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O consumo ao longo da história

Do ponto de vista histórico, o consu-mo não é um fenômeno novo ou, ao menos


a relação com os objetos que demarcam aspectos como a constituição dos sujeitos,
identidades e coletividades, a dimensão simbólica que extrapola o universo dos bens
materiais e imateriais: os valores sociais, vínculos, distinções (BAUMAN,
2008; CANCLINI, 1997).
Apesar da antiga relação do ser huma-no com os objetos, o fenômeno do consumo
parece ter tido algumas variações ao longo dos tempos. Da relação mágica do
antigo talismã, nos últimos séculos o consumo deixou de ser apenas uma relação de
posses ou de segurança, para se configurar num meio de distinção ou reconhecimento
(BAUMAN, 2009, p. 21), prestígio e hi-erarquização social e mais modernamente em
meio de lazer e apropriação cultural. Historicamente, é no período feudal que se inicia o
consumo relacionado como meio de aquisição, segurança, manutenção e/ou exibição do
status social do clero e da nobreza, tidas como classes ociosas (VEBLEN apud
TASCHNER, 2000, p. 40). Nessa primeira fase, o consumo não possui nenhuma relação
com o lazer, mas unicamente com os rituais de posse que demarcavam pertença a
grupos sociais distintos. A posse de um grande volume de bens também poderia estar
relacionada com uma necessidade de segurança, uma vida imune aos caprichos do
destino (BAUMAN, 2008, p. 42).
A partir do século XVI surgem novas mercadorias no cotidiano das pessoas, em
decorrência da expansão do ocidente para o oriente, além do fenômeno da literatura
romântica que eclode juntamente com a leitura silenciosa e a expansão da ideologia
individualista, fazendo surgir o consumo individual em detrimento do consumo familiar
(BARBOSA, 2004, p. 19). A vida na Corte Real da Europa nos séculos XIV a XVII vai
evidenciar, conforme a perspectiva de Elias (apud TASCHNER,2000, p. 41), a mudança
para um padrão de consumo de prestígio, que advinha do privilégio de participar da vida
na corte.
Não tardaria então, sobretudo na Inglaterra do século XVI, para surgir o hábito de
manter ou adquirir móveis envelhecidos, cujo brilho de pátina demonstrava riqueza
antiga e ancestrais prestigiosos (McCRAKEN apud TASCHNER, 2000, p. 42).
A popularização e democratização do consumo, que hodiernamente se transformou em
uma cultura, teria início a partir do século XIX. Decorrente de maior renda e queda de
preços em consequência da Revolução Industrial, surgem lojas de departamentos em
Paris e Londres, seguindo-se para as cidades dos EUA e, no início do século XX, nas
cidades do Terceiro Mundo (TASCHNER, 2000, p. 43). Lojas como
Bon Marché em Paris e Marble Dry Goods em Nova York, foram elementos importantes
tanto na disseminação da moda como na democratização do consumo (BARBOSA,
2004, p. 27). Vitrines, cores, luzes, displays, corredores amplos e esca-das rolantes
inauguram a relação consumo e lazer, tão arraigada no presente com o fenômeno da
publicidade, dos shopping centers e a recente experiência de consumo atrelada ao
fenômeno do mundo virtual. Este lazer estaria justamente associado ao consumo
realizado no tempo ocioso. Apesar de boa parte do consumo dos dias atuais estar ligado
ao lazer e a uma conduta individual, sendo realizado nas horas livres, isso não significa
que não deixou de existir nuances de distinção e hierarquização social, tal como ocorria
no tempo da corte. Isso evidencia o caráter amplo que o fenômeno do consumo possui,
abarcando dimensões econômicas, culturais, simbólicas e sociais....ter e apresentar em
público coisas que portam a marca e/ou logo certos e foram obtidas na loja certa é
basicamente uma questão de adquirir e manter a posição social que eles detêm ou a que
aspiram. A posição social nada significa a menos que tenha sido socialmente
reconhecida – ou seja, a menos que a pessoa em questão seja aprovada pelo tipo cer-to
de “sociedade” (cada categoria de posição social tem seus próprios códigos jurídicos e
seus próprios ju-ízes) como um membro digno e le-
gítimo – como “um de nós” (BAU-MAN, 2009, p. 21).
Consumo, c

(PDF) Sociedade e cultura de consumo: aspectos históricos, simbólicos e culturais do


consumo moderno. Available from:
https://www.researchgate.net/publication/290993267_Sociedade_e_cultura_de_consum
o_aspectos_historicos_simbolicos_e_culturais_do_consumo_moderno [accessed Oct 13
2018].

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