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UAB – UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL

FUESPI – FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ


NEAD – NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
LICENCIATURA PLENA EM PEDAGOGIA

História da Educação
Antonia Alves Pereira Silva

FUESPI
2011
S5861h Silva, Antonia Alves Pereira.
História da Educação / Antonia Alves Pereira Silva. – Teresina: UAB/
FUESPI/NEAD, 2011.
153 p.
ISBN: 978-85-61946-32-6

1. Educação – História. 2.Educação e Sociedade . I. Antonia Alves


Pereira Silva. II. Título.

CDD: 370.9
Presidente da República
Dilma Vana Rousseff

Vice-presidente da República
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Ministro da Educação
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Raimundo da Paz Sobrinho

Coordenadora do curso de Licenciatura Plena em Pedagogia – EAD


Umbelina Saraiva Alves
Edição Autora do Livro
UAB - FNDE - CAPES Antonia Alves Pereira Silva
FUESPI/NEAD
Revisão
Diretora do NEAD Teresinha de Jesus Ferreira
Márcia Percília Moura Parente
Diagramação
Diretor Adjunto Luiz Paulo de Araújo Freitas
Raimundo Isídio de Sousa
Capa
Coordenadora do Curso de Licenciatura Luiz Paulo de Araújo Freitas
Plena em Letras - Inglês
Umbelina Saraiva Alves UAB/FUESPI/NEAD

Coordenador de Tutoria Campus Poeta Torquato Neto (Pirajá),


José da Cruz Bispo de Miranda NEAD, Rua João Cabral, 2231, bairro
Pirajá, Teresina (PI). CEP: 64002-150,
Coordenadora de Produção de Material Telefones: (86) 3213-5471 / 3213-1182
Didático
Cândida Helena de Alencar Andrade Web: ead.uespi.br
E-mail:eaduespi@hotmail.com

MATERIAL PARA FINS EDUCACIONAIS


DISTRIBUIÇÃO GRATUITA AOS CURSISTAS UAB/FUESPI
SUMÁRIO

UNIDADE 1
EDUCAÇÃO E HISTÓRIA ..................................................................... 13
1.1 Educação ......................................................................................... 13
1. 2 História ............................................................................................ 15
1. 2.1 A ciência História .......................................................................... 16
1. 3 História da Educação ...................................................................... 19

UNIDADE 2
A EDUCAÇÃO ENTRE OS POVOS ANTIGOS ..................................... 27
2.1 Sociedades primitivas ...................................................................... 27
2.1.1 Caracterização geral ...................................................................... 27
2.1.2 Educação ....................................................................................... 28
2.2 Sociedades orientais ....................................................................... 30
2.2.1 Caracterização geral ..................................................................... 30
2.2.1 A educação oriental ....................................................................... 31
2.2.1.1 A educação egípcia .................................................................... 31
2.2.1.2 A educação chinesa .................................................................... 32
2.2.1.3 A educação hindu ........................................................................ 34
2.2.1.4 A educação hebraica ................................................................. 36
2.3 Antiguidade Clássica ....................................................................... 38
2.3.1 A Grécia ....................................................................................... 39
2.3.1.1 A constituição do povo grego ...................................................... 39
2.3.1.2 A educação grega ..................................................................... 40
2.3.1.2.1 A educação heróica, cavalheiresca ......................................... 41
2.3.1.2.2 A educação cívica: Esparta e Atenas .................................... 43
2.3.1.2.3 A educação helenística ........................................................... 49
2. 3.1.3 O surgimento da Pedagogia: os sofistas e os filósofos ............ 51
2.3.2 Roma ............................................................................................ 60
2.3.2.1 Origem dos povos romanos ........................................................ 60
2.3.2.2 Educação romana ...................................................................... 61
2.3.2.2.1 A educação heróico-patrícia .................................................... 62
2.3.2.2.2 A educação sob influência helênica ........................................ 63
2.3.2.2.3 A educação no Império ........................................................... 66
2.3.2.3 A pedagogia romana ................................................................... 67

UNIDADE 3
A EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA ......................................................... 79
3.1 Caracterização geral ........................................................................ 79
3.2 A influência religiosa na educação..................................................... 81
3.2.1 Etapas da História da Educação no Medievo ................................. 82
3.2.1.1 Fase Patrística ............................................................................ 82
3.2.1.2 Os Enciclopedistas ..................................................................... 83
3.2.1.3 A Escolástica............................................................................... 85
3.2.1.3 1 O Renascimento Carolíngio – Educação e Cultura ................... 86
3.2.1.3.2 As fases da Escolástica ........................................................... 88
3.2.2 As escolas seculares...................................................................... 90
3.2.3 A formação das gentes de ofício..................................................... 91
3.2.4 A formação do cavaleiro medieval ................................................. 92
3.2.5 A formação das mulheres ............................................................... 93
3.2.6 O servo e a educação ................................................................... 94
3.2.7 A educação universitária medieval................................................. 95
3.2.8 A influência árabe na educação ocidental ...................................... 96
3.2.9 A educação no Império Bizantino .................................................. 98

UNIDADE 4
A EDUCAÇÃO EM TEMPOS MODERNOS ......................................... 105
4.1 O fim da idade média ..................................................................... 105
4.2 O Renascimento ............................................................................. 106
4.2.1 Contexto Educacional Renascentista ......................................... 107
4.2.2 Pensamento Pedagógico Renascentista ..................................... 109
4.2.2.1 Renascimento Cultural – Humanismo ....................................... 109
4.2.2.2 Reforma, Contra–Reforma e Educação ................................. 110
4.3 O Pensamento Pedagógico Moderno ............................................ 113
4.3.1 O Pensamento Pedagógico Realista ........................................... 113
4.3.2 O Pensamento Pedagógico Iluminista ........................................ 116
4.3.3 O Pensamento Pedagógico Positivista ....................................... 119
4.3.4 O Pensamento Pedagógico Socialista .........................................120

UNIDADE 5
A EDUCAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE ....................................127
5.1 Caracterização geral ....................................................................... 127
5.2 Educação e democratização do ensino .......................................... 130
5.3 Educação e Ideologia ..................................................................... 132
5.4 Pedagogia Contemporânea ........................................................... 133
5.4.1 A contribuição das ciências à Pedagogia e educação .................134
5.4.1.1 Tendência psicológica ...............................................................134
5.4.1.2 Tendência sociológica ..............................................................139
5.4.2 A teoria progressista ................................................................... 142
5.4.3 A teoria crítica e crítico-reprodutivista .........................................142
5.4.4 O pragmatismo na educação e a escola nova .............................144
5.4.5 O tecnicismo na educação .......................................................... 147

PARA FINALIZAR ................................................................................ 151

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................153


UNIDADE 1
EDUCAÇÃO E HISTÓRIA

OBJETIVOS

1. Compreender a amplitude do significado de educação.


2. Reconhecer a importância da História enquanto ciência colaboradora para
o desenvolvimento e compreensão dos estudos educacionais.
3. Perceber as relações entre as práticas educativas historiacamente
construídas com a educação atual e o processo de democratização do ensino.
FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia

1 EDUCAÇÃO E HISTÓRIA

Apresentação

Essa Unidade tem como objetivo principal mostrar a importância do


estudo da história da educação para compreensão desse fenômeno na
atualidade. Parte-se de uma breve discussão acerca do significado de educação
mostrando a diversidade desse conceito, para a seguir, refletir sobre a constituição
da história como ciência, a evolução de seu estatuto de cientificidade e as
contribuições advindas desse processo para o estudo da educação. Por fim
apresenta-se o foco de estudo da disciplina História da educação.

Considerações iniciais

A introdução aos estudos sobre história da educação exige


inicialmente uma compreensão desses termos. Ou seja, é necessário
compreender-se, primeiramente, o sentido que educação adquire nesses
estudos bem como uma aproximação com a ciência história e seu objeto de
estudo. Isso se faz necessário em virtude da variação de significados que
educação adquiriu ao longo da história, assim como a configuração científica
da História. Tal compreensão será necessária para uma adequada percepção
do que representam os estudos em história da educação bem como a sua
importância para a formação do pedagogo.

1.1 Educação

A palavra educação possui uma significação ampla englobando todas


as ações inerentes à formação humana geral. Fala-se, por exemplo, em
educação familiar – como referência aos valores, hábitos e práticas de um
grupo institucional que são transmitidas aos membros mais jovens do grupo;

13
História da Educação

educação religiosa – como a formação de valores referentes a práticas de


ligação do ser humano ao mundo espiritual, divino e; educação escolar – que
se refere à atividade intencionalmente realizada por determinadas instituições
com o propósito de transmitir às novas gerações a cultura e os saberes formais
socialmente produzidos. Brandão (1981, p. 7), é bastante esclarecedor ao
afirma que “ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja, na
escola (...). Para saber, para fazer, para ser ou para conviver”(...).
Assim, educação que, para alguns tinha uma conotação especificamente
escolar, possui uma dimensão bem abrangente e outra mais específica
denominadas, respectivamente, de educação informal e educação formal.
A educação informal, de acordo com Libâneo (2002, p. 31),
corresponde a

Ações e influências exercidas pelo meio, pelo ambiente


sociocultural e que se desenvolve por meio das relações dos
indivíduos e grupos com seu ambiente humano, social, ecológico,
físico e cultural, das quais resultam conhecimentos experiências
e práticas, mas que não estão ligadas especificamente a uma
instituição, nem são intencionais e organizadas. A educação
formal compreenderia instâncias de formação, escolares ou não,
onde há objetivos educativos explícitos e uma ação intencional
institucionalizada, estruturada, sistemática. (grifo nosso)

Percebe-se pela definição do autor que educação não se restringe


às atividades desenvolvidas nas instituições educacionais. Bem mais que isso,
engloba todas as práticas cotidianas dos indivíduos que vivem em sociedade
e que irão colaborar para a formação da personalidade e desenvolvimento
desses indivíduos.
Todavia, a reflexão histórica realizada no escopo da disciplina História
da Educação, diz respeito, fundamentalmente, às práticas sociais de
educação formal. Por certo a história da educação formal e a história da
educação de um povo entendida aqui como seus costumes, hábitos, valores
e cultura geral, encontram-se profundamente entrelaçadas. Dessa forma,
mesclam-se o estudo da educação formal e informal.
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FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia

Desse modo, estudar a história das instituições educativas, as teorias


e práticas inerentes a uma sociedade significa aproximar-se também da cultura
daquele grupo social. Educação e cultura não se dissociam. Por essa razão,
o estudo da História da Educação e da Pedagogia é de grande relevância
enquanto possibilidade de acesso à cultura geral dos povos que constituíram
a base da civilização contemporânea.

1. 2 História

A história pode ser entendida de forma simplificada, sobretudo para


o leigo, como o estudo dos fatos passados, apresentados de forma cronológica
aos leitores. Todavia, uma breve aproximação com as obras de historiadores
ou à historiografia revela que essa compreensão é bastante reducionista diante
da complexidade dessa área de estudo e de sua imensa evolução científica.
De acordo com Luzuriaga (1987, p. 1) “a história é o estudo da
realidade humana ao longo do tempo. Não é, pois, matéria apenas do passado,
senão que o presente também lhe pertence, como corte, ou secção, no
desenvolvimento da vida humana”.
A definição do autor já revela de início, dois elementos relevantes. O
primeiro diz respeito ao caráter dinâmico da história. Portanto, é um equívoco
tratar a história como estudo dos fatos isolando-os no seu tempo cronológico,
posto que, o seu estudo é fonte fundamental de conhecimento para
compreensão e interpretação do presente. O segundo elemento é uma
consequência dessa primeira compreensão, ou seja, a consideração do
estudo histórico como estratégia para desenvolvimento social. De fato, a
sociedade não precisa reviver cotidianamente os fatos e fenômenos sociais
esperando que estes gerem um conhecimento norteador do agir futuro; bastar
analisar a história buscando nela o saber e os modos de agir vividos pelas
gerações anteriores que poderão ser mais eficazes ao devir humano.
Ainda sobre a importância da história para o presente, Aranha, outra
autora que trata o tema, afirma que
15
História da Educação

pensar o passado não deve ser visto como exercício de saudosismo,


mera curiosidade ou erudição. O passado não está morto, porque
nele se fundam as raízes do presente. É compreendendo o
passado que podemos dar sentido ao presente e projetar o passado.
(ARANHA, 1996, P. 17)

Considera-se que a condição humana não está definida a priori como


uma condição absoluta e universal. Isso significa que homem é constituído de
um dado tempo; que ele é resultado de sua existência em um determinado
contexto social e as características culturais predominantes nesse tempo. A
importância de conhecer a história reside, pois no fato de que cada geração
carrega uma bagagem cultural dos seus antepassados e, esse saber é a
base para o futuro dessa geração.

1.2.1 A ciência História

Até o momento falou-se da história enquanto registro da existência


dos povos no tempo. Porém, a história refere-se também à área do
conhecimento voltada ao estudo científico desses registros, ou seja, à ciência
denominada História e, como tal, direciona com seu corpo teórico o que o
historiador deve estudar, pesquisar e o modo como devem ser realizados
esses estudos.
É importante salientar que os fatos registrados da história dos povos
e que são utilizados para conhecimento das novas gerações, são resultado
de uma seleção e da interpretação feita pelos profissionais da área, os
historiadores. E, enquanto produção dos homens, está carregada da visão
de determinados grupos sociais, sobretudo, dos grupos hegemônicos. Isso
implica reconhecer que, por vezes, as interpretações dos fatos históricos
trazem preconceitos, vez que os autores ao escrever não agem de forma neutra,
ou seja, fazem uma opção por uma visão de homem e de mundo. É neste
sentido que Aranha destaca como “a chamada história oficial silencia o pobre,
o negro, a mulher e os excluídos da escola, cujas histórias são interpretadas

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apenas segundo os interesses dos que ocupam o poder.” (ARANHA, 1996. p.


18).
O estudo científico da história no sentido de organização e
direcionamento do que deve ser estudado é, pois, uma necessidade, na
medida em que traz a reflexão acerca do modo como o conhecimento histórico
está sendo construído. Em outras palavras significa refletir sobre o que e o
como da construção do conhecimento histórico. De acordo com Aranha é a
filosofia da história que traça o conjunto de orientações teóricas que norteiam
o trabalho dos historiadores. Essas orientações ou pressupostos teóricos
estão sistematizados constituindo as concepções do fazer história.
O modo de conceber e fazer a história foram se modificando seguindo
a linha de desenvolvimento das demais ciências humanas e sociais. Para o
autor italiano Franco Cambi o desenvolvimento nessa área permitiu uma
revolução profunda na historiografia especialmente no modo de fazer
história. De acordo com ele é possível citar pelo menos três revoluções cruciais
da historiografia contemporânea. A primeira refere-se aos métodos, a segunda
tratou do tempo e a terceira voltou-se para os documentos. (CAMBI, 1999).
Em relação aos métodos destaca-se a compreensão de que não
existe um modelo único para produção do conhecimento e, portanto, as
ciências humanas não necessitam seguir o método proposto para as ciências
naturais. Para Cambi,

o fazer história não está ligado a um processo único ( do tipo


narrativo-explicativo) capaz de enfrentar todo tipo de fenômeno
histórico e ler sua estrutura e seu devenir, mas realiza-se em torno
de múltiplas metodologias, diferenciadas por objetos, por
processos cognitivos, por instrumentos lógicos, de modo a fazer
ressaltar o pluralismo das abordagens e sua especificidade.
(CAMBI, 1999, p 27).

A revolução no método histórico, traz como contribuição, dentre


outras, a consideração da existência de muitas histórias como a “estrutural,
econômica, social”, “das mentalidades”, até a dos eventos, a local, a oral-

17
História da Educação

vivida, a psico-história a etno-história, a história do cotidiano etc” (CAMBI,


1999, p 27). Para o autor toda essa diversidade de história, portanto espaço
de pesquisa, requer métodos apropriados a cada situação.
A palavra tempo adquire significado diferente nesta nova configuração
historiográfica, no sentido de perceber-se o tempo histórico de forma diferente
daquele dos relógios ou do tempo vivido das práticas cotidianas. O tempo
passa a ser visto como plural e problemático, ligado ao ponto de vista e à
intencionalidade dos usuários, ligado também aos acontecimentos, um tempo
que procura aproximar o vivido do cronológico, que só pode adequadamente
compreendido nas suas relações com a estrutura política, sociocultural e que
traz implicações decisivas para os fatos.
No que refere aos documentos, os autores destacam a revolução
no sentido de que passam a ser considerados documentos não somente os
chamados documentos oficiais, mas abre-se espaço para documentos antes
ignorados, atribui-se maior valor ao imaginário, bem como a interpretação
que gera dados documentais como a história oral. Segundo Cambi (1999, p
28 -29)

assistimos há alguns decênios, ao fim do documento entendido


como classe de documentos oficiais e relacionados com a
historiografia tradicional, para dar espaço a novas séries
documentais, mesmo incompletas, mesmo já interpretadas, mas
que dilatam nosso conhecimento dos eventos e das estruturas da
história fazendo-nos ir ainda, e melhor, dos eventos às estruturas,
às temporalidades profundas da história.

Essas “revoluções” marcaram fortemente o caráter da história como


ciência autônoma e crítica repercutindo nas concepções de cientificidade da
história que, de forma geral, podem ser colocadas em dois pólos com posições
bem distintas no modo de conceber e fazer história: as tendências positivistas
que defendem o uso do rigor do método das ciências naturais para a história;
e as tendência humanistas que partem do princípio da especificidade da
história como ciência humana e a luz da evolução do conhecimento na área

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das ciências sociais humanas propõe métodos específicos da história como


já mencionado acima.
A consequência dessa divergência aparece no modo de fazer a
história, sintetizado por Aranha (1996. P. 18) da seguinte forma:

há, por exemplo, diversas concepções que explicam os fatos como


se eles se sucedesse no tempo de forma linear, descrevendo os
homens em busca de um aperfeiçoamento progressivo de suas
realidade latentes. Alguns concebem os fatos inseridos em
momentos cíclicos em que tudo se repete, e há os que analisam
as civilizações como resultado de movimentos de ascensão,
apogeu e declínio. Outras linhas de análise privilegiam a história
como relato da ação dos “grandes homens”, enquanto outros
propõem uma história sociológica com destaque para os aspectos
econômicos e sociais e não para os atos e pessoas isoladas.

Essa diversidade toda no modo de fazer história tem sido fundamental


para o desenvolvimento dessa área dando-lhe um status de relevância no
conjunto das ciências humanas e sociais, inclusive para o desenvolvimento
epistemológico de outras áreas do conhecimento, como a educação.

1. 3 História da Educação

Se a história em geral representa uma reflexão acerca dos fatos ao


longo dos tempos observando seus aspectos componentes, mudanças e
analisando-se seus possíveis reflexos para o tempo presente, a história da
educação é o estudo da história das mudanças ocorridas ao longo dos tempos
em relação à educação. Estudar as transformações ocorridas na educação é
de fundamental importância para alcançar-se a compreensão total do
funcionamento de uma determinada sociedade, pois a educação é parte
constituinte e ao mesmo tempo constituidora da cultura social. Essa é a tarefa
da história da educação.
Embora seja parte integrante da cultura geral, a educação tem sua
própria história, seu próprio estudo. Notadamente por ser um estudo histórico

19
História da Educação

de um fenômeno social, no caso a educação, parte-se da mesma base teórico-


metodológica utilizada para o estudo da história em geral. Do mesmo modo,
o fenômeno educacional para ser adequadamente refletido, estará sempre
relacionado a um tempo histórico, portanto, a uma sociedade considerada nas
suas características sociocultural, política e econômicas.
Aranha (1996) salienta que as dificuldades enfrentadas nos estudos
da história em geral, também se aplicam à história da educação, sendo
agravados vez que existem poucos estudos científicos de história da educação
e somente a partir do século XIX passa a existir uma maior sistematização de
uma história exclusiva da educação.
Nesse aspecto, Luzuriaga (1987) faz uma distinção bastante pertinente
acerca da diferença entre a história da educação e a história da pedagogia.
O autor salienta que a história da educação tem início com a própria vida dos
homens e das sociedades; já a história da pedagogia - que é a ciência da
educação e realiza a reflexão sistemática sobre esse fenômeno- só começa
com a reflexão filosófica na Grécia antiga. Assim, os estudos sobre história
da educação incluem parte de uma história ainda não refletida
sistematicamente, realizada de forma ainda difusa e, predominantemente oral
que é a história dos povos primitivos. E, por outro lado, trata do conhecimento
teórico sobre a educação nas diversas civilizações.
O estudo sistemático da história da educação compreende uma
diversidade de aspectos a serem investigados dada a complexidade da
educação. Nesse sentido Cambi, refletindo acerca dos espaços ou âmbitos
da história da educação, afirma que

poderíamos indicar como âmbitos dotados de autonomia, de


setorialidade e de tradição de pesquisa, o das teorias, o das
instituições, o das políticas, depois o âmbito (mais amplo e difuso)
da história social (entendida como história do costume e de
algumas figuras sociais, como história das culturas e das
mentalidades) e por fim o âmbito do imaginário. (CAMBI, 1999, p.
29) Grifo nosso.

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Observa-se que na caracterização da composição dos estudos dos


pedagogos e dos historiadores da educação encontra-se tanto a educação
no seu sentido amplo, como também a educação institucionalizada.
Especificamente em relação aos âmbitos da dimensão formal da educação,
cumpre detalhar que no âmbito das teorias estão as visões de mundo, de
homem e as ciências que orientam a educação e a pesquisa; o âmbito das
instituições refere-se às instituições às quais é confiado o papel formativo
nas sociedades e; o âmbito das políticas educativas destaca-se as relações
da educação com a história dos Estados, dos movimentos políticos, das
estruturas administrativas onde incluem-se os projetos de formação da
sociedade como um todo. Assim estudar a história da educação é buscar
compreender a configuração desses âmbitos ao longo das épocas.
Em relação aos períodos históricos em que são apresentados os fatos
educativos, observa-se que os autores (CAMBI, 1999; ARANHA, 1996;
LUZURIAGA, 1987; MONROE, 1988) seguem basicamente a mesma forma,
com poucas variações.
• Educação primitiva - a história da educação dos primeiros povos;
de uma época em que ainda não haviam sociedades organizadas;
• Educação oriental – aquela dos povos que já possuem sociedade
organizada, mas a educação assume uma conotação autocrática e religiosa
• Educação clássica – educação já mais organizada; marcada pelo
início da civilização ocidental, destacando-se Grécia e Roma.
• Educação medieval – compreende o período da idade média e
marca o predomínio dos valores cristãos, dentre outros.
• Educação moderna – iniciada no século XVII, caracteriza um
período marcado por uma época de grande desenvolvimento intelectual,
especificamente filosófico; o que repercute na área da educação na defesa
de valores de educação universal, gratuita e obrigatória.
• Educação contemporânea – refere-se à época atual, iniciada no
século XX. Em geral os autores consideram uma época de difícil

21
História da Educação

caracterização, porém um traço marcante é o debate acerca da


democratização na educação.
O retorno às práticas de educação desenvolvidas nessas sociedades
permite uma apropriação de práticas educativas experimentadas captando
as possibilidades de desenvolvimento advindas dessas experiências; permite,
então, aos educadores de hoje repensar investidas no âmbito das teorias e
políticas educacionais que, sabe-se, promovem atraso social e prejuízos ao
desenvolvimento do caráter humano. Assim estuda-se a história da educação
com o firme propósito de, no passado, buscar o caminho futuro. Afinal, como
diz Cambi (1999, p. 35) “a história é o exercício da memória realizado para
compreender o presente e para nele ler as possibilidades do futuro mesmo
que seja a de um futuro a construir, a escolher, a tornar possível”.

RESUMO

Nesta Unidade foi abordado o conceito de educação mostrando a


amplitude de sua significação. Mostrou-se a importância do conhecimento
dos fatos históricos para compreensão da realidade atual, situando nessa
discussão o objetivo de estudo da disciplina História da educação que pauta
seu trabalho em dois elementos: a educação como fenômeno social e a história
enquanto ciência. Percebeu-se que o estudo das práticas educativas ao longo
da história permitirá uma reflexão acerca dessas práticas subsidiando ações
educativas atuais.

LEITURA COMPLEMENTAR

• Para aprofundar acerca dos tipos de educação leia o capítulo I do livro


Pedagogia e pedagogos, para quê? De José Carlos Libâneo.
• Leia o capítulo I do livro História da Educação de Mª Lúcia de Arruda
Aranha.

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ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM

1. Nesta Unidade você pode perceber a amplitude do significado da palavra


educação. Então explique o que Brandão quer dizer com a expressão: “ninguém
escapa da educação”.
2. Dermeval Saviani um autores brasileiros mais respeitados no contexto
educacional afirma que “no cenário da História temos os atores e os autores
da História, do mesmo modo que numa peça teatral temos os atores e o autor
da peça. O autor não aprece; no entanto, a obra é sua e os atores representam
aquele papel que lhes foi designado na trama da peça, trama essa que é obra
do autor da peça”. A partir dessa analogia de Saviani, faça um comentário
acerca da construção da história oficial e a história vivida.
3. Pesquise e faça o relato de algum fato ocorrido cujo registro nos documentos
formais foi feito de forma diferente do real. Analise por que isto ocorreu,
considerando os elementos de gênero, raça e classe social.
4. Escreva um parágrafo mostrando a importância do estudo da história da
educação, destacando quais âmbitos históricos/educacionais são objeto de
estudo e permitem a compreensão da educação.

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UNIDADE 2
A EDUCAÇÃO ENTRE OS POVOS ANTIGOS

OBJETIVOS

1. Conhecer a concepção e práticas de educação presente entre os povos


primitivos bem como a sua relação com a dimensão sagrada desses povos;
2. Compreender as práticas educacionais desenvolvidas na Grécia e em
Roma como resultado da concepção de homem e sociedade predominantes
na antiguidade clássica..
3. Analisar os aspectos de semelhança e divergência na educação grega e
romana compreendendo as razões das mesmas;
4. Reconhecer as contribuições da educação realizadas na antiguidade
clássica para o desenvolvimento da educação em geral e a discussão acerca
do processo de democratização do ensino.
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2 A EDUCAÇÃO ENTRE OS POVOS ANTIGOS

Apresentação

Esta Unidade tem como objetivo apresentar as características da


educação que se desenvolveu entre os povos da antiguidade. Considera-se
aqui a antiguidade como uma construção derivada das comunidades primitivas
onde a forma de educação não possuía qualquer sistematização ocorrendo
apenas de forma oral. A análise prossegue com a apresentação das
sociedades da antiguidade oriental, essencialmente tradicionalistas,
organizadas com base na religião, com presença da escrita e de grande
riqueza cultural. Sob essa base organiza-se um tipo de educação ligada ao
sagrado. Já na antiguidade clássica observa-se um tipo sociedade bastante
evoluída, com o surgimento da filosofia, e propósitos claros na educação de
seus cidadãos. Especificamente o ideal da Paideia e do grande guerreiro na
Grécia e da humanitas em Roma.

2.1 Sociedades primitivas

2.1.1 Caracterização geral

Ao iniciar-se a leitura acerca da educação nas sociedades primitivas,


duas considerações preliminares devem ser feitas. A primeira permite
compreender que as sociedades primitivas, ao contrário do que se possa
pensar, não corresponde exclusivamente à fase pré-histórica das civilizações.
Essa afirmação é feita considerando-se que, embora tenha havido a
predominância dessas sociedades na pré-história, atualmente ainda
encontram-se grupos sociais primitivos em diversas partes do mundo, como
Austrália, Brasil e África. A outra consideração refere-se ao cuidado que o
leitor deve ter ao realizar o estudo dessas sociedades de não estudá-las de

27
História da Educação

forma comparativa às sociedades contemporâneas sob o risco de


enquadrá-las na condição de inferiores, ou seja, elas não devem ser vistas
enfatizando-se o que elas não possuíam (escrita, Estado, por exemplo),
mas compreendê-las na sua particularidade, percebendo-as como
diferentes, mas não inferiores.
As sociedades primitivas, denominadas por alguns autores de
sociedades tribais, possuem uma organização social muito simples; não
há classes sociais e a terra pertence a toda a comunidade. São
profundamente míticas, ou seja, a condução da vida é explicada a partir da
compreensão do sagrado cujo saber é transmitido oralmente. Para os
povos primitivos não existe separação entre a esfera espiritual e as demais
dimensões da vida. Desse modo, o divino explica tanto a origem da vida
como o resultado de uma colheita; se boa os deuses estariam satisfeitos
e o contrário seria a manifestação da ira divina com o homem. A tradição
se mantém, pela crença das gerações mais jovens nos ensinamentos que
lhes são transmitidos.
Se por um lado não há uma delimitação rígida de tempo cronológico
quanto à existência desse tipo de sociedade, por outro é possível caracterizá-
las em dois momentos: o homem caçador, nômade e o agricultor, que já
resultado da evolução do primeiro.

2.1.2 Educação

Nesse tipo de sociedade as crianças aprendem basicamente por meio


da imitação dos mais velhos durante a realização das atividades cotidianas.
Aprende-se no próprio existir, assim, o que é aprendido é essencial para a
própria existência. É através da interação com os membros do grupo mais
velho que a criança vai se apropriando dos mitos dos povos ancestrais e
desenvolve habilidades necessárias à sobrevivência e preservação do grupo.
Para Luzuriaga (1987, p 14) a educação dos povos primitivos

28
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era essencialmente uma educação natural, espontânea,


inconsciente, adquirida na convivência de pais e filhos adultos e
menores. Sob a influência ou direção dos maiores, o ser juvenil
aprendia as técnicas elementares necessárias à vida: caça, pesca,
pastoreio, agricultura e fainas domésticas. Trata-se, pois de uma
de educação por imitação, ou melhor, co-participação nas
atividades vitais. Aprende-se também os usos e costumes da tribo,
seus cantos e suas danças, seus mistérios e seus ritos, o uso de
armas e, sobretudo, a linguagem que constitui seu maior
instrumento educativo.

Entre os povos primitivos, a educação é marcada por dois momentos


distintos e que estão relacionados ao modo de produção da subsistência, ou
seja, na época do homem caçador não havia nenhuma forma de
disciplinamento dos mais jovens, embora estes aprendessem as habilidades
necessárias a tornarem-se também caçadores; já com o homem agricultor há
necessidade de nova ordem e direcionando os ensinamentos relativos à terra
e ao cultivo das plantas. Posteriormente, à medida que os homens vão
evoluindo, sobretudo na produção e armazenamento material, novos
“conteúdos” passam a fazer parte dos ensinamentos orais como a confecção
de armas e preparação para a guerra.
Em virtude da inexistência da linguagem escrita, o conhecimento
acerca da vida dos povos primitivos é feita a partir de registros pré-históricos,
como os desenhos feitos em cavernas com as encontradas em São Raimundo
Nonato-Piauí que datam de aproximadamente 12 mil anos, e conhecendo-se
o modo de vida dos povos primitivos que ainda existem atualmente.

