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Não existe diferença entre os atores e os palhaços, Sávio.

Ambos precisam
passar uma imagem para o público. Ambos precisam saber suas falas. Ambos
precisam ter o poder de prender a atenção dos espectadores, dando o seu
recado e levando-os às lágrimas ou às gargalhadas.

Qto aos outros artistas, domadores, equilibristas, mágicos... eles estão mais
concentrados em fazer um bom trabalho, e muitas vezes esquecem que o
publico esta ali, presente. Mas não deixa de ser uma representação, não é
mesmo? Mudas, a maioria.

Quando o teatro encontra o circo


Crítica da peça Dar corda para se enforcar, do projeto Baú de Arethuzza do
grupo Os fofos encenam

O que não é ligeiramente disforme parece insensível – donde decorre que a


irregularidade, isto é, o inesperado, a surpresa, o espanto sejam uma parte
essencial da característica da beleza. O Belo sempre é estranho.

Baudelaire

A inquietação de Fernando Neves em trazer à cena espetáculos apresentados


em arenas circenses revela uma tentativa em investigar práticas teatrais que ao
longo do tempo foram se transformando e, vai além, ao abordar uma história do
teatro brasileiro muitas vezes renegada e cheia de lacunas. O grupo se propôs
a uma pesquisa da teatralidade circense de 1910 a 1950, período em que o circo
já se articulava com a produção teatral da época, apresentando um teatro que
se confundia com a prática circense, para desenvolver uma linguagem bem
particular e que foi modelo para as décadas seguintes.

O circo-teatro surgiu no Brasil na primeira década do século XX, com a


introdução de peças na parte final das apresentações. Com repertório formado
em geral por melodramas, comédias, burletas, os espetáculos resultavam de
adaptações de romances folhetinescos com assuntos diversos: mitologia,
religião, fatos do cotidiano. O circo-teatro foi durante muitos anos um dos mais
importantes veículos de difusão da arte teatral em lugares não alcançados pelas
companhias convencionais de teatro das grandes cidades. Foi também nesse
período que o teatro teve os melhores resultados nos espetáculos que se
propuseram a um misto de simbolismo e da velha comédia de costumes.
A pesquisa do grupo Os Fofos Encenam tem íntima ligação com o universo do
circo. Fernando Neves, o diretor de alguns espetáculos da companhia, é
descendente direto da família do Circo-Teatro Pavilhão Arethuzza, de quem
herdou as referências artísticas. O circo familiar foi fundando no final do século
XIX e encerrou suas atividades no final dos anos 1960. Passou por todas as
fases do circo: variedades, pantomimas, circo-teatro e pavilhão. Arethuzza
Neves foi uma das figuras mais emblemáticas do circo brasileiro. Seu pai,
Antônio Neves foi o fundador do Circo Colombo, e, como era esperado, ela
estreou nos picadeiros aos oito anos de idade em números de equilibrismo.
Fundou seu próprio circo e atuou no circo-teatro viajando pelo Brasil até o
formato seFIXAR no que ficou conhecido como pavilhão, tornando-se uma das
atrizes mais respeitadas da época. Montou e escreveu diversos textos e foi
nesse baú que Os Fofos buscaram as referências para a criação do projeto,
quatro textos do repertório do Circo Teatro Arethuzza e uma pantomima criada
por eles.

Dar corda para se enforcar encerra o projeto Baú de Arethuzza, que foi indicado
na categoria Inovação do Prêmio Shell, e que teve início com a pantomima Antes
do enterro do Anão, a burleta caipira Vancê não viu minha fia?, o melodrama
policial A ré misteriosa e o melodrama religioso A canção de Bernadete. Em
cena estavam Carlos Ataide, Cris Rocha, Eduardo Reyes, Erica Montanheiro,
Katia Daher, Marcelo Andrade, Paulo de Pontes, Stella Tobar e Zé Valdir.

O espetáculo foi baseado na chanchada, invenção brasileira, que fazia uso de


qualquer recurso para obter o riso da plateia. Dizia o que o público queria ouvir,
era de fácil aceitação e alcançou grande sucesso de público tanto no teatro como
no cinema. Outro desafio do grupo que por razões óbvias abusa de clichês,
alcançado notas quase pueris.

Com personagens que carregam na expressão verbal, a comédia apresenta os


tipos que caracterizam o gênero: o empregado em busca de ascensão social é
o herói lacrimejante que, lutando contra imposições sociais, faz um pacto com o
diabo para conseguir se casar com a mocinha ingênua e prometida a um rico
comerciante; vai ao patrão, o pai da noiva, pedir conselhos para conseguir o dote
e assim casar com a amada, mas sem revelar que o conselheiro da história não
passa de uma vítima do astuto funcionário.

