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Ano 20 | Edição 119 | Setembro/Outubro 2018 | Conselho Regional de Psicologia do Paraná

Especial XVI EPP e II CIPTF Infância e adolescência Aborto legal


Confira relatos e imagens dos Tamo junto: por que a presença Descriminalizar o aborto é
eventos que promoveram e a escuta são fundamentais questão de saúde e falar sobre
encontros e conexões sustentáveis para crianças e jovens? isso é dever da Psicologia

“ Arte é a expressão mais pura que há
para a demonstração do inconsciente de
cada um. É a liberdade de expressão, é
sensibilidade, criatividade, é vida
JUNG (1920)
05 Curtas
06 Resenha
As mil e uma faces do demônio

SUMÁRIO
07 Políticas Públicas
Controle Social: por que descriminalizar o aborto?

11 Teatro e Educação
Um tesouro para todo mundo: grupo de teatro infantil incentiva a leitura em escolas
e tem CRP-PR como apoiador

13 Capa
Psicólogas(os) professoras(es), professoras(es) Psicólogas(os)

17 Ano da Formação
Diretrizes para uma formação generalista

19 Especial XVI EPP e II CIPTF


Confira relatos e imagens dos eventos que promoveram encontros e conexões sustentáveis

39 Psicologia e Política
A união faz a Psicologia

41 Infância e Adolescência
Tamo Junto: da infância mediada pela internet ao suicídio de crianças e adolescentes,
a presença e a escuta são fundamentais

47 Avaliação Psicológica
Boas Práticas em avaliação psicológica

49 Orientação e Fiscalização
Nome Fantasia: Psicólogas(os) podem usar?

51 Coluna Ética
Crianças e adolescentes também têm direito ao sigilo! Mas, e se os pais querem
informações?

54 Espaço Psi
Ineditismo das conexões

Conselho Regional de Psicologia - 8ª Região (CRP-PR)


Produção: Revista Contato: Informativo Bimestral do Conselho Regional de Psicologia 8º Região (ISSN – 1808-2645) • Site: www.crppr.org.br
Endereço (sede): Avenida São José, 699, Cristo Rei, Curitiba-PR | CEP 80050-350 • Contatos: (41) 3013-5766 | comunicacao08@crppr.org.br
Tiragem: 17.500 mil exemplares • Impressão: Lunagraf • Jornalista responsável: Ellen Nemitz (17.589/RS) • Estagiária de jornalismo: Jessica Brasil
Skroch • Redação: Ellen Nemitz e Karla Losse Mendes • Coordenadora da Comissão de Comunicação Social: Sandra Mosello • Revisão: Ellen Nemitz e
Angelo Horst
Diagramação: Jéssica Eloytza de Assis • Ilustrações: Jéssica Eloytza de Assis e Freepik (www.freepik.com) • Projeto gráfico: Agência Cupola
Preço da assinatura anual (6 edições): R$ 30,00

OS ARTIGOS SÃO DE RESPONSABILIDADE DE SEUS AUTORES, NÃO EXPRESSANDO NECESSARIAMENTE A OPINIÃO DO CRP-PR
Diretoria:
Psic. João Baptista Fortes de Oliveira (CRP-08/00173) - Conselheiro Presidente • Psic. Rosangela Lopes de Camargo Cardoso (CRP-08/01520) - Conselheira
Vice-presidente • Psic. Francisco Mario Pereira Mendes (CRP-08/01774) - Conselheiro-Teroureiro • Psic. Carolina de Souza Walger (CRP-08/11381) - Conselheira-
Secretária
Conselheiras e conselheiros:
Adriane Wollmann, Angela Sanson Zewe, Camila Maia de Oliveira Borges Paraná, Celia Regina Cortellete, Debora Cruz Marinho, Deisy Maria Rodrigues
Joppert, Elisa Mara Ribeiro da Silva, Erica Antunes Carlos, Frank da Silva Veiga, Gilberto Gaertner, Iara Lais Raittz Baratieri, Jane Biscaia Hartmann, Jane
Margareth Moreira de Carvalho, Luciano Bugalski, Ludiana Cardozo Rodrigues, Mari Angela Calderari Oliveira, Maria Cristina Neiva de Carvalho, Maria
Sezineide Cavalcante de Melo, Mariana de Oliveira Prochet, Nelson Fernandes Junior, Sandra Cristine Machado Mosello, Sandra Regina Fergutz dos
Santos Batista, Semiramis Maria Amorim Vedovatto, Silvio Araujo Vailões, Suzana Maria Borges.

CONTATO 119 | 3
EDITORIAL

Esta edição da Revista Contato é especial. Ela tem mais páginas para trazer
a você, Psicóloga e Psicólogo, um pouco do que aconteceu durante o
XVI Encontro Paranaense de Psicologia e o II Congresso Internacional de
Psicologia da Tríplice Fronteira. O evento durou quatro dias e contou com
atividades nos três turnos, abrangendo diferentes áreas de atuação e abor-
dagens. Aqui, você vai conferir algumas reflexões, fotos e depoimentos,
além de três entrevistas exclusivas com Leandro Karnal, Clóvis de Barros
Filho e Viviane Mosé.
Contemplando os meses de setembro e outubro, trazemos duas matérias
amplas que instigam debates importantes: uma sobre o universo das crian-
ças e adolescentes – e seus graves problemas, como o suicídio e a automu-
tilação – e outra sobre a identidade das(os) professoras(es) de Psicologia e
o seu papel na formação ética de novas(os) Psicólogas(os).
A edição ainda traz cultura, com a reportagem sobre um grupo de teatro
infantil apoiado pelo CRP-PR e uma resenha do livro “O demônio do meio-
-dia”, orientação nas colunas das Comissões de Ética e de Orientação e
Fiscalização, consciência política com um texto sobre a união de forças em
prol da Psicologia e o posicionamento embasado em números pela descri-
minalização do aborto.
Boa leitura!
Eu quero +Psicologia!
Campanha +Psi trouxe música e ação em praça pública para promover a
Psicologia na sociedade

A
ceite este desafio e coloque mais papel social da profi ssão: “o preconceito

CURTAS
Psicologia na sua vida. Foi com este obscuro não oculta a empatia/a
convite que as pessoas que acompa- diversidade é a luz do dia a dia/Mais
nham as publicações do Conselho Regional conexões, desempenho e direitos/O ser
de Psicologia do Paraná (CRP-PR) come- humano integral com todo respeito”.
çaram o mês de agosto. Em um delicado
vídeo ilustrado, uma menina assopra um A mensagem, que chegou a milhares
dente-de-leão e ‘espalha’ os benefícios da de pessoas pelas redes sociais e uniu
Psicologia, entre eles trazer mais saúde, as vozes da “grande multidão que se
mais consciência e mais acolhimento. junta em agosto”, dá o recado sobre a
missão da “Psicologia que cresce cada
O vídeo foi visto por mais de 30 mil pessoas vez mais/avança as fronteiras trazendo
só no Facebook e deu o pontapé inicial de seus ideais”: queremos “um pensamento
uma grande campanha de valorização da só promovendo cidadania” e também
Psicologia. O segundo grande momento “liberdade e igualdade para todo cidadão”.
aconteceu com o lançamento do Rap
Mais Psicologia. COLOQUE “ESSE TEMPERO” NA SUA
VIDA!
“Eu quero mais Psicologia/eu quero mais
saúde pro meu dia a dia.” Assim começa a O CRP-PR acredita que a Psicologia
composição do Psicólogo Everton Adriano precisa estar perto da sociedade. Por
de Morais (CRP-08/19778). Everton, que isso, no dia 27 de agosto, Dia da(o)
tem uma história com a música e a cultura Psicóloga(o), fomos até a Praça Santos
hip hop desde a infância, partiu de uma Andrade, em Curitiba, distribuir mudas de
lista de palavras enviadas pelas diversas tempero e uma mensagem da campanha
Comissões Especiais (Temáticas) do CRP- +Psi. A recepção do público não poderia
PR para compor a música. ser melhor: os temperos verdes fizeram
sucesso, mas o “tempero” da Psicologia
O objetivo é mostrar para a sociedade passou a ser uma ideia mais presente para
que a Psicologia pode auxiliar em todas muitos, enquanto outros já contavam
Psicólogo
as esferas da vida. “Muito mais que alma/ suas histórias de como profi ssionais apresenta
Everton A
driano de
Rap Mais Morais
muito mais que sentimento/autonomia, da área os ajudaram nessa ou naquela evento do Psicologia
durante
CRP-PR
em Foz do
bem-estar/e empoderamento”, segue a situação, ou como a Psicologia já faz Iguaçu
letra. Mas a música vai além e fala sobre o parte do dia a dia.

Para saber
mais

Agosto já chegou ao fim, ero


e temp
mas a campanha continua.
s m u das d Andrade,
da tos
aérea a San
Acesse: Ação da P
raça San Vista as na Praç iba
Psicologia tos A ib u íd C u r it
crppr.org.br/maispsi para mais ndrade levou a distr em
perto das
pessoas

CONTATO 119 | 5
As mil e uma faces
de um demônio
U
m problema complexo, multifaceta- sugando-a até o limite da vida. Segundo
RESENHA

do, que é ao mesmo tempo subjeti- ele, a medicação pode ser análoga à “foice
vo e comunitário, com componentes que desbasta a trepadeira”, mas é preciso
fisiológicos e sociais, cujas origens e meca- “reorganizar as raízes e o processo de
nismos fisiológicos ou psíquicos não são to- fotossíntese”.
talmente conhecidos: a depressão é o tema
central do livro “O demônio do meio-dia”, de Em “uma anatomia da depressão”,
Andrew Solomon. Apesar de o autor não ser subtítulo do livro, Solomon esquadrinha os
um profissional da saúde – nem Psicólogo efeitos da depressão na vida e na fisiologia
nem Psiquiatra –, como faz questão de dei- de quem tem o transtorno, enquanto
xar explícito já nas primeiras páginas do li- relata dados autobiográficos e narra
vro, Solomon realiza o que se considera um situações das quais tomou conhecimento
dos trabalhos mais completos já escritos so- relacionadas ao transtorno. Em seguida,
bre o transtorno mental. analisa os tipos de tratamentos existentes
e possibilidades de medicação, com seus
E ele parte de uma experiência muito parti- efeitos colaterais. Mostra, ainda, a relação
cular, a do período no qual atravessou uma do transtorno com determinados públicos,
depressão severa, para reconstituir a traje- como populações vulneráveis e suas
tória histórica da doença na humanidade e correlações com o vício e o suicídio.
realizar um apanhado da produção cientí-
fica disponível sobre o tema, com uma crí- A seguir oferece um breve registro histórico,
tica contundente aos processos de medica- político e da evolução da pesquisa científica
lização da vida e às exigências por padrões sobre o tema. Seu último capítulo,
de uma sociedade que geram sofrimento “Esperança”, reafirma a importância da
mental. E vai além: para ele, a própria frag- retomada da possibilidade do contato que
mentação que a ciência faz da doença e de a depressão retirou do paciente – contato
seu tratamento impossibilita cada vez mais consigo mesmo e com os outros – e reforça
a compreensão do ser humano integral. a necessidade do olhar para o outro e do
autocuidado, identificando e tratando
“(...) O alívio que as pessoas expressam questões antes que a doença apareça.
quando um médico diz que a depressão
delas é ‘química’ baseia-se numa crença Mas, mais que isso, Solomon registra, com o
de que há um eu integral existindo através próprio ato de escrever um livro ao mesmo
do tempo e numa divisão fictícia entre o tempo tão pessoal e tão amplo, a necessidade
sofrimento inteiramente justificado e o de se falar sobre o tema, de desconstruir
sofrimento completamente aleatório”, diz mitos e combater o preconceito. Com uma
em um dos trechos. Mas, o autor não quer escrita simples e envolvente, “O demônio
com isso menosprezar o efeito positivo da do meio-dia” é um livro indispensável para
medicação. Ele compara a depressão a uma profissionais e acessível também a leigos
6 | CONTATO 119 trepadeira que toma conta de uma árvore interessados no assunto.
Por que
descriminalizar
o aborto?
POR ASSESSORIA TÉCNICA DE POLÍTICAS PÚBLICAS

A
descriminalização e a legalização do mas podemos mensurar a clandestinidade

CONTROLE SOCIAL
aborto voltaram a ser pauta de dis- pelo número de procedimentos realizados.
cussão no Brasil. Os motivos estão Em 2017, o DataSus registrou quase 180 mil
na própria Constituição Federal de 1988: a curetagens pós-abortamento e 13.046 esva-
proibição de interromper voluntariamen- ziamentos de útero por aspiração manual in-
te a gravidez nas primeiras 12 semanas de trauterina (AMIU). Juntas, geraram quase 200
gestação viola princípios fundamentais e mil internações. Estima-se que metade das
constitucionais como a dignidade da pes- brasileiras aborta usando medicamentos, es-
soa humana, a cidadania, a não discrimina- pecialmente o misoprostol (mais conhecido
ção, a inviolabilidade da vida, a liberdade, como Cytotec®), justamente o recomendado
a igualdade, a proibição de tortura ou tra- pela Organização Mundial de Saúde para a
tamento desumano e degradante, a saúde, realização de abortos seguros. A PNA 2016
o planejamento familiar das mulheres e os revela que 48% das mulheres precisam ser
direitos sexuais e reprodutivos. internadas para finalizar os procedimentos.
Segundo o DataSus, o aborto é a quarta cau-
Os números mostram que o aborto voluntá- sa de morte materna no Brasil: as outras são
rio é um fenômeno frequente e persistente pressão alta durante a gravidez, hemorragia
entre as mulheres de todas as classes so- pós-parto e infecções.
ciais, níveis educacionais e religiões. Dados
da  Pesquisa Nacional de Aborto (PNA 2016) Em geral, mulheres mais ricas conseguem
apontam que uma em cada cinco mulheres, acessar clínicas clandestinas e medicamen-
aos 40 anos, já praticou pelo menos um abor- tos dentro e fora do país, enquanto as po-
to na vida. O perfil daquela que aborta é de bres acabam recorrendo a métodos menos
uma mulher comum, religiosa, jovem e com seguros e extremamente precários, como o
filhos. Considerando que grande parte dos uso de agulhas e cabides, chás ou, em alguns
procedimentos é feita de forma ilegal e em casos, até mesmo aspirador de pó. Além dis-
condições precárias, estes números colocam so, o aborto também é realizado por homens
o aborto como um dos maiores problemas de trans e mulheres lésbicas, que desejam in-
saúde pública do Brasil. terromper uma gestação muitas vezes fruto
de uma violência sexual que visa a “corrigir”
O Governo Federal não tem dados oficiais suas identidades de gênero ou orientações
sobre o número de abortos ilegais no Brasil, sexuais através de estupros corretivos.

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POR QUE A PSICOLOGIA PRECISA ENCA- não apenas em situação de abortamento
RAR DE FRENTE O ABORTO? (legal, ilegal, voluntário ou espontâneo),
mas em todo o processo anterior, com res-
Nossa profissão tem por fundamento a pro- peito e para promover liberdade, dignida-
moção da saúde, física e especialmente emo- de, igualdade e integridade do ser humano,
cional, o reconhecimento e integração dos agindo para a eliminação de qualquer forma
diversos momentos e vivências na subjetivi- de violência. Ser contra ou a favor do abor-
dade, com promoção do protagonismo das to, por conta das legítimas e naturais con-
pessoas através de seu autoconhecimento. vicções pessoais que cada Psicóloga(o) tem,
Neste sentido, a descriminalização do aborto não está em questão. É fundamental com-
é uma forma de garantir direitos básicos às preender que mulheres seguirão decidindo
mulheres que querem ou necessitam inter- pela interrupção de suas gestações, quais-
romper a gravidez, como liberdade de esco- quer que sejam nossas convicções.
lha e autonomia sobre seus corpos e vidas e
acesso aos serviços públicos de saúde, o que APONTAMENTOS E REFLEXÕES SOBRE O
minimiza os riscos de complicação e de mor- TRABALHO DAS(OS) PSICÓLOGAS(OS) NAS
te. A lei que criminaliza o aborto não o impe- SITUAÇÕES DE ABORTAMENTO
de, ou sequer reduz sua incidência, e não dá
conta da complexidade do tema em questão. Operamos nossa escuta, na maioria das vezes,
no âmbito do privado e do segredo, naquilo
Quando a(o) Psicóloga(o) se posiciona em que muitas vezes não encontra espaço ou
uma situação como esta, deve inverter a não pode ser dito fora do contexto da escuta
pergunta “se é a favor ou contra o aborto” psicológica. Em nossas escutas clínicas
para “se concorda que mulheres que fazem acessamos a fala de muitas mulheres que
o aborto, quaisquer que sejam seus motivos expressam seu desejo de não serem mães,
particulares, merecem morrer ou ser pre- ou até mesmo o desejo de interromperem
sas”. É fundamental que a(o) Psicóloga(o) suas gestações. Como escutamos esta
compreenda que não pode induzir suas demanda, e como nossas teorias dão conta
convicções políticas e ideológicas no exer- deste fenômeno?
cício de sua função profissional, nem para
incentivar nem para reprimir a decisão so- A maternidade está naturalizada, o que está
bre a interrupção voluntária da gravidez, expresso na patologização ou na leitura
pautando-se no direito de livre escolha patologizante da mulher que não quer ou
das pessoas e no auxílio aos processos de não escolhe ser mãe. Os impactos desta
autoconhecimento. subjetivação são enormes e a Psicologia
precisa estar atenta ao sofrimento
Mais que oferecer escuta a mulheres que imposto às mulheres que se encontram
buscam decidir sobre suas gestações, a(o) nas margens do que é a maternidade como
profissional pode contribuir para o planeja- uma norma. É preciso, portanto, atualizar
mento familiar, para avaliar as condições e nossas teorias e avaliar com criticidade as
consequências de uma gestação, o plano de nossas intervenções, inclusive se abrindo
vida e as perspectivas de cada mulher que à complexidade e à contraditoriedade de
decidirá se leva adiante ou não a sua gesta- expressões que o aborto pode encontrar
ção. Deve, portanto, basear sua prática na nas mulheres: há as que sofrem, mas
Declaração Universal dos Direitos Humanos que dialeticamente encontram alívio e
e no Código de Ética Profissional, com um satisfação na interrupção da gravidez, por
trabalho que acolha e escute as mulheres exemplo.

