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Polinizadores na agricultura

Ênfase em abelhas
Polinizadores na agricultura
Ênfase em abelhas

Coordenação
Dra Maria Cristina Gaglianone
Grupo de Pesquisas em Ecologia de Abelhas e Polinização
Laboratório de Ciências Ambientais – LCA
Centro de Biociências e Biotecnologia – CBB
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro

Autores
Marcelita França Marques
Giselle Braga Menezes
Mariana Scaramussa Deprá
Geovana Carla Girondi Delaqua
Anna Pazini Hautequestt
Maira Coelho Moura de Moraes

Funbio
Rio de Janeiro, 2015
Este material foi produzido pelo Grupo de Pesquisa em Ecologia de Ficha técnica
Abelhas e Polinização da Universidade Estadual do Norte Fluminense
COORDENAÇÃO EDITORIAL
Darcy Ribeiro, como parte do Projeto “Conservação e Manejo de
Ceres Belchior
Polinizadores para a Agricultura Sustentável, através da Abordagem
Vanina Zini Antunes de Mattos
Ecossistêmica”. Este Projeto é apoiado pelo Fundo Global para o Meio Danielle Calandino
Ambiente (GEF), sendo implementado em sete países: África do Sul,
Brasil, Gana, Índia, Nepal, Paquistão e Quênia. O Projeto é coordenado REVISÃO TÉCNICA
em nível global pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação Ceres Belchior
Comitê Editorial do MMA
e Agricultura (FAO), com apoio do Programa das Nações Unidas para
Vanina Antunes
o Meio Ambiente (PNUMA). No Brasil, é coordenado pelo Ministério
do Meio Ambiente (MMA), com apoio do Fundo Brasileiro para a PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO
Biodiversidade (FUNBIO). Luxdev

EDITOR
Fundo Brasileiro para a Biodiversidade
– FUNBIO

A reprodução total ou parcial


desta obra é permitida desde que
citada a fonte. VENDA PROIBIDA.

Catalogação na Fonte
Fundo Brasileiro para a Biodiversidade – Funbio

P823a Polinizadores na agricultura: ênfase em abelhas / Marcelita França Marques… [et


al.], coordenação Maria Cristina Gaglianone. – Rio de Janeiro: Funbio, 2015.

36 p. : il. color.
ISBN 978-85-89368-23-0

1. Agricultura. 2. Polinização por inseto. 3. Abelhas. 4. Polinizadores I.


Marcelita França Marques. II. Maria Cristina Gaglianone. II. Título.

CDD 595.799

Capa: Abelhas Xylocopa na flor do maracujá. Foto: Anna P.Hautequestt.


Apresentação 5
Abelhas e a polinização 6
Polinizadores na agricultura 9
Declínio dos polinizadores na agricultura 13

Morfologia básica das abelhas 14


Defesa das abelhas 16
Desenvolvimento e hábito de nidificação das abelhas 17

Principais grupos de abelhas presentes no Brasil 20


Apina (Abelha-europa, -africana ou -africanizada) 20
Bombina (Mamangavas-de-chão) 21
Euglossina (Abelhas-de-orquídeas) 21
Meliponina (Abelhas-sem-ferrão) 22
Centridini (Abelhas-coletoras-de-óleo) 23
Xylocopini (Mamangavas-de-toco) 24
Augochlorini (Abelhas-vibradoras) 24
Megachilini (Abelhas-cortadoras-de-folhas) 25

Apicultura e meliponicultura 26
Políticas públicas e regulamentação 30
Principais ameaças às abelhas 31
Leitura sugerida 33
Glossário 34
Apresentação

O objetivo desta cartilha é apresentar informações sobre as


abelhas nativas da região norte-noroeste do estado do Rio
de Janeiro, relativas aos aspectos de sua biologia, tais como
a construção de ninhos e polinização das plantas. Serão
abordadas também as ­características morfológicas das abelhas,
a fim de ­facilitar o ­reconhecimento das ­p rincipais espécies
­e nvolvidas na ­p olinização de diversos cultivos agrícolas.
Dessa forma, esperamos despertar a curiosidade, primeiro
passo para o entendimento da importância das abelhas no
nosso dia a dia, além de sensibilizar agricultores, técnicos e
estudantes para a necessidade de preservá-las e de preservar o
ambiente em que vivem.

Polinizadores na Agricultura 5
Abelhas e a polinização

b
As abelhas são insetos que
pertencem ao mesmo grupo
das formigas e vespas, a ordem
Hymenoptera. Assim como
as vespas, as abelhas podem
c
formar colônias ou viver de
forma solitária. Porém, elas têm
morfologia e comportamento a
diferentes: as abelhas possuem
pelos ramificados distribuídos
d
pelo corpo e dependem ex-
clusivamente das flores para
Figura 1
Morfologia básica de uma flor (A) e esquema de transferência de grãos de pólen
a alimentação da sua cria. Já
(B–C) para a estrutura feminina (D)”.
as vespas possuem corpo, em
geral, mais alongado e pilosida-
de curta e não ramificada pelo tados de uma flor para outra. Após ser depositado no es-
corpo, além de alimentar sua Esse transporte do pólen entre tigma (parte mais externa do
cria com presas animais na sua flores possibilita a reprodução gineceu), o pólen germina e
maioria. das plantas através do processo atinge o ovário, dando início ao
conhecido como polinização. desenvolvimento do fruto e das
Enquanto visitam as flores, as A polinização ocorre quando o sementes.
abelhas tocam no pólen pre- pólen, que é produzido na par-
sente nas anteras. Estes grãos te masculina da flor (androceu) A polinização pode ocorrer
ficam presos às cerdas do corpo chega até o órgão feminino de diferentes maneiras, como
das abelhas, e são transpor- (gineceu) (Figura 1) . exemplificado na Figura 2 .

6 Polinizadores na Agricultura
Abelhas e a polinização

Polinização cruzada
ou xenogamia
ocorre quando os grãos
de pólen de uma flor são
 transportados para o estigma
da flor de outra planta.

