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Geometria Riemanniana

Manfredo Perdigão do Carmo

Soluções dos Exercícios

4 de novembro de 2017
Sumário

0 Variedades Diferenciáveis 2

1 Métricas Riemannianas 3

2 Conexões Afins; Conexão Riemanniana 13

3 Geodésicas; Vizinhanças Convexas 24

1
Capítulo 0

Variedades Diferenciáveis

2
Capítulo 1

Métricas Riemannianas

Exercício 1. Prove que a aplicação antípoda A : S n → S n dada por A(p) = −p é


uma isometria de S n . Use este fato para introduzir uma métrica Riemanniana no
espaço projetivo real P n (R) tal que a projeção natural π : S n → P n (R) seja uma
isometria local.

Solução: Como S n ⊂ Rn+1 , podemos fazer uso da estrutura de Rn+1 de forma que,
se p ∈ S n e u, v ∈ Tp S n , a métrica Riemanniana em S n é dada por hu, vip := hu, vi,
sendo h , i o produto interno canônico de Rn .
Já sabemos do Capítulo 0 que A : S n → S n é um difeomorfismo com A−1 = A.
Calculemos dAp : Tp S n → T−p S n . Seja v ∈ Tp S n e seja α : (−, ) → S n uma curva
diferenciável tal que α(0) = p e α0 (0) = v. Por definição, temos

dAp (v) = (A ◦ α)0 (0) = −α0 (0) = −v.

Assim,

hu, vip = hu, vi = h−u, −vi = hdAp (u), dAp (v)i−p = hdAp (u), dAp (v)iA(p) .

Isso mostra que A : S n → S n é uma isometria.


Podemos considerar P n (R) como sendo a variedade quociente S n /G, onde G é
o grupo dado por {1S n , A}. Dessa forma, a projeção natural π : S n → P n (R) é
dada por π(p) = {p, −p} e é um difeomorfismo local. Queremos definir uma métrica
Riemanniana em P n (R). Seja q ∈ P n (R) e U ⊂ S n aberto tal que π|U : U → π(U )
seja difeomorfismo com q ∈ π(U ). Para vetores u, v ∈ Tq P n (R), defina
D E
hu, viq : = d(π|U )−1 −1
q (u), d(π|U )q (v)
(π|U )−1 (q)
D E
= d(π|U )−1 −1
q (u), d(π|U )q (v) .
Rn+1

Afirmamos que essa definição não depende do aberto U . De fato, seja V ⊂ S n


um outro aberto tal que π|V : V → π(V ) é um difeomorfismo e q ∈ π(V ). Se
(π|V )−1 (q) = (π|U )−1 (q), então U ∩ V 6= ∅ e π|U = π|V = π|U ∩V sobre U ∩ V e
não temos nada a demonstrar. Se (π|V )−1 (q) 6= (π|U )−1 (q), então necessariamente,

3
(π|V )−1 (q) = A ◦ (π|U )−1 (q) e V ∩ A(U ) 6= ∅. Teremos
D E D E
d(π|V )−1 −1
q (u), d(π|V )q (v) = d(−π|U )−1 −1
q (u), d(−π|U )q (v)
(π|V )−1 (q) (−π|U )−1 (q)
D E
= −d(π|U )−1 −1
q (u), −d(π|U )q (v)
(π|U )−1 (q)
D E
= d(π|U )−1 −1
q (u), d(π|U )q (v) .
(π|U )−1 (q)

Isso mostra que hu, viq está bem definido. Podemos tomar como atlas sobre P n (R)
a coleção {(U α, xα )} tal que Uα ⊂ Rn é um aberto e xα é da forma xα = π|y(Uα ) ◦ yα ,
para alguma carta yα : Uα → S n e π|y(Uα ) : y(Uα ) → π(y(Uα )) é um difeomorfismo.

Assim, se (U, x) é uma tal carta e ∂x i
(q), i = 1, . . . , n são os elementos da base de
n −1
Tq P (R) relativa a x e p = x (q), então
* +
∂ ∂
(q), (q) = hdxp (ei ), dxp (ej )iq = hd(π|U ◦ y)p (ei ), d(π|U ◦ y)(ej )iq
∂xi ∂xj q
D E
= d(π|U )y(p) ◦ dyp (ei ), d(π|U )y(p) ◦ dyp (ej )
q
D E
:= d(π|U )−1
q (d(π|U )y(p) ◦ dyp (ei )), d(π|U )−1
q (d(π|U )y(p) ◦ dyp (ej ))
(π|U )−1 (q)
D E
−1 −1
= (d(π|U )y(p) ) (d(π|U )y(p) ◦ dyp (ei )), (d(π|U )y(p) ) (d(π|U )y(p) ◦ dyp (ej ))
y(p)
= hdyp (ei ), dyp (ej )iy(p) = hdyp (ei ), dyp (ej )iRn+1 ,

que é uma função diferenciável em p. Portanto, h , iq define de fato uma métrica


Riemanniana em P n (R).
Da forma como foi definida, é imediato que π : S n → P n (R) é uma isometria
local. 
Exercício 2. Introduza uma métrica Riemanniana no toro T n exigindo que a
projeção natural π : Rn → T n dada por
π(x1 , . . . , xn ) = (eix1 , . . . , eixn ), (x1 , . . . , xn ) ∈ Rn ,
seja uma isometria local. Mostre que com esta métrica T n é isométrico ao toro plano.

Solução: π : Rn → T n é um difeomorfismo local, pois π|I1 ×···×In é difeomorfismo,


sendo cada Ii da forma (xi − π, xi + π) ⊂ R. Denote p = (x1 , . . . , xn ). Assim,
sendo Up = I1 × · · · × In ⊂ Rn temos que d( π|U )p : U → T n é invertível. Para
u, v ∈ Tπ(p) T n , defina
D E
hu, viπ(p) := (d( π|Up )p )−1 u, (d( π|Up )p )−1 v ,
p

sendo h·, ·ip = h·, ·iRn . Precisamos mostrar que tal produto interno está bem definido.
Seja q = (y1 , . . . , yn ) tal que π(q) = π(p). Segue que eixj = eiyj , j = 1, . . . , n ⇒ xj =
yj + 2kj π, para certos kj ∈ Z, j = 1, . . . , n. Denote por T : Rn → Rn a translação
dada por T (x) = x + k, com k = (2k1 π, . . . , 2kn π). Temos T (Uq ) = Up e, para todo
(a1 , . . . , an ) ∈ Uq ,

π|Up ◦ T (a1 , . . . , an ) = π|Up (a1 + 2k1 π, . . . , an + 2kn π) = (ei(a1 +2k1 π) , . . . , ei(an +2kn π) )
= (eia1 , . . . , eian ) = π|Uq (a1 , . . . , an ).

4
Portanto, π|Up ◦ T = π|Uq ⇒ d( π|Up )T (q) ◦ dTq = d( π|Uq )q ⇒ d( π|Up )p ◦ 1Rn =
d( π|Uq )q ⇒ d( π|Uq ) = d( π|Up ). Isso garante que o produto interno em π(p) = π(q)
está bem definido.
Mostremos agora que tal produto interno é diferenciável. Para isso, basta mos-
trar que ele é diferenciável com respeito a uma parametrização específica (como
as mudanças cartas são difeomorfismos, isso implicará que o produto interno é di-
ferenciável em qualquer parametrização). Mas (Up , π|Up ) é uma parametrização!
n o
Sendo ∂x∂ 1 (q), . . . , ∂x∂n (q) a base de Tq T n , q ∈ Up , com respeito à parametrização
(Up , π|Up ), temos
* +
∂ ∂ D E
gij (q) = (q), (q) = d( π|Up )q ei , d( π|Up )q ej
∂xi ∂xj π(q)
π(q)
D E
:= (d( π|Up )q )−1 (d( π|Up )q ei ), (d( π|Up )q )−1 (d( π|Up )q ej ) = hei , ej i = δij ,

que é constante e, portanto, diferenciável.


Isso faz de T n uma variedade Riemanniana. Da forma como foi definido, temos
D E D E
d( π|Up )p u, d( π|Up )p v := (d( π|Up )p )−1 (d( π|Up )p u), (d( π|Up )p )−1 (d( π|Up )p v)
π(p)
= hu, vi , ∀u, v ∈ Rn

e π : Rn → T n é uma isometria local.