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Se nesta sociedade é no corpo da mulher em A maior parte dos serviços de emergência
que se inscreve a maternidade, parece correto do Sistema Único de Saúde (SUS) não está
que seja ela quem decida se este é o seu preparada para prestar o atendimento ade-
projeto pessoal. Neste sentido, é fundamental quado. Há relatos de que equipes de saúde,
que as(os) Psicólogas(os) atentem para os muitas vezes compostas por Psicólogas(os),
processos gerados quando as mulheres diante da não necessidade de registro de
“recusam” este lugar e têm suas vivências BO ou comprovação documental, criam re-
coagidas pelos aparatos psicopatologizantes gramentos e estratégias próprias, diferen-
e judiciais do Estado, que atua como um tes em cada Centro de Referência ou hospi-
verdadeiro gestor da subjetividade por meio tal, entre elas a exigência de apresentação
do controle dos corpos. de BO, exame de corpo de delito e até mes-
mo autorização judicial.
A PRÁTICA PSICOLÓGICA EM SITUAÇÕES
DE ABORTO LEGAL É provável que estas(es) profissionais ajam
desta forma na perspectiva de se isentarem
Mesmo que haja, no país, um Programa de de possível processo judicial, se confirma-
Interrupção Gestacional Prevista em Lei do que a gestante agiu de má-fé afirmando
(PIGL) e uma Norma Técnica do Ministério da um estupro que não tenha acontecido. Não
Saúde – Prevenção e Tratamento dos Agravos se justifica, no entanto, visto que o Código
Resultantes da Violência Sexual Contra Penal, em seu artigo 20, é nítido quando
Mulheres e Adolescentes –, diversos serviços aponta que “é isento de pena quem, por erro
que acolhem mulheres que têm o direito ao plenamente justificado pelas circunstâncias,
aborto legal funcionam em lógica bastante supõe situação de fato que, se existisse, tor-
questionável. Relatos da pesquisa de Vanessa naria a ação legítima”.
Canabarro Dias, em 2016, apontam que mui-
tas vezes a lógica eminentemente policiales- Neste sentido, cabe a nós, Psicólogas(os), vi-
ca dos serviços de saúde se sobrepõe ao ca- sitar nossas práticas profissionais com critici-
ráter de acolhimento e assistência em saúde. dade e cuidado. Como qualquer instrumento,
a Psicologia pode consolidar ou enfrentar de-
No caso da interrupção voluntária da gravidez sigualdades de gênero e exercer poder sobre
decorrente de estupro, diferentemente dos o corpo das mulheres, criando tecnologias –
casos de risco à vida da mãe e anencefalia do neste caso, a atestação da veracidade do dis-
feto, o procedimento é atravessado por uma curso – às quais a mulher deve se submeter
disputa essencialmente moral. Como a nar- para ter acesso a um direito. Mulheres pre-
rativa da vítima sobre a situação de violência cisam narrar suas histórias várias vezes para
vivida se torna um dos principais elementos pessoas diferentes, passar por várias e repe-
para a avaliação da situação, seu valor pro- tidas consultas, preencher documentos e for-
batório pode ser questionado em maior ou mulários e, principalmente, performarem de
menor escala pelos agentes no contexto judi- determinado modo para que sejam reconhe-
cial, mesmo que o Código Penal não preveja cidas como “estupradas”, como pessoas que
a necessidade de apresentação de qualquer engravidaram a partir de um crime sexual.
documento para a prática do abortamento
e a mulher sexualmente violentada não te- É fundamental retomar o Código de Ética
nha o dever legal de noticiar o fato à polícia Profissional do Psicólogo, que, em seu artigo
(confeccionar Boletim de Ocorrência (BO)), 2º, veda a(o) Psicóloga(o) de utilizar ou favo-
cabendo autorização do representante legal recer o uso de conhecimento e a utilização
da gestante apenas quando ela é incapaz. de práticas psicológicas como instrumentos

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de castigo, tortura ou qualquer forma de sejam respeitadas e tenham suas condições
violência. O trabalho das(os) Psicólogas(os) de precarização e sofrimento acolhidas.
deve ser o de acompanhamento social e Não apenas elas, mas também as equipes,
psicológico, mas não na perspectiva de dentro de suas dúvidas e angústias.
Para saber condicionar a livre decisão da mulher ou
mais criar obstáculos, e sim para contribuir com Descriminalizar o aborto não é incentivá-lo.
a elaboração de planos de vida que refli- Assim como a lei proibitiva não impede a
tam as consequências positivas e negativas sua realização, a permissão não obriga as
Este artigo foi reproduzido dessa decisão. mulheres a abortarem – ao contrário, pode
aqui em forma reduzida.
até mesmo dar suporte psicológico e ma-
Para ler o artigo Os equipamentos de saúde devem ser, pri- terial à gestante, que passa a contar com
na íntegra, acesse
mordialmente, espaços para assistência em estrutura para levar sua gravidez adiante.
https://bit.ly/2QH9FLi saúde, para acolhimento e escuta em saúde Não se trata de uma imposição, mas de re-
mental, um lócus para que a Psicologia pro- constituição do lugar de sujeito das mulhe-
porcione a universalização do acesso da po- res, na perspectiva de seus direitos sexuais
pulação à informação, com responsabilida- e reprodutivos e de promoção de sua saú-
de crítica e social. Que, em busca do direito de. De autonomia das mulheres sobre seus
à sua própria determinação, as mulheres corpos e seus destinos.

CRP 08-PJ/00215
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Cursos destinados a psicólogos.
Um tesouro para
todo mundo

Q
ual é o maior tesouro da humani- bém precisamos fortalecer as habilidades

TEATRO E EDUCAÇÃO
dade? Em busca dessa resposta para os relacionamentos humanos e a ex-
sai o palhaço Estrogomirdo pelo pressão das emoções.
mundo. Nesta fantástica aventura, ele en-
contra muitos amigos, como Sonho Azul, “Depois que apresentamos a peça
Pierre, Genaro, Achim e Pepito, que o aju- nas escolas, recebemos um retorno
dam com algumas dicas: o grande tesou- bem positivo de que as crianças estão
ro não pode ser molhado, pode ter vários procurando mais a biblioteca, que estão se
nomes e vários donos, deixa a pessoa mais interessando pela leitura”, conta Antônio
rica quando é usado e a leva para viajar a Cândido, o ator que interpreta o palhaço
vários lugares diferentes. Pensando ser o Estrogomirdo. E não é difícil de acreditar,
dinheiro o objeto de sua busca, o simpáti- já que os olhinhos dos pequenos ficam
co palhaço, que logo conquista a atenção atentos a cada momento da história. Ao
das crianças e enfrenta também um vilão, final da apresentação, o coro de vozes
a Ignorância, descobre no final que esse logo ganha força na música “ABCDFG eu
grande tesouro é o livro. aprendo e ensino pra você/Não vou deixar
que a ignorância me impeça de estudar”.
O Conselho Regional de Psicologia do
Paraná (CRP-PR) é parceiro na realização ARTE DEMOCRATIZADA
da peça “ABC: um tesouro para você”, idea-
lizada por Gilda Elisa e realizada pela com- O teatro também é uma forma de expressão
panhia de teatro GG Proarte, de Gelson artística a qual poucas crianças têm acesso e que
Schimanski, por considerar que a leitura precisa ser democratizada. Com a realização
ajuda a criança a compreender seus senti- itinerante nas escolas e acessível a todos os
mentos positivos e negativos e a se rela- alunos, a peça proporciona momentos de lazer
cionar melhor com o mundo à sua volta. e reflexão que têm impactos importantes sobre
Sabemos que as novas tecnologias e a ino- o relacionamento no ambiente educacional,
vação são sempre bem-vindas, mas tam- com a família e a comunidade.

CONTATO 119 | 11
Antes de apresentar “ABC: um tesouro crianças e jovens”, conta Gelson, que está
para você”, Gelson já percorreu escolas há 34 anos na área artística.
em todo o Paraná com “Calota, Gasolina e
Trânsito”, que incentiva o comportamento O CRP-PR concorda com Gelson e com
seguro de pedestres e motoristas, e “Na todas as pessoas que acreditam no poder
boca da noite”, voltada a adolescentes da arte e da educação. Somente assim
para trabalhar questões como a violência poderemos construir um futuro mais
(ambas contaram com o apoio do CRP-PR). igualitário e de respeito aos Direitos
“Eu nasci no circo itinerante, e acredito Humanos. É por isso que devemos ter
que levar o teatro para as comunidades ações diretas para apoiar iniciativas neste
mais distantes e que muitas vezes sentido. Afinal, onde tem Psicologia
nunca viram uma peça é extremamente tem mais educação, mais saúde e mais
importante para fomentar a cultura entre qualidade de vida.

Patrocínio

12 | CONTATO 119

P
rofessora, você trabalha ou só dá É uma frente de atuação como qualquer
CAPA
aula?”; “Não sou mais Psicólogo, outra”, defende a Psicóloga e professora há
sou professor”; “Nossa, você 35 anos Regina Celina Cruz (CRP-08/01383).
viu aquela profissional X? Era excelente
Psicóloga, virou professora”. Você já ouviu O professor Raphael Henrique Castanho
alguma dessas frases? Elas são resultado Di Lascio (CRP-08/00967), formado há 38
de uma dissociação entre a profissão de anos e professor nos últimos 18, concor-
Psicóloga(o) e a atuação destas(es) profis- da. “Eu sou professor e sou coordenador.
sionais na formação de outras(os) profis- E, principalmente, sou Psicólogo. Eu não
sionais da Psicologia. tenho como separar esses dois papéis.
Logicamente, em cada área de atuação há
O fato de a docência ser uma área de atua- especificidades. Mas a Psicologia está den-
ção da profissão de Psicóloga(o) pode pa- tro de mim. Se eu não conseguir entender
recer óbvio, mas nem sempre está tão o que é uma depressão de um aluno, o que
evidente nas representações sociais da pro- é uma angústia, uma ansiedade, enfim,
fissão. “Não há como separar o Psicólogo qual outro profissional vai descobrir isso?”,
ou a Psicóloga do professor ou da profes- questionou.
sora. É indivisível. Há Psicólogas(os) na área
Organizacional, na Hospitalar e há profis- “As(Os) docentes são Psicólogas(os) que le-
sionais que atuam como professoras(es) cionam e que têm como principal função
nas universidades em cursos de graduação. contribuir com a formação de futuras(os)

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Psicólogas(os). Então, não podem estar des- os alunos estão tendo que irão trilhar a pro-
coladas(os) da prá­tica profissional. Mas, na fissão. Queira ou não, a(o) docente que está
verdade, às vezes a gente percebe a dificul- na frente deles é a primeira linha de modelo
dade de se colocarem no papel de forma- profissional que eles têm da Psicologia.”
doras(es). Elas(es) precisam dominar as atri-
buições e funções de professoras(es), mas O Psicólogo relembra ainda que, pelas
não podem estar descoladas(os) da realida- características próprias, a formação em
de, inclusive participando das várias esferas Psicologia por si levanta questões para os
da profissão como do Conselho Regional de acadêmicos para as quais as(os) professo-
Psicologia”, retoma a professora Regina. ras(es) precisam estar atentas(os). “A for-
mação de Psicologia é muito sensível. Ao
MODELO E COMPROMISSO ÉTICO mesmo tempo que ela está colocando o
aprendizado de questões de comportamen-
A compreensão da docência como uma to para as pessoas, elas estão se identifican-
das áreas de atuação da(o) profissional de do com estas questões. Repensando suas
Psicologia leva a uma conclusão direta: experiências. Nenhum professor irá realizar
a(o) Psicóloga(o), na função de formar ou- psicoterapia em sala de aula, bem como
tras(os) profissionais, está diretamente no não irá se privar de conhecer essas condi-
exercício profissional e sob a tutela, portan- ções para orientar os alunos”, comentou.
to, do Código de Ética Profissional da profis-
são. Em especial do que está estabelecido EDUCAÇÃO E RELAÇÃO DE CONSUMO
no seu artigo 17, que afirma que “caberá
aos psicólogos docentes ou supervisores Ser ético é um compromisso profissional
esclarecer, informar, orientar e exigir dos na docência. Mas, Psicólogas(os) professo-
estudantes a observância dos princípios e ras(es) têm ainda o dever já mencionado
normas contidas neste Código”. de cobrar também uma postura ética dos
alunos, e podem incorrer em infração ética
“Por sermos Psicólogas(os) isso nos afeta caso não o façam. Isso implica a necessida-
na relação que nós temos com os alunos, de de uma postura firme e convicta desse
na relação entre nós, então a Psicologia preceito ético em um cenário no qual as
está em nós. Isso nos dá uma forma dife- relações entre professoras(es) e estudantes
renciada de atuação, de relação pedagógi- vem se modificando.
ca, de reflexão crítica, de responsabilida-
des que a gente tem com o processo de O Psicólogo e professor universitário
formação, sobretudo com o processo de Willian Mac-Cormick Maron (CRP-08/14363)
formação de pessoas comprometidas com comenta que vivemos uma “aura de desva-
a ética e com os direitos humanos. Não há lorização da docência e a redução da edu-
como ensinar sem ser uma Psicóloga ou cação a uma relação de consumo e cliente-
um Psicólogo com conhecimento e atua- lismo”. Uma visão exemplificada nas frases
ção éticos”, afirma Regina. no começo desta reportagem, sobretudo
na expressão: “você trabalha também ou
Raphael Di Lascio ressalta a importância da só dá aula?”
postura profissional de Psicólogas(os) pro-
fessoras(es) nesse contexto. “Quem está na “A visão clientelista da educação faz com
formação tem uma responsabilidade muito que se fortaleçam as premissas de que o
grande, porque é baseado nos modelos que cliente tem sempre razão e ele sempre

14 | CONTATO 119
deverá ser satisfeito. Lembro que, em as repostas equilibram-se, no grupo, entre
minha visão, a formação da(o) profissional os que se percebem professores-Psicólogos,
não consiste apenas na satisfação do Psicólogos-professores e unicamente
cliente. Formar profissionais inclui também Psicólogos. Mas, há um predomínio dos
frustrar o aluno”, ressalta o Psicólogo e que priorizam a Psicologia, ao observarmos
educador ao avaliar que o contato com que há sujeitos que se intitulam primeiro
regras e limites também será importante Psicólogos e depois professores, e sujeitos
para o desenvolvimento da(o) futura(o) que se definem apenas como Psicólogos.”
profissional.
Os resultados da pesquisa são um exem-
A Psicóloga Regina tem a mesma avaliação. plo de como há uma confusão na identi-
Segundo ela, o aluno mudou, mas é parte dade profissional no segmento. No artigo
do papel de formador também ensinar que “A constituição identitária do professor de
as regras são necessárias e precisam ser Psicologia: quem forma o formador?”, a pro-
cumpridas, longe de passar por qualquer fessora de Psicologia da PUC-Campinas Vera
autoritarismo. “Eu costumo dizer para os Lúcia Trevisan de Souza (CRP-06/25970)
alunos: ‘gente, olha, na vida, tem algumas também aborda a identidade das(os) pro-
coisas que temos que fazer e que envolvem fessoras(es) nessa área do conhecimento.
obedecer a algumas regras. De outra forma, Segundo ela, no que se refere às represen-
vocês não conseguirão ser profissionais. Há tações e à identidade, a Psicologia como
coisas que nós podemos fazer do modo que área de conhecimento não estaria sendo
quisermos e outras que irão cumprir deman- eficaz em produzir identificações para fa-
das e determinações’”, conta. É preciso reco- vorecer a participação de Psicólogas(os) na
nhecer que essa é uma relação assimétrica, sua própria construção.
como a relação no consultório, por exemplo,
também o é. Para ela, esse é começo do en- “Entendo identidade como processo cons-
sino de uma atuação ética: na sala de aula. titutivo do sujeito, produzido e construído
nas interações com outras pessoas. Esse
UMA QUESTÃO DE IDENTIDADE processo é permanente e dialético, carac-
terizado por tensões entre o que se diz ao
A relação entre a Psicologia e a docência em sujeito sobre o que ele é e o que o sujeito
Psicologia foi estudada pela pesquisadora e se apropria como seu, em um movimento
docente Valdirene Bruning de Souza (CRP- de identificação e não identificação. (...)
12/03355) em sua dissertação de mestrado Se não há identificação, não há sentimen-
na Universidade do Sul de Santa Catarina. to de pertencimento à comunidade, logo,
A partir de entrevistas com professoras(es) não haveria implicação ou responsabilida-
da área, ela concluiu que havia uma de sobre a formação dos futuros profis-
contradição: “os pesquisados percebem- sionais, pois os psicólogos não se veriam
se, em sua maioria, como prioritariamente como pertencentes à docência nem tam-
professores, embora mantenham atividades pouco haveria representações sociais que
específicas da Psicologia fora do âmbito promovessem esse pertencimento”, co-
da universidade. Isto ocorre pelo tempo e menta a professora no artigo.
pela importância com que se dedicam e
atribuem à docência. Entretanto, quando A questão é se essa identificação estaria ou
perguntados de forma mais direta, como passaria a ser mais ligada à educação com o
no cotidiano, sobre qual é a sua profissão, tempo, distanciando-se das representações

CONTATO 119 | 15
sociais nas quais as(os) Psicólogas(os) se trabalham muito mais fora de sala), e
reconhecem mais comumente. Para a algumas restrições do mercado (falta de
Psicóloga e professora Regina Celina Cruz oportunidade e baixo retorno inicial) geram
(CRP-08/01383), realmente a(o) Psicóloga(o) uma maior identificação com a docência. Em
que atua como professora ou professor outros casos há as(os) Psicólogas(os) que se
tem as duas capacitações, mas deveriam identificam com a pesquisa em Psicologia
ser complementares e não concorrentes. e constroem excelentes e importantes
“A(O) docente normalmente tem duas carreiras a partir disso”, explica.
capacitações. É preciso se preparar para
formar profissionais. Além disso, ela(e) A questão do conflito na identidade pro-
também atua em outro campo da profissão, fissional também poderia estar ligada ao
em uma especialidade, ou, geralmente, enfraquecimento da própria identidade de
já atuou em algum momento. Essas duas Psicóloga(o). A solução? Para Willian a res-
atuações compõem a sua identidade sem posta passa exatamente pela sala de aula.
que uma substitua a outra”, afirma. “Historicamente há um enfraquecimento
da classe das(os) Psicólogas(os) justamente
Willian Maron explica que a identidade pela fragmentação e a multiplicidade das
se constitui ao longo das experiências. abordagens e suas diretrizes. A fragmen-
“Não se nasce com identidades, elas são tação e depreciação de outras abordagens
constituídas a partir de múltiplas relações teóricas desembocam em uma classe menos
de alienação, separação e identificação. fortalecida com uma identidade fragilizada.
A questão das identidades neste caso [da Para o fortalecimento da identidade da(o)
docência] é quando uma vai se sobrepondo Psicóloga(o) se faz necessário uma atuação
à outra. Em alguns casos, as demandas importante da(o) docente, fomentando o
da vida acadêmica que ocupam muito o respeito e a valorização das diversas aborda-
tempo das(os) profissionais (professoras(es) gens e campos de atuação”, conclui.

Aproximação de estudantes com o CRP-PR também


colabora com a formação

O CRP-PR retomou em 2016 as Comissões desta Comissão e fez toda diferença em


do Estudantes. Nestes espaços, elas(es) sua formação e carreira profissional.
trocam informações, tiram dúvidas, têm
contato com a profi ssão, colaboram “Estar no Conselho desde a formação vêm
com informações sobre a formação e fazendo a diferença no desenvolvimento
participam das atividades promovidas de Psicólogas(os), porque este é mais
pelo CRP-PR. um lugar que esta gestão do CRP-PR
oferece ao estudante de Psicologia. Nos
A conselheira coordenadora da Comissão alegra imensamente poder participar da
de Estudantes de Curitiba, Iara Raittz formação dos nossos futuros profissionais,
Baratieri Omar (CRP-08/18399), aponta fortalecendo o debate sobre nossa
que quando era estudante participou profissão”, diz Iara.

