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NOTA TÉCNICA nº 01/2014 - SEA

PROCEDIMENTO PARA ANÁLISE DE PLEITO DE

ALTERAÇÃO CONTRATUAL PARA ACRÉSCIMO DE
QUANTIDADES DEVIDO A ERRO DE PROJETO EM
EMPREITADA POR PREÇO GLOBAL

SEGUNDA VERSÃO
 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
SECRETARIA DE ENGENHARIA E ARQUITETURA

NOTA TÉCNICA nº 01 – SEA

1. Título: Procedimento para análise de pleito de alteração contratual para acréscimo

de quantidades devido a erro de projeto em empreitada por preço global.

2. Versão: 002 – 2015

3. Assunto: Obras

4. Palavras-chaves: Aditivo, obra, contrato, quantitativo, orçamento, erro de projeto,

empreitada por preço global.

5. Legislação pertinente: Lei 8.666/93, Decreto 7.983/13, Acórdão TCU 1977-2013

6. Objetivo: Definir procedimento para análise de solicitação de termo aditivo que

vise correção de quantitativo de serviço em planilha orçamentária motivado por
erro de projeto em contratação no regime de execução de empreitada por preço
global.

7. Conteúdo:

A análise de solicitação de correção de quantitativos de serviço em planilha

orçamentária motivada por erro de projeto em contrato de construção de
edificação no regime de execução de empreitada por preço global deve ser
realizada em etapas, seguindo a metodologia abaixo:

I – Identificar se a diferença de quantitativo tem origem em erro de projeto ou em

divergência no critério de quantificação; seguir somente se for caracterizado erro
de projeto;

II – Qualificar a relevância financeira do pedido, atendendo as seguintes

condições:
• Figurar entre os itens da classe “A” na curva ABC1;

1
Curva ABC: Teorema de Pareto – Método de classificação para separação de itens de maior importância
ou impacto, normalmente em menor número. Citado no Acórdão TCU 1977-2013 como metodologia para
determinação da relevância do serviço.
 • A diferença financeira (quantidade apurada x valor unitário)
apurada no serviço deve ser igual ou superior ao valor financeiro
correspondente ao percentual de risco declarado na composição do
BDI2, multiplicado pelo valor total do grupo de item da planilha
sintética3 correspondente. (Ver exemplo completo no apêndice)

III – Avaliar se a subestimativa apresentada não está compensada por distorções

de outros serviços de relevância equivalente, e se a alteração não implicará um
valor global do objeto incompatível com o de mercado;

IV – Recalcular a curva ABC com as possíveis correções para observar o

comportamento dos demais serviços quanto a possíveis alterações nas faixas de
classificação, retomando, quando necessário, a etapa II;

V – Verificar se a alteração contratual modifica o desconto financeiro ofertado

pela contratada durante a licitação4. Esse desconto percentual não pode ser
diminuído com a alteração contratual, nesse caso os valores dos serviços devem
ser corrigidos a menor para manutenção do desconto;

VI – Verificar se a alteração contratual não modificaria o resultado classificatório

da licitação5;

VII – Verificar se a alteração contratual não implica no descumprimento dos

limites orçamentários: 10% para correção de erros de projeto6, e 25% ou 50% para
alteração do contrato7.

Para o serviço identificado como erro, de caráter significante, e que cumpra a todas
as exigências postuladas nessa metodologia, orienta-se a realização de termo
aditivo para acréscimo de quantidades devido a erro de projeto.

Brasília, outubro de 2015

Secretaria de Engenharia e Arquitetura

2
Caso a proposta da empresa não apresente o BDI detalhado, ou detalhado com valor inferior ao de
referência, servirá como base de cálculo o risco do BDI constante no orçamento de referência da
Administração.
3
Os grupos de itens da planilha sintética estão previamente definidos para efeito de classificações como:
1)Estrutura, Fundações e Impermeabilização; 2)Arquitetura; 3) Instalações Prediais; e 4) Outros.
4
Art. 14 do Decreto 7.983/2013, e, art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal.
5
Art. 3º, caput da Lei 8.666/93.
6
Art. 13, inciso II, do Decreto 7.983/2013.
7
§§ 1º e 2º do art. 65 da Lei 8.666/93.
 APÊNDICE TÉCNICO

Erro de planilha vs. Critério de quantificação de serviços

Não se deve confundir erro de quantidade com critério de quantificação de

serviços. Dois engenheiros, dependendo da metodologia adotada, podem chegar a
quantidades diferentes para o mesmo item de orçamento, sem nenhum deles ter
errado. Isto porque quantidades são ajustadas nos coeficientes de consumo dos
materiais empregados. Exemplo: pode-se quantificar o telhado de um prédio por
área real (verdadeira grandeza) ou em projeção, o serviço e o consumo de insumos
serão os mesmos, mas as quantidades levantadas desse serviço no orçamento serão
diferentes para cada critério.

