Você está na página 1de 148

Este livro está disponível gratuitamente em versão eletrônica no endereço

http://biblioteca.clacso.edu.ar/clacso/se/20141216022358/Atlas.pdf

Este projeto foi implementado pelo Laboratório de Análise Política Mundial (Labmundo)
com a participação da seguinte equipe:

Assistente-bolsista de pesquisa:
Tássia Camila de Oliveira Carvalho

Cartógrafo:
Allan Medeiros Pessôa
Isabela Ribeiro Nascimento Silva

Assistentes-bolsistas de iniciação científica:


Niury Novacek Gonçalves de Faria
Rafael Carneiro Fidalgo

Também contou com o apoio financeiro das seguintes instituições:

FAPERJ - Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro

CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

FINEP - Financiadora de Estudos de Projetos

Atlas da política externa brasileira / Carlos R. S. Milani ... [et. al.] - 1a ed. - Ciudad Autónoma de Buenos
Aires : CLACSO; Rio de Janeiro : EDUerj, 2014.

E-Book.

ISBN 978-987-722-040-7

1. Política Exterior. 2. Brasil. I. Milani, Carlos R. S.


CDD 327.1
Secretário Executivo
Pablo Gentili

Diretora Acadêmica
Fernanda Saforcada

Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales – Conselho Latino-americano de Ciências Sociais


EEUU 1168| C1101 AAX Ciudad de Buenos Aires | Argentina
Tel [54 11] 4304 9145/9505 | Fax [54 11] 4305 0875| e-mail clacso@clacso.edu.ar | web www.clacso.org

CLACSO conta com o apoio da Agência Sueca de Desenvolvimento Internacional (ASDI)

Este livro está disponível em texto completo na Rede de Bibliotecas Virtuais do CLACSO.
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Reitor
Ricardo Vieralves de Castro

Vice-reitor
Paulo Roberto Volpato Dias

EDITORA DA UNIVERSIDADE DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Conselho Editorial
Antonio Augusto Passos Videira
Erick Felinto de Oliveira
Flora Süssekind
Italo Moriconi (presidente)
Ivo Barbieri
Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves
A cartograia do representações diplomáticas em anos
recentes, a sociedade brasileira tam-
bém se internacionalizou, seja pela

Brasil no mundo expansão dos investimentos no exte-


rior; pela presença internacional das
organizações e movimentos sociais
e dos atores religiosos (com o Bra-
sil igurando como o segundo maior
Prefácio por Maria Regina Soares de Lima emissor de missionários no mundo);
pelo número crescente de brasilei-
ros vivendo no exterior; pela nova di-
plomacia subnacional, e pelas mais
diversas políticas públicas exporta-
Por suas dimensões continentais, o atravessam os séculos e situam os das para os países do Sul, em parti-
Brasil tende a ser um país mais vol- eventos brasileiros em perspectiva cular América Latina e África. No
tado para dentro. Em vista da grande temporal e espacial. Ao mesmo tem- contexto de consolidação da demo-
extensão territorial, o país apresen- po, processos muitas vezes tratados cracia brasileira, o desaio para a polí-
ta uma relevante diversidade entre na atualidade como constantes são tica externa é ampliar o diálogo com
suas regiões, o que torna o estudo colocados em perspectiva história. É a sociedade civil, desenvolver uma
das diferenças regionais em varia- o caso, por exemplo, das relações co- robusta diplomacia pública, coorde-
das dimensões um atrativo objeto de merciais com os EUA que desde o nar a negociação internacional das
estudo de um país que é um mun- início da década de 1950 têm dimi- inúmeras políticas públicas que hoje
do em si mesmo. O Atlas da Política nuído sistematicamente, acompa- frequentam as agendas da coopera-
Externa Brasileira retira o Brasil de si nhando a diversiicação do comércio ção internacional brasileira. Na de-
e o projeta no mundo em um duplo exterior brasileiro. A implicação é mocracia e no contexto da crescente
sentido. Em primeiro lugar, pela es- que a velha oposição entre dois mo- demanda da sociedade civil por con-
colha da cartograia temática como a delos de política externa, alinhamen- sulta e participação, a política exter-
linguagem para representar graica- to versus diversiicação, deixou de na sai do insulamento e passa a fazer
mente as dimensões quantitativas e fazer sentido. parte do rol das políticas públicas.
qualitativas de uma miríade impres-
sionante de dados, tendo como pa- O Brasil é uma potência emergen- O retrato do Brasil no mundo que
râmetro representações imagéticas te? Com riqueza e variedade de ima- emerge desta publicação é o de um
dos mesmos indicadores em diver- gens desilam nossos ativos materiais país diverso e complexo, uma demo-
sos outros territórios nacionais. Pela e ideativos. São diversos esses recur- cracia de massa, com uma política
centralidade conferida ao espaço ter- sos, mas cada um deles represen- externa diversiicada e com todas as
ritorial, a cartograia temática prati- ta um desaio particular não apenas credenciais para ser um modelo para
camente obriga ao uso da perspectiva para a cooperação internacional, os países do Sul nas águas caudalo-
comparada. Ademais, a escolha de mas para a sociedade, a política e a sas de uma economia globalizada e
uma projeção cartográica especí- economia do país. Não se trata ape- desigual; um ordenamento geopo-
ica, colocando o país no centro do nas de somar nossas capacidades na- lítico estratiicado mas com alguns
globo, nos recorda que todas as pro- cionais e compará-las com outros espaços multilaterais; e, particular-
jeções cartográicas são arbitrárias emergentes. Temos alguns ativos mente, uma enorme heterogeneida-
e reletem as preferências subjetivas que, explorados adequadamente, po- de cultural e de valores cujo manejo
de cada pesquisador. Em perspecti- dem nos colocar na linha de frente exige atores internacionais que fa-
va com outras realidades nacionais, o das discussões globais sobre questões çam da tolerância, da equidade e do
Atlas situa o Brasil no centro do pla- como alimentos, água, megadiversi- respeito à diversidade e à plurali-
neta, mas relativiza nossas alegadas dade, mas também riscos inerentes dade o núcleo duro de sua inserção
especiicidades nacionais, equívoco à exploração predatória dos recursos internacional.
de se tomar o caso brasileiro como aqui e em outros países, bem como
único. o desaio de consolidar uma agenda Parabéns à equipe do Labmundo do
doméstica e de cooperação interna- IESP-UERJ, coordenada por meu
Seu pioneirismo, além da narrati- cional comprometida com a dimi- colega Carlos R. S. Milani, compos-
va plástica da linguagem dos mapas, nuição das desigualdades, a garantia ta por Enara Muñoz Echart, Rubens
também está reletido naquilo que dos direitos humanos e a participa- de S. Duarte e Magno Klein, por nos
seus idealizadores decidiram mos- ção democrática. brindar com este esplêndido Atlas
trar e comparar. Não se trata de um tão necessário nos turbulentos dias
Atlas convencional de política exter- A pluralidade, a diversidade e a he- de hoje.
na. Os seus cinco capítulos temáti- terogeneidade de atores e agen-
cos dão conta de eventos, processos, das que participam direta ou Maria Regina Soares de Lima é Pes-
dimensões quantitativas e qualita- indiretamente das questões externas quisadora Sênior do Instituto de
tivas que muitas vezes, como no ca- constituem talvez o retrato mais im- Estudos Sociais e Políticos da Uni-
pítulo sobre a formação nacional, pressionante da nova cara do Brasil versidade do Estado do Rio de Janei-
podem abarcar uma centena de anos, no mundo. Acompanhando a uni- ro (IESP-UERJ) e Coordenadora do
mas cuja concisão é obtida pelo uso versalização da política externa, cuja Observatório Político Sul-America-
imaginativo de linhas de tempo que evidência é o aumento expressivo das no (OPSA)

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A V
Trajetória de uma (pelo menos no modo como a política
externa tende a ser compreendida no
contexto francês).

parceria O segundo exercício de mudanças nas


escalas diz respeito às temporalidades.
Não se trata de uma concepção clássica
Apresentação por Marie-Françoise Durand da história (originária, descritiva e
teleológica), mas de pesquisas que
mobilizam elementos históricos dos
e Benoît Martin poderes, dos territórios, das trocas
e das sociedades que permitem
compreender o tempo presente.
É um grande prazer poder ver o e luido que alia intercâmbios cientíi- Essa “re-historicização” possibilita
resultado, tão rápido e obtido com cos, formação e implementação, reu- evitar as armadilhas muito em voga
tamanho proissionalismo, deste nindo parceiros de distintas disciplinas da valorização excessiva das causas
ambicioso Atlas da Política Externa (ciência política e relações internacio- econômicas nas temporalidades
Brasileira, iniciado a partir de uma nais, geograia, história, sociologia) e muito curtas ou as explicações
cooperação frutífera e estimulante tradições proissionais (pesquisadores, culturalistas dos fenômenos sociais,
entre o Ateliê de Cartograia de professores, doutorandos, cartógrafos) frequentemente alternadas ou
Sciences Po e o Labmundo-Rio, grupo de dois países, Brasil e França. Assim, empregadas concomitantemente.
de pesquisa do IESP-UERJ. a equipe do Labmundo-Rio contou Ao método das articulações das
com uma diversidade de peris indi- escalas temporais e espaciais, que
viduais e, ao mesmo tempo, logrou une os parceiros deste projeto, vem
produzir uma obra de considerável co- somar-se a novidade de associar uma
História de uma cooperação erência, apesar dos desaios organiza- rigorosa démarche cientíica a uma
cionais que um projeto dessa natureza ambição didática que visa a difundir
Este projeto de cooperação foi desen- envolvia. o que foi acumulado em anos de
volvido e aprofundado ao longo de pesquisa e, assim, alimentar o debate
vários anos, incluindo desde intercâm- público. A representação cartográica
bios acadêmicos clássicos, de professo- é a ferramenta privilegiada nessa
res e pesquisadores, até o trabalho em Abordagem cientíica estratégia.
rede. O Ano da França no Brasil, em
2009, foi uma etapa importante nes- Este trabalho retoma, aprofunda e
se processo, uma vez que propiciou aplica a um novo objeto (a política ex-
apoios institucionais e inanceiros a vá- terna brasileira) conceitos, noções e Pensar substância e forma
rias publicações (principalmente a tra- métodos já compartilhados pelas equi-
dução do Atlas da Mundialização e a pes dos dois lados do Atlântico em tor- Este Atlas é o testemunho de uma
organização do livro Relações inter- no dos processos contemporâneos da apropriação impressionante, rápida
nacionais: perspectivas francesas, por mundialização. Entre eles salientamos e profunda, da linguagem gráica
Carlos Milani), que tiveram ampla a postura metodológica indispensável e cartográica pela equipe do
difusão no Brasil. No contexto dessa para a compreensão das dinâmicas in- Labmundo. O resultado visibiliza
manifestação cultural e cientíica que ternacionais e “intersocietais”, qual imagens que facilitam a compreensão,
representou o Ano de 2009, nossa ex- seja: considerar sistematicamente as o pensamento, o debate e a ação. Não
posição Os espaços tempos do Brasil, mudanças de escala no espaço e no se trata, portanto, de uma cartograia
composta de 27 painéis, foi o primei- tempo. Uma primeira mudança de clássica em termos editoriais, ou
ro trabalho realizado em parceria em escala consiste em identiicar e anali- seja, estreitamente ilustrativa de um
torno de mapas, gráicos, fotos e co- sar as dimensões concomitantemen- argumento. Nem de uma cartograia
mentários curtos. Em síntese, os pai- te territoriais e reticulares do espaço muito contemporânea e por vezes
néis apresentaram “imagens cientíicas” das sociedades nas escalas local, nacio- “espetacular”, como podem facilitar
que mereciam ser visitadas. nal, regional e mundial (e também no os softwares atualmente disponíveis –
sentido inverso). Portanto, o Atlas da mas cuja função e resultados podem
A publicação do Atlas da Política Ex- Política Externa Brasileira é, ao mes- não se distanciar muito da primeira
terna Brasileira, inicialmente em dois mo tempo, uma obra sobre a inser- categoria de cartograia. Não se
idiomas (português e espanhol), em ção do Brasil no mundo, sua política trata de uma cartograia geopolítica
versão impressa e disponibilizado gra- externa no sentido abrangente e as di- excessivamente fundamentada nos
tuitamente na internet graças à parce- mensões transnacionais dos atores não conlitos, em abordagens culturalistas
ria entre a Editoria da Universidade do estatais. Na qualidade de generalistas e nas relações interestatais (como
Estado do Rio de Janeiro (EdUERJ) das relações internacionais e do trata- tende a ocorrer particularmente no
e o Conselho Latino-Americano de mento gráico da informação, especia- contexto francês), que não integre
Ciências Sociais (CLACSO), marca lizados no estudo sobre os processos de suicientemente a diversidade dos
nova mudança de escala e de natureza mundialização e suas recomposições atores. Essas duas maneiras de enxergar
na compreensão das dinâmicas de in- espaciais, apreciamos o fato de que as e tornar visível o mundo, que reduzem
serção internacional do Brasil. Trata- questões tratadas neste Atlas vão mui- o campo das relações internacionais
se, com efeito, de um trabalho denso to além do que o seu título anuncia exclusivamente às relações entre

VI AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
os Estados, são ainda amplamente em função do problema a ser aborda- uma parte dos dados coletados foi tra-
difundidas, e isso apesar das evidentes do nas duas páginas de cada item dos tada, e novas bases de dados permane-
transformações globais. Um dos capítulos e na articulação dos resulta- cem inexploradas para novas pesquisas.
grandes méritos deste Atlas da Política dos gráicos com os textos pode, em al- Portanto, esta importante etapa con-
Externa Brasileira é ter logrado se guns casos, conduzir ao abandono de quistada pela equipe do Labmundo é
demarcar tanto da cartograia clássica algumas pistas ou à produção de docu- também um começo. Já pudemos ob-
quanto da cartograia espetacular. mentos aparentemente simples, mas servar o uso e a apropriação dos mé-
que de fato resultam de muitas tentati- todos gráicos e cartográicos pelos
Na prática, o trabalho, por vezes longo, vas, modiicações e substituições. diferentes pesquisadores do Labmun-
consiste em operacionalizar uma série do, a exemplo das diferentes apresenta-
de etapas desde a relexão sobre as Apesar dessa diiculdade, este Atlas ções durante o IX Encontro da ABCP
noções a serem explicadas, a pesquisa apresenta grande variedade de repre- (Brasília, 4-7 de agosto de 2014). En-
em torno das informações consideradas sentações gráicas, inclusive algumas riquecidas graças à presença de vários
pertinentes, até o tratamento dos que são originais (como as coleções de documentos gráicos originais, essas
dados, para ao inal poder representá- curvas logarítmicas e as matrizes orde- demonstrações acabam por reforçar-se
los. Não comentamos no detalhe cada nadas). Esses tipos de representação no plano cientíico e em termos de co-
uma dessas etapas, mas constatamos gráica, apesar de muito eicazes, ainda municação. O Labmundo torna-se, as-
que os autores deste Atlas foram são pouco explorados pois os softwa- sim, um polo importante em matéria
ágeis e criativos na identiicação, na res atuais não os propõem automati- de uso e difusão do tratamento grái-
comparação, crítica e na seleção das camente. Deve-se recorrer inclusive co como “boa prática” da pesquisa, do
fontes adequadas para os argumentos a vários deles para produzir essas re- ensino e da vulgarização cientíica no
desenvolvidos. Isso conirma que presentações, em alguns casos traba- campo da Ciência Política e das Rela-
uma base sólida de formação em lhar manualmente. Ao mesmo tempo, ções Internacionais.
pesquisa em ciências sociais resulta os autores deste Atlas inspiraram-se,
em bons relexos para encontrar as como no caso dos diagramas de lu-
fontes e os dados relevantes, tornando xos, em algumas inovações interessan-
secundários os “detalhes” estéticos. tes que emanam da atual explosão dos Marie-Françoise Durand é geógrafa e
dataminings e dataviz. coordenadora do Ateliê de Cartograia
O “exercício gráico” (la graphique), de Sciences Po.
pensado e desenvolvido por Jacques Portanto, o Atlas da Política Externa
Bertin, apresentava dois componentes Brasileira é o resultado inovador des- Benoît Martin é geógrafo, cartógrafo
essenciais: a exploração dos dados e, a sa série de operações, as quais, ademais do Ateliê de Cartograia de Sciences
seguir, a comunicação luida desses da- de sua publicação, permitem difun- Po e doutorando no Centre d’Études
dos. Isso signiica que o tempo que se dir formas de pensar e de savoir-faire et de Recherches Internationales de
pode passar no tratamento dos dados muito úteis para a pesquisa. Apenas Sciences Po.

Enara Echart Muñoz

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A VII
Lista de siglas
e abreviaturas

ABC – Agência Brasileira de Cooperação CIA – Agência Central de Inteligência dos Estados
ACNUR – Alto Comissariado das Nações Unidas para Unidos (em inglês: Central Intelligence Agency)
Refugiados CICA – Conselho Indígena Centro-Americano
AIE – Agência Internacional da Energia CID – Cooperação Internacional para o
AIEA – Agência Internacional da Energia Atômica Desenvolvimento
AIDS – Síndrome da Imunodeiciência Adquirida (em CIJ – Corte Internacional de Justiça
inglês: Acquired Immune Deiciency Syndrome) CLACSO – Conselho Latino-Americano de Ciências
ALADI – Associação Latino-Americana de Integração Sociais
ALALC – Associação Latino-Americana de Livre Comércio CNI – Confederação Nacional da Indústria
ALBA – Aliança Bolivariana para as Américas CNM – Confederação Nacional dos Municípios
ALCA – Área de Livre Comércio das Américas CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento
ALCSA – Área de Livre Comércio Sul-Americana Cientíico e Tecnológico
ANA – Agência Nacional de Águas CNT – Confederação Nacional do Transporte
ANCINE – Agência Nacional do Cinema COB – Comitê Olímpico Brasileiro
ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres COBRADI – Cooperação Brasileira para o
AOD – Assistência Oicial para o Desenvolvimento Desenvolvimento Internacional
ASA – Cúpula América do Sul-África COI – Comitê Olímpico Internacional
ASPA – Cúpula América do Sul-Países Árabes COMIGRAR – Conferência Nacional sobre Migrações
BAD – Banco Africano do Desenvolvimento e Refúgio
BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento COMINA – Conselho Missionário Nacional
BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento Eco- CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento
nômico e Social CONARE – Comitê Nacional para os Refugiados
BRIC – Grupo composto por Brasil, Rússia, Índia e COSIPLAN – Conselho Sul-Americano de Infraestru-
China tura e Planejamento
BRICS – Grupo composto por Brasil, Rússia, Índia, COP – Conferência das Partes (em inglês: Conference
China e África do Sul of the Parties) da Convenção-Quadro das Nações
C40 – Grupo de Grandes Cidades para a Liderança Unidas sobre Mudança do Clima
Climática CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
CAD – Comitê de Assistência ao Desenvolvimento da CPS/FGV – Centro de Políticas Sociais / Fundação
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Getulio Vargas
Econômico CS/ONU – Conselho de Segurança das Nações Unidas
CAF – Cooperação Andina de Fomento CSN – Comunidade Sul-americana de Nações
CAFTA – Tratado Centro-Americano de Livre CSS – Cooperação Sul-Sul
Comércio (em inglês: Central America Free Trade DES – Direitos Especiais de Saque
Agreement) DFID – Departamento para o Desenvolvimento
CAN – Comunidade Andina Internacional do Reino Unido
CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal DH – Direitos Humanos
de Nível Superior DJAI – Declaração Jurada Antecipada de Importação
CARICOM – Comunidade do Caribe DJAS – Declaração Jurada Antecipada de Serviços
CASA – Comunidade Sul-Americana de Nações DNPM – Departamento Nacional de Produção
CBERS – Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres Mineral
CBF – Confederação Brasileira de Futebol EAU – Emirados Árabes Unidos
CDIAC – Centro de Análise de Informações sobre o ECOMOG – Grupo de Monitoramento de Cessar-
Dióxido de Carbono Fogo da Comunidade Econômica dos Estados da
CDS – Conselho de Defesa Sul-Americano África Ocidental
CEED – Centro de Estudos Estratégicos de Defesa ECOSOC – Conselho Econômico e Social das Nações
CELAC – Comunidade dos Estados Latino-America- Unidas
nos e Caribenhos EDUERJ – Editora da Universidade do Estado do Rio
CELADE – Centro Latino-Americano e Caribenho de de Janeiro
Demograia EMBRAER – Empresa Brasileira Aeronáutica S/A
CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa
e Caribe Agropecuária

VIII AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
END – Estratégia Nacional de Defesa LC – Livre Comércio
EPE – Empresa de Pesquisa Energética LNA – Licenciamento Não Automático
EUA – Estados Unidos da América LRF –Lei de Responsabilidade Fiscal
FAO – Organização das Nações Unidas para MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens
Alimentação e Agricultura (em inglês: Food and MAC – Mecanismo de Adaptação Competitiva
Agriculture Organization) MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e
FAPERJ – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado Abastecimento
do Rio de Janeiro MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
FGV – Fundação Getulio Vargas Comércio
FHC – Fernando Henrique Cardoso MDS – Ministério do Desenvolvimento Social e Com-
FIESP – Federação das Indústrias de São Paulo bate à Fome
FIFA – Federação Internacional de Futebol MEC – Ministério da Educação
FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos MERCOSUL – Mercado Comum do Sul
FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz MINURSO – Missão das Nações Unidas para o
FIVB – Federação Internacional de Voleibol Referendo no Saara Ocidental
FMI – Fundo Monetário Internacional MINUSTAH – Missão das Nações Unidas para a
FOCAL – Fórum de Cooperação China-América estabilização no Haiti
Latina MMA – Ministério do Meio Ambiente
FOCALAL – Fórum de Cooperação América Latina- MRE – Ministério das Relações Exteriores
Ásia do Leste NAFTA – Tratado Norte-Americano de Livre Comércio
FOCEM – Fundo para a Convergência Estrutural do (em inglês: North American Free Trade Agreement)
Mercosul NOEI – Nova Ordem Econômica Internacional
FUNAG – Fundação Alexandre de Gusmão NSA – Agência de Segurança dos Estados Unidos (em
GATT – Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (em in- inglês: National Security Agency)
glês: General Agreement on Tarifs and Trade) NSP – Grupo de Fornecedores Nucleares (em inglês:
GEF – Fundo Global para o Meio Ambiente (em inglês: Nuclear Suppliers Group)
Global Environment Fund) NYC – Cidade de Nova York (em inglês: New York
GR-RI – Grupo de Relexão sobre Relações City)
Internacionais OACI – Organização da Aviação Civil Internacional
IBAS – Grupo composto por Índia, Brasil e África do OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvi-
Sul (também chamado de Fórum IBAS) mento Econômico
IBGE – Instituto Brasileiro de Geograia e Estatística OCMAL – Observatório de Conlitos Minerais da
IBP – Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e América Latina
Biocombustíveis ODM – Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
ICCA – Associação Internacional de Congressos e OEA – Organização dos Estados Americanos
Convenções (em inglês: International Congress and OECS – Organização dos Estados do Caribe Orien-
Convention Association) tal (em inglês: Organisation of Eastern Caribbean
IDH – Índice de Desenvolvimento Humano States)
IED – Investimento Estrangeiro Direto OIM – Organização Internacional para as Migrações
IEP de Paris – Instituto de Estudos Políticos de Paris OIT – Organização Internacional do Trabalho
(em francês: Institut d’Etudes Politiques de Paris - OLCA – Observatório Latino-Americano de Conlitos
Sciences Po) Ambientais (em espanhol: Observatorio Latinoame-
IESP-UERJ – Instituto de Estudos Sociais e Políticos da ricano de Conlictos Ambientales)
Universidade do Estado do Rio de Janeiro OMAL – Observatório de Multinacionais na América
IFAD – Fundo Internacional para o Desenvolvimento Latina
Agrícola (em inglês: International Fund for OMC – Organização Mundial do Comércio
Agricultural Development) OMT – Organização Mundial do Turismo
IIRSA – Iniciativa para a Integração da Infraestrutura ONG – Organização Não Governamental
Regional Sul-Americana ONU – Organização das Nações Unidas
INESC – Instituto de Engenharia de Sistemas e OPEP – Organização dos Países Exportadores de
Computadores Petróleo
INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais OSAL – Observatório Social da América Latina do
INFRAERO – Empresa Brasileira de Infraestrutura Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais
Aeroportuária OSCE – Organização para a Segurança e Cooperação
IOF – Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e na Europa
Seguros ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliários OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada OTCA – Organização do Tratado de Cooperação
ISARM – Programa de Gestão de Recursos e Aquíferos Amazônica
Internacionais/Transfronteiriços da UNESCO PAA – Programa de Aquisição de Alimentos
IURD – Igreja Universal do Reino de Deus PALOP – Países Africanos de Língua Oicial Portuguesa
JICA – Agência de Cooperação Internacional do PARLASUL – Parlamento do Mercosul
Japão (em inglês: Japan International Cooperation PARLATINO – Parlamento Latino-Americano
Agency) PCN – Programa Calha Norte
LABMUNDO – Laboratório de Análise Política PDN – Política de Defesa Nacional
Mundial PDVSA – Petróleo Venezuela S/A

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A IX
PEA – População Economicamente Ativa UNICA – União da Indústria de Cana-de-Açúcar
PEB – Política Externa Brasileira UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas
PEC-G – Programa de Estudantes-Convênio de UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância
Graduação (em inglês: United Nations Children’s Fund)
PEC-PG – Programa de Estudantes-Convênio de UNIDIR – Instituto das Nações Unidas para pesquisa
Pós-Graduação sobre o Desarmamento (em inglês: United Nations
PIB – Produto Interno Bruto Institute for Disarmament Research)
PMA – Programa Mundial de Alimentos UNIFIL – Força Interina das Nações Unidas no Líbano
PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios UNILA – Universidade Federal da Integração
do Instituto Brasileiro de Estatística Latino-Americana
PNUD – Programa das Nações Unidas para o UNILAB – Universidade de Integração Internacional
Desenvolvimento da Lusofonia Afro-Brasileira
QUAD – Grupo formado por Estados Unidos, União UNIRIO – Universidade Federal do Estado do Rio de
Europeia, Canadá e Japão Janeiro
REBRIP – Rede Brasileira pela Integração Regional UNISFA – Força Interina das Nações Unidas em Abyei
REDLAR – Rede Latino-Americana contra as Represas (em inglês, United Nations Interim Security Force
e pelos Índios for Abyei)
RENCTAS – Relatório Nacional sobre o Tráico da UNMIL – Missão das Nações Unidas na Libéria (em in-
Fauna Silvestre glês, United Nations Mission in Liberia)
SDP – Secretaria de Desenvolvimento de Produção UNMISS – Missão das Nações Unidas na República do
SECEX – Secretaria de Comércio Exterior Sudão do Sul
SEGIB – Secretaria Geral Ibero-Americana UNOCI – Missão das Nações Unidas na Costa do
SEM – Setor Educacional do Mercosul Marim
SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial UNODC – Escritório das Nações Unidas sobre Drogas
SERE – Secretaria de Estado das Relações Exteriores do e Crime (em inglês: United Nations Oice on Dru-
Itamaraty gs and Crime)
SESU – Secretaria de Educação Superior do Ministério UNWTO – Organização Mundial do Turismo (em in-
da Educação glês: United Nations World Tourism Organization)
SIPRI – Instituto Internacional de Pesquisas para a Paz URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
de Estocolmo (em inglês: Stockholm International USAID – Agência dos Estados Unidos para o
Peace Research Institute) Desenvolvimento (em inglês: United States Agency
TFDD – Banco de Dados de Disputa de Água Doce for International Development)
Transfronteiriça (em inglês: Transboundary USP – Universidade de São Paulo
Freshwater Dispute Database) ZOPACAS – Zona de Paz e da Cooperação do Atlântico
TIAR – Tratado Interamericano de Assistência Sul
Recíproca
TNP – Tratado de Não Proliferação Nuclear
TPI – Tribunal Penal Internacional
UAB – Universidade Aberta do Brasil
UE – União Europeia
UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro
UFFS – Universidade da Fronteira Sul
UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina
UNAMAZ – Associação de Universidades Amazônicas
UNASUL – União das Nações Sul-Americanas
UNComtrade – Banco de Dados e Estatísticas sobre
Comércio das Nações Unidas
UNCTAD – Conferência das Nações Unidas sobre Co-
mércio e Desenvolvimento (em inglês: United Na-
tions Conference on Trade and Development)
UNESCO – Organização das Nações Unidas para Edu-
cação, Ciência e Cultura (em inglês: United Nations
Educational, Scientiic and Cultural Organization)
UNESP – Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho”
UNFCCC – Convenção-Quadro das Nações Unidas
sobre Mudança do Clima (em inglês: United Na-
tions Framework Convention on Climate Change)
UNFICYP – Força das Nações Unidas para Manuten-
ção da Paz no Chipre
UNIAM – Universidade da Integração da Amazônia

X AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
Sumário

Introdução: Uso da cartograia temática Capítulo 4: América do Sul, destino geográico do


Escolhas teóricas e metodológicas . . . . . . . . . . . . . . . 4 Brasil?
Como interpretar as imagens? . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 Projetos de integração nas Américas . . . . . . . . . . . . . 82
A escolha da projeção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 Da América Latina à América do Sul . . . . . . . . . . . . 84
O mundo político . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .10 Integração na América do Sul . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
Argentina: parceria estratégica . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
Defesa e segurança na região. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
Energia e a busca da integração pela infraestrutura . . 92
Capítulo 1: Formação do Brasil Assimetrias e desigualdades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
Conquista e formação do Brasil colonial . . . . . . . . . 14 Redes sociais: América Latina ou América do Sul?. . . 96
Da sede do Império colonial ao Brasil imperial . . . . . 16
A República e a hegemonia dos Estados Unidos . . . . 18
Desenvolvimento e industrialização . . . . . . . . . . . . . 20
Globalização e nova ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 Capítulo 5: Novas coalizões, multilateralismo e coo-
Diversidade cultural e pluralismo étnico. . . . . . . . . . 24 peração Sul-Sul
O Brasil nas relações Norte-Sul . . . . . . . . . . . . . . . 100
Sistema ONU: meio ambiente e direitos humanos . 102
Agências econômicas mundiais . . . . . . . . . . . . . . . 104
Capítulo 2: Brasil, potência emergente? Novos parceiros e coalizões. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
Agronegócio: celeiro do mundo? . . . . . . . . . . . . . . . 28 Governança global mais democrática? . . . . . . . . . . 108
Parque industrial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 Cooperação: de beneiciário a doador? . . . . . . . . . . 110
Logística e desaios ao desenvolvimento . . . . . . . . . . 32 Cooperação Sul-Sul: atores e agendas . . . . . . . . . . . . 112
Matriz energética e meio ambiente . . . . . . . . . . . . . 34 Cooperação Sul-Sul em educação . . . . . . . . . . . . . . 114
Água: recurso vital e estratégico . . . . . . . . . . . . . . . . 36 Cooperação Sul-Sul: África . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
Minério e indústria extrativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 Cooperação Sul-Sul: América Latina . . . . . . . . . . . . 118
Riqueza genética e biodiversidade . . . . . . . . . . . . . . 40
População e diversidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
Pobreza e desigualdade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
Segurança e política de defesa . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .120
Ameaças globais e transnacionais . . . . . . . . . . . . . . . 48
Cultura como soft power . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
O país do futebol, vôlei e talentos individuais . . . . . 52
Turismo e imagem nacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
Pluralismo religioso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

Capítulo 3: Atores e agendas


Itamaraty e diplomacia pública . . . . . . . . . . . . . . . . 60
Diplomacia presidencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
Congresso, ministérios e agências . . . . . . . . . . . . . . 64
Ação internacional dos estados . . . . . . . . . . . . . . . . 66
Ação internacional das cidades . . . . . . . . . . . . . . . . 68
Principais multinacionais brasileiras . . . . . . . . . . . . 70
Organizações e movimentos sociais . . . . . . . . . . . . . 72
Atores religiosos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
Brasileiros no exterior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
Centros de pesquisa e universidades . . . . . . . . . . . . . 78
Introdução:

Uso da
cartograia
temática

Enara Echart Muñoz


Enara Echart Muñoz
Escolhas teóricas índice de Gini no Brasil, ilustram per-
feitamente esse argumento.

e metodológicas No campo da Ciência Política e das


Relações Internacionais no Brasil, este
Atlas inova em matéria de represen-
tação gráica, semiológica e estética,
principalmente quando se conside-
ram os estudos sobre a política externa
brasileira. O Atlas permite visualizar
de maneira mais clara a internaciona-
lização das políticas públicas, a com-
paração de uma ou mais variáveis em
Este é o primeiro Atlas da Política Ex- político, social, cultural e ambiental. situações distintas, a presença (com-
terna Brasileira. Iniciado em 2012 e Pode ser de grande utilidade a profes- plementar, mas por vezes contraditó-
fruto da parceria concebida e imple- sores e estudantes de pós-graduação, ria) dos diferentes atores nacionais e
mentada entre o Ateliê de Cartogra- graduação e ensino médio, bem como internacionais nas agendas da política
ia de Sciences Po e o Labmundo-Rio, a jornalistas e proissionais da comu- externa, bem como a complexidade da
grupo de pesquisa do CNPq vincula- nicação, diplomatas, gestores da co- superposição de dados nas distintas es-
do ao IESP-UERJ, o projeto também operação internacional atuando nos calas espaciais: do local ao nacional, do
contou com a participação da Escola setores público e privado, lideranças regional ao global. A visualização dos
de Ciência Política da Unirio. O de- da sociedade civil e ativistas no campo fenômenos da política internacional,
senvolvimento do Atlas foi inspirado da política externa. As imagens (ma- agora por meio da cartograia temáti-
em iniciativas anteriores entre Sciences pas, gráicos, matrizes, cronologias) e ca, reitera a noção de que a fronteira
Po e o Labmundo, por exemplo, a tra- os textos (uma síntese de cada tema) do Estado nacional se encontra diluí-
dução para o português e publicação constituem um conjunto: sempre da no cenário contemporâneo das re-
no Brasil do Atlas da Mundialização apresentados em duas páginas, cobrem lações internacionais - diluída mas não
no ano de 2009. Foi graças à coopera- as mais variadas pautas, agências e di- apagada. A persistência da fronteira
ção institucional com o Ateliê de Car- mensões da inserção internacional do nacional ainda é marca das assimetrias
tograia do IEP de Paris e à parceria Brasil. Essa organização deveria permi- econômicas e das desigualdades polí-
acadêmica com os colegas Marie-Fran- tir ao leitor que pouco acompanha os ticas entre Estados e sociedades na re-
çoise Durand e Benoît Martin que este debates internacionais uma introdu- gião e no sistema internacional.
projeto logrou atingir seus resultados. ção aos temas da política externa sem
A ambos os queridos colegas os nossos o risco da supericialidade; aos mais in- O uso de imagens na cartograia da
mais sinceros agradecimentos. formados ou que já atuam nessa área, política externa brasileira nos reme-
deveria produzir questionamentos e te a uma segunda transformação im-
Tão importante quanto esse trabalho a renovação de suas perspectivas. Na portante. As mudanças na sociedade e
em rede internacional foi a ação co- concepção de cada item dos capítulos, na cultura fazem com que os leitores
letiva concebida no plano local, que os textos acompanham e complemen- tenham menos tempo para se debru-
mobilizou professores, pesquisadores, tam as imagens, podendo ser conside- çar sobre textos. Cada vez mais se faz
doutorandos, mestrandos e estudan- rados um convite a que o leitor atente necessário que os autores encontrem
tes de graduação de duas instituições mais cuidadosamente para a semio- meios de comunicação que tornem
de ensino superior sediadas no Rio de logia e a estética, gerando, assim, um suas mensagens mais claras, dinâmicas,
Janeiro, além de dois geógrafos e car- diálogo com as diferentes formas de que prendam a atenção do público e
tógrafos que se associaram ao projeto expressar o conteúdo e a mensagem que sejam, portanto, mais facilmente
na qualidade de bolsistas. O trabalho desejados pelos autores. compreendidas e lembradas pelos lei-
em equipe, o contínuo treinamento tores. A quantidade de dados disponí-
presencial e virtual, o diálogo inter- O uso de imagens como ilustração de veis cresce cotidianamente, graças às
disciplinar da Ciência Política e Rela- argumentos em meio a textos escritos novas tecnologias, ao dinamismo aca-
ções Internacionais com a Geograia, ou em apresentações não é novidade. dêmico e à busca por transparência de
a valorização de pesquisas em curso Atualmente, o recurso visual é ampla- diversas instituições públicas e priva-
e a realização de novos estudos são os mente empregado em apresentações das. Maior disponibilidade de dados
principais fatores que explicam o de- com retroprojetores, em textos jorna- não implica automaticamente melho-
senvolvimento deste projeto até o seu lísticos (por exemplo, os infográicos), ria na qualidade e na compreensão das
resultado mais desejado: a publicação em livros didáticos e em artigos aca- informações. A cartograia temática
deste Atlas. dêmicos. O emprego de imagens para desempenha, portanto, função social
veicular dados é muito útil para faci- de tradução e de ponte entre mundos
De fato, o Atlas da Política Externa litar o acesso a informações, esclarecer distintos.
Brasileira tem como objetivo principal ideias e conceitos, ilustrar fatos históri-
compartilhar novas leituras da política cos, realidades geográicas e estatísticas. Isso não signiica, é claro, que os tex-
internacional e da política externa bra- As imagens, como os textos, veiculam tos devam ser abandonados ou sempre
sileira com pesquisadores e estudantes mensagens, reletem visões de mundo preteridos a favor das imagens. Nada
interessados nas mais diversas formas e interpretações. A escolha de classii- disso! O Atlas foi concebido por pes-
de inserção brasileira no cenário mun- cações e a deinição de recortes, nos ca- quisadores, com base em leituras e in-
dial, do ponto de vista econômico, sos do mapa da América do Sul e do terpretações críticas sobre o papel do

4 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
INTRODUÇÃO

Brasil no mundo. Fundamentamos TIPOS DE CLASSIFICAÇÕES EM MAPAS


Dados hipotéticos usados como base para os mapas
a nossa concepção no uso cientíico e
acadêmico de mapas, gráicos e matri- Argentina Bolívia Brasil Chile Colômbia Equador Guiana Paraguai Peru Suriname Uruguai Venezuela
zes, a partir de fontes publicadas por Índice 0,46 0,93 0,53 0,49 0,31 0,21 0,11 0,40 0,56 0,13 0,42 0,24
instituições internacionalmente re-
conhecidas. Da mesma modo que as
ferramentas da imagem estão sendo Classificação com base na média dos dados
mais utilizadas em jornais impressos, Bolívia 0,93
revistas e outros tipos de documen- Máximo - 0,93 (Bolívia)

tos na mídia e redes sociais, acredita- Mínimo - 0,11 (Guiana)


Peru 0,56

mos que a academia pode apropriar-se 0,93 - 0,11 = 0,82


Brasil 0,53

dessa linguagem e desenvolver uma se- Chile 0,49


0,82 ÷ 4 = 0,205
miologia com conteúdos próprios, que Argentina 0,46
resultem de pesquisas muitas vezes de- 0,93 Uruguai 0,42
0,93 0,725 0,52 0,315 0,11

senvolvidas ao longo de anos. + 0,205


0,725
Paraguai 0,40

+ 0,205 Sem dados


Colômbia 0,31
A cartograia temática pode ser con- 0,52 disponíveis
+ 0,205 Venezuela 0,24
vertida, assim, em mais um dos ins- 0,315 Equador 0,21
trumentos disponíveis ao contínuo + 0,205
Suriname 0,13
processo de atualização e democrati- 0,11
Guiana 0,11
zação do conhecimento cientíico, nes-
se caso em matéria de política externa.
Em uma sociedade que se torna pro-
gressivamente mais acostumada com Classificação com base na quantidade de unidades
a tecnologia da internet, a cartograia Bolívia 0,93
temática permite uma linguagem mais Peru 0,56
moderna, dinâmica e interativa, facil- Brasil 0,53
mente adaptável para e-books, portais Chile 0,49
e sítios web, com o uso de cores, ob- Argentina 0,46
Quantidade de países = 12
jetos geométricos e outros modos de Uruguai 0,42
apelo visual. Quantidade de classes = 4 0,93 0,53 0,42 0,24 0,11

Paraguai 0,40
12 ÷ 4 = 3
Democratizar o conhecimento sobre Colômbia 0,31

política externa é fundamental, ainda Venezuela 0,24 Sem dados


disponíveis
mais quando se parte da premissa de Equador 0,21
que a política externa é uma política Suriname 0,13
pública sui generis. Sua singularidade Guiana 0,11
resultaria de dois aspectos principais: Fonte: Elaboração própria.
(i) a sua dupla inserção sistêmica (in-
ternacional, regional, o “lado de fora”
da fronteira) e doméstica (relativa a Exemplo concreto sobre o índice de Gini em municípios brasileiros, em 2010
Recorte por quantidade de municípios Recorte por média da variável
interesses e preferências em jogo na
democracia); (ii) a preocupação ao
mesmo tempo com temas constan-
tes da agenda internacional (integri-
dade territorial do Estado, soberania e
proteção dos interesses nacionais) que
lhe assegurariam o caráter de “política
1 1
de Estado”, mas também com orien- 0,54 0,75
tações estratégicas, opções políticas e 0,49 0,5
Labmundo, 2014

modelos de desenvolvimento que po- 0,45 0,25


dem variar ao longo da história e de 0 0
acordo com a conjuntura (sua faceta
de política governamental). Fonte: IBGE, 2010b

Foi com base nessa premissa que se or-


ganizaram os capítulos do Atlas, sem inalmente das relações multilaterais, todos excelente leitura e uso produtivo
pretensão de exaustividade temática. novas coalizões e cooperação Sul-Sul. e profícuo de mapas, imagens e textos.
Buscamos trazer a dimensão histórica Mais informações sobre o projeto e da-
e de formação da política externa bra- Nas duas próximas seções desta Intro- dos complementares sobre o Atlas da
sileira, embora o foco do Atlas seja a dução apresentaremos algumas no- Política Externa Brasileira podem ser
política contemporânea apresentada tas técnicas e metodológicas relativas obtidos no www.labmundo.org/atlas,
em torno dos recursos de poder (hard e à cartograia temática que nos pare- onde o leitor também encontrará um
soft) do Brasil, dos atores e agendas da cem instrumentais para a compreen- glossário para facilitar o entendimento
política externa, da inserção regional e são dos nossos leitores. Desejamos a de alguns tópicos aqui desenvolvidos.

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 5
Como interpretar TIPOS DE ESCALA EM GRÁFICOS
Dados usados como base para os gráficos

as imagens?
Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6
País A 9 000 7 000 9 000 11 000 13 000 16 000
País B 10 000 8 000 6 000 9 000 12 000 10 000
País C 10 40 100 140 200 300

Gráfico com escala aritmética


16 000
País A

12 000

País B
8 000
A cartograia temática é composta por coleta e tratamento dos dados, esco-
técnicas de georreferenciamento e de lhas de projeções, deinições semioló- 4 000
transformação de dados em mapas, gicas e estéticas. Todo esse processo
gráicos e matrizes, podendo ser usada deve ser conduzido com o máximo de 0
País C

para a representação de diversos temas rigor, pois impacta diretamente na in- Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6

sociais, políticos, históricos, econômi- terpretação de mapas, gráicos e ma-


cos e internacionais, muitos dos quais trizes. Os tipos de escala, aritmética
de difícil mensuração. Disso resulta a e logarítmica, são usados em função Uso da escala logarítmica
necessidade de técnicas que permitam do que se pretende comparar ou de- País A

tratar dados qualitativos e quantita- monstrar: a escala aritmética permite


10 000
tivos. É com esse intuito de esclareci- a comparação de valores, ao passo que País B
mento que apresentamos, a seguir, as a escala logarítmica enseja a compara-
principais ferramentas de cartograia ção da evolução de cada curva. No caso
temática utilizadas neste Atlas. hipotético ilustrado nesta página, ica
claro que a escala logarítmica permite
As imagens apresentadas no Atlas re- enxergar uma taxa de crescimento do 1 000

sultam de extenso trabalho de pesquisa, país “C” não evidenciado pela escala
aritmética. País C

REPRESENTAÇÕES VISUAIS As representações visuais (de ma-


Representação de uma variável no plano
Tamanho em uma dimensão para quantidades absolutas
pas, gráicos e matrizes) afetam as 100
percepções do leitor, podendo ser in-
6
5
4
luenciadas por variáveis referentes a
3
2
quantidades absolutas (em uma ou
654321 1 1 2 3 4 duas dimensões) e quantidades rela-
Tamanho em duas dimensões para quantidades absolutas
tivas (mais ou menos valor, com co- 10
16 res e representações visuais distintas).
4
Pode haver relações de proporciona-
1 lidade, ordem e diferença entre os da-
16
dos. No caso da proporcionalidade
e da ordem por hierarquias, usam-se 1
1
4
pontos, traços, quadrados ou círculos Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6

de tamanhos diferentes: o maior re-


presenta um valor evidentemente su-
Em escala de valor para quantidades relativas Gráfico com escala logarítmica
perior, devendo a legenda esclarecer a 16 000
relação gráica com o dado quantitati- 9 000
vo. Ou seja, para representar uma mes-
Mais
Valor
Menos
Valor
ma variável no plano, usam-se barras, 300
colunas e espessura de lechas para in-
0
dicar a variação na quantidade dessa x3
única variável. A diferença, por sua vez, País C
é expressada pelo uso de cores, preen-
Representação de mais de uma variável no plano chimentos ou formatos geométricos
Em cores para mostrar diferenças distintos. A im de demonstrar variá- País A x 1,778
veis diferentes, é necessário mudar a
cor ou a textura utilizada, evidencian-
Em textura para mostrar diferenças do a existência de duas ou mais variá-
veis, que também podem ter escalas de País B
Labmundo, 2014

valor dentro delas. Aplicam-se diferen- x0


Labmundo, 2014

Em formas geométricas para mostrar diferenças


tes tons da mesma família de cor, em
uma escala de tom escuro para outro Ano 1 Ano 6
Fonte: Durand et al., 2009 mais claro. Fonte: Elaboração própria.

6 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
INTRODUÇÃO

A escolha de como recortar as classes INTERPRETAÇÃO DE TABELAS EM CÍRCULOS PROPORCIONAIS


Dados usados como base para a tabela
também é importante. Não há um
único método para criar classes; estas Sarney Collor Itamar FHC Lula Dilma**
Dilma TOTAL
podem ser divididas de acordo com a Am. do Sul 13 7 14 53 88 18 193
quantidade de unidades, com a mé- Am. Central e C. 0 0 0 5 22 1 28
dia da variável ou de modo discricio- Am. do Norte 5 3 1 14 19 5 47
nário. Cada um desses recortes resulta Europa 3 9 0 31 54 1610
000 107
em uma imagem diferente, que pode África 2 4 1 4 34 10 7000 52
levar a conclusões distintas. O recorte O. Médio 0 0 0 0 10 300
0 10
em classes pode induzir o leitor ao erro, Ásia 2 1 0 8 16 16 4000 31
caso não seja bem explicitado na legen- Oceania* 0 0 0 0 0 10 0000 0
da. Por esse motivo, o leitor deve sem- TOTAL 10 40 100 140 200 300

pre atentar à legenda dos mapas, para

is
na
entender qual o fenômeno representa-

cio
or
Quantidade absoluta de viagens presidenciais
do e como está sendo apresentado.

op
pr
L
*

los
a*
ey

TA
ar
r
llo

lm
m
rn

TO
la
C

cu
FH
Co

Ita

Lu
Sa

Di

cír
No campo especíico da política ex-

m
Am. do

se
terna, o uso de cartograia temática Sul

a
tad
apresenta diversas vantagens. Ao repre-

en
res
Europa
sentarmos uma imagem, o território

rep
es
ica muito mais evidente para o leitor,

ad
tid
África
principalmente em temas que sofrem

an
Qu
inluência direta da geograia política. Am. do
Além das fronteiras (que indicam o ter- Norte
ritório dos Estados), podem ser visua- Ásia
lizados os luxos (econômicos, sociais,
culturais, ambientais). Por exemplo, Am. 468
em uma apresentação sobre migrações, Central

a proximidade territorial tem grande Oriente 193

inluência sobre a movimentação do Médio

luxo de pessoas; a espessura e a orien- Oceania* 18

tação das lechas, indicando um ponto

Labmundo, 2014
de partida e outro de chegada, permi-
tem vizualizar e compreender rapida- TOTAL *Oceania não foi visitada no período
mente os principais luxos migratórios **Viagens de Dilma Rousseff até
mundiais. Portanto, a representação Fonte: Planalto, 2014 dezembro de 2013
cartográica permite veriicar quais são
as principais rotas escolhidas pelos mi-
grantes e como a geograia facilita ou entendimento da mensagem que o selecionar em função do tipo de men-
cria obstáculos (a exemplo de mares e emissor quer transmitir. sagem que o autor da imagem visa a
montanhas) para o luxo das pessoas. construir. Portanto, visualizar e com-
Finalmente, as fontes usadas para a co- parar os mapas e as matrizes com base
Podemos argumentar no sentido de leta dos dados são muito importantes em dados diferentes também foi um
que imagens podem ser usadas para no processo de confecção de imagens, exercício contínuo no desenvolvimen-
demonstrar números e facilitar a com- como as aqui apresentadas. Algumas to deste Atlas. Por exemplo, em ma-
paração de uma ou mais variáveis, en- diiculdades podem surgir no caminho. téria de energia, utilizamos os dados
tre diversos casos. Por exemplo, ao Os serviços estatísticos dos Estados va- da Central Intelligence Agency dos
comparar a fonte de matriz energéti- riam em qualidade, e no caso brasilei- EUA, porque a fonte mais completa
ca de diversos países, para demonstrar ro a produção de dados e o acesso a além da CIA seria o Banco Mundial.
que a matriz energética brasileira é ma- eles têm-se aperfeiçoado e melhorado Ocorre que o Banco não desagregava
joritariamente limpa, um texto longo desde meados dos anos 1980. Os da- os dados por tipos de fontes de energia,
e com muitos números pode diicul- dos produzidos por organismos inter- incluindo o setor hidroenergético, que
tar o entendimento rápido da com- nacionais (agências do sistema ONU, nos interessava apresentar em separa-
paração que o autor quer comunicar Banco Mundial, OCDE, etc.) e, fenô- do. Fizemos a opção pelos dados da
a seus destinatários. Além disso, o ex- meno cada vez mais importante, por CIA porque eles também são interna-
cesso de informações em um mesmo organizações da sociedade civil e gran- cionalmente considerados de conian-
parágrafo pode tornar a leitura demo- des corporações podem complementar ça, tendo sido usados na produção de
rada, truncada e entediante, eventual- a construção de sentidos sobre a rea- outros Atlas na Europa, nos EUA e na
mente acarretando o desinteresse do lidade do mundo. Os dados, depen- América Latina. É importante esclare-
leitor. Com o uso da imagem (seja por dendo de suas fontes, podem revelar cer que a coleta de dados foi conduzi-
gráicos com círculos, seja por barras realidades nem sempre coincidentes. da ao longo de 2013 e 2014. Padronizar
ou mapas), a comparação ica muito usos e referências também é essencial.
mais evidente. A leitura e a compre- Em muitos casos, torna-se funda- Por exemplo, adotamos como padrão
ensão são imediatas, evitando ruí- mental triangular os dados, sempre o termo “dólares” para indicar dólares
dos na comunicação e facilitando o que possível diversiicar as fontes e dos Estados Unidos.

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 7
A escolha da Os mapas nunca são exaustivos ou
completos, nem totalmente objetivos.
Orientado ao Norte? A Europa no cen-

projeção tro? O Pacíico ou a África reduzidos?


Uma das decisões mais importantes
na concepção de um mapa diz respei-
to à escolha da projeção. Projeções
cartográicas podem ser entendidas
como um instrumento de represen-
tação do globo por meio de um dese-
nho. É um exercício de transformação
de um objeto tridimensional em uma
representação plana, razão pela qual
PROJEÇÃO DESCONTÍNUA DE GOODE as projeções são objeto frequente de
Projeção de Goode sem alterações questões, críticas e debates. As proje-
ções sempre geram distorções, mais ou
menos acentuadas, de partes do terri-
tório do planeta.

As distorções são perceptíveis mais fa-


cilmente à medida que nos aproxima-
mos dos polos. Em alguns casos, como
a projeção de Mercator, o estado es-
tadunidense do Alasca é representa-
do maior do que o território brasileiro.
Outro exemplo das distorções presen-
tes nesta projeção desenvolvida por
Gerard de Kremer é a Groenlândia, re-
presentada com território equivalente
ao do continente africano, mas que de
Áreas retiradas para a projeção padrão do Atlas fato é 50 vezes menor. Além das distor-
ções da imagem, há outros questiona-
mentos frequentemente vinculados à
confecção e ao uso de projeções carto-
gráicas. O primeiro deles é quanto à
disposição no plano: tradicionalmen-
te, devido à inluência de cartógrafos
europeus, a Europa é representada no
centro da projeção. Também por in-
luência das principais escolas de car-
tograia na Europa e nos EUA, o Norte
geográico é geralmente representa-
do em cima do hemisfério Sul. Cabe
ressaltar que, como o planeta Terra é
um geoide, não há necessidade de re-
presentar o Norte em cima; o Sul, o
Leste ou o Oeste podem estar na par-
te superior.

Projeção padrão do Atlas Ou seja, a escolha da projeção não é


neutra, mas resulta das opções feitas
pelo cartógrafo, cabendo ao pesquisa-
dor a decisão de qual modelo é mais
adequado ao seus objetivos. Se o fenô-
meno a ser estudado ocorre principal-
mente no hemisfério Norte, é natural
que o pesquisador dê preferência a
projeções que destaquem essa região
do globo, para deixar a imagem mais
evidente ao leitor. Do mesmo modo,
se o objetivo da imagem for represen-
Labmundo, 2014

tar por setas algum fenômeno, deve-se


dar preferência a projeções que deixem
os continentes mais afastados (como a
Projeção cedida pelo Ateliê de Cartografia de Sciences Po projeção de Fuller), para que a lecha

8 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
INTRODUÇÃO

não passe “por cima” de territórios im- DIFERENTES REPRESENTAÇÕES E SUAS DISTORÇÕES
portantes, deixando-os ocultos ou po- Projeção de Bertin Projeção de Fuller
luindo a imagem.

O Ateliê de Cartograia Labmun-


do entende que a escolha da projeção
também deve considerar esse caráter
político da representação. Evitamos
projeções que superestimem a repre-
sentação do hemisfério Norte em
detrimento do hemisfério Sul. Preferi-
mos usar as projeções de Fuller, Bertin
e Goode. Além disso, também é ma-
nifesta a preferência por uma proje-
ção que não seja eurocêntrica, mas que Projeção de Gall-Peters Projeção de Mercator
apresente o Brasil no centro.

As projeções usadas neste Atlas são, em


sua maioria, centradas no continente
americano e não apresentam distor-
ção relevante quanto ao tamanho do
hemisfério Norte. Optamos por man-
ter a representação do Norte para cima
– e isso em função da novidade talvez
excessiva que poderia representar, aos
olhos ainda pouco habituados dos lei-
tores brasileiros, a utilização de pro-
jeções com o Sul geopolítico na parte Projeção Miller Cylindrical Projeção de Robinson
superior do planisfério. No sítio web
do Atlas os leitores poderão encontrar
exemplos de mapas com essa projeção,
que também ilustra a nossa capa.

Este projeto somente foi factível por-


que contou com o apoio de algumas
instituições e a parceria de alguns
pesquisadores, colegas e amigos. Os
apoios inanceiros de Faperj, Finep e
CNPq foram decisivos. Agradecemos Projeção Brasil Alasca Índia
ao IESP-UERJ pelo amparo institu-
cional e pelo espaço físico destinado ao
grupo de pesquisa Labmundo-Rio. Os Mercator

nossos agradecimentos também se des-


tinam aos colegas e pesquisadores que
nos ajudaram na obtenção de dados e
na produção de análises, na redação ou
revisão de itens dos diferentes capítu- Miller
Cylindrical
los. Em particular, queremos agradecer
a Breno Marques Bringel, Henrique
Sartori, Cristiano A. Lopes, Bernabé
Malacalza, Rafael C. Fidalgo, Renata
Albuquerque Ribeiro, Danielle Costa Fuller
da Silva e Wallace da Silva Melo. Além
disso, agradecemos aos colegas Da-
niel Jatobá, Elsa Sousa Kraychete, Le-
ticia Pinheiro, Maria Regina Soares de
Lima e Miriam Gomes Saraiva por co- Bertin

mentários, críticas e sugestões feitos


durante o seminário acadêmico que
organizamos no IESP-UERJ em se-
tembro de 2014. É importante lembrar
que as fotos que ilustram os capítu-
Labmundo, 2014

Goode

los do Atlas são todas de Enara Echart


Muñoz, que gentilmente as cedeu para
a publicação deste Atlas. Fonte: Elaboração própria. Projeções cedidas pelo Ateliê de Cartografia de Sciences Po.

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 9
O mundo político

Canadá

Quirguistão Mongólia
Tajiquistão

Estados Unidos
Afeganistão China

Paquistão Nepal Butão Japão


Coreia
Coréia do Sul
Coreia
Coréia do Norte
Índia Taiwan
Myanmar Hong Kong México
Laos
Bangladesh Tailândia Macau Marianas
Vietnã GuamGuam
(EUA) Micronésia
Filipinas
Palau Ilhas Marshall
Camboja Nauru
Brunei Kiribati
Malásia
Cingapura
Sri Lanka
Maldívias
Maldivas Tuvalu
Indonésia Papua-Nova Guiné
Território Britânico Tokelau (Nova Zelândia)
do Oceano Índico
Wallis e Futuna (França)
Timor Leste
América Central: Samoa
Ilhas Salomão Samoa Americana
a- Ilhas Cayman
1- Ilhas Cayman Vanuatu
b- Turks ee Caicos
2- Turks Caicos Niue
c-
3- Ilhas Virgens (EUA) Nova Caledônia
Caledónia Polinésia Francesa
d-
4- Ilhas Virgens Britânicas (França)
e-
5- Anguilla (Reino Unido) Ilhas Cook
f-
6-Ilha
Ilhade
deSan-Martin
São Martinho(França) Austrália Ilhas Pitcairn (Reino Unido)
g- Coletividade de
7- Coletividade de São
São Bartolomeu
Bartolomeu (França) Tonga
h- Montserrat
8- Ilha (Reino Unido)
de São Martinho
i-
9-São
SãoCristóvão
CristóvãoeeNevis
Nevis Ilhas Fiji
j-
10-Antigua
Antiguae eBarbuda
Barbuda
k-
11-Guadalupe
Guadaloupe (França)
l-
12-Dominica
Dominica
m
13--Martinica
Martinica (França) Nova Zelândia
n-
14-Santa
SantaLúcia
Lúcia
o-
15-Barbados
Barbado
p-
16-São
SãoVicente
VicenteeeGranadinas
Granadinas
q-
17-Granada
Granada
r-
18-Países
PaísesBaixos
BaixosCaribenhos
Caribenhos
s-
19-Curaçao
Curação
t-
20-Aruba
Aruba

Fonte: Elaboração própria.

10 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
INTRODUÇÃO

Europa
1- Guernsey 21- Bósnia e Herzegovina
2- Jersey (Reino Unido) 22- Montenegro
3- Andorra 23- Albânia Groelândia Jan Mayen
4- Bélgica 24- Macedônia (Dinamarca)
5- Luxemburgo 25- Kosovo Noruega
6- Holanda 26- Sérvia Suécia
7- Mônaco 27- Åland (Finlândia) Finlândia
Suíça
8- Suiça Estônia
28- Estónia Islândia 27
9- Itália Letônia
29- Letónia Ilha de Man 28
10- Alemanha 30- Lituânia (Reino Unido) 29 Rússia
12 30
11- Liechtenstein Romênia
31- Roménia 6
12- Dinamarca 32- Bulgária Irlanda 34
13- Vaticano 33- Moldávia 4 5 10 Polônia
Reino Unido 1 2 17 Ucrânia
14- San Marino 34- Bielorrússia 11 15 18 Kasaquistão
15- Áustria 35- Chipre França 8 16 19 31 33
16- Eslovênia 36- Chipre do Norte 9 20 21 26 Azerbaijão
3
17- República Checa 7 14 22 25 24
32 Geórgia Uzbequistão
18- Eslováquia Portugal Espanha 13 23
19- Hungria Turquia Turcomenistão
20- Croácia Tunísia Armênia
Açores Grécia 35 36 Síria
Bermudas Ilha da Madeira Malta Líbano
Marrocos Iraque Irã
Palestina
Israel Jordânia Kuwait
Argélia Líbia Bahrein
Cuba Bahamas Rep. Dominicana Saara Egito Catar
Belize Porto Rico Ocidental Arábia EAU
b
2 Saudita
a1 3c 4d 5e
f6 g
7 10 Mauritânia Mali Omã
Jamaica 89
h j k11 Senegal Níger
Honduras Haiti i l12 Chade Sudão Eritreia Iêmen
20
t 19
s r18 13
m 14
n 15
o Cabo Verde
Nicaragua
Nicarágua p
16 17
q Burkina Djibouti
Gambia
Trinidad Guiné-Bissau
Guiné Bissau Guiné Somália
Guatemala e Tobago Nigéria
Venezuela Gana Sudão Etiópia
Serra Leoa República do Sul
El Salvador Guiana Libéria Centro-Africana
Costa Rica Colômbia Suriname Camarões
Guiana Francesa Togo Uganda
Panamá Bénin
Benin Quênia
Equador Costa
Costa do
do Marfim
Marfin República Ruanda
São Tomé e Príncipe Democrática Burundi
do Congo Comores
Guiné Equatorial Tanzânia Seychelles
Gabão
Brasil Congo
Peru Angola
Zâmbia Moçambique
Rep. de
Bolívia Maurício
Maurícia
Zimbábwe
Malawi
Malaui
Botswana Madagascar
) Namíbia
Chile
Paraguai Suazilândia
Argentina Reunião
Uruguai África do Sul Lesoto
Labmundo, 2014

Ilhas Malvinas
Ilhas Geórgia do Sul e Sandwich do Sul
100 km

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 11
Capítulo 1:

FORMAÇÃO
DO BRASIL

Enara Echart Muñoz


Enara Echart Muñoz
O processo histórico de constituição e desenvolvimento do Estado-nação
brasileiro legou características e potencialidades estruturais em suas for-
mas de inserção internacional. É inescapável ao analista das relações inter-
nacionais e da política externa brasileira (PEB) compreender o modo co-
mo ocorreu a consolidação territorial do país, os ciclos econômicos atra-
vessados e a importância dos fluxos migratórios internacionais. Os mais
de cinco séculos de história da inserção internacional do Brasil, primeiro
como colônia do Império português, depois Reino Unido a Portugal e,
enfim, Estado independente, foram em boa parte marcados pelo paradig-
ma agrário-exportador, que só seria modificado em meados do século
XX. As monoculturas da cana-de-açúcar, do café, da borracha e a explora-
ção de minerais como ouro e diamantes definiram decisivamente as rela-
ções exteriores do Brasil, além de reforçarem as características históricas
de sua conformação social, política e produtiva. Neste capítulo, apresen-
tamos as raízes históricas da PEB, fundamentais para a compreensão tem-
poral dos vários temas que, nos capítulos seguintes, serão analisados em
suas dinâmicas contemporâneas. Temas como migração, multilateralismo
e economia estão conectados com unidades subsequentes, e nos dois mo-
mentos o texto faz indicação expressa desta complementação (por meio
do “Veja também”), sugerindo uma leitura não linear do conteúdo, o que
é uma característica do Atlas em geral. Nos itens finais deste capítulo se-
rão apresentadas, em perspectiva histórica, as grandes transformações que
caracterizam a inserção internacional contemporânea do Brasil, por exem-
plo, seu recente ativismo em questões globais ou, em um âmbito domés-
tico, a demanda por maior participação social na formulação da política
externa brasileira.
Conquista e lados foi mais conlitivo do que amis-
toso, com saldo negativo para os indí-
genas. E foi deinido por apresamento,

formação do aculturação, estímulo a rivalidades in-


tertribais e pela difusão de doenças
europeias entre indivíduos sem imu-
nidade aos males europeus. A chegada

Brasil colonial ao continente não desviou o interesse


europeu pelo caminho das Índias. No
Brasil, além do extrativismo, o proje-
to de colonização iniciou-se só a partir
de 1530. Dividiu-se o território em ca-
pitanias e implantou-se a monocultura
A chegada dos europeus às Améri- levaram à projeção mundial da Europa. de cana-de-açúcar. A mão de obra foi
cas resultou do processo de expansão Os primeiros europeus a aportarem inicialmente de indígenas capturados
marítima e comercial no início da in- nesta região encontraram populações e depois de escravos africanos.
ternacionalização do capitalismo. Fa- indígenas divididas em mais de 2 mil
tores culturais, políticos e econômicos povos e tribos. O contato entre os dois O território era delimitado pelo Trata-
do de Tordesilhas. Sua deinição nunca
foi simples, nem levada rigorosamen-
CONTINENTE AMERICANO ÀS VÉSPERAS DA CONQUISTA EUROPEIA te em consideração. A união das cortes
Principais povos indígenas e áreas culturais As cores representam áreas culturais, ibéricas também contribuiu para o es-
definidas por etnólogos e arqueólogos
INUITS
que realizaram uma classificação das
praiamento da presença de portugue-
INUIT múltiplas sociedades aborígenes. ses pelo território colonial espanhol. O
ALEÚTES

S
As áreas culturais compartilham modo Tratado de Madri de 1750 consolidaria
de subsistência, organização política e
NUU
-
OJÍBUAS
social, sendo às vezes unificadas pela a nova divisão espacial entre portugue-
ALGONQUINOS
CH

difusão de línguas dominantes, como o ses e espanhóis. A soberania da Améri-


AH

S
HURÕES SE nahuatl na Mesoamérica ou o quechua
-NU

UE
IROQ nos Andes. ca Portuguesa foi ameaçada por outros
LTH

CHEYENNES
SHOSHONE
São o produto de composições entre reinos, como França e Inglaterra. Ho-
indivíduos sedentários e nômades,
NAVAJOS
COMANCHES,
CHEROKEES agricultores e guerreiros, cada grupo landeses ocuparam o Nordeste por
América do Norte
APACHES
NATCHES conservando alguns de seus longo período, criando um sistema
Ártico particularismos.
Sub-ártico Não são, porém, mundos fechados; político e econômico de duradouro
NÁUATLES ao contrário, as áreas culturais são
Costa noroeste MAIAS
OTOMIS espaços de circulação, por terra e por
Planalto mar.
Grande bacia ARUAQUES EXPORTAÇÕES COLONIAIS
S CARAÍBAS
Califórnia CHIBCHA em milhões de libras esterlinas, 1500-1822
AROS
JI V
Sudoeste ARUAQUES
ÉCHUAS
300 Açúcar
Grandes planícies QU
Nordeste TUPIS TUPIS 170 Ouro e diamantes
Sudeste 15 Couros
AIMARAS TUPIS
Mesoamérica 15 Pau-brasil e outras madeiras
S

Mesoamérica
A NI

12 Tabaco
AR

América do Sul 12 Algodão


GU

Caribe QUÉCHUAS 4,5 Arroz


Savana Orinoco 4 Café
Labmundo, 2014

Andes
3,5 Cacau e especiarias diversas
Floresta tropical
Labmundo, 2014

1000 km
Atlântico Total: 536
ALAKALUF
Sul
Fonte: Simonsen, 2005.
Fontes: L’Histoire, 2012; Barraclough, 1991.

