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23.A Comunicação Dos Mitos de Morte Nas Religiões - Fernando Ripoli PDF
23.A Comunicação Dos Mitos de Morte Nas Religiões - Fernando Ripoli PDF
Fernando Ripoli *
Resumo: Uma análise da comunicação dos mitos de morte nas religiões nos
proporcionará uma visão de como os participantes das três maiores religiões do
mundo (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo), apresentam e vivenciam as questões
da comunicação da morte na sua cultura e no seu cotidiano, cultura está que já está
presente na humanidade a mais de um milênio, iremos neste trabalho monográfico
apresentar uma visão condensada destas práticas, ritos e mitos, utilizados há
milênios por adeptos religiosos que creem piamente que tais coisas acontecem no
presente e no porvir. O mito está entrelaçado com a história da humanidade, e não
podemos deixar de fazer tais análises nas quais, nos proporcionara uma visão mais
próxima do que realmente os adeptos de tais religiões vivenciam no seu cotidiano.
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Bacharelado em Teologia – Faculdades EST/RS – Licenciando em Ciências Sociais – Universidade Metodista de
São Paulo/ UMESP; Especialista em Teologia e História do Protestantismo no Brasil – FTBSP; Especialista em
Ciências da Religião – PUCSP e Mestrando em Ciências da Religião – Literatura e Religião do Mundo Bíblico –
UMESP/SP. Perfil completo em http://lattes.cnpq.br/5951403420648430. Contato pelo e-mail:
fernandoripoli.ortodoxia@hotmail.com
Introdução
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1. ________. Filosofando. Introdução à filosofia. São Paulo. Editora Moderna. 1993. 21 pg.
2. __________. Filosofando. Introdução à filosofia. São Paulo. Editora Moderna. 1993. 25 pg.
3. Eliade, Mircea. Aspectos do Mito. São Paulo. Edições 70. 1986.123 pg.
4. Theissen, Gerd. A Religião dos primeiros cristãos. São Paulo. Paulinas. 2009. 4-45 pg.
1. Uma perspectiva do Mito
O mito fala apenas do que realmente ocorreu, portanto os mitos revelam sua
atividade criadora e desvendam a sacralidade e para Eliade uma definição pode-se
também como contar por meio da comunicação uma “história sagrada”, na maioria
das vezes descrevem as irrupções do sagrado, para ele a principal função do mito
consiste em revelar os modelos exemplares de todos os ritos e atividades humanas
significativas e que nas sociedades o mito ainda está vivo, efetivamente os mitos
narram não apenas a origem do mundo, mas também de todos os acontecimentos
primordiais em consequência dos quais o homem se converteu no que é hoje, todo
mito, independente da sua natureza, comunica um acontecimento que teve lugar in
illo tempore e constitui, por isso, um precedente exemplar para todas as ações e
“situações” que, depois, repetirão este acontecimento e na perspectiva do espírito
moderno, o mito – e com ele todas as outras experiências religiosas – anula a
“história”6.
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5. Eliade, Mircea. Mito e Realidade. São Paulo. Editora Perspectiva, 1972. 11 pg.
