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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Escola de Comunicação
Curso de Comunicação Social
habilitação em Jornalismo

Apostila
2005.1

Jornalismo Internacional
(Sistemas Internacionais de Informação)
ECA470

Prof. Dr. Mohamed ElHajji

com monitoria do
Programa de Educação Tutorial da Escola de Comunicação da UFRJ (PET-ECO)
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Índice
Créditos ......................................................................................................... 2
Ementa ......................................................................................................... 3
Objetivos ......................................................................................................... 3
Avaliação ......................................................................................................... 3
Programa ......................................................................................................... 4
Bibliografia ......................................................................................................... 5

Textos auxiliares
“Jornalismo Internacional” – definição da Wikipedia, a enciclopédia livre .................... 6
“O Jornalista Brasileiro e a Nova Ordem Mundial da Informação e da Comunicação” ...... 8
Guy de Almeida
“A Batalha no Mundo” (Fluxo de Informação e Pauta de Internacional) ....................... 12
Clóvis Rossi
“Olhai (direito) pra nós!” (Jornalismo Internacional Alternativo) ................................. 15
J.P. Charleaux
“Lula, o Bin Laden do Reverendo Moon” (Mídia Conservadora dos EUA) ....................... 20
Joel Conrado
“A Grande Matéria: Washington, as Nações Unidas, o Mundo” ................................... 25
John Hohenberg
“Meio Século de Memórias” (História do Fotojornalismo Internacional) ....................... 39
John Morris
“Os Atacadistas de Notícias” (Agências Internacionais de Notícias) ............................ 43
John Hohenberg
“Jornalismo Internacional, Correspondentes e Testemunhos sobre o Exterior” ............. 49
Guillermo García Espinosa de Los Monteros
“Do Outro Lado do Mundo” (Trabalho do Correspondente Internacional) .................... 55
Fritz Utzeri
“O Fim de uma Era” (Correspondentes Internacionais da TV Globo) ............................ 62
Antônio Brasil
“Crise na Cobertura Internacional” ......................................................................... 65
Antônio Brasil
“Cobertura Internacional é para gente grande” ....................................................... 67
Cristiana Mesquita
Cobertura Brasileira sobre Guerras ......................................................................... 70
Jayme Brener
“Jornalismo sem Fronteiras” (História da CNN) ....................................................... 72
Sidney Pike
“Em Directo da Guerra: o impacto da Guerra do Golfo no discurso jornalístico” ............. 79
José Rodrigues dos Santos
“A Internet e o Futuro do Jornalismo Internacional” .................................................. 83
Alan Knight

Apêndices de Referência
Editorias Brasileiras de Internacional 89
Agências Internacionais (telefones/contatos das que atuam no Brasil) 90
Websites de Veículos da Mídia Estrangeira 91
Correspondentes Brasileiros no Exterior 92
Correspondentes Estrangeiros no Brasil 93
Sedes de Estado e de Governo de Alguns Países 95
Parlamentos de Alguns Países 96
Outros websites úteis 97
Cronologia da Formação da Mídia Internacional (Veículos e Agências) 98
Fatos marcantes na pauta de Internacional no semestre anterior 99

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Créditos
Docente
Prof. Dr. Mohamed ElHajji

Monitores
Anna Virginia Baloussier Ancora da Luz
Fábio Savino
Lucas Travassos Telles
Pedro Aguiar
Rafael Moura Vargas
Suzana Corrêa Barbosa

Editoração da Apostila
Anna Virginia Baloussier Ancora da Luz
Pedro Aguiar
Rafael Moura Vargas

Projeto Gráfico
Pedro Aguiar

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Ementa
O jornalismo como intérprete das questões globais. O discurso jornalístico sobre fatos
internacionais. Distanciamento e identificação. O noticiário de política internacional. Agências de
notícias, correspondência internacional e correspondência de guerra. Pauta, apuração, redação e
edição em Jornalismo Internacional.

Objetivos
1. Apresentar as questões globais, antigas e contemporâneas, como objeto do trabalho jornalístico.
Discutir em que medida essas questões traduzem e/ou afetam nossa realidade.
2. Introduzir os principais elementos, aspectos e personagens da política internacional, discutindo
os papéis que efetivamente têm e a sua representação cotidiana no noticiário.
3. Apresentar a prática do Jornalismo Internacional; as funções, os locais e as possibilidades de
trabalho nesta área. Se possível, realizar visitas aos locais onde se exerce.
4. Debater temas contemporâneos da geopolítica e da política internacional, a partir de exemplos
da mídia.

Avaliação
1. Seminário (em grupo)
2. Reportagem e/ou ensaio sobre determinada questão de noticiário internacional

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Programa
1. Jornalismo e Questões Globais
1.1. Definição e Gênese. Jornalismo Internacional como produto do industrialismo do século XIX.
Primeiras coberturas de guerra (Criméia, Secessão, guerras imperialistas, Primeira Guerra
Mundial).
1.2. O Discurso da Mídia e os Fatos Internacionais. A visão de mundo que a mídia transmite. O
etnocentrismo na imprensa estrangeira. Fluxo de informação.
1.3. Teorias da Globalização e suas influências no Discurso Midiático (Fukuyama, Huntington,
Negri, etc.).
1.4. Hegemonia e Alteridade. O olhar do outro anulado pela mídia hegemônica. Distanciamento x
Identificação: o regional interessa mais que o estrangeiro?

2. O Noticiário de Política Internacional


2.1. A Pauta no Noticiário Internacional. A hegemonia da política externa de Washington. Vizinhos
latino-americanos e países do Terceiro Mundo. Guerras, eleições, golpes e desastres: não há
mais nada além disso?
2.2. Principais atores na Política Internacional. Organismos Multilaterais e Blocos Político-
Econômicos. ONGs e instituições humanitárias. Partidos políticos e entidades suprapartidárias.
Movimentos sociais e minorias.
2.3. Grupos Culturais-Étnicos-Religiosos. Islamismo, Catolicismo, Anglo-Saxônicos, Pan-
Africanismo, Pan-Eslavismo. Unicidades e fragmentações. Subculturas e rebeldia. Dicotomia
Ocidente x Oriente.
2.4. Esquerda x Direita pelo Mundo Afora. Políticas, eleições e conflitos baseados firmemente em
ideologia.
2.5. Problemas Históricos. Colonizadores e ex-colonizados; ex-aliados e ex-inimigos; estados
multinacionais e nações sem estado.

3. O Trabalho em Jornalismo Internacional


3.1. A Reportagem em Jornalismo Internacional. Presença x Acompanhamento Constante.
Apuração e checagem à distância. Barreiras à informação in loco (censuras, manipulações por
interesses locais etc.). Internet e credibilidade.
3.2. O Correspondente Estrangeiro e o Enviado Especial. O dispatch internacional.
3.3. O Correspondente de Guerra e o Roving Correspondent: o repórter internacional permanente.
3.4. A Agência Internacional de Notícias. Como funcionam, quais as principais no mundo, quais as
que atuam no Brasil. Rapidez x Precisão. Agências Oficiais x Agências Privadas.
3.5. A Editoria Internacional no Jornalismo Diário (jornal, revista, TV, rádio e Internet). Estrutura e
funcionamento.
3.6. Novas Mídias, Multiplicidade das Fontes e Responsabilidade. Imprensa alternativa e redes
alternativas de informação (CMI, rádios).

4. Questões Contemporâneas de Política Internacional


4.1. Relações Internacionais no Século XXI
4.2. Imperialismo x Império. Unipolaridade x Multipolaridade

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

4.3. Terrorismo Global: algo mudou depois do 11.set.2001? “Eixo do Mal”


4.4. Nacionalismos e Conflitos Étnicos
4.5. Geopolítica dos Recursos Naturais

Bibliografia básica
BARBER, Benjamin. “Jihad x McMundo”, Rio de Janeiro, Record, 2003
BAUMAN, Zygmunt. “Globalização: as Conseqüências Humanas”, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1999
CANCLINI, Néstor García. “Consumidores e Cidadãos: conflitos multiculturais da globalização”, Rio
de Janeiro, EDUFRJ, 1999
DIZARD JR., Wilson. “A Nova Mídia”, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2000
HUNTINGTON, Samuel. “Choque de Civilizações”, Rio de Janeiro, Objetiva, 2001
NATALI, João Batista. “Jornalismo Internacional”, São Paulo, Contexto, 2004
NEGRI, Antonio & HARDT, Michael. “Império”, Record, 2001
PEREIRA, Marcelle Santana Gonçalves. “Os Últimos Românticos: sobre correspondentes da
imprensa brasileira no exterior”, Monografia de conclusão de curso, Niterói, IACS, 2001
ROSSI, Clovis. “Enviado Especial: 25 anos ao redor do mundo”, São Paulo, Senac, 1999
TODD, Emmanuel. “Depois do Império”, Record, 2003

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Jornalismo Internacional
Verbete da Wikipedia, a Enciclopédia Livre, 2005
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Jornalismo_Internacional)

Chama-se Jornalismo Internacional a material para os clientes (i.e., jornais, revistas,


especialização da profissão jornalística nos rádios, televisões, websites etc.).
eventos estrangeiros ao país onde está sediado o As agências surgiram em meados do século
veículo de imprensa em que o jornalista XIX, com a fundação da primeira agência, a
trabalha. Por isso, a definição é relativa por Havas (mais tarde dividida entre AFP e
natureza: o que é assunto "doméstico" num Reuters). Inicialmente sediada em Paris, a
determinado país será "internacional" em todos Havas enviava as principais informações e
os demais. Este fato faz com que o Jornalismo notícias do exterior por telegramas para os
Internacional seja provavelmente a área do jornais, que pagavam por esse serviço. Durante
Jornalismo com maior abrangência de temas a Guerra de Secessão nos Estados Unidos, os
entre todas, já que deve dar conta de política, maiores jornais de Nova York se juntaram para
economia, cultura, acidentes, natureza e todos formar a Associated Press, e enviar um pool de
os assuntos que aconteçam fora de seu país de correspondentes para o campo de batalha.
origem.
Hoje, as agências mantêm uma rede de
O Jornalismo como atividade profissional já correspondentes e stringers (colaboradores) nas
teria nascido Internacional em seus primórdios, maiores cidades do mundo e assim repassam
pois os veículos de imprensa pioneiros - criados para os veículos de imprensa. Nos últimos anos,
no contexto da ascensão da burguesia na Europa o trabalho das agências e seus correspondentes
nos séculos XVII e XVIII - foram criados foi enormemente facilitado pelas novas
principalmente para informar leitores locais (em tecnologias de comunicação, como a Internet.
grande parte, comerciantes e banqueiros) sobre
fatos acontecidos no exterior.
A partir do século XIX, com jornais já Correspondentes e Enviados
consolidados na Europa, nos Estados Unidos e Há dois tipos de reportagem que podem ser
em determinados países - como o Brasil -, e feitas no exterior: o trabalho de
com as inovações nas telecomunicações, como Correspondência Estrangeira (ou
o telégrafo, as notícias do estrangeiro ganharam Correspondência Internacional) e o do Enviado
novo impulso. Começaram a ser formadas as Especial ao Exterior. Embora haja semelhanças
primeiras agências de notícias, inicialmente entre ambos, as diferenças se dão no cotidiano
como associações entre jornais para cobrir do trabalho e da produção de material para seus
eventos de grande relevância, como guerras e respectivos veículos de imprensa.
revoluções. Os primeiros conflitos a receber
ampla cobertura jornalística foram a Guerra da O Correspondente é um repórter baseado
Criméia e a Guerra de Secessão dos EUA. fixamente numa cidade estrangeira - muitas
vezes a capital de um país -, cobrindo uma
região, um país ou às vezes até um continente
Agências de Notícias inteiro. Ele deve enviar matérias regularmente
para a redação da sede de seu veículo. Para isso,
As Agências de Notícias são empresas ele acompanha toda a imprensa local, mantém
jornalísticas especializadas em difundir contatos freqüentes com jornalistas e colegas
informações e notícias diretamente das fontes correspondentes e identifica fontes estratégicas
para os veículos de mídia. As agências operam - como entidades, governos, diplomatas,
através de escritórios locais, em diferentes militares e outras que possam fornecer
cidades e países, que transmitem sua apuração informações importantes. Na maior parte das
para as centrais, que por sua vez redistribuem o vezes, o correspondente é auto-pautado - ou

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

seja, ele mesmo define sobre o que irá escrever, século XIX, com o envio de repórteres europeus
o que irá apurar, que assuntos vai selecionar. O e norte-americanos para conflitos como a
correspondente deve ter conhecimento profundo Guerra da Criméia, Guerra do México, Guerra
da realidade local e um talento discricionário do Ópio, Guerra de Secessão dos EUA, Guerra
elevadíssimo para identificar os fatos mais do Paraguai e Guerra Hispano-Americana.
relevantes no país onde trabalha e ao mesmo Entretanto, antes mesmo já havia os chamados
tempo interessantes para seu país de origem. "cronistas de guerra", que produziam relatos
Já o Enviado Especial é um repórter expatriado sobre os conflitos - sem que houvesse, na
com um tema previamente definido para cobrir época, técnicas de produção jornalística. O
ou investigar (uma guerra, uma crise, uma general romano Júlio César, por exemplo,
epidemia etc.). Diferente do correspondente, o escreveu crônicas de guerra em seu diário De
enviado especial pode produzir uma única Bello Galico. A diferença para os
matéria, se for o caso, ou uma série, sem correspondentes modernos é que estes são
necessidade de envio regular de produção. enviados especificamente para cobrir conflitos
Normalmente, o enviado especial é selecionado para um veículo determinado (jornal, TV, rádio,
entre os profissionais da redação por ter maiores revista etc.).
conhecimentos sobre o tema ou o lugar dos O correspondente de guerra pode ficar baseado
fatos. Muitas vezes, o enviado passa poucos numa cidade perto da zona de conflito (por
dias no local e retorna à sede logo em seguida. haver mais infraestrutura e acesso a
Quando jornalistas trabalham no exterior sem comunicação com a redação da sede) ou ir
vínculos fixos com veículos de imprensa ou em direto para o front de combate, se as condições
regime de prestação de serviço, são chamados e os militares permitirem. Tecnologias de
de Stringers. Estes são mais comuns em locais comunicação recentes, como a internet,
onde a mídia não acha tão interessante ou permitiram maior mobilidade ao correspondente
compensatório manter um correspondente fixo, de guerra, já que ele agora pode enviar textos,
como em países do Terceiro Mundo. Stringers sons e imagens de praticamente qualquer ponto
geralmente produzem matérias para várias do mapa, incluindo o campo de batalha. O
empresas diferentes ao mesmo tempo. trabalho é de altíssimo risco, mas cada
informação obtida tem valor igualmente alto.
Correspondência de Guerra
Correspondentes de guerra estão entre as
O trabalho de Correspondente de Guerra maiores vítimas de casualidades (mortes por
propriamente dito surgiu na segunda metade do assassinatos ou acidentes) entre jornalistas.

O QUE É A WIKIPEDIA

A Wikipedia é uma enciclopédia online de conteúdo livre, o que significa que qualquer usuário pode editar os
verbetes, alterando o que quiser, sem nenhum tipo de controle ou censura. Isso também significa, por outro lado,
que pode haver erros ou opiniões e ideologias embutidos nos textos e, nestes casos, a redação final fica a cargo
do senso-comum.

Para acessar a Wikipedia, visite http://www.wikipedia.org

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Texto I
O Jornalista Brasileiro e a Nova Ordem Mundial da Informação
e da Comunicação
Guy de Almeida, 1980

A importância, para o jornalista profissional, do O fluxo interno de informações sob controle


estabelecimento de uma Nova Ordem Mundial apenas do governo ou de determinados setores
da Informação e da Comunicação (NOMIC) se da sociedade agrava na prática interna as
caracteriza em vários aspectos. Como cidadão, distorções denunciadas em relação ao controle
sua ótica deve ser não apenas a do captador- da informação internacional pelas grandes
emissor de informações, mas também a do nações industrializadas em detrimento das
receptor, mais consciente, por sua própria nações em desenvolvimento.
especialização, do importante papel que a 2. A democratização da comunicação é
comunicação joga na sociedade. Nessas essencial para o jornalista - porque, na medida
circunstâncias, pelo menos dois aspectos, entre da qualidade de seu trabalho profissional, tende
outros, devem ser motivo de reflexão a dignificar e consolidar o seu importante papel
permanente para o jornalista profissional: na sociedade.
1. A função essencial da comunicação
democratizada, particularmente em uma Basicamente, o processo de busca da Nova
sociedade como a brasileira que, após muitos Ordem Mundial da Informação e da
anos, reabre e aprofunda o debate em busca de Comunicação instaurou-se como conseqüência
um modelo política, econômica e socialmente da percepção, pelos países do Terceiro Mundo,
mais justo. baseada em sua longa experiência histórica, da
importância da atual Ordem como instrumento
Já parece suficientemente claro para os fundamental para o controle das Ordens Política
estudiosos do problema que a criação da Nova e Econômica Internacionais pelos países
Ordem Mundial da Informação e da industrializados.
Comunicação inclui um acurado exame da
Ordem Informativa Nacional, também Aquele processo nasceu assim do diagnóstico
caracterizada por sérios desequilíbrios. Ela primário do desequilíbrio informativo entre
deveria ser abordada de acordo com as nações desenvolvidas e nações em
peculiaridades de cada país, tomando sempre desenvolvimento e transitou rapidamente para o
em consideração que, tal como é reivindicado aprofundamento de pesquisas e estudos para a
por diversos grupos de países do Terceiro proposição de alternativas e fórmulas para a sua
Mundo em relação à Ordem Internacional, viabilização. Constatou-se, então, a existência
deveria ampla, paulatina e substancialmente os de uma complexa teia de problemas cuja
níveis de participação dos diferentes segmentos superação seria essencial para que aquele
da sociedade e das diferentes regiões de cada objetivo fosse alcançado.
país, seja no sentido de uma mais equilibrada O trabalho mais profundo e importante
circulação interna de informações e opiniões em elaborado até agora com essa finalidade é o da
relação aos seus diversificados interesses, seja Comissão Internacional para o Estudo dos
em relação à qualidade e credibilidade daquele Problemas da Comunicação, criada em 1977
material. pela UNESCO, que ficou mais conhecida como
A exclusão desta preocupação comprometeria a Comissão MacBride, uma derivação do nome
retórica desenvolvida por aqueles governos em de seu presidente, o irlandês Sean MacBride.
defesa da Nova Ordem Mundial da Informação Ela esteve formada por 16 especialistas de
e da Comunicação, na medida em que seus prestígio mundial1, oriundos de diferentes
efeitos e vantagens estariam condicionados no 1
Os 16 membros da Comissão foram, além do irlandês
âmbito nacional em grande medida aos Sean MacBride, seu presidente: Elie Abel (Estados
interesses de limitados setores. Unidos). Humbert Beuve-Méry (França), Elebe Ma

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

nacionalidades e representati-vos, em linhas Torna-se, assim, pelo menos um instrumento de


gerais, das situações e tendências políticas e estímulo a um debate mais ordenado e
econômicas, mais em evidência do mundo de conseqüente que deve promover novos níveis de
hoje. consciência quanto ao tema e à viabilização de
fórmulas para a superação dos problemas já
O seu Relatório final, aprovado por consenso
conhecidos.
pela XXI Conferência Geral da UNESCO
(Belgrado, 1980), apontou uma série de Nesse quadro, alguns aspectos em debate que
problemas básicos da área de Comunicação, interessam diretamente aos jornalistas
particularizando também em três capítulos profissionais são, por exemplo, sinteticamente:
especiais, aqueles que afetam a atividade do 1. O estabelecimento de Políticas Nacionais de
jornalista: "Os profissionais da comunicação", Comunicação, envolvendo um conceito de
"Direitos e responsabilidades dos jornalistas" e desenvolvimento global e integrado. A
"Normas de conduta profissional". implantação de novos mecanismos internos e
Seu exame, ainda que superficial, mostrará, até externos de informação no país deverá ter, além
mesmo por uma pragmática consciência em de sua importância como instrumento para o
relação à influência que terá para a estruturação desenvolvimento econômico e social, um peso
da profissão no futuro, que o jornalista específico na valorização profissional e na
profissional deverá estar pelo menos atento ao dinâmica do mercado de trabalho.
desenvolvimento do debate e posicionado para 2. A multiplicação das profissões requeridas no
influir expressando a sua opinião. mercado de comunicação em conseqüência da
Quase todos os aspectos abordados pela revolução tecnológica (satélites, laser,
Comissão MacBride têm sido objeto de computadores, etc.) superando o sentido
preocupação intermitente ou permanente dos tradicional de transferência da informação, que
setores representativos da categoria profissional envolvia basicamente os jornalistas (repórteres,
em todo o mundo ao longo dos últimos anos. redatores, pessoal da radiodifusão, televisão,
Pela primeira vez, no entanto, eles surgem etc.). O surgimento de diferentes atividades
apresentados e analisados em conjunto, profissionais na área e a sua articulação para o
enriquecidos, portanto, pelas vantagens de uma exame de problemas comuns são elementos
visão global e articulada, apesar de várias importantes para as relações internas nas novas
limitações observadas devido ao próprio estruturas de trabalho em elaboração.
ecletismo da composição da Comissão e dos 3. O impacto da nova tecnologia sabre o atual
interesses nacionais envolvidos no debate na mercado de trabalho e particularmente sobre o
UNESCO, levada, por isso, à conciliação de exercício profissional, problema que deverá
posições para a obtenção do consenso. atingir de maneira objetiva o Brasil,
O principal objetivo do documento parece, no proximamente, como já ocorreu na região
entanto, ter sido razoavelmente atingido, como latino-americana, na Venezuela, por exemplo,
evidencia a própria controvérsia que suscitou: em relação à instalação de terminais na redação.
detectar e descrever os problemas essenciais Ressalta-se também o problema da
relacionados com a estruturação da Nova concentração da tecnologia em um número
Ordem Mundial da Informação e da reduzido de países industrializados e nas
Comunicação e a partir daí apresentar empresas transnacionais, criando relações de
alternativas para os mesmos. dependência extremamente delicadas para o
Ekonzo (Zaire), Gabriel García Márquez (Colômbia),
desenvolvimento do país.
Sergei Losev (União Soviética), Mochtar Lubis 4. A importância da formação dos jornalistas
(lndonésia), Mustapha Masmoudi (Tunísia), Michio profissionais para o estabelecimento e
Nagai (Japão). Fred Isaac Akporuaro Omu (Nigéria),
Bogdan Osolnik (Iugoslávia), Gamal El Oteifi (Egito), consolidação de um novo quadro de
Johannes Pieter Pronk (Países Baixos), Juan Somavia comunicação, não apenas no sentido de sua
(Chile). Boobli George Verghese (Índia) e Betty capacitação primária (prática ou escolar). Aqui,
Zimmerman (Canadá).

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

é importante realçar também o aspecto da de cada país, impedem evidentemente dar uma
demanda crescente de especialização, seu resposta afirmativa ou negativa a esta questão".
aperfeiçoamento, readaptação, atualização e/ou 8- A co-gestão editorial, como um caminho
reciclagem quando já em exercício, devido à para a participação nas decisões importantes e
evolução constante do mundo da comunicação, como um instrumento de democratização da
como ocorre agora, por exemplo. profissão na empresa (pública ou privada),
Esse ponto tem particular relevância, por incluindo, para isso, a intervenção do jornalista
exemplo, no que se refere ao próprio tratamento na formulação e na execução da política
dado à informação internacional na imprensa editorial.
dos países em desenvolvimento. Várias 9. As normas de conduta profissional, mediante
pesquisas mostram que o responsável por este o estabelecimento de Código Deontológico (ou
setor muitas vezes, por carências de formação, de ética) com a definição das responsabilidades
não dá um aproveitamento mais adequado ao e deveres do jornalista profissional.
material informativo disponível por
desconhecer as'circunstâncias e antecedentes 10. O estabelecimento de Conselhos de
que cercam determinados acontecimentos e sua Imprensa ou de Comunicação nas redações,
importância para o país ou por estar com o prévio exame dos vários modelos e
incapacitado para examinar criticamente o experiências já observados no mundo.
material recebido das agências. Produzem-se, 11. O direito de resposta e de retificação,
então, supressões, cortes, falta de fundamental, pois, como também assinala o
enriquecimento do material com dados Relatório MacBride, "em nosso mundo instável,
adicionais para melhor ilustração do leitor, etc. uma falsa notícia pode'provocar distúrbios,
Quanto a este aspecto, vale estar atento para a suscitar ou reforçar os conflitos sociais,
possibilidade de uma crescente presença nas desalentar ou inclusive acelerar os
redações de especialistas (cientistas políticos, investimentos e ir em detrimento da confiança
economistas, etc.) não apenas como. que depositam em um dado país os demais".
colaboradores-articulistas, mas também para Nessa amostragem geral e sintética, merece
suprir deficiência do pessoal de redação, uma referência especial a necessidade de uma
particularmente em publicações que já se reflexão profunda e permanente do jornalista
preocupam com maiores níveis de interpretação profissional sobre o seu papel ante o receptor da
do acontecimento. informação. Isto é: tem-se observado em todo o
5. A definição e garantia dos direitos do mundo um crescente exercício crítico do
jornalista como, por exemplo, o de buscar uma profissional ante o caráter da empresa
informação sem obstáculos e transmiti-la sem jornalística pública ou privada e o seu
perigos, o direito de omitir livremente as suas predomínio político e/ou econômico sobre a
opiniões, etc. criatividade, a responsabilidade informativa e o
sentido ético do profissional. Mas apenas
6. O estabelecimento de um estatuto ou normas começa o exame do papel do receptor de
de proteção ao jornalista, não apenas no aspecto informação (leitor, radioouvinte ou
físico, mas também no da independência e da telespectador) no processo de produção do meio
integridade profissional de todos que intervêm de comunicação seja sob o ponto de vista da
no trabalho de coleta e difusão de notícias. empresa, seja sob o ponto de vista do jornalista
7. A regulamentação da profissão, tema cercado profissional.
de argumentos contraditórios. O Relatório Final Estes dados preliminares são importantes para
da Comissão MacBride, por exemplo, chega a que o jornalista profissional possa entender com
assinalar que o "pluralismo dos sistemas mais clareza a relevância das informações que
econômicos e sociais que caracterizam p se seguem sobre os esforços realizados para o
mundo, assim como as necessidades específicas desenvolvimento do debate em torno do

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

estabelecimento da Nova Ordem Mundial da


Informação e da Comunicação.

Referência bibliográfica
FENAJ, “O Jornalista e a Luta por uma Nova Ordem Mundial da Informação e Comunicação”, Série
Documentos da FENAJ, vol.III, Brasília: FENAJ, 1983, págs.6-16

PONTOS DE DISCUSSÃO:

• O texto é do início dos anos 1980. Desde então, a situação do fluxo mundial de informações
alterou-se significativamente?

• Que tipos de iniciativas ajudariam a equilibrar (ou até reverter) o fluxo de mundial de informações?

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Texto II
A Batalha no Mundo
(Fluxo de Informação e Pauta de Internacional)
Clóvis Rossi, 1980

Talvez seja no noticiário internacional — ou, no meio jornalístico: no período de uma


mais precisamente, no controle do fluxo semana, o noticiário internacional de O Estado
internacional de informações — que mais fique foi preenchido, em 55,8%, com material
evidente o quanto o jornalismo é uma batalha fornecido pelas grandes agências citadas. Mais
pela conquista de mentes e corações. Como 9,4% ficou com reproduções de jornais
funciona esse mecanismo? A resposta mais estrangeiros (The New York Times, The
ilustrativa pode ser encontrada numa publicação Washington Star etc.). Somem-se outros 4,8%
mensal brasileira, dirigida essencialmente a de outras fontes externas e verifica-se que o
homens de negócio, a revista Banas, que jornal paulista preencheu apenas 30% de sua
assinalava em seu número de março de 1980: informação internacional com material de seus
próprios jornalistas ou colaboradores. No caso
“Como os países industrializados controlam
do Jornal do Brasil, os números são apenas
inclusive os meios de comunicação, e como os
ligeiramente melhores: 42,5% de seu espaço
centros de produção agrícola ou mineral, na
internacional era preenchido por fontes
maioria dos casos, não dispõem de estruturas
próprias.
culturais, empresariais e noticiosas fortalecidas,
até as informações sobre mercados, os boatos e E, quando a pesquisa se estende à imprensa
a barragem de notícias forjadas desencorajam regional, a situação se agrava
uma eficiente defesa de interesses dos consideravelmente: os jornais de Belo
produtores de matérias-primas, porque a sua Horizonte, a terceira cidade do país, ocuparam
imprensa local funciona como satélite do 93,6% de seu espaço com notícias fornecidas
mercado noticioso do exterior.” por apenas três agências internacionais: a AFP,
a AP e a UPI.
Não é uma constatação vazia: os países
desenvolvidos controlam praticamente o Esses números são reveladores e devem ser
circuito mundial de notícias, através de cinco entendidos no seu contexto político: quase todas
agências, editam 83% dos livros publicados no as agências mencionadas têm vínculos, diretos
mundo, controlam as dez maiores agências de ou indiretos, com os governos de seus
publicidade do mundo (sete são norte- respectivos países e refletem, na maioria das
americanas e três têm participação majoritária vezes, posições ou interesses deles — posições
de capital norte-americano), produzem e e interesses que raramente coincidem com os
exportam 77% de filmes para cinema — e dos países em vias de desenvolvimento.
assim por diante. As cinco agências que ditam A rede das grandes agências internacionais de
os rumos do noticiário internacional são a notícias é tentacular: elas estão presentes na
francesa Agence France Presse (AFP), as norte- grande maioria dos países do mundo e vendem
americanas United Press International (UPI) e seus serviços, da mesma forma, para quase
Associated Press (AP), a inglesa Reuters, a todos eles. Vejamos alguns números
italiana ANSA e a alemã DPA, às quais se ilustrativos: a Associated Press, com sede
poderia acrescentar a espanhola EFE, além de central em Nova York, tem 8.500 assinantes em
algumas menores, mas igualmente baseadas nos mais de cem países; a Reuters, britânica, está
países desenvolvidos. estabelecida em 69 países e vende seu material
Uma pesquisa feita com jornais mineiros, o para 6.500 clientes (dos quais 4.700 são
Jornal do Brasil, do Rio, e O Estado de São jornais); a France Presse, com suas 92 sucursais
Paulo mostra resultados absolutamente no Exterior, atinge 12.400 assinantes. O
estarrecedores, embora de conhecimento geral resultado dessa extensão das redes das grandes

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

agências é o seu domínio quase absoluto do Basta atentar para o seguinte: ao se iniciar a
mercado: um estudo realizado em 1967 década de 90, vários países latino-americanos
demonstrou que quase 80% das notícias do decidiram seguir uma política econômica
Exterior divulgadas na América Latina foram parecida, assentada na liberalização da
distribuídas tão-somente por duas agências, economia e na sua abertura ao mundo, entre
ambas norte-americanas, a UPI e a AP. várias outras semelhanças. É natural que
interesse ao leitor brasileiro saber como vai
O problema não é apenas de volume: esse
indo a experiência de cada um dos países
virtual monopólio confere às notícias
vizinhos ou próximos, até para poder perceber o
divulgadas pelas agências um tal peso, inclusive
que pode eventualmente acontecer de parecido
no interior de cada redação brasileira, que elas
no seu próprio país.
se sobrepõem às notícias produzidas por fontes
próprias das publicações brasileiras. É pouco provável que as agências
internacionais, cujas atenções estão
(...)
concentradas no mundo desenvolvido, dêem
Se o papel das agências internacionais é tão conta adequadamente desse tipo de cobertura.
poderoso, no mundo todo, no caso específico da Logo, acompanhar melhor a América Latina
América Latina — subcontinente que deveria não é um problema de combater uma suposta
nos interessar mais de perto, pela proximidade e “informação imperialista” mas um problema
semelhança de problemas — a questão se torna simples de saber, mais depressa e com mais
ainda mais grave: a grande maioria das profundidade, o que está acontecendo “perto da
publicações brasileiras parece pautar seu minha casa”.
enfoque, em assuntos internacionais, por aquilo
É óbvio que o ideal seria que cada veículo
que interessa a The New York Times ou Le
dispusesse de um correspondente em cada
Monde, e não pelos interesses nacionais
capital relativamente importante do mundo,
brasileiros. Essa deformação se torna evidente
mas, quando não se acompanha diretamente o
pela simples conferência do número de
que acontece na esquina de casa, fica difícil
correspondente que as publicações brasileiras
entender uma cobertura tão ampla em pontos
têm na Europa Ocidental e nos Estados Unidos,
tão distantes.
de um lado, e na América Latina, de outro.
A atenção ao que ocorre nas vizinhanças,
Em 1990, havia apenas cinco correspondentes
entretanto, não pode impedir que o jornalismo
de meios de comunicação brasileiros na
brasileiro olhe cada vez mais para o mundo
América Latina: da Folha, Estado, Globo,
todo. Hoje, a globalização da economia é
Jornal do Brasil e Gazeta Mercantil, todos
tamanha, as telecomunicações tornaram o
baseados em Buenos Aires. Nenhuma emissora
mundo tão “pequeno”, que tudo, a rigor, passou
brasileira de televisão tem correspondentes na
a ser doméstico, de alguma maneira.
América Latina.
(...)
Esse é um território em que se viola uma das
primeiras lições que se aprende no primeiro ano Não se inventou ainda nada que substitua a
de qualquer faculdade razoável de jornalismo, visão peculiar de cada país sobre os
qual seja a de que o que acontece perto de acontecimentos mundiais. Um brasileiro
minha casa é mais importante do que o que certamente olhará a Espanha, digamos, de uma
acontece a quilômetros e quilômetros de maneira que um espanhol não consegue ou um
distância. americano tampouco.
Ora, o “perto de minha casa”, para o Brasil, é a Esse fato implica maiores desafios para o
América Latina, gostemos ou não. Por jornalista. Se já é difícil e complicado entender
fatalidade geográfica, o Brasil fica na América o Brasil, mais difícil e complicado é entender
Latina e não pode escapar dessa fatalidade. Não outros países. Mas é igualmente inevitável.
se trata, portanto, de uma questão ideológica.

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Referência bibliográfica
ROSSI, Clóvis. “O que é jornalismo”, São Paulo, Brasiliense (Coleção Primeiros Passos), 2000, 10ª
edição, págs.78-87

PONTOS DE DISCUSSÃO:

• Facilidades econômicas para os veículos; sai mais barato contratar serviços de agências em vez de
manter pessoal expatriado

• Credibilidade das agências é reforçada por questão da proximidade: “eles estão lá; nós não” e “se o
mundo todo deu, por que nós não?”. Isso é mito?

• A Agência EFE vem tentando preencher essa lacuna na cobertura da América Latina pelas
agências internacionais, facilitada em muito pelo idioma espanhol e contratando jornalistas locais
para cobrir os países latino-americanos. Isto é suficiente?