BRASIL COLÔNIA, 1500 - 1808


1625
1492
Expedição de Colombo
1555-1567 Publicação de
Franceses ocupam a baía Do direito da guerra
chega ao continente americano
de Guanabara 1602 e da paz, de Hugo Grotius
1494 Holandeses criam a Companhia
Tratado de Tordesilhas das Índias Orientais e iniciam
1500 atuação no delta amazônico
Expedição de Cabral 1612-1615
chega a Porto Seguro, na Bahia Franceses ocupam o Maranhão
1517
1580-1640
Lutero inicia Reforma 1624-1625
União Ibérica
1492

1651

Protestante na Europa Holandeses ocupam


1529 Salvador
Eventos domésticos
Tratado de Saragoça
Golpes e mudanças de regime 1630-1654
1530
Início da ocupação
Eventos internacionais Formação das capitanias hereditárias holandesa no Nordeste
Relações internacionais do Brasil
1545 1598

14 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
FORMAÇÃO DO BRASIL

EUROPEUS À CONQUISTA DO MUNDO


Principais expedições nos séculos XV e XVI
* as datas indicam a chegada aproximada
John Davis, 1587 ao ponto mais distante da partida
(Inglaterra)

Jacques Cartier, 1534 Império português no séc. XVI


(França)
Jean Cabot, 1497 Territórios não conhecidos
(Inglaterra) pelos europeus
durante o séc. XVI
Áreas já alcançadas por
europeus no séc. XVI

Cristóvão
Colombo, Vasco
1492 (Espanha) da Gama,
1498
(Portugal)
Bartolomeu
Dias, 1488
(Portugal)
Américo
Vespúcio,
1497 (Espanha)

Fernão
s

Trata
de Magalhães,
esilha

1522 (Espanha) Pedro A. Cabral,

do d
1500 (Portugal)
Tord

Labmundo, 2014
e S
e

ara
T. d

Território declarado como de influência 1000 km

go
portuguesa pela Igreja Católica (exceto Europa)

ça
Fontes: Barraclough, 1991; Duby, 2003.

impacto. Sua expulsão foi um dos pri- para o avanço da urbanização, da inte- na condução do Brasil independen-
mórdios da formação da nacionalida- riorização e da diversiicação das pro- te ajudam a explicar a manutenção da
de brasileira. issões liberais, além do surgimento de unidade territorial e o processo de in-
uma camada social média. Com a mi- dependência relativamente pacíico.
O Brasil colonial teve sua inserção in- neração, deslocou-se o eixo econômico
ternacional baseada na dependên- e político, contribuindo para a transfe-
cia direta de sua metrópole e indireta rência da sede política de Salvador para VEJA TAMBÉM:
da Inglaterra, com produção econô- o Rio de Janeiro. A invasão de Portu- Brasil Império p. 16
mica marcada pela monocultura de gal por Napoleão Bonaparte deu im Diversidade cultural p. 24
exportação (gêneros agrícolas, princi- ao período colonial. A vinda da família Integração na América do Sul p. 86
palmente a produção de cana-de-açú- real, a ascensão do Brasil a Reino Uni- Relações Norte-Sul p. 100
car). A descoberta de ouro contribuiu do e a presença de um de seus membros

1750
Portugal e Espanha 1789
1680
assinam Tratado de Madri Revolução Francesa
Fundação da Colônia do Sacramento
1648 1755
Esquadra portuguesa, armada 1681
Terremoto em Lisboa destrói
no Rio de Janeiro e com índios Chega a um milhão o número
sede do Império Português
brasileiros, reconquista de escravos trazidos de Angola
1759
Angola dos holandeses 1687 Companhia de Jesus é expulsa
1657 Fundação dos Sete Povos das Missões do Brasil pelo Marquês de Pombal
Guerra entre Portugal e Holanda 1763
1694
por disputas ultramarinas. Transferência da capital de Salvador
Descobertas as primeiras
Ao assinar Tratado de Paz (1661), para o Rio de Janeiro
1651

1810

jazidas de ouro em Minas Gerais


Portugal reconhece a perda 1773
de territórios orientais 1703 Escravidão abolida
1673 Portugal e Inglaterra no Reino de Portugal
Chegada dos primeiros assinam Tratado de Methuen 1782
casais de colonos açoreanos Ingleses desocupam Ilha de Trindade
1704 1757

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 15
Da sede do Com a chegada da Corte, o Brasil pas-
sou a ser centro do Império português,
apesar de cristalizar uma relação sub-

Império colonial missa à Inglaterra, como visto, em


1808, na abertura dos portos às nações
amigas. Nem a independência alterou
o caráter desigual e hierárquico das re-

ao Brasil imperial lações entre Brasil e Inglaterra, haja


vista que a primeira dívida externa do
Brasil independente, a im de pagar
compensações à antiga metrópole, foi
contraída junto à coroa britânica.
GUERRA DA TRÍPLICE ALIANÇA, 1864-1870
O Brasil independente contrastava
BOLÍVIA* com o restante da América Latina: era
Corumbá
a única monarquia entre as repúblicas
Coxim da região. Esse fato, somado à unifor-
Albuquerque
midade das elites e à estabilidade polí-
Forte Coimbra tica e social do Brasil Império, criou no
imaginário político doméstico da épo-
Miranda ca a crença de um país civilizado em
da
efini meio a repúblicas caudilhescas. Nas re-
ão d Nioaque
t e i ra n guerra
Fron poca da lações regionais, sobressaía a rivalidade
àé
com a Argentina e o esforço por man-
Laguna
Dourados ter a região da bacia do Prata de modo
Rio

PARAGUAI a não ameaçar as fronteiras e os interes-


Par

Cerro Corá ses do país, em um sistema regional de


aguai

balança de poder. Ao longo do século


BRASIL XIX, o país buscou manter sua hege-
Assunção
monia nessa região. Entre 1821 e 1828,
Itororó
Avaí
manteve a posse territorial da provín-
165 km
cia Cisplatina. Já com o Uruguai inde-
á

Humaitá
n
ra

Curupaiti pendente, o Brasil buscou inluenciar a


Pa

R io
Tuiutí
vida política do novo país, fruto da ri-
validade com Buenos Aires.
Corrientes Fronteiras atuais
Riachuelo São Borja As intervenções brasileiras na região e a
Jataí Itaqui Principais batalhas expansão econômica do Paraguai alte-
raram a balança de poder regional e re-
ARGENTINA Uruguaiana Máxima extensão
do controle paraguaio sultaram no maior conlito armado da
durante a guerra história da América do Sul, envolven-
do Brasil, Argentina, Uruguai e Para-
á

Avanço das tropas


ran

paraguaias guai. A Guerra da Tríplice Aliança teve


Rio Pa

URUGUAI Área litigiosa entre resultados signiicativos para o Brasil,


Paraguai e vizinhos
como a consolidação de seu exército e
o aumento da dívida com a Inglater-
Labmundo, 2014

Morte de S. Lopes
e fim da guerra ra, além de contribuir indiretamente
Fontes: Albuquerque et al., 1977; Goes Filho, 1999; Montevidéu * A Bolívia não para a abolição do regime escravocrata.
Wehling e Wehling, 2002; Gurnak et al., 2010. participou da guerra As fronteiras dos países também foram

FORMAÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO, 1808 - 1889


1801 1822
1835
Tratado de Badajoz 1811 Independência brasileira Rev. Farroupilha (fim 1845)
1807 Portugal intervém na Banda Oriental 1843
1825
Fuga de Lisboa 1817 Início Guerra Cisplatina (fim em 1828) Abertura do primeiro
1808 Rev. Pernambucana Consulado do Brasil
Chegada da corte 1827 na China, em Cantão
1820
Abertura dos portos Brasil e EUA rompem relações
Rev. Porto
1821 1844
1809-1814 Anexação da Província Cisplatina Tarifa Alves Branco
D. João ordena ocupação 1823 1845
de Caiena com apoio britânico Presidente dos EUA lança Doutrina Monroe Parlamento
1800

1850

1810 1824 britânico


Tratados entre Portugal Confederação do Equador sanciona o bill
e Grã-Bretânha de Comércio Primeiro empréstimo público externo, junto à City londrina Aberdeen
e Navegação e de Aliança e Amizade
D. Pedro I Período Regencial D. Pedro II

1810 1820 1830 1840

16 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
FORMAÇÃO DO BRASIL

reordenadas: o Paraguai, por exemplo, como Ministro das Relações Exterio- EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS
perdeu cerca de 40% de seu território. res. O Barão participou diretamente Total de cada década em porcentagem do total, entre
1821 e 1890
dos acordos que garantiram a sobe- Café
Mais da metade das fronteiras brasilei- rania brasileira sobre os territórios do
50
ras foi deinida ao longo do século XIX. Acre, de Palmas (SC) e do Amapá.
Fazendo uso do uti possidetis, o Brasil
realizou várias negociações fronteiriças A extensão e a unidade do território
com os vizinhos. A região Sul foi a de brasileiro também foram conseguidas Açúcar
30
maior complexidade, em função dos à custa da repressão de movimentos in- Borracha
receios dos vizinhos e da extensa fron- ternos separatistas, tais como a Confe- Algodão
teira em litígio. Acordos internacionais deração do Equador, a Cabanagem, a 10
Couros e pele

Labmundo, 2014
sucederam-se a partir da segunda me- Revolução Farroupilha, a República
tade do século XIX, porém também Juliana e a Inconidência Mineira. Fumo

aconteceram conlitos armados que vi- 1830 1850 1870 1890

savam a garantir a soberania nacional Na economia, produtos como café, Fonte: Almeida, 2001.
sobre o território. Em geral, primou o açúcar, borracha e algodão destina-
uso pelo governo brasileiro da via di- ram-se à exportação. No caso do café, a
plomática na solução das controvérsias tecnologia empregada evoluiu vagaro- e 1883, aportaram às terras brasileiras
territoriais. samente, e ao inal do século novas téc- cerca de 540 mil migrantes, dos quais
nicas aumentaram a produtividade das 220 mil portugueses, 96 mil italianos,
A consolidação das fronteiras seria fazendas e uma nova forma de mão de 70 mil alemães e 15 mil espanhóis.
completada, no começo do século XX, obra passou a ser empregada: o escravo
graças à liderança do Barão do Rio africano foi paulatinamente substituí- O mercado consumidor internacional
Branco, antes e durante o seu mandato do pelo migrante europeu. Entre 1819 do café brasileiro se expandia à medi-
da que novos centros urbanos se for-
mavam e que ascendiam novas classes
FRONTEIRAS BRASILEIRAS NA HISTÓRIA médias nos EUA e na Europa. Na vi-
Venezuela 1817 Algumas disputas fronteiriças
rada para o século XX, o café seria o
Inglaterra França
1859 1904 mais importante produto da pauta
1900
Colômbia Tratado de de exportação e os EUA o seu maior
1907 Madrid,1750
Madri, 1750 consumidor.
Peru Tratado de Santo
1851 Ildefonso, 1777 Nas vésperas da República, o Brasil ti-
Tratado de nha pouco mais de 14 milhões de habi-
Badajóz, 1801
tantes, já então bastante miscigenados
494)

Fronteiras atuais e no geral de baixa instrução. Essen-


has (1

Conflitos resolvidos cialmente agrícola e rural, tendo como


único grande centro urbano o Rio de
desil

Bolívia América
América Disputas perdidas
Áreas ainda
1867 e 1903 em disputa Janeiro, com 500 mil habitantes, o
. To r

Portuguesa
Por tuguesa Áreas ainda país era pouco integrado econômica e
em disputa
territorialmente.
I. da Trindade
Paraguai
1872 250 km Inglaterra
Argentina 1895 VEJA TAMBÉM:
1895
*as datas indicam o momento Integração na América do Sul p. 86
Labmundo, 2014

em que os dois Estados acordaram


Uruguai
fronteira em comum na região indicada Argentina p. 88
1851 Governança global p. 108
Cooperação Sul-Sul p. 112
Fontes: Goes Filho, 1999; Gurnak et al., 2010; Albuquerque et al., 1977.

1861 1889
1850 1867-1869
Questão Christie 1876 Proclamação
Aprovação entre Brasil Brasil e Peru rompem
relações D. Pedro II da República
da Lei Euzébio de Queirós e Grã-Bretanha é o primeiro monarca
e da Lei de Terras a visitar os EUA
1863-1865 1871
1853 Brasil e Grã-Bretanha 1884
Lei do Ventre Livre 1889
EUA pressionam rompem relações Início
para ter direito EUA, Argentina e Uruguai
da Conferência reconhecem o novo regime
à livre-circulação 1864
de Berlim
ao rio Amazonas Tropas brasileiras republicano brasileiro
1854
invadem o Uruguai I Conferencia Internacional
1879-1883 Americana, em Washington
Brasil Intervém Guerra do Pacífico,
no Uruguai Guerra Paraguai entre Peru e Bolívia
1850

1900

1859
Prússia proíbe 1866 contra o Chile, 1888
emigração O rio Amazonas é aberto em que o Brasil Abolição da escravatura
para o Brasil à navegação internacional permanece neutro
Deodoro F. Peixoto P. de Moraes C. Sales

1860 1870 1880 1890

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 17
A República e a RELAÇÕES COMERCIAIS
Comércio brasileiro, entre 1901 e 2010 (em milhões
de dólares)*

hegemonia dos
100 000

10 000

Estados Unidos 1 000

100
01 920 930 940 950 960 970 980 990 000 010
19 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2
* Foi adotada a escala logarítimica

O Império do Brasil (1822-1889) man- No começo do século XX, o fortaleci-


Participação do comércio com os EUA, entre 1901
teve laços de lealdade com as famílias mento das relações Brasil-EUA visava e 2010 (% do total)
reais e as monarquias da Europa, en- a “republicanizar” a PEB. Airmava o 50
quanto assistia com distância crítica Manifesto Republicano de 1870: nós
40
ao desenrolar da Doutrina Monroe. somos americanos e queremos ser
As relações entre Brasil e EUA muda- americanos. Resultado para a PEB: 30
ram com o advento da República no posições menos favoráveis à Europa e 20
Brasil, devido não apenas à proximi- aproximação com os EUA e vizinhos
dade ideológica dos regimes políticos hispânicos. O Acordo de Cooperação 10

e à airmação do ideal republicano no Aduaneira, assinado em janeiro de 1891 0


0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
/1 /2 /3 /4 /5 /6 /7 /8 /9 00 1/1
continente americano, mas também com os Estados Unidos, o apoio esta-

Labmundo, 2014
01 11 21 31 41 51 61 71 81 /2 0
19 19 19 19 19 19 19 19 19 991 20
pelos interesses econômicos dos cafei- dunidense – ao lado de ingleses, por- Exportação do Brasil para os EUA
1

cultores ligados à exportação. As rela- tugueses, italianos e franceses – aos Importação dos EUA pelo Brasil
ções do Brasil com os Estados Unidos militares republicanos sob a liderança Fonte: MIDC, 2008.
passariam, ao longo do século XX, a de Floriano Peixoto em 1893 e o Trata-
constituir-se no elemento sistêmico do de Cooperação assinado com a Ar-
mais relevante da PEB. gentina em 1896 são exemplos dessa
aproximação. XX pode ser explicado à luz dos em-
bates entre esses dois posicionamentos.
PACTO DO RIO Na transição para o século XX, as rela- Durante os primeiros trinta anos do
Participação no TIAR, entre 1947 e 2014
ções econômicas e políticas entre e Bra- século XX, o Brasil manteve sua posi-
sil e EUA passaram a ser fundamentais ção de país alinhado com os interesses
na deinição das prioridades e orienta- dos EUA, procurando tirar benefícios
ções estratégicas da PEB, provocando, das condições de segurança continen-
inclusive, o desenvolvimento de visões tal garantidas na América Latina pelo
1 000 km diferenciadas da diplomacia brasilei- prestígio internacional da nova potên-
ra. Dois posicionamentos podem ser cia. Foi assim que a autonomia relativa
Membros originários considerados marcos interpretativos nos marcos de uma “aliança não escri-
Estados que aderiram
ao longo do tempo*
desenvolvidos no seio do Itamaraty so- ta” com os Estados Unidos (expressão
Estados que se retiraram** bre as relações Brasil-EUA: o da alian- de Bradford Burns, forjada em 1966)
*Datas de adesão: Nicarágua (1948),
ça com os EUA e o de uma diplomacia e o fortalecimento doméstico da PEB,
Equador (1949), Trinidad e
Tobago (1967) e Bahamas (1982).
universalista e diversiicada (comér- sob a liderança do Barão do Rio Bran-
cio com a Europa ocidental e orien- co (1902-1912), garantiram ao Brasil
Labmundo, 2014

**O México (em 2004), assim como


Bolívia, Equador, Nicarágua e tal, os continentes asiático e africano, bons resultados nas negociações terri-
Venezuela (em 2012) retiraram-se
do tratado. a América Latina e o Oriente Médio). toriais com os países vizinhos na Amé-
Fontes: Itamaraty, 2013a; OEA, 2014 Muito da PEB republicana do século rica do Sul.

REPÚBLICA OLIGÁRQUICA, 1889 - 1930


1895 1904
Laudo arbitral pelos EUA 1900 Proferido o corolário Roosevelt à Doutrina Monroe
1891-1894 na questão de Palmas Laudo arbitral suíço 1905
Convênio aduaneiro com a Argentina na questão do Amapá Troca de embaixadas entre
com os EUA Tratado de amizade, comércio Brasil e EUA
e navegação com o Japão
1902-1912
1893 O Barão do Rio Branco é Ministro 1906
Apoio estrangeiro aos republicanos das Relações Exteriores III Conferência Pan-Americana
na Revolta da Armada 1902 no Rio de Janeiro
Na Argentina, é proferida
1907
1894-1896 a Doutrina Drago
Rui Barbosa na
1910
1890

Ocupação britânica 1903 II Conferência de Paz


da Ilha da Trindade Tratado de Petrópolis na Haia
com a Bolívia sobre o Acre

Deodoro F. Peixoto P. de Moraes C. Sales Rodrigues Alves Afonso Pena N. Peçanha

1895 1900 1905

18 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
FORMAÇÃO DO BRASIL

O Brasil aceitou o Corolário Roose- EUA E BRASIL NA INTERVENÇÃO NA REPÚBLICA DOMINICANA


velt e não apoiou a Doutrina Drago Intervenção na República Dominicana, em 1965
42
anunciada em 1902 pelo governo ar- EUA
.6 0
0
gentino. Essa doutrina airmava que Quantidade de
tropas (acima de
nenhuma potência estrangeira pode- 150 soldados)
ria utilizar a força contra uma nação
americana a im de lhe obrigar ao pa- Países
interventores
gamento de suas dívidas. A Argentina
era percebida pela elite brasileira como 1 60
1.1
o principal rival no Cone Sul, e as re- Honduras 30
lações entre o Brasil e os EUA nesse pelos americanos

184
Guatemala
período também serviram para minar a Vargas. Os
o projeto de construção de uma lide- EUA procura- Nicarágua
rança regional da Argentina. Em 1905, ram envolver o Costa Rica
Rio de Janeiro e Washington concor- Brasil em seu sis-
daram em elevar à categoria de embai- tema de poder a
xada suas respectivas representações im de neutralizar a inluên-
diplomáticas, e os EUA mantiveram o cia alemã. Recorde-se que a Ale-
Brasil
mesmo embaixador no Rio de Janeiro manha, em 1930, era responsável por
(Edwin Morgan) entre 1912 e 1933, fato 25% das importações brasileiras, ligei-
que contribuiu para a aproximação ramente acima dos EUA. A coopera-
entre os dois países. Em 1914, o em- ção também se deu nos campos militar
baixador Cardoso de Oliveira, repre- (sobretudo no que diz respeito à mo- Paraguai 500 km
sentante brasileiro no México, atuou dernização dos aeroportos no Nordes-
nesse país como mediador dos interes- te do Brasil) e industrial (por exemplo,

Labmundo, 2014
Uruguai
ses norte-americanos. no setor do aço, com o inanciamen-
to da construção da usina de Volta
No entanto, a grande depressão de Redonda), muito embora as Forças Ar- Fonte: White, 2013
1929, a instabilidade na Europa e a in- madas estivessem divididas: Marinha
satisfação dos países da América Latina com o Reino Unido e o Exército en-
com a política dos EUA para a região, tre Alemanha e EUA. O “jogo duplo” Magalhães, primeiro embaixador nos
entre outros fatores, levaram a algumas de Vargas entre a Alemanha e os EUA EUA e depois chanceler, chegou a air-
mudanças na postura dos EUA para a (1935-1941), conhecido como a estraté- mar “o que é bom para os EUA é bom
América Latina a partir de 1930. Apesar gia política da equidistância pragmá- para o Brasil”. Em outros momentos
das promessas retóricas de cooperação tica, associou claramente a PEB aos (Política Externa Independente, Prag-
econômica de Franklin D. Roosevelt, desaios do desenvolvimento nacional matismo Responsável e Ecumênico), a
o conteúdo real da política dos Estados e a colocou, ao inal de 1945, sob nítida PEB rompeu com a tradicional conti-
Unidos não foi alterado, e a liderança área de inluência norte-americana. O nuidade, ousou sair da sombra do he-
norte-americana continuou a fundar- equilíbrio entre opção preferencial pe- gemon do Norte e pensar de modo
se na Doutrina Monroe. O discurso los EUA e diversiicação das parcerias autônomo e soberano suas estratégias
da cooperação ajudou, porém, os EUA é considerado uma variável explicativa de inserção internacional.
a consolidarem sua esfera de inluên- da PEB ao longo do século XX.
cia hemisférica em um momento-cha-
ve do século XX: a Segunda Guerra Em alguns momentos a PEB pendeu VEJA TAMBÉM:
Mundial e a ordem da Guerra Fria. O fortemente para a associação ou o ali- Segurança e defesa p. 46
Brasil se manteve neutro no conli- nhamento quase automático com os Novas Coalizões p. 106
to até 1942, quando se alinhou com EUA (governo Dutra, primeiros anos Governança global p. 108
os Estados Unidos. Esse alinhamen- do regime autoritário, intervenção mi- Cooperação Sul-Sul p. 112
to foi facilitado por concessões feitas litar na República Dominicana). Juraci

1915 1922 1926


1909
Tratado pacifista Ascensão do fascismo Brasil veta ingresso da
Projeto de Pacto ABC,
entre países do ABC de Mussolini na Itália Alemanha na Liga das Nações,
entre Argentina, Brasil e Chile 1916 Missão naval dos EUA Brasil sai da Liga das Nações
Superando a Grã-Bretanha, Semana de Arte Moderna em nome da “dignidade nacional”
1912 os EUA se tornam o principal em São Paulo
parceiro comercial do Brasil 1927
Morte do Barão do Rio Branco
1917 Relatório com
Nomeação de Edwin Morgan
Brasil entra na primeira Guerra prioridades da PEB
como Embaixador dos EUA
Mundial contra a Alemanha na América do Sul
no Brasil (até 1933)
1919
Fundação da OIT e da Liga das Nações 1929
1910

1930

1914 Missão militar francesa


Quebra da
Tratado pacifista com os EUA Brasil na Conferência de Paz
Bolsa de Nova
Brasil na Liga das Nações
I Guerra Mundial York

Hermes da Fonseca Venceslau Brás D. Moreira Epitácio Pessoa Artur Bernardes Washington Luís

1915 1920 1925

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 19
Desenvolvimento POPULAÇÃO BRASILEIRA
Evolução da participação da população urbana,
entre 1940 e 2010 (em %)

e industrialização
90

80 No Brasil

70

60

50
No mundo
40

Entre 1930 e 1980 foram deinidas im- consumidor do principal produto bra-
30
portantes estratégias econômicas que sileiro de exportação: o café. Getúlio
inluenciaram o crescimento econômi- Vargas, salvo no Estado Novo, buscou 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
co e industrial do Brasil no século XX, criar um governo de compromisso que Fontes: ONU, 2013a e IBGE, 2013a.

assim como sua inserção internacional. equilibrasse os interesses de diversos


Crescimento populacional, entre 1940 e 2010
Essas cinco décadas também foram grupos políticos inluentes no Brasil.
palco de grandes mudanças sociais, de- Isso permitiu a concentração do poder 190,8 mi
mográicas e políticas, em meio a um (antes muito fragmentado entre os en- 150 mi
mundo que testemunhou a Segun- tes federativos) na presidência, o que
da Guerra Mundial e a Guerra Fria. A viabilizou um projeto de industriali-
100 mi
década de 1930 foi muito importan- zação guiada e protegida pelo Estado
te para que os surtos industriais pelos nacional.
quais o Brasil passava se tornassem um 50 mi

Labmundo, 2014
projeto governamental com efeitos du- Antes da década de 1930 já existiam in-
radouros. O ano de 1930 marcou a as- dústrias no Brasil, geralmente vincula- 0
censão à presidência da República de das ao capital excedente da economia 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010

um governo menos comprometido cafeeira. No entanto, o projeto de in- Fonte: ONU, 2013a.
com a oligarquia rural, que estava no dustrialização iniciado em 1930 e con-
poder há mais de 30 anos. Essa mu- tinuado, em menor ou maior grau,
dança política foi acompanhada dos pelos governos sucessores foi crucial e industrialização foram baseados no
efeitos da crise internacional de 1929, icou conhecido como “modelo de in- “tripé econômico”, formado pelo capi-
que signiicou a retração do mercado dustrialização por substituição de im- tal público, capital privado domésti-
portações”. Apesar do que o termo co e capital privado internacional, que
pode indicar, o objetivo não era a redu- variaram em intensidade e importân-
EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA ção imediata dos luxos de importação. cia ao longo do tempo. Assim, houve
% do total do PIB brasileiro, entre 1945 e 1995 Em um primeiro momento, as impor- deslocamento do centro dinâmico da
tações eram incentivadas, para que a economia brasileira do setor externo
capacidade produtiva da economia para o doméstico. Enquanto país agro-
20 brasileira fosse aumentada. O plano de exportador, a maior parte das riquezas,
desenvolvimento previa etapas de in- dos empregos e da renda era associada
dustrialização, abrangendo a indústria à produção para o mercado externo. O
15
de base, bem como a de bens duráveis desenvolvimento industrial brasileiro
e não duráveis. Desse modo, a pro- alterou a dinâmica econômica do país,
Labmundo, 2014

10
dução nacional iria, progressivamen- baseando-se a partir de então no mer-
1950 1960 1970 1980 1990
Fontes: IBGE, 2013a; Sítio web Ipeadata, 2013 e
te, agregando valor aos seus produtos. cado consumidor interno. Contribu-
Bonelli et al., 2013. Os investimentos que permitiram a íram para isso diversos fatores sociais,

DESENVOLVIMENTISMO E PROJETO NACIONAL, 1930 - 1989


1940 1950
1930
Revolução de 1930 Código de Minas veta participação Entrega aos EUA de um memorando que manifestava
de estrangeiros na mineração e na metalurgia a “frustração do governo brasileiro com a falta de reciprocidade
1932-1935 EUA aceita financiar a construção nas relações bilaterais”
Guerra do Chaco entre de siderúgica em Volta Redonda 1951
Bolívia e Paraguai 1942
Acordo de venda de materiais
1935 Brasil declara guerra ao Eixo estratégicos para os EUA
Acordo de comércio com os EUA 1945 1952- Acordo militar com os EUA
1936 Fundação da ONU 1953
Acordo de comércio com a Alemanha 1947 Criação da Petrobrás
1938 Rompimento das relações e nacionalização do petróleo
Acordo de compra diplomáticas com a URSS 1956- Plano de Metas
1930

1960

de armas da Krupp 1958


Assinatura do TIAR
(Alemanha) Lançada a
1948
Operação Pan-
II Guerra Mundial Criação da Cepal Americana
Gov. prov. Vargas Gov. const. Vargas Estado Novo Dutra Vargas Juscelino Kubitschek

1940 1950

20 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
FORMAÇÃO DO BRASIL

entre eles o crescimento demográico, COOPERAÇÃO EM BUSCA DO DESENVOLVIMENTO


Membros do G77, em 2014
acompanhado de uma forte urbaniza-
ção e de planos de integração regional.

Nesse período, aprofundou-se o pro-


cesso, que conheceu o auge no inal
da década de 1950, de interiorização
dirigida da população brasileira e de
aumento da conexão entre as regiões.
Como o Brasil era um país voltado à Fundadores
Fundadores que se
exportação, a integração entre suas retiraram
regiões era frágil. O Plano de Metas
optou pela construção de diversas ro- 1000 km
dovias, ligando o território nacional, Fonte: Sítio web do G-77, 2014

como meio de superar a falta de infra- Movimento dos Não Alinhados em sua fundação
estrutura em menor tempo e de atrair
a indústria automobilística para o Bra-
sil. Outros gargalos estruturais que fo-
ram foco da intervenção estatal são a
energia e a telecomunicação. Como o
projeto previa o deslocamento do se-
tor produtivo para o mercado interno,
era evidente a necessidade de inancia- Participantes plenos
mento internacional para viabilizar a Observadores
industrialização, acarretando o endivi-

Labmundo, 2014
damento externo. Além disso, esse mo-
delo de desenvolvimento se mostrou 1000 km

incapaz de superar mazelas como a dis- Fonte: Declaração de Belgrado dos Países não Alinhados, 1961
paridade econômica entre as regiões, a
desigualdade social, a pobreza e outros
desequilíbrios. Pelo contrário, o forte a superpotência estadunidense era en- menores (por exemplo, a proposta da
crescimento econômico foi acompa- tendida como meio de garantir retor- NOEI). Devido ao alto endividamen-
nhado pelo aprofundamento da con- nos difusos em outras áreas. As elites to externo, resultado de um modelo
centração de renda. políticas brasileiras não tenderam a de industrialização muito dependen-
questionar o pertencimento ao blo- te de liquidez externa, o Brasil enfren-
O Brasil entrou mais fortemente na co capitalista, mas também interpreta- tou desequilíbrios macroeconômicos,
área de inluência dos EUA, juntou- vam o Brasil como um país periférico, o que resultou na exaustão do mode-
se ao esforço de guerra dos Aliados e com necessidade de crescimento e de- lo nos moldes pensados em 1930. Con-
fez parte do bloco ocidental no âmbito senvolvimento. Nesse sentido, algu- sequentemente, a busca de autonomia
da Guerra Fria. Esse alinhamento foi mas iniciativas brasileiras revelavam na política externa também sofreu um
poucas vezes automático ou ideológi- certo grau de autonomia, ao defender grande revés no inal do século XX.
co, mas buscava barganhar vantagens maior equidade e justiça no cenário
econômicas ou políticas. Embora a lo- internacional e ao buscar maior di-
calização geográica restringisse a auto- versiicação de parceiros, inclusive no VEJA TAMBÉM:
nomia do Brasil, pois a América do Sul mundo comunista. Esse pragmatismo Multinacionais brasileiras p. 70
era entendida como área de inluência da diplomacia brasileira era mais evi- Relações Norte-Sul p. 100
dos EUA, a política externa foi usada dente em momentos em que a capaci- Parque industrial p. 30
como um instrumento do projeto de dade econômica interna aumentava e Logística p. 32
desenvolvimento. A aproximação com em que as restrições sistêmicas eram

1972
1964 1982
I Plano Nacional de Desenvolvimento
Golpe Civil-Militar Guerra das Malvinas
1964 Pragmatismo Responsável Brasil declara moratória
1961 1974 1985
Programa de Ação 1978
Participação Econômica do Governo Proposta da Nova Apoio à criação do
como observador Ordem Econômica Tratado de Cooperação
Grupo de Contadora
da Conferência Internacional Amazônica
1965 1986
do Movimento dos Acordo do MEC com a USAID Reconhecimento do 1979
governo comunista Criação do
Não Alinhados Rompimento de relações Acordo Tripartite Grupo do Rio
diplomáticas com Cuba de Pequim (Questão Itaipu-Corpus)
Política Externa 1975 Fundação da ZOPACAS
Independente Reconhecimento da independência
1968 1989
1960

1990

de Angola, governada pelo


1962 Recusa de assinar o Tratado de Queda do
Movimento Popular pela
Cuba é suspensa da OEA Não Proliferação Nuclear Muro de
Libertação de Angola
Brasil se absteve na votação Berlim
II Plano Nacional do Desenvolvimento
JK JQ J Goulart Castelo Branco Costa e Silva Médici Geisel Figueiredo José Sarney

1970 1980

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 21
Globalização A política externa de Collor promo-
veu a aproximação com os EUA (visto
como aliado necessário para as refor-

e nova ordem mas econômicas internas) e a adoção


do modelo econômico neoliberal base-
ado na abertura comercial e na inserção
competitiva no mercado internacional
(“modernização pela internacionaliza-
ção”). Procurando melhorar sua ima-
gem e credibilidade (importantes para
renegociar a dívida externa), o Brasil
começou a aderir aos regimes interna-
cionais, assinando importantes decla-
O im do regime militar e a consequen- externa (suspensão do pagamento dos rações e tratados no campo comercial,
te redemocratização do país não impli- juros em 1987, seguida de pressões co- ambiental (no contexto da Rio-92)
caram, de início, mudanças profundas merciais dos EUA) e sucessivos progra- e de não proliferação nuclear. Nes-
na política externa. Manteve-se o foco mas de estabilização macroeconômica se contexto, o Itamaraty perdeu força
na promoção do desenvolvimento (Plano Cruzado em 1986, Plano Bres- em proveito da diplomacia presiden-
nacional, e o Itamaraty permaneceu ser em 1987 e Plano Verão em 1989). cial, que se consolidou com os gover-
como formulador central da política No âmbito latino-americano, houve nos de Fernando Henrique Cardoso
externa, embora tenham emergido no- maior aproximação com a vizinha Ar- (FHC) e, depois, com Luiz Inácio Lula
vos atores com presença destacada nas gentina (iniciando processo de integra- da Silva. Começaram a ter maior par-
agendas internacionais. Preocupado ção que levaria, anos depois, à criação ticipação outros atores, em um primei-
principalmente com o âmbito interno, do Mercosul) e se restabeleceram as ro momento o setor empresarial, mas
o governo Sarney se caracterizou por relações diplomáticas com o Estado também organizações sociais, entida-
uma forte instabilidade econômica, cubano. Desse modo, e em compara- des subnacionais, academia, etc. Cres-
com alta taxa de inlação (que quadru- ção com as décadas anteriores, tendeu ceu a pressão pela formulação de uma
plicou entre 1985 e 1988), baixo cres- a ganhar peso relativo a dimensão re- PEB mais plural e, em alguns casos,
cimento econômico, crise da dívida gional da PEB. mais democrática. No âmbito regional,
a assinatura do Tratado de Assunção,
em 1991, levou à constituição do Mer-
COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO cosul, processo de integração regional
Exportação, em 1990 Importação, em 1990 em bilhões de dólares que contribuiu para consolidar a aber-
tura econômica, mas também para que
seus integrantes (sobretudo o Brasil)
10,460 4,731 1,005 ganhassem peso e poder de negociação
Ásia Oriente Ásia
Médio Oriente
Médio
internacional.
África África
Europa Europa Com o impeachment de Collor, o Go-
Saldo comercial (em bilhões
de dólares) verno Itamar Franco deu continuida-
EUA -2 0 2 4 6 de à agenda externa de liberalização
EUA Europa
econômica, desenvolvimento e maior
EUA
Ásia
autonomia. Teve dois importantes
África chancelares (FHC em 1992-1993 e Cel-
so Amorim em 1993-1994), que busca-
Labmundo,2014

América do Sul
América
do Sul América
do Sul
Oriente Médio ram participar na deinição de regimes
1000 km
déficit superávit internacionais (por exemplo, a agen-
Fonte: MDIC, 2008 da de desenvolvimento ou de direitos

GLOBALIZAÇÃO E INSERÇÃO INTERNACIONAL, 1990 - 2003


1994
1990
Reunificação alemã Formação do NAFTA
Fim do apartheid na África do Sul I Cúpula das Américas
Ratificação pelo Brasil da Convenção Protocolo de Ouro Preto
Internacional sobre os Direitos da Lançamento do Plano Real
Criança de 1989 1995
1991 Com 1.300 homens, o Brasil participa
Dissolução 1992 de Missão de Paz em Angola
da União Soviética Adesão à Convenção Interamericana Ratificação da Conv. Interamericana
I Cúpula sobre Direitos Humanos de 1969 para erradicar a Violência Contra a Mulher
Ibero-Americana Brasil contribui para que Peru e Equador
Eco-92, no Rio de Janeiro
Tratado de Assunção assinem Declaração de Paz do Itamaraty
Ratificação do Pacto Internacional
1990

1997

de Direitos Civis e Políticos 1996


e de Direitos Econômicos, I Cúpula dos Países
Sociais e Culturais de 1966 de Língua Portuguesa
Fernando Collor Itamar Franco Fernando Henrique Cardoso

1992 1995

22 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
FORMAÇÃO DO BRASIL

humanos da ONU) e nas sucessivas No contexto de crescente interdepen- de ação coletiva a im de garantir os
conferências durante a década de 1990. dência derivada da globalização e de interesses brasileiros. No âmbito re-
O Brasil passou a insistir na reforma grande instabilidade econômica glo- gional, a consolidação do Mercosul
do Conselho de Segurança (exigindo bal (crises mexicana, asiática e russa, com o Protocolo de Ouro Preto (em
um assento permanente) e a atuar nas que afetaram a economia brasileira), o 1994) e o início do processo de cons-
operações de paz da ONU. No âmbi- governo de FHC deu ênfase às refor- trução da Comunidade Sul-America-
to multilateral aprofundou a integra- mas liberalizantes por meio da política na de Nações (CASA) contribuíram
ção regional sul-americana, a im de de estabilização macroeconômica, da para promover a liderança brasileira na
se contrapor à Área de Livre Comércio abertura e liberalização das regras de América do Sul. A lusofonia ganhou
das Américas (ALCA). Em 1994, o go- comércio, da privatização e responsa- nova dimensão política e multilateral
verno brasileiro implementou o Plano bilidade iscal. Também intensiicou a com a criação da Comunidade de Pa-
Real, visando a aumentar a credibilida- participação brasileira nos foros sobre íses de Língua Portuguesa (CPLP) em
de econômica e política, a controlar as a nova ordem internacional do Pós- 1996. Como característica dos diversos
altas taxas de inlação e a melhorar os Guerra Fria. Nos debates da Terceira governos da redemocratização, a aspi-
indicadores, bem como a imagem ex- Via, FHC enfatizou a crença na coope- ração de fazer do Brasil um ator glo-
terna do país. ração e nos mecanismos multilaterais bal foi constante na PEB. Para atingir
essa meta, o Brasil democrático vem
tentando equilibrar, com ênfases dis-
IMPORTAÇÕES E EXPORTAÇÕES tintas em cada governo, a busca de cre-
Evolução do comércio internacional brasileiro por origem e destino, entre 1980 e 2006 (em bilhões de dibilidade internacional e a construção
dólares)
de autonomia (mantendo lexibilida-
Importações 22,7 Exportações
31,6
de, maior liberdade e diversiicação de
20,9 parceiros) no campo da PEB.

TOP 10 - INVESTIMENTOS
ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL
Europa
3,5 31,0 em milhões de dólares, em 1980 e 1990
América do Sul EUA
16,0 Alemanha
3,5 Suíça
Libéria
24,8
Ásia Japão
Kuaite
1,6 14,4 20,8 Itália
França
Europa Panamá Ano: 1980
4,1 5,4 Antilhas H.
Estados 8,2 50 250 500
Unidos Estados 7,4 Canadá
Alemanha
Unidos EUA
América Japão
do Sul 3,5 França
2,7
Reino Unido

Labmundo, 2014
Ásia Luxemburgo
Liechtenstein
Cayman Ano: 1990
2,0 5,8 Ilhas Virgens
50 250 500
1,1
África 1,1 Fonte: Banco Central do Brasil, 2013
África
7,8
Oriente
Médio VEJA TAMBÉM:
Oriente 3,1 Ameaças globais e transnacionais p. 48
1,0
Labmundo,2014

Médio Diplomacia presidencial p. 62


2000

1980 1990 2000 2006


Integração regional p. 82
1980 1990 2006
Relações Norte-Sul p. 100
Fonte: MDIC, 2008

1997
2001
Crise Financeira asiática
Aprovado protocolo de Quioto Atentados terroristas aos EUA
Início da Rodada Doha da OMC
I Fórum Social Mundial, em Porto Alegre
1998
Implementação do Tribunal
Penal Internacional 2002
Adesão ao Tratado de Inicia a circulação do Euro
Não Proliferação Nuclear Formação da Organização do Tratado
de Cooperação Amazônica
1999
Formação do G20 financeiro Brasil assina Protocolo de Quioto
1997

2004

Inauguração do primeiro trecho


do gasoduto Brasil-Bolívia
Fim da paridade do Real com o Dólar

F H Cardoso Fernando Henrique Cardoso Lula da Silva

1999 2002

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 23
Diversidade signiicativo, em especial em compara-
ção com outros países da América do
Sul e da Europa, a história da migração

cultural e para o Brasil é fundamental para com-


preender seu atual panorama social e
as dinâmicas internacionais em que o
país está inserido.

pluralismo étnico Os indígenas foram escravizados no


início da ocupação portuguesa, tendo
sido logo substituídos pelos escravos
africanos. A escravidão de africanos
para as plantations brasileiras foi um
A sociedade brasileira foi formada a à chegada dos primeiros europeus) se dos luxos migratórios forçados mais
partir do encontro das várias popula- somaram grupos vindos da Europa, da relevantes da história. O comércio
ções originárias e daquelas que vieram África e da Ásia, e isso ao longo de qui- de escravos se aproveitava de luxos
posteriormente se estabelecer neste ter- nhentos anos em uma dinâmica ain- já existentes no continente africano e
ritório. Aos indígenas (habitantes ori- da em operação. Apesar de atualmente foi explorado também por brasileiros.
ginários, estimados em alguns milhões o luxo imigratório brasileiro não ser A diversidade de origens dos cativos

TRÁFICO NEGREIRO
Rotas usadas pelos traficantes, séc. XV-XIX

do Golfo da
Cultura do café
Guiné
Belém

bia
Cultura do açúcar gâm
São Luís ene
Fortaleza Natal da S
Recife
Principais zonas
de revoltas co
cis
Salvador
Salvador
n

iné
do Golfo da Gu
Fra
.
R. S

Povoamento de escravos
africanos (até 1850)

de
Be
Porto

ng
Belo Seguro

ue
Horizonte

la
de
Rotas do comércio negreiro Ca
Vitória bin
da
séc. XV ao XVII São Paulo
Rio de
Janeiro de
Lu and
ao séc. XVIII a

de
de

Lu
ao séc. XIX an
Za

da-
nz

Porto Alegre ba B eng


i

r uel
a
Labmundo, 2014

500 km

Fonte: King et al., 2010

POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA NO SÉCULO XXI


2003 2006 2009
EUA invadem Iraque Início do escândalo Wikileaks China se torna o principal
Fórum de Diálogo IBAS Bolívia nacionaliza atividades e petróleo e gás parceiro comercial brasileiro
Criação do G-20 na OMC Primeira Cúpula África-América do Sul Primeira Cúpula BRIC
2004
Brasil participa de intervenção 2007 2010
militar da ONU no Haiti XV Jogos Pan-Americanos no Rio Brasil e Turquia
Brasil reconhece China propõem acordo
2008
como economia de mercado para a questão
Crise Financeira Internacional
Lançamento da Comunidade nuclear iraniana
Criação da Unasul
Sul-Americana de Nações Brasil vence disputa
Lançamento do programa Bolsa Família na OMC contra
2003

2011

2005
subsídios ao algodão
Criação da Cúpula América do Sul-Países Árabes
pelos EUA
Criação do Parlasul
Início do escândalo do mensalão
Luiz Inácio Lula da Silva Luiz Inácio Lula da Silva

2007

24 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
FORMAÇÃO DO BRASIL

africanos explica parte das diferenças unidade cultural (oriundos no geral da MIGRANTES PARA O BRASIL
Europeus e asiáticos vindos entre 1819 e 1939
culturais presentes no país ainda hoje. região de Angola) e guardavam maior
Nacionalidade 1819-1883 1884-1940
Em sua maioria, os grupos que vi- diferença em relação aos grupos chega-
nham ao Rio e ao Recife tinham maior dos a Salvador. Essas distinções resul-
taram em particularidades na herança Italianos
religiosa e linguística que marcam o Portugueses
ESCRAVOS PARA O BRASIL Brasil atual. Espanhóis
Quantidade de escravos por destino,
entre 1500 e 1850 Japoneses
Esse processo histórico tem efeitos na
Alemanha
diplomacia brasileira contemporânea.
Russos
Total mundial O governo Lula declarou que a socie-
dade brasileira tem uma dívida his- Áustriacos
tórica com a África, o que justiicaria Turcos
medidas como o perdão de dívidas, o Poloneses
apoio a projetos de cooperação para o Franceses
desenvolvimento e o estabelecimen- Ingleses
to de uma universidade no Brasil para Iugoslavos
contribuir com a formação de jovens Sírios
africanos, a Universidade da Integra-
Suíços
ção Internacional da Lusofonia Afro-
-Brasileira (Unilab). O im do tráico Quantidade de indivíduos
1.000.000
negreiro e a paulatina supressão da es-
Brasil
cravidão alteraram o peril da mão de

Labmundo, 2014
obra no Brasil. Do inal do século XIX 100.000
50.000
ao início do século XX, migraram cen- 10.000
tenas de asiáticos e europeus, muitos Fonte: Alvim, 1998.
em busca de trabalho em plantações
de café. Estima-se em 4,3 milhões o
número de europeus emigrados para o transatlântica entre culturas. Descen-
Brasil entre os anos de 1815 e 1930. dentes e migrantes podem desenvolver
Sudeste laços com seus países de origem, parti-
(Rio e São Paulo)
A assimilação de grupos tão diversos, cipar de ações coletivas locais e manter
não sem conlitos, contribuiu para a vínculos com suas famílias e comuni-
formação cultural do Brasil e da iden- dades (via remessas, entre outros).
tidade nacional. A coniguração atual
1550 1650 1750 1850 da sociedade resultante desses luxos Após essa breve introdução histórica,
100.00 inluencia o processo de internacio- nos capítulos seguintes serão trabalha-
nalização do país. O Brasil é a maior dos temas contemporâneos da inser-
colônia de descendentes de japoneses ção internacional do país, seus atores e
75.000 fora do Japão, uma das maiores de li- agendas mais relevantes.
Mortos
na travessia
baneses fora do Líbano e de impor-
Embarcados

tância equivalente para portugueses,


50.000
espanhóis e sírios. A embaixada italia- VEJA TAMBÉM:
na calculou em 30 milhões o número População e diversidade p. 42
25.000 Desembarcados de descendentes de italianos no Brasil Organizações e movimentos sociais p. 72
em 2013. Em discursos diplomáticos,
Labmundo, 2014

Atores religiosos p. 74
apresenta-se o país como a maior na- Redes sociais e integração regional p. 96
ção negra fora da África e uma ponte
Fonte: Eltis et al., 1998.

2012
Conferência da ONU Rio +20
Criação da Aliança do Pacifico 2015
Balanço dos ODM na ONU
2013
Escândalo NSA
Agravamento da crise síria
Jornada Mundial da Juventude
Senador boliviano asilado na embaixada
brasileira em La Paz foge para o Brasil
2016
2014 Jogos Olímpicos
Copa do Mundo FIFA no Rio de Janeiro
Criação do Banco dos BRICS
2011

2019

Anúncio da criação do FOCAL


Crise argentina com “fundos abutres”
Crise na Ucrânia
Dilma Rousseff Dilma Rousseff

2015

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 25
Capítulo 2:

BRASIL,
POTÊNCIA
EMERGENTE?

Enara Echart Muñoz


Enara Echart Muñoz
No início dos anos 2000, volta-se a discutir a percepção que existia entre
brasileiros e estrangeiros já na década de 1970: a de que o Brasil é uma
potência. As denominações quanto à tipologia e ao conceito de potência
variaram entre potência média, regional, emergente ou em desenvolvi-
mento, mas sempre esteve presente a percepção de que o país igura entre
os mais importantes do tabuleiro de xadrez mundial. Essa imagem que o
Brasil tem de si e que outros têm dele fundamenta-se em fatores variados:
a) de natureza econômica, como o aumento do PIB absoluto em relação
a outros países de renda média (Argentina, México, etc.) e países indus-
trializados (Reino Unido e França); b) de fundamento político, visível na
existência de políticas públicas domésticas que servem de modelo inter-
nacionalmente (redução da pobreza, meio ambiente, não proliferação
nuclear e recuperação inanceira); c) de origem material, por ser um
grande território rico em reservas minerais, água e biodiversidade; d) de
cunho social e cultural (riqueza, tamanho e miscigenação de sua popula-
ção, organização de sua sociedade civil, mercado consumidor interno,
cultura musical e de ritmos variados, etc.). Entretanto, o Brasil apresenta
características que diicultam sua inserção internacional e a percepção
pelos outros países como uma potência. Taxas elevadas de analfabetismo,
mortalidade infantil, desigualdade social, disparidade econômica entre as
regiões, alto índice de descrédito da população em seus representantes
políticos, falta de infraestrutura e capacidade logística, conlitos agrários,
desmatamento, tráico de armas e de entorpecentes, prostituição infantil...
Agronegócio: produtividade por hectare e, além dis-
so, tem disponível um grande con-
tingente de terras aráveis ainda não

celeiro do mundo? exploradas. Esses dois dados, associa-


dos a políticas governamentais de in-
centivo ao setor (apoio à pesquisa,
abertura de novos mercados, etc.), dei-
xam vislumbrar grande potencial para
o agronegócio no Brasil.

De 1976 a 2010, a produtividade brasi-


leira cresceu 2,5 vezes, permitindo que
a produção aumentasse 213% em uma
O agronegócio é constituído de in- União Europeia). A busca por conhe- área plantada de grãos e oleaginosas
dústria e comércio no setor rural, pe- cimento especializado (com destaque somente 27% maior. Algumas estima-
cuária, pesca e agricultura, tudo isso para a ação da Embrapa) fez o Brasil tivas propõem que as exportações do
associado à produção de conhecimen- superar a ideia de que o clima tempe- setor em 2014 tenham superado os 100
to e geração de tecnologias aplicadas. rado seria o mais adequado para a pro- bilhões de dólares e que seu crescimen-
Historicamente, é um dos setores mais dução de alimentos e colocou um país to entre os anos de 2005 e 2014 possa
dinâmicos da economia brasileira, re- essencialmente tropical entre os gran- ter sido de 34%.
presentando em torno de um terço des produtores mundiais. É inegável a
de seu produto interno bruto. O Bra- importância do setor para o bom de-
sil é um dos principais exportadores sempenho da balança comercial brasi- MERCADO MUNDIAL DE ALIMENTOS
Posição brasileira na exportação e na produção,
de vários produtos, como soja, cere- leira e para a expansão de suas reservas em 2010 1° 2° 3° 4°
ais, frutas e carne. A força do setor ica em moeda estrangeira.
evidente se comparada aos tradicionais Açúcar
grandes exportadores de alimentos O país apresenta crescimento contí- Café
(Canadá, Argentina, Austrália, EUA e nuo e de longo prazo de suas taxas de
Suco de
laranja

CELEIRO MUNDIAL Soja*


Participação brasileira na produção mundial de alimentos, entre 2010 e 2021 Carne
bovina

Tabaco**

Cana-de-açúcar
Safra 2014/15*

Safra 2020/21*

Etanol**
Safra 2010/11
49%
47%
44%

Aves
33%
31%
32%

30%
30%
28%

Milho

Carne
11%
12%

11%
12%
10%

10%

*projeção suína
Labmundo, 2014

Labmundo, 2014
Na exportação *dados preliminares
Carne Soja Grão Carne Bovina Carne Suína Milho
de Frango Na produção **posição em 2009
Fonte: MAPA, 2011. Fonte: MAPA, 2010.

MERCADOS DO AGRONEGÓCIO
Destino das exportações do agronegócio brasileiro, em 2011

UE Rússia

Japão
Coreia do Sul EUA
China Irã
Argélia
Taiwan Egito EAU
Hong Kong
Arábia
Saudita
Tailândia Venezuela

Malásia

Indonésia

* Valores em bilhões de dólares. Paraguai


Somente representadas vendas
Labmundo, 2014

Total das
totais acima de 1 bilhão de dólares. exportações 98,9 256,0
Valores para a União Europeia brasileiras
Argentina
apresentados consolidados. Participação do
20 10 5 1 agronegócio
Fonte: Instituto de Economia Agrícola, 2012 1000 km

28 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?

O agronegócio brasileiro apresenta, AGRONEGÓCIO


Valor da produção agropecuária, em 2006
porém, desaios equivalentes a suas po-
tencialidades: reforma agrária, desma-
tamento, logística, apoio à agricultura
familiar, êxodo rural e inanciamento
da produção são exemplos de desaios
relevantes que contribuíram para que
o setor fosse tema prioritário nas últi-
mas eleições presidenciais.

O agronegócio tem sido parte relevan-


te do conjunto das exportações bra-
sileiras, beneiciado pela demanda
crescente de commodities pela China.
Apesar de apresentar produção agríco-
la diversiicada, cada vez mais o setor
se especializa na soja, e isso principal-
mente em função do mercado chinês.

A China é destino de parte conside- Alto

rável da produção agrícola brasileira.


Alguns analistas debatem uma possí-
vel sinodependência e os impactos no
Brasil de uma eventual crise econômi-
ca chinesa. Pesquisas recentes que ten-
tam antecipar perspectivas futuras de
consumo de alimentos na China cons- Baixo 300 km

tataram que o padrão alimentar de sua

Labmundo, 2014
população apresentaria tendência mais
estável quando comparado ao mode-
lo chinês de desenvolvimento econô- Fonte: IBGE, 2010a.
mico. O país deve expandir a demanda
por produtos em cuja produção o Bra-
sil tem avançado, como é o caso do mi- Recentemente, o governo brasileiro todas as terras cultiváveis. No caso do
lho, da soja e das carnes bovina, suína adicionou o novo desaio de expor- Brasil, levando em consideração os de-
e de frango. tar o modelo agropecuário brasileiro saios mencionados, o país poderá rea-
para outros países, com destaque para lizar o epíteto criado na Era Vargas de
O setor é estratégico para o país, muito Moçambique, nos projetos conheci- “celeiro do mundo” e contribuir para
embora ainda deva conirmar sua ca- dos como Pró-Savana e Pró-Alimentos. abastecer de alimentos uma popula-
pacidade de expansão com baixos im- Além disso, o setor possui investimen- ção mundial estimada em 9 bilhões em
pactos sociais e ambientais, bem como, tos em vários países vizinhos com pa- 2050, com maior renda e com padrões
ao mesmo tempo, ser capaz de enfren- pel relevante na produção de grãos e de consumo mais elevados que os atu-
tar a resistência à abertura de novos gado, em especial no Paraguai e na Bo- ais. Segundo previsões da FAO publi-
mercados, em especial da União Euro- lívia. Também nesses países, o setor é cadas em 2014, até meados do século
peia e dos EUA. acusado de criação de latifúndios e de XXI, a produção de grãos precisará au-
grilagem de terras. A presença do mo- mentar pela metade, e a de carne, do-
delo agroexportador brasileiro em pa- brar. Tais metas são ambiciosas em um
COMPLEXO SOJA íses em cooperação com o Brasil com mundo com limitações para expandir
Dados entre 1983 e 2012 estímulo do governo federal tem fei- suas terras aráveis, resolver o proble-
to com que várias entidades da socie- ma de abastecimento de água, enfren-
Produção (mil toneladas) dade civil apontem a exportação das tar a crise ecológica e garantir o direito
x4,6 contradições e falhas do modelo bra- à alimentação. Nesse cenário, o Brasil
66.383
sileiro para países com quadro ainda apresenta potencial importante para
14.533 mais grave de concentração de terra e responder aos desaios colocados à co-
importância da agricultura familiar. munidade internacional, podendo re-
forçar sua importância no mercado
Área plantada (mil ha) x3
Apesar de não existir uma real inte- internacional de alimentos.
8.412
25.042 gração entre as cadeias produtivas do
agronegócio da região, a América Lati-
na já é considerada a maior exportado- VEJA TAMBÉM:
Produtividade (kg/ha)
x1,5 ra (em termos líquidos) de alimentos Logística p. 32
1.728
do mundo. Segundo relatório do BID
Labmundo, 2014

2.651
Multinacionais brasileiras p. 70
de 2014, a região fornece cerca de 11% Organizações e movimentos sociais p. 72
1983/84 1999/00 2011/12 do valor da produção mundial de ali- Energia e infraestrutura p. 92
Fonte: CONAB, 2014. mentos, mas possui cerca de 24% de

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 29
Parque industriais no total do comércio exte-
rior, mas poderia ser classiicado como
desindustrialização? Não existe con-

industrial senso sobre o tema na academia, mas


caso o conceito de desindustrialização
seja entendido como perda de partici-
pação da indústria na economia de um
país, os anos 1970 do “Milagre Brasi-
leiro” também apresentaram essa ca-
racterística, segundo dados do Banco
Mundial. Por outro lado, nas décadas
de 1980 e de 1990, que foram palco de
diversas crises e de retração na econo-
O desenvolvimento por meio da in- que seriam importantes para facilitar o mia nacional, a produção industrial
dustrialização sempre foi um dos crescimento de suas vendas internacio- aumentou sua participação no total do
maiores objetivos dos governantes bra- nais. Todavia, há políticos e membros PIB.
sileiros desde os anos 1930. O governo da academia que argumentam que
brasileiro promoveu uma série de po- o setor industrial, apesar de publica-
PARTICIPAÇÃO DA INDÚSTRIA
líticas desenvolvimentistas, investin- mente demandar medidas de orienta-
NAS ECONOMIAS NACIONAIS
do em infraestrutura e em tecnologia. ção liberal para o governo, também se Ao longo da década, entre 1970 e 2010 (em %)
Também ofereceu incentivos iscais a beneiciaria de certa proteção do Esta- -10 0 10
indústrias que se instalassem em terri- do (via política cambial, tarifária, con- Sem dados
disponíveis
tório nacional e garantiu tarifas alfan- cessão de linhas de crédito especiais ou de 1970 a 1979 Perda Ganho

degárias com o objetivo de proteger a por meio de compras governamentais).


indústria nascente. Foi nesse processo Esse modelo permitiu que o Brasil ti-
de desenvolvimento por substituição vesse grande avanço em seu parque
de importações que o Brasil conheceu industrial, despontando entre os exis-
um forte crescimento industrial na se- tentes na América Latina e em outros
gunda metade do século XX. Uma das países periféricos, embora também te-
características desse processo é a par- nha contribuído para o surgimento de
ticipação central do Estado na econo- um peril de capitalismo relativamen-
mia, traçando estratégias e prioridades, te avesso a riscos sem a proteção do 1000 km
assim como fornecendo linhas de Estado.
crédito. de 1980 a 1989

À medida que o preço internacional


O modelo de desenvolvimento basea- das commodities aumentou no início
do no tripé econômico (investimento dos anos 2000, intensiicou-se a ex-
público, privado nacional e privado es- portação de produtos agrícolas. Com
trangeiro) gerou uma correlação entre isso emergiu o temor por parte de al-
o crescimento industrial e o aumen- guns economistas e responsáveis polí-
to dos gastos do governo. Os repre- ticos de que se iniciasse um processo
sentantes políticos do setor industrial de especialização regressiva das expor-
costumam ir a público para demandar tações brasileiras. Esse fenômeno indi- 1000 km
acordos de livre comércio, justiicando ca a diminuição relativa dos produtos de 1990 a 1999

INDUSTRIALIZAÇÃO NO MUNDO
Evolução do valor bruto agregado, entre 2001 e 2011 (em trilhões de dólares, preços correntes)
Labmundo, 2014

Brasil ( ) em relação os países ricos e China Brasil ( ) em relação aos países emergentes

3 China
0,5
EUA Índia
Rússia
2,5
0,4 1000 km

2 México de 2000 a 2010


0,3
1,5

0,2 Turquia
1 Alemanha
Argentina
R. Unido
Labmundo, 2014

Áf. do Sul

França 0
2001 2006 2011 2001 2006 2011 1000 km

Fonte: Sítio web da base de dados do Banco Mundial, 2013 Fonte: Sítio web da base de dados do Banco Mundial, 2013

30 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?

CONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL
Distribuição da indústria por tipo e por unidade federativa, em 2013
Be De
Au Q ns Be Tê m
to Co Eq fa uím nã xt ai
Al m u rm ic bi il e In si
im m M ip o da fo M nd
ob bu et am ac a e m s ca Ce r ov O mapa representa a quantidade total de indústrias
en ilís st al en êu et e lça lul m el ús
tíc tic íve ur tic ál fu do os át ei tri
ia gi to ico m ic ra as por unidade federativa, em bilhões de reais.
a is a s a s o s e a
DF
R. Centro-oeste

MS

MT

GO

PA
R. Norte

AM

Outros

SE
600km
R. Nordeste

PE

BA

Outros
R$ 50 bilhões
R$ 25 bilhões
SC R$10 bilhões
R$ 1 bilhão
R. Sul

PR

RS

* Somente os valores acima de R$ 0,01 bilhão


ES são representados.
R$ 50 bilhões
R. Sudeste

RJ R$ 25 bilhões
R$10 bilhões
MG R$ 1 bilhão

Labmundo, 2014
SP

Fonte: IBGE, 2013a

Apesar do receio econômico e político exemplo, a produção de aviões pela Como a maior parte dos investimen-
de uma possível desindustrialização, a Embraer. Grande parte das indústrias tos tem participação estatal, defendem
perda de participação da indústria no brasileiras são montadoras, importan- que os recursos (que são escassos) de-
total do PIB é uma tendência verii- do as peças de maior tecnologia ao in- veriam ser concentrados em nichos
cada em diversos países das Américas, vés de desenvolver essa tecnologia em industriais mais competitivos, prete-
da África e da Europa. A exceção a essa território nacional. Por esse motivo, rindo algumas áreas menos eicientes.
tendência, além da China, são alguns embora não seja consenso, há uma
países africanos e asiáticos, que inicia- crescente demanda por parte dos eco- A produção industrial brasileira é con-
ram o seu processo de industrialização nomistas de planos que promovam a centrada em regiões mais dinâmi-
recentemente. Em termos absolutos, especialização do parque industrial e, cas do território nacional, agravando
ica evidente que o Brasil continua au- em alguns casos, de exigência de com- as disparidades econômicas espaciais.
mentando sua capacidade industrial. ponente nacional na cadeia produtiva. Apesar de alguns esforços do governo
O valor agregado da sua indústria é su- federal e de alguns estados, a indústria
perior à maioria dos países emergentes se concentra nas regiões Sul e Sudes-
e também comparável a países euro- PERDA DE PARTICIPAÇÃO INDUSTRIAL te, devido à proximidade do mercado
peus. Alguns setores se destacam nessa Evolução da participação da indústria no PIB, consumidor de maior poder aquisitivo
entre 1975 e 2010
produção, como a indústria de máqui- (inclusive do Mercosul) e à existência
nas e equipamentos elétricos, a farma- de infraestrutura de melhor qualidade.
cêutica e a automobilística. 20%

A desvantagem da produção industrial VEJA TAMBÉM:


15%
brasileira tem sido o pouco desenvol- Logística p. 32
Labmundo, 2014

vimento de produtos que demandem Multinacionais brasileiras p. 70


produção de ponta. Apenas 10% do 10% Energia e infraestrutura p. 92
valor agregado industrial é relativo a 1980 1990 2000
Fontes: IBGE, 2013a; Sítio web do Ipeadata, 2013;
2010
Relações Norte-Sul p. 100
componentes de alta tecnologia - por Bonelli et al., 2013.

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 31
Logística e TRANSPORTES NO BRASIL
Rodovias, em 2013

desaios ao
desenvolvimento Rodovias

Rodovias
privatizadas

300 km
Um país que busca projeção interna- aos interesses estrangeiros, a organiza-
cional deve ter capacidades materiais e ção espacial do território que veio a ser Fontes: Ministério dos Transportes, 2014; ANTT, 2012
saber usá-las racionalmente. Por exem- do Brasil era muito semelhante a um
plo, a produção de minérios ou de bens arquipélago econômico: as regiões do Ferrovias, em 2013
manufaturados é um indicador impor- território pouco se comunicavam en-
tante para a economia de um Estado, tre si, pois a relação política e econômi-
mas a capacidade de escoar essa produ- ca mais importante era com a Europa.
ção (para a exportação ou para o mer- Com isso, os nichos dinâmicos da eco-
cado interno) repercute diretamente nomia se ligavam ao litoral, para escoar
na competitividade e na qualidade dos a produção, mas permaneciam desarti-
serviços. Uma infraestrutura de trans- culados. Essa lógica de inserção na eco-
portes, de telecomunicações (telefonia nomia mundial não foi subitamente
e internet) e de energia, por exemplo, alterada, mesmo com a independência,
pode trazer maior facilidade de gerir a o que contribuiu para a perpetuação
burocracia estatal, criar condições para das heranças dessa organização física
novos empreendimentos econômicos, de estradas e de portos que favorecia
promover a integração regional e ga- quase exclusivamente a exportação de 300 km

rantir o controle de todas as regiões do bens primários. Fonte: Ministério dos Transportes, 2014

território nacional. No caso do Brasil,


devido às dimensões continentais de No início do século XX, a ferrovia era Aeroportos, em 2013 (em milhões de passageiros)
seu território e ao déicit histórico de muito importante nesse processo de
investimento, a infraestrutura ainda é integração. Embora concentrada no li-
um desaio. toral e no Sul do território, a malha fer-
roviária representava um signiicativo
Até o inal do século XIX, persistia o meio de deslocamento de pessoas e de
modelo econômico que fora imposto produtos. Ao longo da história brasi-
ao Brasil pela metrópole, baseado na leira, a ferrovia perdeu importância se
exportação de bens primários, neces- comparada a outros meios de transpor-
21,2
sários e complementares para o desen- te (aéreo e portuário). Essa redução do 13,2

volvimento das potências europeias. peso da ferrovia foi causada por uma 1,4

Nesse modelo, os países europeus im- decisão do governo brasileiro (incenti-


pediam a industrialização da colônia, vado por outros atores internacionais)
de modo a criar um mercado consu- de priorizar a rodovia. O processo de 300 km

midor para os seus produtos. Cabia interiorização dirigida pelo Estado Fonte: Sítio web da Infraero, 2012
às colônias, por sua vez, exportar seus teve seu começo com Getúlio Vargas,
produtos primários. Como resultado na década de 1930, mas teve seu ápi- Portos, em 2013 (valor da carga transportada,
dessa economia colonial subordinada ce na década de 1950, com o Plano de em bilhões de dólares)
Metas no governo de Juscelino Kubits-
chek. Havia o entendimento de que
TRANSPORTE DE CARGAS NO BRASIL era necessário aumentar massivamente
Distribuição por meio de transporte, em 2013
60% a rede de transporte em um curto perí-
odo de tempo. Em comparação com a
50%
ferrovia, o modelo rodoviário poderia
40% cumprir o objetivo de ligar as regiões
30%
brasileiras entre si em pouco tempo,
propiciando uma industrialização rá- 63,8
23,9
20%
pida, para atingir os níveis industriais 3,8
10% dos países europeus. Nesse sentido, a
Portos que
Labmundo, 2014

opção pelo modelo rodoviário tam-


Labmundo, 2014

transportam
bém passou por um cálculo que bus- menos de 1 bi.
rio

io

rio

o
io

re
ár

ár
á


vi

vi

vi

vi

cava industrializar o país. Junto com


do

ro

ua

to

300 km
r

Du
Aq
Ro

Fe

Fonte: CNT, 2013. tarifas alfandegárias protecionistas, a Fonte: Sítio web AliceWeb do MDIC, 2013

32 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?

RODOVIAS USUÁRIOS DE INTERNET NO MUNDO


Pavimentadas, em 2010 Em porcentagem da população, em 2012
Total
(% do total)
(em mil km)
6545 EUA

Reino
420 Unido

1028 França

137 Egito

0 25 50 75 100
367 Turquia

Labmundo, 2014
199 Irã Sem dados
disponíveis
1000 km
Fonte: Sítio web da base de dados do Banco Mundial, 2014
826 Austrália

372 México
Labmundo, 2014

substanciais para ampliar e melhorar a A opção rodoviária foi acompanhada


78 Chile qualidade da sua malha de transporte de um progressivo abandono de ou-
(não apenas a rodoviária). tros meios de transporte, aspecto que
1851 Brasil
demonstrou sinais de reversão somen-
0 20 40 60 80 100
Fonte: Sítio web da base de dados do Banco Mundial, 2014 Outra consequência negativa da op- te a partir do inal do século XX, graças
ção rodoviária é o alto custo necessário aos investimentos em hidrovias e fer-
para a manutenção das estradas. Estas, rovias. A maior parte dos investimen-
garantia de um mercado consumidor comparadas às ferrovias, têm custo e tos em logística é feita pelo Estado ou
para veículos automotores atraiu as tempo de construção menor, mas ne- em parcerias público-privadas. Tam-
multinacionais do setor automobilís- cessitam de investimentos constantes e bém merece destaque a política go-
tico, que instalaram indústrias monta- robustos para a sua manutenção, uma vernamental de concessão de estradas
doras no Brasil. vez que o asfalto se deprecia mais ra- para a iniciativa privada, muito pre-
pidamente. Todos esses fatores soma- sente nos anos 1990 e 2000. Essa po-
O projeto original visava a conectar vá- dos constituem as principais causas do lítica é muitas vezes contestada, pois o
rias regiões do Brasil por meio de ro- que se convencionou chamar de “cus- investimento privado em logística não
dovias que cruzassem o país em vários to Brasil”. Esse fenômeno diz respeito parece acompanhar as necessidades do
sentidos e ligassem as diversas regiões aos altos gastos com transporte intrín- Brasil. Quase a totalidade das ferrovias,
à nova capital, Brasília. Apesar des- secos à produção e ao escoamento no por exemplo, está concedida à inicia-
se plano, muitas dessas estradas estão Brasil. Os investidores no país têm que tiva privada, mas ainda assim os seus
em estado precário ou ainda não fo- lidar com serviços de transporte len- usuários reclamam da ineiciência e da
ram construídas. O investimento mais tos, pouco eicientes e caros. Como a falta de investimento.
robusto continuou sendo na região manutenção das estradas nem sempre
mais dinâmica economicamente: o é feita do modo mais adequado, não O déicit em investimento no Brasil
centro-sul do país. Os meios de trans- é raro que ocorram acidentes e quebra também existe no âmbito tecnológi-
porte nessa região são superiores em de veículos, o que agrava ainda mais co. Serviços como telefonia e internet
qualidade e em quantidade, sobretu- os custos e atrasa a entrega dos bens. são bastante caros, ineicientes e, por-
do quando comparados as demais regi- Além disso, o Brasil torna-se muito tanto, objeto recorrente de reclamação
ões brasileiras. Também no centro-sul dependente do óleo diesel importado, dos consumidores. Em uma economia
é mais frequente a quantidade de con- um dos combustíveis mais usados para globalizada, esses tipos de serviço são
cessões de rodovias à iniciativa privada. o transporte de cargas no país. A neces- essenciais para as redes e as cadeias de
O Brasil ainda carece de investimentos sidade da importação desse combus- produção, mas também para o suces-
tível se deve à falta de capacidade das so de diversas atividades econômicas.
reinarias nacionais em produzir óleo Apesar dos altos custos e da baixa qua-
INVESTIMENTOS EM TRANSPORTE diesel em grande quantidade, a partir lidade desses serviços, alguns nichos
Entre 2011 e 2014, em bilhões de reais do petróleo produzido no Brasil. Ade- brasileiros continuam a se destacar. Os
50 mais não se trata de fonte energérica usuários de telefonia móvel e de inter-
limpa, embora seja estimulada a utili- net crescem em um ritmo bastante ace-
40 zação do biodíesel. lerado, o que faz com que o Brasil seja
um dos maiores mercados consumido-
30 res de serviços de telecomunicação e
PRIVATIZAÇÃO DO SISTEMA compras na internet.
20 Rodovias, em 2013 Ferrovias, em 2013

10 VEJA TAMBÉM:
Privatizadas Privatizadas
14.786 km 28.692 km Multinacionais brasileiras p. 70
Labmundo, 2014

Labmundo, 2014

Projetos de integração p. 82
s
s

as

ia
a

to

to
vi

vi

ov
r

or
do

ro

Po

dr

Energia e infraestrutura p. 92
p
r
Ro

Fe

ro

Hi

Total Total
Ae

1.584.402 km 30.129 km Relações Norte-Sul p. 100


Fonte: Ministério dos Transportes, 2014. Fonte: CNT, 2013.

