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Escola de Comunicação
Curso de Comunicação Social
habilitação em Jornalismo
Apostila
2005.1
Jornalismo Internacional
(Sistemas Internacionais de Informação)
ECA470
com monitoria do
Programa de Educação Tutorial da Escola de Comunicação da UFRJ (PET-ECO)
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Índice
Créditos ......................................................................................................... 2
Ementa ......................................................................................................... 3
Objetivos ......................................................................................................... 3
Avaliação ......................................................................................................... 3
Programa ......................................................................................................... 4
Bibliografia ......................................................................................................... 5
Textos auxiliares
“Jornalismo Internacional” – definição da Wikipedia, a enciclopédia livre .................... 6
“O Jornalista Brasileiro e a Nova Ordem Mundial da Informação e da Comunicação” ...... 8
Guy de Almeida
“A Batalha no Mundo” (Fluxo de Informação e Pauta de Internacional) ....................... 12
Clóvis Rossi
“Olhai (direito) pra nós!” (Jornalismo Internacional Alternativo) ................................. 15
J.P. Charleaux
“Lula, o Bin Laden do Reverendo Moon” (Mídia Conservadora dos EUA) ....................... 20
Joel Conrado
“A Grande Matéria: Washington, as Nações Unidas, o Mundo” ................................... 25
John Hohenberg
“Meio Século de Memórias” (História do Fotojornalismo Internacional) ....................... 39
John Morris
“Os Atacadistas de Notícias” (Agências Internacionais de Notícias) ............................ 43
John Hohenberg
“Jornalismo Internacional, Correspondentes e Testemunhos sobre o Exterior” ............. 49
Guillermo García Espinosa de Los Monteros
“Do Outro Lado do Mundo” (Trabalho do Correspondente Internacional) .................... 55
Fritz Utzeri
“O Fim de uma Era” (Correspondentes Internacionais da TV Globo) ............................ 62
Antônio Brasil
“Crise na Cobertura Internacional” ......................................................................... 65
Antônio Brasil
“Cobertura Internacional é para gente grande” ....................................................... 67
Cristiana Mesquita
Cobertura Brasileira sobre Guerras ......................................................................... 70
Jayme Brener
“Jornalismo sem Fronteiras” (História da CNN) ....................................................... 72
Sidney Pike
“Em Directo da Guerra: o impacto da Guerra do Golfo no discurso jornalístico” ............. 79
José Rodrigues dos Santos
“A Internet e o Futuro do Jornalismo Internacional” .................................................. 83
Alan Knight
Apêndices de Referência
Editorias Brasileiras de Internacional 89
Agências Internacionais (telefones/contatos das que atuam no Brasil) 90
Websites de Veículos da Mídia Estrangeira 91
Correspondentes Brasileiros no Exterior 92
Correspondentes Estrangeiros no Brasil 93
Sedes de Estado e de Governo de Alguns Países 95
Parlamentos de Alguns Países 96
Outros websites úteis 97
Cronologia da Formação da Mídia Internacional (Veículos e Agências) 98
Fatos marcantes na pauta de Internacional no semestre anterior 99
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Créditos
Docente
Prof. Dr. Mohamed ElHajji
Monitores
Anna Virginia Baloussier Ancora da Luz
Fábio Savino
Lucas Travassos Telles
Pedro Aguiar
Rafael Moura Vargas
Suzana Corrêa Barbosa
Editoração da Apostila
Anna Virginia Baloussier Ancora da Luz
Pedro Aguiar
Rafael Moura Vargas
Projeto Gráfico
Pedro Aguiar
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Ementa
O jornalismo como intérprete das questões globais. O discurso jornalístico sobre fatos
internacionais. Distanciamento e identificação. O noticiário de política internacional. Agências de
notícias, correspondência internacional e correspondência de guerra. Pauta, apuração, redação e
edição em Jornalismo Internacional.
Objetivos
1. Apresentar as questões globais, antigas e contemporâneas, como objeto do trabalho jornalístico.
Discutir em que medida essas questões traduzem e/ou afetam nossa realidade.
2. Introduzir os principais elementos, aspectos e personagens da política internacional, discutindo
os papéis que efetivamente têm e a sua representação cotidiana no noticiário.
3. Apresentar a prática do Jornalismo Internacional; as funções, os locais e as possibilidades de
trabalho nesta área. Se possível, realizar visitas aos locais onde se exerce.
4. Debater temas contemporâneos da geopolítica e da política internacional, a partir de exemplos
da mídia.
Avaliação
1. Seminário (em grupo)
2. Reportagem e/ou ensaio sobre determinada questão de noticiário internacional
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Programa
1. Jornalismo e Questões Globais
1.1. Definição e Gênese. Jornalismo Internacional como produto do industrialismo do século XIX.
Primeiras coberturas de guerra (Criméia, Secessão, guerras imperialistas, Primeira Guerra
Mundial).
1.2. O Discurso da Mídia e os Fatos Internacionais. A visão de mundo que a mídia transmite. O
etnocentrismo na imprensa estrangeira. Fluxo de informação.
1.3. Teorias da Globalização e suas influências no Discurso Midiático (Fukuyama, Huntington,
Negri, etc.).
1.4. Hegemonia e Alteridade. O olhar do outro anulado pela mídia hegemônica. Distanciamento x
Identificação: o regional interessa mais que o estrangeiro?
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Bibliografia básica
BARBER, Benjamin. “Jihad x McMundo”, Rio de Janeiro, Record, 2003
BAUMAN, Zygmunt. “Globalização: as Conseqüências Humanas”, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1999
CANCLINI, Néstor García. “Consumidores e Cidadãos: conflitos multiculturais da globalização”, Rio
de Janeiro, EDUFRJ, 1999
DIZARD JR., Wilson. “A Nova Mídia”, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2000
HUNTINGTON, Samuel. “Choque de Civilizações”, Rio de Janeiro, Objetiva, 2001
NATALI, João Batista. “Jornalismo Internacional”, São Paulo, Contexto, 2004
NEGRI, Antonio & HARDT, Michael. “Império”, Record, 2001
PEREIRA, Marcelle Santana Gonçalves. “Os Últimos Românticos: sobre correspondentes da
imprensa brasileira no exterior”, Monografia de conclusão de curso, Niterói, IACS, 2001
ROSSI, Clovis. “Enviado Especial: 25 anos ao redor do mundo”, São Paulo, Senac, 1999
TODD, Emmanuel. “Depois do Império”, Record, 2003
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Jornalismo Internacional
Verbete da Wikipedia, a Enciclopédia Livre, 2005
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Jornalismo_Internacional)
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
seja, ele mesmo define sobre o que irá escrever, século XIX, com o envio de repórteres europeus
o que irá apurar, que assuntos vai selecionar. O e norte-americanos para conflitos como a
correspondente deve ter conhecimento profundo Guerra da Criméia, Guerra do México, Guerra
da realidade local e um talento discricionário do Ópio, Guerra de Secessão dos EUA, Guerra
elevadíssimo para identificar os fatos mais do Paraguai e Guerra Hispano-Americana.
relevantes no país onde trabalha e ao mesmo Entretanto, antes mesmo já havia os chamados
tempo interessantes para seu país de origem. "cronistas de guerra", que produziam relatos
Já o Enviado Especial é um repórter expatriado sobre os conflitos - sem que houvesse, na
com um tema previamente definido para cobrir época, técnicas de produção jornalística. O
ou investigar (uma guerra, uma crise, uma general romano Júlio César, por exemplo,
epidemia etc.). Diferente do correspondente, o escreveu crônicas de guerra em seu diário De
enviado especial pode produzir uma única Bello Galico. A diferença para os
matéria, se for o caso, ou uma série, sem correspondentes modernos é que estes são
necessidade de envio regular de produção. enviados especificamente para cobrir conflitos
Normalmente, o enviado especial é selecionado para um veículo determinado (jornal, TV, rádio,
entre os profissionais da redação por ter maiores revista etc.).
conhecimentos sobre o tema ou o lugar dos O correspondente de guerra pode ficar baseado
fatos. Muitas vezes, o enviado passa poucos numa cidade perto da zona de conflito (por
dias no local e retorna à sede logo em seguida. haver mais infraestrutura e acesso a
Quando jornalistas trabalham no exterior sem comunicação com a redação da sede) ou ir
vínculos fixos com veículos de imprensa ou em direto para o front de combate, se as condições
regime de prestação de serviço, são chamados e os militares permitirem. Tecnologias de
de Stringers. Estes são mais comuns em locais comunicação recentes, como a internet,
onde a mídia não acha tão interessante ou permitiram maior mobilidade ao correspondente
compensatório manter um correspondente fixo, de guerra, já que ele agora pode enviar textos,
como em países do Terceiro Mundo. Stringers sons e imagens de praticamente qualquer ponto
geralmente produzem matérias para várias do mapa, incluindo o campo de batalha. O
empresas diferentes ao mesmo tempo. trabalho é de altíssimo risco, mas cada
informação obtida tem valor igualmente alto.
Correspondência de Guerra
Correspondentes de guerra estão entre as
O trabalho de Correspondente de Guerra maiores vítimas de casualidades (mortes por
propriamente dito surgiu na segunda metade do assassinatos ou acidentes) entre jornalistas.
O QUE É A WIKIPEDIA
A Wikipedia é uma enciclopédia online de conteúdo livre, o que significa que qualquer usuário pode editar os
verbetes, alterando o que quiser, sem nenhum tipo de controle ou censura. Isso também significa, por outro lado,
que pode haver erros ou opiniões e ideologias embutidos nos textos e, nestes casos, a redação final fica a cargo
do senso-comum.
8
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Texto I
O Jornalista Brasileiro e a Nova Ordem Mundial da Informação
e da Comunicação
Guy de Almeida, 1980
9
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
10
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
é importante realçar também o aspecto da de cada país, impedem evidentemente dar uma
demanda crescente de especialização, seu resposta afirmativa ou negativa a esta questão".
aperfeiçoamento, readaptação, atualização e/ou 8- A co-gestão editorial, como um caminho
reciclagem quando já em exercício, devido à para a participação nas decisões importantes e
evolução constante do mundo da comunicação, como um instrumento de democratização da
como ocorre agora, por exemplo. profissão na empresa (pública ou privada),
Esse ponto tem particular relevância, por incluindo, para isso, a intervenção do jornalista
exemplo, no que se refere ao próprio tratamento na formulação e na execução da política
dado à informação internacional na imprensa editorial.
dos países em desenvolvimento. Várias 9. As normas de conduta profissional, mediante
pesquisas mostram que o responsável por este o estabelecimento de Código Deontológico (ou
setor muitas vezes, por carências de formação, de ética) com a definição das responsabilidades
não dá um aproveitamento mais adequado ao e deveres do jornalista profissional.
material informativo disponível por
desconhecer as'circunstâncias e antecedentes 10. O estabelecimento de Conselhos de
que cercam determinados acontecimentos e sua Imprensa ou de Comunicação nas redações,
importância para o país ou por estar com o prévio exame dos vários modelos e
incapacitado para examinar criticamente o experiências já observados no mundo.
material recebido das agências. Produzem-se, 11. O direito de resposta e de retificação,
então, supressões, cortes, falta de fundamental, pois, como também assinala o
enriquecimento do material com dados Relatório MacBride, "em nosso mundo instável,
adicionais para melhor ilustração do leitor, etc. uma falsa notícia pode'provocar distúrbios,
Quanto a este aspecto, vale estar atento para a suscitar ou reforçar os conflitos sociais,
possibilidade de uma crescente presença nas desalentar ou inclusive acelerar os
redações de especialistas (cientistas políticos, investimentos e ir em detrimento da confiança
economistas, etc.) não apenas como. que depositam em um dado país os demais".
colaboradores-articulistas, mas também para Nessa amostragem geral e sintética, merece
suprir deficiência do pessoal de redação, uma referência especial a necessidade de uma
particularmente em publicações que já se reflexão profunda e permanente do jornalista
preocupam com maiores níveis de interpretação profissional sobre o seu papel ante o receptor da
do acontecimento. informação. Isto é: tem-se observado em todo o
5. A definição e garantia dos direitos do mundo um crescente exercício crítico do
jornalista como, por exemplo, o de buscar uma profissional ante o caráter da empresa
informação sem obstáculos e transmiti-la sem jornalística pública ou privada e o seu
perigos, o direito de omitir livremente as suas predomínio político e/ou econômico sobre a
opiniões, etc. criatividade, a responsabilidade informativa e o
sentido ético do profissional. Mas apenas
6. O estabelecimento de um estatuto ou normas começa o exame do papel do receptor de
de proteção ao jornalista, não apenas no aspecto informação (leitor, radioouvinte ou
físico, mas também no da independência e da telespectador) no processo de produção do meio
integridade profissional de todos que intervêm de comunicação seja sob o ponto de vista da
no trabalho de coleta e difusão de notícias. empresa, seja sob o ponto de vista do jornalista
7. A regulamentação da profissão, tema cercado profissional.
de argumentos contraditórios. O Relatório Final Estes dados preliminares são importantes para
da Comissão MacBride, por exemplo, chega a que o jornalista profissional possa entender com
assinalar que o "pluralismo dos sistemas mais clareza a relevância das informações que
econômicos e sociais que caracterizam p se seguem sobre os esforços realizados para o
mundo, assim como as necessidades específicas desenvolvimento do debate em torno do
11
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Referência bibliográfica
FENAJ, “O Jornalista e a Luta por uma Nova Ordem Mundial da Informação e Comunicação”, Série
Documentos da FENAJ, vol.III, Brasília: FENAJ, 1983, págs.6-16
PONTOS DE DISCUSSÃO:
• O texto é do início dos anos 1980. Desde então, a situação do fluxo mundial de informações
alterou-se significativamente?
• Que tipos de iniciativas ajudariam a equilibrar (ou até reverter) o fluxo de mundial de informações?
12
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Texto II
A Batalha no Mundo
(Fluxo de Informação e Pauta de Internacional)
Clóvis Rossi, 1980
13
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
agências é o seu domínio quase absoluto do Basta atentar para o seguinte: ao se iniciar a
mercado: um estudo realizado em 1967 década de 90, vários países latino-americanos
demonstrou que quase 80% das notícias do decidiram seguir uma política econômica
Exterior divulgadas na América Latina foram parecida, assentada na liberalização da
distribuídas tão-somente por duas agências, economia e na sua abertura ao mundo, entre
ambas norte-americanas, a UPI e a AP. várias outras semelhanças. É natural que
interesse ao leitor brasileiro saber como vai
O problema não é apenas de volume: esse
indo a experiência de cada um dos países
virtual monopólio confere às notícias
vizinhos ou próximos, até para poder perceber o
divulgadas pelas agências um tal peso, inclusive
que pode eventualmente acontecer de parecido
no interior de cada redação brasileira, que elas
no seu próprio país.
se sobrepõem às notícias produzidas por fontes
próprias das publicações brasileiras. É pouco provável que as agências
internacionais, cujas atenções estão
(...)
concentradas no mundo desenvolvido, dêem
Se o papel das agências internacionais é tão conta adequadamente desse tipo de cobertura.
poderoso, no mundo todo, no caso específico da Logo, acompanhar melhor a América Latina
América Latina — subcontinente que deveria não é um problema de combater uma suposta
nos interessar mais de perto, pela proximidade e “informação imperialista” mas um problema
semelhança de problemas — a questão se torna simples de saber, mais depressa e com mais
ainda mais grave: a grande maioria das profundidade, o que está acontecendo “perto da
publicações brasileiras parece pautar seu minha casa”.
enfoque, em assuntos internacionais, por aquilo
É óbvio que o ideal seria que cada veículo
que interessa a The New York Times ou Le
dispusesse de um correspondente em cada
Monde, e não pelos interesses nacionais
capital relativamente importante do mundo,
brasileiros. Essa deformação se torna evidente
mas, quando não se acompanha diretamente o
pela simples conferência do número de
que acontece na esquina de casa, fica difícil
correspondente que as publicações brasileiras
entender uma cobertura tão ampla em pontos
têm na Europa Ocidental e nos Estados Unidos,
tão distantes.
de um lado, e na América Latina, de outro.
A atenção ao que ocorre nas vizinhanças,
Em 1990, havia apenas cinco correspondentes
entretanto, não pode impedir que o jornalismo
de meios de comunicação brasileiros na
brasileiro olhe cada vez mais para o mundo
América Latina: da Folha, Estado, Globo,
todo. Hoje, a globalização da economia é
Jornal do Brasil e Gazeta Mercantil, todos
tamanha, as telecomunicações tornaram o
baseados em Buenos Aires. Nenhuma emissora
mundo tão “pequeno”, que tudo, a rigor, passou
brasileira de televisão tem correspondentes na
a ser doméstico, de alguma maneira.
América Latina.
(...)
Esse é um território em que se viola uma das
primeiras lições que se aprende no primeiro ano Não se inventou ainda nada que substitua a
de qualquer faculdade razoável de jornalismo, visão peculiar de cada país sobre os
qual seja a de que o que acontece perto de acontecimentos mundiais. Um brasileiro
minha casa é mais importante do que o que certamente olhará a Espanha, digamos, de uma
acontece a quilômetros e quilômetros de maneira que um espanhol não consegue ou um
distância. americano tampouco.
Ora, o “perto de minha casa”, para o Brasil, é a Esse fato implica maiores desafios para o
América Latina, gostemos ou não. Por jornalista. Se já é difícil e complicado entender
fatalidade geográfica, o Brasil fica na América o Brasil, mais difícil e complicado é entender
Latina e não pode escapar dessa fatalidade. Não outros países. Mas é igualmente inevitável.
se trata, portanto, de uma questão ideológica.
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Referência bibliográfica
ROSSI, Clóvis. “O que é jornalismo”, São Paulo, Brasiliense (Coleção Primeiros Passos), 2000, 10ª
edição, págs.78-87
PONTOS DE DISCUSSÃO:
• Facilidades econômicas para os veículos; sai mais barato contratar serviços de agências em vez de
manter pessoal expatriado
• Credibilidade das agências é reforçada por questão da proximidade: “eles estão lá; nós não” e “se o
mundo todo deu, por que nós não?”. Isso é mito?
• A Agência EFE vem tentando preencher essa lacuna na cobertura da América Latina pelas
agências internacionais, facilitada em muito pelo idioma espanhol e contratando jornalistas locais
para cobrir os países latino-americanos. Isto é suficiente?
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Texto III
Olhai (direito) pra nós!
(Jornalismo Internacional Alternativo)
João Paulo Charleaux, 2001
Índios, negros, mulheres, sem-terra, pequenos Ele lembra que o caso mais recente foi o da
agricultores, seringueiros, líderes comunitários, comemoração dos 500 anos, “a polícia batendo
sindicalistas e sem-teto. A quem interessa tratar em índios foi uma coisa fortíssima e é claro que
desses temas com seriedade? Quem consegue isso rendeu muita notícia ruim na Europa”. A
olhar com lupa os países do Terceiro Mundo? radio italiana onde trabalha Del Roio conta com
As grandes agências internacionais dizem que correspondentes fixos em Paris, Londres,
não, o assunto não é com elas. Reuters, France Berlim, Nova Iorque e Cairo, que produzem
Presse e companhia já provaram ter as antenas uma cobertura alternativa às grandes empresas.
conectadas com pautas grandes, manchetes No Brasil, a colunista da Folha de S. Paulo
fortes e assuntos nem sempre edificantes para Eliane Catanhêde engrossa o coro de críticas à
os países pobres. Isso se deve à natureza de seu cobertura das grandes agências e não usa meias
trabalho, seu público alvo e seus interesses. palavras para avaliar o trabalho dos jornais
Há ainda muitos que se dispõem a cobrir o estrangeiros na cobertura de “Brasil”. “Quando
Brasil apostando na fórmula folclórica da morei quase um ano na Itália, em 1991, a
"desgraça social/futebol/carnaval", ou nas imprensa européia praticamente só publicava o
notícias econômicas de interesse para o lado exótico ou cruel do Brasil: mulatas,
investidor estrangeiro. Mas, em ambos os casos, bundas, violência, menor abando-nado, descaso
falta espaço para histórias humanas e situações com a Amazônia. E isso era em pleno governo
nem sempre decifráveis à primeira vista Collor, com a política pegando fogo, a
forasteira. Assuntos que não abalam cúpulas de economia girando, a abertura come-çando.
governo nem derrubam bolsas de valores, mas Nada do que era sério interessava”.
são fundamentais na vida de milhões de Por outro lado, o colunista Clóvis Rossi, colega
pessoas. São histórias que precisam ser vistas de Catanhêde na Folha de S. Paulo, diz que em
de perto, com vagar e atenção; adjetivos nem geral “discorda de generalizações, que
sempre compatíveis com o ritmo de trabalho empobrecem a análise”. Ele acha difícil
das grandes redações ao redor do mundo. concordar com a tese de que o Brasil é mal
É nesse espaço que se encaixam as agências tratado pela mídia internacional sem uma
cidadãs. Ligadas a ONGs internacionais, observação mais profunda do assunto. “Seria
fundações beneficentes, associações e preciso examinar caso a caso, o que é trabalho
confederações de todo tipo, elas garantem estar para pesquisadores, não para jornalistas”.
chegando ao mercado com capacidade e
disposição para encarar a realidade com um
"enfoque social". Elas esperam acabar de vez Um periscópio para cobertura internacional
com estigma de que países pobres só entram na Apesar de ninguém conhecer nenhuma grande
editoria internacional pela porta dos fundos. pesquisa ou grande censo sobre o assunto, há
um lugar que pode servir de termômetro
importante nessa questão. No endereço
“Seja mal-vindo” www.globalpress.com.br é colocada
“Seria preciso uma pesquisa profunda, mas eu diariamente a coletânea das reportagens e
me arriscaria a dizer que em 70% das notícias, artigos sobre o Brasil ao redor do mundo. A
o Brasil aparece mal na mídia internacional”, responsável pelo trabalho é a jornalista Anna
diz o historiador e jornalista brasileiro José Luiz Lúcia Carneiro, que já trabalhou para a agência
Del Roio, da Radio Popolare de Milão, na Itália. americana UPI (United Press International) e
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
para a alemã, DPA (Deutsche Press-Agentur). que o Brasil é visto de forma folclórica pelas
Ela diz que "em economia, as reportagens têm grandes agências é normal em sua opinião,
sido mais sérias, principalmente depois da crise afinal, “dói muito mais quando falam da gente e
das bolsas e da recuperação. Outro assunto que não do país vizinho”. O jornalista argentino
dá boas notícias é a música brasileira, eles pode estar certo com relação à cobertura da
acompanham muito bem e muitas vezes melhor France Presse, mas, em outros casos, o vizinho
que nós mesmos." diz sofrer de dor no mesmo calo.