Considere o toro plano dado por T n = Rn /2πZn , onde 2πZn é o grupo das
translações T~k : Rn −→ Rn da forma T~k (~x) = ~x + ~k, com ~k ∈ {(2πk1 , . . . , 2πkn ) ∈
Rn | (k1 , . . . , kn ) ∈ Zn }1 . Observe que cada translação T~k fica unicamente deter-
minada pelo vetor ~k e de forma que os grupos 2πZn e {~k ∈ Rn | ∃T~k ∈ 2πZn } são
isomorfos e consideramos os dois como sendo o mesmo objeto. Observemos que T n
possui uma métrica Riemanniana natural. Sabemos que a estrutura diferenciável de
T n é tal que a projeção Π : Rn → T n é um difeomorfismo local. Mais que isso, para
todo (a1 , . . . , an ) ∈ Rn , se Ii = (ai − π, ai + π) ⊂ R (intervalo aberto de comprimento
2π em torno de ai ), então Π|I1 ×···×In : I1 × · · · × In → Π(I1 × · · · × In ) ⊂ T n é um
difeomorfismo (portanto, uma carta).
Seja p = [(a1 , . . . , an )] ∈ T n e u, v ∈ Tp M . Seja Up = (a1 − π, a1 + π) × · · · ×
(an − π, an + π) ⊂ Rn de forma que Π|U : Up → Π(Up ) é uma carta em torno de p.
Defina
D E
hu, vip := d( Π|−1 −1
Up )p (u), d( Π|Up )p (v) .
Rn

Precisaríamos mostrar que tal produto interno está bem-definido e que, de fato,
define uma métrica Riemanniana em T n . No entanto, a demonstração deste fato é
semelhante ao que fizemos acima para a métrica Riemanniana em T n .
Defina
f: Tn −→ Tn
.
[(x1 , . . . , xn )] 7−→ (e , . . . , eixn )
ix 1

Afirmação 1.1. f é uma isometria.


1
O toro usual Rn /Zn não é isométrico a T n = S 1 × · · · × S 1 !

5
Primeiro, precisamos mostrar que f está bem definida. Se [(x1 , . . . , xn )] =
[(y1 , . . . , yn )] ∈ T n , então existe ~k = (2πk1 , . . . , 2πkn ) ∈ 2πZn tal que (x1 , . . . , xn ) =
(y1 , . . . , yn ) + (2πk1 , . . . , 2πkn ) ⇒ xj = yj + 2πkj , ∀j = 1, . . . , n. Segue que

eixj = ei(yj +2πkj ) = eiyj ei2πkj = eiyj , ∀j = 1, . . . , n,

e isso garante que f está bem-definida. De forma semelhante,

g: Tn −→ Tn
(eix1 , . . . , eixn ) 7−→ [(x1 , . . . , xn )]

está bem-definida, g ◦ f = 1T n e f ◦ g = 1T n . Portanto, f é bijetora.


Seja V = {(x1 , . . . , xn ) ∈ Rn | aj − π < xj < aj + π}. V ⊂ Rn é tal que
f (p) ∈ π(V ) e π|V : V −→ π(V ) ⊂ T n é um difeomorfismo. Observe que f (Π(Up )) =
π|V (V ). Assim, a expressão de f em coordenadas, com (x1 , . . . , xn ) ∈ Up , é dada
por

π|−1 −1
V ◦ f ◦ Π|Up (x1 , . . . , xn ) = π|V ◦ f ([(x1 , . . . , xn )])

= π|−1
V (e
ix1
, . . . , eixn )
= (x1 , . . . , xn )
= 1Up (x1 , . . . , xn ),

que é diferenciável. Isso mostra que f : T n → T n é diferenciável. De forma seme-


lhante, mostra-se que g : T n → T n é diferenciável e, portanto, f é um difeomorfismo.
A conta acima também mostra que f ◦ Π = π. Assim, se p = Π(q) (q ∈ Rn ) e
w ∈ Rn , teremos

dπq (w) = d(f ◦ Π)q (w) = dfΠ(q) ◦ dΠq (w) = dfp ◦ dΠq (w).

Assim, como Π e π são difeomorfismos locais, podemos escrever dfp = dπq ◦


(dΠq )−1 , pelo menos em uma vizinhança de q. Logo, se u, v ∈ Tp T n , temos

hdfp (u), dfp (v)if (p) = hdfp (u), dfp (v)if (Π(q)) = hdfp (u), dfp (v)iπ(q)
D E
= dπq ◦ (dΠq )−1 (u), dπq ◦ (dΠq )−1 (v)
π(q)
D E
−1 −1 −1
:= (dπq ) (dπq ◦ (dΠq ) (u)), (dπq ) (dπq ◦ (dΠq )−1 (v))
Rn
D E
= (dΠq )−1 (u), (dΠq )−1 (v)
Rn
D E
−1 −1
= d(Π )p (u), d(Π )p
Rn
:= hu, vip ,

e isso prova que f é uma isometria. 


Exercício 3. Obtenha uma imersão isométrica do toro plano T n em R2n .

Solução: Pelo Exercício anterior, do ponto de vista da categoria de variedades


Riemannianas, o toro plano e T n = S 1 × · · · × S 1 tratam-se do mesmo objeto. Defina

f : T n = S 1 × · · · × S 1 −→ R2n
ix ix .
(e , . . . , e )
1 n 7−→ (cos x1 , sen x1 , . . . , cos xn , sen xn )

6
É fácil ver que tal aplicação está bem-definida e é diferenciável.
Seja p = (eia1 , . . . , eian ) ∈ T n e Up = {(x1 , . . . , xn ) ∈ Rn | aj − π < xj <
aj + π}. π|Up : Up → π(Up ) ⊂ T n é um difeomorfismo (uma carta em torno de
p). Calculemos dfp : Tp T n → R2n . Seja u = α0 (0) ∈ Tp T n . Se α : I → T n com
α(t) = (eiθ1 (t) , . . . , eiθn (t) ), então

d
dfp (u) := (f ◦ α)0 (0) = (f ◦ α)(t)
dt t=0

d
= (cos θ1 (t), sen θ1 (t) . . . , cos θn (t), sen θn (t))
dt t=0
= (−θ10 (0) sen θ1 (0), θ10 (0) cos θ1 (0), . . . , −θn0 (0) sen θn (0), θn0 (0) cos θn (0)).

Portanto, se v = β 0 (0) ∈ Tp T n , β(t) = (eiϕ1 (t) , . . . , eiϕn (t) ) é tal que dfp (u) =
dfp (v), então, para todo j = 1, . . . , n,
(
−θj0 (0) sen θj (0) = −ϕ0j (0) sen ϕj (0),
θj0 (0) cos θj (0) = ϕ0j (0) cos ϕj (0).

Como α(0) = p = β(0), isso implica que −θj0 (0) = −ϕ0j (0) e θj0 (0) = ϕ0j (0), para
todo j = 1, . . . , n e, portanto, u = v. Isso prova que dfp é injetora, para todo p ∈ M
ou seja, f é uma imersão.
Considere Up = {(x1 , . . . , xn ) ∈ Rn | ai − π < xi < ai + π} e a carta em
torno de p dada por X := π|Up : Up → π(Up ). Para cada q ∈ Up , denote por
n o
∂ ∂
a base coordenada de Tπ(q) T n . Para não carregar a notação,
∂x1 (q), . . . , ∂xn (q)
escreveremos simplesmente π ao invés de π|Up , ficando implícito que estamos traba-
lhando apenas em Up . Para todo q = (x1 , . . . , xn ) ∈ Up , temos
* +
∂ ∂
dfπ(q) · (q), dfπ(q) · (q)
∂xi ∂xj f ◦π(q)

d d
 
= dfπ(q) π(q + tei ), dfπ(q) (π(q + tej )
dt t=0 dt t=0 n
  R
d d
= (f ◦ π(q + tei )), (f ◦ π(q + tej ))
dt dt t=0
 t=0
d d

= (f ◦ π)(x1 , . . . , xi + t, . . . , xn ), (f ◦ π)(x1 , . . . , xj + t, . . . , xn )
dt dt t=0
 t=0
d
= (cos x1 , sen x1 , . . . , cos(xi + t), sen(xi + t), . . . , cos xn , sen xn ),
dt t=0

d

(cos x 1 , sen x 1 , . . . , cos(x j + t), sen(x j + t), . . . , cos x n , sen x n )
dt t=0
= h(0, 0, . . . , − sen xi , cos xi , . . . , 0, 0), (0, 0, . . . , − sen xj , cos xj , . . . , 0, 0)i
* +
∂ ∂
= δij = (q), (q) .
∂xi ∂xj π(q)

Isso implica que, para vetores quaisquer u, v ∈ Tπ(q) T n ,


D E
dfπ(q) (u), dfπ(q) (v) = hu, viπ(q) ,
f ◦π(q)

e, portanto, f é uma imersão isométrica. 