POR KARLA LOSSE MENDES


16 | CONTATO 119
Diretrizes para
uma formação
generalista

D
esde o final de 2017, os Conselhos dos Psicólogos (Fenapsi). O resultado

ANO DA FORMAÇÃO
Regionais foram convidados a foi um relatório final que apresenta a
participar e a promover espaços minuta das novas diretrizes curriculares,
de discussão acerca da formação da(o) que esteve disponível no site do Conselho
Psicóloga(o) brasileira(o) e elaborar as Federal de Psicologia para consulta pública
novas Diretrizes Curriculares Nacionais até o dia 10 de junho. O documento foi
para os cursos de graduação de Psicologia. encaminhado e aprovado na reunião do
A elaboração foi estruturada a partir Conselho Nacional de Saúde realizada no
de reuniões preparatórias em cada último dia 13 de setembro.
Estado, cinco eventos regionais e uma
etapa nacional. Todas as fases contaram Para a conselheira do CRP-PR Mari Angela
com metodologia que foi validando as Calderari Oliveira (CRP-08/01374), este
propostas recebidas em cada etapa até a novo processo foi diferente da discussão
elaboração do documento final. anterior das diretrizes curriculares,
realizada em 2003. Na avaliação dela, a
No Conselho Regional de Psicologia do construção deste ano ofereceu uma maior
Paraná (CRP-PR) a movimentação foi amplitude ao debate. “Foi um processo
intensa com a promoção de reuniões diferente desse porque o que eu observei
em todo o Estado. Em conjunto com as como algo bem importante foi a abertura
Instituições de Ensino Superior, o Paraná para a discussão, com a possibilidade
demonstrou grande mobilização, com de que todas(os) as(os) Psicólogas(os)
a participação de 473 pessoas entre pudessem participar”, avalia a Psicóloga,
profissionais e acadêmicos em eventos que também é docente e coordenadora de
que levantaram 180 propostas para as curso de Psicologia na capital paranaense.
diretrizes. Deste total, 20 foram aprovadas
e discutidas no Encontro Nacional “O ano “Penso que a proposta é cheia de coragem.
da Formação em Psicologia”, realizado em Buscar realizar estes encontros para um
maio em Brasília (DF). novo processo de revisão de diretrizes,
principalmente no momento em que nos
Além do Conselho Federal de Psicologia encontramos, é desafiador, pois trata-
(CFP) e dos CRPs, o trabalho teve parceria se de enfrentar um projeto do Ministério
com a Associação Brasileira de Ensino da da Educação, que pretende permitir a
Psicologia (Abep) e a Federação Nacional formação de graduação nos cursos de

CONTATO 119 | 17
saúde como totalmente a distância”, avalia dá conta de todas essas áreas, mas uma das
o Psicólogo e conselheiro do CRP-PR Silvio preocupações foi buscar uma capacitação
Araújo Vailões (CRP-08/17829), que atua voltada para o empreendedorismo,
Participação como docente na região de Cascavel. para que os alunos possam usar seus

do Paraná RESULTADOS
conhecimentos na descoberta e na criação
de novos campos”, explicou.

O consenso da impossibilidade do ensino Outro tema central nas discussões foi


totalmente a distância citado por Vailões garantir uma formação baseada e que

473 é um dos resultados da discussão.


Profissionais, docentes e estudantes de
todo o país concordaram que existiriam
leve em consideração a relação intrínseca
entre a Psicologia e os Direitos Humanos.
“O texto apresenta de forma direta
prejuízos importantes à formação e a questão da diversidade e ressalta a
qualidade dos serviços prestados à condição ética do trabalho em Psicologia,

180
população caso a medida – defendida por sendo que esta é uma discussão que
alguns setores da sociedade, sobretudo está muito presente na sociedade e da
grandes conglomerados educacionais que qual as(os) Psicólogas(os) não podem se
oferecem este serviço – seja aplicada. “No furtar, muito menos durante a formação”,
que diz respeito à Psicologia, acho que isso acrescenta Mari Angela.
é impensável”, defende o conselheiro.

20
Além destes, outros aspectos recentes
Além de ressaltar a importância da também foram contemplados no texto
formação presencial, as diretrizes fi nal, como é o caso do atendimento
curriculares apontam para o por meio tecnológico, a importância da
fortalecimento da formação generalista licenciatura e o relacionamento com a
nos cursos de Psicologia. “Muitas vezes as equipe multidisciplinar. Há ainda um
pessoas entendem a formação generalista árduo caminho antes de o texto passar a

3 como uma formação sem foco. É o oposto.


É você formar a(o) Psicóloga(o) para que,
com o olhar característico da profissão e
valer efetivamente. Após a aprovação pelo
CNS, o documento será analisado ainda
pelo Conselho Nacional de Educação
o suporte teórico sobre o desenvolvimento (CNE) e só depois será encaminhado ao
e comportamento humano, ela(e) possa Ministério da Educação, que irá decidir se
trabalhar de modo diferenciado e criativo irá aplicá-lo integralmente ou não, para
em qualquer um dos campos de atuação”, estabelecer as novas diretrizes para os
explica Mari Angela. cursos de Psicologia de todo o país.

A Psicóloga comenta que a formação “Sabemos que esta próxima fase será
generalista nas diretrizes elaboradas, muito decisiva. E, aí, a discussão tomará
além de oferecer um profissional com rumos que espero que sejam aqueles que
características únicas ao mercado, contemplam o que foi construído nesse
também tem a preocupação de possibilitar importante documento. Continuaremos
uma maior amplitude de oportunidades. acompanhando para o bom êxito do
“A ideia é que o curso pudesse dar uma trabalho, pois é parte de ações e discussões
diversidade de possibilidades para as(os) de profissionais que querem uma excelente
profissionais e de áreas nas quais elas(es) formação para a Psicologia do Brasil”,
poderiam atuar. É claro que nenhum curso defende Silvio Araújo Vailões.

POR KARLA LOSSE MENDES

18 | CONTATO 119
Fortalecendo conexões sustentáveis

XVI Encontro Paranaense de Psicologia e II Congresso Internacional de


Psicologia da Tríplice Fronteira promovem trocas de conhecimentos,
encontros de pessoas e reflexões sobre diversos temas
Encontros e
conexões sustentáveis

O
s dias 22, 23, 24 e 25 de agosto de surpreendente, com muitas atividades aconte-
2018 mudaram a relação da Psicólo- cendo ao mesmo tempo, foi até difícil escolher
ga Giane Edimara Souza Borba Broch de qual participar. O que mais me chamou aten-
(CRP-08/16721) com o Conselho Regional de ção foram as atividades da Psicologia Jurídica,
Psicologia do Paraná (CRP-PR). Ela participou como alienação parental e depoimento espe-
do XVI Encontro Paranaense de Psicologia e II cial. Para mim, que estou ingressando nesta
Congresso Internacional de Psicologia da Trí- área, foi ótimo”, afirmou.
plice Fronteira (XVI EPP e II CIPTF) e, desde
A percepção de Amanda era exatamente o obje-
então, quis estar mais próxima das pessoas
tivo da Comissão Organizadora quando montou
que promoveram aqueles dias de aprendizado.
a programação. O Presidente do CRP-PR, João
Tanto que, algumas semanas depois, encontra-
Baptista Fortes de Oliveira (CRP-08/00173),
mos Giane em uma reunião para ingressar em
destaca que a pluralidade da Psicologia preci-
uma Comissão Especial (Temática) e colaborar
sava estar presente entre as centenas de ativi-
para o fortalecimento da Psicologia no Paraná.
dades, incluindo temas, abordagens e técnicas
“Participar do Congresso de Psicologia neste
variadas. “Apesar disso, a pessoa poderia esco-
momento profissional foi muito especial! Par-
lher uma área de atuação ou abordagem e se
ticipei de minicursos, palestras e rodas de con-
aprofundar nela, a partir da participação em
versas, mergulhei em cada atividade, tudo era
diferentes atividades”, explicou.
muito rico em conhecimento, teoria e boas prá-
ticas, as pessoas traziam as mais belas experi- A estudante do segundo período de Psicologia
ências e os mais ricos saberes e eu não queria do Centro Universitário Fundação Assis Gur-
perder nada”, contou, entusiasmada. gacz (FAG), Thais A. Lima, resume bem o sen-
timento ao final do evento: “Nunca imaginei
Giane era uma das mais de 1.200 pessoas que
que um evento de apenas três dias pudesse
circularam durante quatro dias pelos corredo-
contribuir tanto para a formação de uma nova
res do Rafain Palace Hotel & Convention, em
perspectiva pessoal e profissional”.
Foz do Iguaçu, escolhendo uma entre 13 ativi-
dades paralelas. Ao todo, foram 25 minicursos, Mas não foi somente dentro das salas que o
64 mesas-redondas, 26 palestras e três confe- encontro foi proveitoso. Como explicou o Presi-
rências. Além disso, pesquisadoras(os) apre- dente do CRP-PR, “o encontro foi pensado para
sentaram mais de 70 pôsteres; os relatos de ex- que houvesse convivência desde o café da ma-
periência e exposições orais passaram de 100. nhã até à noite, pois a convivência dentro e fora
das atividades técnicas é salutar para as cone-
Não à toa a Psicóloga Amanda Carollo Ramos
xões mais sustentáveis”.
da Silva (CRP-06/145623) encontrou dificulda-
de em montar sua agenda, algo que ela não viu E estes encontros não aconteceram apenas
como um problema. “O encontro para mim foi entre Psicólogas(os). “As apresentações

ESPECIAL XVI EPP E II CIPTF | 21


técnicas e teóricas, os debates, a relação infelizmente acaba prejudicando a quem a gen-
Nota Técnica nº entre os participantes, tudo foi de alto nível. te deve servir, que é a sociedade, as crianças
003/2018 Tivemos, além de Psicólogas e Psicólogos, e os adolescentes em primeiro lugar”, afirmou.
bit.ly/2xfdtL3 Juízes, Promotores, Psiquiatras, Assistentes
No dia a dia dos Juízes Osvaldo Canela Junior
Sociais e outros profissionais. A qualidade
e Carlos Eduardo Matiolli Kochanny, a Psico-
técnica foi o ponto alto do EPP”, avaliou a
logia já tem espaço garantido. “O trabalho
Presidente dos eventos e Vice-Presidente do
interdisciplinar é uma das missões da vara da
CRP-PR, Rosangela Lopes de Camargo Cardoso
família. Hoje eu não trabalho mais sem a Psi-
(CRP-08/01520). “Termino minha função como
cologia, dentro do fórum e dos processos. A
presidente muito grata e com a sensação de
Lei nº 13.431/2017 Psicologia é ligada diretamente a quase tudo
bit.ly/2wv5Mjx que o esforço de toda a equipe produziu um
o que a gente faz”, contou Matiolli. “É uma re-
evento de sucesso.”
lação de construção cotidiana. A terminologia
PSICOLOGIA E DIREITO é diferente. Nós não temos um conhecimento
aprofundado da Psicologia e os Psicólogos que
A Procuradora de Justiça Monica Louise de
não se especializam têm uma dificuldade maior
Azevedo, que participou da mesa-redonda “Me-
de compreender as questões judiciais. É impor-
didas Socioeducativas: resgate da proteção ao
tante construir em conjunto um atendimento
desenvolvimento do adolescente”, também
mais qualificado daqueles que nos procuram”,
destaca a importância de espaços interdisci-
avalia.
plinares como este. “Tanto o Direito quanto a
Psicologia tratam da conduta humana e seus O colega de profissão conta que atua no jul-
determinantes, e os reflexos dessa conduta na gamento de casos envolvendo crimes sexu-
sociedade. Diálogos como esse possibilitam es- ais contra crianças e adolescentes e o auxílio
paços em que as discussões sejam mais apro- das(os) Psicólogas(os) é fundamental. “É uma
fundadas e que superem o senso comum, que atividade interdisciplinar. Elas acabam se com-
plementando, sem sobreposição de nenhuma
delas. E muitas vezes a pauta jurídica é orienta-
da por recomendações de origem psicológica”,
conta.

A temática da Escuta Qualificada e do Depoi-


mento Especial de crianças e adolescentes
vítimas de violência contou, também, com o
lançamento da Nota Técnica nº 003/2018,
que faz referência à lei nº 13.431/2017, que
normatiza estes procedimentos. Segundo a Psi-
cóloga Deisy Joppert (CRP-08/01803), as(os)
Psicólogas(os) que atuam nestas áreas pos-
suem a responsabilidade de proteger a criança,
cuidando para que ela conte a sua história em
um ambiente com privacidade e sem pressão.

“Ninguém melhor que a Psicóloga ou Psicólogo


para observar e perceber sinais de ansiedade
e sofrimento emocional na criança durante
o Depoimento Especial. É seu dever sinalizar
para o juiz se a criança tem condições de

22 | ESPECIAL XVI EPP E II CIPTF


continuar ou mesmo iniciar o processo”, “A mente do criminoso pode conter diversos
explica. elementos que estão presentes também na
nossa mente, na mente das pessoas que nós
REDUÇÃO DE DANOS X GUERRA ÀS
atendemos, em uma dimensão muito mais
DROGAS
exacerbada no criminoso. Entender estes me-
O Direito também esteve representado canismos da mente criminosa pode nos ajudar
pela Juíza aposentada Maria Lúcia Karam, a entender estes aspectos atenuados e mitiga-
importante voz na defesa da redução de dos nos nossos pacientes na clínica”, disse o
danos – estratégia de cuidado de usuários de Psiquiatra ao avaliar os motivos pelos quais sua “Participar do Congresso de
álcool e outras drogas que não visa apenas à palestra atraiu tantas pessoas. Psicologia neste momento
abstinência – e do antiproibicionismo. profissional foi muito espe-
A Psicóloga Adriane Aparecida Garbin Carneiro cial! Minha expectativa era
Segundo ela, a atual política de proibição e de (CRP-08/12236) participou da palestra e ava- imensa com relação a tudo
guerra às drogas é falida porque não conseguiu lia que a atividade contribuiu muito para a sua que iria viver nesse evento,
reduzir a disponibilidade das substâncias; ao atuação do Sistema Prisional. “Quando a gente buscava conhecimento e tro-
contrário, elas se tornaram mais baratas, mais fala num indivíduo que comete crime talvez a ca de experiências. Chegan-
acessíveis e mais potentes. Além disso, a vio- gente esteja falando no indivíduo no pior que do lá me senti muito acolhida
lência advinda do tráfico é um grave problema ele pode vir a chegar. Então, talvez entendendo e logo me identifiquei com
social. A Juíza destacou que o estigma em torno o pior que ele pode vir a chegar, a gente consiga outros profissionais da área.
das pessoas que fazem uso de substâncias hoje entender o que ocasiona isso tudo”, avaliou. Participei de minicursos, pa-
consideradas ilícitas dificulta a busca por trata- lestras e rodas de conversas,
TEMPOS LÍQUIDOS
mento e agrava os problemas de saúde mental mergulhei em cada ativida-
que elas possuem ou vêm a desenvolver. Dentro da temática “fortalecendo conexões de, tudo era muito rico em
sustentáveis”, a Psicóloga Maria Helena Perei- conhecimento, teoria e boas
A perspectiva de que as drogas venham a ser
ra Franco (CRP-06/01690), professora titular práticas, as pessoas traziam
descriminalizadas no Brasil, na opinião de Ma-
da Pontifícia Universidade Católica de São Pau- as mais belas experiências
ria Lúcia Karam, é pequena. “Outros países têm
lo (PUCSP), falou sobre a dificuldade que nós e os mais ricos saberes e eu
avançado muito mais na discussão, no questio-
temos, hoje em dia, de nos relacionarmos, de não queria perder nada. Tudo
namento. A gente já começa a ter alguns países isso renovou a minha prática,
estabelecermos vínculos duradouros. “A cons-
que vão legalizando pelo menos a maconha”, voltei incomodada, intrigada,
trução de vínculo precisa de tempo e disposição
avaliou. “O empecilho [no Brasil] é econômico, com muitos questionamentos
ao outro, o que não ocorre atualmente. Assim,
político e, fundamentalmente, de falta de infor- com relação aos temas que
as pessoas se distanciam das relações signi-
mação.” me propus a aprender. O con-
ficativas, das que fazem a diferença na vida”,
PSICOLOGIA E PSIQUIATRIA gresso me instigou a buscar
afirma, referindo-se aos tempos líquidos, termo
mais, a querer mais conheci-
Outra temática que contou com a participação cunhado pelo filósofo Zygmunt Bauman.
mento para minha área, pre-
de profissionais de fora da Psicologia foi a rela- A PSICOLOGIA MAIS PERTO DAS cisava muito disso. Sou grata
ção entre os transtornos mentais e a violência. PESSOAS a toda a comissão de organi-
O Psiquiatra Paulo Oscar Teitelbaum, que tem zação e mestres pois senti, em
A Psicologia trabalha, essencialmente, com o
mais de 30 anos de experiência como perito cada detalhe, o empenho, o
humano. O vínculo é fundamental para que o
forense, falou sobre os fatores de risco associa- carinho, o cuidado e a atenção
trabalho seja bem-sucedido em qualquer si-
dos às psicopatologias, as quais podem levar com todos os participantes.
tuação. Quando a(o) Psicóloga(o) precisa dar
a atos de violência e crime. Além de abordar a Foi um evento maravilhoso!”
uma notícia difícil, que envolve a expectativa
importância do aprimoramento constante de
de vida de um paciente, isso se torna ainda Psicóloga Giane Edimara Souza
profissionais que atuam na área, Paulo falou
mais central. “A forma como a equipe passa o Borba Broch (CRP-08/16721)
também sobre medidas de proteção individual
diagnóstico influencia muito na maneira com
e do ambiente terapêutico e social.

ESPECIAL XVI EPP E II CIPTF | 23


que ele vai compreender a sua situação, o conseguiam aprender, em sua maioria, haviam
“Nunca imaginei que um even- tratamento, o prognóstico, como ele vai com- perdido os pais na guerra”, conta o educador.
to de apenas três dias pudesse preender o serviço com o um todo e manejar
A PSICOLOGIA ATUANDO NA
contribuir tanto para a forma- os fatores emocionais e sociais relacionados
DIVERSIDADE
ção de uma nova perspectiva a isso”, explica a Psicóloga Camila Cortellete
pessoal e profissional.” Pereira da Silva (CRP-08/19943), que minis- A temática dos Direitos Humanos, central na
trou, junto com Jane Biscaia Hartmann (CRP- Psicologia, não ficou de fora da programação e
Thais A. Lima, 08/00642), o minicurso “Como dizer aquilo esteve presente em diversas atividades. A Psi-
aluna do segundo período de que não quer ser ouvido”. cóloga Fernanda Rafaela Cabral Bonato (CRP-
Psicologia do Centro Universi- 08/10734), que participou da uma mesa sobre
A proposta de estar mais perto das pessoas
tário Fundação Assis Gurgacz travestilidade e transexualidade na infância
também norteia o trabalho da doutora em Psi-
(FAG), em Cascavel e adolescência, falou sobre a importância de
cologia Silvia Helena Köller, que ministrou o mi-
se abrir este espaço de discussão. “Este é um
nicurso “Ecologia do desenvolvimento humano:
congresso com um número muito grande de
pesquisa e intervenção social”. A pesquisadora
Psicólogas(os) e de estudantes de Psicologia,
utiliza as teorias de Urie Bronfenbrenner para
a gente tem um espaço incrível para falar de
desenvolver estudos com pessoas dentro de
um tema que hoje em dia é muito usual dentro
seus contextos de desenvolvimento, ou seja,
de consultórios, escolas e organizações. Eu
onde as pessoas vivem, trabalham, brincam,
vejo que muitas pessoas que trabalham com
interagem, etc. “Ele dizia que a gente fazia uma
isso não tiveram a oportunidade de ter conta-
pesquisa estranha, com pessoas estranhas em
to na formação no âmbito científico”, avalia.
lugares estranhos”, explica Silvia.
“São pessoas [as travestis e transexuais] que
Silvia desenvolveu projetos com crianças em estão muito à margem, que sofrem violações
situação de rua, vítimas de violência e de abuso de direitos humanos e que têm alto nível de
sexual, além de idosos e adultos em situação de sofrimento físico e psíquico, então é muito im-
vulnerabilidade social. “Resolvemos criar uma portante que as(os) Psicólogas(as) estejam ca-
metodologia de trabalho, operacionalizar a te- pacitadas(os) não só para compreender, mas
oria num método de pesquisa e de intervenção também para trabalhar com essas demandas
para poder fazer um trabalho mais embasado tentando trazer um pouco mais de conheci-
no Brasil”, contou. mento e minimizar o sofrimento.”

