30 Módulo 2 • Unidade 2
Seção 1
Revolução!!!
Mudança, transformação, alteração e evolução são palavras que buscam traduzir os processos de transformação
que ocorrem na natureza ou nas sociedades humanas. Mas a palavra revolução, utilizada largamente pelas pessoas
que viveram o processo de transformações na França, tentava traduzir outras dimensões e dinâmicas do processo de
A palavra revolução, segundo a filósofa Hannah Arendt, provavelmente teve origem na astronomia, onde era
utilizada para designar o movimento cíclico dos planetas e seus satélites no universo. Um movimento irresistível,
alheio à vontade dos homens. Já bem antes da Revolução Francesa, ainda no século XVII, como afirma H. Arendt,
a palavra desce dos céus para a terra e passa a ser empregada no sentido político. Revolução passa a designar o
movimento rotativo de sair e retornar a um ponto preestabelecido. Segundo ela, o momento preciso no qual a palavra
“revolução” foi utilizada no sentido de uma mudança política profunda, radical e irresistível, aconteceu na noite de 14
de julho de 1789, quando Luís XVI, após ouvir um mensageiro que lhe trazia a notícia da queda da Bastilha, teria dito:
“É uma revolta”, ao que o mensageiro teria afirmado: “Não, majestade, é uma revolução”.
Segundo o historiador Eric Hobsbawn, se o modelo econômico adotado atualmente na maior parte do mundo
inspirou-se na Revolução Industrial, que teve a Inglaterra como país pioneiro, a política e a ideologia que marcaram o
mundo contemporâneo foram constituídas pela Revolução Francesa. Sendo, portanto, complementares para a formação
do mundo contemporâneo, a Revolução Industrial influiu poderosamente na forma como se desenvolveram os sistemas
econômicos posteriores, e a Revolução Francesa significou a reviravolta no sistema político, símbolo da destruição do
absolutismo, do modelo econômico feudal e da consolidação da hegemonia da burguesia no mundo ocidental. Ela
forneceu os códigos legais, as ideias, o modelo de organização técnica e científica e o sistema métrico de medidas para
a maioria dos países do mundo. A Revolução Francesa tornou-se tão significativa que alguns historiadores colocam-na
como marco divisor da história, evento que marca a passagem da Idade Moderna para a Idade Contemporânea.
Mas será que alguém que examinasse a situação da França um ano antes de a Revolução ter início poderia
prever que, dez anos depois, toda a sociedade e o regime político estariam profundamente transformados?
O fato é que a situação, para a maioria do povo francês, não era nada boa. Em 1778, a França havia perdido
colônias, mercados, e adquirido um rombo nos cofres públicos devido às derrotas nas guerras contra a Inglaterra
e à ajuda dada aos EUA na luta pela independência daquele, em 1776. Mas, até então, a França era o país mais rico
e populoso da Europa. Possuía a monarquia mais poderosa, detentora de poder absoluto sobre a sociedade e a
economia. Uma monarquia que não economizava nos gastos com festas e luxuosos requintes para a nobreza e realeza.
e incapacidade de competir com a Inglaterra em plena Revolução Industrial. A situação econômica exigia reformas
Uma pessoa curvada carrega nas costas duas outras. O que o autor dessa imagem quis retratar? A sociedade
francesa. Ou melhor, a forma injusta e desigual como era distribuída a riqueza e os impostos nessa sociedade. Ela era
uma sociedade estamental, ou seja, era organizada de forma hierárquica com a distribuição desigual de direitos e
O alto clero, formado por bispos, párocos e cônegos de origem nobre, amava o luxo e vivia na corte. Já o baixo
clero, em sua maioria formado por curas e vigários de aldeias, recrutados entre os grupos mais humildes, partilhavam
em grande medida das aspirações populares, pois conheciam de perto os sofrimentos e as mazelas dos pobres. Clero,
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A nobreza gozava dos mais altos cargos do Estado e cobrava uma série de direitos feudais. Era composta por
grupos diferentes; a grande nobreza da corte se contrapunha à pequena nobreza do campo decadente. Acrescentamos
ainda os nobres da Espada (ou de Sangue) descendentes das antigas famílias feudais e os nobres de Toga (ou de
Constituía 98% da população, ou seja, 24 milhões de franceses eram responsáveis pelas despesas do clero,
da nobreza e da realeza, mas não tinham direitos políticos. Era formado pela alta burguesia (grandes comerciantes,
empresários, banqueiros, armadores), pela média burguesia (burocratas, médicos, advogados, tabeliães), pela