A dose de exagero tem ficado por conta da Os países que falam a língua portuguesa são um
cobertura dada ao MST (Movimento Sem- bom exemplo. No Brasil, pouco ou nada se sabe
Terra). Anna observa que as publicações sobre o que acontece em Angola, Cabo Verde,
acabam muitas vezes carregando nas cores com Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e
que pintam esse quadro. O mais exagerado dos Príncipe, Timor-Leste, ou mesmo Portugal.
jornais estrangeiros, nesse caso, é o The “Ninguém aqui sabe o que está acontecendo em
Guardian, da Inglaterra. “Eles dizem coisas lugares de infinitas semelhanças com o Brasil”,
como ‘é imprevisível, tudo pode acontecer no diz o jornalista Jorge Manuel Rama-lho, que
Brasil, com esse movimento dos sem-terra”. nasceu em Portugal, viveu 30 anos em Angola e
está no Brasil há 20. “Os jornais brasileiros não
Essas e outras notícias “curiosas” poderão em
falam dos países da CPLP (Comunidade de
breve ser pesquisadas com maior exatidão no
Países de Língua Portuguesa) e não é porque
site da Global Press. A empresa ensaia uma
não há notícias”, diz Ramalho que chegou a
parceria com a E-Clipping, produtora de
protagonizar uma experiência quase quixotesca
clippings direcionados a empresas a partir da
com A Gazeta de Angola, que circulou no Rio
observação dos jornais brasileiros. A página,
de Janeiro entre 1991-92.
que já conta com uma média de cinco mil
acessos diários, deverá receber ainda mais Por um ano o jornalista tentou colocar o país na
visitas depois que tiver implantado seu sistema pauta do dia dos brasileiros com essa pequena
de busca por palavras-chaves. publicação. O plano de Ramalho mostrou-se
pretensioso demais, o jornal angolano/brasileiro
acabou fechando e o país “primo” do Brasil
Um dos outros lados amarga um anonimato forçado até hoje. Depois
De onde olha o jornalista argentino Aldo da aventura, o jornalista português descobriu
Gamboa, no entanto, a visão é diferente. Ele que há outros culpados nesse jogo que põe os
está no Brasil há 12 anos e é correspondente da países pobres para escanteio.
France Presse no Rio de Janeiro desde 1997. Na Um dos carrascos nos anseios de Ramalho foi o
sua redação, as laudas circulam fartas em próprio consulado angolano no Brasil. Lá, ele
recheio econômico, esportivo, político, pôde ver que não existiam releases nem
ecológico e, mais recentemente, Mercosul. materiais de assessoria voltados para a
Gamboa acha que as grandes agências estão imprensa. “Quem vai querer cavar notícias de
voltadas para grandes assuntos, grandes Angola se nem o consulado divulga nada?”
manchetes e que, por isso, “as agências cidadãs
tem um papel importante a desempenhar num
espaço que está aí e que precisa ser ocupado.” Novos ventos
Ele sabe que o trabalho da France Presse e das O principal elemento de contraponto nesse
agências cidadãs não são concorrentes, mas cenário é o trabalho das pequenas agências, as
podem ser complementares. chamadas agências cidadãs, ou de enfoque
Gamboa avalia que o tratamento dado ao Brasil social. Um dos fatores importantes na
e a outros países subdesenvolvidos está viabilização delas é a Internet. A nova mídia
melhorando. “Acontecimentos como o caso possibilitou a apuração da notícia e sua
Collor ajudaram muito a atrair atenções e distribuição numa velocidade antes
melhorar o nível da cobertura.”. A sensação de inimaginável. Além disso, o custo de
17
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
funcionamento de agências menores caiu muito, Latina, Caribe e Europa. Eles abastecem
substituindo o preço de ligações internacionais e diariamente a central da Agência, sediada em
remessas postais para o exterior por chamadas Quito, no Equador. De lá, esse noticiário é
telefônicas locais no acesso à rede e envio de e- distribuído aos assinantes através de internet,
mails em apenas alguns segundos. com texto e som em formato MP3. Através do
endereço www.pulsar.org.ec, o leitor assina
Além de representar um barateamento do
gratuitamente esse serviço e recebe, em tempo
processo, essas novas tecnologias encurtaram a
real, boletins diários, análises, comentários,
distância entre os maus e bons produtos.
resumos semanais e reportagens em texto e em
Qualquer jornalista de agência do interior mais
áudio especialmente editados para rádios.
longínquo e inacessível pode trabalhar em
condições técnicas semelhantes aos das grandes "Os intercâmbios de programas gravados em
empresas de comunicação, desde que esteja fita cassete, sempre chegavam tarde ou muitas
conectado à internet. Agências de notícias como vezes se perdiam no correio," explica o
a InterWorld Radio (www.interworldradio.org), jornalista venezuelano, Andrés Cañizález,
com sede em Londres, na Inglaterra, distribuem diretor da Pulsar. "Dificilmente poderia se falar
matérias para rádio pela internet. A qualidade de notícias quentes com o material chegando
do material é tão boa que qualquer emissora em outro país depois de três semanas",
pode levar as notícias ao ar na hora em que elas completa.
são colocadas no site. Foi o surgimento de tecnologias de
Entre seus assinantes estão emissoras de rádio comunicação como a Internet, o correio
de língua inglesa, jornalistas, líderes eletrônico, e, por último, o MP3, que nasceram
comunitários e ONGs. A agência cobre a área novas possibilidades de troca de informações,
econômica, de desenvolvimento, ciência e sobretudo com material gravado em áudio.
tecnologia e direitos humanos. Tudo isso, do A Pulsar é uma produção da Amarc
ponto de vista de “como as pessoas normais são (Associação Mundial de Rádios Comunitárias e
afetadas pelas mudanças globais provocadas Cidadãs), com o apoio da ASDI (Suécia), CAF
nesses campos”. A agência é fruto de uma (Holanda), Fundação Friedrich EBERT
parceria entre o Panos Institute e a (Alemanha) e Unesco (Organização das Nações
OneWorld.net. Seus editores afirmam que esta Unidas para a Educação, Ciência e Cultura). No
é uma publicação totalmente independente, Brasil, ela funciona com correspondentes em
apesar de ter sido fundada com doações da Ford São Paulo, através da Oboré - Projetos
Foundation, além da Unicef, Novib e USAid. A Especiais, que é o escritório paulista da Unirr
InterWorld Radio aposta nas reportagens de (União Nacional de Redes de Radiodifusão pela
fôlego, matérias de mais de cinco minutos, Democracia). No Rio de Janeiro, a
coisa rara no radiojornalismo brasileiro. correspondente é a Produtora Criar, ligada à
No próprio site existe um link para o jornalista Unirr como escritório carioca da Amarc.
que quiser trabalhar para a InterWorld. Os Além de enviar textos, os jornalistas brasileiros
correspondentes recebem aproximadamente R$ colaboram também com material em áudio
600 por cada reportagem de seis minutos. As gravado em português. Notícias como as que
exigências, no entanto, são rigorosas. Os vêm sendo distribuídas pela Pulsar sobre o
editores cobram qualidade máxima da coleta de Brasil dificilmente encontrariam espaço em
dados até a transmissão da matéria pelo outras agências do mesmo porte. Um exemplo
computador. recente foi a cobertura feita quando o juiz
Outra experiência interessante em noticiário paulista José Marcos Lunardelli determinou o
internacional com enfoque cidadão via internet fechamento de 2 mil rádios comunitárias, em
é a Agência Pulsar. Desde 1996, mais de 2 mil São Paulo, em janeiro deste ano. O trabalho em
assinantes em 53 países contam com material tempo real acabou despertando reações contra a
dessa agência. A Pulsar tem uma rede de decisão do juiz, no Brasil e no exterior.
correspondentes em 20 países da América Mensagens de ouvintes e rádios de todo o
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
mundo foram enviadas em solidariedade às quase 50 mil! As coisas andam devagar, mas
rádios comunitárias paulistas. andam."
Seguindo a iniciativa da Pulsar, a Rádio
Popolare de Milão dedicou dez minutos ao A Time dos pobres
assunto em sua programação no horário nobre
transmitindo ao vivo para todo país. Quando a As novas tecnologias ajudam, mas não são o
notícia foi ao ar, os jornalistas envolvidos "ovo de Colombo". Fazer jornalismo
vibravam com um pool de alcance internacional de qualidade, com reportagens de
provavelmente inédito na história da fôlego e enfoque social vem sendo o trabalho
comunicação popular e alternativa. diário dos jornalistas dos Cadernos do Terceiro
Mundo (www.etm.com.br) desde 1975. A
As experiências protagonizadas por essas publicação nasceu com o compromisso de tratar
agências cidadãs são ricas não só em jornalismo os países do Terceiro Mundo de uma forma
e novas tecnologias, mas, sobretudo, no diferente, falando de ecologia, direitos humanos
tratamento humano que dão ao seu material. O e política com uma perspectiva social.
curioso é que o programa que possibilita a
execução de todo esse serviço e com essa A revista foi fundada pelo deputado Neiva
qualidade pode ser "baixado" na rede sem que Moreira, na época exilado na Argentina, e pelos
se gaste sequer um tostão (www.realaudio.com jornalistas Pablo Piacentini, argentino que hoje
ou www.download.com). Mais ainda: o vive na Itália, e Beatriz Bissio. Muita gente
assinante dessas agências usa seus serviços sem acha que a revista fez água. É comum ouvir
pagar nada. jornalistas mais velhos dizerem que "era uma
grande publicação, combativa, bem feita, mas
onde anda?".
Exemplo brasileiro Ao contrário do que pensam, a experiência
Tanto Clóvis Rossi quanto Eliane Catanhêde, rendeu frutos. Além dos Cadernos do Terceiro
Memélia Moreira quanto Aldo Gamboa Mundo, nasceu na década de 80, o Caderno do
apontam a Andi (Agência de Notícias dos Mercosul, e em 1991, os Cadernos de Ecologia
Direitos da Infância) como o melhor exemplo e Desenvolvimento, ambos, filhos da publicação
de agência cidadã no Brasil. Fundada em 1992, mais antiga. No seu expediente, constam nomes
a Andi, na verdade, presta uma assessoria à de agências como de Moçambique, Angola,
imprensa. Ela trabalha muito mais com o Cuba, Guiné-Bissau e outros países que sequer
conceito de turbina de informações do que com sonham em entrar nas edições de grandes
a idéia tradicional de agência produtora e jornais pela porta da frente.
distribuidora de notícias. No endereço Cadernos do Terceiro Mundo é uma prova de
www2.uol.com.br/andi, os jornalistas experiência jornalística alternativa e bem
encontram nomes, números, pesquisas e sucedida. Com 25 anos de existência, a tiragem
informações de contexto para a produção de hoje é de 35 mil exemplares. A maior parte é
reportagens sobre os direitos da criança e do vendida para assinantes, mas a revista também
adolescente. está em bancas de todo o País, embora seja uma
A Andi distribui também um clipping via e- missão impossível encontrá-la. Em suas
mail com as principais notícias que circularam páginas, além das pautas e reportagens
pelo país sobre esse assunto. Além de informar, originais, chamavam atenção os anúncios. Café,
o clipping do dia acaba pautando muita gente e diamantes, combustíveis e companhias aéreas
colaborando para uma cobertura maior e melhor de Angola, Moçambique e Colômbia, o próprio
dos assuntos relacionados aos direitos da Pasquim e até vale postal para assinatura do
infância. "Esse é um trabalho invejável", diz jornal Barricada Internacional, da Frente
Catanhêde. "Em 1995, os 50 maiores jornais do Sandinista de Libertação Nacional chegaram a
país publicaram pouco mais de 7.500 desfilar por suas páginas.
reportagens sobre menores. Em 1999, foram
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
“Essa é a Time do Terceiro Mundo”, diz dos países desenvolvidos. “Aqui no Brasil o
Memélia Moreira, jornalista que trabalha para noticiário internacional também é terrível.
os Cadernos desde sua fundação e assina a Também as grandes nações desenvolvidas
Coluna do Planalto, com notícias de Brasília. recebem uma cobertura péssima. É uma falta de
“A nossa idéia é mesmo de tratar os países qualidade de um modo geral”.
subdesenvolvidos de uma forma mais correta, Memélia considera as matérias dos jornais
menos grotesca”, explica. Ela é a jornalista franceses sobre o Brasil, por exemplo, muito
responsável pela cobertura de assuntos como melhores do que as dos jornais brasileiros sobre
política, direitos humanos e questões indígenas. os outros países. Para ela, a falta de qualidade
Memélia lembra que os maus tratos dispensados na cobertura internacional é “uma via de mão
aos países pobres não são uma atitude exclusiva dupla”, onde o Brasil entra como mais um.
Referência bibliográfica
CHARLEAUX, João Paulo. “Olhai (direito) pra nós!” in Revista Pangea, 2001 (publicação online)
disponível em:
[http://www.clubemundo.com.br/revistapangea/show_news.asp?n=94&ed=9]
PONTOS DE DISCUSSÃO:
• A revista Cadernos do Terceiro Mundo corre o risco de oferecer uma visão tão etnocentrista e
ideologizada quanto a que critica na grande mídia?
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Texto IV
Lula, o Bin Laden do Reverendo Moon
(Mídia Conservadora dos EUA)
Joel Conrado, 2002
23
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Referência bibliográfica
CONRADO, Joel. “Besteirol à Americana: Lula, o bin Laden do reverendo Moon”, in Observatório
da Imprensa, ?
PONTOS DE DISCUSSÃO:
• As incorreções publicadas pelo Washington Times sobre o Brasil, seja por ignorância ou por
deturpação ideológica, são diferentes das que o Jornalismo Internacional brasileiro comete sobre
outros países?
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Texto V
A Grande Matéria: Washington, as Nações Unidas, o Mundo
John Hohenberg, 1981
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
por telefone para jornal do que escrevê-la em pronto e em alerta para trabalhar na Casa
Washington (em caso de grande matéria). Branca, mas há dificuldades no uso das
minicâmeras em tripés. Elas são colocadas na
Em um manual de regras dessa natureza, que
sala de recepção para filmar visitantes
pode ser somente um auxiliar para as coberturas
importantes quando deixam o escritório do
em Washington, e não um profundo estudo
Presidente. Com as minicâmeras e o vídeo-
sobre o assunto, insere-se uma pequena relação
teipe, a equipe de televisão tem maior
de pontos importantes e sugestões do que se
mobilidade, podendo ficar nas entradas laterais,
deve e não se deve fazer. Ei-la:
utilizadas por visitantes que querem evitar
publicidade.
1) A Casa Branca Equipes de televisão podem também entrar no
Ao Presidente dos Estados Unidos, sendo a Rose Garden para uma filmagem rápida, se a
mais importante fonte de notícias no país, bem reunião com a imprensa ali se realizar.
como a mais influente, dá-se cobertura intensa, Reuniões com personalidades do governo, para
diariamente, por todos os veículos noticiosos do informações de "background", ocorrem em uma
país e de outros países. Aos membros de sua sala menor, a "Fish Room", assim chamada em
família, amigos e assessores diretos, também se razão dos quadros de peixes pendurados em
faz o mesmo. suas paredes. Quando o Presidente viaja, os
As facilidades para a imprensa na Casa Branca correspondentes que o acompanharão devem ter
são poucas, se comparadas às facilidades suas autorizações fornecidas pela Casa Branca.
obtidas nos palácios dos governadores estaduais Há períodos de bonança na Casa Branca,
ou até mesmo nas Prefeituras. Somente quando os repórteres se sentam e esperam que
pequeno número de correspondentes algo aconteça, mas cais'períodos são pouco
regularmente credenciados na Casa Branca freqüentes. O Presidente, a fonte número um de
dispõe de um dos pequenos cubículos com notícias, mantém os correspondentes sempre
telefone na sala de imprensa. A grande maioria ocupados.
tem de encontrar meios de comunicação por si
própria.
2) O Congresso
O Secretário de Imprensa do Presidente está
Se o Presidente dos Estados Unidos e os
geralmente disponível uma ou duas vezes ao dia
principais membros de sua Assessoria mostram-
para reuniões com a imprensa, para fazer
se reticentes sobre determinado assunto, o
declarações ou fornecer material aos jornalistas.
Congresso dos Estados Unidos rapidamente
Ele e seus assistentes são as pessoas-chaves
preenche esse vazio. Perto da Casa Branca está
capazes de facilitar o acesso de um jornalista
o "Hill", o mais importante ponto de notícias na
pela primeira vez na cidade aos membros da
Capital. Repórteres que regularmente cobrem o
equipe presidencial, e às várias repartições sob
Senado e o Congresso têm uma boa relação de
a responsabilidade direta do Presidente. Os
trabalho com os líderes da Maioria e da Minoria
correspondentes já conhecidos marcam seus
de ambas as Casas, assim como com outros
próprios encontros com essas pessoas e
membros do Legislativo. Eles conhecem os
normalmente trabalham utilizando-se do
presidentes das Comissões e desenvolvem
telefone, exceto para grandes reportagens. Nos
métodos eficientes de estar sempre por perto.
dias em que o Presidente se reúne com a
Os integrantes do G0verno normalmente dão
imprensa, é normal comparecerem 200 ou mais
entrevistas para fornecer detalhes de apoio a
correspondentes, especialmente quando
determinado assunto, e os congressistas
assuntos de importância estão pautados. Se a
geralmente querem ter suas declarações
reunião for de última hora, somente
gravadas. Querem que seus pontos de vista
comparecerão os correspondentes regulares, não
sejam conhecidos. Como funcionários eleitos,
havendo tempo para avisar a todos. O
precisam de publicidade para suas ações e
jornalismo eletrônico está permanentemente
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Esse tipo de atitude continuará enquanto houver Em períodos de tensão econômica, o Tesouro
facções de militares que queiram dirigir a também é fonte de notícias sobre políticas
opinião pública nessa ou naquela direção. A monetárias e os vários controles temporários da
decisão de se publicar tais matérias é uma economia e dos salários.
responsabilidade que cada empresa jornalística
deve tomar por si própria, baseada nas
circunstâncias e na extensão dos interesses 7) Agricultura
públicos envolvidos. Os correspondentes que cobrem o
Departamento de Agricultura, como os
correspondentes nos Departamentos de Estado,
5) A Corte Suprema Defesa e Tesouro, são geralmente
Os correspondentes credenciados à Corte especializados nesse campo.e trabalham para
Suprema são poucos e altamente especializados. empresas jornalísticas com um interesse
Não é qualquer repórter que pode receber particular no assunto. A rotina diária desses
credencial. Não é fácil quem desconhece o repórteres é apoiada pelas agências de notícias.
assunto escrever um artigo, capaz de ser Mas nas reportagens mais detalhadas e
entendido pelo público, sobre decisões e profundas em assuntos de importância para os
acontecimentos na mais alta Corte do país. fazendeiros e consumidores, os meios de
Alguns repórteres que fazem a cobertura da comunicação devem se voltar para os
Corte são advogados; outros tiveram especialistas.
aprendizado em leis. Os que não tiveram
contato anterior com assuntos jurídicos têm que
desenvolver um conhecimento próprio para 8) Outras Áreas
poder exercer adequadamente suas funções. Todas, exceto as maiores e mais fortes empresas
6) O Tesouro jornalísticas, não têm condições de colocar
diariamente equipes em muitos outros
Uma das mais importantes inovações importantes departamentos do governo. Em
desenvolvidas pelo Departamento de Tesouro é conseqüência, os Departamentos de Justiça, do
a "Budget School" à qual é enviado, antes de Trabalho, do Comércio, do Interior e da Saúde,
ser divulgado, o Orçamento Federal. Educação e Bem-Estar, para mencionar apenas
Correspondentes, muitos deles com experiência alguns, são cobertos pelas agências de notícias.
em assuntos econômicos, têm oportunidade de Um correspondente com interesse especial em
estudar esse formidável documento e conversar questões da Justiça ou Trabalho, por exemplo,
com os líderes da nação antes de apresentarem pode dedicar mais tempo a esses assuntos que a
suas conclusões ao público. outros. Ou toda a equipe concentrará seus
esforços em um único Departamento, como o
Esse tipo de preparação é deficiente em muitas
do Trabalho, durante uma emergência nacional.
outras áreas de coberturas em Washington. O
A questão é que mesmo as maiores corporações
Tesouro mostrou que é possível entrar em
noticiosas na capital do país têm que trabalhar
entendimento com os meios de comunicação em
em termos de "prioridade", salvo em relação às
questões de importância para o público, tais
fontes de notícias.Desafortunado é o repórter
como expedientes governamentais e propostas
que passa um dia inteiro pesquisando um
de novos impostos, para obter tempo apropriado
projeto no Departamento de Saúde, Educação e
a estudos e reflexões. Em assuntos dessa
Bem-Estar, e descobre, depois, que nesse
natureza, poucos parágrafos escritos
mesmo dia o Presidente enviou mensagem de
apressadamente podem conter informações
urgência ao Congresso; isso acontece quando
imprecisas e confusas. É melhor esperar, de
um repórter "desliga-se" das suas fontes
acordo com a fonte de informação e com a
geradoras de notícias.
competência do jornalista, antes de dar
perspectiva própria ao assunto.
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Essa posição conflitante tem sido assunto de político talentoso que gostava de competições
muitas discussões entre jornalistas e autoridades com a imprensa.
do governo durante anos. Tal relação é típica Determinou que as reuniões com a imprensa
somente nos Estados Unidos. Há muitos anos, seriam duas vezes por semana, durante o seu
durante a guerra da Criméia, em meados do mandato. O Presidente Truman manteve esse
século XIX, as revelações de William Howard sistema. Embora não houvesse tantas reuniões
Russel sobre a maneira trágica como estavam como na Presidência anterior, elas eram muito
sendo comandados os militares ingleses trouxe inteligentes, sob todos os pontos de vista.
grande prestígio ao The Times de Londres e
causou a queda do governo de Aberdeen. Tais No governo do Presidente Eisenhower, a última
fatos podem ser documentados numa democracia barreira que protegia o Chefe do Executivo foi
praticante, onde existe imprensa livre, competente derrubada. Historicamente, presidentes gozaram
e com poder de crítica. sempre do privilégio de ter suas respostas a todas
as perguntas publicadas em forma de discurso
Prevalece a teoria de que o interesse público é indireto. Se os presidentes permitiam a
melhor servido pela rivalidade constante entre as reprodução exata de algumas palavras ou talvez
duas partes. Entretanto, se o conflito for uma frase era um grande acontecimento. Quando
excessivo, e se todas as restrições impostas Eisenhower permitiu que câmaras de televisão
vierem a ser abandonadas, tanto pelo governo gravassem as reuniões com a imprensa e os filmes
quanto pelos meios de comunicação, o resultado fossem levados ao ar, após uma revisão, tornou-se
provável será a anarquia. impossível impedir que os repórteres usassem
Em assuntos nacionais e internacionais, com reproduções diretas do que fora dito. Assim,
muitos efeitos sobre a segurança nacional, depois de uma verificação rápida, as gravações
correspondentes e editores são avisados sobre das reuniões presidenciais com a imprensa eram
toda a filosofia dos dois lados da questão e o que divulgadas.
devem ou não revelar. A despeito de todas as
pressões, cabe aos jornalistas decidir o que
divulgar das matérias em seu poder. Essa é a A cobertura das Nações Unidas
maior responsabilidade dos jornalistas em uma Nos anos em que os Estados Unidos dominavam
sociedade aberta. No exercício de tal atividade, as Nações Unidas, os assuntos a ela concernentes
põem muitas vezes em dúvida o seu próprio mereciam atenção dos jornalistas, embora os
julgamento. meios de comunicação americanos dessem pouca
atenção a esses temas, a não ser quando havia
alguma crise. Desde que os Estados Unidos
Coletiva com o Presidente começaram a ocupar posição minoritária,
É um costume peculiar americano colocar o perdendo votos ou sendo colocados em cheque-
Presidente dos Estados Unidos regularmente mate pela .maioria dos países em
frente a frente com questões propostas pelos desenvolvimento com vínculos com o bloco
jornalistas. Até a virada do século a nenhum soviético, China, ou ambos, as Nações Unidas
presidente ocorrera promover esses encontros e os tornaram-se impopulares na América. Discursos
próprios jornais não demonstravam interesse pelo enérgicos antiamericanos, crises afetando os
assunto. Embora Theodore Roosevelt tenha sido o Estados Árabes ou os nacionalistas negros da
primeiro Presidente a conversar com repórteres África, e as manobras pretensiosas do bloco
(ficava irritado quando publicavam matérias das soviético são de pouco interesse para o povo
quais não gostava), foi Wilson quem iniciou os americano e até para muitos correspondentes
encontros ocasionais com a imprensa. estrangeiros, exceto quando esses fatos tocam em
um ponto nevrálgico de seus países.