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 33
Matriz energética CONSUMO TOTAL DE ENERGIA
Por setor, em 2012
Indústria

e meio ambiente
Transporte
Residencial
Alimentos
Setor energético
Papel e celulose
Agropecuário
Comercial
Cerâmica
Área pública
Têxtil

Labmundo, 2014
Outros
10% 20% 30%

Fonte: Empresa de Pesquisa Energética, 2012


A energia é uma das pautas mais estra- O consumo e a produção de energia
tégicas da política internacional. As são ambos estreitamente vinculados
tensões entre petróleo e geopolítica ao modelo de desenvolvimento, que comparativos, o Brasil possui a matriz
têm estado na origem de muitos con- pode ser mais ou menos destrutivo elétrica mais limpa do mundo: a hidro-
litos entre países (por exemplo, no aos recursos ambientais e ecológicos. A eletricidade corresponde a aproxima-
Oriente Médio) e também têm in- energia pode ser entendida como um damente 84,5% da matriz. A indústria
luenciado as grandes crises da econo- dos elos fundamentais da equação do é o setor que mais consome energia, se-
mia internacional (por exemplo, nos desenvolvimento. guido pelos transportes e pelo consu-
anos 1970). Os recursos energéticos mo residencial.
são ixos e têm localização precisa no No plano global e regional, os recursos
território soberano dos Estados. Isso energéticos fazem parte das relações Um relatório de 2013 da Agência In-
não signiica que os interesses e os lu- econômicas e políticas internacio- ternacional de Energia, organismo
xos transnacionais estejam ausentes do nais. Atentos às volatilidades do preço vinculado à OCDE, aponta que os
debate, mas implica que grandes cor- do petróleo e às incertezas do abaste- combustíveis fósseis deverão continuar
porações tenham necessariamente de cimento, muitos países têm buscado dominando a matriz energética mun-
negociar com os Estados a im de ter conquistar sua segurança energética, dial pelo menos até 2040. Além disso,
acesso a petróleo, gás e, mais recente- garantindo acesso aos recursos ener- a demanda por energia crescerá 56%
mente, combustíveis de menor im- géticos necessários para o desenvolvi- nos próximos 30 anos, em função do
pacto negativo sobre o meio ambiente mento nacional. Buscam, por exemplo, crescimento da China e dos emergen-
(hidroelétricas, biocombustíveis, etc.). reduzir as margens de incerteza e de- tes. Ainda segundo esse relatório, gra-
O debate sobre sustentabilidade am- pendência ao tentarem garantir maior ças à conscientização ecológica e às
biental fez com que as energias renová- produção no plano nacional e maior diferentes crises ambientais por que
veis, na atualidade, tenham adquirido integração energética no âmbito regio- passa o mundo (as mudanças climáti-
dimensão estratégica. Diversiicar a nal. Não por acaso, uma das origens do cas e o aumento dos níveis dos oceanos,
matriz energética converteu-se, para processo de integração na Europa es- por exemplo), as fontes renováveis te-
os Estados, em resposta a demandas da teve associada à Comunidade Econô- rão um papel cada vez maior, crescen-
sociedade e em vantagem competitiva mica do Carvão e do Aço. Da mesma do 2,5 % ao ano.
no mercado energético internacional. forma, no caso da Unasul, a integração
de infraestruturas energéticas é con- Nesse contexto, o Brasil levaria alguma
Ademais, existe uma clara relação en- siderada estratégica para o futuro da vantagem, podendo despontar como
tre consumo de energia e crescimento região. uma potência em recursos energéti-
econômico: os países mais desenvol- cos considerados renováveis no futu-
vidos consomem muito mais energia No caso do Brasil, buscou-se essa segu- ro próximo. O Brasil possui expertise
do que os menos desenvolvidos. O rança por meio do processo de diver- em energias renováveis graças ao in-
consumo de energia é vital para a in- siicação da matriz energética, graças vestimento em pesquisa e tecnologia
dústria, para o desenvolvimento do aos diferentes recursos naturais de iniciado no Governo Vargas, na déca-
transporte, para a produção de alimen- que dispõe o país. A matriz energéti- da de 1930. Desde então a participação
tos, além do próprio consumo resi- ca brasileira é composta por 42,4% de das fontes renováveis na matriz ener-
dencial. É claro que existem variações energias renováveis, enquanto a média gética brasileira só tem aumentado. É
nacionais e locais quanto ao consumo mundial é 13,2%, segundo a Agência claro que a construção de grandes usi-
energético mais ou menos responsável. Internacional de Energia. Em termos nas hidroelétricas gera impacto social

DIVERSIFICAÇÃO DA MATRIZ ELÉTRICA


Distribuição por países e por fonte, em 2012 (em %)
80

60
40
Labmundo, 2014

20

Brasil Turquia Índia China México França Rússia EUA Alemanha Reino Unido África do Sul
Hidroeletricidade Combustíveis fósseis Nuclear Outras fontes (solar, geotérmica, eólica, etc.)
Fonte: CIA, 2013

34 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?

MERCADO DE ETANOL E CANA-DE-AÇÚCAR


Dados entre 2010 e 2012

Países
Coreia Reino Unido Baixos
do Sul 173 478
528
Japão EUA
436 888

Jamaica
Índia 327 Trinidad e
174 Tobago
157 Nigéria
138

Produção de
cana-de-açúcar
em 2012 (milhões
Exportação de etanol de toneladas)

Labmundo, 2014
pelo Brasil
entre 2010 e 2012 0,3 2 10 100
(milhões de dólares) Sem dados 1000 km
disponíveis
Fontes: FAO, 2012; SECEX, 2011

e ambiental, mas gera muito menos a comercialização e o uso dos bio- PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR
Quantidade e variação da safra por estados
emissões de gases nocivos à atmosfera. combustíveis envolvem uma série de
É importante lembrar que todas as for- debates sobre a real sustentabilidade
mas de energia causam algum impacto associada a seu uso. Porém, o gover-
(ambiental, social) negativo. O funda- no brasileiro airma oicialmente que
mental estaria na busca de equilíbrios a produção, principalmente de cana,
entre os ganhos e as perdas geradas. não causaria desmatamento na Ama-
zônia, apesar de pesquisadores mais
De acordo com a AIE, o Brasil ganha críticos airmarem que a produção de
destaque na produção de biocombus- biocombustíveis poderia levar os pro- Aumento
tíveis. Juntamente com os EUA, será dutores a plantar alimentos no interior da produção
responsável por mais da metade da do Brasil ou na Amazônia, deixando as entre 1998 e 2012
- 63 %
oferta de biocombustíveis até 2040. A terras destinadas à produção de com- 300 km
0
produção no Brasil está voltada para bustível situadas preferencialmente no Safra
+ 100 %
dois segmentos: etanol e biodiesel. O litoral. Isso contribuiria para o aumen- + 200 %
de 2012
(mil toneladas)
etanol é um biocombustível altamente to do preço dos alimentos. + 638 % 300.000
inlamável que pode ser obtido a par- Cultivo a partir
100.000
tir da cana-de-açúcar, do milho, da be- A aposta brasileira nos biocombustí- de 1999

Labmundo, 2014
Sem dados 10.000
terraba, da mandioca, da batata, entre veis e na hidroeletricidade pode ga- disponíveis
outras fontes. Já o biodiesel pode ser rantir ao Brasil autossuiciência em *A produção no período
em Santa Catarina é igual
deinido como um combustível reno- consumo. Porém, com a descoberta Fonte: UNICA, 2013 a zero

vável derivado de óleos vegetais (gi- do pré-sal em 2007, a estratégia nacio-


rassol, mamona, soja, babaçu e outras nal tem-se pautado em transformar o
oleaginosas), além de matérias-pri- Brasil em importante ator no merca- petróleo são fundamentalmente polí-
mas alternativas como a gordura ani- do energético mundial. Partindo do ticas e econômicas, para se tornar um
mal ou óleos de frituras. A produção, pressuposto de que as negociações do exportador forte no ramo da energia, o
Brasil precisa estar preparado para en-
frentar os desaios da geopolítica ener-
ENERGIA E DESENVOLVIMENTO gética mundial. Além disso, precisa
Uso per capita de energia em kg de petróleo ou equivalente, em 2011
resolver problemas internos de infra-
estrutura, como armazenamento e es-
tocagem, investindo em pesquisas,
tecnologia e, ponto muito importan-
te e sensível, mão de obra qualiicada.

VEJA TAMBÉM:
3.206 Multinacionais brasileiras p. 70
1.539 Projetos de integração p. 82
Labmundo, 2014

691 Energia e infraestrutura p. 92


0
Relações Norte-Sul p. 100
Sem dados 1000 km
disponíveis
Fonte: Banco Mundial, 2013.
AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 35
Água: recurso Os principais conlitos se referem ao
controle das fontes de água potável,
mostrando que também nesse cam-

vital e estratégico po as relações de poder se associam às


de distribuição desigual dos recursos.
Muitos países têm forte dependência
de água externa, importando mais da
metade do consumo interno (é o caso
da Bolívia, do Paraguai e do Uruguai
na América Latina). Nesse cenário, o
Brasil é uma potência hídrica, pelas
grandes reservas de água subterrânea
DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA NO MUNDO que possui (quase 13% de toda a água
Disponibilidade per capita de água potável, em milhares de metros cúbicos, em 2013 doce do planeta), pelas chuvas abun-
dantes em grande parte do território e
por ser um dos principais exportado-
res mundiais (o quarto, atrás de EUA,
China e Índia) do que se conhece
como “água virtual” ou pegada hídrica,
ao exportar produtos que demandam
533
70
muita água para sua produção, como
50 carne (produzir um quilo requer 15,5
30 mil litros), arroz (3 mil litros por quilo)
10 ou café (140 litros por xícara). Segun-

Labmundo, 2014
0
Sem dados do a Unesco, o Brasil exportaria indi-
1000 km
disponíveis retamente cerca de 112 trilhões de litros
de água doce por ano por meio de suas
Fonte: Sítio web da base de dados do Banco Mundial, 2013.
commodities. Em contexto de grande
escassez global, os recursos hídricos co-
locam o Brasil em lugar de destaque,
O estabelecimento da Década Inter- melhor gestão, uma exploração mais mas também exigem do Estado políti-
nacional da Água (2005-2015) pelas sustentável e um acesso mais igualitá- cas públicas responsáveis, interna e ex-
Nações Unidas revela a importância rio aos recursos hídricos. ternamente. Ao mesmo tempo em que
política e estratégica desse recurso. A o uso da água é fundamental na produ-
água é vital para a sobrevivência dos Dadas as características transnacionais ção de commodities (e para as exporta-
organismos vivos, para garantir níveis de grande parte das bacias – 19 paí- ções), é inegável sua relevância para a
de vida dígnos, para a economia e para ses dependem da bacia luvial do Da- soberania alimentar e a sustentabilida-
o funcionamento dos ecossistemas. núbio, 13 do Congo, 11 do Nilo e 9 do de ambiental.
São muitos os campos direta ou indi- Amazonas, entre eles o Brasil –, trata-
retamente vinculados à água (saúde, se de um campo que gera importantes O consumo excessivo e descontrola-
saneamento, meio ambiente, diversi- conlitos, mas também interessantes do de água, acima da capacidade de re-
dade biológica, prevenção de desastres potencialidades e experiências de co- posição, prejudica muitas das grandes
ecológicos, agricultura e alimentação, operação. O Brasil, pelas suas caracte- bacias internacionais em todos os con-
contaminação, energia), sendo neces- rísticas e capacidades diplomáticas de tinentes, com grande impacto no nor-
sária uma ação coordenada para uma negociação em organismos multilate- te da África e no Oriente Médio. Nos
rais, poderia desempenhar um papel Estados Unidos e na Europa, princi-
muito relevante nessa agenda. pais consumidores mundiais de água
HIDROGRAFIA E FRONTEIRAS
Principais bacias hidrográficas brasileiras, em 2014
PRINCIPAIS BACIAS HIDROGRÁFICAS TRANSFRONTEIRIÇAS
Distribuição no mundo, em 2014
Atlântico
(Norte)

Atlântico
Amazônia (Nordeste)

Tocantins
São
Francisco
Atlântico
(Leste)
Paraná

Bacia internacional
com tratado
Uruguai Outras bacias
Labmundo, 2014

Labmundo, 2014

Atlântico internacionais
(Sudeste) 500 km

1000 km

Fontes: ANA, 2010; Sítio web da ISARM, 2014. Fonte: Oregon State University, 2014

36 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?

USO DA ÁGUA NO BRASIL ÁGUA POLUÍDA NO MUNDO


Usos não renováveis em 2012, por setor, em % Fluxo comercial de água poluída, em 2011
60

50

40

30

20

1000 km
10

Quantidade em
Labmundo, 2014

milhões de litros:
no

l
ia

r ia

l
ra
ár

ba

Ru
st
u

10 1 0 -1 -10 Valores máximos:


du
Ur
ec

O mapa representa o fluxo comercial da Pegada Hídrica


In
p

Japão: 20,9
ro

Cinza. Água “cinza” é o volume de água poluída associada


Ag

à produção de bens e serviços para indivíduos ou comu- Reino Unido: 11,5


déficit superávit
Fonte: ANA, 2012 importa poluição exporta poluição nidades. Durante a produção de um bem, uma parcela de Estados Unidos: 9,9
água é poluída. Por isso, todo produto é responsável pela

Labmundo, 2014
Sem dados
disponíveis poluição de uma quantidade de água. Se um país apresenta Valores mínimos:
déficit, significa que ele compra mais do que exporta produtos China: -53,6
que poluam a água. Caso o país apresente superávit, ele
em setores não agrícolas, a urbaniza- vende mais água poluída.
Rússia: -26,7
Índia: -16,5
ção e a industrialização crescentes têm Fonte: Water Footprint Network, 2014
forte impacto negativo. Isso sem con-
tar as consequências das mudanças
climáticas e da poluição, que causam A água representa uma dimensão es- saneamento básico provocam 2 mi-
importante declínio da quantidade sencial da segurança humana. No en- lhões de mortes por ano, mais do que
de água em regiões áridas e semiári- tanto, apesar de importantes avanços, os conlitos armados, além de produzir
das (Nordeste brasileiro), impactando um bilhão de pessoas ainda não têm fome e desnutrição, colocando em ris-
as colheitas, a alimentação e a pobre- acesso a abastecimento de água sui- co a segurança alimentar. Isso sem es-
za. Vários estudos e encontros interna- ciente. Vivemos com o uso ineicien- quecer as inundações, que causam 15%
cionais têm denunciado o aumento de te, a poluição da água ou abuso das das mortes por desastres naturais. A
pessoas que vivem e dependem de ba- reservas subterrâneas. As doenças as- água limpa é vital para a sobrevivência
cias exploradas abusivamente. sociadas à falta de água potável e humana e do planeta, e sua proteção
faz parte dos Objetivos de Desenvol-
vimento Sustentável da Conferência
ACESSO À ÁGUA POTÁVEL E CONDIÇÕES SANITÁRIAS Rio+20.
Pessoas com abastecimento inadequado de água e de esgoto, entre 1991 e 2010 (em %)
1991 2000 2010 O mundo tem água suiciente para ga-
rantir segurança hídrica para todas as
sociedades. O desaio principal é a dis-
tribuição, que exige uma responsabi-
lidade coletiva e atuação articulada
entre os diversos atores estatais, priva-
dos e associativos para garantir o acesso
15 de forma sustentável a esse recurso. A
Labmundo, 2014

10 cooperação oferece interessantes opor-


600 km 600 km 600 km
5 tunidades para uma gestão integrada
Fonte: PNUD, 2013b. 0 de recursos hídricos e é de fato a opção
mais habitual de resolução dos conli-
tos. Existem 145 acordos sobre energia
CONTEXTO DOS RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL hidroelétrica, consumo, controle das
Demanda em junho Investimento previsto Desperdício total de água cheias, distribuição industrial, nave-
de 2010 (em m³/s) em abastecimento de água potável em 2010 (em %)
entre 2010 e 2015 gação, poluição e pesca. Apesar de ser
(em milhões de reais) potência hídrica, o Brasil tem grandes
desaios pela frente: assimetrias inter-
nas na distribuição e quanto ao aces-
so, uso inadequado e ineiciente, bem
como poluição dos rios e lagos.

VEJA TAMBÉM:
600 km 600 km 600 km
0 0 0 Minério e indústria extrativa p. 38
Labmundo, 2014

10 400 20% Multinacionais brasileiras p. 70


20 800 40% Organizações e movimentos sociais p. 72
30 1200 60%
100% Centros de pesquisa p. 78
Fonte: ANA, 2012

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 37
Minério e indústria De volta à formação geológica do ter-
ritório brasileiro, além dos escudos,
também são encontradas bacias sedi-

extrativa mentares, continentais ou marítimas.


Com grande esforço e investimen-
to público a partir da década de 1930,
o Brasil passou a ser um importan-
te produtor de hidrocarbonetos. Ape-
sar disso, grande parte do gás natural
consumido no país é importado, prin-
cipalmente da Bolívia. As principais

Recursos minerais são fatores mate- como o nióbio. A produção brasileira INDÚSTRIA EXTRATIVA
riais clássicos da potência estatal. Tam- de nióbio se concentra em duas jazi- Produção das principais unidades federativas,
em 2013
bém são estratégicos para as economias das (uma em Minas Gerais e outra em M H M
ca idro m ine
m ine rb - et ra
nacionais no mundo todo. Os paí- Goiás), que representam aproximada- et ra
ál is
ico
on
et
ál is
ico n Ca
r
s ão vã
ses com minérios importantes têm mente 75% da produção mundial desse s os o

suas capacidades econômicas e políti- minério, sendo que há a estimativa de PR


cas aumentadas no tabuleiro mundial. que o Brasil detenha mais de 95% das

R. Sul
A autossuiciência em energia e maté- reservas mundiais. O nióbio é muito SC

rias-primas, por exemplo, diminui a utilizado na produção de metais mais RS


dependência de um Estado, tornan- leves e resistentes. As ligas metálicas

R. Centro-oeste
do-o mais livre para agir internacio- que contêm nióbio geralmente são uti- MS
nalmente. No caso de países que sejam lizadas na construção civil, em veículos
grandes exportadores de produtos es- automotores, em aeronaves, em veícu- GO

tratégicos, há um elemento político, los espaciais, etc. Apesar da importân- MA


além do fator econômico. O controle cia desse metal para diversos produtos

R. Nordeste
desses materiais pode, em última me- e do quase monopólio brasileiro, o SE
dida, inluenciar a capacidade e o cus- preço internacional dele é considerado
to do projeto de desenvolvimento de baixo. Esse fato gera a revolta de mui- RN

outros Estados, que se tornam sensí- tos especialistas, mas também há os BA


veis às decisões políticas do exporta- que airmam que o aumento do preço
dor. Como demonstrou a Organização internacional somente iria incentivar a

R. Norte
AP
dos Países Exportadores de Petróleo produção de metais concorrentes, pois
PA
(OPEP), na década de 1970, a concen- o nióbio pode ser substituído por ou-
tração de um produto essencial para o tros metais. SP
desenvolvimento nas mãos de poucos
países pode se tornar um meio de obter

R. Sudeste
ES
conquistas políticas. EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS
Em bilhões de dólares por ano, entre RJ
2007 e 2012
O Brasil está em uma situação con-
MG
fortável em relação às reservas mine- %
rais. Devido à sua posição na Pangeia e 5,2
+ 33 R$ 50 bilhões * Somente os valores
às intensas mudanças morfológicas ao Minério R$ 25 bilhões acima de 30 milhões de
reais são representados.
longo das eras geológicas, a estrutura de Ferro
+ 191
,1 R$10 bilhões

do território brasileiro pode ser consi- Óleos


R$ 1 bilhão

derada bastante diversiicada. O Escu- combustíveis


%
do Brasileiro e o Escudo das Guianas + 187
,5 O mapa representa a quantidade
total de atividades extrativistas
R$ 50 bi
R$ 25 bi
são as duas formações geológicas mais Petróleo por unidade federativa. R$10 bi
R$ 1 bi
antigas que se encontram no territó- em bruto
9%
rio nacional e representam 36% dele. É + 127,
Semimanufaturados
nessas regiões que se concentra a maior de ferro

parte dos recursos minerais do Brasil.


É o caso, por exemplo, do ferro, que Alumínio - 4,7 %

pode ser encontrado principalmente Laminados


- 5,4 %
em Carajás (PA), no Quadrilátero Fer- planos
rífero (MG) e no Maciço do Urucum
(MS). O Brasil é um grande exporta- Gasolina

dor de ferro e tem como seus princi- 2007


pais mercados consumidores a China, 45 951,7 -8
8 ,3
Labmundo, 2014

o Japão, a Coreia do Sul e alguns países 30 000,0 %


Labmundo,2014

europeus. Além do ferro, o Brasil tam- 2 000,0

bém se destaca na extração de manga- 214,9


300 km

nês, cassiterita, bauxita e outros metais, Fonte: Sítio web AliceWeb do MDIC, 2013 2012 Fonte: IBGE, 2013b.

38 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?

áreas de prospecção de petróleo se situ- EXPORTAÇÃO BRASILEIRA DE FERRO E DE PETRÓLEO


am nas bacias sedimentares marítimas, Em bilhões de dólares, em 2012
Ferro Petróleo
o que fez com que o Brasil desenvol-
vesse tecnologia de ponta na extração
de petróleo em águas profundas. Essa
tecnologia contribuiu, também, para a
descoberta e, mais recentemente, para

Labmundo, 2014
a extração dos poços situados na região
do pré-sal. Apesar de ser considerado 1000 km 1000 km

de difícil prospecção (pois se situa em Fonte: Sítio web AliceWeb do MDIC, 2013 14,9 5,5 2,9 0,8

águas profundas e abaixo de diversas


camadas de rochas e de sal petriicado),
o petróleo nas Bacias de Tupi, de Iara LOCALIZAÇÃO CONHECIDA DOS MINERAIS
Em 2014
e arredores é de boa qualidade, e as re-
servas ultrapassam 33 bilhões de barris.
A descoberta desses campos de petró-
leo elevou signiicativamente a reserva
brasileira de hidrocarbonetos.
Diamante
Ouro Estanho
Carvão
O território brasileiro também é rico Titânio Alumínio Campo de
Hidrocarbonetos
em outros materiais estratégicos, como
Tupi

as areias monazíticas, nas quais se en- 600 km 600 km 600 km

contram minérios fundamentais para a


produção de energia nuclear. Por esse
motivo, o Brasil é membro do Nucle-
ar Suppliers Group (NSP), grupo de
países que são importantes exportado-
Níquel
res de materiais usados para inalidades Ferro Chumbo
Nióbio
nucleares. Devido à relevância estra- Alumínio Cobre
Manganês
tégica desses materiais, há um grande 600 km 600 km 600 km
controle por parte desse grupo de pa-
íses no que concerne ao comércio dos
produtos. Fazer parte do NSP signiica
participar de decisões sobre esse tema
sensível na agenda internacional de
energia e de segurança. Tungstênio Berilo

Labmundo, 2014
Flúor
Urânio Calcário
Fósforo
A exploração econômica dos recursos Zinco Sal
minerais também apresenta riscos eco- 600 km 600 km 600 km
lógicos e potenciais efeitos de degrada- Fontes: IBGE, 2013b; IBP, 2013; Ross, 1996; e DNPM, 2003
ção ambiental. A Serra do Navio, no
Amapá, é um exemplo notável de ma-
lefícios que a atividade extrativa pode
causar. O local, que era conhecido PRINCIPAIS PRODUTORES E DETENTORES DE RESERVAS DE PETRÓLEO
Produção, em 2013 (em milhões de barris/dia) Reservas, em 2013 (em bilhões de toneladas)
pela produção de manganês, foi aban- 10 8 6 4 2
Arábia
10 20 30 40
donado, pois a empresa que explora- 1° Saudita 2°

va o minério entendeu que a atividade 2° Rússia 8°

não era mais interessante economica- 3° EUA 11°

mente. Deixou como legado à comu- 4° China 14°

nidade uma enorme cratera e efeitos 5° Canadá 3°

comprometedores ao futuro de seu 6° Irã 4°


EAU
desenvolvimento. No caso do petró- 7° 7°
Kuaite
leo, a dependência excessiva pode gerar 8° 6°
Iraque
problemas econômicos (“doença ho- 9° 5°
México
landesa”), e sua extração em alto-mar 10° 17°
11° Venezuela
também apresenta riscos socioambien- 1°
12° Nigéria
tais e ecológicos. Brasil
10°
13° 15°
14° Catar 13°
15° Noruega 19°
VEJA TAMBÉM:
16° Angola 16°
Agronegócio p. 28 17° Cazaquistão 12°
Labmundo, 2014

Centros de pesquisa p. 78 18° Argélia 18°


Defesa e segurança p. 90 19° Líbia 9°
Agências econômicas mundiais p. 104 20° Reino 20°
Fonte: British Petroleum, 2013. Unido

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 39
Riqueza genética genética, mas também de proteção das
espécies nativas (e do conhecimento
coletivo a respeito de seu uso).

e biodiversidade O Brasil sofre com práticas de biopi-


rataria e tráico de animais silvestres. A
biopirataria é a exploração, manipula-
ção, exportação ou comercialização ir-
regular de recursos biológicos ou da
apropriação de conhecimentos tradi-
cionais associados oriundos de comu-
nidades indígenas e locais. O conceito
BIODIVERSIDADE NO MUNDO foi desenvolvido na Convenção sobre
Indicador de biodiversidade, em 2002 Diversidade Biológica, durante a Con-
ferência Eco-92, que deiniu que os
países têm soberania sobre a biodiver-
sidade de seus territórios. O problema
afeta o país em vários setores, inclusi-
ve em sua soberania. Na busca por en-
frentar essa questão, foi criada em 2003
uma Comissão Parlamentar de Inqué-
rito exclusiva para o tema. Seu relató-
Sem dados
disponíveis
rio inal indicava que o país perderia
mais de 5,7 bilhões de dólares por ano
com o tráico ilegal de animais de sua
1000 km fauna e de conhecimentos tradicionais
0,50 Os dados indicam a diversidade e remédios de suas lorestas.
Labmundo, 2014
Países Megadiversos 0,25 de espécies (mamíferos, aves, répteis,
anfíbios e plantas vasculares) e
0,10
Países Megadiversos Afins seu caráter endêmico. O tráico de animais silvestres é, igual-
0,05 Somente considerados Estados
com mais de 5000 km2.
mente, um problema grave. Algumas
Fonte: Groombridge e Jenkins, 2002.
espécies podem valer mais de 60 mil
dólares no mercado internacional. A
ONU deiniu a atividade como a ter-
O Brasil é um país de dimensões con- de pessoas; e a biomassa vegetal res- ceira atividade criminosa mais lucrati-
tinentais com grande diversidade de ponde por 30% da produção energé- va do mundo, somente atrás do tráico
zonas climáticas e de biomas. O re- tica do país. Existe a expectativa de de drogas e armas. O impacto nos bio-
sultado disso é uma grande riqueza maiores benefícios econômicos oriun- mas pode ser muito grave: entre dez
em termos de fauna e de lora, que faz dos de patentes e de novas tecnologias aves capturadas no país para ins de co-
do país o mais biodiverso do mundo. com base no estudo de sua biodiversi- mércio irregular, somente uma ou duas
A biodiversidade tem papel de desta- dade. A preservação e a exploração sus- sobrevivem e chegam ao seu destino.
que na economia nacional: as exporta- tentável desse potencial passam por
ções agrícolas compõem mais de 30% grandes desaios, como o avanço no A apropriação de conhecimentos locais
do total exportado pelo país; ativida- conhecimento a respeito da fauna e ou a descoberta de substâncias tera-
des como extrativismo lorestal e pes- da lora brasileiras. O panorama atual pêuticas de maneira irregular por par-
queiro empregam mais de 3 milhões é de subaproveitamento dessa riqueza te da indústria farmacêutica fez com o
que país perdesse o direito a patentes
de elementos originários de sua biodi-
UM PAÍS MEGADIVERSO versidade. Por exemplo, o laboratório
Dados de 2002
Espécies de anfibios Espécies de mamíferos Merck detém a patente do princípio
Brasil 798 México 491 ativo do jaborandi, planta amazônica,
Colômbia 714 RD Congo 450
Equador 467 Camarões 409
Peru 461 Brasil 394
DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA LEGAL
China 394 O Brasil possui
de 15 a 20% Em milhares de km2/ano, entre 1988 e 2012
Espécies de aves 30
Colômbia 1695
de todas as
Foi realizada
Peru 1538 espécies 25
uma média
para os anos
Indonésia 1519 de fauna e flora de 1993 e 1994.
Brasil 1492 do mundo

15
Espécies de plantas vasculares
Brasil 56.215
Colômbia 51.220
China 32.220 5
Labmundo, 2014
Labmundo, 2014

Indonésia 29.375
México 26.071
1988 1992 1996 2000 2004 2008 2012

Fonte: Groombridge e Jenkins, 2002. Fonte: INPE, 2013.

40 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?

para o combate à calvície e ao glauco- A ECONOMIA DA TERRA


Origem das espécies vegetais e animais economicamente relevantes para o Brasil (casos selecionados)
ma. O laboratório Squibb dos EUA se
aproveitou de conhecimento públi- Ásia
co divulgado pelo cientista brasileiro Equinos

Sérgio Henrique Ferreira sobre o vene- China


Ásia Menor
no da jararaca nos anos 1960 para criar soja
laranja
America Central e México
trigo
cacau
uma droga contra hipertensão até hoje Filipinas pinheiros África
comercializada. O pesquisador bra- Índia arroz capim
bovinos
sileiro publicamente já negou se tra- Nova-Guiné
cana-de-açúcar Etiópia
tar de um caso de biopirataria, mas o Brasil
café
abacaxi
exemplo evidencia a incapacidade do amendoim
país de tirar proveito de sua riqueza Austrália castanha do pará

Labmundo, 2014
eucaliptos mandioca
biológica. caju
1000 km carnaúba

Muitas patentes de espécies brasileiras Fonte: MMA, 2006.

são registradas no exterior de modo ir-


regular. Ademais, nem sempre benei-
ciam as comunidades locais detentoras Nacional de Unidades de Conservação. exploração madeireira, grilagem de
do conhecimento primário. O país ha- A biodiversidade marinha brasileira terras, avanço descontrolado da urba-
via se comprometido, na Convenção não é tão variada quanto a de outros nização ou mesmo da construção de
sobre Diversidade Biológica, a colo- países, mas ainda assim se estima que infraestruturas como barragens e estra-
car 10% de seus ecossistemas sob pro- o Brasil concentre cerca de 6% das es- das, o desmatamento produz desloca-
teção, mas até 2010 só tinha alcançado pécies existentes de invertebrados “não mentos forçados de comunidades, gera
a cifra de 1,5%. Ainda assim, a meta de insetos”, a maioria dos quais vive no poluição, permite a invasão de espécies
colocar 30% da Amazônia sob algu- mar. exóticas sobre a lora nativa e contribui
ma forma de proteção legal foi supera- para o aquecimento global. O país tem
da, tendo alcançado o total de 40% da Outro potencial pouco explorado no conseguido manter uma tendência de-
região. Um dos biomas menos prote- país é o consumo de peixes. O consu- clinante das taxas de desmatamento na
gidos por força de lei e menos conheci- mo desse alimento ica abaixo do valor Amazônia (área mais vigiada) desde
dos pelos cientistas é o mar, já deinido sugerido pela FAO (12kg). O consumo 2004. No inal de 2013, houve uma re-
pelo Ministério do Meio Ambiente anual per capita foi de 11,17 kg em 2011, versão dessa tendência, com o aumen-
como “a grande lacuna” do Sistema um recorde histórico, que signiicou to da taxa para 28%, embora esta tenha
aumento de 23,7% em relação aos dois sido a segunda menor média anual
anos anteriores. Parte desse progres- desde 1993. O Brasil tem enfrentado os
BIOPIRATARIA E TRÁFICO DE ESPÉCIES so é indicado como fruto das ações do desaios domésticos do desmatamen-
Valor por espécie no mercado internacional, em
2003 (em milhares de dólares)
Ministério da Pesca, secretaria especial to e da degradação ambiental, buscan-
Colecionadores particulares e zoológicos
criada em 2003 que se tornou ministé- do contribuir, no plano internacional,
Arara-azul-de-lear
rio em 2009. Apesar do consumo mo- para as negociações sobre mudanças
Harpia
desto, pesquisa realizada pelo governo climáticas (princípio das responsabili-
Mico-leão-dourado
federal entre 1995 e 2006 indicou que dades comuns mas diferenciadas).
cerca de 80% das espécies pescadas co-
Jaguatirica
mercialmente eram exploradas plena-
Fins científicos mente ou em demasia, colocando em FLORESTAS
1g de veneno - Coral verdadeira risco o consumo de longo prazo. Países com as maiores áreas de florestas, em 2010
(em milhões de hectares)
1g de veneno - Aranha marrom
Rússia 809
Jararaca-ilhoa No âmbito multilateral, a importân-
Brasil 520
1g de veneno - Escorpião cia da riqueza genética e ambiental do
Canadá 310
Algumas espécies de besouro Brasil para o mundo e seu ativismo na
EUA 304
Surucucu-pico-de-jaca diplomacia ambiental colocam o país
China 207
Animais de estimação como um ator-chave nos debates e nas
R. D. Congo 154
Sagui-da-cara-branca
negociações. O Itamaraty e o Ministé-
Austrália 149
Arara-vermelha
rio do Meio Ambiente participam de
Indonésia
Teiús
fóruns multilaterais a respeito da bio- 94

diversidade, como o grupo dos Países Sudão 70


Labmundo, 2014

Tucano-toco Índia
Megadiversos Ains, que se organizou 68
Jibóia
como mecanismo de consulta e coo- Outros 1.347

5 20 60 peração em torno dos interesses e das Fonte: FAO, 2010.


prioridades dos países membros em re-
lação à conservação e utilização susten-
Espécies brasileiras patenteadas no exterior*
Açaí Cupuaçu
tável da diversidade biológica. VEJA TAMBÉM:
Andiroba Espinheira Santa Agronegócio p. 28
Um dos graves problemas ambien-
Labmundo, 2014

Ayahuasca Jaborandi Centros de pesquisa p. 78


Copaíba Veneno da jararaca tais enfrentados pelo país é o desma- Sistema ONU p. 102
*essas patentes já foram revertidas tamento. Fruto de conversão de terras Cooperação Sul-Sul p. 112
Fontes: Sarney Filho, 2003; RENCTAS, 2001. para a agricultura, atividade pecuária,

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 41
População 44 milhões de habitantes), seguido de
Minas Gerais (20 milhões) e Rio de
Janeiro (16 milhões). No outro extre-

e diversidade mo, o Norte tem uma densidade de


4,12 hab/km2, sendo Roraima o estado
menos povoado, com apenas 500.000
habitantes. Também cresce a concen-
tração urbana, cuja população repre-
senta 84,9% do total. Essa urbanização
relaciona-se, entre outros, com o sur-
gimento de megacidades como São
Paulo (com mais de 23 milhões de ha-
bitantes, é a 7ª cidade mais populosa
Com uma população que supera os distribuição geográica dessa popula- do mundo) ou Rio de Janeiro (com
200 milhões de habitantes, segundo o ção é bastante desigual. Há uma forte 13,6 milhões).
IBGE, o Brasil é o 5º país mais popu- concentração no sudeste, onde a den-
loso do mundo. Com uma densidade sidade atinge 87 hab/km2: São Paulo Em relação à composição dessa popu-
relativamente baixa (22,4 hab/km2), a é o Estado mais populoso (com quase lação, a melhoria da expectativa média
de vida (de 69,8 anos em 2000 para
74,8 em 2013) e a queda da taxa de fe-
DEMOGRAFIA BRASILEIRA cundidade (de 2,4 ilhos por mulher
Densidade demográfica, em 2010 População urbana, em 2010 (em milhões de pessoas)

GRANDES AGLOMERAÇÕES URBANAS


Evolução de grandes aglomerações urbanas, entre
1950 e 2050
1950 2010 2050*
Tóquio (Japão)
38,66 mi

40 Nova Délhi
444
(Índia)
100 14 32,94 mi
50 8
10 2 Xangai (China)
28,40 mi
0 0 11,27 mi

Mumbai (Índia)
300 km 300 km 26,56 mi

1,37 mi
Cidade do
México (México)
População rural, em 2010 (em milhões de pessoas) População rural, em 2010 (em %) 24,58 mi
5 15 25 35 4,3 mi
MA
PI
PA 2,86 mi Nova York (EUA)
23,57 mi
BA
AC São Paulo
SE 2,88 mi (Brasil)
RO 23,17 mi
AL 12,34 mi Dacca
CE (Bangladesh)
4 PB 22,91 mi
2 RR
RN Pequim (China)
1
TO 22,63 mi
0,5 AM
0 PE 2,33 mi
MT
ES Karashi
SC Paquistão)
RS 0,34 mi
20,19 mi
300 km MG
PR Calcutá (Índia)
MS 18,71 mi
AP 1,67 mi
GO
SP Manila (Filipinas)
DF 16,28 mi
1,06 mi
População por gênero e faixa etária, RJ
em 2010 (em milhões de pessoas) > 80
75 a 79 4,51 mi Los Angeles
70 a 74
65 a 69 (EUA)
15,69 mi
60 a 64
55 a 59 Buenos Aires
50 a 54
45 a 49 1,54 mi (Argentina)
40 a 44 15,52 mi
35 a 39 Rio de Janeiro
30 a 34 4,05 mi
25 a 29 (Brasil)
20 a 24 13,62 mi
15 a 19 5,10 mi
10 a 14
Labmundo, 2014
Labmundo, 2014

5a9
1a4 *Para os dados de 2050,
<1 foram consideradas
8 6 4 2 2 4 6 8 2,95 mi as projeções médias feitas
Homens Mulheres pela ONU
Fonte: IBGE, 2010b. Fonte: ONU, 2013a
42 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?

em 2000 a 1,8 em 2013) antecipam o CLASSES SOCIAIS NAS REGIÕES BRASILEIRAS


cenário de envelhecimento da popu- Número de habitantes por classe social nas regiões do Brasil, em 2009
lação, hoje ainda relativamente jovem Regiões
(população em milhões)
(“bônus demográico”). Quanto à cor
da pele, 47% se autodeclaram brancos, Norte
Classe Social
majoritários no Sul e no Sudeste (55% 12,4
e 78% da população, respectivamen-
te), 43% pardos (majoritários no Norte
e no Nordeste), 7% pretos e 0,4% indí-
Centro-Oeste
genas (concentrados no Norte).
13,9
AB
Essa composição encontra suas origens
nos luxos migratórios que conigura-
ram historicamente a população bra-
sileira. Durante muito tempo o Brasil Sul
foi considerado um país de imigração. 27,7

Aqui foram chegando os colonizadores


portugueses, os escravos africanos ví- C
timas do tráico negreiro, os migran-
tes vindos do Velho Mundo no inal
do século XIX (principalmente traba-
lhadores portugueses e italianos, segui- Nordeste
dos de espanhóis, alemães, japoneses e 53,9
sírio-libaneses, entre outros), mudan-
do a isionomia de várias regiões, que
hoje mostram a herança cultural des- D
ses luxos. Diante dessas tendências no
passado, hoje os dados revelam uma
proporção de imigrantes de apenas
0,4% (diante de 0,7% de emigrantes),
e isso apesar de relativo aumento dos
luxos mais recentes. Sudeste
E

80,3
A população brasileira ainda sofre com
Quantidade de indivíduos
vários problemas associados às desi-
gualdades sociais (tais como acesso à

Labmundo, 2014
10 milhões
educação, trabalho digno e saúde) e
às várias formas de discriminação, que 1 milhão
aos poucos vão sendo enfrentados. A Fonte: CPS/FGV, 2014.
distribuição das classes sociais está mu-
dando, com uma importante amplia-
ção da classe C, que ganhou, em uma No entanto, essa nova classe C en- um escasso nível de satisfação cidadã
década, quase 30 milhões de pesso- frenta desaios, como o alto nível de com a saúde (só 44% dos brasileiros
as oriundas da classe D. Segundo da- endividamento e problemas no aces- se declararam satisfeitos), a educação
dos da Fundação Getulio Vargas, a so a serviços básicos, mostrando os (53,7%) ou a segurança (40%). Reivin-
classe C representaria 52% da popula- limites de uma concepção da cidada- dicações de ampliação de direitos ocu-
ção, diante de 28% pertencente à clas- nia baseada só no nível de renda e de param as ruas a partir de junho de 2013,
se baixa. consumo. Dados do PNUD mostram com demandas de melhorias no trans-
porte, na habitação (7% da popula-
ção urbana mora em assentamentos
IMIGRANTES NO BRASIL precários, colocando em risco o direi-
Quantidade total de imigrantes vivendo no Brasil, em 2010 (em milhares de pessoas) to à moradia), na saúde (há apenas 1,7
médicos por cada 1000 habitantes, si-
tuação agravada nas áreas rurais) e na
s
se
s educação (apesar dos avanços na ma-
e

Japoneses

trícula, muito ainda deve ser feito para


e
gu
Ale
rtu

melhorar a qualidade).
Po

Co
rea
nos
ó is
nh
pa

VEJA TAMBÉM:
Es

s
no

s l
ia

Bolivianos
Chileno

Ita Diversidade cultural p. 24


Labmundo, 2014

Paraguaios
Pobreza e desigualdade p. 44
os

U r u u ai Redes sociais e integração regional p. 96


g
os

17,24 55,37 214,51 1000 km


A r g e n ti n Cooperção Sul-Sul p. 112
Fonte: Banco Mundial, 2011.

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 43
Pobreza e tendo na reconiguração da paisagem
do desenvolvimento mundial, com
políticas que unem crescimento eco-

desigualdade nômico e desenvolvimento humano


(que inclui a educação, a saúde, a ren-
da e o emprego).

Apesar dos avanços, 8,9 milhões de


brasileiros ainda sofrem da extrema
pobreza, e as desigualdades internas
continuam sendo muito importantes
entre regiões (há cinco vezes mais po-
bres no Nordeste do que no Sul), zonas
A luta contra a pobreza tem ocupado o York, no caso de seu programa Oppor- rurais e urbanas (a pobreza rural é três
centro das agendas da cooperação para tunity NYC: Family Rewards), além vezes maior do que a urbana) e grupos
o desenvolvimento desde a adoção dos de modelos para organismos interna- raciais (68% das pessoas que vivem em
Objetivos de Desenvolvimento do Mi- cionais como a FAO e o PNUD. Este situação de pobreza extrema são ne-
lênio (ODM) no ano 2000. Essa agen- último de fato ressaltou a ascensão do gros ou pardos, diante de 28% bran-
da permitiu importantes avanços na Sul no seu relatório de 2013, mostran- cos). Um dos grandes desaios do país
diminuição da pobreza, mas os dados do a importância que potências emer- continua sendo a diminuição das múl-
ainda são preocupantes, com 1,4 bi- gentes como o Brasil, a China, a África tiplas desigualdades para garantir um
lhão de pessoas vivendo em extrema do Sul ou a Índia, entre outros, estão nível de vida digno para todos.
pobreza (ou seja, com menos de 1,25
dólares por dia) nas regiões em desen-
volvimento, a maioria na África sub- DESENVOLVIMENTO HUMANO E DESIGUALDADES
Valores de Gini de 2010 e IDH de 2013 Austrália Irlanda
saariana e na Ásia meridional. A fome Itália Suíça
desenvolvimento humano elevado

Alemanha
continua sendo um problema global, *Nem todos os países estão representados; Israel
Canadá
Bélgica Noruega
Estados
especialmente para essas regiões, agra- IDH e Índice de Gini disponíveis para 135 Geórgia Unidos Suécia
Argentina
vado nos últimos tempos pelo impac- países exibidos.
Costa Rica Uruguai Nova Zelândia
to da crise inanceira e do aumento do Chile Malásia Espanha
Finlândia
Áustria
Panamá
preço dos alimentos: 850 milhões de Equador Qatar Grécia Eslovénia
Luxemburgo
Estónia Polônia
pessoas ainda sofrem de nutrição insu- Venezuela
República Dominicana
Lituânia Hungria Quirguistão
iciente, o que demonstra os limites de 0,8 Jamaica
Rússia
um mercado dominado pelas diretri- México
China
Letônia Croácia
Roménia
Bielorrússia
Bulgária
Colômbia
zes do agronegócio em detrimento da Bolívia Brasil Irã Albânia
Bósnia
Sérvia
Peru 

soberania alimentar. Nas outras áreas 


 
 Ucrânia
Paraguai Jordânia
contempladas pelos ODM (educação, Honduras
Cazaquistão
Arménia
saúde, igualdade de gênero, etc.), tam- Micronésia El Salvador
Turquia Azerbaijão

Egito
bém houve melhorias, mas ainda in- Srilanca
Tunísia
Filipinas Síria Moldávia
Tajiquistão
suicientes, mostrando que os avanços Tailândia
Gabão Palestina Indonésia
África do Sul
foram afetados pela crise e se distribu- 0,6 Namíbia Mongólia Vietnã
Iraque
IDH

Nicarágua
íram de forma desigual entre regiões e Guatemala
Cabo Verde Marrocos Timor Leste
Suazilândia Gana Índia
países, e no interior destes (com fortes São Tomé e Príncipe
Uzbequistão
diferenças de gênero, raça, regionais, e Congo Quirguizistão Bangladeshe Paquistão
Camboja
entre as áreas rurais e urbanas). Angola Quênia
Lesoto
Haiti
Nigéria
Nepal
No Brasil, os avanços no cumprimen- Togo
to dos ODM têm sido ressaltados no Laos
0,4 Etiópia
mundo todo, principalmente no que Gâmbia
Madagáscar
Senegal
Djibouti Sudão Afeganistão
se refere à extrema pobreza (a porcen- Zâmbia
Ruanda Uganda
baixo desenvolvimento humano

tagem da população vivendo em extre- República Centro-África Mauritânia


Costa do Marfim
ma pobreza passou de 25,6% em 1990 Guiné Bissau
Burundi
a 4,8% em 2008) e à luta contra a fome Moçambique Serra Leoa Camarões Mali
(diminuindo a porcentagem de crian- República do Congo
Burquina Faso
Lituânia
Iémen Níger
ças com peso abaixo do esperado para Chade Benin
Malaui
Guiné
a sua idade de 4,2 em 1996 para 1,8% Libéria

em 2006). Os resultados obtidos pelos 60 50 40 30


programas governamentais Bolsa Fa- desigualdades Índice de Gini desigualdades
mília e Fome Zero os converteram em altas baixas

referências internacionais, sendo um América do Sul Oceania África População dos Estados, 2007
(em milhões de habitantes)
dos focos centrais da cooperação Sul– América do Norte Europa Ásia
250
Labmundo, 2014

Sul brasileira, mas também uma práti- 100


América Central e Caribe
ca institucional que inspira programas
de transferência de renda (inclusive 10
para cidades do Norte, como Nova Fonte: PNUD, 2013a

44 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?

POBREZA E BOLSA FAMÍLIA INDICADORES SOCIAIS NO BRASIL E NO MUNDO


Bolsa família por região, em milhões IDH no mundo, em 2013 IDH nos municípios brasileiros, em 2013
de famílias contempladas 7
entre 2004 e 2014 O índice varia de 0 a 1
0,30 0,54 0,71 0,81 0,96
6

Sem dados
5 disponíveis

1000 km 250 km
3
Fonte: PNUD, 2013a. Fonte: PNUD, 2013b.

Expectativa de vida no mundo, em 2013 Expectativa de vida nos municípios brasileiros,


1 em 2013
Em anos
48,1 67,4 73,2 76,7 83,6
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
14
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20

R. Nordeste R. Sudeste R. Sul Sem dados


R. Norte R. Centro-Oeste disponíveis
Fonte: MDS, 2014

1000 km 250 km
Evolução da pobreza, em milhares de pessoas
Fonte: PNUD, 2013a. Fonte: PNUD, 2013b.
40

Gini no mundo, em 2013 Gini nos municípios brasileiros, em 2013

30 O índice varia de 0 a 1
0,23 0,32 0,39 0,46 0,80

Sem dados
20 disponíveis
Labmundo, 2014

10
1000 km 250 km

Fonte: CIA,2013. Fonte: PNUD, 2013b

Escolaridade no mundo, em 2013 Escolaridade nos municípios brasileiros, em 2013


20 1
02

20 3
20 4
20 5
06

20 7
20 8
20 9
20 0
11
0

0
0
0

0
0
0
1
20

20

20

Quantidade de moradores com renda domiciliar per capita:  Média de anos de


R$ 0 a 70 R$ 70,01 a 140 R$ 0 a 140 frequência escolar
1,2 5,3 8,2 10,1 13,3
Fonte: MDS, 2014
Sem dados
disponíveis

Essa é uma pequena amostra das limi-


tações de uma agenda internacional
focada quase exclusivamente na re- 1000 km 250 km

dução da pobreza e nos programas de Fonte: PNUD, 2013a. Fonte: PNUD, 2013b

crescimento econômico. Essa concep-


ção tende a desconsiderar os processos Homicídios no mundo, em 2013 Homicídios nos municípios brasileiros, em 2013
contraditórios e complexos do desen-
Homicídios por 100 mil habitantes
volvimento, além de excluir do de- 0 9 18 30 139,5
bate questões-chave para a melhoria
das condições dos cidadãos. Aspectos Sem dados
disponíveis
como a reprodução sistêmica das desi-
gualdades, a garantia universal dos di-
Labmundo, 2014

reitos humanos, a participação social


e inclusiva nas deliberações democrá- 1000 km 250 km

ticas ou ainda a dimensão estrutural


das responsabilidades comuns e dife- Fonte: UNODC, 2013. Fonte: Waiselfisz, 2014.
renciadas para a construção de relações
mais equitativas entre as nações, entre
outros, estão frequentemente ausentes responsabilidades compartilhadas en- VEJA TAMBÉM:
dessa agenda. Entender o desenvolvi- tre os países do Norte e do Sul, é uma População e diversidade p. 42
mento como a realização dos direitos das propostas com mais força nos de- Ação internacional dos estados p. 66
humanos, superando os limites da vi- bates das redes e dos movimentos in- Multinacionais brasileiras p. 70
são estreita associada às necessidades ternacionais para a deinição de uma Cooperção Sul-Sul p. 112
básicas e enfatizando a visão global de agenda de desenvolvimento pós-2015.

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 45
Segurança golpes de 1930 e 1937 e do golpe que
instaurou a ditadura em 1964. Mes-
mo assim, devido a condições inter-

e política nas e externas, consolidou-se no Brasil


a imagem de um país pacíico, que uti-
liza sobretudo a diplomacia como es-
tratégia de negociação internacional e

de defesa resolução dos conlitos. Principalmen-


te após o golpe de 1964, desenvolveu-
se uma concepção segundo a qual as
Forças Armadas responderiam a pro-
blemas internos e não externos. A or-
BRASIL NAS MISSÕES DE PAZ DA ONU dem da Guerra Fria acrescentou a esse
Contingente de brasileiros no total das missões de paz, em julho de 2013 marco interpretativo condicionantes
Haiti externos, relativos à ameaça comunista
MINUSTAH 1408
e à segurança no continente america-
Líbano 260
UNIFIL
UNIFIL
UNFICYP
no. O externo e o interno convergiam
Sudão do Sul 14 MINUSTAH
MINURSO
em um movimento associado, graças
UNMISS
à doutrina da Guerra Fria elaborada
UNISFA
Saara Ocidental 10
MINURSO no meio estratégico dos EUA. A defe-
Costa do Marfim 7 sa como política nacional renasceu no
Efetivo total
UNOCI
Brasil de modo mais relevante somen-
Efetivo brasileiro UNMIL
Libéria
UNMIL 4 UNOCI
UNMISS
te no período de redemocratização do
10 585
Abiey* Estado.
UNISFA 4 1000

Labmundo, 2014
Chipre
UNFICYP 1 1
*Cidade disputada na fronteira
do Sudão com Sudão do Sul 1000 km Ao inal do século XX e início do XXI,
algumas mudanças ocorreram no cam-
Fontes: ONU, 2013b; Sítio web da ONU – Manutenção da Paz, 2014
po político e institucional da defe-
sa nacional. Com a transição política
na década de 1980 que pôs im ao re-
A política de defesa diz respeito à pro- potenciais ou manifestas. O diagnós- gime militar e permitiu o desenho da
teção da soberania e à integridade ter- tico sobre as ameaças também consta nova Constituição em 1988, e, sobre-
ritorial, mas também à projeção dos dos mesmos documentos oiciais. tudo, com a criação do Ministério da
interesses nacionais no campo da segu- Defesa em 1999, a função das Forças
rança regional e coletiva. No caso do Defender a soberania no plano inter- Armadas foi alterada: ganharam aten-
Brasil, como indica o quadro apresen- nacional implica, quando necessário, o ção os temas internacionais e regionais
tando os principais documentos oi- uso de aparato bélico e, para tanto, re- e se intensiicou a projeção do Bra-
ciais, a defesa nacional é deinida como sulta na aposta atual de investir em tec- sil em missões de paz. Se o Brasil aspi-
o conjunto de medidas e ações do Esta- nologias mais inovadoras e modernizar rasse a postos de coordenação política
do, com ênfase no campo militar, para recursos humanos. No Brasil, há um no plano sistêmico, deveria demons-
a proteção do território, da soberania longo histórico de atuação dos milita- trar compromisso com a estabilidade
e dos interesses nacionais contra ame- res na vida política, a exemplo da pro- regional e internacional. O Brasil pas-
aças preponderantemente externas, clamação da República em 1889, dos sou a mobilizar mais recursos (huma-
nos, inanceiros e políticos) no seio das
operações de paz das Nações Unidas.
PRINCIPAIS PAÍSES EXPORTADORES DE ARMAS Desde então, houve constante aumen-
Valores absolutos em bilhões de dólares e valores per capita, em 2012
to orçamentário reservado ao campo
da defesa no Brasil. Isso pode ser ob-
8,760

8
servado, por exemplo, no gráico de or-
8,003

7 çamentos militares no mundo, em que


6 se percebe claramente que esse setor
obteve um crescimento nos montan-
5 Valores
per capita: tes destinados pelo governo brasileiro
100
4
50 à defesa. Também ocorreram inova-
3 10 ções quanto a parcerias com o segmen-
5 to empresarial (Embraer, Odebrecht),
2 1
0
Sem dados que passou a investir em defesa e tec-
1,783

disponíveis 1000 km
1 nologia militar.
0,5

Além disso, merece destaque a publica-


Canadá
EUA
Rússia
China
Ucrânia
Alemanha
França
Reino Unido
Itália
Holanda
Espanha
Israel
Suécia

Suíça
Uzbequistão

Noruega
África do Sul
Polônia
Romênia
Chile
Cingapura
Austrália
Nova Zelândia
Finlândia
Bielorrússia
Turquia
Brasil
Líbia

Labmundo, 2014 Irlanda


Coreia do Norte

ção da Política de Defesa Nacional em


1996 e da Estratégia Nacional de De-
fesa em 2008. Esses dois documentos,
Os dados representam os valores de 2012, com exceção de Chile (2008), Coreia do Norte (2009), Líbia (2010),
Bielorrússia (2011) e Uzbequistão (2011).
sobretudo o segundo, apresentam dei-
Fontes: SIPRI, 2014a; Sítio web da base de dados do Banco Mundial, 2014. nições importantes sobre a função das

46 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?

DOCUMENTOS SOBRE DEFESA NO BRASIL


Documento Ano Objetivos Centrais Meios de Execução Principais Definições
Garantir a soberania nacional e a integridade Intensificação dos processos de regionalização e Segurança: condição em que o Estado, a sociedade
territorial cooperação com os países da América do Sul e da ou os indivíduos se sentem livres de riscos, pressões
Costa Africana ou ameaças externas
Contribuir com a estabilidade regional
Criação de órgãos regionais e multilaterais de Defesa: é o conjunto de ações do Estado, função dos
Contribuir para a manutenção da paz e segurança resolução de controvérsias militares, para a defesa do território, da soberania e
Política de 1996 internacionais dos interesses nacionais
Defesa a Integração das Bases Industriais de Defesa
Nacional 2005 Intensificar a projeção do Brasil Ambiente internacional: complexo, pós-bipolar,
Reformas nas organizações internacionais visando a globalizado, caracterizado pelas novas ameaças
Manter as Forças Armadas modernas e integradas sua maior legitimidade (terrorismo, crimes transfronteiriços)

Desenvolver a indústria de defesa nacional, visando à


autonomia no setor
Visa à reorganização e reorientação das Forças Dissuadir forças hostis Brasil como país pacífico por tradição e convicção
Armadas, da organização da Base Industrial de Defesa
e da política de composição dos efetivos da Marinha, Organizar as Forças Armadas sob o trinômio Projeto de ascensão ao cenário internacional, sem
do Exército e da Aeronáutica, contribuindo para monitoramento, mobilidade e presença buscar hegemonia
fortalecer o papel cada vez maior do Brasil no plano
internacional Fortalecer setores estratégicos: cibernético, nuclear e Nexo inextricável entre Defesa e Desenvolvimento
espacial
Estratégia 2008
Nacional de a Adensar presença nas fronteiras e priorizar a região
Defesa 2012 amazônica

Labmundo, 2014
Estimular a integração da América do Sul e preparar
as Forças Armadas para agirem em missões da ONU

Capacitar a Base Industrial de Defesa para desenvolver


autonomia tecnológica

Fonte: Ministério da Defesa, 2012.

Forças Armadas e uma nova compre- ações humanitárias organizadas e ge- Entraves e diiculdades na política
ensão do sistema internacional, exi- ridas pelas Nações Unidas. As Missões de desenvolvimento industrial mili-
gindo do Brasil uma ação diferente no de Paz da ONU são inclusive defendi- tar nacional e regional, baixa inserção
preparo de suas Forças Armadas. Por das na END do Brasil. Ou seja, uma no mercado militar mundial, sucatea-
exemplo, a PDN apresenta um siste- das funções de nossas Forças Armadas mento da tropa e dos recursos milita-
ma internacional permeado por ‘novas passou a ser participar e liderar essas res (armas, aviões, navios, artilharia e
ameaças’, como o narcotráico, o terro- ações da ONU como meio de inten- demais itens), baixo interesse do setor
rismo, os crimes cibernéticos a biopi- siicar a participação brasileira no pla- público e congressual (“assunto de De-
rataria e outros. no internacional, contribuindo para o fesa não dá voto”) são somente alguns
aumento da inluência do Brasil exter- dos problemas que o Brasil precisa en-
A partir daí, as Forças Armadas assu- namente. A defesa mudou de estatuto frentar se quiser se tornar um ator re-
mem novo papel, voltado ao plano político no século XXI e passou a dia- levante nesse setor. É evidente que há
externo. Cada vez mais também é de- logar mais fortemente com a PEB de sinais de modernização, a exemplo
fendida a utilização de militares em potência emergente. do submarino nuclear (parceria com
a França) e dos caças suecos. Como
construir em termos ideacionais e ma-
BRASIL E ORÇAMENTOS MILITARES teriais um Brasil potência se os temas
Evolução em bilhões de dólares, entre 1988 e 2012
de defesa não ocuparem espaço impor-
Entre os países ricos e China Entre os países emergentes
tante no debate público? Somente soft
700
50 power seria capaz de garantir estabili-
Desmantelamento
da URSS
EUA Redemocratização
e crises monetárias Índia dade política regional, poder de deci-
600 são e dissuasão no plano internacional?
Tudo indica que o discurso oicial em
40
matéria de defesa esteja mudando no
500
Brasil Brasil. O Ministro da Defesa até ins
de 2014, Embaixador Celso Amorim,
400
30 reconheceu que o Brasil precisa ter for-
11 de setembro ça e capacidade dissuasória e que, por-
de 2001 tanto, não seria possível conceber uma
300 realidade de Brasil potência sem consi-
20
derar seriamente a defesa nacional.
Turquia
200
China
10 México
VEJA TAMBÉM:
100 Rússia Ameaças globais p. 48
Labmundo, 2014

R. Unido Áf. do Defesa e segurança p. 90


Brasil Sul
Energia e infraestrutura p. 92
1988 2000 2012 1988 2000 2012 Novas coalizões p. 106
Fonte: SIPRI, 2014b.

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 47
Ameaças globais e Desenvolvimento (1992), a cons-
cientização ecológica aumentou, mas
também se ampliou o leque de crises

e transnacionais produzidas pela ação humana sobre


a natureza. O aumento do nível dos
mares pode comprometer territorial-
mente alguns Estados. Outros tipos de
ameaças ambientais dizem respeito à
escassez de recursos (água, terra arável,
por exemplo) e ao incremento do nú-
mero de refugiados ambientais.

O Brasil não está imune a essas amea-


Em um mundo concebido em ter- para celebrar os acordos. Hoje, muitas ças transnacionais, uma vez que possui
mos de anarquia e interesses estratégi- ameaças ao território dos Estados são extenso território, é rico em diversi-
cos, a defesa e a segurança dos Estados dessa natureza, uma vez que os con- dade ecológica, em recursos minerais,
sempre estiveram no centro das rela- litos e as ingerências seguem acon- lorestas e água doce. O controle sobre
ções internacionais e dos debates so- tecendo, como no caso da invasão ao o acesso a tais recursos tem-se torna-
bre política externa. No entanto, a Iraque em março de 2003 ou da crise do, cada vez mais, um tema de segu-
natureza dos problemas de seguran- na Criméia em 2014. No caso do Bra- rança. Da Amazônia verde à Amazônia
ça e defesa mudou com o advento das sil, a maioria dos conlitos territoriais azul as Forças Armadas têm sido mobi-
bombas nucleares, a aceleração da in- se concentrou no século XIX. No sécu- lizadas e demandam sua modernização
terdependência econômica, os avan- lo XX, o país participou das duas gran- a im de lograr responder à altura aos
ços tecnológicos da globalização, com des guerras, mas a ameaça de invasão desaios de proteção do território e dos
o crescimento dos problemas trans- territorial era distante e não provocava interesses nacionais. As ameaças evo-
nacionais ligados à crise ambiental, receios maiores entre os membros da luíram também com a própria noção
ao narcotráico e às guerras cibernéti- elite governante. de riquezas potenciais do território dos
cas, por exemplo. A partir do momen- Estados: não somente é necessário pro-
to em que as ameaças se diversiicaram, No entanto, com o inal da ordem da teger os cidadãos e os recursos minerais
ao mesmo tempo, transformaram-se o Guerra Fria têm-se multiplicado os clássicos ixados ao território nacional
conteúdo, o escopo e a escala das po- sentidos e as expressões materiais da
líticas nacionais de defesa. Em alguns ameaça. As ameaças também são de
casos, os temas de defesa passaram in- natureza transnacional, relacionadas, CIBERSEGURANÇA
clusive a fazer parte da agenda de co- por exemplo, a diferentes formas do Top 10 de origens de ataques via internet ou por
meio de HTTP em 2013 (em % do total mundial)
operação dos Estados, a exemplo da crime organizado (narcotráico, trái- 5 15 25
Política Externa e de Segurança Co- co de seres humanos) e às crises ecoló- China
mum da UE e do Conselho de Defe- gicas (mudanças climáticas, aumento EUA
sa da Unasul. dos níveis dos oceanos). No caso da Holanda
crise ambiental, a dimensão transna- Reino
Tradicionalmente, a principal amea- cional é ainda mais evidente: chuvas Unido
Rússia
ça à integridade territorial dos Estados ácidas, emissões de gases de efeito es-
Vietnã
provinha da ação militar de outros Es- tufa, poluição dos rios, contaminação
tados. Os exércitos estrangeiros consti- dos oceanos, entre outros, são proble- França

tuíam a principal ameaça à soberania mas que atravessam as fronteiras na- Brasil

dos Estados e às suas sociedades nacio- cionais e produzem impacto no médio Índia

nais. As metáforas mais citadas sobre e longo prazos. Desde a Conferência Japão

os atores das relações internacionais gi- de Estocolmo sobre Meio Ambiente Fonte: Symantec, 2014.
ravam em torno do soldado e do diplo- Humano (1972) até a Conferência do
mata: um para fazer a guerra e o outro Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente
Top 10 de origem de ataques via Bot*, em 2013
(em % do total mundial)
5 15 25
CIBERSEGURANÇA EUA
Combate a crimes cibernéticos, em 2013
China
Itália
Taiwan
Brasil
Japão
Hungria
Alemanha
Crimes combatidos por Espanha
instituições militares
Canadá
Labmundo, 2014
Labmundo, 2014

Crimes combatidos por


instituições civis *Ataques por meio de programas maliciosos que
comprometem os computadores e permitem que o
1000 km Sem dados invasor controle o sistema infectado de um ponto remoto.
disponíveis
Fonte: UNIDIR, 2013. Fonte: Symantec, 2014.

48 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?

EMISSÕES DE DIÓXIDO DE CARBONO EMISSÕES DE CO2


Em bilhões de toneladas de m³, entre 1992 e 2010 Em tonelada per capita, em 2009

1 bi
0,5 bi

0,25 bi

40,3
6
11
6

Labmundo, 2014
1
China
0
1000 km
Sem dados
Fonte: Banco Mundial, 2009. disponíveis

Índia
(petróleo, gás, ouro, diamante, ferro, de CO2, as diferentes formas de pira-
etc.), mas também os recursos naturais taria, as invasões virtuais (via internet),
que passaram a ganhar valor agrega- as doenças e os tráicos transnacio-
do graças à própria evolução das fron- nais. O alargamento do sentido e do
teiras da “economia verde” (recursos conceito de segurança é acompanha-
Brasil biogenéticos, lorestas, mares). A bio- do pela necessidade de pensar-se tan-
pirataria e a obtenção de certiicados to a dimensão objetiva (tamanho dos
de propriedade intelectual (como no exércitos inimigos, número de ogivas
caso do arroz basmati pela Ricetec, do nucleares de que dispõe o inimigo)
África do Sul cupuaçu pela empresa japonesa Asahi quanto a dimensão subjetiva da ame-
Food) são exemplos típicos dessas “no- aça, ou seja, a percepção da ameaça e
vas” ameaças aos interesses e potenciais dos riscos existentes pela sociedade e
ganhos econômicos dos Estados. pelos tomadores de decisão.

México É claro que os agentes das ameaças Outro desaio importante colocado
transnacionais são cada vez mais di- ao Estado brasileiro diz respeito à di-
versiicados, muito frequentemente mensão doméstica da segurança: as
ligados ao mercado e ao mundo das ameaças podem ter origem dentro do
EUA
corporações, cujas ações podem gerar próprio território nacional. Nesse caso,
impacto muito negativo sobre o meio podem ocorrer inclusive comporta-
ambiente. No entanto, também po- mentos abusivos de controle do Estado
dem ser grupos e indivíduos vincula- sobre a sociedade, chegando a conigu-
Japão
dos a diferentes formas de terrorismo e, rar, em alguns casos, claras violações
por motivações totalmente distintas, a dos direitos humanos. Uma política de
ONG e movimentos sociais libertários segurança, ao almejar o controle total
Itália que militam contra o controle não de- dos riscos e das ameaças, pode incor-
mocrático do Estado sobre a ação dos rer em abusos e violações de direitos. A
indivíduos. O caso de Edward Snow- política de defesa do Estado nacional
França den revela essa dimensão do risco as- deve equacionar as tensões potenciais
sociado aos atos praticados por um resultantes do imperativo de seguran-
indivíduo, mais precisamente um an- ça e do respeito às liberdades individu-
Reino Unido tigo funcionário da CIA. ais e aos direitos humanos. Esse é um
dilema da ação doméstica e externa do
Essa multiplicação de agentes faz com Estado. A resposta institucional à ame-
que o conceito de segurança se torne aça terrorista adotada em alguns países
Alemanha
cada vez mais abrangente: de seguran- ocidentais (por exemplo, no caso da
ça nacional (conceito de triste lem- Lei Patriota nos Estados Unidos) ilus-
brança na América do Sul durante as tra perfeitamente essas tensões e não
ditaduras militares) à segurança regio- deveria servir de modelo de política
Rússia
nal, de segurança coletiva à segurança pública de segurança ao Brasil.
humana. Os debates sobre tais concei-
tos estão longe de produzir consenso,
mas convergem no sentido de que são VEJA TAMBÉM:
os próprios agentes estatais que geram
Labmundo, 2014

Matriz energética e meio ambiente p. 34


1992 2010
a insegurança dos Estados. No entan- Biodiversidade p. 40
to, são ameaças igualmente importan- Defesa e segurança p. 90
Fonte: CDIAC, 2013.
tes as catástrofes naturais, as mudanças Governança global p. 108
climáticas provocadas pelas emissões

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 49
Cultura como a rede de Institutos Culturais e Cen-
tros de Estudos Brasileiros no exte-
rior, bem como repassar os recursos

soft power necessários às atividades de divulgação


cultural. No âmbito multilateral, am-
bos os ministérios são fundamentais
na atuação brasileira junto à Unesco.
No plano dos estados e dos municí-
pios, algumas secretarias podem ter pa-
pel mais destacado no campo cultural
(como nos casos de São Paulo, Rio de
Janeiro e Bahia).
CINEMA NACIONAL E ESTRANGEIRO NO BRASIL
Público entre 2009 e 2012, Títulos lançados entre 2009 e 2012 Renda (em milhões de reais) São exemplos de iniciativas organi-
em milhões de expectadores zadas pelo Brasil o festival de cinema
lusófono, o concurso Itamaraty de
curta-metragem, as mostras de cine-
419,4 EUA 4 179,1 ma brasileiro (o Itamaraty em coorde-
nação com a Embrailme), o Ano do
Brasil 660,5
Brasil na França em 2005, os apoios à
72,4
capoeira na América Latina, a promo-
ção da cultura no seio da CPLP, mos-
4,7 França 51,6 tras de artes plásticas, a edição das
revistas Cultura Brasileña e Brasil Cul-
6,9
Reino 72,9 tura (respectivamente, pelas embaixa-
Unido
das em Madri e Buenos Aires), etc. A
política cultural brasileira no exterior
1,1 Argentina 11,8
Labmundo, 2014
é abundante em projetos, muito em-
bora peque por escassez de recursos e
2,4 Espanha 26,8 excessiva fragmentação das iniciativas.
100 200 300 400 500
A diplomacia cultural seria, assim, ins-
Fonte: Ancine, 2013.
trumento da inserção externa do Brasil,
devendo contribuir para consolidar a
identidade nacional, reforçar a aproxi-
A noção de soft power, o poder brando identidades e podem fazer da diploma- mação dos povos em torno de um pa-
dos Estados, pode ser deinida como a cia cultural uma ferramenta de comu- trimônio comum e evitar, ao mesmo
capacidade de atrair ou seduzir indiví- nicação e de política externa. No caso tempo, que as programações culturais
duos e grupos para o lado que se este- do Brasil, literatura, música popu- sejam meras ferramentas de trabalho.
ja defendendo sem o uso da coerção. lar brasileira, bossa nova, samba, car- A diplomacia cultural deve constituir
No caso da política externa, trata-se de naval, novelas, esportes (o futebol, em prioridade política e, consequente-
convencer outros países a querer o que particular), capoeira e jiu-jitsu brasi- mente, receber recursos, inanceiros e
o seu próprio país está buscando, sem leiro, cinema ou ainda a organização humanos, que sejam condizentes com
a necessidade de ordenar ou coagir por de eventos culturais, entre outros, fa- a sua função.
meios militares ou econômicos. A bar- zem parte do conjunto de vetores e ins-
ganha e a negociação são elementos trumentos culturais que projetam uma É evidente que o uso diplomático da
constitutivos do poder brando, consi- imagem sobre o Brasil no plano inter- cultura parte de visões oiciais sobre
derado a outra face do hard power. Se- nacional. Algumas dessas imagens po- a identidade de uma sociedade nacio-
riam três as suas principais fontes: a dem se converter em clichês. nal. A diplomacia cultural relete o uso
cultura (que pode ser atraente e exercer especíico da relação cultural para ins
fascínio sobre indivíduos e sociedades O Itamaraty e o Ministério da Cultu- de natureza não somente cultural, mas
de outros países), os valores políticos ra são, no âmbito federal, os principais também político, comercial ou econô-
(democracia, direitos humanos, boa promotores da diplomacia cultural mico. Ademais, tende a existir uma re-
vizinhança, justiça social, etc.) e a di- brasileira. O Ministério da Cultura lação muito estreita entre a diplomacia
plomacia (desde que considerada legí- atua por meio de sua Diretoria de Re- e a alta cultura, ainda que de manei-
tima e portadora de alguma forma de lações Internacionais. A Diretoria e o ra implícita e tácita. Nesse processo, o
respeitabilidade e autoridade moral). Departamento Cultural do Itamara- que o Estado brasileiro procura proje-
ty trabalham juntos na divulgação in- tar, em última instância, são seus va-
Dessas três fontes, a cultura talvez seja ternacional da cultura brasileira e da lores, interpretados por aqueles que
a mais descentralizada e com grande língua portuguesa. Além disso, o Ita- concebem e implementam as políticas.
capilaridade nas sociedades. Ademais, maraty negocia acordos, desempenha É claro que a existência de um regime
suas fontes e capacidades de produ- atividades de organização e estabele- democrático e a variável doméstica as-
ção se encontram em vários agen- ce contatos com vistas à realização de sociada à coalizão político-partidária
tes, no mercado, na sociedade e nas eventos culturais. Ainda é da com- no poder inluenciam o processo de-
próprias políticas públicas. Os Esta- petência do Departamento Cultural cisório sobre que tipo de cultura e de
dos projetam no plano externo suas do Itamaraty acompanhar e orientar identidade cultural promover no plano

50 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?