Exemplo hipotético: O desenho abaixo representa um telhado visto de

frente, cujo comprimento é 100 m e que será construído com 20.000 telhas.

Se o engenheiro orçar o telhado pela área projetada, chegará a uma

quantidade de 10 x 100 = 1.000 m². Se orçar pela área real, a quantidade passa a
ser (10+10)x100 = 2.000,00 m², isto é, o dobro do primeiro critério.

Observa-se que a quantidade necessária de telhas é a mesma, pois o telhado

não foi mudado. O ajuste é feito na ficha de composição: São necessárias 10 telhas
por m² de área real ou 20 telhas por m² de área em projeção. No final serão
necessárias 20.000 telhas, independentemente do critério adotado.

10 m 10 m

10 m

Conclui-se que o critério de quantificação adotado é importante e deve ser

considerado na análise do pleito, conforme apresentado na etapa I da metodologia
de análise.

Análise pela metodologia da Curva ABC

A metodologia da Curva ABC é baseada no Princípio de Pareto, onde se

considera que, para muitos fenômenos, 80% das consequências advêm de 20%
das causas. A curva ABC divide o evento em três faixas, onde a faixa “A”
representa os itens de maior importância, valor ou quantidade, correspondendo a
80% do total.
 Para se aplicar a metodologia na análise do referido pleito, o gestor deve
ordenar os itens do orçamento do maior para o menor valor e, em uma coluna,
calcular o valor acumulado linha a linha (conforme exemplo). Comporão a faixa
“A” os itens que estão dentro da faixa de 80% do valor total do orçamento.

As tabelas a seguir são um exemplo hipotético do orçamento de uma obra

com vinte itens:

Orçamento anexo ao contrato

Item Serviço Valor Serviço

Serviço 01.01 R$ 8.000,00
Serviço 01.02 R$ 23.500,00
Fundações e Serviço 01.03 R$ 30.000,00
estruturas Serviço 01.04 R$ 5.000,00
Serviço 01.05 R$ 2.000,00
Serviço 01.06 R$ 200.000,00
Serviço 02.01 R$ 150.000,00
Serviço 02.02 R$ 180.000,00
Arquitetura
Serviço 02.03 R$ 55.000,00
Serviço 02.04 R$ 15.000,00
Instalações Serviço 03.01 R$ 1.000,00
Elétricas Serviço 03.02 R$ 10.000,00
Serviço 04.01 R$ 18.000,00
Outras Serviço 04.02 R$ 270.000,00
Instalações Serviço 04.03 R$ 3.000,00
Serviço 04.04 R$ 2.000,00
Mov. Terra Serviço 05.01 R$ 12.000,00
Serv. Finais Serviço 06.01 R$ 1.500,00
Serviço 07.01 R$ 1.000,00
Administração
Serviço 07.02 R$ 13.000,00
TOTAL: R$ 1.000.000,00
80% DO TOTAL: R$ 800.000,00

O próximo passo é ordenar os serviços do maior para o menor valor, criar

uma coluna ao lado e calcular os valores acumulados. Quando o acumulado
corresponder a 80 % do orçamento, os serviços que compõem esse valor
representarão a faixa “A” da curva ABC.
 Orçamento ajustado para definição da Faixa “A”

