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HISTÓRIA DA IGREJA CATÓLICA

Pierre Pierrard

Contracapa:
Esta História da Igreja Católica, bem elaborada, acessível e
estruturada, oferece ao leitor as articulações, os
dinamismos, as tensões e os malogros de uma evolução ue não

revela apenas
divina: as lições
uma Igreja mas ainda a intelig!ncia da economia
no "undo#
$m cl%ssico recomendado a uem deseja uma visão de dois
mil&nios cristãos#

'$()*+ ')*+ -$.IC*/*+:


0anice (# Connel,
E1C'1()'+ C'" "*)I*
0anice Connell fe2 uma pesuisa vastíssima e apresenta
crónicas aut!nticas das aparições de 1ossa +en3ora, onde se
destacam as do s&culo 44, 3istórias 5 contadas e gravadas em
santu%rios e locais de peregrinação6 documentação reunida em
universidades, igrejas, sinagogas, mesuitas, templos,
presbit&rios, conventos#

(3omas "oore
* *."* E ' E+-7)I('
' tão aguardado complemento de ' +E1(I/' /* *."*
8* espiritualidade nunca deve ser usada como um tubo de
escape mas deverer% catali2ar este potencial para procurar
novos camin3os para a vida 9 lu2 de uma nova
espiritualidade# Este novo livro apresenta "oore no seu
mel3or, retirando os ensinamentos dos tetos sagrados, das
igrejas e dos p;lpitos aplicando5os 9 realidade di%ria
<a2endo uma abordagem dos cultos do Cristianismo, do =en e
do (auísmo, "oore revela5nos ue a religião não dever% ser
usada como uma conc3a, mas como uma ferramenta ue nos
liberte e apele ao 3umanismo, empatia e a uma mel3or forma
de nos relacionarmos com os poderes criativos###8
-$.I+HE)+ >EE

???

-IE))E -IE))*)/
HI+(@)I* /* IA)E0* C*(@.IC*
/ois mil&nios cristãos incluindo actividade pastoral de 0oão
-aulo II at& BB em *p!ndice Complementar
por -# *rtur )oue de *lmeida

-.*1E(* E/I(')*
???

* Colette

(ítulo srcinal: Histoire de lDglise Cat3oliue


F bG -ierre -ierrard

)eservados todos os direitos desta obra para publicação em


-ortugal de acordo com a legislação em vigor por:
-.*1E(* E/I(')*, ./*#
(ravessa do 1oron3a, B5 < 5 BJ5K .isboa (elefone B
LMK NK JO 5 <a: B LMJ  BO
PPP#planetaeditora#pt
e5mail: planetaQplanetaeditora#pt#

(radução: +erafim <erreira


)evisão .iter%ria: <rederico +eueira
Capa: 0os& .aranjeira
Composição, impressão e acabamento: Arafiteto, .isboa

/epósito legal n NJKMRB


I+1 MKB5KL5LJ5

-roibida a reprodução no todo, ou em parte, por ualuer


meio, sem pr&via autori2ação do editor

???

1'(* /' E/I(')

* História da Igreja Católica, ue agora se publica em


edição portuguesa a partir da LS edição francesa revista e
aumentada em MM, & uma das muitas ue -ierre -ierrard
assinou, e & desde 3% muito um cl%ssico, recomendado não
apenas aos iniciados na disciplina de História, mas tamb&m a
uem deseja ter uma visão completa, precisa e atraente
destes dois mil&nios cristãos#
* edição francesa cobre os acontecimentos ue marcaram a
Igreja $niversal e a actividade pastoral de 0oão -aulo II
at& ao ano de MM e apresenta uma ampla bibliografia,
classificada segundo os grandes períodos e justamente
comentada# Em aneo, e depois da celebração do icenten%rio,
o *utor apresenta o essencial das publicações recentes sobre
a Igreja e a )evolução <rancesa# E estes contributos
confirmam, sem d;vida, o interesse pedagógico j% elevado
desta obra sempre renovada, destinada a atravessar o limiar
do mil&nio#
Esgotada a edição portuguesa, não uisemos reeditar esta
obra sem atender 9s v%rias críticas feitas a determinadas
fal3as eistentes nessa edição# *ssim, para mel3or servir o
leitor, fe25se uma revisão profunda da tradução,
aproimando5a o mais possível do pensamento do autor#
Conforme assinalamos, a edição francesa termina com a

actividade pastoral do papa 0oão -aulo II at& MM pelo ue


K

decidimos solicitar a colaboração de *rtur )oue de *lmeida,


antigo -rofessor de História da Igreja da $niversidade
Católica de .isboa ue amavelmente se disponibili2ou
completando e actuali2ando em *p!ndice Complementar a
actividade pastoral do +anto -adre at& ao final do s&culo
44#

-)E<TCI'

Historia est magistra vitae: m%ima admir%vel ue condensa,


ao mesmo tempo, uma eperi!ncia milenar e um princípio de
elevada cultura#  urgente ue, contra as reivindicações
infantis de uma espontaneidade ue se afirma a ;nica
criadora, se medite sobre as lições e as leis da História,
tanto para o con3ecimento das civili2açõe s como na tradição
viva da Igreja# ' enrai2amento inteligente no passado & a
garantia da projecção do futuro6 o presente não & mais ue o
ponto nevr%lgico desta dial&ctica#  precisamente aí ue
nascem os profetas#
 verdade ue o nosso aioma não deia de ter alguma
ambiguidade e ue a própria palavra 3istória, sobretudo na
nossa língua UV, abarca conte;dos e m&todos muito
diferentes# ' recurso 9 História & um m&todo euívoco#
Então, como ler esta História da Igreja, de forma a
corresponder tanto 9 intenção do autor como 9 verdade do seu
objectoW +eria inuietante verificar ue, na Igreja em
despertar evang&lico, a renovação bíblica e a renovação
lit;rgica não engrenam, com uma sensibilidade mais viva, no
movimento da História, abandonando5as a um positivismo
pastoral demasiado tacan3o, fora da compreensão de uma
economia definida como 83istória da salvação8, iluminada
pelos 8sinais dos tempos8, inclusive na vida sacramental#

1ota : <rancesa e, na portuguesa, igualmente# X1# do (#Y


M

/urante v%rios s&culos, incluindo a Idade "&dia at& cerca de


meados do s&culo 4I4, considerou5se a 3istória um conjunto
de 8modelos8 Ude eempla, di2ia a língua latina medieva lV e
o seu objectivo uma empresa moral# 's 8ensinamentos8 da

História não
refer!ncia se podem
ao passado resumir
implica a estasdo lições,
o imobilismo cuja
3omem e das
sociedades# <reuentemente, a História da Igreja & tratada
apenas como um reportório, onde tanto o teólogo como o
pastor vão buscar enunciados e normas j% estabelecido s, com
o perigo de se ficarem por adaptações casuísticas# -or isso,
compreende5se a impaci!ncia dos 8inovadores8#
(rata5se de um grave malentendido, tanto da 3istória do
3omem como da tradição da f&# Esse positivismo dogm%tico
esva2ia a dimensão essencial de uma economia ue desencadeia
e anima a entrada de /eus na História# 1a verdade, a
História entra no tecido da f&, ue aí encontra não apenas
materiais eemplares, mas tamb&m a compreensão do seu
dinamismo6 porue 8o Espírito, ue condu2 o curso dos tempos
e renova a face da (erra, est% presente nesta evolução8
UZaticano II, Constituição da Igreja Aaudium et spes, BOV#
' ue importa, portanto, & ue o cristão, desde o momento em
ue nele emerge a consci!ncia do seu ser cristão, esteja
disponível ao entendimento da História, da História
8sagrada8, incluindo os condicionamentos terrestres ue
constituem o lugar de seu mist&rio# 1ão se trata de
curiosidade de erudito, mas de maturidade da f&#
Eis aui, portanto, uma História da Igreja elaborada em
traços r%pidos e agradavelmente acessível ue, estruturada
com delicade2a e títulos sugestivos, revela ao leitor as
articulações, os dinamismos, as tensões e os fracassos de
uma evolução ue não fornece apenas lições, mas tamb&m o
entendimento da economia divina: uma Igreja no "undo#
"# /# C3enu



I
* IA)E0* 'C$.(*

Capítulo I
' 1*+CI"E1('

# ' terreno: a civili2ação greco5romana, o judaísmo


' fundador do cristianismo & 0esus de 1a2ar&# 1a2ar& era uma
peuena cidade judia perdida no seio do imenso Imp&rio
)omano# -ortanto, 0esus nasceu judeu, s;bdito de *ugusto# *
sua doutrina surgiu numa terra enriuecida pela civili2ação
greco5romana e pelo judaísmo#
[uando 0esus nasceu, o mundo romano estava em pa2# 1as
costas do "editerr\neo estendia5se um imp&rio admiravelmente

organi2ado: o)oma
conuistar era oo seu
mundo, seucoração vivocamponeses5soldados,
povo de e a sua lu26 ao
tin3a5se educado# "as o panteão romano 5 ue o 'limpo grego
3avia reforçado e renovado 5 mantin3a apenas o prestígio de
lendas deslumbrantes# Claro, 3avia sempre soldados para
invocar "arte, doentes para implorar a Escul%pio e artesãos
para pedir a protecção de "inerva# 1as províncias
pacificadas, a deusa )oma e o divino Imperador ainda
despertavam um sentimento de recon3ecimento ue poderia
passar por culto# "as o 3elenismo difundira amplamente no
mundo mediterr\nico o gosto pelas coisas do espírito, assim
como uma nova concepção do 3omem: o cosmos, entendido como
um todo animado por uma lei racional e ao ual o 3omem deve
3armoni2ar a sua vida# -regadores de linguagem realista e
plena de imagens falavam de

L

um /eus universal, centro e animador do mundo6 proclamavam a


igualdade e a fraternidade dos 3omens, canoni2ando o
eercício asc&tico como fonte da sua verdadeira felicidade e
da pa2 de espírito#
-or outro lado, as conuistas de *leandre 3aviam colocado o
mundo grego em contacto com o 'riente6 ora, a <rígia, a
Capadócia, a +íria e o Egipto eram ricos em cultos
antropomórficos e naturalistas com ritos ecitantes# /e
*leandria, c3egaram aos portos mediterr\neos 5 e daí 9s
cidades, at& mesmo a )oma 5 os mist&rios de Isis, a deusa
benfeitora, mãe de toda a civili2ação, e de +er%pis, o
protector da sa;de ue fa2 do 3omem o eterno contemplador
dos deuses# 's marin3eiros fenícios e os comerciantes sírios
propagaram o culto colorido dos aals e a ideia, tão cara
aos semitas, da transcend!ncia divina# $ma liturgia sensual
e purificadora instalara5se no próprio coração de )oma, com
Cibele, a grande mãe de -essinunte# ' orfismo desviava os
espíritos do pensamento discursivo, levando5os a considerar
ue entre /eus e o coração dos 3omens 3avia interme di%rios,
um Zerbo, di2iam os pitagóricos# "as era, sobretudo, para
"itra, o jovem deus5sol dos *rianos, cujo culto se
fortalecia na astrolatria caldeia, ue se voltavam as almas
ue se sentiam convidadas a satisfa2er a sua necessidade de
imortalidade e de justiça#
1o centro deste mundo tão diversificado, simultaneamente
corrompido e suspirando pela pure2a, velava, irredutí vel ao
sincretismo 3elenístico, o peueno povo judeu#
Era realmente um povo 9 parte# 1a -alestina 5 a (erra
-rometida 5 não passavam de um mil3ão# 's judeus da

di\spora,
importantes cinco a seis namil3ões,
na "esopot\mia, formavam
+íria e no colónias
Egipto, sobretudo
em *leandria# 1o entanto, o coração de todos estava em
0erusal&m, cidade ;nica: não ue ela se pudesse comparar a
*ntiouia ou a feso, mas porue o seu (emplo era a morada
do /eus ;nico, o ref;gio de um monoteísmo muito elevado ue
dava a cada um dos fil3os de Israel, por mais pobre ue
fosse, a consci!ncia de uma superioridade indestrutível#
(odos estavam unidos pela f& num /eus

]

santo, transcendente, ue criou o 3omem 9 sua imagem, ue o


convida 9 esperança num messias libertador e numa eternidade
bem5aventurada, cumulada pela contemplação das perfeições
divinas#
Entre este /eus 5 ^a3Pe3 _ 0av& 5 e o seu povo 3% uma
ligação concreta, santa, viva: a (ora 5 lei de "ois&s ou
-entateuco 5, ao mesmo tempo fonte da vida e da sabedoria, e
colect\nea de preceitos religiosos e morais ue completava
um ensino oral transmitido de geração em geração# '
sin&drio, presidido pelo sumo sacerdote, e os escribas eram
os guardiães desses tesouros , cuja posse fa2ia dos 0udeus o
povo de onde viria a salvação#
"as o judaísmo aleandrino j% assimilara as riue2as do
platonismo e do estoicismo# <ílon de *leandria UL a# C# 5
c# J] d# C#V era um representante típico desses judeus
3eleni2ados ue organi2avam a doutrina etraída das
Escrituras num sistema teológico e filosófico elaborado,
cuja influ!ncia c3egava 9s comunidades judaicas da Tsia
"enor e da +íria# Este sistema preparar% o camin3o para a
teologia cristã#
1a -alestina, a situação era outra# 1o tempo dos +el!ucidas,
os 0udeus permaneceram refract%rios ao 3elenismo# [uando
*ntíoco Epif\nio ousou erguer um 0;piter olímpico no próprio
coração do templo, levantou5se, atr%s dos "acabeus, um povo
inteiro armado para a guerra santa e ue triunfou# [uand o a
força invencível de )oma acabou por sujeitar Israel 9
condição de vassalo, o povo de /eus apegou5se 9 sua f& com
um fervor ainda maior e uniu 9 sua volta os mel3ores dos
seus fil3os, os fariseus Uperousc3im _ separadosV 3erdeiros
dos Hasidim Uos piedososV do tempo dos "acabeus#
-ara os fariseus, cuja vida religiosa se centrava na
meditação e na pr%tica da .ei, o judeu ue ensinasse grego a
seu fil3o era maldito# Eigiam a rígida observação do sabat,
a pure2a leal e o pagamento das dí2imas sagradas, porue a
seus ol3os, a alegria nascia dessa fidelidade aos mais

peuenos mandamentos
imortalidade da alma, dena /eus# *li%s, mantin3am
ressurreição, a f& dos
na eist!ncia na
anjos, ao contr%rio dos saduceus, ue apenas se cingiam 9s
prescrições da (ora#

J

*o fervor farisaico 5 guardião da c3ama sagrada 5 ligava5se


o ardor dos 2elotas, resistentes ue combatiam abertamente
os )omanos e representavam o nacionalismo judaico na sua
forma virulenta# E os ess&nios Ucerca de uatro milV
levavam, 9 margem da vida religiosa oficial, uma vida de
cenobitas, obedecendo a uma regra rigorosa#
<oi no seio deste peueno povo indom%vel ue nasceu 0esus#

B# 0esus

8' nome de 0esus não se inscreveu simplesmente na 3istória


do "undo6 marcou5a profundamen te8, escrevia Emerson# 1isso,
toda a gente est% de acordo# "as, entre os estudiosos, 3%
diverg!ncias sobre a realidade 3istórica da pessoa de Cristo
e sobre a srcem da sua mensagem# ' 3omem comum, se não foi
cateui2ado em profundidade, revela acerca de 0esus ideias
j% feitas ou confusas: um 0esus taumaturgo, c3arlatão,
vendedor de son3os e de ilusões, 8o primeiro socialista do
"undo8 ou, uando muito, 8o grande amigo8 consolador#
/urante s&culos, 0esus, fil3o de /eus, foi objecto de uma f&
uase sem problemas# * eegese alemã, no s&culo 4I4,
baseando5se nos progressos da filologia e da 3istória
liter%ria, e num con3ecimento mais completo do *ntigo
'riente, c3egou a audaciosas conclusões nascidas do
racionalismo#
0% )eimarus Ufalecido em KONV via nos apóstolos apenas uns
fals%rios e nos Evange l3os a epressão de uma impostura6
segundo ele, 0esus não passava de um profeta revolucion%rio
ue fracassou# Com * Zida de 0esus, de /avid +trauss,
publicada em NLJ, desemboca5se em plena mitologia: segundo
+trauss, os discípulos de 0esus, ao narrar a vida do "estre,
teriam criado um Cristo ideal# $m dos representantes mais
c&lebres desta escola mítica foi Couc3oud ue, em ' "ist&rio
de 0esus UMB]V, fe2 de 0esus o produto dos son3os das
primeiras comunidades cristãs# * essa escola se op`s a
escola de (ubinga, particularmente representada por <# C#
auer Ufalecido em NOV ue se deiou levar pela fantasia
de uma imaginação criadora#

O

-ara *# von Harnac Ufalecido em MLV, c3efe da escola


liberal, tudo o ue, no Evangel3o, ultrapassar o uadro do
misticismo não ser% mais ue uma adaptação moment \nea 9s
concepções caducas da &poca ou uma vegetação parasita ue
revela as deformações efectuadas pelos discípulos na obra do
"estre# Em face deste misticismo de contornos nebulosos, a
escola escatológica U0# >eiss, *# .oisG e *# +c3Peit2erV
desenvolveu uma concepção aparentemente mais positiva, ue
consiste em fa2er descer o Evangel3o ao plano do judaísmo
contempor\neo# -or seu lado, os defensores da c3amada escola
8da 3istória das religiões8 Uousset e AuignebertV
procuraram a origem do cristianismo num sincretismo do
judaísmo com as religiões pagãs do s&culo I#
*ctualmente, a nova interrogação sobre o 80esus da História8
deriva das posições do eegeta luterano )udolf ultmann ue
aplica a <ormgesc3ic3te U83istória das formas8V aos
Evangel3os sinópticos e manifesta a originalidade do
pensamento de +# -aulo e de +# 0oão# +egundo ele, o 0esus da
História não pode ser, se facto, alcançado pela
investigação6 a interrogação sobre o 0esus da História não
se justifica teologicamente nem, ali%s, tem alguma
import\ncia para a f&# * partir de ML, a escola de
.ovaina, com .# Cerfau, aplica sistematicamente ao estudo
do 1ovo (estamento o m&todo da <ormgesc3ic3te, libertando5a
dos pressupostos filosóficos e dos preconceitos 3istóricos#
Como se v!, 0esus permanece um 8sinal de contradição8#
' ue não impede a subsist!ncia de d;vidas ra2o%veis sobre a
eist!ncia de 0esus# Hoje em dia, j% não se põe essa uestão
por se considerar in;til# E muitos superaram o abismo ue
alguns pretender am estabelecer entre o 80esus da História8,
a personagem ue viveu e morreu na (erra, e o 8Cristo da
f&8, desligado da História e prestes a tornar5+e uma
personagem mítica#
1a falta de uma biografia no sentido estrito do termo, &
possível, graças aos Evangel3os, seguir 0esus ao longo da
sua curta vida 5 uma trintena de anos 5 na -alestina,
submetida ao jugo romano, e etrair uma mensagem ue, mesmo
para um incr&dulo, se situa no nível mais elevado da
3istória dos 3omens#
K

0esus nasceu da Zirgem "aria, em el&m, no ano J ou ] antes


da era ue tem o seu nome# /eitado numa manjedoura, teve
como primeiros admiradores alguns pastores e, depois, uns
magos vindos do 'riente# *pós uma estada no Egipto,

instalou5se
de 1a2ar& dacom "aria e1o0os&
Aalileia# ano 5deseu
BK,pai
de adoptivo 5 na receber
l% saiu para aldeia
o baptismo das mãos de 0oão, ue ' apresentou 9s multidões
como 8o cordeiro de /eus8#
<oi nas margens do lago de (iberíades ue 0esus escol3eu os
seus apóstolos 5 fundamento da sua Igreja 5 e foi aí ue
começou a sua pregação# Comentando um teto da .ei na
sinagoga de Cafarnaum, assombra os seus ouvintes6 pois,
contrariamente aos escribas, fala com autoridade,
solicitando ue se ultrapassem as prescrições farisaicas,
afirmando ue não tin3a vindo para revogar a (ora, mas para
l3e dar pleno cumprimento, e anunciar o )eino ue vir%#
*inda ue 0esus ten3a ido a 0erusal&m para a celebração da
-%scoa, em BN e em BM, & na Aalileia ue a sua mensagem
gan3a epressão# <oi l% ue Ele proferiu as suas mais belas
par%bolas e foi 9s multidões ue acorriam 9 Aalileia ue Ele
ensinou o -ai51osso e anunciou a sua -aião6 foi para essas
multidões 5 esfomeadas e pobres como Ele 5, ue multiplicou
os pães6 foi sobre elas ue lançou o estran3o e paradoal
programa ue deveria ser a carta de uma nova 3umanidade:
8em5aventurados os pobres, os mansos, os aflitos, os ue
t!m fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros, os
ue promovem a pa2, os perseguidos###8, todos aueles ue o
8mundo8 rejeita, desde o aparecimento do Homem sobre a
(erra#
[uando, no fim do ano de BM, 0esus desce lentamente at&
0erusal&m, sabe ue ser% entregue aos )omanos# * glória dos
)amos precede de pouco a prisão, o julgamento diante do sumo
sacerdote e, depois, perante -ilatos, a morte na cru2 e a
sepultura, provavelmente em *bril do ano de L#
 f%cil admitir a morte de 0esus# 0% a sua ressurreição
c3oca, escandali2a ou provoca sorrisos# 1o entanto, o
testemun3o dos apóstolos centra5se na relação entre a morte
e a ressurreição de 0esus: auele ue alguns viram agoni2ar,
morrer e, passados tr!s dias, vivo, id!ntico a +i mesmo,
capa2 de ser apalpado e

N

de partil3ar a refeição dos seus amigos#  o Cristo


ressuscitado ue os seus discípulos pregarão e ue constitui
o fundamento do cristianismo: 8+e Cristo não ressuscitou, a
nossa f& & vã8, escreveu -aulo# <oi no j;bilo da
ressurreição de 0esus e, depois, na epectativa de uma
par;sia iminente ue as primeiras comunidades cristãs se
epandiram#

L# *s primeiras comunidades cristãs


Em B de 'utubro de MOL, auando do debate relativo ao
esuema sobre a Igreja no Concílio Zaticano II, "ons# Zan
/odePaard bispo de Harlem UHolandaV, fe2 votos para ue os
laços entre a Igreja Católica e *braão e os 0udeus fossem
mais evidentes, 8j% ue a Igreja & 3erdeira do povo judeu8#
<a2ia5se eco da epressão famosa de -io 4I: 81ós somos
espiritualmente semitas#8 -orue o cristianismo nasceu da
pregação de um judeu, cujos primeiros discípulos 5
igualmente judeus 5 se dirigiram, em primeiro lugar, aos
judeus# -ara o cristão, o *ntigo (estamento & insepar%vel do
Evangel3o e dos escritos apostólicos#
's membros da peuena comunidade, a Igreja, ue 0esus, após
a sua ascensão, deiara em 0erusal&m, apresentavam5se como
judeus ue viviam a sua religião de uma forma mais pura do
ue os seus pais6 porue, transcendendo o ensinamento
bastante elevado, mas ritualista, dos fariseus, eles tin3am
como refer!ncia as palavras do "estre 5 considerado por eles
como o "essias anunciado 5 ue dava o lugar primordial 9s
disposições do coração#
Era uma comunidade bem temer%ria auele primeiro grupo
judeo5cristão ue, durante algum tempo, viveu confinado 9
sala superior da casa onde 0esus celebrara a $ltima Ceia#
-ouco depois, acontece o -entecostes, auele vendaval ue
enc3e toda a casa6 o Espírito ue fortalece os corações
tímidos e transforma aueles 3omens 3umildes em arautos tão
vibrantes perante uem os escuta ue, desde o início, os
acusam de estarem b!bedos# * festa judaica levara a
0erusal&m uma multidão enorme# -edro, um pescador, ainda
ontem um renegado, dirige5se a ela: 8Israelitas, escutai
estas palavras: 0esus de 1a2ar&, 3omem

M

ue /eus creditou junto de vós com milagres, foi entregue


conforme o desígnio e a presci!ncia de /eus6 vós condenaste5
' 9 morte6 mas /eus ressuscitou5' e disso nós somos
testemun3as#8
Escutaram5no, sobretudo os judeus da di%spora, o ue eplica
a presença, bem cedo, de um peueno grupo de judeus cristãos
em /amasco, *ntiouia, *leandria e )oma# $m certo n;mero
desses 83elenistas8 permaneceu em 0erusal&m e, para se
ocuparem deles, os 8do2e8 designaram os di%conos Uem n;mero
de sete, di2em os *ctos dos *póstolosV# Est!vão, um dos
sete, & uma figura de proa: não 3esitando em identificar com
a idolatria o culto prestado a /eus no (emplo de 0erusal&m,

substituía5o,
pelo <il3o do na sua pregação,
Homem# pela nova foi
"uito naturalmente, ordem instaurada
lapidado como
blasfemo# * posição avançada de Est!vão, porta5vo2 dos
83elenistas8, assinala uma primeira etapa na evolução da
comunidade judeo5cristã#
/urante a lapidação de Est!vão aparece, pela primeira ve2
nos *ctos, um jovem judeu da Tsia, +aulo, ue mudar% o nome
para -aulo#
(emos muito poucos element os sobre a vida de -aulo antes da
sua conversão# * sua família, judia de srcem, mas ue 3avia
aduirido o direito de cidadania romana, estabelecera 5se na
Cilicia, em (arso, cidade amplamente aberta 9s rotas
comerciais e aos sincretismos religiosos: foi aí ue +aulo
nasceu no princípio da era cristã6 mas, em 0erusal&m, seguiu
as lições de um doutor famoso, Aamaliel, sendo atraído pelo
ideal farisaico# Com um temperamento apaionado, perseguiu o
cristianismo nascente, no ual não via senão impostura#
/errubado do cavalo por uma força invencível no camin3o para
/amasco 5 8+aulo, +aulo, porue "e perseguesW8 5, passa
algum tempo nos ermos do reino nabateu antes de rumar a
0erusal&m, onde encontra os c3efes da comunidade judeo5
cristã, (iago e -edro, e, junto deles, fortalece a sua f& em
Cristo crucificado e perseguido# /e 0erusal&m, parte para
*ntiouia na compan3ia de arnab&, onde o encontraremos a
preparar a sua primeira viagem mission%ria#
1a -alestina, os discípulos de 0esus alargam timidamente o
seu campo de acção# 's *ctos relatam o episódio da entrada

B

na Igreja do eunuco 5 um semita 5 da rain3a da Etiópia,


graças ao di%cono <ilipe# 's eunucos eram ecluídos da
comunidade de Israel# "ais significa tiva ainda & a pregação
do mesmo <ilipe, depois de -edro e de 0oão, aos +amaritanos,
esses pestilentos, como l3es c3amavam os judeus# "el3or: & o
Espírito ue leva -edro 5 ue em Cesareia, cidade pagã,
bapti2a o centurião Corn&lio 5 a uebrar um tabu,
universali2ando a mensagem cristã6 mas os murm;rios
escandali2ados 5 8Entraste em casa de incircuncisos e
comeste com eles8 5 ue acol3em -edro, no seu regresso,
provam ue os espíritos ainda não estavam preparados para
essa etapa#
1esse meio tempo, na comunidade cristã, os ritos judaicos
enriuecem5se com uma liturgia original: administração do
baptismo e tamb&m por ocasião das ceias comunit%rias, o rito
eucarístico da partil3a do pão#  provavelmente no decurso
dessas reuniões ue os irmãos se interrogam sobre 0esus e a

sua testemun3as
as mensagem, rememorando
da vida do as suas controlando
"estre, lembranças, os
interrogando
materiais
de ue são feitos os Evangel3os sinópticos# "as a jovem
Igreja aparece como o verdadeiro Israel e o *ntigo
(estamento & atentamente eaminado 9 lu2 do 1ovo#

B

Capítulo II
<')* /* -*.E+(I1*

# -aulo

' caso de -aulo & ;nico# *o lado de -edro e da comunidade


judeo5cristã, eis ue surge um 8novo8, algu&m ue não viu o
"estre, ue não fa2 parte dos do2e e ue, assumindo
inesperadamente uma vocação eigente, se lança no meio dos
pagãos, seus irmãos, sendo o primeiro a perceber ue se
podia passar directamente da idolatria para Cristo#
-ersonagem ecepc ional, a sua autoridade foi de tal modo
fulgurante ue alguns julgaram poder ver nele o primeiro
foco do cristianismo6 porue, enuanto os *ctos dos
*póstolos, dos seus vinte e uatro capítulos, consagram
uin2e ao apostolado de -aulo, muito pouco nos informam
acerca da actividade de -edro 5 8o príncipe dos *póstolos8
5, cujo rasto se perde rapidamente# *os ue opõem -aulo a
-edro, pode responder5se ue os Evangel3os 5 inclusive o
Evangel3o de 0oão 5 sublin3am, por v%rias ve2es, a
import\ncia do papel de -edro como intermedi%rio entre 0esus
e os outros apóstolos6 ue os *ctos mostram -edro a presidir
9 eleição de "atias e a falar em nome dos seus6 ue o
próprio -aulo, na sua primeira Epístola aos Coríntios,
apresenta -edro como a primeira testemun3a da ressurreição:
ali%s, foi junto de -edro ue buscou a confirmação da sua
missão#

BL

Isso não impede ue este peueno judeu 3eleni2ad o seja, com
toda a propriedade e significado da palavra, 8o apóstolo8,
isto &, a testemun3a, o pregador e o organi2ador# -aulo
contribui para este apostolado com as riue2as de uma
personalidade ecepcional, de uma f& ardente, de uma
sensibilidade muito viva por ve2es desconfiada, de uma
vontade dominadora, de uma sa;de d&bil, de uma intelig!ncia
apurada pelas formas uotidianas da vida apostólica e de uma
dial&ctica marcada tanto pelo rabinismo como pelo 3elenismo6

enfim,grandes
(r!s de uma caridade insond%vel#
intuições deram a esta eist!ncia a sua
densidade: a universalidade do reino de /eus e da salvação
pela f&, o primado do espírito sobre a letra e a liberdade
dos fil3os de /eus#
1o ano de ]], -aulo encontra5se em *ntiouia: arnab&, c3efe
da comunidade cristã, c3amou5o de (arso, de onde se irradiou
a sua fama de pregador# /urante um ano, -aulo e arnab&
trabal3am juntos# 1a -rimavera de ]J, embarcam para C3ipre
e, depois, vão para a -anfília# -aulo, tornado c3efe da
missão, irradia influ!ncia em redor de -erge e, depois,
*ntiouia da -isídia6 posteriormente, percorre a .icaónia:
Icónio, .istra e /erbe# -or toda a parte, procede da mesma
maneira: na sinagoga toma a palavra como l3e permite o
ritual judaico e esforça5se por demonstrar pelas Escrituras
ue 0esus & o "essias esperado por Israel6 depois, a sua
pregação orienta5se para os gentios# 1ão l3e faltam
dificuldades: aui, os judeus incitam a multidão a apedrej%5
lo6 acol%, tomam5no pelo elouente Hermes, enuanto outros
desejam adorar arnab&, cuja estatura evoca 0;piter#
)egressado a *ntiouia, -aulo c3oca5se com os judeo5cristãos
ue pretendem ligar a salvação ao rito da circuncisão#
Embora sujeitando5se 9s prescrições judaicas 5 8-ara os ue
estão sujeitos 9 .ei, fi25me como se estivesse sujeito 9
.ei, se bem ue não esteja sujeito 9 .ei, para gan3ar
aueles ue estão sujeitos 9 .ei8 5, -aulo não compreende
ue se impon3a a circuncisão aos gentios desejosos de
ingressar na Igreja# * controv&rsia & levada a 0erusal&m,
perante os c3efes da comunidade cristã, -edro e 0oão, ue
avali2am os m&todos paulinos, malgrado a resist!ncia de
muitos irmãos#

B]

1o 'utono de ]M, -aulo volta a sair de *ntiouia para uma


viagem mission%ria ue durar% tr!s anos# +epara5se de
arnab& e leva consigo +ilas, cidadã o romano# Em .istra,
-aulo junta a si (imóteo, jovem grego nascido de mãe judia#
's tr!s atravessam a <rigia e a Aal%cia, penetram na
"acedónia e alcançam <ilipos, onde são presos# C3egam a
(essalonica, onde os judeus os acusam de actuar como
advers%rios do imperador ao apresentarem 0esus como rei#
C3egam a ereia6 a sinagoga acol3e avidamente a palavra de
-aulo, 8eaminando, todos os dias, as Escrituras para ver se
tudo era eacto8# E eis ue -aulo c3ega a *tenas# (odos os
dias discute na *gora com os gregos subtis e cultos, mas
c&pticos e levianos# Encontra5os no *reópago, onde anuncia

um /eus edescon3ecido,
3omens ue 8fiou ;nico
um diae invisível ue o
para julgar fe2universo
a (erra ecom
os
justiça, por um 3omem ue Ele destinou, oferecendo a todos
uma garantia ao ressuscit%5.o de entre os mortos8# $m
escravo crucificado e saído do t;mulo Com risos
2ombeteiros, mandaram o orador de volta aos seus son3os:
8'uvir5te5emos sobre isso outro dia8
' peueno judeu desce a Corinto, o porto cosmopolita onde,
entre du2entos mil 3omens livres servidos por uatrocentos
mil escravos, trabal3am numerosos orientais mais bem
preparados ue os gregos para receber a mensagem evang&lica#
-aulo, misturando5se com os pobres e os marin3eiros 5 ele
próprio fa25se tecelão de tecidos de p!lo de cabra para
tendas 5, permanece de2oito meses em Corinto# E, depois de o
seu minist&rio se ter iniciado 8na fraue2a, no temor e em
grandes atribulações8, -aulo aduire segurança e fala da
Cru2 sem receio de c3ocar o orgul3o judeu ou de escandali2ar
a ra2ão grega#  de Corinto 5 onde se organi2a uma
importante comunidade cristã 5 ue -aulo remete as suas duas
cartas aos (essalonicenses ue uer fortalecer na f&,
mantendo5os na esperança do retorno do +en3or# *pós uma
breve escala em feso, -aulo retorna 9 +íria por mar#
"as, a partir da -rimavera de JL, empreende a sua terceira
viagem mission%ria, a mais longa# Escol3e feso como
uartel5general6 feso, a magnífica, emula de *leandria,
estendida, inteiramente branca, sob o sol implac%vel, em
torno do templo

BJ

de *rtemis ou *rtemísia, uma das maravil3as do "undo# *pesar


de condu2ir numerosas almas para Cristo, -aulo tem de travar
em feso auilo ue designar%, na sua segunda Epístola aos
Coríntios, como o seu 8combate contra as feras8: 8+ão
ministros de CristoW Como insensato digo: muito mais eu#
"uito mais, pelas fadigas6 muito mais, pelas prisões6
infinitamente mais, pelos açoites# "uitas ve2es, vi5me em
perigo de morte###8  de feso ue -aulo remete duas das
suas mais belas cartas# 1a Epístola aos A%latas, eorta5os e
intima5os a sacudir definitivamente o jugo da .ei, depois de
l3es relembrar a srcem e a força da sua própria vocação# E
com ue soberano j;bilo enumera os 8frutos do espírito8,
opostos aos frutos da carne: caridade, alegria, pa2,
paci!ncia, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e
temperança
* primeira Epístola aos Coríntios U-rimavera de JKV tornou5
se necess%ria devido 9s divisões ue enfraueciam a

comunidade de
judai2antes ou Corinto6
da acçãotratar5se5ia
de gnósticosde acobertados
uma ofensivapela
de
autoridade de um certo *poioW * &tica 3el&nica e ao
legalismo judaico, -aulo contrapõe a liberdade do cristão,
para uem a ressurreição de Cristo & justiça, santificação e
redenção#
-aulo & forçado a sair rapidamente de feso porue um
fabricante de estatuetas de *rtemis provocou um grande
tumulto contra os cristãos ue prejudicavam o seu negócio#
Zai para a "acedónia UZerão de JKV, de onde envia aos
Coríntios uma segunda epístola: um poderoso partido 5
difícil de identificar 5 minava a autoridade de -aulo6 daí
ue ele considerasse necess%rio relembrar o fundamento da
sua autoridade# /e Corinto, onde permanece tr!s meses,
escreve aos )omanos para pedir5l3es ue o ajudem numa viagem
ue, de )oma, deveria condu2i5lo 9 -enínsula Ib&rica#
"as, antes disso, & preciso levar a 0erusal&m o produto da
colecta feita no 'riente a favor da Igreja5mãe# -arte de
<ilipos para (róade, de onde ruma para "ileto# *os irmãos de
feso ue foram v!5lo, confidenci a os seus pressentimentos:
8E agora estou certo de ue nunca mais vereis o meu rosto#
X###Y "as não considero preciosa a min3a vida, contanto ue
leve a bom termo a min3a carreira e cumpra o minist&rio ue
recebi do +en3or 0esus###8

BO

Começa, então, a paião de -aulo, de ue se con3ecem apenas


alguns episódios# Em Cesareia, onde desembarca, tentam det!5
lo, mas em vão6 o -entecostes judaico Uem JNV j% o v! em
0erusal&m: a sua presença desencade ia a cólera daueles ue
o consideram um traidor do judaísmo# -restes a ser linc3ado,
& preso como agitador# -ara não ser flagelado, usa a sua
condição de cidadão romano, conseguindo ue o levem at&
Cesareia, onde reside o procurador <&li, ue fa2 arrastar o
assunto durante dois anos UJN5OV# ' seu sucessor <estus,
cansado de ouvir -aulo apelar para C&sar, acaba por envi%5lo
para )oma# -assando por +ídon, Creta, "alta e -uteoli, numa
travessia movimentada, -aulo c3ega 9 capital do Imp&rio,
onde vive dois anos em liberdade vigiada, correspond endo5se
com os fi&is de Colossos, feso e <ilipos# * narrativa dos
*ctos det&m5se aí#
*s cartas pastorais 5 a (ito e a (imóteo, cuja autenticidade
& contestada 5 deiam supor ue o apóstolo sobreviveu ao
primeiro cativeiro romano6 o cativeiro, a ue a K Epístola
a (imóteo se refere, seria a prisão no tempo de 1ero#
+egundo Eus&bio, -aulo teria sido decapitado em )oma no ano

de OK e enterrado junto de -edro#


B# * sementeira cristã

1a Igreja palestiniana 5 mais estruturada do ue o mundo


paulino 5, -edro era o c3efe incontestado e, depois dele,
(iago# *s viagens de inspecção de -edro 9 0udeia, 9 +amaria
e at& a *ntiouia testemun3am a irradiação da Igreja5mãe
ue, no entanto, mais do ue as comunidades da Tsia e da
Ar&cia, tin3am dificuldade de se desembaraçar dos laços
muito fortes do judaísmo# "as o ue aconteceu com -edroW
8$ma coisa & certa 5 afirmava )enan 5, -edro morreu como
m%rtir6 e não se pode conceber ue ten3a sido m%rtir noutro
lado ue não em )oma#8 1ão se tem as provas absolutas6 mas
as investigações empreendidas por ordem de -io 4II provaram
ue, no s&culo II, se sabia ue um m%rtir muito importante 5
e porue não -edroW 5 tin3a sido enterrado numa necrópole da
colina vaticana#

BK

-ode afirmar5se ue a primeira comunidade cristã de )oma foi


fundada por -edroW -arece mais certo ue a semente do
cristianismo ten3a sido semeada em )oma por alguns judeus
vindos de 0erusal&m, pouco depois do -entecostes# Em O,
uando -aulo c3ega a )oma, os irmãos j% são numerosos# +eja
como for, a tradição católica sustenta ue -edro permaneceu
durante muito tempo na capital do Imp&rio, onde foi
crucificado por volta do ano de O# ' primado de -edro &
transmitido ao c3efe da Igreja romana# 1a memória dos
cristãos, -edro, saído da tradição judeo5cris tã, e -aulo, o
apóstolo dos gentios, permaneceram insepar%veis#
1a -alestina, as comunidades continuam a ter uma vida
difícil# Em OB, (iago foi eecutado# /epois de K, 0erusal&m
foi esmagada e destruída por (ito6 sobrevivem alguns
peuenos grupos de cristãos na (ransjord\nia6 separados da
grande corrente, transformar5se5ão em seitas 3eterodoas
contaminadas pelo agnosticismo e pelo maniueísmo#
+e a fisionomia de -aulo & esclarecida pelos tetos sagrados
e se a sil3ueta de -edro e do próprio (iago se perfilam, por
ve2es, no 3ori2onte do s&culo I, ue sabemos dos outros
apóstolos e da sua acção apostólicaW 1ada ou uase nada#
Eus&bio e )ufino pretenderam ue, após a morte de (iago, foi
designada a cada um deles uma 2ona de acção: assim, a terra
dos Citas U+ul da );ssiaV a *ndr&, a da índia Citerior a
artolomeu, a terra dos -artos a (om&, a Etiópia a "ateus###
"as trata5se apenas de uma bela lenda# 1o entanto, uem

poderia acreditar
directri2 ue
do "estre: algum
8Ide, dos do2e
ensinai todas pudesse esuecer a
as nações###8W
' autor do primeiro Evangel3o 5 "ateus, o antigo publicano 5
revela uma rica personalidade, mas nada sabemos da sua vida#
*s lendas ue cercam a 3istória de 0oão 5 o apóstolo ue
0esus amava 5 desaparecem diante do ardor dos seus escritos#
*pós a morte de -aulo, 0oão est% em feso: parece ter sido,
na Tsia, a mais elevada autoridade espiritual do fim do
s&culo I# (ertuliano pretendeu ue 0oão sofresse em )oma,
sob /omiciano, o suplício da %gua a ferver: teria saído são
e salvo e, relegado para -atmos, acabaria por morrer j%
centen%rio, em feso# ' uarto Evangel3o 5 o de 0oão 5 & um
documento ;nico

BN

ue, no essencial, coincide com os sinópticos6 mas 0oão


interessa5se menos pela Aalileia, onde 0esus pregou e curou,
do ue por 0erusal&m, onde se estabeleceu a nova aliança6
menos pelas par%bolas de Cristo do ue pelas refleões sobre
os mist&rios de /eus: 0esus /eus, Zerbo, .u2 e -ão da Zida,
0esus formando um só com o -ai, propagando a vida pelo amor#
+em d;vida, a ideia de um Zerbo era familiar 9 filosofia da
&poca6 mas em 0oão o .ogos não & o pensamento de /eus, antes
a sua -alavra incarnada# (er% sido escrito algo mais
prodigioso do ue o famoso prólogo: 81o princípio era o
Zerbo, e o Zerbo estava com /eus, e o Zerbo era /eus8W
[uais são as causas da progressão assombrosa do cristianismo
no decurso dos tr!s primeiros s&culosW /epois de -aulo e
-edro, o sil!ncio da História recai sobre a actividade dos
seus discípulos e seus sucessores, e nen3um nome de
propagador ou de arauto c3egou aos nossos dias# "as essa
obscuridade não foi infecunda# * oa51ova foi transmitida de
boca em boca por mercadores, viajantes, vendedores
ambulantes, escravos libertos, judeus 3eleni2ados
conuistados para Cristo ou gentios convertidos#
 verdade ue a 8missão8 cristã beneficiou de um conteto
3istórico e geogr%fico privilegiado# $ma boa rede de
relações 3umanas, facilitada pela segurança das estradas e
pela actividade dos portos, permitia ue os 3omens e as
ideias circulassem e se difundissem rapidam ente# 1o caso do
cristianismo, as in;meras comunidades judaicas da di%spora
e, depois, as comunidades paulinas serviram naturalm ente de
apoio 9 evangeli2ação# 1ão foi por acaso ue os principais
centros do cristianismo nascente foram *ntiouia,
encru2il3ada de caravanas, feso, o grande porto da Tsia,
(essalonica, porta aberta para a "acedónia, Corinto, em

contacto
do com o mar Egeu e o mar *dri%tico, e )oma, o coração
Imp&rio#
"ons# /uc3esne di2ia justame nte ue o Imp&rio )omano foi 8a
p%tria do cristianismo8# /e facto, foi )oma uem indicou 9
Igreja as suas primeiras fronteiras: a -a )omana favoreceu,
no interior do Imp&rio, os interc\mbios necess%rios# )oma
forneceu 9 Igreja cristã os seus uadros jurisdicionais: a
cidade, a província e, mais tarde, a diocese# /e resto,
sabe5se ue o

BM

terreno espiritual 5 sobretudo nas costas orientais do


"editerr\neo 5 estava pronto para receber a semente cristã#
' próprio -aulo se inspirara, na sua pregação, no
vocabul%rio e na ideologia do 3elenismo#
1ão devemos considerar o cristianismo um sincretismo, o
resultado de uma am%lgama de religiões misteriosas com a
gnose pagã, porue 3% dois elementos ue estabelecem a
diferença essencial entre a religiosidade ue reina no
s&culo I e a religião de 0esus pregada por -aulo: o
constante recurso 9 íblia e 9 pessoa 3istórica de Cristo 5
8(ransmiti5vos, em primeiro lugar, o ue eu mesmo recebi:
Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo re2am as
Escrituras# <oi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia,
segundo as Escrituras# *pareceu a Cefas U-edroV e depois aos
/o2e8 UICor J,L5JV#  esse cristocentrismo, ao lado da
consci!ncia da sua autonomia em relação ao judaísmo, ue fa2
a srcinalidade do cristianismo e a unidade das comunidades
dispersas6 & ele ue d% um sentido típico ao termo ue -aulo
introdu2iu: a Igreja, corpo de Cristo e centro vivo do reino
de /eus#
[uaisuer ue ten3am sido as facilidades oferecidas pelo
conteto do Imp&rio )omano e pelas preparaçõe s ideológicas,
3% um 8milagre cristão8, como 3ouve um 8milagre grego8, ue
encantava &rulle: 8/iante de um mundo poderoso, organi2a do
e triunfante, um pun3ado de pobres 3omens sem instrução nem
poder6 o imp&rio eterno estabelecido por pobres pescadores
mudos como peies, de entre os uais foram tirados sem
intriga nem prud!ncia, sem e&rcito nem viol!ncia#8
/iante de 0esus e dos seus 3umildes int&rpretes, levanta5se
um mundo no ual a virtude certamente não est% morta6 mas em
ue, apesar de tudo, oficialmente triunfam o ouro e o
estupro, a força e o go2o, o respeito medroso pelo mais
forte e o despre2o pelo pobre6 um mundo, cujos recursos
materiais e espirituais são mobili2ados em proveito de uma
aristocracia6 um mundo, no ual a maioria dos 3omens

constitui a auilo
interno8: a escravos,
massa de ue (oGnbee c3ama 8o doproletariado
base económica Imp&rio6 os
peregrini, gente sem lar nem p%tria, os 3umiliores, os
tenuiores UV# Eistem ainda matronas 9

1ota : 's mais 3umildes, os mais fracos# X1 do (#Y

L

antiga, mas uma sensualidade desenfreada & a epressão do


despre2o pela mul3er### 1esse mundo, o cristianismo propõe
uma doutrina e uma vida cujos elementos essenciais são a
pure2a, a caridade universal, a pobre2a e o desapego das
3onrarias, elementos não totalmente novos, mas renovados e
ressuscitados com Cristo#
1o fim da era apostólica Uano KV, a Igreja cristã conta com
in;meras comunidades no 'riente: +íria, Tsia, "acedónia e
Ar&cia#  prov%vel ue *leandria ten3a con3ecido o
cristianismo antes do fim do s&culo I# -ara o 'cidente, os
progressos são mais lentos# 1o início do reinado de (rajano
Uano de MNV, )oma & o ;nico centro cristão comprovado:
parece ue o cristianismo foi aí recrutar adeptos
inicialmente entre os indivíduos oriundos do 'riente, de
língua grega, essa língua ue foi o primeiro veículo do
Evangel3o#
<oi precisamente atrav&s dos orientais ue se implantou, no
s&culo II, a primeira Igreja cristã da A%lia, a de .ião, com
os seus dois primeiros bispos, <otino e Ireneu, srcin%rios
da Tsia6 metade dos uarenta e oito cristãos martiri2ados,
em KK, tin3a nomes gregos# E foi tamb&m do 'riente ue
c3egaram, no s&culo II, os fundadores da Igreja da Tfrica#
1o decorrer do s&culo III, a Igreja espal3a5se por toda a
parte: na Tsia, onde as comunidades se multiplicam e não
somente junto das costas, na +íria, no delta e no vale do
1ilo e na Cirenaica# -ara l% das fronteiras do imp&rio,
alcança a "esopot\mia# 1o 'cidente, da Ilíria 9 Hisp\nia são
implantadas uma centena de igrejas: a It%lia Central, o +ul
da A%lia e a costa mediterr\nica da Hisp\nia são as 2onas
mais favorecidas# * UArãV retan3a e a +icília con3ecem
Cristo e encontram5se cristãos nas cidades5fronteiras, face
aos b%rbaros, na margem esuerda do )eno e na margem direita
do /an;bio# ' 1orte de Tfrica abre5se amplamente ao
Evangel3o: por volta de BLJ, um concílio re;ne uma centena
de bispos em torno do bispo de Cartago#
"as este nascimento da Igreja reali2ou5se no sofrimento#

L

L# * Igreja ue sofre

' Imp&rio )omano ter% sentido a ascensão desta nova seivaW


*ntes do fim do s&culo I, certamente não# ' mais antigo
documento oficial, em ue se fa2 refer!ncia aos cristã os
data do ano de B6 trata5se da carta dirigida a (rajano por
-línio, o 0ovem, proc`nsul na itínia, província na ual o
cristianismo prosperava#
/urante muito tempo, a opinião p;bli ca confunde judeus e
cristãos, e sobre ambos correm as mesmas maledic!ncias:
3%bitos impuros, sacrifícios 3umanos### Em )oma, no entanto,
desde o reinado de 1ero, parece ue j% se fe2 a distinção#
1ero * História j% dep`s suficientemente contra essa
personagem para ue nós ven3amos apertar ainda mais os seus
gril3ões, pois sabemos bem o ue o imperador 3istrião
representa na tradição cristã# 1a noite de N para M de
0ul3o de O], tr!s uartos da cidade de )oma foram devastados
por um inc!ndio ue só seria dominado passados seis dias: a
opinião p;blica atribuiu o sinistro 5 parece ue
erroneamente 5 9 loucura de 1ero# *cusado, o imperador
procura e encontra os culpados plausíveis: os cristãos ue o
povo mal con3ece, tendo5os por misantropos, ateus e 3omens
dados a ritos orgíacos# E o circo de 1ero, situado no local
onde actualmente se ergue a asílica de +ão -edro, assiste
durante a noite de J de *gosto de O], a uma das cenas mais
atro2es de um reinado f&rtil em ignomínias: cristãos
transformados em toc3as vivas iluminando os jogos e as
orgias#
(ertuliano afirma ue 1ero deu um instrumento jurídico 9 sua
acção contra os cristãos: o Institutum 1eronianum, cuja
proibição essencial era: 81on licet esse C3ristianos#8 's
3istoriadores mostram5se divididos uanto a esse facto6 mas,
em todo o caso, não foi a ra2ão de Estado ue levou 1ero
Ufalecido em ONV a perseguir os cristãos#
* situação prolongou5se durante o tempo de /omiciano UN5
MOV# 1a ;ltima d&cada do s&culo I, a religião cristã fe2
grandes progressos, gan3ando adeptos mesmo entre os círculos
vi2in3os do imperador: assim, por eemplo, "# <l%vio
Clemente e <l%via /omitila, primos5irmãos de /omiciano, e
*cílio Al%brio, um dos c`nsules de M# ' autoritarismo e os
tiues

LB

físicos de /omiciano alimentam os sarcasmos da elite romana6


por isso, o imperador procura atingi5la, castigando os

cristãos, ueparece
perseguição são espoliados
ter sido ouparticularmente
eecutados por ateísmo#
violenta *na
Tsia#
/ois anos depois da morte de /omiciano, o Imp&rio cai nas
mãos de (rajano UMN5KV, o optimus, ue leva as ualidades
de 3omem de Estado ao grau supremo# (rajano vangloria5 se de
manter a antiga toler\ncia romana# )espondendo a -línio, o
0ovem, proc`nsul na itínia, ue o consultara sobre a
conduta a manter em relação aos cristãos, fia uma norma de
conduta: os cristãos, com efeito, são ateus6 se convictos,
devem ser punidos, mas não se deve procur%5los e deve
deiar5se de lado as den;ncias anónimas: todo o inculpado
ue se arrepender deve ser libertado# Este 8rescrito8 de
(rajano UBV iria fa2er jurisprud!ncia, embora a atitude do
poder a respeito dos cristãos, no decurso dos s&culos II e
III, não seja nada clara# 's grandes *ntoninos: *driano
UK5LNV, *ntonino, o -io ULN5OV, e "arco *ur&lio UO5
NV nada fariam para agravar a legislação anticristã6 mas,
aui e ali, eclodiriam c3amas de antagonismo e tombaram
m%rtires, devido 9s pressões do povo sobre o poder local,
pois & ineg%vel ue a cólera popular, alimentada por
maledic!ncias, invejas, aborrecimento ou patriotismo
eagerado arrastou mais de um cristão aos seus tribunais e
ao suplício: a multidão sempre se mostrou covarde em relação
9s minorias e 9s pessoas vigiadas pela polícia#
"ais 3ostis foram os +everos# +eptímio +evero UML5BV
assina, em BB, um rescrito ue visa, ao mesmo tempo, os
judeus e os cristãos: & proibido não só fa2er5se cristão,
mas tamb&m 8fa2er8 cristãos6 a justiça não deve apenas
esperar as den;ncias, mas igualmente procurar os cristãos:
&, sobretudo, no Egipto e em Tfrica, onde o cristianismo
progride rapidamente, ue esse rescrito fa2 mais vítimas#
' cruel Caracala UB5BKV, Heliog%balo, um oriental
deseuilibrado UBN5BBBV, e o religiosíssimo *leandre
+evero UBBB5BLJV deiam adormecida a legislação precedente#
[uiseram fa2er de *leandre +evero um admirador de Cristo, o
ue & certamente falso6 ali%s, o seu reinado foi marcado,
esporadicamente, por eecuções de cristãos denunciados pela
multidão#
LL

<enómeno id!ntico no tempo de <ilipe, o Trabe UB]]5B]MV,


transformado abusivamente em cristão# 1o entanto, & verdade
ue, em meados do s&culo III, 3ouve entre os funcion%rios do
Imp&rio mais de um discípulo de 0esus: 81ós enc3emos os
campos, as cidades, o <órum, o +enado e o -al%cio8, escrevia

(ertuliano,
de cristão# com algum eagero, levado pela sua consci!ncia
* grande vaga de perseguições desencadeou5se na &poca do
valoroso /&cio UB]M5BJV, preocupado com ue o envel3ecido
Imp&rio regressasse 9s virtudes e ao culto da antiga )oma#
Em BJ, todos aueles ue, no território do Imp&rio,
beneficiassem do direito de cidadania romana, eram obrigados
a manifestar epressamente Uatrav&s de um sacrifício, de uma
libação ou da participação numa refeição sagradaV a sua
adesão 9 religião oficial: certificados UlibelliV atestarão
o facto e os infractores poderão ser punidos com a morte# *
aplicação desse &dito provoca muitas abjurações, mas tamb&m
encontra alguns resistentes ue dão origem a numerosos
martírios em )oma, na Tsia, no Egipto e em Tfrica#
Zaleriano UBJL5BOV, atrav&s de dois &ditos, agrava essa
legislação, visando a cabeça do corpo cristão: bispos,
padres e di%conos6 a Igreja de Tfrica & di2imada# +obrev!m
oito anos de pa2 sob o reinado de Aaliano UBO5BONV, inimigo
das desordens policiais# *ureliano UBON5BKJV não tem tempo
de impor ao Imp&rio o seu sincretismo solar#
[uando, após de2 anos de anaruia, /iocleciano assume as
r&deas do Imp&rio UBN]V, o "undo con3ece um mestre, cujas
reformas profundas permitiriam ue )oma manifestasse um
derradeiro esplendor# "as a vontade imperial de unificação
administrativa e religiosa, a impossibilidade para os
cristãos de associar o culto de 0esus ao rito da adoratio 5
essencial aos ol3os de /iocleciano e de "aimiano, seu
associado 5 e o papel cada ve2 mais importante desenvolvido
pelo cristianismo na sociedade romana eplicam
suficientemente a duração ULL5LLV e a viol!ncia da ;ltima
perseguição, 9 ual o nome de /iocleciano permaneceu
definitivamente ligado# Houve muitos m%rtires, ainda ue, em
muitos locais, as ordens vindas de cima ten3am sido
amortecidas pelo enfrauecimento das posições pagãs ou pela
coabitação fraterna entre pagãos e cristãos#

L]

+eria ilusório uerer enumerar os m%rtires dos tr!s


primeiros s&culos bem como os apóstatas, os lapsi,
particularmente numerosos, parece, na Tfrica do 1orte# *ui,
a severa 3agiografia deve tomar o lugar das lendas, por mais
belas ue sejam#
*s *ctas e as -aiões dos m%rtires 5 as mais antigas peças
3agiogr%ficas 5 foram, por ve2es, retocadas, num sentido
edificante, a ponto de se transformarem em verdadeiras
canções de gesta cíclicas, aparecendo aí invariavelmente 5

como nos filmes


imperador malvadodeou2vesterns 5 osdissoluto,
o proc`nsul elementos oda carrasco
epopeia: cuja
o
mão treme, as pretensas testemun3as oculares,
interrogatórios prolios e estereotipados, o terrífico
arsenal de torturas, o abuso dos bons, os enterros durante a
noite### *s *ctas de +ta# Cecília, de +ta# (ecla, de +#
+ebastião, a -aião de +# 0ulião encontram5se entre os mais
c&lebres desses romances piedosos#
/ispomos de testemun3os suficientes em primeira mão, cuja
brevidade & garantia de autenticidade, para nos convencer de
ue muitos cristãos se mostraram corajosos perante a morte e
ue as Aesta "artGrum t!m um valor de apologia# Em KK, por
eemplo, uma carta5circular dirigida pelas Igrejas de .ião e
de Ziena 9s Igrejas da Tsia, relativa 9 morte do bispo
<otino e dos seus compan3eiros 5 entre os uais a escrava
landina 5 fornece um relato sem !nfase, mas
individuali2ado, dos sofrimentos dos cristãos# *s *ctas dos
m%rtires cilicanos 5 levados de +cillicum para Cartago em
N 5 são um breve di%logo, certame nte estenografado, entre
o proc`nsul +aturnino e +peratus, porta5vo2 dos seus
3umildes compan3eiros# ' mesmo tom de autenticidade se
regista nas *ctas proconsulares de +# Cipriano, bispo de
Cartago UBJNV, de +# <rutuoso, bispo de (arragona, e dos
seus di%conos UBJMV, de +# "aimiliano, o conscrito de
(ebessa UBMJV, de +# "arcelo, o centurião, em (ingi U(\ngerV
UBMOV, de +# <ileias de (unes ULJV, etc#
"uitas ve2es se repetiu ue o 8sangue dos m%rtires foi uma
semente de cristãos8# Incontest%vel e etimologicamente, um
m%rtir & uma testemun3a e o seu testemun3o 5 por ve2es
volunt%rio 5 tem um valor apolog&tico6 tem tamb&m um valor
redentor, sendo uma vitória sobre o mundo e +atã#
Considerado como o grau culminante da santidade, o martírio
aureola

LJ

os seus eleitos com uma veneração de ue & testemun3o a


própria Eucaristia ue era, e ainda &, celebrada sobre os
seus t;mulos# "as era a um testemun3o perp&tuo ue cada um
dos membros da Igreja cristã era c3amado#
]# * Igreja ue vive

[uando se pretende evocar a vida dos cristãos dos tr!s


primeiros s&culos, & inevit%vel ue se impon3am as imagens
coloridas dos superfilmes americanos ou italianos: arrab\s,
[uo Zadis, en Hur e muitos outros# 's cristãos aparecem aí

como um
ser tímido
ue se grupo condu2ido
revelem por anciãos
possuídos por tr&mulos
um 5 a não
profetismo
grandilouente# /esta multidão gemente, destaca5se um belo
3&rcules apaionado por uma fr%gil pagã ou sobressai uma
linda cristã cortejada pelo fil3o de um proc`nsul: o amor
impele5os para o p& da cru2 e, mais tarde, para a arena
ensurdecedora invadida pelas feras# /e ualuer forma, o
3eroísmo tenso de 8-olieucto8 & mais sadio do ue a suave
graça da 8<abíola8 de >iseman#
*o relermos os documentos sobre a vida cristã dos primeiros
s&culos, deiados por (ertuliano, 'rígenes, Clemente de
*leandria ou Hipólito, ficamos com uma impressão muito
diferente# 's cristãos não se distinguem dos outros 3omens
por nen3um pormenor eterior6 participam inteiramente da
vida da cidade, mas os seus c3efes eigem ue eles, perante
os costumes pagãos 5 ecessos de lu;ria, come2ainas,
espect%culos obscenos ou cru&is e divórcio 5, reajam com
firme2a# ' Evangel3o deve dar forma 9s relações uotidianas#
-ede5se a 3omens fracos uma atitude viril, um controlo
permanente dos seus gestos e dos seus pensamentos# *
iniciação dos catec;menos e a reconciliação dos pecadores
não são formalidades ou ritos destituídos de sentido: eigem
uma força e uma 3umildade singulares#
1o s&culo II, o catecumenato comporta tr!s fases: uma,
durante a ual os audientes UV são instruídos na vida
cristã e se

1ota : 'uvintes# X1# do (Y

LO

eercitam praticando5a6 outra ue & a preparação imediata


dos electi UV6 e, finalmente, o baptismo por tripla
imersão, precedido de eorcismos, de uma longa vigília e
seguido pela imposição das mãos, verdadeiro sacramento
UconfirmaçãoV#
* disciplina da reconciliação Usacramento de penit!nciaV
abrange: a confissão do pecado ao presbíter o ou ao bispo6 a
eclusão p;blica do pecador ue passou para a categoria e
grupo dos penitentes6 a reconciliação ue tem lugar na
-%scoa, como o baptismo# -ara os casos de adult&rio, de
3omicídio e de apostasia, a penit!ncia dura muito tempo, por
ve2es at& 9 morte# 's mais eigentes c3egam ao ponto de
advogar ue a reconciliação seja negada nos casos graves de
reincid!ncia#
*ssim &, porue, de facto, nem todos os cristãos foram
necessariamente 3eróis# ' livro de Hermas 5 escrito em

meados do então,
contasse, s&culo com
II numerosos
5 demonstra ue,e embora
santos a Igreja
m%rtires, muitos
cristãos apegavam5se aos bens deste mundo6 ricos ue, nas
assembleias, se recusavam a ficar junto de pessoas 3umildes6
di%conos ue traíam os interesses temporais de ue eram
respons%veis6 a apostasia era um esc\ndalo muito comum# *
Igreja avançava lentamente6 mas, como o seu "estre a camin3o
do Aólgota, por ve2es tamb&m ela tropeçava#
's centros cristãos são essencialmente 8comunidades8, em ue
os ritos de reuniões desempen3am um papel capital:
assembleia eucarística a ue preside o bispo cercado de
presbíteros, com a oração de consagração e a distribuição do
pão eucarístico ao povo6 assembleias uotidianas de
instrução, com leituras e 3omilias, e %gapes fraternas#
Inicialmente, os cristãos reuniam5se numa sala posta 9
disposição por um deles# 1o s&culo III, j% encontramos
lugares de culto autónomos, ue pouco a pouco são
construídos segundo uma aruitectura específica Utipo
basilicalV# 's cristãos dispõem, a partir do s&culo II, de
cemit&rios próprios: primeiro, cemit&rios de superfície e,
depois, sobretudo em )oma, em galerias subterr\neas ou
catacumbas, onde o culto cristão se refugia em tempos
difíceis: aí se desenvolve uma arte protocristã

1ota : Eleitos ou escol3idos# X1# do (Y

LK

frescos, mosaicos e sarcófagos 5, evocando a vida cristã e


fornecendo um alimento perp&tuo 9 cateuese#
1o fim do s&culo II, a 3ieraruia parece fiada
uniformemente nas comunidades cristãs# 1a c;pula, o bispo,
designado pelo povo6 abaio dele, os presbíteros e os
di%conos, ordenados pelo bispo, e como auiliares activos:
os acólitos, os leitores, os eorcistas e os osti%rios# Em
meados do s&culo III, contam5se em )oma uarenta e seis
presbíteros, sete di%conos, uarenta e dois acólitos,
cinuenta e dois cl&rigos menores# * população cristã est%
dividida em sete regiões, tantas uantas o n;mero de
di%conos# ' pessoal eclesi%stico, al&m do serviço lit;rgico,
dedica5se tamb&m a funções administrativas e de assist!ncia:
em )oma, por eemplo, mil e uin3entos pobres estão
permanentemente a cargo da comunidade cristã# ' primado do
bispo de )oma, a sua influ!ncia doutrinal 5 uando não
disciplinar 5 &, segundo +to# Ireneu, 8uma tradição
apostólica86 no entanto, acerca dos primeiros papas, uase
só con3ecemos os nomes#

* escala
pouco da província
a autoridade e mesmo da diocese,
do metropolita impõe5se
Umais tarde, pouco a
designar5se5%
por arcebispo e patriarcaV# 0unto das ordens eclesi%sticas
3ierarui2adas, a Igreja primitiva cria um lugar para os
confessores, ou seja, os cristãos ue foram presos por causa
da f&, para as vi;vas, futuras diaconisas, e para as
virgens# * superioridade da virgindade sobre o casamento &,
desde logo, admitida6 no entanto, alguns advogam mesmo o
encratismo, a ren;ncia ao casamento, considerada como
condição de ingresso na Igreja# Este ecesso filia5se em
numerosas deformações ue representam um perigo constante
para a cristandade nascente e, de modo especial, no
gnosticismo#

LN

Capítulo III
* IA)E0* [$E <*.*

# Ireneu perante a gnose

* gnose & uma ci!ncia religiosa, uma forma de con3ecimento


superior# ' gnóstico pretende possuir relativamente aos
problemas angustiantes da metafísica um con3ecimento
directo, intuitivo, total e beatificante: não & um 8fiel8,
mas um 8iniciado8# 's gnosticismos 5 porue são muitos 5
revelam convicções comuns: o car%cter essencialmente mau das
operações da mat&ria e da carne6 a infelicidade do 3omem,
prisioneiro do seu corpo, do mundo, do tempo e da sua alma
inferior pecadora, porue ele tem uma alma celeste# '
fundamento da gnose & o dualismo#
* carne, a gnose opõe o espírito6 ao criador do mundo
visível 5 o demiurgo 5, opõe um deus descon3ecido, ue & lu2
e bondade# 's gnósticos cristãos dos primeiros s&culos
oporiam o 3omem50esus ao Zerbo# -orue, embora possa ter
eistido uma gnose pr&5cristã, especialmente judaica Uos
ess&nios de [umrãV, uma gnose judeo5cristã Uos ebionitasV e
uma gnose etracristã Umandeísmo, sabeísmoV ue sobreviveu
na "esopot\mia, a verdadeira gnose desenvolveu5se, em
particular, durante os primeiros s&culos cristãos#
Como os seus cong&neres, os gnósticos cristãos t!m como
refer!ncia ensinamentos misteriosos e vão busc%5los em parte

LM

a numerosos evangel3os apócrifos# * maioria recusa5se a


acreditar na incarnação e na morte de Cristo6 na sua

opinião,
pagãos os sacramentos
e das cristãos *s
iniciações ocultas# nãosuas
diferem dos mist&rios
posições morais são
etremas: ou um ascetismo desumano ou um amoralismo total,
dado ue aueles ue possuem a gnose salvadora estão
colocados acima das leis morais instituídas pelo demiurgo#
' cristianismo primitivo na Tsia, na +íria e no Egipto,
testemun3a uma proliferação das confrarias gnósticas# '
*pocalipse de 0oão denuncia dois grupos de gnósticos
asi%ticos: os discípulos de um certo alaão e os nicolaítas
ue amaldiçoavam o /eus do *ntigo (estamento e praticavam o
libertinismo absoluto#
"as o c3efe de seita mais prestigiado & +imão, o +amaritano,
tamb&m c3amado o "ago ou o "%gico, personagem muito culta
ue os seus discípulos consideram o primeiro deus,
advers%rio dos anjos criadores do mundo# *s confrarias
simonianas espal3am5se por toda a parte, at& mesmo em )oma#
+amaritano como +imão, "enandro apresent a5se como um m%gico
imortal, semel3ante a Cristo#
1a cosmopolita *leandria, a gnose floresce com asilides,
fundador de um culto de mist&rios, no ual só se podia
ingressar apenas passados cinco anos de sil!ncio completo#
1ela, Carpócrates & objecto de uma adoração póstuma#
Zalentim vai de *leandria para )oma na &poca do papa Higino
e disputa a sucessão de -io: a sua teologia poderosa sedu2
muitos cristãos# "arcião Ufalecido cerca de OV foi a )oma
na mesma &poca de Zalentim6 eagerando o pessimismo paulino
perante a carne e a criação, rejeita totalmente os
ensinamentos do *ntigo (estamento6 as Igrejas marcionistas
multiplicam5se no mundo mediterr\nico, mas, sobretudo, na
"esopot\mia, onde abrem camin3o ao maniueísmo#
-ara a Igreja nascente, a gnose representa um perigo mortal,
porue corrompe a ideia judaica da transcend!ncia divina#
Ela confunde os mist&rios cristãos e a ideia paulina da
mis&ria do 3omem com o esoterismo das religiões antigas# '
misticismo impreciso, mas tentador, e o pessimismo
fundamental do gnosticismo ameaçam desviar a esperança
cristã 5 alimentada pela

]
crença num Homem5/eus 3istórico 5 para um desejo de
libertação próimo do nirvana# Easperando a ascese ou, pelo
contr%rio, os desejos da carne, a gnose coloca5se contra a
moral evang&lica, feita de mansidão e euilíbrio# (odo o
corpo da Igreja visível est% ameaçado de morte# *inda mais
uando um sacerdote frígio de Cibele convertido ao
cristianismo, "ontano, pretende ue a preemin!ncia da Igreja

pertença não
imin!ncia aos bispos, mas aos profetas, em virtude da
da par;sia#
<ace a essas doutrinas efervescentes, face 9 gnose e ao
montanismo, ergue5se Ireneu, bispo de .ião U<rançaV, ue & a
vo2 do corpo eclesial# Este grego de Esmirna con3eceu
-olicarpo, discípulo do apóstolo 0oão# +abe onde estão as
fontes do cristianismo e & capa2 de distinguir a corrente
evang&lica, atrav&s dos solavancos da 3istória# *os c3efes
de seitas, ele opõe a autoridade colegial e institucional
dos bispos, autoridade oriunda dos apóstolos e da ual a
Igreja de )oma & deposit%ria# s doutrinas etravagantes, em
ue o sublime convive com o insólito, opõe a regra da f&
cristã, tal como prov&m das Escrituras e c3egou aos fi&is
atrav&s da tradição apostólica# Ireneu recapitula tudo em
Cristo: a 3istória dos 3omens 5 incluindo o *ntigo
(estamento 5 e o próprio 3omem# * seus ol3os, a unidade & a
própria condição da vida da Igreja e essa Igreja não & uma
justaposição de confrarias, em ue cada uma, isoladamente,
pretende penetrar mais profundamente no mist&rio de /eus6
mas & uma comunidade 3umana em marc3a para um /eus
ressuscitado: $bi Ecclesia, Ibi +piritus# Eis porue o
*dversus 3aereses de Ireneu &, na História da Igreja, um
livro capital#

B# $ma apologia pela pena e pelo sangue

Ireneu morreu m%rtirW H% d;vidas# 'utros, antes ou depois


dele, acrescentaram o testemun3o da sua morte ao das suas
palavras e escritos# /e entre eles, destaca5se In%cio de
*ntiouia Ufalecido em KV e -olicarpo de Esmirna Ufalecido
em JJV#
ispo de *ntiouia, talve2 nomeado por -edro ou por -aulo,
In%cio foi condenado 9s feras no tempo de (rajano6 mas, para
sofrer esse martírio, teve de fa2er a longa viagem at& )oma,

]

guardado por de2 soldados# Em Esmirna, onde -olicarpo o


recebe, avista5se com os delegados das Igrejas do 'riente e
daí escreve a cada uma delas e tamb&m aos )omanos para os
prevenir da data aproimada da sua c3egada e transmitir5l3es
a alegria ue sente em morrer para dar testemun3o de Cristo#
*s sete cartas 5 aut!nticas 5 ue ficaram deste m%rtir são
um monumento precioso: evidenciam, contra o docetismo, o
car%cter simultaneamente divino e 3umano da pessoa de 0esus,
a autoridade unificadora dos bispos e a catolicidade da
Igreja no início do s&culo II#

-olicarpo,
ue, o anfitrião
em breve, de o
irão receber In%cio,
relato anuncia aos do
do martírio <ilipenses
bispo de
*ntiouia# E ele próprio dever% renovar a gesta inaciana# 1a
&poca de *ntonino, perseguido durante muito tempo pela
polícia do proc`nsul [uadratus, -olicarpo, uase centen%rio,
& preso e, depois, levado montado num burro, ao centro do
anfiteatro de Esmirna, repleto de espectadores %vidos#
[uadratus, manifestamente impressionado pelos gritos da
multidão, interpela5o: 8lasfema e eu te soltarei Insulta
Cristo8, mas o vel3o replica: 80% 3% noventa anos ue '
sirvo e Ele nunca me fe2 mal# -or ue motivo 3averia eu de '
renegarW8 ' interrogatório & breve e a fogueira ue devora
-olicarpo & feita pelos espectado res ue invadem a arena# *
carta com a ual os cristãos de Esmirna descrevem o relato
dessa morte alimentar% o fervor de v%rias gerações de
cristãos na Tsia#
0ustino, morto como m%rtir em )oma por volta de OJ, & um
filósofo grego convertido: colocou a sua dial&ctica ao
serviço do cristianismo ue considera o florescimento do
ideal platónico#  o mais destacado dos apologistas do
s&culo II 5 *ristides, *polin%rio, "elitão### 5 ue,
dirigindo5se directamente ao c3efe do Imp&rio, procuram
demonstrar5l3e ue, longe de renegar o 3elenismo, o
cristianismo transcende as suas riue2as#
"as & em *leandria e em Tfrica ue a jovem Igreja encont ra
os seus defensores mais bem preparados# Enuanto, aos ol3os
dos poderosos, o cristianismo não passa de uma seita de
gente 3umilde 5 8uma religião de cardadores, sapateiros e
lavadeiras8, como ironi2a Celso 5, aueles dois focos
permitem

]B

ue a nova religião possa dialogar, sem ridículo, com o


pensamento greco5latino#

L# /ois pólos de pensamento cristão: Cartago e *leandria

Em Cartago, os cristãos são em grande n;mero e empregam


uase eclusivamente o latim na liturgia# <oi (ertuliano
UJJ5BBV uem deu 9 Igreja de Tfrica e a toda a latinidade
a sua linguagem teológica, tão diferente do estilo oriental#
-ersonalidade fora de s&rie, este [uintus +eptimius <lorens
(ertullianus, cartagin!s, fil3o de centurião, fe2 estudos
ue l3e permitiram eercer em )oma, na &poca de +eptímio
+evero, o cargo de advogado# <oi, talve2, o espect%culo da
morte dos m%rtires ue o levou ao cristianismo# )egressando

a Tfrica,
todo o seu como presbítero,
entusiasmo c3efe
e talento dos catec;menos,
5 poder5se5ia coloca
mesmo di2er o
seu g&nio 5 de jurista e de polemista ao serviço de um ideal
cristão ue coloca num ponto muito alto, mesmo demasiado
alto, desumanamente inacessível# -orue (ertuliano pertence
9 classe dos convertidos intransigentes, 9 dos )ance, dos
Zeuillot, dos HuGsmans e dos loG, cujo bisturi nem sempre
respeitou a carne boa# Embora se possa lamentar ue
(ertuliano 5 como mais tarde .a "ennais 5 ten3a c3egado a
injuriar e depois a deiar a Igreja5mãe julgada demasiado
sonolenta#
' latim do s&culo III deiou poucas obras tão substanciais
como *d martGres, eortação ao martírio, ou /e
-raescriptione 3aereticorum, m&todo de combate baseado na
autoridade jurisdicional e 3istórica da Igreja# E esse
*pologeticum, onde a erudição do escritor reforça a
veem!ncia da sua f& para combater a idolatria "as j% nesta
obra se revela o rigorismo moral de (ertuliano, a
impossibilidade ue ele eperimenta de partil3ar a vida de
uma cidade ainda pagã# -ouco a pouco, c3ega ao ponto de só
respeitar os fi&is 8pneum%ticos8 5 aueles ue acreditam
estar em contacto directo com o Espírito 5, esmagando com o
seu despre2o e crueldade os fi&is comuns, ao mesmo tempo ue
acentua as mesuin3e2es da vida uotidiana: espect%culos,
modas e segundas n;pcias, nada escapa aos seus ataues#

]L

1o seu tratado /e -oenitentia, (ertuliano ergue5se com


veem!ncia contra a longanimidade do papa Calisto ue admite
a remissão de todos os pecados e, depois, afunda5se
lentamente no esuecimento daueles ue desligaram as suas
%geis canoas do grande e pesado barco da Igreja# (omando o
lugar de (ertuliano, eis Cipriano U(3ascius Caecilius
CGprianusV, ue foi bispo de Cartago desde B]N at& 9 sua
morte, ocorrida por decapitação, em BJN# ' juridicismo
latino fa2 com ue o 'cidente cristão se preocupe menos com
o ascetismo e a teologia do ue com a disciplina# 1a sua
obra5prima /e $nitate Ecclesiae, Cipriano insiste na
autoridade unificadora do bispo na comunidade cristã e
afirma o primado de )oma, não a considerando incompatível
com a colegialidade dos bispos#
Em *leandria, centro do 3elenismo cristão, o clima & bem
diferente# Enuanto na Tfrica latina, a f& se orienta para a
acção, no Egipto, floresce uma cultura refinada, uma
literatura especulativa ue atinge pontos culminantes,
desembocando na miraculosa síntese da filosofia grega com o

espírito
sido evang&lico#
fundada por um $ma
tal escola
-anteno,cristã aleandrina
de uem 3avia
foi discípulo
Clemente Ufalecido por volta de BJV ue deu renome a essa
escola# (anto na sua c%tedra como nos próprios escritos 5 o
-edagogo, os +tromata### 5, Clemente de *leandria uer
demonstrar ue eiste concord\ncia entre a sabedoria antiga
e o Evangel3o: multiplica as analogias, aproimando a íblia
dos poemas de Hesíodo e de Homero Uo bonito uadro das
raparigas de 0etro comparadas a 1ausica na camin3ada para o
lavadouroV6 mas, ao mesmo tempo, insiste na unidade da
)evelação disseminada pelo Zerbo nas diversas culturas# (udo
isso est% muito longe do judeo5cristianismo e da austeridade
de (ertuliano: ue o cristão nunca se esueça de ue &
cristão, mas ue assuma, sem fanfarronice nem vergon3a, o
seu lugar na cidade terrestre# +e a Igreja romana não
admitiu Clemen te no seu martir ológio foi porue ele, nos
seus +tromata, desenvolv eu estran3as teorias sobre a gnose#
E semel3ante desventura aconteceria tamb&m a 'rígenes, outro
grande aleandrino do s&culo III#
<il3o de um m%rtir, 'rígenes estava destinado 9s letras
profanas uando o bispo de *leandria, /em&trio, l3e pede

]]

para o ajudar como cateuista# 1essa ualidade, o jovem toma


contacto com a apolog&tica cristã, mas, sentindo5a muito
fr%gil diante da dial&ctica grega, passa a estudar a
filosofia neoplatónica# /e BB a BL, 'rígenes dirige em
*leandria e, depois, em Cesareia na -alestina, a
/idasc%lia, uma esp&cie de universidade, onde todos os
con3ecimentos 3umanos são recapitulados 9 lu2 do Evangel3o#
* obra escrita de 'rígenes & colossal: trabal3os sobre as
Escrituras, eeg&ticos 5 entre os uais as c&lebres
Heaplas, primeiro monumento da crítica cristã 5,
apolog&ticos, pol&micos### e uma correspond!ncia importante#
 claro ue algumas afirmações origenistas 5 crença na
eternidade da mat&ria e na preeist!ncia das almas 5 foram
condenadas como erradas, mas 'rígenes teve o m&rito de abrir
camin3o a uase todas as ci!ncias sagradas#
-ela refutação ue 'rígenes promoveu UContra CelsumV,
con3ece5se o Zerdadeiro /iscurso do filósofo pagão Celso,
ue v! no cristianismo apenas ilogismo e estupide2#
1ão pensemos ue os apologistas cristãos não encontraram
nen3um advers%rio# * reacção pagã desenvolver5se5ia at& ao
s&culo Z#
$ma primeira forma dessa reacção foi o sincretismo, ue fa2
de todos os deuses 5 incluindo o deus dos judeus e o deus

dos cristãos
(iana 5 uma
e 1um&rio mesma
são divindade
os dois mais panteísta# *polónio de
c&lebres representantes
dessa tend!ncia#
"ais vigoroso & o ataue condu2ido pela escola neoplatónica,
fundada em *leandria , no s&culo II, por *mónio +aca# Conta
entre os seus discípulos -lotino UBJ5BKV, ue elaboraria
uma doutrina baseada essencialmente no platonismo, do ual
-lotino aproveitou sobretudo a metafísica, colocando5a na
base de uma moral da pure2a, condição de elevação da alma
at& ao $no# <ervoroso adepto do 3elenismo, -lotino não
persegue os cristãos, mas só con3ece o cristianismo 5 uma
religião sem &tica 5 na sua versão deformada pela gnose#
Com -orfírio Ucerca de BL]5LJV, discípulo de -lotino, e
0\mblico Ucerca de BJ5LLV, o neoplatonismo torna5se
violentamente anticristão# aseando5se na filologia e na
3istória, estes filósofos

]J

eaminam criticamente o teto da íblia, insistem nas


diverg!ncias entre os relatos evang&licos, indignam5se com a
-aião de 0esus e só descobrem no cristianismo incoer!ncias
e mentiras# 's uin2e livros ue -orfírio elaborou contra os
cristãos, e ue foram destruídos em ]]N, constituem a mais
forte mauinação montada no s&culo III contra a religião de
0esus# 1o entanto, isso não impede ue esta, no alvorecer do
s&culo IZ esteja pronta a suceder ao paganismo#

]O

II
* IA)E0* -E/*A'A* /' 'CI/E1(E

Capítulo I
/E C'1+(*1(I1' * (E'/@+I'

# Constantino ou a emerg!ncia

[uando, em LJ, "aimiano e /iocleciano abdicam a favor de


Const\ncio e de Aal&rio 5 ue completaram a tetraruia,
designando como c&sares +evero e "aimino /aia 5, o Imp&rio
penetrou num período obscuro: lutas breves, mas implac%veis,
opuseram os imperadores ou os seus fil3os#
<oi atrav&s de Constantino, fil3o de Const\ncio, ue o
Imp&rio reencontrou a unidade e a pa2# Em BN de 'utubro de
LB, vindo da A%lia, Constantino esmagava e matava, na ponte
"ilvius, diante dos muros de )oma, o fil3o de "aimiano,

"a!ncio# como
designara +eis augusto
meses por
maisocasião
tarde,da .icínio, ue Aal&rio
morte de +evero ULKV,
batia, na (r%cia, "aimino /aia, levando5o ao suicídio# 0%
não 3avia mais ue dois imperadores: Constantino em )oma e
.icínio na 1icomedia#
*o mesmo tempo, o cristianismo emergia da clandestinidade,
porue, com a instalação de Constantino no coração do
Imp&rio, reali2ava5se um milagre ue o próprio (ertuliano
acreditaria ser impossível: um imperador cristão# [uando &
ue Constantino abraçou o cristianismoW <oi na A%liaW E por
ue influ!nciasW E ele uem eraW Eis algumas das uestõe s a
ue os 3istoriadores não cessam de dar as mais diversas
respostas# /evemos acreditar no bispo Eus&bio de Cesareia 5
o 3istoriógrafo

]M

de Constantino 5 ue fe2 dele um modelo de virtudeW 'u no


pagão =ó2imo ue viu nele o respons%vel pela decad!ncia
romanaW /eve dar5se f& ao episódio lend%rio, segundo o ual,
junto da ponte "ilvius, os soldados de Constantino colocaram
nos seus escudos o símbolo cristão, pois o vencedor de
"a!ncio tivera uma visão ue apresentava a cru2 de Cristo
com a inscrição: 1este sinal vencer%sW ' facto de
Constantino só ter pedido o baptismo no leito da morte ULLKV
ser% uma prova de falta de fervor cristão, apesar de os
baptismos tardios serem freuentes na Igreja primitivaW
' certo & ue, desde o início do seu reinado, Constantino
manifestou, em relação ao cristianismo, uma simpatia
militante de ue & prova evidente auilo ue se designou
impropriamente o dito de "ilão ULLV# (rata5se menos de um
acto jurídico do ue dos resultados concretos das
confer!ncias reali2adas em "ilão entre .icínio e
Constantino: esuecimento do passado, total liberdade dos
cultos, reparaçã o dos prejuí2os sofridos pelos cristãos# 1a
realidade, só com (eodósio ULM5LMJV & ue a situação
privilegiada do paganismo cessou totalmente a favor do
cristianismo#
Embora a ami2ade de Constantino para com os cristãos ten3a
contribuído para preparar essa mudança, no 'riente, .icínio,
permanecendo pagão, contentava5se em ser tolerante# 1o
'cidente, desde LBL, os símbolos cristãos começam a
substituir os signos pagãos nas moedas6 as basílicas 5 de
configuração rectangular, com naves sobre colunas e tectos
com vigas aparentes 5 multiplicam5se em )oma e em todo o
Imp&rio6 o vocabul%rio cristão infiltra5se na legislação6 os
fil3os do imperador são criados no cristianismo, eemplo

contagioso
só: num Estado
os julgamentos dos romano fortemente
tribunais monaru
episcopais são i2ado# E não
oficialmente
v%lidos e as Igrejas t!m a faculdade de construir um
património próprio# 1o entanto, a famosa 8doação de
Constantino8 ao papa +ilvestre não passa de lenda forjada
somente no s&culo ZIII#
[uando Constantino, desembaraçando5se de .icínio, se torna o
;nico sen3or do Imp&rio, transforma i2\ncio na espl!ndida
Constantinopla ULB]V, criando uma 8nova )oma8
especificamente cristã#

J

B# $ma ameaça para a Igreja: a inger!ncia do Estado

Entretanto, Constantino permanecia na lin3a autorit%ria de


/iocleciano# *li%s, no s&culo IZ, seria impens%vel uma
separação entre o temporal e o espiritual# *ssim, o
imperador não se limitou a interessar5se pela Igreja cristã,
mas uis ser tamb&m a sua 8emin!ncia parda8, preocupado
tanto com os interesses do Estado como com os dos fi&is de
Cristo# <oi ele uem convocou e presidiu ao primeiro
concílio ecum&nico, em 1iceia, no ano de LBJ, e decidiu as
medidas ue seriam tomadas contra os 3ereges, embora, tr!s
anos mais tarde viesse a tornar5se protector deles# -oder5
se5%, então, falar de c&saro5papismoW Esta epressão &
anacrónica, uando aplicada ao s&culo IZ# "as não & menos
verdade ue a Igreja se tem mostrado profundamente marcada 5
e at& aos nossos dias 5 pela sua eperi!ncia de cristandade
constantiniana#
 durante a crise ariana ue o peso do imp&rio se mostra
mais forte# -or volta de LB, um padre de *leandria, *rio,
começou a ensinar ue 0esus, a primeira das criaturas,
apenas possuía uma divindade secund%ria e subordinada#
<orçado pelo bispo *leandre, um concílio egípcio condenou
*rio ue se sabia apoiado por diversos teólogos orientais#
Em breve, todo o 'riente estaria envolvido na uerela,
embora um concílio geral, reunido em 1iceia ULBJV, graças
aos cuidados do imperador, definisse ue o <il3o de /eus foi
gerado pelo -ai, não criado, consubstancial ao -ai, e +e fe2
carne para a salvação dos 3omens# * pa2 não surgiu em 1iceia
porue, dividido s sobre o sentido da palavra consubstancial
os bispos 3esitaram entre fórmulas diversas# * f& nicena
encontra um arauto na pessoa do jovem bispo de *leandria,
*tan%sio, ue Constantino 5 agora, j% partid%rio de *rio 5
mandou eilar para (r&veros ULLOV# 1o tempo de Const\ncio
II, imperador ;nico, e, depois, no 'riente, no tempo de

Zalente,
seu ponto tamb&m ele príncipe ariano, a confusão c3egou ao
culminante#
<oi necess%ria a autoridade de (eodósio ULKM5LMJV para ue,
por um &dito assinado em (essalonica UBN de <evereiro de
LNV, todos os povos submetidos ao Imp&rio fossem c3amados
8a aderir 9 f& transmitida aos )omanos pelo apóstolo -edro,
ou seja,

J

9 f& professada pelo pontífice /\maso e pelo bispo de


*leandria, ue consiste no recon3ecimento da +antíssima
(rindade do -ai, do <il3o e do Espírito +anto8# ' segundo
concílio ecum&nico, reunido em Constantinopla, em LN, por
pressão de (eodósio, fe2 triunfar a f& nicena# ' catolicismo
ortodoo tornava5se a religião oficial de todo o mundo
romano# (eodósio ia mais longe: empreendeu a destruição do
vel3o politeísmo romano e, ao mesmo tempo, beneficiou o
cristianismo com m;ltiplos privil&gios fiscais e judiciais#
's bens confiscados dos templos pagãos foram entregues 9s
igrejas ue, ami;de, ajudadas pelos benefícios imperiais, se
tornaram muito ricas#
-oder% di2er5se ue, desde então, a Igreja se ter% enfeudado
ao EstadoW 1ão 3% d;vida de ue ela se cola 9 estrutura
administrativa aperfeiçoada por /iocleciano: cada cidade com
o seu bispo, cada província com o seu metropolita# "as,
enuanto os funcion%rios imperiais eram 8nomeados8 pelo
imperador, os bispos eram pastores livremente eleitos pelo
clero local e pela população, de tal maneira ue a
autoridade religiosa era bem distinta da autoridade civil6
fundamento de uma monaruia de direito divino, a Igreja
representava tamb&m um poder espiritual, sem o ual o
próprio Imp&rio j% não se poderia conceber# *l&m do mais, a
decad!ncia do Imp&rio no 'cidente, no s&culo Z, não foi
acompan3ada pela ueda da jovem Igreja#
-orue esta Igreja j% est% fortemente organi2ada: o primado
da c%tedra de -edro ue & perceptível, sobretudo, no not%vel
pontificado de /\maso ULOO5LN]V6 a import\ncia dos sínodos
provinciais e dos concílios ecum&nicos6 a autoridade dos
metropolitas e dos bispos ue, por seu turno, asseguram a
colegialidade necess%ri a6 a livre circulação das instruções
e das ordenações canónicas, e a fluide2 favor%vel 9
irradiação de fortes personalidades como *tan%sio de
*leandria e *mbrósio de "ilão# * partir dos finais do
s&culo IZ, operam5se grandes agrupamentos regionais,
normalmente em redor dos mais antigos centros cristãos:
Constantinopla, *ntiouia, 0erusal&m e *leandria#

*ssim,
a pa2 euando (eodósio
a protecção morre, emaos
necess%rias LMJ, a Igreja
seus j% encontrara
grandes

JB

amadurecimentos# "as, na sombra calma, j% dormem tamb&m os


inimigos ue, por de2enas de ve2es, no curso da sua
História, tentarão arrebatar5 l3e o tesouro da sua pobre2a e
da sua liberdade#

JL

Capítulo II
*.*1' /' C)I+(I*1I+"' E" "E*/'+ /' +C$.' IZ

# $ma visão de conjunto

(eodósio deia o imp&rio aos seus dois fil3os, jovens e


incapa2es: o 'riente a *rc%dio, o 'cidente a Honório# 's
dias da vel3a )oma estão contados# Enuanto a onda b%rbara
avança a ponto de engolir o Imp&rio, ue 2onas do mundo se
podem ualificar como cristãsW
-ara l% dos limites do Imp&rio, as Igrejas prosperam# 1o
Imp&rio +ass\nida 5 apesar da longa perseguição de +3apur II
ULM5LKMV 5, a "esopot\mia possui centros de fervoroso
cristianismo em Edessa, +el!ucia UCtesifonteV e 1ísibis#
<ortalecidas por +# "arutas 5 o segundo fundador da Igreja
persa 5, elas difundem5se ao longo do golfo -&rsico e no
Curassão, preparando a penetração cristã na Tsia Central#
Entalada entre )oma e o Irão, a Igreja da *rm&nia, ue
beneficia da conversão do rei (iridates Upor volta de BNV,
& organi2ada por +# Aregório, o Iluminador, e por seu neto
1erses# * Igreja georgiana tem na sua srcem uma escrava
cristã, 1ino# 1a Etiópia, <rum!ncio, sagrado bispo por
*tan%sio Ucerca de LLV, funda uma Igreja com um futuro
not%vel, mas cujos primórdios se descon3ecem# (er% 3avido
infiltração cristã no I&men e na *r%bia durante o s&culo IZW
 bem possível#

JJ
Entre o /an;bio e o /niepre viviam tribos germ\nicas, os
Aodos, e foi um dos seus prisioneiros, $lfilas, ue os levou
ao cristianismo, na forma ariana6 substituindo os caracteres
r;nicos por um alfabeto srcinal, $lfilas tradu2iu a íblia
para gótico# -ouco a pouco, o cristianismo ariano vai
gan3ando os Zisigodos, os 'strogodos, os urg;ndios, os

+uevos
e uma eparte
os Z\ndalos# Entre ospermaneciam
dos .ombardos Aermanos, somente
fora doos domínio
<rancos
cristão#
1o interior do imp&rio, 3avia um nítido contraste entre o
'riente e o 'cidente# Embora, desde o fim das perseguições,
a densidade das comunidades cristãs j% fosse grande na Tsia
"enor, na +íria, no Egipto, na Tfrica e tamb&m na It%lia
Central e "eridional, a verdade & ue a A%lia, a It%lia do
1orte e a -enínsula Ib&rica manifestavam um atraso ue só
seria parcialmente superado durante o s&culo IZ# *ssim, a
A%lia ue, em LL, contava apenas com uns cinuenta
bispados, ter% mais de uma centena um s&culo mais tarde6 em
breve seria fiado o mapa eclesi%stico da antiga <rança,
muito semel3ante ao das cento e cator2e cidades galo5romanas
do aio Imp&rio#
' limes UV, a lin3a fortificada romana do )eno5/an;bio
estava pontil3ada por numerosas comunidades cristãs, como as
de Colónia, )atisbona e -assau, desti nadas a um glorioso
futuro# E não se deve esuecer ue foi a sul da mural3a de
*driano ue nasceu, por volta de LNM, o apóstolo da Irlanda,
-atrício# "as at& ue ponto essas populações eram cristãsW

B# * elite intelectual e o cristianismo

1esta &poca, o cristianismo &, essencialmente, uma religião


de cidades#  volta do bispo movimenta5se um clero numeroso6
em redor dos padres e dos di%conos formigam os cl&rigos
menores, ue canali2am as multidões de fi&is para as
basílicas#
1ecessariamente, nem todos esses fi&is eram santos# Com o
seu n;mero crescente, a Igreja sentia pesar sobre si o
mist&rio da sua eist!ncia, o mist&rio de Cristo unido a um
corpo

1ota : .imite, fronteira# X1# do (#Y

JO

tanto místico como social, coberto de pecados e de


fraue2as# *s peuenas comunidades primitivas tin3am
crescido privilegiando a 8massa8, essa massa cristã de ue
se fala e ue tanto escandali2a, pelo seu peso e pela sua
falta de fervor, aueles ue son3am com uma Igreja
despojada, jovem, viva e totalmente genero sa# 8* massa 5
escreve monsen3or /uc3esne, falando do s&culo IZ 5 era
cristã como podia s!5lo uma massa superficial e formal: a
%gua do baptismo tin3a5a tocado, mas o espírito do Evangel3o

não tin3aa penetrado


perdido nela#8 's9 teatros
sua clientela6 e circos
volta do não 3aviam
imperador 5 ue
freuentemente era um cristão medíocre 5, fervil3ava um
bando de funcion%rios, cortesãos e cortesãs, cuja religião
se acomodava aos costumes decadentes#
*li%s, em certos meios letrados e aristocr%ticos, sobretudo
as famílias senatoriais permaneceram durante muito tempo
3ostis ao cristianismo, ainda considerado uma religião
b%rbara, igualit%ria e sem poesia# * apostasia do imperador
0uliano, educado no culto das tradições pagãs e da filosofia
neoplatónica ULO5LOLV, outra coisa não foi senão uma
renascença semel3ante 9uela ue, mais tarde, o s&culo 4ZI
con3eceria, por&m mais ef&mera, cujo elemento principal era
a admiração pela filosofia, pelas artes e pelas letras
antigas# <ilósofos, retores UV, gram%ticos e sofistas
tornariam ainda por muito tempo, a vida difícil ao
cristianismo: a escola filosófica de *tenas só fec3aria as
suas portas em JBM# ' neoplatonismo seria o advers%rio por
eleição da religião do Aalileu#
'ra, o s&culo IZ foi precisamente a idade de ouro dos padres
da Igreja 5 os ;ltimos fogos do paganismo iriam apagar5se
diante dessa intensa lu2#

L# 's tr!s pólos do 3umanismo cristão: *mbrósio , 0erónimo e


*gostin3o

's padres da Igreja pertencem, uase todos, 9 elite da


sociedade e & not%vel a semel3ança da sua formação e da sua

1ota : 'u retóricos# X1# do (#Y

JK

trajectória dentro da Igreja: estudos liter%rios ue fa2em


deles escritores distintos, promissora carreira profana
interrompida pela 8conversão8, período fortalecedor passado
em solidão, intensa actividade pastoral, acompan3ada de
forte influ!ncia doutrinal# *tan%sio de *leandria, asílio
de Cesareia, Aregório de 1a2ian2o, 0oão Crisóstomo,
Cassiano, /\maso de )oma, Hil%rio de -oitiers, nunca a
Igreja contar% tantos doutores, ainda mais ue dessa lista
fa2em parte tamb&m os tr!s pilares do 3umanismo cristão do
s&culo IZ: o milan!s *mbrósio, *gostin3o, o *fricano,
0erónimo, o mestre de el&m# Estes 3omens viram um mundo
inteiro desmoronar5se e sabiam ue a fr%gil cristandade
contava muito com as suas palavras e os seus actos para se
manter de p&#

Aovernador
*mbrósio da aclamado
foi .ig;ria bispo
e da Emília
aos L] com
anosresid!ncia em milan!s
por um povo "ilão,
conuistado pela sua sabedoria# <oi como orador, como c3efe
e como jurista ue enfrentou o paganismo e ue uis
dissociar do Estado romano# "as o bispo de "ilão não & um
especulativo6 os seus escritos, pregados antes de serem
publicados, visam a instrução6 da sua obra5prima, /e
'fficiis "inistrorum, imitada de Cícero, irradia uma pa2
admir%vel onde a moral cristã aparece, tr!s s&culos depois
da morte de 0esus, como uma flor perfeita
"uito diferente de *mbrósio Ufalecido em LMKV & 0erónimo,
ue l3e sobreviveria longo tempo Ufalecido em ]BV, e ue se
revelaria antes de mais nada um s%bio, mas a sua ci!ncia
volta5se para a acção# (endo deiado )oma, depois da morte
do seu amigo, o papa /\maso, 0erónimo viveria trinta e cinco
anos junto da gruta da 1atividade, dedicando5se a um
gigantesco e srcinal trabal3o de eegeta, de tradutor Ua
ZulgataV e de 3istoriador: obra imensa e diversa ue ele
marca com a sua personalidade vigorosa e, por ve2es,
derrotista# *trav&s dele, o latim da Igreja obt&m o seu
título de nobre2a# *o mesmo tempo, enuanto a vel3a )oma
tomba sob os golpes de *larico U]V, ele sustenta a coragem
dos 3omens ue a noite ameaça envolver abruptamente#
1o outro lado do "editerr\neo, 9 entrada da Tfrica cristã,
em Hipona, onde & bispo desde LMO, bril3a *gostin3o, cujo

JN

pensamento e actividade liter%ria pertencem ao património


universal: o agostinismo a par do tomismo & uma das formas
srcinais da filosofia cristã# Este convertido do pra2er e
do neoplatonismo desenvolveu, durante os trinta e uatro
anos do seu episco pado, uma actividade ue ultrap assa em
muito os limites da sua peuena diocese# *s centenas de
sermões tin3am como objectivo instruir o seu povo, mas as
suas cartas 5 de ue se conservaram BKO 5 dirigiam5se a
todas as cabeças pensantes do mundo romano# 's tratados de
*gostin3o giram ao redor dauilo ue ele considerava como os
tr!s flagelos da &poca: o maniueísmo, cujo universo
espiritual l3e parecia caótico6 o donatismo, cisma africano
provocado pelo bispo /onato, ue pretendia ecluir os
pecadores da Igreja6 e o pelagianismo, doutrina de um monge
bretão, -el%gio, ue proclamava a força da vontade do 3omem
em detrimento da graça divina# *o mesmo tempo, *gostin3o
esforçava5se por demonstrar aos pagãos, na Cidade de /eus,
ue o cristianismo podia vivificar um mundo novo# Escritor
subtil a ponto de atingir a mais alta poesia, as suas

Confissões
-ascal# só encontram
*gostin3o comparação
revela5se, nos invadida
na Tfrica -ensamentos de
pelos
Z\ndalos e num mundo submerso em trevas, como a consci!ncia
viva do 'cidente#

]# * cristiani2ação dos campos

Confunde5se muitas ve2es paganismo Upaganub _ campon!sV com


rusticismo, como se, no s&culo IZ, a idolatria, inteiramente
erradicada das cidades, não passasse de um fenómeno natural#
(rata5se de uma definição abusiva, ainda ue as massas
camponesas, menos influenciadas pela cultura antiga e pelas
ideias novas, estivessem menos avançadas do ue as cidades
uanto 9 cristiani2ação# ' vel3o pano de fundo das crenças
populares 5 mais ou menos assimiladas pelo politeísmo greco5
romano 5 permaneceu vivo at& ao s&culo Z nos campos do
'cidente: a Aerm\nia, por eemplo, resistiu durante muito
mais tempo # 's mission%rios cristãos depararam aí com um
paganismo 3eteróclito, onde se misturavam o culto das forças
da 1ature2a,

JM

das fontes e dos bosues e o culto das divindades dom&sticas


e locais#
/elicado problema era o da penetração do cristianismo no
campo, pois & certo ue os nossos ancestrais aderiram ao
Evangel3o com toda a sua bagagem de crenças e pr%ticas
supersticiosas# ' objectivo dos mission%rios 5 um 0onas na
(r%cia, um Zictrício entre os "orinos, um Zigílio nos *lpes
julianos ou um "artin3o na A%lia Central 5 era,
evidentemente, o de vencer a resist!ncia dos camponeses pela
autoridade das suas palavras e da sua conduta, mas,
sobretudo, pelos seus milagres: os relatos 3agiogr%ficos
mostram com abund\ncia %rvores sagradas cortadas, templos
incendiados, est%tuas de deuses derrubadas### (ratava5se
tamb&m de substituir as superstições pelos gestos cristãos:
uantas 8fontes sagradas8 não foram eorci2adas pela
implantação de uma cru2, mas, em contrapartida, uantos
santos não foram confundidos no culto popular com os deuses
ue eles substituíam 8'nde acaba o feitiço e começa a
oraçãoW8, perguntava o cónego /riou, ue foi um dos pr&5
3istoriadores das dioceses em <rança#
Houve n;cleos duros de resist!ncia# 1o 1orte da A%lia, a
idolatria sobreviveu at& ao fim do s&culo ZII# ' ritual do
baptismo propagou5se muito lentamente: um clero e fi&is
pouco preparados , igrejas em n;mero muito escasso, peuenas

e medíocres,
espírito eis o ue não facilitava a penetração do
evang&lico#
1ão admira, por isso, ue 5 segundo a bela fórmula do
professor .e r%s: 8* pr%tica religiosa em todo o 'cidente
propagou5se, graças ao duplo prestígio do maravil3oso e da
autoridade#8 5 se ten3a, por ve2es, concluído ue o
cristianismo se imp`s pela força a uma população ignorante e
embrutecida# "as ver na introdução e na manutenção do
cristianismo apenas um fenómeno de ilusão colectiva,
facilitado pelo regime sen3orial, & uma simplificação f%cil,
pois estamos perante uma operação singularmente lenta,
complea e delicada: a infiltração capilar do cristianismo
nas camadas mais profundas da sociedade ocidental#
 verdade ue, decorridos uin2e s&culos, com a ajuda do
tempo e das forças novas, o cristianismo aparece, em muitos

O

lugares, como uma religião puramente sociológica cujo verni2


j% estalou 3% muito tempo#  verdade ue a (urena de +#
"artin3o & a mesma de )abelais e de -aul5.ouis Couri er# "as
uem poder% di2er ual a simbiose, ual a metamorfose ue
presidiu ao florescimento do cristianismo na retan3a, onde,
durante tr!s s&culos, se justapuseram as crenças primitiv as
e o cristianismo c&lticoW +em d;vida, se notar% ue a
retan3a, como o 'este franc!s e como a -olónia, foram
marcadas pelo feuda lismo durante muito mais tempo do ue
outras regiões6 ue o bretão afastado do seu meio se torna
rapidamente um indiferente6 ue in;meros 3abitantes do campo
ue permaneceram fi&is praticam uma religião superficial ou
de medo# "as o 3umo 5 e o 3umo fa25se sempre de boas e m%s
ervas 5 acumulado por uin2e s&culos de cristianismo
produ2iu inumer%veis santos6 e não falamos apenas dos
canoni2ados# (amb&m brotaram muitos espin3os e plantas
in;teis ou sem frutos6 mas ue simbiose de forças
misteriosamente fundidas foi necess%ria para dar ao mundo
0oana dD*rc, Zicente de -aulo, 0oão5"aria ZianneG, 0oão
osco, /amião, 0oão 44III### para citar apenas camponesesW E
foi, sobretudo, o campesinato ue alimentou, durante
s&culos, a profunda corrente mon%stica#
J# Correntes profundas e balanço aparente

/esde o fim do s&culo III, o monauismo, aparecido no Egipto


com +to# *ntão, um campon!s rico, e -acómio, um soldado
convertido, atraiu para os desertos e para os conventos
mil3ares de 3omens desejosos de viver em toda a sua

integridade
o 'riente, aovida
ideal cristão#organi2a5se
mon%stica )apidamen tedeimplantada em todo
modo espor%dico e
em formas diferentes no 'cidente: em )oma com 0erónimo, na
Tfrica com *gostin3o, nas il3as .&rins com Honorato, em
.igug& e "armoutier com "artin3o###
Ininterrupta at& aos nossos dias, a corrente mon%stica 5 ue
o mundo ignora ou finge ignorar porue ela & silenciosa 5
não cessou de alimentar a fonte secreta de uma Igreja
constantemente ameaçada pela seca, pela corrupção, pelo
juridicismo e

O

pelo farisaísmo# 1a crista das altas vagas da História, a


barca de -edro ser% sempre salva do naufr%gio por alguns
navegantes descon3ecidos# "as isso não impede ue se coloue
ao 3istoriador com insist!ncia a uestão de saber ual foi o
contributo do cristianismo para a civili2ação greco5romana
em declínio# * primeira vista, a influ!ncia cristã sobre a
sociedade do s&culo IZ & superficial# +e o Código teodosiano
tira do Cristianismo os elementos de uma legislação menos
facilitista em relação ao divórcio, mais suave em relação 9
condição servil e ao regime das prisões, a Igreja não pode
etirpar o uso do abandono de crianças, a generali2ação da
tortura e do regime pr&5feudal# <oi preciso esperar at& ao
ano de ]LN para ver a cessação oficial dos combates de
gladiadores# E as eortações morais da Igreja foram de pouco
efeito sobre o terror, a tirania e a crueldade do aio
Imp&rio, ainda ue se ten3a visto um bispo c3eio de
prestígio como *mbrósio eigir uma penit!ncia p;blica do
imperador (eodósio ue, por muito cristão ue fosse, 3avia
mandado massacrar sete mil 3abitantes de (essalonica# '
contributo essencial da Igreja para a civili2ação &
representado pela caridade no sentido social do termo:
caritativa e 3ospitaleira, a Igreja aparece, desde então,
como o ref;gio dos pobres#

OB

Capítulo III
1' 'CI/E1(E * IA)E0* +$+(I($I5+E *' I"-)I'

# "en&, (eel, <arsin

Entre ] Usaue de )oma por *laricoV e ]KO Utomada de )oma


por 'doacroV, o Imp&rio )omano do 'cidente agoni2a# /epois
de depor o ;ltimo imperador de )oma, 'doacro, o H&rulo,

envia
e ue,aseminsígnias imperiais
paga, o fa2 a =enão,
patrício romano#ue reinava
*cabava de no 'riente
rebentar
um abcesso enorme e j% antigo, formado pela lenta
infiltração no Imp&rio de 3omens vindos do outro lado do
)eno e do /an;bio, cujas 3ordas tin3am sido contidas a muito
custo pelos imperadores# 1o começo do s&culo Z, irrompem
Aodos e *lanos, arrastando consigo Z\ndalos e +uevos, e
empurrando os urg;ndios: todos fugiam dos Hunos, ue se
3aviam voltado bruscamente para o 'cidente# Integrados no
Imp&rio )omano como federados ou instalados como
conuistadores, viram por ocasião do ataue de *larico a
)oma a profunda fraue2a do Imp&rio# Então, os <rancos
avançaram at& ao rio +oma, 9s portas da "anc3a, os
urg;ndios instalaram5se desde a +abóia ao rio +ona6 os
v\ndalos, epulsos da Hisp\nia pelos Zisigodos, pil3aram a
Tfrica cristã6 enuanto isso, os *nglos forçavam os retões
a epatriar5se# E 0erónimo perguntava: 8[uem poder%
acreditar, ue 3istoriador far% compreender 9 posteridade
ue )oma combateu no seu próprio território, não pela
glória, mas pela sua própria salvaçãoW8

OL

* jovem Igreja cristã iria tamb&m ser arrastada neste


desmoronarW Com efeito 5 se tivermos em conta a inc;ria do
Imp&rio do 'riente 5, ela era a ;nica força capa2 de dominar
o drama do 'cidente e dar5l3e um sentido# 1o entanto, os
uadros eclesi%sticos tin3am sido perturbados 5 de v%rios
modos conforme as regiões 5 pelas investidas dos %rbaros#
1a -anónia, na 1órica e na )&cia, o cristianismo & abalado
durante dois ou tr!s s&culos e a Ilíria desagrega5se# 1a
)en\nia, na &lgica e na 1ormandia, as listas episcopais
são, nesse período, interrompidas#
1a -rovença e na It%lia, onde o ostrogodo (eodorico age como
inteligente 3erdeiro do Imp&rio6 na *uit\nia e, depois, na
-enínsula Ib&rica, onde se instalaram os Zisigodos6 no vale
do )ódano, onde estão os urg;ndios, a vel3a civili2ação
greco5romana prolongar% suavemente a sua agonia, ainda
lançando os seus ;ltimos fogac3os# Entretanto, o arianismo
desses grandes Estados b%rbaros mais ou menos romani2ados
provoca a inimi2ade das comunidades de obedi!ncia romana e,
particularmente, na Tfrica, onde a luta entre os v\ndalos
arianos e os autóctones católicos só terminar% em JLL,
uando elis%rio reinstalar os i2antinos nessa Tfrica
cristã ue, enfrauecida pela crise donatista, oferecer%
pouuíssima resist!ncia ao Islão#
$m facto curioso: são as populações germ\nicas menos

marcadas pelo
directamente romanismo,ao os
do paganismo <rancos, obt!m
catolicismo, ue, oaoapoio
passar
da
Igreja romana, dos seus bispos e dos seus monges#

B# ispos e monges perante os %rbaros

 incontest%vel ue muitos bispos das civitates


desempen3aram perante os %rbaros um papel de defensores,
mediadores e sustent%culos de uma civili2ação# *gostin3o em
Hipona assediada pelos Z\ndalos, 1ic%sio em )eims, *ignan em
'rleães, -aulino em 1ola, +in&sio de Cirene, Euc3er de .ião,
"%imo de (urim e o bispo de )oma, .eão I, foram, entre
outros, os baluartes das suas cidades#
/epois, uando o furacão dos Hunos, em meados do s&culo Z,
uniu os Aermanos 9 volta dos destroços do Imp&rio

O]

)omano e as rudes virtudes dos %rbaros começaram a


desfa2er5se no contacto com uma civili2ação decadente, os
bispos ainda tiveram de enfrentar a situação de um mundo
informe, em ue triunfavam a corrupção e a crueldade# Então,
o bispo tin3a de relembrar a todos a doutrina evang&lica6
tamb&m devia oficiar, administrar os bens da comunidade,
entrar em contacto com os b%rbaros estabelecidos na sua
Igreja, trabal3ar na libertação de cativos 5 muitos bispos
c3egaram a vender os vasos sagrados 5, proteger, alimentar e
salvar os pobres ue, nas crises, são sempre os primeiros
ameaçados#
' papa .eão I U]]5]OV &, certamente, a figura mais not%vel
desse terrível s&culo Z# Como c3efe, levanta5se perante
Ttila U]JBV6 9 autoridade vacilante de i2\ncio na It%lia
U)avenaV, opõe a autoridade de )oma, 8trono sagrado de
-edro86 e socorre a mis&ria dos )omanos com os seus cuidados
e os seus bens# * sua correspond!ncia 5 cento e setenta e
tr!s cartas ue ainda se conservam 5 e o seu trabal3o no
Concílio da Calcedónia U]JV testemun3am ue ele não foi
apenas o c3efe espiritual da It%lia, mas tamb&m o %rbitro da
jovem cristandade#
'utros pastores marcaram profundamente a terra onde
trabal3aram e onde se criou, graças a eles, a primeira rede
de igrejas rurais# Hil%rio de *ries foi o animador da A%lia
"eridional fortemente romani2ada# *uvergne deve muito a
+idónio *polin%rio, bispo de Clermont e poeta como alguns
dos seus pares# -edro Crisólogo em )avena, .eandro e,
depois, o seu irmão Isidoro em +evil3a, "artin3o de raga,
fundador da Igreja portuguesa, *vito de Ziena, prima2 dos

urg;ndios,
Em <rança, adesempen3aram
lembrança de um papel de
)emígio semel3ante#
)eims permaneceu bem
viva# +;bdito de +i%grio e, depois 5 após a derrota e morte
deste U]NOV 5, do jovem rei dos <rancos, Clóvis, imp`s5se
sem fanfarronices 9 atenção do brutal guerreiro: 8+ocorre
teus concidadãos, encoraja os aflitos, protege as vi;vas,
alimenta os órfãos###8 * ambição leva Clóvis a combater os
urg;ndios e os Zisigodos arianos, sen3ores da A%lia do +ul,
mas & a influ!ncia de Clotilde, sua esposa, sobrin3a
católica de Aondebaud, ue fa2 com ue ele, juntamente com
in;meros compan3eiros, se decida a ser bapti2ado por
)emígio, provavelmente no 1atal

