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GUERRILHA NA AMAZÔNIA:

UMA EXPERIÊNCIA NO PASSADO,


O PRESENTE E O FUTURO
(matéria em três partes)
Matéria publicada Originalmente em DefesaNet Novembro 2005

Cel Alvaro de Souza Pinheiro(*),


do Exército Brasileiro

DefesaNet
Guerrilha na Amazônia: uma experiência no passado, o presente e o futuro
Parte 1 O Passado Link
Parte 2 A Guerrilha do Araguaia Link
Parte 3 A Experiência do rio Traíra Link

DefesaNet
Nota: O Série de artigos "Guerrilha na Amazônia: uma experiência no passado, o presente
e o futuro", foi produzida como uma posição do Exército Brasileiro referente à Amazônia,
nos anos 90.
O seu autor, na época Coronel de infantaria, atuava como oficial de ligação do Exécito
Brasileiro junto ao Centro de Armas Combinadas e à Escola de Comando e Estado-Maior
do Exército dos EUA, apresenta uma visão abrangente e relata com detalhes dois pontos
importantes a Guerrilha do Araguaia (Parte 2) e a Ação do Rio Traíra (Parte 3).
Hoje, no posto de General de Brigada (reserva) escreve sobre assuntos militares com
vários artigos publicados em DefesaNet
Artigo publicado originalmente na:
Military Review 1º Trim 95 Ed Português
Military Review t - Oct 95 Edição Español
Military Review March-April 96 English Edition
Avaialble on pdf 2MB pdf Link

A Amazônia Brasileira foi elevada à situação de área estratégica prioritária, em face dos
múltiplos conflitantes aspectos que a caracterizam, conferindolhe uma problemática
política, econômica, psicossocial e militar altamente especial, delicada e sensível. O
presente artigo procura decodificar as lições aprendidas nas diversas experiências de
guerrilha vivenciadas na Amazônia, tentando estabelecer um paralelo entre o passado, o
presente e o futuro.
ACONQUISTA da Amazônia tem sido, desde os primórdios da nossa colonização, uma
epopéia escrita com sangue, coragem e determi nação. E o sangue foi derramado em
acirrados combates na selva onde a criatividade e a implacabilidade das técnicas da
guerra de guerrilhas sempre estiveram presentes.

A cidade de Belém, capital do Estado do Pará, assinala o marco inicial da conquista do


vasto mundo amazônico, pelas forças lusobrasileiras. Fundada a 12 de janeiro de 1616,
por Francisco Caldeira Castelo Branco, após a expulsão dos franceses de São Luís do
Maranhão, o pequeno núcleo, representado inicialmente pelo Forte do Presépio, tornouse
admirável pólo de atração e irradiação, marco precursor da expansão, domínio, posse da
terra e fixação de uma nova raça em plena zona equatorial, produto natural da
miscigenação do branco europeu com o indígena.

Não foi, entretanto, uma conquista pacífica. Lutas violentas foram travadas pelas forças
lusobrasileiras para expulsão de ingleses, franceses, holandeses e irlandeses que, em
incursões permanentes para exploração e comércio de especiarias, pro curavam também
o domínio da terra, com a edificação de fortificações às margens de alguns dos rios da
região.

Um vulto de significativa expressão nessa formidável conquista destacase dos demais.


Tratase de um remanescente das tropas comandadas por Francisco Caldeira Castelo
Branco. Seu nome: Pedro Teixeira. Sua consagração histórica: O Conquistador da
Amazônia. Em 28 de outubro de 1637 partiu de Cametá, na margem esquerda do
Tocantins, para uma ousada aventura de dois anos e 44 dias. Comandando 87 soldados
lusobrasileiros e 300 índios paraenses, flecheiros e remeiros, todos embarcados em 45
canoas, o Capitão Pedro Teixeira subiu o rio Amazonas até a localidade de Quito, no
Equador. Durante o longo percurso, lutou, derrotou e expulsou contingentes estran geiros
que procuravam fixação em pontos estratégicos da calha do Rio Mar. Descobriu, efetuou
reconhecimentos e deu nome aos principais tributários do rio Amazonas. Fundou, após
vencer os índios Encabellados, na confluência dos rios Napo e Aguarico, atual fronteira
PeruEquador, o povoado lusobrasileiro, a Franciscana, distante 1200 léguas de Belém ,
para assinalar os limites das coroas de Portugal e Espanha, desde 1580 unidas sob a
majestade do rei da Espanha.

Pouco após o retorno da expedição a Belém, Portugal tornouse independente da Espanha


e senhor de uma verdadeira Colônia Continente, graças a esta expedição e às de outros
bandeirantes como Raposo Tavares, que atingiu Belém 11 anos após, descendo o rio
Amazonas pelo Madeira, proveniente de São Paulo. Os resultados obtidos pela expedição
Pedro Teixeira serviram, mais tarde, como primeiro argumento da doutrina do Utipossidetis
que fundamentou o Tratado de Madrid de 1750 e que viria a confirmar a conquista
lusobrasileira.

É importante ressaltar que Pedro Teixeira também se destacou nas lutas para reduzir e
pacificar os índios Tupinambás que amea çaram a conquista portuguesa de Belém e de
outras localidades litorâneas entre esta e São Luís, como Cumã e Caités. Nestas lutas ra
tificou a sua condição de chefe militar astuto e audacioso, quando demonstrou de forma
plena que a mais eficiente forma de se combater a ação tipicamente guerrilheira
tupinambá era também empregar a técnica da guerrilha.

Pedro Teixeira foi nomeado CapitãoMor do Grão Pará, função equivalente, hoje, a de
Comandante Militar da Amazônia. Vítima de rápida e insidiosa moléstia veio a falecer em
Belém, em 1641. Seus restos mortais permanecem na Catedral Metropolitana de Belém,
erguida no século XVII, na mesma área em que foi construído o Forte do Presépio,
atualmente denominado Forte do Castelo.1

Para deslocar o Meridiano de Tordesilhas da foz do Amazonas para os contrafortes dos


Andes, retificando àquela época a geopolítica do mundo, Pedro Teixeira se valeu,
sobremaneira, das técnicas da guerra de guerrilhas. Pela forma como conduzia suas
operações ribeirinhas, quase sempre enfren tando efetivos superiores, e pelo emprego
descentralizado de suas frações em ações sempre caracterizadas pela surpresa, o
Capitão Pedro Teixeira pode ser considerado um precursor das ações das "Companhias
de Emboscadas" que celebrizaram Antonio Dias Cardoso, André Vidal de Negreiros,
Henrique Dias e Felipe Camarão na memorável Insurreição Pernambucana, movimento
nativista que expulsou os holandeses da região nordeste do Brasil e se notabilizou como
um dos mais importantes eventos da formação da nacionalidade brasileira.

Mas a ocorrência da guerra de guerrilhas na história da Amazônia Brasileira tem outro


episódio altamente significativo na formação do Estado Independente do Acre.