Autopolinização
ocorre quando os grãos
de pólen de uma flor são
transportados para o estigma
Figura 2 da mesma flor.
Principais tipos de polinização.

Geitonogamia
ocorre quando os grãos
de pólen de uma flor são
transportados para o estigma
de outra flor na mesma
planta.

Polinizadores na Agricultura 7
Abelhas e a polinização

As abelhas são os principais po- Adaptações à polinização abiótica:


linizadores de muitas espécies
de plantas. Além das abelhas, – F lores pequenas com pétalas reduzidas;
outros insetos também podem – F lores sem cor, perfume ou recurso floral (néctar);
atuar como polinizadores, tais – P resença de anteras expostas;
como besouros, moscas, bor- –  rãos de pólen pequenos, lisos e leves (polinização pelo
G
boletas, pequenas mariposas e vento) ou ­alongados (polinização pela água).
esfingídeos (um tipo de ma-
riposa). Animais vertebrados
como aves e morcegos também Adaptações à polinização biótica:
podem polinizar várias espécies
vegetais. A polinização reali- – F lores vistosas, perfumadas
zada por animais é chamada e com recursos florais (pólen, néctar, óleo e ­resina);
polinização biótica, enquanto a – M orfologia floral que permite contato entre os grãos de
polinização realizada pela ação pólen e a superfície dos estigmas;
da água ou do vento é denomi- – A derência dos grãos de pólen a posições específicas no
nada polinização abiótica. As corpo do ­p olinizador.
plantas desenvolveram flores
com adaptações à polinização
biótica ou abiótica.

8 Polinizadores na Agricultura
Abelhas e a polinização

Polinizadores na agricultura

Os polinizadores são essenciais realizam a polinização dessa


tanto para as plantas silvestres planta, leva à necessidade
como para as cultivadas. Na da polinização manual
agricultura, são responsáveis pelo homem, aumentando
pela polinização de 75% das os custos da produção.
espécies vegetais cultivadas Outros cultivos podem ser
pelo homem, e sua ausência autopolinizados ou ter
pode diminuir a produtividade parte da polinização feita
e, consequentemente, pelo vento, mas quando
aumentar os custos de polinizadas por abelhas
produção, trazendo prejuízos aumentam a produtividade e
ao agricultor. o rendimento. Um exemplo
disso é o tomate, que apesar
Existem cultivos em que a de autopolinizado, apresenta
presença dos polinizadores aumento na formação
é essencial para a produção de frutos e na qualidade
de frutos, como é o caso do dos frutos (maior peso e
maracujá. A ausência das tamanho) quando suas flores
mamangavas, as abelhas que são polinizadas pelas abelhas.

Polinizadores na Agricultura 9
Abelhas e a polinização

Os insetos são os polinizadores mais importantes e dentre eles as abelhas são os principais.
A Tabela 1 apresenta alguns exemplos de abelhas e plantas cultivadas que podem polinizar.

Tabela 1 Abelhas e plantas agrícolas polinizadas

Grupos de abelhas Nome popular Plantas que polinizam

Apina Abelha-de-mel ou Algodão, café, caju, canola, cebola, chuchu,


abelha-africanizada coco, girassol, goiaba, jabuticaba, laranja,
limão, mamona, melão, pêssego e pitanga.

Bombina Mamangavas-de- Abóbora, feijão, goiaba, melão, morango,


chão pimentão e tomate.

Euglossina Abelhas-de- Batata, berinjela, jabuticaba, pimentão e


orquídeas tomate.

Meliponina Abelhas-sem-ferrão Abacate, abóbora, algodão, berinjela, café,


carambola, chuchu, coco, goiaba, jabuticaba,
Laranja, mamona, manga, manjericão,
melão, morango, pepino, pêssego, pimentão,
pitanga, tomate e urucum.

Centridini Abelhas-coletoras- Acerola, caju, feijão, goiaba, maracujá e


de-óleo tamarindo.

Xylocopini Mamangavas ou Abóbora, berinjela, feijão, goiaba, maracujá,


mamangavas-de- morango, pimentão, pitanga e tomate.
toco

Augochlorini Abelhas-vibradoras Abóbora, algodão, goiaba, maracujá,


pimenta, tomate e urucum.

Megachilini Abelhas-cortadoras- Abóbora, feijão, maçã, melão, morango e


de-folhas vagem.

Exomalopsini Abelhas-vibradoras Algodão, berinjela, feijão, goiaba, pimenta,


tomate e urucum.

10 Polinizadores na Agricultura
Abelhas e a polinização

A seguir é exemplificada a ação das abelhas como polinizadores


nos cultivos de maracujá, tomate e acerola:

Maracujá
O maracujazeiro é uma plan-
ta dependente de polinização
cruzada, ou seja, uma planta
de maracujá não produz se as
flores não forem polinizadas
com pólen de outra planta. Os
principais polinizadores dessa
espécie são as abelhas Xyloco-
pa, conhecidas como abelhas
mamangavas-de-toco (­F igura
3). São abelhas grandes e ro-
bustas e, por isso, podem tocar
nas estruturas de reprodução
das flores do maracujá e levar
o pólen de uma flor para outra.
Este transporte ocorre enquan-
to as abelhas retiram o néctar a
das flores, utilizado para sua
alimentação e para a prole, Figura 3
misturado ao pólen. Abelhas Xylocopa na flor do maracujá.
Foto: Anna P.Hautequestt.
As abelhas mamangavas cons-
troem seus ninhos em madeira
e, por isso, precisam de troncos
ou galhos de árvores, geral-
mente encontrados em áreas de
vegetação nativa. Caso as flores

Polinizadores na Agricultura 11
Abelhas e a polinização

do maracujá não sejam visitadas


por essas abelhas, é preciso que
o homem faça a polinização
manual. A ausência das abelhas,
então, dificulta e aumenta os
custos da produção do maracujá.