Nota Técnica nº O afeto e a proximidade também estão na base Durante a mesa-redonda “Práticas psicológicas
002/2018 das teorias defendidas pelo educador Marcos e a despatologização das vivências travestis e
bit.ly/2xRwp2X Meier, que falou sobre a relação professor-aluno. transexuais”, a Psicóloga Grazielle Tagliamento
Meier se utiliza das Teoria da Modificabilidade (CRP-08/17992), coordenadora do Núcleo
Estrutural Cognitiva e da Experiência da de Diversidade de Gênero e Sexualidades
Aprendizagem Mediada, de Reuven Feuerstein, (Diverges), fez o lançamento da Nota Técnica
para defender que o afeto do professor, que nº 002/2018, que traz mais informações sobre o
sabe explicar e acolher dúvidas e dificuldades, atendimento psicológico da população travesti
Resolução CFP nº possibilita e potencializa o aprendizado. “Ele e transexual, regido pela Resolução CFP nº
001/2018
[Reuven Feuerstein] descobriu que, entre as 001/2018. “Resoluções dizem o que deve ser
bit.ly/2PVFUVW
crianças traumatizadas [pela guerra], algumas feito, mas a gente percebe que as profissionais
delas conseguiam aprender. Diferente das outras da Psicologia muitas vezes não entendem
crianças, elas tinham pais, tios, irmãos mais conceitos como patologização. O que é atuar de
velhos que gastavam tempo com elas, ensinando forma a despatologizar?”, afirmou ao justificar
e interagindo. As outras crianças, que não a importância da Nota Técnica.

24 | ESPECIAL XVI EPP E II CIPTF


A Nota leva em consideração documentos
como a Declaração Universal dos Direitos
Humanos, a Convenção Americana de Direitos
Humanos de 1969, o artigo 5º da Constituição
Federal Brasileira de 1988 e os Princípios de
Yogyakarta. Grazielle destaca que a autonomia
das pessoas travestis e transexuais deve ser
respeitada. “Os processos de acompanhamento
psicoterapêuticos não deverão buscar a
adequação da identidade de gênero ao gênero
designado no nascimento ou a padrões e papéis
pré-estabelecidos”, disse.

Sobre as novas configurações familiares, que


muitas vezes envolvem pessoas LGBTI, a Psicó-
loga Solange Rosset (CRP-08/00204), que atua
com a Terapia Relacional Sistêmica, destaca
a importância de a(o) terapeuta se desprover
de seus próprios juízos de valor. Ela defende a
necessidade de a(o) profissional se submeter a
um processo terapêutico pessoal para “se livrar
de preconceitos e suas dificuldades pessoais índices sejam maiores entre mulheres negras e
com os temas de seus pacientes”. em maior vulnerabilidade social. Ariel destaca
que o combate à violência começa ao “tirar dos
Ainda no campo da sexualidade humana, a lares e trazer para o debate público”. “Mas é
Psicóloga Mary Neide Damico Figueiró (CRP- uma questão que só vai mudar com educação a
08/01210) fez uma palestra sobre a impor- longo prazo dos jovens sobre as desigualdades “Durante os três dias eu con-
tância da educação sexual para crianças e de gênero, o respeito à igualdade, à alteridade, segui ter um aprendizado
jovens. Segundo a profissional, a educação à diversidade, o respeito à mulher, para que se muito bom. Principalmente os
sexual é entendida por muitos como uma aula possa desconstruir, porque na verdade a gente minicursos estão sendo muito
sobre prevenção de doenças e sobre métodos vê historicamente a sociedade construída em construtivos porque a gente
contraceptivos. No entanto, este trabalho vai cima de bases patriarcais e machistas”, avalia. está tendo um aprofunda-
além. “A educação sexual é um trabalho for- “Acho importante ressaltar que as próprias mu- mento de muitas coisas que
mativo, que visa a preparar os jovens para lheres reproduzem discursos machistas que co- a gente acaba não tendo na
pensar e refletir sobre questões ligadas à vida laboram para isso, pois muitas vezes ainda são faculdade. Em relação às me-
sexual, à prevenção do abuso e à diversidade, elas as principais responsáveis pela educação sas-redondas é legal porque
além do combate à violência e à desigualdade dos filhos”, diz. tem profissionais do Brasil
de gênero”, explica. inteiro, então a gente acaba
A naturalização da violência foi citada também vendo perspectivas que a gen-
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER pela Psicóloga Fernanda Rafaela Cabral Bonato te nunca pararia para pensar,
A desigualdade de gênero e a violência contra (CRP-08/10734), que citou o fato de que muitas e isso com certeza vai agregar
a mulher também foram tema de atividades en- vezes cantamos músicas machistas e que inci- na minha vida prática.”
volvendo Psicólogas(os) e profissionais de ou- tam a violência. Fernanda chamou a atenção,
tras áreas, como o Direito. Segundo o Juiz Ariel assim, para o fato de que o combate à violência Nicolle Fernanda Nichele Alves,
Nicolai Cesa Dias, que falou sobre a Lei Maria precisa acontecer no dia a dia, em pequenas aluna no 10º período da PUCPR,
da Penha, a violência é um fenômeno complexo ações. “Já pensou quantas vezes apoiamos o em Curitiba
que atinge todas as classes e etnias, embora os assédio e a violência contra a mulher sem ter a

ESPECIAL XVI EPP E II CIPTF | 25


real compreensão do que estava sendo dito ou atuação política, ao lutar por políticas públicas,
feito?”, questionou. pelo financiamento e pela qualidade dos serviços
“O encontro para mim foi
públicos, como o Sistema Único de Saúde e a ma-
surpreendente, com muitas A PSICOLOGIA COMO INSTRUMENTO
nutenção da Reforma Psiquiátrica.
atividades acontecendo ao POLÍTICO
mesmo tempo, foi até difícil Altieres conclui que não se pode pensar ape-
O Psicólogo Altieres Edemar Frei (CRP-
escolher de qual participar. O nas na questão da inserção de pessoas que são
08/20211), que fez a palestra “Em toda clínica
que mais me chamou atenção marginalizadas socialmente. A pessoa que aca-
há de vir política: proposições sobre os retro-
foram as atividades da Psico- bou de sair de um internamento psiquiátrico,
cessos na Política de Saúde Mental”, defende
logia Jurídica, como aliena- um homossexual ou um refugiado, todos pre-
que a Psicologia é, também, um instrumento
ção parental e depoimento cisam ser atendidos nos espaços públicos com
especial. Para mim, que es- político. “Se é possível uma transformação da
respeito e de maneira igual. É nesse sentido,
tou ingressando nesta área, subjetividade do sujeito por meio do trabalho
segundo o Psicólogo, que a Política de Saúde
foi ótimo!” psicológico, também se transforma a socieda-
Mental, pela Reforma Psiquiátrica, pode atuar
de, independente se o alcance é restrito a uma,
numa dimensão sociocultural.
duas ou dez pessoas: é uma operação política”,
Psicóloga Amanda Carollo
afirma. ANTES DA PRÁTICA, A FORMAÇÃO
Ramos da Silva
(CRP-06/145623) Altieres complementa que as(os) Psicólogas(os) Antes da abertura do evento, professoras(es)
devem ter um olhar tanto para os sujeitos como de Avaliação Psicológica, Ética e Psicologia Or-
para os processos de subjetivação presentes ganizacional e do Trabalho se reuniram em fó-
nos fenômenos da atualidade: “Se a gente vive runs com o objetivo de debater desafios e pos-
num tempo de muita intolerância e fascismo, é sibilidades na área da formação em Psicologia.
claro que isso vai ter ressonância no tipo de su- Da mesma forma, coordenadoras(es) de curso,
jeito que está sendo formado”, ressalta. responsáveis técnicas(os) dos serviços-escola e
profissionais que atuam no Controle Social se
O Psicólogo destacou as dimensões macroes-
organizaram nas atividades.
trutural e sociocultural que podem assumir a
“Este é um momento de discussão de assuntos
extremamente sérios na formação em Psicolo-
gia, especialmente em um momento de bastan-
te fragilidade das pessoas. Na pauta estavam
assuntos como as novas Diretrizes Curriculares
Nacionais e o atendimento online”, contou o
Psicólogo e professor Raphael Henrique Cas-
tanho Di Lascio (CRP-08/00967), da Universi-
dade Positivo. Um dos encaminhamentos deste
Fórum foi o de redigir um documento sobre os
estágios não obrigatórios, orientando que o(a)
supervisor(a) tenha número de CRP ativo. “A
pessoa que faz a supervisão tem um compro-
misso com a profissão, e precisa fazer as coisas
de forma extremamente séria e ética”, disse o
Psicólogo.

Além disso, o grupo se propôs a atuar na área


da saúde pública, que atualmente não possui
estrutura para atender à demanda da popula-
ção. “A demanda das clínicas de Psicologia hoje

26 | ESPECIAL XVI EPP E II CIPTF


está muito alta. Estamos atendendo, mas esta Segundo Mariana, as ações para a construção
seria uma competência dos equipamentos pú- da identidade da(o) Psicóloga(o) que atua
blicos. Precisamos discutir esta questão am- em POT precisam ser concretas e devem
plamente porque quem está precisando deste acontecer desde a base, nas Instituições de
atendimento é a população.” Ensino Superior, mas também movimentando
a categoria. “Algo muito bom que aconteceu
Avaliação psicológica
neste encontro é que tivemos a oportunidade
A formação para a realização da avaliação de estar com profissionais de outras regiões,
psicológica foi debatida entre docentes e a ouvindo suas dificuldades em cidades do
transversalidade desta área foi destaque, já interior, que é uma realidade diferente daquela
que este processo está presente em diversas vivenciada na capital.”
outras atuações da(o) Psicóloga(o). “Debate-
A Psicóloga Maria Julia Trevizan (CRP-
mos quais são os principais pontos que profes-
08/00001) conta que a formação em POT tam-
soras(es) de avaliação psicológica precisam
bém é um tema importante de ser debatido.
considerar no ensino. É importante que se fale
“[Precisamos falar sobre] algumas caracterís-
com outras(os) docentes, para que a avaliação
ticas e questões de currículo e da prática nos
psicológica perpasse todas as disciplinas. O
estágios para que o aluno possa, quando sair
próprio curso precisa incluir maior carga ho-
da faculdade, estar mais preparado caso queira
rária de avaliação psicológica”, explicou Mari
atuar nesta área”, disse. “A gente vê muita(o)
Angela Calderari Oliveira (CRP-08/01374), co-
Psicóloga(o) começando a trabalhar nas em-
ordenadora da Comissão de Avaliação Psicoló-
presas sem ter um know how melhor, sem ter
gica do CRP-PR.
uma experiência maior, sem ter tido esse enfo-
“Outra questão importante é que se trabalhe a que dentro da escola.”
“Estou adorando e está supe-
cientificidade da avaliação psicológica e a éti-
Controle Social e Políticas Públicas rando as expectativas. Os pa-
ca do uso dos instrumentos”, complementou.
lestrantes e mediadores das
As “Boas Práticas da avaliação psicológica”, Profissionais que participam dos espaços de
mesas estão trazendo muitas
projeto que está trazendo textos sobre áreas Controle Social e professoras(es) de Políticas
coisas práticas que auxiliam
importantes na Revista Contato, contará com Públicas se reuniram em um fórum para de-
tanto na formação dos estu-
um texto que norteará o trabalho no ensino bater os principais desafios desta área e as
dantes quanto dos profissio-
em nível de graduação. potencialidades do ensino destes conteúdos, nais que atuam em diferentes
especialmente em um contexto de retrocessos áreas. Acredito que o que está
Psicologia Organizacional e do Trabalho
e desmontes das políticas sociais. “A Psicologia por vir [Alana deu entrevista
O Encontro de Profissionais e Professoras(es) tem muito a contribuir, tanto no trabalho nas no primeiro dia] vai contribuir
de Psicologia Organizacional e do Trabalho foi Políticas Públicas como na defesa dos posicio- para pensar a Psicologia de
uma oportunidade para o debate desta área namentos em prol dos Direitos Humanos. Neste uma maneira prática, porém
de atuação. “O principal tema foi a identidade sentido, alinhamos algumas questões e temos científica. Ainda temos uma
da(o) Psicóloga(o) Organizacional e do a perspectiva de realizar um próximo encontro formação engessada a deter-
Trabalho, o quanto essa(e) profissional ainda para refletir de forma mais pormenorizada so- minadas áreas. Esta é uma
tem dificuldade de entender o seu papel”, bre o ensino de Políticas Públicas nos cursos de oportunidade de dar ampli-
conta a Psicóloga Mariana Patitucci Bacelar graduação no Paraná”, contou Cesar Fernandes tude à formação, de pensar a
(CRP-08/10022), da Comissão de Psicologia (CRP-08/16715), Assessor Técnico de Políticas Psicologia para além do que a
Organizacional e do Trabalho do CRP-PR Públicas do CRP-PR. academia propõe.”
em Curitiba. “Por não atuarem com testes e
Enade: objetivos, desafios e distorções Psicóloga Alana Keila Cardoso
avaliação psicológica, por exemplo, muitas
vezes a(o) profissional acredita que não é A representante da Associação Brasileira de (CRP-08/14685)
preciso ter o registro ativo”, explica. Ensino da Psicologia (ABEP), Irani Tomiatto de

ESPECIAL XVI EPP E II CIPTF | 27


Oliveira (CRP-06/002336), trouxe aos docentes tos agregou conhecimentos à sua formação.
algumas reflexões sobre o Enade (Exame Na- “Estou adorando e está superando as expecta-
cional de Desempenho dos Estudantes), reali- tivas. Os palestrantes e mediadores das mesas
zado pelo Ministério da Educação (MEC) para estão trazendo muitas coisas práticas que auxi-
avaliar a qualidade dos cursos de graduação. liam tanto na formação dos estudantes quanto
dos profissionais que atuam em diferentes áre-
Irani destacou que a avaliação dos cursos é es-
as. Acredito que o que está por vir [Alana deu
sencial, tendo em vista a mercantilização e a
entrevista no primeiro dia] vai contribuir para
queda na qualidade do ensino com a ampliação
pensar a Psicologia de uma maneira prática,
no número de cursos e a diminuição do grau de
porém científica.” Como docente, Alana desta-
qualificação de muitas instituições. Além dis-
cou a importância de estudantes participarem
so, a baixa qualidade do ensino básico é outro
de eventos como estes. “Ainda temos uma for-
empecilho à formação superior. “Ensinar Psico-
mação engessada a determinadas áreas. Esta é
logia em cinco anos já é uma tarefa hercúlea,
uma oportunidade de dar amplitude à forma-
mas fica mais difícil quando recebemos alunos
ção, de pensar a Psicologia para além do que a
praticamente analfabetos funcionais”, expla-
academia propõe.”
nou.
Os estudantes que participaram como monito-
No entanto, a dificuldade para elaborar a pro-
res também destacaram a contribuição desta
va, com boas questões objetivas, e de motivar
experiência para a formação profissional. “Eu
os alunos a participar com comprometimento
“Devo agradecer ao CRP-PR só tenho a agradecer pela oportunidade. Co-
foi tema de debate. “Temos hoje uma geração
pela excelente proposta de nheci muitas pessoas e só foi possível por essa
muito individualista, e para realizar o Enade é
trabalho de simular uma reu- abertura, além do aprendizado enorme que
preciso pensar coletivamente”, refletiu a repre-
nião da Comissão de Ética a tive”, disse a estudante Ingrid Dayling.
sentante da gestão da ABEP.
fim de apresentar o Código de
A ARTE COMO CAMINHO DE
Ética Profissional do Psicólo- Desafios, expectativas e novas perspectivas
TRANSFORMAÇÃO
go sob a circunstância de uma
A Psicóloga Raquel Guzzo (CRP-06/00577)
denúncia, para não somente O CRP-PR acredita no poder transformador da
falou sobre os desafios, expectativas e novas
esclarecer a atuação do Con- arte. É por isso que a cerimônia de abertura
perspectivas da formação em Psicologia e pro-
selho de Psicologia nesses contou com duas apresentações artísticas de
blematizou: que tipo de profissional precisa-
casos, mas para oferecer uma teatro, música e dança. O conselheiro Silvio
mos atualmente para responder às demandas
nova perspectiva de explorar e Araújo Vailões (CRP-08/17829) deu início
da realidade? Raquel pontua que, com o desen-
ampliar a compreensão do Có- às apresentações interpretando as canções
digo de Ética, conscientizando volvimento do conhecimento na área da Psico-
“Tudo que se quer”, de Emílio Santiago, “I
e melhorando a compreen- logia, as universidades precisam ser renovadas
dreamed a dream” (Eu tive um sonho), do
são do mesmo. Somente após em suas experiências de formação, de maneira
musical Os Miseráveis, e Além do Arco-Íris,
cinco anos de formação pude a aproximar o cotidiano das pessoas em dife-
de Luiza Possi. Silvio foi acompanhado em
compreender com clareza rentes contextos sociais. “Acredito que o desa-
alguns momentos de bailarinos do curso de
tudo o que norteia nossa pro- fio para a profissão de Psicologia no país está
Educação Física do Centro Universitário FAG.
fissão. Vocês realmente estão exatamente em seu sentido ontológico: para
Gabriel Kenji Tutumi, Robson Andrea Correia,
de parabéns! Quero levar esse que servimos?”, questionou.
Andressa Brito dos Santos e Matheus dos
aprendizado para meus cole-
DA FORMAÇÃO À PRÁTICA Santos apresentaram coreografias de dança
gas em Pernambuco.”
A Psicóloga Alana Keila Cardoso (CRP- contemporânea e de salão e interpretaram a
Psicóloga Lea Belo 08/14685), que atua com a Psicologia Clínica e emoção contida nas canções.
(CRP-02/17566) do Trânsito em Cascavel, além de ser professora Depois foi a vez do Psicólogo Everton Adriano
universitária, diz que a participação nos even- de Moraes (CRP-08/19778), compositor do Rap

28 | ESPECIAL XVI EPP E II CIPTF


Mais Psicologia, cantar e levantar o público ao som um corpo de bailarinos de jazz e hip hop Casa do
de “Eu quero mais Psicologia/eu quero mais saúde Teatro e Siox, que também tiveram um momento
“Cumprimento pela impe-
pro meu dia a dia”. Everton foi acompanhado de para demonstrar o talento no estilo livre.
cável organização e pelo
alto nível científico das
atividades que pude acom-
panhar, que demonstram
claramente a preocupação
institucional e o compro-
CRP-PR publica Caderno de Neuropsicologia misso com as melhores prá-
ticas profissionais.”

O Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR) lançou, durante uma


Paulo Oscar Teitelbaum,
mesa-redonda no XVI Encontro Paranaense de Psicologia e II Congresso In- Médico Psiquiatra que
ternacional de Psicologia da Tríplice Fronteira (XVI EPP e II CIPTF), o primeiro participou como palestrante
Caderno de Neuropsicologia, produzido por diversas(os) colaboradoras(es) da
Comissão Especial (Temática) de Neuropsicologia do CRP-PR que atuam em
diferentes contextos, tanto na pesquisa como na avaliação e reabilitação neu-
ropsicológica.

O objetivo, segundo a coordenadora da Comissão, Psicóloga Camila Borges


Paraná (CRP-08/11213), é fornecer orientações concisas sobre a formação e a
atuação em Neuropsicologia. “O material foi redigido a partir de uma mistura
de conhecimentos para criar uma fonte de consulta a quem se interessa pela
área ou já atua. Trouxemos um pouco da história da Neuropsicologia no Pa-
raná e também um material produzido pelo CRP-PR em
2010, para que as(os) profissionais conheçam o que se
pensava naquela época e o que mudou”, conta.

Camila destaca que o Caderno traz reflexões importantes


sobre os aspectos éticos e legais da atuação e também
sobre a formação. “Queremos incentivar a atualização e a
qualificação profissional, pois a neurociência é uma área
que avança a todo momento.”

POR ELLEN NEMITZ COM COLABORAÇÃO DE WELTON FERNANDO DOS SANTOS E JÉSSICA BRASIL SKROCH

ESPECIAL XVI EPP E II CIPTF | 29


A ética de
Leandro Karnal
ENTREVISTA

L
eandro Karnal é Professor no Departa- O senhor comenta em uma de suas palestras
mento de História da Unicamp e autor que “ser ético não é popular” e que as pessoas
de diversos livros. Figura pública de des- ganham popularidades com comportamentos
taque, reúne mais de um milhão de seguidores inadequados. Como é possível ser ético em um
nas redes sociais. Durante o XVI Encontro Pa- mundo que não valoriza isso?
ranaense de Psicologia e o II Congresso Inter-
A ética é exatamente a convicção aristotélica
nacional de Psicologia da Tríplice Fronteira (XVI
de que eu devo fazer algo que é certo inde-
EPP e II CIPTF), Karnal falou sobre a importân-
pendente de que alguém veja, independente
cia da ética em nosso dia a dia.
se alguém pune ou premia, porque fazer algo
“A ética se torna quase um imperativo categó- que está certo conduz ao bom e ao belo, que
rico para a vida em sociedade. Sociedades onde são condições para a felicidade. A minha felici-
a ética entra em colapso tornam-se sociedades dade não está na opinião do mundo, a opinião
inviáveis, como a Síria e a Venezuela”, refletiu do mundo só vai me ferir se eu permitir que a
o conferencista, sempre se dirigindo ao público minha identidade esteja tão externa, tão fora
de profissionais e estudantes de Psicologia. de mim, que eu precise desse referendo, típico
de época de redes sociais. Ao contrário do que
Nesta entrevista, concedida com exclusividade
se pensa, as pessoas não postam muito porque
“Às vezes, ser ético é dizer: antes da conferência, você vai conhecer um
estão vaidosas, mas porque, provavelmente,
‘a piada que você contou é pouco mais do pensamento de Leandro Karnal
estão inseguras sob o critério de garantir a feli-
racista, e ela é um horror. sobre questões atuais em nossa sociedade.
cidade, e querem que o outro, através de likes,
Além de crime, ela é falta Contato: Na sua opinião, de quem é o papel de diga se elas estão certas ou erradas.
de caráter e de inteligência’.
ensinar comportamentos éticos: da família ou
Então isso o torna um pou- Às vezes, ser ético é dizer: ‘a piada que você
da escola?
quinho mais chato do que contou é racista, e ela é um horror. Além de
simplesmente rir quando um Leandro Karnal: Eu acho que a tarefa de educar crime, ela é falta de caráter e de inteligência’.
imbecil conta uma piada ra- um ser humano é coletiva. À escola não cabe esta- Então isso o torna um pouquinho mais chato do
cista. A ética manda recrimi- belecer normas, diretivos morais ou éticos. Isso é es- que simplesmente rir quando um imbecil conta
nar, o silêncio também é um sencialmente familiar. Porém cabe à escola ter um uma piada racista. A ética lembra o limite do
erro ético. Agora, seu gosto comportamento ético e ensinar pelo exemplo. Um que o outro pode fazer, e esse limite não é total.
por roupa, sua religião, sua professor, um Psicólogo, um político, ou uma autori- Ninguém pode dizer, em nome da liberdade, do
orientação sexual só afetam dade, seja quem for, ensina a partir do momento que relativismo cultural ou de qualquer outra ideia
exclusivamente você. Logo, pisa no consultório ou na sala de aula. Nós sabemos, de mundo livre, ‘não, Fulano é pedófilo, mas é
não me cabe nenhum juízo do ponto de vista do conhecimento, que aquilo que o jeito dele’. A ética manda recriminar, o silên-
ético sobre isso.” se aprende pelo exemplo é muito mais duradouro do cio também é um erro ético. Agora, seu gosto
que aquilo que se aprende pelo conteúdo formal. por roupa, sua religião, sua orientação sexual

30 | ESPECIAL XVI EPP E II CIPTF


só afetam exclusivamente você. Logo, não me Eu, como consumidor, tenho menos medo da
cabe nenhum juízo ético sobre isso. falência de um influenciador do que ele tem
“O telégrafo, o martelo, a in-
medo da perda do seu poder. ternet não são bons ou ruins.
As redes sociais alavancam esse comporta-
mento narcísico, de necessitar da aprovação, Mas, de onde vem essa necessidade de esta- Eles são ferramentas que po-
ou é apenas uma outra maneira de vivenciar belecer ícones, pessoas a serem seguidas que dem potencializar o objetivo
isso? muitas vezes estão distantes de nós? do seu trabalho. É a maneira
como eu utilizo, quando dei-
A técnica é neutra. O telégrafo, o martelo, a in- Nós gostamos de gurus. Quando Petrônio na xa de ser ferramenta e passa
ternet não são bons ou ruins. Eles são ferramen- Roma Antiga era chamado, ao tom satírico, de o a controlar o meu tempo. E aí
tas que podem potencializar o objetivo do seu Árbitro da Elegância, quando grandes persona- eu abro mão da característi-
trabalho. Não há nenhum sentimento que a gen- gens, como o Príncipe de Gales, filho da Rainha ca essencial da humanidade,
te chame em história de ludita, que é aquele sen- Vitória, futuro rei Eduardo, era o homem que que é a identidade do sujeito,
timento do século XVIII de quebrar as máquinas, mais influenciava o vestuário masculino, quando ou seja, a autonomia do su-
de achar que o mal está na máquina, o mal está grandes personagens de design, de tendência, jeito, a autonomia do ‘penso,
no software. É a maneira como eu utilizo, quan- influenciam muitas pessoas, nós damos a essas logo existo’.”
do deixa de ser ferramenta e passa a controlar o pessoas o poder de serem o nosso espelho. Aqui-
meu tempo. Quando se transforma em primeira lo que eu vejo no espelho, que eu acho que deva
instância em um transtorno, que eu tenho que ser seguido, diz respeito a uma coisa que é muito
olhar mensagem a cada 30 segundos. Depois co- mais antiga que a internet: a vontade de ser acei-
meça a arriscar a vida, quando eu preciso olhar to. Só que ser aceito hoje, ser feliz, ser realizado,
e digitar quando estou dirigindo. Tudo isso está ser empreendedor, ser protagonista, são sinôni-
indicando que estou perdendo o controle sobre mos de eu ter emprego. Se eu não for feliz, em-
a técnica, e aí não sou eu mais quem possuo o preendedor, protagonis­ta, empoderado e assim
celular ou a rede social, mas o perfil que me pos- por diante serei consi­derado alguém de linha B. A
sui. E aí eu abro mão da característica essencial coisa mais cafona do mundo contemporâneo é a
da humanidade, que é a identidade do sujeito, obrigação da felicidade. Enquanto que os séculos
ou seja, a autonomia do sujeito, a autonomia do anteriores aceitaram a infelicidade quase como
‘penso, logo existo’. norma, até em exagero, hoje a coisa mais cafona
é que você tem que sorrir o tempo todo: fotos feli-
Neste cenário, como o senhor avalia fenôme-
zes, descrições felizes, festas de Natal felizes. Eu
nos como os Youtubers ou influenciadores di-
ter a obrigação de estar feliz o tempo todo sem a
gitais, que parecem ter dominado o universo
noção de que a dimensão trágica da existência é
virtual e a vida das pessoas?
condição, inclusive, para a felicidade.
Nem todos os brasileiros tem acesso à
Nesse contexto, qual é o papel das(os) Psicó-
eletricidade, computador, internet, muito
logas(os)?
menos ao celular integrado à rede, um
smartphone. Logo, nós estamos falando de uma Existe uma novidade hoje, que é uma consci-
realidade urbana, ocidental, essencialmente ência de que a saúde mental, como metáfora e
de certas classes sociais, e não de todas as como realidade, para o ser humano voltar a ser
pessoas. Em segundo lugar, quando você fala desejante e consciente de que ele é humano, é
de digital influencer, ele é o cérebro, autônomo, tão importante quanto a saúde física. O futuro
que produz tendências, que estabelece o que é da inteligência. E essa inteligência, acompa-
pode e o que não pode, o que os outros vão nhada do que o filósofo chama de sabedoria e
seguir, ou ele é o eco mais subserviente, mais a tendência popular chamou de inteligência
escravizado pelos egos de todo mundo, porque emocional, é fundamental. Eu acho que falta
ele só pode dizer o que todo mundo aceita? no mundo equilíbrio.

ESPECIAL XVI EPP E II CIPTF | 31


As relações humanas
de Viviane Mosé
ENTREVISTA


N
ada parece tanto com um prédio criou uma exaustão ambiental e o modo explo-
em ruínas como um prédio em ratório com que lidamos com o humano criou
construção.” A afirmação bastan- uma exaustão humana. Vivemos a exaustão do
te otimista é de Viviane Mosé, conferencista modelo de humano que nós construímos, que
do XVI Encontro Paranaense de Psicologia e II se sustentou numa lógica racional, a raciona-
Temos um prédio em constru- Congresso Internacional de Psicologia da Trí- lidade que nasce no cartesianismo, que afasta
ção ou um prédio em ruínas. plice Fronteira (XVI EPP e II CIPTF). Mosé, que os afetos, que rejeita as sensações, que nega o
Eles são muito parecidos. De- é psicanalista e formada em Psicologia, refletiu corpo. Isso não ocorre por causa da internet, já
pende do olhar que você tem. sobre a necessidade de resgatarmos relações éramos assim no século XIX. É a gente que não
[Precisamos] reconstruir es-
humanas mais próximas, com “aquele cafezi- sabe lidar com a rede social, não sabe lidar com
ses laços que já existiram e
nho na esquina, um papo, a experiência, a sen- o outro. A internet apenas deu mais um passo e
ainda existem, por exemplo,
sação”. arrebentou de vez o nosso modelo linear. Então
no interior. Aquele cafezinho
hoje é tudo ao mesmo tempo.
em pé na padaria, um papo, A internet, segunda ela, não causou os proble-
isso que a gente tem que res- mas que vemos atualmente, apenas jogaram Youtubers e influenciadores digitais podem
gatar. A experiência, a sen- luz sobre eles. “É a gente que não sabe lidar ajudar crianças e adolescentes ao serem uma
sação. Querem que o filho com a rede social, com o outro. O nosso objetivo identificação com o igual, como é o caso de
brinque na rua, mas o pai não é reconstruir esse humano que está em exaus- trans ou homossexuais que contam suas his-
brinca na rua, o pai não tem tão”, analisou. Viviane defende que a sociedade tórias, mas também podem propor desafios
atividade fora. Nós, adultos, é vai mudar a partir de uma educação em rede, perigosos ou incentivar o consumo desenfre-
que temos que resgatar isso, ou seja, que as crianças possam contar com di- ado. Como a senhora vê esta questão?
a presença, a experiência. versos pontos de apoio durante suas vidas.
Na verdade, o mundo não se divide em ponto
Nesta entrevista exclusiva, Viviane Mosé fala positivo ou negativo. A internet é apenas a in-
sobre educação e os caminhos para uma socie- ternet. Quando eu era criança meus avós di-
dade mais saudável. ziam que era a televisão. E quando não era a TV,
era o rádio. Então não tem nada a ver, a internet
Contato: A sociedade hoje enfrenta diversos
não atrapalha ninguém. O acesso à informação
problemas, como aumento dos índices de de-
é maravilhoso. Nosso problema não é a inter-
pressão, e se discute muito o uso excessivo
net, nosso problema é que atrás da tela não
das redes sociais como causadora de relações
tem ninguém, não tem pai nem mãe atrás de
me- nos pessoais e mais virtuais. A senhora
uma criança. A internet substituiu o pai e a mãe
concorda com essa ideia?
como se fosse uma babá. Para estar nessa nova
Viviane Mosé: Hoje somos uma sociedade me- mídia, é preciso maturidade. É preciso ética,
dicada, suicida e que se automutila. O modo ex- formação. A gente tem que ensinar as crianças
ploratório com que a gente lida com a natureza a andar nesse lugar.

32 | ESPECIAL XVI EPP E II CIPTF


Tem um vídeo, que foi feito por crianças numa Temos escolas em que toda a comunidade
escola do Rio, em que elas dizem “somos pós- cuida da criança. Há jovens hoje inacreditáveis,
-graduadas em solidão”. Hoje as crianças pe- fazendo revoluções.
dem aos pais para que saiam das telas, que
Esse fenômeno de relações distantes pode ex-
brinquem com elas, que elas não aguentam
plicar o individualismo, a intolerância, a não
mais. A criança diz aos pais: vem ver o pôr-do-
aceitação do diverso?
-sol comigo. O discurso era: tirem seus filhos
da internet. Mas na verdade é: saia você da in- Não é o fenômeno com as crianças, são os
ternet. A criança está querendo sair, e não está mais velhos. A dificuldade que você cita é
saindo por sua causa. consequência de um mundo onde tudo tinha
lugar, mas muito excludente. Hoje nada tem
Como lidar com esse desafio de reconstruir a
lugar, mas todo mundo tem acesso. Cada um
concepção de família?
quer agarrar uma verdade para se sustentar.
As pessoas precisam entender o que é a so- Antes tínhamos verdades pré-estabelecidas
ciedade em rede. Uma criança precisa de uma para todos. Como agora não tem, todo mundo
pessoa no mundo, pelo menos, com quem ela fica apavorado. Quando alguém acha uma
“Vivemos a exaustão do mo-
tenha identificação e confiança, mas tem que verdade, torna-se fascista com ela.
delo de humano que nós
se sentir protegida por muitas pessoas. Tem
A senhora tem uma visão bastante otimista construímos, que se susten-
como reconstruir a família sem penalizar a mu-
sobre o futuro. Na sua opinião, como a tou numa lógica racional, a
lher, tem muitos exemplos de onde isso aconte-
sociedade deve lidar com os problemas racionalidade que nasce no
ce. Licença-maternidade tinha que ser dividida
atuais para construir um futuro mais cartesianismo, que afasta os
com o homem, para o pai aprender a ficar com afetos, que rejeita as sensa-
sustentável do ponto de vista das relações
a criança, ter vínculo. Aí você tem pai e mãe que ções, que nega o corpo. Isso
humanas?
estão cuidando. O mercado de trabalho não vai não ocorre por causa da in-
enlouquecer, não vai morrer se as empresas de- Temos um prédio em construção ou um
ternet, já éramos assim no
rem uma tarde para os pais ficarem com seus fi- prédio em ruínas. Eles são muito parecidos. século XIX. É a gente que não
lhos em casa ou na escola. O que precisamos é Depende do olhar que você tem. Você pode sabe lidar com a rede social,
construir maneiras objetivas de lidar com essa achar que a sociedade está destruída ou que não sabe lidar com o outro.”
criança, sem atrapalhar a mãe ou o pai. Para está nascendo uma nova sociedade. Eu estou
formar uma pessoa você precisa de presença. aqui para fazer as pessoas acreditarem num
prédio que nasce, numa família nova, mas
E como deveria ser a relação com a escola?
que envolve as pessoas que trabalham na sua
A escola não tem vínculo e nem pode ter, casa, os amigos, novas relações de amizade,
porque professor não é tio nem pai. As esse tipo de amizade. A gente pode se reunir
crianças vivem em grupo, andam em grupo, com pessoas mesmo sendo diferentes. Saber
mas não são amigas. Isso é um fenômeno novo que a gente é frágil, que a gente precisa dos
de crianças de 14 a 16 anos. Outra coisa que outros. Não adianta ter dinheiro, ser bonito,
se fala, ‘criança não pode ficar sozinha’. Criou- famoso e poderoso. Todo mundo precisa
se essa história de educação integral. São os de alguém. Reconstruir esses laços que já
maiores índices de suicídio. Quanto mais existiram e ainda existem, por exemplo, no
tempo na escola, mais problemas as crianças interior. Aquele cafezinho em pé na padaria,
têm. A solução é menos tempo de escola e a um papo, isso que a gente tem que resgatar.
escola estudando na rua, museus, lugares. A experiência, a sensação. Querem que o filho
Podemos ter uma boa perspectiva para o brinque na rua, mas o pai não brinca na rua, o pai
futuro, já estamos reconstruindo as relações. não tem atividade fora. Nós, adultos, é que temos
Já estamos construindo escolas melhores. que resgatar isso, a presença, a experiência.