A exploração e a prosperidade do comércio da borracha levaram grande efetivo de


brasileiros, principalmente nordestinos, à região do Acre, uma faixa de terra que, desde
1867, estava cedida à Bolívia pelo Tratado de Ayacucho. Recusandose a aceitar a autori
dade boliviana sobre a região, os brasileiros criam um verdadeiro território independente e
exigem sua anexação ao Brasil. Os bolivi anos reagem e em contrapartida fundam em
janeiro de 1889 a localidade de Puerto Alonso (hoje, Porto Acre). Em maio do mesmo ano,
os brasileiros, através de ação armada, expulsam os bolivianos e ocupam a localidade. Em
julho de 1899, com o apoio dos seringueiros e do governo do Estado do Amazonas, Luís
Galvez Rodrigues proclama a República do Acre. Todavia, o governo brasileiro é obrigado
a reprimir tal intenção, tendo em vista a manutenção dos compromissos em vigor. Em
1901, a Bolívia assina o Tratado de Aramayo, arrendando a região ao The Bolivian
Syndicate of New York, que recebe autorização de cobrar impostos, explorar a borracha e
efetuar mineração. A situação se torna crítica e; em agosto de 1902, uma força de
guerrilha brasileira com pouco mais de 2 000 homens, sob a liderança de José Plácido de
Castro, inicia uma insurreição vitoriosa. Este gaúcho de 26 anos adaptou às condições da
selva amazônica a tática ágil e de grande mobilidade das guerrilhas que praticara, a
cavalo, nas coxilhas do Rio Grande, na Revolução Federalista.

Em janeiro de 1903, após acirrados combates, as forças bolivianas são definitiva mente
derrotadas e batem em retirada. Plácido de Castro é aclamado governador do Estado
Independente do Acre. Em 17 de janeiro de 1903, numa vitória diplomática do Barão do
Rio Branco, é assinado o Tratado de Petrópolis. O Brasil compra a região, da Bolívia, por
dois milhões de libras esterlinas, compromentendose a construir a estrada de ferro
MadeiraMamoré e a indenizar o Bolivian Syndicate com 110 mil libras esterlinas. Em 25 de
fevereiro de 1904, o Estado Independente do Acre é dissolvido, sendo incorporado à
Federação Brasileira como Território Federal do Acre.

Numa análise de maior profundidade é possível verificar que Plácido de Castro conjugou,
no campo da estratégia geral, com rara habilidade e compreensão, os fatores fisiográficos,
políticos, econômicos e sociais que desembocaram na luta armada. Em suas operações
militares, aplicou estratégia de genuína inspiração napoleônica, dentro dos clássicos
princípios da arte da guerra, numa movimentada campanha de guerrilhas, com reduzidos
efetivos, adaptando perfeitamente a conduta das operações às condições meteorológicas
e ao terreno.2

Ficam assim registrados dois exemplos históricos de campanhas militares ama zônicas de
grande significado político estratégico, de enorme conotação patriótica, onde a técnica da
guerra de guerrilhas foi de fundamental importância.

E, como veremos a seguir, ao focalizarmos as situações mais recentes em que forças


regulares brasileiras se viram envolvidas com a guerra de guerrilhas na região amazônica,
poderemos concluir que os ensinamentos colhidos nas campanhas conduzidas por estes
extraordinários Pedro Teixeira e Plácido de Castro permanecem extremamente válidos,
atualizados e com grande probabilidade de serem empregados no futuro, se necessário for
defender os interesses vitais do Brasil na Amazônia

1- A Conquista da Amazônia - Major Claudio Moreira Bento


2- Plácido de Castro - 2ª Parte "Operações Militares no Acre" P. J. de Mallet Joubim -
Revista do Instituto de Geografia e História ilitar do Brasil - 1º Semestre de 1977 -
Volume LVIII nº74
TOA - GUERRILHA NA AMAZÔNIA: A EXPERIÊNCIA DOS ANOS
70 PARTE 2
GUERRILHA NA AMAZÔNIA: UMA EXPERIÊNCIA NO PASSADO, O
PRESENTE E O FUTURO
AAA

GUERRILHA NA AMAZÔNIA:
UMA EXPERIÊNCIA NO PASSADO,
O PRESENTE E O FUTURO
(matéria em três partes)
Publicado em DefesaNet originalmente em Novembro de 2005

Cel Alvaro de Souza Pinheiro (*),


do Exército Brasileiro

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Parte 2 A Guerrilha do Araguaia Link
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Nota: O Série de artigos "Guerrilha na Amazônia: uma experiência no
passado, o presente e o futuro", foi produzida como uma posição do
Exército Brasileiro referente à Amazônia, nos anos 90.
O seu autor, na época Coronel de infantaria, atuava como oficial de
ligação do Exécito Brasileiro junto ao Centro de Armas Combinadas e à
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército dos EUA, apresenta uma
visão abrangente e relata com detalhes dois pontos importantes a
Guerrilha do Araguaia (Parte 2) e a Ação do Rio Traíra (Parte 3).
Hoje, no posto de General de Brigada (reserva) escreve sobre assuntos
militares com vários artigos publicados em DefesaNet
Artigo publicado originalmente na:
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2 - A Experiência dos Anos 70 A Guerrilha do Araguaia


Ensolarada manhã amazônica em novembro de 1970. Uma aeronave Albatrós SA16, da
Força Aérea Brasileira, entra na final para o lançamento de pára-quedistas sobre o rio
Tocantins, em frente à localidade de Marabá, Estado do Pará. A 7 000 pés(2.300m) de
altura, doze homens do então Destacamento de Forças Especiais da Brigada
Aeroterrestre se lançam ao espaço num arrojado salto livre operacional, considerando-se
as reduzidas dimensões da área de salto, um pequeno banco de areia no meio do rio.
Após um retardo de 30 segundos, abrem seus pára-quedas e o líder da equipe libera de
seu equipamento uma bandeira do Brasil. A equipe aterra, rapidamente se reorganiza, e
em passo acelerado conduz a bandeira até uma embarcação da Marinha, onde um
tenente fuzileiro naval a recebe dos pára-quedistas. O navio-patrulha fluvial se desloca da
ilha para o porto da cidade. Lá, o fuzileiro, sempre de forma solene, desembarca e passa a
bandeira a um tenente de um dos Batalhões de Infantaria de Selva do Comando Militar
da Amazônia (CMA). Devidamente escoltado por uma guarda de honra, o infante de selva
se dirige à principal praça da cidade onde passa a bandeira a um estudante de uma escola
pública que, ao som do Hino Nacional, procede ao hasteamento do Pavilhão Nacional.

Esta solenidade de grande significado cívico, assistida por milhares de habitantes daquela
progressista cidade paraense, materializou o término daquela que foi a primeira grande
operação militar realizada pelas forças armadas brasileiras na Amazônia, a Operação
Carajás 70.

Empregando efetivos das três forças singulares, e contando com a participação de várias
unidades não sediadas na Amazônia, a Operação Carajás 70 vivenciou um quadro de
contra-guerrilha em ambiente de selva, e se constituiu num excelente adestramento
conjunto. Todavia, mais do que atingir um objetivo de adestramento, aquela manobra teve
como principal finalidade uma ação de presença e de dissuasão, tendo em vista que,
àquela época, os indícios da presença de um foco de guerrilha rural na região conhecida
como "Bico do Papagaio" (fronteira entre os Estados do Maranhão, do Pará e de Goiás)
tornavam-se cada vez mais intensos.

Realmente, cerca de um ano e meio depois, em abril de 1972, os órgãos de informações


confirmavam a existência desse foco na região das localidades de Marabá/PA e
Xambioá/GO (atualmente estado de Tocantins). O então ilegal Partido Comunista do
Brasil (PC do B), de orientação maoísta, ali instalara uma área de treinamento visando o
posterior desenvolvimento de uma zona liberada.