6. Eliade, Mircea. Tratado de História das Religiões. São Paulo. Martins Fontes. 2002. 350-351 pg.
7. Eliade, Mircea. O Sagrado e o Profano. São Paulo. Martins Fontes. 2001. 84 pg.
1.2 O Mito segundo Karen Armstrong
Para Karen Armstrong o mito é uma criação dos seres humanos, portanto
desde épocas muito antigas o ser humano se distingue pela capacidade de ter
pensamentos que transcendem sua experiência cotidiana, somos criaturas em
busca de sentido e de uma comunicação e outra característica peculiar da mente
humana é a capacidade de ter ideias e experiências que não podemos explicar
racionalmente, a imaginação é a faculdade que produz a religião e a mitologia, tanto
a mitologia quanto a ciência ampliam os horizontes do ser humano e nos leva a viver
mais intensamente neste mundo, e não a nos afastarmos dele, a mitologia em geral
é inseparável do ritual, pois, muitos mitos não fazem sentidos separados de uma
representação litúrgica que lhes dá vida, sendo, portanto incompreensíveis num
cenário profano. Podemos dizer que os mitos mais fortes se relacionam com o
extremo; eles nos forçam a ir além de nossa experiência. Há momentos em que nós
todos, de um modo ou de outro, temos de ir a um lugar aonde nunca fomos e de
fazer o que nunca fizemos, o desconhecido é tratado pelo mito e fala a respeito de
algo para o que inicialmente não temos palavras e contempla o âmago de imenso
silêncio, o mito não é uma história que nos contam por contar, porque ele nos
mostra como devemos nos comportar. A mitologia nos põe na atitude espiritual ou
psicológica correta para a ação adequada, neste mundo ou no outro. Por fim, toda
mitologia se comunica de outro plano que existe paralelamente ao nosso mundo e
foi criada para nos auxiliar a lidar com as dificuldades humanas mais problemáticas,
ajudando as pessoas a encontrarem seu lugar no mundo e sua verdadeira
orientação, também elaboramos uma hipótese, damos vida a ela por meio do ritual,
agimos a partir disso, contemplamos seu efeito em nossa vida e descobrimos que
atingimos uma nova compreensão no labirinto perturbador do mundo em que
vivemos. Na história da mitologia vemos que homens e mulheres, sempre que dão
um passo decisivo à frente revisam sua mitologia e fazem com que ela trate das
novas condições e vários desses mitos criados em sociedades que não poderiam
ser mais diferentes da nossa, contudo ainda tratam de nossos medos e desejos
essenciais, sendo assim, um mito é verdadeiro por ser eficaz, e não por fornecer
dados factuais, ele é essencialmente um guia e nos diz o que fazer para vivermos
de maneira completa8. Concluímos dizendo que para Armstrong o mito surge para os
homens quando adquiriram consciência de sua mortalidade.
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8. Armstrong, Karen. Breve História do Mito. São Paulo. Cia das Letras, 2005.
1.3 O Mito segundo Joseph Campbell
Hoje em dia, as pessoas se apegam a mitos que não lhes têm serventia
alguma, discutindo também o papel do sacrifício no mito que simboliza a
necessidade do renascimento, enfatizando a necessidade de cada um encontrar o
seu lugar sagrado neste mundo tecnológico e acelerado.
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Nota-se que o conceito da morte é pouco falado nos dias atuais encontramos
varias pessoas que professa uma religião, na comunicação entre o ser humano e
esta transição entre a morte é tão real como a vida, todos teremos que enfrentar um
dia, “é como tomar café pela manhã praticamente, o nosso corpo enquanto sustenta
a temperatura de 36° graus aproximadamente, estamos vivos, passou-se de
20°graus abaixo de zero estaremos mortos”, passaremos da vida física ou o existir,
para o não mais existir como vida física, sendo assim, qual é o valor da
comunicação deste ritual dentro destas culturas: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo
em relação a pós-morte?
John Bower
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11
Elwell, A. Walter. Enciclopédia Histórica - Teológica da Igreja Cristã. São Paulo. Vida Nova. 2009. 557 pg.
10
Coenen, Lothar; Brown, Colin. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. São Paulo. Vida
Nova. 2000. 1315 pg.
3.1 A Literatura Rabínica e a sua comunicação de mito
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12
Holm, Jean; Bowker, John. Ritos de passagem. Europa. Estudos Religiosos. 1994. 154 pg.
13
Ibid., pg. 155-156
Vemos que a cerimônia fúnebre há uma comunicação mítica ritualística “lugar
em território sagrado”, a ortodoxia judaica não permite a cremação dos corpos, eles
entendem que estão negando a ressurreição do corpo no porvir, está é praticamente
a visão escatológica no judaísmo, é visto que antes do inicio do enterro as pessoas
rasgam as suas roupas ou invés de se comunicarem verbalmente se comunicam em
sua expressão e logo em seguida se é iniciado sua benção, “Abençoado sejas,
Senhor nosso Deus, Rei do universo, o verdadeiro juiz”, (Barukh dayan há-emet),
está frase é usada por todos os judeus por saberem da morte de alguém, os
parentes mais chegados são os primeiros a lançar terra no caixão, após o funeral à
família volta para casa para fazer a refeição de costume, ovos cozidos e grãos de
bico.
Neste período Deus era louvado apesar da morte da pessoa, todos faziam
14
uma oração que deveria permanecer durante onze meses, e a sua finalidade é a
de ajudar a alma do falecido para abandonar o purgatório e a elevar-se aos céus.
