Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
Eletricidade Básica
2
Eletricidade Básica
eletricidade
UnicenP, básica / Nestor Cortez SaavedraFilho. – Curitiba : PETROBRAS :
2002.
50 p. : il. (algumas color.); 30 cm.
Apresentação
5
Eletricidade Básica
Sumário
1 PRINCÍPIOS DA ELETRICIDADE ................................................................................. 7
1.1 O que é Eletricidade? ................................................................................................ 7
1.2 Processos de Eletrização........................................................................................... 8
1.3 Interações entre cargas elétricas: força e campo elétrico ......................................... 11
1.4 Trabalho e Potencial Elétrico ................................................................................. 12
1.5 Corrente Elétrica ..................................................................................................... 13
1.6 Força Eletromotriz .................................................................................................. 14
1.7 Resistência Elétrica: Leis de Ohm .......................................................................... 14
1.8 Associação de Resitores ......................................................................................... 16
1.9 Leitura de Resistores – Código de Cores ............................................................... 16
2 PRINCÍPIOS DE ELETROMAGNETISMO ................................................................. 18
2.1 Magnetismo ............................................................................................................ 18
2.2 Interação entre corrente elétrica e camp o magnético: Eletromagnetismo .............. 19
2.3 Cálculo da Intensidade do Campo Magnético ........................................................ 19
2.4 Campos Magnéticos na Matéria ............................................................................. 21
2.5 Fluxo Magnético ..................................................................................................... 22
2.6 Indução Eletromagnética ........................................................................................ 23
3 ELETROMAGNETISMO: APLICAÇÕES .................................................................... 25
3.1 O Gerador de Corrente Alternada ........................................................................... 25
3.2 Geradores Polifásicos ............................................................................................. 27
3.3 Gerador de Corrente Contínua....... ......................................................................... 28
3.4 Corrente Alternada x Corrente Contínua ................................................................ 29
3.5 Transformadores ..................................................................................................... 30
3.6 Capacitores ............................................................................................................. 30
3.7 Indutores ................................................................................................................. 32
3.8 Capacitores, Indutores e Corrente Alternada .......................................................... 33
3.9 Potência em Circuitos CA ...................................................................................... 34
3.10 Circuitos Trifásicos ................................................................................................. 35
4 COMPLEMENTOS ........................................................................................................ 37
4.1 Medidas Elétricas ................................................................................................... 37
4.2 Unidades de Medidas ............................................................................................. 39
6 EXERCÍCIOS ................................................................................................................. 40
Eletricidade Básica
Princípios da
Eletricidade 1
1.1 O que é Eletricidade? de experiências feitas em 1906. Mas como este
Embora os fenômenos envolvendo eletri- modelo
tureza daajuda nossa compreensão sobre a na-
eletricidade?
cidade fossem conhecidos há muito tempo (to-
dos já devem ter ouvido falar da famosa expe- Freqüentemente, falamos em “carga elé-
riência do americano Benjamin Franklin sol- trica”. O que vem a ser isto? Suponha que você
tando pipa em um dia de tempestade), somen- tem um corpo “carregado com carga negati-
te durante o século XIX, investigações, mais va”. Considerando que, as cargas que conhe-
científicas foram feitas. Faremos, então, uma cemos são aquelas representadas nos átomos,
breve discussão sobre os fenômenos elétricos. os prótons (positivos) e os elétrons (negativos),
Hoje sabemos que a explicação da natu- então, um corpo com “carga negativa”, na ver-
reza da eletricidade vem da estrutura da maté- dade, é um corpo em cujos átomos há um maior
ria, os átomos. Na figura 1, vemos um esboço número de elétrons do que de prótons. Ou, de
de um átomo dos mais simples, o de Lítio. maneira contrária, outro corpo com carga po-
Temos o núcleo deste átomo, que é composto sitiva é aquele em que o número de elétrons é
por dois tipos de partículas: os prótons, partí- menor do que o número de prótons. Esta vari-
culas carregadas positivamente, e os nêutrons, ação de cargas positivas para negativas em um
que têm a mesma massa dos prótons, só que corpo é feita mais facilmente variando o nú-
não são partículas carregadas. mero de periferia
estão na elétrons do
doscorpo, já que
átomos, comofacil-
são mais eles
mente removíveis.