DIPLOMACIA CULTURAL BRASILEIRA NO MUNDO É por isso que deve fazer parte da di-
Manifestações culturais com apoio do Itamaraty, em 2013 plomacia cultural brasileira não apenas
combater esses clichês, mas sobretu-
do disseminar fatos históricos e fenô-
menos culturais desconhecidos pelo
público ou pouco acessíveis no exte-
rior. Durante o Ano do Brasil na Fran-
ça, por exemplo, foram organizados
seminários e exposições sobre a heran-
ça africana no Brasil, tecnologias de
Total de eventos
ponta ligadas à aviação, diversidade
Centros Culturais cultural, arte modernista, ballet con-
Brasileiros
1000 km 6 3 Quantidade
temporâneo, políticas públicas e inser-
1 de eventos ção internacional.

Manifestações culturais por tipo de evento com apoio do Itamaraty, em 2013 Finalmente, não se pode esquecer que
Música Cinema os meios de comunicação e a mídia
têm uma posição importante como
instrumentos de inluência global. A
radiodifusão internacional, durante a
Guerra Fria, havia se tornado parte in-
tegrante da agenda de política externa
1000 km 1000 km dos EUA. O controle sobre as ondas
Literatura Gastronomia de rádio, por exemplo, foi objeto de
intensa disputa Leste-Oeste.

Hoje, com a globalização da televisão


e das telecomunicações, com a desre-
gulamentação e digitalização da co-
1000 km 1000 km municação e a entrada de prestadores
Artes plásticas Dança privados de grande envergadura, a pai-
sagem se transformou profundamen-
te. Existem vários tipos de novos meios
de comunicação, alguns provenientes
de países europeus com base em velhos
padrões coloniais, que convivem com
Labmundo, 2014

Quantidade
1000 km
de eventos: 1000 km outros conteúdos mais recentes de pa-
4 3 2 1 íses do Sul, como nos casos da Telesur
Fonte: Itamaraty, 2013c. e da indústria de televisão no forma-
to de telenovela que se espalhou para a
maioria dos países da América Latina
internacional. Além disso, dependen- os estereótipos frequentemente asso- e da África (PALOP), bem como nos
do naturalmente do peso político de ciados à identidade do país – muitos continentes asiático e europeu.
um Estado, de sua importância histó- dos quais, de natureza sexista e discri-
rica global e regional, esses valores po- minatória, veiculam imagens de um
dem ter maior ou menor capacidade país de praias, mulheres lindas, liber- VEJA TAMBÉM:
de inluência e irradiação. dade sexual, samba e carnaval. É bem Pluralismo étnico p. 24
verdade que, quando diplomacia cul- População e diversidade p. 42
Por meio da diplomacia cultural, o go- tural e interesses de mercado se com- Futebol e esportes p. 52
verno brasileiro procura difundir valo- binam, essas distinções entre valores Religião p. 56
res culturais que coloquem em xeque e estereótipos se tornam menos claras.

LUTAS E CULTURA
Grupos brasileiros de capoeira no exterior, em 2013 Academias brasileiras de jiu-jitsu no exterior, em 2013
Labmundo, 2014

Quantidade
Quantidade
de academias
de grupos
211
124
30
46 1
18 1000 km 1000 km

Fonte: Itamaraty, 2013d. Fontes: Sítios na web das academias, 2014

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 51
País do futebol, BRASIL NAS OLIMPÍADAS
Evolução da posição brasileira no ranking, entre
1984 e 2012

vôlei e talentos
Olimpíadas

*Los Angeles

Barcelona

Londres
Pequim
Sydney
Atlanta

Atenas
1984

1988

1992

1996

2000

2004

2008

2012
Seul
individuais 19
24 25 25
16
23 22

52
Desde a segunda metade do século XX, internacional, muitos jogadores des-
o Brasil tem sido reconhecido pelo seu pontam e são lembrados com carinho 1
8
1
6
2
3
3
15
0
12
5
10
3
15
3
17
desempenho esportivo, devido, prin- na memória de torcedores dos clubes
cipalmente, à seleção masculina de fu- de diversos países. Essa imagem posi-
Parolimpíadas
tebol. Os cinco títulos mundiais, as tiva pode gerar capacidades imateriais 9 8
seleções de 1970 e de 1982, assim como para o país, por facilitar as interações
14
alguns craques, podem ser citados para entre as pessoas e entre as instituições.
explicar essa imagem brasileira no ex- O esporte pode, portanto, ser usado
terior. E isso apesar da recente derro- como um instrumento da política ex- 24 25 24

ta frente à Alemanha na Copa de 2014. terna brasileira, de modo a suprir, é


32
Não é raro jogadores de futebol brasi- claro que muito parcialmente, a fal-
37
leiros terem reconhecimento interna- ta de capacidades materiais em outros
cional. Edson Arantes do Nascimento âmbitos. É o caso, por exemplo, do 7 4 3 2 6 14 16 21
28 28 7 21 22 33 47 43
(Pelé) é apontado por diferentes espe- “Jogo da Paz”, quando a seleção brasi-
*As Parolimpíadas de 1984 foram disputadas em Nova York
cialistas como um dos melhores joga- leira enfrentou a seleção do Haiti em
10 Posição do Brasil no ranking de países
dores de futebol de todos os tempos, 2004, em Porto Príncipe. Os clubes de
Arthur Antunes Coimbra (Zico) tem futebol brasileiros são menos conhe- 8 Quantidade de medalhas de ouro

estátuas no Brasil, no mundo árabe e cidos mundialmente, embora existam 6 Quantidade total de medalhas
Fonte: Sítio web da COI, 2013
no Japão, assim como as camisas “ama- indícios de que isso esteja mudando
relinhas” da seleção de futebol são (com a abertura de escolas de clubes Esportes que mais deram medalhas ao Brasil,
vendidas ao redor do mundo como brasileiros em países sul-americanos e até 2014
símbolo do “futebol-arte”. com a inclusão em contratos de forne- Vôlei 20 6

cedores esportivos de cláusulas que ga- Judô 19 3


Não somente os craques do futebol rantam venda e publicidade mundial).
Vela 17 6
contribuem para a imagem do país.
Os jogadores brasileiros passaram a ser Apesar de o Brasil despontar como o Atletismo 14 4
um produto de exportação de serviços “país do futebol”, outros esportes, além Natação 13 1

Labmundo, 2014
para diversos países países africanos, do futebol masculino, renderam essa
árabes, asiáticos, europeus e america- imagem positiva. É o caso de Marta Futebol 7 Total de medalhas

nos. Ainda que o futebol brasileiro te- Vieira da Silva, eleita por cinco vezes a Basquete 6 Medalhas de ouro

nha perdido a hegemonia no cenário melhor jogadora pela FIFA; de Ayrton Fonte: Sítio web da COI, 2013.

GRANDES EVENTOS ESPORTIVOS


Concentração dos grandes eventos esportivos entre 1900 e 2014

123
Cidades olímpicas

Sediou a Copa FIFA uma vez


Labmundo, 2014

Sediou a Copa FIFA duas vezes 1000 km

1000 km *Japão e Coreia sediaram


uma copa juntos
**Eventos realizados
Fontes: Sítios web da COI, 2013; e da FIFA, 2013. e aprovados

52 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?

ESCOLA BRASILEIRA DE FUTEBOL NO MUNDO Daniel Dias, que conquistou um total


Jogadores atuando em clubes estrangeiros da primeira divisão, em maio de 2013. de 10 medalhas de ouro, quatro de pra-
ta e uma de bronze em Londres e em
Pequim.

Essa imagem do Brasil no exterior, por


meio do esporte, contribuiu para que
o país tenha sido escolhido, em 2014,
Quantidade pela segunda vez, para sediar a Copa
de jogadores do Mundo FIFA. Além disso, o Rio
de Janeiro, com um forte apoio popu-

Labmundo, 2014
88
30
10
1
*O círculo verde lar, foi eleito sede dos Jogos Olímpicos
representa a quantidade
1000 km
de jogadores estrangeiros de 2016. Além de ganhar visibilidade,
Fonte: Sítio web da FIFA, 2013. que jogam no Brasil. o Brasil espera que esses eventos es-
portivos impulsionem a economia do
país, em termos de investimentos, mas
Senna, no automobilismo; de Gustavo o Brasil frequentemente tem desem- também nos setores do turismo, do co-
Kuerten, no tênis; de Oscar Schmidt, penho inferior nos Jogos Olímpicos mércio, entre outros. Apesar dessa ex-
no basquete; de Anderson Silva e de em relação a países com menor de- pectativa, grande parte da população
José Aldo, nas lutas marciais; de Gil- mograia e com economias menos se mostrou insatisfeita com os resul-
berto Amaury de Godoy Filho (Giba), dinâmicas (Hungria, Coreia do Nor- tados parciais desses investimentos e
no vôlei; etc. Todavia, o futebol ten- te, Cazaquistão, Cuba, Jamaica, etc.). aproveitou a visibilidade desses gran-
de a concentrar grande parte da aten- Cabe ressaltar, também, que o Bra- des eventos para ir às ruas a im de pro-
ção dos brasileiros e dos investimentos. sil não conquistou nenhuma meda- testar e contestar quais seriam os reais
Essa preferência popular pelo futebol, lha nos Jogos Olímpicos de Inverno, benefícios que a população terá com a
associada à falta de eiciência política dos quais participa, tradicionalmente, realização dessas competições no país.
das federações e de vários níveis do go- com delegação reduzida, e isso apesar Entre as principais reclamações estão
verno, explicam em parte a ausência da desvantagem geográica. a falta de investimentos em educação,
de investimentos mais signiicativos mobilidade e saúde (diante dos expres-
em outros esportes. O esporte é, mui- O Brasil depende de resultados prin- sivos gastos com novos estádios de fu-
tas vezes, visto pela população caren- cipalmente em esportes individuais, tebol) e remoções em grande escala de
te como um recurso para conquistar como natação, vela, judô e atletismo, comunidades (obras de infraestrutura).
estabilidade econômica. Consequen- para garantir uma posição melhor no
temente, o Brasil vive de talentos indi- quadro de medalhas nos Jogos Olím-
viduais que conseguem driblar a falta picos. Os esportes brasileiros que mais VÔLEI BRASILEIRO
Medalhas no World Grand Prix /FIVB (feminino),
de investimentos, de infraestrutura e contribuíram com medalhas foram o em 2014
de apoio aos atletas nacionais. judô e a vela, que somente são supera- 16
dos pelo vôlei (se considerarmos as mo- 14 Total de medalhas
12
Esse fator pode ser usado para expli- dalidades de vôlei de quadra e de areia 10
Medalhas de ouro
car por que o Brasil não é uma po- na mesma categoria). Em curva ascen- 8
tência olímpica. Apesar de números dente desde a geração que conquistou 6
demográicos e econômicos expressi- a prata olímpica em 1984 (masculino), 4
2
vos, esses resultados não conseguem o esporte de quadra tem dado grandes
ser traduzidos em um melhor desem- títulos ao Brasil, tanto no masculino
ia

ha
ia

ia
ba

Ho a
A

a
il

l
in
ss

rv
nd
EU
as

Itá

an
Cu

Ch


Br

penho do esporte brasileiro. A despei- quanto no feminino. As seleções bra-


la

em
Al

to de ter uma população signiicativa e sileiras são as maiores vencedoras dos


ser um dos 10 maiores PIB do mundo, torneios internacionais, assim como Medalhas na World League/FIVB (masculino), em
estiveram presentes em cinco das últi- 2014
mas seis inais olímpicas, nos Jogos em 18
16
JOGADORES ESTRANGEIROS Atenas, em Pequim e em Londres. Na 14
Atuando em times da Série A, em 2013
modalidade de areia, o Brasil também 12
10
Colômbia
se destaca, desde a primeira olimpíada, 8
A

em Atlanta, quando a inal da modali-


EU

6
d
a

Labmundo, 2014

Equador Ho
la n dade feminina foi disputada por duas 4
2
Espa
nha duplas brasileiras.
il

lia

ia

ba

Ho A

ia

ça
as

nd

ni
EU
ss

rv

an
Itá

Cu

Peru

Br


la

China
Fr
Po

Bolívia Outro expoente do esporte brasilei- Fonte: Sítio web da FIVB, 2013.

Ang
ro são os resultados obtidos nas Pa-
Paraguai o la
raolimpíadas. Apesar da falta de um
Quantidade
apoio mais substancial e de visibilida- VEJA TAMBÉM:
Chile
Uruguai de jogadores de, os atletas paraolímpicos brasilei- Turismo p. 54
ros apresentam resultados animadores,
Labmundo, 2014

Argentina Religião p. 56
1 2 4 o que coloca o país entre os 10 pri- Cooperação p. 110
500 km meiros no quadro de medalha. Mui- Cooperação em educação p. 114
Fontes: Sítio web da CBF, 2013; e da FIFA, 2013. to disso se deve, também, ao nadador

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 53
Turismo e do Turismo, desde os anos 2000, a
quantidade de turistas estrangeiros no
país oscila entre 5 e 6 milhões de in-

imagem nacional divíduos. Com esses valores, o país re-


cebe menos turistas que locais como
Catalunha, Tunísia e Vietnã.

Boa parte das explicações possíveis


para esse fato se encontra na distân-
cia dos principais polos emissores de
turistas (o turismo internacional é
principalmente de fronteira) e no alto
custo de hotéis e passagens domésticas.
O turismo é um dos setores econômi- A identidade nacional do Brasil está Além disso, o país tem conexões turís-
co que ganharam grande importância fortemente conectada à ideia de um ticas deicitárias com o exterior e mui-
nas últimas décadas. Estudo realizado país paradisíaco, sedutor aos estran- to concentradas em poucas cidades,
pelo Fórum Econômico Mundial em geiros e culturalmente aberto ao novo. como o Rio de Janeiro e São Paulo.
2007 indica que, entre 1950 e 2004, as Na imprensa internacional e em mí-
receitas internacionais com o turismo dias sociais é comum que o país, suas
aumentaram de 2,1 bilhões para 723 bi- cidades ou alguns de seus atrativos tu- CONTA TURISMO
lhões de dólares. No ano de 2006, o se- rísticos sejam classiicados entre os pri- em bilhões de dólares, entre 2000 e 2012
25
tor foi responsável por 10,3% do PIB meiros no mundo ou como “o lugar do gastos de brasileiros no exterior
20
mundial e por 8,2% do total de empre- momento a ser visitado”.
gados no mundo. O turismo é apon- 15

tado como possível ferramenta de Apesar disso, o Brasil está inserido nos 10

desenvolvimento econômico e social luxos turísticos internacionais de ma-

Labmundo, 2014
5
para países em desenvolvimento e fa- neira periférica. A recepção de turistas gastos de estrangeiros no Brasil
cilitador do intercâmbio entre cultu- estrangeiros é relativamente modesta 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012
ras e empoderamento de comunidades e teve na última década um aumento Fonte: Ministério do Turismo, 2013a.
locais. tímido. Segundo dados do Ministério

TURISMO MUNDIAL
Chegada de turistas estrangeiros, em 2012 (em milhares de indivíduos) Total de turistas internacionais, entre
1950 e 2020 (em milhões)

1800
1600
1400

1000

800
Maiores destinos
200
1. França 83,0 25
2. EUA 67,0 83 1950 1980 2000 2020*
3. China 57,7 57
4. Espanha 57,7 35
5. Itália 46,4 22 *previsão

1000 km ... 5
38. Brasil 5,7

Receitas do turismo internacional, em 2012 (em bilhões de dólares) Receita cambial, entre 1999 e 2012
(em bilhões de dólares)

Maiores receptores
1.042
1.075

1. EUA 126,2
445
475
472
474
525
633
680
745
860
944
855
930

2. Espanha 56,0
2000 2004 2008 2012
3. França 53,7
Labmundo, 2014

4. China 50,0
5. Macau 43,7
1000 km ...
35. Brasil 6,7
30 10 5 1 0
Fontes: UNWTO, 2013; Ministério do Turismo, 2013b.

54 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?

A distância da Europa, dos Estados TURISTAS ESTRANGEIROS NO BRASIL


Países emissores de mais de 100 mil turistas para o Brasil, em 2011
Unidos e da Ásia faz com que turis-
tas desses países preiram estadas mais
longas, realizadas em várias cidades
brasileiras. Enquanto o Brasil apre-
senta problemas como infraestrutura e
longas distâncias, os demais países da
América do Sul tornam-se competiti- Principais emissores:
Argentina 1.593.775
vos por terem atrativos turísticos mais EUA 594.947
próximos uns dos outros. Uruguai 261.204
1,593 0,594 0,261 0,183 Alemanha 241.739
O Brasil adota por lei uma política de Itália 229.484

Labmundo, 2014
reciprocidade em que se exigem vistos
daqueles países que possuem a mes-
ma obrigação para brasileiros. Desse Fonte: Ministério do Turismo, 2013a.
modo, turistas americanos enfrentam
um trâmite maior para vir ao Brasil, o
que reduz o luxo de um dos princi- elevados gastos no exterior. O turis- Segundo dados da Euromonitor In-
pais polos emissores de turistas. Des- mo realizado por estrangeiros no Brasil, ternational, a ida de turistas brasileiros
se modo, um americano em busca de porém, contribui para algumas maze- para o exterior apresentou aumento
uma viagem de praia pode encontrar las do país, como a prostituição (sobre- exponencial na última década. Esse fe-
no Caribe, e não no Brasil, um desti- tudo infantil), a descaracterização dos nômeno se relete no grande aumen-
no com melhor infraestrutura turística, hábitos de comunidades tradicionais, to dos gastos dos turistas brasileiros
menor tempo de deslocamento, me- e serve de justiicativa para investimen- no exterior, que, associado a uma es-
nos burocracia e preços equivalentes. tos públicos preferencialmente nas áre- tagnação dos gastos de turistas estran-
as nobres dos municípios brasileiros. geiros no Brasil, fez com que a conta
Além disso, as políticas de promoção turismo do país apresentasse déicit
do Brasil no exterior são marcadas pelo As recentes transformações econômi- crescente. Recentes medidas tomadas
baixo interesse em atrair grupos asi- cas e sociais têm feito do país uma re- pelo governo brasileiro, como o au-
áticos, em especial chineses, que são gião mais para emissão de turistas do mento de impostos sobre transações
uma força emergente no setor e têm que de recepção. O setor é bastante de- em cartão de crédito no exterior e o au-
pendente do mercado doméstico. E mento do IOF, têm buscado contro-
no exterior, os brasileiros se destacam lar esse aumento do consumo além das
TURISTAS BRASILEIROS pelo seu poder de consumo em cidades fronteiras.
Viagens domésticas (em milhões de viagens)
como Paris e Nova York. O turismo
2005 138,71 doméstico no Brasil tem apresentado Os destinos preferidos por brasilei-
2006 147,10
altas taxas de crescimento, acompa- ros no exterior estão concentrados
nhando a inserção de largas parcelas em poucas regiões, principalmente na
2007 156,00 da população em um novo padrão de América do Norte, na Europa Ociden-
2008 165,43 consumo. Em pesquisa realizada no tal e no Cone Sul. Por sua vez, EUA
2009
inal de 2013 pelo Ministério do Tu- e Argentina são, respectivamente, os
175,44
rismo, a quantidade de pessoas que dois principais destinos dos turistas
pretendiam viajar pelo Brasil (72,7%) brasileiros no exterior. Entre as cida-
Total estimado de viagens brasileiras ao exterior
(em milhões de viagens) foi três vezes maior do que os que dese- des, destacam-se Nova York e Miami,
11 javam um destino no exterior (24,7%). Paris e Roma, assim como Buenos Ai-
7,5 8,3
2,2
Dos que miravam o turismo domésti- res e Santiago do Chile.
co, mais da metade (53,7%) escolheu
Labmundo, 2014

2002 2011 2012* 2013* a região Nordeste, que vem ganhan-


*estimativa
do peso cada vez mais signiicativo nos MAIORES DESPESAS EM TURISMO
Fontes: Ministério do Turismo, 2013b; Canadian Tourism Em 2013, em bilhões de dólares
Comission, 2012. luxos turísticos brasileiros. China 102
Alemanha 83,8
EUA 83,5
RUMO AO EXTERIOR Inglaterra 52,3
Rússia 42,8
Viagens internacionais de brasileiros, em 2012 (por milhares de indivíduos)
Labmundo, 2014

França 37,2
Canadá 35,1
Japão 27,9
Austrália 27,6
Itália 26,4
Fonte: UNWTO, 2013.

Maiores destinos:
VEJA TAMBÉM:
1. Estados Unidos
2. Argentina Globalização e nova ordem p. 22
1.017
Labmundo, 2014

3. França 909 Logística p. 32


4. Portugal
Demais países 5. Itália 432 Ação internacional das cidades p. 68
265 1000 km
Brasileiros no exterior p. 76
Fonte: Euromonitor International, 2012.

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 55
Pluralismo BRASILEIROS NA FÉ
Evolução da religião entre os brasileiros, entre 1870
e 2010

religioso
Total de praticantes,
em milhões de fiéis
123,4

42,4

3,8

Católicos

A coniguração religiosa brasileira é um contextuais, a realidade do catolicis-


elemento que contribui para o atual mo nesses países em desenvolvimen- Evangélicos
processo de internacionalização de sua to, em geral, é de hegemonia, mas com
sociedade. Os movimentos religiosos uma participação relevante de outros
brasileiros fazem parte de dinâmicas grupos religiosos, fazendo com que
internacionais que favorecem a inlu- os principais países católicos do mun- Sem religião
ência externa no cotidiano domésti- do não possuam porcentagens da sua
co, bem como o impacto de nacionais população católica acima de 90%. A
no exterior. Apesar de as pesquisas de importância da religiosidade entre os
opinião pública indicarem uma im- países do Sul e a expansão de suas po- Outros
portância levemente declinante no pulações faz com que o atual panora- Espíritas
conjunto da população, com o acrésci- ma religioso, em termos mundiais, seja

Labmundo, 2014
Candomblé
e Umbanda
mo do número de ateus nas estatísticas caracterizado pela tendência ligeira-
mais recentes, o âmbito espiritual ain- mente ascendente no número de in-

70

90

40

60

80

20 0
10
0
18

19

19
18

19

20
da é fundamental para compreender as divíduos que se airmam e consideram Fonte: IBGE, 2013a.
dinâmicas sociais no país. religiosos.

O Brasil é historicamente de maioria No caso do Brasil, a religião católica Participação de fiéis em relação ao total da
população, em 2010
católica, identidade em relativo declí- tem passado por relativo declínio. Os 64,6 %
nio em especial pela maior presença grupos de iéis católicos têm uma das
de grupos religiosos evangélicos e neo- médias de idade mais elevadas. Os pa-
pentecostais. O país é hoje a maior co- pados recentes promoveram políticas
munidade nacional católica do mundo, que pouco incentivam a participação
mas ainda assim com peso modesto na dos iéis nas comunidades religiosas,
alta cúpula do Vaticano. Por exemplo, principalmente quando o catolicismo 22,2 %
o país passou a ter seu primeiro santo é comparado a outras denominações.
nascido no Brasil somente em 2007, o Os católicos também seriam o grupo 8%
2,9 %
2%
paulista Frei Galvão. A Igreja católica que menos contribui inanceiramente 0,3 %

mantém seu grupo de iéis, cada vez para sua instituição. Tais aspectos, as- Labmundo, 2014
s

as

nd lé

s
ico

ico

tro

ba mb
a
rit
ig

Ou
l


Um do

mais, em países em desenvolvimento sociados à emergência dos pratican-


re

Es
Ca

an

e an
m
Ev

Se

e parece estar buscando reforçar a pre- tes de religiões evangélicas, são marca Fonte: IBGE, 2013a.
sença de jovens em suas maiores co-
munidades. Com essa perspectiva que
se poderia interpretar a visita do Papa CRISTIANISMO
Francisco ao Brasil (sua primeira via- Maiores comunidades católicas % da popopulação nacional % da população católica mundial
gem fora da Itália após sua eleição) e França 40.510.000 98,4 13,9
Itália
1910

35.270.000 99,9 12,1


a edição de um dos mais importantes Brasil 21.430.000 95,6 7,4
eventos católicos, a Jornada Mundial Espanha 20.350.000 99,9 7,0

da Juventude, na cidade do Rio de Ja- Polônia 18.750.000 77,1 6,4

neiro, em 2013. Maiores comunidades católicas % da popopulação nacional % da população católica mundial
Brasil 126.750.000 65,0 11,7

Se há cem anos as principais comu-


2010

México 96.450.000 85,0 8,9


Filipinas 75.570.000 81,0 7,0
nidades católicas do mundo eram no Estados Unidos 75.380.000 24,3 7,0
geral de países europeus, a tendên- Itália 49.170.000 81,2 4,6

cia atual é de redução da importância Maiores comunidades protestantes % da popopulação nacional % da população protestante mundial
do âmbito religioso nos países desen- Estados Unidos 159.850.000 51,4 20,0
volvidos. Isso afeta o peril do grupo
2010

Nigéria 59.680.000 37,7 7,5


de iéis da Igreja católica, aumentan-
Labmundo, 2014

China 58.040.000 4,3 7,2

do a importância de grandes países Brasil 40.500.000 20,8 5,1


África do Sul 36.550.000 72,9 4,6
do Sul, como Brasil, México, Colôm-
bia e Filipinas. Apesar das diferenças Fonte: Pew Research Center, 2011.

56 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
BRASIL, POTÊNCIA EMERGENTE?

PAPA MÓVEL RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA


Viagens pastorais de papas fora da Itália por ano, entre 1963 e julho de 2014 Praticantes de Umbanda, em 2010

1965 1975 1985 1995 2005 2015

Paulo VI João Paulo I João Paulo II Bento XVI Francisco


1963-1978 1978-1978 1978-2005 2005-2013 2013
x9 x 104 x 24 x3

O 1º Papa a sair da Itália Permaneceu somente Viajou mais Mesma média de viagens Fez sua primeira

Labmundo, 2014
em mais de um século 33 dias no cargo, de 1.167.000 km de J. Paulo II se comparados viagem fora da
e o 1º a viajar de avião. sem realizar viagens os períodos em que Itália para o Brasil
Ficou conhecido fora da Itália tinham a mesma idade
como “Papa Peregrino”
Viagens pastorais de Papas ao Brasil
Fonte: Vaticano, 2014. 300 km

importante do contexto religioso e formação, quanto nos seus processos


brasileiro. mais recentes. São religiões brasileiras,
Praticantes de Candomblé, em 2010
no sentido de terem sido fundadas no
De fato, o fenômeno mais expressi- país, mas estão envolvidas também em
vo da dinâmica religiosa brasileira na processos de internacionalização. Os
atualidade é a ascensão dos grupos re- espíritas, por exemplo, têm sua origem
ligiosos protestantes. De acordo com no livro publicado por Allan Kardec
dados do censo do IBGE, de 2000 a no século XIX, na França, e difundido
2010 houve uma expansão de 61% no amplamente no Brasil.
número de iéis. São grupos heterogê-
neos, sem necessariamente uma iden- As religiões de matriz africana são re-
tidade comum. Em geral, têm os iéis sultado do sincretismo religioso a par-
mais ativos em sua comunidade reli- tir da resistência cultural de africanos.
giosa. São muito inluenciados pela Não têm unidade institucional e, por
experiência evangélica nos Estados isso, apresentam grande variedade nas Quantidade de 300 km
Unidos , como se observa na inluên- suas práticas e mesmo deinições, algu- fiéis por município:
cia da música gospel. Destaca-se tam- mas das quais são majoritariamente re-

Labmundo, 2014
50.000 *Somente representados
bém o caráter missionário de muitos gionais, como o candomblé na Bahia 10.000 valores maiores a
5.000
desses grupos que colocam o país en- ou a macumba no Rio de Janeiro. No 1.000
1000 indivíduos.

tre os principais emissores do mundo caso do candomblé praticado na Bahia, Fonte: IBGE, 2010b.
de religiosos. as yalorixás e os babalorixás são iguras
reconhecidas internacionalmente, que
Esse grupo religioso possui uma di- servem de ponte espiritual e cultural sociais. O âmbito religioso não pode
nâmica demográica bastante particu- entre o Brasil e a África. ser ignorado pela política externa, em-
lar: em especíico, as igrejas evangélicas bora possa produzir contradições no
(como Assembleia do Reino de Deus, A importância da dimensão regional é futuro. O Estado brasileiro é constitu-
Universal, ou Igreja do Evangelho evidente em algumas religiões pratica- cionalmente laico, mas é inegável a in-
Quadrangular) têm a maior propor- das por grupos da Amazônia, do Piauí luência de alguns grupos religiosos na
ção de iéis com renda per capita in- e do Maranhão, onde além do sincre- política doméstica (em especial, em te-
ferior a um salário mínimo (63,7% do tismo católico e africano estão associa- mas relativos à liberdade da prática re-
total) e são predominantemente ur- dos elementos da cultura indígena. A ligiosa, ao diálogo entre as religiões e
banas, onde alcançam 13,9% do total umbanda, nascida no Rio de Janeiro à tolerância, ao ensino público da reli-
da população (em comparação com no início do século XX, é um exemplo gião, aborto e casamento homossexu-
12,2% dos que se identiicam com essa dessa complexidade e riqueza, por- al). Seria possível imaginar que os mais
vertente no total do país). A disper- quanto reúne elementos da cultura diversos atores religiosos passem a in-
são de evangélicos pelo território bra- indígena, africana e católica, associa- luenciar a política externa brasileira,
sileiro não é uniforme, havendo uma das a doutrinas do Espiritismo fran- por exemplo, em matéria de direitos
concentração na região Sudeste, em es- cês. Os ilhos de santo do candomblé humanos, na defesa de valores morais
pecial nas capitais e nas regiões metro- estão presentes essencialmente nas ci- no âmbito multilateral ou na busca
politanas de Rio de Janeiro, São Paulo dades de São Paulo, Rio de Janeiro e por maior liberdade de atuação religio-
e Belo Horizonte, Goiânia e litoral da no recôncavo baiano. Os praticantes sa de brasileiros no exterior?
região sul (em especial Paraná e Santa da umbanda têm presença maior no
Catarina). centro-sul do país, com destaque para
Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Gran- VEJA TAMBÉM:
Entre os espíritas e os praticantes de re- de do Sul. Diversidade cultural p. 24
ligiões de matriz africana (por exemplo, Itamaraty p. 60
umbanda e candomblé), podem ser O Brasil possui uma experiência re- Atores religiosos p. 74
lembradas algumas dinâmicas interna- ligiosa variada e dinâmica, recortan- Cooperação Sul-Sul: África p. 116
cionais relevantes, tanto na sua origem do distintos grupos culturais e classes

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 57
Capítulo 3:

ATORES
E AGENDAS

Enara Echart Muñoz


Enara Echart Muñoz
Muitos analistas consideram que a política externa brasileira é uma polí-
tica de Estado, marcada por continuidade, vinculada a um interesse na-
cional permanente e, dessa forma, protegida de influências políticas e
ideológicas, graças sobretudo à atuação do Itamaraty. Neste capítulo, o
argumento vai em outro sentido, ou seja, partimos da premissa de que a
formulação e a implementação da PEB se inserem na dinâmica política
das escolhas de governo (coalizões, barganhas, disputas, etc.). A PEB é o
resultado da ação do Estado e do governo no plano internacional. Ela
reage a mudanças no sistema internacional, relaciona-se diretamente com
a evolução das organizações multilaterais, responde aos desafios regionais,
porém a PEB não começa apenas onde termina a política doméstica. Os
atores e as agendas nacionais são de fundamental importância para enten-
der a nova configuração da política externa, principalmente no bojo dos
processos de globalização da economia e de democratização do Estado
brasileiro. Daí decorre a necessidade de analisar os atores e as agendas que
nos permitem compreender claramente esse sentido de mudança e, ao
mesmo tempo, confirmar a premissa aqui defendida de que a política
externa também deve ser tratada como política pública.
Itamaraty constituem, ao lado das Forças Arma-
das, a mais antiga e tradicional buro-
cracia do Estado brasileiro. Burocracia

e diplomacia implica rigor no processo seletivo, re-


gras com base no mérito para a pro-
moção de seus quadros, formação e
treinamento contínuos ao longo da

pública carreira, mas também normas hierár-


quicas que ordenam o aprendizado e
a socialização de seus agentes, criando
assim as bases sociais e culturais para o
reconhecimento mútuo no âmbito da
organização. O Instituto Rio Branco,
De acordo com a Constituição de 1988, participação nas negociações comer- fundado em 1945, é uma peça central
a política externa é da competência do ciais, econômicas, técnicas e culturais nessa arquitetura, uma vez que sele-
Presidente da República, que a dele- com governos e entidades estrangei- ciona e capacita os diplomatas brasilei-
ga ao Ministério das Relações Exterio- ras, a concepção e articulação dos pro- ros, deinindo critérios para progressão
res. As áreas principais de atuação do gramas de cooperação internacional, funcional na carreira a partir do nível
Itamaraty são a implementação das es- bem como a coordenação ou o apoio de terceiro secretário.
tratégias da política internacional se- a delegações, comitivas e representa-
gundo as diretrizes do Presidente, a ções brasileiras em agências e orga- A tradição da burocracia diplomáti-
condução das relações diplomáticas nismos internacionais e multilaterais. ca também tendeu, ao longo da Repú-
e a prestação de serviços consulares, a O Itamaraty e o corpo diplomático blica, a privilegiar alguns indivíduos
(sobretudo homens) oriundos de de-
terminadas famílias e classes sociais,
DIPLOMACIA PÚBLICA NA INTERNET em detrimento de uma representação
Facebook e as páginas oficiais dos ministérios, em 2014
Usuários que curtiram página oficial, em milhão de usuários Usuários falando sobre, em milhares mais plural e condizente com a reali-
EUA EUA dade social e demográica nacional. A
Índia Rússia competência na condução das rela-
França França
Reino Reino ções exteriores e na negociação dos
Unido Unido
Brasil Brasil interesses nacionais, reconhecida in-
Japão Índia ternacionalmente, construiu-se quase
Rússia Argentina exclusivamente com base na represen-
Argentina Japão
Espanha Espanha
tação das elites sociais, econômicas
África
do Sul
África
do Sul
e culturais. Essa realidade começou
0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 5 10 15 20 25 30 a mudar lentamente com a redemo-
*Os Ministérios das Relações Exteriores da Turquia e da China não têm canais oficiais no Facebook
Fonte: Páginas oficiais dos ministérios no Facebook.
cratização do Estado e graças à pres-
são social e política, principalmente a
YouTube e os canais oficiais dos ministérios, em 2014 partir de 2002, quando foi lançada a
Inscritos, em milhares de usuários Vídeos, em milhares Visualizações, em milhões Bolsa Prêmio de Vocação para a Diplo-
Índia Índia
Índia
EUA França França
macia com a inalidade de proporcio-
Japão Brasil Brasil nar maior igualdade de oportunidades
Brasil Japão Japão de acesso à carreira de diplomata e de
Reino
Unido EUA EUA acentuar a diversidade étnica nos qua-
Rússia
França
Turquia Turquia
dros do Itamaraty.
Rússia Rússia
Turquia Espanha Espanha
Argentina Argentina Argentina No plano internacional, foi nesse mo-
Espanha Reino
Unido
Reino
Unido mento que o Brasil se dotou de uma
África
do Sul
África
do Sul
África
do Sul
verdadeira diplomacia mundial, com
5 10 15 20 0,5 1 1,5 2 0,5 1,5 2
numerosas representações (embaixa-
*O Ministério das Relações Exteriores da China não tem canais oficiais no YouTube
**O Ministério das Relações Exteriores da Índia tem mais de um canal oficial no YouTube das, consulados e escritórios), contan-
Fonte: Canais oficiais dos ministérios no YouTube. do, em 2014, com 896 diplomatas no
Twitter e as contas oficiais dos ministérios, em 2014 exterior (526 na Secretaria de Estado
Seguindo, em milhão de usuários Tweets, em milhares em Brasília), 448 oiciais de chance-
EUA EUA
Reino
laria no exterior (305 na SERE) e 344
França
Reino
Unido
França
assistentes de chancelaria no exterior
Unido
Turquia Rússia (209 na SERE).
Índia Brasil
Japão
Brasil
Índia
No plano doméstico, a redemocrati-
Turquia
Argentina Japão
zação trouxe ao Itamaraty o desaio
Rússia Argentina de construir, paulatinamente, uma
Labmundo, 2014

Espanha Espanha dimensão de política pública para a


0,2 0,4 0,6 0,8 10 20 30
*Os Ministérios das Relações Exteriores da África do Sul e da China não têm canais oficiais no Twitter
política externa, não sem tensões e al-
**O Ministério das Relações Exteriores da Índia tem mais de um canal oficial no Twitter gumas contradições. Para fora dos mu-
Fonte: Contas oficiais dos ministérios no Twitter. ros institucionais, esse processo levou

60 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
ATORES E AGENDAS

REPRESENTAÇÕES DIPLOMÁTICAS
Localização das representações diplomáticas brasileiras, e quantidade de funcionários e diplomatas** nas 35 principais representações, em 2014

**A parte hachurada no gráfico representa o total de diplomatas


em cada representação.

Total dos funcionários:


500 1000 1500
Embaixadas
Países em que o Consulados
Brasil tem embaixada
Missões 70
Consulados diplomáticas

Missões em organismos 60
multilaterais
Escritórios e outras 50
representações

40
*O Brasil não reconhece os seguintes países: Abecásia; R. Turca do
Chipre do Norte; Ossétia do Sul; R. Árabe Sahauri Democrática (Saara
Ocidental); Somalilândia; Transdniéstria; e Taiwan. 30

20

10

Labmundo, 2014
ão

hi U
G e go
Ba ana

u
im

r is
I
ico

en res
Pr z

As éu
a
Br A
a

ia

ito
No wa

M s

a
i

n
O

on oa
Ha s

M io

ri

Lo m
rk

AD
m

re
l E ad

UE
Pa

a
ca

br
Lim
on

co
m

OM

ON

to
OE

ad
FA
ór

qu

go
Yo

el

rli
e

Pa

qu

ia

d
M isb
ia

Qu

Ai
Bu nd
éx
a

Ro

ne
ra

de iud
st
v

ng
AL

os
el

et

vi
La

ux

Be
Ot

nt

su
Bo
va

Pe
Ca

os
L
te
rc

Sa
C

as
W
Fonte: Dados oficiais obtidos do Itamaraty por meio da Lei de Acesso de Informação (Lei 12.527/2011)

EVENTOS INTERNACIONAIS também diversiicou-se e passou a dia-


Por cidade, entre 2004 e 2012 logar mais regularmente com o Itama-
raty. Sob iniciativa da sociedade civil
(GR-RI), está posto o desaio de criar o
Conselho Nacional de Política Exter-
na, institucionalização desse processo
mais democrático e pluralista de diálo-
go sobre os caminhos da PEB.

Dessa realidade também resultou uma


diplomacia pública, por meio da qual
o Itamaraty tem respondido às deman-
das por informação, nem sempre com
Cidades com menos de 5 eventos
a agilidade e a transparência que exige
477 um regime democrático. Foi nesse sen-
tido que os seus setores de relação com
141 a imprensa foram ampliados e que fo-
78 ram desenvolvidos verdadeiros servi-
24 ços de relações públicas. Junto com o
Ministério do Turismo, foi pensada
uma “marca Brasil”, visando também
Top 20 de países que sediaram mais eventos a atrair o investimento estrangeiro e
internacionais em 2012
a organização de eventos internacio-
800
nais no país. A promoção dos interes-
ses nacionais passou, assim, a dispor de
600
300 km
meios públicos e recursos tecnológi-
cos dos mais diversos. Instrumento de
400
soft power da PEB, a diplomacia pú-
blica valoriza a crescente importância
das ferramentas mais contemporâne-
200 as de mídia e comunicação no mundo
cada vez mais digitalmente conectado
Labmundo, 2014

e globalizado.
A

Es ha
ha

ça

lia

il

s
a

ria

Au á
lia
íça

ia

ge l

Bé a
ica

ca
Po l
ga
xo
as

Su
in

in
id


EU

éc

ar
an

I tá


an

ln

st

na

lg
Su
Ch

nt
rtu
Br
Un

ai
Ja

Su

do

m
st
Áu
pa

Fr
m

Ca
sB

na
o
e

ia

Ar
íse
in
Al

Di
re
Re

Pa

Co

Fonte: ICCA, 2013. VEJA TAMBÉM:


Cultura e soft power p. 50
Diplomacia presidencial p. 62
o Itamaraty a ter de abrir o diálogo federais, estados e municípios, fede- Organizações e movimentos sociais p. 72
com outros ministérios (muitos com rações empresariais e organizações da Redes sociais e integração regional p. 96
assessorias internacionais), agências sociedade civil. O mundo acadêmico

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 61
Diplomacia dimensões continentais, como o Bra-
sil, isso era especialmente proble-
mático, pois os meios de transporte

presidencial existentes na época não permitiam que


viagens presidenciais a outros países
fossem curtas. As viagens eram demo-
radas, aumentando o tempo em que o
chefe de Estado deveria ser substituí-
do pelo vice-presidente ou outras au-
toridades. Em alguns casos, a ausência
desses líderes tornava o ambiente do-
méstico propício para manobras polí-
ticas, muitas vezes golpistas. Quando
Visitas recíprocas entre chefes de Estado prestígio em receber esses representan- renunciou Jânio Quadros, o Vice-Pre-
e chefes de governo não são uma novi- tes, o diálogo direto entre chefes de sidente João Goulart encontrava-se em
dade no cenário político internacional. governo tende a facilitar e acelerar ne- visita oicial à China e, em um primei-
Desde a formação do Estado Nacio- gociações em diversos âmbitos, do po- ro momento, foi impedido de voltar
nal nos moldes de Westphalia, as tro- lítico ao comercial. ao país para assumir a presidência.
cas de visitas entre monarcas europeus
eram comuns e tratadas como grandes As viagens dessas autoridades políti- Os avanços tecnológicos ao longo dos
eventos da nobreza. O Brasil aderiu a cas serviam para acelerar negociações, séculos XX e XXI tornaram as viagens
essa prática desde a época do Império, estreitar relações políticas entre pa- mais céleres e baratas, criando a opor-
como as viagens de D. Pedro II à Europa, íses e fazer uma diplomacia de pres- tunidade de chefes de Estado e de go-
América do Norte e África podem com- tígio. Todavia, essa prática também verno viajarem mais frequentemente
provar. Visitas de altas autoridades na- causava desaios no âmbito domésti- e sem deixar seus postos por períodos
cionais são, geralmente, usadas para co, pois acarretava a ausência desses demorados. Se, no início do século XX,
estreitar relações comerciais e políti- líderes de seus respectivos postos. No uma viagem entre a capital (Rio de Ja-
cas entre países. Além de um evidente início do século XX e em um país de neiro) e a Europa levava semanas por

DESTINO E MÉDIA ANUAL DE VIAGENS DOS PRESIDENTES BRASILEIROS


José Sarney (março de 1985 a março de 1990) Fernando Collor (março de 1990 a outubro de 1992)

1000 km 1000 km

Itamar Franco (outubro de 1992 a janeiro de 1995) Fernando Henrique Cardoso (janeiro de 1995 a janeiro de 2003)

1000 km 1000 km

Luiz Inácio Lula da Silva (janeiro de 2003 a janeiro de 2011) Dilma Rousseff (período analisado de janeiro de 2011 a janeiro de 2015)

3
Labmundo, 2015

1
0,25
1000 km 1000 km

Fonte: Planalto, 2014; Itamaraty, 2013b. *Foram consideradas todas as viagens da presidência da República, sejam elas de caráter bilateral ou multilateral

62 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
ATORES E AGENDAS

via marítima, já nos anos 1950 o mes- VISITAS OFICIAIS AO BRASIL


mo percurso demorava dias por via Viagens de chefes de Estado e de governo ao Brasil entre 2003 e 2010
aérea. Hoje, aeronaves modernas per-
mitem que uma viagem entre Brasília
e as capitais europeias leve apenas al-
gumas horas.

A diplomacia presidencial teve o pre-


sidente estadunidense heodore Roo-
sevelt como um de seus precursores.
No Brasil, Campos Sales foi o primei-
ro presidente a fazer uma visita oi-
cial a outro país, em 1899, à Argentina.
20
Apesar de ser uma prática antiga, as vi- 10
sitas presidenciais ganharam novo fôle- 1

Labmundo, 2014
go na década de 1980, quando a nova
Constituição Federal, promulgada em
1988, reiterou que caberia exclusiva- 1000 km

mente à presidência da República a Fonte: Planalto, 2014; Itamaraty, 2013b.


função de manter relações com Esta-
dos estrangeiros.
fundamentais para ter credibilidade Dilma Roussef, no seu primeiro man-
O Itamaraty, desde a sua criação, era nas relações internacionais. dato, já superou em termos absolutos
conhecido por ser uma instituição po- a quantidade de viagens presidenciais
liticamente independente com fun- Por esse motivo, as viagens presiden- de José Sarney em seus cinco anos de
cionários proissionais. Chanceleres e ciais são usadas por cientistas políticos governo.
diplomatas foram os grandes responsá- e internacionalistas como um indica-
veis pela formulação da política exter- dor das preferências políticas de de- O destino dessas viagens também é
na, ao longo do inal do século XIX e terminado governo. Uma média anual um fenômeno muito estudado, pois
boa parte do século XX. A redemocra- elevada de viagens presidenciais ao ex- indica a preferência conferida a um
tização impactou na condução da po- terior pode indicar que esse político ou outro grupo de países. Ao compa-
lítica externa brasileira no sentido de considera a política externa uma área rar o governo de Fernando Henrique
diminuir o insulamento do Ministério de importância em seu governo e par- Cardoso com o de seu sucessor, per-
das Relações Exteriores. Progressiva- ticipa ativamente da sua condução em cebe-se que houve um crescimento de
mente, os chefes de Estado brasileiros visita a outros países e a eventos ou or- aproximadamente 110% das viagens
passaram a atuar direta e pessoalmente ganizações internacionais. Por outro presidenciais. Todas as regiões apresen-
nos assuntos internacionais. Apesar de lado, uma média anual baixa de via- taram crescimento, inclusive a Améri-
toda política externa ter preferências e gens presidenciais pode indicar que o ca do Sul (59%), a América do Norte
discursos distintos, os diplomatas ten- presidente tem preferência por assun- (71%) e a Europa (74%), mas há regiões
dem a evitar mudanças radicais, pois tos domésticos. que tiveram um crescimento robus-
estabilidade e coerência são fatores to, como a América Central e Caribe
O crescente número de visitas inter- (480%), África (750%) e Oriente Mé-
nacionais também é um indicador de dio (antes não visitado). Esses dados
QUANTIDADE DE VIAGENS uma nova realidade das relações inter- revelam que o Brasil tornou-se mais
Quantidade absoluta de viagens presidenciais, nacionais e do papel do Brasil. Com presente em outras regiões do mundo,
entre 1985 e janeiro de 2015 algumas variações, percebe-se que os sem preterir suas relações tradicionais.
a*
ey

ar

presidentes brasileiros, desde a déca-


r

TA
llo

lm
m
rn

a
C

TO
FH
Co

Ita

Lu
Sa

Di

Am. do da de 1980, têm aumentado gradual- Do mesmo modo, chefes de Estado e


Sul
mente a quantidade de viagens oiciais. de governo de outros países também
Europa Esse aumento da diplomacia presiden- visitam o Brasil. Esse indicador é mui-
África
cial, como citado, deve-se a evoluções to importante para demonstrar que
tecnológicas nos meios de transporte, não somente o mundo está na agenda
Am. do
Norte
mas também ao aumento do protago- do Brasil, como o Brasil está na agen-
nismo brasileiro no cenário político in- da de muitos países. É possível verii-
Ásia
ternacional. O objetivo brasileiro de se car, inclusive, a existência ou não de
Am.
Central
tornar um global player acarreta a ne- reciprocidade nas escolhas de visitas
Oriente
cessidade dos políticos brasileiros de se presidenciais.
Médio fazerem presentes em eventos interna-
Oceania cionais, reuniões de cúpula, e de dialo-
gar diretamente com líderes de outros VEJA TAMBÉM:
TOTAL países (prestígio). Nesse sentido, pode- Turismo p. 54
Labmundo, 2015

480
*Viagens de Dilma Rousseff ao se ressaltar o alto número de viagens Itamaraty p. 60
193 longo do primeiro mandato
oiciais do Presidente Luís Inácio Lula Projetos de integração p. 82
18 da Silva, em oito anos de mandato, as- Cooperação Sul-Sul p. 112
Fonte: Planalto, 2014; Itamaraty, 2013b. sim como o fato de que a Presidenta

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 63
Congresso, POLÍTICA EXTERNA E
HORIZONTALIDADE
Competência internacional no Poder Executivo,

ministérios
segundo a Constituição de 1988 e leis
complementares
Com competência
56,4%

Sem competência

e agências
43,6%
Foram analisados todos os
gabinetes dos ministros e
secretarias executivas, bem
como as secretarias de Estado
da estrutura básica do poder
executivo federal, tanto da
presidência da República
quanto dos ministérios

ITAMARATY EM COMISSÕES INTERMINISTERIAIS Tipo de inserção internacional dos órgãos com


Criação de comissões interministeriais por ano, entre 1969 e 2007 competência internacional
5 Criação de comissão
interministerial Sem competência
4 43,6%
Criação de comissão
3 interministerial com
participacão do Processa informações e assessora
2 Itamaraty 26,5% políticamente outros órgãos do mesmo
ministério
1

Labmundo, 2014
Voltados a firmar acordos de
16,2% cooperação técnica internacional

Labmundo, 2014
2003

2007
1968

1973

1978

1983

1988

1993

1998

Possuem prerrogativa de negociar e


13,7% definir a posição brasileira em
processos decisórios no sistema
Fonte: Figueira, 2010. internacional
Fonte: França e Badin, 2010.

Com a redemocratização do Esta- a ação internacional. As assessorias co-


do, o Itamaraty teve de abrir-se pau- ordenam os projetos e as parcerias in- papel não apenas de ratiicação de
latinamente ao diálogo com outras ternacionais do respectivo ministério. acordos internacionais, mas também
entidades governamentais. Aumen- Em 2009, somente os Ministérios das de debate público sobre temas-chave
taram as comissões interministeriais Comunicações, Integração Nacional e da PEB. Esse contexto tem produzido
criadas para tratar de temas transver- Previdência não contavam com algum uma “política burocrática” nas relações
sais. Muitos ministérios e agências órgão desse tipo. As políticas públicas entre esses distintos atores.
têm atuado em projetos internacio- encontram-se em franco processo de
nais, por meio de suas assessorias in- internacionalização. O Congresso tem A PEB e as demais políticas públicas
ternacionais ou serviços voltados para sido chamado a cumprir cada vez mais (educação, integração e fronteiras, cul-
tura, saúde, etc.) passaram a interagir
mais ativamente umas com as outras,
FRONTEIRA CONTINENTAL DO BRASIL resultando em cooperação, mas tam-
Faixa de fronteira e cidades-gêmeas, em 2014
Municípios na fronteira
bém em conlito acerca do lugar que
o Brasil deveria ocupar (ou reivindi-
te

Municípios na faixa
or

de fronteira car) no sistema internacional. Esse fe-


oN

Cidades gêmeas nômeno de pluralização dos atores e


Arc

das agendas da PEB tende a contribuir


para um vagaroso processo de demo-
cratização do processo decisório em
política externa no país. A horizontali-
zação da política externa no Poder Exe-
cutivo coloca desaios para o Itamaraty
na busca por formular e gerir políti-
cas públicas em temas internacionais
com práticas coerentes entre si e coe-
rentes com as grandes estratégias dei-
ntral

nidas pela presidência. O aumento da


interlocução com os demais ministé-
Ce

rios vem alterando a maneira como se


co

Ar faz política externa no Brasil, anterior-


mente deinida como insulada e con-
centrada no MRE.
400 km ul O Ministério da Educação tem exten-
S
Arco

sa atuação internacional. O ministério


Labmundo, 2014.

participa dos acordos educacionais no


contexto regional, como o Setor Edu-
cacional do Mercosul (desde 1991).
Fonte: Sítio web do Ministério da Integração Nacional, 2014. Outro exemplo dessa atuação é o

64 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
ATORES E AGENDAS

projeto conhecido como Escolas Inter- CONGRESSO E POLÍTICA EXTERNA


Assinatura pelo Executivo e ratificação pelo Congresso dos principais acordos internacionais de direitos
culturais de Fronteira, que realiza uma humanos, entre 1980 e 2014
parceria entre escolas públicas brasilei-
ras situadas em cidades de fronteira e 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010

escolas de países vizinhos, envolven- Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher
do em especial o intercâmbio de pro-
fessores. O ensino superior também é
Convenção contra Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes
uma área de forte atuação da diploma-
cia educacional brasileira. Durante os
Convenção sobre os Direitos das Crianças
dois mandatos do Presidente Lula, o
Ministério da Educação fundou qua-
tro universidades que têm como uma Período entre conclusão do acordo
e assinatura ou adesão pelo Brasil
Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional

de suas propostas promover a presen-


ça no Brasil de professores e estudan- Período entre a assinatura e a ratificação Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da
Criança relativo ao envolvimento de crianças em
tes estrangeiros: a UNIAM, a UFFS, a conflitos armados
Unilab e a UNILA. O Ministério da
Integração Nacional também atua em Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da
temas internacionais, por exemplo, no Outro ator fundamental da PEB é o Criança relativo à venda de crianças, à prostituição
infantil e à pornografia infantil
que se refere às cidades-gêmeas brasi- Congresso Nacional. Suas atribuições
leiras e à faixa de fronteira. As cidades- presvistas na Costituição de 1988 são
gêmeas brasileiras são aquelas cortadas a ratiicação de tratados, convenções Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura e
outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou
pela linha de fronteira com integração e atos internacionais, a iscalização Degradantes
urbana com países vizinhos e onde há das políticas governamentais por
elevado potencial de integração econô- meio de suas comissões (por exemplo, Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas
mica e cultural. Em 2014, a pedido do a Comissão de Relações Exteriores com Deficiência

Ministério da Integração, o Ministério e Defesa Nacional, do Senado


da Fazenda regulamentou a instalação Federal), a autorização ao presidente Protocolo Facultativo da Convenção Internacional
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência
de lojas francas em fronteira terrestre para declarar guerra, celebrar a paz,
(free shops), atualmente em 26 das ci- assim como aprovar a circulação ou
dades-gêmeas brasileiras. Em matéria permanência de tropas estrangeiras no Convenção Internacional para a Proteção de Todas as
Pessoas contra Desparecimentos Forçados
de saúde pública, outro órgão estatal interior do país. Por meio da análise do
com crescente atuação internacional é tempo necessário para a aprovação de
a Fiocruz, responsável por pesquisas na acordos internacionais pelo Congresso

Labmundo, 2014
Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da
Criança relativos aos procedimentos de comunicação
área de saúde e comercialização de me- é possível perceber que, em alguns
dicamentos. Priorizando países em de- momentos, as votações são disputadas
senvolvimento, a instituição contribui e há necessidade de negociações entre Fontes: ONU, 2014a; ONU 2014b.
para a formação das posições brasilei- o Legislativo e o Executivo para a
ras em saúde no sistema internacio- aprovação de algumas proposições,
nal e reforça laços com outros países como no caso do ingresso da do sistema político brasileiro e do
do Sul. A Fiocruz é um elo essencial do Venezuela no Mercosul (inal de 2009). relativo baixo nível de interesse dos
que passou a ser conhecido como “di- Além disso, cabe ao Senado aprovar os representantes em tema de política
plomacia da saúde”. O mesmo padrão chefes de missões diplomáticas e ser externa, existe outra possibilidade
de internacionalização pode ser obser- consultado em operações externas de de interferência do Congresso no
vado no caso da Embrapa. natureza inanceira. Apesar do peril momento da aprovação do orçamento
anual da União. A “diplomacia
parlamentar” também é fenômeno
POLÍTICA EXTERNA EM EDUCAÇÃO crescente. O Congresso desenvolve
Atuação internacional do Ministério da Educação, 2014
relações com outros parlamentos nacionais,
assim como organizações internacionais
representativas dessas instituições (por
exemplo, o Parlamento do Mercosul).
Universidade da Dentro desse quadro também se inserem
Universidade
Integração Amazônica
da Integração a visita de autoridades estrangeiras e a
da Lusofonia presença de delegações parlamentares
Afro-brasileira
no exterior em uma ampla gama de
eventos, no geral acompanhando as
delegações do Poder Executivo.
*O programa Escolas Interculturais de
250 km
Fronteira tem planos de ampliação para
Colômbia, Peru, Guiana e Guiana Universidade da
Francesa. Integração Programa Escolas de Fronteira:
O governo declara a participação de 17 Latino-americana
VEJA TAMBÉM:
Escolas no exterior
unidades de ensino no Brasil, mas só Diplomacia presidencial p. 62
indica a cidade de 14 dessas escolas. Escolas no Brasil
Labmundo, 2014

Campi de universidades Projetos de integração p. 82


Universidade com perfil internacional Assimetrias e desigualdades p. 94
da Fronteira Sul
Cooperação Sul-Sul em educação p. 114
Fonte: Ministério da Educação, 2014.

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 65
Ação internacional internacionais. Na América Latina,
a Argentina aprovou, em 1994, uma
emenda à constituição que permitiu

dos estados que atores subnacionais se relacionas-


sem com outros atores estrangeiros no
que dissesse respeito aos seus respecti-
vos interesses. No Brasil, não existe ne-
nhum dispositivo constitucional que
permita expressamente a atuação in-
ternacional das unidades subnacionais.
Pelo contrário, as competências rela-
cionadas aos assuntos internacionais
são divididas entre as casas do Con-
Segundo a Constituição Federal bra- internacionalmente, buscando seus gresso e, principalmente, mantidas
sileira, a condução da PEB é de com- próprios interesses, com certa autono- pelo Executivo. Apesar disso, a ação de
petência exclusiva do Presidente da mia do governo federal. atores subnacionais torna-se cada vez
República. Ao longo de mais de um mais frequente no Brasil, à revelia de
século, essa competência foi delega- Um exemplo desses atores subnacio- um marco jurídico-normativo para tal.
da ao MRE. Entretanto, ao inal do nais que, progressivamente, incluem
século XX e início do século XXI, o temas e relações internacionais em Não é raro que os estados brasilei-
insulamento do Itamaraty foi gradu- sua agenda são os estados brasileiros. ros, como unidades federativas, atuem
almente diminuindo, o que permi- A ação internacional das unidades fe- internacionalmente, buscando em-
tiu que atores subnacionais também derativas subnacionais não é novidade préstimos ou celebrando acordos de
agissem internacionalmente. Contri- em alguns países. Desde 1874, na Su- cooperação. Como exemplo recen-
buíram para esse fenômeno a redemo- íça, há dispositivo constitucional que te disso, podemos citar a escolha do
cratização do Brasil, a partir dos anos permite que os cantões atuem inter- Rio de Janeiro como cidade sede para
1980, e a globalização. Com os avan- nacionalmente. A constituição alemã os Jogos Olímpicos de 2016. Evidente-
ços tecnológicos e com a internaciona- de 1949 também confere aos landers mente, a cidade do Rio de Janeiro par-
lização da economia, icou muito mais certo grau de liberdade para relacio- ticipou decisivamente da candidatura,
fácil para os atores subnacionais atuar nar-se com outros atores políticos mas somente com um forte compro-
metimento do governo estadual lu-
minense e da União o projeto ganhou
EXPORTAÇÃO DAS UNIDADES FEDERATIVAS força para vencer fortes candidaturas
Por destinos em bilhões de dólares, em 2013 concorrentes, como Chicago, Tóquio
e Madri. Como o estado do Rio de Ja-
l)
su
co
o a
et tin
er

neiro é responsável por grande parte da


M
xc a
ul

(e m. L

O mapa representa o valor da exportação total,


s
co

infraestrutura na região metropolita-


in
A

A
er

por unidade federativa, em bilhões de dólares.


E.
EU

Ch
U.
M

PA
na da capital luminense, foi necessá-
rio que o governo estatal se engajasse
Demais da internacionalmente, a im de garantir
R. Norte
acordos de investimento em obras, co-
BA operação em programas de mobilidade
urbana e desenvolvimento de parques
Demais da
R. Nordeste
esportivos, entre outros exemplos.

GO A ação internacional dos estados tam-


bém tem gerado competição entre as
MT unidades federativas brasileiras. Para
Demais atrair o investimento estrangeiro, mui-
da R.
300 km tos governos estaduais lançam mão de
Centro-oeste
pacotes de incentivos iscais para que
SC
empresas ou indústrias se instalem no
seu território. O objetivo desses gover-
RS
nos é atrair esses investimentos para o
59,3
20
seu território, o que aqueceria a econo-
PR
0,15 mia local e criaria empregos, compen-
ES
sando, assim, as perdas do governo em
termos de arrecadação e de isenções
RJ
iscais concedidas. Todavia, a compe-
tição entre os governos federais tor-
MG 10,8
nou-se muito acirrada, e os incentivos
Labmundo, 2014

iscais prometidos ao capital interna-


SP 0,5 cional chegaram a ultrapassar a capa-
0,02
cidade dos governos. Em alguns casos,
Fonte: IBGE, 2013a. os governadores buscavam evitar o

66 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
ATORES E AGENDAS

prejuízo político de perder a compe- PROJETOS FINANCIADOS PELO BANCO MUNDIAL


Projetos em andamento em fevereiro de 2014 Projetos concluídos até fevereiro de 2014
tição pelo investimento estrangeiro.
Para evitar situações dessa natureza,
criou-se a Lei de Responsabilidade Fis-
cal, segundo a qual cada governo esta-
dual seria responsável por fechar a sua
balança de pagamentos no positivo,
gerando superávit. Essa medida redu-
ziu a competição, mas é bastante criti-
cada por parte da sociedade civil, que
alega que, em última instância, a LRF
impediria que o governo estadual pu-
desse investir nos locais a partir dos 2000

Labmundo, 2014
1000
quais havia arrecadado os impostos. 300 km 250 300 km

Em um país democrático, a liberda- Fonte: Sítio web da base de dados do Banco Mundial, 2013.
de para que as unidades federativas se
relacionem internacionalmente pode
ser vista como algo benéico. Ao des- Os estados tendem a se relacionar com diversidade em sua pauta comercial
centralizar a ação internacional do país, quem lhes parece mais oportuno polí- também tenderiam a concentrar suas
os estados conseguem promover ações tica, social e economicamente. É na- relações internacionais. Por im, as
que atendam necessidades especíi- tural que as unidades federativas que escolhas também passam por uma
cas de determinada região ou popula- fazem fronteira com outros países te- dimensão política. Cada unidade fe-
ção. Esse modelo descentralizado pode nham relações mais intensas com os derativa tem preferências políticas di-
causar um impacto positivo também vizinhos. Do mesmo modo, se exis- ferentes, um relexo das preferências
na transparência do aparato burocráti- te parcela signiicativa de imigrantes e das trajetórias dos diversos partidos
co, pois a população ica mais próxima de determinado país vivendo em uma que estão no governo. Uma unidade
dos governos estaduais e pode cobrar região, é de se esperar que haja rela- federativa pode usar suas ações para-
resultados sobre os projetos desenvol- ções mais fortes entre o estado e os pa- diplomáticas como ferramenta de uma
vidos. Todavia, esse modelo descentra- íses de origem de seus residentes. É o “diplomacia do desaio” a im de testar
lizado também pode causar problemas caso, por exemplo, da comunidade ja- e divulgar alternativas de inserção in-
na coerência da ação internacional do ponesa em São Paulo, das comunida- ternacional à política externa do gover-
Estado. No caso brasileiro, há um es- des de origem africana no Nordeste e no federal.
forço por parte do governo federal das comunidades germânica e italia-
para que exista um discurso estratégico na nos estados do Sul do Brasil. As re-
e coerente no campo da PEB. Quan- lações internacionais de uma unidade VEJA TAMBÉM:
do aumenta a quantidade de atores es- federativa também são pautadas pe- Brasil Império p. 16
tatais que agem internacionalmente, a los padrões econômicos daquele esta- Nova ordem p. 22
política externa tende a ser mais plural, do, dependendo do que e com quem Ação internacional das cidades p. 68
porém pode produzir resultados me- comercializam. Nesse sentido, é possí- América do Sul p. 84
nos coerentes. vel dizer que as regiões que têm menos

RIO DE JANEIRO, CIDADE OLÍMPICA


Remoções para construção de obras de infraestrutura e para parques esportivos para 2016

Região Metropolitana Baía de


do Rio de Janeiro Guanabara

Região Metropolitana
do Rio de Janeiro

Baía de Sepetiba

5 km

Oceano Atlântico
Número de famílias Instalações Estradas Metrô Bus Rapid
Labmundo, 2014

Moradores ameaçados Pontos de


500 de remoção realocamento olímpicas e existentes existente Transit (BRT)
200 das famílias Porto Maravilha Nova linha
50 Moradores removidos Trem
existente do Metrô Veículo leve
construída sobre trilhos (VLT)
Fontes: Comitê Olímpico Rio 2016, 2014; Sítio web dos Comitês Populares da Copa, 2013. para os eventos

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 67
Ação internacional DIPLOMACIA MUNICIPAL BRASILEIRA
Quantidade de municípios no Brasil
por milhares de habitantes, em 2011

das cidades
acima
de 500
de 300
a 500
de 100
a 300
de 50
a 100
de 25
a 50
de 15
a 25
de 5
a 15
menos
O cenário político internacional não ensejavam participação de outros ato- de 5

é mais monopolizado pelos Estados, res (como meio ambiente, direitos hu- 500 1000 1500 2000
Fonte: Confederação Nacional dos Municípios, 2014.
mas também é composto por atores manos, combate à fome e a doenças,
subnacionais, entre eles os municí- etc.). Além disso, tem se reforçado o
pios, que agem nesse espaço, alterando entendimento de que muitos dos pro-
Busca de ações internacionais pelos municípios,
padrões e modos de ação das relações blemas mundiais são coletivos, o que

Labmundo, 2014
em 2011
internacionais. A globalização con- demanda uma resposta articulada. Um
tribuiu para esse fenômeno, no sen- exemplo disso é o grupo C40, que re- 3000

tido de que criou mecanismos que presenta um grupo de cidades que per-
reduziram a noção de espaço-tem- cebem o aquecimento global como um 2000

po e aumentaram os luxos de pessoas, problema de todos (e não somente dos


produtos, informações e capital inter- governos centrais de seus respectivos 1000
nacionalmente. No contexto de glo- países) e tomam medidas locais e arti-
balização da política, as cidades, assim culadas, com vistas a reduzir as emis- Possui Possui Tem interesse Não tem interesse
como os estados federados, também sões de gases de efeito estufa e criar administrações funcionários
para assuntos para assuntos
em assuntos em assuntos
internacionais internacionais
internacionais internacionais
são atores subnacionais que atuam in- uma estrutura logística-organizacional
ternacionalmente. No Brasil, os go- mais eiciente. Fonte: Confederação Nacional dos Municípios, 2014.

vernos municipais, paulatinamente,


começam a se interessar por assuntos Contribuiu para o maior ativismo dos
internacionais e a agir baseados na pró- municípios nas relações internacionais dependem da economia e dos serviços
pria agenda de interesses, por vezes in- o fato de que a população mundial é ali concentrados. É nessas grandes ci-
dependentemente do governo central. majoritariamente urbana. As aglo- dades que, geralmente, se encontram
merações urbanas se tornam cada vez governos municipais que têm burocra-
Também contribuiu para esse fenô- mais centros econômicos e políticos cias especíicas para tratar de assuntos
meno o entendimento de que muitos e, consequentemente, tendem a bus- internacionais.
problemas atuais não podem ser resol- car seus interesses. Um fator determi-
vidos sem uma ação conjunta no plano nante para que os governos municipais Além do tamanho, a posição geográi-
local. Ao longo do século XX e parti- se lancem na diplomacia descentraliza- ca também é um fator relevante para
cularmente durante a Guerra Fria, a da é a relevância demográica e econô- o interesse de uma cidade se relacio-
ação de atores subnacionais era redu- mica da cidade. Apesar de o Brasil ter nar internacionalmente e criar uma
zida, pois o Estado detinha maior con- mais de 5500 municípios, muitas regi- burocracia especíica para isso. Com a
trole sobre as fronteiras. Todavia, com ões brasileiras sofrem de macrocefalia proximidade de outros países, muitas
o im da Guerra Fria, surgiram ou- urbana. Ou seja, apesar de existir um questões econômicas, sociais, políti-
tros temas na agenda internacional, número grande de municípios, muitos cas e de segurança não respeitam os li-
além do militar e do estratégico, que deles são satélites de cidades maiores e mites fronteiriços. É comum, em caso
de cidades vizinhas de países diferen-
tes, muitas pessoas trabalhem em um
CIDADES E MEIO AMBIENTE país e morem em outro, fazer compras
Cidades participantes do C40, em 2014 no país vizinho, etc. Com esse inten-
so luxo internacional (que também
é local), é natural que os municípios
também se preparem burocraticamen-
te para se relacionar com atores es-
trangeiros, mesmo que sejam cidades
relativamente menores. Isso ajuda a ex-
plicar, por exemplo, a concentração no
Sul do Brasil de cidades que declaram
Cidades membros
do Conselho diretor ter interesse em assuntos internacio-
Labmundo, 2014

1000 km
Cidades membros nais. Também explica esse fenômeno a
porcentagem de municípios uruguaios
*C40 é uma rede de megacidades que tem o compromisso de
combater o aquecimento global. que atuam em projetos de cooperação
Fonte: Sítio web do C40, 2014. descentralizada, apesar de existir um

68 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
ATORES E AGENDAS

problema de macrocefalia urbana na- PARADIPLOMACIA DAS CIDADES


Cidades que atuam internacionalmente, em 2011
quele país.

