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Universidade de São Paulo

PHA 3307
Hidrologia Aplicada Escola Politécnica
Depart. de Engenharia Hidráulica e Ambiental

Hidrograma Unitário

Aula 21

Prof. Dr. Arisvaldo Vieira Méllo Jr.


Prof. Dr. Joaquin Bonnecarrere
Objetivos da Aula

1. Conhecer o conceito de hidrograma unitário


(HU).
2. Conhecer os princípios do HU e as equações
de convolução.
3. Aprender a obter um HU, a partir de um evento
de cheia (hidrograma e hietograma dados).
4. Conhecer as propriedades do HU.
5. Conhecer o conceito e a aplicação da curva S.
6. Conhecer a fórmula racional.
7. Aplicar os conceitos a um caso prático.

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Resposta de uma Bacia Hidrográfica

Chuva Infiltrada
Hietograma

Chuva
excedente

Bacia Saída da
Hidrográfica Bacia
Vazão (m3/s)

Hidrográfica

Hidrograma

Fonte: Musy,2001 Tempo


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(h)
Participação do Escoamento Superficial
Direto no Ciclo Hidrológico
Durante as grandes chuvas intensas, o volume de escoamento
superficial direto é preponderante sobre o escoamento básico.

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O Hidrograma Unitário
mm Chuva excedente b
20 Q

15
10
5
0.51.01.52.02.53.0 VESD c
Horas a
Chuva infiltrada

 Para simplificar a análise e os cálculos, admite-se que


há uma relação linear entre a chuva efetiva e a vazão do
escoamento superficial direto
Hidrograma Unitário
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Definição de Hidrograma Unitário

 O Hidrograma Unitário é um hidrograma de


escoamento superficial direto, resultante de
uma chuva efetiva com intensidade e duração
unitárias
 A definição de chuva unitária é arbitrária,
entretanto para efeito de comparação entre
HU’s, costuma-se manter um padrão. Por
exemplo: uma chuva com 1 mm e 1 hora de
duração pode ser adotada como chuva unitária.

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Conceitos e Premissas

 Admite-se que essa chuva seja


uniformemente distribuída sobre a bacia
 A área sob esta curva corresponde a um
volume unitário de escoamento superficial
direto
 A definição do HU está baseada em três
princípios básicos

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Princípios do HU
1° Princípio: Constância do Tempo de Base
Para chuvas efetivas de intensidade constante e de mesma duração,
os tempos de escoamento superficial direto são iguais
12 0
0

10 10

8 20

Precipitação (mm)
Vazão (m3/s)

6 30

4 40

2 50

0 60
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Tempo (h)
Tempo (h)
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Princípios do HU
2° Princípio: Proporcionalidade das Descargas
Chuvas efetivas de mesma duração, porém com volumes de escoamento
superficial diferentes, irão produzir em tempos correspondentes, volumes
de ESD proporcionais às ordenadas do hidrograma e às chuvas
excedentes
12 0

P1 Q1 P1
10  10

P2 Q2 P2

Precipitação (mm)
8 20
Vazão (m3/s)

6 30

4
Q2 40

2 50

Q1
0 60

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Tempo
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- PHA 9
Princípios do HU
3° Princípio: Princípio da Aditividade
A duração do escoamento superficial de uma determinada chuva efetiva
independe de precipitações anteriores. O hidrograma total referente a duas
ou mais chuvas efetivas é obtido adicionando-se as ordenadas de cada um
dos hidrogramas em tempos correspondentes.
12
12 0
0

P1 P2
10
10 10
10

88 20
20

(mm)
Precipitação(mm)
(m3/s)
Vazão(m3/s)

P2q2

Precipitação
66 P2q3 30
30
Vazão

P2q4
P2q1

P2q5
44 40
40

P1q7 P2q6
22 50
50
P1q4
P1q1

P1q2

P1q5

P1q6
P1q3

P2q7
00 60
60

00 11 22 33 44 55 6 7 8 9
Tempo
Tempo(h)
(h)
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Equações de Convolução

• Conhecido o H.U., é possível calcular os hidrogramas de


E.S.D. resultantes de eventos complexos de chuvas:
n
Qn   Pm .qnm1
m 1
Qn: vazão de E.S.D. no intervalo de tempo n (m³/s)
Pm: chuva efetiva no intervalo de tempo m (mm)
q: vazão de E.S.D. correspondente a P=1 (m³/s/mm)

