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Impresso

Especial
9912211301/2008 - DR/RS
Conselho Regional de
Psicologia 7ª Região
CORREIOS

Ano XII
Número 60
Out | Nov | Dez 2012

Desde a regulamentação da profissão, em 1962, até os dias de hoje, a

PSICOLOGIA
Clínica sempre se constituiu como o espaço de maior visibilidade e, até
mesmo, maior status sobre as possibilidades de fazeres em Psicologia.
Se no passado a concepção de Psicologia Clínica era restrita ao

E CLÍNICA atendimento em consultório privado por meio de atividades de


psicoterapia, hoje esse não é o único caminho possível. Esta edição do
EntreLinhas se propõe a promover uma reflexão sobre os diferentes
espaços e possibilidades da Clínica.
E
editorial
sta edição do EntreLinhas encerra o perío-
do de comemorações dos 50 anos da regu- Publicação trimestral do
lamentação da profissão no Brasil. Como Conselho Regional de
uma das ações integrantes das comemorações Psicologia do Rio Grande do Sul
desta data, lançamos no período de abril a junho
uma enquete para escolher o tema da última edi- Presidente: Loiva dos Santos Leite
Vice-Presidente: Adolfo Pizzinato
ção do ano. A categoria votou e elegeu a temáti-
Tesoureira: Tatiana Cardoso Baierle
ca que apresentamos nesta edição: Psicologia e Secretária: Roberta Fin Motta
Clínica, com 69% dos votos.
Ao longo dos 50 anos em que a Psicologia foi Conselheiros efetivos
se constituindo como profissão no Brasil, a Clí- • Vera Lúcia Pasini • Loiva dos Santos Leite• Vânia Roseli
nica sempre se configurou como o espaço de Correa de Mello• Dirce Terezinha Tatsch • Maria de Fá-
tima B. Fischer • Alexandra Maria Campelo Ximendes•
inserção com maior visibilidade e, até mesmo,
Loiva dos Santos Leite• Adolfo Pizzinato• Luciana Knij-
maior status no que se refere às possibilidades nik• Melissa Rios Classen• Elisabeth Mazeron Machado•
de fazeres em Psicologia. Durante este tempo, a Roberta Fin Motta•Tatiana Baierle
atuação se diversificou, refletindo a ampliação
do olhar sobre as práticas. Se no passado a con- Conselheiros suplentes
• Sinara Cristiane Três• Leda Rubia C. Maurina• Pedro
cepção de Psicologia Clínica era restrita ao aten-
José Pacheco• Deise Rosa Ortiz• Nelson Eduardo E.
dimento em consultório privado por meio de ati- Rivero• Rafael Volski de Oliveira• Rosa Veronese• Vânia
vidades de psicoterapia, hoje esse não é o único Fortes de Oliveira• Lutiane de Lara• Bianca Sordi Stock
caminho possível. A Clínica ganhou as ruas,
hospitais, escolas, está presente em instituições Comissão Editorial: Lutiane de Lara, Vera Lucia Pasini,
públicas e privadas, no trabalho, nos Centros de Elisabeth Mazeron Machado e Luciana Knijnik.

Atenção Psicossociais, relacionada diretamente


Jornalista Responsável: Aline Victorino – Mtb 11602
à ação política e aos Direitos Humanos. Enfim, a Estagiárias de Jornalismo: Bruna Arndt e Cintia Dias
Clínica continua sendo um dos principais cam- Redação: Aline Victorino e Belisa Giorgis
pos de atuação da profissão; porém, de forma Relações Públicas:
muito mais ampla e, por que não dizer, próxima Belisa Zoehler Giorgis / CONRERP/4 – 3007
Eventos: Adriana Burmann
aos territórios de vida das pessoas.
Comentários e sugestões: imprensa@crprs.org.br
O EntreLinhas se propõe a promover uma
reflexão sobre esses diferentes espaços e possi- Endereços CRPRS:
bilidades da Clínica, conquistados ao longo do Sede: Av. Protásio Alves, 2854/301 – Porto Alegre
tempo, graças ao permanente diálogo da Psicolo- CEP: 90410-006 – Fone/Fax: (51) 3334-6799
gia com a vida. As possibilidades não se esgotam crprs@crprs.org.br
Subsede Serra: Rua Moreira Cesar, 2712/33 – Caxias do Sul
nas práticas que retratamos aqui. O que apresen-
CEP: 95034-000 – Fone/Fax: (54) 3223-7848
tamos é apenas um indicativo da diversidade de caxias@crprs.org.br
possibilidades, sempre pautadas no compromis- Subsede Sul: Rua Félix da Cunha, 772/304 – Pelotas
so ético intrínseco ao nosso fazer profissional. Es- CEP: 96010-000 – Fone/Fax: (53) 3227-4197
peramos os textos apresentados nas próximas pá- pelotas@crprs.org.br
Subsede Centro-Oeste: Rua Marechal Floriano Peixoto,
ginas fomentem discussões, promovam confortos
1709/401 – Santa Maria
e desassossegos, afinal é assim que avançamos: CEP: 97015-373 – Fone/Fax: (55) 3219-5299
compartilhando, trocando, inventando cotidia- santamaria@crprs.org.br
namente este exercício da clínica, que necessita
constantemente colocar-se em análise. Projeto Gráfico e Diagramação:
Boa leitura! Tavane Reichert Machado
Ilustrações: Estúdio Figuras
Impressão: Ideograf
Tiragem: 16.000 exemplares
AJUDE A PRODUZIR O ENTRELINHAS Distribuição gratuita

O jornal EntreLinhas é o canal de comu-


nicação entre o Conselho e você, psicólogo. Cadastre-se no site
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gos, reportagens que você gostaria de ler aqui a newsletter
nessas páginas para imprensa@crprs.org.br . www.crprs.org.br

2
índice
Matérias de capa 19 CREPOP
Atenção à população em situação
04 a 16 Psicologia e Clínica
de rua: clínicas possíveis
20 Dica Cultural
Clínica(s) em Psicologia
O livro Negro da Psicopatologia
Vera Lúcia Pasini e Elisabeth Mazeron Machado
Contemporânea
A Clínica em Mensagem do CRPRS
diferentes espaços
21 50 anos
Clínica e subjetivação I Mostra Regional de Práticas
contemporânea: apostando em Psicologia | Jubilados
nos desvios | Profissional Destaque |
Lígia Hecker Ferreira Exposição Itinerante
Construir o destino é tarefa 22 Comunicados
intransferível Inaugurada Subsede
Maria Célia Detoni Centro-Oeste

Clínica, Assembleia Geral define


transdisciplinaridade anuidade de 2013
e política 23 CNP
Vania Mello e Eduardo Passos
24 Agenda
Clínica NO, clínica DO
trabalho
Pedro F. Bendassolli
Correção 1
O CRPRS retifica a informação apresentada no artigo
A clínica e seu vir-a-ser ou “Psicologia no Rio Grande do Sul: Pioneirismo e Conso-

daquilo que a clínica “bem lidação” de autoria do Prof. Dr. William Gomes, publica-
do na Edição nº 59 do jornal EntreLinhas. O Rio Grande
que podia ser” do Sul tem quatro universidades que oferecem cinco
Simone Mainieri Paulon programas de pós-graduação sticto sensu, sendo dois
deles da UFRGS: UFRGS - Programa de Pós-Graduação
em Psicologia Social e Institucional; UFRGS - Programa
Clínica e Direitos Humanos de Pós-Graduação em Psicologia; PUCRS - Programa de
Vera Vital Brasil Pós-Graduação em Psicologia; UNISINOS - Programa de
Pós-Graduação em Psicologia; UFSM - Programa de Pós-
-Graduação em Psicologia.

17 Orientação
Correção 2
Sigilo e atendimento Com relação à entrevista do psicólogo Francisco
psicológico Pedro Estrazulas Pereira, publicada na Edição nº 59, o
CRPRS esclarece que Francisco Pedro foi o primeiro psi-

Esclarecimento aos psicólogos cólogo clínico nomeado no Estado; seu primeiro traba-
lho em consultoria organizacional foi na Wallig; o título
que atuam na área de RH correto de sua dissertação de mestrado na USC é “The
dynamics of organizational recovery: an analogy to the
Novo Horário de Atendimento process of psychotherapy”.
da Área Técnica
3
Clínica(s) em Psicologia
psicologia e clínica

Vera Lúcia Pasini¹


Elisabeth Mazeron Machado²

N
o momento em que se definiu o tema essas áreas de formação e atuação, a clínica rapi-
desta edição do Jornal Entrelinhas, ocu- damente foi ganhando um espaço de maior visi-
pávamos as funções de Conselheira Pre- bilidade e, até mesmo, mesmo um status de maior
sidente do CRPRS e de Conselheira Presidente da importância entre as possibilidades de fazeres em
Comissão de Psicoterapia e fomos convidadas a Psicologia, sendo reconhecida socialmente como
escrever um texto que expressasse a concepção lócus natural deste profissional.
da atual gestão quanto exercício da Clínica em A concepção clássica de Psicologia Clínica (Lo
Psicologia. A proposta foi tomada como um desa- Bianco, Bastos, Nunes, & Silva, 1994) previa o exer-
fio, pois precisávamos escrever um texto autoral, cício liberal, em consultório privado, no qual eram
mas que pudesse falar também por um coletivo. realizadas atividades de psicoterapia e/ou psico-
O caminho tomado para iniciar esta escrita foi diagnóstico, fundamentados em enfoques teóricos
evocar o que nos vem ao pensamento quando fa- e técnicos baseados em certa dimensão “intrapsí-
lamos em Clínica na Psico- quica”, das emoções, do desejo e do incons-
logia e algumas ideias ciente. Naquele momen-
emergiram: um certo to, a clínica estava
espaço físico; um atravessada pelo
determinado set- discurso psico-
ting terapêuti- lógico da mo-
co; modos de dernidade, na
compreen- qual está pre-
der os pro- sente a ideia
cessos de de uma exis-
subjetiva- tência psicoló-
ção vigen- gica e percep-
tes em um ção de si mesmo
determinado como ente subjetivo,
tempo; deter- entendido como indi-
minadas filiações vidual, privado e interior.
teóricas e concei- Porém, a partir dos anos 1980,
tuais; escolas e espaços de formação diversos. A as concepções de subjetividade e singularidade
partir desses fragmentos, resolvemos então colo- passam a ser problematizadas desde uma pers-
car nosso pensamento em movimento, buscando pectiva social, histórica e política. O modelo de
entender um pouco mais sobre como estas evoca- formação cujo eixo central era a formação de pro-
ções se produzem em nós. fissionais liberais para atuarem na área privada,
Sabemos que a profissão de Psicólogo(a), nas- junto às populações com maior poder aquisitivo,
ce no Brasil em 1962 demarcada por três grandes desloca-se para um campo mais plural de atenção,
áreas de atuação: a clínica, a escolar e a industrial. onde o(a) Psicólogo(a) passa a compor equipes
Naquele contexto esperava-se que esta profissão de trabalho vinculadas às políticas públicas (es-
emergente interviesse em uma maior adequação pecialmente na saúde), aproximando-se cada vez
das pessoas no contexto do ensino e na relação mais de pessoas não consumidoras da cultura Psi.
com os postos de trabalho, visando o avanço do Se, nos anos anteriores, pareceu-nos tranquilo
desenvolvimento que se colocava em curso. Entre dizer que éramos Psicólogos(as) Clínicos, sempre