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Texto III
Olhai (direito) pra nós!
(Jornalismo Internacional Alternativo)
João Paulo Charleaux, 2001

Índios, negros, mulheres, sem-terra, pequenos Ele lembra que o caso mais recente foi o da
agricultores, seringueiros, líderes comunitários, comemoração dos 500 anos, “a polícia batendo
sindicalistas e sem-teto. A quem interessa tratar em índios foi uma coisa fortíssima e é claro que
desses temas com seriedade? Quem consegue isso rendeu muita notícia ruim na Europa”. A
olhar com lupa os países do Terceiro Mundo? radio italiana onde trabalha Del Roio conta com
As grandes agências internacionais dizem que correspondentes fixos em Paris, Londres,
não, o assunto não é com elas. Reuters, France Berlim, Nova Iorque e Cairo, que produzem
Presse e companhia já provaram ter as antenas uma cobertura alternativa às grandes empresas.
conectadas com pautas grandes, manchetes No Brasil, a colunista da Folha de S. Paulo
fortes e assuntos nem sempre edificantes para Eliane Catanhêde engrossa o coro de críticas à
os países pobres. Isso se deve à natureza de seu cobertura das grandes agências e não usa meias
trabalho, seu público alvo e seus interesses. palavras para avaliar o trabalho dos jornais
Há ainda muitos que se dispõem a cobrir o estrangeiros na cobertura de “Brasil”. “Quando
Brasil apostando na fórmula folclórica da morei quase um ano na Itália, em 1991, a
"desgraça social/futebol/carnaval", ou nas imprensa européia praticamente só publicava o
notícias econômicas de interesse para o lado exótico ou cruel do Brasil: mulatas,
investidor estrangeiro. Mas, em ambos os casos, bundas, violência, menor abando-nado, descaso
falta espaço para histórias humanas e situações com a Amazônia. E isso era em pleno governo
nem sempre decifráveis à primeira vista Collor, com a política pegando fogo, a
forasteira. Assuntos que não abalam cúpulas de economia girando, a abertura come-çando.
governo nem derrubam bolsas de valores, mas Nada do que era sério interessava”.
são fundamentais na vida de milhões de Por outro lado, o colunista Clóvis Rossi, colega
pessoas. São histórias que precisam ser vistas de Catanhêde na Folha de S. Paulo, diz que em
de perto, com vagar e atenção; adjetivos nem geral “discorda de generalizações, que
sempre compatíveis com o ritmo de trabalho empobrecem a análise”. Ele acha difícil
das grandes redações ao redor do mundo. concordar com a tese de que o Brasil é mal
É nesse espaço que se encaixam as agências tratado pela mídia internacional sem uma
cidadãs. Ligadas a ONGs internacionais, observação mais profunda do assunto. “Seria
fundações beneficentes, associações e preciso examinar caso a caso, o que é trabalho
confederações de todo tipo, elas garantem estar para pesquisadores, não para jornalistas”.
chegando ao mercado com capacidade e
disposição para encarar a realidade com um
"enfoque social". Elas esperam acabar de vez Um periscópio para cobertura internacional
com estigma de que países pobres só entram na Apesar de ninguém conhecer nenhuma grande
editoria internacional pela porta dos fundos. pesquisa ou grande censo sobre o assunto, há
um lugar que pode servir de termômetro
importante nessa questão. No endereço
“Seja mal-vindo” www.globalpress.com.br é colocada
“Seria preciso uma pesquisa profunda, mas eu diariamente a coletânea das reportagens e
me arriscaria a dizer que em 70% das notícias, artigos sobre o Brasil ao redor do mundo. A
o Brasil aparece mal na mídia internacional”, responsável pelo trabalho é a jornalista Anna
diz o historiador e jornalista brasileiro José Luiz Lúcia Carneiro, que já trabalhou para a agência
Del Roio, da Radio Popolare de Milão, na Itália. americana UPI (United Press International) e

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

para a alemã, DPA (Deutsche Press-Agentur). que o Brasil é visto de forma folclórica pelas
Ela diz que "em economia, as reportagens têm grandes agências é normal em sua opinião,
sido mais sérias, principalmente depois da crise afinal, “dói muito mais quando falam da gente e
das bolsas e da recuperação. Outro assunto que não do país vizinho”. O jornalista argentino
dá boas notícias é a música brasileira, eles pode estar certo com relação à cobertura da
acompanham muito bem e muitas vezes melhor France Presse, mas, em outros casos, o vizinho
que nós mesmos." diz sofrer de dor no mesmo calo.
A dose de exagero tem ficado por conta da Os países que falam a língua portuguesa são um
cobertura dada ao MST (Movimento Sem- bom exemplo. No Brasil, pouco ou nada se sabe
Terra). Anna observa que as publicações sobre o que acontece em Angola, Cabo Verde,
acabam muitas vezes carregando nas cores com Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e
que pintam esse quadro. O mais exagerado dos Príncipe, Timor-Leste, ou mesmo Portugal.
jornais estrangeiros, nesse caso, é o The “Ninguém aqui sabe o que está acontecendo em
Guardian, da Inglaterra. “Eles dizem coisas lugares de infinitas semelhanças com o Brasil”,
como ‘é imprevisível, tudo pode acontecer no diz o jornalista Jorge Manuel Rama-lho, que
Brasil, com esse movimento dos sem-terra”. nasceu em Portugal, viveu 30 anos em Angola e
está no Brasil há 20. “Os jornais brasileiros não
Essas e outras notícias “curiosas” poderão em
falam dos países da CPLP (Comunidade de
breve ser pesquisadas com maior exatidão no
Países de Língua Portuguesa) e não é porque
site da Global Press. A empresa ensaia uma
não há notícias”, diz Ramalho que chegou a
parceria com a E-Clipping, produtora de
protagonizar uma experiência quase quixotesca
clippings direcionados a empresas a partir da
com A Gazeta de Angola, que circulou no Rio
observação dos jornais brasileiros. A página,
de Janeiro entre 1991-92.
que já conta com uma média de cinco mil
acessos diários, deverá receber ainda mais Por um ano o jornalista tentou colocar o país na
visitas depois que tiver implantado seu sistema pauta do dia dos brasileiros com essa pequena
de busca por palavras-chaves. publicação. O plano de Ramalho mostrou-se
pretensioso demais, o jornal angolano/brasileiro
acabou fechando e o país “primo” do Brasil
Um dos outros lados amarga um anonimato forçado até hoje. Depois
De onde olha o jornalista argentino Aldo da aventura, o jornalista português descobriu
Gamboa, no entanto, a visão é diferente. Ele que há outros culpados nesse jogo que põe os
está no Brasil há 12 anos e é correspondente da países pobres para escanteio.
France Presse no Rio de Janeiro desde 1997. Na Um dos carrascos nos anseios de Ramalho foi o
sua redação, as laudas circulam fartas em próprio consulado angolano no Brasil. Lá, ele
recheio econômico, esportivo, político, pôde ver que não existiam releases nem
ecológico e, mais recentemente, Mercosul. materiais de assessoria voltados para a
Gamboa acha que as grandes agências estão imprensa. “Quem vai querer cavar notícias de
voltadas para grandes assuntos, grandes Angola se nem o consulado divulga nada?”
manchetes e que, por isso, “as agências cidadãs
tem um papel importante a desempenhar num
espaço que está aí e que precisa ser ocupado.” Novos ventos
Ele sabe que o trabalho da France Presse e das O principal elemento de contraponto nesse
agências cidadãs não são concorrentes, mas cenário é o trabalho das pequenas agências, as
podem ser complementares. chamadas agências cidadãs, ou de enfoque
Gamboa avalia que o tratamento dado ao Brasil social. Um dos fatores importantes na
e a outros países subdesenvolvidos está viabilização delas é a Internet. A nova mídia
melhorando. “Acontecimentos como o caso possibilitou a apuração da notícia e sua
Collor ajudaram muito a atrair atenções e distribuição numa velocidade antes
melhorar o nível da cobertura.”. A sensação de inimaginável. Além disso, o custo de

17
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

funcionamento de agências menores caiu muito, Latina, Caribe e Europa. Eles abastecem
substituindo o preço de ligações internacionais e diariamente a central da Agência, sediada em
remessas postais para o exterior por chamadas Quito, no Equador. De lá, esse noticiário é
telefônicas locais no acesso à rede e envio de e- distribuído aos assinantes através de internet,
mails em apenas alguns segundos. com texto e som em formato MP3. Através do
endereço www.pulsar.org.ec, o leitor assina
Além de representar um barateamento do
gratuitamente esse serviço e recebe, em tempo
processo, essas novas tecnologias encurtaram a
real, boletins diários, análises, comentários,
distância entre os maus e bons produtos.
resumos semanais e reportagens em texto e em
Qualquer jornalista de agência do interior mais
áudio especialmente editados para rádios.
longínquo e inacessível pode trabalhar em
condições técnicas semelhantes aos das grandes "Os intercâmbios de programas gravados em
empresas de comunicação, desde que esteja fita cassete, sempre chegavam tarde ou muitas
conectado à internet. Agências de notícias como vezes se perdiam no correio," explica o
a InterWorld Radio (www.interworldradio.org), jornalista venezuelano, Andrés Cañizález,
com sede em Londres, na Inglaterra, distribuem diretor da Pulsar. "Dificilmente poderia se falar
matérias para rádio pela internet. A qualidade de notícias quentes com o material chegando
do material é tão boa que qualquer emissora em outro país depois de três semanas",
pode levar as notícias ao ar na hora em que elas completa.
são colocadas no site. Foi o surgimento de tecnologias de
Entre seus assinantes estão emissoras de rádio comunicação como a Internet, o correio
de língua inglesa, jornalistas, líderes eletrônico, e, por último, o MP3, que nasceram
comunitários e ONGs. A agência cobre a área novas possibilidades de troca de informações,
econômica, de desenvolvimento, ciência e sobretudo com material gravado em áudio.
tecnologia e direitos humanos. Tudo isso, do A Pulsar é uma produção da Amarc
ponto de vista de “como as pessoas normais são (Associação Mundial de Rádios Comunitárias e
afetadas pelas mudanças globais provocadas Cidadãs), com o apoio da ASDI (Suécia), CAF
nesses campos”. A agência é fruto de uma (Holanda), Fundação Friedrich EBERT
parceria entre o Panos Institute e a (Alemanha) e Unesco (Organização das Nações
OneWorld.net. Seus editores afirmam que esta Unidas para a Educação, Ciência e Cultura). No
é uma publicação totalmente independente, Brasil, ela funciona com correspondentes em
apesar de ter sido fundada com doações da Ford São Paulo, através da Oboré - Projetos
Foundation, além da Unicef, Novib e USAid. A Especiais, que é o escritório paulista da Unirr
InterWorld Radio aposta nas reportagens de (União Nacional de Redes de Radiodifusão pela
fôlego, matérias de mais de cinco minutos, Democracia). No Rio de Janeiro, a
coisa rara no radiojornalismo brasileiro. correspondente é a Produtora Criar, ligada à
No próprio site existe um link para o jornalista Unirr como escritório carioca da Amarc.
que quiser trabalhar para a InterWorld. Os Além de enviar textos, os jornalistas brasileiros
correspondentes recebem aproximadamente R$ colaboram também com material em áudio
600 por cada reportagem de seis minutos. As gravado em português. Notícias como as que
exigências, no entanto, são rigorosas. Os vêm sendo distribuídas pela Pulsar sobre o
editores cobram qualidade máxima da coleta de Brasil dificilmente encontrariam espaço em
dados até a transmissão da matéria pelo outras agências do mesmo porte. Um exemplo
computador. recente foi a cobertura feita quando o juiz
Outra experiência interessante em noticiário paulista José Marcos Lunardelli determinou o
internacional com enfoque cidadão via internet fechamento de 2 mil rádios comunitárias, em
é a Agência Pulsar. Desde 1996, mais de 2 mil São Paulo, em janeiro deste ano. O trabalho em
assinantes em 53 países contam com material tempo real acabou despertando reações contra a
dessa agência. A Pulsar tem uma rede de decisão do juiz, no Brasil e no exterior.
correspondentes em 20 países da América Mensagens de ouvintes e rádios de todo o
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

mundo foram enviadas em solidariedade às quase 50 mil! As coisas andam devagar, mas
rádios comunitárias paulistas. andam."
Seguindo a iniciativa da Pulsar, a Rádio
Popolare de Milão dedicou dez minutos ao A Time dos pobres
assunto em sua programação no horário nobre
transmitindo ao vivo para todo país. Quando a As novas tecnologias ajudam, mas não são o
notícia foi ao ar, os jornalistas envolvidos "ovo de Colombo". Fazer jornalismo
vibravam com um pool de alcance internacional de qualidade, com reportagens de
provavelmente inédito na história da fôlego e enfoque social vem sendo o trabalho
comunicação popular e alternativa. diário dos jornalistas dos Cadernos do Terceiro
Mundo (www.etm.com.br) desde 1975. A
As experiências protagonizadas por essas publicação nasceu com o compromisso de tratar
agências cidadãs são ricas não só em jornalismo os países do Terceiro Mundo de uma forma
e novas tecnologias, mas, sobretudo, no diferente, falando de ecologia, direitos humanos
tratamento humano que dão ao seu material. O e política com uma perspectiva social.
curioso é que o programa que possibilita a
execução de todo esse serviço e com essa A revista foi fundada pelo deputado Neiva
qualidade pode ser "baixado" na rede sem que Moreira, na época exilado na Argentina, e pelos
se gaste sequer um tostão (www.realaudio.com jornalistas Pablo Piacentini, argentino que hoje
ou www.download.com). Mais ainda: o vive na Itália, e Beatriz Bissio. Muita gente
assinante dessas agências usa seus serviços sem acha que a revista fez água. É comum ouvir
pagar nada. jornalistas mais velhos dizerem que "era uma
grande publicação, combativa, bem feita, mas
onde anda?".
Exemplo brasileiro Ao contrário do que pensam, a experiência
Tanto Clóvis Rossi quanto Eliane Catanhêde, rendeu frutos. Além dos Cadernos do Terceiro
Memélia Moreira quanto Aldo Gamboa Mundo, nasceu na década de 80, o Caderno do
apontam a Andi (Agência de Notícias dos Mercosul, e em 1991, os Cadernos de Ecologia
Direitos da Infância) como o melhor exemplo e Desenvolvimento, ambos, filhos da publicação
de agência cidadã no Brasil. Fundada em 1992, mais antiga. No seu expediente, constam nomes
a Andi, na verdade, presta uma assessoria à de agências como de Moçambique, Angola,
imprensa. Ela trabalha muito mais com o Cuba, Guiné-Bissau e outros países que sequer
conceito de turbina de informações do que com sonham em entrar nas edições de grandes
a idéia tradicional de agência produtora e jornais pela porta da frente.
distribuidora de notícias. No endereço Cadernos do Terceiro Mundo é uma prova de
www2.uol.com.br/andi, os jornalistas experiência jornalística alternativa e bem
encontram nomes, números, pesquisas e sucedida. Com 25 anos de existência, a tiragem
informações de contexto para a produção de hoje é de 35 mil exemplares. A maior parte é
reportagens sobre os direitos da criança e do vendida para assinantes, mas a revista também
adolescente. está em bancas de todo o País, embora seja uma
A Andi distribui também um clipping via e- missão impossível encontrá-la. Em suas
mail com as principais notícias que circularam páginas, além das pautas e reportagens
pelo país sobre esse assunto. Além de informar, originais, chamavam atenção os anúncios. Café,
o clipping do dia acaba pautando muita gente e diamantes, combustíveis e companhias aéreas
colaborando para uma cobertura maior e melhor de Angola, Moçambique e Colômbia, o próprio
dos assuntos relacionados aos direitos da Pasquim e até vale postal para assinatura do
infância. "Esse é um trabalho invejável", diz jornal Barricada Internacional, da Frente
Catanhêde. "Em 1995, os 50 maiores jornais do Sandinista de Libertação Nacional chegaram a
país publicaram pouco mais de 7.500 desfilar por suas páginas.
reportagens sobre menores. Em 1999, foram

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

“Essa é a Time do Terceiro Mundo”, diz dos países desenvolvidos. “Aqui no Brasil o
Memélia Moreira, jornalista que trabalha para noticiário internacional também é terrível.
os Cadernos desde sua fundação e assina a Também as grandes nações desenvolvidas
Coluna do Planalto, com notícias de Brasília. recebem uma cobertura péssima. É uma falta de
“A nossa idéia é mesmo de tratar os países qualidade de um modo geral”.
subdesenvolvidos de uma forma mais correta, Memélia considera as matérias dos jornais
menos grotesca”, explica. Ela é a jornalista franceses sobre o Brasil, por exemplo, muito
responsável pela cobertura de assuntos como melhores do que as dos jornais brasileiros sobre
política, direitos humanos e questões indígenas. os outros países. Para ela, a falta de qualidade
Memélia lembra que os maus tratos dispensados na cobertura internacional é “uma via de mão
aos países pobres não são uma atitude exclusiva dupla”, onde o Brasil entra como mais um.

Referência bibliográfica
CHARLEAUX, João Paulo. “Olhai (direito) pra nós!” in Revista Pangea, 2001 (publicação online)
disponível em:
[http://www.clubemundo.com.br/revistapangea/show_news.asp?n=94&ed=9]

PONTOS DE DISCUSSÃO:

• É possível considerar as experiências apresentadas como uma alternativa ao Jornalismo


Internacional hegemônico?

• A revista Cadernos do Terceiro Mundo corre o risco de oferecer uma visão tão etnocentrista e
ideologizada quanto a que critica na grande mídia?

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Texto IV
Lula, o Bin Laden do Reverendo Moon
(Mídia Conservadora dos EUA)
Joel Conrado, 2002

Como se não bastasse o terrorismo econômico e estreitando ligações com Estados


político que o mundo enfrenta, o Washington patrocinadores do terrorismo,
Times, jornal ultraconservador do reverendo como Cuba, Iraque e Irã, e
Moon, publicou em 7/8 um exemplo antológico participando da desestabilização
do terrorismo midiático: um artigo de das frágeis democracias vizinhas.
Constantine C. Menges, ex- integrante do Isto poderia deixar 300 milhões de
Conselho de Segurança Nacional dos Estados pessoas em seis países sob o
Unidos, pau-mandado dos interesses controle de regimes radicais e anti-
econômicos conservadores americanos e do EUA e possibilitar que milhares de
governo Bush, que está conduzindo seu país à recém-doutrinados terroristas
paranóia do perigo terrorista. tentem atacar os Estados Unidos a
partir da América Latina. Por ora,
O autor do texto só falta chamar Lula, tratado
Washington parece pouco se
como "Mr. da Silva" no artigo, de o novo bin
preocupar."
Laden da América Latina. Não sou de esquerda,
não pertenço ao PT. Mas causa surpresa e "Os brasileiros realizarão eleições
revolta ver como o Washington Times se presidenciais em outubro, e se as
permite a ousadia de publicar um artigo eivado pesquisas atuais são um guia o
de suposições fantasiosas, falácias e mentiras. vencedor poderia ser um radical
Leiam: pró-Castro com amplas ligações
com o terrorismo internacional.
Seu nome é Luiz Inácio da Silva,
"Bloqueando um novo Eixo do Mal presidente do Partido dos
Uma nova ameaça terrorista com Trabalhadores e candidato com
armas nucleares e míssil-balísticas 40% das intenções de voto.. O
pode vir de um eixo incluindo Fidel candidato comunista (!!!) é
Castro de Cuba, o regime de segundo, com 25%, e o concorrente
Chávez na Venezuela e a eleição de pró-democracia está com cerca de
um radical como presidente do 14%."
Brasil, todos com ligações com o
Iraque, Irã e China. No ano
Quanta desinformação. Se o segundo candidato
passado, visitando o Irã, o Sr.
brasileiro é "comunista", com 25% nas
Castro disse: "Irã e Cuba podem
pesquisas, os candidatos "antidemocracia"
pôr a América de joelhos",
teriam 65% nas pesquisas.
enquanto Chávez expressava sua
admiração por Saddam Hussein "O Sr. da Silva não faz segredo das
numa visita ao Iraque. suas simpatias. Ele tem sido um
aliado do Sr. Castro por mais de 25
O novo eixo ainda pode ser evitado,
anos. Com o apoio do Sr. Castro, o
mas se o candidato pró-Castro é
Sr. da Silva fundou o Fórum São
eleito presidente do Brasil os
Paulo em 1990, uma reunião anual
resultados poderiam incluir um
de comunistas e outras
regime radical no país,
organizações políticas radicais da
restabelecendo seus programas
América Latina, da Europa e do
nuclear e míssil-balístico,
Oriente Médio. Isso tem sido usado
21
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

para coordenar e planejar sucesso desenharam duas bombas atômicas, e


atividades terroristas e políticas em estavam prontos a testar um artefato nuclear
todo o mundo e contra os Estados quando o governo democrático eleito e uma
Unidos. O último encontro teve investigação do Congresso obrigaram o
lugar em Havana, em dezembro de desmantelamento do projeto." Entre desenhar e
2001. Envolveu terroristas da fabricar há um longo caminho...
América Latina, da Europa e do "A investigação revelou, entretan-
Oriente Médio e condenou to, que os militares haviam vendido
duramente o governo Bush e suas oito toneladas de urânio ao Iraque
ações contra o terrorismo em 1981. Também foi revelado que
internacional." após esse projeto de sucesso ter
sido interrompido, um general e 24
cientistas que lá trabalhavam foram
Num país como os EUA, onde se pode
para o Iraque. Relatórios revelam
facilmente ser processado por calúnia, essa
que, com financiamento do Iraque,
afirmação – "coordenar e planejar atividades
a capacidade nuclear foi mantida
terroristas e políticas em todo o mundo e contra
em segredo, contrariando a política
os Estados Unidos" –, por não ser verdadeira,
dos líderes democráticos civis.
expõe o jornal e o autor do texto a processo que
custaria muito caro. A China já vendeu urânio
enriquecido e tem investido na
"Como o Sr. Castro, o Sr. da Silva acusa os
indústria espacial brasileira num
Estados Unidos e o neoliberalismo por todos os
projeto de satélite de
problemas sociais e econômicos que o Brasil e a
reconhecimento." Certamente isso é
América Latina enfrentam." Mal-informado, o
tão perigoso e terrorista como
articulista não acrescenta que, mais do que o
vender aviões militares e tanques e
neoliberalismo, a roubalheira, a corrupção dos
enviar militares instrutores ao
últimos governos é que afundaram o Brasil.
Kuwait e às Filipinas. "(...) Ao
mesmo tempo, ajudando as
Nada de política exterior guerrilhas comunistas a assumirem
o poder na convulsionada
"O Sr. da Silva classificou a Alca como uma democracia da Colômbia, o regime
conspiração dos Estados Unidos para "anexar" o de da Silva no Brasil estaria em
Brasil, e tem dito que os banqueiros posição favorável para ajudar
internacionais que desejam a devolução dos comunistas, narcoterroristas e
US$ 250 bilhões que emprestaram "são outros grupos antidemocráticos
terroristas econômicos". Ele tem dito também para desestabilizar as frágeis
que aqueles que estão retirando seu dinheiro do democracias da Bolívia, do
Brasil, porque têm medo de seu regime, são Equador e do Peru, como também
igualmente "terroristas econômicos". Isso dá se aproveitar da profunda crise
uma idéia do tipo de ‘guerra ao terrorismo’ que econômica na Argentina e do
seu governos conduzirá." O autor do texto não Paraguai."
menciona que Lula vai também combater o
terrorismo do tipo contido no artigo... Quem diria! Lula um segundo bin Laden... Isso
é dose para americano nenhum dormir
sossegado!
Mais adiante o autor afirma: "(...) O Brasil "Mais, o regime de da Silva
poderia brevemente tornar-se também uma das provavelmente recusará pagar as
nações detentoras de força nuclear. Entre 1965 dívidas, causando um profundo
e 1994, os militares ativamente trabalharam agravamento da economia em toda
para desenvolver armamento nuclear, e com a América Latina, e conseqüente-
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

mente aumentando a vulnerabili- Mais ainda, faz tácito e vergonhoso apelo ao


dade de suas democracias. Isto poder econômico para que desestabilize as
poderia causar uma segunda fase eleições brasileiras. De política exterior
de diminuição nas exportações dos Constantine C. Menges não manja nada.
Estados Unidos. Um eixo Castro-
Chávez-da Silva significaria a
ligação de 43 anos da guerra Duas ou três coisas sobre o Dr. Menges
política de Fidel Castro contra os Ninguém deve levar o Dr. Constantine Menges
Estados Unidos à rica em petróleo (muito) a sério. Ele tem sido, por 25 anos, um
Venezuela e ao armamento (mau) relações públicas da linha-dura do
nuclear/míssil-balístico e o poten- Partido Republicano. Suas tão freqüentes
cial econômico do Brasil." quanto catastróficas previsões de política
externa vêm sendo desmontadas uma a uma
pelos acontecimentos, mas ele está sempre lá,
Esse parágrafo daria uma fantástica novela das nos jornais americanos conservadores, prevendo
oito na Globo. Só falta FHC dizer que graças perigos inimagináveis para a "democracia
aos seus oito anos de governo o Brasil americana". Não previu, é claro, o 11 de
comandaria um complô econômico e militar setembro, mas isso não tem a menor
contra os Estados Unidos... importância. Há ameaças de sobra para prever e
"Com eleições em novembro em manter o Dr. Menges ganhando dinheiro com
2004, os americanos podem sua atividade.
perguntar: "Quem perdeu a Mas de onde vem o Dr. Menges? Segundo o
América do Sul?" (...) "Os Estados site da Casa Branca <www.whitehouse.gov>,
Unidos foram politicamente ele nasceu em Ancara, na Turquia, e tem 62
passivos no governo Clinton, anos. Era, em 1983 – portanto, nomeado pelo
quando ignoraram os pedidos dos governo Reagan –, diretor para assuntos latino-
democratas da Venezuela para americanos do Conselho de Segurança
ajudar no combate às atividades Nacional. Anteriormente, entre 1981-1983, era
anticonstitucionais do Sr. Chávez e nada mais nada menos que analista de
também ignorou suas públicas informações da Central Intelligence Agency, a
alianças com Estados patrocinado- boa e velha CIA, para a América Latina. Desde
res do terrorismo. Oportuno esta época já pertencia ao Hudson Institute,
acompanhamento político e ações think tank sediado em Washington que reúne a
por parte dos Estados Unidos e fina flor do conservadorismo americano.
outras democracias deveriam
incluir incentivo aos partidos Tem doutorado em Ciência Política pela
democráticos no Brasil a se unirem Columbia University, dá aulas em várias
em torno de um líder político universidades, mas seus pares não o levam
honesto e capaz, que represente as (muito) a sério. Um deles, Thomas Risse-
esperanças da maioria dos Kappen, especialista em Europa da
brasileiros numa democracia Universidade de Konstanz, na Alemanha,
genuína com recursos para montar comentando as avaliações do antigo agente
uma efetiva campanha nacional." sobre o "perigo alemão", disse que Menges não
consegue parar de "ver em vermelho":
representa uma geração inteira do
Com essa afirmação – "que represente as establishment de segurança nacional que se
esperanças da maioria dos brasileiros numa concentrou na Guerra Fria por tempo demais, "e
democracia genuína" – o autor se contradiz. Se sua percepção, é claro, nada tem a ver com os
as pesquisas apontam preferência de 40% pela verdadeiros problemas atuais de seguran-ça".
candidatura de Lula, é a maioria que o prefere. Quando Menges escreveu sobre a ameaça de

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

uma aliança russo-chinesa, William D. as questões internacionais: suas fontes são as


Shingleton, da National Defense Council matérias do New York Times, do Washington
Foundation, outro think tank, de Alexandria, Post e do Economist, que ele não se envergonha
perto de Washington, afirmou no Washington de citar. Para escrever sobre o novo eixo do mal
Post que Menges julga mal a realidade, e fica latino-americano, o Dr. Menges, que fala quatro
"hiperventilado" ao analisar eventuais alianças línguas, provavel-mente teve acesso às resenhas
que considera estratégicas, "o que em nada – de repercus-são internacional – do livro da
aumenta a segurança americana". jornalista Tânia Malheiros sobre o programa
nuclear brasileiro e o nunca esclarecido
embarque de urânio para o Iraque; soube dos
Explosiva receita de bolo experimentos da Marinha em enriquecimento de
O New York Times até fez pequena penitência urânio em Iperó; ouviu falar dos testes de
no ano passado, em matéria de Tim Weiner, por lançamento na base de Alcântara; leu que
ter o jornalão publicado em 1980 artigo de "um líderes do PT, como milhares de outros
escritor conservador chamado Constantine C. brasileiros, visitaram Havana. Bateu tudo, botou
Menges, alertando que os avanços comunistas no forno e pronto: Lula no poder se aliará aos
na América Central ameaçam transformar o militares e ao narcotráfico, invadirá os países
México no ‘Irã ali ao lado’: um estado vizinhos e criará um enclave nuclear terrorista.
revolucionário . movido a terror de esquerda,
desestabilizado por uma coalizão de grupos
O dever de casa é fácil
reformistas, radicais e comunistas". Conta
Weiner que William J. Casey, diretor da CIA Tais sandices estão em sintonia com a linha do
no governo Reagan, "acreditou em tudo e Washington Times, criado pelo coreano Sun
contratou o homem, e juntos promoveram Myung Moon para ajudar na guerra ao
aquela visão política de forma muito, muito comunismo liderada pelo então presidente
dura". Só que nada daquilo aconteceu. "A Ronald Reagan e como alternativa conservadora
Guerra Frita foi uma máscara que nos cegou ao Washington Post. O jornal tem pequena
para a realidade do mundo", disse ao Times em circulação e já deu US$ 1 bilhão de prejuízo ao
1992 o poeta e Nobel Octavio Paz, conforme grupo News World, de Moon. Mas não falta
cita Weiner. dinheiro ao "reverendo", dono de vastas
extensões de terras no Brasil: ele recentemente
Assim é o Dr. Menges. Em 28 de abril ele já
comprou a United Press International (UPI),
tinha destilado seu veneno no próprio
uma agência de notícias americana de quase
Washington Times contra – principalmente –
100 anos, cuja atual correspondente em São
Hugo Chávez e Lula. No último parágrafo do
Paulo manda matérias regularmente ao
artigo, disse: "Se Chávez consolidar seu
Washington Times sobre a crise e as eleições.
controle nos próximos meses, suas ações
ameaçarão a democracia na Colômbia, na Para não dizer que não persegue os padrões
Bolívia, no Equador, no Peru e no Brasil, onde americanos de "liberdade de expressão", o
o Sr. Chávez e Fidel Castro esperam ver Washington Times publicou na terça, dia 19/8,
repetido seu padrão de golpe pseudo- duas cartas de protesto contra o artigo do Dr.
constitucional com a eleição do radical Inácio Menges, uma de Pedro Giglio, do Rio de
da Silva como presidente, em outubro. Isso Janeiro, e outra de Mark Andrews, estudante de
poria 300 milhões de pessoas sob o controle de Relações Internacionais e Estudos do Pacífico
regimes radicais pró-Castro-Iraque antes de da Universidade da Califórnia em San Diego,
2004 – um enorme ganho para o terrorismo ambas sob o título "Próxima parada da guerra
anti-EUA e uma enorme derrota para as ao terror: Brasil?". A primeira, cujo autor
populações locais e para o governo Bush." afirma não ser eleitor de Lula, rebate uma a
uma as afirmações do articulista e diz que o
Segundo Risse-Kappen, os ensaios de Menges
texto é uma afronta ao povo brasileiro. A
nada acrescentam em pesquisa e reflexão sobre
segunda lamenta que, não bastando a punição
24
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

que a comunidade financeira internacional Quer dizer, até um estudante americano de


inflige aos brasileiros por expressarem sua graduação, quando quer, faz seu dever de casa
insatisfação nas pesquisas, "neocombatentes da bonitinho sobre o Brasil. Imagine-se do que
Guerra Fria como Menges jogam a carta do seria capaz, se quisesse, a poderosa mídia
terrorismo para desacreditar um dos maiores americana. Mesmo não levando (muito) a sério
campeões da democracia na América Latina, pasquins como o Washington Times e
Luiz Inácio Lula da Silva". E termina: "As dinossauros como o Dr. Menges, a imprensa
pessoas que devemos temer no Brasil são os tem obrigação de ficar de olho (bem) aberto
inimigos do Sr. da Silva: armados da ideologia com essa gente. Afinal, é ela que mantém
do medo, podem derrubar o governo e azeitado, com sua propaganda do perigo
remilitarizar o Brasil." externo, o complexo industrial-militar
americano, fagueiramente ativo nesta era de
tantos eixos do mal.

Referência bibliográfica
CONRADO, Joel. “Besteirol à Americana: Lula, o bin Laden do reverendo Moon”, in Observatório
da Imprensa, ?

PONTOS DE DISCUSSÃO:

• As incorreções publicadas pelo Washington Times sobre o Brasil, seja por ignorância ou por
deturpação ideológica, são diferentes das que o Jornalismo Internacional brasileiro comete sobre
outros países?

• Em que medida a visão-de-mundo de um regime, governo ou grupo no poder em um país pode


influenciar a cobertura internacional da mídia e a opinião pública em relação a outro(s) país(es)?

25
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Texto V
A Grande Matéria: Washington, as Nações Unidas, o Mundo
John Hohenberg, 1981

Os Correspondentes A maioria dos representantes das empresas


jornalísticas americanas existentes hoje em dia
Entre os 70.000 ou mais jornalistas contratados
se compõe de homens maduros e educados.
em tempo integral pelas empresas jornalísticas
Podem não ser poliglotas (poucos o são), mas se
nos Estados Unidos, um número bem menor
revelam sempre capazes de lidar com os mais
fica permanentemente em Washington, nas
variados tipos de problemas, conhecem bem o
Nações Unidas, ou é correspondente em bases
seu trabalho e acham soluções próprias para as
sólidas. Para os que possuem experiência,
situações difíceis. A maioria deles tem a
conhecimento, instrução, habilidade e a sorte de
habilidade de assimilar as partes essenciais da
sobreviver aos rigorosos testes do jornalismo
história, geografia e cultura das regiões onde
prático, o privilégio de cobrir os acontecimentos
trabalham. Quase todos são agressivos e não
nacionais e internacionais do nosso tempo é o
gostam de receber "orientações" do pessoal da
maior prêmio que lhes pode conferir a
Embaixada americana local. Todos possuem
profissão.
uma característica dominante: a independência.
Para os repórteres que estão a serviço na Casa
Branca, no Congresso ou nas Nações Unidas,
nas Chancelarias da Europa, na Grande Casa do O Corpo de Correspondentes Estrangeiros
Povo, em Pequim, ou no Kremlin, sua função é Os altos e baixos do interesse público e dos
escrever e explicar as decisões que levarão à editores pelas notícias são bem ilustrados nas
paz ou à guerra. A eles, principalmente, contratações de correspondentes estrangeiros
pertencem as matérias de uma era de efetuadas pelas empresas jornalísticas
conturbação política, social e econômica uma americanas. Ao fim da II Guerra Mundial,
era na qual o homem caminhou sobre a Lua, 2.500 correspondentes - muitos dos quais
enviou robôs para explorar Marte e lançou estiveram no campo de batalha - foram
foguetes para alcançar planetas longínquos, mas desmobilizados pelas suas empresas com uma
continua incapaz de resolver os problemas da velocidade maior do que a desmobilização das
fome e da superpopulação que assolam o forças armadas.
mundo.
Houve épocas de grandes mobilizações de
grupos de correspondentes durante crises
Características mundiais, do cerco de Berlim em 1948-1949, à
guerra do Vietnã, e às várias rebeliões no
Há sempre alguns jovens corajosos que gostam
Oriente Médio, mas tais períodos não podem ser
de desafios e que se metem no meio de uma
comparados ao de 1942-1945. Mesmo no auge
guerra ou desordem civil e se juntam, como
da guerra do Vietnã, não mais que 500
repórteres "free-lancers", aos repórteres
correspondentes estavam credenciados pelas
profissionais que representam as organizações
empresas jornalísticas americanas. Logo após,
noticiosas. Eles trabalham para jornais ou
quando os Estados Unidos entraram em época
agências de notícias, redes de televisão ou
de paz incerta, pela primeira vez em muitos
revistas, ou tentam por seus próprios meios
anos, os meios de comunicação reduziram a
conseguir a função de informantes. Quase
menos de 400 o número de jornalistas tempo
sempre os melhores tornam-se corresponden-
integral no estrangeiro. E dois terços deles
tes. Mas esses são exceções no desenvolvi-
estavam na Europa. Por isso, é um exagero
mento profissional dos correspondentes
considerável dizer, como algumas vezes
internacionais.
acontece, que 3.000 ou 4.000 jornalistas

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

americanos cobrem uma guerra em um pequeno


país da Ásia ou da África. Washington como centro noticioso
A maioria é constituída de repórteres Apesar de todas as restrições que lhes são
independentes e alguns mostram caracterís-ticas impostas, os correspondentes em Washington
tão estranhas que se suspeita sejam agentes são efetivos representantes de jornais e agências
secretos. de notícias, revistas, semanários e associações,
Uma prova de falsidade de número pode ser estações de rádio e de televisão e dos boletins
obtida por qualquer um que visite o quartel- informativos. Há, também: os correspondentes
general da imprensa nas Nações Unidas em um "one shot" (enviados espe-ciais), que estão
dia de rotina e veja que há menos de 50 quase sempre em ou fora de Washington a
correspondentes tempo integral credenciados trabalho das suas estações ou jornais locais, em
pelas empresas jornalísticas americanas e um reportagens de pouca importância. Os
número bem menor de estrangeiros. Ainda representantes da imprensa estrangeira
assim, durante o dia da abertura de uma freqüentemente fazem o mesmo em ocasiões de
Assembléia Geral, a Secretaria de Imprensa das grande interesse.
Nações Unidas anuncia o credenciamento de É importante saber o que fazer para estabelecer
1.500 a 2.000 "jornalistas", que vão embora tão uma base em Washington, permanente ou
logo as grandes personalidades retornam aos temporária, e que opere com eficiência.Os
seus postos regulares. Esse fato serve como credenciados para trabalhar em Washington,
lembrete de que nem toda pessoa que diz ser como membros de burôs já estabelecidos, têm
jornalista realmente o é. sorte, pois as empresas compensam os períodos
fracos em acontecimentos e provêem casa,
mudanças e escola para os dependentes. Mas
O Corpo de Correspondentes em Washington
para quem vai pela primeira vez e por conta
Embora alguns jornais tenham retirado seus própria é uma experiência dura e às vezes
correspondentes de Washington, a capital traumatizante. São avisados de que devem
americana é ainda o maior centro de notícias, conhecer os chefes das agências noticiosas e
tanto para as coberturas domésticas quanto para organizações aos quais suas empresas estão
as estrangeiras, e o número de representantes de filiadas, as suas delegações no Congresso, e
todos os países atinge a 2.000 nos períodos de devem ter conhecimentos pessoais importantes
pique. Enquanto muitos diários americanos, em lugares tais como a Casa Branca, o
médios e pequenos, não fazem segredo de seu Departamento de Estado, o Pentágono e as salas
preconceito contra as matérias rotineiras de de imprensa do Congresso e do Senado.
Washington e do exterior, e o jornalismo
Devido à publicidade dada ao "National Press
eletrônico local esteja ainda menos interessado,
Club", e à proximidade dos teletipos, repórteres
nenhum editor gostaria de suprimir o
solitários tentam às vezes trabalhar nesse clube
serviço.Durante congressos de editores há
como uma espécie de sócio temporário. Mas em
sempre um acordo solene de que esse tipo de
geral sentem-se oprimidos pelos agentes de
notícia deve ser dado ao público americano,
imprensa de todos os tipos. É boa prática
porém os seus jornais nem sempre publicam tais
trabalhar fora de um lugar como a sala de
notícias. Editores responsáveis, entretanto, se
imprensa do Senado, quando o Congresso está
sentem orgulhosos de poder oferecer
em sessão, ou pegar uma notícia a cada dia e
informações sólidas da capital do país. Os que
transmiti-Ia de qualquer lugar, não importa
não podem contar com seus próprios
qual. Uma regra inflexível para os que vão a
correspondentes utilizam as informações
Washington é a de obter suas credenciais com
oriundas das grandes organizações noticiosas, o
bastante antecedência. Outra, a de se assegurar
que faz com que as notícias tenham um custo
acesso rápido a um telefone ou a um terminal de
relativamente baixo e sejam utilizadas como
telex - algumas vezes é melhor ditar a matéria
suplemento ao serviço das agências.