Registro pré-histórico de povos primitivos. Serra da Capivara – Piauí- Brasil


http://bentoandreato.files.wordpress.com/2009/02/parque_serra_capivara

29
História da Educação

2.2 Sociedades orientais

2.2.1 Caracterização geral

Quando se fala nas sociedades orientais, refere-se à diversidade de


povos que existiu a partir do terceiro milênio antes de Cristo nas regiões do
norte da África e Ásia (oriente médio e extremo oriente). Essas sociedades
são as primeiras a serem denominadas de civilização, pois já possuem as
características que permitem classificá-las desse modo, tais como:
organização política na forma de Estado ou cidade com um chefe/governo
supremo, classes sociais divididas entres os de maior prestígio e a grande
massa popular, presença da escrita e de uma cultura bem estruturada. Entre
as primeiras civilizações, as orientais são consideradas de maior expressão
e referência nos estudos de educação. São elas: egípcia, hindu,
mesopotâmicos (babilônicos), chineses e os hebreus.
Embora cada uma dessas sociedades tenha suas particularidades,
é possível identificar características que são comuns a todas elas e revelam,
portanto, o caráter das primeiras civilizações. Dentre essas características
destaca-se inicialmente o fato de serem sociedades altamente tradicionais
profundamente resistentes às mudanças. Esse aspecto é, de certa forma,
consequência da existência de um Estado centralizador, despótico e
teocrático. O governo é exercido por um monarca que possui uma
descendência divina, sendo assim, uma pessoa inatingível, adorada e
reverenciada por toda a população como, por exemplo, no Egito onde o
faraó é filho do deus sol e na China o imperador é filho do céu. Nessas
civilizações a terra, que entre os primitivos era de todos, pertence ao
Estado. Surgem as classes sociais compostas por altos funcionários do
Estado, sacerdotes, guerreiros, dentre outras, e a grande massa
populacional desprovida de bens e direitos; e por fim, a escrita elemento
essencial para desenvolvimento cultural mas, ao mesmo tempo,

30
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manutenção de uma condição de hierarquização forte entre os que detém


essa habilidade (quase um poder sagrado) e o povo.
É importante destacar ainda que as grandes civilizações orientais
(Egito, China, Mesopotâmia e Índia) são denominadas de civilizações fluviais
ou hidráulicas em virtude de sua localização geográfica às margens de grandes
rios e, por isto mesmo, terem suas vidas determinadas por esses rios tanto
no aspecto da sobrevivência material como espiritual, a exemplo da Índia cuja
população atribui ao rio Ganges o poder sagrado.
Além dos povos aqui destacados, cuja forma de educação será
detalhada na sequência, outras civilizações relevantes podem ser citadas como
parte desse contexto histórico: os persas, os fenícios, dentre outras.

2.2.1 A educação oriental

2.2.1.1 educação egípcia

A educação egípcia foi determinada por dois aspectos fundamentais. O


primeiro deles foi a sua condição geografia às margens do Nilo conforme já
mencionado. Essa condição levou os egípcios a organizarem-se em função das
condições de cheia e seca do rio, buscando aproveitar suas águas para irrigação
e aproveitamento das margens fertilizadas após as enchentes. O outro aspecto
era o caráter de Estado religioso com um soberano divino que criou uma
organização social composta de altos funcionários com grande poder, os escribas,
responsáveis pela escrita e administração do Estado. As outras classes eram os
sacerdotes, os militares e população trabalhadora (lavradores, comerciantes e
operários). Dessa dupla influência sobressaiu-se uma educação que privilegiou
o conhecimento prático e a formação religiosa.
Nas palavras de Luzuriaga (1987, p. 27)

31
História da Educação

sobressaíram os egípcios em todas as artes práticas como a


engenharia, a agricultura etc., mas também nas ciências,
especialmente nas matemáticas, na medicina na astronomia. (...)
Era, pois, cultura utilitária. O mesmo se observa quanto à moral, que
apenas constituía uma série de “conselhos” práticos e elementares.

Considerando tratar-se de uma sociedade


classista, haviam duas escolas: as escolas elementares
para o povo e as superiores ou eruditas para os filhos dos
altos funcionários do Estado. Nas primeiras, as crianças
ingressavam por volta dos sete anos, ensinava-se leitura,
escrita e contagem. Já as escolas superiores, localizadas
nos templos, atendia preferencialmente os filhos das classes
superiores que exerceriam as funções de escribas e outras
funções do Estado. Lá se aprendia a escrita hieroglífica e
as artes e técnicas necessárias à vida do país, bem como
as normas da administração. Aprendia-se também poesia,
música e dança, estas últimas reservadas apenas à casta
guerreira. Os sacerdotes eram os responsáveis por cuidar
da educação. Havia, porém, um compromisso familiar com

Escriba egípcio e a escrita hieroglífica a educação. De acordo com Cambi, complementar à


http://sabedoriaevida.zip.net/images/ educação escolar,
escriba

havia a familiar (atribuída primeiro à mãe, depois ao pai) e a dos


“ofícios”, que se fazia nas oficinas artesanais e que atingia a maior
parte da população. Este aprendizado não tinha necessidade de
nenhum ”processo institucionalizado de instrução” e são os pais
ou parentes artesãos que ensinam a arte aos filhos. (CAMBI, 1999,
p. 67).

2.2.1.2 A educação chinesa

A história da educação do povo chinês para ser adequadamente


compreendida deve ser referida aos seus diversos períodos históricos: o
arcaico, onde a sobrevivência baseava-se na agricultura e tinha na figura da

32
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mãe a figura principal, portanto, matriarcal; o feudal em que as guerras já são


marca do período é, portanto, guerreira e patriarcal; e por fim o período imperial.
A história do povo chinês mostra que a educação é essencialmente presa à
cultura, esta considerada uma das refinadas do mundo antigo, mas ao mesmo
tempo revela uma sociedade das mais tradicionais e conservadoras. O caráter
conservador da sociedade chinesa permanece até os dias atuais muito em
parte pela força política ideológica adotada no país, o que faz com que a sua
cultura em diversos aspectos se diferencie do ocidente.
A sociedade chinesa sustentou-se na base familiar durante o período
arcaico que tinha como chefe a mãe assumindo tanto o trabalho agrícola quanto
a educação dos filhos. A educação dos filhos incluía o trabalho agrícola e as
tarefas domésticas.
No período feudal, já patriarcal, os filhos ficam sob o cuidado dos
pais até os sete anos; a partir daí passaria a viver com um nobre onde
aprenderia as artes da guerra e da paz. As filhas dos nobres, numa certa
idade, também passam a viver com uma família estranha onde aprenderão
tarefas domésticas, tecer e fiar.
Já no império, com a constituição do Estado e a necessidade de
funcionários capacitados para condução das tarefas administrativas do Estado,
este passa assumir a educação, segundo historiadores, dividida em duas: uma
para o povo e outra destinada aos mandarins. A primeira realizada no lar ou por
mestres em escolas particulares que poderiam receber recursos públicos para
tal. O conteúdo incluía a aprendizagem do alfabeto chinês, o que poderia levar até
5 anos e os ensinamentos morais e problema práticos de aritmética e astronomia.
A educação superior visava preparar para os exames de mandarim, altos
funcionários de confiança do imperador na condução do governo.
Acerca da educação na China Aranha (1996, p. 35) destaca que

ao contrário as demais civilizações antigas, cujo saber pertence à


classe sacerdotal, na China os letrados são os mandarins, altos
funcionários de estrita confiança do imperador e responsáveis pela

33
História da Educação

máquina burocrática do Estado sistema de seleção para esse


ensino superior é extremante rigoroso, baseado em exames oficiais
que distribuem os candidatos nas diversas atividades
administrativas.

Cumpre destacar, que para essa seleção podiam participar os


membros das classes nobres, mas também a população comum. É nesse
sentido que Luzuriaga (1987) defende que em relação às demais civilizações
orientais os chineses podem ser considerados democráticos, vez que qualquer
habitante poderia submeter-se aos testes aos cargos diretivos do governo.
Não obstante, a China não possuía um sistema educacional público
organizado, ou universidades em que se pudesse estudar livremente, dada
sua constituição extremante tradicional. Não se está com tal afirmação dizendo
que a China não produziu conhecimento e descobertas relevantes, mas apenas
salientando que a ciência do país teve séculos de pouco desenvolvimento.
É importante destacar ainda que a cultura, portanto, a educação
chinesa está profundamente marcada pelo conhecimento de dois grandes
sábios, Lao –Tse( século VI a.C), fundador do taoísmo e Kung Futsé (Confúcio,
551-479 a.C). O pensamento de Lao-Tse (taoísmo) procurava explicar as
relações do homem com a natureza, na busca da harmonização desta relação,
recomendando a não aprendizagem dos conhecimentos mundanos e a busca
do caminho (tao) do próprio homem, que é bom por natureza. Por outro lado,
Confúcio propõe ensinamentos de caráter mais prático e orientações para a
formação da moral dos jovens. Influenciou muito na dimensão política da China
com seus ensinamentos, creditava grande valor à educação.

2.2.1.3 A educação hindu

A sociedade hindu é considerada, dentre as civilizações orientais, a


que apresenta um sistema de separação de classes mais rigoroso. Nela a
população é dividida em castas que formam uma pirâmide social onde a
mobilidade é praticamente nula. No ápice da pirâmide ficam os brâmanes
34
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(sacerdotes), os xátrias (guerreiros nobres), os vaixás (agricultores e


comerciantes) e os sudras (servos dedicados aos trabalhos mais humildes).
A explicação de tal divisão é divina, ou seja, todos teriam saído do deus Brama,
porém aqueles gerados a partir da cabeça do deus, os brâmanes, é ocupam
o topo da pirâmide e as eles todos os privilégios sociais.
Nessa lógica, de organização social a educação é também do tipo
hierarquizada. Às classes inferiores limitava-se à educação familiar voltada para
os afazeres domésticos e agrícolas, enquanto á classe sacerdotal educação
superior, garantindo-se assim a manutenção da estrutura social. A educação hindu
é essencialmente fundamentada no sagrado, sendo livro chamado Vedas a base
principal do ensino. Nas palavras de Luzuriaga (1987, P. 24),

a cultura da Índia está compreendida nos quatro textos chamados


Vedas, coleção do saber tradicional, de caráter religioso e que de
começo eram transmitidos oralmente. Juntam-se-lhes outros, como
os Braamanas, comentários rituais, e Upanischades, de caráter
metafísico. Orientarão eles a educação da juventude dos árias.

Essas obras sintetizam a essência sagrada do hinduísmo ou


bramanismo. Nessa religião os seres e os acontecimentos compõem uma
mesma realidade denominada brahman.
Como nas demais sociedades, a educação começava na família e
seguia até os 7 anos quando a criança passava a ser acompanhada por um
mestre para iniciar os estudos védicos ficando com este até os 12 anos,
quando recebia o cordão sagrado que o caracterizava definitivamente como
homem livre; isso constituía como um segundo nascimento. Entre os brâmanes
a educação era confiada a outro brâmane, mas aos demais era função de
mestres ambulantes que ensinavam a leitura e a escrita além de fábulas
tradicionais em lugares improvisados.
Outra grande influência na educação hindu foi o budismo, religião
criada por Sidarta Gautama, o Buda. A educação advinda da doutrina budista
diferenciava-se do bramanismo por ser mais espiritual, mais intimista e
passiva. Orientava que os homens deviam renunciar aos bens terrenos. O
35
História da Educação

próprio Buda renunciou à sua condição de nobre para viver esse princípio. No
budismo a relação entre mestre e aprendiz é muito forte.
Embora a índia não tenha construído uma sistemática escolar, a
sociedade atribuía grande importância à educação, mesmo que este
conhecimento fosse, prioritariamente, o saber sagrado. É necessário dizer
também que o modo de ensino viabilizava-se de forma tranquila e agradável.
Recomendando-se, todavia, que caso o aluno cometesse faltas, deveria ser
devidamente alertado e punido, se necessário.
Considera-se que na sociedade hindu o mestre adquiriu um valor
social não antes obtido em outras civilizações. De acordo com Karl Schmidt,
citado por Luzuriaga, (op. Cit p. 26).

o reconhecimento da importância e elevação do magistério


encontrou apogeu na Índia. A devoção do aluno ao mestre não se
desenvolveu em nenhuma parte do mundo de modo tão sistemático
e intenso como na Índia (...). No país da interioridade, do espírito
e da fábula no longínquo Oriente, mostrou-se à humanidade o
elevado valor do mestre.

2.2.1.4 A educação hebraica

A história da educação dos hebreus tem para o ocidente grande


relevância tal se impacto para condução da vida dos ocidentais. Inicialmente
é necessário situar geograficamente esse povo para que se possa entender
alguns percalços de sua história. O território hebraico era uma pequena faixa
de terra ao longo das margens do rio Jordão ao norte da Fenícia, onde
atualmente localiza-se o Líbano. É uma região que fica entre o deserto e o
mar mediterrâneo que estava sob o domínio egípcio e mesopotâmico. Nessa
região viviam não somente os hebreus, mas também outros povos alguns de
relevante expressão histórica, como os fenícios, além dos cananeus, arameus,
dentre outros. Essa característica explica, em parte, os tantos conflitos
existentes naquele local pela posse da terra, bem como os exílios a que foram
submetidos os hebreus.
36
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Os hebreus eram criadores e pastores, considerados nômades até a


sua fixação nesse território onde permaneceram até o desterro para o Egito.
O grupo organizava-se no modo familiar poligâmico e em torno de grandes
patriarcas como Abraão, Isaac e Jacob. Nesta fase a educação é puramente
doméstica e familiar, com rígida disciplina e sob direção do pai.
Após o retorno do primeiro exílio, no Egito, além de pastores tornaram-
se também agricultores e o patriarca-chefe, Moisés, exercia função religiosa
e política, permanecendo a família e sua autoridade a base nuclear do povo. A
educação segue o livro da lei, o Decálogo que, a partir de ensinamentos morais
orienta as gerações jovens. É a partir dessa época que organização política
hebraica, na forma de tribos, vai cedendo lugar à forma monárquica com reis
bastante conhecidos como Saul, Davi e Salomão. Há um período de crise e a
divisão entre reino de Israel e reino de Judá (daí o nome judaísmo).
Posteriormente, o povo hebreu foi escravizado na Babilônia e, ao retornarem,
desenvolveram a educação de caráter superior visando, sobretudo, preparar
peritos em leis e escrituras para interpretação jurídica e religiosa dos livros
sagrados, originando a formação dos rabinos que se tornariam os mestres e
professores do povo. (LUZURIAGA, 1987).
Percebe-se que, como os demais povos orientais, a cultura e a
educação hebraica é essencialmente religiosa. Todavia, é no aspecto da
religiosidade que mais se diferenciam daqueles por serem monoteístas em
um universo politeísta. Para Cambi (1999, p.69) os hebreus era uma população
Esse modelo espiritual, a compreensão de sua relação com o Deus único
marca principal da doutrina religiosa povo hebreu e do judaísmo e marcam,

ligadas a uma religião totalmente diversa daquela dos vizinhos e


contemporâneos, monoteísta e que concebe Deus como espírito
absolutamente transcendente, não representável e não nominável
(é apenas “aquele que é”); um Deus que fez, porém, um pacto
com seu povo (Israel), ao qual revelou a gênese do mundo e as
tábuas da lei e que o assiste na sua história que é de sofrimento
impostos por Deus para pôr à prova o seu próprio povo, mas também
de espera: de um Libertador, de um Messias, de um guia que fará
Israel triunfar sobre os seus inimigos.

37
História da Educação

consequentemente, a educação hebraica. A título de exemplo menciona-se os


profetas Isaías, Jeremias Daniel e Ezequiel que foram grandes influenciadores
da educação e cultura hebréia a partir da criação de escolas elementares, para
crianças até 14 anos, o traço religioso torna-se explicitamente regulado pelos
livros sagrados: O Talmud e a Torá. Outra obra de referência para os hebreus é
o Livro dos Provérbios, que é um manual de educação moral e apresenta a
sabedoria tradicional. Sabedoria esta que era transmitida pelos profetas, de
forma mecânica, memorística e com rigorosa disciplina.
Se por um lado os hebreus não tiveram grande expressão política,
teve relevância histórica extraordinária ao constituir a base para criação de
duas religiões, uma nacional, o judaísmo, e outra de caráter universal, o
cristianismo. (LUZURIAGA, 1987). Ainda a propósito da relação dos hebreus
com Deus, a existência do sofrimento, mas a certeza da redenção, é preciso
dizer que essa nova religião traz uma alteração concepção de homem e da
via como um fim em si mesma, ao contrário traz a perspectiva de
desenvolvimento individual a partir de uma lógica de crescimento pessoal
inspirado em Deus. Destaca-se também como contribuição do judaísmo o
valor atribuído aos trabalhos manuais; a doutrina judaica prega que tão
importante quanto o conhecimento da Lei é a aprendizagem de um ofício,
sendo responsabilidades do pai promover tais aprendizagens.

2.3 Antiguidade Clássica

Antes de iniciar-se o detalhamento acerca da educação na Grécia e


em Roma, faz-se necessário um breve esclarecimento do porquê se define
como antiguidade clássica estas duas civilizações. Grécia e Roma são
civilizações de uma época da histórica antiga que diferencia das civilizações
orientais anteriormente descritas, sobretudo, por constituírem uma ordem social
e política diferente; e uma cultura marcada por visão de homem mais livre da
religião, voltado para busca da razão e o conhecimento teórico dos fatos. Sob

38
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o aspecto da religiosidade produz uma separação com o mundo oriental na


mediada em que a relação com o divino procura alimentar a salvação e
superação individual, em parte iniciada no oriente médio. Embora Grécia e
Roma possuam uma estrutura religiosa ainda marcadamente mitológica, a
relação do homem com seus deuses possui aspectos de uma dimensão
humana como não visto em outros povos, permitindo uma concepção de
homem mais autônomo, capaz de compreender a sua realidade e modificá-
la com o uso da sua inteligência. Cambi comenta esse novo parâmetro
cultural do mundo clássico a partir do que ocorre na Grécia. Segundo o autor,

(...) embora mesclada dos elementos provenientes do mundo


oriental(mitos dos quais se nutre a cosmogonia grega: de Urano,
de Gea etc.; religiões nacionais ora de salvação individual;
concepções políticas estatais e monárquicas) e de outros ligados
ao mundo mediterrâneo (comuns sobretudo às técnicas, das quais
os gregos operam uma síntese original sublinhando os aspectos
teóricos), os diversos elementos mítico-religiosos e técnico-
pragmáticos tendem cada vez mais a se tornar instrumentos nas
mãos do homem para compreender e dominar o mundo natural e
humano em que vive, tendendo portanto a laicizar-se a fugir das práticas
de tipo mágico e esotérico (de iniciados e de caráter sagrado)
professadas por grupos sociais separados do resto da sociedade (os
sacerdotes) e a tornar-se, pelo contrário conhecimento próprio da
mente que cada homem deve(ou pode) reconhecer como sua natureza
mais específica(...)(CAMBI, 1999, p. 72)

Por certo os elementos dessa nova cultura começaram a desenhar-se


com alguns povos orientais, mas é com as civilizações grega e romana que eles
serão reconhecidos, fixados, projetando-se a partir daí a evolução dos mesmos
que serão característica fundamental da sociedade ocidental atual.

2.3.1 A Grécia

2.3.1.1 A constituição do povo grego

A formação da Grécia teve origem por volta do terceiro milênio a.C


na ilha de Creta, considerada bem desenvolvida, sobretudo, em relação à
39
História da Educação

escrita e arquitetura. Essa civilização passa por sucessivos processos de


invasões até organizar-se por volta do século XI a.C com as características
da civilização helênica (os gregos inicialmente autodenominavam-se helenos).
Em parte consequência dos diversos povos que habitaram a região e, por
outro lado, devido à condição geográfica, montanhosa e fragmentada(várias
ilhotas) a Grécia não constituía uma unidade, mas sim cidades-estados.
Todavia, as diversas cidades-estados mantinham fortes ligações comerciais
e uma identidade cultural marcada pela língua, religião e modos similares na
organização de suas instituições que evoluem ao ponto da constituição da
grande e fortalecida pólis (cidade) grega.
Aranha (1996) cita basicamente quatro períodos na evolução da
Grécia: a civilização micênica, início do segundo milênio a.C, constituída de
vários povos vivendo em comunidades primitivas que evoluem para uma
aristocracia militar; os tempos homéricos, século XII ao VIII a.C, em que a
presença dos senhores de terra originou a aristocracia rural e o escravismo;
período arcaico, VIII a VI a.C, caracterizado principalmente por grandes
transformações sociais, uma nova ordem política: a democracia, a constituição
das cidades-estados e acentuação da divisão de classes; período
helenístico, séculos III e II a.C, marcada por um período que inclui conflitos
internos entre as cidades-estados, o domínio macedônico por Alexandre, o
grande; o domínio romano e a fusão dessas três culturas.
A abordagem da educação grega pode ser feita de diversas formas,
como por exemplo, a partir da leitura dos grandes filósofos, dos períodos
históricos, dentre outras. Neste trabalho será abordada a educação heróica,
cavalheiresca; a educação cívica de Atenas e Esparta; a educação helenística,
enciclopédica; e por fim a filosofia clássica com os grandes educadores.

2.3.1.2 A educação grega

Em linhas gerais pode-se afirma que o ideal de educação grega é a

40
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formação integral do homem, ou seja, o propósito educativo visava preparar o


homem grego intelectualmente de forma que este pudesse exercitar com
segurança a democracia; devia igualmente ser uma homem de virtude de
valores como coragem , honra, com conhecimento de música e literatura para
bem portar-se publicamente. Do mesmo modo que o espírito, o corpo também
precisava ser cuidado;assim a educação física era igualmente importante e
ensinava-se a prática desportiva e da dança. A maior ou menor ênfase em
cada um destes dois aspectos da formação é dada em virtude o período
histórico e da cidade. Em épocas de guerra a educação do corpo é mais
acentuada que a intelectual; já Esparta, considerada uma cidade-estado militar,
valoriza-se mais a educação física.
Embora a Grécia seja considerada o berço da democracia, a
escolarização estava destinada apenas a alguns poucos privilegiados e
permanece restrita aos filhos da nobreza e dos ricos comerciantes, ou seja,
àqueles que poderiam gozar do ócio digno. As mulheres, inicialmente,
também não usufruíam da escolarização, ficando sua educação restrita à
vida doméstica ou, no caso das famílias ricas, a preceptores.

2.3.1.2.1 A educação heróica, cavalheiresca

A sociedade grega primitiva formava uma aristocracia do tipo


guerreira, militar; a nobreza era constituída dentre aqueles considerados os
melhores,os mais destacados nos feitos bélicos. Até mesmo os reis eram
apenas os primeiros dentre eles. As decisões mais importantes eram tomadas
por Conselho composto pelo rei e por essa nobreza guerreira. Além desta
classe haviam os trabalhadores manuais e os servos e escravos.
Com tal constituição social, a educação tinha como finalidade a
formação do guerreiro o máximo honroso e virtuoso possível. É preciso
destacar que vivia-se um período de guerreiros heróis, tais quais os descritos
por Homero em Ilíada e Odisséia e, o modelo de formação era o dos heróis

41
História da Educação

descritos nessas obras. A ideia de virtude adquire “um sentido de força e


coragem, atributos do “guerreiro belo e bom”, aos quais se acrescentam a
prudência, a lealdade, a hospitalidade, bem como a honra, a gloria e o desafio
à morte” (ARANHA, 1996, p. 50). Esse parâmetro de formação, do herói e
cavalheiro, que unia beleza, inteligência, força, espírito de luta e sacrifício,
postura educada do cavalheiro, é sintetizado na palavra aretê (virtude), que
expressa esse ideal.
De acordo com Luzuriaga,

o caráter essencial da educação helênica dessa época, e das


seguintes, é a atenção à totalidade da pessoa. Assim está
sinteticamente expresso na Ilíada, nas palavras de Fênix, o
educador de Aquiles, ao recordar-lhe que o educou “para ambas
as coisas, pronunciar palavras discursos e realizar ações”; isto é,
para falar nos conselhos, intervir na política e fazer a guerra. (1987,
p.35)

A concretização dessa educação é feita inicialmente com a família


até os sete anos de idade; a partir daí a criança é enviada, como escudeiro,
aos palácios dos nobres para aprender, o ideal cavalheiresco. O aprendizado
incluía o manejo de armas, arco flecha, educação física (jogos e esportes) além
de música, dança, oratória e as atitudes corteses. Havia também a figura dos
preceptores que acompanhavam individualmente os jovens, reforçando-lhes a
educação. Como na citação acima, Fênix era o preceptor de Aquiles.
Visualizar o modo de vida desses jovens gregos é pertinente para
compreender-se como ocorria a introjeção desses valores. As palavras de
Dilthey citado por Luzuriaga (op. cit, p. 36) dão uma dimensão daquele cotidiano

largos espaços para exercícios físicos, o que devia cultivar não


só a força, mas ainda a beleza; jogos festivos nos quais elas se
demonstravam; ensino de poesia e canto, acompanhado de
instrumentos musicais; relatos e memórias de Homero; as leis, a
sabedoria vital depositada em poesias morais; tais os elementos
com os quais se cultiva o jovem grego para estar preparado para a
guerra e para a eloquência das assembléias.

42
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2.3.1.2.2 A educação cívica: Esparta e Atenas

a) Esparta
Dentre as cidades-estados da Grécia as de maior expressão foram
Esparta e Atenas, embora elas tenham marcado a histórica de formas
diferentes e, seguramente, essa divergência manifestou-se também em
relação à educação realizadas nestas cidades.
Esparta, caracterizada como cidade militar, promovia uma educação
que objetivava formar soldados para infantaria. A formação desse soldado,
no entanto, diverge daquela formação do herói individual, da aretê homérica;
aqui já prenuncia-se uma organização semelhante às instituições estatais. A
militarização não se constituía em uma opção aos cidadãos espartanos
(homens livres), mas uma necessidade vez que a maior parte da população
era constituída pelos periecos, responsáveis pelos trabalhos manuais e
os ilotas, grupos subalternos, meio escravos meios livres, presos à terra
e que garantia a subsistência da cidade. Assim, Esparta precisa de muitos
soldados que pudesse manter em “ordem” esses grupos, evitando conflitos
e rebeliões.
A concepção de educação espartana iniciava-se desde o nascimento
com a prática da eugenia, ou seja, os recém-nascidos frágeis ou com
deficiência física eram abandonados. Os meninos ficavam com a família até
os sete anos; a partir daí o Estado responsabilizava-se pela sua educação
que acontecia em espécies de acampamentos ou comunidades, onde elas
passavam a viver sendo organizados de acordo com a idade e submetidos à
rígida formação militar. De acordo com Monroe (1988) os meninos ficavam
sob a responsabilidade de líderes escolhidos dentre aqueles que mais se
destacam, chamados irenos. As atividades dos jovens eram sempre
observadas pelos adultos e anciãos que os pudesse instruir ou castigar,
conforme a necessidade. Para o autor esta organização assumia todas as
instituições , como família, igreja por exemplo, eram absorvidas nesse modo

43
História da Educação

de vida; decorre daí o entendimento de que a sociedade espartana dava pouca


importância à família.
Uma ilustração desse modelo educacional ao qual os meninos eram
submetidos aparece nas palavras de Plutarco citado por Luzuriaga ( op. cit p. 38)

de letras não aprendiam(os espartanos) mais que o indispensável:


toda a educação se orientava no sentido de fossem bem mandados,
sofredores no trabalho e vencedores na guerra; por isso, como
cresciam em idade, assim cresciam as provas, rapando-se-lhes o
cabelo, fazendo-os andar descalços e brincar comumente nus(...)
dormiam juntos em fila e por classe sobre molhos de palhas que
eles mesmos tiravam com as mãos, sem ferramenta alguma, das
pontas das canas que nascem nas margens do Eurotas(...) aos
menores mandavam que trouxessem lenha ou verdura e, para trazê-
las, furtavam; e o que se deixava apanhar levava muitos açoites
com látego, havido por descuidoso e canhestro no roubar(...).

No processo de formação, o
menino passava por diversos grupos e a
disciplina aumentava conforme a idade;
assim, eles enfrentavam o frio, a fome, os
castigos e aprendiam a ser obedientes,
respeitoso, resistentes, perseverantes e
viver apenas com o básico, como na guerra.
A prática da leitura e da escrita era
apenas o mínimo necessário, assim como
Ilustração de guerreiros espartanos http://
o ensino da oratória inexistente. Todavia, www.google.com.br/images
havia um cuidado com a educação esportiva, musical e a dança. Nos jogos
olímpicos Esparta superou Atenas em virtude do treinamento de seus atletas.
Às mulheres também recebiam uma formação orientada no que se
refere à preparação física que tornasse seus corpos fortes e saudáveis de
modo a poder resistir bem à gravidez e gerar crianças fortes e saudáveis. As
mulheres participavam de atividades como corrida, luta, arremesso de disco,
atirar com arco, dentre outros e, nos momentos festivos e nos jogos exibem
a beleza de seus corpos treinados.
44
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b) Atenas
Dentre as cidades-estados gregas Atenas é, inquestionavelmente, a
que teve maior importância histórica e implicações diretas na cultura ocidental.
De início, na fase Homérica da história grega, Atenas vivenciou o tipo de
educação própria daquela fase. Porém, a partir do século VII a.C configura-
se um modo de vida totalmente organizado em torno da pólis, a cidade, que
passa a ser o centro cultural, político e espiritual dos atenienses. A organização
da vida em torno da pólis, a ascendência da classe dos comerciantes aliada
ao papel que Atenas possuía em toda a Grécia gera novas demandas de
formação, sobretudo, a exigência de dirigentes cultos, o que provocou uma
ampliação da prática de leitura entre os cidadãos livres. “Assim a pólis se
converte em educador da juventude; ó o lugar da educação cívica e espiritual.
Aí se adquire a consciência cívica, o espírito democrático, a liberdade política
própria da vida ateniense” (LUZURIAGA, 1987, p. 39).
Na fase heróica em que o objetivo da educação era a preparação
para os grandes torneios Atenas não possui instituição escolar; no final do
século VI, a.C final do período arcaico, surgem as primeiras escolas ainda
num modelo bastante simples e o ensino não é assumido como uma obrigação
do estado, portando, não é gratuito.
Aos sete anos o menino afasta-se do seio familiar para receber a
educação formal composta inicialmente de duas partes: a ginástica e musical.
Posteriormente, é acrescentada a educação escolar. O menino, cuja família
tinha condições econômicas, era então dirigido à palestra(campos) e à escola
onde recebia instrução de educação física, feita pelo pedótriba (paidotribes),
instrutor físico; educação musical e poesia, feita pelo citarista (kitharistes),
professor de música; leitura e escrita, dada pelo didáscalo( didasko), mestre
elementar. Além desses, o menino, depois rapaz é acompanhado por um
escravo o pedagogo (paidagogos), responsável por guiar, controlar e pela
conduta geral do jovem.