Conceito de Carga Elétrica: Como con-
seqüência do que colocamos acima, toda car-
ga que aparece em um corpo é um múltiplo da
carga de cada elétron, uma vez que, para tor-
narmos um corpo negativamente carregado,
fornecemos a este 1 elétron, 2 elétrons, assim
por diante. Da mesma maneira, para tornar-
mos o corpo carregado positivamente, é ne-
cessário “arrancar” de cada átomo um elétron,
dois elétrons, etc. Este processo de variação
FIGURA 1 do número de elétrons dos átomos é chamado
de ionização. Um átomo cujos elétrons não
Orbitando ao redor do núcleo temos par- estejam em mesmo número de seus prótons é
chamado de íon. Assim, de uma maneira ge-
tículas
prótons,cerca de 1836 vezes
os elétrons, mais leves que
que apresentam os
cargas ral, toda carga Q pode ser calculada da seguinte
negativas de mesmo valor que as dos prótons. forma:
Em seu estado natural, todo átomo tem o mes-
mo número de prótons e elétrons, ou seja, é Q = Ne
eletricamente neutro. Na verdade, a figura está
bem fora de escala para facilitar o desenho, já Em que N é o número de elétrons forneci- 7
que o diâmetro das órbitas dos elétrons varia dos (no caso de carga negativa) ou retirados
entre 10 mil a 100 mil vezes o diâmetro do (no caso de cargas positivas) do corpo e e, a
núcleo! O modelo da figura foi proposto pelo chamada carga elétrica fundamental, que é a
físico inglês Ernest Rutherford, após uma série carga presente em cada próton ou elétron.
Eletricidade Básica
Trabalharemos com o Sistema Internacio-
nal de Unidades (SI), mais conhecido como
MKS (Metro, Kilograma, Segundo), para de-
finirmos as unidades de medida das grande-
zas físicas utilizadas em nossos estudos.
Carga elétrica: Coulomb [Q] = C
A carga elétrica fundamental, em Coulombs,
vale aproximadamente 1,6 x 10-16 C. Este valor
é muito pequeno! Daí temos que, para conse-
guir cargas de 1 Coulomb, é necessária trans-
ferência de vários elétrons entre corpos então, FIGURA 2.3 – Os panos de lã se repelem.
podemos concluir esta seção afirmando, então, Isso acontece porque, ao esfregarmos a lã
que os fenômenos elétricos são aqueles envol- contra o vidro, os dois inicialmente neutros,
vendo transferências de elétrons entre corpos. provocamos uma transferência de elétrons do
E em relação aos prótons? Há processos envol- vidro para a lã. É um processo semelhante ao
vendo os prótons especificamente, que são do que acontece quando usamos um pente de plás-
domínio da Física Nuclear, no entanto, tais even- tico para pentear o cabelo. Uma questão funda-
tos não fazem parte dos objetivos deste curso. mental que podemos formular é porque lã e vi-
dro atraem-se e lã repele lã e vidro repele vi-
1.2 Processos de Eletrização dro? O vidro perdeu elétrons, ficando carrega-
Eletrização por Atrito: Podemos reali- do positivamente, ao contrário da lã, que ao re-
zar uma experiência simples utilizando um ceber os elétrons, adquiriu carga negativa. Che-
pano de lã e um bastão de vidro. Ao esfregar- gamos, então, a uma lei básica da natureza:
mos um no outro, podemos notar que o vidro
atrai a lã e vice-versa (figura 2.1). Contudo, se Cargas de mesmo sinal repelem-se,
repetirmos a experiência com um conjunto cargas de sinais opostos atraem-se.
idêntico ao acima e aproximarmos os dois bas-
tões de vidro, notaremos que estes se repelem Isto explica, em parte, a estrutura do áto-
(figura 2.2), o mesmo acontecendo com osdois mo, onde os prótons positivos atraem os elé-
panos de lã (figura 2.3). trons negativos.
Condutores e Isolantes: Será que todo
material tem facilidade para que os elétrons
possam se mover, facilitando processos como
o descrito acima? Isto depende, na verdade,
da distribuição dos elétrons nos átomos que
constituem o material. Materiais em que os elé-
trons estão mais livres dos respectivos núcle-
os dos átomos são os condutores. De maneira
oposta, materiais em que os elétrons não po-
dem mover-se livremente, porque estão muito
FIGURA 2.1 – O vidro e a lã se atraem.
presos aos núcleos, são os chamados isolan-
tes. Há, ainda, uma classe intermediária de ma-
teriais, os semicondutores
indica, materiais que podem, conduzir
como o nome já
eletrici-
dade em condições operacionais específicas,
que, porém, não serão nosso objeto de estudo
neste curso. Como exemplo de bons conduto-
res temos os metais como ferro, cobre, ouro.
