Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Índice
PRIMEIRA PARTE
SEGUNDA PARTE
v
vi 50 Casos Reais de Administração
TERCEIRA PARTE
QUARTA PARTE
QUINTA PARTE
SEXTA PARTE
SÉTIMA PARTE
OITAVA PARTE
Peter F. Drucker
primeira parte
Desempenho
nas empresas
1
Caso 1
Qual é o nosso negócio?
N
as lembranças de Bill Callahan, ele sempre trabalhou no comér-
cio varejista, sempre viveu dentro de lojas. Seu pai fora dono de
um pequeno açougue no sul de Filadélfia, e foi lá que o peque-
no Bill aprendeu a andar. Foi lá que começou a trabalhar logo que teve
idade para segurar uma vassoura. Nos tempos de estudante, primeiro
no ginásio, depois no colégio e na faculdade, trabalhou todos os fins
de semana no mercado da sua cidade. Quando serviu o exército, du-
rante a Guerra da Coreia, viu-se quase que automaticamente dirigindo
o armazém e a cantina dos soldados. E Bill deliciou-se com cada ins-
tante da sua vivência; na verdade, sua ideia de paraíso era um enorme
supermercado com máquinas registradoras tilintando sem cessar.
Desde os oito ou nove anos, Bill já sabia que iria montar e ser dono
de uma rede varejista. E pôs-se a trabalhar para isso no dia em que
foi dispensado do exército, em meados dos anos cinquenta. Mas ele
também sabia que sua rede seria muito diferente de todas as outras,
pois tinha profundas convicções quanto ao que determina o sucesso
de uma rede varejista.
— Nenhum lojista tem como oferecer mercadorias melhores ou
exclusivas — argumentava. — O que ele pode fazer é: primeiro, tornar
o ato de fazer compras mais agradável, mais gostoso, mais divertido;
e, segundo, transformar a loja num lugar onde as pessoas gostam de
trabalhar e que considerem como seu.
Isso, de acordo com Bill Callahan, significa três coisas. Um: nenhu-
ma rede pode ser constituída por mais do que um punhado de lojas;
3
4 50 Casos Reais de Administração
Vinte anos depois de abrir sua primeira loja, Bill Callahan organi-
zou a Callahan Associates, uma companhia formada por quatro redes,
um total de quarenta lojas e quase vinte milhões de dólares em vendas.
Cada uma das redes era dirigida por seu próprio gerente-geral que
começara como repositor ou balconista e galgara a hierarquia admi-
nistrativa da loja. Juntamente com Callahan, um diretor financeiro e
um diretor de pessoal (todos ex-gerentes de loja, que haviam come-
çado por baixo suas carreiras na organização) constituíam a comissão
executiva da companhia. Os gerentes-gerais tinham uma pequena par-
ticipação nos lucros da Callahan Associates e uma participação subs-
tancial nos lucros de suas redes. Cada gerente de loja subordinado a
eles tinha, por sua vez, uma pequena participação nos lucros da rede
e uma participação substancial nos lucros da loja. E assim sucessiva-
mente, hierarquia abaixo, para todos os funcionários com mais de de-
zoito meses de casa que estivessem inscritos em algum plano de par-
ticipação nos lucros.
Callahan acreditava convictamente que uma empresa precisa ex-
pandir para criar oportunidades de promoções a seus elementos. Mas
como ele também acreditava que nenhuma rede deve crescer além do
ponto em que um só indivíduo é capaz de administrá-la facilmente e de
conhecer cada um de seus ângulos e facetas, era preciso buscar inten-
cionalmente novos negócios a cada quatro ou cinco anos. Dessa forma,
no outono de 1974 (quase exatamente vinte anos após inaugurar sua
primeira loja) Bill Callahan começou a sondar um novo negócio e aca-
bou se concentrando em dois mais promissores: uma rede de lojas de
roupas de “lazer campestre” (jeans, botas, camisas de cowboy etc.) e uma
rede de restaurantes populares que oferecia pratos simples (churrasco,
rosbife, frango etc.). Entretanto, ele sabia que só deveria embarcar em
um empreendimento de cada vez; ele aprendera como é difícil pôr em
andamento um novo negócio e sabia que teria de dedicar a maior parte
do seu tempo a este durante os dois ou três primeiros anos.
A comissão executiva da Callahan Associates tinha como política
tomar todas as principais decisões por unanimidade. No passado isso
havia sido mera formalidade: os membros seguiam as ideias de Bill.
Mas, ao apresentar os novos planos de expansão, viu-se inesperada-
mente frente a uma grave oposição. Todos concordavam que era hora
de lançar um novo empreendimento, que era preciso se concentrar
6 50 Casos Reais de Administração
comentários de DRUCKER
Os dois grupos cometeram o erro de se concentrarem nos pontos fra-
cos, isto é, nas coisas que a Callahan Associates não sabia fazer, nunca
fez e teria que aprender a fazer. Nenhuma das partes perguntou: “Qual
é a nossa competência? Quais são os nossos pontos fortes? O que de
bom podemos pôr para funcionar? Em que tipos de negócios estes
aspectos positivos podem se tornar competitivos? Será que somos
primordialmente compradores para os nossos clientes? (Tal qualidade
seria fundamental no ramo da moda, mas quase irrelevante numa rede
de restaurantes.) Ou será que somos primordialmente pessoas que sa-
bem organizar e sistematizar?” (E é isso que uma rede de restaurantes
requer.) “Varejo”, “supermercado” e “rede de lojas” são termos opera-
cionais. Nenhuma dessas definições permite que se tome uma decisão
comercial com significado claro ou chance de êxito.
