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A comunicação dos mitos de morte nas religiões: uma perspectiva no

judaísmo, cristianismo e islamismo segundo uma análise de Mircea Eliade.

Fernando Ripoli *

Resumo: Uma análise da comunicação dos mitos de morte nas religiões nos
proporcionará uma visão de como os participantes das três maiores religiões do
mundo (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo), apresentam e vivenciam as questões
da comunicação da morte na sua cultura e no seu cotidiano, cultura está que já está
presente na humanidade a mais de um milênio, iremos neste trabalho monográfico
apresentar uma visão condensada destas práticas, ritos e mitos, utilizados há
milênios por adeptos religiosos que creem piamente que tais coisas acontecem no
presente e no porvir. O mito está entrelaçado com a história da humanidade, e não
podemos deixar de fazer tais análises nas quais, nos proporcionara uma visão mais
próxima do que realmente os adeptos de tais religiões vivenciam no seu cotidiano.

Palavra chave: Comunicação, Mito, História, Cultura, Religião e Religiosidade.

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*
Bacharelado em Teologia – Faculdades EST/RS – Licenciando em Ciências Sociais – Universidade Metodista de
São Paulo/ UMESP; Especialista em Teologia e História do Protestantismo no Brasil – FTBSP; Especialista em
Ciências da Religião – PUCSP e Mestrando em Ciências da Religião – Literatura e Religião do Mundo Bíblico –
UMESP/SP. Perfil completo em http://lattes.cnpq.br/5951403420648430. Contato pelo e-mail:
fernandoripoli.ortodoxia@hotmail.com
Introdução

Quando falamos de mito podemos verificar várias indagações sobre o tema e


logo nos vem à mente que o mito não é algo que ocorreu apenas entre os povos
primitivos nos primórdios da nossa civilização, nem apenas entre os gregos da
Antiguidade; o mito não é resultado de um delírio, nem uma mentira simplesmente,
porém, “... queremos mostrar que o mito ainda faz parte de nossa vida cotidiana
(sem qual for a sua fase), como uma das formas do existir humano...”1, no entanto,
uma outra vertente é no desenvolvimento da cultura humana, quando falamos de
mito e religião, é claro, não podemos fixar um ponto onde termina o mito e a religião
começa. Em todo curso de sua história, a religião permanece indissoluvelmente
ligada a elementos místicos e repassada deles2.

Comunicação, mito e razão se complementam mutuamente.

No entanto, o mito, recuperado no cotidiano do homem contemporâneo, não


se apresenta com a abrangência que se fazia sentir no homem primitivo. O
nascimento da reflexão permite a rejeição dos mitos prejudiciais ao homem, o mito
propõe, mas cabe à consciência dispor, sendo assim em outras palavras o mito não
é em si mesmo uma garantia de bondade, nem de moral e a sua função é revelar
modelos e fornecer, assim, uma justificação do Mundo e da existência humana. Por
isso, o seu papel na constituição do homem é tão importante3.

Os mitos expressam (se comunicam) com aquilo que é inquestionavelmente


“dogmático” em um grupo ou sociedade e quando falamos na transformação
‘histórica” do mito podemos dizer que o mito é introduzido na história e
historicamente transformado e principalmente no futuro mítico na atividade de Jesus,
isto é, o mito esclarece que o sobrenatural esta entretecido na história de Jesus4. O
mito é a veste “em forma de história” dessas ideias, a cuja realização toda a história
visa na comunicação entre o homem, a história, o mito e as religiões denominantes.

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1. ________. Filosofando. Introdução à filosofia. São Paulo. Editora Moderna. 1993. 21 pg.
2. __________. Filosofando. Introdução à filosofia. São Paulo. Editora Moderna. 1993. 25 pg.
3. Eliade, Mircea. Aspectos do Mito. São Paulo. Edições 70. 1986.123 pg.
4. Theissen, Gerd. A Religião dos primeiros cristãos. São Paulo. Paulinas. 2009. 4-45 pg.
1. Uma perspectiva do Mito

1.1 O Mito segundo Mircea Eliade

Segundo Mircea Eliade o mito designa, ao contrário, uma “história


verdadeira”, e ademais, extremamente preciosa por seu caráter sagrado, exemplar e
significativo, o mito é ou foi, até recentemente – “vivo” no sentido de que fornece os
modelos para a conduta humana, uma das funções do mito é também compreender
melhor uma categoria dos nossos contemporâneos.