45
História da Educação

Jovem grego obtendo aulas de música. Sentado ao seu lado, o pedagogo.


http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/escola/paideia/images

Essa educação elementar encerrava -se por volta dos 13 anos, época
em que as crianças com menos condições financeiras saiam para procurar
um ofício. Prosseguia para as demais no ginásio (gymnasia) local onde
exercitava a cultura do corpo para torná-lo sadio, belo e forte; mas
simultaneamente era cultivada a formação moral e social dos jovens que
acontecia através dos jogos esportivos, o canto e a poesia; constituía-se,
assim, o princípio da formação moral e estética, juntas.
Até essa etapa todas as escolas eram particulares, mas, dos 16 aos
20 anos, o Estado proporcionava uma educação pública que objetivava a
formação cívica e militar; essa etapa era denominada de efebia e compunha-
se de duas etapas com dois anos cada. A primeira etapa tinha por objetivo
principal prepará-los para o uso das armas e, ao final de dois anos, se o
rapaz revelasse condições físicas morais e de cidadania, recebia as armas
(escudo e espada) e passava a fazer parte da lista de homens livres. No
momento do recebimento das armas era feito um juramento de fidelidade ao
Estado, aos deuses e às tradições de seu povo. A instrução continuava
reforçando-se o uso das armas , mas também na administração dos negócios
práticos do Estado, no conhecimento da região (suas estradas, fronteiras e
topografia) como vinha a um bom soldado.
De acordo com Monroe,
os efebos passam dois anos em livre convívio com os mais velhos,
e em jogos físicos e discussões sociais e políticas que os

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Glossário preparavam para a vida de cidadão ateniense. A única educação


intelectual de efebo, era esse treino individual que ele obtinha
Ágora - praça pública onde por meio do convívio com os mais velhos. Através da discussão
os cidadãos gregos se ○ ○ ○
na○ Ágora,
○ ○ ○ ○
da conversação nos banquetes, da frequência ao teatro
reuniam para discussões e tribunais, ele adquiria o conhecimento das leis e dos costumes
políticas, filosóficas e morais necessários para adquirir a própria conduta( 1988, p. 42).
debates sobre os problemas
da cidade.
O que se poderia conceber como educação
superior inicia-se na Grécia à medida que sociedade torna-se mais complexa
com novas exigências de participação social e política. Surge, então, a
necessidade de preparar cada vez mais o cidadão ateniense para intervir
nas assembléias. É nesse contexto que surgem os sofistas, espécie de
professores que se propõem a preparar o cidadão não somente para
participar nas assembléias e debates na ágora mas, principalmente, para
treinar o homem na arte de convencimento em detrimento do argumento ser
ou não verdadeiro. Os sofistas eram pessoas altamente cultas e possuíam o
domínio da oratória o que fez com que estes conseguissem um grande número
de “alunos”.
Outro aspecto fundamental nessa educação superior ateniense é o
surgimento da filosofia e dos grandes filósofos como Sócrates que reúne-se
na praça com seus discípulos, Platão que utiliza um ginásio, a Academia e
Aristóteles, dentre outros. É a partir do trabalho destes personagens que são
criadas as primeiras fundações de cultura superior na Grécia: a Academia de
Platão e o Liceu de Aristóteles. Havia ainda outra escola muito valorizada, a
escola de Isócrates que ensina mais a retórica e menos filosofia. O trabalho
realizado pelos filósofos opõe-se ao dos sofistas conforme será destacado
mais adiante.

A Paideia
A atuação dos sofistas e dos filósofos que principiaram o ensino
superior ateniense marca também o aperfeiçoamento de uma ideia muito
valorizada entre os gregos: a paideia. Essa palavra que representa ao mesmo

47
História da Educação

tempo um princípio, uma prática, um ideal formativo do homem grego exige


uma série de adjetivos e acepções para ser adequadamente compreendida.
A palavra paideia deriva de pais/paidós “criança”; por isto mesmo,
durante muito tempo foi associada apenas à educação de crianças. Todavia,
com a evolução da civilização grega e a ampliação do propósito educativo
dos seus cidadãos, o significado de paideia altera-se e, compreendê-la é,
fundamentalmente, conhecer a concepção de educação do homem grego.
Ou seja, o homem não mais o indivíduo na coletividade do grupo, sem
autonomia , pois essa era a do grupo; o novo homem tem identidade própria,
é senhor de sua razão, é um homem numa dimensão de existência ideal da
humanidade, aliás, a paideia projeta a formação de uma humanidade superior
em cultura e civilidade.
Para Marrou

paideia vem a significar a cultura não entendida no sentido ativo,


preparatório de educação, mas no sentido perfectivo que a palavra
tem hoje entre nós: o estado de um espírito plenamente
desenvolvido, tendo desabrochado todas as suas virtualidades, o
do homem tornado verdadeiramente homem(...) (1975, p. 158-159)

Percebe-se pela definição do autor, o caráter ideal de uma educação


que forme igualmente o homem ideal. É importante destacar que essa ideia
da paideia foi assumida pelos gregos de tal forma incorporado na sua “alma”
que mesmo fora de seus domínios territórios o espírito da paideia manifesta-
se. É o que nos acrescenta o autor

por toda parte onde aparecem e se instalam gregos, quer nos


povoados do Fayum, para onde os Ptolomeus levam uma
colonização militar, quer na Babilônia, quer na longínqua Susiana,
vemo-los logo implantar suas instituições, seus estabelecimentos
de ensino, escolas primárias e ginásios. É que a educação tem
para eles uma importância primordial: isolados nessa terra
estrangeira, querem, antes de tudo, apesar da influência do meio,
conservar para seus filhos o caráter de helenos ao qual se apegam
acima de tudo (...) (MARROU, 1975, 160)

48
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Por fim a noção de paideia não foi construída na fase do surgimento


dos sofista e filósofos é nessa época, que ela se afirma e se reafirma alterando-
se inclusive; o que marca, segundo Cambi (1999) a passagem da educação,
como prática simples, para a pedagogia, o pensamento reflexivo sobre a
educação.

2.3.1.2.3 A educação helenística

A fase da educação grega denominada helenística corresponde a


uma época em que as cidades-estados começam a perder sua força,
culminado com a constituição do Império de Alexandre (século IV a.C), onde
Atenas perde o seu papel hegemônico e passam a ter importância cultural e
econômica cidades como: Rodes, Pérgamo e, sobretudo, Alexandria, no Egito.
Corresponde à fase em que ocorre a hegemonia da cultura grega por todo o
mediterrâneo difundindo-se uma valorização da concepção do humano. Para
Cambi(1999) trata-se de uma época em que se delineia um cultura mais
científica, em se desenvolve a ciência física, a filosofia, ampliam-se os estudos
na área da astronomia, geometria e matemática. O helenismo é, por fim,

uma grande época da cultura antiga que chega à maturidade em


torno de uma crise (da relação entre indivíduo e o Estado) e de um
crescimento (ao mesmo tempo científico e humanístico) da cultura,
a qual vem se modelando segundo a tradição grega, de modo que
esta se torna patrimônio comum do Mediterrâneo e momento de
unificação e de maturação de toda a civilização antiga.( p. 94)

A citação do autor traz outra característica atribuída ao helenismo,


como a fase resultado da fusão de culturas de diversos povos da época, mais
especificamente os conquistados (os gregos) e os conquistadores (como por
exemplo, os macedônicos).
A educação nessa fase deixa de ser uma iniciativa particular e passa
a ser assumida pelo poder público sendo que a primeira fase, a elementar é

49
História da Educação

responsabilidade das cidades e a efebia permanece com o Estado. O ensino


privado continua existindo que funcionam com a retribuição dos alunos; o que
permite a elevação da função do pedagogo.
Outra alteração da fase helênica, em relação às anteriores, é em
relação ao valor atribuído ao tipo de conhecimento. Embora permaneça como
parte da cultura grega a valorização da educação física, a preparação do corpo
belo e saudável, há uma redução desse aspecto enquanto conteúdo de estudo
e atribui-se maior importância à educação geral, pautada em mais
conhecimentos teóricos. Assim, desenvolvem-se mais ensino secundário e o
superior. O secundário através da escola do grammatikos, onde se estudam
os clássicos, os poetas líricos e dramáticos, os historiadores e, embora com
menor intensidade, as ciências matemática e astronomia. Já o ensino superior,
ao qual os efebos eram submetidos, perde o caráter de formação militar em
prol da formação geral e científica oferecida nos colégios e academia de
Atenas. Neles, estudam-se fundamentalmente a retórica, filosofia e as ciências.
É nessa época que há a substituição do ideal da Paideia pelo da enciclopédia
e constituição de uma espécie de currículo que será referência no ocidente
por muitos séculos: o trivium composto pelo ensino de gramática, retórica e
dialética; e o quadrivium
incluindo aritmética, música,
geometria e astronomia.
Quanto ao processo de
ensino, segue a metodologia da
rígida disciplina típica da
educação da época assim como
a repetição e memorização. Os
castigos na escola elementar,
assim como na secundária e nas Ilustração de uma aula. Observe as crianças sentadas com
suas tábuas de escrever e outra sendo punida com auxílio dos
oficinas artesanais são parte do próprios colegas.
cotidiano, como atesta a citação http://www.google.com.br/images

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de Cambi (...) “Também nas oficinas artesanais se ensina através da imitação


e da observação, mas com uma dura disciplina exercida com o”chicote de
boi” ou a “cinta de couro”, presentes na mesma escola”.(1999, p. 99).

2.3.1.3 O surgimento da Pedagogia: os sofistas e os filosófos

Como se observou a partir da abordagem da educação grega que


esta alcançou alto grau de organização sendo referência para diversas
sociedades. A Grécia representa, porém, não somente um modelo de
educação Mas também o local onde, primeiramente, se fez a reflexão sobre
essa educação, ou seja, se a Pedagogia é a reflexão sobre a prática educativa
é entre os gregos que se desenha um projeto de ciência pedagógica; tanto na
origem da palavra (pedagogo), mas também porque é a partir do trabalho
dos sofista e dos filósofos, com o nascimento da filosofia, que se faz reflexão
sobre a atividade educativa desenvolvida em as sociedade.
Aranha (1996, p 41) afirma que “a Grécia clássica pode ser
considerada o berço da pedagogia (...) são os gregos que, ao discutir os fins
da paideia, esboçam as primeiras linhas conscientes da ação pedagógica e
assim influenciam por séculos a cultura ocidental”. É com o pensamento dos
sofistas e de Sócrates que a noção de paideia se afirma e cm ela a passagem
explícita da educação para a pedagogia, e uma dimensão pragmática da
educação para uma dimensão teórica(CAMBI, 1996). As ideias, dos pensadores
não são ainda teorias pedagógicas, mas trazem as questões essenciais acerca
dos fins, o para que e o como da educação. Essa pedagogia iniciante será
apresentada a partir das ideias dos sofistas e alguns filósofos.
Os sofistas
Conforme já mencionado, os sofistas eram professores que atuavam
de forma livre ensinando os cidadãos atenienses oratória e retórica em troca
de pagamento feito pelos próprios alunos. Sofista deriva de sophos, sábio;
portanto, sofistas eram aqueles professores que ensinavam sabedoria. Esses

51
História da Educação

professores de sabedoria surgem na segunda metade do século V a.C na


Grécia, em um contexto social onde se acentuam as características
democráticas e a necessidade de uma educação diferente da educação
tradicional grega que preparasse os jovens para atuarem como legítimos
cidadãos atenienses e, especialmente, para atuarem como políticos.
Propondo-se a ensinar todo o tipo de conhecimento, sobretudo, aquilo que se
diferenciava da educação tradicional, o que incluía desde conhecimento sobre
fenômenos naturais, política, instituições sociais, retórica, dialética e gramática,
os sofistas arrebanharam um grande número de alunos e, ao mesmo tempo,
despertaram antipatia e críticas de outros sábios, os filósofos, em virtude de
seus métodos de trabalho, o que contribuiu para construção de uma visão
negativa dos sofistas como enganadores e oportunistas.
Todavia, é preciso destruir o preconceito criado em torno dos sofistas
(CAMBI, 1996; LUZURIAGA, 1987, MONROE, 1988). Para Luzuriaga “são
eles, em verdade, os primeiros professores da história. Seu descrédito veio
de que, como se disse, foram contra a educação tradicional, perceberam pelo
ensino e deles os houve de caráter arbitrário e fraudulento”(p. 45). Outra
expressão dos sofistas está em Monroe

No sentido mais amplo, os sofistas eram professores gregos,


raramente filhos de Atenas, que viam os defeitos da organização
educacional existente em Atenas e ofereciam ao jovem da cidade
a educação pela qual todos clamavam e que os preparava para
uma carreira de engrandecimento pessoal da vida política e social
da época.( p. 54).

Aqui já se acrescenta outra grande contribuição dos professores


sofistas, a preocupação com uma formação profissional, uma carreira ( no
caso a de político e jurista), o que os torna os primeiros a esboçarem uma
educação profissional.
O trabalho dos sofistas para a educação/pedagogia deve ser
reconhecido também por outros aspectos como a supervalorização da
dimensão humana, e de um homem composto de uma individualidade que
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pode evoluir. A ideia de virtude, a areté grega, é por eles percebida não como
um mérito da nobreza aristocrática assim, a virtude do homem grego pode
ser ensinada, ou seja, constitui-se aqui a ideia de que todos podem ter acesso
aos cargos e postos mais altos da política, do governo, desde que sejam
preparados, ensinados, concordando nesse aspecto com Sócrates. Para tal
propõem uma organização, espécie de currículo, composto das já citadas
gramática, retórica e dialética e modos eficazes de obter êxito na intervenção
formativa e na política. Por fim são ainda considerados os criadores do
intelectualismo na educação, ou seja, uma educação que extrapolava a
educação física, a musical e cívica grega.
Por certo houve aqueles se aproveitaram da conjuntura em formação e
do desejo de liberdade reinante entre os gregos que se adquiria com o
conhecimento racional, para assim cobrar altos valores por suas aulas e ensinar
meias verdades. Por isto mesmo são considerados como grandes representantes
da sofística: Protágoras de Abdera, Górgias de Leontinos, Hípias de Élis e para
citar outros de menos conhecidos: Antífon, Trasímaco, Pródico e Hipódamos.

A filosofia
O conjunto de transformações ocorridas por toda a antiguidade e, de
forma mais precisa a escrita, a moeda, leis, a pólis que favorece a criação da
política, culminaram com o surgimento da filosofia por volta do século VII a.C.
A filosofia registra também um período em que a população já não se orienta
apenas pela fé mítica, mas pela crença na razão e capacidade humanas, diz-
se portanto, que o início da filosofia representa uma separação com o mundo
mítico. Dos grandes filósofos da época, para o estudo da educação/pedagogia
considerar-se-á o pensamento de Sócrates, Platão e Aristóteles.

Sócrates
Sócrates é considerado um dos maiores educadores do mundo antigo
e uma referência histórica em matéria de educação até os dias atuais.

53
História da Educação

Educador, filósofo, pensador de uma época florescente, viveu entre 469-399


a.C, e teve uma existência exemplar: cívica, moral e intelectual.
Foi contemporâneo dos sofistas, suas ideias identificavam-se em
alguns pontos, mas divergiam na quase totalidade do pensamento. De início,
enquanto, os sofistas se identificam como professores que cobravam alto por
seus serviços, buscando conquistar alunos de cidade em cidade e ensinando
conhecimentos pragmáticos, Sócrates era um educador por excelência, não
aceitava pagamento pela educação e condenava os sofistas por fazê-lo, os
alunos é que o perseguiam atrás de sues ensinamentos que, em essência,
eram de caráter moral e questões acerca da finalidade da vida.
Sócrates era um sábio, na verdade “o homem mais sábio” de acordo
com o oráculo de Delfos. Ele não se considerava assim, mas a predição serviu
como estímulo para testar o seu conhecimento e o daqueles que se diziam
sábios; o que o leva a concluir que o princípio da sabedoria é o reconhecimento
da própria ignorância. A sua frase “só sei que nada sei” é emblemática e
marca o início da superação da ignorância disfarçada por vezes em ideias
pré-concebidas que se distanciam da verdade.
Criou uma maneira própria de alcançar a verdade, o conhecimento,
base de toda ação virtuosa, ou seja, só poderá ser verdadeiramente virtuoso
o homem provido de conhecimento. Portanto, conhecimento é virtude e pode
ser desenvolvida, pois “todo indivíduo tem em si mesmo a capacidade de
conhecer e apreciar” e “ o conhecimento é requisito prévio da ação livre em
todas as artes” e não pode ser adquirido apenas aceitando-se as opiniões e
informações, mas pela busca da verdade universal.(MONROE, 1988). Na
busca desse conhecimento verdadeiro é criado o método socrático, composto
de duas etapas. A primeira chama-se ironia (eironeia), consiste em perguntar
algo ao interlocutor, fingindo ignorar; por meio de hábeis perguntas faz-se o
interlocutor perceber o erro de suas ideias e descobrir a própria ignorância;
essa etapa é considerada destrutiva dos erros. A seguir vem a maiêutica
(maieutiké, relativo ao parto), através de arguições fazem-se nascerem as

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ideias corretas; processo construtivo do saber. Essa é a essência do famoso


diálogo socrático ou o método socrático que visa, sobretudo, fazer o sujeito pensar.
A importância pedagógica do diálogo é destacada por Luzuriaga ao
destacar que
Esse processo de fazer as ideias “nascerem” dos indivíduos inspirou
concepções educacionais desde a antiguidade à fase moderna. É um método

o aluno é estimulado a pensar, a descobrir as coisas por si, por


formativa, não receptiva. Tem também aspecto indutivo, já que se
parte de fatos ou ideias concretas, particulares, para chegar a
uma conclusão geral, expressa numa definição. Finalmente, tem
a vantagem da vivacidade: ao contrário do aprender frio da palavra
escrita(...).( 1987, p 49)

dialético, valorizado na formação filosófica, mas que apresenta algumas restrições


no estudo das matérias como ciências, história e literatura nas quais o
conhecimento não é dado a partir da experiência do indivíduo. (MONROE, 1988).
Assim como os sofistas, Sócrates defendia que a educação deveria
oferecer os novos conhecimentos exigidos pelas novas gerações, mas ao
contrário daqueles, não concebia a formação desses jovens apenas como
informações, opiniões (doxa) e sim a busca do verdadeiro conhecimento
(episteme) que traria em si, inevitavelmente, uma formação moram. Por isto
mesmo, a sua educação é chamada de intelectualista. Outra contribuição
socrática à educação é dimensão psicológica da mesma manifestada no valor
atribuído à personalidade humana, sem a perspectiva individualista, mas a
personalidade humana universal como sendo a finalidade da educação.
Monroe sintetiza as contribuições de Sócrates para a educação em
três pontos:

1º o conhecimento possui um valor prático ou moral, isto é, um


valor funcional, e consequentemente é de natureza universal e ao
individualista; 2º o processo objetivo para obter-se conhecimento
é o de conversação; o subjetivo, é o de reflexão e organização da
própria experiência; 3º a educação tem por objetivo imediato o
desenvolvimento da capacidade de pensar, não apenas o de
ministrar conhecimentos. (p. 61)

55
História da Educação

Por fim,

tão importante, porém, como as ideias de Sócrates, ou ainda mais


importante, é sua vida, sua atividade educativa e a repercussão
que teve nos outros dois grandes filósofos da Grécia, Platão e
Aristóteles, que o consideram como mestre e inspirador. Sócrates
foi, com efeito, principalmente, mais que pedagogo, educador.
(LUZURIAGA, 1987, p 50)

Sócrates, no momento de sua morte. O célebre


filósofo foi condenado à morte tomando cicuta. Ele
foi acusado de má influência sobre a juventude
http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/
momentos/escola/paideia/images
Platão
Platão, discípulo de Sócrates, nasceu em 428 e morreu em 347 a.C.
Ao contrário do mestre que não deixou obras escritas, Platão sistematizou
toda a concepção de educação socrática e, é através das suas obras que se
conhece o trabalho de Sócrates. De origem aristocrática interessou-se por
política o que terminou por nortear a construção de sua teoria filosófica, base
de proposta pedagógica.
A filosofia platônica é idealista, ou seja, para ele as ideias são a
essência da realidade e o mundo sensível oferece apenas uma compreensão
parcial, equivocada das coisas e dos fatos. As ideias são, assim, um modelo
que precisa ser atingido por meio do conhecimento. Platão explica seu mundo
das ideias através do mito da caverna, relatado em uma de suas obras, A
República. Segundo esse mito, homens estariam acorrentados em uma
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caverna, de costas para a entrada onde há uma fogueira; o que esses homens
vêem é apenas as sombras projetadas pela fogueira. Caso um homem se
soltasse e conhecesse a realidade diretamente e voltasse para relatar aos colegas
como são as coisas, os objetos, estes não acreditariam nele, posto estarem
acostumados apenas com a realidade que lhes chegavam pelas sombras.
Segundo Aranha (1996), o mito da caverna pode ser analisado sob
seus aspecto epistemológico (do conhecimento) e o político. No primeiro
aspecto, o acorrentado é o homem comum, dominado pelas paixões e
impressões do mundo sensível e só alcançam um conhecimento imperfeito
da realidade e dos fenômeno; não passam portanto de doxa (opinião). O
homem que se liberta das correntes é o filósofo, que foi capaz de atingir o
verdadeiro conhecimento (episteme), desprendendo-se do mundo real, quando
a razão extrapola o mundo sensível e atinge o mundo das ideias, que o mundo
verdadeiro e onde as coisas existem perfeitamente. Quanto ao segundo
aspecto, político, o filósofo, que alcançou o conhecimento, tem obrigação
de orientar ao outros homens na condução de suas vidas. A autora destaca
que essa dimensão é essencialmente pedagógica na medida em decorre
daí a preocupação de como influenciar aqueles que não conseguem ver e
guiá-los na direção certa.
É importante frisar que no mundo das ideias de Platão, a ideia mais
importante é a do “bem” comum e, aliada à moral, justiça e ética. Assim
como para seu mestre, o fim da educação era a formação moral do homem e
o Estado é quem deve responsabilizar-se por essa formação. Platão propõe
uma organização da educação a partir da concepção dos tipos individuais e
por classes. Para ele o indivíduo é composto de três partes: a dos apetites ou
instintos( irracional e biológico); a do valor ou desejo combativo; e a racional,
ou espiritual. A cada uma delas corresponderia respectivamente as classes
dos produtores ou trabalhadores, a dos guerreiros e a dos governantes.
Todavia, o pertencimento de um indivíduo a uma ou outra classe social
era definida “por meio de um sistema de educação que descobre e desenvolve

57
História da Educação

as qualificações do indivíduo para filiação na classe a que a natureza o


destinou, consegue-se alcançar a virtude, no indivíduo, e a justiça na
sociedade” (MONROE, 1988, p 64). Essa perspectiva da educação platônica
é sem dúvida revolucionária para época; a concepção de justiça social a
partir da educação e mobilidade social inexistente nas sociedades
monárquicas surgem nessa concepção. A organização da educação de início
não difere muito do modelo grego anterior. Inicia-se aos sete anos com
ginástica, música e literatura prosseguindo até os 18 anos, , quando inicia-
se a efebia, formação cívico-militar. A partir de então ocorre a educação
superior para aqueles que se mostrarem mais capazes, onde se estuda
matemática e filosofia. Dentre estes serão escolhidos os governantes que
deverão continuar estudando até os 50 anos para tornarem-se verdadeiros
sábios e governar com justiça para o bem de todos. Destaca-se nessa
proposta a defesa de uma educação igual para ambos os sexos, sendo o
primeiro defensor da educação feminina, e totalmente sob a responsabilidade
do Estado.
Platão diferenciou-se do seu mestre em suas práticas: conseguiu
organizar o ensino, produziu estudos sistemáticos sobre diversos temas, fundou
uma academia de estudos superiores onde atuou por 40 anos recebendo
pessoas ilustres da sociedade ateniense para estudos em política e filosofia,
utilizando o diálogo socrático, porém de forma mais sistematizada, para fins
determinados. A concepção de educação platônica aparece em diversas de
suas obras, mas está registrada, sobretudo, nas obras A República e As Leis.

Aristóteles
Aristóteles viveu entre 384 a 322 a.C e, ao contrário do que se pensa,
não era grego. Discípulo de Platão estudou em sua Academia por 20 anos,
abandonando-a após a morte do mestre. Viajou para a Macedônia onde foi
preceptor de Alexandre Magno. Posteriormente, ao regressar para Atenas
fundou uma escola em um bosque que era dedicado a Apolo Lício, daí Liceu.

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Embora discípulo de Platão, o pensamento de Aristóteles diverge em


muito do mestre. A filosofia aristotélica era realista; enquanto para o mestre
as coisas existem verdadeiramente no plano da ideias, idealismo, sendo a
realidade objetiva apenas uma sombra desse mundo ideal, Aristóteles,
acreditava, também, que as coisas estão em constante movimento mas que
os conceitos e os movimentos podem ser explicados a partir deles mesmos,
ou seja, explica-se o mundo objetivo conhecendo-se esse mundo em
profundidade. Essa forma de pensar marca decisivamente suas atividades,
pois torna-se um observador da natureza chegando a classificar centenas de
espécies animais em uma autêntica postura científica, importante à concepção
pedagógica.
Assim como os seus antecessores defendia que o objetivo da
educação é o bem moral, que se traduz na felicidade.

Por felicidade Aristóteles entende a plenitude da realização do


humano no homem. Ora, para se ter o bem não basta conhecê-lo,
pelo saber, como queria Sócrates, mas há que partir dos atos, da
formação de hábitos, do domínio das paixões para chegar às
volições completas, racionais. (LUZURIAGA, 1987 p 56)

A plenitude da realização do humano está em concretizar as suas


capacidades. É nesse sentido que Aranha(1996) afirma existir no pensamento
aristotélico características da pedagogia da essência, na medida em que
busca-se a realização do que existe no homem em potência, sua essência.
Destaca-se também no pensamento de Aristóteles que não basta conhecer o
bem enquanto uma ideia, mas, sobretudo, praticá-lo.
De acordo com Aristóteles, o que permite a realização do bem no
homem é sua natureza, seus hábitos e a razão. A natureza já vem com o
homem, mas pode ser modificada pelo hábito e este por sua vez deve estar
regido pela razão. Para haver uma perfeita harmonia destes aspectos é que
atuar a educação sob três formas: a educação física, a do caráter e a
intelectual. Em linhas gerais ele pensa a educação, assim como Platão,

59
História da Educação

enquanto responsabilidade o Estado. A criança deveria ser educada até aos


6 anos pela família aprendendo regras morais e hábitos de higiene; a partir
daí o Estado assume a educação, mas a família continua a formação moral.
Essa educação segue até os 21 anos; período em que se estuda ginástica,
música e literatura com o objetivo de desenvolver bons hábitos e dirigir as
paixões. A educação superior abrangeria as ciências matemáticas (geometria,
física e astronomia), ciências biológicas e dialética. Paralelo a essa educação
ocorre a prática em cidadania que inclui atividades legislativa e judiciária com
fins práticos e intelectuais visando o supremo bem , a vida perfeita (MONROE,
1988).
Outro aspecto da obra desse filósofo/educador que deve ser
mencionado, foi a organização da lógica formal de pensar. De acordo com
Monroe, os métodos indutivo e dedutivo já existiam antes de Aristóteles, mas
foi ele quem melhor o sistematizou e o utilizou amplamente. Para o autor,
Aristóteles “representa a culminância da vida intelectual grega, (...) e é
considerado pai da ciência moderna por ter aplicado tal método a campos
completamente novos da investigação”. Goza ainda da reputação de ser o
homem mais culto de todos os tempos. Seu pensamento sobre educação
está exposto na obra “Política”.

2.3.2 Roma

2.3.2.1 Origem dos povos romanos

A história da constituição de Roma remete ao segundo milênio a.C


com a chegada dos italiotas ou itálicos à península. Eram pastores e
agricultores e, no início, constituíram uma comunidade primitiva com uso
coletivo da terra. Organizavam-se na forma de grandes clãs sob a autoridade
de um paterfamilias e, como a maioria dos povos antigos, rendem
homenagens aos antepassados. Por volta do século VII a.C, são colonizados

60
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pelos gregos na parte sul o que trará implicações na história da educação


romana.
A história desse povo costuma ser dividida em três momentos: a)
Realeza ( 753 a 509 a.C), caracterizado por uma aristocracia de berço,
organização da cidade e a divisão em classes sociais: os
patrícios(aristocratas) e os plebeus; b) República (509 a 27 a.C); cai a
aristocracia pelo nascimento e constitui-se a da riqueza, ascensão de alguns
plebeus e lutas por igualdade de direitos, inicia-se e é concretizada a política
de expansão romana com anexação da Grécia em 146 a.C; c) Império ( 27
a.C a 476 d.C), período de implantação do Império com Augusto, fase de
desenvolvimento cultural e urbano, surgimento do cristianismo, divisão do
Império em Ocidental (Roma) e Oriental (Bizâncio).

2.3.2.2 Educação romana

A sociedade romana teve como base a civilização etrusca considerada


pelos historiadores de grande desenvolvimento cultural e, talvez, educacional.
Então, a educação romana recebeu influência desse povo, mas também dos
gregos. Embora Grécia e Roma tenham uma constituição histórica parecida,
a educação entre elas apresenta semelhanças, existem muitas divergências
no modo de pensar e fazer a educação.
Não obstante a existência de uma vasta pedagogia romana, Luzuriaga
(1987) destaca vários aspectos acerca das contribuições da educação romana
para as épocas posteriores:

acentuação do poder volitivo do hábito e do exercício, com atitude


realista, ante a intelectual idealista grega; a necessidade do estudo
individual, psicológico do aluno; a consideração da vida familial, e
sobretudo, do pai no exercício da educação; em época mais
avançada, a criação do primeiro sistema de educação estatal,
estendida a educação para fora de Roma aos confins do Império.(p.
58-59).