Caso 2
Qual é o potencial de crescimento de um negócio?
U
ma tradicional panificadora e confeitaria, cujos pães e bolos
eram amplamente distribuídos em toda a região metropolitana
de uma das principais cidades americanas, foi comprada por
uma das empresas “hiperdinâmicas” daquela época de euforia dos
conglomerados no final dos anos sessenta. O valor de mercado das
ações do panifício era oito vezes superior aos lucros; o conglomerado
fizera uma oferta irresistível de comprá-las pelo equivalente a catorze
vezes os lucros, pagando com suas próprias ações (cujo valor de mer-
cado era então trinta e sete vezes maior que os lucros). Todos assim
ficaram, ou deveriam ter ficado, contentes. O diretor do panifício, um
senhor vigoroso de meia-idade, membro da família que fundara o es-
tabelecimento (era neto do imigrante sueco que começara o negócio
por volta de 1890), concordou em permanecer no cargo com um con-
trato de cinco anos.
Seis meses depois de realizada a transação, esse homem foi con-
vidado para uma reunião com o presidente do conglomerado em sua
sede de Nova York.
— Você bem sabe, John — começou o presidente do conglomera-
do —, que nossa política é exigir de cada uma de nossas divisões um
crescimento de 10 por cento ao ano, e um retorno sobre o investimento
de pelo menos 15 por cento antes dos impostos. Sua divisão vem cres-
cendo a apenas um ou dois por cento ao ano, e sua rentabilidade só
atinge 7 por cento antes dos impostos: isso é o mesmo que consegui-
ríamos aplicando na poupança. Nossos assessores estão preparados
7
8 50 Casos Reais de Administração
É possível alguém ficar satisfeito com um negócio que rende menos que
o custo mínimo de capital e que não tem condições de levantar o dinheiro
que necessita para se tornar eficiente? Em caso negativo, há algo a ser feito?
O quê? E quem está com a razão: aquele que afirma que este tipo de negócio
não pode gerar um lucro de 15%, ou aquele que acredita que, se o mercado
existe, a administração tem a obrigação de obter um retorno capaz de atrair
o capital necessário? Estarão ambos errados? Ou podem ambos estar certos?
Desempenho nas empresas 9
comentários de DRUCKER
Ambos estão certos. E ambos estão errados. Os lucros de todo e qual-
quer negócio têm que cobrir os custos do capital – de outra forma sua
subsistência econômica estará sendo destruída e a autorrenovação se
tornará impossível. Mas uma panificadora jamais será uma empresa de
crescimento explosivo, não importa o que se faça com ela (ao menos
não num país desenvolvido, onde o consumo de pão diminui à medida
que aumentam as rendas e o padrão de vida). Um negócio assim deve
ser dirigido de modo a minimizar os custos e maximizar a entrada de
dinheiro. Deve ser dirigido como o negócio terra a terra que é – e isso
significa fotos da Playboy, e não Modiglianis nas paredes; cerâmica, e
não carpetes no chão; e todo o resto (especialmente pessoal e despesas
administrativas) estabelecido de acordo com essa linha.
Caso 3
Estratégia para pesquisa e os objetivos empresariais
T
rês companhias farmacêuticas – Able, Baker e Charlie – estão en-
tre as empresas mais bem-sucedidas do mundo dentro do setor.
A Able e a Baker são gigantescas; a Charlie é uma firma de mé-
dio porte que vem crescendo rapidamente. As três empresas dedicam
aproximadamente a mesma porcentagem de suas receitas à pesquisa.
Mas aqui encerra-se a similaridade; cada uma concebe a atividade de
pesquisa de uma maneira diferente.
A Able (a mais antiga das três, líder dentro do seu setor desde o fi-
nal da Primeira Guerra, e também a mais internacional de todas) dedi-
ca uma boa parte do seu dinheiro de pesquisa a uma área específica de
cada vez. Esta área é escolhida quando as pesquisas puras realizadas
pelas universidades indicam pela primeira vez um verdadeiro avanço
científico. Trata-se de uma decisão empresarial extraordinariamente
arriscada. A seguir, muito antes de os produtos comerciais tornarem-
-se disponíveis ao público, contrata as pessoas mais capazes do campo
(quase sempre aqueles mesmos que foram responsáveis pelo avanço
teórico) e as põe para trabalhar. Sua meta é tornar-se líder desde os
primórdios das possibilidades do produto, dominando o mercado e
mantendo durante anos esta posição. Porém, fora destas áreas a em-
presa não aplica dinheiro algum em pesquisa e não pretende exercer
qualquer influência.
Esta estratégia teve início na década de 1920, quando o primeiro
trabalho sobre vitaminas foi publicado. A empresa contratou os quími-
cos responsáveis, vencedores do prêmio Nobel, e atraiu os bioquími-
10
Visite a página deste livro na
Cengage Learning Brasil e
conheça também todo o nosso
catálogo
ISBN 13 978-85-221-0959-3
ISBN 10 85-221-0959-1
9 788522 109593