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Projeto Mestrado Marcus - Uniceub Versão Final
Projeto Mestrado Marcus - Uniceub Versão Final
Brasília
2016
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recorrentes e mais encarceradores do país (DEPEN, 2015; IPEA, 2015). Dessa forma, ainda
mais importante se torna o estudo do processamento desse crime, razão pela qual o presente
projeto de pesquisa se volta inteiramente para a investigação e processamento do crime de
tráfico de drogas.
Por fim, cabe ressaltar que, não obstante existirem estudos de fluxo do SJC em algumas
capitais e áreas metropolitanas do Brasil (ADORNO; PASINATO, 2007; COSTA;
ZACKSESKI; MACIEL, 2016; MACHADO; PORTO, 2015; PORTO, 2015; RIFIOTIS;
VENTURA, 2007; SILVA, 2010; VARGAS, 2004), ainda há grande carência de pesquisas
dessa natureza nas comarcas localizadas no interior, como é o caso da Comarca de Unaí-MG,
localizada na região noroeste do Estado, a aproximadamente 150 km de Brasília-DF, onde se
propõe realizar este estudo, conforme explicado abaixo.
PROBLEMA DE PESQUISA
OBJETIVOS
OBJETIVO GERAL
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OBJETIVOS ESPECÍFICOS
METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO
autoria do crime. Por sua vez, a taxa de sentenciamento representa o percentual de processos
que chegaram na fase de sentença, levando-se em consideração o número de ocorrências
registradas ou o total de processos iniciados. Por fim, a taxa de condenação traz o percentual de
condenações, levando-se em consideração o número de ocorrências registradas ou o total de
sentenças proferidas (RIBEIRO; SILVA, 2010).
Para a pesquisa transversal será utilizado um formulário a ser preenchido com o
número de ocorrências registradas nas polícias, número de inquéritos policiais encerrados,
número de processos iniciados, número de sentenças e número de condenações segundo a
natureza do delito, bem como o ano de produção de cada uma dessas peças (RIFIOTIS;
VENTURA; CARDOSO, 2010).
Já o desenho longitudinal retrospectivo contribuirá para a análise em profundidade dos
casos encerrados no período pesquisado, reconstruindo o fluxo retrospectivamente do
encerramento até o estágio inicial (RIBEIRO; SILVA, 2010). Propõe-se que essa análise
também seja feita por meio do preenchimento de formulário de registro com as informações
obtidas dos processos, a serem escolhidos utilizando uma amostra aleatória de casos em que já
ocorreu a condenação definitiva no período pesquisado (RIFIOTIS; VENTURA, 2007).
HIPÓTESES
REFERENCIAL TEÓRICO
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O sistema de justiça criminal, em seu viés repressor, trabalha a partir de demandas que
surgem no momento em que um de seus operadores toma conhecimento de que uma conduta
criminosa foi praticada. Geralmente, esse primeiro contato com a existência do crime ocorre
nas Polícias ou no Ministério Público (MACHADO, 2014), por meio dos canais ordinários de
comunicação ou delação (boletins de ocorrência, “disque-denúncia”, prisão em flagrante etc.)
(MARQUES, 2009).
Dessa forma, essas demandas passam por uma fase preliminar de investigação, que
geralmente ocorre na Polícia Civil (MACHADO, 2014), por meio do inquérito policial (IP), ou
no próprio Ministério Público (procedimento investigatório criminal - PIC), e, caso seja
verificada a existência de elementos mínimos de prova da existência do crime e de sua autoria,
são encaminhadas ao Judiciário por meio da formalização da denúncia, que é atribuição
exclusiva do representante do Ministério Público. Caso não seja verificada, ao menos de
maneira indiciária, a existência ou a autoria do delito, esse procedimento investigatório é
arquivado (MARQUES, 2009).
Quando ingressam no Judiciário, essas denúncias são analisadas pelo Juiz, que
verificará a existência dos pressupostos mínimos para o seu processamento e futura decisão.
Caso entenda que a denúncia não atende a esses requisitos, o Juiz a rejeita e obsta o seu
processamento, arquivando-a. Por outro lado, se o Juiz receber a denúncia, dá-se início ao
processo penal (NORONHA, 1999).
Uma vez iniciado o processo penal, serão produzidas as provas necessárias à
comprovação da existência do crime e da sua autoria pelo réu. Ao final, analisando esse
conjunto de elementos probatórios, o Juiz profere a sentença que condenará ou absolverá o
acusado (NORONHA, 1999).
Dessa sucinta descrição é possível depreender que entre o cometimento de um crime
e a decisão que aplica a sua punição pelo Estado há um caminho a ser percorrido (um processo),
comumente chamado pela literatura processualista de “persecução penal”, o qual é marcado por
uma série de “filtros” que determinam o seguimento ou não do processo decisório (MARQUES,
2009).