61
História da Educação

De modo geral a educação romana é dividida em três fases: a


heróico - patrícia, a época da influência helênica e a da época imperial.

2.3.2.2.1 A educação heróico-patrícia

Essa forma de educação corresponde à primeira fase da República


de uma sociedade aristocrática, onde a nobreza era representada por
guerreiros e proprietários rurais, os chamados patrícios. Havia também os
plebeus que no início não possuíam direitos civis e políticos, mas os
conquistaram á medida que foram acumulando riquezas.
Nesse período, caracterizado pelo poder do pai, o paterfamilias, que
exercia o poder de um juiz e chefe religioso, a família era uma instituição
muito poderosa. A mãe tinha seu poder e o lar era o seu reino, submetendo-
se apenas ao poder do marido; a educação lhe era confiada e, ao contrário
da civilização grega em que a educação da criança era feita pelo escravo
pedagogo, em Roma é a própria mãe quem cumpre esta tarefa; na sua
impossibilidade a educação fica encarregada a uma “matrona”, mulher
respeitável, preferencialmente da família.
Marrou (1975) afirma que nenhuma outra sociedade atribui à família
a importância dada por esses romanos: a autoridade paterna e o respeito à
mãe.

Aos olhos dos romanos, a família é o meio natural em que deve


crescer e formar-se a criança. (...) em Roma não é um escravo,
mas a própria mãe quem educava seu filho. Mesmo nas maiores
famílias ela se honra com permanecer em casa para cumprir este
dever, fazendo-se criada dos seus filhos. (p. 361-362)

A criança fica sob o poder da mãe até os 7 anos. Se for mulher


permanece em casa para aprender as tarefas domésticas e o pai assume a
educação do menino. Este passa a acompanhá-lo na praça, nos tribunais,
nos eventos festivos, onde ouve relatos das histórias dos heróis

62
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antepassados, conhece a Lei das Doze Tábuas e desenvolve o patriotismo.


Em relação a essa Lei cumpre mencionar que não se referia à educação
propriamente, “mas à autoridade paterna, aos direitos de propriedade, aos
serviços religiosos, às obrigações políticas e militares e assuntos
semelhantes”.(MONROE, 1988 p. 83). Aprendia também as primeiras letras
além de preparação física para formação do guerreiro.
A partir dos 16 anos o jovem é encaminhado para formação militar,
no exército, após ter passado por ano de aprendizado da vida pública; para
essa tarefa escolhia-se um político experiente, amigo da família a quem o
menino passava acompanhava por alguns anos.
O conteúdo da educação romana dessa época era a educação física
de preparação pré-militar e jurídico-moral tendo por base a Lei das Doze
Tábuas, conforme mencionado antes. Aprendiam-se ainda conhecimentos
referentes à agricultura e cálculo necessários à função de proprietário rural.
Era uma educação mais prática e menos teórica, mais moral e menos
intelectual.

Era em suma, uma educação pela ação, para a vida, pela vida, e
sem escolas, posto que com professores particulares. Baseava-
se na vida nacional, na consciência histórica de Roma, em suas
tradições e em sua religião. (...) Os ideais, tomava-os da história
e dos heróis da própria pátria, e não da poesia épica, como foi na
Grécia; e nesses se acentuava o sentido do
patriotismo.(LUZURIAGA, 1987 p 60).

2.3.2.2.2 A educação sob influência helênica

As mudanças na educação romana do tipo familiar patriarcal para o


modelo subsequente acontecem como consequência de uma série de
mudanças econômicas e culturais como o desenvolvimento do comércio,
ampliação da força política dos plebeus e a expansão romana que trouxe
como consequência a presença maciça dos gregos em Roma e a
necessidade de uma cultura mais cosmopolita.
63
História da Educação

No começo da República, são criadas e ampliadas as instituições


escolares, de caráter particular, conhecidas como ludi magister, destinava-
se a crianças dos 7 aos 12 anos, para ambos os sexos, ensinavam
basicamente a ler, escrever, cálculo e música. Os professores eram mal
pagos e se reuniam com os alunos em suas casas ou em locais sem estrutura
como entradas de templos ou outros edifícios públicos. As pessoas mais ricas
tinham mestres ou preceptores, em geral gregos, que difundiam a cultura
helênica. A metodologia de ensino segue disciplina severa com uso de castigos
e memorização.
A partir do século III a.C a presença da cultura helênica em Roma se
torna mais forte. Como resultado é organizada a escola secundária, a do
gramaticus, iniciando-se aos 12 anos e seguindo até os 16 anos, onde
estudava-se gramática latina e grega, formação bilíngue, retórica, oratória,
as ciências matemáticas, além de iniciação ao falar e escrever bem. Monroe
(1987) salienta que a palavra gramática e, por consequência seu estudo,
tinha entre os povos antigos sentido diferente do atual, referindo-se aos
aspectos do domínio da língua (fala e escrita), mas também aos estudos
literários, o que poderia incluir, por sua vez, poetas, historiadores e escritores
científicos.
Essa formação enciclopédica, ao modelo grego, foi criticada por
educadores romanos que percebiam nessa prática educacional um
distanciamento das tradições romanas. Chegou-se ao ponto de alguns mestres
gregos serem expulsos de Roma sob acusação de afastarem os jovens de
seus costumes e tradições.
A escola superior romana surge da necessidade de aprofundamento
do estudo de retórica. Assim, por volta do século I a.C, é criada a Escola do
Retor (professor de retórica) “uma espécie de escola de direito, destinada à
minoria governante, inspirada na filosofia e, ainda mais, a retórica grega
influência grega foi a organização do ensino superior” (LUZURIAGA, 1987, p
62). Estudam-se ainda disciplinas como geografia, aritmética, geometria e

64
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astronomia, chamadas “disciplinas reais” e era costume enviar os jovens à


Grécia para estudos e treinos em retórica. Nas escolas superiores, ao contrário
da ludi magister, os professores gozam de prestígio e são bem remunerados.
De modo geral a educação física também é trabalhada, mas ao
contrário dão que acontecia na Grécia, objetiva as artes marciais e preparação
militar. Os jovens aprendem lutando em circos e anfiteatros.
Outro aspecto da educação romana pouco discutido nas obras que
tratam da História da Educação são as “escolas” preparatórias para o trabalho
manual ou escolas profissionalizantes. Apesar de toda a influência helênica
nessa fase e no helenismo não haver espaço para reflexão do trabalho manual,
uma vez que Grécia essa atividade era exclusividade dos escravos. Em Roma
dado o seu caráter prático organizaram-se escolas ou corporações dirigidas
às camadas subalternas voltadas à aprendizagem de diversas artes e ofícios,
muito embora com pouco sistematizadas, exerceu importante função pois em
Roma o trabalho de artesão e ofícios era exercido, sobretudo, por homens
livres que aprendiam técnicas diversas. De acordo com Cambi (1999, p. 115)

São técnicas ligadas, num primeiro momento, ao exército, e à


agricultura, depois ao artesanato, e por fim ao artesanato de
luxo e em vasta escala, que vai se complicando e se sofisticando
e reclamando também locais para aprendizagem de suas
especificidades: primeiro na oficina, depois junto a instituições de
formação profissional ligadas a uma formalização das artes. Diante
dessa exigência nova vem a constituir-se o paedagogium, “a
primeira verdadeira escola profissional”, destinada a especialização,
a partir da medicina.

Nessas escolas artesanais a autoridade do mestre era grande, havia


espírito de competitividade entre os discípulo, hierarquia de idade e
aprendizagem a partir da reprodução de modelos e competências. Destaca-
se que no paedagogium, ensinava-se também a alfabetização que destinava-
se à formação profissional. Os novos mestres eram formados nos collegia ou
corporações, onde eram submetidos a testes profissionais, treinamento e
rigorosa disciplina.
65
História da Educação

2.3.2.2.3 A educação no Império

O fase correspondente à educação no Império tem início no século I


a.C chegando ao início da era cristã e caracteriza mais pela organização do
que propriamente por apresentar um conteúdo e concepções novas para
educação. A partir dessa época o Estado começa a responsabilizar-se pela
educação com a criação de diversas escolas municipais onde o Estado faz
subvenções e certa fiscalização, mais tarde passa a legislar diretamente sobre
essas escolas. É preciso dizer que havia por parte do estado grande interesse
na ampliação da escolarização, pois o Império romano já havia alcançado
máxima extensão e precisava de funcionários do governo preparados para
garantir o funcionamento da máquina burocrática e trabalhar na administração
pública. Dentre as medidas do Estado que se relacionam a uma política de
educação do Estado podem ser citadas: o direito de cidadania aos mestres
em artes liberais - o que resolve o problema com os gregos, a desobrigação
de impostos para os professores de ensino médio e superior, criação de
cadeiras de retórica grega e mais tarde de filosofia custeadas pelo Estado,
estímulo a criação de escolas municipais por todo o Império e, na época de
Trajano, a criação de bolsas para estudantes mais pobres sob a forma de
“instituições alimentícias” (LUZURIAGA, 1987). A legislação posterior alcança
também as escolas particulares, definindo o valor a ser pago aos professores
bem como a pontualidade no pagamento.
A organização do ensino dessa época era semelhante ao anterior:
escola elementar, a ludi magister, escola média (do gramático) e estudos
superiores(do retórico). Em relação ao conteúdo pouca alteração, mas no
ensino superior além da retórica e filosofia, realizam-se estudos de medicina,
matemática mecânica e, principalmente, escolas de direito. É nessa época
que se desenvolve o conhecido Direito Romano e passa a existir uma formação
de quatro anos a cinco anos para ser jurista, atividade esta muito demandada
vez que o Estado necessitava deles nas diversas parte do Império. Os

66
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conteúdos da escola do gramático e do retórico se relacionavam; porém a


primeira visava o domínio da língua, e a segunda objetivava preparar os jovens
para a vida pratica de Roma, através da oratória que os conduzisse à vida
pública. Ao orador, no entanto, não bastava falar bem. De acordo Monroe,
para os romanos, as qualidades do orador incluíam:

conhecimento das coisas (adquirido por meio do domínio da


literatura), bom vocabulário e habilidade para fazer cuidadosa
escolha das palavras, conhecimento das emoções humanas e o
poder de despertá-las, elegância e urbanidade de maneiras,
conhecimento da história e da lei, boa dicção, boa memória. Além,
disto ele sustentava também que ninguém pode ser um orador
não sendo, primeiro, bom homem. (1988, p 87-88).

Percebe-se na concepção do orador romano uma extrapolação da


dimensão do filósofo grego, sobretudo por ter uma finalidade muito prática,
mas também, difere da proposta sofística pela moral nela embutida.
A preocupação com o aspecto físico do corpo tão presente na
educação helênica da qual a romana descende foi abandonada, restringindo-
se à preparação para a vida militar.

2.3.2.3 A pedagogia romana

Ao contrário da civilização grega que deixou para o mundo uma vasta


produção pedagógica, os romanos deixaram poucas obras e não tiveram
grandes pensadores. Não obstante, a sua concepção de educação é facilmente
identificada no pensamento dos seus representantes. Concepção esta que
nasce da ideal da Paideia grega, mas é modificado em virtude da perspectiva
mais pragmática dos romanos acerca da educação, da lógica imperialista,
da pretensão de uma cultura do homem universal (humanitas).
Dentre os representantes da Pedagogia romana, ganharam destaque
na sociedade da época: Catão, Varrão, Cícero, Sêneca, Plutarco e Quintiliano,
dentre outros. Seguem-se as ideias de alguns desses pensadores

67
História da Educação

Catão (234-149 a.C)


Catão é considerado o autor das primeiras obras romanas sobre
educação tendo escrito dois livros. Todavia, suas obras se perderam e
conhece-se mais acerca do seu pensamento a partir de outros autores.
Defendia radicalmente a educação tradicional opondo-se à influência do
helenismo na educação dos jovens romanos. Atuou rigorosamente na
educação de seu filho visando construir nele seu ideal de homem bom, justo,
com domínio da palavra e dos conhecimentos em agricultura.

Cícero (106-43 a.C)


É considerado o maior orador romano e dos pensadores de maior
influência na educação. Pessoa de grande cultura clássica, defendia o ideal
do homem universal. Cícero propunha a formação do orador com profundo
conhecimento filosófico, mostrando assim, a influência helênica em suas
pensamento, diferenciando-o de seus conterrâneos. O orador devia ainda estar
comprometido com o Estado, mas uma concepção de Estado que extrapola
a dimensão geográfica romana.
Para ele, a educação integral do orador requer cultura geral, formação
jurídica, aprendizagem da argumentação filosófica, bem como o
desenvolvimento de habilidades literárias e até teatrais, igualmente importantes
para o exercício da persuasão. (ARANHA, 1996, p. 63). Por essas ideias
Cícero é considerando o mais autêntico representante da humanitas romana.
Cícero escreveu três obras: O orador, A República e As Leis.

Sêneca (4 a.C- 65 d.C)


Filósofo, representante do estoicismo, atuou como educador,
preceptor de Nero. Enquanto filósofo, defendia a função de que a Filosofia
deve orientar o homem a buscar a “vida humana verdadeira”; o que implica
buscar dominar os desejos pessoais, as paixões dirigindo o ser para a
tranquilidade da alma, a felicidade. Advinda dessa concepção filosófica, a

68
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educação deve preparar o homem para o ideal de vida estóico: o domínio


dos apetites pessoais, com capacidade de autodirigir-se e reconhecer-se
com parte de um todo, de um mundo sustentado pela razão. O que ocorreria a
partir da ênfase na formação moral e, ao contrário da época, não valorizou a
retórica. (ARANHA, 1996; LUZURIAGA, 1987). O trabalho de Sêneca traz,
portanto, uma profunda dimensão ético-educativa, pautada na ética da
igualdade e do amor universal. (CAMBI, 1999). Concebe a educação em
uma perspectiva ativa ao afirmar que “mais prestes conduzem os exemplos
que os preceitos”; valorizou a psicologia ao defender que se conheça a
individualidade do educando.

Quintiliano (35 a 95 d.C)


Quintiliano tem uma história pessoal de sucesso como educador e
jurista. Filho de um professor de retórica nasceu na Espanha, mas foi morar
em Roma onde exerceu a função de advogado. Já com respaldo conquistado,
foi contrato pelo Império para assumir a cátedra de retórica grega e latina.
Lecionou por 20 anos, foi preceptor dos sobrinhos do Imperador Domiciano e
escreveu “A educação do Orador”; é o maior pedagogista romano.
Suas ideias sobre educação são bem claras, chegando a orientações
de cunho bem técnico, prático e menos filosóficas. Para ele a educação
começa na primeira infância, nos cuidados com a vida da criança na vida
doméstica; assim deve cuidar desde a escolha da ama e companhias que a
criança terá, pois as suas primeiras experiências marcarão sua vida. Defende
que a educação elementar ocorra em escolas e não no ambiente doméstico
com preceptores, pois acredita nos benefícios para a formação do menino, a
convivência com outros. Defende também que o professor deve conhecer a
índole da criança, que explore sua inteligência para maior êxito no educar.
Quanto ao método, propõe que se aprenda simultaneamente a ler e
escrever, que isso seja feito com figuras móveis, que se entenda o que se lê
e que, para tal, tenham-se bons mestres e recomenda que se alternem

69
História da Educação

momentos de trabalho com intervalos para recreio. Em sua concepção, isso


trará maior rendimento aos estudos. Observa-se como as ideias desse
pedagogo são contemporâneas, antecipando a constituição de diversas
teorias educacionais.
Na escola de gramática, defende que se aprenda a gramática,
redação, musica, matemática exercícios orais e físicos. Para Quintiliano o
estudo deve ser feito a partir de poetas clássicos gregos e romanos e a
linguagem deve ter correção, objetividade e elegância adquiridos através do
hábito. Após essa etapa da educação, o jovem deve seguir para a escola de
retórica (superior) devendo estudar aquelas disciplinas já citadas, mas sem
a filosofia.
Luzuriaga (1987) sintetiza a importância do trabalho de Quintiliano
pelos seguintes aspectos: a) reconhecimento do estudo psicológico do aluno;
b) valor humanístico, espiritual da educação; c) finura no ensino das letras; d)
reconhecimento do valor da pessoa do educador, do qual fez o primeiro estudo
psicológico da história da pedagogia. Sua obra De Institutione Oratoria,
composto de doze livros, é considerada a primeira exposição científica sobre
o problema da educação contendo fim, método e organização. É uma obra
descritiva e ao mesmo tempo reflexiva sobre a didática romana destinada
aos professores de retórica contendo técnicas para o ensino da retórica mas
também versando sobre educação em geral. Monroe (1988) salienta que
Quintiliano

não foi apenas o mais importante escritor sobre educação, mas o


mestre de maior êxito entre os romanos. Figurava entre os primeiros
retóricos que Vespasiano subvencionou e recebeu as mais altas
demonstrações de estima dos seus contemporâneos. Apesar de
ter enriquecido ensinando, ele não se considerava original mas
um resumo, em suas práticas, como mais tarde em suas obras,
dos melhores resultados de seus predecessores.(p.90)

A obra de Quintiliano influenciou não somente o seu tempo e o seu


lugar. Marcou também a Europa e a Idade Média.

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RESUMO

Esta Unidade apresentou a história da educação na antiguidade


iniciando com os povos primitivos, com uma forma educação difusa. As
sociedades orientais que tinham um nível de organização diferenciado, já com
a presença, dentre outras inovações cultuais, da escrita. Nessas sociedades,
o conhecimento vincula-se ao sagrado, restrito a poucos iluminados. Na
antiguidade clássica verifica-se que a Grécia, evoluiu de um tipo de educação
familiar, oral, acerca dos conhecimentos práticos sobre agricultura, passando
pela formação do homem inspirado nos ideais dos heróis homéricos, da
formação do guerreiro (Esparta), chegando ao ideal formativo do cidadão
grego, cujo padrão educacional, é a Paideia, do homem belo fisicamente e
bom, de moral ilibada, orador para bem exercer sua cidadania. É a época da
grande contribuição da filosofia e da sofística à educação. Roma partiu
também de uma cultura educacional familiar agrícola, porém com a presença
do paterfamilias. A família é o principal núcleo social e educativo; a mulher
ocupa relevante papel nesse sentido. A Roma Imperial conquista a Grécia,
mas é culturalmente dominada pelo helenismo grego que exerce grande
influência sobre a educação romana. O ideal grego de educação, a Paideia,
em Roma, no entanto, sofre algumas alterações em virtude do caráter
pragmático da sociedade romano. O ideal da humanitas romana busca formar
o orador que exercerá as funções públicas, dando assim, menos importância
à filosofia na formação dos jovens, bem como importa-se menos com a
educação física, restringindo-a ao aspecto militar.

SAIBA MAIS

1 Sobre a Pederastia
O processo de educação do jovem exigia que este acompanhasse
seu mestre por muito tempo nos diversos eventos sociais normalmente espaço

71
História da Educação

para discussões políticas e debates temáticos. Havia assim uma forte ligação
entre o mestre e seus discípulos. Era comum essa vinculação assumirem um
caráter afetivo erótico. Para alguns historiadores essa relação é marca
característica na pedagogia grega. A dimensão afetiva erótica na relação
mestre discípulo, não foi uma exclusividade das sociedades clássicas nem
tampouco tinha caráter meramente sexual. O livro de História da educação na
antiguidade de Marrou(1975) é uma das poucas obras que dedica um capítulo
exclusivo à discussão do caráter “pedagógico” da pederastia. O autor cita
que a “essência da pederastia não reside nas relações sexuais anormais(...)
ela é, de início, certa forma de sensibilidade, de sentimentalismo, um ideal
misógino de virilidade total.” (p 56). È, pois uma relação de amor, admiração
sempre de um amante mais velho com alguém mais moço. O autor acrescenta
“o desejo, no primeiro, de seduzir, de afirma-se faz nascer no segundo um
sentimento de admiração ardente e dedicada: o mais velho é o herói, o tipo
superior pelo qual é preciso modelar-se, a cuja altura procurará o outro, pouco
a pouco, alçar-se.” (p.57). É nessa relação de admiração e respeito que se
fortalece o sentido pedagógico da educação grega. Marrou ainda explica que
“a ligação amorosa acompanha-se, pois, de um trabalho de formação, de um
lado, e de maturação, do outro, matizado ali de condescendência paternal,
aqui de docilidade e veneração; é exercido livremente, pelo convívio cotidiano,
a vida comum, a iniciação progressiva do mais jovem nas atividades sociais
do mais velho: o clube, o ginásio, o banquete”( p. 58).
Acrescenta-se que se trata de um contexto no qual a participação da
mulher na vida social é quase inexistente sendo suas funções restritas à vida
doméstica e de reprodução. São poucos os casos de mulheres que
alcançaram uma educação dentro do ideal da Paideia. Ainda assim, a relação
erótica afetiva era admitida também entre mestra e discípulas. Por fim Marrou
conclui que a “opinião comum e, em Esparta, a lei considerava o amante
como moralmente responsável pelo desenvolvimento do amado: a pederastia
era reputada a forma mais perfeita, mais bela de educação”(p. 59).

72
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2 A educação feminina
Embora se saiba que a educação feminina na antiguidade foi
relegada à condição de esquecimento, restringindo-se ao aprendizado das
artes domésticas e preparação para o matrimônio, não se pode ignorar os
registros históricos acerca de uma educação feminina que foge ao padrão
de uma educação viril. O próprio Platão em sua cidade utópica já defendia
uma educação intelectual para as mulheres, todavia, sua obra não se
materializou em práticas educacionais e a experiência mais famosa sobre
educação das mulheres gregas que extrapolasse o convencional foi a realizada
na Ilha de Lesbos, sob a coordenação de Safo, poetisa, de origem
aristocrática, de inteligência admirável. Platão faz referências às suas
qualidades intelectuais. Há poucos registros acerca dessa educação, mas
sabe-se que na escola da mestra Safo as jovens moças aprendiam música,
dança, poesia oratória, bem equivalente ao ideal grego. Marrou(1975) mais
uma vez é quem fala da experiência da escola de Safo de Lesbos, embora
não tenha sido a única dessa natureza. Para ele tratava-se de “um
“Conservatório de Música e Declamação”: pratica-se aí a dança coletiva,
herdada da tradição minóica, a música instrumental, e sobretudo a nobre lira,
assim como o canto. A vida comunitária é ritmada por toda uma série de festas,
cerimônias religiosas ou banquetes.”( p. 63). Além disso, cuidavam do corpo,
por meio de exercícios físicos. Percebe-se aqui um tipo de educação valorizada
na Grécia antiga e não realizada por homens e para homens. Motivo pelo
qual, acredita-se, as dificuldades de registro, dado o caráter unilateral da
construção da história. O autor situa a discussão da educação em Safo
também pelo viés da uma possível pederastia feminina.

(...) também esta educação não deixa de ter sua chama passional,
pois entre mestra e discípula aperta-se o elo ardente de Eros. Na
verdade, é isto o que sabemos melhor a seu respeito, pois, em
última análise só percebemos toda esta pedagogia através do eco
das paixões experimentadas pelo coração de Safo, através dos
gritos lancinantes que a dor lhe arranca quando ela é apartada,
pelo casamento ou pela traição, de alguma de suas alunas e
amadas”.(MARROU, 1975 p. 63)

73
História da Educação

Sendo grande poetisa, Safo expressa através da poesia suas dores.


Poesia esta da qual, infelizmente, só há fragmentos; como no exemplo a seguir,
citado por Marrou (1975), apud Dídimo Calcêntero.
“ Eros de novo, este quebra-ossos, atormenta-me,
Eros amargo e doce, a invencível criatura,
Oh minha Átis! E tu, enfastiada de mim,
foges para Andrômeda.” (SAFO)

3 Sobre a mãe romana


O poder da mãe sobre os filhos aos quais havia dedicado suas vidas,
educando-lhes ensinando-lhes a tornarem-se grandes homens era grande. O
historiador Marrou(1975) relata uma anedota que representa esse “poder”. “A
influência da mãe marcava toda a vida do homem: donde o valor simbólico
que a tradição ligava ao famoso episódio de Coriolano, revoltado contra Roma
e marchando sobre a cidade, à frente dos volscos: nem os rogos dos
embaixadores do povo romano, nem os dos sacerdotes puderam detê-lo, mas
ele cedeu às censuras de sua mãe” (p. 362).

LEITURA COMPLEMENTAR

• Para aprofundar acerca da educação clássica grega e romana leia os


capítulos III e IV do livro História da educação de Paul Monroe.
• Acesse ao site http://www.mundoeducacao.com.br/educacaoantiga
• Acesse ao site http://www.pedagogia.com.br

ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM

1. Nas sociedades primitivas não há uma educação sistematizada. Explique,


então, como ocorre e qual o conteúdo da educação veiculada nessas
sociedades.

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2. Explique por que as sociedades orientais antigas são caracterizadas,


fundamentalmente, como tradicionais?
3. Explique a relação existente entre a escrita e o poder nas sociedades
orientais antigas.
4. Faça um quadro sinótico da educação nas sociedades orientais constando:
função da educação, responsáveis, conteúdos abordados, forma de
abordagem (metodologia), quem tem acesso.
5. No que a sociedade hebréia se diferencia das demais sociedades orientais
e qual seu principal legado à cultura ocidental?
6. Explique por que o surgimento da filosofia pode ser considerado uma marco
divisório entre as sociedades antigas tradicionais e as sociedades clássicas.
7. A concepção de educação grega é construída na em torno da ideia de
Areté que vai sendo alterada à medida que a sociedade evolui. Mostre a
evolução dessa concepção de educação a partir do guerreiro homérico à
Paideia, destacando as principais diferenças desse ideal em Atenas e Esparta.
8. Explique o ideal de educação da humanitas romana.
9. Faça um paralelo entre e o pensamento pedagógico grego e o romano.
10. Faça uma descrição dos principais pontos de divergência entre os filósofos
e os sofistas.
Para refletir: A educação na antiguidade segue uma disciplina muito rígida
confirmada na fala de Cambi (1999, 99) “também nas oficinas artesanais se
ensina através da imitação e da observação, mas com uma dura disciplina
exercida com o “chicote de boi” ou a “cinta de couro”. Como pode ser explicada
tal rigidez nos métodos de ensino? Aos olhos contemporâneos, que leitura se
pode fazer acerca desse método?

Sugestão de filmes relacionados ao tema

• Helena de Tróia – Paixão e Guerra, 2003. Direção: John Kent Harrison.


• 300, 2006. Direção: Zack Snyder.

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UNIDADE 3
A EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA

OBJETIVOS

1. Analisar o período histórico conhecido como Idade Média, no que diz respeito
aos aspectos contextuais e educativos.
2. Compreender a atuação da religião cristã e da filosofia clássica como
norteadoras da educação no Ocidente, elementos que marcaram não só a
educação, bem como o próprio cotidiano social.
3. Reconhecer a importância desse período histórico para o surgimento das
universidades e das principais instituições de ensino que subsistem até nossos
dias.
4. Perceber esse período como essencial para compreensão de práticas
modernas de ensino, bem como para a afirmação e consolidação das ciências
atuais e do próprio conhecimento.
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3 A EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA

Apresentação

O objetivo desta Unidade é a análise do período histórico conhecido


como Idade Média, período que vai de 476 a 1453, portanto, muito extenso e
constituído de várias transformações sociais. Ao contrário da educação na
antiguidade clássica, conforme visto na Unidade II, desprovida de qualquer
vinculação religiosa, na Idade Média a norteadora da educação será a religião,
a qual marcará não somente a educação, mas o próprio cotidiano social. Não
obstante, inspira-se na filosofia grega e romana, bem como as matérias do
currículo medieval se baseia nas sete artes liberais gregas. É um período em
que se observa o fim e o ressurgimento das cidades, dos grandes impérios e
do próprio conhecimento clássico. Dividida em duas fases distintas, a Alta e a
Baixa Idade Média, esse é também o período de afirmação e de consolidação
do Cristianismo como força hegemônica no Ocidente.

3.1 Caracterização geral

A Idade Média foi o período histórico compreendido desde a queda


do Império Romano, até a tomada de Constantinopla pelos turcos (de 476 a
1453), portanto durou cerca de mil anos. Foi marcado particularmente pela
desagregação do Império Romano, pela invasão dos bárbaros e pela
crescente influência do cristianismo, notadamente da Igreja Católica. Segundo
Luzuriaga (1987, p. 71), “o cristianismo muda o rumo da história ocidental”,
sua influencia vai desde a religiosidade, passando pela assistência às famílias
até o poder temporal (o poder político de reis e nobres). O Cristianismo ainda
conviveu com o Império Romano por cerca de quatro séculos.
Para Cambi (1999), o cristianismo representou, na antiguidade, “uma
revolução da mentalidade, antes mesmo que da cultura e das instituições

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História da Educação

sociais e, depois, políticas também”. A valorização de características como


humildade, solidariedade, igualdade, amor universal, dedicação pessoal,
castidade, pobreza, etc., significam a reinvenção de valores como os da família,
baseada no amor e não na autoridade patriarcal. Além disso, inversão nos
valores do trabalho, não desconsiderando qualquer tipo, manual ou intelectual,
determinando a colaboração entre patrões, escravos/servos. Assim, nasce
uma nova concepção de mundo, originária de minorias marginalizadas, cujo
líder e exemplo maior havia sido condenado à morte na cruz – maior e mais
humilhante castigo entre os romanos. O autor (p. 125-6) afirma que, desde o
surgimento da Igreja existe o desenvolvimento de uma organização educativa,
que foi, paulatinamente, substituindo o poder do Estado.
Da desagregação inicial do Império Romano, que provocou o declínio
das cidades surgiu um fenômeno denominado ruralização da sociedade,
inaugurando o modo de vida baseado na sobrevivência em grandes
propriedades de terras, com um sistema de trabalho servil, baseada na relação
entre o dono da terra e seus moradores e na relação de vassalagem entre os
nobres; esse modo de vida ficou conhecido como Feudalismo. A sociedade
feudal é baseada numa relação de vassalagem, com senhores de terras,
nobres, obrigados por juramento de fidelidade a um senhor mais poderoso.
Juramento que os obriga a intervir nas guerras ou contendas patrocinadas
pelo senhor mais poderoso (rei) e obrigava o rei a intervir em favor de seus
vassalos (nobres). Nessa sociedade, a Igreja, através de seus representantes,
torna-se a principal figura de autoridade espiritual e legitimava o poder dos
nobres.
Segundo Aranha (1996, p. 70), como a condição social era garantida
através da relação com a terra, somente o clero e a nobreza “têm poder e
liberdade”. O clero surge como elemento agregador, no lugar dos impérios,
dominando a sociedade através da fé. De instância de poder espiritual a Igreja
Católica vai, paulatinamente, tornando-se um poder político e os reis bárbaros,
para garantir validade ao seu poder, acabam se convertendo ao cristianismo

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e sendo coroados pelo Papa – cujo exemplo mais emblemático, segundo


Aranha (p. 70), é a “coroação do Imperador Carlos Magno pelo Papa Leão III,
no ano 800”.
Na Europa e norte da África, quase a totalidade do conhecimento
dessa época foi guardado e preservado pelo clero, em monastérios e igrejas.
Praticamente os únicos letrados são os clérigos (monges, padres e
professores), sendo que alguns viviam enclausurados em mosteiros. As
instituições de ensino limitavam-se à formação do clero (vocacionados a
serem padres).
A reorganização social e o estabelecimento de novos reinos bárbaros
conduzem lentamente à ampliação das cidades, ou burgos, e aos poucos vão
sendo criadas escolas. Nos séculos XII e XIII são criadas as primeiras
universidades, também impulsionadas pelo ressurgimento das cidades e o
nascimento da burguesia.
Por tratar-se de um período muito longo da história, tem-se uma
evolução lenta e gradual tanto da educação quanto das instituições
educacionais. Ao contrário do mundo não-cristão, mulçumano e de outros
matizes culturais, onde há um período de grande efervescência cultural. Os
árabes serão as figuras centrais dessa efervescência, fornecendo, inclusive,
conhecimentos para a Europa, principalmente sobre a matemática e os
grandes filósofos gregos da antiguidade clássica.