8 Isolantes conhecidos são a borracha, o vidro,
a cerâmica. A eletrização por atrito ocorre em
qualquer tipo dos materiais citados, ao passo
que as próximas duas que descreveremos ocor-
FIGURA 2.2 – Os bastões de vidro e a lã se repelem. rem principalmente em condutores.
Eletricidade Básica
Um conceito importante dos materiais iso- Este tipo de eletrização pode gerar um
lantes é o de rigidez dielétrica. Quando um iso- choque elétrico. Isto é o que acontece quando
lante é submetido a uma tensão elétrica muito tocamos uma tubulação metálica ou um veí-
grande, pode acontecer que ele permita a pas- culo que está eletrizados. O contato do nosso
sagem de eletricidade. Quando isto acontece, corpo com a superfície do veículo, por exem-
dizemos que aconteceu a ruptura de um plo, faz com que haja uma rápida passagem
dielétrico. A rigidez dielétrica fornece o valor de cargas elétricas através do nosso corpo, daí
máximo da tensão elétrica que um isolante aparecendo a sensação de choque elétrico.
suporta sem que sofra ruptura. A rigidez O “Efeito Terra”: A Terra, por ter dimen-
dielétrica de um isolante diminui com o au- sões bem maiores que qualquer corpo que pre-
mento da espessura do isolante, da duração da cisemos manipular, pode ser considerada um
aplicação da tensão elétrica e da temperatura.
Eletrização por contato: Supondo que grande “depósito”
uma esfera de positivamente
carregada elétrons. Se ligarmos
(figura 4a)
dois corpos condutores, como as duas esferas à Terra, por meio de um fio, verificamos que
metálicas da figura 3.a. A esfera A já está car- rapidamente ela perde sua eletrização, fican-
regada positivamente, enquanto a esfera B está do neutra. Isto acontece devido à subida de
neutra. Se colocarmos as duas em contato, a elétrons da Terra, que neutralizam a carga po-
tendência é que ambas atinjam uma situação de sitiva da esfera. Da mesma maneira, ao ligar-
equilíbrio. Para que isso ocorra, a esfera B ten- mos uma esfera de carga negativa, esta tam-
de a neutralizar A, através de uma passagem bém perde sua carga, já que seus elétrons des-
de elétrons (cargas negativas) de B para A (fi- cem para a Terra. Não esqueça que sempre ra-
gura 3b), até que as duas atinjam a mesma car- ciocinamos em termos do movimento dos elé-
ga, pois, desta forma, nenhuma das duas esfe- trons (cargas negativas), que, como já discuti-
ras “sentirá” a outra mais eletrizada. Assim, a mos, por ocuparem a periferia dos átomos, têm
carga final de cada uma delas será a metade das uma mobilidade maior que os prótons.
cargas iniciais do sistema (figura 3c), neste
exemplo, metade da carga inicial de A.
Elétrons Elétrons
FIGURA 4a
rente elétrica pode passar pelo ar, fazendo com A construção de pára-raios é normatizada
que haja a descarga elétrica da nuvem para o pela Associação Brasileira de Normas Técni-
solo, através do efeito terra. A luz que acom- cas (ABNT), onde "o campo de proteção ofe-
panha o raio, chamada de relâmpago, aparece recido por uma haste vertical é aquele abran-
por causa da ionização devido à passagem de gido por um cone, tendo por vértice o ponto
mais alto do pára-raios, e cuja geratriz forma
forte e rápido
cargas elétricas
aquecimento,
pelo ar. Istocausando
também agera
expan-
um um ângulo de 60o com a vertical". Tal arranjo
são do ar e produzindo uma onda sonora de está ilustrado na figura abaixo. Assim, vemos
grande intensidade, que chamamos de trovão. que a partir de um pára-raios de altura h, o
Prevenção de Descargas Atmosféricas: raio de proteção é dado por r = 3 h .