A reunião do Presidente com a imprensa, como a
conhecemos atualmente, foi fruto do trabalho do Ainda assim, pelo simples fato de existirem as
Presidente Franklin Roosevelt, um artista na arte Nações Unidas, e porque a sua sede está
de envolver e manipular repórteres e editores, um localizada em Nova York, é matéria à qual deve
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
dar-se cobertUra. Mesmo se o assunto for aos jornais quando julgam tirar proveito da
desinteressante ou se provocar o repúdio publicidade.
americano, continuará importante. 3) A missão americana nas Nações Unidas. Ela
é uma extensão do Departamento de Estado,
mas tem os seus próprios negócios públicos e
Problemas de Cobertura
oficiais de informação e uma excelente
Não é difícil fazer cobertura das Nações biblioteca. A equipe de informações é
Unidas. O problema, tal como no Departamento competente, mas geralmente não tem muita
de Estado, é que há muita burocracia e pouca liberdade de ação, por razões óbvias.
ação. A maioria das delegações tem seus
4) A própria equipe de informações das Nações
assessores de imprensa, poucos podendo ser
Unidas e os recursos do Secretário Geral.
considerados excelentes. As próprias Nações
Através dos anos as Nações Unidas
Unidas têm um pequeno grupo de assessores de
desenvolveram um sistema de arquivar
imprensa de carreira, muito qualificados, que
cronologicamente as atas das grandes reuniões;
trabalham para o Secretário-Geral Kurt
cópias dessas atas podem ser obtidas em pouco
Waldheim. Na seção de documentação é
mais de uma hora após a requisição. Esse
facilmente encontrado material de valor
pequeno mas qualificado grupo trabalha em
relevante; na biblioteca, há uma quantidade
uma seção própria no segundo andar do edifício
enorme de informações sobre todos os assuntos
do Secretariado das Nações Unidas, e pode ser
pendentes e outra grande quantidade sobre
consultado por qualquer correspondente.
temas já esquecidos.
O Secretário Geral, sendo o responsável por
Os procedimentos das Nações Unidas, os
todos os membros das Nações Unidas, não pode
métodos das suas organizações principais e as
fazer pronunciamentos agressivos que afetem
interpretações da sua Constituição são
esses membros, mas ele consegue tornar-se
complicados, mas não tão complicados como os
"notícia" em reuniões periódicas com a
de qualquer governo. Correspondentes
imprensa durante o ano, e nas ocasiões em que
qualificados não tiveram muita dificuldade em
discursa na organização.
trabalhar nas Nações Unidas. O principal
problema das coberturas é que há muito pouco a Fisicamente, o centro da cobertura de imprensa
fazer. nas Nações Unidas fica no terceiro andar do
edifício do Secretariado, onde a sala de
imprensa, centro de documentação, sala de
Métodos e Fontes "briefing", e alguns dos escritórios de
Seguem-se as quatro principais fontes de correspondentes estão localizados. Telex,
notícias nas Nações Unidas: telefones e outros recursos de comunicação são
também encontrados. Credenciais são fáceis de
1) A abertura das reuniões, discursos e obter com o preenchimento de pequeno
resoluções dos vários componentes da formulário, cuja exigência principal é uma carta
organização. Principalmente a Assembléia de solicitação das credenciais escrita pelo editor
Geral e o Conselho Econômico e Social, com de um jornal ou seu substituto.
suas comissões subsidiárias.
2) As delegações estrangeiras, geralmente
reticentes sobre os negócios de seus países, Correspondência Estrangeira
podem fornecer informações oficiosas de É quase unânime nas redações americanas o
"background" sobre o que está acontecendo sentimento de que uma matéria vinda de fora do
"atrás do pano". Algumas não fornecem país não está normalmente escrita em termos de
detalhes; mas as delegações - como os fácil entendimento dos leitores e dos
advogados inclinam-se a falar dos seus casos espectadores médios. O resultado final é a
pequena utilização de notícias estrangeiras na
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
maioria dos jornais americanos e menos ainda com uma circulação de 20.000 exemplares em
no jornalismo eletrônico, o que causa o 1950, atingiu cerca de 75.000 nos anos 70. E
desânimo em qualquer um que trabalhe nessa cursos universitários sobre assuntos
área e sabe quanto talento, esforço e dinheiro internacionais se tornaram bastante populares.
são gastos nas cobertura de acontecimentos no Ainda assim, o processo educacional é
estrangeiro. I Normalmente, matérias sobre inevitavelmente vagaroso e duvida-se que mais
crises, guerras e pessoas, bastante detalhadas, de 10% do povo americano se interessem por
avolumam-se. Mas, infelizmente, as matérias assuntos internacionais, provavelmente esse
que colocariam o público americano "em número cai para 5% nos períodos em que não
guarda" não são publicadas em larga escala. É há crise.
um fato, também, que pouco menos de uma Estudos têm revelado que um número bastante
dúzia de correspondentes americanos estava em reduzido de pessoas importantes, as que
Saigon nos anos cruciais, quando os Estados decidem em todos os níveis do governo, não se
Unidos vagarosamente se envolviam em uma interessa por esses assuntos. Mas isso não torna
guerra que não poderiam vencer, e era quase mais fácil o trabalho dos editores e
certa sua derrota. correspondentes estrangeiros numa época em
que os Estados Unidos passam por um
envolvimento global maior do que em qualquer
O Fluxo de Notícias Estrangeiras
outra época da sua história.
Em geral, cresce a cada dia o fluxo de notícias
O desenvolvimento mais promissor na
estrangeiras que poderiam ser utilizadas nos
disseminação de notícias internacionais nos
meios de comunicação dos Estados Unidos. A
Estados Unidos é o rápido progresso dos
Associated Press e a UPI distribuem cada uma
"syndicates"2 de jornalistas. O New York Times,
cerca de 200.000 palavras por semana, com
com o maior e mais eficiente serviço
notícias estrangeiras. Se a média dos jornais
internacional, tem mais de 300 jornais como
americanos usasse 10.000 palavras por semana
seus clientes. O Los Angeles Times, em poucos
(o jornalismo eletrônico não pode absorver
anos, obteve mais de 200 jornais, e o
número próximo desse total), os editores das
Washington Post (somente em notícias
agências de notícias considerariam isso um
internacionais) se tem expandido considerável-
triunfo. Alguns jornais com agências no
mente. O Baltimore Sun, depois de se recusar a
estrangeiro e que vendem notícias
sindicalizar-se por vários anos, agora oferece
provavelmente as fornecem de acordo com as
suas notícias internacionais a outros jornais e
necessidades dos seus clientes.
conquistou grande e respeitável audiência.
Algumas das mais antigas agências
A Audiência internacionais, a Christian Science Monitor
entre elas, estão sendo revitalizadas. E jornais
Há bons sinais de que um número maior de como o Minneapolis Tribune, St. Louis Post-
pessoas nos Estados Unidos segue regularmente Dispatch, Miami Herald e outros enviam
o noticiário internacional. Os milhões de especialistas para reportarem determinados
americanos que viajam pata fora do país todo assuntos do noticiário internacional. Mas o
ano, mais os milhões de pessoas que vêm visitar famoso Chicago Daily News desativou sua
o país, contribuem pata estimular a publicação equipe internacional.
de matérias internacionais. Na década de 70, o
Departamento de Estado identificou aumento no Nas áreas em que há jornais pobres com uma
volume de comunicações, por carta e telefone, cobertura mínima dos assuntos nacionais e
com os cidadãos americanos, sobre vários internacionais, as revistas de notícias vendem
problemas envolvendo política internacional. grande parte dos seus 7 milhões de exemplares
Publicações especializadas em assuntos semanalmente com seções internacionais
internacionais estão-se expandindo detalhadas. Assim como as cadeias de televisão,
vagarosamente; o Foreign Affairs, por exemplo, 2
N.doE. Cooperativas.
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
que ainda tiram a maior parte das suas matérias O mesmo vale para os raros documentários na
das agências de notícias, elas desenvolvem uma televisão acerca de assuntos internacionais.
equipe sofisticada de correspondentes Isso não justifica, e está longe de ser
estrangeiros para trabalharem principalmente desempenho satisfatório, a fraqueza da
com seus operadores. Empresas jornalísticas imprensa americana na publicação diária e
especializadas em negócios e comércio, como semanal de notícias internacionais, ou a pouca
as publicações da Dow Jones, McGraw-Hill e quantidade desse tipo de material nas emissoras,
Fairchild, têm uma equipe competente cobrindo quando não há guerra. Como foi mostrado, o
os maiores centros de comércio no mundo. modelo, como um todo, é confuso. Poderia ser
muito melhor. Mas já foi muito pior.
O Espaço para as Notícias Internacionais
É difícil precisar o volume de notícias O Trabalho dos Correspondentes
internacionais usado, porque isso varia em Internacionais
função de um assunto determinado, das Os correspondentes internacionais que
empresas de notícias envolvidas e da audiência manipulam as notícias para as empresas
potencial do assunto. Num Período em que os jornalísticas americanas são jornalistas
Estados Unidos estão em paz com o mundo, é maduros, com excelente desempenho
óbvio haver pouco interesse público e pouco profissional e sólida instrução. Não é difícil
tempo e espaço dedicados aos assuntos encontrar entre eles homens e mulheres com
internacionais. Em tempos de guerra, a situação títulos universitários. Alguns são "Nieman
muda rapidamente; em qualquer crise Fellows" em Harvard, e existem pós-graduados.
prolongada, o espaço e o tempo dedicados às
notícias internacionais têm uma correlação Eles dirigem vários assuntos de suas "bases" e
específica com os anseios do público. são designados para outros locais a cada três
anos. Se tiverem que assumir riscos, assim o
Mesmo fora de crises, o New York Times fazem, não por diversão, mas porque isso faz
publica entre 16 a 18 colunas por dia de notícias parte do seu trabalho. Em zonas de combate, a
internacionais. Nas mesmas circunstâncias, o primeira coisa que aprendem a fazer é manter as
Los Angeles Times publica uma média de 10 a cabeças abaixadas. Um correspondente morto
11 colunas; o Washington Post, 9 ou 10; o pode ser um herói, mas as empresas para as
Baltimore Sun, 8 ou 9, com um número entre 4 quais trabalham os preferem vivos. E os que
a 6 colunas diariamente em, talvez, 30 outros esperam subir às alturas ao atacar governos
jornais importantes com uma circulação de ditatoriais, bem cedo descobrem que ser
cerca de 10 milhões de exemplares. Somando- demitido por provocações não é o melhor
se a isso, certamente, estão as seções caminho, do sucesso.
internacionais nas revistas semanais e os
comentários e apresentações, algumas vezes
importantes, nos noticiários noturnos da Como Ser Correspondente
televisão.
A forma de alguém tornar-se correspondente
O Wall Street Journal publica uma seção internacional é ainda incerta, a despeito de tudo
internacional de um dos seus excelentes que se diga sobre modernos métodos pessoais.
correspondentes, a intervalos regulares, com um Alguns são escolhidos para o trabalho e
impacto considerável nos seus mais de 1 milhão treinados rigorosamente em cursos especiais de
de leitores. E quando o New Yorker Magazine grandes universidades e estudam várias horas
publica um artigo internacional de um elemento por dia um idioma estrangeiro. Muitos estão no
do seu pequeno mas brilhante grupo de lugar e na hora certos e tiram proveito dessa
redatores de assuntos internacionais, alcança oportunidade. Outros convencem os editores a
significativa penetração entre o público leitor. testá-los, com resultados não muito bons
(embora, às vezes, surjam agradáveis
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
surpresas). O restante dos correspondentes a média gasta pelas empresas jornalísticas com
internacionais consegue atingir esse posto um único correspondente, excluindo os serviços
através de promoções nas agências de notícias e de telex;, é de 75.000 a 100.000 dólares por ano
em jornais que têm equipes no estrangeiro, e - quantia ainda maior em lugares como Moscou
muitas vezes são convidados para trabalhar e Pequim.
como correspondentes internacionais em Em países totalitários e em muitos países em
revistas ou jornais que mantêm uma equipe no desenvolvimento, os correspondentes ficam
estrangeiro. "amarrados" às fontes oficiais. Em um número
Enquanto a maioria dos correspondentes mais cada vez menor de países democráticos há
velhos pode contar com um salário decente, há liberdade de ação, se os correspondentes
jovens que querem trabalhar ganhando menos souberem o que fazer e como conseguir. Não é
do que ganhariam em suas cidades. comum os editores guiarem os corresponden-tes
pela mão, ou tentarem isso, a despeito da
Entretanto, somente em lugares conturbados e
disponibilidade de milagres da moderna
onde existem riscos, particularmente áreas de
comunicação. O serviço de um correspondente
guerra, é que se dá preferência aos jovens. Na
internacional é ainda uma operação altamente
primeira guerra documentada pela televisão, a
individual e assim deve permanecer.
Guerra do Vietnã, os jovens predominaram na
cobertura das batalhas. Isso também ocorreu no
Oriente Médio, especialmente na longa e brutal Propaganda
guerra civil libanesa.
É falso que o americano típico no exterior seja
presa fácil da propaganda internacional. Os
Como Trabalham os Correspondentes políticos americanos que participam de
conferências internacionais estão condenados
A maioria dos correspondentes internacionais
por antecipação. Quanto aos correspondentes
acredita que sua primeira obrigação é contar a
internacionais, até seus próprios editores
história do povo do país onde trabalham, e não
algumas vezes recusam-se a acreditar quando
somente os atos oficiais do governo e os
sua reportagem coincide com as declarações ou
comunicados de seu Ministério à imprensa. O
os anúncios de uma agência de propaganda.
trabalho é difícil e exigente, requer longas, e
algumas vezes irregulares horas de trabalho A dificuldade fundamental é definir propaganda
durante o dia e a noite, e pode perturbar a vida e separá-la da atividade jornalística denominada
em família. Não admira que o índice de "notícia". A propaganda não precisa
divórcio entre os correspondentes internacionais necessariamente basear-se em uma informação
seja elevado. falsa ou leviana; a "grande mentira", de fato, foi
certamente menos eficiente no passado do que a
Quando os correspondentes são credenciados a
verdade - quando acontecia a verdade servir aos
cobrir um país inteiro, naturalmente dependem
fins da propaganda. De certo, poucos
das facilidades locais de comunicação de massa
propagandistas são tolos o suficiente para
para se manterem informados.
"rotular" os seus mais indeléveis ideais, mas
Bem cedo descobrem que precisam fazer mais nenhum propagandista consegue enganar por
do que ler os jornais, ouvir o rádio, assistir à muito tempo um correspondente experimentado.
televisão, verificar o que está sendo enviado por
telegramas e manter relações cordiais com a
Embaixada americana e com os jornalistas do
país. Precisam obter e desenvolver suas próprias Transmissão da Informação
fontes de informação, suas próprias idéias para
matérias e reportagens, seus próprios métodos É um hábito, normalmente _praticado pelas
de trabalho - e isso leva tempo e custa muito empresas com grandes volumes de notícias a
dinheiro. Sem contar os custos de transmissão, transmitir, contratar circuitos especiais para
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Abriu-se uma exceção aos correspondentes que duas figuras mais difíceis de serem vencidas.
acompanharam os Presidentes Nixon e Ford São comumente censores de menor expressão,
quando de suas visitas ao país. Em cumprindo à risca instruções superiores. Tudo o
conseqüência, Max Frankel, do New York que os correspondentes podem fazer é reclamar
Times, ganhou o primeiro Prêmio Pulitzer com e apelar pata as autoridades de sua própria
sua cobertura sobre a China. Embaixada ou às autoridades do país em que
estejam credenciados. Normalmente não
O censor que o correspondente nunca vê e a voz
ganham uma batalha desse tipo, mas devem
fanhosa que corta uma ligação telefônica são as
tentar e jamais desistir da intenção.
Referência bibliográfica
HOHENBERG, John. “O Jornalista Profissional: guia às práticas e aos princípios dos meios de
comunicação de massa”, Rio de Janeiro, Interamericana, 1981. págs.362-378
39
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Texto VI
Meio Século de Memórias
(História do Fotojornalismo Internacional)
John Morris, 1994
Das grandes revistas distribuídas por jornais, proporcionamos uma ponte entre o filme e a
testemunhamos recentemente a extinção da mídia impressa. Há quatro anos, aqui neste
Sunday Times Magazine, de Londres. Os palco, Tony Hall, da SSC, um jornalista de
jornalistas da minha geração conviveram com televisão, disse: "Nada fica na memória
os dias difíceis da Grande Depressão — a daqueles que simplesmente observam." A
depressão mundial ocorrida após a Primeira importância do fotojornalismo é que ele induz o
Guerra - e com a devastação e o sofrimento das público a ler e a reter a mensagem transmitida
guerras que se seguiram. O fotojornalismo pelas palavras. Minha primeira revista foi a
moderno estava, ainda, dando os primeiros Life, na época uma revista semanal. Ela era tida
passos quando essas guerras começaram. A como a maior força editorial da América. Eu
fotografia era utilizada como uma arma. Do comecei na Life em 1938, como contínuo,
lado dos Nazistas, as fotos eram parte do recém-saído da Universidade de Chicago. A
aparelho de propaganda. Do nosso lado, os maior parte da equipe, na época, tinha menos de
fotógrafos que eu conhecia, e com os quais 30 anos e coragem de tentar tudo. Eu me
trabalhava, acreditavam plenamente na causa lembro de ter pedido ao Arcebispo de
dos aliados. Suas fotos... talvez vocês se Canterbury que subisse na torre do Palácio de
lembrem da foto do soldado espanhol morrendo, Atlanta, para posar para a capa da Life. Eu pedi
de Robert Capa, ou da foto de uma mãe a Alfred Hitchcock, o diretor de cinema, que
legalista espanhola, de David Simor. Fotos posasse como garçom em Santa Monica. Nós
assim foram as precursoras de centenas de pedimos a milhares de trabalhadores da aviação
imagens inspiradoras, capturadas por dezenas que abrissem mão da sua hora de almoço para
de fotógrafos dedicados, que alertaram os posar ao lado do bombardeiro que estavam
Estados Unidos sobre os perigos do fascismo e, construindo. Nós insistíamos em levar nossas
depois, documentaram a marcha dos aliados máquinas fotográficas a todos os lugares aonde
para a vitória. íamos, ao laboratório, ao boudoir; às reuniões
fechadas dos homens de negócios e aos
Havia um editor na época, que tinha a coragem
encontros entre grandes líderes e generais. Os
para realizar suas convicções. Henry Lewis, das
jornais ficavam para trás, porque seus
revistas Time e Life, arriscou milhões pelos
fotógrafos continuavam carregando câmeras de
ideais de uma revista. Não apenas uma vez, mas
imprensa, das grandes, com flashes. Os editores
várias vezes. Quando Lewis ficou mais velho,
desses jornais encaravam fotos como meros
as coisas mudaram. Quando a Time Inc., em
artifícios para criar espaços, quebrar um pouco
1964, decidiu vender a revista mensal
aquela salada de textos. Já os tablóides
Architectural Form, aquilo representou um
exageravam na direção oposta, publicando fotos
retrato do futuro. A Form era uma pequena
grandes, chocantes e sensuais, mas ignorando o
revista, bastante séria, que Lewis publicava há
conteúdo sério das notícias.
muito tempo como inspiração para os
arquitetos, só que ela deixou de dar lucro. A grande diferença entre a Life e as outras
Passou a ser considerada dispensável. Hoje, nos publicações era que, nela as fotos vinham em
perguntamos se a própria mídia impressa está primeiro lugar. As palavras eram escritas para
para desaparecer ralo abaixo, se vai entrar serem encaixadas entre a disposição das fotos.
mesmo pelo cano. Será que leitores têm mesmo Se não houvesse fotos, não havia matéria. Nós
que ser reduzidos a telespectadores? nos inspiramos nas revistas de fotos anteriores à
Guerra de Weimar: na Alemanha. A Life reuniu
Nós, fotojornalistas - estou falando daqueles
uma equipe de fotógrafos, alguns generalistas,
que trabalham com fotografias estáticas -
40
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
outros especialistas, que jamais encontrou um aquecedor. para que secassem e, por causa
rivais. da minha pressa, fechou as portas. A emulsão
dos filmes simplesmente derreteu. Eu desci
Em 1943, a Life me mandou para Londres, com
correndo com ele e examinei filme por filme.
nove meses de antecedência, conforme ficou
Por fim, encontrei 11 fotos que poderiam ser
constatado depois, para preparar a cobertura do
impressas, embora estivessem muito
Dia D, a invasão da Normandia. A operação
granuladas. Elas foram salvas, mas por um triz.
militar mais complexa da história, comandada
Essa foi a pior noite da minha carreira.
pelo general Eisenhower. Os aliados exigiram
que tirássemos nossas fotos junto com as três Eu vou poupá-los de mais histórias de horror
grandes agências distribuidoras de fotos: como essa. Ao invés disso, gostaria de falar
Associated Press, United Press e a sobre aonde chegou o fotojornalismo hoje.
International News Service. Acho que temos fotógrafos tão talentosos
quanto os antigos, ou até mais, trabalhando pelo
O Dia D, o dia mais longo, como ficou
mundo inteiro, com maiores concentrações na
conhecido, foi uma terça-feira, 6 de junho de 1
França e nos Estados Unidos. Eles possuem
944. Apesar de todos os nossos preparativos,
recursos que causariam inveja aos pioneiros do
nós ainda não tínhamos boas fotos no final da
passado, tal como Eric Solomon, que tinha que
tarde de quarta-feira. O tempo estava terrível, o
tirar suas fotos com pequenas placas de vidro,
que inviabilizava as fotografias aéreas. As
segurando com as mãos as exposições que
esperanças da Ufe de obter c/osestirados da
duravam apenas um ou dois segundos. Os
invasão por terra estavam depositadas em
fotógrafos de hoje têm microcâmeras
Robert Capa, o famoso fotógrafo húngaro, que
maravilhosas, lentes com zoom de alta
já havia feito a cobertura das guerras da
velocidade e filmes velozes. Suas fotos são
Espanha, China, África do Norte e Itália. No
transmitidas quase que instantaneamente, em
começo da noite de quarta-feira, recebi um
cores, para o mundo inteiro. Os fotógrafos de
telefonema de um dos portos do canal: "O filme
hoje, os mensageiros, possuem equipamentos
de Capa está indo para Londres de motocicleta."
fantásticos para contar suas histórias. Mas qual
Nosso prazo final para conseguir mandar fotos
é a mensagem deles? Será que a estão
originais para Nova York, para a edição da Life
transmitindo?
daquela semana, era na quinta de manhã,
quando o malote sairia de Governor Square, em Sim e não. O paradoxo da revolução
Londres. Além disso, tínhamos que fazer cópias tecnológica é que as grandes revistas de fotos
para as três agências, o mais rápido possível, estão extintas. O semanário americano Ufe
para distribuição como radiofotos para um acabou em 1972, seguido por Look, e Saturday
mundo ansioso por detalhes da grande ofensiva. Evening Post, que só ocasionalmente levou o
foto jornalismo a sério. Na Inglaterra, não
Finalmente o filme chegou, acompanhado de
surgiu nenhuma outra revista de fotos
um recado do Capa, explicando que todo o
independente desde a Picture Post. Além disso,
material deveria estar em quatro rolos de filme
acabamos de presenciar o fim da Sunday Times
de 35 milímetros. Eu disse ao pessoal do
Magazine, do senhor Murdoch.
laboratório, que ficava debaixo do meu
escritório, que trabalhasse o mais depressa Na França, a Paris Match, seguindo a fórmula
possível para me liberar as fotos para a edição. da revista americana People, se concentra em
Alguns minutos depois, eles retornaram:"f'.ó celebridades e em algumas matérias mais
fotos estão ótimas e os filmes estão secando." recentes e óbvias. Na Alemanha, temos a Stern,
Mas traga só os negativos, e rápido, eu disse. que é uma colcha de retalhos com coisas boas e
ruins, mas sem qualquer convicção. Na Itália,
Alguns minutos depois, o rapaz que havia
os suplementos de jornais possuem muitas
revelado o filme entrou em meu escritório
fotos, só que a grande maioria não é produzida
chorando, quase histérico: "Os filmes estão
naquele país. Eu temo que o mesmo possa ser
destruídos, estragaram todos." Ele explicou que
dito a respeito da revista Manchete, no Brasil. O
os havia colocado em um armário de aço com
41
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
metralhadora egípcia em Suez. A Magnum, no contra a recente Guerra do Golfo. Fico satisfeito
entanto, resistiu e inspirou todo um grupo de de ver que, mesmo um especialista em Guerra
outras agências independentes: Gama, Sigma, a Fria, como John le Carré, também já julga a
Sipa na França, Bilderberg na Alemanha, Guerra Fria desnecessária.