A diplomacia descentralizada das cida-


des brasileiras ganhou impulso com a
redemocratização em meados dos anos
1980. A Constituição de 1988, além
de promover a abertura política, tem
um caráter muito menos centralizador
do que a precedente, o que permitiu
que os municípios começassem a agir
mais livremente no plano externo. Um
exemplo dessa nova fase para a ação
dos municípios é a criação, em feverei-
ro de 1980, da Confederação Nacional
de Municípios (CNM), que se dei-
ne como maior entidade municipa-
lista da América Latina, apartidária e
sem ins lucrativos. A CNM tem como
objetivo fortalecer a emancipação dos 250 km
municípios e dar apoio logístico e téc-
nico para que isso ocorra. Dentro de
suas ações estão previstos cursos prepa-
ratórios para funcionários públicos de Cidades que têm

Labmundo, 2014
funcionários para tratar de
governos municipais que queiram se relações internacionais
lançar na diplomacia descentralizada. Cidades que atuam
internacionalmente
Fonte: Confederação Nacional dos Municípios, 2014.
Como foi ressaltado no item anterior,
sobre a ação internacional dos estados,
não há no Brasil lei que regulamente governo federal, como segurança, de- estava começando a implementar esse
a diplomacia descentralizada e, con- fesa, etc. Em geral, as atividades de di- sistema na cidade francesa. Esse acor-
sequentemente, como os municípios plomacia descentralizada em que os do foi tão bem recebido que a prefeitu-
que se relacionam internacionalmente municípios brasileiros se envolvem ra do Rio de Janeiro, em conjunto com
devem agir. É uma consequência natu- versam sobre cooperação técnica ou o governo estadual luminense, seguiu
ral da descentralização uma tendência temas que não seriam resolvidos pela a estratégia da cidade gaúcha e foi até
maior à pluralidade e a uma possível ação exclusiva do governo federal. Paris para estudar o sistema de bicicle-
perda na unidade do discurso. Ape- tas públicas, também implementado
sar disso, a ação internacional das ci- Além desses temas, cabe ressaltar que em alguns bairros cariocas.
dades não tem prejudicado a coerência muitas cidades usam a diplomacia des-
do discurso diplomático oicial do go- centralizada para atrair turistas inter-
verno federal. As cidades tendem a res- nacionais e para fazer acordos culturais PARADIPLOMACIA NAS AMÉRICAS
peitar uma hierarquia política, antes com outras cidades ou países. O Rio Municípios na América Latina que participam
da diplomacia descentralizada, em 2011 (em %)
de atuar internacionalmente, buscan- de Janeiro, por exemplo, foi a primei-
90
do evitar setores da competência do ra cidade da América Latina a adotar,
em 2014, domínio próprio na inter-
net (.rio). Além disso, os municípios 70
ACORDOS DE IRMANAMENTO agem de acordo com suas raízes his-
Total de acordos com municípios brasileiros, tóricas, sociais e políticas. Isso é per- 50
em 2011 10 20 30 40 50
ceptível nos acordos de irmanamento
França entre cidades, em que as cidades fazem
acordos culturais, projetos de coope- 30
Portugal
ração técnica, programas de capacita-
Itália ção, entre outros. A maior quantidade 10
Labmundo, 2014

de acordos entre cidades irmãs ocorre


Espanha com cidades europeias, principalmen-
i

Eq ile

Pa or

ge i
a

Co ívia

a
ru

ne l
a
ua

Ve rasi
in

bi

el
gu
d

Pe
Ch

te com a França e com Portugal. Um


zu
ug

nt

m
l
ua

Bo

B
ra


Ur

Ar

Alemanha
dos muitos exemplos que pode ser ci- Fonte: Confederação Nacional dos Municípios, 2014.

Holanda
tado de frutos da diplomacia descen-
tralizada das cidades é a adoção de
Bélgica corredores expressos de ônibus em VEJA TAMBÉM:
Porto Alegre. Atualmente, esse sistema Relações com os EUA p. 18
Reino
Labmundo, 2014

Unido é muito comum nas cidades brasileiras Desenvolvimento e industrialização p. 20


e no exterior, mas o seu pioneirismo Ação internacional dos estados p. 66
Grécia
em território nacional se deveu a um Argentina: parceira estratégica p. 88
Fonte: Confederação Nacional dos Municípios, 2014. acordo com a prefeitura de Paris, que

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 69
Principais Para a economia e para a política bra-
sileiras, interessa que as empresas na-
cionais se internacionalizem. Em uma

multinacionais economia globalizada, faz-se impor-


tante que as empresas brasileiras con-
tribuam para a inserção do país na
economia global. A internacionaliza-

brasileiras ção do capital privado nacional pode


signiicar o seu fortalecimento, gerar
prestígio ao Brasil, produzir empregos
e propiciar acordos comerciais. Esse
fenômeno pode abrir caminho para
acordos de facilitação de comércio,
Se considerarmos a política externa porte. Devido ao seu tamanho, mo- cria mercado consumidor para pro-
como uma política pública, deiniti- vimentam grandes luxos de capital e dutos brasileiros, assim como permi-
vamente a atuação das empresas deve geram muito empregos. Essas carac- te acordos de cooperação técnica. Ao
ser considerada como uma de suas va- terísticas são importantes para enten- atuarem em outros países, as empresas
riáveis centrais. Toda política externa, der o motivo pelo qual os responsáveis também buscam absorver novas tecno-
e a PEB não seria distinta, tem uma políticos brasileiros costumam criar logias, adaptar-se a novas realidades e,
economia política que a fundamenta. condições políticas favoráveis para o com isso, obter um ganho de experti-
Em primeiro lugar, apesar das empre- crescimento dessas empresas. Quan- se por meio da troca de conhecimentos
sas não serem as responsáveis primárias do essas elas apresentam um aumen- técnicos com outros países, culturas e
pela condução da política externa, não to na produção, é provável que o PIB tecnologias.
há dúvida de que os tomadores de de- nacional e a geração de empregos tam-
cisão do governo brasileiro levam em bém sejam afetados. Além disso, os di- Como será aprofundado no capítulo 5,
conta os interesses do setor privado ao retores dessas empresas costumam ter há uma relação complementar, mas
formular as diretrizes da política ex- acesso aos principais tomadores de de- por vezes contraditória, entre a inter-
terna. Em segundo lugar, as empresas, cisão da política brasileira, por meios nacionalização das empresas brasileiras
ao atuarem em países desenvolvidos informais ou a convite das instituições. e a política de cooperação internacio-
e em desenvolvimento, também afe- Muitos políticos e altos diretores das nal para o desenvolvimento do Bra-
tam a imagem do Brasil no exterior, de empresas brasileiras se conhecem pes- sil. A política de cooperação brasileira
modo positivo ou negativo. soalmente, frequentaram os mesmos pode contribuir para a internacionali-
bancos escolares, foram colegas em zação das empresas brasileiras, pois cria
As grandes empresas brasileiras são cursos na universidade, vão aos mes- uma porta de entrada em outros países.
muito inluentes, não apenas interna- mos eventos sociais, etc. Isso faz com Muitas vezes, as empresas nacionais
cionalmente, mas também no plano que exista um canal informal de comu- se instalam em outros países, aprovei-
da política doméstica (inanciamento nicação entre a iniciativa privada e po- tando o canal de diálogo criado pela
de campanha eleitoral, lobbies junto líticos de alto nível, permitindo que as diplomacia brasileira no âmbito da co-
ao Congresso e às Assambleias Legisla- empresas expressem suas vontades e fa- operação. O governo brasileiro tam-
tivas, projetos de responsabilidade so- çam solicitações, inluenciando, ainda bém se beneicia da ação das empresas,
cial). Em geral, as empresas nacionais que por meios informais, a formulação sendo elas responsáveis pela execução
que têm maior capacidade de ação in- das políticas públicas do Brasil, entre de muitos projetos de infraestrutura no
ternacional são também as de maior elas a política externa. exterior e inanciadoras de projetos de

PRINCIPAIS EMPRESAS BRASILEIRAS NO MUNDO


Local das atividades por empresa, em 2014

Petrobras
Vale
Embrapa
Odebrecht
Labmundo, 2014

Andrade Gutierrez
1000 km

Fontes: Sítios web das empresas, 2014.

70 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
ATORES E AGENDAS

responsabilidade social, como criação INTERNACIONALIZAÇÃO DAS EMPRESAS BRASILEIRAS


de escolas, creches e hospitais. 35 empresas com maior índice de internacionalização, em 2013
0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6
JBS
O Brasil tem um número considerável Gerdau
Stefanini
de empresas atuando em outros Magnesita Refratários
países. Em alguns casos, a empresa se Marfrig Alimentos
internacionaliza por meio de franquias, Metalfrio
Ibope
em acordo com investidores locais. Odebrecht
Mas há também as que abrem iliais e Sabó
realizam operações em outros países. Minerva Foods
Tigre
O setor em que existe o maior número Vale
de empresas brasileiras atuando Weg
Suzano
internacionalmente é o de serviços. BRF
Esses serviços são bastante variados e Camargo Corrêa
consistem em consultoria econômica Embraer
Ci&T
e comercial, setor de logística, serviços Marcopolo
ligados a marketing e ao uso da Artecola

internet, entre outros. Todavia, as DMS Logistics


Indústrias Romi
empresas mais visíveis para a sociedade Cia Providência
em geral são as de indústria pesada, Votorantin
Andrade Gutierrez
empreiteiras e indústria extrativa. A Natura
Vale (antiga Companhia Vale do Rio Agrale
Doce, privatizada em 1997) é uma das Itaú-Unibanco
Bematech
empresas mais atuantes na extração Petrobrás
de minérios e tem operações em CZM
praticamente todos os continentes. Banco do Brasil
Ultrapar
A Petrobras, irma de capital misto,

Labmundo, 2014
Bradesco
mas de controle governamental, BRQ IT Services
*O índice considera a relação entre o doméstico e o internacional em três domínios: quantidade de ativos, volume de
também é uma das mais atuantes receitas e quantidade de funcionários.
internacionalmente. Além de ser Fonte: Fundação Dom Cabral, 2013.
competitiva no meio petrolífero, a
empresa desenvolveu tecnologia de
extração em águas profundas, que a bandeira brasileira como detalhe da de prospecção. Por esse motivo, o mo-
favorece na competição com outras alça do calçado. vimento dos Atingidos pela Vale, exis-
empresas do ramo. Esse é um dos tente no Brasil, tornou-se muito forte
motivos pelos quais a Petrobras é muito A internacionalização das empresas, também em Moçambique.
presente em alguns países costeiros, apesar de criar grandes oportunida-
como Angola. Fora do âmbito extrativo, des para o Brasil, também cria desa- A ação internacional das empresas é
também é marcante a existência de ios e produz contradições. A ação um fenômeno estrategicamente apoia-
conglomerados de empresas brasileiras de algumas empresas (principalmen- do pelo governo, mas não produz
que abrem fábricas e lojas em outros te no âmbito extrativo) causa impac- apenas impactos positivos. Portan-
países. A empresa Vulcabras-Azaleia tos e pode ser considerada predatória to, deve ser vista também como um
é um exemplo disso, sendo que por parte da sociedade do país em que desaio à imagem nacional. O Brasil
uma de suas marcas é responsável atua. Apesar de as empresas não se- busca mostrar-se como um país que
por patrocinar clubes de futebol na rem representantes do governo bra- pratica a diplomacia da solidariedade,
Argentina, além da seleção brasileira sileiro ou do país como um todo, as preocupado com modelos de desen-
de vôlei. A Havaianas, marca da críticas dirigidas a elas também rele- volvimento justos e equitativos. Ain-
Alpargatas S.A., obteve grande sucesso tem na imagem que o país tem no ex- da não é claro se e como a ação das
no mercado internacional de sandálias terior. Denúncias de desrespeito às leis empresas brasileiras pode ser inseri-
e tem como característica marcante a trabalhistas, por exemplo, podem ser da nesse discurso. Como as empresas
veriicadas nas obras das empreiteiras não estão limitadas em sua ação inter-
brasileiras no exterior, diicultando a nacional por um marco regulatório ou
EMPRESAS BRASILEIRAS NO MUNDO credibilidade do discurso oicial bra- ético, tudo leva a crer que suas postu-
Quantidade de empresas por ramo, em 2014
14
sileiro preocupado com um desenvol- ras se assemelhem às de outras empre-
12
vimento mais justo e equitativo. Na sas globalizadas, no marco do sistema
10 América do Sul, a ação da Petrobras na internacional cuja economia política é
8 Bolívia e da Odebrecht no Equa- o próprio capitalismo.
6 dor (ambas com financiamento
4 por par te do BNDES) foi critica-
2 da pela opinião pública e pelo governo VEJA TAMBÉM:
de ambos os países. A ação da Vale no Relações com os EUA p. 18
s

os
sm os s
ico
s

C a a

tiv ria

s
co ic to
iço

to
d ri

çã

tic

exterior, pela natureza da sua atividade,


Al a

e éd u
sa st

tra st

éd
en
l ru

m od

és
rv

Pe dú

ex ndú

Desenvolvimento e industrialização p. 20
im
vi st
Se

m
Pr
In

Ci on

Labmundo, 2014

causa impactos signiicativos no meio


do
I

ro

Organizações e movimentos sociais p. 72


et

ambiente, além de impactos sociais,


El

*Foram consideradas as 45 empresas brasileiras com o Energia e integração p. 92


maior índice de internacionalização, segundo a Fundação
Dom Cabral
como a remoção de famílias das áreas
Fontes: Sítios web das empresas, 2014.
AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 71
Organizações e diversa, os atores sociais brasileiros
apresentam diversas formas de inter-
nacionalização e um amplo leque de

e movimentos dinâmicas de cooperação e formas


de expressar o conlito social. Alguns,
mais centralizados, operam princi-
palmente por coalizões estratégicas e

sociais mobilizando expertises setoriais; em


outros, mais policêntricos, primam os
laços de ainidade e a tradução de ex-
periências vividas no cotidiano na for-
mação de opinião, demandas, agendas
e formas de ação.
Há algumas décadas assiste-se a uma recentemente, os diferentes protestos
crescente complexidade da política pelo mundo forjaram uma geopolíti- Pensando em tipologias, alguns ato-
transnacional e do ativismo além-fron- ca global das redes. Nesse novo cená- res sociais, mais próximos ao Itamaraty,
teiras. A emergência e a rearticula- rio, são cada vez mais numerosos os aos governos e às instituições, buscam
ção de atores sociais atuando, muitas movimentos sociais que geraram alian- inluenciar a regulação de governos e
vezes concomitantemente, em dife- ças, agendas e campos de atuação di- dos regimes de informação, maior par-
rentes escalas (do local ao global, pas- versos, bem como variadas formas de ticipação na decisão de questões im-
sando pelo nacional e regional) são incidência política, muitas das quais portantes para o futuro do país ou a
hoje uma realidade. Redeinem-se as impactam, direta ou indiretamente, reforma de políticas. Outros, mais
solidariedades transnacionais. Os mo- nas políticas externas dos Estados. orientados à ruptura do que ao diálo-
vimentos anti/alterglobalização, as go, e normalmente com menor pro-
organizações transnacionais de advo- O caso brasileiro é paradigmático. Com ximidade das instâncias decisórias da
cacy, o movimento zapatista ou, mais uma sociedade civil ativa, ramiicada diplomacia brasileira, incidem na po-
lítica externa de maneira mais exógena
e indireta, com ações que visibilizam
ORGANIZAÇÕES SOCIAIS NA ONU contradições da atuação externa bra-
Quantidade de Organizações Não Governamentais com status consultivo na ONU, entre 1946 e 2012
sileira. O gráico sobre a evolução da
23 ONG brasileiras tiveram status consultivo na ONU, entre 1946 e 2012 participação das organizações não go-
3 637 ONG tiveram status consultivo na ONU, no total, entre 1946 e 2012 vernamentais brasileiras com status
consultivo na ONU e o mapa sobre o
300 Fórum Social Mundial assinalam dois
padrões distintos dentro de uma diver-
sidade ainda maior de atores e formas
de internacionalização das organiza-
200
ções e dos movimentos sociais.

Os atores sociais brasileiros são cen-


100
trais para a democratização política e
social. Participam de redes regionais e
globais e têm vários projetos de coope-
ração no exterior, mas nem sempre são
reconhecidos pela política externa bra-
sileira, o que gera certo paradoxo, ten-
46

51

56

61

66

71

76

81

86

91

96

01

06

12
19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

20

20

20

Fonte: Ecosoc, 2013. Labmundo, 2014 do em vista sua inserção internacional


e o forte reconhecimento dos atores
sociais no plano das políticas públicas
FORUM SOCIAL MUNDIAL domésticas.
Cidades que receberam edições do Fórum Social Mundial e eventos relacionados, 2001-2014
Essa questão está no centro dos de-
bates sobre política externa no Brasil,
com exigências de uma maior parti-
cipação das organizações sociais que
permita democratizar essa política, en-
tendida como política pública. A cria-
ção de conselhos consultivos é um
passo nesse sentido que permite escu-
tar a voz das organizações nos proces-
sos de tomada de decisões no âmbito
institucional, e desse modo ter algum
Labmundo, 2014

Mundial
1000 km
Regional impacto na coniguração das agendas.
*Não estão representados todos
Temático
os FSM temáticos No entanto, é essencial também a cria-
Fonte: Sítio web do Fórum Social Mundial, 2014. ção de vínculos com a cidadania e os

72 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
ATORES E AGENDAS

movimentos sociais, dentro e fora das REDES TRANSNACIONAIS DE MOVIMENTOS SOCIAIS


fronteiras institucionais e nacionais, a Marcha Mundial das Mulheres, em 2013
partir de campanhas de informação e
sensibilização, e de redes transnacio-
nais que possibilitem o intercâmbio de
expertises e a socialização de práticas e
saberes para a melhoria das condições
de vida e da justiça social. Desse modo,
as mudanças no campo da cooperação Quantidade de
internacional para o desenvolvimento organizações
oferecem desaios mas também inte- membros:
482
ressantes possibilidades ainda não ple- 139
namente exploradas para a ampliação 1000 km 17
dessas solidariedades transnacionais. Conferências
Fonte: Sítio web da Marcha Mundial das Mulheres, 2014.
As dinâmicas de cooperação interna-
cional entre atores, agendas e projetos
Via Campesina, em 2013
complementam-se com iniciativas de
protesto e denúncia. Os recursos natu-
rais, a defesa dos bens comuns, a terra
e o território estão no centro dos con-
litos sociopolíticos na América Lati-
na contemporânea e, tendo em vista
seu caráter geoestratégico, são centrais
na deinição da política externa, posto
que apelam a tensões centrais em tor-
no da soberania nacional, da vida, dos Quantidade de
organizações
modelos de desenvolvimento e da coe- Cidades que membros:
rência da atuação dos Estados no pla- 1000 km
sediaram 13
6
no doméstico e externo. Fonte: Sítio web da Via Campesina, 2013.
conferências
1

Tais conlitos operam transversalmente


e em diversas escalas. Nesse sentido, CONFLITOS NO CAMPO
Quantidade de conflitos por unidade federativa Quantidade de famílias envolvidas em conflito
importantes redes transnacionais
de movimentos sociais, como a
Marcha Mundial das Mulheres e a
Via Campesina, constroem coalizões
políticas, ações, campanhas e agendas
globais que não estão dissociadas de
práticas sociais e articulações locais. 43,2 9,9
Por conseguinte, é importante ressaltar 3 3
a dimensão da territorialização 1,5 1,5
dos conlitos e das resistências. Em 0,5
300 km
0,5
300 km
0 0
outras palavras, por mais que os
conlitos sejam localizados, não são Fonte: Comissão Pastoral da Terra, 2014. Fonte: Comissão Pastoral da Terra, 2014.
necessariamente localistas. Esse é o
caso especíico dos conlitos no campo,
onde atores locais e nacionais geram Conflitos no campo ao longo do tempo Total de conflitos Conflitos trabalhistas
interfaces regionais e globais. Por Quantidade total de conflitos
Conflitos pela terra Conflitos pela água
exemplo, a Via Campesina se torna 1800
Outros conflitos
um ator de referência tanto pela sua 1400

capacidade de articular movimentos 1000


e organizações de base, quanto pela
inluência em fóruns especializados, 600

disputando os sentidos e os rumos da 200


política agrícola, alimentar e comercial, 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
nos planos interno e externo. Pessoas envolvidas, em milhão
1
0,8
VEJA TAMBÉM: 0,6

Agronegócio p. 28 0,4
Labmundo, 2014

Água: recurso vital p. 36 0,2


Pobreza e desigualdade p. 44
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Redes sociais e integração regional p. 96
Fonte: Comissão Pastoral da Terra, 2014.

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 73
Atores religiosos Unidos. No ano de 2010, estimavam-
se em 34 mil o número de cristãos
brasileiros que partiram em missão re-
ligiosa para o exterior, um aumento de
70% em comparação com os valores do
ano 2000. Com o declínio da Europa
e a estagnação dos Estados Unidos, au-
menta a importância dos países do Sul
no total de cristãos no mundo, em es-
pecial na África e na Ásia. Nitidamen-
te a nova fronteira de expansão para o
cristianismo está hoje nos países em
desenvolvimento.
RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA
Internacionalização desde os anos 1950
Em estudo de 2013, o total de missio-
nários católicos brasileiros no exterior
Reafricanização
IORUBALÂNDIA para aquele ano teria sido de 1829, sen-
do as mulheres mais de 80% do total.
Influência na abertura de terreiros
em países da América do Sul Os destinos mais comuns seriam Áfri-
ca, América do Sul e Europa. A Igreja
católica estimula esse movimento por
meio do Conselho Missionário Na-
cional (Comina) e do Centro Cultural
Missionário, em Brasília, que realizam
Rio de Janeiro
500 km
cursos de capacitação para atuação
Fronteiras que são portas
de entrada para além-fronteiras. Os grupos evangéli-
ARGENTINA a influência religiosa:
cos também têm experiência missio-
Labmundo, 2014
Rio Grande Uruguaiana / Paso de los Libres
do Sul
Santana do Livramento / Riviera
nária de grande impacto nas relações
URUGUAI internacionais. Mais de 70 deles evan-
Fontes: Banaggia, 2008; Melo, 2008; Bem, 2012. gelizam fora do Brasil. Sua presença no
exterior associa práticas de evangeliza-
ção de estrangeiros e assistência a brasi-
Os movimentos religiosos brasileiros Grupos missionários estrangeiros atu- leiros, contando com uma grande rede
desenvolvem-se por meio de redes di- am há décadas no Brasil, como alguns midiática de rádios, canais de televisão,
nâmicas de interações internacionais grupos evangélicos norte-americanos. livros e jornais. A IURD, em especial,
que vão muito além dos laços hie- Missionários presbiterianos agem no realiza ações humanitárias no exterior,
rárquicos com suas sedes no exterior Brasil desde o século XIX, e mesmo principalmente na África, onde distri-
(como ocorre com o Vaticano para os antes houve experiências isoladas de bui alimentos e preservativos no com-
católicos). No caso das religiões cristãs, protestantes, como os calvinistas fran- bate à AIDS. Países africanos de língua
participam ativamente de movimen- ceses que ocuparam o Maranhão e o portuguesa vivem um fenômeno re-
tos missionários e também buscam Rio de Janeiro ainda no século XVI cente de conversão religiosa de parcela
evangelizar além-fronteiras e ganhar ou os holandeses na costa do Nordes- de sua população de práticas católi-
novos adeptos, gerando desaios e con- te no século XVII. Ainda assim, um fe- cas para cultos evangélicos. Em maio
tradições para a política externa. Se nômeno religioso dos mais inluentes de 2013, o governo angolano baniu a
as doutrinas espirituais contemporâ- no panorama global é o missionaris- maioria das igrejas evangélicas brasi-
neas são eminentemente universalis- mo realizado por brasileiros. Trata-se leiras de atuarem no país. Foram acu-
tas (qualquer um poderia fazer parte de um fenômeno que tradicionalmen- sadas de ser um “negócio” e praticar
de qualquer religião), as práticas reli- te fora empreendido por católicos, mas “propaganda enganosa”. A única reco-
giosas têm relações particulares com que vem sendo superado em volume nhecida pelo Estado foi a IURD, que
identidades étnicas e nacionais, clas- por grupos evangélicos. O Brasil é hoje funciona sob iscalização de vários
ses sociais e outros elementos, como o segundo maior emissor de missioná- ministérios. Ela tinha em Angola 230
idade, sexo e contexto rural ou urba- rios do mundo, só atrás dos Estados templos e aproximadamente 500 mil
no. Portanto, características demográ-
icas atuam decisivamente não só no
peril do grupo dos iéis, mas também MISSIONARISMO
nas estratégias de atuação de seus líde- Principais países de origem, em 2010 Principais países de destino, em 2010
res na manutenção da comunidade e Estados Unidos 127.000 Estados Unidos 32.400
na atração de novos seguidores. Assim,
Brasil 20.000
deve-se considerar que uma parte dos Brasil 34.000

atores religiosos desenvolve estratégias França 21000 Rússia 20.000


de evangelização por meio de redes R.D. Congo 15000
Espanha 21000
transnacionais, visando ao aumento
Labmundo, 2014

de suas comunidades, mas esse proces- Itália 20000 África do Sul 12.000

so ao mesmo tempo complexiica o pa-


norama religioso dos países receptores. Fonte: Center for the Study of Global Christianity, 2013.

74 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
ATORES E AGENDAS

IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS


Presença da instituição, em 2013

Templos por milhão


de habitantes
Quantidade 57,5 18,1 5,5 1,1 0
de Templos
310
162

21 Sem dados
1 disponíveis

Labmundo, 2014
s
p lo
em
1000 km t
00
56
de
Brasil, mais
Fontes: Sítio web da Igreja Universal, 2014; CIA, 2013.

Veículos de mídia da IURD fora do Brasil Igrejas evangélicas do Brasil no exterior


Revistas
PEB. Que importância os novos ato-
TV Rádio
e Jornais • Igreja Universal do Reino de Deus
• Internacional da Graça de Deus
res religiosos, por meio de suas redes
África do Sul Angola África do Sul • Deus é Amor políticas, podem vir a ter nas agen-
Angola Argentina Angola
EUA Equador Argentina
• Igreja Mundial do Poder de Deus das da PEB? Essa é uma questão em
• Renascer em Cristo
França França Equador • Sara Nossa Terra aberto para futuras agendas de pes-
Itália Itália EUA
Moçambique Moçambique Itália
• Igreja do Caminho quisa. Sabe-se que a política externa,
• Alguns ministérios brasileiros
ao longo da história, associou polí-
Labmundo, 2014
Portugal Portugal Moçambique da Assembleia de Deus
Reino Unido Reino Unido Portugal
Uruguai *Casos selecionados,
ticas de aproximação com a África a
...e pelo menos outros 70 grupos religiosos
Uganda incluindo versões on-line práticas de diplomacia cultural e de
Fontes: Sítio web da Igreja Universal, 2014; Freston, 1999. Fonte: Nascimento, 2004. cooperação educacional, apresentan-
do o Brasil como lugar onde também
são cultuadas divindades africanas. A
iéis. A imprensa brasileira relatou que primórdios nos anos 1930. Mas foi en- Bahia e outras regiões do país, com
o pastor Valdemiro Santiago, líder da tre os anos 1950, 1960 e 1970 que se for- sua religiosidade afrobrasileira, se-
Igreja Mundial do Poder de Deus, bus- taleceu essa transnacionalização. Até riam uma ponte entre dois mundos.
cou o ex-Presidente Lula para intervir esse momento, eram argentinos e gaú- É interessante notar que, recente-
na determinação do governo angolano. chos que buscavam conhecimento reli- mente, essas credenciais também
A importância da bancada parlamen- gioso no centro do Brasil. A partir dos têm sido usadas em relação aos pa-
tar evangélica no Congresso brasileiro anos 1980 pais de santo gaúchos pas- íses caribenhos, como no caso do
e o processo de internacionalização de saram a frequentar esses países. Na dé- vodu no Haiti.
muitas dessas igrejas apontam a possi- cada de 1990, já havia pais e mães de
bilidade de no futuro haver ainda mais santo uruguaios e argentinos, com la-
pressão para que a diplomacia brasilei- ços com gaúchos e participação de CONTROLE DA FÉ
ra atue em prol da liberdade de atuação outras inluências, como do Rio de Ja- Restrições a religião por país, em 2014
desses grupos no exterior. neiro, da África e outras vindas de afro-
Alto
Hostilidades Sociais

Paquistão

cubanos. Além disso, vários religiosos,


Filhos de santo de religiões de matriz em especial de Salvador e São Paulo,
africana também atuam na divulgação procuram retornar à África em busca
de suas crenças no exterior, mais espe- das energias primárias de sua crença,
cialmente no Cone Sul. O Rio Grande o que alguns pesquisadores deinem Brasil
do Sul, que concentra parte dos adep- como “reafricanização” ou “dessincre- média dos países
tos das religiões afrobrasileiras, pode tização”, um processo que começou no
EUA China
ser considerado uma das plataformas inal dos anos 1970 e início dos anos
Labmundo, 2014

de sua difusão internacional, contri- 1980, mas que já teria sido esboçado
Baixo

Uruguai Restrições Governamentais


buindo para a abertura de terreiros na nos anos 1930. Um dos destinos mais Baixo Alto

Argentina e no Uruguai. Nesse proces- comuns dos candomblecistas da ver- Fonte: Pew Research Institute, 2014.
so, as cidades gaúchas de Santana do tente iorubá seria a Iorubalândia, re-
Livramento e Uruguaiana, e as cidades gião cultural do povo iorubá situada
de Paso de los Libres (Argentina) e Ri- na Nigéria, que tem raízes religiosas se- VEJA TAMBÉM:
vera (Uruguai), serviram como ligação melhantes às do candomblé brasileiro. Cultura e soft power p. 50
entre os dois lados e contribuíram para Pluralismo religioso p. 56
a propagação das religiões afrobrasi- É importante questionar os impac- Brasileiros no exterior p. 76
leiras na região do Cone Sul. Esse não tos que esses intercâmbios religio- Redes sociais e integração regional p. 96
foi um processo recente, tendo seus sos e culturais podem ocasionar na

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 75
Brasileiros Historicamente, o Brasil foi considera-
do um país de imigração, o que con-
tribuindo para a sua formação social,

no exterior política e econômica. Só recentemen-


te começou a inverter a direção dos
luxos migratórios, principalmente a
partir da década de 1980, crescendo o
número de brasileiros que moram fora
do país, ainda assim pequena em rela-
ção à população total (menos de 1%).
Em 1990, emigraram 493.934 brasilei-
ros, principalmente para o Paraguai
(21%), os EUA (19%) e o Japão (11%).
No ano 2000, saíram 975.986, a maio-
MIGRANTES BRASILEIROS NO EXTERIOR ria (73%) com destino a países desen-
Em milhares por país de residência, em 2010
volvidos (Japão, 26%, e EUA, 23%)
e Paraguai (9%). Já em 2013, migra-
ram 1.768.980 brasileiros, 79% deles
com destino aos países desenvolvidos.
Em 2013, EUA (21%) e Japão (21%) se
mantêm como destinos prioritários,
seguidos dos países europeus e, pela
primeira vez, da China (7%). Em re-
lação à composição desses luxos mi-
gratórios, a maioria é de classe média
340 e com crescente peso das mulheres.
Além dos dados gerais, é importante
Labmundo, 2014
70,3
57,2
1000 km 17,6
Total de emigrantes brasileiros também ressaltar o lugar que o Brasil
residentes nos demais países
ocupa nas rotas internacionais de trái-
Fontes: IBGE, 2010b; OIM, 2010. co de mulheres.

A coniguração dos sistemas migra-


tórios incide na escolha do destino. A
BRASIL E PRINCIPAIS FLUXOS MIGRATÓRIOS procura de melhores oportunidades la-
Emigração e imigração em milhões de pessoas, em 2011 borais e de vida leva os brasileiros para
os países ricos, principalmente EUA e
Europa, ao tempo que a existência de
Japão EUA
Espanha
Portugal Itália
luxos migratórios prévios entre Japão
e Brasil explica o peso deste país entre
os migrantes brasileiros, muitos deles
de origem japonesa (os dekasseguis).
No caso do Paraguai é claramente uma
migração fronteiriça, dos chamados
brasiguaios.
Paraguai
Labmundo, 2014

Essa estabilidade do sistema migrató-


1000 km
rio brasileiro se explica também pela
339 162 29
Fonte: Banco Mundial, 2011. conformação de redes transnacionais
que servem de apoio aos migrantes fa-
cilitando a integração nas sociedades
QUANTIDADE DE MIGRANTES de acolhida. O Itamaraty contabili-
Saldo total de migrantes em milhões de indivíduos, em 2011
za centenas de associações de brasilei-
ros no exterior que contribuem para
o intercâmbio de informações sobre
moradia ou emprego com os recém‐
emigrados, mas também para o de-
senvolvimento de práticas culturais,
religiosas, econômicas e políticas, ser-
+ 40,4 vindo de interlocução com os gover-
Emigração Imigração

+ 2,0
nos. Entre essas práticas transnacionais
+ 0,5
0 destacam-se a organização da partici-
pação e representação política em de-
Labmundo, 2014

- 0,5

1000 km
- 2,0
- 11,13
Sem dados fesa dos direitos dos migrantes, assim
disponíveis
como o envio de remessas para os lo-
Fonte: Banco Mundial, 2011. cais de origem, luxo inanceiro que

76 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
ATORES E AGENDAS

REMESSAS PARA BRICS BRASIL E PRINCIPAIS FLUXOS DE REMESSAS


Evolução das remessas recebidas, entre 1990 e Entrada e saída, em 2011
2010 (em bilhões de dólares, preços correntes)
1990
Índia Espanha
*Não há dados l Itália
disponíveis para Japão ga
China a Rússia, em EUA tu Líbano

r
1990

Po
Rússia

Brasil
África
do Sul
20 40

2000

Labmundo, 2014
Paraguai
Índia Em milhões de dólares
1000 km
China

Rússia Fonte: Banco Mundial, 2011. 1168 580 163

Brasil
África
do Sul QUANTIDADE DE REMESSAS
20 40
Saldo total de remessas em milhares de dólares, em 2011
2010
Índia

China

Rússia
Labmundo, 2014

Brasil
África
do Sul
20 40
Fonte: Banco Mundial, 2011. - 118,7
remessas

- 10
Enviou

-1

Labmundo, 2014
0
pode ter um grande impacto no desen- Sem dados
remessas

+1
Recebeu

volvimento dos lugares de origem. 1000 km


+ 10
disponíveis

Fonte: Banco Mundial, 2011. + 60,2


Em 2012, o Brasil recebeu 2.582.640.313
dólares em remessas (procedentes dos
EUA, do Japão, da Espanha, de Por- relativos, chama a atenção a dependên- em São Paulo e para a situação dos hai-
tugal e do Paraguai, principalmente), cia que países como Tajiquistão (48% tianos no Acre.
colocando-se como o segundo maior do Produto Interno Bruto), Quirguis-
receptor da região, atrás do México, tão (31%), Lesoto e Nepal (25% cada O vínculo entre migrações e desenvol-
com mais de 23 bilhões. Em volume um) têm desses recursos. vimento, e as trágicas consequências
total, os principais receptores mun- de políticas migratórias inadequadas
diais foram a Índia (quase 69 bilhões) e A crise tem impactado a conigura- vivenciadas pelos emigrantes brasilei-
a China (quase 40 bilhões). Em termos ção dos luxos migratórios, colocan- ros na última década, exigem que os
do o Brasil como principal destino dos governos (federal e estaduais) estejam
emigrantes europeus, principalmente especialmente atentos a uma gestão
HAITIANOS RUMO AO BRASIL portugueses, e mudando a direção das coletiva e coerente dos luxos migra-
Rota dos emigrantes haitianos para o Brasil,
em 2014
remessas nesse corredor (do Sul para o tórios que contribua para fomentar
País de origem (Haiti)
Norte). O país também é atrativo para os benefícios e diminuir os proble-
Países de passagem
País de destino (Brasil)
migrantes de países do Sul, muito me- mas de integração, discriminação e in-
HAITI nos numerosos, mas com uma visibili- segurança humana que enfrentam os
R. DOMINICANA dade mediática maior, como é o caso migrantes. Firmar a Convenção Inter-
Labmundo, 2014

dos haitianos. Essa mudança repercu- nacional sobre a Proteção dos Direitos
PANAMÁ
te no debate sobre a legislação migra- de Todos os Trabalhadores Migrantes
tória. Se até recentemente a agenda e dos Membros das suas Famílias se-
Panamá esteve marcada pela defesa dos direitos ria um primeiro passo para demonstrar
dos brasileiros no exterior e as contri- o compromisso do governo brasileiro
buições dos migrantes para o desenvol- com os direitos e o contexto de vida
EQUADOR vimento nacional, hoje ganha espaço dos migrantes.
Manaus (AM)
Tabatinga (AM)
BRASIL no debate político a garantia dos di-
Brasiléia (AC)
reitos humanos dos estrangeiros no
Assis Brasil (AC)
Brasil, como ocorreu na Primeira Con- VEJA TAMBÉM:
Lima
rumo ao ferência Nacional sobre Migrações e Cultura e soft power p. 50
PERU Centro-sul Refúgio (Comigrar), que defendeu a Pluralismo religioso p. 56
São Paulo (SP) necessidade de mudança da Lei do Es- Brasileiros no exterior p. 76
500 km
Rio de Janeiro (RJ) trangeiro e chamou a atenção para as Redes sociais e integração regional p. 96
Fontes: Fernandes et al., 2014. condições de trabalho dos bolivianos

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 77
Centros de de mercados por grupos privados das
principais potências: EUA, Reino Uni-
do, França e, cada vez mais, Austrália.

pesquisa e Os Estados atuam nesse campo princi-


palmente por meio da abertura de va-
gas em suas universidades a estudantes

universidades estrangeiros e pela concessão de bolsas


dos mais variados tipos. O Brasil, ain-
da muito modesto nessa competição
internacional, tem dois grandes pro-
gramas institucionais de concessão de
bolsas: o PEC-G (para a graduação) e
Dados da Unesco indicam aumento global para os serviços de educação su- o PEC-PG (para a pós-graduação). No
de 50% no número global de estudan- perior, estimado pela OCDE em cerca caso do PEC-G, entre 2000 e 2013, o
tes de nível superior entre 2000 e 2007, de 40 bilhões de dólares, mas também Brasil concedeu cerca de 7700 bolsas,
antecipando, para 2050, que cerca de no campo da pesquisa acadêmica. O 73% das quais a cidadãos oriundos dos
oito milhões do total desses estudantes processo é facilitado pelos baixos cus- países africanos de língua portugue-
estariam realizando cursos fora de seu tos de transportes e comunicação, pela sa e 15% para latino-americanos. No
próprio país. Dados da OCDE de 2010 crescente migração internacional e caso do PEC-PG, entre 2000 e 2012,
apontam aproximadamente 3,2 mi- pelo aumento do inanciamento priva- foram 1880 bolsas, 70% delas para lati-
lhões de estudantes internacionais no do nesse setor. Portanto, além de setor no-americanos e 20% para estudantes
mundo. Somente na América Latina, estratégico para os Estados, porquanto dos PALOP. O governo federal abriu
segundo a Unesco, existiam em 2007 estreitamente relacionado com a for- recentemente duas universidades com
mais de 23 milhões de estudantes uni- mação das elites e a geração de laços vocação explícita para a cooperação in-
versitários, sendo que mais de 50% de- transnacionais duradouros entre indi- ternacional: a UNILA, em 2008, e a
les estariam concentrados no Brasil, na víduos e sociedades, o campo do ensi- Unilab, em 2010.
Argentina e no México. Essa quantida- no superior e da pesquisa converteu-se
de de estudantes de ensino superior e em aposta econômica estratégica, ten- O Brasil forma cerca de 12 mil douto-
a mobilidade internacional que ten- do despertado interesses em matéria de res por ano. Os investimentos públicos
dem a buscar têm gerado um mercado regulação internacional e de abertura prioritários destinam-se a áreas como
nanotecnologia, TV digital, defesa na-
cional, engenharias, administração,
PRODUÇÃO DE TRABALHOS CIENTÍFICOS saúde e ciências do mar, principalmen-
Índice H* de produções científicas feitas entre 1996 e 2012, por países te por meio do programa Ciências Sem
Fronteiras, que concedeu mais de 38
mil bolsas até 2013. O sistema Univer-
sidade Aberta do Brasil (UAB) visa a
ampliar a oferta de cursos de educação
superior no Brasil, particularmente
na formação de professores, contan-
do hoje com cerca de 243 mil alunos
*Índice H baseia-se
matriculados. Mas existem inúmeros
no impacto do trabalho pontos frágeis. Um deles é a distribui-
acadêmico, por meio
da quantidade de ção geográica, visto que 72% dos mes-
citações feitas e recebidas. 1380 trados e 78,7% dos doutorados estão
569
1000 km
68
nas regiões Sul e Sudeste do país. Da-
Fonte: Scimago Lab, 2014. dos do IBGE de 2010 apontam que a
escolaridade média da população bra-
Produção científica no Brasil entre 1996 e 2012 Evolução da produção científica no Brasil sileira com idade até 25 anos é de ape-
nas 5,8 anos, contra 12 anos na Coreia
do Sul, 13,3 anos em Taiwan e 13,4 nos
EUA. Na América Latina, o Chile tem
27,2% dos jovens (entre 17 e 24 anos)
Produção em 2012: na universidade, a Argentina 26,4%, o
55 803 trabalhos
54,6% da região Uruguai 19,9%, o Brasil apenas 13,2%.
2,29% do mundo Além disso, o Brasil investe em pes-
Total de trabalhos quisa e desenvolvimento apenas 1% do
científicos Produção em 1996:
8 698 trabalhos
Produto Interno Bruto, em compara-
118 854
38,42% da região ção aos 3,45% do Japão, 2,79% dos Es-
35 812 0,76% do mundo
tados Unidos e 2,82% da Alemanha.
Labmundo, 2014

2 069

300 km
Além dos Estados e das empresas, as
organizações internacionais (OCDE,
Fonte: Scimago Lab, 2014. Banco Mundial, OMC, ONU e

78 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
ATORES E AGENDAS

Unesco) têm buscado inluenciar as UNIVERSIDADES NO MUNDO


150 universidades melhores avalidadas, em 2013
agendas e as políticas nacionais no
campo da educação superior e da pes-
quisa, por meio, por exemplo, de suas
políticas institucionais, indicadores e
relatórios especíicos. O regime inter-
nacional de propriedade intelectual,
ao regular o sistema de patentes e a cir-
culação do conhecimento no merca-
do internacional, também criou uma Top 10
interface importante com a evolução Top 50

Labmundo, 2014
da pesquisa cientíica e os métodos de Top 100
avaliação dos pesquisadores e dos cen- 1000 km
Top 150

tros acadêmicos.
Fonte: Shanghai Ranking, 2013.
Os rankings, usados para exibir a
posição comparativa do conjunto
das instituições ou certas facetas de internet. Persistem questionamentos e a Índia em 7°. No âmbito latino-
seu desempenho, também têm sido sobre a objetividade desses sistemas de americano, no entanto, o Brasil se
usados como benchmarking que categorização, mas eles se converteram destaca. Segundo a mesma fonte,
conferem visibilidade internacional às em classiicações de desempenho o México aparecia em 31° lugar, a
universidades e aos centros de pesquisa. de pesquisa e prestígio acadêmico Argentina em 40° e o Chile em 46°.
Os mais conhecidos são o Academic inclusive para a obtenção de O número de artigos cientíicos
Ranking of World Universities (da inanciamentos internacionais. Entre publicados por brasileiros representa
Universidade Jiao Tong de Xangai), as universidades brasileiras, costumam 54% do total publicado na América
publicado desde 2003, e o Times aparecer entre as 500 melhores do Latina e 2,63% daqueles publicados no
Higher Education Supplement (THES), mundo a USP, a Unicamp, a UFMG, mundo. Assim, é inegável o papel da
que começou a ser publicado em 2004. a UFRJ, a UNESP e a UFRGS (no pesquisa universitária para a inovação
Também existe o Webometrics, que é sistema de Xangai). No ranking de tecnológica e para a projeção de soft
o ranking mundial de universidades na 2013, a USP aparece entre as top 150; power do Brasil.
a UFRJ, a UFMG, a UNESP e a
Unicamp entre as top 400; a UFRGS
BOLSAS PARA ESTRANGEIROS entre as top-500. Já entre as top 200 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
Bolsas concedidas pelo governo brasileiro entre Top 10 da produção mundial de hardware e de
2000 e 2012
do THES, aparece apenas a USP, em software, em 2013
900 175° lugar em 2007 e em 196° em EUA 39%
2008, porém nenhuma universidade Japão 9%
brasileira em 2009 e em 2010. No Reino Unido 7%
700
mesmo ranking de 2013, a USP aparece Alemanha 6,3%
entre as top 250 e a Unicamp entre as França 4,7%
500 top 350. Por outro lado, dados de maio Canadá 3,1%
de 2014 do Webometrics apontam a Brasil 3,0%
300
USP em 29° lugar, a UFRGS em 206°,
China 2,2%
a UFSC em 235°, a UFRJ em 240°, a
Austrália 2,2%
Unicamp em 335°, a UFMG em 354° e
Itália 2,1%
100 a UNESP em 373°. No mesmo ranking
2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012
e no âmbito latino-americano, o Brasil Fonte: Abes, 2013.

PEC-G
apresenta, em 2014, 25 universidades
PEC-PG
entre as top 1000, o México 6, Participação regional da produção brasileira,
Colômbia e Argentina 3 cada; entre em 2013
64,3%
Bolsas concedidas pelo governo brasileiro entre os BRICS, a China apresenta 106
2000 e 2012 por origem dos estudantes universidades na lista das top 1000, a
Labmundo, 2014

6000
Índia 4, a Rússia 8 e a África do Sul 6.
5000
De acordo com o Scimago Institutions 13,0% 12,2%
4000 Ranking, que avalia o número de 8,3%
2,2%

3000
publicações e citações na base de dado Sudeste Centro-oeste Sul Nordeste Norte
Scopus, o Brasil ocupava, em 2012, a Fonte: Abes, 2013.
2000 13a posição entre os países de maior
produtividade cientíica. Tal posição
1000
o coloca atrás de países desenvolvidos VEJA TAMBÉM:
como os EUA, o Reino Unido, a Parque industrial p. 30
África América Ásia
Alemanha e o Japão, mas também de
Labmundo, 2014

Latina e
Caribe Minério e indústria extrativa p. 38
PEC-PG PEC-G
alguns países em desenvolvimento e Projetos de integração regional p. 82
potências emergentes. Nesse mesmo Cooperação Sul-Sul em educação p. 114
Fontes: PEC-G, 2013 e PEC-PG, 2013. ano, a China aparecia em 2° lugar

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 79
Capítulo 4:

AMÉRICA DO SUL,
DESTINO
GEOGRÁFICO
DO BRASIL?

Enara Echart Muñoz


Enara Echart Muñoz
O lugar geográico em que os países se situam não é fruto de uma esco-
lha, mas os rumos e o teor das relações com os vizinhos o são. A porosi-
dade das fronteiras, reforçada pelas inovações em telecomunicação, em
transporte, e pela globalização, favorece o luxo inanceiro, o comércio de
mercadorias e de serviços e, de modo distinto, o luxo de pessoas. Com
isso, reforça-se a proximidade física, econômica, cultural e social do Brasil
com os seus vizinhos. A dinâmica regional sul-americana tem bases de
amizade e de cooperação, mas também se fundamenta em rivalidades e
conlitos, o que resulta em um ambiente construído com base emsingula-
ridades históricas, econômicas, políticas, físicas e de segurança. A assime-
tria entre o Brasil e seus vizinhos é grande e gera paradoxos para a política
externa. A análise das escolhas do Brasil em suas relações com a vizinhan-
ça e a importância da região nas agendas de política externa revelam que
ainda não existe consenso no seio da sociedade brasileira sobre que rumos
tomar e que prioridades devem ser atribuídas à inserção do Brasil na
região. As ações da sociedade civil e das empresas, assim como iniciativas
dos governos para agir conjuntamente em diversos âmbitos (educação,
saúde, defesa e infraestrutura), demonstram a relevância da região, mas
ainda permanecem em aberto questões-chave sobre a percepção dos
vizinhos acerca da liderança regional do Brasil.
Projetos de Ecosoc. A CEPAL apontou como um
dos principais problemas econômicos
da América Latina a pouca integra-

integração ção econômica entre os países e, por


isso, sugeriu que os países latino-ame-
ricanos se esforçassem para criar com-
plementariedade entre suas cadeias

nas Américas produtivas e fortalecessem o comércio


regional. A ideia era criar um merca-
do de massa para a produção em esca-
la dentro da América Latina, para que
os países, desse modo, conseguissem
produzir e exportar bens industriali-
PROJETOS DE INTEGRAÇÃO: DISPUTAS E RESISTÊNCIAS zados, quebrando a lógica da deterio-
Instituições regionais em 2014
EUA ração dos termos de troca. O Tratado
Países que assinaram acordo de LC de Montevidéu, assinado em 18 de fe-
com os EUA antes de 1995
Países que assinaram acordo de LC
vereiro de 1960, deu origem à ALALC,
com os EUA depois de 2003 com o objetivo de criar uma área de
Países que assinaram acordo de LC
com os EUA depois de 2005 livre comércio entre os países latino-
Mercado Comum do Sul (Mercosul) -americanos. A ALALC vem ao en-
Aliança Bolivariana para as contro da proposta cepalina de que era
Américas (ALBA)
Área que a ALCA necessária a criação de mecanismos de
pretendia abranger cooperação econômica entre os países
do continente, para que se fortaleces-
Não participam dos processos sem e atingissem o desenvolvimento.
de integração citados

A ALALC, entretanto, não prospe-


rou por motivos econômicos e políti-
cos, tanto nacionais quanto sistêmicas.
Também esbarrou em opiniões diver-
PROCESSO DE NEGOCIAÇÃO DA ALCA gentes entre seus Estados membros.
Data Evento de cúpula Andamento da negociação Por esse motivo, ela foi substituída, em
Lançamento da ALCA pelo 1980, pela ALADI. Em comparação
1994 I Cúpula das Américas presidente dos EUA
Bill Clinton com a sua antecessora, a ALADI tinha
objetivos menos ambiciosos. A im de
Proposta da “ALCA Light”
2003
VIII Reunião Ministerial
pelo presidente do Brasil diminuir a tensão causada por diferen-
sobre Comércio
Luiz Inácio Lula da Silva tes opiniões entre os países latino-ame-
Paralização das
ricanos, abandonava a ideia de criação
2005 IV Cúpula das Américas negociações sobre a ALCA, de uma área de livre comércio e de-
após conflitos de interesses
fendia acordos de preferências econô-
micas entre os países da região. Com
100 km isso, a organização de 1980 pode ser
Labmundo, 2014

considerada um acordo “guarda-chu-


va” para outros acordos de integração
Fontes: Elaboração própria com base na informação em 2014 dos
sítios web oficiais de Mercosul; NAFTA; Aliança Bolivariana; econômica menores, apresentando-se
Itamaraty; CAFTA Intelligence Center; e presidência dos EUA. como uma alternativa mais lexível em
comparação com a ALALC. Alguns
acordos econômicos atuais foram assi-
Durante longo período histórico, o realidade do mundo em desenvolvi- nados no âmbito da ALADI, inclusive
Brasil não foi entusiasta da integra- mento. Com base na análise do fenô- o Mercosul. Esse formato institucional
ção regional. Seu modelo econômico meno de “deterioração dos termos de marcado pela lexibilidade contribuiu
(exportação de produtos para Euro- troca”, argumentavam que os países para o surgimento de outros processos
pa e EUA) e o fator linguístico (o país exportadores de bens industrializados de integração menores, como a Cari-
é o único que fala a língua portugue- agregam mais valor ao seu comércio com e a CAN. A exceção foi o México,
sa na região) contribuíram para essa do que os que vendem produtos pri- que se vinculou ao NAFTA, fazendo
falta de entusiasmo. Isso começou a mários. Essa diferença tende a ser apro- uma opção preferencial de relação eco-
mudar com o fortalecimento de uma fundada ao longo do tempo, o que nômica com a América do Norte.
escola do pensamento latino-america- permitiu aos defensores dessa aborda-
no, baseada na Teoria da Dependência gem denunciar as falhas do pensamen- O processo de integração econômica
e na concepção das relações centro-pe- to econômico tradicional construído da América Latina apresenta enormes
riferia. Teóricos brasileiros muito dia- em torno das vantagens comparativas desaios. Um deles é a ação dos EUA.
logaram com seus pares da região e de entre as nações. Inspirados pela criação do NAFTA, os
outros países, e juntos construíram EUA buscaram expandir esse modelo
um dos mais ricos e genuínos arcabou- O pensamento dependentista foi for- para estabelecer a ALCA, que visava a
ços intelectuais produzidos a partir da talecido com a criação da CEPAL pelo incluir todos os países do continente

82 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
AMÉRICA DO SUL, DESTINO GEOGRÁFICO DO BRASIL?

PROCESSOS DE INTEGRAÇÃO NAS AMÉRICAS


Instituições regionais em 2014
Mercado Comum do Sul (Mercosul)1

Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA)

Comunidade do Caribe (Caricom)

Comunidade Andina (CAN)

Tratado Centro-Americano de Livre Comércio (CAFTA)

União de Nações Sul-Americanas (Unasul)

Canadá Aliança do Pacífico


Comunidade dos Estados Latinoamericanos e
Caribenhos (CELAC)
Associação Latino-Americana de Integração (ALADI)

100 km

Estados Unidos

Não participam dos processos


de integração citados
1
A Bolívia soliciou entrar no Mercosul em 2012 Bermudas Ilhas Virgens Americanas
*O CAFTA tem acordo de livre comércio com os EUA Cuba Turks e Caicos Ilhas Virgens Britânicas
Bahamas Haiti Anguilla
* A Nicarágua aderiu à ALADI em agosto de 2011 e Ilhas Cayman Rep. Dominicana Barbuda
ainda está em processo de cumprimento das
condições estabelecidas para tornar-se membro pleno. Belize Porto Rico São Cristóvão e Nevis
México Antigua
Guadalupe
Honduras Montserrat Dominica
Fontes: Elaboração própria com base na informação em 2014 dos
sítios web oficiais de Mercosul; Unasul; NAFTA; Caricom; Jamaica Curaçao Martinica Santa Lúcia
Comunidade Andina; Aliança Bolivariana; Itamaraty; Banco Mundial; Bonaire
Aruba Barbados
CELAC; CAFTA Intelligence Center; OEA; ALADI; e OECS. Guatemala
São Vicente e Granadinas
El Salvador Granada
Venezuela
Trinidad e Tobago
Nicarágua
Guiana
Costa Rica Colômbia
Suriname
americano (com exceção de Cuba) em Panamá
uma zona de livre comércio. A ALCA Equador
oferecia aos países membros a opor-
tunidade de acesso ao cobiçado mer- Brasil
Peru
cado estadunidense. Por outro lado,
o exemplo mexicano demonstrava
que esse acordo com os EUA, dadas Bolívia
as assimetrias evidentes, também pro-
vocaria distorções nas economias do-
Paraguai
mésticas. A ALCA poderia signiicar o
enfraquecimento dos blocos regionais Chile

de integração, assim como uma possí- Argentina


vel desindustrialização das economias Uruguai
nacionais, diante da concorrência dos
produtos estadunidenses. Ciente desse
cenário de oportunidades e desaios, o
Brasil e outros países aceitaram abrir as
negociações, alguns com muita caute-
la. O Brasil foi líder, ao lado dos EUA,
Labmundo, 2014

das negociações e, como airmou o


Chanceler Celso Amorim, fez de tudo
para dilatar os prazos das negociações
até o abandono deinitivo da proposta.

Nas negociações da ALCA, icaram Também são favoráveis a acordos do região. A China desponta como novo
evidentes os interesses dos EUA, que tipo “regionalismo aberto”, como a tipo de ameaça, ocupando progressi-
esperavam um bloco nos moldes do Aliança para o Pacíico (muito orien- vamente mais espaço nos luxos de co-
NAFTA, incluindo acordos sobre pro- tado para o comércio com a Ásia). Esse mércio, mas também pondo em xeque
priedade intelectual, compras gover- avanço estadunidense não se deu sem a liderança brasileira.
namentais e serviços, tratando como resistências, expressadas na manu-
temas sensíveis a liberalização do setor tenção do Mercosul (apesar de todas
agropecuário e a restrição a subsídios. as diiculdades), na criação da ALBA VEJA TAMBÉM:
Diante da paralisação das negocia- (graças à liderança venezuelana) e, no Parque industrial p. 30
ções sobre a ALCA, os EUA adotaram plano político, no estabelecimento da Congresso, ministérios e agências p. 64
a estratégia alternativa de negociar di- Unasul. Os interesses estratégicos dos Multinacionais brasileiras p. 70
versos acordos de livre comércio di- EUA não constituem o único desa- Defesa e segurança p. 90
retamente com cada país ou bloco. io para os processos de integração na

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 83
Da América Latina Latina surgiu por volta de 1850. A ex-
pressão só iguraria na documentação
diplomática brasileira a partir da déca-

à América do Sul da de 1890, quando também surgem


outras denominações regionais, como
o pan-americanismo, a América Cen-
tral, do Sul e do Norte. É o momento
da transição para o regime republica-
no, que reduziria a percepção de uma
singularidade brasileira, distanciaria o
Brasil da Europa e ajudaria a esboçar
uma identidade regional, ainda que
marcada por desconiança.
Ao longo da história, a identidade na- das primeiras décadas, a ordem políti-
cional do Brasil já foi deinida por ca estabilizou-se, o que levou boa par- Nas primeiras décadas da República, o
meio de muitos conceitos socialmen- te da elite nacional a se crer distante discurso diplomático articulava o con-
te construídos: país pacíico, que res- dos vizinhos (que adotavam um regi- ceito de América do Sul basicamente
peita o direito internacional, em busca me considerado inferior, a república, e em referência ao Cone Sul e em opo-
do desenvolvimento, cristão, subde- passavam por forte instabilidade). sição aos EUA e sua região de inlu-
senvolvido, do Terceiro Mundo, oci- ência direta, que muitas vezes incluía
dental, americano, ibero-americano, Desse modo, a identidade nacional países como Venezuela, Panamá e Co-
latino-americano, sul-americano. Nos foi sendo formada ao longo do sécu- lômbia. Após a Segunda Guerra seguiu
últimos anos, tem sido enfatizada a di- lo XIX em contraposição à vizinhança: a frustração do desejo de uma relação
mensão das relações com a América uma monarquia entre repúblicas, uma especial com os EUA, aproximando
do Sul. O enfoque regional emprega- ilha de civilização em meio à barbárie, o Brasil de seus vizinhos latino-ame-
do pelos atores políticos brasileiros va- um mundo lusófono distinto do cas- ricanos, em especial a partir de uma
riou ao longo do tempo. A invasão da telhano. Nesse período, a América era identidade construída no subdesen-
península ibérica pelas tropas de Na- entendida como uma unidade, região volvimento. Contribuem para essa in-
poleão catalisou os processos de inde- distinta da Europa e sob tutela dos lexão a criação da CEPAL, da ALALC
pendência das colônias americanas de EUA. A América do Sul só começaria e o lançamento da Operação Pan-A-
Portugal e Espanha. A formação dos a surgir escassamente nos documentos mericana por Juscelino Kubitschek,
novos países, resultante de inluências diplomáticos várias décadas depois, e um fórum dos países latino-america-
sistêmicas e transformações domésti- provavelmente compunha um concei- nos, demandando recursos públicos
cas, produziu uma grande diversidade to distinto do atual, uma vez que nos estadunidenses para o desenvolvimen-
de regimes políticos. O Brasil passou EUA, até o início do século XX, era to regional.
por um processo peculiar, garantindo comum fazer referência à América do
sua autonomia a partir da manuten- Sul como o conjunto de países abaixo A resposta dos EUA só viria após a Re-
ção do regime monárquico. Depois do Rio Grande. O conceito América volução Cubana, com os lançamentos

INTEGRAÇÕES REGIONAIS NAS AMÉRICAS


Organismos de integração regional no continente americano lançados entre 1945 e 2014, por data de fundação
Quantidade
de membros
América do Sul

Organismo com Comitê Intergovernamental Coordenador dos Países da Bacia do Prata 5


participação Pacto Andino Comunidade Andina 4
brasileira Mercosul 5
Org. do Tratado de Cooperação Amazônica 8
CASA Unasul 12

Organização dos Estados Centro-Americanos 5


América Central

Mercado Comum Centro-Americano 5


Comunidade do Caribe 20
e Caribe

Organização dos Estados do Caribe Oriental 9


* Alguns membros 6
não são Estados Parlamento Centro-Americano
Sistema da Integração Centro-Americana 8
independentes
Associação dos Estados do Caribe 28

Organização dos Estados Ibero-Americanos 24


América Latina

ALALC ALADI 13
Sistema Econômico Latino-Americano e do Caribe 26
Contadora Grupo do Rio 24
Parlamento Latino-Americano 22
CELAC 33

Organização dos Estados Americanos 35


Outros

NAFTA 3
ALBA 9
Aliança do Pacífico 4
Labmundo, 2014

1945 1955 1965 1975 1985 1995 2005 2015

Fonte: Elaboração própria a partir dos sítios web dos organismos de integração regional, 2014.