OJ

de ]MO# *contecimento importante, porue, aos ol3os dos


bispos, o rei franco 5 ;nico soberano b%rbaro católico 5
tornava5se o seu protector natural e propagandista de
eleição da religião cristã entre os %rbaros# [uando Clóvis,
com a vitória de Zouill& UJKV, se torna sen3or do +udoeste
visigótico, a A%lia inteira sa;da nele um 8novo
Constantino8# Em J, reuniria em 'rleães o primeiro
concílio nacional da A%lia franca: como primeiro imperador
cristão, Clóvis interv&m decididamente nos assuntos do
clero#  verdade ue os concílios provinciais ue se
multiplicavam em It%lia, em Espan3a U(oledoV, na -rovença
U*ries e ZaisonV e noutros lugares, se tin3am tornado
imperiosos devido 9 necessidade de reagrupar as forças
espirituais ue se 3aviam dispersado no tempo das invasões#
* acção da Igreja estava intimamente ligada 9 acção dos
monges# 1ão se trata ainda de um monauismo vigoroso, mas da
irradiação de algumas grandes comunidades autónomas, onde o
eremitismo e o cenobismo se combinavam# Honorato fi2era de
.&rins, desde o fim do s&culo IZ, uma 8il3a de santos8, um
alfobre de bispos e de doutores, não somente para a
-rovença, mas tamb&m para .ião, Aenebra e (roGes# -or outro
lado, +# Zítor de "arsel3a, com 0oão Cassiano Ufalecido
cerca de ]LV, *s%n em *ragão Ufundado por +to# EmilianoV e
/;mio na Aali2a, formavam, como di2ia bril3antemente +to#
Hil%rio de -oitiers, ao falar dos monges, 8um episcopado
muito especial8#  verdade ue bispos e monges colaboravam
estreitamente6 ao reunir 9 sua volta uma peuena comunidade
fraterna de padres e ao dar5l3es um regulamento, o bispo de
Hipona, *gostin3o 5 pai dos cónegos regulares 5, j%
demonstrara a força de ue & capa2 a aliança entre os bispos
e os monges# *li%s, não foi precisamente um monge tornado
-apa, Aregório I, uem dominou o fim do s&culo ZI no

'cidenteW
L# Aregório "agno, 8c`nsul de /eus8

's tr!s futuros bastiões da Igreja Católica romana 5 <rança,


Espan3a e It%lia 5 começavam, então, a sobressair na massa
ocidental#

OO

1o 'cidente a Igreja +ubstitui5se ao Imp&rio


's <rancos católicos eram, ainda em vida de Clóvis, os
sen3ores da *uit\nia visigótica6 depois da morte prematura
do rei UJV, a vel3a -rovença UJLBV e, depois, a urg;ndia
UJL]V, ue passara para o catolicismo 3avia j% trinta anos,
ampliaram as possessões francas# 1a Ib&ria, a conversão dos
+uevos arianos fe25se sem grandes c3oues Upor volta de
]JV, mas o mesmo não aconteceu com os Zisigodos, tena2es
arianos como os Z\ndalos de Tfrica# [uando .eovigil do subiu
ao trono de (oledo UJOKV, esboça5 se uma reviravolta a favor
de 1iceia e de )oma6 mas o facto acaba por assumir contornos
políticos: o fil3o do rei, Hermenegildo, ue tin3a renegado
o arianismo por influ!ncia de .eandro de +evil3a, coloca5se
9 frente de uma sedição de católicos6 depois, arrependido,
tenta negociar com seu pai ue o mandou eecutar UJNJV# $m
ano mais tarde, )ecaredo, irmão de Hermenegildo, sucedia a
.eovigildo e, pouco depois, abraçava a f& romana# Começava a
3istória da católica Espan3a#
Em It%lia 5 menos unificada ue os seus dois vi2in3os 5, a
situação & mais confusa# Entre ]ML e JBO, (eodorico, o
'strogodo, reina, a partir de )avena, sobre a península,
onde o poder de i2\ncio & apenas teórico# (eodorico
empreende a tarefa de restaurar a civili2ação romana, mas os
seus suces sores são incapa2es de evitar a reconuista da
It%lia por 0ustiniano UJLJ5JJLV, uma reconuista brutal e
desastrosa, al&m de ef&mera, pois o domínio bi2antino,
insuport%vel para os Italianos, abre camin3o ao domínio dos
.ombardos, cujo rei *lboíno se instala, em JKB, no pal%cio
de (eodorico em -avia# 's i2antinos mant!m apenas os
territórios costeiros e o earcado de )avena6 depois da
morte de *lboíno, uma feudalidade militar reparte os seus
Estados e toda a It%lia se v! redu2ida 9uilo ue ser% at&
meados do s&culo 4I4: uma 8epressão geogr%fica8#
<oi nesta altura ue o papado se viu obrigado a desempen3ar
um papel salvador# Em JM, atormentados pelo miser%vel
estado da It%lia e de uma capital assolada pela inundação e
pela peste, o povo e o clero romanos elegem como -apa o

patrício Aregório
eperi!ncia ue, 9e do
do diplomata santidade de monge,
funcion%rio, juntava
porue, al&m dea
apocrisi%rio em Constantinopla, fora tamb&m prefeito de
)oma# *meaçado a norte e a sul pelos ducados lombardos,
3umil3ado

OK

pelo orgul3o de i2\ncio e pela indignidade de muitos dos


seus colaboradores, o papado parece estar moribundo#
Aregório I, a uem a posteridade c3amou 8"agno8, serve a
cidade terrestre visando edificar a Cidade de /eus# ispo de
)oma, toma a seu cargo ou controla as funções civis,
sobretudo as ue se referem 9 assist!ncia e 9 educação6 ao
mesmo tempo, entrega5se a uma pregação voluntariamente
pr%tica6 o tempo não & para os doutores, mas para os
pastores 5 o (ratado de -astoral, de Aregório I, ficar% na
História6 ali%s, & forçoso confessar ue a eegese e a
teologia desse tempo são, pela sua pobre2a, testemun3as da
decad!ncia geral da cultura antiga#
"as, al&m de )oma, Aregório trata directamente com os
.ombardos, ignorando o d&bil earca# * sua correspond!ncia
revela ue nada ue se refira 9 vida da cristandade o deia
indiferente# Zoltando as costas a i2\ncio, deposita as suas
esperanças nos povos germ\nicos, mais jovens, menos
embrutecidos: nos <rancos, nos .ombardos ue prepara
pacientemente para a conversão, e nos *nglos, a uem deu
provas da sua predilecção, enviando alguns monges romanos
levados por *gostin3o ue se fia em Cantu%ria# Em breve,
ser% a ve2 de a Igreja anglo5saónica influenciar todo o
continente#
8C`nsul de /eus8, eis como o autor descon3ecido do seu
epit%fio c3ama a Aregório "agno# 1uma )oma esva2iada não
apenas da sua glória, mas at& da sua própria alma, Aregó rio
e os seus sucessores assumem o papel do Imp&rio ferido:
tornam5se os pedagogos do jovem 'cidente# Começa a surgir a
Igreja medieval6 poderemos lamen tar não só a sua dure2a e o
seu paternalismo, mas tamb&m o facto de v%rios pontífices se
terem esuecido da bela definição do pontífice romano, dada
por Aregório I: +ervus servorum /ei# "as, apesar de tudo,
foi essa Igreja ue fe2 com ue os seus c\nones conciliares,
infiltrando5se no direito germ\nico, acabassem por 3umani2ar
os costumes b%rbaros# * um mundo em ue a crueldade e o
estupro fa2iam lei, ela aprese ntava a sabedoria dos seus
monges e a pure2a das suas virgens# 1o 3ori2onte merovíngio,
ela conseguiu fa2er bril3ar uma lu2 muito diferente da dos
inc!ndios#

ON

]# * Igreja e os "erovíngios

Em meados do s&culo ZI, o eio das influ!ncias, no 'cidente,


transferiu5se de It%lia U)oma, "ilão e )avenaV para as
margens do +ena e do "osa# * dinastia dos "erovíngios 5
3erdeiros de Clóvis 5 UJ5JKV torna5se a principal força
política: uma reale2a absoluta e dura, dado ue no 'cidente
merovíngio não eiste Estado e o reino & considerado, pelo
seu sen3or, um património pessoal a partil3ar em cada
sucessão# +e, por um lado, o rei pode eigir muito dos
3omens livres, em contrapartida ele não l3es presta nen3um
serviço# ' 8pal%cio8 & freuentemente um inferno de ódio, de
cupide2 e de lu;ria: o assassínio e a libertinagem provocam
3abitualmente a morte prematura dos reis# E o ue di2er de
rain3as como <redegundaW
1uma sociedade essencialmente rural ue se imobili2a, a
cidade galo5romana, an&mica, j% não & o órgão vivo de um
grande corpo político6 no entanto, a presença do bispo evita
a sua morte# ' povo & formado essencialmente pelos servos da
gleba, uma massa nem mel3or nem pior ue a de outras &pocas,
freuentemente di2imada pelas epidemias e &pocas de fome,
cuja piedade ing&nua ainda se alimenta de superstições
pagãs, uando não desaparece no culto apaionado das
relíuias#
/o outro lado estava o corpo episcopal# *s doações e as
imunidades 3aviam5no tornado rico e poderoso# Como tin3am a
missão de vigiar os condes, os bispos eram, em certa medida,
funcion%rios, ali%s, vigiados muito de perto pelo rei ue os
escol3ia pessoalmente, ami;de no seu próprio círculo,
inclusive entre os leigos# "as essa escol3a não era
necessariamente m%# +em d;vida, a simonia era j% uma praga
secreta da Igreja e poderíamos citar in;meros pastores ue
não passavam de indivíduos sem escr;pulos# "as nunca como na
&poca merovíngia o povo cristão 5 Zo populi, vo /ei 5
beatificou tantos bispos: -retetato em )uão, *rnulfo em
"et2, .eger em *utun e Elói de 1oGon, cuja memória ficou
ligada para sempre 9 de /agoberto, representaram, entre
tantos outros, lu2es nas trevas#
's bispos francos não descansavam: entre O e O],
reali2aram5se na A%lia uarenta e dois concílios e, como o
Estado

OM

merovíngio era
instrução, não sob
sea protecção
preocupavada com a ue
Igreja assist!ncia e a
se encontravam
todos os fracos, todos aueles ue sofriam com a crueldade
da &poca#
* cultura greco5lat ina, praticamente ignorada pelos leigos,
refluíra das c%tedras de retórica e de gram%tica, 3% muito
abandonadas, para as escolas episcopais, onde jovens
cl&rigos tonsurados viviam em comunidades, procurando manter
as escolas presbiteriais, antepassadas das nossas escolas de
aldeia# * palavra cl&rigo UV tanto designava o 3omem da
Igreja como o 3omem culto, pois a cultura 3avia decaído
muito, e a gram%tica era o ;nico domínio em ue se fa2ia
alguma refleão#
Implicitamente, reis e bispos contavam com os monges para
manter terra cristã sempre pronta para voltar a ser semeada,
favorecendo5os com a sua protecção e as suas doações# *lguns
dos maiores nomes da 3istória mon%stica 5 +aint5Aermain des
<r&s, +aint5"&dard de +oissons, +aint5/enis, +ainte5Croi de
<oitiers, +tavelot, "urbac3### entraram na 3istória do
'cidente na &poca merovíngia#
"as foi da brumosa Irlanda ue surgiu um novo tipo de monge
e de mission%rio#

J# $ma lu2 na bruma: o monauismo celta

+em c3oues nem m%rtires, mas graças ao 2elo e 9 sabedoria


de -atrício, seu 3erói nacional, a Irlanda passou do druísmo
para o cristianismo mais ardente# /esde o fim do s&culo Z,
estava coberta de mosteiros5bispados: angor, *rmag3,
Clouard### ue eram, ao mesmo tempo, focos de cultura e de
ascetismo# ' ue se passou a c3amar, talve2 com eagero, o
8milagre irland!s8 consiste no facto de este país Uonde )oma
não tivera acção directaV ter sido o local de onde partiu a
salvação do continente: o espírito errante e o fervor dos
Celtas impeliram5nos a levar a lu2 at& ao outro lado do mar#

1ota : * palavra clerc, em franc!s, e cler, em ingl!s,


ainda 3oje significam escrivão, funcion%rio, vestígio desse
tempo# X1# do (#Y
K

em cedo começou a etraordin%ria epopeia dos monges


irlandeses cercad a por uma esp&ci e de aur&ola dourada# 
impossível seguir o trajecto de todos os grandes giróvagos
ue, enfrentando perigos de toda a nature2a, atravessaram os
mares: Columbano, fundador do convento de Iona, onde

nasceria a cristandade
evangeli2adores caledoniana
da Isl\ndia6 e de da
os apóstolos onde partirãoonde
*rmórica, os
tantas 8paróuias8 mostram ainda as marcas de monges e de
bispos, cujo 3agiógrafo traça com prud!ncia a sua vida
maravil3osa: "alo, rieuc, Cadoc, Au&nol&, Aildas###
Cansar5nos5íamos, se pretend!ssemos seguir o rasto do maior
desses mission%rios irlandeses: Columbano Ufalecido em OJV,
um gigante e um profeta, tão eigente com os outros como
consigo mesmo# -odemos v!5lo nos vales do .oire, do +ena, do
"osela, nos *lpes, no 0ura### Cada etapa de Columbano &
marcada pela fundação de um mosteiro e a sua morte, ocorrida
em It%lia, não esmorece o entusiasmo dos seus discípulos#
.ueuil, *rbon, +aint5Aall, óbio, 0umiges, +aint5ertin,
+aint5)iuier, +aint5*rmand###, eis alguns dos prestigiosos
mosteiros ue nasceram do trabal3o dos monges irlandeses#
Estabelecidos uase sempre em regiões montan3osas ou
florestais, foram pólos activos de desbravamento, de
coloni2ação e tamb&m de reconuista cristã onde as invasões
tudo tin3am destruído#
"as Columbano era um furacão, um vento ue passava sem se
preocupar com os obst%culos nem com os 3omens# * 3ieraruia
episcopal depressa considerou incómodo este profeta ue, de
resto, eigia dos seus monges uma vida incrivelmente
austera, em ue as mais peuenas fraue2as eram evitadas a
golpes de disciplina e de c3icote, e de repreensões
violentas# * longo pra2o, este cristianismo forçado iria
afastar os 3omens de boa vontade nascidos sob c&us mais
luminosos do ue o c&u da Irlanda#
'ra, foi precisamente num país de sol, na +abina romana, ue
/eus fe2 aparecer auele ue seria o -ai dos monges do
'cidente#

K

O# ento ou o euilíbrio

Com efeito, foi dado a ento da 1;rsia restabelecer o


euilíbrio, de ue toda a vida mon%stica recebe a sua ra2ão
de ser# * sua vida U]N5J]KV, ue mal & con3ecida, foi
marcada por duas grandes etapas: +ubiaco, onde o jovem
nobre, c3ocado com a corrupção romana, leva uma eist!ncia
de eremita at& ao dia em ue os seus discípulos são em
n;mero suficiente para formar uma comunidade6 monte Cassino,
onde, sobre as ruínas recentes de um templo de 0;piter,
constrói um mosteiro ue ainda 3oje & o coração da grande
família beneditina#
' essencial da obra de ento 5 e por isso a História deve

cont%5lo
feita na sua elitee 5intuição,
de eperi!ncia & a sua uma
regra, uma regra
obra5prima de vivida,
discrição
e euilíbrio6 um molde suave do ual saíram centenas de
mil3ares de monges, vinte e tr!s papas, cinco mil bispos# 1a
sua base, est% a 3onestas romana, a antiga probidade, ue a
3umildade e a obedi!ncia evang&licas sublimam# /esse teto
emana uma tal serenidade ue se c3ega a duvidar ue ten3a
sido elaborado numa &poca tão conturbada, da reconuista da
It%lia por i2\ncio e das invasões lornbardas# *li%s, foi
para os 3omens deste s&culo desumano ue a regra beneditina
foi feita: oferecia o camin3o para /eus, atrav&s da oração
lit;rgica Ulectio divinaV, do trabal3o manual reabilitado e
do estudo, mas tamb&m atrav&s de uma vida comum, fraterna,
menos santificada pela mortificação do corpo do ue pela
suave autoridade do abade Uabbas _ paiV e pela elevação do
coração# /eus & mais bem servido e amado graças ao
testemun3o da vida mon%stica 5 eis o objectivo primordial de
ento# 's contempor\neos não se enganaram ao considerarem a
regra de ento como a regra de vida por ecel!ncia# *
comunidade beneditina não & uma congregação de
privilegiados, mas um porto seguro para os leigos %vidos de
estabilidade e de pa2, numa &poca em ue )omanos e %rbaros,
pobres e ricos se viam arrastados ao sabor de um s&culo de
terror#
* regra beneditina propagou5se de tal forma ue, durante
s&culos, 8beneditino8 e 8monge8 seriam uase sinónimos# '
vel3o tronco beneditino, mesmo aparentemente seco, faria

KB

brotar constantemente, e at& aos nossos dias, diversos ramos


e novas fol3as# /esde o s&culo ZII, a ordem de +ão ento
nunca deiou de ser um celeiro de mission%rios#

K# Aermanos evangeli2am Aermanos

Zimos partir para a Inglaterra *gostin3o 5 ele próprio um


fil3o de +# ento 5 e os seus monges enviados pelo papa
Aregório "agno# )apidamente, os reinos anglo5saões do +ul
passaram ao cristianismo# ' 1orte da Inglaterra era domínio
dos monges celtas 5 pouco desejosos de colaborar com os
mission%rios romanos: na il3ota de .indisfarne UHolG
IslandV, *idan estabelecera, em OLJ, um mosteiro ue se
tornaria o principal centro religioso e cultural dos *nglos#
-or volta de OJ, os reis de "ercie e do Esse pediram o
baptismo# ' >esse era o feudo do bispo >ini e o +usse era
domínio do intransigent e Zilfredo, cuja figura não deia de

revelar
1o aspectos
fim do s&culo comuns
ZII, a com os de (3omas
Inglaterra cristãecet#
5 ue beneficiou
da efervesc!ncia celta e da ponderação romana 5 possui os
seus uadros eclesi%sti cos e os seus centros de irradiação6
em Iorue e Cantu%ria estão os seus dois arcebispos#  uma
terra de santidade e de cultura cristã6 o continente logo
con3ece o nome dos seus fil3os: Cut3bert Ufalecido em ONKV,
glória da abadia de "elrose e, depois, bispo de .indisfarne6
ento iscop aducing Ufalecido em OMV, fundador da abadia
de >earmout3, ue, por diversas ve2es, atravessa a "anc3a
para ir buscar livros e relíuias6 (eodoro Ufalecido em
OMV, arcebispo de Cantu%ria, ue multiplica as escolas
mon%sticas e ue, no Concílio de Hertford, submete a Igreja
inglesa 9 disciplina romana# "as, no início do s&culo ZIII,
não surge ningu&m compar%vel a eda, o Zener%vel Ufalecido
em KLJV: passou uase toda a vida no mosteiro de 0arroP, em
1ort3umberland6 continuando sempre como professor de
(eologia 5 uma teologia então redu2ida apenas 9 eplicação
dos tetos das Escrituras 5, eda estudava tudo, como genial
iniciador: a "&trica, a Cronologia e, sobretudo, a História6
deiou o primeiro "artirológio crítico e, com a sua História
Eclesi%stica da 1ação dos *nglos, legou um documento

KL

insubstituível sobre as srcens inglesas# $m discípulo de


eda, Egberto, fundou a escola de Iorue Upor volta de KJV,
de onde sairiam *lcuíno e outros mestres da )enascença
carolíngia#
*l&m disso, a Inglaterra forneceu alguns mission%rios 9s
regiões germ\nicas, ainda b%rbaras, do continente# $m
discípulo de Zilfredo, o monge Zilibrordo Ufalecido em KLMV,
desembarcou, em OM, na <rísia: com o apoio do conuistador
-epino de Herstal evangeli2a o país6 a morte de -epino
Uocorrida em K]V obrigou5o a refugiar5se no mosteiro ue
tin3a fundado em Ec3ternac36 mais tarde, regressa 9 <rísia,
depois vai ao estu%rio do Escalda e ao futuro .uemburgo#
.udgero foi uem prosseguiu a sua obra#
* Aerm\nia 'cidental e "eridional recebera mission%rios
celtas desde o s&culo ZII: <ridolino, na Aerm\nia, o
beneditino -irmin, fundador em )eic3enau da primeira abadia
estabelecida em terras germ\nicas, +uitbert na )en\nia, o
escoc!s ilian na (uríngia, )upert na aviera, Corbiniano no
(irol# "as esses bispos5viajantes não conseguiram
estabelecer uma organi2ação eclesi%stica duradoura na
Aerm\nia, ficando essa tarefa reservada a onif%cio#
*nglo natural de >esse, monge beneditino, Zilfredo foi

encarregado pelo
organi2ação papa Aregório
da Igreja II e
germ\nica de ouma missão oficial:
despontar a
da Igreja
franca6 e recebeu o nome de um m%rtir, onif%cio# * sua
missão na Aerm\nia, iniciada na <rísia, estendeu5se 9
(uríngia e ao Hesse, com o apoio de Carlos "artel# *rcebispo
de "ain2, onif%cio organi2a os uatro bispados b%varos:
-assau, )atisbona, <reising, +al2burgo e, depois, d% um
pastor a Erfurt e Zur2burgo na <rancónia, e a uraburgo, no
Hesse# Em K], funda a abadia de <ulda, ue se torna o
semin%rio das missões germ\nicas e o centro religioso e
cultural mais importante da outra margem do )eno#
Enviado 9 <rança 'cidental por -epino, o reve 5 ue ele
sagraria rei dos <rancos 5, onif%cio esboça uma restauração
da Igreja franca, onde pululam os cl&rigos concubin%rios,
guerreiros e caçadores# "as não consegue organi2ar o
episcopado franco segundo o modelo ingl!s, 9 volta de um
prima2, promotor designado de toda a reforma# [uando
onif%cio & morto pelos <risões Uem KJ]V, juntamente com
cinuenta e dois

K]

dos seus monges, o 'cidente j% se valori2ara com territórios


ue seriam c3amados a desempen3ar um papel capital no
enriuecimento da civili2ação cristã: os -aíses aios, a
&lgica, a *leman3a Central e "eridional#

KJ

Capítulo IZ
* $1I/*/E [$E)*/*

# ' difícil di%logo com o 'riente

Em LL, Constantino fe2 de i2\ncio, a antiga colónia


megariana, a espl!ndida Constantinopla, acerca da ual um
concílio declarar%: 8' bispo de Constantinopla ter% o
primado depois do bispo de )oma, porue Constantinopla & uma
nova )oma#8 $ma )oma oriental, mais colorida, mais uente,
mais passional e ue não se fi2era para se entender com a
outra, a )oma latina, a realista# * partil3a do Imp&rio
depois da morte de (eodósio, dando ao mundo duas capitais,
evidenciou ainda mais esses antagonismos#
-erante os %rbaros, o 'cidente e o 'riente reagiram de modo
diferente: enuanto )oma os integrava ou os federava
esperando ser submersa por eles, Constantinopla desviava
para a It%lia os seus incómodos vi2in3os, os Aodos# /epois

da ueda, em ]KO,
Constantinopla do Imp&rio
pretendeu do toda
assumir 'cidente, o imperador
a 3erança dede
de )oma6
facto, só 0ustinian o UJBK5JOJV 5 por pouco tempo e de forma
incompleta 5 p`de constituir um "editerr\neo bi2antino# *
verdade & ue o Imp&rio i2antino, fortalecido por um
3elenismo e por um cristianismo antigos, factores de
unidade, mostrava5se um organismo muito mais sólido do ue o
'cidente b%rbaro6 por isso, a sua sobreviv!ncia at& ]JL não
foi um acontecimento fortuito#

KK

Com efeito, a sua longa 3istória confunde5se com uma luta


uase incessante contra as dissensões internas Ua palavra
bi2antino tornou5se sinónimo de ocioso e de intempestivoV e
as pressões eternas: -ersas, Trabes, Eslavos e ;lgaros#
Entretanto, o Imp&rio i2antino sofreu por causa do car%cter
absoluto, divino do poder imperial, da aus!ncia de uma regra
precisa de sucessão, da confusão do plano político com o
religioso, e tamb&m da multiplicidade das uerelas
teológicas centradas sobre a pessoa de Cristo e nascidas das
subtile2as gregas# 0esus, /eus como o -aiR era tamb&m um
3omemW (in3a somente a nature2a Up3GsisV divina, como
pensava a escola de *leandria UmonofisitaV, ou duas
nature2as e duas pessoas, como sustentavam a escola de
*ntiouia e o patriarca de Constantinopla, 1estórioW '
Concílio de Efeso, terceiro ecum&nico animado por Cirilo de
*leandria, condenou 1estório em ]L, definindo
simultaneamente a unidade da pessoa em 0esus e a maternidade
divina de "aria# "as as intervenções nos sentidos diferentes
do imperador e dos seus funcion%rios, as intrigas da corte
e, mais ainda, os movimentos de uma multidão instigada por
monges apaionados pela teologia, criaram uma confusão ue
apenas acalmou em ]LL# 1o entanto, uando o papa .eão I,
numa carta ao patriarca <laviano de Constantinopla, afirmou
ue eistem duas nature2as, mas uma só pessoa em 0esus
Cristo, os monofisitas, condu2idos pelo vel3o monge
Eutíuio, eplodiram# ' monofisismo foi condenado pelo
Concílio de Calcedónia, uarto ecum&nico, em ]J, ue aderiu
9 doutrina de .eão, definindo a união 3ipost%tica e, então,
desencadeou5se uma crise etremamente grave ue dividiu at&
aos nossos dias as Igrejas orientais#
Eliminado da +íria, o nestorianismo passara para a -&rsia
onde, mau5grado a perseguição masdeísta, se desenvolveu 9
margem da Igreja universal, uma Igreja nacional dita
nestoriana ue, de tal modo, se propaga na Tsia Central, na
"ongólia e na C3ina, ue c3egar% a contar cerca de duas

centenas de
mitigado, masbispos
ainda nestorianos: trata5se
suficientemente de umue,
vivo para cristianismo
no s&culo
4III, um mission%rio como -iancarpino ou um viajante como
"arco -olo encontrem uma verdadeira elite entre os
nestorianos da "ongólia#

KN

1o Egipto, a oposição 9s decisões do Concílio de Calcedónia


foi a epressão de unidade nacional: a antiga língua copta,
falada por um povo pouco 3eleni2ado , tornou5se o veículo de
uma f& ue fe2 do patriarca de *leandria o c3efe de uma
Igreja separada# E, assim, o monofisismo, a partir do
Egipto, estendeu5se pela Etiópia, onde os primeiros
convertidos se colocaram sob a obedi!ncia do patriarca de
*leandria#
1a +íria, em redor de *ntiouia, desenvolveu5se uma forte
corrente antibi2antina e os c\nones de Calcedónia foram
considerados uma epressão da opinião dos 8imperiais8 ou
meluitas Udo siríaco mele 5 imperadorV6 assim, o
monofisismo encontra, nessa vel3a província cristã, um
terreno favor%vel# * Igreja monofisita síria, tamb&m
designada Igreja jacobita UV, do nome de um dos seus
primeiros c3efes, (iago araddai, contou, sobretudo no
s&culo ZI, com not%veis doutores, como +evero de *ntiouia,
e alguns importantes centros de vida religiosa#
* *rm&nia, disputada por i2antinos e +ass\nidas, tamb&m foi
gan3a em grande parte pelo monofisismo, mas este cisma não
deve fa2er esuecer como despontou no s&culo ZI o g&nio
nacional da *rm&nia# * partir da invenção de um alfabeto
arm&nio por "esrop, multiplicam5se as diversas obras:
traduções da íblia, poesias sagradas, crónicas, tratados
científicos###
/este modo, o espírito bi2antino provocara alguns cismas, de
cujas conseu!ncias toda a Igreja ainda sofre# "as nós,
ocidentais, romani2%mos de tal forma as nossas perspectivas
ue ainda temos a tend!ncia de ignorar as riue2as ue
i2\ncio durante de2 s&culos fe2 frutificar# i2\ncio não se
limitou a fa2er frente aos invasores, mas edificou, entre o
'cidente latino e o o 'riente asi%tico, a mais bril3ante
civili2ação da Idade "&dia: )avena, +icília e +ta# +ofia,
por eemplo, ainda continuam a fascinar5nos#
Independentemente da desmesura, do 3ieratismo e das
contradições características do 'riente, o 3istoriador
ocidental pode facilmente descobrir bele2as e fervores#
i2\ncio foi a p%tria de poetas, como )omanos, o "elodioso,
ou 0oão /amasceno, de doutores bril3antes como Cirilo, Efr&m

e, sobretudo,
ouro, ue 0oão Crisóstomo, o peueno 3omem de boca de

1ota : 0acob, em 3ebraico e latim# X1# do (#Y

KM

pagou com a vida por se ter levantado contra a 3ipócrita


corrupção da corte de Eudóia e contra a tibie2a dos
cristãos# ' 'riente i2antino foi a terra do monauismo, um
monauismo em crescimento constante, truculento e fervoroso:
anacoretas empoleirados em colunas ou enterrados vivos em
t;mulos e cenobitas desbravadores de florestas ue atraíam
3omens %vidos de uma eist!ncia euilibrada#
i2\ncio, imp&rio cristã o, cujo código de leis, devido a
0ustiniano I, se inspirou largamente no Evangel3o, marcou
profundamente a nossa civili2ação# i2\ncio, onde nasceu uma
liturgia dram%tica, prolia e sumptuosa, mas de tal forma
comunit%ria, ue se desenvolve, nos edifícios bril3antes,
para a admiração de pessoas 3umildes e de b%rbaros, ue t!m
nela o seu ;nico contacto com a ele2a# i2\ncio dos ícones:
a iconoclasia de certos imperadores do s&culo ZIII não foi
apenas uma 3eresia6 foi tamb&m uma grave falta de
psicologia# *l&m disso, i2\ncio mostrou5se educadora dos
povos da Europa 'riental: *rm&nios, "or%vios, ;lgaros,
+&rvios, )omenos e )ussos#
1o entanto, & preciso ter em conta ue a dist\ncia entre
Constantinopla e )oma & infinitamente superi or aos mil e
uin3entos uilómetros ue as separam# +ão dois mundos
diferentes, cujo di%logo sempre se revelou difícil e ue,
lentamente, desde o s&culo Z, as fe2 afastar5se mais uma da
outra# *ntagonismo político 5 papa ou basileuW 5, cultural e
lit;rgico 5 grego ou latinoW 5, e tamb&m teológico6 mas,
sobretudo, um estilo de vida diferente# *ssim, 9 unidade
romana sucedeu prontamente a divisão da História em 8'riente
i2antino8 e em 8Idade "&dia .atina8# 's dois rios
transbordantes não encontraram o ponto de conflu!ncia,
privando5se um e outro das suas riue2as recíprocas#
"as a integridade cristã, no s&culo ZII, iria ser muito mais
gravemente ameaçada por uma vaga formid%vel nascida no
deserto da *r%bia#

B# ' islão

[uando, em B] de +etembro de OBB, "aom& 5 portador de uma


mensagem divina 5 deiou a sua cidade natal, "eca,

N
onde a sua acção encontra resist!ncia, partindo para Iatribe
U"edinaV, abriu5se ao mundo uma nova era: at& mesmo em
etensas províncias da antiga romanidade ir5se5ia apagar a
lembrança do nascimento de 0esus Cristo#
's 3abitantes de "eca não podiam admitir ue os seus ídolos
e o seu egoísmo fossem post os de lado pelo 2elo de um jovem
ue, não contente em c3am%5los ao Islão, isto &, 9 inteira
submissão 9 vontade de /eus, ainda l3es pregava a
imortalidade da alma, a ressurreição dos mortos, um /eus
;nico, criador todo5poderoso e jui2 soberano, *l%, de uem
"aom& se di2ia ser profeta# +egundo "aom&, tratava 5se de um
retorno 9 pura religião de *braão, o antepassado ancestral
dos Trabes, j% ue a (ora dos 0udeus e o Evangel3o dos
Cristãos 3aviam alterado as revelações primitivas# ' Corão,
leitura por ecel!ncia, & não só a palavra incriada de /eus,
transmitida a "aom& pelo arcanjo Aabriel, mas tamb&m uma
colect\nea de dogmas e de preceitos ue são as bases do
direito muçulmano#
-ouco a pouco, "aom&, mestre de "edina, viu a sua autoridade
estender5se a todos os beduínos# [uando regressa
triunfalmente a "eca UOLV, dois anos antes da sua morte, j%
& o sen3or de uase toda a *r%bia# /e uma península, onde,
at& então, predominava o egoísmo tribal, ele fi2era
levantar5se uma pot!ncia unificada, possuída por uma f& nova
ue a tornava uma força respeit%vel# -orue, embora "aom& só
tivesse empun3ado a espada para cortar as resist!ncias na
*r%bia, os uatro primeiros califas e, depois, os 'míadas,
fi2eram da guerra um meio de epansão do islão#
Zoltado para o jovem Estado %rabe, o mundo oriental
impaciente por sacudir o jugo dos i2antinos e dos
+ass\nidas, encontraria nele um guia e no islão um poderoso
factor de unidade# ' espantoso avanço dos Trabes na Tsia e
em Tfrica, nos s&culos ZII e ZIII, não se eplica somente
pela aud%cia 5 nascida do despre2o pela morte e da
epectativa da presa 5 dos cavaleiros de *l% nem mesmo pela
sua adaptação 9 guerra no deserto6 tem a sua origem
principal no ódio das populações autóctones 5 rurais,
montan3eses, fel%s e nómadas 5 9 tirania teológica, fiscal e
política dos Aregos e dos -ersas# $m ódio ue, aliado 9
ignor\ncia religiosa das massas, eplica a cumplicidade

N

de ue o islão beneficiou perant e um Imp&rio +ass\nida e de


um Imp&rio Arego ue, no tempo de C3apur II e Heraclio,

acabavam
* de se
+íria foi degladiara numa
a primeira cair:guerra desgastante#
/amasco capitulav a j% em OLJ
e 0erusal&m em OLN# * partir daí, os Trabes não tiveram
nen3uma dificuldade em submergir o Imp&rio -ersa, em ocupar
C3ipre, Creta e )odes, de se instalar no vale do Indo e no
(uruestão, e de c3egar 9 "ongólia6 em KB, j% se
encontravam nas fronteiras da índia, base de um novo impulso
ue transportaria o islão at& 9 Indoc3ina e 9 Insulíndia#
-ara oeste, a vitória %rabe foi mais r%pida: *leandria &
tomada em OLN, a (ripolitana & invadida e bastam apenas oito
anos UK5KNV para atirar ao mar os ;ltimos bi2antinos de
Tfrica e ocupar o "agrebe at& ao *tl\ntico# Em K, do2e mil
berberes muçulmanos desembarcam em Aibraltar e, em KL,
apesar da sua valentia, não resta outra saída aos cristãos
godos a não ser esconder5se nas montan3as do 1ordeste da
Hisp\nia# Em KN, os muçulmanos atravessam os -iren&us, mas
os <rancos de Carlos "artel obrigam5nos a regressar 9
Hisp\nia#
* vaga %rabe avançou e o mundo cristão teve de contar as
suas perdas# +em d;vida, Constantinopla, guardiã da Tsia
"enor e da Europa 'riental, onde, por duas ve2es, em OKL e
KN, o fluo muçulmano se detivera, não parecia poder
sucumbir tão depressa# "as, na +íria, na "esopot\mia, no
Egipto, na Tfrica do 1orte e na Hisp\nia, a vel3a
civili2ação greco5romana e cristã daria lugar a uma
civili2ação semita, mais próima das srcens populares# *
língua %rabe substituiria rapidamente o grego como veículo
de civili2ação, porue os dialectos berberes do 1orte de
Tfrica, durante muito tempo cartaginesa, e os dialectos
p;nicos da *ndalu2ia aparent avam5se com o %rabe, tal como o
aramaico no 8Crescente <&rtil8: -alestina, +íria e Caldeia#
' Corão 5 ' .ivro 5 tornar5se5ia a base do ensino prim%rio,
al&m de manual de ci!ncia e de educação#
' islão tamb&m era uma religião ue facilmente se impun3a
aos espíritos simples, superficialmente atingidos pelo
cristianismo bi2antino, pois possuía uma dogm%tica clara e,
al&m disso, muito elevada: a transcend!ncia de /eus, um
culto sem complicações, sem clero nem liturgia6 uma moral
muito pouco
NB

eigente no plano pessoal e não ecedendo o uadro das


prescrições rituais e, todavia, fa2endo eclodir no plano
social as virtudes da 3ospitalidade, da generosidade e da
fidelidade, ue de .GauteG a "assignon, de -sic3ari a
<oucauld, causaram a admiração dos cristãos ue uiseram ver

para al&m das


belíssima de apar!ncias#
* Ziagem do-orCenturião,
eemplo, lembremos uma p%gina
onde -sic3ari, no
sil!ncio do deserto, compara a grande2a dos seus pobres
compan3eiros muçulmanos 9 ridícula satisfação consigo mesma
da sociedade farta de -aris: 8X###Y *ui, a sagrada
ealtação do espírito, o despre2o pelos bens terrestres, o
con3ecimento das coisas essenciais, a distinção entre os
verdadeiros bens e os verdadeiros males# X###Y Havia nesse
deserto pessoas prudentes ue sabiam evitar as tempestades
da lu;ria e os escol3os do orgul3o#8 "as o próprio -sic3ari
5 embora incr&dulo 5 se indignava com a m%ima muçulmana: 8*
tinta dos s%bios vale mais do ue o sangue dos m%rtires86
segundo ele, era precisamente nisso ue residia o ponto de
discórdia entre o islamismo e o cristianismo, o ue, a seus
ol3os, consagrava a superioridade deste ;ltimo#
+eja como for, o islão desde o s&culo ZIII, apesar de uma
longa decad!ncia parcialmente ligada 9 do Imp&rio 'tomano,
aumentou o seu domínio na Tsia e na Tfrica 1egra, opondo
constantemente ao cristianismo mission%rio um bloco
insuper%vel#

NL

III
* IA)E0* <E$/*.

Capítulo I )$"'  E$)'-* C)I+(

# $ma estrutura: o Imp&rio restabelecido no 'cidente

Enuanto o di%logo entre )oma e Constantinopla &


interrompido por sil!ncios cada ve2 mais prolongados6
enuanto, de (íflis a (\nger e 9s *st;rias, uma parte
substancial do vel3o mundo se torna muçulmano6 o 'cidente
saído das invasões b%rbaras procura um guia# -or todo o
lado, reina a superstição e a viol!ncia, sem nen3uma unidade
política# * Inglaterra, o centro mais bril3ante, est%
dividida em peuenos reinos 3ostis uns aos outros# 1a A%lia,
os "erovíngios c3afurdam na devassidão e apenas a *ustr%sia,
graças aos prefeitos do pal%cio, emerge da anaruia# *
Hisp\nia cristã est% redu2ida a uma estreita marca# 1a
It%lia, o -apa, sen3or do 8território de +# -edro8, v!5se
apertado entre as possessões bi2antinas a sul e os rudes
.ombardos a norte# ' conjunto a ue se c3ama Europa est%
ameaçado a norte pelos <rishes e +aões, a leste pelos
*varos, a sul por contingentes de salteadores muçulmanos 5
os +arracenos 5 ue, em KBJ, avançarão at& *utun# -ouco a

pouco,
ue vai5se
eram todasformando a ideia
da Igreja entre asde
5 da criação elites pensantes 5
uma )espublica
C3ristiana ue, sistematicamente, introdu2iria as noções
evang&licas no /ireito e nas instituições# Esse imp&rio,
3erdeiro do Imp&rio )omano, caberia a um 3omem ue a
-rovid!ncia designaria ao -apa ue, desde Aregório "agno,

NK

aparecia como a mais alta autoridade do antigo mundo romano#


'ra, por volta de KJ, o papado encontrava5se em conflito
com o basileu, cujas teses teológicas Umonotelismo e
iconoclasiaV se opun3am 9s suas e cujos representantes na
It%lia 5 os earcas 5 manifestavam um autoritarismo
orgul3oso e severo# *l&m disso, os .ombardos pressionavam as
fronteiras pontifícias e a aristocracia romana atacava
vivamente, na própria )oma, a independ!ncia do -apa#
Então, os pontífices romanos voltaram5se para os prefeitos
do pal%cio, a prestigiosa família da *ustr%sia, cujo c3efe,
-epino de .anden, tin3a sido substituído por seu neto -epino
dDHerstal e, depois, pelo fil3o deste ;ltimo, Carlos "artel,
tornado desde KM o verdadeiro sen3or de todo o reino
franco# <oi a Carlos "artel ue Aregório II confiou a
protecção do bispo mission%rio onif%cio# ' fil3o de Carlos
"artel, -epino, o reve, desembaraçou5se do ;ltimo
merovíngio e fe25se sagrar rei dos <rancos por onif%cio, em
+oissons UKJV# <oi no seu reino, em KJ], em C3ampagne, ue
o papa Est!vão II, ameaçado pelas pretensões de *istulfo,
rei dos .ombardos, se refugiou, desligando5se decididamente
de i2\ncio# Em -ont3ion, foi selada a aliança entre o
papado e o rei franco: enuanto o -apa, renovando em +#
/inis a sagração de -epino, confirmava solenemente a
ascensão de sua família ao trono, -epino prometia ao papa 5
ue alegava a UfalsaV doação de Constantino 5 ue iria fa2er
com ue os .ombardos l3e devolvessem os direitos sobre )oma:
uma dupla epedição de -epino em It%lia UKJOV fe2 com ue o
papa se tornasse o ;nico sen3or do ducado de )oma e do
earcado de )avena6 tin3a nascido o Estado pontifício6 no
espírito de Est!vão II, isso representava uma garantia de
independ!ncia#
* fase decisiva foi alcançada por Carlos "agno, fil3o e
sucessor de -epino, o reve Ufalecido em KONV# [uem foi
Carlos "agnoW Encontramo5nos diante de uma personalidade
poderosa, cuja compleidade escapa aos nossos ol3os de
3omens do s&culo 44# Em OJ, <rederico arba5)uiva, visando
os seus interesses, arrancar% a -ascal III a canoni2ação de
Carlos "agno# 'ra, o rei franco não foi nen3um santo: nunca

se conseguiu
seus calcular oe n;mero
fil3os bastardos6 da suadas suas resta
memória concubinas nem dos
a lembrança,
entre outras, do

NN

massacre de uatro mil e uin3entos saões de Zerden# Em


certos aspectos, a corte de *i5la5C3apelle devia
assemel3ar5se 9 do aio Imp&rio )omano # "as o rude b%rbaro
foi realmente um g&nio ue, considerando5se como o
representante de /eus na terra, desejou instaurar a Cidade
de /eus son3ada por +to# *gostin3o#
/urante trinta anos, Carlos "agno construiu um imp&rio# Em
KK], apossou5se da coroa de ferro dos .ombardos vencidos e
submeteu a It%lia meridional# Instalou5se na *uit\nia, onde
os <rancos eram mal vistos6 apoderou5se da aviera e da
Caríntia, enuanto os *varos e os Eslavos se proclamavam
seus vassalos# Criou a província da retan3a e a da Hisp\nia
diante dos muçulmanos ue não conseguiu derrotar # * +aónia
e a <rísia foram converti das e cristiani2adas 5 pelo terror
5, depois de uma longa luta, na ual se distinguiu o general
e c3efe saão >ituind ue acabou por aceitar o baptismo#
E, enuanto o 'cidente se reagrupa pelas mãos de Carlos
"agno, i2\ncio cabe por sucessão a Irene# /esde logo,
pergunta5se: o título de imperador dever% ser usado por uem
apenas o 3erdou ou por uem possui, de facto, o poder de
imperadorW * opinião p;blica est% preparada, como no tempo
de *ugusto e de Constantino, e aplaude uando, na noite de
1atal de N, em )oma, .eão III coroa Carlos "agno imperador
dos )omanos# "as o imperador do 'riente só recon3eceria o
seu 8irmão8 do 'cidente passados do2e anos#

B# * )enascença carolíngia

* partir de então, o imperador Carlos trata de acabar a obra


do rei Carlos# $ma obra not%vel, sobretudo, no plano das
instituições e da cultura# "ais ainda do ue Constantino e
(eodósio, Carlos "agno confunde, constantemente e com toda a
sinceridade, o aspecto espiritual e o temporal# (odos os
s;bditos do imperador devem ser cristãos6 tudo deve terminar
na capela imperial, órgão centrali2ador composto por
cl&rigos6 os pares de missi dominici são geralmente
compostos por um bispo e um alto funcion%rio6 os bispos
participam das batal3as#

NM

Em contrapartida,
inteiramente a 3ieraruia
do imperador eclesi%stica
ue nomeia depende
e controla, uase
no uadro
da reforma eclesi%stica começada por -epino , o reve# *s
capitulares t!m força de lei, mesmo em relação 9s decisões
conciliares: costumes, liturgia, teologia e pr%tica
religiosa, tudo isso & regulamentado pelas capitulares#
/everemos lamentar esta clericali2aç ão da sociedadeW -õe5se
aui o eterno problema das relações Igreja5Estado6 uestão
ue os 3omens do s&culo 44 baseando5se na eperi!ncia,
optaram geralmente pela separação# 1o s&culo I4, esta
empresa formid%vel foi, talve2, a salvação de um 'cidente
mergul3ado nas trevas: em todo o caso, nessa &poca, não se
concebia a instauração de uma civili2ação ue não fosse
cristã# Araças a Carlos "agno, o vel3o paganismo galo5romano
foi, a pouco e pouco, varrido do continente e gan3ou5se o
3%bito de ver os cl&rigos 5 de uem o imperador eigia um
mínimo de instrução e uma conduta eemplar 5 a cuidar dos
doentes e dos pobres# ' território cristão cobriu5se de
mosteiros e centros de cultura6 por isso, o mais belo título
de glória de Carlos "agno foi auilo ue se c3amou, com
algum eagero, a )enascença carolíngia#
/e facto, uando Carlos "agno assume o trono dos <rancos, o
'cidente j% possui alguns centros intelectuais: .indisfarne,
Córbia, +aint5Aall, <ulda e óbio, onde os monges recopiam
os manuscritos da íblia ou dos *ntigos com um 2elo ue,
pouco a pouco, difunde o uso da min;scula perfeita, dita
carolina6 acrescentam5se grandes ilustrações 9 moda antiga
ou ornatos 9 irlandesa# -edro de -isa e -aulo /i%cono, em
It%lia, o ib&rico (eodolfo e *ícuíno mestre5escola de
Iorue, t!m j% uma boa reputação# )eunindo 9 sua volta 5 na
famosa Escola do -al%cio 5 os letrados da &poca como
*lcuíno, de uem ele fa2 abade de +ão "artin3o de (ours, ou
(eodolfo, nomeado bispo de 'rleães, o imperador estimula a
actividade desses centros intelectuais# +em d;vida, as obras
dessa &poca não são originais: a cultura, 9 base de
gram%tica e de m&trica, desemboca com demasiada freu!ncia
numa literatura pomposa e numa teologia servil, mas presta
um imenso serviço 9 civili2ação ocidental, ao manter vias de
comunicação com a *ntiguidade Cl%ssica atrav&s dos p\ntanos
b%rbaros# *o mesmo tempo, as cópias forneciam tetos aos
mission%rios#

M

' grande m&rito de Carlos "agno foi, sobretudo, o de


legislador# Ele pretendia ue cada mosteiro tivesse a sua
escola, um ensino simples 5 cantos, salmos, contas e

gram%tica 5,
preparando apoiado
cl&rigos em tetos
e monges cuidadosamente
suficientemente corrigidos,
instruídos para
poderem cumprir perfeitamente as suas obrigações# *inda se
confundia clericalismo e cultura#

L# $ma estrutura ue se revela fr%gil

1o plano político, o imp&rio de Carlos "agno desaba


rapidamente# ' seu fil3o e sucessor, .uís 4, o -iedoso ou o
indulgente UN]5N]V, revelava mais inclinação para a
administração e para a reforma eclesi%stica do ue para as
actividades guerreiras# -reparou com antecipação, a partir
de NK, a sua sucessão, confiando um reino a cada um dos
tr!s fil3os: .uís, -epino e .ot%rio# "as, subordinando .uís
e -epino a .ot%rio associado ao Imp&rio e atribuindo, em
NBM, uma grande parte dos seus Estados a um uarto fil3o,
Carlos, o Calvo 5 nascido de 0udite da aviera 5, .uís, o
-iedoso, desencadeia guerras fratricidas, ue minaram o
Imp&rio e enrai2aram o regime feudal# 's 3omens da Igreja,
os mais elevados espíritos do tempo, >ala de Córbia,
*gobardo de .ião, -asc%sio )adberto, )%bano "auro e Hincmar,
desempen3aram um papel importante nessas lutas, geralmente
num sentido unit%rio, pois a unidade política, aos ol3os
desses agostinianos, era o garante da unidade cristã, mas o
comportamento do soberano devia ser julgado pela autoridade
espiritual# 1ão se trata ainda de depor os imperadores, mas
o s&culo I4 não findaria sem se reali2ar uma not%vel
transfer!ncia de poder das mãos de Carlos "agno para as mãos
do -apa# 1unca como sob .uís, o -iedoso 5 8o rei dos bispos8
5, a Igreja foi tão plenamente dona e sen3ora do poder no
'cidente# Zerdadeiro 3omem da Igreja, o imperador impulsiona
a )enascença carolíngia6 a reforma eclesi%stica, problema
sempre novo, epressa5se em concílios anuais reali2ados em
*i5la5C3apelle# .uís, o -iedoso, uer sobretudo restaurar
nos mosteiros o fervor e a austeridade ue o tempo, perp&tuo
reconstrutor das dunas, ameaça

M

constantemente# -ara tanto, deposita toda a confiança num


monge, ento ue, em KNB, fundou na -rovença, em *niane, uma
pobre comunidade, em ue a regra beneditina, estritamente
observada, atraía tre2entos religiosos e rapidamente se
estende por todo o Imp&rio# Em NJ, o imperador instala
ento, de *niane perto de *i5la5C3apelle, em Inden, e fa2
dele o animador de um sínodo do ual sai uma capitular
c&lebre 5 o capitulare monasticum 5 ue, em setenta e cinco

capítulos,
Inden pormenori2a
não ten3a os devereso dos
podido representar papelmonges# "esmo ue
centrali2ador ue
ClunG desenvolveria no s&culo 4, ento de *nian teve o
m&rito de reagir contra a ignor\ncia dos monges e o
isolamento dos mosteiros#

]# Esforço mission%rio para norte e para leste

(anto na &poca de .uís, o -iedoso, como na de Carlos "agno,


a epansão franca
foi acompan3ada de avanços mission%rios# /a igreja b%vara
nasceu, em N]K, nas margens do lago alaton, a Igreja
panónia# Com os Aermanos submissos e nominalmente
cateui2ados, restavam os Eslavos e os Escandinavos#
* vaga eslava 3avia submergido a );ssia e alcançado o Elba e
o +aale, cobrindo a o&mia e a ulg%ria at& aos alcãs#
Haviam surgido tr!s Estados eslavos: a ulg%ria, rival de
i2\ncio6 a grande "or%via ue, no tempo de +vatoplu Upor
volta de NKV, se estendia sobre a o&mia e a Hungria
'riental6 e a );ssia 5 de facto, o principado de iev 5, ue
viria a ter um futuro glorioso#
)oma e i2\ncio interessaram5se, ao mesmo tempo, pela
evangeli2ação dos Eslavos# 's Croatas tin3am sido atingidos
muito antes de Carlos "agno, mas o cristianismo só fe2 reais
progressos entre eles uando os <rancos forçaram os Croatas
da /alm%cia e da -anónia a recon3ece rem a sua dominação: em
NLL, o arcebispo de +al2burgo consagrava a igreja de 1itra,
na actual Eslov%uia# 's mission%rios francos trabal3aram
tamb&m na "or%via e na o&mia: por volta de N]J, os c3efes
das casas principescas da o&mia, dos -rjemGslides e dos
+lavnis, receberam o baptismo em )atisbona juntamente com
muitos dos seus vassalos#

MB

-ara l% da -anónia, do /an;bio aos alcãs, viviam as tribos


b;lgaras ainda pagãs# 's <rancos e o papado, por prestígio,
e i2\ncio, por necessidade política, cobiçaram
simultaneamente o benefício da conversão dos ;lgaros# Essa
emulação teve, por ve2es, aspectos de competição# -or volta
de NO, óris, príncipe b;lgaro, rompeu com )astislau,
príncipe dos "or%vios, e voltou5se para os <rancos#
Imediatamente )astislau se aliou aos i2antinos e pediu5l3es
alguns mission%rios gregos ue con3eciam a língua eslava# '
regente de i2\ncio, ardas, e o patriarca <ócio
aproveitaram a oportunidade e designaram dois mission%rios
tessalonicenses, dois irmãos, Cirilo e "etódio# Cirilo,

3omemtin3am
não ecepcional menteue
alfabeto inteligente , sabendo
os ajudasse ue os "or%vios
a transcrever a sua
língua, criou um, combinando o grego com elementos 3ebraicos
e coptas: foi o alfabeto glagolítico ue permitiu a tradução
para o eslavo antigo Uo eslavónioV dos livros sagrados e dos
livros lit;rgicos# /e NO], data da sua c3egada, at& NN],
data da morte de "etódio 5 ue sobrevivera a Cirilo, morto
em NOM 5, os mission%rios gregos reali2aram uma obra
not%vel, convertendo uase toda a "or%via e criando um clero
nativo#
"as isso não se fe2 sem dificuldades# -ermanentemente
perseguidos pelos bispos b%varos ue se inuietavam com as
suas inovações e consideravam o uso lit;rgico do eslavo um
sacril&gio, foram denunciados ao papa ue os apoiou: *driano
II nomeia "etódio como bispo regional da Arande "or%via, com
sede em +irmium# Com a morte de "etódio, o bispo alemão de
1itra obt&m de Est!vão Z a supressão da liturgia eslava e a
partida dos discípulos de Cirilo e de "etódio# 1o entanto,
logo nos primeiros anos do s&culo 4, a Arande "or%via
desapareceria sob a vaga dos "agiares# 's mission%rios
gregos refugiaram5se na ulg%ria, cujo rei óris fora
bapti2ado Ucerca de NO]V6 depois de ter 3esitado entre )oma
e Constantinopla, acabou por ligar a Igreja b;lgara a <ócio
UNKV# i2antina de cultura, a jovem Igreja não possuía uma
língua lit;rgica: Clemente, discípulo de Cirilo, forneceu5
l3e uma, baseada no alfabeto cirílico, ancestral do alfabeto
b;lgaro e versão b;lgara do eslavo# [uando os i2antinos
conuistaram a ulg%ria no s&culo 4, os cristãos refugiados
na );ssia ieviana introdu2iram aí a escrita cirílica como
veículo do cristianismo#

ML

Carlos "agno e .uís, o -iedoso, 3aviam5se detido no curso


inferior do Elba, diante da mural3a do /anevir ue,
construída atrav&s do istmo de +c3lesPig, isolava a
província saónica 5a mais setentrional 5 do grande imp&rio
dos Ziuingues *s incursões na Europa 'cidental e
"eridional desses escand inavos davam bem a medida da sua
força# ' cristianismo penetra entre esses guerreiros
adoradores de 'din e de (3or por interm&dio de um c3efe
dinamaru!s, Haraldo, refugiado entre os <rancos, a uem
.uís, o -iedoso, tin3a eigido ue pedisse o baptismo UNBOV#
[uando Haraldo uis voltar 9 /inamarca, teve como
acompan3ante o picardo *nsc%rio ue, praticamente so2in3o,
penetrou em pleno país viuingue# -or diversas ve2es
perseguido, mas continuando constantemente a sua acção a

partir de
remen, Hamburgo
*nsc%r 5 decriar
io p`de onde dois
se torna bispocrist
centros 5 e, depois,
ãos: um em
)iba, porto da /inamarca, outro em ira, no lago "lar, na
+u&cia# * sua morte, ocorrida em NOJ, levou ao abandono a
missão escandinava#
 verdade ue, então, o 'cidente desmembrado vivia sob o
terror dos Ziuingues#

M]

Capítulo II
'+ +C$.'+ 1EA)'+

# ' grande terror escandinavo

1avegando em barcos leves e r%pidos, os ousados marin3eiros


escandinavos, desde 3% muito tempo, sulcav am os mares do
1orte e o oceano 9 procura de 2onas ribeirin3a s ricas e mal
defendidas6 desde o fim do s&culo ZIII, os 1oruegueses j%
apareciam na Irlanda e os /inamarueses nas costas inglesas#
E, como aut!nticos comerciantes viuingues, traficavam com
i2\ncio atrav&s do 1eva e do /niepre#
Com a morte de Carlos "agno, puderam ver5se os Escandinavos
e os 1ormandos a destruir portos nas costas da Europa
'cidental# Instalados em il3as fluviais, os 1ormandos sobem
os rios, massacrando, ueimando e pil3ando# -odemos
encontr%mos em Hamburgo e *ntu&rpia, no Aironda, em
C3artres, lois e -aris 5 sitiada uatro ve2es em uarenta
anos 5, em +evil3a e, mesmo, em -avia# 's monges fogem
diante deles, levando as suas relíuias, enuanto os
príncipes compram a sua fuga, pagando tributos ou
entregando5l3es províncias para pil3agem# +eria preciso
esperar pelo s&culo 4 em <rança, e pelo s&culo 4I noutros
lugares, para ver os terríveis 1ormandos dos mares fiarem5
se em Estados poderosos e srcinais#
' s&culo I4, depois da morte de Carlos "agno, j% pertence
aos c3amados s&culos negros, nos uais se instala a anaruia

MJ
no 'cidente, provocando o seu parcelamento, adentro das suas
fronteiras ameaçadas# 1ão 3% c3efes nem, tampouco, grandes
bispos para fa2er frente 9s incursões normandas6 & verdade
ue os subtis marin3eiros não operam com base em vagas
poderosas como os Aermanos do s&culo Z ue não davam muitas
3ipóteses de r&plica#
Com o desaparecimento de .uís, o -iedoso, em N], o Imp&rio

foi dividido
juramentos em tr!s partes,
de Estrasburgo UN]LV# segundo
Carlos, oasCalvo,
cl%usulas
recebedos
a
futura <rança Ua <rancónia 'cidentalV, .uís a futura
*leman3a U<rancónia 'rientalV e .ot%rio, uma .otaríngia
artificial, em ue a presença de )oma e de *i5la5C3apelle
não bastava para esconder a fragilidade do seu título e do
poder imperial ue l3e coubera#

B# ' recuo da Europa

1esta altura, o regime feudal gan3a os seus verdadeiros


contornos em v%rios territórios do 'cidente# * autoridade
real de tipo carolíngio desmorona5se# ' rei j% não & o
doador de terras do s&culo anterior e o serviço de
vassalagem 5 j% eistente no tempo dos merovíngios 5 deia
de ser privil&gio do rei# Homens fortes, por ve2es at&
condes, passaram a atrair naturalmente os 3omens livres,
ameaçados pelos 1ormandos ou pelos +arracenos, ue o
soberano não estava em condições de proteger# *o Estado de
tipo romano 5 um Estado de funcion%rios 5, sucede um
conjunto 3ierarui2ado de propriet%rios fundi%rios# *
predomin\ncia de uma classe de guerreiros e a classificação
generali2ada em vassalos e suseranos, cujas relações
substituem a sujeição ao Estado, superpõem5se a um regime
essencialmente rural# ' guerreiro &, ao mesmo tempo, sen3or
e propriet%rio# * terra transforma5se na ;nica riue2a6 as
cidades 5 9 ecepção dos portus dos grandes rios 5 esva2iam5
se# Carlos, o Calvo UNKJV, e, depois Carlos, o Aordo UNNJV,
tentam reunificar e fortalecer o Imp&rio, mas j% & demasiado
tarde#
* Igreja 5 ue fa2 parte do corpo social da &poca 5 v!5se
evidentemente afectada pelo regime feudal ue representa um
novo perigo#  integração na 3ieraruia administrativa do
Estado

MO

imperial sucede a ameaça de dissolução na nova sociedade# 's


sen3ores seculari2am de boa vontade as terras eclesi%sticas
e os seus rendimentos6 mas 3% pior: os cl&rigos tamb&m se
encomendam a um sen3or ue se toma assim o governante das
Igrejas, distribuindo os títulos eclesi%sticos# 1os
mosteiros, a vida regular & gravemente ferida# *bades
indignos ou concubinos, bispos caídos em desgraça, cl&rigos
redu2idos 9 mendicidade e padres administradores, são os
males ue, durante dois s&culos, a Igreja ter% de aguentar e
ue j% estavam em incubação desde meados do s&culo I4# *

longa disputa das investiduras j% reunia todos os seus


elementos#
"as nem por isso todos os centros espirituais foram
eliminados# /e .uís, o -iedoso, a Carlos, o Calvo, a
)enascença carolíngia prossegue a sua acção# 's
3istoriadores 1it3ard e Hincmar6 o polígrafo )%bano "auro,
abade de <ulda6 Zalfredo Estrabão, de )eic3enau, cujo manual
da +agrada Escritura faria escola6 o grande poeta 1oter de
+aint5Aall, ue enriueceu o canto da Igreja com novas
fórmulas6 -asc%sio )adberto, de Córbia, teólogo da
Eucaristia6 o universal 0oão Escoto Eri;gena 5 todos esses
3omens da Igreja continuam a fa2er frutificar o património
cultural da Humanidade#
Inicialmente, o papado parece não só escapar ao feudalismo
romano, mas tamb&m oferecer 9 Igreja a oportunidade de guiar
essa sociedade sem mestres# *o tempo da partil3a de
Estrasburgo, reina 1icolau I UNJN5NOKV, um 3omem de aço, ue
afirma a autoridade espiritual de )oma perante os
metropolitas e os reis# 8/esde o bem5aventurado Aregório 5
escrevia )&ginon 5 nen3um papa se p`de comparar a 1icolau#8
"uitos anos passariam antes ue outro 1icolau surgisse#
*driano II UNOK5NKBV pretendeu agir, mas, tendo a sua mul3er
5 porue ele fora casado 5 sido raptada por um amante, toda
a sua acção reformadora ficou evidentemente paralisada# 0oão
ZIII UNKB5NNBV tenta lutar contra as incursões sarracena s e
contra o crescente ataue dos leigos, fortalecendo a
autoridade imperial: mas os dois titulares seguintes da
coroa imperial 5 Carlos, o Calvo, e Carlos, o Aordo,
revelaram5se pouco dignos da confiança do papa# +obretudo
Carlos, o Aordo 5, ue não conseguiu opor aos 1ormandos e 9
crescente anaruia mais ue

MK

uma covardia revoltante# [uando, sob o pontificado do


incompetente papa Est!vão Z, Carlos, o Aordo, foi deposto
por incapacidade UNNKV, caiu um grande v&u negro sobre o
'cidente#

L# +&culo 4, o 8seculum obscurum8


-ara os 3istoriadores italianos o s&culo 4 & um s&culo de
ferro, o saeculum obscurum# * instalação dos Ziuingues na
rica 1ormandia UMV não põe termo 9s suas depredações# 's
+arracenos sobem os vales alpinos sem encontrar resist!ncia#
E todo o s&culo & abalado pelo terror das 3ordas 3;ngaras
ue avançam at& 'rleãe s# 1o interior, a sociedade feudal

torna5se
dos mais
bens da densaeeoramifica5se,
Igreja agravando
domínio dos feudais a seculari2ação
sobre as eleições
episcopais e sobre os mosteiros, tornados 3erança de
família6 a simonia 5 compra de cargos sagrados 5 e o
concubinato dos cl&rigos são cancros naturalmente
alimentados por um corpo social enfrauecido6 os pobres
pululam#
(amb&m em )oma se instala o feudalismo, onde grandes casas
feudais se tornam donas do trono pontifício# 1o s&culo 4,
sucedem5se papas5fantoc3es e muitos deles deiaram5nos
apenas os seus nomes, por ve2es carregados de ignomínia#
(endo o papa <ormoso UNM5NMOV coroado um bastardo como
imperador, *rnulfo da Aerm\nia, em detrimento de outro
descendente de .uís, o -iedoso, .amberto de Espoleto, lutas
sangrentas opuseram, depois da morte de <ormoso e de
*rnulfo, espoletanos e antiespoletanos6 o episódio mais
atro2 foi o 8concílio cadav&rico8 de 0aneiro de NMK: a m;mia
de <ormoso foi retirada do t;mulo, vestida com os paramentos
pontificais, sentada numa cadeira, julgada, condenada,
desnudada e lançada ao (ibre#
-or volta de M, subiu nos c&us de )oma a estrela do
senador (eofilacto, marido de (eodora# (alve2 ten3a estado
ligado aos sangrentos episódios ue condu2iram ao trono
pontifício +&rgio III UM]V, sucessor de .eão Z, morto na
prisão, cuja desgraça 3avia sido o facto de se ter
apaionado por "aró2ia, fil3a de (eofilacto, resultando daí
um fil3o adulterino# $m dos sucessores de +&rgio III, 0oão 4
UM]5MBNV, teve uestões com *lberico,

MN

maru!s de Espoleto, marido de "aró2ia# /urante uin2e anos,


a dupla *lberico5"aró2ia e, depois da morte de *lberico, a
dupla "aró2ia5Auido de (oscana, dominaram )oma# "aró2ia
c3egou mesmo a ser a ;nica dona da cidade, uando o papa
0oão 4 5 ue desejara liber tar a Igreja 5 foi asfiiado com
um travesseiro6 foi ela uem 8fe28 os seus dois ef&meros
sucessores, .eão ZI e Est!vão ZII# "as o c;mulo foi uando,
em ML, subiu 9 c%tedra de -edro o fil3o bastardo de "aró2ia
e do papa +&rgio III, ue tomou o nome de 0oão 4I# "as, como
"aró2ia 3avia casado, em terceiras n;pcias, com Hugo da
-rovença UMLBV, *lberico II, fil3o de *lberico, revolta5se,
lançando na prisão a sua mãe e 0oão 4I#
*lberico II, mais religioso do ue a mãe, toma o título de
8príncipe e senador de todos os romanos8# 's uatro papas
ue 8reinaram8 durante os vinte anos do seu patriciado não
passaram de fantoc3es de *lberico II, embora .eão ZII UMLO5

MLMV tin3a
não ten3a apoiado
c3egado aao
reforma
fundo:cluniacense# "as a Igreja
em O de /e2embro de ainda
MJJ,
tornava5se -apa com o nome de 0oão 4II um jovem de M anos,
'ctaviano, fil3o de *lberico II# "esmo ue deiemos de lado
as acusações mal5intencionadas de .iutprando de Cremona,
ainda 3% muitas faltas , as suficientes para esmagar 0oão
4II, um nobre mais devasso do ue pontífice# ' seu reinado
foi, por&m, marcado por um acontecimento capital: o
restabelecimento do Imp&rio no 'cidente#

]# ' +acro Imp&rio e os papas 8alemães8

1o dia B de <evereiro de MOB, 0oão 4II coroava imperador o


rei da Aerm\nia, 'tão da +aónia# ' +acro Imp&rio )omano5
Aerm\nico 5 Aerm\nia, It%lia e orgon3a 5, assim fundado,
apenas desaparecer% em NO# /esde o começo, este Imp&rio
Aerm\nico fe2 incidir sobre a Igreja romana uma pesada
3ipoteca: por uma esp&cie de concordata assinada por 'tão I
e 0oão 4II U-rivilegium 'ttonianumV, o imperador, mesmo
confirmando os direitos do papa sobre os territórios
romanos, estabelecia um controlo estrito da administração
pontifícia6 a própria

MM

eleição do papa ficava submetida 9 sua escol3a ou ao seu


veredicto# -rev!em5se longas lutas ue 3ão5de ocorrer nos
s&culos 4I e 4II: a Igreja só sair% vitoriosa porue o +acro
Imp&rio saído do feudalismo, assente em bases fr%geis, nunca
ser% o ue 3aviam sido os imp&rios de Constantino e de
Carlos "agno: uma monaruia centrali2ada#
Entretanto, a teoria dos 8dois gl%dios8 inflecte em
detrimento do espiritual# 'tão I fa2 e desfa2 os papas:
destituição de 0oão 4II, em MOL, e de ento Z, em MO]# 0oão
4III UMOJ5MKBV não foi mais do ue um aruicapelão do
imperador# "as 'tão e os seus sucessores da dinastia
saónica não foram insensíveis 9 reforma eclesi%stica6 e a
sua família tamb&m não deiava de ter os seus santos:
"atilde, mãe de 'tão I, *delaide, sua esposa, runo de
Colónia e Henriue II, terceiro sucessor de 'tão# ento ZII
UMK]5MNLV, encorajado pelo imperador, presidiu a diversos
concílios destinados a combater a simonia, tendo protegido
tamb&m ClunG e as suas filiais#
1o entanto, isso não uer di2er ue os dias sombrios da
Igreja romana 3ouvessem acabado: a morte violenta de 0oão
4IZ e do seu advers%rio onif%c io ZII UMN]V, a dominação da
família romana dos Crescen2i ue 8fa28 0oão 4Z UMNJV,

esperando ue 'tão


acontecimentos III 8fi2esse8
escandalosos# Aregóriodescobre5se
/e repente, Z UMMOV, sãouma
nesga de c&u: em MMM, 'tão III designa como -apa um
verdadeiro pastor, o seu antigo professor, o monge arvern!s
Aerberto, ue escol3eu o nome +ilvestre II UMMM5LV# Era
um erudito 5 fora mestre de (eologia em )eims 5, cuja
reputação de 3omem de ci!ncia, mesmo deformada Uporue
alguns fi2eram dele um aluimista e um feiticeiroV,
alcançava todo o 'cidente# ' seu curto reinado ilumina o
final do s&culo 4 e o ano mil carregado de terror# +ilvestre
II luta com intransig!ncia pela liberdade da sede
apostólica6 nos seus sermões e nos seus actos perpassa j% um
sopro gregoriano#
* morte de +ilvestre II, seguindo de perto a de 'tão III,
voltou a mergul3ar a It%lia e )oma na anaruia: os Crescen2i
8fi2eram8 0oão 4ZII Ufalecido em LV, 0oão 4ZIII Ufalecido
em MV, +&rgio IZ Ufalecido em BV, ao passo ue ento
ZIII Ufalecido em B]V foi pessoa da família de (;sculo#
*ssiste5se a um novo esc\ndalo: um rapa2in3o do partido
tusculano, ento I4



Ufalecido em ]JV, a disputar o trono de -edro com Aregório


ZI Ufalecido em ]OV, ali%s um pontífice not%vel6 mas ambos
foram depostos por Henriue III, ue nomeia Clemente II
Ufalecido em ]KV e, depois, /\maso II Ufalecido em ]NV#
[uando o sínodo de >orms designa o alsaciano runo de (oul
com o nome de .eão I4, a Igreja abandonou a 2ona sombria:
ir5se5ia desencadear a reforma pr&5gregoriana, preparada
pela santidade e pela fecundidade de ClunG#

J# $ma fonte viva: ClunG

Como tantas ve2es acontece ao longo da História da Igreja, &


nas suas próprias profunde2as ue o grande corpo em perigo
encontra as forças salvadoras# Enuanto )oma se revela
apenas o coração resseuido de uma Igreja asfiiada pelo
feudalismo, eis ue uma fonte brota num vale2in3o da
orgon3a# $m grande sen3or feudal de idade avançada,
Auil3erme, o -iedoso, duue da *uit\nia, cansado das
alegrias deste mundo, possuía em ClunG uma bela casa de
campo6 em MM, doou5a, juntamente com os seus servos,
bosues, vin3as e moin3os, para ue ali se construísse um
mosteiro em 3onra de +# -edro e +# -aulo, e se
estabelecessem os beneditinos, sob a direcção de ernão, o
reformador da abadia de eaume5les5"essieurs# * cl%usula

capital
c3eia dedo acto de doação
promessas: outorgava
o mosteiro a ClunG uma
ser% autónomo liberdade
em relação a
todas as autoridades civis ou religiosas, prestando contas
;nica e directamente a )oma#
ernão foi um religioso entusiasta, mas foi com 'dão, seu
sucessor UMBK5M]BV, ue ClunG se elevou acima de todos os
mosteiros do 'cidente# Encorajado pela imperatri2 *delaide e
pelo papa ue, em ML, o autori2ou a colocar na sua
depend!ncia todos os mosteiros ue ele reformasse, e ainda
ajudado por in;meros bispos e sen3ores feudais, ue
restauraram mosteiros arruinados, 'dão estabelece a sua
influ!ncia na orgon3a, na *uit\nia e na It%lia# * sua obra
foi continuada por uma etraordin%ria lin3agem de abades,
cuja fama e glória só encontraram similar na sua
longevidade# "aGeul UM]N5MM]V restaurou muitos mosteiros



romanos e reanimou v%rios focos de cultura j% etintos:


"armoutier, .&rins e +aint5&nigne de /ijon# 'dilão UMM]5
]MV, um 3omem peueno de vontade f&rrea, fe2 com ue o
n;mero de casas ligadas a ClunG passasse de trinta e cinco
para sessenta e cinco# Hugo U]M5MV reformou, entre
outros, .a C3arit&5sur5.oire, +aint5"artin5des5C3amps,
+aint5ertin e Z&2elaG, al&m de fundar postos avançados
diante da Espan3a sarracena e tamb&m um mosteiro de
beneditinas em "arcignG5sur5.oire# *o fervor do religioso e
9 prud!ncia do diplomata, Hugo alia os talentos de
construtor: & a ele ue a Idade "&dia deve a sua mais vasta
e mais sumptuosa igreja, a da abadia de ClunG, infeli2mente
destruída em NBL#
* morte de Hugo assinala o apogeu da ordem cluniacense ue
conta, em M, mil cento e vinte e uatro casas, das uais
oitocentas e oitenta e tr!s em <rança# +e algumas mantin3am
um abade, nomeado pelo de ClunG, a maioria delas & dirigida
por um superior UpriorV passível de substituição, dependendo
estritamente da abadia5mãe# * influ!ncia da ordem
cluniacense sobre a civili2ação ocidental foi consider%vel,
a tal ponto ue se podia falar, sem eagero, de 8centro real
da Igreja8 e de 8capital espiritual da Europa8# ' privil&gio
de isenção pontifícia, a sua administração centrali2ada e
independente do regime feudal, e a sabedoria acumulada de
uatro grandes abades, entre MBK e M, permitiram ue
ClunG alimentasse uma poderosa corrente de reforma mon%stica
e cristã# *s características próprias da reforma cluniacense
são: aumento do n;mero de monges5padres, dando uma nova
import\ncia 9 celebração da missa6 a supressão uase total

do trabal3o nas
solenemente manual em igrejas
amplas favor doporofício
gruposdivino cantado
compactos de
monges Udu2entos a tre2entos em ClunGV, e tamb&m 5 embora
subsidiariamente 5 a favor do trabal3o intelectual, ainda
ue ClunG não desenvolva nesse domínio o papel ue assumir%
nos s&culos 4ZII e 4ZIII a congregação beneditina de +aint5
"aur#
Esta vida consagrada essencialmente 9 oração lit;rgica e 9
vida do espírito necessitava de um contrapeso material: os
8usos e costumes8 cluniacenses previam sempre refeições sem
carne, mas substanciais# * pa2 e a moderação 5 os dois
fundamentos

B

da ordem beneditina 5 caracteri2aram ClunG e garantiram a


sua influ!ncia numa sociedade rural dominada pela viol!ncia
e pela imoderação# "esmo não inovando em mat&ria de liturgia
e de observ\ncia, ClunG foi testemun3a do Evangel3o vivido#
(odas as ignor\ncias e terrores de um simples povo cristão
redu2ido 9 servidão6 todas as fraue2as, todas as concessões
feitas ao mundo pelos cl&rigos, prelados e papas6 e todas as
depredações e cobiças dos poderosos acabavam por se
dissolver nesses 8vasos de eleição8 ue eram ClunG e suas
filiais# *l&m disso, numa &poca de economia fec3ada, em ue
surgiam freuentemente grandes surtos de fome e desgraças,
os mosteiros cluniacenses foram os principais ref;gios dos
pobres6 num domingo da [uinuag&sima de determinado ano, do
abadado de +# Hugo, sete mil pobres foram alimentados pela
abadia borgon3esa#
*plicando os seus recursos na construção de numerosas
igrejas e claustros, ClunG renovou a aruitectura cristã: os
seus abades itinerantes populari2aram a arte romana no
'cidente, enriuecendo5a com a adopção de capit&is
esculpidos, com a moda dos portais com imagens, com o
esplendor dos frescos#
"as foi atrav&s dos seus monges ue foram papas ue ClunG
actuou mais fortemente numa cristandade enfrauecida#

L
Capítulo III
' )E(')1' /' -*-*/'  )I*.(*

# 's papas duniacenses

.eão I4 U]M5J]V não foi um -apa como os outros# ispo de

(oul, foi Henriue


imperador eleito III#
no Concílio
"as, numadepat&tica
>orms por vontade
inovação, vai do
a
)oma vestido de peregrino e fa25se reeleger canonicamente
pelo clero romano# E entrega5se, imediatamente, ao espírito
de reforma ue inspirou a sua acção pastoral na .orena#
)odeia5se de auiliares decididos a secund%5lo nessa tarefa6
os mais not%veis foram dois monges: o cardeal Humberto, um
loreno, e o cluniacense Hildebrando, futuro Aregório ZII#
.eão I4 viaja muito, afirmando por toda a parte o poder
supremo de )oma em mat&ria espiritual, reunindo diversos
sínodos, pedindo contas aos dignit%rios eclesi%sticos
simoníacos e fornicadores, condenando as doutrinas
antieucarísticas de ereng%rio de (ours UJV e coligindo a
colecção dos 8+etenta e [uatro (ítulos8, primeiros elementos
do direito Canónico#
Embora Zítor II UJJ5JKV ainda esteja na lin3a dos papas
8alemães8, o abade do monte Cassino, ue se tornou -apa com
o nome de Est!vão I4 UJK5JNV , fa2 um aut!ntico golpe de
Estado, fa2endo5se eleger apenas pelo clero e pelo povo de
)oma, sem solicitar a investidura imperial# Este natural da
.orena, admirador de .eão I4, nunca abandonou a sua atitude
de

J

independ!ncia durante o seu curto pontificado, marcado pela


grande figura do cardeal Humberto6 em JK, este publicou o
tratado *dversus +imoniacos, estigmati2ando ao mesmo tempo o
vício simoníaco e a intervenção dos poderes laicos nas
eleições episcopais# (ais ideias encontrara m uma incid!ncia
canónica num decreto de 1icolau II UJM5OV ue
estipulava ue, de futuro, a eleição dos papas seria da
compet!ncia eclusiva dos cardeais5bispos, depois de terem
consultado os cardeais5padres e cardeais5di%conos6 at&
então, os cardeais eram apenas os bispos, os padres e os
di%conos principais UcardinaisV dos Estados do -apa# *ssim,
de simples consel3o, o seu corpo tornava5se um col&gio
eleitoral#
* reacção foi viva, sobretudo na *leman3a, mas nada
adiantou, porue, em O, o bispo de .uca foi designado
apenas pelos cardeais com o nome de *leandre II#
-ressionado pela nobre2a romana e pelo imperador, ele estava
prestes a voltar aos vel3os erros, uando se ergueu, com
autoridade, a vo2 de -edro /amião Ufalecido em KBV# Este
eremita de )avena, criado cardeal de @stia, estigmati2ava
atrav&s dos seus escritos e sermões c3eios de força 5 o seu
Aomorr3ianus & particularmente violento 5 os cl&rigos e

monges deboc3ados
decisiva e, mais ainda,
a sua intervenção a favorasdesuas compan3eiras#
*leandre <oi
II, ameaçado
por um concorrente imperial# ' -apa, fortalecido, p`de
prosseguir a obra de regeneração moral e disciplinar
iniciada pelos seus antecessores# *s bulas de *leandre II
atestam ue os jui2es de )oma j% eram considerados
irreform%veis6 os seus legados 5 -edro /amião e o cardeal
Est!vão 5 apoiavam a sua autoridade, sobretudo em <rança# '
-apa encorajou o desembarue normando em Inglaterra6 em
Espan3a, onde a liturgia romana substituiu a liturgia
moç%rabe, a ideia de uma reconuista cristã encontrou nele
um defensor6 apoiou a acção dos normandos de Auiscardo ue,
em KB, depois de epulsarem os +arracenos, se tornaram
sen3ores da +icília#
Estava preparado o terreno para Hildebrando ue, em BB de
*bril de KL, seria eleito com o nome de Aregório ZII#

O

B# Aregório ZII

* Igreja acabava de escol3er um dos seus maiores pontífices#


Este monge toscano tin3a 3aurido, na fonte cluniacense, a
f&, a piedade, a caridade, o amor pela pa2 e uma longa
pr%tica das Escrituras# Aregório ZII ueria coroar a obra
dos seus antecessores6 auilo a ue se c3amou 8a reforma
gregoriana8 não foi mais do ue o culminar de um j% longo
trabal3o#
' -apa adoptou, inicialmente, o m&todo de conciliação 5o
mesmo ue -edro /amião preconi2ara 5 com o imperador
Henriue IZ, o +imoníaco, com Auiscardo, um salteador, e com
o rei de <rança, <ilipe I, cujo adult&rio end&mico
escandali2ava a cristandade# Aregório ZII teria preferido
8converter8 estes príncipes e associ%5los 9 sua acção
reformadora# "as o seu sil!ncio incitou5o, no Concílio de
)oma de K], a acabar com as duas manc3as do clero: a
simonia e o nicolaísmo# Embora j% muitos o ten3am
salientado, o ue distingue Aregór io ZII & a sua tenacidade
em fa2er observar a legislação eclesi%stica e a severidade
das sanções Uinterdição e ecomun3ãoV aplicadas em todos os
países cristãos por legados vigilantes#
's decretos gregorianos foram mal recebidos# 1o Concílio de
)oma, em <evereiro de KJ, Aregório ZII retomou5os,
acrescentando5l3es um c\none ue proibia os bispos e os
padres de receberem os seus cargos das mãos de um leigo:
isto era subverter uma situação de facto uase universal#
*lgumas semanas mais tarde, vinte e uatro proposições

etremamente
foram en&rgicas,
inseridas epressas
nos registos em termossão
pontifícios: pouco 3abituais,
os /ictatus
-apae, onde se encontram frases como estas: 8* Igreja romana
foi fundada pelo +en3or# X###Y *penas o pontífice romano
merece ser c3amado universal# X###Y 5l3e permitido depor os
imperadores#8 * teoria da supremacia pontifícia encontra aí
a sua codificação#
"as a centrali2ação administrativa e a libertação das
Igrejas não eram, no espírito do -apa, senão um meio de
alcançar o seu objectivo ;ltimo: a morali2ação dos costumes
sacerdotais# * acção do -apa tendia a fa2er5se sentir at& ao
nível dos fi&is, por meio de legados permanentes ou
itinerantes dotados de poderes ecepcionais, em detrimento
dos prima2es, dos

K

metropolitas e at& dos bispos, j% ue o -apa alargou a


numerosos regulares o privil&gio da isenção pontifícia#
* oposição a tal política foi, naturalmente, consider%vel#
ispos símoníacos, como Hermano de amberga e "anass&s de
)eims, desafiaram publicamente o -apa# 1o baio clero, onde
o concubinato era corrente, circularam v%rios fol3etos
antigregorianos# Como a História registou apenas os casos de
resist!ncia, & difícil fa2er um balanço da reforma de
Aregório ZII, sobretudo no plano moral, mas & incontest%vel
ue a centrali2ação pontifical se fortificou durante o seu
reinado#
* intervenção do -apa na condução dos Estados do 'cidente
foi suportada mais ou menos pacientemente pelos príncipes# '
1ormando em Inglaterra, o Capeto em <rança, fingindo
submeter5se 9s directri2es do -apa, não deiaram de o
enfrentar# Com a Aerm\nía e o imperador, travou5s e uma luta
aberta, uma guerra ue 5 con3ecida pelo nome de 8[uerela das
Investiduras8 e, depois, 8.uta do +acerdócio e do Imp&rio8 5
3averia de se prolongar durante uase dois s&culos# * luta
pessoal entre Henriue IZ e Aregório ZII foi pat&tica e
dura, porue o imperador apoiava5se no feudalismo
eclesi%stico da *leman3a ue l3e permitia lutar contra os
grandes sen3ores feudais#
/eposto pelo -apa, ecomungado em KO, abandonado pelos
seus vassalos, desligados canonicamente dos seus deveres
feudais, Henriue IZ 3umil3ou5se em Canossa UKKV# 1o
entanto, deposto novamente em N, fe2 eleger Auiberto com
o nome de Clemente III e foi instalar5se em )oma# Aregório
ZII, sitiado no Castelo +antD*ngelo, foi libertado por
Auiscardo, cujas eacções obrigaram o -apa a retirar5se para

+alerno,
uma onde do
derrota acabou por morrer#
papado, mas o *movimento
sua mortede
foireforma
tomada como
ue
Aregório ZII tin3a relançado era irreversível# .entamente, o
clero, apoiado pelos monges, emergiria da sociedade feudal
e, mesmo ue não fosse plenamente digno dessa missão,
afirmou suficientemente a sua dist\ncia em relação ao mundo
para o guiar e iluminar#

N

Capítulo IZ
' -)I"EI)' )*+A' 1' "*1(' +E" C'+($)*

# $ma etapa em direcção 9 ruptura entre )oma e


Constantinopla: 3licolau I e <ócia

1o momento em ue, finalmente, a Igreja alcançava a dimensão


da sociedade feudal, o fosso ue separava )oma e
Constantinopla alargava5se bruscamente# /esde o s&culo IZ, o
di%logo entre o 'riente e o 'cidente tin3a sido interrompido
com uma freu!ncia cada ve2 maior# ' restabelecimento do
Imp&rio )omano a favor de um b%rbaro, no ano de N, tin3a
sido acol3 ido com bastante frie2a em i2\ncio# *inda por
cima, veio juntar5se 9 uestão do <ilioue# ' Credo de
1iceia5Constantinopla ULNV di2ia: 8Creio no Espírito +anto
ue procede do -ai UCredo### in +piritum +anctum ui e
-atre procedit8V6 a origem eterna do Espírito +anto era
eplicitamente relacionada apenas com o -ai# 'ra, desde
finais do s&culo ZI, a Igreja de Espan3a, e, depois, a
Igreja franca, vulgar i2aram a fórmula 8ue procede do -ai e
do <il3o8 U### <ilioue proceditV# Carlos "agno entusiasmou5
se com esta adição ue tin3a a vantagem de apan3ar os Aregos
em falta, ue se mostravam escandali2ados por ouvir cantar
esse <ilioue aos latinos de 0erusal&m# ' imperador
mobili2ou os seus teólogos, mas )oma resistiu 9s ordens
imperiais e, em N, o assunto foi enterrado durante
sessenta anos#

M
Em NJN, aparece a grande figura de <ócio# Este aristocrata
bi2antino, um erudito tornado dignit%rio da corte de
Constantinopla, tin3a sido indicado para substituir o
patriarca In%cio ue fora deposto6 os legados do -apa e os
outros tr!s patriarcas orientais ratificaram o acontecimento
ue o papa 1icolau I recusara recon3ecer em NOL6 mas o
basileu tomou partido a favor de <ócio# 1icolau ripostou,

enviando
óris, alguns mission%rios
recentemente para a ulg%ria,
bapti2ado, 3esitava cujo reia
entre a obedi!ncia
)oma e a obedi!ncia a i2\ncio# Esta intromissão dos latinos
na proimidade das suas fronteiras provocou a cólera dos
Aregos, sobret udo uando souber am ue os legados de )oma
estavam a camin3o de Constantinopla, onde deveriam informar
o basileu de ue a ulg%ria era decididamente latina6 presos
antes de terem entrado no território imperial, os legados do
-apa foram epulsos em NOO e <ócio enviou uma carta aos
patriarcas orientais estigmati2ando a conduta daueles
8ocidentais b%rbaros8, cujas inovações dogm%ticas e
disciplinares Ujejum ao s%bado, celibato eclesi%stico,
<ilioue###V eram denunciadas em termos veementes# $m
concílio reunido em Constantinopla UNOKV dep`s 1icolau I,
ue morreu nesse mesmo ano, de2 dias antes de <ócio ter sido
destituído na seu!ncia de uma revolução palaciana#
)estabelecido na sede patriarcal, In%cio renova os laços com
)oma, mas estes permanecem fr%geis, ainda mais ue, de NKM a
NN, <ócio recupera momentaneamente o seu prestígio# *
ulg%ria, ue não conseguira obter de )oma um patriarcado
nacional, passa5se inteiramente para i2\ncio#
' papel de <ócio foi capital na ruptura entre )oma e
Constantinopla: foi o primeiro defensor da ortodoia diante
do -apa6 pouco a pouco, a Igreja grega começara a condu2ir5
se como Igreja ortodoa, na medida em ue o <ilioue
aparecia como um erro romano por ecel!ncia# * prima2ia da
3onra do bispo de )oma não era contestada, mas a sua
jurisdição espiritual c3ocava com a dos patriarcas
orientais#
/urante o s&culo 4, o apagamento do papado feudal contrasta
com o esplendor e a força da dinastia macedónica ue reina
em Constantinopla, de NJK a JK# asílio II UMOL5BJV,
vencedor dos %rabes fatímidas 5 a uem arrancou *ntiouia 5



e conuistador da ulg%ria, deiou um imp&rio ue nada tin3a


a invejar ao de 0ustiniano# Constantinopla afirmou a sua
autoridade espiritual, levando os )ussos ao cristianismo: em
MJK, a princesa de iev, 'lga, vi;va de Igor, vai 9 capital
bi2antina receber o baptismo e seu neto, Zladimiro, implanta
definitivamente o Evangel3o na );ssia ieviana: os seus
delegados ficaram de tal forma maravil3ados com as
cerimónias religiosas de i2\ncio U81ós j% não sabíamos se
est%vamos no C&u se na (erra8V, ue Zladimiro decidiu ue o
seu povo abraçaria o cristianismo bi2antino# Em LM, um
metropolita instala5se em iev: o primeiro titular foi um

grego#
e <oi nas deiados
patrióticos, traduçõespor
para eslavo
Cirilo dos tesouros
e "etódio, liter%rios
e enriuecidas
pelos ;lgaros, ue a );ssia 5 a terceira )oma 5 se
alimentou espiritualmente# 's contactos entre russos e
latinos eram uase ineistentes, pois a verdade & ue, desde
J], a ruptura entre )oma e o mundo bi2antino tin3a sido
consumada#

B# Cerul%rio

/epois da morte de <ócio, a união foi superficialmente


salva, mas muitos incidentes revelaram a sua fragilidade# 1o
começo do s&culo 4, as uartas n;pcias do imperador .eão ZI
opuseram a sede romana ao patriarca de Constantinopla,
1icolau, o "ístico, ue considerava a tetragamia uma
fornicação# * criação do +acro Imp&rio )omano5Aerm\nico 5
ue renovava o gesto do ano de N 5 e a reforma pr&5
gregoriana condu2ida num sentido centrali2ador 3aviam
representado um golpe nas pretensões da Igreja bi2antina
ue, fortalecia pela 8)enascença macedónia8, aspirava 9
autocefalia# [uando "iguel I Cerul%rio subiu ao trono
patriarcal em ]L, os laços entre )oma e i2\ncio eram dos
mais tensos# ' novo patriarca julgou ue não tin3a obrigação
de anunciar a sua eleição ao -apa, o triste ento I4# /epois
veio .eão I4 5 um papa reformador 5 ue, para rec3açar
1ormandos e +arracenos do +ul da It%lia, concebeu o projecto
de aliar os dois imp&rios cristãos UJBV# -arece ue
Cerul%rio receou ue a sua autoridade sofresse com essa
iniciativa6 assim, por interposta pessoa 5 em carta de um
bispo b;lgaro a um bispo



italiano 5, acusou )oma no plano da liturgia: uso do pão


%2imo, padres sem barbas###, bagatelas# .eão I4 talve2 ten3a
errado ao confiar a r&plica ao cardeal Humberto, cuja
impulsividade e tom eram inadeuados para sufocar o despre2o
ue Cerul%rio manifestava a respeito dos 8%rbaros do
'cidente8# /espac3ado para Constantinopla, em J de 0ul3o de
J], vai a +anta +ofia 9 3ora do serviço solene e entrega o
teto de uma sentença de ecomun3ão contra Cerul%rio#
'ra, o legado não estava 3abilitado para reali2ar este
gesto# *li%s, .eão I4 j% tin3a morrido 3avia tr!s meses6
conseuentemente, o gesto dos latinos voltou5se contra si
próprios# (oda a i2\ncio tomou partido pelo seu patriarca,
ue mandou ueimar o teto de ecomun3ão na praça p;blica#
)eunido um sínodo por sua iniciativa em B] de 0ul3o, retoma

todos
a os Igreja
;nica vel3os ortodoa
motivos de
eraueia
auelaanti5romanos
ue estava e afirma em
reunida ue
redor do basileu e do patriarca de Constantinopla# *
intervenção mediadora do patriarca de *ntioua não obteve
nen3um resultado#
1em )oma nem i2\ncio se aperceberam imediatamente da
gravidade deste rasgão feito no manto sem costura da Igreja#
"as o sil!ncio ue aumentaria com os anos tornou cada ve2
mais sensível um antagonismo ue v%rios acontecimentos,
ocorridos depois, iriam agravar: as Cru2adas, sobretudo,
easperaram o ódio dos gregos em relação aos latinos
espal3ados pelo 'riente# *s aproimações oficiais registadas
no s&culo 4III UConcílio de .iãoV e no s&culo 4Z UConcílio
de <lorençaV representarão apenas actos políticos sem
continuidade e ue, de ualuer forma, não contarão com
alguma adesão das populações do Imp&rio do 'riente#

L# $m esc\ndalo, uma esperança

+e, nos nossos dias, se iniciar um novo di%logo, convir%


confiar, pelo menos em parte, na acção mediadora das Igrejas
orientais ue permaneceram unidas a )oma ou ue,
posteriormente, se colocaram sob a sua obedi!ncia: os
uniatas e os rutenos da Europa Central, da $cr\nia e dos
Estados $nidos, os

B

maronitas, a uem *leandre IZ deu um patriarca U*ntiouiaV


em BJ], e as peuenas comunidades e unidades de rito
bi2antino, arm&nio, sírio, caldeu e copta: ao todo, cerca de
de2 mil3ões de católicos para cento e setenta mil3ões de
fi&is das Igrejas separadas#
$m padre uniata escreveria em MOL: 81ós somos as dolorosas
testemun3as do cisma# $m católico romano nem sempre tem
consci!ncia da perda ue representa para a riue2a da Igreja
o Cisma do 'riente# $m ortodoo ateniense geralmente ignora
uase toda a riue2a espiritual da Igreja Católica# "as nós,
orientais unidos, estamos na fronteira entre os dois
mundos###8 E acrescentava: 81ós somos a ponte entre o
'riente e o 'cidente#8 UV Com efeito, como latinos, temos
estado, desde 3% de2 s&culos, privados das riue2as
eploradas pelos nossos irmãos do 'riente: vida mística
intensa, preparação do segundo advento de Cristo, sentido
muito vivo da oração de adoração, culto fervoroso do
Espírito +anto e da )essurreição, liturgia cuja sacralidade
& mais manifesta e mais popular do ue a nossa#

/e facto,daa Ar&cia,
)om&nia, partir de
da J], a maior
ulg%ria, parte dae +&rvia,
da *natólia da 5
da );ssia
sem contar as Igrejas copta e síria saídas de anteriores
cismas 5 seguem camin3o fora das %guas romanas# Em meados do
s&culo 4I, devido ao Islão e ao cisma, toda a bacia oriental
e meridional do "editerr\neo fica separada de )oma#
* partir de então, a Igreja romana passa a ser confundida,
de facto, com a Europa 'cidental ainda adolescente#

1ota : -odemos afirmar tamb&m ue os orientais, unidos pela


sua ligação a )oma, endureceram um pouco mais as posições
dos ortodoos# X1# do (#Y

L

IZ
* 0$ZE1($/E /* E$)'-*

Capítulo I
1*+ -EA*/*+ /E A)EA@)I' ZII

# * camin3o do primeiro Concílio de .atrão

"orto Aregório ZII, julgou5se ue a sua obra reformadora não


l3e sobreviveria# [uando o abade do monte Cassino se tornou
papa com o nome de Zítor III, foi por vontade dos 1ormandos
de It%lia UNOV: a falta de autoridade desse pontífice
erudito beneficiou Henriue IZ e o seu antipapa Clemente III
-orue, nos s&culos 4I e 4II, era freuente acontecer ue os
imperadores tivessem um antipapa de reserva# *li%s, Henriue
IZ estimulou a difusão na cristandade de libelos
difamatórios para a memória de Aregório ZII#
Entretanto, foi um dos fil3os espirituais de Hildebrando, o
franc!s Eudes de C3\tillon, monge de ClunG e antigo legado
em It%lia, ue sucedeu a Zítor III, tomando o nome de $rbano
II# $rbano possuía a ci!ncia e a firme2a de Aregório6 a sua
acção beneficiou, entre os canonistas e os polemistas, de
uma viva corrente a favor das ideias gregorianas: /eusdefit,
*nselmo Le .uca, Ivo de C3artres, Aebardo de +al2burgo,
"anegoldo de .autenbac3 e outros esclareceram vivamente, nos
seus escritos, a doutrina da superioridade do -apa sobre o
imperador, superioridade ue podia ser eercida atrav&s de
um controlo permanente e, mesmo, pela possibilidade de depor
o soberano#

K

"odelado e penetrado
manifestava um 3orror pela ascese cluniacense,
instintivo $rbano dos
pelas depravações II
sentidos entre os cl&rigos# /urante muito tempo, ele
percorreu pessoalmente a Europa, desmascarando a simonia, o
nicolaísmo e a investidura leiga# 1o Concílio de "elfi
UNMV, decide ue os fil3os de padres seriam afastados das
funções sacras e ue o col&gio dos cardeais 5 o +acro
Col&gio 5 se associaria ao governo pontifício6 o Concílio de
-laisence UM]V decreta o retorno 9s legações permanentes6
em Clermont UMJV 5 onde se reali2a o concílio da -rimeira
Cru2ada 5, o -apa ecomunga o ad;ltero rei de <rança, <ilipe
I# * <rança, seu país natal, recebe cuidados especiais do
-apa: ele comparece para intervir nas diverg!ncias ue opõem
bispos e regulares, multiplicando os privil&gios mon%sticos,
obrigando o rei a renunciar 9 investidura pelo b%culo e pelo
anel6 em suma, contribuindo de forma poderosa na edificação
da monaruia pontifícia, a seus ol3os obra de salvação
p;blica#
1atural de )avena, -ascoal II UMM5NV 5 mais um monge de
ClunG 5 segue as pegadas de $rbano II, só ue com menos
segurança# *inda não tin3a renovado as medidas anteriores,
condenando a investidura laica6 entretanto, o rei de
Inglaterra, Henriue I, e o jovem imperador Henriue Z
fa2iam reviver a uerela dos dois gl%dios: o primeiro,
epulsando o arcebispo reformador de Cantu%ria, +to# *nselmo
5 teólogo genial ue aprofundou o mist&rio da )edenção no
seu Cur /eus Homo 56 o segundo, inspirando um op;sculo saído
em .ige, em ue a tese germ\nica sobre a investidura se
epressava com viol!ncia# -ascoal, por momentos, cedeu a
Henriue Z, ue o vigiava, mas os protestos do clã
gregoriano obrigaram5no a retractar5se: morreu pouco depois,
numa )oma atacada pelos partidos alemães#
' -apa Ael%sio II UN5M V ecomungou Henriu e Z ue l3e
opõe um fantoc3e, Aregório ZIII# Calisto II UM5B]V,
sucessor de Ael%sio, resolveu acabar com esta uerela ue
dividia a cristandade# /epois de longas conversações e
baseando5se numa teoria do canonista Ivo de C3artres 5
distinção entre a investidura espiritual e a investidura
temporal 5, Calisto II, em BL de +etembro de BB, assinou
em >orms com Henriue Z uma concordata ue consagrava a
ren;ncia do imperador 9

N

investidura pelo b%culo e pelo anel e registava a sua


promessa de respeitar a liberdade das eleições pontifícias e
episcopais6 em contrapartida, o imperador mantin3a a sua

autoridade
* propriamente
Concordata feudal
de >orms eigia sobre
uma o bispo solene
confirmação eleito#no plano
eclesial: daí o I Concílio de .atrão ue se reali2ou na
igreja episcopal do -apa 5 facto significativo 5, de  de
"arço a  de *bril de BL# +inal de um despertar da
Igreja: tratava5se do primeiro concílio ecum&nico Uestilo
romanoV convocado desde NK# * autoridade, ao mesmo tempo,
mon%ruica e colegial da Igreja romana, após du2entos e
cinuenta anos de lutas ou de anaruia, ia poder afirmar5se:
de BL a LB, reali2ar5se5iam sete concílios 8ecum&nicos8,
dos uais uatro em .atrão, tantos uantos no curso dos on2e
primeiros s&culos da nossa era e mais do ue do s&culos 4Z
ao s&culo 44# "as tamb&m & verdade ue as Igrejas orientais
ortodoas nunca mais participaram nos concílios#
* assembleia de BL 5 tre2entos bispos e abades 5 codificou
e desenvolveu todo o trabal3o de reforma iniciado no s&culo
4I6 votou vinte e cinco c\nones ue incidiram sobretudo na
condenação da simonia, nas usurpações laicas e nas violações
da (r&gua de /eus# [uerer% isto di2er ue, nas profunde2as
da sociedade cristã, esta reforma tão solenemente aprovada
ten3a sido, de facto, aplicadaW Enuanto, na *leman3a e na
It%lia 5 regiões profundamente desconjuntadas pelo regime
feudal ou pelo particularismo das cidades 5, a reforma
gregoriana camin3ava muito lentamente, a Igreja tin3a alguns
aliados mais seguros entre as jovens reale2as de <rança e da
Inglaterra# -reocupados em pacificar e alargar o seu próprio
domínio, os primeiros Capetos 5 .uís ZI e, sobretudo, .uís
ZII 5 apoiavam5se nos cl&rigos e nos monges ue cumulavam de
doações e prebendas, e ue protegiam contra as pil3agens dos
sen3ores feudais# (anto os legados pontifícios como os
concílios provinciais podiam aplicar com efic%cia as
disposições romanas: uma nova geração de pastores, libertos
das sujeições feudais e eleitos pelo povo e pelo clero,
enc3eu os uadros da Igreja francesa#
1o reino anglo5normando, a reforma gregoriana encontra mais
obst%culos, devido ao absolutismo de Henriue I, fil3o do

M

Conuistador, e 9 resist!ncia fero2 de uma parte do clero 9


instauração do celibato eclesi%stico# Em Espan3a, a
rivalidade ue opun3a o arcebispo de (oledo ao de Compostela
prejudicava o progresso da reforma e da )econuista# Em
contrapartida, o papado encontrou um sólido apoio em dois
jovens reinos cristãos: a Hungria e a -olónia, cujos
fundadores, Est!vão I U+to# Est!vãoV e oleslau I, nos
primeiros anos do s&culo 4I, tin3am conseguido fa2er com ue

as suasuaisuer
-or&m, Igrejas se desligassem
ue doos
ten3am sido Imp&rio#
!itos do papado, poder%
di2er5se ue a civili2ação ocidental, no s&culo 4II, era
profundamente cristãW

B# $ma sociedade cristãW

' clero secular desse tempo era muito diferente do nosso,


mais numeroso e muito menos bem formado# 1ão 3avia
semin%rios e só um em cada cem cl&rigos freuentava as
escolas6 a 8cateuese8 era empírica e a resid!ncia dos
p%rocos não era um 3%bito# +to# *gostin3o tin3a compreendido
desde 3% muito ue só a 8comunidade8 poderia salvar o padre
da mediocridade e da decad!ncia6 na sua peugada, papas e
bispos favoreceram a constituição de 8col&gios de
presbíteros8, cujos membros renunciavam 9 propriedade
privada# *ssim se desenvolveram as sociedades de 8cónegos
regulares8 inspiradas numa regra ue se atribui a +to#
*gostin3o: +# Zítor em -aris, >indes3eim na Holanda, os
cónegos de .atrão, de Arand5+aint5ernard, de +aint5"aurice
de *gaune, sobretudo os premonstratenses, fundados em B
por +# 1orberto, perto de .aon6 em BL, j% agrupava um
mil3ar de comunidades# 's cónegos regulares estimularam, no
s&culo 4II, uma vasta classe de padres vinculados ao
minist&rio parouial# 's austeros cartuos, instalados por
+# runo no fim do s&culo 4I num agreste e solit%rio ponto
das montan3as de Arenoble, não deiaram de ser testemun3as
mudas de um Evangel3o nunca suavi2ado#
Era todo o povo feudal ue a Igreja se esforçav a por erguer
ao nível do Evangel3o, essa mensagem ue, verdadeiramente
incorporada na vida, dava um sentido ao amor, ao din3eiro,

B

ao trabal3o e ao poder# 1o s&culo 4II, falava5se muito de


8amor cort!s8# * promoção da mul3er 5 9 ual o culto da
Zirgem não foi estran3o 5 encontrou na Igreja uma aliada#
-ercorrendo as compilações canónicas dos numerosos concílios
ou sínodos reali2ados no 'cidente durante o s&culo 4I,
deparamos com papas e bispos ue lutam contra o adult&rio, o
divórcio, a violação, o rapto e a lu;ria, vícios ue a
viol!ncia feudal favorecia # *li%s, os canonistas elaboraram
nessa &poca a legislação sobre o casamento: a Igreja rodeia
o pacto conjugal 5 ess!ncia do sacramento 5 de ritos solenes
e epressivos, como o uso da aliança e a b!nção do leito
nupcial#
)espeito pela mul3er6 mas tamb&m respeito a /eus, atrav&s do

repouso dominical
sobretudo, e dos pobres#
os fracos# /esde *o viol!ncia feudal
s&culo 4I, na atacava,
<rança
"eridional, desenvolveu5se um movimento a favor da pa2 ue
assumiu duas formas complementares: a -a2 de /eus, ue
protegia os não5combatentes, e a (r&gua de /eus, ue
limitava a guerra a certos dias, impondo5se algumas sanções
eclesi%sticas sobre os contraventores# $m concílio
provincial em Elna UBKV interditou a guerra privada desde
a tarde de s%bado at& 9 man3ã de segunda5feira6 em ], em
1ice, a interdição cobria uase toda a semana 5 de uarta a
segunda5feira# $m sínodo de 1arbona UJ]V decide ue seriam
sagradas as datas lit;rgicas do *dvento, 1atal, [uaresma e
as festas da Zirgem e dos *póstolos# $rbano II, em Clermont
UM]V, inspirou o seguinte c\none: 8's monges, os cl&rigos
e as mul3eres beneficiam todos os dias do benefício da pa2
de /eus6 a ruptura dessa pa2 só & autori2ada para as outras
pessoas, se elas forem atacadas de segunda a seta5feira#8 '
I Concílio de .atrão UBLV ameaçou com a ecomun3ão aueles
ue roubassem os peregrinos# /a <rança, estas instituições
de pa2 passaram para a Espan3a, a *leman3a e a It%lia6 mas,
embora não ten3am conseguido p`r termo 9s guerras, pelo
menos 3abituaram os sen3ores feudais a resolver os seus
litígios pela via do direito, j% ue as viol!ncias estavam
ecluídas pela promessa solene, de ue o suserano era
deposit%rio, cuja violação era punida com pena de morte#
$m dos fenómenos mais importantes da Idade "&dia foi a
transformação da cavalaria 5 at& então uma casta de
combatentes

B

a cavalo 5 num corpo privilegiado devotado a um ideal


religioso# /esde NKN, 0oão ZIII prop`s aos sen3ores feudais
ue dirigissem o seu ardor b&lico contra os infi&is# 1o
s&culo 4I, a Igreja interv&m na cerimónia de armar os
cavaleiros, no decurso da ual, em presença do seu suserano
e dos seus pares, o jovem nobre devia fa2er prova da sua
força e destre2a6 depois, o jovem tomava um ban3o e passava
a noite em oração: a espada estava pousada em cima do altar6
a missa da man3ã era seguida de um festim e, a seguir, o
jovem nobre, perante numerosa assist!ncia, recebia a espada
ben2ida com o talabarte6 cobriam5no com a sua armadura,
tamb&m ela ben2ida por um padre e, depois de ter recebido as
insígnias do seu padrin3o, ouvia o oficiante proclamar ue
era seu dever proteger especialmente os fracos, os pobres,
as vi;vas e os órfãos, e abster5se de toda a viol!ncia#
+eria absurdo afirmar ue todos os cavaleiros foram fi&is a

esse juramento
isentas e ue asoutro
de ualuer guerras da Idade "&dia
propósito# se revelaram
* História Aeral
encarregar5se5ia de desmentir tal ingenuidade# "as, mesmo
assim, se o termo 8caval3eiresco8 permaneceu carregado de
nobre2a, não ser% isso pela sua longa tradiçãoW $m aGard,
um +# .uís não teriam sido possíveis, se uma certa gentile2a
5 apan%gio do verdadeiro cavaleiro 5, tirada do modelo
evang&lico, não 3ouvesse 3umani2ado os cavaleiros 3erdeiros
dos brutos <rancos#

L# $ma arte ao alcance do 3omem cristão

-egue num guia de uma das nossas províncias mais antigas e


deie5se perder voluntariamente numa estrada local
descon3ecida6 a maior parte das ve2es, serão as 3umildes e
maravil3osas igrejas dos s&culos 4II ou 4III ue definirão
as etapas dessa viagem imagin%ria# E essa viagem condu2ir%
inevitavelmente a alguma abadia ou catedral, cujo tranuilo
esplendor atesta ter 3avido um tempo, em ue os 3omens
encontraram na sua f& o euilíbrio necess%rio para a
produção das suas obras5primas# 1unca mais, na 3istória do
mundo cristão ocidental, se tal3aram, ao mesmo tempo, tantas
e tão perfeitas flores de

BB

pedra6 nunca mais se encontrar% essa conjunção de uma


t&cnica perfeita, de uma vida religiosa activa, de uma
poesia interior e de tanto euilíbrio psicológico#
* aruitectura determina todas as outras formas de arte: &
com a pedra, o mais nobre material, ue a arte da Idade
"&dia se eprime# <oi por interm&dio da parede Uconstruída
num c3ão, de ue, finalmente, o 3omem se tornou sen3or,
segundo uma vigorosa lógicaV ue o 3omem travou o seu
di%logo com /eus# Enriuecida pelas eperi!ncias dos s&culos
anteriores, a aruitectura rom\nica 5 auela ue se espal3a
pela cristandade no s&culo 4II 5 beneficia de uma espantosa
s&rie de conuistas t&cnicas: a abóbada de pedra substitui
decisivamente as vigas visíveis6 a t&cnica procede da
adaptação de fórmulas inspiradas por )oma 5 rain3a do
8grande aparel3o8 5 ou pelo 'riente i2antino ue era
tribut%rio da -&rsia e da "esopot\mia# Embora a aruitectura
rom\nica se baseie numa relação vigorosa das forças e das
formas, desenvolve5se com uma etrema diversidade: esta arte
universalista e 3umanista & tamb&m uma arte fleível ue
etrai a sua seiva em todos os territórios e recebe as
ideias ue viajavam mais livremente na jovem Europa:

abóbadas ememforma de berço aplicadas


semicírculo, abóbadasa volumes
de alongados,
arestas sobre
compartimentos isolados, abóbadas em semic;pula nas %bsides,
filas de c;pulas, c;pulas sobre pendentes### $ma
aruitectura de possibilidades infinitas, ue valori2a a
mais euberante escultura, cujos santos com rostos de
artesãos ladeiam monstros, em ue as flores se perdem em
arabescos abstractos, onde se misturam a íblia, as lutas
feudais, a tocante trag&dia 3umana, o cómico uotidiano, a
vin3a, o pão### 1unca a pedra construída e a pedra esculpida
tiveram relações tão íntimas E nós, ue pertencemos 9
geração dos prefabricados e dos buildings medon3os, nunca
enfrentamos "oissac, C3arrou, (ournus, +to# *lbano,
"ontmajour, +# ento, Hildes3eim, Ziterbo ou )ipoll 5 e esta
lista nem seuer & um resumo da arte rom\nica 5 sem um
sentimento de inferioridade6 nunca seremos capa2es de entrar
numa dessas igrejas frescas como um celeiro e puras como a
noite, sem nos sentir mos como ue purificados das nossas
manc3as#
*rte de s%bios, de aruitectos, de pedreiros, de pintores,
de miniaturistas anónimos, a uem um povo inteiro emprestava

BL

as suas mãos# *rte de Igreja e de cristandade: porue


Uembora ten3a sido encorajada pelos poderosos 5 príncipes,
bispos e abades 5, embora se ten3a podido difundir sobretudo
na <rança dos Capetos 5 o país mais bem organi2ado do
'cidente 5 e, embora as estradas, ue se abriam aos
peregrinos de Compostela ou 9s Cru2adas, tivessem sido,
naturalmente, semeadas de igrejasV a arte rom\nica, o
)om\nico, foi essencialmente uma arte mon%stica, o refleo
de uma contemplação#
*largando a sua estrutura, o feudalismo permitiu a
multiplicação de aldeias, paróuias e igrejas# * igreja, a
catedral, soma das artes do tempo, tornou5se a verdadeira
casa do povo, um povo ue j% não tin3a de percorrer um
demorado camin3o para encontrar /eus, um povo no ual o
gosto pelo maravil3os o e pela crendice se misturavam com um
sentido do sobrenatural incentivado pela pr%tica dos
sacramentos, pela seu!ncia lit;rgica do calend%rio, pela
reali2ação de cerimónias 9 maneira romana#  evidente ue
*noncefaite 9 "arie não & uma p%gina de 3istória da Idade
"&dia, dessa Idade "&dia, cujas crónicas e poesias revelam
os seus vícios, mas a intuição de Claudel, o pai de Ziolaine
e de *nne Zercors, ue revelou auilo ue tornou
transcendente uma civili2ação: a f&#