O texto foi escrito em 1937, por José Joaquim da Silva e, como na época,
apresenta uma variação de títulos: Rapto de Fernanda, A cara do burro do
pai e A fuga da melindrosa. O autor do texto condena os procedimentos da
sociedade, satirizando os hábitos característicos da organização social e política
vigente, ao lado de um diálogo de eficaz comicidade. Uma dramaturgia que
propicia o desempenho dos atores, dando a este elemento uma hegemonia. O
grupo trabalhou aos moldes de uma montagem tradicional, mesclando
elementos difíceis de pensar para a década de 1930: uma sala de visitas é o
cenário fixo onde toda a peça é apresentada, com efeitos de luz que marcam a
cena e uma trilha sonora impecável. Cada espetáculo tinha que ser feito no prazo
máximo de duas semanas, exatamente como era feito no circo-teatro, o que
impôs aos atores novas abordagens em seus trabalhos. Com referências
explícitas a situações que permeiam o cotidiano de quem vive nas grandes
cidades e está acostumado com a rapidez da informação, a peça apresentada
pelos Fofos adquire uma sintonia no que diz respeito às inserções de situações
cotidianas da prática do teatro de grupo, quando uma das atrizes “sai” do ato
representativo e transfigura suas inquietações do fazer artístico, num jogo entre
o real e o ficcional.

Seria fácil para Fernando cair na tentação de apresentar um espetáculo


exatamente como era feito no circo-teatro, principalmente pelo fato de ter
crescido ouvindo histórias do circo, mas ele não o faz. A espera do momento
certo para retomar memórias da infância veio alinhada com a maturidade
profissional do diretor, que já havia experimentado os caminhos circenses com
a premiada peça A mulher do trem, ponto de partida da pesquisa do grupo sobre
o universo do circo-teatro e com reestreia marcada para setembro.

Dar corda para se enforcar fecha um projeto que apresentou um panorama do


teatro brasileiro do fim do século 19 e começo do século 20.

Ana Cristina Pinho é jornalista e produtora editorial nas Edições Sesc SP.

História do Circo
A magia do circo nos remete a algo incrível, nos fazendo viajar na alegria dos
palhaços, nas acrobacias dos malabares e na beleza das cores. Relatos trazem
que esta arte difundida no mundo todo exista desde a atinguidade.
Foto: David Petranker / Fotocommunity.com / Creative Commons 2.0

Na China foram encontradas pinturas com quase 5000 anos mostrando


contorcionistas, acrobatas e equilibristas. Os guerreiros chineses usavam a
acrobacia como forma de treinamento, já que isso exigia força, flexibilidade e
agilidade. Em 108 a.C, em uma festa em homenagem a alguns visitantes
estrangeiros, houve uma apresentação acrobática que encantou também ao
imperador, este então, determinou que apresentações como esta se repetiriam
todos os anos.

As pirâmides do Egito também trazem gravuras com malabaristas. Já em Roma


a história do circo foi um tanto quanto trágica. Por volta de 70a.c, surgiu o Circo
Máximo, que foi destruído em um incêndio. No lugar onde ficava instalado, foi
construído o Coliseu.

Circo no Brasil
Esta arte que encanta crianças e adultos surgiu no Brasil no século XIX, com
famílias vindas da Europa. Estas famílias se manifestavam em apresentações
teatrais. Os ciganos, vindos também da Europa, apresentavam-se ao público,
desmostrando habilidades como doma de urso e cavalos eilusionismo.

As manifestações artísticas eram de acordo com a aceitação do público, o que


não agradava, não era mais mostrado naquela determinada região. Algumas
atrações foram adaptadas ao estilo brasileiro. O palhaço europeu, por exemplo,
era menos falante, usando a mímica como base, já no Brasil, o palhaço fala
muito, utilizando de comédia sorrateira, e também de instrumentos musicais,
como o violão.

O público brasileiro gosta das atrações perigosas, como os malabares em


trapézios e domadores de animais ferozes. O uso de animais em circo é
um assunto polêmico, pois muitas vezes esses animais sofrem de maus tratos.

Atualmente, as atrações circenses são mais modernas e trazem muitas


novidades tecnológicas, exemplo disso é o Cirque du Soleil.

Circo Contemporâneo
Hoje, o circo também tem uma ramificação que é o circo contemporâneo, que
é aprendido em escolas, não só de pai para filho como antigamente. O primeira
escola de circo surgiu no Rio de Janeiro em 1982, chamada Escola Nacional
de Circo. Nesta escola, jovens aprendem as técnicas circenses e quando
formados, criam grupos e passam a se apresentar ao público.

Hoje a Nau de Ícaros, o Teatro de Anônimo, o Circo Escola Picadeiro, o Linhas


Aéreas, a Intrépida Trupe, os Parlapatões, o Circo Mínimo, os Acrobáticos
Fratelli, Patifes e Paspalhões, fazem parte do Circo Contemporâneo Brasileiro.

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