4
que nos referíamos à atividade de atendimento ções teóricas e conceituais, forjada em escolas

psicologia e clínica
de pessoas em consultório privado, na qual valo- e espaços de formação diversos. Porém, preci-
res como a neutralidade e individualidade eram samos estar atentos para não sermos captura-
fundamentais, a partir de então a separação entre dos pela lógica da urgência presente em nosso
clínica e política começa a ser colocada em che- tempo, para que a clínica não seja tomada pelos
que. A necessidade de pensar outras formas de parâmetros de eficiência que produzem apegos
aproximação das questões de saúde mental, de tecnicistas e instrumentais que possam embotar
problematizar a loucura, de conviver com modos sua capacidade de produzir vínculos, afetos e
de sua expressão, de tratá-la em espaços estranhos crítica. Como refere Ferreira Neto (2010,p. 139):
aos habituais, colocou-nos diante de um questiona-
mento: é possível separar clínica de ação política? Se parte da Psicologia no Brasil foi capaz de
Em seu encontro com o campo das Políticas Pú- problematizar as implicações políticas de sua
blicas a Clínica se faz Ampliada (Campos, 2003), prática, ela o fez por entender que sua ativida-
Nômade (Ferla, 2007), Peripatética (Lancetti, 2006), de vai além do simples procedimento técnico:
questionando os modos como vínhamos conceben- ela também opera e produz modos de subje-
do o cuidado de pessoas, os diagnósticos vincula- tivação. Seus profissionais, portanto, não são
dos à loucura; a maior aproximação da Psicologia técnicos assepticamente neutros, mas sujeitos
aos territórios de vida das pessoas; a construção eticamente posicionados.
de sustentações teóricas sobre a inseparabilidade
entre a individualidade e a vida social na produção Neste sentido, “nossas interlocuções devem
de subjetividade; o fortalecimento dos movimen- ser presididas por posições ético-políticas defini-
tos sociais na busca pela garantia de direitos (Fer- das e fundamentadas num diagnóstico de nosso
reira Neto, 2004). Todos esses movimentos vão de- presente” (Ferreira Neto, 2010, p. 140), que não se
sestabilizando o que classicamente entendíamos produz sem abertura para a invenção de novos
como Clínica em Psicologia. modos de ser e fazer a clínica da Psicologia.
Atualmente quando pensamos em intervenção
¹ Psicóloga, com Mestrado e Doutorado em Psicologia Social
clínica, varias representações são possíveis: o traba-
pela PUC/RS, integrante da Equipe Gestores do Cuidado em
lho em consultório privado; a inserção em equipes Saúde Mental do Grupo Hospitalar Conceição e docente da
de atenção à saúde no campo das Políticas Públicas Escola GHC, conselheira da gestão 2010/2013 do CRPRS.

em diferentes âmbitos de atuação – hospitais, aten-


² Psicóloga, com Mestrado em Sociologia pela UFRGS, douto-
ção primária a saúde, Centros de Atenção psicos- randa em Sociologia pela UFRGS, especialista em Teoria Psica-
sociais, ambulatórios, consultórios na rua. Nesses nalítica pelo ICPT, conselheira da gestão 2010/2013 do CRPRS,
conselheira presidente da Comissão de Psicoterapia do CRPRS,
espaços, diferentes modos de exercício da clínica professora de ensino superior e psicoterapeuta.
se colocam em movimento, ampliase o debate epis-
temológico e ético, exigindo o deslocamento de
Referências
antigos referenciais e a abertura para novas pos- CAMPOS, G. W. S. Saúde Paidéia. São Paulo: Hucitec, 2003.
sibilidades de fazeres, nos quais a invenção é uma
LANCETTI, A. Clínica Peripatética. São Paulo: Hucitec, 2006.
constante e as certezas cada vez mais escassas. A
clínica, antes lócus natural, setting protegido, espaço LO BIANCO, A. C.; BASTOS, A. V.; NUNES, M. L. & SILVA, R. C.
de neutralidade, é, agora, processo, construção, im- Concepções e atividades emergentes na psicologia clínica:
implicações para a formação. Em CFP Psicólogo brasileiro: prá-
plicação, diálogo com o mundo da vida.
ticas emergentes e desafios para a formação. São Paulo: Casa
Entendemos ser exatamente esta a potência do Psicólogo, 1994.
da Clínica no contemporâneo: sua possibilida-
FERLA, A. A. Clínica em movimento: cartografia do cuidado em
de de exercer-se em diferentes espaços físicos, saúde. Caxias do Sul: Educs, 2007.
concebendo variados settings terapêuticos, pro-
pondo diferentes modos de compreender os FERREIRA NETO, J.L. (2010). Uma genealogia da formação do
psicólogo brasileiro. Memorandum 18, abril/2010. Belo Hori-
processos de subjetivação vigentes, colocando- zonte: UFMG; Ribeirão Preto: USP. Disponível em: http://www.
-se em funcionamento a partir de múltiplas afilia- fafich.ufmg.br/~memorandum/a18/ferreiraneto01.pdf

5
A Clínica em diferentes espaços
psicologia e clínica

A
Psicologia é marcada pela multipli- Assim como Alzira, Lúcia Grigoletti, de
cidade, seja pelas inúmeras possi- Pelotas, acumula experiência tanto na clínica
bilidades de intervenção e atuação privada, quanto na pública, na Clínica Psico-
ou pelos diferentes marcos conceituais e li- lógica do Curso de Psicologia e no Hospital
nhas teóricas que constroem a prática. Essa Universitário da UCPEL. Uma das peculiari-
característica da profissão é identificada, da dades do trabalho de Lúcia é sua atuação com
mesma forma, na Clínica. O EntreLinhas reu- crianças de 0 a 5 anos, por meio de consultas
niu depoimentos de alguns psicólogos (as) terapêuticas com objetivos preventivos, pela
cujas trajetórias profissionais são marcadas psicoterapia pais-bebê ou pela psicoterapia
pela atuação em diferentes espaços, sejam infantil, trabalhando conjuntamente com es-
eles públicos ou privados,para mostrar a di- colas e pediatras.
versidade de inserção e ampliação do olhar Saber lidar com as diferenças do público
sobre as práticas. e privado é também um desafio que faz par-
Alzira Cledi Konrat, de Giruá, é psicóloga te do cotidiano de Tatiane Reis Vianna, uma
clínica e atua em consultório particular desde das psicólogas do serviço de saúde mental
1980. Ela teve a oportunidade de trabalhar infanto-juvenil do Centro Integrado de Aten-
em diferentes espaços: trânsito, serviço ção Psicossocial – Infância e Adolescência
público, equipes multiprofissionais, clínica- (CIAPS) do Hospital Psiquiátrico São Pedro. A
escola. Para a psicóloga, independente do psicóloga realiza o atendimento de crianças
local e do poder aquisitivo das pessoas que e adolescentes em situação de emergência
buscam o atendimento, é possível identificar em saúde mental e ambulatorial nos bairros
semelhanças. “O sofrimento psíquico está Partenon, Lomba do Pinheiro e Agronomia
presente em todos os âmbitos”, afirma. em Porto Alegre, além de manter um con-

6
sultório particular. “No consultório atendo Maria, não há qualquer incompatibilidade na

psicologia e clínica
crianças, adolescentes e adultos por meio da dupla inserção, pública e privada. “O psicólo-
psicanálise. No âmbito público, busco colocar go trabalha a partir dos efeitos da estrutura-
em prática este trabalho em extensão da psi- ção subjetiva, tensão inevitável que se produz
canálise que se constrói, neste contexto, per- na articulação entre o singular e o coletivo, en-
meado por diferentes discursos e práticas”, tre a linguagem e o corpo. É essa a perspecti-
explica Tatiana. “Geralmente, as problemáti- va que funda as condições do exercício clínico
cas que chegam ao CIAPS são bastante com- em qualquer cenário de intervenção. Especi-
plexas, pois envolvem casos graves de ado- ficamente, no meu caso, no trabalho que rea-
ecimento psíquico estando também, muitas lizo em consultório e nos diferentes espaços
vezes, relacionadas à vulnerabilidade social, institucionais, como o ambulatório de saúde
o que se torna também constituinte do seu mental e o CAPS ad”, afirma. Volnei fala sobre
processo de adoecimento. Tomamos as situ- as características do atendimento realizado
ações que nos chegam como ‘problemáticas’ no CAPS ad, enfatizando a necessidade de
porque não se limitam ao sofrimento psíquico manter um distanciamento da rigidez dos pro-
dos usuários, mas também de suas famílias, tocolos diagnósticos. “Cuido para que minha
levando em conta os entraves do contexto presença não se reduza a reprodução sistemá-
comunitário e social que deveriam lhes dar tica de condutas pré-estabelecidas, estando
suporte. Entendemos que trabalhar em saúde aberto aquilo que pode originar-se no coti-
mental implica levar em conta essas diferen- diano do espaço coletivo”, declara. O trabalho
tes dimensões, sem contudo, perder o mote de Volnei tem como referência a Psicanálise,
da escuta do sujeito em questão”. Ao carac- porém ele mesmo destaca a importância de
terizar a Clínica que realiza em seu trabalho, não reduzir o trabalho da Clínica à aplicação
Tatiana a descreve como uma clínica aberta, de uma técnica. “Sustentamos uma ética que
como uma clínica ampliada, no sentido de circunscreve lugares onde a singularidade
que se ocupa com a escuta singular da histó- dos sujeitos que nos demandam, nos diferen-
ria de cada usuário e de suas famílias. “Isso tes espaços de atuação do psicólogo, cria as
se dá por diferentes dispositivos que vamos condições da Clínica. Assim, é possível legi-
constituindo com eles para que possam se timar o trabalho do psicólogo nos CAPS, nos
escutar, apropriar-se do seu discurso e do ambulatórios, nos hospitais, nas escolas, nos
seu lugar e, assim, encontrar outras vias de espaços prisionais, dentre outros. A expan-
produzir sua vida e lidar com seu sofrimento. são do campo de trabalho profissional é uma
Entendemos que os inúmeros desafios que grande conquista e, talvez, constitui-se como
nos chegam exigem que possamos inventar um dos principais desafios da Psicologia na
no cotidiano, vias criativas de acesso aos usu- atualidade. Visando legitimar a ampliação
ários, utilizando os diferentes suportes que a do cenário clínico, tal movimento precisa ser
cultura disponibiliza para construir sujeitos acompanhado com interesse e posicionamen-
como o falar, o brincar o desenhar, o cantar, to crítico por parte dos psicólogos, a partir do
o fotografar, etc”. As diferenças de lugares aprofundamento conceitual que escape tanto
sociais entre os profissionais e os usuários do empobrecimento da ortodoxia, quanto de
são também citadas por Tatiana, “nós, como uma autonomia descomprometida com a éti-
aqueles que estão incluídos no laço social, e ca”, conclui Volnei.
os usuários como estão na posição de exclu- Jeitos diferentes de pensar, modos dife-
ídos e em decorrência disto, as resistências rentes de trabalhar compõem a Clínica da
que nós acabamos constituindo por não le- Psicologia. Certo? Errado? Verdades? Talvez
varmos em conta os efeitos desta diferença esses não sejam predicados que possamos
no laço transferencial”, declara. utilizar para qualificá-la. A discussão aqui
Para Volnei Antonio Dassoler, psicólogo in- proposta motiva a pensarmos a sustentação
tegrante do CAPSad Caminhos do Sol de Santa ética que se faz nesse campo.