Tomate
As flores do tomate podem ser
autopolinizadas, por isso, o pó-
len de uma flor pode germinar
e formar frutos quando entra
em contato com a estrutura
feminina da mesma flor. Porém,
a polinização cruzada realizada
pelas abelhas resulta em maior Figura 4
quantidade de frutos e de maior Exomalopsis visitando a flor do tomateiro.

qualidade, sendo maiores e mais Foto: Maria Cristina Gaglianone

pesados.
polinizadores mais eficientes a coleta desse recurso. As abe-
As flores do tomateiro possuem dessa planta (Figura 4) . lhas utilizam o óleo para a ali-
anteras poricidas, em forma mentação de suas larvas, junto
de tubo com uma abertura na Acerola com o pólen, e para a constru-
parte superior. Por esta abertu- A polinização da aceroleira é ção dos ninhos. Ao visitarem as
ra, os grãos de pólen saem das dependente das abelhas. As flores da aceroleira para a cole-
anteras quando as anteras são flores desta planta produzem ta do óleo, as abelhas C
­ entridini
vibradas ou sacudidas. Des- óleo em glândulas chamadas se sujam de pólen, e o transfe-
sa forma, as abelhas que têm elaióforos. Os óleos florais rem para a próxima flor visita-
capacidade de vibrar, como as são bastante atrativos para as da. Quando essas abelhas estão
abelhas dos gêneros Exomalop- abelhas Centridini, que possuem ausentes, a formação de frutos
sis, Bombus e Melipona, são os estruturas especializadas para nessa espécie é muito baixa.

12 Polinizadores na Agricultura
Abelhas e a polinização

Declínio dos polinizadores na agricultura

Os polinizadores estão sendo tares que precisam. A substitui- de cultivos podem ­a umentar e
atualmente ameaçados pelas ção destas áreas por grandes diversificar o número de polini-
mudanças do habitat causa- monoculturas causa redução zadores e como consequência
das pelo homem. O desmata- no número e na diversidade melhorar a produtividade dos
mento da vegetação nativa de polinizadores. Além disso, plantios.
para expansão das cidades e a retirada da vegetação nati-
­crescimento de áreas agrícolas va em muitos casos significa O uso indiscriminado de
e a utilização abusiva de agro- a ­eliminação de recursos im- agrotóxicos também é um fator
tóxicos são os principais fatores portantes para as abelhas, que muito preocupante nas áreas
que levam à diminuição dos não são ­e ncontrados em áreas agrícolas e arredores. Estes
polinizadores. agrícolas. Isso leva ao declínio compostos podem levar à morte
das populações de polinizado- das abelhas que visitam as
As áreas de vegetação natural res, o que afeta as populações flores ou que fazem seus ninhos
são importantes para os po- de plantas que precisam desses em locais próximos. O agricultor
linizadores, pois é onde eles insetos para a sua poliniza- deve seguir as recomendações
encontram locais adequados ção, tanto em áreas florestais de diminuição destes compostos
para construírem seus ninhos quanto em áreas agrícolas. e de evitar o seu uso em locais
e se reproduzirem e onde eles Medidas como a preservação de ninhos e em horários de
obtêm muitos recursos alimen- das florestas próximas às áreas atividade das abelhas.

Polinizadores na Agricultura 13
Morfologia básica das abelhas

O corpo das abelhas, assim densas nesta região da perna,


como outros insetos, é forma- que também serve para carre-
do por três regiões: cabeça, gar pólen no meio dos pelos;
­tórax e abdome (Figura 5) . neste caso, a estrutura recebe
Na cabeça estão as antenas e os o nome de escopa. O abdome
olhos, usados para percepção carrega internamente a maior
de cheiros e da visão respecti- parte dos órgãos vitais das
vamente. O aparelho bucal é abelhas. Na sua extremidade
formado por uma “língua” que está o ovipositor e na maioria
fica embaixo da cabeça e pode das espécies um ferrão, usado
ser esticada quando se alimenta para ataque e defesa. Somen-
de líquidos. No tórax encon- te as fêmeas têm ferrão; os
tram-se dois pares de asas e três machos não ferroam. Além
pares de pernas. As pernas têm disso, os machos também não
regiões específicas para carre- têm estruturas para carregar
gar o pólen e outros materiais pólen, pois não transportam
até o ninho. Abelhas como Apis materiais para o ninho. Quan-
­mellifera (a ­a belha-africanizada do visualizados em maior
ou abelha-de-mel) e as aumento, eles também podem
­abelhas-sem-ferrão têm a tíbia ser distinguidos das fêmeas
da perna posterior côncava pelo número de segmentos
para carregar a pelota de pó- das antenas (veja ­Tabela
len, formando uma estrutura 2) . O tamanho das abelhas
chamada de corbícula. Outras varia entre 2 mm e 4 cm de
abelhas possuem cerdas muito comprimento.

14 Polinizadores na Agricultura
Morfologia básica das abelhas

Figura 5
Esquema de uma abelha com
indicações da morfologia básica.

Tabela 2 Características morfológicas de machos e fêmeas de abelhas

Características Fêmeas Machos

Número de segmentos das antenas 12 13

Ferrão Presente Ausente

Escopa ou corbícula Presente Ausente

Polinizadores na Agricultura 15
Defesa das abelhas

O ferrão das abelhas é um morder, enrolar-se aos pelos


órgão encontrado no final do ou cabelos, entrar no nariz,
abdômen apenas das fêmeas, boca, ouvidos e olhos, causando
e está associado à defesa desconforto. Alguns cuidados
ou ataque. Porém, existem devem ser tomados para evitar
algumas espécies de abelhas acidentes com as abelhas,
silvestres, chamadas abelhas- como: não fazer movimentos
sem-ferrão ou Meliponina, bruscos próximo aos ninhos
que apresentam a estrutura do ou enxames; não se aproximar
ferrão atrofiada e, por isso, não demais dos ninhos No caso de
ferroam. Estas espécies vivem sofrer ferroadas ou mordidas
em colônias, com centenas a das abelhas, pessoas alérgicas
milhares de indivíduos, e como devem procurar imediatamente
forma de defesa, elas podem atendimento médico.