Para evitar efeitos desastrosos das descargas
10 atmosféricas, é utilizado um aparato muito h
60o
popular chamado de pára-raios. Ele tem por
finalidade oferecer um caminho mais eficien- r= 3h
te e seguro para as descargas elétricas, prote-
gendo edificações, tubulações, redes elétricas,
depósitos de combustível, etc. FIGURA 5.2
Eletricidade Básica
1.3 Interações entre cargas elétricas: trário ao do campo elétrico que atua na região
em que ela se encontra (figura 7b).
força e campo elétrico
Já vimos no exemplo da lã e do vidro que
Kq1q2
F= (F em Newtons)
d2
FIGURA7a FIGURA7b
F=q0 E FIGURA
8.1 FIGURA
8.2
12 ∆V = VA – VB = W/Q
, em que W é o trabalho realizado pelo
campo elétrico ao deslocar a carga de A até B.
Como Q é positiva, se VA > VB, temos que W FIGURA 10
Eletricidade Básica
FIGURA 11
∆q
i=
∆t
14 V1 V2
= = ... = R
i1 i2
FIGURA 19
R2 Verde
→ Azul
16 i2 Marrom
Prata
1 1 1 FIGURA 22
Anotações
17
Eletricidade Básica
Princípios de
Eletromagnetismo 2
Passaremos agora à discussão dos fenô-
menos necessários
cionamento para a compreensã
de geradores e circuitosode
do cor-
fun-
rente alternada, que são os fenômenos que en-
volvem a junção de eletricidade com magne-
tismo. Faremos uma breve exposição dos fe-
nômenos magnéticos mais simples, para de-
pois abordarmos o eletromagnetismo propria-
mente dito. FIGURA 23
FIGURA 28
µ oi
H =
2π r
, em que µo é a constante de permeabilidade
do vácuo, medida em Henry por metro (H/
m), i é a corrente que percorre o fio e r é a
distância radial medida a partir do meio do
fio.
No Centro de uma Espira
Neste caso a regra da mão direita é alte-
FIGURA 26.2 rada, o polegar indica o sentido do campo e
os demais dedos acompanham o sentido da
Isto evidencia que uma corrente elétrica corrente.
cria um campo magnético ao seu redor. Tal fato 19
possibilita uma série de aplicações, como os µ oi
H =
eletroímãs, discutidos a seguir. 2R
Podemos observar as linhas de campo
magnético ao redor de um fio percorrido por , em que R é o raio da espira.
Eletricidade Básica
te no seu interior. A intensidade deste campo
é dada por:
µ o Ni
H =
l
Fm = Hio l sen θ
FIGURA 30.2
FIGURA 30.3
20
Considerando o solenóide com um com-
primento bem maior que o seu diâmetro (tipi-
camente 10 ou mais vezes maior), podemos
simplificar que o campo magnético é constan- FIGURA 31
Eletricidade Básica
material. Podemos imaginar a relação entre te neutros, como o ar e o vácuo. O co-
os dois campos, B e H, com base nas figuras bre é aproximadamente amagnético.
abaixo: • Diamagnéticos: µr < 1. Materiais que
exibem magnetização contrária a do
campo externo aplicado.
• Paramagnéticos: µr > 1. A permeabili-
dade não depende do campo externo, é
constante, e o aumento do campo in-
terno no material não é muito grande.
FIGURA 34.1 • Ferromagnéticos: µr >>1. São os ma-
teriais que exibem maior magnetização,
sendo, portanto, os mais aplicados em
escala industrial. Sua permeabilidade
magnética depende do campo aplica-
FIGURA 34.2
do, em um fenômeno denominado
Se mergulharmos um pedaço de ferro doce histerese magnética.