Valor Acumulado Faixa da curva

Serviço Valor do serviço
(Soma) ABC
Serviço 04.02 R$ 270.000,00 R$ 270.000,00 A
Serviço 01.06 R$ 200.000,00 R$ 470.000,00 A
Serviço 02.02 R$ 180.000,00 R$ 650.000,00 A
Serviço 02.01 R$ 150.000,00 R$ 800.000,00 A
Serviço 02.03 R$ 55.000,00 R$ 855.000,00 B
Serviço 01.03 R$ 30.000,00 R$ 885.000,00 B
Serviço 01.02 R$ 23.500,00 R$ 908.500,00 B
Serviço 04.01 R$ 18.000,00 R$ 926.500,00 B
Serviço 02.04 R$ 15.000,00 R$ 941.500,00 B
Serviço 07.02 R$ 13.000,00 R$ 954.500,00 C
Serviço 05.01 R$ 12.000,00 R$ 966.500,00 C
Serviço 03.02 R$ 10.000,00 R$ 976.500,00 C
Serviço 01.01 R$ 8.000,00 R$ 984.500,00 C
Serviço 01.04 R$ 5.000,00 R$ 989.500,00 C
Serviço 04.03 R$ 3.000,00 R$ 992.500,00 C
Serviço 01.05 R$ 2.000,00 R$ 994.500,00 C
Serviço 04.04 R$ 2.000,00 R$ 996.500,00 C
Serviço 06.01 R$ 1.500,00 R$ 998.000,00 C
Serviço 03.01 R$ 1.000,00 R$ 999.000,00 C
Serviço 07.01 R$ 1.000,00 R$ 1.000.000,00 C
TOTAL: R$ 1.000.000,00
80% DO TOTAL: R$ 800.000,00

Logo, os itens a serem analisados no exemplo apresentado são os serviços

01.06; 02.01; 02,02 e 04.02, conforme etapa II do processo de análise. É
imprescindível que a análise da Curva ABC na planilha orçamentária seja
precedida de um trabalho de triagem e conferência quanto à estruturação e
consolidação dos serviços equivalentes quantificados separadamente.

A análise da curva ABC deve ser realizada todas as vezes que forem
modificados quantitativos corrigidos, pois a classificação poderá sofrer alteração
e será necessária nova análise de relevância. Deve-se ressaltar que cabe à
contratada apresentar todos os esclarecimentos e documentação necessários à
realização da análise.
 Relevância da diferença apurada

Para classificação do pedido de correção como relevante é necessário que

a diferença apurada seja quantitativamente significativa. Isso se dá quando o erro
financeiro apurado corresponde a valor financeiro maior que o risco declarado na
composição do BDI aplicado ao grupo de item. Caso a composição do BDI não
seja apresentada pela empresa contratada, a planilha de referência apresentada
pela administração na licitação servirá como base de cálculo.

São considerados grupos de itens de 4 tipos:

• Estruturas, Fundações e Impermeabilização

• Arquitetura
• Instalações Prediais (Elétrica, Hidráulica, SPDA, SDAI,
Telecomunicações, Incêndio, Climatização, Transporte
Vertical)
• Outros (Serviços Gerais, Iniciais, Finais, Administração local e
central, Movimentação de terra)

Aproveitando o exemplo em tela, considerando que o risco declarado no

BDI é de 1,5%, para os serviços passíveis de correção temos os seguintes passos
para determinação da relevância:

1) Verificação se o item está classificado como “A”, e portanto

elegível a aditivos.

Valor acumulado Faixa da

Item Serviço Valor do serviço
(Soma) curva ABC
Outras
Serviço 04.02 R$ 270.000,00 R$ 270.000,00 A
Instalações
Fundação e
Serviço 01.06 R$ 200.000,00 R$ 470.000,00 A
Estrutura
Arquitetura
Serviço 02.02 R$ 180.000,00 R$ 650.000,00 A
Arquitetura
Serviço 02.01 R$ 150.000,00 R$ 800.000,00 A
 2) Cálculo do valor do item (que é a soma de seus serviços
agrupados)

Item Serviço Valor Serviço Valor do Item

Serviço 01.01 R$ 8.000,00
Serviço 01.02 R$ 23.500,00
Fundações e Serviço 01.03 R$ 30.000,00
R$ 268.500,00
estruturas Serviço 01.04 R$ 5.000,00
Serviço 01.05 R$ 2.000,00
Serviço 01.06 R$ 200.000,00
Serviço 02.01 R$ 150.000,00
Serviço 02.02 R$ 180.000,00
Arquitetura R$ 400.000,00
Serviço 02.03 R$ 55.000,00
Serviço 02.04 R$ 15.000,00
Serviço 03.01 R$ 1.000,00
Instalações Elétricas R$ 11.000,00
Serviço 03.02 R$ 10.000,00
Serviço 04.01 R$ 18.000,00
Serviço 04.02 R$ 270.000,00
Outras Instalações R$ 293.000,00
Serviço 04.03 R$ 3.000,00
Serviço 04.04 R$ 2.000,00
Mov. Terra Serviço 05.01 R$ 12.000,00 R$ 12.000,00
Serv. Finais Serviço 06.01 R$ 1.500,00 R$ 1.500,00
Serviço 07.01 R$ 1.000,00
Administração R$ 14.000,00
Serviço 07.02 R$ 13.000,00
TOTAL: R$ 1.000.000,00
80% DO TOTAL: R$ 800.000,00