pequena burguesia (artesãos, pequenos lojistas) e pelos camponeses. Ressaltamos que era o único grupo que pagava
b. 3º estado não possuía direitos, era responsável pelo pagamento de tributos e, por
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Os cidadãos de aparência pobre e que em outros tempos não se atreveriam a
apresentar-se em lugares reservados às pessoas elegantes passeavam agora
nos mesmos locais que os ricos, de cabeça erguida
A Revolução Francesa não deve ser considerada apenas como uma revolução burguesa. Embora esta tenha
sido a ideologia e a sua forma dominante, ela foi o produto da confluência de quatro movimentos distintos:
uma revolução aristocrática (1787-1789), uma revolução burguesa (1789-1799), uma revolução camponesa
(1789-1793) e uma revolução do proletariado urbano (1792-1794). Também não se deve supor que a revo-
lução tenha começado em 1789, pois neste ano começa a tomada do poder pela burguesia e não o início
do processo revolucionário. Este começou dois anos antes, em 1787, com a revolta da aristocracia contra
a monarquia absolutista. Foi este fato que criou as condições e a oportunidade para a burguesia tomar o
poder. Por outro lado, sem a revolta dos camponeses, o regime feudal não teria sido destruído por com-
pleto e sem a contra-revolução da aristocracia que culminou com o apelo à intervenção estrangeira não
teria se desenvolvido a revolução do proletariado urbano. E, finalmente, sem este último, a burguesia não
teria resistido à invasão estrangeira e, portanto, permitido que a revolução chegasse a seu termo lógico e
historicamente possível
Pela interpretação do historiador Modesto Florenzano, a Revolução Francesa envolve um processo de lutas
sociais no qual, sucessivamente, entram em cena diferentes grupos sociais: aristocratas, burgueses, camponeses
e proletariado urbano. Por isso, ela não pode ser definida simplesmente como uma revolução burguesa, ou
seja, liderada pela burguesia, uma classe social composta por uma diversidade de segmentos de proprietários,
negociantes, profissionais liberais; mas também pela participação ativa de outros sujeitos, como a gente do campo
e os trabalhadores que compunham as parcelas mais pobres da sociedade francesa. Assim, vista em seu conjunto, a
Revolução Francesa compreende quatro fases, ou, por que não, quatro revoluções distintas.
Nos anos que antecedem 1789, a França mergulhou em uma grave crise política em razão da crise financeira da
monarquia e sua incapacidade de se reformar. A cada tentativa de reforma dos ministros da monarquia, a aristocracia
se erguia em defesa de seus privilégios. O historiador francês Albert Soboul chama essa revolta da aristocracia,
contra as tentativas de modernizar o estado, de “prefácio” à Revolução Francesa. A dívida esmagava as finanças
da monarquia. O déficit já não podia mais ser equilibrado pelo aumento dos impostos, cujo peso era esmagador
36 Módulo 2 • Unidade 2
para as camadas populares. Quando já não conseguia mais empréstimos para enfrentar seus credores, a monarquia
tentou estabelecer a igualdade tributária, estimular a produção e realizar uma reforma administrativa. Para aprovar
as reformas junto à aristocracia, foi convocada uma Assembleia dos Notáveis. Seus membros, no entanto, resistiram
às reformas propostas.
Assim, a monarquia viu-se obrigada a convocar o Parlamento, mas também não obteve êxito, sob a justificativa
de se oporem aos excessos do absolutismo, da centralização e da arbitrariedade do poder real. Seus membros
atacavam a autoridade do rei para defender os privilégios, tornando as reformas impossíveis. Para decidir como
seriam as reformas, a monarquia viu-se constrangida a convocar os Estados Gerais, o que não ocorria desde 1614. Os
Estados Gerais eram um órgão político e administrativo de caráter consultivo e deliberativo, onde as decisões eram
votadas. Cada ordem social tinha um voto e, portanto, o clero e a nobreza, somando dois votos, sempre derrotariam
o terceiro estado. Assim, com a convocação dos Estados Gerais, a aristocracia e o clero esperavam manter as coisas
Uma vez eleitos, os representantes dos Estados Gerais se dividiram basicamente em dois: o partido dos
privilegiados, reunindo aqueles que defendiam o Antigo Regime; e o partido dos reformadores ou patriotas, que
defendiam reformas cada vez mais profundas. A questão do voto por ordem ou por representante logo desencadeou
um conflito entre as ordens. A luta do terceiro estado era para que o voto fosse por cabeça, para assim obter maioria
nas votações, mas eles encontraram uma forte oposição do clero e da nobreza.
