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RESUMO
O conceito deleuziano de dobra permite problematizar tanto a produção da
subjetividade – no sentido da constituição de determinados territórios existenciais –
quanto os modos de subjetivação, entendidos aqui como o processo pelo qual se produz
a flexão ou a curvatura de um certo tipo de relação de forças que resultam na criação de
determinados territórios existenciais em uma formação histórica específica. A dobra
exprime a invenção de diferentes formas de relação consigo e com o mundo ao longo do
tempo. Inicialmente nós vamos utilizar as próprias ferramentas do pensamento
deleuziano para situar o plano de imanência e o personagem conceitual que se atualizam
na criação do conceito de dobra. Num segundo momento, pretendemos mostrar como
este conceito se operacionaliza no debate contemporâneo sobre os processos de
subjetivação.
ABSTRACT
The deleuzian concept of fold allow us to think critically about the production of
subjectivity – in the sense of a constitution of determined existential territories – as well
as the modes of subjectification, understood like a process through witch will be
produced the flexion or the curbing of a certain type of power relationships that results
in the creation of specific existential territories in a particular historic formation. In
this sense, the fold expresses differents kinds of relationship with us and with the world
throughout the time. Initially we are going to use Deleuze’s own thought devices to
situate the plan of immanence and the conceptual personage that are actualized in the
creation of the concept of fold. After, we intend to demonstrate how this concept is
present in the contemporary debate of the processes of subjectification.
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Professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional da UFRGS
A dobra deleuziana: políticas de subjetivação
3. Resistência e criação
A partir do que vimos até aqui, podemos dizer que a importância do conceito de
dobra é justamente nos forçar a pensar e a resistir a um mundo que se dá como evidente,
plausível e previsível, mostrando que o mundo é uma obra aberta e permanentemente
inacabada. Ao expressar tanto um território subjetivo quanto o processo de produção
desse território a dobra afirma o próprio mundo como potência de invenção: nela é cada
vez o novo que se produz.
A dobra dá, portanto, visibilidade aos diferentes tipos de atualização da relação
consigo e com o mundo ao longo do tempo, mostrando as contingências e as
singularidades que marcam tanto a produção da subjetividade quanto os modos de
subjetivação. Sendo assim, é possível percorrer o artifício e as intensidades da
experiência subjetiva contemporânea, colocando em questão o que somos e qual é este
mundo, este período no qual vivemos, criando assim novas possibilidades de produção
de sentido.
Notas
1. O termo "capitalístico" foi forjado por Félix Guattari (1986) durante os anos 70 para
designar um modo de subjetivação que não se achava apenas ligado às sociedades ditas
capitalistas, mas que caracterizava também as sociedades, até aquele momento, ditas
socialistas, bem como as dos países do Terceiro Mundo, já que todas elas viveriam
numa espécie de dependência e contra-dependência do modelo capitalista. Por isso, do
ponto de vista de uma economia subjetiva, não haveria diferença entre essas sociedades,
pois elas reproduziriam um mesmo tipo de investimento do desejo no campo social.
6. Podemos pensar em alguns exemplos para entender o modo pelo qual essa gestão de
microconflitualidades se operacionaliza atualmente: na família, através da proliferação
dos manuais de orientação aos pais; na educação, por meio da implementação de uma
estratégia de “formação permanente”, e no trabalho, pela “flexibilização” (leia-se “fim”)
de uma legislação trabalhista.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BATESON, G. (1976) Pasos hacia una ecología de la mente. Buenos Aires: Carlos
Lohlé.
SCHÉRER, R. (2000) Homo Tantum. O impessoal: uma política. In: ALLIEZ, E. (org.)
Gilles Deleuze: uma vida filosófica. São Paulo: Editora 34.