' povo mas


dele6 cristão vivia
sofria, rodeado por
sobretudo, um clero secular
a influ!ncia próimoao
do mosteiro
ual, & verdade, o servo estava, com freu!ncia,
subordinado# * vida mon%stica difundia5se em todo o
'cidente, e numerosas foram as vilas e as cidades ue se
formaram em redor de um prior ou de uma abadia de
beneditinos ou de cistercienses 1os confins do 'cidente, o
enrai2amento cristão era fruto da implantação mon%stica# +e
os H;ngaros, por eemplo, se adaptaram 9 vida sedent%ria na
grande bacia do /an;bio, foi em grande parte devido aos
noventa e cinco mosteiros ue, no fim do s&culo 4II, aí se
encontravam instalados# "as esse poder espiritual da Igreja
não seria um germe de riue2a temporalW

B]

Capítulo II
$"* /I<IC$./*/E: * -')E=*

# 's 8pobres8 ue recalcitram

8' <il3o do 3omem não tem onde repousar a cabeça#8 *o longo


de todos os tempos, os cristãos sempre desejaram intimamente
ue os seus pastores vivessem, com toda a verdade, a palavra
do "estre# "as nunca, como na Idade "&dia, o problema da
pobre2a eclesi%stica despertou tanta paião, porue a
complea sociedade feudal tin3a considerado todos os leigos
prisioneiros dos latif;ndios e, mais ainda, os cl&rigos
enriuecidos ao longo de sete s&culos de doações e
prebendas#
*lgumas seitas de 8pobres8 intransigentes, virulentas e,
muitas ve2es, insólitas, proliferaram numa Europa mais ou
menos cristiani2ada, mais ou menos bem conservada e
protegida pelo clero# /urante mais de uarenta anos, na
primeira metade do s&culo 4II 5 depois de um (anc3elin e de
um -edro de ruGs 5, ecoaram na Europa as maldições de um
padre de r&scia, *rnaldo# 1os p;lpitos de r&scia, de
-aris, de =uriue e, mesmo, de )oma, ele reclamava a
supressão de toda a propriedade eclesi%stica e gritava
contra os padres dissolutos e os bispos %vidos de bens6 mas,
uando acusou o austero -apa cisterciense Eug!nio III 8de
engordar o corpo e enc3er a sua bolsa8, ultrapassou as
medidas# (endo aceitado ser o c3efe do município de )oma,
*rnaldo de r&scia foi entregue por *driano IZ ao

BJ

braço secular ue


8lombardos8, e decapitado#
talve2 se /eiava
ten3am alguns discípulos,
confundido os
com outros
8pobres8, os 83umiliatas ou 3umil3ados8, ue surgiram nessa
.ombardia mercantil rica e, simultaneamente, obcecada pela
pobre2a evang&lica# 's 83umil3ados8 eram pessoas casadas,
mas continentes, austeras e correctas, vestidas com uma
simples t;nica cin2enta, ue tin3am no trabal3o da lã o seu
;nico meio de subsist!ncia# ' seu ideal era o retorno 9
Igreja primitiva# *lguns deles, seua2es de Zac%rio, eram
violentamente anticlericais e rejeitavam todos os actos
eteriores de culto, incluindo os sacramentos6 mas a maioria
dos conventículos dos 3umil3ados foram recuperados pela
Igreja, no início do s&culo m, e integrados nas sociedades
religiosas#
"ais revolucion%rio, ue terminou em dissid!ncia, foi o
movimento valdense, cujo nome l3e adveio de um rico
comerciante lion!s, -ierre Zaldo Ufalecido em BKV, de uem
se sabe pouca coisa6 di2ia5se ue, no decurso de uma grande
fome, em KO, se tin3a deiado impressionar com as palavras
de +to# *leio, pobre volunt%rio ue, depois de ter posto as
suas duas fil3as num mosteiro, abandonou tudo, arrastando
consigo para uma vida de absoluta pobre2a 3omens e mul3eres
ue passaram a ser c3amados os 8-obres de .ião8# Esta seita
foi ecomungada em N]6 mas, a partir do s&culo 4III,
implantou5se nos vales piemonteses, onde ainda possui
de2asseis paróuias# 1outros territórios, como em Espan3a,
foi di2imada ou, como no 1orte da Europa, confundiu5se com
movimentos semel3antes, como o anabaptismo# -elo seu
biblicismo absoluto, pela rejeição do culto dos santos, da
missa e da confissão auricular e pelo sacerdócio dos leigos,
os valdenses preparavam o camin3o ao protestantismo, a ue
aderirão em JLB# "as a sua 3ieraruia de 8perfeitos8 ou
apóstolos, superiores aos amigos, aparentava5se com o
movimento neomaniueísta dos c%taros#
/e facto, nesse s&culo 4II, em ue a Europa, saindo da longa
letargia feudal, via animarem5se novamente os camin3os da
terra e do mar ue condu2iam ao 'riente, ao "editerr\ne o ou
ao %ltico, tamb&m as ideias 5 mesmo as j% enterradas 3%
s&culos 5 ressurgiram e se puseram em marc3a# *s vel3as
ideias gnósticas e maniueístas, reforçadas pelas doutrinas
anti5sacerdotais

BO

e anti5sacramentais, retomaram o seu vigor em contacto com a


jovem Europa# ' Imp&rio i2antino, desde o s&culo 4, tin3a
con3ecido os bogomilos e os paulicianos ue professavam um

dualismo
sobre um mitigado:
universo a espiritual
eist!ncia eterna
e cujode fil3o
um /eusrevoltado,
reinando
+atanael, teria sido o criador do mundo material e do 3omem#
's ensinamentos dos bogomilos c3egaram 9 ósnia, 9 *lb\nia
e, depois, 9 .ombardia, uma grande encru2il3ada de camin3os6
mas, a partir daí, pelos desfiladeiros alpinos, estendeu5s e
ao longo das planícies provençais e languedócias, onde os
sen3ores feudais 5 sobretudo o conde de (oulouse 5, tin3am
permanecido fora do imp&rio capeto e o clero estava menos
preparado para lutar contra as doutrinas 3eterodoas# Como a
cidade de *lbi parece ter sido o centro da 2ona de
influ!ncia dos c%taros, os seguidores da seita ficaram
con3ecidos como albigenses#
* doutrina albigense, sincr&tica, de inspiração maniueísta
e gnóstica, baseava5se no dualismo de /eus, na rejeição de
uma Igreja corrompida desde 8a doação de Constantino8, na
distinção entre, por um lado, uma minoria de 8perfeitos8,
ascetas e mission%r ios e, por outro, uma massa de fi&is ue
não estavam sujeitos a ualuer código moral definido, mas
ue, 9 beira da morte deveriam, para ser salvos, receber o
consolamentum, uma esp&cie de sacramento# $ma doutrina
simples, um clero edificante e persuasivo, uma moral sem
dificuldades e ainda mais atraente, j% ue lançava a d;vida
sobre a legitimidade do direito de propriedade: eis o ue
eplica o progresso do catarismo junto do povo 3umilde numa
&poca marcada por um desejo de renovação religiosa# *l&m
disso, as pessoas da Idade "&dia eram naturalmente dualistas
na epressão do seu pensamento6 viviam na obsessão do /iabo
e a sua concepção do "undo era espontaneamente pessimista#
-ara os capetíngios e para o 1orte da <rança, a <rança
"eridional era uma esp&cie de província perdida ue era
preciso recuperar a todo o custo# -ara a Igreja, o catarismo
ameaçava fa2er desaparece r radicalmente o cristianismo numa
das mais antigas terras cristãs6 talve2 abusivamente,
acusava os c%taros de ameaçarem a ordem social e a
3ieraruia feudal# [uando, junto dos 83ereges8, fracassaram
os esforços dos cistercienses

BK
e do próprio /omingos de Ausmão6 uando foi massacrado um
legado pontifício UBNVR -edro de Castelnau, uma 3edionda
cru2ada, condu2ida por +imão de "ontfort, arrasou o +ul da
<rança, desde &2iers at& "armande6 e foi o Capeto uem mais
lucrou com ela# * Igreja, se uis etirpar a 3eresia, teve
de recorrer 9 Inuisição ue, sendo inicialmente apenas um
processo de averiguações, tomou, sob .;cio III UN]V, uma

forma
ser mais precisa:
entregues pelos de futuro,
jui2es os 3ereges
da Igreja obstinados
9 autoridade podiam
secular,
mas apenas no s&culo 4III, uando uma severa inuisição
mon%stica foi instituída pela +anta +& com a ajuda das
ordens mendicantes, a epressão 8braço secular8 e a
condenação 9 morte na fogueira passaram a figurar na
legislação e no vocabul%rio inuisitoriais#
[uantos mortos fe2 a InuisiçãoW  difícil determinar, mas,
embora esse n;mero de mortos pareça demasiado elevado aos
nossos ol3os de 3omens do s&culo 44I, a História deve
registar o facto de a Inuisição ter sido a arma de uma
sociedade essencialmente religiosa ue não admitia a
dissid!ncia volunt%ria# +eja como for, no começo do s&culo
4IZ, o catarismo j% tin3a desaparecido#

B# ernardo ou a pobre2a fecunda

(odas as seitas tin3am prolifer ado no sil!ncio dos cl&rigos


e dos monges, no grande sil!ncio de ClunG, porue o
imobilismo tin3a substituído a revolução cluniacense# 's
monges negros j% não ofereciam 9 sociedade os dois
princípios ue eram a sua ra2ão de ser: o trabal3o e o
ensino# *s doações, de ue os mosteiros tin3am beneficiado,
pouco a pouco foram 3abituando os religiosos a abandonar o
trabal3o manual, deiando5o 9 família mon%stica, composta
por servos, colonos e rendeiros# -or outro lado, o ensino
mon%stico, tão do agrado de Carlos "agno, foi negligenciado:
no s&culo 4II, a abadia5mãe de ClunG, com tre2entos monges,
ensinava apenas seis crianças5oblatas# ' monauismo 5 na sua
srcem um ref;gio de leigos 5 clericali2ava5se6 a atracção
por uma vida tranuila, acol3e dora, ao abrigo dos ventos
frios do feudalismo, substituía a vocação de muitos monges#

BN

* preteto de ue +# ento previra certas 8pitanças8


etraordin%riasR reforçava5se a ementa6 os monges5ecónomos
apropriavam5se de rendas, enuanto os abades levavam uma
vida faustosa#
[uando a Europa se abriu ao com&rcio e aos progressos
t&cnicos, uando a propriedade fundi%ria perdeu a sua
preponder\ncia em favor das cidades, os monges ue viviam
nos campos mostraram5se eigentes em relação aos seus
arrendat%rios em mat&ria de rendas e a sua impopularidade
agravou5se, pelo facto de os bispos considerarem ue esses
8isentos8 eram perigosos concorrentes#
Então, para ocupar, na casa de /ama -obre2a, o lugar dos

monges negros
condu2idos peloavançaram
borgon3!sosernardo
beneditinos vestidos de
de <ontaines# branco,
Este jovem,
cujas incríveis austerid ades nunca estragaram a sua bele2a,
estava literalmente devorado pelo 2elo da casa de /eus: na
-rimavera de B, apresentou5se, na compan3ia de trinta
jovens nobres, 9 porta do mosteiro de Cister, situado numa
clareira da imensa floresta borgon3esa# ' mosteiro de
Cister, fundado por )oberto de "olesmes, em MN, era a
nude2 absoluta6 ernardo mergul3ou ali como num ban3o de
purificação# * regra cisterciense 5 carta caritatis, a
constituição da caridade, ue nome belíssimo 5 convin3a5l3e
9s mil maravil3as, dedicando5se 9 pobre2a completa, 9
verdadeira solidão, aos trabal3os agrícolas e a uma
sobriedade ue se evidenciava mesmo na oração coral e nas
cerimónias lit;rgicas#
* partir de J, o abade encarrega ernardo de fundar
Claraval, na nascente do *lba: eclipsando a abadia5mãe,
Claraval ir% tornar5se o centro vivo da ordem cisterciense
ue atrair% nobres e camponeses, cl&rigos e plebeus, e se
espal3ar% não só em <rança, mas tamb&m fora dela, a ponto
de, nos finais do s&culo 4II, se contarem j% uin3entas e
vinte e cinco abadias cister cienses# /urante de2 anos, o
estudo, a doença, a penit!ncia e a condução dos monges
preparam ernardo para o papel de 8coluna da Igreja8, ue
ele desempen3ar%, desde L at& 9 sua morte, em JL# * sua
santidade, o entusiasmo do seu 2elo, o fogo da sua palavra e
dos seus escritos difundem5se por toda a cristandade# *os
c3efes de seitas, como *rnaldo de r&scia, ue pretendem
criar uma Igreja pura sem a Igreja, ele c3ama5os

BM

a uma Igreja unida# (rabal3a no sentido de p`r termo ao


cisma ue se segue 9 morte de Honório II ULV6 apesar de
ser consel3eiro de um monge de Claraval ue se tornaria o
papa Eug!nio III, não deia de, nas obras ue l3e dedica,
denunciar com veem!ncia os abusos da corte de )oma, porue,
para ele, o minist&rio da Igreja eiste para servir e não
para dominar# ernardo & o indiscutível pregado r da +egunda
Cru2ada, em Z&2elaG e nas cidades renanas6 o %rbitro das
eleições episcopais, dos processos entre as abadias, das
discussões entre os príncipes6 tanto o crítico da decad!ncia
mon%stica como tamb&m o cantor da Zirgem e da 3umanidade de
Cristo, e ainda o comentador inspirado do C\ntico dos
C\nticos# ' eterno doente foi a alma de um s&culo de ferro e
foi a vo2 dos pobres num s&culo %vido de novas riue2as# Era
assim ue interpelava os prelados do seu tempo: 8's ue

estão nus gritam


8/i2ei5nos, 's ueue
pontífices, t!mest%
fomea gritam e perguntam5vos:
fa2er todo esse oiro no
freio dos vossos cavalosW [uando o frio e a fome nos
atormentam, ue fa2em essas vestes metidas nos arm%rios ou
cuidadosamente dobradas em alforgesW +ão nossos os bens ue
dissipais6 e o ue gastais em vaidades foi5nos cruelmente
roubado88 +ó os grandes contemplativos são capa2es de
semel3antes aud%cias# E, no entanto, o l;cido ernardo
permaneceu sempre fil3o apaionado da +anta "adre Igreja#
+e a Europa deve muito a ernardo, deve tamb&m muito aos
seus monges: em trinta e cinco anos, ernardo fundou
sessenta e nove abadias ue, por seu turno, se espal3aram de
maneira ue, dos tre2entos e uarenta e cinco mosteiros
cistercienses ue eistiam 9 data da sua morte, cento e
sessenta e sete estavam dependente s de Claraval, repartidos
por do2e países# * regra cisterciense, ue era a de +# ento
compreendida na sua literalidade, estabelecia ue os monges
não poderiam aceitar nem domínios nem benefícios nem servos
nem dí2imos e ue viveriam do trabal3o das terras incultas
ue l3es fossem entregues e ue eles próprios deveriam
cultivar# -ara evita r a dispersão dos monges em peuenos
priorados isolados em terras distantes, a ordem cria
8granjas8, 2onas de eploração situadas a um dia de marc3a
da abadia: as terras eram trabal3adas por irmãos5conversos
ue, aos s%bados, regressavam 9 comunidade#

L

podemos considerar os cistercienses os primeiros


agricultores do s&culo 4II em <rança, nos -aíses aios, na
-enínsula Ib&rica, na *leman3a e, at&, nos postos avançados
da cristandade, entre os Eslavos ou face aos "ouros#
*l&m disso, a 'rdem de Cister imp`s um estilo aruitectónico
bem tipificado, caracter i2ado por uma clara austeridade# *s
igrejas cistercienses, simples nas formas, mas
admiravelmente proporcionadas, t!m apenas uma nave, mas um
amplo transepto# ' conjunto & nobre e 3armoni2a5se
efica2mente com as lin3as sóbrias do mosteiro# Em boa 3ora
os monges aruitectos adoptaram a ogiva, cuja difusão na
Europa parece ser5l3es parcialmente atribuída#
-or isso, ainda 3oje podemos encontrar em <rança muitos
desses lugares de isolamento e de pa2: -ontignG, onport,
'ba2ine, <ont5froide, +&nanue e essa Escale5/ieu, cujo
duplo nome evoca não sabemos ue inimagin%vel asilo, alguma
etapa para a 0erusal&m celeste com ue son3avam os s&culos
das Cru2adas#

L
Capítulo III
* 1'+(*.AI* /' ')IE1(E

# )umo a ti, 0erusal&m#,#

1a srcem do movimento das Cru2adas 5 ue foram, ao longo de


dois s&culos, um dos grandes 8pensamentos8 do papado 5
esteve a pr%tica cristã da peregrinação ao t;mulo de Cristo,
feita em condições muito violentas, num espírito de
sacrifício e de purificação, porue, desde o ano , a
esperança no regresso de Cristo a 0erusal&m reforçava no
espírito de muita gente o desejo de a salvar#
-ouco a pouco, foi crescendo no 'cidente a ideia de uma
guerra santa contra os "uçulmanos# 1ão ue os (urcos,
sen3ores da Cidade +anta depois dos Trabes UNV, se
mostrassem muito menos tolerantes para com os peregrinos
cristãos, mas porue o islamismo era o *nticristo# *li%s,
desde ue o basileu )omano IZ /iógenes tin3a sido esmagado
por *lp *rslan, em "ant2iert UKV, entregan do aos (urcos
toda a Tsia "enor, o papado sentia a necessidade de se
defender do lado do 'riente# *leandr e II e Aregório ZII j%
tin3am actuado contra os "ouros de Espan3a, prometendo, em
bulas, grandes favores espirituais aos sen3ores feudais
aragoneses, catalães, franceses, italianos e normandos da
+icília, ue iniciaram a )econuista, celebrada em toda a
cristandade, pela tomada de arbastro UOJV# Em K],
Aregório ZII parece ter manifestado o desejo de assumir a
liderança

LL

de uma cru2ada ao 'riente, projecto sem conclusão imediata,


mas ue 3abituou os espíritos 9 ideia de uma reconuista
cristã pela guerra, dirigida por )oma, e do estabelecimento
de um reino de /eus, de ue o -apa seria o soberano# Isso
representou uma evolução capital da mentalidade ocidental,
at& então estran3a 9 aliança entre a Igreja e as armas#
[uando $rbano II, em MJ, no decorrer de uma das suas
viagens por <rança, reuniu o Concílio de Clermont, a ideia
da cru2ada j% estava madura# [uem seria o c3efe da santa
epediçãoW ' imperador Henriue IZ e o rei de <rança, <ilipe
I, estavam ecomungados6 Auil3erme, o )uivo, de Inglaterra
não tin3a ainda recon3ecido oficial mente o -apa e este, não
podendo contar com nen3um dos grandes príncipes cristãos,
convida directamente os cristãos com vocação militar para

partirem
UBK para 0erusal&m:
de 1ovembro de MJV6 oo seu sinal
bispo de união
de -uG, seria
*demar a cru2
de "onteil,
foi designado para representar o -apa na c3efia dos
cru2ados# <ormaram5se uatro e&rcitos ue foram alimentados
pelo feudalismo ocidental, mas sobretudo pela cavalaria
francesa# *o mesmo tempo, desenvolveu5se uma cru2ada popular
condu2ida por um monge da -icardia, -edro, o Eremita, ue
eplorou certamente as tend!ncias populares para a
escatologia popular e para a par;sia imediata6 essa multidão
ardente e miser%vel, inicialmente saudada com admiração e,
depois, 3ostili2ada pelas populações, foi di2imada pelos
(urcos na Tsia "enor#
Em 0ul3o de MM, 0erusal&m caía nas mãos dos cru2ados e
tornava5se, a partir de , a capital de um reino latino
ue, com o principado de *ntiouia, o condado de Edessa e o
condado de (rípoli, formaria uma esp&cie de confederação com
ligações bastante frouas6 a ideia da formação de um Estado5
vassalo da +anta +& foi rapidamente abandonada# /urante dois
s&culos, esses principados 5 aos uais se juntaram C3ipre e
a -euena *rm&nia 5 mantiveram nas costas do "editerr\neo,
desde a Cilicia at& Aa2a, uma civili2ação latina e feudal
com os seus castelos e as suas igrejas, as suas dissensões e
a sua grande2a# "as tal dominação, espor%dica, foi ef&mera#

L]

B# $ma instituição permanente destinada ao fracasso

/urante muito tempo falou5se de oito cru2adas: uma forma


cómoda para designar essas 8viagens gerais8, as mais
marcantes das uais foram as de .uís ZII U]NV, a de <ilipe
*ugusto e )icardo I, Coração de .eão UMV, e as de +# .uís
UB]M e BONV, sem contar a estran3a 8IZ Cru2ada8, ue se
entregou ao 8saue8 de Constantinopla# *li%s, a ideia de
cru2ada sobreviveu por v%rios s&culos, depois da tomada de
*cre pelos (urcos UBMV# 1os s&culos 4Z, 4ZI e 4ZII, os
papas ainda lançaram, sem grande sucesso, os cristãos contra
os (urcos, como tamb&m estenderam a indulg!ncia da cru2ada
aos (eutões ue defendiam as cristandades da -r;ssia e da
.ivónia contra os pagãos b%lticos, aos H;ngaros atacados
pelos "ongóis, aos advers%rios dos *lbigenses e dos Hussitas
e, at& mesmo, aos partid%rios de Carlos de *njou, espoliado,
em BNJ, pelo rei de *ragão#
1os s&culos 4II e 4III, a cru2ada foi uma instituição
permanente: a cada passo, os barões tomavam a cru2, alguns
como verdadeiros peregrinos e outros como conuistadores,
dispostos a ajudar os <rancos do 'riente, mas logo se

apossavam
vagas das as
tin3am ligações douradas -ara
suas pausas# do 0ardim no 'ronte#
assegurar (ais
a protecção
constante dos cristãos e o acol3imento dos peregrinos
pobres, fundaram5 se algumas ordens de monges5soldados, como
os Cavaleiros do (emplo U(empl%riosV e a ordem 3ospitalar de
+# 0oão de 0erusal&m Umais tarde de )odes e depois de
"altaV, ue foram as mais c&lebres# * longo pra2o, elas
3averiam de se dobrar, como os (empl%rios, sob o peso das
riue2as acumuladas6 mas tamb&m elevariam 5 e os cavaleiros
de "alta ainda eistem para testemun3ar isso mesmo 5 o ideal
da cavalaria# +abemos uais os benefícios temporais ue o
'cidente 5 especialmente para as cidades marítimas
italianas, como -isa e Zene2a, sobretudo 5 obteve em dois
s&culos de interc\mbio entre um 'cidente em pleno despertar
e um 'riente de costumes mais apurados e de riue2as muito
variadas# E ue 3aver% de mais paradoal do ue ver
marin3eiros vene2ianos a abastecer de escravos brancos da
Europa 'riental os "uçulmanos ue os seus irmãos cristãos
combatiamW

LJ

[ue proveito tirou a Igreja das Cru2adas, ela ue foi a sua
principal instigadoraW [uando, um por um, sob os golpes dos
(urcos, foram caindo os principados franceses da -alestina,
da +íria e de C3ipre6 uando os i2antinos recuperaram o
ef&mero imp&rio latino de Constantinopla UBOV, de onde
emergiram durante algum tempo o ducado franc!s de *tenas e a
"oreia franca, o passivo era bastante pesado, mas a História
desconfia sempre deste tipo de balanço# 1o plano temporal
foi um fracasso: o mundo turco tornou a fec3ar5se nos
.ugares +antos, esperando estender5se em direcção a )oma,
at& Constantinopla e at& ao /an;bio# ' 'cidente deiava l%
monumentos, santu%rios, patriarcados latinos ou uniatas,
ali%s esuel&ticos 5 ecepto os maronitas 5, e tamb&m um
nome, o dos <rancos, confundido com cristãos, e cujo
prestígio no "&dio 'riente iria sobreviver a todas as
3umil3ações e culpas# "as cristãos eram tamb&m o
mauiav&lico <rederico II6 <ilipe *ugusto e )icardo de
Inglaterra Uue foram lobos um do outroV6 e tamb&m os
genoveses e os vene2ianos ue, sem escr;pulos, se
incrustaram nas ruínas dos imp&rios cristãos6 e ainda os
1ormandos ue massacraram os (essalonicenses6 e esses mesmos
<rancos ue, em B], depois de massacrarem e violarem
durante tr!s dias, colocaram uma prostituta no trono do
patriarca em Constantinopla#
 aui ue atingimos a c3aga secreta e viva, o agravamento ,

provocado pelas
orientais# Cru2adas,
i2\ncio do cisma
ameaçada, 3aviaentre )oma e as
inicialmente Igrejas
solicitado
a intervenção dos barões ocidentais e, em MK, foi
Constantinopla o ponto de converg!ncia dos uatro primeiros
e&rcitos de cru2ados# <oi acordado ue as cidades tomadas
aos (urcos pelos cru2ados, mas ue 3ouvessem pertenci do aos
i2antinos, l3es fossem devolvidas# *ssim foi com 1iceia6
mas *ntiouia foi simplesmente considerada pelo normando
oemondo de (arento sua presa pessoal# * partir daí, os
latinos agiram como em terra conuistada: instalaram5se no
'riente os uadros feudais e eclesi%sticos do 'cidente#
[uando o conde da <landres e do Hainaut foi colocado no
trono do basileu e o vene2iano (om%s "orosini na sede
patriarcal de Constantinopla UB]V6 uando Henriue da
<landres, segundo imperador latino, se aliou aos (urcos
contra .ascaris, ue fundara o imp&rio grego de 1iceia
UBV, todo

LO

o 'riente cristão eplodiu e, a partir daí, )oma passou a


ser, aos ol3os dos ortodoos, a vergon3osa protectora de
sen3ores feudais sem princípios e de mercadores sem f&#
+eria preciso esperar sete s&culos para ver um -apa e um
-atriarca de Constantinopla abraçarem5se nos mesmos lugares
em ue se tin3am desenrolado as Cru2adas#
-or outro lado, poder5se5% afirmar, como certos
3istoriadores, ue a cristandade ocidental saiu mais unida e
mais fortalecida das Cru2adasW Isso & discutível# Embora
muitos cristãos ficassem com saudade dos .ugares +antos,
outros só sentiam a falta do clima de go2o ue viveram no
'riente# *pesar de a boa5f& dos papas permanecer intacta,
podemos lamentar o facto de as Cru2adas terem dado lugar 9
fiscalidade pontifícia: para financiar as longínuas
epedições, os papas criaram taas sobre as rendas
eclesi%sticas6 manifestaram tend!ncia para conceder a
indulg!ncia 9ueles ue contribuíam com donativos para as
Cru2adas6 ali%s, os sen3ores feudais deviam pagar ou comprar
a sua aus!ncia de cada cru2ada#
"as essas pr%ticas não c3egaram a manc3ar o prestígio do
papado# -elo contr%rio, 3umil3ado definitivamente o
imperador, o papado assegurava então o comando ;nico do
'cidente#

LK

Capítulo IZ

' ()I$1<' /E )'"*


# [uando )oma toma Claraval como refer!ncia

[uando Honório II morreu ULV , )oma estava dividida em


duas facções: <rangipani e -ierleoni opun3am5se no próprio
seio do +acro Col&gio# ' corpo de Honório não tin3a ainda
arrefecido e j% as duas famílias inimigas provocavam uma
crise religiosa de tal ordem ue a obra de Aregório ZII e
dos seus sucessores parecia estar em perigo# $ma dupla
eleição teve lugar em ] de <evereiro de L: os <rangipani
elegeram Inoc!ncio II e os seus advers%rios escol3eram
*nacleto II# Como não tin3a sido adoptado o procedimento
fiado por 1icolau II em JM, era impossível resolver a
uestão# <oi +# ernardo 5 verdadeiro %rbitro da Europa 5
uem conseguiu a adesão do Capeto, da Inglaterra, do
imperador .ot%rio III e, depois, com dilig!ncias pessoais,
da It%lia e da +icília, 9 obedi!ncia a Inoc!ncio II, cujos
m&ritos pessoais eram, a seus ol3os, infinitamente
superiores e cuja eleição era mais ajustada# "as o 8cisma de
*nacleto8 apenas se etinguiu com a morte de *nacleto II, em
LN#
Com as mãos livres, Inoc!ncio p`de fa2er avançar as ideias
gregorianas e fortificar a centrali2ação pontifícia# 1a
presença de v%rias centenas de prelados, ao abrir o II
Concílio de .atrão U*bril de LMV, pronunciou estas
palavras reveladoras: 8Zós sabeis ue )oma & a cabeça do
"undo#8 's trinta c\nones do

LM

concílio limitaram5se a retomar as decisões dos concílios


não 8ecum&nicos8 reali2ados desde BL contra a usura, a
simonía, o nicolaísmo### Em todos os países do 'cidente e
tamb&m no 'riente latino, os legados pontifícios asseguraram
a aplicação das actas conciliares#
' primado de Inoc!ncio II na Europa foi tamb&m assinalado
pela intervenção do -apa na escol3a dos soberanos em casos
de contestação# *ssim aconteceu na *leman3a, onde o
candidato romano Conrado UIIIV de Ho3enstaufen foi preferido
a Henriue da aviera ULNV e tamb&m na Inglaterra, onde,
depois da morte de Henriue I, o legado pontifício apoiou os
direitos de "atilde contra Est!vão de lois#
' mesmo domínio sobre o temporal ocorreu sob o reinado de um
dos discípulos de +# ernardo, o monge cisterciense ernardo
de -aganelli tornado Eug!nio III U]J5JLV# Em <rança,
onde reina o male%vel .uís ZII, o -apa & sen3or, com +#

ernardo:
+egunda foi Eug!nio
Cru2ada III em
proclamada ueZ&2elaG
levou por
.uísernardo
a empreender
U]OV#a
$m facto sintom%tico: o principal consel3eiro do rei de
<rança foi um monge, +uger, abade de +ão /inis# 1a mesma
&poca, um canonista toscano, o camaldulense Araciano,
publicou a Concórdia /iscordantium Canonum ue, sob o nome
de 8/ecreto de Araciano8, se iria tornar a mais importante
colect\nea canónica sistem%tica da Idade "&dia: essa enorme
e inteligente compilação foi colocada ao serviço da
supremacia romana, do governo sacerdotal#
*tr%s de Eug!nio III est% ernardo, cujo tratado /e Consi5
deratione & um verdadeiro manual para uso dos papas6 o abade
de Claraval denuncia aí os abusos nascidos da organi2ação da
monaruia pontifícia: luo e cupide2 dos cl&rigos da corte,
centrali2ação ecessiva no domínio judici%rio e usurpação de
cargos puramente administrativos# E o autor son3a com uma
c;ria romana organi2ada 9 maneira de um convento
cisterciense# -raesis ut prosis, non ut imperes U8s c3efe
para servir e não para mandar8V: esta admir%vel sentença foi
endereçada por ernardo a Eug!nio III e, na sua pessoa, a
todos os seus sucessores# -or isso, compreende5se bem ue a
História ten3a mantido ernardo entre o n;mero dos
reformadores ue, se tivessem

]

sido seguidos, teriam evitado 9 Igreja as 3umil3ações e as


defecções dos s&culos ue se seguiram#

B# arba5)uiva ou o Imp&rio 3umil3ado

Eug!nio III e ernardo morrem ambos, em JL, com seis


semanas de intervalo# 'ra, a coroa imperial acaba de ser
entregue a um vurtemburgu!s de trinta anos, <rederico I de
Ho3enstaufen, con3ecido como o 8arba5)uiva8# (omando a
s&rio o título de imperador romano, <rederico, assegurando
sempre a sua autoridade na *leman3a, pretende ser o sen3or
efectivo de )oma e das ricas cidades do 1orte de It%lia#
Herdeiro de Carlos "agno 5 ue faria canoni2ar em OJ pelo
8seu8 papa -ascoal III 5, aspira ao dominium mun\i# /esde
logo se mostrou aliado do papa *driano IZ UJ]5JMV, o
;nico -apa ingl!s da História, ue ele livra de *rnaldo de
r&scia e fa2 coroar em JJ#
"as rapidamente, os 8dois gl%dios8 se levantaram de novo um
contra o outro, talve2 ainda com mais determinação, uando,
em JM, ascendia ao trono pontifício o en&rgico )olando
andinelli ue, sob o nome de *leandre III, seria para

arba5)uiva
Henriue IZ aumAregório
advers%rio de peso# ' entretanto,
ZII retomava5se duelo ue só
opusera
ue
com outros protagonistas: agora, era um duelo muito mais
duro porue os interesses materiais e o poder temporal do
papado eram mais importantes do ue no s&culo 4I#
* *leandre III, recon3ecido pela <rança, Inglaterra,
Espan3a e -ortugal, <rederico opõe logo 'ctaviano de
"onticello, c3amado Zítor IZ, ue instala em )oma# *leandre
teve de se refugiar em <rança, em +ens, onde viveu at& OJ,
tendo regressado a It%lia para dirigir a luta contra o
imperador ue, depois da morte de Zítor IZ UO]V, l3e op`s
-ascoal III Ufalecido em ONV e, a seguir, Calisto III
Ufalecido em KNV# *poiando5se nas poderosas cidades
lombardas unidas contra os devastadores tedesc3i UV de
arba5)uiva, *leandre III acabou por vencer o imperador
ue, em BM de "aio de KO, em .egano, foi esmagado

1ota : *lemães# X1# do (#Y

]

pelas milícias urbana s e pelas tropas pontifí cias# * pa2 de


Zene2a UKKV p`s termo ao cisma, recolocando <rederico sob
a obedi!ncia de *leandre, mas este acto diplom%tico não
consagrava juridicamente a predomin\ncia pontifícia#
Então, ao retomar vigorosamente nas suas mãos as r&deas da
cristandade, *leandre III convocou o 4I Concílio Ecum&nico
Uestilo romanoV, ue se reali2ou em .atrão, entre J e BB de
"arço de KM# /e entre os vinte e sete c\nones do III
Concílio de .atrão, o mais c&lebre & auele ue estabelece 5
e ainda est% em vigor 5 a eleição dos papas# (ratava5se de
p`r termo 9s ameaças de cisma e ao desregramento da
cooptação: de futuro, seria eleito o cardeal ue reunisse
uma maioria de dois terços dos votos, devendo o eleito da
minoria desistir imediatamente sob pena de sanções# *l&m
disso, o Concílio condena de novo o nico5laísmo, a simonia e
a usura, e codifica certas instituiçõe s de pa2, sobretudo a
(r&gua de /eus# 1o essencial, ou seja, uanto 9 direcção da
cristandade, depositava5se confiança no -apa, cuja
autoridade soberana foi recon3ecida pelo concílio, pois 8os
seus fortes ombros estão aptos a sustentar a massa da Igreja
vacilante8, como declarou no discurso inaugural do Concílio
o bispo de *ssis#
"ais do ue um teólogo, *leandre III foi um canonista,
cujos mais de uin3entos decretos 5 com a ajuda do direito
romano 5 deram um vocabul%rio e um estilo 9uilo ue um
3istoriador designou com felicidade de 8empirismo

centrali2ado8 característico
multiplicação dos apelos 9 do+anta
governo
+& pontifício# "as a
5 muitas ve2es
inspirados, sob *leandre III, por um agudo sentido de
justiça 5 j% tornava pesada a burocracia romana6 a
fiscalidade pontifícia começava a organi2ar5se: *leandre
III levava consigo, por toda a parte, o seu .iber censuum ou
livro de contas6 3avia um discreto nepotismo ue dava ao
círculo do pontífice esse ambiente de 8corte8 familiar ue
logo seria vivamente deplorado#

L# 8ecet ou a 3onra de /eus8

* autoridade do -apa teve muitas ocasiões de ser eercida no


'cidente# * luta gigantesca ue, desde OB a K, op`s

]B

Henriue II -lantageneta a (om%s ecet mostra claramente


essa autoridade# /uelo c&lebre ilustrativo da oposição entre
uma sociedade ainda fortemente marcada pelo feudalismo e uma
Igreja ue, mantendo a sua autonomia, pretendia proteger a
liberdade do 3omem#
)evelando grandes talentos, (om%s ecet tin3a sido
c3anceler do seu amigo Henriue da Inglaterra, durante
trinta e sete anos# Em OB, esperando poder controlar mais
efica2mente as manobras da Igreja inglesa, o rei provoca a
ascensão de (om%s a prima2 de Cantu%ria# "as a sua
epectativa não se confirmou porue, abandonando o seu
estatuto real, (om%s deu aos seus cl&rigos e ao seu povo o
eemplo de uma vida verdadeiramente evang&lica#
)enunciou 9 c3ancelaria, considerando ue um bispo não podia
ser, ao mesmo tempo, ministro do rei e pastor da Igreja6
esse abandono provocou a f;ria do rei# (anto mais ue, na
reunião de Clarendon UO]V, como Henriue II pretendia
subordinar a justiça real e ligar o episcopado brit\nico 9
reale2a anjevina, (om%s protestou elouentemente6 ameaçado
de prisão, refugiou5se em <rança, onde *leandre III assumiu
a causa do prima2 da Inglaterra e condenou as decisões de
Clarendon#
)eceoso das ameaças do -apa, Henriue II acabou por se
reconciliar com (om%s ue regressa a Inglaterra, mas comete
o erro de lançar algumas bulas de suspensão contra os seus
sufrag\neos# ' rei, ue tin3a ficado na 1ormandia, permite
ue o rodeiem v%rios dos prelados suspensos e deia escapar
algumas palavras de cólera, talve2 estas: 81ão 3aver%
ningu&m ue me livre desse cl&rigo presunçosoW8 E logo se
encontraram alguns cavaleiros para abater com as suas

espadas, de
/e2embro na KV,
catedral,
ue a oopinião
arcebispo de passa
p;blica Cantu%ria UBM de
imediatamente
a considerar como m%rtir# Em BJ de 0aneiro de K,
*leandre III lançava o interdito sobre a Inglaterra6 em
KB, canoni2ava (om%s ecet6 embora protestando inoc!ncia,
Henriue II teve de se submeter a uma duríssima penit!ncia
p;blica# 0% não era o tempo de levantar impunemente a mão
contra a pessoa de um cl&rigo, pois todo o 'cidente acabara
por aceitar a cristandade#

]L

Z
* */E+' /' 'CI/E1(E  C)I+(*1/*/E

Capítulo I
' +C$.' /E I1'C1CI' III

# $m ponto alto da HistóriaW

Aabriel .e r%s, o mestre da sociologia religiosa, repetia a


cada passo ue 8em História, não eiste nen3um s&culo
grande8 e, recentemente, 0ean /elumeau teve ra2ão ao
denunciar 8a lenda da Idade "&dia cristã8# Isso não impede
ue a 3istória dos 3omens ten3a momentos privilegiados e o
s&culo 4III no 'cidente parece ter sido um desses momentos#
<oi dominado por cinco personagens: um papa, Inoc!ncio III6
um rei, +# .uís de <rança6 um doutor, +# (om%s de *uino, e
dois 3omens de 3%bito: +# <rancisco de *ssis e +# /omingos#
(odos eles foram 3omens de Igreja, mas dos cinco, só o -apa
não foi canoni2ado# 1o entanto, foi profundamente religioso
este pontífice, cujo reinado UMN5BOV ocupa um ponto alto
na História da Igreja romana# "as pretendeu 5se fa2er dele o
sustent%culo absoluto da teocracia, embora a nossa &poca,
democr%tica e anticlerical, possa subscrever perfeitamente o
julgamento ue o 3istoriador protestante -aul +abatier
pronunciou sobre Inoc!ncio III: 8"ais rei ue padre, mais
papa do ue santo#8
* acção política de Inoc!ncio, a plenitudo potestatis ue
constantemente reivindicava, deiou na obscuridade a sua
acção reformadora ue foi srcinal e, at&, liberal, dirigida
no sentido de ver a Igreja, plenamente livre, tornada digna
da sua missão,

]K

como pedagoga da cristandade# ' -apa, ue se considerava o

administrador
terrisV de /eus
e a cabeça sobre a uis
da Igreja, terraassumir
U/ei vices gerens essa
plenamente in
missão: tarefa difícil, mesmo num tempo em ue as estruturas
da sociedade eram cristãs# Como (om%s de *uino, Inoc!ncio
III tin3a a paião da síntese: para ele, a lógica suprema, a
;nica salvação do 'cidente, residia na congregação de todos
os 3omens, príncipes, cl&rigos, monges e fi&is, sob o bastão
de mando do 8vig%rio de Cristo8, em função deste silogism o:
Cristo tem todo o poder6 o -apa & o seu vig%rio6 logo, tem
todo o poder#
' temporal 5 o político 5 submetido ao espiritual e este ao
eterno, eis a visão do mundo ue Inoc!ncio III desejav a ue
todo o 3omem tivesse no coração# E foi este ideal ue
apresentou aos -adres do IZ Concílio de .atrão, em BJ#
Essa assembleia 5 a mais importante da Idade "&dia 5 foi
verdadeiramente o refleo da cristandade romana pelo seu
n;mero Umil e du2entosV e pela variedade de bispos, abades,
priores e embaiadores ali presentes# Inoc!ncio III dominou
todo o concílio, ainda ue as decisões aprovadas tivessem
marcado um momento importante na vida da Igreja: legislação
precisa sobre o casamento, considerado como um acto sagrado6
a obrigação da confissão e da comun3ão pascal# *l&m disso,
preocupado em assegurar a pregação ao povo cristão, o -apa
toma oficialmente sob a sua protecção os Irmãos -regadores
U/ominicanosV6 condena a riue2a dos monges e dos cl&rigos,
dando pormenores precisos sobre o ue devia ser o 3%bito
clerical# Ele próprio redu2iu o nível da sua casa#
0urista, mas tamb&m pastor, Inoc!ncio III multiplicou as
bulas e as legações, perseguindo a imoralidade tanto entre
os reis como entre os cl&rigos, vigiando permanentemente
para ue 8a semente evang&lica não fosse asfiiada pelos
espin3os8#

B# $ma vitória demasiado cara

Entretanto, & incontest%vel ue esse ideal k ue visava


apenas erguer toda a cristandade ao nível do Evangel3o 5 se
desvalori2ou terrivelmente em contacto forte e rude com o
s&culo 4III
]N

ue começava# [uerendo relançar a cru2ada, Inoc!ncio III


embate na in&rcia calculada de <ilipe *ugusto e na
indiferença de 0oão5+em5(erra, do rei da Hungria e dos
Italianos# * eemplo de $rbano II, tentou comunicar a sua
c3ama ao feudalismo# "as a cru2ada condu2ida por onif%cio

de "ontserrat
dos bi2antinos,e pois
alduíno da Handres
a rapacidade de cobre5se
Zene2a e com
dos ocavaleiros
sangue
ocidentais foi mais forte ue o apelo do -apa# * esperança
de uma reaproimação com os Aregos afastava5se, tanto mais
ue o -apa, como testemun3am as suas cartas ao imperador
*leis *nge e ao patriarca 0oão 4 Camatero, concebia a união
apenas como um gesto de submissão dos Aregos 9 +anta +&# E a
cavalgada sangrenta dos sen3ores feudais franceses no
.anguedoc atr%s de +imão de "ontfort só por ironia se poder%
designar cru2ada# "esmo ue ten3a 3avido moderação pessoal
de Inoc!ncio a respeito dos albigenses, não podemos deiar
de pensar ue tal facto não acrescentou nada ao prestígio do
papado#
1umerosos 3istoriadores alemães referiram ue Inoc!ncio III
não visava apenas a dominação espiritual do mundo cristão,
mas tamb&m a temporal#  verdade ue o -apa pretendeu
intervir directamente na designação do imperador: apoiou
'tão de runsviue ue coroou, em BM, contra <ilipe da
+u%bia, e uando 'tão IZ 5 o futuro vencido de ouvines 5 se
voltou contra ele, Inoc!ncio ecomungou5o UBV e
substituiu5o pelo seu pupilo, o fil3o de Henriue IZ, ue se
tornar% <rederico II# ' -apa não só disp`s da coroa
imperial, mas uis estabelecer certos laços de vassalagem
entre a +anta +& e os reinos cristãos6 interveio em *ragão,
na Hungria, na -olónia e na Inglaterra, onde 0oão5+em5(e rra
coloca o seu reino sob a protecção de )oma6 e em <rança,
apesar das admoestações do -apa, <ilipe *ugusto recusa
retomar a sua esposa legítima# -or diversas ve2es, certos
reinos ocidentais em plena formação 5 especialmente o rei da
<rança 5 j% consideram pouco aceit%vel a pretensão romana de
ligar e desligar, mesmo no plano temporal#
Estava a camin3o a ideia laica de uma separação entre o
temporal e o espiritual, entre o facto de consci!ncia e o
seu dado eterior# "as Inoc!ncio III possuía um prestígio
ue onif%cio ZIII não tin3a6 <ilipe, o elo, conseguiu
menos avanços do ue o

]M

seu antecessor nas relações com o papado# [uando morreu , em


O de 0ul3o de BO, Inoc!ncio levav a consigo a visão de um
mundo, de ue pretendera ser o magistrado supremo e com ue,
pelo menos na apar!ncia, a cristandade tin3a concordado
inteiramente# "as ter% ele percebido ue o jovem ue 3avia
educado para l3e confiar o imp&rio, apenas com B anos, não
tin3a nada de cristãoW

L# <rederico II ou o leopardo
/urante cinuenta anos, a Igreja romana parece não ter
deiado o 2&nite# 1o entanto, os uatro primeiros sucessores
de Inoc!ncio III, ao longo da ;ltima fase da luta do
+acerdócio e do Imp&rio 5 Honório III UBO5BBK V, Aregório
I4 UBBK5B]V, Celestino IZ UB]5B]LV e Inoc!ncio IZ
UB]L5BJ]V 5, tiveram de enfrentar um advers%rio terrível,
<rederico II#
Este Ho3enstaufen, fil3o de uma siciliana, era mais italiano
do ue germ\nico# * sua verdadeira p%tria era a +icília
c3eia de sol, ao mesmo tempo sumptuosa e andrajosa,
tolerante e ecl&ctica, ainda meia muçulmana, uma esp&cie de
asilo para o livre5pensamento nos confins do mundo cristão#
<rederico II não era, como os seus ancestrais, um guerreiro
temível, mas antes um erudito prodigiosamente subtil,
apaionado pelas artes e pelas ci!ncias ocultas, amigo de
)aimundo .ulo, dos 0udeus e dos Trabes, uma esp&cie de 3omem
da )enascença nascido dois s&culos mais cedo, c&ptico,
dissoluto e faustoso, deslocado no s&culo de +# .uís#
Inoc!ncio III, seu protector, tin3a5o feito rei da Aerm\nia
na condição de ue renunciasse 9s suas terras italianas#
'ra, toda a política de <rederico II, rei dos )omanos em
BO, imperador em BB, consistiria em restabelecer a união
das duas coroas 5 a germ\nica e a italiana 5 e, depois,
restaurar o Imp&rio )omano sob a sua &gide, com )oma como
capital# /os seus ancestrais normandos 3erdara uma
duplicidade e uma falta de escr;pulos ue o 3ão5de incitar a
escol3er os mais diversos meios para alcançar os seus fins#
Ecomungado pela primeira ve2 por Aregório I4 por ter adiado
a sua partida para a cru2ada, <rederico II decidiu partir

J

para a (erra +anta, mas sem intenções religiosas UBBNV6


obteve do sultão do Egipto a posse de 0erusal&m, com a
promessa de não atacar o Egipto# 0ulgava5se, então, o sen3or
do "undo, mas os cristãos fugiam deste ecomungado#
<rederico foi a It%lia 3umil3ar5se diante do -apa ue o
absolveu das penas espirituais em ue incorrera U+an
Aermano, BLV# ' imperador fortalece o seu poder na +icília
e no 1orte de It%lia, onde a 8liga lombarda8 foi esmagada
UBLKV6 depois, invade o 8património de +# -edro8 e cobiça
)oma# Ecomungado pela segunda ve2, replica com um manifesto
dirigido a todos os príncipes do 'cidente, onde propun3a a
reunião de um concílio geral para julgar o -apa# * morte de
Aregório I4 UB]V suspendeu essa luta por algum tempo#

[uando,
nome de após um interregno
Inoc!ncio de dois <iesc3i
IZ, o genov!s anos, foi eleito,o com
UB]LV, o
mundo
recon3eceu ue outro Inoc!ncio III estava decidido a fa2er
triunfar o papado# /epois de algumas tentativas de
negociação com <rederico II, o novo -apa, instalado em
A&nova e depois em .ião, convoca um concílio ecum&nico ue
se deveria reali2ar, de B] de 0un3o a K de 0ul3o de B]J,
nesta ;ltima cidade# * assembleia foi dominada pela uestão
imperial# +inal dos tempos: não era para tratar do estado
moral do clero, mas apenas ou uase só do processo do
imperador: <rederico II foi solenemente deposto# *inda
resistiu durante cinco anos6 contudo, não era mais do ue um
3omem isolado na sua +icília# ' triunfo do papado foi
completo, uando, em L de /e2embro de BJ, o imperador
morreu de disenteria# $ma bula triunfal anunciou o feli2
acontecimento 9 cristandade###
Inoc!ncio IZ regressou a )oma, onde nunca mais nen3um alemão
se instalaria como sen3or# (erminava uma luta, da ual o
imp&rio saía enfrauecido para sempre, mas ue, aos ol3os do
mundo, dessacrali2ava o papado#  verdade ue a cristandade
podia, então, glorifi car5se com um rei, +# .uís, cujo poder
temporal só se poderia comparar 9 sua autoridade moral#

J

Capítulo II
' +C$.' /E +# .$7+

# $ma 8fonte de justiça8

(odos os testemun3os concordam: .uís I4, rei da <rança de


BBO a BK, foi a mais prestigiada figura do s&culo 4III#
Zol5taire di2ia mesmo ue ningu&m podia ser mais perfeito do
ue ele# Canoni2ando5 o em BMK, onif%cio ZIII mais não fe2
do ue ratificar o juí2o de todo o "undo, porue +# .uís não
pertence apenas 9 3istória de <rança, pois a sua influ!ncia
foi universal# -elas suas ualidade s de rei e de cavaleiro6
pelo euilíbrio controlado do seu temperamento6 pela
abund\ncia de riue2as morais 3auridas numa terra e numa
raça cristiani2adas, +# .uís aparece como uma figura
ecepcional#
*inda ue não seja indiferente nem fortuito ue tal figura
vigorosa se ten3a imposto nas terras de <rança, +# .uís
pertencia 9 vel3a dinastia dos capetos, nascida do acordo da
Igreja e marcada por um car%cter sobrenatural pela sagração
de )eims: durante tr!s s&culos e meio, os seus cator2e
soberanos 5 a descend!ncia masculina nunca fal3ou, uma só

ve2 ue fosse


8unificadores8 5 foram
das terras os mais
do 'cidente# E ueetraordin%rios
terras *s mais
ricas em col3eitas e em igrejas# Eram 3omens 8vulgares8,
esses Capetos, mas singularmente efica2es6 o seu título de
rei cristão não era apenas um adorno, mas impun3a5l3es
deveres# <oi em +# .uís ue as virtudes da

JL

sua raça se revelaram com maior 3armonia# 1ele, 3ouve uma


santidade ministerial ligada ao eercício da função real#
Era belo, seu rosto bem proporcionado 5 as feições um pouco
pesadas dos Capetos 5 revelava a calma tranuila 3erdada de
sua avó Isabel de Hainaut# Era bom e generoso para com os
pobres, mas intrat% vel para os ue tin3am um coração duro e
os rebeldes# *tento a todos os pormenores e muitas ve2es
perdido em /eus6 3umilde, mas a sua 3umildade era a forma
delicada de uma consci!ncia, em ue estavam sempre presentes
as obrigações assumidas pela sagração# <il3o submisso da
Igreja, sabia sacudir os cl&rigos e os monges acomodados ou
indignos ue alegavam possuir um poder conferido
directamente por /eus e não delegado pelo -apa# Este rei ue
lavava as c3agas dos leprosos e pedia ue se evitassem as
palavras duras 5 semente de uerelas 5 na batal3a e na
cru2ada, manifestava uma coragem sem igual ue evidenciava
um agudo sentido do 8outro8, mesmo ue fosse inimigo#
Em toda a parte, +# .uís era uma 8fonte de justiça8# 1a
<rança, todos os espoliados 5 e a sociedade feudal era
fecunda em abusos 5 tomavam5no como jui2: o episódio de
Zincennes não & uma lenda# ' parlamento real aparecia, por
sua compet!ncia e moderação, como o modelo dos tribunais de
recurso# 1o sentido mais estrito, +# .uís foi realmente o
%rbitro de uma Europa feudal, cuja compleidade jurídica e
territorial era motivo de in;meros protestos# <oi um dos
primeiros príncipes a ter o sentimento da unidade da regra
moral, aplicando5a tanto aos indivíduos como aos reis e aos
Estados#
1o reino, o rei vigiou estritamente os seus oficiais,
administradores e c3efes de justiça, obrigando5os a
sujeitarem5se a inuiridores ue controlavam a sua gestão e
recebiam as ueias dos administrados6 enuanto isso,
dispositivos legais perseguiam todas as formas de corrupção
e de abuso, porue a 8função do rei8, como 8ministro de
/eus8, era a de não deiar ue 8nen3uma injustiça se
escondesse8#
'ra, a injustiça suprema, aos ol3os de .uís I4, era a posse
de 0erusal&m pelos infi&is Uos (urcos 3aviam retomado a

Cidade +anta
Inoc!ncio IZ,em B]]V#
ele foi o/e entre
;nico ueostomou
soberanos convocado
a cru2: s por
primeiro, em
B]N, e,

J]

depois, em BK# +ofreu um duplo fracasso: no Egipto, teve


de capitular perante "ansoura3, ficando cativo dos
muçulmanos UBJV# Em  de 0ul3o de BK, em plena canícula,
embarca para a (unísia: estava tão fraco ue c3egaram a
di2er ue procurava o martírio6 em BJ de *gosto desse ano,
morria 9s portas de (unes# *os ol3os de um mundo ue 8não
tin3a f&8, +# .uís surgiu como o ;ltimo cru2ado#
's c3efes das jovens nações cristãs Ua Inglaterra dos
-lantagenetas, Castela, *ragão e 1avarra 5 fortalecidas pela
vitória sobre os "ouros em 1avas de (olosa 5, -ortugal
nascido em LM, Carlos de *njou da +icília e ela IZ da
HungriaV logo considerariam 8messire +# .uís8 o modelo
eemplar dos reis#

B# * era do gótico

-ara um parisiense, a lembrança de +# .uís 5 8esse 3omem


puro de coração e de corpo8, di2ia Inoc!ncio III 5 est%
ligada aos contornos puros da +ainte5C3apelle# *ssim &
porue a arte gótica deve muito a .uís I4, não somente
porue manteve durante uarenta anos o seu reino numa
atmosfera de pa2 e de f&, mas tamb&m porue ele próprio
ordenou e dirigiu numerosos trabal3os: )oGaumont, a igreja
dos menores em -aris, os [uin2evingts, o 3ospital de
Compigne, as fortificações de *igues5"ortes### *lguns
aruitectos con3ecidos, como )obert de .u2arc3es, 0ean de
C3elles, -ierre de "ontreuil, ou anónimos enamearam o 1orte
da <rança com catedrais e igrejas# -ara citarmos apenas um
caso 5 e na verdade particularmente significativo 5, foi no
reinado de +# .uís, ue teve lugar, em B] de 'utubro de
BO, a consagração da Catedral de C3artres, 8a flec3a
perfeita###, a flec3a ;nica no mundo8#
+e a arte rom\nica se desenvolveu, sobretudo, a partir da
<rança Central e da orgon3a, a arte gótica foi uma arte
capetíngea, raciocinada e clara, 9 ual convin3a o c&u da
Il3a de <rança# *s eperi!ncias tentadas anteriormente na
Inglaterra e na orgon3a encontraram a sua aplicação na
bacia do +ena: igrejas mais altas e mais bem iluminadas6
utili2ação de uma nova forma de abóbada con3ecida desde a
*ntiguidade: abóbada

JJ
de arestas ou sobre ogivas cru2adas , ue repartia a tensão,
permitindo ue as paredes fossem menos espessas, mais altas
e com janelas para deiar entrar a lu2, a ponto de a parede
5 elemento essencial da aruitectura 5 ser, por ve2es,
sacrificada: apresentar5se5ão conjuntos tal3ados mas secos,
de uma graça muito estudada ue, por ve2es, evoca um sistema
de peças desmont%veis# ' vitral triunfa com a arte ogival e,
se o s&culo anterior foi mestre na profusão escultural no
interior dos monumentos, a iconografia da pedra invade agora
os portais ue se tornam sumas enciclop&dicas da criação#
*rte essencialme nte religiosa: a pa2 das catedrais reflecte
a pa2 de /eus, onde tudo & ordem e 3armonia, onde tudo
testemun3a a grande ideia do s&culo 4III, da 3ieraruia das
criaturas, da inscrição da 3istória dos 3omens na 3istória
de Cristo# /o 1orte de <rança e da 1ormandia, adaptando5se
9s condições locais, a arte gótica estendeu5se ao +ul de
<rança, 9 -enínsula Ib&rica, aos -aíses aios, 9 *leman3a,
9 o&mia, ao Imp&rio latino de Constantinopla, aos Estados
francos do 'riente, 9 It%lia e 9 Inglaterra# 1o fim do
s&culo 4III, a Europa inteira possuía a mesma linguagem
aruitectónica, epressão de uma f& comum, de uma unidade
moral e de uma síntese espiritual ue teve em (om%s de
*uino o seu teólogo#

JO

Capítulo III
' +C$.' /E <)*1CI+C' E /E /'"I1A'+

# <rancisco ou a nude2

*s catedrais testemun3am o contributo das cidades para


saírem da &poca feudal# * economia sen3orial, de ue o
castelo e o mosteiro eram os pólos, recuava lentamente
perante uma economia jovem, menos concentrada, em ue o
com&rcio, as estradas, a navegação e a banca se desforravam
da terra#
'ra, a Igreja era o suporte da sociedade feudal e era ela
uem, atrav&s da cavalaria, se esforçava por assegurar o
reinado da justiça, organi2ando um verdadeiro regime de
previd!ncia social, praticando a caridade oficial, rem&dio
uase5jurídico aplicado ao deseuilíbrio da distribuição dos
bens# -or isso, tanto os sen3ores como os cl&rigos e os
monges viram com maus ol3os desenvolver5se o movimento
comunal, favorecido pelos reis# 's forais pareciam5l3es

resultar defeudal#
juramento turbul!ncias
' seu apressadas para se da
egoísmo, nascido desembaraçar
riue2a 5 do
a
partir do s&culo 4II tamb&m a austera ordem cisterciense
fora invadida por ele 5, não os deiava perceber as
transformações do "undo e tornava inefica2es os apelos
evang&licos lançados 9 cristandade#
"as eis ue, num dia de Zerão do ano de B, o papa
Inoc!ncio III recebe um jovem ;mbrio, vestido com o simples
burel dos camponeses, uma corda 9 cintura e os p&s nus

JK

enfiados numas sand%lias: numa linguagem simples, mas


ardente, confia ao pontífice as suas esperanças de pregar o
Evangel3o em toda a sua pure2a ao mundo novo# Inoc!ncio viu
ue esse <rancisco ernardone não era um desses incont%veis
reformadores ue, por toda a parte, mas com rude2a e
viol!ncia, procla mavam a decad!ncia de uma Igreja ue se
esuecera da pobre2a# 1ão 3avia nele nada da mística
esot&rica do monge italiano 0oauim de <lores Ufalecido em
BBV, tamb&m ele defensor dos 3umildes# *o dar o seu aval 9
missão de <rancisco e dos seus compan3eiros 5 ue tomaram o
nome duplamente modesto de fratres minores UV 5, Inoc!ncio
III fa2ia brotar no seio da Igreja, para um mundo sedento,
uma fonte pura e abundante# $ma fonte pura porue se
alimentava do próprio coração do Evangel3o, j% ue a regra
de <rancisco consistia nestas palavras: 8* vida dos irmãos
menores consiste em observar o santo Evangel3o de 1osso
+en3or 0esus Cristo, vivendo na obedi!ncia sem ter nada de
próprio#8 <onte abundante, porue a família franciscana &,
ainda nos nossos dias, a mais numerosa das sociedades
religiosas masculinas#
1ão foi uma iluminação s;bita ue incitou o bom <rancisco a
viver na pobre2a absoluta# <il3o de um rico comerciante de
panos de *ssis, associara5se ao negócio do pai desde os J
anos6 portanto, con3ecera a avide2 da nova It%lia pelos
pra2eres nascidos da opul!ncia e das lutas entre cidades
rivais# * sua natural generosidade levou5o, pouco a pouco, a
escutar, no sil!ncio dos seus retiros cada ve2 mais
prolongados, a vo2 do Evangel3o# *os BL anos, levado diante
dos magistrados e do bispo de *ssis ue o convidavam a
regressar 9 casa paterna, ele atira toda a sua roupa aos p&s
do pai, proclamando ue, de futuro, só ter% um pai, o /eus
ue cuida das aves do C&u# E cumpriu 9 letra: a curta vida
de <rancisco 5 morreu aos ]] anos 5 foi o grito de alegria
de um 3omem completamente despojado ue, no tempo em ue era
penetrado pelos estigmas dolorosos da -aião de Cristo,

escrevia
* um C\ntico fundada
ordem mendicante ao +ol# por <rancisco 5 auando da sua
morte, contava j% com seis províncias: *leman3a,

1ota : <rades menores# X1# do (#Y

JN

Espan3a, <rança, Hungria, +íria e Inglaterra 5 era um


instrumento
admiravelmente adaptado 9s necessidades espirituais do
s&culo 4III# 1ão se tratava j% de se encerrar num mosteiro,
situado no meio de terras dadas em colonato, mas sim de
percorrer as estradas animadas pelo com&rcio, de viver sem
tecto fio, comendo apenas do ue mendigavam#  preciso
di2er ue os inconvenientes de uma vida tão despojada
depressa se revelaram: na sua maioria, os frades eram leigos
entusiastas, mas pouco instruídos# 'ra, ao testemun3o da
pobre2a dos franciscanos devia acrescentar 5se a pregação# E
apenas a auisição de uma ci!ncia religiosa numa casa
conventual poderia resolver essa dificuldade# "as como
conciliar tal necessidade com a concepção bastante idealista
ue <rancisco tin3a do cumprimento evang&licoW Estas
diverg!ncias 5 ue, no s&culo 4IZ, c3egariam ao cisma 5
estalaram ainda em vida do fundador e opuseram os
frades ue preconi2avam uma vida comunit%ria de religiosos
estudantes e pregadores Uali%s, pobresV aos partid%rios de
uma fraternidade de mendicantes de estrita observ\ncia#
-or força das circunst\ncias, os frades menores agruparam5se
em conventos, construções modestas, inicialmente ocasionais
e depois fias, situados não nos campos, mas nos arrabaldes
populares e estudantis# *ssim, em -aris, a partir de BL, o
rei +# .uís, ue gostava muito dos mendicantes pelo seu
espírito infantil, instalou5os perto da -orta de +aint5
Aermain e, nesse mesmo ano, Aregório I4 decretou ue os
nuntii leigos poderiam gerir as esmolas em ve2 dos frades, a
uem o -apa dava uma ordo studens tal como j% tin3am os
dominicanos# 's studia dos <ranciscanos iriam ser
incorporados nas universidades, pois a
Igreja ueria ue a ordem de <rancisco se juntasse no seu
campo de acção 9 dos Irmãos -regadores#

B# /omingos ou a palavra

's dominicanos eram os fil3os espirituais de um espan3ol,


/omingos, um cónego regular# Em BO, acompan3ando o seu
bispo 9 /inamarca, atravessou o .anguedoc e p`de ver uanto

auela vel3a terra cristã era


tena2, sacudida por um feudalismo

JM

pela ignor\ncia dos cl&rigos e pela sedução do catarismo# 1o


regresso, conseguiu permissão para se fiar aí e, pela
controv&rsia UV, pelo eemplo da pobre2a vivida e da
independ!ncia em relação aos sen3ores feudais, /omingos 5 9
margem da 3orrível cru2ada antialbigense 5 esforça5se por
fa2er regressar os c%taros ao seio da Igreja# Em BJ, com a
ajuda do bispo <oulue, reuniu em (oulouse alguns
compan3eiros para uem obteve do -apa, em BK, a
confirmação do seu título de fratres praedicatores, Irmãos
-regadores# Colocada 9 disposição da Igreja, a compan3ia
estendeu5se a -aris 5 onde os frades instalados nos
sub;rbios de +aint50acues se tornaram populares sob o nome
de jacobinos UBV 5 e, depois, 9 Espan3a, olon3a e )oma#
* regra dominicana & a c3amada 8regra de +to# *gostin3o8
praticada pelo fundador ue incorporou nela alguns elementos
estruturais ue tornam a 'rdem dos -regadores aparentada com
as associações municipais, com as corporações de ofícios e
com as universidades# -orue a ordem dominicana distingue5se
das antigas ordens pelo seu car%cter democr%tico: a
autoridade, a todos os níveis, eerce5se atrav&s de eleições
permanentes e renovadas6 não 3% um abade 9 frente do
convento, mas um 8prior8 escol3ido pela comunidade# *ssim,
os dominicanos mostram5se defensores de uma teologia da vida
social, 9 ual sempre se opuseram, como ue instintivamente,
todos os voluntarismos#
-erante os 8perfeitos8 c%taros, os frades dominicanos
apresentavam5se como pobres, de espírito, de atitude e de
3%bito# * eemplo de <rancisco de *ssis, o evangelismo
implicava para /omin gos uma ruptura com o regime feudal,
pela recusa das dí2imas e dos benefícios# "as nunca os
dominicanos se esuecerão de ue, acima de tudo, são
pregadores6 daí a prima2ia ue a sua regra d% aos estudos
face ao próprio ofício# +abendo como os cistercienses,
primitivamente enviados para o .angue5doc, estavam
desprotegidos perante o catarismo, mantiveram largamente
aberto o seu 3ori2onte intelectual# /aí a posição de
vanguarda assumida por estes religiosos vestidos de branco,

1ota : /ebate p;blico sobre um assunto6 neste caso, a


religião# X1# do (#Y
1ota B: /o nome 0acues# X1# do (#Y

O
isto &, uma posição desconfort%vel, não ditada por um
secreto desejo de bravata, mas imposta por uma vocação
srcinal profunda#
Instalando5se nas cidades, os mendicantes 5 franciscanos e
dominicanos 5 não perderam o seu car%cter mission%rio# 's
frades menores assumiam de bom grado as paróuias populosas
e suburbanas6 os pregadores encontrar5se5ão entre os mais
euilibrados inuisidores# *l&m disso, desde o s&culo 4III,
encontram5se uns e outros nos países submetido s ao islão ou
momentaneamente ocupados pelas Cru2adas: em "arrocos, no
Egipto 5 onde <rancisco de *ssis esteve 5, na -alestina, na
-&rsia e na Auin&6 mas tamb&m encontraremos franciscanos e
dominicanos nos postos avançados da cristandade, no coração
da Tsia#
' paralelismo na evolução das duas grandes ordens
mendicantes reside na criação de uma ordem de monjas
contemplativas 5 a segunda ordem, clarissas e monjas
dominicanas 5, bem como numa terceira ordem secular,
denominação significativa da implantação das novas ordens
mendicantes num mundo laical em promoção cultural e
eclesial# E foi na $niversidade de -aris ue se destacaram
dois grandes doutores: o franciscano oaventura e o
dominicano (om%s de *uino#

O

Capítulo IZ
' +C$.' /E +# ('"T+

# * revolução do ensino# * $niversidade de -aris

Catedrais, obras colectivas6 cartas de foral, garantias dos


direitos das comunidades urbanas6 corporações6 cru2adas,
impulso das multidões6 ordens mendicantes devotadas a um
novo mundo: são tudo componentes de um mesmo esforço# 1a
atmosfera eigente do s&culo 4III, a f&, mesmo a dos leigos,
sentia a necessidade de se confrontrar com o mundo criado
por /eus não no sil!ncio das bibliotecas ou nos círculos
fec3ados das escolas mon%sticas e episcopais, mas 8ao ar
livre8, na livre discussão, em torno de mestres amados,
admirados, procurados e ligados aos seus alunos por laços
fortes e ueridos#
1asce assim uma palavra nova ue engloba outra realidade: a
8*ssociação8 ou 8$niversidade8 UV dos 8mestres e dos
alunos8 U$niversitas magistrorum et scolariumV, ue &

resultadoembora
-orue, da acção
a da Igreja
escola de e /ireito
cujo aru&tipo foi -aris#
de olon3a 5 ue
representou um papel capital na introdução do /ireito )omano
no /ireito Comum Uconsuetudin%rioV ocidental 5, j% bril3asse
desde o s&culo 4II, não constituía propriamente uma
universidade, dado ue os estudantes eram autónomos# +e a
Europa p`de vangloriar5se das

1ota : (otalidade, conjunto# X1# do (#Y

OL

universidades de 'ford, -%dua, (oulouse, Coimbra e


Zal3adolid, p`de fa2!5lo devido 9 influ!ncia de -aris, 8a
mais nobre cidade de toda a vida espiritual8#
Em -aris, ue j% atraía muitos estrangeiros, as escolas da
Ille de la Cit&, submetidas 9 jurisdição do c3anceler do
capítulo da catedral, surgem desde os primeiros anos do
s&culo 4III e espal3am5se pela margem esuerda do +ena, o
actual [uartier .atin, onde o dono da casa, o abade de
+ainte5Aenevive, depressa se v! submerso pelo formigueiro
intelectual e pela 8balb;rdia8 de uma juventude numerosa#
-ouco a pouco, depois de uma luta &pica, mestres e alunos
conseguem todos os privil&gios de uma corporação
eclesi%stica6 a $niversidade de -aris & liberada por <ilipe
*ugusto de uma jurisdição laica e, por outro lado, os papas
afastam5na, em seu benefício, da jurisdição episcopal# *
bula -arens scientiarum de Aregório UBLOV permite5l3e mesmo
tratar de igual para igual com o rei#
<ormada por uatro faculdades 5 *rtes .iberais, /ireito
Canónico, "edicina e (eologia 5, diferenciada pelas suas
81ações8 5 1ormandia, -icardia, Inglaterra e <rança 5, a
$niversidade de -aris transformara5se numa verdadeira
8instituição mundial8 e eclesial, porue todos os estudantes
e todos os professores são, forçosamente, de Igreja# Como
fica situada nos flancos da colina de +ainte5Aenevive,
multiplicam5se as fundações caritativas, os 8col&gios8, ue
recebem os estudantes pobres# Como a universidade não
possuía ualuer estabelecimento próprio, os mestres
ministravam os seus cursos nesses col&gios, transformados
pouco a pouco em locais de ensino# $m deles, o col&gio de
+orbon, dar% o seu nome 9 <aculdade de (eologia e, depois, 9
$niversidade de +orbonne6 outros, como o col&gio de ClunG ou
o de 1avarra, con3eceriam tamb&m eles um destino especial#
* <aculdade de (eologia e a <aculdade das *rtes eram as mais
importantes e as mais vivas: a especulação encontrava aí um
terreno propício# -or volta de BJ, sob a influ!ncia de

'ford,
das de tornou5se
*rtes *ristóteles
umae verdadeira
do pensamento %rabe, de
faculdade a <aculdade
<ilosofia#
Inicialmente, os teólogos tiveram alguma dificuldade em
romper com os antigos m&todos6 mas, depois, atrav&s do
simples coment%rio dos tetos bíblicos, passaram a
desenvolver uma teologia sistem%tica

O]

e, da simples uaestio UuestãoV, passaram 9 disputatio


UdiscussãoV, ou seja, a um eercício vivo e organi2ado em
redor de um tema escol3ido e animado pelo mestre# *leandre
de Hales, por volta de BB, desencadeou uma peuena
revolução, introdu2indo no ensino magistral as +entenças de
-edro .ombardo, bispo de -aris Ufalecido em OV# 's uatro
livros das +entenças estão pejados de tetos patrísticos
dispostos de maneira a formar um ensino completo da f&#
*leandre de Hales foi um mestre ue, mesmo continuando a
ser ortodoo, procurou fa2er despertar o espírito
universit%rio, esse espírito do ual *lberto "agno e,
sobretudo, (om%s de *uino foram os eemplos mais
etraordin%rios#

B# $m modelo para o pensamento cristão: o tomismo

*leandre de Hales era um frade menor, *lberto "agno e (om%s


de *uino eram pregadores# em cedo as duas grandes ordens
mendicantes encontraram no meio universit%rio, jovem e
efervescente, as mel3ores condições de florescimento, ainda
ue os cl&rigos seculares e a universidade ten3am, por
ve2es, combatido a influ!ncia dos regulares, a seus ol3os,
demasiado dependentes da +anta +&#
Entre os dominicanos, a presença de um professor de (eologia
era tão necess%ria ao estabelecimento de uma comunidade como
a de um prior# * escola conventual da )ua de +aint50acues,
em -aris, tornou5se rapidamente a mais prestigiosa da ordem:
fortaleceu a universidade, onde duas cadeiras de (eologia
foram ocupadas pelos mel3ores mestres dominicanos# 's
franciscanos j% tin3am organi2ado em olon3a, ainda em vida
de +# <rancisco, um studium ou convento de estudos e, a
seguir, v%rios studia generalia foram incorporados nas
universidades: em BL, *leandre de Hales funda a escola
conventual de -aris, onde afluíram muitos jovens religioso s
e, entre eles, um futuro geral da ordem, 0oão <idan2a da
(oscana, ue, em religião, tomou o nome de oaventura#
"as os frades menores, formados na livre espiritualidade de
+# <rancisco, próima da iluminação doutrinal, não

consideravam
curiosidade, ue a filosofia fosse um fruto de uma

OJ

mas uma tend!ncia religiosa# -ara oaventura, toda a


metafísica deve juntar5se a um vasto simbolismo ue fa2
considerar a 1ature2a como um livro divino a decifrar# 's
frades menores não aceitavam entregar5se nos estudos
filosóficos, a não ser ue estes pudessem servir os dogmas
teológicos6 afirmavam5s e seguidores das ideias platónicas e
do ensino de +to# *gostin3o: o universo eterno submetido a
ciclos imut%veis, evid!ncia da eist!ncia de /eus, unidade e
simplicidade do mundo das ideias e a autonomia impossível do
mundo físico#
's pregadores mostravam5se mais preocupados em evitar uma
ruptura radical entre o corpo de sabedoria profana e o
sentido da f& cristã# ' seu desígnio era tornar inteligível
aos ocidentais a ci!ncia e a ra2ão gregas, personificadas em
*ristóteles, cujos tetos e coment%rios eram, então, por
toda a parte, tradu2idos do grego e do %rabe# *lberto de
Colónia, c3amado 8"agno8, ue foi lente em -aris em BJ],
foi o primeiro dos grandes peripat&ticos cristãos: 8Em
mat&ria de f& e de costumes 5 escrevia ele 5, & preciso
acreditar mais em +to# *gostin3o do ue nos filósofos, se
não concordarem uns com os outros6 mas, uando falamos de
"edicina, então, volto5me para Aaleno e Hipócrates6 e, se se
tratar da nature2a das coisas, & a *ristóteles ue me dirijo
ou a ualuer outro perito na mat&ria#8
)etomando o camin3o aberto pelo seu mestre, mas ampliando5o
para ue toda a gente pudesse nele mergul3ar, aparece (om%s
de *uino, o 8doutor ang&lico8# /esde BJK, com LB anos,
esse nobre napolitano & mestre em -aris6 no seu ensino,
essencialmente din\mico, como nos próprios escritos 5
sobretudo nas suas sumas: +umma Contra Aentiles e +umma
(3eologica 5, (om%s tende a construir a síntese teológica
das verdades reveladas e a síntese filosófica das verdades
acessíveis 9 ra2ão# -ara (om%s de *uino, a adesão 9 -alavra
de /eus deve desencadear uma curiosidade, em ue nature2a e
graça sejam igualmente solicitadas# * (eologia torna5se uma
ci!ncia, ao mesmo tempo, contemplativa e especulativa, e a
f& & sempre uma busca da intelig!nc ia6 por isso, ra2ão e f&
distinguem5se para se unirem# * própria vida de (om%s de
*uino 5 na mansidão, na 3umildade e fidelidade 9s tarefas
uotidianas 5 foi a ilustração constante dessa dupla avide2
do espírito e do coração#

OO
0acues "aritain, um dos mestres do tomismo contempor\neo,
esclareceu perfeitamente o lugar ocupado por (om%s de *uino
no coração da História da Igreja, no centro desse s&culo
8org\nico8 ue foi o s&culo 4III: 8Ele leva a intelig!ncia
ao seu objecto, orienta5a para o seu fim, entrega5a 9 sua
nature2a# /i2 ue ela & feita para o ser, sujeita ao
objecto, mas para c3egar 9 sua verdadeira liberd ade, pois &
nessa submissão ue ela restabelece dentro de si as suas
3ieraruias essenciais e a ordem das suas virtudes#8 [uanto
ao padre "#5/# C3enu, o seu grande m&rito & o de ter
mostrado ue os teólogos do s&culo 4III não foram apenas
leitores de *ristóteles, mas tamb&m religiosos ue encaravam
a sua f& numa atmosfera espiritual#
Ziolentamente combatido pela sua antropologia, desde o
s&culo 4III, pelos franciscanos imbuídos de agostinismo,
deformado no s&culo 4Z pelos abusos da escol%stica e,
depois, afastado a favor do nominalismo, transformado nos
s&culos cl%ssi cos em privil&gio de uma escola, o tomismo
emergiu no fim do s&culo 4I4, graças 9 acção de .eão 4III,
um -apa ue considerava o tomismo uma doutrina, cujos
princípios podiam permitir o aprofundamento da tradição e a
resolução dos problemas postos pela evolução das artes, das
ci!ncias, da sensibilidade 3umana e das estruturas sociais#
1os nossos dias, o tomismo revivificado em boa 3ora pela
escola de +aulc3oir UC3enu e CongarV, v!5se confrontado com
um mundo profundamente laici2ado, marcado pela t&cnica e
pelo materialismo# 1o s&culo 4III, todas as forças da
1ature2a e da graça participavam na construção de um sistema
de pensamento crist ão6 no entanto, esse s&culo ainda não
morrera e j% o 3omem se via tentado a dissociar o mundo da
1ature2a do mundo da graça#

OK

Capítulo IZ
' (E"-' /* I1[$IE(*'

# ' esforço mission%rio da Idade Cl%ssica


/esde meados do s&culo 4II ue 8a coagulação da Europa8 UA#
.e r%sV estava concluída# ' cristianismo romano estendia5se
sobre a maior fatia da Europa 'cidental, da Irlanda 9
+icília, da margem oriental do *dri%tico 9 Irlanda,
englobando a parte meridional da Escandin%via, da -olónia,
da o&mia e da Hungria# -ara norte, a Igreja embate nos

-russianos,
leste nos %lticos
nos Estados e nos
)ussos, nos <inlandeses
;lgaros depagãos6 para
obedi!ncia
bi2antina e nas estepes dominadas pelos Comenos6 e a
-enínsula Ib&rica de al&m5(ejo ainda & muçulmana#
*os ol3os do papado, o esforço de unidade não podia limitar5
se 9 reunião das terras cristãs# * partir de BLN, os mouros
na -enínsula estão confinado s ao reino de Aranada6 a Ib&ria
católica deseja incutir sangue novo na vel3a cristandade# 1o
1orte da Europa, missões de cistercienses escandinavos e de
alemães penetram entre os %lticos e os <inlandeses,
enuanto os -olacos interv!m junto dos .ituanos6 a cru2ada
de rico, em JK, condu2 9 aneação da <inl\ndia# Em B,
o cisterciense *lberto, fundador de )iga, sagra o primeiro
bispo da Estónia e torna5se arcebispo da -r;ssia6 em BJ, o
rei da .itu\nia pediu o baptismo# "as a 3ostilidade dos
%lticos em relação ao clero alemão, a dos <inlandeses em
relação aos Escandinavos e a acção violenta

OM

dos Cavaleiros (eutónicos retardam a penetração do


cristianismo nessas populações# [uanto 9 missão da Com&nia,
dirigida por dominicanos 3;ngaros, a partir de BB, &
destruída em BJ pelos "ongóis6 um n;mero elevado de
comenos abraça 9s pressas o cristianismo para se poderem
refugiar na Hungria, onde foi preciso evangeli2%5los durante
muito tempo#
"as o espin3o no coração da Igreja era o imenso 'riente# 's
alcãs e a Tsia "enor eram, em grande parte, de obedi!ncia
ortodoa6 para al&m, era o mundo isl\mico, onde viviam
muitos cristãos afastados de )oma# Criando os Estados
.atinos, as Cru2adas foram a oportunidade de a Igreja romana
tentar, a partir do -róimo 'riente, uma penetração
mission%ria na Tsia continental# *s duas jovens ordens
mendicantes, franciscanos e dominicanos, j% instaladas em
Tfrica, sobretudo no 1orte, desempen3aram um papel de
primeiro plano tanto pelas intervenções mission%rias como
pelas tentativas para reunificar a cristandade# $ma
província franciscana fora criada na +íria em BK6 durante
a [uinta Cru2ada UBMV, <rancisco de *ssis procurou
converter o sultão do Egipto# Em BBN, j% 3avia uma
comunidade franciscana em 0erusal&m6 em BLJ, podiam5se
encontrar frades menores e pregadores na -&rsia, na Caldeia,
em Constantinopla, em C3ipre e, mesmo na índia# Em BLM,
Aregório I4 enviava oito dominicanos 9 Aeórgia e, a partir
do seu convento de (íflis, espal3aram5se por entre os povos
do C%ucaso#

/e s;bito, apareceram
partid%rios: os "ongóis
um após outro, de Aeng3is
os imp&rios 3an e os
muçulmanos seus
caíram
nas suas mãos# /urante muito tempo, os .atinos acreditaram
ue os terríveis nómadas eram cristãos, porue a Igreja
nestoriana estava implantada na "ongólia6 segundo "arco
-olo, o Arande ubilai 3an, embora inclinado para o
budismo, elogiou e beijou um dia o Evangel3o ue os padres
nestorianos l3e apresentaram# "as uando as vel3as terras da
Hungria, da -olónia e da o&mia foram devastadas pelos
"ongóis, então, o 'cidente cristão compreendeu o perigo ue
corria#
Inoc!ncio IZ, ue acreditava mais na efic%cia das missões do
ue na das cru2adas, fe2 partir de .ião, em B]J, uatro
embaiadores# ' franciscano /omingos de *ragão dirigiu5se
para a *rm&nia6 o dominicano *ndr& de .ongjumeau foi

K

encarregado de estabelecer contacto com os prelados caldeus


e siríacos separados de )oma# [uanto ao pregador *scelino de
Cremona e o menor -ian di Carpino penetraram na "ongólia 6 o
franciscano, mais fleível do ue o outro, foi bem recebido
em Caracórum por AuGu ue, ali%s, se limitou a convidar o
-apa a recon3ecer5se seu vassal o# "as depressa correu no
'riente cristão a notícia de ue um fil3o de atu, fundador
da Horda de 'uro, 3avia recebid o o baptismo6 +# .uís julgou
ue esse era o momento de enviar 9 corte do Arande "angu
3an o franciscano flamengo Auil3erme de )ubrouc ue
permaneceu oito meses entre os "ongóis e acompan3ou o seu
c3efe a Caracórum, onde numa igreja nestoriana celebrou o
ofício da -%scoa e sustentou, na presença de "angu, uma
discussão religiosa com muçulmanos e budistas# "as )ubrouc
não conseguiu do 3an mais do ue uma ordem de submissão
dirigida ao rei de <rança#
Entrementes, os mendicantes ligavam5se a esta Tsia, onde
desejavam construir uma terra cristã# 1o fim do s&culo 4III,
os franciscanos tin3am dois vicariatos na (art%ria, uma
custódia na Crimeia mongólica, um convento na capital dos
3ans da 8Horda de 'uro8# "uitos desses monges adoptar am os
costumes e a vida dos "ongóis e acompan3avam5nos por toda a
parte6 em contrapartida, foi sob a t;nica franciscana ue
morreu, em LB, (octai, 3an de [uiptc3ac# (odavia, trinta
anos mais tarde, a maioria das dinastias mongóis tin3a5se
passado para o islão# * C3ina, conuistada em BKM pelo
mongol ubilai, recebeu o franciscano 0oão de "ontecorvino:
o mission%rio conseguiu ue muitos nestorianos retornassem 9
obedi!ncia e 9 f& romanas e, como primeiro bispo de -euim,

fe2missão
a in;meras conversõ
da C3ina es juntamente
foi, entre os "ongóis
com a edinastia
os C3ineses6 mas
mongol,
epulsa de -euim pelos "ings#
' fracasso das missões da Tsia incitou os papas a tentarem
reaproimar5se das Igrejas separadas#

B# E a união das IgrejasW

*s ordens mendicantes foram, tamb&m neste terreno, os


instrumentos do papado# Em BLK, o patriarca dos jacobitas

K

submetia5se a )oma e tomava o 3%bito dos dominicanos6 os


maro5nitas estavam prestes a aderir 9 Igreja romana# 1o
entanto, a Igreja nestoriana, apoiada por <rederico II,
permaneceu nas suas posições e o mesmo aconteceu com os
Aeorgianos# 1a *rm&nia, a acção dos dominicano s com vista a
uma aproimação com )oma apenas dar% os seus frutos no
s&culo 4IZ#
"as os papas sempre se deram muito mal com Constantinopla#
<avorecendo por todas as maneiras o Imp&rio .atino de
Constantinopla, Inoc!ncio III e os seus sucessores puseram o
clero e o povo gregos contra a Igreja romana6 no entanto,
Inoc!ncio IZ, mais l;cido, alimentou laços com o imperador
de 1iceia, 0oão III Zatat2s# * ueda do Imp&rio .atino, em
BO, p`s termo, senão 9s conversações, pelo menos 9
esperança de um real entendimento, porue as aproimações
oficiais não significavam a adesão dos povos#
[uando o imperador bi2antino "iguel -aleólogo pressentiu ue
o irmão de +# .uís, Carlos de *njou, son3ava apenas em
reconstruir para si próprio o Imp&rio .atino de
Constantinopla, decidiu prestar obedi!ncia e fidelidade a
)oma# Isso aconteceu no II Concílio de .ião, presidido por
Aregório I4 UBK]V, onde participaram o patriarca de
Constantinopla e o metropolita de 1iceia# "as embora ten3a
3avido submissão solene e oficial do basileu, não se pode,
todavia, di2er ue fosse clara a união de coração entre as
Igrejas de )oma e de Constantinopla#
L# +intomas de crise

[uando se encerrou o II Concílio de .ião, o papado parecia


não ter j% advers%rios e o son3o de unificação do mundo
cristão, ue foi o de Inoc!ncio III, parecia começar a
reali2ar5se# (odos os soberanos enviaram embaiadores a
.ião6 o título imperial, depois de <rederico II, não foi

restabelecido
ao e )odolfo
-apa o camin3o livre de
em Habsburgo,
It%lia# 1o rei dos )omanos,
entanto, deia
uma situação
difusa impede ue se fale de uma completa vitória#
*ssim &, porue, em BN, a união com Constantinopla &
rompida, j% ue o papado se mostrava de novo fascinado pelas

KB

ambiciosas miragens de Carlos de *njou# -or outro lado, a


cru2ada decidida no Concílio de .ião não consegue ser
organi2ada pela recusa dos soberanos cristãos6 dessa forma
reaparece o abismo entre o 'cidente e o 'riente# ' clero do
'cidente, bastante rico, não respeita muito os c\nones
conciliares relativos 9 reforma dos costumes6 favorecend o a
autonomia das ordens mendicantes, o papado desagrada 9
3ieraruia eclesi%stica e aos cl&rigos seculares ue ficam
com menos força na sua luta contra os regulares# ' nepotismo
e a burocracia pontif ícia limitam a acção reformadora do
papado#
1ão 3% d;vida de ue, após a morte de <rederico II, o -apa &
o c3efe espiritual da cristandade: teólogos, filósofos e
cano5nistas fa2em da supremacia pontifícia uma doutrina
sólida ue se epressa nas /ecretais# "as a teocracia só
aparece como 8uma construção de escola, sem influ!ncia sobre
a evolução do universo católico8# +ente5se isso muito bem
logo depois das Z&speras +icilianas UBNBV, onde pereceram
os partid%rios de Carlos de *njou, o protegido do -apa:
-edro de *ragão coroado em -alermo & ecomungado por
"artin3o Z6 a interdição & lançada sobre a +icília, mas
ningu&m se preocupa e o aragon!s organi2a a il3a a seu bel5
pra2er#
(r!s anos mais tarde UBNJV, sobe ao trono de <rança o neto
de +# .uís, <ilipe, o elo, ue iria ser o coveiro da
supremacia pontifícia#

KL

ZI
* IA)E0* +' *C$+*'
Capítulo I
* C)I+(*1/*/E H$"I.H*/*

# $ma nova atmosfera

+eria ridículo comparar, ponto por ponto, o s&culo 4IZ com o


s&culo 4III6 mas não 3% d;vida de ue o s&culo 4IZ tra2

consigo os tudo,
uestionar germesa começar
do mundopela
moderno,
unidadeesse mundo ue(udo
do 'cidente# iria
parecia síntese e euilíbrio6 as disciplinas do espírito
eram transcendidas na (eologia, no con3ecimento de /eus6 a
arte era não só eleg\ncia, mas tamb&m simplicidade# Em redor
do -apa e da liturgia romana, organi2ava5se uma sociedade,
cuja língua ;nica era o latim e ue parecia encontrar no
cristianismo toda a sua força6 os reis e o próprio imperador
integravam5se numa 3ieraruia ue nada parecia poder
derrotar#
' 3armonioso monumento do tomismo foi logo ameaçado por toda
parte, enuanto, no começo do s&culo 4IZ, a $niversidade de
-aris j% não tin3a o bril3o e a autoridade ue contribu íram
para o seu prestígio# /e 'ford partiam fortes correntes de
ideias ue tradu2iam uma verdadeira impaci!ncia em relação
aos uadros fiados pela 8filosofia dos parisienses8# $m
facto curioso: face aos dominicanos de -aris, os
8impacientes8 ingleses são frades menores# 1en3um deles se
voltou mais para o futuro do ue )oger acon UB]5BMBV6 a
base de seu ensino filosófico não est% nem no .ivro das
+entenças nem nas +umas escol%sticas, mas na íblia ue,
segundo ele, só pode ser

KK

interpretada validamente por filólogos ue dominem a fundo o


Arego e as línguas semitas# acon entende ser desej%vel a
eperi!ncia mística, desde ue seja continuada pela
eperi!ncia científica, e purificada e aclarada pelo
espírito crítico6 desse modo, tudo o ue 3onra e d%
vitalidade ao nosso tempo 5 o movimento científico, a
crítica tetual e a teologia positiva 5 j% se encontra no
pensamento de acon, o doutor admir%vel
' escoc!s /uns Escoto UBOO5LNV foi o doutor subtil#
*dvers%rio da iluminação agostiniana e, simultaneamente, da
especulação tomista, o escotismo acentua a limitação do
saber filosoficamente demonstr%vel em proveito da crença#
-ara Escoto, & a vontade ue tem a prima2ia sobre o
con3ecimento intelectual#
"as, entre esses 8modernos8, ningu&m rejeitou tão
ardorosamente o jugo tomista como o franciscano ingl!s
Auil3erme dD'ccam UBMJ5LJV, teórico do nominalismo e
percursor do empirismo ingl!s: atacando o realismo, opondo o
sensível ao inteligível, afirmando ue apenas o con3ecimento
sensível garante a eist!ncia dos seres e dos fenómenos,
'ccam esva2iava a metafísica e apontava como domínio da
ci!ncia o particular6 o individual, o concreto, o singular

tomavam
o o lugar
pensamento das ideias gerais,
laici2ava5se, dos 8universais
tornando5se 8# *ssim,
muito eigente no
plano científico e eperimental#
Isso representava um perigo para o pensamento cristão, dado
ue, na outra etremidade do mundo, renovado pelo
aristotelismo, prosperava, sempre atraente, o averroísmo ue
+# (om%s 3avia colocado em primeiro lugar entre os seus
inimigos# *verróis, filósofo %rabe e cordov!s do s&culo 4II,
tin3a sido o mais bril3ante introdutor do sistema filosófico
de *ristóteles no 'cidente# "as desse sistema desenvolveu os
elementos racionalistas e materialistas: o car%cter eterno e
incriado do movimento e da mat&ria, a teoria da 8dupla
verdade8, isto &, da eist!ncia de opiniões racionais ue se
opõem aos dogmas religiosos e a necessidade fatal dos
acontecimentos# Ensinado por +iger de rabante e condenado
pelo bispo de -aris em BKK, o averroísmo espal3ou5se pela
It%lia, sobretudo em -%dua, cuja universidade, fundada em
BBB, depressa se tornou c&lebre pela import\ncia ue dava
9s disciplinas científicas e pela sua independ!ncia de
pensamento ue c3egou a ser rotulada de 8libertinagem8#

KN

' averroísmo era, ali%s, muito menos um corpo de doutrinas


do ue uma atmosfera ue, pouco a pouco, impregnava as
mentalidades# *ssim & porue 3ouve um averroísmo moral,
perceptível em in;meras obras do fim do s&culo 4III, bem
como nas p%ginas libertinas da segunda parte do )omance da
)osa, escrito por 0oão de "eung# Houve tamb&m um
averorroísmo político ue encontrou a sua perfeita epressão
no /efensor pacis de "arsílio de -%dua, verdadeiro brevi%rio
do Estado laico# ' próprio /ante Ufalecido em LBV,
colocando +iger de rabante no uarto c&u do seu -araíso,
revela ue era partid%rio da separação dos poderes e da
autonomia das ci!ncias profanas# *trav&s do seu simbolismo
sagrado, * /ivina Com&dia &, talve2, o mais admir%vel
refleo dauilo ue foi a cristandade no fim da Idade "&dia6
& toda a cristandade ue serve de moldura 9 trag&dia
dantesca# -or sentir ue a unidade cristã est% ameaçada &
ue /ante se mostra severo em relação 9 Igreja ue ama, uma
Igreja 5 a Igreja de onif%cio ZIII e dos primeiros papas de
*vin3ão 5 ue se deiou perverter pelo luo, pelo lucro,
pelo tr%fico de influ!ncias e pelo negócio, e pela
mediocridade#
/ante foi uma vo2 pat&tica# "as 3ouve outras vo2es, mais
%speras, ue se elevaram, protestando contra o car%cter
muito terrestre da Igreja de /eus e convidando os cristãos a

uma vida mais


evangelismo, despojada, e,
o neomaniueísmo, por ve2es,
a feitiçaria ou oroçavam o
panteísmo,
esuecendo5se dauilo ue fa2 a ess!ncia do cristianismo#
*lgumas correntes subterr\neas 5 ue a Inuisição não podia
atingir 5 alimentavam movimentos aparentemente espont\neos,
mas, de facto, aparentados uns com os outros: os Irmãos do
.ivre5Espírito, provavelmente discípulos de 'rtlieb de
Estrasburgo6 os begardos, as beguinas e os irmão2in3os de
todos os tipos6 os apostolici, cujos son3os místicos se
aparentavam com o catarismo e ue foram condenados em L
pelo Concílio de Ziena6 os flagelantes e os penitentes ue
percorriam a Europa angustiada, porue 0oauim de <lora
3avia vaticinado o fim do mundo para o ano de BO###
's eremitas, ao mesmo tempo migrantes e 3omens p;blicos,
pululavam, como <ra -ietro, anacoreta de "ont5"urrone ue o
cardeal 'rsini, em BM], teve a etraordin%ria ideia 5
alguns diriam providencial 5 de eleger -apa com o nome de
Celestino Z

KM

U+ão -edro CelestinoV6 o seu curto reinado 5 renuncia 9


tiara cinco meses depois de sua sagração 5 não foi mais ue
um longo tormento de um 8faisão a esconder a cabeça debaio
da asa8# ' realista onif%cio ZIII não teve ne3uma
dificuldade em obter o consentimento do vel3o eremita para a
sua reclusão perp&tua# 'ra, muitos monges 3aviam considerado
como 8seu8 -apa esse Celestino coberto de farrapos e ainda
3% 3istoriadores ue consideram ue a rejeição de um -apa
pobre e 3umilde pela Igreja representou, para ela, uma
maldição# Entre os franciscanos, os espirituais eram
admiradores de Celestino Z e constituíam numerosos grupos na
"arca, na -rovença e na (oscana6 pretendiam praticar a
pobre2a absoluta, mas embateram no papa 0oão 44II 5 a seus
ol3os, um verdadeiro .;cifer 5, ue l3es opun3a a fórmula:
8* pobre2a & grande, mas a integridade & ainda maior#8
"uitos deles não se subordinaram e, mau grado os autos5de5
f&, continuaram numerosos e populares na It%lia at& ao fim
do s&culo 4Z, com o nome de <raticelos,
Entretanto, na pa2 dos conventos nórdicos, nos -aíses aios
e na )en\nia, desenvolvia5se uma mística ue não era
ang;stia, mas ue procurava ultrapassar o plano da
especulação teológica# * ordem de +ão /omingos polari2ou
essas novas forças: algumas comunidades semimon%sticas e
semi5seculares colocaram5se sob a direcção dos dominicanos6
as casas de monjas e de terceiras regulares dominicanas
multiplicaram5se: em BNK, contavam5se setenta somente na

*leman3a,
"estre sendo 5 sete
Ec3art foi em Estrasburgo#
a alma do imenso 'movimento
dominicano Ec3art
místic 5
o ue
se desenvolveu no s&culo 4IZ no 1orte da Europa6 pedia aos
religiosos e religiosas o despojamento espiritual, a
identificação da sua vontade com a de /eus# 8*migos de
/eus8: eis o ue os discípulos de Ec3art se desejavam
tornar6 na primeira fila desses discípulos estava 0oão
(auler Ufalecido em LOV ue, em muitos aspectos,
prenunciava 0oão da Cru2 e esse etraordin%rio Henriue +uso
Ufalecido em LOOV, cuja vida foi assinalada por incríveis
austeridades e se eprimiu numa poesia ardente e pat&tica,
inspirada pelo Calv%rio#
-odemos encontrar o vocabul%rio ec3artiano 5 despojamento,
abandono, sil!ncio obscuro, etc# 5 no flamengo 0oão
)uGsbroec Ufalecido em LNV: depois de ter eercido,
durante

N

vinte e cinco anos, o minist&rio sacerdotal em ruelas,


conseguiu atrair para Aroenendael in;meros discípulos, para
os uais redigia obras, cujos títulos se revelam sugestivos:
*s 1;pcias Espirituais, ' Espel3o da +alvação Eterna, etc#
Esses tratados eram elaborados em flamengo, como v%rias
obras de Ec3art e de +uso o eram em baio5alemã o# -etrarca
e /ante eprimiram5 se em toscano e o erudito bispo de )uão,
'resmo Ufalecido em LNBV, escrevia em franc!s#  um facto
muito importante , porue, embora o latim ainda permanecesse
por longo tempo como a língua dos eruditos, a literatura
popular 5 e com ela a literatura de devoção 5 começava a
deslatini2ar5se6 era um verdadeiro fenómeno de laici2ação,
ligado ao aparecimento das línguas nacionais e dos
nacionalismos#
Essa laici 2ação vai ser transp osta para o plano político
pela luta ue opor% onif%cio ZIII e <ilipe, o elo#

B# *nagni ou o mundo laico

Aregório ZII e Henriue IZ, *leandre III e <rederico arba5


)uiva, Aregório 4 e <rederico II: estes antagonismos
dominaram a longa luta ue opusera o papado ao Imp&rio pelo
governo do "undo# 1o alvorecer do s&culo 4IZ, )oma encontra5
se confrontada por advers%rios aparentemente menos temíveis,
mas ue, de facto, estão infinitamente mais bem armados do
ue os antigos titulares da coroa imperial# (rata5se dos
c3efes dos jovens Estados ocidentais UInglaterra, *ragão,
<rança, etc#V ue, tendo emergido do mundo feudal, apoiados

na burguesia
jugo das jovens
pontifício, son3am cidades e numdas
libertar5se clero impaciente
sujeições com o
próprias
de uma cristandade unificada e est%tica# 1ão se trata
somente de investiduras laicas, mas de uma laici2ação
substancial dos órgãos políticos e das relações entre o
temporal e o espiritual#
1a primeira fila, a <rança, o mais fortemente organi2ado de
todos os jovens Estados# Em BNJ, c3ega ao seu trono <ilipe
IZ, o elo, político realista, mas tamb&m rei devoto e, no
sentido mais pleno do termo, 8muito cristão8# Intransi gente
na defesa dos seus direitos, ser% um dos artesãos mais
activos de uma

N

poderosa monaruia6 desconfiado em relação aos nobres,


prefere gente mais 3umilde, legistas como -edro <lote,
Auil3erme 1ogaret e Enguerrando de "arignG, meridionais
imbuídos de direito romano, esse direito ue não dava 9
Igreja nen3um lugar no Estado#
Em )oma, o -apa franc!s "artin3o IZ Ufalecido em BNJV,
depois, Honório IZ Ufalecido em BNKV e 1icolau IZ favorecem
os <ranceses6 adivin3a5se em ue atmosfera deliuescente
assume o trono pontifício 5 do ual afastou Celestino Z 5 o
cardeal enedito Caetani, tornado onif%cio ZIII UBM]V#
Este gentil53omem de grande estatura, dominador, ue
acrescentaria uma segunda coroa 9 tiara, não estava
destinado a entender5se com <ilipe, o elo# 0% em BMO,
uando o rei pretendeu fa2er com ue os cl&rigos
contribuíssem para as despesas p;blicas, o -apa 5 em termos
categóricos Ubula Clericis .aicosV 5 fe2 a apologia das
imunidades eclesi%sticas# <ilipe replica, proibindo a
eportação de prata e ouro para a It%lia# /epois veio a
conciliação e onif%cio ZIII canoni2ou .uís I4 UBMKV#
1o jubileu triunfal de L 5 ue, di25se, atraiu cerca de
du2entos mil peregrinos a )oma 5, o -apa acreditou,
erroneamente, ue j% era o sen3or do "undo# 'ra, eis ue
logo um dos protegidos de onif%cio, o bispo de -amiers,
ernardo +aisset, con3ecido pelos seus sentimentos
antifranceses, foi preso por ordem do rei de <rança, ue o
acusava de trair a sua causa# ' -apa lança a bula *usculta
fili UL V, onde estigmati2ava os consel3eiros do rei e
preconi2ava uma grande reunião do clero gaul!s, para julgar
a reale2a francesa# Escamoteada, falsificada e substituída
por documentos injuriosos, a bula espal3ou a indignação pelo
reino da <rança6 sem dificuldades, -edro <lote obt&m de uma
assembleia de deputados das 8tr!s ordens8 um voto de

violentas
e advert!ncias
legisladores a enviar
se batiam ao de
a golpes -apa, enuanto
libelos, paracanonistas
saber se
o -apa era ou não sen3or dos reis# ' ardente onif%cio
respondeu 9 sua maneira e de forma ecessiva: a bula $nam
+anetam ULBV estabelecia a submissão ao pontífice romano
como condição necess%ria para a salvação#
Então, 1ogaret, tido como neto de albigenses, preparou uma
atro2 contra5ofensiva, por conta de <ilipe, o elo# 1uma

NB

cristandade e numa <rança enfrauecidas, não 3ouve mentira


fabricada por ele ue não encontrasse eco: ilegitimidade da
eleição pontifícia, acusações de simonia e perj;rio, etc# E,
uando 1ogaret obt&m de <ilipe, o elo, a prisão do -apa e a
sua compar!ncia diante de um concílio, & aclamado por todo o
povo# * epedição ue condu2iu 1ogaret a *nagni, onde estava
o -apa ULLV, fracassou: onif%cio permaneceu digno e firme
diante daueles ue levantavam a mão contra ele e a cidade
de *nagni levantou5se em seu favor# "as, retornand o a )oma,
onif%cio ZIII apenas sobreviveu um m!s ao drama ue lançara
um indiscutível descr&dito sobre o papado#
' -apa acreditara ue poderia agir 9 maneira de Inoc!ncio
III e Inoc!ncio IZ, mas os tempos tin3am mudado# * estada
dos papas em *vin3ão tornaria ainda mais sensível o
enfrauecimento do papado, ali%s, bastante paradoalmente
essa estada iria manifestar, ao mesmo tempo, o progressivo
abandono dos papas 9 pretensão de governar a cristandade e o
enrai2amento da monaruia pontifícia, administrativa e
centrali2ada#

L# * instalação do papado em *vin3ão

)oma, a turbulenta, nunca fora uma resid!ncia apra2ível para


os papas: de  a L], os papas viveram cento e vinte e
dois anos fora de sua capital#
Com a morte de onif%cio ZIII, a cidade eterna dividiu5se
com a luta ue opun3a os Caetani 5 família do falecido
pontífice 5 aos Colonna# *ssim, ento 4I estabeleceu5se em
-erugia, onde morreu em 0ul3o de L], após de2 meses de
pontificado# Esse santo dominicano Uento 4I seria
beatificado em KLOV foi substituído pelo arcebispo de
ord&us, ertrando de Aot, um gascão s;bdito do rei da
<rança, mas vassalo do rei da Inglaterra, então sen3or da
*uit\nia# Coroado em .ião, na presença de <ilipe, o elo,
desejoso de reunir um concílio geral em Ziena, Clemente Z
dirige5se para o condado Zenaissin, território pontifício

desde BBM#
cidades "as, aoestabelece5se
do condado, inv&s de residir numa das
em *vin3ão, peuenas
entroncamento
de estradas e domínio dos *njou de 1%poles ue,
eventualmente,

NL

poderiam tornar5se protectores: trata5se de uma instalação


provisória 5 Clemente Z aloja5se inicialmente no convento
dos dominicanos ULMV 5, mas a m% sa;de e o car%cter
indeciso do pontífice obrigam5no a uma estada bem longa#
' antigo bispo de *vin3ão, 0acues /use, sucede a Clemente
Z ULOV com o nome de 0oão 44II e, tamb&m ele gascão, nem
seuer pensa em deiar o doce c&u do +ul da <rança# 1as
proimidades das terras de <ilipe IZ, *vin3ão vai entrar na
sombra do reino da <rança e os inimigos do papado não
deiariam de ter ra2ão ao censur%5lo de se deiar domesticar
pelos capetos# Clemente Z não fa2 muito para calar tais
acusações e diante de <ilipe, o elo, a sua fraue2a não
encontra saída: absolve os autores do 8atentado de *nagni8
e, de facto, revoga as bulas de onif%cio ZIII# Em L], num
total de vinte e uatro cardeais, apenas seis são italianos:
a maioria & composta de franceses e antibonifacianos#
* uestão dos (empl%rios manifestou flagrantemente a
sujeição do papado 9 reale2a francesa# * 'rdem "ilitar do
(emplo, bem administrada, 3avia enriuecido
consideravelmente nos dois ;ltimos s&culos6 terminadas as
Cru2adas, prosseguira o seu papel de banueiro universal6
mas os templ%rios tin3am m% reputação: a riue2a nunca foi
uma boa recomendação de uma ordem religiosa6 proliferavam
3istórias infundadas como maus costumes, especulação, etc,
sobre os tesouros mon%sticos# 1ogaret e <ilipe, o elo,
resolveram tirar partido tanto das riue2as como das
cal;nias# "as com ue intençãoW 1esse ponto, a História tem5
se perdido em conjecturas# +eja como for, no dia L de
'utubro de LK, todos os templ%rios do reino foram presos e
os seus bens seuestrados# * gloriosa 'rdem do (emplo
pereceu nessa emboscada, desarmada pelo ardil do rei e dos
seus legistas# Interroga dos e torturados pelos juí2es reais
antes de serem levados 9 Inuisição, numerosos templ%rios
confessaram crimes imagin%rios, arriscan do5se a terem de se
retractar e, em L de "aio de L, cinuenta e uatro deles
foram ueimados como relapsos em Zincennes#
[uando Clemente Z inaugurou o 4Z Concílio 8ecum&nico8, em O
de 'utubro L, em Ziena, sabia ue a uestão dos
(empl%rios representava uma iniuidade, mas as suas
3esitações

N]

foram vencidas por <ilipe, o elo, presente em Ziena: em L


de *bril de LB, Clemente Z pronunciava a supressão do
(emplo, cujo c3efe, (iago "olaG, foi ueimado em M de "arço
de L], depois de ter reafirmado a pure2a da ordem# 1auele
mesmo ano, morriam Clemen te Z, em B de *bril, e <ilipe IZ,
em BM de 1ovembro6 di2ia5se ue "olaG os 3avia denunciado
diante do tribunal de /eus# E foi assim ue, aos ol3os dos
cristãos, o papado perdeu nesta uestão o seu car%cter de
magistratura soberana# Entre os papas de *vin3ão, 0oão 44II
ULO5LL]V foi o mais criticado: esse gascão idoso e fraco
foi um administrador en&rgico e astucioso ue fe2 muitos
inimigos# -ara julg%5lo com euidade, não se devem esuecer
as palavras de /om "ollat: 81o s&culo 4IZ, mesmo para uma
pot!ncia de ordem essencialmente espiritual, não era
possível dominar o "undo a não ser baseando os seus meios de
acção na propriedade territorial e na fortuna imobili%ria#8
's papas sofreriam, assim, a tentação de se esuecer do
espiritual em proveito dessa propriedade e dessa fortuna#

]# ' fortalecimento do poder temporal dos papas

(anto 0oão 44II como Clemente Z consideraram o nepotismo o


prolongamento natural da monarui2ação do papado6 membros da
família /use, amigos uercinenses e franceses invadiram a
c;ria e os cargos da corte6 a epressão 8cardeal5sobrin3o8
iria entrar no vocabul%rio e na lista de títulos# -or outro
lado, 0oão 44II representa um papel essencial no
fortalecimento da centrali2ação pontifícia, tornada
necess%ria pelo crescimento do particularismo nacional e do
poder mon%ruico nos países da Europa# 's processos
multiplicaram5se nas cortes de *vin3ão# <oram estabelecid os
os mecanismos da administração: a C\mara *postólica 5,
conjunto dos sectores encarregados dos assuntos financeiros
da +anta +&6 a C3ancelaria *postólica ue se ocupava da
epedição das cartas pontifícias6 a administração
judici%ria, com o Consistório, os tribunais eclesi%sticos, a
audi!ncia das causas do -al%cio apostólico ou )ota# *
-enitenci%ria *postólica eram enviados o perdão das censuras
eclesi%sticas e as

NJ

concessões de dispensas# Estendendo a 8reserva8 a um n;mero


crescente de benefícios cuja concessão dele dependia, 0oão

44II obedeciafinanceiras#
preocupações a uma vontade de prima2ia, mas tamb&m a certas
1a verdade, a manutenção da sua corte e da sua acção
religiosa e política 5 principalmente a guerra de It%lia 5
reclamavam recursos consider%veis ue os papas de *vin3ão
procuram obter, taando os benefícios eclesi%sticos e
acumulando os impostos Uanatas, d&cimas, censo, direito de
espólio, etcV, recol3idos tanto pela c3ancelaria como pelos
cobradores pontifícios# *ssim, durante de2oito anos, 0oão
44II recol3eu mais de uatro mil3ões, deiando setecentos e
cinuenta mil florins ao seu sucessor# * acção da
fiscalidade, severamente controlada, provocava na
cristandade vivos descontentamentos e murm;rios
escandali2ados6 entre os franciscanos da -rovença, os
8espirituais8, ue anunciavam a era do Espírito +anto,
c3egavam ao ponto de apresentar 0oão 44II como o anticristo,
guardião do orgul3o e da avare2a#
' Concílio de Ziena ULV j% tin3a condenado as teses de um
8espiritual8, -edro 'liva, ue muitos veneravam como santo e
cujas cin2as 0oão 44II mandou espal3ar# ' -apa foi um
decidido advers%rio de todos os misticismos e de todos os
iluminismos: at& condenou o 8panteísmo8 de "estre Ec3art#
-ara se justificar, afirmava ue o próprio Cristo admitira o
direito de propriedade, embora tivesse vivido pobre# "as os
8espirituais8 eram tão persistentes uanto o -apa e, para
lutar contra ele, tiraram proveito das dificuldades
pontifícias na It%lia# Com a morte do imperador Henriue
ZII, em L], 3ouve uma dupla escol3a, mas o -apa pronuncia5
se a favor de <rederico da Tustria contra .uís da aviera
ue ecomunga# Em LBN, .uís c3ega a )oma, cercado de
inimigos de 0oão 44II e, na primeira fila, "arsílio de
-%dua, o teórico do Estado laico, nomeado 8vig%rio de )oma8#
.uís da aviera transforma um franciscano 8espiritual8 em
-apa, com o nome de 1icolau Z, e, perante a f;ria da
multidão romana com o prolongamento do 8cativeiro da
abilónia8, dep`s 0oão 44II como 3erege# "as, em LL, 8a
aventura romana8 cai no fracasso e 1icolau Z submete5se#
Então, os 8espirituais8 tentam contra 0oão 44II um processo
de 3eresia,
NO

pretetando ue o -apa afirmara ue as almas dos justos não


eram admitidas na bem5aventurança antes do juí2o final# *
morte do -apa ULL]V apagaria esse novo foco de discórdia#
/epois deste combatente, um 3umilde cisterciense dos
-iren&us, ento 4II ULL]5L]BV, ue foi um -apa reformador,

avesso 9aotiara#
coroa nepotismo,
<e2 apesar de ter
regressar aos acrescentado
seus lugaresuma
deterceira
origem
numerosos titulares de sedes episcopais ue se flanavam ao
sol uente de *vin3ão e perseguiu os monges giróvagos# "as
um reinado tão curto e o espírito muito jurídico limitaram
os efeitos dessas reformas# -aradoalmente, foi precisamente
este -apa austero ue empreendeu a construção de um pal%cio
papal em *vin3ão#
' arcebispo de )uão 5 um corre2iano tranui lo e grão5sen3or
5 sucedeu a ento 4II com o nome de Clemente ZI UL]B5LJBV,
son3ando dar 9 corte de *vin3ão o fausto da corte de <rança
ue ele freuentou# -or isso, em L]N, Clemente ZI compra
*vin3ão a 0oana de 1%poles e, depois, manda construir um
segundo pal%cio, cuja sumptuosidade ainda pode ser admirada#
Em plena Auerra dos Cem *nos, enuanto a peste negra
avassala a Europa, *vin3ão torna5se um centro de festas
sumptuosas e tamb&m um centro artístic o de tal vulto ue se
c3egou a falar de )enascença# ' luo da corte pontifícia 5
Clemente compraria mil e oitenta peles de armin3o para o seu
guarda5roupa 5 esgota os cofres do -apa# "as & preciso
creditar5l3e os cuidados com ue cerca os atingidos pela
peste em *vin3ão e a protecção ofereci da aos 0udeus, a uem
a multidão, ingenuamente, imputava a epidemia#
Inoc!ncio ZI ULJB5LOBV era um espírito pouco clarividente
e o seu reinado foi marcado, sobretudo, pelas incursõ es das
Arandes Compan3ias, como a de *rnaldo de C&rvola ue obrigou
o -apa a fortificar *vin3ão# $rbano Z, um lo2erense ULOB5
LKV, foi o 8bom -apa8 de *vin3ão e tamb&m um 3omem de
estudos, protector das escolas e universidades# [uerendo dar
aos bispos e abades o eemplo da resid!ncia, decide
restabelecer a sede apostólica em )oma: deia *vin3ão em L
de *bril de LOK, para c3egar a .atrão em O de 'utubro do
mesmo ano# "as como recomeçara a guerra entre a <rança e a
Inglaterra, $rbano pensou intervir como mediador, retornando
a *vin3ão