Network na Inglaterra, e muitas outras cujos Gostaria de ver a comunidade do fotojorna-
fotógrafos, substituindo as antigas equipes das lismo desviar sua atenção das celebridades, e da
revistas de fotos, agora cobrem os eventos no invasão de sua privacidade, para assuntos que
mundo inteiro. realmente interessam, como o abismo entre os
O Vietnã foi uma guerra terrível para o foto- ricos e os pobres, entre os muçulmanos e os
jornalismo, uma guerra que produziu apenas cristãos, entre os brancos e os pretos, entre o
perdedores. Pelo menos uma dúzia de fotojor- homem e a máquina, entre o Norte e o Sul. E
nalistas estavam entre os correspondentes que também para a preservação do nosso planeta.
morreram. Entre eles, estava o Larry Burrows, Eu diria que as mensagens importantes não
da Life, que trabalhava em Londres, em uma estão sendo bem entendidas, porque a mídia foi
sala escura, na noite do Dia D, mas não foi. corrompida pela comercialização. O mercado
como eu disse antes, o rapaz que estragou o editorial é uma indústria, mas o jornalismo é
filme do Capa. Eu era totalmente contra a uma profissão. Não nos esqueçamos dessa
Guerra do Vietnã, da mesma maneira que o era distinção. Será que estamos vendendo jornais
contra a histeria da Guerra Fria e também ou nos vendendo?
Referência bibliográfica:
MORRIS, John. “Meio Século de Memórias” in 4º Encontro Internacional de Jornalismo:
conferências e debates (edição: Adhemar Altieri), São Paulo: IBM, 1994.
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Texto VII
Os Atacadistas de Notícias
(Agências Internacionais de Notícias)
John Hohenberg, 1981
enviar o que bem entenderem; na prática, Entretanto, com exceção dos grandes
contudo, sabem que, se insistirem em ofender acontecimentos, como a visita de um Presidente
os seus hospedeiros, serão expulsos a Moscou ou a Pequim, raramente as notícias
imediatamente e, em casos raros, presos como fornecidas pelas agências ocidentais e japonesas
espiões. Portanto, na realidade o correspondente são divulgadas nos centros da União Soviética
deve exercer uma autocensura, o que é uma ou na China. O mesmo se dá com o material das
tortura refinada para o jornalista. Do ponto de empresas jornalísticas. Geralmente as notícias
vista dos regimes comunistas, essa situação é do mundo não-comunista são transmitidas de
satisfatória. Alegam, com tranqüila inocência, Moscou ou de Pequim apenas quando perfilham
que não praticam a censura; porém, ao mesmo os objetivos desses governos. E os
tempo mantêm os correspondentes sob controle correspondentes ocidentais e japoneses que
absoluto. trabalham nessas capitais precisam estar sempre
muito atentos ao que dizem e ao que escrevem.
Apesar dos períodos de hostilidade do Oriente e
do Ocidente, e das lutas internas em ambos os Em vista dos obstáculos impostos às agências e
lados, os acordos mútuos entre as principais aos correspondentes estrangeiros em geral, é
agências de notícias têm sido mantidos. A Tass, quase um milagre que as nações do mundo
por exemplo, compartilha seu material com as sejam pelo menos parcialmente informadas
agências ocidentais, em base de reciprocidade, sobre os acontecimentos mundiais. Como as
há anos, sem levar em conta o que Washington agências de notícias arcam com grande parte
e Moscou dizem um do outro. E a Hsinhua tem desse peso, merecem bem mais elogios do que
mantido acordos similares com as agências que as críticas que geralmente recebem.
obtiveram permissão para enviar Mas assim são os editores de jornais. Poucos
correspondentes a Pequim, e mais consideram satisfatório um despacho não
recentemente, com a AP e a UPI. Porém, dirigido por eles próprios.
durante períodos de intensa agitação política, as
coisas mudam na China. Foi num desses
períodos, no auge da Revolução Cultural, que As Agências Nacionais
um correspondente da Reuters, Anthony Grey,
foi mantido em cárcere domiciliar, num quarto O sistema de comunicações das agências
em Pequim, por dois anos. E um expandiu-se gradualmente no correr dos anos,
correspondente japonês permaneceu na prisão por meio da ligação de uma cadeia de serviços
por tempo ainda mais longo. nacionais aos cabos e circuitos de rádio do
mundo todo. Isso se faz mediante vários tipos
Quanto ao relacionamento entre Pequim e os de acordos. Algumas agências nacionais são, na
americanos, ocorreu uma mudança depois que o realidade, extensões de um ou mais serviços
Primeiro-Ministro Chou En-lai, ao receber um globais, em determinadas áreas. Assim, a
time americano de pingue-pongue, em Pequim, Canadian Press é a principal agência do Canadá,
em 1971, voltou-se para John Roderick, da AP, e a Australian Associated Press principal da
antigo correspondente na China, e disse Austrália, ambas parte da Associated Press. Na
"Senhor Roderick, os senhores acabam de abrir Grã-Bretanha, a British United Press é uma
uma porta". A partir desse momento, durante as extensão da United Press International. Na
negociações para o reconhecimento mútuo dos Índia, a Press Trust of India tem um acordo com
dois governos, após a primeira visita de Nixon à a Reuters. E, no Japão, a Kyodo tem acordos
China, o Governo chinês passou a admitir os bilaterais com as "3 grandes" do Ocidente.
correspondentes americanos por períodos Quase todos os grandes países, e alguns dos
limitados. Mas não se pode duvidar que as pequenos, possuem serviços que operam nessa
agências de notícias americanas e chinesas têm base. E onde não há agências nacionais, os
assumido maiores responsabilidades, incluindo governos geralmente compram diretamente das
a troca de serviços. agências o noticiário por eles selecionado. IstO
ocorre especialmente na África.
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
atribuição de crédito e sem se darem ao trabalho Os jornais pagam por artigo, de acordo com a
de redigir novamente as notícias para que sua circulação e possibilidades. Enquanto os
pareçam escritas pela sua equipe. É fácil grande jornais pagam alto preço por uma
compreender que essa atitude provoque o história em quadrinhos, os pequenos podem
aumento da demanda de jornalistas capazes de contratar um colunista popular por preço
escrever com originalidade e - acima de tudo - razoável. Os editores vão muito a New York, o
com rapidez. Por mais elegante que seja o quartel-general das grandes empresas, levando
estilo, não substitui a presença do repórter, seja enormes listas de pedidos.
para o fato local, seja estadual, nacional ou Contribuir para uma dessas organizações não é
internacional. Apenas a reportagem bem feita o mesmo que realizar o trabalho do jornalista
pode ser bem escrita. profissional, que se ocupa especialmente da
notícia. Quando muito, o trabalho numa
empresa de artigos é uma espécie de amálgama
Empresas de Artigos
de arte, literatura popular e jornalismo. Os
Embora as agências também distribuam artigos, redatores de notícias raramente sabem como
essa função é executada em conjunto com as essas empresas funcionam, porque têm pouco
grandes empresas. As empresas modernas são contato com elas, até se tornarem famosos.
organizações comerciais que contratam
Apesar do aspecto promocional, tais
especialistas os mais variados, artistas,
organizações não estão na mesma classe dos
escritOres e fotógrafos, para um sem-número de
anunciantes que patrocinam os programas de
artigos populares vendidos às centenas, e muitas
rádio ou de televisão. Um grande patrocinador,
vezes aos milhares de jornais. Uma das
Xerox, promoveu recentemente (isto é,
principais características dessas empresas é o
comprou) uma série de artigos sobre viagens,
grande quadro de vendedores que circula
escritos por um repórter aposentado do New
constantemente pelos jornais nacionais e
York Times, Harrison E. Salisbury, para a
estrangeiros, oferecendo uma imensa variedade
revista Esquire. Tantos foram os protestos
de material que ajuda a aumentar a circulação.
contra o contrato que a Xerox resolveu não
As agências e as empresas jornalísticas também
repetir a experiência.
vendem, mas poucas podem rivalizar com
organizações como a King Features Syndicate, O Trabalho nas Agências
pertencente a Hearst, a maior no gênero. Os Segundo estimativas abalizadas, as agências
artigos especializados para jornais constituem o fornecem 90% das notícias estrangeiras
negócio dessas empresas. E é um grande publicadas na imprensa americana, e 75%, ou
negócio. mais, das nacionais. Muitos jornais recebem da
Algumas centenas de empresas de venda de agência pelo menos a metade das notícias
artigos oferecem suas listas aos jornais. estaduais. Portanto, excetuando-se os grandes
jornais, aparentemente só as notícias locais são
Nelas está tudo o que um editor pode imaginar,
produto de trabalho pessoal. O mesmo acontece
transformado em mercadoria jornalística
com o rádio e a televisão.
popular. São oferecidos "best-sellers" de ficção
ou não-ficção, para serem publicados em série. Se a confiança depositada no serviço das
Vendem colunas políticas, colunas culinárias, agências tem como resultado a padronização
colunas de puericultura, como jogar bridge, mais ou menos generalizada da cobertura
sobre moda, saúde, charges, artigos de fundo, internacional, nacional e estadual, a culpa não
vários tipos de conselhos, sem esquecer o cabe às agências. Os culpados são os jornais
conselheiro sentimental, finanças e orientação que delas exigem tanto. Sem dúvida,
familiar, crítica literária e teatral, histórias para considerando a desvantagem de tempo e outros
adormecer crianças e outros assuntos básicos. fatores que pressionam as agências, elas fazem
pequenos milagres todos os dias para conseguir
notícias - e, às vezes, grandes milagres.
47
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Seria injusto presumir que as agências, tendo matéria em desenvolvimento, muito material
herdado tanta responsabilidade, devido à sobre política local, às vezes muito pouco sobre
negligência dos seus clientes, cumpram seus notícias importantes. Na pressa de elaborar a
deveres por capricho ou por acaso. Longe disso. matéria, a sacrificada equipe da agência é
freqüentemente acusada de dar muita
Funcionam sob o mais rigoroso controle, sob a
importância ao último fato acontecido, quando
vigilância de todas as organizações do País,
não é realmente importante. Ou é acusada do
pois nem mesmo uma comissão especial do
crime pavoroso de glorificar o trivial.
Senado pode demonstrar indignação tão
vigorosa quanto os dirigentes dos jornais O Livro Azul da APME registra as queixas de
quando lhes parece não estarem recebendo a editores que chamaram a atenção para a
mercadoria que compraram. "imensa quantidade de trivialidades" numa
reportagem da AP, e pergunta solenemente: "O
A agência deve satisfazer os padrões de
que é trivialidade? Supondo que definíssemos
milhares de jornais das mais variáveis religiões,
trivialidade, o que faríamos para substitUí-la?"
nacionalidades e simpatias. O que interessa a
A trivialidade, bem como o excesso de "leads"
uma empresa pode não ter significado para a
numa notícia importante, faz parte do trabalho
agência, a não ser que um editor requeira
da agência. Os atacadistas apresentam uma
cobertura especial, mas o que parece interessar
linha completa de mercadorias. Os varejistas
à agência nem sempre agrada a todos os seus
compram. O princípio ainda é "caveat emptor".
clientes. Os diretores de jornais são, por
natureza, difíceis de contentar; o que dizer As agências de notícias têm defeitos, e não são
então de milhares deles ao mesmo tempo? poucos, mas também possuem qualidades.
Muitas vezes estão melhor informadas que os
Portanto, a agência tem o máximo cuidado em
diplomatas sobre os grandes acontecimentos da
apresentar todas as facetas de uma notícia capaz
política mundial. Quanto aos militares, todo o
de gerar controvérsia. Pode não ser o melhor
mundo sabe que muitos oficiais do serviço
meio de tratar a informação, mas é sempre o
secreto estariam perdidos na névoa das
mais justo.
comunicações militares, lentas e obscuras, se
A equipe das agências não é paga para dar não tivessem um teleimpressor no escritório.
opinião. Em conseqüência, seus repórteres e
Quando um político tem algo a dizer,
redatores são vigiados de perto para que não
importante ou não, uma das primeiras perguntas
haja nem sombra de opinião pessoal no seu
que faz ao seu Secretário de Imprensa é se as
trabalho. Aos que possuem experiência e bom
agências foram informadas. Sejam grandes ou
senso permite-se acrescentar aos fatos os
pequenas agências, manchete ou artigo, sexo ou
antecedentes e dar uma interpretação, quando é
ciência, negócios ou crime, pode-se confiar nas
o caso. Porém, dizer por que algo aconteceu,
agências de notícias para sua divulgação. São
isto é, o processo interpretativo, é bem diferente
também fornecedoras de informação para todo o
de argumentar sobre o que devia ser feito, a
inseguro edifício da moderna comunicação de
prerrogativa do editorial. Eis a primeira norma
massa.
que o repórter novato da agência de notícias
deve aprender, e muitas vezes aprende ao ser O jornalismo americano não existiria sem elas.
despedido por não segui-la. Tornaram-se indispensáveis.
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Referência bibliográfica
HOHENBERG, John. “O Jornalista Profissional: guia às práticas e aos princípios dos meios de
comunicação de massa”, Rio de Janeiro, Interamericana, 1981. págs.187-202
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Texto VIII
Jornalismo Internacional, Correspondentes e Testemunhos
sobre o Exterior
Guillermo García Espinosa de Los Monteros, 1998 (tradução: Pedro Aguiar)
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
gerada e entregue ao leitor (ou audiência) em Uma leitura de textos escritos por
contextos específicos, com causas e correspondentes que se proponha a extrair
conseqüências. Pelo uso de gêneros, não há ferramentas técnicas e guias metodológicos
exclusividade para repórteres locais ou pode conduzir à descoberta de algumas
correspondentes; a forma mais comum de tendências e regras gerais que ajudem à
redação é a nota informativa. A entrevista, a formulação-retórica do testemunho: os
reportagem e a crônica são pouco freqüentes no testemunhos não tentam fazer literatura, ainda
papel, mas são coisa cotidiana nas divagações que circunstancialmente o façam; a redação de
de repórteres. alguns testemunhos é motivada pela história ou
pela geografia, o homem e seu meio, mas o
valor final é muito maior que o correspondente
Dos Testemunhos sobre Nações a uma só disciplina do conhecimento humano.
Os serviços noticiosos sobre os acontecimentos Os jornalistas que recentemente escreveram
internacionais e os ensaios sobre as nações são testemunhos sobre o exterior afirmam que sua
um produto intelectual europeu, notavelmente intenção não é dizer tudo sobre um país, mas só
francês e anglo-saxão. É o que Smith definiu o que observaram e registraram em um
como "uma seqüela colonial". momento determinado da história. Hedrick
No principio, foi só a tradução de reportagens Smith, correspondente do New York Times em
publicadas em jornais do exterior, mas em duas Moscou entre 1971 e 1974, escreveu na
ou três décadas os despachos jornalísticos introdução de “The Russians” que seu propósito
tomaram sua própria identidade. O não era falar das tramas da política ou da
correspondente se tornou uma extensão da economia soviética, mas das pessoas que
figura do repórter, e progressivamente adotou participam individual e coletivamente das
suas características distintivas. estruturas do sistema. Nas palavras de Alan
Riding, os testemunhos sobre nações devem
O serviço de agências informativas uniu o explicar ao leitor como funciona o país
jornalismo à observação de fenômenos do observado, quais são os valores essenciais que
exterior. Os primeiros ofícios de formam seu sistema.
correspondência foram organizados por Havas,
Reuter e Wolff. Os jornalistas escreveram seus A aparição do testemunho de Smith, em “The
primeiros testemunhos sobre as nações no Russians”, de 1975, teve o efeito de uma
momento de maior expansão do Império notícia. Ao final de sua missão e de volta a
Britânico. Antropólogos e historiadores eram, Washington, o ex-correspondente do New York
até então, os principais produtores de Times escreveu um testemunho de 775 páginas.
testemunhos etnocêntricos sobre sociedades Suas descrições sobre a vida dos russos foram
distantes. tema de comentário em artigos jornalísticos em
todo o país. Em sua explicação de motivos, o
O testemunho dos jornalistas não acaba com a jornalista refletiu sobre as diferenças entre os
difusão de notícias. Alguns dos correspondentes povos e a importância do conhecimento mútuo.
que conseguiram escrever ensaios jornalísticos Sua idéia da transcendência de seu trabalho
se beneficiaram de uma experiência de como correspondente no exterior, com a visão
reportagem no país coberto. etnocentrista estadunidense, ficou expressada na
Os testemunhos sobre as nações não constituem introdução do livro:
um gênero plenamente identificado e “Nós estadunidenses somos um
delimitado, e não há manual que tenha tanto provincianos. Para nós é
referências a este conceito, mas a experiência difícil sair de nossas próprias peles
jornalística dos dois últimos séculos trouxe e entender outra cultura que seja
como herança a conjunção entre os jornalistas e realmente diferente da nossa.
a narração dos acontecimentos noticiosos e os Olhamos para os russos, vemos
fenômenos dos povos do mundo. seus mísseis, seus carros, seus
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
PONTOS DE DISCUSSÃO:
• A afirmação do autor de que “o jornalismo nasceu como uma atividade de informação local”
contradiz a do livro-base “Jornalismo Internacional”, de que “o jornalismo nasceu internacional”.
Qual das duas está correta — ou seriam ambas?
• Que critérios podem orientar o correspondente a utilizar o formato crônica ou matéria jornalística
para escrever seus relatos?
Texto IX
Do Outro Lado do Mundo
Fritz Utzeri, 1989
A primeira coisa que posso dizer, com relação mais verdade ainda na Europa, quando se tem
ao trabalho de correspondente, é que não existe cinco horas a favor. O que significa que,
nenhuma posição para mim dentro do quando o correspondente esta com a sua matéria
jornalismo que seja melhor. O Reale Jr., que é pronta, o pessoal aqui ainda não chegou ao
correspondente de O Estado de São Paulo, jornal. O correspondente trabalha no século
costuma definir essa posição como a de um XXI. Em casa, com um computador na sua
repórter da geral numa cidade que não é a dele. frente, ele passa a matéria direto para o jornal.
O correspondente é alguém que tem que tratar Eu costumo brincar dizendo que o único
de tudo, que tem que falar, por exemplo, da jornalista que pode bater uma matéria de cueca,
eleição francesa, e tentar explica-la para um em casa, tranqüilo, é o correspondente. Os
publico que não vai participar dela. Então,. ele jornais brasileiros, em geral, têm uma estrutura
tem que traduzir a realidade do pais em que que é muito amadorística. Eu fui para os
esta, e fazer o máximo possível de comparações Estados Unidos e para a França e ninguém
que permitam às pessoas identificar o que esta jamais me perguntou sequer se eu falava a
acontecendo com os referenciais que estão língua. Até achei que falava. Quando cheguei
acostumadas a usar aqui em casa. aos Estados Unidos, tomei um susto quando
liguei a televisão. Havia uma crise no ar, e eu
O correspondente não pode, de maneira alguma,
não estava entendendo nada do que a televisão
perder o contato com o seu país. O tempo todo
dizia. Entrei em pânico, achei que não ia passar
ele funciona como um brasileiro que está na
de uma semana. No exterior trabalha-se de uma
Europa, nos Estados Unidos, no Japão, enfim,
forma muito pouco estruturada - com exceção
onde estiver, observando uma realidade que não
de algumas empresas como a Globo e a Abril,
é a dele. É fundamental que o correspondente
que têm escritórios. Para o resto dos
esteja sempre bem informado tanto sobre a
correspondentes, o que acontece é que temos
realidade do país em que esta como sobre a
que ser o produtor, o telefonista, o continuo.
realidade do seu próprio pais. Não é possível,
Isso é um pouco angustiante, porque se chega
por exemplo, não saber quem é Fernando Collor
numa cidade desconhecida com um caderninho
de Melo, ou Leonel Brizola, ou a Xuxa. São
em branco. E como ser "foca" de novo.
coisas fundamentais para pinçar na realidade
Rapidamente é preciso montar um sistema que
francesa, por exemplo, uma comparação
permita não ser "furado" se acontecer alguma
brasileira.
coisa importante, E o importante, no caso, vai
O correspondente, pela estrutura dos jornais desde o fato político local, até a passagem de
brasileiros, é o mais livre dos jornalistas. Isso é algum brasileiro ilustre pela cidade.