3.2 A influência religiosa na educação

No período medieval, a educação foi desenvolvida pela Igreja, com


base na fé cristã e divulgada nas instituições religiosas, as únicas com
autoridade dada pelos governantes, os nobres, para formar mestres –
autoridade dividida apenas no campo das profissões, em que os “mestres-
de-ofícios” eram autorizados a ensinar nas corporações profissionais. Os
ideais de homem e sociedade eram determinados pela Igreja, a qual

81
História da Educação

repassava tais ideais para as novas gerações, influenciando tanto o povo,


quanto as classes privilegiadas, os nobres. Tais modelos eram “naturalmente”
diferentes uma vez que Deus havia constituído uns para governar, os senhores
nobres e outros para serem governados, o povo, os servos. Essa dualidade,
ou seja, uma forma de educação para ricos e outra para pobres, não era vista
como problema, pois, no mundo antigo, isso era encarado como uma ordem
divina, não era injusta.

3.2.1 Etapas da História da Educação no Medievo

O estudo da educação na Idade Média, sob alguns aspectos, pode ser


feito relacionando-o com a educação na Grécia Antiga. Especialmente no que se
refere aos conteúdos de estudo. É que o conjunto de disciplinas que caracterizam
o currículo medieval provieram das sete artes liberais, próprias do homem livre,
que foram modificadas conforme as perspectivas da nova época.
A necessidade de instrução levou os cristãos, inicialmente, a frequentar
as escolas pagãs de Gramática e Retórica, pois estas eram as únicas a
garantir o acesso à participação nos cargos públicos. Esta situação durou até
por volta do século V, com o embate entre o cristianismo e o mundo clássico,
porém, a escola humanista do helenismo sobreviveu através da assimilação
de seus conteúdos nas futuras escolas ocidentais. Como instituição de ensino,
foi mantida a forma clássica, os três graus de ensino – elementar, secundário
e superior – assim como o currículo, por vários séculos.

3.2.1.1 Fase Patrística

Também chamado de período apologético, foi marcado pela ênfase


na religião e na necessidade de converter os pagãos. A educação era
concebida como parte desse esforço teórico na busca de conciliação entre a
fé e a razão, na busca da virtude maior que é o conhecimento de Deus, através

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de uma vida moral irrepreensível. Além dos chamados “pais da Igreja”, o maior
representante dessa fase é Santo Agostinho (354-430). Africano nascido na
cidade de Tageste, na Numidia, foi sagrado sacerdote e lecionou, depois,
partindo para o centro do mundo cristão, Roma, onde também lecionou,
terminou por tornar-se bispo de Hipona, na África. Adotando, inicialmente,
uma postura maniqueísta, ou seja, que contrapõe sempre dois lados, o bem e
o mal, acaba por abraçar a filosofia platônica que usa para alicerçar a filosofia
cristã. Para Santo Agostinho Deus é poder racional infinito, eterno, imutável.
Como filosofia moral, o cristianismo é considerado caminho único
para solucionar os problemas, somente Deus e a alma, poderiam solucionar
as questões humanas – poder negado ao homem ou à natureza. O
conhecimento é possível graças à iluminação divina, segundo Aranha (p.72),
“Deus ilumina a razão e torna possível o pensar correto”. A construção do
conhecimento, portanto, não está baseada na relação mestre-aluno, pois o
homem é incapaz de ensinar algo correto, mas acontece pela “auto-educação”,
provinda da iluminação divina.

http://www.google.com.br/images

3.2.1.2 Os Enciclopedistas

Santo Agostinho antecipou a necessidade de reunir, numa só obra,


todos os conhecimentos necessários à interpretação e ensino da Bíblia. Foi
ele que traçou, em suas obras, o caminho do que ficaria conhecido como

83
História da Educação

“enciclopedismo medieval”. Aproveitando-se da arte do discurso, a dialética,


usar eloquência para o serviço da salvação, pela discussão das questões
tratadas na Bíblia.
O enciclopedismo teve dois períodos, o primeiro na Baixa Idade
Média, quando a enciclopédia ainda procura conservar o patrimônio cultural
romano, tentando evitar seu desaparecimento e, ao mesmo tempo, aponta
para a necessidade de construção de um novo mundo cristão. O objetivo da
cultura e do ensino passa a ser o de formar o cristão que porá ao serviço da
interpretação da Bíblia todos os recursos da cultura antiga. A doutrina cristã é
ensinada e pregada pela aquisição da sabedoria e de habilidades retóricas.
O segundo período, na Alta Idade Média, foi marcado pela relativa
autonomia ganha pela enciclopédia, em relação à manutenção do
conhecimento clássico, servindo de base ao inicio do renascimento cultural
europeu. A Europa sai lentamente das convulsões sociais provocadas pelas
invasões bárbaras e o fim do Império Romano.
O impulso inicial para a retomada da educação medieval foi dado
pelas reformas no ensino do imperador Carlos Magno, direcionadas por
Alcuíno (738-804), conhecidas como Reformas Carolíngias. Surgem as escolas
monacais e catedrais, nos séculos X e XI. As publicações aumentam com o
desenvolvimento do movimento copista e de tradução de textos árabes e
clássicos. Os copistas eram monges que tinham como função copiar textos
e obras para divulgação, sobretudo, dos princípios religiosos. Essa atividade
era extremamente lenta e trabalhosa, o que dificultava a divulgação do saber.
Paralelamente às grandes transformações demográficas, sociais e
políticas, acontece uma inicial e tímida evolução científica e técnica, observa-
se o surgimento de novas atividades culturais. A enciclopédia aproxima-se
então daquilo que é hoje, da proposta inicial de ser uma exposição completa
para fundamentar teologicamente a doutrina, torna-se uma obra que busca a
totalidade do conhecimento, composta de conteúdos relativos à realidade e,
portanto, às disciplinas que tratam desses aspectos.

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A enciclopédia passa a servir como uma “vitrine”, o espelho que


refletiria essa época, serviria como uma projeção, mesmo que no espaço
limitado de algumas páginas, onde se daria uma descrição da totalidade do
mundo e da cultura.
A enciclopédia começa a integrar o fenômeno técnico, dando uma
crescente importância às ciências seculares, demonstrando que estava em
sintonia com o mundo ocidental, em plena evolução científica e técnica.
A organização do enciclopedismo medieval, inicialmente, tem como
característica fundamental, a forma disciplinar, utilizando, ainda, a estrutura
clássica das sete disciplinas, a soma do “trivium” (gramática, retórica,
dialética), e “quadrivium” (aritmética, geometria, astronomia, música).
Estabelecendo, entretanto, uma hierarquia de conhecimentos, ou seja, ao
contrário do enciclopedismo grego e latino que não dava muita atenção a
questões religiosas, este será marcado fortemente pelo conteúdo da religião.
Outra característica encontrada no enciclopedismo é a erudição, seu
caráter de compêndio, de reunião e compilação de informações provenientes
dos autores clássicos e cristãos. Não levando em conta a observação do
mundo, da realidade dos acontecimentos, isso distanciava muito o conteúdo
da realidade e das questões sociais. Sempre escrita em latim, que era a língua
universalmente utilizada pela Igreja, sua autoria era considerada individual,
embora só pudessem ser escritas com a ajuda de vários compiladores e
escribas. Os comentários pessoais ficavam restritos ao caráter moralizador
do texto, no mais, resumiam-se a simples conselhos.

3.2.1.3 A Escolástica

A Escolástica representa o ponto mais alto do pensamento cristão da


Idade Média, esse nome deve-se ao fato de, os professores que ensinavam
Filosofia, serem chamados “escolásticos”. Na Escolástica mantêm-se as
matérias do Trivium e Quadrivium e surge do especial desenvolvimento da

85
História da Educação

dialética. A dialética escolástica discorre sobre o divino, tenta penetrá-lo


usando os conhecimentos filosóficos, procura as razões necessárias dos
mistérios, buscando encontrar neles o racionalismo. Em oposição à escolástica
surge a tendência Mística, propondo outra forma de conhecimento, de
experiência do divino; o sentimento, a fé, a vontade, o amor, o êxtase, ao
invés do uso a razão.

3.2.1.3 1 O Renascimento Carolíngio – Educação e Cultura

A pretensão de Carlos Magno em dar unidade ao seu grande e


diversificado império passava pela tarefa de educar intelectual, moral e
religiosamente os povos bárbaros que o constituíam. Deste modo, restauraria
a civilização e a religião, a cultura clássica e o catolicismo e assim
desenvolveria seu império. Para tal, as escolas pareciam o melhor meio, e os
religiosos se apresentavam como os melhores mestres, pois eram os únicos
detentores da cultura e contavam com a admiração e o apoio do povo. No
projeto do imperador Carlos Magno, as escolas assumiriam um papel
complexo: inicialmente, formar mestres para as escolas, ou seja, religiosos
cultos; depois, educar o povo. Sua intenção pessoal era preparar uma classe
dirigente, especialmente, os funcionários do Império.
Nas normas dos primeiros mosteiros, as “Regras de São Bento”, que
ditavam sua forma de funcionamento, já previa a necessidade de escolas
monásticas. Aos poucos, surge e se disseminam, também, as escolas
episcopais, uma forma melhorada das escolas catequéticas dos cristãos
primitivos localizadas nas cidades. As Escolas Monásticas, que funcionavam
nos mosteiros construídos no campo, visavam, principalmente, à formação
dos futuros religiosos, e, depois, à formação dos leigos cultos que poderiam
ser mestres. Nessas escolas, ensinava-se tanto a religião quanto os rudimentos
das ciências seculares, leitura, escrita, o canto orfeônico e rudimentos de
aritmética.

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Um monge ensinando leitura.


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É necessário mencionar também como, no decorrer da história, nas


paróquias, são criadas as escolas paroquiais, destinadas a ensinar as
primeiras letras ao povo. O professor, que era o próprio padre responsável
pela paróquia, daí o sugestivo nome, recebia os alunos na casa. Até hoje temos
escolas ligadas, inclusive fisicamente, às igrejas, onde funcionam escolas
confessionais.
Além do apoio às escolas episcopais e monásticas, Carlos Magno
fundou em sua corte a escola palatina, considerada a primeira universidade
medieval. A política escolar de Carlos Magno foi elaborado pelo educador
Alcuíno (735-804), vindo da Inglaterra, na época considerada o país detentor
de grande cultura. Em 787, foram organizadas leis para regulamentação das
escolas, que perduraria durante toda a Idade Média. O programa de Alcuíno
abraçava as sete artes liberais, repartidas no trivium e no quadrivium. Sob a
direção de Alcuíno, nas Escolas Palatinas, ensinaram os homens mais
famosos da época, frequentavam esta escola o próprio imperador, os príncipes
e os jovens da nobreza. Outras escolas foram construídas, em seguida,
especialmente na França, todas nos moldes da escola palatina.
A educação militar era ministrada por militares e para militares, a Igreja
logo enquadrou a educação dos militares, imprimindo nela orientação ética,
religiosa, católica. Assim é que o feudalismo pode ser considerado
organização social, política, econômica, militar.

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História da Educação

3.2.1.3.2 As fases da Escolástica

Pode-se dividir a escolástica em três períodos, sendo figura central


São Tomás de Aquino (o Tomismo). O primeiro período, pré-tomista
influenciado pelo pensamento de Santo Agostinho, é direcionado pela filosofia
de Platão. O segundo é dominado pela figura de São Tomás de Aquino, que
imprimirá ao pensamento filosófico cristão as teorias de Aristóteles. Depois
de Tomás de Aquino, a escolástica declina como metafísica, principalmente
devido ao retorno ao pensamento agostiniano. Ao mesmo tempo, afirmam-se
tendências novas para a experiência e a realidade, representando o prelúdio
do pensamento moderno. Tal desenvolvimento da escolástica no sentido da
experiência e da realidade deve-se principalmente aos franciscanos ingleses
Roger Bacon, Duns Scoto, Guilherme de Occam. Essa fase é chamada pós-
tomismo.
a) A Escolástica Pré-Tomista
O valor dos conceitos, das ideias, chamado “problema dos
universais”, foi o problema filosófico que interessou à escolástica. Questionava
que valor tem os conceitos, que são universais, em relação às coisas que são
particulares? Esse questionamento é fundamental para a filosofia escolástica.
As soluções desse problema são três: realismo transcendente, baseado na
filosofia de Platão; realismo moderado, baseado na filosofia de Aristóteles
e; o nominalismo.
Para o realismo transcendente, o universal, a ideia de uma realidade
em si, não existe apenas fora da mente, mas também fora do objeto (universal
ante rem). Para o realismo moderado, o universal tem em si uma realidade
objetiva, mas é imanente nos objetos singulares. Corresponde ao pensamento
de Aristóteles, onde coincidem forma e conteúdo posição. A solução nominalista
afirma que o universal não tem nenhuma existência objetiva, mas apenas mental,
ou até puramente nominal. Os sofistas, estóicos, epicuristas, céticos, são os
defensores dessa posição no mundo clássico – coincide com os empiristas.

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b) O Tomismo
O Tomismo surgiu e caracterizou-se como uma crítica à orientação
do pensamento platônico-agostiniano, propondo em seu lugar o racionalismo
aristotélico. Iniciou a filosofia aristotélica no pensamento cristão e,
consequentemente, deu início ao que, posteriormente, denominou-se
pensamento moderno – filosofia entendida como construção autônoma e crítica
da razão humana.
No pensamento platônico-agostiniano, o conhecimento humano
depende de uma particular iluminação divina, assim, o espírito humano está
em relação imediata com o inteligível. São Tomás se opõe a esta teoria e
oferece uma concepção empírica do saber empírica, que concebe o campo
do conhecimento humano verdadeiro limitado ao mundo sensível. Essa
concepção de conhecimento liga-se à metafísica e, em especial, a uma
antropologia, na qual, a alma é concebida como a forma substancial do corpo
– relação forma-conteúdo. A alma, sem o corpo, é incompleta, mesmo que
Deus a tenha criado para ser eterna, pela sua natureza racional, deduz-se
que, o corpo é um instrumento indispensável ao conhecimento humano, que,
por consequência, tem o seu ponto de partida nos sentidos.
Uma das características do tomismo é que o intelecto possui objeto
próprio, enquanto a vontade, agostiniana, persegue tal objeto sem, no entanto,
alcançá-lo.
No campo da moral, tomismo e agostinianismo são bem distintos. A
moral tomista é essencialmente intelectualista, a agostiniana é voluntarista,
ou seja a vontade tem o conhecimento como fim. Já o tomismo defende que a
ordem moral não depende da vontade arbitrária de Deus, e sim da
necessidade racional da divina essência. A ordem moral é imanente, essencial,
inseparável da natureza humana, que é uma determinada imagem da essência
divina, que Deus quis realizar no mundo. Desta sorte, agir moralmente significa
agir racionalmente, em harmonia com a natureza racional do homem.

89
História da Educação

São Tomás de Aquino desenvolve seu pensamento a partir da filosofia


aristotélica. A essência desse pensamento foi a discussão do problema das
relações entre filosofia e teologia, ciência e fé, razão e revelação, e mais
precisamente em torno do problema da função da razão no âmbito da fé. O
Tomismo não confunde, nem opõe razão e fé, mas distingue-as e as harmoniza.
De modo que nasce uma unidade dialética profunda entre a razão e a fé.

c) A Escolástica Pós-Tomista
O centro da escolástica pós-tomista é a universidade de Oxford, na
Inglaterra, conhecida por suas características empiristas, experimentais,
positivas e práticas. Dentre os pós-tomistas mais importantes destacamos:
Roger Bacon (1210-1294). João Duns Scoto e Guilherme de Occam.
Para Bacon, o saber deriva da autoridade, da razão e da experiência,
é a autoridade que nos garante a crença, a fé, porém não nos garante o
conhecimento, já que não nos dá a compreensão sobre aquilo em que cremos.
A razão nos garante essa compreensão, ou seja, o conhecimento, no entanto,
não consegue distinguir o que é engano daquilo que é a demonstração
verdadeira, se não estiver fundamentado na experiência. O conhecimento ou
ciência experimental constitui a fonte mais sólida da certeza. Conforme Bacon,
todavia, deve-se entender por experiência não apenas a que se alcança pelos
sentidos externos e nos oferece o mundo corpóreo, mas também a experiência
proporcionada pela iluminação interior de Deus.

3.2.2 As escolas seculares

As escolas seculares surgem como consequência do crescimento das


cidades que ressurgem após a diminuição da atuação dos bárbaros.
Juntamente com as cidades nasce uma nova classe social: a burguesia, que
deriva de burgo, uma referência aos castelos e a nobreza. Todavia, essa nova
classe não é mais a antiga nobreza, inclui uma vasta população que vive do

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comércio nos arredores do burgo e aos poucos vai enriquecendo. Com o


tempo formam-se as cidades e com ela a necessidade de uma educação
para a burguesia. Essa nova escola não teria caráter religioso, pois deveria
priorizar os conhecimentos de cálculo (para calcular seus lucros), habilidades
de leitura e escrita (para elaborar contratos e redigir letras de câmbio), dentre
outras necessidades. Algumas escolas leigas, geralmente financiadas pelo
interesse burguês, surgiam com a intenção de colocar o saberes para fora
dos portões da Igreja. Dentre as mudanças advindas dessas escolas podem
ser citadas: ensino realizado em língua nacional ao invés do latim queda o
currículo das sete artes liberais pelo ensino de história, geografia e ciências,
consideradas mais reais. Tais mudanças são o prenúncio de transformações
educacionais que viriam a ocorrer mais tarde na educação medieval e para
os tempos futuros.

3.2.3 A formação das gentes de ofício

Com o crescimento das cidades, aumenta consideravelmente o


número de homens livres, os quais se ocupavam de vários ofícios, dentre os
quais “alfaiate, ferreiro, boticário, sapateiro, tecelão,
marceneiro, etc.” (ARANHA, 1996, p. 78). O que
antes serviria somente para o consumo interno passa
a ser produzido para fins comerciais. É assim que,
diversos produtos, como alguns vindos do oriente na
época das Cruzadas, exigirão mais dos seus
produtores, tanto mais qualidade, pois a sociedade
está mais exigente, quanto mais conhecimento
técnico. O comércio, entretanto, tem uma instituição
regulamentadora, “os grêmios” ou “corporações de
ofício”. São elas que determinam o que usar, como
Oficina de ferreiro
produzir, o horário de trabalho e o preço dos produtos http://www.google.com.br/images

91
História da Educação

das oficinas – os trabalhadores ainda detinham alguma autonomia sobre seu


trabalho.
Burocratizadas, as corporações exigiam, além de conhecimento para
nomear alguém como “mestre” de algum ofício e permitir que o mesmo abrisse
sua própria oficina, altas quantias em dinheiro, o que fazia com que somente
os filhos dos mestres pudessem ter oficinas. Os profissionais que não tinham
dinheiro, após a fase de “aprendizes”, tornavam-se então “companheiros” ou
“oficiais”, podendo ou não trabalhar por conta própria.
Devido aos preços cobrados para os exames de mestre, os pobres
ficavam fora, o que fazia das corporações mais um instrumento de alienação
e de controle dos mais pobres.

3.2.4 A formação do cavaleiro medieval

A inexistência de um exército imperial, juntamente com outros


acontecimentos ocorridos durante o século XI, transformou definitivamente o
modo de vida medieval. Especificamente, o surgimento das cruzadas e a
consolidação da instituição da cavalaria – composta basicamente de nobres.
Com a fragmentação dos reinos em ducados e condados, devido a
ausência de um poder monárquico centralizado, nos momentos de guerras ou
contendas, a saída era apelar ao cavaleiro, soldado que possuía seu próprio
cavalo, habilidade no manejo das armas e roupa adequada – a caríssima
armadura.
A aprendizagem das armas ocorre segundo um ritual muito severo
que culmina com a cerimônia de sagração do cavaleiro. Semelhante à
educação espartana, dos 7 (sete) aos 15 (quinze) anos, o menino era mandado
a outro castelo, onde serviria como pajem. Nesse período, convive com as
damas e aprende música, poesia, jogos de salão, exercita-se nos esportes,
aprende a falar bem e adquire maneiras corteses, pois é preciso ser, também,
cavalheiro.

92
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A segunda etapa de aprendizagem começa quando o jovem se torna


escudeiro, e acompanha o senhor nas guerras. Nesse período, ele aprende a
montar a cavalo, aprende a manusear armas, prepara o corpo exercitando-se
em caçadas, treinos com armas ou lições de moral a fim de preparar-se para
a guerra. Por volta dos 21 anos, o escudeiro, após rigorosa prova de valentia
e destemor, é sagrado cavaleiro em cerimônia de grande pompa civil e
religiosa. No ideário do cavaleiro, as principais virtudes a serem cultivadas
são: a honra, a fidelidade, a coragem, a fé e a cortesia.

O quadro traduz o significado do ser cavaleiro medieval: fé (observe-se o


detalhe da cruz em sua capa), coragem, cortesia e proteção da dama.
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A cavalaria tem como fim social o conhecimento a serviço da Fé, no


caso o catolicismo. Os nobres, segundo a ideologia que fundamenta a
existência dos cavaleiros, foram escolhidos a proteger e purificar o mundo,
por meio do cumprimento de seus ideais de cavalheiro. Pregam-se uma vida
justa e a retidão da virtude dos nobres como meios de salvação para os
tempos difíceis. O bem, a paz da Igreja, a monarquia, o triunfo da justiça e sua
aplicação, enfim, tudo depende da força dos cavaleiros.

3.2.5 A formação das mulheres

Desde o século VI, os mosteiros recebem meninas de seis ou sete


anos a fim de serem educadas e consagradas a Deus, tornarem-se freiras.

93
História da Educação

As jovens aprendem a ler, a escrever, ocupam-se com as artes da miniatura e


às vezes se dedicam à cópia de manuscritos. Algumas se destacam no estudo
de latim, grego, filosofia e teologia quando recebem aulas em seu próprio
castelo, já que o ensino só pode ser garantido pelos ricos ou religiosos. Mesmo
pagando, as jovens só podem estudar música, religião e rudimentos das artes
liberais. A característica fundamental de sua educação são os trabalhos
manuais femininos, as prendas domésticas.
A educação formal, para a mulher pobre trabalhadora inexiste. Elas
trabalham na agricultura ou na confecção de artesanato, ao lado do marido,
mas , permanecem analfabetas, assim como o marido, o homem trabalhador.
Mesmo as meninas nobres só aprendem alguma coisa quando recebem aulas
em seu próprio castelo e, quando estudam são privilegiados assuntos como
música, religião e rudimentos das artes liberais, além de aprender os trabalhos
manuais femininos, os conteúdos mais elevados são exclusividade dos
homens. Aranha (1996, p. 81) destaca que, mesmo “as meninas de outros
segmentos sociais, como a nascente classe burguesa, só teriam acesso à
educação ao surgirem as escolas seculares, por ocasião da emancipação
das cidades livres”.

3.2.6 O servo e a educação

Na Idade Média, predomina uma sociedade relativamente estática,


com uma rígida hierarquia, composta por nobres e religiosos no comando e
servos sendo comandados, a ideologia era de que Deus determinara a cada
um o seu lugar. De acordo com Aranha(1996), no ideário medieval, a sociedade
além de dividida, surge orientada para fins comuns: alguns rezam para obter
a salvação de todos (o clero), outros combatem para defender a todos (os
nobres), e a maioria trabalha para o sustento de todos (os servos).
O trabalho servil é a característica mais marcante da época. Nessa
sociedade, composta de classes sociais rigidamente separadas, a grande

94
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massa é composta por servos e homens livres – nessa categoria poderiam


ser enquadrados trabalhadores rurais, andarilhos, mendigos, comerciantes e
oficiais mecânicos, como sapateiros, ferreiros, ourives e alfaiates.
Portanto, não se julga necessário ensinar as letras a esse segmento,
apenas torná-los cristãos, conhecedores do credo, ou do catecismo, e algumas
orações decoradas.

3.2.7 A educação universitária medieval

No século XII, desenvolvem-se as grandes


universidades medievais, oriundas das escolas
episcopais, cujas mais famosas foram as de Paris e de
Oxford. A universidade de Paris, a mais importante
universidade da Idade Média, desenvolveu
especialmente a filosofia e a teologia, inspirando-se na
mentalidade aristotélica. Oxford dedicou-se
especialmente às ciências naturais, inspirando-se na
mentalidade agostiniana. Porém, a Universidade
considerada mais antiga, datada do século XI, é a de
Salerno, na Itália onde se estudava medicina. As Demonstração de uma de aula de
anatomia em uma Escola de
universidades de Bolonha e Montpellier também estão Medicina na Idade Média. http://
www.google.com.br/images
entre as mais antigas.
As universidades não sugiram de modo uniforme, mas foram
espontâneas como consequência do próprio desenvolvimento cultural e
crescimento de escolas existentes. Posteriormente, por iniciativa do Papa ou
de algum imperador, são criadas outras universidades, a exemplo da
Universidade de Coimbra, fundada em 1290.
Inicialmente foram denominadas “studium generale”, e agrupava
mestres e alunos que se dedicavam ao que se conhece como “ensino superior”,
ligado a algum ramo do saber como a medicina, o direito ou a teologia. Porém,

95
História da Educação

na Baixa Idade Média, iniciou-se um período de grande efervescência cultural


nas cidades, a referência ao estudo universal de qualquer saber, ou ao conjunto
das ciências que compõem esse saber, passou de “studium generale” sendo
substituído por “universitas studiorum”.
É importante destacar que, embora surgidas em um contexto
educacional extremamente dependente do pensamento religioso, as
universidades gozavam de certa autonomia que as tornava socialmente
diferenciadas e relevantes. De acordo com Luzuriaga (1987, p 86),

as universidades, em geral, eram autônomas no


governo,”verdadeiras repúblicas”, quase independentes, mas
subordinadas ao Estado e à Igreja: elegiam seus reitores e
autoridades, nomeavam os professores e concediam graus. O
primeiro era o de bacharel (baccalarius), uma espécie de aprendiz
de professor; o segundo, o de licenciatura (licentia) que capacitava
para ensinar; e o terceiro era o de mestre ou doutor.

Por essa vinculação com a Igreja, havia algumas Universidades protegidas


pelos papas, como a de Paris, devido à importância que a instituição dava à
teologia, para lá afluíam filósofos e teólogos do mundo todo, pois era vista como
bastião da cultura e do catolicismo ortodoxo. Notadamente as universidades que
mais se desenvolveram no sentido das ciências modernas foram aquelas mais
autônomas em relação ao pensamento religioso.

3.2.8 A influência árabe na educação ocidental

No continente europeu, antes da formação dos Estados


modernos da Espanha e de Portugal, a Península Ibérica foi ocupada,
sucessivamente, por diversos povos que influenciaram a cultura da região.
Em 711 d.C., os árabes ou mouros, chegaram à região e permaneceram por
mais de seis séculos.
A cultura árabe era resultado da assimilação de vários elementos
culturais dos povos que o império árabe venceu ou de povos com os quais

96
FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia

mantiveram relações ao longo de sua história: egípcios, fenícios, persas,


gregos, hindus e até chineses. Esses povos eram os detentores da grande
herança cultural da Antiguidade, o que fez da cultura árabe uma das mais
ecléticas do mundo. Quando os árabes chegaram à Península Ibérica,
influenciaram as letras, as artes, a filosofia e as ciências, assim, podemos
dizer que sua influência na Europa foi muito grande. A poesia medieval européia
foi grandemente influenciada pela nova cultura, tanto na forma quanto no ritmo.
Foi denominada de “poesia andaluzia”. Andaluzia era a forma como a Espanha
era chamada pelos árabes.
A sabedoria muçulmana penetrou no pensamento europeu utilizando-
se da Espanha como porta de entrada para uma das páginas mais brilhantes
da história intelectual da Europa medieval. Enquanto o Ocidente vivia o
obscurantismo religioso, entre os séculos VIII e XIII, os povos árabes foram,
em todo o mundo civilizado, os principais portadores e divulgadores da cultura
e da civilização, principalmente da clássica. Os agentes da ciência e da
filosofia antigas, como Aristóteles e outros filósofos gregos, os quais foram
por eles recuperados, e tiveram suas obras, desenvolvidas e transmitidas, foi
um dos fatores que possibilitaram o reencontro com o saber e o chamado
Renascimento Cultural na Europa ocidental.
Os árabes marcaram a Espanha não só na poesia, na literatura, mas
também na música, arquitetura, ciências, astronomia e medicina. Várias
cidades espanholas possuíam instituições de ensino equiparáveis às
universidades, cujas principais foram: Córdoba, Sevilha, Málaga e Granada.
Ao lado dessas instituições de ensino, foram criadas bibliotecas, fato não
observado nas universidades ocidentais. A construção das bibliotecas e de
seu acervo foi possível graças ao domínio da tecnologia da fabricação do
papel, uma das maiores contribuições dos mulçumanos à Europa. Usando
como matéria-prima a palha de trigo, a indústria de papel passou ser explorada
pelos espanhóis no século XII, com a expulsão dos árabes e a retomada da
península.