84 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
AMÉRICA DO SUL, DESTINO GEOGRÁFICO DO BRASIL?

da Aliança para o Progresso e do Banco DA ALALC À ALADI


Interamericano de Desenvolvimento. Integração latino-americana, entre 1960 e 2014
Após o golpe de 1964, o país privile- Fundadores da Associação
Latino-Americana de Livre
giou uma identiicação com o Ociden- Comércio (1960)
Ingressantes na
te. No entanto, logo o país retornou década de 1970
à identidade orientada em direção ao Cuba ingressa em 1999
Terceiro Mundo e à América Latina. Panamá ingressa em 2012
Comércio intrarregional (ALADI)
Dessa vez, o Brasil assume o papel de
300
potência “preparada para assumir as

índice-base 2004
responsabilidades que lhe competem

(= 100)
no tocante aos países de menor desen- 200

volvimento relativo, tanto no plano bi-


lateral, quanto no multilateral”, nas 100
palavras do Chanceler Mario Gibson
04

09

14
20

20

20
Barbosa. Nos anos 1970, as crescentes Fonte: Sítio web da ALADI, 2014.
fricções com os EUA e a crise do pe-
tróleo reforçaram a identidade regio-

Labmundo, 2014
nal. A redemocratização veio acentuar da integração, com particular aten-
essa orientação, que icou plasmada ção à diplomacia presidencial. O Ita-
na Constituição brasileira, que deine maraty e a assessoria internacional da Sede da ALADI 500 km

como metas a integração regional e a presidência trabalharam conjunta- (Montevidéu)


formação de uma comunidade de na- mente nesse sentido. A ênfase na Amé-
ções da América Latina. A superação rica do Sul foi contemporânea a uma
da rivalidade com a Argentina permi- nova guinada regional, revertendo um dos Estados Americanos, o desenvolvi-
tiu a formação do Mercosul, uma das passado de baixa atuação na vizinhan- mento da Unasul.
referências da identidade internacio- ça. A América do Sul é hoje um dos
nal do país. eixos centrais da inserção internacio- Tais alternativas indicam a América do
nal brasileira e a cooperação regional Sul como espaço prioritário da PEB,
Um enfoque propriamente sul-ame- já foi deinida pelo então presidente muito embora não haja consenso en-
ricano é fenômeno recente, esboça- Lula como o “centro” da política exter- tre representantes políticos e membros
do nos anos 1980, encaminhado nos na. Buscou-se o fortalecimento da re- da elite brasileira acerca dessa lideran-
anos 1990 e aprofundado mais deci- gião como eixo alternativo de poder ça. Também há críticas à incapacidade
sivamente durante o governo Lula. A em um mundo que se pretende cada brasileira de arcar com os custos eco-
América do Sul passou a ser entendi- vez mais multipolar. As crises regionais nômicos e políticos de uma integração
da como espaço de maior legitimidade foram encaminhadas por meio da atu- assimétrica.
para um projeto de liderança regional. ação de fóruns locais, evitando a inter-
Além disso, havia a percepção de que venção dos Estados Unidos. Houve o O sistema multilateral regional in-
a América Latina havia perdido sua reconhecimento das assimetrias inter- clui grande variedade de organis-
legitimidade como região, após a de- nas à região, novos âmbitos foram re- mos, cúpulas presidenciais e fóruns
cisão mexicana de assinar, em 1994, o forçados (o FOCEM, por exemplo), de concertação. A ALBA tem relevan-
NAFTA. Foi nesse contexto, durante e a integração sul-americana passou a te enfoque centro-americano e caribe-
a primeira gestão do Embaixador Cel- ser vista como ponto de partida para nho. A Aliança do Pacíico orienta-se
so Amorim como chanceler, que a di- uma nova inserção internacional para aos mercados asiáticos.
plomacia brasileira resgatou o conceito o Brasil.
de América do Sul, inicialmente pela Hoje, somado ao interesse em seu en-
proposta de uma área de livre comér- A formação de um arcabouço multila- torno, o Brasil aumenta a complexi-
cio para a região (a ALCSA). Se essa teral regional também vem reforçan- dade dos entendimentos a respeito
prioridade diplomática foi atenuada do a orientação pela consolidação de de seus espaços de inserção. Além da
durante o governo FHC (apesar da or- uma região sul-americana, aparente- América do Sul, a retórica diplomáti-
ganização das primeiras reuniões da mente mais coesa e onde o Brasil teria ca brasileira vem apontando a emer-
história de chefes de Estado exclusi- de assumir liderança na coordenação e gência de novas coalizões e articulações
vamente da América do Sul, em 2000 na produção de bens comuns, como o internacionais, como a Cooperação
e 2002), foi uma marca mais incisiva desenvolvimento econômico, a inte- Sul-Sul, os BRICS, o Fórum IBAS, as
do governo sucessor. No governo Lula, gração pela infraestrutura e a estabili- Cúpulas ASA e ASPA, bem como a
houve a criação de uma Subsecretaria dade política. Em vez de uma área de CPLP, que podem ser complementa-
para a América do Sul no Itamaraty e, livre comércio das Américas, o Brasil res ou concorrentes ao projeto brasilei-
em 2008, da Unasul. defendeu a proposta de aproximação ro de liderança regional.
dos projetos do Mercosul e da Comu-
Se os esforços de cooperação regional nidade Andina. Em vez de se somar
eram marcados por uma ênfase econô- ao projeto da Organização do Trata- VEJA TAMBÉM:
mica, em especial nos anos 1990, du- do do Atlântico Norte (como tentou Logística p. 32
rante o governo Lula novas esferas a Argentina nos anos 1990), propôs Pobreza e desigualdade p. 44
foram reforçadas, como a dimensão a construção de um fórum local Diplomacia presidencial p. 62
social, cultural, de defesa, mas em es- sul-americano na área de defesa e segu- Assimetrias e desigualdades p. 94
pecial o âmbito propriamente político rança. Em detrimento da Organização

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 85
Integração na em cooperação, o desenvolvimento.
Entretanto, esse período de euforia du-
rou menos de uma década. Diversas

América do Sul crises econômicas e políticas abalaram


o cenário doméstico dos países mem-
bros do Mercosul, inaugurando um
momento de questionamentos e dúvi-
das. Diante de ataques especulativos à
economia brasileira, o governo federal
desvalorizou o real em janeiro de 1999,
criando uma taxa de câmbio extrema-
mente favorável para a exportação de
produtos à Argentina. Com isso, o vi-
MODELOS DE INTEGRAÇÃO DISTINTOS em desenvolvimento e rivais históri- zinho viu agravado o déicit na sua ba-
Situação em 2014 cos conseguiriam liderar um proces- lança comercial, tornando impossível
so de integração econômica e política. a manutenção da paridade peso-dó-
Essa realidade provocava olhares de lar. A Argentina mergulhou em crise
desconiança na comunidade inter- econômica, que contaminou o âmbi-
nacional e de incerteza entre os pró- to político e contribuiu para gerar ins-
prios membros do bloco. Inicialmente, tabilidade institucional no país. Nesse
o Mercosul apresentava baixo adensa- período, o Paraguai também foi pal-
mento institucional, sob a justiicativa co de crise institucional, conirman-
de que não faria sentido criar diversas do o quadro pessimista para os países
normas e regras burocráticas que pode- membros do Mercosul e, consequen-
riam engessá-lo. Segundo essa lógica, temente, para o futuro do bloco. A
era benéico deixar que o Mercosul se divergência de interesses e de perspec-
desenvolvesse livremente, até que atin- tivas sobre o Mercosul icou evidente.
Países membros do
Mercosul gisse maturidade institucional e uma Os países ignoraram seus compromis-
Países em processo de reorganização normativa fosse necessá- sos de soluções articuladas e agiam
adesão ao Mercosul
ria. É verdade, porém, que o governo cada vez mais unilateralmente.
Países associados
ao Mercosul brasileiro, por ser o país mais relevan-
Países com acordo
te em termos econômicos, demográ- O cenário turbulento começou a dar
Labmundo, 2014

500 km de livre comércio


com os EUA
Países membros da icos e territoriais, expressava então a sinais de melhora no início do século
Aliança do Pacífico
preferência por um modelo de regio- XXI. O governo brasileiro passou a se
Fontes: Sítio web do Mercosul, 2014; Sítio web da
presidência dos EUA, 2014. nalismo aberto, capaz de criar estabili- pautar no entendimento de que, ne-
dade doméstica e regional, assim como cessariamente, deve desenvolver uma
de reinserir Brasil e Argentina na po- relação de parceria com os vizinhos, o
O Mercosul nasceu da reaproxima- lítica e na economia mundiais. Por sua que traz a ideia de um futuro comum
ção entre o Brasil e a Argentina, que vez, Paraguai e Uruguai viam no bloco para a região. Seguindo essa lógica, o
decidiram criar programas de coo- a oportunidade de garantir crescimen- Brasil somente teria a se beneiciar de
peração e complementação produti- to econômico e acesso a investimentos. um Cone Sul unido politicamente e
va entre as duas maiores economias com dinamismo econômico. A im de
da América do Sul daquele momen- Os primeiros anos do Mercosul revela- atingir esse objetivo e ciente da impor-
to. O Tratado de Assunção foi assinado ram-se um grande sucesso em termos tância que tem na região, o Brasil deve-
por Argentina, Brasil, Paraguai e Uru- econômicos e institucionais. Além de ria assumir os custos necessários para
guai em 1991, inaugurando um dos um importante crescimento comercial o êxito do processo de integração da
projetos de integração mais ambicio- entre os Estados membros, tudo in- América do Sul. Não há, porém, con-
sos e complexos das Américas. Entre- dicava que os países tinham superado senso na sociedade brasileira sobre isso.
tanto, ainda era incerto se dois países suas desavenças históricas e buscavam, Existem esforços visando a reduzir

CRONOLOGIA DO MERCOSUL E DA UNASUL


1985 1989
Declaração de Iguaçu Tratado de Integração, Cooperação 1999
Econômica e Desenvolvimento Crise institucional
1986 Carlos Menem, no Paraguai
Ata para a Integração Presidente da Argentina Desvalorização
argentino-brasileira do Real
1994 Hugo Chávez,
1990 Adoção da Tarifa Externa Comum Presidente da
Ata de Buenos Aires Protocolo de Ouro Preto Venezuela
1988 Fernando Henrique,
Uruguai manifesta 1991 Presidente do Brasil
Mercosul intenção de participar Tratado de Assunção
1985

2000

do processo de integração Protocolo de Brasília


Temas domésticos 1998
Unasul Promulgada
Protocolo de Ushuaia
Constituição Brasileira

Cooperação Brasil-Argentina Avanço da cooperação Aumento da independência e credibilidade Crise do Mercosul

1990 1995

86 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
AMÉRICA DO SUL, DESTINO GEOGRÁFICO DO BRASIL?

assimetrias e a criar mecanismos de MERCOSUL COMERCIAL


cooperação em diversas agendas (se- Fluxo comercial do Brasil com os Saldo comercial dos países membros do Mercosul
países do Mercosul entre 2000 e 2011 entre 2007 e 2013 (em bilhões de dólares)
gurança, desenvolvimento social e in- 40
tegração física). Além do resgate e do
fortalecimento do Mercosul como
uma das prioridades do governo bra-
sileiro, a ideia de integração regional 30
volta a ganhar força. Desse modo, di-
versos arranjos institucionais e inan-
ceiros foram estabelecidos, a exemplo
do FOCEM e do MAC. Por im, o
20
Mercosul foi ampliado com a entrada
da Venezuela e possivelmente, confor-
me anunciado, da Bolívia.

Hoje, a integração sul-americana en- 10

contra desaios sistêmicos e regionais.


O crescimento chinês e a busca pelos
EUA de expandir acordos de livre co-
mércio fora do espaço multilateral da Valores em milhões
0

OMC concorrem com o processo de de dólares


integração. Além disso, instabilida-
des políticas e econômicas no âmbito 500 km
doméstico dos países sul-americanos -10
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
geram diiculdades de diálogo e co- 5,4 32,4 133,2

operação. Finalmente, o processo de Brasil com o mundo Paraguai com o mundo

integração regional é constantemen- Valor dos bens brasileiros exportados para Brasil com o Mercosul Paraguai com o Mercosul
Argentina com o mundo Uruguai com o mundo
te questionado no âmbito domésti- os países do Mercosul entre 1989 e 2013
(em trilhões de dólares) Argentina com o Mercosul Uruguai com o Mercosul
co por motivos comerciais e políticos,
revelando a ausência de consenso na 50

sociedade brasileira sobre a importân- Participação de manufaturados na exportação


cia econômica que a região (e princi- brasileira, por países ou regiões, em 2013
palmente o Mercosul) tem para o país
em termos de inserção comercial com-
petitiva. A região é um dos principais
destinos de produtos industrializados 30
brasileiros. As elites brasileiras e boa
parte das sul-americanas parecem he-
sitar sobre a relevância do projeto de
integração, seduzidas pelas vantagens,
no curto prazo, de acordos comerciais.
10

VEJA TAMBÉM:
Ameaças globais p. 48 0
Labmundo, 2014

Itamaraty p. 60 1989 1993 1997 2001 2005 2009 2013


90% 50% 36% 5%
Ação internacional dos estados p. 66 Bens semimanufaturados e manufaturados
ul

na
ia
ro o
EU
s

Bens básicos
i
Eu niã

Argentina p. 88
co

pe

Ch
er

U
M

Fonte: Sítio web AliceWeb do MDIC, 2014.

2003 2006 2010 2013


2000
Néstor Kirchner, Venezuela declara intenção de Criação de conselhos Morte de Hugo Chávez
Iniciativa para a Integração
Presidente da Argentina integrar o Mercosul setoriais no âmbito
da Infraestrutura Regional 2014
Lula, Presidente Criação do Mecanismo de da Unasul
Sul-Americana (IIRSA) Dilma Rousseff,
do Brasil Adaptação Competitiva (ALADI) Dilma Rousseff,
Evo Morales, Presidente da Bolívia Presidenta do Brasil
2001 Presidenta do Brasil
Michelle Bachelet, Presidenta do Chile Michelle Bachelet,
Saída de Fernando 2004 José Mujica,
Criação do Fundo para a Presidenta do Chile
de la Rúa da Presidente do Uruguai 2012
presidência da Convergência Estrutural 2007 Protocolo de adesão do Estado
Argentina do Mercosul Cristina Kirchner, Presidenta da Argentina Plurinacional da Bolívia ao Mercosul
2002 Criação da Comunidade Rafael Correa, Presidente do Equador Suspensão do Paraguai do Mercosul
Protocolo de Olivos Sul-Americana Conclusão do processo de entrada
Tentativa de golpe na de Nações (CASA) 2008
2000

2015

Criação da Unasul da Venezuela ao Mercosul


Venezuela Deposição de Fernando Lugo
Álvaro Uribe, Presidente Crise institucional na Bolívia
Fernando Lugo, Presidente do Paraguai da presidência do Paraguai
da Colômbia
Crise do Mercosul Integração pela convergência política

2005 2010

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 87
Argentina: Branco e o diplomata Oliveira Lima.
O novo regime, entretanto, ainda
via a Argentina como o maior inimi-

parceria go potencial do país. As relações bila-


terais Brasil-Argentina também eram
permeadas pelos interesses estratégi-
cos dos EUA. Isso se evidenciou na

estratégica preferência brasileira pelo Colorário


Roosevelt, em detrimento da Doutri-
na Drago.

O relacionamento baseado em cor-


dialidade oicial avançou ao longo da
É com a Argentina que o Brasil possui mesmo os vizinhos Uruguai e Paraguai primeira metade do século XX, mas
sua mais densa, complexa e contradi- foram envolvidos. O imaginário polí- sofreu deterioração após a Segun-
tória parceria no sistema internacional. tico brasileiro deinia os demais países da Guerra Mundial. As assimetrias
A história do relacionamento bilateral da América do Sul como caudilhescos econômicas aumentavam, e se tor-
é marcada por idas e vindas, com riva- e desordenados. As intervenções na navam cada vez mais distintos os per-
lidades políticas e crises econômicas. A política doméstica uruguaia são exem- is de inserção internacional. Tais
gradual construção da parceria estraté- plos da disputa entre Rio de Janeiro e desigualdades, somadas à instabilidade
gica desaia a tradicional baixa sensibi- Buenos Aires na deinição da ordem interna e às mudanças de regime polí-
lidade brasileira para temas regionais. regional. A Guerra do Paraguai foi mo- tico, contribuíram para o aumento da
Também deve ser levada em conside- mento de consolidação da República rivalidade.
ração a ausência de um consenso po- Argentina e início de maior coopera-
lítico, na sociedade brasileira, sobre os ção entre os dois Estados. O governo Geisel (Chanceler Azere-
caminhos da integração regional. do da Silveira) foi momento de gran-
A transição para a República em 1889 de distanciamento, marcado pela
O início do século XIX foi de for- permitiu a ascensão do sentimento crise da construção da usina hidrelé-
te rivalidade e de construção de uma americanista, apoiado de modo dis- trica de Itaipu. O Brasil buscava reali-
balança de poder regional em que tinto por iguras como o Barão do Rio zar a contenção política da Argentina.
O diferendo de Itaipu foi formalmen-
te encerrado em 1979, no início do go-
TURISMO ENTRE BRASIL E ARGENTINA verno Figueiredo, por meio da atuação
Principais cidades de destino de turistas Principais cidades de origem de turistas
argentinos no Brasil, em 2010 brasileiros na Argentina, via aeroportos de
decisiva do Presidente Videla e do Em-
Buenos Aires, em 2013 baixador Oscar Camilión (em Brasília),
55%
com a assinatura do Acordo Itaipu-
Corpus. A década de 1980 foi marcada
25% pela reaproximação entre os dois paí-
5%
ses e por um intenso programa de co-
operação em que ganhou força a ideia
da integração das cadeias produtivas e
dos programas nucleares. Também foi
o momento de redemocratização das
São Paulo
Belo Horizonte
relações Estado-sociedade, e a apro-
São Paulo Rio de Janeiro
ximação bilateral contribuiu para au-
Foz do Armação dos Búzios Rio de
mentar as credenciais democráticas
Labmundo, 2014

Iguaçu Balneário Camboriú Janeiro


Florianópolis de ambos os Estados em suas respec-
Florianópolis
Porto Alegre tivas estratégias de inserção internacio-
Fontes: Observatório Turístico GBCA, 2013; SEBRAE/PR, 2010; Ministério de Turismo, 2014. nal. A Guerra das Malvinas, em 1982,
com apoio brasileiro à causa argentina,

INVESTIDORES EXTERNOS EM EMPRESAS ARGENTINAS PRINCIPAIS INVESTIMENTOS


IED em empresas residentes na Argentina, em 2011 (em bilhões de dólares) Distribuição dos IED brasileiros na Argentina, por
setor de atividade, em 2011 (em %)
20
Setor
automotivo
15 Setor
alimentício
Setor
financeiro
10
Indústria
química
5 Metalurgia
Labmundo, 2014

Labmundo, 2014

Transporte
Demais
s

lia

Bé a

m ai

M n

o
ha

á
il

Al uíça
a

Ca a

ão

sp s
s
A

as rgo

na s

ica
in ico
ile
xo

en

se
Di uda

c
as

m
nh

id
EU

setores
ar
Itá
an

ym
na
an

Ilh Jap
Ch

lg
Lu rug

Re éx

na


ai

Un
Br

Ilh bu

De Virg
pa

m
S

Fr

rm
sB

em

Ca

Pa
Es

5 15 25
Be
íse

ai
as
xe

m
Pa

Fonte: Banco Central da República Argentina, 2011. Fonte: Banco Central da República Argentina, 2011.

88 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
AMÉRICA DO SUL, DESTINO GEOGRÁFICO DO BRASIL?

RELAÇÕES COMERCIAIS ENTRE BRASIL E ARGENTINA TOP 10 COMÉRCIO INTRAINDUSTRIAL


Principais produtos comercializados entre 2011 e 2013 Índice de comércio intraindustrial entre países
sul-americanos, média entre 2003 e 2011
Argentina e Brasil
Colômbia e Equador
Argentina e Uruguai
Equador e Peru
Chile e Colômbia
s
ico Argentina e Chile
m
s
do

Chile e Uruguai
qu
va

se
eri

Brasil e Uruguai
do
ed

Labmundo, 2014
al
iza

et
cha

Colômbia e Peru
ial

eg ios
nav
str

500 km
rra

se
du

Brasil e Uruguai
, bo

re
ein
s in

to
tico

or

0,1 0,3 0,5


ra
uto

sd

s, t
rios

Fonte: BID, 2014a.


Plás

õe
Prod

uto

Valores em bilhões
Miné

inh

de dólares
Prod

Cam

Labmundo, 2014
EVOLUÇÃO DO PIB NO SÉCULO XX
PIB do Brasil e da Argentina, entre 1901 e 2001
(em milhões de dólares)
2,99 5,02 24,51
a e ro n av e s

1.000.000
Brasil
os e

do comércio e *Foi adotada a escala logarítmica.


av i

dos investimentos **Dólar com preços de 1990


s, n
re

tra
to brasileiros. Trata-se Argentina
es,
õ do quinto maior desti-
s

n h
Ca mi
ico
ím

no dos investimentos bra- 100.000


s

qu

os
co

éri ni
se

M in trô sileiros no exterior, atraídos


ele
do

s iz a
to ial pelo forte crescimento eco-
os

du

Labmundo, 2014
Pro str ad
du r iv
to s in
a e de nômico recente e pela desvalo-
du ch
Pro
o rra rização do peso diante do real. O
o, b
Plá
stic luxo comercial é marcado pe-
las vendas de produtos manufatu- 10.000
1901 1950 2001
Fonte: Sítio web do MDIC - AliceWeb, 2014. rados, sendo a Argentina o principal Fonte: Maddison, 2006.
mercado das exportações brasileiras
desses bens. Recentemente, investi-
Balança comercial brasileira com a Argentina, dores brasileiros têm estado receosos mais pacíica e integrada. A PEB pro-
em bilhões de dólares a respeito da instabilidade econômi- cura integrar a Argentina nas estraté-
20 ca e jurídica no país vizinho. O comér- gias de inserção internacional do Brasil,
cio bilateral vem sendo prejudicado seja na coordenação dos projetos de
15 por medidas protecionistas principal- integração regional (o ex-Presidente
mente do lado argentino. A relação Néstor Kirchner foi o primeiro Secre-
10
Brasil-Argentina é tradicionalmente tário-Geral da Unasul), seja por meio
tema da política doméstica. A FIESP do apoio à participação da Argentina
recentemente sugeriu que, diante das em foros internacionais, como o G-20
5
diiculdades encontradas pelos expor- inanceiro. O vizinho argentino é tra-
tadores, uma solução seria buscar mer- dicionalmente o primeiro destino a ser
0
cados com demandas semelhantes às visitado pelo presidente eleito do Bra-
argentinas, como nos casos da Índia e sil. Os últimos governos petistas di-
89

02

13

da África do Sul. No setor do turismo, versiicaram as esferas de cooperação,


Labmundo, 2014
19

20

20

Exportação do Brasil para a Argentina


Importação pelo Brasil da Argentina
segundo os respectivos ministérios, os com a pluralização dos atores e dos in-
Saldo comercial brasileiro
argentinos visitando o Brasil (em 2012, teresses envolvidos no projeto de in-
Fonte: Sítio web AliceWeb do MDIC, 2014. cerca de 1,7 milhão) são mais numero- tegração. A diversiicação das áreas de
sos que os brasileiros viajando à Argen- atuação internacional (BRICS, IBAS,
tina (972.668 ingressos, em 2013). cooperação Sul-Sul) redimensionou,
reforçou a convergência. Nos anos mas não reduziu, a importância da Ar-
1990, iniciou-se o programa de coope- O avanço da relação bilateral e do gentina nas agendas de política exter-
ração nuclear e avançou-se na criação projeto regional (Mercosul e Unasul) na do Brasil.
de um projeto de integração econô- enfrentou desaios, como a instabi-
mica regional (as bases do Mercosul). lidade econômica dos dois países, as
Em 1997, os dois países declararam-se crises políticas argentinas, as depres- VEJA TAMBÉM:
“aliados estratégicos”. sões econômicas internacionais e o viés Brasil Império p. 16
autonomista do pensamento político- Relações com os EUA p. 18
O relacionamento bilateral é hoje marcado diplomático brasileiro. Apesar disso, a Ação internacional das cidades p. 68
por disparidades. A Argentina atravessou cooperação Brasil-Argentina foi fun- Energia e infraestrutura p. 92
severas crises e tem economia dependente damental para construir uma região

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 89
Defesa e GASTOS MILITARES NA REGIÃO
Evolução dos gastos militares por regiões, entre
1988 e 2012 (em bilhões de dólares)

segurança 700

600

na região 500

400

300
Criado em Salvador (Bahia) em a sociedade ou os indivíduos se sen-
dezembro de 2008, um pouco mais de tem livres de riscos, pressões ou amea- 200
seis meses após a assinatura do tratado ças, inclusive de necessidades extremas.
constitutivo da Unasul, o Conselho Por sua vez, a defesa é considerada a 100
de Defesa Sul-Americano (CDS) é a ação efetiva para obter ou manter o
expressão mais relevante da crescente grau de segurança desejado. Interes-
cooperação entre países da região nesse sante notar que os documentos oi- 1988 1992 1996 2000 2004 2008 2012

setor. Sua criação também revela a ciais do Estado brasileiro mencionam América do Sul Oriente Médio
importância estratégica da América do que a América do Sul e o Atlântico Sul América do Norte
Europa
Ásia
África
Sul para o Brasil, principal promotor constituem o entorno estratégico com Oceania
do Conselho. Não se trata de uma o qual o Brasil deve aprofundar seus la- Fonte: SIPRI, 2014b.
aliança militar (nos moldes da OTAN, ços de cooperação. No caso da Améri-
por exemplo), nem é a primeira forma ca do Sul, trata-se de uma região livre Evolução dos gastos militares na região, por
de cooperação regional em matéria de armas nucleares, considerada relati- países, entre 1988 e 2013 (em bilhões de dólares)
de defesa e segurança. Muitas outras vamente pacíica, passando por proces- 36,165
regiões se dotaram no passado de sos de consolidação institucional e de
mecanismos de resolução de conlitos integração, elementos que colaboram 7,069
fronteiriços, de combate ao terrorismo, para o aumento da coniança mútua e 1,378

de ação coletiva contra insurgências soluções negociadas para os eventuais


armadas e separatismos, como no conlitos.
caso da OSCE (Organização para a
Segurança e Cooperação na Europa, No setor da defesa, certamente uma
1994), do Grupo de Monitoramento das zonas mais cinzentas da política Colômbia
de Cessar-Fogo da Comunidade dos Estados, a cooperação se reveste
Econômica dos Estados da África de caráter verdadeiramente estratégico
Ocidental (Ecomog, 1990) ou do no que diz respeito à construção de vi- Demais
African Standby Force (2003). sões comuns sobre as ameaças dentro e Países

fora da região. Portanto, como órgão


A relevância estratégica da região para o que promove a circulação de informa-
Brasil se relete na atual Política Nacio- ções, o Conselho contribui diretamen-
nal de Defesa, lançada em 2008 e revis- te para dirimir as diferenças dentro da Chile
ta em 2012. Nos documentos oiciais região, além de facilitar posicionamen-
de estratégia e política, o Ministério tos multilaterais convergentes. É evi-
da Defesa brasileiro reitera que a se- dente que essa aproximação, no marco
gurança é a condição em que o Estado, de Estados democráticos e de direito,
Brasil
pode contribuir para o aprendizado
com as lições históricas das experiên-
A REGIÃO NAS OPERAÇÕES DE PAZ cias de ditadura na região. O diálogo
Média mensal de soldados cedidos para regional entre civis e militares é peça-
operações de paz, entre 2000 e 2013 chave nesse processo.
2000
Venezuela
1500
Essa integração também possibilita a
cooperação militar regional e a inte-
1000 gração das bases industriais de defesa.
A integração no campo da defesa, ade-
500 mais, revela uma dimensão geopolítica Argentina

fundamental. Em contraponto ao sis-


tema interamericano de segurança que
Labmundo, 2014
Labmundo, 2014
i

Ar asil

ile

ia

Pa u

Eq ai

Co or

engloba os EUA nas relações com os


ua

in

bi
r
lív

gu

d
Pe
Ch
ug

nt

m
Br

ua
Bo

ra


ge
Ur

países latino-americanos, o CDS surge


* Venezuela e Guiana não enviaram tropas para missões
de paz no período mais particularmente com o objetivo 1988 2013
Fonte: ONU, 2014e. de promover o diálogo entre todos os Fonte: SIPRI, 2014b.

90 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
AMÉRICA DO SUL, DESTINO GEOGRÁFICO DO BRASIL?

países sul-americanos em uma instân- RECURSOS MINERAIS NA AMÉRICA DO SUL


cia que incentiva a coordenação de po- Tratado de Cooperação Amazônica, em 2013
líticas, a construção de consensos e de Ni
uma identidade regional, assim como Municípios pertencentes
ao projeto Calha Norte
Fe
Bauxita Bauxita
a ação coletiva em torno de projetos, Países membros do Tratado Ni Bauxita
de Cooperação Amazônica
por exemplo o Centro de Estudos Es- Nb - Nióbio
tratégicos de Defesa (2011), os exercí- Li - Lítio Cu
Ta - Tântalo
cios de treinamento das forças armadas Re - Rênio
e a capacitação dos militares, as ações Ag - Prata
Cu - Cobre Re Zn Nb Pb
Ag Pb Li K2O
humanitárias e operações de paz e o Se - Selênio Cu Cd Ta Ti
Sn - Estanho Se Bi Cu Co
desenvolvimento da indústria e tecno- B - Boro Sn Fe Fe Zr
Sn Terra-rara
logia de defesa. O CEED funciona em Mn - Maganês
Sb - Antimônio
B
Mo Au
In
Li Zn Mn Bauxita
Ag Pb Au Grafite
Buenos Aires, tendo por objetivos pro- Mo - Molibdênio
Au - Ouro
Fosfato de Rocha
Sn Bi Zn Fosfato de Rocha
Sb w Ni Florita
mover estudos, criar doutrina e fomen- Zn - Zinco Au
Ni - Níquel
tar a cooperação na América do Sul, Pb - Chumbo Li
com particular atenção para os recur- Cd - Cádmio
Bi - Bismuto
Re
Ag
sos naturais estratégicos da região (por K2O - Óxido de Potássio Cu
Se
Ti - Titânio
exemplo, os recursos minerais), para Fe - Ferro B Cu
B
Mo
as ameaças associadas a crimes trans-

Labmundo, 2014
w - Tungstênio Au
In - Índio K2O
nacionais e para as operações de pre- Co - Cobalto
Zr - Zircônio
venção de desastres. Outro projeto em
desenvolvimento no âmbito do CDS Fonte: CEPAL, 2013c.
250 km

é o Registro Sul-Americano de Gastos


em Defesa, encarregado de desenvol-
ver métodos de medição e difusão dos golpe civil ou ruptura da ordem insti- ligados ao Global Environmental Fa-
orçamentos dos países da região. Em tucional que comprometessem a uni- cility, cooperação entre instituições
janeiro de 2012, seis países já haviam dade territorial do país. Sinal de novos universitárias (Unamaz), sistemas de
comunicado seus dados: Argentina, tempos, os países sul-americanos de- vigilância ambiental e sanitária, bem
Chile, Colômbia, Equador, Paraguai cidiram entre si resolver seus próprios como programas de aproveitamento
e Uruguai. Hoje, as estatísticas usadas problemas, sem apelar à mediação de da biodiversidade.
sobre gastos militares de países da re- potências extrarregionais. Essa decisão
gião são fornecidas pelo Stockholm In- é particularmente importante diante A região amazônica é altamente es-
ternational Peace Research Institute do fato de que a Colômbia assinou, em tratégica para o Brasil, que ali desen-
(SIPRI). outubro de 2009, acordo militar com volve, entre outros, o Programa Calha
Washington, autorizando a presença Norte. Desde a sua criação, em 1985,
Em termos de ameaças à segurança co- de militares e civis estadunidenses em o PCN esteve vinculado a diferentes
letiva, a região passou por alguns con- solo colombiano com vistas a comba- órgãos federais, o que gerou diicul-
litos importantes, alguns deles ainda ter o narcotráico no país, além de ga- dades de coordenação burocrática.
hoje produzindo tensões territoriais e rantir o uso por militares dos EUA de No entanto, atualmente está subordi-
políticas (Chile, Peru e Bolívia; Equa- bases da Aeronáutica, da Marinha e do nado ao Ministério da Defesa, apre-
dor e Peru; Argentina e Chile; Co- Exército. sentando duas dimensões principais:
lômbia e Venezuela), mas tende a ser a manutenção da soberania nacional
considerada uma região relativamen- Ademais dos recursos minerais que se e integridade territorial, bem como a
te pacíica, onde os conlitos internos apresentam como estratégicos (petró- promoção do desenvolvimento regio-
e relativos a insegurança urbana pare- leo, material físsil), também merecem nal. Abrange ampla faixa de frontei-
cem mais relevantes que os interesta- destaque as riquezas da biodiversida- ra, cerca de 32% do território nacional,
tais. As redes transnacionais do crime e de e os próprios recursos hídricos da 8 milhões de cidadãos brasileiros (ha-
do narcotráico são bem-estruturadas região. Ambos são componentes im- bitantes da região) e 46% do total da
e representam desaio estratégico aos portantes da política regional de segu- população indígena do Brasil. Além
governantes e às instituições de segu- rança e defesa. A biopirataria pode ser disso, o PCN fomenta a ampliação da
rança pública policiais e de fronteiras. considerada uma das principais amea- presença local das forças armadas bra-
ças à segurança regional. sileiras, mas também promove vários
No entanto, existem outros tipos de projetos de infraestrutura, demarcação
ameaças à segurança na região. A ame- Alguns conlitos ambientais emergi- de terras, não sem gerar tensões e, por
aça de fragmentação territorial esteve ram no último decênio (por exemplo, vezes, graves conlitos com organiza-
presente na agenda sul-americana. Em o conlito entre Argentina e Uruguai ções ambientalistas (nacionais e inter-
setembro de 2008, Michelle Bachelet, em torno da instalação de indústrias nacionais) e grupos indígenas.
exercendo a presidência pro tempo- papeleiras e seus efeitos externos ne-
re da Unasul, convocou reunião ex- gativos sobre o meio ambiente). Além
traordinária de presidentes para tratar da Unasul como espaço de coordena- VEJA TAMBÉM:
da crise boliviana, cujo resultado mais ção, a Organização do Tratado de Co- Brasil colonial p. 14
importante foi o apoio dos chefes de operação Amazônica também propicia Segurança e defesa p. 46
Estado e de governo da América do concertação e regulação de problemas Ameaças globais p. 48
Sul ao governo constitucional bolivia- ambientais coletivos, como o monito- Centros de pesquisa e universidades p. 78
no, rejeitando quaisquer tentativas de ramento do deslorestamento, projetos

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 91
Energia e a busca está sendo progressivamente supe-
rada, mas deixou marcas ainda pre-
sentes nos dias atuais. Uma delas é a

da integração pela falta de integração física entre os paí-


ses da América do Sul. O fator geográ-
ico (Amazônia, cordilheira, pantanal)
não pode ser negligenciado. Apesar de

infraestrutura existirem avanços, a infraestrutura nos


países da América do Sul ainda apre-
senta uma série de problemas, como a
excessiva concentração em eixos eco-
nomicamente mais dinâmicos e a falta
de investimentos, inclusive em progra-
Assim como o Brasil, os outros países modelo econômico baseado na ex- mas de manutenção. Essas característi-
sul-americanos também foram co- portação de produtos primários para cas também podem ser veriicadas na
lônias de exploração de potências a Europa pode ser observado em todo infraestrutura regional como um todo.
europeias. Como consequência, o o continente. Essa herança histórica Esse quadro repleto de contradições é
agravado devido ao modo pelo qual os
investimentos são planejados. A infra-
PROJETOS DE INTEGRAÇÃO PELA INFRAESTRUTURA REGIONAL SUL-AMERICANA estrutura existente na América do Sul é
Eixos de integração e desenvolvimento e projetos de estradas bioceânicas intermodais, em 2010
majoritariamente planejada com base
Caracas no plano doméstico de cada país, co-
locando projetos estruturantes de inte-
Georgetown gração regional em segundo plano.
Paramaribo
Bogotá Caiena
Tal falta de integração física na Améri-
ca do Sul acarreta diversas diiculdades
econômicas, políticas e sociais. A livre
Quito
circulação de pessoas, que está previs-
ta nos tratados constitutivos do Mer-
cosul e da Comunidade Andina, por
exemplo, é signiicativamente prejudi-
cada pela ausência de meios de trans-
portes de qualidade a preços acessíveis,
embora possa haver, em alguns casos
Lima de relação bilateral, procedimentos
jurídico-legais que incentivem a mo-
La Paz bilidade humana transfronteiriça. O
Brasília comércio entre os países também so-
fre de graves impedimentos na ausên-
cia de infraestruturas logísticas e de
transporte.
São Paulo
Rio de Janeiro

Assunção
Em 2000, a IIRSA foi lançada, com
o objetivo de combater a falta de in-
tegração física na região. A IIRSA faz
Rodovias existentes
parte de um conjunto de projetos re-
Rodovias planejadas em
gionais que têm por objetivo fortalecer
corredores bioceânicos a América do Sul em diversas dimen-
Santiago
Montevidéu
Montevideo
Hidrovias a serem recuperadas
ou construídas sões (econômica, institucional, social,
política, etc.). É bem verdade que mui-
Buenos Aires Eixos: tos dos projetos se encontram em fase
Amazonas inicial de desenvolvimento. Após a ins-
Andino titucionalização do Cosiplan no seio
Escudo das Guianas
da Unasul em 2009, permanece a per-
cepção das lideranças sul-americanas
Peru-Brasil-Bolívia
de que somente com a integração física
Interoceânico Central entre os países será possível criar uma
Hidrovia Paraguai-Paraná
economia de escala na região, compos-
250 km
ta por cadeias produtivas complemen-
Capricórnio
tares. Cientes da extensão territorial da
América do Sul e das diferentes realida-
Labmundo, 2014

Mercosul Chile

Sul des que existem dentro do continente,


Andino do Sul
foram criados dez eixos de integração e
Fonte: IIRSA, 2010. desenvolvimento. O objetivo tem sido

92 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
AMÉRICA DO SUL, DESTINO GEOGRÁFICO DO BRASIL?

atender às diferentes necessidades de- ENERGIA NA AMÉRICA DO SUL


Produção e consumo por milhões de kt de petróleo ou equivalente, em 2011
rivadas das realidades que cada local
apresenta. 0,1
Produção

Consumo
Uma das iniciativas mais relevantes é 0,6
o planejamento de corredores bioceâ-
nicos. Foram previstos investimentos * Sem dados disponíveis para
Guiana e Suriname. Guiana francesa
para a construção e a recuperação de 0,5 não foi considerada, por ser território
francês
vias intermodais (rodovias, ferrovias e
hidrovias), de modo a ligar portos em
0,4
países banhados pelo oceano Pacíico a
portos com saída para o oceano Atlân- Acesso a energia
elétrica (em % da
tico. Esse projeto, além de garantir 0,3 população total)
melhor circulação de pessoas e merca- 99,6

dorias dentro da região, também tem o 99


98
claro objetivo de facilitar a exportação 0,2
95
de produtos sul-americanos para mer-
500 km
86,8
cados consumidores além-mar (Sudes- 0,1 Sem dados
disponíveis
te e Leste da Ásia, Europa e continente
africano). Outro projeto da IIRSA de

Labmundo, 2014
grande destaque é a construção de um
L*

il

la

or

ru

ia

ile

i
ua

ua
gasoduto da Bolívia para o centro-sul
as

bi

in

lív
e
TA

ad

Pe

Ch
zu

ug
nt
ôm
Br

Bo

ra
TO

u
ge
ne

Ur
Eq

Pa
l
Co
do Brasil, garantindo o fornecimento
Ar
Ve

Fonte: Sítio web da base de dados do Banco Mundial, 2013.


de gás natural para as regiões mais di-
nâmicas e industrializadas da econo-
mia brasileira. INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES NA AMÉRICA DO SUL
Índice de qualidade do transporte Índice de qualidade portuária2, em 2012

1581 mil km
de mercadorias1, em 2012
A infraestrutura em energia é um dos
desaios mais importantes a serem en-
frentados na região. Percebe-se que a
América do Sul é superavitária na pro-
dução de várias fontes de energia, prin-
cipalmente em função da Venezuela
e da Colômbia. O Brasil é um gran-
de produtor, mas também é o maior
consumidor de energia do continen- 500 km 500 km
te, o que o torna ligeiramente deici-
Sem dados
tário. Apesar desse superávit regional, disponíveis
muitos países ainda enfrentam diicul-
dades quanto ao acesso à energia. Essa O índice foi desenvolvido pelo O índice foi desenvolvido pelo
1 2

Banco Mundial e varia entre 1 Banco Mundial e varia entre 1


(extremamente subdesenvolvido) (extremamente subdesenvolvido)
realidade se deve, entre outros motivos, e 5 (bem desenvolvido) e 7 (bem desenvolvido)
à carência de linhas de transmissão en- 3,18 3,07 2,86 2,42 2,17 5,2 4,7 3,7 2,8 2,5
tre os países. O investimento na trans-
missão de energia dentro da região Fonte: Banco Mundial, 2014c. Fonte: Banco Mundial, 2014c.
revela-se uma das prioridades, na me-
dida em que energia é imprescindível
para o desenvolvimento e o crescimen- Estradas nos países da América do Sul, em 2010 (em milhares de quilômetros)
to econômico. Além disso, a ligação in-
Total de estradas3
trarregional por linhas de transmissão
pode criar um importante mercado de Estradas pavimentadas

energia no continente: há oferta e há 200


demanda, mas faltam os meios para
comercializar. 100
Labmundo, 2014

Outra iniciativa regional no âmbito Paraguai Chile Bolívia Peru Colômbia4 Argentina Brasil
da energia diz respeito à construção de 3
Sem dados para Uruguai, Venezuela, Equador, Suriname e Guiana
uma reinaria binacional entre o Bra- Fonte: IIRSA, 2010. 4
Sem dados para a quantidade de rodovias pavimentadas para a Colômbia
sil e a Venezuela. A Petrobras está cons-
truindo a Reinaria de Abreu e Lima,
em Pernambuco, e há acordo de par- grande escala. Com isso, o Brasil tem VEJA TAMBÉM:
ticipação e coinanciamento irma- a expectativa de não mais precisar ex- Desenvolvimento e industrialização p. 20
do com a estatal venezuelana PDVSA. portar petróleo bruto para comprar Parque industrial p. 30
O objetivo é criar uma reinaria, sob o derivados. Ainda hoje, o país não tem Matriz energética p. 34
controle dos dois países, que seja ca- capacidade instalada de fazer o trata- Brasileiros no exterior p. 76
paz de trabalhar petróleo pesado em mento de todo o petróleo que produz.

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 93
Assimetrias e uma leve diminuição do IED, que foi
de 185 bilhões de dólares para toda a
América Latina em 2013, dirigidos aos

desigualdades setores de serviços, manufaturas e re-


cursos naturais. Cerca de 82% desse
investimento foram para as seis prin-
cipais economias da região (35% do to-
tal para o Brasil). Os países que menos
receberam IED foram Chile, Argen-
tina e Peru. O Brasil continua sendo,
portanto, a maior economia da região,
com um PIB de 2,2 trilhões de dólares,
seguido de longe pela Argentina (com
BUSCA DE CONVERGÊNCIA Os projetos de integração precisam le- 465 bilhões), a Venezuela (371 bilhões)
Alocação dos recursos do FOCEM, por país de var em conta múltiplas dimensões (do e a Colômbia (353 bilhões).
destino e por área, em milhões de dólares, entre político ao econômico, do social ao
2009 e 2012
cultural, do tecnológico ao ambiental), Além dos valores absolutos, os efeitos
a
in

L
i

que convivem com fortes desigualda- redistributivos dessa riqueza para as


ua

TA
ua

nt
g

il

TO
ug

ge
ra

as
Pa

Ur

Ar

des dentro dos Estados e assimetrias populações também são bem diferen-
Br

Convergência entre as economias nacionais. O tra- tes nos diversos contextos. Em termos
estrutural
tamento dessas dimensões e a ênfase relativos, de PIB per capita, existem
Coesão
social
atribuída a umas e não a outras podem fortes assimetrias entre países como
fortalecer ou enfraquecer os processos Chile ou Uruguai (em torno de 15 mil
Desenvol-
vimento
regionais. A iniciativa estadunidense dólares), e Bolívia, Guiana ou Paraguai
de integração pan-americana a partir (com menos de 4 mil dólares). A popu-
TOTAL da economia, por meio da criação de lação da América do Sul ainda enfrenta
742 zonas de livre comércio, gerou fortes desaios em termos de expectativa mé-
resistências e movimentos sociais de dia de vida (65 anos na Guiana, quase
141
18 contestação, devido às consequências sete a menos que no Brasil e 13 a me-
Fonte: Sítio web do Mercosul/FOCEM, 2014 sociais e aos impactos ambientais que nos que no Chile), pobreza (8,2% dos
os intercâmbios comerciais provocam colombianos vivem com menos de 1,25
em contextos de ampla desigualdade. dólar por dia, mas apenas 0,2% dos
Evolução dos recursos do FOCEM, por país de Em perspectiva oposta, a ALBA pro- uruguaios) e desemprego (11% na Co-
destino, entre 2009 e 2012 (em milhões de dólares) move modelos de integração constru- lômbia versus 4% no Peru).
648 ídos de baixo para cima, com base nas
necessidades e nas particularidades das Esses dados agravam-se ainda mais
145 distintas sociedades. no caso das populações rurais, dos in-
28 dígenas e das mulheres, alvos de dis-
Considerar as assimetrias na região, criminações múltiplas que geram
as desigualdades e as particularida- desigualdades. Por exemplo, segundo
des de cada contexto nacional, en- dados da CEPAL cobrindo o conjun-
Total tre outros, é um passo essencial para a to da América Latina, as mulheres re-
criação de espaços efetivamente inte- presentam menos de 25% dos cargos
gradores. No caso da América do Sul, dos poderes do Estado, e, no campo
apesar do grande potencial no atual da educação, 80% dos adultos que mo-
contexto global, existem importantes ram em áreas rurais têm menos de dez
assimetrias entre os países e desigual- anos de estudo. Essa situação de desi-
dades em vários níveis que ainda pre- gualdade exige a adoção de políticas
Paraguai
cisam ser enfrentadas. Segundo dados públicas inclusivas que garantam a co-
do FMI, as taxas de crescimento da esão e a justiça social na região.
região devem-se manter relativamen-
te elevadas, de 2,5%, em média, em A integração deve contemplar, portan-
Uruguai 2014, e 3% em 2015. Peru (5,5%) e Bo- to, a existência de economias díspares
lívia (5,1%) destacam-se como as eco- e as desigualdades em vários níveis (re-
nomias mais dinâmicas, ao passo que gional, nacional e local). Por isso, os
Argentina (0,5%) e Venezuela (-0,5%), vários modelos regionais, hoje em dis-
como as de menor crescimento. Para o puta, buscam oferecer diversas iniciati-
Brasil Brasil estima-se uma taxa de 1,8% para vas para a superação dessas assimetrias
2014. Na concepção do FMI, os prin- e o fomento da cooperação entre os
cipais riscos para a manutenção de ta- países da América do Sul (CAF, BID,
xas consideráveis de crescimento são a Banco do Sul, FOCEM). Uma dessas
Labmundo, 2014

Argentina
queda dos preços das matérias-primas iniciativas é o Banco do Sul, focado no
e o custo do inanciamento externo, desenvolvimento econômico e produ-
2009 2012
além da queda de coniança do seg- tivo da região, como alternativa à vi-
Fonte: Sítio web do Mercosul/FOCEM, 2014. mento empresarial. A CEPAL prevê são ortodoxa do BID. Já no âmbito do

94 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
AMÉRICA DO SUL, DESTINO GEOGRÁFICO DO BRASIL?

ASSIMETRIAS NA UNASUL Mercosul, o FOCEM inancia proje-


PIB absoluto e per capita, em 2012 População total e densidade populacional, em 2012 tos para diminuir as assimetrias, desen-
Em milhares de dólares per capita Indivíduos por km²
2,57 5,45 7,73 12,715,5 3,42 9,7 23,4 33,8 62,4 volver a competitividade, promover a
coesão social e apoiar a integração en-
tre os países membros. O Brasil con-
tribui com a maioria dos recursos (em
torno de 70%), sendo que o principal
beneiciário, o Paraguai, recebe apro-
ximadamente 50% dos inanciamen-
Valores absolutos em
bilhões de dólares
Valores em milhões tos, dirigidos na sua maioria a projetos
de habitantes
2.217
198 de convergência estrutural e desenvol-
vimento de infraestruturas. Por sua
1000 km
465
1000 km vez, a Aliança do Pacíico, com um
47
191 15
foco mais voltado para a liberalização
48 3,9 comercial e a competitividade econô-
Fonte: PNUD, 2013a. Fonte: Banco Mundial, 2014b.
mica, também prevê a criação de um
fundo de cooperação para inanciar
projetos nas áreas de meio ambien-
Expectativa de vida, em 2012 (em anos) Desemprego, em 2011 (em % da PEA) te, inovação, ciência e tecnologia, as-
65,8 70,5 73,5 75,8 79,3 3,9 6,3 7,1 8,3 11,1 sim como desenvolvimento social e
empresarial. Finalmente, o Banco da
ALBA inancia os projetos que visam,
nas diversas áreas de atuação (alimen-
tação, educação, cultura, meio am-
biente, energia, transporte, comércio,
etc.), a gerar benefícios para a maio-
ria da população. Outras iniciativas de
cooperação na região também buscam
1000 km 1000 km
criar solidariedades e complementa-
riedades entre os países, com diferen-
Fonte: Banco Mundial, 2014b. Fonte: Banco Mundial, 2014b. tes estratégias que podem ter como
objetivo melhorar a inserção política
internacional, a competitividade e a
Gasto militar absoluto e per capita, em 2012 Exportação de bens de alta tecnologia e % das produtividade no âmbito comercial, a
Em milhões de dólares per capita
exportações de manufaturados, em 2012 segurança militar ou o bem-estar das
0,03 0,10 0,25 0,32 1,18 0,07 2,5 5,2 7,70 10,5 populações, dependendo dos modelos.
Os desaios relativos à superação das
desigualdades domésticas e das assime-
trias entre as economias nacionais per-
manece prioritária na agenda regional.

Valores absolutos Valores absolutos em


em bilhões de dólares bilhões de dólares
33,1 8,4 VEJA TAMBÉM:
Parque industrial p. 30
12,1
1000 km 5,5 1000 km 2,1
Pobreza e desigualdade p. 44
2,4 Atores religiosos p. 74
0,5
*Sem dados para o Uruguai Argentina p. 88
Fontes: SIPRI, 2014b; Banco Mundial, 2014b. 0,05
Fonte: Banco Mundial, 2014b.

Índice de Desenvolvimento Humano, em 2012 Média anual de exportações e importações de bens Índice de Gini na América do Sul, em 2010
0,636 0,684 0,730 0,792 0,819 e serviços entre 2005 e 2012 (em bilhões de dólares) 0,390 0,446 0,477 0,530 0,585

Exportações
Importações

211 bi
76,8 bi
1000 km 30,5 bi
1000 km
1,9 bi
Labmundo, 2014

1000 km

Sem dados disponíveis *Sem dados disponíveis para a importação de


A Guiana Francesa não é membro da Unasul Guiana e Suriname
Fonte: PNUD, 2013a Fonte: Banco Mundial, 2014b. Fonte: PNUD, 2013a.

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 95
Redes sociais: que a exploração desordenada dos re-
cursos naturais, base de boa parte dos
modelos desenvolvimentistas da re-

América Latina gião, tem sobre a natureza e a vida.


Disso resulta uma pauta ampla de atu-
ação compartilhada entre redes e mo-
vimentos sociais preocupados com a

ou América do Sul? biodiversidade (caso das redes ambien-


talistas), os efeitos da mineração e do
extrativismo (caso, por exemplo, dos
Atingidos pela Vale, ou pela Minera-
ção de forma mais geral), a gestão dos
recursos hídricos (como os Atingidos
A maioria dos modelos de integração América do Sul. A despeito de alguns pelas Barragens) ou com os grandes
regional está focada na dimensão eco- avanços, os dados sobre participação projetos de infraestrutura fomentados
nômica, negligenciando em boa medi- social, integração econômica, emprego pelos processos de integração (como
da os efeitos dos processos de abertura ou educação, entre outros indicadores a IIRSA/Cosiplan). Por conseguin-
comercial e incentivo à competitivi- de exclusão e discriminação histórica, te, os atingidos não podem ser en-
dade sobre as populações, sobretudo são bastante alarmantes. Esse contexto tendidos somente como vítimas em
em contextos de altas assimetrias e de- de desigualdades e de carência de po-
sigualdades regionais e nacionais. O líticas de reconhecimento fomentou
crescimento econômico baseado na a criação de organizações e redes indí- INDÍGENAS E ACESSO À EDUCAÇÃO
exportação de commodities e em mo- genas que defendem os direitos dessas Porcentagem de jovens de 20 a 29 anos com mais
de 13 anos de estudo, por gênero*
delos produtivos extrativistas, tão populações. Tais redes e movimen-
5 10 15 20 25 30 35
frequentes na América do Sul, tem im- tos tiveram papel central na criação de
Peru
pactos particularmente negativos para mecanismos nacionais (principalmen-
os povos indígenas, os quilombolas, as te na Bolívia ou no Equador, onde o Uruguai
populações ribeirinhas e as comunida- Viver Bem/Sumak Kawsay se incorpo-
des atingidas por políticas desenvolvi- rou como modelo de desenvolvimen- México
mentistas que tendem, de diferentes to que inclui uma dimensão coletiva e
Costa Rica
modos, a desconsiderar particularida- de convivência com a natureza) e in-
des locais, culturais e ambientais. ternacionais de proteção dos seus direi- Equador
tos (entre eles a Declaração das Nações
Os indígenas representam mais de Unidas sobre os Direitos dos Povos In- Nicarágua

60% da população da Bolívia, e, inclu- dígenas de 2007). Brasil


sive no Brasil, onde são bastante mino-
ritários, são contabilizados 241 povos, Além da questão indígena, as redes visi- Colômbia
o que ilustra a diversidade étnica da bilizam os conlitos e as consequências
Panamá

MOVIMENTOS SOCIAIS DE DEFESA DOS DIREITOS DOS INDÍGENAS


Populações indígenas e movimentos sociais na América Latina, em 2014
Porcentagem de jovens de 15 a 19 anos com
educação primária completa, por gênero*
20 40 60 80 100
Uruguai

México

Participação dos indígenas no


Peru
total da população do país, em %
65
14 Equador
8
Costa Rica
4 Sem dados
disponíveis
2
Brasil
0
Panamá
Movimentos sociais que atuam na defesa
dos direitos dos indígenas
Nicarágua
Coordenação das Organizações Indígenas
da Bacia Amazônica
Colômbia
Coordenação Andina de Organizações Indígenas

Conselho Indígena Centro-Americano


Homens Mulheres
Enlace Continental de Mulheres Indígenas – Região
América do Sul*
Labmundo, 2014
Labmundo, 2014

*Os censos foram realizados nos seguintes anos:


500 km
Brasil (2010); Colômbia (2005); Costa Rica (2011); Equador
(2010); México (2010), Nicarágua (2005); Panamá (2010);
*O Enlance Continental tem uma representação
Peru (2007); Uruguai (2011).
itinerante no território brasileiro
Fontes: CELADE, 2014; Sítios web dos movimentos sociais, 2014. Fonte: CEPAL, 2013b.

96 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
AMÉRICA DO SUL, DESTINO GEOGRÁFICO DO BRASIL?

MOVIMENTOS SOCIAIS, RECURSOS NATURAIS E CONFLITOS UNIVERSIDADE E INTEGRAÇÃO


Conflitos sociais por recursos naturais e geoestratégicos, em 2014 Quantidade de vagas oferecidas na UNILA, entre
2010 e 2014
2000

1500

1000

500

2010 2011 2012 2013* 2014 2015**

Fonte: Sítio web da UNILA, 2014.

Conflitos envolvendo a biodiversidade


(redes ambientalistas/ecologistas Quantidade de cursos oferecidos na UNILA, entre
e movimentos territorializados)
2010 e 2014
40
Conflitos envolvendo mineração/extrativismo
(Movimentos locais de “afetados” pela mineração;
Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale) 30

Conflitos envolvendo a água


(Movimento de Atingidos por Barragens; 20
Rede Latino-americana contra as Barragens, pelos
Rios, suas Comunidades e a Água; Red de Vigilancia
Interamericana para la Defensa y el Derecho al Agua)
10
Conflitos envolvendo a IIRSA
(REBRIP; Plataforma Energética Latino-americana;
Aliança Social Continental; Jubileu Sul; Articulación de
los Movimientos Sociales hacia el ALBA) 2010 2011 2012 2013* 2014 2015**
*No ano de 2013 não houve vestibular para a UNILA.
500 km **Os dados para 2015 são uma projeção.
Fonte: Sítio web da UNILA, 2014.
Fontes: Elaboração própria com base na informação dos
Labmundo, 2014

sítios web de Observatorio Social de América Latina


(OSAL/Clacso); IIRSA; Movimento de Atingidos por
Barragens (MAB); Red Latinoamericana contra Represas
y por los Ríos, sus Comunidades y el Agua (Redlar); Quantidade de alunos, por nacionalidade e
Observatorio Latinoamericano de Conflictos ano de ingresso entre 2010 e 2014
Ambientales (OLCA); Observatorio de Conflictos
Mineros en América Latina (OCMAL); Observatorio de

L
TA
Multinacionales en América Latina (OMAL).

TO
10

11

12

14
20

20

20

20
Brasileiros
uma perspectiva reativa e de denúncia. dos valores culturais latino-americanos,
Também buscam construir projetos de o desenvolvimento do turismo susten- Paraguaios
defesa da vida e da natureza, de garan- tável, a distribuição e comercialização
tia de direitos e de desmercantilização de produtos, privilegiando o comércio Uruguaios
das relações sociais, demostrando que justo, os programas continentais de al-
a integração se faz, igualmente, com a fabetização, educação e formação, ou Equatorianos
participação dos povos indígenas, de o fomento de espaços de convergência
bases sociais, de minorias culturais e regional em diferentes setores sociais, Peruanos
de redes que unem projetos coletivos entre outros, são exemplos de políti-
transnacionais. cas impulsionadas pelos diversos pro- Colombianos
jetos regionais de integração existentes
Os povos, portanto, são uma dimen- hoje na América Latina. Há projetos Bolivianos

são essencial para a integração latino-a- formais, como a UNILA, que buscam a
mericana e devem ser protagonistas do integração a partir da educação superior, Argentinos

desenvolvimento impulsionado nes- e informais, como as Universidades In-


ses espaços para evitar novas formas terculturais e Indígenas, que permitem Venezuelanos

de exclusão. Torna-se imprescindível a articulação e participação de popula-


um enfoque de desenvolvimento hu- ções excluídas. Entre a América Latina Chilenos

mano para que os processos de integra- e a América do Sul, geram-se questio-


Salvadorenhos
ção regional não agravem as dinâmicas namentos sobre o lugar político da al-
de desintegração social e disparida- teridade, diversidade, saberes culturais
Alemães
de geográica. As migrações, a educa- e conhecimentos autóctones nos pro-
ção, a saúde, os intercâmbios culturais jetos em construção.
Franceses
e o turismo, entre outros, são áreas que
permitem potencializar os efeitos posi- TOTAL
tivos da aproximação das sociedades e VEJA TAMBÉM:
dos povos. Agronegócio p. 28 815
Labmundo, 2014

Água: recurso vital p. 36


A livre circulação das pessoas entre os Riqueza genética p. 40
países, a criação de espaços de inter- Organizações e movimentos sociais p. 72 60
câmbio sociocultural e de legitimação Fonte: Sítio web da UNILA, 2014
8

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 97
Capítulo 5:

NOVAS COALIZÕES,
MULTILATERALISMO
E COOPERAÇÃO
SUL-SUL

Enara Echart Muñoz


Enara Echart Muñoz

Este capítulo trata da construção de uma política externa com pretensões


mundiais, fundamentada em relações com os países do Norte, sem o re-
ceio de abrir novas frentes, tanto do ponto de vista bilateral quanto mul-
tilateralmente. A política externa brasileira do século XXI segue enfática
na defesa dos princípios e das práticas do multilateralismo, mas também
inova no estabelecimento de novas coalizões. Faz parte desse processo de
construção de uma PEB mundial a ênfase na cooperação Sul-Sul, que
produz frutos para a diplomacia multilateral brasileira, mas é igualmente
portadora de contradições e tensões público-privadas. Este capítulo apre-
senta algumas das principais características dessas inovações e desaios
que marcam primordialmente a política externa brasileira deste século
quanto às relações Norte-Sul e Sul-Sul, ao sistema da ONU e às agências
econômicas mundiais, à criação do grupo BRICS e das novas coalizões
internacionais, bem como às novas agendas da cooperação para o desen-
volvimento.
O Brasil nas é formada por imigrantes e descen-
dentes de países como Portugal, Espa-
nha, Itália e Alemanha. A maior parte

relações da população brasileira diz seguir o


cristianismo e o idioma nacional tem
origem ibérica. Além da posição ge-
ográica, são evidentes os laços cultu-

Norte-Sul rais, econômicos e políticos que fazem


com que o Brasil se entenda como um
país ocidental. Desde 1988, as normas
democráticas e o respeito aos direitos

Apesar de períodos em que buscou via de regra, fortalecida por laços co- PARCEIROS COMERCIAIS BRASILEIROS
maior autonomia na política exter- merciais com os EUA e com a Euro- Evolução dos fluxos comerciais brasileiros, entre
na, o Brasil sempre se viu como parte pa, por trocas culturais e pelo fato de 1997 e 2013 (em bilhões de dólares)
do Ocidente, quase sempre um alia- que o Brasil sempre identiicou esses 50,7

do dos países do Norte, principalmen- países como parceiros que poderiam 23,3
te dos EUA. A relação brasileira com contribuir para o desenvolvimento na- 3,13

as principais potências centrais foi, cional. A sociedade brasileira também

PRINCIPAIS ORIGENS DE INVESTIMENTO EXTERNO DIRETO NO BRASIL China


Fluxos de investimento em 2010, por investidor imediato e setor, em bilhões de dólares
s
iro

IBAS
s ce
aç e
ão

s
rm s d

ta nto ária
ria

em
ro an

s ro
ica ão as
fo ia

iliá
gu fin

ag

cu
ei pa
ns str

iv

s

ob
m rm rat

en

im am pe
se os

óv re
trandú

çã e
çã e

es
de iç

im
e
t

az
o

m e

União Europeia
In s ex

or
o
e rv

e
to io

o
I

a
un aç

ad

es

en e

et
çã
Se

r
au érc

ar

tu
ria

ad

ss
id

tru

ul
e
de m
st

ric

al loj
co fo

id

tro
ric
e
ns
Co

iv

et
et

Ou
Ag
Co
At
In

Fr
El

Países
Baixos América do Sul

EUA

EUA
Espanha

Luxemburgo 1997 2013


Fonte: Sítio web AliceWeb do MDIC, 2014.
França

Japão
Evolução da balança comercial brasileira entre
1997 e 2013 (bilhões de dólares)
Reino Unido

México
15

Alemanha

Canadá 10

Ilhas Cayman
5
Suíça

Bermudas
0

Chile

-5
Portugal

Outros Países
-10
92,459
Labmundo, 2014

1997 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013


Labmundo, 2014

15,381 Am. do Sul U.E. China


EUA IBAS
1,775
Fonte: Banco Central do Brasil, 2012. Fonte: Sítio web AliceWeb do MDIC, 2014.

100 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
NOVAS COALIZÕES, MULTILATERALISMO E COOPERAÇÃO SUL-SUL

COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS


Exportação entre 2000 e 2013 Importação entre 2000 e 2013 Votação no Conselho de Segurança da ONU sobre
em bilhões de dólares
a intervenção na Líbia, em 2011

476,6 251,7 52,2


Oriente
Ásia Ásia Oriente
Médio Médio
África África
Europa Europa

Saldo comercial (em bi dólares)


EUA
EUA -20 0 40 80
Am. do Sul 1000 km
União Europeia Aprovaram Abstiveram-se
O. Médio
Fonte: ONU, 2014c.
EUA

Labmundo,2014
América Ásia
do Sul América Votação no Conselho de Segurança da ONU sobre
do Sul África
sanções sobre o Irã, em 2010
1000 km
déficit superávit
Fonte: Sítio web AliceWeb do MDIC, 2014.

humanos também marcam a constru- campanha francesa contrária à candi-


ção do sistema político nacional. Essa datura de Roberto Carvalho de Aze-
boa relação com o Ocidente e a adesão vêdo para Secretário-Geral da OMC.
aos princípios democráticos, entretan- Por sua vez, a Alemanha é responsável
to, não são livres de divergências, prin- por parte da tecnologia usada na cons-
cipalmente quando o Brasil busca ser trução das usinas nucleares de Angra 1000 km

mais autônomo internacionalmente. dos Reis. Os Países Baixos são os prin- Aprovaram Abstiveram-se Votaram contra
cipais investidores no Brasil, seguidos Fonte: ONU, 2014d.
Historicamente, os EUA são um dos pelos EUA e outros países europeus. É
principais parceiros comerciais brasi- importante notar que os países do Sul, Busca por assento permanente no Conselho de
leiros e reconhecem a importância do apesar da sua crescente importância Segurança da ONU, em 2014
Brasil para a estabilidade política e eco- comercial e política para o Brasil, não
nômica da região. Diplomatas brasi- são grandes investidores. O crescimen-
leiros e estadunidenses chegaram a to da importância comercial da China,
airmar que a relação entre os dois pa- por exemplo, ainda não se relete em
íses tinha atingido estágio avançado luxos de IED para o Brasil.
de maturidade, que permitiria que di-
vergências de opiniões existissem, sem As relações com o Norte apresentam
que isso afetasse diretamente a boa re- pontos de divergência na agenda am-
lação entre eles. O Presidente Barack biental, na medida em que o Brasil, 1000 km

Obama, em visita ao Brasil, defendeu assim como outros grandes países do Membros Membros
Membros da
União pelo
que a relação com o Brasil deveria ser Sul, defende a ideia de que há respon- permanentes do G4
Consenso
considerada pelos EUA no mesmo ní- sabilidades diferenciadas no combate Fonte: Itamaraty, 2014a.
vel de importância das relações com ao aquecimento global. Como os ga-
a China e com a Índia. Todavia, essa ses causadores do efeito estufa não se Grupos de geometria variável na OMC, em 2014
maturidade foi publicamente coloca- dissipam rapidamente, o Brasil atribui
da em xeque quando veio à tona que a aos países do Norte a principal parcela
agência de segurança dos EUA (Natio- de responsabilidade pelo aquecimento
nal Security Agency) espionava o com- global. Segurança é outro regime em
putador e as ligações telefônicas da que se podem veriicar divergências de
Presidenta Dilma Roussef. posicionamentos oiciais. Além do his-
tórico pleito brasileiro por um assento
Os países europeus também têm rela- permanente no Conselho de Seguran-
Labmundo, 2014

ções positivas com o Brasil. Se consi- ça da ONU, recentemente o Brasil 1000 km


derarmos a União Europeia como um tem questionado algumas decisões to-
todo, o bloco é o principal parceiro co- madas pelo referido órgão. Apesar de G20 comercial G90 QUAD

mercial do Brasil. No âmbito bilateral, frequentemente contribuir com tropas Fonte: Veiga, 2014.
a relação do Brasil com a França me- para as missões de paz da ONU, o Bra-
rece destaque. Além de um intenso e sil é forte crítico do processo decisório
histórico intercâmbio cultural entre e do encaminhamento das resoluções. VEJA TAMBÉM:
os países, a França sempre se mons- No campo dos direitos humanos, par- Globalização e nova ordem p. 22
trou uma importante aliada para os ticularmente nos debates do Conselho Itamaraty p. 60
pleitos brasileiros na Europa. Essa po- de Direitos Humanos, o Brasil tam- Brasileiros no exterior p. 76
sição, entretanto, começou a se modi- bém tem mantido posições distintas América Latina e do Sul p. 84
icar recentemente, por exemplo, na de muitos Estados ocidentais.

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 101
Sistema ONU: BRASILEIROS NA ONU
Funcionários civis no sistema ONU em categorias
profissionais por país, em 2012

meio ambiente e
EUA 3012
França 1878
Reino Unido 1650
Itália 1381 *Foram considerados
níveis profissionais de

direitos humanos
Canadá 1248
diretoria e os represen-
Alemanha 1182 tantes do Secretário-Geral.
Índia 838 Não foram incluídos os
(...) trabalhadores manuais,
seguranças, professores
Brasil 314 de idiomas e outros
serviços realizados no
terreno.

CONFERÊNCIAS DAS PARTES Membro fundador da ONU, o Bra-


Quantidade de membros que integrou as sil tem sua história diplomática tra- Funcionários civis em operações de paz
delegações nas reuniões da COP, entre 1995 e 2014 e missões políticas especiais por país
600
dicionalmente pautada pela crença
no multilateralismo, pela adesão aos EUA 382
Quênia 340
princípios da negociação e da forma- Filipinas 265
ção mais ampla de consensos e pelo Índia 232
500 respeito ao direito internacional. Essa Reino Unido 215
postura está expressa na participação Canadá 207
brasileira no desenvolvimento do siste-

Labmundo, 2014
Serra Leoa 202
(...)
ma multilateral, muito embora a histó-
Brasil 36
400 ria desse interesse não tenha sido linear,
nem isenta de disputas. Fonte: Giannini, 2014
África
do Sul
No regime de direitos humanos, a po-
300 lítica externa ao longo da Guerra Fria Durante o governo Lula, a diplomacia
apresentou variações entre a defesa da brasileira no campo dos direitos huma-
noção de soberania e a noção de inte- nos foi pautada pelo princípio da não
Brasil
gração internacional. O momento da intervenção, porém sempre acompa-
200 Política Externa Independente (1961- nhada pela noção de “não indiferença”.
China 1964) conseguiu superar o tradicional O objetivo foi sinalizar que simples re-
receio a intrusões das grandes potên- soluções condenatórias, ao ignorarem
cias nos assuntos nacionais para de- contextos nacionais, tornam-se con-
100
EUA fender nos foros multilaterais o tema traproducentes e provocam o isola-
dos direitos humanos, em especial dos mento dos países. Isso fez aumentar as
Canadá
direitos sociais. O país é um dos que críticas vindas de alguns ativistas e se-
mais ratiicaram convenções interna- tores da imprensa. Essa mudança de
1 2 3 4 5 6 7 8 9 1011 121314151617
Somália
cionais, inclusive as que reconhecem a postura somou-se à tradicional crítica
autoridade do Tribunal Penal Interna- da diplomacia brasileira ao uso seletivo
Labmundo, 2014

As COP são anuais. A COP-1 ocorreu em 1995. cional e da Corte Inter-Americana. A pelas potências centrais das condena-
Em 2014, foi realizada a COP-20 no Peru. Constituição de 1988 prioriza o tema ções às violações de direitos humanos
Fonte: Schroeder et al., 2012. nas relações internacionais do país. em países em desenvolvimento.

PROTOCOLO DE QUIOTO
Situação em 2014 Retirou-se do tratado
(dez/2011)

Optou por não ratificar


Países em desenvolvimento
sem compromisso de quotas
Países com compromisso de quotas

Na nova fase do tratado (2012-2020)


os seguintes Estados-parte
não reassumiram compromisso:
Rússia, Japão e Nova Zelândia

Membros da ONU que não participam


do tratado (Estados Unidos, Canadá,
Andorra, Sudão do Sul, Palestina e
Santa Sé), territórios sem reconhecimento
internacional ou províncias autônomas
sem compromissos na área.
Labmundo, 2014

1000 km

Fonte: Sítio web do Unfccc, 2014.

102 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
NOVAS COALIZÕES, MULTILATERALISMO E COOPERAÇÃO SUL-SUL

No plano doméstico, o campo dos di- DIREITOS HUMANOS


reitos humanos é um exemplo da di- Anistia Internacional, países com escritório da instituição, em 2014
versiicação dos atores envolvidos na
política externa brasileira, com a par- Sede
(Londres)
ticipação de vários órgãos governa-
mentais das três esferas de governo,
movimentos sociais, organizações da
sociedade civil e imprensa. Entidades
como Anistia Internacional e Human
Rights Watch desempenharam impor-
tante papel na promoção dos direitos
humanos, com destaque ao contex-
to dos regimes autoritários da Améri- 1000 km
Países com escritório
ca Latina durante as décadas de 1960 da instituição
a 1980, porém hoje dividem o espaço Fonte: Sítio web da Anistia Internacional, 2014.
político com várias organizações na-
cionais e regionais, como a Conectas, o
INESC e a Rebrip. Tribunal Penal Internacional, participação dos países no Estatuto de Roma de 1998, em 2014

O Brasil também é bastante atuan-


te nos fóruns ambientais multilaterais,
tendo sediado duas grandes confe-
rências sobre o tema (1992 e 2012). O
país tem participado de negociações
para criação de um regime que miti-
gue os efeitos do aquecimento global.
Tradicionalmente, a diplomacia brasi-
leira defende o princípio da responsa-
bilidade comum mas diferenciada, ou 1000 km
Não assinaram
seja, os países desenvolvidos deveriam Assinaram
arcar com responsabilidades maio- Assinaram e ratificaram
res nos acordos globais (como no Pro- Fonte: Sítio web do TPI, 2014
tocolo de Quioto) em função de suas
emissões históricas. O Brasil defen-
de também a captura de carbono e o Corte Internacional de Justiça, em 2014
uso dos biocombustíveis como mitiga-
dores do problema. Um acordo multi-
lateral abrangente ainda parece difícil
de ser concluído, em especial em mo-
mento de baixo crescimento econô-
mico internacional. Apesar da posição
dos EUA em relação ao Protocolo de
Quioto, o regime entrou em vigor em
2005 com o ingresso da Rússia, e, no
Labmundo, 2014

inal de 2012, o tratado teve seus efei-


tos prorrogados até 2020. Reuniões
multilaterais (Conferências das Par- Membros

tes) ocorrem anualmente na busca por Fonte: Sítio web da CIJ, 2014.
consensos. Nesses encontros, o Bra-
sil é um dos países com maior delega-
ção. No momento em que recrudesce Conselho de Segurança das Nações os países em desenvolvimento, passam
o debate a respeito dos impactos das Unidas), mas mantém padrão de for- pelo mesmo problema da subrepre-
ações humanas sobre a vida futura no te participação em organismos multi- sentação, que ocasiona perda de opor-
planeta, o país foi um dos divulgado- laterais e na formulação dos regimes tunidades em termos de projeção de
res do conceito de “desenvolvimento internacionais (desenvolvimento, se- soft power, troca de conhecimentos e
sustentável” na crença de que é possí- gurança alimentar e comércio). Nos maior participação do Brasil na agen-
vel conciliar crescimento econômico últimos anos, também procurou au- da política internacional.
com baixo impacto no meio ambien- mentar sua participação em operações
te e que a preservação da fauna e lora de paz (como na Minustah, no Haiti).
não deve constranger a busca pelo de- VEJA TAMBÉM:
senvolvimento dos países do Sul. Ainda assim, de um conjunto de pou- Futebol e esportes p. 52
co mais de oitenta mil funcionários, há Turismo p. 54
O Brasil tem sido crítico moderado menos de 600 civis brasileiros atuan- Pluralismo religioso p. 56
do atual sistema de representação no do no sistema ONU. Para o Itamaraty, Centros de pesquisa e universidades p. 78
multilateralismo (por exemplo, do outros Estados membros, mormente

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 103
Agências internacional, demandando maior
participação dos países emergentes nas
decisões do FMI por meio da redistri-

econômicas buição das cotas que dão direito a voto,


assim como exigiu aumento do diá-
logo das instituições inanceiras com
o Conselho Econômico e Social da

mundiais ONU. A análise da evolução da retóri-


ca brasileira sobre o órgão indica que a
crise de 2008 fez o governo Lula refor-
çar o discurso de um país independen-
te do FMI e contrário a suas políticas
de austeridade e condicionalidades.
O Brasil participou como mem- No Brasil, se durante o governo FHC
bro fundador dos mais importan- buscou-se construir um bom entendi- Além do FMI, um dos fóruns de maior
tes organismos econômicos surgidos mento com o órgão, o governo Lula atuação da diplomacia econômica
no pós-Segunda Guerra. A nova or- politizou esse relacionamento ao pa- brasileira foi a Organização Mundial
dem econômica passou a ser deinida gar empréstimos antecipadamente e, do Comércio. A OMC (1995) é a su-
em preceitos contratuais e institucio- mais tarde, ao emprestar dinheiro para cessora do Acordo Geral sobre Tarifas
nalistas baseados em paradigmas o fundo combater os efeitos da crise e Comércio (GATT, na sigla em in-
keynesianos. As primeiras institui- pós-2008. O governo Lula foi um crí- glês), que desde 1947 promovia roda-
ções contaram com a participação de tico moderado do sistema inanceiro das de negociação para harmonizar as
pouco mais de cinquenta Estados
membros, mas a entrada de países pe-
riféricos nos anos 1950 e 1960 reforça- FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL
ria o interesse pelo multilateralismo Empréstimos do FMI para os países, entre 1984 e 2014 (em bilhões de Direitos Especiais de Saque)
na busca pelo desenvolvimento eco- 41,3
nômico. O Brasil tradicionalmente 23,2
atuou nos fóruns econômicos em prol 6,1
de tratamento especial e mais favorá- 1,1
vel para os países em desenvolvimen-
to, denunciando que o ordenamento
multilateral não reconhecia as assime-
trias internacionais e favoreceria os pa-
íses desenvolvidos.