16 Polinizadores na Agricultura
Desenvolvimento
e hábito de a

nidificação das c

abelhas b

Todas as abelhas nascem a


partir de ovos colocados pela
mãe em células protegidas
nos ninhos. Os ovos das
abelhas lembram um pequeno
grão de arroz e após alguns
dias, cada ovo desenvolve-
se em uma larva, em geral,
esbranquiçada. A larva se e
alimenta do material colocado
pela mãe ou por outras fêmeas
da colônia. Na fase de pupa,
já é possível distinguir cabeça, Figura 6
tórax e abdômen e depois Estágios do ciclo de vida
desta fase ela se transforma das abelhas. (A) ovo; (B-
em uma abelha adulta D) larvas em diferentes
(Figura 6). Este tempo de estágios; (e) pupa; (f) f

desenvolvimento, do ovo até adulto (Fonte: Michener,


a formação do adulto, leva 2000)

Polinizadores na Agricultura 17
Desenvolvimento e hábito de nidificação das abelhas

em torno de 21 dias no caso da de tamanhos e cores variados.


abelha-­de-mel, 40 dias no caso Algumas são confundidas com
de meliponíneos, e no caso das outros insetos, como moscas e
­abelhas-solitárias pode variar besouros. Entretanto, quando
de espécie para espécie e de examinadas com cuidado, elas
acordo com fatores climáticos. podem ser distinguidas por
características morfológicas e
Apesar das abelhas serem pelo comportamento.
conhecidas como insetos sociais, Algumas espécies de abelhas
a maioria das espécies de vivem em sociedades
abelha é solitária, onde uma organizadas chamadas de
única fêmea constrói seu ninho colônias (Figura 8) . Este é o
(­Figura 7), coleta material caso da abelha-de-mel e das
para alimentar suas larvas e abelhas-sem-ferrão. Numa
morre antes da sua cria nascer. colmeia é possível encontrar
O alimento da cria, geralmente, a rainha (responsável pela
é uma mistura de pólen com reprodução), zangões (machos
néctar, sobre o qual o ovo é reprodutivos) e operárias
colocado. Há, no Brasil, muitas (fêmeas que realizam todos os
espécies de abelhas-solitárias, demais trabalhos da colmeia).

18 Polinizadores na Agricultura
Desenvolvimento e hábito de nidificação das abelhas

Figura 7
Ninho construído por
abelha-cortadora-
de-folhas da
espécie Megachile
pseudanthidioides
no interior de ninho-
armadilha de bambu.
Foto: Grupo de Estudos
em Ecologia de /LCA/
UENF).

Figura 8
Colônia da abelha-sem-ferrão
Melipona quadrifasciata (mandaçaia),
mostrando área de cria (A) e potes de
alimento (B). Foto: Grupo de Estudos
em Ecologia de /LCA/UENF).

Polinizadores na Agricultura 19
Principais Apina

grupos de
Abelha-de-mel,
-europa, -africana
ou -africanizada
abelhas
presentes Apis mellifera L.

no Brasil Biologia
São espécies de tamanho médio, com aproxima-
damente 20 mm de comprimento, e possuem
Cerca de 20.000 espécies de pilosidade densa. Vivem em colmeia: as operárias
abelhas existem no mundo e, trazem o alimento (pólen e néctar), vigiam e
dentre estas, mais de 1.500 afastam os inimigos, limpam a colmeia e cuidam
ocorrem no Brasil. Muitos das larvas. Os zangões (em número muito menor)
estudos foram feitos sobre a têm a função exclusiva de reprodução. Já a abe-
abelha-de-mel (Apis mellifera), lha rainha põe os ovos e mantém a organização
uma espécie introduzida no da colmeia.
Brasil e em muitos países no
mundo para a produção de Nidificação
mel. Porém, as espécies nativas Os ninhos são expostos ou em cavidades preexis-
ainda são pouco conhecidas tentes como fendas de pedra, ocos de árvores e
e ainda são necessários muitos ocos de cupinzeiros.
estudos para o completo enten-
dimento da sua biologia. Curiosidades
As abelhas possuem um ferrão no abdômen,
que o usam em situações de perigo. Esse ferrão
é cheio de farpas o que dificulta a retirada da
pele; portanto, quando uma abelha desta espécie
ferroa, parte de seu intestino e o saco de vene-
Fotos: Grupo de Estudos em Ecologia no é perdido com o ferrão que fica preso na sua
de /LCA/UENF). vítima; isso causa a morte da abelha.

20 Polinizadores na Agricultura
Bombina Euglossina
Mamangavas-de-chão Abelhas-de-orquídeas

Euglossa cordata L.

Bombus morio (Sw.)

Biologia Biologia
São abelhas de grande porte, medindo de 11 mm Muitas espécies deste
a 33 mm. Possuem corpo geralmente bastante grupo apresentam Eulaema nigrita Lep.
piloso, nas cores preto ou amarelo, e emitem um colorido metálico e
zumbido alto ao voar. Estas abelhas são sociais e corpo medindo de 8 mm a 31 mm de comprimen-
vivem em colmeias de dez a duzentos indivíduos. to. São abelhas de língua longa e voo rápido.
Os machos coletam perfumes que são usados na
Nidificação atração de fêmeas, para a reprodução.
Seus ninhos são construídos em cavidades,
como ninhos abandonados de roedores e cupins Nidificação
ou debaixo de moitas de capim. Não apresentam A maioria das espécies é solitária, mas existem
uma entrada definida, o que significa que ela algumas espécies que formam colônias. Os ninhos
pode sair ou entrar do ninho por mais de um local. são de resina vegetal e podem ser construídos pre-
sos a troncos, galhos, sob folhas, ou em cavidades
Curiosidades preexistentes no solo ou em cavidades artificiais.
Uma mamangava raramente ferroa, a não ser
que seja provocada; caso isso aconteça, sua Curiosidades
ferroada é muito dolorosa, e ao contrário das Essas abelhas possuem língua muito longa e, por
abelhas do gênero Apis, a mesma abelha pode isso, são capazes de explorar flores de tubo floral
ferroar várias vezes. muito longo, onde coletam néctar. Elas voam
grandes distâncias a procura de recursos. Assim,
transportam o pólen entre flores localizadas
Abelhas com ocorrência no Brasil e de distantemente. Os machos desse grupo podem
importância na polinização. O traço ser atraídos usando-se odores sintetizados, uma
corresponde a 1 cm. técnica muito usada em estudos científicos.