7
Clínica e subjetivação contemporânea:
psicologia e clínica

apostando nos desvios


Lígia Hecker Ferreira¹

A
s transformações culturais, tecnológicas um deveria ser tomado como universal, como
e midiáticas contemporâneas acarre- modelo, como preponderante.
tam efeitos nas relações entre as pes- Possibilidades, ou distância das certezas,
soas, e produzem novos modos de subjetivação sistemas longe do equilíbrio, ou ainda meta-
e novas formas de sofrimento. Testemunhamos estabilidades³ são conceitos contemporâneos
em nossos consultórios situações inusitadas, e que têm, como podemos começar a vislum-
que colocam em questão algumas de nossas brar, uma fundamental importância na proble-
teorias bem como as práticas clínicas. Para en- matização da subjetividade e na ampliação de
frentar tais questões e ser fiel ao nosso ofício de nosso entendimento da capacidade dos sujei-
clínicos, temos que nos posicionar como eter- tos de constituírem-se.
nos aprendizes. O inédito e o singular visitam, a Interessa-nos, na clínica, os modos de sub-
cada dia, os nossos consultórios, ensinando-nos jetivação que, grudados numa referência, ten-
novas maneiras de caminhar em direção à com- dem a resistir à ação sobre si e ainda aqueles
preensão do humano. Neste sentido, a clínica que ousam afetar-se pelas forças do fora e do-
constitui-se menos como Klinós, como um ato bram-se ampliando seu vigor e sua potência de
de debruçarmo-nos para oferecer nosso saber vida4. Operar na clínica, portanto, implica em
para aquele que sofre e mais como Klinamen², detectar estas forças que compelem o sujeito a
como átomos que “desviam”, entram em coli- dobrar-se e vão processualmente permitindo a
são com outro. Neste processo criam uma nova constituição de modos singulares de ser, forças
singularidade, inexistente até o momento, que que podem subjetivar para o empobrecimento
constitui uma invenção, um desvio. Desta forma, da vida, ou para sua criação. Trabalhar sobre
considerando os novos modos de subjetivação si é se abrir para desencadear processos per-
e novas figuras psicopatológicas que nos che- manentes de criação, é defrontar-se com maté-
gam dizendo desta queda no vazio, somos con- rias em movimento e, também criar situações-
vocados a trilhar com nossos pacientes outros -dispositivos que incomodem, façam tremer
caminhos, exercitar outros olhares e escutas os contornos, vibrar este campo subjetivo. É
na intenção de construir – com o outro – novas proporcionar que os sujeitos conectem-se com
saídas para as problemáticas que se colocam, suas virtualidades como gênese, matéria-prima
sendo capaz de operar desvios em nosso fazer para novas subjetivações e desviem por cami-
clínico e nos modos constituídos desses sujei- nhos mais interessantes para suas existências.
tos de enfrentar a vida e seus obstáculos.
Portanto, a clínica nos coloca frente a si- ¹ Psicóloga, psicoterapeuta, Mestre em Psicologia Clínica PUCSP,
Especialista em Psicologia Social, em Saúde Mental Coletiva
tuações problemáticas que, para atravessá- UFSM e em Cinevideo pela Unisinos. Docente do curso de Psico-
-las, precisamos como terapeutas, abandonar logia e supervisora do PAAS da Unisinos .
velhas dicotomias que, durante muito tempo,
² A ideia dos atomistas é que a realidade está constituída de
nos fizeram privilegiar a análise de uma ins- “átomos” que “caem no vazio segundo trajetórias retas”. Quando
tância sobre outra. Tendendo sempre a um esses átomos “desviam” e entram em colisão com outro, cria-se
uma nova singularidade. BAREMBLITT, G. As clínicas do esquizo-
reducionismo para compreender o que se
drama. In: Esquizodrama: teoria e técnica. No prelo.
passava no seio destas relações, partíamos
para análise tomando um dos termos como ³ PRIGOGINE, Ilya. O fim das certezas: tempo, caos e as leis da
natureza. São Paulo: Ed. da Univesidade Estadual Paulista, 1996
referência central nos impelindo a supor que
um teria prevalência sobre outro. Portanto, 4 DELEUZE, G. Foucault,São Paulo: Brasiliense, 1991.

8
Construir o destino é tarefa intransferível

psicologia e clínica
Maria Célia Detoni¹

I
nseparáveis de suas próprias agonias são as exemplo, a máquina fazendo parte da intimida-
vidas humanas. Animal humano, ao modo de de e esta sendo mais pública que íntima.
Winnicott, somos “unha e carne”, com nós O espaço clínico é íntimo, vincular e não-nô-
mesmos. Redundante assertiva? – não! Apenas made, ou seja, estável – se, se pode dizer assim –,
afirmação da ontologia, que faz do fato de cada torcemos o tempo, a imagem, mas é verdade que
um tecer uma existência, a busca de uma impos- é preciso pensar que: “Curvemo-nos, o vento fez
sível e desejada negociação, entre a finitude do a curva – E a história nos interroga.”
corpo (carne/soma) e a vida dos afetos (alma/ São novas patologias que, como fantasmas
psique). Nos pertencemos!, somos fruto dos aca- fugidas de Blade Runner2, batem a nossa porta
sos da vida e das escolhas que podemos fazer, ou gente que se “arranja”? Sintoma é arranjo de
numa determinada configuração histórica. vida, uns mais potentes, criativos e outros que
Objeto de trabalho da clínica, justamente, a empobrecem o sujeito até mesmo adoecendo.
forma como os sujeitos tecem suas vidas, inven- Escutar, tratar, conhecer, olhar, viver, observar
tam mundos, engendram inconscientes, não é cir- e respeitar a vida humana como expressão sin-
cunscrito por paredes ou um setting técnico, mas gular deixa o clínico em constante estado de
sim por uma ética onde toda vida que se apresen- perplexidade e é assim que nos encontramos
ta deve ser acolhida como uma espécie de trans- diante de uma humanidade que tropeça na sua
cendência da humanidade em que se insere. própria velocidade.
As circunstâncias que levam um humano Parece-nos, portanto mais importante do
qualquer até o consultório de um terapeuta são que qualquer diagnóstico do homem contem-
sempre as mais diversas, porém entre o motivo porâneo a própria compreensão de que toda
que levou tal pessoa a percorrer o sinuoso cami- clínica é política e de que todo psicólogo deve
nho da marcação de uma primeira sessão até a ser clínico, pois nos cabe construir o destino ao
construção singular deste encontro habitam uni- “desinventar objetos”3! Desinventar um pente
versos surpreendentes. até que ele seja uma begônia diz Manoel de
Esta é uma das mais difíceis e fascinantes Barros, uma espátula diria Winnicot, um carre-
características da clínica contemporânea: o tel enunciaria Freud, e que tantas mais desin-
surpreendente, o inusitado do outro. venções que possam dar consistência para ob-
Analisadores novos para cartografar uma jetos subjetivantes.
vida a galope sobressalta o conforto de qual- Viventes-videntes somos descobridores e in-
quer poltrona. Saberes ortodoxos desmoro- ventores de mundo uma vez que, não é possível
nam diante de vidas que se organizam distin- desfazer o enigma Winnicottiano – “você criou esse
tamente. A diversidade não so dá o tom como objeto (mundo) ou o encontrou?” 4 – e, por isso este
marca o ritmo dos laços, o tecnológico se aco- se faz um analisador clínico extemporâneo.
pla ao corpo indistinguível, não somos mais os
mesmos que nossos pais. Ser livre é ser veloz, 1 Psicóloga pela UPF, especialista em Saúde Pública pela ESP/
RS, Mestre em Educação pela UFRGS. Atualmente trabalha como
ocupado e jovem! Psicoterapeuta, orienta estudos e supervisões clínicas.

O surpreendente é justamente que nós, os 2 Blade Runner: O Caçador de Andróides; é um filme de ficção
científica norte-americano de 1982 dirigido por Ridley Scott.
clínicos, estamos ali para fazer vínculo, e esta é
3 Barros, Manoel. (2007). O Livro das Ignorãnças. Rio de Janeiro:
uma proposta estranha ao contemporâneo, pelo Record. Esta expressão aqui faz alusão aos conceitos da obra de
D. W. Winnicott.
menos ao que chamamos de vínculo até aqui.
4 Winnicott, D. W. (1975). O Brincar e a Realidade. Rio de Janeiro:
Outras formas de vínculo estão surgindo. Por Imago.pg. 134.

9
Clínica, transdisciplinaridade e política
psicologia e clínica

Desinventar objetos. O pente, por exemplo. Dar ao Vania Mello¹ e Eduardo Passos²
pente funções de não pentear. Até que ele fique à
disposição de ser uma begônia. Ou uma gravanha. Usar
algumas palavras que ainda não tenham idioma.

Manoel de Barros

T
arde de inverno de 2001. Reunidos em das mais simples, pois significa - tomando de
“bando”, uma das autoras deste texto empréstimo a imagem fornecida por Sousa
e seus colegas de residência³ conver- (2003) – que “é preciso saber se perder para
savam com um preceptor sobre o trabalho produzir um encontro”.
daquela tarde no posto de saúde. Trocavam A experiência da residência integrada
impressões e dúvidas a respeito dos atendi- em saúde, ao agenciar o trabalho em equi-
mentos realizados, das conversas estabeleci- pe multiprofissional, produzia perturbações
das, dos ‘causos’ vividos, das situações difí- nas fronteiras entre as diferentes disciplinas,
ceis, do que fazer frente à falta de respostas o que foi aos poucos funcionando como or-
ou do que fugia à sua governabilidade. Estas ganizadora de uma referência potente para
conversas ofereciam a possibilidade singu- o exercício profissional que se afirmava no
lar para compartilhar experiências, diferen- encontro com as outras disciplinas. Daí a pro-
ças, aprendizagens, pontos de vista, afetos e vocação para pensarmos que a Psicologia se
descobertas. No meio da conversa desta tar- renova justamente no encontro com outras
de a residente médica diz, quase em tom de disciplinas. Discutir esta questão nos interes-
confissão, que a psicóloga residente pouco sa na medida em que se torna cada vez mais
se parecia com as Psicólogas que ela conhe- presente que a complexidade das demandas
cia. Aquele comentário que de início poderia contemporâneas impõe, como desafio, a su-
soar estranho, ofensivo ou algo que o valha, peração dos isolamentos, a produção de en-
por algum motivo, a época não muito bem contros com outros saberes e a importância
compreendido, de imediato foi tomado como dos diálogos e práticas transdisciplinares.
um elogio que jamais ela conseguiria esque- Diferentemente das perspectivas multi
cer. É importante deixar claro que o fato de e interdisciplinares que, ao promoverem a
tomar o referido comentário como um elogio manutenção das fronteiras disciplinares não
não significava, naquele momento, nenhum produzem redes, na transdisciplinaridade os
sinal de arrependimento com a profissão que limites entre as disciplinas são perturbados,
havia escolhido seguir. Ainda que já tivesse colocando-se em questão as identidades do
se deparado com diversos impasses que o sujeito e do objeto conhecido, forçando a su-
exercício da profissão coloca, esta não era peração dos especialismos em si mesmos e
uma questão que estava ali colocada. exigindo dos profissionais maior capacidade
Com alguma distância produzida pelo de transitar pelos diferentes campos do co-
tempo, a Psicóloga, hoje não mais residente, nhecimento, com menos riscos de fragmenta-
percebe que a permanência desta cena está ção entre campos de saberes e práticas.
na possibilidade de ruptura de certo imagi- Assumir esta postura não significa negar
nário do que é ser Psicóloga (o), atribuindo- que haja especialidades, especificidades dos
-lhe de modo muito específico as expecta- saberes e suas singularidades. O que a trans-
tivas de como deve vestir, falar, gesticular, disciplinaridade questiona são os “especia-
trabalhar. Questionar esta imagem ou deter- lismos” tuteladores e arrogantes que geram
minação social do ‘ser psicólogo’ não é tarefa efeito de clausura ao se pretender superiores