Depois de muitas discussões e impasses, e sentindo que o rei manobrava para evitar sua organização, os
representantes do terceiro Estado reuniram-se separadamente, em um local do Palácio de Versalhes utilizado para
o chamado jogo da péla, e lá decidiram permanecer juntos até que elaborassem para a França uma constituição.
Isso limitaria o poder do rei e poderia modificar todo o sistema político, social e jurídico da França. Diante disso,
clero e nobreza, a mando do rei, juntam-se ao terceiro Estado e proclamam a Assembleia Nacional Constituinte, em
9 de julho de 1789. Ao mesmo tempo, em meio à efervescência que toma as ruas de Paris e as principais cidades,
vão surgindo diversos clubes políticos e as primeiras milícias armadas, entre os quais destacamos os jacobinos, os
cordelières e os girondinos.
Clubes políticos – organizações que reuniam os variados grupos em que se dividiu a população francesa
durante o período revolucionário. Girondinos, Jacobinos, Cordeliers e Feuillants foram os de maior destaque.
Jacobinos – pequena burguesia, comerciantes e profissionais liberais. Contra a monarquia, queriam aprofundar
as mudanças revolucionárias. Receberam este nome por reunirem-se em um convento de frades jacobinos.
Feuillants – uma cisão do grupo jacobino. Representam a ala mais moderada, eram adeptos da monarquia
Cordeliers – reuniam-se no convento dos Cordeliers, tinham entre seus líderes Danton e Marat. A atuação
deste grupo fui substancial durante a fase mais radical da revolução, conhecida como “Fase do Terror”.
Indignados com as propostas de reforma, e temendo perderem seu poder e seus privilégios, o monarca e a
nobreza mais conservadora tentam obstruir os trabalhos da Assembleia Constituinte. Esta tentativa gera exaltação
por parte da população, que, faminta e inflamada por discursos calorosos da ala radical, saem em defesa das reformas,
invadem castelos e tomam a Bastilha - prisão parisiense, símbolo do regime absolutista - em busca de armas, em 14
de julho de 1789. Encurralado, o rei é obrigado a abolir antigos direitos feudais que pesavam sobre os camponeses.
O último ato da Assembleia Constituinte foi a promulgação da Constituição de 1791, que transformou a monarquia
absolutista em uma monarquia parlamentarista, isto é, a divisão de poder em executivo, legislativo e judiciário. Está aí
Quando os mais exaltados defensores da revolução pediram a cabeça do rei, os outros países da Europa não
viram com bons olhos, principalmente os defensores da monarquia, que ameaçaram intervir militarmente. Mas já era
tarde, os revoltosos invadiram Paris e aprisionaram o rei, que foi guilhotinado depois de um longo julgamento.
Não foi apenas o rei que perdeu a cabeça. Durante esse período, as garantias civis foram suspensas e o governo
revolucionário, carregado de poder, paixão e radicalidade, utilizou a guilhotina como instrumento de coerção.
A república jacobina é considerada a fase mais sangrenta, houve muitas execuções, tanto da oposição quanto de
próprios jacobinos. Uma palavra, um pensamento que indicasse contrariedade e traição, já era suficiente para se
perder a cabeça. Nem mesmo Robespierre e Danton, líderes do governo revolucionário, escaparam da guilhotina.
Para Hobsbawm, esta fase da revolução compreende a tomada de poder da classe média liberal que decidiu
continuar revolucionária mesmo no período posterior à revolução antiburguesa. Mas como a pequena burguesia,
comerciantes e profissionais liberais poderiam instituir a liberdade aniquilando todos os que se opunham aos seus
ideais revolucionários?
38 Módulo 2 • Unidade 2
Na visão de Hobsbawm, o discurso e as práticas políticas dos jacobinos eram utópicos, pois as diferenças
econômicas continuaram, e o poder político baseado no terror e na guilhotina não foi capaz de promover a igualdade.
Diante do perigo externo de guerra e da política de terror, os jacobinos acreditavam que a única forma de
salvar a Revolução era suspender a Constituição e constituir um órgão controlador de todos os poderes. A lógica
deste grupo era salvar a revolução a todo custo. Para garantir a vitória e esmagar a contra-revolução interna, o grupo
controlador instituiu a regularização da repressão: o número de mortos é estimado entre 35.000 e 40.000. Mais de
Ainda, o direito de defesa foi suspenso, expandiu-se o conceito de suspeito, a massa foi recrutada, os produtos
de primeira necessidade foram taxados e, em muitos casos, altas taxas eram cobradas aos ricos. De acordo com o
historiador francês Albert Soboul, essas medidas e tantas outras geraram uma atmosfera de grande terror.