27
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

por telefone para jornal do que escrevê-la em pronto e em alerta para trabalhar na Casa
Washington (em caso de grande matéria). Branca, mas há dificuldades no uso das
minicâmeras em tripés. Elas são colocadas na
Em um manual de regras dessa natureza, que
sala de recepção para filmar visitantes
pode ser somente um auxiliar para as coberturas
importantes quando deixam o escritório do
em Washington, e não um profundo estudo
Presidente. Com as minicâmeras e o vídeo-
sobre o assunto, insere-se uma pequena relação
teipe, a equipe de televisão tem maior
de pontos importantes e sugestões do que se
mobilidade, podendo ficar nas entradas laterais,
deve e não se deve fazer. Ei-la:
utilizadas por visitantes que querem evitar
publicidade.
1) A Casa Branca Equipes de televisão podem também entrar no
Ao Presidente dos Estados Unidos, sendo a Rose Garden para uma filmagem rápida, se a
mais importante fonte de notícias no país, bem reunião com a imprensa ali se realizar.
como a mais influente, dá-se cobertura intensa, Reuniões com personalidades do governo, para
diariamente, por todos os veículos noticiosos do informações de "background", ocorrem em uma
país e de outros países. Aos membros de sua sala menor, a "Fish Room", assim chamada em
família, amigos e assessores diretos, também se razão dos quadros de peixes pendurados em
faz o mesmo. suas paredes. Quando o Presidente viaja, os
As facilidades para a imprensa na Casa Branca correspondentes que o acompanharão devem ter
são poucas, se comparadas às facilidades suas autorizações fornecidas pela Casa Branca.
obtidas nos palácios dos governadores estaduais Há períodos de bonança na Casa Branca,
ou até mesmo nas Prefeituras. Somente quando os repórteres se sentam e esperam que
pequeno número de correspondentes algo aconteça, mas cais'períodos são pouco
regularmente credenciados na Casa Branca freqüentes. O Presidente, a fonte número um de
dispõe de um dos pequenos cubículos com notícias, mantém os correspondentes sempre
telefone na sala de imprensa. A grande maioria ocupados.
tem de encontrar meios de comunicação por si
própria.
2) O Congresso
O Secretário de Imprensa do Presidente está
Se o Presidente dos Estados Unidos e os
geralmente disponível uma ou duas vezes ao dia
principais membros de sua Assessoria mostram-
para reuniões com a imprensa, para fazer
se reticentes sobre determinado assunto, o
declarações ou fornecer material aos jornalistas.
Congresso dos Estados Unidos rapidamente
Ele e seus assistentes são as pessoas-chaves
preenche esse vazio. Perto da Casa Branca está
capazes de facilitar o acesso de um jornalista
o "Hill", o mais importante ponto de notícias na
pela primeira vez na cidade aos membros da
Capital. Repórteres que regularmente cobrem o
equipe presidencial, e às várias repartições sob
Senado e o Congresso têm uma boa relação de
a responsabilidade direta do Presidente. Os
trabalho com os líderes da Maioria e da Minoria
correspondentes já conhecidos marcam seus
de ambas as Casas, assim como com outros
próprios encontros com essas pessoas e
membros do Legislativo. Eles conhecem os
normalmente trabalham utilizando-se do
presidentes das Comissões e desenvolvem
telefone, exceto para grandes reportagens. Nos
métodos eficientes de estar sempre por perto.
dias em que o Presidente se reúne com a
Os integrantes do G0verno normalmente dão
imprensa, é normal comparecerem 200 ou mais
entrevistas para fornecer detalhes de apoio a
correspondentes, especialmente quando
determinado assunto, e os congressistas
assuntos de importância estão pautados. Se a
geralmente querem ter suas declarações
reunião for de última hora, somente
gravadas. Querem que seus pontos de vista
comparecerão os correspondentes regulares, não
sejam conhecidos. Como funcionários eleitos,
havendo tempo para avisar a todos. O
precisam de publicidade para suas ações e
jornalismo eletrônico está permanentemente

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

posições nos principais assuntos do dia; os No sólido e cinzento edifício no "Foggy


eleitores esquecem rapidamente um deputado Bottom", cerca de 50 ou 60 correspondentes
ou senador que "desaparece" durante semanas. cobrem regularmente os assuntos do
Departamento de Estado e outra centena deles
Para o jornalista recém-chegado, as salas de
corre quando há crise. A inadequada sala de
imprensa, tanto no Senado como na Câmara,
imprensa, com seus estreitos cubículos para os
são os lugares mais convenientes para trabalhar.
repórteres, é uma caixa de ecos, mas mesmo
Os superintendentes e suas pequenas mas
assim utilizada na falta de coisa melhor. As
competentes equipes de assessores nas salas de
equipes das agências de notícias, com melhores
imprensa conhecem mais do que muitos
acomodações, ditam por telefone as notícias
repórteres tudo sobre horários, discursos,
para os seus escritórios em Washington.
reuniões das comissões e numerosos outros
fatos sobre acontecimentos que podem ser A primeira fonte no Departamento de Estado é
esperados durante o decorrer de um dia no constituída pelos departamentos de notícias do
Congresso. Cópias de discursos podem ser Departamento, situados próximos à sala de
previamente solicitadas às salas de imprensa ou imprensa e ao escritório do Assistente do
aos escritórios dos seus respectivos autores. Os Secretário de Estado para Assuntos Públicos, no
funcionários da sala de imprensa e da sexto andar. Um correspondente conhecido e
Assessoria do Congresso podem ser muito úteis respeitado tem acesso à maioria dos
quando se deseja uma entrevista por telefone ou funcionários do Departamento, e algumas vezes
pessoalmente com um senador. Os repórteres até ao próprio Secretário de Estado. Quase todo
aprendem rapidamente a não ficar perdendo correspondente pode conseguir, através do
tempo rondando o Congresso, exceto quando o pequeno grupo de oficiais de imprensa, acesso
acontecimento requer tal procedimento. Usar o às seções q\.le mantêm contato direto com
telefone torna-se às vezes mais fácil. Embaixadas e ministros estrangeiros. Esse tipo
de informação geralmente aparece como
As fontes de notícias no Congresso são
"background". Para informações mais precisas e
inúmeras, como mostra o Registro do
diretas, o primeiro recurso é a reunião diária de
Congresso. E o Diário Oficial publica todo dia
imprensa com um dos funcionários do
muitos discursos e pronunciamentos que não
Escritório de Assuntos Públicos. O mecanismo
atraem o interesse público, até serem
do Departamento de Estado é sobremodo
divulgados na imprensa; além do mais, um
flexível para tratar de questões ou petições a
discurso publicado pode estar bem diferente da
qualquer hora do dia, mas, à noite, torna-se
versão original, porque os congressistas têm o
quase impossível conseguir uma notícia, fora do
direito de corrigir e revê-los antes da
Departamento, com os seus membros.
publicação. Uma observação final para os
recém-chegados (e para muitos veteranos O Secretário de Estado e seus assessores
também): familiarizem-se com os procedimen- imediatos fazem sua própria rotina para
tos de ambas as casas, Senado e Câmara; sem encontros com a imprensa, mas sempre
esse conhecimento, muitas das intrincadas consultam a respeito da Casa Branca. O
manobras que ocorrem durante o processo material impresso à disposição no
legislativo não podem ser traduzidas para Departamento é imenso, mas pouco pode ser
melhor entendimento público. considerado "notícia", exceto um ocasional
"White Paper" ou outro pronunciamento sobre
Há tantas notícias em Washington que se torna
uma linha de ação em nível de documento.
um problema não a decisão sobre o que
Ainda assim, o Departamento de Estado pode
publicar, mas o que eliminar.
oferecer uma facilidade valiosa à pesquisa de
correspondentes que sabem como trabalhar lá e
3) O Departamento de Estado cujos jornais permitem-lhes perder algum
tempo preparando uma matéria.

29
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Figuras acadêmicas como Arthur M. um assistente do secretário de Defesa, e inclui


Schlesinger Jr., no governo Kennedy, Walt representantes de todos os serviços militares, com
Whitman Rostow, no governo Johnson, e uma grande sala de imprensa no segundo andar do
Kissinger, no governo Nixon (enquanto foi o Pentágono. Cada assunto dispõe de seção
conselheiro da Segurança Nacional), receberam específica e nelas trabalha grande número de
mais atenções da imprensa do que todo o oficiais. O Exército, a Marinha e a Aeronáutica
Departamento de Estado. têm, cada qual, a sua própria equipe de informação
(Exército e Aeronáutica possuem programa
Isso foi particularmente verdadeiro com
consolidado de informações internas e externas).
Kissinger devido à sua diplomacia pessoal, ao
Quase 1.000 oficiais do Pentágono são designados
seu gosto por longas viagens e negociações
para trabalhar algumas facetas das atividades de
privadas e a sua inclinação pelos segredos e
Relações Públicas. Eles dirigem o trabalho de
procedimentos da imprensa. Antes e depois de
informação e relações públicas de pequenas
se tornar Secretário de Estado, ele foi uma
equipes em cada base, e nos postos através do
grande figura para a imprensa e sempre tomava
mundo; um pequeno exército de oficiais de
o cuidado de verificar se não estaria
relações públicas é credenciado especificamente
negligenciado pelos meios de comunicação. Ele
para trabalhar com a imprensa e o público e com as
era, em certo sentido, deleite para os repórteres,
próprias Forças Armadas.
por "conversas confidenciais", apesar disso
sempre reportáveis. Quando o Presidente Carter A grande e antiquada sala de imprensa do
adotOu uma linha de ação de "abertura com o Pentágono não pode ser comparada à sala
povo americano" na formulação da política destinada aos repórteres na Casa Branca.
internacional, tentava, com efeito, reverter uma Geralmente poucos correspondentes fazem ali
tendência do governo americano em geral e da cobertura diária, mas, quando o Secretário da
manipulação dos assuntos internacionais, em Defesa marca uma entrevista coletiva, ou quando o
particular. Seu secretário de Estado, Cyrus Estado-Maior das Forças Armadas entra em pauta,
Vance, concordou. Resta ver-se até onde a responsabilidade é muito grande. Os
poderão chegar, pois até mesmo o Presidente correspondentes em Washington fazem por
Wilson, que clamava por "pactos francos telefone a maior parte do trabalho de rotina com as
obtidos com franqueza", não conseguiu pôr o várias seções militares.
ideal em prática. Em razão da intensa rivalidade dentro do
Pentágono e do igualmente intenso sentimento
dos militares contra incursões nos seus
4) O Departamento de Defesa
territórios, sentimentos esses preservados pelo
Qualquer correspondente fixo trabalhando no Departamento de Estado e até pela Casa Branca,
Departamento de Defesa tem pouca dificuldade de a divulgação de documentos secretos nos meios
acesso aos oficiais do Pentágono. Em períodos de de comunicação considera-se atividade não
crise, porém, existem restrições em larga escala. autorizada. Durante a "guerra" contra a proposta
Uma das mais severas normas iniciadas na época de construção dos superbombardeiros B-36 para
da crise dos mísseis em Cuba exigia que os oficiais a Força Aérea, nos anos 40, facções militares
do Pentágono relatassem todos os seus contatos rivais divulgaram documentos secretos, num
com jornalistas. Essa imposição tornou-se motivo esforço de desacreditar esses aviões junto ao
de controvérsias infindáveis. público. A situação atingiria um clímax em
A despeito das dificuldades para a obtenção de 1971 e 1972, com a revelação pública dos
informações vitais, o mecanismo de divulgar e "Documentos do Pentágono" pelo Dr. Daniel
manipular notícias no Pentágono é, provavelmente, Eusberg, antigo oficial do Pentágono,
o mais elaborado em qualquer departamento supostamente com fins pacíficos, e a divulgação
governamental nos Estados Unidos. O de toda uma série de documentos relacionados
Departamento de Defesa (OOD) com seu próprio aos planos secretos de ação do governo pelo
esquema de informações, tem como encarregado colunista Jack Anderson, através de fontes que
ele identificou como "militares, em parte".
30
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Esse tipo de atitude continuará enquanto houver Em períodos de tensão econômica, o Tesouro
facções de militares que queiram dirigir a também é fonte de notícias sobre políticas
opinião pública nessa ou naquela direção. A monetárias e os vários controles temporários da
decisão de se publicar tais matérias é uma economia e dos salários.
responsabilidade que cada empresa jornalística
deve tomar por si própria, baseada nas
circunstâncias e na extensão dos interesses 7) Agricultura
públicos envolvidos. Os correspondentes que cobrem o
Departamento de Agricultura, como os
correspondentes nos Departamentos de Estado,
5) A Corte Suprema Defesa e Tesouro, são geralmente
Os correspondentes credenciados à Corte especializados nesse campo.e trabalham para
Suprema são poucos e altamente especializados. empresas jornalísticas com um interesse
Não é qualquer repórter que pode receber particular no assunto. A rotina diária desses
credencial. Não é fácil quem desconhece o repórteres é apoiada pelas agências de notícias.
assunto escrever um artigo, capaz de ser Mas nas reportagens mais detalhadas e
entendido pelo público, sobre decisões e profundas em assuntos de importância para os
acontecimentos na mais alta Corte do país. fazendeiros e consumidores, os meios de
Alguns repórteres que fazem a cobertura da comunicação devem se voltar para os
Corte são advogados; outros tiveram especialistas.
aprendizado em leis. Os que não tiveram
contato anterior com assuntos jurídicos têm que
desenvolver um conhecimento próprio para 8) Outras Áreas
poder exercer adequadamente suas funções. Todas, exceto as maiores e mais fortes empresas
6) O Tesouro jornalísticas, não têm condições de colocar
diariamente equipes em muitos outros
Uma das mais importantes inovações importantes departamentos do governo. Em
desenvolvidas pelo Departamento de Tesouro é conseqüência, os Departamentos de Justiça, do
a "Budget School" à qual é enviado, antes de Trabalho, do Comércio, do Interior e da Saúde,
ser divulgado, o Orçamento Federal. Educação e Bem-Estar, para mencionar apenas
Correspondentes, muitos deles com experiência alguns, são cobertos pelas agências de notícias.
em assuntos econômicos, têm oportunidade de Um correspondente com interesse especial em
estudar esse formidável documento e conversar questões da Justiça ou Trabalho, por exemplo,
com os líderes da nação antes de apresentarem pode dedicar mais tempo a esses assuntos que a
suas conclusões ao público. outros. Ou toda a equipe concentrará seus
esforços em um único Departamento, como o
Esse tipo de preparação é deficiente em muitas
do Trabalho, durante uma emergência nacional.
outras áreas de coberturas em Washington. O
A questão é que mesmo as maiores corporações
Tesouro mostrou que é possível entrar em
noticiosas na capital do país têm que trabalhar
entendimento com os meios de comunicação em
em termos de "prioridade", salvo em relação às
questões de importância para o público, tais
fontes de notícias.Desafortunado é o repórter
como expedientes governamentais e propostas
que passa um dia inteiro pesquisando um
de novos impostos, para obter tempo apropriado
projeto no Departamento de Saúde, Educação e
a estudos e reflexões. Em assuntos dessa
Bem-Estar, e descobre, depois, que nesse
natureza, poucos parágrafos escritos
mesmo dia o Presidente enviou mensagem de
apressadamente podem conter informações
urgência ao Congresso; isso acontece quando
imprecisas e confusas. É melhor esperar, de
um repórter "desliga-se" das suas fontes
acordo com a fonte de informação e com a
geradoras de notícias.
competência do jornalista, antes de dar
perspectiva própria ao assunto.

31
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Entre as agências reguladoras, os meios de Kennedy tentou e falhou em envolver a alta


comunicação têm um interesse natural e administração da CIA na organização do
contínuo em quase tudo feito pela Comissão desembarque desastroso na Baía dos Porcos, em
Federal de Comunicações. E, com o aumento do Cuba. De novo, em 1963, o governo Kennedy
interesse pelos assuntos de consumo, dá-se aceitou o argumento do regime de Diem, no
maior atenção à Comissão Federal de Vietnã do Sul, de que a "vitória" sobre o
Comércio. Por outro lado, as agências Vietcong era iminente.
reguladoras e os correios são provavelmente as Com a continuação da guerra, algumas
organizações criadoras de notícias em declarações dos governos Johnson e Nixon
Washington que recebem a pior cobertura foram desmascaradas como falsas. A
diária. indignação final, decerto, ocorreu com o caso
Watergate, que levou o Presidente Nixon à
renúncia forçada.
Riscos nas relações com meios de
Comunicação Em virtude desses acontecimentos, ficou difícil
para os governos seguintes restabelecer a
Os assuntos de ações públicas e os ligados à
confiança do povo americano e dos países
segurança nacional algumas vezes criam
estrangeiros nas informações divulgadas pelo
dificuldades entre o governo e os meios de
Governo dos Estados Unidos em matérias-
comunicação. Revelações que embaraçam o
chave que afetam a conduta do público,
governo jamais são aceitas com bons olhos ou
particularmente aquelas ligadas à segurança
indiferença. Não é boa política a Casa Branca
nacional. Infelizmente, o sucesso da imprensa
compilar uma "lista de inimigos" e entregá-la ao
ao divulgar as falhas do governo não torna os
Serviço de Taxas e Impostos sobre o Comércio
jornalistas queridos do público americano.
Interno, como fez o ex-Presidente Nixon, da
Estava escrito que os jornalistas seriam
mesma forma que não são simpáticos a
desacreditados, assim como o governo - e que
qualquer administração os repórteres muito
ficariam ressentidos os mais zelosos partidários
inquisitivos. Acontece também algumas vezes
do Presidente derrubado.
que, quando um Presidente ou pessoa da sua
administração tenta usar os meios de
comunicação como instrumento de aliciamento Jornalismo Interpretativo: Liberdade e
público, os efeitos podem ser desastrosos e se Segurança
"voltarem contra o feiticeiro".
O governo e os meios de comunicação
concordam sempre com as proposições gerais de
"Os Mal-Entendidos" que nenhuma notícia que viole a segurança
nacional deve ser tornada pública, em tempo de
A despeito de algumas dúvidas quanto aos tipos
crise. Entretanto, nenhum acordo parece possível
de informações militares fornecidas pelos
sobre o que constitui a segurança nacional em
governos Roosevelt e Truman, durante a II
qualquer tipo de circunstância. Segue-se que a
Guerra Mundial, suas linhas de ação não foram
responsabilidade de determinar qual a informação
criticadas; de fato, manter o segredo sobre o
a ser preservada deve ser exercida pelo governo.
desenvolvimento da bomba atômica foi
Entretanto, quando, e se a imprensa perceber que
considerado um triunfo, até que se ficou
esse tipo de informação está sendo guardado em
sabendo que espiões haviam enviado dados
segredo erradamente, por motivos outros que não
importantes à União Soviética. Contudo, os
o da segurança nacional, é da sua
mal-entendidos não haviam começado até o
responsabilidade divulgá-lo, no interesse do povo.
governo Eisenhower, quando a União Soviética
Eis, em suma, a substância do fato conhecido
descobriu, em 1960, a despeito dos desmentidos
como relação de adversidade entre governo e
da Casa Branca, que um plano de espionagem
imprensa.
U-2 fora acionado dentro de seu território. E
isso alastrou-se em 1961, quando o Presidente

32
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Essa posição conflitante tem sido assunto de político talentoso que gostava de competições
muitas discussões entre jornalistas e autoridades com a imprensa.
do governo durante anos. Tal relação é típica Determinou que as reuniões com a imprensa
somente nos Estados Unidos. Há muitos anos, seriam duas vezes por semana, durante o seu
durante a guerra da Criméia, em meados do mandato. O Presidente Truman manteve esse
século XIX, as revelações de William Howard sistema. Embora não houvesse tantas reuniões
Russel sobre a maneira trágica como estavam como na Presidência anterior, elas eram muito
sendo comandados os militares ingleses trouxe inteligentes, sob todos os pontos de vista.
grande prestígio ao The Times de Londres e
causou a queda do governo de Aberdeen. Tais No governo do Presidente Eisenhower, a última
fatos podem ser documentados numa democracia barreira que protegia o Chefe do Executivo foi
praticante, onde existe imprensa livre, competente derrubada. Historicamente, presidentes gozaram
e com poder de crítica. sempre do privilégio de ter suas respostas a todas
as perguntas publicadas em forma de discurso
Prevalece a teoria de que o interesse público é indireto. Se os presidentes permitiam a
melhor servido pela rivalidade constante entre as reprodução exata de algumas palavras ou talvez
duas partes. Entretanto, se o conflito for uma frase era um grande acontecimento. Quando
excessivo, e se todas as restrições impostas Eisenhower permitiu que câmaras de televisão
vierem a ser abandonadas, tanto pelo governo gravassem as reuniões com a imprensa e os filmes
quanto pelos meios de comunicação, o resultado fossem levados ao ar, após uma revisão, tornou-se
provável será a anarquia. impossível impedir que os repórteres usassem
Em assuntos nacionais e internacionais, com reproduções diretas do que fora dito. Assim,
muitos efeitos sobre a segurança nacional, depois de uma verificação rápida, as gravações
correspondentes e editores são avisados sobre das reuniões presidenciais com a imprensa eram
toda a filosofia dos dois lados da questão e o que divulgadas.
devem ou não revelar. A despeito de todas as
pressões, cabe aos jornalistas decidir o que
divulgar das matérias em seu poder. Essa é a A cobertura das Nações Unidas
maior responsabilidade dos jornalistas em uma Nos anos em que os Estados Unidos dominavam
sociedade aberta. No exercício de tal atividade, as Nações Unidas, os assuntos a ela concernentes
põem muitas vezes em dúvida o seu próprio mereciam atenção dos jornalistas, embora os
julgamento. meios de comunicação americanos dessem pouca
atenção a esses temas, a não ser quando havia
alguma crise. Desde que os Estados Unidos
Coletiva com o Presidente começaram a ocupar posição minoritária,
É um costume peculiar americano colocar o perdendo votos ou sendo colocados em cheque-
Presidente dos Estados Unidos regularmente mate pela .maioria dos países em
frente a frente com questões propostas pelos desenvolvimento com vínculos com o bloco
jornalistas. Até a virada do século a nenhum soviético, China, ou ambos, as Nações Unidas
presidente ocorrera promover esses encontros e os tornaram-se impopulares na América. Discursos
próprios jornais não demonstravam interesse pelo enérgicos antiamericanos, crises afetando os
assunto. Embora Theodore Roosevelt tenha sido o Estados Árabes ou os nacionalistas negros da
primeiro Presidente a conversar com repórteres África, e as manobras pretensiosas do bloco
(ficava irritado quando publicavam matérias das soviético são de pouco interesse para o povo
quais não gostava), foi Wilson quem iniciou os americano e até para muitos correspondentes
encontros ocasionais com a imprensa. estrangeiros, exceto quando esses fatos tocam em
um ponto nevrálgico de seus países.
A reunião do Presidente com a imprensa, como a
conhecemos atualmente, foi fruto do trabalho do Ainda assim, pelo simples fato de existirem as
Presidente Franklin Roosevelt, um artista na arte Nações Unidas, e porque a sua sede está
de envolver e manipular repórteres e editores, um localizada em Nova York, é matéria à qual deve

33
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

dar-se cobertUra. Mesmo se o assunto for aos jornais quando julgam tirar proveito da
desinteressante ou se provocar o repúdio publicidade.
americano, continuará importante. 3) A missão americana nas Nações Unidas. Ela
é uma extensão do Departamento de Estado,
mas tem os seus próprios negócios públicos e
Problemas de Cobertura
oficiais de informação e uma excelente
Não é difícil fazer cobertura das Nações biblioteca. A equipe de informações é
Unidas. O problema, tal como no Departamento competente, mas geralmente não tem muita
de Estado, é que há muita burocracia e pouca liberdade de ação, por razões óbvias.
ação. A maioria das delegações tem seus
4) A própria equipe de informações das Nações
assessores de imprensa, poucos podendo ser
Unidas e os recursos do Secretário Geral.
considerados excelentes. As próprias Nações
Através dos anos as Nações Unidas
Unidas têm um pequeno grupo de assessores de
desenvolveram um sistema de arquivar
imprensa de carreira, muito qualificados, que
cronologicamente as atas das grandes reuniões;
trabalham para o Secretário-Geral Kurt
cópias dessas atas podem ser obtidas em pouco
Waldheim. Na seção de documentação é
mais de uma hora após a requisição. Esse
facilmente encontrado material de valor
pequeno mas qualificado grupo trabalha em
relevante; na biblioteca, há uma quantidade
uma seção própria no segundo andar do edifício
enorme de informações sobre todos os assuntos
do Secretariado das Nações Unidas, e pode ser
pendentes e outra grande quantidade sobre
consultado por qualquer correspondente.
temas já esquecidos.
O Secretário Geral, sendo o responsável por
Os procedimentos das Nações Unidas, os
todos os membros das Nações Unidas, não pode
métodos das suas organizações principais e as
fazer pronunciamentos agressivos que afetem
interpretações da sua Constituição são
esses membros, mas ele consegue tornar-se
complicados, mas não tão complicados como os
"notícia" em reuniões periódicas com a
de qualquer governo. Correspondentes
imprensa durante o ano, e nas ocasiões em que
qualificados não tiveram muita dificuldade em
discursa na organização.
trabalhar nas Nações Unidas. O principal
problema das coberturas é que há muito pouco a Fisicamente, o centro da cobertura de imprensa
fazer. nas Nações Unidas fica no terceiro andar do
edifício do Secretariado, onde a sala de
imprensa, centro de documentação, sala de
Métodos e Fontes "briefing", e alguns dos escritórios de
Seguem-se as quatro principais fontes de correspondentes estão localizados. Telex,
notícias nas Nações Unidas: telefones e outros recursos de comunicação são
também encontrados. Credenciais são fáceis de
1) A abertura das reuniões, discursos e obter com o preenchimento de pequeno
resoluções dos vários componentes da formulário, cuja exigência principal é uma carta
organização. Principalmente a Assembléia de solicitação das credenciais escrita pelo editor
Geral e o Conselho Econômico e Social, com de um jornal ou seu substituto.
suas comissões subsidiárias.
2) As delegações estrangeiras, geralmente
reticentes sobre os negócios de seus países, Correspondência Estrangeira
podem fornecer informações oficiosas de É quase unânime nas redações americanas o
"background" sobre o que está acontecendo sentimento de que uma matéria vinda de fora do
"atrás do pano". Algumas não fornecem país não está normalmente escrita em termos de
detalhes; mas as delegações - como os fácil entendimento dos leitores e dos
advogados inclinam-se a falar dos seus casos espectadores médios. O resultado final é a
pequena utilização de notícias estrangeiras na

34
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

maioria dos jornais americanos e menos ainda com uma circulação de 20.000 exemplares em
no jornalismo eletrônico, o que causa o 1950, atingiu cerca de 75.000 nos anos 70. E
desânimo em qualquer um que trabalhe nessa cursos universitários sobre assuntos
área e sabe quanto talento, esforço e dinheiro internacionais se tornaram bastante populares.
são gastos nas cobertura de acontecimentos no Ainda assim, o processo educacional é
estrangeiro. I Normalmente, matérias sobre inevitavelmente vagaroso e duvida-se que mais
crises, guerras e pessoas, bastante detalhadas, de 10% do povo americano se interessem por
avolumam-se. Mas, infelizmente, as matérias assuntos internacionais, provavelmente esse
que colocariam o público americano "em número cai para 5% nos períodos em que não
guarda" não são publicadas em larga escala. É há crise.
um fato, também, que pouco menos de uma Estudos têm revelado que um número bastante
dúzia de correspondentes americanos estava em reduzido de pessoas importantes, as que
Saigon nos anos cruciais, quando os Estados decidem em todos os níveis do governo, não se
Unidos vagarosamente se envolviam em uma interessa por esses assuntos. Mas isso não torna
guerra que não poderiam vencer, e era quase mais fácil o trabalho dos editores e
certa sua derrota. correspondentes estrangeiros numa época em
que os Estados Unidos passam por um
envolvimento global maior do que em qualquer
O Fluxo de Notícias Estrangeiras
outra época da sua história.
Em geral, cresce a cada dia o fluxo de notícias
O desenvolvimento mais promissor na
estrangeiras que poderiam ser utilizadas nos
disseminação de notícias internacionais nos
meios de comunicação dos Estados Unidos. A
Estados Unidos é o rápido progresso dos
Associated Press e a UPI distribuem cada uma
"syndicates"2 de jornalistas. O New York Times,
cerca de 200.000 palavras por semana, com
com o maior e mais eficiente serviço
notícias estrangeiras. Se a média dos jornais
internacional, tem mais de 300 jornais como
americanos usasse 10.000 palavras por semana
seus clientes. O Los Angeles Times, em poucos
(o jornalismo eletrônico não pode absorver
anos, obteve mais de 200 jornais, e o
número próximo desse total), os editores das
Washington Post (somente em notícias
agências de notícias considerariam isso um
internacionais) se tem expandido considerável-
triunfo. Alguns jornais com agências no
mente. O Baltimore Sun, depois de se recusar a
estrangeiro e que vendem notícias
sindicalizar-se por vários anos, agora oferece
provavelmente as fornecem de acordo com as
suas notícias internacionais a outros jornais e
necessidades dos seus clientes.
conquistou grande e respeitável audiência.
Algumas das mais antigas agências
A Audiência internacionais, a Christian Science Monitor
entre elas, estão sendo revitalizadas. E jornais
Há bons sinais de que um número maior de como o Minneapolis Tribune, St. Louis Post-
pessoas nos Estados Unidos segue regularmente Dispatch, Miami Herald e outros enviam
o noticiário internacional. Os milhões de especialistas para reportarem determinados
americanos que viajam pata fora do país todo assuntos do noticiário internacional. Mas o
ano, mais os milhões de pessoas que vêm visitar famoso Chicago Daily News desativou sua
o país, contribuem pata estimular a publicação equipe internacional.
de matérias internacionais. Na década de 70, o
Departamento de Estado identificou aumento no Nas áreas em que há jornais pobres com uma
volume de comunicações, por carta e telefone, cobertura mínima dos assuntos nacionais e
com os cidadãos americanos, sobre vários internacionais, as revistas de notícias vendem
problemas envolvendo política internacional. grande parte dos seus 7 milhões de exemplares
Publicações especializadas em assuntos semanalmente com seções internacionais
internacionais estão-se expandindo detalhadas. Assim como as cadeias de televisão,
vagarosamente; o Foreign Affairs, por exemplo, 2
N.doE. Cooperativas.

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

que ainda tiram a maior parte das suas matérias O mesmo vale para os raros documentários na
das agências de notícias, elas desenvolvem uma televisão acerca de assuntos internacionais.
equipe sofisticada de correspondentes Isso não justifica, e está longe de ser
estrangeiros para trabalharem principalmente desempenho satisfatório, a fraqueza da
com seus operadores. Empresas jornalísticas imprensa americana na publicação diária e
especializadas em negócios e comércio, como semanal de notícias internacionais, ou a pouca
as publicações da Dow Jones, McGraw-Hill e quantidade desse tipo de material nas emissoras,
Fairchild, têm uma equipe competente cobrindo quando não há guerra. Como foi mostrado, o
os maiores centros de comércio no mundo. modelo, como um todo, é confuso. Poderia ser
muito melhor. Mas já foi muito pior.
O Espaço para as Notícias Internacionais
É difícil precisar o volume de notícias O Trabalho dos Correspondentes
internacionais usado, porque isso varia em Internacionais
função de um assunto determinado, das Os correspondentes internacionais que
empresas de notícias envolvidas e da audiência manipulam as notícias para as empresas
potencial do assunto. Num Período em que os jornalísticas americanas são jornalistas
Estados Unidos estão em paz com o mundo, é maduros, com excelente desempenho
óbvio haver pouco interesse público e pouco profissional e sólida instrução. Não é difícil
tempo e espaço dedicados aos assuntos encontrar entre eles homens e mulheres com
internacionais. Em tempos de guerra, a situação títulos universitários. Alguns são "Nieman
muda rapidamente; em qualquer crise Fellows" em Harvard, e existem pós-graduados.
prolongada, o espaço e o tempo dedicados às
notícias internacionais têm uma correlação Eles dirigem vários assuntos de suas "bases" e
específica com os anseios do público. são designados para outros locais a cada três
anos. Se tiverem que assumir riscos, assim o
Mesmo fora de crises, o New York Times fazem, não por diversão, mas porque isso faz
publica entre 16 a 18 colunas por dia de notícias parte do seu trabalho. Em zonas de combate, a
internacionais. Nas mesmas circunstâncias, o primeira coisa que aprendem a fazer é manter as
Los Angeles Times publica uma média de 10 a cabeças abaixadas. Um correspondente morto
11 colunas; o Washington Post, 9 ou 10; o pode ser um herói, mas as empresas para as
Baltimore Sun, 8 ou 9, com um número entre 4 quais trabalham os preferem vivos. E os que
a 6 colunas diariamente em, talvez, 30 outros esperam subir às alturas ao atacar governos
jornais importantes com uma circulação de ditatoriais, bem cedo descobrem que ser
cerca de 10 milhões de exemplares. Somando- demitido por provocações não é o melhor
se a isso, certamente, estão as seções caminho, do sucesso.
internacionais nas revistas semanais e os
comentários e apresentações, algumas vezes
importantes, nos noticiários noturnos da Como Ser Correspondente
televisão.
A forma de alguém tornar-se correspondente
O Wall Street Journal publica uma seção internacional é ainda incerta, a despeito de tudo
internacional de um dos seus excelentes que se diga sobre modernos métodos pessoais.
correspondentes, a intervalos regulares, com um Alguns são escolhidos para o trabalho e
impacto considerável nos seus mais de 1 milhão treinados rigorosamente em cursos especiais de
de leitores. E quando o New Yorker Magazine grandes universidades e estudam várias horas
publica um artigo internacional de um elemento por dia um idioma estrangeiro. Muitos estão no
do seu pequeno mas brilhante grupo de lugar e na hora certos e tiram proveito dessa
redatores de assuntos internacionais, alcança oportunidade. Outros convencem os editores a
significativa penetração entre o público leitor. testá-los, com resultados não muito bons
(embora, às vezes, surjam agradáveis

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

surpresas). O restante dos correspondentes a média gasta pelas empresas jornalísticas com
internacionais consegue atingir esse posto um único correspondente, excluindo os serviços
através de promoções nas agências de notícias e de telex;, é de 75.000 a 100.000 dólares por ano
em jornais que têm equipes no estrangeiro, e - quantia ainda maior em lugares como Moscou
muitas vezes são convidados para trabalhar e Pequim.
como correspondentes internacionais em Em países totalitários e em muitos países em
revistas ou jornais que mantêm uma equipe no desenvolvimento, os correspondentes ficam
estrangeiro. "amarrados" às fontes oficiais. Em um número
Enquanto a maioria dos correspondentes mais cada vez menor de países democráticos há
velhos pode contar com um salário decente, há liberdade de ação, se os correspondentes
jovens que querem trabalhar ganhando menos souberem o que fazer e como conseguir. Não é
do que ganhariam em suas cidades. comum os editores guiarem os corresponden-tes
pela mão, ou tentarem isso, a despeito da
Entretanto, somente em lugares conturbados e
disponibilidade de milagres da moderna
onde existem riscos, particularmente áreas de
comunicação. O serviço de um correspondente
guerra, é que se dá preferência aos jovens. Na
internacional é ainda uma operação altamente
primeira guerra documentada pela televisão, a
individual e assim deve permanecer.
Guerra do Vietnã, os jovens predominaram na
cobertura das batalhas. Isso também ocorreu no
Oriente Médio, especialmente na longa e brutal Propaganda
guerra civil libanesa.
É falso que o americano típico no exterior seja
presa fácil da propaganda internacional. Os
Como Trabalham os Correspondentes políticos americanos que participam de
conferências internacionais estão condenados
A maioria dos correspondentes internacionais
por antecipação. Quanto aos correspondentes
acredita que sua primeira obrigação é contar a
internacionais, até seus próprios editores
história do povo do país onde trabalham, e não
algumas vezes recusam-se a acreditar quando
somente os atos oficiais do governo e os
sua reportagem coincide com as declarações ou
comunicados de seu Ministério à imprensa. O
os anúncios de uma agência de propaganda.
trabalho é difícil e exigente, requer longas, e
algumas vezes irregulares horas de trabalho A dificuldade fundamental é definir propaganda
durante o dia e a noite, e pode perturbar a vida e separá-la da atividade jornalística denominada
em família. Não admira que o índice de "notícia". A propaganda não precisa
divórcio entre os correspondentes internacionais necessariamente basear-se em uma informação
seja elevado. falsa ou leviana; a "grande mentira", de fato, foi
certamente menos eficiente no passado do que a
Quando os correspondentes são credenciados a
verdade - quando acontecia a verdade servir aos
cobrir um país inteiro, naturalmente dependem
fins da propaganda. De certo, poucos
das facilidades locais de comunicação de massa
propagandistas são tolos o suficiente para
para se manterem informados.
"rotular" os seus mais indeléveis ideais, mas
Bem cedo descobrem que precisam fazer mais nenhum propagandista consegue enganar por
do que ler os jornais, ouvir o rádio, assistir à muito tempo um correspondente experimentado.
televisão, verificar o que está sendo enviado por
telegramas e manter relações cordiais com a
Embaixada americana e com os jornalistas do
país. Precisam obter e desenvolver suas próprias Transmissão da Informação
fontes de informação, suas próprias idéias para
matérias e reportagens, seus próprios métodos É um hábito, normalmente _praticado pelas
de trabalho - e isso leva tempo e custa muito empresas com grandes volumes de notícias a
dinheiro. Sem contar os custos de transmissão, transmitir, contratar circuitos especiais para

37
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

essas transmissões. Um serviço completo de exemplo, Londres, 12 de março), assim como o


telex, por exemplo, poderia manter circuitos dia da publicação pode ser inserido de acordo
abertos 24 horas por dia, para comunicação nos com as necessidades, mas tal procedimento é
dois sentidos através do Atlântico. Em tais. questionável, não se sabendo ainda por quanto
circunstâncias, a notícia é transmitida tanto por tempo poderá ser aceito. O transporte por aviões
cima quanto por baixo da superfície dos supersônicos (SST) pode ser uma opção mais
oceanos, para lugares em que não se pode ter em conta para os jornais e revistas de pequeno
uma ligação fio a fio e para a redação de uma porte, ao invés de se utilizarem dos satélites,
grande empresa jornalística. As antigas dos cabos sofisticados e do popular mas ainda
mensagens codificadas somente têm função menos confiável sistema de rádio para
agora entre as seções de uma agência. teleimpressão.
Para um serviço internacional como o do New
York Times, a transmissão de certos tipos de Censura
dados a uma velocidade de 1.000 a 1.500
palavras por minuto não é incomum. Os Outro impedimento ao fluxo das notícias
modernos serviços de telex trabalham a essa através dos países, ainda maior que os custos
velocidade. Além do mais, o sistema de ditar das transmissões, é a censura, sempre
pelo telefone para gravadores, o que possibilita perniciosa. De um jeito ou de outro, os censores
rápida transcrição do texto, vem ganhando a existem em todo o mundo e o seu número
preferência em muitos lugares como aumenta gradualmente, até mesmo no "berço"
concorrente para o telex. Para a televisão, o da liberdade de expressão, a Europa Ocidental
sistema de transmissão por satélites tem sido de A cruel censura totalitária do início do século,
grande vantagem; com o aumento do número de quando os despachos eram retidos ou mutilados
satélites e dos sofisticados cabos de múltiplos em parte ou no seu conteúdo total, está voltando
canais, muitos outros meios estão em agora. Particularmente no mundo comunista, o
desenvolvimento. Satélites transatlânticos sistema deixa os correspondentes numa posição
poderão, em breve, prover 42.000 canais para em que se tornam os seus próprios censores,
comunicação simultânea, ou 24 canais "full- pelo medo de serem deportados.
time" para televisão em cores. E a adaptação da A União Soviética aboliu formalmente a
tecnologia e da transmissão do "laser" pela luz censura em 1961, e permitiu que
ao longo de fibras de vidro trará grandes correspondentes internacionais inaugurassem
facilidades aos processos de transmissão. um sistema de teletipo com os seus jornais, se
A quantidade de notícias internacionais assim o quisessem. Seguiu-se certa liberdade.
transmitida é estabelecida pela União Os correspondentes, cautelosamente testando o
Internacional de Telecomunicações, regime, descobriram que podiam transmitir
principalmente durante as reuniões anuais em algumas críticas veladas e até mesmo especular
Genebra dos representantes dos países sobre o rumo dos acontecimentos atrás da
membros. É norma geral fixar essa cota pelo cortina de ferro. Mas também descobriram que
número de palavras transmitidas, ao invés de a União Soviética deportava mais rapidamente
estabelecer um período de tempo determinado. do que nunca correspondentes contrários às suas
determinações.
Com o aumento das despesas, não é de
estranhar que o modesto carteiro tenha Também na China os correspondentes
reassumido o seu papel. Os aviões a jato, que concluíram não haver censura formal, no
ligam Nova York à Europa ou Los Angeles a sentido exato da palavra, mas também
Tóquio em poucas horas, tornam o correio perceberam que estavam sendo constantemente
aéreo bastante prático e útil na transmissão de observados, e suas fontes de informação eram
notícias antes enviadas por cabos telefônicos ou restritas e limitadas, de acordo com as normas
por sistemas de radiocomunicação. É necessário do governo.
colocar-se a data e o local nos envelopes (por

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Abriu-se uma exceção aos correspondentes que duas figuras mais difíceis de serem vencidas.
acompanharam os Presidentes Nixon e Ford São comumente censores de menor expressão,
quando de suas visitas ao país. Em cumprindo à risca instruções superiores. Tudo o
conseqüência, Max Frankel, do New York que os correspondentes podem fazer é reclamar
Times, ganhou o primeiro Prêmio Pulitzer com e apelar pata as autoridades de sua própria
sua cobertura sobre a China. Embaixada ou às autoridades do país em que
estejam credenciados. Normalmente não
O censor que o correspondente nunca vê e a voz
ganham uma batalha desse tipo, mas devem
fanhosa que corta uma ligação telefônica são as
tentar e jamais desistir da intenção.