7
Exercício 4. Uma função g : R → R dada por g(t) = yt + x, t, x, y ∈ R, y > 0, é
chamada função afim própria.
O conjunto de todas essas funções com alei usual de composição é um grupo de
Lie G. Como variedade diferenciável, G é simplesmente o semi-plano superior isto é
{(x, y) ∈ R2 ; y > 0} com a estrutura diferenciável usual. Prove que:
(a) A métrica Riemanniana de G invariante à esquerda, que no elemento neutro
e = (0, 1) coincide com a métrica euclidiana (g11 = g22 = 1, g12 = 0) é dada
por g11 = g22 = y12 , g12 = 0, (esta é métrica da geometria não-euclidiana de
Lobatchevski).

(b) Pondo (x, y) = z = x + iy, i = −1, a transformação z 7→ z 0 = az+b cz+d ,
a, b, c, d ∈ R, ad − bc = 1 é uma isometria de G.
Sugestão: Observe que a primeira forma fundamental pode ser escrita:
dx2 + dy 2 4 dz dz
ds2 = 2
=− .
y (z − z)2

Solução:
(a) Suponha que G esteja munido de uma métrica Riemanniana invariante à
esquerda. Como dito no enunciado, estamos identificando cada g ∈ G dada
por g(t) = yt + x, y > 0, t, x ∈ R com o ponto (x, y) do semiplano superior de
R2 . Assim, para cada g0 ≡ (x0 , y0 ) ∈ G, temos que a translação à esquerda
Lg0 : G → G é dada por

Lg0 (g)(t) = g0 g(t) = g0 (g(t)) = g0 (yt + x) = y0 (yt + x) + x0 = (y0 y)t + y0 x + x0 ,

para todo g ≡ (x, y) ∈ G. Escrito de outra forma, temos

L(x0 ,y0 ) (x, y) = (y0 x + x0 , y0 y),

para todo (x0 , y0 ), (x, y) no semiplano superior. Assim, utilizando a estrutura


diferenciável do semiplano superior, temos
∂ ∂
 
 ∂x L(x0 ,y0 ),1 (x, y) L
∂y (x0 ,y0 ),1
(x, y)
d(L(x0 ,y0 ) )(x,y) =
 ∂ ∂


L (x, y) L(x0 ,y0 ),2 (x, y)
∂x (x0 ,y0 ),2 ∂y
" #
y 0
= 0 .
0 y0

Isso mostra que d(L(x0 ,y0 ) )(x,y) u = y0 u, para todo (x, y) ∈ G e u ∈ T(x,y) G ≡ R2 .
Estamos supondo que G possui uma métrica invariante à esquerda, ou seja,
D E
hu, vi(x,y) = d(L(x0 ,y0 ) )(x,y) u, d(L(x0 ,y0 ) )(x,y) v ,
L(x0 ,y0 ) (x,y)

para todo (x0 , y0 ), (x, y) ∈ G, u, v ∈ R2 . Tomando (x, y) = e = (0, 1) nesta


equação e supondo que hu, vie = hu, vi (produto interno usual de R2 ), obtemos

hu, vi = hu, vi(0,1) = hy0 u, y0 viL(x (0,1) = y02 hu, vi(x0 ,y0 ) ,
0 ,y0 )

8
donde concluímos que

hu, vi
hu, vi(x,y) = , ∀(x, y) ∈ G.
y2

hei ,ej i δij


De fato, os gij dessa métrica são gij (x, y) = hei , ej i(x,y) = y2
= y2
, como
pede o enunciado do exercício.

Observação 1.2. Supomos inicialmente que G possuía uma métrica Rieman-


niana invariante à esquerda e chegamos a uma expressão explícita para ela.
Observe que tal expressão define de fato uma métrica Riemanniana em G.

(b) Mostremos primeiramente que ϕ : G → G dada por ϕ(z) = az+b cz+d , ad − bc = 1,


a, b, c, d ∈ R está bem definida. De fato, seja z = (x, y) ∈ G. Temos

az + b (az + b)(cz + d)
   
Imϕ(z) = Im = Im
cz + d |cz + d|2
1 1
= 2
Im((az + b)(cz + d)) = Im(ac|z|2 + adz + bcz + bd)
|cz + d| |cz + d|2
1 1
= 2
Im(adz + bcz) = (adIm(z) + bcIm(z))
|cz + d| |cz + d|2
1 Im(z)
= (adIm(z) − bcIm(z)) = > 0,
|cz + d|2 |cz + d|2

pois z ∈ G ⇒ Im(z) > 0. Portanto, ϕ : G → G está bem definida.


Mostremos que ϕ é uma isometria. Sejam z = (x, y) ∈ G, u, v ∈ R2 quaisquer.
Usando o fato de que dϕz (u) = ϕ0 (z) · u, em que ϕ0 : G → C é a derivada
complexa2 de ϕ e ϕ0 (z) · u é o produto complexo de ϕ0 (z) e u, temos
1
0
ϕ (z) · u, ϕ0 (z) · v

hd(ϕ)z (u), d(ϕ)z (v)iϕ(z) =
(Imϕ(z))2
|cz + d|4 a(cz + d) − (az + b)c a(cz + d) − (az + b)c
 
= · u, · v
(Imz)2 (cz + d)2 (cz + d)2
|cz + d|4 ad − bc ad − bc
 
= 2 2
· u, ·v
(Imz) (cz + d) (cz + d)2
|cz + d|2 1 1
 
= · u, ·v
(Imz)2 (cz + d)2 (cz + d)2
4
(∗) |cz + d| 1
= hu, vi
(Imz) |cz + d|4
2

1
= hu, vi = hu, viz
(Imz)2

o que mostra que ϕ é uma isometria.


Em (∗) estamos usando que o produto interno h·, ·i usual em R2 satisfaz
hλ · u, λvi = |λ|2 hu, vi, ∀λ ∈ C, u, v ∈ R2 ≡ C, sendo “·” o produto complexo.
2
Observe que ϕ é holomorfa pois é o quociente de funções holomorfas.

9
Provemos este fato. Sejam λ = (x, y), u = (u1 , u2 ) e v = (v1 , v2 ) ∈ C ≡ R2 .
Temos

hλ · u, λ · vi = h(x, y)(u1 , u2 ), (x, y)(v1 , v2 )i


= h(xu1 − yu2 , xu2 + yu1 ), (xv1 − yv2 , xv2 + yv1 )i
= (xu1 − yu2 )(xv1 − yv2 ) + (xu2 + yu1 )(xv2 + yv1 )
= x2 u1 v1 − xyu1 v2 − xyu2 v1 + y 2 u2 v2 + x2 u2 v2 + xyu2 v1 + xyu1 v2 + y 2 u1 v1
= (x2 + y 2 )(u1 v1 + u2 v2 ) = |λ|2 hu, vi .

Isso encerra o exercício.

Exercício 5. Prove que as isometrias de S n ⊂ Rn+1 com a métrica induzida são as


restrições a S n das transformações lineares ortogonais de Rn+1 .

Solução: Considere a função arccos : [−1, 1] → [0, π].

Lema 1.3. Se ρ : S n × S n → R é a distância induzida pela métrica Riemanniana


em S n , então ρ(p, q) = arccos(hp, qi), ∀p, q ∈ S n ⊂ Rn .

Demonstração. Sejam p, q ∈ S n . Se p = q, então ρ(p, q) = 0 = arccos 1 =


arccos hp, qi.
Caso 1. Se p = −q:
Seja β : [a, b] → S n um caminho diferenciável por partes ligando p a q. Complete
{p} a uma base (ordenada) ortonormal B = {p, v1 , . . . , vn } de Rn+1 . Escreva, nesta
base, β(t) = (x0 (t), x1 (t), . . . , xn (t)). Como β(a) = p e β(b) = q = −p, temos
x0 (a) = 1 e x0 (b) = −1. Como x0 : [a, b] → R é contínua, existe ξ ∈ [a, b] tal que
x0 (ξ) = 0. Se v10 = β(ξ), então

p, v10 = h(1, 0, . . . , 0), (0, x1 (ξ), . . . , xn (ξ))i = 0.



Assim, a menos de trocar v1 por v10 , podemos supor que β sai de p e passa por v1
antes de chegar em q. Defina α : [0, π] → S n , α(t) = (cos t, sen t, 0, . . . , 0). Temos
Z π Z π
`π0 (α) = |α0 (t)| dt = 1 dt = t|π0 = π.
0 0

Seja U+ = {(x0 , x1 , . . . , xn ) ∈ S n | 0 < x1 }. Como v1 ∈ U+ e β(ξ) = v1 , temos


que β([a, b]) ∩ U+ 6= ∅. Seja (a0 , b0 ) ⊂ [a, b], com a0 = inf{t ∈ [a, b] | β([t, ξ]) ⊂ U+ }
e b0 = sup{t ∈ [a, b] | β([ξ, t]) ⊂ U+ }. Como β : [a, b] → S n é contínua e U+
é aberto em S n , é possível provar que a0 < ξ < b0 e que β(a0 ), β(b0 ) ∈ / U+ e
lim0 x1 (t) = 0 = lim0 x1 (t). Observe que β((a0 , b0 )) ⊂ U+ . Considere o sistema de
t→a t→b
coordenadas X : U+ → Dn , sendo Dn = {(x0 , x2 , . . . , xn ) ∈ Rn | x20 + · · · + x2n < 1} e

X(x0 , x1 , x2 . . . , xn ) = (x0 , x2 , . . . , xn ) .