em um campo magnético, os campos gerados
pelos elétrons (lembre-se das correntes ampe- 2.5 Fluxo Magnético
rianas!) dentro do ferro orientam-se a favor do Quando representamos as linhas de campo
campo externo H. Assim, o campo efetivo (B) magnético de um solenóide nos parágrafos aci-
dentro do ferro aumenta, ao passo que o cam- ma, notamos que elas são linhas de campo fe-
po nas imediações do lado de fora do ferro di- chadas. Isso significa que o número de linhas de
minui. A relação matemática entre B e H é dada campo dentro e fora do solenóide é o mesmo,
pela permeabilidade magnética, µ: embora as linhas estejam mais concentradas no
interior do solenóide (campo mais intenso) do
B que no exterior. Um parâmetro para medir a con-
µ= centração das linhas em uma determinada região
H é o fluxo magnético. Ele é definido em termos
da intensidade de um campo magnético atraves-
A permeabilidade magnética é uma gran- sando uma superfície, bem como a orientação
deza característica de cada material e indica a do campo em relação a esta superfície. A ex-
aptidão deste material em reforçar um campo pressão para calcular o fluxo magnético é:
magnético externo. O valor de m para o vácuo
(e como boa aproximação, o ar) é dado por: Φ = B.A.cosθ
µ
µr =
µo
FIGURA 35
22 Assim, de acordo com o seu valor de per- No sistema internacional, medimos fluxo
meabilidade relativa, os materiais podem ser magnético por Weber:
classificados como:
• Amagnéticos: µr = 1. Materiais que não [Φ]= Wb
são magnetizados, são magneticamen-
Eletricidade Básica
FIGURA 36
FIGURA 37
Faraday observou que o galvanômetro (ins-
trumento para medir correntes pequenas) só acu- Os dois fios condutores que fecham o cir-
sava a passagem de corrente no circuito do lado cuito com a barra AB, também condutora, que
direito no momento em que ele ligava ou desli- está sendo puxada com velocidade V em uma
gava a chave do circuito do lado esquerdo da região com campo magnético constante. Ao
figura. Contudo, não era medida corrente pela puxarmos a barra, obviamente, o valor do cam-
direita quando a chave permanecia ligada. Re- po magnético permanece constante. Será então
cordando o que já comentamos em outra seção, que não mediremos corrente no amperímetro
na esquerda
nece ligada, da figura,
passa quando
corrente a chave
pelo perma-
solenóide da colocado
nos entre
diz que os condutores?
a variação do fluxoAéLei
quedecausa
Faraday
o
esquerda, que gera dentro do solenóide (e no surgimento de uma fem induzida. Quando pu-
pedaço de ferro dentro dele) um campo magné- xamos a barra, a área retangular dentro do cir-
tico constante. Do outro lado, devido ao núcleo cuito que está sendo atravessada pelo campo
de ferro comum, aparece também um campo está aumentando, logo, o fluxo do campo mag-
magnético no solenóide à direita da figura. A nético também está aumentando, o que provo-
conclusão de Faraday foi quenão é a presença ca o surgimento de uma fem no circuito, pro-
do campo magnético que provoca corrente, vocando a circulação de uma corrente. Vamos
e sim a variação do fluxo do campo magnéti- encontrar uma expressão para a fem induzida.
co! Ao ligarmos ou desligarmos a chave do cir- O fluxo magnético será:
cuito, o campo está variando até o seu valor
máximo ou diminuindo do máximo até zero. Φ = B.A.cos θ
Enquanto há variação do fluxo do campo mag-
nético no ferro, há corrente induzida no outro
lado. Lembremos que para mantermos uma Aqui A é a área onde está passando cam-
corrente em um condutor, precisamos de uma po magnético dentro da espira, A = l . x. O
ângulo θ é formado pela direção perpendicu-
fem no circuito.
de Faraday podeCom isso, ocomo:
ser escrito enunciado da Lei lar ao plano da espira e o campo B, logo θ = 0o
e cosθ = 1. Como o fluxo inicial era nulo (não
“Toda vez que um condutor estiver sujeito havia área na espira), pela Lei de Faraday, te-
a uma variação de fluxo magnético, nele mos para o módulo da fem induzida:
aparece uma fem induzida, enquanto o
fluxo estiver variando.”
Blx 23
Matematicamente, a expressão da Lei de ε =1 . = Blv
Faraday é: ∆t
Eletromagnetismo:
Aplicações 3
Nos capítulos anteriores, vimos de forma Na verdade, são várias as espiras que constitu-
simplificada
ticos e os doisoscombinados
fenômenosnoelétricos, magné-
eletromagnetis- em um enrolamento
terminais da armadurachamado de armadura.