As grandes mudanças que ocorre-


ram nos anos 1980 (como a fragmen-
tação política do Terceiro Mundo, a
emergência econômica da Ásia, o im Maiores empréstimos:
1°- Brasil - 41,292
da URSS, os impactos mais visíveis 2°- Turquia - 28,696
1000 km
3°- Grécia - 24,753
das crises do petróleo, a inanciariza- 4°- Argentina - 23,479
ção do sistema econômico internacio- 5°- Portugal - 23,201

nal e as crises dos anos 1990 e 2000),


somadas a problemas domésticos em Quantidade de quotas no FMI por país, em 2014 (em milhões de Direitos Especiais de Saque)
muitos países em desenvolvimento, le-
varam o Brasil a enfrentar diiculdades Maiores quotas:
1°- EUA - 42,122
inanceiras, ter de realizar ajustes es- 2°- Japão - 15,629
3°- Alemanha - 14,566
truturais e buscar socorro de agências 4°- França - 10,739
internacionais para lidar com os déi- ...
Reino Unido - 10,739

cits de balança de pagamentos. Como 14- Brasil - 4.250,5


outros países, o Brasil foi conduzido
a um relacionamento de dependên-
cia com o Fundo Monetário Interna-
cional. A partir dos anos 1980, o FMI
passou a ter papel mais relevante nas
negociações do sistema inanceiro ao
implementar os programas de ajus-
te estrutural como pacotes de resga-
te da economia de países endividados.
O Fundo intermediava a relação entre 42,122
1000 km

países devedores e credores internacio-


Labmundo, 2014

nais e demandava ajustes econômicos 14,566

para gerar superávits para o pagamen- 3,236

to da dívida. Fonte: FMI, 2014a.


0,194

104 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
NOVAS COALIZÕES, MULTILATERALISMO E COOPERAÇÃO SUL-SUL

políticas aduaneiras dos países mem- COMÉRCIO MUNDIAL DE MERCADORIAS


bros e, com isso, realizar a liberalização Comércio intrarregional e interregional, em 2012 (em bilhões de dólares)
progressiva do comércio mundial. O
Brasil criticou o órgão por favorecer os
países ricos, defendendo a introdução
de um regime de concessões sem re- Am. do
Norte
ciprocidade para a abertura comercial Am. do
em benefício dos países em desenvolvi- Sul e
Central CEI Ásia
mento. Em 1986, o Brasil formou com
outros agroexportadores o grupo de
Cairns (hoje com 19 membros), bus-
cando levar o tema da liberalização do Europa
comércio agrícola para a pauta de dis- 1000 km

cussão. Em 2003, o Brasil e um grupo


de países em desenvolvimento (conhe- Para facilitar a leitura,
o comércio intrarregional Oriente
cidos como “G-20 comercial”) se orga- é representado em círculos. Médio
nizaram para pressionar as negociações Se fosse representado por setas, Somente representados
teria as seguintes espessuras: valores superiores a 20
no âmbito da OMC, consolidando-se bilhões de dólares
como um interlocutor relevante nos e C Sul a
Mé iente

África

No a
do éric

rte

a
do éric
l

rop
CE o

tra
ica

di

debates agrícolas. O país também tem


Am

ia
Or

Am
I

en
Áfr

Eu
Ás
agido na OMC por meio de seu sis-
tema de soluções de controvérsias e já Entre 74 380 975
20 e 40
iniciou 26 processos, com vitórias im-
portantes sobre EUA, União Europeia

Labmundo, 2014
intrarregional (área do círculo)
e Canadá. Fato relevante foi a eleição
do brasileiro Roberto Azevêdo como interregional (espessura das setas)
Diretor-Geral da instituição em 2013, Fontes: OMC, 2013; Durand et al., 2010.
reletindo o prestígio da diplomacia
econômica brasileira em especial entre
os países do Sul. como o fórum mais adequado para internacionais têm mostrado poder
negociar questões comerciais com pa- limitado na construção de consen-
Durante os anos 1990, o país colo- íses desenvolvidos (organismo de re- sos (no FMI, mas também na Roda-
cou em prática uma série de políticas solução de controvérsias). Temas de da Doha da OMC). E mesmo o G-20
para garantir sua inserção no sistema interesse dos países ricos (acesso a li- inanceiro (do qual o Brasil faz parte)
econômico a partir de uma liberaliza- citações públicas, proteção a investi- não tem logrado encaminhar compro-
ção comercial unilateral, com forte im- mentos estrangeiros ou alteração das missos políticos e econômicos que li-
pacto (nem sempre positivo) em vários regras para o comércio de serviços) fo- mitem os impactos negativos da crise
setores da economia. Também foram ram evitados a im de manter grau de inanceira. O insucesso da diplomacia
encaminhados projetos de integra- liberdade na condução de políticas in- brasileira em realizar novos acordos e
ção regional, como o Mercosul (com dustriais autônomas. O Brasil buscou sua aposta na conclusão a contento da
viés de regionalismo aberto), em pa- acordos comerciais preferencialmente Rodada Doha são dois pilares que tor-
ralelo ao debate a respeito da ALCA com países emergentes, cujos resulta- naram a PEB um dos alvos preferidos
e da aproximação com a União Eu- dos mais concretos são esperados para das críticas aos governos petistas, acu-
ropeia. Já nos anos Lula, houve mu- os próximos anos. sada de ideológica e pouco pragmáti-
danças paulatinas na política externa ca. Em 2014, foi lançado no âmbito
comercial brasileira. Aumentaram as Durante o governo Dilma, ainda mar- dos BRICS um banco de desenvolvi-
resistências a acordos regionais com os cado pelo quadro de baixo crescimen- mento, sediado em Xangai, bem como
países centrais, em particular com os to resultante da crise inanceira nos um fundo de prevenção contra futuros
EUA. A OMC passou a ser encarada países centrais, os foros econômicos problemas de liquidez de seus mem-
bros. Seu objetivo é possibilitar aos
BRICS e países em desenvolvimen-
DO GATT À OMC to mais uma opção de inanciamentos,
Proteção tarifária (em %) e quantidade de participantes nas negociações, entre 1947 e 2014 além dos tradicionais organismos eco-
40 150 nômicos (FMI e Banco Mundial). O
123 futuro dirá se a jogada dos BRICS pro-
30 duzirá os efeitos geopolíticos e econô-
20
102 quantidade de participantes micos esperados.
nas negociações
proteção tarifária
62
10 38
23 VEJA TAMBÉM:
13 26 26
0
1947 49 51 56 60 61 64 67 73 79 86 93 95 2001 Agronegócio p. 28
Labmundo, 2014

R. Tóquio R.Uruguai Rodada Doha Parque industrial p. 30


Rodada Kennedy
Rodada Dillon População e diversidade p. 42
Genebra
Torquay
Annecy Multinacionais brasileiras p. 70
Genebra Fontes: OMC, 2013; Durand et al., 2007.

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 105
Novos parceiros início do século XXI pelo Brasil e por
outros parceiros do Sul político. A pos-
tura brasileira e da maioria dos países

e coalizões do Sul não é reformista, no sentido de


desejar a completa substituição de nor-
mas, regras e instituições que regem
a ordem global. O discurso brasileiro
orienta-se no sentido de exigir maior
participação dos países periféricos nos
foros decisórios mundiais já existen-
tes. Percebe-se, então, que o Brasil arti-
cula-se com outros países, para juntos
exigirem maior poder decisório nos
COMÉRCIO ENTRE REGIÕES No inal do século XX e início do XXI, debates internacionais.
Evolução do comércio brasileiro com parceiros alguns países e regiões começam a ga-
novos e tradicionais, entre 2000 e 2013 (em bilhões
de dólares) nhar importância na pauta da políti- Essa busca por laços com parceiros me-
Mercosul* ca externa brasileira (BRICS, Fórum nos tradicionais é facilitada por um
30 IBAS, G-20 comercial, países africa- momento político e econômico favo-
nos e do Oriente Médio). Uma primei- rável, tanto no nível sistêmico, quan-
ra e breve análise desse fenômeno pode to no nível doméstico. Internamente,
passar a impressão de que esse movi- o Brasil conseguiu a estabilização ma-
20
mento é inovador e reformista. Na croeconômica no inal da década de
verdade, aproveitando-se de um mo- 1990, e, no início dos anos 2000, o PIB
mento em que a conjuntura sistêmica teve taxas de crescimento acima de 5%
10 e doméstica é favorável, o Brasil reto- ao ano. Livre de acordos de ajuste eco-
ma as relações com antigos parceiros. nômico e com aumento de capacida-
Todavia, as características e a inserção des estatais, a política externa brasileira
internacional desses “novos” parceiros, ganhou em autonomia. Simultanea-
assim como a brasileira, não permane- mente, a economia mundial apresenta-
00
01
02
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20

*A Venezuela foi contabilizada em todos os anos ceram inalteradas ao longo do tempo. va dinamismo, criando oportunidades
Por isso, essas relações podem trazer re- de novos acordos. Países do Sul polí-
África sultados positivos ao Brasil, mas tam- tico impressionavam pelo aumento de
12
bém apresentam desaios. capacidades econômicas, demográi-
cas e políticas – por exemplo, África do
A busca por diversiicação de parcei- Sul, Índia, Indonésia, Angola, Nigé-
ros não é uma novidade na história da ria, Turquia, México e, principalmen-
8 política externa brasileira. Em meados te, a China (também é possível citar a
do século XX, o Brasil também buscou recuperação econômica russa). Dife-
aumentar sua presença internacional, rentemente das décadas de 1980 e de
4
fortalecendo ou criando laços com pa- 1990, os efeitos da crise inanceira de
íses periféricos ou do bloco socialista. 2008 afetaram principalmente os EUA
Esse movimento foi marcado pela bus- e a Europa, reforçando a importância
ca de maior autonomia brasileira, in- para o Brasil de ter relações para além
serindo-se em um discurso global que das economias ocidentais.
defendia o fortalecimento da sobera-
00
01
02
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20

nia, bem como um desenvolvimento Fica evidente, portanto, que a busca


Oriente Médio mais justo e equitativo entre os países. pelo Brasil de resgatar as relações com
8
Esses princípios foram retomados no países do Sul é resultado de cálculos

ACORDOS COMERCIAIS
6
Países com acordo com o Brasil, em 2014

2 Mercosul

Países com acordos de


preferência tarifária com o Brasil
Países com acordos de
preferência tarifária com o Mercosul
00
01
02
04
05
06
07
08
09
10
11
12

Labmundo, 2014 3
1
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20

Países com acordos de


complementação econômica,
Labmundo, 2014

Exportação Importação com objetivo de criar uma área


de industrializados de industrializados de livre comércio com o Mercosul
Exportação Importação 1000 km
de básicos de básicos

Fonte: Sítio web AliceWeb do MDIC, 2014. Fonte: MDIC,2014

106 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
NOVAS COALIZÕES, MULTILATERALISMO E COOPERAÇÃO SUL-SUL

ARTICULAÇÃO E BUSCA DE MAIOR PARTICIPAÇÃO COMÉRCIO COM OS BRICS


Cúpulas e reuniões ministeriais até 2014 Evolução do comércio, entre 2000 e 2013 (em
bilhões de dólares)
China
40

30

20

Cúpulas IBAS
Reuniões ministeriais IBAS 10
Cúpulas BRICS

1000 km

00
01
02
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
Índia
6
Projetos com recursos do Fundo IBAS, em 2014

4
to

2
en
m
an ído
da
Em clu
n
Co

Saúde
Infraestrutura e logística
Combate à fome Labmundo, 2014

00
01
02
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
1000 km Rússia
3
Fontes: Itamaraty, 2014b; Sítio web do Fórum IBAS, 2014.

políticos e econômicos. O mundo es- a construção de satélites com o Brasil 2


tava em transformação, e novas opor- (Satélite Sino-Brasileiro de Recursos
tunidades surgiram. Havia incentivos Terrestres – CBERS). A parceria entre
para que o Brasil aproveitasse esse mo- a Índia e o Brasil também se revelou 1
mento favorável. Cabe ressaltar, entre- fundamental no âmbito farmacêuti-
tanto, que o resgate das parcerias com co e de biocombustíveis. Esses breves
países do Sul político não substitui exemplos demonstram que o resgate
nem concorre com as tradicionais re- das relações brasileiras com esses paí-
00
01
02
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
lações do Brasil com os EUA e com a ses tem o potencial de trazer resultados
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
Europa. O Brasil pode ter diplomacia positivos para o Brasil. África do Sul
positiva, pragmaticamente, com to- 1,5

dos os países com os quais se relaciona, Todavia, essa aproximação com outros
sem preterir um ou outro. países do Sul também gera desaios.
No âmbito comercial, o forte cresci- 1,0
As relações do Brasil com os países me- mento chinês e a competitividade de
nos tradicionais trazem uma série de seus produtos industrializados trazem
benefícios comerciais, políticos e tec- o risco de reprimarização da pauta de 0,5
nológicos. No âmbito econômico, o exportação brasileira. Além disso, a re-
dinamismo do mercado consumidor lação do Brasil com esses países não é
desses países favorece o comércio ex- tão assimétrica quanto as relações com
terior brasileiro. Além disso, esses pa- EUA e Europa, mas existe a possibi-
00
01
02
04
05
06
07
08
09
10
11
12

Labmundo, 2014

íses são menos conservadores ao faz lidade de emergir um relacionamen-


20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20

Exportação Importação
acordos em temas sensíveis como o to de centro-periferia (o Brasil ora no de industrializados de industrializados

aeroespacial e segurança. A Rússia centro, ora na periferia), o que pode Exportação


de básicos
Importação
de básicos
começa a se consolidar como um im- colocar em risco a boa relação políti- Fonte: Sítio web AliceWeb do MDIC, 2014.
portante parceiro no âmbito da segu- ca. No âmbito de concertação política,
rança, vendendo armamentos (como também é incerta a possibilidade de
veículos terrestres, helicópteros e bate- se manter uma posição harmonizada VEJA TAMBÉM:
ria antiaérea) e tecnologia para o Bra- no longo prazo. As diferentes realida- Agronegócio p. 28
sil. A Rússia também é um importante des políticas, econômicas e sociais no Itamaraty p. 60
parceiro no projeto da construção do âmbito interno desses países ensejam Diplomacia presidencial p. 62
Veículo Lançador de Satélites brasilei- interesses políticos diferenciados em Brasileiros no exterior p. 76
ro, enquanto a China tem acordo para diversos temas.

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 107
Governança global foros decisórios, como o G-7 e o G-8,
também é alvo de críticas. A falta de
regras formais traz insegurança para os

mais democrática? demais países, além de enfraquecer o


multilateralismo. Em uma instituição
informal, não ica claro quem são os
membros, qual é o propósito do gru-
po, o que é discutido, nem como e se
os documentos são transparentes.

Em conjunto com outros países em


desenvolvimento, o Brasil luta pela
reforma das principais agências inter-
No início do século XXI, a recupera- mas hoje a principal bandeira é a refor- nacionais. Na medida em que o Bra-
ção do dinamismo econômico nos pa- ma do poder decisório e do sistema de sil é um país que está em uma posição
íses em desenvolvimento permitiu que representação. intermediária na distribuição de po-
o Sul político voltasse a se unir em tor- der mundial, seria impossível, por si só,
no de propostas mais concretas, con- Historicamente, o Brasil tem denun- exigir essas mudanças. Para aumentar
trastando com as bandeiras defendidas ciado o caráter oligopolizado dos fo- o capital político e, portanto, ter mais
pelo terceiro mundismo e pelos movi- ros decisórios mundiais. O discurso voz internacionalmente, o Brasil bus-
mentos do século XX (G-77, não ali- diplomático brasileiro aponta que, ca agir em bases articuladas com ou-
nhados, NOEI). Muitos desses países em diversos temas, os países periféri- tros países que tenham características
deixaram em segundo plano o posi- cos têm pouca ou nenhuma participa- semelhantes e que também desejem a
cionamento de demandantes por pre- ção na tomada de decisão. Além disso, reforma do processo decisório das ins-
ferências comerciais junto aos países os principais cargos das instituições i- tituições internacionais. Esse é um dos
industrializados. Assim como nas dé- nanceiras internacionais ainda são re- motivos pelos quais o Brasil participa
cadas de 1950 e 1960, os países do Sul servados a nacionais estadunidenses de grupos de concertação política, bus-
continuam a lutar por modelos de de- e europeus ou a candidatos por eles cando articular-se politicamente com
senvolvimento que promovam justi- apoiados. Além da falta de represen- países de diversas regiões do mundo,
ça e equidade no plano internacional, tatividade, a informalidade de alguns principalmente do Sul (que também

COALIZÕES MAIS PLURAIS NA POLÍTICA MUNDIAL?


Credenciais das coalizões em grupos de concertação política, em 2014
População, em bilhões1 PIB, em trilhões de dólares1 Países representados
1 3 5 7 10 30 50 70 50 100 150
Assembleia Assembleia 100% Assembleia
Geral/ONU 100% Geral/ONU Geral/ONU 100%

G-20f2 64,56% G-20f2 85,41% G-20f1 22,28%

BRICS 42,33% BRICS 20,28% BRICS 2,59%

G-7 27,51% G-7 47,48% G-7 3,63%

Membros Membros Membros


Permanentes 10,58% Permanentes 43,44% Permanentes 2,59%
CS/ONU CS/ONU CS/ONU

Credenciais das coalizões na OMC, em 2014


População, em bilhões1 PIB, em trilhões de dólares1 Países representados
1 3 5 7 10 30 50 70 50 100 150

Total 100% Total 100% Total


Mundial Mundial Mundial 100%

G-20c 53,86% G-20c 17,07% G-20c 11,40%

G-904 22,87% G-904 5,32% G-904 44,56%


Labmundo, 2014

13,94% 40,65% QUAD3 16,06%


QUAD3 QUAD3
1
Os dados demográficos e do PIB são relativos a 2012 3
O QUAD é composto por 4 atores influentes nas negociações da OMC: EUA, União Europeia, Japão e Canadá
2
A União Europeia tem assento no G-20 financeiro 4
O G-90 é composto de países em desenvolvimento da Ásia, África e América Central e Caribe
Fontes: Sítio web da base de dados do Banco Mundial, 2014; Unctad, 2014.

108 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
NOVAS COALIZÕES, MULTILATERALISMO E COOPERAÇÃO SUL-SUL

demandam maior representação nos COALIZÕES E GRUPOS DE GEOMETRIA VARIÁVEL


foros internacionais). Desse modo, o G-20 G-7 *Todos os dados são referentes a 2014

pleito de reforma de algumas institui-


ções internacionais ganha força e legi-
timidade, assim como o Brasil busca se UE
apresentar como um interlocutor ne-
cessário e com credibilidade em diver-
sos temas.

Esse movimento obteve êxito relativo. 1000 km 1000 km


No âmbito da OMC, as negociações Membros Convidados
eram ditadas pelo grupo denomina- Membros
*A União Europeia tem um assento permanente no G-20
do QUAD, mas os países periféricos se
uniram em torno do G-20 comercial e Comunidade dos Países de Língua G-15
conseguiram mudar os rumos das ne- Portuguesa (CPLP)
gociações em Cancun, no México, em
2003. Após a crise inanceira de 2008, o
G-20 inanceiro foi elevado a um gru-
po de cúpula e entendido como um
dos principais foros de discussão mun-
dial. A importância de reformar a dis-
tribuição do poder decisório no FMI
foi reconhecida por diversos países, 1000 km 1000 km
inclusive do Norte. E cargos em im-
portantes organismos internacionais, Membros Membros

como a FAO e a OMC, foram ocupa-


dos por brasileiros. Com essas mudan-
ças, pode-se airmar que a governança Fórum de Cooperação América Latina–Ásia Cúpula Ibero-americana
global icou um pouco mais plural. Pa- do Leste (Focalal)
íses e sociedades que não tinham voz
passaram a participar mais ativamente
das discussões internacionais. Contu-
do, ainda não é claro se a governança
global pode tornar-se mais democráti-
ca. Apesar de ampliados, os foros deci-
sórios ainda não contemplam a devida
representação dos países em desen-
1000 km 1000 km
volvimento. A participação das orga-
nizações da sociedade civil também Membros Membros

é incipiente. Além disso, as reformas


no processo decisório de algumas ins-
tituições são lentas e encontram resis- Cúpula América do Sul-África (ASA) IBAS e BRICS
tências no plano doméstico, como no
caso do Congresso dos EUA, que tar-
da em ratiicar a reforma das quotas do
FMI.

A PEB atual parte do princípio de


que o país tem muito a ganhar quan-
do participa desses novos mecanis-
1000 km 1000 km
mos de governança global (a exemplo
do G-20 inanceiro). Justiica sua de- Membros

cisão com base no pretígio político, na BRICS


importância estratégica e nas creden-
Labmundo, 2014

Membros do
ciais que decorrem dessa participação Cúpula América do Sul-Países Árabes (ASPA) BRICS e do
IBAS
para a economia brasileira. Todavia, a
participação nesses grupos pode gerar Fonte: Itamaraty, 2014b.
incoerências no discurso da diploma-
cia brasileira que tradicionalmente de-
nunciava os malefícios potenciais de VEJA TAMBÉM:
grupos informais para os espaços mul- Itamaraty p. 60
tilaterais. Além disso, o diálogo com América Latina e do Sul p. 84
países do Sul que não participem des- Relações Norte-Sul p. 100
ses mecanismos pode se ver prejudica- 1000 km
Sistema ONU p. 102
do em termos de legitimidade. Membros

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 109
Cooperação: segurança. O eixo comercial também
sempre foi muito relevante para justi-
icar a chegada de AOD ao Brasil. Ain-

de beneiciário da hoje, no caso da Alemanha, o Brasil


aparece como importante beneiciário
de cooperação no setor ambiental, no
qual empresas alemãs se destacam co-

a doador? mercial e tecnologicamente. Ou seja, a


cooperação para o desenvolvimento é
moeda corrente dos Estados em suas
agendas de política externa, com dis-
tintas motivações e justiicativas.
EVOLUÇÃO DA AOD No Brasil, os debates sobre política ex- Dados de 2012 publicados pelo Comi-
Principais doadores, em bilhões de dólares, entre
1970 e 2010
terna e sua relação com o sistema da tê de Assistência ao Desenvolvimen-
1970 2000 2010 cooperação internacional para o de- to (CAD) da OCDE indicam que os
senvolvimento (CID) mudaram de principais Estados doadores são EUA,
tom a partir do momento em que o go- Reino Unido, Alemanha, França e Ja-
U.E. -15
verno brasileiro e suas distintas agên- pão. No entanto, apenas Luxemburgo,
69.66
cias passaram a desempenhar papel Holanda, Noruega e Suécia ultrapassa-
17.820
crescente também na qualidade de país ram a marca do 0,7% do PIB dedica-
que oferece projetos de cooperação. É dos à AOD. A AOD líquida subiu em
EUA
bem verdade que o Brasil participara, nove países (principalmente Austrália,
30.353 desde os anos 1960, de programas de Áustria, Islândia, Coreia do Sul e Lu-
cooperação, em parcerias com outros xemburgo), ao passo que as principais
14.391 países de renda média e de renda bai- quedas foram registradas em 16 paí-
xa. No entanto, foi somente a partir ses membros do CAD (sobretudo Es-
Outros doadores do CAD 17.430
dos anos 2000 que seu papel se tornou panha, Itália, Grécia e Portugal). Além
mais denso do ponto de vista quantita- dos Estados, destaca-se a União Euro-
tivo e qualitativo. A CID passou a in- peia, que em 2012 desembolsou apro-
4.520 tegrar mais plenamente o debate sobre ximadamente 18 bilhões de dólares em
os rumos da política externa e a ser vis- AOD, com destino prioritário para a
Japão 11.021 ta como ferramenta de soft power. A Turquia, Sérvia, Palestina, República
partir dos anos 2000, com a mudan- Democrática do Congo e Afeganistão.
4.120 ça na escala da política externa brasilei-
ra, transformou-se também o peril da Percebe-se, entre os principais doa-
atuação do Brasil na CID. dores do Norte, que a agenda de rela-
ções bilaterais é variável fundamental
O Brasil havia sido, tradicionalmen- para entender as prioridades de cada
Outros doadores
te, beneiciário de programas e inan- país, salvo no caso do Reino Unido,
Labmundo, 2014

7.168
ciamentos. De fato, o Brasil (como cuja AOD é canalizada majoritaria-
2.347 outras potências emergentes) ainda re- mente por meio de agências multilate-
Fonte: CAD/OCDE, 2014. cebe assistência oicial para o desenvol- rais. Os EUA têm mais de 80% de sua
vimento (AOD) de países da OCDE. AOD transferida por via bilateral. Do
Em 2012, China, México e Turquia ponto de vista organizacional, entre os
AOD RECEBIDA encontravam-se na lista dos top 10 da membros do CAD, a cooperação para
Evolução da AOD recebida dos Estados membros
do CAD/OCDE, entre 1960 e 2010 (em bilhões de
França; Índia, China, Turquia, Bra- o desenvolvimento encontra-se de re-
dólares) 3,5 sil, Indonésia e Peru na lista dos top 10 gra integrada à política externa, es-
da Alemanha, terceiro maior doador tando o departamento ou a agência
3,0 membro do CAD nesse ano. O Bra- burocraticamente situado sob a res-
2,5 sil recebeu, em 2009, 310 milhões de ponsabilidade dos respectivos minis-
dólares em AOD; em 2010 foram 403 térios das relações exteriores. Segundo
2,0 milhões, chegando a 648 milhões em a OCDE, existiriam quatro principais
1,5 2011 e a um pouco mais de um bilhão modelos organizacionais: (i) o ministé-
em 2012. Historicamente, antes da Se- rio assume a liderança e é responsável
1,0 gunda Guerra Mundial, a cooperação pela política e implementação (Dina-
0,5
negociada pelo governo de Getúlio marca, Noruega); (ii) o departamento
Vargas com os EUA fora um dos fato- de cooperação para o desenvolvimento
0 res importantes do processo brasileiro ou a agência dentro do ministério lide-
-0,5
de industrialização, com a criação da ra a agenda e é responsável pela políti-
1960 1970 1980 1990 2000 2010 Companhia Siderúrgica Nacional em ca e implementação (Finlândia, Grécia,
Volta Redonda. Nos anos 1960, o go- Irlanda, Itália, Países Baixos, Nova Ze-
Labmundo, 2014

Brasil Áf. do Sul México


verno dos EUA aumentou a sua ajuda lândia, Suíça); (iii) um ministério tem
China Índia Turquia
oicial ao Brasil depois do golpe mili- a responsabilidade global pela polí-
Fonte: CAD/OCDE, 2014. tar, alegando razões estratégicas e de tica e uma agência independente de

110 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
NOVAS COALIZÕES, MULTILATERALISMO E COOPERAÇÃO SUL-SUL

TOP 10 - AOD RECEBIDA COOPERAÇÃO BRASILEIRA NO MUNDO


Maiores fluxos de AOD recebidos em 2012, pelos Capital brasileiro destinado à cooperação, em 2010, em milhões de reais
países emergentes, em bilhão de dólares
Turquia (Total 3,03) 0,2 0,6 0,8
0,4
Áustria
Japão
Alemanha
EUA
Reino
Unido
Suécia
ACNUR
GEF1
Austrália 1
Fundo Global
para o Meio 92,4
Grécia

Labmundo, 2014
Ambiente
Índia (Total 1,67) 31,8
0,2 0,4 0,6 0,8 1000 km 13,7
Japão 6,4
Reino
Unido
Alemanha Fonte: IPEA, 2013.
Fundo
Global2
EUA
UNICEF execução é responsável pela implemen- concebidos e implementados pelos
Noruega tação (Alemanha, Áustria, Bélgica, Es- Estados. Os interesses dos atores do-
2
Fundo Global de Luta
Austrália contra Aids, Tuberculose
e Malária
panha, Estados Unidos, França, Japão, mésticos nem sempre são convergen-
Suécia 3
Fundo Internacional Luxemburgo, Portugal, Suécia); (iv) tes, podendo incrementar tensões e
para o Desenvolvimento
IFAD3 Agrícola um ministério próprio ou uma agência conlitos, ainda mais no caso de ine-
Brasil (Total 1,29) 0,2 0,4 0,6 0,8 para a CID, para além do ministério xistir, como no Brasil, uma verdadei-
França das relações exteriores, é responsável ra política pública e institucionalizada
Noruega
tanto pela política quanto pela imple- de cooperação. A Agência Brasileira de
Alemanha
Reino
mentação, como no caso da Austrália, Cooperação, criada em 1987, gerencia-
Unido
EUA
do Canadá e do Reino Unido. va até recentemente, de modo priori-
GEF
tário, os projetos e os inanciamentos
Espanha
No meio universitário, há inúme- recebidos. Falta-lhe, ainda hoje, ca-
Portugal ras interpretações sobre as motivações pacidade institucional para coorde-
Itália dos Estados ao desenvolverem políti- nar, monitorar e avaliar o conjunto de
Bélgica cas de cooperação ou, como se costu- projetos de cooperação oferecidos pelo
África do Sul (Total 1,07) 0,4 0,6 0,8
ma chamar em alguns países do Norte, Brasil. Em 2010 e em 2013, o IPEA, em
EUA de ajuda internacional (foreign aid). parceria com a ABC, publicou os pri-
Fundo
Global
As motivações variam: a necessidade meiros relatórios sobre a cooperação
França de formação de alianças, alinhamen- brasileira, em que aparecem as prio-
Alemanha tos ideológicos, benefícios políticos, ridades temáticas (agricultura, saúde,
Países
Baixos relevância estratégica e militar, bus- educação) e geográicas (América Lati-
Bélgica ca de inluência multilateral, abertura na e África). O Brasil não se apresen-
Suécia
de mercados comerciais, valores hu- ta como doador, mas como parceiro de
Japão
manitários, entre outros. No caso das outros países em desenvolvimento.
Canadá
potências emergentes, podem ser con-
ACNUR
siderados fatores relevantes a identida-
México (Total 0,42) 0,2 0,4 0,6 0,8
COOPERAÇÃO BRASILEIRA
EUA
de histórica e política compartilhada
Fluxos de cooperação por região, em 2013
França
entre países em desenvolvimento, a
Alemanha oferta de uma expertise que seria mais América do Sul,
68,1%
América Central
GEF apropriada porque adaptada a con- e Caribe
Fundo
Global
textos semelhantes, a rejeição de rela-
Canadá ções hierárquicas entre um doador e África 22,6%
Austrália um receptor, bem como a relevância
Ásia e 4,2%
Reino
Unido da cooperação com benefícios mútuos. Oriente Médio
Fundo BID4 4
Fundo Especial
do Banco
Pouco se sabe, ainda, sobre as práticas
da cooperação Sul-Sul (CSS) e sobre 4,0%
Labmundo, 2014

Áustria Inter-Americano Europa


China (Total -0,19) 0,2 0,4 0,6 0,8 as conexões e contradições entre essas
Alemanha
práticas e as motivações dos Estados América
do Norte 1,1%
França
Fundo
que as implementam. Muitas pesqui- Fonte: IPEA, 2013.
Global sas estão em curso.
GEF
EUA
Polônia
No entanto, ao abrirmos a análise do VEJA TAMBÉM:
Reino tema da CSS para o âmbito doméstico Matriz energética e meio ambiente p. 34
Unido
dos Estados, entre eles o Brasil, deve-
Labmundo, 2014

Austrália Cultura e soft power p. 50


IFAD se considerar a multiplicidade de expe- Agências econômicas mundiais p. 104
Noruega riências, agendas e atores, bem como Cooperação Sul-Sul p. 112
Fonte: CAD/OCDE, 2014. os distintos desenhos institucionais

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 111
Cooperação Somente em 2010, cerca de 68% de
toda a CID brasileira foi para a Améri-
ca Latina, 23% para a África, 4,5% para

Sul-Sul: a Ásia e o Oriente Médio, 4% para a


Europa e 1% para a América do Nor-
te. No caso da América Latina, os top-5
constituem 80% de toda a cooperação

atores e agendas do Brasil com a região, incluindo Hai-


ti (47%), Chile (16%), Argentina (9%),
Peru (4,5%) e Paraguai (4%). No caso
da África, os PALOP representam
76,5% de toda a cooperação para a re-
gião: Cabo Verde é o primeiro (24%),
As relações Sul-Sul têm estado presen- ocorre uma virada discursiva com ên- seguido por Guiné-Bissau (21%), Mo-
tes nas agendas da política externa bra- fase na cooperação Sul-Sul (CSS) e çambique (13%), São Tomé e Príncipe
sileira desde pelo menos os anos 1960, na diplomacia solidária, acompanha- (10%) e Angola (7%).
seja por meio de acordos de coopera- da de crescimento signiicativo do or-
ção (técnica, cientíica, educacional, çamento público destinado a projetos Os números mostram claramente que
em saúde, etc.), seja pela ênfase retó- de cooperação internacional para o de- o Brasil acelerou e tornou mais denso
rica na importância da solidarieda- senvolvimento (CID). De acordo com o seu envolvimento com a CID em ge-
de entre países em desenvolvimento dados oiciais publicados pelo IPEA e ral e a CSS em particular. É claro que
nas relações Norte-Sul (GATT, Unc- pela ABC, a CID brasileira aumentou a escala da cooperação brasileira está
tad, Nova Ordem Econômica Interna- de 158 milhões em 2005 para cerca de bastante aquém dos padrões dos prin-
cional). No entanto, a partir de 2003, 923 milhões de dólares em 2010. cipais Estados membros do CAD da
OCDE e da China. No entanto, as ati-
vidades de CSS do Brasil não envol-
COOPERAÇÃO EM SAÚDE vem obrigatoriamente transferência
Quantidade de atividades brasileiras na área de saúde, em 2014 inanceira direta aos países parceiros,
porquanto a CID é estatisticamente
concebida como despesa pública em
gastos correntes do orçamento anu-
al. Portanto, não inclui empréstimos
para investimentos concedidos pelo
BNDES, atividades implementadas
por entidades subnacionais, nem a re-
missão de dívidas de outros países em
desenvolvimento. Ademais, as estatís-
ticas do IPEA levam em conta apenas
os fundos públicos que sejam 100%
não reembolsáveis.

Outra característica que chama a aten-


ção é que a cooperação técnica é res-
Labmundo, 2014

ponsável por cerca de 6,3% do total do


31 orçamento de 2010, ou seja, um pou-
8 1000 km
co mais de 57 milhões de dólares, a
1
Fonte: Sítio web da ABC, 2014. ajuda humanitária chegou a 17,5%, a

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA


Atuação internacional da Embrapa, em 2014
Montpellier, França
Pequim, China Beltsville, EUA FAO
Suwon, Coreia do Sul

Embrapa Américas
Embrapa África

Países em que a
Embrapa desenvolve
atividades
Laboratórios virtuais
Labmundo, 2014

Escritórios regionais

1000 km

Fontes: Sítio web da ABC, 2014; Embrapa, 2014.

112 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
NOVAS COALIZÕES, MULTILATERALISMO E COOPERAÇÃO SUL-SUL

cooperação educacional a 3,8%, a co- MAIORES COOPERAÇÕES BRASILEIRAS


operação cientíica e tecnológica Atividades de cooperação brasileira, por setor e país parceiro, em 2014
a 2,6%, as missões de paz a 36% e as 172

contribuições para organizações mul-

au
50

qu

c ip é

e
e

L
tilaterais a 33,7% do orçamento to-

ss
ín m

st
rd

TA
e

e
bi

ai

Le
Bi
Pr To

am
Ve

TO
am

ua
a
gu

é-
ia

ol

or
e ão

r in

ug
lív

in
iti

ru
tal. Agricultura, saúde e educação são

ra

g
b

m
S

Gu
An
Ha
1

Bo

Ca

Su
Pe
Pa

Ur
M

Ti
os três principais setores da CSS brasi- Agricultura
leira, com destaque para a atuação da
Embrapa e da Fiocruz. Educação

A cooperação técnica não é uma prio- Defesa

ridade em termos de despesa, embora


Saúde
seja celebrada em vários países graças à
sua capacidade de adaptação aos con- Desenvolvimento
social
textos locais de outros países em de-
senvolvimento, mas também pelo fato Meio
Ambiente
de que mobiliza experiências de políti-
cas sociais e a expertise de funcionários Administração
pública
públicos. Geograicamente, a coope-
Cooperação
ração técnica brasileira está concentra- técnica
da em duas regiões principais: América Trabalho
Latina e África. O banco de dados da e emprego

ABC informa que, entre 1999 e 2012, Indústria


e comércio
havia 84 países em desenvolvimento
com os quais o Brasil cooperou: 40 de- Cidades
les eram países africanos, 13 do Caribe,
11 da América do Sul, outros 11 da Ásia, Justiça
7 da América Central, 1 da América do
Segurança
Norte (México) e 1 da Oceania (Pa- pública
pua-Nova Guiné). Entre 2005 e 2010, Minas e
a América Latina foi a região que rece- Energia

beu o maior número de projetos de co- Planejamento


operação técnica da ABC, ao passo que
a África teve a maior parcela do orça- Comunicações
mento da agência.
Cultura
Essa concentração de projetos na Amé-
Ciência
rica Latina e na África relaciona-se com e tecnologia
a formação histórica da sociedade bra-
Esporte
sileira (identidades compartilhadas),
interesses estratégicos das empresas em Pesca
franco processo de internacionaliza-
ção (petróleo e mineração, infraestru- Relações
exteriores
tura e engenharia civil, agronegócio e
biocombustíveis) e, mais recentemen- Legislativo
te, com algumas mudanças em maté-
ria de política externa (novas coalizões Transporte

de poder). Desde 2003, o governo bra-


sileiro aumentou suas representações
diplomáticas em países em desenvolvi- TOTAL

mento. O Brasil tem hoje 38 embaixa-


das na África, enquanto os EUA 55, a Fonte: Site web da ABC, 2014.
França 50, a China 41, a Turquia 35, a
400
Índia 29 e o México 8, de acordo com
os dados disponíveis nos sites na web Quantidade total de atividades, em 2014
dos respectivos Ministérios das Rela- 300

ções Exteriores.
200

VEJA TAMBÉM: 100

Brasileiros no exterior p. 76
Labmundo, 2014

América Latina e do Sul p. 84


Le ore es

un tes

Es s
rte

te Ciê ra
an og e

to

Pe a
ia

ab nça érci a e

em ca

Ci o

ia

ca

o c to

ist e

Ed lica o

ão

sa

ra
e

de

úd
Tr ativ

eg

b çã
rg
Pl ol cia

ár
gi s

ej ia

b l
ltu

tu
m ien
en

ei so en

fe
ri õ

çõ

li

nv cni


am ia
st
po

i
r

ho púb

Cooperação Sul-Sul: África p. 116


r
te laç

da

pú ra
cu
Co spo

er ene
pr

Sa
De

ul
t
cn n
ica

Ju
Cu

am

uc
sl

gu co dús

ric
ex Re

vi
m
an

in
e

ol

Ag
In

ã
e

as
m

Cooperação Sul-Sul: América Latina p. 118


a

Ad
in
r

se

M
M
al

op

De
Se

Co

Fonte: Sítio web da ABC, 2014.


Tr

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 113
Cooperação ou doutorado no Brasil. Em 2010, a
maioria dos 1.643 estudantes PEC-G
veio de Cabo Verde (532), Guiné Bis-

Sul-Sul em sau (436), Angola (147), Paraguai (123),


São Tomé e Príncipe (63) e Moçam-
bique (33), ao passo que, no caso do
PEC-PG, os candidatos vieram de Co-

educação lômbia (143), Peru (59), Argentina (36),


Timor Leste (26), Cabo Verde (21),
Moçambique (17), Angola (13), Guiné-
Bissau (11), mas nenhum de São Tomé
e Príncipe. Mestrandos e doutorandos
em geral têm acesso a apoio inancei-
A educação é uma das quatro princi- educacional foram de bolsas de estu- ro, além do fato de não pagarem quais-
pais áreas de atuação do governo bra- dos para graduação e pós-graduação, quer taxas de matrícula para estudar
sileiro em matéria de cooperação, cuja distribuição geográica tem rele- nas instituições brasileiras. O Itamara-
ademais de agricultura, saúde e defe- tido as prioridades de política exter- ty paga a passagem de regresso para os
sa. A cooperação brasileira em educa- na. Em 2010, cerca de 73% das bolsas candidatos selecionados. É importan-
ção envolve agentes como a Agência de graduação foram para os estudantes te lembrar que, para evitar a “fuga de
Brasileira de Cooperação (coopera- dos PALOP, ao passo que 70% das bol- cérebros”, cada candidato selecionado
ção técnica), o Ministério da Educação sas de estudo de pós-graduação foram deve retornar ao seu país ao término
(programa de bolsa de estudos, pro- para sul-americanos. Historicamen- de seu curso. Com isso, há a expectati-
gramas de intercâmbio internacional te, a CAPES, o CNPq e a Divisão de va de que a cooperação brasileira cause
e cooperação técnica), mas também o Assuntos Educacionais (anteriormen- impacto positivo na sociedade do país
SENAI (educação proissional) e, em te conhecida como Divisão de Coope- parceiro.
muito menor grau, algumas ONG ração Educacional) do MRE têm sido
com expertise em educação não for- os principais idealizadores e executo- Além dos programas de bolsas, mere-
mal. No entanto, os projetos são ma- res de programas de intercâmbio e bol- cem destaque os programas bilaterais
joritários no setor do ensino superior. sas de estudo. Bolsas de pós-graduação de cooperação com Timor Leste, Cuba,
(PEC-PG) e de graduação (PEC-G) Argentina, Moçambique, Cabo Verde
De acordo com os dois relatórios publi- são o principal instrumento da coope- e Guiné-Bissau. No âmbito multilate-
cados pelo IPEA e pela ABC (em 2010 ração brasileira em educação. ral do Mercosul, o Programa de Mo-
e 2013), o governo brasileiro desembol- bilidade Acadêmica Regional, que está
sou, em bolsas de estudo de ensino su- O programa PEC-G oferece bolsas de em vigor desde 2006, visa a reforçar a
perior, o montante equivalente a 174 estudo para alunos estrangeiros de gra- cooperação educacional entre os Esta-
milhões de dólares entre 2005 e 2010. duação que são selecionados em seus dos membros. O programa inclui cur-
Com isso, o Brasil destinou no perí- próprios países, conforme os proce- sos de pós-graduação em Argentina,
odo cerca de 7,4% de toda a sua coo- dimentos estabelecidos pelo respecti- Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uru-
peração internacional para a educação. vo Ministério da Educação nacional guai. No Brasil, a Secretaria de Educa-
Entre 2009 e 2010, os gastos públi- e da embaixada brasileira no país. O ção Superior (SESu) e a CAPES têm
cos com essa modalidade de coopera- programa PEC-PG oferece bolsas de sido responsáveis pela gestão desses
ção aumentaram 40,7%. Mais de 97% estudo para estudantes graduados es- programas desde 2008. Em 2010, eles
do total das despesas com cooperação trangeiros para cursos de mestrado contribuíram com um total de 1 mi-
lhão de dólares, e cerca de 75% desses
recursos foram destinados a estudantes
COOPERAÇÃO BRASILEIRA EM EDUCAÇÃO NA ÁFRICA argentinos.
Atividades nos Países Africanos de Língua Portuguesa (PALOP), entre 2000 e 2014
Angola Cabo Verde Guiné-Bissau
8 8 8 No setor da educação proissional,
6 6 6
ABC e SENAI são parceiros estratégi-
cos. Em 2007, a educação proissional
4 4 4 correspondeu a 22,4% dos desembol-
2 2 2 sos totais da ABC. A cooperação in-
ternacional também traz a experiência
0 0 0
do SENAI para os países em desenvol-
2000

2000

2000
2006

2006
2008
2009

2008
2009

2006

2009
2004

2004

2004

2008
2002

20 05

2002

20 05

2002
20 03

20 03

20 03

20 05
20 07

20 07

20 07
20 01

2010

20 01

2010

20 01

2010
14

14

14
2012

2012

2012
20 13

20 13

20 13
20 11

20 11

20 11

vimento em temas como controle de


20

20

20

Moçambique São Tomé e Príncipe Total dos PALOP qualidade de alimentos e embalagens,
10
culinária e gastronomia, sistemas auto-
8 8 motivos e de produção, papel e celu-
6 6 lose, construção civil, energia, petróleo
2000 2005 2010 2015 e fontes renováveis de energia, minera-
4 4
50 ção, entre outros.
25
Labmundo, 2014

2 2 5

0 0
Atividades em execução Na década de 1960, o modelo do
Atividades iniciadas no ano SENAI foi divulgado nos países do
2000

2000
2006

2008
2009

2006

2008
2009
2004

2004
2002

2002
20 05
20 03

20 03

20 05
20 07

20 07
20 01

2010

20 01

2010
14

14
2012

2012
20 13

20 13
20 11

20 11
20

20

Fonte: Sítio web da ABC, 2014. Terceiro Mundo, por meio do Centro

114 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
NOVAS COALIZÕES, MULTILATERALISMO E COOPERAÇÃO SUL-SUL

COOPERAÇÃO EM EDUCAÇÃO DE NÍVEL SUPERIOR


Estudantes sul-africanos no mundo, em 2014 Origem dos estudantes estrangeiros na África do Sul, em 2014

1000 km 1000 km

Estudantes brasileiros no mundo, em 2014 Origem dos estudantes estrangeiros no Brasil, em 2014

1000 km 1000 km

Estudantes chineses no mundo, em 2014 Origem dos estudantes estrangeiros na China, em 2014

* Não há dados disponíveis para estudantes


estrangeiros na China

1000 km 1000 km

Estudantes indianos no mundo, em 2014 Origem dos estudantes estrangeiros na Índia, em 2014

1000 km 1000 km

Estudantes mexicanos no mundo, em 2014 Origem dos estudantes estrangeiros no México, em 2014

150 mil
100 mil
Labmundo, 2014

50 mil
1000 km
25 mil
1000 km
Valores menores de 100
Fonte: Unesco, 2014. 1 mil

Interamericano de Investigação e dos anos 1980, com o apoio da JICA, VEJA TAMBÉM:
Documentação da OIT. Desde 1970, o o SENAI aumentou sua carteira de Congresso, ministérios e agências p. 64
SENAI tem sido ativo na cooperação projetos na América Latina e também Itamaraty p. 60
com outros países na América Latina: passou a atuar de modo mais dinâmico Brasileiros no exterior p. 76
Colômbia, Guatemala, Jamaica, Haiti, nos PALOP (sobretudo em Angola) e América Latina e do Sul p. 84
Paraguai, Peru e Suriname. A partir no Timor Leste.

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 115
Cooperação reconhecidos internacionalmente. Se-
gundo a FAO, o Brasil diminuiu a sub-
nutrição de 11% a 6% entre 1990 e 2008,

Sul-Sul: África melhorando, assim, a situação de apro-


ximadamente 5 milhões de pesso-
as. Essas experiências domésticas que
visavam a combater com rigor o pro-
blema da fome tornaram-se referên-
cias da CSS brasileira, deinida como
intercâmbio de práticas e transferên-
cia de políticas públicas. É o caso do
Programa de Aquisição de Alimentos
(PAA). que deu origem ao PAA-África,
A reconiguração geopolítica e geoeco- e África do Sul), por exemplo, desem- desenvolvido em parceria com a FAO
nômica do mundo contemporâneo bolsou 27 milhões de dólares em con- e o Programa Mundial de Alimentos
visibiliza a importância de algumas po- tribuições, a maioria destinada a países (PMA) em cinco países africanos: Eti-
tências emergentes (África do Sul, In- africanos (45,3%), sendo 31,1% para a ópia, Malaui, Moçambique, Níger e
donésia, Turquia, México e o próprio agricultura e 26,1% para a saúde. Senegal. Também atua nesse setor o
Brasil) que vêm ganhando maior pro- Centro de Excelência da Luta contra
tagonismo no campo da cooperação Nesse cenário, a CSS brasileira com a Fome, articulação entre o PMA e o
Sul-Sul (CSS), a ponto de provocar a África está crescendo em importân- governo brasileiro, beneiciando paí-
redeinição nas relações, nos modelos cia, tendo atingido 39,5% do total do ses como Gana, Guiné-Bissau, Costa
e nas práticas que regiam a tradicio- orçamento governamental de coope- do Marim, Malaui, Mali, Moçambi-
nal cooperação Norte-Sul. O conti- ração técnica. Por motivos históricos que, Níger, Quênia, Senegal, Ruanda,
nente africano já recebia grande parte (colonização portuguesa) e institucio- Tanzânia, Togo, Zâmbia e Zimbábue.
da Ajuda Oicial ao Desenvolvimen- nais (CPLP), os principais parceiros
to dos doadores tradicionais do CAD do Brasil no continente africano são os A agricultura é, portanto, uma área es-
da OCDE, e isso em função dos inte- PALOP. Também merecem destaque sencial de atuação do Brasil no conti-
resses (políticos, econômicos, culturais, os países membros do Cotton-4 (Mali, nente africano, com forte participação
etc.) das antigas metrópoles coloniais e Benin, Burkina Faso e Chade), grupo da Embrapa, seguida de outros atores,
das superpotências, mas também gra- que visa a desenvolver o setor cotoní- a exemplo do Ministério de Desenvol-
ças à agenda recente dos Objetivos de cola com o apoio brasileiro, particular- vimento Social, o Ministério da Agri-
Desenvolvimento do Milênio, que exi- mente por meio da Embrapa. cultura, Pecuária e Abastecimento, o
gia focar nos países mais pobres. Hoje, Ministério do Desenvolvimento Agrá-
eles ganham destaque também como Existem importantes projetos nos rio e a Secretaria de Educação Prois-
área de atuação da CSS, sendo um campos da agricultura, da saúde e da sional e Tecnológica. Esses organismos
destino prioritário das ações de paí- educação, implementados pela Agên- têm atuado em projetos de cooperação
ses como Brasil, China, Índia e África cia Brasileira de Cooperação em parce- triangular, em parceria com agências
do Sul. O Fundo IBAS (Índia, Brasil ria com outras agências e instituições. multilaterais e bilaterais (por exemplo,
No entanto, é no desenvolvimen- FAO, DFID e JICA).
to agrícola e no setor da alimentação
COOPERAÇÃO PELO FUNDO IBAS que o Brasil desempenha papel rele- No entanto, a alimentação também
Verba aprovada, por participação de região,
em 2014 (em %)
vante, apresentando-se como potên- precisa ser considerada um campo de
África
cia agrícola detentora de importante tendências contraditórias e fortes dis-
Ásia
know how, cujos avanços na luta con- putas entre, de um lado, o reconheci-
tra a fome na última década são mento do direito à alimentação como
Países árabes

América Latina
Outras COOPERAÇÃO MULTI E BILATERAL EMBRAPA: COOPERAÇÃO AGRÍCOLA
0 10 20 30 40 Verba aprovada por país e setor, pelo Fundo IBAS Quantidade de projetos da Embrapa e de outras
e PAA-África, em 2014 (em milhões de dólares) atividades brasileiras em agricultura, por país,
em 2014

Verba aprovada, por participação de área,


em 2014 (em %)
Agricultura
Saúde

Bem-estar
Água PAA África
40
Tratamento
de lixo
Orçamento aprovado 10
Juventude
e esportes pelo Fundo IBAS 5
Governabilidade 3,77
e segurança
Labmundo, 2014
Labmundo, 2014

Labmundo, 2014

1,69
Energia renovável 1 Total de projetos
brasileiros 710 km
Outras
710 km Participação
0 10 20 30 da Embrapa
Fonte: Fórum IBAS, 2014. Fontes: Sítio web do PAA África, 2014; Fórum IBAS, 2014. Fonte: Sítio web da ABC, 2014.

116 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
NOVAS COALIZÕES, MULTILATERALISMO E COOPERAÇÃO SUL-SUL

COOPERAÇÃO BRASILEIRA NA ÁFRICA


Quantidade de atividades por setor e país parceiro, em 2014
Políticas públicas Logística Defesa

1000 km 1000 km 1000 km

Cultura Ciência e tecnologia Indústria e energia

59
36

Labmundo, 2014
13
3
1000 km 1000 km 1000 km

Fonte: Sítio web da ABC, 2014.

direito básico (reconhecido pela pró- Portanto, na discussão sobre a ali- Top 10 da cooperação brasileira, em 2010
pria Declaração Universal dos Direitos mentação, é importante considerar os (em milhões de reais)
Humanos) e, de outro, o incremento diversos atores envolvidos, com cen- Cabo Verde
5 10 15

da importância econômica do agro- tralidade para os governos (principais Guiné-Bissau


negócio, que comercializa alimentos atores da CSS), a cidadania, as redes Moçambique
e busca gerar lucros, por vezes im- e os movimentos sociais (cuja partici- São Tomé
pressionantemente elevados, no se- pação tem sido essencial no debate do- e Príncipe
Angola
tor alimentar. Além disso, desenvolve méstico e internacional sobre o direito
Senegal
práticas de especulação nesse setor, o à alimentação), bem como as empresas
R. D. do Congo
que têm levado à alta concentração e (com grande inluência e impacto nes-
Libéria
Labmundo, 2014
à oligopolização no mercado de ali- te campo). Deve-se salientar que, se-
Mali
mentos, bem como à elevada volatili- gundo o Ranking das Transnacionais
Benin
dade de seus preços. O caso do projeto Brasileiras 2013 da Fundação Dom Ca-
de cooperação triangular no corredor bral, entre as 10 empresas brasileiras Fonte: IPEA, 2013.
de Nacala, em Moçambique, ilustra mais transnacionalizadas encontram-
algumas dessas tensões público-pri- se três dedicadas ao setor alimentar:
vadas, que se relacionam com as diver- JBS-Friboi, Marfrig Alimentos e Mi- que as diversas políticas produzem
sas concepções e interesses por vezes nerva Foods. Na última edição do nos processos de desenvolvimento dos
divergentes. ranking, destacam-se os fortes impac- países parceiros, bem como a própria
tos da política externa brasileira nes- deinição de desenvolvimento dos
se processo de internacionalização das atores envolvidos na CSS. Assim, o
COOPERAÇÃO EM MOÇAMBIQUE empresas, fazendo delas um ator de tema é especialmente interessante para
Atividades brasileiras concluídas e em execução, peso nas relações internacionais do analisar os diálogos Sul-Sul, os modelos
em 2014
30
Brasil. de desenvolvimento, a reivindicação
de direitos e as diversas pressões para a
20
Situar os diversos atores permite construção de agendas cidadãs da CSS.
entender as disputas em torno dos
10
sentidos e implicações do direito
à alimentação, ainda hoje um dos VEJA TAMBÉM:
direitos humanos mais violados. Analisar Agronegócio p. 28
Labmundo, 2014

as diversas áreas e atuações que, de


a
o
ra


çã

úd
tu

Multinacionais brasileiras p. 70
ra
a
ul

Sa
uc

gu

algum modo, podem incidir na garantia


ric

Ed

Se
Ag

Centros de pesquisa e universidades p. 78


Atividades Atividades
em execução concluídas e no cumprimento desse direito exige Cooperação Sul-Sul: América Latina p. 118
Fonte: Sítio web da ABC, 2014. levar em conta as eventuais incoerências

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 117
Cooperação Fiocruz (vinculada ao Ministério de
Saúde, realiza capacitações, transfe-
rência de tecnologia, apoios para o

Sul-Sul: fortalecimento dos sistemas de saúde,


etc.), o Ministério de Desenvolvimen-
to Social (fundamental na elaboração
e na projeção internacional dos pro-

América Latina gramas Fome Zero e Bolsa Família)


e a Embrapa (vinculada ao Ministé-
rio de Agricultura, tem um papel ati-
vo na transferência de tecnologia nesse
campo).

Apesar do caráter declaradamente go-


A América Latina é uma região espe- internacionais. Em grande medida, os vernamental das ações de CSS, existem
cialmente ativa em ações de coopera- projetos e as ações de cooperação se outros atores com interesses envolvi-
ção Sul-Sul (CSS), contribuindo para, baseiam em experiências internas que dos nessas áreas, desde agentes priva-
entre outras coisas, aprofundar os pro- tentam ser replicadas, a partir de de- dos, cujo papel na cooperação pode
cessos de integração. Os países mais mandas, em outros países em desen- crescer com a criação de parcerias pú-
ativos como ofertantes de CSS são o volvimento. Nesse sentido, os setores blico-privadas, até organizações da
Brasil (com 149 projetos na região, ou que concentram a maioria das ativida- sociedade civil, que reivindicam a ne-
seja 29% do total), o México (com 107) des da CSS latino-americana são agro- cessária construção de uma política
e a Argentina (com 94), segundo da- pecuária, governo e saúde, que, juntos, pública que deve ser mais solidária, in-
dos da Secretaria Geral Ibero-ameri- superam 40% do total. Como princi- clusiva e participativa. A conluência
cana. Essas atuações fazem parte das pais receptores da cooperação latino-a- desses atores com diversos interesses,
agendas de política externa, demons- mericana encontram-se Equador (com discursos e projetos políticos gera di-
trando uma aposta crescente desses 66 projetos), El Salvador (com 47) e nâmicas complexas e às vezes contradi-
países no eixo Sul-Sul e a necessidade Bolívia (com 46). tórias em torno da CSS.
de incrementar a presença individual
e coletiva nas relações e negociações A CSS brasileira tem como destino ge- Por exemplo, as empresas têm cada vez
ográico prioritário a América Lati- mais acesso a inanciamento do BN-
na, que recebeu, em 2010, segundo o DES, por meio da sua linha de inter-
REDE DE COOPERAÇÃO NAS AMÉRICAS relatório do IPEA, 195 milhões de re- nacionalização, principalmente nos
Quantidade de atividades por subregiões, ais, ou seja, o 68% do total (tendo em setores de petroquímica (Braskem),
em 2012 Parceiros beneficiários conta todas as modalidades de coope- farmácia (Eurofarma), construção ci-
M
Ib éx
Am
Pa ração), e 53% da cooperação técnica, vil (Andrade Gutierrez), alimentação
er ic ér íse
o- o e
am C
ica
Ce sA P concentrada setorialmente em agrope- (JBS-Friboi) e agroindústria (Coope-
a nd Co aís
er ri
ica be
nt ra
l
in
os Br ne es
Su do
cuária e alimentação, saúde e educação, rativa Lar). As organizações sociais têm
no as
il l em consonância com a dimensão so- mais diiculdades para a internaciona-
cial que o governo tem defendido tam- lização da sua atuação, muito embora
ica be

bém no processo de desenvolvimento existam iniciativas interessantes nes-


no
er ari
Parceiros ofertantes

am C
o- o e

interno. se sentido, como o caso da Viva Rio,


er ic
Ib éx

l
ra

convidada pelas Nações Unidas a par-


M

nt
Ce
ca

Nessa política, o ator central conti- ticipar da Missão de Paz no Haiti. A


i
ér

os
Am

in

nua sendo a ABC, mas são cada vez organização Viva Rio desenvolve no
nd
sA

mais numerosas as assessorias e secre- país caribenho ações nas áreas de segu-
íse

il
as
Pa

Br

tarias especializadas, dependentes de rança, educação, saúde, meio ambien-


Su do
l*

diversos ministérios responsáveis pela te, cultura e esporte.


ne es
Co aís
P

Labmundo, 2014

* Por ter sido considerado em uma 71 execução dos projetos de cooperação


categoria independente, o Brasil
não foi considerado na categoria
36
15 técnica. Como exemplos na região, e O Haiti, país mais pobre da Améri-
dos demais Países do Cone Sul 4 considerando os setores prioritários ca Latina (com apenas 425 dólares de
Fonte: SEGIB, 2014. de atuação, podem ser lembrados a PIB per capita), é especialmente rele-
vante para a CSS da região. No caso
da CSS brasileira, em particular, trata-
COOPERAÇÃO SUL-SUL DA ABC NA AMÉRICA LATINA se do principal receptor de projetos e
Quantidade de atividades por área, em 2014 ações nas mais diversas áreas, com des-
Atividades
140 em execução
120 taque para a alimentação, a agricultura
Atividades
100 concluídas e o fortalecimento de capacidades hu-
80
60 manas e institucionais. Segundo dados
40 da SEGIB, o Brasil foi o maior ofer-
20
tante de cooperação ao Haiti em 2011,
Labmundo, 2014

tendo contribuído com um montante


ia
en io
cia o

eg e
ão

bl nça
Co lica o

Tr cio e
e

ea is
gi e
ic o
ra
a

so ent

úd

b çã

ár
cn ã
bi Me

ár a
pr lho
ér a
te
l

er as

o
ica
s

s
Se a
tu

M a

té raç

m
m ri
fe

cu
pú ra

pú ra
Sa

en in

aproximado de 20 milhões de dólares,


t
ul

uc

De
De

emaba
Co dús
ist

gu
e

Pe
ric

vi

op
Ed

in
ol

am

In
Ag

m
nv

transferidos diretamente ou por meio


Ad
se
De

Fonte: Sítio web da ABC, 2014. de organismos multilaterais (como o

118 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
NOVAS COALIZÕES, MULTILATERALISMO E COOPERAÇÃO SUL-SUL

COOPERAÇÃO BRASILEIRA NA AMÉRICA LATINA


Quantidade de atividades por área de atuação e país parceiro, em 2014
Políticas públicas Logística Defesa

1000 km 1000 km 1000 km

1000 km 1000 km 1000 km

133
50
10

Cultura Ciência e tecnologia Indústria e energia

1000 km 1000 km 1000 km

1000 km 1000 km 1000 km

Agropecuária
PMA). Também podem ser salienta-
das outras experiências de cooperação Top 10 da cooperação brasileira, em milhões de reais
triangular. Segundo o IPEA, o Haiti 20 40 60 80
Haiti
se apresenta como o principal recep-
Chile
tor também dessa modalidade, com 1000 km
Argentina
mais de 92 milhões de reais (quase 50%
Peru
do total dirigido à região), seguido de
1000 km

Paraguai
Chile, Argentina e Peru. É interessan-
Colômbia
te ressaltar que esse papel como ator
Uruguai
da CSS não impede que o Brasil seja
Labmundo, 2014

Cuba
o principal beneiciário, em termos lí-
Bolívia
quidos, de AOD na região. Em 2012, o
Jamaica
país recebeu 20,7% do total de AOD
destinada à América Latina. Fonte: Sítio web da ABC, 2014. Fonte: IPEA, 2013.

COOPERAÇÃO BRASILEIRA NO HAITI


Quantidade de atividades por área e principais atores envolvidos, em 2014
Atores Áreas de atuação
10 20 30 40 50 60 70 80
Pastoral Desenvolvimento
da criança social
Embrapa Agricultura
Min. da Saúde
saúde
SENAI Educação
Polícia Segurança
Federal pública Atividades
Meio em execução
UFRRJ ambiente VEJA TAMBÉM:
Atividades
Administração concluídas
pública Ação internacional das cidades p. 68
Labmundo, 2014

Embrapa Cidades 22 Assimetrias e desigualdades p. 94


Demais 6 Redes sociais e integração regional p. 96
áreas 1 Cooperação Sul-Sul: África p. 116
Fonte: Sítio web da ABC, 2014.

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 119
Referências

Nesta seção do Atlas nós disponibilizamos as referências bibliográicas usadas em cada capítulo, que consistem em livros, ar-
tigos de revista e de jornais, trabalhos acadêmicos, mas também uma lista dos sítios web consultados. Além disso, também
adicionamos indicações de leitura para aprofundamento nos assuntos.