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Dificilmente o jornal pede as matérias. Em 90% para mim do que para os americanos. Eu me
dos casos a decisão do que escrever, do que perguntava como nenhuma dessas crianças,
apurar é do próprio correspondente. Se, por um durante anos, disse nada em casa. Através de
lado, isso da uma grande liberdade, por outro uma matéria como essa se tem uma reflexão do
obriga que ele seja muito disciplinado, porque tipo de sociedade que é aquela. É a mesma
tem que manter um fluxo regular de matérias. E sociedade onde, de vez em quando, um louco
o problema é saber que matérias. Pode ser que pega uma carabina e vai ao MacDonald’s matar
um assunto, muito interessante para o criancinhas. É o que e!es chamam de hostage
correspondente ou para o leitor francês, não situation (situação de refém). Na França, eram
interesse ao público brasileiro. Essa freqüentes as matérias mostrando mordomias,
sensibilidade tem que estar sempre presente. marajás, mas em geral os corruptos acabavam
Descobrir um bom assunto, escrever de uma na cadeia ou afastados. O papel do
maneira atraente é importante, porque a maioria correspondente nesses casos é comparar as
dos leitores do jornal não lê a seção situações.
internacional. É importante que o Quando eu era criança, na época em que ainda
correspondente tenha um certo estilo, que havia bonde no Rio, as pessoas me
descubra um gancho, algo que nem é perguntavam quando ia a outras cidades: "Lá na
necessariamente uma noticia importante. tua cidade tem bonde?" Cidade que não tivesse
O essencial é transmitir para as pessoas que bonde era ruim. Isso é um pouco o que todos
estão lendo como é o país onde o fazem com o correspondente: "As pessoas
correspondente está baseado. No meu caso comem o quê? Como vivem? Como se vestem?
particular, como repórter de gera!, sempre achei o que gostam? o que não gostam?" Tudo isso
que, quando não ha um grande assunto — nos temos que responder, e bem. Isso não
quando não se esta cobrindo uma eleição,uma significa que o correspondente não dê um
guerra ou uma crise política —, é melhor tratamento diferenciado às mesmas noticia.s que
simplesmente sair pela cidade. Sempre as agências estão enviando, mas não ha
aconselho aos repórteres que não fiquem na condição de ele competir com o tipo de
redação, porque ha coisas interessantes estrutura de uma UPI ou AP, por exemplo.
acontecendo na rua, e e!e tem que estar de olho Quando eu era correspondente em Nova York,
aberto, à procura de uma novidade. Um simples tinha uma dupla dificuldade, porque na época o
passeio por Nova York ou Paris permite Jornal do Brasil comprava o serviço do New
praticamente esbarrar em pautas na rua. Em York Times. Numa cidade onde se tinha o maior
ultimo caso, pratica-se o chamado vampirismo: jornal do mundo cobrindo e mandando na
pega-se, por exemplo, o Libération e chupa-se mesma noite tudo o que acontecia, fora as
uma matéria. É uma coisa que o correspondente outras agências, era preciso realmente procurar
não gosta de admitir, mas que acontece. Mas muito por um assunto interessante. Mas é
mesmo isso requer uma certa arte. Não basta sempre possível encontrar, até pela liberdade
simplesmente pegar e copiar uma matéria. É que o correspondente tem. O fato é que ele
preciso reescrever o texto de um jeito que o precisa montar uma estrutura. Trabalhando em
Brasil tenha alguma coisa a ver com aquilo. casa, eu não podia me dar ao luxo de ter quatro
Não é necessariamente a matéria mais ou cinco maquinas de telex, uma da Associated
importante do jornal, às vezes é uma notinha. Press, outra da UPI, outra da France Press.
Quando eu estava em Nova York, li uma Aliás, pegar um telex de agência e "pentear" é
matéria pequena num jornal sensacionalista, bobagem, porque o mesmo texto que estaria
New York Post. Era sobre uma escola batendo na minha casa, estaria entrando,
sofisticada na Califórnia que estava usando as exatamente na mesma hora, na redação do
crianças, há vários anos, para fazer filmes Jornal do Brasil.
pornográficos. Apurei mais alguma coisa, e a O que quero dizer é que nos precisamos saber
matéria teve a maior repercussão porque a basicamente o que esta acontecendo, mas de
historia era muito estranha. E era mais estranha
56
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
uma maneira diferente, com uma perspectiva Demos azar parque o governo francês resolveu
local, que permita ao correspondente trabalhar expulsar quatro líbios e, obviamente, não iriam
em cima dela. Nos Estados Unidos o nosso dar a chance de eles viajarem no mesmo avião
trabalho é facilitado pela CNN, uma rede de que a imprensa. O vôo foi cancelado e, então,
televisão chamada Cable News Network, que saiu um avião, com os jornalistas que estavam
pertence ao Ted Turner e permite receber 24 em Roma — inclusive quem viajou nesse avião
horas por dia material não editado. Lembro que, foi o Roberto Pompeu, que era da Veja.
quando explodiu a embaixada americana em Em geral, o correspondente tem pouco contato
Beirute, a CNN entrou no ar ao vivo, e as profissional com os "coleguinhas" do país onde
imagens foram tão horríveis que eles pararam, esta. A não ser que o assunto envolva
pediram desculpas e editaram um pouco. Isso brasileiros. Quando houve aquele caso das
mostra que, se o Reagan levasse um tiro, eu máquinas de videopôquer do Castor de
teria imagens ao vivo. Para não perder nada, Andrade, e os franceses estavam envolvidos —
compra-se um videocassete e deixa-se gravando havia um burocrata do governo, Yves Chalier,
o dia inteiro. Quando se chega em casa, tudo que tinha vindo ao Brasil com um passaporte
aquilo que aconteceu no país está bem à frente. falso, dado pelo ministério do Interior francês, e
Em geral, os correspondentes gostam de dizer tinha participado da montagem do esquema -,
q\le boa cobertura é aquela em que se vai para n6s trabalhamos em ligação com repórteres da
urna guerra, ou para urna revolução. No período televisão francesa. Eu era o bom canal para
em que estive fora, infelizmente ou felizmente transmitir a eles o que acontecia na polícia do
— no sentido de que não sou tão deformado que Rio de Janeiro e, por outro lado, era muito mais
quero que o circo pegue fogo para que eu faça fácil para eles ir à delegacia em Paris e
urna boa matéria —, não houve nada nesse conseguir informações.
sentido. Entre 82 e 85, nos Estados Unidos, o Não adianta ficar indo às redações de jornal
único episódio realmente empolgante do ponto chateando o "coleguinha", porque o fechamento
de vista militar foi a invasão de Granada, mas dele é mais apertado e os interesses não são
ninguém pôde chegar perto. Foi o único caso iguais.
que vi de censura à imprensa nos EUA.
Eventualmente posso recorrer a algum
Havia a tal ponto, que as redes de televisão: à "coleguinha" se não entendo alguma coisa
noite, mostravam alguns pequenos barquinhos muito complicada, ou quando, numa viagem,
de borracha com equipes da televisão tentando preciso assimilar muito rapidamente a rea1idade
chegar perto e helicópteros voando baixo, do local. Isso aconteceu quando fui cobrir, antes
fazendo marola para que o pessoal fosse de ser correspondente, a queda da lsabelita
embora. Foi um bloqueio completo e com Perón. A primeira pessoa que entrevistei na
aprovação do publico. Argentina foi o Jacopo Timmerman que era do
Quando cheguei à França, estávamos em plena Opinion, para ele me dar uma luz. Lembro o
época dos atentados. Em Paris havia urna que ele me disse: "Bom, o senhor, quando
verdadeira histeria, todo mundo era revistado. E chegar na Argentina, sua primeira impressão
a população até queria real mente que se vai ser do caos total. O senhor vai olhar pra
revistasse, porque não é muito interessante estar Argentina e não vai entender absolutamente
numa loja e, a qualquer momento, voar tudo nada, vai pensar que está maluco. Com uma
pelos ares. Enfim, a única crise internacional semana de Argentina o senhor vai ficar feliz,
que houve, e à qual os correspondentes em vai achar que entendeu tudo. E ai quando o
Paris não conseguiram ter acesso, foi o episódio senhor estiver bem feliz, de repente vai lhe
do bombardeio à Líbia. Todos os jornalistas bater a certeza de que o senhor jamais entenderá
franceses, inclusive eu, já tinham lugar marcado a Argentina, e assim o senhor vai continuar para
a bordo de um avião líbio que sairia de Paris. o resto de sua vida junto com todos os
argentinos." É mais ou menos o que acontece
no Brasil. O que é mais freqüente é um
57
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
jornalista francês ou americano, que vai viajar de nos aproximarmos de uma figura assim era
para o Brasil, precisar de informações ou dicas. se, por acaso, ela visitasse o Brasil. Logo que
cheguei à França, o Mitterrand deu uma
Em geral, os correspondentes brasileiros no
coletiva para a imprensa brasileira porque viria
exterior se ajudam na cobertura dos eventos que
ao Brasil. No exterior nos ganhamos a noção da
envolvem personagens brasileiros, até por causa
nossa desimportância. Na França é um pouco
da precariedade da nossa estrutura. Numa
melhor, porque a bagunça quase é igual à do
reunião do Clube de Paris, nós tínhamos que
Brasil. Liga-se para uma pessoa e ela não
ficar na rua a uma temperatura de 15 graus
responde à ligação, briga-se com a secretaria e
abaixo de zero. Virar uma noite, a 15 graus
acaba-se conseguindo falar com um ministro.
abaixo de zero, na rua, brigando com o
Nos Estados Unidos, não se passa, em geral, do
"coleguinha", é absolutamente impossível.
Secretario de Assuntos Latino-Americanos.
Nos Estados Unidos, por exemplo, existem os
A volta para o Brasil não é muito fácil, e é
chamados Foreign Press Centers, que são
completamente diferente para quem até então
Centros de Imprensa Estrangeira, nos quais o
escrevia tudo e só dependia de si mesmo. O JB,
correspondente se inscreve e tem acesso a todas
antes da minha volta, tinha me feito a proposta
as publicações que saem no país, a documentos
de montar a editoria de ciência e tecnologia.
do governo americano, material de pesquisa e
Devo fazer um parêntesis e dizer que sou
xerox livre, o que significa uma facilidade de
médico e entrei no jornal em 68 exatamente
pesquisa para qualquer matéria. Na França não
para cobrir o setor de saúde. Fazer o chamado
existe nenhum lugar para os correspondentes se
jornal medicamentoso era tranqüilo, porque
reunirem, e a televisão só dá as notícias no dia
ainda era uma época em que a censura não
seguinte. É realmente mais complicado. Mas
estava muito preocupada com esse assunto.
como existem as cinco horas de diferença —
Depois ela ficou, porque começou a meningite e
nos Estados Unidos se trabalha contra o relógio
nós descobrimos que através da saúde podia-se
— fica muito mais difícil acontecer algo
contar a historia social do país. Até que se
importante que não possa ser utilizado.
descobriu isso, e ficou difícil também. E foi o
A posição do correspondente brasileiro é muito que fiz durante alguns anos, e não com muito
diferente dos outros. Os corresponden-tes boa vontade. Por melhor que fosse a matéria,
americanos no Brasil, em geral, estão na coluna havia sempre uma coisa que pesava contra mim:
social, até pela própria posição político- "O Fritz é médico." Eu sentia que jamais seria
econômica dos Estados Unidos em relação a aceito como jornalista se ficasse apenas nesse
nós. Os correspondentes americanos na Europa, setor. E foi aí que mudei assim que pude.
obviamente, são importantes, e os
Quando o JB me fez o convite de voltar para
correspondentes europeus nos Estados Unidos,
fazer a mesma coisa, a minha resposta foi
alguns deles, são importantes também.
simplesmente não. Ficou uma situação estranha,
Lembro numa das entrevistas coletivas do porque fiquei deslocado, completamente à
Reagan, por exemplo, que era o próprio margem, e sem muita perspectiva de
presidente que escolhia quem faria as crescimento. Tinha a sensação de que, depois de
perguntas. Ele começava: "Helen Thomas, da ter sido correspondente eu não iria mais a lugar
UPI" — que era, e ainda é, a decana do corpo nenhum. E foi então que resolvi sair. Quando a
de imprensa de Washington e invariavelmente Globo me fez a mesma proposta, aceitei, e não
fazia a primeira e a última perguntas — "Fulano ha nenhuma incoerência nisso, porque o veículo
de TaI da AP", "Sicrano do New York Times", é diferente. Eu começaria fazendo aquilo que já
"Beltrano do Washington Post" e assim por fazia em jornal, mas desta vez aprendendo num
diante. O Pravda, certamente, se tivesse alguma veículo diferente. Os problemas de origem
pergunta para fazer, faria. persistem, passei a escrever pouco e dependo
O resto, nós, o Jornal do Brasil e O Globo, muito mais do trabalho dos outros. A televisão é
nunca tínhamos chance. A única oportunidade alucinada e não existe um trabalho individual.
58
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Em relação ao país, depois de sete anos no a ficar à vontade, e o terceiro é o ano em que,
exterior, entre os Estados Unidos e a França, é efetivamente, a pessoa já é conhecida, já tem
claro que é difícil voltar e se acostumar. O nível um alentado caderninho de endereços. Quando
da deterioração dos serviços e até mesmo o chega a esse ponto a pessoa é transferida, pega
empobrecimento que noto são enormes. Tomei o caderninho, arquiva na mala, e vai para outro
um susto quando recebi o meu primeiro salário lugar com uma nova folha em branco. Fiz isso
brasileiro, e era um salário razoável para os duas vezes, e estou fazendo pela terceira,
padrões locais. O correspondente, mesmo porque voltar para o Rio depois de tanto tempo
dentro dos padrões brasileiros, com a penúria é recomeçar do zero. Aliás, espero que daqui a
empresarial e o custo do dólar, em geral, é um três anos alguém me mande para fora. Até acho
profissional bem pago, inclusive para os que pode existir uma carreira de
padrões franceses ou americanos. Eu ganhava correspondente, afinal, hoje, os jornais
na França iguaI a um bom jornalista francês, o costumam ser cada vez mais especializados.
que significa um bom salário, porque os salários Mas, mesmo que existisse essa carreira, o
dos jornalistas de lá são melhores do que os jornalista deveria passar um tempo na redação
daqui. Em geraI os salários lá são o suficiente antes de seguir para outro país.
para viver. Essa é a diferença básica. Mesmo no Em geral, o cargo de correspondente é visto
caso de um "foca" que está começando e ganha como um prêmio, ou então como solução para
mal, esse mal é o suficiente para ele viver. uma questão política interna da redação.
Uma das propostas que o Jornal do Brasil tinha Quando saí daqui em 82, tinha chegado ao
me feito, e era até uma boa proposta, era para Jornal do Brasil e dito: "Não agüento mais o
ser editor nacional, porque eu seria alguém que JB, vou me embora." Então, eles me fizeram a
teria uma visão ainda um pouco escandalizada proposta de ir para Nova York.
do Brasil, e poderia transmiti-la às pessoas. Na mesma hora eu disse: "Vou." E fui. Mas
Quando cheguei, os deputados brasileiros imaginem desembarcar em Nova York —
estavam querendo aumentar os salários deles e Manhattan, Empire State, World Trade Center,
as pessoas me perguntaram: "Quanto é que Wall Street, milhões de carros na rua, todo
ganha um deputado na França?" Eu disse: mundo falando inglês — com uma folha de
"Olha, um deputado na França ganha papel em branco, sem conhecer ninguém. É
exatamente a mesma coisa que os deputados preciso ir à polícia tirar uma credencial, ao
querem ganhar aqui, a única diferença é que Foreign Press Center, arranjar um apartamen-to,
esse dinheiro na França equivale a 12 salários descobrir quem são os correspondentes dos
mínimos, aqui equivale a 120." Há uma outros jornais, começar a conhecer as pessoas,
distorção maior dentro da sociedade, e são pôr as crianças na escola. A agenda em branco
coisas com as quais não é possível se leva um certo tempo para se encher. O que mais
acostumar. Talvez fosse bom não se adaptar complicou a minha chegada a Nova York foi
realmente. Acho que ainda estou resolvendo a que, dois meses depois, o México decretou a
minha volta. Conheço alguns "coleguinhas" que moratória, e o sistema financeiro internacional
não resolveram bem esse problema, que saíram quase foi à falência. Eu, que nunca tinha
do jornalismo e foram fazer assessoria, coberto economia, fui aprender navegação a
"piraram" ou voltaram para o exterior. bordo do Titanic.
A experiência de correspondente é muito boa, Quando se está lá fora, pode-se reparar que o
tanto que eu não pedi para voltar. Mas os mundo está se integrando cada vez mais, que
jornais, hoje, criaram uma espécie de rodízio, estão se formando grandes blocos econômicos e
em que acham que o jornalista deve permanecer políticos: a Europa de 92, os Estados Unidos, o
três anos no exterior. O prazo adequado para México e o Canadá que estão praticamente
um correspondente ficar no exterior está em formando uma unidade econômica, o Japão e os
torno de quatro a cinco anos. Depois ele deveria países do Sudeste Asiático e a China,
.voltar. O primeiro ano é um ano de construção, namorando essa órbita de influência. Nós nos
não se sabe de nada. No segundo, já se começa
59
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
vemos aqui no quintal, longe desse processo, às de jornalismo com os quais nós não podemos
voltas com as nossas velhas histórias, Os nos comparar. Só para ter uma idéia, um
jornais estão muito preocupados com: "Fulano programa chamado 60 Minutes tem 150
diz", "Sicrano faz". Na época em que comecei, produtores.
os jornais tinham um ar mais corajoso, se Na França, todos os jornais têm opinião sobre
investia mais em reportagem. Posso estar até tudo. O Le Monde, por exemplo, é um belo
generalizando. Os jornais não são muito jornal, com uma perspectiva histórica que,
diferentes uns dos outros. O Globo, por certamente, explicará tudo ou quase, até porque
exemplo, para mim não mudou nada. Outros o francês médio pensa melhor do que o
jornais mudaram um pouco, a Folha americano. Mas é difícil saber o que aconteceu
aperfeiçoou o que já vinha fazendo, é ontem. Uma vez houve uma manifestação
interessante mas ainda é um jornal muito muito grande da CGT em Paris e o Le Monde
confuso. Sinto falta da grande matéria, da garantiu, em três linhas, que aquela
matéria de repórter. manifestação tinha sido menos importante do
No período em que fui correspondente, observei que a de 1984. Eu li e disse: "Obrigado." Essas
dois universos muito diferentes em termos de três linhas resumiam tudo o que tinha
jornal. Os nossos jornais e televisões têm um acontecido naquela tarde, e seguia-se uma
padrão muito mais parecido com o americano. página de análise sobre sindicalismo. Ou seja,
O Jornal do Brasil é muito mais parecido com notícia é em outro lugar.
o New York Times do que com o Le Monde, Existe ainda um jornal chamado Libération. um
sem sombra de dúvida. O americano tem um tablóide muito bem-feito, que não tem a
jornalismo mais investigativo. Basta pretensão de cobrir tudo mas sempre tem alguns
acompanhar, por exemplo, os escândalos que assuntos muito bons. O Figaro é o que mais se
periodicamente acontecem sobre a vida privada aproximaria do nosso modelo de jornalão, uma
dos políticos americanos. Quando o Jornal do espécie de Estado de S. Paulo. É o maior jornal
Brasil publicou uma matéria sobre a filha do nacional da França. Há 25 jornais em Paris,
Lula, ele disse que isso acontecia porque estava cada um deles tem uma tendência política. O
morando aqui e não nos Estados Unidos. Lula Figaro é escandaloso, porque a posição política
disse uma bobagem, porque lá, possivelmente, não está só no editorial, o noticiário também
iriam querer saber não só da filha dele, mas da sofre essa interferência. Quem lê o L'Humanité
primeira namorada que ele teve... Isso dá idéia e o Figaro vê dois fatos completamente
de que lá as coisas têm conseqüência. Basta ver diferentes, porque eles têm uma posição política
o efeito da imprensa em cima do caso que é muito mais marcada do que estamos
Watergate, e, recentemente, do Irãgate. É só acostumados a ver.
comparar com o que acontece no Brasil. Aqui
as coisas se diluem. No Brasil, todo mundo sabe de que lado um
jornal está, apesar de eles gostarem de, pelo
Os jornais americanos são muito ágeis. Até menos, dar uma aparência de que isso não é
porque eles têm uma enorme quantidade de verdade. Na França as pessoas, em geral, não se
dinheiro. Há os grandes jornalões, o preocupam muito com isso., Os jornais
Washington Post, o Los Angeles Times, o New defendem suas bandeiras abertamente. O jornal
York Times; que são nacionais, e as duas mais "furão" da França é um semanário satírico
grandes revistas a Time, e a Newsweek, além de que chama-se Le Cal1ard Enchainé, que é,
uma infinidade de outras revistas da melhor literalmente, o pato acorrentado. Esse jornal, de
qualidade. O New York Times tem um corpo vez em quando, dá furos, denuncia escândalos,
enorme de correspondentes, um staff cria crises de governo. É como se fosse o
gigantesco, e é um jornal massudo, com um Pasquim dos bons tempos dele.
faturamento absurdo, que cobre tudo que se
puder imaginar. Mas há um outro fenômeno nos A televisão não tem o mesmo papel,
Estados Unidos, que é fundamental, a televisão. principalmente porque ela era estatal até pouco
As três grandes redes e a CNN têm programas tempo. Além disso, o francês não gosta muito
60
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
de televisão. Não é igual aos Estados Unidos ou permanência. A Carte de Sejour é o terror do
ao Brasil. Basta dizer, por exemplo, que um dos estrangeiro na França, porque ele tem que ir
programas de maior audiência na França para uma fila quase igual à do Félix Pacheco do
chama-se Apostrophes, um programa literário. Rio. Os jornalistas são mais bem tratados, tiram
Alguém consegue imaginar um programa o documento no mesmo lugar em que os
literário no Brasil às 9h. da noite na Rede diplomatas obtêm os deles. Quem não é nem
Globo? No metrô de Paris, as pessoas, em geral, uma coisa nem outra vai para a fila, e no
estão todas apertadinhas com o seu livrinho, nas inverno, fica-se esperando na rua. Resolvi não
posições mais esdrúxulas, tentando ler alguma tomar conhecimento da simpática velhinha que
coisa. lê-se alucinadamente. Inclusive, às vezes, cuidava disso para mim no serviço dos
os noticiários terminam recomendando um diplomatas e fui como um mortal comum.
livro. Realmente isso não faz parte da nossa Depois de três horas e meia de fila, a 15 graus
cultura. Os jornais franceses atendem muito a abaixo de zero, finalmente me colocaram numa
esse tipo de necessidade. Os franceses têm uma sala, que media 9m2, junto com outras 60
idéia talvez maior da história, existe uma pessoas. Quando consegui chegar ao guichê, a
memória que nós aqui, infelizmente, não. mulher carimbou um papel e disse: "Volte em
temos. maio", ou seja, quatro meses depois. Não me
deu a Carte de Sejour, me mandou para uma
A preocupação com a imagem do país não é só
nova fila, em maio, quando já estaria um pouco
dos brasileiros: Fiz uma matéria que saiu
mais quente. Então tive um ataque, gritei, e
publicada num livro na França, chamado A
quase quebrei uma porta de vidro, porque eu
França no exterior, em que se reuniram 250
queria ser preso. Não aconteceu nada, porque os
artigos de imprensa para mostrar como o país
franceses não reagem. Saí de lá morrendo de
era visto pelos correspondentes. Depois a
raiva e escrevi uma matéria no jornal, contando
revista Actuel traduziu três desses artigos, o
tudo, inclusive dizendo que "quando a gente
meu abria e o do Pravda fechava, dizendo
importou a cultura francesa, a gente importou a
inclusive que as mulheres francesas eram feias
arrogância, a prepotência". Foi uma matéria
e raquíticas.
editorializada e de um mau humor absoluto.
Meu artigo era sobre o seguinte: quando se Obviamente que os franceses souberam, porque
mora na França, todo ano é preciso ir à polícia e depois a matéria apareceu traduzida na revista.
tirar uma Carte de Sejour, uma autorização de Aliás, não me pagaram por isso até hoje.