Polinizadores na Agricultura 21
Principais grupos de abelhas presentes no Brasil

Meliponina
Abelhas-sem-ferrão, Abelha-sem-ferrão,
“abelha-cachorro” “mandaçaia”

Trigona spinipes (Fab.) Melipona quadrifasciata Lep.

Biologia Curiosidades
São abelhas minúsculas a médias, com corpo Além do benefício da polinização de plantas
medindo de 4 mm a 11 mm. Vivem em colô- nativas e agrícolas, o mel das abelhas-sem-ferrão
nias compostas por muitas operárias, que são é muito apreciado em várias regiões do Brasil.
as responsáveis pela construção e manuten- Sua criação (meliponicultura) é realizada por
ção das c­ olmeias, e por uma ou mais rainhas meliponicultores ou pequenos agricultores.
­reprodutoras, dependendo da espécie. Pos- Por não possuírem ferrão, quando ameaçadas,
suem várias espécies popularmente conhecidas, essas abelhas enrolam-se nos cabelos e nos
como a abelha-­cachorro ou irapuá, mandaçaia, pelos, entram em ouvidos, nariz e olhos e
­m ombuca, pé-­­de-pau, abelha-mosquito, uruçu, algumas espécies também lançam resina ou
jataí e caga-fogo. substâncias provocando ardência e queimação
na pele.
Nidificação
Os ninhos, em geral, são instalados em troncos
e galhos de árvores, mas também podem ser
encontrados em mourões de cerca, alicerces de
construção, cupinzeiros e locais ­subterrâneos,
como formigueiros. A entrada dos ninhos é
­característica e pode evidenciar a espécie. Nos
ninhos de mandaçaia, por exemplo, a entrada
possui raias convergentes de barro. Suas colônias
podem ser formadas por centenas de abelhas.

22 Polinizadores na Agricultura
Principais grupos de abelhas presentes no Brasil

Centridini
Abelhas-coletoras-
de-óleo

Centris analis (Fab.)

Biologia Curiosidades
São abelhas médias a grandes, medindo de 9 mm As fêmeas raspam as glândulas de óleo existentes
a 40 mm de comprimento, robustas e pilosas. em flores de algumas espécies vegetais utilizan-
As fêmeas coletam óleos florais que utilizam na do as ­pernas. Devido ao hábito de nidificar em
construção de ninhos e alimentação das larvas. cavidades já existentes, algumas espécies deste
Além da acerola, polinizam outras plantas que grupo têm sido estudadas em ­ninhos-armadilha,
produzem óleos florais, como o murici. Polinizam feitos em gomos de bambu ou em placas de
outros tipos de flores, como o ­maracujá-doce madeira com orifícios. Os ninhos construídos nas
e o tomate onde coletam néctar ou pólen, armadilhas podem ser transferidos para áreas de
­respectivamente. pomares de acerola e auxiliam no aumento da
produção de frutos.
Nidificação
São abelhas-solitárias e têm hábitos de nidifica-
ção variados. As fêmeas escavam os ninhos em
solo descoberto ou constroem seus ninhos em
cavidades preexistentes, como orifícios de árvores
ou pequenas cavidades feitas por outros animais.
Utilizam terra, areia, fibras de madeira e óleos
florais na construção dos seus ninhos.

Polinizadores na Agricultura 23
Principais grupos de abelhas presentes no Brasil

Xylocopini Augochlorini
Mamangavas-de-toco Abelhas-vibradoras

Xylocopa muscaria (Fab.)

Augochloropsis electra (Sm.)

Biologia
As mamangavas são abelhas robustas e gran-
des, de porte avantajado, medindo de 12 mm a
40 mm comprimento. Em algumas espécies, os
machos são amarelos, enquanto as fêmeas são
completamente pretas ou podem ter faixas aver-
melhadas. Biologia
São abelhas de porte pequeno, medindo de 5 mm
Nidificação a 16 mm, pouco pilosas, com coloração metálica
Os ninhos são construídos em material vegetal brilhante, frequentemente verde, mas também
(caules e troncos) e madeira morta, por isso, são com tegumento metálico azul, vermelho ou cor
também chamadas de “abelhas-carpinteiras”. A de cobre. A maioria das espécies é solitária, mas
fêmea constrói sozinha o seu ninho, mas pode algumas apresentam socialidade, com divisão de
ter a companhia de seus filhos, fêmeas e machos, trabalho entre as fêmeas.
pelo menos por algum tempo.
Nidificação
Curiosidades As abelhas deste grupo escavam seus ninhos no
São abelhas essenciais para a polinização de solo ou em barranco e as células de cria são cons-
muitas espécies nativas, e de várias plantas truídas em posição vertical.
agrícolas importantes, principalmente as de
flores grandes, como o maracujá-amarelo. Curiosidades
Ninhos-armadilha confeccionados em gomos Apesar de seu pequeno porte, essas abelhas são
de bambu ou madeira mole podem ser usados capazes de vibrar as anteras, sendo importantes
para criar mamangavas com a finalidade de na polinização de várias plantas, como é o caso
polinização das flores do maracujá. das flores do tomateiro.