NK

em LK, onde morreria logo depois# +eu sucessor, o limosino


Aregório 4I ULK5LKNV, era um 3omem muito virtuoso e
consciente da grande2a do seu papel# *pesar das ueias da
gente de *vin3ão e das reclamações de uma c;ria apegada ao
clima suave do condado, o -apa e a sua corte tornaram a
)oma, no início de LKK# Aregório 4I & saudado como o
salvador da Igreja###, mas, um ano mais tarde, a sua morte
iria lançar a cristandade numa 3umil3ação pior do ue o
8cativeiro8 de *vin3ão#

+er% delicado
vale fa2er-ode,
do )ódano# um balanço da longa sublin3ar5se
no entanto, estada do papado no
alguns
aspectos, ue iriam moldar a face da Igreja dos tempos
modernos#
Embora se apresente cada ve2 menos como o dono da
cristandade, o -apa & cada ve2 mais o sen3or da Igreja# '
;nico concílio 8ecum&nico8 reali2ado nesse período, o de
Ziena em L, p`de repetir tudo auilo ue fora dito
anteriormente sobre o car%cter absoluto do poder pontifício6
mas a verdade & ue perdera o sentido de cristandade6 ser%
preciso lembrar ue a tomada de +ão 0oão de *cre, ;ltimo
bastião cristã o na -alestina, em BM, pelos (urcos, não
teve nen3u ma repercussão no 'cidenteW -or outro lado, os
papas de *vin3ão são soberanos sedent%rios, cuja
responsabilidade praticamente j% não & limitada por decisões
colegiais6 alguns deles são mecenas e a sua acção prefigura
auilo ue seria a )oma pontifícia do s&culo 4Z# -ortanto,
porue não l3es imputariam o relaamento geral, se era
justamente a sua vo2 ue dominava todas as outras na IgrejaW
* influ!ncia espiritual dos papas de *vin3ão foi limitada# '
vulgum pecus dos cristãos revelou5se mais sensível a uma
certa oposição anarui2ante 5 a dos 8espirituais8 e a de um
>Gclef, etc# 5 do ue ao belo edifício mon%ruico de
*vin3ão# -reparando as sessões do Concílio de Ziena, o bispo
/urando de "ende 3avia elaborado um (ratado do Concílio
Aeral6 nele, indicavam5se claramente projectos de reforma:
fortalecimento da autoridade dos bispos, limitação da
pr%tica administrativa pontifícia, restauração da
constituição sinodal da Igreja e mel3oria da formação do
clero# "as o Concílio de Ziena fe2 sil!ncio sobre o assunto#
$m 3istoriador c3egou a di2er ue esse concílio estava 8na
fronteira entre dois mundos86 e, com o grande cisma,
penetramos num novo mundo: o nosso#

NN

J# ' grande cisma do 'cidente

' sucessor de Aregório 4I, o napolitano -rignano, ue se


tornou $rbano ZI depois de uma movimentada eleição UN de
*bril de LKNV, era um 3omem virtuoso, mas violento ue,
desde o início, publicamente e em diversas ocasiões, critica
os cardeais, culpados, em sua opinião, de viverem como
príncipes faustosos# Entre eles, o cardeal de *miens, 3omem
de confiança do rei de <rança, Carlos Z: em torno dele,
organi2a5se um 8partido franc!s8 ue, argumentando com a
invalidade 5 discutível 5 da eleição de $rbano ZI, elegeu em

<ondi, sob
Aenebra, um oantigo
nome de Clemente
c3efe ZII, o cardeal
de camin3eiros, )oberto
devotado de e
de corpo
alma 9 causa francesa UB de +etembroV#
1ão era a primeira ve2 ue a cristandade se encontrava na
presença de dois papas6 mas não se estava na &poca de um
Aregório ZII ou de um *leandre II ue podiam, só com o seu
prestígio, colocar os seus competidores nos seus devidos
lugares# Em LKN, a autoridade do papado estava
enfrauecida6 os nacionalismos, a política e os interesses
pessoais endureciam as posições e opun3am não somente dois
papas, mas dois campos inteiros# /o lado de $rbano: o
imperador, a Inglaterra, a It%lia 9 ecepção de 1%poles,
<landres e -ortugal6 do lado de Clemente: a <rança e seus
aliados, a +abóia, a Escócia e, mais tarde, Castela, *ragão
e 1avarra#
* situação c3egou a tal ponto ue muitos não viram outra
solução senão o recurso 9s armas# *s operações
desenvolveram5se em detrimento de Clemente ZII ue, batido
em "arino ULKMV, recuou feli2 para *vin3ão, onde se
encontraria entre franceses, como nos belos dias de 0oão
44II# *vin3ão, com efeito, passou a viver novamente numa
atmosfera de fausto, como um -apa mecenas e guerreiro, ue
multiplicava os favores espirituais e temporais para uem se
comprometesse a reconuistar5l3e a It%lia6 de facto,
Clemente ZII não passava de um aruicapelão do rei da
<rança#
' pior & ue $rbano ZI, para gan3ar ou manter partid%rios,
tamb&m multiplicava graças e benefícios e, uando morreu em
J de 'utubro de LNM, os cardeais deram5l3e logo um
sucessor#

NM

o jovem onif%cio I4, ue, encontrando os cofres va2ios,


organi2ou um jubileu ULMV e decretou ue as anatas seriam,
dali em diante, eigidas de todos os benefícios, sem
ecepção#
* Igreja gemia# -or todo lado, orações, prociss ões, ueias
e op;sculos testemun3avam a participação dos cristãos nesse
mal terrível ue era o cisma# Em 0aneiro de LM], a
$niversidade de -aris, abandonada pelos partid%rios do -apa
de )oma 5 Ingleses, *lemães e <lamengos 5, mas cuja
autoridade ainda era grande, preconi2a o camin3o da cessão
Ude demissãoV para a solução do cisma# * morte s;bita do
-apa de *vin3ão, em O de +etembro, parece oferecer uma
saída f%cil para a situação6 mas, apesar do aviso premente
de Carlos ZI, os cardeais de *vin3ão designaram o aragon!s

-edro de
LM]V# /e .una ue se
seguida, foitorna ento a4III
convidado UBN de pelo
demitir5se +etembro
rei de
<rança e pela $niversidade6 com a sua recusa, um sínodo
parisiense e uma ordenação real ULMNV uebraram os laços de
obedi!ncia ue uniam os s;bditos da <rança a ento 4III# *
longa obstinação do -apa de *vin3ão 5 feita de orgul3o
aragon!s, de subtile2a de canonista e de uma elevada ideia
das prerrogativas papais 5 foi a causa essencial do
prolongamento do cisma# Entrinc3eirado em *vin3ão, ento
resiste durante uatro anos antes de fugir, derrotado, em B
de "arço de ]L6 durante vinte anos, errante perp&tuo,
permanecer% infleível6 ali%s, antes de terminar o ano de
]L, a <rança regressava 9 sua obedi!ncia# -or momentos,
ento 4III procura aproimar5se de seu advers%rio, mas a
entrevista entre os seus enviados e onif%cio I4 foi tão
tempestuosa ue o -apa romano, j% gravemente enfermo, acabou
por morrer U]]V#
' patriarca de *uileia suplica aos cardeais romanos ue
renunciem 9 substituição de onif%cio I4, mas não foi ouvido
e Cosma "igliorati, um septuagen%rio sem energia, torna5se
Inoc!ncio ZII6 ento 4III lança um an%tema sobre o novo
rival# 1o entanto, Inoc!ncio 3avia manifestado o desejo de
reunir um concílio para p`r fim ao cisma# Em O de 1ovembro
de ]O, foi levado pela apopleia # -ela terceira ve2 desde
LKN, os cardeais romanos se reuniram, não sem prometer ue
forçariam o seu eleito 9 demissão, logo ue ento 4III
abdicasse ou morresse# <oi eleito um vene2iano ue tomou o
nome de Aregório 4II#

M

' vento soprava a favor da reconciliação6 c3egou5se,


inclusive, a acertar um ponto de encontro: +avona# 1a
realidade, o ue se montou foi uma sinistra com&dia: cada um
dos advers%rios deteve5se a uma jornada de marc3a do outro,
depois voltaram sem nada conseguir U]KV#
$ltrajados, oito cardeais romanos fugiram para -isa6 a ele
se juntaram sete cardeais de *vin3ão e l% organi2aram um
concílio, ue se inaugurou em BJ de "arço de ]M, na
presença de uma numerosa assist!ncia# Em J de 0un3o, por
influ!ncia determinante da $niversidade de -aris, os dois
papas estavam depostos, para grande alegria da população
local6 no dia BO, o cardeal -edro <il%rgio era eleito sob o
nome de *leandre Z, mas morreu passados de2 meses de
reinado, sendo substituído por 0oão 44III UK de "aio de
]V# * confusão c3egou ao ponto culminante, pois os dois
papas depostos recusaram5se categoricamente a abdicar#

Instalado
Estados em arcelona,
ib&ricos ento 4III
e pela Escócia 5 ainda no
5 refugia5se apoiado pelos
roc3edo de
-eniscola, uma esp&cie de monte +aint5"ic3el espan3ol, onde,
abandonado, resistiu at& 9 sua morte, em ]BL, uase
centen%rio# Aregório 4II, tamb&m abandonado 5 os seus
conterr\neos vene2ianos renegaram5no miseravelmente 5, só
encontrou ref;gio em )imini, a peuena capital dos
"alatesta#
Enuanto isso, 0oão 44III, o -apa pisano, tentava fa2er
esuecer um passado bastante escandaloso, mostrando
veleidades de estabili2ar novamente a barca de -edro6 mas um
concílio, reali2ado em )oma em ]L, não deu nada# Epulso
de )oma pelas tropas do rei de 1%poles, .adislau, vai para
olon3a, onde sabe ue o rei dos )omanos, +egismundo do
.uemburgo, na ualidade de 8advogado e defensor da +anta
Igreja8 e por um edictum universale , tomara a iniciativa de
convocar um concílio geral, ue se reali2aria em território
alemão, em Constança, no ano da graça de ]]#

O# Concílio ou -apaW

$m concílio fora de s&rie, esse Concílio 8ecum&nico8 de


Constança Ude O de 1ovembro de ]] a BB de *bril de ]NV#

M

Convocado por um príncipe leigo, tin3a por objectivo impor


ao papado o fim de um cisma escandaloso# 's papas, ali%s,
evitaram5no: do seu roc3edo espan3ol, ento 4III ameaça de
ecomun3ão os prelados de sua obedi!ncia ue fossem a
Constança6 Aregório 4II acabou por enviar apenas dois
observadores6 uanto a 0oão 44III, foi com a maior
desconfiança ue c3egou a Constança, onde lentamente se
aglomeravam cem mil pessoas, das uais uin3entos bispos e
dois mil representantes das universidades#
Inaugurado em O de 1ovembro de ]] por 0oão 44III, o
concílio arrasta5se por muito tempo, sem abordar nen3um
problema fundamental, preocupando5se, sobretudo, em saber
ue modalidade de votação adoptaria, se por ordem se por
cabeça# <inalmente, para contrabalançar a acção dos
italianos, os ingleses, os alemães e os franceses 5
advers%rios de 0oão 44III 5 conseguiram o voto por nação,
cabendo o uinto voto ao col&gio de cardeais# Entrementes,
0oão 44III, desiludido por não se ver confirmado no cargo,
começava a preparar o fracasso e a dissolução do concílio:
em B de "arço de ]J, fugia para +c3aff53ouse e daí para
<riburgo, em compan3ia de oito cardeais, o ue provocou em

Constança
acaba 5 sangue5frio
com o c3eia de mercadores forastei ros 5 um p\nico ue
de +egismundo#
' concílio continua sem o -apa6 & um facto grave, mas tamb&m
& grave o tom da declaração feita diante da assembleia, em
BL de "arço, por 0oão Aerson, c3anceler da $niversidade de
-aris: 8* Igreja ou o concílio geral ue a representa & a
regra ue Cristo, segundo a directri2 do Espírito +anto, nos
deiou, de sorte ue ualuer 3omem, não importa uem seja,
de ualuer condição ue seja, mesmo papal, & obrigado a
ouvi5la e a obedecer5l3e#8 ' concílio seguiu Aerson e, pelo
decreto +acro5sanctae de O de *bril, decidiu ue o concílio
ecum&nico reunido em Constança era a representação da Igreja
inteira e recebia o seu poder directamente de Cristo6 o
próprio -apa devia5l3e obedi!ncia em mat&ria de f&, de
unidade da Igreja e de 8reforma da cabeça e dos membros8#
Em K de "aio, 0oão 44III foi preso em <riburgo e, em BM
desse m!s, o concílio aprovava a sua deposição como
8indigno, in;til e prejudicial86 antes de retomar o seu
lugar no +acro

MB

Col&gio, o e5papa permaneceu tr!s anos na prisão# Em 0ul3o


de ]J, Aregório 4II demitia5se 3umildemente# -ara obter a
abdicação do tena2 ento 4III, +egismundo fe2 inutilmente
uma viagem a -erpin3ão6 só em ]K & ue o concílio
aprovaria a deposição de ento, abandonado pela maior parte
dos seus seguidores 6 mas, nem por isso, acata a decisão# Em
Constança, onde se easperavam os sentimentos nacionais 5
irlandeses contra ingleses, castel3anos contra aragoneses,
arman3aues contra borgon3eses 5, discutia5se para saber se
a reforma da Igreja devia ser tratada antes da eleição de um
-apa ou, se, pelo contr%rio, seria preciso acabar com o
cisma antes de promover a reforma# ' bispo de Zorc3ester
prop`s uma solução de compromisso: a eleição seria reali2ada
imediatamente, mas, entretanto, os decretos de reforma j%
prontos seriam publicados e o futuro -apa, por decreto do
concílio, seria obrigado a eecut%5los#
Com efeito, em M de 'utubro de ]K, o decreto <reuens
fa2ia dos concílios gerais uma instituição regular da Igreja
e uma esp&cie de inst\ncia de controlo do papado: decreto
revolucion%rio ue, se fosse efectivamente aplicado, iria
provocar uma reviravolta na organi2ação e na vida da Igreja
romana# "as o cardeal 'tão Colonna ue, em  de 1ovembro de
]K, depois de trinta e nove anos de cisma e com alegria
universal, se torna o papa "artin3o Z, por muito moderado
ue fosse, não pretendia sacrificar dessa maneira o poder

papal#
as 1isso, do
8nações8 foiconcílio
ajudado pelos
uantodesentendimentos
9s reformas a ue opun3am
aplicar 9
Igreja devastada pelas eig!ncias dos cobradores
pontifícios, o c;mulo de benefícios, a riue2a dos cardeais,
a concessão das d&cimas, o absentismo dos bispos, a
ignor\ncia dos cl&rigos e tamb&m pelos movimentos 3er&ticos,
como os de >Gclef e de 0oão Huss#
*ssim sendo, a ideia de reforma, ue rondava os espíritos
por toda parte, não se corpori2ou# 1ingu&m se iludiu com o
alcance da declaração pontifícia publicada ao mesmo tempo
ue os decretos c3amados de 8reforma geral8, editados alguns
dias antes do encerramento do concílio ue ocorreu em BB de
*bril de ]N# Zoltando triunfalmente a )oma, em BM de
+etembro de ]B, "artin3o Z condena o c3amamento do -apa ao
concílio6 no entanto, uerendo permanecer fiel 9 letra do
decreto <reuens,

ML

o -apa convoca um Concílio para -avia6 aberto em BL de *bril


de ]BL, logo em 0ul3o a reunião foi transferida para +ena#
's poucos padres ue compareceram ao Concílio de -avia
ueriam p`r o dedo na ferida, mas tiveram de se separar em
N de <evereiro de ]B], sem nada se conseguir6 mesmo assim,
fiaram para ]L o próimo concílio, ue deveria reunir5se
em asileia# * autoridade papal, de facto, 3avia triunfado#
Infeli2mente para o papado, "artin3o Z morreu em B de
<evereiro de ]L# ' seu sucessor, Eug!nio IZ, muito pouco
decidido, ficou demasiado dependente do +acro Col&gio para
ue pudesse dominar o conflito ue eplodiu no concílio de
asileia entre o 8conciliarismo8 e a doutrina do primado do
-apa#

K# asileia e <lorença

' Concílio de asileia começou em BL de 0ul3o de ]L, mas


na presença de tão redu2ido n;mero de padres, em N de
/e2embro, o papa ordenou a sua dissolução# *contec imento de
etrema gravidade: não & obedecido e, pior ainda, o
concílio, cujo n;mero de participantes aumentava, renova o
decreto de Constança +acrosanctae e convida Eug!ni o IZ a
justificar5se# ' -apa 3esita, mas de tal maneira ue, pouco
a pouco, a maior parte da cristandade coloca5se ao lado do
concílio ue, em meados de ]LB, contava com a participação
de sete reis, tendo5se transformado literalmente numa
8assembleia soberana8, ainda ue as suas decisões, de facto,
dependessem do consentimento dos príncipes# * luta opondo o

-apa e o de
Concílio concílio agrava5se
asileia, a tal ponto
j% se falava ue, em
da próima ]LL, no
deposição de
Eug!nio IZ# "as, em 0un3o de ]L], o -apa teve de fugir de
)oma, ue & proclamada )ep;blica, e refugia5se em <lorença,
acabando, em J de /e2embro, por anular o decreto de
dissolução: os 8conciliaristas8 3aviam triunfado#
C3egavam a asileia os projectos de reforma eclesi%stica 5
reunião regula r de sínodos, supressão dos apelos a )oma,
etc# 5, solicitando o 2elo dos padres conciliares, mas eram
tão 3eteróclitos e as soluções propostas tão disparatadas
ue o concílio limitou5se a marcar passo# Contudo,
relativamente 9 8reforma

M]

do -apa8, 3avia um entendimento uase perfeito, tendo5se


decretado Unum momento em ue Eug!nio IZ e a c;ria careciam
de Udin3eiroV a supressão do pagamento das anatas e de
outras taas pontifícias, a prestação de contas dos
cobradores pontifícios ao concílio, a obrigação de o -apa
jurar ue observaria os decretos de Constança e de asileia,
em vigor ao tempo da sua eleição, a proibição de ualuer
nomeação directa feita pelo -apa### * ruptura era inevit%vel
e ocorreu a propósito do lugar onde se reali2aria um
concílio de união com os Aregos#
' caso era ue, redu2ido pelos (urcos a Constantinopla e 9
"oreia, o Imp&rio de i2\ncio parecia a ponto de submergir,
a menos ue o 'cidente fosse em seu socorro# Eug!nio IZ
tentou aproveitar5se da situação desesperada para reali2ar a
união das Igrejas# 's participantes do concílio propuseram
como lugar de encontro asileia ou *vin3ão, mas Eug!nio IZ
indicou <lorença ou $dine# /uas embaiadas advers%rias
deslocaram5se a Constantinopla, onde o partido do -apa vence
o confronto, fa2endo com ue <errara fosse aceite como sede
de uma confer!ncia de união# Em N de +etembro ]LK, Eug!nio
IZ com toda a sua autoridade transferiu o Concílio de
asileia para <errara, mas apenas uma minoria, condu2ida por
1icolau de Cusa, se dirigiu para <errara6 a maioria
permaneceu em asileia, suspendeu Eug!nio IZ e intimou5o a
comparecer em B] de 0aneiro de ]LN# 1o entanto, em N de
<evereiro, setecentos gregos 5 entre os uais o imperador
0oão ZIII -aleólogo, o patriarca 0os& de Constantinopla e
mais tr!s representantes de outros patriarcas 5
desembarcaram em Zene2a, rumaram a <errara e, depois, a
<lorença, para onde o -apa transferira o concílio, em
0aneiro de ]LM, por uestões de alojamento# Aregos e
latinos puseram5se de acordo sobre a uestão do <ilioue,

admitindo
*pós ue o Espírito
prolongadas +anto
discussões, a procede
uestão do -ai e do do
primado <il3o#
-apa
foi regulada de acordo com a seguinte fórmula muito
significativa: 8* sede apostólica e o -apa possuem o primado
sobre toda a (erra# Enuanto sucessor de -edro e
representante de Cristo, o -apa & o c3efe da Igreja
universal, o -ai e o /outor de todos os fi&is, com poder de
governar toda a Igreja, em conformidade com os actos e
c\nones dos antigos concílios#8 Considerada como eplicativa
pelos latinos,

MJ

a ;ltima lin3a era restritiva aos ol3os dos gregos, mas a


bula de união .aetentur Coeli foi proclamada em O de 0ul3o
de ]LM#
1a realidade, no plano da união das Igrejas, o Concílio de
<lorença não teve !ito: o clero e o povo gregos tin3am
menos repulsa pelos 'smanlis do ue pelos .atinos6 o
concílio aparecia5l3es como 8o triunfo da opressão papal8,
j% ue o -apa se aproveitara da situação do -aleólogo#
-ortanto, dever% di2er5se ue 8<lorença era eactamente
auilo ue não se deveria fa2er em mat&ria de ecumenismo8#
Em contrapartida, <lorença pareceu aos ocidentais uma
vitória do primado papal sobre um Concílio de asileia ue,
em BJ de 0un3o de ]LM, se dava ao ridículo de depor Eug!nio
IZ e, em J de 1ovembro, após uma paródia de conclave 5
apenas um ;nico cardeal permanecer% em asileia 5, eleger o
duue de +abóia, um leigo, pai de nove fil3os, ue,
tornando5se <&li Z, logo se revela um bo&mio bastante
%vido# Em breve, não se entendendo com os participantes do
Concílio de asileia, <&li Z vai para .ausana em ]]B#
Cansado, o 'cidente vai, pouco a pouco, aderindo a Eug!nio
IZ e a seguir, após sua morte U]]KV, a 1icolau Z# Epulsos
de asileia em 0ul3o de ]]N, os dirigentes da reunião de
asileia refugiam5se junto de <&li Z ue, finalmente,
abdica em K de *bril de ]]M#
' papado romano salvara a sua autoridade e a unidade da
Igreja# "as, uando se iniciou o ano jubilar de ]J,
enuanto multidões de peregrinos c3egavam a )oma para
aclamar 1icolau Z 5 o primeiro -apa da )enascença 5, nada
dauilo ue preocupava os cristãos Ua reforma, em primeiro
lugarV 3avia sido solucionado ou, ao menos, francamente
abordado# E as Igrejas nacionais, cada ve2 com maior
freu!ncia, 3abituavam5se a voltar5se para seus príncipes#

N# ' tempo das Igrejas nacionais

8"ais do ue uma assembleia da Igreja, o Concílio de


Constança parecia um congresso das nações8 U-# 'urliacV#
*l&m disso, sabe5se ue as decisões do Concílio de asileia
dependeram do consentimento dos príncipes# ' desmembramento
da cristandade

MO

era correspondido pela ealtação de monaruias seculares


ue, notadamente na <rança, garantiam a vida religiosa dos
s;bditos, tanto leigos como cl&rigos# *ssim, não conseguindo
conciliar os interesses de cada nação, "artin3o Z 3avia
decidido 5 antes de encerrar o Concílio de Constança 5
assinar uma concordata particular com cada uma das cinco
nações ue compun3am a assembleia: a alemã, a inglesa, a
francesa, a italiana e a espan3ola#
* ula de 'uro de LJO fi2era do imperador um soberano
alemão: de futuro, a sua designação iria ser feita sem
coroação romana nem ratificação pontifícia# "uito em breve,
as instituições imperiais debilitadas iriam ser substituídas
pelas austríacas# * concordata de ]N, mesmo fa2endo recuar
a influ!ncia da c;ria sobre o imp&rio, não atingia os abusos
mais profundos e seria numa *leman3a bastante feudal e muito
medieval, onde o patronato se eercia em todos os níveis,
ue nasceria, em ]NL, "artin3o .utero#
"ais do ue ualuer outra, a Igreja inglesa não aceitava o
jugo de )oma# 1os territórios ue ocupavam em <rança, os
Ingleses tin3am a reputação de ser 3ereges# * concordata de
Constança reforçou de tal maneira a autoridade do rei sobre
o clero ue o consentimento do -apa nas nomeações
eclesi%sticas j% não passava de uma formalidade, ali%s,
freuentemente negligenciada# * Igreja inglesa 5 anglicana
j% era uma Igreja real6 se o rei rompesse com )oma, toda a
nação o seguiria no cisma#  bem verdade, ue a opinião
p;blica inglesa ficara marcada, profundamente, pelo
pensamento de 0oão >Gclef ULB5LN]V, um professor de
'ford ue, na &poca do grande cisma, não só negara a
suserania pontifícia como tamb&m condenara as indulg!ncias e
preconi2ara a seculari2ação dos bens do clero# -or outro
lado, >Gclef sustentava ue as Escrituras eram bastante
claras, podendo ser compreendidas sem os coment%rios da
Igreja# 's "iar%s, os poorpriesters ue pregavam uma vida
cristã baseada unicamente na autoridade da Escritura e os
camponeses ue, sob a direcção de >at (Gler, se revoltaram
em LN, eram admiradores ou, mesmo, discípulos de >Gclef,
cujo pensamento alimentava o anticlericalismo e o

antipapismo
um dasenão
ancestral, plebe6 não seria do
o precursor nen3um eagero ver em >Gclef
anglicanismo#

MK

1a o&mia, o ódio ue os C3ecos sentiam em relação aos


alemães ue se infiltravam nas suas cidades estendia5se 9
Igreja romana, considerada como sua c;mplice# Esse país,
mais do ue nen3um outro na Europa Central, era agitado
pelas teorias joauímita s, valdenses e Piclefianas sobre as
Escrituras, ;nico fundamento da f&, sobre Cristo como o
;nico mediador entre /eus e os 3omens, sobre o car%cter
infame das cerimónias romanas e do luo dos dignit%rios
romanos# E eis ue, em ]B, o reitor da jovem $niversidade
de -raga 5 fundada em L]N 5, 0oão Huss, tomava a palavra na
capela praguense de el&m e clamava tamb&m contra os abusos
eclesi%sticos# 0oão Huss tin3a, então, LL anos: marcado pelo
ocamísmo, 3avia estudado os tratados de >Gclef ue o seu
amigo 0erónimo de -raga levara de 'ford# Husss não possuía
uma doutrina srcinal, mas a sua pregação, essencialmente
evang&lica e de tom revolucion%rio, tocava profundamente a
gente 3umilde, porue preconi2ava um retorno 9 Igreja
primitiva# Ecomungado duas ve2es, foi protegido pelo povo
de -raga ue não deiou ue o decreto de condenação fosse
proclamado publicamente6 ele c3egou a apelar para 0esus
Cristo como ;nico c3efe da Igreja# Em ]], 0oão foi
intimado pelo Concílio de Constança, onde se apresentou
munido de um salvo5conduto do imperador +egismundo ue,
entretanto, o abandonou nas mãos do concílio6 os padres
conciliares prefeririam uma abjuração infamante a uma
condenação 9 morte ue poderia ser considerada um martírio6
mas Huss recusou retractar5se, sendo, por isso, condenado 9
fogueira UO de 0ul3o de ]JV# Em L de "aio de ]K,
0erónimo de -raga, momentane amente enfraueci do, sofreria a
mesma pena#
Enuanto a o&mia se unia toda contra a Igreja romana e
contra os *lemães, os 3ussitas dividiram5se em duas
tend!ncias# 's moderados ou calistinos Ude c%li ou c%liceV,
ue se atin3am, sem dogmati2ar, ao esuema de 0oão Huss 5
livre pregação da palavra de /eus, comun3ão sob as duas
esp&cies Uutrauismo, da palavra latina utraue, uma e
outra, as duasV, abolição do poder temporal e da riue2a da
Igreja, castigo de todo pecado mortal# 's taboritas Udo
monte (aborV, pelo contr%rio, muito próimos dos valdenses,
rejeitavam toda a tradição6 dos sacramentos, só consideravam
o baptismo e a eucaristia6 e

MN
condenavam todo o luo no culto, constatando5se ue a
Hungria, a Cro%cia e o +ul da *leman3a se mostraram
sensíveis 9s suas doutrinas democr%ticas e socialistas#
$nidos contra )oma e contra o imp&rio com prestigiosas
vitórias, calistinos e taboritas dividiram5se depois# Em
]LL, assinaram com os padres do Concílio de asileia as
compactata ue só l3es permitiam a comun3ão sob as duas
esp&cies# <oi preciso esperar ue os taboritas fossem
esmagados em .ipanG U]L]V, para ue a pa2 se restabelecesse
na o&mia# Cansados de tantas lutas, os C3ecos recon3eceram
+egismundo6 mas a reforma luterana iria, muito naturalmente,
substituir o movimento 3ussita na o&mia, ao passo ue os
taboritas mais violentos se passaram para os 8Irmãos
"or%vios8#
Em -isa e Constança, dois representantes prestigiados da
Igreja francesa, 0oão Aerson e -edro dD*illG, foram
elouentes defensores da teoria conciliar, associando o seu
triunfo 9 defesa das liberdades galicana s# ' galicanismo j%
era antigo, mas a luta entre <ilipe IZ e onif%cio ZIII
tin3a5o fortalecido6 a $niversidade de -aris e o -arlamento
nascente 3aviam5se feito seus defensores# [uando a <rança
saiu da Auerra dos Cem *nos, o seu património eclesi%stico
estava arruinado6 o regime de benefícios, provocando
rivalidades por toda a parte, iria levar o rei a intervir
freuentemente na vida da Igreja francesa# 's cobradores
pontifícios encontravam um país arrasado e, contra eles, os
oficiais de um soberano, cujas necessidades financeiras
cresciam com os seus poderes# Carlos ZII, o rei da
renovação, era 3omem piedoso e, como 8rei cristianíssimo8,
tin3a consci!ncia das suas responsabilidades em relação 9
sua Igreja# * concordata assinada em Constança em ]N e a
de ]BJ não resolveram nada de essencial6 continuaram
numerosos os apelos 9 corte de )oma#
Em ]LN, Carlos ZII consultou o seu clero em ourges: a K de
0ul3o, proclamava5se uma ordenação em vinte e tr!s artigos
ue, 3omologada pelo rei, se transformou na -ragm%tica
+anção de ourges# /enunciando a inc;ria pontifícia, esse
acto regulava unilateralmente a disciplina geral da Igreja
da <rança e as suas relações com a +anta +&, afirmava a
superioridade dos bispos reunidos em concílio sobre o -apa,
restabelecia a eleição dos bispos e abades pelos capítulos,
retirava 9 +anta +& os seus direitos em mat&ria de
recebimento dos benefícios eclesi%sticos,

MM

contestava o princípio dos julgam entos com apelo a )oma,


enuanto não se esgotassem as jurisdições interm&dias e
limitava a pr%tica das ecomun3ões# "au grado a sua
eploração por uma reale2a francesa de tend!ncias cada ve2
mais absolutistas, apesar da concordata de JO 5 em ue o
-apa e o rei dividiram entre si as nomeações 5, a -ragm%tica
+anção continuaria a ser, de facto, at& KNM, a carta da
Igreja galicana#
* It%lia Uum mosaico de reinos, cidades e principadosV e a
Espan3a, dividida em uatro reinos rivais, podiam parecer
fi&is 9 8ideia papal8, se comparadas com a nação alemã Uuma
comunidade culturalV e com os dois Estados modernos Ua
<rança e a InglaterraV# * pr%tica dos benefícios não
encontrava muitos obst%culos na It%lia# 0% a Igreja
espan3ola distinguia5se pela sua fidelidade 9 unidade cristã
e pelo car%cter apaionado da sua vida religiosa# "as
embora, antes dos reis católicos, cristãos e mouros vivessem
em bom entendimento, depois, o anti5semitismo iria revestir5
se de fanatismo# Em Espan3a, os reinos concluíram acordos
com o papado, salvaguardando os direitos dos soberanos
pontífices#
Em meados do s&culo 4IZ, longamente 3umil3ada, a cristandade
estava em gestação#

B

Capítulo II
* C)I+(*1/*/E E" *C'

# * 8devoção moderna8

[uando o papado se reinstala em )oma, iniciando uma


transformação ue far% dela uma capital das artes em ve2 de
foco de renovação religiosa, a Igreja parece estar salva: a
monaruia pontifícia ocupa novamente o seu lugar próprio e
os seus mecanismos funcionam bem# "as este magnífico
monumento não pode fa2er esuecer o profundo abalo provocado
na cristandade ocidental pelas forças, ideias e aspirações,
a ue se adapta perfeitamente o epíteto de 8modernas8#
' s&culo 4IZ e, mais ainda, o s&culo 4Z voltar5se5iam para
um futuro, do ual o 3omem da )enascença, triunfante,
pensar% tornar5se sen3or, mas ue a consci!ncia da
cristandade, obscuramente, sentia c3eia de ameaças# -orue a
unidade cristã est% uebrada, ' ideal de +# .uís &
substituído pelos de "auiavel, dos "&dicis e de .uís 4I6
aos pastores seguidos por seus reban3os sucedem5se monarcas

de trípliceluminoso
monumento coroa, preocupados
de (om%s decom*uino
uma 3%bil diplomacia6
& submergido o
pela
sombra do nominalismo# 's 3omens j% não recebem orientações
comuns e cada um volta5se para si mesmo#
(rata5se de um processo, por ve2es, moroso e com a presença
do terror, porue os 3omens dessa &poca t!m medo: a

B

guerra end&mica, as epidemias, a atro2 peste negra de L]N,


a mis&ria, os assaltos, as pil3agens e a revolta dos pobres
colocam5nos em contacto permanente com a morte# *s efígies
suaves do s&culo 4III sucedem5se, nos t;mulos, anatomias
arruinadas pela doença e pela vel3ice, marcadas pela vida#
*s 8danças macabras8 povoam os frescos, as miniaturas e os
poemas, misturando no mesmo despre2o papas, reis, mul3eres
bonitas, cl&rigos e monges# "uito naturalmen te, os cristãos
voltam5se para o Cristo supliciado, para o Cristo da piet9
UV e para a Zirgem das /ores, a Zirgem do Calv%rio e do
+epulcro# 's 8mist&rios8 tornam5se 8paiões8 e os
peregrinos, 8flagelantes8# *s devoções tornam5se mais
3umanas, mais uentes: *ve5"aria, Zia5+acra, festa do
-recioso +angue, culto mais vivo da Eucaristia# * pessoa de
0esus & o centro da devoção#
Claro ue esta pat&tica devoção & acompan3ada por abusos e
desvios, sobretudo entre a gente 3umilde# *s peregrinações
transformam5se, com freu!ncia, em actos supersticio sos6 as
pessoas procuram, sofregamente, as relíuias, verdadeiras ou
falsas, e acumulam as indulg!ncias tendo em vista a
eternidade# * demonologia e a aluimia perturbam os
espíritos e t!m numerosos seguidores6 nunca se consegue
distinguir o santo do feiticeiro: basta lembrar 0oana dD*rc
acusada de feitiçaria e .uís 4I, moribundo, a c3amar para
junto de si <rancisco de -aula como se fosse um curandeiro#
"as a superstição não & mais do ue um parasita
indestrutível da verdadeira devoção# 's dois s&culos ue
precederam a reforma protestante viram engrossar uma
etraordin%ria corrente de misticismo# 1a sua srcem esteve
auilo a ue os 3istoriadores c3ama m 8a devoção moder na8
Udevotio modernaV, uma nova orientação da vida espiritual
caracteri2ada pela perda de prestígio das teorias s%bias e
por um m&todo de oração simples, racional, acessível a
todos, visando a perfeição cristã e a união com /eus num
abandono ou entrega ue, ali%s, não & uietismo, mas ascese#
<oi nos países do 1orte, mais propícios a este processo, ue
a escola mística se desenvolveu6 j% o vimos a propósito de
)uGsbroe e dos dominicanos renanos#

1ota : /a piedade# X1# do (#Y

BB

1os -aíses aios, um discípulo de )uGsbroe, Aerardo Aroot,


de /eventer Ufalecido em LN]V, foi o verdadeiro fundador
desta devotío moderna ue encontra entre os cónegos
regulares de >indes3eim e entre os irmãos da vida comum 5
fundados por Aroot 5 um terreno particularmente f&rtil#
* maior parte dos escritos místicos do s&culo 4Z são
colect\neas de sentenças sem ligação aparente, alimento
f%cil para a meditação# * obra ue teve a mais
etraordin%ria repercussão Udela con3ecemos oitocentos
manuscritosV foi incontestavelmente a Imitação de 0esus
Cristo, composta por um irmão da vida comum, (om%s de empis
Ufalecido em ]KV: o seu conte;do alimentou a vida
espiritual de numerosíssimos cristãos# /os -aíses aios, a
devotio moderna alcançou a <rança, atrav&s de +tandonc,
reitor do col&gio de "ontaigu: em ]MM, num espírito
evang&lico, fundou a +ociedade dos -obres, ue se pode
considerar o primeiro semin%rio da <rança, embor a não se
pretenda afirmar ue ten3a sido +tandonc uem inaugurou a
grande reforma do clero secular#
-or seu turno, o corpo mon%stico estava arruinado pelo
cancro da comenda e das prebendas6 no entanto, em certos
lugares, as comunidades reagiam espontaneamente# ' vel3o
tronco beneditino apresentava sempre alguns rebentos verdes:
os oli5vetanos, nascidos perto de +iena UIt%liaV no s&culo
4IZ, ue rapidamente c3egarão a ter uma centena de
fervorosos mostei ros6 a reforma de +ta# 0ustina de -%dua
U]MV, a de "el na Tustria U]NV e a de ursfeld em
Han`ver U]LV, encorajadas pelo Concílio de asileia# "as
não c3ega 9 vener%vel congregação de ClunG ue não conseguia
despertar da rotina#
Entre os mendicantes, um sangue novo suscita reformas mais
gerais# ' papa Eug!nio IZ U]LV, ao pretender suavi2ar o
rigor da antiga observ \ncia, provocou uma cisão entre os
carmelitas ue op`s os 8observantes8 aos 8conventuais8 ou
mitigados# -aralelamente ao movimento cism%tico dos
8fraticelos8, despre2ado pelo seu radicalismo,
multiplicaram5se os observantes entre os frades menores, a
ponto de, em ]J, um decreto pontifício instituir um
vig%rio5geral de toda a reforma, primeiro passo para a
divisão da ordem: em JK, os menores da observ\ncia regular
separaram5se dos conventuais# /ois vig%rios dos

BL
observantes alcançariam renome universal: 0oão de Capistrano
Ufalecido em ]JOV e ernardino de +iena Ufalecido em JO]V,
ue a Igreja iria canoni2ar# ' franciscano <rancisco de
-aula Ufalecido em JKV, fundando os "ínimos, pretendeu
fa2er reviver o espírito do poverello# Zicente <errier
Ufalecido em ]MV foi o mais c&lebre dominicano na &poca do
grande cisma, pela sua elou!ncia tempestuo sa e truculenta#
* segunda ordem franciscana 5 as Clarissas 5 encontra uma
segunda fundadora na pessoa de uma reclusa, Coleta de Córbia
Ufalecida em ]]KV#
*li%s, os s&culos 4IZ e 4Z foram s&culos de santas6 s&culos
de inuietações e ang;stias, foram salvos por fr%geis
mul3eres, cuja vida espiritual intensa se orientava
naturalmente para a acção reformadora: rígida da +u&cia
Ufalecida em LKLV, cujas )evelações juntam dram%ticas
visões da vida de Cristo e da Zirgem e admoestações,
suplicando 9 Igreja ue voltasse 9 sua pure2a6 Catarina de
+iena Ufalecida em LNV, uma estigmati2ada ue eerce junto
de Aregório 4I e de $rbano ZI o papel eercido por ernardo
junto dos papas do s&culo 4II6 <rancisca )omana Ufalecida em
]]V, *ngela de <oligno Ufalecida em LMV, *na de
"ontepulciano Ufalecida em LKV, 0uliana <alconieri
Ufalecida em L]V e tantas outras# +em esuecer a maior e
mais misteriosa de todas, 0oana dD*rc Ufalecida em ]LV,
cuja curta epopeia foi passada e repassada pelo mais severo
crivo da 3istória, prova da ual ela saiu intacta, com o seu
sadio frescor de camponesa e a sua vocação indom%vel e
eplosiva# -aralelamente, encontramos o etraordin%rio
)aimundo .ulo Ufalecido em LOV ue foi c3amado doutor
iluminado6 durante uarenta anos, multiplicou as menos
conformistas eperi!ncias e, sobretudo, usou um m&todo
pacífico de conversão dos "uçulmanos#
astante espectacular 5 testemun3a disso & o gótico
flamejante 5, a religião dos cristãos desse tempo era
afectiva e popular, materiali2ando5se em devoções, mas
tamb&m, em relação aos dogmas e 9 íblia, bastante autónoma
e individual# -orue foi a &poca dauilo a ue *lbert
/ufourc c3amou, com inteira justiça, 8a desorgani2ação
individualista86 a cristandade carecia de direcção
espiritual# -ode compreender5se perfeitamente por ue motivo
o espírito dos cristãos era assaltado pela ideia de reforma#

B]

B# *nseios de reforma

* ideia de reforma, de reformação 5 esta palavra & bastante


mais forte ue a primeira 5, & muito anterior a .utero#
(odas as classes da sociedade, todas as elites pressentiram,
mais ou menos confusamente, mas desde 3% muito, ue a Igreja
devia renovar5se não apenas no sentido de uma correcção dos
abusos, mas tamb&m, e sobretudo, por um regresso ao espírito
evang&lico, 9s +agradas Escrituras, como alimento
substancial, e por uma renovação espiritual de todos os
cristãos#
/e Zaldo a >Gclef, aos Irmãos do .ivre Espírito e a 0oão
Huss, muitos romperam, de facto ou no seu coração, com a
Igreja romana, cujas estruturas demasiado visíveis, muito
3umanas, não l3es pareciam interessar a uma reforma,
simultaneamente evangelista, pietista, puritana e
democr%tica# 'utros, sem renegar a Igreja, fa2iam estremecer
as paredes desse vel3o edifício6 nos s&culos 4IZ e 4Z,
desenvolveu5se a pregação popular em vern%culo e, perante
enormes multidõe s prontas a vibrar, os pregadores insistiam
e citavam de bom grado o *pocalipse e, at&, as profecias
joauimitas6 alguns deles c3egaram ao visionarismo# 's
franciscanos ernardino de +iena, 0oão de Capistrano e 'li5
vier "aillard dispuseram de auditórios tão grandes ue os de
3oje são meros grupin3os6 o dominicano Zicente <errer,
montado num burro e protegido por guardas junto de largas
massas 3umanas, foi designado como 8o pregador do fim do
"undo8# +essenta anos mais tarde, em pleno reinado de
*leandre ZI órgia, um dos seus irmãos em religião,
0erónimo +avonarola U]MNV, sacudiu a opulenta <lorença6 em
primeiro lugar, com os seus sermões 9 moda da &poca 5 8Zede
estes prelados dos nossos dias: só t!m pensamentos para o
mundo e para as coisas terrenas6 a preocupação pelas almas
j% não l3es toca o coração# 1os primeiros tempos da Igreja,
os c%lices eram de madeira e os prelados de oiro6 3oje, a
Igreja tem c%lices de oiro e os prelados são de madeira###8
/epois, o monge branco imp`s5se na capital dos "&dicis
atrav&s de uma verdadeira ditadura na base da austeridade6
mas, como assumiu em relação a *leandre ZI, ue l3e pedia
contas das suas profecias, uma atitude rebelde, foi
ecumungado e ueimado vivo#
BJ

Havia outros ue Uembora fora das normas, mas distantes das
visões apocalípticasV tamb&m son3avam com a reforma# Estavam
na primeira lin3a os teólogos e, 9 frente deles, os
professores da $niversidade de -aris, com o mais importante

de todos: 0oão
conciliar, Aerson
Aerson Ufalecido
foi tamb&m em ]BMV#
o teórico da (eórico do poder
monaruia, desse
culto pelo rei de <rança ue 0oana dD*rc, sua contempor\nea,
situava na mesma lin3a ue a devoção ao rei do c&u6 mas este
teólogo, mais próimo de +# oaventura do ue de +# (om%s,
revelava5se tamb&m um místico subtil e terno 5 foi ele o
verdadeiro criador da devoção a +# 0os& 5, um pregador de
linguagem familiar, um autor de op;sculos piedosos e
populares, e tamb&m um educador, porue pensava ue a
reforma da Igreja devia começar pelos mais jovens# Aerson e
o seu amigo, o cardeal -edro dD*illG Ufalecido em ]BV 5
ue, na sua Imago mundi, p`s o problema da esfericidade da
(erra 5, j% são modernos, no sentido em ue, neles, o
occamismo e o nominalismo, ao dissociarem a ra2ão e a f&,
favoreciam a eperi!ncia mística pessoa l e davam a /eus uma
larga parte na economia da salvação#
*s gerações seguintes mostraram5se ainda mais eigentes# 1a
segunda metade do s&culo 4Z, o fogo novo nascido na It%lia
espal3ou5se por toda a parte, porue a palavra )enascimento
engloba uma realidade etremamente viva: um 3umanismo ue
propõe uma nova arte de viver, uma cultura universal
alimentada pela filologia, uma observação e um con3ecimento
aprofundados dos autores, dos s%bios e dos artistas gregos e
latinos, uma visão, ao mesmo tempo, optimista e crítica do
3omem e da 1ature2a, um desejo de síntese jamais saciada,
uma ruptura volunt%ria e reflectida com uma escol%stica
ultrapassada e fec3ada, um cotejo constante de todas as
disciplinas, o triunfo do leigo sobre um sacerdócio
desvalori2ado# *lguns lugares privilegiados favoreceram essa
irradiação, entre outros: a <lorença dos "&dicis e das suas
academias, a )oma dos papas, -aris e o Col&gio de <rança,
*lcal% de Henares, cuja universidade, fundada por Cisneros,
esteve na origem da primeira íblia poliglota, .eida,
1uremberga, asileia, "ontpelli er### * invenção e a difusão
da imprensa contribuíram largamente para saciar essa 8fome
sagrada8# Calcula5se ue, pelo menos, setenta e cinco

BO

por cento do total produ2ido pelas tipografias, entre ]]J e


JB, foi de obras religiosas, tendo5se multiplicado, em
particular, as traduções da íblia#
"uito naturalmente o 3umanismo condu2iu a uma filosofia ue,
aproimando do cristianismo a própria filosofia grega, se
eprimiu tamb&m como um neoplatonismo cristão, ue considera
ue as verdades essenciais da religião de Cristo se
encontram presentes, embora escondidas, nos s%bios de todos

os povos# -oressencialmente
neoplatónica, isso, depressa se espal3ou
optimista, uma deteologia
confiante ue, ao
aprofundar5se a mensagem da sua própria religião, os infi&is
se converteriam e o cristianismo se tornaria universal,
desde ue se despojasse e se interiori2asse#
Zerificou5se, desde logo, uma efervescente )enascença
cristã, um 3umanismo cristão marcado pelo culto da eegese
bíblica, caracteri2ado por uma concepção optimista do 3omem,
por certas interpretaçõ es abertas dos dogmas, por uma maior
ligação 9s eperi!ncias místicas do ue 9s dissertações
teológicas, pelo desejo de uma Igreja evang&lica e
tolerante, mas tamb&m pela fidelidade ao corpo da Igreja
romana# 1esta procura de uma religião simplificada, o
toscano "arsílio <icino Ufalecido em ]MMV junta5se com o
cardeal alemão 1icolau de Cusa Ufalecido em ]O]V ue, muito
antes de Aalileu, abandonou o geocentrismo e a eplicação
literal da íblia# ' etraordin%rio erudito -ico de
"ir\ndola, morto aos L anos U]M]V, considerava o
cristianismo o ponto de converg!ncia de todas as formas
anteriores do pensamento 3umano6 amigo de +avonarola, tamb&m
sabia ue o camin3o mais curto para c3egar at& /eus & o
mesmo ue 0esus Cristo pobre proclamou# 1a *leman3a, 0oão
)euc3lin Ufalecido em JBBV foi o iniciador do estudo
científico da língua 3ebraica# +e, na Inglaterra, 0oão Colet
Ufalecido em JMV, professor de 'ford, atingiu uma esp&cie
de Piclefismo, (om%s "oro Ufalecido em JLJV, ue ser%
c3anceler de Henriue ZIII, evocava na sua $topia uma terra
ideal em ue triunfariam a mais pura democracia e a partil3a
de todos os bens, tendo por ;nica lei o Evangel3o# Em
diversos aspectos, este evangelismo aparentava5se com o ue
se eprime na obra truculenta e muito optimista de )abelais
Ufalecido em JJLV#

BK

Em <rança, centro de cultura medieval, as riue2as do


passado fundiam5se com as eig!ncias do novo 3umanismo ue
beneficou da protecção da rain3a de 1avarra, "argarida de
*ngolema, irmã de <rancisco I, cujas inuietações religiosas
se encontram em obras po&ticas francesas tão intensamente
marcadas de evangelismo# "argarida era confessada e dirigida
pelo bispo de "eau, riçonnet, um verdadeiro pastor,
preocupado com a reforma da sua diocese6 o seu vig%rio5
geral, .efbvre dDtaples, mostrava5se digno dele, podendo
tamb&m ser considerado como o mestre do 3umanismo cristão em
<rança# Este professor era um erudito nunca satisfeito, um
filósofo aristot&lico, um teólogo, um eegeta e um místico

ue son3ava levar a Igreja romana a sair do espartil3o do


juridismo#
"as ser% ao genial 3oland!s Erasmo Ufalecido em JLOV ue se
ficar% a dever o facto de propor o 3umanismo cristão como
programa de renovação em toda a Europa# -ersonalidade
ecepcional, foi considerado de v%rios modos6 os seus
principais m&ritos foram o de ter abandonado as mal3as da
teologia positiva, ue esteve na origem do progresso das
ci!ncias sagradas, e o de ter imposto os m&todos rigorosos
da História ao estudo da )evelação# * sua autoridade de
eegeta e de reformador fe2 de Erasmo, em v&speras da
reforma luterana, um mestre de pensar na Europa, mesmo ue a
<aculdade de (eologia de -aris ten3a duvidado da sua
ortodoia, embora a vasta e poderosa corrente do 3umanismo
cristão j% transbordasse as suas margens6 normalmente,
devolvia5se ao papado a missão de o canali2ar# *li%s, como o
papado estava bastante ocupado, não seria o povo de /eus
capa2 de se reformar a partir de dentroW

L# E o povo cristãoW

's 3istoriadores contempor\neos mostram5se naturalmente


interessados no estado real da cristandade em v&speras da
)eforma protestante# "as seria esse terreno j% propício e
teria os antídotos suficientesW
$ma primeira verificação: ualuer 3omem, nos s&culos 4Z e
4ZI, era realmente cristão# 8/o nascimento at& 9 morte, uma
s&rie

BN

completa de cerimónias, tradições, costumes e pr%ticas,


cristãs ou cristiani2adas, agarrava o 3omem contra a sua
vontade e tornava5o prisioneiro, por mais ue afirmasse ue
era livre#8 U.# <ebvreV
)esta saber, por&m, se os 3omens desse tempo estavam
profunda ou superficialmente cristiani2ados# 'ra, se
pensarmos apenas nos rurais 5 ue formavam o grosso da
população 5, & verdade ue no começo do s&culo 4ZII ainda
muitos deles permaneciam dominados pela mentalidade
animista6 os encantamentos e os ritos da feitiçaria ou da
magia ocupavam largo espaço no 8cristianismo8, mais ou menos
folclórico, pautado por um processo de pagani2ação e onde as
sobreviv!ncias do paganismo galo5romano continuavam
numerosas#
"uitos deles refugiam5se friamente nos braços de /eus e da
Zirgem, na sombra dos ostensórios e nas dobras das casulas,

porue sentem
muitas 9 sua volta
consci!ncias a tremenda
cristãs, presença do /emónio#
os mandamentos Em
da Igreja
sobrepõem5se muitas ve2es aos mandamentos de /eus e a
superstição mal se distingue da devoção#
[uanto aos padres, revelam5se muitas ve2es abaio das suas
tarefas# "uitos são concubinos, uer por levarem uma vida
dissoluta, uer por viverem com uma mul3er, sendo
naturalmente os seus fil3os os ajudantes da missa, uando
não se tornam at& os seus sucessores# 1o entanto, não ser%
propriamente a concubinagem dos padres ue far% sacudir uma
parte da Europa e a colocar% ao lado da reforma protestante6
ser%, sobretudo, a sua ignor\ncia, a sua falta de formação,
a sua falta de 2elo e a não5resist!ncia ue camin3a a par da
inflação sacerdotal#
Esses defeitos podem encontrar5se em muitos prelados, ainda
ue nos s&culos 4IZ, 4Z e 4ZI a Igreja ten3a contado com
muitos bispos piedosos, instruídos e edificantes#
"as 3% ainda mais grave: o próprio papado d% o eemplo e
parece esuecer as suas responsabilidades#

]# 's papas da )enascença

's setenta anos ue decorrem entre o advento de 1icolau Z


U]]KV e a publicação por .utero das suas teses contra as
indulg!ncias

BM

UJKV pesaram duramente sobre o destino da Igreja romana#


Enuanto a Europa 'cidental era literalmente sublevada pela
)enascença6 enuanto a Igreja, entre os membros mais
3umildes, estava em estado de reforma, sucederam5se de2
papas ue, embora 5 9 ecepção de *leandre ZI 5 não ten3am
sido padres indignos, foram, de facto, príncipes seculares
com tudo o ue, na It%lia de "auiavel, dos condottier i, do
luo e da vol;pia, podia comportar de viol!ncias e
comprometimentos# <oram os 8papas da )enascença8 e a
História não deia de registar esse título, ue significa
mais vergon3a ue glória# 1esse tempo perturbado ue fa2ia
florescer muitas riue2as, eles adoptaram os gostos
artísticos e as preocupações políticas em ve2 de assumir
inteiramente os sofrimentos e as aspirações espirituais#
Embora não se possa argumentar apologeticamente a favor da
Igreja pelo facto de não ter perecido por causa dessas
neglig!ncias, a verdade & ue a corrente de santidade a
percorria sempre nas suas profunde2as6 tamb&m não & menos
verdade ue a cristandade saiu desse período muito

dilacerada#
]]M: o ;ltimo antipapa da História, <&li Z, abdica6 ]J:
o jubileu re;ne em redor de 1icolau Z uma imensa multidão#
-odemos pensar ue regressaram os dias gloriosos do s&culo
4III, enuanto alguns legados percorrem a cristandade:
1icolau de Cusa, na *leman3a6 0oão de Capistrano, na Europa
Central6 o cardeal de Estouteville, na <rança### 'u mel3or,
em "arço de ]JB, <rederico III fa2ia5se coroar em )oma6 &
verdade ue a autoridade desse 3absburgo sem prestígio em
nada & compar%vel 9 dos Ho3enstaufen do s&culo 4I e 1icolau
Z não & Ino5c!ncio III# 1a Europa, o -apa esbarra
constantemente com o prestígio crescente dos reis, como
aconteceu com Carlos ZII ue, pela -ragm%tica +anção, se
tornou o c3efe da Igreja galicana#
1ão 3% por ue escond!5lo: 1icolau Z e os seus sucessores
imediatos serão mais papas italianos do ue pontífices
universais6 serão c3efes de um dos Estados dessa It%lia,
onde as ambições se agudi2am6 no +acro Col&gio, os cardeais
italianos são em maior n;mero# 1icolau Z acreditou ue podia
p`r alguma ordem nauela It%lia fragmentada, mas a -a2 de
.odi e a .iga It%lica U]J]V foram um esboço sem futuro da
unidade italiana# *li%s, afirmava5se ue tudo auilo ue
fi2era a unidade do

B

"undo se destinava ao desaparecimento, porue, em BM de "aio


de ]JL 5 sem ue o 'cidente esboçasse o mínimo gesto 5,
Constantinopla caía nas mãos dos (urcos: era engolido o
;ltimo bastião do Imp&rio )omano# *lguns projectos de
cru2ada lançados pelo -apa e pelo imperador rebentar am como
bol3as ou, como o c&lebre 8Zoto do <aisão8, pronunciado em
.ila por <ilipe, o om, não foram mais do ue o picante
dessas festas mundanas#
)oma saiu arruinada de v%rios s&culos de anaruia e de
guerras civis# 1icolau Z uis torn%5la digna do seu título
de capital dos cristãos# *l&m dos enormes e necess%rios
trabal3os de reconstrução, o papa pretendeu 5 como 3omem da
)enascença 5 construir sobre o Zaticano uma cidade
pontifícia separada do resto da cidade, simultaneamente
pal%cio e fortale2a# 1esta perspetiva, mandou demolir a
vel3a asílica de Constan5tino, sobre cujas ruínas se
erguer%, mais tarde, a asílica de +ão -edro# *l&m disso,
1icolau Z foi o criador da iblioteca do Zaticano onde, como
bibliófilo e 3umanista sensato, acumulou muitos manuscrito s
antigos#

/urante
III, os tr!sdeanos
um órgia do seuteve
Espan3a, pontificado
apenas umU]JJ5JNV,
objectivo:Calisto
retomar
a luta contra os (urcos ue tin3am alcançado o /an;bio# 0%
ue não era possível conseguir ue os cristãos organi2assem
uma cru2ada, pelo menos sentia5se a alegria de ver o
e&rcito 3;ngaro, condu2ido por 0oão HunGadi e animado por
0oão de Capistrano, deter o islão diante de elgrado U] de
0ul3o de ]JOV# "as Calisto III cometeu o erro de fa2er do
nepotismo uma verdadeira instituição: desejoso de limitar o
direito de controlo dos cardeais, colocou os órgias ou
espan3óis nos postos5c3aves da C;ria e concedeu a p;rpura a
tr!s dos seus sobrin3os, dos uais o mais devasso, )odrigo,
se tornar% *leandre ZI#
Com -io II 5 *eneas +Glvius -iccolomini 5 U]JN5]O]V pode
di2er5se ue o Humanismo se instalava na cadeira de +#
-edro# * obra liter%ria deste italiano frouo, com um
passado pouco edifica nte, não era despre2%vel# -io II foi o
;ltimo papa com tend!ncias universalistas: a sua bula
Esecrabilis U]OV condenou em termos en&rgicos tudo o ue
restava das teorias conciliares e um congresso reunido em
"\ntua, em ]JM, decidiu uma

B

cru2ada contra os (urcos ue nunca se c3egou a reali2ar# -io


II julgou ue triunfaria, em <rança, se obtivesse de .uís 4I
a ab5rogação da -ragm%tica U]OBV, mas este Zalois man3oso
foi, pouco a pouco, apan3ando o ue tin3a parecido
abandonar# Em resumo: foi mais como 3umanista do ue como
pastor ue -io II captou a atenção dos doutos deste mundo#
$m patrício de Zene2a, -ietro arbo, sucede u5l3e com o nome
de -aulo II U]O]5]KV# Como os seus predecessores, tamb&m
não respeitou o pacto eleitoral ue tin3a acompan3ado o
conclave e ue, entre outras coisas, preconi2ava a r%pida
convocação de um concílio geral para reformar a Igreja# Este
3omem superior apreciava os objectos artísticos e os
carnavais romanos, mas a sua estada preferida era no -al%cio
de Zene2a, em )oma# "as foi a instalação dos (urcos em
1&grepont, terra vene2iana, ue acordou o 'cidente do seu
torpor e fe2 com ue a It%lia abandonasse as suas lutas
intestinas#
/urante os tre2e anos do pontificado de +isto IZ U]K5
]N]V, a camaríl3a dos /elia )overe invadiu a administração
romana# Entretanto, ao c3egar ao trono pontifício, o irmão
mais novo, <rancisco delia )overe, fa2ia nascer alguma
esperança: sabia5se ue, como geral da sua ordem, tin3a
feito uma obra de reformador# "as, instalad o em )oma, +isto

IZ foi unicamente
manietado pelas um príncipe tramas
miser%veis amante deda vida
uma faustosa,
política
estritamente italiana# -elos seus sobrin3os 5 seis deles
foram cardeais 5, +isto IZ, apoiado pelos -a22i, lutou at& 9
morte contra os Colonna e os "&dicis# *s personalidades
indignas ue rodeavam o pontífice deram o tom a uma corte
corrupta ue, setenta anos mais tarde, 3averia de ser
estigmati2ada por /u ellaG# * venalidade dos cargos tornou5
se uma armadil3a do governo pontifício# -ara se conseguir
din3eiro, o papa multiplicou os empregos6 por isso, em ]NB,
3avia um col&gio de cem solicitadores### -aulo II criou a
[uind&cima, esp&cie de imposto sobre os benefícios detidos
pelos religiosos# +isto IZ tornou obrigatória a
8Composição8, retribuição pelo benefici%rio de uma graça
pontifícia# -or toda a parte, mas sobretudo na Europa
Central e +etentrional, a aplicação de dí2imas tornou odioso
o nome do -apa, por ve2es comparado a .;cifer#  evidente
ue, no fim do reinado de +isto IZ, a iblioteca do

BB

Zaticano possuía LJ volumes manuscritos e o -apa tin3a


aberto ao p;blico o "useu do Capitólio, levando para )oma
obras de oticelli, -erugino, -inturicc3io###, ligando ainda
o seu próprio nome 9 Capela +istina# "as ue representavam
esses esplendores em relação 9 decad!ncia da cristandadeW

J# * camin3o do Z Concílio de .atrão

' genov!s Inoc!ncio ZIII U]N]5]MBV 5 dois fil3os naturais


deram5l3e uma deplor%vel reputação 5 fracassou em todas as
suas combinações políticas, mas OB mil ducados foram o fruto
da criação de vinte e uatro novos postos de secret%rios
apostólicos# Ziram5se falsas bulas fabricadas por
funcion%rios da C;ria com pressa de se indemni2ar a si
próprios e, ao mesmo tempo, tirando o valor 9s actas
aut!nticas do pontificado# "as 3ouve pior: Inoc!ncio ZIII
celebrou o casamento do seu fil3o <rancesc3etto Cibo com
"adalena, fil3a de .ourenço, o "agnífico6 como recompensa, o
fil3o deste ;ltimo, 0oão de "&dicis, uma criança de L anos,
recebeu a p;rpura cardinalícia#
<oi durante o pontificado de *leandre ZI órgia U]MB5JLV
5 eleito na seu!ncia de um conclave rodeado de intrigas e
negociatas 5 ue a Igreja romana c3egou ao fundo da sua
3umil3ação# Com este sedutor espan3ol não se trata j% de
nepotismo, mas de paternidade# Escreveu5se tudo 5 e do pior
5 sobre *leandre e os seus uatro fil3os 5 sobretudo, C&sar

e .ucr&cia
Zanno22a 5 ue,
Catanei6 como órgia
o nome cardeal, tivera
forneceu da bela
mat&ria a umaromana
vasta
literatura mais próima do romance negro do ue da História#
"esmo ue se coloue a memória desta família fora do uadro
de todas as inf\mias acumuladas durante os ;ltimos uatro
s&culos, ainda restariam abusos, ecessos e viol!ncias
suficientes para se poder lamentar ue um 3omem como )odrigo
órgia ten3a sido o pastor supremo da Igreja# Incapa2 de
refrear os seus apetites, *leandre ZI colocou os seus
talentos de diplomata ao serviço da sua insaci%vel família#
1a altura do assassínio do seu fil3o preferido, o duue de
A\ndia incitou5o, em ]MK, a lançar uma bula de reforma6
mas, depois, os 3%bitos estabelecidos voltaram com

BL

toda a força# Em ]MN, a fogueira desembaraçara o -apa do


terrível +avonarola ue, durante seis anos, tin3a atentado
contra os órgias em termos como estes: 8'utrora, uando os
padres tin3am fil3os, designavam5nos como sobrin3os6 agora
não t!m sobrin3os, mas t!m fil3os, fil3os verdadeiros###
Igreja infame Igreja prostituída /escobriste as tuas
vergon3as perante os ol3os do universo inteiro8 Em N de
*gosto de ]JL Xnota da digitali2ação: erro da edição em
papel, & JLY, *leandre ZI morria brutalmente6 disse5se
ue teria sido envenenado# E "auiavel p`de mostrar a sua
alma escoltada at& /eus pelas suas tr!s 8criadas fi&is8: a
crueldade, a simonia e a lu;ria#
-io III, oriundo de +iena, mostrou5se decidido a acabar com
essas vergon3as, mas reinou apenas durante alguns dias###
E c3egou o tempo de 0uliano delia )overe, 0;lio II UJL5
JLV, o 8uomo terribile8, o 3omem forte, de uem todos os
cardeais unanimemente pensavam ue a Igreja precisava# Este
-apa brusco, mais soldado do ue pontífice, rapidamente
limpou os seus Estados de todo o banditismo6 depois,
desejoso de ser o verdadeiro sen3or da It%lia, montou em
redor da poderosa Zene2a e com o auílio de .uís 4II de
<rança um cerco ue se revelou efica2# "as, logo a seguir,
voltou5se contra os <ranceses, os barbari6 mas eles
resistiram, embora, depois da morte de Aaston de <oi,
tivessem de deiar a península# 0;lio II dispun3a5se a
epulsar de 1%poles os espan3óis, uando a morte o derrubou#
Este c3efe militar foi um mecenas inteligente e, graças a
ele, )oma viu trabal3ar, uase lado a lado, "iguel *ngelo no
seu 0ulgamento <inal, )afael a decorar a C\mara dos *ctos e
ramante a iniciar a instalação do estaleiro de onde
surgiria a asílica de +ão -edro# <oi ainda 0;lio II uem,

pouco antes
ecum&nico da sua
para morte,
.atrão fe2 *bril
UM de a convocatória
de JBV6 de um concílio
& verdade ue
se tratava de pregar uma partida a um concílio antipapal
laboriosamente posto de p& em -isa, por iniciativa de .uís
4II, ue fracassou imediatamente#
Este Concílio de .atrão UJB5JKV, uase eclusivamente
composto por bispos italianos perfeitamente submetidos ao
-apa, não colocou o dedo na ferida nem abordou a reforma
geral da Igreja#  verdade ue o pacífico .eão 4 UJL5
JBV, sucessor de 0;lio II, não ueria c3egar tão alto#
Este "&dicis, o fil3o mais novo de .ourenço, o "agnífico,
concedeu todas

B]

as atenções 9s artes# 8/epois de Z&nus e de "arte, "inerva8


UV, di2iam as m%s línguas ue logo acrescentavam ser )oma,
de facto, governada por )afael, o genial decorador das
c\maras do Zaticano e das loggie# ' -apa apressou5se tamb&m
a p`r termo 9s lutas contra os <ranceses e, depois de
"arignan, encontrou5se em olon3a com o jovem rei <rancisco
I e assinou com ele Uem *gosto de JOV a Concordata ue,
at& 9 )evolução <rancesa, regularia as relações de )oma e da
Igreja de <rança# ' rei voltaria a fa2er a nomeação para os
benefícios superiores 5 sendo, então, sacrificada a classe
dos plebeus 5, mas só o -apa detin3a o direito de
investidura canónica6 restabeleciam5se as anatas sobre o
território do reino e a <rança renunciava 9s teorias
conciliares# ' rei de <rança foi o principal benefici%rio
desse tratado, cujas disposições serão, muitas ve2es no
futuro, altera das em seu provei to6 de facto, dispun3a da
fortuna da Igreja de <rança e, mais do ue nunca, 8rei
cristianíssimo8, a sua ortodoia não deiaria de se afirmar#
[uanto 9 Igreja galicana, a sua submissão ao rei não a
impedir% de ser o guia de outras Igrejas#
' gosto de .eão 4 pela erudição, pelas artes e tamb&m pela
caça e pela festa romana ficava demasiado dispendioso,
embora os abusos fiscais da administração pontifícia
tivessem sido agravados# ' Concílio de .atrão avançava,
apesar das c3icotadas de alguns padres conciliares, como a
do geral dos agostin3os: 8's 3omens devem ser transformados
pelos santos e não os santos pelos 3omens#8 -romulgaram5se
alguns ;teis decretos de reforma: proibição do ac;mulo de
benefícios, restrição sobre a comenda, censura ao +acro
Col&gio pelo seu luo, e condenação da superstição e da
bruaria# "as, ecepto nalgumas dioceses, essas medidas não
passaram de meras intenções# E, depois, ningu&m ousou

atirar5se
esse factoaos vícios
enviada dedo papado, 8*
Espan3a: apenas 3ouve
0ustiça uma
deve alusão na
começar a
casa do +en3or#8
* O de "arço de JK, após do2e sessões ao longo de cinco
anos, os padres do concílio dispersaram5se# +ete meses
depois, em L de 'utubro, "artin3o .utero afiava as suas
noventa e cinco teses no %trio da igreja do castelo de
Zitemberga#

1ota : /epois do amor 3umano e da guerra, as artes# X1# do


(#Y

BJ

Capítulo III
* C)I+(*1/*/E /I.*CE)*/*

# .utero, a Igreja e a Escritura

8 impossível 5 di2ia 1ePman 5 ue o protestantismo dure 3%


tre2entos anos sem uma grande verdade ou uma grande parte de
verdade#8 Eplicar a revolução luterana pelos apetites de um
monge obrigado a uebrar os seus votos ou, pelo contr%rio,
pela devassidão romana ue escandali2ava e revoltava um
jovem religioso6 e considerar essa revolução apenas o
resultado das ambições políticas alemãs ou uma conseu!ncia
da crise económica e social ue a Europa atravessava, na
&poca dos <ugger, de Autenberg e de Colombo, & só ver as
suas apar!ncias ou uma paródia a um grande drama#
"artin3o .utero foi um fervoroso eremita de +to# *gostin3o,
estudioso, desejoso de ir para l% das apar!ncias e das
palavras6 embora fiel 9 espiritualidade inuieta do seu
tempo, entrou aos BB anos no convento de Erfurt 8para
conuistar a sua salvação8 UJJV# Estudante, padre UJKV e
professor na $niversidade de Zitemberga a partir de J,
.utero procura alcançar e abraçar /eus# * sua formação
teológica & muito medíocre: um occamismo mal eplicado
ensinou5l3e ue, embora o 3omem seja capa2 de ultrapassar o
pecado por sua própria vontade, os actos 3umanos só se
tornam meritórios, se /eus os aceitar6 mas 8esta aceitação &
absolutamente incondicional8# 'ra isso

BK

pode condu2ir ao desespero# Irmão "artin3o lança5se na


pr%tica de um ascetismo religioso com uma vontade vigorosa,
mas com um coração intranuilo# Então, estudando +to#

*gostin3o,
(auler 5, osprocura
místicos8essa
e a (3eologia deutsc3
passividade 5 sobretudo,
amorosa ue l3e
permitir% atingir, no mais profundo de si mesmo, o /eus
imanente8#
/e s;bito, durante o Inverno de JB5JL, enuanto prepara
os cursos de eegese bíblica, a lu2 invade o seu espírito e
a pa2 enc3e o seu coração# Esse 8milagre8 & feito pelas
Escrituras ue, de futuro, serão o centro de toda a sua
actividade doutrinal e apostólica6 essas +agradas
Escrituras, pouco manuseadas pela teologia do seu tempo e
ue .utero, ultrapassando a eegese s%bia dos 3umanistas,
vai constantemente uestionar# E & graças 9s Escrituras ue
ele resolve este aparente paradoo: 8Como & ue /eus pode
ser misericordioso e, simultaneamente, justoW86 a Epístola
aos )omanos fornece5l3e a resposta: 8' 3omem & justificado
pela f&, independentemente das obras da lei#8 .utero far%
este coment%rio famoso: 8' cristão sabe ue & sempre
pecador, sempre justo e sempre arrependido#8 (rata5se da
8descoberta da misericórdia8, de ue se p`de afirmar ue foi
a srcem da )eforma# *o mesmo tempo, .utero descobre ue 9
segurança dada pelas obras se opõe a certe2a, tirada do
Evangel3o, de ue o 3omem se salva apenas pela graça de
/eus, unicamente recebida pela f&# 1ão ue deva rejeitar as
obras, mas & a f& ue as deve suscitar#
1esse tempo, andava pela *leman3a, como 8um vendedor
ambulante8, o dominicano (et2el, delegado pelo arcebispo5
elei5tor *lberto de randeburgo a pregar uma indulg!ncia,
cujas receitas deviam, em parte, servir para saldar as
dívidas ue o prelado fi2era para pagar as taas impostas
por )oma na altura da junção de tr!s dioceses UJJV,
servindo o resto para financiar a conclusão da asílica de
+ão -edro de )oma# 's florins caíam abundantemente nas
caias de (et2el porue ele prometia a plena remissão de
todos os pecados 9ueles ue 5 8contritos de coração e
confessados de boca8, e tendo reali2ado certos ritos 5
entregassem uma oferenda, tarifada segundo o seu nível de
riue2a# *t& então, 3avia apenas um eagero na doutrina da
Igreja respeitante 9s indulg!ncias6 mas (et2el errava

BN
uando afirmava ue a indulg!ncia a favor das almas do
purgatório 5 tamb&m ela tarifada 5 era efica2,
independentemente do estado de graça6 e c3egava mesmo a
afirmar ue essa indulg!ncia era, autom%tica e
imediatamente, aplicada 9 alma do purgatório designada pelo
seu nome#

Em L de 'utubro
universit%rio de JK,
corrente, ali%s
.utero conforme
afiava um procedimento
na porta da igreja do
castelo de Zitemberga as suas MJ teses contra as
indulg!ncias, em ue a ;ltima esclarecia todas as outras: 8
preciso eortar os fi&is a entrar no c&u atrav&s de muitas
atribulações, em ve2 de descansar na segurança de uma falsa
pa2#8 /uas semanas depois, copiado e espal3ado por
estudantes entusiastas, o documento era con3ecido em toda a
*leman3a6 muitos pressentiram ue, independentemente da
doutrina das indulg!ncias, era o conjunto de uma reform a
religiosa e de uma renovação espiritual ue o monge saónico
estava prestres a abordar# /enunciado a )oma, .utero,
protegido pelo eleitor da +aónia, mas ue não pensava de
modo nen3um romper com )oma, recusou sujeitar5se 9s ra2ões
do cardeal Caetano ue não só tin3a apontado no pensamento
de .utero alguns erros essenciais: a justificação pela f&, o
ataue 9 noção de m&rito, o apelo 9 autoridade das
Escrituras contra o magist&rio e as tradições da Igreja, mas
cuja viva intelig!ncia tamb&m tin3a pressentido, atrav&s de
.utero, os graves problemas ue se colocavam 9 Igreja# 1a
altura da disputa de .eip2ig UJMV, .utero, empurrado pelo
doutor dominicano Ec, defendeu 0oão Huss contra as decisões
do Concílio de Constança e pretendeu afirmar ue a Igreja
tin3a apenas um c3efe: Cristo#

B# * eplosão do luteranismo

/epois de ter sido condenado pelas $niversidades de -aris,


Colónia e .ovaina, .utero foi intimado, pela bula Esurge
/omine de .eão 4 UJ de 0un3o de JBV, a submeter5se nos
próimos sessenta dias6 mas o agostin3o replicou com auilo
a ue os protestantes designaram os tr!s 8grandes escritos
da reforma8#

BM

' "anifesto 9 1obre2a *lemã U*gosto de JBV &, apesar do


próprio título, um apelo a todos os cristãos: 9s pretensões
dominadoras de )oma 5 8a vermel3a prostituta de abilónia8
5opõe o sacerdócio universal dos cristãos e eige tamb&m a
reforma da C;ria e a supressão do celibato eclesi%stico,
lembrando ue a 8verdadeira reforma8 deve fa2er5se no
coração do 3omem# 1o peuenino tratado /a .iberdade Cristã
U+etembro do mesmo anoV, .utero define a Igreja como uma
Igreja invisível, de ue apenas fa2em parte aueles ue
vivem da verdadeira f&6 9 autoridade da Igreja, assente nas
Escrituras e na (radição, opõe a autoridade ;nica das

Escrituras#de"asabilónia
Cativeiro & num latim destinado
U'utubro aos anoV,
desse teólogos ue, uma
esboça no
doutrina dos sacramentos6 .utero mant&m apenas o baptismo, a
ceia e, em rigor, a penit!ncia6 critica a missa e a
transubstanciação, eige a comun3ão sob duas esp&cies e opõe
a +agrada Escritura 9 acção autom%tica dos sacramentos#
*s coisas precipitam5se imediatamente# 1o 1atal de JB,
.utero ueima publicamente a bula Esurge /omine# .evado
perante Carlos Z na /ieta de >orms, recusa retra ctar5se e &
epatriado do imp&rio UJBV# Escondido em Zartburgo, começa
a tradução da íblia para alemão e, em JBB, deve regressar
a Zitemberga, porue j% alguns, aproveitando5se do car%cter
complacente de "el\ncton, amigo e colaborador de .utero,
utili2am a mensagem luterana de uma forma temer%ria# 1um
sentido radical, pietista e iluminista, arlstadt e "un2er 5
este & o pai dos anabaptistas 5 preconi2am 8uma Igreja dos
santos8, cujos membros estariam em comun3ão directa com o
Espírito +anto, apagando5se, deste modo, todos os vestígios
da Igreja visível# .utero combate5os e, at&, rompe com o
3umanismo cristão de Erasmo e com o 3umanismo reformista,
mas autorit%rio, de =uínglio# *li%s, v!5se, depois,
confrontado com as guerras civis: a dos pobres cavaleiros do
+ul UJBB5JBLV e a dos camponeses UJB]5JBJV ue, em nome
das novas ideias, ensanguentam a *leman3a Central e
"eridional#
Contra sua vontade, .utero & levado a regulamentar a
liturgia ue se basear% no 8culto8 dominical: nele, d%5se o
lugar principal 9 leitura, 9 pregação da palavra de /eus e 9
oração comum sob a forma de cantos corais, em alemão6 no
entanto,

BB

reagindo contra arlstadt, .utero mant&m um uadro


lit;rgico# *li%s, os erros e os ecessos ue foram
conseu!ncia da pregação da 8liberdade cristã8 por .utero
levam5no a afastar o 8democratismo8 e a refugiar5se atr%s da
autoridade dos príncipes passados ao luteranismo: cada um &
encarregado de fornecer uma constituição 9 Igreja do seu
próprio Estado# * partir de JBJ, .utero entra na fase mais
tranuila da sua vida: casa com uma cisterciense, Catarina
von ora6 escreve contra Erasmo o seu tratado /e +ervo
*rbítrio, em ue defende a ideia da predestinação6 redige os
seus catecismos6 conclui a tradução da íblia6 aprova a
Confissão redigida por "el\ncton e apresentada 9 /ieta de
*usburgo, em JL# Com os *rtigos de Esmalcaída UJLKV, a
Confissão de *usburgo constitui a base da doutrina luterana,

onde se
como os rejeita tudo o ue pareça
votos mon%sticos6 contr%rio
aceita5se tudo o9s ue
Escrituras,
não for
contr%rio 9s Escrituras, tal como o episcopado#
[uando "artin3o .utero morre, em N de /e2embro de J]O, na
sua cidade natal de Eisleben, j% o rosto da cristandade se
encontra profundamente modificado# 's amigos de .utero foram
realmente os primeiros luteranos e o seu grupo foi
rapidamente reforçado por membros do clero regular, mas
tamb&m vieram importantes contingentes da burguesia das
cidades imperiais em luta contra os seus bispos# Embora, por
um lado, a guerra dos cavaleiros e a dos camponeses ten3am
afastado de .utero 5 ue as desaprovou 5 muitos nobres
empobrecidos e muitos rurais, por outro, atraír am para o
luteranismo muitos dos grandes sen3ores feudais, tentados
não só pela seculari2ação dos bens da Igreja, mas tamb&m
pela oportunidade de se oporem ao imperador6 & o caso de
*lberto de Ho3en2ollern, ue seculari2ou a sua 'rdem
(eutónica e se fe2 duue da -r;ssia UJBJ5JBOV# /esde JN,
.utero tin3a leitores e discípulos em *ntu&rpia# /epois de
ter libertado a +u&cia da dominação dinamaruesa UJBLV,
Austavo Zasa secula5ri2ava os bens de um clero mais ou menos
desacreditado e organi2ava uma Igreja luterana estreitamente
ligada 9 coroa# Em JBO, a /inamarca passava tamb&m para o
luteranismo e Cristiano III, em JLK, instaurava uma Igreja
dinamaruesa5norueguesa#

BB

1as fronteiras do luteranismo 5 e muitas ve2es contra ele 5,


desenvolviam5se alguns movimentos mais violentos# *ssim, o
anabaptismo 5 ue se espal3ara de Estrasburgo a *mesterdão e
a ";nster 5 não só negava ualuer valor ao baptismo das
crianças, mas tamb&m, partindo do princípio de ue .utero
não tin3a promovido senão uma reforma religiosa, pretendia
construir uma sociedade comunista, liberta dos padres e dos
príncipes, na ual o baptismo dos adultos seria um sinal
distintivo# Esmagado atro2mente pelo sangue UJLJV, o
anabaptismo desapareceu, mas ainda permanecem algumas das
suas ideias entre os baptistas#
1a +uíça, onde se refugiara depois da ruptura com .utero
UJBBV, arlstadt preparou o camin3o para =uínglio ue, no
plano espiritual, se mantin3a ligado ao 3umanismo cristão6
segundo as normas do reformismo erasmian o, pregou na igreja
colegial de =uriue sobre o conjunto dos tetos evang&licos
e do 1ovo (estamento, em ve2 de comentar simplesmente o
Evangel3o do dia# 1o entanto, na esteira de arlstadt, uis
devolver a Igreja 9 sua simplicidade srcinal6 essa reforma

foi efectuada
=uriue atrav&saídaumautoridade,
e eercendo verdadeiro impondo5se aos edis
c&saro5pap ismo# de
Embora
eigisse o recurso eclusivo 9 íblia como fundamen to da f&
e da autoridade, e o uso da língua alemã na liturgia,
atribuía maior import\ncia ao problema da santificação do
ue ao da justificação# *ssim, o 2uinglianismo justifica5se
ou caracteri2a5se por um 3umanismo e um radicalismo, e
tamb&m por um racionalismo, todos eles estran3os ao
luteranismo6 a piedade 2uingliana & sobretudo social6 o
baptismo e a ceia j% não são sacramentos, mas simples
memoriais, isto &, a afirmação da comun3ão dos fi&is# /e
resto, =uínglio mostrava5se contr%rio 9s formas de culto 5
imagens, paramentos sagrados e m;sica 5 e tendia a confundir
a Igreja e o Estado, recon3ecendo a este ;ltimo o direito de
intervir nos problemas religiosos# +e a reforma 2uingliana
se imp`s em Estrasburgo, asileia, erna e +c3aff53ouse
antes de JL, os vel3os cantões montan3eses da Helv&cia 5
.ucerna, $ri, +c3PG 2### 5 permaneceram católicos e foi a
combat!5los, em appel, ue =uínglio acabou por ser morto em
JL#

BBB

' 2uinglianismo preparou, sem d;vida, a acção levada a cabo


por Calvino#

L# Calvino e a fundação de uma Igreja

Em <rança, o reformismo 3umanista encontrou um terreno


favor%vel, e as ideias e as obras de .utero foram aí
recebidas com simpatia# /esde JB, a +orbonne levantava5se
contra as teses do monge saónico e, em O de *gosto, mandava
para a fogueira o primeiro m%rtir protestante da <rança,
0oão Zallire# "as muito rapidamente o evangelismo ealtado
por "argarida de *ngolema se distanciou do 8protestantismo8#
[uando a política aproimou <rancisco I de Clemente ZII e,
uando, na noite de K para N de 'utubro de JL], um carta2
de inspiração 2uingliana foi afiado nos apartamentos do
rei, este tornou5se perseguidor de um protestantismo
franc!s, ali%s pouco vigoroso e ue competia a 0oão Calvino
animar#
Este picardo, nascido em 1oGon em JM, ue na sua juventude
levara uma vida confort%vel junto de um eclesi%stico
impregnado de 3umanismo, converteu5se depois 9s ideias
novas, em JLL# Em JLO, de asileia, onde teve de refugiar5
se, Calvino envia para <rança algo eplosivo, * Instituição
da Zida Cristã, obra escrita em latim, mas ue, depressa

tradu2ida para
ualidades franc!s
de lógica UJLMV,
e de se tornar%,
concisão, pelas suas
um dos cl%ssicos da
jovem língua francesa#
* Instituição & uma suma, mas & sobretudo a epressão de uma
eperi!ncia vivida# Como .utero, Calvino revela5s e um 3omem
de uma concepção pessimista e a sua doutrina sobre a
justificação ir% mesmo at& ao predestinacianismo, ainda ue
ten3a apresentado a predestinação como um mist&rio imposto
pela noção de omnipot!ncia de /eus# "as, indo al&m de um
simples desejo de salvação, Calvino eige ue o cristão
3onre a /eus e ' sirva6 a sua teologia & essencialmente
teoc!ntrica, mas revela5se tamb&m social: a piedade
calvinista sente5se c3amada 9 acção social, científica e
est&tica 8para afirmar por toda a parte o reino do Eterno8#
.utero era um monge muito desprotegi do perante a sociedade6
Calvino & um leigo ue, em contacto

BBL

com o "undo, julga ue, para apoiar o esforço dos fi&is para
a santidade, & preciso uma Igreja ue pregue a palavra de
/eus e um Estado ue faça reinar a ordem#
Aenebra ser%, pois, o campo de eperi!ncia de Calvino6 ser%
aí ue, em JLO, um emigrado franc!s, Auil3erme <arei, o
ret&m, depois de ter fundado uma activa comunidade
2uingliana# *pesar das dificuldades, Calvino consegue criar
uma Igreja presbiteriana constituída por pastores eleitos,
encarregados de ensinar as Escrituras e ue se reuniam em
sínodos6 esses pastores são secundados pelos doutores, por
um consistório de ministros e de leigos e por di%conos# '
culto, ue se dirige unicamente a /eus, & levado 9 sua
simplicidade primitiva# * reforma & assegurada por uma
pregação incessante de ue a íblia & assunto ;nico6 o ue
pressupõe um p;blico con3ecedor e atento6 por isso,
multiplicam5se as escolas elementares e cria5se o 8Col&gio
de Aenebra8, ue se tornar% um dos mais prestigiados centros
3umanistas# Estão, assim, uebradas as oposições6 em JJJ, o
Consistório de Aenebra recebe do Consel3o da cidade o
direito de ecomungar # /urante de2 anos, Calvino & o sen3or
da cidade6 mas embora a +uíça continue a ser influenciada
pelo 2uinglianismo, Calvino começa a influenciar toda a
Europa, sobretudo a <rança6 a *cademia protestante de
Aenebra, de ue (eodoro de 2e & o primeiro reitor, torna5
se um viveiro de ministros reformados# Aenebra tornara5se
8auilo ue Zitemberga não conseguira ser: a capital da
)eforma militante8#
Em <rança, o protestantismo reformado 5 designado cal5

vinismo
e nos meios católicos
dos comerciantes, 5, penetrou
atingindo no meio
a grande dos artesãos
nobre2a6 tendo
encontrado defensores como *ntónio de ourbon ou ColignG, os
3u5guenotes reali2aram o seu primeiro sínodo nacional em
JJM e a Confissão de .a )oc3elle e a /isciplina
Eclesi%stica foram adoptadas como cartas do calvinismo
franc!s# Em JOO, contavam5se j% centenas de Igrejas
reformistas, mas depressa as guerras religiosas fariam da
<rança um campo de batal3a, em ue se opun3am católicos e
calvinistas#
* partir de J], as ideias reformistas de Calvino tin3am5se
estendido aos -aíses aios, a *ntu&rpia sobretudo, 8a
Aenebra

BB]

do 1orte86 penetraram na burguesia mercantil das províncias


setentrionais, auelas mesmas ue, revoltando5se contra os
Espan3óis em JKM, constituirão as -rovíncias $nidas# /os
-aíses aios e de Aenebra, o calvinismo alcançou o vale do
)eno, mas fiou5se definitivamente apenas no -alatinado,
graças a <rederico III Ufalecido em JKOV# 1a Europa
'riental, a .ivónia e a -olónia foram arrancadas ao
calvinismo ue aí penetrara em J]N6 e a Igreja evang&lica
da .itu\nia teve o seu primeiro sínodo em JJK# * atal3a de
"o3acs UJBOV di2im ou o clero 3;ngaro e, em JLK, a Hungria
tin3a apenas tr!s bispos: a partil3a do país entre
Habsburgos e (urcos favoreceu o desenvolvimento do
calvinismo#
"as o caso da Arã5retan3a & particular# 1a Inglaterra, onde
a ideia de uma Igreja oficial era familiar, Henriue ZIII
tin3a, desde o começo do seu reinado, tomado a iniciativa de
uma reforma disciplinar, ali%s bastante 3ostil ao
luteranismo6 mas, desejando a ruptura do seu casamento com
Catarina de *ragão, tia de Carlos Z, o rei não conseguiu ue
o -apa l3e permitisse o divórcio# Então, o -arlamento, sob
pressão de Henriue ZIII, votou a subordinação da Igreja 9
coroa U de <evereiro de JLV, enuanto o c3anceler (om%s
"oro continuava a perseguir os luteranos# Encorajado por
(om%s Cranmer, teólogo de Cambridge, o rei casou com *na
olena, sendo, a seguir, ecomungado UJJMV# (om%s "oro e
outros, como 0oão <is3er, pagara m com a vida a sua oposição
ao soberano ue, no oo ofarticles UJLKV, definiu um
evangelismo ainda próimo do catolicismo6 como na
Escandin%via, manteve5se a 3ieraruia episcopal, mas os bens
da Igreja foram vendidos e o bill dos seis artigos UJLMV
criou um sistema de repressão inuisitorial#

*t&
o 9 morte
reinado dodeseu
Henriue ZIII UJ]KV,
jovem fil3o Eduardo 3ouve apenas cisma#
ZI Ufalecido +ob
em JJLV,
o protector +omerset inspirou uma segunda reforma no sentido
do calvinismo, porue este j% penetrara na Inglaterra graças
a um discípulo de Calvino, 0oão no# ' oo of common
praGer de J]M e o bill dos ]B artigos de JJL suprimiram a
missa e autori2aram o casamento dos padres# *pós o intervalo
sangrento da católica "aria (udor UJJL5JJNV, ue
eliminaria as instituições republicanas dos reformistas, o
advento de Isabel I UJJNV

BBJ

provocou um retorno ao anglicanismo e rejeitou o calvinismo


presbiteriano na oposição puritana6 tr!s bills votados em
JJM restabeleceram a supremacia completa da coroa inglesa
sobre a Igreja# Contra Isabel, )oma tin3a julgado poder
contar com a Escócia, mas a ueda de "aria +tuart UJOKV e a
entusi%stica pregação de 0oão no 5 ue, desde JO, fi2era
adoptar uma Confissão de f& 5, conseguiram fa2er triunfar,
no reino escoc!s, uma Igreja reformada presbiteriana,
estritamente calvinista, republicana e sem bispos#
Em JO], em Aenebra, morria 0oão Calvino6 pode di2er5se ue
ele foi o 8fundador de uma civili2ação8#

]# <ogo contra a cristandadeW

[uando Calvino morre, o mapa religioso da Europa & como um


espel3o uebrado ue deforma o rosto da Igreja# *o 1orte, o
protestantismo domina: o luteranismo conuistou dois terços
da *leman3a6 o imperador, numa guerra froua e atrav&s do
(ratado de *usburgo UJJJV, recon3eceu a eist!ncia oficial
de Igrejas e de Estados protestantes no Imp&rio, onde &
aplicada a fórmula cujus r&gio, 3ujus religio, ou seja, ue
os sujeitos devem conformar5 se 9 religião do seu Aoverno# '
catolicismo manteve fortes posições no +ul e no 'este alemão
e esta situação revela5se c3eia de dificuldades, de ue
apenas se sair% no s&culo 4ZIII, com a terrível Auerra dos
(rinta *nos#
* -r;ssia, a Curl\ndia, os -aíses %lticos e a Escandin%via
romperam com )oma# 's -aíses aios e a Escócia são os
bastiões do calvinismo# * +uíça e a *ls%cia mostram5se
fortemente influenciadas pelo 2uinglianismo# * o&mia e a
Hungria estão tamb&m marcadas, mas a -olónia não est%
indemne nem a Tustria# Em <rança, um calvinismo milita nte 5
ue, durante muito tempo, se ver% mergul3ado em lutas
terríveis contra o Estado católico 5 instalou5se ao longo do

país: vale
-oitu, do )eno,
1ormandia aio .anguedoc,
e -icardia# Enuanto o C&vennes, +udoeste,
reino de Inglaterra
se confunde com a Igreja anglicana ou Igreja 8estabelecida8,
o presbiterianismo calvinista triunfa na Escócia# * Irlanda,
com ecepção do 1orte, permanece fiel

BBO

a )oma: & verdade ue a luta contra o anglicanismo e o


calvinismo & aí uma forma de resist!ncia ao opressor
brit\nico# * It%lia, Espan3a e -ortugal Ueste sob domínio
espan3ol entre JN e O]V v!em5se rapidamente depurados
dos elementos protestant es, pela acção conjugada dos papas,
dos Habsburgos, da Inuisição e tamb&m por uma vigorosa
reforma católica#
(ornando5se capital para o futuro do catolicismo, a Espan3a
e -ortugal 5 países de navegadores 5 revelaram5se
precisamente como os pioneiros das grandes descobertas e os
fundadores dos dois primeiros imp&rios coloniais# 's
-ortugueses estavam a camin3o, desde o começo do s&culo 4Z,
das costas de Tfrica, dos *çores ao cabo da oa Esperança,
ue foi dobrado em ]NK# /esde ]KM, as Can%rias tin3am sido
reunidas 9 coroa espan3ola e em ]MB 5 o ano da tomada de
Aranada 5, Colombo descobria a *m&rica, ao desembarcar no
Haiti# Então, a pedido dos )eis Católicos, interveio
*leandre ZI6 atrav&s das c3amadas cartas aleandrinas 5 a
principal & a segunda bula Inter cetera UBN de 0un3o de
]MLV, designada a 8bula de demarcação8 5, o papa fa2ia
doação aos reis de Espan3a de todas as terras descobertas ou
a descobrir pelos Espan3ói s e separava o seu domínio do dos
-ortugueses por uma lin3a imagin%ria ue passava a cem
l&guas a oeste e ao sul dos *çores e das il3as de Cabo
Zerde# Em contrapartida, os soberanos católicos
comprometiam5se a converter ao catolicismo as populações
submetidas# ' (ratado 3ispano5portugu!s de (ordesil3as UK de
0un3o de ]M]V alargou para du2entas e setenta l&guas mais a
oeste a lin3a de demarcação, mas a ignor\ncia em ue se
estava das terras a descobrir e da sua configuração, custou
aos Espan3óis o rasil, ue se tornar% terra portuguesa# <oi
assim ue uase toda a *m&rica se tornou espan3ola e
católica# 's -ortugueses, ue se contentavam em tra2er para
a Europa as riue2as da Tfrica e da Tsia, ocupavam apenas
alguns pontos costeiros# 1uma 2ona reclamada entre Espan3óis
e -ortugueses, as <ilipinas con3eceram, em JK, a mesma
sorte da *m&rica .atina#
-or isso, uando a Europa 'cidental se encontrava
dilacerada, o 1ovo "undo passava inteiramente para o

catolicismo#
4ZII, com a+er% necess%rio
instalação dosesperar pelo começo
Holandeses do s&culo
calvinistas na
Insulíndia e a c3egada

BBK

9 1ova Inglaterra dos presbíteros ue fugiram aos +tuarts,


para se desenvolverem, fora da Europa, algumas 2onas de
influ!ncia protestante#
* geografia da )eforma na Europa 'cidental escapa a ualuer
eplicação sistem%tica, porue o movimento protestante & de
srcem essencialmente religiosa6 podemos lamentar ue não
ten3a evoluído no uadro da vel3a Igreja o ue poderia ser a
8segunda reforma interior8 5 tendo a primeira ocorrido nos
s&culos 4I e 4II# * princípio, 3ouve um fortíssimo desejo de
regressar a um Evangel3o vivo, e a uma religião pura e
despojada, de proclamar a graça de Cristo e a transcend!ncia
de /eus# 1ão se trata, como muitos católicos pretendem, de
uma atitude negativa, puramente protestat%ria6 a
espiritualidade dos reformados centrou5se na palavra de
/eus, constantemente confrontada com o comportamento social#
' reformado desconfia dauilo ue, então, se designa como
8realidade sensível8, ue o católico considera como srcem
de renovação, mas ue tamb&m pode ser para ele uma tentação
de facilidade, como os sacramentos e as devoções# * Igreja
aos ol3os do reformado não pode ser uma instituição
3ierarui2ada e monarui2ada, de magist&rio infalível6 mas
tem de ser a comunidade invisível dos verdadeiros crentes,
8as Igrejas8, em ue as suas diversas instituições não devem
ser mais do ue 8manifestações visíveis mas insuficientes da
sociedade espiritual8# *o sacerdócio especiali2ado dos
católicos, os reformados opõem, sobretudo, o sacerdócio
universal dos crentes# * seus ol3os, a unidade do
catolicismo não passa de um monolitismo est&ril: 8*grada5
nos, "onsen3or, pertencer a Igrejas ue mudam, Ecclesia
reformata semper reformanda8, retoruira jurieu a ossuet,
autor das Zariações das Igrejas -rotestantes#
+alvo algumas ecepções, as relações entre católicos e
protestantes foram, desde a )eforma do s&culo 4ZI, as de
irmãos inimigos6 os contactos tornaram5se muitíssimo mais
difíceis do ue com os ortodoos 5 ue, no 'riente, formam
massas 3omog&neas 5, porue os protestantes viviam num
universo conuistado pela Inglaterra dissidente e pela
<rança católica, vendo5se, por isso, constantemente
confrontados com os 8papistas8# Em <rança, na *leman3a, na
+uíça e nos -aíses aios, as minorias

BBN
religiosas estiveram, durante muito tempo, ou num estado de
agressividade ou de defesa# * desconfiança m;tua continuar%
a ser regra, muito depois de se terem acalmado as lutas
violentas como as guerras religiosas e ue serão inflamadas
por certas atitudes sect%rias, como a de .uís 4IZ na
)evogação do dicto de 1antes#
1o s&culo 4I4, para a opinião comum, os protestantes ainda
não deiam de ser 8caieiros5viajantes vestidos de negro ue
desejam impor as suas íblias falsificadas e desfiguradas8
U.a )evue cat3oliue, NLOV6 por sua ve2, os protestantes
continuarão a anunciar ue 8as tr!s coroas do -apa 3ão5de
cair todas ao mesmo tempo8 U*t3anase Couerel, ' Catolicismo
e o -rotestantismo, NO]V#
Contudo, muito lentamente, alguns protestantes começam a
descobrir os valores católicos: o valor de uma liturgia mais
viva, o mist&rio do sacramento, a vida mon%stica e a
mariologia6 certos agrupamentos importantes permitiram 9s
Igrejas protestantes concentrar as suas riue2as e as suas
forças# -or seu lado, os católicos aperceberam5se de ue a
)eforma podia interessar5l3es, sobretudo pelo sentido das
próprias Escrituras, da íblia 5 de ue muitos católicos se
desviaram ao longo de s&culos 5, a necessidade de um
regresso 9 simplicidade nas relações entre os membros da
Igreja, a colegialidade fortalecida e o papel do leigo na
Igreja# 1essa altura, opera5se uma aproimação 5 ue ainda
não se sabe uando c3egar% ao fim 5 facilitada pela acção de
0oão 44III, pelo II Concílio do Zaticano e pelo movimento
ecum&nico lançado pelos protestantes 3% meio s&culo# *l&m
disso, a Igreja anglic ana desemp en3a um papel de Igreja5
ponte Uridgec3urc3V, porue re;ne 8a constituição
tradicional da Igreja Católica com a liberdade de se dirigir
directamente a /eus atrav&s de Cristo8: uma Igreja Católica
com elementos protestantes, mesmo ue a declarada
compreensão do anglicanismo não deva incitar os cristãos a
um sincretismo inconsistente#
"as ter% sido necess%rio ue a Europa cristã se despedaçasse
durante o s&culo 4ZI, para, finalmente, se poder c3egar a
esta esperança de unidadeW -odemos responder ue 8os
camin3os de /eus são insond%veis86 os católicos censuram
.utero por não ter sido o seu grande reformador, por não ter
utili2ado

BBM

todas as suas capacidades e coragem 8para limpar as ervas

danin3as
"as do jardim
a isso de /eus8 no interior
os protestantes respondemda ue
Igreja romana#
.utero não
pretendeu 8reformar8 a Igreja, mas 8salvar o 3omem pecador e
perdido8 e dar o seu contributo ao catolicismo# *
incontest%vel reforma católica do s&culo 4ZI &, pois, aos
ol3os dos católicos, a prova de ue o cisma luterano não era
necess%rio6 e os protestantes pensam ue os reformadores
católicos não fi2eram mais do ue 8retomar as posições ue
fi2eram a força do protestantismo8 UE# A# .&onardV#
-or seu turno, o 3istoriador limita5se a afirmar a
verificação de uma ruptura ue lançou uns na dissid!ncia e
imp`s a outros uma posição defensiva, rasgando o manto da
própria Igreja#

BL

ZII
* IA)E0*  /E<E+*

Capítulo I
* )E<')"* C*(@.IC*

# )eforma ou Contra5)eformaW

* epressão 8contra5reforma8 tornou5se corrente# Era,


evidentemente, cómodo apresentar o grande movimento
religioso ue sublevou a Igreja Católica, desde meados do
s&culo 4ZI at& meados do s&culo 4ZII, como uma simples
reacção 9 )eforma protestante, como um brutal despertar
durante a tempestade# 'ra, no s&culo 4ZI, a ideia de reforma
Utão vel3a como a IgrejaV tin3a penetrado at& 9s profunde2as
da sociedade cristã# /epois da ruptura entre católicos e
protestantes, a reforma foi continuada, 8nos dois lados da
barricada, por um bom n;mero de almas sinceras e pacíficas,
preocupadas em cumprir a mensagem de 0esus Cristo8 e ue
deiaram 8aos controversistas o trabal3o das 3ostilidades
contra as outras confissões8 U*# >illaertV#
-or isso, 3ouve simultaneamente uma 8reforma católica8,
enriuecimento de uma fonte desde 3% muito alimentada, e uma
8contra5reforma8, recurso católico destinado a colmatar as
brec3as abertas pelo protestantismo e, at& mesmo, para
reconuistar as 2onas submersas# ' Concílio de (rento foi ao
encontro dessas duas correntes#
1a verdade, a epressão 8contra5refo rma8 engloba a primeira
fase do movimento, uando, sob a influ!ncia dos
mediterr\nicos 5 italianos e espan3óis representados no
Concílio de

BLL

(rento 5, a assembleia adoptou uma atitude radical ue


correspondia 9 tamb&m radical dos luteranos#
* uma obra difícil e, talve2, prematura de síntese, a Europa
mediterr\nica preferiu o estabelecimento de uma fronteira
rígida# *í est% a eplicação das objecções da <rança 5 ue
se inclinava para uma solução ir&nica 5 9 8recepção8 de um
concílio ue denunciava ualuer possibilidade de
conciliação#
*li%s, o Concílio de (rento não tem uma ecelente reputação#
 sintom%tico o facto de os observadores não católicos no II
Concílio do Zaticano se terem abstido de participar, em L de
/e2embro de MOL, na comemoração do encerramento do Concílio
de (rento, uatro s&culos antes# *l&m disso, alguns
católicos manifestam certa desconfiança a respeito de uma
assembleia ue se estender% por de2oito anos e censuram5l3e
o facto de ter encerrado a Igreja romana numa fortale2a
dourada, em ue todos os tesouros estariam, para sempre, ao
abrigo de cobiças, sob a vigil\ncia de um pontífice supremo
com poderes acrescidos# *s coisas, por&m, são menos simples
e as realidades, mais profundas#
 claro ue os padres do Concílio de (rento tomaram posição
face ao protestantismo e opuseram 9 Confissão de *usburgo
certas definições canónicas ue incidiram em tr!s pontos
essenciais: a Escritura, o papel da f& e das obras, e os
sacramentos# *os protestantes ue v!em no .ivro inspirado 5
directamente apreendido e livremente interpretado 5 a fonte
;nica da )evelação, opuseram a missão orientadora da Igreja:
vigiar pela integridade das duas fontes da f&, a Escritura e
a (radição# Contra .utero, o concílio afirmou ue a
justificação não se obt&m eclusivamente pela f& nem pela
convicção de ue se est% justificado, mas pela conjunção das
obras e da f&# [uanto aos sete sacramentos, não são simples
alimentos da f& dos fi&is nem sinais6 cont!m realmente a
graça# "as o Concílio de (rento foi tamb&m 8o ponto de
encontro de todas as forças católicas da )eforma8# ' próprio
.utero, em JN e, depois, em JB, tin3a apelado para um
concílio 8cristão e livre8, ou seja, não convocado pelo
papa, em ue os padres e leigos tivessem voto deliberativo#
.utero estava ainda em Zartburgo, uando .eão 4 morreu U de
/e2embro de JBV6 o seu sucessor, *driano ZI, um

BL]

3oland!s, foi muito mal recebido por )oma ue ac3ou ridículo

este peueno
antigos 8%rbaro8
3%bitos# carrancudo,
*driano ZI disposto
uis a estragar os8o
sinceramente
restabelecimento da disciplina eclesi%stica no seu antigo
esplendor8 e, para o conseguir, prop`s a reali2ação de um
concílio ecum&nico numa cidade alemã# * /ieta de >orms
aceitou esse princípio, mas recusou a cl%usula luterana do
direito dos leigos de participar e votar nesse concílio#
/epois da morte do -apa U] de +etembro de JBLVR tudo foi
posto de novo em causa, porue a Igreja romana recebeu como
c3efe o prelado menos destinado a promover uma reforma
profunda: um bastardo de 0uliano de "&dicis, transformado em
Clemente ZII UJBL5JL]V, ue, pelas suas artiman3as
diplom%ticas, mais fa2 lembrar um vulgar podest9 italiano
UV do ue um pastor de almas# 'ra aliado, ora advers%rio de
Carlos Z 5 cuja desastrada política de reunificação cristã
se fa2ia ao gosto dos desejos pontifícios 5, Clemente ZII
con3eceu a maior vergon3a de ue a Cidade Eterna jamais se
viu fustigada: o saue de )oma pelas tropas imperiais, a ue
o -apa, prisioneiro no Castelo de +ant ngelo, teve de
assistir UJ de "aio de JBKV# +inal de um tempo, em ue, por
toda a parte, a Igreja romana via amontoarem5 se as ruínas e
não l3e serem poupadas as 3umil3ações# (al pontíf ice era
incapa2 de organi2ar um concílio ue, ali%s, temia, ao
lembrar5se de Constança e de asileia6 por isso, sentiu5se
muito feli2 por se poder desculpar com a m% vontade de
<rancisco I para adiar a sua convocação#
+eguiu5se -aulo III UJL]5J]MV ue, 9 primeira vista, era
um 8papa da )enascença8, um <arn&sio ue ficou a dever a sua
nomeação a sua irmã, amante do futuro *leandre ZI6 tivera
j% uatro fil3os e praticou o nepotismo6 confiou a "iguel
*ngelo a direcção dos trabal3os da asílica de +ão -edro e a
eecução dos frescos da Capela +istina# 1o entanto, os
3istoriadores mostram5se de acordo em di2er ue o seu
pontificado foi decisivo: porue, tornando5se -apa,
*leandre <arn&sio colocou toda a sua tenacidade em promover
uma reforma ue, de papa em papa, sempre se adiava# ' +acro
Col&gio, ue não passava de

1ota : ' euivalente ao nosso actual presidente da c\mara#


X1# do (#Y
BLJ

uma 8latrina de intrigas8, foi depurado e viu5se entrar nele


0oão <is3er ue, depois, morreu nas prisões de Henriue
ZIII, Aian -ietro Caraffa, futuro -aulo IZ, e Aiovanni
"orone Con5tarini6 este foi a alma da Comissão -reparatória

do Concílio
documento Aeral# Em
capital: JLK, dos
Consel3o essacardeais
comissãoescol3idos
fa2ia aparecer um
e outros
prelados sobre a reforma da Igreja#

B# ' Concílio de (rento

*pesar dos interesses, ambições, nacionalismos e 3%bitos,


-aulo III decidiu reali2ar esse concílio# Contudo, só /eus
sabe ue dificuldades foram surgindo no seu camin3o Em BM
de "aio de JLO, lançava a bula de convocação para um
concílio ue devia reali2ar5se em "\ntua e ue, na
realidade, se efectuou em Zic!ncia, na presença de### cinco
padres conciliares# Esta magra assist!ncia e o recomeço da
guerra entre Carlos Z e <rancisco I fi2eram adiar o concílio
sine die UB de "aio de JLMV# * segunda bula, em J]B, não
alcançou sucesso algum# /epois, o (ratado de Cr&pG entre o
imperador e o rei de <rança permite a -aulo III convocar o
concílio para terras do imp&rio, em (rento, com início em J
de "arço de J]J# * abertura oficial fe25se somente em L de
/e2embro, com a presença de uns trinta padres, acompan3ados
por uarenta teólogos# "as nen3um protestante# * direcção do
concílio estava assegurada por tr!s legados pontifícios, mas
apenas os bispos, os gerais das ordens e os representantes
das ordens mon%sticas tin3am direito de voto, com eclusão
dos mandat%rios, dos representantes dos corpos eclesi%sticos
e das universidades6 por isso, evitou5se o emprego da
fórmula de Constança e de asileia: Ecclesiam universalem
repraesentans#  claro ue se estava muito longe da
assembleia democr%tica reclamada por .utero#
' Concílio de (rento prop`s5se trabal3ar na definição dos
dogmas católicos e, ao mesmo tempo, na reforma da Igreja# *
uarta sessão, em *bril de J]O, foi capital, porue definiu
ue as tradições apostólicas deviam ser aceites com o mesmo
respeito ue as Escrituras, fiando5se, então, o seu c\none:
a Zulgata

BLO

de +# 0erónimo foi declarada aut!ntica, uer di2er,


suficiente para a demonstração dogm%tica# Em K de 0aneiro de
J]K Useta sessãoV, a doutrina católica sobre a
justificação foi eposta em de2asseis capítulos: insistiu5se
principalmente na colaboração da vontade 3umana com a graça
santificante# *lguns 3istoriadores pensaram ue, se esse
decreto fosse aprovado não em (rento, mas no Z Concílio de
.atrão, a ruptura luterana talve2 tivesse sido evitada, o
ue fa2ia pensar ue a )eforma católica fora desencadeada

com algum
bispos, tempo de
o decreto atraso#
de BJ Contra não
de <evereiro a não5resid!ncia dos
foi mais ue uma
8solução menor8, por aplicar as sanções aos culpados apenas
depois de uma aus!ncia ininterrupta de seis meses# * s&tima
sessão, em L de "arço, define a doutrina sobre os
sacramentos, proíbe a acumulação de bispados e regulamenta a
função episcopal em função das eig!ncias pastorais#
1o dia  de "arço, sob o preteto de epidemia 5 na
realidade, para escapar 9 iniciativa do imperador 5, a
maioria dos padres conciliares decidiu a mudança do Concílio
para olon3a, mas o esmagamento dos protestantes em "3lberg
UB] de *brilV destruía ualuer esperança de reconciliação
entre as duas confissões# Em olon3a, nada se fi2era de
decisivo e, para evitar um cisma 5 uma minoria de padres
tin3a5se recusado a abandonar (rento 5, -aulo III suspendeu
o concílio U0aneiro de J]NV, (odavia, na /ieta de *usburgo,
Carlos Z prop`s ue se fi2esse um compromisso com os
vencidos 5 o interim dD*usburgo 5 de inspiração católica,
cujas ;nicas concessões eram a comun3ão sob as duas esp&cies
e o casamento dos padres# [uase 9 força, os protestantes
aceitaram participar no Concílio de (rento 5 não no de
olon3a 5, com a condição de ue não estivessem sob a
direcção do -apa e se discutissem de novo os decretos
conciliares anteriormente apresentados#
Essas mesmas reservas ainda permaneciam, uando 0;lio III,
em <evereiro de JJ, sucedeu a -aulo III# ' novo -apa imp`s
como objectivo a retomada do Concílio de (rento# 's
trabal3os prolongaram5se durante o Zerão de JJ, mas, ao
longo do 'utono, foi consagrado o termo transubstanciação, a
etrema unção foi declarada sacramento e definida a
necessidade da confissão oral, embora tamb&m se abordassem
os problemas da