Referência bibliográfica
UTZERI, Fritz. “Do Outro Lado do Mundo” in RITO, Lúcia; ARAÚJO, Maria Elisa de; ALMEIDA,
Cândido J. Mendes de (orgs.). Imprensa ao Vivo, Rio de Janeiro: Rocco, 1989. págs.145-158
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Texto X
O Fim de uma Era
(Correspondentes Internacionais da TV Globo)
Antônio Brasil, 2003
Primeiro vieram os boatos sobre demissões em mostrar uma guerra de verdade com imagens
Londres. Mais uma vez, o "passaralho" estava extraordinárias. É bem verdade que muitos
solto e voava baixo. Em seguida, a TV Globo jornalistas morreram. Em nenhum outro
enviou nota à imprensa sobre as "mudanças", conflito até hoje, tantos colegas morreram em
transferências ou "realocação" de tão pouco tempo. Em cenário competitivo com
correspondentes internacionais. Também fala-se muitas alternativas, todos buscavam imagens
em um "novo modelo" de cobertura ainda mais exclusivas e sensacionais. Apesar
internacional, mas a verdade é que se tratava do das limitações impostas pela censura militar
fim de uma era. americana, nenhuma outra guerra foi tão
"imagética", permissiva e televisiva como a
Após anos de muita "gastança" em escritórios
guerra do Iraque. As informações eram
suntuosos com correspondentes desfrutando
certamente filtradas, contraditórias e confusas.
vidas de "diplomatas", parece que a crise
Mas poder assistir, pela primeira vez, às
finalmente bateu à porta da cobertura
imagens de tropas em movimento captadas por
internacional da emissora. Há muito tempo a
pequenas câmeras digitais da CNN e
ameaça estava no ar e já se aguardavam
transmitidas ao vivo via Internet foi uma
medidas drásticas em relação à cobertura
experiência inesquecível. Mas também tornou
internacional da Globo. A enorme e luxuosa
muito difícil a vida dos demais correspondentes
redação da emissora em Londres já vivia "às
internacionais. Muitos ainda preferem ou
moscas", lembrança de outros tempos de
aceitam fazer suas coberturas diretamente do
grandes planos e muitos dólares. Os gastos
conforto e segurança dos estacionamentos mais
aumentavam e a produção diminuía. O dinheiro
próximos dos pontos de geração, seja em
não sobrava para viagens e todos os
Londres ou seja no Kuwait. O público que não é
correspondentes tinham que se contentar em
bobo e pode, muda de canal ou desliga a TV.
cobrir o mundo do estacionamento da APTN ou
Depois é só culpar o público e a cobertura
de qualquer esquina de Londres ou NY.
internacional pelo desinteresse e queda de
A gota d'água pode ter sido a guerra no Iraque. audiência para justificar mais cortes de verbas
Enviar coordenador de cobertura internacional, ou demissões.
chefe de bureau em Londres, para a cidade do
Em tempos de vacas magras, a cobertura
Kuwait e transmitir as ultimas notícias das
internacional não tem que ser cara, mas
agências via videofone não fazia mesmo o
certamente deve ser audaciosa e criativa.
menor sentido. O pior é que outro veiculo
Pesquisas recentes nos EUA e na Inglaterra
brasileiro, a Folha de SP, conseguiria enviar
comprovam que o público se interessa pela
seus correspondentes, Sérgio D'Ávila e Juca
cobertura internacional, mas não aprova ou
Varella para o "olho do furacão". Em
aceita facilmente a "frieza" e distanciamento
contrapartida, assistíamos ao Marcos Uchôa
impessoal das coberturas homogêneas das
todos os dias, ao vivo com aquelas imagens
agências de notícias. A presença do repórter em
precárias do seu "videofone" (sic), imóvel com
Bagdá ou em países distantes e desconhecidos
um indisfarçável ar de frustração e tédio
como Camboja personaliza a cobertura. Garante
anunciar os últimos acontecimentos diretamente
qualidade e audiência, mas somente quando as
do balcão de hotel 5 estrelas. Muito dinheiro
matérias são bem produzidas e fazem conexões
para pouco esforço e ainda menos cobertura
com as peculiaridades da cultura nacional.
jornalística. Enquanto isso centenas de
jornalistas do mundo inteiro utilizavam suas
novas tecnologias como o "videofone" para
62
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Referência bibliográfica
BRASIL, Antônio. “O fim de uma era”, in Comunique-se, 10 de outubro de 2003.
disponível em:
[http://comuniquese.com.br]
PONTOS DE DISCUSSÃO:
• .
64
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Texto XI
Crise na Cobertura Internacional
Antônio Brasil, 2002
A notícia é assustadora. Apesar dos atentados Reduzir custos não é necessariamente o fim do
nos Estados Unidos e a guerra no Afeganistão jornalismo. É claro que se torna difícil ou quase
os americanos continuam cada vez menos impossível para aqueles que convivem com
interessados no noticiário internacional. É o que salários e despesas de embaixadores. Buscar
revela uma pesquisa realizada pelo Pew novas pautas e tecnologias dentro dos padrões
Research Center – e divulgada no domingo estabelecidos da ética, ou investigar o inusitado,
(9/6) pelo The Washington Post – que ouviu não parece fazer parte de um novo menu de
3.082 adultos e chegou às seguintes conclusões: opções para boa parte do segmento
internacional.
Somente 12% dos americanos entrevistados
acompanham o noticiário internacional. Em
comparação a 2000, a porcentagem dos que não Cova rasa
se interessam pelo noticiário internacional
passou de 45% para 44%. O segmento que E no Brasil? Como esses dados afetam o futuro
mostrou mais interesse pelas informações da nossa cobertura internacional? Se você
internacionais inclui os profissionais de mais de acredita que, por uma questão de modelo
40 anos, mais especificamente as mulheres, e os adotado, quase tudo o que acontece na TV
maiores de 65 anos. Entre os entrevistados, americana tende a se refletir de alguma forma
55% declararam ter acompanha-do o noticiário em nosso país, então estamos realmente com
da TV na véspera da pesquisa, contra 72% em problemas.
1994. Outros 41% disseram ter lido um jornal, No momento que a nossa categoria ainda está
contra 49% em 1994. enlutada e perplexa pela morte violenta de um
Esses dados são importante e comprovam uma colega em circunstâncias que demandam, por si
tendência de muitos anos. Pelo jeito, o público só, o "melhor" do nosso jornalismo
americano insiste em ignorar o mundo. O país investigativo, talvez estejamos assistindo
investe maciçamente na repressão ao terrorismo igualmente à morte da cobertura internacional.
em lugares distantes e prefere menosprezar as Se o jornalismo investigativo na TV com direito
lições do passado e do jornalismo internacional. às técnicas ocultas vive hoje o seu apogeu,
O otimismo inicial de boa parte da crítica outros segmentos pagam a conta.
especializada em relação à possível reversão A cobertura internacional dos noticiários de TV
dessa tendência após os ataques suicidas em brasileira é hoje mera caricatura de outras eras.
solo americano não parece ter se sustentado. Em se tratando de Copa do Mundo com direito
Houve, sim, uma reação imediata do público. à exclusividade, o massacre do jornalismo
Os primeiros índices apontavam um novo internacional no Brasil é ainda mais
cenário, mas, por vários motivos, não foi significativo. O jornalismo se confunde com o
possível aproveitar a oportunidade e virar o marketing da própria emissora e dá-lhe de
jogo. Se os noticiários de TV estão em crise, o autopromoção, com divulgação incessante de
segmento internacional vive dias de desespero. quebras de recordes nos índices de audiência
Está numa verdadeira encruzilhada. Ao ser durante todos os telejornais. Há muito tempo
obrigada a reduzir custos para sobreviver, a nos acostumamos com a violência das ruas e
cobertura internacional se torna imóvel e com a violência de um noticiário que se recusa
burocrática. A criatividade para buscar a manter o distanciamento legítimo entre os
alternativas encontra enormes resistências de seus próprios interesses econômicos e os
toda a ordem. O jornalismo internacional interesses do público. Afinal, para que tanta
precisa ser sustentado por guerras ou desastres notícia? Internacional então, nem se fala – ou
para sobreviver. nem se cobre! A pátria de chuteiras, com o
65
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Referência bibliográfica
BRASIL, Antônio. “Crise na cobertura internacional”, in Videotexto.tv, .
disponível em:
[http://videotexto.tv.br]
PONTOS DE DISCUSSÃO:
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66
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Texto XII
Cobertura Internacional é para gente grande
Cristiana Mesquita, 2002
Ao ser instada por este Observatório a escrever escritórios e a reduzir equipes. A diferença é
sobre a cobertura do conflito no Oriente Médio que elas se adaptaram aos novos tempos de
pela mídia brasileira, minha primeira reação foi vacas magras.
rápida: "Que cobertura?". E tive que parar e
pensar. O que estaria impedindo a Globo de
enviar uma equipe a Israel? A Globo, sim, Novas tecnologias
porque no Brasil é a única emissora a produzir Há duas maneiras de cobrir um conflito violento
uma cobertura internacional própria. ou guerra – seja em Israel, no Afeganistão, na
Confesso que tem sido uma tortura acompanhar Bósnia ou qualquer outro lugar.
o noticiário nacional sobre o Oriente Médio. Você pode planejar sua cobertura como uma
Tenho preferido assistir aos telejornais da CNN grande rede americana, que envia equipes de
ou da BBC – ao quais, apesar de não serem pelo menos 10 pessoas, mais suas próprias
perfeitos, ao menos têm equipes reportando do facilidades de geração, e isso custa uma
olho do furacão. Se é uma tortura para mim, verdadeira fortuna. Ou você manda um pequeno
fico imaginando que como devem estar se grupo de profissionais altamente treinados que
sentindo os correspondentes internacionais da vai saber se virar com o mínimo de recursos. As
Rede Globo. emissoras brasileiras não têm dinheiro para a
Tenho certeza que os repórteres da Globo estão primeira opção e nem os profissionais, para a
infelizes por ter que destrinchar horas de segunda.
imagens enviadas pelas agências para, depois, Os jornalistas brasileiros que são enviados para
escrever um texto, também baseado nas o exterior foram criados e treinados nas
agências, e, finalmente, descer três lances de emissoras, onde acostumaram-se a contar com
escada para encerrar a matéria com uma uma estrutura de trabalho que jamais
"passagem" de Londres... encontrarão no campo. Nas minhas coberturas
Desde o fim da ditadura, quando a cobertura de guerras para agências internacionais de
internacional era fundamental para tapar os notícias, raramente contei com mais de duas
buracos deixados pela censura nos telejornais, pessoas na equipe. E para que isso funcionasse
as emissoras brasileiras optaram por delegar era necessário que todos fizéssemos de tudo.
essa tarefa para as agências internacionais de Repórteres e cinegrafistas são treinados para
notícias e para a CNN. Os altos custos de fazer muito mais do que suas respectivas
cobertura, aliado à idéia (totalmente absurda) de funções exigem. Já aconteceu, por exemplo, de
que o público brasileiro não se interessa por eu estar ocupada produzindo ou escrevendo
matérias do exterior, foi a pá de cal no uma matéria e o cinegrafista sair correndo para
jornalismo internacional de qualidade na fazer uma entrevista; ou então o cinegrafista
televisão brasileira. estar ocupado com uma edição e eu ter que sair
A Globo se esforça. Mantém escritórios em para gravar imagens complementares.
Londres e Nova York e, mesmo sem ter Os tempos mudaram e a televisão, por mais
competidores, continua buscando os furos de irônico que pareça, deve se mirar no exemplo
reportagem - como a entrevista com brasileiros dos bons e velhos repórteres de jornal que saíam
que estão passando o pão que o diabo amassou da redação de ônibus, com um endereço num
em Ramallah, por telefone. É melhor do que pedaço de papel e uma câmera fotográfica
nada, mas não posso aceitar que seja apenas pendurada no ombro, e voltavam com a matéria.
uma questão de custos.Grandes redes em todo Talvez esteja exagerando um pouco, mas esse é
mundo também foram forçadas a fechar o espírito.
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Cobertura de guerra é muito caro, a começar como "lapadas", isto é, dez segundos para cada
pelo seguro de vida dos profissionais. Se assunto, como uma revista em que as páginas eram
alguém já se deu ao trabalho de ler as letrinhas viradas rapidamente dando tempo de ler apenas as
de alguma apólice de seguros vai notar que manchetes. Hoje já se pode ver longos minutos
todas esclarecem que não cobrem acidentes dedicados a uma matéria com participações de
ocorridos em zonas de guerra. Depois, vêm os correspondentes em Londres, Nova York e
custos de transmissão, hotéis, aluguel de carro, Washington.
intérpretes, diárias e por aí vai. Não se pode O Jornal Nacional, que tem um padrão
abrir mão do seguro, mas, para todo o resto, extremamente rígido, inovou colocando no ar o
uma equipe bem treinada pode dar um jeito. trabalho do videojornalista Luis Nachbin, que viaja
As redes brasileiras de TV também têm sido o mundo sozinho gravando suas próprias matérias.
incrivelmente lentas em reagir às novas Por enquanto são apenas matérias frias, com
tecnologias. Boa parte das equipes que estavam formato quase idêntico ao das reportagens
cobrindo a guerra no Afeganistão já usavam tradicionais, mas já é um começo. A Globo se
pequenas câmeras de vídeo e transmitiam suas arriscou, e muito, quando colocou no ar, para
matérias pelo computador. A própria CNN faz reportar direto do Afeganistão, uma completa
isso o tempo todo. O videofone, que permite ao desconhecida que nunca fez sequer uma aulinha de
jornalista entrar ao vivo de qualquer lugar do dicção. Está certo que houve um momento de
mundo utilizando apenas uma linha telefônica, pânico na redação quando me perguntaram se eu
já tem qualidade suficiente para ser adotado em tinha um blazer para fazer o "ao vivo" – e eu
qualquer telejornal com relatos de primeira respondi que não tinha blazer nem batom e o que o
mão. cabelo não era lavado havia pelo menos 5 dias. Foi
importante lembrar a eles que eu estava em Cabul e
Dou minha cara a tapa se uma entrada do
não em Brasília.
repórter Caco Barcelos via videofone no Jornal
Nacional, mesmo que com a qualidade inferior Correspondente de guerra não é estrela, é operário.
mas falando direto de Israel, não daria o maior Trabalha feito operário e vive como operário. E não
ibope. adianta mandar uma equipe para marcar presença
por uma semana para acompanhar a visita a Israel
do secretário de Estado americano Colin Powell. A
Paletó e gravata equipe tem que ficar lá o tempo necessário para
O conflito em Israel, que a qualquer momento entender a história (ainda não inventaram maneira
pode descambar para uma crise geral no Oriente melhor para cobrir um fato), estabelecer contatos e
Médio com conseqüências inimagináveis para se entrosar com a pequena comunidade de
todos nós, enquanto isso vai deixando de ser a correspondentes de guerra que, no final das contas,
matéria de abertura dos telejornais e daqui a são as únicas pessoas com quem se pode contar
pouco passa para o segundo bloco, depois para quando alguma coisa dá errado.
o terceiro, até virar uma notinha. Aí vão dizer O correspondente de guerra tem que ter a
que é porque o público cansou da história experiência que vai lhe permitir total autonomia
quando, na verdade, o público cansou é de ver para decidir o que cobrir – e como. O
aquela matéria fria que não acrescenta nada ao correspondente de guerra tem que estar
que já não tenha visto nos jornais ou em outro familiarizado com todo o tipo de tecnologia que vai
canal. facilitar e baratear sua cobertura.
Muita gente talvez não tenha notado, mas a Resta saber se a Globo está disposta a tirar o
cobertura internacional da Globo melhorou. Houve paletó e a gravata e botar a mão na massa.
uma época em que as matérias de fora entravam Esperamos que sim.
Referência bibliográfica
MESQUITA, Cristiana. “Cobertura internacional é para gente grande”, in Observatório da Imprensa,
17 de abril de 2002.
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
disponível em:
[http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/mo170420021.htm]
PONTOS DE DISCUSSÃO:
• .
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Texto XIII
Cobertura Brasileira sobre Guerras
Entrevista com Jayme Brener, 2003
Como o sr. vê a cobertura da imprensa Brener - A imprensa brasileira quase não tem
brasileira sobre a guerra no Iraque? Quais mais correspondentes internacionais. Haverá
veículos retratam o conflito de maneira fiel e poucos colegas na cobertura da guerra. Isso
quais o cobrem de maneira errada? quer dizer que dependeremos basicamente das
Brener - Ainda é cedo para saber, uma vez que agências internacionais. Ainda assim, o grau de
a guerra não começou. Mas há uma diferença divisão que esta guerra vem provocando deve
fundamental entre a cobertura desta protoguerra garantir uma cobertura mais pluralista.
e do conflito de 1991. Hoje, o mundo todo está
contra a guerra, inclusive a imprensa brasileira. Para qual veículo o sr. trabalhava quando
cobriu a Guerra da Nicarágua e como foi
A imprensa retrata a guerra de maneira essa experiência? O que mudou na
justa e imparcial? Ela pode realmente cobertura das guerras desde então?
influenciar a população a favor ou contra Brener - Cobri o conflito para o Jornal do
um conflito armado? Brasil e depois para a Rádio Eldorado e,
Brener - Quando se fala em imprensa, conceitos principalmente, para o Jornal da Tarde. A
como “justiça” ou “imparcialidade” são experiência foi fantástica, com um detalhe: eu
discutíveis. Tanto é assim que toda a imprensa era stringer, isto é, um free lancer fixo. Quer
brasileira é “parcial” no caso, é contra a guerra. dizer, não tinha nenhuma estrutura de apoio.
A mídia pode influenciar a população em O que mudou na cobertura tem a ver com o fim
relação a um conflito armado. A cobertura da Guerra Fria. Hoje, nas grandes guerras, o
altamente profissional da Guerra do Vietnã jornalista é muito mais monitorado. Veja-se o
(quase sem censura, ao contrário de hoje) teve caso da Guerra do Golfo, em 1991. É quase
papel decisivo para o crescimento do impossível imaginar um jornalista ocidental
movimento pacifista nos EUA. entrando na guerra pelo lado iraquiano. Na
América Central e no Oriente Médio, tive a
Como a cobertura norte-americana das sorte de poder cobrir a partir de vários lados
guerras influencia o jornalismo brasileiro? diferentes.
A imprensa nacional faz apologias?
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Qual sua visão sobre o Oriente Médio e a colonialismo francês, nos anos 50 e 60, são
relação deste com a imprensa? exemplos disso.
Brener - Acho que estamos diante de uma
situação sem solução de curto prazo. De um Como o conhecimento da história o ajudou
lado há o governo de Israel, que eterniza a no jornalismo?
ocupação dos territórios dominados. De outro Brener - Por muito tempo tive uma certa crise
lado, com Yasser Arafat temendo a força do de identidade Sou jornalista, professor de
integrismo islâmico, não se vislumbra nenhuma história, historiador ou o quê? Hoje, acho que
força disposta a negociar de fato, o que essa divisão foi fundamental para o meu
implicaria em concessões mútuas. Os dois lados trabalho. Sou um contador de histórias que
parecem se orientar apenas pela destruição utiliza instrumentos diferentes a cada momento.
absoluta do outro.
Até que ponto o sr. nota uma diferença de
É voz corrente que numa guerra a primeira método entre jornalismo e história?
vítima é a verdade. Como o sr. mantém a Brener - A pesquisa histórica requer um certo
verdade em uma cobertura de guerra? distanciamento de tempo que o jornalismo não
Brener - O que é verdade? Isso não existe. O pode tolerar. Mas há inúmeros pontos de
que há é a busca por ouvir vários lados, ser intersecção. A narrativa de uma guerra é
mais ou menos objetivo. Mas qualquer matéria fundamental para a construção da massa crítica
é versão, a partir da própria escolha dos tópicos da historiografia. É isso que vou tentar trabalhar
principais. Isso é “uma” verdade. no curso da Cásper.
Para os pacifistas, nenhuma guerra é justa, Como autor de livros paradidáticos, o sr.
pois, independentemente da razão pela qual acredita que o texto didático influencia o
se luta, pessoas morrem. Já os defensores texto jornalístico?
dos conflitos armados alegam que uma Brener - Acho que uma das coisas mais
guerra pode ser justa dependendo do que a interessantes do jornalismo é o
motiva. Na sua opinião, existe guerra justa? desenvolvimento da habilidade de escrever de
Brener - Essa hipótese sobre a posição dos formas diferentes, para públicos diferentes. O
pacifistas não me parece correta. Uma guerra garoto que lê um paradidático não é o
contra a ocupação pode ser justa. O conflito dos empresário que lê um release ou o engenheiro
resistentes contra a ocupação nazi-fascista, na que lê uma publicação técnica. Acho que um
2ª Guerra Mundial, ou dos argelinos contra o dos temperos do ofício é justamente a arte de
contar histórias de formas diferentes.
Referência bibliográfica:
Entrevista de Jayme Brener concedida a Fabiana Panachão e Noêmia Lopes, alunas do 3º ano de
jornalismo da Faculdade Cásper Líbero (São Paulo)
disponível em:
[http://www.clubemundo.com.br/revistapangea/show_news.asp?n=182&ed=2]
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Texto XIV
Jornalismo sem Fronteiras
(História da CNN)
Sidney Pike, 1991
Ted Turner começou a sua vida profissional que o cabo fosse usado para retransmitir as
trabalhando no negócio criado pelo pai: uma estações locais. Quem iria pagar pela TV a
empresa de publicidade em outdoor. Depois cabo, quando podia sintonizar as estações locais
quis entrar no show business e comprou diretamente com a antena e de graça? Mas o
algumas estações de rádio, que não fizeram governo mudou essa situação, permitindo que
muito sucesso. Seu passo seguinte foi uma as estações de TV a cabo avançassem para além
pequena estação de TV em UHF, que também do seu mercado local. Foi nessa ocasião que
ia mal porque, na época, 1970, só as redes eram Ted colocou no satélite a nossa estação, que
bem sucedidas, obtendo mais ou menos 96% da tinha uma programação de entretenimento e
audiência. Dessa forma, quando ele me chamou esportes. Eu era o administrador da estação e
para trabalhar eu hesitei muito, porque eu era comecei a receber cartas até de Yukon, no
um profissional e ninguém com experiência em Alaska, pedindo que transmitíssemos
TV trabalharia para uma estação terrível, que os determinados filmes, e assim por diante. Eu não
telespectadores mal podiam localizar. conseguia acreditar que as pessoas, àquela
distância, estavam recebendo nosso sinal.