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Equações de Convolução

 Exemplo com chuva efetiva ocorrendo em 3


intervalos de tempo (P1..3) e HU distribuído por 9
intervalos de tempo (q1..9)
Hidrograma Hidrograma Hidrograma Hidrograma
Resultante da Chuva 1 da Chuva 2 da Chuva 3
Total
Q1 P1 * q1 P1 * q1
Q2 P1 * q2 P2 * q1 P1 * q2 + P2 * q1
Q3 P1 * q3 P2 * q2 P3 * q1 P1 * q3 + P2 * q2 + P3 * q1
(...) (...) (...) (...) (...)
(...) (...) (...) (...) (...)
Q9 P1 * q9 P2 * q8 P3 * q7 P1 * q9 + P2 * q8 + P3 * q7
Q10 P2 * q9 P3 * q8 P2 * q9 + P3 * q8
Q11 P3 * q9 P3 * q9

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Exemplo de Aplicação do HU
Hidrograma Unitário:
350
intervalo 300

Qesd (m³/s)
de tempo t (h) q (m³/s/mm) 250
1 0.5 0.5 200
2 1.0 2.0 150
3 1.5 4.0 100
4 2.0 7.0 50
5 2.5 5.0 0
6 3.0 3.0 0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0
7 3.5 1.8
tempo (h)
8 4.0 1.5
9 4.5 1.0
20 25 10 Q (m³/s)

Cálculo da Qesd:
Hidrogramas para cada P (Qn) total:
t (h): * 0.5 1.0 1.5 qual a
i t(h) P (mm): 20 25 10 Q (m³/s) área dessa
1 0.5 10 10
bacia?
2 1.0 40 13 53
3 1.5 80 50 5 135
4 2.0 140 100 20 260
5 2.5 100 175 40 315
6 3.0 60 125 70 255 𝑚3
7 3.5 = 36 75 50 161
𝑄𝑠 ∙ Tempo base ℎ ∙ 3600
8 4.0 30 45 30 105 Precipitação unitária 𝑚𝑚 ∙ 10−3
9 4.5 20 38 18 76 = Área bacia 𝑚2
10 5.0 25 15 40
11 5.5 10 10
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Cálculo da Qesd a partir da Chuva Excedente e do HU

 já vimos como calcular a Qesd a partir da chuva


efetiva e do hidrograma unitário...
8.0 0
7.0
1
6.0
q (m³/s/mm)

5.0

P (mm)
2
4.0
3.0 3
2.0
4 350 0
1.0
0.0 5 300
20
0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5 250

Qesd (m³/s)

P (mm)
tempo (h) 40
200

x
150 60
100
80
50
30
25 0 100
20 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5 5.0 5.5
P (mm)

15
10
tempo (h)
5
0
0.5 1.0 1.5
tempo (h)

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Obtenção do HU a partir de hidrograma observado

 mas como obter o H.U. a partir de hidrogramas de


cheias observadas???

350 0 8.0 0
300 7.0
20 1
6.0

q (m³/s/mm)
250
Qesd (m³/s)

?
5.0

P (mm)
P (mm)
40 2
200
4.0
150 60 3.0 3
100 2.0
80 4
50 1.0
0 100 0.0 5
0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5 5.0 5.5 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5

tempo (h) tempo (h)

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Solução das Equações de Convolução

É um sistema de equações lineares:


 por substituição direta do primeiro ao último
intervalo de tempo:
q1=Q1/P1
q2=(Q2-P2.q1)/P1
(...)

 por substituição direta do último ao primeiro


intervalo de tempo:
qk=Qn/Pm
qk-1=(Qn-1-Pm-1.qk)/Pm
(...)

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Solução das Equações de Convolução

 por inversão de matriz:


PT.P.q = PT.Q
q = (PT.P)-1.PT.Q

 mínimos quadrados: obtém-se os valores de


q que resultem uma diferença mínima entre
os valores observados e calculados.

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Solução das Equações de Convolução
Utilizando o Solver do Excel

Solução Inicial
(Arbitrária)

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Solução das Equações de Convolução
Utilizando o Solver do Excel

Solução Inicial
(Arbitrária)

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19
Solução das Equações de Convolução
Utilizando o Solver do Excel

I25

Min

L6:L19

L6:L19 >=0

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Solução das Equações de Convolução
Utilizando o Solver do Excel

Solução Final
(Otimizada)

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Solução das Equações de Convolução
Utilizando o Solver do Excel
Rio Taboão - Haras Mondesir 11/2 a 12/2 1962

50
Calc
45 Obs
Chuva 1
40
Chuva 2
35
Vazão (m3/s)

30

25 Solução Final
20
(Otimizada)
15

10

0
11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27

Tempo (horas)

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Propriedades do HU

PU

Precipitação
Vazão

Vol do HU=
Área da Bacia x PU

Tempo

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Propriedades do HU

N
NQQ= =
NHU + NP+-1N
NHU -1
P

Precipitação
Np=3
Vazão

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22
NHU=20
NQ=22
Tempo

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Curva S
A curva resultante da soma infinita dos hidrogramas
unitários defasados de t é chamada de “curva S”
20