A Força de Guerrilha do Araguaia (FOGUERA), como se auto-intitulou o movimento


revolucionário, foi patrocinada por grande soma de recursos proporcionados pelo
Movimento Comunista Internacional, a maioria dos quais provenientes da Albânia. O
comprometimento do Partido Comunista da Albânia com a FOGUERA era de tal ordem
que todos os dias, às 21:00 h, hora local de Xambioá, um programa com uma hora de
duração, em língua portuguesa, ia ao ar pelas ondas curtas da Rádio de Tirana. Tratava-
se de uma programação especificamente dirigida ao movimento do Araguaia, e os fatos
mais recentes ocorridos na área eram transmitidos sempre dando uma conotação heróica
à atuação da guerrilha. Havia uma rede rádio de longo alcance integrando a força de
guerrilha, uma estação intermediária e Tirana. Desmantelar esta conexão rádio foi um dos
primeiros desafios superados com sucesso pelos órgãos de informações e segurança.

A área selecionada pelo PC do B mostrava-se extremamente adequada para a ação


subversiva. Tratava-se de uma região onde as condições de vida da população eram
bastante precárias. A ação dos governos estadual e municipal pouco se fazia presente. A
rede hospitalar e o estado sanitário eram altamente deficientes. A malária e a leishmaniose
eram endêmicas e grande parte da população era anêmica e infestada de verminose. Não
havia água tratada e muito menos rede de esgotos nas localidades. A base econômica da
região era o extrativismo vegetal, sendo a coleta da castanha, no inverno, e o corte da
madeira, no verão, as principais atividades. A agricultura era basicamente de subsistência
com roças de milho, mandioca e arroz. A qualidade de vida da população era realmente
muito baixa.

Por outro lado, a posição da área próxima a importantes eixos rodoviários era extrema
mente favorável porque a região recebia um considerável número de novos colonos e isto
permitia o ingresso de reforços sigilosamente. No campo militar, a escolha do local foi
muito inteligente, porque a região englobava território de dois Comandos Militares de Área,
o da Amazônia e o do Planalto. E tal fato ao início das operações provocou problemas de
coordenação e controle, constituindo-se em vantagem para a força de guerrilha.

Em maio de 1972, quando efetivamente se iniciaram as operações militares, a FOGUERA


contava com um efetivo aproximado de 80 guerrilheiros, dos quais cerca de 15 eram
mulheres. O movimento era organizado em um Birô Político, uma Comissão Militar e três
Destacamentos, cada um com três Grupos de 8 a 10 guerrilheiros.

O Birô Político era o órgão de cúpula do PC do B, àquela época dissidente do Partido


Comunista Brasileiro (PCB) que seguia a orientação soviética, enquanto o PC do B seguia
a linha chinesa. Adotando os princípios preconizados por Mao Tse Tung, o PC do B
idealizava a eclosão de um movimento de guerrilha em área rural que, após o recebimento
do devido apoio da população rural, seria estendido aos centros urbanos. Os componentes
do Birô Político raramente estavam na área, mas orientavam e acompanhavam
cerradamente tudo o que se passava. Todas as decisões da Comissão Militar ficavam
subordinadas à aprovação do Birô Político.

A Comissão Militar se constituía no comando da FOGUERA. Suas atribuições eram


planejar, coordenar e conduzir as ações da força de guerrilha. Esta liderança, bem como
os demais elementos em função de comando nos Destacamentos e Grupos, era na sua
quase totalidade constituída por quadros com cursos de guerrilha no exterior, notadamente
em Pequim, Tirana e Havana.

Subordinados à Comissão Militar estavam os três Destacamentos, verdadeiros elementos


de manobra da FOGUERA: o de Faveiro, mais ao Norte, com área de atuação próxima à
rodovia Transamazônica; o da Gameleira, ao centro; e o de Caiano, mais ao Sul. Estes
Destacamentos operavam de forma compartimentada, não tomando conheci mento das
ações planejadas e conduzidas pelos demais, por questões de segurança. O sub-
comandante do Destacamento exercia as funções de Comissário Político, empenhando-se
no trabalho de elevação do nível político e da conscientização ideológica. O sistema de
comando e controle da Comissão Militar sobre os Destacamentos era baseado na
"cobertura de pontos", com local, data e hora predeterminados, e estabelecidos de modo
absolutamente compartimentado, de modo a assegurar a manutenção do sigilo. Este
sistema fazia do guerrilheiro preso vivo a mais eficiente fonte de informações para a ação
repressiva.

Subordinados aos Destacamentos estavam os Grupos de Fogo, num total de nove e que
se constituíam nas frações elementares básicas da força de guerrilha. Sua autonomia era
extremamente restrita e operavam sob rígido controle dos Comandantes de
Destacamento.

Na sua grande maioria, os elementos pertencentes à FOGUERA foram recrutados pelo PC


do B junto aos meios universitários dos grandes centros urbanos de Fortaleza/CE,
Salvador/BA, Rio de Janeiro/RJ e São Paulo/ SP. Uma boa parte já estava vivendo na
clandestinidade e comprometida com ações de terrorismo urbano.

O treinamento da guerrilha era efetuado procurando-se atingir basicamente dois objetivos,


um de caráter prático e ou outro, teórico. A parte prática era dirigida à preparação do
combatente individual e das frações elementares para o combate em ambiente de selva.
Destacavam-se as instruções de orientação, emboscadas, e explosivos e destruições com
material improvisado. A parte teórica tinha como objetivo específico o fortalecimento da
conscientização ideológica dos integrantes da FOGUERA. E há que se reconhecer que, de
uma maneira geral, o moral e a crença na causa eram elevados. Além do treinamento
militar, os grupos eram também empenhados no "trabalho produtivo", sobretudo na roça,
tendo como finalidade maior o seu auto-ressuprimento.

Junto à população rural local, os guerrilheiros desenvolviam uma ação psicológica


denominada "trabalho de massa", com o objetivo de obter o seu apoio. O resultado desse
trabalho frutificou em algumas áreas com a organização de uma força de sustentação.
Mas em nenhum momento, a FOGUERA conseguiu recrutar elementos da população local
que estivessem dispostos a combater, integrando efetiva mente a força de guerrilha.

Na verdade, a FOGUERA era uma força de guerrilha em estágio inicial, ainda incipiente.
Seu armamento se resumia a armas curtas, armas de caça e alguns fuzis obtidos de
ações isoladas contra postos da Polícia Militar do Pará. Um dos mais graves equívocos
cometidos pelas forças federais foi iniciar as operações desencadeando ações que são
normalmente efetuadas contra forças de guerrilha já nos seus estágios finais de
organização e construção, quando já prontas para seu emprego em combate

A ação de repressão da força legal pode ser dividida em três fases, quais sejam: a 1ª fase,
de abril a outubro de 1972; a 2ª fase, de abril a agosto de 1973; e a 3ª fase, de setembro
de 1973 a março de 1975

A primeira fase foi caracterizada pelo emprego em massa de tropa. Em agosto de 1972, o
efetivo chegou a ser de 1 500 homens. Fundamentalmente, foram instaladas duas bases
de combate de valor batalhão, uma em Marabá e a outra em Xambioá. E no interior da
área de operações foram instaladas seis bases de combate de valor companhia.