BLK

comenda 5 vel3a praga e c3aga da Igreja 5, do 3%bito


clerical e do direito de padroado# * passagem de alguns
teólogos luteranos não resultou em nada e depois o
imperador, pressionado pelas tropas do eleitor da +aónia,
ue fugira de Innsbruc, o concílio acabou uma ve2 mais por
ser adiado U*bril de JJBV# 1o começo de JJJ, 0;lio III
morria e "arcelo II reinou apenas durante alguns dias# <oi
eleito Aian -ietro Caraffa com o nome de -aulo IZ UJJJ5
JJMV, mas o novo -apa, rígido nos seus 3%bitos, julgou ue
podia reali2ar a reforma so2in3o: transformou a fisionomia
do +acro Col&gio, onde os 3omens 2elosos e instruídos
formavam uma maioria6 atacou a /ataria, gabinete dos favores

pontifícios
perseguiu os emonges
principal fonte
giróvagos em de
)omareceitas da +anta
e, a seguir, +&6a
em toda
cristandade# ' seu sucessor -io IZ UJJM5JOJV nomeou o
sobrin3o, o admir%vel Carlos orromeu, como auiliar na
renovação da disciplina#
* penetração do calvinismo em <rança sob Henriue II fa2ia
recear a eventualidade de uma <rança protestante6 por isso,
-io IZ convocou de novo os padres conciliares, ue eram em
n;mero de ], para a Catedral de (rento em N de 0aneiro de
JOB# Em BO de <evereiro, esforçaram5se por levar por diante
um grande projecto de reforma, mas o problema da resid!ncia
dividiu5os durante muito tempo6 em 0ul3o, adoptaram os
c\nones relativos ao sacrifício da missa considerada como a
comemoração e a reiteração do sacrifício de Cristo# /epois,
Espan3óis, <ranceses e imperiais, partid%rios de um
acr&scimo do poder episcopal, opuseram5 se violentamente aos
Italianos, defensores da supremacia do -apa# ' legado "orone
tirou o concílio desse impasse ao propor aos padres 5 ue o
adoptaram em 1ovembro e /e2embro de JOL 5 um esuema de
reforma geral 5 de )efor5matione 5 em uarenta e dois
artigos, ue podemos considerar a ess!ncia da reforma
tridentina6 assim, definiu5se a nomeação e os deveres dos
cardeais, a organi2ação dos sínodos e dos semin%rios
diocesanos, a visita 9 diocese feita pelo bispo, a reforma
dos capítulos e das ordens mon%sticas, etc# -aralelamente, o
decreto fametsi regulava as condições de validade do
casamento e definia os c\nones sobre o purgatório, as
indulg!ncias e o culto dos santos# 's padres conciliares
abandonaram (rento em O de

BLN

/e2embro de JOL e a bula enedictus /eus, de BO de 0aneiro


de JO], assinada por -io IZ, confirmou as decisões do
concílio e comunicou5as 9 cristandade#
"as as 8fal3as8 do concílio tornaram5se evidentes# 1ão se
definiu nen3uma doutrina sobre a Igreja6 por isso, nesta
mat&ria, 3aver% durante muito tempo, deplor%veis e perigosas
aproimações# )eclamando a participação de leigos no
concílio, .utero falava como profeta, mas a sociedade do
s&culo 4ZI tin3a ainda uma ideia muito vaga acerca do leigo#
 claro ue, se se instaurasse um verdadeiro di%logo entre
católicos e reformados em (rento, talve2 a Igreja tivesse
evitado um desperdício de forças, de ue ainda sofre6 mas
seria possível esse di%logo na atmosfera de viol!ncia
mantida pelos príncipes cristãosW -odemos, pois, lamentar
ue os padres de (rento não ten3am conseguido reali2ar a

reforma da
asileia C;ria podido
ten3am romana redu2ir
e ue osa fantasmas de Constança
colegialidade e de
apenas aos
dignit%rios da Igreja# 1ascidas de um desejo de etirpação e
de defesa, certas instituições como a Congregação da +uprema
e $niversal Inuisição ou +anto 'fício UJ]BV e o Inde
UJJKV não terão limitado 5 a longo pra2o 5 a própria
audi!ncia da IgrejaW
"as a obra levada a cabo pelo Concílio de (rento revela
alguns aspectos positivos# -or um lado, graças a um trabal3o
colectivo consider%vel em ue colaboram teólogos bem
informados, a doutrina católica mostra5se mais definida6 o
aparecimento do Catecismo do Concílio de (rento UJOOV, a
edição da Zulgata, a reforma do brevi%rio UJONV e do missal
UJKV, a transformação do calend%rio e do martirológio
UJNBV foram as principais aplicações pr%ticas dessa obra
dogm%tica, ;nica pela sua import\ncia na História da Igreja#
*li%s, os decretos tridentinos de reforma, embora só muito
lentamente ten3am penetrado na 8carne e no sangue da
Igreja8, a verdade & ue modelaram fortemente o seu futuro#
Em termos precisos, definem a estrutura 3ier%ruica bem como
o regime de benefícios, as condições de uma liturgia viva e
da vida sacramental, os deveres dos cl&rigos e tamb&m os dos
príncipes#
"as o Concílio de (rento não teria sido mais do ue uma
longa e in;til discussão, se os muitos e santos padres nele

BLM

presentes não tivessem, ao mesmo tempo, criado um clima


favor%vel 9 reforma católica#

L# 81o sangue e na carne da Igreja8

"as não ser% preciso encontrar, para esses santos padres,


uma sede apostólicaW $m facto & certo: a maioria dos papas
pós5tridentinos foram sacerdotes dignos, piedosos e 2elosos6
mas, numa Europa dilacerada ue era apenas cristã de nome, a
sua acção foi perturbada pela ualidade de soberano absoluto
de um Estado italiano ue teve os seus aliados, os seus
advers%rios, as suas finanças, as suas 8combina2ioni8# /e
futuro, mais sedent%rios, os papas, eles próprios italianos,
nem sempre escaparão 9s tentações da centrali2ação e 9s
pressões de um s&uito fortemente italiani2ado, cujas
preocupações serão, por ve2es, mais burocr%ticas do ue
pastorais# *s susceptibilidades nacionalistas, a inger!ncia
dos princípes no próprio seio do conclave e o veto efectivo
oposto por certos Estados cristãos 9 aplicação dos decretos

de (rento
relação ao 3ão5de enfrauecer ainda a posição dos papas em
"undo moderno#
' sucessor de -io IZ Ufalecido em JOJV, -io Z UJOO5JKBV 5
o primeiro papa canoni2ado depois de Celestino Z Ufalecido
em BMOV e o ;ltimo antes de -io 4 Ufalecido em M]V 5 foi
um verdadeiro santo: catecismo, missal e brevi%rio entraram,
graças a ele, nos 3%bitos clericais6 mas, se a vitória de
.epanto conseguida em JK sobre os (urcos, por /on 0uan da
Tustria, o enc3eu de alegria, isso depois não voltou a
acontecer# * Aregório 4III UJKB5JNJV, um s%bio, deve5se a
fundação de uma vintena de semin%rios e da $niversidade
Aregoriana e foi ele uem concedeu 9s nunciaturas
permanentes o seu car%cter definitivo# ' irmão mais novo dos
-eretti tornado +isto Z UJNJ5JMV colocou os seus cuidados
na visita canónica regular dos conventos, imp`s aos bispos a
visita ad limina e organi2ou as congregações cardinalícias 5
sendo o n;mero de cardeais fiado em K 5 para a
administração judici%ria nos Estados pontifícios e na Igreja
universal#
' facto de Clemente ZIII UJMB5OJV ter elevado ao
cardinalato s%bios como o 3istoriador arónio e o teólogo
elarmino

B]

prova a sua preocupação em fa2er do +acro Col&gio um corpo


de elite# -aulo Z UOJ5OBV, cujo reinado assistiu 9
conclusão da asílica de +ão -edro de )oma, tentou aplicar
os decretos triden5tinos sobre a resid!ncia episcopal e a
comun3ão freuente, mas foi desconsiderado pelo seu
nepotismo e pelo apoio financeiro ue concedeu ao imperador
durante a Auerra dos (rinta *nos# *s missões estrangeiras
devem muito a Aregório 4Z UOB5OBLV, criador da
Congregação da -ropaganda, em OBB6 tamb&m as regras actuais
da eleição dos papas datam do seu pontificado#
* )enovatio in capite Ureforma da cabeçaV era, pois, um bom
camin3o# Com os bispos, aborda5se a reforma in membris, de
ue & impossível traçar um uadro de conjunto# Em todo o
caso, & verdade ue, embora o corpo episcopal actual
pertença por inteiro 9 elite da Humanidade, no fim do s&culo
4ZII era uma desolação# -ensemos em JKM, uando uarenta e
tr!s dos cento e uarenta bispados franceses estavam
desprovidos de titulares e um cardeal como Carlos de .orena
Ufalecido em OKV, arcebispo de )eims durante nove anos,
foi titular simultaneam ente de seis outros bispados e abade
comendat%rio de in;meras abadias# 1os 3%bitos do tempo, o
3umanismo, a política, a diplomacia e a guerra eram

perfeitamente
como compatíveis com o episcopado considerado então
uma carreira#
1o entanto, não faltavam na Igreja os pastores 2elosos e
fervorosos: por eemplo, (om%s de Zilleneuve Ufalecido em
JJJV, arcebispo de Zalença, cujos rendimentos eram
destinados 9s obras 3ospitalares ue fundar a6 ou o s%bio
bispo de +alerno, +eripando Ufalecido em JOLV ou outros
como )oberto elarmino Ufalecido em OBV, arcebispo de
C%pua, Aiberti Ufalecido em J]LV, bispo de Zerona, cujas
ideias reformador as influenciaram certos decretos de (rento
UV#
"as auele de uem se pode di2er ue 8refe2 o episcopado da
Europa8 pelo sentido do seu eemplo foi Carlos orromeu
Ufalecido em JN]V, sobrin3o de -io IZ6 depois de ter
animado os ;ltimos debates do concílio, foi durante vinte
anos arcebispo

1ota : <a2 parte do n;mero dos grandes padres conciliares


tridentinos o portugu!s /om <rei artolomeu dos "%rtires,
arcebispo de raga, beatificado em 'utubro de B, fundador
do +emin%rio Conciliar da aruidiocese, em constantes
visitas pastorais e grande morali2ador do seu clero# X1# do
(#Y

B]

de "ilão: o ensino metódico do catecismo, a renovação da


pregação pastoral, a restauração do espírito de penit!ncia,
a administração digna dos sacramentos, a visita metódica da
diocese, a reali2ação regular dos sínodos diocesanos e
provinciais 5 eis alguns dos aspectos capitais da acção de
orromeu ue podem dar a ideia de o ultrapassarem, tratando5
se de um bispo, mas, no s&culo 4ZI, isso tin3a o seu valor
como eemplo# ' cardeal Hosius Ufalecido em JKMV, bispo de
Ermland, riçonnet Ufalecido em JL]V, bispo de "eau,
+adoleto de Carpentras Ufalecido em J]KV, -r&vost de +ansac
Ufalecido em JMV, arcebispo de ord&us, e o seu sucessor
<rançois de +ourdis Ufalecido em OBNV, 0osap3at uncevic2
Ufalecido em OBLV, arcebispo de -oloc, >ilfgang Zon +alm
em -assau, o prima2 da Hungria, -asmanG Ufalecid o em OLKV,
situam5se, entre muitos outros, na tradição borromiana#

]# ' tempo dos santos padres

8* descida do episcopado corresponde a decad!ncia do clero#8


* c3aga do clero do s&culo 4ZI era a ignor\ncia# -or isso,
ue sedução não devia provocar um livro como a Instituição

Cristã de Calvino
c3arlatanismo sobre os
dos pregadores espíritos
da &poca embotados
Cl&rigos pelo
giróvagos,
sem bispo, cl&rigos incapa2es de pronunciar as fórmulas
v%lidas de um sacramento, tudo isso tin3a sido deplorado no
Concílio de (rento# * condição essencial de uma reforma
clerical era, pois, uma sólida formação intelectual e
espiritual dos futuros padres 5 e, por conse u!ncia, dos
futuros bispos 5, nos semin%rios e nas universidades# *
idade de oiro espan3ola, sob <ilipe II, foi tamb&m a idade
das universidades ib&ricas de irradiação universal:
+alamanca, *lcal% de Henares, Zalladolid e Coimbra# Em )oma,
a +api!ncia, o *ngelicum, a Aregoriana6 em <rança, ord&us,
(oulouse e a vel3a +orbonne6 nos -aíses aios, /ouai e,
sobretudo, .ovaina6 na *leman3a, +al2burgo, foram, com as
suas faculdades de (eologia, os centros de reforma e os
centros de formação clerical# $m decreto de (rento UJOLV
tin3a prescrito a cada igreja catedral a manutenção de um
semin%rio6 essa prescrição só ser% aplicada muito
lentamente, perante a indiferença, a falta

B]B

de professores, a inveja dos col&gios tradicionais,


colocando obst%culos ue, em <rança, só serão levantados no
s&culo 4ZII# 1o entanto, antes do fim do s&culo 4ZI, muitas
dioceses italianas e espan3olas j% possuíam um semin%rio#
(al como no s&culo 4I a instituição dos cónegos regulares
insuflara no cl&rigo parouial um pouco do fervor mon%stico,
tamb&m o s&culo 4ZI viu multiplicar5se os 8padres
reformados8 ou os 8cl&rigos regulares8, sociedades
religiosas novas, caracteri2adas pela manutenção do espírito
mon%stico adaptado 89 mobilidade de um apostolado num mundo
em transformação8, substituindo a estabilidade de um
mosteiro pela obedi!ncia reforçada, substituindo o ofício do
coro pela oração mental na forte tradição da devotio
moderna# * maior parte dessas fundações foram italianas ou
espan3olas: os (eatinos UJKV, fundados por Aaetano de
(3ienne Ufalecido em J]KV e Caraffa U-aulo IZV6 os
arnabitas UJLV do cremon!s *ntónio "aria =accaria
Ufalecido em JLMV6 os +omascos 3ospital%rios, devidos ao
vene2iano 0erónimo Emiliano Ufalecido em JLKV6 os cl&rigos
regulares ministros dos enfermos ou Camilianos, do romano
Camilo de .ellis Ufalecido em O]V, cuja vocação se
aproima da dos Irmãos da "isericórdia, fundados em J] em
Espan3a pelo portugu!s 0oão de /eus# Em )oma, o aragon!s
0os& Calasans Ufalecido em O]NV fundou, para educação das
crianças do povo, os Cl&rigos )egulares das Escolas -ias#

"asespan3ol,
um foi a In%cio de .oiola
ue foi dada a U]M5JJOV, uma com
3onra de criar, ve2 amais ainda
Compan3ia
de 0esus, a mais c&lebre comunidade de cl&rigos regulares e,
de facto, a mais poderosa das ordens religiosas modernas#
[uando, numa capela de "ontmartre, In%cio se tornou
estudante em ve2 de soldado e pronunciou com alguns
compan3eiros os votos de pobre2a, de castidade, de
3umildade, de evangeli2ar os infi&is e de, no caso de ser
isso impossível, colocar5se ao serviço do -apa, não pensava
então fundar uma congregação religiosa# 1o entanto, as
necessidades do apostolado incitaram os compan3eiros a
agrupar5se definitivamente6 em J], a Compan3ia de 0esus
era recon3ecida por -aulo III#
Escreveu5se de tudo sobre os jesuítas: um 3istoriador de
sucesso, ainda recentemente, fe2 de In%cio e dos seus
discípulos

B]L

simples iniciados na cabala e no ocultismo * palavra


jesuíta teve 3onras duvidosas pela sua 8derivação própria e
imprópria8, como di2em os gram%ticos: jesuit&rio,
jesuiti2ar, jesuitismo, etc### ' jesuíta asílio de &ranger
e dEstauni&, o jesuíta laista de -ascal, o jesuíta
mumificado pelo famoso perinde ac cad%ver, os monita
secreta, o 8-apa negro8 e a 8Congregação8 são, entre muitos
outros, os epítetos ue a História carreou e ue a
ignor\ncia popular engrossou#  evídentíssimo ue nem todos
os du2entos mil jesuítas ue viveram depois de +to# In%cio
foram santos6 mas fa2er dos jesuítas os escravos obstinados
de forças ocultas sob o preteto de ue a Compan3ia est%
fortemente 3ierarui2ada e a obedi!ncia & a sua lei
essencial, & esuecer ue tal g&nero de obedi!ncia não & a
abdicação da personalidade, antes um uadro para o
verdadeiro eercício da liberdade# * etraordin%ria
vitalidade da ordem 5 trinta e cinco mil membros em MM 5,
a diversidade do seu apostolado, a facilidade com ue
enfrenta todos os problemas t!m como fundamento vocações
profundamente testadas por uma sólida formação intelectual e
espiritual#
$m instrumento tão fleível e tão temperado foi,
imediatamente, utili2ado pelos papas reformadores# Em
primeiro lugar, como euipa mission%ria, os jesuítas foram
levados, a partir de J]K, a adoptar o minist&rio do ensino6
tendo criado um col&gio em "essina ue con3ec eu sucesso,
In%cio criou outro em )oma: o col&gio romano 5 le Aes; 5,
ue & a alma da Compan3ia UJJV# *vançando atrav&s da

Europa, fiando5se
protestantismo, os nas fronteiras
jesuítas dos países
multiplicaram gan3os para
os col&gios o
5 em
JN, j% dirigiam cento e uarenta e uatro 5, onde se
formou a elite europeia: a sua srcinalidade e o seu !ito
deviam5se a uma pedagogia fortemente cl%ssica e, ao mesmo
tempo, aberta 9s ci!ncias, ao teatro e 9 controv&rsia6 tudo
isto dava um lugar importante 9 disciplina ue, em muitos
aspectos, estava próima do ideal de "ontaigne# *li%s, pela
aplicação dos Eercícios Espirituais de +to# In%cio, os
jesuítas tornar5se5iam os guias das almas desejosas de
encontrar um itiner%rio simples para c3egar at& /eus#

1ota : /ebate p;blico sobre assuntos de interesse# X1# do


(#Y

B]]

$ma outra forma de renovação clerical foi aplicada por um


padre romano, bondoso e brincal3ão, <ilipe de 1&ri Ufalecido
em JMJV 5 8-epo buono8, para o povo simples 5 ue lançou as
bases do 'ratório, sociedade sem votos p;blicos, cujos
membros vivem em comunidade para trabal3ar na pregação e no
ensino# Espal3ando5se pela <rança no começo do s&culo 4ZII,
o 'ratório tornar5se5% um elemento capital da )eforma
católica# ' s&culo 4ZI foi tamb&m o s&culo dos monges
descalços, isto &, dos ue, nas antigas ordens, preconi2avam
uma reforma austera em oposição aos mitigados ou não
descalços# *ssim, 3ouve os eremitas descalços de +to#
*gostin3o, os servitas e os trinit%rios descalços,
sobretudo, os carmelitas descalços, porue a antiga 'rdem do
Carmelo estava tamb&m dominada pela decad!ncia: uma
carmelita espan3ola, (eresa de *lmunada Ufalecida em JNBV,
levada por uma vocaçã o ecepcional, decidiu reagir e, em
JOB, em Tvila, fundou o primeiro convento das carmelitas
descalças6 vinte anos depois, j% se contavam de2assete em
Espan3a6 a reforma gan3ou ainda a ordem masculina, graças ao
grande místico 0oão da Cru2 Ufalecido em JMV6 em JML, os
carmelitas descalços tornaram5se numa ordem independente#
Entre os franciscanos, duas vagas de renovação: a dos
8minoritas da mais estrita observ\ncia8, discípulos do
espan3ol -edro de *lc\ntara Ufalecido JOBV, ue foi um
prodígio de penit!ncia e, sobretudo, o dos capuc3in3os# Em
JBJ, o observantino "attea asc3i deiava furtivamente o
Convento de "ontefalcone para ir solicitar ao -apa ue l3e
consentisse observar 9 letra a regra franciscana6 foi essa a
srcem da 'rdem <ranciscana *utónoma dos Capuc3in3os, ue
teria uma enorme prosperidade, porue actualmente são uns

uin2e
sua mil: a bonomia
predilecção pelos dos capuc3in3os,
pobres fi2eram adeles
sua caridade
a ordem emais
a
popular#
*ssim, de It%lia e de Espan3a uma forte corrente mística
estendeu5se pela Europa católica, auecendo os corações e
inclinando5se para uma devoção menos inuieta do ue no
s&culo anterior, mas sempre bastante entusi%stica# *ssim, a
vida espiritual dos católicos seria renovada# Com os
cl&rigos regulares, sobretudo os jesuítas, desenvolveu5se o
aspecto sensível da religião# 1a It%lia, nasceu assim a arte
barroca, epressão essencial

B]J

da reforma católica, ue renovou a iconografia religiosa


pela sua vontade de deslumbrar e de comover# *rte de
imaginação, de invenção, de sumptuosidade, de contrastes, a
arte barroca & diferente dessa procura de euilíbrio e de
3armonia ue formar% o ideal cl%ssico# E opõe5se tamb&m 9
austeridade uerida pelo protestantismo#
* partir de It%lia, a arte barroca, com as suas diversas
formas, espal3ar5se5% pela Espan3a, <rança, *leman3a e
Europa Central#
[uanto 9s conuistas e reconuistas ue acompan3aram a
Contra5)eforma, temos 3oje o direito de perguntar se foram
sempre inspiradas pelo espírito evang&lico#

J# -ara uma Igreja maior

*s tend!ncias absolutistas dos monarcas do s&culo 4ZI não


podiam acomodar5se 9 dissid!ncia religiosa# ' pano de fundo
da )eforma 5 protestante e católica 5 revela5se, em traços
largos, marcado por atro2es sevícias, guerras medon3as e o
espect%culo escandaloso de 8um Evangel3o armado8#
/urante de2 anos, Henriue ZIII mergul3ou a Inglaterra num
terror ue fe2 m%rtires tanto entre os católicos 5 & o caso
de (om%s "oro 5 como entre os calvinistas, como aconteceu
com *na *seP# * 8lei da traição8 foi de novo aplicada no
tempo de Eduardo ZI e, depois, sob a católica "aria (udor,
c3amada 8a sanguin% ria8: e ' .ivro dos "%rtires de 0oão <o
enriuece5se com du2entos e setenta e sete nomes# * seguir,
os e&rcitos de Isabel esmagaram os irlandeses rebeldes ao
*cto de +upremacia6 da sua polícia perseguiu os padres
c3egados do continente, eecutando ]]6 e os presbíteros
calvinistas tiveram de entrar na clandestinidade e aí
continuaram sob o reinado dos +tuarts#
Entre JOB Umassacr e de >assGV e JMN UEdicto de 1antesV, a

<rança agravada
santa con3eceu trinta anos de 3orror:
pela intervenção uma longa eguerra
dos Espan3óis dos
Ingleses# * 1oite de +# artolomeu UJKBV fe2 algumas
de2enas de mil3ares de vítimas e marcou o auge do
sectarismo# E o ;ltimo Zalois,

B]O

Henriue ZIII, encontrou5se entre os etremistas da .iga


católica e o Estado 3uguenote, numa situação tr%gica de ue
Henriue IZ fa2 sair a <rança atrav&s de um acto de grande
sabedoria: o Edicto de 1antes, ue conferiu aos protestantes
as garantias suficientes#
.utero tin3a contribuído fortemente para dar consist!ncia ao
sentimento nacional alemão, mas a *leman3a saíra
territorialmente dilacerada das lutas religiosas6 portanto,
foi em vão ue Carlos Z se esforçou por reunific%5la# Essa
fraue2a foi mantida pelos seus sucessores e tamb&m pelas
cobiças estrangeiras: a Auerra dos (rinta *nos UON5O]NV 5
& não só a ;ltima guerra religiosa, mas tamb&m a mais atro2
5 deiar% a *leman3a eangue: a sua população redu2ida a
metade e o seu apagamento político durante dois s&culos#
<ilipe II Ufalecido em JMNV, fil3o de Carlos Z, foi o
sen3or de um magnífico imp&rio6 no centro, a Espan3a, ue j%
estava no 8s&culo de oiro8, o de Cervantes, de El Areco, de
In%cio de .oiola e de 0oão da Cru2# 's 8)eis Católicos8
tin3am5l3e dado um instrumento tremendo: a Inuisição
espan3ola, ue soube utili2ar para etirpar das suas terras
o islão, os 0udeus, os iluminados UalumbradosV, ue
reclamavam uma reforma pelo espírito, e tamb&m os primeiros
indícios espan3óis do protestantismo: por eemplo, o
erasmiano Zald&s teve de se eilar# 1as ricas províncias dos
-aíses aios, 3erdad as da orgon3a, <ilipe II escapou a um
calvinismo decidido, reforçado pelo seu patriotismo6 o
Consel3o do duue de *lba Ufalecido em JNBV não se cansou
de multiplicar as condenações 9 morte 5 fala5se em N 5,
mas os 3omens frios do 1orte não cederam6 animadas pela
família de 'range, depressa as sete províncias setentrionais
fi2eram a sua secessão UJNOV: foram as -rovíncias $nidas 5
a Holanda 5 com um prodigioso futuro# 1o entanto, as
províncias do +ul Uas da futura &lgicaV, onde os jesuítas
eram numerosos e onde se impun3a a prestigiada $niversidade
de .ovaina, mantiveram5se fi&is a )oma# ' fracasso da
Invencível *rmada lançada por <ilipe II contra a 3er&tica
Isabel I UJNNV consolidou, na Inglaterra, o sentimento
nacional em ue um dos elementos era o antipapismo#
1a It%lia, a Inuisição de -aulo III, Caraffa, sufocou os

evidentes progressos da )eforma, obrigando os seus c3efes 5


'c3ino,

B]K

Zermigli e Zergerio 5 a fugir# *penas os valdenses, ue


tin3am aderido 9 )eforma, resistiram: em J]J, centenas
deles foram massacrados no vale de /urance#
*li%s, a reconuista católica utili2ou armas mais pacíficas
ou disp`s, sobretudo, de um e&rcito admiravelmente
preparado: a Compan3ia de 0esus, cuja acção, 8com base em
col&gios e pregações8, foi apoiada, por ve2es de modo
indiscreto, pelos governos católicos# Em J]M, instalou5se
em Ingolstadt o jesuíta -edro Canísio ue, durante trinta
anos, foi a alma da reconuista do +ul da *leman3a, das
regiões renanas, da o&mia e da -olónia: <riburgo, Arat2,
"uniue, Colónia, ransberga e -raga foram alguns dos pontos
de apoio dos jesuítas auiliados pelos seus 8alunos8:
*lberto Z e, depois, Auil3erme Z da aviera, <ernando da
Tustria, ue obrigou a nobre2a da Estíria, da Caríntia e da
Carniola a abandonar o protestantismo, Henriue at3orG e,
depois, +egismundo III ue condu2iram a -olónia inteira 9
obedi!ncia romana# 's jesuítas pensaram na Escandin%via, na
);ssia e, em JMJ, os )utenos fa2iam a sua adesão ao -apa#
1a Hungria, o jesuíta -%2manG Ufalecido em OLKV tornou5se
prima2 e dotou o país de um clero autónomo, ao fundar em
Ziena o semin%rio -%2maneum6 não só instalou a sua ordem nas
cidades protestantes, mas tamb&m numerosas famílias magiares
voltaram ao catolicismo#

O# * Igreja fora da Europa

"uito naturalmente, a Compan3ia de 0esus foi associada ao


movimento mission%rio subseuente 9 formação dos imp&rios
coloniais espan3óis e portugueses, porue estes povos
condu2iram as frentes da coloni2ação e da evangeli2ação6 por
diversas ve2es, os papas, em actas oficiais, ligaram o
estabelecimento de igrejas coloniais 9 implantação europeia6
assim, em J, *leandre ZI concedeu 9 Coroa espan3ola o
dí2imo recebido da *m&rica e imp`s5l3e, em contrapartida, o
encargo de fundar e dotar algumas comunidades cristãs#
<undadores, protectores, administradores da Igreja nas
índias 'rientais e 'cidentais, os reis ib&ricos instaurara m
aí o regime do 8patronato8 ue,

B]N

misturando
pimenta8 5, otornou
espiritual com o temporal
os mission%rios 5 8as respons%veis
parcialmente almas e a
pelos ecessos da coloni2ação, sobretudo na *m&rica .atina#
Esses ecessos, desencadeados pela sede das especiarias e do
oiro, são bem con3ecidos: trata5se menos de massacres 5 ue
uma 8lenda negra8 eagerou 5 do ue de um violento regime
colonial#
-ortugal, país peueno, dispun3a de poucos 3omens para fa2er
mais do ue estabelecer feitorias e postos perif&ricos nas
costas de Tfrica e da Tsia# -odemos considerar como
mission%rios os bispados estabelecidos em "arrocos U]BV,
na "adeira UJ]V, nos *çores UJL]V 6 no Congo, dominado
pela escravatura, uma jovem Igreja indígena U]MV não teve
futuro, tal como aconteceu em "oçambiue UJOV, onde
reinava o islão6 em *ngola UJOV, os mission%rios
portugueses não passaram de p%rocos dos colonos6 na Etiópia
5 o misterioso reino do -reste 0oão 5onde os jesuítas não
puderam penetrar# 1as índias 'rientais, os -ortugueses
cometeram o erro fundamental de impor aos autóctones
8convertidos8 as regras de um catolicismo europeu
estreitamente ligado aos interesses lusitanos#
Com um 2elo devorador, um dos discípulos de In%cio de
.oiola, o navarro <rancisco 4avier Ufalecido em JJBV
lançou5se sobre a índia portuguesa 5 Aoa, Coc3im, Colombo,
"acau### 5, mas sem um con3ecimento suficie nte dos costumes
e das riue2as do 3induísmo6 logo foi contestada a efic%cia
do seu apostolado# 1a verdade, esse mission%rio c3eio de
2elo era inteligente e soube corrigir os seus primeiros
erros# * viagem ue fe2 ao 0apão UJ]M5JJV convenceu
<rancisco 4avier da necessidade de uma adaptação e de uma
formação especiais para os mission%rios ue tivessem de
abordar o Etremo 'riente# 's seus sucessores não
esueceram, pois, as lições: o padre "atteo )icci Ufalecido
em OV 5 .i "ateou para os letrados c3ineses 5 considerar%
ue os ritos tradicionais do culto dos antepassados e do
confucionismo não t!m nada de idol%trico6 uanto ao padre de
1obili Ufalecido em OJOV, portar5se5% como um br\mane entre
os br\manes# *li%s, não se insistir% nunca muito sobre a
etraordin%ria irradiação dos jesuítas em -euim, sobretudo
no s&culo 4ZII# "as se a maioria dos jesuítas pretendia
desocidentali2ar o cristianismo e admitir nas civili2ações
da Tsia tudo

B]M

o ue não era incompatível com o Evangel3o, em face deles os


dominicanos, os franciscanos e os vig%rios apostólicos

saídos das
completas# "issões
/esta oposiçãoestrangeiras eigiam
nasceu a ecessiva conversões
e intermin%vel
8uerela dos ritos8 UO]J5K]]V ue agravou a luta travada
pela Igreja no 'cidente contra as seuelas do paganismo e
ue terminou pela derrota dos jesuítas no tempo de ento
4IZ, porue tal intransig!ncia acabaria por produ2ir frutos
bem amargos#
1o imenso Imp&rio Espan3ol, franciscanos, dominicanos e
depois jesuítas foram auiliares dos colonos# Enuanto os
-ortugueses 5 ecepto no rasil 5 se furtaram aos sistemas
filosóficos ou 9s religiões sólidas Uislão, bramanismo,
etcV, os Espan3óis, na *m&rica, fi2eram muito facilmente
t%bua rasa da teocracia militar das civili2ações ditas pr&5
colombianas#  sintom%tico ue um edicto do cardeal 4imenes
de JO ten3a obrigado ue cada navio ue deiasse a Espan3a
a camin3o da *m&rica levasse consigo pelo menos um padre#
/ioceses, escolas, igrejas, semin%rios organi2aram5se assim
em território americano, mas a acção da Igreja teve de se
3armoni2ar com uma instituição oficiosa, tão pouco cristã
uanto possível: a encomienda, ue colocava um vasto
território e os seus 3abitantes índios na total depend!ncia
de um colono, o encomendem# *ssociada 9 pr%tica do
repartimiento 5 reuisição assalariada apenas em teoria 5, a
encomienda assegurou a constituição de vastas eplorações
agrícolas, a eploração das minas e a r%pida diminuição do
povoamento índio# 1o rasil portugu!s, os donat%rios
representaram um privil&gio semel3ante ao dos encomenderos#
1a Igreja, muitos ficavam calados, por terem um pacto com os
eploradores, alguns dos uais acreditavam na ideia de ue
os índios não tin3am alma ou sublin3avam mesmo a sua
intangível inferioridade moral#
' mais corajoso protestat%rio foi o dominicano artolomeu de
.as Casas Ufalecido em JOOV: em J]B, dirigiu a Carlos Z a
revíssima )elação da /estruição dos índios, cujo título &
dramaticamente sugestivo# "as embora ten3a estado na srcem
das 1ovas .eis ue prepararam a progressiva etinção da
encomienda, .as Casas teve de sofrer a dor de ver auela ser
substituída pelo tr%fico dos negros levados de Tfrica:
miser%veis, de uem o jesuíta -edro Claver UOJ]V se tornar%
um apóstolo c3eio de amor#
BJ

Contudo, não se pode contestar ue os mission%rios católicos


mostraram realmente interesse pelos índios# -ara os proteger
contra a corrupção espan3ola, organi2aram aldeias, onde os
colonos não entravam, e ue eles mesmos dirigiam# 's

jesuítas,edesde
-araguai o fim 8reduções8
no rasil do s&culo 4ZI,
UV, criaram no $ruguai,
ue concentraram no
uase
cem mil autóctones# *li%s, as línguas indígenas, sendo aos
ol3os dos mission%rios a barreira natural contra os vícios
dos 8civili2ados8, permitiram ainda, por eemplo a -#
*costa, no -eru, compor catecismos em línguas uíc3ua e
aimara, enuanto o padre *nc3ieta foi o autor de uma
gram%tica e de um dicion%rio tupi5guarani# -or outro lado, o
franciscano +a3ag;n foi um especialista da língua 3uatle#
Este regime de tutela não causa admiração porue, se os
mission%rios condu2iam os índios para o cristianismo, não
era para os fa2er aceder ao sacerdócio, j% ue a ideia de um
clero indígena não era seuer concebível na atmosfera
colonialista da &poca# "uito poucos mission%rios e mal
preparados podiam ver nos 8americanos8 outra coisa ue não
fossem infi&is, 8os bons selvagens86 assim, a religião
associava5se a um sistema económico5social bastante duro,
incidindo muitas ve2es num substrato de superstição e uase
de crueldade: eis o ue podem esclarecer ainda alguns dos
problemas actuais da *m&rica .atina, oficialmente um
8continente católico8, mas cujas estruturas semifeudais,
geradoras de injustiças, ainda se confundem com uma religião
mestiçada, com freu!ncia formalista#
[uanto 9 *m&rica do 1orte, ela mal começava, no princípio do
s&culo 4ZII, a entrar em comunicação com a Igreja, uma ve2
ue só em KM o "&ico e a *m&rica do +ul contarão sete
arcebispados e trinta e sete bispados, 3avendo somente duas
s&s U[uebeue e altimoreV ao norte do rio Arande# ' papel
dos mission%rios franceses revelou5se aui preponderante e &
verdade ue o s&culo 4ZII foi, tamb&m no plano religioso, um
s&culo franc!s#

1ota : )eservas# X1# do (#Y

BJ

Capítulo II
' (E"-' /* IA)E0* E" <)*1*

# * idade de oiro da Igreja em <rança


* c3egada ao poder de Henriue IZ em <rança corresponde ao
apagamento da Espan3a e da It%lia ue tin3am sido o centro
da reforma católica# Com a <rança bourboniana, a Igreja
galicana sobe no 3ori2onte do s&culo 4ZII nascente6 podemos
di2er ue essa Igreja vai representar durante muito tempo,
na 3istória da Igreja universal, um papel principal# "as a

sua idade
ue 3ão5dededecorrer
oiro ser% con3ecida
entre o Edictoao de
longo dos esessenta
1antes a morte anos
de
"a2arino e, 3erdando assim 8o mais belo reino do "undo8,
.uís 4IZ beneficiar% dos esforços de duas gerações de
santos#
1a sua srcem, um esplendor espiritual ;nico, uma teologia
mística alimentada pelo agostianismo, pelo 3umanismo
cristão, pela mística espan3ola e pela corrente
renoflamenga, mas manten do um tom muito franc!s pelo seu
sentido do euilíbrio e pela sua aptidão para reali2ar obras
;teis e duradouras# (oda a vida espiritual moderna foi
informada por essa teologia ue professa a transced!ncia de
/eus, mas ealta o mist&rio de Cristo incarnado, o ;nico
capa2 de sublimar o va2io do 3omem# * virtude da religião, o
8puro amor8, a contemplação da vida de Cristo são os
aspectos marcantes da escola francesa de espiritualidade,
cujos desvios se poderão adivin3ar: um

BJL

uietismo, uma religião individualista, uma procura das


8consolações8 e uma iconografia adocicada e morali2ante#
1ão 3avia frivolidade entre os pioneiros, apesar das
apar!ncias de um franc!s espontaneamente euberante, muito
próimo das suas srcens e c3eio de sumo# *ssim, a gentile2a
de <rancisco de +ales Ufalecido em OBBV, o mestre a uem
remond c3amou primorosamente 83umanista devoto8, não nos
deve iludir acerca da sólida cultura deste saboian o ue foi
aluno dos jesuítas# ispo de Aenebra5*nnecG, pregador,
polemista anti5calvinista, escritor U(ratado do *mor de /eus
e Introdução 9 Zida /evotaV, esse belo gentil53omem
optimista, muito franciscano de espírito 5 ue seria
demasiado f%cil opor a outro genebrino, Calvino 5 propõe 9s
numerosas almas ue dirige um 3eroísmo sorridente, uma
religião pessoal e consciente, num clima de recol3imento e
de cultura, de ue a oração mental & o alimento principal#
Em -aris, <rancisco de +ales freuenta o círculo *carie ,
mantido por uma das suas penitentes, "adame *carie, ue
justamente foi apontada como 8a animadora de toda a -aris
espiritual86 & l% ue encontra um jovem padre 3umanista,
-edro de &rulle Ufalecido em OBMV, tamb&m ele aluno dos
jesuítas# Em O], &rule consegue duas vitórias: obt&m de
Henriue IZ o regresso dos jesuítas banidos em JMJ, depois
da conjura de C3\tel, e negoceia a instalação em -aris do
primeiro carmelo reformado# /a capital, as teresianas 5 9s
uais se junta "adame *carie, tornando5se, então, "aria da
Incarnação 5 espal3am5se por toda a <rança# * influ!ncia

carmelita
centrar juntamente
sobre Cristo a com a dos
escola jesuítas contribuir% para
beruliana#
remond falou de 8invasão mística8 e, com efeito, os
g&iseres brotam por toda a parte, em ue se destacam
jesuítas como .uís .allemand Ufalecido em OLJV, instrutor
do terceiro ano e cuja elevada doutrina modelou v%rias
gerações na Compan3ia6 )ic3eome Ufalecido em OBJV com a sua
-intura Espiritual ou a *rte de *dmirar, *mar e .ouvar /eus,
e +urin Ufalecido em OOLV# 'u ainda como o franciscano
omai, o dominicano de C3ardon Ufalecido em OJV, o
capuc3in3o 0osep3 du (remblaG, 8emin!ncia parda8 de
)ic3elieu, autor de uma Introdução 9 Zida Espiritual6 mesmo
o carmelita 0oão de +aint5+imon Ufalecido em OLOV e depois
os discípulos de <rancisco de +ales, como Camus

BJ]

Ufalecido em OJBV, bispo de elleG, os discípulos de


&rulle, como Condren Ufalecido em O]V, autor das
Considerações sobre os "ist&rios de 0esus Cristo, ourgoing
Ufalecido em OOBV, 'lier Ufalecido em OJKV e a sua c&lebre
jornada Cristã, 0oão Eudes Ufalecido em ONV e a sua Zida e
o )eino de 0esus# E muitos outros#
"as toda a espiritualidade viva se eprime naturalment e nos
actos e nas obras# <rancisco de +ales funda em *rvnecG, em
O, a 'rdem da Zisitação de "aria, aberta a sa;des
delicadas e cuja vida interior se eprime nestas palavras:
8[ue toda a sua vida seja para se unir a /eus e ajudar a
Igreja#8 +egundo uma forma de colaboração freuente na
3istória dos santos, o bispo de *nnecG encontrou em 0oana de
C3antal uma alma g&mea e, na altura da sua morte UO]V, j%
se contar% mais de uma centena de conventos das
visitandinas# * 8santa estima ou santa ami2ade8 salesiana
inspirar% no s&culo 4I4 a obra benem&rita de 0oão osco,
fundador dos salesianos e das salesianas#
1a <rança de .uís 4III, a vida religiosa refloresceu# *
vel3a ordem beneditina renova5se em 8congregações8 e as duas
mais c&lebres são francesas: a Congregação de +aint5Zanne
Ude ZerdunV, formad a em OJ, ue agrupar% a partir de OL
uns cinuenta mosteiros espal3ados por v%rios lugares e
orientados pela regra de "onte Cassino6 e a Congregação de
+aint5"aur, mais prestigiosa, criada em -aris em ON, cujo
centro ser% a vel3a *badia de +aint5Aermain5des5-r&s: /om
(arisse, o primeiro superior5geral, não se contentou em
reformar os mosteiros da sua obedi!ncia Upoderão contar5se
M no fim do s&culo 4ZIIV: orientou a actividade dos seus
monges para a erudição 3istórica, em ue mauristas como

"abillon,
ClunG e em)uinart e "ontfaucon
Cister, continuam aserão famosos#
reinar *li%s,
a comenda e em
a
opul!ncia# E & para reagir contra o esuecimento dos
ensinamentos de +# ernardo ue *rmando de )ance, em OO],
transforma a abadia cisterciense de 1otre5/ame de (rappe, na
1ormandia, num centro de austeridade ue, avançando a pouco
e pouco, animar% a etraordin%ria 'rdem dos (rapistas#
Em BJ de +etembro de OM, a abadia cisterciense feminina de
-ort5)oGal con3eceu tamb&m o seu -entecostes: recusando
definitivamente ao "undo o acesso 9 sua comunidade, a jovem
abadessa *ng&lica *rnauld abriu 9 sua abadia uma grande e

BJJ

terrível carreira# /e todo o lado afluem a <rança religiosas


e religiosos: carmelitas, ursulinas, fil3as de +# (om%s,
teatinas e bernardas, sem contar os uarenta col&gios
fundados em sete anos pelos jesuítas# /as cento e de2oito
comunidades ue, em KNM, 3aver% em -aris, NB delas foram
fundadas no s&culo 4ZII e ]N durante o reinado de .uís 4III#
(al balanço, favor%vel aos regulares, não deve iludir o
verdadeiro estado da Igreja galicana, da ual )ic3elieu, nos
Estados5Aerais de O], di2ia ue 8estava inteiramente
despida do seu antigo esplendor e nem seuer era
recon3ecível8# 's principais males da Igreja de <rança
consistiam no facto de, por um lado, a comenda, as guerras
de religião e os benefícios eclesi%sticos se terem tornado
para a reale2a uma caia de pensões6 e, por outro, a
ignor\ncia e a imoralidade do baio clero, a mis&ria e o
embrutecimento do povo continuarem a grassar# "as coube a
3onra aos representantes do clero nos Estados Aerais de O]
5 e ao seu porta5vo2, )ic3el ieu 5 de, contra a sua vontade,
8receber8 os decretos do Concílio de (rento, apesar das
tramóias do rei e da resist!ncia dos parlament os# * reforma
católica tornava5se, em <rança, uma tarefa oficial ue foi
dificultada pelos 3%bitos aduiridos, pela Auerra dos (rinta
*nos e pela <ronda ue semearam tudo de ruínas6 mas ue foi
bastante ajudada pela protecção de )ic3elieu, do piedoso rei
.uís 4III e, sobretudo, pela acção de alguns padres santos
ue tin3am um duplo objectivo: a formação de um clero
fervoroso e 2eloso, a instrução e a atenção pelas camadas
populares#

B# $m novo padre

* prolongada degradação do clero e a agitação tra2ida por


.utero e pelos reformadores 9 própria noção de sacerdócio

obrigaram
classe a Igreja
sacerdotal de pós5tridentina a eigir%
uem, no futuro, institucionali2ar uma
a pr%tica das
mais elevadas virtudes# 1os semin%rios nascidos da reforma
católica vai ser doravante, mesmo at& aos nossos dias,
modelado um tipo muito característico de padre: um ser
isolado, embora colocado no coração do mundo, cuja perfeição
dever% eceder a

BJO

dos religiosos e cuja acção ter% de estar constantemente


associada 9 de Cristo, o religioso de /eus seu -ai8# 1este
domínio a <rança do s&culo 4ZII far% escola#
<oi em O ue -edro de &rulle reuniu, numa casa da )ua de
+aint50acues, no sítio do actual Zal5de5Ar\ce, cinco padres
ue foram os primeiros membros da Congregação do 'ratório
formada de padres 8reunidos e retirados em conjunto para se
disporem 9 perfeição do estado sacerdotal, segundo o seu
sentido original e para eercerem as suas funções na
obedi!ncia e depend!ncia dos bispos8#
' ideal de &rulle ao lançar as bases do 'ratório era
reabilitar o estado sacerdotal aos ol3os dos cristãos, muito
3abituados a despre2%5lo# ' p;blico, graças a ele, vai
3abituar5se a a ver os padres andar de batina por toda a
parte e aliar a uma cultura sólida uma preocupação de
perfeição ue &rulle leva ao ponto de os oratorianos e o
seu fundador, em OJ, fa2erem colectivamente o voto de
dedicação UV perp&tua a 0esus Cristo e 9 Humanidade
deificada#
(rata5se de um verdadeiro regres so as origens# 1a Igreja
primitiva 5 escreve &rulle 5 8o clero manifestava tão
profundamente gravada em si mesmo a autoridade de /eus, a
santidade de /eus, a lu2 de /eus### ue os primeiros padres
eram não só os santos, mas tamb&m os doutores da Igreja8#
/epois, como o tempo 8ue corrompe todas as coisas, foi
relaando a grande maioria do clero6 e auelas suas tr!s
ualidades Uautoridade, santidade e doutrinaV ue o espírito
de /eus tin3a juntado, tamb&m foram sendo divididas pelo
espirito do 3omem e pelo espírito do mundo, a autoridade
ficou entregue aos prelados, a santidade aos religiosos e a
doutrina 9s *cademias8# (r!s outras personalidades fi2eram
tamb&m uma obra duradoura em mat&ria de formação do clero# '
ec!ntrico ourdoise Ufalecido em OJJV formou a comunidade
parouial de +aint51ic3olas de C3ardonnet onde, entre OL e
O]] se formaram mais de uin3entos padres e cl&rigos vindos
de toda a <rança# ' p%roco da imensa paróuia +aint5+ulpice,
em -aris, 'lier Ufalecido em OJKV, alarga a eperi!ncia de

ourdoise, formando no
1ota : 8Escravidão8 foi a palavra usada# X1# do (#Y

BJK

semin%rio interdiocesano de +aint5+ulpice tr!s esp&cies de


estratos: um corpo de directores 5 os 8"essieurs de +aint5
+ulpice8 ou +ulpicianos 5, uma reserva de padres santos e um
viveiro de aspirantes ao clero# 1a mesma altura UO]LV, um
padre normando, 0oão Eudes Ufalecido em ONV, fundava em
Caen a Congregação de 0esus e de "aria, cujos membros 5 os
eudistas 5 tomaram a seu cargo a maioria dos semin%rios da
1ormandia para aí poderem preparar os padres para o seu
apostolado junto das massas#
*s massas Cidades fustigadas pela guerra, enameadas de
pobres e vagabundos, juncadas de crianças abandonadas6 as
aldeias entregues 9 mis&ria e 9 desmorali2ação, desamparadas
por um baio clero indigno ou esmagadas pelas colectas
eclesi%sticas -ara tratar destas c3agas era necess%rio um
3omem ue reunisse em si as virtudes do campon!s e do padre,
manifestasse bom senso, 3umildade, paci!ncia e uma
actividade tena2: foi essa a maior graça do s&culo 4ZII: ter
con3ecido esse milagre na pessoa de +# Zicente de -aulo
Ufalecido em OOV#
Este padre c3arneuen3o, saído de uma pobre família de
agricultores, poderia ter5se contentado com a comodidade
vantajosa de um lugar de capelão junto da rain3a "argot ou
ao p& dos opulentos Aondi# "as /eus, ue o destinara a uma
vocação ecepcional, multiplica os seus encontros e
eperi!ncias aparentemente sem ligação entre si, ue
acabaram por alargar ao infinito o seu campo de acção# -or
ter tido &rulle como director espiritual, por ter sido
amigo de <rancisco de +ales, por ter con3ecido como p%roco
de C3\tillon5les5/ombes 8a grande piedade das igrejas de
<rança8 e por, depois, como capelão das gal&s, ter tocado o
fundo da mis&ria 3umana, Zicente revela5se aos ]J anos um
3omem de grandes obras, dentro de tr!s orientações
principais: a evangeli2ação dos campos, a formação dos
padres e a protecção dos pobres#
*os pobres dos campos, Zicente envia euipas sacerdotais 5
os la2aristas 5, a uem recomenda acima de tudo ue evitem
8as pregações alineadas8 9 maneira do tempo# "as, para um
povo ue se deseja fiel, & preciso um clero santo6 ora os
8maus padres8 ainda são demasiado numerosos# -ara os
cl&rigos ue se preparam para as ordens Upara os
ordinandosV, Zicente organi2a retiros ou eercícios e, para

os 8antigos8, funda as
BJN

Confer!ncias da terça5feira ue, at& 9 morte do santo,


3averão de reunir a elite do clero franc!s#
* imagem ue se guarda de +# Zicente de -aulo & a de um bom
rosto ue se inclina sobre os doentes, os pobres e os
abandonados# * princípio, algumas mul3eres 5 as 8/ames de
C3arit&8 5 oferecem5l3e a sua ajuda6 mas, depois, uma delas,
.ouise de "arillac, destaca5se e, no rasto de Zicente,
acabar% por criar o grupo mais amado ue o mundo 3avia
con3ecido: as <il3as da Caridade ou 8vicentinas8, como
tamb&m l3es c3amam: inicialmente, apenas uatro 3umildes
camponesas ue, em OLL, se tornaram servas dos pobres# -or
comodidade, as grandes asas do antigo toucado das vicentinas
uase desapareceram, mas as <il3as da Caridade ainda
conservam o timbre do seu 3%bito tradicional, do ual 0ean
Auitton di2, com delicade2a: 8/e um cin2ento5a2ulado sombrio
e profundo, ue & a cor da sombra, da noite clara, do
pensamento e da solicitude, esse a2ul tão do s&culo 4ZII ue
simboli2a a <rança camponesa, os dias vulgares, a dor
uotidiana e monótona8# Em muitos casos, as vicentinas são
as ;nicas intermedi%rias entre a Igreja e as gentes mais
simples#
 necess%rio di2er ue o impulso dado pelos santos não se
estendeu 9 escala do mundo por aus!ncia de um papado ue os
(ratados de Zestef%lia UO]NV, fa2endo triunfar os
nacionalismos, afastaram completamente do 8concerto
europeu8# $rbano ZIII UOBL5O]]V, Inoc!ncio 4 UO]]5OJJV e
*leandre ZII UOJJ5OOKV não dominaram o seu tempo# E os
seus sucessores, longe de poderem entregar5se a uma acção
universalista, cada ve2 mais incomodados pelos medíocres
Estados pontifícios ue os rebaiam 9 categoria de peuenos
príncipes italianos serão, depois, confrontados com as
uerelas doutrinais levantadas sob os raios do )ei5+ol#

L# * 3armoniosa fac3ada da Igreja em <rança

Costumam identificar5se os sessenta anos do reinado de .uís


4IZ com a 3armoniosa fac3ada 5 ao lado dos jardins 5 do
-al%cio de Zersal3es# "as isso & esuecer as mis&rias e os
vícios ue, atr%s desse admir%vel alin3amento, se aliavam 9
glória e 9 etiueta# * Igreja de <rança, microcosmos da
Igreja universal,

BJM

apresenta o mesmo contraste# * sua solide2 e a sua


vitalidade não sofrem contestação6 as instituições do
período anterior tra2em os seus frutos# *o lado de prelados
da corte, muitos são os pastores atentos cujo talento como
escritores e pregadores por ve2es não tem paralelo: ossuet
em "eau, <&nelon em Cambrai, "assilon em Clermont, <lc3ier
em 1imes, "ascaron em *gen, .ascaris em .imoges, )ouette em
*utun, Camus em Are5noble# +ob os passos de um clero mais
bem formado, nascem e prosperam as obras# *s missões
multiplicam5se: missões estrangeiras Ua sociedade e o
semin%rio das "issões Estrangeiras são constituídos
regularmente em -aris, em OO]V, mas sobretudo missões
internas, populares, rurais#
Claude -oullard des -laces funda, em KB, o +emin%rio do
+aint5Esprit para a formação de um clero adaptado 9s regiões
mais pobres# 1o 'este encontra5se .ouis5"arie Arignion de
"ontfort Ufalecido em KOV, aluno de 'lier, ue se revela
um mission%rio frouo, mas de boas ualidades apostólicasR
ue, tendo trabal3ado nos campos de +aint5"alo a +aintes,
deia aí espal3adas tr!s famílias espirituais: a Compan3ia
de "aria UmontfortinosV, mission%rios dos campos6 os Irmãos
do Espírito +anto, mais tarde Irmãos de +# Aabriel6 as
<il3as da +abedoria, cuja sil3ueta se tornou uase tão
popular como a das 8vicentinas8# <ora de <rança, as missões
populares t!m como animadores +c3ac3t e 0eningen na
*leman3a, +egneri na It%lia, .ópe2 e Aon2%le2 em Espan3a# *
instrução das crianças do povo & uma iniciativa do s&culo de
.uís 4IZ# -upulam j% as congregações locais de religiosas e
muitas aldeias possuem as suas 8boas irmãs8, para retomar um
voc%bulo carregado de familiaridade, mas ue encobre muita
gratidão# -ara as crianças, a fórmula perfeita & encontrada
por um padre, 0oão aptist a de .a +alle Ufalecido em KMV,
ue inaugura uma forma de vida religiosa adapta da ao ensino
popular: religiosos não5padres, em escolas cristãs,
entregam5se inteiramente a uma tarefa pela ual o seu
criador fundou uma pedagogia sem pedantismos, mas tão
pr%tica uanto possível# E o grande c3ap&u tricórnio, o
mantode mangas largas, o cabeção branco dos irmãos
8ignorantinos8 serão, como as grandes asas das Irmãs da
Caridade, um pouco como a 8salvação8 das pobres gentes#

BO

Cinuenta anos de cultura cl%ssica alimentada de


cristianismo 5 cinuenta anos de educação jesuística 5
impregnaram de f& a vida de muitas famílias aristocr%ticas e

burguesas6
muito a literatura
ver Corneille religiosa
ler as & numerosa
suas Horas e não
e tradu2ir espanta
a Imitação
ou "adame de +&vign& mergul3ada nas obras de devoção# '
sucesso do culto do +agrado Coração, de ue 0oão Eudes e a
visitandina "aria *lacoue UOMV são os propagandistas,
testemun3a ue a mística cristológica não morreu# E nem vale
a pena contar as conversões mais retumbantes, porue em
Zersal3es o próprio .uís 4IZ entende lembrar duramente, do
alto do próprio trono, as verdades evang&licas# Embora os
fi&is sejam mais eigentes com a sua Igreja e os seus
pastores, estes respeitam o dever de residir na paróuia,
estão mais bem formados e revelam5se mais dignos6 ou, seja,
em condições de mel3or representarem o seu papel de
8educadores da f&8#
1esta &poca, nasce5se cristão como se nasce franc!s# *s
sondagens feitas em numerosas paróuias rurais pelo
sociólogo A# .e r%s levam a acreditar ue a pr%tica
religiosa 8nunca foi mais generali2ada do ue entre OJ e
KNM8# "as este mesmo 3istoriador dir% em seguida: 81ão
eiste um grande s&culo na História da Igreja8, pretendendo
referir assim ue as massas sempre foram difíceis de dominar
e sempre se mostram dispostas a um verdadeiro paganismo# +ob
o reinado de .uís 4IZ, &5se oficialmente cristão porue os
refract%rios ao dever pascal são interditos pelo bispo de se
casar na igreja# * revogação do Edicto de 1antes UONJV,
privando os 3uguenotes de ualuer personalidade civil, & da
parte de .uís 4IZ um acto de tirania ue torna mais duvidosa
a 8fidelidade8 de certas campan3as#
E & aui ue surge o reverso do Arande +&culo# Controlo da
coroa sobre a Igreja, aliança íntima do poder e da religião,
imensa fortuna do clero 5 elemento de benefic!ncia e tamb&m
de paralisia 5, domesticação do alto clero, desordem dos
costumes 5 eis algumas da fraue2as da Igreja galicana6 mas
podemos encontr%5las, muitas ve2es agravadas, em todas as
Igrejas nacionais, porue as forças católicas se mostram em
declínio#

BO

]# * Igreja fora de <rança


1essa altura, a It%lia est% estagnante e aí se encontram,
sem d;vida, alguns mission%rios 2elosos, como <rancisco de
Aeromino Ufalecido em KOV, ue se flagela perante um
p;blico reticente, mas o clero italiano não tem a
import\ncia do clero franc!s e a doce It%lia vive um
catolicismo colorido, mas bastante acomodado#

' povo espan3ol


devoções & bastante
se revelem religioso,
por ve2es pueris, ainda ue as suas
supersticiosas e
intolerantes6 a Inuisição, ali%s, não est% morta# ' alto
clero de Espan3a, imensamente rico, est% em parte ligado aos
fidalgos# Este país de seis mil3ões de almas, em plena
decad!ncia, conta setenta mil eclesi%sticos, de uem se
gostaria de di2er ue formam um clero esclarecido# [uanto ao
imenso imp&rio da *m&rica, ele 8prospera8 sob o regime do
patronato#
1os -aíses aios espan3óis 5 em breve austríacos 5 uma
impressão bem diferente: a reforma católica & aí intensa, os
semin%rios de ois5le5/uc UOBJV e de *ntu&rpia UOLNV, as
missões e os col&gios de jesuítas, o esplendor de .ovaina
são elementos de ue precisamos lembrar5nos a propósito da
admir%vel &lgica# /e resto, foram os jesuítas belgas 5 os
bolandistas 5 ue, publicando as *cta sanctorum, deram as
suas cartas de nobre2a 9 3agiografia# 1as -rovíncias $nidas
UV calvinistas, os tre2entos mil católicos beneficiam muito
rapidamente de uma toler\ncia efectiva, mas o Cisma de
$treue, no começo do s&culo 4ZIII, enfrauecer% as suas
posições#
* toler\ncia não & um facto nos países escandinavos, onde
ualuer 8papista8 & indesej%vel6 nem na Inglaterra, onde
Carlos II impõe aos funcion%rios o rep;dio da
transubstanciação e a prestação de um juramento em favor da
supremacia real UOKLV6 a ueda de 0aime II, em ONN, torna
mais severa a política anticatólica ue, depois do (ratado
de .imeric UOMV, & aplicada 9 Irlanda com rigor# 1a
*leman3a, depois dos (ratados de Zestef%lia 5 ue fi2eram
passar no 1orte cator2e bispados para o protestantismo 5, as
duas comun3ões encontram5se em

1ota : Holanda# X1# do (#Y

BOB

aberta 3ostilidade# *lgumas 8conversões8 principescas de uma


e de outra parte compensam aui e ali, mas no interior dos
Estados as minorias sofrem muitas ve2es medidas repressivas#
* vida religiosa alemã, influenciada pelo pietismo, sofre
necessariamente com essa situação#
1o fim do s&culo 4ZII, os Estados 3eredit%rios dos
Habsburgos revelam5se um bastião do ultramontismo e da
contra5reforma, com as suas tr!s universidades, os seus
col&gios de jesuítas e as suas ricas ordens religiosas# '
decreto de OJ impõe aos protestantes da Caríntia, da
Carniola e da +il&sia a escol3a entre a conversão e a

emigração#
mas 1a o&mia,
na Hungria o protestantismo
os Habsburgos , para não & posto fora
sublevarem daparte
uma lei,
not%vel da população, t!m de condescender muito# * -olónia
tin3a sido inteiramente reconuistada para o catolicismo e o
povo polaco, sob a influ!ncia, sobretudo, das ordens
religiosas, enrai2ou5se numa piedade colectiva e
entusi%stica ue não o abandonou ao longo de tr!s s&culos de
vicissitudes# ' clero polaco, por volta de K, possuía
oitocentos e sessenta mil servos e a comenda era um flagelo
ue os reis, sempre falidos, erigiam como instituição# 's
papas contaram muito com a -olónia#
*pós Clemente I4 UOOK5OOMV e Clemente 4 UOK5OKOV, ue
foram eclipsados pelo seu parceiro .uís 4IZ, o reinado de
Inoc!ncio 4I UOKO5ONMV bril3ou com algum esplendor: o -apa
devia agir depressa e conter o avanço dos (urcos6 mas não
tendo podido fa2er mel3or do ue colocar de p& uma +anta
.iga sempre periclitante, os seus esforços levaram 9
libertação de Ziena por 0oão +obiesi, em B de +etembro de
ONL, e 9 eclusão dos (urcos da Hungria#
Inoc!ncio 4I sofreu com a incapacidade da sede apostólica
para refa2er a unidade dos cristãos# Como os seus
predecessores, favoreceu as negociações ir&nicas# /epois de
OO, com efeito, estabeleceram5se alguns contactos entre
católicos e )ussos, entre católicos e protestantes
Ucorrespond!ncia entre ossuet e .eibni2 de OKN a KBV,
3ouve mesmo controv&rsias anglicano5romanas, ue não
condu2iram a nada, por não serem as Igrejas muito sensíveis
9uilo ue as opun3a# -ermaneciam as missões eteriores, ue
permitiam gan3ar novos fi&is# *

BOL

Congregação da -ropaganda, criada em OBB, representou um


papel essencial com a ajuda da <rança instalada desde O]
em *c%dia, na 1ova Escócia# $ltrapassando o
patronatoRpatroado ib&rico, a -ropaganda uis dar uma
direcção das missões aos bispos apenas dela dependentes,
desejando a formação de um clero indígena para auiliar os
mission%rios europeus# -or isso, para fornecer o
recrutamento das missões, os primeiros vig%rios apostólicos
favoreceram a criação em -aris, na )ua do ac, da +ociedade
das "issões Estrangei ras e do seu semin%rio UOO]V# -ouco a
pouco, os mission%rios foram libertados, no Etremo 'riente,
das inger!ncias portuguesas e somente os jesuítas das
índias, +ião e C3ina, foram dispensados do juramento feito
aos vig%rios apostólicos UONMV#
"as foram ainda os jesuítas ue fi2eram, muitos deles 9

custa do sedentari2aram
.atina, próprio sangue,oso índios,
Canad% franc!s# Como na
agrupando5os em *m&rica
aldeias
onde os ensinaram a cultivar a terra: estes 8rudes8
mostraram5se particularmente dóceis# Em OJN, "ontmorencG5
.aval foi nomeado vig%rio apostólico da 1ova <rança e, em
OK], tornava5se bispo do [uebeue, diocese francesa
imperme%vel 9s uerelas anti5romanistas ue, na &poca,
enfraueciam as posições da Igreja na Europa#

BO]

Capítulo III
' *1(I5)'"*1I+"' $1IZE)+*.

# * grande vaga do jansenismo

8' jansenismo 5 nunca & de mais repetir isso 5 foi em


primeiro lugar, como a )eforma protestante, um debate
teológico#8 U0# /elumeauV# ' problema das relações entre a
graça divina e a liberdade 3umana ou livre5arbítrio, sempre
assediou a teologia cristã# +to# *gostin3o, por motivos de
pol&mica contra a 3eresia pelagiana, insistiu
particularmente na omnipot!ncia da graça, e na mis&ria e a
fraue2a do 3omem# .utero e Calvino apoiaram5se nisso, mas o
Concílio de (rento, em J]K, evitou definir as relações do
livre5arbítrio e da necessidade da graça#
1a segunda metade do s&culo 4ZI, as posições agostinianas
foram atacadas por teólogos jesuítas, sobretudo por "olina
Ufalecido em OV, ue afirmou ue a graça, suficiente para
fa2er o bem, não produ2ia o seu efeito senão pela decisão do
livre5arbítrio# Ziolentas controv&rsias se verificaram no
centro principal ue foi a <aculdade de (eologia da
$niversidade de .ovaina: j% em JOK as teses pessimistas de
aius, c3anceler dessa $niversidade, tin3am sido condenadas
por )oma, porue pretendiam afirmar ue apenas a imputação
do m&rito de Cristo pode encontrar a salvação#
$ma intransig!ncia semel3ante presidiu, entre OBN e OLO, 9
elaboração do *ugustinus, vasta s;mula composta por outro

BOJ
doutor de .ovaina, 0ans&nio, bispo de ^pres a partir de
OLJ# *ugustinus aparece apenas em O], depois da morte de#
0ans&nio, mas reabre então a uerela sobre a graça,
sobretudo em <rança, onde um amigo pessoal de 0ans&nio e
tamb&m discípulo de &rulle, 0oão /uvergier de Hauranne,
abade de +aint5CGran Ufalecido em O]LV, c3efe do 8partido

devoto8, era
mosteiro desde 3% v%rios
cisterciense anos director
de -ort5)oGal espiritual
de -aris, de uedo
*ng&lica *rnauld era abadessa# +aint5CGran etraiu do
*ugustinus, tratado essencialmente doutrinal, uma
espiritualidade srcinal, muito alargada e esclarecida pela
8guerra cruel8, a ue se entregam esses dois 3omens, para
uso das religiosas de -ort5)oGal %vidas de santidade# +aint5
CGran, cujo modo franco de falar e independ!ncia
desagradavam a )ic3elieu UOLNV, foi preso em Zincennes,
donde apenas saiu para morrer# *ntónio *rnauld, o mais novo
irmão de *ng&lica, aceitou a substituição com brio, ajudado
pelos seus sobrin3os .e "aistre ue, dos campos foram para
-ort5)oGal, se tornaram os seus primeiros 8solit%rios8# Em
O]L, *rnauld publicou o (ratado /a Comun3ão <reuente, em
ue, para combater o 8laismo8 dos jesuítas, apresentava a
comun3ão eucarística não como um meio de se santificar, mas
como uma recompensa aduirida pela mortificação e, portanto,
raramente merecida# +e Zicente de -aulo e 'lier reagiram
contra esse rigorismo, muitos outros em -aris, sobretudo os
inimigos dos jesuítas, não deiaram pelo contr%rio de
aplaudir#
<ormou5se assim em redor de -ort5)oGal e dos *rnauld um
8partido jansenista8, composto por pessoas, como as
cistercienses de -ort5)oGal, ue levavam uma vida santa
Uembora marcada por um secreto orgul3oV, por piedosos leigos
entregues a si mesmos como os *rnauld e mesmo por cl&rigos
galicanos# -ortanto, o jansenismo não foi apenas uma
teologia e um rigorismo, foi tamb&m uma eclesi ologia ue
ealtou o episcopado em detrimento das ordens religiosas e
do papado, e cujas tend!ncias presbiterianas são evidentes#
' partido enfrenta constantemente as decisões de )oma:
Inoc!ncio 4 em OJL, depois de ter condenado as cinco
proposições 3er&ticas ue a +orbonne etraíra do *ugustinus,
confrontou5se com os jansenistas ue afirmavam ue o livro
não

BOO

as contin3a# ' auílio veio5l3es de um convertido, laise


-ascal Ufalecido em OOBV, matem%tico e físico de g&nio, ue
na 8noite de fogo8 de BL de 1ovembro de OJ] tin3a
8apostado8 a favor de /eus# *s de2oito Cartas -rovincianas
ue lançou UOJO5OJKV sobre os jesuítas casuístas acusados
de acomodarem a religião 9s eig!ncias e aos vícios do
s&culo, permanecem como uma obra5prima em ue o fervor e a
indignação inspiraram uma verve fero2#
Este lance, por&m, não salvou os jansenistas ue "a2arino e

o jovem
ao poder.uís 4IZ
real# Em consideravam personagens
OO, as noviças ue fa2iam
e as educandas de sombra
-ort5
)oGal foram epulsas6 em OO], as religiosas recusaram
assinar o formul%rio ue condenava 0ans&nio e foram reunidas
nos campos6 ali%s, uatro bispos franceses imitaram5nas
nessa recusa# * -a2 Clementina UOOM5OKMV não foi mais ue
uma tr&gua, mas foi tamb&m o tempo dos Aranges em -ort5)oGal
dos campos e dos grandes 8solit%rios8: .ancelot, 1icole,
Hamon, .e "aistre de +acG# *ssim, -ort5)oGal dos campos
tornou5se Utendo sido, então, o seu bonito outonoV o ponto
de encontro de toda uma grande elite6 mas, por falta de
meios, o mosteiro iria desaparecer# [uando morreu no eílio,
*rnauld UOM]V, o oratoriano [uesnel Ufalecido em KMV,
instalado nos -aíses aios, depois nas -rovíncias $nidas,
tornou5se o c3efe do jansenismo# 1o entanto, .uís 4IZ, j%
vel3o, não podia suportar mais a dissid!ncia, fosse sob ue
forma fosse# /epois, um escrito de Eust%uio, confessor da
comunidade de -ort5)oGal, $m Caso de Consci!ncia, foi
condenado por Clemente 4I e, desde logo, a sorte das
cistercienses se precipitou: ecomungadas UKKV, epulsas,
dispersas pela província, não deiaram atr%s de si mais do
ue simples ruínas6 em KB, at& o cemit&rio das religiosas
era devastado#
' partido jansenista não estava ainda destruído# Em KL, a
bula $nigenitus de Clemente 4I, tendo condenado 
proposições etraídas das )efleões "orais de [uesnel, um
grupo importante de eclesi%sticos franceses reclamou do -apa
a reali2ação de um concílio geral# "as a resist!ncia a essa
bula não foi popular# *li%s, o jansenismo enleou5se em
v%rias uerelas ligadas ao galicanismo parlamentar e
dividiu5se a propósito da autenticidade dos 8milagres8 ue
tiveram lugar sobre o t;mulo

BOK

do di%cono jansenista -aris# ' profetismo e a epectativa


escatológica com o culto das relíuias de -ort5)oGal foram
outros aspectos do declinante jansenism o# * partir de KL,
os cl&rigos jansenistas foram privados de ualuer apoio
episcopal e, apesar do auílio das 1ouvelles
eccl&siasticjues, ga2eta impressa e divulgada
clandestinamente, 8o partido não passou de um nome e de um
espantal3o8# Contudo, a sua influ!ncia oculta não era
despre2%vel e, assim, o Código Curial do jansenista
"aultrot, salientando deliberadamente o papel dos curas na
Igreja, contribuiu certamente, em KNM, para fa2er do baio
clero um activo elemento da )evolução#

<ora da 1os
2onas# <rança, o jansenismo
-aíses não se espal3ou
aios espan3óis, por muitas
onde nascera, teve
alguma oposição ao -apa no seio do corpo episcopal6 mas,
desde KN, a submissão era completa# Em contrapartida, o
jansenismo encontrou um clima favor%vel nas -rovíncias
$nidas, provocando mesmo, em KJ, a secessão da diocese de
$treue: em KB], Zarlet, bispo suspenso de abilónia,
consagrou o arcebispo +tee5noven como c3efe da Igreja
cism%tica dos Zel3os Católicos, ue aumentou durante o
s&culo 4ZIII com as dioceses de Haarlem e de /eventer# 's
Zel3os Católicos 5 actualmente L mil fi&is agrupados em
vinte e oito paróuias 5 não recon3ecem ao -apa senão um
primado 3onroso e celebram a liturgia em língua nacional# 1a
It%lia, o jansenismo foi menos uma tomada de posição
doutrinal do ue uma atitude de espírito: liberdade de
pensamento, austeridade, antijesuitismo ou admiração por
-ort5)oGal, mas sem afectar muito o baio clero#
-ara poder fa2er5se um julgamento sobre o jansenismo, seria
necess%rio em primeiro lugar limitar eactamente o seu
conte;do, o ue se torna difícil dado os diferentes aspectos
ue assumiu no decorrer dos s&culos# /o pr&5jansenismo do
fim do s&culo 4ZI aos clãs esot&ricos do s&culo 4I4,
passando pelo jansenismo religios o de -ort5)oGal, pelo mais
político e parlamentar do começo do s&culo 4ZIII, sem falar
do jansenismo ealtado dos convulsion%rios, com muitas as
variedades#
"as podemos etrair algumas lin3as de força# Em primeiro
lugar, o jansenismo reage contra a sua &poca porue recusa
tudo o ue, do 3umanismo da )enascença, o Concílio de (rento

BON

conseguiu integrar no catolicismo# *ssim se eplica, pois, o


fero2 teocentrismo e ao mesmo tempo se eplicam tamb&m as
suas relações profundas com o cristocentrismo de &rulle ou
dos grandes espirituais da Escola francesa# /e resto, trata5
se de uma crise religiosa interna ue prolonga na ortodoia
o c3oue inicial da )eforma uanto ao problema da graça#
' ;ltimo aspecto não se revela menos parado al# /e facto, o
ue espanta no jansenismo & a participação activa dos
laicos, porue se estes lutam por uma vida espiritual
pessoal, alimentada pela íblia, isso acentua e reforça a
tend!ncia individualista do 3omem moderno, saído da corrente
luterana e para l% disso da devotio moderna dos países
nórdicos do s&culo 4Z#
Com efeito, trata5se de um paradoo, porue como partido em
guerra contra o 3omem para mel3or ealtar a majestade

divina,
uma o jansenismo
consci!ncia abriu finalmente
individual, ue o op`scamin3o 9 afirmação
ao longo de
dos s&culos
9s sociedades espirituais ou temporais ue o perseguiram,
castigando nele a sua vontade de salvação atrav&s de
camin3os individualistas#

B# ' galicanismo

8' soberano deve ver, pensar e agir em relação a toda a


comunidade8, eis as palavras de <rederico II, rei da
<r;ssia, ue não fa2ia mais do ue retomar as posições de
.uís 4IZ e dos seus antecessores# * Concordata de JJ tin3a
outorgado ao rei de <rança a autoridade temporal sobre o
clero6 os bispos deviam, pois, prestar5l3e juramento de
fidelidade# Com o advento do )ei5+ol, 8a união do espiritual
e do temporal devia ser estabelecida como princípio de
governo8# <oi .uís 4IZ ue tomou pessoalmente a iniciativa
de abolir com uma simples assinatura a eist!ncia legal do
protestantismo em <rança6 interveio directamente na uerela
jansenista e -ort5)oGal só eistiu enuan to ele uis# Em
OMJ, ossuet condenava "adame AuGon, acusada de ter
defendido, no seu "eio reve e "uito <%cil para a 'ração, de
ONO, uma doutrina mística c3amada uietista, atitude
contemplativa na base da passividade, mas esuecida das
eig!ncias da moral#

BOM

<&nelon protegeu5a, mas a sua bela Eplicação das "%imas


dos +antos UOMKV atraiu sobre o doce prelado as raivas e os
sarcasmos do bispo de "eau# Inoc!ncio 4II mostrava5se
bastante 3ostil ao galicano ossuet, mas este fe2 entrar
.uís 4IZ em acção, cujas ameaças obtiveram do -apa a
condenação de vinte e tr!s proposições etraídas do livro de
<&nelon#
8* independ!ncia absoluta do rei em mat&ria temporal8 &
então um dogma, a ue se referem tanto o parlamento do rei
como o clero de <rança e este vigia para ue as liberdades e
os costumes da Igreja galicana sejam protegidos pelo rei
contra o absolutismo romano# [uanto aos oficiais do reino,
vigiam para ue seja salvo o direito do rei de defender as
relações entre )oma e os seus s;bditos, devendo auele
controlar o eercício da autoridade eclesi%stica em <rança#
[uando o rei trata com o -apa, f%5lo com um respeito próimo
da condescend!ncia6 mas, sentindo5se contrariado nos
próprios desígnios, volta5se para os seus s;bditos e,
sobretudo, para o seu clero, cujas assembleias decenais se

tornam para .uís


ultramontanas# 4IZaconteceu
*ssim o mel3orno obst%culo 9s iniciativas
demorado conflito ue o
op`s a Inoc!ncio 4I UOKO5OMNV e cuja origem foi a
pretensão real 9 regale universelle, ou seja, 9
generali2ação do direito de arrecadar os rendimentos dos
bispados vagos e nomear para os benefícios deles
dependentes# -erante as resist!ncias do papa, .uís 4IZ
mandou ossuet redigir uma declaração em uatro artigos, ue
proclamava, nomeadament e, a independ!ncia absoluta dos reis
do ponto de vista temporal e a superioridade do concílio
ecum&nico sobre o -apa# Esta declaração foi aceite, em B de
"aio de ONB, pela *ssembleia do Clero e, nesse mesmo dia, o
rei prescreveu o seu ensino em todos os semin%rios# "as era
ir longe de mais e, em OML, .uís 4IZ teve de se retractar#
' galicanismo não estava morto e viver% ainda durante o
s&culo 4ZIII sob a forma parlamentar e sob a sua forma
presbiteral# ' clero de .uís 4Z e de .uís 4ZI ser%
geralmente digno, muitas ve2es douto, mas facilmente
prevaricador6 o cura galicano estar% sempre disposto a
resmungar contra uma sociedade ue não l3e oferece o papel a
ue tem direito6 pouco romano, influenciado pelo jansenismo,
importunado por uma esp&cie de presbiterianismo católico,
esse clero ser% um agente activo

BK

da )evolução de KNM# ' -arlamento interv&m muitas ve2es num


sentido galicano e, em KOO, sem consultar Clemente 4III,
formou uma 8Comissão dos )egulares8 ue, com o preteto de
enfrauecimento das ordens mon%sticas, adiou,
autoritariamente, a idade para a emissão dos votos e
suprimiu muitas casas religiosas, sacrificando, assim, ao
filosofismo antimon%stico#
-orue certos estudos recentes provam ue & falso falar,
então, de 8falta de vocações8# ' -arlamento tin3a feito
mel3or uando, na seu!ncia de um processo civil ligado 9
ueda de um mission%rio jesuíta, o padre .a Zalette,
obtivera de .uís 4Z o mandato geral da epulsão dos
religiosos da Compan3ia de 0esus, considerados os principais
agentes do ultramontanismo UKO]V# * surpresa atingiu o
m%imo uando se soube ue Clemente 4IZ, pelo breve /ominus
ac )edemptor UKKLV, tin3a abolido a Compan3ia ue contava
então vinte e tr!s mil membros# Em pleno 8+&culo das .u2es8
e de um só golpe, o papado privava5se dos seus mel3ores
defensores, manifestando com este acto, devido 9 pressão das
cortes, o estado de fraue2a do +oberano -ontífice, uin2e
anos antes da )evolução#

L# * luta contra 8a infame8

-aul Ha2ard, numa obra c&lebre, julgou poder vislumbrar uma


8crise da consci!ncia europeia8, uma mudança moral ue teria
feito do s&culo 4ZIII o contratipo do s&culo anterior# '
pirronismo metódico e sorridente, o deísmo vago, a f& no
progresso ilimitado do 3omem, a dessacrali2ação do "undo, o
ódio pelos dogmas, o epicurismo, a crítica de toda a
autoridade, o não5conformismo: eis alguns dos aspectos
característicos deste 8s&culo de Zoltaire8, ue facilmente
se opõe ao 8s&culo de .uís 4IZ8#
1a realidade, não se deu um brutal desvio# /iderot tin3a
ra2ão ao di2er ue 8tivemos alguns contempor\neos no tempo
de .uís 4IZ8, porue o s&culo 4ZII cristão e mon%ruico
escondia sob a sua massa imponente uma larga corrente de
cepticismo e de epicurismo, cujas fontes eram profundas e
longínuas# *s d;vidas de Erasmo e de "ontaigne em relação
aos ergotismos teológicos prepararam desde 3% muito o
camin3o a um certo

BK

fideísmo6 as uerelas doutrinais nascidas da )eforma


protestante e, depois, do jansenismo agravaram esse estado
de espírito# -ouco a pouco, o 83omem íntegro8 deu o seu
lugar ao 83omem 3onesto8 ue apagou o 8filósofo8 amante da
sabedoria e das lu2es#
* esta nova 3umanidade faltava realmente uma nova religião:
uma religião simplificada ue era j% a dos 3umanistas
erasmitas e ue condu2iu 89 %rida crença num /eus simples e
sem rosto8# ' s&culo 4ZIII teve a mania de tudo simplificar
para aí poder ver com mais clare2a# ' 3umanismo cristão uis
em primeiro lugar desembaraçar5se pelo camin3o ue leva ao
Evangel3o, pretendeu o filosofismo ue, afastando de si
ualuer revelação, negando a necessidade ue a 3umanidade
tem de um resgate, fabricou uma ideal 8religião natural8
pela eliminação das 8superstições8 próprias das religiões
positivistas, tendo essa religião como missão 8manter os
3omens na ordem8#
1o entanto, o cristianismo mant&m5se ainda de p&, mesmo
depois de ser tão utili2ado e sempre regressando 8ao seu
n;cleo primitivo de religião natural8: a caridade tornar5se5
% benefic!ncia, a ra2ão ser% uma regra universal, a física
substituir% a )evelação# ' padre não ser% para os
racionalistas mais do ue um 8oficial de moral86 os
8sensíveis8 inclinar5se5ão a favor do 8vig%rio saboiano8 de

0ean50acues
dogm%tica sem )ousseau, cujo
consist!ncia, deísmo
porue uma se acomoda a uma
das características
do s&culo 4ZIII ser% 8o eclipse do dogma e a promoção da
moral8, o nivelamento por cima de certas noções admitidas
por toda a Humanidade# ossuet foi, perante a imensa onda
avassaladora, o ;ltimo bastião do s&culo de .uís 4IZ e j%
denunciava, desde K, a indiferença a respeito das
religiões como a 8loucura do s&culo8# <a2endo5se eco disso
mesmo no campo contr%rio, +aint5Evremond declarava: 8*
doutrina & contestada por toda a parte, servir% eternam ente
como mat&ria na disputa entre todas as religiões, mas dever%
ter5se sempre em conta os costumes8# Este moralismo
penetrar% profundamente a mentalidade dos nossos
contempor\neos, incluindo os cristãos6 mas do cartesianismo,
o filosofismo apenas conservar% o livre eame, a d;vida
metódica e a concepção de um universo mec\nico# [uanto ao
teísmo nePtoniano, transplantado para <rança, tornar5se5% um
vago deísmo#

BKB

* Igreja Católica devia necessariamente ser, entre todas as


8fortale2as da intoler\ncia e do dogmatismo8, a mais
violentamente atacada# Corpo visível, fortemente
estruturado, instituição alicerçada numa teologia activa,
mas participando nas fraue2as da sociedade em ue est%
implantada, foi por todos os lados visada e durante muito
tempo uase se mostrou incapa2 de resistir#
-ensemos na vanguarda, fortemente influenciada pelo deísmo
ingl!s, por .oce U' Cristianismo )acional, OMJV, (oland,
Collins, (indal# -ensemos nos refugiados 3uguenotes da
Holanda e no mais activo dentre eles, -edro aGle Ufalecido
em KOV, com as suas 1otícias da )ep;blica das .etras ue
dirige de )oterdão, lutando contra todas as formas de
intoler\ncia6 o seu /icion%rio Histórico e Crítico UOMKV,
ue contar% de2 ediçõe s em sessenta anos, onde evide ncia
notas como esta: 8 preciso verificar necessariamente ue
todo o dogma particular & falso uando & refutado, seja por
estar contido nas Escrituras, seja porue & proposto atrav&s
das noções claras da lu2 natural#8 <ontenelle Ufalecido em
KJKV foi nos salões parisienses 8o introdutor discreto das
ideias ousadas8 e um desses vulgari2adores científicos de
ue o s&culo se enc3er% com nomes como os de <ranlin,
uffon, >att, "ontgolfier, ue terão maior resson\ncia ue o
nome de 0esus# [uanto ao oratoriano )ic3ard +imon Ufalecido
em KBV, a sua História Crítica do *ntigo e do 1ovo
(estamento constitui o primeiro ensaio de eegese

racionalista
/epois acerca
da morte da íblia#
de .uís 4IZ UKJV e da )eg!ncia, abrem5se
todas as grandes comportas# .ibelos, panfletos, jornais,
estampas copiadas, impressas 9s escondidas ou no
estrangeiro, difundidas clandestinamente, afluem aos
mil3ares# Clubes, caf&s, salões e academias propagam as
novas ideias# (riunfa, assim, o inimit%vel espírito franc!s
e a sua frase elegante, cortante, ligeira, perfeita de ue
se começa a degenerar# * enorme produção & dominada por
alguns grandes espíritos: "ontesuieu, cujas 8flec3as
persas8 fa2em rir o mundo inteiro6 o seu Espírito das .eis
ealta o regime ue asseguraria 8ao 3omem o m%imo de
independ!ncia com maior igualdade8, e condena implicitamente
a aliança do trono e do altar6 /iderot, o 3omem5oruestra do
+&culo das .u2es, %vido de tudo, profunda e encarniçadamente

BKL

3ostil a toda a estupide2, 9 intoler\ncia, 9s ideias feitas,


&, no fundo, um verdadeiro ateu# E ser% pela Enciclop&dia,
animada por ele e por dD*lembert, fero2 advers%rio do
cristianismo, ue passar%, atrav&s da densidade de um teto
desigual, o mel3or do espírito desse s&culo: um optimismo
ue repousa na confiança na ci!ncia e na liberdade de
pensamento ue, sem ue isso se diga abertamente, substitui,
no espírito do leitor, as eig!ncias de uma religião
estreita e pouco esclarecida#
Zoltaire, ue c3egou a assinar5se 8C3ristomoue8 UV, foi
verdadeiramente o 8rei8 deste s&culo e do ue se seguiu#
8"onsieur de Zoltaire 5 escrevia o seu inimigo .a eaumelle
5 & o primeiro 3omem do "undo para escrever o ue os outros
pensaram8, e isso era implicitamente 3omenagear o espírito,
a pena e em definitivo a audi!ncia desse 8simplificador
3%bil, claro, delicado e persuasivo8# Em ualuer
instrumento de ue se sirva 5 dicion%rio, conto, poema### 5
l% se encontra ele a perseguir 8a infame8, a Igreja Católica
em ue descobre ou julga descobrir o ue mais detesta: a
teocracia, as seitas 5 as ordens religiosa s 5, os abusos de
poder, 8uma moral disfarçada8 e desumana, sobretudo um
dogmatismo baseado nas Escrituras, em ue Zoltaire apenas
vislumbra 3istórias absurdas ou cru&is e numa tradição
dominada pela intol er\ncia#  verdade ue Zoltaire foi o
defensor de alguns dos nossos bens mais ueridos: a
toler\ncia, o direito e a liberdade, mas devemos convir ue
este espírito bril3ante foi um s%bio sem profundidade e um
filósofo sem metafísica# 1o entanto, por volta de KO, na
&poca em ue brandiu a sua arma mais afiada, o /icion%rio

<ilosófico,
-erante ele,Zoltaire revelava5se
os lutadores muito forte#
mais corajosos, ue se batem como
franco5atiradores, não fal3am6 *lbert "onod recenseou, para
o período de OK a NB, mais de seiscentas obras
apolog&ticas: mas a maioria delas revelam5se como obras
medíocres, mal documentadas, pouco a par do progresso das
ci!ncias, da geologia e da 3istória# * apolog&tica da &poca
insiste nos argumentos usados e tirados das maravil3as da
1ature2a ou da superioridade, claramente contestada pelos
seus advers%rios, da moral cristã#

1ota : =ombador de Cristo# X1# do (#Y

BK]

]# * Igreja em crise

8<ace a tantos ataues ue vão da ironia contra as


superstições 9 crítica do dogma e 9 própria negação de /eus,
o catolicismo mant&m5se na defensiva e d% evidentes sinais
de fadiga8 U0# /elumeauV#
's papas ue se sucedem ao en&rgico Clemente 4I são padres
muito respeit%veis, mas revelam5se bastante baços, sem
bril3o, muitas ve2es eleitos num conclave dominado e sujeito
9s pressões seculares, ue se refugia facilmente num voto de
compromisso# Inoc!ncio 4III UKB5KB]V & um vel3o delicado
e conciliador6 o dominicano ento 4III UKB]5KLV permanece
fiel 9 austeridade da sua ordem, mas deia ue o turbulento
Coscia governe6 Clemente 4II UKL5K]V, octogen%ri o cego,
& tamb&m esmagado pelo seu papel como c3efe dos medíocres
Estados pontifícios6 Clemente 4III UKJN5KOMV e Clemente
4IZ UKOM5KK]V são pontífices sem autoridade# *penas ento
4IZ UK]5KJNV pode ser creditado por um grande
pontificado: d% vida aos seus Estados, enfrenta os d&spotas
obstinados e, sobretudo, tem a coragem l;cida de enfrentar o
filosofismo a ue ele opõe, segundo uma pr%tica muito
esuecida ue utili2arão os papas do nosso tempo, algumas
encíclicas doutrinais, como Zi pervenit UK]JV, ue retoma
o problema do din3eiro na conjuntura económica da &poca#
"as, em KKJ, ascende 9 cadeira de
+# -edro um belo italiano, 0oão *ngelo rasc3i, tornad o -io
ZI, ue se mostra amigo do luo, egoísta e fraco, mas a uem
ir% caber a pesada provação da )evolução#
"as o aspecto mais grave não & o nepotismo, ue refloresce
na )oma do s&culo 4ZIII6 & antes o facto de a influ!ncia
real de )oma sobre o avanço do "undo se mostrar então
etremamente enfrauecida# 8*o abranger com o ol3ar a

evolução
do cultural adoaus!ncia
ue verificar s&culo 4ZIII, nada esedatorna
da Igreja mais penoso
sua direcção
suprema na discussão dos problemas candentes# (udo se passa
como se essa discussão tivesse passado por )oma sem
despertar o seu interesse# X###Y ' di%logo com o "undo nesse
s&culo 4ZIII tão inst%vel foi negligenciado de forma uase
sistem%tica8 U.# 0# )ogierV# Em tais condições, a reunião de
um concílio geral não pode seuer ser levada a cabo#

BKJ

-or isso, os 8d&spotas iluminados8 e sem nen3um escr;pulo


tentam enfrentar este papado sem vigor# /&spotas, porue, 9
imagem de .uís 4IZ pretendem não depender senão de /eus ou
de si próprios# Iluminados, porue a <ilosofia admite ue a
libertação e o progresso da Humanidade pressupõe um governo
forte# "uito naturalmente, controlam a actividade dos corpos
constituídos, mesmo a das Igrejas, como acontece na -r;ssia
com <rederico II, na );ssia com Catarina II, na +u&cia com
Austavo III e na /inamarca com +truensee# 1os países de
obedi!ncia romana, o despotismo obstinado gan3a uma forma
aguda e facilmente sect%ria#
Em -ortugal, o ditador -ombal condic iona a influ!ncia da
Igreja, confia a censura aos leigos e epulsa os jesuítas,
incluindo os do rasil e das índias UKJMV# Em -arma, (illot
imita -ombal, e os padres da Compan3ia & ue pagam os custos
da sua política UKOKV# Em 1%poles, sob /om Carlos, (anucci
& o sen3or: suprime os privil&gios dos membros napolitanos
das congregações romanas e instaura o casamento civil6 todo5
poderoso após a partida de Carlos para Espan3a UKJMV,
epulsa os jesuítas UKKLV, imitando Carlos ue se torna
Carlos III de Espan3a e ue, em KOK, privou o seu imp&rio
dos serviços dos fil3os de +anto In%cio de .oiola#
"ais doutr in%rio no plano religioso foi o despotismo dos
príncipes católicos alemães# Em KOL, 0oão de Hont3eim,
coadjutor do arcebispo de (r&veros, publicava, com o
pseudónimo de 0ustinus <rebonius, um tratado ue criticava a
forma mon%ruica da Igreja romana, reclama va para os bispos
uma grande autonomia e o regresso aos princípios do Concílio
de asileia# ' livro de <ebronius foi largamente con3ecido
na Europa e muito bem recebido, apes ar de ter sido posto no
Inde em KO]# * retractação, muito formal, de Hont3eim não
impediu os avanços do febronianismo numa *leman3a federal,
em ue a independ!ncia austera dos bispos se fortalecia
muitas ve2es com a própria posição soberana# 1a aviera,
"aimilíano 0os& III Ufalecido em KKKV tornou mais pesado o
domínio da coroa sobre o clero, limitou a censura

eclesi%stica civis
formalidades apenaspara
aos o livros dogm%ticos,
casamento, eigiu
limitou 9s certas
fundações o
direito de alienar bens# 1o fim do s&culo, "ontgelas,

BKO

o 8-ombal b%varo8, levar% ao m%imo este despotismo


anticlerical e suprimir% os mosteiros, inspirando5se, para
isso, no josefismo#
's Habsburgos consi deravam ue o catolicismo era a ;nica
ligação das diversas populações ue constituíam os seus
Estados 3eredit%rios# *ssuntos do Estado no seu verdadeiro
sentido, os assuntos religiosos deviam ser regulados pelo
soberano# "aria (eresa limitou, pois, a influ!ncia dos
jesuítas e controlou os eames de teologia6 mas foi o seu
fil3o 0os& II Ufalecido em KMV uem deu nome e forma a uma
política religiosa ue visava limitar a acção de )oma apenas
ao domínio dogm%tico, unificar a legislação dos v%rios
Estados, recondu2ir a Igreja 9 sua primitiva pure2a e
combater o misticismo# * supressão da Compan3ia de 0esus
levou ainda 0os& II a suprimir os mosteiros dos
contemplativos, considerados in;teis e cujos rendimentos
passaram para o clero e para as escolas parouiais6 nos seus
semin%rios gerais vigiou de perto a formação do clero#
(eórico de vistas curtas 5 c3egaram a design%5lo como 8o
rei5sacristão8 5, 0os& II gostava de fa2er pirraças e
tropelias: comunicação pr&via e censura dos sermões,
proibição de peregrinações e procissões, regulamentação
minuciosa do culto# Inuieto com tudo isto, -io ZI fe2 uma
viagem at& Ziena UKNBV, mas essa insólita deslocação não
serviu de nada#
1os -aíses aios austríacos 5 &lgica, rica e viva 5, o
josefismo foi aplicado com uma absoluta falta de tacto:
contribuiu largamente para a impopularidade dos Habsburgos e
os acontecimentos de KNM mostr%5lo5ão claramente# 1a
.ombardia austríaca, a $niversidade de -avia era um centro
de josefismo e de jansenismo: o ensino ministrado por um
-edro (amburini, entre outros, não deiava de ter
influ!ncia# "ais sistem%tica e mais estreita foi a aplicação
das ideias josefistas no grande ducado da (oscana,
governado, entre KOJ e KM por .eopoldo II, irmão mais
novo de 0os& II: suprimiu a Inuisição UKNKV, mas tamb&m
uma boa parte dos mosteiros6 despre2ou a truculenta e
ecessiva piedade toscana, imp`s uma 3ora para o estudo da
religião, obrigou os semin%rios a utili2ar os livros
teológicos idos de Ziena e de -aris e apoiou a acção do
bispo jansenista de -istóia, +cipione )icci#

BKK

/este modo, privada desde a )eforma de muitos dos seus


fil3os, dominada pelo racionalismo, a Igreja romana era
combatida, no seu meio, pelos seus próprios fil3os: o poder
papal estava realmente aniuilado, a vida mon%stica era
despre2ada# +inal dos tempos: a -olónia foi esmagada e
enfrauecida por tr!s príncipes pertencentes 9s tr!s
confissões cristãs: o Habsburgo católico, o )omanov ortodoo
e o Ho3en2ollern protestante# * Europa não protesta e o -apa
não esboçou seuer um gesto efica2# "auiavel e Zoltaire
eram reis# 1en3uma grande obra parecia ser inspirada pelas
ideias cristãs# 1os braços da colunata de ernini, -edro
estava mudo# * tempestade ue se preparava nos c&us de
<rança iria dilacerar e, depois, aniuilar os ;ltimos restos
de cristandadeW

J# * 8*uflrung8 católica

/e facto, o josefismo e os seus irmãos não foram invenções


dos leigos e não se desenvolveram fora da Igreja# 8-or
detr%s de cada ordem josefista, est% um teólogo ou um
canonista como inspirador8 U.# )# )ogierV# 's próprios
ecessos do josefismo testemun3am o desenvolvimento, na
Europa 'cidental e, sobretudo, depois de KK, de um
8catolicismo esclarecido8, de uma *uflrung U8<ilosofia das
.u2es8V católica#  mesma dist\ncia dos integristas,
8imutavelmente agarrados aos c\nones do Concílio de (rento8,
e da corrente jansenista, distingue5se uma esp&cie de
8(erceiro partido8, um grupo muito activo de cristãos,
cl&rigos e leigos, 8decididos a evangeli2ar uma 3umanidade
paralisada nas suas transformações espectaculares8 e ue
procuram 8uma nova linguagem mais bem adaptada, uma inserção
nos grandes fermentos intelectuais do seu tempo8 U#
-longeronV# /este ponto de vista, & necess%rio identificar
um período longo UKK5NLV da *uflrung católica, em ue
as revoluções de NL e a eleição de Aregório 4I marcam um
nítido corte, a ruptura definitiva da civili2ação das .u2es
e da cristandade#
1a perspectiva desse catolicismo esclarecido, assistimos, no
;ltimo terço do s&culo 4ZIII, 9 entrada em pr%tica de
algumas uestões de renovação eclesial, temas ue de novo
surgem nos nossos dias: uma Igreja renovada nas suas
estruturas, com

BKN

participação mais ampla dos corpos interm&dios em detrimento


de um curialismo paralisante6 uma Igreja ao serviço do povo
cristão, uma Igreja pobre, atenta aos carismas das suas
origens, afastando as devoções barrocas em proveito do
espírito evang&lico, uma Igreja inteligível para todos e
promotora da cultura popular# $m grande esforço & feito,
então, pelos cientistas católicos no domínio filológico,
3istórico e 3agiogr%fico, enuanto a literatura mística
det&m um enorme prestígio face 9s superstições ainda em
voga# $m certo espírito crítico, um espírito de procura, uma
inuietude viva opõeqse tamb&m 9 acção persistente, mas
bastante anestesiante, de um catolicismo demasiado
estritamente tridentino#
* *uflrung católica encont ra o seu terreno de eleição nos
países germanos# Enuanto num país latino, a atitude da
Igreja face 9 <ilosofia parece ser como a 8do roc3edo no
meio das ondas8, na Tustria, na aviera e na )en\nia, a
Igreja fa2 o seu eame de consci!ncia e, dessa forma, põe
fim 89 mediocridade dos estudos sagrados8# (udo & renovado,
desde os estudos teológicos 9 formação dos padres, das
pr%ticas de devoção ao minist&rio pastoral aplicado aos
problemas sociais e económicos# * *uflrung &, sobretudo
nestes países, uma reacção 5 por ve2es ecessiva, como
testemun3a o josefismo 5 contra a piedade barroca repleta de
devoções eageradas e de pr%ticas supersticiosas# "as não se
deve perder de vista ue a política de 0os& II, por eemplo,
contribuiu fortemente para reparar o nível cultural e social
do clero e dos fi&is#
 ue foi precisamente isso o essencial na )eforma católica:
a sua inserção na vida religiosa uotidiana# "as as
apar!ncias, nesse plano, são falsas, porue embora, na
v&spera da )evolução <rancesa, noventa e cinco por cento dos
rurais sejam praticantes, embora a maioria deles assista 9
missa dominical, a verdade & ue eiste, de facto, uma
grande indiferença, ou mesmo, 3ostilidade nos seus
comportamentos como cristãos, muitas ve2es, fruto do
conformismo e do 3%bito mais do ue da adesão íntima a um
ideal evang&lico# "as at& ue ponto os cristãos de KNM
estavam realmente cristiani2adosW E ue cristianismo
praticavam elesW Eis algumas das uestões ue a sociologia
religiosa tem posto e ainda não foram resolvidas#

BKM

(endo em conta todos os abades e prelados não residente s, o


clero secular nunca foi tão digno como nessa &poca: em KNM,

os seus
eles próprios9 inimigos
pertencem elite da recon3eceram ue, clero
nação# "as esse no conjunto,
não &
eactamente formado para uma missão da Igreja# 8' sistema
actual de uase todas as dioceses do reino 5 escrever% um
padre franc!s em KNO 5 & o de prender as pessoas 9s
disputas teológicas6 um jovem aspirante e ue num eame
satisfe2 perfeitamente sobre os mist&rios da predestinação,
& imediatamente colocado 9 frente de tre2entos camponeses
ue nunca ouviram falar de .utero nem de 0ans&nio###8# E
poderia depois acrescentar 8ue sabem, pelos vendedores
ambulantes, ue eiste um sen3or Zoltaire, ue 3% novas
ideias, monges ue abusam, curas ue vivem bem, um -apa
vestido como um ídolo###8#
"as isto não uer di2er ue a <rança, em KNM, se encontre
descristiani2ada6 as numerosas e santas personagens ue
viverão depois de N serão contempor\neas de .uís 4ZI,
saídas de famílias burguesas ou camponesas fortemente
impregnadas de f&# 1o entanto, a atmosfera ue se respira
nas altas esferas e ue, pouco a pouco, se tornar% a das
camadas sociais mais modestas, fa25se de incredulidade, de
anticlericalismo, de impertin!ncia, de libertinagem e, at&,
de ateísmo# -euenos poetas, libelistas, novelistas,
copistas e gravadores revelam ser capa2es de fa2er rir tanto
"aria *ntonieta como o cardeal de )o3an, "aria *lacoue ou
mesmo enoit .abre Ufalecido em KNLV, esse mendigo
peregrino coberto de farrapos e de piol3os, de uem /aniel5
)ops di2ia justamente ue foi 8um vivo protesto contra as
loucuras do seu tempo8#
*ssim, a <rança representa aui ainda um papel importante e
não deia de ser oportuno lembrar ue a Europa do s&culo
4ZIII foi francesa de alma e de linguagem# ' catolicismo
belga e alemão con3eceu os mesmos impulsos e as mesmas
vicissitudes ue o catolicismo galicano, mas nos países
germanos a *uflrung católica produ2iu os frutos ue se
con3ecem#
Claro, & sempre difícil falar da It%lia do s&culo 4ZIII,
porue tem na verdade m% reputação# asta lembrar ue a
*ufl9rung imposta no +ínodo de -ístóia, em KNO, encontrou
na península pouco eco# 1o entanto, a Igreja, por detr%s da
fac3ada de
BN

uma religião bem5comportada, retornava constantemente o seu


trabal3o mission%rio# 's santos não deiaram de aparecer na
It%lia da &poca e com tr!s místicos 9 cabeça: *fonso de
.igório Ufalecido em KNKV, fundador da popularíssima

congregação demission%ria
franciscano -ort5"auricedeUKJV,
)edentoristas6 .eonardo,
-aulo da Cru2 Ufalecidoo
em KKJV, fundador dos -assionistas# $ma piedade calorosa,
colorida, muito italiana liberta5se das suas palavras e dos
seus escritos# "as eistem tamb&m alguns 3umildes
religiosos, cuja vida & digna de se inscrever na lenda
dourada de +ão <rancisco: tal como 0os& de Copertino, um
irmão co2in3eiro, cujos !tases merecerão se torne no futuro
o patrono dos aviadores#
* Igreja portuguesa não tin3a ualuer import\ncia,
submetida como estava ao Estado, vítima de uma política de
luo e da Inuisição, ue elaborou uatro mil oitocentos e
setenta e dois processos em oitenta anos# Com os seus
uarenta e sete mil padres benefici%rios 5 contra uin2e mil
ue efectivamente trabal3avam 5, a Igreja de Espan3a
encontrava5se numa situação semel3ante e, durante o reinado
de <ernando ZI, "adrid assistiu a trinta e uatro autos5de5
f&: todas as ideias 3eterodoas eram logo sufocadas na
srcem#
Con3ece5se tamb&m a anglomania deste s&culo# ' deísmo,
nascido de um compromisso t%cito entre os antipapistas do
outro lado da "anc3a, o utilitarismo, o sensualismo e o
cepticismo, destilados por Hobbes, .oce, -ope, Hume e
Aibbon penetraram na mentalidade europeia# * franco5
maçonaria, instalada em <rança e na *m&rica por volta de
KL, na *leman3a em K], revela5se tamb&m de importação
inglesa6 sem ter, enuanto corpo, parte directa e
preconcebida na preparação da )evolução <rancesa, contribuiu
para retomar a ideia de uma religião natural sobre o deísmo#
"as a franco5maçonaria não foi o centro de um movimento
anticristão6 a sua condenação por )oma em KLN e KJ não
impediu ue muitos padres nela se filiassem: e tal facto
fornece, ali%s, uma nova prova da incapacidade da vel3a
Igreja romana para impor as suas opiniões a todos os seus
fil3os#
-ortanto, a )evolução <rancesa teria, necessariamente, de se
confrontar com graves problemas religiosos#

BN
O# * )evolução <rancesa: o acontecimento

/urante um uarto de s&culo 5 de KNM a N] 5, a História


do "undo esteve ligada 9 da <rança e toda a Igreja romana
viveu a 3ora da Igreja em <rança# +em d;vida, a )evolução
<rancesa 5 prolongada pelo Consulado e pelo Imp&rio 5 foi,
segundo a epressão de arnave, o 8cume8 de uma revolução

europeia
devia produ2ida
muito pela burguesia
naturalmente orientar oenriuecida, masdea forças:
enorme caudal <rança
centro da filosofia das .u2es, nação jovem, estruturada e
din\mica, os seus e&rcitos iriam espal3ar atrav&s da Europa
as ideias ue 9 dist\ncia dariam os seus frutos# 's papas da
Idade "&dia tin3am reali2ado a unidade da Europa na
cristandade6 a <rança revolucion%ria concentrar% os
espíritos em redor de algumas ideias generosas 5 liberdade,
igualdade e fraternidade 5 ue, embora se liguem ao
Evangel3o atrav&s da 8religião natural8, não se inscrevem
verdadeiramente num conteto cristão: o triunfo da burguesia
ue marcar% o s&culo 4I4 ser% acompan3ado de uma laici2ação
profunda das mentalidades# -odemos di2er com "at3ie2 ue a
/eclaração dos /ireitos do Homem UBO de *gosto de KNMV,
al&m de ter sido 8a condenação implícita dos antigos
abusos8, foi, sobretudo, 8o catecismo filosófico da nova
ordem8#
)apidamente 5 e, embora entrassem numa mat&ria prometedora
5, os Estados Aerais, transformados, passadas seis semanas e
graças aos du2entos padres deputados, em *ssembleia 1acional
Constituinte U0un3o de KNMV, foram dominados pelos
elementos saídos do jansenismo, do galicanismo e do livre5
pensamento# * partir de B de 1ovembro de KNM, um decreto
colocava 89 disposição da nação8 todos os bens
eclesi%sticos# *contecimento capital porue não apenas se
desmantelava um imenso e muito antigo património, mas tamb&m
porue se operava uma gigantesca mudança de bens em proveito
de centenas de mil3ares de compradores de 8bens nacionais8,
cujos interesses estarão de futuro ligados a uma política
anticlerical# /e resto, era feita ainda uma importante
transfer!ncia de influ!ncia, com a laici2ação progressiva
dos cargos próprios do clero: assist!ncia, ensino, estado
civil# ' decreto de L de <evereiro de

BNB

KM, ue proibiu os votos religiosos e suprimiu as


congregações não53ospitalares ou educativas, seguia a mel3or
tradição josefista# "as 3ouve um facto mais grave: em B de
0ul3o de KM, a *ssembleia 1acional, sem consultar )oma,
votava uma lei ue reorgani2ava a Igreja em <rança, onde não
apenas as circunst\ncias eclesi%sticas eram decalcadas na
base da organi2ação administrativa do país, como o clero se
tornava um corpo de funcion%rios remunerados pelo Estado ou
pelas comunas, eleitos pelo povo, e inteiramente submetido s
9 autoridade civil, com prestação de juramento de fidelidade
9 constituição civil do clero ue caucionava essa submissão#

/ilacerada
a Igreja deentre padres
<rança, ue refract%rios e padresU
recebeu tardiamente ajuramentados,
de "arço de
KMV as ordens de -io ZI, encontrava5se ainda enfrauecida#
/urante o curto período de eist!ncia UKM5KMBV, a
*ssembleia .egislativa foi rapidamente condu2ida a uma
política anti5clerical pela acção dos deputados girondinos 5
grandes burgueses voltairianos ou rousseaunianos 5, pelas
fanfarronadas dos emigrados, pela ameaça de uma guerra anti5
revolucion%ria desejada pelas cortes da Europa e pelo
próprio -io ZI, e ue a .egislativa prev! ao declarar5s e em
atitude de 3ostilid ade com a Tustria UB de *bril de KMBV#
-or outro lado, j% o decreto de BM de 1ovembro de KM tin3a
ualificado de 8suspeitos8 os padres refract%rios e os
primeiros reveses militares incitaram o Aoverno a persegui5
los# * ueda da reale2a U de *gostoV e a aproimação dos
-russianos provocaram não só a aprovação de decretos ue
praticamente colocavam fora da lei a religião católica, mas
tamb&m os massacres de +etembro durante os uais morreram
muitos cl&rigos#
* Convenção, dominada pelos clubes, pelas secções
parisienses, pela imprensa de "arat e de H&bert, e,
sobretudo, pela Comuna insurreccional, empen3ou5se numa
política de descristiani2ação ue regressou 9 perseguição#
Enuanto em toda a Europa se albergavam, em condições muitas
ve2es miser%veis, alguns mil3ares de bispos, padres e
religiosos, enuanto o 'cidente se batia pelo rei e pela f&,
a <rança assediada de todos os lados, encontrando a sua
salvação apenas no terror, servida por representantes em
missão sem piedade, despadrava5se e seculari2ava

BNL

a vida nacional e a vida di%ria, c3egando a mandar para o


catafalço padres e religiosas#
' (ermidor UKM]V não produ2iu nen3uma mudança essencial,
porue a d&tente apenas serviu para os corruptos# 1o
entanto, a separação das Igrejas e do Estado aprovada pela
Convenção do (ermidor UB de <evereiro de KMJV permitiu ao
catolicismo sair da clandestinidade# 's 3omens do
/irectório, muito imbuídos de filosofismo ou de ateísmo,
preferiram a indiferença 9 perseguição at& ao dia U<rutidor,
ano ZV em ue os jacobinos regressados ao poder se puseram a
deportar padres, a encerrar igrejas ue tin3am sido
reabertas, a protegeram o culto decad%rio e a
teofilantropia# 1a &lgica aneada, os administradores
franceses, evitando enfrentar uma opinião fortemente marcada
pelo antijosefismo, aplicaram em princípio as leis

revolucion%rias
alguns mil3ares com prud!ncia, foram
de religiosos mas o epulsos
<rutidor e,
mudou tudo:
embora os
elgas tivessem reagido com in&rcia 9 aplicação da lei sobre
a venda dos bens da Igreja, a lei de conscrição de KMN
provocou um começo de revolta, enuanto mil3ares de padres
belgas foram presos e algumas centenas deles deportados#
1o termo da sua etraordin%ria campan3a da It%lia em KMO5
KMK, onaparte ue, na .ombardia, recebeu o acol3imento
entusi%stico da burguesia voltairiana, tin3a5se recusado a
obedecer ao /irectório ue pretendia destruir a +anta +&6
-io ZI permaneceu na )oma ocupada pelos <ranceses# "al
onaparte partiu, a revolta dos )omanos levou o /irectório a
proclamar a )ep;blica romana UJ de <evereiro de KMNV6 -io
ZI foi levado como prisioneiro para -arma e, em L de 0ul3o,
era encerrado na cidadela de Zalença, em <rança, onde
morreria seis seman as mais tarde# * )ep;blica )omana ue
instaurou um regime draconiano foi ef&mera6 por duas ve2es,
em 1ovembro de KMN e em +etembro de KMM, os 1apolitanos,
loucamente aclamados, libertara m )oma# "as no rum%rio, ano
ZIII, a tomada do poder por onaparte colocava de novo em
uestão toda a política religiosa da <rança#

BN]

K# * )evolução <rancesa: os problemas

' ue atr%s se referiu constitui uma trama de


acontecimentos, mas estes englobam ainda uma massa de
problemas ineplorados a ue o actual estado da
3istoriografia religiosa da &poca revolucion%ria não pode
fornecer muitas respostas#
/ois problemas dominam os outros, por&m, j% ue a sua
solução est% relacionada com uma mel3or compreensão da
mentalidade cristã confrontada com enormes agitações: a do
clero constitucional e a da descristiani2ação#
* Igreja oficial, constitucional, 8merece mais ue
despre2o8, como escreveu ernardo -longeron, a propósito da
sua parte mais despre2ada: os padres abdicat%rios# ' padre
+evestre, o 3istoriador do clero normando, apesar de se
mostrar pouco benevolente com eles, recon3ece: 8* boa5f& não
esteve ausente entre os ajuramentados e, mesmo aueles ue
continuaram no cisma, provaram5no pelo seu 2elo religioso e
pelos seus esforços incans%veis de reorgani2ação8# +eria
f%cil evocar muitos dos padres e bispos constitucionais ue
procuraram manter uma Igreja viva, mais próima do povo do
ue a antiga, dando mais import\ncia 9 colegialidade e 9
pastoral, ue dentro da Igreja concordat%ria se mostrarão

como 2elosos de
ajuramentado pastores# -or eemplo,
CastelnaudarG, pensemos
o austero .uís no elmas
cura
Ufalecido em N]V, bispo constitucional de *ude e futuro
concordat%rio de Cambraia6 no e5jesuíta /ufraisse, bispo do
C3er ou, ainda, nesse -ierre50osep3 -eugnie2, cura
ajuramentado de ZitrG5en5*rtois ue morreu corajosame nte no
cadafalco de *rras em KM]# [uanto a Aregório, verdadeiro
c3efe espiritual da Igreja constituc ional, alguns trabal3os
como os de ernardo -longeron mostram ue esse padre,
8l;cido acerca da realidade 3umana, mas indom%vel em mat&ria
de doutrina e de f&8, empregou 8toda a sua autoridade moral
para alter ar as estruturas de uma cristandade ue ueria
vivesse em simbiose com o ideal revolucion%rio8, sendo, por
isso, Aregório, em mais de um aspecto, um precursor#
"as a pressa das ordenações, sobretudo nas dioceses em ue
dominavam os não5ajuramentados, o c3amamento de muitos e5
religiosos para o apostolado parouial, eplicam em parte