Não consegui terminar. Ver ideia da demonstração aqui.

10
Proposição 1.4. Se f : M → N é uma isometria entre variedades Riemannianas e
ρ : M × M → R, σ : N × N → R são as respectivas distâncias induzidas em cada
variedade, então σ(f (p), f (q)) = ρ(p, q), para todo p, q ∈ M .
Demonstração. Sejam p, q ∈ M quaisquer. Seja α : [a, b] → M um caminho diferen-
ciável por partes ligando p a q. Como o comprimento de α é soma dos comprimentos
de cada segmento diferenciável de α, suporemos que a própria α é diferenciável.
Usando que f é isometria, obtemos
Z b Z bD E

0
`ba (α) = α (t), α0 (t) α(t) dt = dfα(t) α0 (t), dfα(t) α0 (t)

dt
a a f ◦α(t)
Z b

0 0 b
= (f ◦ α) (t), (f ◦ α) (t) f ◦α(t) dt = `a (f ◦ α).
a
Portanto, se α é um caminho diferenciável ligando p a q, então existe um caminho
diferenciável f ◦ α ligando f (p) a f (q) tal que `(α) = `(f ◦ α). Usando o mesmo
argumento para a função inversa f −1 : N → M , temos que os conjuntos {`(α) ∈
R | α : [a, b] → M, α(a) = p, α(b) = q, a < b} e {`(β) ∈ R | β : [a0 , b0 ] → N, β(a0 ) =
f (p), β(b0 ) = f (q), a0 < b0 } são iguais e, portanto, seus ínfimos são iguais. Portanto,
σ(f (p), f (q)) = ρ(p, q).

Lema 1.5. Se f : S n → S n uma isometria e {e1 , . . . , en+1 } ⊂ S n é base canônica


de Rn+1 , então {f (e1 ), . . . , f (en+1 )} é uma base ortonormal de Rn+1 .
Demonstração. De fato, se ρ : S n × S n → R é a distância induzida pela métrica
Riemanniana em S n , então usando o Lema 1.3 e a Proposição 1.4, temos
arccos δij = arccos hei , ej i = ρ(ei , ej ) = ρ(f (ei ), f (ej )) = arccos hf (ei ), f (ej )i
e, como arccos : [−1, 1] → [0, π] é bijetora, isso implica que hf (ei ), f (ej )i = δij , para
todo i, j = 1, . . . , n + 1.

Finalmente podemos provar o enunciado do exercício:


Proposição 1.6. Se f : S n → S n , então a transformação linear ortogonal T :
Rn+1 → Rn+1 definida por T (ej ) = f (ej ), ∀j = 1, . . . , n + 1 é tal que T |S n = f .
Demonstração. Pelo Lema 1.5, T de fato é uma transformação linear ortogonal, pois
leva base ortonormal em base ortonormal. Resta mostrar apenas que T |S n = f . Seja
(x1 , . . . , xn+1 ) ∈ S n . Para cada j = 1, . . . , n + 1, temos
arccos hf (ej ), f (x1 , . . . , xn+1 )i = ρ(f (ej ), f (x1 , . . . , xn+1 )) = ρ(ej , (x1 , . . . , xn+1 ))
= arccos hej , (x1 , . . . , xn+1 )i = arccos xj
⇒ hf (ej ), f (x1 , . . . , xn+1 )i = xj .
Como T é ortonormal, temos que T (x1 , . . . , xn+1 ) ∈ S n . Assim, podemos escrever
*n+1 +
X
ρ(T (x1 , . . . , xn+1 ), f (x1 , . . . , xn+1 )) = arccos xj f (ej ), f (x1 , . . . , xn+1 )
j=1
n+1
X
= arccos xj hf (ej ), f (x1 , . . . , xn+1 )i
j=1
X
= arccos x2j = arccos 1 = 0.
j=1

11
Como ρ : S n ×S n → R é uma função distância, isso implica que T (x1 , . . . , xn+1 ) =
f (x1 , . . . , xx+1 ). Portanto, T |S n = f .

Isto encerra o exercício. 

Exercício 6. Mostre que a relação “M é localmente isométrica a N ” não é simétrica.

Solução: Seja M = {(x, y, 0) ∈ R3 | x, y ∈ R} e N = M ∪ S, sendo S = {(x, y, z) ∈


R3 | |(x, y, z) − (0, 0, 2)| = 1} a esfera de centro (0, 0, 2) e raio 1. Considere as
respectivas estruturas de variedades Riemannianas em M e N induzidas da estrutura
de R3 . Neste caso, todos os conceitos de Geometria Riemanniana coincidem com
os respectivos conceitos vistos em Geometria Diferencial de Superfícies em R3 . Em
particular, vale o Teorema Egregium de Gauß.
Dessa forma, f : M → N dada pela inclusão f (p) = p é uma isometria local. No
entanto, se p ∈ S ⊂ N , não pode haver isometria local f : U ⊂ N → f (U ) ⊂ M ,
p ∈ U , já que a curvatura de S em p é positiva e a curvatura em M é sempre zero.

Exercício 7. Envolve Grupos de Lie.

12
Capítulo 2

Conexões Afins; Conexão


Riemanniana

Exercício 1. Seja M uma variedade Riemanniana. Considere a aplicação

P = Pc,t0 ,t : Tc(t0 ) M → Tc(t) M

definida por: Pc,t0 ,t (v), v ∈ Tc(t0 ) M , é o transporte paralelo do vetor v ao longo


da curva c. mostre que P é uma isometria e que, se M é orientada, P preserva
orientação.

Solução: Mostremos que P é um isomorfismo linear. Sejam u, v ∈ Tc(t0 ) M e


λ ∈ R quaisquer. Sejam U (t) e V (t) os transportes paralelos de u e v ao longo de
c, respectivamente, isto é, U e V são os campos de vetores ao longo de c tais que
U (t0 ) = u, V (t0 ) = v e DdtV = 0 = DdtU . Observe que U (t) = P (u) e V (t) = P (v).
Usando as propriedades da derivada covariante, temos

D (U + λV ) DU DV
= +λ = 0.
dt dt dt
Além disso, (U + λV )(t0 ) = U (t0 ) + λV (t0 ) = u + λv. Logo, o campo U + λV ao
longo de c é o transporte paralelo de u + λv, ou seja,

P (u + λv) = P (u) + λP (v),

portanto P é linear.
Da mesma forma como P foi definida, considere Q : Tc(t) M → Tc(t0 ) M . Afirma-
mos que P ◦ Q = 1Tc(t) M e Q ◦ P = 1Tc(t0 ) M . De fato, seja v ∈ Tc(t0 ) M e V (t) o
transporte paralelo de v ao longo de c de t0 a t. Então V (t0 ) = v e DdtV = 0. Logo,
Q ◦ P (v) = Q(V (t)). Mas Q(V (t)) é dado por Ve (t0 ), em que Ve é tal que Ve (t) = V (t)
e DdtVe = 0 (ou seja, é o transporte paralelo de V (t) ao longo de c, mas no sentido “de t
a t0 ”). Afirmamos que Ve (t) = V (t). Isso segue da unicidade de transportes paralelos
e do fato que V já possui tais propriedades. Assim, Q(V (t)) = Ve (t0 ) = V (t0 ) = v,
ou seja, mostramos que Q ◦ P (v) = v = 1Tc(t0 ) M , para todo v ∈ Tc(t0 ) M . Analoga-
mente, mostra-se que P ◦ Q = 1Tc(t) M . Isso conclui a demonstração de que P é um
isomorfismo.