Nesta fase verificou-se a ocorrência de uma série de equívocos dentre os quais destacam-
se:

Concepção equivocada nos níveis operacional e tático. O planejamento e a condução


das operações inicialmente desencadeadas no "Bico do Papagaio" partiram do
pressuposto que as ações de contra-guerrilha a serem executadas seriam aquelas que
normalmente são desencadeadas contra forças já no estágio de Exército de Libertação
Nacional, to tipo "martelo-bigorna", "pistão-cilindro", etc. Uma das primeiras operações
efetuadas na área foi uma ação de vasculhamento na única serra existente na região, a
serra das Andorinhas, que se caracterizava por não ter cobertura vegetal. Após ser
bombardeada com napalm pela Força Aérea, a serra foi objeto de uma vigorosa ação de
cerco e busca efetuada por um grande efetivo. E o resultado foi nulo porque os
guerrilheiros nunca lá estiveram. Por outro lado, no terreno de selva, as patrulhas se
deslocavam com um efetivo de pelotão, 35 a 40 homens, pelas trilhas, enquanto os grupos
da guerrilha se deslocavam através selva, com um efetivo de 5 a no máximo 10
elementos. Dessa forma as ações iniciais se mostraram extremamente ineficazes.

Falta de unidade de comando. Provocada, sobretudo, pelo fato de que a base de


combate de Marabá estava sob o controle do Comando Militar da Amazônia, enquanto a
de Xambioá estava sob o do Comando Militar do Planalto (CMP). Uma simples solicitação
de evacuação aeromédica provocava um complexo problema de coordenação.

Informações deficientes sobre o terreno e o inimigo. Não havia cartas nem fotos
aéreas da região de operações em escala compatível. O desconhecimento do terreno era
enorme. As patrulhas se deslocavam somente pelas trilhas, enquanto os guerrilheiros,
profundos conhecedores do terreno, sempre através selva. Não se conhecia o dispositivo
e a composição da FOGUERA. As informações sobre o valor eram extremamente difusas.
Com relação às atividades recentes e atuais, e peculiaridades e deficiências, praticamente
nada.
Grande diversidade de unidades empregadas e deficiências no adestramento.
Unidades de diferentes pontos do território nacional foram empregadas nesta fase.
Algumas delas com graves deficiências no adestramento em operações de contra
guerrilha em ambiente de selva. Muitas delas com efetivos constituídos por soldados
recrutas que, além da imaturidade psicológica, não tinham ainda completado nem a
metade do ano de instrução. Inúmeras baixas ocorreram pela execução de disparos
acidentais e por disparos equivocadamente realizados quando do encontro inadvertido
entre patrulhas na selva.

Falta de continuidade nas operações. Diferentemente da força de guerrilha que já


estava na área há algum tempo e lá permanecia, a tropa era empregada por períodos
predeterminados, não mais de 20 dias, findos os quais retornava à sua sede, sem ser
substituída. Esta descontinuidade trazia enormes prejuízos para as operações e graves
reflexos negativos sobre a população.

Apesar de todas estas deficiências, há que se ressaltar dois aspectos positivos na 1ª fase.
O primeiro é que foi possível fazer da ordem de 15 baixas na força de guerrilha. E o
segundo é que houve uma conscientização geral em todos os escalões de comando sobre
a gravidade da situação no "Bico do Papagaio".

Em outubro de 1972, foi decidido em Brasília, pelo mais alto escalão da Força Terrestre,
interromper as operações.

A 2ª fase foi planejada levando-se em consideração todos os ensinamentos colhidos na 1ª


fase. E assim foi determinado que seria necessário o desencadeamento de uma operação
de inteligência visando o levantamento detalhado da FOGUERA, do terreno, e da
população local. Esta operação de inteligência, que foi denominada "Operação Sucuri", foi
planejada nos seus mínimos detalhes e cuidadosamente desencadeada. E os seus
resultados foram excepcionais, tendo sido possível atingir plenamente todos os objetivos.

E fruto das informações obtidas na "Operação Sucuri" ficou muito claro para o escalão
superior que o problema não poderia ter apenas uma solução militar. Haveria necessidade
de se integrar a ação de diversos órgãos governamentais civis de nível federal e estadual,
para que se efetuasse a eliminação completa do foco subversivo.

A 3ª fase, que se denominou "Operação Marajoara", foi desencadeada imediatamente


após a conclusão dos levantamentos efetuados na "Operação Sucuri". A unidade de
comando ficou perfeitamente definida, cabendo ao CMA o exercício pleno do comando e
controle, inclusive das diversas agências governamentais federais e estaduais civis
envolvidas.

Foram selecionados efetivos profissionais das mais bem adestradas unidades de infantaria
de selva e dos batalhões de infantaria pára-quedista. Um rigoroso programa de
adestramento foi conduzido tanto nas sedes quanto na área, enfatizando-se, sobretudo, o
exercício da liderança nos diversos escalões.

Três bases de combate foram instaladas, uma em Marabá, onde se encontrava o principal
posto de comando da operação; uma em Xambioá, e outra em Bacaba, às margens da
rodovia Transamazônica. Foi estabelecido um eficiente e seguro sistema de comunicações
que permitiu o funciona mento do sistema de comando e controle em muito boas
condições. Da mesma forma, foi estabelecido um eficiente sistema de apoio logístico que
levou em consideração as características altamente especiais da missão e do ambiente
operacional.

Todo o efetivo envolvido, inclusive o pessoal da Força Aérea, passou a operar


descaracterizado, em trajes civis. Como "estória de cobertura", a tropa atuava como se
fossem elementos pertencentes aos quadros da Política Federal. Esta decisão foi tomada,
principalmente, a fim de negar o reconhecimento de que efetivos das forças armadas
estavam sendo empregados num problema de defesa interna dessa natureza.

As patrulhas passaram a operar com o efetivo de 5 a 10 homens, compatível com o poder


de combate do inimigo interno em presença. E também passaram a contar com o
considerável reforço de habitantes locais selecionados que atuavam como "guias" e/ou
rastreadores". Há que se ressaltar que a atuação destes elementos foi decisiva para a
obtenção do pleno êxito na operação.

Mais uma vez se ratificava o ensinamento de que "guerrilha se combate com guerrilha".

Nesse contexto, cabe ressaltar o importante papel desempenhado pelos elementos da


então Companhia de Forças Especiais, os especialistas em guerra irregular, que estiveram
permanentemente envolvidos no combate à FOGUERA, desde o desencadeamento das
operações de informações, ainda na "Operação Carajás 70". Nesta fase, estes elementos
atuaram como multiplicadores de força, adestrando as unidades engajadas e preparando
as forças de autodefesa das comunidades locais, desencadeando operações de
informações e operações psicológicas junto à população local, e sendo empregados em
missões selecionadas de ação direta contra o inimigo interno.

Outro papel preponderante a ser ressaltado na consecução dos objetivos finais foi o
desempenhado pelos elementos da Força Aérea, particularmente pelos esquadrões de
helicópteros. Cumprindo missões de infiltração, exfiltração, ressuprimento e evacuação
aeromédica, estes elementos foram fator primordial para o êxito alcançado.

Assim, cerca de três anos após o início da ação repressiva, e tendo-se colhido uma grande
quantidade de importantes ensinamentos para todos os escalões, eliminava-se aquele que
foi o mais perigoso foco de guerrilha rural no Território Nacional.