ESPECIAL XVI EPP E II CIPTF | 33


A felicidade de
Clóvis de Barros Filho
ENTREVISTA

C
lóvis de Barros Filho é jornalista, escri- significados são particularmente interessan-
tor e palestrante. Seus livros falam so- tes. Para Aristóteles, é a busca da excelência,
“ Se você quer conexões mais
bre temas como vida, felicidade, morte o pleno desabrochar da sua natureza. É super
harmônicas e mais justas,
e ética. Foi sobre felicidade que o doutor e livre- interessante, porque implica uma série de
ensine as crianças a ouvir e
considerar o ponto de vista -docente pela Escola de Comunicações e Artes cuidados ao longo da vida para que você seja
dos demais, e a encontrar da USP falou em sua conferência no XVI Encon- respeitador da própria essência, dos próprios
com os demais soluções que tro Paranaense de Psicologia e II Congresso In- talentos, para que haja essa identificação e
sejam de compromisso entre ternacional de Psicologia da Tríplice Fronteira sobretudo que essa identificação não sucumba
perspectivas contraditórias. (XVI EPP e II CIPTF). “É impossível identificar o a uma tirania social. A sociedade costuma par-
Isso se faz com educação.” melhor caminho se você ignora o destino”, dis- ticipar de maneira decisiva na hora de definir
se ao iniciar sua reflexão. nossos caminhos, e muitas vezes é mais cômo-
O conferencista destacou a importância de do abrir mão da nossa essência em nome da
incluir o ensino das emoções aos estudantes: conveniência social.
“Se os jovens tivessem uma sabedoria com re- Uma segunda proposta, de Santo Agostinho, é
pertório e uma consciência afetiva mais desen- fortemente baseada no pensamento de Jesus.
volvida, certamente se entenderiam como mais Felicidade é o pleno desenvolvimento da ca-
conectados com o mundo, saberiam melhor pacidade de amar. Ame e faça o que quiser. Ou
analisar as relações afetivas. Entender-se a si seja, tirar de alguém um sorriso que sem você
mesmo é entender-se a si mesmo no mundo”, não teria podido sorrir, uma iniciativa que pos-
disse. Para ele, Psicólogas(os) são essenciais sa ser alegradora, potencializadora, uma vida
neste processo. “A Psicologia é sem dúvida ne- dedicada ao próximo.
nhuma o segmento profissional e de conheci-
Um terceiro caminho é em cima da ideia de po-
mento mais capaz de uma revolução curricular
tência de agir. Pensar a felicidade a partir da
e educativa que possa ser benéfica para os nos-
ideia de alegria com a passagem para um esta-
sos jovens.”
do mais potente de si mesmo. Mas aí a felicida-
Nesta entrevista exclusiva, Clóvis fala sobre os de perde uma das suas características mais em-
diferentes conceitos filosóficos de felicidade, a brenhadas do senso comum que é a perspectiva
importância da Psicologia para a busca da es- de durabilidade. Se a felicidade é um afeto, ela
sência e para a tolerância e os caminhos para não dura, porque um afeto se caracteriza por
buscarmos conexões mais sustentáveis. desaparecer no calor da vida.
Contato: O que é felicidade? Uma última proposta é entendê-la dentro de uma
Clóvis de Barros Filho: Felicidade é uma pala- perspectiva de desejo de eternidade. Viva de tal
vra que usamos em situações variadas e ulti- maneira a desejar a eternidade daquele instante,
mamente temos usado para dar sentido à vida, um instante de vida que poderia durar mais, uma
assim como já foi em outros tempos. Alguns vida cuja duração gostaríamos que se estendesse.

34 | ESPECIAL XVI EPP E II CIPTF


O senhor fala em busca da própria essência e universal. Portanto, existe uma persuasão
em amor, que nos remete à respeito e tolerân- embutida em todo ato de fala. A partir daí,
cia. Neste sentido, a Psicologia tem um papel quando quero convencer você do meu ponto
importante. Poderia comentar um pouco esta de vista, eu tenho em toda manifestação de
questão? interlocução uma dimensão de tirania, de querer
fazer da própria alegria uma regra universal, de
Acredito que a Psicologia é quem está hoje
querer fazer uma norma de conduta para todos,
mais em condições de cuidar das duas coisas
de querer fazer do próprio conhecimento uma
que você mencionou. O trabalho do Psicólogo
espécie de lei inequívoca. É claro que esse tipo de
pode ter como consequência uma investigação
posicionamento inviabiliza tudo o que o diálogo
de valor inestimável para conhecer a si mesmo,
pode ter de bom e enriquecedor. Então eu acho
numa construção que em parte é a descoberta
que de certa maneira há um milhão de razões
de traços que nos são inerentes e em parte a
para explicar que na hora de interagir o resultado
construção de si mesmo através da observação
é paupérrimo e inviabilizador de uma vida rica.
dos espaços de socialização.
Como podemos buscar conexões mais susten-
No que diz respeito ao amor, eu tenho dito que
táveis em tempos de tanta intolerância?
Jesus foi o primeiro a falar de inclusão, de di-
versidade, embora não tenha usado essas pa- Muitas vezes cobramos do outro a felicidade que
lavras propriamente. Eu acredito muito na ideia estamos sentindo, mas para isso seria preciso
de que a relação que mantemos com o mundo, que tivessem o nosso corpo, nossa mente, nossas
com a alteridade, essa relação que implica éti- ideias, nossa percepção, nossas células e nada dis-
ca, amizade, vários tipos de vínculo, é, de todos so acontece. Isso não impede que haja ética, isto é,
os campos do conhecimento humano, a que a busca de uma convivência harmônica através do
menos evoluiu, mesmo que estejamos convi- uso da inteligência comum e compartilhada. É pos-
vendo entre nós desde que o homem existe. sível pensar em valores, princípios e normas prote-
tivas da boa convivência. Se você quer conexões
O outro será sempre uma incógnita. Nós somos
mais harmônicas e mais justas, ensine as crianças
ilhas afetivas. Não podendo perceber o que o
a ouvir e considerar o ponto de vista dos demais,
outro percebe, sentir o que sente, pensar o que
e a encontrar com os demais soluções que sejam
pensa, o outro permanece para nós um pacote
de compromisso entre perspectivas contraditórias.
de difícil conhecimento. Nesse sentido, a per-
Isso se faz com educação. Isso implica fazer cara
gunta é: de que maneira eu posso me relacio-
feia, orientar, proibir e, portanto, entristecer. Se “O trabalho do Psicólogo
nar com alguém que eu jamais saberei direito
a família não quer assumir a responsabilidade de pode ter como consequência
quem é? Se é que faz sentido saber quem é uma
educar, e não quer se indispor com o filho que ago- uma investigação de valor
pessoa, se é que uma pessoa é alguma coisa.
ra virou “amigo”, a escola também não quer as- inestimável para conhecer a
Dado que a vida transita, não há um ser, o que
sumir, porque o aluno virou cliente. Conclusão: si mesmo, numa construção
há é trânsito. E, portanto, na hora que você co-
a família e a escola, os dois pilares de educa- que em parte é a descoberta
gita saber quem o outro é, o outro não é mais,
ção, abriram a mão da prerrogativa de educar. de traços que nos são ine-
deixou de ser.
Como ninguém faz, a educação ficou na base rentes e em parte a constru-
Por essas e por outras reflexões tipicamente do improviso. Então como eu vou consolidar re- ção de si mesmo através da
filosóficas é que a pretensão de nos conhecermos lações em que haja respeito de um pelo outro? observação dos espaços de
é extremamente complicada. Talvez esteja na raiz Se você quer fortalecer conexões é preciso que socialização, onde as subjeti-
das dificuldades de relacionamento que sempre as pessoas se respeitem umas às outras, e eu vidades costumam ir decan-
tivemos, porque afinal tenderemos sempre a digo qualquer outra! Não é só o membro do clu- tando aos poucos.”
fazer do nosso ponto de vista um ponto de vista binho, o bem-nascido, o branco.

ESPECIAL XVI EPP E II CIPTF | 35


“O encontro de duas personalidades assemelha-se
ao contato de duas substâncias químicas: se alguma
reação ocorre, ambos sofrem uma transformação”
(Carl Jung)

O CRP-PR agradece a todas as pessoas que fizeram este encontro


possível, proporcionando inúmeras transformações pessoais e pro-
fissionais. Aos congressistas, palestrantes, patrocinadoras(es), cola-
boradoras(es), conselheiras(os), funcionárias(os) e apoiadoras(es),
nosso muito obrigado!
2018 © Conselho Regional de Psicologia do Paraná CRP-PR
Av. São José, 699 - Cristo Rei | 80050-350 | Curitiba-PR
www.crppr.org.br | www.epp.crppr.org.br

Patrocinadores:
A união faz
a Psicologia
N
as últimas eleições para Conselhos princípios consistentes. Para ele, é preciso

PSICOLOGIA E POLÍTICA
Regionais e Federal de Psicologia organizar um grupo levando em conside-
(CRPs e CFP), você votou? Você par- ração, por exemplo, a diversidade e a plu-
ticipa das reuniões plenárias do seu CRP? ralidade da Psicologia. Assim, as opiniões
Você já foi a alguma reunião para decidir pessoais e as diferenças nas práticas pro-
o orçamento da sua entidade de classe? fissionais, como a abordagem adotada,
Você já pensou em ser Conselheira ou não devem interferir na execução de um
Conselheiro? bom trabalho em prol da profissão. “As
pessoas não devem se reunir em torno da
Estes exemplos mostram o quanto a disputa do poder, mas em torno de ideias
Psicologia é, também, um campo de atua- e princípios. Somos diferentes e atuamos
ção política. Isso é necessário porque vá- de formas diferentes, entendemos o que
rias decisões precisam ser tomadas com o nos separa, mas estamos juntos com um
objetivo de fortalecer a profissão, levando objetivo comum”, resume.
a Psicologia para mais pessoas e contri-
buindo para uma atuação mais ética por No entanto, existem posicionamentos que
parte da(o) Psicóloga(o). precisam ser únicos e sempre respeita-
dos, como os Direitos Humanos. “Direitos
Neste sentido, o Psicólogo Adriano Peixoto Humanos são fundamentais e não existe
(CRP-03/002222), que é pós-doutor em discussão em cima disso, não existe espa-
Gestão de Pessoas pela Universidade de ço para relativização. Quando você tem
Sheffield e foi presidente da Sociedade alguém que não reconhece os Direitos
Brasileira de Psicologia Organizacional e Humanos, esta pessoa se coloca fora do
do Trabalho entre 2014 e 2018, afirma que campo democrático e da convivência bá-
as(os) Psicólogas(os) precisam entender o sica. A base da democracia é o diálogo, e
que faz um Conselho de Psicologia para quem nega os Direitos Humanos não aceita
atuarem de forma integrada. “O Conselho o diálogo”, declara o Psicólogo.
não pode ser a expressão de um grupo ou
de um interesse. Ele precisa estar a serviço COMO PARTICIPAR?
dos profissionais e da sociedade, no sentido
de orientar a qualidade da atuação e reper- Existem muitas maneiras de participar dos
cutir pautas sociais importantes na pers- processos democráticos do seu CRP e do
pectiva da Psicologia”, afirma. CFP.

Por esta razão, Peixoto advoga pela cria- - Participando de Plenárias: as reuniões
ção de chapas que se unam em torno de são abertas e acontecem uma vez por

CONTATO 119 | 19
39
mês em Curitiba ou em uma das Subsedes - Votando nas eleições: uma vez a cada
(Londrina, Maringá, Cascavel e Foz do Iguaçu); três anos as gestões do CRP-PR e do CFP
são eleitas por votação aberta às(aos)
-Acompanhando as reuniões do Psicólogas(os) em agosto. As próximas
Planejamento Participativo e a Assembleia eleições acontecerão em 2019;
Orçamentária: as reuniões acontecem ao lon-
go do ano em todas as regiões do Paraná e - Sendo Conselheira(o): se você quiser
a Assembleia uma vez por ano em Curitiba. concorrer nas eleições, pode partici-
Os calendários são divulgados no site www. par dos processos de registro de chapa
crppr.org.br; que acontecem durante o Congresso
Regional da Psicologia (COREP) e no
- Fazendo parte de uma instância do Controle Congresso Nacional da Psicologia
Social: o CRP-PR faz parte de diversos (CNP). Participar dos Congressos tam-
Conselhos Municipais e Estaduais que atuam bém é uma forma de estar mais pró-
no acompanhamento de políticas públicas. xima(o) das decisões que norteiam as
Você pode saber mais sobre estas representa- gestões das entidades de classe. As da-
ções pelo e-mail politicaspublicas08@crppr. tas são divulgadas em tempo no site:
org.br ou no site www.crppr.org.br; www.crppr.org.br;


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CONGRESSO NACIONAL DA PSICOLOGIA

20 | CONTATO 119 PS I CO LO G IA, NO C O


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MAIS DEMOCRÁT I C A E I G U ALITÁRIA
UALITÁRIA

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Da infância mediada pela internet ao
suicídio de crianças e adolescentes, a
presença e a escuta são fundamentais

C
ada geração é fruto do seu tempo. Para a Psicóloga Talita Quinsler Veloso

INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA
O modo como nos relacionamos, (CRP-08/22148), coordenadora do Núcleo
trabalhamos e os objetivos de vida de Infância e Juventude da Comissão de
são diferentes a cada período de 20 ou 30 Direitos Humanos do Conselho Regional
anos. Crianças que nasceram entre o final de Psicologia do Paraná (CRP-PR), a
dos anos 1990 e o início do século XXI, os sociedade não dá condições adequadas
chamados “nativos digitais”, encaram o para o desenvolvimento de crianças
mundo de forma bastante diferente de e adolescentes. “A sociedade em que
seus pais, da geração Y (anos 1980 e 1990), vivemos, capitalista, estimula o consumo
e de seus avós, da geração X. Isso sempre e nos cobra que sejamos bem-sucedidos.
aconteceu e, provavelmente, os filhos Então as crianças recebem esta demanda
destes jovens serão novamente diferentes. excessiva e se sentem obrigadas a serem
Mas, então, por que precisamos nos úteis”, avalia.
preocupar com essas mudanças?
As Psicólogas Camila Cortelette (CRP-
A nossa sociedade apresenta as marcas 08/19943), mestranda em Promoção
profundas de mudanças anteriores, como da Saúde, e Rute Grossi Milani (CRP-
a ampla disseminação do acesso à internet, 08/05806), doutora em Saúde Mental,
mas ainda não sabe lidar com os problemas afirmam que a busca incessante pela
causados por elas, como o excesso de horas perfeição, priorizando a autossuficiência e
que os jovens passam em frente às telas o individualismo, deixam a sociedade mais
de celulares, muitas vezes prescindindo do solitária. Além disso, com a exigência cada
contato presencial com outras pessoas. E vez mais compulsória por rendimento e
é aí que entra a Psicologia, para entender produtividade, num ambiente em que as
os novos conflitos e formas de viver e dores não são validadas e o sofrimento é
contribuir para a construção de pessoas e tabu, “os jovens desenvolvem um nível de
relações mais saudáveis. autocrítica e perfeccionismo exacerbados”.

CONTATO 119 | 21
41
O Psicólogo Rael Dill de Melo (CRP- jovem quer ser aceito. “Um momento que
08/19246) ainda vai além na reflexão foi difícil para todas as gerações toma uma
ao dizer que a sociedade produtivista nova forma nesse ambiente, tornando os
subordina a subjetividade e todas as jovens vulneráveis a essa perspectiva mais
relações se tornam permutas, tornando plástica de se sentir valorizado no universo
a vida sem sentido. “Como a gente tem virtual” explica a Psicóloga.
uma medicina avançada e as pessoas se
matam mais? É um fenômeno que mostra As Psicólogas Camila Cortelette e Rute
a contradição da nossa forma de vida, que Grossi Milani ainda destacam que o
busca a sua própria negação”, analisa. número de curtidas passa a ser o medidor
de afetos e relacionamentos na busca pelo
E, quando o sucesso não vem, especialmente reconhecimento. Além disso, o bullying
em um tempo no qual o sucesso do outro também é transposto para esse espaço,
está escancarado na palma de nossas adquirindo uma abrangência maior com o
mãos, os sintomas “de uma sociedade cyberbullying.
doente” se tornam mais evidentes. A
depressão, por exemplo, já atinge mais de A professora de Psicologia da Universidade
300 milhões de pessoas no mundo todo. do Estado de San Diego, nos Estados Unidos,
Na juventude, isso vem aliado a problemas Jean Twenge, defende a tese de que a atual
pelos quais passamos há muito tempo: geração, que ela chama de iGen e nasceu a
mudanças no corpo e na autoimagem, partir de 1995, é a mais segura fisicamente,
busca por autonomia, alterações de porém mais frágil emocionalmente, o que
antigos papéis na família, adesão a novos proporciona aumento de problemas como
grupos de pares, necessidade de assumir suicídio e autolesão.
novas responsabilidades, entre outros.
A autora do livro iGen: Why Today's
Então, o que temos são os problemas Super-Connected Kids Are Growing Up
e dilemas antigos afetando a primeira Less Rebellious, More Tolerant, Less
geração de nativos digitais, que cresceu Happy – and Completely Unprepared for
na velocidade dos bytes . O resultado, Adulthood – and What That Means for the
segundo especialistas, é a difi culdade em Rest of Us (iGen: por que as atuais crianças
esperar o tempo necessário para alguns superconectadas estão crescendo menos
processos normais, como a promoção rebeldes, mais tolerantes, menos felizes – e
no trabalho, o emagrecimento ou a completamente despreparadas para a vida
recuperação após o fi m de um namoro. adulta – e o que isso significa para o resto
Aí, tudo ganha uma dimensão maior. “O de nós) afirmou, em um podcast da rede
imediatismo acaba levando à frustração. britânica BBC, que algumas características
Os pais muitas vezes não sabem lidar com o destes jovens estão calcadas na educação
choro e reforçam estes comportamentos”, que recebem: pais superprotetores e uma
explica Talita. À Psicologia, de acordo hiperexposição aos smartphones estão
com ela, cabe trabalhar a resiliência de criando pessoas mais superficiais, que
pais e educadores: “É preciso entender convivem menos com os amigos e que se
que o ‘não’ é um sinal de amor”. comparam – virtualmente – com os demais.
Gostar e precisar de alguém, hoje em dia, é
Segundo a Psicóloga Dione Mehz (CRP- visto como “patético”. Ser sozinho é “cool”.
08/05491), coordenadora do Projeto de
Extensão da Universidade Federal do A Psicóloga Giovana Kreuz (CRP-08/07196),
Paraná “Luto e Prevenção do Suicídio”, que que trabalha com Prevenção e Posvenção
trabalha a temática dentro de escolas com do Suicídio e é doutora em Psicologia
pais, estudantes e professores, as redes Clínica pela Pontifícia Universidade
sociais criam um novo espaço no qual o Católica de São Paulo, chama a atenção

42 | CONTATO 119
22
para a qualidade de laços construídos de autolesão também pode significar
virtualmente em detrimento de a inclusão em um determinado grupo,
encontros pessoais de troca, afetividade gerando sensação de pertencimento.
e aprendizagens. Além disso, a Psicóloga Além disso, estes jogos podem dar vazão a
coloca as possibilidades de dependência, sofrimentos que já existem.
isolamento, insônia ou privação de
horas de sono e até de luz solar, além Em ambos os casos, a prevenção passa
do distanciamento de uma alimentação pela conversa franca entre adultos e
saudável e exercícios físicos em virtude do jovens, quebrando tabus e o estigma.
uso massivo da internet. O Psicólogo Rael Dill de Melo assinala
a importância de uma conversa sem
A orientação dos especialistas ouvidos por julgamentos e que aponte situações que
esta reportagem é de que os responsáveis dão indícios de um problema, como “eu
acompanhem seus filhos na utilização percebi que antes você gostava de ir para
da internet. Não se trata de proibição ou a escola, agora parece que você já não
invasão de privacidade, mas de orientação, está tão animado para ir à aula”.
abertura para que o jovem tenha uma
referência de apoio se necessário. Além Também é preciso nomear os sentimentos,
disso, o resgate dos contatos pessoais chamar de tristeza, de raiva ou baixa
é importante para que os vínculos nas autoestima, e explicar que é normal
relações sejam fortalecidos. sentir isso, permitindo que a criança ou
adolescente fale sobre. “Dar forma para
SUICÍDIO E AUTOLESÃO isso possibilita signifi car o que ela sente.
Se ela tem um sentimento de frustação
O suicídio é a segunda principal causa e não consegue signifi car, o suicídio
de morte de jovens entre 15 e 29 anos, acontece pela confusão entre acabar com
segundo dados da Organização Mundial o sofrimento e acabar com a vida”, alerta
de Saúde (OMS). No Brasil, é a quarta o Psicólogo. Perguntar se ela ou ele pensa
maior causa de morte entre esse público, em se matar também faz parte dessa
segundo o Ministério da Saúde. signifi cação.