13
Mostremos que P é uma isometria. Sejam u, v ∈ Tc(t0 ) M e U e V os transportes
paralelos de u e v ao longo de c. Pela compatibilidade da conexão com a métrica
Riemanniana, sabemos que

hu, vic(t0 ) = hU (t), V (t)ic(t) , ∀t ∈ I = Domc ,

e isso nos diz exatamente que P é uma isometria entre os espaços vetoriais normados
(Tc(t0 ) M, h·, ·ic(t0 ) ) e (Tc(t) M, h·, ·ic(t) ).
Suponha por fim que M possui orientação A (atlas orientado). Observamos a
seguir que a escolha de uma tal orientação induz uma orientação em cada plano
tangente a M . De fato, seja (U, x) ∈ A e sejam Xi = ∂x ∂
i
a base coordenada
associada a x. Assim, se p ∈ x(U ), definimos a orientação em Tp M como sendo
positiva se ela possui a mesma orientação que {X1 , . . . , Xn }. Mostremos que a
“orientação positiva” em Tp M está bem definida. Suponha que (V, y) ∈ A com
p ∈ W = x(U )∩y(V ) e denote Yi = ∂y∂ i a base coordenada de y. Seja T o isomorfismo
linear que leva {X1 (p), . . . , Xn (p)} respectivamente em {Y1 (p), . . . , Yn (p)}. Queremos
mostrar que det T > 0. A menos de translações de Rn (que sabemos que preservam
a orientação), podemos supor que 0 ∈ U ∩ V e x(0) = p = y(0). Assim, sobre
∅=6 Wf = x(U ∩ V ) ∩ y(U ∩ V ), podemos definir y ◦ x−1 : W f →W f.

Afirmação 2.1. T = d(y ◦ x−1 )(p).

De fato, temos

d(y ◦ x−1 )(p) · Xi (p) = dy(x−1 (p)) ◦ dx−1 (p) · Xi (p)


= dy(0) ◦ dx−1 (p) ◦ dx(0) · ei
= dy(0) ◦ d(x−1 ◦ x)(0) · ei
= dy(0) ◦ d(1)(0) · ei
= dy(0) ◦ 1 · ei
= dy(0) · ei = Yi (p).

Como T : Tp M → Tp M dada por T (Xi (p)) = Yi (p) é única, devemos ter


T = d(y ◦ x−1 )(p). Isso prova a afirmação.
Como A é uma orientação, temos

0 < det(d(x−1 ◦ y)(0)) = det(d(x−1 (p)) ◦ dy(0)) = det(d(x−1 (p))) · det(dy(0)).

Assim,

det T = det(d(y ◦ x−1 )(p)) = det(dy(0) ◦ dx−1 (p)) = det(dy(0)) · det(dx−1 (p)) > 0.

Isso conclui a demonstração de que {X1 (p), . . . , Xn (p)} e {Y1 (p), . . . , Yn (p)} pos-
suem a mesma orientação. Portanto, a orientação em Tp M não depende da carta
escolhida.
Resta mostrar que P : Tc(t0 ) M → Tc(t) M preserva orientação. Primeiramente,
podemos supor que c([t0 , t]) está contido na imagem x(U ) de alguma parametrização
(U, x) ∈ A (caso contrário, podemos cobrir c([t0 , t]) com uma quantidade finita de
tais vizinhanças e provar o resultado em cada uma delas, fato que implica o resultado
no intervalo [t0 , t]).

14
Para cada s ∈ [t0 , t], seja {X1 (c(s)), . . . , Xn (c(s))} a base coordenada da para-
metrização (U, x). Seja {v1 , . . . , vn } uma base positiva de Tc(t0 ) M . Para mostrar
que P preserva orientação, precisamos mostrar que {P (v1 ), . . . , P (vn )} (que é base
de Tc(t) M pois já mostramos que P é isomorfismo) é positiva. Sejam V1 , . . . , Vn os
transportes paralelos de v1 , . . . , vn , respectivamente. Para cada s ∈ [t0 , t], escreva
n
X
Vj (s) = aij (s)Xi (c(s)). Sabemos que os transportes paralelos são diferenciá-
i=0
veis, de forma que as funções aij : [t0 , t] → R são diferenciáveis. Observe que
{X1 (c(s)), . . . , Xn (c(s))} é uma base positiva de Tc(s) M , para todo s ∈ [t0 , t]. A
matriz da mudança de base que leva {X1 (c(s)), . . . , Xn (c(s))} em {V1 (s), . . . , Vn (s)}
é precisamente (aij (s)), que é inversível, pela primeira parte do exercício. Portanto,
det(aij (s)) 6= 0, ∀s ∈ [t0 , t]. Logo, a função d : [t0 , t] → R dada por d(s) = det(aij (s))
é contínua e não se anula. Como d(t0 ) = det(aij (t0 )) > 0 (pois {V1 (t0 ), . . . , Vn (t0 )} =
{v1 , . . . , vn } é positiva), devemos ter d(t) = det(aij (t)) = det P > 0, como quería-
mos mostrar (observe que {P (v1 ), . . . , P (vn )} = {V1 (t), . . . , Vn (t)}). Isso conclui o
exercício. 

Exercício 2. Sejam X e Y campos de vetores numa variedade Riemanniana M .


Sejam p ∈ M e c : I → M uma curva integral de X por p, i.e. c(t0 ) = p e
dc
dt = X(c(t)). Prove que a conexão Riemanniana de M é

d −1
(∇X Y )(p) = (P (Y (c(t)))),
dt c;t0 ;t
onde Pc;t0 ;t : Tc(t0 ) M → Tc(t) M é o transporte paralelo de c de t0 a t (isso mostra
como a conexão pode ser reobtida da noção de paralelismo).

Solução: Denote por P a aplicação Pc,t0 ,t : Tc(t0 ) M → Tc(t) M e V : I → T M a


aplicação Y ◦ c(t). Como (∇X Y )(p) depende apenas do vetor X(p) e do valor de Y
ao longo de uma curva tangente a X em p, usando que c é a curva integral de X e o
item (c) da Proposição 2.2, temos

DV
(t0 ) = (∇ d c Y )(t0 ) = ∇X(c(t0 )) Y = ∇X(p) Y = (∇X Y )(p). (∗)
dt dt

Seja {e1 , . . . , en } uma base ortonormal de Tp M . Para cada i = 1, . . . , n, sejam


Pi os transportes paralelos do vetor ei ao longo de c de t0 a t. Observe que
{P1 (s), . . . , Pn (s)} é uma base ortonormal de Tc(s) M , para todo s ∈ I, pois a conexão
n
X
é compatível com a métrica. Dessa forma, V (s) se escreve como V (s) = ai (s)Pi (s),
i=1
para todo s ∈ I, com ai : I → R diferenciáveis. Temos
n n n  n
!
DV D X D d ai D Pi d ai
X X  X
= ai Pi = ai Pi = Pi + ai = Pi .
dt dt i=1 i=1
dt i=1
dt dt i=1
dt

Em particular, segue de (∗) que


n n
DV
a0 (t0 )Pi (t0 ) = a0 (t0 )ei .
X X
(∇X Y )(p) = (t0 ) = (∗∗)
dt i=1 i=1

15
n
X
Afirmamos que P −1 (V (t)) = ai (t)ei (aqui, t ∈ I está fixo! É aquele t para o
i=1
qual P = Pc,t0!,t ). Como P é isomorfismo, para provar este fato basta mostrar que
n
X n
X
P ai (t)ei = V (t). De fato, para cada s ∈ I, seja Ve (s) = ai (t)Pi (s). Temos
i=1 i=1
n n n
X X
DV
X d ai (t)
Ve (t0 ) = ai (t)Pi (t0 ) = ai (t)ei e e
ds = Pi (s) = 0. Portanto, Ve é o
i=1 i=1 i=1
ds
n
X n
X
transporte paralelo de ai (t)ei ao longo de c. Mas Ve (t) = ai (t)Pi (t) = V (t).
i=1 i=1
n
!
X
Isso prova que P ai (t)ei = V (t). Assim, temos que a função f : I → Tp M
i=1
−1
dada por f (t) = Pc;t0 ,t
(Y (c(t)), na verdade é dada por
n
−1 −1
X
f (t) = Pc;t0 ,t
(Y (c(t)) = Pc;t0 ,t
(V (t)) = ai (t)ei .
i=1

Portanto,
n
d −1 d f (∗∗)
a0 (t0 )ei = (∇X Y )(p),
X
Pc;t0 ,t (Y (c(t)) = =
dt t=t0 dt
t=t0 i=1

como queríamos demonstrar. 


n+k
Exercício 3. Seja f : M n → M uma imersão de uma variedade diferenciável
em uma variedade Riemanniana M . Suponha que M tem a métrica Riemanniana
induzida por f (cf. Exemplo 2.5 do Cap. I). Seja p ∈ M e U ⊂ M uma vizinhança
de p tal que f (U ) ⊂ M seja uma subvariedade de M . Sejam X, Y campos de vetores
em f (U ) e estenda-os a campos de vetores X e Y em um aberto de M . Defina
(∇X Y )(p) = componente tangencial de ∇X Y , onde ∇ é a conexão Riemanniana de
M . Prove que ∇ é a conexão Riemanniana de M .