TOA GUERRILHA NA AMAZÔNIA: A EXPERIÊNCIA DO RIO


TRAÍRA - PARTE 3
GUERRILHA NA AMAZÔNIA: UMA EXPERIÊNCIA NO PASSADO, O
PRESENTE E O FUTURO
AAA

GUERRILHA NA AMAZÔNIA:
UMA EXPERIÊNCIA NO PASSADO,
O PRESENTE E O FUTURO
(matéria em três partes)
Matéria Publicada Origalmente em DefesaNet Novembro 2005

Cel Alvaro de Souza Pinheiro(*),


do Exército Brasileiro

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Guerrilha na Amazônia: uma experiência no passado, o presente e o futuro
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Nota: O Série de artigos "Guerrilha na Amazônia: uma experiência no passado, o
presente e o futuro", foi produzida como uma posição do Exército Brasileiro
referente à Amazônia, nos anos 90.
O seu autor, na época Coronel de infantaria, atuava como oficial de ligação do
Exécito Brasileiro junto ao Centro de Armas Combinadas e à Escola de Comando e
Estado-Maior do Exército dos EUA, apresenta uma visão abrangente e relata com
detalhes dois pontos importantes a Guerrilha do Araguaia (Parte 2) e a Ação do Rio
Traíra (Parte 3).
Hoje, no posto de General de Brigada (reserva) escreve sobre assuntos militares
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múltiplos conflitantes aspectos que a caracterizam, conferindolhe uma problemática
política, econômica, psicossocial e militar altamente especial, delicada e sensível. O
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guerrilha vivenciadas na Amazônia, tentando estabelecer um paralelo entre o passado, o
presente e o futuro.
O Presente
12:00 horas de uma terça-feira, dia 26 de fevereiro de 1991. Cerca de 40 elementos que
se declararam guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias Comunistas (FARC) -
Comando Simón Bolívar - Facção Força e Paz, realizam uma incursão em território
nacional e atacam um Destacamento do Exército Brasileiro estacionado em instalações
semi-permanentes, às margens do rio Traíra, fronteira entre o Brasil e a Colômbia.

O ataque foi efetuado por três escalões, dos quais um, o de apoio de fogo, permaneceu na
margem colombiana, enquanto os outros dois, de assalto e de segurança, investiram o
acampamento. Inicialmente, com preciso fogo de atiradores de escol, foram eliminados os
sentinelas da hora, e a seguir, desen cadeado intenso fogo de armas automáticas contra
as instalações do Destacamento, cujos integrantes, surpreendidos, tentaram, sem
sucesso, reagir.

Em decorrência da ação, da guarnição de 17 homens, resultaram três soldados mortos e


nove feridos. Morreram também dois garimpeiros clandestinos colombianos que estavam
detidos no posto aguardando evacuação para Vila Bittencourt/AM.

Na finalização da operação, os guer rilheiros colombianos apropriaram-se de estações


rádio, munição, uniformes e todo o armamento do posto, conduzindo todo o material para
o seu território. Aparentemente, não sofreram baixas. Portavam armamento automático HK
5.56 mm e armas de caça calibre 12. Trajavam uniformes de cor verde claro e botas de
borracha do tipo "sete léguas". Faziam parte do comando atacante duas mulheres
identificadas como já tendo sido anteriormente presas no Destacamento.

A instalação do Destacamento Traíra foi uma decisão do Comando Militar da Amazônia,


autorizada pelo Sr Ministro do Exército, Comandante da Força Terrestre, para fazer face à
tumultuada situação reinante na região da Serra do Traíra/AM, provocada pela presença
de grande número de garimpeiros clandestinos brasileiros e, principalmente, colombianos,
que para lá se deslocaram após a desativação das instalações da Empresa de Mineração
Paranapanema, que detinha o alvará de pesquisa aurífera cedido pelo Governo Federal.

Em posteriores operações de inteligência ficou comprovado que a guerrilha colombiana


aliada a cocaineiros e garimpeiros clandestinos colombianos, e também contando com o
beneplácito de alguns índios corrompidos pela narcoguerrilha na região, procuravam as
regiões auríferas nos antigos garimpos abandonados da Cia Paranapanema, a fim de
obter recursos para suas ações subversivas. Dessa forma, a ação da guerrilha colombiana
foi efetuada como uma represália à ação repressiva desencadeada pelo Destacamenteo
Traíra.

Há que se ressaltar que a atuação do Destacamento Traíra, instalado sob a


responsabilidade do então 1º Comando de FronteiraSolimões/1º Batalhão Especial de
Fronteira (1º Cmdo Fron-Solimões/1º BEF), sediado em Tabatinga/AM, se limitava a uma
ação específica de manutenção da ordem, visando tão somente expulsar garimpeiros
colombianos de volta ao seu território, e impedir a vinda de garimpeiros brasileiros para a
área, até que o Governo Federal regularizasse a situação da lavra no local, provocada
pelo abandono da Empresa Parana panema.

O ataque das FARC contra o Destacamento Traíra foi uma ação inesperada, covarde,
traiçoeira e inusitada, em virtude da missão que o Destacamento cumpria, e de nunca se
ter tido notícia de fatos dessa natureza, desde a instalação, na Amazônia, dos primeiros
Pelotões de Fronteira do Brasil.

A ação de 26 Fev 91 das FARC no rio Traíra desencadeou o planejamento e a execução


de uma operação conjunta efetuada pelas Forças Armadas Brasileiras e Colombianas,
denominada "Operação Traíra". Esta Operação foi a principal conseqüência da Reunião
Extraordinária Regional Bilateral Brasil/Colômbia, com a participação, pelas forças
colombianas, de autoridades do Comando da IV División del Ejército Nacional de
Colombia, sediado em Vila Vicenzio/Col e, pelas forças brasileiras, de autoridades do
Comando Militar da Amazônia, sediado em Manaus/AM.

Esta Reunião estabeleceu vários Acordos Conjuntos e algumas Recomendações que,


basicamente, definiram que as respectivas forças se comprometiam a operar em seu
respectivo território, com o objetivo de manter a ordem e a tranqüilidade na região
fronteiriça. Ficou também estabelecido que as ações a realizar seriam coordenadas de
forma plena, em todos os níveis de planejamento, inclusive com o intercâmbio imediato e
contínuo de informações relacionadas com a subversão, o terrorismo e o narcotráfico,
visando a neutralização de qualquer ameaça que se apresentasse no respectivo território.
Foi também recomendado que os Exércitos do Brasil e da Colômbia promovessem
gestões junto aos seus respectivos governos no sentido de incrementar na área a
presença de organismos do Estado, orientados para a execução de atividades de
desenvolvimento comunitário.

No território nacional, o posto de comando instalado pelo CMA ficou em Vila Bittencourt,
sede de um dos Pelotões na fronteira com a Colômbia. No território colombiano, o posto
de comando ficou em La Pedrera/Província de Taraira.
Os resultados obtidos na "Operação Traíra" foram extremamente significativos. Pelo lado
colombiano, deve-se destacar a eficiente ação do Batalhão "Bejarano Muñoz", sediado em
La Pedrera/Taraira. Pelo lado brasileiro, o excepcional desempenho dos combatentes do
então 1º Batalhão Especial de Fronteira (1º BEF), hoje, 8º Batalhão de Infantaria de Selva
(8º BIS), sediado em Tabatinga/AM. Superando com estoicismo o trauma inicial que
enlutou a família tabatinguense, o 1º BEF, fundamentado numa liderança do mais alto
padrão em todos os níveis de comando, demonstrando um excelente grau de
adestramento, um moral e um espírito de corpo extraordinários, foi o grande responsável
pela ocorrência da eliminação de doze guerrilheiros integrantes do comando das FARC
que atacou o Destacamento Traíra, bem como pela prisão de inúmeros elementos de sua
rede de apoio, e pela recuperação de boa parte do material capturado quando da solerte
ação terrorista.