Os atentados contra a própria vida no “Se os jovens têm 13 razões para assistir
país tiveram um aumento de 65% entre ao seriado [Os treze porquês, série exibida
jovens de 10 a 14 anos e de 15% dos 15 aos na Netflix e que conta a história de uma
19 anos, entre os anos de 2000 e 2015. jovem que se suicida], agora a família tem
O levantamento é do sociólogo Julio 13 razões para conversar sobre o seriado”,
Jacobo Waiselfisz, coordenador do Mapa adverte a Psicóloga Dione. Além dos pais
da Violência no Brasil. Ele explica que nos e dos profissionais da educação, Dione
últimos dois anos as taxas apresentaram acrescenta que não há ninguém melhor
uma pequena estabilização, mas ainda é para identificar sinais e possibilitar o alerta
preciso esperar mais um ano para constatar do que outros jovens do mesmo grupo.
que se trata de uma queda ou se é apenas
uma oscilação. A Psicologia Clínica também tem papel
fundamental. Giovana Kreuz ressalta que
Outro fenômeno preocupante é a a(o) Psicóloga(o) deve estar preparada(o)
autolesão. Jogos e desafios virtuais para oferecer trabalhos preventivos em
como o Baleia Azul estimulam os jovens equipes multi e interdisciplinares, dando
a praticarem violência contra si mesmos, suporte na conscientização dos profissionais
normalmente com o uso de objetos que atendem crianças e adolescentes com
cortantes. A Psicóloga Dione Mehz risco para o suicídio. Mais uma vez, isso
compreende que passar pelas provas possibilita a desmitificação do fenômeno,

CONTATO 119 | 23
43
para que passe a ser encarado de frente e de resolução do problema ou acionar
como realidade, livre dos preconceitos que sua rede social para um suporte, mas a
prejudicam a compreensão social. impulsividade e o imediatismo podem
levá-lo a ações letais. As profi ssionais
MAS, E O EFEITO WERTHER? ouvidas ressaltam que o suicídio não é
consequência do desejo de acabar com
Durante muito tempo, acreditou-se que a vida, mas sim uma necessidade de
falar sobre o suicídio com uma pessoa acabar com alguma dor, a partir de um
que apresenta riscos pode incentivá-la a sentimento ambivalente entre a busca
efetuar o ato. Isso ficou conhecido como por um alívio e a morte.
Efeito Werther: o personagem de Johan
Wolfgang von Goethe em “Os Sofrimentos No caso das crianças isso também
do Jovem Werther” se mata pelas dores de acontece, e pode haver ainda falta de
um amor não correspondido e desencadeia compreensão sobre a morte. Segundo o
uma série de suicídios na Alemanha. Psiquiatra da Infância e da Adolescência
Mas, segundo a Organização Mundial da Miguel Ângelo Boarati, citado por Giovana
Saúde (OMS), a forma como se fala sobre Kreuz, é possível, por exemplo, que a
o suicídio na mídia faz toda a diferença: criança entenda que precisa morrer para
exposições excessivas, romantizadas visitar alguém que já morreu, para depois
ou glamourizadas, com divulgação de “voltar”. Além disso, alguns fatores como
detalhes e imagens, podem, sim, incentivar violências sofridas (maus tratos, abuso
o suicídio por contágio. sexual, negligência, violência doméstica),
a morte dos pais, instabilidade familiar,
No entanto, uma cobertura responsável história de depressão ou suicídio na família
pode até mesmo contribuir com a podem contribuir para este problema.
prevenção e com a quebra de estigmas,
e o mesmo vale para abordagens em Pela complexidade do tema e a negação na
escolas, empresas, unidades de saúde ou sociedade e entre os profissionais de saú-
em casa. “Este é um fenômeno fortemente de, porque envolve a incerteza da inten-
estigmatizado, cercado por mitos e cionalidade do ato, Giovana chama aten-
crenças distorcidas, assim como o são as ção para a necessidade de Psicólogas(os)
pessoas com comportamento suicida e se prepararem e se instrumentalizarem, a
seus familiares, o que dificulta a prevenção fim de terem “um olhar diferenciado e aco-
e interpõe muitos complicadores também lhedor com crianças que sofrem e buscam
para a posvenção [cuidado com os neste ato uma saída para seu sofrimento”.
enlutados] do suicídio”, analisa Giovana.
A ESCOLA COMO AMBIENTE DE
O QUE LEVA UMA CRIANÇA OU UM PROTEÇÃO
ADOLESCENTE A SE MATAR?
A criança e o adolescente passam boa par-
Especialistas são unânimes em dizer que o te de suas vidas na escola. Dione Mehz per-
suicídio é multifatorial, ou seja, produto cebe que as instituições temem abordar o
de diversos fatores psicológicos, sociais, assunto, ainda que os eventos envolvam
culturais, ambientais, físicos e genéticos. essa comunidade. Em espaços que tiveram
Comumente, pode ser associado a algum casos com estudantes, ela relata que todo
transtorno mental e a estados de humor o grupo é afetado. É comum as pessoas
depressivo. buscarem culpados, mas a Psicóloga afir-
ma que o caminho deve o de fortalecer e
Quando o jovem se depara com um evento buscar estratégias para mudar o cenário,
estressor, como aqueles já citados nesta identificar os riscos e articular a rede de
reportagem, o ideal seria buscar formas cuidados psicossociais.

44 | CONTATO 119
24
Dione ressalta que a prevenção começa a 2015, houve uma redução de 12% no
na sensibilização e no acolhimento por índice de homicídio de brancos e outros
parte do adulto, que proporciona um grupos étnicos, frente a um aumento de
lugar seguro: “Quando um professor é 18,2% entre os negros.
capaz de perceber os sinais, é porque ele
é sensível ao discurso do outro. Ele precisa Quando falamos de suicídio, os números
aproveitar essa potência para abrir o canal também assustam e revelam a enorme
de comunicação e possibilitar um caminho desigualdade mundial: segundo a OMS,
para se falar sobre a dor, para aliviá-la”. 75% dos casos ocorrem em países de
baixa e média renda. No Brasil, as taxas
JUVENTUDE NEGRA, DE BAIXA RENDA, mais altas de suicídios entre os jovens
MULHERES E LGBTIS: AINDA MAIS são de indígenas. De acordo com o
VULNERÁVEIS Boletim Epidemiológico de 2017, 44,8%
das mortes autoinfligidas na população
O Estatuto da Criança e do Adolescente indígena aconteceram na faixa etária de
(o ECA, fruto da lei número 8.069 de 10 a 19 anos, dado oito vezes maior que o
1990) prevê direitos a serem assegurados entre brancos e negros (5,7% em cada) nas
“sem discriminação de nascimento, mesmas idades.
situação familiar, idade, sexo, raça, etnia
ou cor, religião ou crença, deficiência, A população LGBTI também sofre em
condição pessoal de desenvolvimento virtude do preconceito e da violência.
e aprendizagem, condição econômica, Uma pesquisa realizada com estudantes
ambiente social, região e local de moradia”. de Ensino Médio dos Estados Unidos,
A realidade, infelizmente, não é esta. publicada no American Journal of
Preventive Medicine, mostra que quase
Segundo Talita Quinsler Veloso, qualquer metade dos jovens gays, lésbicas ou
atendimento ou debate que se relacione bissexuais possuem pensamentos ou
às crianças e adolescentes precisa levar comportamentos suicidas. Além disso,
em consideração o contexto político, jovens com orientação sexual diferente
econômico e cultural, uma vez que a da heteronormatividade são 70% mais
violência de Estado pode, muitas vezes, propensos a já terem tido ideação ou
agravar o cenário já conturbado. Uma das atitudes suicidas em comparação aos
contribuições da(o) Psicóloga(o), na visão estudantes heterossexuais.
da coordenadora do Núcleo de Infância
e Juventude, é identificar situações em Desta forma, a discussão sobre a infância
que há violação dos Direitos Humanos. e a adolescência não pode ser feita de
“O casamento e a gravidez precoces, por forma a ignorar as violações de direitos
exemplo, em muitos casos não acontecem fundamentais básicos. A instituição do
sem planejamento. É a forma que algumas ECA foi um grande avanço. “Apesar das
meninas encontram de ter um projeto de arbitrariedades que ainda ocorrem em
vida, de ter perspectiva, pois falta trabalho relação às crianças e adolescentes, fica
e faltam oportunidades de estudo.” nítido o salto evolutivo dado pela letra
da lei que faz referência a esse público
A juventude negra também merece brasileiro. Esses sujeitos em fase peculiar
atenção, uma vez que, além de todas as de desenvolvimento, antes tratados como
pressões enfrentadas pelos adolescentes, meros objetos de intervenção do Estado,
eles precisam vencer os obstáculos da passaram a ser vistos como indivíduos
violência: de acordo com a campanha singulares e a ter um ordenamento
Vidas Negras, das Nações Unidas, sete especial que vise, de fato, à garantia
em cada dez pessoas assassinadas no de direitos inerentes a eles”, afirma a
Brasil são desta etnia. Além disso, de 2005 Psicóloga Gabrielle Kepka (CRP-08/16818),

CONTATO 119 | 25
45
colaboradora do Núcleo de Infância e à cultura, à dignidade, ao respeito, à
Juventude do CRP-PR. liberdade e à convivência familiar e
comunitária”. A Psicóloga Gabrielle faz
No entanto, o caminho ainda é longo para uma análise sobre as direções que é
que os direitos de crianças e adolescentes preciso seguir: “Ainda há muito a fazer,
sejam plenamente respeitados e que eles aplicar, estudar e desenvolver. O trabalho
possam se desenvolver com acesso “à deve ser para que suas premissas atinjam
saúde, à alimentação, à educação, ao a concretude da prática profissional com
esporte, ao lazer, à profissionalização, crianças e adolescentes”, conclui.

Vivemos tempos de intolerância e reações extremas e de manifestações de


cunho racista, LGBTIfóbico, machista, xenófobo ou contra qualquer grupo
minoritário. Como as crianças e os adolescentes estão expostos a estes
conteúdos, é importante que responsáveis e educadores atentem-se para o
ensino de valores como respeito à diversidade, igualdade de gênero, combate
ao racismo e aceitação de migrantes e refugiados.

Reunimos aqui alguns livros infantis que podem ajudar nessa empreitada.

Ser humano é… Declaração Universal dos Um outro país para Azzi


Direitos Humanos para crianças – Editora O Pulo do Gato
– Editora Mundo Mirim
Uma família de refugiados, cuja história é
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, contada por Sarah Garland, ensina respeito
que completa 70 anos em 2018, é apresentada aos migrantes e refugiados. Azzi, a criança que
por Fabio Sgroi em linguagem acessível, foge da guerra com seus pais, vence o medo
ensinando que todo mundo gosta de brincar, e o sofrimento para se adaptar à nova terra e
de aprender coisas novas e de ser tratado com crescer "como um pé de feijão".
carinho e respeito.

É tudo família! O mundo no black power de Tay’o


– L&PM Editores – Peirópolis

Famílias diferentes, mas sempre família. A A menina negra e seu cabelo black power. Tayó
bela mensagem de aceitação da diversidade é tem orgulho de suas madeixas e as exibe com
ensinada neste livro de Alexandra Maxeiner e variados enfeites. Kiusam de Oliveira fala neste
Anke Kuhl. livro sobre autoestima, mesmo em meio a
ataques acusando o “cabelo ruim”.

POR ELLEN NEMITZ E JESSICA BRASIL SKROCH

46 | CONTATO 119
26
Boas Práticas em
avaliação psicológica
A
avaliação psicológica nos contex- nas tarefas pertinentes ao cargo, que
tos organizacional e do trabalho baseiam a determinação das competências
possui os mesmos fundamentos de necessárias à(ao) profissional e, a
outras especialidades. O que a diferencia partir delas, são definidas as técnicas,
são seus objetivos relacionados às práticas instrumentais e metodologia de entrevista
em processos de seleção e desenvolvimen- a serem utilizadas na avaliação psicológica.
to. O foco da avaliação psicológica neste
contexto é a identificação de pessoas com O QUE SIGNIFICAM TÉCNICAS E
características mais apropriadas para a ocu- INSTRUMENTAIS?
pação de determinados cargos, bem como
a investigação de competências que este- A avaliação psicológica no contexto do
jam em conformidade com a cultura da or- trabalho utiliza instrumentos formais de
ganização. Isso potencializa a produtivida- avaliação, ou seja, testes psicológicos, di-
de e a motivação das pessoas contratadas, nâmicas de grupos, entrevistas por compe-
aumentando as possibilidades de sucesso tências e provas situacionais. Em conjunto,
no exercício de suas funções e de satisfação estas técnicas enriquecem o processo e
no ambiente de trabalho. fornecem informações de caráter essencial
para subsidiar as escolhas e decisões que
Além disso, nos planos de desenvolvimento serão tomadas.
utilizados pelas empresas, a avaliação psi-
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

cológica tem como finalidade investigar o OS TESTES ATUAIS DE GESTÃO DE


potencial e o perfil de pessoas para assumir PERFORMANCE DÃO SUPORTE CONSIS-
novas responsabilidades e também identifi- TENTE AO PROCESSO DE AVALIAÇÃO
car gaps, ou seja, falhas. Situações específi- PSICOLÓGICA?
cas em determinado setor ou grupo de tra-
balho em que possa haver algum problema Nem todos os instrumentos de avaliação do
como estresse e questões correlatas tam- perfil comportamental de profissionais são
bém são objeto de trabalho da Psicologia de uso restrito da(o) Psicóloga(o). Esses ins-
neste contexto. trumentos, assim como os testes psicológi-
cos, possuem pouco poder de predição se
COMO A DEMANDA CHEGA À(AO) PRO- usados isoladamente. Por outro lado, quan-
FISSIONAL DE PSICOLOGIA NESSES CON- do utilizados de forma contextualizada e
TEXTOS? E COMO SE ESTABELECE O PLA- com outras técnicas, podem ter relevância
NO DE TRABALHO? nos processos de avaliação.

A demanda geralmente está relacionada Apesar disso, é importante ressaltar que di-
a processos seletivos ou planos de versos instrumentos de avaliação de perfil
desenvolvimento da organização. O comportamental baseados em softwares
plano de trabalho é definido com base podem não ser testes psicológicos, ou não

CONTATO 119 | 47
27
terem sido submetidos ao SATEPSI (poden- baseada em seu conhecimento técnico e
do não apresentar qualidade técnica para no planejamento do processo da avalia-
uso), além de demandarem uma qualifi- ção psicológica.
cação profissional específica para serem
interpretados. No entanto, se forem técni- É NECESSÁRIO FORNECER A DEVOLUTI-
cas e instrumentos com respaldo na lite- VA E ENTREGAR O LAUDO OU RELATÓ-
ratura científica e que respeitem o Código RIO DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO
de Ética Profissional do Psicólogo (CEPP) e TRABALHO?
outras legislações da Psicologia, conforme
Resolução CFP nº 9/2018, a(o) Psicóloga(o) Sim. O CEPP, em seu artigo 1º, alíneas "g" e
pode usar com fonte complementar. "h", estabelece que é responsabilidade da(o)
Psicóloga(o) "informar, a quem de direito,
QUAIS OS CUIDADOS QUE A(O) os resultados decorrentes da prestação de
PSICÓLOGA(O) DEVE TER NA AVA- serviços psicológicos, transmitindo somen-
LIAÇÃO PSICOLÓGICA DENTRO DAS te o que for necessário para a tomada de
ORGANIZAÇÕES? decisões que afetam o usuário ou beneficiá-
rio" e "orientar a quem de direito sobre os
Como em qualquer área da Psicologia, encaminhamentos apropriados, a partir da
vários cuidados devem ser tomados. prestação de serviços psicológicos, e forne-
Contudo, algumas situações são próprias cer, sempre que solicitado, os documentos
de ambientes organizacionais, nos quais pertinentes ao bom termo do trabalho".
há hierarquia e cobrança de metas e
resultados, que podem impactar o trabalho Para isso é imprescindível que a(o) profissio-
da Psicologia. Por isso, a(o) profissional nal tenha bem delineado o perfil solicitado
deverá: e o processo de avaliação psicológica para
informar ao avaliado sobre os aspectos que
a) Dominar o processo de avaliação foram evidenciados, relacionando-os às ca-
psicológica de forma a transmitir a pro- racterísticas exigidas para o desempenho
fissionais de outras áreas informações de da função. No caso da empresa, a(o) profis-
forma acessível, considerando que ape- sional de Psicologia deve informar apenas
nas Psicólogas(os) detêm conhecimen- os dados pertinentes à demanda da avalia-
to técnico adequado sobre os fenôme- ção, protegendo dados que firam a priva-
nos psicológicos que fazem parte deste cidade das pessoas avaliadas e que não se
processo; refiram à demanda em si.

b) Ter consciência que podem ocorrer ORIENTAÇÕES FINAIS


tentativas de interferência nas recomen-
dações derivadas da avaliação, em vir- A(O) profissional de Psicologia não deve re-
tude de uma hierarquia que, em certos nunciar à sua responsabilidade na escolha e
momentos, terá maior poder de decisão; uso das técnicas de avaliação, pois detém
o conhecimento global do processo, seus
c) Considerar que as interferências po- objetivos e resultados e possui capacitação
dem visar à redução de custos na aquisi- técnica para conduzir as avaliações psicoló-
ção de material ou não ter fundamento gicas de modo que o resultado final tenha
aparente. Por isso, a(o) Psicóloga(o) deve consequências relevantes para todos os en-
orientar o processo de escolha dos ins- volvidos no processo.
trumentos, auxiliando na avaliação do
custo-benefício e na tomada de decisão Independentemente de estar vinculada(o) a
a partir dos objetivos da avaliação; uma organização ou prestando serviços na
condição de autônoma(o), a ética que rege
d) Ser responsável por definir as técni- o trabalho da(o) Psicóloga(o) é a mesma de
cas a serem utilizadas, pois sua escolha é todas as áreas da Psicologia.

28 | CONTATO 119
48
NOME FANTASIA:
Psicólogas(os) podem usar?
POR COMISSÃO DE ORIENTAÇÃO E FISCALIZAÇÃO,
COM APOIO DOS DEPARTAMENTOS JURÍDICO E CONTÁBIL DO CRP-PR. 