Referência bibliográfica
HOHENBERG, John. “O Jornalista Profissional: guia às práticas e aos princípios dos meios de
comunicação de massa”, Rio de Janeiro, Interamericana, 1981. págs.362-378

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Texto VI
Meio Século de Memórias
(História do Fotojornalismo Internacional)
John Morris, 1994

Das grandes revistas distribuídas por jornais, proporcionamos uma ponte entre o filme e a
testemunhamos recentemente a extinção da mídia impressa. Há quatro anos, aqui neste
Sunday Times Magazine, de Londres. Os palco, Tony Hall, da SSC, um jornalista de
jornalistas da minha geração conviveram com televisão, disse: "Nada fica na memória
os dias difíceis da Grande Depressão — a daqueles que simplesmente observam." A
depressão mundial ocorrida após a Primeira importância do fotojornalismo é que ele induz o
Guerra - e com a devastação e o sofrimento das público a ler e a reter a mensagem transmitida
guerras que se seguiram. O fotojornalismo pelas palavras. Minha primeira revista foi a
moderno estava, ainda, dando os primeiros Life, na época uma revista semanal. Ela era tida
passos quando essas guerras começaram. A como a maior força editorial da América. Eu
fotografia era utilizada como uma arma. Do comecei na Life em 1938, como contínuo,
lado dos Nazistas, as fotos eram parte do recém-saído da Universidade de Chicago. A
aparelho de propaganda. Do nosso lado, os maior parte da equipe, na época, tinha menos de
fotógrafos que eu conhecia, e com os quais 30 anos e coragem de tentar tudo. Eu me
trabalhava, acreditavam plenamente na causa lembro de ter pedido ao Arcebispo de
dos aliados. Suas fotos... talvez vocês se Canterbury que subisse na torre do Palácio de
lembrem da foto do soldado espanhol morrendo, Atlanta, para posar para a capa da Life. Eu pedi
de Robert Capa, ou da foto de uma mãe a Alfred Hitchcock, o diretor de cinema, que
legalista espanhola, de David Simor. Fotos posasse como garçom em Santa Monica. Nós
assim foram as precursoras de centenas de pedimos a milhares de trabalhadores da aviação
imagens inspiradoras, capturadas por dezenas que abrissem mão da sua hora de almoço para
de fotógrafos dedicados, que alertaram os posar ao lado do bombardeiro que estavam
Estados Unidos sobre os perigos do fascismo e, construindo. Nós insistíamos em levar nossas
depois, documentaram a marcha dos aliados máquinas fotográficas a todos os lugares aonde
para a vitória. íamos, ao laboratório, ao boudoir; às reuniões
fechadas dos homens de negócios e aos
Havia um editor na época, que tinha a coragem
encontros entre grandes líderes e generais. Os
para realizar suas convicções. Henry Lewis, das
jornais ficavam para trás, porque seus
revistas Time e Life, arriscou milhões pelos
fotógrafos continuavam carregando câmeras de
ideais de uma revista. Não apenas uma vez, mas
imprensa, das grandes, com flashes. Os editores
várias vezes. Quando Lewis ficou mais velho,
desses jornais encaravam fotos como meros
as coisas mudaram. Quando a Time Inc., em
artifícios para criar espaços, quebrar um pouco
1964, decidiu vender a revista mensal
aquela salada de textos. Já os tablóides
Architectural Form, aquilo representou um
exageravam na direção oposta, publicando fotos
retrato do futuro. A Form era uma pequena
grandes, chocantes e sensuais, mas ignorando o
revista, bastante séria, que Lewis publicava há
conteúdo sério das notícias.
muito tempo como inspiração para os
arquitetos, só que ela deixou de dar lucro. A grande diferença entre a Life e as outras
Passou a ser considerada dispensável. Hoje, nos publicações era que, nela as fotos vinham em
perguntamos se a própria mídia impressa está primeiro lugar. As palavras eram escritas para
para desaparecer ralo abaixo, se vai entrar serem encaixadas entre a disposição das fotos.
mesmo pelo cano. Será que leitores têm mesmo Se não houvesse fotos, não havia matéria. Nós
que ser reduzidos a telespectadores? nos inspiramos nas revistas de fotos anteriores à
Guerra de Weimar: na Alemanha. A Life reuniu
Nós, fotojornalistas - estou falando daqueles
uma equipe de fotógrafos, alguns generalistas,
que trabalham com fotografias estáticas -
40
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

outros especialistas, que jamais encontrou um aquecedor. para que secassem e, por causa
rivais. da minha pressa, fechou as portas. A emulsão
dos filmes simplesmente derreteu. Eu desci
Em 1943, a Life me mandou para Londres, com
correndo com ele e examinei filme por filme.
nove meses de antecedência, conforme ficou
Por fim, encontrei 11 fotos que poderiam ser
constatado depois, para preparar a cobertura do
impressas, embora estivessem muito
Dia D, a invasão da Normandia. A operação
granuladas. Elas foram salvas, mas por um triz.
militar mais complexa da história, comandada
Essa foi a pior noite da minha carreira.
pelo general Eisenhower. Os aliados exigiram
que tirássemos nossas fotos junto com as três Eu vou poupá-los de mais histórias de horror
grandes agências distribuidoras de fotos: como essa. Ao invés disso, gostaria de falar
Associated Press, United Press e a sobre aonde chegou o fotojornalismo hoje.
International News Service. Acho que temos fotógrafos tão talentosos
quanto os antigos, ou até mais, trabalhando pelo
O Dia D, o dia mais longo, como ficou
mundo inteiro, com maiores concentrações na
conhecido, foi uma terça-feira, 6 de junho de 1
França e nos Estados Unidos. Eles possuem
944. Apesar de todos os nossos preparativos,
recursos que causariam inveja aos pioneiros do
nós ainda não tínhamos boas fotos no final da
passado, tal como Eric Solomon, que tinha que
tarde de quarta-feira. O tempo estava terrível, o
tirar suas fotos com pequenas placas de vidro,
que inviabilizava as fotografias aéreas. As
segurando com as mãos as exposições que
esperanças da Ufe de obter c/osestirados da
duravam apenas um ou dois segundos. Os
invasão por terra estavam depositadas em
fotógrafos de hoje têm microcâmeras
Robert Capa, o famoso fotógrafo húngaro, que
maravilhosas, lentes com zoom de alta
já havia feito a cobertura das guerras da
velocidade e filmes velozes. Suas fotos são
Espanha, China, África do Norte e Itália. No
transmitidas quase que instantaneamente, em
começo da noite de quarta-feira, recebi um
cores, para o mundo inteiro. Os fotógrafos de
telefonema de um dos portos do canal: "O filme
hoje, os mensageiros, possuem equipamentos
de Capa está indo para Londres de motocicleta."
fantásticos para contar suas histórias. Mas qual
Nosso prazo final para conseguir mandar fotos
é a mensagem deles? Será que a estão
originais para Nova York, para a edição da Life
transmitindo?
daquela semana, era na quinta de manhã,
quando o malote sairia de Governor Square, em Sim e não. O paradoxo da revolução
Londres. Além disso, tínhamos que fazer cópias tecnológica é que as grandes revistas de fotos
para as três agências, o mais rápido possível, estão extintas. O semanário americano Ufe
para distribuição como radiofotos para um acabou em 1972, seguido por Look, e Saturday
mundo ansioso por detalhes da grande ofensiva. Evening Post, que só ocasionalmente levou o
foto jornalismo a sério. Na Inglaterra, não
Finalmente o filme chegou, acompanhado de
surgiu nenhuma outra revista de fotos
um recado do Capa, explicando que todo o
independente desde a Picture Post. Além disso,
material deveria estar em quatro rolos de filme
acabamos de presenciar o fim da Sunday Times
de 35 milímetros. Eu disse ao pessoal do
Magazine, do senhor Murdoch.
laboratório, que ficava debaixo do meu
escritório, que trabalhasse o mais depressa Na França, a Paris Match, seguindo a fórmula
possível para me liberar as fotos para a edição. da revista americana People, se concentra em
Alguns minutos depois, eles retornaram:"f'.ó celebridades e em algumas matérias mais
fotos estão ótimas e os filmes estão secando." recentes e óbvias. Na Alemanha, temos a Stern,
Mas traga só os negativos, e rápido, eu disse. que é uma colcha de retalhos com coisas boas e
ruins, mas sem qualquer convicção. Na Itália,
Alguns minutos depois, o rapaz que havia
os suplementos de jornais possuem muitas
revelado o filme entrou em meu escritório
fotos, só que a grande maioria não é produzida
chorando, quase histérico: "Os filmes estão
naquele país. Eu temo que o mesmo possa ser
destruídos, estragaram todos." Ele explicou que
dito a respeito da revista Manchete, no Brasil. O
os havia colocado em um armário de aço com
41
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

que aconteceu? A explicação de sempre é a generalistas semanais, como a Time e a


televisão. Newsweek mensais como a National
Geographic e Geo, e em jornais como o New
A telinha redirecionou o grande público e os
York Times, o britânico Independent, o francês
anunciantes de massa. A televisão é mais
Libération, além de vários jornais regionais dos
rápida, mais barulhenta e não requer muito
Estados Unidos, liderados pelo Detroit Free
esforço para ser absorvida.
Press.
Infelizmente, na minha opinião, os meios de
Eu gostaria de voltar um pouco ao cenário da
comunicação impressos tentaram concorrer com
editoração, logo após a Segunda Guerra
a televisão, procurando imitá-la. Temos, então,
Mundial. Foi uma época de oportunismo para
o USA Today, que embala as notícias em
nós que sobrevivemos. Pensávamos que nunca
espaços curtos e coloridos, equivalentes às
mais teríamos que cobrir uma guerra
emissões da televisão e tão superficiais quanto
novamente. Mas não foi bem assim, nossas
elas.
previsões não levaram em conta o mundo que
Infelizmente, o USA Today é o jornal mais emergia do colonialismo. Nós não poderíamos
imitado nos Estados Unidos. Tenho que admitir imaginar que as paixões religiosas, étnicas e de
que, pelo menos na previsão do tempo, eles se classes, resultariam na morte de centenas de
saíram bem. Seria mais sensato separarmos milhares de pessoas nas divisões da Índia ou da
aquilo que a televisão faz melhor daquilo que a Palestina, e em revoluções na China, Indonésia
mídia impressa faz melhor. Com seu incrível e África. Nós também nunca imaginamos que
imediatismo, a televisão concentra a atenção do ocorreria uma guerra chamada de Guerra Fria.
mundo em um único evento, como, por
Numa espécie de irmandade, com o objetivo
exemplo, a abertura dos Jogos Olímpicos, o
comercial de dividir as despesas, fotógrafos de
bombardeio de Bagdá, ou um protesto no
meia dúzia de nacionalidades se reuniram em
Kremlin. Ela realmente consegue despertar
1947 para fundar a Magnum Photos, com
compaixão pelos africanos vítimas da fome, ou
escritórios em Nova York e Paris. Eu fui seu
pelos prisioneiros que estão sofrendo.
primeiro cliente, assinando uma série chamada
A acusação mais séria contra a influência da "People are People The World Over" (Gente é
televisão nos meios de comunicação impressos Gente no Mundo Inteiro), que fazia uma
é que, com o auxílio da publicidade, o comparação das vidas dos agricultores em uma
jornalismo foi transformado em entreteni- série de países. Foi um ato de humanidade.
mento. O mundo inteiro é um grande show, não Publicada no jornal feminino Home Journal do
deixando muito clara a distinção entre a guerra qual eu era editor de arte na época, despertou
das estrelas de Hollywood e as guerras reais muito pouca atenção, a não ser de um homem, o
como as do Golfo e da Bósnia. O tempo que a fotógrafo Edward Steichen, então diretor de
televisão dedica a cada assunto é limitado, a fotografia do Museu de Arte Moderna. A série o
televisão logo perde o interesse. E, como disse inspirou a buscar fundos para uma grande
Pamela, o tempo de atenção do público exposição que ele intitulou 'The Family of Man"
telespectador é mais limitado ainda. Além disso, (A Família do Homem). A família de Steichen
a televisão faz muito pouco para explicar as foi vista por milhões de pessoas em muitos
causas e as ligações subjacentes entre os fatos. países e, no início deste ano, em Toulouse, ela
Isso cria um desafio muito especial para o deu início à sua segunda turnê mundial.
fotojornalismo, e por foto jornalismo estou me
Infelizmente, as guerras coloniais nos
referindo agora a fotos e textos trabalhando
atingiram. Em 1954, Robert Capa, um dos
juntos em jornais, revistas e livros, para que o
fundadores da Magnum, foi morto quando
leitor possa determinar seu próprio ritmo de
cobria a guerra francesa na Indochina, uma
absorção da informação. O aspecto que mais me
guerra na qual ele não acreditava. Em 1956,
dá esperanças para o foto jornalismo mundial de
outro fundador da Magnum, David Seymour,
hoje é a escolha, cada vez mais cuidadosa, das
conhecido como Chim, foi morto por uma
fotos que acompanham textos em revistas
42
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

metralhadora egípcia em Suez. A Magnum, no contra a recente Guerra do Golfo. Fico satisfeito
entanto, resistiu e inspirou todo um grupo de de ver que, mesmo um especialista em Guerra
outras agências independentes: Gama, Sigma, a Fria, como John le Carré, também já julga a
Sipa na França, Bilderberg na Alemanha, Guerra Fria desnecessária.
Network na Inglaterra, e muitas outras cujos Gostaria de ver a comunidade do fotojorna-
fotógrafos, substituindo as antigas equipes das lismo desviar sua atenção das celebridades, e da
revistas de fotos, agora cobrem os eventos no invasão de sua privacidade, para assuntos que
mundo inteiro. realmente interessam, como o abismo entre os
O Vietnã foi uma guerra terrível para o foto- ricos e os pobres, entre os muçulmanos e os
jornalismo, uma guerra que produziu apenas cristãos, entre os brancos e os pretos, entre o
perdedores. Pelo menos uma dúzia de fotojor- homem e a máquina, entre o Norte e o Sul. E
nalistas estavam entre os correspondentes que também para a preservação do nosso planeta.
morreram. Entre eles, estava o Larry Burrows, Eu diria que as mensagens importantes não
da Life, que trabalhava em Londres, em uma estão sendo bem entendidas, porque a mídia foi
sala escura, na noite do Dia D, mas não foi. corrompida pela comercialização. O mercado
como eu disse antes, o rapaz que estragou o editorial é uma indústria, mas o jornalismo é
filme do Capa. Eu era totalmente contra a uma profissão. Não nos esqueçamos dessa
Guerra do Vietnã, da mesma maneira que o era distinção. Será que estamos vendendo jornais
contra a histeria da Guerra Fria e também ou nos vendendo?

Referência bibliográfica:
MORRIS, John. “Meio Século de Memórias” in 4º Encontro Internacional de Jornalismo:
conferências e debates (edição: Adhemar Altieri), São Paulo: IBM, 1994.

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Texto VII
Os Atacadistas de Notícias
(Agências Internacionais de Notícias)
John Hohenberg, 1981

As Agências Estrangeiras de Notícias Popular da China. Com seus jornais nacionais e


equipamento eletrônico sob controle dos
A agência britânica Reuters é a principal rival
governos, as duas agências comunistas mantêm
dos dois gigantes americanos. Embora em
o monopólio nos seus respectivos países.
número menor, os clientes da Reuters nos
Enquanto as "3 grandes" do Ocidente
Estados Unidos incluem alguns dos maiores
independem do Governo, financiadas em grande
jornais norte-americanos. Os ingleses estão
parte pela mídia à qual servem, as agências
aperfeiçoando os seus serviços para atender às
comunistas devotam-se ao serviço dos seus
exigências da América do Norte. A Reuters tem
governantes. Isto naturalmente significa que a
um serviço especial de informe econômico para
Tass e a Hsinhua devem ser consideradas
o comércio, similar ao Dow Jones da AP e ao
órgãos de propaganda, além de agências
UNI COM da UPI.
noticiosas, pois freqüentemente alteram as
Geralmente a Reuters compete no mesmo plano notícias a fim de adaptá-las aos objetivos
com as agências americanas em certos tipos de nacionais, e chegam a omitir informações
notícias estrangeiras importantes, e tem no quando conveniente. Sem compu-tadores, não
Reino Unido fontes de informação que se preocupam com outra coisa que não seja
geralmente dão preferência ao seu serviço. Não agradar ao governo a que servem.
se pode dizer, portanto, que os Estados Unidos
Contudo, apesar dessas restrições e das
ocupam posição dominante no que se refere à
diferenças óbvias, no que diz respeito à teoria
origem e transmissão de notícias fora das suas
da imprensa livre em vigor há dois séculos no
fronteiras.
Ocidente, as agências comunistas são as fontes
Além da Reuters existe o serviço informativo principais das notícias sobre a União Soviética e
francês, Agence France Presse, importante fator a China. Nenhum correspondente, em Moscou
competitivo no noticiário mundial. ou em Pequim, pode ignorá-las; além disso,
Naturalmente, é mais favorecida na França e nenhum correspondente que opere na periferia
nos países de língua francesa. da grande extensão do mundo comunista, a
A France Presse tem um serviço em língua Eurásia, pode realizar o seu trabalho sem dar
inglesa, com poucos clientes. A agência atenção à Tass e à Hsinhua. A Tass, por
francesa e sua predecessora, a Havas, sempre exemplo, foi, como não podia deixar de ser, a
foram mais populares na América Latina do que primeira a noticiar os grandes feitos da União
as agências de língua inglesa. Essa Soviética na corrida para a Lua; da mesma
popularidade existe ainda. Mas não atinge o forma, a Hsinhua foi a fonte principal das
mesmo nível das "3 grandes" agências mundiais muitas notícias sobre os tumultos havidos na
de notícias - AP, UPI e Reuters. China nos últimos dias de Mao Tsé-tung. E
ambas, através de rigorosa seleção diária das
notícias, forneceram ao mundo não-comunista
Tass e Hsinhua detalhes da luta pelo poder, entre Moscou e
Pequim, e a aproximação entre o Governo da
Nos países comunistas dois são os órgãos de China e o Governo norte-americano.
informação, ambos pertencentes aos respectivos
governos. A Tass, serviço oficial de informação Tanto na União Soviética como na China já está
da União Soviética, e a sua rival, a Hsinhua abolida a primitiva censura militar, em vista da
(Agência de Notícias da Nova China, ou eficiência do controle governamental sobre os
ANNC), o informativo oficial para a República meios de comunicação. Teoricamente, todos os
correspondentes estrangeiros têm liberdade para
44
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

enviar o que bem entenderem; na prática, Entretanto, com exceção dos grandes
contudo, sabem que, se insistirem em ofender acontecimentos, como a visita de um Presidente
os seus hospedeiros, serão expulsos a Moscou ou a Pequim, raramente as notícias
imediatamente e, em casos raros, presos como fornecidas pelas agências ocidentais e japonesas
espiões. Portanto, na realidade o correspondente são divulgadas nos centros da União Soviética
deve exercer uma autocensura, o que é uma ou na China. O mesmo se dá com o material das
tortura refinada para o jornalista. Do ponto de empresas jornalísticas. Geralmente as notícias
vista dos regimes comunistas, essa situação é do mundo não-comunista são transmitidas de
satisfatória. Alegam, com tranqüila inocência, Moscou ou de Pequim apenas quando perfilham
que não praticam a censura; porém, ao mesmo os objetivos desses governos. E os
tempo mantêm os correspondentes sob controle correspondentes ocidentais e japoneses que
absoluto. trabalham nessas capitais precisam estar sempre
muito atentos ao que dizem e ao que escrevem.
Apesar dos períodos de hostilidade do Oriente e
do Ocidente, e das lutas internas em ambos os Em vista dos obstáculos impostos às agências e
lados, os acordos mútuos entre as principais aos correspondentes estrangeiros em geral, é
agências de notícias têm sido mantidos. A Tass, quase um milagre que as nações do mundo
por exemplo, compartilha seu material com as sejam pelo menos parcialmente informadas
agências ocidentais, em base de reciprocidade, sobre os acontecimentos mundiais. Como as
há anos, sem levar em conta o que Washington agências de notícias arcam com grande parte
e Moscou dizem um do outro. E a Hsinhua tem desse peso, merecem bem mais elogios do que
mantido acordos similares com as agências que as críticas que geralmente recebem.
obtiveram permissão para enviar Mas assim são os editores de jornais. Poucos
correspondentes a Pequim, e mais consideram satisfatório um despacho não
recentemente, com a AP e a UPI. Porém, dirigido por eles próprios.
durante períodos de intensa agitação política, as
coisas mudam na China. Foi num desses
períodos, no auge da Revolução Cultural, que As Agências Nacionais
um correspondente da Reuters, Anthony Grey,
foi mantido em cárcere domiciliar, num quarto O sistema de comunicações das agências
em Pequim, por dois anos. E um expandiu-se gradualmente no correr dos anos,
correspondente japonês permaneceu na prisão por meio da ligação de uma cadeia de serviços
por tempo ainda mais longo. nacionais aos cabos e circuitos de rádio do
mundo todo. Isso se faz mediante vários tipos
Quanto ao relacionamento entre Pequim e os de acordos. Algumas agências nacionais são, na
americanos, ocorreu uma mudança depois que o realidade, extensões de um ou mais serviços
Primeiro-Ministro Chou En-lai, ao receber um globais, em determinadas áreas. Assim, a
time americano de pingue-pongue, em Pequim, Canadian Press é a principal agência do Canadá,
em 1971, voltou-se para John Roderick, da AP, e a Australian Associated Press principal da
antigo correspondente na China, e disse Austrália, ambas parte da Associated Press. Na
"Senhor Roderick, os senhores acabam de abrir Grã-Bretanha, a British United Press é uma
uma porta". A partir desse momento, durante as extensão da United Press International. Na
negociações para o reconhecimento mútuo dos Índia, a Press Trust of India tem um acordo com
dois governos, após a primeira visita de Nixon à a Reuters. E, no Japão, a Kyodo tem acordos
China, o Governo chinês passou a admitir os bilaterais com as "3 grandes" do Ocidente.
correspondentes americanos por períodos Quase todos os grandes países, e alguns dos
limitados. Mas não se pode duvidar que as pequenos, possuem serviços que operam nessa
agências de notícias americanas e chinesas têm base. E onde não há agências nacionais, os
assumido maiores responsabilidades, incluindo governos geralmente compram diretamente das
a troca de serviços. agências o noticiário por eles selecionado. IstO
ocorre especialmente na África.

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Naturalmente a lista das agências nacionais é As Empresas de Notícias As agências


bastante extensa, e suas características variam enfrentam séria competição dos jornais que
de acordo com o grau de supervisão podem manter uma grande e competente equipe
governamental, oficial ou extra-oficial, e com o de repórteres no campo nacional e
tipo de treinamento acessível ao seu pessoal. internacional.
Geralmente a agência nacional não pode ser O New York Times, operando uma das mais
melhor do que a mídia a que serve - jornais, antigas empresas, presta serviço a mais de 200
rádios e televisões, ou todos eles, - porque jornais nos Estados Unidos e no exterior. O Los
depende' deles para as notícias nacionais, que Angeles Times, uma das mais novas empresas
trocam pelas estrangeiras. jornalísticas, conseguiu, em poucos anos,
ocupar lugar de destaque graças, em parte, ao
vago acordo de sociedade que mantém com o
Agências Locais
serviço do Washington Posto Quando se trata
Nos centros mais importantes dos Estados de notícias importantes, seja no município
Unidos as agências locais existem desde que o vizinho, seja em Washington ou no exterior, o
telégrafo entrou em uso. Mesmo antes de 1844, jornalismo americano dá ainda uma cobertura
a coleta e distribuição de notícias era feita de completa tentando, na maioria das vezes, enviar
modo cooperativo por meio de mensageiros a imediatamente correspon-dentes ao local. Mas o
cavalo, diligências e até navios. Algumas das princípio de cobertura tipo "corpo de
agências locais começaram a operar bombeiros" da imprensa já não é tão completo.
independentes das grandes agências. Outras Os enviados especiais precipitam-se
eram filiais e outras ainda acabaram por ser literalmente dos aviões ao local de uma
controladas pelas agências maiores. conferência internacional e enviam suas
AtUalmente, em Washington, tanto a AP como matérias. Reúnem material sobre as motivações
a UPI oferecem um tipo especial de serviço do fato e esperam os furos. Esse tipo de matéria,
local aos que o desejam. Em Nova York, o na televisão ou nos jornais, não chega a tirar o
escritório local da Associated Press serve a sono dos escritórios das agências de notícias.
grande parte da cidade na base de encargos O hábito de depender das agências é insidioso.
isolados. Em Chicago e 10s Angeles há outros Por serem capazes e dignas de confiança, é fácil
serviços. Com a alta do custo da coleta de ao editor do jornal recorrer a elas nas coberturas
notícias, é de se prever que surjam outros tipos nacionais e internacionais, escravizando a sua
de acordos, nos quais as empresas rivais possam consciência com a desculpa de que não tem
obter as notícias nas mesmas fontes. pessoal suficiente. Quase que de forma
automática, a mesma desculpa vale quando se
trata de dar cobertura a casos legais e ao
Os Enviados Especiais e as Empresas governo estadual. Assim, a reportagem geral
A alta no custo da manutenção de sobre notícias importantes estaduais e nacionais
correspondentes no estrangeiro, em tende cada vez mais a passar para o domínio das
Washington, e até mesmo nas capitais dos agências de notícias, embora os grandes jornais
Estados, provocou uma redução no número de realizem ainda o trabalho que o público deles
"enviados especiais" - como são chamados os espera.
correspondentes de jornais que trabalham O declínio do enviado especial afeta também a
sempre distante do escritório central. É uma cobertura e a redação das notícias locais.
grande perda para a profissão. Um enviado
especial talentoso pode realizar melhor trabalho Nas cidades onde existe uma boa agência, é
para o jornal, em várias missões, do que uma grande a tentação de designar repórteres apenas
agência abastecendo milhares de jornais. para as notícias mais importantes do dia,
deixando o resto às agências. No decorrer dos
anos a tendência tem levado alguns jornais a
publicar material das agências locais sem
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

atribuição de crédito e sem se darem ao trabalho Os jornais pagam por artigo, de acordo com a
de redigir novamente as notícias para que sua circulação e possibilidades. Enquanto os
pareçam escritas pela sua equipe. É fácil grande jornais pagam alto preço por uma
compreender que essa atitude provoque o história em quadrinhos, os pequenos podem
aumento da demanda de jornalistas capazes de contratar um colunista popular por preço
escrever com originalidade e - acima de tudo - razoável. Os editores vão muito a New York, o
com rapidez. Por mais elegante que seja o quartel-general das grandes empresas, levando
estilo, não substitui a presença do repórter, seja enormes listas de pedidos.
para o fato local, seja estadual, nacional ou Contribuir para uma dessas organizações não é
internacional. Apenas a reportagem bem feita o mesmo que realizar o trabalho do jornalista
pode ser bem escrita. profissional, que se ocupa especialmente da
notícia. Quando muito, o trabalho numa
empresa de artigos é uma espécie de amálgama
Empresas de Artigos
de arte, literatura popular e jornalismo. Os
Embora as agências também distribuam artigos, redatores de notícias raramente sabem como
essa função é executada em conjunto com as essas empresas funcionam, porque têm pouco
grandes empresas. As empresas modernas são contato com elas, até se tornarem famosos.
organizações comerciais que contratam
Apesar do aspecto promocional, tais
especialistas os mais variados, artistas,
organizações não estão na mesma classe dos
escritOres e fotógrafos, para um sem-número de
anunciantes que patrocinam os programas de
artigos populares vendidos às centenas, e muitas
rádio ou de televisão. Um grande patrocinador,
vezes aos milhares de jornais. Uma das
Xerox, promoveu recentemente (isto é,
principais características dessas empresas é o
comprou) uma série de artigos sobre viagens,
grande quadro de vendedores que circula
escritos por um repórter aposentado do New
constantemente pelos jornais nacionais e
York Times, Harrison E. Salisbury, para a
estrangeiros, oferecendo uma imensa variedade
revista Esquire. Tantos foram os protestos
de material que ajuda a aumentar a circulação.
contra o contrato que a Xerox resolveu não
As agências e as empresas jornalísticas também
repetir a experiência.
vendem, mas poucas podem rivalizar com
organizações como a King Features Syndicate, O Trabalho nas Agências
pertencente a Hearst, a maior no gênero. Os Segundo estimativas abalizadas, as agências
artigos especializados para jornais constituem o fornecem 90% das notícias estrangeiras
negócio dessas empresas. E é um grande publicadas na imprensa americana, e 75%, ou
negócio. mais, das nacionais. Muitos jornais recebem da
Algumas centenas de empresas de venda de agência pelo menos a metade das notícias
artigos oferecem suas listas aos jornais. estaduais. Portanto, excetuando-se os grandes
jornais, aparentemente só as notícias locais são
Nelas está tudo o que um editor pode imaginar,
produto de trabalho pessoal. O mesmo acontece
transformado em mercadoria jornalística
com o rádio e a televisão.
popular. São oferecidos "best-sellers" de ficção
ou não-ficção, para serem publicados em série. Se a confiança depositada no serviço das
Vendem colunas políticas, colunas culinárias, agências tem como resultado a padronização
colunas de puericultura, como jogar bridge, mais ou menos generalizada da cobertura
sobre moda, saúde, charges, artigos de fundo, internacional, nacional e estadual, a culpa não
vários tipos de conselhos, sem esquecer o cabe às agências. Os culpados são os jornais
conselheiro sentimental, finanças e orientação que delas exigem tanto. Sem dúvida,
familiar, crítica literária e teatral, histórias para considerando a desvantagem de tempo e outros
adormecer crianças e outros assuntos básicos. fatores que pressionam as agências, elas fazem
pequenos milagres todos os dias para conseguir
notícias - e, às vezes, grandes milagres.

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Seria injusto presumir que as agências, tendo matéria em desenvolvimento, muito material
herdado tanta responsabilidade, devido à sobre política local, às vezes muito pouco sobre
negligência dos seus clientes, cumpram seus notícias importantes. Na pressa de elaborar a
deveres por capricho ou por acaso. Longe disso. matéria, a sacrificada equipe da agência é
freqüentemente acusada de dar muita
Funcionam sob o mais rigoroso controle, sob a
importância ao último fato acontecido, quando
vigilância de todas as organizações do País,
não é realmente importante. Ou é acusada do
pois nem mesmo uma comissão especial do
crime pavoroso de glorificar o trivial.
Senado pode demonstrar indignação tão
vigorosa quanto os dirigentes dos jornais O Livro Azul da APME registra as queixas de
quando lhes parece não estarem recebendo a editores que chamaram a atenção para a
mercadoria que compraram. "imensa quantidade de trivialidades" numa
reportagem da AP, e pergunta solenemente: "O
A agência deve satisfazer os padrões de
que é trivialidade? Supondo que definíssemos
milhares de jornais das mais variáveis religiões,
trivialidade, o que faríamos para substitUí-la?"
nacionalidades e simpatias. O que interessa a
A trivialidade, bem como o excesso de "leads"
uma empresa pode não ter significado para a
numa notícia importante, faz parte do trabalho
agência, a não ser que um editor requeira
da agência. Os atacadistas apresentam uma
cobertura especial, mas o que parece interessar
linha completa de mercadorias. Os varejistas
à agência nem sempre agrada a todos os seus
compram. O princípio ainda é "caveat emptor".
clientes. Os diretores de jornais são, por
natureza, difíceis de contentar; o que dizer As agências de notícias têm defeitos, e não são
então de milhares deles ao mesmo tempo? poucos, mas também possuem qualidades.
Muitas vezes estão melhor informadas que os
Portanto, a agência tem o máximo cuidado em
diplomatas sobre os grandes acontecimentos da
apresentar todas as facetas de uma notícia capaz
política mundial. Quanto aos militares, todo o
de gerar controvérsia. Pode não ser o melhor
mundo sabe que muitos oficiais do serviço
meio de tratar a informação, mas é sempre o
secreto estariam perdidos na névoa das
mais justo.
comunicações militares, lentas e obscuras, se
A equipe das agências não é paga para dar não tivessem um teleimpressor no escritório.
opinião. Em conseqüência, seus repórteres e
Quando um político tem algo a dizer,
redatores são vigiados de perto para que não
importante ou não, uma das primeiras perguntas
haja nem sombra de opinião pessoal no seu
que faz ao seu Secretário de Imprensa é se as
trabalho. Aos que possuem experiência e bom
agências foram informadas. Sejam grandes ou
senso permite-se acrescentar aos fatos os
pequenas agências, manchete ou artigo, sexo ou
antecedentes e dar uma interpretação, quando é
ciência, negócios ou crime, pode-se confiar nas
o caso. Porém, dizer por que algo aconteceu,
agências de notícias para sua divulgação. São
isto é, o processo interpretativo, é bem diferente
também fornecedoras de informação para todo o
de argumentar sobre o que devia ser feito, a
inseguro edifício da moderna comunicação de
prerrogativa do editorial. Eis a primeira norma
massa.
que o repórter novato da agência de notícias
deve aprender, e muitas vezes aprende ao ser O jornalismo americano não existiria sem elas.
despedido por não segui-la. Tornaram-se indispensáveis.

Críticas Como Trabalham as Agências de Notícias


Todas as críticas que se pode imaginar sobre as As técnicas usadas pelas agências no tratamento
agências de notícias já foram feitas pelos das notícias diferem dos processos usados pelos
diretores de jornais. Em certa ocasião jornais, em alguns aspectos.
queixaram-se de que as agências enviavam
muitos boletins, diversas versões de uma

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

1) Programação: Antes do início de cada ciclo, páginas numeradas, 1 - 2 - 3 - 4. O material da


envia-se uma programação a todos os clientes agência consiste em um primeiro "take" e uma
de um determinado circuito para que tomem série de adições, para a maioria das matérias.
conhecimento do material avaliável para As adições são facilmente identificáveis porque
transmissão. Essa programação ou relação de trazem o título, local e data do original e a
estoque informa os editores sobre cada matéria seqüência da transmissão.
que receberão, com título, descrição, e, às Os títulos, nas agências, funcionam também
vezes, número de palavras. Não indica o tempo como código para indicar urgência na
específico em que cada uma será transmitida, transmissão. As agências americanas usam
porque este pode variar. Os furos, enviados no geralmente as indicações: "Flash", Boletim e
momento em que acontecem, podem Urgente, em ordem decrescente de importância.
desorganizar a programação mais cuidadosa.
Tais indicações são incluídas no material de
Os métodos da AP e os da UPI diferem em "cabeçalho", necessário para o computador, e
alguns detalhes, porém, no todo seguem os colocado no início de cada matéria. Por
mesmos princípios, porque trabalham sempre indicação da Associação Americana de Editores
com jornais na iminência de impressão. As de Jornais, ambas as agências incluem no
partes das notícias seguem uma ordem, não "cabeçalho" certos dados, como número da
necessariamente consecutiva. Podem ser transmissão, indicador do nível da mesma,
colocadas entre boletins ou outro material que código especial "pré-cabeçalho", prioridade e
tenha precedência. categoria. Dito assim, parece muito complicado,
2) Titulagem: Por todos esses motivos não é mas na prática é mais fácil e necessário à
prático para a agência redigir a matéria do publicação.
mesmo modo que o jornal, com os títUlos das

Referência bibliográfica
HOHENBERG, John. “O Jornalista Profissional: guia às práticas e aos princípios dos meios de
comunicação de massa”, Rio de Janeiro, Interamericana, 1981. págs.187-202

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Texto VIII
Jornalismo Internacional, Correspondentes e Testemunhos
sobre o Exterior
Guillermo García Espinosa de Los Monteros, 1998 (tradução: Pedro Aguiar)

Jornalismo em Escala Mundial O jornalismo internacional não só teve que ser


antecedido pelo desenvolvimento da indústria
O jornalismo internacional é um fenômeno da
editorial, como também pela transformação dos
atividade intelectual e econômica que data do
transportes, das comunicações telegráficas e do
segundo quartel do século XIX. Sua história
comércio internacional de metais e produtos
está ligada ao desenvolvimento da escrita, à
agrícolas, especialmente grãos e o gado. A
imprensa, à indústria editorial, às tecnologias de
difusão em Nova York de notícias sobre preços
comunicação e ao transporte.
de grãos em Londres foi um dos elos genéticos
Em todo o mundo, de uma forma ou de outra, se do jornalismo econômico e das variáveis
tem feito jornalismo, oral e impresso, mas, nos internacionais do mesmo.
últimos dois séculos, a história e a economia do
As guerras, os conflitos político-militares nos
jornalismo foram configuradas na era industrial.
estados coloniais europeus, foram os primeiros
Foi aberto o caminho para uma organização
condutores temáticos do jornalismo em países
acadêmica e institucional que identifica os
como Inglaterra e França. Até hoje, as guerras
jornalistas. Foi constituída uma atividade
são objeto de interesse primordial para os
profissional próxima às ciências sociais e
jornalistas; as motivações são as mesmas ontem
humanas.
e hoje: a vontade de relatar os dramas da guerra,
O jornalismo impresso toma forma sob certas a ambição de publicar as notícias que
condições do desenvolvimento da economia de estremecem os leitores, a necessidade de relatar
mercado. Há cinco séculos de distância entre a com imparcialidade os fatores de uma mudança
prensa de Gutenberg e a rotativa. A invenção social e política. Por estas razões, a história do
desta máquina teve um impacto direto na forma jornalismo está cheia de repórteres que
de fazer jornalismo. Os avanços tecnológicos cobriram conflitos armados de maior ou menor
para a impressão e a produção em massa de dimensão, por períodos curtos ou longos.
papel foram os motores da mudança da
Com o tempo, os estadunidenses ultrapassaram
imprensa política e literária do século XIX para
ingleses, franceses e alemães na cobertura
o jornalismo diário, com as grandes tiragens, a
informativa internacional.
figura do repórter e o conceito genérico de
notícia e nota informativa. Primeiro foram “A longo prazo” - escreveu Anthony Smith na
relevantes as notícias locais e o que era de geopolítica da informação -, “os Estados Unidos
interesse das elites sociais. acabaram com o predomínio da Reuters no final
dos anos 1940, com o interesse de criar um
Os acontecimentos sobre o exterior entraram
fluxo de notícias mais equilibrado que entrara
nas páginas dos jornais tardiamente, porque não
nos Estados Unidos e que não estivesse
havia formas de compilação de fatos ou porque
mediado por uma organização que, ainda
o interesse não transcendia fronteiras. Assim
quando não é controlada pelo governo britânico,
foi, em geral, a história da imprensa no mundo.
parecia impor um conjunto de prioridades e
O jornalismo nasceu como uma atividade de
valores ingleses às notícias de todo o globo".
comunicação local, com uma vocação
comunitária. A primeira agência de notícias Pese a todo persiste uma constante disputa pela
internacionais é organizada no segundo quartel vanguarda no estilo e a influencia política
do século XIX. As notícias sobre o exterior mundiais. Mais que qualquer outro exercício
ganham seu espaço na imprensa diária, quase jornalístico, o escrito em inglês ganhou uma
um século depois da Revolução industrial. dupla reputação no mundo: é escandaloso,
sensacionalista e intrometido, mas também é
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

penetrante em fatos e impõe pautas sobre o notáveis jornalistas da primeira geração de


conceito de notícia e redação. repórteres enviados para missões no exterior, e
marcaram caminhos para esta categoria, que
chegou a ser uma família peculiar do
A Economia do Jornalismo Internacional jornalismo, identificada por um afã migratório.
As agências de notícias foram criadas nos anos
trinta do século XIX. A informação econômica
Da Redação de Despachos Internacionais
foi sua primeira matéria-prima; difundiram
dados sobre a agricultura e a mineração no As técnicas de redação de despachos
mundo. O jornalismo é uma atividade internacionais tiveram seu próprio processo
econômica do capitalismo, que em suas origens evolutivo. Elas existiram sob a forma da
satisfez a necessidade de comunicação dos crônica, o relato quase literário, ou narrativa
comerciantes e banqueiros, de informar-se breve de fatos, a interpretação política, ou
sobre preços de mercadorias e mercados de análise econômica.
grãos e metais. Houve uma mudança constante nas técnicas de
A informação política foi entregue primeiro em redação no jornalismo internacional. Quando
forma de suplemento. O francês Charles Havas John Reed escreveu para a imprensa nova-
pôs à venda a tradução de documentos com iorquina e bostoniana, seus despachos sobre a
informação de atualidades sobre o exterior; este Revolução Mexicana eram crônicas que se
foi o primeiro produto de comunicação transformaram em contos literários. As peças de
jornalística que ofertava acontecimentos de Reed, como as de seus contemporâneos na
terceiras nações. O inglês Julius Reuter, que foi África ou na Ásia, foram escritas com liberdade
empregado de Havas, introduziu seu serviço de de estilo, cumprindo com o propósito de dar
difusão de "fatos súbitos e imprevistos". Reuter notícias e inteirar os leitores dos acontecimentos
abriu a profissão a uma esfera intelectual até que alteravam a normalidade dos povos sobre os
então inimaginável, sem o desenvolvimento quais faziam jornalismo de correspondência.
político e tecnológico alcançado até então. Hoje os textos de informação internacional são
em geral informativos e sucintos.
A venda de informação agrícola e mineralógica
foi só o primeiro meio de intercâmbio para as Os despachos de correspondentes e enviados
empresas jornalísticas. As primeiras agências de especiais às guerras européias ocupavam luga-
notícias internacionais funcionaram como res privilegiados nos periódicos. Os conflitos
monopólios traçados a partir de fronteiras armados foram um motor do desenvolvimento
nacionais. O jornalismo internacional é uma profissional do correspondente e da evolução
expressão intelectual do capitalismo, em vez de das técnicas de redação de crônicas do exterior.
um gênero empresarial. Seu produto de Os historiadores do jornalismo apon-tam Russel
exportação é a informação, segundo como o primeiro correspondente de guerra no
interpretação de Smith. exterior, designado para a cobertura da Guerra
da Criméia, de 1861 a 1865.
"O fluxo de exportação de meios de
informação atua como um tipo de De acordo com Smith, os correspondentes de
requisito ideológico para o fluxo de guerra têm sido um tipo de militares. Sem
outras exportações materiais." dúvida, a cobertura deste tipo de acontecimento
foi uma dura prova para a habilidade dos
jornalistas em entregar seus textos à redação.
Reuter deu ao jornalismo de correspondência no Os meios de transmissão da notícia para as
exterior a estrutura de negócio. Havas, o inglês redações centrais dos correspondentes e dos
Reuter, o alemão Peter Wolff, que plantou as jornalistas em geral mudaram, assim como as
raízes da DPA de hoje, e o inglês William formas de redação. Reuters utilizou pombos-
Howard Russell, o primeiro correspondente de correio e adquiriu cabos submarinos para
guerra da imprensa industrial, foram os mais transmitir os serviços informativos de sua

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

empresa, ininterruptamente. As vantagens da televisão; trabalha para qualquer


comunicação via satélite também tornaram uma destas organizações, de
instantânea a comunicação entre redações. maneira permanente, fora da sede
central de sua redação, seja dentro
ou fora do país. Envia informações,
Dos Correspondentes comenta acontecimentos e
Quem exerce o jornalismo internacional é representa sua redação perante
geralmente conhecido como correspondente ou organizações de todo tipo. Pode
enviado especial de algum veículo. Estas duas pertencer ao quadro funcional de
formas de exercício profissional são as facetas sua empresa ou atuar como um
jornalísticas de vocação e orientação simples colaborador que cobra por
internacionalista. trabalho.”