10
aos outros saberes, não permitindo a expe- ca que argúi os pontos de estrangulamento

psicologia e clínica
rimentação e produção de diferença. Não se de uma paisagem existencial e os pontos de
trata de abrir mão da possibilidade inventiva inflexão dos discursos na composição de no-
de cada disciplina, mas produzir interferên- vas práticas. Toda clínica é política porque
cia entre elas, arguindo-as em seus pontos problematiza os lugares instituídos, as dico-
de congelamento e universalidade. “Caoti- tomias naturalizantes, porque pergunta-se
zar os campos, desestabilizando-os ao ponto sobre os modos de constituição da realidade.
de fazer deles planos de criação de outros Se queremos ir adiante afirmando a clíni-
objetos-sujeitos, é a aposta transdisciplinar” ca como política, é necessário que nos per-
(Passos; Barros, 2009, p. 116). guntemos que práticas a clínica tem posto
É neste sentido que tomamos a clínica em funcionamento, quais efeitos políticos
como transdisciplinar, na medida em que se tem produzido e, principalmente, qual vida
constitui de um lado, como campo de pro- ela tem implementado. A indissociabilidade
blemas a serem resolvidos e de outro, como entre clínica e política deve ser pensada, en-
plano problemático a exigir a desmontagem tão, no limiar entre a competência técnica e o
destes problemas através não apenas da in- compromisso político, entre a formulação te-
venção de novos problemas, mas da produ- órica acerca dos processos de subjetivação e
ção de estratégias de solução dos impasses a intervenção sobre a realidade, entre o que
gerados e de novos modos de existência. A somos e o encontro com a alteridade, com o
clínica que afirmamos transdisciplinar é uma outro em sua diferença, com os movimentos
clínica não do sujeito, mas da subjetivação, do desejo.
que não se ocupa com a mera solução de pro- Na licença poética de Manoel de Barros,
blemas para incidir sobre a produção de sub- encontramos uma pista para a direção trans-
jetividade e a criação de novas questões. disciplinar da clínica: “desinventar objetos”.
Ao definirmos a clínica em sua relação Dar ao pente outra função que não a de pen-
com os processos de produção de subjeti- tear é disponibilizá-lo para ser outra coisa,
vidade somos levados a discutir o plano da para devir-flor. Certamente, nesse ato poé-
clínica em sua inseparabilidade da filosofia, tico há uma política cognitiva em jogo, algo
da arte, da ciência e da política em especial, que se passa entre a arte e a ciência natural,
uma vez que na interface clínico-política nos assim como uma política de subjetivação que
encontramos com modos de produção, mo- nos garante abrir a existência para processos
dos de experimentação/construção da rea- de criação de si.
lidade; modos de criação de si e do mundo
que pressupõem nosso comprometimento
¹ Eduardo Passos: Psicólogo. Doutor em Psicologia. Professor
político de fazer uma análise crítica das for- Associado II do Departamento de Psicologia da Universidade
mas instituídas. Federal Fluminense.

Afirmar que o plano da clínica é por de- ² Vania Mello: Psicóloga. Sanitarista. Especialista em Saúde da
finição transdisciplinar – já que atravessado, SES/RS. Conselheira do CRPRS (2010/2013). Mestre em Psicolo-
gia Social e Institucional (UFRGS). Doutoranda em Psicologia
em especial, pela política – é entender que o pela Universidade Federal Fluminense.
trabalho de análise da realidade não se res-
³ Residência: modalidade de formação especializada (pós-gra-
tringe à ação dos especialistas psi sobre uma duação) em serviço, em área profissional integrada ao SUS.
realidade estritamente psicológica: o sujeito
Referências:
enquanto experiência íntima e como história SOUSA, E.L. A. Utopias como âncoras simbólicas. In: Fonseca,
de vida pessoal. A clínica não deve ser redu- T. G.; Kirst, P. G. (Orgs.). Cartografias e Devires: a construção do
presente. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2003.
zida à análise da experiência pessoal, mas
deve poder ampliar-se para ganhar esse sen- PASSOS, E & BARROS, R.B. A construção do plano da clínica e
o conceito de transdisciplinaridade. In: MOURÃO, J. C. Clínica e
tido de experimentação social. Toda análise Política 2: Subjetividade, direitos humanos e invenção de práticas
é experimentação social porque ação políti- clínicas. Rio de Janeiro, Abaquar: Grupo Tortura Nunca Mais, 2009.

11
Clínica NO, clínica DO trabalho
psicologia e clínica

Pedro F. Bendassolli¹

C
línicas do trabalho referem-se a um e compreender o trabalho a partir de um viés
conjunto de disciplinas interessadas metódico, asséptico. Um trabalho sem sujeito.
na investigação da relação trabalho O trabalhador é visto como um componente,
e subjetividade. Essa junção de termos (tra- ainda que complexo, do sistema produtivo.
balho & subjetividade), apesar de não ser Contudo, vemos no campo de estudos so-
“nova”, traz algumas particularidades. No bre o trabalho uma versão oposta à anterior.
campo de pesquisas sobre o trabalho, existem Em vez de enfatizar a atividade, o trabalho re-
disciplinas cujo objetivo alizado, há abordagens que optam pela com-
é observar, descre- preensão do sujeito no trabalho.
ver e analisar o A desnutrição da subjeti-
trabalho – como, vidade na perspectiva
em particular, anterior é aqui inverti-
certo tipo de da: há um excedente
ergonomia. de subjetividade e
Nesse caso, o “pouco” de traba-
foco é na ta- lho. Busca-se, então,
refa e nos dis- compreender as
tanciamentos atitudes, as opi-
que, por meio niões, as repre-
da atividade sentações, as
realizada, o produções de
sujeito inter- sentido e signi-
põe entre aquilo ficado, as vivên-
que é dele exi- cias de sofrimento
gido e aquilo que na experiência com
ele pode fazer – com o trabalho. Este, o trabalho, é muitas vezes
seu corpo, seus afetos, suas habilidades, com- apenas o contexto em que se busca localizar
petências. Aproximar tarefa e atividade é um o sujeito e suas produções psíquicas ou psi-
importante desafio, pois dessa aproximação cossociais. Em termos mais amplos, podemos
dependem, em parte, a saúde das pessoas no falar de uma clínica NO trabalho. Um exemplo
trabalho, bem como a própria produtividade. caricatural desta clínica é a ideia de que “se
Ocorre que esta orientação para a tarefa, sofre pelo social e se cura pelo individual” –
para a análise do trabalho enquanto cargo, se não pode alterar as condições de trabalho;
posto, conjunto de prescrições, muitas vezes o prescrito, a tarefa; opta-se, pela via da pala-
pode prescindir do sujeito, isto é, da consi- vra, da perlaboração tout à court.
deração de um agente que não é meramente As clínicas do trabalho, mesmo em sua he-
um processador de informações, um opera- terogeneidade característica, propõem uma
dor, um executor. Em sua versão mais “radi- articulação entre as duas perspectivas acima
cal”, não foi outra coisa que fez o taylorismo (aqui meramente esquematizadas). De um
senão apagar qualquer vestígio de um sujeito lado, o trabalho real, a atividade realizada; de
do trabalho, vivo, desejante, social e cultural- outro, a subjetividade. Porém, não se trata de
mente situado. O taylorismo plasmou a aná- uma subjetividade “desencarnada”, mas de
lise do trabalho ao domínio da técnica, e em uma produção do sujeito sobre si mesmo, so-
sua esteira ainda hoje outros buscam estudar bre os outros e sobre o objeto do próprio tra-

12
balho. Dizer, como o fazem autores filiados às extralinguística) e a seus próprios projetos