Solução: 
Exercício 4. Seja M 2 ⊂ R3 uma superfície em R3 com a métrica Riemanniana
induzida. Seja c : I → M uma curva diferenciável em M e V um campo de vetores
tangentes a M ao longo de c; V pode ser pensado como uma função diferenciável
V : I → R3 , com V (t) ∈ Tc(t) M .

(a) Mostre que V é paralelo se e somente se ddtV é perpendicular a Tc(t) M ⊂ R3


onde ddtV é a derivada usual de V : I → R3 .

(b) Se S 2 ⊂ R3 é a esfera unitária de R3 , mostre que o campo velocidade ao longo


de círculos máximos parametrizados pelo comprimento de arco é um campo
paralelo. O mesmo argumento se aplica para Rn ⊂ Rn+1 .

Solução: 
Exercício 5. No espaço euclidiano, o transporte paralelo de um vetor entre dois
pontos não depende da curva que liga estes dois pontos. Mostre, por um exemplo,
que isto não é verdade numa variedade Riemanniana qualquer.

16
Solução: Considere a esfera unitária S 2 ⊂ R3 . Considere o vetor v = (0, 1, 0)
tangente a S 2 em pN = (0, 0, 1). Considere α : [0, π] → S 2 dada por α(t) =
(0, sen t, cos t). Temos α(0) = (0, 0, 1) = pN e α(π) = (0, 0, −1) = pS . Seja V :
[0, π] → R3 o transporte paralelo de v ao longo de α. Afirmamos que V (t) = α0 (t),
∀t ∈ [0, π]. De fato, α0 (0) = (0, cos t, − sen t)|t=0 = (0, 1, 0) = v e1

D α0 d α0 (t) T
(t) = = α00 (t)T = (0, − sen t, − cos t)T = −α(t)T = 0,
dt dt
pois −α(t) é normal a S 2 em α(t). Pela unicidade do transporte paralelo, segue
que V = α0 . Daí, V (π) = α0 (π) = (0, cos π, − sen π) = (0, −1, 0). Façamos agora o
transporte paralelo de v saindo de pN e chegando em pS , mas ao longo da curva
β : [0, π] → S 2 , β(t) = (sen t, 0, cos t). Denote por W : [0, π] → R3 tal transporte
paralelo. Afirmamos que W (t) = v, ∀t ∈ [0, π]. Primeiro, precisamos mostrar
que W (t) = v está bem definida, isto é, v ∈ Tβ(t) S 2 , para todo t ∈ [0, π]. Mas2
hv, β(t)i = h(0, 1, 0), (sen t, 0, cos t)i = 0 ⇒ v ⊥ β(t) ⇒ v ∈ Tβ(t) S 2 , para todo
t ∈ [0, π]. Portanto, W (t) ≡ v é um campo bem definido ao longo de β. É claro que
T
W (0) = v e DdtW (t) = ddtW = 0 e, portanto, W é o transporte paralelo de v ao longo
de β. No entanto,

W (π) = v = (0, 1, 0) 6= (0, −1, 0) = V (π).

Exercício 6. Seja M uma variedade Riemanniana e p um ponto de M . Considere


a curva constante f : I → M dada por f (t) = p, para todo t ∈ I. Seja V um
1
Nesta situação, a derivada covariante corresponde à componente tangente da derivada usual em
R3 .
2
A todo momento estamos usando as estruturas de R3 .

17
campo vetorial ao longo de f (isto é, V é uma aplicação diferenciável de I em Tp M ).
Mostre DdtV = ddtV , isto é, a derivada covariante coincide com a derivada usual de
V : I → Tp M .

Solução: 
Exercício 7. Seja S 2 ⊂ R3 a esfera unitária, c um paralelo qualquer de S 2 e V0 um
ve tor tangente a S 2 em um ponto de c. Descreva geometricamente o transporte
paralelo de V0 ao longo de c.
Sugestão: Considere o cone C tangente a S 2 ao longo de c e mostre que o transporta
paralelo de V0 ao longo de c é o mesmo, quer tomado em relação a S 2 ou a C.

Solução: 
Exercício 8. Considere o semi-plano superior
R2+ = {(x, y) ∈ R2 ; y > 0}
1
com a métrica dada por g11 = g22 = y2
, g12 = 0 (métrica da geometria não-euclidiana
de Lobatchevski).
(a) Mostre que os símbolos de Christoffel da conexão Riemanniana são: Γ111 =
Γ212 = Γ122 = 0, Γ211 = y1 , Γ112 = Γ222 = − y1 .

(b) Seja v0 = (0, 1) um vetor tangente no ponto (0, 1) de R2+ (v0 é o vetor unitário
do eixo 0y com origem em (0, 1)). Seja v(t) o transporte paralelo de v0 ao
longo da curva x = t, y = 1. Mostre que v(t) faz um ângulo t com a direção de
0y no sentido horário.
Sugestão: O campo v(t) = (a(t), b(t)) satisfaz o sistema (2) que defini um campo
paralelo e que, neste caso, se simplifica em
(
da
dt + Γ112 b = 0,
db
dt + Γ211 a = 0.

Fazendo a = cos θ(t), b = sen θ(t) e notando que ao longo da curva dada temos y = 1,
obteremos das equações acima que ddtθ = −1. Como v(0) = v0 , isto implica que
θ(t) = π2 − t.

Solução:
(a) Usaremos a expressão clássica dos símbolos de Christoffel da conexão Rie-
manniana em termo da métrica Riemanniana (ver Manfredo, pág. 62, eq.
(10)):
n
!
1X ∂ ∂ ∂
Γm
ij = gjk + gki − gij g km ,
2 k=1 ∂xi ∂xj ∂xk

sendo (g km )k,m a matriz inversa da métrica Riemanniana g = (gkm )k,m . No


caso do plano de Lobatchevski, temos
" # "1 # " #
g (x, y) g12 (x, y) y2
0 y2 0
g(x, y) = 11 = 1 ⇒ (g(x, y))−1
= .
g21 (x, y) g22 (x, y) 0 y2
0 y2

18
No nosso caso, n = 2, temos
2
!
1X ∂ ∂ ∂
Γm
ij = gjk + gki − gij g km
2 k=1 ∂xi ∂xj ∂xk
! ! !
1 ∂ ∂ ∂ ∂ ∂ ∂
= gj1 + g1i − gij g 1m + gj2 + g2i − gij g 2m .
2 ∂xi ∂xj ∂x1 ∂xi ∂xj ∂x2

Assim,
1 ∂ ∂ ∂
 
Γ111 (x, y) = g11 (x, y) + g11 (x, y) − g11 (x, y) y 2
2 ∂x ∂x ∂x
= 0,

1 ∂ ∂ ∂
 
Γ212 (x, y) = g22 (x, y) + g21 (x, y) − g12 (x, y) y 2
2 ∂x ∂y ∂y
1
= (0 + 0 + 0) y 2 = 0,
2

1 ∂ ∂ ∂
 
Γ122 (x, y) = g21 (x, y) + g12 (x, y) − g22 (x, y) y 2
2 ∂y ∂y ∂x
1
= (0 + 0 + 0) y 2 = 0,
2

1 ∂ ∂ ∂
 
Γ211 (x, y) = g12 (x, y) + g21 (x, y) − g11 (x, y) y 2
2 ∂x ∂x ∂y
1 1 1
 
= −(−2) 3 y 2 = ,
2 y y

1 ∂ ∂ ∂
 
Γ112 (x, y) = g21 (x, y) + g11 (x, y) − g12 (x, y) y 2
2 ∂x ∂y ∂x
1 1 1
 
= −2 3 y 2 = − ,
2 y y

1 ∂ ∂ ∂
 
Γ222 (x, y) = g22 (x, y) + g22 (x, y) − g22 (x, y) y 2
2 ∂y ∂y ∂y
1 1 1
 
= −2 3 y 2 = − .
2 y y

(b) Denote v(t) = (a(t), b(t)) o campo transporte paralelo de v0 ao longo da curva
α(t) = (t, 1). Lembre-se que, se α(t) = (x1 (t), . . . , xn (t)) é a expressão local
de uma curva em uma variedade M (no nosso caso, α(t) = (t, 1)) e v0 ∈ Tp M ,
n
X
com α(t0 ) = p, então o transporte paralelo V (t) = v j (t)Xj (α(t)) é dado
j=1
pelo sistema de n equações diferenciais
n
d vk X d xi
0= + Γkij v j , k = 1, . . . , n, (Veja Manfredo, pág. 58, 59)
dt i,j=1
dt