são soldados Os
aos anéis
mo, para que pudéssemos entender o funcio- chamados de coletores. Encostadas nos anéis
namento e as características de instrumentos, coletores estão as escovas (feitas geralmente de
equipamentos e máquinas presentes no nosso grafita), que fazem o contato elétrico, entregan-
cotidiano. Nesta parte de aplicações do curso, do então a fem e corrente induzidas a um cir-
vamos ver como os fenômenos eletromagné- cuito. Embora tenhamos colocado pólos de imãs
ticos levaram ao funcionamento e as caracte- para simplificar a figura, na prática, o campo
rísticas de geradores, motores elétricos, trans- magnético em que está imersa a armadura é pro-
formadores, dentre outros que são tão comuns duzido por eletroímãs dispostos na carcaça do
em nossos trabalhos. motor, o chamado estator. O enrolamento no
estator é chamado de bobina de excitação de
3.1 O Gerador de Corrente Alternada campo, a qual é alimentada por uma fonte de
Logo após o desenvolvimento da Lei da corrente contínua (CC). Um corte mais deta-
Indução, o próprio Faraday idealizou um mo- lhado deste motor pode ser visto na figura 40:
delo de gerador que produzisse energia elétri-
ca de uma maneira mais eficiente e duradoura
do que as pilhas e baterias eletrolíticas de até
então. O modelo srcinal de gerador deFaraday
tem em grande parte as características de um
gerador moderno como o que ilustramos es-
quematicamente abaixo.
FIGURA 40
1. Estator
2. Bobina de excitação de campo
3. Ranhuras que acomodam as bobinas de
excitação no estator
4. Eixo da armadura
5. Armadura
Alguns geradores (e motores) têm esta
montagem invertida: as bobinas de excitação
de campo estão no lugar da armadura e estas é
FIGURA 39 que são postas para girar. As espiras que com-
Este tipo de gerador, também chamado de põem a armadura estão no estator, e sentem a
alternador, produz uma tensão alternada, ge- variação de fluxo magnético devido ao movi-
rando portanto uma corrente alternada, que mento de rotação das bobinas de excitação. 25
discutiremos posteriormente. Na figura 39, Fisicamente, os dois sistemas são equivalen-
temos uma bobina colocada entre os pólos de tes. Esta “montagem invertida” é utilizada em
um imã, ou seja, ela está imersa no campo geradores trifásicos, dos quais falaremos pos-
magnético compreendido entre os dois pólos. teriormente.
Eletricidade Básica
O funcionamento do alternador pode ser Na figura 43 vamos acompanhar uma re-
explicado assim: um eixo está ligado às arma- volução completa de uma espira para compre-
duras, colocando o conjunto a girar. Quando as endermos porque a fem induzida (e por con-
espiras da armadura começam a girar dentro do seqüência a corrente) são geradas de forma
campo magnético, há uma variação de fluxo alternada.
magnético através das espiras, já que a orienta-
ção destas em relação ao campo magnético está
mudando continuamente. Pelas Leis de Faraday
e Lenz, uma corrente é induzida na armadura,
com os coletores jogando esta corrente no cir- θ = 0o → sen θ = 0 → ε = 0
θ = 270o → sen θ = –1 → ε = Vm
Posição 4
θ = 360o → sen θ = 0 → ε = 0
Posição 5
27
FIGURA 44 FIGURA 46
Eletricidade Básica
FIGURA 51
Vpip = Vsis
Transformador e, ao lado, seu símbolo convencional.
Na figura abaixo, temos um esquema sim-
O funcionamento dos transformadores plificado de um sistema de distribuição de
assenta no fenômeno de indução eletromag- energia elétrica.
nética, que pressupõe a variação do fluxo do
campo magnético como causa de uma corren-
te e tensão induzida em uma espira. No nosso
caso, como estamos com corrente alternada no
primário, o campo gerado neste enrolamento,
é um campo de solenóide que já estudamos.
Porém, no caso CA, a intensidade da corrente
varia, logo, o valor do campo magnético acom-
panha esta variação, e esta variação de fluxo
magnético do primário é transportada pelo
núcleo de aço até o secundário. A variação de
fluxo que chega ao secundário, provoca, de
acordo com a Lei de Faraday, uma tensão FIGURA 52
induzida neste enrolamento. Note que, se a Esquema de um transporte de energia elétrica da usina até o
consumo. Os transformadores estão representados pelos seus
intensidade de corrente fosse constante, não símbolos convencionais.