psicologia e clínica
clínicas do trabalho, que este tem uma função (trabalho como uso de si e sobre si). Ade-
psicológica central, possui uma centralidade mais, o trabalho não se esgota no emprego.
na “estruturação do sujeito”, quer dizer que o 2. A atividade de trabalho é, intrinseca-
trabalho não implica, apenas, em produção de mente, ambígua, contraditória: ao mesmo tem-
coisas, mas também em produção de sujeitos po fonte de autonomia, prazer, satisfação, poder
(Dejours). A subjetividade seria justamente o de agir; implica também em sofrimento, impo-
produto e o processo de um trabalho, de um tência, exploração, perda de si. Contrariamente
engajamento com uma atividade, de uma mo- a certas correntes “higienistas”, não é possível
bilização subjetiva no exercício de um ofício. eliminar um certo “quantum” de sofrimento ou
Daí a opção por clínica DO trabalho: seu di- de impedimento no trabalho – em certo senti-
ferencial consiste na consideração do traba- do, até mesmo necessário. Porém, um trabalho
lho como produtor de coisas, relações, sujeito, continuamente desprovido de sentido pode le-
tendo em vista a transformação do real. var à despersonalização. Portanto, situações de
sofrimento e impedimento são focos de inter-
Uma visão sobre o convergente venção das clínicas do trabalho.
Seria impossível, no limite deste texto, 3. A ação no trabalho é uma unidade de
apreciar em profundidade, e com a sutileza análise privilegiada nas clínicas do traba-
merecida, as várias perspectivas conceituais, lho. Por que as pessoas não conseguem agir,
os diversos posicionamentos, distanciamen- transformar, transgredir, ir além do prescrito?
tos e embates circunscritos pelas clínicas do O que se passa em certas situações de traba-
trabalho. Opta-se, então, em discutir os pon- lho que a atividade em questão parece estar
tos de aproximação e convergência. esvaziada, seu sujeito desengajado, desmo-
Compõem as clínicas do trabalho quatro bilizado? O desenvolvimento da ação, enten-
grandes perspectivas: a psicodinâmica do dida como um agir humano, intencional, é o
trabalho (C. Dejours); a clínica da atividade alvo das clínicas do trabalho. Agir é colocar-
(Y. Clot); a psicossociologia (entre outros: E. -se em atividade, é afirmar-se perante o real
Enriquez, V. de Gaulejac, D. Lhuilier, G. Ama- do trabalho (às resistências, às contradições,
do, J. Barus-Michel); a ergologia (Y. Schwartz). aos dilemas e conflitos inerentes a atividade).
São perspectivas que recebem influência, e Há muito espaço para o trabalho do psi-
reelaboram, tradições ecléticas e amplas, cólogo, para além das rígidas fronteiras que
como o caso da psicanalítica (sobre a psico- dividem os saberes. As clínicas do trabalho
dinâmica e também sobre certa vertente da convocam ao desenvolvimento de uma clínica
psicossociologia); da tradição sócio-cultural sensível a seu tempo, encarnada, que por fim
(sobre a clínica da atividade, em particular abandona certos vieses, certas ojerizas – como
Vygotsky); da filosofia (sobre a clínica da a de que, inspirando-se em certo Freud (mal-
atividade e a ergologia, em particular B. Spi- -estar na civilização), o trabalho é apenas uma
noza, M. Bakthin, G. Canguilhem). Outra influ- atividade que se faz pela obrigação de um sa-
ência comum é a psicopatologia do trabalho lário. O debate “clínico” sobre o trabalho pode
francesa (P. Sivadon, L. Le Guillant, F. Tosquel- estar sendo responsável por um certo revival
les, por exemplo), além da ergonomia, tam- da própria clínica na contemporaneidade. Ou
bém na inspiração francesa. pelo menos de uma clínica comprometida com
Em comuns às perspectivas clínicas do tra- as questões materiais de seu tempo.
balho, podemos destacar os pontos a seguir.
1. O trabalho não é uma atividade margi-
¹ Psicólogo pela UNESP. Doutor em Psicologia Social pela USP.
nal aos processos de subjetivação. O trabalho Realizou estágio pós-doutoral na Université PARIS IX e no Insti-
é uma atividade de constituição do sujeito, na tuto de Psicologia da UNB (Departamento de Psicologia Social e
do Trabalho). Professor Adjunto no Departamento de Psicologia
medida em que o liga aos outros, ao mundo da UFRN e no Programa de Pós-graduação em Psicologia da
(de objetos externos a si, com materialidade mesma instituição.

13
A clínica e seu vir-a-ser ou daquilo que a
psicologia e clínica

clínica “bem que podia ser”


Simone Mainieri Paulon¹

P
ensar a clínica no contemporâneo dei- intervenção clínica. Que dimensão é esta que
xou de significar fazer referência a um estamos atribuindo à clínica para melhor situ-
quadro pintado no final no século XIX, armos? De que Clínica Institucional falamos?
com uma figura taciturna a escutar geral- Se é certo que a diversificação das ditas
mente uma mulher bem vestida em ambiente “práticas clínicas” vêm se afastando das ori-
aveludado de pouca luz e sons sob controle, ginárias formas de atendimento, da “cena
para referir um leque de possibilidades de primária da psicanálise”; não é menos certo
ações, ambientes e personagens muito mais afirmarmos que uma ética do cuidado e uma
plurais, prenhe de cores e vidas do que aque- compreensão da complexidade da vida sub-
las imaginadas em suas origens na moderni- jetiva, para além do que o sintoma meramente
dade. Mas dizermos que hoje encontramos anuncia², perpassa boa parcela do que hoje
psicólogos em exercício da profissão coorde- nos faz associar psicologia à clínica.
nando grupos nos Centros de Referência em Quando essa oferta de cuidado encontra-
Assistência Social, atendendo comunidades -se com certas demandas sociais, tanto aquele
indígenas em que oferta um modo de cui-
assentamen- dar, quanto aque-
tos, fazendo le que enuncia/
atendimen- acolhe a de-
tos a todo manda produ-
tipo de ado- zem-se nes-
ecimento em te encontro.
unidades bá- Mais do que
sicas de saú- isso, a cada
de, na gestão novo encon-
de hospitais, tro do psi-
segmentos es- cólogo com
tatais dos mais seu campo
diversos, é equi- de trabalho,
valente a dizer- seja ele em
mos que a clínica que setting
ampliou-se? Caberia for, novos
ainda a designação potenciais en-
“clínica” a uma gama tão diversa de interven- contros podem-se produzir e, com eles, novas
ções? Ou diríamos simplesmente que a pro- ofertas, demandas, desejos mútuos de inter-
fissão diversificou-se? Que o mercado de tra- venções dali podem surgir. Isto, dito de outra
balho exigiu (permitiu?) que os psicólogos se forma, equivale a dizer-se da potência insti-
distribuíssem em novos locus profissionais? tuinte de cada encontro humano.
Sem querer simplificar a questão, eu di- O sanitarista Gastão Campos (2005) resga-
ria que a resposta a tais questões depende ta esta dimensão inventiva do trabalho clínico
da concepção de clínica com que estamos ao sintetizar a diretriz da Clínica Ampliada
trabalhando. E diria, ainda que, concebida como a tarefa que reencontra os sujeitos: o
enquanto Clínica Institucional, quaisquer que cuida e o que é cuidado. Sustentar prá-
destas atividades em que os psicólogos este- ticas de saúde orientadas por uma Clínica,
jam envolvidos podem ter uma dimensão de nesta perspectiva ampliada, implica de algum

14
modo resguardar cada prática de saúde como Redefinida esta clínica ampliada, institu-

psicologia e clínica
um encontro entre humanos concretos, isto é, cional, transversalizada, pode encontrar-se
resguardar cada prática de saúde como um tanto no consultório do psicoterapeuta quan-
momento de invenção do humano em nós. to na intervenção no CRAS ou mesmo na in-
Tal tarefa humanizadora, que aqui apare- flexão que o psicólogo inserido em um pro-
ce relacionada à intervenção clínica, só pode cesso de gestão junto às políticas públicas
ser empreendida no plano do coletivo, no venha a fazer. Muito do que agrada em “Ses-
exercício da alteridade que nos joga às ex- são de Terapia”, nova série televisiva, talvez
perimentações estrangeiras e, com elas, vai seja justo este caráter humano-concreto que
nos afirmando como sujeitos sociais, seres Selton Melo dá a um personagem que é feito
de relações, atravessados e imanentemente de carne, osso, sensibilidade E instituições.
constituídos por conjuntos de hábitos, pres- As mesmas, aliás, que levam seus pacientes
crições, valores e pactuações a que nomea- a procurá-lo e os faz sofrer: ele se atrapalha
mos por instituições. com a filha adolescente, com o casamento ar-
Uma intervenção que questione nossas rastado, com o paciente impertinente... com
implicações com estes valores sociais que seus próprios atravessamentos institucionais.
nos constituem e aos quais reforçamos, ou Resta sabermos da utilidade de adjeti-
com os quais brigamos, guardaria aquela varmos esta clínica. Cibele Ruas de Melo
dimensão inventiva da clínica que, por este (1997:148) nos deixa uma boa dica sobre isto:
motivo, também, pode ser referida como Clí-
nica Ético-Estética. Nomeá-la seria perigoso. Sabemos da for-
Clínica aqui, portanto, já não está sendo ça das palavras, como elas aprisionam flu-
compreendida como mero campo de inter- xos, geram soberanias. Um nome poderia
venções (ou segmento de mercado para usar evocar um ritual de batismo, de iniciação.
uma expressão ainda mais restritiva), mas Esta seria uma clínica pagã, bastarda, sem
como o plano de encontros e (re)invenções um corpo teórico delimitado: uma clínica
dos modos de subjetivação. Como afirmam que entorne, atravesse fronteiras: transte-
Rauter, Passos & Benevides (2002, p. 12):“A clí- órica. Uma clínica a descobrir, feita para
nica se dá sempre numa relação com aconteci- os terapeutas de espíritos inquietos, aque-
mentos que ultrapassam a vivência individual, les que fazem de sua inconformidade a
abrindo-se inapelavelmente para a história e melhor ferramenta no dia-a-dia da clínica.
a política, para sentidos existenciais coletivos
(...)”. Constituída, portanto, e constitutiva do
tecido social que nos compõem, ela é sempre,
em alguma medida, também, institucional. ¹ Psicóloga (PUCRS) com mestrado em Educação (UFRGS) e
Instituições, então, já não podem ser compre- doutorado em Psicologia Clínica (PUCSP) é professor adjunto
da UFRGS onde coordena o grupo INTERVIRES de pesquisas da
endidas sob qualquer conotação equivalente Reforma Psiquiátrica e orienta pesquisadores nos programas de
a espaço físico, estabelecimentos ou mesmo Pós-graduação de Psicologia Social e de Saúde Coletiva.
leis objetivas que regulem um grupo de pes-
² Não estariam incluídas nesta 2ª premissa, de que o trabalho
soas reunidas, geralmente a contragosto (pri- clínico implica uma concepção do sujeito do inconsciente, as
sioneiros, abrigados, loucos) como em geral abordagens cognitivo-comportamentais que, vale ressalvar, hoje
associadas às instituições totais definidas por encontram significativa acolhida entre os psicólogos.

Goffman. Ela pode ser dita institucional não Referências


porque esteja “dentro” de algum espaço físico
de instituição-estabelecimento, mas porque RUAS DE MELO, Cibele. Há Devir, há de vir. In: Revista SaúdeLou-
cura 5: A Clínica como ela é, São Paulo: Hucitec, 1997, p. 139-149.
circunscreve invisível, inconscientemente es-
tes corpos sociais que nos constituem como RAUTER, PASSOS & BENEVIDES (orgs). Clínica e Política: subje-
sujeitos da moral. Daí não ser o mesmo falar- tividade e violação de direitos humanos. Rio de Janeiro. Te Corá/
Instituto Franco Basaglia, 2002.
mos em clínica ‘nas’ instituições, ‘das’ institui-
ções ou Clínica Institucional. SAIDON, O. Devires da Clínica. São Paulo: Hucitec, 2008.