Portanto o total de cada grupo de item é:

• Fundação e estruturas:
o R$ 268.500,00

• Arquitetura:
o R$ 400.000,00

• Instalações Prediais:
o R$ 11.000,00 + R$ 293.000,00 = R$ 304.000,00

• Outros:
o R$ 12.000,00 + R$ 1.500,00 + R$ 14.000,00 = R$ 27.500,00
 3) Verificação do valor a ser aditado.

O valor financeiro do erro de cada serviço (a maior ou a menor) somente

é cabido quando é superior ao valor do risco multiplicado pelo tipo de item. No
exemplo:

Valor do grupo de 1,5% * grupo de

Serviço Valor Serviço
item item
Serviço 04.02 R$ 270.000,00 R$ 304.000,00 R$ 4.560,00
Serviço 01.06 R$ 200.000,00 R$ 268.500,00 R$ 4.027,50
Serviço 02.02 R$ 180.000,00 R$ 400.000,00 R$ 6.000,00
Serviço 02.01 R$ 150.000,00 R$ 400.000,00 R$ 6.000,00

Ou seja: Se o erro apurado no item 04.02 for superior a R$ 4.560,00, há o

direito a aditivo. Caso seja inferior, não haverá aditamento ao contrato. O mesmo
vale para os 4 itens da curva “A”.

Os itens classificados na curva ABC como “B” e “C” não permitem

aditivos ou supressões de quantidade devido a erros de projeto.

Avaliação de compensação por distorções

Em contratos no regime de execução em empreitada por preço global, é

comum imprecisões nas quantidades contratadas, tanto para mais quanto para
menos. No caso de haver pleitos da empresa para a adição de quantidade
(lembrando que somente serão avaliados os serviços “A” da curva), deve-se
avaliar a existência de compensação financeira por outros serviços executados a
menor.

Portanto, caso algum serviço classificado como “A” qualificado para a

concessão do aditivo, comparado a outro serviço dessa classificação que tenha
sido quantificado a maior do que o real, entende-se que o valor em reais dessa
adição compensa o valor da supressão. Neste caso, deve-se registrar o fato e não
proceder ao aditivo.

Manutenção do desconto financeiro

Essa avaliação será necessária nos casos de propostas que não tiveram um
desconto linear aplicado a todos os serviços na proposta da licitação.

Caso o serviço a ser corrigido contribua com o preço global ofertado de

forma desproporcional ao valor do desconto da proposta global na licitação
(desconto do valor do serviço menor que o desconto global da proposta), deverá
ter seu valor diminuído para a manutenção do desconto.
 No caso do serviço a ser aditivado apresentar desconto maior do que o
desconto global da proposta, o valor do serviço contratado deverá ser mantido no
aditivo.

O desconto financeiro do preço global ofertado é determinado pelo

quociente do valor de referência orçado pela administração, pelo valor da proposta
vencedora:

%d = 1-(VV/VR)x100
Sendo: %d percentual de desconto
VV valor da proposta vencedora
VR valor de referência da administração

Para o desconto financeiro ser mantido é necessário que essa equação seja
igualada da seguinte maneira:

1-(VV/VR)x100 = %d = 1-(VVcorrigido/VRcorrigido)x100
Sendo: %d percentual de desconto
VVcorrigido valor da proposta vencedora corrigida
VRcorrigido valor de referência da administração corrigido

Entenda-se por valores corrigidos, aqueles acrescidos dos quantitativos de

serviços a serem corrigidos com o valor das respectivas planilhas.

Como as quantidades a serem corrigidas são determinadas e os valores dos

serviços na planilha de referência também, o valor de referência da administração
corrigido é fixo. Desta forma a correção deverá se dar pela redução do valor da
proposta vencedora corrigida, que com as quantidades determinadas necessitará
reduzir o valor do serviço para garantir a identidade da equação.