Em culturas variadas o médico e o músico são representados
por uma mesma imagem ou símbolo. O Imperador Amarelo (na antiga China) é considerado o fundador da medicina e da música. Na mitologia grega, Apolo simboliza a estreita relação que existe entre a música e a medicina. O centauro Quíron aprendeu a arte da medicina com Apolo e tratava doenças variadas com os sons de sua lira. O que tudo isto nos revela? A música como medicina é um tema muito antigo. Em alguns papiros egípcios foram encontrados tratamentos musicais para a infertilidade feminina. Também foram encontrados papiros que revelavam a utilização de sons e de músicas no tratamento de distúrbios mentais e emocionais. Atualmente há o reconhecimento de que a música tem efeitos terapêuticos e curativos. Dentro da visão chinesa encontramos informações muito valiosas de como os sons podem ser úteis no tratamento de alguns sintomas ou doenças. A medicina tradicional oriental reconhece cinco elementos que representam cinco arquétipos cósmicos: madeira, fogo, metal, terra, metal e água. Cada elemento está relacionado a uma nota que por sua vez interage com determinados órgãos e vísceras. A musicoterapia, portanto, já era pratica da na antiga China. Cada nota da escala pentatônica, neste referencial, tem o poder de influenciar as emoções e o corpo humano. Os cinco sons (Gong, Shang, Jiao, Zhi e Yu) estão relacionados aos cinco elementos. Também existe uma relação entre os instrumentos musicais e esses arquétipos universais ou elementos cósmicos. Os tambores estão relacionados ao elemento água, as flautas de bambu ao elemento madeira, as cítaras ao fogo, os gongos de bronze ao elemento metal e os sons dos vasos, cerâmicas e ocarinas ao elemento terra. Para tratar os rins, por exemplo, os tambores são aconselhados; os sons da flauta ajudam a tirar o excesso de chi ou energia vital do fígado. Os instrumentos sonoros são também considerados instrumentos terapêuticos. Quanto às notas musicais, a medicina vibracional chinesa estudou as relações entre as notas musiicais e os elementos da natureza. A nota “Do” está associada ao elemento madeira (fígado e vesícula), a nota “Mi” (que ressona no baço e no pâncreas) ao elemento terra, a nota “Sol” (coração e intestino delgado) ao elemento fogo, “Ré” (pulmão e intestino grosso) ao elemento metal e a nota “Lá” (que ressona nos rins e bexiga) ao elemento água. Nota-se que a música, segundo o referencial chinês, age diretamente no sistema psicossomático. Para a medicina chinesa existe uma relação direta entre sons, intervalos musicais, energia e saúde. A saúde como um todo depende da harmonia de duas polaridades cósmicas que também se manifestam no microcosmo humano: uma mais ativa e masculina (yang) e a outra mais receptiva e feminina (yin). O equilíbrio destas duas forças promove saúde e felicidade. Os intervalos musicais podem ser usados como instrumentos de harmonização destas duas polaridades yin-yang da mesma força ou energia Chi. Os intervalos de quinta justa, quarta e sexta maior, por exemplo, possuem natureza yang. São úteis na tonificação e na estimulação quando há deficiência de energia em algum órgão ou víscera. Os intervalos de terça menor, sexta menor e sétima menor possuem natureza yin e, portanto, possuem uma função mais sedativa (capacidade de tirar o que está em excesso). Quando alguns órgãos ou vísceras estão com excesso de energia, esses intervalos (terça menor, sexta menor e sétima menor) podem ser usados dentro do processo de acupuntura. Quando há falta de energia são usados os outros intervalos. Como isto pode ser feito? Um diapasão é colocado no ponto do meridiano (canal por onde flui o chi ou energia vital) que precisa ser tratado e outro no ponto seguinte do mesmo meridiano, tudo isso simultaneamente. Para tratar um excesso de energia nos meridianos do fígado ou da vesícula, por exemplo, coloca-se um diapasão que vibra a nota “Dó” no ponto diagnosticado e no ponto seguinte um diapasão que vibra em “Mi”. Esse intervalo de terça criado entre os dois pontos produzirá um efeito de sedação – tirando o excesso de chi do meridiano do fígado ou da vesícula. A acupuntura musical utiliza a estimulação sonora nos pontos de energia indicando que o intervalo musical cria um tipo específico de movimento da energia. O encontro da arte com a ciência possibilita a emergência de novas terapias e intervenções clínicas que podem ser extremamente favoráveis na cura e no tratamento das diferentes doenças. A medicina tradicional chinesa e muitas outras medicinas realizaram esse encontro há milênios. Essas informações revelam que do encontro do “verbo” (som) com a “carne” (matéria) nascerá a harmonia e a saúde.