Em seu conceito mais primitivo, as obras de


enviados ao exterior e correspondentes se Entendido nestes termos, o correspondente é o
encontram na própria história da literatura típico habitante da diáspora jornalística,
universal antiga, começando pelas cartas de São destinado a trabalhar em um dos lugares onde o
Paulo em Atos. As origens mais próximas do jornal concentra esforços informativos.
que hoje é o jornalismo internacional são
Uma definição de correspondente elaborada em
encontradas em várias cidades da Europa, no
função do gênero e da fonte a que o jornalista
início do século XIX, especialmente em Paris e
recorre para redigir seus despachos é encontrada
Londres. Não só o desenvolvimento industrial
em “Teoria do Jornalismo”, do também
da Inglaterra propiciou a tecnificação do
espanhol Lorenzo Gomís:
jornalismo diário e da difusão de notícias sobre
os acontecimentos no mundo. Houve também “A crônica tem uma função de
uma necessidade da metrópole colonial, que relato do que acontece ao longo do
estimulou a formação de uma classe intelectual tempo por um lugar ou um tema. A
especializada nos fenômenos do exterior. José distinção primeira é a que separa a
Ortega y Gasset reconhece em Arnold Toynbee crônica local da temática. O
o promotor da primeira grande historiografia correspondente de um veículo em
sistemática das nações do mundo, uma cidade é o cronista do que
internacionalista, na Universidade de Londres. acontece nela e no país do qual é
capital. O cronista ou
Hoje, o exercício do jornalismo internacional,
correspondente é um especialista
como correspondente e como enviado especial,
no lugar cuja vida conta e por isso
é menos romântico do que parece ter sido para
assina suas crônicas. A crônica
as primeiras gerações de repórteres no exterior
temática é também o produto de um
(o lendário John Reed é um exemplo).
entendido, mas em vez de contar-
Atualmente, é uma tarefa que requer preparação
nos o que ocorre em um lugar,
especializada, inclusive formada em
conta o que acontece em um âmbito
universidades estadunidenses.
temático.”
No ensaio “O Jornal, Ator Político”, o espanhol
Héctor Borrat faz uma definição do
correspondente com sentido político- Para identificar as notícias de interesse no
administrativo: exterior, o correspondente se apóia na imprensa
e nos meios locais. As diferenças nas técnicas
“A figura do correspondente
de um repórter e de um correspondente são
identifica um tipo de jornalista
quase imperceptíveis, mas há uma regra que
profissional que se apresenta em
pareceria fundamental na redação dos
agências de notícias, jornais,
despachos de correspondência e, nem sempre,
revistas e emissoras de rádio e de
nos textos de um repórter local: a notícia é

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

gerada e entregue ao leitor (ou audiência) em Uma leitura de textos escritos por
contextos específicos, com causas e correspondentes que se proponha a extrair
conseqüências. Pelo uso de gêneros, não há ferramentas técnicas e guias metodológicos
exclusividade para repórteres locais ou pode conduzir à descoberta de algumas
correspondentes; a forma mais comum de tendências e regras gerais que ajudem à
redação é a nota informativa. A entrevista, a formulação-retórica do testemunho: os
reportagem e a crônica são pouco freqüentes no testemunhos não tentam fazer literatura, ainda
papel, mas são coisa cotidiana nas divagações que circunstancialmente o façam; a redação de
de repórteres. alguns testemunhos é motivada pela história ou
pela geografia, o homem e seu meio, mas o
valor final é muito maior que o correspondente
Dos Testemunhos sobre Nações a uma só disciplina do conhecimento humano.
Os serviços noticiosos sobre os acontecimentos Os jornalistas que recentemente escreveram
internacionais e os ensaios sobre as nações são testemunhos sobre o exterior afirmam que sua
um produto intelectual europeu, notavelmente intenção não é dizer tudo sobre um país, mas só
francês e anglo-saxão. É o que Smith definiu o que observaram e registraram em um
como "uma seqüela colonial". momento determinado da história. Hedrick
No principio, foi só a tradução de reportagens Smith, correspondente do New York Times em
publicadas em jornais do exterior, mas em duas Moscou entre 1971 e 1974, escreveu na
ou três décadas os despachos jornalísticos introdução de “The Russians” que seu propósito
tomaram sua própria identidade. O não era falar das tramas da política ou da
correspondente se tornou uma extensão da economia soviética, mas das pessoas que
figura do repórter, e progressivamente adotou participam individual e coletivamente das
suas características distintivas. estruturas do sistema. Nas palavras de Alan
Riding, os testemunhos sobre nações devem
O serviço de agências informativas uniu o explicar ao leitor como funciona o país
jornalismo à observação de fenômenos do observado, quais são os valores essenciais que
exterior. Os primeiros ofícios de formam seu sistema.
correspondência foram organizados por Havas,
Reuter e Wolff. Os jornalistas escreveram seus A aparição do testemunho de Smith, em “The
primeiros testemunhos sobre as nações no Russians”, de 1975, teve o efeito de uma
momento de maior expansão do Império notícia. Ao final de sua missão e de volta a
Britânico. Antropólogos e historiadores eram, Washington, o ex-correspondente do New York
até então, os principais produtores de Times escreveu um testemunho de 775 páginas.
testemunhos etnocêntricos sobre sociedades Suas descrições sobre a vida dos russos foram
distantes. tema de comentário em artigos jornalísticos em
todo o país. Em sua explicação de motivos, o
O testemunho dos jornalistas não acaba com a jornalista refletiu sobre as diferenças entre os
difusão de notícias. Alguns dos correspondentes povos e a importância do conhecimento mútuo.
que conseguiram escrever ensaios jornalísticos Sua idéia da transcendência de seu trabalho
se beneficiaram de uma experiência de como correspondente no exterior, com a visão
reportagem no país coberto. etnocentrista estadunidense, ficou expressada na
Os testemunhos sobre as nações não constituem introdução do livro:
um gênero plenamente identificado e “Nós estadunidenses somos um
delimitado, e não há manual que tenha tanto provincianos. Para nós é
referências a este conceito, mas a experiência difícil sair de nossas próprias peles
jornalística dos dois últimos séculos trouxe e entender outra cultura que seja
como herança a conjunção entre os jornalistas e realmente diferente da nossa.
a narração dos acontecimentos noticiosos e os Olhamos para os russos, vemos
fenômenos dos povos do mundo. seus mísseis, seus carros, seus

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

monitores de televisão e suas Comunista, ou das manobras da


ambições de poder no mundo, e diplomacia.
logo presumimos que são como O que me impactou como fresco e
nós, exceto por serem comunistas.” novo, como para satisfazer aos
leitores, foi o componente humano,
a textura e a fibra da vida pessoal
Para o entendimento real é necessário ter
dos russos como povo. Os
vontade para projetar-nos mais além de nossa
especialistas podem estudar várias
própria vida e da maneira como funcionam
facetas do sistema soviético,
nossos sistemas econômicos e políticos; para
comodamente a distância. O que o
conseguir compreender como e por quê outras
repórter no local pode fornecer de
pessoas são verdadeiramente diferentes.
maneira única é o sentido tátil, no
Outra observação que Smith deixou em “The que sente estando sentado junto aos
Russians” sobre a relação entre a cobertura russos.
cotidiana do repórter e a preparação de um
(...)
testemunho é a seguinte:
Nenhum volume individual pode
“Supõe-se que os jornalistas devem
dar conta de tudo que é a Rússia,
concentrar-se no que é novo e
especialmente um que seja baseado
fresco. Tipicamente, em Moscou,
na experiência pessoal e uma
isso significava a difusão de
observação de um correspondente
notícias sobre a diplomacia da
em um jornal de tempo (...)”
détente, as mudanças de poder no
Kremlin, o lançamento de naves
espaciais, compras repentinas de Estas idéias são só um aporte à construção
grãos estadunidenses, ou a última retórica dos testemunhos, de seus vínculos com
prisão de dissidentes. Outros o jornalismo e as relações internacionais. Os
repórteres de notícias, limites do gênero estão traçados. Há história e
especializados, acadêmicos e tradições. Esta é outra das formas em que o
Kremlinólogos ofereceram aos jornalismo serve ao intercâmbio de informação
leitores ocidentais um amplo entre as nações.
acervo de obras sobre estes temas,
de modo que eu tratei pouco da alta
política, da anatomia da economia
soviética, da estrutura do Partido
Referência bibliográfica
Título Original:
“Periodismo Internacional, Corresponsales y Testimonios sobre el Extranjero”, disponível em
[http://www.hemerodigital.unam.mx/ANUIES/colmex/foros/152-153/sec_14.htm]

LOS MONTEROS, Guillermo García Espinosa de. “Periodismo Internacional, Corresponsales y


Testimonios sobre el Extranjero”, in Foro Internacional nº 152-153, México: Hemeroteca
Virtual/UNAM, 1998

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

PONTOS DE DISCUSSÃO:

• A afirmação do autor de que “o jornalismo nasceu como uma atividade de informação local”
contradiz a do livro-base “Jornalismo Internacional”, de que “o jornalismo nasceu internacional”.
Qual das duas está correta — ou seriam ambas?

• Que critérios podem orientar o correspondente a utilizar o formato crônica ou matéria jornalística
para escrever seus relatos?

• Em que medida o testemunho do correspondente é influenciado pela cultura de sua própria


origem?

Texto IX
Do Outro Lado do Mundo
Fritz Utzeri, 1989

A primeira coisa que posso dizer, com relação mais verdade ainda na Europa, quando se tem
ao trabalho de correspondente, é que não existe cinco horas a favor. O que significa que,
nenhuma posição para mim dentro do quando o correspondente esta com a sua matéria
jornalismo que seja melhor. O Reale Jr., que é pronta, o pessoal aqui ainda não chegou ao
correspondente de O Estado de São Paulo, jornal. O correspondente trabalha no século
costuma definir essa posição como a de um XXI. Em casa, com um computador na sua
repórter da geral numa cidade que não é a dele. frente, ele passa a matéria direto para o jornal.
O correspondente é alguém que tem que tratar Eu costumo brincar dizendo que o único
de tudo, que tem que falar, por exemplo, da jornalista que pode bater uma matéria de cueca,
eleição francesa, e tentar explica-la para um em casa, tranqüilo, é o correspondente. Os
publico que não vai participar dela. Então,. ele jornais brasileiros, em geral, têm uma estrutura
tem que traduzir a realidade do pais em que que é muito amadorística. Eu fui para os
esta, e fazer o máximo possível de comparações Estados Unidos e para a França e ninguém
que permitam às pessoas identificar o que esta jamais me perguntou sequer se eu falava a
acontecendo com os referenciais que estão língua. Até achei que falava. Quando cheguei
acostumadas a usar aqui em casa. aos Estados Unidos, tomei um susto quando
liguei a televisão. Havia uma crise no ar, e eu
O correspondente não pode, de maneira alguma,
não estava entendendo nada do que a televisão
perder o contato com o seu país. O tempo todo
dizia. Entrei em pânico, achei que não ia passar
ele funciona como um brasileiro que está na
de uma semana. No exterior trabalha-se de uma
Europa, nos Estados Unidos, no Japão, enfim,
forma muito pouco estruturada - com exceção
onde estiver, observando uma realidade que não
de algumas empresas como a Globo e a Abril,
é a dele. É fundamental que o correspondente
que têm escritórios. Para o resto dos
esteja sempre bem informado tanto sobre a
correspondentes, o que acontece é que temos
realidade do país em que esta como sobre a
que ser o produtor, o telefonista, o continuo.
realidade do seu próprio pais. Não é possível,
Isso é um pouco angustiante, porque se chega
por exemplo, não saber quem é Fernando Collor
numa cidade desconhecida com um caderninho
de Melo, ou Leonel Brizola, ou a Xuxa. São
em branco. E como ser "foca" de novo.
coisas fundamentais para pinçar na realidade
Rapidamente é preciso montar um sistema que
francesa, por exemplo, uma comparação
permita não ser "furado" se acontecer alguma
brasileira.
coisa importante, E o importante, no caso, vai
O correspondente, pela estrutura dos jornais desde o fato político local, até a passagem de
brasileiros, é o mais livre dos jornalistas. Isso é algum brasileiro ilustre pela cidade.

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Dificilmente o jornal pede as matérias. Em 90% para mim do que para os americanos. Eu me
dos casos a decisão do que escrever, do que perguntava como nenhuma dessas crianças,
apurar é do próprio correspondente. Se, por um durante anos, disse nada em casa. Através de
lado, isso da uma grande liberdade, por outro uma matéria como essa se tem uma reflexão do
obriga que ele seja muito disciplinado, porque tipo de sociedade que é aquela. É a mesma
tem que manter um fluxo regular de matérias. E sociedade onde, de vez em quando, um louco
o problema é saber que matérias. Pode ser que pega uma carabina e vai ao MacDonald’s matar
um assunto, muito interessante para o criancinhas. É o que e!es chamam de hostage
correspondente ou para o leitor francês, não situation (situação de refém). Na França, eram
interesse ao público brasileiro. Essa freqüentes as matérias mostrando mordomias,
sensibilidade tem que estar sempre presente. marajás, mas em geral os corruptos acabavam
Descobrir um bom assunto, escrever de uma na cadeia ou afastados. O papel do
maneira atraente é importante, porque a maioria correspondente nesses casos é comparar as
dos leitores do jornal não lê a seção situações.
internacional. É importante que o Quando eu era criança, na época em que ainda
correspondente tenha um certo estilo, que havia bonde no Rio, as pessoas me
descubra um gancho, algo que nem é perguntavam quando ia a outras cidades: "Lá na
necessariamente uma noticia importante. tua cidade tem bonde?" Cidade que não tivesse
O essencial é transmitir para as pessoas que bonde era ruim. Isso é um pouco o que todos
estão lendo como é o país onde o fazem com o correspondente: "As pessoas
correspondente está baseado. No meu caso comem o quê? Como vivem? Como se vestem?
particular, como repórter de gera!, sempre achei o que gostam? o que não gostam?" Tudo isso
que, quando não ha um grande assunto — nos temos que responder, e bem. Isso não
quando não se esta cobrindo uma eleição,uma significa que o correspondente não dê um
guerra ou uma crise política —, é melhor tratamento diferenciado às mesmas noticia.s que
simplesmente sair pela cidade. Sempre as agências estão enviando, mas não ha
aconselho aos repórteres que não fiquem na condição de ele competir com o tipo de
redação, porque ha coisas interessantes estrutura de uma UPI ou AP, por exemplo.
acontecendo na rua, e e!e tem que estar de olho Quando eu era correspondente em Nova York,
aberto, à procura de uma novidade. Um simples tinha uma dupla dificuldade, porque na época o
passeio por Nova York ou Paris permite Jornal do Brasil comprava o serviço do New
praticamente esbarrar em pautas na rua. Em York Times. Numa cidade onde se tinha o maior
ultimo caso, pratica-se o chamado vampirismo: jornal do mundo cobrindo e mandando na
pega-se, por exemplo, o Libération e chupa-se mesma noite tudo o que acontecia, fora as
uma matéria. É uma coisa que o correspondente outras agências, era preciso realmente procurar
não gosta de admitir, mas que acontece. Mas muito por um assunto interessante. Mas é
mesmo isso requer uma certa arte. Não basta sempre possível encontrar, até pela liberdade
simplesmente pegar e copiar uma matéria. É que o correspondente tem. O fato é que ele
preciso reescrever o texto de um jeito que o precisa montar uma estrutura. Trabalhando em
Brasil tenha alguma coisa a ver com aquilo. casa, eu não podia me dar ao luxo de ter quatro
Não é necessariamente a matéria mais ou cinco maquinas de telex, uma da Associated
importante do jornal, às vezes é uma notinha. Press, outra da UPI, outra da France Press.
Quando eu estava em Nova York, li uma Aliás, pegar um telex de agência e "pentear" é
matéria pequena num jornal sensacionalista, bobagem, porque o mesmo texto que estaria
New York Post. Era sobre uma escola batendo na minha casa, estaria entrando,
sofisticada na Califórnia que estava usando as exatamente na mesma hora, na redação do
crianças, há vários anos, para fazer filmes Jornal do Brasil.
pornográficos. Apurei mais alguma coisa, e a O que quero dizer é que nos precisamos saber
matéria teve a maior repercussão porque a basicamente o que esta acontecendo, mas de
historia era muito estranha. E era mais estranha
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

uma maneira diferente, com uma perspectiva Demos azar parque o governo francês resolveu
local, que permita ao correspondente trabalhar expulsar quatro líbios e, obviamente, não iriam
em cima dela. Nos Estados Unidos o nosso dar a chance de eles viajarem no mesmo avião
trabalho é facilitado pela CNN, uma rede de que a imprensa. O vôo foi cancelado e, então,
televisão chamada Cable News Network, que saiu um avião, com os jornalistas que estavam
pertence ao Ted Turner e permite receber 24 em Roma — inclusive quem viajou nesse avião
horas por dia material não editado. Lembro que, foi o Roberto Pompeu, que era da Veja.
quando explodiu a embaixada americana em Em geral, o correspondente tem pouco contato
Beirute, a CNN entrou no ar ao vivo, e as profissional com os "coleguinhas" do país onde
imagens foram tão horríveis que eles pararam, esta. A não ser que o assunto envolva
pediram desculpas e editaram um pouco. Isso brasileiros. Quando houve aquele caso das
mostra que, se o Reagan levasse um tiro, eu máquinas de videopôquer do Castor de
teria imagens ao vivo. Para não perder nada, Andrade, e os franceses estavam envolvidos —
compra-se um videocassete e deixa-se gravando havia um burocrata do governo, Yves Chalier,
o dia inteiro. Quando se chega em casa, tudo que tinha vindo ao Brasil com um passaporte
aquilo que aconteceu no país está bem à frente. falso, dado pelo ministério do Interior francês, e
Em geral, os correspondentes gostam de dizer tinha participado da montagem do esquema -,
q\le boa cobertura é aquela em que se vai para n6s trabalhamos em ligação com repórteres da
urna guerra, ou para urna revolução. No período televisão francesa. Eu era o bom canal para
em que estive fora, infelizmente ou felizmente transmitir a eles o que acontecia na polícia do
— no sentido de que não sou tão deformado que Rio de Janeiro e, por outro lado, era muito mais
quero que o circo pegue fogo para que eu faça fácil para eles ir à delegacia em Paris e
urna boa matéria —, não houve nada nesse conseguir informações.
sentido. Entre 82 e 85, nos Estados Unidos, o Não adianta ficar indo às redações de jornal
único episódio realmente empolgante do ponto chateando o "coleguinha", porque o fechamento
de vista militar foi a invasão de Granada, mas dele é mais apertado e os interesses não são
ninguém pôde chegar perto. Foi o único caso iguais.
que vi de censura à imprensa nos EUA.
Eventualmente posso recorrer a algum
Havia a tal ponto, que as redes de televisão: à "coleguinha" se não entendo alguma coisa
noite, mostravam alguns pequenos barquinhos muito complicada, ou quando, numa viagem,
de borracha com equipes da televisão tentando preciso assimilar muito rapidamente a rea1idade
chegar perto e helicópteros voando baixo, do local. Isso aconteceu quando fui cobrir, antes
fazendo marola para que o pessoal fosse de ser correspondente, a queda da lsabelita
embora. Foi um bloqueio completo e com Perón. A primeira pessoa que entrevistei na
aprovação do publico. Argentina foi o Jacopo Timmerman que era do
Quando cheguei à França, estávamos em plena Opinion, para ele me dar uma luz. Lembro o
época dos atentados. Em Paris havia urna que ele me disse: "Bom, o senhor, quando
verdadeira histeria, todo mundo era revistado. E chegar na Argentina, sua primeira impressão
a população até queria real mente que se vai ser do caos total. O senhor vai olhar pra
revistasse, porque não é muito interessante estar Argentina e não vai entender absolutamente
numa loja e, a qualquer momento, voar tudo nada, vai pensar que está maluco. Com uma
pelos ares. Enfim, a única crise internacional semana de Argentina o senhor vai ficar feliz,
que houve, e à qual os correspondentes em vai achar que entendeu tudo. E ai quando o
Paris não conseguiram ter acesso, foi o episódio senhor estiver bem feliz, de repente vai lhe
do bombardeio à Líbia. Todos os jornalistas bater a certeza de que o senhor jamais entenderá
franceses, inclusive eu, já tinham lugar marcado a Argentina, e assim o senhor vai continuar para
a bordo de um avião líbio que sairia de Paris. o resto de sua vida junto com todos os
argentinos." É mais ou menos o que acontece
no Brasil. O que é mais freqüente é um

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

jornalista francês ou americano, que vai viajar de nos aproximarmos de uma figura assim era
para o Brasil, precisar de informações ou dicas. se, por acaso, ela visitasse o Brasil. Logo que
cheguei à França, o Mitterrand deu uma
Em geral, os correspondentes brasileiros no
coletiva para a imprensa brasileira porque viria
exterior se ajudam na cobertura dos eventos que
ao Brasil. No exterior nos ganhamos a noção da
envolvem personagens brasileiros, até por causa
nossa desimportância. Na França é um pouco
da precariedade da nossa estrutura. Numa
melhor, porque a bagunça quase é igual à do
reunião do Clube de Paris, nós tínhamos que
Brasil. Liga-se para uma pessoa e ela não
ficar na rua a uma temperatura de 15 graus
responde à ligação, briga-se com a secretaria e
abaixo de zero. Virar uma noite, a 15 graus
acaba-se conseguindo falar com um ministro.
abaixo de zero, na rua, brigando com o
Nos Estados Unidos, não se passa, em geral, do
"coleguinha", é absolutamente impossível.
Secretario de Assuntos Latino-Americanos.
Nos Estados Unidos, por exemplo, existem os
A volta para o Brasil não é muito fácil, e é
chamados Foreign Press Centers, que são
completamente diferente para quem até então
Centros de Imprensa Estrangeira, nos quais o
escrevia tudo e só dependia de si mesmo. O JB,
correspondente se inscreve e tem acesso a todas
antes da minha volta, tinha me feito a proposta
as publicações que saem no país, a documentos
de montar a editoria de ciência e tecnologia.
do governo americano, material de pesquisa e
Devo fazer um parêntesis e dizer que sou
xerox livre, o que significa uma facilidade de
médico e entrei no jornal em 68 exatamente
pesquisa para qualquer matéria. Na França não
para cobrir o setor de saúde. Fazer o chamado
existe nenhum lugar para os correspondentes se
jornal medicamentoso era tranqüilo, porque
reunirem, e a televisão só dá as notícias no dia
ainda era uma época em que a censura não
seguinte. É realmente mais complicado. Mas
estava muito preocupada com esse assunto.
como existem as cinco horas de diferença —
Depois ela ficou, porque começou a meningite e
nos Estados Unidos se trabalha contra o relógio
nós descobrimos que através da saúde podia-se
— fica muito mais difícil acontecer algo
contar a historia social do país. Até que se
importante que não possa ser utilizado.
descobriu isso, e ficou difícil também. E foi o
A posição do correspondente brasileiro é muito que fiz durante alguns anos, e não com muito
diferente dos outros. Os corresponden-tes boa vontade. Por melhor que fosse a matéria,
americanos no Brasil, em geral, estão na coluna havia sempre uma coisa que pesava contra mim:
social, até pela própria posição político- "O Fritz é médico." Eu sentia que jamais seria
econômica dos Estados Unidos em relação a aceito como jornalista se ficasse apenas nesse
nós. Os correspondentes americanos na Europa, setor. E foi aí que mudei assim que pude.
obviamente, são importantes, e os
Quando o JB me fez o convite de voltar para
correspondentes europeus nos Estados Unidos,
fazer a mesma coisa, a minha resposta foi
alguns deles, são importantes também.
simplesmente não. Ficou uma situação estranha,
Lembro numa das entrevistas coletivas do porque fiquei deslocado, completamente à
Reagan, por exemplo, que era o próprio margem, e sem muita perspectiva de
presidente que escolhia quem faria as crescimento. Tinha a sensação de que, depois de
perguntas. Ele começava: "Helen Thomas, da ter sido correspondente eu não iria mais a lugar
UPI" — que era, e ainda é, a decana do corpo nenhum. E foi então que resolvi sair. Quando a
de imprensa de Washington e invariavelmente Globo me fez a mesma proposta, aceitei, e não
fazia a primeira e a última perguntas — "Fulano ha nenhuma incoerência nisso, porque o veículo
de TaI da AP", "Sicrano do New York Times", é diferente. Eu começaria fazendo aquilo que já
"Beltrano do Washington Post" e assim por fazia em jornal, mas desta vez aprendendo num
diante. O Pravda, certamente, se tivesse alguma veículo diferente. Os problemas de origem
pergunta para fazer, faria. persistem, passei a escrever pouco e dependo
O resto, nós, o Jornal do Brasil e O Globo, muito mais do trabalho dos outros. A televisão é
nunca tínhamos chance. A única oportunidade alucinada e não existe um trabalho individual.

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Em relação ao país, depois de sete anos no a ficar à vontade, e o terceiro é o ano em que,
exterior, entre os Estados Unidos e a França, é efetivamente, a pessoa já é conhecida, já tem
claro que é difícil voltar e se acostumar. O nível um alentado caderninho de endereços. Quando
da deterioração dos serviços e até mesmo o chega a esse ponto a pessoa é transferida, pega
empobrecimento que noto são enormes. Tomei o caderninho, arquiva na mala, e vai para outro
um susto quando recebi o meu primeiro salário lugar com uma nova folha em branco. Fiz isso
brasileiro, e era um salário razoável para os duas vezes, e estou fazendo pela terceira,
padrões locais. O correspondente, mesmo porque voltar para o Rio depois de tanto tempo
dentro dos padrões brasileiros, com a penúria é recomeçar do zero. Aliás, espero que daqui a
empresarial e o custo do dólar, em geral, é um três anos alguém me mande para fora. Até acho
profissional bem pago, inclusive para os que pode existir uma carreira de
padrões franceses ou americanos. Eu ganhava correspondente, afinal, hoje, os jornais
na França iguaI a um bom jornalista francês, o costumam ser cada vez mais especializados.
que significa um bom salário, porque os salários Mas, mesmo que existisse essa carreira, o
dos jornalistas de lá são melhores do que os jornalista deveria passar um tempo na redação
daqui. Em geraI os salários lá são o suficiente antes de seguir para outro país.
para viver. Essa é a diferença básica. Mesmo no Em geral, o cargo de correspondente é visto
caso de um "foca" que está começando e ganha como um prêmio, ou então como solução para
mal, esse mal é o suficiente para ele viver. uma questão política interna da redação.
Uma das propostas que o Jornal do Brasil tinha Quando saí daqui em 82, tinha chegado ao
me feito, e era até uma boa proposta, era para Jornal do Brasil e dito: "Não agüento mais o
ser editor nacional, porque eu seria alguém que JB, vou me embora." Então, eles me fizeram a
teria uma visão ainda um pouco escandalizada proposta de ir para Nova York.
do Brasil, e poderia transmiti-la às pessoas. Na mesma hora eu disse: "Vou." E fui. Mas
Quando cheguei, os deputados brasileiros imaginem desembarcar em Nova York —
estavam querendo aumentar os salários deles e Manhattan, Empire State, World Trade Center,
as pessoas me perguntaram: "Quanto é que Wall Street, milhões de carros na rua, todo
ganha um deputado na França?" Eu disse: mundo falando inglês — com uma folha de
"Olha, um deputado na França ganha papel em branco, sem conhecer ninguém. É
exatamente a mesma coisa que os deputados preciso ir à polícia tirar uma credencial, ao
querem ganhar aqui, a única diferença é que Foreign Press Center, arranjar um apartamen-to,
esse dinheiro na França equivale a 12 salários descobrir quem são os correspondentes dos
mínimos, aqui equivale a 120." Há uma outros jornais, começar a conhecer as pessoas,
distorção maior dentro da sociedade, e são pôr as crianças na escola. A agenda em branco
coisas com as quais não é possível se leva um certo tempo para se encher. O que mais
acostumar. Talvez fosse bom não se adaptar complicou a minha chegada a Nova York foi
realmente. Acho que ainda estou resolvendo a que, dois meses depois, o México decretou a
minha volta. Conheço alguns "coleguinhas" que moratória, e o sistema financeiro internacional
não resolveram bem esse problema, que saíram quase foi à falência. Eu, que nunca tinha
do jornalismo e foram fazer assessoria, coberto economia, fui aprender navegação a
"piraram" ou voltaram para o exterior. bordo do Titanic.
A experiência de correspondente é muito boa, Quando se está lá fora, pode-se reparar que o
tanto que eu não pedi para voltar. Mas os mundo está se integrando cada vez mais, que
jornais, hoje, criaram uma espécie de rodízio, estão se formando grandes blocos econômicos e
em que acham que o jornalista deve permanecer políticos: a Europa de 92, os Estados Unidos, o
três anos no exterior. O prazo adequado para México e o Canadá que estão praticamente
um correspondente ficar no exterior está em formando uma unidade econômica, o Japão e os
torno de quatro a cinco anos. Depois ele deveria países do Sudeste Asiático e a China,
.voltar. O primeiro ano é um ano de construção, namorando essa órbita de influência. Nós nos
não se sabe de nada. No segundo, já se começa
59
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

vemos aqui no quintal, longe desse processo, às de jornalismo com os quais nós não podemos
voltas com as nossas velhas histórias, Os nos comparar. Só para ter uma idéia, um
jornais estão muito preocupados com: "Fulano programa chamado 60 Minutes tem 150
diz", "Sicrano faz". Na época em que comecei, produtores.
os jornais tinham um ar mais corajoso, se Na França, todos os jornais têm opinião sobre
investia mais em reportagem. Posso estar até tudo. O Le Monde, por exemplo, é um belo
generalizando. Os jornais não são muito jornal, com uma perspectiva histórica que,
diferentes uns dos outros. O Globo, por certamente, explicará tudo ou quase, até porque
exemplo, para mim não mudou nada. Outros o francês médio pensa melhor do que o
jornais mudaram um pouco, a Folha americano. Mas é difícil saber o que aconteceu
aperfeiçoou o que já vinha fazendo, é ontem. Uma vez houve uma manifestação
interessante mas ainda é um jornal muito muito grande da CGT em Paris e o Le Monde
confuso. Sinto falta da grande matéria, da garantiu, em três linhas, que aquela
matéria de repórter. manifestação tinha sido menos importante do
No período em que fui correspondente, observei que a de 1984. Eu li e disse: "Obrigado." Essas
dois universos muito diferentes em termos de três linhas resumiam tudo o que tinha
jornal. Os nossos jornais e televisões têm um acontecido naquela tarde, e seguia-se uma
padrão muito mais parecido com o americano. página de análise sobre sindicalismo. Ou seja,
O Jornal do Brasil é muito mais parecido com notícia é em outro lugar.
o New York Times do que com o Le Monde, Existe ainda um jornal chamado Libération. um
sem sombra de dúvida. O americano tem um tablóide muito bem-feito, que não tem a
jornalismo mais investigativo. Basta pretensão de cobrir tudo mas sempre tem alguns
acompanhar, por exemplo, os escândalos que assuntos muito bons. O Figaro é o que mais se
periodicamente acontecem sobre a vida privada aproximaria do nosso modelo de jornalão, uma
dos políticos americanos. Quando o Jornal do espécie de Estado de S. Paulo. É o maior jornal
Brasil publicou uma matéria sobre a filha do nacional da França. Há 25 jornais em Paris,
Lula, ele disse que isso acontecia porque estava cada um deles tem uma tendência política. O
morando aqui e não nos Estados Unidos. Lula Figaro é escandaloso, porque a posição política
disse uma bobagem, porque lá, possivelmente, não está só no editorial, o noticiário também
iriam querer saber não só da filha dele, mas da sofre essa interferência. Quem lê o L'Humanité
primeira namorada que ele teve... Isso dá idéia e o Figaro vê dois fatos completamente
de que lá as coisas têm conseqüência. Basta ver diferentes, porque eles têm uma posição política
o efeito da imprensa em cima do caso que é muito mais marcada do que estamos
Watergate, e, recentemente, do Irãgate. É só acostumados a ver.
comparar com o que acontece no Brasil. Aqui
as coisas se diluem. No Brasil, todo mundo sabe de que lado um
jornal está, apesar de eles gostarem de, pelo
Os jornais americanos são muito ágeis. Até menos, dar uma aparência de que isso não é
porque eles têm uma enorme quantidade de verdade. Na França as pessoas, em geral, não se
dinheiro. Há os grandes jornalões, o preocupam muito com isso., Os jornais
Washington Post, o Los Angeles Times, o New defendem suas bandeiras abertamente. O jornal
York Times; que são nacionais, e as duas mais "furão" da França é um semanário satírico
grandes revistas a Time, e a Newsweek, além de que chama-se Le Cal1ard Enchainé, que é,
uma infinidade de outras revistas da melhor literalmente, o pato acorrentado. Esse jornal, de
qualidade. O New York Times tem um corpo vez em quando, dá furos, denuncia escândalos,
enorme de correspondentes, um staff cria crises de governo. É como se fosse o
gigantesco, e é um jornal massudo, com um Pasquim dos bons tempos dele.
faturamento absurdo, que cobre tudo que se
puder imaginar. Mas há um outro fenômeno nos A televisão não tem o mesmo papel,
Estados Unidos, que é fundamental, a televisão. principalmente porque ela era estatal até pouco
As três grandes redes e a CNN têm programas tempo. Além disso, o francês não gosta muito
60
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

de televisão. Não é igual aos Estados Unidos ou permanência. A Carte de Sejour é o terror do
ao Brasil. Basta dizer, por exemplo, que um dos estrangeiro na França, porque ele tem que ir
programas de maior audiência na França para uma fila quase igual à do Félix Pacheco do
chama-se Apostrophes, um programa literário. Rio. Os jornalistas são mais bem tratados, tiram
Alguém consegue imaginar um programa o documento no mesmo lugar em que os
literário no Brasil às 9h. da noite na Rede diplomatas obtêm os deles. Quem não é nem
Globo? No metrô de Paris, as pessoas, em geral, uma coisa nem outra vai para a fila, e no
estão todas apertadinhas com o seu livrinho, nas inverno, fica-se esperando na rua. Resolvi não
posições mais esdrúxulas, tentando ler alguma tomar conhecimento da simpática velhinha que
coisa. lê-se alucinadamente. Inclusive, às vezes, cuidava disso para mim no serviço dos
os noticiários terminam recomendando um diplomatas e fui como um mortal comum.
livro. Realmente isso não faz parte da nossa Depois de três horas e meia de fila, a 15 graus
cultura. Os jornais franceses atendem muito a abaixo de zero, finalmente me colocaram numa
esse tipo de necessidade. Os franceses têm uma sala, que media 9m2, junto com outras 60
idéia talvez maior da história, existe uma pessoas. Quando consegui chegar ao guichê, a
memória que nós aqui, infelizmente, não. mulher carimbou um papel e disse: "Volte em
temos. maio", ou seja, quatro meses depois. Não me
deu a Carte de Sejour, me mandou para uma
A preocupação com a imagem do país não é só
nova fila, em maio, quando já estaria um pouco
dos brasileiros: Fiz uma matéria que saiu
mais quente. Então tive um ataque, gritei, e
publicada num livro na França, chamado A
quase quebrei uma porta de vidro, porque eu
França no exterior, em que se reuniram 250
queria ser preso. Não aconteceu nada, porque os
artigos de imprensa para mostrar como o país
franceses não reagem. Saí de lá morrendo de
era visto pelos correspondentes. Depois a
raiva e escrevi uma matéria no jornal, contando
revista Actuel traduziu três desses artigos, o
tudo, inclusive dizendo que "quando a gente
meu abria e o do Pravda fechava, dizendo
importou a cultura francesa, a gente importou a
inclusive que as mulheres francesas eram feias
arrogância, a prepotência". Foi uma matéria
e raquíticas.
editorializada e de um mau humor absoluto.
Meu artigo era sobre o seguinte: quando se Obviamente que os franceses souberam, porque
mora na França, todo ano é preciso ir à polícia e depois a matéria apareceu traduzida na revista.
tirar uma Carte de Sejour, uma autorização de Aliás, não me pagaram por isso até hoje.