BNJ

a vida difícil da Igreja constitucional# "as apenas em parte


porue, com a descristiani2ação oruestrada pelo governo
revolucion%rio, c3egou o medo, ue era mau consel3eiro6 com
a despadri2ação, o casamento dos padres oficialmente
decretado UKMLV, a indiferença, a facilidade e a tentação
instalaram5se no coração de alguns p%rocos de aldeia,
literalmente abandonados pelo c&u e pela terra# [uantos
padres ajurament ados se casaramW /e2 mil, segundo Consalvi,
dois mil, segundo Aregório ue, como muitos bispos
constitucionais, se mostrou violentamente 3ostil 9
despadri2ação e muito duro a respeito dos lapsi# ' estado
actual dos trabal3os 3istóricos não permite, contudo,
avançar n;meros precisos, at& porue 3ouve casamentos
fictícios, com padres de L anos casando5se 8oficialmente8
com a sua governante seagen%ria ou mesmo octogen%ria# E
depois, muitos dos padres ajuramentados, sem se revelarem
traidores ou apóstatas, contentaram5se em regressar ao seio
da sua família, para, desta maneira, ao menos poderem
continuar a viver# "as não & menos verdade ue a Igreja
constitucional, na altura da ueda de )obespierre U0ul3o de
KM]V, se encontrava em completa desordem#
"as temos ainda os refract%rios# $ma imensa literatura
ealtar%, durante o s&culo 4I4, em termos elogiosos e
romanescos a epopeia dos padres escondidos, eilados e
m%rtires, ou seja, auilo a ue se c3amou 5 e bem 5 8a
Igreja francesa do sil!ncio8# +e a outra, a Igreja oficial,
merece mais do ue despre2o, esta merece mais ue o

silenciamento
ve2es, dos *s
deformou# factos
*cta 3eróicos
sanctorumue
do aclero
piedade popular,
franc!s por
durante
a )evolução, uma ve2 decantadas, são suficientemente
substanciais para nos enc3er de admiração e merecer o nosso
respeito#
1ão se revela apenas como mat&ria para 8peças de teatro
piedoso8 nos episódios da vida clandestina de mil3ares de
padres refract%rios, entre KMB e KMJ, e depois entre KMK
e KMM# H% mat&ria para a 3istória de uma verdadeira
8resist!ncia8, uma resist!ncia pacífica mas perigosa# "ais
em segurança nas grandes cidades e nas 8mel3ores8 regiões,
como <landres, Zendeia e *lv&rnia, mais perseguidos noutras
partes, esses padres celebram a missa 9s escondidas,
socorrem doentes e moribundos,

BNO

prosseguem, apesar da sua vida de pobre2a etrema, a obra


secular dos fil3os de 'lier, de Zicente e de 0oão Eudes# [ue
belas almas as de 0ean5"arie ZianneG, em EculliG, ou de
<elicit& de .amennais, em +aint5"alo, para sempre lembradas
nas suas eist!ncias clandestinas e 3eróicas *lguns
mil3ares de outros padres passam ao eílio: em KMJ, contam5
se de2 mil na Inglaterra, seis mil na It%lia, outros tantos
na Espan3a e +uíça, mas tamb&m se encontram espal3ados pela
*leman3a, pela );ssia e, mesmo, nos Estados $nidos e no
Canad%# )ecebidos como santos perseguidos nos Estados do
-apa, embatem, na desconfiada Espan3a, com todos os
preconceitos antifranceses e são proibidos de circular nas
grandes cidades# 1os países protestantes, onde o acol3imento
& muito mais amplo, a elevada atitude moral dos padres
franceses contribui para fa2er cair muitos dos preconceitos
antipapistas# -recisam de trabal3ar com as suas próprias
mãos, tornam5se padres5oper%rios, mesmo contra a sua
vontade: desde o abade de elloc, futuro vig%rio5geral de
*uc3, ue se torna cesteiro em (ortosa, ao cónego aston, de
)uão, ue na Zestef%lia fa2 tric`6 do padre )egnault ue
conuista óptima reputação como alfaiate nos -aíses aios,
ao cura de -ommard ue se torna pintor da construção civil
em <riburgo, 3% uma longa 3istória colorida e
verdadeiramente edificante para escrever# ernardo -longeron
mostrou ue muitos prelados do antigo regime encontra ram na
emigração a sua função de doutores da Igreja universal e
isso pelo eercício da colegialidade entre eles e com os
prelados estrangeiros#
Esses eilados, no entanto, não deiavam de estar sujeitos
aos ventos políticos ue l3es permitissem retomar o seu

apostolado
da reacçãoem termidoriana
<rança# <oi o e
casoprosseguida
da relativa no
acalmia nascida
começo do
/irectório UKMJ5KMKV, E Aregório denuncia então o regresso
dos refract%rios 8ue pululam como gafan3otos do Egipto8#
"as logo esses 8gafan3otos8 são esmagados# ' segundo
/irectório, com as vítimas do (error e da guil3otina, com os
1oe -inot, com os .uis50osep3 HauPel ou com os C3arles
'c3in, fa2 aumentar em centenas de padres Ualguns deles
constitucionaisV mortos lentamente pela 8guil3otina sem
l\mina8 em )oc3efort, em )&, em 'l&ron, na Auiana###

BNK

' objectivo do /irectório UKMK5KMMV & o fundo do abismo:


-io ZI, prisioneiro aos NL anos, as igrejas va2ias,
escancaradas, o incrível vandalismo dos 8bandos negros86 e,
perante esta mis&ria, propagam5se nas aldeias a proliferação
dos cultos de substituição Uculto decad%rio, teofilantropiaV
e o paganismo, e nas cidades, o deboc3e e a especulação###
"as eis ue logo o advento uase simult\neo de onaparte
U/e2embro de KMMV e de -io ZII U"arço de NV fa2 renascer
a esperança na <rança devastada e no seu clero di2imado#
' segundo problema essencial coloca do pela )evolução & o da
descristiani2ação, tendo em conta ue se mostra etremamente
difícil concentrar uma realidade na palavra
8descristiani2ação86 tanto mais ue, muitas ve2es, 3% uma
preocupação maior com as acções descristiani2antes do ue
com o resultado dessas acções#
[uando 1apoleão onaparte, na noite de M do rum%rio, ano
ZIII, se torna sen3or absoluto da <rança, a Igreja galicana
não passa de uma ruína# * venda dos bens nacionais ue
provocou a desafectação, a depradação ou a destruição de
mil3ares de edifícios religiosos, a guerra civil no 'este, o
vandalismo e o abandono, tornaram irrecon3ecível o rosto
carnal da <rança religiosa# *badias transformadas em
prisões, em col&gios e em oficinas6 igrejas transformadas em
forjas, cavalariças ou arma2&ns6 etensões de parede
abandonados aos 8coleccionadores8 de pedras, de estuues ou
de tijolos6 cidades sem campan%rios, aldeias em ue os vasos
sagrados, sujos e destruídos no meio da pal3a ou no estrume
sem 3aver um padre ue os purifiue#  um uadro de mis&ria
ue só, aos poucos, se apagar%#
"as 9s ruínas materiais juntam5se, ainda, as ruínas
espirituais# Em primeiro lugar, e sobretudo, uma aceleração
da descristiani2ação em <rança# -longeron teve o m&rito de
estabelecer, concordando, ali%s, com teses j% admitidas, ue
a descristiani2ação entre KML e KMM 5 e mais

particularmente
fenómeno durante
passageiro o (error UKML5KM]V
e superficial, 5, colectivo8
um 8delírio não & um
sem futuro, ligado a uma situação ecepcional e eplosiva# *
longa cessação do culto em muitos locais, a destruição dos
sinais do culto e a abdicação dos padres não são mais do ue
factos episódicos cujos efeitos desapareceram

BNN

logo ue as ideias foram reaber tas# , pois, neste nível da


f& ue ernardo -longeron convida a situar o problema da
descristiani2ação, essa f& ue sobreviveu aui e ali, sob
formas insólitas, tais como as 8missas brancas8, reuniões
eucarísticas de fi&is sem padre, 8condu2idas por leigos
promovidos a funções sacerdotais pela vontade da
comunidade8# * dramaturgia do )eitor da Il3a do +ena, de
[u&ffelec U/eus -recisa dos HomensV tamb&m aconteceu no *in,
em ^vonne, em *ube, na 1ormandia, no .oiret### *inda durante
a )estauração, nas paróuias sem padres, são mestres5escolas
os oficiantes#
"as como observava o general .acu&e a propósito de 'rleães,
onde estava em missão na altura do golpe de Estado do
rum%rio: 8Ir 9 missa, ao sermão, 9s v&speras, tudo era bom6
mas confessar5se, comungar e fa2er abstin!ncia não era
pr%tica comum senão em ocasiões especiais e pouuíssimas
ve2es no ano### 1os campos, gosta5se mais de sinos sem
padres do ue de padres sem sinos#8
Eis o ue se revela sintom% tico e grave#  ao nível da vida
sacramental ue o cristianismo, minado desde 3% muito tempo
por 3%bitos preguiçosos ou viciados, sofre um grave dano por
causa da )evolução <rancesa ue, neste domínio, desempen3a
um papel revelador# [uando o bispo constitucional da +omme,
durante a reacção termidoriana UKMJV, afirma 8ue & notório
ue nesta diocese como nas outras, os dissidentes Uuer
di2er, os refract%riosV repetiram o baptismo, a b!nção
nupcial, a absolvição e os outros sacramentos8, com o
preteto 5 falso 5 de ue os ajuramentados não consagram
validamente, j% não se trata, como di2 # -longeron, de
8uerelas de sacristia8# -rimeiro, 8uma cristandade j%
3esitante v!5se confrontada com duas representações da f&86
depois, 8a partir de KM, contesta5se a Igreja ue se
apresenta dividida entre dois episcopados86 finalmente,
inocula5se o 8veneno do relativismo no interior da vida
sacramental8 numa opinião ue est% absolutamente confusa#
-or isso, não admira ue, em )uão, por eemplo, numerosos
cristãos 8se declarem publicamente pela neutralidade em
relação aos dois cleros8, preferindo , por conseu!ncia, ue

8os fil3os
comun3ão cresçam
e ue, porsem instrução,
fim, confissão
se casem sem a nem primeira
b!nção nupcial8#

BNM

ZIII
* IA)E0* C'1(E"-')1E*:
/' C*+*"E1(' <')*/'
*' /IZ')CI'
E *' /IT.'A'

Capítulo I
)EE1C'1()*/' ' C*"I1H' -*)* )'"*

# 1apoleão e a Igreja concordat%ria

+e onaparte como -rimeiro C`nsul pretendeu p`r termo 9


anaruia religiosa, não foi porue obedecesse a um "ovimento
de f&, mas porue possuía um 8sentimento muito forte da
influ!ncia do padre sobre as massas populares8, influ!ncia
ue 8a sua eperi!ncia de It%lia mel3or confirmou8# Católico
na Zendeia, muçulmano no Egipto e ultramontano em It%lia,
considerava ue a religião & um mecanismo indispens%vel do
governo de um Estado e da sua pacificação# Como considerava
o catolicismo a religião a ue, apesar de de2 anos de
perturbações, a maioria dos franceses continuava ligada,
percebeu ue era preciso restabelecer o culto católico,
custasse o ue custasse# * Igreja constitucional, muito
activa no início do Consulado, como testemun3a o concílio
nacional organi2ado por ela em 0un3o de N, poderia
fornecer5l3e o uadro de uma ressurreição da Igreja
galicana# "as o entendimento com o catolicismo romano, com o
papado 5 admir%vel 8alavanca de opinião no resto do "undo8
5, apresenta para onaparte muitas outras vantagens: al&m da
mais importante fracção dos franceses, da imensa maioria dos
belgas e dos renanos Uentão sob o domínio dos <rancesesV
preferirem )oma 9 Igreja galicana constitucional, a
irradiação da <rança junto dos Estados católicos da Europa

BML
5 face ao poderio e antipapismo da Inglaterra 5 só teria a
gan3ar com um acordo com -io ZII# "as podemos pensar com #
-longeron ue, 8se se fortalecesse o curialismo, as
concordatas europeias do começo do s&culo 4I4 destruiriam as
esperanças8 da *uflrung católica#
Com 1apoleão onaparte c`nsul, em N e, depois, imperador

UN]5N]V,
Igreja retoma aoutra
política
vida,demas,
descristiani2ação
ao mesmo tempo,desaparece6 a
o galicanismo
na sua forma mais despótica reafirma5se, porue 1apoleão &
um d&spota e não um rei# * sua ditadura, nascida da
anaruia, fortificada por ualidades geniais, nada tem a ver
com a legitimidade dos reis de <rança: face 9 Igreja e ao
seu c3efe, actuar% com uma desenvoltura e uma brutalidade
ue apenas se podem eplicar por uma vontade sem freio e uma
ambição sem limites dentro da antiga noção de 8rei
cristianíssimo8# 0acobino saído do +&culo das .u2es8,
empurrado para a frente por uma burguesia em grande parte
voltairiana cuja ascensão ele proteger%, de todas as formas#
(odavia, 1apoleão con3ece a força do sentimento religioso#
/esejando construir uma <rança e um imp&rio U&lgica,
It%lia, )en\nia###V sólidos, coloca o acento na própria
religião# /esde K do 1ivoso, tr!s decretos consulares
garantem a liberdade dos cultos, prel;dio para a pa2
religiosa6 mas o primeiro c`nsul não pode nem uer edificar
essa pa2, tão necess%ria, senão com o -apa, pois não 3% nada
mais estran3o 9 sua concepção da Igreja do ue o
episcopalismo e o presbíterianismo#
' sucessor de -io ZI, arnab& C3iaramonti, era um frade
beneditino ue, em ] de "arço de N, se tornou -io ZII
-ara se reencontrarem, depois de de2 anos de cisma, o papado
e a <rança deviam percorrer um longo camin3o6 mas foi o papa
ue deu a maioria dos passos nesse sentido# -orue, a
Concordata assinada em -aris, em J de 0ul3o de N Ue ue
deveria ter muita influ!ncia no imenso imp&rio franc!sV, não
só devolveu 9 <rança o livre eercício do culto, mais
eactamente dos cultos, mas tamb&m restabeleceu a 3ieraruia
eclesi%stica e manifestou com evid!ncia o primado do -apa,
embora com algumas e enormes concessões feitas ao peueno
corso, cujas pretensões absolutistas superavam em muito o
galicanismo dos reis de <rança ' antigo episco pado era,
pois, literalmente sacrificado:

BM]

do2e bispos constitucionais foram impostos ao -apa e só se


toleravam 8monges8 por serem ;teis ao povo nas escolas e nos
3ospitais6 a venda dos bens nacionais era interrompida e o
catolicismo posto em p& de igualdade com outros cultos# "as
3ouve pior: onaparte mandou acrescentar 9 Concordata
setenta e sete artigos org\nicos de espírito galicano e
josefista, ue impun3am, sobretudo: autori2ação
governamental para a introdução em <rança das actas
pontifícias, ensino da /eclaração dos [uatro *rtigos de ONB

nos semin%rios,episcopal,
colegialidade proibição codificação
de todas asmuito
manifestações
apertada deda
organi2ação do culto, inger!ncia do Estado na organi2ação
eclesi%stica### 's protestos de )oma nada puderam contra
isso#
* vel3a Europa ficou escandali2ada com taman3a
longanimidade6 aui e ali formaram5se 8peuenas Igrejas8
cism%ticas 3ostis aos bispos nomeados pelo usurpador# '
espanto atingiu o auge, uando -io ZII, fa2endo um gesto
;nico na História, se dirigiu pessoalmente a -aris para o
rito oficial da unção do 8novo Carlos "agno8 UB de /e2embro
de N]V# "as a comparação com o grande carolíngio não vai
al&m da cerimónia da sagração# Carlos "agno tin3a sido 8o
bispo8 dos seus s;bditos, preocupado em introdu2ir os
valores evang&licos no sangue do jovem 'cidente# 1apoleão
teve, sem d;vida, o m&rito de devolver vida 9 Igreja6 para
ele, contudo, a religião não passava de um mecanismo 5
essencial, & certo 5 da enorme m%uina imperial6 o clero
concordat%rio, dominado, vigiado e rigidamente
3ierarui2ado, estava submetido a um bispo, ual 8prefeito
de batina8, sen3or absoluto da sua diocese e guardião dos
costumes e da ordem: as suas orações e as suas acções de
graças por ocasião das vitórias do imperador não podiam
senão consolidar a fidelidade do povo ao regime# ' Catecismo
Imperial, imposto em NO a todas as igrejas do imp&rio,
comporta, no capítulo do uarto mandamento de /eus, uma
surpreendente adenda relativa aos deveres dos sujeitos em
relação ao imperador e estabelece sanções graves 5 indo
mesmo at& 9 condenação eterna 5 para uem a tal se
epusesse#
/e facto, o Estado era laico e, muito pior, a atmosfera
geral não era cristã# * corte do imperador, debaio da
solene couraça imposta por ele, permanecia jacobina6 a elite
intelectual 5 os

BMJ

8ideólogos8 5 mostrava5se dominada pelo voltairianismo e


pelo racionalismo, e tais posições não podiam ser
contrariadas pela bril3ante, mas froua apologia do A&nio do
Cristianismo, de C3ateaubriand6 al&m disso, o clero, pouco
numeroso e absorvido nas necessidades, tin3a falta de
espíritos pensantes# ' Código Civil de 1apoleão 5
fundamentos da nova sociedade francesa 5 foi forjado no
espírito revolucion%rio, sendo obra de burgueses liberais,
para uem a não5confessionalidade do Estado, a protecção
fero2 da propriedade individual e a laicidade dos vínculos

matrimoniais
monopólio eram ao
imposto realmente
ensino coisas essenciais# imperial
pela $niversidade /e resto, o
não
deiava de inuietar muitos católicos, sobretudo nos
departamentos criados fora das fronteiras de KM# -orue o
espírito laico e tamb&m a ealtação da noção de lucro em
detrimento da noção de serviço, impregnaram as mentalidades
na Europa# Houve, aui e ali, algumas reacções, como na
&lgica, na aviera, na It%lia e, sobretudo, na Espan3a 5
uma Espan3a de monges armados contra a 8<rança ateia8 56
fortaleceram5se com as 3umil3ações impostas ao -apa, a
partir de NM, pelo imperador, cujas concepções
absolutistas não suportavam a posição independente dos
Estados pontifícios no Centro da It%lia#
Em B de <evereiro de NN, as tropas francesas ocupam )oma e
-io ZI responde, recusando5se a dar a instituição canónica
aos bispos apresentados pelo imperador# Em K de "aio de
NM, os Estados pontifícios foram aneados ao imp&rio e, em
O de 0ul3o, o -apa & levado de )oma e instalado em +avona# '
imperador est% no auge do seu poderio e nada parece poder
resistir5l3e6 em 0aneiro de N, a oficialidade de -aris
pronuncia a nulidade do seu casamento com 0osefina e, tr!s
meses mais tarde, desposando "aria .uísa, 1apoleão entra na
mais antiga família reinante da Europa6 em N, nasce um
fil3o a uem, orgul3osamen te, d% o título de 8rei de )oma8#
E, recorrendo a um processo tantas ve2es repetido ao longo
dos s&culos, convoca para -aris um concílio UNV, do ual
espera obter a instituição episcopal ue o -apa l3e recusa6
mas a maioria dos bispos franceses, italianos, belgas e
alemães ali reunidos recusa contrariar a vontade papal# Em
0un3o de NB, 1apoleão manda levar -io ZII a <ontainebleau
e arranca5l3e um projecto de

BMO

Concordata, cuja aplicação teria feito do imperador o sen3or


da Igreja UBJ de 0aneiro de NLV6 mas, a partir de B] de
"arço, o -apa retracta5se# Entretanto, os reveses do Imp&rio
mudam completamente o rumo dos acontecimentos6 no começo de
N], 1apoleão liberta o -apa, cuja ;nica vingança ser%
albergar, depois dos Cem /ias, a família do eilado de +anta
Helena# Então, a )evolução & renegada por toda a parte e o
antigo regime ressuscita do# "as as restaurações políticas e
sociais ue se operam irão, de facto, provocar um regresso
do espírito religiosoW E a Igreja romana ir% tirar disso
algum benefícioW

B# *s )estaurações: apar!ncias e realidades

Com o imperador derrotado, os ourbons regressa m a -aris, a


"adrid e a 1%poles, os raganças a .isboa, os Habsburgos a
"ilão e a <lorença, os 'ranges instalam5se em ruelas, os
Ho3en2ollern no )eno, o C2ar em Zarsóvia, -io ZII em )oma###
-arece ue a Europa revela como preocupação primordial
lançar 5 por cima do abismo da )evolução 5 algumas pontes
ue a voltem a ligar a um 8antigo regime8, de ue 5 ueria
continuar a acreditar 5 nada de essencial a separava#
Esse regresso ao passado fe25se, ora com prud!ncia ora, pelo
contr%rio, com viol!ncia, segundo as circunst\ncias e o
estado dos espíritos# Em <rança, onde as ideias
revolucion%rias impregnavam o povo, .uís 4ZIII teve de
transigir, e mesmo proclamando5se rei por direito divino,
manteve a estrutura social edificada por 1apoleão6 a
concordata de N, por instantes ameaçada pela acção dos
8ultras8, não foi modificada# -elo contr%rio, nos Estados
pontifícios, o governo de )ivarola apressou5se a destruir
tudo o ue pudesse lembrar os <ranceses: at& se restabeleceu
a Inuisição6 a acção inteligente de -io ZII e do seu
secret%rio de Estado Consalvi limitou feli2mente as
conseu!ncias desse sectarismo# Em Espan3a, <ernando ZII
reagiu com a mesma viol!ncia6 assoc iou tão intima mente o
trono ao altar ue, a partir daí, a História religiosa do
país ser% apenas uma altern\ncia de eplosões anticlericai s
e de regressos brutais ao clericalismo#
* contra5revolução teve os seus teóri cos# * frente deles
estavam .ouis de onald e 0osep3 de "aistre, sendo este um
escritor

BMK

de raça, mais bem preparado para opor aos filósofos uma


teoria da História 5 ue rejeita a de ossuet 5, para
iluminar com uma lu2 tr%gica a estreita solidariedade das
gerações e as conseu!ncias inelut%veis das revoltas do
espírito 3umano# "as os reis 5 de facto, foi *leandre I,
influenciado por uma iluminada, "adame de rudener 5
uiseram institucionali2ar a contra5revolução, constituindo
a +anta *liança UNJV, cujos pre\mbulos edificantes
escondem muito mal os fortes apetites regalistas#
* Igreja, uase em bloco, associou5se ao movimento contra5
revolucion%rio# *o sair do ue considerava um período de
privações, reagiu violentamente contra a )evolução e as suas
seuelas# /iversas gerações de padres e de católicos viverão
a ansiedade de um regresso a NM e a ML, no 3orror das
lembranças, com saudades do *ntigo )egime e sempre 9 espera

da sua dele
depois ressurreição# *t& aoaparecer%
5 a )evolução fim do s&culo
como a4I4 5 do
rai2 e mesmo
"al,
mergul3ando numa terra envenenada pelo racionalismo, pelo
voltairianismo, pelo laicismo e pela maçonaria# *ltar, (rono
e +ociedade são os tr!s bens essenciais, a ue se sentem
ligados os 8seua2es de +atã8 ou 8demónios vivos8 ue tin3am
posto o Estado no lugar de /eus, o povo no lugar do rei,
lugar5tenente de /eus, e uma burguesia egoísta no lugar de
uma aristocracia, cuja vocação era apenas a de servir#
Católico, .egitimista e Conservador serão palavras ue,
embora nem sempre nos factos, pelo menos na mentalidade se
mostrarão insepar%veis# Em <rança, sob Carlos 4 UNB]5NLV,
a aliança do trono ao altar foi oficiali2ada com uma lei
votada em NBJ 5 mas ue não se ousou aplicar 5 ue
condenava 9 morte o crime de sacril&gio6 e pregaram5se
algumas missões espectaculares atrav&s de todo o país ue
provocaram, por ve2es, grande entusiasmo e regressos a /eus,
mas c3ocaram freuentemente uma opinião mal preparada para
sofrer pressões indiscre tas e cujas disposições, em mat&ria
religiosa, não se tin3am modificado muito# *li%s, na alta
sociedade, a religião oficial encobria uma indiferença
polida e um galicanismo virulento ue manifestava um sentido
confuso da Igreja, atirando5se particularmente 9 Compan3ia
de 0esus, restaurad a por -io ZII, em *gosto de N]1o campo
oposto 5 porue se trata, realmente, de uma guerra 5, estão
os liberais# ' liberalismo 8saiu bem armado da )evolução

BMN

e uer influenciar tudo: o Aoverno, as relações sociais, o


trabal3o, a ind;stria e as relações internacionais# * sua
doutrina, racional, idealista e optimista, enraí2a5se na
filosofia do s&culo 4ZIII, rejeita todo o despotismo,
sobretudo se & religioso, arranca as m%scaras atr%s das
uais desconfia ue se esconde um jesuíta# (udo o ue vibra,
principalmente a juventude 5 mas tamb&m os 8garantes8 da
)evolução 5, se afirma, ufanosamente, liberal# ' liberal
intelectual &, muitas ve2es, doutrin%ri o e di25se seguidor,
sobretudo, de Zoltaire, cujas obras t!m numerosas reedições
no tempo da )estauração6 mas o liberal da rua, da oficina e
da caserna & sentimental 9 maneira de &ranger# Contudo,
nunca se poder% avaliar a influ!ncia profunda das canções de
&ranger: a sua brejeirice ing&nua, o seu anticlericalismo
f%cil e o seu patriotismo vibrante ue & apoiado pelo culto
a um 1apoleão inesperadamente promovido a modelo dos
liberais, o seu epicurismo barato e o seu teísmo
imediatamente satisfeito forneceram uma esp&cie de

8catecismo8
ve2es ue, o nas
substituir 8lembranças
outro, do povo8,
o dos 83omens devia
de preto8 muitas
vindos de
)oma e cujo /eus cruel estava o mais distante possível do
8/eus das pessoas de bem8# Em N]K, )enan escrevia a
ert3elot: 8[uanto mais avanço, mel3or vejo despontar no
presente os elementos de uma religião nova: a revolução não
ser% j% a personificação de uma ordem de ideias ue, para
nós, se tornaram sagradas e objecto de veneraçãoW8
E, no entanto, a liberdade foi reivindicada por cristãos ue
prolongavam o esforço da *updãrung católica# Em primeiro
lugar, por um padre genial, <elicite de .a "ennais Ufalecido
em NJ]V ue pretendia ue entre os dois sectarismos 5 a
Igreja abafada pelo poder aliado e a contra5Igreja
revolucion%ria 5 3avia lugar para uma Igreja livre e viva6 a
uma +anta *liança 3ipócrita, assinada, sem o -apa, por
alguns d&spotas, e ue não conseguia disfarçar o afastamento
das massas em relação ao Evangel3o, .a "ennais opun3a um
encontro dos 3omens nas %guas vivas e profundas de um
cristianismo livre e, ao mesmo tempo, largamente aberto 9
fonte ue est% em )oma# Esse entusiasta padre bretão atraiu
uma multidão de jovens 5 cl&rigos e leigos 5, cansados da
sufocante atmosfera da )estauração6 muitos dentre eles serão
os edificadores da Igreja na <rança contempor\nea# "as

BMM

j% c3oviam em )oma as den;ncias contra esse 8louco furioso8


do .a "ennais, porue na atmosfera da &poca a epressão
católico liberal destoa va muito: era a mais insidiosa, a
mais perigosa e a mais diabólica aliança de palavras
naturalmente inimigas# "as o facto de ter sido ele o ;nico
eclesi%stico ue marcou a evolução religiosa dos primeiros
trinta anos do s&culo 4I4 e se separou da Igreja mostra
claramente a car!ncia intelectual do clero franc!s nesse
tempo# 1o entanto, o padre .uís autain vai tamb&m esforçar5
se, embora isoladamente, em seguir o eemplo dos teólogos
católicos alemães#
-orue a preemin!ncia do pensamento teológico alemão,
estimulado pela etraordin%ria fecundidade intelectual do
protestantismo germ\nico U+c3leiermac3erV, permanece
indiscutível com um Aõrres e um /óllinger, por eemplo# 1as
províncias belgas do reino dos -aíses aios, o sentimento
nacional fortalece5se com a resist!ncia dos católicos 9
política do protestante Auil3erme I# Independente em NL, a
&lgica, peuena, mas viva, colocar5se5% na esteira da
<rança6 ou, mel3or, segundo a epressão de um 3istoriador
franc!s, 8pelo seu vigor e pela sua independ!nci a, a Igreja

da &lgica
ideal ser%,
para as em meados
outras Igrejasdoeuropeias8#
s&culo 4I4,* uma esp&cie de
ressurreição da
$niversidade de .ovaina UNL]V ser% para muito s o começo
dessa renovação#
1um conteto muito diferente, mais ambíguo, o movimento
católico na Irlanda e na -olónia reforçou o movimento
nacionalista: o papado não teve nen3uma repugn\ncia em lutar
com a Arã5retan3a e com a );ssia, porue a revolta l3e
aparecia como um fruto perigoso da )evolução <rancesa# "ais
paradoalmente a )en\nia, tornada prussiana em N],
con3eceu, graças a <rederico Auil3erme IZ, mais inspirado do
ue seu pai, uma liberdade de ue a Igreja Católica se
aproveitou: as dioceses renanas acabariam por se mostrar,
durante o s&culo 4I4, muito vivas e muito activas# Em
contrapartida, na aviera e entre os Habsburgos da Tustria e
da It%lia, a burocracia josefísta impõe5se ainda por muito
tempo#
* It%lia, cuja população geralme nte iletrada não fora muito
motivada pelo protestantismo nem pela irreligião
revolucion%ria, permanecia uma terra de etremos# 1o reino
de 1%poles, a Concordata de NN colocou a Igreja numa
situação privilegeada,

L

mas o antigo feudo de "urat foi o centro de um carbonarismo


violento, cujas forças serão absorvidas pelo movimento da
80ovem It%lia8 de "a22ini# 1os Estados pontifícios, a
aristocracia e os funcion%rios da C;ria defendiam durament e
os seus privil&gios6 mesmo na corte do papa os 2elanti
erguiam5se contra ualuer forma de liberalismo, mas o
end&mico banditismo e a indiferença da administração
favoreciam o desenvolvimento do carbonarismo e do movimento
liberal neoguelfo#
+obre a Espan3a e -ortugal, desembaraçados dos <ranceses 5 9
custa de ue 3eroísmo 5, voltou a cair a capa de uma
tradição simultaneamente absolutista, sect%ria e galicana,
com muito mais força por ter sido em nome do liberalismo
ue, então, se revoltara a *m&rica .atina#  preciso di2er
ue a situação religiosa nas jovens rep;blicas de língua
espan3ola e portuguesa era bastante lament%vel: as massas
eram católicas, mas supersticiosas, o clero pouco numeroso,
relaado e muito agarrado aos seus privil&gios, enuanto a
elite intelectual e governante tin3a impulsos de febre
anticlerical, nascidas das correntes revolucion%rias vindas
de <rança#
1a *m&rica do 1orte, as apar!ncias eram menos evidentes, mas

o fundo
de srcem religioso era
irlandesa, e mais sólido: ocanadian
o catolicismo catolicismo
o, de americano,
formação
francesa, teriam um futuro promissor#  verdade ue essas
jovens Igrejas, sobre as uais não pesava um passado de
galicanismo ou de josefismo, se voltavam naturalmente para
)oma: pouco a pouco, ameaçadas pela )evolução, as vel3as
Igrejas da Europa iriam, tamb&m elas, concentrar 5se 9 volta
de um papado, cuja autoridade não deiar% de crescer#

L# ' eclipse das igrejas nacionais

/esde o s&culo 4IZ, os laços ue prendiam a cristandade ao


papado foram singularmente relaados: a reforma protestante,
a política particularista dos soberanos católicos 5 ourbons
e Habsburgos, sobretudo 5, as ocupações materiais e as
preocupações territoriais de certos papas, redu2iram o papel
da +anta +&, não apenas no "undo, mas no próprio seio da
Igreja#

L

Comparemos Inoc!ncio IZ, proclamando no Concílio de .ião a


deposição do imperador <rederico II UB]JV, com -io ZI,
mostrando5se um pedinc3ão junto de Ziena UKNBV e apenas
conseguindo arrancar palavras delicadas a 0os& II###
-io ZII saiu engrandecido das provações infligidas pelo
Imp&rio: surgiu perante a Europa, desperta de um longo
pesadelo, como 8o símbolo do princípio da ordem e da
autoridade face 9 revolução ameaçadora8# 0unto dele, o
secret%rio de Estado, Consalvi, colocou a sua alta
intelig!ncia ao serviço desse prestígio reencontrado6
representando o -apa no Congresso de Ziena, obteve das
pot!ncias a restauração da maior parte dos Estados
pontifícios e a confirmação do direito de preced!ncia
acordado aos n;ncios apostólicos sobre todos os
embaiadores# Em NB, uarenta e dois embaiadores ou
ministros plenipotenci%rios estavam acreditados em )oma6
ora, em KNM, 3avia apenas vinte e sete# Consalvi praticou a
política muito ultramontana das Concordatas 5 de N] a NJJ
assinaram5se tr!s de2enas 5 ue, oficiali2ando as relações
dos Estados, mesmo não5católicos, com )oma, reforçaram as
ligações dos fi&is e do clero com a sede apostólica# 's
Estados mais reticentes foram precisamente os mais
oficialmente católicos e tamb&m os mais reaccion%rios: a
Tustria e a Espan3a# E só em NJ & ue o governo de Isabel
assinou com -io I4 uma convenção, ali%s muito favor%vel 9
Igreja, ue em seguida foi combatida por Espartero e pelos

liberais#
0os& * Concordata
e )oma, devolveude aNJJ, concluída
autonomia entre <rancisco
9 Igreja austríaca
jugulada pelo josef ismo, mas teve na pr%tica um car%cter
medieval 8teocr%tico8 ue escandali2ou os liberais na
Europa#
+ob -io ZII, foi na *leman3a ue se assinaram concordatas em
maior n;mero# ' mapa da antiga *leman3a tin3a sido
perturbado pela )evolução e pelo imp&rio: o desaparecimento
dos príncipes5bispos, a atitude ultramontana dos católicos
submetidos a soberanos protestantes e o cuidado dos
príncipes reinantes em evitar a constituição de uma Igreja
nacional alemã, eplicam por ue motivo a maior parte dos
Estados, da -r;ssia 9 aviera, assinaram algumas convenções
com )oma# *ssim, a vel3a *leman3a particularista ia abrir5se
9 influ!ncia romana, graças sobretudo 9 escola de "ain2, aos
jesuítas e aos redentoristas#

LB

*li%s, Consalvi concluiu ainda concordatas com a +uíça e,


para a -olónia, com o c2ar#
"as foi em <rança, fortale2a do galicanismo, ue os
progressos do ultramontanismo foram mais r%pidos e mais
decisivos# ' fantasma da )evolução devolveu a )oma o clero
franc!s6 obrigando todos os bispos a inclinar5se perante as
decisões papais, a Concordata de N tin3a fustigado
duramente a orgul3osa Igreja galicana6 submetendo
estreitamente aos bispos o baio clero, os artigos org\nicos
levaram este ;ltimo, outrora bastante galicano, a implorar a
protecção de )oma: portanto, & entre os p%rocos de aldeia
ue Z$nivers, órgão de .uís Zeuillot, arauto entusiasta do
ultramontanismo, encontrar% durante vinte e cinco anos os
seus leitores mais aguerridos# 'utros elementos contribuíram
para a morte r%pida do anti5romanismo em <rança: a
resignação dos 8ultras8 uando, em NK, o -apa se recusou a
substituir a Concordata de onaparte por uma nova6 a longa
campan3a levada a cabo por .a "ennais em .*venir contra a
política da "onaruia de 0ul3o, acusada de eercer sobre o
catolicismo uma tutela inadmissível, de recusar a liberdade
de ensino e de limitar a autoridade pontifícia sobre a
Igreja em <rança# E, uando .a "ennais, condenado por
Aregório 4ZI, rompe com a Igreja UNL]V, a submissão
imediata dos seus discípulos torna mais manifesta a
autoridade romana#
<oram precisamente os partid%rios de .a "ennais ue
representaram um papel determinante na 8romani2ação8 da
Igreja galicana: Au&ranger restaurou a ordem beneditina em

<rança UNLOV
militou e, tornado
efica2mente o primeiro
pela adopção abade deda +olesmes,
generali2ada liturgia
romana6 '2anam, )o3rbac3er e "ontalembert como 3istoriadores
5 este ;ltimo ealtando o papel dos 8monges do 'cidente8 5,
e Aerbet como filósofo, trabal3a ram para orientar para )oma
as correntes do passado6 o truculento Combalot retomou as
ideias romanas no p;lpito e nos presbit&rios6 mais elouente
e menos indiscreto foi o mais uerido discípulo do mestre,
.acordaire, o primeiro ue enfrentou, no p;lpito de 1otre5
/ame, um p;blico voltairiano, antes de aí voltar com o
3%bito branco dos dominicanos, ordem ue reimplantou na sua
p%tria# ' espírito antimon%stico dos galicanos fora
derrotado pelos ultramontanos#

LL

$m n;cleo de oposição ao ultramontanismo subsistiu graças a


alguns teólogos e tamb&m a bispos como *ffre, +ibour e
/arboG ue se sucederam em -aris, ao mesmo tempo ligados 9s
suas prerrogativas e persuadidos de ue a perda de uma certa
autonomia episcopal, a uniformi2ação da disciplina e da
piedade, a adopção de formas de vida e de fórmulas muito
italianas iriam fa2er com ue a vel3a Igreja galicana
perdesse virtudes ue j% tin3am dado provas e um fermento
ue tin3a sido a força da *ufl9rung católica# "as a acção
de <ornari, n;ncio em -aris durante sete anos UN]L5NJV6
as repetidas condenaçõe s do Inde contra as obras suspeitas
de galicanismo6 a intervenção de -io I4 nas uestões
religiosas locais, as suas afirmações doutrinais, sobretudo
a proclamação do dogma da Imaculada Conceição UNJ]V6 a
orientação dada ao Concílio Zaticano I UNOM5NKV ue,
convocado 8para encontrar os rem&dios necess%rios aos males
ue afligem a Igreja8, terminou 5 prematuramente, & verdade
5 pela proclamação da infalibilidade pontifícia6 tudo isso
foi uebrando as resist!ncias#
1o entanto, a propósito do Zaticano I, cuja obra foi muitas
ve2es mal compreendida, & preciso lembrar ue a Igreja se
encontrava, então, pela primeira ve2, em presença de uma
ra2ão inteiramente autónoma e do advento 3istórico de uma
descrença socialmente generali2ada# E isso justificou, aos
ol3os dos padres conciliares, um aumento do magist&rio
pontifício#
Enuanto a política anticatólica ue, sob o nome de ultur5
ampf, & condu2ida durante sete anos por ismar c UNO5
NONV, se dissolve com o triunfo do -apa, dois vel3os países
dissidentes abrem5se 9 influ!ncia romana# 1os -aíses aios
UHolandaV, & fundado um jornal católico, em N]J, e a

Constituição
religiosa, de N]N
embora, afirma
em NJL, o restabeleça
-io I4 princípio da liberdade
a 3ieraruia:
um arcebispo em $treue e uatro sufrag\neos# (r!s anos
antes, o mesmo -apa tin3a reorgani2a do a Igreja Católica na
Inglaterra: essa ressurreição fora preparada pela
emancipação dos católicos, votada pelos >3igs em NBM, e,
sobretudo, por um movimento intelectual e espiritual intenso
ue se designou genericamente como 8movimento de 'ford8,
porue o seu centro principal foi a $niversidade de 'ford,
onde jovens cl&rigos juraram despertar a Igreja
estabelecida:

L]

9 frente deles, eble, ue permanecer% fiel ao anglicanismo,


e 1ePman 5 uma das almas mais profundas do s&culo 5 ue,
tornado padre e prelado romano, continuar% a estimar os seus
antigos correligion%rios6 do col&gio ingl!s de )oma saiu
>iseman, de uem -io I4 fe2 o primeiro arcebispo de
>estminster# >iseman, com mais força, 1ePman com maior
delicade2a, devolverão ao catolicismo ingl!s o seu lugar#
"as & preciso salientar ue se o ultramontanismo, tal como o
concebeu um s&culo marcado pela )evolução, permitiu 9 Igreja
reagrupar as suas forças espiritu ais 5 -io I4 abandonar% ao
seu secret%rio de Estado, *ntonelli, a administração
temporal dos seus Estados 5, teve como rev&s uma
centrali2ação administrativa, cujos ecessos foram
denunciados auando da segunda sessão do Concílio Zaticano
II UMOLV# Este movimento tin3a sido iniciado sob -io ZII
Ufalecido em NBLV e .eão 4II UNBL5NBMV6 depois do reinado
de vinte meses de -io ZIII Ufalecido em NLV, o austero
Aregório 4ZI UNL5N]OV instaurou, com o auílio de
.ambrusc3ini, seu secret%rio de Estado, um verdadeiro
8despotismo burocr%tico8 ue tomou uma forma uase
institucional no tempo de -io I4 UN]O5NKNV, cujo longo
pontificado, confrontado com a escalada das forças anti5
religiosas, se consolidar% numa posição autocr%tica# *lgumas
provações como a fuga para Aaeta UN]NV e a tomada de )oma
UNKV, a popularidade do -apa ligada ao seu encanto
pessoal, c3egaram at& ao culto de admiração e respeito ue
alguns manifestavam para com o soberano pontífice: essa
atitude suscitou as críticas dos descrentes ue apenas viam
no papado 8uma esp&cie de lamaísmo8 U)enanV e forneceu aos
protestantes, advers%rios de uma teocracia pessoal, um
argumento de peso#
-or outro lado, -io I4, desejoso de tomar conta pessoalmente
da vida da Igreja, redu2iu o +acro Col&gio dos cardeais a um

corpo sem vida


solilóuio própria:
papal# os consistórios
* organi2ação redu2iram5se
governativa, a um
administrativa
e judici%ria 5 a C;ria 5, aí enrai2ada desde o s&culo 4Z e,
portanto, muito italiana, viu os seus poderes aumentar:
8apelar para )oma8 tomou5se uma epressão familiar entre os
eclesi%sticos# 1o clima tempestuoso do s&culo 4I4, uando
católicos conservadores e católicos liberais se confrontavam
com dure2a,

LJ

tal procedimento levava por ve2es 9 den;ncia6 a suspeição


eerceu5se, sobretudo, contra os católicos liberais,
considerados defensores das ideias subversivas# "as o pior
era ue, a preteto de barrar o camin3o ao liberalismo, os
meios romanos 5 intelectualmente menos evoluídos do ue os
meios católicos de <rança e da *leman3a e pouco ao corrente
das tend!ncias modernas 5, muitas ve2es desconfiaram 8dos
m&todos críticos e dos resultados da ci!ncia contempor\nea8#
 verdade ue a Igreja do s&culo 4I4 não pretendia, em
primeiro lugar, responder aos seus advers%rios no terreno
deles, mas, antes, lançar na acção e p`r ao serviço dos
3omens as forças ue o ultramontanismo permitira reunir#

]# $ma prodigiosa eplosão de forças


*o traçar, em M, o uadro de $m +&culo da Igreja em
<rança, "ons# aunard escrevia: 8* Igreja de <rança nunca
ergueu ou manteve 9 sua custa tantas escolas nem fundou
tantos col&gios cristãos, 9s centenas# 1unca edificou tantas
igrejas e tantos conventos nem abriu tantos ref;gios para
todas as mis&rias### 1unca suscitou em parte alguma mais
vocações e raramente gerou mais santos e santas#8 ' reitor
das faculdades católicas de .ille não eagerava: o s&culo
4I4 libertou na Igreja Católica enormes forças ue fi2eram
erguer, atrav&s do "undo, muitíssimas obras# 1este aspecto,
o papel da Igreja em <rança foi primordial: em M, dois
terços dos mission%rios católicos em todo o mundo eram
franceses6 em cento e de2anove padres ue morreram nas
missões durante um s&culo, noventa e cinco nasceram em
<rança e tr!s uartos das congregações religiosas fundadas
durante o s&culo 4I4 eram francesas#
-or reacção contra o galicanismo e o josefismo 3ostis aos
monges, o s&culo do ultramontanismo foi o s&culo dos
religiosos e das religiosas# Em <rança, a II )ep;blica e,
sobretudo, o II Imp&rio favoreceram a restauração das
antigas ordens e a multiplicação das congregações
3ospitalares e de ensino# 's jesuítas foram, com os

capuc3in3os,
particularmente,os carmelitas, ososmestres
os redentoristas, dominicanos e,
das 8missões8

LO

internas6 ali%s, os seus col&gios multiplicaram5se e foram


fundadas in;meras congregações clericais, como as dos
"aristas, dos "arianitas, dos -adres do +antíssimo
+acramento, dos -adres do +agrado Coração, *ssuncionistas###
*tr%s dos Irmãos das Escolas Cristãs, ue con3eceram grande
prosperidade, surgiram congregações laicais e de ensino
similares 5 contavam5se tre2e em NJ], pertencentes aos
irmãos maristas e aos irmãos de +# Aabriel 5 ue, em NOL,
dirigiam j% tr!s mil e trinta e oito instituições p;blicas#
Em NMM, por&m, contavam5se oitocentas e de2assete
congregações femininas, uase todas, simultaneamente, de
ensino e de cuidados de sa;de, com essa dupla vocação muito
apreciada nas aldeias, ue controlavam oito mil escolas
p;blicas e cinco mil e uin3entas escolas livres# Entre as
novas congregações, as Irmã2in3as dos -obres, unicamente
dedicadas aos vel3os indigentes, tornaram5se muito
populares#
<ora de <rança, e apesar das escaladas febris antimon%sticas
5 Auerra do +onderbund na +uíça UN]NV, leis Cavour na
It%lia, )evolução de NON em Espan3a### 5 o aumento de
congregações foi consider%vel# * Inglaterra contar% cento e
sessenta e tr!s conventos em NOB, a -r;ssia novecentos e
cinuenta e cinco em NKB6 nos Estados $nidos, onde em M
3aver% on2e mil3ões de católicos, um terço dos padres eram
religiosos, como os paulistas instalados aí atrav&s do padre
Hecer UNJMV, enuanto no Canad% numerosas congregações
locais se epandiram pela *m&rica# 1a It%lia, ao lado de
muitíssimos frati adormecidos nos seus conventos
confort%veis, ergueu5se 0oão osco 5 /om osco 5, esse
modesto padre piemont!s ue se entregou aos 8blusões negros8
e aos garotos desprotegidos do seu tempo6 p`s ao seu serviço
a +ociedade de +ão <rancisco de +ales, cujos membros 5 os
salesianos 5, formam com as <il3as de "aria *uiliadora, ou
salesianas, uma verdadeira família de uarenta mil membros#
1o mesmo sentido, actua um padre lion!s, C3evrier, fundador
da obra do -rado UNOV, sinal infalível de prosperidade
monacal: a Compan3ia de 0esus, entre NJL e NN], passou de
cinco mil para on2e mil e uin3entos membros#
* maioria dessas ordens religiosas 5 e mesmo diversas
congregações femininas 5 ol3avam facilmente para l% dos
mares# ' s&culo 4I4 foi incontestavelmente o s&culo dos
missionarios

LK

franceses: eram tre2entos em KNM e setenta mil, de ambos os


seos, em M# Esta epansão foi favorecida pela acção
pessoal de Aregório 4ZI e de -io I4, pela empresa efica2 da
congregação romana da -ropaganda, pelos enormes recursos
postos 9 disposição das missões pela 'bra da -ropagação da
<& UNBBV, pela 'bra da +agrada Inf\ncia UN]LV, pela 'bra
das Escolas do 'riente UNJOV, etc# ' declínio do Imp&rio
(urco, a intervenção das pot!ncias ocidentais no 'riente e
na C3ina, o estabelecimento da <rança no 1orte de Tfrica, na
Coc3inc3ina e no +enegal, as eplorações africanas e os
progressos da navegação a vapor contribuíram tamb&m para o
desenvolvimento das missões#
1o -róimo 'riente, escolas e col&gios religiosos
multiplicaram5se: a audi!ncia do catolicismo romano
encontrou5se assim mais alargada, como no .íbano, onde os
maronitas, perseguidos pelos drusos UNOV, foram protegidos
pela <rança6 na -alestina, onde, desde N]K, -io I4
restabelecera o patriarcado latino de 0erusal&m6 na +íria,
onde o patriarca "%imo III reorgani2ava uma Igreja meluita
católica# E isso & tamb&m verdade para o Egipto, para a
-&rsia e at& para a *natólia# * índia foi marcada por um
mission%rio de g&nio, "ons# onnand, ue aplicou certos
m&todos de apostolado muito adaptados6 ele não se esuecia
de ue, no s&culo 4ZII, a [uerela dos )itos tin3a paralisado
toda a acção mission%ria no Etremo 'riente e, sobretudo, na
C3ina# 1o Imp&rio do "eio, entre os etremos da enofobia
dos C3ineses e da indiscreta penetração europeia, os
jesuítas, os la2aristas, os dominicanos espan3óis e os
franciscanos italianos tiveram um apostolado difícil: em
NK, contava5se na Indoc3ina uatrocentos mil católicos e
3avia uin3entos mil na Indoc3ina francesa, domínio dos
la2aristas e da +ociedade das "issões Estrangeiras# -or sua
ve2, o 0apão, fec3ado para a Europa at& NON, revelou5se, no
seu conjunto, pouco perme%vel ao catolicismo#
's aruip&lagos da -olin&sia foram evangeli2ados sobretudo
pelos padres de -icpus e pelos maristas, durante muito tempo
perturbados pela acção dos Ingleses# * Tfrica, como
continente novo, suscitou maior n;mero de sociedades
mission%rias especiali2adas: os -adres rancos e as Irmãs
rancas de .avigerie, arcebispo de Cartago, os -adres do
Espírito +anto

LN

de .ibermann,
Irmãs os "ission%rio
de +# 0os& s *fricanos
de ClunG fundadas de .ião e tamb&m
pela etraordin%ria as
"adre
0avou3eG, 8um grande 3omem8, segundo .uís <ilipe# 1o etremo
norte5americano estabeleceram5se os 'blatos de "aria
Imaculada, uma congregação marsel3esa#
Claro, eiste um certo folclore mission%rio no s&culo 4I4:
resgate dos c3inesin3os, *nais da +agrada Inf\ncia, viagens
do padre Huc pela (art%ria, mission%rios ue invadem os
col&gios franceses %vidos de relatos coloridos### -odemos
sorrir com tudo isso# "as o sangue de um -erboGre na C3ina,
de um C3anel nas il3as >allis ou de um Z&nard em *name, os
suores e as l%grimas de mil3ares de padres, de religiosos,
de religiosas e de auiliares não podem ser despre2ados# 
evidente ue a História deve tratar com precaução os n;meros
de 8conversões8, estudar o seu significado, ter em conta a
tremenda campan3a ue, para os mission%rios, foi a
coloni2ação6 deve lembrar ue certas massas como o islão ou
o 3induísmo foram uase engolidas pelo catolicismo e ue a
acção mission%ria se revelou por ve2es uma simples
transposição em terra estran3a dos m&todos e da mentalidade
da metrópole### 1o entanto,o s&culo 4I4, embora pouco
clarividente e facilmente satisfeito consigo mesmo, ofereceu
9 Igreja uma grande dose de generosidade#

J# $m clero digno e um laicado activo

/i25se muito mal do clero do s&culo 4I4 ue foi, na maioria


dos países da Europa e, sobretudo, em <rança, um clero
concordat%rio, subordinado, dependente da 3ieraruia
eclesi%stica e, igualmente, de um ministro dos cultos, para
uem não era indiferente ser bem ou mal 8notado8 UV# *
ambição, as mesuin3e2es e o conformismo tranuilo são
defeitos, aos uais não escapou o corpo clerical cujo nível
intelectual deiou a desejar durante muito tempo# "as uando
"ons# aunard afirma ue o clero franc!s do s&culo 4I4 foi
8casto e caritativo8, & eacto no
[ue di2# Com alguns cambiantes e tendo em conta o regime

1ota : Estar ligado ao ultramontanismo ou ao galicanismo#


X1# do (#Y
LM

mais feudal da Europa Central e "eridional, este elogio pode


aplicar5se ao conjunto da Igreja# *o redor do seu
campan%rio, o padre de paróuia ue um longo tempo de
semin%rio mais austero do ue adaptado formou para toda a

abnegação
3umilde e para
cumprime nto todos os deveres
dos seus sacrifícios, esforça5se,
5 pregação, no
catecismo,
celebração dos ofícios, administração dos sacramentos### 5
por elevar um pouco o nível espiritual, tantas ve2es muito
baio, das suas ovel3as#
$m modelo foi proposto na pessoa de um pobre e 3umilde cura
de uma miser%vel aldeia dos /ombos: uando, em NN, c3ega a
*rs, 0ean5"arie ZianneG ouve di2er pelo seu predecessor ue
a maioria dos tre2entos e setenta 3abitantes 8nada tem ue
os distinga dos animais senão o baptismo8# /urante uarenta
e um anos, esse padre pouco instruído, mas ue possui no
mais alto grau a intelig!ncia do coração 3umano, ue, pela
oração, pela mortificação e pela pobre2a, permanece em
comun3ão perp&tua com /eus, transforma radicalmente a sua
paróuia e atrai de todos os lados penitentes e admiradores#
"as cada país tem os seus santos padres: Cottolengo e
Cafasso na It%lia, Hofbauer na *leman3a, alm&s na Espan3a,
(riest na &lgica###
' s&culo 4I4 católico não teve a oportunidade de dispor de
um ossuet nem de um *mbrósío# "as, embora tivesse 3avid o 5
na Tustria, na Espan3a e na It%lia mais do ue em <rança, na
&lgica e na *leman3a 5 prelados delicadamente instalados no
seu pal%cio episcopal ou ue freuentavam os corredores do
poder, o episcopado foi, no seu conjunto, digno e 2eloso6 os
seus c3efes foram mais 3omens de acção e lutadores do ue
teólogos, mais conservadores do ue atentos aos apelos do
seu tempo# "as não podemos deiar de falar em 3omens como
-ie de -oitiers, /upanloup de 'rleães, .avigerie de Cartago,
<reppel de *ngers, >iseman na Inglaterra, )ausc3er em Ziena,
.edoc3oPsi na -olónia, +terc em "alines, +trossmaGer na
Cro%cia, "ermillod na +uíça, Aibbons nos Estados $nidos,
etteler em "ain2###
* acção do clero 5 um aspecto novo do s&culo 4I4 5 foi
coadjuvada por um laicado, podendo mesmo di2er5se ue, em
<rança, os cantores do catolicismo foram leigos:
C3ateaubriand,

L

Zeuillot, "ontalembert, <allou, Coc3in os irmãos de "elun,


*lbert de "un### * Igreja alemã foi dominada pela
personalidade de Zon Aõrres# 1a &lgica, o -artido Católico
forneceu muitos leigos militantes# 1ão 3ouve cidade ue não
tivesse os seus 3omens e as suas mul3eres dedicados 9s
8obras8, aristocratas ou grandes burgueses: o snobismo
piedoso e o paternalismo condescendente não foram sempre
estran3os 9s suas dilig!ncias, mas muitos deles revelaram5se

verdadeiros
* +ociedade 8santos leigos8,
de +# Zicente de absolutamente
-aulo, fundadadesinteressados#
em NLL, por
'2anam e seis jovens estudantes, teve a ambição de ser o
ponto de encontro de todas as obras católicas: com os seus
ap!ndices, sociedades de +# <rancisco 4avier, as sagradas
famílias, os patronatos para as crianças órfãs ou
desprotegidas, as obras para militares###, tudo estava
prestes a alcançar tal objectivo, uando esse impulso foi
interrompido pela política neogalicana do II Imp&rio j%
uase no seu fim# "as tamb&m obras de outra nature2a, cuja
enumeração seria eaustiva: obras de caridade, de grupo, de
juventude, obras a favor do sacerdócio e das igrejas, dos
pobres, das crianças, dos prisioneiros### E as confrarias,
as associações piedosas dedicadas ao +agrado Coração, ao
+antíssimo +acramento, a +# 0os& e, sobretudo, 9 Zirgem,
cujo culto se mostrou reforçado pelas aparições de .ourdes,
de .a +alette e da )ua do ac 's seus 8regulamentos8, os
seus estandartes e as suas imagens invadiram as capelas das
igrejas6 são, de facto, manifestações de piedade, mas 5
desde as 8/on2elas Zirtuosas8 aos <il3os de "aria 5 nem
sempre & f%cil distinguir a virtude sólida do mero
sentimentalismo# 's manuais de caridade, os 8guias8 do
8jovem cristão8 e os 8missais8 com iluminuras góticas
tornaram5se repositório s de orações, indulgenciados ou não,
mais ou menos inspirados na devoção italiana 5 sobretudo na
de +to# *fonso de .igório 5ou na mística fervorosa de <aber,
de +c3eeben ou de "ons# de +&gur ue são realmente segur os#
-or isso, o padre )aGe2 prestou 3omenagem 9 espiritualidade
do s&culo 4I4, embora tamb&m 3aja autores, cujo estilo
piedosamente eagerado não escapa a uma ingenuidade pateta#
(rata5se de um alimento espiritual muitas ve2es indigente,
com ue se contentaram durante muito tempo os católicos
pouco interessados nos estudos bíblicos e

L

ue só mais tarde reagiram aos esforços de /om Au&ranger


para instaurar uma caridade lit;rgica e para impor o canto
gregoriano#
*o longo de muito tempo, as condições em ue se desenvolveu
o culto católico foram mediocremente formadoras# $ma
aruitectura sem imaginação contentou5se com pastic3es dos
estilos de outrora, sobretudo o gótico, de ue os cristãos
do s&culo 4I4 sentiram saudades# .amentavelmente, +aint5
+ulpice deiou o seu nome ligado 9 escultura em gesso, feita
em s&rie e sem alma# [ue grandes obras inspirou a pintura
cristãW /urante muito tempo, dos órgãos das igrejas, os

fi&is não
alguma ouviramade
religiosid senão ecos demissas
insípida: uma m;sica rom\ntica,
com grande com
oruestra,
oratórias, pastorais, c\nticos fero2mente individualistas e
fracamente adaptados a %reas de 8-ont5neuf8 ou a vaudevilles
do s&culo de .uís 4Z# 8'pera muito bela, an%loga ao uinto
acto de )obert5le5/iable6 mas )obert5le5/iable & mais
religiosa8, observava HippolGte (aine ao sair de um grande
casamento parisiense por volta de NO### * revolução
operada pelo organista de +anta Clotilde, C&sar <ranc, e,
uase no fim do s&culo, a da +c3ola cantorum de Carlos
ordes, 3abituarão, pouco a pouco, os fi&is 8a re2ar com a
bele2a8#
8$ma imaginação pastoral limitada8, eis como se eprime o
cónego *ubert referindo5se ao clero do s&culo 4I4#  verdade
ue esse clero, generoso, s&rio e regular na sua vida
espiritual, teve uma grave falta de perspectivas e uma
preparação intelectual muito fraca# "ons# /upanloup, ue foi
em 'rleães um pastor vigilante, confessava: 8*bsorvidos
pelos pormenores e pelas mil3entas obras das nossas
dioceses, nem sempre podemos acompan 3ar de perto os avanços
da impiedade#8 E pensemos ue se tratava do mais inteligente
dos prelados franceses# <ace ao liberalismo, ao ateísmo, ao
socialismo, ao cientismo ou muito simplesmente ao mundo
moderno, o clero sucumbiu perante o compleo de estar
8instalado8 e insistiu demasiado na santidade da sua própria
causa para confundir os advers%rios e atrair aueles ue se
afastavam dele#

LB

Capítulo II
' *<)'1(*"E1('

# * Igreja e a sociedade laici2ada

[uando Aregório 4ZI faleceu, em N]O, a Igreja romana


assemel3ava5se a um cabo ameaçado por todos os lados, a um
;ltimo ref;gio do *ntigo )egime# Em BN de *gosto de N]K,
)enan escrevia: 8 j% para mim tão evidente ue c3egar% o
dia em ue o cristianismo estar% morto e bem morto6 mas nada
se poder% fa2er para l3e valer nem, ao menos, transform%5
lo#8 'ra, 3avia um ano ue "astai reinava em )oma: um jovem
pontífice# -io I4, cujo passado caritativo, sorriso
encantador e reformas ue introdu2ira nos Estados
pontifícios e garantias ue parecia ter dado ao movimento
nacional italiano l3e tin3am granjeado uma reputação,
bastante artificial, de liberalismo# ' desmentido c3egou

uase logo,por
proclamada uando, depois
"a22ini de ter fugido
e Aaribaldi da-io
UN]NV, )ep;blica romana
I4, graças 9s
tropas francesas, voltou a instalar5se na sua capital# /e
futuro, -io I4, encora jado pelo seu poderoso e impopular
secret%rio de Estado *ntonelli, mostrar5se5% 3ostil a tudo
ue possa identificar5se com o liberalismo#
's católicos, depoi s da ef&mera 8prim avera dos povos8 de
N]N, acompan3aram o -apa na sua actuação# Em <rança, a
)evolução de <evereiro parecia ter selado a aliança da
democracia com o catolicismo# "as, a partir das jornadas de
0un3o,

LL

a violenta eplosão de descontentamento oper%rio reafirmou a


reacção de bispos e católicos: as suas vo2es e as suas
eortações contribuíram para a eleição 9 -resid!ncia da
)ep;blica e, depois, para a posse do imp&rio do 83omem
forte8, .uís 1apoleão# Entre N]N e NO, renovou5se a
aliança do trono com o altar, aliança muito mais perigosa do
ue no tempo de Carlos 4, porue a oposição ao trono
imperial incarnou numa geração cujas posições filosóficas
eram violentamen te anticatólicas# Com efeito, o vago deísmo
evang&lico de muitos dos 3omens de ]N foi sepultado pelo
anticlericalismo militante dos Aambetta, dos <errG, dos
Clemenceau e dos Edmond *bout### ou seja, uma pl!iade de
intelectuais ue, em NO, tin3am entre B e L anos# (in3am
sido influenciados não só pelo neocriticismo antiano de
)enouvier ue negava toda a metafísica e propun3a uma moral
puramente racional, mas tamb&m pelo positivismo de *uguste
Comte, de .ittr& e de (aine ue, ultrapassand o a teologia e
a metafísica, se limitava a observar os fenómenos e a
determinar as leis ue os regiam: um positivismo ue, ali%s,
desembocava em plena sociologia, afirmando5se como moral
altruísta e como religião da Humanidade#
Esta corrente positivista, algumas de cujas fontes
remontavam j% ao s&culo 4ZIII, foi reforçada por alguns
afluentes importantes# Em primeiro lugar, pelo racionalismo
científico, pelo cientismo ou religião da ci!ncia# Com ue
paião os 3omens da geração positivista seguiram os
trabal3os de ouc3er de -ert3es Ufalecido em NONV, pai da
-r&5História e de uma concepção evolutiva do 3omem atrav&s
dos s&culos ' transformismo de .amarc Ufalecido em NBMV e
de /arPin Ufalecido em NN]V deu lugar a uma etraordin%ria
admiração, freuentemente ing&nua e por ve2es sect%ria,
porue se sabia ue ameaçava as vel3as posições da Igreja
uanto 9 srcem do 3omem# * audi!ncia de um +ainte5euve, de

um Claude
[uinet, de ernard,
um Zítor de um e,
Hugo ert3elot, de um
mais tarde, de "ic3elet,
um C3arcotdenão
um se
podia comparar, nos meios pensantes, 9 dos padres# /urante
uarenta anos, )enan guardou na gaveta o ue considerava um
manifesto do seu tempo: ' <uturo da Ci!ncia, cujo título &
j% por si um sinal de sucesso#

L]

"as foi esse mesmo )enan ue, publicando * Zida de 0esus


UNOLV, provocou um dos mais espantosos esc\ndalos do
s&culo6 a opinião francesa estava pouco a par da evolução da
eegese bíblica, sobretudo na *leman3a, onde desde 3% muito
)eimarus insinuara ue Cristo não passava de um impostor e
-aulo de um c3arlatão genial, enuanto +trauss Ufalecid o em
NK]V considerava a 3istória evang&lica um mito saído da
ideia preconcebida de ue o povo judeu tin3a um "essias#
*presentando ao grande p;blico um 0esus son3ador, embora
admir%vel mas sem dimensão metafísica, )enan atraiu sobre si
os insultos, por ve2es, ignóbe is dos católicos e elogios
cegos de alguns dos seus advers%rios# (endo em conta o
progresso da eegese, * Zida de 0esus de )enan rapidamente
envel3eceu, mas não se pode esuecer os serviços ue prestou
ao sacudir o catolicismo latino at& aí adormecido#
* bibliografia de )enan & uase inteiramente tirada de
trabal3os devidos aos protestantes e a alemães6 as ci!ncias
3istóricas e filosóficas 5 com ecepção de .ovaina e dos
bolandistas na &lgica, a escola de (ubinga e a escola de
"ain2 na *leman3a 5 revelavam5se, em NO, bastante
estran3as nos meios católicos, na Espan3a, na It%lia, na
Tustria e tamb&m na <rança, onde /om -itra e o abade "igne
eram ecepções e a obra dos maristas era prosseguida pela
*cademia das Inscrições e das elas5.etras# "as, em História
da Igreja, eram !ito de livraria as compilações medíocres
de )o3rbac3er e de /arras#
1esta &poca, não eistem grandes teólogos, pelo menos entre
os latinos: numa &poca em ue o espírito crítico reina, os
bispos, os pregadores e os escritores eclesi%sticos recorrem
sobretudo 9 atitude oratória da teologia rom\ntica ue
satisfa2 mais o sentimento religioso do ue o espírito# *
moral e a apolog&tica invadem a literatura religiosa, mas as
in;meras 8sociedades dos bons livros8 e outras 8bibliotecas
católicas8 iludem o problema capital da conciliação do
espírito científico, da civili2ação industrial e da f&
cristã# /e uma enorme produção, o futuro reter% muito pouca
coisa# * moral parece tornar5se autónoma em relação a um
culto desincarnado e a um dogma sem raí2es profundas6 e, na

moral, a com
confunde 8pure2a8 ocupa um
uma pudicícia lugar ecessivo, dado ue se
ridícula

LJ

e repousa numa educação seual puramente negativ a6 ora isto


& tanto mais grave uando essa 8pure2a8 obsessiva esconde
outros problemas morais, de ordem comunit%ria, ue se
revelam tamb&m importantes# $ma religião redu2ida a uma
esp&cie de autodefesa espiritual ou a um entesouramento
egoísta não tin3a nen3uma possibilidade de sedu2ir as massas
comprometidas com movimentos mais amplos# -oder5se5ia, no
entanto, di2er ue a manutenção de numerosas obras na
Igreja, o recrutamento sacerdotal relativamente elevado e a
renovação católica do s&culo 44 seriam ineplic%veis sem
algumas correntes subterr\neas de santidade e de vida#
"as o positivismo teve outros aliados# -or um lado, a
franco5maçonaria ue, sobretudo em <rança, em oposição 9
maçonaria anglo5saónica, seguiu o camin3o do republicanismo
e do racionalismo# -or outro lado, a ala esuerda do
protestantismo com <erdinand uisson, <&li -&caut e 0ules
+teeg, ue pregava um cristianismo liberal sem dogmas
obrigatórios, sem milagres nem autoridades sacerdotais,
mantendo unicamente a 8subst\ncia moral do cristianismo8 e
apenas se fec3ando 9 intoler\ncia clerical6 ser% nela ue,
depois, se recrutarão alguns dos fundadores do laicismo em
<rança# -orue as forças novas e aliadas 5 positivismo,
racionalismo, panteísmo, livre5pensamento, materialismo de
.e /antec e niilismo de 1iet2sc3e 5 cooperam, em proporções
variadas, para o aparecimento de 3omens de acção#
Em <rança, são esses 3omens ue animam a oposição ao
imp&rio6 em NKM, apoderam5se do poder republicano e
prosseguem, atr%s de 0ules <errG, a construção de uma
8cidade liberal8 , laica e anticlerical, baseada numa escola
nova completamente autónoma em relação 9 Igreja6 alguns
oportunistas face aos radicais fa2em com ue essa política
jacobina se prolongue at& M], com leis
anticongregacionistas de M5M] e da separação das
Igrejas e do Estado UMJV a assinalar o ponto de ruptura#
*ssim, confrontaram5se duas <ranças: a conservadora e
católica, com freu!ncia, regalista6 a republicana,
anticlerical e, por ve2es, anti5religiosa# 1a &lgica
tamb&m, durante uns trinta anos a partir de NJ, a ofensiva
liberal e anticlerical teve como objectivo a escola6 a
partir de NKO, a esuerda estava no poder

LO

em It%lia, os católicos tin3am sido afastados da vida


política por vontade do papa# * Espan3a do s&culo 4I4 5 tal
como as suas antigas colónias da *m&rica 5 foi dilacerada
por certos pronunciamientos anticlericais#
"as a Igreja não se apercebeu imediatamente da gravidade
desses ataues# Em <rança, os favores do II Imp&rio
adormeceram, durante de2 anos, o episcopado e o clero para,
depois, uando o poder temporal do -apa foi ameaçado, uando
1apoleão III começou o seu p&riplo atrav&s da sua diplomacia
labiríntica, c3egar o p\nico# *rtigos de .$nivers e
broc3uras corajosas de muitos bispos 5 sobretudo de
/upanloup 5 organi2aram5se em torno de um duplo documento
emanado de -io I4: a encíclica [uanta cura e o +Gllabus UN
de /e2embro de NO]V, cujas fórmulas secas do teto precisam
as condenações da encíclica ao princípio do Estado laico e a
todos os erros modernos: liberalismo, socialismo e
racionalismo, ou seja, tudo o ue constituía os trunfos da
sociedade laica# 's advers%rios da Igreja consideraram essa
atitude 5 ue impedia ualuer di%logo com os descrentes 5 o
grito de um agoni2ante6 por isso, Zítor Hugo por% na boca do
-apa estas palavras:
Eu sou a autoridade, eu sou a certe2a,
E o meu isolamento, ó meu /eus, vale a tua solidão#
Era evidente ue o -ontífice )omano, tal como o Arande
(urco, era o 3omem doente da Europa nova:
+il!ncio, pois, sil!ncio,
+egui o vosso /eus morto ao seu sepulcro sombrio##Entre os
católicos, acentuaram5se as divisões entre os liberais 5
/upanloup, "ontalembert### 5 e os integrais 5 -ie,
Zeuillot### 5, porue estes afirmavam ue a doutrina da
Igreja, incluindo os ensinamentos pontifícios, era uma
fortale2a ue pode proteger contra os maus ventos6 aueles
desejavam poder lançar uma ponte entre )oma e essa nova
8terra prometida8, em ue o 3omem moderno, liberto pela
ci!ncia, se volta decididamente para um futuro de ue /eus
est% ausente#

LK
"as uanto mais os católicos tin3am a sensação de estarem a
ser cercados tanto mel3or perceb iam ue as suas filei ras
diminuíam# -orue a descristiani2ação do 'cidente, mais ou
menos r%pida, mais ou menos profunda segundo os países e as
regiões, determinada parcialmente pelos acontecimentos
políticos e sociais 5 código civil, bens nacionais,
industriali2ação, migração, mobilidade social,

desenvolvimento
um dos dos meios
fenómenos de transporte
importantes do e de difusão
s&culo 4I4# 5 Essa
foi
descristiani2ação, ue pressupõe muitas ve2es uma
cristiani2ação incompleta ou superficial e o enfrauecimento
de um certo cristianismo, manifesta5se evidenteme nte por um
abandono, total ou parcial, das pr%ticas do culto, mas
sobretudo pela pagani2ação dos costumes e das mentalidades #
1os campos, onde os padres v!em a sua audi!ncia redu2ir5se a
favor de not%veis liberais, sobretudo do professor prim%rio
5 esse antip%roco, como di2ia (3iers 5 ue, maltratado antes
de NK por uma legislação muito clerical, se torna, como
testemun3ou -&guG, um servidor entusiasta da rep;blica
laica#
* burguesia divide5se# $ma parte, ue estar% no poder,
evolui para um jacobinismo cada ve2 mais anticlerical, uase
anti5religioso * outra, por ve2es por interesse, mas uase
sempre por fidelidade 9 educação recebida nos col&gios
religiosos, aproima5se da Igreja: mas isto não uer di2er
ue as suas reacções essenciais, sobretudo perante o amor, a
morte e o din3eiro, ten3am sido necessariamente uma
resultante do espírito evang&lico# "as & tamb&m meritório
ue ten3a sido o processo da burguesia bem5pensante 5 dos
panfletos de .&on loG 9s -alavras de 0ean5-aul +artre 5 ue
ten3a contribuído para manter uma elite ue, nos tempos mais
tempestuosos, assegurar% a renovação do pensamento católico#
/e resto, repita5se, uma ve2 mais, ue sem a santidade
escondida de um peueno n;mero dos seus membros, a Igreja
não teria sobrevivido 9 longa tormenta do s&culo 4I4#
Zerifica5se, então, o fenómeno observado desde o s&culo
4ZIII: o de duas curvas ue se cru2am, uma a subir e a outra
a descer# 8* primeira eprime uma religião ualitativa, a
segunda uma adesão uantitativa6 a primeira tradu2 a
fidelidade a uma mensagem evang&lica mais bem compreendida,

LN

a segunda, um conformismo ue vai estalando 9 medida ue a


civili2ação se transforma8 U0# /elumeauV#
"ais grave, por&m, do ue verificar5se ue, entre NK e
M, a massa dos intelectuais se mostrou 3ostil ao
catolicismo, ter% sido o fracasso uase total da Igreja face
ao socialismo e ao proletariado#

B# * Igreja e os oper%rios

Citam5se com freu!ncia as palavras de -io 4I: 8' maior


esc\ndalo do s&culo 4I4 foi a apostasia da classe oper%ria#8

"as uma
ora, apostasia
enuanto pressupõe
classe, uma adesão,
o proletariado uma f& anteriores6
contempor\neo nasceu e
cresceu, como a própria ind;stria, 9 margem da Igreja, num
conteto essencialmente materialista, num clima de
concorr!ncia implac%vel e do egoísmo, criado, em parte, pela
)evolução <rancesa, ue erguera como dogma a liberdade de
mercado, a não5intervenção do Estado e o car%cter nefasto
dos corpos interm&dios, corporações ou sindicatos# 1ão ue o
oper%rio seja, por definição, um não5cristão6 por volta de
N], ainda se falava de oficinas em ue o patrão presidia 9
oração da tarde dos trabal3adores# * mão5de5obra da
ind;stria manufactureira foi muitas ve2es fornecida pelos
campos relativamente 8tradicionais8: os <lamengos
estabeleceram5se na 2ona industrial do 1orte da <rança, os
Irlandeses trabal3avam na Inglaterra e, durante longo tempo,
mantiveram os 3%bitos cristãos6 & verdade ue, sobretudo no
;ltimo caso, se tratava tamb&m de uma forma de resist!ncia 9
assimilação# "as as próprias estruturas da grande ind;stria,
limitando a muito pouco ou mesmo nada os tempos de
instrução, de pra2er e de refleão, desenrai2ando os 3omens,
deslocando a família, mostravam5se incompatíveis com uma
vida cristã parouial j% redu2ida pela desafectação geral em
relação 9 Igreja#
*li%s, as Igrejas concordat%rias não dispun3am das nossas
lu2es: a formulação 3istórica e sociológica dos padres era
medíocre6 o episcopado, piedoso e 2eloso, tin3a poucas
cabeças pensantes6 o Estado evitava empurrar para as
primeiras filas padres

LM

do tipo de .a "ennais# /e resto, o clero administrativo,


muito dependente do "inist&rio dos Cultos franc!s, não tin3a
a liberdade de acção do actual clero# -ortanto, não nos
devemos espantar de ue, durante muito tempo, se ten3a
confundido o prolet%rio com o pobre# -orue o próprio 0esus
tin3a dito: 8(ereis sempre pobres entre vós8 e, assim, o
clero não via nada de anormal no facto de ue o trabal3o ao
serviço de outrem provocasse naturalmente a pobre2a, uase o
pauperismo, ue & a pobre2a em estado end&mico# E a
desigualdade social ia progredindo, camin3ava por si# -orue
o próprio 1apoleão, fundador da 8nova sociedade8, escrevera:
81a religião, não vejo o mist&rio da Incarnação, mas o da
ordem social# [uando um 3omem morre de fome ao lado de outro
ue arrota, &5l3e impossível entender essa diferença, se não
3ouver uma autoridade ue l3e diga: /eus assim o uer,
porue & preciso ue 3aja pobres e ricos6 mas, depois e

durante
Eis a eternidade,
um tema a partil3a
retomado cem far5se5%
ve2es pelos deres,
pregado outra
talforma#8
como o
p%roco de +aint5"aurice, em .ille, declarando em N]: 8*
desigual repartição dos bens & necess%ria para manter a
felicidade na terra6 o pobre trabal3a para o rico e o rico
auilia o pobre6 a 3armonia da sociedade resulta dessa
diferença entre os seus membros, como a do órgão deriva da
grossura desigual dos tubos#8
1ão se di2 ue 8o industrial paga ao oper%rio8, mas ue 8o
rico auilia o pobre8# Eiste nisso uma subtile2a, uma
demarcação, ali%s, feita de boa5f&, mas ue viria a custar
caro 9 Igreja# * protecção do oper%rio pelo seu patrão Ua
palavra, sintom%tica, passou de moda no vocabul%rio
correnteV, a intervenção maciça dos padres, dos 3omens e das
mul3eres na pr%tica da caridade Upatronatos, sociedades de
benefic!ncia, ajuda social, cooperativas, obras familiares
ou de 3igiene, círculos e corporaçõesV: eis o processo
3abitual de conceber o 8dever social8# * sociedade saída da
)evolução, sendo intangível de direito divino, seria um
crime sacudi5la# -or isso, todos se contentam, muito
cristãmente, em cuidar das c3agas físicas e morais
provocadas pelo industrialismo triunfante#

LB

L# * contra5Igreja socialista

'ra, & a uma verdadeira escravatura ue, tanto na <rança, na


&lgica, na )en\nia, na It%lia e na Espan3a, como nos países
não5católicos, a massa dos oper%rios da grande ind;stria se
v! submetida# Ziram5se confrontados com m%uinas perigosas
consideradas o capital essencial e ue os 8libertariam8,
encerrados durante um tempo consider%vel numa f%brica
dirigida por um patrão distante ou anónimo, dominado pela
implac%vel lei da oferta e da procura e da concorr!ncia sem
freio# ' sal%rio, considerado simplesmente um elemento do
preço de custo, era fiado pelo empregador em função das
flutuações económicas: o oper%rio era livre de recusar6 mas,
noutro lado, encontraria a mesma lei pesada# "al pago, o
oper%rio levava os fil3os para a f%brica para mel3or poder
viver, mas o trabal3o ecessivo e duro, uma alimentação
fraca e o albergue 5 porue, salvo algumas ecepções, nunca
3ouve uma política de alojamento 5, a taberna, ref;gio
natural de uma vida sem alegria, tudo isso provocava uma
mortalidade elevada, sobretudo entre os mais novos# "as o
trabal3o em casa con3ecia tamb&m condições muito pesadas#
-ortanto, & este estado de coisas ue se encontra, com

certas variantes,
Industrial em todos
ue /ur3eim os países
designar% marcados
como pelagrito
8o imenso )evolução
de
sofrimento8 e ue provocou a elaboração de doutrinas visando
uma reforma radical da organi2ação da sociedade, geralmente
pela supressão das classes sociais: a palavra 8socialismo8
foi comodamente adoptada para as designar# /o ponto de vista
da Igreja, o ue as caracteri2a & ue consideram o
cristianismo, e mais particularmente o catolicismo,
absolutamente incapa2 de dar uma resposta global 9 uestão
social ou, ainda pior, o obst%culo principal 9 emancipação
dos trabal3adores# -ara +aint5+imon, <ourier, -ierre
.enou###, o cristianismo não era mais ue uma fase para um
paraíso terrestre feito de amor universal# -ara lanui, 8o
e&rcito negro dos padres avança em plena f;ria, vencendo as
trevas e afirmando5se por toda a parte como inimigo do
progresso# *poiado pelo Estado, domina, governa, ameaça e
oprime# ' capital oferece5l3e todos os meios,

LB

considerando5o um bom auiliar, ou mel3or a sua ;ltima


3ipótese de salvação#8 Com -roud3on, ue acusava a Igreja
romana de ser 8ad;ltera em relação a Cristo8 redentor do
proletariado, camin3ava5se para uma 8variedade an%ruica8
desse 3umanimo ateu de ue Hegel e <euerbac3 se tomaram os
teóricos e de ue "ar fe2 a ess!ncia do socialismo
científico: 8* crítica da religião & a primeira condição de
toda a crítica###8 "uito antes de 1iet2sc3e, j% "ar tin3a
compreendido ue a 8morte de /eus8 era a condição essencial
da libertação e da promoção do 3omem e ue, como -roud3on, a
resignação cristã era uma ilusão: 8@ povo de trabal3adores,
povo deserdado, veado e proscrito -ovo ue se aprisiona,
ue se julga e ue se mata -ovo 3umil3ado, povo
sacrificado 1ão sabes ue a paci!ncia tem limites e a
dedicação tamb&mW *t& uando continuar%s a dar ouvidos a
esses oradores do misticismo ue te mandam re2ar e esperar,
pregando a salvação, umas ve2es pela religião, outras, pelo
poder, e cuja palavra veemente e sonora te cativaW8
U-roud3on, <ilosofia da "is&riaV
Em resumo: & com o marismo ue, ao longo dos anos, a Igreja
se ver% mais freuente e tragicamente confrontada# * cidade
socialista, caracteri2ada pelo desaparecimento das classes,
não se situa j%, graças a "ar, num futuro aleatório, mas
toma5se uma certe2a inelut%vel, cuja reali2ação pode ser
apressada pela acção dos 3omens# Esta cidade ser% universal,
internacional e reali2ação de um verdadeiro ecumenismo6
0ules Auesde eclamar% um dia perante os deputados

católicos:
catolicismo6 81ós somos
e catolicismo 3oje o
uer di2erverdadeiro, o
universalidade#8 ;nico
"as a
religião ser% tranuilamente afastada dessa cidade como
coisa naturalmente perniciosa: 8* religião & tanto o suspiro
da criatura oprimid a, a alma do mundo sem coração, como & o
espírito de uma civili2ação de onde o espírito est%
ecluído# Ela & o ópio do povo### 's princípios sociais do
cristianismo revelam5se servis e o proletariado &
revolucion%rio8 Uarl "arV# E & num tom triunfante ue
.afargue, em NMJ, poder% escrever: 8"ar epulsou /eus da
3istória, o seu ;ltimo ref;gio#8
* Igreja Católica, 9 Igreja cristã, o socialismo marista
opõe uma contra5Igreja, cujos fi&is se recrutam sobretudo
entre os

LBB

pobres# * uma religião ue se identifica com uma civili2ação


condenada, com uma sociedade injusta e opressora, opõe uma
nova religião ue condena a caridade cristã, 8essa
intermedi%ria cínica ue corrompe o pobre, avilta a sua
dignidade e o 3abitua a suportar com paci!ncia a sua sorte
iníua e miser%vel# * sociedade capitalista, ue condu2 ao
etremo limite a eploração do pobre, era a ;nica capa2 de
erguer como virtude teologal e social a posição do din3eiro8
U-aul .afargue, MJV#
Esta nova religião tem os seus dogmas, ue são definidos em
v%rios catecismos, como o Catecismo Comunista de Engels e o
Ensaio de Catecismo +ocialista de 0ules Auesde#
Em todo o caso, & verdade ue os católicos reagiram tarde 5
em n;mero muito redu2ido e, durante muito tempo, sempre a
medo 5 9 proletari2ação da classe oper%ria# E tal facto pode
encontrar uma eplicação ou, mesmo, uma desculpa no terror
ue a revolução eercia no papado, no episcopado e no
conjunto dos leigos6 e, muito naturalmente, o oper%rio foi
identificado com o pobre e a justiça social com a caridade6
durante muito tempo, a corporação do antigo regime foi
considerada a nost%lgica instituição a ue era necess%rio
regressar# [uanto ao resto, sim, ilusões perigosas para a
ordem social# 81ão vedes ue, se impregnardes o oper%rio de
ateísmo e de sensualismo, o entregais a todas as cupide2es
impetuosasW +oprais5l3e no coração a sede ardente dos go2os
materiais, mas roubais5l3es a resignação e a esperança6
tornais5l3es intoler%veis os seus sofrimentos e forneceis
argumentos terríveis 9 sua inveja###8 Esta censura dirigida
aos socialistas & de NOO e foi feita por "ons# /upan5loup
ue passava por ser o mais liberal dos bispos de <rança#

(odavia,arcebispo
Airaud, & precisode
di2er ue alguns
Cambraia bispos
5 ousaram 5 comosolenemente
condenar o cardeal
8a eploração do 3omem pelo 3omem8#
*o serviço desse novo 8pobre8 ue era o oper%rio, surgiram
in;meras 8obras8, como a +ociedade de +# Zicente de -aulo,
ue permitiram aos católicos possibilidades de contactarem
com a mis&ria e assim se prepararem para uma acção social
mais ampla#

LBL

]# Esforços dos católicos sociais

1ão se poder%, sem injustiça, por mais longas ue ten3am


sido as suas 3esitações, passar em sil!ncio os pioneiros do
catolicismo social# .a "ennais, influenciado muito cedo pelo
8despre2o pelo 3omem8 proclamado pela sociedade industrial,
levantar5se5% sobretudo contra 8o novo feudalismo8 depois de
abandonar a Igreja# 1as obras de alguns dos seus discípulos
5 C3arles de Cou, Aerbet### 5 encontram5se espantosas
fórmulas de condenação do capitalismo# E tamb&m em '2anam, o
apaionado, ue denuncia o liberalismo económico como
portador de morte para o oper%rio5m%uina# uc3e2, indo mais
longe, estabeleceu os limites de um 8socialismo cristão8 ue
pretendia reconciliar a revolução e o catolicismo# "as aí,
j% estamos na etrema5esuerda do catolicismo social6 entre
os legitimistas, ue se revelavam em maior n;mero, as
soluções preconi2adas situavam5se numa perspectiva muito
mais apertada, embora desembocasse em importantes
reali2ações# -or eemplo, o visconde *lban de Zilleneuve5
argemont, cuja 8economia política cristã8 preconi2ava a
fundação de 8colónias agrícolas86 *rmand e *natole de "elun,
animadores da 8+ociedade de Economia Caritativa8 e do
catolicismo paternalista ue caracteri2a o período de N]N5
NK e se encontrar% desampa rado perante a Comuna de -aris,
considerada não num conteto 3istórico e sociológico, mas
como uma eplosão de ódio infernal#
1ão & preciso esconder isso: se, em NK, o catolicismo
social não revelou mais do ue um pun3ado de 3omens ue,
ali%s, pertenciam 9s classes dirigentes6 se a sua audi!ncia
& limitada, a responsabilidade regressa ao sil!ncio da
3ieraruia, com Aregório 4ZI e -io I4 9 frente, ou, se
preferirmos, 9 sua falta de perspectivas6 embor a papas e
bispos condenem o liberalismo, não v!em ue o liberalismo
económico & a forma mais desumana e grosseira de todas as
mis&rias6 ao deplorarem a descristiani2ação das massas,
atribuem5na 9 acção das 8m%s doutrinas86 mas não percebem a

sua ligação
taberna com não
5 ue o 8tri\ngulo maldito8
deia ualuer 5 f%brica,
espaço para acasa
vidae
parouial favorecendo o embrutecimento intelectual e a
atrofia espiritual#

LB]

1outros países, o mesmo sil!ncio, por ve2es mais opaco, como


na Espan3a ou na It%lia, onde dD*2eglio & um pensador
solit%rio# Entretanto, em diversas regiões desabroc3am
alguns centros: na Inglaterra, com "anning, 8o cardeal dos
pobres86 na &lgica, na $niversidade de .ovaina, onde
desperta a sociologia religiosa e C3arles -&rin ealta a
associação oper%ria6 nos Estados $nidos, onde o cardeal
Aibbons protege e defende a poderosa associação oper%ria dos
nig3ts of .abour6 na Tustria, com o barão de Zogelsang#
1a *leman3a, as convicções de .enming e de /õllinger sobre o
papel decisivo da Igreja no acerto da uestão social,
inspiram, depois do abalo de N]N, a acção de von etteler,
bispo de "ain2, ue preconi2a as 8associações oper%rias8,
inspirando, assim, uma nova forma 5 mais evoluída do
catolicismo social: o corporativismo ue reforçar% o
paternalismo de tipo patriarcal epresso na )eforma +ocial
UNO]V de .e -laG# * corporação tal como a entende esse
catolicismo, simultaneamente social e contra5revolucion%rio,
& uma 8sociedade religiosa e económica8, fundada livremente
por c3efes de famílias industriais, patrões e oper%rios,
dentro de um mesmo corpo de estado e cujos membros são
agrupados em 8associações de piedade8#
Este segundo catolicism o social encontrou em <rança os seus
representantes mais not%veis# * frente os 83omens5bons
sociais8, como *lbert de "un e )en! de .a (our du -in ue,
fundando em NK os Círculos Católicos de 'per%rios,
pretenderam fa2er com ue as 8classes dirigentes8 e as
8classes populares8 se encontrassem# /epois de um r%pido
sucesso, os Círculos abrandaram, tendo absorvido a clientela
de obras, atrav&s sobretudo de artesãos e empregados6 o seu
espírito paternalista sedu2ia pouco o oper%rio da f%brica
nesses anos de crises económicas, de greves monstruosas e,
por ve2es, sangrentas, uando se formavam partidos oper%rios
em ue o espírito marista se impun3a pouco a pouco,
enuanto uma proliferante 8peuena imprensa8, muitas ve2es
infamemente anticlerical, fa2ia do 8padre8 o aliado natural
8patrão8# *li%s, os socialistas negavam violentamente aos
católicos ualuer direito de inger!ncia no problema social6
basta lembrar os panfletos de .afargue, -io I4 no -araíso, e
de Auesde, Carta ao +en3or .eão 4III, -apa do seu

LBJ

Estado# 8' passado pertence5vos: & todo vosso e unicamente


vosso# ' ue fi2estes dele, ó sen3ores cristãosW8,
perguntava 0ules Auesde, num dia de NMO, a "un e aos seus
amigos deputados eller, (3ellier de -onc3eville### 5 ue,
corajosamente, participavam na feitura de uma legislação
social# Corajosamente###, porue, no seu meio natural, o
catolicismo social avançava por entre tremendas
dificuldades: o conjunto dos bispos, dos padres e dos
católicos considerava subversiva ualuer obra não
especificamente caritativa e recusava ualuer intervenção
da Igreja no domínio económico#
"as isso não impedia certas reali2ações por ve2es srcinais:
assim, em <rança, a de .&on Harmel ue, na sua f%brica5
modelo do Zal5des5bois, une o fraternalismo corporativo ao
esforço associativisra6 a federação das sociedades oper%rias
católicas UNONV6 o congresso das obras sociais e a acção de
"ons# /outrelou e do padre "ellaerts, na &lgica6 o círculo
romano de estudos sociais em It%lia# 1a *leman3a, o 2entrum
de >ind5t3orst e o volverein desempen3aram um papel
importante na elaboração das leis sociais sob Auil3erme II#
1a +uíça, "ons# "ermillod organi2ou, em NNJ, encontros
sociais internacionais, a ue se deu o nome de $nião de
<riburgo, cujo trabal3o inspirou as intervenções do -apa#
Com efeito, por um lado, .eão 4III caucionou e libertou o
catolicismo social, convidando os católicos franceses a
ligarem5se 9 )ep;blica UNMBV6 e, por outro lado, dando, com
a encíclica )erum novarum UNMV, uma carta social ao
catolicismo6 nela, o -apa 8proclamava uma verdade esuecida
desde o fim da Idade "&dia: ue a moral evang&lica tin3a
muitos prolongamentos sociais e nen3um crente tin3a o
direito de os descon3ecer8#
+urgiu uma nova geração, entusiasta, ue se ligou
decididamente 9 democracia e agrupou não os privilegiados,
mas as massas: *ssociação Católica da 0uventude <rancesa
UNNJV, 8padres democrat as8, como 1audet, AaGrand e .emire6
congressos oper%rios UNMLV6 círculos de estudos sociais6
secretariados permanentes de acção social, como .a Croniue
+ociale de .Gon UNMBV, Z*ction -opulaire UMLV, as +emanas
+ociais UM]V 5 verdadeira universidade itinerante 5, os
+ecretariados +ociais UMOV### Esta ala esuerda do
catolicismo social nem seuer receou associar5se 9s

LBO

iniciativas adaformação
autori2ando )ep;blica6 assim, a profissionai
de sindicatos lei capitals de NN]
inspirou
algumas iniciativas católicas, como o +indicato dos
Empregados do Com&rcio e da Ind;stria UNNKV, fundado por
alunos das escolas cristãs, ue foi o embrião da C<(C# E
neste terreno desenvolveu5se 5 em <rança, na &lgica e na
It%lia 5 um ideal de democracia cristã, desejos o de separar
o movimento oper%rio da colusão entre a democracia e o
anticlericalismo#
"as muitos padres e a massa dos 8fi&is8 censuravam
violentamente esses católicos ousados ue se submetiam 9
8meretri28, a essa rep;blica ue, ao mesmo tempo ue recebia
os sorrisos dos democratas5cristãos ou de um padre .emire,
perseguia as congregações# s suas decepções políticas e
nacionais, a 8direita8 católica e regalista tin3a procurado
sucessivas compensações: o boulangismo, o anti5semitismo
antidreGfusiano, a *cção <rancesa6 aproveitava 5se mesmo das
fraue2as dos 8católicos sociais8: do esbanjamento dos seus
esforços ue limitava a sua acção sindical e eleitoral, e
tamb&m da fraue2a do seu substrato ideológi co e teológico#
* condenação do +illon UMV, vasto movimento democr%tico e
social animado por "arc +angnier, enfraueceu
momentaneamente a democracia cristã#
Em M], o catolicismo social estava ainda embrion%rio6
dispersava5se em 8obras8 generosas, mas empíricas# /e resto,
era animado sobretudo por intelectuais e burgueses, mais
reformistas do ue revolucion%rios: faltavam5l3e, sobretudo,
as massas oper%rias, na sua maioria j% gan3as por um
socialismo de reali2ações mais imediatas# E no entanto, o
trabal3o persistente, penoso e obscuro reali2ado a partir de
NK por uma minoria de católicos ia tra2er frutos depois da
-rimeira Auerra "undial e assegurar ao catolicismo uma
audi!ncia ue os contempor\neos nunca julgavam ser possível#

J# )oma sem os Estados romanos

* 8uestão romana8 & um acontecimento com implicações


políticas ue contribuiu para agravar as relações da +anta
+& com a sociedade moderna# /e facto, trata5se do conjunto
de
LBK

problemas postos pela sobreviv!ncia do Estado pontifício num


mundo em ue todos tin3am sido seculari2ados depois da
)evolução# ' restabelecimento do poder papal por 'udinot, em
N]M, tin3a deiado esse problema intacto# Cavour, no

Congresso
mis&ria e de
os -aris
abusosUNJOV, denunciou
ue reinavam nas 9s pot!ncias
terras de então
pontifícias e a
ue foram o assunto de uma broc3ura c&lebre publicada em
.ondres UNJMV por Edmond *bout# * +ociedade 1acional
Italiana de .a <arina eplorou as aspirações unit%rias das
populações submetidas 9 +anta +& e, em "arço de NO, no
termo da guerra de It%lia, as .egações revoltadas foram
incorporadas no reino sardo# * aneação de )oma parecia
essencial aos partid%rios da unidade italiana# *li%s, muitos
pensavam como Edmond *bout ue, 8a partir do dia em ue o
espiritual e o temporal estivessem ligados pelo ventre como
dois poderes siameses, o mais augusto dos dois perderia
necessariamente a sua independ!ncia8#
"as -io I4 e a maioria dos católicos calculavam ue a posse
de um Estado era para o papado a ;nica caução da sua
independ!ncia espiritua l6 ue as terras pontificai s seriam,
de facto, o ;ltimo Estado cristão da Europa6 e, finalmente,
ue a espoliação seria uma ofensa grave ao direito p;blico,
um acto revolucion%rio e sacrílego# *l&m disso, -io I4, não
se contentando com ecomungar Zítor Emanuel, organi2ou um
e&rcito de volunt%rios estrangeiros c3amados 2uavos
pontifícios ue, comandados por .amoricire, foram
derrotados em Castelfidardo UN de +etembro de NOV# *
partir de então, prosseguiu a investida e a conuista dos
Estados pontifícios: em 1ovembro de NO, uando as "arcas e
a mbria votaram a sua integração no reino sardo 5 em breve,
reino de It%lia 5 at& 9 sombria jornada de B de +etembro de
NK, em ue o e&rcito italiano ocupou )oma#
$m facto curioso: 9 medida ue o poder temporal de -io I4 se
desfa2ia, o seu prestígio espiritual crescia# 1unca, como no
decurso desses anos O, se viram tantos bispos, padres e
fi&is em redor do -apa na própria )oma6 e os vendedores
ambulantes familiari2aram os lares mais 3umildes com o rosto
af%vel do 8papa5m%rtir8# ' ultramontismo devorou como um
fogo os restos do galicanismo6 essa c3ama ateou5se ainda
mais, uando, ao rejeitar a lei italiana das Aarantias U"aio
de NKV, ue l3e

LBN
assegurava as prerrogativas soberanas e a
etraterritorialidade do Zaticano e do .atrão, -io I4 se
considerou prisioneiro volunt%rio# Em <rança, a causa de -io
I4 esteve ligada 9 de Henriue Z e as peregrinações a
<ro3sdorf tiveram o mesmo significado ue as peregrinações a
-araG5le5"onial, onde os c\nticos ealtavam Aesta /ei per
<rancos#

 preciso
certas ter em conta
perspectivas ue a um
e manteve 8uestão romana8
sectarismo deturpou
de 8direita8
ue, na verdade, era uma resposta a um sectarismo de
8esuerda8# -orue o laicismo e todas as leis ue inspirou
foram o refleo de defesa das democracias nascentes,
especialmente da III )ep;blica <rancesa# (oda a vida p;blica
seria, at& M] e mesmo depois, marcada pela ruptura
confessional, pela incomunicabilidade entre as 8duas
cidades8 obrigadas a combater5se e a ignorar as suas
virtudes recíprocas# -erante certas ligas Udo Ensino, dos
/ireitos do Homem###V ergueram5se outras ligas, tamb&m muito
combativas Udos -atriotas, da -%tria <rancesa, da *ction
<rançaise###V# "as o facto de o papado ter sido afastado das
preocupações temporais e territoriais pela força, iria
permitir5l3e elevar5se, distanciar5se e, por isso, ver a sua
autoridade irradiar num mundo ue, na verdade, j% não se
confunde com a cristandade, mas ue, marcado por uma
civili2ação desumana e materialista, est% recon3ecido 5
embora confusamente 5 ao +umo -ontífice por defender os
direitos essenciais do indivíduo e lembrar algumas grandes
verdades# Incontestavelmente, os seis antecessores de -aulo
ZI pertencem 9 elite da 3istória contempor\nea#

O# .eão 4III e a iniciação ao pluralismo

.eão 4III Ufalecido em MLV sucede a -io I4 Ufalecido em


NKNV, num momento em ue o 'cidente & sacudido pelos
progressos científicos, enuanto a burguesia jacobina
assenta o seu poder e o proletariado oper%rio começa a tomar
consci!ncia da sua eist!ncia como classe# +em abandonar o
depósito da f&, mas tamb&m sem multiplicar os an%temas, .eão
4III, ue tem vistas largas, esforça5se por distinguir os
temas de

LBM

pensamento incompatíveis com a doutrina católica das


realidades do mundo moderno6 o seu desejo & fa2er deles
realidades cristãs, embora saiba ue o mundo j% não &
cristão# +aindo vencedor da luta contra a ulturampf na
*leman3a e na +uíça, preconi2a a ligação dos <ranceses 9
)ep;blica e fa2 as pa2es com a &lgica UNN]V, uatro anos
depois da ruptura provocada pela política anticlerical de
<rre5'rban#
' -apa acalenta o projecto de manter relações permanentes
com o Aoverno ingl!s6 recua perante as reclamações do
cardeal "anning, mas apoia a tarefa de aproimação com a

Igreja defensores#
tomam anglicana de ue .orde
Embora Halifa
não se ten3a ec3egado
o padre9 -ortal se
validação
das ordenações anglicanas, pelo menos as conversões ao
catolicismo multiplicam5se no )eino $nido#
.eão 4III favorece tamb&m a epansão do catolicismo nos
Estados $nidos, mas previne os fi&is, pela carta apostólica
(estem benevolentiae UNMMV, contra o americanismo, ue &
uma tend!ncia para enfrauecer a doutrina da Igreja com
vista a adapt%5la 9 vida moderna influenciada pela
descrença6 foi por essa tend!ncia j% ser con3ecida na
Europa, sobretudo atrav&s da tradução em NMK de * Zida do
-adre Heter, ue .eão 4III decidiu intervir#
Con3ece5se a retumb\ncia da encíclica )erum novarum# Em
Immortale /ei UNNJV e, depois, em .ibertas UNNNV, o -apa
define o legítimo lugar das liberdades populares e da
liberdade em si mesma# Esta acção de envergadura tem
partid%rios entusiastas, mas atrai contra .eão 4III
inimi2ades sólidas: os católicos 8integrais8 escandali2am5se
e muitos republicanos sentem dificuldade em acreditar numa
8Igreja liberal8 6 e os socialistas consideram uma aberração
a incursão da Igreja no campo social# [uando o -apa morre,
8reina8 em <rança o 8pai2in3o8 Combes e a prosperidade
burguesa acaba de assistir, com a Eposição de M, 9 sua
apoteose6 por isso, o mundo ocidental est% longe de se unir
9 Igreja#
"as não & menos verdade ue .eão 4III traçou e marcou os
novos camin3os ue permitirão ao catolicismo contempor\neo
abandonar os seus guetos# Como escreve 0ean5<rançois +i:
8H% nas encíclicas de .eão 4III duas coisas ue são
radicalmente novas e ue os teólogos e os canonistas ue se
limitaram a repetir os grandes princípios nem seuer viram:
em

LL

primeiro lugar, o facto de .eão 4III ter eprimido a sua


inuietação de ultrapassar as preocupações do seu tempo e de
se recusar a pronunciar an%temas# "as, sobretudo, porue
.eão 4III manifesta uma espantosa lucide2 para discernir o
permanente do vari%vel# +e o -apa apresenta como princípio a
independ!ncia e a soberania das duas sociedades 5 da Igreja
e do Estado, cada ual na sua ordem 5, tamb&m oferece dois
princípios ue cont!m um germe activo de desenvolvimento e o
próprio fundamento de uma possibilidade do di%logo: o
princípio da liberdade da consci!ncia religiosa como
garantia dos direitos da pessoa e o princípio do bem comum
como norma de fidelidade ao Estado#8

K# -io 4 ou a fidelidade

-ortanto, & f%cil 5 demasiado f%cil at& 5 comparar .eão


4III, o diplomata subtil, ao seu sucessor -io 4 UML5M]V,
ue manteve no trono pontifício atitudes de p%roco de
aldeia# * sua divisa instaurare omnia in C3risto revela um
-io 4 menos preocupado em inovar do ue em aprofundar e
defender# -reconi2ando a reforma da m;sica sacra UMLV, um
ensino mais sistem%tico da religião Uencíclica *cerbo nimis,
MJV, uma freu!ncia mais regular dos sacramentos,
sobretudo da comun3ão eucarística6 reformando o brevi%rio
UMJV e refundindo o Código de /ireito Canónico, -io 4 uis
p`r 9 disposição dos membro s da igreja instrumentos mais
adaptados de santificação# "as este papa eminentemente
religioso 5 -io 4II, ao canoni2%5lo em MJ], testemun3ar% a
sua verdadeira santid ade 5 teve de enfrentar os mais graves
problemas nascidos de uma &poca sem entraves# -orue antes
de se considerar -io 4 um 8integrista limitado8, conv&m
lembrar a atmosfera tempestuosa em ue se desenrolou o seu
pontificado# [uando o Aoverno franc!s, em MJ, denunciou a
Concordata de N e proclamou a separação da Igreja e do
Estado, -io 4 condenou essa ruptura unilateral e as
*ssociações de Culto UMOV: deste modo, ele sujeitava a
Igreja de <rança a condições materiais difíceis, mas, ao
mesmo tempo, libertava5a para tarefas eclusivamente
espirituais#

LL

* democracia cristã, a própria democracia e as suas


doutrinas sociali2antes nunca mereceram a simpatia de -io 4,
ue considerava mesmo a formação de um 8partido católico8
algo de incompatível com a constituição mon%ruica da
Igreja6 a menos ue 8o partido8 estivesse estritamente
submetido ao episcopado# -or isso, tolerou 5 e at& encorajou
5 o -artido Católico belga ue crescia 9 sombra do cardeal
"ercier Ufalecido em MBOV e, na Tustria, o sólido -artido
+ocial5Cristão, cujo anticapitalismo revelava um anti5
semitismo violento# Em contrapartida, o 8centro8 alemão era
muito independente aos seus ol3os# Em <rança e na It%lia,
-io 4 reagiu violentamente contra uma democracia cristã ue
j% não era, em sua opinião, uma iniciativa autenticamente
religiosa#
Em MM, -io 4 ecomungou um padre italiano, )omulo "urri,
por ve2es comparado a .a "ennais, pelo seu entusiasmo e
popularidade: fundador da .iga /emocr%tica Italiana, aos

seus an%temas
opressiva, contra aepressões
misturava civili2ação moderna,
dignas materialistamas
de +avonarola6 e
-io 4 não era *leandre ZI# Em <rança, a condenação de dois
jornais dirigidos por 8padres democratas8 foi seguida pela
do +illon de "arc +angnier UMV, movime nto muito activo e
cujo objectivo era não somente reconciliar a Igreja com a
)ep;blica, mas tamb&m reali2ar em <rança uma rep;blica
verdadeiramente democr%tica, servindo5se das forças sociais
do catolicismo6 no entanto, os contornos doutrinais
demasiado vagos e a liberdade revelada por esse movimento
não agradavam muito a alguns bispos# *o contr%rio de "uni,
+angnier submeteu5se# 's antigos partid%rios serão, depois
da -rimeira Auerra "undial, os animadores de um movimento
mais bem definido# 1o campo oposto, o da *ction <rançaise,
movimento mon%ruico e nacionalista, encontravam5se muitos
padres e católicos ue, fascinados pela 8Igreja da ordem8,
esueciam5se do agnosticismo de alguns dos seus mestres,
como "aurras#

N# * crise modernista

+illon e *cção <rancesa, movimentos progressistas e


integristas, inovadores e reaccion%rios, actuais e
tradicionais6 a

LLB

clivagem ue separava as duas tend!ncias do catolicismo 3%5


de prolongar5se at& aos nossos dias6 se a tend!ncia &
actualmente mais favor%vel 9 8esuerda8, antes de M] o
catolicismo conservador dominava, tendo5se vivido, então,
uma das mais graves crises da História das ideias e da
História da Igreja#
1o essencial, 8a crise modernista nasceu do c3oue brutal :#
do ensino eclesi%stico tradicional com as novas ci!ncias
religiosas ue se constituíram longe do controlo das
ortodoias e, muitas ve2es, contra elas, a partir de um
princípio revolucion%rio: a aplicação dos m&todos positivos
num domínio e a tetos at& aí considerad os como fora do seu
alcance8 UE# -oulatV# E essa crise agravou5se ainda mais por
ser evidente a dist\ncia entre a mediocridade do ensino
eclesi%stico e o dinamismo das ci!ncias religiosas#
[uatro países foram atingidos pela crise modernista: a
It%lia, a Arã5retan3a, a *leman3a e, sobretudo, a <rança,
onde se verificaram lutas entre os modernistas desses países
ue se devem, sobretudo, ao acaso# +eria, pois, falacioso
imaginar uma esp&cie de compl` modernista organi2ado 9

escala
1a internacional#
It%lia, o modernismo situa5se na lin3a do )isorgimento e
desenvolve5se essencialmente sobre dois campos: a acção
social e a cultura relig iosa6 eprime uma necess idade de
abalar 8uma tutela eclesi%stica mais pesada do ue noutros
lados8# (r!s personalidades dominam o modernismo italiano:
)ornulo "urri, Ernesto uonaiuti e *ntónio <oga22aro#
)omulo "urri UNK5M]]V, padre em NML, fundador da
/emocracia Cristã, abre aos modernistas a sua revista
Cultura sociale ue, em MK, passou a ser )ivista di
Cultura# +uspenso a divinis em MK, ecomungado em MM,
ser% eleito deputado radical, mas desempen3ar% um papel
parlamentar de pouca import\nci a# Ernesto vionaiuti UNN5
M]OV, padre em ML, director de um certo n;mero de
revistas, sobretudo da )ivista storico5critica delle scien2e
teologic3e UMJ5MV, ensina a 3istória do cristianismo na
$niversidade de )oma e reivindica, contra a autoridade
eclesi%stica, a livre investigação 3istórica, sendo
ecomungado em MBO#
[uanto ao grande romancista e poeta espiritualista *ntónio
<oga2arro UN]B5MV, procura conciliar a sua f& com as

LLL

teorias da ci!ncia moderna, sobretudo do evolucionismo6 esta


tend!ncia, a ue se mistura uma crítica bastante dura das
3ipocrisias religiosas, ir% valer5l3e a 3ostilidade dos
meios eclesi%stic os6 suspeito de modernismo, ser% condenado
pela Igreja e a ela se submeter%# "as & ainda necess%rio
conceder um lugar especial 9 ef&mera revista )innovamento,
fundada em MK por um grupo entusi%stico de jovens
católicos e ue desaparecer% em MM#
1a Arã5retan3a, o modernismo & essencialmente representado
por Aeorge (Grrell e o barão <riedric3 von H;gel, cuja
influ!ncia na Inglaterra se eerceu menos sobre os meios
católicos do ue sobre os anglicanos# Aeorge (Grrell UNO5
MMV & um calvinista convertido ue se tornou jesuíta#
*pologista de renome, pretende subordinar o car%cter
intelectual da )evelação 9s emoções da piedade# Ecluído da
Compan3ia de 0esus em MO, privado dos sacramentos em MK,
prega a ecomun3ão salutar e edita sobretudo (3e -rogramme
of "odernism UMNV# "orreu prematuramente sem se ter
reconciliado com a Igreja# [uanto ao barão <riedric3
<rel3err von H;gel UNJB5MBJV, origin%rio de uma grande
família austríaca, 3omem muito culto e de grande coração,
sempre preocupado em dialogar, & uma esp&cie de protector e
confidente dos modernistas europeus6 em MN, publica a sua

obra iniciou
uem essencial: (3e na
(Grrell "Gstical
escola Element
francesa of)eligion# <oimoral
do dogmatismo ele
e *lfred .oisG na crítica#
1a *leman3a, o modernismo desenvolve5se 8na corrente de
liberalismo universit%rio e de reformismo católico ue, no
s&culo 4I4, marcou toda a 3istória deste país8# "as o
modernismo alemão pretendeu permanecer 9 margem do
modernismo latino e anglo5saónico# *s ousadias teológicas
de Herman +c3ell UNJ5MOV, cuja /ogm%tica foi posta no
Inde em NMN, o antiultramontanismo de <rançois54avier
raus UN]5MV, as teorias reformistas da revista
=Pan2igste 0a3nindert são algumas das manifestações de um
movimento muito particularista#
"as foi em <rança, país apaionado pelas ideias, ue o
modernismo encontrou o seu terreno de eleição# 8* sua
personagem epónima8 UE# -oulatV & incontestavelmente o
eegeta *lfred .oisG UNJK5M]V# -adre em NKM, professor
de Hebraico UNNV e, depois, de +agrada Escritura UNNMV no
Instituto Católico de -aris,

LL]

.oisG utili2a ousadamente os m&todos da filologia moderna no


seu ensino e nas obras Uue apareceram antes na sua revista
.DEnse7gnement bibliueV: História do C\none do *ntigo
(estamento UNMV, do 1ovo (estamento UNMV, História
Criticado (eto e das Zersões do *ntigo (estamento UNMBV,
tornando5se suspeito pela aud%cia das suas ideias# Como
3istoriador, ensinava a independ!ncia absoluta da crítica
bíblica e da 3istória eclesi%stica em relação 9 )evelação e
aos dogmas, concebendo um Cristo 3istórico distinto do
Cristo da f&# Como filósofo, pretendia afirmar ue, na ordem
religiosa, as ideias não passavam de met%foras e de
símbolos#
-rivado da sua c%tedra em NML, aproveitou bem a sua saída
para prosseguir nos trabal3os sobre as Escrituras# Em MB,
a preteto de refutar * Ess!ncia do Cristianismo do eegeta
protestante Harnac, publicou ' Evangel3o e a Zida UMBV,
onde a apologia da Igreja coincide com a negação das suas
srcens evang&licas# * obra foi censurada pelo arcebispo de
-aris UMLV# -ara se defender e responder 9s críticas
provocadas por ' Evangel3o e a Zida, .oisG escreveu uma
apologia, * Zolta de $m .ivrin3o, ue, com mais uatro das
suas obras, foi condenada pelo +anto 'fício em ML#
'utros autores, ue evoluíram em diversos domínios, foram
tamb&m considerados próimos do modernismo e tratados como
tal# "ons# .ouis /uc3esne UN]L5MBBV, 3istoriador da Igreja

antiga e do
abandonar papado, e de
a <aculdade grande con3ecedor
(eologia de lendas,
do Instituto teve de
Católico e
passar para a Escola +uperior de .etras, porue o seu ensino
sobre os testemun3os do dogma da (rindade ou sobre as
srcens das Igrejas da A%lia fi2eram com ue fosse declarado
suspeito# "ais tarde, a sua História *ntiga da Igreja ser%
posta no índe UMBV#
' padre .ucien .abert3onnire UNO5MLBV, oratoriano e
director, a partir de MJ, dos *nnales de p3ilosop3ie
c3r&tienne, desenvolveu a c3amada doutrina 8da iman!ncia8
nos seus Ensaios de <ilosofia UMLV, livro ue foi colocado
no Inde em MO, no próprio ano em ue era condenado, por
pragmatismo, o livro /ogma e Crítica do filósofo Edouard .e
)oG UNK5MJ]V#
1os *nnales de p3ilosop3ie c3r&tienne e no ulletin critiue
bril3ou durante muito tempo o nome de um amigo de /uc3esne,