Para Eliade “o mito é uma realidade cultural extremamente complexa, que


pode ser abordada e interpretada através de perspectivas múltiplas e
complementares5”.

O mito fala apenas do que realmente ocorreu, portanto os mitos revelam sua
atividade criadora e desvendam a sacralidade e para Eliade uma definição pode-se
também como contar por meio da comunicação uma “história sagrada”, na maioria
das vezes descrevem as irrupções do sagrado, para ele a principal função do mito
consiste em revelar os modelos exemplares de todos os ritos e atividades humanas
significativas e que nas sociedades o mito ainda está vivo, efetivamente os mitos
narram não apenas a origem do mundo, mas também de todos os acontecimentos
primordiais em consequência dos quais o homem se converteu no que é hoje, todo
mito, independente da sua natureza, comunica um acontecimento que teve lugar in
illo tempore e constitui, por isso, um precedente exemplar para todas as ações e
“situações” que, depois, repetirão este acontecimento e na perspectiva do espírito
moderno, o mito – e com ele todas as outras experiências religiosas – anula a
“história”6.

O mito é a história do que se passou, isto é, a narração daquilo que os


deuses ou seres divinos fizeram no começo do tempo, um mito é proclamar o que se
passou ab origine. Uma vez “dito” quer dizer, revelado, o mito torna-se verdade
absoluta7.

___________
5. Eliade, Mircea. Mito e Realidade. São Paulo. Editora Perspectiva, 1972. 11 pg.
6. Eliade, Mircea. Tratado de História das Religiões. São Paulo. Martins Fontes. 2002. 350-351 pg.
7. Eliade, Mircea. O Sagrado e o Profano. São Paulo. Martins Fontes. 2001. 84 pg.
1.2 O Mito segundo Karen Armstrong

Para Karen Armstrong o mito é uma criação dos seres humanos, portanto
desde épocas muito antigas o ser humano se distingue pela capacidade de ter
pensamentos que transcendem sua experiência cotidiana, somos criaturas em
busca de sentido e de uma comunicação e outra característica peculiar da mente
humana é a capacidade de ter ideias e experiências que não podemos explicar
racionalmente, a imaginação é a faculdade que produz a religião e a mitologia, tanto
a mitologia quanto a ciência ampliam os horizontes do ser humano e nos leva a viver
mais intensamente neste mundo, e não a nos afastarmos dele, a mitologia em geral
é inseparável do ritual, pois, muitos mitos não fazem sentidos separados de uma
representação litúrgica que lhes dá vida, sendo, portanto incompreensíveis num
cenário profano. Podemos dizer que os mitos mais fortes se relacionam com o
extremo; eles nos forçam a ir além de nossa experiência. Há momentos em que nós
todos, de um modo ou de outro, temos de ir a um lugar aonde nunca fomos e de
fazer o que nunca fizemos, o desconhecido é tratado pelo mito e fala a respeito de
algo para o que inicialmente não temos palavras e contempla o âmago de imenso
silêncio, o mito não é uma história que nos contam por contar, porque ele nos
mostra como devemos nos comportar. A mitologia nos põe na atitude espiritual ou
psicológica correta para a ação adequada, neste mundo ou no outro. Por fim, toda
mitologia se comunica de outro plano que existe paralelamente ao nosso mundo e
foi criada para nos auxiliar a lidar com as dificuldades humanas mais problemáticas,
ajudando as pessoas a encontrarem seu lugar no mundo e sua verdadeira
orientação, também elaboramos uma hipótese, damos vida a ela por meio do ritual,
agimos a partir disso, contemplamos seu efeito em nossa vida e descobrimos que
atingimos uma nova compreensão no labirinto perturbador do mundo em que
vivemos. Na história da mitologia vemos que homens e mulheres, sempre que dão
um passo decisivo à frente revisam sua mitologia e fazem com que ela trate das
novas condições e vários desses mitos criados em sociedades que não poderiam
ser mais diferentes da nossa, contudo ainda tratam de nossos medos e desejos
essenciais, sendo assim, um mito é verdadeiro por ser eficaz, e não por fornecer
dados factuais, ele é essencialmente um guia e nos diz o que fazer para vivermos
de maneira completa8. Concluímos dizendo que para Armstrong o mito surge para os
homens quando adquiriram consciência de sua mortalidade.