Referência bibliográfica
UTZERI, Fritz. “Do Outro Lado do Mundo” in RITO, Lúcia; ARAÚJO, Maria Elisa de; ALMEIDA,
Cândido J. Mendes de (orgs.). Imprensa ao Vivo, Rio de Janeiro: Rocco, 1989. págs.145-158

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Texto X
O Fim de uma Era
(Correspondentes Internacionais da TV Globo)
Antônio Brasil, 2003

Primeiro vieram os boatos sobre demissões em mostrar uma guerra de verdade com imagens
Londres. Mais uma vez, o "passaralho" estava extraordinárias. É bem verdade que muitos
solto e voava baixo. Em seguida, a TV Globo jornalistas morreram. Em nenhum outro
enviou nota à imprensa sobre as "mudanças", conflito até hoje, tantos colegas morreram em
transferências ou "realocação" de tão pouco tempo. Em cenário competitivo com
correspondentes internacionais. Também fala-se muitas alternativas, todos buscavam imagens
em um "novo modelo" de cobertura ainda mais exclusivas e sensacionais. Apesar
internacional, mas a verdade é que se tratava do das limitações impostas pela censura militar
fim de uma era. americana, nenhuma outra guerra foi tão
"imagética", permissiva e televisiva como a
Após anos de muita "gastança" em escritórios
guerra do Iraque. As informações eram
suntuosos com correspondentes desfrutando
certamente filtradas, contraditórias e confusas.
vidas de "diplomatas", parece que a crise
Mas poder assistir, pela primeira vez, às
finalmente bateu à porta da cobertura
imagens de tropas em movimento captadas por
internacional da emissora. Há muito tempo a
pequenas câmeras digitais da CNN e
ameaça estava no ar e já se aguardavam
transmitidas ao vivo via Internet foi uma
medidas drásticas em relação à cobertura
experiência inesquecível. Mas também tornou
internacional da Globo. A enorme e luxuosa
muito difícil a vida dos demais correspondentes
redação da emissora em Londres já vivia "às
internacionais. Muitos ainda preferem ou
moscas", lembrança de outros tempos de
aceitam fazer suas coberturas diretamente do
grandes planos e muitos dólares. Os gastos
conforto e segurança dos estacionamentos mais
aumentavam e a produção diminuía. O dinheiro
próximos dos pontos de geração, seja em
não sobrava para viagens e todos os
Londres ou seja no Kuwait. O público que não é
correspondentes tinham que se contentar em
bobo e pode, muda de canal ou desliga a TV.
cobrir o mundo do estacionamento da APTN ou
Depois é só culpar o público e a cobertura
de qualquer esquina de Londres ou NY.
internacional pelo desinteresse e queda de
A gota d'água pode ter sido a guerra no Iraque. audiência para justificar mais cortes de verbas
Enviar coordenador de cobertura internacional, ou demissões.
chefe de bureau em Londres, para a cidade do
Em tempos de vacas magras, a cobertura
Kuwait e transmitir as ultimas notícias das
internacional não tem que ser cara, mas
agências via videofone não fazia mesmo o
certamente deve ser audaciosa e criativa.
menor sentido. O pior é que outro veiculo
Pesquisas recentes nos EUA e na Inglaterra
brasileiro, a Folha de SP, conseguiria enviar
comprovam que o público se interessa pela
seus correspondentes, Sérgio D'Ávila e Juca
cobertura internacional, mas não aprova ou
Varella para o "olho do furacão". Em
aceita facilmente a "frieza" e distanciamento
contrapartida, assistíamos ao Marcos Uchôa
impessoal das coberturas homogêneas das
todos os dias, ao vivo com aquelas imagens
agências de notícias. A presença do repórter em
precárias do seu "videofone" (sic), imóvel com
Bagdá ou em países distantes e desconhecidos
um indisfarçável ar de frustração e tédio
como Camboja personaliza a cobertura. Garante
anunciar os últimos acontecimentos diretamente
qualidade e audiência, mas somente quando as
do balcão de hotel 5 estrelas. Muito dinheiro
matérias são bem produzidas e fazem conexões
para pouco esforço e ainda menos cobertura
com as peculiaridades da cultura nacional.
jornalística. Enquanto isso centenas de
jornalistas do mundo inteiro utilizavam suas
novas tecnologias como o "videofone" para
62
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Cobertura internacional exige estratégias a alguns anos no exterior desfrutando de um


longo prazo que educam e formam um publico "televidão". Ser correspondente internacional
exigente. Mas, por outro lado, muito editores deveria significar uma vontade muito grande de
acreditam que podem mostrar o mundo nos viajar pelo mundo a qualquer custo e sempre
telejornais com algumas "lapadas" - aquelas em busca de boas pautas com pouquíssimo
imagens rápidas, sem pé nem cabeça que tanto dinheiro no bolso, muitas idéias ou pautas na
mostram enchentes em Bangladesh como cabeça e muita coragem para enfrentar as
mostram desfiles de modas em Milão. Isso é no dificuldades.
mínimo ingênuo e irresponsável, mas explica o Correspondente internacional contratado a peso
desinteresse do público. de ouro pelas grandes redes de TV parece ser
Sempre acreditei na cobertura internacional, cada dia mais uma espécie em extinção. Hoje,
mas, de preferência, produzido por gente jovem muitos jornalistas que cobrem os grandes
e qualificada. Nada contra os veteranos. Muito eventos internacionais estão baseados em suas
pelo contrário. Mas transformar a função de próprias sedes, mas também estão sempre
correspondente internacional da Globo em prontos para serem deslocados para qualquer
prêmio, homenagem merecida ou maneira de parte do mundo a qualquer instante. Manter
"esfriar" jornalistas famosos em situações de "embaixadas" ou escritórios suntuosos no
perigo no Brasil, nunca me pareceu a solução. exterior é coisa do passado. Hoje, a cobertura
Afinal, bem sabemos que você pode ser um internacional economiza trocados e
excelente jornalista especializado em esportes e correspondente tanto pode ser contratado como
coberturas policiais e não entender nada de pode ser um "free-lancer" em busca de uma
jornalismo internacional. Assim como nem todo oportunidade profissional no exterior. É um
bom repórter se transforma da noite para o dia trabalho árduo, muito competitivo e perigoso
em bom editor, nem todo bom repórter no que envolve enfrentar situações extremamente
Brasil vai ser bom correspondente no exterior. hostis para cobrir eventos de qualquer maneira,
Tem que ter uma vocação especifica dentro da vencer barreiras cada vez maiores e convencer
própria vocação do jornalismo. editores indiferentes a "comprar" as suas
historias todos os dias. Não é fácil, mas
Em outros tempos pioneiros, pude participar de
certamente é possível. Pode abrir portas para
um outro momento histórico no jornalismo da
muitos jovens jornalistas que querem viajar,
Globo. Nos anos 70, com uma censura feroz
falam diversas línguas e estão dispostos a
nas redações brasileiras, a direção da Globo na
enfrentar muitas dificuldades. A cobertura
época resolveu investir na cobertura
internacional em TV ainda custa caro, mas
internacional. Nomes como Sandra Passarinho,
rende uma boa audiência para quem sabe fazer.
a primeira correspondente brasileira de TV,
passariam a ser referência de qualidade em Mas o maior problema do jornalismo da Globo
jornalismo para milhões de brasileiros. Sandra é não ter uma competição de verdade. Tanto faz
foi transferida da editoria do Jornal mudanças de modelo que implicam reduzir,
Internacional com Heron Domingues para o realocar ou demitir correspondentes. É tudo
escritório de Londres aos vinte e poucos anos. pura questão de semântica para explicar ou
Era uma jornalista competente, mas não era justificar a necessidade de redução de custos.
uma das estrelas globais. Falava diversas Mas, infelizmente, as demais emissoras não
línguas e conhecia profundamente o noticiário oferecem uma alternativa à cobertura
internacional. Bem sabemos que muitos internacional. As poucas tentativas não foram
jornalistas brasileiros são transferidos para bem sucedidas, tiveram vida curta e jamais
Londres, não entendem nada de jornalismo chegaram a incomodar. Quem sabe, chegou a
internacional e sequer falam inglês. hora dos competidores acreditarem na cobertura
internacional e, quem sabe, atingirem o
Repito, ser correspondente internacional não
"calcanhar de Aquiles" do Império.
deveria ser prêmio ou oportunidade para passar

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Referência bibliográfica
BRASIL, Antônio. “O fim de uma era”, in Comunique-se, 10 de outubro de 2003.

disponível em:
[http://comuniquese.com.br]

PONTOS DE DISCUSSÃO:

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Texto XI
Crise na Cobertura Internacional
Antônio Brasil, 2002

A notícia é assustadora. Apesar dos atentados Reduzir custos não é necessariamente o fim do
nos Estados Unidos e a guerra no Afeganistão jornalismo. É claro que se torna difícil ou quase
os americanos continuam cada vez menos impossível para aqueles que convivem com
interessados no noticiário internacional. É o que salários e despesas de embaixadores. Buscar
revela uma pesquisa realizada pelo Pew novas pautas e tecnologias dentro dos padrões
Research Center – e divulgada no domingo estabelecidos da ética, ou investigar o inusitado,
(9/6) pelo The Washington Post – que ouviu não parece fazer parte de um novo menu de
3.082 adultos e chegou às seguintes conclusões: opções para boa parte do segmento
internacional.
Somente 12% dos americanos entrevistados
acompanham o noticiário internacional. Em
comparação a 2000, a porcentagem dos que não Cova rasa
se interessam pelo noticiário internacional
passou de 45% para 44%. O segmento que E no Brasil? Como esses dados afetam o futuro
mostrou mais interesse pelas informações da nossa cobertura internacional? Se você
internacionais inclui os profissionais de mais de acredita que, por uma questão de modelo
40 anos, mais especificamente as mulheres, e os adotado, quase tudo o que acontece na TV
maiores de 65 anos. Entre os entrevistados, americana tende a se refletir de alguma forma
55% declararam ter acompanha-do o noticiário em nosso país, então estamos realmente com
da TV na véspera da pesquisa, contra 72% em problemas.
1994. Outros 41% disseram ter lido um jornal, No momento que a nossa categoria ainda está
contra 49% em 1994. enlutada e perplexa pela morte violenta de um
Esses dados são importante e comprovam uma colega em circunstâncias que demandam, por si
tendência de muitos anos. Pelo jeito, o público só, o "melhor" do nosso jornalismo
americano insiste em ignorar o mundo. O país investigativo, talvez estejamos assistindo
investe maciçamente na repressão ao terrorismo igualmente à morte da cobertura internacional.
em lugares distantes e prefere menosprezar as Se o jornalismo investigativo na TV com direito
lições do passado e do jornalismo internacional. às técnicas ocultas vive hoje o seu apogeu,
O otimismo inicial de boa parte da crítica outros segmentos pagam a conta.
especializada em relação à possível reversão A cobertura internacional dos noticiários de TV
dessa tendência após os ataques suicidas em brasileira é hoje mera caricatura de outras eras.
solo americano não parece ter se sustentado. Em se tratando de Copa do Mundo com direito
Houve, sim, uma reação imediata do público. à exclusividade, o massacre do jornalismo
Os primeiros índices apontavam um novo internacional no Brasil é ainda mais
cenário, mas, por vários motivos, não foi significativo. O jornalismo se confunde com o
possível aproveitar a oportunidade e virar o marketing da própria emissora e dá-lhe de
jogo. Se os noticiários de TV estão em crise, o autopromoção, com divulgação incessante de
segmento internacional vive dias de desespero. quebras de recordes nos índices de audiência
Está numa verdadeira encruzilhada. Ao ser durante todos os telejornais. Há muito tempo
obrigada a reduzir custos para sobreviver, a nos acostumamos com a violência das ruas e
cobertura internacional se torna imóvel e com a violência de um noticiário que se recusa
burocrática. A criatividade para buscar a manter o distanciamento legítimo entre os
alternativas encontra enormes resistências de seus próprios interesses econômicos e os
toda a ordem. O jornalismo internacional interesses do público. Afinal, para que tanta
precisa ser sustentado por guerras ou desastres notícia? Internacional então, nem se fala – ou
para sobreviver. nem se cobre! A pátria de chuteiras, com o

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

telejornalismo a reboque, esquece o resto do mais difíceis. A informação utilitária imediata


mundo e se torna apêndice do plantão das supera os dividendos de uma cobertura mais
agências internacionais. Ou seja, quase nada. ampla, voltada para a conscientização do
público. Globalização não é só abertura de
Independente da Copa, os motivos por esse
fronteiras econômicas. Deveria ser uma
desinteresse do público está na falta de notícias,
orientação da ordem planetária na qual o
está no mundo e... no público. Não se fazem
jornalismo tem um papel essencial. Mas quando
mais guerra fria e ameaças de holocausto
o sucesso se transmuda em índices de audiência
nuclear como antigamente. Os tempos mudaram
e as notícias locais privilegiam as amenidades,
e a TV decidiu que ninguém mais se interessa
existe pouco espaço para o jornalismo
por nada que esteja ocorrendo além das próprias
investigativo sério. A apuração se confunde
fronteiras. Os fatos recentes e a História
com sensacionalismo, torna-se perigosa, mata
comprovam que isso é muito perigoso.
jornalista e faz com que a cobertura
Ainda em relação aos americanos, os dados da internacional também seja declarada
pesquisa do Pew Center apontam para um "desaparecida" – ou enterrada em cova rasa no
isolacionismo informacional por parte daqueles cemitério do "novo" jornalismo de televisão.
que decidem o futuro de toda a humanidade. Um jornalismo de resultados com jornalistas
Com todo seu poderio econômico e militar, ao mortos em todo o tipo de guerras e pautado pela
se afastarem das notícias internacionais os redução de custos, aumento de riscos e do lucro.
americanos parecem apontar para tempos ainda

Referência bibliográfica
BRASIL, Antônio. “Crise na cobertura internacional”, in Videotexto.tv, .

disponível em:
[http://videotexto.tv.br]

PONTOS DE DISCUSSÃO:

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Texto XII
Cobertura Internacional é para gente grande
Cristiana Mesquita, 2002

Ao ser instada por este Observatório a escrever escritórios e a reduzir equipes. A diferença é
sobre a cobertura do conflito no Oriente Médio que elas se adaptaram aos novos tempos de
pela mídia brasileira, minha primeira reação foi vacas magras.
rápida: "Que cobertura?". E tive que parar e
pensar. O que estaria impedindo a Globo de
enviar uma equipe a Israel? A Globo, sim, Novas tecnologias
porque no Brasil é a única emissora a produzir Há duas maneiras de cobrir um conflito violento
uma cobertura internacional própria. ou guerra – seja em Israel, no Afeganistão, na
Confesso que tem sido uma tortura acompanhar Bósnia ou qualquer outro lugar.
o noticiário nacional sobre o Oriente Médio. Você pode planejar sua cobertura como uma
Tenho preferido assistir aos telejornais da CNN grande rede americana, que envia equipes de
ou da BBC – ao quais, apesar de não serem pelo menos 10 pessoas, mais suas próprias
perfeitos, ao menos têm equipes reportando do facilidades de geração, e isso custa uma
olho do furacão. Se é uma tortura para mim, verdadeira fortuna. Ou você manda um pequeno
fico imaginando que como devem estar se grupo de profissionais altamente treinados que
sentindo os correspondentes internacionais da vai saber se virar com o mínimo de recursos. As
Rede Globo. emissoras brasileiras não têm dinheiro para a
Tenho certeza que os repórteres da Globo estão primeira opção e nem os profissionais, para a
infelizes por ter que destrinchar horas de segunda.
imagens enviadas pelas agências para, depois, Os jornalistas brasileiros que são enviados para
escrever um texto, também baseado nas o exterior foram criados e treinados nas
agências, e, finalmente, descer três lances de emissoras, onde acostumaram-se a contar com
escada para encerrar a matéria com uma uma estrutura de trabalho que jamais
"passagem" de Londres... encontrarão no campo. Nas minhas coberturas
Desde o fim da ditadura, quando a cobertura de guerras para agências internacionais de
internacional era fundamental para tapar os notícias, raramente contei com mais de duas
buracos deixados pela censura nos telejornais, pessoas na equipe. E para que isso funcionasse
as emissoras brasileiras optaram por delegar era necessário que todos fizéssemos de tudo.
essa tarefa para as agências internacionais de Repórteres e cinegrafistas são treinados para
notícias e para a CNN. Os altos custos de fazer muito mais do que suas respectivas
cobertura, aliado à idéia (totalmente absurda) de funções exigem. Já aconteceu, por exemplo, de
que o público brasileiro não se interessa por eu estar ocupada produzindo ou escrevendo
matérias do exterior, foi a pá de cal no uma matéria e o cinegrafista sair correndo para
jornalismo internacional de qualidade na fazer uma entrevista; ou então o cinegrafista
televisão brasileira. estar ocupado com uma edição e eu ter que sair
A Globo se esforça. Mantém escritórios em para gravar imagens complementares.
Londres e Nova York e, mesmo sem ter Os tempos mudaram e a televisão, por mais
competidores, continua buscando os furos de irônico que pareça, deve se mirar no exemplo
reportagem - como a entrevista com brasileiros dos bons e velhos repórteres de jornal que saíam
que estão passando o pão que o diabo amassou da redação de ônibus, com um endereço num
em Ramallah, por telefone. É melhor do que pedaço de papel e uma câmera fotográfica
nada, mas não posso aceitar que seja apenas pendurada no ombro, e voltavam com a matéria.
uma questão de custos.Grandes redes em todo Talvez esteja exagerando um pouco, mas esse é
mundo também foram forçadas a fechar o espírito.

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Cobertura de guerra é muito caro, a começar como "lapadas", isto é, dez segundos para cada
pelo seguro de vida dos profissionais. Se assunto, como uma revista em que as páginas eram
alguém já se deu ao trabalho de ler as letrinhas viradas rapidamente dando tempo de ler apenas as
de alguma apólice de seguros vai notar que manchetes. Hoje já se pode ver longos minutos
todas esclarecem que não cobrem acidentes dedicados a uma matéria com participações de
ocorridos em zonas de guerra. Depois, vêm os correspondentes em Londres, Nova York e
custos de transmissão, hotéis, aluguel de carro, Washington.
intérpretes, diárias e por aí vai. Não se pode O Jornal Nacional, que tem um padrão
abrir mão do seguro, mas, para todo o resto, extremamente rígido, inovou colocando no ar o
uma equipe bem treinada pode dar um jeito. trabalho do videojornalista Luis Nachbin, que viaja
As redes brasileiras de TV também têm sido o mundo sozinho gravando suas próprias matérias.
incrivelmente lentas em reagir às novas Por enquanto são apenas matérias frias, com
tecnologias. Boa parte das equipes que estavam formato quase idêntico ao das reportagens
cobrindo a guerra no Afeganistão já usavam tradicionais, mas já é um começo. A Globo se
pequenas câmeras de vídeo e transmitiam suas arriscou, e muito, quando colocou no ar, para
matérias pelo computador. A própria CNN faz reportar direto do Afeganistão, uma completa
isso o tempo todo. O videofone, que permite ao desconhecida que nunca fez sequer uma aulinha de
jornalista entrar ao vivo de qualquer lugar do dicção. Está certo que houve um momento de
mundo utilizando apenas uma linha telefônica, pânico na redação quando me perguntaram se eu
já tem qualidade suficiente para ser adotado em tinha um blazer para fazer o "ao vivo" – e eu
qualquer telejornal com relatos de primeira respondi que não tinha blazer nem batom e o que o
mão. cabelo não era lavado havia pelo menos 5 dias. Foi
importante lembrar a eles que eu estava em Cabul e
Dou minha cara a tapa se uma entrada do
não em Brasília.
repórter Caco Barcelos via videofone no Jornal
Nacional, mesmo que com a qualidade inferior Correspondente de guerra não é estrela, é operário.
mas falando direto de Israel, não daria o maior Trabalha feito operário e vive como operário. E não
ibope. adianta mandar uma equipe para marcar presença
por uma semana para acompanhar a visita a Israel
do secretário de Estado americano Colin Powell. A
Paletó e gravata equipe tem que ficar lá o tempo necessário para
O conflito em Israel, que a qualquer momento entender a história (ainda não inventaram maneira
pode descambar para uma crise geral no Oriente melhor para cobrir um fato), estabelecer contatos e
Médio com conseqüências inimagináveis para se entrosar com a pequena comunidade de
todos nós, enquanto isso vai deixando de ser a correspondentes de guerra que, no final das contas,
matéria de abertura dos telejornais e daqui a são as únicas pessoas com quem se pode contar
pouco passa para o segundo bloco, depois para quando alguma coisa dá errado.
o terceiro, até virar uma notinha. Aí vão dizer O correspondente de guerra tem que ter a
que é porque o público cansou da história experiência que vai lhe permitir total autonomia
quando, na verdade, o público cansou é de ver para decidir o que cobrir – e como. O
aquela matéria fria que não acrescenta nada ao correspondente de guerra tem que estar
que já não tenha visto nos jornais ou em outro familiarizado com todo o tipo de tecnologia que vai
canal. facilitar e baratear sua cobertura.
Muita gente talvez não tenha notado, mas a Resta saber se a Globo está disposta a tirar o
cobertura internacional da Globo melhorou. Houve paletó e a gravata e botar a mão na massa.
uma época em que as matérias de fora entravam Esperamos que sim.

Referência bibliográfica
MESQUITA, Cristiana. “Cobertura internacional é para gente grande”, in Observatório da Imprensa,
17 de abril de 2002.

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

disponível em:
[http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/mo170420021.htm]

PONTOS DE DISCUSSÃO:

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Texto XIII
Cobertura Brasileira sobre Guerras
Entrevista com Jayme Brener, 2003

O professor e sociólogo Jayme Brener assumiu a cadeira de História da Comunicação na Cásper.


Brener foi professor do curso de pós-graduação em Jornalismo Internacional da PUC-SP, chefe
da Assessoria de Imprensa da Câmara Municipal de S.Paulo e da Companhia Municipal de
Transportes Coletivos (CMTC).
Com extenso currículo, foi editor da IstoÉ, editor-assistente de Veja e do Jornal da Tarde, redator
da Folha de S. Paulo, correspondente do Jornal do Brasil na América Central e da Rádio
Eldorado na Europa.
Ganhou três prêmios pelo trabalho jornalístico, entre eles o Prêmio Jabuti, em 1999. É autor do
livro Jornal do Século XX (Moderna, 1998, R$39,50). Atualmente, Brener dirige a Ex-Libris
Assessoria e Edições, empresa que presta assessoria de imprensa e elabora publicações
empresariais.
Nessa entrevista, Brener fala sobre como a imprensa brasileira se comporta na cobertura dos
conflitos internacionais e conta um pouco da sua experiência como correspondente de guerra.
“Sou um contador de histórias que usa instrumentos diferentes a cada momento”, diz Brener
sobre a utilização de seu conhecimento histórico na profissão de jornalista.

Como o sr. vê a cobertura da imprensa Brener - A imprensa brasileira quase não tem
brasileira sobre a guerra no Iraque? Quais mais correspondentes internacionais. Haverá
veículos retratam o conflito de maneira fiel e poucos colegas na cobertura da guerra. Isso
quais o cobrem de maneira errada? quer dizer que dependeremos basicamente das
Brener - Ainda é cedo para saber, uma vez que agências internacionais. Ainda assim, o grau de
a guerra não começou. Mas há uma diferença divisão que esta guerra vem provocando deve
fundamental entre a cobertura desta protoguerra garantir uma cobertura mais pluralista.
e do conflito de 1991. Hoje, o mundo todo está
contra a guerra, inclusive a imprensa brasileira. Para qual veículo o sr. trabalhava quando
cobriu a Guerra da Nicarágua e como foi
A imprensa retrata a guerra de maneira essa experiência? O que mudou na
justa e imparcial? Ela pode realmente cobertura das guerras desde então?
influenciar a população a favor ou contra Brener - Cobri o conflito para o Jornal do
um conflito armado? Brasil e depois para a Rádio Eldorado e,
Brener - Quando se fala em imprensa, conceitos principalmente, para o Jornal da Tarde. A
como “justiça” ou “imparcialidade” são experiência foi fantástica, com um detalhe: eu
discutíveis. Tanto é assim que toda a imprensa era stringer, isto é, um free lancer fixo. Quer
brasileira é “parcial” no caso, é contra a guerra. dizer, não tinha nenhuma estrutura de apoio.
A mídia pode influenciar a população em O que mudou na cobertura tem a ver com o fim
relação a um conflito armado. A cobertura da Guerra Fria. Hoje, nas grandes guerras, o
altamente profissional da Guerra do Vietnã jornalista é muito mais monitorado. Veja-se o
(quase sem censura, ao contrário de hoje) teve caso da Guerra do Golfo, em 1991. É quase
papel decisivo para o crescimento do impossível imaginar um jornalista ocidental
movimento pacifista nos EUA. entrando na guerra pelo lado iraquiano. Na
América Central e no Oriente Médio, tive a
Como a cobertura norte-americana das sorte de poder cobrir a partir de vários lados
guerras influencia o jornalismo brasileiro? diferentes.
A imprensa nacional faz apologias?

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Qual sua visão sobre o Oriente Médio e a colonialismo francês, nos anos 50 e 60, são
relação deste com a imprensa? exemplos disso.
Brener - Acho que estamos diante de uma
situação sem solução de curto prazo. De um Como o conhecimento da história o ajudou
lado há o governo de Israel, que eterniza a no jornalismo?
ocupação dos territórios dominados. De outro Brener - Por muito tempo tive uma certa crise
lado, com Yasser Arafat temendo a força do de identidade Sou jornalista, professor de
integrismo islâmico, não se vislumbra nenhuma história, historiador ou o quê? Hoje, acho que
força disposta a negociar de fato, o que essa divisão foi fundamental para o meu
implicaria em concessões mútuas. Os dois lados trabalho. Sou um contador de histórias que
parecem se orientar apenas pela destruição utiliza instrumentos diferentes a cada momento.
absoluta do outro.
Até que ponto o sr. nota uma diferença de
É voz corrente que numa guerra a primeira método entre jornalismo e história?
vítima é a verdade. Como o sr. mantém a Brener - A pesquisa histórica requer um certo
verdade em uma cobertura de guerra? distanciamento de tempo que o jornalismo não
Brener - O que é verdade? Isso não existe. O pode tolerar. Mas há inúmeros pontos de
que há é a busca por ouvir vários lados, ser intersecção. A narrativa de uma guerra é
mais ou menos objetivo. Mas qualquer matéria fundamental para a construção da massa crítica
é versão, a partir da própria escolha dos tópicos da historiografia. É isso que vou tentar trabalhar
principais. Isso é “uma” verdade. no curso da Cásper.

Para os pacifistas, nenhuma guerra é justa, Como autor de livros paradidáticos, o sr.
pois, independentemente da razão pela qual acredita que o texto didático influencia o
se luta, pessoas morrem. Já os defensores texto jornalístico?
dos conflitos armados alegam que uma Brener - Acho que uma das coisas mais
guerra pode ser justa dependendo do que a interessantes do jornalismo é o
motiva. Na sua opinião, existe guerra justa? desenvolvimento da habilidade de escrever de
Brener - Essa hipótese sobre a posição dos formas diferentes, para públicos diferentes. O
pacifistas não me parece correta. Uma guerra garoto que lê um paradidático não é o
contra a ocupação pode ser justa. O conflito dos empresário que lê um release ou o engenheiro
resistentes contra a ocupação nazi-fascista, na que lê uma publicação técnica. Acho que um
2ª Guerra Mundial, ou dos argelinos contra o dos temperos do ofício é justamente a arte de
contar histórias de formas diferentes.

Referência bibliográfica:
Entrevista de Jayme Brener concedida a Fabiana Panachão e Noêmia Lopes, alunas do 3º ano de
jornalismo da Faculdade Cásper Líbero (São Paulo)

disponível em:
[http://www.clubemundo.com.br/revistapangea/show_news.asp?n=182&ed=2]

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Texto XIV
Jornalismo sem Fronteiras
(História da CNN)
Sidney Pike, 1991

Ted Turner começou a sua vida profissional que o cabo fosse usado para retransmitir as
trabalhando no negócio criado pelo pai: uma estações locais. Quem iria pagar pela TV a
empresa de publicidade em outdoor. Depois cabo, quando podia sintonizar as estações locais
quis entrar no show business e comprou diretamente com a antena e de graça? Mas o
algumas estações de rádio, que não fizeram governo mudou essa situação, permitindo que
muito sucesso. Seu passo seguinte foi uma as estações de TV a cabo avançassem para além
pequena estação de TV em UHF, que também do seu mercado local. Foi nessa ocasião que
ia mal porque, na época, 1970, só as redes eram Ted colocou no satélite a nossa estação, que
bem sucedidas, obtendo mais ou menos 96% da tinha uma programação de entretenimento e
audiência. Dessa forma, quando ele me chamou esportes. Eu era o administrador da estação e
para trabalhar eu hesitei muito, porque eu era comecei a receber cartas até de Yukon, no
um profissional e ninguém com experiência em Alaska, pedindo que transmitíssemos
TV trabalharia para uma estação terrível, que os determinados filmes, e assim por diante. Eu não
telespectadores mal podiam localizar. conseguia acreditar que as pessoas, àquela
distância, estavam recebendo nosso sinal.
Naquele tempo, não havia esses seletores de
canais com botões para apertar. O seletor de Nesse começo, as redes nacionais de TV
UHF a gente girava, como o dial do rádio, e era baseadas em VHF, UHF e microondas eram
difícil sintonizar os canais. A emissora de bem superiores às emissoras a cabo e abrangiam
Turner era uma das que estavam "perdidas no todos os Estados Unidos. O resto do mercado de
dial", mas, assim mesmo, resolvi trabalhar com teledifusão era muito fraco.
ele. Logo descobrimos que os únicos Mas Ted teve uma idéia que fez com que a TV
telespectadores que conseguiam encontrar o a cabo se expandisse: criou um serviço de
nosso sinal eram as crianças. Elas não se notícias para ficar 24 horas no ar. Assim, no dia
incomodavam de girar o botão até achar o que 1 de junho de 1980, inauguramos a Cable News
queriam. Por isso, começamos a lutar para sair Network, CNN.
do anonimato colocando no ar programas
infantis. A CNN é hoje a maior rede de TV a cabo dos
Estados Unidos. Atinge 58.892.000 residências,
Aceitar o convite de Ted Turner foi, o que corresponde a 63,3% de todos os lares
provavelmente, a decisão mais inteligente que americanos. Seu índice de audiência mais alto
já tomei na vida. A pequena estação em UHF foi alcançado durante a Guerra do Golfo: 23%,
que ninguém assistia logo seria vista por todo durante quinze minutos. Foi um índice cinco a
mundo - literalmente. Em 17 de dezembro de sete vezes maior do que os usuais. junto aos
1976, nós começamos a transmitir o seu sinal jovens, a audiência atingiu uma faixa mais
para um satélite e foi então que a coisa começou expressiva, variando de dez a treze vezes mais
para valer. Apertamos um botão e, de repente, a do que o normal.
estação podia ser vista em todos os Estados
Unidos, além do Canadá e da América Central. Mas o sucesso veio bem antes de janeiro e
Inicialmente, porém, só estávamos interessados fevereiro de 1991. Logo que apareceu, a CNN
nos Estados Unidos. começou a incomodar os concorrentes e alguns
deles, como a ABC-TV e a Westinghouse,
A distribuição do sinal que enviávamos para o decidiram criar o seu próprio serviço de
satélite era feita a partir das instalações de TV a informações 24 horas. Tão logo eles os
cabo de cada cidade. O sistema ainda era bem anunciaram, em 1982, Ted reagiu com outro
incipiente, porque as leis da época só permitiam

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

serviço de notícias, com outro formato: O único sinal disponível em satélite naquela
Headline News. época era o nacional americano, que abrangia
também o Canadá e a América Central. Porém,
O noticiário original da CNN tinha longa
havia mais um, que não era comercial: o
duração. Os jornais poderiam ter uma hora,
Serviço de Rádio e Televisão das Forças
duas, quanto tempo demorassem para dar a
Armadas, o AFRTS. Ele tinha uma
notícia. O serviço da Headline News, ao
programação de 24 horas de duração, com
contrário, só durava meia hora.
programas emprestados da NBC, CBS, ABC e
Eram trinta minutos de programa que se CNN, que, aliás, ocupava metade do tempo.
repetiam seguidamente. Enquanto ia passando,
Obtive, então, o direito de utilizar o sinal do
mais notícias eram recolhidas. Portanto, alguém
AFRTS, já que estávamos cedendo material
que estivesse com pressa e não tivesse tempo
sem cobrar nada. Um dos sinais desse satélite,
para sentar e assistir a notícias longas, poderia
que foi projetado para chegar até as forças
ver um resumo em meia hora. Se sintonizasse o
estacionadas na Islândia, além de cobrir o
canal, por exemplo, às 10h05, perderia os
Oceano índico e a Europa, abrangia também
primeiros cinco minutos do jornal. Mas
toda a África e América do Sul, exceto o Peru e
assistiria aos 25 minutos restantes e continuaria
o Equador. Isso me permitiu fazer acordos na
ligado para assistir aos cinco minutos iniciais do
América do Sul e na África.
próximo noticiário. O telespectador sempre
tinha acesso à meia hora completa de notícias. Agora já temos um sinal próprio, na faixa
chamada KU. Ele é menor e o mais potente.
A distribuição internacional dos nossos serviços
Quanto menor o sinal, mais poderoso ele é. E
teve início por acaso.
quanto mais poderoso, menor a antena que
Estávamos realizando experiências de exige para recepção.
retransmissão do sinal no Pacífico, quando os
Uma das primeiras coisas que descobri na
australianos perguntaram se podiam testar a
minha primeira viagem ao Pacífico, quando fui
CNN. Então, "videoplexaram" o nosso sinal.
fechar acordos com o Japão, foi que havia um
Isso significa que apanharam o seu
consórcio chamado Intelsat, que controlava
transponder, dividiram as linhas no meio e
todos os satélites ao redor do mundo, exceto os
intercalaram as notícias da CNN com as
soviéticos. Essa organização é formada por
notícias nacionais em seu sinal habitual,
cerca de 117 países e os representantes de cada
obtendo duas imagens em vez de uma. Os
país são as PTTs, isto é, as empresas de post-
japoneses também fizeram experiências desse
telegraph-telephone (correio, telégrafo e
tipo. Quando percebemos o potencial desse uso
telefone). A Embratel é a PTT do Brasil.
múltiplo dos satélites, um dos membros da
nossa equipe foi tentar vender a CNN a outros Descobri que as PTTs formam um monopólio.
países que pudessem receber o nosso sinal, Ganham bastante dinheiro com a retransmissão
além do doméstico. de sinais e não querem mudar o sistema.
Durante dois anos, porém, esse colega não Quando fiz o acordo com a TV Asahi, por
conseguiu realizar uma única venda e em exemplo, ela teve que pagar um milhão de
dezembro de 1983, pediu demissão. Então me dólares por ano à KDD, a PTT japonesa, para
perguntaram se eu gostaria de assumir o receber o nosso sinal, quando poderia fazer isso
comando do setor internacional. usando simplesmente uma antena 20 vezes mais
barata. Além disso, a PTT fez com que o sinal
Aceitei imediatamente. Em janeiro de 1984,
fosse enviado a 60 milhas de distância de
comecei minha primeira viagem pelo Pacífico e
Tóquio, obrigando a Asahi a investir mais 500
voltei com acordos que equivaliam a um total
mil dólares em microondas para trazê-lo até a
de quase dois milhões de dólares. Foi assim que
cidade. Nossos parceiros tiveram que
tudo começou.
desembolsar, então, um milhão e meio de
dólares pelo sinal, quando tudo o que tinham