teríamos variação do campo magnético, e,
portanto, do fluxo, no primário ou secundá- 3.6 Capacitores
rio. Devido a isto, correntes contínuas não são Quando falamos de trabalho e potencial
convenientes para as concessionárias de ener- elétrico, discutimos a capacidade do campo
gia, já que os mais diversos valores de tensão elétrico de armazenar energia. Seria interes-
são necessários em uma operação de transmis- sante ter uma maneira de armazenar esta ener-
são e geração de energia elétrica. Tais mudan- gia e torná-la disponível sempre que precisás-
ças de tensão são feitas bem mais simplesmen- semos. O dispositivo capaz de fazer isto é
te com corrente alternada. chamado de capacitor. Ele consiste de duas pla-
Sendo Np o número de espiras do primá- cas condutoras separadas entre si, ligadas e sub-
rio e Ns do secundário e Vs e Vp os valores das metidas a uma ddp. Antes deser carregado para
30 respectivas tensões, podemos chegar a seguinte utilização, o capacitor está neutro (fig 53.1). Po
-
relação: demos carregar um capacitor estabelecendo
Vp Np uma ddp entre as placas, ligando cada uma
= delas aos pólos de uma bateria, por exemplo
Vs Ns (fig 53.2). Ao fecharmos a chave do circuito,
Eletricidade Básica
as cargas positivas são atraídas pelo pólo ne- A constante C, que faz a proporção entre
gativo da bateria, enquanto que as cargas ne- a carga Q adquirida e a tensão V aplicada, é
gativas, pelo pólo positivo, o que acarreta chamada de capacitância. No SI, a unidade
em uma divisão de cargas positivas e nega- de capacitância é o Farad, em homenagem ao
tivas entre as duas placas. Este processo con- próprio Faraday, que idealizou os primeiros ca-
tinua até que a ddp entre as placas carrega- pacitores.
das iguale-se a ddp fornecida pela bateria
(fig 53.3). Assim, o capacitor está carrega- [C] = F ⇒ F = C/V (Coulomb/Volt)
do, surgindo um campo elétrico uniforme
entre suas placas. Quanto maior for a capacitância de um
dispositivo, mais carga ele pode acumular com
a mesma tensão a que ele é submetido.
Um outro fato que foi descoberto pelo pró-
prio Faraday é que preenchendo o espaço vazio
entre as placas com um material dielétrico (iso-
lante), o valor da capacitância aumentava. Note
Fig 53.1 – Neutro que é um dielétrico, porque obviamente se pre-
enchermos com material condutor o espaço
Fig 53.2 – Capacitor neutro entre as placas, as cargas poderiam usar o con-
dutor para novamente restabelecer o equilíbrio
de cargas. A relação que temos para este fato é:
C = kCo
, em que Co é a capacitância no capacitor a vá-
cuo, C é a capacitância utilizando o dielétrico
e k é um parâmetro adimensional, chamado
de constante dielétrica, específico de cada ma-
Fig 53.3 – Capacitor carregado terial.
Alguns parâmetros que influenciam na
FIGURA 53 capacitância:
Como as cargas não podem passar pelo • Distância entre as placas: menor dis-
espaço vazio entre as placas, estas permane- tância, maior capacitância.
cem carregadas mesmo que a bateria seja re- • Área das placas: m aior área, maior
movida (fig. 54.1). Se ligarmos as duas placas capacitância.
com um condutor, a tendência vai ser as car-
gas compensarem a ddp que há entre elas, neu- • Formato do capacitor: esférico, cilín-
tralizando as placas novamente (fig 54.2). Este drico, placas paralelas.
é o processo de descarga do capacitor. • Tipo de dielétrico utilizado.
FIGURA 55
FIGURA 58
Energia
Armazena energia do Armazena energia do Q = εrmsirmssenϕ
campo elétrico campo magnético
Linhastensão
baixa de distribuição em cidades,
(tensão eficaz inferiorque sãoV),
a 400 de a Fio da linha a
são providas de fio neutro. Esta ligação tem a
vantagem de tornar a corrente de cada fase in- c Fio da linha b
dependente das outras e de poder utilizar dois
valores de tensão. Estes dois valores são nor- Fio da linha c
malmente estipulados como sendo 110 V (uso b
ça. Um esquema de ligação deste tipo é mos- a) Ligação em estrêla a quatro fios; b) Ligação em triângulo
trado na figura abaixo:
FIGURA 59.2
Anotações
M M
1~ 3~
V = 380 V
V = 220 V
FIGURA 59.1
38. Para que serve a tensão contínua que se apli- 52. Que condições devem ser observadas para
ca no enrolamento do rotor do gerador? se colocar duas fontes de energia elétrica em
paralelo?