Há também que se destacar a efetiva participação dos elementos do tradicional "Batalhão


Amazonas", 1º Batalhão de Infantaria de Selva (1º BIS), sediado em Manaus, unidade de
elite do CMA que, como sempre, ratificou o seu excelente nível de preparo para as
operações em ambiente de selva.

Especial atenção deve ser dada também à atuação dos elementos da Reserva Estratégica
do Exército Brasileiro, sempre presentes nas situações de crise na Região Amazônica, das
Forças Especiais e da Aviação do Exército.

Mais uma vez foi ratificado que a presença dos especialistas em guerra irregular e
combate não-convencional do 1º Batalhão de Forças Especiais (1º BFEsp), sediado no Rio
de Janeiro, através da ação de um Destacamento de Ação Imediata, integrado por frações
de Forças Especiais e Ações de Comandos, se faz imprescindível ao comando da
operação, em situações dessa natureza.

Com relação à Aviação do Exército, há que se ressaltar que a "Operação Traíra" se


constituiu num marco histórico altamente significativo. Esta foi a primeira oportunidade em
que a então recém criada Brigada de Aviação do Exército (Bda Av Ex), sediada em
Taubaté/SP, se viu engajada numa operação real de combate na Região Amazônica, o
seu verdadeiro batismo de fogo. E o desempenho da Patrulha Ajuricaba, integrada por 4
helicópteros de manobra HM-1 Pantera, 2 helicópteros de reconhecimento e ataque HA-1
Esquilo, reforçados por pessoal de suprimento e manutenção, foi excepecional. Estas
aeronaves, inclusive, apoiaram, por solicitação do comando colombiano, as ações de
infiltração do comando colombiano, as ações de infiltração e ressuprimento das patrulhas
colombianas. E após o término da "Operação Traíra", uma seção, constituída por duas
aeronaves HM-1 e uma HA-1, permaneceu baseada em Vila Bittencourt, por mais de seis
meses, operando em apoio às ações do 1º BEF na região do Traíra. É importante ter em
mente que operar aeronaves de asa rotativa na Amazônia exige padrões de desempenho
especiais que ultrapassam em muito os exigidos para outras áreas. Quando se está em
presença de uma situação real de combate, estas demandas se tornam ainda mais
significativas, e tudo isso foi superado pelos elevados níveis de adestramento, motivação e
liderança dos integrantes da Aviação do Exército.

Também não se pode deixar de considerar a decisiva participação da Força Aérea


Brasileira (FAB). Além de apoiar oportunamente a concentração estratégica e o apoio
logístico com aeronaves C-130 Hércules e C-115 Búfalo, a FAB se fez representar no
posto de comando da operação por um oficial superior do VII Comando Aéreo Regional
(COMAR VII), sediado em Manaus, que desempenhou, no estado-maior constituído, as
funções de coordenador do apoio aéreo. A ele cabia a tarefa de planejar e conduzir o
emprego dos meios aéreos alocados à operação pelo Comando Geral do Ar (COMGAR).
Estes meios eram, basicamente, constituídos por duas aeronaves C-95 Bandeirante, de
reconhecimento aerofotogramétrico, seis helicópteros UH-1H e seis aeronaves de ataque
ao solo AT-27 Tucano, todas baseadas em Vila Bittencourt.
A "Operação Traíra" ratificou mais uma vez que, na Amazônia, sem o adequado e
oportuno apoio da Força Aérea, a Força Terrestre fica extremamente limitada nas suas
ações de combate, apoio ao combate e logísticas.

A Marinha do Brasil também se fez presente na "Operação Traíra", através da atuação de


um Navio Patrulha Fluvial da Flotilha do Amazonas (FLOTAM), sediada em Manaus, que
se deslocou para Vila Bittencourt, cooperando com o apoio logístico e incrementando a
segurança daquela região fronteiriça.

A insidiosa ação sobre o posto do Traíra, em fevereiro de 1991, registrou de forma


significativa a mais importante ameaça aos interesses vitais do Brasil na Amazônia, no
contexto da Defesa Externa, nos dias de hoje.

A atual problemática existente em diversas regiões do arco fronteiriço amazônico, da


Guiana Francesa à Bolívia, envolvendo com maior ou menor intensidade, questões
indígenas, garimpo clandestino, descaminho de recursos minerais, atividades de contra
bando e de tráfico de armas, problemas fundiários, e, principalmente, a forte conexão
existente entre a guerrilha alienígena e o narcotráfico criando o fenômeno da narco
guerrilha (particularmente no Peru e na Colômbia), ratifica a possibilidade da eclosão
latente de crises que tenham no seu escopo o desencadeamento de conflitos onde estará
em foco a defesa dos interesses vitais do Brasisl na Amazônia, particularmente, a
Soberania e a Integridade do Patrimônio Nacional.

Em novembro de 1991, outra operação de monta foi desencadeada pelo CMA para fazer
face às latentes ameaças provodadas pela ação das FARC, na fronteira com a Colômbia.
Esta operação denominada "Operação Perro Loco" foi realizada na região de Iauaretê/AM
e Querarí/AM, conhecida como "Cabeça do Cachorro". Empregou efetivos do 5º BIS,
sediado em São Gabriel da Cachoeira/AM, do 1º BFEsp, e uma Força de Helicópteros com
14 aeronaves da Bda Av Ex. A exemplo da "Operação Traíra", a "Operação Perro Loco" se
constituiu numa magnífica demonstração de operacionalidade dos elementos envol vidos,
atingindo de forma plena o seu grande objetivo que era dissuadir, de forma definitiva, a
execução de incursões por parte da narcoguerrilha colombiana naquela região.

Em atendimento às diretrizes emanadas do Estado-Maior do Exército (EME), no contexto


da Defesa Externa, coube ao Comando de Operações Terrestres (COTer) definir a
orientação do planejamento do emprego da Força Terrestre na defesa dos interesses vitais
do Brasil face a ameaças dessa natureza. E para esta definição, todos os ensinamentos
colhidos nas experiências da "Operação Traíra" e da "Operação Perro Loco" foram
significativamente considerados.

Dentre as mais significativas idéias preconizadas na atual concepção estratégica face a


conflitos dessa natureza está a sua adequada caracterização. Tratase de um conflito de
baixa intensidade, onde o inimigo, genericamente designado de "forças adversas", pode
apresentarse sob vários matizes-narcotraficantes, garimpeiros clan destinos, indígenas
apátridas, guerrilheiros com ou sem motivações ideológicas, aventureiros internacionais,
agentes de potências de fora do continente sul-americano infiltrados, ou mesmo uma
combinação desses elementos - pondo em risco a Segurança Nacional, nas regiões
fronteiriças amazônicas.

O grande objetivo político a ser atingido quando da eclosão de um conflito dessa natureza
é manter a Soberania e a Integridade do Patrimônio Nacional, não suspendendo as
operações até a definitiva expulsão das "forças adversas" do Território Nacional.

Quanto aos objetivos militares, estes podem ser sintetizados pelas ações de destruir as
"forças adversas" que atuarem no Território Nacional, e defender a população e o
Patrimônio Nacional.
Fundamentalmente, a ação da Força Terrestre crescerá de intensidade passando pelos
estágios de desencadeamento de ações preventivas, repressivas e operativas; e segundo
a seguinte gradação: operações de apoio aos órgãos da administração federal, estadual
ou municipal, operações de inteligência; operações contra as "forças adversas", e
operações de maior vulto, caso as "forças adversas" evoluam para estágios mais
desenvolvidos de organização.