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

que fazer era pagar 50 mil dólares por uma esquema que nos tolhia. Primeiro, fizemos um
antena e colocá-la do lado de fora da estação. acordo com o Intelsat, chamado "Sinal de
Mas era a PTT que controlava o envio de sinais Multitransmissão". Começamos a pagar não só
do satélite para a Terra. pelo envio do nosso sinal ao satélite, mas
também todos os encargos normalmente
Quando fui a Taiwan, encontrei com
desembolsados pelas estações receptoras, para
representantes das três redes de emissoras locais
trazer os sinais à Terra. Todos os custos
e expliquei-lhes que a CNN estaria à
passaram a ser cobertos pela CNN e qualquer
disposição. Mostrei como nosso trabalho era
pessoa podia receber o sinal. O único problema
realizado e eles aceitaram operar conosco.
no acordo era que as PTTs tinham que aprová-
Então, perguntaram: "como teríamos recursos lo.
para receber o sinal?"
A outra forma que encontramos para romper o
Eu entendi o que queriam dizer. Quando os monopólio surgiu no Brasil. Este era um país
satélites apareceram, trinta anos atrás, as crucial para a nossa estratégia, porque
estações recebiam apenas dez minutos de acreditávamos que se o Brasil entrasse no nosso
notícias por dia, contendo de três a quatro sistema, todo o resto da América Latina o
histórias. O pagamento do envio do sinal à seguiria. Na época, um homem chamado René
Terra foi estabelecido da seguinte forma: 350 Anselmo, que era um dos donos da SIN -
dólares pelos dez primeiros minutos e 29 Spanish International Network, tinha acabado
dólares para cada minuto adicional. Eu não de vender sua parte na empresa por mais de 200
estava oferecendo transmissões de dez minutos, milhões de dólares e resolveu gastar 100
mas uma programação de 24 horas. Então milhões para construir um satélite denominado
peguei minha calculadora e fiz 29 dólares vezes PanAm Sat, que abrangeria toda a América
60 minutos, vezes 24 horas, vezes 365 dias. Latina. Anselmo construiu, de fato, mas
Dava mais de 16 milhões de dólares. ninguém o utilizava. Então, ele nos procurou.
Disse a eles que as três emissoras, juntas, iriam Imediatamente vi a oportunidade de utilizar esse
pagar apenas cerca de 400 mil dólares por ano satélite em nosso benefício. Mas, o Intelsat,
pelo nosso serviço. Mas eles lembraram que percebendo que, pela primeira vez, enfrentaria
tinham que prestar contas à PTT e que ela não competição, tornou-se mais flexível nas
aceitaria que o negócio fosse fechado fora das oportunidades que nos oferecia.
regras estabelecidas. Exigiria que pagassem 16
Só que a Embratel não queria permitir que o
milhões de dólares para receber um sinal que eu
Intelsat fizesse uso de seus satélites para
estava oferecendo por 400 mil...
transmitir o sinal como necessitávamos. Sua
Esse era o tipo de situação que tínhamos que rigidez era um grande problema.
enfrentar no exterior.
Foi quando alguém deu uma olhada na lei
Mas os problemas não eram muito diferentes brasileira e descobriu que, embora a Embratel
quando se tratava de administrar o nosso sinal fosse apontada aí como a responsável pela
nacional. Em reunião com nosso departamento transmissão dos sinais dos satélites brasileiros e
jurídico, criamos um documento chamado do Intelsat à Terra, não havia nenhuma menção
"Programa de Dispensa de Direitos Autorais". a respeito de outros satélites. Era o nosso caso.
Com ele, podíamos dizer a um país do Caribe Tínhamos um satélite particular, que não era
ou da América Central que não iríamos nem nacional, nem internacional, e cujo
processá-los se estivessem utilizando nosso proprietário era um indivíduo. A Embratel teve
sinal, protegido por direitos autorais. Mas de admitir que não era responsável por esse
também dizíamos a eles que obter o sinal era satélite e conseguimos a permissão para
problema deles... transmitir o sinal, como fazemos agora no
Essa foi a forma que encontramos para começar Brasil.
e, com o tempo, conseguimos desgastar o

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O melhor exemplo desse problema com a licenciada pode utilizar esse material não
Embratel foi o caso da TV Manchete. Três ou apenas em noticiários, como também em seus
quatro anos atrás, vim ao Brasil e fiz um acordo próprios programas.
com a Manchete, que foi a primeira estação Além das emissoras, vendemos um serviço de
daqui a se interessar pela CNN. TV a cabo para os países onde o sistema já está
Assinamos um contrato que dependia da implantado. Nossos clientes são hotéis e
aprovação da Embratel, permitindo a também particulares que possuem antenas
transmissão do sinal pelo seu sistema, já que parabólicas. Jornais recebem nossas imagens e
eles não tinham condições de pagar por 24 colocam monitores na redação, para que todos
horas de transmissão pelo nosso. O pessoal da vejam o que está acontecendo no mundo.
Manchete não conseguiu fazer com que o Nós fornecemos as imagens da CNN a todos os
governo concordasse com isso, até o líderes mundiais. E de graça. Elas são vistas por
surgimento do PanAm Sat. Mas depois que a Gorbatchov, Ieltsin, Bush, todos eles. Há uma
Embratel aceitou os nossos argumentos legais, história sobre um primeiro-ministro de Bahrein
tudo se acertou e, conforme o previsto, todos os que foi ao Hemsley Plaza Hotel de Nova York
outros países sul-americanos permitiram que com sua comitiva. Ele chegou, foi para a sua
continuássemos. suíte e foi logo ligando a televisão na CNN.
Alguns anos atrás criamos um terceiro canal de Mas, por alguma razão, não conseguiu
24 horas de duração, especialmente para encontrar o canal e ligou para a recepção.
transmitir para fora dos Estados Unidos: o CNN Desculpando-se, a recepcionista informou que o
International. Ele não é um canal tão hotel não assinava a CNN. Na mesma hora, o
americano. O interessante é que os únicos que primeiro-ministro saiu do quarto, mandou pagar
fizeram objeção foram os japoneses, porque a conta e ordenou aos assessores que
queriam assistir a tudo o que estivesse encontrassem um hotel que recebesse o nosso
relacionado com os Estados Unidos. Ainda sinal.
hoje, em alguns casos, eles trazem o sinal Fornecemos serviços atualmente a 122 países.
nacional da CNN ao Japão para utilizá-lo em Mas é certo que eles atingem uma audiência
seus noticiários. De qualquer forma, agora dez, vinte, talvez 100 vezes maior onde há
temos um sinal internacional separado, para os algum tipo de pirataria. A CNN é vista em
nossos clientes ao redor do mundo. muitas partes do mundo por qualquer pessoa
Oferecemos três opções de serviços. A primeira que possua uma antena parabólica. O sinal só é
são notícias compactas, contendo histórias que codificado no hemisfério ocidental, nas
acontecem a toda hora e são inseridas nos transmissões nacionais e no PanAm Sal. Mas
noticiários locais. Não importa qual seja o seu utilizamos um satélite soviético chamado
noticiário local, você pode incluir as nossas Statsionar 12, que abrange metade do mundo e
histórias. É um serviço novo, igual ao da é captado, sem codificação, na África, na Ásia
VisNews ou da WTN. A segunda opção são as Meridional e no Oriente Médio.
notícias de impacto, as mais importantes e de A pirataria é feita de várias formas. Há, por
maior efeito. Assim que algo acontece, nós exemplo, o que chamo de "Sistema Guatemala".
colocamos imediatamente no ar, de modo que o Quando fui àquele país fazer acordos para a
fato pode ser visto na mesma hora em que está CNN, descobri como funciona. Em um lugarejo
acontecendo e ao mesmo tempo em que as qualquer, alguém instala uma antena e consegue
pessoas em Washington, Londres ou Tóquio receber as imagens da CNN. Então o seu
também o estão vendo. Foi o serviço utilizado vizinho pede para receber também. Eles puxam
durante a Guerra do Golfo, por exemplo. Na um fio da primeira casa até a do vizinho. Então
terceira opção, permitimos que os licenciados outro vizinho diz que também quer assistir a
utilizem nossas outras atrações: programas de CNN e puxa outro fio até sua casa. Assim, os
ciência e tecnologia, alimentação, nutrição, fios vão se espalhando até que se tenha um
moda, cozinha, etc. A emissora de televisão

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

serviço de cabo. O único problema é que observações de “anticonvencionais”. Elfen


ninguém paga por ele... trabalha na imprensa desde que se formou, em
1951, no curso de Jornalismo de Syracuse.
A CNN é pioneira em propaganda
Durante vinte tumultuados anos, entre 1965 e
internacional. Temos um departamento que faz
1985, ele foi chefe do escritório da revista
acordos com patrocinadores ou clientes
Newsweek em Washington. Atualmente é o
interessados em anunciar mundialmente. A
redator de reportagens especiais na US News &
18M, por exemplo, é uma dos clientes mais
World Report.
importantes que temos. Mas, à parte as
considerações comerciais, uma característica da Ele diz que os jornalistas em ação no Golfo, ao
CNN é que através dela muitos povos contrário dos generais, estavam lutando a
descobrem como outros países são conduzidos. guerra anterior, a do Vietnã. O desapareci
Opiniões sobre as formas de governo no mundo mento da credibilidade do poder público após a
ou sobre as bolsas de valores agora correm de guerra do Vietnã provocou o surgimento de
país em país. A informação é instantânea. uma geração de jornalistas céticos e
Cenas de fome, tragédia e repressão estão à antagônicos ao poder.
disposição de quem quiser assistí-las. Foi por Para eles, o Vietnã tornou-se um modelo de
isso que a Guerra do Golfo concentrou tanto a como cobrir uma guerra, de como ganhar uma
atenção mundial. enorme reputação como jornalista. E muitos
Visitei o Golfo um pouco antes da guerra, no desses jornalistas foram parar no centro de
final de 1989. Fui a Omã, Bahrein, Arábia imprensa de um hotel de Riad.
Saudita, Kuwait e Iraque. O fato de ter Mas, no deserto, a situação era completamente
trabalhado com a televisão no Iraque, diferente. Não havia aldeões com quem se
conseguindo acordos para a CNN, e deles terem misturar, não se podia fazer um apanhado dos
participado da Conferência Mundial de corações e mentes do campo. Não se marchava
Reportagem que realizamos em Atlanta todos com as tropas até a frente de batalha. Não havia
os anos, foram as únicas razões pelas quais nenhuma oportunidade de se fazer uma
conseguimos um bom relacionamento. Quando reportagem exclusiva. “No Golfo”, diz Elefen,
parti do Iraque, logicamente deixei meu cartão “não havia muito para se ver”. A guerra teve
com eles, que vinha escrito em inglês na frente uma duração de seis semanas, com um conflito
e em árabe atrás. Assim, sempre que Saddam em terra que durou apenas quatro dias. Por esse
Hussein queria aparecer na televisão, mais motivo, a imprensa ficou frustrada e atacou
especificamente na CNN, para que o mundo violentamente as restrições.
inteiro escutasse o que ele tinha a dizer, eu
recebia um telefonema do Iraquee o transferia O fato é que essa não foi uma guerra
ao setor internacional da CNN. Cinco minutos jornalística. Não havia ambigüidades a
depois, porém, eles me ligavam de novo. Não investigar. A imprensa é notável quando há
importava quantas vezes eu os transferisse, o ambigüidades e houve bastante em Saigon. A
telefonema sempre passava pelo meu escritório. imprensa ridicularizava os briefings militares
Para eles, o meu cartão escrito em árabe era o diários, os chamando de "as loucuras
meio de fazer Saddam aparecer na televisão... exageradas e enganadoras das cinco horas". Por
outro lado, Elfen elogia os instrutores militares
Há alguns comentários a fazer sobre as do Pentágono e de Riad, dizendo que eles
condições de reportagem na Guerra do Golfo. formaram um grupo bastante honesto. Diz,
Travou-se uma grande polêmica sobre o rigor ainda, que não repetiram os erros cometidos nos
das Forças Armadas. Li recentemente um artigo briefings da fase de treinamento na Europa
que foi publicado na revista da Universidade de Ocidental.
Syracuse, com o qual concordo plenamente. O
artigo foi escrito por Mel Elfen, um membro de Mas os repórteres moldados pela herança do
grande destaque do “quarto poder” em Vietnã permaneceram profundamente céticos
Washington, e ele próprio chamou suas em relação aos militares no Golfo. Elfen diz que

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eles examinavam as declarações não tanto para casas, para a mobília, ete. As notícias serão
descobrir as verdades que elas pudessem conter, transmitidas eletronicamente.
mas para descobrir suas mentiras. Isso O jornal não vai deixar de existir, mas o sistema
acarretava uma constante busca de falhas. que utiliza será transformado. Em vez de usar
"Ninguém espera que a imprensa tenha uma notícias impressas em papel, ele utilizará meios
amizade íntima com o Exército, mas havia um eletrônicos para a transmissão de informações.
relacionamento antagônico sem necessidade", Temos canais de TV suficientes para isso.
diz o jornalista. Atualmente, um único aparelho de TV pode
Quanto às restrições, a imprensa era mantida sintonizar centenas de canais. Digamos que um
em pools escoltados pelo Exército. A mídia jornal ocupe quatro ou cinco canais. Um deles
cresceu tanto nos Estados Unidos que há pools poderia tratar de esportes, com repetições
em toda parte, incluindo a Casa Branca. Elfen durante todo o dia. Outro poderia tratar de
acha que se tivessem permitido que a imprensa economia, um terceiro transmitiria só notícias
se deslocasse à vontade, teria havido mais Bob gerais e assim por diante. Dessa forma, o
Simons, o repórter da CBS que foi preso pelos público só teria a preocupação de escolher o
iraquianos junto com sua equipe. canal a que quisesse assistir a cada momento.
O que eles teriam obtido? Para onde iriam? O Parte do jornal seria, então, transmitida pela
Golfo não era o tipo de guerra que eles televisão e parte seria impressa. Poderia haver,
esperavam. Para Elfen, Watergate e Vietnã inclusive, um canal só para anúncios
pertencem ao passado. Ele diz: "O desafio da classificados.
imprensa nos dias de hoje é lidar com as Um bom exemplo de como as coisas caminham
mentiras que surgem no nosso governo todos os nesse sentido foi o equipamento utilizado na
dias, mas sem apresentar uma atitude agressiva, Guerra do Golfo. Seis horas após a guerra
sem ficar pensando que cada detalhe é um novo estourar, todos os satélites de que a CNN
Watergate". necessitava já tinham sido reservados por seis
A imprensa tinha que enfrentar também outro meses. Isso incluía conexões com a Arábia
problema: o fato da CNN estar transmitindo Saudita, Jordânia e Bahrein. Toda a cobertura
todas as instruções militares. Diariamente acabou sendo realizada através do Comsat, a
transmitíamos os briefings matinais dos Estados PTT dos Estados Unidos, e do BTI de Londres,
Unidos, do Reino Unido e da França, assim a PTT britânica.
como da Arábia Saudita. A imprensa estava Além disso, mantivemos um canal aberto no
nesses lugares para obter as mesmas notícias Intelsat 24 horas por dia.
que as pessoas recebiam em suas casas. Assi m,
era bem compl icado enviar ao editor uma Tivemos ainda permissão para utilizar dois
reportagem a que ele já tinha assistido. Isso uplinks, sistemas de comunicação via satélite
pressionava bastante os repórteres e os deixava que cabiam em um conjunto de pequenas malas.
frustrados. Mas serviu para mostrar a eles como Pode-se fazer um uplink om uma antena
está mudando a forma pela qual as notícias são pequena, de apenas 1,8 metro de diâmetro. Um
colhidas e apresentadas. deles foi instalado na Arábia Saudita e outro,
um com antena de 12,4 metros, ficou em Amã.
Devemos guardar de recordação alguns dos Ambos foram devidamente autorizados pelas
jornais que lemos hoje, porque não os veremos PTT locais. Houve problemas com a permissão
por muito tempo. Nós até podemos continuar a de trabalho no Iraque, já que, naturalmente, o
vê-los, mas os nossos netos com certeza não. Departamento de Estado tinha rompido relações
Ecologicamente falando, não temos condições com aquele país. O jeito, então, foi a Jordânia
nem de sustentar a população que cresce fazer os acordos necessários com Bagdá e nós
rapidamente no planeta, nem de provê-la com realizarmos os acordos com a Jordânia. Assim,
jornais e revistas, derrubando todas as árvores o sinal de Bagdá era enviado a Amã e de lá para
necessárias para isso e para a construção de Atlanta.

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Os repórteres também utilizavam telefones do principalmente aquelas que transmitem notícias


ImmarSat, um satélite de navegação marítima, ao vivo. Tentam evitar que sua população e seu
que já tinha sido empregado pela imprensa um comércio tenham contato com a realidade que
ano antes, na Romênia e no Panamá. Como se temos que enfrentar todos os dias e o tempo
vê, as possibilidades técnicas de uma cobertura todo.
ao vivo, simultânea, através dos meios Mas não terão sucesso a longo prazo. Os
eletrônicos, foram muitas nessa Guerra do governos e religiões que cultivam a ignorância
Golfo. No futuro, então, serão praticamente de seus povos para se manter no poder acabarão
infinitas e isso consolidará de vez a perdendo o controle. Dentro em breve, a
comunicação eletrônica como a base de toda a tecnologia dos satélites irá superar qualquer
atividade jornalística. forma de resistência, emitindo sinais de fácil
Trabalhar na CNN não tem sido uma tarefa recepção, a custo baixo. Dessa forma, a
fáciI. Há alguns países que são bastante população mundial poderá compartilhar as
resistentes a nós, particularmente os países em melhores formas de governo, comércio,
desenvolvimento. Eles tentam manter afastadas medicina e justiça, sem nenhuma interferência.
não só a CNN, mas outras redes de televião,

Referência bibliográfica:
PIKE, Sidney. “O Jornalismo Sem Fronteiras” in Encontro Internacional de Jornalismo: conferências
e debates (edição: Gabriel Priolli), São Paulo: IBM, 1991.

PONTOS DE DISCUSSÃO:

• .

78
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Texto XV
Em Directo da Guerra: o impacto da Guerra do Golfo no
discurso jornalístico
José Rodrigues dos Santos, 2003

Passava já das duas e meia da manhã de 20 de repórter abafada pelo trovejar das explosões e
março de 2003 quando se ouviu um estrondo das rajadas, marcou um momento simbólico nas
em Bagdade. Carlos Fino e Nuno Patrício, que profundas mudanças que ocorreram no mundo
se encontravam na varanda do seu quarto, no do jornalismo, e foi adequado que essas
14º andar do Hotel Palestina, deram o alerta alterações se tenham tornado visíveis na guerra
para Lisboa. Começaram a soar os alarmes na de 2003 contra o Iraque, uma vez que foi na
capital iraquiana e a emissão da RTP foi guerra de 1991 contra o Iraque que elas
imediatamente para o local. começaram.
"Eu presumo que estamos agora em Em boa verdade, o conflito de 2003 não foi
directo. Portanto, eram cinco e meia mais do que o culminar das hostilidades
daqui quando se começaram a ouvir encetadas em 1991. Quando da eclosão da
estrondos. O hotel em que estamos Guerra do Golfo, o mundo intuiu que era
sofreu um abanão e de imediato possível ver uma guerra em directo. Na noite de
começaram a tocar as sirenes de 16 de Janeiro de 1991, a CNN foi colocada no
alarme contra ataque aéreo. Neste mapa internacional quando transmitiu o relato
momento essas sirenes sossegaram e telefónico de três repórteres seus,
voltam a ouvir-se o chilrear dos entrincheirados no 9º andar do Hotel Al-Rashid,
pássaros neste amanhecer em a descrever em directo para todo o mundo o
Bagdade. Mas é um sinal claro de início do ataque aéreo da força multinacional
que está iminente, ou já mesmo contra Bagdade. As primeiras palavras de
começou, um ataque por parte dos Bernard Shaw, atravessando a estática do
Estados Unidos (…) São claramente telefone, ficaram imortalizadas.
audíveis aqui mais explosões… É um "Os céus sobre Bagdade foram
trovejar sobre Bagdade, é um iluminados. Estamos a ver flashes
trovejar sobre Bagdade. Há brilhantes por todo o céu." (Shaw,
também… há claramente mísseis no CNN, 16 de janeiro 1991).
ar. É um trovejar profundo sobre
Bagdade. No entanto, as luzes da
cidade continuam acesas. Os A reportagem em directo da CNN marcou então
pássaros fogem e silenciam-se. um decisivo ponto de viragem. Até 1991 era
Vêem-se mísseis no ar, sinais impensável ver repórteres de um país a
luminosos, e tudo em redor começa a descrever uma guerra a partir do território do
explodir como num fogo de artifício. país inimigo. Ninguém imagina jornalistas
Há um fogo de artifício aparente, um britânicos a relatar em Berlim os
fogo mortal sobre os céus de bombardeamentos aliados da Segunda Guerra
Bagdade. Há carros que circulam na Mundial. Além disso, até 1991 era igualmente
cidade e as luzes mantéem-se para já impensável ver repórteres a relatar em directo
acesas, a energia eléctrica continua operações militares. Mas isso aconteceu naquela
a funcionar. Mas é um ataque madrugada de 16 de Janeiro devido
fortíssimo à capital do Iraque" (Fino, essencialmente a um factor decisivo: o
RTP, 20 de março 2003). desenvolvimento tecnológico.
Esta reportagem de Carlos Fino, transmitida em Harold Innis foi o primeiro a notar o peso que
directo pela RTP com uma panóplia de imagens as evoluções tecnológicas na área da
confusas, luzes dançando no céu, a voz tensa do
79
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

comunicação têm no desenvolvimento das O relato em directo da guerra em Bagdade por


sociedades, um conceito que seria mais tarde três jornalistas americanos só foi possível
desenvolvido por Marshall McLuhan. A ideia devido a estas mudanças. Noutros tempos, os
fundamental é simples. As grandes revoluções repórteres seriam julgados por traição. Mas em
sociais, económicas e de mentalidades têm por 1991 as suas reportagens apenas geraram
base a tecnologia. Por exemplo, foi a tecnologia protestos pouco convictos de Washington. A
agrícola que permitiu o sedentarismo, com transmissão da CNN foi um verdadeiro acto
todas as consequências que daí advieram. Mais global, transnacional, com as palavras de
tarde, foi a tecnologia industrial que permitiu Bernard Shaw, John Holliman e Peter Arnett a
profundas mudanças na organização do serem consumidas em simultâneo em todo o
trabalho, da economia e da sociedade, incluindo mundo, de Nova Iorque a Nova Deli, de São
na área cultural. Sem industrialização não Paulo a Amã, de Estocolmo a Port Moresby. As
haveria Gutenberg, o grande responsável pela novas tecnologias tinham já gerado mudanças
democratização da cultura e do conhecimento. sociais e culturais que tornaram normal o que
Arthur C. Clarke, o cientista britânico que antes seria intolerável.
inventou os satélites de comunicações, defende As mudanças de 1991 foram, todavia, limitadas.
até a tese de que as grandes decisões do nosso Os três homens da CNN fizeram, é certo, o
tempo não são tomadas pelos políticos, pelos relato da guerra em directo, mas isso aconteceu
economistas ou pelos filósofos, mas pelos sem imagens, só durou uma noite e foi feito às
engenheiros. Eles criam a tecnologia, cabe aos escondidas, com os jornalistas trancados no seu
outros aplicá-la. quarto, receando uma intervenção das
Quais foram as tecnologias que permitiram o autoridades iraquianas e submetidos a críticas
relato em directo, se bem que apenas ao das autoridades americanas. Além disso, foi um
telefone, da guerra de 1991? A resposta é acontecimento transmitido por uma voz
evidente: os satélites de comunicação e os americana. A CNN, apesar do seu projecto
computadores. Não foram, é óbvio, estas internacional, está baseada nos Estados Unidos
tecnologias que tornaram politicamente e era então formada quase integralmente por
aceitável em 1991 o que era totalmente jornalistas americanos. Apesar da
inaceitável em 1945. O que fez a diferença democratização introduzida pelos satélites de
foram as mudanças geradas pela dinâmica dos comunicações, o fluxo dominante de
movimentos suscitados por estas tecnologias. informação e imagens a nível mundial ainda era
Os satélites de comunicação e os computadores essencialmente de origem anglo-americana. Os
criaram um movimento global de intercâmbio únicos competidores credíveis da CNN eram as
de ideias e de conhecimentos, enfraquecendo grandes cadeias americanas ou a BBC e a ITN,
gradualmente os projectos nacionais mais ninguém tinha acesso aos grandes
característicos da era industrial. No mundo pós- orçamentos que requeriam as tecnologias
industrial, os mercados deixaram de ser inovadoras. O custo das unilaterais por satélite
nacionais, tornaram-se globais. As decisões era proibitivo e o custo dos telefones por
económicas deixaram de ser da competência satélite, a grande novidade de 1991, não estava
exclusiva dos governos nacionais, transferindo- ao alcance de qualquer um.
se para esferas transnacionais como as ocupadas O conflito de 2003 veio preencher as promes-
pelas multinacionais ou por centros de decisão sas deixadas em aberto pelas hostilidades de
fora do território nacional. As grandes decisões 1991. O ataque anglo-americano foi lançado a
económicas deixaram de ser tomadas pelo 20 de março, mas a primeira estação de
Banco de Portugal ou pelo Ministério das televisão do mundo a noticiar o início da guerra
Finanças, e passaram a ser da esfera da não foi a CNN nem a BBC nem a ITN nem
Comissão Europeia, do Banco Central Europeu qualquer estação americana. Foi a RTP. As
e da Ford- -Volkswagen. Com as novas palavras em directo de Carlos Fino marcaram
tecnologias, o mundo tornou-se global e os simbolicamente uma mudança de fundo no
projectos nacionais entraram em erosão. panorama do jornalismo interna-cional. Já não é
80
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

preciso ser um gigante para ter acesso às Quando as forças americanas pensaram no
tecnologias necessárias que permi-tem a uma relacionamento que iriam ter com os jornalistas na
estação estar na vanguarda da infor-mação altura em que eclodisse o último acto da Guerra
internacional. Basta um videofone, um do Golfo, decidiram retomar o conceito de
instrumento barato e com custos de transmis- "integrado" (embedded), que vinha da Segunda
são dez vezes inferiores ao de um equipamento Guerra Mundial, quando os correspondentes
de alta definição, e um pouco de astúcia para faziam parte das forças militares e tinham até a
bater a concorrência. A CNN levou três patente de capitães. Ou seja, os militares optaram
minutos a dar a informação transmitida em por integrar jornalistas nas suas unidades de
directo por Carlos Fino na RTP, e fê-lo apenas combate. Foi uma decisão arriscada, uma vez que
ao telefone, enquanto o jornalista português colocava em perigo o segredo operacional e
estava em directo com imagem a mostrar os expunha as suas forças ao escrutínio implacável
acontecimentos. E, dois dias mais tarde, quando dos repórteres, mas, aliada às inovações
as forças anglo-americanas lançaram o grande tecnológicas entretanto ocorridas, esta opção veio
bombardeamento contra Bagdade, as imagens revelar-se revolucionária.
que transmitiram o ataque em directo para todo Ao integrar os jornalistas nas unidades, os
o mundo voltaram a não ser as das estações responsáveis do Pentágono impuseram várias
anglo-americanas, mas antes da Al Jazira e da condições. Qualquer jornalista integrado teria de
Abu Dhabi TV. se sujeitar a um treino militar, teria de
Outra importante alteração tem a ver com a acompanhar sempre as forças militares e estava
natureza do directo. Em 1991, o relato de Shaw, proibido de fazer descrições precisas sobre os
Holliman e Arnett foi feito ao telefone, durou locais onde se encontravam e as forças que
apenas uma noite e decorreu às escondidas. Em constituiam a sua unidade. Além disso, os oficiais
2003, o relato de Carlos Fino e de todos os outros tinham o direito de rever os despachos dos
jornalistas que se encontravam no Hotel Palestina repórteres para os expurgar de informações que
foi efectuado com imagem, durou toda a guerra e pudessem pôr em risco a segurança operacional
decorreu perante os olhos dos iraquianos. É das suas missões.
importante notar, todavia, que, neste aspecto, o A compensação por todos estes inconvenientes e
conflito de 2003 não foi pioneiro. A primeira estas restrições não era de menosprezar. Os
acção militar transmitida com imagem em directo correspondentes de guerra teriam acesso ao
pela televisão foi a operação de 1998 contra o campo de batalha, algo que não acontecia desde a
Iraque, quando a CNN transmitiu as imagens dos Guerra do Vietname. Percebendo plenamente o
bombardeamentos da Operação Raposa do alcance dessa situação, as televisões americanas e
Deserto, com relato em directo de Christianne britânicas compraram jipes militares e equiparam-
Amanpour em Bagdade, as câmaras equipadas nos com videofones. As antenas foram amarradas
com sistema de nightvision que permitia ver os aos tejadilhos e, com a ajuda de uma espécie de
mísseis e o fogo das antiaéreas em verde-negro. osciloscópio e de um sistema de GPS, conseguiu-
Mas se a guerra de 2003 trouxe a novidade da se mantê-las sempre viradas para o satélite,
democratização do scoop, com pequenas independentemente da direcção e velocidade dos
televisões como a RTP, a Al Jazira e a Abu Dhabi veículos. Tal bastou para assegurar a transmissão
TV a bater as grandes anglo-americanas, as ininterrupta das operações, apesar do movimento
mudanças no tipo de cobertura jornalística não se das colunas militares e dos jipes dos repórteres.
ficaram por aqui. Foi em 1991 que pela primeira O resultado foi espantoso. Quando, na noite de 21
vez houve um relato em directo de uma guerra, se de março, as forças anglo-americanas cruzaram a
bem que audio, e foi na operação de 1998 que fronteira do Kuwait e entraram no Iraque, as
pela primeira houve um relato em directo com televisões mostraram em directo o acontecimento.
imagem de um bombardeamento. Mas nunca As imagens eram de difícil leitura, vendo-se
ninguém tinha visto imagens em directo de um apenas pontos luminosos no meio da escuridão,
campo de batalha. Esse derradeiro passo foi dado mas o passo pioneiro estava dado. Ao nascer do
em 2003.
81
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

dia, na manhã de 22 de março, vieram as Reuters, Andrew Gray, observando que "nenhum
primeiras imagens perceptíveis. O repórter Walter oficial permaneceu junto de nós quando
Rogers mostrou, em directo na CNN, as imagens falávamos no telefone-satélite com os nossos
dos blindados do 7º de Cavalaria literalmente a superiores hierárquicos nem alguma vez alguém
cavalgar pelo deserto iraquiano a enorme leu as nossas reportagens antes de as enviarmos"
velocidade em direcção a norte. A transmissão (Gray, Reuters, 18 Abril 2003). Alguns jornalistas
durou mais de uma hora e deixou os foram expulsos, como o repórter tabloide da Fox,
telespectadores agarrados aos ecrãs. Na mesma Geraldo Rivera, acusado de divulgar informação
altura, a Fox e a CBS mostravam em directo a operacional sensível, mas estas raras situações
progressão da coluna da 3ª Divisão de Infantaria. ocorreram depois da reportagem, não antes.
No dia seguinte vieram imagens ainda mais Mais difícil de controlar foi a inevitável
surpreendentes. A CNN mostrou em directo um cumplicidade que se estabelece entre homens em
combate, com os homens do 7º de Cavalaria a perigo. Os repórteres queriam naturalmente
disparar contra uma posição iraquiana. Dias manter boas relações com os soldados que os
depois, a CBS transmitiu em directo uma batalha protegiam, alimentavam e lhes davam acesso ao
sobre o Eufrates, enquanto a CNN mostrava, campo de batalha. Alguns repórteres deram
também em directo, o 7º de Cavalaria a ser consigo, a partir de certa altura, a descrever os
atacado por franco-atiradores, o som das rajadas a iraquianos como sendo "o inimigo", e houve um
reverberar pelo videofone como teclas de que concluiu estar a sofrer do Síndroma de
máquinas de escrever. Nunca se tinha visto nada Estocolmo, devido à relação de empatia que
assim em televisão. desenvolveu com os soldados. Uma situação deste
Para fazer esta cobertura, os repórteres género não decorreu sem consequências. Um
submeteram-se às duras condições do terreno. repórter decidiu não publicar os nomes dos
Passaram dias sem dormir, comeram magras soldados que ele sabia terem cometido crimes de
rações de combate, não tiveram acesso a água guerra, embora tivesse noticiado essas situações.
corrente nem dispuseram de liberdade de Feitas as contas, ninguém tem dúvidas de que,
movimentos. A imagem de corpos carbonizados e como dizia o senador Hiram Johnson, "quando
mutilados tornou-se uma rotina na sua experiência uma guerra começa, a primeira baixa é a verdade"
e nunca os correspondentes tiveram oportunidade (Knightley, 1975), e a Guerra do Golfo, que
de abandonar as colunas que integravam para eclodiu em 1991 e terminou em 2003, não foi
fazer reportagem. excepção. Mas raras foram as guerras onde,
No final, muitos disseram que jamais repetiriam a apesar das muitas verdades que ficaram por
experiência mas, contraditoriamente, expor, se tenha ido tão longe no esforço de relatar
consideraram-na globalmente positiva. "As os acontecimentos. As sociedades pós-modernas
experiências variam, mas alguns de nós estão assentes nas tecnologias da comunicação, e
verificaram que gozavam de uma surpreendente quanto mais informação circular mais difícil é
liberdade", comentou o repórter "integrado" da controlá-la.

82
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Texto XVI
A Internet e o Futuro do Jornalismo Internacional
Alan Knight, 1995 (tradução: Pedro Aguiar)

Este artigo se refere à pesquisa acadêmica que, do que, com algumas migalhas de
quando posta em prática por uma equipe informações anotadas, eu
multidisciplinar, tenta utilizar novas tecnologias prosseguia até outros órgãos do
para alterar práticas de reportagem. Pode ser governo indiano, o parlamento, a
considerado ensino de Jornalismo não apenas Alto Comissariado Britânico, as
para matriculados em cursos universitários, mas embaixadas, e voltava ao hotel para
talvez mais relevantemente para os vários almoçar. Se houvesse uma matéria
jornalistas profissionais em busca de melhores a fazer, eu datilografava na
maneiras de conduzir seu trabalho. Agência Telegráfica de Nova
Délhi.” [2]
O trabalho se foca em reportagem internacional
e espera potencializar as várias fontes
socialmente importantes que normal-mente Stuart dizia que, além dessas tarefas diárias, ele
ficam de fora das pautas da corrente tinha que fazer uma transmissão semanal para
hegemônica. Londres. Naqueles tempos, o trabalho de um
correspondente estrangeiro sofria
consideravelmente mais pressão. No início
Reportagem Internacional
deste ano, eu estava no carro indo trabalhar em
Há muito tempo, correspondentes estrangeiros Sydney, ouvindo o rádio, quando uma
têm sido vistos por outros jornalistas como uma correspondente da ABC entrou no ar ao vivo
elite dentro do jornalismo3. Eles representam via satélite pelo telefone falando de um
um componente relativamente raro e custoso do subúrbio no Taiti. A passagem dela foi
processo de noticiar. No passado, a relativa pontuada pelo som de bombas de gás
riqueza de países ocidentais permitiam-nos ter lacrimogêneo enquanto os policiais franceses
uma abordagem relaxada (relaxed) à apuração tentavam conter os manifestantes.
de notícias (news gathering) na Ásia. Tome-se o
Meio século de desenvolvimento na tecnologia
caso do ex-correspondente da BBC Douglas
de comunicações transformaram a habilidade
Stuart, que foi enviado para Nova Délhi para
dos correspondentes em apurar e distribuir
cobrir a Índia em 1949. Em seu livro, A Very
notícias. Ainda assim, o trabalho elementar dos
Sheltered Life (Uma Vida Muito Abrigada),
correspondentes estrangeiros continua sndo a
Stuart descreveu o trabalho diário de um
capacidade de relatar e interpretar notícias do
correspondente estrangeiro no pós-guerra.
exterior de uma forma relevante e
“Diariamente, pela manhã, eu lia compreensível para o público doméstico4.
os jornais, marcando os trechos 4
que exigiriam maior investigação. O escritor e correspondente Ian Fleming disse o que
seriam para ele os ingredientes de um correspondente
Então, após alguns telefonemas, eu estrangeiro ideal: “Ele (sic) deve ser creditado por seu
entrava no carro ao lado do país e pelo seu jornal no exterior; ele deve ser ou solteiro
motorista, que me levava à ou estavelmente casado e feliz em ter seus filhos trazidos
assessoria de imprensa do governo junto; sua personalidade deve ser tal que nosso
indiano. Lá, eu conversava com Embaixador fique feliz em recebê-lo. Quando a ocasião
exigir, ele deve conhecer algo do protocolo e ainda assim
meus colegas dos jornais da Índia e gostar de beber com o espião mais grosseiro ou o
com os assessores de imprensa. contrabandista mais desprezível. Ele deve dominar
Juntos, nós bebíamos chá, depois completamente um idioma estrangeiro e ter outro à mão
para recorrer. Ele deve estar bem inteirado da História e
3
TUNSTALL, Jeremy. Journalists at Work; Specialist da cultura do território onde está trabalhando; deve ser
Correspondents. (Londres: Constable, 1971) págs.138- intelectualmente insaciável e ter algum conhecimento da
142. maior parte dos esportes. Ele deve saber guardar um

83
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Nos últimos três anos, eu examinei o modo questionário, pedi aos correspondentes para
como correspondentes australianos no exterior identificar suas fontes e classificá-las como
cobrem o ASEAN e a Indochina. Como parte muito úteis, de alguma utilidade ou inúteis.
desse estudo, ao longo de 1993 eu visitei Havia mais de 20 categorias à disposição deles,
Jacarta, Hanói (uma vez cada), Kuala Lumpur incluindo fontes primárias como políticos,
(duas vezes), Singapura e Bangcoc (quatro empresários e dignatários, bem como fontes
vezea cada). Passei um mês no Camboja secundárias como agências internacionais de
durante as eleições, cobrindo os repórteres notícias, revistas, emissoras de rádio e televisão.
enquanto eles trabalhavam. Mais de 40 Havia mais de 90 subcategorias para marcar.
entrevistas foram gravadas até agora com De acordo com as respostas da pesquisa, os
correspondentes expatriados, colunistas, jornalistas australianos trabalhando na Ásia
editores e executivos, produzindo mais de opressivamente favoreciam fontes ocidentais ao
40.000 palavras de transcrições. As entrevistas buscar informações sobre suas matérias sobre o
foram complementadas por um questionário de ASEAN e a China. Fontes asiáticas,
sete páginas que foi preenchido por 16 dos 19 particularmente as das Filipinas, eram
correspondentes australianos identificados. significativamente classificadas como as menos
úteis. Fontes de um único país asiático já
tinham alta probabilidade de receber baixa
Cobertura
classificação, talvez por causa da
A maior parte dos correspondentes australianos disponibilidade reduzida em outros países, mas
no exterior acreditava que a cobertura agências internacionais de notícias asiáticas
australiana sobre a região não era nem precisa com múltipla presença regional também
nem equilibrada. Os que achavam que sim, receberam nota baixa. As únicas exceções
achavam que tal cobertura era “muito fraca em foram os jornais tailandeses, a única fonte
algumas áreas” ou carecia de “profundidade”. asiática ou não-ocidental a ficar entre as 10
Outros disseram que, ainda que matérias mais.
individuais fossem bastante precisas, a
Como Douglas Stuart, meio século antes, os
cobertura em geral era seletiva e falha. Um
correspondentes australianos no exterior
entrevistado disse: “Geralmente eu acho que
atualmente dão preferência a diplomatas
fica provavelmente preciso e equilibrado o
estrangeiros, particularmente os que vêm do seu
suficiente, mas no conjunto é tão inconsistente e
próprio país. Eles ainda examinam a mídia em
esporádico que pode dar uma imagem
língua inglesa; neste caso, a Far Eastern
distorcida, principalmente por cobrir incidentes
Economic Review, rádio BBC, Radio Australia
isolados, em vez das tendências e questões em
e os principais serviços a cabo, “marcando os
desenvolvimento”5.
trechos que exigiriam maior investigação”.
Ainda assim, é muito fácil, para
O Custo da Notícia
correspondentes estrangeiros, culpar os editores
por pontos-de-vista; particularmente quando se Há muito poucos correspondentes australianos
considera de onde os correspondentes dizem no exterior, cobrindo países demais para patrões
que conseguem as matérias. Como parte do meu demais, para conseguirem acompanhar o passo
da profundidade de um repórter especialista
segredo; deve ser fisicamente forte e não ser viciado em interno6. Enquanto isso, os custos na Ásia estão
bebida. Ele deve se orgulhar do seu trabalho e do jornal
6
em que trabalha, e finalmente deve ser um bom repórter A ABC, que se gabava de ter o mais caro sistema de
com um vocabulário vasto, ligeiro na máquina de redações no Sudeste Asiático, [sought] em 1993
escrever, com conhecimento de taquigrafia e saber maximizar a produtividade de seus correspondentes
dirigir.” (FLEMING, Ian. "Foreign News". ed. Viscount exigindo que falassem tanto na televisão quanto no rádio.
Kelmsley. The Kelmsley Manual of Journalism (Londres: A revista Dateline, publicação do Clube dos
Cassell&amp;Co.,1952) pág.238.) Correspondentes da Tailândia, publicou que o repórter da
5
KNIGHT, Alan. "Re-inventing the Wheel: Australian ABC em Bangcoc, Evan Williams, teve até que operar
Foreign Correspondents in Southeast Asia". Media Asia sua própria câmera de vídeo: “Como se pode imaginar, é
(Singapura: AMIC. vol 22. nº.1. 1995) págs.9-15. um pouco difícil para uma pessoa operar uma câmera,

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

subindo, com o Japão, Hong Kong e Singapura gabinete do Primeiro-Ministro liberou recursos
já oferecendo rendas semanais mais altas do que para que pudessem ser enviados exemplares
a Austrália. Somente as empresas jornalísticas para 150 redações em toda a Austrália. Ainda
mais ricas podem sustentar correspondentes assim, o meio impresso tinha limitações óbvias;
expatriados na Ásia. Os que o fazem, precisam números de telefone ficaram desatualizados e o
garantir o retorno de cada dólar investido; custo de produzir, imprimir e distribuir edições
exigem maior produtividade, o que por sua vez atualizadas era proibitivo.
aumenta a tentação dos correspondentes de se Em 1994, o ACIJ lançou “Mastering the
basear só em fontes secundárias, deste modo Maze”, um guia para jornalistas investigativos
desmoralizando o motivo pelo qual a princípio que usassem bibliotecas, bancos de dados e
se enviam correspondentes para a Ásia. material em CD-ROM para apurar suas
matérias. De acordo com a autora, Christine
Fogg, “sangue frio, telefone e estômago forte
Alternativas
não são mais suficientes para o jornalista
O Centro Australiano para o Jornalismo profissional”8.
Independente (ACIJ em inglês) foi estabelecido
O ACIJ está atualmente desenvolvendo um
na Universidade de Tecnologia de Sydney, em
software para um sistema que vai propiciar um
1990, para realizar pesquisas e treinamento, e
serviço de Internet interativo e facilmente
ao mesmo tempo praticar jornalismo
atualizável para jornalistas cobrindo a Ásia e o
investigativo. Seu objetivo é agir como um
Pacífico9. Estes jornalistas poderão acessar o
nexo entre a universidade e a indústria;
serviço de qualquer lugar onde um computador
enriquecer o ensino de jornalismo mediante
portátil com modem seja conectável ao sistema
envolvimento profissional, e preparar
de telefonia. Eles poderão estar no Hotel
profissionais para buscar padrões mais
Cambodiana em Phnom Penh, assistindo a uma
elevados.
palestra em Jacarta ou em suas próprias mesas
Em 1992, o ACIJ formulou questões sobre a em seus escritórios em Christchurch.
cobertura de [prickly] áreas dos aborígenes e
A idéia é que repórteres possam entrar na
temas multiculturais produzindo um livro:
World Wide Web, acessar o Signposts e
“Signposts, a guide to non racist reporting”
escolher um país que gostariam de cobrir.
(Signposts, um guia para jornalismo não-
Clicando no país selecionado, o jornalista irá
racista)7. O livro continha críticas, códigos de
encontrar uma lista de capítulos, que contêm
condutas, porém mais importante eram os
informação sobre tudo de agricultura a direitos
números de contato, para que jornalistas
humanos. Nós pretendemos permitir aos
profissionais, se desejassem, poderiam
usuários cruzar referências nesses temas, de
encontrar facilmente quase qualquer entidade
modo que uma busca no tema “turismo sexual”,
aborígene ou multicultural na Austrália. O
por exemplo, forneça informações das Filipinas,
gravar som e apresentar ao mesmo tempo... Trabalho em da Tailândia, do Camboja e do Sri Lanka.
televisão leva tempo, e Evan aparenta ser a carne
8
proverbial no sanduíche burocrático enquanto lida com os FOGG, Christine. Mastering the Maze: a guide for
compromissos freqüentemente conflitantes das journalists and researchers in the media. (Sydney: ACIJ.
obrigações para com o rádio, com as exigências 1994) pág.1.
9
crescentes da televisão. Como seu cargo ainda é A Bloombergs já aplicou a tecnologia PC para se tornar
totalmente pago com o orçamento da Rádio, não é difícil o segundo maior serviço de notícias econômicas do
imaginar as longas horas e frustrações organizacionais mundo, atrás da venerável Reuters. A empresa chegou a
que são inevitáveis em qualquer tentativa de começar a essa posição em menos de uma década. A Bloombergs
satisfazer todo mundo, particularmente quando matérias estabeleceu uma rede internacional que fornece aos
regionais regularmente geram manchetes mundiais.” assinantes notícias baseadas em texto, áudio e vídeo, bem
(BOND, Christine. "Jack of all Trades"", Dateline como pesquisa interativa e serviços de e-mail. É um
Bangkok (1993) pág.18.) precursor privado do que se promete com a Internet: uma
7
EGGERKING, Kitty and PLATER, Diana. Signposts. teia mundial de interativa de intercâmbio de informação
(Sydney: Australian Centre for Independent Journalism. aberta a qualquer um com um computador moderno e um
1992). modem.