39. Qual a influência da corrente de excita-
ção no valor da tensão gerada? 53. A respeito do fator de potência pergunta-se:
a) Quais as causas do baixo fator de po-
40. O que significa "Sistema Trifásico Equi-
tência em um sistema elétrico?
librado"? b) Quais as desvantagens do baixo fator
de potência?
41. Qual a relação que existe entre o número 54. Um fato que pode facilmente ser observa-
de espiras e a tensão em um transformador?
do é que
tíveis caminhões
sempre têm umque transportam
cabo combus-
ou fita metálica li-
42. Por que, ao abrirmos o secundário de um gando um ponto do chassis ao chão. Utlizando
transformador de corrente, aparecem em seus seus conhecimentos de eletrização, explique a
terminais uma sobretensão e aquecimento? necessidade desta ligação.
43. Qual a influência da poeira e umidade so- 55. Por que não aparece tensão no secundário
bre a isolação de equipamentos elétricos? de um transformador, quando aplicada uma
tensão contínua no primário?
44. Quais são os danos que um mau contato
pode causar para um sistema , quando este es- 56. Marque (V) para verdadeiro e (F) para fal-
tiver em circuito de força? E quando estiver so nas afirmativas abaixo:
em circuito de proteção e controle? ( ) A resistência elétrica de um condutor
depende do material que o constitui.
45. Qual o comportamento de um capacitor, ( ) A resistência elétrica de um condu-
no instante em que é ligada uma fonte de cor- tor é diretamente proporcional à sua
seção transversal (bitola).
rente contínua?
(quatro) E após
constantes intervalo superior a 4
de tempo? ( ) A temperatura não exerce influência na
resistência elétrica de um condutor.
46. O que caracteriza o cobre como melhor
( ) Quanto maior a tensão, maior a re-
condutor de eletricidade que o alumínio? sistência elétrica de um condutor.
57. Um operador, usando botas de borracha
46 47. Um equipamento qualquer dissipa 2500 W, molhadas, tocou um trecho de tubulação ele-
quando ligado a uma rede de 120 V. Qual será trizado com uma determinada carga e sofreu
a potência desse mesmo equipamento, se a sua um choque. Se ele estivesse usando botas se-
resistência for cortada ao meio? Considere o cas de borracha, também tomaria o choque?
equipamento composto de carga resistiva. Por quê?
Eletricidade Básica
58. Como podemos obter uma fonte (ou gera- A barra de sicronismo une as 3 linhas de
dor) de corrente contínua de 12 V, utilizando recepção de eletricidade, uma da concessio-
pilhas de 1,5 V? Desenhe o circuito ligando nária de energia local e as outras duas de dois
esta fonte a uma lâmpada, através de uma cha- turbogeradores da própria refinaria. Entre cada
ve (interruptor). uma das 3 fontes e a barra de sincronismo,
notamos a presença de grandes bobinas, for-
59. Explique as vantagens do uso de corrente mando uma espécie de proteção em caso de
alternada em uma refinaria. curto-circuito na rede da concessionária. Qual
a utilidade de tais bobinas como proteção?
60. Por que se usa corrente contínua em uma
refinaria? 63. Quais as desvantagens de um baixo fator
de potência?
61. Em uma refinaria, é queimado RASF (Re-
síduo Asfáltico). Antes da queima, o RASF 64. Um gerador em uma refinaria forneceuma
passa por um aquecedor elétrico constituído potência de 16 MW quando está em um circui-
por serpentinas. Para variar a temperatura do to elétrico, com fator de potência cosϕ = 0,85.
RASF, a tensão fornecida pelo aquecedor va- Ao se instalar um banco de capacitores no sis-
ria de 50% a 100%. Considerando a resistên- tema, o fator de potência passou para 0,92.
cia das serpentinas constante, qual a potência Qual foi o ganho na potência fornecida
mínima, em percentagem, fornecida pelo aque- pelo gerador?
cedor ligado?
65. Em uma linha de transmissão, temos um
62. O sistema de alimentação de uma refina- fator de potência igual a 0,8. Discuta como o
ria é ilustrado na figura abaixo: aumento do fator de potência poderia tornar a
transmissão mais eficiente.
69 kV
TG 1 TG 2
13,8 kV
02 01 04 06 07 15 16 19
Barra
“U” Barra
“A” Barra
“B”
Anotações
47
Eletricidade Básica
48
Eletricidade Básica
49