19
com condição inicial V (t0 ) = v0 . No nosso caso, obtemos
2
da X d xi
0= + Γ1ij vj (para k = 1)
dt i,j=1 dt
da 0 0 0
= >a d x1 + Γ1 b d x1 + Γ1
Γ111
+  >a d x2 + Γ1
>b d x2
12 21 dt 22 dt
dt dt dt
da 1 d x1 da
= − b = − b,
dt x2 dt dt
e
0
db d x1 0 0
0= + Γ211 a + >b d x1 + Γ2
Γ212
 >a d x2 + Γ2 b d x2 (para k = 2)
dt dt dt 21 dt 22
dt
db 1 d x1 db
= − a = − a,
dt x2 dt dt
ou seja,
(
da
dt −b = 0
db . (∗)
dt −a = 0

hu,vi hu,vi
Observe que hu, viα(t) = Im(α(t)) 2 = 12
= hu, vi, ou seja, a métrica Rieman-
niana do plano de Lobatchevski coincide com a métrica usual do R2 , sobre a
curva α. Daí, hv0 , v0 iv0 = hv0 , v0 i = 1. Como v(t) é paralelo e a conexão é
compatível com a métrica, devemos ter hv(t), v(t)iα(t) = hv0 , v0 iv0 = 1. Mas
então hv(t), v(t)i = 1, isto é, v(t) é unitário no sentido usual (R2 ). Logo, v(t)
se escreve como v(t) = (a(t), b(t)) = (cos θ(t), sen θ(t)). Segue de (∗) que
(
−θ0 (t) sen θ(t) − sen θ(t) = 0
⇒ θ0 (t) = −1, ∀t.
θ0 (t) cos θ(t) − cos θ(t) = 0

pois, ∀t, sen θ(t) 6= 0 ou cos θ(t) 6= 0. Como v(0) = v0 = (0, 1), temos
θ(0) = π2 + 2kπ, para algum k ∈ Z. Tomando k = 0, por simplicidade, obtemos
θ(t) = π2 − t. Agora, θ(t) é o ângulo formado entre v(t) e o eixo 0x no sentido
anti-horário. Daí, o ângulo entre v(t) e o eixo 0y no sentido anti-horário é
π π
2 − t − 2 = −t. Portanto, o ângulo entre v(t) e o eixo 0y no sentido horário é t.

Exercício 9. (Métricas pseudo-Riemannianas). Uma métrica pseudo-Riemanniana


em uma variedade diferenciável M é a escolha, para cada ponto p ∈ M , de uma
forma bilinear simétrica não degenerada h , i (porém não necessariamente positiva
definida) em Tp M e que varia diferenciavelmente com p. Exceto pleo fato de não
ser h , i definida positiva, todas as definições até agora apresentadas fazem sentido
em uma métrica pseudo-Riemanniana. Por exemplo, uma conexão afim em M é
compatível com uma métrica pseudo-Riemanniana de M se (4) é satisfeita; se, além
disto, (5) se verifica, a conexão afim é dita simétrica.

(a) Mostre que o Teorema de Levi-Civita se estende a métricas pseudo-Riemannianas.


A conexão assim obtida é chama pseudo-Riemanniana.

20
(b) Introduza uma métrico pseudo-Riemanniana em Rn+1 pela forma quadrática

Q(x0 , . . . , xn ) = −x20 + x21 + · · · + x2n , (x0 , . . . , xn ) ∈ Rn+1 .

Mostre que o transporte paralelo da conexão de Levi-Civita deste métrica coin-


cide com o transporte paralelo usual do Rn+1 (esta métrica pseudo-Riemanniana
é chamada métrica de Lorentz; para n = 3, ela aparece naturalmente em Rela-
tividade.)

Solução:
(a) Basta observar que na demonstração do Teorema de Levi-Civita, não utiliza-se
o fato de que a métrica Riemanniana é definida positiva.
(b) Uma forma quadrática num R-espaço vetorial V é uma aplicação q : V → R
da forma q(v) = f (v, v), v ∈ V , para alguma aplicação bilinear f : V × V → R.
A forma quadrática q : V → R é dita definida positiva se q(v) ≥ 0, ∀v ∈ V e
q(v) = 0 ⇔ v = 0. Temos o seguinte resultado:
Proposição 2.2. Se V é um R-espaço vetorial e q : V → R é uma forma
quadrática definida positiva, então h , i : V × V → R dada por
1
hu, vi = (q(u + v) − q(u) − q(v)), u, v ∈ V,
2
é um produto interno em V .

Demonstração. De fato, seja f : V × V → R a aplicação bilinear tal que


q(v) = f (v, v). Temos
1 1
hv, vi = (q(2v) − 2q(v)) = (f (2v, 2v) − 2f (v, v))
2 2
1
= (4f (v, v) − 2f (v, v)) = f (v, v) = q(v), ∀v ∈ V
2
e, portanto, hv, vi ≥ 0 e hv, vi = 0 ⇔ v = 0. Além disso, é claro que
hu, vi = hv, ui, ∀u, v ∈ V e
1
hu + λv, wi = (q(u + λv + w) − q(u + λv) − q(w))
2
1
= (f (u + λv + w, u + λv + w) − f (u + λv, u + λv) − f (w, w))
2
1
λ2

f (u,
= (  u)
 + λf
 (u, v) + f (u, w) + 
 λf u)
(v, 
+ f (v,
 v)
2
+ λf (v, w) + f (w, u) + λf (w, v) + 
f (w,
 w)

−f (u,
  − λf
u) v)
 (u,


− − λ2 v) − 

λf u)
(v, 
f (v,
 f (w,
 w))


1 λ
= (f (u, w) + f (w, u)) + (f (v, w) + f (w, v))
2 2
1
= (f (u, u) + f (u, w) + f (w, u) + f (w, w) − f (u, u) − f (w, w))
2
λ
+ (f (v, v) + f (v, w) + f (w, v) + f (w, w) − f (v, v) − f (w, w))
2

21
1
= (f (u + w, u + w) − f (u, u) − f (w, w))
2
λ
+ (f (v + w, v + w) − f (v, v) − f (w, w))
2
1 λ
= (q(u + w) − q(u) − q(w)) + (q(v + w) − q(v) − q(w))
2 2
= hu, wi + λ hv, wi , ∀u, v, w ∈ V, λ ∈ R.

Isso mostra que h , i é um produto interno.

Observação 2.3. Observe que, se conhecemos a aplicação bilinear f tal que


q(v) = f (v, v), então o produto interno da proposição acima também pode ser
expresso por hu, vi = 21 (f (u, v) + f (v, u)).

Voltemos ao exercício. A proposição acima motiva uma pseudo-métrica Rieman-


niana a partir da forma quadrática fornecida Q. Observe que f : Rn+1 ×Rn+1 →
R dada por

f (x, y) = −x0 y0 + x1 y1 + · · · + xn yn

é uma aplicação bilinear e que Q(x) = f (x, x), para todo x ∈ Rn+1 . Defina em
todo ponto p ∈ Rn+1 e para quaisquer vetores x, y ∈ Rn+1 ,
1
hx, yi∗ = (f (x, y) + f (y, x)) = f (x, y) = −x0 y0 + x1 y1 + · · · + xn yn .
2
Isso de fato define uma pseudo-métrica pois f f é bilinear simétrica (portanto
diferenciável) e não-degenerada (i.e. f (x, y) = 0, ∀y ∈ Rn+1 ⇒ x = 0).
Portanto, M ∗ = (Rn+1 , h , i) é uma variedade pseudo-Riemanniana. Denote
por ∇∗ e [ , ]∗ a conexão pseudo-Riemanniana e o colchete de M ∗ . Como
M ∗ é o Rn+1 na categoria de variedades diferenciáveis, e o colchete depende
apenas da estrutura diferenciável, temos que [ , ]∗ = [ , ], isto é, o colchete de
M = (Rn+1 , h , i). Dito isso, seja ∇ a conexão riemanniana de M . Mostraremos
que ∇ = ∇∗ . Para isso, pela unicidade fornecida pelo Teorema de Levi-Civita,
basta mostrar que ∇ é compatível com a pseudo-métrica de M ∗ e simétrica
com relação ao colchete de M ∗ . Temos3

∇X Y − ∇Y X = [X, Y ] = [X, Y ]∗ , ∀X, Y ∈ X(M ∗ ) = X(M ),

e, portanto, ∇ é simétrica em M ∗ . Lembre-se que

∂Y (p)
(∇X Y )(p) = , p ∈ Rn+1 .
∂X(p)