15
Clínica e Direitos Humanos
psicologia e clínica

Vera Vital Brasil¹

D
emocracia e Direitos Humanos são va- de seus responsáveis. Na ausência de justiça, a
lores inseparáveis. Quanto mais débil e violência de Estado se irradiou no conjunto das
limitada seja a política de Direitos Huma- relações sociais como uma chaga.
nos, mais imperfeita e limitada é a democracia. O que fazer com estes restos que não cabem
O desafio colocado na cena atual de fortalecer e em um projeto de democracia, dejetos de um pas-
consolidar a democracia passa necessariamente sado que insiste em permanecer? O que pode a
pela formulação de políticas públicas que estejam clínica neste processo?
diretamente associadas aos Direitos Humanos. O A experiência clínica com afetados pela vio-
quadro de desigualdade cultural, social, econômi- lência de Estado vem revelando modalidades de
ca, que se configura no padrão de violência atual sofrimento psíquico, modos singulares de subje-
no conjunto das relações sociais, é revelador da tivação, que nos convocam a investigar e utilizar
grandeza deste desafio. estratégias capazes de intervir neste sofrimento,
O que, afinal, a clínica tem a ver com os Direi- intensificado pela privatização e individualização,
tos Humanos? decorrente de efeitos do silêncio e do esqueci-
Antes de tudo, não há possibilidade de ser mento. Ademais, nos conduz à evidência de maior
neutro diante do sofrimento humano. Sem des- gravidade do quadro clínico relativa à ausência
considerar a complexidade das subjetividades de reconhecimento social dos danos e de políti-
e do trabalho clínico, um dado se evidencia: ou cas públicas de reparação.
nos colocamos a favor da dignidade do sujeito A atenção clínica pode se constituir, portanto,
ou estaremos do lado da crueldade humana. É em um instrumento valioso que facilite a expres-
preciso lembrar que não se pode conviver com a são de formas de subjetivação mais potentes so-
crueldade sem padecer de seus efeitos. A tortura, bre os acontecimentos até então vividos de forma
por exemplo, crime de lesa humanidade, prática isolada. Mas a reparação simbólica dos danos, em
tão disseminada, além de afetar os pilares bási- se tratando de violência de Estado - de autoria da
cos do Estado democrático, produz um efeito de instância que deveria proteger e não agredir/ma-
desconstrução da dignidade humana. Destrói a tar/desaparecer - exige a aplicação de políticas
dignidade do torturado e, por sua vez, aquele que públicas de construção de verdade, memória e
a executa se destitui deste valor. Ou seja, o tor- justiça, o que demarca os limites da intervenção
turador e o torturado, neste campo de imanência clínica. O processo de reparação simbólica é in-
são destituídos duplamente de dignidade. Além dividual e coletivo e de responsabilidade estatal.
disso, efeitos são produzidos em várias direções Hoje, com a Comissão Nacional da Verdade,
no tecido social, marcado pela impunidade e pelo estamos diante da oportunidade de esclareci-
desrespeito à dignidade humana. mento do que ocorreu, de abrir futuros caminhos
Trazemos, desde muito, as marcas da brutal para a justiça, consolidando o que se entende por
violência de séculos de exploração colonial, da reparação integral. A investigação dos comissio-
crueldade inerente à escravidão, dos períodos nados, acerca dos crimes cometidos por agentes
de ditadura que atravessaram os tempos e, mais do Estado durante a ditadura, ao não se restringir
recentemente, nos anos 60 e 70, período da últi- aos documentos e reconhecer o testemunho dos
ma ditadura civil militar. Marcas que mantém em afetados poderá ser um passo na reparação sim-
franca atividade práticas autoritárias, o elitismo, a bólica e um avanço na construção de democracia.
discriminação, o preconceito. A violência de Esta-
do permanece em curso, seus agentes impunes,
¹ Psicóloga clínico institucional, membro da Equipe Clínico Polí-
acobertados pela lei da Anistia e pelo profundo tica, membro do Fórum de Reparação e Memória do RJ, membro
silêncio, do desconhecimento do que ocorreu e colaborador da Escola de Saúde Mental.

16
Sigilo e atendimento psicológico

orientação
A
princípio toda informação colhida em aten- É importante destacar que a psicoterapia dei-
dimento psicológico está protegida por si- xou de ser prática exclusiva da clínica privada,
gilo profissional, ficando a cargo do psicó- está contemplada nos espaços públicos de saúde,
logo a manutenção deste, assim como a guarda de exigindo do profissional, procedimentos adequa-
todos os documentos gerados a partir de informa- dos a este lugar, atuando de forma interdiscipli-
ções deste atendimento. nar. Exige também cuidados acerca das informa-
O prontuário e/ou o registro documental dos ções a serem compartilhadas e seu registro.
atendimentos, apesar de estar sob a guarda do O registro de prontuário, em papel e/ou in-
psicólogo, pertence somente ao atendido, não formatizado, deve manter o caráter sigiloso e é
podendo ser divulgado a terceiros, sob pena de constituído por um conjunto de informações que
violação da intimidade, direito garantido constitu- objetiva contemplar de forma sucinta o trabalho
cionalmente. A confidencialidade das informações prestado, a descrição e a evolução do caso e os
relatadas ao profissional serve como elemento de procedimentos técnico-científicos adotados.
garantia da efetividade técnica, respeito à pessoa Quando do registro em prontuário, o psicólogo
do atendido e aos ditames ético/profissionais. deverá certificar-se da privacidade das informa-
A Resolução CFP N.º 010/00 que especifica e ções, assim como da limitação do acesso ao mes-
qualifica a Psicoterapia como prática do Psicólogo, mo. Por princípio, o conteúdo dos atendimentos
desta em seu Art. 2º que para efeito da realização psicológicos ficará limitado ao atendido (pacien-
da psicoterapia, o psicólogo deverá observar os te) e seu psicólogo. O registro atenderá o regrado
seguintes princípios e procedimentos que qualifi- pela Resolução CFP nº 01 de 2009, contendo:
cam a sua prática: 1. Identificação do usuário/instituição;
I – buscar um constante aprimoramento, dan- 2. Avaliação de demanda;
do continuidade à sua formação por meio de cen- 3. Registro da evolução dos atendimentos (não
tros especializados que se pautem pelo respeito transcrição do conteúdo de psicoterapia), de modo
ao campo teórico, técnico e ético da psicologia a permitir o conhecimento do caso e seu acompa-
como ciência e profissão; nhamento, bem como os procedimentos técnico-
II - pautar-se em avaliação diagnóstica funda- -científicos adotados;
mentada, devendo, ainda, manter registro refe- 4. Registro de Encaminhamento ou Encerramento;
rente ao atendimento realizado: indicando o meio 5. Cópia de outros documentos produzidos
utilizado para diagnóstico, motivo inicial, atualiza- pelo psicólogo para o usuário/instituição do ser-
ção, registro de interrupção e alta; viço de psicologia prestado, que deverá ser arqui-
III – esclarecer à pessoa atendida o método vada, além do registro da data de emissão, finali-
e as técnicas utilizadas, mantendo-a informada dade e destinatário;
sobre as condições do atendimento, assim como 6. Documentos resultantes da aplicação de ins-
seus limites e suas possibilidades; trumentos de avaliação psicológica deverão ser ar-
IV – fornecer, sempre que solicitado pela pes- quivados em pasta de acesso exclusivo do psicólogo.
soa atendida ou seu responsável, informações so- Quando o prontuário for registrado eletroni-
bre o desenvolvimento da psicoterapia, conforme camente deverá estar garantido que o sistema
o Código de Ética Profissional do Psicólogo; (eletrônico) mantenha a integridade das informa-
V – garantir a privacidade das informações ções, contendo procedimento de acesso restrito,
da pessoa atendida, o sigilo e a qualidade dos para assegurar a privacidade do (a) usuário (a)
atendimentos; e o sigilo profissional, além de impedir o acesso
VI – estabelecer contrato com a pessoa atendi- de pessoas que não fazem parte da equipe ou dos
da ou seu responsável; atendimentos. É recomendado um sistema de as-
VII – Dispor, para consulta da pessoa atendida, sinatura digital para identificação do profissional
de um exemplar do Código de Ética Profissional psicólogo e de armazenamento de dados cripto-
do Psicólogo, no local do atendimento. grafados. O procedimento de guarda eletrônica

17
deve ainda possibilitar cópias de segurança e os prestar as informações estritamente necessárias,
orientação
equipamentos utilizados para esse fim (computa- limitando-se ao que está sendo demandado e/ou
dor, servidor ou provedor) devem possuir siste- ao seu fim específico, mantendo os demais aspec-
mas de segurança confiáveis. tos e informações sob sigilo profissional. Além
O sigilo, atendendo a princípios e normas, po- disso, o atendido ou o responsável legal deve,
derá ser quebrado somente diante de necessida- sempre, ser informado da quebra do sigilo.
de excepcional, quando da existência de riscos ao
paciente e/ou aos outros ou na defesa de direitos.
Nesses casos, objetivando a adequada proteção,
o psicólogo poderá, em conformidade com o Art.
10 do Código de Ética Profissional, decidir pela
Área Técnica
quebra de sigilo, baseando sua decisão na busca
Lucio Fernando Garcia – Coordenador
do menor prejuízo. O mesmo código reitera ain- Adriana Dal Orsoletta – Psicóloga Fiscal
da que, em caso de quebra do sigilo previsto no Leticia Giannechini – Psicóloga Fiscal
referido artigo, o psicólogo deverá restringir-se a Lucia Regina Cogo – Psicóloga Fiscal

Esclarecimento aos psicólogos


que atuam na área de RH
O Conselho Regional de Psicologia es- utilizar métodos e técnicas psicológi-
clarece que o profissional regularmente cas com o objetivo de orientação e se-
inscrito, que atua na área de recursos hu- leção profissional.
manos (RH), utilizando métodos e técnicas O CRPRS tem procurado discutir a
psicológicas, não está obrigado a inscre- questão com o Conselho Regional de Ad-
ver-se ou contribuir para o Conselho Re- ministração, definindo as intervenções es-
gional de Administração. pecíficas de cada profissão.
A atuação na área está prevista na pró- Todo profissional que tenha sido au-
pria regulamentação da profissão de psi- tuado ou esteja respondendo a processo
cólogo, pelo Decreto nº 53.464/64 que re- judicial movido pelo Conselho de Admi-
gulamentou a lei 4119/62, estabelecendo nistração deve, imediatamente, entrar em
em seu art. 4º que é função do psicólogo contato com a Área Técnica do CRPRS.

Novo Horário de Atendimento da Área Técnica


A Área Técnica do CRPRS divulga novo horário de atendimento para orientação
técnica e ética pessoalmente ou por telefone:
- Segundas, terças e quartas-feiras: das 9h às 12h e das 13h30 às 17h
- Quintas e Sextas-feiras: das 9h às 12h
O contato com a Área Técnica também pode ser realizado pelo email
orientec@crprs.org.br.