24 Polinizadores na Agricultura
Principais grupos de abelhas presentes no Brasil

Megachilini
Abelhas-cortadoras-
de-folhas

Megachile pseudanthidioides Epanthidium tigrinum


Moure (Schrottky)

Biologia Curiosidades
São abelhas pequenas a médias, com corpo de 5 Algumas espécies são parasitas de ninhos.
mm a 22 mm de comprimento, de coloração pre- Neste caso, não constroem seu próprio ninho,
to, castanho e amarelo. As fêmeas possuem uma e nem coletam alimento. Ao contrário disso,
“escova de pelos” para o transporte do pólen na elas invadem ninhos de outra espécie, antes de
região inferior do abdômen. Ao carregar o pólen serem fechados, e colocam seus ovos no alimento
nesta região, podem sujar várias flores, fazendo coletado pela hospedeira. Depois, a larva-
a polinização. parasita mata a larva-hospedeira e consome o
alimento disponível. As folhas são cortadas com
Nidificação as mandíbulas e carregadas ao local do ninho.
Seus ninhos são construídos com folhas ou péta- Por causa deste comportamento, recebem o
las de flores, e algumas espécies podem aderir nome de “­a belhas-cortadoras-de-folhas”
terra ou areia ao material vegetal dos ninhos.  
Seus ninhos podem ser construídos no solo
ou em orifícios na madeira.

Polinizadores na Agricultura 25
Apicultura e meliponicultura

Além da importância para a variam de acordo com a origem A criação de abelhas é


polinização, as abelhas são do néctar floral e as condições uma atividade lucrativa e
importantes pela produção de climáticas. Como consequência, pode ser praticada pelo
mel, própolis, cera, pólen e ge- a cor, o sabor, o odor, a visco- pequeno produtor rural ou
leia real. O mel é um alimento sidade e outras características agricultor familiar, com bons
nutritivo e possui propriedades dos méis podem variar. A ma- resultados (Figura 9) . A
medicinais, contém açúcares, nipulação do mel pelo apicul- Apicultura, também chamada
sais minerais, vitaminas e outros tor também pode alterar suas criação racional de abelhas-
nutrientes. Suas características características. africanizadas, é responsável

Figura 9
Apicultura: (A) Caixa racional aberta mostrando disposição dos
quadros; (B) colmeias instaladas em apiário fixo.

a b

26 Polinizadores na Agricultura
Apicultura e meliponicultura

Figura 10
Colmeia de abelha-sem-ferrão aberta mostrando
pela maior parte da produção (A) os favos e potes expostos; (B) Colmeias instaladas em
de mel no Brasil. Estas abelhas meliponário fixo.
vivem em colônias que podem
estar localizadas dentro de
ocos de árvores, pendurados
em galhos, em buracos no chão
ou em cupinzeiros ou ainda a

instalados em construções
humanas.

Para a introdução de abelhas


no apiário, o apicultor pode
conseguir enxames de diferentes
maneiras: comprar colmeias já
povoadas, capturar enxames ou
dividir colônias fortes. Na época
da enxameação, o apicultor pode
distribuir c­ aixas-iscas próximas
de fonte de água ou boas
floradas, fixadas em árvores para
o povoamento pelas abelhas ou, b
então, capturar diretamente o
enxame migratório geralmente
localizado provisoriamente em
árvores, postes ou telhados.

A criação de abelhas nativas,


denominada Meliponicul-
tura, refere-se à criação das
­abelhas-sem-ferrão (Figura
10). Estas abelhas também

Polinizadores na Agricultura 27
Apicultura e meliponicultura

Segundo a Resolução CONAMA


A criação de abelhas
­ roduzem mel muito ­apreciado,
p Apis mellifera, ou nº 346/2004 (veja o artigo 5º,
por seu paladar e aroma di- seja, a prática de parágrafo 1º), para que alguém
ferenciados. Sua composição apicultura, é dispensada exerça a atividade de meliponicul-
inclui minerais como cálcio, co- de autorização do tura, ou seja, a criação de abelhas
IBAMA, pois, para fins
bre, magnésio, fósforo, potás- silvestres nativas (veja artigo 3º,
de operacionalização,
sio e zinco, além das vitaminas trata-se de uma espécie inciso II, da IN IBAMA nº 169/2008),
A, do complexo B, C e D. Uma exótica e doméstica. há a necessidade de cadastrar-se
vantagem da meliponicultu- Entretanto, os no ­Cadastro Técnico Federal de
ra é o manuseio das colônias, apicultores, assim como Atividades Potencialmente Polui-
facilitado pelo fato das abelhas os meliponicultores, doras ou U
­ tilizadoras de Recursos
devem estar atentos ao
não ferroarem. É uma atividade ­Ambientais (CTF/APP).
Decreto nº 30.691/1952
alternativa ou complementar (RIISPOA). Segundo o
no campo, pois é necessário artigo 2º do RIISPOA, Este cadastro tem previsão na
baixo investimento, se com- estão sujeitos à inspeção Lei nº 6.938/1981 (veja o artigo
parado com outras atividades e reinspeção os animais 17, inciso II). O acesso ao cadastro
agropecuárias. Para o estado do de açougue, a caça, ­dá-se por meio do site do Instituto
o pescado, o leite, o
Rio de Janeiro recomenda-se a Brasileiro do Meio Ambiente e dos
ovo, o mel e a cera de
criação de a­ belhas-sem-ferrão abelhas e seus produtos Recursos Naturais Renováveis –
pertencentes às seguintes es- ou subprodutos IBAMA (www.ibama.gov.br).
pécies Melipona quadrifasciata derivados.
(mandaçaia), N ­ annotrigona tes- Para criações com 50 ou mais
taceicornis (iraí), Tetragonisca ­colmeias, também é necessário
angustula (jataí) e Plebeia spp. i­mprópria onde sua sobrevivên- obter autorização de funcio-
(mirim ou abelha-mosquito). cia pode estar ameaçada. namento do órgão ambiental
estadual (veja o artigo 8º, incisos
As colônias de meliponíneos As colmeias ou caixas racionais XVIII e XIX, da Lei Complementar
podem ser obtidas a partir de abelhas tem um formato nº 140/2011). Essa autorização de
de ninhos-isca, multiplicação padrão, com peças separadas, ­funcionamento não é exigida para
de colônias e transferências e podem ser compradas prontas criações com menos de 50 colmeias
de colônias alojadas em tron- ou podem ser fabricadas pelo (veja o a
­ rtigo 5º, parágrafo 2º, da
cos c­ aídos ou em situação produtor. Resolução C
­ ONAMA nº 346/2004).