Conforme outro historiador francês, François Furet, o Terror jacobino corresponde a dois conceitos diferentes.
O primeiro seria o de uma reivindicação popular pelo uso da violência contra os inimigos da Revolução. O segundo
De acordo com Soboul, o Comitê de Salvação Pública utilizou o terror como instrumento de defesa nacional e
revolucionária, pois restaurou a autoridade do Estado, impondo uma economia dirigida que garantiu recrutamento,
armamento, alimentação e a vitória dos exércitos revolucionários contra a contrarrevolução interna e os opositores
externos. Assim, a política de defesa nacional e revolucionária do Comitê de Salvação Pública mostrou-se um governo
de guerra eficaz.
Se para Robespierre a revolução era uma guerra pela liberdade contra seus inimigos, o terror nada mais era do
que a justiça pronta, severa, inflexível, que deveria ser aplicado às necessidades mais urgentes da pátria. Vencidos os
inimigos, surgem outros, em especial a suspeita de um complô da aristocracia e a insatisfação da massa em relação
ao abastecimento de alimentos.
É quando a crise política ganha força e o grupo no poder se divide. Em toda a França, a opinião pública se
cansava do terror, dos baixos salários e dos altos preços, e os Comitês de governo se perdiam diante de tamanha
desunião. Logo, o impulso da Revolução viu-se definitivamente quebrado. Em meio ao medo, à fome e ao fim da
Assim, na Convenção Nacional em 27 de julho de 1794, vencem os moderados, conhecidos como termidorianos.
Era o fim do Terror com o golpe do 9 de Termidor (27/28 de julho de 1794), que tirou Robespierre e sua cabeça do
cargo de presidente do Comitê de Salvação Pública e trouxe novamente a alta e conservadora burguesia ao poder.
Estações Meses
Vindimaire 22 de Setembro a 21 de Outubro
por termidorianos, adotam uma nova constituição que restabeleceu o voto censitário para as eleições do Legislativo,
o direito de propriedade e a entrega do poder executivo a uma junta de cinco membros, denominada Diretório. Esta
A nação definiu-se, novamente, no quadro estreito da burguesia censitária. Era a revolução da alta burguesia,
composta por grandes proprietários, conservadores em suas ideias. A “República dos Notáveis ou dos Proprietários”
Cabe ressaltar que o novo governo perseguiu todos os movimentos revolucionários radicais. O mais famoso
deles foi a Conspiração dos Iguais, de 1796, liderada pelo Graco Babeuf, o movimento camponês que aspirava à
abolição da propriedade privada e à fundação de um governo popular. Estes trabalhadores rurais foram presos,
executados ou deportados.
40 Módulo 2 • Unidade 2
Era frágil o equilíbrio da “República dos Proprietários”, e estava fora de cogitação incitar a burguesia e as massas
populares. O medo de ressuscitar uma ditadura revolucionária trouxe como solução uma ditadura militar. Logo, os
membros do Diretório recorreram a um jovem general, Napoleão Bonaparte, que esmagou as oposições.
De general a ditador em apenas dois anos, Napoleão Bonaparte assume a França com a promessa de finalizar as crises
e levantes contra as “revoluções francesas”. E, para muitos, com o objetivo de disseminar pela Europa uma nova tipologia
de terror. Ou, para outros, a Era Napoleônica marcou o início da expansão dos movimentos revolucionários para o resto
da Europa e, internamente, o retorno e estabelecimento das ideias revolucionárias, digamos, de modo mais conservador.
Portanto, a Revolução Francesa (ou as Revoluções Francesas) não pode(m) ser vista(s) como um processo
unilinear, mas insere(m)-se, de fato, no quadro de luta contra o velho regime, suas instituições feudais e suas tradições,
representado pela aristocracia que teve que se reorganizar e aprender a conviver com a ascensão da forte burguesia.
E, mais, representa uma batalha que se estende ainda hoje do direito contra o privilégio.