18

16

14
Vazões (m3/s)

12

10

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Tempos (h)

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Curva S
t QHU Soma

t1 q1 q1

t2 q2 q2 + q1

t3 q3 q3 + q2 + q1

t4 q4 q4 + q3 + q2 + q1

... ... ...

tN qN qN + qN-1 + qN-2 + .. . + q1

tN+1 qN + qN-1 + qN-2 + ... + q1


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Curva S
 A vazão máxima da curva S vale, portanto:
N
Smax   qi
i 1

mas, como o Volume do HU é igual a Pu*Área da Bacia


N
e: V (HU )   q * t
i 1
i U Então: Smax  iU * Área da Bacia

onde: iU = intensidade da chuva unitária


Nota: Em projetos de drenagem de pequenas bacias (estacionamentos, microdrenagem..)
utiliza-se a Fórmula Racional, que é originada deste valor Smax

Qmax = c. i. A

C é o coeficiente de escoamento direto, relação entre a chuva excedente e a chuva total


de projeto.
I é a intensidade da chuva de projeto.
A é a área da bacia.
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Curva S
Caso se desenhe uma nova curva S defasada da primeira em t,
obtém-se o hidrograma unitário original, pela diferença das
ordenadas das curvas S.
20

18

16

14

12
Vazão

10

8 Ordenadas do HU
6

0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Tempo

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Curva S

Para se obter um HU com duração t’ (diferente de


t), deve-se proceder da seguinte forma:
 Desenha-se novamente a curva S, defasada da
primeira em t’, e subtrai-se as ordenadas 𝑆∆𝑡 − 𝑆∆𝑡 ′ .
 Obtém-se assim, o hidrograma de duração t’ e
intensidade 1/t’. É necessário, então, transformá-lo
em HU, pois o total de chuva agora é de (1/t).t’,
diferente de 1. 𝑄 𝑃
2º Princípio: 1 = 1
𝑄2 𝑃2

 St  S t '   t ' 𝑄2 = 𝑄1 ∙


𝑃2
𝑃1
q  t 𝑖𝑛𝑜𝑣𝑎
𝑞𝑖 = 𝑆∆𝑡 − 𝑆∆𝑡 ′ ∙
t 𝑖𝑜𝑟𝑖𝑔𝑖𝑛𝑎𝑙
q   S t  S t '   1
t ' ′
𝑞𝑖 = 𝑆∆𝑡 − 𝑆∆𝑡 ′ ∙ ∆𝑡
1
Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental - PHA ∆𝑡
Curva S

20

18

16
St
14
Vazões (m3/s)

12
qi = (St - St’). t/t’
10

8
t’
6

4 St’
2

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Tempos (h)

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Exercício
[1] Determine o hidrograma unitário para uma chuva unitária com intensidade de 1mm/h e duração de uma
hora, para o evento fornecido.

[2] Calcule o hidrograma de escoamento superficial direto para esta bacia, resultante de uma chuva intensa com
5 horas de duração e período de retorno de 100 anos. Adote que o valor de CN seja 75 .
Adote o método dos blocos alternados para obter o hietograma.
Equação IDF :
57,71*T0,172
i
(t  22)1,025
Onde: i = intensidade em mm/min
T = período de retorno em anos
t = duração da chuva em min

[3] Obtenha a curva S e determine o hidrograma unitário para uma chuva unitária com intensidade de 0.5
mm/hora e duração de 2 horas.

[4] Compare os tempos de base, os volumes e as vazões máximas dos hidrogramas unitários das questões 1 e 3.

[5] Indique um roteiro de cálculo de um hidrograma de projeto, com período de retorno de 10000 anos.

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Exercício
T Prec Q
(h) (mm) (m3/s)
0 0 1.2
1 0 1.8
2 0 2.2
3 0 2.8
4 0 3.6
Rib. Taboão - Haras Mondesir (área = 77 Km²) 5 0 3.8
6 0 4
60 0 7 0 4
8 0 4
50 10 9 2 4
10 4.4 4.22
40 20 11 17.2 4.67
Q (m³/s)

P (mm)
12 9 9
30 30
13 3 25
20 40
14 1.6 37.2
15 0.6 45.8
10 50 16 0.6 53.1
17 0.6 46
0 60 18 0.6 37.4
0 5 10 15 20 25 30 35 19 0.6 26
t (h) 20 0.6 19.2
21 0 16.8
22 0 14.8
23 0 12.8
24 0 11.8
25 0 10.8
26 0 9.8
27 0 9
28 0 8.2
29 0 7.8
30 0 7.2
31 0 6.8
32 0 6.4
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Aula 19

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