97
História da Educação

Os árabes influenciaram muito o desenvolvimento das universidades,


especialmente as áreas da medicina e da matemática. A título de exemplo
tem-se o emprego do algarismo “zero”. Eles ensinaram aos ocidentais o
emprego desta convenção; até então, as somas não chegavam a bom termo,
pois a escrita grega não previa a notação que indicasse a ausência de
quantidade.

3.2.9 A educação no Império Bizantino

Diferente do que aconteceu no Ocidente, no Império Bizantino não


aconteceram as transformações na Idade Média, mesmo as invasões
promovidas pelos mulçumanos foram progressivas. À medida que o Islã
conquistava os territórios do Império Bizantino, estes se tornavam muçulmanos,
o oposto do ocorrido com as invasões bárbaras no Ocidente. À medida que
os bárbaros invadiam um território romano, iam se convertendo ao Cristianismo
e, assim, eram incorporados pela civilização que haviam invadido. Mas, no
Império Bizantino não havia assimilação de uma civilização por outra, quando
o Islã avançava, a civilização bizantina desaparecia.
Não houve, por assim dizer, “Idade Média” no Império Bizantino, sua
história foi bastante linear, mantendo o mesmo modo de vida durante quase
14 séculos. Muito menos houve “Feudalismo”. O que aconteceu foi a diminuição
progressiva do território do Império Bizantino que acabou por sucumbir
totalmente ao poder dos muçulmanos. Até chegar ao ponto em que, na primeira
metade dos anos 1400 d.C, o território dominado pelos muçulmanos já era
tão grande que praticamente só restava ao Império Bizantino a sua própria
capital, a cidade de Constantinopla, e algumas poucas terras ao seu redor.
Mantendo a cultura clássica do Império Romano predominava no
estudo a Retórica como principal meio de formação dos homens. A filosofia
era interesse da minoria a única semelhança com o Ocidente foi o surgimento
da vida monástica, mas os mosteiros bizantinos não tinham escolas.

98
FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia

No Império Bizantino havia escolas suficientes, com professores que


ensinavam gramática e oratória e que estavam a par de todos os clássicos
da literatura antiga, ou seja, detinham o conhecimento colocado em segundo
plano no Ocidente. Enquanto no Ocidente a espiritualidade foi moldando a
cultura antiga até se chegar à criação da primeira Universidade, nada disso
ocorreu em Bizâncio. Embora houvesse muitas críticas, durante a história do
Império Bizantino não surgiu nenhuma outra forma de educação, que não fosse
a grega clássica. O grego se tornou a língua nacional do Império Bizantino e
as obras dos grandes escritores da Grécia eram acessíveis, compreendidas
e admiradas por todos. Antes que o império fosse totalmente invadido pelo
Islã, no século XIV, os professores e os homens cultos de Constantinopla
começaram a fugir para o Ocidente.
Naquela época, havia um lugar onde não somente encontrariam um
refúgio seguro, como também seriam regiamente acolhidos. Este lugar era o
norte da Itália, onde fervilhou o Renascimento. Déspotas e humanistas italianos
os receberiam como se recebem os heróis. Juntamente com estes sábios de
Constantinopla vinham para os italianos manuscritos antigos e a oportunidade
de aprender o grego, como era falado desde a antiguidade. O benefício trazido
pela tradição literária do oriente bizantino ao pensamento renascentista, italiano
e europeu, é incalculável, o que faz dos ocidentais grandes devedores da
tradição do humanismo cristão oriental, sem o qual pouco ou nada, da literatura
e da cultura clássica, teria chegado às futuras gerações.

RESUMO

O período medieval foi um momento importante para a consolidação


da hegemonia do Ocidente sobre o restante do mundo, a cosmovisão, modo
de ver o mundo, baseado na perspectiva judaico-cristão-ocidental inicia-se e
principia sua consolidação nesse período histórico.
99
História da Educação

A reinvenção da cultura grega, o domínio do ideário cristão, o resgate


das artes e a semente da ciência moderna, também datam dessa época. A
educação passa por vários estágios – desde a quase ausência até um
momento de altíssimo refinamento, o qual culmina com a criação das
Universidades, cerne da superação histórica medieval. Esse período sofreu
várias influências, inicialmente das chamadas civilizações clássicas; grega e
romana e, posteriormente dos árabes. Embora a maior influência tenha sido
do componente religioso, o cristianismo, nesse aspecto, muito da cultura
judaica foi incorporado pela nova maneira de pensar e ver o mundo. Outros
componentes de inspiração foram a filosofia e a organização latina, herdada
do Império Romano.

LEITURA COMPLEMENTAR

• Para aprofundar acerca da educação medieval leia o capítulo V do livro


História da educação de Paul Monroe e o capítulo VIII do livro História da
educação e da Pedagogia de Lorenzo Luzuriaga.
• Acesse ao site http://www.mundoeducacao.com.br/idademedia
• Acesse ao site http://www.pedagogia.com.br

ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM

1. Faça uma caracterização geral do contexto social da idade média.


2. Explique o princípio da educação medieval e o ideal formativo nele contido.
3. Comente a relação do “Enciclopedismo”, com o saber clássico apontando
a contribuição do mesmo para a cultura ocidental.
4. Fale sobre a importância de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino para
o pensamento pedagógico medieval e a contribuição desses estudiosos para
a educação moderna.

100
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5. Explique no que consistiu o chamado “Renascimento Carolíngio”. Quais


instituições educacionais surgem nessa época?
6. No que consistia a formação do cavaleiro medieval?
7. Pode-se afirmar que as escolas seculares constituíram-se em um movimento
de contestação à visão tradicional católica de educação. Explique por que.
8. Em quais aspectos a educação árabe se distingue da ocidental medieval
qual a sua contribuição para o desenvolvimento da educação.
9. Como eram concebidas a educação das mulheres e dos servos na idade
média.
10. A educação física, educação do corpo, variou radicalmente, de uma
posição central na educação da Grécia antiga ao total abandono na educação
medieval. Que explicação pode ser dada para esse fato?

Sugestão de filme referente ao tema


• O nome da Rosa, 1986. Direção Jean-Jacques Annand.

101
UNIDADE 4
A EDUCAÇÃO ENTRE OS POVOS ANTIGOS

OBJETIVOS

1. Analisar as principais teorias educacionais e métodos pedagógicos,


propriamente ditos, surgidos na modernidade, período histórico que vai do
século XV até a Revolução Francesa (1795).
2. Reconhecer, nesse período, a orientação teórica dada preferencialmente
por premissas ditas científicas, assim como o poder da nova classe social, a
burguesia, na educação;
3. Relacionar as grandes descobertas ocorridas no período moderno com as
transformações observadas na produção do conhecimento e nas revoluções
pedagógicas propostas pelos pensadores modernos;
4. Perceber como os fundamentos do pensamento científico nascente
(positivismo), influenciaram as perspectivas educacionais, inclusive com a
retomada da Didática, como elemento fundamental ao ensino e à
aprendizagem.
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4 A EDUCAÇÃO EM TEMPOS MODERNOS

Apresentação

O objetivo desta Unidade é a análise da educação na Idade Moderna;


período esse que alguns historiadores (CAMBI 1999, ARANHA 1996,
MANACORDA 1997, LUZURIAGA 1987) descrevem como iniciando no século
XV, até a Revolução Francesa de 1789 a 1795. A grande norteadora da
educação nesse período será a orientação científica, em contraposição à
influencia religiosa estudada na Unidade III. Muito embora conste em algumas
teorias modernas o pensamento de autores medievais e até filósofos da
antiguidade. Assim como o poder da nova classe social, a burguesia – dona
do poder econômico, mas ainda não dona do poder político (governo),
substituirá a nobreza e o clero antes hegemônicos.
A Idade Moderna é um período de grandes descobertas, inclusive de
novos continentes, novas invenções e de ascensão da classe burguesa,
financiada pelo acúmulo de riquezas, fruto da exploração da classe
trabalhadora. A filosofia dá lugar à busca do método que possa descobrir a
verdade dos fenômenos da natureza, com base nas leis da física. Com a
modernidade surgem grandes cidades e centros culturais, como Itália, França
e Inglaterra. A perspectiva educacional pode ser resumida no subtítulo da
Didática Magna de Comenius; “A arte de ensinar tudo a todos”.

4.1 O fim da idade média

A falência do Feudalismo foi provocada por uma série de fatores que


se acumularam ao longo dos séculos, dos quais podemos citar: o crescimento
das cidades e do comércio entre elas, a ampliação das áreas agrícolas, o
surgimento da burguesia como classe emergente, o surgimento de monarquias
nacionais, os descobrimentos marítimos que abriram novas fronteiras e a

105
História da Educação

retomada da cultura clássica (greco-romana). Dando lugar a uma nova fase


histórica, o Renascimento.

4.2 O Renascimento

O Renascimento foi um movimento cultural, tipicamente urbano, que


mudou a qualidade da obra intelectual e ampliou a quantidade da produção
cultural, dando um grande impulso à literatura e à filosofia. Destaca-se nesse
período a invenção da imprensa, a ascensão da burguesia, a Reforma
Protestante, o enfraquecimento do domínio da Igreja Católica, a expansão do
comércio e do capitalismo.
No século XV o acontecimento mais importante que impulsionou a
expansão da educação foi a invenção da imprensa por Johannes Gutenberg
em 1440. Assim, livros que antes levavam meses, ou anos, para serem
copiados manualmente, passaram a ser produzidos em série e em pouco
tempo, garantindo vasto material para quem quisesse aprender ou soubesse
ler.
O movimento renascentista desenvolveu uma nova sociedade e,
portanto novas relações sociais, a vida urbana passou a ter um novo
comportamento, pois o trabalho, a diversão, o tipo de moradia, os encontros
nas ruas, implicavam um novo comportamento, tais coisas não ocorriam no
medievo. Isso significa que o Renascimento não foi o movimento de artistas,
mas uma nova concepção de vida adotada pela sociedade européia, que foi
exaltada e difundida através das obras de arte. Apesar de recuperar os valores
da cultura clássica, o Renascimento não foi uma cópia, pois se utilizava dos
mesmos conceitos, porém aplicados de uma nova realidade.
O Renascimento surgiu na Itália, grande pólo comercial, onde ricos e
poderosos membros da sociedade italiana despertaram para a necessidade
de superar a mentalidade feudal. Inicialmente esses homens patrocinam os
artistas, depois intelectuais e cientistas, para aprimorarem sua cultura, são os

106
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denominados mecenas. Inúmeros sábios bizantinos são atraídos para as


cidades italianas, as quais tinham preservado muito da cultura greco-latina, o
que contribuiu ainda mais para o desenvolvimento renascentista. Da Itália, o
Renascimento difundiu-se por diversas nações européias, sendo grandemente
favorecido pelo rápido desenvolvimento urbano e comercial, que aconteceu
na Europa Ocidental entre os séculos XIV e XVI, caracterizado pela retomada
dos valores da cultura clássica. Esse momento é considerado como um
importante período de transição envolvendo as antigas estruturas feudais e
as novas estruturas capitalistas.

O nascimento de Vênus. Pintura de Boticelli que marca o


Renascimento.http://www.google.com.br/images

4.2.1 Contexto Educacional Renascentista

Embora diferente em vários aspectos da fase anterior, a educação


renascentista era elitista, aristocrata e propagava a ideia do individualismo
liberal, não chegando às massas populares – visava, portanto, o homem
“burguês”, o clero e a nobreza. Junto com a revalorização da cultura greco-
romana, alguns fatos históricos nos séculos XIV e XV, influenciaram o
pensamento pedagógico. Em oposição à escolástica medieval, a educação
moderna propõe colocar o novo ideal da aprendizagem em propósitos e
atividades específicas das disciplinas de humanidades, como a literatura dos
gregos e romanos. Para tanto o aprendizado da língua e da literatura são
107
História da Educação

fundamentais e tornam-se o problema pedagógico mais importante. O


Renascimento estabelece como centro de suas ideias o homem, teoria
conhecida como antropocêntrica, em oposição à teoria medieval que tinha
como centro a ideia de Deus, o teocentrismo. Com essa mudança de
perspectiva, no Renascimento, aumenta a participação do aprendiz na
aprendizagem, de certa forma retoma uma caminhada interrompida no período
medieval, onde as características do aprendiz se tornam mais relevantes.
Segundo Cambi (1999, p. 241), surge

uma nova imagem da infância e da juventude, valorizada na sua


autonomia, na sua diversidade em relação a idade adulta, na sua
afetividade, ingenuidade, dando assim nova visão da criança que
estará no centro de toda a cultura (e da vida social) moderna e
contemporânea.

Trata-se, pois, de um período de vasta produção intelectual. São muitos


os pensadores e as ideias que ora se complementam ora se excluem. Detalhá-
las no espaço desse trabalho é inviável, todavia, é pertinente mencionar alguns
teóricos cujo pensamento contribuiu para educação renascentista.
Um desses autores é Juan Luís Vives (1492-1540) que enfatizou as
vantagens do método indutivo, o valor da observação rigorosa e da coleta de
experiências. Do ponto de vista epistemológico, isso torna o conhecimento
um produto do homem, sendo, portanto, passível de crítica pelos seus
semelhantes. Na mesma linha, Rabelais (1483-1553), afirma que o importante
não eram os livros, mas a natureza, valorizando a educação popular, dizia que
era preciso ensinar primeiro cuidar do corpo, da higiene, da limpeza, da vida
ao ar livre, dos exercícios físicos. Erasmo Desidério (1467-1536), pregador
do humanismo, no seu “Elogio da Loucura” afirmava que o verdadeiro caminho
para o conhecimento devia ser criado pelo homem, como um ser inteligente e
livre. O ideal educativo de Michel de Montaigne (1533-1592) é "O homem
para o mundo”, ele acreditava que as crianças devem aprender o que farão
quando adultos. Reprova os que tratam alunos como sujeitos passivos, que

108
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recebem o conhecimento como ideias já feitas. Preocupava-se a formação


do juízo prático nos jovens para as coisas da vida. Martinho Lutero (1483-
1546), precursor do Renascimento, lutava para libertar a educação da Igreja,
e torná-la obrigatória ao Estado, no seu caso, aos príncipes da Alemanha.
Para popularizar a educação, foi o primeiro a traduzir a Bíblia e defender que
as escolas deveriam cumprir um papel social – suas ideias não encontraram
eco na Igreja Católica e a saída foi romper definitivamente, iniciou-se assim a
Reforma Protestante.
Na esteira das influências a Reforma Protestante repercutiu na Igreja
Católica e na educação. O resultado mais imediato nos países protestantes
foi a transferência da escola para o Estado e a reação da Igreja Católica
com a criação da Companhia de Jesus, fundada por Inácio de Loyola.

4.2.2 Pensamento Pedagógico Renascentista

4.2.2.1 Renascimento Cultural – Humanismo

O renascimento começou no século XIV na Itália e difundiu-se pela


Europa no decorrer dos séculos XV e XVI. Teve um grande impacto na
educação, atingindo principalmente a Filosofia, as Artes e as Ciências. Junto
com outras de transformações culturais, sociais, econômicas, políticas e
religiosas, o renascimento cultural é uma das principais características da
transição do Feudalismo para o Capitalismo.
Foi um movimento de glorificação do homem, cujas características
mais valorizadas eram: o racionalismo, o antropocentrismo, o individualismo,
o hedonismo, o naturalismo e o otimismo. A preocupação em compreender a
origem do homem e do mundo com bases racionais eram algumas das tônicas
humanistas. Enquanto o renascimento se manifestou em campos como artes,
literatura e filosofia, o humanismo representava a nova tendência no campo
da ciência. Os humanistas rejeitavam os valores e a maneira de ser da Idade

109
História da Educação

Média e conduziram as mudanças nos métodos de ensino, desenvolvendo a


análise e a crítica na investigação científica. A autoridade desses estudiosos
vinha do fato de serem profissionais letrados, burgueses ou religiosos que,
por meio de suas obras, exerciam grande influência sobre a sociedade. O
movimento valoriza o homem, a importância da racionalidade e marca a fase
de dominação dos senhores feudais; enfim o homem passa da mentalidade
medieval para a mentalidade moderna.

4.2.2.2 Reforma, Contra–Reforma e Educação

Reforma Protestante foi um movimento religioso, econômico e político


de contestação à Igreja Católica, que resultou na fragmentação da unidade
cristã no ocidente e na origem do protestantismo. Suas causas foram várias,
desde a revolta com a posição da Igreja Católica, até interesses econômicos
dos príncipes alemães e dos países baixos. No início do século XVI, a
Alemanha era uma das regiões da Europa com mais tendência a romper
definitivamente com a Igreja Católica. Entre os alemães, as motivações
econômicas, sociais e políticas que os afastavam da Igreja Católica eram
mais fortes do que em qualquer outro povo da Europa.
Esse período é marcado por uma nova forma de pensar, pelo
desenvolvimento nas relações de produção de capital e trabalho e pela
formação dos Estados Absolutistas. O homem é posto como centro das
atenções e o pensamento científico começa a questionar algumas afirmações
religiosas vigentes até então. Existia naquele contexto a necessidade de uma
nova religião, mais sensível e que não fosse tão mal compreendida e mal
conhecida como o catolicismo. Muitos desses pensadores eram religiosos,
porém, uma vertente do pensamento humanista radicaliza na reflexão do papel
da Igreja e das verdades que ela pregava. A Europa se vê envolta numa
efervescência contestadora, o que acaba chegando às bases da Igreja
Romana.

110
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Alguns pensadores como o humanista Erasmo e João Hus criticam e


se opõem aos principais dogmas do catolicismo. Em sua obra “Elogio a
Loucura”, Erasmo critica a Igreja, principalmente sua postura diante a educação.
Ele aponta o modelo escolar do seu tempo como estático, formado pela
memorização e repetição de conceitos sendo altamente disciplinar e
controlado pelos restritos princípios católicos fazendo com que a capacidade
crítica e a criatividade do aluno não existissem. Essas ideias influenciam no
movimento reformista. Cujo ápice ocorre em 31 de outubro de 1517 quando
o monge agostiniano e professor de teologia Martinho Lutero afixa suas 95
teses na porta da catedral de Wittenberg. Lutero não apenas deu nova vida à
teologia cristã ocidental, como a revolucionou. Nesse contexto, a educação
ganha novo sentido, seu conteúdo e forma de organização tiveram sua
importância defendida.
A Reforma obriga protestantes e católicos a avançarem no campo
educativo. Do lado Alemão, os protestantes iniciaram com ensino, estatal,
leigo e religioso, ministrado na língua local, o que é facilitado pela invenção da
imprensa de Gutemberg, facilitando o acesso à educação de todos os
cidadãos. Ensinando o catecismo protestante, bem como suas ideias sobre
religião e sociedade, o que termina por criar uma identidade civil que
aumentaria ainda mais a distância entre a Igreja Católica e os alemães.
A reação católica à Reforma Protestante e seu crescimento deu-se
de várias maneiras, inicialmente com o restabelecimento da Santa Inquisição
que criou uma lista de livros proibidos aos fiéis católicos, o Índex; a criação
de vários seminários, para melhorar a educação precária de seus membros;
e, a criação da “Companhia de Jesus” – que passa a cuidar da maioria das
escolas católicas do mundo.
A Companhia de Jesus, também conhecida como “Ordem dos
Jesuítas”, fundada por Inácio de Loyola em 1534, assumiu a tarefa de difundir
a educação católica na Europa e também no resto do mundo. Ela é fundamental
para a história da educação, pois foi profícua na criação de um método de

111
História da Educação

ensino, denominado “Ratio Studiorium”, elaborado no final do século XVI e


que expandiu-se rapidamente por toda a Europa e regiões do Novo Mundo
em fase de ocupação. A “Ratio studiorum” era a formação curricular de ensino
que todas as unidades educacionais dos jesuítas deveriam seguir em qualquer
parte do mundo. Seu objetivo era unificar a educação católica, ministrando a
todos o mesmo conteúdo, da mesma maneira.
Essa organização curricular estava dividida em duas partes: “Studia
inferiora” e “Studia superiora”. A “Studia inferiora”, no campo das Letras
Humanas, era composta de gramática, humanidades e retórica,
correspondente ao grau médio de ensino e durava três anos, como estágio
inicial de ensino estava baseado na literatura greco-latina e mantendo um
currículo idêntico ao clássico latino. No campo da Filosofia e Ciências, também
chamado de “Curso de Artes”, que também durava três anos era composto
de: Lógica, Introdução às Ciências (ou Artes), Cosmologia, Psicologia, Física
Aristotélica, Metafísica e Moral, o objetivo destas disciplinas era formar
filósofos, diferentes dos padres, equivalente a eruditos e professores.
A “Studia superiora” atuava em dois campos: Tecnologia e Ciências
Sagradas, cujo objetivo principal era a formação de padres. Disciplinas como
o Latim, língua oficial do clero até o século XX, era ensinado até que os alunos
tivessem sobre o mesmo pleno domínio, entre os jesuítas esse idioma era
obrigatório até nas conversas cotidianas. A Didática também demandava
grande exigência, a recomendação era “repetição para memorização”,
método mnemônico usado até hoje. Aos sábados eram tomadas as lições da
semana, daí originou-se a palavra sabatina. As escolas estimulavam a
competição entre os alunos e a classe, chamada de “emulação”, os que mais
se destacavam na emulação eram premiados em cerimônias pomposas com
a presença de familiares, autoridades civis e eclesiásticas. Quando havia
necessidade de castigo físico, era contratado um ‘corretor’ fora dos quadros
da instituição. As primeiras tentativas de sistematização de um sistema
educativo, realizados por um grupo organizado, são dos jesuítas. Até hoje

112
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existem escolas com as mesmas características de seus fundadores, é


importante ressaltar que a educação jesuítica preocupava-se não só com
aspectos religiosos, mas também a potencialidade de seus alunos, o que
chamamos de ensino holístico.
Os jesuítas visavam à formação do homem burguês e tinham por
missão a conversão de hereges e “alimentar com a doutrina verdadeira” os
cristãos vacilantes. Com uma proposta de ensino elitista desprezou a educação
popular, restando ao povo apenas o ensino dos princípios da religião cristã e
das primeiras letras. Afora as questões ideológicas, o ensino jesuítico tinha
princípios básicos que demonstravam preocupação com a qualidade da
aprendizagem, pois pregava que era melhor aprender pouco, mas bem
aprendido do que muito de maneira superficial.

4.3 O Pensamento Pedagógico Moderno

4.3.1 O Pensamento Pedagógico Realista

A partir do século XVI, iniciou-se uma nova forma de produção de


bens materiais, o sistema de cooperação e, assim, o trabalho deixou suas
características feudais de isolamento e passou a se constituir como um esforço
coletivo. Essa mudança acarretaria uma série de outras mudanças, o que
fortaleceria ainda mais a emergente classe burguesa. O reflexo mais
importante dessas mudanças, no campo do pensamento, foi a busca por novas
maneiras de interpretar a natureza e seus fenômenos. Com o declínio da
hegemonia religiosa, sua função de explicar o mundo e os fenômenos também
perde força. Abrindo espaço para pensadores, que não seguem uma linha
religiosa, como René Descartes (1596-1650) expor suas ideias.
No “Discurso do Método”, a obra mais importante de Descartes, que
definiria o tom das discussões sobre o conhecimento e a ciência, o autor
descreve suas principais ideias sobre como se dá o conhecimento e o que se

113
História da Educação

deve estudar. Propondo a matemática como modelo de ciência perfeita, define


como principais regras a evidência, a análise, a síntese e o exame
exaustivo do objeto. A evidência consistia em considerar que nada é
verdadeiro se não pode ser reconhecida evidentemente como verdade. A
segunda regra, a análise, propõe dividir cada uma das coisas estudadas em
tantas parcelas quantas forem possíveis. A terceira regra, a síntese, consiste
em ordenar os pensamentos, começando pelo que é mais simples ou mais
fácil de conhecer para, aos poucos, ascender aos mais complexos. A última,
o exame exaustivo do objeto, deve acontecer até
estar certo de não ter omitido nada. Sua teoria ficou
conhecida como idealismo e influenciou de maneira
definitiva as bases para o surgimento da ciência
moderna.
Os princípios do idealismo seriam vistos
no pensamento de João Amós Comenius (1592-
1670) que promoveu uma revolução pedagógica,
ao estabelecem métodos e técnicas de ensino que
criassem condições para maior aproveitamento de Jan Amos Komenský, Comenius
http://www.google.com.br/images
tempo e maior garantia de aprendizagem.
Esta é sua proposta em “Didática Magna
SAIBA MAIS
– a arte de ensinar tudo a todos”. O ensino Jan Amos Komenský, Comenius, nasceu na
Moravia, região da Boêmia, atual República
deveria partir de palavras ou coisas Tcheca. É considerado o pai da didática
moderna. Sua obra, “Didática Magna”, é um
simples, preferencialmente com ilustrações,
clássico para a pedagogia e traz uma visão
daí até as mais complexas, à exemplo do de educação que procura unir espiritualidade,
atividade de aprendizagem envolvendo a
método cartesiano. Comenius foi um dos experiência e respeito ao desenvolvimento da
criança. Partia do princípio que era possível
primeiros a defender o ensino laico,
ensinar tudo a todos, desde que se usasse o
gratuito e financiado pelo Estado, sem modo adequado. Seu trabalho servirá de
inspiração para muitos autores modernos.
distinção de classe social ou sexo.
A pedagogia realista, segundo
Luzuriaga (1987, p. 136), era fruto de uma junção entre o idealismo e o

114
FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia

empirismo, seu principal representante foi Comenius. Este chegou a propor


uma organização sistêmica da educação considerando quatro fases de
desenvolvimento: infância, puerícia, adolescência e juventude. A pedagogia
realista propõe desenvolver a paixão pela razão e o estudo da natureza; a
educação passa de humanista a científica e o conhecimento só tem valor se
preparar para a vida e para a ação.
Outro representante dessa pedagogia foi John Locke , o qual também
é considerado um dos fundadores do liberalismo, filosofia política do
capitalismo. Locke defendia que a criança ao nascer era como uma “tabula
rasa”. O aluno seria como um papel em branco sobre o qual o mestre poderia
“escrever”, uma atitude muito otimista frente ao poder da educação, cuja
característica fundamental foi o realismo.
Embora não fosse moralista nem religioso, ele foi um dos primeiros
pensadores modernos a pensar a educação tanto intelectual como moral.
Defensor da educação física, ressalta em suas obras, o papel da Psicologia
na educação. Contraditoriamente, suas propostas, são para as elites; aos
pobres, o “legislador" Locke propôs em seu “Memorandum on the reform of
the poor law” (LOCKE apud MÉSZÁROS, 2005) leis perversas como a de
mutilar os mendigos, cortar as duas orelhas dos criminosos réus primários,
pela lei anterior, cortava-se apenas a metade de uma orelha. Para os filhos
dos pobres não ficarem no ócio, “causando problemas em suas paróquias”,
Locke propõe a criação de “escolas profissionalizantes”, a serem
frequentadas, obrigatoriamente, dos 04 (quatro) aos 13 (treze) anos de idade
– pois aos 14, já poderiam trabalhar nas fábricas.
A partir do século XVII, aumenta a luta do povo pelo direito ao ingresso
na escola, que deveria ser laica e financiada pelo Governo, os trabalhadores
podiam e deveriam desempenhar um papel importante na mudança social.
Também neste período, surgiram várias ordens religiosas católicas que se
dedicavam à educação popular. Muitas dessas escolas ofereciam ensino
gratuito na forma de internato. Tratava-se de uma educação filantrópica e

115
História da Educação

assistencialista, a qual não atendia à demanda por educação de todos os


pobres e trabalhadores.

4.3.2 O Pensamento Pedagógico Iluminista

No século XVIII, acontece o acirramento da luta pela laicização da


escola, ou seja, luta para que a educação seja pública e gratuita. Inicia-se o
“Século das Luzes”, abrindo caminho para a Revolução Francesa, que
confirmaria a burguesia como grupo hegemônico, e o capitalismo como modo
de produção dominante na sociedade. O marco dessa mudança foi a
Revolução Francesa (1789-95), também chamada pelos marxistas de
“Revolução Burguesa”, que juntamente com a Revolução Industrial, na
Inglaterra, põe fim ao período da Idade Moderna, na qual predominou o regime
absolutista.
O nome mais expressivo da pedagogia no Iluminismo foi Jean-Jacques
Rousseau (1712-1778) influenciado por ideias liberais como as de Locke, a
ele coube a tarefa de condensar o pensamento pedagógico desse período
(LUZURIAGA, 1987, p. 165). Em sua obra “Emílio”, ou “Da Educação”,
identifica-se características que até então não haviam sido percebidas no meio
educacional. O principio da atividade, ou seja, aprendizagem pela própria
experiência, bem como a necessidade
de liberdade e independência para
aprender; a concepção da criança e o
adulto como seres distintos e, como tais,
devem ser tratados de maneira diferente,
ressaltando os aspectos psicológicos de
cada fase ; a admissão de um ensino
religioso não confessional, o qual não A família de Tito. Quadro de Rembrandt ilustra bem a
concepção de família burguesa: mais voltada para o
deveria ser ministrado a crianças, mas interior familiar e a criança sendo o centro. http://
a pessoas na idade da razão. www.google.com.br/images

116
FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia

Para Luzuriaga (1987), falta à pedagogia de Rousseau a ideia de


educação da mulher e das classes populares, revelando uma teoria elitista e
sexista. O grande legado de Rousseau, certamente, foi o resgate da relação
entre a educação e a política. A partir dele, a criança não seria mais
considerada um adulto em miniatura, mas sim como um ser que vive em seu
mundo próprio; a criança nasce boa, o adulto e a sociedade, com sua falsa
concepção da vida, é que perverte a criança.
Baseado na teoria da bondade natural do homem, Rousseau
sustentava que só os instintos naturais deveriam direcionar a vida do homem.
É ele que proporá a divisão da educação em três momentos: infância,
adolescência e maturidade. Somente na adolescência se deveria estudar,
como mais profundidade, o desenvolvimento científico mais amplo e
estabelecer-se a vida social. Suas ideias revolucionárias influenciaram outros
países, principalmente Alemanha e Inglaterra, as quais criaram sistemas
nacionais de educação; além da América do Norte, que expandiu a
participação do Estado na educação.
Rousseau influenciaria educadores como Johann Heinrich Pestalozzi
(1746-1827), cujos princípios educacionais são da educação segundo a
natureza, da educação familiar e da finalidade ética da educação. Defensor
do método intuitivo e o ensino mútuo deu grande importância ao ensino moral
e intelectual, criou uma experiência educacional visitada por todos os países
europeus e que moldou o ensino na Suíça. Segundo Cambi (1999, p. 418),
sua obra defende, basicamente, três teorias:

1 – a educação, como processo, deve seguir a natureza... o homem


é bom devendo apenas ser assistido em seu desenvolvimento; 2 –
a formação espiritual do homem como unidade de “coração”,
“mente” e “mão” (ou “arte”), que deve ser desenvolvida por meio da
educação moral, intelectual e profissional; 3 – a da instrução... é
necessário sempre partir da intuição, do contato direto com as
diversas experiências que cada aluno deve concretamente realizar
no próprio meio.