85
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Também há uma proposta para seções oportunidades para gerações emergentes em


interativas que permitiriam a publicação de rádios públicas, talvez televisões estatais e
comunicados de imprensa, a criação de um finalmente os editores que publicam
diário e o estabelecimento de um fórum de eletronicamente na própria rede.
discussão editado. Artigos de conferências Como nossos colegas jornalistas que foram
como este, que de outro modo seriam ignorados pioneiros no uso do telégrafo, dos cabos
pela mídia, podem ser rapidamente convertidos oceânicos, do telex, do telefone, do fax, do
e logados na home page, de modo que PABX e do satélite, precisamos estar
pesquisadores em qualquer lugar do mundo preparados para investigar e adotar novas
possam facilmente pesquisar e recuperar tecnologias de comunicação. Isto pode até
material. O sistema também usará hipertexto, aprimorar a credibilidade do jornalismo que os
para levar os usuários a outros sites na World próprios correspondentes acreditam estar
Wide Web onde se poderá obter mais dados. deficiente. Tom Koch, autor de “Journalism for
Isto representa uma explosão de informação que the 21st Century” (Jornalismo para o Século
deve ultrapassar de longe as fontes tradicionais XXI), acredita que bancos de dados eletrônicos
reunidas pelas práticas convencionais de oferecem uma base objetiva da qual os
apuração. pressupostos básicos do jornalismo podem ser
O Signposts para a Ásia e o Pacífico será desnudados. Koch argumenta que as
concentrado no fornecimento de telefones de perspectivas geradas destes novos recursos mais
contato, por fax e por Internet, via e-mail. O amplos levam a um nível de análise e abstração
serviço está sendo construído de forma que antes era inconcebível:
“amigável” para a maioria dos jornalistas: Talvez o maior benefício econômico a longo-
grupos de ex-correspondentes foram convidados prazo do uso crescente destes recursos
para participar em grupos de consulta que irão eletrônicos possa advir da transformação do
revisar e sugerir alterações. Pretendemos incluir noticiário como um repositório oral de
informações essenciais sobre governos, declarações oficiais para a apresentação destas
empresas de mídia, sindicatos, universidades, declarações num contexto crítico e mais
associações de imprensa, instituições de equilibrado. Até o ponto em que esta mudança
pesquisa, bancos e grupos empresariais. criar um sistema de informação pública mais
completo, mais “objetivo”, isto pode atrair
aqueles que optaram por não ler, assistir ou
Entretanto, nossa ênfase será dada aos grupos
ouvir os produtos jornalísticos nos seus
que carecem de operações substanciais de
formatos atuais.11
relações públicas mas ainda assim têm coisas
significativas a dizer; ONGs ou organizações
não-governamentais. Desta forma, esperamos Conclusão
expandir o leque de fontes que os repórteres
australianos no exterior privilegiam. O Signposts afirma os Princípios de Conduta
adotados pela Federação Internacional dos
Jornalistas podem participar pelo custo de um Jornalistas (IFJ).
computador pessoal, um modem, alguns
softwares e uma assinatura de Internet. Deste Destaca-se o primeiro princípio da IFJ, que
modo, eles poderão contribuir com a cobertura estabelece:
regional que seja menos "inconsistente e “O respeito à verdade e ao direito
esporádica". Se correspondentes estrangeiros se do público à verdade é o primeiro
mostrarem sem vontade ou incapazes de romper dever do jornalista.”12
com o que Herman e Chomsky chamaram de
“uma relação simbiótica com fontes
poderosas”10, esperamos fornecer novas mass media. (Nova York: Pantheon. 1988) pág.18.
11
KOCH, Tom. Journalism for the 21st Century: Online
10
HERMAN, Edward. CHOMSKY, Noam. Information, Electronic Databases and the News.
Manufacturing Consent; The political economy of the (Londres: Praeger. 1991) pág.310

86
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Nós acreditamos numa mídia que vise à


libertação da sociedade, inspire atos de
consciência, abrindo brechas na neblina política
e permitindo a conscientização de que é
essencial construir a ordem social através do
diálogo; um jornalismo comprometido com a
justiça, conveniente e potencializado.

Referência bibliográfica
KNIGHT, Alan.
disponível em:
[http://www.signposts.uts.edu.au/articles/Australia/Media_and_Journalism/321.html]

A notícia, nesta perspectiva, é uma construção


narrativa que permite a seres culturais cumprir
seus deveres cívicos. É um processo
hermenêutico, buscar não a profusão de
detalhes, mas a compreensão interpretativa.
Leitores e espectadores aprendem a ler o texto
sócio-político. Como uma criação simbólica, a
notícia identifica os contornos da paisagem
moral representando as delimitações de valores
ao longo das quais a comunidade humana se
forma.13
Professores de jornalismo deveriam fazer algo
além de ensinar excelência na prática
convencional. Deveríamos tentar aplicar nossa
pesquisa às novas tecnologias para explorar
métodos profissionais que nos levarão ao
próximo século. Acreditamos que o projeto
Signposts pode ter aplicação global e tem
potencial para mudar a forma como o noticiário
internacional é produzido.

12
International Federation of Journalists, Danger:
Journalists at work. (Bélgica: 1992) pág.27.
13
CHRISTIANS, Clifford, FERRE, John, FACKLER, P.
Mark. Good News: Social Ethics and the Press. (Oxford:
Oxford University Press. 1993) pág.14.

87
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Apêndices de Referência

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Editorias Brasileiras de Internacional


Cidade Veículo Responsável Telefone E-mail
Rio de Janeiro Jornal do Brasil Marcelo Ambrósio 3233-4406 internacional@jb.com.br
Website http://www.jb.com.br

Rio de Janeiro O Globo Sandra Cohen 2534-5000


Website http://oglobo.globo.com/jornal

Rio de Janeiro Globo Online Cilene Guedes 2534-9660


Website http://oglobo.globo.com

Rio de Janeiro Rede Globo Eric Hart


Website http://www.redeglobo.com.br

Rio de Janeiro Globonews J. C. Monteiro


Website http://globonews.globo.com

Rio de Janeiro O Dia


Website http://odia.ig.com.br

São Paulo Folha de S. Paulo


Website http://www1.folha.uol.com.br

São Paulo O Estado de SP Paulo Eduardo Faria 3856-2393 inter@estado.com.br


Website http://www.estado.com.br

São Paulo Veja veja@abril.com.br


Website http://veja.abril.com.br

São Paulo IstoÉ Cláudio Camargo 3618-4356 ccamargo@istoe.com.br


Website http://istoe.terra.com.br

São Paulo Carta Capital Antonio Luiz 3262-3545


Website http://cartacapital.terra.com.br

Porto Alegre Zero Hora Luciano Fernandes 3218-4345


Website http://www.zerohora.com.br

Belo Horizonte Estado de Minas 3237-5265


Website http://www.estaminas.com.br | http://www.uai.com.br/em.html

São Paulo TV Bandeirantes Priscila 3745-7710


Website

São Paulo SBT


Website

Rede TV!
Website

São Paulo TV Record 3824-7000


Website

89
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Agências Internacionais
País/Região Agência/Sigla Tipo Website
África (pan) PANA http://www.africanews.org/PANA
África do Sul SAPA http://www.sapa.org.za
Alemanha DPA http://www.dpa.de
América Latina Adital ONG http://www.adital.org.br
Arábia Saudita SPA (Saudi Press Agency) http://www.spa.gov.sa
Argélia ANA http://www.aai-online.com
Ásia (pan) Asia News Network http://www.asianewsnet.net
Austrália AAP http://aap.com.au
Áustria APA http://www.apa.co.at
Brasil AE (Agência Estado) privada http://www.agestado.com.br
Brasil Agência Brasil estatal http://www.radiobras.gov.br
Camboja AKP (Agence Khmer Presse) akp@camnet.com.kh
Canadá Canadian Press http://www.cp.org
China Xinhua, Hsinhua estatal http://www.xinhua.org
Coréia do Norte KCNA estatal http://www.kcna.co.jp
Coréia do Sul Yonhap privada http://www.yonhapnews.net
Cuba CubaPress estatal http://www.cubapress.com
Cuba Prensa Latina estatal http://www.prensa-latina.org
EmiradosÁrabes WAM http://www.wam.org.ae
Espanha EFE estatal http://www.efe.com
Estônia BNS http://www.bns.ee
EUA AP privada http://www.ap.org
EUA Bloomberg privada http://www.bloomberg.com
EUA UPI privada http://www.upi.com
Filipinas PNA http://www.pna.ops.gov.ph
França AFP (France-Presse) privada http://www.afp.com
global RSF ONG http://www.rsf.org
Haiti AHP http://www.ahphaiti.org
Holanda ANP http://www.anp.nl
Índia PTI (Press Trust of India) http://www.ptinews.com
Índia UNI http://www.uniindia.com
Indonésia Antara http://www.antara.co.id/en
Irã IRNA estatal http://www.irna.com
Itália ANSA estatal http://www.ansa.it
Japão Kyodo estatal http://home.kyodo.co.jp
Jordânia Petra estatal http://accessme.com/Petra
Líbia JANA http://www.jamahiriyanews.com
Polônia PAP http://www.pap.com.pl
Portugal Lusa http://www.lusa.pt
Reino Unido Press Association privada http://www.pa.press.net
Reino Unido Reuters privada http://www.reuters.com
Rússia Interfax privada http://www.interfax.ru
Rússia RIA Novosti estatal http://www.rian.ru
Rússia TASS (Itar-Tass) estatal http://www.itar-tass.com
Síria SANA http://www.sana-syria.com
Tailândia Thai News Agency http://www.mcot.org
Turquia Anadolu Ajansi estatal http://www.anadoluajansi.com.tr
Vietnã VNA estatal http://www.vnagency.com.vn

90
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Websites de Veículos da Mídia Estrangeira


País Nome Mídia Website
Alemanha Bild Zeitung jornal http://www.bild.t-online.de
Alemanha Der Spiegel revista http://www.spiegel.de
Argentina Clarín jornal http://www.clarin.com
Argentina La Nación jornal http://www.lanacion.com.ar
Austrália Sydney Morning Herald jornal http://www.smh.com.au
Bolívia La Razón jornal http://www.la-razon.com
Bolívia Los Tiempos jornal http://www.lostiempos.com
Chile El Mercurio jornal http://diario.elmercurio.com
Chile La Tercera jornal http://www.tercera.cl
China People’s Daily jornal http://english.people.com.cn
Colômbia El Tiempo jornal http://eltiempo.terra.com.co
Cuba Granma jornal http://www.granma.cu
Equador El Comercio jornal http://www.elcomercio.com
Espanha El Mundo jornal http://www.el-mundo.es
Espanha El País jornal http://www.elpais.es
EUA Los Angeles Times jornal http://www.latimes.com
EUA Miami Herald jornal http://www.miami.com/mld/miamiherald
EUA New York Times jornal http://www.nytimes.com
EUA USA Today jornal http://www.usatoday.com
EUA Wall Street Journal jornal http://www.wsj.com
EUA Washington Post jornal http://www.washingtonpost.com
EUA New Yorker revista http://www.newyorker.com
EUA Time revista http://www.time.com/time
EUA CNN TV http://www.cnn.com
França International H.Tribune jornal http://www.iht.com
França Le Figaro jornal http://www.lefigaro.fr
França Le Monde jornal http://www.lemonde.fr
França Le Monde Diplomatique jornal http://www.diplo.fr
França Libération jornal http://www.liberation.fr
Índia The Times of India jornal http://timesofindia.indiatimes.com
Israel Ha'aretz jornal http://www.haaretzdaily.com
Itália Corriere della Sera jornal http://www.rcs.it/corriere
Itália Corriere delle Alpi jornal http://www.corrierealpi.it
Itália Il Manifesto jornal http://www.ilmanifesto.it
Japão Asahi Shimbun jornal http://www.asahi.com
Malásia New Straits Times jornal http://www.nst.com.my
Peru El Comercio jornal http://www.elcomercioperu.com.pe/online
Portugal Diário de Notícias jornal http://www.dn.pt
Rússia Pravda jornal http://www.pravda.ru
Rússia Moscow Times jornal http://www.moscowtimes.ru
UK Financial Times jornal http://news.ft.com/home/us
UK The Guardian jornal http://www.guardian.co.uk
UK The Independent jornal http://www.independent.co.uk
UK The Sun jornal http://www.thesun.co.uk
UK BBC Brasil rádio http://www.bbcbrasil.com
UK The Economist revista http://www.economist.com
UK BBC TV http://www.bbc.com
Uruguai El País jornal http://www.elpais.com.uy
Venezuela El Universal jornal http://www.eluniversal.com

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Correspondentes Brasileiros no Exterior


País Cidade Jornalista Veículo
Alemanha Berlim Marcelo de Oliveira Zero Hora
Argentina Buenos Aires Raul Juste Lores Veja
Argentina Buenos Aires Silvana Arantes Folha de S. Paulo
Argentina Buenos Aires Ariel Palacios Globonews
Argentina Buenos Aires Janaína Figueiredo O Globo
Argentina Buenos Aires Paulo Braga Valor Econômico
China Pequim Cláudia Trevisan Folha de S. Paulo
China Pequim Gilberto Scofield, Jr. O Globo
EUA Boston Eliane Carvalho O Dia
EUA Nova York Eduardo Graça Carta Capital
EUA Nova York Jorge Pontual Globonews
EUA Nova York Osmar Freitas Jr. IstoÉ
EUA Nova York Merval Pereira O Globo
EUA Nova York Caio Blinder Rádio Jovem Pan
EUA Nova York Roberto Kovalick Rede Globo
EUA Nova York Lucas Mendes Rede Globo/BBC Brasil
EUA Washington Fabiano Maisonnave Folha de S. Paulo
EUA Washington Edgar Júnior Globonews
EUA Washington Paulo Sotero O Estado de São Paulo
EUA Washington José Meirelles Passos O Globo
EUA Washington Luiz Fernando Silva Pinto Rede Globo
EUA Washington Tatiana Bautzer Valor Econômico
França Paris Leneide Duarte Carta Capital
França Paris Deborah Berlinck O Globo
França Paris Caco Barcellos Rede Globo
Itália Roma Elisa Byington Carta Capital
Itália Roma Clóvis Rossi (enviado) Folha de S. Paulo
Itália Roma Ilze Scamparini Rede Globo
Líbano Beirute Munir Safatli Globonews
Palestina Jerusalém Marcos Losekann Rede Globo
Suíça Berna Rui Martins Correio do Brasil
Suíça Genebra Jamil Chade Folha de S. Paulo
Suíça Genebra Assis Moreira Valor Econômico
UK Londres Gianni Carta Carta Capital
UK Londres Denise Martins Correio do Brasil
UK Londres Marcos Uchôa Rede Globo
UK Londres Fernando Duarte O Globo

92
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Correspondentes Estrangeiros no Brasil


País Veículo Cidade Jornalista(s) Telefone
Alemanha Der Spiegel Rio de Janeiro Matthias Matussek* 2275-1204
Jens Glusing
Argentina Clarín Eleonora Gosman
Argentina La Nación São Paulo Luis Esnal
Espanha Agência EFE Brasília
Espanha Agência EFE Rio de Janeiro Omar Lugo 2553-6355
Eduardo Davis
Espanha Agência EFE São Paulo
EUA Associated Press Rio de Janeiro Michael Astor 2580-5066
Douglas H. Engle 2580-2309
Associated Press TV News Edmar Figueiredo 2574-4169
EUA Bloomberg News Rio de Janeiro Jeb Blount 2516-1552
EUA Chicago Tribune Rio de Janeiro Patrice Jones 2275-6173
Terry William Harris 2541-6474
EUA CNN Rio de Janeiro Marina Mirabella
CNN (em espanhol) Fabiana Frayssinet 2527-0570
EUA Los Angeles Times Rio de Janeiro Hector Tobar
Sebastian Rotella 2541-2672
EUA Miami Herald, Knight Rider Rio de Janeiro Kevin G. Hall 2542-6722
EUA New York Times Rio de Janeiro Larry Rohter 2512-8686
Mery Galanternick 2274-4196
EUA Newsweek Rio de Janeiro Mac Margolis 2286-1901
EUA Time Rio de Janeiro Andrew Downie 2512-8558
EUA Wall Street Journal Rio de Janeiro Matt Moffett 2274-7942
EUA Wall Street Journal São Paulo Jonathan Karp
França AFP (Agence France-Presse) Rio de Janeiro François Castéran 2215-0222
Aldo Gamboa
França Libération São Paulo Chantal Rayes
Itália Corriere della Sera Rio de Janeiro Rocco Cotroneo 3322-3500
Itália Il Manifesto Rio de Janeiro Maurizio Matteuzzi*
Itália La Stampa São Paulo Giancula Bevilacqua
Japão Agência Kyodo Rio de Janeiro Morihiro Fukumi 2553-5561
Noruega NRK Rio de Janeiro Arne Halvorsen 2523-3575
Portugal Agência Lusa São Paulo Ana Maria Fiori
Portugal Diário de Notícias Rio de Janeiro Sérgio Barreto Motta 2294-0787
Portugal Expresso Rio de Janeiro Iza de Salles Freaza 2259-3160
Portugal Jornal de Negócios São Paulo Bárbara Leite
Portugal Jornal de Notícias Rio de Janeiro Lúcia Souza
Portugal O Público Rio de Janeiro
Reino Unido BBC Rio de Janeiro Gideon Boulting 2507-8982
Reino Unido BBC São Paulo Steve Kingstone
Reino Unido Financial Times São Paulo Richard Lapper
Reino Unido Reuters Rio de Janeiro Leandra Câmera 2223-7126
Shasta P. Darlington 2223-7142
Nicolas G. Ferrari 2223-7139
Reino Unido The Guardian, The Observer Rio de Janeiro Alex Bellos
Reino Unido The Times Rio de Janeiro Gabriella Gamini 2265-5390
Rússia ITAR-TASS Rio de Janeiro Igor Varlamov 2430-8672
Rússia RIA Novosti Rio de Janeiro Vladimir Stepanov 2512-4729

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Entidades de Correspondentes Estrangeiros no Brasil

Associação dos Correspondentes de Imprensa Estrangeira no Brasil


Rua Senador Dantas, 105/16º andar
20031-201 – Rio de Janeiro – RJ
http://www.acie.org.br
acie@acie.org.br
Tel.(21) 3808-3382
Fax.(21) 3808-3383

Associação de Correspondentes Estrangeiros


Rua Oscar Freire, 1049/143
05409-010 – São Paulo – SP
http://www.ace.jor.br
Tel.(11) 3486-2585

Associação de Imprensa Internacional


SHIN QI. 04 – conj. 03 – casa 15 – Lago Norte
71510-230 – Brasília – DF
Tel.(61) 468-2924 | 468-1090
Tel. Secretária Genilda Lopes: (61) 322-9020
genildalopes@yahoo.com.br

94
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Sedes de Governo e de Estado de Alguns Países


País Cidade Prédio Função Website
África do Sul Cid. do Cabo Groote Schuur presidência http://www.gov.za
Alemanha Berlim Chancelaria governo http://www.bundeskanzler.de
Alemanha Berlim Schloss Bellevue presidência http://www.bundespraesident.de
Argélia Argel El Mouradia presidência http://www.el-mouradia.dz
Argentina Buenos Aires Casa Rosada presidência http://www.presidencia.gov.ar
Austrália Canberra Yarralumla gov.geral http://www.gg.gov.au
Austrália Canberra The Lodge governo http://www.pm.gov.au
Áustria Viena Palácio Hofburg presidência http://www.hofburg.at
Irã Teerã Zafaraniyeh presidência http://www.president.ir
Bélgica Bruxelas Wetstraat 16 governo http://www.belgium.fgov.be
Bielorrússia Minsk Krupenino presidência http://www.president.gov.by
Brasil Brasília Palácio do Planalto presidência http://www.planalto.gov.br
Camboja Phnom Penh Khemarindra coroa http://www.cambodia.gov.kh
Canadá Ottawa Rideau Hall gov.geral http://www.gg.ca
Canadá Ottawa 24 Sussex Drive governo http://www.gc.ca
Chile Santiago La Moneda presidência http://www.presidencia.cl
Colômbia Bogotá Palácio de Nariño presidência http://www.presidencia.gov.co
Coréia Sul Seul Casa Azul presidência http://www.cwd.go.kr
Dinamarca Copenhague Marienborg governo http://www.stm.dk
Egito Cairo Abdeen presidência http://www.presidency.gov.eg
Equador Quito Carondelet presidência http://www.presidencia.gov.ec
Espanha Madri Palacio Real coroa http://www.casareal.es
Espanha Madri La Moncloa governo http://www.la-moncloa.es
EUA Washington Casa Branca presidência http://www.whitehouse.gov
Filipinas Manila Malacañang presidência http://www.op.gov.ph
França Paris Hôtel de Matignon governo http://www.premier-ministre.gouv.fr
França Paris Palácio do Eliseu presidência http://www.elysee.fr
Grécia Atenas Mansão Máximos governo http://www.primeminister.gr
Holanda Haia Huis ten Bosch coroa http://www.koninklijkhuis.nl
Holanda Haia Catshuis governo http://www.minaz.nl
Índia Nova Délhi Race Course Road governo http://pmindia.nic.in
Irlanda Dublin Áras an Uachtaráin presidência http://www.irlgov.ie/aras
Itália Roma Palácio do Quirinal presidência http://www.quirinale.it
Itália Roma Palácio Chigi governo http://www.palazzochigi.it
Turquia Ancara Basbakanlik governo http://www.basbakanlik.gov.tr
Japão Tóquio Kantei governo http://www.kantei.go.jp
Líbano Beirute Baabda, Beit Edine presidência http://www.presidency.gov.lb
México México Los Pinos presidência http://www.presidencia.gob.mx
Moçambique Maputo Ponta Vermelha presidência http://www.mozambique.mz
Paquistão Islamabad Aiwan-e-Sadr presidência http://www.pakistan.gov.pk
Portugal Lisboa Palácio de S.Bento governo http://www.primeiro-ministro.gov.pt
Portugal Lisboa Palácio de Belém presidência http://www.presidenciarepublica.pt
Reino Unido Londres Buckingham coroa http://www.royal.gov.uk
Reino Unido Londres Downing Street governo http://www.pm.gov.uk
Rep. Tcheca Praga Hradčany presidência http://www.hrad.cz
Rússia Moscou Kremlin presidência http://www.government.ru
Venezuela Caracas Palácio Miraflores presidência http://www.venezuela.gov.ve

Nota: “Governo”, em países parlamentaristas, denota exclusivamente o gabinete de ministros chefiado pelo Primeiro-
Ministro e não inclui o chefe-de-estado (presidente ou monarca).
Parlamentos de Alguns Países
País Cidade Parlamento Tipo Website
Alemanha Berlim Bundesrat câm.alta http://www.bundesrat.de
Alemanha Berlim Bundestag câm.baixa http://www.bundestag.de

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Angola Luanda Assembléia Nacional unicameral http://www.parlamento.ao


Argentina Buenos Aires Cám. de Diputados câm.baixa http://www.diputados.gov.ar
Bélgica Bruxelas Federale Parlement ambas http://www.fed-parl.be
Bolívia La Paz Congreso Nacional ambas http://www.congreso.gov.bo
Brasil Brasília Congresso Nacional ambas http://www.camara.gov.br
(Senado Federal + Câm. (câm.alta + http://www.senado.gov.br
dos Deputados) baixa)
Canadá Ottawa Parlamento ambas http://www.parl.gc.ca
Chile Santiago Congreso Nacional ambas http://www.congreso.cl
China Pequim Congr. Nac. do Povo unicameral http://www.govonline.cn
Colômbia Bogotá Senado câm.alta http://www.senado.gov.co
Coréia Sul Seul Assembléia Nacional unicameral http://www.assembly.go.kr
Cuba Havana As. Nac. del Poder Popular unicameral http://www.cubagob.cu
Dinamarca Copenhague Folketinget unicameral http://www.folketinget.dk
Egito Cairo Conselho Shura câm.alta http://www.shoura.gov.eg
Espanha Madri Cortes Generales ambas http://www.congreso.es
Estônia Tallinn Riigikogu unicameral http://www.riigikogu.ee
EUA Washington U.S. Congress (Capitólio) ambas http://www.house.gov
http://www.senate.gov
França Paris Assemblée Nationale ambas http://www.assemblee-nationale.fr
Grécia Atenas Parlamento unicameral http://www.parliament.gr
Holanda Haia Parlement ambas http://www.parlement.nl
Índia Nova Délhi Sansad unicameral http://parliamentofindia.nic.in
Indonésia Jacarta Majelis Rakyat câm.alta http://www.mpr.go.id
Irã Teerã Majlis Shura Islami unicameral http://www.majlis.ir
Irlanda Dublin Câmara de Oireachtas unicameral http://www.irlgov.ie/oireachtas
Islândia Reikjavik Althingi unicameral http://www.althingi.is
Israel Tel-Aviv Knesset unicameral http://www.knesset.gov.il/index.htm
Itália Roma Parlamento ambas http://www.parlamento.it
Japão Tóquio Shugiin câm.baixa http://www.shugiin.go.jp
Líbia Trípoli Congr. Geral do Povo unicameral http://peoplescongress.gov.ly
Lituânia Vilnius Seimas unicameral http://www.lrs.lt
México México Senado de la República câm.alta http://www.senado.gob.mx
Peru Lima Congr. de la República ambas http://www.congreso.gob.pe
Polônia Varsóvia Sejm câm.baixa http://www.sejm.gov.pl
Portugal Lisboa Ass. da República unicameral http://www.parlamento.pt
Rep.Tchec Praga Poslanecká snæmovna câm.baixa http://www.psp.cz
Romênia Bucareste Câmera Deputatilor câm.baixa http://www.cdep.ro
Rússia Moscou Duma câm.baixa http://www.duma.gov.ru
Suécia Estocolmo Riksdagen unicameral http://www.riksdagen.se
Tailândia Bangcoc Parlamento unicameral http://www.parliament.go.th
Turquia Ancara Grande Ass. Nacional unicameral http://www.tbmm.gov.tr
Ucrânia Kiev Verkhovna Rada unicameral http://www.rada.gov.ua
UK Londres Parliament ambas http://www.parliament.uk
Uruguai Montevidéu Cám. Representantes câm.baixa http://www.parlamento.gub.uy
Venezuela Caracas Asamblea Nacional unicameral http://www.asambleanacional.gov.ve
Vietnã Hanói Assembléia Nacional unicameral http://www.na.gov.vn

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Outros websites úteis


Sinopse da Mídia Internacional
http://www.presidencia.gov.br/secom/sinopses
Clipping oficial do Palácio do Planalto com o que se publica sobre o Brasil no exterior.

Seleção Diária de Notícias


http://www.mre.gov.br/portugues/imprensa/noticias.asp
Clipping oficial do Itamaraty com o noticiário internacional dos principais jornais brasileiros e com as
matérias de destaque nos principais jornais estrangeiros.

Revista Foreign Affairs


http://www.foreignaffairs.org
Publicação norte-americana sobre política externa e diplomacia.

Third World Media Journal


http://journal.twmn.org
Site de destaques da cobertura da mídia em países do Terceiro Mundo

Rulers of the World


http://www.rulers.org
Cronologia de todos os governantes de quase todos os países do mundo desde a Idade Moderna
até atualmente. Atualização constante.

Nation Master
http://www.nationmaster.com
Gráficos e Estatísticas Personalizáveis (e atualizadas)

Governments in the WWW


http://www.gksoft.com/govt/en
Diretório de sites oficiais e outros links de referência sobre política, relações internacionais, mídia e
direitos humanos

97
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Cronologia da Formação da Mídia Internacional


1041 – Invenção do tipo móvel na China. 1851 – Fundação do New York Times. O
1440 – Invenção da prensa por Gutenberg. alemão Julius Reuter funda a agência Reuters.
1605 – Primeira publicação periódica regular 1858 – Primeiro despacho transatlântico por
(semanal) aparece: o Nieuwe Tijdinghen, na telégrafo, enviado pela AP.
Antuérpia.
1861 – Início da Guerra de Secessão dos EUA.
1609 – Fundação do Relation e Avisa Relation Repórteres e fotógrafos recebem credenciais
oder Zeitung, primeiros periódicos em alemão. para cobrir o conflito. Desenvolvem o lead para
1615 – Surge o Frankfurter Journal, primeiro assegurar que a parte principal da notícia
periódico jornalístico, também semanal. chegará à redação pelo telégrafo. Jornais dão
primeiras manchetes com novidades da guerra.
1622 – Fundado o Weekly News, em Londres.
Pacto entre 12 oficinas de impressão inglesas, 1871 – The Guardian, de Manchester, é o
holandesas e alemãs determina intercâmbio primeiro jornal a enviar correspondentes para
sistemático de notícias. dois lados de uma guerra (Franco-Prussiana).
1638 – O Weekly News é o primeiro jornal a 1874 – Comunicação por telégrafo liga o Brasil
publicar noticiário internacional. à Europa; começam a chegar despachos de
agências internacionais ao país.
1641 – A Gazeta, primeiro jornal em Portugal.
1889 – Invenção do linotipo.
1665 – Journal de Savants, na França, primei-
ra revista, em estilo almanaque. 1892 – Forma-se a United Press International.
1690 – Primeiro jornal das colônias britânicas 1903 – Primeira transmissão de rádio
(futuros EUA) é publicado em Boston: Publick transatlântica, por Marconi.
Occurrences, Both Foreign and Domestick. 1915 – Fundação da agência Transocean, para
1729 – Nasce o Pennsylvania Gazette, de cobrir a I Guerra Mundial na Europa.
Benjamin Franklin, primeiro jornal a se manter 1919 – Surge o New York Daily News, primeiro
com renda publicitária. São fundados a Gaceta jornal em formato tablóide.
de Guatemala e Las Primicias de la Cultura de
1927 – Criado o primeiro cinejornal, o Fox
Quito, primeiros jornais latino-americanos.
Movietone News, com o uso do som.
1743 – Primeiro jornal diário da América:
1949 – Três agências alemãs se unem para
Gaceta de Lima.
formar a Deutsche Presse-Agentur (DPA).
1785 – Começa a circular o Times de Londres.
1951 – Invenção do videotape.
1833 – Fundado o New York Sun, primeiro
1962 – Entra no ar o Telsat I, primeiro satélite de
jornal “popular”, vendido a um cent.
telecomunicações para a mídia.
1835 – Charles Havas funda a primeira agência
1969 – Transmissão da chegada da missão
de notícias, a Havas (hoje AFP).
Apolo II, dos EUA, à Lua.
1844 – Samuel Morse inventa o telégrafo.
1972 – A revista Life deixa de ser publicada.
1847 – Primeira rotativa começa a funcionar,
1980 – Começam as transmissões da CNN.
nos EUA. Em 1848, o Times de Londres cria
rotativa que imprime 10 mil exemplares/hora. 1992 – Chegam ao Brasil os canais internacionais
de TV por assinatura e a Internet comercial.
1848 – Jornais de Nova York se juntam para
formar a Associated Press durante a guerra dos 2001.setembro.11 – Transmissão ao vivo do
EUA contra o México. maior atentado terrorista da História

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

Fatos marcantes na pauta de Internacional em 2004.2


Julho
• Crise humanitária em Darfur, sudoeste do Sudão
• Protestos de colonos israelenses contra o Plano de Desligamento Unilateral

Agosto
• Incêndio em supermercado em Assunção (Paraguai) mata mais de 400 pessoas
• Jogos Olímpicos em Atenas
• Roubo do quadro “O Grito”, de Edvard Munch
• Queda simultânea de dois aviões russos (suspeita de atentado checheno)
• Protestos massivos contra Bush em Nova York
• Referendo na Venezuela sobre revogação do mandato de Hugo Chávez

Setembro
• Seqüestro, Cerco e Massacre na escola em Beslan, Ossétia do Norte, Rússia
• Polêmica sobre proibição da Caça à Raposa no Reino Unido
• Temporada de furacões no Caribe e sul dos EUA
• Vôo inaugural da nave SpaceShipOne

Outubro
• Atentado contra turistas israelenses na Península do Sinai (Egito)
• Eleições no Afeganistão: Hamid Karzai eleito
• Plebiscito na Bielorrússia
• Assinatura da Constituição Européia, em Roma
• Tabaré Vázquez é eleito presidente do Uruguai

Novembro
• Eleições presidenciais nos EUA: Bush reeleito
• Morte de Yasser Arafat
• Conflitos entre tropas francesas e governistas na Costa do Marfim
• Explosão em mina de carvão na China mata mais de 150 pessoas

Dezembro
• Crise política na Ucrânia; repetição do segundo turno
• Criação da Comunidade Sul-Americana de Nações
• Terremoto e maremoto no Oceano Índico causa cerca de 300.000 mortes
• Incêndio em boate em Buenos Aires deixa 192 mortos

O que NÃO foi destaque


• Sucessão do trono no Camboja
• Derrota eleitoral do governo canadense (após 11 anos no poder)
• Troca de governo em Singapura (após 14 anos do mesmo governo)
• Atentado contra comício da oposição em Bangladesh
• Vitória eleitoral do governo australiano
• Governo de transição na Somália
• Troca de governo (militar) na Birmânia
• Primeira eleição direta para presidente na Indonésia
• Inauguração do Taipei 101, o edifício mais alto do mundo, em Taiwan

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