28 Polinizadores na Agricultura
Apicultura e meliponicultura

O apiário ou meliponário, local onde devem ser instaladas


as colmeias, deve seguir as seguintes recomendações:

– s er localizado onde haja contaminação dos produtos – ser instalado sobre cavale-
plantas floridas que produ- das abelhas; tes de cerca de 60 cm de
zam pólen e néctar, diversas altura, para evitar o ataque
espécies de plantas nativas  ossuir placas de sinalização
–p de formigas e cupins;
ou agrícolas e que flores- ou cercas de proteção de – apresentar distância mínima
çam em diferentes épocas identificação alertando as de 2 m entre as colônias e
do ano; pessoas sobre o risco ao se manter o meliponário a
aproximarem das abelhas-­ uma distância mínima de
–n ão ser instalado em topos africanizadas; 2.500 m de apiários.
de morro ou descampados,
locais muito castigados – e star entre 20 a 500 m de Para obter sucesso na atividade,
­pelos ventos; uma fonte de água limpa o apicultor ou meliponicultor
como rio, açude, nascen- precisa conhecer vários aspectos
– estar afastado no mínimo te ou mesmo bebedouros da vida das abelhas que está
400 m de currais, casas, es- para as abelhas, feitos pelo criando. Assim, pode tirar
colas e estradas a fim de se produtor; melhor proveito da produção
evitar acidentes envolvendo de mel e de outros produtos.
as abelhas-africanizadas; – s er instalado em áreas som- Além disso, a atividade de
breadas, embaixo de árvo- criação de abelhas funciona
– e star afastado no mínimo res ou cobertura de telha como uma ótima fonte de
3 km de depósitos de adequada, pois calor em lazer e, se bem planejada
lixo, aterros sanitários, excesso pode prejudicar a e regulamentada, é uma
matadouros, chiqueiros, qualidade do mel e o desen- atividade sustentável, pois
galinheiros e outras volvimento das crias; contribui para a preservação
possíveis fontes de das abelhas e de seu habitat.

Polinizadores na Agricultura 29
Políticas públicas e regulamentação

A Resolução Conama nº 346, de multiplicação artificial, tam- de colônias em sua área


06 de julho de 2004, disciplina a bém mediante autorização do de impacto. Recomenda-
utilização das abelhas silvestres órgão ambiental competente. se que essas colônias sejam
nativas, bem como a implanta- Os meliponários devem conter enviadas para os meliponários
ção de colmeias, objetivando colônias alojadas em colmeias cadastrados mais próximos.
também a conservação das adequadamente preparadas
espécies, sua utilização na poli- para o manejo e manutenção É importante ressaltar
nização das plantas e a susten- dessas espécies. O transporte de que todas as espécies de
tabilidade da agricultura. abelhas silvestres nativas entre abelhas silvestres nativas,
os Estados só pode ser feito em qualquer fase do seu
Por esta regulamentação são mediante autorização do órgão desenvolvimento, são
permitidos a utilização e o competente, sendo vedada a protegidas pela Lei de
comércio de abelhas e seus criação de abelhas nativas fora Proteção à Fauna, n° 5.197,
produtos, procedentes dos de sua região geográfica de de 03 de janeiro de 1967.
criadouros autorizados pelos ór- ocorrência natural [ver p.30]. O não cumprimento às
gãos ambientais competentes, regulamentações previstas
bem como a captura de colô- Os desmatamentos e sujeitará os infratores às
nias por meio de métodos não empreendimentos sujeitos devidas penalidades e sanções
destrutivos, como a utilização ao licenciamento ambiental previstas na Lei n° 9.605, de
de ninhos-isca, e métodos de deverão facilitar a coleta 12 de fevereiro de 1998.

30 Polinizadores na Agricultura
Principais ameaças ­ estas práticas de conservação
d

às abelhas dos polinizadores e recuperação


de habitat, podemos citar:

– a conservação de fragmen-
tos florestais próximos a
cultivos agrícolas;
No Brasil, várias espécies de O uso indiscriminado de agrotó- – o cultivo de plantas que
abelhas estão ameaçadas em xicos afeta as abelhas nas áreas são alvo dos polinizadores;
consequência da alteração de cultivo e em áreas de mata – a promoção de sistemas
de seus ambientes, causada próximas, alterando sua fisiolo- agroflorestais;
principalmente pelo homem. gia, seu comportamento e com- – a criação de corredores de
O desmatamento e as quei- prometendo a estrutura social néctar para polinizadores;
madas diminuem ou eliminam das colônias e, consequente- – a disponibilidade de
as fontes de alimento e locais mente, gerando prejuízos eco- ­h abitats próximos de lavou-
para a construção de ninhos. A nômicos ao afetar diretamente ras para a alimentação e
destruição das matas e intro- a polinização. Ainda, a retirada nidificação de polinizadores;
dução de áreas de plantio ou do mel de espécies de abelhas – o incentivo ao controle
urbanas diminuem as áreas sociais, sem o manejo apropria- ­b iológico de pragas;
onde estes insetos vivem, o que do, pode destruir as colônias – a diminuição do uso de
pode alterar ou extinguir as naturais, colocando em risco a agrotóxicos;
suas populações e as plantas sua existência no local. – ­capacitação por meio
das quais as abelhas depen- da disseminação do
dem. Assim, ficam confinadas a Atualmente, o importante ­conhecimento sobre
pequenos fragmentos florestais papel das abelhas para a poli- ­p olinizadores.
e tornam-se mais vulneráveis a nização e segurança alimentar
perigos como doenças, escassez humana é bem conhecido. Estas medidas poderão auxiliar
de recursos de alimento e de Portanto, ações para a efeti- na conservação das abelhas na-
nidificação, reprodução dificul- va conservação destes insetos tivas e, consequentemente, na
tada, competição ou predação no habitat natural e nas áreas obtenção de produtos agrícolas
por organismos invasores. agrícolas são urgentes. Como de melhor qualidade e de um
sugestões para a melhoria ambiente mais saudável.