ABC (2014): Pesquisa de Projetos de Cooperação. (2013): World Energy Outlook 2013. Paris:
Brasília: Agência Brasileira de Cooperação. OCDE.
Disponível em: http://www.abc.gov.br/Projetos/ ALBUQUERQUE, M. M.; REIS, A. C. F.; DE
pesquisa (acesso julho 2014). CARVALHO, C. D. (1977): Atlas Histórico
ABES (2013): Relatório de tendência: Mercado Bra- Escolar. Rio de Janeiro: Fename.
sileiro de software e serviços 2013. São Paulo: ALDEN, C.; VIEIRA, M. A. (2005): “he New
Associação Brasileira das Empresas de Software. Diplomacy of the South: South Africa, Brazil,
Disponível em: http://pt.slideshare.net/Market India and Trilateralism”. hird World Quar-
Growing/relatrio-de-tendncia-ti-2013-abes terly, Vol. 26, No. 7, pp. 1077-1095. Taylor &
(acesso setembro 2014). Francis, Ltd / Routledge.
ACÁCIO, I. D. P. (2013): Polaridade Regional e ALEXANDRE, C. V. (2006): O Congresso brasileiro
Percepção de Ameaças: Comparando a Políti- e a política externa. Dissertação de mestrado.
ca de Defesa de África do Sul, Brasil e Índia. Pós-graduação em Relações Internacionais. Rio
Dissertação de Mestrado do Programa de Pós- de Janeiro: PUC-Rio.
Graduação em Ciência Política. Rio de Janeiro: ALEXANDROFF, A.; COOPER, A. (Ed.) (2010):
IESP/UERJ. Rising States, Rising Institutions: challenges
AGARWAL, M. (2012): “South-South economic for global governance. Washington, D. C.:
cooperation for a better future”, in: CHATU- Brookings Institution.
VERDI, S.; FUES, T.; SIDIROPOULOS, E. ALMEIDA, P. R. (2001): Formação da diplomacia
(Orgs.): Development cooperation and emer- econômica no Brasil. São Paulo: Senac.
ging powers: new partners or old patterns?. ALVIM, Z. (1998): “Imigrantes: A vida privada dos
Londres: Zed Books, pp. 37-63. pobres do campo”, em NOVAIS, F.; SEV-
AGENCE FRANÇAISE DE DEVELOPPEMENT CENKO, N. (org.): História da vida privada
(2011): Document de référence. Exercice 2011. no Brasil, vol. III. São Paulo: Companhia das
Paris: AFD. Disponível em: http://www.afd.fr/ Letras.
webdav/shared/PORTAILS/PUBLICATIONS/ AMORIM NETO, O. (2011): De Dutra a Lula: a
RAPPORTS_ANNUELS/AFD_Document_ condução e os determinantes da política externa
de_reference_2011.pdf (acesso julho 2014). brasileira. Rio de Janeiro: Campus Elsevier /
AGÊNCIA BRASIL (2009): “Países emergentes Fundação Konrad Adenauer.
precisam dobrar produção de alimentos, AMORIM, C. (2011): Conversas com jovens diplo-
até 2050 diz diretor da FAO”. 16/11/2009. matas. São Paulo: Benvirá.
Disponível em: http://gazetaonline.globo. AMSDEN, A. H. (2004): A Ascensão do ‘Resto’: Os
com/_conteudo/2009/11/564109-paises+emer Desaios ao Ocidente de Economias de Indus-
gentes+precisam+dobrar+producao+de+alimen trialização Tardia. São Paulo: UNESP.
tos+ate+2050+diz+diretor+da+fao.html (acesso ANA (2010): Atlas Brasil. Abastecimento urbano de
julho 2014). água. Brasília: Agência Nacional de Águas. Dis-
AGÊNCIA INTERNACIONAL DE ENERGIA ponível em: http://atlas.ana.gov.br/Atlas/forms/

120 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
REFERÊNCIAS

Home.aspx (acesso julho 2014). mento estrangeiro direto no País. Banco Central
ANA (2012): Relatório de Conjuntura dos recursos do Brasil. Disponível em http://www.bcb.gov.
hídricos no Brasil, Brasília: Agência Nacional br/Rex/CensoCE/port/Censo%20de%20Capi
de Águas. Disponível em: http://arquivos.ana. tais%20Estrangeiros%20-%20resultados%20
gov.br/imprensa/arquivos/Conjuntura2012.pdf 2010-2012.xls (acesso julho 2014).
(acesso julho 2014). BANCO CENTRAL DO BRASIL (2013): Censo
ANCINE (2013): Informe de Acompanhamento Anual de Capitais Estrangeiros no País 2012.
do Mercado. Brasília: Agência Nacional de Banco Central do Brasil. Disponível em http://
Cinema. Disponível em http://oca.ancine.gov. www.bcb.gov.br/rex/censoce/censo2011/
br/media/SAM/Informes/2013/Informe_anu manualdeclarantecenso2012anobase2011.
al_preliminar_2013-Publicado_em_15-01-14- pdf?20120730 (acesso julho 2014).
SAM.pdf (acesso setembro 2014). BANCO MUNDIAL (2009): CO2 Emissions for
ANTONINI, B.; HIRST, M. (2009): “Pasado y country. World Bank Database. Washington,
Presente de la Cooperación Norte-Sul para D.C.: he World Bank Group. Disponível em
el desarrollo”. Documentos de Trabajo de la http://data.worldbank.org/indicator/EN.ATM.
Cooperación Sur-Sur, p. 9-72. Buenos Aires: CO2E.KD.GD (acesso setembro 2014).
Ministerio de las Relaciones Internacionales, BANCO MUNDIAL (2011): Migration and Re-
Comercio Exterior y Culto. mittances Factbook 2011. Washington D.C.:
ANTT (2012): Relatório de Exploração de Infra- he International Bank for Reconstruction and
estrutura Rodoviária 2012. Rodovias Federais Development / he World Bank.
Concedidas. Agência Nacional de Transportes BANCO MUNDIAL (2013): Indicadores del Desar-
Terrestres. Disponível http://www.antt.gov. rollo Mundial. Energía y minería. Washington,
br/html/objects/_downloadblob.php?cod_ D.C.: he World Bank Group. Disponível em
blob=8522 (acesso julho 2013). http://datos.bancomundial.org/tema/energia-y-
ARON, R. (1986): Paz e Guerra entre as Nações. mineria (acesso setembro 2014).
Brasília: UnB. BANCO MUNDIAL (2014a): Arms Exports Da-
AYERBE, L. F. (org.) (2008): Novas Lideranças Polí- tabase. Washington, D.C.: he World Bank
ticas e Alternativas de Governo na América do Group. Disponível em: http://data.worldbank.
Sul. São Paulo, UNESP. org/indicator/MS.MIL.XPRT.KD (acesso de-
AYLLÓN, B. (2011): “Argentina: horizontes y opor- zembro 2012).
tunidades de la Cooperación Sur-Sur en el año BANCO MUNDIAL (2014b): World
del bicentario”. Revista Española de Desarrollo Development Report, 2014. Washington,
y Cooperación n. 27. Madrid: IUDC-UCM. D.C.: he World Bank Group. Disponível
AYLLÓN, B.; LEITE, I. C. (2009): “O Brasil e a em http://econ.worldbank.org/WBSITE/
Cooperação Sul-Sul: Contribuições e Desaios”. EX TERNAL/EXTDEC/EXTRESEARCH/
Meridiano 47. n. 113, pp:17-18. Brasília: Insti- EXTWDRS/EXTNWDR2013/0,,content
tuto Brasileiro de Relações Internacionais. MDK:23330018~pagePK:8258258~pi
AYLLÓN, B.; OJEDA, T. (2013): La cooperación PK:8258412~theSitePK:8258025,00.html
Sur-Sur y triangular en América Latina. Polí- (acesso junho 2014).
ticas airmativas y prácticas transformadoras, BANCO MUNDIAL (2014c): Indicadores del De-
Madrid: Catarata / IUDC-UCM. sarrollo Mundial. Infraestructura. Washington,
BANAGGIA, G. (2008): Inovações e controvérsias D.C.: he World Bank Group. Disponível em
na antropologia das religiões afro-brasileiras. http://datos.bancomundial.org/tema/infraes
Tese de doutorado. Rio de Janeiro: Universida- tructura (acesso setembro 2014).
de Federal do Rio de Janeiro. BANDUCCI JR. A., BARRETO, M. (orgs.) (2001):
BANCO CENTRAL DA REPÚBLICA ARGENTI- Turismo e Identidade Local: uma visão antro
NA (2011): Las inversions Directas en Empre- pológica. Campinas: Papirus (Coleção Turismo)
sas Residentes a ines de 2011. Banco Central 4º ed.
de la República Argentina. Disponível em BARRACLOUGH, G. (dir.) (1991): Le Grand Atlas
http://www.bcra.gov.ar/pdfs/estadistica/Inver de l’Histoire Mondiale. Paris: Encyclopaedia
siones%20directas%20al%2031%2012%2011. universalis.
pdf (acesso setembro 2014). BARRETO, R. G., LEHER, R. (2008): “Do discur-
BANCO CENTRAL DO BRASIL (2012): Censo so e das Condicionantes do Banco Mundial, a
de Capitais Estrangeiros, 2010-2012. Investi- educação superior ‘emerge’ terciária”. Revista

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 121
Brasileira de Educação. v. 13, n. 39, pp.423- CAD/OCDE (2014): OECD Aid statistics: website
435. Rio de Janeiro. database. Paris: Comitê de Ajuda ao Desenvol-
BELLI, B. (2009): A politização dos direitos huma- vimento – Organização para a Cooperação e
nos. São Paulo: Perspectiva. Desenvolvimento Econômico. Disponível em:
BEM, D. F. D. (2012): Tecendo o axé: uma aborda- http://www.oecd.org/dac/stats/ (acesso setem-
gem antropológica da atual transnacionalização bro 2014).
afro-religiosa nos países do Cone Sul. Tese de CANADIAN TOURISM COMMISSION (2012):
Doutorado. Porto Alegre: Universidade Federal Global Tourism Watch: Brazil Summary Re-
do Rio Grande do Sul. port. Vancouver: Canadian Tourism Commis-
BENI, M. C. (1998): Análise estrutural do turismo. sion.
São Paulo: Editora Senac Livro. CAPORASO, J. A. (1997): “Across the great divi-
BID (2014a): “Intra-South American trade: export de: integrating comparative and international
patterns and intraindustry lows”. Monthly politics”. International Studies Quarterly. v.
Newsletter nº 213. Washington D. C.: Banco 41. pp.563-592. Malden / Oxford: Blackwell
Inter-americano de Desenvolvimento. Disponí- Publishers / International Studies Association.
vel em http://www10.iadb.org/intal/cartamen CARBALLO, M.; ECHART, E. (2012): “Migra-
sual/cartas/Articulo.aspx?Id=24208a8a-d635- ções e movimentos sociais: transnacionalismo,
411c-8aa4-2bf85b908a1c&lang=en (acesso mobilidades e mobilizações”, em BRINGEL,
setembro 2014). B.; GOHN, M. G: Movimentos sociais na era
BID (2014b): “he Next Global Breadbasket, How global. Rio de Janeiro/ Petropolis: Vozes. p.
Latin America can feed the World”. Washing- 147-174.
ton D. C.: Inter-American Developmet Bank, CARVALHO DE SOUZA, J. R. (2013): “A partici-
Global Harvest Initiative. pação do Legislativo na política externa brasilei-
BLANKE, J.; CHIESA, T. (Ed). (2007): he Travel ra nos governos de Fernando Henrique Cardoso
& Tourism competitiveness report. Gênova: e no primeiro governo de Luiz Inácio Lula da
World Economic Forum. Silva no tema Mercosul:, em SATHLER GUI-
BONELLI, R., PESSOA, S.; MATTOS, S. (2013): MARÃES, A.; SABÓIA VIEIRA, F. (Orgs.):
“Desindustrialização no Brasil: fatos e interpre- Legislativo e Democracia, Relexões sobre a Câ-
tações”, em BACHA, E., BOLLE, M.; BAUM- mara dos Deputados. Brasília: Edições Câmara,
GARREN, M. (orgs.), O futuro da indústria p. 93-154.
no Brasil: desindustrialização em debate. Rio de CARVALHO, M. I. V. (2003): “Estruturas domésti-
Janeiro: Civilização brasileira. cas e grupos de interesse: a formação da posição
BRINGEL, B. (2011): “El estudio de los movimien- brasileira para Seattle”. Contexto Internacional.
tos sociales en América Latina: relexiones sobre v. 25, n. 2. Rio de Janeiro: IRI/PUC Rio.
el debate postcolonial y las nuevas geografías CDIAC (2013): Fossil-Fuel CO2 Emissions by
del activismo transnacional”, en: ACOSTA, Y.; Nation (base de dados online). Carbon Dioxi-
FALERO, A.; RODRÍGUEZ, A.; SANS, I.; de Information Center. Disponível em http://
SARACHU, G. (Org.): Pensamiento Crítico y cdiac.ornl.gov/trends/emis/tre_coun.html
Sujetos Colectivos en América Latina: perspec- (acesso setembro 2014).
tivas interdisciplinarias. Montevideo: Ediciones CELADE (2014): Sistema de Indicadores Sociode-
Trilce / UDELAR, p. 35-55. mográicos de Poblaciones y Pueblos Indígenas.
BRINGEL, B. (2015): O MST e o internacionalis- Santiago de Chile: Centro Latinoamericano y
mo contemporâneo. Rio de Janeiro: EdUERJ. Caribeño de Población, División de Población
BRINGEL, B. e ECHART, E.; (2010): “Dez anos de de la CEPAL, Naciones Unidas.
Seattle, o movimento antiglobalização e a ação CENTER FOR THE STUDY OF GLOBAL
coletiva transnacional”, Revista Ciências Sociais, CHRISTIANITY (2013): Christianity in its
vol. 46, nº1, pp. 28-35. UNISINOS. Global Context, 1970-2020. Society, Religion,
BRITISH PETROLEUM (2013): Statistical Review and Mission. South Hamilton: Center for the
of World Energy. London: BP. Disponível em: Study of Global Christianity / Gordon-Conwell
http://www.bp.com/content/dam/bp/pdf/statis heological Seminary.
tical-review/statistical_review_of_world_ener CEPAL (2013a): O Investimento Estrangeiro Direto
gy_2013.pdf (acesso julho 2014). na América Latina e Caribe 2013. Documento
BURNS, P. (2002): Turismo e Antropologia: uma informativo. Santiago de Chile: Comissão Eco-
introdução. São Paulo: Chronus. nômica para a América Latina e o Caribe.

122 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
REFERÊNCIAS

CEPAL (2013b): Mujeres indígenas en América sília: Companhia Nacional de Abastecimento.


Latina: dinámicas demográicas y sociales en Disponível em http://www.conab.gov.br (acesso
el marco de los derechos humanos. Colección julho 2014).
Documentos de proyectos. Observatorio de CONECTAS (2010): Direitos Humanos: o Brasil na
Igualdad de Género de América Latina y el Ca- ONU 2009/10. São Paulo: CONECTAS.
ribe. Santiago de Chile: Comisión Económica CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE MUNI-
para América Latina y el Caribe. CÍPIOS (2008): Atuação internacional mu-
CEPAL (2013c): Recursos Naturales en Unasur: nicipal: estratégias para gestores municipais
Situación y tendencias para una agenda de projetarem mundialmente sua cidade. Brasí-
desarrollo regional. Santiago de Chile: Comisi- lia: Confederação Nacional dos Municípios.
ón Económica para América Latina y el Caribe. Disponível em http://www.paradiplomacia.org/
Disponível em: http://www.cepal.org/cgi-bin/ upload/downloads/10b6220b1a4085fc6c34b
getProd.asp?xml=/publicaciones/xml/3/49893/ 03377715020munic-brasil.pdf (acesso julho
P49893.xml&xsl=/publicaciones/icha.xsl&ba 2013).
se=/publicaciones/top_publicaciones.xsl (acesso CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS MUNI-
setembro 2014). CÍPIOS (2014): As Áreas Internacionais dos
CHEIBUB, Z. (1985): “Diplomacia e Construção Municípios Brasileiros. Brasília: Confedera-
Institucional: O Itamaraty em uma perspectiva ção Nacional dos Municípios. Disponível em
histórica”. Dados, vol. 28, n. 1. Rio de Janeiro: http://www.cnm.org.br/index.php?option=
IESP-UERJ. com_docman&task=doc_download&gid=494
CIA (2013): he World Factbook 2013. Washington (acesso fevereiro 2014).
D.C.: Central Intelligence Agency. Disponível CORIOLANO, L.N.M.T; SILVA, S.C.B.M. (2005):
em https://www.cia.gov/library/publications/ Turismo e Geograia: abordagens críticas. Forta-
download/download-2013/index.html (acesso leza: UECE.
setembro 2014) CORREA, M. L. (2010): Prática Comentada da Co-
CIC (2014): Estatuto del CIC. Montevideo: Comitê operação Internacional: entre a hegemonia e a
Intergovernamental Coordenador dos Países busca de autonomia. Brasília: Edição do Autor.
da Bacia do Prata. Disponível em http://www. COX, R. (1981): “Social Forces, States, and World
cicplata.org/?id=estatuto (acesso julho 2014). Orders: beyond international relations theory”.
CNI (2013a): Os investimentos brasileiros no Millennium: Journal of International Studies, v.
exterior: relatório 2013. Brasília: Confederação 10, n. 2. pp. 126-155. Londres: London School
Nacional da Indústria. of Economics and Political Science/Sage.
CNI (2013b): Observatório de Defesa Comercial. CPS/FGV (2014): Panorama de Evolução da Renda
Fev, ano 2, número 1. Brasília: Confederação e Classes Econômicas. Rio de Janeiro: Fundação
Nacional da Indústria. Getúlio Vargas. Disponível em http://www.cps.
CNT (2013): Boletins estatísticos. Brasília: Confede- fgv.br/ibrecps/credi3/TEXTO_panorama_evo
ração Nacional de Transportes. Disponível em lucao.htm (acesso julho 2014).
http://www.cnt.org.br/Paginas/Boletins_Deta DATAFOLHA (2013): Religião. PO813684 06,
lhes.aspx?b=3 (acesso julho 2013). 07/06/2013. Disponível em http://media.folha.
COMISSÃO PASTORAL DA TERRA (2014): uol.com.br/datafolha/2013/07/22/religiao.pdf
Conlitos no Campo Brasil 2013. Goiânia: (acesso setembro 2014)
CPT/Centro de Documentação Dom Tomás DECLARAÇÃO DE BELGRADO (1961): Decla-
Balduino. Disponível em http://cptnacional. ração de Belgrado dos Países Não Alinhados,
org.br/index.php/component/jdownloads/ disponível em http://www.historiasiglo20.org/
inish/43-conlitos-no-campo-brasil-publica TEXT/belgrado1961.htm (acesso setembro
cao/344-conlitos-no-campo-brasil-2013?Ite 2014).
mid=23 (acesso julho 2014). DEGNBOL-MARTINUSSEN, J.; ENGBERG-
COMITÊ OLÍMPICO RIO 2016 (2014): Relatório -PEDERSEN, P. (2003): AID Understanding
inicial(R1) do Estudo dos impactos e do legado International Development Cooperation. Lon-
dos Jogos Rio 2016. SAGE/COPPE/UFRJ. don/New York: Zed Books.
Disponível em http://www.rio2016.org/sites/ DINIZ, E. (2006): “South Africa, Brazil and In-
default/iles/parceiros/ogi_rio_2016_r1_br2_0. dia cooperation in defense”, em: VAZ, A. C.
pdf (acesso julho 2013). (Org.): Intermediate states, regional leadership
CONAB (2014): Levantamentos de safra: soja. Bra- and security: India, Brazil and South Africa.
AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 123
Brasília: UnB. ECHART, E. (Coord.) (2011): Migraciones en trán-
DNPM (2003): Informe mineral. Departamento Na- sito y derechos humanos, Madrid: Los Libros
cional de Produção Mineral. Brasília: Ministério de La Catarata.
de Minas e Energia. Disponível em http://www. ECHART, E. (Coord.) (2013): Cooperación Sur-Sur
dnpm.gov.br/mostra_arquivo.asp?IDBancoAr- y Derechos Humanos. El derecho a la alimen-
quivoArquivo=358 (acesso junho 2013). tación en la cooperación argentina y brasileña
DUARTE, R. S. (2011): “Conceitos inclusivos e re- desde un enfoque basado en los derechos hu-
lexões políticas quanto à classiicação dos países manos. Documento de Trabajo n. 25. Madrid:
emergentes”. Anais do IV Seminário de Ciên- IUDC/UCM.
cia Política: Teoria e Metodologia em Debate. ECOSOC (2013): List of non-governmental orga-
Porto Alegre: UFRGS. nizations in consultative status with the Eco-
DUARTE, R. S. (2013a): “Inovar ou seduzir: uma nomic and Social Council as of 1 September
análise do discurso oicial brasileiro para a 2013. Economic and Social Council / United
cooperação internacional”. Conjuntura interna- Nations. Disponível em http://csonet.org/con
cional. v. 10, n. 1, p. 27 - 39. Belo Horizonte: tent/documents/e2013inf6.pdf (acesso julho
PUC-Minas. 2014).
DUARTE, R. S. (2013b): “Brazilian Cooperation is ELTIS, D. BAHRENDT, S.D.; RICHARDSON,
not a Free Lunch: An Analysis of the Interests D.; KLEIN, H. S. (1998): he Trans-Atlantic
Contained in the International Development Slave Trade (A Database in CD-Rom). Cam-
Cooperation Strategy”. Geopolítica(s) vol. 4, n. brigde: Cambrigde University.
1, pp: 137-157. Madrid: UCM. EMBRAPA (2014): Atuação Internacional. Brasília:
DUBY, G. (dir.) (2003): Grand Atlas Historique. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.
Paris: Larousse. Disponível em: https://www.embrapa.br (acesso
DUPAS, G. (2006): O Mito do Progresso. São Pau- setembro 2014).
lo: UNESP. EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA (2012):
DURAND, M.F., COPINSCHI, P., MARTIN, B. Balanço Energético Nacional 2012: Ano base
e PLACIDI-FROT, D. (2009): Atlas da Mun- 2011. Rio de Janeiro, Ministério de Minas
dialização. Compreender o Espaço Mundial e Energia, Empresa de Pesquisa Energética.
Contemporâneo. São Paulo: Ed. Saraiva. Disponível em: https://ben.epe.gov.br/down
DURAND, M.F., COPINSCHI, P., MARTIN, loads/Relatorio_Final_BEN_2012.pdf (acesso
B. e PLACIDI-FROT, D. (2010): Atlas de la setembro 2014)
Mundialisation. Comprendre l’Espace Mondial ESCOBAR, A. (1995): Encountering development:
Contemporain. Paris: Presses de Sciences Po. the making and unmaking of the hird World.
DURAND, M.F., MARTIN, B., PLACIDI, D., Princeton, NJ: Princeton University.
TÖRNQUIST-CHESNIER, M. (2007): Atlas EUROMONITOR INTERNATIONAL (2012):
de la Mondialisation. Paris: Presses de Sciences Tourism Flows Outbound in Brazil. March,
Po. Euromonitor International.
DURAND, M.F.; ANSART, T.; COPINSCHI, P.; EXAME.COM (2014): “América Latina pode se
MARTIN, B.; MITRANO, P.; PLACIDI- transformar no celeiro mundial”. 23/04/2014.
FROT, D. (2014): Atlas de la mondialisation: Disponível em http://exame.abril.com.br/mun
comprendre l’espace mondial contemporain - do/noticias/america-latina-pode-se-transformar-
Dossier spécial États-Unis. Paris: Les Presses de no-celeiro-mundial-aponta-bid?page=1 (acesso
Sciences Po. julho 2014).
ECHART, E. (2008): Movimientos sociales y Re- EXPORT-IMPORT BANK OF INDIA (2013):
laciones Internacionales. La irrupción de un Enhancing India’s trade with Africa: focus on
nuevo actor. Madrid: IUDC/UCM-Los Libros selected countries. Export-Import Bank of In-
de La Catarata. dia. Disponível em: http://www.eximbankindia.
ECHART, E. (2010): “Um novo ator nas relações in/sites/default/iles/Research%20Brief/wp21.
entre a Europa e a América Latina: a partici- pdf (acesso julho 2014).
pação das forças sociais globais”, em MILANI, FAO (2010): Global Forest Resources Assessment
C.; GILDO, M. G. (Org.): A política mundial 2010, Main Report. Rome: Food and Agricul-
contemporânea : atores e agendas na perspectiva ture Organization of the United Nations.
do Brasil e do México, pp. 313-359. Salvador: FAO (2012): he Statistics Division of the FAO.
EDUFBA Rome: Food and Agriculture Organization

124 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
REFERÊNCIAS

of the United Nations. Disponível em http:// zação de empresas brasileiras. Nova Lima, MG:
faostat3.fao.org/faostat-gateway/go/to/home/E Caderno de Ideias / Núcleo de Negócios Inter-
(acesso setembro 2014) nacionais. Disponível em: http://www.fdc.org.
FAO (2013): Statistical Yearbook 2013. Rome: Food br/imprensa/Documents/2013/ranking_mul
and Agriculture Organization of the United tinacionais_brasileiras2013.pdf (acesso julho
Nations. 2014).
FATOR BRASIL (2014): Relatório do GHI e BID FURTADO, C. (2007): A Economia Latino-Ameri-
posiciona América Latina e Caribe como o pró- cana. São Paulo: Companhia das Letras.
ximo celeiro mundial. 24/04/2014. Disponível GABAS, J. J. (2003): “Acteurs et politiques publi-
em: http://www.revistafatorbrasil.com.br/ver_ ques”. Mondes en développement. 4/ 2003 (n°
noticia.php?not=265114 (acesso julho 2014). 124), p. 33-47. De Boeck Supérieur.
FERNANDES, D.; CASTRO, M.G. (2014): Projeto GABAS, J. J. (2011): “Les investissements agricoles
“Estudos sobre a Migração Haitiana ao Brasil en Afrique”. Afrique contemporaine. 1/2011, n.
e Diálogo Bilateral”. Conselho Nacional de Imi- 237, pp. 45-55. De Boeck Supérieur.
gração/ MTE. Disponível em http://portal.mte. GABAS, J. J.; HUGON, P. (2001): “Les biens
gov.br/lumis/portal/ile/ileDownload.jsp?ileI publics mondiaux et la coopération
d=8A7C816A45B266980145DCAB8EF42233 internationale”. L’Économie politique, , 4/
(acesso julho 2014). 2001, n. 12, pp. 19-31. Paris: Alternatives
FIGUEIRA, A. R. (2010): “Rupturas e continui- Economiques.
dades no padrão organizacional e decisório do GALVÃO, T. G. (2009): “América do Sul: cons-
Ministério das Relações Exteriores”. Revista trução pela reinvenção (2000-2008)”. Revista
Brasileira de Política Internacional, 53(2), pp. Brasileira de Política Internacional, 52(2),
5-22. Brasília: Instituto Brasileiro de Relações 63-80. Brasília: Instituto Brasileiro de Relações
Internacionais. Internacionais.
FIORI, J. L. (2007): “A Nova Geopolítica das Na- GARCIA, E. V. (2005): Cronologia das relações
ções e o Lugar de Rússia, China, Índia, Brasil internacionais do Brasil. Brasília: Contraponto/
e África do Sul”. Oikos, n. 8, ano VI. Rio de Funag.
Janeiro. GIANNINI, R. (2014): A inserção de civis brasilei-
FMI (2014a): How the IMF makes decisions. ros no sistema ONU. Rio de Janeiro: Instituto
Washington D.C.: Fundo Monetário Inter- Igarapé.
nacional. Disponível em http://www.imf.org/ GOES FILHO, S. S. (1999): Navegantes, bandeiran-
external/np/exr/facts/govern.htm (acesso julho tes, diplomatas: um ensaio sobre a formação das
2014). fronteiras do Brasil. São Paulo: Martins Fontes.
FMI (2014b): Perspectivas económicas: Las Améri- GONZAGA, P. (2013): “Mulheres são a maioria
cas. Desaios crecientes. Estudios económicos y entre missionários católicos brasileiros no
inancieros. Washington D.C.: Fondo Moneta- exterior”. Portal A12 Notícias. 30/10/2013.
rio Internacional. Disponível em http://www.a12.com/noticias/
FONSECA JR., G. (2008): O Interesse e a Regra: detalhes/mulheres-sao-a-maioria-entre-missio
Ensaios sobre o Multilateralismo. São Paulo: narios-catolicos-brasileiros-no-exterior (acesso
Paz e Terra. julho 2014).
FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL (2007): he GROOMBRIDGE, B.; JENKINS, M. (2002):
Travel & Tourism Competitiveness Report World Atlas of Biodiversity: Earth’s Living
2007. Genebra: World Economic Forum Resources in the 21st Century. Berkeley, Los
FRANÇA, C. L.; BADIN, M. R. S. (2010): A in- Angeles: University of California.
serção internacional do poder executivo federal GURNAK, D.; HATTSTEIN, M.; STEFANIK, M.;
brasileiro. Análises e propostas, nº 40. São HANULA, M. (2010): Historical Atlas of the
Paulo: Friedrich-Ebert-Stiftung. World. Parragon.
FRESTON, P. (1999): “A Igreja universal do reino HADDAD, E. A.; PORSSE, A. A.; RABAHY, W.
de Deus na Europa. Dynamiques religieuses (2011): Domestic Tourism and regional inequa-
en lusophonie contemporaine”. Lusotopie, pp. lity in Brazil. Núcleo de Economia Regional e
383-403. Maison des Suds-CNRS. Urbana. São Paulo: USP. Disponível em http://
FUNDAÇÃO DOM CABRAL (2013): Ranking www.usp.br/nereus/wp-content/uploads/TD
FDC das multinacionais brasileiras 2013: os Nereus_02_11.pdf (acesso julho 2014).
impactos da política externa na internacionali- HIRST, M. (2009): “Países de renda média e a coo-

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 125
peração Sul-Sul: entre o conceitual e o político”, Amsterdam: International Congress and Con-
em LIMA, M. R. S.; HIRST, M. (Org.): Brasil, vention Association. Disponível em: www.ic
Índia e África do Sul: desaios e oportunidades caworld.com/dcps/doc.cfm?docid=1604 (acesso
para novas parcerias. São Paulo: Paz e Terra. setembro 2014).
HURRELL, A. (1999): “Sociedade internacional e IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS
governança global”. Lua Nova. n. 46, pp. 55- (2014): TV Universal. Igreja Universal do
75. São Paulo: CEDEC. Reino de Deus. Disponível em http://www.
IBAS (2014): India, Brazil and South Africa (IBSA) universal.org/tv/ (acesso julho 2014).
Fund. Overview of Project portfolio. UNDP / IIRSA (2010): Agenda de Implementación Consen-
Oice for South-South Cooperation. Disponí- suada 2005-2010. Iniciativa para a Integração
vel em: http://tcdc2.undp.org/ibsa/documents/ da Infraestrutura Regional Sul-Americana.
Q1%202014/IBSA%20Report%202014_ Disponível em http://www.iirsa.org/admin_iir
sm.pdf (acesso julho 2014) sa_web/Uploads/Documents/aic_2005_2010_
IBGE (2000): Censo 2000. Rio de Janeiro: Instituto relatorio_de_avaliacao.pdf (acesso julho 2014).
Brasileiro de Geograia e Estatística. Disponível INPE (2013): Taxas anuais do desmatamento. Coor-
em http://www.ibge.gov.br/censo/ (acesso julho denação-Geral de Observação da Terra /
2014). Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
IBGE (2010a): Atlas nacional do Brasil Milton Disponível em http://www.obt.inpe.br/prodes/
Santos. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de prodes_1988_2013.htm (acess julho 2014).
Geograia e Estatística. INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA
IBGE (2010b): Censo 2010. Rio de Janeiro: Institu- (2012): Análises e Indicadores do Agronegócio,
to Brasileiro de Geograia e Estatística. Disponí- v.7, n.3. São Paulo: IEA. Disponível em: ftp://
vel em http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/ ftp.sp.gov.br/ftpiea/ AIA/AIA-12-2012.pdf
populacao/censo2010 (acesso julho 2014). (acesso julho 2014).
IBGE (2013a): Séries Estatísticas. Rio de Janeiro: INTERNACIONAL ENERGY AGENCY (2013):
Instituto Brasileiro de Geograia e Estatística. World Energy Outlook 2013, London. Dispo-
Disponível em http://seriesestatisticas.ibge.gov. nível em: http://www.worldenergyoutlook.org/
br/ (acesso julho 2013). publications/weo-2013/ (acesso setembro 2014)
IBGE (2013b): Resultado das atividades industriais, IPEA (2010): Cooperação Brasileira para o Desen-
por unidades locais - Brasil, Grandes Regiões e volvimento Internacional 2005- 2009. Brasília:
Unidades da Federação. Rio de Janeiro: Institu- Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada /
to Brasileiro de Geograia e Estatística. Disponí- Agência Brasileira de Cooperação.
vel em http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/ IPEA (2013): Cooperação brasileira para o desenvol-
economia/industria/pia/empresas/2011/default vimento internacional 2010. – 2a ed. rev. Brasí-
tabpdf.shtm (acesso junho 2013). lia: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada /
IBGE (2014a): Projeções e estimativas da população Agência Brasileira de Cooperação.
do Brasil e das Unidades da Federação. Rio ITAMARATY (2013a): Tratado Interamericano de
de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geograia e Assistência Recíproca (TIAR). Brasília: Minis-
Estatística. Disponível em http://www.ibge.gov. tério das Relações Exteriores. Disponível em
br/apps/populacao/projecao/index.html (acesso http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/
julho 2014). notas-a-imprensa/2001/09/21/tratado-intera
IBGE (2014b): Atlas Geográico Escolar. Diretoria mericano-de-assistencia-reciproca (acesso julho
de Geociências, Coordenação de Cartograia. 2013).
Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geograia ITAMARATY (2013b): Visitas internacionais do
e Estatística. Disponível em http://atlasescolar. Presidente Lula e visitas ao Brasil de Chefes
ibge.gov.br/images/atlas/mapas_brasil/brasil_i de Estado e de Chefes de Governo. Brasília:
sico.pdf (acesso junho 2014). Ministério das Relações Exteriores. Disponí-
IBP (2013): O Pré-Sal no Brasil. Rio de Janeiro: Ins- vel em http://www.itamaraty.gov.br/temas/
tituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombus- balanco-de-politica-externa-2003-2010/visitas
tíveis. Disponível em http://www.ibp.org.br/ -internacionais-do-presidente-lula-e-visitas-ao
main.asp?Team={CFA331ED-C047-4441-8E -brasil-de-chefes-de-estado-e-de-chefes-de-go
EC-9467D2F58BE4} (acesso junho 2013). verno-2003-a-2010 (acesso julho 2013).
ICCA (2013): Country and City Rankings 2012: ITAMARATY (2013c): Manifestações culturais com
International Association Meetings Market. o apoio do Itamaraty. Departamento cultural.

126 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
REFERÊNCIAS

Brasília: Ministério das Relações Exteriores. World Against Global Liberalization. Los Ange-
Disponível em: http://dc.itamaraty.gov.br (aces- les: University of California.
so setembro 2014). KRAYCHETE, E. S. (2006): “Desenvolvimento:
ITAMARATY (2013d): Brasileiros no Mundo: razões e limites do discurso do Banco Mundial”.
Associações de Capoeira no Mundo. Brasília: Caderno CRH, vol. 19, n. 48, p. 415-430.
Ministério das Relações Exteriores Disponível Salvador: UFBA.
em http://www.brasileirosnomundo.itamaraty. KRAYCHETE, E. S.; MILANI, C. R. S. (Orgs.)
gov.br/a-comunidade/associacoes-de-capoeira- (2014): Desenvolvimento e cooperação interna-
no-mundo (acesso setembro 2014). cional: relações de poder e política dos Estados.
ITAMARATY (2014a): Cronologia das negociações: Salvador: EDUFBA.
os últimos dez anos. Brasília: Ministério das KRIPPENDORF, J. (2003): Sociologia do Turismo:
Relações Exteriores. Disponível em http://csnu. para uma nova compreensão do lazer e das
itamaraty.gov.br/index.php/cronologia-das-ne viagens. São Paulo: Aleph.
gociacoes (acesso julho 2014). L’HISTOIRE (2012): Atlas Historique des Ameri-
ITAMARATY (2014b): Mecanismos inter-regionais. ques, maio, número 376, Paris: L’Histoire.
Brasília: Ministério das Relações Exteriores. LEITE, I. C. (2012): “Cooperação Sul-Sul: Concei-
Disponível em http://www.itamaraty.gov.br/ to, História e Marcos Interpretativos”. Observa-
temas/mecanismos-inter-regionais (acesso julho tório Político Sul-Americano, v. 7, n. 3. Rio de
2014). Janeiro: IESP/ UERJ. Disponível em: http://
ITAMARATY (2014b): Representações do Brasil no www.opsa.com.br (acesso julho 2014).
Exterior. Brasília: Ministério das Relações Ex- LEITE, P. S. (2011): O Brasil e a Cooperação Sul-Sul
teriores. Disponível em: http://www.itamaraty. em três momentos de Política Externa: os gover-
gov.br/o-ministerio/o-brasil-no-exterior (acesso nos de Jânio Quadros/João Goulart, Ernesto
setembro 2014). Geisel e Luiz Inácio Lula da Silva. Brasília:
ITAMARATY (2014c): América do Sul e integração FUNAG.
regional. Brasília: Ministério das Relações Exte- LEROY, J. P.; COUTO SOARES, M. C. (Org.)
riores. Disponível em http://www.itamaraty.gov. (1998): Bancos Multilaterais e Desenvolvimen-
br/temas/america-do-sul-e-integracao-regional to Participativo no Brasil: dilemas e desaios.
(acesso julho 2014). Rio de Janeiro: FASE/IBASE.
JAFFRELOT, C. (Ed.) (2009): he Emerging States: LIMA, M. R. S. (2000): “Instituições democráticas
he Wellspring of a New World Order. Colum- e política exterior”. Contexto Internacional, v.
bia University Press. 22, n. 2, jul/dez/ 2000. Rio de Janeiro: IRI/
JATOBÁ, D. (2013): Teoria das Relações Internacio- PUC Rio.
nais. São Paulo: Saraiva. LIMA, M. R. S. (2005): “A política externa brasileira
KENNAN, G. (1971): “Foreign aid as a national e os desaios da cooperação Sul-Sul”. Revista
policy”. Proceedings of the Academy of Political Brasileira de Política Internacional, v. 48, n.
Science. v. 30, n 3, pp: 175-183. New York: 2, pp. 24-59. Brasília: Instituto Brasileiro de
Academy of Political Science. Relações Internacionais.
KHARAS, H. (2010): “Can aid catalyze develop- LIMA, M. R. S. (2013): “Relações Interamericanas:
ment?”. Making Development Aid More Ef- A Nova Agenda Sul-Americana e o Brasil”. Lua
fective, 3-9. Washington D. C.: he Brookings Nova, n. 90, pp. 167-201. São Paulo: CEDEC.
Institute. LIMA, M. R. S.; DUARTE, R. S. (2013): “Diplo-
KING, R.; BLACK, R.; COLLYER, M. (2010): he macia presidencial e politização da política
Atlas of Human Migration: Global patterns of externa: Uma comparação dos governos FHC e
people on the move. London: Earthscan. Lula”. Observador On-Line, v, 8, n. 9. Rio de
KOHLI, A. (2004): State‐Directed Development: Janeiro: Observatório Político Sul-Americano -
Political Power and Industrialization in the IESP/ UERJ.
Global Periphery. Cambridge: Cambridge LIMA, M. R. S.; SANTOS, F. (2001): “O Congresso
University. e a Política de Comércio Exterior”. Lua Nova,
KRASNER, S. D. (1982): “Structural Causes and n. 52, pp. 121-149. São Paulo: CEDEC.
Regime Consequences: Regimes as Intervening LOPES, D. B. (2008): “A plausibilidade de uma
Variables”. International Organization, v. 36, n. gestão democrática da política externa: algumas
2, pp: 185-205. Cambridge. hipóteses (insatisfatórias) sobre o caso brasilei-
KRASNER, S. D. (1985): Structural Conlict: hird ro”. Cena Internacional. v. 10, n. 2, pp. 98-118.

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 127
Brasília: iREL-UnB. http://www.mdic.gov.br/sitio/interna/interna.
MACHADO, G. (2013): “Brasileiros deixam de ex- php?area=5&menu=3130 (acesso julho 2014).
portar para Argentina e miram novos mercados, MDS (2014): Painel de Acompanhamento da Con-
Brasil Econômico”, Jornal Brasil Econômico, juntura e de Programas Sociais. Brasília: Minis-
03/04/2013. tério do Desenvolvimento Social e Combate à
MADDISON, A. (2006): he World Economy. Fome. Disponível em: http://aplicacoes.mds.
Volume 1: A millennial perspective volume 2: gov.br/sagi/PainelPEI/ (acesso julho 2014).
Historical statistics. Development Centre Stu- MELO, A. V. (2008): “Reafricanização e dessincreti-
dies / OECD Publishing. zação do candomblé”. Revista Anthropológicas,
MAPA (2010): Agronegócio brasileiro em números. ano 12, volume 19 (1), pp. 157-182. Recife:
Brasília: Ministério da Agricultura, Pecuária PPGA/Universidade Federal de Pernambuco.
e Abastecimento. Disponível em http://www. MEMMI, A. (2007): Retrato do Colonizado prece-
agricultura.gov.br/arq_editor/ile/Sala%20 dido de Retrato do Colonizador. Rio de Janeiro:
de%20Imprensa/Publica%C3%A7%C3%B5es/ Civilização Brasileira.
graicos_portugues_corrigido2.pdf (acesso julho MENDES, C. A. (2010): “A China e a Cooperação
2014). Sul-Sul”. Relações Internacionais, v. 26, jun p.
MAPA (2011): Projeções do Agronegócio, 2010/11 39-46. IPRI-UNL e Tinta da China.
a 2020/21. Brasília: Ministério da Agricultura, MILANI, C. R. S. (2008): “Discursos y mitos de la
Pecuária e Abastecimento / Assessoria de Gestão participación social en la cooperación interna-
Estratégica. Disponível em http://www.agricul cional para el desarrollo: una mirada a partir
tura.gov.br/arq_editor/ile/Ministerio/gestao/ de Brasil”. Revista Española de Desarrollo y
projecao/PROJECOES%20DO%20AGRO Cooperación, v. 22, pp. 161-182. Madrid:
NEGOCIO (acesso julho 2014). IUDC-UCM.
MARCHA MUNDIAL DAS MULHERES (2010): MILANI, C. R. S. (2012a): “Crise Política e Relações
Une histoire br̀ve de la Marche Mondiale des Internacionais: uma análise escalar da política
Femmes. MMM. Disponível em http://www. externa brasileira”, em VI Conferência Nacional
dssu.qc.ca/wp-content/uploads/Histoire_de_ de Política Externa e Política Internacional, v.
la_Marche_mondiale_des_femmes.pdf (acesso 1, pp. 43-60. Brasília: Fundação Alexandre de
julho 2014). Gusmão.
MARCHA MUNDIAL DAS MULHERES (2014): MILANI, C. R. S. (2012b): “Aprendendo com a
Structure: IC, Countries and Participating história: críticas à experiência da Cooperação
bodies, International meetings. MMM. Dispo- Norte-Sul e atuais desaios à Cooperação Sul-
nível em http://www.worldmarchofwomen.org/ Sul”. Caderno CRH, v. 25, n. 65, pp. 211-231.
structure/en/. (acesso julho 2014). Salvador: UFBA.
MARCOVITCH, J. (Org.) (1994): Cooperação MILANI, C. R. S. (2012c): “Multilateralismo en
Internacional: estratégia e gestão. São Paulo: crisis, cooperación sur-sur y política externa
EDUSP. brasileña”. Líneasur. v.1, n. 3, pp.40-55. Quito:
MAWDSLEY, E. (2011): “he rhetorics and rituals Ministerio de Relaciones Exteriores y Movilidad
of South-South development cooperation: notes Humana.
on India and Africa”, in: MAWDSLEY, E.; MILANI, C. R. S.; ECHART, E. (2013): “Does the
MCCANN (orgs). India in Africa: changing ge- South challenge the Geopolitics of International
ographies of power. Oxford: Pambazuka Press. Development Cooperation?”. Geopolítica(s):
MAWDSLEY, E. (2012): From recipients to donors: Revista de estudios sobre espacio y poder, v.
Emerging powers and the changing develop- 4-1, p. 35-41. Madrid: UCM.
ment landscape. Londres: Zed Books. MILANI, C. R. S.; PINHEIRO, L. (2013): “Política
MDIC (2008): 20 anos da SECEX e 200 anos de externa brasileira: os desaios de sua caracteriza-
Comércio Exterior, Brasília: Ministério do De- ção como política pública”. Contexto Interna-
senvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. cional, vol. 35, n. 1. Rio de Janeiro: IRI/PUC
Disponível em http://www.mdic.gov.br/sitio/in Rio.
terna/interna.php?area=5&menu=3130 (acesso MILANI, C. R. S.; SUYAMA, B.; LOPES, L.
julho 2014). (2014): “Políticas de Cooperação Internacional
MDIC (2014): Acordos dos quais o Brasil é Par- para o Desenvolvimento: que lições e desaios
te. Brasília: Ministério do Desenvolvimento, para o Brasil?” Cadernos de análise. Fundação
Indústria e Comércio Exterior. Disponível em Friedrich Ebert.

128 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
REFERÊNCIAS

MINISTÉRIO DA DEFESA (2012): Política Nacio- world politic. New York: Public Afairs.
nal de Defesa e Estratégia Nacional de Defesa. O ESTADO DE SÃO PAULO (2005): “A batalha
Brasília: Ministério da Defesa. Disponível em: agrícola”. Editorial. 19/02/2005.
http://www.defesa.gov.br/arquivos/estado_e_de O ESTADO DE SÃO PAULO (2010): “Biodiversi-
fesa/END-PND_Optimized.pdf (acesso junho dade desconhecida”. Editorial. 12/10/10.
2013). OBSERVATÓRIO TURÍSTICO GBCA (2013):
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO (2014): Escolas Peril del turista brasileño. Buenos Aires: Se-
de fronteira. Brasília: Ministério de Educação. cretaría de Turismo de la Provincia de Buenos
Disponível em http://portal.mec.gov.br/index. Aires. Disponível em http://www.turismo.bue
php?Itemid=836&id=12586&option=com_ nosaires.gob.ar/sites/turismo/iles/peril_merca
content&view=article (acesso julho 2014). do_brasileno.pdf (acesso julho 2014).
MINISTÉRIO DE TURISMO (2012): Anuário Es- ODEBRECHT (2014): Relatório anual 2013/2014.
tadístico de Turismo. Ministerio de Turismo de Odebrecht. Disponível em http://www.odebre
la República Argentina. Disponível em http:// cht.com/pt-br/comunicacao/publicacoes/relato
desarrolloturistico.gob.ar/estadisticas/anuarios rios-anuais (acesso em julho 2014).
-estadisticos (acesso julho 2014). OEA (2014): Tratado Interamericano De Assistência
MINISTÉRIO DE TURISMO (2014): Indicadores Recíproca (TIAR). Departamento de Direito
de turismo en Argentina. Ministerio de Turis- Internacional, Washington, D.C.: Organização
mo de la República Argentina. Disponível em dos Estados Americanos. Disponível em http://
http://desarrolloturistico.gob.ar/estadistica/in www.oas.org/juridico/spanish/irmas/b-29.html
dicadores-de-turismo-en-argentina (acesso julho (acesso setembro 2014).
2014). OIM (2010): Peril Migratório do Brasil 2009.
MINISTÉRIO DO TURISMO (2013a): Anuário Geneva: Organização Internacional para as
Estatístico do Turismo. Brasília: Ministério do Migrações. Disponível em http://publications.
Turismo. iom.int/bookstore/free/Brazil_Proile2009.pdf
MINISTÉRIO DO TURISMO (2013b): Turismo (acesso setembro 2014).
no Brasil 2011-2014. Brasília: Ministério do OLIVEIRA, A. J.; ONUKI, J. (2007): Coalizões Sul‐
Turismo. Sul e as Negociações Multilaterais. São Paulo:
MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES (2014): Mídia Alternativa.
Ferrovias VALEC. Brasília: VALEC - Engenha- OLIVEIRA, A. J.; PFEIFER, A. (2006): “O empre-
ria, Construções e Ferrovias S.A. Disponível sariado e a política exterior do Brasil”, em AL-
em http://www.valec.gov.br/acoes_programas/ TEMANI, H.; LESSA, A. C. (Orgs.): Relações
Downloads/MapaFerroviasValec_28_07_2014. internacionais do Brasil: temas e agendas, pp.
pdf (acesso julho 2014). 389-428. São Paulo: Saraiva.
MMA (2006): Parentes Silvestres das Espécies de OMC (2013): Statistiques du commerce interna-
Plantas Cultivadas. Brasília: Ministério do Meio tional. Organisation Mondiale du Commerce.
Ambiente / Centro de Informação e Documen- Disponível em http://www.wto.org/french/
tação Luís Eduardo Magalhães. res_f/statis_f/its2013_f/its13_toc_f.htm (acesso
MORAES, R. C. C. (2006): Estado, Desenvolvimen- setembro 2014)
to e Globalização. São Paulo: UNESP. ONU (2013a): Base de dados da Divisão de Popula-
MORGENTHAU, H. (1962): “A political theory of ção. Departamento de Assuntos Econômicos e
foreign aid”. American Political Science Review. Sociais, Nações Unidas. Disponível em http://
v. 56, n. 2, pp. 301-309. Denton: APSR. esa.un.org/PopPolicy/about_database.aspx
MOURA, G. (1980): Autonomia na Dependência: a (acesso julho 2013).
política externa brasileira de 1935 a 1943. Rio ONU (2013b): Year in Review. 2012 United Nations
de Janeiro: Editora Nova Fronteira. Peace Operations. Peace and Security Section.
NASCIMENTO, G. (2004): “Exportação da fé”. Is- New York: United Nations Department of
toé Independente, 22 setembro. Disponível em Public Information. Disponível em http://
http://www.istoe.com.br/reportagens/10505_ www.un.org/en/peacekeeping/publications/yir/
EXPORTACAO+DA+FE (acesso julho 2014). yir2012.pdf (acesso setembro 2014)
NERY, T. (2012): A economia do desenvolvimento ONU (2014a): View the ratiication status by coun-
na América Latina: o pensamento da Cepal nos try or by treaty. United Nations Human Rights,
anos 1950-1990. São Paulo: Caros Amigos. Oice of the High Commissioner for Human
NYE, J. (2010): Soft Power: the means to success in Rights. Disponível em: http://tbinternet.ohchr.

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 129
org/_layouts/TreatyBodyExternal/Treaty.aspx? Life. Disponível em http://www.pewforum.org/
CountryID=24&Lang=en (acesso maio 2014). topics/restrictions-on-religion/ (acesso julho
ONU (2014b): United Nations Treaty Collection. 2014).
United Nations. Disponível em: http://treaties. PINHEIRO, L. (2009): “Autores y actores de la po-
un.org/Pages/Treaties.aspx?id=4&subid=A&lan lítica exterior brasileña”. Foreign Afairs Latino-
g=en (acesso maio 2014). américa. v. 9, n. 2, pp: 14-24. CFR/ITAM.
ONU (2014c): Security Council Committee esta- PINHEIRO, L.; MILANI, C. R. S. (2012): Política
blished pursuant to resolution 1970 (2011) Externa Brasileira: a política das práticas e as
concerning Libya. Comitê do Conselho de Se- práticas da política. Rio de Janeiro: FGV.
gurança, Nações Unidas. Disponível em http:// PLANALTO (2014): Viagens Internacionais da Pre-
www.un.org/sc/committees/1970/ (acesso sidenta da República. Presidência da República,
junho 2014). Secretaria de Comunicação Social Secretaria de
ONU (2014d): Security council imposes additional Imprensa. Disponível em http://imprensaacer
sanctions on Iran. Conselho de Segurança, Na- vo.planalto.gov.br/download/pdf/Viagens%20
ções Unidas. Disponível em http://www.un.org/ internacionais11.pdf (acesso julho 2014).
News/Press/docs/2010/sc9948.doc.htm (acesso PNUD (2013a): Relatório de desenvolvimento
junho 2014). humano 2013. A Ascensão do Sul: Progresso
ONU (2014e): Peacekeeping operations website Humano num Mundo Diversiicado. Nova
database. United Nations Peacekeeping. Dispo- York: Programa das Nações Unidas para o De-
nível em http://www.un.org/en/peacekeeping/ senvolvimento.
operations/ (acesso setembro 2014). PNUD (2013b): Atlas do desenvolvimento huma-
OREGON STATE UNIVERSITY (2014): Trans- no – PNUD Brasil 2013. Programa das Nações
boundary Freshwater Dispute Database Unidas para o Desenvolvimento. Disponível
(TFDD). Corvallis: Program in Water Conlict em: http://www.atlasbrasil.org.br/2013/. (acesso
Management and Transformation. Disponível julho 2014).
em http://www.transboundarywaters.orst.edu/ PUIG, J. C. (Ed.) (1984): América Latina: Políticas
database/interfreshtreatdata.html (acesso setem- Exteriores Comparadas. Buenos Aires: GEL.
bro 2014) PUNTIGLIANO, A. R. (2008): “Going Global: an
PEC-G (2013): Divisão de temas educacionais (PE- Organizational Study of Brazilian Foreign Poli-
C-G). Brasília: Ministério das Relações Exterio- cy”. Revista Brasileira de Política Internacional,
res. Disponível em: http://www.dce.mre.gov.br/ 51 (1). Brasília: Instituto Brasileiro de Relações
PEC/G/historico.html (acesso julho 2014). Internacionais.
PEC-G (2013): Divisão de temas educacionais RAO, R. (2010): hird World Protest: Between
(PEC-PG). Brasília: Ministério das Relações Home and the World. Oxford: Oxford Univer-
Exteriores. Disponível em: http://www.dce.mre. sity.
gov.br/PEC/PG/historico.html (acesso julho REIS, R. R. (2010): Política de direitos humanos.
2014). São Paulo: Hucitec.
PEDERSEN, J. D. (2008): Globalization, Develop- RENCTAS (2001): Relatório Nacional sobre o Trá-
ment and the State. Londres: Palgrave Mac- ico de Fauna Silvestre. Brasília: Rede Nacional
millan. de Combate ao Tráico de Animais Silvestres.
PEREIRA, J. M. M. (2010): O Banco Mundial RIBEIRO, E. T. (2011): Diplomacia cultural: seu
como ator político, intelectual e inanceiro papel na política externa brasileira. Brasília:
1944-2008. Rio de Janeiro: Civilização Brasi- Fundação Alexandre de Gusmão.
leira. ROSS, J. L. S. (Org.) (1996): Geograia do Brasil.
PEW RESEARCH CENTER (2011): Global Chris- V.1. São Paulo: Edusp.
tianity. A Report on the Size and Distribution SALOMON, M.; NUNES, C. (2007): “A ação
of the World’s Christian Population. Washin- externa dos governos subnacionais no Brasil: os
gton, DC: Pew Research Center’s Forum on casos do Rio Grande do Sul e de Porto Alegre.
Religion & Public Life. Disponível em: http:// Um estudo comparativo de dois tipos de atores
www.pewforum.org/2011/12/19/global-chris mistos”, Contexto Internacional. 29 (1). Rio de
tianity-exec/ (acesso julho 2014). Janeiro: IRI/PUC Rio.
PEW RESEARCH INSTITUTE (2014): Restric- SANCHEZ, M. R. et al. (2006): “Política externa
tions on global religions. Washington, DC: Pew como política pública: uma análise pela regu-
Research Center’s Forum on Religion & Public lamentação constitucional brasileira (1967-

130 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
REFERÊNCIAS

1988)”. Revista de Sociologia e Política. n. 27. Contemporâneos sobre o Turismo. Campinas:


Universidade Federal do Paraná. Papirus Editora (3ª edição).
SANTOS, L. C. V. G. (2005): “A América do Sul SHANGHAI RANKING (2013): Academic ranking
no discurso diplomático brasileiro”. Revista of world universities 2013. Shanghai Ranking
Brasileira de Política Internacional, 48(2), 185- Consultancy. Disponível em: http://www.
204. Brasília: Instituto Brasileiro de Relações shanghairanking.com/ARWU2013.html (acesso
Internacionais. setembro 2014).
SARAIVA, M. G. (2007): “As estratégias de coope- SICE (2014): Carta de la Organización de los
ração Sul-Sul nos marcos da política externa Estados Centroamericanos. Panamá: ODECA.
brasileira de 1993 a 2007”. Revista Brasileira Disponível em: http://www.sice.oas.org/Trade/
de Política Internacional, n. 50, pp. 42-59. sica/PDF/CartaODECA62.pdf (acesso julho
Brasília: Instituto Brasileiro de Relações Inter- 2014).
nacionais. SIECA (2014): Central American Free Trade and
SARAIVA, M. G. (2012): Encontros e Desencontros: Economic Integration Multilateral Treaty.
O lugar da Argentina na política externa brasi- Secretaría de Integración Económica Centroa-
leira. Belo Horizonte: Editora Fino Traço. mericana (SIECA). Disponível em http://www.
SARNEY FILHO, J. (rel.). (2003): Relatório Final sieca.org.gt (acesso julho 2014).
da Comissão Parlamentar de Inquérito destina SIMONSEN, R. C. (2005): História econômica do
a investigar o tráico ilegal de animais e plantas Brasil: 1500-1820. Brasília: Senado Federal.
silvestres da fauna e lora brasileiras. Brasília: SIPRI (2014a): Arms Transfers Database. Estocol-
Câmara dos Deputados. mo: Stockholm International Peace Research
SCHROEDER, H., BOYKOFF, M. T.; SPIERS, L. Institute. Disponível em http://www.sipri.org/
(2012): “Equity and State Representations in databases/armstransfers (acesso junho 2013).
climate negotiations”. Nature Climate Change, SIPRI (2014b): Military Expenditure Database.
2(12), pp. 834-836. London: Macmillan. Estocolmo: Stockholm International Peace
SCIMAGO LAB (2014): Country Rankings we- Research Institute. Disponível em http://www.
bsite database. SCImago Journal & Country sipri.org/databases/armstransfers (acesso junho
Ranking. Disponível em http://www.scimagojr. 2013).
com/countryrank.php (acesso setembro 2014). SOUZA, C. (2003): “Políticas Públicas: Questões
SEBRAE/PR (2010): Peril do mercado consumidor. Temáticas e de Pesquisa”. Cadernos CRH. n.
out/2010. Serviço de Apoio às Micro e Peque- 39, pp. 11-24. Salvador: UFBA.
nas Empresas do Paraná. Disponível em http:// SYMANTEC (2014): Internet Security hreat Re-
sebraepr.com.br (acesso julho 2014). port 2014, Mountain View: Symantec Corpo-
SECEX (2011): Portal Brasileiro de Comércio Exte- ration.
rior. Brasília: Ministério do Desenvolvimento, UNCTAD (2014): UNCTAD Statistics. Geneva:
Indústria e Comércio Exterior, Secretaria de United Nations Conference on Trade and De-
Comércio Exterior, Disponível em http://www. velopment. Disponível em http://unctad.org/
mdic.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=5& en/Pages/Statistics.aspx (acesso julho 2014).
menu=1955&refr=608 (acesso setembro 2014) UNESCO (2010): Transboundary Aquifers. Chal-
SECRETARIA DE ASSUNTOS ESTRATÉGICOS lenges and new directions. ISARM, 2010
(2012): Vozes da Classe Média. Caderno 02: International Conference. Paris: United Nations
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade. Educational, Scientiic and Cultural Organi-
Brasília: Presidência da República. zation. Disponível em http://unesdoc.unesco.
SEGIB (2012): Informe de la cooperación sur-sur en org/images/0019/001901/190140e.pdf (acesso
Iberoamérica 2012, Madrid: Secretaría General setembro 2014).
Iberoamericana. UNESCO (2011): National water footprint accou-
SEGIB (2014): Informe de la cooperación sur-sur en nts: he green, blue and grey water footprint of
Iberoamérica 2013-2014, Madrid: Secretaría production and consumption. MEKONNEN,
General Iberoamericana. M.M.; HOEKSTRA, A.Y.: Value of Water,
SEIXAS CORRÊA, L. F (Org.) (1995): A palavra do Research Report Series No. 50, Delft: Institute
Brasil nas Nações Unidas: 1946-1995. Brasília: for Water Education.
FUNAG. UNESCO (2014): Education Resources: UNESCO
SERRANO, C.; TURINI BRUHNS, H.; LU- Institute For Statistics. Paris: Organização das
CHIARI, M. T. D. P. (Orgs.) (2000): Olhares Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 131
Cultura. Disponível em http://www.uis.unesco. WEBER, M. (2003): A Política como Vocação. Bra-
org/Education/Pages/default.aspx (acesso setem- sília: Editora da Universidade de Brasília.
bro 2014). WEBOMETRICS (2013): Ranking Web of World
UNICA (2013): Históricos de moagem de cana- Universities. Madrid: Consejo Superior de
de-açúcar, área plantada e colhida, produção Investigaciones Cientíicas (CSIC). Disponível
de açúcar e etanol no Brasil. São Paulo, Brasil. em http://www.webometrics.info/ (acesso abril
União da Indústria de Cana de Açúcar. Dispo- 2014).
nível em http://www.unicadata.com.br (acesso WEHLING, A.; WEHLING, M. J. (2002): Forma-
setembro 2014) ção do Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Nova
UNIDIR (2013): The Cyber Index: International Fronteira.
Security Trends and Realities. Geneva. United WHITE, J. P. (2013): “Civil afairs in the Domi-
Nations Institute for Disarmament Research. nican Republic”. Washington DC: Center for
Disponível em: http://www.unidir.org/iles/ Strategic and International Studies / Internatio-
publications/pdfs/cyber-index-2013-en-463.pdf nal Security Program. Disponível em http://csis.
(acesso setembro 2014). org/iles/media/csis/pubs/090129_dominican_
UNODC (2013): Homicide Statistics 2013. Vienna: republic_study.pdf (acesso em julho de 2014).
United Nations Oice On Drugs and Crime.
Disponível em http://www.unodc.org/gsh/en/ Sítios web consultados:
data.html (acesso setembro 2014)
UNWTO (2013): Tourism Highlights. Madrid: Agência Brasileira de Cooperação (ABC): http://
World Tourism Organization. www.abc.gov.br
VALIM, M (2014): “Falta de acordo automoti- Agência Nacional de Águas (ANA): http://www2.
vo com a Argentina pode reduzir o PIB do ana.gov.br/Paginas/default.aspx
Brasil em 0,4 pp”. Jornal Brasil Econômico. Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT):
06/05/2014 http://www.antt.gov.br
VATICANO (2014): Franciscus. Roma: Vaticano. Agência Nacional do Cinema (ANCINE): http://
Disponível em http://w2.vatican.va/content/ www.ancine.gov.br
francesco/pt.html# (acesso julho 2014). Aliança Bolivariana para as Américas (ALBA): http://
VEIGA, P. M. (2014): Brazil and the G-20 Group www.portalalba.org
of Developing Countries. Organização Mundial Aliança do Pacíico: http://alianzapaciico.net
do Comércio. Disponível em http://www.wto. Alliance Jiu-Jitsu: http://www.alliancebjj.com
org/english/res_e/booksp_e/casestudies_e/ca Andrade Gutierrez: http://www.andradegutierrez.
se7_e.htm (acesso julho 2014). com.br
VELASCO E CRUZ, S. C. (2007): Trajetórias: Anistia Internacional: http://anistia.org.br
Capitalismo Neoliberal e Reformas Econômicas Associação dos Estados do Caribe (AEC): http://
nos Países da Periferia. São Paulo: UNESP. www.acs-aec.org
VIGEVANI, T. V.; CEPALUNI, G. (2009): A Políti- Associação Latino-Americana de Integração (ALA-
ca Externa Brasileira: A Busca da Autonomia de DI): http://www.aladi.org
Sarney a Lula. São Paulo: UNESP. Ateliê de Cartograia de Sciences Po: http://cartogra
VIZENTINI, P.; PEREIRA, A. D. (2007): “A phie.sciences-po.fr
política africana do governo Lula”. NERINT. Atos: http://atosjiujitsuhq.com
Disponível em http://www.ufrgs.br/nerint/fol Banco Central do Brasil (BCB): http://www.bcb.gov.
der/artigos/artigo40.pdf (acesso julho 2014). br
WAISELFISZ, J. J. (2014): Mapa da Violência: Os Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID):
Jovens do Brasil. Brasília: Centro Brasileiro de http://www.iadb.org/
Estudos Latino-Americanos. Disponível em Banco Mundial – Base de Dados: http://data.worl
http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2014/ dbank.org/brazilian-portuguese
Mapa2014_JovensBrasil.pdf (acesso setembro Banco Mundial: http://www.bancomundial.org;
2014) http://www.worldbank.org
WATER FOOTPRINT NETWORK (2014): Wa- BJJ Revolution Team: http://www.bjjrevolutionteam.
terStat. Enschede: Water Footprint Network. com
Disponível em http://www.waterfootprint.org Brazilian Top Team: http://braziliantopteam.com
/?page=iles/WaterStat-WaterPollution (acesso C40: http://www.c40.org/cities
julho 2014) CAFTA Intelligence Center: http://www.caftaintelli

132 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
REFERÊNCIAS

gencecenter.com/subpages/what_is_cafta.asp Corte Internacional de Justiça (CIJ): http://www.


Caritas: http://caritas.org icj-cij.org
Centre d’Études et de Recherches Internationales de Departamento Nacional de Produção Mineral
Sciences Po: http://www.sciencespo.fr/ceri (DNPM): http://www.dnpm.gov.br
Checkmat: http://pt.checkmatbjj.com Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária
Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas (Infraero): http://www.infraero.gov.br
(ACNUDH): http://www.onu.org.br Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embra-
Comissão Pastoral da Terra (CPT): http://www. pa): https://www.embrapa.br
cptnacional.org.br Enlace Continental de Mulheres Indígenas – Região
Comitê Intergovernamental Coordenador dos Países América do Sul: http://www.lora.org.pe/pdfs/
da Bacia do Prata (CICPLATA): http://www. enlaceMujIndig.pdf
cicplata.org Estados Unidos da América – Gabinete de Comércio:
Comitê Nacional para os Refugiados (Cona- http://www.ustr.gov
re): http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJ Estados Unidos da América - Presidência: http://
7605B707ITEMID5246DEB0F8CB4C1A www.whitehouse.gov
8B9B54B473B697A4PTBRIE.htm Euromonitor International: www.euromonitor.com
Comitê Olímpico Brasileiro (COB): http://www.cob. Federação Internacional de Futebol (FIFA): http://
org.br pt.ifa.com/index.html
Comitê Olímpico Internacional (COI): http://www. Federação Internacional de Volleybol (FIVB): http://
olympic.org www.ivb.org
Comitês Populares da Copa: http://www.portalpopu Fórum Econômico Mundial: http://www.weforum.
lardacopa.org.br/ org
Companhia Nacional de Abastecimento (Conab): Fórum Índia-Brasil-África do Sul (IBAS): http://
http://www.conab.gov.br www.ibsa-trilateral.org
Comunidade Andina: http://www.comunidadandi Fórum Social Mundial: http://www.forumsocialmun
na.org dial.org.br/index.php
Comunidade de Estados Latino-americanos e Cari- Fundação Getúlio Vargas - Centro de Políticas So-
benhos (CELAC): http://www.celac.org ciais (CPS/FGV): http://cps.fgv.br
Comunidade do Caribe (CARICOM): http://www. Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ): https://por
caricom.org tal.iocruz.br
Conectas Direitos Humanos: http://www.conectas. Fundo Monetário Internacional (FMI): http://www.
org imf.org
Confederação Brasileira de Futebol (CBF): http:// G-77: http://www.g77.org
www.cbf.com.br/ GF Team: http://gfteam.com.br
Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu: http://cbjj.com. Gracie Barra: http://www.graciebarra.com/br/
br Gracie Humaitá: http://www.academiagracie.com.br
Confederação Internacional de Jiu-Jitsu: http://ibjjf. Gracie Jiu-Jitsu Academy: http://www.gracieacademy.
org/registered/ com
Confederação Nacional da Indústria (CNI): http:// Grupo do Rio: http://www.grupodorio.com.br
www.cni.org.br Human Rights Watch: http://www.hrw.org
Confederação Nacional do Transporte (CNT): Igreja Universal do Reino de Deus: http://www.
http://www.cnt.org.br universal.org
Confederação Nacional dos Municípios (CNM): Infraero: http://www.infraero.gov.br
http://www.cnm.org.br Iniciativa para a Infraestrutura Regional Sul America-
Conselho Indígena de Centro-americano: http://con na (IIRSA): http://www.iirsa.org
sejocica.org/organizacion Instituto Brasileiro de Geograia e Estatística (IBGE):
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mu- http://www.ibge.gov.br/home/
dança do Clima (UNFCCC): http://newsroom. Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA):
unfccc.int www.ipea.gov.br/
Coordenação Andina de Organizações Indígenas: International Congress and Conventions Associa-
http://www.coordinadoracaoi.org/ tions (ICCA): http://www.iccaworld.com
Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Ipeadata: http://www.ipeadata.gov.br
Amazônica: http://www.coica.org.ec/index.php/ ISARM (Gestão Comum dos Aquíferos Internacio-
es/ nais): http://www.isarm.org

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 133
Itamaraty: http://www.itamaraty.gov.br Observatório Social da América Latina (OSAL/
Marcha Mundial das Mulheres (MMM): http:// CLACSO): http://www.clacso.org.ar/institucio
www.worldmarchofwomen.org nal/1h.php
Mercado Comum Centro-Americano (SIECA): Odebrecht: http://www.odebrecht.com/
http://www.sieca.int/general/default.aspx Organização das Nações Unidas – Manutenção da
Mercado Comum do Sul (Mercosul): http://www. Paz: http://www.un.org/en/peacekeeping/
mercosur.int; http://www.mercosul.gov.br/ Organização das Nações Unidas (ONU): http://
Mercado Comum do Sul / Fundo para a Con- www.onu.org.br
vergência Estrutural (Mercosul/FOCEM): Organização das Nações Unidas para a Educação,
http://www.mercosur.int/focem/index.php?- a Ciência e a Cultura (UNESCO): http://
c=2118&i=2&id= en.unesco.org
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Organização das Nações Unidas para Alimentação e
(MAPA): http://www.agricultura.gov.br Agricultura (FAO): http://www.fao.org
Ministério da Defesa: http://www.defesa.gov.br Organização das Nações Unidas/ International Trade
Ministério da Educação (MEC): http://www.mec. Statistics Database – UNComtrade: http://
gov.br comtrade.un.org/
Ministério da Integração Nacional: http://www. Organização do Tratado de Cooperação Amazônica
integracao.gov.br (OTCA): http://www.otca.info
Ministério da Justiça: http://www.justica.gov.br/ Organização dos Estados Americanos (OEA): http://
Ministério das Relações Exteriores – Youtube (MRE): www.oas.org
https://www.youtube.com/user/MREBRASIL Organização dos Estados do Caribe Oriental
Ministério das Relações Exteriores (MRE) – Face- (OECS): http://www.oecs.org
book: https://www.facebook.com/ItamaratyGo- Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI):
vBr http://www.oei.org.br
Ministério das Relações Exteriores (MRE) - Sítio Organização Internacional das Migrações (OIM):
Internet: http://www.itamaraty.gov.br http://www.iom.int
Ministério das Relações Exteriores (MRE) – Twitter: Organização Mundial do Comércio (OMC): http://
https://twitter.com/ItamaratyGovBr www.wto.org
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comér- Organização Mundial do Turismo (UNWTO):
cio Exterior (MDIC) http://www.mdic.gov.br/ http://www2.unwto.org
sitio/ Organização para a Cooperação Econômica e Desen-
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comér- volvimento (OCDE): http://www.oecd.org
cio Exterior (MDIC) - Base de dados AliceWeb: Parlamento Centro-Americano (Parlacen): http://
http://aliceweb.mdic.gov.br/ www.parlacen.int
Ministério do Meio Ambiente (MMA): http://www. Parlamento Latino-Americano (Parlatino): http://
mma.gov.br www.parlatino.org
Ministério do Turismo: http://www.turismo.gov.br Petrobras: http://www.petrobras.com.br
Ministério dos Transportes: http://www.transportes. Pew Research Center: http://www.pewresearch.org
gov.br Planalto: http://www2.planalto.gov.br
Movimento de Atingidos por Barragens (MAB): Presidência da República / Biblioteca: http://www.
http://www.mabnacional.org.br biblioteca.presidencia.gov.br/
North American Free Trade Agreement (NAFTA): Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) África:
http://www.naftanow.org http://paa-africa.org
Nova União: http://novauniaobjj.com Red Latinoamericana contra Represas y por los Ríos,
Observatorio de Conlictos Mineros en América sus Comunidades y el Agua (REDLAR): http://
Latina (OCMAL): http://www.conlictosmine www.redlar.net
ros.net Scimago Journal & Country Rank (SCIMAGO):
Observatorio de Multinacionales en América Latina http://www.scimagojr.com
(OMAL): http://omal.info Secretaría de Integración Económica Centroamerica-
Observatorio Latinoamericano de Conlictos Am- na (SIECA): http://www.sieca.org.gt
bientales (OLCA): http://www.olca.cl/oca/ Secretaria Geral Ibero-americana: http://segib.org/.
index.htm Sistema de la Integración Centroamericana (SICA):
Observatorio Latinoamericano de Geopolítica: http://www.sica.int
http://www.geopolitica.ws Sistema Econômico Latino-Americano e do Caribe

134 AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A
REFERÊNCIAS

(SELA): http://www.sela.org
Soul ight: http://www.soulightersbjj.com
Stockholm International Peace Research Institute
(SIPRI): http://www.sipri.org
Times Higher Education Supplement (THES):
http://www.timeshighereducation.co.uk
Tribunal Penal Internacional (TPI): http://www.
icc-cpi.int
União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA):
http://www.unicadata.com.br
União das Nações Sul-americanas (UNASUL):
http://www.unasursg.org
Universidade de Integração Latino-Americana
(UNILA): http://www.unila.edu.br/
Vale: http://www.vale.com
Vaticano: http://w2.vatican.va
Via Campesina: http://viacampesina.org

AT L A S D A P O L Í T I C A E X T E R N A B R A S I L E I R A 135

Você também pode gostar