A concepção estratégica de emprego da Força Terrestre face a situações dessa natureza


define que, apesar da ocorrência de ações operativas para a destruição das "forças
adversas", não será ativada a Estrutura Militar de Guerra, ou seja, tratase de uma situação
típica de nãoguerra.

Em termos de estrutura operacional, para fazer face a situações dessa natureza, está
preconizada a ativação, por parte dos Comandos Militares da Amazônia e do Norte (CMN),
mediante autorização do Sr Ministro do Exército, Comandante da Força Terrestre, de uma
Área de Conflito (AC). O estabeleci mento de AC, em termos de delimitação territorial,
deve estar restrito à área fronteiriça onde seja iminente ou esteja ocorrendo a ameaça. Em
termos de estrutura de comando, a AC deverá enquadrar uma Zona de Opera ções (ZOp)
e uma Zona de Apoio (ZAp). Esta organização tem como finalidade o estabele cimento
tanto de uma estrutura de comando e controle quanto a definição de responsa bilidade
territoriais.

A ZOp deverá ficar restrita à região onde se realizam as ações operativas de destruição
das "forças adversas". Esta região deverá abranger o espaço físico terrestre e aéreo
necessário à condução das operações. Em princípio, o comandante da ZOp deverá ser o
comandante do escalão diretamente responsável pela destruição das "forças adversas". E
o seu posto de comando deve estar localizado no ponto onde melhor se possa coordenar
e controlar as ações operacionais.

A ZAp deverá englobar a região onde as ações a realizar serão de caráter predomi
nantemente logístico. Em princípio, o posto de comando da ZAp deve estar localizado
junto à principal base logística instalada. Basicamente, o suprimento chega à ZAp por
meios aéreos (principalmente) ou fluviais de maior porte. Razão pela qual, normalmente, a
ZAp estará numa área onde exista um aeródromo de adequadas condições. Daí o
suprimento será transportado para a ZOp, normalmente, através do emprego de
helicópteros.

O valor da AC a ser estabelecida, por determinação do CMA ou do CMN, será função da


complexidade e da gravidade do problema a ser resolvido. Numa área onde o poder de
combate das "forças adversas" se apresente como ponderável, com parcelas significativas
de forças irregulares represen tativas da guerrilha e/ou do narcotráfico alienígena, em
princípio, a AC ativada deverá ser de valor Bda, cabendo o planejamento e a condução
das operações ao comandante de uma das quatro Brigadas de Infantaria de Selva
(dependendo da localização do conflito) estacionadas na Área Estratégica Amazônica.
Nesse caso, o comandante da brigada poderá designar um de seus comandantes de
batalhão, comandante da ZOp, e o seu E/4, comandante da ZAp. Caso o problema seja de
menor monta, e seja restrito à eliminação de um pequeno grupo que, episodicamente,
adentrou o Território Nacional, o CMA ou o CMN poderão determinar às suas brigadas
subordinadas o estabelecimento de uma AC de valor batalhão.

É importante ressaltar que o COTer tem antecipadamente definidas para os Comandos


Militares de Área interessados quais as áreas prioritárias onde, em função das
informações disponíveis, há uma maior probabilidade de eclosão de uma crise dessa
natureza. Dessa forma, é possível a orientação do esforço de preparação e de
planejamento para essas áreas prioritárias.
Como meios disponíveis para emprego nas AC ativadas estãos os meios de combate,
apoio ao combate e logísticos do CMA e do CMN; os meios de combate, apoio ao combate
e logísticos da Reserva Estratégica, destacandose os do Comando de Aviação do
Exército, os da Brigada de Infantaria PáraQuedista e os do Batalhão de Forças Especiais.
Além desses, estão disponíveis os meios de combate, apoio ao combate e logísticos da
Força Aérea Brasileira e da Marinha do Brasil, a serem definidos respectivamente pelo
Comando Geral do Ar (COMGAR - Nota recentemente alterado para Comando Geral de
Operações Aéreas) e pelo Comando de Operações Navais (CON). A esses meios poderão
ser acrescentados outros, dependendo da complexidade do problema a ser enfrentado,
requisitados de organizações civis governamentais (federais, estaduais ou municipais) ou
privadas, todos integrados sob o comando único da AC.

Assim, o Exército Brasileiro está dotado de uma adequada estrutura de preparação,


planejamento e condução de operações para fazer face às "forças adversas" que, indiscu
tivelmente, se constituem na mais latente ameaça a ser enfrentada no contexto da Defesa
Externa, na Área Estratégica Amazônica, nos dias de hoje.
O Futuro
Uma visão futura de situações que possam colocar em risco os interesses vitais do Brasil
na Amazônia nos permite antever que as ameaças atualmente existentes tenderão a
diminuir ou a aumentar, principalmente, como conseqüência do resultado que as nações
amigas vizinhas tiverem no seu esforço para vencer seus graves conflitos internos.

Todavia, fica muito claro que qualquer perspectiva otimista, a curto prazo, é absolutamente
irreal. A atual intensidade da presença da narcoguerrilha na Colômbia, no Peru e na
Bolívia é de tal ordem que não nos é permitido visualizar um "final feliz", nem a médio
prazo, apesar dos extraordinários esforços que vêm sendo desenvolvidos por estes
respectivos governos.

Assim, a perspectiva de combater "forças adversas" provenientes da narcoguerrilha


alienígena, em algumas regiões do arco fronteiriço amazônico, num contexto de Defesa
Externa, permanece presente, a curto e a médio prazos.

Por outro lado, ao se focalizar possíveis ameaças à garantia dos poderes constitu cionais
e à manutenção da lei e da ordem, numa visualização a curto e a médio prazos, não se
pode deixar de acompanhar com extrema atenção o desenvolvimento das questões
fundiárias que, em inúmeras regiões da Amazônia, podem levar a exacerbações que
desencadeiem conflitos provocados por reivindicações não atendidas dos chamados
"Movimentos dos SemTerra". Estes conflitos, que poderão ter ou não conotação
ideológica, podem exigir o emprego de força federal, ainda que eventualmente, no
combate contra "forças adversas", num contexto de Defesa Interna. A própria região do
"Bico do Papagaio" continua sendo potencialmente explosiva para o desencadeamento de
conflitos dessa natureza. Para prevenir a sua eclosão, muito mais que a presença da
expressão militar, o que se faz necessário é uma eficiente ação governamental,
coordenada a nível federal, estadual e municipal. Todavia, para fazer face, no futuro, a
situações dessa natureza, os comandos militares de todos os níveis mantêm
permanentemente atualizados os seus planejamentos de Segurança Integrada.

Mas, ao se efetuar qualquer análise prospectiva envolvendo aos questões de segurança


da Amazônia Brasileira, há que se considerar significativamente a atual conjuntura
internacional e as demandas produzidas pelo que se tem denominado de "Nova Ordem
Mundial". Neste novo sistema internacional, onde os Estados Unidos da América se
apresentam como a única superpotência econômica e militar, novos focos de tensão e
atrito passaram a eclodir, todos com relação direta a aspectos étnicos, religiosos e de
identidade nacional.