Naquele tempo, não havia esses seletores de
canais com botões para apertar. O seletor de Nesse começo, as redes nacionais de TV
UHF a gente girava, como o dial do rádio, e era baseadas em VHF, UHF e microondas eram
difícil sintonizar os canais. A emissora de bem superiores às emissoras a cabo e abrangiam
Turner era uma das que estavam "perdidas no todos os Estados Unidos. O resto do mercado de
dial", mas, assim mesmo, resolvi trabalhar com teledifusão era muito fraco.
ele. Logo descobrimos que os únicos Mas Ted teve uma idéia que fez com que a TV
telespectadores que conseguiam encontrar o a cabo se expandisse: criou um serviço de
nosso sinal eram as crianças. Elas não se notícias para ficar 24 horas no ar. Assim, no dia
incomodavam de girar o botão até achar o que 1 de junho de 1980, inauguramos a Cable News
queriam. Por isso, começamos a lutar para sair Network, CNN.
do anonimato colocando no ar programas
infantis. A CNN é hoje a maior rede de TV a cabo dos
Estados Unidos. Atinge 58.892.000 residências,
Aceitar o convite de Ted Turner foi, o que corresponde a 63,3% de todos os lares
provavelmente, a decisão mais inteligente que americanos. Seu índice de audiência mais alto
já tomei na vida. A pequena estação em UHF foi alcançado durante a Guerra do Golfo: 23%,
que ninguém assistia logo seria vista por todo durante quinze minutos. Foi um índice cinco a
mundo - literalmente. Em 17 de dezembro de sete vezes maior do que os usuais. junto aos
1976, nós começamos a transmitir o seu sinal jovens, a audiência atingiu uma faixa mais
para um satélite e foi então que a coisa começou expressiva, variando de dez a treze vezes mais
para valer. Apertamos um botão e, de repente, a do que o normal.
estação podia ser vista em todos os Estados
Unidos, além do Canadá e da América Central. Mas o sucesso veio bem antes de janeiro e
Inicialmente, porém, só estávamos interessados fevereiro de 1991. Logo que apareceu, a CNN
nos Estados Unidos. começou a incomodar os concorrentes e alguns
deles, como a ABC-TV e a Westinghouse,
A distribuição do sinal que enviávamos para o decidiram criar o seu próprio serviço de
satélite era feita a partir das instalações de TV a informações 24 horas. Tão logo eles os
cabo de cada cidade. O sistema ainda era bem anunciaram, em 1982, Ted reagiu com outro
incipiente, porque as leis da época só permitiam
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
serviço de notícias, com outro formato: O único sinal disponível em satélite naquela
Headline News. época era o nacional americano, que abrangia
também o Canadá e a América Central. Porém,
O noticiário original da CNN tinha longa
havia mais um, que não era comercial: o
duração. Os jornais poderiam ter uma hora,
Serviço de Rádio e Televisão das Forças
duas, quanto tempo demorassem para dar a
Armadas, o AFRTS. Ele tinha uma
notícia. O serviço da Headline News, ao
programação de 24 horas de duração, com
contrário, só durava meia hora.
programas emprestados da NBC, CBS, ABC e
Eram trinta minutos de programa que se CNN, que, aliás, ocupava metade do tempo.
repetiam seguidamente. Enquanto ia passando,
Obtive, então, o direito de utilizar o sinal do
mais notícias eram recolhidas. Portanto, alguém
AFRTS, já que estávamos cedendo material
que estivesse com pressa e não tivesse tempo
sem cobrar nada. Um dos sinais desse satélite,
para sentar e assistir a notícias longas, poderia
que foi projetado para chegar até as forças
ver um resumo em meia hora. Se sintonizasse o
estacionadas na Islândia, além de cobrir o
canal, por exemplo, às 10h05, perderia os
Oceano índico e a Europa, abrangia também
primeiros cinco minutos do jornal. Mas
toda a África e América do Sul, exceto o Peru e
assistiria aos 25 minutos restantes e continuaria
o Equador. Isso me permitiu fazer acordos na
ligado para assistir aos cinco minutos iniciais do
América do Sul e na África.
próximo noticiário. O telespectador sempre
tinha acesso à meia hora completa de notícias. Agora já temos um sinal próprio, na faixa
chamada KU. Ele é menor e o mais potente.
A distribuição internacional dos nossos serviços
Quanto menor o sinal, mais poderoso ele é. E
teve início por acaso.
quanto mais poderoso, menor a antena que
Estávamos realizando experiências de exige para recepção.
retransmissão do sinal no Pacífico, quando os
Uma das primeiras coisas que descobri na
australianos perguntaram se podiam testar a
minha primeira viagem ao Pacífico, quando fui
CNN. Então, "videoplexaram" o nosso sinal.
fechar acordos com o Japão, foi que havia um
Isso significa que apanharam o seu
consórcio chamado Intelsat, que controlava
transponder, dividiram as linhas no meio e
todos os satélites ao redor do mundo, exceto os
intercalaram as notícias da CNN com as
soviéticos. Essa organização é formada por
notícias nacionais em seu sinal habitual,
cerca de 117 países e os representantes de cada
obtendo duas imagens em vez de uma. Os
país são as PTTs, isto é, as empresas de post-
japoneses também fizeram experiências desse
telegraph-telephone (correio, telégrafo e
tipo. Quando percebemos o potencial desse uso
telefone). A Embratel é a PTT do Brasil.
múltiplo dos satélites, um dos membros da
nossa equipe foi tentar vender a CNN a outros Descobri que as PTTs formam um monopólio.
países que pudessem receber o nosso sinal, Ganham bastante dinheiro com a retransmissão
além do doméstico. de sinais e não querem mudar o sistema.
Durante dois anos, porém, esse colega não Quando fiz o acordo com a TV Asahi, por
conseguiu realizar uma única venda e em exemplo, ela teve que pagar um milhão de
dezembro de 1983, pediu demissão. Então me dólares por ano à KDD, a PTT japonesa, para
perguntaram se eu gostaria de assumir o receber o nosso sinal, quando poderia fazer isso
comando do setor internacional. usando simplesmente uma antena 20 vezes mais
barata. Além disso, a PTT fez com que o sinal
Aceitei imediatamente. Em janeiro de 1984,
fosse enviado a 60 milhas de distância de
comecei minha primeira viagem pelo Pacífico e
Tóquio, obrigando a Asahi a investir mais 500
voltei com acordos que equivaliam a um total
mil dólares em microondas para trazê-lo até a
de quase dois milhões de dólares. Foi assim que
cidade. Nossos parceiros tiveram que
tudo começou.
desembolsar, então, um milhão e meio de
dólares pelo sinal, quando tudo o que tinham
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
que fazer era pagar 50 mil dólares por uma esquema que nos tolhia. Primeiro, fizemos um
antena e colocá-la do lado de fora da estação. acordo com o Intelsat, chamado "Sinal de
Mas era a PTT que controlava o envio de sinais Multitransmissão". Começamos a pagar não só
do satélite para a Terra. pelo envio do nosso sinal ao satélite, mas
também todos os encargos normalmente
Quando fui a Taiwan, encontrei com
desembolsados pelas estações receptoras, para
representantes das três redes de emissoras locais
trazer os sinais à Terra. Todos os custos
e expliquei-lhes que a CNN estaria à
passaram a ser cobertos pela CNN e qualquer
disposição. Mostrei como nosso trabalho era
pessoa podia receber o sinal. O único problema
realizado e eles aceitaram operar conosco.
no acordo era que as PTTs tinham que aprová-
Então, perguntaram: "como teríamos recursos lo.
para receber o sinal?"
A outra forma que encontramos para romper o
Eu entendi o que queriam dizer. Quando os monopólio surgiu no Brasil. Este era um país
satélites apareceram, trinta anos atrás, as crucial para a nossa estratégia, porque
estações recebiam apenas dez minutos de acreditávamos que se o Brasil entrasse no nosso
notícias por dia, contendo de três a quatro sistema, todo o resto da América Latina o
histórias. O pagamento do envio do sinal à seguiria. Na época, um homem chamado René
Terra foi estabelecido da seguinte forma: 350 Anselmo, que era um dos donos da SIN -
dólares pelos dez primeiros minutos e 29 Spanish International Network, tinha acabado
dólares para cada minuto adicional. Eu não de vender sua parte na empresa por mais de 200
estava oferecendo transmissões de dez minutos, milhões de dólares e resolveu gastar 100
mas uma programação de 24 horas. Então milhões para construir um satélite denominado
peguei minha calculadora e fiz 29 dólares vezes PanAm Sat, que abrangeria toda a América
60 minutos, vezes 24 horas, vezes 365 dias. Latina. Anselmo construiu, de fato, mas
Dava mais de 16 milhões de dólares. ninguém o utilizava. Então, ele nos procurou.
Disse a eles que as três emissoras, juntas, iriam Imediatamente vi a oportunidade de utilizar esse
pagar apenas cerca de 400 mil dólares por ano satélite em nosso benefício. Mas, o Intelsat,
pelo nosso serviço. Mas eles lembraram que percebendo que, pela primeira vez, enfrentaria
tinham que prestar contas à PTT e que ela não competição, tornou-se mais flexível nas
aceitaria que o negócio fosse fechado fora das oportunidades que nos oferecia.
regras estabelecidas. Exigiria que pagassem 16
Só que a Embratel não queria permitir que o
milhões de dólares para receber um sinal que eu
Intelsat fizesse uso de seus satélites para
estava oferecendo por 400 mil...
transmitir o sinal como necessitávamos. Sua
Esse era o tipo de situação que tínhamos que rigidez era um grande problema.
enfrentar no exterior.
Foi quando alguém deu uma olhada na lei
Mas os problemas não eram muito diferentes brasileira e descobriu que, embora a Embratel
quando se tratava de administrar o nosso sinal fosse apontada aí como a responsável pela
nacional. Em reunião com nosso departamento transmissão dos sinais dos satélites brasileiros e
jurídico, criamos um documento chamado do Intelsat à Terra, não havia nenhuma menção
"Programa de Dispensa de Direitos Autorais". a respeito de outros satélites. Era o nosso caso.
Com ele, podíamos dizer a um país do Caribe Tínhamos um satélite particular, que não era
ou da América Central que não iríamos nem nacional, nem internacional, e cujo
processá-los se estivessem utilizando nosso proprietário era um indivíduo. A Embratel teve
sinal, protegido por direitos autorais. Mas de admitir que não era responsável por esse
também dizíamos a eles que obter o sinal era satélite e conseguimos a permissão para
problema deles... transmitir o sinal, como fazemos agora no
Essa foi a forma que encontramos para começar Brasil.
e, com o tempo, conseguimos desgastar o
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
O melhor exemplo desse problema com a licenciada pode utilizar esse material não
Embratel foi o caso da TV Manchete. Três ou apenas em noticiários, como também em seus
quatro anos atrás, vim ao Brasil e fiz um acordo próprios programas.
com a Manchete, que foi a primeira estação Além das emissoras, vendemos um serviço de
daqui a se interessar pela CNN. TV a cabo para os países onde o sistema já está
Assinamos um contrato que dependia da implantado. Nossos clientes são hotéis e
aprovação da Embratel, permitindo a também particulares que possuem antenas
transmissão do sinal pelo seu sistema, já que parabólicas. Jornais recebem nossas imagens e
eles não tinham condições de pagar por 24 colocam monitores na redação, para que todos
horas de transmissão pelo nosso. O pessoal da vejam o que está acontecendo no mundo.
Manchete não conseguiu fazer com que o Nós fornecemos as imagens da CNN a todos os
governo concordasse com isso, até o líderes mundiais. E de graça. Elas são vistas por
surgimento do PanAm Sat. Mas depois que a Gorbatchov, Ieltsin, Bush, todos eles. Há uma
Embratel aceitou os nossos argumentos legais, história sobre um primeiro-ministro de Bahrein
tudo se acertou e, conforme o previsto, todos os que foi ao Hemsley Plaza Hotel de Nova York
outros países sul-americanos permitiram que com sua comitiva. Ele chegou, foi para a sua
continuássemos. suíte e foi logo ligando a televisão na CNN.
Alguns anos atrás criamos um terceiro canal de Mas, por alguma razão, não conseguiu
24 horas de duração, especialmente para encontrar o canal e ligou para a recepção.
transmitir para fora dos Estados Unidos: o CNN Desculpando-se, a recepcionista informou que o
International. Ele não é um canal tão hotel não assinava a CNN. Na mesma hora, o
americano. O interessante é que os únicos que primeiro-ministro saiu do quarto, mandou pagar
fizeram objeção foram os japoneses, porque a conta e ordenou aos assessores que
queriam assistir a tudo o que estivesse encontrassem um hotel que recebesse o nosso
relacionado com os Estados Unidos. Ainda sinal.
hoje, em alguns casos, eles trazem o sinal Fornecemos serviços atualmente a 122 países.
nacional da CNN ao Japão para utilizá-lo em Mas é certo que eles atingem uma audiência
seus noticiários. De qualquer forma, agora dez, vinte, talvez 100 vezes maior onde há
temos um sinal internacional separado, para os algum tipo de pirataria. A CNN é vista em
nossos clientes ao redor do mundo. muitas partes do mundo por qualquer pessoa
Oferecemos três opções de serviços. A primeira que possua uma antena parabólica. O sinal só é
são notícias compactas, contendo histórias que codificado no hemisfério ocidental, nas
acontecem a toda hora e são inseridas nos transmissões nacionais e no PanAm Sal. Mas
noticiários locais. Não importa qual seja o seu utilizamos um satélite soviético chamado
noticiário local, você pode incluir as nossas Statsionar 12, que abrange metade do mundo e
histórias. É um serviço novo, igual ao da é captado, sem codificação, na África, na Ásia
VisNews ou da WTN. A segunda opção são as Meridional e no Oriente Médio.
notícias de impacto, as mais importantes e de A pirataria é feita de várias formas. Há, por
maior efeito. Assim que algo acontece, nós exemplo, o que chamo de "Sistema Guatemala".
colocamos imediatamente no ar, de modo que o Quando fui àquele país fazer acordos para a
fato pode ser visto na mesma hora em que está CNN, descobri como funciona. Em um lugarejo
acontecendo e ao mesmo tempo em que as qualquer, alguém instala uma antena e consegue
pessoas em Washington, Londres ou Tóquio receber as imagens da CNN. Então o seu
também o estão vendo. Foi o serviço utilizado vizinho pede para receber também. Eles puxam
durante a Guerra do Golfo, por exemplo. Na um fio da primeira casa até a do vizinho. Então
terceira opção, permitimos que os licenciados outro vizinho diz que também quer assistir a
utilizem nossas outras atrações: programas de CNN e puxa outro fio até sua casa. Assim, os
ciência e tecnologia, alimentação, nutrição, fios vão se espalhando até que se tenha um
moda, cozinha, etc. A emissora de televisão
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eles examinavam as declarações não tanto para casas, para a mobília, ete. As notícias serão
descobrir as verdades que elas pudessem conter, transmitidas eletronicamente.
mas para descobrir suas mentiras. Isso O jornal não vai deixar de existir, mas o sistema
acarretava uma constante busca de falhas. que utiliza será transformado. Em vez de usar
"Ninguém espera que a imprensa tenha uma notícias impressas em papel, ele utilizará meios
amizade íntima com o Exército, mas havia um eletrônicos para a transmissão de informações.
relacionamento antagônico sem necessidade", Temos canais de TV suficientes para isso.
diz o jornalista. Atualmente, um único aparelho de TV pode
Quanto às restrições, a imprensa era mantida sintonizar centenas de canais. Digamos que um
em pools escoltados pelo Exército. A mídia jornal ocupe quatro ou cinco canais. Um deles
cresceu tanto nos Estados Unidos que há pools poderia tratar de esportes, com repetições
em toda parte, incluindo a Casa Branca. Elfen durante todo o dia. Outro poderia tratar de
acha que se tivessem permitido que a imprensa economia, um terceiro transmitiria só notícias
se deslocasse à vontade, teria havido mais Bob gerais e assim por diante. Dessa forma, o
Simons, o repórter da CBS que foi preso pelos público só teria a preocupação de escolher o
iraquianos junto com sua equipe. canal a que quisesse assistir a cada momento.
O que eles teriam obtido? Para onde iriam? O Parte do jornal seria, então, transmitida pela
Golfo não era o tipo de guerra que eles televisão e parte seria impressa. Poderia haver,
esperavam. Para Elfen, Watergate e Vietnã inclusive, um canal só para anúncios
pertencem ao passado. Ele diz: "O desafio da classificados.
imprensa nos dias de hoje é lidar com as Um bom exemplo de como as coisas caminham
mentiras que surgem no nosso governo todos os nesse sentido foi o equipamento utilizado na
dias, mas sem apresentar uma atitude agressiva, Guerra do Golfo. Seis horas após a guerra
sem ficar pensando que cada detalhe é um novo estourar, todos os satélites de que a CNN
Watergate". necessitava já tinham sido reservados por seis
A imprensa tinha que enfrentar também outro meses. Isso incluía conexões com a Arábia
problema: o fato da CNN estar transmitindo Saudita, Jordânia e Bahrein. Toda a cobertura
todas as instruções militares. Diariamente acabou sendo realizada através do Comsat, a
transmitíamos os briefings matinais dos Estados PTT dos Estados Unidos, e do BTI de Londres,
Unidos, do Reino Unido e da França, assim a PTT britânica.
como da Arábia Saudita. A imprensa estava Além disso, mantivemos um canal aberto no
nesses lugares para obter as mesmas notícias Intelsat 24 horas por dia.
que as pessoas recebiam em suas casas. Assi m,
era bem compl icado enviar ao editor uma Tivemos ainda permissão para utilizar dois
reportagem a que ele já tinha assistido. Isso uplinks, sistemas de comunicação via satélite
pressionava bastante os repórteres e os deixava que cabiam em um conjunto de pequenas malas.
frustrados. Mas serviu para mostrar a eles como Pode-se fazer um uplink om uma antena
está mudando a forma pela qual as notícias são pequena, de apenas 1,8 metro de diâmetro. Um
colhidas e apresentadas. deles foi instalado na Arábia Saudita e outro,
um com antena de 12,4 metros, ficou em Amã.
Devemos guardar de recordação alguns dos Ambos foram devidamente autorizados pelas
jornais que lemos hoje, porque não os veremos PTT locais. Houve problemas com a permissão
por muito tempo. Nós até podemos continuar a de trabalho no Iraque, já que, naturalmente, o
vê-los, mas os nossos netos com certeza não. Departamento de Estado tinha rompido relações
Ecologicamente falando, não temos condições com aquele país. O jeito, então, foi a Jordânia
nem de sustentar a população que cresce fazer os acordos necessários com Bagdá e nós
rapidamente no planeta, nem de provê-la com realizarmos os acordos com a Jordânia. Assim,
jornais e revistas, derrubando todas as árvores o sinal de Bagdá era enviado a Amã e de lá para
necessárias para isso e para a construção de Atlanta.
77
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Referência bibliográfica:
PIKE, Sidney. “O Jornalismo Sem Fronteiras” in Encontro Internacional de Jornalismo: conferências
e debates (edição: Gabriel Priolli), São Paulo: IBM, 1991.
PONTOS DE DISCUSSÃO:
• .
78
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Texto XV
Em Directo da Guerra: o impacto da Guerra do Golfo no
discurso jornalístico
José Rodrigues dos Santos, 2003
Passava já das duas e meia da manhã de 20 de repórter abafada pelo trovejar das explosões e
março de 2003 quando se ouviu um estrondo das rajadas, marcou um momento simbólico nas
em Bagdade. Carlos Fino e Nuno Patrício, que profundas mudanças que ocorreram no mundo
se encontravam na varanda do seu quarto, no do jornalismo, e foi adequado que essas
14º andar do Hotel Palestina, deram o alerta alterações se tenham tornado visíveis na guerra
para Lisboa. Começaram a soar os alarmes na de 2003 contra o Iraque, uma vez que foi na
capital iraquiana e a emissão da RTP foi guerra de 1991 contra o Iraque que elas
imediatamente para o local. começaram.
"Eu presumo que estamos agora em Em boa verdade, o conflito de 2003 não foi
directo. Portanto, eram cinco e meia mais do que o culminar das hostilidades
daqui quando se começaram a ouvir encetadas em 1991. Quando da eclosão da
estrondos. O hotel em que estamos Guerra do Golfo, o mundo intuiu que era
sofreu um abanão e de imediato possível ver uma guerra em directo. Na noite de
começaram a tocar as sirenes de 16 de Janeiro de 1991, a CNN foi colocada no
alarme contra ataque aéreo. Neste mapa internacional quando transmitiu o relato
momento essas sirenes sossegaram e telefónico de três repórteres seus,
voltam a ouvir-se o chilrear dos entrincheirados no 9º andar do Hotel Al-Rashid,
pássaros neste amanhecer em a descrever em directo para todo o mundo o
Bagdade. Mas é um sinal claro de início do ataque aéreo da força multinacional
que está iminente, ou já mesmo contra Bagdade. As primeiras palavras de
começou, um ataque por parte dos Bernard Shaw, atravessando a estática do
Estados Unidos (…) São claramente telefone, ficaram imortalizadas.
audíveis aqui mais explosões… É um "Os céus sobre Bagdade foram
trovejar sobre Bagdade, é um iluminados. Estamos a ver flashes
trovejar sobre Bagdade. Há brilhantes por todo o céu." (Shaw,
também… há claramente mísseis no CNN, 16 de janeiro 1991).
ar. É um trovejar profundo sobre
Bagdade. No entanto, as luzes da
cidade continuam acesas. Os A reportagem em directo da CNN marcou então
pássaros fogem e silenciam-se. um decisivo ponto de viragem. Até 1991 era
Vêem-se mísseis no ar, sinais impensável ver repórteres de um país a
luminosos, e tudo em redor começa a descrever uma guerra a partir do território do
explodir como num fogo de artifício. país inimigo. Ninguém imagina jornalistas
Há um fogo de artifício aparente, um britânicos a relatar em Berlim os
fogo mortal sobre os céus de bombardeamentos aliados da Segunda Guerra
Bagdade. Há carros que circulam na Mundial. Além disso, até 1991 era igualmente
cidade e as luzes mantéem-se para já impensável ver repórteres a relatar em directo
acesas, a energia eléctrica continua operações militares. Mas isso aconteceu naquela
a funcionar. Mas é um ataque madrugada de 16 de Janeiro devido
fortíssimo à capital do Iraque" (Fino, essencialmente a um factor decisivo: o
RTP, 20 de março 2003). desenvolvimento tecnológico.
Esta reportagem de Carlos Fino, transmitida em Harold Innis foi o primeiro a notar o peso que
directo pela RTP com uma panóplia de imagens as evoluções tecnológicas na área da
confusas, luzes dançando no céu, a voz tensa do
79
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
preciso ser um gigante para ter acesso às Quando as forças americanas pensaram no
tecnologias necessárias que permi-tem a uma relacionamento que iriam ter com os jornalistas na
estação estar na vanguarda da infor-mação altura em que eclodisse o último acto da Guerra
internacional. Basta um videofone, um do Golfo, decidiram retomar o conceito de
instrumento barato e com custos de transmis- "integrado" (embedded), que vinha da Segunda
são dez vezes inferiores ao de um equipamento Guerra Mundial, quando os correspondentes
de alta definição, e um pouco de astúcia para faziam parte das forças militares e tinham até a
bater a concorrência. A CNN levou três patente de capitães. Ou seja, os militares optaram
minutos a dar a informação transmitida em por integrar jornalistas nas suas unidades de
directo por Carlos Fino na RTP, e fê-lo apenas combate. Foi uma decisão arriscada, uma vez que
ao telefone, enquanto o jornalista português colocava em perigo o segredo operacional e
estava em directo com imagem a mostrar os expunha as suas forças ao escrutínio implacável
acontecimentos. E, dois dias mais tarde, quando dos repórteres, mas, aliada às inovações
as forças anglo-americanas lançaram o grande tecnológicas entretanto ocorridas, esta opção veio
bombardeamento contra Bagdade, as imagens revelar-se revolucionária.
que transmitiram o ataque em directo para todo Ao integrar os jornalistas nas unidades, os
o mundo voltaram a não ser as das estações responsáveis do Pentágono impuseram várias
anglo-americanas, mas antes da Al Jazira e da condições. Qualquer jornalista integrado teria de
Abu Dhabi TV. se sujeitar a um treino militar, teria de
Outra importante alteração tem a ver com a acompanhar sempre as forças militares e estava
natureza do directo. Em 1991, o relato de Shaw, proibido de fazer descrições precisas sobre os
Holliman e Arnett foi feito ao telefone, durou locais onde se encontravam e as forças que
apenas uma noite e decorreu às escondidas. Em constituiam a sua unidade. Além disso, os oficiais
2003, o relato de Carlos Fino e de todos os outros tinham o direito de rever os despachos dos
jornalistas que se encontravam no Hotel Palestina repórteres para os expurgar de informações que
foi efectuado com imagem, durou toda a guerra e pudessem pôr em risco a segurança operacional
decorreu perante os olhos dos iraquianos. É das suas missões.
importante notar, todavia, que, neste aspecto, o A compensação por todos estes inconvenientes e
conflito de 2003 não foi pioneiro. A primeira estas restrições não era de menosprezar. Os
acção militar transmitida com imagem em directo correspondentes de guerra teriam acesso ao
pela televisão foi a operação de 1998 contra o campo de batalha, algo que não acontecia desde a
Iraque, quando a CNN transmitiu as imagens dos Guerra do Vietname. Percebendo plenamente o
bombardeamentos da Operação Raposa do alcance dessa situação, as televisões americanas e
Deserto, com relato em directo de Christianne britânicas compraram jipes militares e equiparam-
Amanpour em Bagdade, as câmaras equipadas nos com videofones. As antenas foram amarradas
com sistema de nightvision que permitia ver os aos tejadilhos e, com a ajuda de uma espécie de
mísseis e o fogo das antiaéreas em verde-negro. osciloscópio e de um sistema de GPS, conseguiu-
Mas se a guerra de 2003 trouxe a novidade da se mantê-las sempre viradas para o satélite,
democratização do scoop, com pequenas independentemente da direcção e velocidade dos
televisões como a RTP, a Al Jazira e a Abu Dhabi veículos. Tal bastou para assegurar a transmissão
TV a bater as grandes anglo-americanas, as ininterrupta das operações, apesar do movimento
mudanças no tipo de cobertura jornalística não se das colunas militares e dos jipes dos repórteres.
ficaram por aqui. Foi em 1991 que pela primeira O resultado foi espantoso. Quando, na noite de 21
vez houve um relato em directo de uma guerra, se de março, as forças anglo-americanas cruzaram a
bem que audio, e foi na operação de 1998 que fronteira do Kuwait e entraram no Iraque, as
pela primeira houve um relato em directo com televisões mostraram em directo o acontecimento.
imagem de um bombardeamento. Mas nunca As imagens eram de difícil leitura, vendo-se
ninguém tinha visto imagens em directo de um apenas pontos luminosos no meio da escuridão,
campo de batalha. Esse derradeiro passo foi dado mas o passo pioneiro estava dado. Ao nascer do
em 2003.