Para os judeus, dado que a vida provém de Deus e está à disposição dele,
nada menos que o derramamento de sangue realizará a reconciliação e a
reparação, quando as coisas estiverem erradas ou quando forem cometidos
pecados que mereçam o mesmo castigo de morte que recebeu a desobediência
de Adão.
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14
Bowker, John. Os sentidos da morte. São Paulo. Paulus. 1995. 66 – 67.,pg.
4. O Cristianismo e a sua comunicação do ritual de morte.
Platão
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15
Elmell, A. Walter. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. São Paulo. Vida Nova., 2009. 558 .pg
16
Ibid., 559., pg
4.2 Os rituais de morte no cristianismo ocidental e a sua forma de
comunicar-se
18
Pearlman, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo.Vida.2009. 365-378,. pg.
1. O ritual de morte e a comunicação ritualística no Islamismo
“É possível encontrar estados sem muralhas, sem leis, sem moeda, sem escrita, mas um povo sem deus, sem credo, sem
práticas nem sacrifícios religiosos, eis algo que homem algum jamais viu”(Plutarco, filósofo grego).
No século VII, a península arábica era habitada por povos que levavam uma
vida nômade, divididos em tribos, incapazes de constituir uma federação mais ampla
e estável. Ao sul da península, no Iêmen, havia formas de sociedades mais
desenvolvidas e um importante porto, por ali passava todo o comércio vindo do
Oriente, que ganhava o interior da península através de caravanas de cameleiros
que iam até à Síria. Persas e etíopes disputavam a posse de pontos essenciais. Os
sassânidas (persas) tinham o monopólio19 comercial do oceano Índico e queriam
impedir a concorrência de Bizâncio que, pelo Egito, tentava infiltrar-se na região, em
decorrência, Meca tornara-se um centro comercial importantíssimo, rota de
passagem entre o Iêmen e a Síria e o atual Iraque. Portanto, os árabes não viviam
confinados como podemos imaginar, porém nas fronteiras das duas grandes
civilizações existentes então, eram politeístas e a religião absorvia essa realidade,
posto que sua fé refletisse um pouco de todas as crenças populares do Oriente.
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19
Bower, John. Os sentidos da morte. São Paulo. Paulus.1995. 122-123., pg.
20
Ibid., p. 125-126.
Esse período se torna um período de provação ou julgamento: “Nós não concedemos a nenhum
homem, antes de vós, a vida sem fim; assim, se vós morreis, viverão eles indefinidamente? Toda
pessoa viva provará a morte, e nós vos provaremos pelo mal e pelo bem como um julgamento, e
a nós retornareis”.
Com isso, notamos que a morte não é castigo, mas simplesmente ela leva um
estágio particular num processo muito mais longo, que culmina com o julgamento e
o juízo final, no cristianismo os cristãos também creem no juízo final, mas não
passaram por lá, agora os islâmicos já acreditam que terão de passar pelo juízo
final, o período da pessoa na sepultura não é discutido no corão, mas sim no Hadith,
nele está relatado que dois anjos chamados (Munkar e Nakir),vem para interrogar os
mortos, e pergunta ao morto: “ A QUEM ADORASTES?”, E QUEM É O VOSSO
PROFETA?, Se eles respondem Alá e Maomé, então eles descansam até o dia do
julgamento, mas os que tiverem rejeitado Deus e Maomé, serão punidos
imediatamente pelos anjos, ou fisicamente, e lhes são mostrado o tormento que os
espera depois do julgamento final, algumas palavras são expressas pelos
mulçumanos durante a vida.
“Certamente nós vos experimentaremos com alguma coisa de medo, de fome, de perda de
bens, vidas e frutos; mas, daí a boa noticia aos que suportam pacientemente, que dizem,
quando afligidos pela calamidade: Certamente que pertencemos a Deus e seguramente a
eles estamos voltando”.
Elwell, A. Walter. Enciclopédia Histórica- Teológica da Igreja Cristã. São Paulo: Vida
Nova, 2009.
Holm, Jean; Bowker, John. Ritos de passagem. Europa: Estudos Religiosos, 1994.
Terrim, Natale Aldo. Introdução ao estudo comparado das religiões. São Paulo:
Paulinas, 2003.
Theissen, Gerd. A religião dos primeiros cristãos, São Paulo: Paulinas, 2009.
Eliade, Mircea. Tratado de história das religiões. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
Armstrong, Karen. Breve história do mito. São Paulo: Cia das Letras, 2005.