Nesse novo contexto, as questões ambientais têm se revestido de especial importância. E


sob a égide de um manto ecológicopreservacionista, os organismos de comunicação
social internacionais têm construído e divulgado uma imagem extremamente negativa a
respeito da Amazônia Brasileira. Nesse contexto de idéias, o mundo passou a assistir a
pronunciamentos como o do Presidente Miterrand que, na defesa do que entende ser uma
causa de fundamental importância para a humanidade, advoga a formação de organismos
supranacionais para policiar os governos das nações dos países subdesenvolvidos ou em
desenvolvimento sobre as questões ambientais. É a apresentação explícita do princípio do
devoir d'ingerence.

Não se constitui em escopo deste trabalho a discussão sobre a validade, a adequabili


dade, a oportunidade e a legitimidade da avaliação desta que pode vir a se constituir, no
futuro, na maior das ameaças externas aos interesses vitais do Brasil na Amazônia. Até
porque, o EME, órgão responsável pela formulação das políticas e concepções
políticoestratégicas, já definiu em diretriz estratégica específica que, para fazer face a
ameaça dessa natureza, que envolve a possibilidade da ocorrência de um conflito contra
uma força militar multinacional extracontinental dotada de um superior poder de combate,
há que se empregar, ao nível da Estratégia Operacional, a Estratégia da Lassidão ou da
Usura. Esta, por definição, "desenvolvese através de um conflito prolongado, de caráter
total, tendo na maioria das vezes, fraca intensidade, normalmente à base da guerrilha, e
busca obter a decisão pelo desgaste moral e o cansaço material. Nesta forma de atuar é
fundamental saber durar".

A adoção da Estratégia da Lassidão no nível Operacional pressupõe a adoção da Guerra


Irregular como principal forma de conduta de uma guerra convencional, na qual fica
evidente o desequilíbrio de poder de combate entre as nossas forças e as dos possíveis
oponentes. Implica na impossibilidade de fazer face ao invasor por meios convencionais
de atuação em força, quer ofensiva, quer defensivamente, devido à inferioridade de
recursos materiais e à grande disparidade na área científicotecnológica.

Seu grande objetivo será demonstrar ao invasor que o preço a pagar para manter o
domínio sobre determinada região não compensa os benefícios decorrentes. Há que se
ressaltar que o Exército Brasileiro é o único da América Latina a possuir o mesmo conceito
doutrinário de emprego das Forças Especiais que o Exército dos EUA. Este conceito
preconiza, basicamente, que os Destacamentos de Forças Especiais estabelecerão Áreas
Operacionais de Guerra Irregular (AOGI). A diferença entre as concepções norte-
americana e brasileira está no fato de que as Special Forces têm previsão de emprego
fora de seu território operando com populações estrangeiras no contexto de um Movimento
Revolucionário Patrocinado. Por outro lado, os nossos operadores de Forças Especiais
estabelecerão AOGI no contexto de um Movimento de Resistência, trabalhando com
comunidades brasileiras, quando da ameaça ou da ocorrência de uma invasão do nosso
território.

As ações da Lassidão se desenvolvem em dois planos, simultaneamente: o plano material


das forças militares e o plano moral da ação psicológica.

No plano material das forças militares, há que se enfatizar que, apesar de o combate a ser
conduzido estar fundamentado no in tenso emprego das ações típicas de guerrilha, não se
pretende transformar a força regular numa força de guerrilha. Para que forças regulares
sejam eficazes empregando as técnicas da guerra de guerrilhas não se faz necessário que
elas se convertam em forças de guerrilha. Isto seria um retrocesso inconcebível e preju
dicial para o desenvolvimento da campanha.

No plano moral da ação psicológica, há que se distinguir o trabalho a ser desenvolvido


sobre os diversos atores em presença. O objetivo será dar aos nossos combatentes e à
nossa população o devido suporte moral, que lhes permita conduzir uma campanha de
longa duração. Quanto ao invasor, há que se tendar desgastálo psicologicamente, pro
curando leválo a ceder pelo cansaço.
Há que se ter sempre em mente que o objetivo político a ser atingido, e a campanha não
deve ser concluída antes disso, é restabelecer a Soberania e a Integridade do Patrimônio
Nacional. E há que se desenvolver uma conscientização nacional de que tal objetivo só
será atingido com a retirada de todos os efetivos estrangeiros do território brasileiro.

Para que se possa efetuar um planejamento adequado, oportuno e coerente, também se


faz necessária a correta identificação dos centros de gravidade em presença. Tornase
muito claro que o centro de gravidade do invasor é a vontade nacional que lhe dá
respaldo. No momento em que, fruto do desgaste que venha ser infligido ao invasor, fique
caracterizado que o rendimento custo benefício não é compensador, ocorrerá o
enfraquecimento da vontade nacional, e este será o fator prepon derante para a retirada
das forças militares estrangeiras do território nacional.

Por outro lado, não podemos ignorar que os vazios demográficos, o desconhecimento da
área, a existência de fronteiras não vivificadas, o posicionamento marginal em relação aos
sistemas de circulação, enfim, a deficiência de integração de inúmeras regiões da
Amazônia aos centros de poder nacionais podem criar condições potenciais de risco de
fragmentação, com conseqüente perda do patrimônio nacional.

Não se pode esquecer também que a adoção da Lassidão pressupõe sacrifícios, que
serão impostos a toda a Nação, que ficará exposta ao poder do adversário que,
certamente, tentará quebrar a vontade nacional, principal insumo para a implementação
dessa estratégia. E este é verdadeiramente o ponto focal a ser desenvolvido: estabelecer
e consolidar a vontade nacional, desde já, em torno da defesa dos interesses vitais do
Brasil na Amazônia.
Conclusão
Os vestígios e as ruínas de inúmeras fortalezas e os preservados fortes artilhados com
velhos canhões de bronze são testemunhas de mais de 350 anos de lutas travadas pelos
nossos antepassados para conquistar e manter a Amazônia Brasileira. E o emprego das
técnicas da guerra de guerrilhas tem sido uma constante nessas lutas.

O ambiente de selva, a extensão territorial, a imensa faixa de fronteira, a rarefação


demográfica, a deficiência de transportes e a precariedade de comunicações, todos fatores
característicos daquela que, hoje, é a Área Estratégica de maior prioridade no território
brasileiro, têm contribuído para que esta singular forma de combater encontre naquele
ambiente operacional magníficas condições de condução.

Ao longo dos anos, tornouse muito claro que o vetor principal do desenvolvimento da
Amazônia tem sido a ação pioneira e desbravadora das Forças Armadas, as quais, sem
medir esforços e sacrifícios, sempre se fizeram presentes. E é, sobretudo, nos seus mais
remotos rincões que o Exército influencia de modo decisivo a formação e a consolidação
da nacionalidade das populações. E esta grandiosa missão de fortalecer a brasilidade nos
corações e mentes de cada cidadão, além de ter que manter incólumes milhares de
quilômetros de fronteiras, não é realizada sem sacrifícios, exigindo profissionais
integralmente compromissados com a real dimensão do que significa ser soldado na
Amazônia.

Mas a defesa dos interesses vitais do Brasil naquela área não é obra exclusiva dos
soldados da Amazônia. É uma responsabili dade de todos os brasileiros, militares e civis,
inclusive de outras regiões. E quando for o caso, todos, irmanados, se necessário
empregando a guerra de guerrilhas, irão defendêla, como o fizeram no passado, e o estão
fazendo no presente.

E nada poderá refletir melhor esta determinação na consecução das missões de


segurança e integração da Amazônia do que a frase do antigo chefe, Gen Rodrigo Otávio:
"Árdua é a missão de desenvolver e defender a Amazônia, muito mais difícil, porém, foi a
de nossos antepassados em conquistá -la e mantê - la!"

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