_________

8. Armstrong, Karen. Breve História do Mito. São Paulo. Cia das Letras, 2005.
1.3 O Mito segundo Joseph Campbell

Para o estudioso Campbell, quando falamos de mito ou mitologia ele afirma


dizendo que não precisamos dela para viver e ter uma boa vida, onde ter interesse
em algo só porque alguém disse que é importante, mas é claro, ela pode te capturar,
te resgatar, ou melhor, te fazer parte dela e o que ela pode fazer caso seja
capturado por ela, podemos enfatizar dizendo que antigamente em um campus de
uma universidade não podíamos ter acesso a notícias, pois, tudo era muito fechado,
onde as notícias se chocavam com o interior do ser humano quando elas eram
impostas.

Mitos são experiências de vida, contudo o que de fato conta é o valor de


“estar vivo”, porém, para Campbell conseguimos chegar nessa conclusão lendo
mitos e eles ensinam como você pode se voltar para dentro (para o seu interior), a
mitologia tem muito a ver com os estágios da vida, isto é, ele queria dizer que o que
de fato é mais simples e claro na vida de um ser humano é o que vemos, portanto é
o valor ao conhecimento atual, o que se aprende agora9.

Campbell compara a mensagem do mito com a história da criação de Gênesis


referindo-se com as histórias de criação no mundo que proporcionam também
visões interessantes sobre os conceitos de Deus, religião e eternidade. Por causa
das constantes mudanças mundiais, a religião pode ser transformada e novas
mitologias devem ser criadas.

Hoje em dia, as pessoas se apegam a mitos que não lhes têm serventia
alguma, discutindo também o papel do sacrifício no mito que simboliza a
necessidade do renascimento, enfatizando a necessidade de cada um encontrar o
seu lugar sagrado neste mundo tecnológico e acelerado.

________

9. Campbell, Joseph. O Poder do mito. São Paulo: Palas Athena, 2007.


2. O conceito religioso no ritual da morte

Nota-se que o conceito da morte é pouco falado nos dias atuais encontramos
varias pessoas que professa uma religião, na comunicação entre o ser humano e
esta transição entre a morte é tão real como a vida, todos teremos que enfrentar um
dia, “é como tomar café pela manhã praticamente, o nosso corpo enquanto sustenta
a temperatura de 36° graus aproximadamente, estamos vivos, passou-se de
20°graus abaixo de zero estaremos mortos”, passaremos da vida física ou o existir,
para o não mais existir como vida física, sendo assim, qual é o valor da
comunicação deste ritual dentro destas culturas: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo
em relação a pós-morte?

A morte é o destino mais comum do homem, e seu lado negativo


10
ocasionalmente se torna evidente, como quando a morte aparece personificada
como demônio ou monstro do submundo, todos os homens estão sujeitos a ela,
assim como a imortalidade é sorte natural dos deuses muito invejosos.

3. O Mito do ritual de morte no Judaísmo, como é esta comunicação?

“O que adianta ser justo se não há uma recompensa?”

John Bower

A morte tem preocupado o pensamento cristão durante séculos, quer em seus


aspectos físicos, como a interrupção da vida11 no corpo e como devemos preparar-
nos para ela, querem em seus aspectos espirituais como a separação de Deus e
como ela pode ser vencida? Estas perspectivas desenvolvem-se de uma variedade
de elementos na literatura Judaica.

A morte no judaísmo é normalmente vista como parte natural da existência


humana, Adão não era visto como imortal por criação, o alvo era viver uma vida
longa e ativa e morrer em paz.

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11
Elwell, A. Walter. Enciclopédia Histórica - Teológica da Igreja Cristã. São Paulo. Vida Nova. 2009. 557 pg.
10
Coenen, Lothar; Brown, Colin. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. São Paulo. Vida
Nova. 2000. 1315 pg.
3.1 A Literatura Rabínica e a sua comunicação de mito

Notamos que a literatura rabínica descreve este mundo como se tratando de


um mundo que está para vir, é visto que é dever do ser humano estar pronto para
entrar na sala do porvir, vemos que o judaísmo 12 pouco diz sobre a morte e o além,
eles se concentram na vida, a prova disto é que sempre que tem tempo no seu
cotidiano os judeus se ajuntam para beber, é o celebrar da vida no judaísmo.