S
erá que é possível prestar serviço psi- O QUE É NOME FANTASIA?

ORIENTAÇÃO E FISCALIZAÇÃO
cológico como pessoa física, mas de-
signar  o local  de  atendimento  ou o Nome fantasia  é o nome popular/comer-
serviço ofertado  com  um  nome fantasia? cial de uma empresa, geralmente utilizado
A Comissão de Orientação e Fiscalização para a divulgação visando ao maior apro-
(COF) tem se deparado com  questões  des- veitamento de sua marca.
ta natureza, por isso criou um caso fictício
para ilustrar e discorrer sobre este tema:  QUEM PODE USAR UM NOME FANTASIA?

Meu nome é Ana, sou Psicóloga  autô- O uso de um nome fantasia é aplicável ape-
noma, presto serviços de Psicologia en- nas a uma empresa legalmente constituída.
quanto pessoa física e gostaria de saber Assim, não existindo uma personalidade ju-
se posso nomear o meu local de traba- rídica devidamente estabelecida, com CNPJ
lho com um nome fantasia como:  e emissão de Nota Fiscal, não há possibili-
Clínica Psychotherapy* ou Instituto  dade de existir um nome fantasia.
Psychotherapy*
O NOME FANTASIA PARA
O QUE DIZ O CÓDIGO DE ÉTICA PSICÓLOGAS(OS)
PROFISSIONAL DO PSICÓLOGO (CEPP)?
Tendo em vista estas informações, ape-
O Princípio Fundamental V do Código nas  o  nome da(o)  profissional  enquan-
de Ética Profissional do Psicólogo (CEPP) to  pessoa física  deverá ser divulgado  e
determina que a(o) Psicóloga(o) “contribuirá figurar  como responsável  em certifica-
para promover a universalização do dos, oferta de cursos, emissão de recibos e
acesso da população às informações, ao demais  documentos  produzidos em vir-
conhecimento da ciência psicológica, aos tude  do trabalho psicológico realiza-
serviços e aos padrões éticos da profissão”. do. Do contrário, os clientes estariam sen-
do levados a entender  erroneamente que
Já o artigo 1º do CEPP, alínea “e”, afirma se trata de uma empresa de Psicologia le-
ser dever fundamental da(o) Psicóloga(o) galmente constituída, o que poderia indu-
“Estabelecer acordos de prestação de zi-los a buscar tais serviços justamente por
* Nome fictício

serviços que respeitem os direitos do esta razão.


usuário ou beneficiário de serviços de
Psicologia”. A alínea “i” do artigo 2º veda Importante  destacar  que a qualidade
à(ao) profissional “Induzir qualquer pessoa dos serviços de Psicologia  prestados
ou organização a recorrer a seus serviços”. depende diretamente da capacidade e das

CONTATO 119 | 49
29
condições de trabalho de cada profissional. § 3° Para os efeitos deste código, a
Suas boas  práticas não devem estar publicidade é enganosa por omissão quando
diretamente condicionadas à existência ou deixar de informar sobre dado essencial do
à  formalização  de  uma  empresa, como produto ou serviço. (negrito nosso) 
se tal iniciativa, por si só, garantisse
maior fidedignidade aos clientes. Como as legislações federais são superiores
às legislações profissionais espe­ cíficas,
O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR   além do impedimento ético há também
ilegalidade no uso de nome fantasia por
A situação  ilustrada, além de ferir os pre- Psicólogas(os). Assim, poderia ser ques­
ceitos éticos da profissão, também estaria tionada no âmbito jurídico, já que as
em desacordo com demais legislações, in- diferenças entre uma personalidade jurídi­
cluindo o artigo 37 da lei nº 8.078/90, que ca e uma pessoa física incluem questões de
dispõe sobre a proteção do consumidor e ordem fiscal, contratual e burocrática, as
dá outras providências:  quais podem causar dificuldades tanto para
o contratante como para a(o) contrata­
Art. 37 – É proibida toda publicidade enga- da(o), caso não sejam observadas a tempo.
nosa ou abusiva. 
Às(aos) Psicólogas(os), recomendamos
§ 1° É enganosa qualquer modalidade de que ajam com respeito  aos clientes e
informação ou comunicação de caráter consumidores de seus serviços, tendo
publicitário,  inteira ou parcialmente a devida consciência ao ofertar e ao
falsa, ou, por qualquer outro modo, caracterizar um trabalho, primando
mesmo por omissão, capaz de induzir em pela qualidade  e pela assertividade das
erro o consumidor a respeito da natureza, informações prestadas, respeitando suas
características, qualidade, quantidade, possibilidades e limites profissionais como
propriedades, origem, preço e quaisquer forma de também garantir os direitos dos
outros dados sobre produtos e serviços [...]  beneficiários de seus serviços.  

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30 | CONTATO 119
Crianças e adolescentes também
têm direito ao sigilo!
Mas, e se os pais querem
informações?
POR COMISSÃO DE ÉTICA

N
o atendimento a crianças e ado- de sessões, privando a(o) paciente da

COLUNA ÉTICA
lescentes é comum nos deparar- confidencialidade que lhe é de direito!
mos com dilemas éticos no que
se refere ao sigilo profissional. Afinal de Caso os pais ou responsáveis legais pela
contas, nosso Código de Ética Profissional criança ou adolescente sejam separados e
do Psicólogo (CEPP) exige que, nestes somente um deles obtenha a guarda, ain-
casos, a(o) Psicóloga(o) deverá obter au­ da assim ambos têm direito às informa-
torização, para o atendimento, de ao me- ções sobre o tratamento, quando solicita-
nos um dos responsáveis legais (artigo 8º). do, bem como aos documentos advindos
Por outro lado, o mesmo CEPP afirma que do trabalho psicológico.
é dever da(o) Psicóloga(o) respeitar o sigi-
lo profissional a fim de proteger, pela con- Quando falamos de sigilo profissional,
fidencialidade, a intimidade das pessoas, também entramos no dilema ético no que
grupos ou organizações a que tenha aces- se refere à sua quebra, prevista a critério
so no exercício profissional (artigo 9°). da(o) Psicóloga(o) tendo em vista o me-
nor prejuízo dos envolvidos (artigo 10).
No atendimento de crianças ou adoles- Porém, a(o) profissional deve se restrin-
centes, eles são os pacientes. Isso signi- gir a prestar as informações estritamente
fica que, mesmo diante da necessidade necessárias.
da autorização, o nosso dever de sigilo
está para com a criança ou adolescente. QUANDO QUEBRAR O SIGILO?
Para a efetividade e qualidade do víncu-
lo terapêutico é imprescindível que eles A quebra de sigilo nunca é uma tarefa
possam encontrar na(o) Psicóloga(o) um fácil e exige muita reflexão da(o) profis-
espaço de escuta e fonte de segurança, sional. Não existem respostas prontas ou
na certeza de que podem falar aquilo que manuais que forneçam a solução para
desejam, sem que tenham seu discurso re- esta questão, porém nosso CEPP pode nos
velado, inclusive aos seus “representantes dar um grande direcionamento:
legais”, sem seu consentimento.
- Avalie sempre, antes ou durante o tra-
INFORMAÇÕES SOBRE O TRATAMENTO balho psicológico, se está preparada(o)
X QUEBRA DE SIGILO técnica, teórica e, principalmente, pes-
soalmente para as responsabilidades
Obviamente este atendimento psicológico profissionais que está assumindo (arti-
se difere do atendimento de um adulto, e go 1°, alínea “a”);
usualmente são necessárias intervenções
com as pessoas envolvidas com a - Questione-se se está orientando ade-
criança ou adolescente. No entanto, quadamente os pacientes e represen-
de forma alguma estes momentos tantes legais sobre os encaminhamen-
devem ser confundidos com relatos tos apropriados (artigo 1°, alínea “h”);

CONTATO 119 | 51
31
- Avalie constantemente se as relações Se, ao fazermos alguns destes questiona-
que está estabelecendo com a pessoa mentos, percebemos que podemos não es-
atendida, familiares ou terceiros po- tar atuando eticamente, é imprescindível
Para saber dem, de alguma forma, interferir ne- buscar o Conselho Regional de Psicologia
gativamente nos objetivos do serviço para orientações sobre legislação e ética,
mais
prestado (artigo 2°, alínea “j”). bem como supervisão teórico-técnica de
outra(o) profi ssional. Se, ainda assim, não
Código de Ética As respostas a estas questões poderão ser nos sentirmos capacitadas(os) teórica,
https://bit.ly/2QxbjhY um norte na incógnita sobre a necessida- técnica ou pessoalmente, devemos enca-
de da quebra do sigilo profi ssional. É pre- minhar o paciente a outra(o) Psicóloga(o)
ciso também considerar as possíveis con- (artigo 1°, alínea “k”). Desta forma assegu-
sequências que poderão advir a partir da raremos sempre uma atuação pautada na
quebra (ou manutenção) do sigilo na vida ética profi ssional e estaremos contribuin-
do paciente, no andamento do trabalho do para o fortalecimento da nossa profi s-
psicológico e na vida de terceiros. são de Psicólogas(os).

EDITAL DE CENSURA PÚBLICA -


EDITAL COE 004/2018
O Conselho Regional de Psicologia - 8a Região, em obediência ao disposto na Lei no 5.766/71,
Decreto no 79.822/77 e Código de Processamento Disciplinar, pelo presente Edital, torna públi-
ca a decisão do Conselho Federal de Psicologia, no Processo Ético Disciplinar no 013/2014, em
aplicar a pena de CENSURA PÚBLICA a Psicóloga Maria Cristina Alves Penha, CRP-08/02610
por infração aos artigos do Código de Ética Profissional dos Psicólogos:

Art. 1º – São deveres fundamentais dos psicólogos:


c) Prestar serviços psicológicos de qualidade, em condições de trabalho dignas e apropriadas à natureza desses
serviços, utilizando princípios, conhecimentos e técnicas reconhecidamente fundamentados na ciência psicológica, na
ética e na legislação profissional.
Art. 2º – Ao psicólogo é vedado:
g) Emitir documentos sem fundamentação e qualidade técnico científica;
j) Estabelecer com a pessoa atendida, familiar ou terceiro, que tenha vínculo com o atendido, relação que possa
interferir negativamente nos objetivos do serviço prestado;
k) Ser perito, avaliador ou parecerista em situações nas quais seus vínculos pessoais ou profissionais, atuais ou ante-
riores, possam afetar a qualidade do trabalho a ser realizado ou a fidelidade aos resultados da avaliação.

Curitiba, 18 de julho de 2018.

Psic. João Baptista Fortes de Oliveira


CRP-08/00173
Conselheiro Presidente

32 | CONTATO 119
EDITAL DE CENSURA PÚBLICA - EDITAL DE CENSURA PÚBLICA -
EDITAL COE 003/2018 EDITAL COE 006/2018
O Conselho Regional de Psicologia - 8a Região, em obediência
O Conselho Regional de Psicologia - 8a Região, em obediência
ao disposto na Lei no 5.766/71, Decreto no 79.822/77 e Código de
Processamento Disciplinar, pelo presente Edital, torna pública ao disposto na Lei no 5.766/71, Decreto no 79.822/77 e Código de
a decisão do Conselho Federal de Psicologia, no Processo Ético Processamento Disciplinar, pelo presente Edital, torna pública a
Disciplinar no 010/2013, em aplicar a pena de CENSURA PÚBLICA decisão do Conselho Regional de Psicologia, no Processo Ético
a Psicóloga Glaucia Penasso, CRP-08/11755 por infração aos Disciplinar no 022/2015, em aplicar a pena de CENSURA PÚBLICA
artigos do Código de Ética Profissional dos Psicólogos: a Psicóloga Helena Virmonde do Nascimento, CRP-08/09630
por infração aos Princípios Fundamentais e artigos do Código de
Art. 1º – São deveres fundamentais dos psicólogos:
Ética Profissional dos Psicólogos:
k) Sugerir serviços de outros psicólogos, sempre que, por motivos justificáveis,
não puderem ser continuados pelo profissional que os assumiu inicialmente,
Princípios Fundamentais:
fornecendo ao seu substituto as informações necessárias à continuidade do
II. O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das
trabalho.
Art. 2º – Ao psicólogo é vedado: pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas

g) Emitir documentos sem fundamentação e qualidade técnico científica; de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
h) Interferir na validade e fidedignidade de instrumentos e técnicas psicológi- VII. O psicólogo considerará as relações de poder nos contextos em que atua e
cas, adulterar seus resultados ou fazer declarações falsas; os impactos dessas relações sobre as suas atividades profissionais, posicionan-
j) Estabelecer com a pessoa atendida, familiar ou terceiro, que tenha vínculo
do-se de forma crítica e em consonância com os demais princípios deste Código.
com o atendido, relação que possa interferir negativamente nos objetivos do
serviço prestado;
Das responsabilidades do Psicólogo:
k) Ser perito, avaliador ou parecerista em situações nas quais seus vínculos pes-
Art. 1º – são deveres fundamentais dos psicólogos:
soais ou profissionais, atuais ou anteriores, possam afetar a qualidade do traba-
lho a ser realizado ou a fidelidade aos resultados da avaliação. a) Conhecer, divulgar, cumprir e fazer cumprir este Código;
c) Prestar serviços psicológicos de qualidade, em condições de trabalho dignas
Curitiba, 18 de julho de 2018. e apropriadas à natureza desses serviços, utilizando princípios, conhecimentos
e técnicas reconhecidamente fundamentados na ciência psicológica, na ética e
Psic. João Baptista Fortes de Oliveira na legislação profissional;
CRP-08/00173
g) Informar, a quem de direito, os resultados decorrentes da prestação de servi-
Conselheiro Presidente
ços psicológicos, transmitindo somente o que for necessário para a tomada de
decisões que afetem o usuário ou beneficiário;
h) Orientar a quem de direito sobre os encaminhamentos apropriados, a partir
da prestação de serviços psicológicos, e fornecer, sempre que solicitado, os do-

REABILITAÇÃO PROFISSIONAL cumentos pertinentes ao bom termo do trabalho;

CRP-08 Nº 001/2018 - k) Sugerir serviços de outros psicólogos, sempre que, por motivos justificáveis,
não puderem ser continuados pelo profissional que os assumiu inicialmente,
EDITAL COE 005/2018 fornecendo ao seu substituto as informações necessárias à continuidade do
trabalho.
Art. 2º – Ao psicólogo é vedado:
O Conselho Regional de Psicologia – 8ª Região, consi- j) Estabelecer com a pessoa atendida, familiar ou terceiro, que tenha vínculo
derando o que preceitua o Art. 70, § 2º do Código de com o atendido, relação que possa interferir negativamente nos objetivos do
Processamento Disciplinar e o Art. 3º da Resolução CRP 08 serviço prestado.
nº 001/2018, torna pública a intenção do Sr. Albert Friesen Art. 9º – É dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de proteger,
em reabilitar seu registro profi ssional de Psicólogo junto por meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou organiza-
ao CRP-08. ções, a que tenha acesso no exercício profissional.
Art. 13 – No atendimento à criança, ao adolescente ou ao interdito, deve ser
Abre-se o prazo de 30 (trinta) dias ininterruptos, que se- comunicado aos responsáveis o estritamente essencial para se promoverem
rão contados da data de publicação deste Edital, para que medidas em seu benefício.
qualquer interessado apresente manifestação por escrito Art. 14 – A utilização de quaisquer meios de registro e observação da prática psi-
com justifi cativa de situação que possa vir a intervir no pro- cológica obedecerá às normas deste Código e a legislação profissional vigente,
cesso de reabilitação. devendo o usuário ou beneficiário, desde o início, ser informado.

Curitiba, 11 de setembro de 2018. Curitiba, 13 de setembro de 2018.

Psic. Deisy M. Rodrigues Joppert Psic. João Baptista Fortes de Oliveira


CRP-08/01803 CRP-08/00173
Presidente da Comissão de Ética Conselheiro Presidente
Ineditismo
das conexões
ESPAÇO

M
e chamo Welton Fernando, sou formadas(os) debatiam quão rica foram as
Jornalista, professor e acadêmico discussões e os desdobramentos do tema
do curso de Psicologia na cidade escolhido. Conteúdo não faltou.
de Cascavel, Paraná. Minha história com o
Conselho Regional de Psicologia do Paraná Entre uma entrevista e outra pude com-
começou no mês de julho de 2018, em uma preender que o que fomentou a satisfação
reunião plenária realizada na cidade de Foz por parte dos participantes foi o gabarito
do Iguaçu, município que seria sede do XVI dos palestrantes convidados, que se dedi-
Encontro Paranaense de Psicologia e do II caram para trazer novidades em cases e
Congresso Internacional de Psicologia da discussões que fugissem do trivial e que for-
Tríplice Fronteira (XVI EPP e II CIPTF). Foi talecessem uma perspectiva mais assertiva
nesta ocasião que conheci os responsáveis e profissional por parte da(o) Psicóloga(o).
pelo evento e fui convidado para integrar,
de modo voluntário, o time de imprensa A acadêmica do segundo período de
Welton Fer
nando que cobriria os quatro dias do encontro. Psicologia da Fundação Assis Gurgacz,
Thais A. Lima, afirmou que “nunca imagi-
Ser jornalista e poder contar histórias é nou que um evento de apenas três dias pu-
algo fascinante, mas poder colher infor- desse contribuir tanto para a formação de
mações em um evento que reuniu mais de uma nova perspectiva pessoal e profissio-
1.200 pessoas, que tinham como interesse nal”. Ao relatar sua experiência no encon-
fortalecer suas conexões pessoais e profis- tro, Lima concluiu dizendo que “um mundo
sionais, fez com que tudo ganhasse uma sem Psicologia é um mudo sem cor”. Devo
nova dimensão. concordar com a acadêmica.

No primeiro dia do evento, a energia do am- Foram várias entrevistas feitas, inúmeros
biente ficou ainda mais envolvente e convi- vídeos gravados para as plataformas di-
dativa. As pessoas continuavam a chegar e gitais e uma experiência profissional ine-
a questão era sempre a mesma: o que espe- narrável. Da ética discutida por Leandro
rar das conferências, quais novidades serão Karnal à felicidade desmitifi cada por
apresentadas, qual mesa-redonda escolher? Clóvis de Barros Filho, passando pelas
sábias palavras de Viviane Mosé, que nos
Entre um minicurso e outro, os conduz a uma nova perspectiva de rela-
depoimentos de fascínio e encantamento ção humana. Concluí minha participação
mediante o conteúdo aprendido eram no XVI Encontro Paranaense de Psicologia
sempre recorrentes. Nos corredores, os compreendendo que toda conexão é inédi-
alunos de Psicologia e as(os) profissionais já ta e, por assim ser, é única!

34 | CONTATO 119
54
Psicólogo: graças à parceria
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respeita a área de abrangência das respectivas operadoras de saúde, bem como a disponibilidade para cada entidade de classe. Os preços e as redes estão sujeitos Siga a Qualicorp:
CONTATO 119 | 35
a alterações, por parte das respectivas operadoras de saúde, respeitadas as disposições contratuais e legais (Lei nº 9.656/98). Condições contratuais disponíveis
para análise. Junho/2018.

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