Polinizadores na Agricultura 31
Leitura sugerida

Camillo, E. 2003. Polinização do Nogueira-Neto, P. 1997. Vida e criação Silveira, F.A., Melo, G.A.R. & Almeida,
maracujá. Ribeirão preto: Holos de abelhas indígenas sem ferrão. São E.A.B. 2002. Abelhas Brasileiras:
Editora. 44p. Paulo: Editora Tecnapis. 445p. Sistemática e Identificação. Belo
Horizonte: edição do autor. 253p.
Embrapa, 2007. Criação de abelhas: O’ Toole, C. & Raw, A. 1991. Bees
apicultura. Brasília: Embrapa of the world. London: Blandford
Informação tecnológica. 113p. Publishing. 191p. Schlindwein, 2000. A importância de
abelhas especializadas na polinização
F reitas, B.M. & Oliveira-Filho, Rech, A.R.; Agostini, K.; Oliveira, P.E.; de plantas nativas e conservação do
J.H. 2001. Criação racional de Machado, I.C. (org.) 2014. Biologia meio ambiente. Anais do IV Encontro
mamangavas: para a polinização em da Polinização. Rio de Janeiro: sobre Abelhas, Ribeirão Preto,
áreas agrícolas. Fortaleza: Banco do Projeto Cultural. 527p. São Paulo.
Nordeste. 96p. Disponível em http://www.mma.
gov.br/publicacoes/biodiversidade/ Wolff, L.F. 2009. Como capturar
Imperatriz-Fonseca, V.L.; Canhos, category/57-polinizadores enxames com caixas-isca. Brasília:
D.A.L.; Alves, D.A. & Saraiva, A.M. Embrapa Informação Tecnológica.
2012. Polinizadores no Brasil: Roubik, D.W. 1989. Ecology and 41p.
Contribuição e perspectivas para natural history of the tropical bees.
a biodiversidade, uso sustentável, Cambridge University Press. 514p. Yamamoto, M.; Oliveira, P.E.;
conservação e serviços ambientais. Gaglianone, M.C. (coord.) 2014.
São Paulo: Editora da Universidade Roubik, D.W. 1995. Pollination of Uso sustentável e restauração
de São Paulo. 488p. cultivated plants in the tropics. Rome: da diversidade dos polinizadores
FAO. 196p. autóctones na agricultura e nois
Michener, C.D. 2000. The Bees of the ecossistemas relacionados: Planos
World. Baltimore and London: The Rebêlo J.M.M. 2001. História Natural de Manejo.MMA/FUNBIO. 406p.
John Hopkins University Press. 913p. das Euglossineas. As abelhas das Disponível em http://www.mma.
orquídeas. São Luís: Lithograf Editora. gov.br/publicacoes/biodiversidade/
152p. category/57-polinizadores

Polinizadores na Agricultura 33
Glossário

Sistemas agroflorestais Apiário


Tipos de cultivo que contem- Local onde se mantém um con-
plam o plantio de espécies agrí- junto de colmeias de abelhas
colas consorciadas com espécies do gênero Apis para a extra-
florestais nativas ou com uma ção comercial do mel e outros
floresta. produtos.

Androceu Controle biológico de pragas


É o conjunto dos estames, ór- Técnica que utiliza inimigos
gãos reprodutores masculinos naturais (como predadores e
de uma flor. parasitoides que ocorrem na
natureza) ao invés de com-
Antera postos químicos para manter
Parte da flor que produz o pó- as pragas abaixo do nível que
len; componente dos estames; a causa danos econômicos para
porção masculina da flor. as lavouras.

Antera poricida Corbícula


Tipo de antera que possui uma Parte modificada da tíbia da
abertura em forma de poro perna traseira da abelha, onde
para liberação dos grãos de pó- ela deposita e transporta pólen,
len quando estão maduros. resina e barro coletado.

34 Polinizadores na Agricultura
Glossário

Enxame Meliponíneos Ovário


Conjunto de abelhas de uma São as abelhas-sem-ferrão. São Região dilatada do gineceu que
mesma espécie, que se reúne animais sociais, que vivem em protege os óvulos da flor.
para migrar, formar nova colô- ninhos com centenas a milha-
nia ou para acasalar. res de indivíduos. Vivem nas Ovipositor
zonas tropicais do mundo e são Parte externa da genitália das
Estigma consideradas excelentes poli- fêmeas dos insetos, responsável
Porção na extremidade do gine- nizadores de plantas nativas e pela deposição dos ovos.
ceu, destinada a receber o pó- cultivadas.
len, e sobre a qual ele germina. Pilosidade
Morfologia Relativo ao conjunto de pelos
Gineceu Forma do organismo ou parte ou cerdas na superfície externa
Órgão reprodutor feminino de dele. do corpo do inseto.
uma flor.
Néctar Pólen
Habitat Solução açucarada produzi- Estrutura que contém o gameta
É um termo utilizado na ecolo- da pelos nectários da flor. É a masculino da flor. Após a ger-
gia, que compreende o espaço matéria-prima com a qual as minação no gineceu, se funde
onde os seres vivos vivem e se abelhas fazem o mel. com o gameta feminino, for-
desenvolvem dentro de uma mando o fruto e as sementes.
comunidade. Nidificação É uma fonte rica em proteínas
É a ação de alguma espécie de para as abelhas.
abelha construir seu ninho.

Polinizadores na Agricultura 35
Glossário

Pólen apícola Tíbia


Nome dado ao pólen comercial, Parte da perna das abelhas.
geralmente coletado pelas abe- Na maioria das abelhas, a tíbia
lhas do gênero Apis. posterior (ou traseira) possui
estrutura (corbícula ou escopa)
Produtividade que transporta materiais coleta-
Aquilo que se conseguiu pro- dos nas flores até o ninho.
duzir, diz-se do volume ou total
produzido.

Socialidade
O comportamento de animais
que vivem em sociedade. No
caso das abelhas, esse compor-
tamento varia entre espécies
primitivamente sociais até alta-
mente sociais.

Sustentabilidade
Termo utilizado para designar o
bom uso dos recursos naturais
da Terra, buscando suprir as
necessidades do presente sem
afetar as gerações futuras.

36 Polinizadores na Agricultura
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