3.2 A comunicação dos mitos rituais de morte na cultura Judaica

Observamos que no judaísmo a morte tem os seus rituais que são


13
relacionados na própria cultura judaica, em primeiro lugar; antes da morte a
pessoa teria que confessar os seus pecados que cometeu ao longo da sua vida, e
sempre que isso fosse possível teria que abandonar este mundo com as palavras do
shema em seus lábios: “ Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor ”, o
ato da morte no judaísmo é particularmente louvável, é inteiramente proibido
apressar a morte de qualquer pessoa na comunidade judaica, os judeus consideram
abominável a pratica da eutanásia.

A morte é definida quando o individuo para de respirar, ou que pode ser


testado com uma pena ou um espelho, mas recentemente alguns rabinos nos
Estados Unidos da América, aceitam a morte se for morte cerebral, muito embora
não seja aceito pelos judeus ortodoxos este tipo de morte, já que os órgãos da
pessoa em óbito sejam usados para transplantes, os mortos devem ser enterrados
de preferência no dia do óbito, deixar um cadáver sem enterrar é considerada
profanação, sendo normais no judaísmo, eles praticam a sua (shevra-kaddista; é
uma irmandade sagrada), são uns grupos que se comunicam com seus voluntários
de ambos os sexos para que se encarregarem de lavar e envolver os corpos em
sudários antes de colocá-los no caixão, após lavar o corpo da pessoa é colocado um
pouco de terra de Israel no catre, com o morto, significando simbolicamente que
todos os judeus possam ser enterrados em terra santa.

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12
Holm, Jean; Bowker, John. Ritos de passagem. Europa. Estudos Religiosos. 1994. 154 pg.

13
Ibid., pg. 155-156
Vemos que a cerimônia fúnebre há uma comunicação mítica ritualística “lugar
em território sagrado”, a ortodoxia judaica não permite a cremação dos corpos, eles
entendem que estão negando a ressurreição do corpo no porvir, está é praticamente
a visão escatológica no judaísmo, é visto que antes do inicio do enterro as pessoas
rasgam as suas roupas ou invés de se comunicarem verbalmente se comunicam em
sua expressão e logo em seguida se é iniciado sua benção, “Abençoado sejas,
Senhor nosso Deus, Rei do universo, o verdadeiro juiz”, (Barukh dayan há-emet),
está frase é usada por todos os judeus por saberem da morte de alguém, os
parentes mais chegados são os primeiros a lançar terra no caixão, após o funeral à
família volta para casa para fazer a refeição de costume, ovos cozidos e grãos de
bico.

É muito comum alguém encontrar a família na semana ainda em luto, que se


é chamado de (shiva), as pessoas fecham suas casas, usam roupas rasgadas
dentro de casa, se sentam em bancos baixos e os sapatos que calção não são feitos
de peles, eles se recusam a tomar banho, fazer a barba, e tapam os espelhos com
panos, são acesas velas, e após várias cerimônias em memória do defunto,
recebendo os parentes para os confortarem, assim que termina o “shiva”, até que se
completem trinta dias, a família se alivia do luto, mas a família não participa de festa
aonde existe música, e os filhos dão continuidade durante doze meses.

Neste período Deus era louvado apesar da morte da pessoa, todos faziam
14
uma oração que deveria permanecer durante onze meses, e a sua finalidade é a
de ajudar a alma do falecido para abandonar o purgatório e a elevar-se aos céus.

Para os judeus, dado que a vida provém de Deus e está à disposição dele,
nada menos que o derramamento de sangue realizará a reconciliação e a
reparação, quando as coisas estiverem erradas ou quando forem cometidos
pecados que mereçam o mesmo castigo de morte que recebeu a desobediência
de Adão.