LLJ

o padre "arcel H&bert UNJ5MOV, director da Escola


<&nelon em -aris# 1o decurso das suas pesuisas de filosofia
religiosa, H&bert foi levado, na esteira do símbolo5fideísmo
do pastor *lbert +abatier UNJN5MBNV, a considerar os
dogmas como simples símbolos desprovidos de ualuer
fundamento 3istórico U+ouvenirs dD*ssise, NMM6 8.a /ernire
idole8, in: )evue de m&tap3Gsiue et de morale, 0ul3o de
MBV# 'brigado a retractar5se, H&bert preferiu abandonar a
Igreja#
' decreto do +anto 'fício de ] de /e2embro de ML, ue
condenava cinco obras do padre .oisG, atingiu ao mesmo tempo
duas obras do padre *lbert Houtin UNOK5MBOV: .a [uestion
bibíiue c3e2 les cat3oliues de (rance au 4I4 sicle UMBV
e "es difficult&s avec mon &v!ue UMLV# Houtin deiou
oficialmente a Igreja em MB e tornar5se5ia publicista e
3istoriógrafo do modernismo#
-io 4 decidiu condenar solenemente o modernismo teológico,
eeg&tico, filosófico e 3istórico# ' decreto .amentabili
sane eitu UL5] de 0ul3o de MKV condenou sessenta e cinco
proposições 3eterodoas relativas 9 autoridade do magist&rio
da Igreja, 9 inspiração e 9 3istoricidade dos livros
sagrados, 9s noções fundamentais de revelação, ao
desenvolvimento do dogma, 9 instituição e constituição da
Igreja# /ois meses mais tarde UN de +etembro de MKV, a
encíclica -ascendi completava essa condenação6 o documento
pontifício visava, sobretudo, os dois aspectos essenciais
ue constituíram a filosofia modernista: o agnosticismo, ue
anula todas as demonstrações com base racional, e a

iman!ncia vital,
necessidades ue fa2
da própria brotar a verdade religiosa das
vida#
<inalmente, em  de +etembro de M, atrav&s do motu
próprio +acrorum antistitum, -io 4 impun3a a todos os padres
o juramento antimodernista e com este acto se conclui a
3istória eterior do modernismo#
1a verdade, muitos espíritos ditos integristas continuaram a
denunciar, sob a capa de modernismo, todas as formas,
sobretudo sociais e políticas, do liberalismo# *lguns padres
democratas como /esbuuois, "ons# .acroi, bispo de
(arentaise, ou ainda "ons# +i, o padre .emire e Eugne
/ut3oit, al&m de numerosos cl&rigos e católicos, tiveram de
sofrer, especi almente durante o pontificado de -io 4, os
ecessos de 2elo do 8intransigentsimo

LLO

católico8, sobretudo representado em <rança pelo padre


Emannuel# arbier, em It%lia por "ons# enigni, animador da
+odalitium -ianum, ou +apinire#

M# $m balanço positivoW

 verdade ue estas condenações, fulminando os ecessos de


anaruia intelectual, poderiam ajudar os pensadores
católicos a retomar, numa atmosfera mais tranuila, o
trabal3o dos pioneiros# Infeli2mente, os seus advers%rios
confundiram facilmente moderno com modernista, ortodoia com
imobilismo, integridade com vel3ice6 uando se percorre a
volumosa História do Catolicismo .iberal do padre arbier,
fica5se pasmado a ver este intransigente conservador
arrastar na lama muitos dos espíritos mais elevados ue a
Igreja tin3a# <oi o tempo do medo, pouco propício ao
di%logo# * delação ajudou 5 porue )oma parece ter sido
favor%vel a uma determinada forma de 2elo 5 e contribuiu
para ue se interrompessem muitos impulsos e se destruíssem
corações e carreiras#
"as, embora a crise modernista ten3a afectado durante muito
tempo o grupo dos investigadores católicos 5 3istoriadores e
eegetas 5, não impediu o etraordin%rio movimento de
retorno 9 Igreja e 9s fontes do Evangel3 o ue se operou, na
mesma &poca, entre os jovens intelectuais, a uem não
satisfa2ia nem o cientismo irreligioso nem o materialismo
simplista nem o anticlericalismo tacan3o de muitas pessoas
bem colocadas# Entretanto, começou5se a falar de 8fracasso
da ci!ncia8 entre filósofos como londel, outrou e
ergson6 o mesmo aconteceu com runetire, ourget, a2in e

arres e uma grande


8bem5pensante8, pl!iade
talve2 de jovens romancistas,
envel3ecida, recolocada cuja
no obra
seu
conteto 3istórico assume um sentido revolucion%rio# E
3ouve, depois, a grande escalada de 8convertidos8 de
talento, uase geniais, c3amando a juventude para as
verdades postas no coração da religião cristã: -&guG, loG,
"aritain, HuGsmans, -sic3ari e Claudel, embora não ten3am
preferido consumir a sua vida como testemun3o, a eemplo de
C3arles de <oucauld# /a $niversidade saem AoGau, runbes,

LLK

(ernier, "assis, <onsegrive, Imbard de la (our e 0osep3


.otte, ue não podem ser considerados 3omens sem interesse#
-or outro lado, movimentos como a $nião pela *cção "oral, e
os encontros internacionais de -ontignG, permitem a certos
crentes, como -aul ureau, -aul Ziollet ou .abert3onníre
dialogar com 3omens como 0aurs, /ur3eim e +abatier# <ace 9
vaga de anti5semitismo provocada pelo caso /reGfus e
ampliada pela .ibre -arole de /rumont, pela *ction française
de "aurras, pela Civilit9 Cattolica dos jesuítas romanos e
pelos democratas5cristãos austríacos, ergue5se um peueno
grupo de católicos Upadres <r&mont, -ic3ot e rugerette, o
advogado lion!s .&on C3aine, -aul Ziollet###, e tamb&m
-&guGV ue, como franco5atiradores ou no seio do Comit&
Católico para a /efesa do /ireito, reagem contra a injustiça
de ue são vítimas os seus irmãos judeus: trava5se, então,
um di%logo judaico5cristão#
"as sejamos sinceros# Em M], nem todos os intelectuais,
nem todos os pensadores se enuadram no \mbito da Igreja6
afirmar isso seria ridículo, claro# "as tamb&m 3% Aide,
*lain e o íntegro "artin du Aard, cuja descrença l;cida
c3ocava constantemente com o problema do inal6 o seu 0ean
arois & um testemun3o tal como o & .e ZoGage du centurio n#
E, depois, ainda 3% as assembleias legislativas, onde os
católicos constituem uma peuena minoria Uem It%lia, estarão
ausentes durante muito tempoV# Ziviani, c3efe do Aoverno
franc!s em M], orgul3a5se de ter 8apagado todas as
estrelas8, a massa dos burgueses sem metafísica ou
anticlericais prim%rios, os professores geralmente
racionalistas e, sobretudo, os mil3ões de prolet%rios, dos
uais só um peueno n;mero segue as palavras de ordem de
)oma#
E, no entanto, se compararmos a situação da Igreja em
v&speras do primeiro conflito mundial com o ue ela era ao
tempo da ueda de 1apoleão, os 8gan3os8 saltam aos ol3os# Em
M], a Igreja est% bem unida em redor do seu c3efe, começa

a libertar5se
tomar das do
consci!ncia suas obsessões
lugar contra5re
ue ocupa volucion%rias
no mundo e a
moderno# "as,
uando a guerra acabar, estarão ainda vivas essas
esperançasW

LLN

Capítulo III
CI1[$E1(* *1'+ /ECI+IZ'+ M]5MOL

# ento 4Z e o nascimento de um mundo novo

' curto pontificado de ento 4Z UM]5MBBV foi uase


inteiramente obscurecido pela manc3a de sangue ue, durante
uatro anos, cobriu os campos de batal3a da -rimeira Auerra
"undial# Easperadas por um nacionalismo revanc3ista e
reivindicativo, as nações europeias ue, outrora,
constituíam a cristandade não compreenderam ue se estavam a
devorar umas 9s outras, entreg ando5se a uma guerra civil
atro2 de ue sairiam eangues, enfrauecidas e
desconsideradas mesmo aos ol3os do mundo, ue se 3abituar%
depois a dissociar a noção de civili2ação do conceito de
Europa 'cidental# -or isso, o cristianismo e, especialmente,
o catolicismo ser% tacitamente posto em causa#
* posição do -apa face ao conflito mundial revelou5se
delicada# Enuanto se limitou a iniciativas 3umanit%rias 5
troca de prisioneiros feridos, descanso dominical nos campos
de prisioneiros 5, a opinião internacional não reagiu# "as
uando, em  de *gosto de MK, ento 4Z, ue lamentava o
3orror da luta fratricida, enviou aos beligerantes uma nota
diplom%tica com vista 9 cessação das 3ostilidades, os
católicos franceses, convenci dos de ue lutavam 5 com vinte
e cinco mil padres, religiosos e seminaristas mobili2ados 5
para o triunfo da civili2ação cristã, consideraram ue a
acção neutralista e pacifista

LLM

do -apa se devia 9 influ!ncia dos imp&rios da Europa Central


e mais particularmente da Tustria católica, cuja aceitação
em )oma era con3ec ida# +eguiu5se uma certa desafeição em
relação 9 +anta +& e um novo empen3amento por parte dos
movimentos nacionalistas#
/e resto, as iniciativas de ento 4Z não condu2iram a nada#
* sua vo2, muito fraca, mal se ouviu no rumor das batal3as
nem teve ualuer impacte nas conversações da pa2# 1o fim do
s&culo 4I4, j% a consulta tin3a afastado .eão 4III da

Confer!ncia+onnino,
.ondres, de Haia e,
o desde *bril de
ministro MJ, pelo
italiano dos (ratado de
1egócios
Estrangeiros, tin3a antecipadamente ecluído o papado do
futuro Congresso da -a2# 1o entanto, no (ratado de Zersal3es
UMMV, foi incluído um artigo ue obrigava as pot!ncias da
Enterite a salvaguardar os interesses das missões# *
+ociedade das 1ações nunca se abriu 9 +anta +&, em uem,
ali%s, recon3ecia uma elevada autoridade moral# -oucos se
lembravam de ue Consalvi estivera no Congresso de Ziena,
mas a Igreja não gan3aria muito em invocar esse precedente#
1uma Europa laici2ada, )oma descobria outros perigos, nesses
tempos de euforia# Em MK, era imposto na );ssia, graças a
.enine, um marismo ue, ecedendo pela primeira ve2 o plano
doutrinal, se tornava a própria ess!ncia de um novo regime
ue, pela sua brutalidade inicial e pela sua política anti5
religiosa, provocou, entre os 'cidentais e, mais
particularmente, entre os católicos, um vivo 3orror e um
secreto desejo de ue se afundasse# 'ra, os +ovi&ticos não
apenas se implantaram, mas, uando fi2eram de "oscovo o
centro da (erceira Internacional ou omintern UMMV,
polari2aram as esperanças do proletariado no mundo inteiro#
' 8cordão sanit%rio8 dos *liados nada p`de fa2er#
*meaçado pela formid%vel 8Igreja marista8, o catolicismo
via o 'cidente nas garras do 8pós5guerra8: da d&tente depois
do esforço sobre53umano, do ja22, do fo5trott, dos vestidos
curtos, dos cabelos cortados, das garçonnes, dos 8anos
loucos8, da entrada dos costumes america nos e da pressão de
uma civili2ação sacudida pelos progressos t&cnicos 5
automóvel, avião, r%dio, cinema### 1o conjunto, uma
atmosfera f%cil, pagã, atravessada

L]

freuentemente por tempestades: greves assustadoras,


períodos de desemprego, epressão de um deseuilíbrio social
escandaloso# * descristiani2ação avassalava as massas e as
cidades desumanas como as de <rit2 .ang ou de C3arlie
C3aplin: assim era -aris com as suas paróuias de oitenta
mil 3abitantes, a sua 2ona imunda e os arredores pagãos6
assim era a "etropolis de <rit2 .ang e a C3icago de *l
Capone#
* diminuição sensível das vocações sacerdotais tornava mais
difícil a aproimação a esses meios# Em MBJ, $namuno julgou
poder falar da 8agonia do cristianismo8# 8* boa sociedade
acreditava em /eus para não falar dele8, escrever% 0ean5-aul
+artre em *s -alavras, a propósito dos burgueses de 8antes
de ]8# E 0ulien Areen observava em MB]: 8's católicos

mergul3aram em
inuietarem no 3%bito
saber seda& sua religião ou
verdadeira a ponto
falsa,de
sej% não se
acreditam
nela ou não#8 Em It%lia, determinado bispo insurgia5se
contra este imobilismo: 8E necess%rio uma grande reforma:
redução do n;mero de dioceses, de semin%rios e de paróuias6
estudos sagrados e profanos do cl&rigo de acordo com as
necessidades do nosso tempo6 abandonar muitas das devoções e
infundir em todos os graus do sacerdócio o espírito de
Cristo, 3armoni2%5lo com as necessidades e as aspirações do
nosso tempo, porue muitas são boas e podem ser
cristiani2adas#8
-oucos problemas surgem na *m&rica do 1orte, onde os Estados
$nidos e o Canad% con3ecem um catolicismo jovem e din\mico,
mas demasiado satisfeito consigo mesmo# * Espan3a e -ortugal
v!em5se dilacerados por lutas políticas e mis&ria# * Tustria
mutilada respira com dificuldade e pensa, sobretudo, em
sobreviver, enuanto a Hungria sofre o domínio de ela un
e, depois, a ditadura militar# * *leman3a arruinada, por
momentos submersa pelo comunismo, sacode ou disfarça a sua
3umil3ação: claro, desde *bril de MM, os noventa deputados
do Centro alcançam uma total paridade, a )en\nia v! os
at3olientag reunir multidões enormes, mas os católicos,
sobretudo na aviera, não se mostram insensíveis aos sinais
do nacionalismo revanc3ista6 muitos j% viam em Hitler o
8salvador8, embora pensassem ue a cru2 gamada nunca
c3egaria a apagar a outra 5 a de Cristo#

L]

1o conjunto, os católicos sentem5se amarrados 9s formas do


passado# Em <rança, conservam ainda a nostalgia da reale2a e
dos s&culos de f&6 a canoni2ação de 0oana dD*rc UMBV &
para eles a consagração de um ideal de fidelidade e de
coragem# $m movimento como a Cru2ada Eucarística UMJV,
ali%s mais din\mica ue as antigas 8congregações8, &
característica de uma &poca em ue se referem facilmente as
virtudes 3eróicas dos cavaleiros andantes# /a ruptura da
8união sagrada8 e do 8bloco nacional8 sai, em MB], um
e&rcito pacífico, a <ederação 1acional Católica U<1CV,
dirigida pelo general Castelnau, um desses c3efes
prestigiados ue, com "angin, .GauteG, <oc3 e -&tain, povoam
a capela secreta de ualuer católico ue, freuentemente,
acalenta em si um antigo combatente# +ão 3omens muito
semel3antes ue se encontram nas fileiras da *cção <rancesa,
cujo nacionalismo 8integral8 alimenta por ve2es um
cristianismo 8integral8, violentamente anti5republicano#
1o entanto, esse peueno grupo dos católicos sociais, fi&is

9s palavras
apenas de ordem
acompan3a, mas políticas e sociais
alarga a sua acção edeaprofunda
.eão 4III,
as não
suas
posições doutrinais# * *C0< forma os futuros uadros da
democracia cristã6 a *ssociação Católica da 0uventude elga
UMMV fa2 um trabal3o semel3ante# *s reuniões das +emanas
+ociais, em Espan3a, It%lia, &lgica, Canad% e em <rança
atraem, todos os anos, um p;blico mais numeroso em redor dos
temas principais, como o 8papel económico do Estado8 UMBBV#
* *cção -opular instala5se em -aris, em MM, e neste mesmo
ano constitui5se a Confederação <rancesa dos (rabal3adores
Cristãos UC<(CV, com cento e uarenta mil aderentes, e
tamb&m a Confederação Internacional dos +indicatos Cristãos#
Em .ille, Eugne /ut3oit dirige a $nião de Estudos dos
Católicos +ociais# .a Zie cat3oliue, de <rancisue AaG,
deseja aliar a fidelidade ao -apa com a liberdade do
cristão, enuanto C3ampetier de )ibes funda o -artido
/emocrata5-opular UMB]V# 1a It%lia, & levantado tacitamente
o non epedit UV de -io I4, proibindo os católicos de
participarem na vida política e, em MM, ento 4Z autori2a
o -artito -opulare Italiano de /on +tur2o ue, logo a
seguir, consegue a

1ota : 1ão conv&m# X1# do (#Y

L]B

eleição de cem deputados e se torna a espin3a dorsal da


C\mara italiana# *o mesmo tempo, organi2am5se as +emanas dos
Escritores Católicos, porue na peugada de -&guG e de
-sic3ari, falecidos em M], o catolicismo participa
largamente na epansão da literatura do pós5guerra, com
"auriac, 0ammes, ernanos, Claudel, "ont3erlant e muitos
outros#
ento 4Z tem outros motivos para se sentir satisfeito# '
catolicismo ingl!s e 3oland!s est%, depois da guerra, em
pleno avanço# * independ!ncia da -olónia e da Irlanda
reforça o grupo das nações tipicamente 8romanas8# 1a It%lia,
o -apa prepara os camin3os para a normali2ação das relações
com o Estado# "el3or, no uadro da lei de separação,
favorece um modus vivendi com a )ep;blica <rancesa:
restabelecimento da nunciatura e da embaiada francesa no
Zaticano, direito de controlo do Aoverno sobre as nomeações
episcopais, formação de associações diocesanas dotadas de um
estatuto pelo Consel3o de Estado# * fraternidade das
trinc3eiras contribuiu para adormecer o anticlericalismo
radical e, em MM, não se ousou aplicar as leis laicas 9
*ls%cia e 9 .orena recuperadas#

Contudo,
poder em MB],
retomar Herriot de
a política e oCombes
Cartel
e das Esuerdas
aplicar julgara m
integralmente
as leis ue visassem as congregações religiosas# 81ós não
iremos embora8, foi a palavra de ordem do padre /oncoeur
seguida por todos os religiosos antigos combatentes 6 ali%s,
as reviravoltas da política afastaram rapidamente o Cartel e
sepultaram os seus projectos# /e facto, em <rança, as
comunidades religiosas reconstituíram5se numa uase
clandestinidade, vestindo 9 civil#
ento 4Z tin3a um espírito ecum&nico # "as o ecumenismo, tal
como 3oje o entendemos, tin3a sido at& então, salvo algumas
ecepções, coisa dos protestantes: a Confer!ncia
Internacional de Edimburgo UMV foi o ponto de partida# 1a
pr%tica, e tendo em conta a total impreparação dos espíritos
na Igreja Católica, o -apa manteve uma atitude negativa e,
assim, em MN, declinou o convite para uma confer!ncia
internacional reali2ada pelos prima2es da Escandin%via6 em
MM, nova recusa a propósito de uma reunião organi2ada pelo
movimento protestante 8<& e Constituição8# "as ento 4Z deu
passos importantes para uma reaproimação com o 'riente
separado, criando

L]L

simultaneamente UMKV a Congregação para a Igreja 'riental


e o Instituto -ontifício dos Estudos 'rientais#
* margem da Igreja oficial, o ecumenismo marcava alguns
pontos# Entre MB e MBO, tiveram lugar as Entretiens de
"alines, cujos principais protagonistas foram o cardeal
"ercier e .orde Halifa6 estes encontros incidiram
essencialmente sobre o primado de +# -edro e sobre as
ordenações anglicanas#
[uando faleceu, em BB de 0aneiro de MBB, o papa ento 4Z,
um -apa modesto e descon3ecido, legava ao seu sucessor
alguns novos e preciosos instrumentos#

B# -io 4I, o pastor veemente

Em O de <evereiro de MBB, o conclave escol3e *c3ille )atti,


arcebispo de "ilão, ue tomou o nome de -io 4I# *os OJ anos,
este 3omem atarracado, vivo, autorit%rio, prodigiosamente
inteligente e culto, apenas tin3a eercido durante cinco
meses uma função pastoral6 mas a sua carreira fi2era dele um
diplomata e um s%bio# Este bibliotec%rio, ue os livros não
esclerosaram 5 o padre )atti era um alpinista consumado 5,
revelou5se logo desde o começo um grande pontífice# *o mesmo
tempo sensível a todos os avanços modernos e profundamente

piedoso, criou
-ontifícia a )%dio UMLOV6
das Ci!ncias Zaticano UMLV edo2e
pronunciou a mensagens
*cademia
radiofónicas e, depois, sem receio de ser atacado de
anacronismo, instituiu a festa do Cristo5)ei e colocou o seu
pontificado sob a protecção de uma jovem religiosa
contemplativa, +ta# (eresa do "enino 0esus, ue sofreu na
carne o ateísmo do mundo moderno e cuja simplicidade era,
aos ol3os do -apa, o mel3or antídoto ao orgul3o de uma
sociedade em r%pida mutação#
Este -apa ue tanto falou e escreveu 5 deiou, al&m de
trinta encíclicas, um mil3ar de discursos oficiais 5 não era
um doutrin%rio# ' seu realismo levou5o a oferecer a todos os
católicos condições jurídicas suficientemente sadias para
l3es permitir desempen3 ar o seu papel na sociedade6 assinou
de2oito concordatas, sobretudo com os novos Estados nascidos
dos tratados de pa2, mas tamb&m com a *leman3a, em MLL, ue
rapidamente iria desiludi5lo, e sobretudo com a It%lia
UMBMV:

L]]

os acordos de .atrão esva2iaram a irritante 8uestão


romana8, recon3ecendo ao -apa a soberania sobre o peueno
Estado do Zaticano Uuarenta e uatro 3ectaresV6 de resto,
como verdadeira concordata, esses acordos deram 9 Igreja
italiana uma posição privilegiada , sobretudo, em mat&ria de
ensino e matrimonial# Causaram surpresa, principalmen te, as
concordatas assinadas com a .etónia protestante, a
C3ecoslov%uia laica e a )om&nia ortodoa# Esses actos, tão
afastados do +Gllabus, manifestavam a vontade do -apa de
distinguir o espiritual e o temporal#
Em <rança, uma esp&cie de galicanismo político, muito 3ostil
ao )alliement, reforçara5se em redor da *ction française e
do seu c3efe prestigiado, C3arles "aurras, cuja doutrina,
aos ol3os do -apa, misturava o nacionalismo positivista 5
porue o catolicismo não representava, para "aurras, senão
um papel de 8princípio de autoridade8 5 com um nacionalismo
integral e, portanto, monaruista# 'ra, a *cção <rancesa
eercia sobre a juventude 5 em <rança, na &lgica e noutras
partes 5 uma viva atracção# Em BM de /e2embro de MBO, o
+anto 'fício promulgava um decreto do Inde condenando
diversas obras de "aurras e proibindo o jornal .D*ction
française# * ecomun3ão e o interdito atingiram, at& MLM,
os contraventores# "as estas medidas provocaram uma crise
dolorosa entre in;meros padres e intelectuais ue tin3am
considerado a *cção <rancesa 8o prolongamento natural8 da
sua f&#

/e facto,
amarras do foi 8o fim
passado, de uma
muitos &poca8#entregaram5se
católicos .ibertando5sea das
uma
acção temporal incarnada na democracia, numa acção
espiritual e intelectualmente bem alimentada# 1os anos L,
proliferou um tipo de católico preocupado em manifestar a
sua f& e confrontar o seu tempo com os dados evang&licos# Em
'utubro de MLB, aparecia, no n;mero  de Esprit, o
manifesto de Emmanuel "ounier, )efaire .a )enaissance:
8X###Y /enunci%mos os pecados do materialismo: pensar sem
viver o nosso pensamento e aonde ele nos condu2 seria algo
de sacrílego# -ara nós, a acção entre os 3omens não & uma
vocação ocasional 9 procura de títulos de nobre2a, mas & a
plenitude do nosso pensamento e a perfeição do nosso amor#8
8Então, os católicos fa2em a aprendi2agem, por ve2es
dolorosa, mas tamb&m etremamente

L]J

ben&fica, da sua diversidade8 [# <# +iV# Esta aprendi2agem


anuncia a aceitação do pluralismo e do di%logo com os não5
crentes#
-ortanto, & nesta perspectiva de 3umanismo integral
incarnado e tamb&m de uma redescoberta da Igreja no seu
mist&rio Ucorpo místico de CristoV, ue se situa uma das
grandes iniciativas de -io 4I: a acção católica, apostolado
organi2ado dos leigos, ue colaboram, no seu próprio meio,
na etensão do reino de /eus# <órmula revolu cion%ria, j%
ue, at& aí, os leigos 3aviam sido considerados apenas
capa2es de se dedicarem 9s tarefas caritativas ou
intelectuais# /esde a encíclica $bi arcano /ei UMBBV, -io
4I tin3a esboçado as grandes lin3as da acção católica6 na
pr%tica, apenas teve de encorajar a iniciativa de um padre
belga, o abade Cardijn, ue, em MB], lançava a 0'C
U0uventude 'per%ria CatólicaV, ue passava para <rança e
irradiava pelo mundo inteiro, contando em M]N j% du2entos e
cinuenta mil aderentes# 'rgani2ou5se ao mesmo tempo uma
acção católica geral, visando constituir verdadeiras
comunidades parouiais, agir atrav&s dos seus serviços de
imprensa e de informação sobre a opinião p;blica,
desenvolvendo ainda uma acção católica especiali2ada e
adaptada aos meios de estudantes U0ECV, de jovens rurais
U0*CV, de marin3eiros U0"CV e aos meios burgueses [ICV#
*lguns movimentos de adultos e movimentos femininos
corresponderam a esses movimentos de jovens, a ue se
juntaram os Escuteiros, as Auias, os Corações Corajosos, a
Cru2ada Eucarística e as <ederações /esportivas# /e
<riburgo, as 'rgani2ações Internacionais Católicas

coordenaram
$m o trabal3o
livro recente, c3ecde
deconjunto#
laction cat3oliueW, sublin3ou ,
sobretudo, o ue a acção católica não fe2# "as, embora falte
fa2er muito 5 uase tudo 5 para impregnar a civili2ação de
cristianismo, diga5se tamb&m ue o trabal3o reali2ado desde
3% uarenta anos pela *cção Católica foi consider%vel6
colocou em toda a parte 5 desde as f%bricas 9s assembleias
deliberativas 5, 3omens e mul3eres ue, especificamente como
cristãos, são parte viva e actuante do seu próprio meio# *
conjunção deste testemun3o m;ltiplo e do trabal3o de
informação e de aprofundamento dos intelectuais, dos
teólogos, da 3ieraruia e do clero, 3abituou o mundo moderno
a dialogar com os católicos e a contar com eles#

L]O

1o ue respeita 9 uestão social, -io 4I, na sua encíclica


[uadrag&simo anno UMLV, alargou ainda as conclusões da
)erum novarum# ' sindicalismo cristão gan3ou verdadeiramente
corpo sob o seu pontificado: a C<(C contava uin3entos mil
aderentes, em MLM, oitocentos mil, em M]N6 mas, em MOB, a
Confederação Internacional dos +indicatos Cristãos agrupar%
mais de seis mil3ões de membros#
8-apa das missões8, -io 4I dedica todos os cuidados 9
formação e 9 ealtação do clero autóctone, nova prova de
aceitação pela Igreja de um pluralismo vivificante: em MBL,
sagrava o primeiro bispo indiano e, em MBO, os seis
primeiros bispos c3ineses### Em MJ, em mais de vinte e
seis mil e oitocentas missões, mais de de2 mil serão
indígenas#
 então ue o ecumenismo católico sai da sombra# *lguns
centros de encontro e de estudo trabal3am num sil!ncio
fecundo, como acontece com o "osteiro da $nião em *maG,
fundado em MBJ por /om .ambert eauduin e transferido em
MLM para C3evetogne6 no Centro Istina, animado por um
dominicano, o padre /umont6 a colecção $nam saneiam fundada
em MLK pelo padre Congar6 o movimento alemão $na sancta de
"ons# "et2ger6 a revista inglesa Eastern C3urc3es uarterlG
de /om ede >insloP, etc# +em esuecer a acção de um padre
lion!s, -aul Conturier, promotor da 8+emana da 'ração
$niversal8 pela santificação de cada um dos grupos cristãos#
' pontificado de -io 4I foi, realmente, o pontificado5entre5
duas5guerras: uma breve euforia seguida, a partir de MBM,
de uma grave crise económica ue acentuou o deseuilíbrio
moral e fe2 pesar sobre a democracia uma tr%gica ameaça# *
mis&ria, a anaruia e o desemprego lançaram os povos em
posições etremas: as ditaduras proliferaram no terreno

revolvido# unit%ria
rep;blica * partir de MBO, de-ortugal
corporativa ue, em tornou5se uma
MBN, +ala2ar
passou a ser o c3efe e a Igreja tirou vantagens disso# *
Espan3a, perpetuamente dividida entre anaruistas,
anticlericais e militares apoiados na Igreja, passou da
ditadura de -rimo de )ivera para a <rente -opular e, depois,
na seu!ncia da terrível guerra civil UMLO5MLMV, para o
governo autorit%rio do general <ranco: a Igreja de Espan3a
estar% durante muito tempo intimamente ligada a um poder ue
a favorece#

L]K

* It%lia estava consciente de ter sido arrancada 9 anaruia


por "ussolini6 mas poucos eram os espíritos suficiente mente
clarividentes para entenderem a alienação da liberdade
imposta pelo imp&rio do fascismo# * <rança, atingida tamb&m
pela crise, parecia entre ML] e MLK estar prestes a
mergul3ar na guerra civil6 mas, depois de uma breve
eperi!ncia da <rente -opular, acabou por adormecer nos
braços de um regime moribundo#
* partir de MLL, *dolfo Hitler era o sen3or da *leman3a,
onde crescia todos os dias em seu redor o entusiasmo de
multidões esmagadas pelo pós5guerra6 mas Hitler era tamb&m
um doutrin%rio: o nacional5socialismo, feito de palavras de
ordem brutais, ealtava a superioridade da raça germ\nica, a
noção de 1iet2sc3e do super53omem, o anti5semitismo levado
at& ao genocídio, a apologia da guerra e da viol!ncia# "ein
ampf e ' "ito do +&culo 44 tornaram5se a bíblia de mil3ões
de 3omens e sabemos as trevas 3orríveis ue provocaram # "as
Hitler, na Europa, tin3a admiradores e imitadores6 se a
o&mia foi aneada pela força, a Tustria e o seu clero, em
MLN, favoreceram o *nsc3luss, embora, rapidamente, o
lamentassem# 1a )om&nia, a Auarda de <erro6 na Hungria, os
Cru2es de <lec3as6 e na &lgica, os )eistas, fa2iam a corte
a Hitler, enuanto "ons# (iso, na Eslov%uia, dirigia o
Estado mais anti5semita do "undo#
"as, uando, no meio da floresta de braços e pun3os
estendidos, os 3omens de botas cardadas se congratulavam com
isso, levantou5se no Zaticano um 3omem vestido de branco:
estava so2in3o, mas tin3a a certe2a de estar a defender o
ue a Humanidade possuía de mais precioso# * partir de ML,
na sua carta 1on 9bbiamo bisogno, denunciou a
incompatibilidade do cristianismo com a 8estatolatria pagã8
própria do fascismo mussoliniano# Em "arço de MLK, com um
intervalo de cinco dias, condenou o comunismo ateu e o seu
materialismo dial&ctico Uencíclica /ivini )edemptorisV e, na

encíclica o
estatismo, "it brennender
racismo sorge, essenciais
e o paganismo estigmati2ando todo o
ao nacional5
socialismo, lembrou os direitos inalien%veis do 83omem
enuanto pessoa8# * guerra, seis meses depois da morte de
-io 4I, revelaria a ue abismos podia realmente condu2ir o
despre2o do 3omem#

L]N

L# $m doutor: -io 4II

* -io 4I, em B de "arço de MLM, sucedeu sem sobressal tos o


seu secret%rio de Estado, Eugenio -acelli, ue se tornou -io
4II# 1ão & cómodo falar sem paião de -io 4II, cujo
autoritismo e 3ieratismo facilmente se opõem 9 bonomia do
seu sucessor 0oão 44III6 uns descobrem nele um
conservadorismo inspirador de medidas ultrapassadas a
respeito dos pioneiros de um ecumenismo, de uma renovação
teológica e de um apostolado mission%rio de vanguarda6
outros, como reacção, consideram5no como o mais santo -apa
dos tempos modernos# * representação da peça de )olf
Huc33ut3, ' Zig%rio, onde se apresenta o -apa, durante a
guerra, recusando condenar os ecessos do na2ismo e,
sobretudo, os campos de etermínio, ainda avivou mai as
uerelas# -odemos discutir infinitamente sobre esse sil!ncio
oficial de -io 4II 5 mesmo ue todo o mundo saiba do
acol3imento paternal ue o -apa fe2 aos judeus refugiados no
Zaticano 5, mas essa censura parece demonstrar a eist!ncia
de uma aur&ola moral ue rodeia o papado contempor\neo#
Este diplomata de elite era tamb&m um contemplativo: -io 4II
p`s a sua vasta cultura 5 di25se ue tin3a o dom das línguas
5, constantemente avivada por um trabal3o sobre53umano de
meditação, ao serviço do mundo contempor\neo6 e teve um
discernimento prof&tico sobre alguns dos problemas desse
mundo# *ueles ue o criticam nunca leram certamente a
intermin%vel lista de encíclicas, constituições, mensagens
pela r%dio e discursos dirigidos aos p;blicos mais diversos:
as mais elevadas uestões teológicas 5 em  de 1ovembro de
MJ define solenemente o dogma da *ssunção 5 identificam5se
aí com os temas mais profanos: o ensino, a mul3er, a
medicina, os problemas jurídicos e o desporto# ' ue
atormentava o -apa 5 atrav&s desses factos em ue a erudição
se eprime numa frase magnífica 5 era a instauração do
espírito cristão em todas as actividade 3umanas# 'ra, o
segundo pós5guerra p`s imediatamente 9 Igreja Católica novos
e mais graves problemas# /e repente, uma grande parte da
Europa Central e 'riental passou para a obedi!ncia

comunista,
e o uemorte
at& 9 sua 5 no em
tempo de Estaline,
MJL sen3or em
5 se tradu2iu implac%vel
muitas ,
perseguições,

L]M

epulsões, prisões e, at&, na constituição de uma 8Igreja do


+il!ncio8 em oposição 9s Igrejas nacionais ligadas ao regime
e desobedientes a )oma# *li%s, a força de epansão do
marismo manifestou5se, uando, em M]M, a C3ina toda se
tornou comunista, polari2ando 9 sua volta as esperanças das
massas do Etremo 'riente e de outras paragens6 a partil3a
da Coreia UMJV e do Zietname UMJ]V estabeleceu os limites
das conuistas futuras# ' catolicismo foi naturalmente
apresentado como a religião do colonialismo e, depois, do
neocolonialismo# Em MJM, em Cuba, c3arneira entre as duas
*m&ricas, <idel Castro instalou5se no poder6 em princípio,
sensível a um certo caudil3ismo social, a *m&rica .atina,
dominada pelas suas estruturas semifeudais, tornou5se cada
ve2 mais sensível 9 eperi!ncia global do castrismo# 'ra, a
*m&rica .atina, oficialmente católica, tem falta de padres
Uum padre para cinco mil tre2entos e cinuenta 3abitantes6
em <rança, um padre para novecentos e vinte e doisV e a
maioria deles, se não são estrangeiros, saíram das classes
privilegiadas6 uma f& espectacular esconde mal a ignor\ncia
religiosa6 a passagem de uma estrutura rural para uma
estrutura industrial e urbana interrompe os meios de
transmissão da religião: desenrai2ado, o proletariado das
cidades mergul3a muito mais rapidamente num paganismo, por
ser mais miser%vel# * fundação, em MJJ, do Consel3o
Episcopal .atino5*mericano UCE.*"V permitiu ao episcopado
tomar consci!ncia dos problemas de conjunto de uma
civili2ação inetricavelmente unida ao catolicismo6 por
isso, em "aio de MO], os bispos do rasil declararam: 8's
sentimentos religiosos do nosso povo não devem servir de
cobertura 9ueles ue deformam a verdade, corrompem os
costumes ou se entregam aos abusos do capitalismo liberal#8
1a *m&rica do 1orte, o catolicismo mant&m as características
de juventude, dinamismo e generosidade, mas, sobretudo nos
Estados $nidos, coloca o acento nos valores eteriores6 um
certo conservadorismo teológico e pastoral, uma certa
religiosidade e a consci!ncia ing&nua de uma superioridade
material incontest%vel são defeitos tipicamente americanos#
* Tfrica 1egra con3ece, depois de MO, os efeitos da
aceleração da História: aí, a Igreja anda ligada 9 revolução

LJ

africana marcada pelo acesso 9 independ!ncia e a


revalori2ação das tradições pr&5coloniais6 embora ten3a sido
considerada um elemento da coloni2ação, a sua africani2açã o
gan3a 5 em ua2e mil padres, cinco mil são autóctones 5
permite5l3e entregar5se, sem grandes 3esitações, 9s suas
próprias tarefas#
* Tfrica do 1orte, tamb&m ela c3egada a independ!ncia depois
de anos dolorosos, tanto para os colonos como para os
autóctones, coloca alguns problemas mais difíceis a Igreja
Católica: a islami2ação completa das massas e a coincid!ncia
dos grupos religiosos cristão e muçulmano com certos grupos
sociológicos incompenetr%veis#
[uanto 9 vel3a Europa 'cidental, saiu da +egunda Auerra
"undial eangue e inteiramente entregue 9 influ!ncia
americana *cabadas as lutas 3eróicas da )esist!ncia ao
na2ismo e ao fascismo 5 em ue os católicos tiveram um papel
importante 5, as divisões políticas, o deia5correr e o
salve5se5uem5puder reconstituíram uma atmosfera de 8anos
loucos8 com algumas diferenças essenciais6 a jovem geração,
engolida por uma, demografia galopante, desviou5se depressa
do passado  HitlerW não con3eço### 5, desligou5se do
presente e virou5se para um futuro ue os avanços t&cnicos,
as eplosões atómicas e as conuistas espaciais dos
astronautas tornaram sedutor, mas tamb&m ameaçador# '
sectarismo e o anticlericalismo estão cada ve2 menos na
moda, ainda ue, em <rança, a uestão escolar se manten3a
como uma c3aga ue se julgava curada# Em MJL a 3ieraruia
católica foi restabelecida na +u&cia, /inamarca e 1oruega#
1os países libertos do regime ditatorial 5 *leman3a Tustria
e It%lia 5 e tamb&m em <rança e na &lgica, onde o
catolicismo social tin3a gan3ado raí2es desde 3% muito,
acederam simultaneamente ao poder ou participaram
activamente na resolução dos problemas, com o empen3amento
dos cristãos#
$ma certa lucide2 persistente permitiu ue os católicos
tomassem consci!ncia das relações sociais, da transformação
das estruturas e de uma descristiani2ação, cujas refleões e
trabal3os de sociólogos religiosos, de pastores como o
cardeal +u3ard, de mission%rios como o padre Aodin 
<rança, país de missãoW 5 denunciam a gravidade# '
catolicismo ocidental torna5se facilmente introspectivo,
preocupado com uma espiritualidade

LJ

encarnada, dispos to ao di%logo: a sua ala esuer da tende

mesmo para
porue um progressismo
a minoria uemais
integrista, nen3uns consideram
sensível temer%rio,
9 transcend!ncia
do cristianismo do ue 9 sua implantação, reage
violentamente contra o ue considera uma demissão: um
anticomunismo apaionado ue c3ega a ser doentio, certas
posições políticas etremas ue, por ve2es, reforçam a sua
oposição#
* <rança, ue segundo a fórmula de -aulo ZI, 8col3e o pão
intelectual da cristandade8, & sob -io 4II o terreno
privilegiado das eperi!ncias e dos c3oues, graças ao
8aguil3ão permanente ue suscita uma refleão aprofundada8,
mas os grandes teólogos franceses, C3enu, Congar e /e .ubac
passam pela prova de fogo UMJ]V# * 8"issão de <rança8, a
8"issão de -aris8 e a eperi!ncia abortada, mas muito
sugestiva, dos 8-adres 'per%rios8, são, entre outras, certas
reali2ações revolucion%rias e sedutoras ue, embora
fortemente criticadas por alguns, são uma fase para um
apostolado mission%rio mais desenvolto e mais adaptado# -or
toda a parte se espal3a esse espírito de renovação: pastoral
parouial, liturgia, cateuese e teologia em contacto mais
estreito com a tradição, com a 3istória e com a ci!ncia
U(eil3ard de C3ardinV# ' movimento bíblico sacode e ajusta
as perspectivas da caridade e da meditação# "as & ainda uma
ve2 mais a vida religiosa ue não se adapta bem 9 criação
dos institutos seculares#
1o entanto, a intuição essencial deste tempo revela o novo
papel apontado ao leigo na Igreja# ' padre de "ontc3euil,
morto tragicamente em M]J, ue tin3a construído toda a sua
eclesiologia sobre a ideia da Incarnação permanente e de uma
Igreja como 8organismo visível pelo ual Cristo v! e actua
neste mundo8, tin3a j% desenvolvido aprofundadamente as
responsabilidades de um laicado insubstituível# Emmanuel
"ounier, em <eu la c3r&tient& UMJV, convida o
cristianismo, na 3ora das massas, a tornar5se plebeu# [uanto
ao cardeal +u3ard, na sua c&lebre carta pastoral de M]K,
Essor ou a&clin de lDglise, não v! a via de renovação
cristã possível no mundo materialista senão pelo
empen3amento total do cristão leigo na vida da cidade# "as
essa 3onra coube ao padre Congar, ao ter, finalmente,
definido o leigo 9 lu2 do Evangel3o e das necessidades
modernas6 8$m leigo & um

LJB

3omem para uem as coisas eistem, para uem a sua verdade


não & engolida e abolida por uma refer!ncia superior#
-orue, cristãmente falando, o ue l3e interessa & referir

ao *bsoluto a própria realid ade deste mundo, cuja figura


passa#8
[uando -io 4II morre em 'utubro de MJN, o vel3o tronco da
Igreja j% renovou a sua seiva#

]# ' bom papa 0oão

Em BN de 'utubro de MJN, enuanto o mundo esperava um papa


jovem, o conclave elegia um 3omem de KK anos, o cardeal
)oncalli, patriarca de Zene2a# Em <rança, onde tin3a sido
n;ncio entre M]] e MJL, passava por ser um bom monsignore,
muito franco, mas um pouco retrógrado, de uem se repetiam
alguns ditos espirituosos# Imediatamente l3e c3amaram 8-apa
de transição8, at& porue, muito curiosamente, escol3era o
nome de 0oão porue, como declarara ao +acro Col&gio, os
vinte e dois soberanos pontífices ue usaram este nome
8tiveram uase todos um pontificado de curta duração8# "as
logo bril3ou o ue, por ve2es, se designou como 8o milagre
)oncalli8: o ue parecia ser apenas simples bonomia italiana
revelou5se delicade2a e caridade profunda6 a tenacidade e a
malícia do rural de &rgamo desdobraram5se neste -apa na
3umildade e na indulg!ncia dos verdadeiros padres e na
lucide2 dos santos# +e -io 4I tin3a imposto o respeito e -io
4II, a admiração, 0oão 44III iria impor o amor# * sua
agonia, no -entecostes de MOL, foi acompan3ada pelo mundo
inteiro e, facto ;nico na História da Igreja, a sua morte
provocou em mil3ões de pessoas, crentes ou não, l%gri mas
verdadeiramente sentidas#
0oão 44III troue ao soberano pontific ado e ao seu cargo de
bispo de )oma um estilo novo: passeava a p&, era visto nas
ruas da cidade 5 cento e cinuenta ve2es passou os limites
do Zaticano 5 para visitar os seus padres, doentes e presos
de delito comum, mostrando em toda a parte um outro rosto,
descon3ecido ou esuecido, do papado, em ue dominava a
bondade#
"as o 8bom papa 0oão8 não foi apenas um 8pai do povo8, mas
tamb&m o pastor universal, preocupado em derrubar as

LJL
barreiras ue por toda a parte o egoísmo dos 3omens tin3a
erguido ou as ue a 3istória levantou entre os cristãos# -or
isso, 0oão 44III multiplicou os contactos pessoais, entre
outros, as audi!ncias concedidas ao moderador da Igreja
presbiteriana da Escócia, ao metropolita /amasinos, aos
presidentes das Igrejas episcopaliana e baptista dos Estados
$nidos e aos metodistas ingleses, e, sobretudo, 9 fil3a e ao

genro de 3ruc3tc3ov,
acol3imento manife
do -apa# -or stando
outro desse
lado, modo
0oão at& foi,
44III onde com
ia o
0ules Isaac, o iniciador de uma ami2ade judaico5cristã ue
marcasse nos factos e se esforçasse por fa2er desaparecer as
raí2es e os vestígios de um anti5semitismo ue foi
alimentado pelos cristãos, pouco conscientes de ue os
judeus são seus pais na f&#
/as oito encíclicas de 0oão 44III, duas atingiram mais
particularmente a opinião p;blica: "ater e "agistra UJ de
"aio de MOV sobre a uestão social e, sobretudo, o
testamento do vel3o pontífice, a etraordin%ria 8carta
aberta ao $niverso8 , -acem in terris U de *bril de MOLV:
a seu respeito, um publicista falou de sinfonia 5 não
inspirou ela /arius "il3audW 5, cujo tema fundamental, ue
retoma por nove ve2es, ecoa nestas palavras: 8* pa2 entre
todos os povos eige a verdade como fundamento, a justiça
como regra, o amor como ra2ão e a liberdade como clima#8
+e, para in;meros protestantes, 0oão 44III foi um grande
-apa, um deles c3egou mesmo a afirmar ue foi ele,
realmente, o primeiro -apa ue escutou, 8recon3eceu e
compreendeu o alcance e a profundidade do movimento
ecum&nico8# ' ecumenismo foi, na verdade, o centro do
pensamento do -apa e, nesse domínio, o seu pontificado foi
decisivo porue empen3ou a Igreja romana num movimento, em
ue, at& então, os esforços de reagrupamento tin3am sido
feitos, uase eclusivamente, por cristãos separados de
)oma# -or isso, em MOB, inaugurou5se em (ai2& uma 8igreja
da reconciliação8 católica e protestante#

LJ]

Capítulo IZ
* IA)E0* -E)*1(E $" "$1/' 1'Z'

# * grande lu2 do Zaticano II

Com essa esp&cie de empirismo genial ue & próprio dos


grandes c3efes e dos profetas, 0oão 44III apontou
imediatamente para muito alto# Em BJ de 0aneiro de MJM,
anunciava aos cardeais espantados a sua intenção de convocar
um concílio, com uma dupla intenção: assegurar a renovação
da Igreja face ao mundo moderno e preparar a unidade cristã#
Em J de 0un3o de MO, era criado o +ecretariado para a
$nião dos Cristãos e, entretanto, todas as comunidades
cristãs não5romanas eram convidadas a enviar os seus
observadores ao concílio# ' acol3imento foi praticamente
feito sem reservas entre os protestantes e entre os vel3os

católicos,
os coptas enuanto de entre
e a Igreja os enviaram
síria ortodoos,representantes
apenas os russos,
ao
Concílio ue foi aberto no Zaticano, a  de 'utubro de
MOB, na presença de dois mil uin3entos e uarenta padres,
com uns cinuenta observadores não5católicos#
' discurso de abertura causou sensação porue o -apa
utili2ou uma linguagem de esperança e apresentou o concílio
não como um círculo fec3ado de teólogos, mas como uma
assembleia destinada a 8tornar a Igreja presente no "undo e
a sua mensagem sensível 9 ra2ão e ao coração do 3omem
empen3ado na revolução t&cnica do s&culo 448# * primeira
sessão do concílio

LJJ

sob 0oão 44III Ude  de 'utubro a N de /e2embro de MOBV e


a segunda sob -aulo ZI Ude BM de +etembro a ] de /e2embro de
MOLV foram menos importantes pelas decisões tomadas 5
decretos sobre a liturgia, sobre a Igreja, sobre os meios de
comunicação social 5 do ue pela atmosfera ue presidiu aos
debates e ue a discrição desejada pelo -apa tornou mais
vivificante embora não muito inesperada# [uando a assembleia
5 impulsionada pelo cardeal .i&nart 5 se recusou a eleger
imediatamente os membros das de2 comissões, di2endo ue era
preciso ue, antes disso, os padres conciliares soubessem
uem seriam eles6 uando, em 1ovembro, graças ainda ao bispo
de .ille, o esuema sobre as origens da )evelação,
considerado inadeuado e dentro das definições do Concílio
de (rento, foi enviado para a comissão de estudo, sentiu5se
ue um sopro de reforma passava sobre essa )oma ue se di2ia
estar eageradamente ligada 9 burocracia vaticana# *lguns
grandes temas pareceram constantemente subjacentes 9s
discussões sobre a Igreja, a liturgia ou o ecumenismo: a
pobre2a ultrajante de dois terços da Humanidade, os pobres
abandonados e deiados fora da Igreja, a colegialidade dos
bispos ue deu lugar, em 'utubro de MOL, a apaionados
debates, o papel próprio dos leigos na Igreja, os ecessos
do juridismo da C;ria, sobretudo a confrontação das posições
católicas com as riue2as das Igrejas separadas###
* terceira sessão de U] de +etembro a B de 1ovembro de
MO]V debruçou5se sobre duas situações significativas: a
admissão de mul3eres no Concílio e o envio de observadores
por Constantinopla# (r!s documentos foram promulgados no fim
dessa sessão: a Constituição dogm%tica sobre a Igreja, o
decreto sobre o ecumenismo e o decreto sobre as Igrejas
orientais católicas# *s discussões mais importantes, por
ve2es muito apaionadas, incidiram na liberdade religiosa,

nas religiões
)evelação, no não5cristãs e, particularmente,
apostolado dos nos 0udeus,
leigos, nos semin%rios e nona
casamento# * sessão terminou com
# algum mal5estar, tendo o -apa juntado 9 constituição sobre
a Igreja uma nota relativa ao primado pontifício e feito
algumas emendas restritivas ao decreto sobre o ecumenismo#
* uarta sessão U] de +etembro a N de /e2embro de MOJV &
caracteri2ada por um trabal3o intensivo# 1o seu discurso

LJO

inicial, -aulo ZI anuncia a criação de um sínodo episcopal#


'n2e documentos são promulgados durante esta sessão: a
Constituição dogm%tica sobre a )evelação, a Constituição
pastoral sobre a Igreja e o mundo contempor\neo mais
con3ecida sobre o nome de Aaudium et +pes, os decretos sobre
a tarefa pastoral dos bispos, sobre a renovação adaptada da
vida religiosa, sobre os semin%rios, sobre o apostolado dos
laicos, sobre a vida e o minist&rio dos padres, sobre as
missões, as declarações sobre a educação cristã, sobre as
religiões não5cristãs e sobre a liberdade religiosa# *l&m
disso, o Concílio transmite ao papa um voto sobre os
casamentos mistos, ue ser% reeaminado pelo sínodo
episcopal de MOK# [uanto ao problema do celibato
eclesi%stico, o -apa, em  de 'utubro, afastava5o do
próprio concílio# Em N de 1ovembro, -aulo ZI anuncia a
abertura dos processos de beatificação de -io 4II e de 0oão
44III# Em O de /e2embro, na ;ltima congregação do concílio,
publica um motu próprio para a reforma do +anto 'fício#
Este enorme trabal3o 5 manifestamente muito ousado 5
comporta algumas lacunas e tamb&m bloueios# <oram evitados
ou adiados temas muito candentes como a justiça no mundo, a
regulação da natalidade, a ordenação de padres casados, os
casamentos mistos e, em geral, o lugar da mul3er na Igreja#
"as não deia de ser um balanço positivo e rico não só pelas
reali2ações imediatas, mas pelo n;mero de pistas traçadas
para o futuro# ueles ue desejavam ue tudo mudasse de
repente dentro da Igreja, -aulo ZI, na sua 3omilia de BM de
'utubro de MOJ, lembrou oportunamente ue a Igreja & um
corpo 8ue vive, pensa, fala, cresce e se constrói8# -or
isso, o termo aggiornamento, tantas ve2es indevidamente
aplicado ao Zaticano II, deve ser entendido não como uma
mudança fundamental, mas como uma primavera c3eia de
esperança e servida por uma nova seiva# ' povo de /eus, a
3umanidade inteira, graças aos mass media, p`de acompan3ar o
imenso fervil3ar de ideias de ue se revestiu o Concílio
Zaticano II#

Entre as pistas
salientar traçadas pelos padres
como particularmente conciliares,
inovadoras: & preciso
o recon3ecimento
do pluralismo dentro e fora da Igreja, a afirmação da
liberdade religiosa, 8a confiança dada ao mesmo tempo 9s
pessoas e ao

LJK

3omem8 U0#5<# +iV, a entrada oficial no grande movimento do


ecumenismo, o primado dado ao destino comum dos bens sobre a
propriedade privada, o alargamento da noção de colegialidade
a toda a 3ieraruia eclesi%stica em detrimento do
curialismo, a elaboração de uma nova antropologia ue
devolva ao universo o seu sentido religioso , a depuração do
conceito de tradição ue j% não se confunde com o respeito
cego pelo passado6 finalmente e sobretudo, o camin3o
largamente aberto a uma participação cada ve2 mais activa do
laicado na vida eclesial#
8's 3omens não pensam suficientemente ue, nestes pontos
mais ue em uaisuer outros, temos, em relação ao
sofrimento, o sentido da fraue2a 3umana, o sentido da
necessidade da ajuda de /eus, o sentido da insufici!ncia
radical do 3omem e o tormento dos grandes desejos a par do
reconforto das grandes esperanças# 's 3omens não entendem
muito bem ue, nestes pontos mais do ue em uaisuer
outros, os desejos aduirem proporções imensas, t!m as
dimensões do mundo#8 -aulo ZI mostrava assim, em +etembro de
MOJ, as dimensões ue, a seus ol3os, assumia o II Concílio
Zaticano#
*li%s, os 3omens não se enganaram a esse respeito e & 3oje
comum falar5se de uma Igreja pós5conciliar, de uma Igreja
ue, de ol3os amplamente abertos sobre um mundo ue anda
longe da fonte ue & Cristo, se mostra interessada, at& 9
obsessão, nas formas de tornar compreensiva a mensagem
evang&lica#

B# * Igreja e o "undo em crise

* crise da nossa civili2ação não tem precedentes# 8"uitos


ciclos, muitos períodos e muitas eras acabam
simultaneamente, sem ue se possa prever os aspectos da nova
era ue vai começar8 U0ean AuittonV# * era industrial, em
ue o 3omem apenas utili2ava as energias físicas, sucede a
era da energia escondida na mat&ria e, por conseguinte, a da
arma absoluta# ' 3omem evade5se da terra, o seu c&rebro,
aliviado pelo computador, v! crescer o seu desejo de pra2er
e de liberdade# *s sociedades fec3adas tendem a desaparecer

e a riue2a
mais dos5 povos
numerosos desenvolvidos
ue t!m fome6 easpera os povos 5 os

LJN

a biologia põe em uestão não apenas o uso e a finalidade da


seualidade, mas tamb&m a eist!ncia da família e, at&, a
própria noção da nature2a 3umana# Entre as gerações abrem5se
enormes fossos ue as tornam estran3as umas 9s outras#
-or sua ve2, tamb&m a religião & atingida# ' sentido do
mist&rio decresce e uma civili2ação essencialmente laica e
t&cnica despre2a todos os mitos, a não ser ue os seus
ecessos e as suas indignidades levem os jovens a refugiar5
se noutros mitos, longe de Cristo e da sua Igreja# (udo se
passa como se 8/eus estivesse morto8 e os 3omens, cada ve2
mais solid%rios mesmo contra a sua vontade, se encontrassem
tamb&m cada ve2 mais isolados no 8deserto do amor8#
1estas condições, era inevit%vel ue a Igreja Católica,
corpo vivo formado por 3omens enrai2 ados no mundo, fosse
tocada pela crise da civili2ação, tanto mais ue ainda
subsiste nela algo 8do espírito judeu, da subtile2a grega,
do juridismo romano, da 3onra feudal e da estabilidade
burguesa8 U0# AuittonV#
/e um lado, uma fonte de vida, 0esus Cristo6 uma instituição
ue se di2 e se julga capa2 de dar 9 3umanidade o meio de se
salvar, a Igreja# /e outro, um mundo ue, 9 medida ue se
ealta com os seus triunfos, ue se instala no seu paraíso
terrestre, sente crescer dentro de si o desespero, sobretudo
na forma mais perigosa, ue & a indiferença#
-ortanto, impõe5se 9s pessoas da Igreja, aos cristãos, com
uma viol!ncia descon3ecida at& então, a procura de uma
linguagem ue sirva de veículo 9 -alavra libertadora6 mas,
então, o catolicismo toma cada ve2 mais os traços de um
mundo livre, comunit%rio e popular#
Esta admir%vel movimentação ue, naturalmente, só provoca
c3oues, esc\ndalos ou raivas 5 sobretudo por parte dos
tradicionalistas, ue são mais sensíveis aos tesouros
abandonados do ue 9s riue2as de um 8renascimento8 5, não
ser% fecunda se se reali2ar apenas no seio da Igreja# +abem
isso muito bem os católicos 3olandeses ue, avisados pela
eperi!ncia vivida, consideram o cisma como uma mutilação#
Etrair do Evangel3o as conseu!ncias concretas na vida
uotidiana, sim6 mas sem esuecer o próprio Evangel3o nem o
redu2ir 9s suas conseu!ncias meramente 3umanas nem ignorar
todo o contributo teológico,

LJM

canónico, eeg&tico, apolog&tico, 3istórico e patrístico de


vinte s&culos de Igreja#
' drama do cristianismo não est% no facto de os 3omens se
afastarem dele, mas em 8ele próprio estar profundamente
descristiani2ado8# +e eiste uma crise da f&, & porue j%
não 3% ou uase j% não 3% comunidades evang&licas# 1ão se
pode viver a f& so2in3o, mas podemos viv!5la no seio da
Igreja com outros#
Conseuentemente, o sacerdócio parece estar afastado de
ualuer relação aut!ntica6 e, daí, o drama dos padres ue,
mais ue os outros cristãos, t!m consci!ncia da discord\ncia
eistente entre a sociedade dos 3omens e a Igreja# /e onde,
tamb&m, uma crise grave de vocações tradicionais e um
colocar em causa eistencial do estatuto sacerdotal6 e,
finalmente, uma brutal interrogação ue incide no papel
primordial dos leigos na vida da Igreja: a tímida
eperi!ncia de um diaconado renovado e a ambiguidade ue
continua a pairar sobre a noção do celibato sacerdotal não
são factos ue nos forneçam, a curto pra2o, uma solução para
esse problema essencial#
"as, apesar de tudo, a Igreja tem esperança, uma esperança
de um 8parto feli28# Ela eperimenta5o uando se interroga e
se emenda, tornando5s e, todos os dias, um pouco mais 8serva
e pobre8# E rejeitando sempre o opulento fardo ue s&culos
de 8civili2ação cristã8 l3e impuseram, recon3ecend o as suas
omissões, as suas insufici!ncias e, mesmo, os seus erros,
procura constantemente os meios mais adeuados para
transmitir e fa2er ue se viva a mensagem evang&lica, para
dar aos cl&rigos e aos leigos os instrumentos ue farão
deles mel3ores educadores da f&# "as ue corpo, na nossa
sociedade, est%, como a Igreja 5 semper reformanda 5 em
perp&tua interrogaçãoW
1ão se muda a religião6 mas, uns com os outros, renovamo5la,
sendo esse um sinal global dado pelo conjunto do povo de
/eus, de ue os não5crentes precisam# -or isso, o espírito
colegial ue se manifesta a todos os níveis: sínodos,
assembleias plen%rias, comissões, colóuios e, at&,
comunidades de base#  possível ue na Igreja se fale
demasiado6 mas ue mal l3e advir%, se os cristãos
reencontrarem a teologia da palavra e do di%logoW )enovação
pastoral, cateu&tica, sacramental e lit;rgica no sentido de
uma verdadeira educação da f&6 pesuisas

LO

teológicas, tendo como eio o sentido do cristianismo como

uma economia
muito mais da salvação eperi!ncias
fraternos6 da História6 mission%rias
avanços ecum&nicos
mais
aut!nticas6 esforço e contributo do laicado6 renovação da
espiritualidade conjugal e redescoberta de uma religião
popular mergul3ada, desde 3% s&culos, numa religião de
cl&rigos6 simplificação e reforço dos meios de comunicação
social6 renovação da vida religiosa6 lutas pela pa2 e a
justiça6 sentido do pluralismo6 evolução da *cção Católica
no sentido de uma maior responsabilidade6 compromisso dos
cristãos 5 e, muitas ve2es, profundo 5 em todos os domínios#
E, sobretudo, a renovação espiritual, a necessidade da
oração e do sil!ncio, com ue os grupos carism%ticos, ue se
multiplicam, testemun3am com um fervor adaptado 9
sensibilidade contempor\nea# Eis, pois, alguns dos limites
de uma renovação aut!ntica da Igreja moderna ue se revela
cada ve2 menos 8europeia8 e cada ve2 mais voltada para as
eperi!ncias e para a vitalidade das Igrejas africana,
asi%tica e americana#
"esmo ue se possa afirmar ue o mundo & menos 8cristão8 do
ue era, os cristãos são, de facto, mais cristãos do ue
outrora# -orue são menos conservado res6 di25se, mesmo, ue
são revolucion%rios, mas, apesar de tudo, ser% o fogo ue
Cristo veio tra2er 9 (erraW

L# -aulo ZI, um papa aceite e contestado

' 3omem ue, desde MOL, assegura a terrível vocação de


estar no coração dessa formid%vel mudança & o papa -aulo ZI#
*o morrer, 0oão 44III tin3a dito ao cardeal 0oão aptista
"ontini, ue
viera de "ilão: 8Confio5l3e a Igreja, o concílio e a pa2#8 E
ningu&m ficou admirado uando este 3erdeiro de um grande
pensamento se tornou o BO sucessor de +# -edro U0un3o de
MOLV# Com um temperamento diferente, com menos serenidade
talve2, mas com um sentido mais agudo das realidades e das
dificuldades, -aulo ZI aprofundou a obra de reforma do seu
predecessor# * colegialidade, forma visível da mudança, do
di%logo, começa a impor5se, lenta mas seguramente, das
camadas profundas da cristandade para o cume6 e, se a Igreja
mant&m
LO

a 3ieraruia ue l3e & própria, trata5se cada ve2 mais de


uma 3ieraruia de servidores: no cume est% verdadeiramente
8o servo dos servos de /eus8#
"as porue & um servidor, -aulo ZI não se julga autori2ado a

transigir ue
protestos com l3e
os parecem
ensinamentos da Igreja
perigosos# em proveito
-or isso, dos
a encíclica
+acerdotalis celibatus UBL de 0un3o de MOKV epõe a
validade moral e o valor do celibato eclesi%stico6 e a
encíclica Humanae vitae UBJ de 0ul3o de MONV 5 cuja
publicação provocou reacções importantes, mas contraditórias
5 convida os fi&is e os 3omens de boa vontade a elevar5se ao
nível de um dos seus mais importantes deveres: o de
transmitir e proteger a vida#
1o entanto, -aulo ZI mostra5se particularmente atento 9
transmissão da ess!ncia da mensagem evang&lica ao coração
dos 3omens e 9 adaptação dos dados da f& 9s eig!ncias do
"undo moderno# * encíclica -opulorum progressio UBO de "arço
de MOKV, relativa ao desenvolvimento integral do 3omem e ao
desenvolvimento solid%rio da Humanidade no seio da
civili2ação t&cnica, inspira5se, por eemplo, nos
ensinamentos do padre .ebret, fundador em M]B de conomie
et 3umanisme, cuja epansão & mundial# [uanto 9 carta
'ctog&simo anno UMKV, convida os cristãos a eercerem
livremente, em política, a sua iniciativa respons%vel#
* aplicação, tanto na letra como no espírito, das decisões
do Zaticano II, leva -aulo ZI a simplificar o aparato
decorativo pontifício e tamb&m a p`r em pr%tica um novo
diaconado, a proceder 9 reforma lit;rgica Ugenerali2ação da
língua vern%cula, simplific ação e aprofundamento dos ritosV
e 9 do calend%rio#
-aralelamente, o -apa estabelece e prossegue a reforma da
C;ria U"otu próprio -ro comperto sane, B de *gosto de MOK,
e Constituição )egimini Ecclesia e universae, J de *gostoV,
introdu2indo nela um mínimo de aruitectura org\nica,
limitando os poderes curiais, tentando acabar com o
carreirismo, internacionali2ando o recrutamento das
congregações e do +acro Col&gio, multiplicando os pastores
junto dos administradores# * nomeação de um franc!s, o
cardeal 0ean Zillot, para o lugar de secret%rio de Estado
UMOMV revela5se, desse ponto de vista, muito sintom%tica#
* principal caracterí stica do Zaticano II & a import\ncia e
a efic%cia do seu prolongamento# -ara contribuir para
colocar
LOB

em pr%tica as decisões e orientações do concílio, diversos


organismos permaneceram em funções: o +ecretariado para a
$nidade dos Cristãos UMOLV, o Consel3o para a *plicação da
Constituição sobre a .iturgia UMO]V, o +ecretariado para os
1ão5Cristãos UMOJV, o Consel3o para as Comunicações +ociais

UMO]V# 'utros
seguintes, organismos entram
mas o prolongamento em vigor do nos
mais importante anos
Concílio
Zaticano II continua a ser o +ínodo Episcopal, cuja primeira
sessão teve lugar em )oma, em MOK, a segunda
Uetraordin%riaV em MOM, a terceira em MK, a uarta em
MK], a uinta em MKK# * epressão 8Igreja5comun3ão8
encontra aí a sua aplicação, pelo menos ao nível dos
cl&rigos, porue os leigos não ocupam ainda senão um lugar
insignificante nas inst\ncias do Zaticano# /a reforma do
/ireito Canónico ao estatuto do padre, da reforma dos
semin%rios 9 crise da f& e 9 cateuese, todos os problemas
candentes são debatidos aí, por ve2es com algum sofrimento,
9 lu2 das eperi!ncias locais#
+ob -aulo ZI, o ecumenismo torna5se uma preocupação
permanente para uns e outros, mas cada um pressente o ue 3%
de escandaloso, aos ol3ares de uma 3umanidade
descristiani2ada, na divisão dos novecentos e uin2e mil3ões
de cristãos# Embora separados por posições doutrinais, por
ve2es muito distantes, católicos e protestantes 5 pelo
menos, a sua elite 5 multiplicam os trabal3os de
aproimação# 'u, antes, a espiritualidade protestante ue
obedece a uma lógica de ruptura e de depuração, e a
espiritualidade católica ue obedece a uma lógica de
integração, aprofundam5se e renovam5se uma 9 outra para se
encontrarem# ' luteranismo, por eemplo, encontra a forma
universal de eistir da Igreja e a Igreja romana redesco bre
o significado da Igreja local# 's encontros multiplicam5se:
presença de observadores protestantes no Concílio,
observadores católicos na III *ssembleia Aeral do Centro
Ecum&nico das Igrejas em 1ova /eli, na uarta assembleia do
movimento 8<& e Constituição8 em "ontreal, em MOL, criação
em nugu UMOJV de um grupo de trabal3o misto, recepção por
-aulo ZI do /r# )amseG UMOOV, visita do -apa ao Consel3o
Ecum&nico das Igrejas, em Aenebra UMOMV# $m episódio
significativo entre muitos outros: em "aio de MOL, a vel3a
$niversidade de .ovaina, bastião da reforma

LOL

católica face ao protestantismo, recebe solenemente o prima2


da Igreja anglicana# "as & preciso salientar a import\ncia
de (ai2&, esse ponto de efer!ncia aial do ecumenismo em
terras borgon3esas, o projecto de uma íblia ecum&nica
UMOJV, a entrada em vigor de um teto ecum&nico do -ai5
1osso e a inauguração, em 0erusal&m, em MK, de um
Instituto Ecum&nico de Estudos#
Em relação ao 'riente, onde as retic!ncias se revelam mais

sensíveis -aulo
primado, porueZIsedeu
trata, sobretudo,
um passo ue sede pode
uma uestão de
considerar
3istórico: em 0aneiro de MO], foi em 0erusal&m ue deu o
beijo fraterno ao patriarca de Constantinopla# E foi este
mesmo -apa 5 numa atitude inaudi ta 5, uem pediu perdão, em
nome da Igreja Católi ca, pelos erros cometidos durante a
)eforma### 8$m milagre, um verdadeiro milagre8, não deiou
de repetir o cardeal ea ao abandonar a recepção aos
observadores não5católicos por 0oão 44III#
$ma fase importante: a criação U"aio de MO]V do
+ecretariado para os 1ão5Cristãos, prel;dio para um di%logo
com o mundo# *t& então, se o 'cidente se dava facilmente com
o resto do mundo, não desejava acei tar nada dele, como se a
Tsia e a Tfrica nada tivessem para dar 'ra, a verdadeira
catolicidade, segundo -aulo ZI, 8& universalidade, destino
de todos os povos, oferenda de todas as línguas, convite de
todas as civili2ações, presença em todo o mundo, uestão
posta por toda a História###8# ' termo 8católico8 liberta5se
lentamente da poeira dos s&culos6 serve cada ve2 menos para
designar um partido de devotos e c3egar% o tempo em ue
retomar% o bril3o da sua própria srcem#
.evando a s&rio o título de represent ante de /eus na terra,
-aulo ZI, uebrando uma tradição bem enrai2ada, franueia as
fronteiras da It%lia e tamb&m as da Europa# ombaim, <%tima,
*ncara, Col`mbia, $ganda, +arden3a, +udeste da Tsia e a
'ce\nia recebem sucessivamente a sua visita# E ningu&m
esueceu a fr%gil sil3ueta do -apa suplicando aos
representantes da 3umanidade ue renunciassem 9 guerra U'1$,
em MOJV#
1o entanto, o fim do pontificado de -aulo ZI caracteri2a5se
por uma certa tensão, simultaneamente sensível no corpo da
Igreja e no comportamento do -apa, personalidade cuja
etrema sensibilidade & levada a deter5se tanto nos aspectos
positivos como nos negativos de cada problema#

LO]

Concebida e longamente elaborada num espírito essencialmente


pastoral, a encíclica Humanae vitae, de BJ de *bril de MON,
sobre a regulação dos nascimentos, suscita v%rias reacções
cuja viol!ncia se revela pouco 3abitual# Em primeiro lugar,
entre os teólogos moralistas: alguns deles consideram ue,
como imposição do magist&rio, a encíclica priva
indevidamente a consci!ncia moral do leigo da sua
responsabilidade &tica num domínio bastante pessoal, o da
seualidade, e tamb&m o casal da sua liberdade de escol3a
uanto 9 forma de gerir a ligação entre o desejo carnal e a

sua vocação 9lamentam


episcopais fecundidade#
ue, -or seu lado, v%rias
contrariamente aosconfer!ncias
crit&rios
elaborados pelo Concílio Zaticano II, a encíclica de -aulo
ZI represente um caso típico do eercício não colegial do
magist&rio#
/olorosamente atingido por essa oposição, -aulo ZI, num
plano mais geral, v!5se confrontado com as dificuldades de
aplicação do concílio# *lgumas correntes e, at&, certas
Igrejas locais 5 como & o caso, sobretudo, da Igreja
3olandesa ue, em MOO, caucionou um catecismo nacional
muito distante do modelo tridentino 5 censuram )oma por
refrear o dinamismo renovador do Zaticano II, sobretudo no
ue respeita 9 colegialidade, ao papel do laicado, 9 atitude
da Igreja face 9 modernidade# -elo contr%rio, outros
inuietam5se com uma derrapagem em direcção a um
8paraconcílio8, a um 8metaconcílio8, ue condu2iria o
catolicismo 9 perda da sua identidade, arrastando, talve2, o
próprio cristianismo, redu2indo5os a um mero 3umanismo# 1o
etremo dessa corrente tradicionalista constitui5se, em
redor de "ons# "arcel .efebvre, antigo arcebispo de /acar e
antigo superior5geral dos espiritanos, uma corrente, com o
rótulo de integrista, ue rejeitava radicalmente todas as
disposições e, mais ainda, as orientações do Concílio# (endo
fundado o seu próprio semin%rio em Ec`ne U+uíçaV e
continuando, contra uma ordem epressa do -apa, a ordenar
alguns padres, "ons# .efebvre, em MKO, & suspenso a
divinis, mant&m5se renitente, criando, realmente, uma
situação cism%tica#
 preciso di2er ue uma inuietação mais ra2o%vel,
partil3ada por -aulo ZI, despertou maior interesse nas
fileiras daueles ue estavam entre os pioneiros do
aggiornamento conciliar, como os teólogos 0osep3 )at2inger e
Henri de .ubac, mais tarde

LOJ

cardeais# * Comissão (eológica Internacional, instituída em


MOM, tradu2 bem, pelas suas intervenções a constante
preocupação do -apa de lembrar aos cristãos ue, embora o
Zaticano II l3es ten3a recomendado ue estivessem no mundo,
não os levou a ser do mundo#
-or sua ve2, as jovens Igrejas etra5europeias pretendem
tirar partido e vantagem da grande esperança ue era o
Zaticano II# Zerifica5se isso nas duas assembleias maiores,
a ue -aulo ZI assiste: o +impósio -an5*fricano dos ispos,
ue se reali2a em Campala, em 0ul3o de MOM, e a -rimeira
Confer!ncia dos ispos *si%ticos, em "anila, em 1ovembro de

MK6 o do
países acento & colocado
(erceiro "undo nas reformas
reclamam de estrutura
para assegurar ue os
o seu
desenvolvimento# Em "edellin, onde, em +etembro de MON,
igualmente com a presença do -apa, se reali2a o Consel3o das
Confer!ncias Episcopais .atino5*mericanas UCE.*"V, a Igreja
da *m&rica .atina vai muito mais longe: deiando de
considerar como directivas as tend!ncias da refleão
teológica de srcem europeia, elabora, a partir da sua base
popular, a partir de comunidades constituídas essencialmente
por pobres, uma teologia da libertação ue rompe com a
pastoral da elite cara aos europeus# Essa teologia deve
condu2ir, atrav&s de uma pr%tica evang&lica, mesmo pela
oposição 9s estruturas e aos regimes injustos, a uma
conscienciali2ação do povo cristão, oprimido não só
materialmente, mas tamb&m no papel ue deveria ser o seu na
grande comunidade eclesial#
-or isso, o +ínodo romano de MK], consagrado 9
evangeli2ação do mundo contempor\neo, & condu2ido pelas
jovens Igrejas, cujo peso & crescente Uem MK confer!ncias
episcopais representadas, K pertencem ao (erceiro "undoV,
para uma nova leitura do Zaticano II6 e, implicitamente, as
Igrejas europeias ocidentais são convidadas a uma 8revisão
de vida8#
*l&m do mais, o aspecto estrutural da injustiça segregada
pela civili2ação, c3amada pós5industrial, coloca5se no
centro das preocupações da Igreja# E alguns meses antes da
sua morte, na altura da Confer!ncia Internacional sobre
/esarmamento, em Aenebra, -aulo ZI declara: 8*s imensas
despesas com armamento nunca poderão ser justificadas,
enuanto a 3umanidade sofredora continuar a viver na pobre2a
e na fome#8

LOO

Capítulo Z
* IA)E0* 1' .I"I*) /' +C$.' 44I

# ' sorriso ef&mero de 0oão -aulo I UMKNV

' aggiornamento conciliar devia necessariamente alterar a


composição do Col&gio Cardinalício, cuja função & eleger, em
conclave, o +oberano -ontífice# 1a altura do +ínodo de MOM,
alguns bispos tin3am preconi2ado abrir esse col&gio aos
delegados do conjunto do episcopado mundial# Em MKL, -aulo
ZI tamb&m revelou o desejo de introdu2ir nele alguns bispos
não cardeais6 mas, perante a oposição da C;ria, teve de
desistir desse propósito# -ela constituição apostólica

)omano
em -ontifici
fec3ar Eligendo,
o Col&gio de 1ovembro
Eleitoral de MKJ,
aos cardeais contentou5se
com mais de N
anos6 no entanto, ao mesmo tempo, alargava 5o e c3amava para
ele, preferentemente, bispos residenciais, representativos
das confer!ncias episcopais nacionais6 e, sobretudo,
alargava a todos os continentes a internacionali2ação do
+acro Col&gio#
"as, na altura da morte de -aulo ZI, ocorrida em O de *gosto
de MKN, o conclave reuniu5se em )oma, em BJ de *gosto e
compreendeu ue, pela primeira ve2, os cardeais da C;ria não
eram mais do ue L em  eleitores e ue os J] cardeais
não5europeus eram uase tantos como os JK cardeais europeus,
BN dos uais, italianos# * opinião & igualmente sensíve l ao
facto de a maioria dos eleitores não esconder a sua
convicção de ue

LOK

a Igreja, profundamente afectada pelas mudanças do mundo


contempor\neo, precisa de um -apa ue seja ao mesmo tempo um
verdadeiro cristão, um verdadeiro pastor, um 3omem de
conciliação e um bispo ue sinta a colegialidade, pronto a
renunciar a todos os privil&gios de prestígio e a dar
prioridade aos 3umanos mais desprotegidos#
's membros do conclave parecem ter5se posto rapidamente de
acordo sobre a designação de um 3omem ue mel3or
correspondesse a esse perfil, j% ue, no uarto dia de
escrutínio e por uma forte maioria, foi eleito papa o
cardeal *lbino .uciani, patriarca de Zene2a, de OO anos, ue
declara uerer adoptar o nome de 0oão -aulo I, como
lembrança ao mesmo tempo do bom papa 0oão 44III, seu
predecessor em Zene2a, e de -aulo ZI, ue o fi2era cardeal#
E p`de logo de seguida declarar , na altura do *ngelus de BK
de *gosto, a uma enorme multidão concentrada na -raça de +ão
-edro: 81ão ten3o nem a sabedoria de coração do papa 0oão
nem a preparação e a cultura do papa -aulo, mas estou no seu
lugar e, portanto, disposto a servir a Igreja#8 $ma frase
c3eia de 3umildade ue d% o tom ao ue ser% um dos mais
curtos, mas um dos mais significativos pontificados da
3istória contempor\nea#
*lguns compararam 0oão -aulo I a Celestino Z, auele eremita
ue, no fim do s&culo 4III, foi arrancado 9 sua obscuridade
para ser condu2ido ao soberano pontificado, antes ue um
concorrente mais 3%bil devolvesse 9 sua solidão esse santo
3omem, cujos ol3os não se tin3am ainda 3abituado 9 lu2 de
)oma# $ma comparação ecessiva, sim, porue *lbino .uciani
tem uma grande eperi!ncia pastoral e & demasiado puro para

ter carisma
um medo6 mas isso nãoue
particular impede ueo este
lembra papapapa
do 8bom insólito ten3a
0oão8# "as
0oão 44III, embora fugido 9 diplomacia vaticana, era mais
8romano8 do ue 0oão -aulo I ue ingenuamente confessar%: 8*
primeira coisa ue fi2, mal fui eleito -apa, foi desatar a
ler o *nu%rio -ontifício, para con3e cer a organi2ação da
+anta +&#8
' papa .uciani 5 ue ignora, como & evidente, a tiara ue
-aulo ZI, ali%s, abandonara oficialmente em MO] 5 fala,
sorri e graceja Udi2 ue gosta da 8virtude do gracejo8V,
como o faria +ão <rancisco de *ssis: cita publicamente 0;lio
Zerne e

LON

"ontaigne, e l! um poema de amor franc!s diante de jovens


casados# *uando da primeira audi!ncia geral, em O de
+etembro, pede ue se re2e para ue, di2 ele, 8o nosso carro
não ven3a a cair numa cova8 e recomenda aos seus ouvintes
ue sejam 83umildes, 3umildes86 no seu ;ltimo discurso, a BL
de +etembro, em +ão 0oão de .atrão, lembra aos )omanos ue
uer p`r 9 sua disposição as suas 8pobres forças8#
Como dir% uma 3abitante de "arsel3a ao cardeal Etc3egaraG:
80oão -aulo I tin3a alcançado o m%imo da sua santidade6
então, /eus c3amou5o para junto de +i#8 Com efeito, na noite
de BN de +etembro, auele ue teve ainda tempo de pregar 8um
cristianismo uotidiano l;cido e sorridente8, foi levado
pela morte, trinta dias depois da sua eleição# *lguns
avançarão ue algu&m teria acelerado esse fim6 mas a )oma de
MKN não & a do tempo dos órgias# Contudo, & possível ue
alguns não ten3am eagerado ao lamentar a perda de um -apa
ue não era de modo nen3um 8como os outros8, simultaneamente
santo e ing&nuo6 um -apa ue 5 são muitos os ue assim
pensam 5, pelo contr%rio, com o tempo 3averia de acabar por
convencer este mundo, %vido de pure2a e de autenticidade, de
ue o bispo de )oma pode ser menos +umo -ontífice para ser
cada ve2 mais o +ervo dos +ervos de /eus#

B# 0oão -aulo II ou o roc3edo polaco


1ada, por&m, impede ue os  cardeais Uue, pela segunda
ve2 no ano de MKN, se encontram, a ] de 'utubro, em )oma,
para escol3er o sucessor de 0oão -aulo IV ten3am de
enfrentar um difícil problema# Enuanto em *gosto o consenso
fora rapidamente estabelecido sobre a pessoa de *lbino
.uciani, desta ve2 os cardeais italianos mostram5se
divididos: uns, mais 8conservadores8 e mais próimos da

C;ria, apoiam
Auiseppe +iri,a candidatura,
arcebispo deumA&nova6
tanto disfarçada, do cardeal
outros preconi2am a
eleição do antigo braço direito de -aulo ZI, o cardeal
Aiovanni enelli, arcebispo de <lorença# ' bloueio assim
provocado & de tal ordem ue os conclavistas v!em,
imediatamente, a necessidade não de um compromisso,

LOM

mas de uma opção at& aí impens%vel: a designaçã o de um papa


não5italiano ue pusesse fim ao famoso 8privil&gio do
papado8, de a Igreja da It%lia go2ava 3avia ] anos#
Esta opinião mostra5se menos utópica, uando alguns
eleitores influentes como o cardeal 1arciso *rnau, arcebispo
de arcelona, e o cardeal <ran2 nig, arcebispo de Ziena,
propõem um papabile, verdadeiramente aceit%vel na pessoa do
cardeal arol >ojtila, arcebispo de Cracóvia# (rata5se de um
3omem ainda novo 5 nascido em >adoPice, em N de "aio de
MB 5, fisicamente sólido, um desportista ue, antes de
entrar no semin%rio, eerceu uma profissão manual e escreveu
para o teatro6 fala diversas línguas e alia a uma grande
segurança doutrin%ria 5 discípulo do padre Aarrigou5
.agrange, foi professor de "oral 5, uma forte eperi!ncia
pastoral# ispo aos LN anos, arcebispo aos ]], cardeal aos
]K, arol >ojtila, ue foi tamb&m capelão de estudantes,
est% muito a par das eperi!ncias mission%rias francesas do
pós5guerra U"issão de <rança e "issão de -arisV e & um
entusiasta defensor do personalismo cristão proclamado por
Emmanuel "ounier# /urante o Concílio Zaticano II, notado por
v%rias das suas intervenções, sobretudo uando se tratou do
esuema /e Ecclesia, o arcebispo de Cracóvia afirmou5se
partid%rio de uma eclesiologia de comun3ão e de uma Igreja5
-ovo5de5/eus com um grande espaço para o laicado activo #
)epresentou tamb&m um papel muito importante durante o IZ
+ínodo dos ispos em )oma, em MK], tornando5se, a propósito
da evangeli2ação do mundo contempor\neo, defensor das
Igrejas e dos povos do (erceiro "undo#
Embora, em O de 'utubro de MKN, o cardeal >ojtila seja
eleito -apa e, por desejo de continuid ade, adopte o nome de
0oão -aulo II, a iniciativa dos cardeais eleitores deve
considerar5se uma vitória da imaginação sobre a rotina e as
combinações# 1ão só o novo -apa não & italiano, como tamb&m
não pertence ao mundo ocidental6 & um 3omem, um cristão,
desse 8+egundo "undo8 ue & a Europa de .este, cujos
problemas ligados ao marismo aí reinante convergem, em
grande parte, com os das Igrejas do (erceiro "undo#
+eja como for, 0oão -aulo II mostra5se, logo a seguir, um

-apa capa2 de congregar em si o ue a Igreja tem de mais


firme

LK

e de mais antigo, e o ue ela tem de mais 3umano e de mais


din\mico# *li%s, vai passar rapidamente aos actos com o
vigor de um atleta# ' Zaticano, ue ele transforma para o
tornar mais funcional e mais acol3edor a multidões mais
numerosas, não ser% mais ue uma esp&cie de porto de
matrícula ou porto de controlo para um pastor ue respira a
dimensão do "undo# "oderno e tradicional, bem5disposto e
austero, paternal e entusiasta, 0oão -aulo II, apoiando5se
no seu magist&rio secular e no seu carisma particular,
inaugura uma pr%tica in&dita do papado#
-aulo ZI tin3a sido o primeiro papa a sair de It%lia, mas
0oão -aulo II torna5se o globe5trotter do Evangel3o,
reali2ando v%rias ve2es a volta ao mundo, provocando 9 sua
passagem um entusiasmo e um fervor sem precedentes# *
popularidade do -apa mede5se pela intensidade da emoção ue
percorre o mundo com a notícia de um atentado terrorista
Umanobra b;lgara ao serviço do comunismo internacionalWV
feli2mente não mortal, de ue foi vítima em )oma 0oão -aulo
II, em L de "aio de MN#
* partir de 0aneiro de MKM Udeslocação 9 )ep;blica
/ominicana e ao "&icoV, o -apa reali2a todos os anos
algumas longas viagens, pela *m&rica .atina e pela Tfrica
1egra, onde volta por diversas ve2es, como objectivo de sua
predilecção# ' ue não o impede de visitar e admoestar os
vel3os países europeus, muito ricos e muito orgul3osos a
seus ol3os, sem se esuecer da sua uerida -olónia , pólo de
resist!ncia em terra comunista# *ueles ue criticam este
-apa itinerante de uerer concentrar, na sua pessoa, aos
ol3os das populações, toda a realidade eclesial e assim
reforçar, 9 custa do -ovo de /eus, o magist&rio ou, at&, o
monaruismo romano, 0oão -aulo II responde ue essas
viagens5peregrinações são essenciais 9 sua missão
cateu&tica e pastoral# $ma missão ue consiste, por um
lado, em apoiar a promoção dos sectores do mundo mais
desfavorecidos e dar m% consci!ncia aos ricos, aos
indivíduos e aos povos6 e, por outro lado, reforçar a
identidade do povo cristão#
+eja como for, o -apa polaco não vive só para dentro: o
euilíbrio interior ue o caracteri2a manifesta5se no
eterior por uma lin3a de conduta sem rupturas e pela
fidelidade ao apelo lançado

LK
por ele, em BB de 'utubro de MKN, durante a sua 3omilia de
entroni2ação, ue foi escutada por bilião e meio de
telespectadores: 81ão ten3ais medo8 Isto &: 81ão ten3ais
medo do Concílio *bri, abri todas as grandes portas da
3umanidade a Cristo8 ' ue tamb&m significa: 81ão ten3ais
medo do mundo ue Cristo venceu e permanecei fi&is 9 grande
disciplina da Igreja deste Cristo###8 /este modo, aparecem,
logo de seguida, os dois elementos ue irão constituir o
aparente parodoo de 0oão -aulo II: 3omem do Concílio e
tamb&m 3omem da tradição cristã#
* defesa da dignidade do 3omem e instauração de uma
civili2ação de solidariedade baseada na obra da )edenção
Ugarante da autonomia legítima do 3omem e da sua inalien%vel
dignidadeV: eis o tema, constantemente retomado e comentado
por 0oão -aulo II, desde a sua alocução na abertura dos
trabal3os da III Confer!ncia do Episcopado .atino5*mericano,
em -uebla, a BN de 0aneiro de MKM, at& ao seu discurso de
BB de *bril de MM, em -raga, logo a seguir 9 derrocada do
estalinismo, passando ainda pelas suas duas encíclicas
sociais .aborem eercens U] de +etembro de MNV e
+ollícitudo rei socialis UM de <evereiro de MNNV#
* fidelidade de 0oão -aulo II ao Concílio Zaticano II não
con3ece nen3um eclipse# "anifesta 5se sobretudo na altura da
reali2ação da *ssembleia Aeral Etraordin%ria do +ínodo dos
ispos, ue se efectua em )oma, entre BJ de 1ovembro e N de
/e2embro de MNJ, para fa2er o ponto da situação vinte anos
depois do encerrament o do concílio# ' di%logo com as outras
Igrejas e as outras religiões prossegue, sendo
particularmente reforçados dois eios: a aproimação aos
anglicanos, mesmo opondo5se 9 ordenação das mul3eres, aceite
por uma parte dos anglicanos, mas rejeitada por )oma6 o
di%logo judaico5cristão, apesar do caso do Carmelo de
*usc3Pit2, isto &, da manutenção durante muito tempo de um
carmelo no perímetro do campo de etermínio de *usc3Pit2,
lugar 8sagrado8 e simbólico do Holocausto judeu durante a
+egunda Auerra "undial# * visita do -apa 9 +inagoga de )oma,
em L de *bril de MNO, & um acontecimento sem precede ntes,
fortemente carregado de significação# *lguns meses mais
tarde, em BK de 'utubro, reali2a5se a

LKB

reunião cimeira de todas as religiões, marcada por uma bela


oração comum#
Estas atitudes repugnam aos católicos tradicionalistas ue

criticam ocom-apa
alin3ando de condu2ir
as outras o catolicismo
religiões# 9 .efebvre,
"ons# "arcel sua ruína,
o
c3efe da tend!ncia integrista mais importante, volta as
costas 9 Igreja consagrando, por sua conta, em L de 0un3o
de MNN, uatro bispos em c`ne U+uíçaV, sendo ecomunga do,
logo a seguir#
* firme atitude de 0oão -aulo II a respeito dos católicos
ue não recon3ecem o Concílio manifesta5se tamb&m em relação
9ueles ue, abalando as barreiras, parecem fa2er perigar a
ortodoia, o sentido da f& católica e, mesmo, a própria
autoridade do magist&rio romano# ' papa encontra na pessoa
do cardeal 0osep3 )at2inger, designado prefeito da
Congregação para a /outrina da <&, um porta5vo2 muito
vigilante# Em particular, )oma não uer teólogos ue
8perturbam os fi&is com teorias e 3ipóteses ue eles não são
capa2es de julgar8#  assim ue, durante o ano de MKM, tr!s
teólogos católicos 5 o 3oland!s EdPard +c3illebeec, o
franc!s 0acues -o3ier e o suíço Hans ;ng 5 são, em graus
diferentes, c3amados 9 ordem# /espontando graves divisões na
Igreja 3olandesa, considerada particularmente favor%vel ao
acordo da Igreja conciliar e da modernidade, 0oão -aulo II,
em 0aneiro de MN, re;ne em )oma, em sínodo particular, os
bispos dos -aíses aios6 trata5se de um procedimento
insólito ue manifesta a vontade do -apa de controlar o
destino da Igreja#
/esta maneira, a 8verticalidade8 3ier%ruica da Igreja
romana d% a impressão 5 uma impressão cada ve2 mais sentida
5 de perturbar o desenvolvimento de uma 83ori2ontalidade8
ue vai no sentido pretendido pelo Concílio, afirmando ue a
Igreja não & uma +ociedade, mas um -ovo# * ZII *ssembleia
'rdin%ria do +ínodo dos ispos, reali2ada em )oma de  a L
de 'utubro de MNK, incide na 8Zocação e missão dos laicos
na Igreja e no "undo vinte anos depois do Concílio Zaticano
II86 insiste ainda no facto de todos os bapti2ados serem
respons%veis na Igreja# "as, na pr%tica uotidiana,
verifica5se ue, no seio de uma instituição ainda muito
clerical, a dist\ncia e a distinção entre cl&rigos e leigos
continua a ser consider%vel6 mais ainda:

LKL
o papel da mul3er na Igreja permanece 3ipotecado por uma
misogenia de facto ue pretende justificar5se com argumentos
teológicos#
"as 3% um domínio em ue a autoridade romana se compromete a
fundo, impedindo ualuer escapatória: o comportamento
seual dos católicos, padres e leigos# 's numerosos pedidos

de muitos
por padresdepara
um decreto passarem
] de 'utubroaodeestado
MN, laical
a fiarobriga )oma,
as normas
muito mais restritivas na concessão da dispensa do celibato
sacerdotal, um celibato cujo car%cter absoluto & reafirmado
em todas as ocasiões por 0oão -aulo II e pela 3ieraruia#
* eortação apostólica <amiliaris consortio, de BB de
1ovembro de MN, reafirma muito fortemente a doutrina
tradicional da Igreja no ue respeita ao casamento católico:
rejeita a coabitação juvenil Uo c3amado 8casamento 9
eperi!ncia8V, ue entrou pela porta grande nos 3%bitos
contempor\neos6 condenação da união livre e manutenção da
eclusão, para os divorciados recasados, da comun3ão
eucarística# Esta eortação retoma e amplia as conclusões do
+ínodo Episcopal de +etembro de MN, consagrado 9s 8(arefas
da família no mundo moderno8, 9 situação, considerada
irregular, dos divorciados recasados, e 9 condenação de
todas as formas de contracepção e de aborto# Em todas as
circunst\ncias, em todos os pontos do Alobo, 0oão -aulo II
declara solenemente: 8' 3omem e a mul3er não são donos nem
%rbitros da sua capacidade de procriar6 participam na
decisão de /eus para criar#8
"as & certamente neste domínio ue o desacordo se mostra
mais evidente entre os ensinamentos da Igreja e a pr%tica
dos católicos, cujo comportamento seual beneficia da
evolução de uma &tica e de uma ci!ncia m&dica mais adaptada
9s realidades da vida dos 3omens e das mul3eres do fim do
s&culo 44# -odemos mesmo falar de um fosso ue, nesta
mat&ria, separa a opinião comum e a Igreja6 um fosso cuja
import\ncia se revela logo depois da publicação, em  de
"arço de MNK, da Instrução da Congregação )omana para a
/outrina da <&, condenando todos os m&todos de procriação
artificial e sobretudo a fecundação 8in vitro8#

LK]

L# * Igreja em processo perante a modernidadeW

' fim do s&culo 44 e o despertar do s&culo 44I caracteri2am5


se, pelo menos no 'cidente dito cristão, pela 8irresistível
dissolução da coer!ncia de uma visão do "undo8 U)obert
"uc3embledV, 3erdada dos s&culos de cristandade# ' declínio
dos absolutos parece ser um elemento muito importante do
pensamento pós5moderno# Enuanto o ateísmo da &poca moderna,
como o dos 8mestres da suspeita8, de "ar a +artre, tin3a
colocado no lugar de /eus toda a esp&cie de produtos de
substituição 5 a )a2ão, a .iberdade, o Homem### 5, o ateísmo
pós5moderno ignora os absolutos de substituição6 o

individualismo,
<oucaultV a sobre
triunfa 8preocupação consigo e
os idealismos próprio8 U"ic3el
renuncia, sem
escr;pulos, a todos os fundamentos da &tica# Hoje, &5se
tranuilamente ateu ou &5se alegremente materialista# ' 81ão
ten3ais medo8 de 0oão -aulo II ecoa, para muitíssimos,
como: 81ão ten3ais medo 0% não 3% mais nada a esperar8
'bviamente, a Igreja não & nem pode ser insensível a esta
indiferença maciça ue tradu2, particularmente nos países da
vel3a cristandade, da Europa 'cidental e da *m&rica
+etentrional, numa ueda vertical da pr%tica religiosa# "as
as pessoas da Igreja estão divididas 5 profundamente
divididas 5 sobre a resposta a dar 9 grande uestão colocada
aos cristãos por essa indiferença, sobre a atitude a adoptar
face a uma modernidade cujo rosto & tão insólito, uma
modernidade ue & absolutamente inevit%vel e interfere na
vida uotidiana dos 3omens#
*lguns, levados pelo dinamismo em grande parte inaplicado do
Concílio Zaticano II e do seu compromisso pessoal, uereriam
ue, liuidando, de uma ve2 por todas, o mito da sua
incompatibilidade com a )a2ão, a Igreja estabelecesse com
ela uma aliança duradoura# Como escreve -aul Zaladier em
glise en proc&s# Cat3olicisme et soci&t& mo\erne, um livro
ue em MNK fe2 grande sucesso: 8' cristianismo não &
fecundo senão uando aceita a confrontação, o debate com
outra religião# ' ue foi verdade ontem, & verdade 3oje# +e
o cristianismo se encerrar sobre si mesmo, camin3ar5se5%
para a esterili2ação da f& cristã# -elo contr%rio, se
aceitar jogar o jogo do processo com algu&m

LKJ

diferente dele, podemos esperar ue nos encontremos no


começo do cristianismo, dado ue 3% sociedades e continentes
aos uais ainda se não abriu6 outras fecundidades virão#8
-or isso, o eio central do cristianismo não seria o de
governar a sociedade, mas o de suscitar liberdades para ue
elas inventem, numa base &tica, os meios de viver a
eist!ncia 3umana#
-ara c3egar l%, a Igreja romana deve 5 di25se 5 converter5se
radicalmente, fa2er estalar o seu centralismo clerical e
autorit%rio, instaurar no seu seio um verdadeiro di%logo ue
permita ao -ovo cristão assumir o seu papel próprio no
dinamismo da f& e situar5se francamente na perspectiva
eclesiológica conciliar: a do sacerdócio comum dos fi&is 5
3omens e mul3eres 5, um sacerdócio efectivo no interior do
ual se distinga, sem se separar, o sacerdócio ministerial#
Esta posição e esta orientação são fortemente contestadas,

uase combatidas,
considerada pelos cristãos
seculari2adora, ue, aerrada,
portanto uma modernidade
opõem o
8retorno das certe2as8 e uma avaliação menos utópica, menos
temer%ria e menos 3edonista do Concílio Zaticano II6 um
concílio cuja aplicação foi, a seus ol3os, muito marcada por
um liberalismo delet&rio# -ortanto, & necess%rio dar
novamente força 9 (radição eclesial e, portanto, ao
magist&rio papal ue & o garante dessa tradição, o
respons%vel pelo 8depósito sagrado da f&8#
' ue conforta o 8campo8 dos partid%rios de uma
8recentrali2ação8 de uma Igreja ue julgam estar a perder as
suas forças, dispersando5as e abandonando5as ao
subjectivismo, & o facto de o papa 0oão -aulo II Ucujo
prestígio e influ!ncia, apesar das críticas crescentes,
continuarem a ser consider%veisV ser um pregador entusiasta
da 8nova evangeli2a ção8 de uma Europa e de um mundo em vias
de laici2ação# $ma evangeli2ação com novos custos ue ser%
assegurada por uma Igreja ue ter% encontrado uma identidade
forte, 9 imagem do padre ue no ZIII +ínodo dos ispos,
reali2ado em )oma entre L de +etembro e BN de 'utubro de
MM pretendeu arrancar a um profundo desencanto e recolocar
na perspectiva do Concílio de (rento, ue vira no padre 8o
religioso de /eus8#
Então, começa5se a falar, com uma insist!ncia crescente, de
identidade cristã, do testemun3o insubstituível da

LKO

transcend!ncia, da oração colectiva e p;blica, da vida comum


despojada e carism%tica# -or isso, vai5se afirmando ue a
cateuese tem o seu projecto próprio: transmitir a f& na sua
integridade e responder de uma forma clara 9s epectativas
do "undo ue, sem d;vida, oferece resist!ncias mais fortes
do ue outrora 9 interrogação espiritual, mas ue go2a de
uma liberdade maior para viver a sua f& de forma
respons%vel, como o provam, no seu comportamento uotidiano,
numerosos cristãos, padres e leigos, 3omens e mul3eres#
'ra, o -apa não esconde ue, para si, trata5se de responder
e de novamente c3amar a si uma comunidade ue & muito
assediada6 de instaurar a 8era dos bispos8, dos pastor es
investidos de uma autoridade mais tranuila6 de revigorar a
f&6 de dar determinação 9 acção6 de afastar o desencanto e a
incerte2a, e de imprimir um novo impulso salvador# Em "arço
de MNN, perante a *ssembleia -len%ria do +ecretariado para
os 1ão5Crentes, declara: 81o próprio coração das sociedades
mais seculari2adas surge uma nova geração de crentes, %vida
de pontos de refer!ncia &ticos e de valores religiosos

permanentes,
f&: ue comunidades
peuenas procura novas eformas para a concentrações,
grandes epressão da
celebrações festivas, formação bíblica e teológica, grupos
de oração e de refleão#8
* conjuntura parece ser favor%vel a uma operação ue
substitua um cristianismo de resist!ncia pela coabitação e
pelo di%logo com o "undo: em B de *gosto de MNM,
literalmente incitado por uin3entos mil jovens europeus
concentrados em Compostela, 0oão -aulo II lança um apelo
solene a esses cru2ados dos tempos modernos a ue sejam a
vanguarda dos novos evangeli2adores de um continente ue,
sob as apar!ncias de prosperidade, est% na lin3a de perdição
espiritual# *pelo semel3ante & lançado em BB de *bril de
MM, depois de a C3ecoslov%uia se ter desembaraçado, como
a maioria dos países de .este, da ditadura estalinista:
convencido de ue o afundamento da 8utopia vermel3a8 abre um
imenso espaço livre 9 renovação cristã, o -apa polaco
anuncia a reali2ação, em MM, de uma assembleia especial do
+ínodo dos ispos europeus#
 verdade ue não faltam cristãos ue consideram estas
visões como 8son3os8, pois julgam ue se est% a avançar
depressa

LKK

de mais e a antecipar temerariamente um futuro, acerca de


ue nada nos garante ue, depois do malogro da ideologia
marista, escapar% ao materialismo normalmente segregado
pelo capitalismo liberal# E tamb&m & verdade ue, apesar de
tudo, o 8eurocentrismo8 eclesial j% passou, dando lugar 9s
jovens Igrejas dos outros continentes, Igrejas cujas
aspirações e eperi!ncias vão no sentido de uma verdadeira
libertação 3umana e espiritual#
)esumindo: neste final do s&culo 44, a Igreja v!5se
submetida a forças opostas: 9ueles ue não vislumbram a sua
salvação senão na imutabilidade, ou, pelo menos, numa
estabilidade assegurada por uma 3ieraruia obediente, opõem5
se os ue a consideram não como uma sociedade estabe lecida,
mas como uma vasta comunidade, como um -ovo diferente e
vivo, cuja f&, vivificada pela acção no coração do "undo,
pode enfrentar todos os riscos#
E, uma ve2 mais, fala5se de uma Igreja 8em crise8, de uma
crise tanto mais aguda uanto se inscreve numa 3istória
sujeita a uma constante aceleraç ão# -ara o 3istoriador ue,
ol3ando para tr%s, abrange vinte s&culos de um itiner%rio,
contínuo e caótico, essa nova 8crise8 testemun3a de facto
uma vitalidade ue se inscreve na História e est% ligada ao

car%cterdoirredutível
veículo Evangel3o# da vocação da própria Igrej a: ser o

LKN

*p!ndice Complementar
por *rtur )oue de *lmeida

' -*-* /' "$1/'

0oão -aulo II
& o -apa da passagem do mil&nio#
E esta não & uma simples verificação cronológica#
X###Y * sua figura de grande crente
abraçou o mundo e nesse abraço
os 3omens todos, dos v%rios credos e religiões,
descobriram5se amados por /eus#
X###Y -ode não se gostar dele, mas este -apa
não deiou ningu&m indiferente#
1ão aconteceu assim
com o próprio 0esus CristoW
/# 0'+ /* C)$= -'.IC*)-',
Cardeal -atriarca de .isboa no pref%cio de Aeorge >eigel,
(estemun3o de Esperança, a biografia de 0oão -aulo II

# -astor e "estre
' magistral estudo sobre 0oão -aulo II atr%s descrito e
posto em dia at& MM deia5nos pouca margem para alguma
novidade, pois j% ali estão apresentadas as lin3as mais
significativas deste pontificado#
 certo ue a 3istória da Humanidade não se fa2 apenas com
figuras de primeiro planoR mas tamb&m com a contribuição

LN

de todos# 1o caso da Igreja, por&m, ue & animada pelo


Espírito +anto, & indispens%vel o 8-edro vivo8, a uem
Cristo confiou um serviço: 8E tu, uma ve2 convertido,
fortalece os teus irmãos8 U.ucas, BB, LBV#  o ue 3oje
c3amamos o 8serviço petrino8 do -apa#
[uando os futuros 3istoriadores se debruçarem sobre as
personalidades mais influentes do s&culo 44, o nome do papa
0oão -aulo II assumir% um papel preponderante nos seus
registos# -oucos indivíduos eerceram maior impacto 5 não
apenas religioso, mas tamb&m social e moral 5 sobre o mundo
contempor\neo#
0oão -aulo II continua a ser a vo2 moral mais influente do

nosso tempo,
+alvação sempre
proposta pororientada
Cristo# para o sentido apostólico da
"as nem sempre percorre um 8camin3o de rosas8# (amb&m sofre
contestações, 9s ve2es at& da parte de seus irmãos# E a
acusação de ser um 8-apa político8W (alve2 at& seja verdade,
no sentido em ue di2ia +# 0oão osco, fundador da
Congregação +alesiana U-adres +alesianosV, declarado 8-ai e
"estre da 0uventude 8 por 0oão -aulo II em MNN, no primeiro
centen%rio da sua morte: 8* min3a política & a política do
-ai 1osso8
' ue afirmamos como verdade comprova da pela sua vida & ue
ele & um -ontífice com uma grande sensibilidade pastoral,
logo manifestada tr!s meses depois da sua eleição, em
0aneiro de MKM, ao deiar bem claros os grandes propósitos
ue vão nortear o seu pontificado: 80esus Cristo, a Igreja e
o Homem8, aliando a ousadia e a prud!ncia num euilíbrio
admir%vel#

B# * paião das viagens apostólicas

*pesar de muito debilitado na sa;de, após o atentado de


MN, o -apa não desiste da sua paião, de amor e
sofrimento, de retomar as suas viagens apostólicas, logo de
B a M de <evereiro de MNB, 9 1ig&ria, enim, Aabão e
Auin& Euatorial Ua d&cima segundaV, trocando o 8seu8
Zaticano pelo mundo inteiro, como atesta a uase centena de
viagens, ue se revestem sempre de especial significado,
pois com este 8serviço petrino e

LNB

paulino de solicitude por todas as igrejas8 continua um novo


e dilatado ciclo de evangeli2ação, ao encontro do mundo
mergul3ado em problemas morais e sociais e sobretudo 5 como
tem o m%imo cuidado em afirmar 5 ao encontro do Homem#
* ;ltima ue at& agora fe2 Ua nonag&sima uartaV foi 9
)ep;blica da $cr\nia, de BL a BK de 0un3o de B a convite
do -residente .eonid uc3ma e dos bispos católicos Uos
católicos são uma minoria, cerca de seis mil3ões de rito
bi2antino e um mil3ão de rito romano, numa população de
cinuenta mil3õesV apesar do veto do -atriarcado 'rtodoo de
"oscovo# 1uma celebração lit;rgica teve a alegria de
proclamar eatos trinta fil3os da $cr\nia, uer latinos,
uer greco5católicos#
E a próima nonag&sima uinta viagem j% est% agendada para a
ulg%ria, de BL a BK de "aio de BB, coincidindo com a
festa lit;rgica dos +antos irmãos +# Cirilo, monge, e +#

"etódio,
os bispo# -adroeiros
povos eslavos da "or%via,daC3&uia,
Europa, Eslov%uia
ue trabal3aram entre
e Cro%cia#
Como sempre, o -apa ter% encontros com representantes das
comunidades católicas, ortodoa, judia e muçulmana 5 como
sublin3a o comunicado comum do ministro dos 1egócios
Estrangeiros b;lgaro, +olmon -assi e o respons%vel do
protocolo da +ecretaria de Estado do Zaticano, monsen3or
)enato occardo#

L# * paião da evangeli2ação atrav&s da palavra escrita

"as este -apa viajante revelou5se simultaneamente um


apaionado escritor# 's documentos saídos da sua pena
fornecem 9 Igreja uma doutrina renovada, dialogante com os
tempos, a sugerir novos camin3os, não apenas 9 medida do
mundo, mas a eigir dele a mudança e adesão a uma cultura
ue respeite a vida 3umana e a dignidade do 3omem#
Impossível citar aui a prodigiosa actividade liter%ria
pastoral e apostólica repartida por de2enas e centenas de
Cartas *postólicas, Constituições *postólicas, /iscursos Usó
no ano B, no ue se refere ao Arande 0ubileu, 0oão -aulo
II pronunciou LBLV, L Encíclicas,  Eortações
*postólicas, BM "ensagensR ] "otu -róprio e ainda as
Homilias UKB no *no 0ubilarV#

LNL

]# * -aião da $nidade

Com 0oão -aulo II, o doloroso problema da falta de união


entre os cristãos rompeu o universo das 8boas intenções8 e
j% fa2 3oje parte da din\mica pastoral de muitas comunidades
cristãs#
-rotestantes, 'rtodoos e Católicos )omanos vão redu2indo
lenta, mas provavelmente, as dist\ncias do passado,
construindo um futuro ;nico, respeitando as especificidades
de cada um#
Este & tamb&m o -ontífice ue, pela segunda ve2, reuniu na
cidade de *ssis, a B] de 0aneiro de BB, os principais
dirigentes das religiões de todo o "undo numa oração comum
pela -a2, uma prece a diferentes vo2es mas com uma ;nica
intenção: mostrar ue o genuíno espír ito religioso & uma
fonte inesgot%vel de m;tuo respeito e de 3armonia entre os
povos#

J# E muito fica ainda por di2er

1a brevidade ue
par%grafos destesimplesmente
ap!ndice deveríamos ainda porue
indicamos, referir tamb&m
alguns
caracteri2am este longo pontificado, o seto mais longo da
3istória da Igreja#
* partir de O de 'utubro de BB 0oão -aulo II iniciou o
BJ ano do seu pontificado#
aV *s numerosas beatificações e canoni2ações# $ltrapassando
em muito todos os -apas seus antecessores# 0oão -aulo II fe2
delas uma marca do seu pontificado, como ue a di2er ue
todos somos c3amados por /eus a sermos santos# *t& agora
proclamou centenas de santos e perto de um mil3ar de beatos#
-ensemos ue se registaram apenas LB santos e dois mil3ares
de beatos nos ] anos anteriores#
E alguns deles são aut!nticas novidades: o primeiro índio
meicano, +# 0uan /iego Us&culo 4ZIV, as primeiras crianças
com apenas de2 anos de idade, os beatos <rancisc o e 0acinta
"arto, videntes de <%tima6 a primeira beatificação em
conjunto dum casal italiano, .uís eltrame [uatrocc 3i e sua
esposa "aria Corsini,

LN]

a presença de dois dos seus fil3os sacerdotes6 o primeiro


3omem da raça cigana, o m%rtir =eferino Aimene2 "alla,
fu2ilado por causa da sua f&, no início da Auerra Civil de
Espan3a, a B de *gosto de MLO# * 8memória dos m%rtires8 do
s&culo 44 levou5o a dar as 3onras do altar, durante o Arande
0ubileu de B, a mais de O m%rtires da f&#
bV *s Arandes fornadas "undiais da 0uventude# 8/eus deu5me a
graça de amar os jovens8 5 disse ele no dia B de "aio de
MNB, na sua visita 9 $niversidade Católica -ortuguesa# *
próima 4ZII 0ornada j% est% convocada para (oronto UCanad%V
de N a BN de 0ul3o de BB# +er% 8uma nova ocasião para
encontrar Cristo e dar testemun3o da sua presença na
sociedade do nosso tempo e tornar5se construtor da
civili2ação do amor e da verdade8#
cV 8-edir perdão8 noventa e uatro ve2es ' repetido 8pedir
perdão8 a todos aueles a uem a Igreja ofendeu ao longo da
sua 3istória de vinte s&culos & igualmente uma atitude
inovadora e fundamental, ue cont&m a forma e a subst\ncia
dum apelo tão pacífico como incómodo lançado ao mundo no *no
0ubilar de B, como ;nica atitude capa2 de provocar o
8refrescamento da memória8 e permitir aos 3omens de todas as
condições o necess%rio e urgente encontro interior com a -a2
de Cristo# -ara o -apa, esta pa2 & o ponto de partida para a
meta final da -a2, estabelecendo para sempre a 8civili2ação
do amor8#

"as o maior
próprio perdão,
ofereceu ao ue
seu muito comoveu
agressor o mundo,defoi
no atentado L odeue ele
"aio
de MN, o jovem turco "e3met *li *gca, reiterado durante
uma visita ue l3e fe2 em MNL, na cela da prisão de )oma#
dV ' Arande 0ubileu do *no +anto de B, * preparar a
Igreja para entrar purificada no (erceiro "il&nio do
nascimento de 0esus Cristo# Este capítulo ser% bem a síntese
de todo o pontificado de 0oão -aulo II#

LNJ

* 7.I*

* 7.I*, ou seja, o .ivro por ecel!ncia Udo grego, ton


biblionV, & a refer!ncia comum aos judeus e aos cristãos, na
medida em ue o Evangel3o est% enrai2ado na tradição
judaica# -or isso, o conte;do da íblia & diferente segundo
as versões U3ebraica ou gregaV e segundo as confissões
Ucatólica ou protestanteV#
* íblia 3ebraica & constituída por:
* (ora ou -entateuco:
A&nesis, odo, .evítico, livro dos 1;meros, /euteronómio#
's livros dos -rofetas U1ebiimV:
-rimeiros profetas:
.ivro de 0osu&, livro dos 0ui2es, I e II livros de +amuel, I
e II livros dos )eis#
+egundos profetas:
.ivros de Isaías, 0eremias, E2euiel, 'seias, 0oel, *mos,
*bdias, 0onas, "iueias, 1a;m# Habacuc, +ofonias, *geu,
=acarias, "alauias#
's escritos UetubimV:
+almos, livros de 0ob, dos -rov&rbios, de )ut3, C\ntico dos
C\nticos, [o3&let, livro das .amentações, de Ester UsemitaV,
de /aniel Uecepto +usana, ei e o dragãoV, de Esdras, de
1eemias, I e II Crónicas#
* lista destas obras foi definitivamente fiada pelo c\none
de 0amnia no final do s&culo I da nossa era# ' teto de ue
dispomos actualmente & o ue foi vocali2ado e fiado pelos
"assoretas, s%bios judeus da -alestina, entre os s&culos Z e
ZII# (rata5se porta nto de uma versão antiga ue por ve2es &
necess%rio corrigir uando a comparamos com a versão grega,
mais antiga#

LNK

* este respeito, os manuscritos de [umr\n, apesar de


fragmentados, são etremamente preciosos em virtude de nos

darem
* a con3ecer
íblia comoorgani2ada
grega est% era o teto
de datado da &poca romana#
forma diferente e inclui
livros suplementa res Utraduções gregas cujo srcinal semita
se perdeu, ou obras redigidas directamente em grego na
/í%sporaV#
 constituída pelas seguintes obras:
' -entateuco Uid!nticoV#
's livros 3istóricos#
.ivros de 0osu&, dos 0ui2es, I livro dos )eis UI e II livros
de +amuel e I e II livros dos )eisV, -aralipomenes UI e II
CrónicasV, livro de Esdras * UIII EsdrasV, livro de Esdras 
UEsdras  1eemiasV, livros de Ester UgregoV, de 0udite, de
(obias, I5IZ "acabeus#
's livros po&ticos:
+almos, 'des, -rov&rbios, Eclesiastes U[o3&letV, C\ntico dos
C\nticos, livro de 0ob, livro da +abedoria, +iracidas Uou
Eclesi%sticoV, +almos de +alomão#
's livros prof&ticos:
.ivros dos uatro grandes profetas: Isaías, 0eremias,
E2euiel e /aniel, livros dos do2e profetas menores, livro
de aruue, .amentações, carta de 0eremias#
Esta versão grega da íblia & con3ecida pela designação de
+eptante U.44V porue, de acordo com uma tradição relatada
por <ilon e <l%vio 0os&, -tolomeu II <ilad&lfia teria pedido
autori2ação ao grande sacerdote Eleasar para mandar tradu2ir
a íblia para grego# -ara tal, as autoridades de 0erusal&m
teriam enviado setenta e dois s%bios igualmente versados nas
línguas 3ebraicas e gregas6 esses s%bios teriam completado a
sua, tarefa tamb&m em setenta e dois dias, daí o nome
+eptante# (rata5se de uma r&cita maravil3osa destinada a
legitimar uma tradução do teto sagrado# /e facto, a uestão
& muito mais complea6 parece ue se começou por fa2er uma
tradução da (ora, indispens%vel 9 /i%spora egípcia,
particularmente importante6 progressivamente, foram
tradu2idos os profetas e os escritos# 1o s&culo II d# C#
teria aparecido uma outra tradução imputada a Tuila, um
pros&lito grego, e seguidamente mais duas atribuídas a
(eodociano e a +ímaco# Estes tetos diferentes foram
comparados no s&culo III por 'rígenes, s%bio cristão natural
de *leandria: diversos colonos UHeaplosV apresentavam o
teto 3ebraico, a sua tradução para o grego, os uatro
tetos da +eptante, de Tuila, de (eodociano e de +ímaco#
-or outro lado, .uciano, padre cristão da escola eeg&tica
de *ntiouia publica em LB uma crítica ao +eptante#
* íblia grega foi alvo de v%rias traduções para latim
con3ecida por Zetus Tfrica, Zetus ítala, Zetus .atina UZel3a
*fricana, Zel3a Italiana, Zel3a

LNN

.atina###V 5 0erónimo uis colocar 9 disposição dos cristãos


ocidentais de língua latina uma boa versão ue levasse em
conta o teto 3ebraico# Esta tradução ficou con3ecida pelo
nome de Zulgata#
* íblia cristã & constituída pelo *ntigo (estamento, onde
est% incluída a maior parte dos livros da íblia grega
Uecepto o III livro de Esdras, os III e IZ livros dos
"acabeus, as 'des e os +almos de +alomãoV, e pelo 1ovo
(estamento, constituído pelo Evangel3o tetramórfico U"ateus,
"arcos, .ucas, 0oãoV, os *ctos dos *póstolos, as cator2e
epístolas de -aulo UI e II aos Coríntios, aos )omanos, aos
A%latas, I e II aos (essalonicenses, aos Ef&sios, aos
<ilipenses, aos Colossenses, I e II a (imóteo, a (ito, a
<il&mon, aos HebreusV, as sete epístolas con3ecidas por
católicas Utr!s epístolas de 0oão, duas epístolas de -edro,
as epístolas de (iago e de 0udasV e o *pocalipse# Esta lista
dos livros peculiares dos cristãos & elaborada a partir do
final do s&culo II# 's outros escritos são designados por
apócrifos ou pseudo5epigr%ficos#
* íblia da )eforma preferiu retomar o c\none da íblia
3ebraica em ve2 do Zel3o (estamento e suprimiu as epístolas
católicas do 1ovo (estamento# ' c\none da íblia católica
foi definitivamente fiado no concílio de (rento#

LNM

.I+(* /'+ -*-*+

-edro Hispano -ortucalense Uou -edro 0uliãoV


<ilósofo e m&dico, nascido em .isboa, provavelmente em BJ,
fe2 os primeiros estudos na escola catedral olisipo nense, e
depois em -aris, vindo a ser nomeado -apa com o nome de 0oão
44I#
*ctualmente persistem s&rias d;vidas sobre as obras ue
efectivamente escreveu, sendo difícil sustentar ue 5 dada a
amplidão tem%tica e sobretudo atendendo 9 diversidade dos
estilos de escrita 5, seja efectivamente autor de todas as
obras ue normalmente l3e são atribuídas#
1o entanto, a opinião generali2ada atribui a -edro Hispano a
autoria do (ractatus, depois c3amado +ummulae logicales: um
manual pelo ual se procedeu ao ensino da .ógica nas mais
prestigiadas universidades europeias, at& ao s&culo 4ZI,
dando5l3e projecção e import\ncia bastante para figurar na
/ivina Com&dia de /ante# Embora não con3ecesse as mil

transcrições
centenas da obra de con3ecidos
os manuscritos -aulo 'rósio, são obra
da sua mais ede uase
tr!s
outras tantas as edições impressas nos s&culos 4ZI e 4ZII# *
parte teórica mais importante desta obra & constituída pelos
tratados ue dão corpo 9 lógica modernorum e, dentro desta,
9 problem%tica de proprietatibus tenninorum, vulgarmente
con3ecida como 8lógica terminista8 onde se inclui a
distinção entre a significatio e a suppositio, ue apesar de
não ser uma ideia original de -edro Hispano & por ele
magistralmente eposta#
Esta distinção, a par de outras ue estuda no seu tratado,
como as ue se referem 9 copulatio e appelatio, visa o
estudo e correcta compreensão das diversas funções ue as
palavras podem aduirir uando utili2adas como 8termos8 no
seio das proposições, o ue desde logo supõe uma forte
aproimação da lógica 9 gram%tica# * distinção referida
apresenta relação com a dial&ctica de -edro *belardo,
sobretudo uando este distingue a 8significatio

LM

de rebus8 da 8significatio de intellectibus8, aproimando5se


cada um destes conceitos, no 8(ractatus8 do autor portugu!s,
dos de 8significatio8 e 8supositio8 respectivamente,
possuindo o segundo um eminente valor lógico# -ela
8significatio de rebus8 entendia *belardo a 8demonstração8
das coisas em conformidade com a nature2a destas6 j% a
8significatio de intellectibus8 visava orientar a lógica num
sentido mais formal, ou seja, para o domínio dos 8nomes8 e
seus significados, libertos do contacto directo com as
coisas# Esta tem%tica estava por sua ve2 integrada na mais
vasta pol&mica sobre os universais, pois ue *belardo,
uebrando com a tradição realista, não entendeu os
universais como coisas mas como elementos integrantes do
con3ecimento e da linguagem# *l&m do 8(ractatus8 são5l3e
ainda atribuídos, embora com d;vidas, as obras 8+cientia
libri de anima8, 8Commentarium in /e anima8 e uma obra
m&dica intitulada 8(3esaurus pauperum8, para al&m da
8Epositio librorum eati /ionGsii8#
???