117
História da Educação

Seguindo os passos de Pestalozzi, outro educador influente nesse


período foi Froebel (1782-1852), preocupado com o desenvolvimento infantil,
idealizou os jardins de infância, pois acreditava que o desenvolvimento da
criança dependia de uma atitude espontânea, uma atitude construtiva e um
estudo da natureza. Depois dele os jardins de infância se multiplicaram até
fora da Europa e suas ideias ultrapassaram a educação infantil.
Helvétius (1715-1771), d’Holbach (1723-1789), Lamettrie (1709-
1751), foram educadores materialistas franceses, os quais, se não
influenciaram no aspecto pedagógico e escolar, colaboraram na luta por uma
perspectiva “rigorosamente igualitária em educação, reclamando uma
instrução para todos, estatal, civil e laica, gratuita e obrigatória” (CAMBI, 1999.
p. 356). Data deste período a reivindicação dos princípios de obrigatoriedade,
gratuidade e laicidade na educação pública, o que certamente, caracteriza-
se como o maior legado ideológico deixado pela Revolução Burguesa para a
educação mundial.
O otimismo pedagógico, a fé na educação ganha seu defensor mais
intransigente em Imannuel Kant (1724-1804), ele acreditava que o homem é
o que a educação faz dele através da disciplina, da didática, da formação e
da cultura. Em sua obra mais importante, “Sobre a Pedagogia”, observa-se o
valor do trabalho na formação do homem. Sua crença é de que, somente por
meio da educação, pode acontecer o melhoramento do ser humano, o qual
irá, progressivamente, atingir níveis de desenvolvimento cada vez maiores. A
pedra angular do pensamento pedagógico de Kant é resumida por ele mesmo
da seguinte forma:

A educação é uma arte, cuja prática necessita ser aperfeiçoada


por várias gerações. Cada geração, de posse dos conhecimentos
das gerações precedentes, está sempre melhor aparelhada para
exercer uma educação que desenvolva todas as disposições
naturais na justa proporção e de conformidade com a finalidade
daquelas, e, assim, guie toda a humana espécie a seu destino.
(2002, p. 19)

118
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Especificamente no período da Revolução Francesa, acontece uma


reformulação total na educação francesa. Cambi (1999, p. 365), resume essa
tentativa em três momentos, inicialmente é feito o “quadro orgânico de
reorganização da instrução”, onde são adotados os ideais da revolução –
igualdade, fraternidade e liberdade. Posteriormente, em 1795, era
estabelecida uma nova ordem, princípios como os de gratuidade e
obrigatoriedade de frequentar as aulas são retirados, porém a escola ganha
um programa mínimo de conteúdos. Por fim, a escola passou a desempenhar
um forte papel de inculcação ideológica do Estado.
Com o retorno ao império, no período de Napoleão, os valores e formas
da educação francesa são repassados para os lugares que ele conquistou.

4.3.3 O Pensamento Pedagógico Positivista

Podemos dizer que o positivismo consolidou a concepção burguesa


de ciência e de educação. Desde o período do Iluminismo, final do século
XVIII, o positivismo se fortalece, tendo como principais representantes os
franceses Augusto Comte (1798-1857), e Émile Durkheim (1858-1917). Para
Comte, a humanidade passou por três estágios: o estado teológico,
determinado pelo conhecimento mítico e pela Igreja, o estado metafísico,
determinado pelo conhecimento filosófico e racionalista-idealista; e o estado
positivo, determinado pelo conhecimento positivo e pelo método científico. A
partir dessa lei dos três estados, Comte deduziu o sistema educacional
afirmando que em cada homem as fases históricas se reproduziriam. No
jardim de infância o mítico, no ensino básico o metafísico e no superior o
positivo. O conhecimento chamado “estado positivo” coincide, basicamente,
com o que se chama hoje “ciência moderna”, ou seja, não é mais a fé, da
Idade Média, ou a razão, do renascimento, que deverá nortear o homem e a
educação, de agora em diante a vida seria dominada pelo método da “Ciência
Positiva”.

119
História da Educação

Foi com Durkheim que a tendência cientificista ganhou força na


educação, principalmente, com o desenvolvimento da “Física Social”
(sociologia e da sociologia da educação). Ele considerava a educação como
imagem e reflexo da sociedade, dizia que a educação é um fato fundamental
e, assim, a pedagogia seria uma teoria da prática social. Durkheim, a exemplo
de Comte, tentaria aplicar aos fatos sociais, o mesmo tratamento dispensado
aos objetos investigados pelas ciências naturais, como a Física e a
Matemática.
O positivismo pregava a substituição da manipulação mística e mágica
do real pela visão científica, chegando ao extremo de proclamar uma nova
religião, que tinha como “deusa” a própria ciência. Advogava que o progresso,
só poderia ser alcançado com a ordem, inaugurando assim a ideologia da
ordem. Para os pensadores positivistas, a libertação social e política passava
pelo desenvolvimento da ciência e da tecnologia, sob o controle das elites,
portanto era também elitista, ignorando as necessidades do povo.
Esse pensamento influenciou tanto a elite militar do Brasil que no centro
da bandeira nacional está inscrito “ordem e progresso”, segundo essa
ideologia da ordem, o país deveria ser governado pela racionalidade dos
cientistas, os chamados tecnocratas. O pensamento pedagógico positivista
contribuiu para a educação no Brasil, na medida em que criticava a influência
excessiva que o pensamento humanista cristão exercia sobre a escola. Esse
pensamento influenciaria o primeiro projeto de formação do educador brasileiro
no final do século XIX. Embora desprezasse o humanismo e os aspectos
afetivos do ser humano, sua contribuição ao estudo científico da educação é
inegável.

4.3.4 O Pensamento Pedagógico Socialista

O momento histórico que gerou a burguesia trouxe consigo sua


negação, os trabalhadores ou a classe do proletariado. Os proletários

120
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acabaram por realizar uma série de manifestação por acesso à educação


para seus filhos. O pensamento pedagógico socialista foi formado no seio do
movimento popular que lutava pela democratização do ensino. A concepção
socialista da educação se opõe à concepção burguesa, pois propõe uma
educação igual para todos. Uma tentativa de diminuir as desigualdades sociais,
usando a educação como equalizadora dessas desigualdades.
As ideias socialistas na educação não são frutos da modernidade,
existiam desde a Antiguidade, porém, como não correspondiam aos interesses
das classes dominantes, historicamente foram sempre relegadas a um plano
inferior. O inglês Thomas Morus (1478-1535) foi um dos primeiros a criticar as
desigualdades sociais propondo o fim da propriedade privada, a redução da
jornada de trabalho para seis horas diárias, a educação laica e a co-educação.
No século XVIII, inspirado nas ideias de Rousseau, Graco Babeuf (1760-1796)
lutava por uma escola pública do tipo único para todos, acusando a educação
dominante de se opor aos interesses do povo e de incutir-lhe a sujeição a seu
estado de miséria.
No século XIX, o economista e ativista Karl Marx (1818-1883), propôs
uma escola diferente, defendia uma formação politécnica para a classe
trabalhadora, uma instituição que capacitasse os trabalhadores para melhor
trabalhar e melhor pensar, numa relação de complementaridade, segundo a
visão dialética.

RESUMO

No inicio da Idade Moderna a Burguesia, como classe emergente,


desbanca o poder temporal da Igreja, arrancando-lhe, inclusive o monopólio
da educação, apresentando uma teoria educacional nova, que afirmava
radicalmente os direitos dos indivíduos, que, no entanto, só alcançaria a própria
burguesia. Portanto, não estava preocupada com um projeto de igualdade
dos homens na sociedade e na educação, embora seu lema tenha sido

121
História da Educação

“Fraternidade, Igualdade e Liberdade”. O projeto de educação popular, não


existia em seus planos, e quando existia, deveria fazer com que os pobres
aceitassem a pobreza, esse era o princípio fundamental da educação
burguesa. À classe dirigente era dada a instrução para governar e aos
trabalhadores, as fábricas.
Como ideologia econômica, a burguesia fundamentava-se no
capitalismo, no qual mandam os detentores dos meios de produção, os
capitalistas, os ricos. Como filosofia política e social, a burguesia fundamentava-
se no liberalismo, o qual pregava a regulação do mercado, lei da oferta e procura,
a modernidade marca de forma decisiva a fase de hegemonia científica do
Ocidente Europeu sobre os demais povos (colonizados e escravizados pelas
potências como França, Inglaterra, Espanha e Portugal).

LEITURA COMPLEMENTAR

• Para aprofundar acerca da educação moderna leia os capítulos VIII e IX


do livro de Maria Lúcia e Arruda Aranha.
• Acesse ao site http://www.mundoeducacao.com.br/
• Acesse ao site http://www.pedagogia.com.br

ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM

1. Explique quem eram os mecenas e quais suas reais intenções quando


realizavam atividades referentes à arte e às ciências.
2. Existem duas teorias bem distintas sobre o que está no centro do universo,
portanto, e que está no centro das discussões na idade moderna. A teoria
convencionou chamar essas perspectivas de teocentrismo e de
antropocentrismo. Explique-as.
3. Em reação à Reforma Protestante, a Igreja Católica cria a “Companhia de
Jesus”, o que eles visavam e sua missão?

122
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4. Quais as principais causas que eclodiram na Reforma Protestante e qual o


primeiro povo a ser diretamente afetado por ela?
5. Faça uma comparação entre a “Didática Magna” de Comenius e a forma
que o ensino é ministrado em nossos dias. À exceção das novas tecnologias
da informação e comunicação, o que mais mudou?
6. Durante a Revolução Francesa a educação para os cidadãos, através das
escolas foi muito discutida, qual o desejo dos que esperavam pela educação
estatal e o que aconteceu no final?
7. O que pregava o positivismo e qual a sua principal ideia sobre a sociedade?
8. Onde foi formado o pensamento pedagógico socialista e o que ele defendia?
9. Que fatores culturais e tecnológicos colaboraram para que os europeus
chegassem ao grau de dominação do mundo a que chegaram?

Sugestão de filme referente ao tema


• Germinal, 1993. Direção Claude Berre.

123
UNIDADE 5
A EDUCAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE

OBJETIVOS

1. Compreender o período contemporâneo como época de manifestação dos


grandes conflitos sociais localizando nestes as lutas pela democratização da
educação.
2. Entender a ampliação da influência sociológica na educação como
conseqüência das alterações no contexto sócio-econômico e cultural e a
intensificação das lutas populares por educação pública, gratuita e de
qualidade.
3. Analisar as contribuições para a educação das principais concepções
teóricas produzidas no período contemporâneo.
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5 A EDUCAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE

Apresentação

Após o percurso pelo conjunto de fatos ocorridos na


modernidade, Unidade IV, e pelas principais representações do pensamento
da época, chega-se à contemporaneidade que é, em certa medida, uma
continuidade daqueles fatos. Esta Unidade objetiva traçar algumas das ideias
mais importantes sobre a educação da época contemporânea. Por tratar-se
de um período tão longo quanto a modernidade abordar-se-á apenas algumas
das principais representações teóricas. A fase contemporânea produziu
grandes conflitos sociais, dentre eles, duas Grandes Guerras. Mas produziu
também uma geração de luta na consolidação dos direitos humanos, sendo
a educação pública, gratuita e para todos uma das grandes bandeiras da
época. Na fundamentação da educação atual, uma vasta produção
pedagógica pautada nas ciências da educação, mas principalmente nas
tendências psicológica e sociológica da educação. É uma época em fase de
construção de sua história educacional.

5.1 Caracterização geral

Uma das fases da história da educação de maior dificuldade de estudo


é a contemporânea. Para isto concorrem alguns aspectos; um deles refere-se
à ausência de uma definição precisa do período que marca o seu início. Aranha
(1996) e Luzuriaga (1987), por exemplo, situam essa época no século XX,
enquanto Cambi (1999) destaca seu nascimento com a Revolução Francesa
em 1789, vez que, segundo o autor, com a Revolução tem início um conjunto
de transformações sociais que marcam definitivamente a separação das
sociedades de outrora das atuais, passando pelo modernismo. Outro aspecto
que torna difícil o estudo da contemporaneidade é a sua complexidade

127
História da Educação

caracterizada pelo turbilhão de acontecimentos sociais, políticos, econômicos


e culturais da época. Nesse trabalho, serão considerados os aspectos mais
marcantes do século XX como forjadores da identidade dessa fase para então
se compreender a educação e pedagogia dela derivada. Lembrando, porém
que muitos deles tiveram início ainda na fase moderna e continuaram em
processo de consolidação e, ao mesmo tempo, de renovação na fase
contemporânea, é o cão da industrialização e os processos de ampliação da
educação.
O mundo contemporâneo é marcado por revoluções de caráter político
e cultural, por uma série de conflitos e tensões sociais tendo as mais diferentes
origens e que se manifestam em diversas partes do mundo. Esses conflitos e
tensões, em grande parte relacionam-se às consequências da consolidação
de um modelo econômico, o capitalismo imperialista, ainda no século anterior
e o acirramento das questões decorrentes da industrialização, sobretudo, as
relações de trabalho. Se por um lado o capitalismo não cumpriu as expectativas
de promoção da justiça social, ao contrário, aumentou as suas desigualdades,
o sistema de produção fabril criou uma grande massa de trabalhadores
explorados e expropriados nos seus direitos gerando uma nova classe social,
o proletariado, protagonista das muitas lutas que marcarão o século XX.

População em manifestação por direitos sociais.


http://www.google.com.br/images

128
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No início do século XX, o que se tem é uma divisão das nações em


blocos de poder econômico capitalista, enormes disparidades sociais dentro
dessas nações e conflitos armados, resultante da concorrência e choque entre
as potências. A Primeira Guerra mundial (1914-1918) e durante esta, a
revolução Russa, que derrubou a monarquia e instaurou um governo socialista,
é o começo dos grandes conflitos. É a época da ascensão do poder norte
americano influenciando a política e economia na Europa, nas Américas dentre
outros; da expansão de ideologias de ultra direita, como fascismo na Itália e
o nazismo da Alemanha; da segunda grande Guerra Mundial (1939-1945); da
divisão do mundo em bloco capitalista e bloco socialista, culminando com a
Guerra Fria e a ameaça constante de uma terceira grande guerra; da ascensão
e queda do socialismo; da reorganização do capitalismo na forma de
neoliberalismo, defendendo a retirada de funções assistencialista realizadas
pelo Estado; das explosões demográficas; dos conflitos étnicos e religiosos
e dos movimentos de contestação surgidos com grande expressão
principalmente nos Estados Unidos da América, França e Inglaterra.

Glossário tal processo tornou a contemporaneidade dramática, eriçada de


Pathos - refere-se a paixão; lacerações, fez dela uma época inquieta e radicalmente conflituosa
paixão em sentido de cujos custos humanos (de vidas humanas, de destinos de homens
sofrimento (patologia); pode de carne e osso, de “ilusões perdidas”, de expectativas irrealizadas
incluir vários sentimentos juntos etc) foram altíssimos: uma época que se alimentou do pathos da
como amor, ódio inveja etc. tragédia grega. (p.379)

É por esse conjunto de fatos marcantes que Cambi (1999) afirma


Todavia, a mesma época colhe os fruto das lutas das massas, não
sem algum sacrifício, e o mesmo Cambi (p 379) reconhece “é também a época
dos direitos, do seu reconhecimento teórico e da sua afirmação prática. São
os direitos do homem, do cidadão, da criança, da mulher, do trabalhador,
depois das etnias, das minorias, dos animais e da natureza” (...).
A contemporaneidade consagra-se também como a época da
democracia pautada na participação e nos direitos de cidadania conquistados.

129
História da Educação

Muito embora essa democracia, que não foi dada de presente aos cidadãos,
mas resultado de lutas como já mencionado, não representa ainda a realização
efetiva dos direitos humanos, posto que o mundo permaneça convivendo com
a violência, a miséria e conflitos por intolerância racial, religiosa de gênero.
Não obstante, essa perspectiva democrática é o marco fundamental que
caracterizará a educação vivenciada nessa época.

Martin Luther King, líder negro do movimento racial norte


americano, durante o célebre discurso que ficou conhecido
mundialmente. http://www.google.com.br/images

5.2 Educação e democratização do ensino

Os acontecimentos que marcaram a época contemporânea


constituíram a sua identidade educacional. Assim, o século XX tem como marca
a democratização do ensino almejada pelos cidadãos-trabalhadores,
defendida pelos intelectuais das diferentes ciências da educação, cada um
com as suas particularidades teóricas, e promovidas pelos governos de
diferentes países em maior ou menor grau, tempo e êxito social.
A conjuntura de crise, conflitos e reconstrução inerente à época traz
para educação um papel fundamental: ser protagonista na transformação
social. Pressupõe-se que a construção de uma democracia plena, capaz de
promover a sonhada justiça social, exige que os sujeitos se apropriem dos

130
FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia

instrumentos capazes de inseri-los de forma competente na dinâmica social.


Para cumprir tal função, essa educação reveste-se de uma dimensão
essencialmente sociológica e política, trazendo, dentre outras bandeiras, a
defesa de uma escola pública e gratuita para todos.
A luta pela democratização do acesso ao ensino iniciada no século
anterior se intensifica na contemporaneidade passando a ser uma das
principais bandeiras de luta dos movimentos sociais por educação. Cumpre
salientar que a expansão da educação faz-se urgente também em virtude do
crescimento populacional nas cidades provocado pela industrialização. Para
os governos, a democratização do ensino não somente se constituía numa
forma de acalmar os ânimos dos movimentos populares, resolvendo conflitos,
mas promovia formação de mão-de-obra.
Aranha (1996) ilustra bem essa situação afirmando que

a ampliação dos três graus (elementar, secundário e superior) da


rede escolar, inclusive com a proposta de melhor integração entre
eles, deveu-se à expansão da indústria e do comércio, à
diversificação das profissões técnicas e dos quadros burocráticos
na administração e organização dos negócios.(p. 164).

Os movimentos por democratização eclodem em diversos países da


América e da Europa, sendo que em alguns desses países, iniciaram suas
reformas na educação logo após a primeira guerra mundial como Inglaterra,
França e Alemanha, porém elas se intensificaram a partir da segunda Guerra
Mundial. Sendo que este processo foi mais tímido na África, Ásia e partes da
América.
Não é propósito desse trabalho detalhar a educação nos diversos
países, nem haveria espaço para tal; assim será discutido de forma sucinta
as principais contribuições desse século para a educação, simultaneamente
aos principais representantes, observando-se em quais países as mesmas
tiveram maior repercussão.

131
História da Educação

5.3 Educação e Ideologia

A concepção de educação como preparação para cidadania,


entendida esta em uma perspectiva bem diferente dos tempos da Paideia,
requer subsídios pedagógicos apropriados ao contexto de intensas e rápidas
mudanças sociais provocadas por ações políticas, econômicas, por inovações
tecnológicas, rupturas culturais, movimentos de massa etc.. A formação do
cidadão para esse novo mundo torna-se mais complexa e exige embasamento
teórico para além da perspectiva do desenvolvimento individual. Nesse
sentido, a tendência psicológica que predominou na educação na Idade
Moderna, ganha novos contornos, mas passam a ter grande influência as
concepções sociológicas da educação.
A perspectiva sociológica concebe a educação como um processo
de manutenção e de desenvolvimento das sociedades. Portanto, a educação
deve basear-se no estudo da estrutura das sociedades e suas demandas
com o objetivo de permitir ao indivíduo uma participação ativa nas esferas
política, econômica e sócio-cultural. Na ótica sociológica a educação pode
oferecer as condições para o melhoramento social e, portanto, deve ser
garantida a todos gratuitamente. O caráter educacional defendido pelos
sociólogos opõe claramente a ideia de coletividade à de individualismo, ou
seja, busca romper uma lógica educativa pautada no indivíduo, enquanto sujeito
econômico, de liberdade (mas esta liberdade atrelada à sua condição
econômica) e com potencial competitivo; procura demonstrar que o
desenvolvimento social só ocorrerá com o crescimento de todos os seus
indivíduos. Nesse sentido, a educação cumpre uma função social de
transformação; mas ela poderá também funcionar como forma de manutenção
das estruturas sociais vigentes realizando assim a função de controle social.
Essa consideração acerca da dupla função da educação exposta
pela Sociologia é melhor compreendida quando se discute as relações entre
educação e ideologia. Na perspectiva sociológica a compreensão da estrutura

132
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social implica o reconhecimento da existência de ideias pertencentes aos


diferentes grupos sociais e, as ideias dominantes na sociedade são, em geral,
aquelas pertencentes às classes sociais dominantes com os objetivos e
interesses pertencentes a esta classe que procura torná-las hegemônicas
(adequadamente assumidas como verdadeiras pela maioria dominada).
Reconhecer a qual função social da educação determinada teoria e prática
educacional estão promovendo, por meio das ideologias nela contida, é um
trabalho da Pedagogia que não deve ser relegado sob o risco da educação
apenas conformar as estruturas sociais vigentes.
Perceber esses elementos subjacentes na educação e seus propósitos
faz parte da dimensão política da pedagogia/educação e que na ótica sociológica
deve ser ressaltada. O adequado exercício desse trabalho pressupõe a
consideração das relações existentes entre educação e sociedade, e escola e
sociedade. Muitas pesquisas pedagógicas e sociológicas do século XX procuram
desvelar essas relações e os seus condicionantes.
A concepção sociológica na educação obteve grande aceitação entre
educadores e pedagogos contemporâneos e a sociologia passou a influenciar
intensamente as produções nessa área. Muito embora, na realidade
educacional de alguns países, por questões políticas, essa influência tenha
sido duramente reprimida dado seu caráter analítico e crítico.

5.4 Pedagogia contemporânea

Elaborar uma síntese da educação e da teoria pedagógica


contemporânea é uma tarefa extremamente difícil dada a imensa literatura
pedagógica referente a essa fase. As palavras de Luzuriaga (1987) ilustram
bem essa afirmação. Ao iniciar suas reflexões sobre a pedagogia
contemporânea ele afirma que

nunca houve na história movimento pedagógico rico e intenso como


o atual. Nem mesmo nas épocas de maior apogeu, como na

133
História da Educação

Renascença e o século XVIII, apresentou-se panorama tão vasto


e brilhante. Sucedem-se as correntes pedagógicas,
assombrosamente multiplicam-se as publicações. (p. 242)

Essa profusão toda de material bibliográfico sobre educação e a


pedagogia encontra explicação em três fatores fundamentais, dentre outros:
a) o desenvolvimento das ciências (sobretudo humanas) e áreas do
conhecimento que dão subsídio à educação; b) a preocupação mais ou
menos generalizada - governos, instituições civis organizadas e intelectuais
- com os problemas educacionais; c) o crescimento da própria Pedagogia
como área do conhecimento em busca de afirmação do seu estatuto
científico;
Dentre as áreas do conhecimento as de maior produção são a
Psicologia, que já era tendência desde a idade moderna, e a Sociologia, que,
conforme, citado antes, passa a exercer grande influência nos estudos da
educação. Considerando a necessidade de síntese, serão apresentadas
algumas concepções e teóricos vinculados a essas áreas do conhecimento.

5.4.1 A contribuição das ciências à Pedagogia e educação

A grande maioria das concepções que marcaram a educação no


século XX teve seu início, e alguma influência, ainda no século XIX e, como
citado antes, as ciências que mais influenciaram na educação nesse século
foram a Sociologia e Psicologia,

5.4.1.1 Tendências psicológicas

Behaviorismo
O behaviorismo ou comportamentalismo é uma corrente psicológica,
derivada do positivismo, que exerceu grande influência sobre a educação neste
século. É derivada dos estudos do russo Ivan Pavlov (1849-1936) acerca do

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reflexo condicionado feitos de modo experimental com animais. Nos Estados


Unidos as pesquisas foram ampliadas por Watson( 1878-1958) e
posteriormente por Skinner (1904-1990). Esse último desenvolveu a ideia do
condicionamento operante, distinguindo-o da primeira forma de
condicionamento e aplicou esta concepção à educação. Skinner propõe
formas de controle e condicionamento do comportamento (behavior) humano
para os fins desejados e, no caso da educação, o aprendizado. Dos teóricos
behavioristas, Skinner foi o que propôs uma aplicação efetiva para educação;
inicialmente através da Instrução Programada que uma forma de estudo na
qual o aluno vai apresentando resposta às questões propostas e recebe
estímulos (reforço positivo ou negativo) conforme sua resposta. A partir dessa
lógica, Skinner cria as máquinas de ensinar. A teoria teve implicações diretas
na pedagogia na proposição de objetivos de ensino operacionais,
rigorosamente definidos e, principalmente, influenciou o tecnicismo na
educação, sendo que no Brasil foi transformado em lei (5.692/71) por meio
da profissionalização da educação. O behaviorismo foi muito criticado pelos
educadores pelo caráter acrítico e pela concepção de sujeito nela embutida.

Gestalt
Corrente psicológica inspirada na filosofia fenomenológica, também
conhecida como psicologia da forma. Tem como principais representantes
Kohler (18877-1967) e Koffka (1889-1941). A gesltalt trabalha com a percepção
humana, mas opõe-se à concepção associacionista que aborda as
percepções de forma isolada, parcial. Defende que os objetos são percebidos
na sua totalidade e são compreendidos na sua configuração total; na sua
forma. Valorizam a capacidade de descoberta humana rejeitando processos
mecanicistas de aprendizagem. Trazem para a educação a ideia de a
compreensão súbita (insights) de fato ou fenômeno a partir do modo como a
situação (e seus elementos) são apresentadas ao indivíduo, ou seja, sua forma.
O que implica o uso da capacidade de racionar do aprendiz; defendem que a

135
História da Educação

educação deve proporcionar situações que permitam aos alunos terem


insights. Essa teoria influenciou o processo de aquisição de leitura e escrita
a partir de uma ótica da alfabetização como um processo global.

Humanismo
A corrente humanista coloca o homem no centro de suas reflexões,
mas o faz numa perspectiva otimista. Seus pressupostos contrapõem-se à
visão de homem de outras correntes psicológicas como o behaviorismo e a
psicanálise. Um dos principais representantes do humanismo cujo pensamento
e obra tiveram grande contribuição para educação foi o psicólogo norte
americano Carl Rogers (1902-1987). O pensamento de Rogers para a
educação é uma extensão de sua teoria como psicólogo, contrário às
concepções e práticas dominantes nos consultórios. Sua psicoterapia é
definida como não-diretiva e centrada no cliente porque cabe a ele a
responsabilidade pela condução e pelo sucesso do tratamento. Esse princípio
é estendido ao ensino. Segundo ele, o papel do professor é semelhante ao
do terapeuta e o do aluno, ao do cliente. Isso quer dizer que a tarefa do
professor é facilitar o aprendizado sendo este, na verdade conduzido pelo
aluno. Tal perspectiva derivou a pedagogia não-diretiva que influenciou a
prática educativa em diversas partes do mundo rejeitando posturas autoritárias
em sala de aula e colocando o aluno no centro do processo ensino-
aprendizagem e o professor na perspectiva de facilitador desse processo.
Os críticos da pedagogia não-diretiva consideravam-na romântica e
ingênua e responsável por certo espontaneísmo na educação; além de
negligenciar a transmissão do saber formal, função da escola.

Construtivismo
Atualmente grande parte da publicação sobre aprendizagem gira em
torno de compreender como esse processo ocorre. Nessas reflexões são,
em geral, resgatadas as diferentes formas de concebê-lo partindo da

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perspectiva racionalista e da empirista para defesa da perspectiva da


aprendizagem como construção do conhecimento que seria uma superação
dos limites das concepções anteriores. O construtivismo parte do princípio de
que o conhecimento não é inerente ao próprio sujeito nem tampouco é recebido
externamente, ou advindo das observações. É sim resultado de uma interação
entre o sujeito com os objetos do conhecimento. A aquisição de conhecimentos
depende, portanto, de estruturas cognitivas inerentes ao próprio sujeito como
de sua relação com o objeto do conhecimento. Ou seja, o conhecimento surge
da interação destes dois aspectos, daí a terminologia interacionista também
atribuída a essa concepção. Acrescenta-se que o conhecimento resulta de
processo de descoberta, de busca contínua; ele é construído, daí construtivismo.
O maior representante do construtivismo foi o suíço Jean Piaget (1896-
1980), biólogo, depois psicólogo, realizou várias pesquisas sobre o modo
como a criança de desenvolve cognitivamente. Derivada de suas pesquisas
com crianças, elaborou sua teoria, conhecida como Epistemologia Genética.
Sua teoria é bastante rica em conceitos que ajudam a explicar o modo como
a criança aprende; apresenta também uma explicação do desenvolvimento
infantil por meio de estágios que partem de um aprendizado sensório-motor à
capacidade de abstração. Piaget descreve detalhadamente o modo de
aprender em cada um dos estágios (sensório-motor, pré-operatório, operatório-
concreto e operatório formal) o que muito colaborou para orientação da prática
pedagógica conforme o seu desenvolvimento cognitivo. Piaget ao realizar seus
estudos não estava preocupado com a educação, mas a construção da sua
teoria do conhecimento subsidiou o construtivismo.
Outra representante do construtivismo de grande respaldo entre os
educadores é Emília Ferreiro, argentina, discípula de Piaget. Em parceria com
a pedagoga Ana Teberosky, Emília Ferreiro realizou uma revolução nas
propostas de alfabetização com seus estudos sobre psicogênese da escrita.
Sua teoria tem sido muito aplicada na formação de professores alfabetizadores
mundo afora.