Com isso, analisamos que a morte no judaísmo está relacionada com o


período bíblico no Antigo Testamento, a compreensão da comunicação religiosa
judaica a respeito da morte está ligada inseparavelmente ao contexto em que se
formou a autocompreensão de Israel, vemos que os judeus, em geral, continuavam
a clamar a Deus, mesmo não sendo possível levá-los para uma vida com Deus
depois da morte.

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14
Bowker, John. Os sentidos da morte. São Paulo. Paulus. 1995. 66 – 67.,pg.
4. O Cristianismo e a sua comunicação do ritual de morte.

“A Vida é uma probabilidade no porvir”.

Platão

Podemos analisar no cristianismo que os cristãos passam primeiro pela


experiência da morte em Cristo, mas agora está separado, não de Deus, mas do
mundo e do pecado que estão mortos. No cristianismo primitivo15 a morte para eles
era uma grande alegria, porque sabiam que estariam com Cristo no paraíso, eles
viviam consciente tanto da tragédia quanto da mortalidade da existência física
humana, bem como a vitória sobre a morte, da qual os cristãos participavam a morte
para eles era a porta da eternidade, isto é, a comunicação entre a vida, a morte e
Deus, todavia, um grande passo da estrada entre a alienação no pecado e a vida em
Deus.

4.1 A morte dos Mártires, comunicação até os dias atuais?

Podemos notar claramente que as mortes dos mártires eram celebradas e a


morte dos fiéis, mesmo sendo melancólicos demais para toda a comunidade,
quando morria alguém, eles comunicavam a todos a morte da pessoa com alegria,
a morte não era negada, nem se suprimia a tristeza, mas a morte era vista como
algo esperançoso, um evento com Cristo, para o qual as pessoas poderiam se
16
preparar, esta ideia produziu uma literatura sobre o jeito santo de morrer, e
existem varias descrições de pessoas nos seus pormenores antes de morrer
estavam felizes porque sabia que após fecharem os olhos neste mundo, abririam
na eternidade com o Senhor Jesus, para os cristãos primitivos a morte não era um
problema, mais sim, uma grande vitória e triunfo diante dos seus inimigos.

______________
15
Elmell, A. Walter. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. São Paulo. Vida Nova., 2009. 558 .pg

16
Ibid., 559., pg
4.2 Os rituais de morte no cristianismo ocidental e a sua forma de
comunicar-se

O cristianismo no ocidente criou-se em volta do mistério da morte entre duas


atitudes diferentes, em primeiro lugar, é a que torna a morte um drama único e uma
tragédia impar, podemos notar que a morte é o fim do homem, a concepção da
morte do cristianismo no ocidente é bem diferente dos cristãos do inicio do
cristianismo, enquanto os cristãos na igreja primitiva tinham prazer de morrer em
amor a Cristo, os cristãos da atualidade não querem nem mesmo falar sobre a
morte, ao contrário, aproveitar a vida e desfrutar das bênçãos de Deus na
modernidade, a realidade é diferente, mas ainda acredito que existem muitos
cristãos na atualidade que se passarem por um período de perseguição como
passou os nossos mártires no principio, terão prazer de morrerem por amor ao Cristo
que ressuscitou ao terceiro dia para nos dar vida eterna, em segundo lugar, o
cristianismo ocidental ou o homem moderno assume diante da morte uma atitude de
recusa, ninguém quer falar sobre o assunto, que é tão real para todos cristãos,
judeus, mulçumanos, hindus e etc., a morte é tão real como a vida, a vida se finda e
17
a morte começa a reinar, o reinado da morte só começa quando a vida se finda,
muitos não querem aceitar a morte, ela fica sempre no fim da fila de espera para
qualquer conversa a dois, mas quando ela chega não pede licença, somente diz, eu
sou a morte e acabou.