Atividade 03
Atividades
Na tabela a seguir podemos identificar os diferentes momentos da Revolução
constituição, ou lei maior, a forma como se organizam os poderes, a forma como participa
Modo Equilíbrio
Poder Poder
Revoluções de dos pode- Administração
Executivo Legislativo
eleição res
Constituição
Uma só Câmara
de 1791 – Rei + 6 Sufrágio Separação
(Assembleia Descentralização
monarquia ministros censitário dos poderes
Legislativa)
limitada
Constituição
Conselho Uma só Câmara Preponde-
de 1793 (Repú- Sufrágio
executivo de (corpo legisla- rância do Descentralização
blica universal
24 membros tivo) Legislativo
democrática)
Comitês da
Governo Convenção Preponde-
Uma só Câmara Sufrágio
Revolucionário + 12 Comis- rância dos Centralização
(a Convenção) universal
(República) sões Comitês
executivas
Duas Câmaras
Constituição (Conselho dos Sufrágio
Diretório Equilíbrio dos Descentralização
de 1795 (Repú- Anciãos + Censitá-
(5 membros) poderes arranjada
blica Burguesa) Conselho dos rio
500)
Atividade 04
[...] pode não ter sido um fenômeno isolado, mas foi muito mais fundamen-
tal do que outros fenômenos contemporâneos, e suas consequências foram,
portanto, mais profundas. Em primeiro lugar, ela se deu no mais populoso e
poderoso Estado da Europa (não considerando a Rússia). Em 1789, cerca de
um em cada cinco europeus era francês. Em segundo lugar, ela foi, diferente-
mente de todas as revoluções que a precederam e a seguiram, uma revolução
social de massa, e incomensuravelmente mais radical do que qualquer levante
comparável. [...] Em terceiro lugar, entre todas as revoluções [...] foi a única ecu-
mênica. Seus exércitos partiram para revolucionar o mundo; suas idéias de fato
o revolucionaram
demos citar:
42 Módulo 2 • Unidade 2
c. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, é considerada
Resumo
Liberdade, Igualdade e Fraternidade! Na França, do final do século XVIII, estes três ideais tornaram-se o principal
lema daqueles que lutavam por uma profunda transformação da sociedade. Desde então, tais Princípios inspiraram lutas
pela elaboração de leis ou por profundas mudanças sociais e políticas em diversas partes do mundo até nossos dias. Com
a Revolução Francesa, caem o absolutismo, o regime feudal, os privilégios hereditários da nobreza, e a Igreja se separa
do estado. A Revolução Francesa tornou-se tão significativa que alguns historiadores colocam-na como marco divisor
da história, evento que marca a passagem da Idade Moderna para a Idade Contemporânea. A Revolução Francesa, vista
em seu conjunto, compreende quatro fases, ou, por que não, quatro Revoluções distintas: a Revolta da Aristocracia; o
Terceiro Estado, que dá inicio à Revolução; a República Jacobina; a Quarta Revolução (1795-1799).
Veja ainda
Dicas de Filmes:
O filme trata da renúncia de um aristocrata que se refugia na Inglaterra pouco antes da Revolução Francesa.
155 min.
O líder popular Danton busca o fim do regime do terror da sociedade francesa, no segundo ano da revolução.
136 min.
A princesa austríaca Maria Antonieta é enviada ainda adolescente à França para se casar com o príncipe Luís
XVI. Praticamente exilada, decide criar um universo à parte dentro daquela corte, enquanto, fora das paredes do
Referências
Livros
ROBESPIERRE, Maximilien de. Discursos e relatórios na Convenção. Trad. Maria Helena Franco Martins. Rio de Ja-
SAINT-JUST, Louis Antoine de. O Espírito da Revolução e da constituição na França. Trad. Lídia Fachin e Maria Letícia
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Imagens
• http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Luis_XVI_%28Callet%29.jpg
• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Le_Serment_du_Jeu_de_paume.jpg
• http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Francesa
• http://pt.wikipedia.org/wiki/Execu%C3%A7%C3%A3o_de_Lu%C3%ADs_XVI
44 Módulo 2 • Unidade 2
• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Shot.jpg
• http://pt.wikipedia.org/wiki/Golpe_de_18_Brum%C3%A1rio
• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Troisordres.jpg
• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Sans-culotte.jpg
Virtual.
O que se entende por Corte do antigo regime é, em primeiro lugar, a casa de habitação dos reis de França, de
suas famílias, de todas as pessoas que, de perto ou de longe, dela fazem parte. As despesas da Corte, da imensa casa
dos reis, são consignadas no registro das despesas do reino da França sob a rubrica significativa de Casas Reais.
Algumas casas de habitação dos reis tiveram grande efetividade política e terminaram por se transformar em
a. o palácio de Versalhes.
b. o Museu Britânico.
c. a catedral de Colônia.
d. a Casa Branca.