137
História da Educação

Sócio-histórico
Lev Semenovich Vygotsky (1896-1934) é um dos autores mais
fascinantes dos tempos atuais. Nascido na Bielo-Rússia, contemporâneo de
Piaget, mas em contexto político totalmente divergente, tornou-se partidário
da Revolução Russa defendia os ideais de justiça social da Revolução.
Extremante inteligente, fez várias faculdades, mas se dedicou à Pedagogia e
Psicologia. Elaborou uma teoria do desenvolvimento afirmando que o
conhecimento é construído socialmente, nas relações humanas. Sua teoria
tem por base o desenvolvimento do indivíduo como resultado de um
processo sócio-histórico. Nesse processo de desenvolvimento, o
aprendizado e a linguagem ocupam função de destaque. Pela
consideração do desenvolvimento como resultado de um processo social
e de um homem histórico (herança marxista), sua teoria é histórico-social
ou sócio-histórica.
Para Vygotsky, o cérebro é a base biológica para o desenvolvimento
humano. Todavia, o alcance das funções psicológicas superiores só podem
ser construídas na relação do homem com o mundo, durante sua história
social, vez que as funções psicológicas superiores referem-se a processos
conscientes, mecanismos intencionais e dependem de aprendizagem.
Vygotsky percebia um duplo estágio de desenvolvimento o real (aquele já
alcançado) e potencial (aquele em vias de ocorrer). O seu conceito de
desenvolvimento potencial é básico para educação, pois é sobre ele que
devem atuar os professores fazendo tornar-se real, por meio do processo de
mediação, aquilo que já está em potencial no indivíduo. É por meio da
mediação que ocorrerá o aprendizado e o desenvolvimento. Para o autor a
escola deve dirigir o ensino não para etapas intelectuais já alcançadas, mas
para estágios de desenvolvimento ainda não incorporados pelos alunos. Nessa
concepção o professor tem o papel explícito de interferir na zona de
desenvolvimento proximal dos alunos, provocando avanços que não ocorreriam
espontaneamente.

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Vygotsky teve grandes colaboradores no desenvolvimento do deu


pensamento: Alexander Luria e A. Leontiev. No Brasil, suas ideias são
difundidas somente a partir da década de 1980, mas tiveram grande
repercussão entre os pedagogos.

5.4.1.2 Tendências sociológicas

Para compreender a influência da Sociologia na Educação, é oportuno


resgatar o antagonismo gerado pelo processo de industrialização e o
enriquecimento da burguesia que produziu uma sociedade claramente dividida
entre duas classes: a que detinha os meios de produção (burguesia) e grande
massa trabalhadora (os proletários) desprovidos de direitos básicos como
educação. Essa conjuntura social faz surgir um conjunto de teorias explicativas
dessa condição bem proposta de superação da mesma.

O Socialismo
Conforme mencionado no capítulo anterior, a teoria socialista procura
explicar os elementos presentes na conjunção de forças antes mencionada,
salienta a luta pela educação e outros direitos dos trabalhadores. A
possibilidade prática desse pensamento ocorre com a Revolução Russa em
1917. Algumas ideias desse pensamento serão apresentadas por meio das
ideias de Antonio Gramsci e da educação nos países socialistas.

Antonio Gramsci
Gramsci (1891-1937), nasceu na Itália foi um grande intelectual, suas
ideias de esquerda foram reprimidas pelo fascismo de Mussolini e ele foi
preso por 11 anos, morrendo na prisão onde escreveu grande parte de suas
obras que tiveram e ainda tem grande impacto na educação. Acreditava em
um projeto político que levasse à revolução proletária, que, todavia, só ocorreria
a partir de mudanças na mentalidade dos cidadãos. Os agentes principais

139
História da Educação

da transformação seriam os intelectuais orgânicos, forjados no seio das


massas, dos movimentos sociais organizados e que, através da escola,
tenham adquirido conhecimentos para organizar a cultura e os valores do
proletariado rejeitando a ideologia burguesa que, infiltrada nas instituições,
tenta ser hegemônica. Suas ideias contrapunham-se em vários aspectos ao
marxismo. Um deles diz respeito ao papel das instituições sociais (Escola,
Igreja, o Estado, sindicatos etc.) que na teoria marxistas apenas reproduzem
a ideologia burguesa; Gramsci acreditava que estariam nessas instituições o
início das transformações por meio do surgimento de uma nova mentalidade
ligada às classes dominadas, a ideologia do proletário, cujos representantes
são os intelectuais orgânicos. Dessa forma, seria quebrada a hegemonia
burguesa (dominação de uma classe social sobre as demais), através da
contra-hegemonia. Para Gramsci, as classes desfavorecidas devem se
apropriar dos conhecimentos dominantes na sociedade (saberes formais) para
ter acesso à condição de cidadão e assumir seu papel na mudança social. O
pensamento gramsciano influenciou muitos pedagogos no Brasil.

Educação nos países socialistas


Nos países que adotaram o regime socialista, a educação está voltada
para universalização da escola elementar de forma gratuita e obrigatória. O
fundamento das práticas educativas está na teoria marxista e socialista. O
primeiro exemplo da educação socialista foi na União das Repúblicas
Socialista Soviética –URSS após a Revolução Russa e ascensão do governo
comunista. A política educacional, posta em prática por Lênin e sua esposa
Krupskaia, pautava-se na concepção de educação politécnica marxista, que
unia educação e trabalho, trabalho intelectual e manual concebidos numa
perspectiva dialética que um complementa e deriva o outro. Não se tratava
de “educação profissional”. Manacorda (1997) cita como características da
educação soviética aprovada em Congresso por influência de Lênin e
Krupskaia o seguinte:

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instrução geral e politécnica(que faz conhece em teoria e m prática


todos os ramos principais da produção), gratuita e obrigatória para
todas as crianças e adolescentes dos dois sexos, até os 17 anos.
Plena realização dos princípios da escola única do trabalho, com
o ensino na língua materna (...) absolutamente laica, livre de
qualquer influência religiosa. (p. 314)

É pertinente citar que o governo de Lênin realizou várias alterações


na educação soviética, pois dela era um entusiasta, iniciando com um
processo de alfabetização de toda a população; educação voltada para as
necessidades reais do país de superação de suas dificuldades e formação
do novo cidadão. Makarenko(1888-1939) foi outro pedagogo que colaborou
na definição dessa educação. Com a ditadura stalinista algumas ideias e
práticas da educação socialista introduzidas por Lênin, Kruspkaia e Makarenko
são modificadas.
A China também experimentou uma educação socialista com a
revolução de 1949 liderada por Mao Tsetung que teve reveses diferenciados,
posteriormente com a ditadura cultura imposta a partir de 1960. Na América,
o exemplo mais clássico é o de Cuba, que, com a revolução de 1959, inicia
um trabalho educacional até reconhecido mundo afora. Como o país estava
falido economicamente pelos anos anteriores de ditadura, grande parte da
população (estudantes, professores, funcionários) teve que unir o trabalho no
campo com um trabalho de educação da grande massa analfabeta e das
crianças que não tinham acesso à escolarização. Na prática, quem tinha algum
conhecimento foi transformado em “professor”, reduzindo em níveis
impressionantes o analfabetismo no país. Aranha (1996) cita que

são criados semi-internatos com bolsas e alojamento; ensino


técnico e profissional; creches para os filhos das mães
trabalhadoras; escolas para deficientes físicos e mentais e
formação de professores, em todas as províncias. A reformulação
dos currículos apóia-se na discussão entre grupos de professores
e em função da perspectiva socialista. Além disso, os livros e os
demais materiais didáticos são barateados. ( p. 179)

141
História da Educação

5.4.2 A teoria progressista

Na teoria progressista o pressuposto fundamental é a construção de


uma pedagogia social e crítica, contestando desde a escola tradicional às
propostas educacionais contemporâneas que ora voltam-se para o processo/
método(escolas ativas), ora negam a função do professor e, ainda, a negação
da própria escolas (desescolarização de Illich). Os pioneiros dessa teoria são
os pensadores russos Anton Makarenko, Pistrak e, posteriormente, o italiano
Gramsci e George Snyders, educador francês. O pensamento de Snyders
está traduzido em suas obras: “Pedagogia Progressista”, “Escola, classe e
luta de classes” e “Para onde vão as pedagogias não-diretivas?”
Em linhas gerais, as pedagogias progressistas consideram o
indivíduo construtor de sua história. Para isso, ele necessita apropriar-se dos
instrumentos adequados que o permitirão tornar-se autônomo intelectual e
politicamente, o que passa pelo caminho da escola formal e da aquisição dos
conteúdos de ensino submetidos à crítica reflexiva dos sujeitos históricos (aluno
e professor), contextualizando-os a partir de situações concretas de forma a
romper os preconceitos do saber formal. Tais preconceitos existem porque os
conteúdos escolares estão carregados de ideologia das classes dominantes.
Daí a importância do professor demonstrando as problemáticas sociais, auxiliando
a desvelar o real; ele funcionará como um mediador entre o saber formal já
elaborado e aquele que será construído pelo aluno. As relações entre o professor
e os alunos, portanto, são de horizontalidade. Os teóricos progressistas acreditam
que assim se chegará à transformação social. No Brasil essa teoria teve grande
repercussão, sendo base para várias pedagogias.

5.4.3 A teoria crítica e crítico-reprodutivista

O que se costuma chamar teoria crítica é uma referência ao movimento


dos pensadores da Escola de Frankfurt na Alemanha surgido na década de

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1920 e tem como principais representantes Max Horkheimer, Theodor Adorno,


Herbert Marcuse, Walter Benjamim e Erich Fromm. Esses estudiosos partem
da teoria marxista, mas criticam seu caráter ortodoxo; do mesmo modo
criticam o capitalismo pelos efeitos negativos na sociedade e o não
cumprimento dos ideais do iluminismo. Eles elaboraram uma teoria crítica
da sociedade; percebem-na desprovida de afetos, paixões, subjetividades,
pois é regida pela razão instrumental que prima o lucro, os negócios
individualizados, que gera exclusão e fome, mesmo com a ciência e a
tecnologia(ARANHA, 1996). Na perspectiva desses teóricos é necessário
resgatar o argumento da razão humana, mas para colocá-la serviço da própria
humanidade, de sua emancipação. Nesse sentido, contribuem com a reflexão
pedagógica acerca do papel da educação na sociedade, especificamente
com os temas de natureza filosófica e sociológica.
Na esteira das teorias críticas, a partir de 1960, organiza-se a teoria
crítico-reprodutivista. Os autores dessa teoria partem de uma análise crítica
da educação e concluem que os diversos condicionantes sociais não permitem
à escola funcionar como mecanismo de democratização social, mas apenas
como reprodutora da estrutura social vigente. Embora pertençam à mesma
concepção, os representantes dessa teoria explicam a reprodução de formas
diferentes. Bourdieu e Passeron desenvolvem o conceito de violência
simbólica para demonstrar como o sistema educacional, através da ação e
autoridade pedagógica, impõe a cultura da classe dominante aos menos
favorecidos; o não domínio desses instrumentos culturais leva as crianças
desfavorecidas ao fracasso escolar. Para Louis Althusser, autor da obra
“Aparelhos Ideológicos do Estado”, a manutenção das estruturas sociais de
poder acontecem por meio dos aparelhos de Estado que são de dois tipo: os
repressivos (exército, polícia etc.) e os ideológicos, representado pelas
instituições sociais civis (escola, igrejas, família, política etc.) que por meio da
imposição de valores, reproduzem a sociedade. Dentre os aparelhos
ideológicos de Estado, a escola é a instituição que mais possibilidades tem

143
História da Educação

de inculcar os valores de reprodução social. Por fim, a escola reproduz a


sociedade por meio da escola dualista, é o que dizem Baudelot e Establet.
Para esses autores, a sociedade capitalista produz duas escolas a secundária
superior (SS) e a primária profissional (PP). À primeira escola, apenas os
filhos das classes dominantes têm acesso; à segunda destinam-se os filhos
dos proletários. O processo de seleção, ou exclusão, ocorre porque a escola,
que serve aos interesses burgueses, impede o progresso dos filhos dos
trabalhadores obrigando-os a dirigirem-se para força de trabalho de que
sociedade necessita.

5.4.4 O pragmatismo na educação e a escola nova

Chamamos de Pragmatismo a corrente teórica que se desenvolveu


principalmente nos EUA e Grã-Bretanha, cuja característica principal é a
contraposição ao idealismo – contemplativo e muito teórico. Influenciada pelo
empirismo, antiintelectualista é baseado na prática e na experiência. O
pragmatismo favoreceu a criação, desde 1899, na Inglaterra, de uma série de
escolas experimentais conhecidas como “escolas novas”. As escolas novas
começam na Inglaterra e logo são criadas várias em outros países: França,
Alemanha, Bélgica, Itália e Estados Unidos. O movimento se expande de
maneira tal que, dez anos depois, em 1899, é fundado o Bureau Internacional
das Escolas novas, que estabelecia critérios mínimos para uma instituição
ser aceita como escola nova, são eles:

educação integral (intelectual, moral e física); educação ativa;


educação prática, sendo obrigatórios os trabalhos manuais;
exercício de autonomia; vida no campo; internato; co-educação;
ensino individualizado. (ARANHA, 1996, p. 172)

Seu maior expoente foi o filósofo e educador estadunidense John


Dewey, nascido 1859, no estado norte-americano de Vermont. Dentre outros
temas estudou e escreveu sobre filosofia, educação e epistemologia e
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psicologia. Passou a interessar-se por pedagogia ao constatar que a escola


permanecia inalterada em muitos aspectos e orientada por valores tradicionais
não incorporado as descobertas da psicologia e tecnológicas.
A necessidade de valorizar a capacidade de pensar dos alunos, prepará-
los para questionar a realidade, unir teoria e prática, problematizar, são algumas
das preocupações de John Dewey, que influenciou educadores de várias partes
do mundo. Um de seus principais objetivos era educar a criança como um todo,
ou seja, o seu desenvolvimento físico, emocional e intelectual.
Embora o pensamento de Dewey tenha se tornado conhecido como
pragmatismo, ele preferia o termo instrumentalismo – vez que, para essa
escola de pensamento, as ideias só têm importância quando servem de
instrumento para a resolução de problemas reais. No campo específico da
pedagogia, a teoria de Dewey se inscreve na chamada educação
progressiva.
O princípio é que os alunos aprendem melhor realizando tarefas
associadas aos conteúdos ensinados. Atividades manuais e criativas
ganharam destaque no currículo e as crianças passaram a ser estimuladas a
experimentar e pensar por si mesmas. Nesse contexto, a democracia ganha
peso, por ser a ordem política que permite o maior desenvolvimento dos
indivíduos, no papel de decidir em conjunto o destino do grupo. Democracia
não só no campo institucional, mas também no interior das escolas.
O conhecimento é construído de consensos, que por sua vez resultam
de discussões coletivas; a escola deve proporcionar práticas conjuntas e
promover situações de cooperação, em vez de lidar com as crianças de forma
isolada. Portanto, o sucesso do processo educativo, dependerá da existência
de comunicação entre as pessoas de um grupo; da troca de ideias,
sentimentos e experiências sobre situações práticas do dia a dia. O papel
da escola, segundo Dewey é apresentar o mundo de um modo simplificado e
organizado e, aos poucos, conduzir as crianças ao sentido e à compreensão
das coisas mais complexas. Em outras palavras, o objetivo da escola deveria

145
História da Educação

ser ensinar a criança a viver no mundo. Educar é incentivar o desejo de


desenvolvimento contínuo, preparar pessoas para transformar algo.
A experiência educativa deve ser reflexiva cujos pontos essenciais
são: aluno em situação de experimentação; com atividade e interesse; com
um problema a ser resolvido; o aluno necessita de conhecimentos para agir
diante da situação e com chances para testar suas ideias. Isso gera um
processo de reflexão e ação que não podem ser concebidos separadamente.
Outro principio do pensamento de Dewey é o de liberdade intelectual.
Para ele, o aluno deve elaborar as suas convicções, seus conhecimentos e
regras morais. No que se refere ao aspecto metodológico, o professor deve
apresentar os conteúdos escolares na forma de questões (problemas) e jamais
fornecer respostas prontas. Deve utilizar procedimentos que levem o aluno
raciocinar e elaborar os próprios conceitos para depois confrontar com o
conhecimento sistematizado.
No Brasil inspirou o movimento conhecido como “Escola Nova”,
liderado por Anísio Teixeira, ao colocar a atividade prática e a democracia
como importantes ingredientes da educação. Em 1932, portanto, mais de meio
século depois que o movimento teve início na Europa, é assinado o “Manifesto
dos Pioneiros da Escola Nova”. Entre os principais signatários estavam Anísio
Teixeira, Fernando de Azevedo e Lourenço Filho.
Apesar da ampla divulgação e aceitação da teoria construtivista
poucos autores relacionam os fundamentos ao pensamento de Dewey. Pode-
se afirmar que as teorias mais modernas da didática e as bases teóricas dos
Parâmetros Curriculares Nacionais, têm inspiração também nesse educador.
Na Europa, várias experiências educativas com fundamento nos
métodos da Escola Nova tornaram-se famosas, bem como seus
representantes. Por questões de delimitação de trabalho, serão citadas apenas
as de maior expressão. As “Escolas de métodos ativos” criadas na Itália e na
Bélgica. Na Itália, pela médica Maria Montessori (1870-1952) que realizou
estudos sobre psicologia infantil, interessou-se especialmente por crianças

146
FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia

com problemas mentais e pelos filhos das classes mais pobres, criando para
isso, em 1907, a Casa de Bambini, em Roma. Escreveu várias obras
difundindo seu método de trabalho. Outro representante que ficou conhecido,
foi o belga Ovide Decroly (1871-1932), também médico, fundou a Escola do
Ermitage; procurou perceber os centros de interesse da criança que
poderiam facilitar a aprendizagem; inspira-se em parte na psicologia Gestalt
e suas ideias colaboraram com propostas de alfabetização.
Já o francês Célestin Freinet (1896-1966) e o alemão Georg
Kerschensteiner,(1854-1932) defendem a necessária vinculação entre as
atividades da escola e o trabalho. Aranha (1996) esclarece que “o trabalho na
escola, no entanto, não se reduz a simples profissionalização, mas se insere
numa proposta de formação humana mais abrangente, voltada para os valores
individuais e, sobretudo, sociais” (p. 173). As ideias de Freinet são
consideradas inovadoras e tiveram alcance significativo em seu país e
influenciou práticas pedagógicas nas escolas brasileiras.

5.4.5 O tecnicismo na educação

A sociedade contemporânea foi marcada pela inovação tecnológica


e científica. A necessidade de estar em sintonia com essa sociedade fez surgir
na década de 1960, nos Estados Unidos da América, um movimento que se
contrapunha à escola tradicional propondo que a organização das escolas
deveria pautar-se nos mesmos critérios de organização, produtividade e
racionalização adotado pelas empresas capitalistas. O movimento defendia
que as escolas deveriam atender as exigências do mercado, formando,
portanto, mão-de-obra para o mesmo. Nessa proposta, os objetivos de ensino
são definidos em termos de mudança de comportamento, instrucionais,
cuidadosamente definidos por um professor que deve comportar-se mais como
técnico e buscar selecionar bem as estratégias didáticas para alcançar seus
fins. Nessa perspectiva, os meios didáticos são mais importantes que o próprio

147
História da Educação

processo de aprendizagem; ganha espaço nas salas de aula a tecnologia


educacional, como: máquinas de ensinar, tele-ensino, TV, slides, vídeo etc.,
daí o nome tecnicismo. Essa concepção é inspirada no positivismo e na
psicologia behaviorista; adota, portanto, princípios de neutralidade para
educação e formação de um homem passivo do ponto de vista social. No
Brasil o tecnicismo teve grande influência na educação da década de 1970,
sob os auspícios da ditadura.

Perspectivas educacionais contemporâneas


Ao concluir essa breve abordagem da educação contemporaneidade,
é precioso reforçar aqui as observações de Luzuriaga(1987) e Cambi(1999)
e Manacorda(1997) acerca da riqueza educacional produzida por essa época.
Essa riqueza mostra que a educação tem ocupado relativa centralidade nos
debates sociais; o que denuncia sua importância, e ao mesmo tempo, revela
o quão tem sido insuficiente no atendimento das demandas reais da
sociedade, especialmente das classes mais populares. O projeto idealizado
da democratização do ensino iniciado na idade moderna e aprofundado nessa
época não se completou ainda, quer seja porque a cada dia surgem novos
contornos sociais e as demandas se reelaboram; quer seja pelas
particularidades de cada país.
No início deste capítulo destacou-se o quanto a contemporaneidade
foi repleta de conflitos, mas ao mesmo tempo, foi época de garantia de direitos.
Em relação à educação os movimentos mais recentes tem ampliado a
configuração desses direitos incluindo sujeitos antes esquecidos, é caso
das pessoas com necessidades educacionais especiais e os grupos étnicos
minoritários. O ingresso desses novos sujeitos no cenário teórico da educação
vem proporcionado uma construção com poucos capítulos ensaiados. Espera-
se que as próximas décadas promovam registros de uma história ou muitas
histórias de sucesso nesse campo da inclusão educacional como garantia de
cumprimento de direitos humanos básicos.

148
FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia

Em outra perspectiva, estão as novas modalidades de ensino.


Certamente um capítulo necessário de construção é o da Educação a Distância
e dos cursos semipresenciais. Reveladores de uma nova realidade social
exigente de novas formas de fazer a prática educativa formal, muito há para
ser conhecido, sistematizado e divulgado.

RESUMO

Esta Unidade apresentou uma síntese do pensamento educacional


na época contemporânea. Partiu-se da caracterização geral do contexto
contemporâneo seus grandes conflitos sociais, desafios e avanços em grande
parte resultante dos movimentos da sociedade civil organizada. Nesse
contexto, foram situadas as concepções e práticas educativas, salientando-
se alguns dos seus representantes. Foi ressaltada a clara ascensão da
influência sociológica na educação, os movimentos de crítica à educação
capitalista, sua manifestação nos países socialistas e uma redução da
tendência psicológica, marca da Idade Moderna, muito embora, seja uma
época de grandes expoentes na Psicologia e que muito colaboraram coma
configuração educacional da época.

LEITURA COMPLEMENTAR

• Para aprofundar acerca da educação contemporânea leia os capítulos 11


e 13 do livro História da Educação de Mª Lúcia de Arruda Aranha (1996).
• Para conhecer mais sobre as teorias críticas e a educação leia o capítulo
15 do livro Filosofia da Educação de Mª Lúcia de Arruda Aranha (2006).

ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM

1. O contexto social da fase contemporânea é marcado por conflitos de


natureza diversa. Qual a origem desses conflitos?
149
História da Educação

2. A principal bandeira da educação na fase contemporânea é a


democratização do ensino. Explique no que consiste essa bandeira e quais
são os principais protagonistas dessa luta.
3. Na idade contemporânea há uma redução da influência psicológica na
educação em contraposição à ascendência sociológica. Por que isso
acontece?
4. Explique por que a teoria construtivista apresenta-se como superação das
formas anteriores de concepção de aprendizagem.
5. No que a perspectiva sócio-histórica se distingue do construtivismo.
6. Pesquise e explique quais as implicações do conceito de Zona de
Desenvolvimento Proximal – ZDP da teoria vigotskiana para educação.
7. Que relação pode ser estabelecida entre a ideia de “hegemonia” e “contra-
hegemonia” de Gramsci e a superação das desigualdades sociais.
8. Pesquise e explique a relação entre a teoria progressista, mais
especificamente o pensamento de George Snyders, e a pedagogia crítico-
social dos conteúdos no Brasil.
9. Explique como os teóricos crítico-reprodutivistas explicam a função da escola
de manutenção da estrutura social dominante.
10. Destaque as principais contribuições da escola nova para a educação.
11. Que diferença fundamental pode ser apontada entre a concepção
politécnica de educação dos países socialistas e perspectiva tecnicista
inspirada no behaviorismo.
Para refletir: a fase contemporânea é considerada um período de
lutas, mas de conquista de vários direitos. Conquistas essas cujas lutas foram
iniciadas ainda na idade moderna. Como pode ser avaliado, atualmente, a
garantia dos direitos de alguns segmentos como: a criança, a mulher, o negro,
o índio, o homossexual, dentre outros?

Sugestão de filme referente ao tema


• Escritores da Liberdade, 2007. Direção: Richard La Gravanese.

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PARA FINALIZAR

Nesse trabalho foi feita uma abordagem da História da Educação,


iniciando-se coma antiguidade até a fase contemporânea. O propósito foi
apresentar de forma sucinta os principais temas de cada época de permitindo
ao leitor aprofundar tais temáticas, conforme seus interesses e necessidades.
Na primeira Unidade, o foco foi a importância do conhecimento
histórico para compreensão da realidade atual, bem como o objetivo de estudo
da disciplina História da educação. Essas reflexões permitirão ao leitor atento
perceber que as práticas educativas da atualidade são melhor compreendidas
na sua análise histórica.
Na segunda Unidade apresentou-se a prática de educação difusa
das comunidades primitivas que contrasta com o nível de organização das
sociedades orientais com um acultura mais sistematizada, com uso da escrita
e que, não obstante, o conhecimento permanece vinculado ao divino. Viu-se
também nessa Unidade o surgimento das sociedades clássicas. Na Grécia
um ideal de educação bem forjado no conjunto das ações heróicas homéricas
bem na formação do guerreiro perfeito em Esparta. Viu-se que esse modelo
inicial evoluiu para o ideal formativo da Paideia. O surgimento da filosofia foi
mostrado assim como a constituição de um pensamento pedagógico, não
somente em decorrência da filosofia, mas também da sofística. Foi mostrado
também a educação em Roma, de início marcada pelo poder do paterfamilias.,
o papel da família e da mulher na educação romana em suas diversas fases,
bem como a diferença entre o ideal da humanitas romana e a educação
helênica.
A terceira Unidade abordou a idade média, destacando o contexto
social que caracterizou a época; a influência inicial das chamadas civilizações
clássicas recolocadas na perspectiva da cultura medieval e o domínio do
cristianismo. A maior influência da época foi componente religioso, onde
sobressaíram-se o enciclopedismo e a escolástica. Não obstante, mostrou-

151
História da Educação

se como a educação no medievo sofreu influência dos árabes além de


desenvolver um tipo de educação muito particular, a do cavalheiro medieval.
Por fim apresentou-se também o surgimento das Universidades.
A quarta Unidade abordou a Idade Moderna, destacando o surgimento
da classe burguesa que reduz o poder da Igreja. Como conseqüência,
organiza-se uma educação secular. Nesta Unidade, é mostrada a constituição
de um novo modo de pensar a educação, a partir de várias teorias inspiradas
no conhecimento científico emergente. Carro chefe dessa nova fase é o
movimento Renascentista. Além desse movimento, outros são apresentados
como a Reforma e a Contra-reforma religiosas. Por fim a síntese do pensamento
pedagógico moderno identificado pelo iluminismo, realismo, positivismo e
socialismo. A idade moderna é também identificada como a época de
hegemonia do capitalismo; assim a discussão dos seus fundamentos
perpassa o pensamento pedagógico moderno.
A quinta e última Unidade abordou a fase contemporânea da
educação. Fez-se inicialmente uma caracterização do contexto conflituoso
do mundo contemporâneo. Destacou-se que nessa fase acentuam-se os
movimentos de democratização do ensino que atenda as massas. Foi
mostrado também o pensamento de alguns teóricos representantes da
educação dessa fase destacando a ascensão da Sociologia na educação,
crítica à educação capitalista, a experiência nos países socialistas.
Por fim, recomenda-se, para melhor apreensão das informações
constantes neste material, uma revisão de cada uma das Unidades e o
fichamento do estudo realizado.

152
FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. São Paulo:


Moderna, 2006.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da educação. 3ª Ed. Ver e ampl.
São Paulo: Moderna, 2006.
BORTOLOTI, Karen Fernanda da Silva. O Ratio Studiorium e a missão no
Brasil. Disponível em: http://www.uniasselvi.com.br/aprendizagem/o-2.0/
material_apoio/material_apoio_aluno.php Acessado em: 06 mar. 2008.
BURNS, Edward Mcnall. História da civilização ocidental: do homem das
cavernas até a bomba atômica. 24.ed. Porto Alegre: Globo, 1981.
BRANDÃO. Carlos R. O que é educação. 15ª ed. São Paulo. Brasiliense.
1985.
CAMBI, Franco. História da Pedagogia; trad. Álvaro Lorencini. – São Paulo:
Editora UNESP, 1999– (Encyclopaideia)
GADOTTI, Moacir. História das ideias pedagógicas. 8 ª ed. São Paulo. Ática.
LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê? 5ª ed. São
Paulo: Cortez. (2002
LOCKE, John. “Memorandum on the reform of the poor law” em R. H. Fox
Bourne, The Life of John Locke (Londres, King, 1876, v. 2; p. 378.)
MÉSZÁROS, Isteván. A educação para além do capital. Trad.de Isa Tavares,
- São Paulo: Bomtempo, 2005.
LUZURIAGA, Lorenzo. História da Educação e da Pedagogia. Trad. Luiz
Damasco Penna e J. B. Damasco Penna.17ª ed. Atualidades pedagógicas.
São Paulo. Editora Nacional, 1987.).
KANT, Immanuel. Sobre a Pedagogia. Trad. Francisco Cock Fontanella.
Piracicaba: Ed. UNIMEP, 2002, 4.ª ed., 107p
MANACORDA, Mario A. História da Educação – da antiguidade aos
nossos tempos. Trad. De Gaetano Lo Monoco. rev. de trad. Rosa dos A.
Oliveira e Paulo Nosella.. 6ª ed. São Paulo. Cortez.

153
História da Educação

MARROU, Henri-Irènèe. História da Educação na Antiguidade. Trad. De


Mário Leônidas Casanova. São Paulo. Editora Pedagógica e Universitária
Ltda, 1975.
MATA. Giselle Moreira da. As práticas “homossexuais femininas” na
antiguidade: uma análise da poesia de Safo de Lesbos(século VII a.C)
In Aletheia: revista eletrônica de estudos sobre antiguidade e Medievo. N º
2 vol.1 janeiro/julho de 2009. ISSN:1983-2087. Encontrado em http://
www.revistaaletheia.com/20091/Giselle.pdf
MONROE, Paul. História da educação. trad. de Idel Becker. 19ª ed.
Atualidades pedagógicas São Paulo. Editora Nacional, 1988

154
AVALIAÇÃO DO LIVRO

Prezado(a) cursista:

Visando melhorar a qualidade do material didático, gostaríamos que


respondesse aos questionamentos abaixo, com presteza e discernimento.
Após, entregue a seu tutor esta avaliação. Não é necessário identificar-se.

Unidade:____________ Município: _________________


Disciplina:___________ Data: ____________________

1. No que se refere a este material, a qualidade gráfica está visualmente


clara e atraente
( ) ÓTIMO ( ) BOM ( ) RAZOÁVEL ( ) RUIM

2. Quanto ao conteúdo, está coerente, contextualizado à sua prática de


estudos
( ) ÓTIMO ( ) BOM ( ) RAZOÁVEL ( ) RUIM

3. Quanto às atividades do material, estão relacionadas aos conteúdos


estudados e compreensíveis para possíveis respostas.
( ) ÓTIMO ( ) BOM ( ) RAZOÁVEL ( ) RUIM

4. Coloque abaixo suas sugestões para melhorar a qualidade deste e de


outros materiais.
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