18
Atenção à

crepop
população em
situação de rua:
clínicas possíveis Equipe CREPOP
Vera Lucia Pasini – Conselheira Referência
Carolina dos Reis – Assessora Técnica
Cristina Estima e Tatirrê Paz – Estagiárias

N
este ano de 2012 o CREPOP tem como tomar o espaço da cidade. No lugar de uma postura
foco do seu processo de pesquisa a de espera de procura por atendimento, nesse mode-
atuação das(os) psicólogas(os) junto às lo de cuidado as palavras de ordem são a abordagem
políticas de atenção à população em si- para a construção de vínculos e a responsabilização
tuação de rua. Isto implica nos aproximarmos das pela garantia de direitos da população atendida. Esta
práticas profissionais que são destinadas a essa é uma clínica que vai partir, muitas vezes, não da de-
população, desenvolvidas junto às escolas, aos manda espontânea, mas do caminho inverso: as equi-
abrigos, albergues, casas de passagem, Centros de pes vão ao encontro dos sujeitos para ofertar cuida-
Referência Especializados em Assistência Social – do, pautados pelos princípios da redução de danos
CREAS, nos Serviços Especializados para Pessoas de respeito à autonomia, à liberdade e ao direito de
em Situação de Rua – Centros Pop, nos programas habitar a cidade e o espaço da rua.
de abordagem social, na atenção básica em saúde, Ao tomar o espaço da rua, as práticas psico-
nos Centros de Atenção Psicossocial - CAPS, nos lógicas destinadas à promoção, prevenção, trata-
Programas de Redução de Danos e, mais recente- mento e reabilitação em saúde, bem como àquelas
mente, nos Consultórios na Rua; além das ações relacionadas à garantia de direitos, passam a con-
desenvolvidas junto a ONGs e movimentos sociais. siderar que os processos de produção de subjeti-
A Política Nacional para População em Situ- vidade são atravessados pela relação dos sujeitos
ação de Rua, instituída no final de 2009, impõe com os territórios que habitam. É preciso conside-
novos desafios às práticas profissionais das(os) rar, portanto, que a rede de cuidados inclui mais
psicólogas(os), bem como às próprias políticas do que os serviços públicos, envolvendo vizinhos,
públicas. A rigidez e burocratização dos servi- moradores do bairro, comerciantes e demais ser-
ços, com a imposição de regras e critérios para viços da região. Nesse contexto, a ferramenta da
os atendimentos, são incondizentes com o tempo escuta clínica permite a identificação de pontos
da rua, e têm se colocado como um dos maiores de ancoragem para a construção de estratégias de
impasses ao acesso dessa população aos atendi- cuidado singularizadas, assim as ações nesse cam-
mentos que lhes são de direito. É importante des- po demandam do psicólogo o desenvolvimento de
tacar que, diferente das concepções presentes no práticas que favoreçam o fortalecimento dos pro-
imaginário social, nem todos os moradores de rua cessos de organização e mobilização das pessoas
fazem uso de drogas e, mesmo nas situações em em situação de rua, para que se reconheçam en-
que o fazem, na maioria dos casos, a situação de quanto sujeitos de direitos e disponham de ferra-
rua é anterior ao uso. Logo, o cuidado à população mentas de busca pela garantia destes.
em situação de rua não se resume àqueles ofer- A pesquisa do CREPOP abrange diversas cida-
tados pelas políticas de álcool e drogas, ele deve des do Rio Grande do Sul através de contatos te-
envolver os diversos aspectos da vida desses su- lefônicos com profissionais e gestores, entrevistas,
jeitos. São ações que só podem ser concretizadas visitas aos serviços, grupos presenciais, além do
através do trabalho desenvolvido de forma aco- questionário online, que pode ser respondido por
lhedora por uma rede intersetorial. todas(os) as(os) psicólogas(os) que desenvolvam
Alguns dos elementos de mudança que já pode- práticas neste campo das políticas públicas.
mos identificar na aproximação com este campo re- Participe das pesquisas do CREPOP e con-
ferem-se ao fato de que esta é uma clínica que ultra- tribua para a construção de referências técnicas
passa as paredes do consultório e dos serviços para para nossa profissão!

19
dica cultural

O Livro Negro da
Psicopatologia
Contemporânea

A
s obras do psicólogo e psicanalista Alfredo subjetividade humana.
Jerusalinsky sempre nos surpreendem, tanto O estudo de Jerusalinsky e colaboradores, reali-
pelo seu conteúdo quanto pelo reconheci- zado com ousadia e profundidade crítica, mergulha
mento de questões contemporâneas. Em sua obra “O em uma discussão necessária a todos os profissio-
Livro Negro da Psicopatologia Contemporânea”, já na nais envolvidos com saúde e educação. Constituídos
segunda edição, organizado em parceria com a psica- de maneira clara e concisa, esses ensaios são frutos
nalista argentina Silvia Fendrik não é diferente. A obra de longa reflexão e experiência de seus autores,
apresenta, de maneira brilhante e incontestável, uma que compartilharam em seus trabalhos, pesquisas e
coletânea de textos de diferentes autores, numa abor- análises contestatórias, em uma verdadeira posição
dagem corajosa e atualíssima, debatendo sobre um ética, pois o debate encaminha-nos, em sua leitura,
tema exigente e de inegável apropriação por parte de a um reconhecimento do paciente enquanto sujeito
psicólogos, psicanalistas, psiquiatras, educadores e pe- de seu sofrimento, como componente mais impor-
diatras: os diagnósticos e suas terapêuticas atuais em tante a ser considerado.
saúde mental, em especial na infância e adolescência. O livro não se propõe a “difamação”, como os pró-
Só essa pauta seria justificável, mas incluem reflexões prios autores proclamam, e sim, a uma análise apro-
acerca da psicanálise, educação, prescrição e uso de fundada, crítica, intensa, e com sustentável fundamen-
psicofármacos como decisão prima facie, num “quase tação. Boa leitura.
controle artificial da vida”, os diagnósticos de autismo
e de doença afetiva, a interferência na sexualidade, o
poder arbitrário da ciência em face à singularidade e Lucio Fernando Garcia
Coordenador da Área Técnica do CRPRS

Mensagem do CRPRS
Prezada (o) Psicóloga (o) No decorrer de 2012, já foram dados os pas-
sos iniciais para a realização do VIII Congresso
O final de ano, com suas festividades, leva Nacional da Psicologia. Como continuidade do
à reflexão sobre o que se aprendeu e se cons- processo, em 2013, serão realizadas as eleições
truiu, ao mesmo tempo em que motiva o deli- do Sistema Conselhos. Nessa ocasião, a catego-
neamento de planos e metas para a nova etapa ria escolherá a gestão para o CRPRS e para o
que se inicia. CFP no triênio 2013-2016. A mobilização e parti-
Em 2012 o Sistema Conselhos comemorou cipação da categoria é fundamental para a cons-
os 50 anos da regulamentação da profissão de trução e articulação da profissão.
psicólogo no Brasil. Marcamos a data promo- O CRPRS deseja a todas (os) psicólogas (os)
vendo a valorização da profissão, mostrando sua um ano de realizações, conquistas e que possamos
construção e sua vinculação com a história po- dar continuidade ao debate das questões mais
lítica e social do Brasil, de forma que os profis- prementes da realidade que nos cerca. Entramos
sionais pudessem observar o quanto, com seus nesse novo ano colocando-nos novamente à dis-
fazeres diários e saberes, estão inseridos nas posição para, por meio da função primordial do
conquistas da categoria. Também apresentamos CRPRS de orientação e fiscalização do exercício
à sociedade a importância da profissão e sua profissional, colaborar na constante caminhada da
luta por uma sociedade mais justa, baseada na profissão por uma saúde ampla e pelo reconheci-
defesa da saúde e dos direitos humanos. mento de direitos em nossa sociedade.

20
50 anos
Profissional Destaque
Para marcar os 50 anos da regulamentação
da profissão, o CRPRS convidou toda a cate-
goria a indicar profissionais que representam
um destaque no exercício da profissão. Os tro-
féus foram entregues durante a cerimônia de
encerramento da I Mostra Regional, realizada
em 27/08, Dia do Psicólogo.
I Mostra Regional de Os cinco psicólogos mais votados e que
receberam o troféu Profissional Destaque -
Práticas em Psicologia 50 anos da Psicologia foram: Francisco Pe-
dro Estrazulas Pereira de Souza; Maria da
Para marcar as comemorações dos 50 anos da Graça Correa Jacques; Loeci Maria Paga-
regulamentação da profissão no Brasil e o Dia do Psi- no Galli; Neuza Maria de Fátima Guares-
cólogo, o CRPRS promoveu durante os dias 24, 25 e 27 chi; Loiva Maria de Boni Santos.
de agosto a I Mostra Regional de Práticas em Psicolo-
gia – A Técnica Aliada À Arte – “50 anos de História”,
na Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre.
A abertura do evento teve a fala das psicólo-
gas Tania Mara Galli Fonseca e Helena Scarparo
sobre Psicologia, Arte e História. Em 25/08, foram
realizadas oficinas de Produção Textual, Teatro e
Roteiro de Documentário e o público assistiu às
apresentações das práticas aliadas à arte.
Na noite de 27/08, foram revelados os traba-
lhos vencedores: O Tapete Voa-Dor, de Bárbara
Elisabeth Neubarth; Estação Mergulho: Encon-
tros Juvenis e Formação, de Gislei Domingas
Romanzini Lazzarotto; A atividade artística reci-
clando olhares: o trabalho de adolescentes em
medidas socioeducativas na gráfica da UFR-
GS, de Lucia Karam Tietboehl. As autoras foram Exposição Itinerante
a São Paulo, a convite do CRPRS, apresentar seus
trabalhos na 2ª Mostra Nacional de Práticas em
A “Exposição Itinerante Psicologia: 50 anos de
Psicologia, ocorrida em setembro.
Profissão no Brasil” – que traz a história da Psico-
logia relacionada à história política, social e eco-
nômica do Brasil – está percorrendo o estado.
Jubilados Durante agosto, a exposição circulou em Porto
Alegre, passando pela Câmara Municipal, Merca-
Na noite de encerramento da I Mostra Re- do Público e Casa de Cultura Mario Quintana. Em
gional de Práticas em Psicologia, o CRPRS ho- setembro, esteve em Caxias do Sul, no San Pelegri-
menageou seus funcionários com 25 e 15 anos no Shopping Mall. Em Pelotas, o painel pôde ser
de casa. A homenagem foi entregue à Teresi- visto no Centro de Integração do Mercosul em ou-
nha de Fátima Goulart de Oliveira, que com- tubro. Agora, até 21 de dezembro, a Exposição está
pletou 25 anos de trabalho no CRPRS; à Adria- em Santa Maria, na nova Subsede do CRPRS (Rua
na da Silva Burmann, à Keli Cristina Rossi e ao Marechal Floriano Peixoto nº 1709/401), e pode ser
psicólogo Lucio Fernando Garcia, que comple-
visitada de segunda a quinta-feira, das 09h às 12h
taram 15 anos de atuação no CRPRS.
e das 13h às 17h e na sexta-feira, das 09h às 12h.