No cristianismo a morte é a separação da alma do corpo, e por meio dela o


homem é introduzido no mundo invisível, ( Evangelho de João 11,11; Dt 31,16), a
morte é a primeira manifestação visível do pecado, os justos ao morrer são
destinados a presença de Deus, o cristão enquanto18 está em vida terrena, ele
desfruta da fé em Deus, após a morte vai ao encontro do Senhor no paraíso, o
paraíso é descrito como: casa de meu pai, descanso, conforto, comunhão do lar
celeste, o país celestial, a Canaã prometida e muito mais, os cristãos ficavam felizes
se soubessem que iriam morrer por amor a Cristo, e podemos ver isto claramente na
História da Igreja Antiga quando os imperadores perseguiam os cristãos e os
matavam de forma cruel na frente da sociedade romana de sua época, os cristãos
eram massacrados, torturados por amor ao seu criador, e sabemos que para eles o
morrer é ganho na presença do seu Cristo que ressuscitou ao terceiro dia e vive
para todo o sempre, está é basicamente algumas argumentações do cristianismo
sobre a morte.
17
Terrim, Natale Aldo. Introdução ao estudo comparado das religiões. São Paulo. Paulinas. 2003. 185-187.,pg.

18
Pearlman, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo.Vida.2009. 365-378,. pg.
1. O ritual de morte e a comunicação ritualística no Islamismo

“É possível encontrar estados sem muralhas, sem leis, sem moeda, sem escrita, mas um povo sem deus, sem credo, sem
práticas nem sacrifícios religiosos, eis algo que homem algum jamais viu”(Plutarco, filósofo grego).

No século VII, a península arábica era habitada por povos que levavam uma
vida nômade, divididos em tribos, incapazes de constituir uma federação mais ampla
e estável. Ao sul da península, no Iêmen, havia formas de sociedades mais
desenvolvidas e um importante porto, por ali passava todo o comércio vindo do
Oriente, que ganhava o interior da península através de caravanas de cameleiros
que iam até à Síria. Persas e etíopes disputavam a posse de pontos essenciais. Os
sassânidas (persas) tinham o monopólio19 comercial do oceano Índico e queriam
impedir a concorrência de Bizâncio que, pelo Egito, tentava infiltrar-se na região, em
decorrência, Meca tornara-se um centro comercial importantíssimo, rota de
passagem entre o Iêmen e a Síria e o atual Iraque. Portanto, os árabes não viviam
confinados como podemos imaginar, porém nas fronteiras das duas grandes
civilizações existentes então, eram politeístas e a religião absorvia essa realidade,
posto que sua fé refletisse um pouco de todas as crenças populares do Oriente.

Em Medina, já não é só a pregação de uma fé. Muhammad organiza uma


comunidade dentro dos princípios islâmicos, cuja lei não está dissociada da fé, posto
que sua origem é divina. Ao morrer, em 632 d.C, ele tinha deixado uma religião
consciente de sua especificidade, esboçara em um regime social externo e superior
à organização social e unificara a Arábia, coisa até então inconcebível. Toda a
Arábia havia se tornada muçulmana e os árabes já não mais estavam divididos entre
a lealdade ao Islã ou às tribos, porque todos eram muçulmanos.

Podemos observar que o islamismo cresceu assustadoramente por todos os


quatro cantos da terra, nos cinco continentes existe pessoas20 que professam fazer
parte do Islã, mas qual é a sua concepção da morte? Com plena certeza tem uma
concepção concreta em relação à morte, porque em primeiro lugar, eles são muito
bem organizados em relação daquilo que eles creem e praticam.

Conclui-se dizendo que o propósito da morte no Islã, é por um limite em um


período de adiantamento, no qual os indivíduos estão livres para direcionar as suas
vidas para o “sirat ulmustagin”, que é a trilha reta que faz retornar a Deus.

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19
Bower, John. Os sentidos da morte. São Paulo. Paulus.1995. 122-123., pg.

20
Ibid., p. 125-126.
Esse período se torna um período de provação ou julgamento: “Nós não concedemos a nenhum
homem, antes de vós, a vida sem fim; assim, se vós morreis, viverão eles indefinidamente? Toda
pessoa viva provará a morte, e nós vos provaremos pelo mal e pelo bem como um julgamento, e
a nós retornareis”.

Com isso, notamos que a morte não é castigo, mas simplesmente ela leva um
estágio particular num processo muito mais longo, que culmina com o julgamento e
o juízo final, no cristianismo os cristãos também creem no juízo final, mas não
passaram por lá, agora os islâmicos já acreditam que terão de passar pelo juízo
final, o período da pessoa na sepultura não é discutido no corão, mas sim no Hadith,
nele está relatado que dois anjos chamados (Munkar e Nakir),vem para interrogar os
mortos, e pergunta ao morto: “ A QUEM ADORASTES?”, E QUEM É O VOSSO
PROFETA?, Se eles respondem Alá e Maomé, então eles descansam até o dia do
julgamento, mas os que tiverem rejeitado Deus e Maomé, serão punidos
imediatamente pelos anjos, ou fisicamente, e lhes são mostrado o tormento que os
espera depois do julgamento final, algumas palavras são expressas pelos
mulçumanos durante a vida.