81
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
dia, na manhã de 22 de março, vieram as Reuters, Andrew Gray, observando que "nenhum
primeiras imagens perceptíveis. O repórter Walter oficial permaneceu junto de nós quando
Rogers mostrou, em directo na CNN, as imagens falávamos no telefone-satélite com os nossos
dos blindados do 7º de Cavalaria literalmente a superiores hierárquicos nem alguma vez alguém
cavalgar pelo deserto iraquiano a enorme leu as nossas reportagens antes de as enviarmos"
velocidade em direcção a norte. A transmissão (Gray, Reuters, 18 Abril 2003). Alguns jornalistas
durou mais de uma hora e deixou os foram expulsos, como o repórter tabloide da Fox,
telespectadores agarrados aos ecrãs. Na mesma Geraldo Rivera, acusado de divulgar informação
altura, a Fox e a CBS mostravam em directo a operacional sensível, mas estas raras situações
progressão da coluna da 3ª Divisão de Infantaria. ocorreram depois da reportagem, não antes.
No dia seguinte vieram imagens ainda mais Mais difícil de controlar foi a inevitável
surpreendentes. A CNN mostrou em directo um cumplicidade que se estabelece entre homens em
combate, com os homens do 7º de Cavalaria a perigo. Os repórteres queriam naturalmente
disparar contra uma posição iraquiana. Dias manter boas relações com os soldados que os
depois, a CBS transmitiu em directo uma batalha protegiam, alimentavam e lhes davam acesso ao
sobre o Eufrates, enquanto a CNN mostrava, campo de batalha. Alguns repórteres deram
também em directo, o 7º de Cavalaria a ser consigo, a partir de certa altura, a descrever os
atacado por franco-atiradores, o som das rajadas a iraquianos como sendo "o inimigo", e houve um
reverberar pelo videofone como teclas de que concluiu estar a sofrer do Síndroma de
máquinas de escrever. Nunca se tinha visto nada Estocolmo, devido à relação de empatia que
assim em televisão. desenvolveu com os soldados. Uma situação deste
Para fazer esta cobertura, os repórteres género não decorreu sem consequências. Um
submeteram-se às duras condições do terreno. repórter decidiu não publicar os nomes dos
Passaram dias sem dormir, comeram magras soldados que ele sabia terem cometido crimes de
rações de combate, não tiveram acesso a água guerra, embora tivesse noticiado essas situações.
corrente nem dispuseram de liberdade de Feitas as contas, ninguém tem dúvidas de que,
movimentos. A imagem de corpos carbonizados e como dizia o senador Hiram Johnson, "quando
mutilados tornou-se uma rotina na sua experiência uma guerra começa, a primeira baixa é a verdade"
e nunca os correspondentes tiveram oportunidade (Knightley, 1975), e a Guerra do Golfo, que
de abandonar as colunas que integravam para eclodiu em 1991 e terminou em 2003, não foi
fazer reportagem. excepção. Mas raras foram as guerras onde,
No final, muitos disseram que jamais repetiriam a apesar das muitas verdades que ficaram por
experiência mas, contraditoriamente, expor, se tenha ido tão longe no esforço de relatar
consideraram-na globalmente positiva. "As os acontecimentos. As sociedades pós-modernas
experiências variam, mas alguns de nós estão assentes nas tecnologias da comunicação, e
verificaram que gozavam de uma surpreendente quanto mais informação circular mais difícil é
liberdade", comentou o repórter "integrado" da controlá-la.
82
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Texto XVI
A Internet e o Futuro do Jornalismo Internacional
Alan Knight, 1995 (tradução: Pedro Aguiar)
Este artigo se refere à pesquisa acadêmica que, do que, com algumas migalhas de
quando posta em prática por uma equipe informações anotadas, eu
multidisciplinar, tenta utilizar novas tecnologias prosseguia até outros órgãos do
para alterar práticas de reportagem. Pode ser governo indiano, o parlamento, a
considerado ensino de Jornalismo não apenas Alto Comissariado Britânico, as
para matriculados em cursos universitários, mas embaixadas, e voltava ao hotel para
talvez mais relevantemente para os vários almoçar. Se houvesse uma matéria
jornalistas profissionais em busca de melhores a fazer, eu datilografava na
maneiras de conduzir seu trabalho. Agência Telegráfica de Nova
Délhi.” [2]
O trabalho se foca em reportagem internacional
e espera potencializar as várias fontes
socialmente importantes que normal-mente Stuart dizia que, além dessas tarefas diárias, ele
ficam de fora das pautas da corrente tinha que fazer uma transmissão semanal para
hegemônica. Londres. Naqueles tempos, o trabalho de um
correspondente estrangeiro sofria
consideravelmente mais pressão. No início
Reportagem Internacional
deste ano, eu estava no carro indo trabalhar em
Há muito tempo, correspondentes estrangeiros Sydney, ouvindo o rádio, quando uma
têm sido vistos por outros jornalistas como uma correspondente da ABC entrou no ar ao vivo
elite dentro do jornalismo3. Eles representam via satélite pelo telefone falando de um
um componente relativamente raro e custoso do subúrbio no Taiti. A passagem dela foi
processo de noticiar. No passado, a relativa pontuada pelo som de bombas de gás
riqueza de países ocidentais permitiam-nos ter lacrimogêneo enquanto os policiais franceses
uma abordagem relaxada (relaxed) à apuração tentavam conter os manifestantes.
de notícias (news gathering) na Ásia. Tome-se o
Meio século de desenvolvimento na tecnologia
caso do ex-correspondente da BBC Douglas
de comunicações transformaram a habilidade
Stuart, que foi enviado para Nova Délhi para
dos correspondentes em apurar e distribuir
cobrir a Índia em 1949. Em seu livro, A Very
notícias. Ainda assim, o trabalho elementar dos
Sheltered Life (Uma Vida Muito Abrigada),
correspondentes estrangeiros continua sndo a
Stuart descreveu o trabalho diário de um
capacidade de relatar e interpretar notícias do
correspondente estrangeiro no pós-guerra.
exterior de uma forma relevante e
“Diariamente, pela manhã, eu lia compreensível para o público doméstico4.
os jornais, marcando os trechos 4
que exigiriam maior investigação. O escritor e correspondente Ian Fleming disse o que
seriam para ele os ingredientes de um correspondente
Então, após alguns telefonemas, eu estrangeiro ideal: “Ele (sic) deve ser creditado por seu
entrava no carro ao lado do país e pelo seu jornal no exterior; ele deve ser ou solteiro
motorista, que me levava à ou estavelmente casado e feliz em ter seus filhos trazidos
assessoria de imprensa do governo junto; sua personalidade deve ser tal que nosso
indiano. Lá, eu conversava com Embaixador fique feliz em recebê-lo. Quando a ocasião
exigir, ele deve conhecer algo do protocolo e ainda assim
meus colegas dos jornais da Índia e gostar de beber com o espião mais grosseiro ou o
com os assessores de imprensa. contrabandista mais desprezível. Ele deve dominar
Juntos, nós bebíamos chá, depois completamente um idioma estrangeiro e ter outro à mão
para recorrer. Ele deve estar bem inteirado da História e
3
TUNSTALL, Jeremy. Journalists at Work; Specialist da cultura do território onde está trabalhando; deve ser
Correspondents. (Londres: Constable, 1971) págs.138- intelectualmente insaciável e ter algum conhecimento da
142. maior parte dos esportes. Ele deve saber guardar um
83
Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
Nos últimos três anos, eu examinei o modo questionário, pedi aos correspondentes para
como correspondentes australianos no exterior identificar suas fontes e classificá-las como
cobrem o ASEAN e a Indochina. Como parte muito úteis, de alguma utilidade ou inúteis.
desse estudo, ao longo de 1993 eu visitei Havia mais de 20 categorias à disposição deles,
Jacarta, Hanói (uma vez cada), Kuala Lumpur incluindo fontes primárias como políticos,
(duas vezes), Singapura e Bangcoc (quatro empresários e dignatários, bem como fontes
vezea cada). Passei um mês no Camboja secundárias como agências internacionais de
durante as eleições, cobrindo os repórteres notícias, revistas, emissoras de rádio e televisão.
enquanto eles trabalhavam. Mais de 40 Havia mais de 90 subcategorias para marcar.
entrevistas foram gravadas até agora com De acordo com as respostas da pesquisa, os
correspondentes expatriados, colunistas, jornalistas australianos trabalhando na Ásia
editores e executivos, produzindo mais de opressivamente favoreciam fontes ocidentais ao
40.000 palavras de transcrições. As entrevistas buscar informações sobre suas matérias sobre o
foram complementadas por um questionário de ASEAN e a China. Fontes asiáticas,
sete páginas que foi preenchido por 16 dos 19 particularmente as das Filipinas, eram
correspondentes australianos identificados. significativamente classificadas como as menos
úteis. Fontes de um único país asiático já
tinham alta probabilidade de receber baixa
Cobertura
classificação, talvez por causa da
A maior parte dos correspondentes australianos disponibilidade reduzida em outros países, mas
no exterior acreditava que a cobertura agências internacionais de notícias asiáticas
australiana sobre a região não era nem precisa com múltipla presença regional também
nem equilibrada. Os que achavam que sim, receberam nota baixa. As únicas exceções
achavam que tal cobertura era “muito fraca em foram os jornais tailandeses, a única fonte
algumas áreas” ou carecia de “profundidade”. asiática ou não-ocidental a ficar entre as 10
Outros disseram que, ainda que matérias mais.
individuais fossem bastante precisas, a
Como Douglas Stuart, meio século antes, os
cobertura em geral era seletiva e falha. Um
correspondentes australianos no exterior
entrevistado disse: “Geralmente eu acho que
atualmente dão preferência a diplomatas
fica provavelmente preciso e equilibrado o
estrangeiros, particularmente os que vêm do seu
suficiente, mas no conjunto é tão inconsistente e
próprio país. Eles ainda examinam a mídia em
esporádico que pode dar uma imagem
língua inglesa; neste caso, a Far Eastern
distorcida, principalmente por cobrir incidentes
Economic Review, rádio BBC, Radio Australia
isolados, em vez das tendências e questões em
e os principais serviços a cabo, “marcando os
desenvolvimento”5.
trechos que exigiriam maior investigação”.
Ainda assim, é muito fácil, para
O Custo da Notícia
correspondentes estrangeiros, culpar os editores
por pontos-de-vista; particularmente quando se Há muito poucos correspondentes australianos
considera de onde os correspondentes dizem no exterior, cobrindo países demais para patrões
que conseguem as matérias. Como parte do meu demais, para conseguirem acompanhar o passo
da profundidade de um repórter especialista
segredo; deve ser fisicamente forte e não ser viciado em interno6. Enquanto isso, os custos na Ásia estão
bebida. Ele deve se orgulhar do seu trabalho e do jornal
6
em que trabalha, e finalmente deve ser um bom repórter A ABC, que se gabava de ter o mais caro sistema de
com um vocabulário vasto, ligeiro na máquina de redações no Sudeste Asiático, [sought] em 1993
escrever, com conhecimento de taquigrafia e saber maximizar a produtividade de seus correspondentes
dirigir.” (FLEMING, Ian. "Foreign News". ed. Viscount exigindo que falassem tanto na televisão quanto no rádio.
Kelmsley. The Kelmsley Manual of Journalism (Londres: A revista Dateline, publicação do Clube dos
Cassell&Co.,1952) pág.238.) Correspondentes da Tailândia, publicou que o repórter da
5
KNIGHT, Alan. "Re-inventing the Wheel: Australian ABC em Bangcoc, Evan Williams, teve até que operar
Foreign Correspondents in Southeast Asia". Media Asia sua própria câmera de vídeo: “Como se pode imaginar, é
(Singapura: AMIC. vol 22. nº.1. 1995) págs.9-15. um pouco difícil para uma pessoa operar uma câmera,
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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ
subindo, com o Japão, Hong Kong e Singapura gabinete do Primeiro-Ministro liberou recursos
já oferecendo rendas semanais mais altas do que para que pudessem ser enviados exemplares
a Austrália. Somente as empresas jornalísticas para 150 redações em toda a Austrália. Ainda
mais ricas podem sustentar correspondentes assim, o meio impresso tinha limitações óbvias;
expatriados na Ásia. Os que o fazem, precisam números de telefone ficaram desatualizados e o
garantir o retorno de cada dólar investido; custo de produzir, imprimir e distribuir edições
exigem maior produtividade, o que por sua vez atualizadas era proibitivo.
aumenta a tentação dos correspondentes de se Em 1994, o ACIJ lançou “Mastering the
basear só em fontes secundárias, deste modo Maze”, um guia para jornalistas investigativos
desmoralizando o motivo pelo qual a princípio que usassem bibliotecas, bancos de dados e
se enviam correspondentes para a Ásia. material em CD-ROM para apurar suas
matérias. De acordo com a autora, Christine
Fogg, “sangue frio, telefone e estômago forte
Alternativas
não são mais suficientes para o jornalista
O Centro Australiano para o Jornalismo profissional”8.
Independente (ACIJ em inglês) foi estabelecido
O ACIJ está atualmente desenvolvendo um
na Universidade de Tecnologia de Sydney, em
software para um sistema que vai propiciar um
1990, para realizar pesquisas e treinamento, e
serviço de Internet interativo e facilmente
ao mesmo tempo praticar jornalismo
atualizável para jornalistas cobrindo a Ásia e o
investigativo. Seu objetivo é agir como um
Pacífico9. Estes jornalistas poderão acessar o
nexo entre a universidade e a indústria;
serviço de qualquer lugar onde um computador
enriquecer o ensino de jornalismo mediante
portátil com modem seja conectável ao sistema
envolvimento profissional, e preparar
de telefonia. Eles poderão estar no Hotel
profissionais para buscar padrões mais
Cambodiana em Phnom Penh, assistindo a uma
elevados.
palestra em Jacarta ou em suas próprias mesas
Em 1992, o ACIJ formulou questões sobre a em seus escritórios em Christchurch.
cobertura de [prickly] áreas dos aborígenes e
A idéia é que repórteres possam entrar na
temas multiculturais produzindo um livro:
World Wide Web, acessar o Signposts e
“Signposts, a guide to non racist reporting”
escolher um país que gostariam de cobrir.
(Signposts, um guia para jornalismo não-
Clicando no país selecionado, o jornalista irá
racista)7. O livro continha críticas, códigos de
encontrar uma lista de capítulos, que contêm
condutas, porém mais importante eram os
informação sobre tudo de agricultura a direitos
números de contato, para que jornalistas
humanos. Nós pretendemos permitir aos
profissionais, se desejassem, poderiam
usuários cruzar referências nesses temas, de
encontrar facilmente quase qualquer entidade
modo que uma busca no tema “turismo sexual”,
aborígene ou multicultural na Austrália. O
por exemplo, forneça informações das Filipinas,
gravar som e apresentar ao mesmo tempo... Trabalho em da Tailândia, do Camboja e do Sri Lanka.
televisão leva tempo, e Evan aparenta ser a carne
8
proverbial no sanduíche burocrático enquanto lida com os FOGG, Christine. Mastering the Maze: a guide for
compromissos freqüentemente conflitantes das journalists and researchers in the media. (Sydney: ACIJ.
obrigações para com o rádio, com as exigências 1994) pág.1.
9
crescentes da televisão. Como seu cargo ainda é A Bloombergs já aplicou a tecnologia PC para se tornar
totalmente pago com o orçamento da Rádio, não é difícil o segundo maior serviço de notícias econômicas do
imaginar as longas horas e frustrações organizacionais mundo, atrás da venerável Reuters. A empresa chegou a
que são inevitáveis em qualquer tentativa de começar a essa posição em menos de uma década. A Bloombergs
satisfazer todo mundo, particularmente quando matérias estabeleceu uma rede internacional que fornece aos
regionais regularmente geram manchetes mundiais.” assinantes notícias baseadas em texto, áudio e vídeo, bem
(BOND, Christine. "Jack of all Trades"", Dateline como pesquisa interativa e serviços de e-mail. É um
Bangkok (1993) pág.18.) precursor privado do que se promete com a Internet: uma
7
EGGERKING, Kitty and PLATER, Diana. Signposts. teia mundial de interativa de intercâmbio de informação
(Sydney: Australian Centre for Independent Journalism. aberta a qualquer um com um computador moderno e um
1992). modem.
85
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Referência bibliográfica
KNIGHT, Alan.
disponível em:
[http://www.signposts.uts.edu.au/articles/Australia/Media_and_Journalism/321.html]
12
International Federation of Journalists, Danger:
Journalists at work. (Bélgica: 1992) pág.27.
13
CHRISTIANS, Clifford, FERRE, John, FACKLER, P.
Mark. Good News: Social Ethics and the Press. (Oxford:
Oxford University Press. 1993) pág.14.
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Apêndices de Referência
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Rede TV!
Website
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Agências Internacionais
País/Região Agência/Sigla Tipo Website
África (pan) PANA http://www.africanews.org/PANA
África do Sul SAPA http://www.sapa.org.za
Alemanha DPA http://www.dpa.de
América Latina Adital ONG http://www.adital.org.br
Arábia Saudita SPA (Saudi Press Agency) http://www.spa.gov.sa
Argélia ANA http://www.aai-online.com
Ásia (pan) Asia News Network http://www.asianewsnet.net
Austrália AAP http://aap.com.au
Áustria APA http://www.apa.co.at
Brasil AE (Agência Estado) privada http://www.agestado.com.br
Brasil Agência Brasil estatal http://www.radiobras.gov.br
Camboja AKP (Agence Khmer Presse) akp@camnet.com.kh
Canadá Canadian Press http://www.cp.org
China Xinhua, Hsinhua estatal http://www.xinhua.org
Coréia do Norte KCNA estatal http://www.kcna.co.jp
Coréia do Sul Yonhap privada http://www.yonhapnews.net
Cuba CubaPress estatal http://www.cubapress.com
Cuba Prensa Latina estatal http://www.prensa-latina.org
EmiradosÁrabes WAM http://www.wam.org.ae
Espanha EFE estatal http://www.efe.com
Estônia BNS http://www.bns.ee
EUA AP privada http://www.ap.org
EUA Bloomberg privada http://www.bloomberg.com
EUA UPI privada http://www.upi.com
Filipinas PNA http://www.pna.ops.gov.ph
França AFP (France-Presse) privada http://www.afp.com
global RSF ONG http://www.rsf.org
Haiti AHP http://www.ahphaiti.org
Holanda ANP http://www.anp.nl
Índia PTI (Press Trust of India) http://www.ptinews.com
Índia UNI http://www.uniindia.com
Indonésia Antara http://www.antara.co.id/en
Irã IRNA estatal http://www.irna.com
Itália ANSA estatal http://www.ansa.it
Japão Kyodo estatal http://home.kyodo.co.jp
Jordânia Petra estatal http://accessme.com/Petra
Líbia JANA http://www.jamahiriyanews.com
Polônia PAP http://www.pap.com.pl
Portugal Lusa http://www.lusa.pt
Reino Unido Press Association privada http://www.pa.press.net
Reino Unido Reuters privada http://www.reuters.com
Rússia Interfax privada http://www.interfax.ru
Rússia RIA Novosti estatal http://www.rian.ru
Rússia TASS (Itar-Tass) estatal http://www.itar-tass.com
Síria SANA http://www.sana-syria.com
Tailândia Thai News Agency http://www.mcot.org
Turquia Anadolu Ajansi estatal http://www.anadoluajansi.com.tr
Vietnã VNA estatal http://www.vnagency.com.vn
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Nota: “Governo”, em países parlamentaristas, denota exclusivamente o gabinete de ministros chefiado pelo Primeiro-
Ministro e não inclui o chefe-de-estado (presidente ou monarca).
Parlamentos de Alguns Países
País Cidade Parlamento Tipo Website
Alemanha Berlim Bundesrat câm.alta http://www.bundesrat.de
Alemanha Berlim Bundestag câm.baixa http://www.bundestag.de
95
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Nation Master
http://www.nationmaster.com
Gráficos e Estatísticas Personalizáveis (e atualizadas)
97
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Agosto
• Incêndio em supermercado em Assunção (Paraguai) mata mais de 400 pessoas
• Jogos Olímpicos em Atenas
• Roubo do quadro “O Grito”, de Edvard Munch
• Queda simultânea de dois aviões russos (suspeita de atentado checheno)
• Protestos massivos contra Bush em Nova York
• Referendo na Venezuela sobre revogação do mandato de Hugo Chávez
Setembro
• Seqüestro, Cerco e Massacre na escola em Beslan, Ossétia do Norte, Rússia
• Polêmica sobre proibição da Caça à Raposa no Reino Unido
• Temporada de furacões no Caribe e sul dos EUA
• Vôo inaugural da nave SpaceShipOne
Outubro
• Atentado contra turistas israelenses na Península do Sinai (Egito)
• Eleições no Afeganistão: Hamid Karzai eleito
• Plebiscito na Bielorrússia
• Assinatura da Constituição Européia, em Roma
• Tabaré Vázquez é eleito presidente do Uruguai
Novembro
• Eleições presidenciais nos EUA: Bush reeleito
• Morte de Yasser Arafat
• Conflitos entre tropas francesas e governistas na Costa do Marfim
• Explosão em mina de carvão na China mata mais de 150 pessoas
Dezembro
• Crise política na Ucrânia; repetição do segundo turno
• Criação da Comunidade Sul-Americana de Nações
• Terremoto e maremoto no Oceano Índico causa cerca de 300.000 mortes
• Incêndio em boate em Buenos Aires deixa 192 mortos
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