-edro U O]V
.ino UOK5KOV
*nacleto UKO5NNV
Clemente I UNN5MKV
Evaristo UMK5JV

*leandre
+isto I UJ5JV
I UJ5BJV
(el&sforo UBJ5LOV
Higino ULO5]V
-io I U]5JJV
*niceto UJJ5OOV
+otero UOO5KJV
Eleut&rio UKJ5NMV
Zítor I UNM5MMV
=eferino UMM5BKV
Calisto UBK5BBBV
$rbano I UBBB5BBJV
-onciano UBBJ5BLJV
*ntero UBLJ5BLOV
<abião UBLO5BJV
Corn&lio UBJ5BJLV
.;cio I UBJL5LJ]V
Est!vão I UBJ]5BJKV
+isto II UBJK5BJNV
/ionísio UBJM5BONV
<&li I UBOM5BK]V
Eutiuiano UBKJ5BNLV
Caio UBNL5BMOV
"arcelino UBMO5L]V

Zacatura de +anta <&

"arcelo I ULN5LMV
Eus&bio ULM5LV
"ilcíades UL5L]V
+ilvestre I UL]5LLJV
"arcos ULLOV
0;lio I ULLK5LJBV
.ib&rio ULJB5LOOV
/\maso I ULOO5LN]V
+irício ULN]5LMMV
*nast%cio I ULMM5]BV
Inoc!ncio I U]B5]KV
=ósimo U]K5]NV
onif%cio I U]N5]BBV
Celestino U]BB5]LBV
+isto III U]LB5]]V
.eão I, o Arande U]]5]OV
Hil%rio U]O5]ONV
+implício U]ON5]OLV
<&li III U]NL5]MBV
Ael%sio U]MB5]MOV

*nast%cio
+ímaco II U]MO5]MNV
U]MN5J]V
Hormisdas UJ]5JBLV

LMB

0oão I UJBL5JBOV
<&li IZ UJBO5JLV
onif%cio II UJL5JLBV
0oão II UJLL5JLJV
*gapito UJLJ5JLOV
+ilv&rio UJLO5JLKV
Zirgílio UJLK5JJJV
-el%gio UJJO5JOV
0oão III UJO5JK]V
enedito I UJKJ5JKMV
-el%gio II UJKM5JMV
Aregório I, o Arande UJM5O]V
+abiniano UO]5OOV
onif%cio III UOKV
onif%cio IZ UON5OJV
/eodato I UOJ5ONV
onif%cio Z UOM5OBJV
Honório UOBJ5OLNV

Zacatura da +anta <&

+everino UO]V
0oão IZ UO]5O]BV
(eodoro I UO]B5O]MV
"artin3o I UO]M5OJJV
Eug!nio I UOJ]5OJKV
Zitaliano UOJK5OKBV
/eodato II UOKB5OKOV
/ono UOKO5OKNV
*gatão UOKN5ONV
.eão II UONB5ONLV
enedito II UON]5ONJV
0oão Z UONJ5ONOV
Cónon UONO5ONKV
+&rgio I UONK5KV
0oão ZI UK5KJV
0oão ZII UKJ5KKV
+isínio UKOV
Constantino UKN5KJV
Aregório II UKJ5KLV
Aregório III UKL5K]V

=acariasII
Est!vão UK]5KJBV
UKJB5KJKV
*driano I UKKB5KMJV
.eão III UKMJ5NOV
Est!vão IZ UNO5NKV
-ascoal UNK5NB]V
Eug!nio II UNB]5NBKV
Zalentim UNBKV
Aregório IZ UNBK5N]]V
+&rgio II UN]]5N]KV
.eão IZ UN]K5]JJV
enedito III UNJJ5NJNV
1icolau I UNLM5NOKV
*driano II UNOK5NKBV
0oão ZIII UNKB5NNBV
"ariano I UNNB5NN]V
*driano III UNN]5NNJV
Est!vão Z UNNJ5NMV
<ormoso UNM5NMOV
onif%cio ZI UNMOV
Est!vão ZI UNMO5NMKV
)omano UNMKV
(eodoro II UNMKV
0oão I4 UNMN5MV
enedito IZ UM5MLV
.eão Z UMLV
+&rgio III UM]5MV
*nast%cio III UM5MLV
.ando UML5M]V
0oão 4 UM]5MBNV
.eão ZI UMBNV
Est!vão ZII UMBN5MLV
0oão 4I UML5MLLV
.eão ZII UMLO5MLMV
Est!vão ZIII UMLM5M]BV
"ariano II UM]B5M]OV
*gapito II UM]O5MJJV
0oão 4II UMJJ5MO]V
.eão ZIII UMOL5MOJV
Xenedito Z, anti5papa UMO]5MOOVY
0oão 4III UMOJ5MKBV
enedito ZI UMKL5MK]V
enedito ZII UMK]5MNLV
0oão 4IZ UMNL5MN]V
0oão 4Z UMNJ5MMOV
Aregório Z UMMO5MMMV
X0oão 4ZI, anti5papa UMMK5MMNVY

+ilvestre II UMMM5LV
LML

0oão 4ZII ULV


0oão 4ZIII U]5MV
+&rgio IZ UM5BV
enedito ZIII UB5B]V
0oão 4I4 UB]5LBV
enedito I4 ULB5]]V
+ilvestre III U]JV
Aregório U]J5]OV
Clemente II U]O5]KV
enedito I4, novamente U]K5]NV
/\maso II U]NV
+# .eão I4 U]M5J]V
Zítor II UJJ5JKV
Est!vão I4 UJK5JNV
Xenedito 4, antipapa UJN5OVY
1icolau II UJM5OV
*leandre II UO5KLV
Aregório ZII UKL5NJV
Zítor III UNO5NKV
$rbano II UNN5MMV
-ascoal II UMM5NV
Ael%sio II UN5MV
Calisto II UM5B]V
Honório II UB]5LV
Inoc!ncio II UL5]LV
Celestino II U]L5]]V
.;cio U]]5]JV
Eug!nio III U]J5JLV
*nast%cio IZ UJL5J]V
*driano IZ UJ]5JMV
*leandre III UJM5NV
.;cio III UN5NJV
$rbano III UNJ5NKV
Aregório ZIII UNKV
Clemente III UNK5MV
Celestino III UM5M]V
Inoc!ncio III UMN5BOV
Honório III UBO5BBKV
Aregório I4 UBBK5B]V
Celestino IZ UB]V

Zacatura da +anta <&

Inoc!ncio IZ UBJ]5BOV
*leandre UB]L5BJ]V
$rbano IZ UBO5BO]V
Clemente IZ UBOJ5BONV

Zacatura da +anta <&

Aregório 4 UBK5BKOV
Inoc!ncio Z UBKOV
*driano Z UBKOV
0oão 44I UBKO5BKKV
1icolau III UBKK5BNV
"artin3o IZ UBN5BNJV
Honório IZ UBNJ5BNKV
1icolau IZ UBNN5BMV
Celestino Z UBM]V
onif%cio ZIII UBM]5LLV
enedito 4I ULL5L]V
Clemente Z ULJ5L]V

Zacatura da +anta <&

0oão 44II ULO5LL]V


enedito 4II ULL]5L]BV
Clemente ZI UL]B5LJBV
Inoc!ncio ZI ULJB5LOBV
$rbano Z ULOB5LKV
Aregório 4I ULK5LKNV

Arande Cisma do 'cidente

-apas romanos
$rbano ZI ULKN5LNMV
onif%cio I4 ULNM5]]V
Inoc!ncio ZII U]]5]OV
Aregório 4II U]O5]JV

-apas de *vin3ão
Clemente ZII ULKN5]M]V
enedito 4III UL]M5]BLV
-apas de -isa
*leandre Z U]M5]V
0oão 44III U]5]JV

's papas depois do Arande Cisma


"artin3o Z U]K5]LV

Eug!nio IZ U]L5]]KV
LM]

1icolau Z U]]K5]JJV
Calisto III U]JJ5]JNV
-io II U]JN5]O]V
-aulo II U]O]5]KV
+isto IZ U]K5]N]V
Inoc!ncio ZIII U]N]5]MBV
*leandre ZI U]MB5JLV
-io III UJLV
0;lio II UJJ5JLV
.eão 4 UJL5JBV
*driano ZI UJBB5JBLV
Clemente ZII UJBL5JL]V
-aulo III UJL]5J]MV
0;lio III UJJ5JJJV
"arcelo II UJJJV
-aulo IZ UJJJ5JJMV
-io IZ UJJM5JOJV
-io Z UJOO5JKBV
Aregório 4III UJKB5JNJV
+isto Z UJNJ5JMV
$rbano ZII UJMV
Aregório 4IZ UJM5JMV
Inoc!ncio I4 UJMV
Clemente ZIII UJMB5OJV
.eão 4I UOJV
-aulo Z UOJ5OBV
Aregório 4Z UOB5OBLV
$rbano ZIII UOBL5O]]V
Inoc!ncio 4 UO]]5OJJV
*leandre ZII UOJJ5OOKV
Clemente I4 UOOK5OOMV
Clemente 4 UOK5OKOV
Inoc!ncio 4I UOKO5ONMV
*leandre ZIII UONM5OMV
Inoc!ncio 4II UOM5KV
Clemente 4I UK5KBV
Inoc!ncio 4III UKB5KB]V
enedito 4III UKB]5KLV
Clemente 4II UKL5K]V
enedito 4IZ UK]5KJNV
Clemente 4IZ UKOM5KK]V
-io ZI UKKJ5KMMV
-io ZII UN5NBLV

.eãoZIII
-io 4II UNBM5NLV
UNBL5NBMV
Aregório 4ZI UNL5N]OV
-io I4 UN]O5NKNV
.eão 4III UNKN5MLV
-io 4 UML5M]V
enedito 4Z UMBB5MLMV
-io 4I UMBB5MLMV
-io 4II UMLM5MJNV
0oão 44III UMJN5MOLV
-aulo ZI UMOL5MKNV
0oão -aulo I UMKNV
0oão -aulo II, eleito em MKN

LMJ

A.'++T)I'

*cumulação# -luralidade de dignidades eRou de cargos


eclesi%sticos confiados a uma só pessoa#
*dopcionismo# Heresia segundo a ual Cristo não & o fil3o
natural de /eus, mas apenas seu fil3o adoptivo#
*lbigense# Zide "aniueísmo#
*nabaptismo# (entativa de reforma do cristianismo
caracteri2ada como uma ambição religiosa sem conte;do muito
definido e associada a certas correntes milenaristas Uvide
"ilenarismoV# * recusa do baptismo das crianças, substituído
pelo dos adultos, eplica a designação atribuída a este
movimento religioso nascido no s&culo 4ZI#
*nacoresia ou retiro# /esigna o acto de deiar a sociedade
dos 3omens para viver no deserto# * anacoresia eistiu desde
sempre no Egipto, uer para fugir ao fisco, uer 9
autoridade# /esde a perseguição de Zal&rio UBJNV ue os
cristãos se retiram para as 2onas desertas do Egipto para
levarem uma vida solit%ria e este fenómeno estender5se5ia
rapidamente ao deserto de Aa2a e 9 -alestina#
*nglicanismo# Conjunto das Igrejas autónomas ue se
afastaram da Igreja de Inglaterra 5 ela própria constituída
no s&culo 4ZI a partir do cisma de Henriue ZIII 5 mas ue
permanecem em comun3ão com ela#
*ftardocetismo# /outrina de 0;lio de Halicarnasse Us&culo
ZIV segundo a ual o corpo de Cristo não se teria decomposto
após a morte#
*rianismo# /outrina pregada pelo padre Trio e segundo a ual
Cristo & uma criatura subordinada ao -ai# *pesar de
condenado pelo Concílio de 1iceia UBBJV, o arianismo
difunde5se largamente pelo 'riente#  definitivamente

proibido por
epande5o (eodósio#
junto ' padre
dos b%rbaros de >ulfila, apóstol
tal maneira ueo odos Aodos,
conflito
surge no 'cidente depois das Invasões#

LMK

*ruidi%cono# *uiliar do bispo encarregado, a partir do


s&culo 4, de uma circunscrição c3amada 8aruidiaconado8#
*utoc&fala# Igreja cuja 3ieraruia, autónoma, não depende do
-apa nem de um patriarca estrangeiro#  o caso de algumas
igrejas ortodoas ue elegem o seu próprio patriarca#
aptismo# /outrina próima do anabaptismo e segundo a ual
só o baptismo dos crentes & importante#
enefício# Honor%rios de um cargo eclesi%stico e resultante
dos bens pertencentes 9 igreja Uimóveis, sen3orias,
dí2imasV# Este termo tamb&m designa o cargo propriamente
dito#
ogomília# Zide "aniueísmo#
Carim%tico# ' "ovimento Carim%tico & uma corrente espiritual
ue ealta a oração individual ou colectiva, a import\ncia
dos dons espirituais, a partil3a dos bens e est% na srcem
de novas comunidades cristãs no s&culo 44#
C%taro# Zide "aniueísmo#
Catecumenato Udo grego, 8fa2er soar8, 8instruir de viva
vo28V# 'rgani2ação eclesi%stica ue se destina a ensinar os
candidatos ao baptismo# 'riginalmente era muito breve6 esta
fase eperimental foi alargada para dois anos e,
posteriormente, para tr!s anos#
Cat3olicos# (ítulo ostentado pelos c3efes de algumas Igrejas
orientais#
Catolicosato# Circunscrição eclesi%stica administrada por um
cat3olicos#
Ceia# * ;ltima refeição de 0esus com os do2e apóstolos,
comemorada na comunidade primitiva pela 8partil3a do pão8
durante a refeição#
Cenobitismo# 'rgani2ação comunit%ria da vida asc&tica ue
foi fundada por -acómio, no Egipto, no s&culo IZ,
desenvolvendo5se sob v%rias formas tanto no Egipto como na
-alestina, na Capadócia e depois no 'cidente#
Cesaropapismo# +istema político pelo ual o imperador
pretende eercer a sua autoridade absolut a tanto no domínio
espiritual como no domínio temporal#
Cisma# Cisão no interior da Igreja, normalmente em relação 9
autoridade do papa#
Comenda# $sufruto de um benefício eclesi%stico, sobretudo de
uma abadia, sem eercer responsabilidades e sem a obrigação
de resid!ncia#

Conclave#
dos *pós
cardeais BK],
para foi instituída
a eleição uma assembleia fec3ada
do novo -apa#
Congregacionalismo# (ese teológica pela ual a comunidade
local dos crentes & a mais alta autoridade eclesi%stica#
Constituição apostólica# (ratado ue cont&m uma decisão
pontifical importante em relação 9 f&, aos costumes ou 9
administração da Igreja católica#
Constituição dogm%tica# /isposições solenes ue impõem um
ponto doutrin%rio da Igreja católica#
Consubstanciação# Zide Eucaristia#
C;ria# Conjunto dos órgãos do governo pontifical#

LMN

/ecreto conciliar# .ei disciplinar imposta por um concílio#


/iaconisa# Zirgem ou vi;va ue, durante os primeiros s&culos
da Igreja, se dedicava 9 missão de assist!ncia caridosa ou 9
cateuese# -osteriormente no s&culo 4I4 o protestantismo
restaurada esta função#
/i%cono# (ermo ue serve para designar um servidor na
comunidade de 0erusal&m e & aplicado aos judeus da di%spora
ue tratam dos judeus 3elenistas convertidos#
-osteriormente, os di%conos são depois postos 9 eperi!ncia
nas diversas comunidades cristãs e dedicam5se sobretudo 9s
obras de caridade#
/i%spora# (ermo ue serve para designar os judeus ue vivem
8dispersos8, ou seja, fora da -alestina# 1o seu sentido mais
restrito, só eiste di%spora em relação a um Estado judaico,
caso contr%rio, trata5se de galout UeílioV#
/iatessarão Udo grego, 8um atrav&s de uatro8V#  assim ue
se designa a adaptação feita por (atiano no s&culo II dos
uatro Evangel3os canónicos#
/ocetimo# Heresia segundo a ual Cristo apenas tin3a a
apar!ncia de 3omem e, por isso, não teria sofrido na -aião#
/onatismo# Heresia origin%ria do 1orte de Tfrica em
conseu!ncia da perseguição de /iocleciano# * comunidade
donatista torna5se rapidamente muito poderosa6 em alguns
casos, ela aduire o aspecto de um movimento de
reivindicação social# ' seu maior advers%rio & 'ptato de
"ilve#
/onativo de Constantino# <alsidade criada na &poca
carolíngia em nome da ual o papado pretendia eercer
direitos aduiridos sobre a It%lia#
/ragonadas# -erseguições eercidas no reinado de .uís 4IZ
contra os protestantes do +ul de <rança, depois do Edicto de
1antes, e cujos principais eecutores eram os dragões reais#
Ecumenismo# "ovimento junto dos cristãos de todas as

confissõesou eespiritual
teológica ue pretende promover
entre as Igrejas# uma reaproimação
Encíclica# Carta dirigida pelo -apa 9 cristandade e
designada pelas primeiras palavras em latim do teto ue a
compõe#
Encratismo Udo grego, 8autocontrolo8V# /esigna os movimentos
ue advogam um ascetismo ecessivo, rejeitando o casamento
sob o preteto da imin!ncia do 0uí2o <inal#
Episcopalismo# (ese teológica segundo a ual o conjunto dos
bispos possui um poder superior ao do -apa# * Igreja
episcopaliana derivou do anglicanísmo#
Eremitismo Udo grego, 8deserto8V 5 /esigna a acção de uma
pessoa se retirar para a solidão do deserto para orar e
fa2er penit!ncia#
Eucaristia# +acramento ue cont&m o corpo e o sangue de
0esus Cristo sob a esp&cie ou apar!ncia do pão e do vin3o#
-ara os católicos, na eucaristia eiste uma presença real do
corpo e do sangue de Cristo com transubstanciação 5 a
transformação da subst\ncia do pão e do vin3o na subst\ncia
do corpo e do sangue de Cristo 56 e não apenas
consubstanciação

LMM

5 a eist!ncia da subst\ncia do pão e do vin3o ao lado da do


corpo e do sangue como sucede no dogma luterano# -ara os
calvinistas só eiste a presença espiritual#
<ariseus# "embros de uma seita judaica nascida no s&culo II
a#C6 ue atribuíam grande import\ncia ao coment%rio da
Escritura# Esta seita forma doutores de renome e como são
respeitados pela sua moral rigorosa, os fariseus são
sobretudo ouvidos pelas classes mais desfavorecidas# *pós o
encerramento do (emplo e da proibição da liturgia, o
judaísmo sobreviver% na sua forma farisaica#
<ranco5maçonaria# *ssociação de pessoas de forma secreta ue
professam os princípios da fraternidade, recon3ecendo5se
entre si atrav&s de símbolos e de emblemas e dividindo5se em
8lojas8# * franco5maçonaria moderna surgiu na Arã5retan3a
no fim do s&culo 4ZII# 1o s&culo 4I4, a franco5maçonaria
francesa & progressivamente sedu2ida pelos ideais
republicanos e sobretudo pelos nacionalistas#
Aalicanismo# (eoria segundo a ual o papado deveria dar 9
Igreja de <rança alguma independ!ncia, ecepto no domínio
espiritual#
Anose# Este termo designa o 8con3ecimento8 no sentido
filosófico5religioso# Esta tentativa de tipo místico
epande5se sobretudo para o 'riente grego juntamente com os

escritos apocalípticos
recebeu alguma judaicos * dosgnose
influ!ncia# uais apresenta
provavelmente
a
particularidade de se apoiar em cosmologias tão variadas
uanto fantasiosas#
Heresia Udo grego, 8escol3er8V# /esigna as doutrinas ue
8fi2eram uma escol3a8 para se constituírem em seita
independente da Igreja#
Iconoclasma# /outrina ue condena o culto das imagens#
Iconódulo# *depto do culto das imagens#
Idolotitas# Carne dos animais sacrificados nos templos
pagãos#
Inculturação# Este termo, aplicado no cristianismo, designa
a encarnação desta religião numa determinada atmosfera
cultural transformando essa cultura atrav&s da alteração dos
seus objectivos mas sem considerar a sua personalidade#
Indulg!ncias# )emissão, total ou parcial, da pena do
-urgatório aplicada em conseu!ncia dos pecados perdoados#
-ara gan3ar as indulg!ncias, o fiel tem de reali2ar as obras
prescritas Uorações especiais, confissão, comun3ãoV#
Inuisição# (ribunal permanente encarregado pelo papado,
desde o s&culo 4III, para combater as 3eresias atrav&s dos
processos inuisitoriais em ue a acção & eecutada por um
acusador#
Intercomun3ão# -r%tica pela ual os fi&is das Igrejas
cristãs separadas se re;nem para participarem na sagrada
Ceia#
Interdição# +entença eclesi%stica pela ual as cerimónias
religiosas são interrompidas e a celebração dos sacramentos
suspensa, ecepto em casos de urg!ncia#
0acobitas# "embros da Igreja síria ue recusou a condenação
do nestorianismo por 0ustiniano#

]

erigma Udo grego, 8arauto8V # /esigna o an;ncio da oa 1ova


cujo elemento central proclama ue 0esus foi crucificado sob
-`ncio -ilatos e ealtado pelo -ai atrav&s da )essurreição#
8ulturampf8# Conflito entre o Estado prussiano e a Igreja
católica em ue ismarc ueria submeter todas as
actividades da Igreja ao controlo do Estado UNK5NNKV#
.apsi Udo latim, 8desli2ar8V# /esigna os cristãos ue se
tornaram apóstatas durante as perseguições mas ue depois
solicitaram a sua reintegração na Igreja# Em Tfrica, a
controv&rsia sobre a reintegração dos lapsi criou o cisma
novaciano, após a perseguição de /&cio, e o cisma donatista,
após a perseguição de /iocleciano#
.egado# )epresentante do -apa em missão oficial ou

particular#
"aniueísmo# )eligião dualista de srcem iraniana, atribuída
a "ani no s&culo III, segundo a ual a Criação & disputada
entre um deus do em e um deus do "al# <oi a fonte de
inspiração de muitas 3eresias cristãs Upaulinos, bogomilos,
c%taros ou albigensesV#
"artírio Udo grego, 8testemun3ar8V# /esigna o sacrifício das
testemun3as por ecel!ncia ue pagaram com as suas vidas a
dedicação 9 f& cristã#
"eluita# Cristão sob domínio muçulmano ue se mant&m fiel 9
autoridade espiritual de Constantinopla, antes da conuista
desta cidade pelos (urcos em ]JL#
"essias Udo 3ebraico, 8ungido8V# /esigna os reis de Israel
ue recebiam uma unção de óleo uando eram coroados # *pós o
desaparecimento da monaruia, designa a vinda de um +alvador
segundo as diversas orientações do judaísmo#
"etodismo# *plicado desde o s&culo 4ZI a todas as pr%ticas
de um 8m&todo8 de piedade e de santidade, a palavra est%
actualmente reservada para o movimento religioso criado na
Inglaterra do s&culo 4ZIII por 0o3n >esleG, o ual estava
desejoso por provocar um 8despertar8 religioso#
"etropolita# Cargo de c3efia de uma província eclesi%stica e
sinónimo de arcebispo a partir do s&culo I4#
"ilenarismo# /outrina segundo a ual Cristo ir% regressar 9
(erra para a governar durante mil anos#
"oç%rabe# Cristão ue vive sob o domínio dos "uçulmanos em
Espan3a#
"onofisismo# /outrina pela ual Cristo apenas assumiu uma
;nica nature2a unindo a 3umanidade 9 divindade# *ssim, esta
teoria opõe5se portanto 9 definição do Concílio de
Calcedónia U]JV sobre as duas nature2as de Cristo#
"onoteísmo# <& eclusiva num ;nico /eus e as tr!s grandes
religiões mono5teístas são o judaísmo, o cristianismo e o
islão#
"omotelismo# <orma atenuada de monofisismo Uvide esta
palavraV#
1estorianismo# /outrina de 1estório Us&culo vV segundo a
ual as nature2as divina e 3umana se encontram unidas em
Cristo mas apenas pela vontade#
]

1icolaísmo# Incontin!ncia eclesi%stica uer sob a forma de


casamento ou de concubinato# /erivação do nome do arcebispo
1icolau Us&culo IV ue teria tomado partido contra o
celibato dos padres#
-aracleto Udo grego, 8defensor8V# /esigna o Espírito +anto,

segundo <esta
-%scoa# o Evangel3o deem
judaica +ão 0oão#
comemoração da fuga do Egipto e ue
coincide com a festa da ressurreição de Cristo celebrada
pelos cristãos#
-atriarca# (ítulo atribuído ao c3efe da Igreja grega, aos
dirigentes das diversas comunidades cism%ticas, aos bispos
de *ntiouia, 0erusal&m e *leandria, e, posteriormente, a
outras c;rias UZene2a, .isboa, etcV#
-atripassianismo# Heresia ue nega a realidade da nature2a
3umana de Cristo e afirma ue foi o próprio -ai uem sofreu
a -aião#
-a2 de /eus# -a2 instituída pela Igreja nos s&culos 4I e 4II
para subtrair 9s viol!ncias guerreiras algumas categorias de
pessoas ou de bens#
-entecostes# <esta judaica celebrada cinuenta dias depois
da -%scoa para comemorar a entrega da .ei, ou *liança, no
+inai# -ara os cristãos, esta festa coincide com a descida
do Espírito +anto#
-ietismo# "ovimento no interior do protestantismo ue
acentua sobretudo a eperi!ncia religiosa individual#
-resbítero Udo grego, 8antigo86 srcem da palavra 8padre8V #
Empregada no plural, esta palavra designa colectivamen te os
respons%veis das antigas comunidades cristãs e, a partir do
s&culo II, o presbítero & um ministro ordenado ue depende
directamente do seu bispo# ' conjunto dos presbíteros ue
dependem do mesmo bispo forma o 8presbit&rio8#
-resbiteriano# *depto do prebisterianismo, de inspiração
calvinista, ue confia o governo da Igreja a um organismo
misto, ou 8presbit&rio8, constituído por pastores e laicos#
-urgatório# -eríodo probatório para aueles ue, apesar de
não terem sido escol3idos, tamb&m não merecem o Inferno#
-uritanos# "embros da Igreja de Inglaterra ue pretendem
obrig%5la a adoptar as estruturas do calvinismo# '
puritanismo est% na origem de v%rias confissões como a
presbiteriana, a baptista, a congregacionista, etc#
8[uaers8# "embros da seita protestante inglesa con3ecida
por 8+ociedade dos *migos8, foi fundada em O]K por Aeorge
<o e implantou5se na *m&rica do 1orte#
[uartodecimais# 1ome atribuído nos primeiros s&culos do
cristianismo 9s comunidades da Tsia ue, em relação 9
cronologia do Evangel3o de 0oão, fiam a -%scoa para o dia
] de nisan, ou seja, no ] dia da .ua seguinte ao
euinóio da -rimavera, independentemente do dia da semana e
as outras Igrejas fiaram esse dia no /omingo#
[uietismo Udo latim, 8sossego8V# Este termo designa, as
ideias de um místico espan3ol do s&culo 4ZIII segundo as
uais & preciso dar muito menos import\ncia 9s pr%ticas e 9s

obras do ue 9 contemplação do 8amor puro8 de /eus#


]B

)eduções# 1os s&culos 4ZII e 4ZIII no -araguai, as


comunidades onde vivem os índios convertidos ao cristianismo
reagrupados sob a autoridade de alguns padres jesuítas#
)evelação# "anife stação do Espírito e da -alavra de /eus
atrav&s da íblia e da (radição#
)evivalismos U)evivaisV# "ovimentos protestantes ue
procuram provocar um despertar espiritual nas Igrejas#
+acerdócio# <unção do padre#
+acramentos# +ímbolos sensíveis instituídos por 0esus Cristo
para produ2irem a graça divina e santificarem as almas# -ara
os católicos, são sete os sacramentos: baptismo, crisma,
penit!ncia Uou confissãoV, eucaristia Uou comun3ãoV,
etremaunção, ordem e matrimónio#
+acro Col&gio# Conjunto dos cardeais#
+aduceus# "embros de uma seita judaica recrutados sobretud o
entre as grandes famílias sacerdotais# .igados por definição
9 liturgia oficial, desaparecem, como partido, após a
destruição do (emplo#
+eculari2ação# Confiscação dos bens da Igreja pelo poder
laico#
+imonia# -ecado atribuído a +imão, o "%gico, o ual tin3a
oferecido din3eiro ao apóstolo -edro para ue este l3e
revelasse os seus dons carism%ticos# * partir dessa altura
este termo passou a designar o tr%fego associado aos
sacramentos ou 9s coisas espirituais#
+in&drio# (ribunal judaico composto por anciões e escribas
cuja srcem & mal con3ecida#
+ínodo# *ssembleia diocesana com o bispo ou assembleia dos
bispos juntos com o -apa#
+tarc3esivo# Corrente da Igreja ortodoa russa ue d% uma
import\ncia especial 9s funções do staret2 Umonge cuja
sapi!ncia e santidade são notóriasV#
+ubordinacionismo# Heresia origin%ria da teologia de
'rígenes a ual ensina ue a pessoa do <il3o não & igual,
mas subordinada, 9 do -ai#
+uperstição# Esta palavra designa, no vocabul%rio das
autoridades eclesi%sticas, todas as crenças ou pr%ticas ue
se afastem, mesmo ue muito pouco, do cristianismo tal como
& ensinado e definido#
(eocracia# -oder supremo eercido no plano temporal em nome
de /eus, geralmente por membros do clero#
(radição# )evelação da palavra de /eus por outras formas
al&m da íblia, ou seja, atrav&s dos c\nones dos concílios ,

os escritos
orações dos doutor es e dos autore s eclesi%sticos, as
lit;rgícas#
(ransubstanciação# Zide Eucaristia#
(r&guas de /eus# <oram instituídas pela Igreja nos s&culos
4I e 4II para proibir os actos de beliger\ncia tanto em
certos dias da semana como em certas alturas do ano#
$ltramontanismo# Conjunto das doutrinas e das atitudes
favor%veis 9 prima2ia romana nos assuntos da Igreja
católica#

]L

$niatas# <i&is das Igrejas de ritos orientais ue estão em


comun3ão com a Igreja de )oma#
Zaldenses# /iscípulos de Zaldo Ufins do s&culo 4IIV ue
procuram o ideal evang&lico da pobre2a6 uns integraram5se na
Igreja e os outros foram perseguidos pela Inuisição#
=elotas# +eita judaica a ue 0udas o Aalileu afirma
pertencer, recusa o imposto ao imperador e estimula um
messianismo político cujo objectivo & a revolta armada
contra )oma#

]]

I.I'A)*<I* C.*++I<IC*/* E C'"E1(*/*

Esta bibliografia, acessível ao grande p;blico, &


constituída por obras escritas ou tradu2idas em franc!s6
eceptuando os cl%ssicos insubstituíveis, trata5se de
autores recentes, escol3idos apenas pela sua import\ncia
científica ou pedagógica# * maioria destas obras apresenta,
por sua ve2, uma bibliografia especiali2ada, a ue o leitor,
desejoso de aprofundar as suas pesuisas, poder% recorrer
UV#

'bras gerais
-odemos sempre consultar, mas com alguma precaução, tendo em
conta os r%pidos progressos da 3istoriografia religiosa, os
B] volumes da Histoire de lglise, dita de <lic3e e
"artin Uloud et AaG, MLJ e segs#V, substituída, nas
edições /escl&e, por uma Histoire du C3ristianisme em ]
vols# Ucoeditada com a <aGardV, dirigida por C3arles -i&tri,
*ndr& Zauc3e2, "arc Z&nard e 0ean5"arie "aGeur# ' seu \mbito
ser% mais alargado do ue a da 1ouvelle Histoire de
lDglise Ud# du +euil, MOL5MKJV, dirigida por .# 0#
)ogier, )oger *ubert, /avid noPles, cujos J vols#
constituem uma fonte sempre abundante#

Embora muito
lglise envel3ecidos,
du C3rist, os N )ops
de /aniel vols# da Histoire
U<aGard, de
M]N5MOV
continuam a ser respeit%veis, tendo sido o autor, depois da
+egunda Auerra "undia l, um pioneiro no domínio da grande
vulgari2ação#
$m desejo pedagógico, sobretudo pela utili2ação de tetos
esclarecedores e significativos, observa5se na Histoire de
lglise par elle5m!me U<aGard,

1ota : Como esta bibliografia incide sobre obras, algumas


das uais j% tradu2idas em -ortugal, sempre ue possív el
indicaremos a fonte da edição portuguesa ou faremos
refer!ncia a outras de autores portugueses relacionadas com
a História da Igreja# X1# do (#Y

]J

MKNV, por 0acues .oeP, "ic3el "eslin, AuG edouelle e


-ierre -ierrard6 8lDglise et les 3ommes8 U/roguet5*rdant,
<aGard, MN] e segs#V de 0# 1# /umont e colaboradores6 8-our
lire l3istoire de lDglise8 UCerf, B vols#, MN]5MNOV, de
0ean CombG6 8lglise dans lD3istoire des 3ommes8 U/roguet e
*rdant, B vols#, MNB5MN]V, de -aul C3ristop3e# ' recurso,
sempre ;til, 9 cronologia, caracteri2 a, sobretudo, o 8Auide
illustr& de lD3istoire du c3ristianisme8 UCenturion, MNBV,
de C3arles E3linger e colaboradores6 8Histoire de lglise#
-anorama et c3ronologie8 U/escl&e, MN]V, de )# <rlic36
8.es grandes dates du c3ristianisme8 U.arousse, MNMV UV,
de <rançois .ebrum e colaboradores# * Igreja & dotada de
instituições6 tamb&m elas t!m a sua 3istória ue progride,
lenta mas seguramente, graças aos J tomos UprevistosV de
8Histoire du droit e des institutions de lglise en
'ccidente8 U+ireG, MJJ5MKJ6 Cujas, depois de MKJV, ue &
uma obra científica e monumental#
-ontos de vista mais subjectivos, mas sempre novos, podem
ver5se em 8Histoire v&cue du peuple c3r&tien8 U-rivat, B
vols#, MKMV, dirigida por 0ean /elumeau6 8.es Combats de
/ieu dans lD3istoire des 3ommes8 UEd# 'uvrires, MNV, de
)obert -ousseur e 0acues (eissier6 8.es Hommes de la
fraternit&8 U<# 1at3an, depois Ed# )et2,  vols# publicados
entre MN e MMV, de "ic3el Clevenot, 3istoriador muito
singular, mas verdadeiramente apaionante6 8.a .ongue marc3e
de lglise8 Uordas, MN]V, de 0ean C3&lini e *ntonin
HenrG#
*lgumas curtas, mas ecelentes sínteses: 8Histoire de
lglise8 U-aGot, MJJV, de 0osep3 .ort26 8Histoire de
lglise8 U1ormand, (ours, MKNV, de AuG5"arie 'urG6

8Histoire 8Histoire
.emonnier6 de lglise8 U"&diaspaul,U-$<,
du cat3olicisme8 MNLV,
col# de
8[ue"ic3el
sais5
je8W, MNJV, de 0ean5aptiste /uroselle e 0ean5"arie "aGeur6
8reve 3istoire de lglise cat3oliue8 U/escl&e de rouPer,
MNNV, de <rançoise .adous#
-ara a <rança, não se pode negligenciar a obra colectiva
8Histoire spirituelle de la <rance# +piritualit& du
cat3olicisme en <rance et dans les paGs de langue française
des origines 9 M]8 Ueauc3esne, MO]V# $m livro
controverso, mas ue continua a ser consult%vel: 8Histoire
religieuse de la <rance contemporaine8 U<lammarion, nova
ed#, MNJV, de *drien /ansette# $ma breve síntese de 4avier
de "ontclos: 8Histoire religieuse de la <rance8 U-$<, col#
8[ue sais5jeW8, BS ed#, MNNV# <inalmente, uatro grandes
conjuntos de tipo cl%ssico: 8Histoire du cat3olicisme en
<rance8 U+pes, L vols#, MJK5MOBV, redigida por *ndr&
.atreille, Etienne /elaruelle, 0ean )&mG -alanue, )en&
)&mond6 8Histoire religieuse de la <rance contemporaine8
U-rivat, L vols#, MNJ5MNNV, dirigida por A&rard C3olvG e
^ves5"arie Hilaire6 menos confessional e menos
eclesioc!ntrica do ue a anterior: 8Histoire des cat3oliues
en <rance, du Je sicle 9 nos jours8 U-rivat, MN6
Hac3ette5-luriel, MNJV, dirigida por <rançois .ebrun# Em
publicação: 8Histoire de la <rance religieuse8 U+euil, ]
vols#, MNN e segs#V, dirigida por 0acues .e Aoff e )en&
)&mond#
-ara -ortugal, refer!ncia especial para a 8História da
Igreja em -ortugal8 UM5MBBV, de <ortunato de *lmeida,
ue se afirma importante pela erudição

1ota : Edição portuguesa de Editorial 1otícias# X1# do (#Y

]O

e sentido de objectividade Uem B vols# da .ivraria


Civili2ação, -orto, MK5KV#

0esus
' nosso con3ecimento de 0esus foi fundamentalmente renovado
pelas cinuenta obras da prestigiosa colecção 80&sus et
0&sus5C3rist8, dirigida por 0osep3 /or&, nas Ed# /escl&e#
-artindo da realidade de ue 0esus &, em todas as 3ipóteses,
uma personagem da 3istória da 3umanidade, a colecção procura
por um lado o ue pode significar no conteto do seu
nascimento e da sua vida na -alestina do s&culo I e no seio
do povo de Israel e, por outro lado, o ue representa para
aueles ue, atrav&s de toda a História posterior e com a

ajuda de
figura v%rias
3umana e disciplinas, se ;nica,
na sua mensagem mostramnointeressados
seu eemplona
e sua
no
seu percurso# *cessível a um p;blico culto, procura, em
di%logo com os diversos saberes 3umanos e as outras
tradições religiosas, demonstrar a perman!ncia da uestão
80esus5Cristo8# )efiro, sobretudo, nessa colecção: 80&sus et
lD3istoire8 UMNV, de C3arles -errot6 80&sus, le C3rist et
les c3r&tiens8 UMNV, sob a responsabilidade de 0osep3
/or&6 80&sus5C3rist dans la tradition de lglise8 UMNBV,
de ernard +esbou&6 C3rist UMMV, de "aurice ellet, etc#
1as ditions du Cerf, na importante colecção 8(3&ologie et
+ciences religieuses# Cogitatio fidei8, lançada em MOB,
dirigida, depois de MKJ, por Claude Aeffr&, e ue comporta,
em MM, O volumes, distingo: 80&sus de 1a2aret38 UMN]V,
de ernard <orte, e 8.e C3rist dans la tradition c3r&tienne8
UMMV, de *loGs Arillmeier# 1a mesma editora, uma
interessante colecção ainda pouco abundante: 80&sus depuis
0&sus8, ou seja, vinte s&culos de 3istória das
representações de Cristo# -oder% ler5se ainda com proveito o
livro de >olfgang (rilling UCerf, MONV, 80&sus devant
lD3istoire8# * completar com 4avier .&on5/ufour, 8.es
vangiles et lD3istoire de 0&sus8 U+euil, MOLV e 80&sus de
1a2aret38 U/escl&e, MNLV 5, de -ierre5"arie eaude#
$ma 8biografia8 simp%tica, mas discutível, de 0ean5-aul )ou
U<aGard, MNMV, intitulada 80&sus8# *lguns estudos
srcinais, um pouco 9 margem da teologia tradicional: 8.e
fondateur du C3ristianisme8 U+euil, MNV, de C3arles5Harold
(odd6 80&sus devant la conscience moderne# .DHistoire
perdue8 UCerf, MMV, de 0uan .uis +egundo, obra muito
significativa sob a forma como os latino5americanos encaram
Cristo6 8$n enfant nomm& 0&sus8 UCerf, MNOV, e Claire
Huc3et5issc3op, ue foi presidente da *mi2ade 0udeo5Cristã
de <rança e ue insiste aui, muito justamente, na educação
judaica de 0esus#
80&sus le C3rist8 & o título comum de duas peuenas obras de
iniciação publicadas em MNN: uma de 0ean51owl e2ançon
U/escl&e de rouPerV a outra de ernard )eG UCenturion5.a
CroiV#
Em -ortugal, destaue merecido nesta bibliografia sobre
0esus Cristo para a obra do escritor e jornalista Auedes de
*morim, 80esus -assou por *ui8 UEd# ' +&culo, MOLV#

]K

+# -aulo
' estudo desta personagem complea e capital ue foi -aulo
de (arso suscitou recentemente diversos trabal3os, sobretudo

8.a pr&dication
Cerfau6 8+aint selon saint
-aul et -aul8 UAabalda,
la culture MOOV, et
grecue8 U.abor de <ides,
.ouis
MOKV, 8+aint -aul et la Arce8 U.es elles .ettres, MNLV6
8+aint -aul et )ome8 U.es elles .ettres5/escl&e de rouPer,
MNOV, de 1orbert Hug&d&6 8.ettres au jeunes communaut&s#
.es &crits de saint -aul8 UCenturio n, MKBV, por *# runot6
8-aul, sa foi et la puissance de lDvangile8 UCerf, MNJV6
8.e C3ristianisme des c3r&tiens# -aul# .D3istoire retrouv&e8
UCerf, MNN5MMV, de 0uan .uís +egundo, ue & uma obra
importante#
Em -ortugal, conv&m salientar a import\ncia biogr%fica e
vision%ria do livro +ão -aulo UML]V, de (eieira de
-ascoaes, de ue eiste edição mais recente pela *ssírio x
*lvim, MNM#

0udeus, pagãos e cristãos


-ara as ligações eistentes entre o judaísmo e o
cristianismo, & preciso ler sobretudo: 81aissance de
lDglise, secte juive rejet&eW8 UCerf, MONV, de Henri
Ca2elles6 80&sus le juif8 U/escl&e, MKNV, de A# Zermes6 8.e
monde et les juifs 9 lD3eure de 0&sus8 U/escl&e, MNV, obra
pedagógica etremamente inovadora de *ndr& -aul6 8.Dattente
du "essie en -alestine 9 la veille et au d&but de lre
c3r&tienne8 U-icard, MNBV, de Ernest5"arie .apperrousa26
8.e judaysme et le c3ristianisme antiue8 U-$<, MNJV, de
"arcel +imon e *ndr& enozt#
' meio ambiente greco5roma no do cristianismo primitivo est%
bem esclarecido por "ic3el "eslin, autor de um importante
trabal3o sobre 8.e C3ristianisme dans lDEmpire romain8 U-$<,
MKV e ue, com 0ean5)&mi -alanue, assinou 8.e
C3ristianisme antiue8 U*rmand Colin, MOKV# "as & preciso
recorrer sempre aos estudos de "arcel +imon, sobretudo 8.a
Civilisation de l*ntiuit& et le c3ristianisme8 U*rt3aud,
MKBV, como aos de *ndr&50ean <estugire Ufalecido em MNBV,
autor, entre outras obras, de 8.DId&al religieu des Arecs
et lDvangile8 UAabalda, MNV#
Em edição recente, apareceu a tradução portuguesa do livro
de *lain oissac, 8Islão e Cristandade8, ue & bastante
esclarecedor para entender muitos dos aspectos abordados
neste livro de -ierre -eirrard sobre a 3istória da Igreja
Católica UEd# -uma, MMBV#

* Igreja primitiva
0ean /ani&lou permanece, neste domínio, como uma refer!ncia
maior, particularmente com 8(3&ologie du jud&o5
c3ristianisme8 U/escl&e, MJN, /escl&eRCerf, MMV6
8.Dglise des premiers temps6 des srcines 9 la fin du Le

sicle8 8.es
MKV6 U+euil, MOL5MNJV6
srcines 8.Dglise latin8
du c3ristianisme des ap`tres8 U+euil,
UCerf, MKN,
/escl&eRCerf, MMV# -ara o período posterior Us&culos IZ5ZI

]N

e segs#V: Henri5Ir&n&e "arrou, autor de 8.glise de


lD*ntiuit& tardive LL5O]8 U+euil, MOL5MNJV#
*inda "arcel +imon, cuja obra 8-remiers c3r&tiens8 U-.0<,
MOV, pode ser completada por 8.es -remiers c3r&tiens8
U+euil, MOKV, de *nnie 0aubert6 8.es -remiers sicles
c3r&tiens8 UCerf, MN]V, de -ierre5-atric Zerbraen6 Cest
ainsi ue lDglise a commenc& UCerf, MNOV, de Hermann5
0osep3 Zeret26 8.es -remiers sicles de lglise8 UCerf#
MNKV, de 0ean ernardi#
's concílios, nestes ;ltimos anos, foram objecto de
numerosos trabal3os#  cabeça, deve colocar5se 8Histoire des
Conciles oecum&niues8 UEd# de lD'rante, depois de MOBV,
dirigida por Aervais /umeige, e a reprodução, em MKL, de
uma parte da edição francesa UB vols#V, publicada nas
edições .etou2eG et *n& de ML a MJB, da cl%ssica
8Histoire des conciles dDaprs les documents srcinau8 , do
alemão Cari 0osep3 Hegele# 1as edições /escl&e, a
8ibliot3ue dDHistoire du C3ristianisme8 Un J5O,MNNV,
dirigida por -aul C3ristop3e, coloca 9 disposição do grande
p;blico: 8.es Conciles oecum&niues8, cujos autores são
-ierre5(3# Camelot, -ierre "araval, -aul C3ristop3e, <rancis
<rost# 1as mesmas edições, 8reve 3istoire des Conciles8
U/escl&e, MOV, de Hubert 0edin#
*s actas dos dois concílios mais importantes da Igreja
primitiva 8p3se et C3alc&doine8, foram tradu2idas e
publicadas por *ndr&50ean <estugire Ueauc3esne, MNBV,

i2\ncio# *s Igrejas orientais


H% uatro autores ue, de modo especial, renovaram os nossos
con3ecimentos neste domínio: <# /vorni, com 8G2ance et la
primaut& romaine8 UCerf, MO]V6 0ean /ecarreau, autor de
8G2ance ou lDautre )ome8 UCerf, MNBV6 )aGmond 0anin, cuja
obra sobre 8.es glises orientales et les rites orientau8
U.etou2eG et *n&, MJJV, continua a ser capital6 *lain
/ucellier ue, na 8ibliot3ue dDHistoire du C3ristianisme8
U/escl&e, MMV, acaba de fornecer, com 8lDglise bG2antine#
Entre pouvoir et esprit: LL5B]8, um comp!ndio
etremamente ;til#

* *lta Idade "&dia


* muito cl%ssica 8Histoire des -apes8, de .# von -astor

UNNO5MLLV UBB
dD*rgences foi vols#
tradu2ida e publicada
publicados antes depela .ibrairie
MOBV# "ais
acessível, o curso de *lp3onse /upront sobre 8.a -aupaut& et
lDglise cat3oliue8 UCdu5+edes, MONV, e eu próprio
publiuei um ensaio sobre 8.es -apes et la <rance8 U<aGard,
MNV#
+obre o período do ue se designa por *lta Idade "&dia e
sobre a emerg!ncia do cristianismo no mundo pós5romano, pode
consultar5se: 8/e Constantin 9 C3arlemagne 9 travers le
c3aos barbare8 U<aGard, MJMV, de 0ean5)emi -alanue6
8ducation et culture dans lD'ccident barbare Oe5Ne sicles8
U+euil, MOBV, de -ierre )ic3e, ue & tamb&m autor de
8coles et enseignements dans le 3aut "oGen ge8 U*ubier5
"ontaigne, MKMV6 8lDan "il8 U0ulliard, MOKV, de

]M

Aeorges /ubG6 8.D&ccl&siologie du 3aut "oGen ge8 UCerf,


MONV6 8Histoire et culture 3istoriue dans lD'ccident
medi&val8 U*ubier5"ontaigne, MNV, de ernard Au&n&e#

* Idade "&dia cl%ssica


Eistem algumas panor\micas gerais, graças a trabal3os
tornados j% cl%ssicos como 8.a Civilisation de lD'ccident
medi&val8 U*rt3aud, MOKV, de 0acues .e Aoff e
8lD*dolescence de la C3r&tient& m&di&vale6 lDEurope des
cat3&drales6 fondements dDun nouvel 3umanisme8 U+ira, MOO5
MOKV, de Aeorges /ubG# )egiste5se ainda uma visão sint&tica
em 8.es lignes de fazte du "oGen ge8 UCasterman, O#a ed#,
MOMV, de .ouís A&nicot#
+obre a teologia medieval, dois estudos capitais devidos a
dois grandes teólogos dominicanos: 8.a t3&ologie au 4IIe
sicle8 UL#a ed#,Zr7n, MKKV, de "arie5/ominiue C3enu, e
8(3omas dD*uin# +a vision de la t3&ologie de lglise8
U.ondres, MN]V, de ^ves Congar# -ara penetrar no domínio da
espiritualidade medieval, tr!s bons guias: 8Histoire de
saint /ominiue8 UCerf, B vols#, MJK, reed# em MNBV, de
"arie5Humbert Zicaire6 8lDglise et la vie religieuse en
'ccident 9 la fin du "oGen ge8 U-$<, MKV, de <rançois
)app6 8.a saintit& en 'ccident au derniers sicles du "oGen
ge8 Ude occard, MNV, de *ndr& Zauc3e2, autor tamb&m de
uma obra sobre 8.a +piritualit& du "oGen ge occidental:
ZIII54II sicles8 U-$<, MKJV#
+alientemos ainda em edição recente UMMV e inaugurando o
monumento de cultura ue ser% a 8Histoire du C3ristianisme8,
publicada por /escl&e5<aGard, o vol# O, 8$n temps dD&preuves
UBK]5]LMV8, sob a responsabilidade de "ic3el "ollat e

*ndr&
' Zauc3e2#
monauismo representa, como se sabe, um papel capital no
estabelecimento da cristandade e da civili2ação medieval#
Entre uma produção espantosa, destaco: 8.e monac3isme#
Histoire et spiritualit&8 Ueauc3esne, MNV6 8-r&cis
dD3istoire monastiue8 Uloud et AaG, MJMV, de -atrice
Cousin6 8.es moines en 'ccident8 U<aGard, B vols#, MNJV, de
^van AobrG6 8.es moines8 U/escl&eV, de AuG5"arc 'urG6 8.es
"oines et la civilisation8 U*rt3aud, MOBV, de 0ean
/&carreau# E, no ue respeita ao 'riente, 8.es moines
dD'rient8 UCerf, J vols#, MO5MOJV, de *ndr&50ean
<estugire#
+obre a acção dos papas reformadores , um cl%ssico uase sem
rugas: 8.a r&forme gr&gorienne8 Uloud et AaG, L vols#,
MB]5MLKV, de *ugustin <lic3e# "arcel -acaut, autor de uma
ecelente 8Histoire de la papaut&: de lsrcine au concile
de (rente8 U<aGard, MKKV, forneceu tamb&m: 8.a t3&ocratie,
lDglise et le pouvoir au "oGen ge8 U*ubier5"ontaigne,
MJKV, obra ue retomo u sob outra forma na 8ibliot3ue
dDHistoire du C3ristianisme8 U/esd&e, MNMV# * teocracia
papal furtou5se 9s pretensões dos reis de <rança uando os
papas se instalaram em *vin3ão: 8.e gallicanisme8 Uloud et
AaG, MBMV, de Zictor "artin, continua a ser, apesar dos
anos, uma grande obra de refer!ncia# [uanto aos papas de
*vin3ão, destacam5se os trabal3os de dois eminentes

]

3istoriadores: Auillaume "ollat, autor de 8.es -apes


dD*vignon8 U.etou2eG et *n&, M]V e ^ves )enouard, autor de
8.a papaut& dD*vignon8 U-$<, MO]V#
* penetração do espírito laico na cristandade desde a Idade
"&dia inspirou a Auillaume de .agarde uma obra fundamental,
8.a naissance de lDesprit layue au d&clin du "oGen ge8
U1auPelaerts, MJO e segs#V# Este fenómeno & acompan3ado de
um despertar de 83eresias8 e de movimentos contestat%rios
como o demonstram bem 0acues .e Aoff e seus colaboradores
em 8H&r&sies et soci!t&s dans lDEurope pr&5industrielle, 4I5
4ZIII sicles8 U"outon, MONV#  frente dessas 83eresias8, o
catarismo, estudado entre outros por 0ean /uvernoG, em 8le
Cat3arisme8 U-rivat, MKKV, e por *nne rennon em 8.e Zrai
visage du cat3arisme8 UEd# .oubatires, MNMV# +obre os
valdenses, podemos consultar de Aabriel *udisio, 8.es
Zaudois8 U(urin, *lbert "eGnier, MNMV# * Inuisição,
instrumento de submissão e de punição de 3eresia, foi
estudada por muitos 3istoriadores, recentemente por A# e 0#
(estas U-$<, MOOV, 0ean5-ierre /edieu UCerf, <ides, MNKV e

Henri "aisonneuve
"illon deram vida U/escl&e51ovalis,
UL vols#V ao vel3oMNMV# *s Ed#
cl%ssico 0!rome
de Henri5
C3arles .ea, 8Histoire de lInuisition au "oGen ge8#
Em -ortugal, a 3istória da Inuisição tem sido tamb&m muito
abordada pelos nossos ensaístas e 3istoriadores, com
destaue para a j% 8cl%ssica8 8História da 'rigem e
Estabelecimento da Inuisição em -ortugal8 UL vols#, NJ]5
NJMV, de *leandre Herculano6 8Erasmo e a Inuisição em
-ortugal8 UMKJV, de 0os& +ebastião da +ilva /ias6 8-ara a
História da Cultura em -ortugal8 UL vols#, MJ5MOV, de
*ntónio 0os& +araiva6 e, mais recentemente, o ecelente e
bem documentado estudo de *ntónio orges Coel3o, 8*
Inuisição em vora8 UEd# Camin3o, B vols#, MNN5NMV#
' inimigo mais longínuo do cristão & o muçulmano, o
sarraceno, carcereiro do t;mulo de Cristo# * imensa
literatura relativa 9s Cru2adas tem5se enriuecido, nos
nossos dias, com algumas obras, como 8.es 3ommes de la
Croisade8 U(allandier, MNBV, de )&gine -ernoud6 8.a
c3r&titent& et lDid&e de croisade8 U*lbin "ic3el, B vols#,
MJ]5MJMV, de -ierre *lp3and&rG e *lp3onse /upront#
* ideia das cru2adas est% ligada 9 das peregrinações, ideia
ue inspirou muitos livros, entre os mais recentes
salientam5se: 8.es marc3eurs de /ieu# -lerinages et
plerins au "oGen ge8 U*rmand Colin, MK]V, de -# *# +igal6
8.es c3emins de /ieu, 3istoire des plerinages des srcines
9 nos jours8 UHac3ette, MNBV, obra dirigida por Henri
rant3omme e 0ean C3&lini, onde eu assegurei o capítulo
respeitante ao s&culo 4I46 8/u sacr&# Croisades et
plerinages# Images et langages8 UAallimard, MLKV, de
*lp3onse /upront#

' )enascimento, a )eforma protestante


* grande viragem do s&culo 4ZI, caracteri2ada pela escalada
do 3umanimo racionalista e anti5romano, suscitou in;meros
trabal3os, mas entre os mais recentes conv&m destacar, pelo
seu valor, o estudo de -ierre Imbart de la (our sobre 8.es
'rigines de la )&forme en <rance8 U] vols#, MJ5M]OV,

]
ue se completa com outra das suas obras 8lDglise
cat3oliue, la crise et la )enaissance8 U"elun, M]NV#
Importante como sempre, -ierre C3aunu propõe uma visão
original em 8le (emps des )&formes# .a crise de la
c3r&tient&# .D&clatement: BB5JJ8 U<aGard, MKJV6
8lD*venture de la )&forme8 UHerm& et /escl&e de rouPer,
MNOV, e 8glise culture et soci&te: essais sur )&forme e

Contre5)&forme
vista de JK aemOB8
mais particulares UCdu5+edes,
livros como 8.es MN]V#
mGt3es -ontos de
c3r&tiens
de la )enaissance au .umir es8 U*lbin "ic3el , MKMV, de
0acues +ole6 8Erasme et .ut3er8 U/essain et (olra, MNV,
de Aeorges C3antraine6 8.es dissidents du Oe sicle entre
lD3umanisme et le cat3olicisme8 Uoerner, MN]V, de "arc
.ien3ard#
-ara a 3istória geral do protestantismo, & sempre necess%rio
recorrer aos tr!s volumes de E# A# .&onard U-$<, MO5MOLV#
-ara completar e comparar com -aul <at3, 8/u cat3olicisme
romain au c3ristianisme &vang&liue8 Uerges5.evrault,
MJKV6 0ean /elumeau, 81aissance et affirmation de la
)&forme8 U-$<, MOJV6 -ierre 0anton, 8Zoies et visages de la
)&forme au Oe sicle8 U/escl&e, MNOV# /enis Crou2et acaba
de publicar de novo a 3istória das guerras de religião em
<rança com 8Auerriers de /ieu, la violence au temps des
troubles de religion JBJ5O8 UC3amp Zallon, B vols#,
MNMV# Colocar ainda em lugar de relevo as duas obras
essenciais de .ucien <ebvre, 8' -roblema da /escrença no
+&culo 4ZI8 Utradução portugu esa de )ui 1unes, Ed# Início,
MKBV e 8*u coeur religieu du Oe sicle8 U*lbin "ic3el,
MJK, B#a ed#, MONV# 1a colecção cateu&tica, o ecelente,
embora breve, livro de iniciação de )en& "arl&, .a )&forme
et les protestants U"ame, MNBV#
+obre "artin3o .utero, podem destacar5se alguns estudos
contempor\neos ue escapam aos antigos clic3&s: 8.ut3er et
lDglise confessante8 U+euil, MOBV, de Aeorges Casalis6
8"artin .ut3er# /e la libert& du c3r&tien8 U*ubier5
"ontaigne, MOMV, de /aniel 'livier6 8.a )&forme de .ut3er8
U-aGot, B vols#, MKV, de 0osep3 .ort2, sem esuecer ainda
8$n destin: "artin .ut3er8 U*lbin "ic3el, L#a ed#, MJV, de
.ucien <ebvre, nem 8.e cas .ut3er8 U/escl&e de rouPer,
MNLV, de 0ean /elumeau#
* fisionomia e a mensagem de Calvino estão bem esclarecidas
por ernard Aagnebin, em 8 la rencontre de Calvin8 UAeog,
Aenebra, MNV, e *lbert5"arie +c3midt, autor de 80ean
Calvin et la tradition calvinienne8 U+euil, MJK, com nova
edição em Cerf, MN]V#

* Contra5)eforma católica
1a srcem da )eforma católica situa5se a obra do Concílio de
(rento, de ue se compreende mel3or a sua import\ncia graças
a Hubert 0edin e 9 sua 8Histoire du Concile de (rente8
U/escl&e, MOJV e a .ouis >illaert, autor de 8*prs le
Concile de (rente# .a restauration cat3oliue JOL5O]N8
Uloud et AaG, MOV# 8.a Contre5)&forme8, de 1# +# /avidson
UCerf5<ides, MNMV apresenta um breve, mas luminoso esboço

acerca do esforço da Igreja Católica para


]B

escapar 9 tarefa laici2ante# Importante estudo &, pois, o de


Zictor aroni sobre la 8Contre5)&forme devant la ible: la
uestion bibliue8 U+latine, MNOV#
Esse esforço tradu25se, em particular, por um renascer do
clericato, como se demonstra na obra de -aul rotin com o
ecelente estudo sobre 8la )&forme pastorale en france au
4ZIIe sicle8 U/escl& e, B vols#, MJOV e -ierre +age, autor
de uma tese srcinal e substancial sobre 8.e on pr!tre dans
la litt&rature française8 U/ro2, MJV# Eu próprio
publiuei, na 8ibliot3ue dDHistoire du C3ristianisme8
U/escl&e, MNOV, 8.e -r!tre français du Concile de (rente 9
nos jours8# Ecelente visão de conjunto da 3istória do padre
pode observar5se em 8/eu mille ans dDglise en uestion:
t3&ologie du sacerdoce8 UCerf, L vols#, MNN5MMV, de
Austave "artelet#
' tempo da Contra5)eforma, ou )eforma católica, & tamb&m
marcado por uma forte escalada da espiritualidade mística:
fenómeno ue bril3antemente foi estudado por Henri remond
atrav&s da sua monumental e insubstituível 8Histoire
litt&raire du sentiment religieu en <rance depuis la fin
des guerres de religion8 Uloud et AaG,  vols#, MO5
MLOV, cuja reedição est% assegurada, desde MOK, por *rmand
Colin# $ma boa síntese, para o grande p;blico, encontra5se
na obra de )aGmond /eville, 8.Dcole française de
spiritualit&8 U/escl&e, MNKV#
"as & tamb&m o tempo da santidade e mais particularmente dos
criadores de congregações e sociedades clericais para a
orientação dos semin%rios# 1uma literatura 3agiogr%fica
abundante, e tamb&m muito desigual, posso destacar: 8&rulle
et le sacerdoce8 U.et3ielleu, MOMV, de "arcel /upuG, e
8&rulle et lD&cole française8 U+euil, MOLV, de -ierre
Coc3ois6 8$n artisan du renouveau c3r&tien au 4ZIIe sicle:
saint 0ean Eudes8 UCerf, MNJV, de -aul "ilcent6 8+aint
Zincent de -aul et la c3arit&8 U+euil, MOO, nova ed# MKOV,
e 8.DEsprit vincentien8 U/escl&e de rouPer, MNV, de *ndr&
/odin6 8+aint <rançais de +ales et lDesprit sal&sien8
U+euil, MOBV e 8+aint <rançois de +ales8 UA# Zictor, B
vols#, MOOV, de E# "# .ajeunie6 80ean50acues 'lier8 U*lbin
"ic3el, M]LV, de -aul )enaudin#

* poca cl%ssica# ' +&culo das .u2es Us&culos 4ZII54ZIIIV


1o limiar desta grande &poca, encontramos -ierre C3aunu e os
seus dois monumentais estudos sobre 8.a Civilisation de

lEurope des
lDEurope classiue8 U*rt3aud,
.umires8 MOOV
U*rt3aud, e 8.a Civilisation de
MKV#
* Igreja Católica v!5se então confrontada com novos
problemas, com alguns perigos in&ditos ue nascem da própria
modernidade6 tornam5se manifestos no fim do reinado de .uís
4IZ como demonstra -aul Ha2ard na sua obra poderosa e
inteligente ue & 8* Crise da Consci!ncia Europeia, ON5
KJ8 Utradução portuguesa na Ed# -resença, MKV ou ainda
H# )# (revor5)ope em 8/e la )&forme au .umires8
UAallimard, MKBV, completando5se com 8.e cat3olicisme entre
.ut3er et Zoltaire8 U-$<6 nov# ed# MKNV, de 0ean /elumeau,
3istoriador ue, em 8-eur en 'ccident, 4IZ54ZIIIe sicles8
U<aGard, MKNV,

]L

mostra a ue ponto a crença de religião resistiu, nas


consci!ncias cristãs, 9 escalada dos racionalismos#
In;meros e ecelentes estudos universit%rios t!m referido,
recentemente, como a 8descristiani2ação8 começa então a
arruinar o grande edifício do catolicismo6 refiro um desses
estudos, entre os mel3ores, ue & o de 0ean [u&niart
UHac3ette, MKNV, sobre 8.es Hommes, lDglise et /ieu dans
la <rance au 4ZIIIe sicle8# -ara o s&culo 4ZII, deve
consultar5se o ecelente estudo 8.e Cat3olicisme dans la
<rance classiue O5KJ8 UC/$5+edes, nova ed# MNV, de
)en& (aveneau#
* Igreja romana 5 a 8infame8 para Zoltaire, escritor sobre a
influ!ncia de uem & necess%rio ler o ensaio de C# )ins,
8Zoltaire, rec3erc3es sur les origines du mat&rialisme
3istoriue8 U/ro2, MOBV 5 & então confrontada com os
progressos da prima2ia dada 9 ci!ncia: a ci!ncia do $niverso
como crítica 3istórica# * este propósito, ver: 8.Daffaire
Aalil&e8 UCerf, <ides, MNNV, de 0ean5-ierre .ongc3amp, e
8.e +icle des .umires et la ible8 Ueauc3esne , MNOV, de
^von elaval e /ominiue ourel, obra ue alarga os dados
apresentados no livro bril3ante de 0ean +teinmann, 8)ic3ard
+imon et les srcines de le&gse bibliue8 U-aris, MOV#
1o seu interior, )oma v!5se defrontada com a poderosa
corrente jan5senísta, acerca da ual se deve sempre
consultar 0ean 'rcibal, cuja 8'rigines du jans&nisme8
U.ovaina, J vols#, M]K5MOBV, continua como um cl%ssico6 e
tamb&m .ouis Cognet, 8le 0ans&nisme8 U-$<, MOV, e ainda
*ntoine *dam, 8/u "Gsticisme 9 la r&volte# .es jans&nistes
du 4ZIIe sicle8 U<aGard, MONV# )en& (aveneau, ue se
imp`s como o mel3or especialista contempor\neo do
jansenismo, assinou uma sugestiva 8Zie uotidienne des

jans&nistes8
-or UHac3ette,
outro lado, MKLV#
a mística e a santidade não estão ausentes
do s&culo 4ZIII, como se demonstra em particular nas obras
de (3&odule )eG5"ermet, biógrafo do 8+aint du sicle des
.umires: *lp3onse de .iguori8 U1ouvelle Cite, MNBV, e "#
'lp3e5Aaillard, autor da 8(3&ologie mGstiue en <rance au
4ZIIIe sicle8 Ueauc3esne, MN]V#

* )evolução francesa
Em aneo a esta bibliografia, desenvolveremos mel3or sobre a
)evolução <rancesa e as obras religiosas ue ela inspirou#

' período contempor\neo Us&culos 4I454I4V


* produção 3istórica sobre este período & incomensur%vel e
não deia de se enriuecer# "as t!m aui um lugar de relevo
as obras gerais relativas 9 História da Igreja, ue menciono
9 frente desta bibliografia e convido o leitor a consult%5
las# -ode encontrar aí verdadeiras biografias essenciais,
tal como a ue se esboça, atrav&s da 3istória do pontificado
de -io I4 UN]O5NKNV, ao longo do tomo B da 8Histoire de
lDglise8, de <lic3e e "artin

]]

Uloud et AaG, MO]V, precisamente intitulada 8.e -ontificat


de -ie I48, sob a pena saga2 de )oger *ubert# /o mesmo modo,
as numerosas 3istórias gerais do "undo, da Europa, da
<rança, ue apareceram depois da )evolução <rancesa,
constituem cada ve2 mais um importante espaço para a
3istória religiosa, considerada como um elemento essencial
de toda a História, tal como foi definida e posta em pr%tica
em <rança por .ucien <ebvre e "arc loc3, fundadores em MBM
dos 8*nnales dD3istoire &conomiue et sociale8# +obre o
lugar crescente da 3istória religiosa, ver de 0ean5"arie
"aGeur 8.DHistoi re religieuse de la <rance: M5Be sicles#
-roblmes et m&t3odes8 Ueauc3esne, MKJV#
* Igreja romana pós5revolucion%ria & uma pot!ncia ue
representa um papel importante nas relações internacionais e
com os governos# (r!s estudos recentes devem consultar5se a
este respeito: 8.Dglise et les tats concordataires N]O5
MN8 UCerf, MNLV, de )oland "innerat36 8.Dglise
cat3oliue et les relations internationales8 UCenturion,
MNNV, de "arcel "erle e C3ristine de "ontclos6 lDglise et
les tats, Histoire des concordats8 U1ouvelle Cite, MMV,
de 0ean 0ulg# ' admir%vel esforço mission%rio da Igreja no
s&culo 4I4 inscreve5se tamb&m na 3istória das relações
internacionais, onde a propósito merece refer!ncia um

trabal3o cat3oliues8
missions ue & fundamental:
UAriind, 8Histoire universelle
MOJ e segs#V, des
de +imon
/elacroi#
's r%pidos progressos das ideias laicas, particula rmente em
<rança, inspiraram contraditoriamente o 3istoriador laico
Aeorges >eill, autor de uma esclarecedora 8Histoire de
lDid&e layue au 4I4e sicle8 U*lcan, MBJV e o 3istoriador
eclesi%stico .ouis Cap&ran, autor muito antilaico da
8Histoire contemporaine de la laicit& française8 U)ivire e
depois 1el, L vols#, MJK5MOV#
/urante muito tempo, a franco5maçonaria aparece como o /eus
8e mac3ina8 do laicismo avassalador: 8glise et franc5
maçonnerie8 UC3alet, MMV de .uc 1&fontaine, permite uma
visão clara sobre as sociedades secretas condenadas pela
Igreja#
'utro advers%rio da Igreja & o marismo, ue desempen3a um
papel motor no movimento oper%rio ligado 9 industriali2ação
maciça ue caracteri2a a segunda metade do s&culo 4I4# +obre
"ar, duas obras de base são devidas a jesuítas franceses:
8' -ensamento de arl "ar8, de 0ean5^ves Calve2 Utradução
portuguesa em ed# (avares "artins, MOV, e 8*nalGse
mariste et foi c3r&tienne8 UEd# ouvrires, MKOV, de )en&
Coste, +obre o afastamento da classe oper%ria em relação 9
Igreja, permito5me salientar os B vols# da min3a obra
8lDglise et les ouvriers en <rance8 UHac3ette, MN] e
MMV#
1o começo do s&culo 44, a crise modernista abala a Igreja#
mile -oulat permanece como a grande refer!ncia uando se
trata do modernismo, sendo essencial a sua obra 8.a Crise
moderniste8 UCasterman, B vols#, MOB5MKMV# -ode consultar5
se tamb&m 8.e "odernisme8 Ueauc3esne, MNV, de /ominiue
/ubarle#
' ue não impede a Igreja de ser santificada, no interior,
pela actividade espiritual e caritativa de muitos dos seus
membros, laicos, padres, religiosos e religiosas# *
multiplicação sem precedentes das congregações femininas no
s&culo 4I4 inspirou a Claude .anglois uma obra capital: 8.e

]J
cat3olicisme au f&minin8 UCerf, MNJV, ue pode aliar5se com
a obra de ^vonne (urin, 8<emmes et religieuses au 4I4e
sicle8 U1ouvelle Cite, MNMV#
-or seu lado, "aurice 1&doncelte evidencia5se bem com 8.es
.eçons spirituelles au 4I4e sicle8 U-aris, MLJV# $m s&culo
ue, como devia ser o s&culo 44, foi f&rtil em obras e
iniciativas de toda a nature2a, como a *cção Católica, ue

inspirou muitos
cat3oliue8 trabal3os,
UEd# +oc# du 1ord,de .ille,
ue destaco: 8.D*ction
M]O5M]NV# 1o meu
livro 8.es .aycs dans lDglise de <rance M5Be sicle s8
UEd# ouvrires, MNNV, esforço5me por situar e integrar essa
acção católica dos leigos 5 3omens e mul3eres 5 num conjunto
fervil3ante#
-erante os progressos da descristiani2ação, a Igreja sente
necessidade de contar as suas forças, em parte para se
tranuili2ar, em parte para alterar as suas estrat&gias
pastorais# /os dois fundadores da sociologia religiosa,
podemos consultar, entre outros trabal3os: 8-remiers
itin&raires en sociologie religieuse8 U-$<, M]B5M]JV, de
<ernand oulard e 8tudes de sociologie religieu se8 U-$<, B
vols#, MJJ5MJOV, de Aabriel .e ras# * religião popular,
ue certos 3istoriadores consideram, talve2 abusivamente,
como a grande 8oportunidade8 da Igreja, deu motivo a
in;meras aproimações, cuja síntese foi assegurada por
ernard -longero n em 8.a )eligion populaire dans lD'ccident
c3r&tien# *pproc3es 3istoriues8 Ueauc3esne, MKOV#
$m reparo para terminar: .eão 4III, -io 4, ento 4 e -io 4I
esperam ainda os seus verdadeiros biógrafos, mas podemos
encontrar elementos interessantes em 8.a -aupaut&
contemporaine8, NKN5M]J U-$<, M]O, nova edição, MKV, de
<# "arc5onnet, e sobretudo em 8.es -apes du 44e sicle8
U/escl&e, MMV, de ^ves "arc3asson#
Em contrapartida, os ensinamentos sociais dos papas depois
de .eão 4III U8)erum novarum8, NMV, t!m sido objecto de
numerosos trabal3os e estudos, de ue se salientam: 8glise
et soci&t& &conomiue6 lDenseignement social des papes de
.&on 4III 9 -ie 4II8 U*ubier5"ontaigne, MJMV, de 0ean5^ves
Calve2 e 0acues -errin, e 8.a -ens&e sociale de lglise
cat3oliue: un ideal de .&on 4III 9 0ean5-aul II8 U*lbatros,
MNV, de -atric de .aubier#
+obre a atitude da Igreja durante a +egunda Auerra "undia l,
dois autores se impõem: -aul /uelos, com 8.e Zatican et la
+econde Auerre mondiale8 U-edone, MJJV e 4avier de
"ontclos, ue assinou 8.es C3r&tiens face au na2isme et au
stalinisme# .D&preuve totalitaire8 U-lon, MNLV e ue
publicou os trabal3os do colóuio de .ião sob 8.es &glises
et les c3r&tiens dans la +econde Auerre mondiale8 U-$<, B
vols#, MKN5MNBV # *crescentemos a obra recente, monumental
e riuíssima ue constitui o vol# B da 8Histoire du
c3ristianisme8 U/escl&e5<aGard, MMV: 8Auerres mondiales et
totalitarismes UM]5MJNV8, sob a responsabilidade de 0#5"#
"aGeur#

' Concílio Zaticano II UMOB5MOJV# * sua aceitação# * sua

aplicação#
+obre a 3istória, debates e orientações do Concílio Zaticano
II, aconsel3o cinco obras: 8Zatican II# C3roniues des
uatre sessions8 UCenturion, ] vols#

]O

MOL5MOOV, de *ntoine >enger6 8.a Coll&gialit& &piscopale


au Be Concile du Zatican8 UEd# du Cdre, MNV6 8.e Concile
de Zatican II8 Ueauc3esne, MN]V, de ^ves Congar6 8.es
Id&es maitresses de Zatican II8 UCerf, MNJV, de Austave
"artelet6 8.e Concile Zatican II8 UCerf5<ides, MNMV, de
0osep3 (3omas#
+obre a aceitação e aplicação do Concílio, abundam muitos
trabal3os# )ecomendo sobretudo 8.a )&ception de Zatican II8
UCerf, MNOV, de Aiuseppe *lberigo e 0ean5-ierre 0ossua#
+obre a aplicação das decisões conciliares: 8.es glises
aprs Zatican II# /Gnamisme et prospective8 U*ctas do
colóuio internacional de olon3a, MN6 eauc3esne, MNV6
8/e Zatican II 9 0ean5-aul II8 UCenturion, MNV, de 0an
Arootaers6 8.e Concile: B ans de notre 3istoire8 U/escl&e,
MNBV, de A&rard /efois e colaboradores6 8.DH&ritage du
Concile: le c3oc des m&dias8 U/escl&e, MNJV, de "ic3el
oulet6 8-r&sente glise# Aaudium et +pes B ans aprs8
UCenturion, MNJV, de 'livier de /enic3in6 8glise, uDas5tu
fait de ton concileW8 UCenturion, MNJV, de Henri /enis#

' papado contempor\neo Udepois de -io 4IIV


Historiadores e jornalistas, auiliados pelos meios de
comunicação social, cuja audi!ncia não tem paralelo com o
passado, t!m 9 vontade eplorado a personalidade 5 sempre
marcante 5 dos ;ltimos cinco papas# , pois, necess%ria uma
escol3a e esforcei5me por isso: sobre -io 4II um ensaio de
0ean C3&lini, 8.Dglise sous -ie 4II8 U<aGard, B vols#,
MNL5MNJV e as actas de um colóuio universit%rio
U<aculdade de /ireito de *i5en5-rovenceV: 8-io 4II et la
Cit&8 U(&ui5-resses universitaires de *i5"arsel3a, MNNV#
+obre o 8bom -apa 0oão8: 8.$topie du pape 0ean 44III8
U+euil, MKNV, de Aiancarlo =i2ola U+euil, MKNV6 80ean
44III, essai biograp3iue8 UCenturion, MNV, de .aPrence
Elliott e H# 1# .oose6 80ean 44III devant lD3istoire8
U+euil, MNNV, de Aiuseppe *lberigo e colaboradores6 80ean
44III, le pape du concile8 UCenturion, MNNV, de -eter
Hebblet3Paite#
* memória de -aulo ZI beneficia dos trabal3os de um colóuio
organi2ado, em MKL, pela cole française de )oma sobre o
tema: 8-aul ZI et la modernit&8 ue depois publicou# *s

memórias depreciosas:
igualmente 0ean Auitton, familiar
8/ialogues deste ZI8
avec -aul -apa, são
U<aGard,
MOKV6 8-aul ZI secret8 U/escl&e de rouPer, MNV#
1ão beneficiando do distanciamento no tempo, os dois papas
0oão -aulo I e II são personalidades ue escapam ainda 9
3istória serena# 1o entanto, pode ler5se com proveito os
escritos do papa .uciani, em ue se reuniram os discursos e
outros escritos sob o título 8Humblement v`tre8 U1ouvelle
Cite, MKNV, e o ensaio de Aeorges Huber, 80ean5-aul I ou la
vocation de 0ean5aptiste8 U+'+, MKMV, ue & esclarecedor#
80ean5-aul II, lDaventurier de /ieu8 UCarrire5.afont,
MNOV, & o título de um ensaio de 0ean 'ffredo# C3ristine de
"ontclos, por seu turno, analisou as 8ZoGages de 0ean5-aul
II8 UCenturion, MMV# ' familiar do -apa polaco, *ndr&
<rossard, confia as suas impressões em 8-ortrait de 0ean5
-aul II8 U)obert .affont, MNNV#

]K

1um plano mais geral, poder% consultar5se com vantagem:


8Connaissance du Zatican8 U-aris, B#a ed#, MK]V e 8.e -ape8
U-$<, MNV, de -aul -oupard, e tamb&m 8.Dv!ue de )ome8
UCerf, MNBV, de 0ean5"arie (illard#

* Igreja actual
* crise ue a Igreja vive em perman!ncia desde o Zaticano II
inspirou e inspira uma avalanc3e de escritos, muitas ve2es
subjectivos e pol&micos, revelando alguns desses títulos
ualuer coisa de apocalíptico: 8.e C3ristianisme &clat&8
U+euil, MK]V, de "ic3el de Certeau e 0ean5"arie /omenac36
8.e C3ristianisme va5t5il mourirW8 UHac3ette, MKKV, de 0ean
/elumeau6 8<in dDune &glise cl&ricaleW8 UCerf, MOMV, de
-aul Auilmot6 8.Dglise en paniue8 U/escl&e, MKV, de
-3ilippe runetire# 1a verdade, estes autores colocam boas
uestões como fa2 /anile Hervieu5.&ger e <rançoise C3ampers
uando se interrogam se se camin3a 8Zers un nouveau
c3ristianisme8W UCerf, MNOV# -orue a crise pode desembocar
num mundo novo como pensa A&rard .eclerc, autor de 8.glise
cat3oliue, MOB5MNO# Crise et renouveau8 U/enoel, MNOV,
ou )en& .aurentin em 8glise ui vient: au5del9 des crises8
U/escl&e, MNMV# -or sua ve2, Claude Aeffr& acredita ue se
avança para 8$n nonvel \ge de la t3&ologie8 UCerf, MKBV e
A&rard /efois, autor de 8Zuln&rable et passionante glise8
UCerf, MKKV, inclina5se com alguma afectação sobre
8.D'ccident en mal dDespoir8 U<aGard, MNBV#
Esta atitude entronca com a de "arcel Aauc3et, autor de um
importante ensaio 8.e d&senc3antement du monde: une 3istoire

politiue
v%rios de la r&ligion8
aspectos, UAallimard,
a de *lain MNJV,
esançon, 8.a ue lembra des
confusion em
langues# .a crise id&ologiue de lglise8 UCalman5.&vG,
MKNV6 ^ves Congar, com 8.a Crise de lglise et "gr
.efebvre8 UCerf, MKOV, esforça5se por abordar com
objectividade um dos aspectos mais dolorosos da crise da
Igreja#
' diagnóstico & mais frio e, portanto, mais convincente, em
mile -oulat ue analisa com finura as crises contempor\neas
em 8$ne glise &branl&e8 UCasterman, MNV# /entro da mesma
lin3a, ler os debates e trabal3os do Colóuio de olon3a de
MNL sobre 8.a C3r&tient& en d&bat8 UCerf, MN]V#
/ois pontos de vista opostos, com tr!s jesuítas# -or um
lado, sobre o freio ue & necess%rio colocar no camin3o de
Zaticano II, 0ean /ani&lou, 8*utorit& et contestation dans
lDglise8 UAenebra, MKV e Henri de .ubac, 8glise dans la
crise actuelle8 UCerf, MOMV# -or outro lado, -aul Zaladier,
revela5se um crítico agudo da actual política do Zaticano em
8glise en procs8 U<lammarion, MNMV#
' (erceiro "undo e a *m&rica .atina inspiram, desde 3%
uin2e anos, uma teologia da libertação, ue desembocou numa
produção abundante de obras, de ue se salientam: 8lDglise
de lDautre moiti& du monde8 Uart3ala, MNV, de 0# de
+anta5*nna6 8(3&ologies de la lib&ration: documents et
d&bats8 UCerf, Centurion, MNJV6 8"gr omero, martGr du
+alvador MK5MN8 UCenturion, MN]V6 8.es C3r&tiens et le
tiers monde8 Uart3ala, MMV, de ertrand Cabedoc3e#

]N

' ecumenismo 5 outro aspecto do cristianismo contempor\neo 5


est% bem estudado por 0acues5lie /esseau em 8/ialogues
t3&ologiues et accords oecum&niues8 UCerf, MNBV, e,
sobretudo, por tienne <ouillou, cujo importante trabal3o
sobre 8.es Cat3oliues et lDunit& c3r&tienne du Me au Be
si&cle8 UCenturion, MNBV permanecer% certamente como um
cl%ssico#
[uanto ao problema comunit%r io 5 sob a forma carism%tica ou
não 5 ue modifica a situação da Igreja, tem inspirado
muitos escritos, entre os uais se destacam: 8/es
communaut&s pour lDglise8 UCerf, MNV, de 0ean )igal6
81ouveau t&moins de lglise: les communaut&s de base8
UCenturion, MNBV6 80&sus vivant au coeur du )enouveau
c3arismatiue8 U/escl&e, MMV, volume colectivo, sob a
responsabilidade de ernard )eG#

I.I'A)*<I* *1E4*

* 3istória
Como seria,religiosa da )evolução
de esperar, <rancesa
foi da parte dos universit%rios ue
os esforços para dar sentido e vigor ao bicenten%rio da
)evolução se revelaram mais importantes e efica2es# +em
d;vida, muitos dos projectos elaborados a partir de MNL e
submetidos 9 Comissão 1acional de -esuisa Histórica para o
icenten%rio da )evolução <rancesa Usecret%rio5geral "ic3el
ZovelleV evaporaram5se rapidamente# +em d;vida, podemos
lamentar ue a 3istória religiosa ten3a aí ocupado, em
definitivo, um lugar relativamente restrito na pesuisa
3istórica relativa 9 )evolução# "as não & menos eacto ue,
graças a in;meros e novos trabal3os, mesmo a alguns
colóuios not%veis, a 3istoriografia religiosa saiu
enriuecida das próprias comemorações# Como & naturalmente
impossível falar desses trabal3os e colóuios de uma forma
eaustiva, revelo aui as suas lin3as principais#
' colóuio 3istórico mais importante e mais original foi
obra de ernard -longeron, professor do Instituto Católico
de -aris e /irector de -esuisas do C1)+ ue, desde 3% uns
vinte anos, & um pioneiro da renovação da 3istoriografia
religiosa ue incide sobre a )evolução <rancesa# Esse
colóuio, ue se efectuou em C3antillG de BK a BM de
1ovembro de MNO, reuniu du2entos e cinuenta participante s
de de2 países e organi2ou5se em redor do tema: 8-r%ticas
religiosas, mentalidades e espiritualidades na Europa
revolucion%ria, KK5NB8#
1ão se tem repetido muitas ve2es ue a <rança e, depois, a
Europa ocupada pelos e&rcitos da )evolução, mergul3aram no
ateísmo militante, como causa de um vasto 8deserto de
culto8W Como eplicar, então, as efloresc!ncias religiosas
do começo do s&culo 44, senão inuirindo seriamente sobre as
reacções de mil3ões de leigos católicos, protestantes e
judeus, ue

]M

vivem a sua f& todos os dias, tanto na clandestin idade como


9 lu2 da vida p;blicaW
-ela primeira ve2, um colóuio universit%rio abordava esta
uestão central não tanto para dar respostas definitivas,
mas sobretudo para apresentar alguns esclarecimentos
in&ditos sobre essa grande descon3ecida: a vida religiosa
dos leigos durante a )evolução# 's mel3ores especialistas da
Europa, ao longo de setenta comunicações, eploraram as
pr%ticas, as menralidades e as correntes de espiritualidade
sobre casos precisos: transformações de paróuias, casamento
e divórcio, sacramentali2ação e dessacrali2ação, as mul3eres

e o seu
Zinte e novo
nove papel,
regiõesasouconfrarias
provínciase da
as <rança
congregações, etc#
e da Europa
manifestaram assim as suas diferenças, as suas atitudes e
resist!ncias perante o poder jacobino,
*s actas deste colóuio foram reunidas num grosso volume
UKKN p%ginasV, publicado em MNN, nas Ed# repols: pelo
rigor dos tetos ue se apoiam directamente nos aruivos,
este livro erudito e prudente nos juí2os feitos, & todavia
de leitura perfeitamente acessível#
Entre os outros colóuios, destaca5se 8.es r&sistance s 9 la
)&volution# .a Contre5)&volution8 U)ennes, MNJ#
$niversidade de Haute5retagne, )ennes IIV6 8glise, vie
religieuse et )&volution dans le 1ord5-as5de5Calais et la
elgiue8 U*rras, MNN, $niversidade de .ille III# Areco5
C1)+ n#{ BV6 8"idi rouge et midi blanc8 U*vin3ão, MNO,
$niversidade de -rovenceV6 8-aroisses, confr&ries, d&votions
\ lD&preuve de la )&volution8 U"arsel3a, MNN, Escola de
*ltos Estudos e Ci!ncias +ociaisV6 8.a )&volution, une
rupture dans le c3ristianisme limousin8 U.imoges, MNM,
$niversidade de ClermontV#
* esta lista, acrescente5se ainda o colóuio organi2ado em
(oulouse, em MNK, por ocasião do B{ centen%rio do Edicto da
(oler\ncia Ude .uís 4ZI em proveito dos protestantesV sobre
o tema: 8.a tol&rance, republiue de lDesprit8#
Entre os in;meros livros inspirados pela 3istória religiosa
da )evolução <rancesa, não se encontra nen3uma síntese geral
semel3ante 9s duas cl%ssicas ue sempre se podem consultar
com interesse, tanto mais ue foram as primeiras obras a
alargar os 3ori2ontes, sobretudo no ue respeita 9 Igreja
constitucional, desde sempre a mal5amada dos 3istoriadores
católicos: 8lDglise cat3olicjue et la )&volution française8
UHac3ette, MJ, nova eds# B vols#, Cerf, MKV, de *ndr&
.atreille, e 8la Crise r&volutionnaire KNM5N]O8 Uloud et
AaG, MJ, tomo 44 da 8Histoire de lglise8, de <lic3e e
"artinV, de 0ean .eflon# -odemos tamb&m destacar a obra
antiga, mas ecelente, de C3arles .edr&, 8lDglise de <rance
sous la )&volution8 U.affont, M]MV# Entre as obras recentes
ue se aproimam mais destes cl%ssicos: 8.a piue et la
croi# Histoire religieuse de la )&volution française8
UCenturion, MNMV, de ernard Cousin, "oniue Cubbels e )en&
"oulinas#
Entre os autores actuais da 3istoriografia revolucion%ria,
muito poucos se dedicam 9 3istória religiosa: em particular,
<rançois <uret, d%5l3e algum destaue na sua grande obra 8.a
)&volution, KK5NN8 UHac3ette, MNNV# "as devemos
destacar o livro de "ic3el Zovelle, autor j% de uma

]B
not%vel obra sobre 8.a d&c3ristianisation de lDan II8
UHac3ette, MKOV: 8la )&volution contre lDglise# /e la
)aison 9 lDtre +upr!me8 UComplee, MNNV# * irritante e
complea uestão religiosa est% bem esclarecida por 0acues
+ole no seu interessante ensaio: 8.a )&volution en
uestions8 U+euil, MNNV# E "ona '2ouf permanece como a
indispens%vel introdutora 9 8.a f!te r&volutionnaire8
UAallimard, MNNV# $m livro breve, mas sugestivo, sobretudo
pelas suas ilustrações, & 8)eligion et <rance
r&volutionnaire8 UHersc3er, MNMV, de ^ann <auc3ois#
*s ideologias, as opções e as convicções pessoais não
podiam, evidentemente, estar ausentes de um domínio tão
escaldante, onde se discute desde 3% muito tempo# 8[uelle
religion pour la )&volutionW8 UEd# da $niversidade .ivre de
ruelas, MNMV reflecte um espírito muito fortemente laico#
1outro campo, os ensaios abundam, desde 8la Conjuration de
+atan8 U1ouvelles &dition latines, MOMV, de 0acueline
C3auveau, at& ao livro de 0ean C3aunu Ufil3o de -ierre
C3aunuV: 8/roits de lglise et droits de lD3omme8
UCriterion5Histoire, MNMV 5 obra inspirada nos escritos de
-io ZI 5, passando por: 8KNM# )&volte contre /ieu8 UCdre,
MKOV, de -aolo Calliari UMKOV6 8C3ristianisme et
)&volution8 U1ouvelles &ditions latines, MNOV, de 0ean de
Ziguerie6 8-ouruoi nous ne c&lebrerons pas KNM8 U*rg&,
MNKV, de 0ean /umont, autor tamb&m de um ensaio pol&mico
sobre 8.a )&volution ou les prodiges du +acrilge8
UCriterion, MNMV e de 8lglise au risue de l3istoire8
UCriterion, MNMV#
* contra5revolução, o espírito contra5revolucion%rio, cuja
perenidade & testemun3ada por essas obras, deve ser estudada
na perspectiva do esclarecimento feito por 0acues Aodec3ot,
ue reeditou feli2mente 8la Contre5)&volution, KNM5N]8
U-$<, MN]V# Completar essa leitura com 8)&volution et
contre5r&volution au 4I4e sicle8 U*lbatros, MNKV, de
+t&p3ane )iais e 8la Contre5)&volution# 'rigines, Histoire,
-ost&rit&8 U-errin, MMV, sob a direcção de 0ean (ulard#
<oi naturalmente a Auerra da Zendeia, com as suas
ambiguidades e ecessos, ue despertou mais ressentimentos e
deu vigor a debates nunca acabados# 1em todas as produções
3istóricas foram prejudicadas por isso, como 8.a (erreur
bleue8 U*lbin "ic3el, MN]V, de Elie <oumier, ue & um
estudo essencialm ente aruivístic o# "uito subjectivo & 8.e
A&nocide franco5français# .a Zend&e veng&e8 U-$<, MNKV, de
)eGnald +c3&rer# "uito mais sereno e, portanto, mais
interessante para os estudos 3istóricos & 8/e la )&volution

9 la c3ouannerie#
U<lammarion, MNNV, de -aGsans en
)oger /upuG, retagne KNN5KM]8
e 8.a Zend&e de la
m&moire N5MN8 U+euil, MNMV, de 0ean5Cl&ment "artin#
Com uma orientação muito acentuadamente contra5
revolucion%ria, encontramos ainda alguns elementos ;teis em
8+eptembre KMB# .ogiue dDun massacre8 U-lon, MNNV, de
<r&d&ric luc3e, e 8.es martGrs de la )&volution français e8
U.ibrairie *cad&miue -errin, MNMV, de Ivan AobrG#
"as, como seria de esperar, & o 8cisma8 ue, a partir de
KM, pela prestação ou não prestação, pelos membros do
clero, do juramento cívico, provoca e inspira os trabal3os
mais originais#  frente, & preciso colocar a obra de
ernard -longeron, a uem se deve de ualuer forma uma
reabilitação

]B

racional da Igreja constitucional# 0% em MO], este


3istoriador se dera a con3ecer com uma tese sobre 8les
)&guliers de -aris devant le serment constitutionnel# +ens
et cons&uences dDune option: KNM5N8 UZrin, MO]V# "ais
tarde, desbrava um terreno singularmente ensombrado,
publicando um admir%vel estudo: 8Conscience religieuse en
)&volution# )egards sur lD3istoriograp3ie religieuse de la
)&volution française8 U-icard, MOMV, com uma an%lise nunca
feita aos diferentes juramentos, seguida ainda de 8(3&ologie
et politiue au sicle des .umires, KK5NB8 U/ro2,
MKLV, bril3ante introdução 9 nova 8crise da consci!ncia
europeia8, a do fim do s&culo 4ZIII# 1as Ed# eauc3esne, em
ue ernard -longeron publicou a sua 8Histoire du diocse de
-aris8 UMNK5NNV, reuniu a partir de MNO, por regiões, os
capítulos relativos 9 )evolução, ue apareceram nas
monografias diocesanas, sob o título geral de 8lDglise de
<rance et la )&volution8#
Inspirando5me em trabal3os de ernard -longeron, publiuei
8lDglise et la )&volution8 U1ouvelle Cit&, MNNV, peueno
livro em ue colouei o acento no papel maior do clero na
)evolução de KNM, sobre os m&ritos reais da Igreja
constitucional e sobre a eclesiologia srcinal aplicada , de
KMJ a N, pela Igreja dos bispos5reunidos Uabade
AregórioV#
(ratando dos dois cleros, separados pelo 0uramento,
apareceram alguns ecelentes estudos: 8.a )&volution,
lDglise, la <rance8 UCerf, MNOV, de (imot3G (acett6
8KNM# .es pr!tres dans la )&volution8 UEd# ouvrires,
MNOV, de -aul C3ristop3e6 8.e clerg& d&c3ir&: fidle ou
rebelleW8 U'uest5<rance, MNNV, de 0ean [u&niart, na

belíssima colecção
enriuecida 8Aens de admir%veis
por trabal3os lDouest, sous
da la$niversidade
)&volution8,da
Haute5retagne6 8le Clerg& 9 lD&preuve de la )&volution,
KNM5KMM8 U/escl&e de rouPer, MNMV, de C3arles C3auvin#
Z%rios padres5escritores contribuíram de algum modo para
esse monumento, um pouco 3eteróclito, da 3istória, muitas
ve2es emocionante, de certos padres franceses durante a
)evolução# Eis aui tr!s desses trabal3os: .ouis Costel,
cuja obra & consagrada ao mundo rural de Cotentin e cujo
relato 3istórico 8"ille ans sont comme un jour# C3roniue
dDune libert& de conscience8 Uditions universitaíres,
MNMV, tem como 3erói o padre +&bastien .ebrun6 )en&
-ic3eloup, da diocese de (oulouse, autor de uma tese sobre
8.es Eccl&siastiues français emigr&s ou d&port&s dans
lDtat -ontifical8 U-ublicações da $niversidade de (oulouse5
.e "irailV6 sobretudo -ierre <lament, da diocese de +&es,
autor de um estudo serial sobre 8B pr&tres normands face
9 la )&volution8 U.ibrarie *cad&miue -errin, MNMV, ue &
um modelo, ali%s, pouco reprodu2ido#
E j% ue estou com os estudos regionais, eis dois not%veis:
8.a Zie religieuse en Haute5Aaronne sous la )&volution8
U$niversidade de (oulouse5.e .irail, MNBV, de 0ean5Claude
"eGer6 8.a )&volution française, une rupture dans le
c3ristianismeW .e cas du .imousin UKKJ5NBBV8 U.es
Hon&dires, MNBV, de .ouis -&rouas e -aul dDHollander#
Eistem poucas biografias novas# 8"onsieur EmerG8 Uonne
-resse, B vols# M]]5M]OV, de 0ean .eflon perman ece como
uma refer!ncia essencial para

]BB

a Igreja refract%ria# Esperando a grande biografia ue


prepara sobre o abade Aregório, cuja memória l3e & familiar,
ernard -longeron deu5nos entretanto 8.Dabb& Ar&goire ou
lDarc3e de la <raternit&8 U.etou2eG et *n&, MNMV# <ran5
-aul oPman, autor de 8.e C3rist des arricades KNM5N]N8
UCerf, MNKV, reuniu e apresentou alguns tetos
significativos de 8.abb& Ar&goire, &v!ue des .umires8
U<rance5Empire, MNNV# /uas biografias 3onestas: 8.Dabb&
Ar&goire, le pr!tre5citoGen8 UEd# de 1ouvelle )epubliue,
MNMV, de <ierre <auc3on6 8.Dabb& Ar&goire# v!ue et
d&mocrate8 U/escl&e de rouPer, MNMV, de Aeorges Hourdin# *
colocar em destaue: 8Ar&goire et Cat3elineau ou ia
d&c3irure8 UEd# ouvrires, MNNV, de "ic3el .agr&e e <rancis
'r3ant, ue & um estudo comparativo etremamente inteligente
de dois destinos tão tocantes como opostos#
+e se desejar entender o jogo político, filosófico e

espiritual
apresentamos ue mais
de seguida durou
uatro na
obras)evolução
capitais: <rancesa,
8.ibert&,
laycit&# .a guerre des deu <rance et le principe de la
modernit&8 UCerf, Cujas, MNKV, de mile -oulat6 8.a
)&volution des droits de l3omme8 UAallimard, MNMV, de
"arcel Aauc3et6 8)&forme et r&volution: au srcines de la
d&mocratie moderne8 U-resses du .anguedoc, MMV, de -aul
Ziallanei e colaboradores6 8.es srcines culturelle s de la
)&volution <rançaise8 U+euil, MMV, de )oger C3artier#

]BL

71/ICE

1'(* /' E/I(') ### K

-)E<TCI' ###  Xnota da digitali2ação: erro da edição em


papel, & MY

I# * IA)E0* 'C$.(*

C*-7($.' I# ' 1ascimento ### L


# ' terreno: a civili2ação greco5romana, o judaísmo ### L
B# 0esus ### O
L# *s primeiras comunidades cristãs ### M

C*-7($.' II# <ora da -alestina ### BL


# -aulo ### BL
B# * sementeira cristã ### BK
L# * Igreja ue +ofre ### LB
]# * Igreja ue vive ### LO

C*-7($.' III# * Igreja ue fala ### LM


# Ireneu perante a gnose ### LM
B# $ma apologia pela pena e pelo sangue ### ]
L# /ois pólos do pensamento cristão: Cartago e
*leandria ### ]L

II# * IA)E0* -E/*A'A* /' 'CI/E1(E


C*-7($.' I# /e Constantino a (eodósio ### ]M
# Constantino ou a emerg!ncia ### ]M
B# $ma ameaça para a Igreja: a inger!ncia do Estado ### J

]BJ

C*-7($.' II# alanço do Cristianismo em meados do s&culo IZ

JJ
# $ma visão de conjunto ### JJ
B# * elite intelectual e o cristianismo ### JO
L# 's tr!s pólos do 3umanismo cristão: *mbrósio , 0erónimo e
*gostin3o ### JK
]# * cristiani2ação dos campos ### JM
J# Correntes profundas e balanço aparente ### O

C*-7($.' III# 1o 'cidente, Igreja substitui5se ao


Imp&rio ### OL
# "en&, (eel, <arsin ### OL
B# ispos e monges perante os %rbaros ### O]
L# Aregório "agno, 8c`nsul de /eus8 ### OO
]# * Igreja e os "erovíngios ### OM
J# $ma lu2 na bruma: o monauismo celta ### K
O# ento ou o euilíbrio ### KB
K# Aermanos evangeli2am Aermanos ### KL

C*-7($.' IZ# * $nidade [uebrada ### KK


# ' difícil di%logo com o 'riente ### KK
B# ' islão ### N

III# * IA)E0* <E$/*.

C*-7($.' I# )umo 9 Europa Cristã ### NK


# $ma estrutura: o Imp&rio restabelecido no 'cidente ### NK
B# * )enascença carolíngia ### NM
L# $ma estrutura ue se revela fr%gil ### M
]# Esforço mission%rio para norte e para leste ### MB

C*-7($.' II# 's +&culos 1egros ### MJ


# ' grande terror escandinavo ### MJ
B# ' recuo da Europa ### MO
L# +&culo 4, o seculum obscurum ### MN
]# ' +acro Imp&rio e os papas 8alemães8 ### MM
J# $ma fonte viva: ClunG ### 

C*-7($.' III# ' )etorno do -apado 9 )ibalta ### J


# 's papas cluniacenses ### J
B# Aregório ZII ### K
C*-7($.' IZ# ' -rimeiro )asgão num "anto +em Costura ### M
# $ma etapa em direcção 9 ruptura entre )oma e
Constantinopla: 1icolau I e <ócio ### M
B# Cerul%rio ### 
L# $m esc\ndalo, uma esperança ### B

]BO
IZ# * 0$ZE1($/E /* E$)'-*

C*-7($.' I# 1as -egadas de Aregório ZII ### K


# * camin3o do primeiro Concílio de .atrão ### K
B# $ma sociedade cristãW ### B
L# $ma arte ao alcance do 3omem cristão ### BB

C*-7($.' II# $ma /ificuldade: * -obre2a ### BJ


# 's 8pobres8 ue recalcitram ### BJ
B# ernardo ou a pobre2a fecunda ### BN

C*-7($.' III# * 1ostalgia do 'riente ### LL


# )umo a ti, 0erusal&m ### LL
B# $ma instituição permanente destinada ao fracasso ### LJ

C*-7($.' IZ# ' (riunfo de )oma ### LM


# [uando )oma toma Claraval como refer!ncia ### LM
B# arba5)uiva ou o Imp&rio 3umil3ado ### ]
L# 8ecet ou a 3onra de /eus8 ### ]B

Z# * */E+' /' 'CI/E1(E  C)I+(*1/*/E

C*-7($.' I# ' +&culo de Inoc!ncio III ### ]K


# $m ponto alto da HistóriaW ### ]K
B# $ma vitória demasiado cara ### ]N
L# <rederico II ou o leopardo ### J

C*-7($.' II# ' +&culo de +ão .uís ### JL


# $ma 8fonte de justiça8 ### JL
B# * era do gótico ### JJ

C*-7($.' III# ' +&culo de <rancisco e de /omingos ### JK


# <rancisco ou a nude2 ### JK
B# /omingos ou a palavra ### JM

C*-7($.' IZ# ' +&culo de +ão (om%s ### OL


# * revolução do ensino# * $niversidade de -aris ### OL
B# $m modelo para o pensamento cristão: o tomismo ### OJ
C*-7($.' Z# ' (empo da Inuietação ### OM
# ' esforço mission%rio da Idade Cl%ssica ### OM
B# E a união das IgrejasW ### K
L# +intomas de crise ### KB

]BK

ZI# * IA)E0* +' *C$+*'

C*-7($.' I# * Cristandade Humil3ada ### KK


# $ma nova atmosfera ### KK
B# *nagni ou o mundo laico ### N
L# * instalação do papado em *vin3ão ### NL
]# ' fortalecimento do poder temporal dos papas ### NJ
J# ' grande cisma do 'cidente ### NM
O# Concílio ou -apaW ### M
K# asileia e <lorença ### M]
N# ' tempo das Igrejas nacionais ### MO

C*-7($.' II# * Cristandade em *cção ### B


# * 8devoção moderna8 ### B
B# *nseios de reforma ### BJ
L# E o povo cristãoW ### BN
]# 's papas da )enascença ### BM
J# * camin3o do Z Concílio de .atrão ### BL

C*-7($.' III# * Cristandade /ilacerada ### BK


# .utero, a Igreja e a Escritura ### BK
B# * eplosão do luteranismo ### BM
L# Calvino e a fundação de uma Igreja ### BBL
]# <ogo contra a cristandadeW ### BBO

ZII# * IA)E0*  /E<E+*

C*-7($.' I# * )eforma Católica ### BLL


# )eforma ou Contra5)eformaW ### BLL
B# ' Concílio de (rento ### BLO
L# 81o sangue e na carne da Igreja8 ### B]
]# ' tempo dos santos padres ### B]B
J# -ara uma Igreja maior ### B]O
O# * Igreja fora da Europa ### B]N

C*-7($.' II# ' (empo da Igreja em <rança ### BJL


# * idade de oiro da Igreja em <rança ### BJL
B# $m novo padre ### BJO
L# * 3armoniosa fac3ada da Igreja em <rança ### BJM
]# * Igreja fora de <rança ### BOB

C*-7($.' III# ' *nti5)omanismo $niversal ### BOJ


# * grande vaga do jansenismo ### BOJ
B# ' galicanismo ### BOM
L# * luta contra 8a infame8 ### BK
]# * Igreja em crise ### BKJ

J# * 8*uflrung8 católica ### BKN


]BN

O# * )evolução <rancesa: o acontecimento ### BNB


K# * )evolução <rancesa: os problemas ### BNJ

ZIII# * IA)E0* C'1(E"-')1E*: /' C*+*"E1(' <')*/' *'


/IZ@)CI' E *' /IT.'A'

C*-7($.' I# )eencontrado o Camin3o para )oma ### BML


# 1apoleão e a Igreja concordat%ria ### BML
B# *s )estaurações: apar!ncias e realidades ### BMK
L# ' eclipse das igrejas nacionais ### L
]# $ma prodigiosa eplosão de forças ### LO
J# $m clero digno e um laicado activo ### LM

C*-7($.' II# ' *frontamento ### LL


# * Igreja e a sociedade laici2ada ### LL
B# * Igreja e os oper%rios ### LM
L# * contra5Igreja socialista ### LB
]# Esforços dos católicos sociais ### LB]
J# )oma sem os Estados romanos ### LBK
O# .eão 4III e a iniciação ao pluralismo ### LBM
K# -io 4 ou a fidelidade ### LL
N# * crise modernista ### LLB
M# $m balanço positivoW ### LLK

C*-7($.' III# Cinuenta *nos /ecisivos M]5MOL ### LLM


# ento 4Z e o nascimento de um mundo novo ### LLM
B# -io 4I, o pastor veemente ### L]]
L# $m doutor: -io 4II ### L]M
]# ' bom papa 0oão ### LJL

C*-7($.' IZ# * Igreja -erante um "undo 1ovo ### LJJ


# * grande lu2 do Zaticano II ### LJJ
B# * Igreja e o "undo em crise ### LJN
L# -aulo ZI, um papa aceite e contestado ### LO

C*-7($.' Z# * Igreja no .imiar do +&culo 44I ### LOK


# ' sorriso ef&mero de 0oão -aulo I UMKNV ### LOK
B# 0oão -aulo II ou o roc3edo polaco ### LOM
L# * Igreja em processo perante a modernidadeW ### LKJ

*-1/ICE C'"-.E"E1(*) ### LKM


' -apa do "undo ### LN
* íblia ### LNK

.ista dos ###


Aloss%rio -apas
LMK### LM
ibliografias ### LNK Xnota da digitali2ação: erro da edição
em papel, & ]JY
índice ### ]BL Xnota da digitali2ação: erro da edição em
papel, & ]BJY

]BM

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