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Figuras afins

O enriquecimento sem causa fica mais claro quando se delimite perante figuras afins, sendo
particularmente delicadas as suas fronteiras com a responsabilidade civil.
O enriquecimento sem causa visa remover o enriquecimento, enquanto que a responsabilidade intenta
suprimir o dano.
O enriquecimento assenta em pressupostos objectivos, que prescindem da vontade do obrigado à
restituição, enquanto que a responsabilidade civil implica elementos subjectivos: quer na ilicitude (um
facto voluntário contra o Direito), quer na culpa (um juízo de censura que recai sobre o agente).
O enriquecimento tem previsões específicas e natureza subsidiária, enquanto que a responsabilidade
civil dispõe de uma previsão genérica e funciona sempre que se realizem os seus pressupostos.
A obrigação de restituir o enriquecimento obedece a regras próprias, que partem do montante do
enriquecimento, enquanto que a obrigação de indemnizar assenta no dano imputável.
As dogmáticas do enriquecimento e da responsabilidade civil são totalmente diversas.

Existe historicamente uma zona de sobreposição entre o enriquecimento sem causa e a gestão de
negócios.
À partida, o gestor não tem título (“causa”) para se imiscuir nos negócios do dominus, sendo que, caso
o faça e com êxito, este ficará enriquecido, devendo restituir o benefício ao gestor, pelo menos até à
medida do dano. O enriquecimento sem causa tem potencialidades que lhe permitiram reduzir
dogmaticamente a velha actio contraria negotiorum gestorum. Sucede que, por sortilégios históricos, a
gestão de negócios talhou o seu próprio caminho, indo mais longe do que o enriquecimento.
A delimitação é negativa, não funcionando na área de aplicação da gestão, numa ocorrência de resto
facilitada pela natureza subsidiária do instituto (art.º 474.º, CC). Pontualmente, o enriquecimento sem
causa faz, todavia, a sua aparição da área da gestão de negócios: quando não se verifiquem os
requisitos dela (art.º 468.º, n.º 2, C), não podendo o gestor valer-se da actio contraria quando a gestão
seja irregular, quedando, ainda, o enriquecimento.
O enriquecimento sem causa também se distingue da reivindicação: quer conceitual, quer
praticamente. No enriquecimento sem causa há uma acção in personam em que, como causa de pedir,
se apresentam os requisitos do artigo 473.º; na reivindicação, a acção é real (art.º 1311.º, CC), sendo a
causa de pedir, na prática, uma aquisição originária do direito real invocado.

O Direito português, pelo tratamento diferenciado que dá à repetição do indevido, coloca ainda o
problema da sua diferenciação perante outros deveres de restituição, designadamente os derivados da
nulidade ou da anulação do negócio (art.º 289.º, n.º 1, CC) e os decorrentes da resolução de um
contrato (art.º 433.º, CC).

Requisitos gerais do enriquecimento sem causa

Menezes Cordeiro entende que, contrariamente ao defendido na doutrina alemã e por Menezes Leitão,
existe uma concepção unitária do enriquecimento sem causa, atendendo à falta de contraposição entre o
enriquecimento por prestação e os de “tipo diverso”.
O enriquecimento sem causa é feito de distinções subtis, que exigem uma precisão elevada de
linguagem.

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