21
comunicados
Inaugurada Subsede
Centro-Oeste
Em 09/11, foi inaugurada a Subsede Centro-
-Oeste em Santa Maria, localizada na Rua Mare-
chal Floriano Peixoto, 1709/401. A Subsede será
responsável pelo atendimento dos mais de 2.100
psicólogos que atuam na região.
A cerimônia de inauguração contou com a
presença de representantes do poder público, co-
ordenadores dos cursos de psicologia da Região, em 2006; a constituição do Grupo de Trabalho dos
psicólogos, conselheiros, colaboradores e funcio- Psicólogos da Região Centro-Oeste do Estado do
nários do CRPRS. Rio Grande do Sul em 2008; além da presença de
A presidente do CRPRS, Loiva dos Santos Lei- conselheiros representantes da região nas últimas
te, inaugurou oficialmente a Subsede destacando gestões do CRPRS. “A inauguração da Subsede é
a importância do momento, não apenas para os uma conquista de toda a categoria, por isso con-
psicólogos, mas para toda a sociedade. “A Subse- tamos com a participação de todos os psicólogos
de Centro-Oeste vem ao encontro de uma trajetó- da região nas ações do CRPRS. Nosso objetivo é
ria da categoria na região e ao mesmo tempo da descentralizar os serviços administrativos e possi-
Gestão Composição, no seu intuito de ampliar o bilitar o acesso e mobilização dos psicólogos aos
acesso e a mobilização dos psicólogos, estudantes serviços e políticas relacionadas ao exercício pro-
de psicologia e empresas com atuação em psico- fissional”, afirmou Roberta.
logia, fortalecer os laços e se fazer mais próximo
da realidade dos profissionais”, destacou Loiva. Conheça a Subsede Centro-Oeste
A conselheira de Santa Maria, Roberta Fin Mot- Rua Marechal Floriano Peixoto 1709/401
ta, relembrou a trajetória do movimento dos psicó- CEP: 97015-373 - Santa Maria/RS
logos e estudantes da região Centro-Oeste, traba- Fone/Fax: (55) 3219-5299
lho que deu origem à ideia de implantação desta santamaria@crprs.org.br
nova Subsede, como a criação do Fórum Aberto e Horário de Atendimento:
Permanente de Psicologia de Santa Maria e a cria- De 2ª à 5ª feira das 9h às 12h / 13h às 17h
ção da Associação dos Psicólogos de Santa Maria 6ª das 9h às 12h

Assembleia Geral define anuidade de 2013


Em 28/09 foram definidos na Assembleia Geral Ordinária do CRPRS os valores de anui-
dades, taxas, multas e emolumentos para o exercício de 2013. A proposta apresentada pelo
CRPRS foi de reajuste de 9% no valor da anuidade integral e a tabela de anuidades taxas e
emolumentos para o ano de 2013. Após ampla discussão entre os presentes, a tabela pro-
posta foi colocada em votação e aprovada.
O valor total da anuidade de Pessoa Física passa a ser de R$ 407,52, podendo ser
parcelado em cinco vezes. Terá 10% de desconto na anuidade o psicólogo que efetuar
o pagamento integral até 31 de janeiro de 2013, 5% de desconto quem pagar até 28 de
fevereiro de 2013 e 20% na primeira anuidade do recém-formado (24 meses), caso o
pagamento seja efetuado em cota única.
Confira a tabela completa dos valores aprovados em nosso site www.crprs.org.br/
tabela2013.

22
VII CNP

CNP
Em 2013, o Sistema Conselhos de Psicologia eleição dos delegados para o VIII Congresso Re-
promoverá o VIII Congresso Nacional da Psico- gional da Psicologia, que irá ocorrer em 12 e 13
logia, instância máxima de deliberação em que de abril de 2013, em Porto Alegre.
são definidas as diretrizes para as ações políticas Participe dos eventos preparatórios para o
priorizadas durante o triênio seguinte. VIII Congresso Regional da Psicologia e VIII Con-
Os pré-congressos já estão sendo realizados gresso Nacional da Psicologia. Confira a agenda
em diferentes regiões do Rio Grande do Sul, para de Pré-Congressos e acompanhe a programação
a construção e escolha das propostas, assim como em nosso site www.crprs.org.br.

Data Cidade Horário Local

02/11 Torres 14h Ulbra Torres (Rua Universitário, 1900)

URI - Salão de Eventos URI (Av. Batista Bo-


23/11 Santiago 13h30
notto Sobrinho, s/ nº)
Universidade da Região da Campanha UR-
28/11 Bagé 15h
CAMP (Av. Tupy Silveira, 2099)

30/11 Cachoeira do Sul 17h Ulbra (Rua Martinho Lutero, 301)

01/12 Caxias do Sul 9h UCS (Rua Francisco Getúlio Vargas, 1130)

12/12 Pelotas 18h30 Subsede Sul (Rua Félix da Cunha, 772/304)

Algo Mais Café (Rua Borges de Medeiros,


01/03 Vacaria 19h
540 - Centro)
Auditório CRPRS (Av. Protásio Alves, 2854 –
08/03 Porto Alegre 14h
4º andar)
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas -
09/03 Passo Fundo 8h30
IFCH da Universidade de Passo Fundo - UPF
Bento Gonçalves
09/03 A confirmar A confirmar
ou Garibaldi

15/03 São Leopoldo A confirmar A confirmar

março Santo Ângelo A confirmar A confirmar

março Rio Grande A confirmar A confirmar

Subsede Centro-Oeste (Rua Marechal Flo-


março Santa Maria A confirmar
riano Peixoto, 1709/401)

23
agenda
Cursos
Especialização – Psicodiagnóstico e Ava- 3º Curso de Formação em Terapias Cogniti-
laiação Psicológica vas no Tratamento da Dependência Química
Início em 2013 Início em março de 2013
Especialização - Instituições em Análise Porto Alegre/RS Porto Alegre/RS
Inscrições até 14 de dezembro Informações: (51) 3019.5340 Informações: (51) 3333.2123
Porto Alegre/RS http://www.institutocontemporaneo.com neapcterapiascognitivas@neapc.com.br
Informações: http://www.neapc.com.br
instituicoesemanalise.ufrgs@gmail.com Curso Intensivo de Avaliação Clínica - Psi-
http://www.ufrgs.br/psicologia/pos-gradua- codiagnóstico e Instrumentos de Avaliação 4º Curso Intensivo de Avaliação clínica:
cao/instituiesemanlise2.pdf 28 e 30 de janeiro e 1, 4, 6 e 8 de fevereiro de 2013 diagnóstico e instrumentos de avaliação
Caxias do Sul/RS Início em março de 2013
Especialização em Psicoterapia Psicanalí- Informações: (54) 3419.4214 / (54) 3027.3002 Porto Alegre/RS
tica de Crianças e Adolescentes psicologa@lucianamanciobalico.com Informações: (51) 3333.2123
Inscrições até 20 de dezembro http://www.lucianamanciobalico.com neapcterapiascognitivas@neapc.com.br
Porto Alegre http://www.neapc.com.br
Informações: Avaliação Cognitiva e Neuropsicológica
Fone: (51) 3333.4801 22 e 23 de fevereiro 2013 e 8 e 09 de março de 2013 Especialização em Psicologia Escolar
http://iepp.com.br Caxias do Sul/RS Início em março de 2013
Informações: (54) 3419.4214 / (54) 3027.3002 Porto Alegre/RS
Especialização em Psicoterapia de Orien- psicologa@lucianamanciobalico.com Informações: (51) 3516.5681
tação Psicanalítica http://www.lucianamanciobalico.com capepsi@terra.com.br
Inscrições até 20 de dezembro www.capepsi.com.br
Porto Alegre Especialização em Psicoterapia de Orien-
Informações: tação Psicanalítica A Psicologia do Adulto Jovem e Adulto Maduro
Fone: (51) 3333.4801 Início em março de 2013 6 de março de 2013
http://iepp.com.br Novo Hamburgo Porto Alegre
Informações: (51) 3581.4055 / (51) 9326.2497 Informações: (51) 3328.0622
Oficina de Produção Psicanalítica e Lite- ipsi@via-rs.net cllam@terra.com.br
rária http://www.ipsi.com.br http://www.clam.emed.com.br
Porto Alegre/RS
Informações: (51) 3319.7665 / Especialização em Psicoterapia Aula Inaugural - Entre o Dolmen e a infor-
(51) 9288.8277 Início em março de 2013 mática - qual o significante suficientemen-
http://www.paulofernandomonteiroferraz. Porto Alegre te significante para, nele, uma criança de
blogspot.com Informações: (51) 3333.3266 hoje se identificar?
extensaocientifica@mariomartins.org.br 22 de março de 2013
Pós-Graduação em Dinâmica dos Grupos Porto Alegre/RS
Porto Alegre/RS Formação em Psicoterapia Psicanalítica Informações: (51) 3308.5066
Informações: (51) 3217.2161 / (51) 3217.2061 / Início em março de 2013
(51) 9967.4204 Porto Alegre Avaliação em Habilidades Sociais
cursosportoalegre@sbdg.org.br Informações: (51) 3319.7665 / (51) 3384.2765 22 e 23 de março de 2013
contato@bion.org.br Caxias do Sul/RS
MBA Gestão & Auditoria em Sistemas de Saúde www.bion.org.br Informações: (54) 3419.4214 / (54) 3027.3002
Porto Alegre/RS psicologa@lucianamanciobalico.com;
Informações: (51) 3225.3501 / Especialização - Intervenção Psicanalítica http://www.lucianamanciobalico.com
(51) 9868.5583 na Clínica com Crianças e Adolescentes
portoalegre@ipog.edu.br
http://www.ipog.edu.br
Início em março de 2013
Porto Alegre/RS
Congressos,
Especialização – Teoria Psicanalítica e as
Informações: (51) 3308.5066
espec_psicanalise@ufrgs.br
Jornadas, Simpósios
Psicoterapias da Infância e Adolescência http://www.ufrgs.br/psicologia Simpósio - Patologias do Desvalimento -
Início em 2013
Pensando a Clínica do Desamparo Psíquico
Porto Alegre/RS 8º Curso Especialização em Terapias 1º de dezembro de 2012
Informações: (51) 3019.5340 Cognitivas Porto Alegre/RS
http://www.institutocontemporaneo.com Início em março de 2013 Informações: (51) 3331.3781
Porto Alegre/RS contato@gaepsi.com.br
Especialização – Teoria Psicanalítica e as Informações: (51) 3333.2123 http://www.gaepsi.com.br
Psicoterapias da Idade Adulta neapcterapiascognitivas@neapc.com.br
Início em 2013 http://www.neapc.com.br XVII Jornada do Curso de Especialização
Porto Alegre/RS
em Atendimento Clínico da Clínica de
Informações: (51) 3019.5340 3º Curso de Formação em Terapias Cogniti- Atendimento Psicológico da UFRGS
http://www.institutocontemporaneo.com vas na Infância e Adolescência 22 e 23 de março de 2013
Início em março de 2013 Porto Alegre/RS
Especialização – Teoria Psicanalítica e a Porto Alegre/RS Informações: (51) 3308.2025 / (51) 3308.2026
Clínica Psicoterápica Informações: (51) 3333.2123 clinicap@ufrgs.br
Início em 2013 neapcterapiascognitivas@neapc.com.br
Porto Alegre/RS http://www.neapc.com.br
Informações: (51) 3019.5340
http://www.institutocontemporaneo.com
USO EXCLUSIVO DOS CORREIOS
Especialização – Psicanálise Vincular (ca- [ ] ausente [ ] endereço insuficiente
sal, famílias e grupos) [ ] falecido [ ] não existe o número indicado
Início em 2013 [ ] recusado [ ] desconhecido
Porto Alegre/RS [ ] não procurado [ ] inf.porteiro/síndico
Informações: (51) 3019.5340 [ ] mudou-se [ ] outros (especificar)
http://www.institutocontemporaneo.com .....................................................................................

Especialização – Teoria Psicanalítica e a ____/____/______ _________________________


Clínica Psicoterápica – Ênfase Adultos data rubrica do responsável
Início em 2013
Porto Alegre/RS _________________________
Informações: (51) 3019.5340 VISTO

24
http://www.institutocontemporaneo.com

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