Conforme já mencionado acima, o sistema de justiça criminal é formado por diversas
organizações, as quais compõem o aparelho repressor do Estado. Essas organizações são,
basicamente, as Polícias, o Ministério Público, o Poder Judiciário e os Departamentos
Penitenciários. Cada um desses órgãos atua dentro das suas atribuições e, de certa forma,
independentemente da atuação do outro, sem que haja uma evidente coordenação entre eles
(MACHADO, 2014).
Com isso, é importante pontuar que os “filtros” da persecução penal não são operados
pelo mesmo órgão, ou seja, cada órgão controla um determinado filtro seguindo a sua própria
lógica de atuação, que não necessariamente é compartilhada entre os demais (MACHADO,
2014).
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Tendo em vista a existência destes filtros e das interações entre as organizações que
compõem o aparelho repressor do Estado, surge os pontos chaves para a pesquisa que se
apresenta, sendo que para as hipóteses (I, II e III) levantadas neste projeto podem ser testadas
com os seguintes argumentos preliminares:
Para a hipótese I, que aponta para a ineficiência do SJC, algumas pesquisas referem
que a crise nesse sistema tem como uma de suas fazes mais visíveis a impunidade, assim
entendida como a falta de resposta aos crimes noticiados aos órgãos oficiais (ADORNO, 2007;
COSTA, 2015). Utilizando-se de dados referentes ao crime de homicídio, Adorno (2002)
aponta que no início dos anos 90 algo entorno de 92% dos crimes dolosos contra a vida
cometidos no Município do Rio de Janeiro não sofreram nenhuma punição. Mais recentemente,
Costa, Zackseski e Maciel (2016) chegaram a conclusão semelhante ao apontarem que na área
metropolitana de Brasília-DF apenas 10,3% dos homicídios ocorridos em 2010 foram
elucidados.
Quanto à hipótese II, que propõe a existência de filtros no processamento dos crimes
como uma das causas de sua ineficiência (MACHADO, 2014), Sérgio Adorno (2002)
representa o SJC como um “funil”, no qual há uma base larga representando os crimes que são
oficialmente detectados, e um estreito gargalo que representa os crimes em que os autores foram
revelados e punidos.
Já para a hipótese III, que supõe a existência de uma predisposição do SJC para
selecionar determinado perfil de agente criminoso, vasta literatura aponta algum grau de
seletividade no sistema (BARATTA, 2013; PORTO, 2015; SHECAIRA, 2014). Adorno (1995)
também aponta que, embora não haja evidência empírica de que uma determinada etnia
contribua mais para a criminalidade, os negros são os mais selecionados pelas investigações
policiais.
Por fim, para comprovação da hipótese IV, que indica a possível existência de um
perfil de ocorrência que “sobrevive” no SJC, tem-se algumas pesquisas que sinalizam que a
atuação dos órgãos que compõem esse sistema se dá com base em diferentes racionalidades
(MACHADO, 2014; PORTO, MACHADO, 2015), de modo que nem sempre há uma
convergência entre a atuação das Polícias, do Ministério Público e do Judiciário para a apuração
do crime.
Como visto ao longo desta explanação, a proposta tem como tema de pesquisa o
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fluxo do sistema de justiça criminal para o tráfico de drogas, estando diretamente interligado
com as atividades do grupo de pesquisa “Política Criminal”, do Centro Universitário de Brasília
(UniCEUB), coordenado pelo Prof. Dr. Bruno Amaral Machado.
Assim, a pesquisa contribuirá diretamente para o aperfeiçoamento da Linha de
Pesquisa 2, denominada “Políticas Públicas, Processo e Controle Penal”, do Mestrado em
Direito do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), por estar voltada ao estudo empírico
da atuação do SJC frente às condutas enquadradas no crime de tráfico de drogas, possibilitando
definir a realidade da persecução penal em uma Comarca no interior do Estado de Minas, o que
poderá contribuir para definição ou redefinição de estratégias governamentais.
A temática proposta neste projeto de pesquisa possui grande capacidade investigativa,
pois está inserida em um rol de pesquisa em expansão no Brasil (COSTA, 2015), e poderá
contribuir para ampliar o conhecimento sobre os dados da realidade brasileira, pois ainda não
há pesquisas desse tipo na região que ora se propõe investigar.
REFERÊNCIAS
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54, n. 1, 2002. Disponível em < http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=s0009-
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NORONHA, E. Magalhães. Curso de direito processual penal. 27 ed. São Paulo: Saraiva,
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RUSCHEL, Aírton, José. Análise do tempo dos Processos Penais de homicídio no Fórum de
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Caxambu/MG, 27 a 31 out. 2008. Disponível:
<http://portal.anpocs.org/portal/index.php?option=com_docman&task=doc_view&gid=2344
&Itemid=230>. Acesso em: 09 jun. 2016.
SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. 6 ed. ver e atual. São Paulo: Editora Revista dos
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SILVA, Gustavo de Melo. Ato Infracional: fluxo do Sistema de Justiça Juvenil em Belo
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VARGAS, Joana Domingues. Fluxo do Sistema de justiça criminal. In: LIMA, Renato
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