Mostremos que ∇ é compatível com h , i∗ . De fato, para todo p ∈ Rn+1 , e X,


3
Em particular, pelo Teorema de Schwarz, o colchete de Rn+1 é identicamente nulo!

22
Y = (Y0 , . . . , Yn ) e Z = (Z0 , . . . , Zn ) ∈ X(M ∗ ), temos

∂ hY, Zi∗ ∂
X hY, Zi∗ (p) = (p) = (−Y0 Z0 + Y1 Z1 + . . . Yn Zn ) (p)
∂X(p) ∂X(p)
∂Y0 (p) ∂Z0 (p) ∂Yn (p) ∂Zn (p)
=− Z0 (p) − Y0 (p) + ··· + Zn (p) + Yn (p)
∂X(p) ∂X(p) ∂X(p) ∂X(p)
∗
∂Y0 (p) ∂Yn (p)
 
= ,..., , (Z0 (p), . . . , Zn (p))
∂X(p) ∂X(p)
∂Z0 (p) ∂Zn (p) ∗
  
+ (Y0 (p), . . . , Yn (p)), ,...,
∂X(p) ∂X(p)
∗  ∗
∂Y (p) ∂Z(p)

= , Z(p) + Y (p),
∂X(p) ∂X(p)
= h(∇X Y )(p), Z(p)i∗ + hY (p), (∇X Z)(p)i∗
= (h∇X Y, Zi∗ + hY, ∇X Zi∗ ) (p),

∴ X hY, Zi∗ = h∇X Y, Zi∗ + hY, ∇X Zi∗ ,

e isso mostra a compatibilidade e concluímos que ∇∗ = ∇. Como a derivada



covariante induzida por uma conexão é única, teremos também que Ddt = dt D
,
isto é, a derivada covariante de campos ao longo de curvas induzida por ∇∗
é a mesma que a do Rn+1 . Logo, os transportes paralelos ao longo de curvas
também são os mesmos.

23
Capítulo 3

Geodésicas; Vizinhanças
Convexas

Exercício 1. (Geodésicas de superfícies de revolução). Indique por (u, v) as co-


ordenadas cartesianas de R2 . Mostre que a função ϕ : U ⊂ R2 → R3 dada por
ϕ(u, v) = (f (v) cos u, f (v) sen u, g(v)),
U = {(u, v) ∈ R2 ; u0 < u < u1 ; v0 < 0 < v1 },
onde f e g são diferenciáveis, com f 0 (v)2 + g 0 (v) 6= 0 e f (v) 6= 0, é uma imersão.
A imagem ϕ(U ) é a superfície gerada pela rotação em torno do eixo 0z da curva
(f (v), g(v)) e é chamada uma superfície de revolução S. As imagens por ϕ das curvas
u =constante e v =constante são chamadas meridianos e paralelos, respectivamente,
de S.
(a) Mostre que a métrica induzida nas coordenadas (u, v) é dada por
g11 = f 2 , g12 = 0, g22 = (f 0 )2 + (g 0 )2 .

(b) Mostre que as equações locais de uma geodésica γ são


d2 u 2f f 0 d u d v
+ = 0,
dt2  f2 dt dt
d2 v ff0 du 2 f 0 f 00 + g 0 g 00 d v 2
 
− 0 2 + 0 2 = 0.
dt2 (f ) + (g 0 )2 dt (f ) + (g 0 )2 dt

(c) Obtenha o seguinte significado geométrico das equações acima: a segunda


equação é, exceto para meridianos e paralelos, equivalente ao fato de que a
“energia” |γ 0 (t)|2 de uma geodésica é constante ao longo de γ; a primeira equação
significa que se β(t) é o ângulo orientado, β(t) < π, de γ com um paralelo P
intersectando γ em γ(t), então
r cos β = const.,
onde r é o raio do paralelo P (a equação acima é chamada relação de Clairaut).
(d) Use a relação de Clairaut para mostrar que uma geodésica de um parabolóide
(f (v) = v, g(v) = v 2 , 0 < v < ∞, −ε < u < 2π + ε),
que não é um meridiano, se auto-intersecta um número infinito de vezes.

24
Solução:
(a) Mostremos que ϕ : U → R3 é uma imersão. É claro que ϕ é diferenciável. Além
disso, se (u, v) ∈ U , então
 
−f (v) sen u f 0 (v) cos u
dϕ(u,v) =  f (v) cos u f 0 (v) sen u .
 
0 g 0 (v)

Se (x, y) ∈ R2 , então

dϕ(u,v) (x, y) = 0
⇒ (−xf (v) sen u + yf 0 (v) cos u, xf (v) cos u + yf 0 (v) sen u, yg 0 (v)) = (0, 0, 0)
⇒ −xf (v) sen u + yf 0 (v) cos u = 0 = xf (v) cos u + yf 0 (v) sen u.

Se cos u = 0, então −xf (v) sen u = 0 ⇒ x = 0 (pois f (v) 6= 0 6= sen u) e, pela


segunda equação, yf 0 (v) sen u = 0 ⇒ y = 0 (pois f 0 (v) 6= 0 pois f é imersão).
Portanto, (x, y) = (0, 0) e isso mostra que ϕ é imersão, neste caso. Suponha
agora que cos u 6= 0. Temos

xf (v) tan u = yf 0 (v) e − xf (v) = yf 0 (v) tan u,

que implica −xf (v) = (xf (v) tan u) tan u = xf (v)(tan u)2 ⇒ 0 = x(1 +
(tan u)2 ) ⇒ x = 0 ⇒ 0 = yf 0 (v) ⇒ y = 0 ⇒ (x, y) = (0, 0), o que prova
que ϕ é imersão, neste caso. Portanto, ϕ induz uma métrica Riemanniana em
U que será dada por
D E
g11 (u, v) = he1 , e1 i(u,v) = dϕ(u,v) e1 , dϕ(u,v) e1
= h(−f (v) sen u, f (v) cos u, 0), (−f (v) sen u, f (v) cos u, 0)i
= (f (v))2 ((sen u)2 + (cos u)2 ) = (f (v))2 ,
D E
g12 (u, v) = he1 , e2 i(u,v) = dϕ(u,v) e1 , dϕ(u,v) e2
= (−f (v) sen u, f (v) cos u, 0), (f 0 (v) cos u, f 0 (v) sen u, g 0 (v))

= 0,
D E
g22 (u, v) = dϕ(u,v) e1 , dϕ(u,v) e1
= (f 0 (v) cos u, f 0 (v) sen u, g 0 (v)), (f 0 (v) cos u, f 0 (v) sen u, g 0 (v))

= (f 0 (v))2 + (g 0 (v))2 .

(b) Calculemos os símbolos de Christoffel em U . Temos


1
 
" # 0
f2 0 f2
⇒ G−1

G= = 1 .
f 02 + g02

0 
0
f 02 + g02

Sabemos que
2
1X ∂ gjk ∂ gki ∂ gij
 
Γm
ij = + − g km
2 k=1 ∂xi ∂xk ∂xk

25
sendo g km a entrada correspondente da matriz G−1 .
Fazendo as contas, obtemos

f0
Γ111 = Γ122 = Γ212 = 0, Γ112 = ,
f
−f f 0 f 0 f 00 + g 0 g 00
Γ211 = , Γ222 = .
f 02 + g 02 f 02 + g 02

Assim, se γ : I → U , γ(t) = (u(t), v(t)) é uma geodésica, então (veja “equações


locais de uma geodésica”, Manfredo, pág. 69):
2
d2 u X d xi d xj
0= 2
+ Γ1ij
dt i,j=1
dt dt
2
d2 u X d xi d u d xi d v
 
= 2 + Γ1i1 + Γ1i2
dt i=1
dt dt dt dt
0 0
! !
d2 u >d u d u + Γ1 d u d v dv du >d v d v
Γ111
= 2 +  
12 + Γ121 Γ122
+ 
dt dt dt dt dt dt dt dt dt
d2 u f0 d u d v
= 2
+2 .
dt f dt dt
e
2
d2 v X d xi d xj
0= 2 + Γ2ij
dt i,j=1
dt dt
2
d2 v X d xi d u d xi d v
 
= 2 + Γ2i1 + Γ2i2
dt i=1
dt dt dt dt
0 0
! !
d2 v du du >d u d v >d v d u + Γ2 d v d v
= 2 + Γ211 Γ212
+  Γ221
+  
22
dt dt dt dt dt dt dt dt dt
ff0 f 0 f 00 + g 0 g 00
2 2
d2 v du dv
 
= 2 − 02 + .
dt f + g 02 dt f 02 + g 02 dt

(c)

(d) O raio do paralelo (f (v) cos u, f (v) sen u, g(v)) é igual a |f (v)| que, neste caso,
é igual a f (v) = v (pois 0 < v < ∞). Portanto, a relação de Clairaut fica
v cos β = cte. Ou seja, se γ(t) = (u(t), v(t)) é uma geodésica em U , então
v(t) = coscte
β(t) .

26

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