“Certamente nós vos experimentaremos com alguma coisa de medo, de fome, de perda de
bens, vidas e frutos; mas, daí a boa noticia aos que suportam pacientemente, que dizem,
quando afligidos pela calamidade: Certamente que pertencemos a Deus e seguramente a
eles estamos voltando”.

Podemos concluir esta parte que o dia do julgamento, todos receberam a


recompensa exatamente e precisamente de acordo com o registro, esse é um dos
mais insistentes temas do corão, como a breve citação: “Temei o dia em que
voltarão para Deus, então, todos os nafs receberão a recompensa conforme tiveram
merecido, e não serão enganados”, está declaração é bem parecida com o que o
apóstolo Paulo escreve para a igreja que está em Corinto, em sua segunda epistola
cap. 5,10 “Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de
Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do
corpo”.

Os mulçumanos acreditam que ao nascerem eles estão nas mãos de Deus,


assim também ao morrer também estão, existe uma tradição entre os mulçumanos
que os mortos têm que ser enterrados no mesmo dia que morrem, de preferência
antes do por do sol, os crentes islâmicos nunca são cremados, eles tem também um
rito muito importante, que o morto é lavado de três a cinco vezes antes de ser
enterrado, este ethós (costume) é muito parecido com o da cultura judaica,
possivelmente tenha se copiado esta tradição do judaísmo.
Conclusão

Podemos observar neste trabalho monográfico, que a comunicação dos mitos


de morte é reverenciada principalmente pela cultura do judaísmo, cristianismo e
islamismo, em todas elas as pessoas são cuidadas de uma forma muito especial
após a morte, ainda que a morte não seja uma coisa que as pessoas gostam de
conversar ou dialogar, porém, esta comunicação existe mesmo que não seja em
muitas vezes comunicável, contudo, se é necessário falar (comunicar-se) sobre está
tão importante fase da vida que todos teremos que passar um dia, a morte é real
assim como a vida é real, todavia as pessoas não dão a mínima atenção para isto,
não se preparam para este dia, o ser humano se prepara para tudo, para se casar,
por uma bela profissão, criarem filhos, por planejarem viagens para fora do país, e
muitas vezes não se prepara para o dia da morte, ela vem sem ser convidada, num
planejamento do humano, que aparentemente está tudo bem, quando menos espera
a morte chega para entrar em cena na vida do ser humano e dar continuidade nesta
comunicação no porvir, seja ele no sheol, no paraíso ou no além...
Referências Bibliográficas

Elwell, A. Walter. Enciclopédia Histórica- Teológica da Igreja Cristã. São Paulo: Vida
Nova, 2009.

Holm, Jean; Bowker, John. Ritos de passagem. Europa: Estudos Religiosos, 1994.

Bowker, John. Os sentidos da morte. São Paulo: Paulus,1995.

Terrim, Natale Aldo. Introdução ao estudo comparado das religiões. São Paulo:
Paulinas, 2003.

Coenen, Lothar; Brown, Colin. Dicionário Internacional de Teologia do Novo


Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2000.

Pearlman, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo: Vida, 2009.

________. Filosofando Introdução à filosofia. São Paulo: Editora Moderna, 1993.

Eliade, Mircea. Aspectos do Mito. São Paulo: Edições 70, 1986.

Theissen, Gerd. A religião dos primeiros cristãos, São Paulo: Paulinas, 2009.

Eliade, Mircea. Mito e realidade. São Paulo: Editora Perspectiva, 1972.

Eliade, Mircea. Tratado de história das religiões. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

Eliade, Mircea. O Sagrado e o Profano. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

Campbell, Joseph. O poder do mito. São Paulo: Palas Athena, 2007.

Armstrong, Karen. Breve história do mito. São Paulo: Cia das Letras, 2005.

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