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Modelo de Harrod-Domar

Professor: Clésio Lourenço Xavier


Estágio em Docência/CAPES: Maria Inês Cunha Miranda
Bibliografia

 JONES, H.G. Modernas teorias do crescimento. Ed. Atlas: São Paulo, 1979, p.
54-79.
 LOPES, L. M.; VASCONCELLOS, M. A. S. Manual de Macroeconomia. 3ª ed. – São
Paulo: ATLAS, 2008. (Cap.12).
 BRESSER-PEREIRA, L. C. O Modelo Harrod-Domar e a Substitutibilidade de
Fatores. Estudos Econômicos, 5 (3), 1975, p. 7-36
Modelo de Harrod

 Modelo com viés keynesiano que ressalta as condições necessárias para o


crescimento estável com pleno emprego;

 Três aspectos centrais no modelo:


 Possibilidade de crescimento em estado estável a pleno emprego;
 Improbabilidade de crescimento em estado estável a pleno emprego;
 Instabilidade da taxa garantida de crescimento.
Hipóteses do Modelo

1. A poupança é uma função simples do nível de renda de uma economia.


S = s.Y, sendo que em muitas interpretações desse modelo s é tida como
uma constante;
2. A taxa de crescimento da população é uma constante exógena
𝐿
=n
𝐿
3. Ausência de progresso técnico e o estoque de capital não se deprecia;
4. A função do tipo Leontieff (com proporções fixas de capital e trabalho), não
havendo substituição entre capital e trabalho
𝐾 𝐿
𝑌 = min ,
𝑣 𝑢
Modelo de Harrod

 Se a taxa de crescimento da renda/produto é dada pela taxa de crescimento


da força de trabalho (n) (variável exógena) e a taxa de estoque do capital.
Como é determinada a taxa de crescimento do estoque de capital? E a taxa de
crescimento do produto?
𝐾
 A relação capital-produto 𝑣 = ou 𝐾 = 𝑣. 𝑌 (1)
𝑌

 Há dois conceitos distintos dessa relação


∆𝐾
 Capital-produto efetivo: 𝑣 = ;
∆𝑌
∆𝐾
 Capital- produto requerido: 𝑣 =
∆𝑌 𝑑𝑒𝑠𝑒𝑗á𝑣𝑒𝑙
Modelo de Harrod
 Mas como o estoque de capital não se deprecia, tudo o investimento realizado
torna-se estoque de capital
𝐾=𝐼 2
 Substituindo (1) em (2)
𝐼 = 𝑣. 𝑌 (3) (forma simples do acelerador)
 Partindo da condição de equilíbrio,
I ≡ 𝑆 (4)
 Substituindo (3) em (4) e levando em consideração a primeira Hipótese
v. 𝑌 ≡ 𝑠. 𝑌
𝑌 𝑠

𝑌 𝑣
 Sendo está a equação fundamental do Modelo de Harrod.
Modelo de Harrod
𝑌
 Sendo 𝑌 a taxa de crescimento da renda, o equilíbrio entre poupança e investimento
𝑠
necessário para o crescimento equilibrado da renda tem de ser igual a 𝑣 ;

 Com isso, pode-se também obter a taxa de crescimento do estoque de capital:

 Sendo I ≡ 𝑆 (4) e 𝐾 = 𝐼 2

 Substituindo (4) em (2)

𝐾 = 𝑆 (6) como S= s.Y


𝐾 𝐾
𝐾 = 𝑠. 𝑌 (7) como 𝑣 = ou Y =
𝑌 𝑣
Modelo de Harrod

 Substituindo Y em (7), tem-se


𝐾
𝐾 = 𝑠.
𝑣
𝐾 𝑠
=
𝐾 𝑣

 Desta forma no modelo de Harrod, para que haja um crescimento econômico


em estado estável é necessário que a renda (Y) e o estoque de capital (K)
𝑠
cresçam a mesma taxa constante 𝑣

𝑌 𝐾 𝑠
= =
𝑌 𝐾 𝑣
Equação Fundamental como truísmo
 A equação fundamental é auto-explicativa, sendo o ponto de partida e chegada;

 Portanto vamos deduzi-la até chegar na igualdade entre I ≡ 𝑆 (4);


 Partindo da equação fundamental
𝑌 𝑠 𝑌
= ou .𝑣 =𝑠
𝑌 𝑣 𝑌
𝐾
 Como 𝑣 = e 𝐾=𝐼
𝑌
𝐼
𝑣=
𝑌
 Substituindo o v na equação anterior e como S= s.Y

𝑌 𝐼 𝑆
. =
𝑌 𝑌 𝑌
𝐼 𝑆
= ou simplesmente 𝐈 = 𝑺
𝑌 𝑌
Equação Fundamental como truísmo
 A equação fundamental corresponde exatamente ao seu ponto de partida, ela
será necessariamente verdade e resultará da definição de seus termos;

 No entanto, a equação fundamental pode ser interpretada de duas formas


diferentes, dependendo dos diferentes conceitos da relação capital-produto (v);

𝑌
 Definindo v pelo primeiro conceito (v efetivo), a taxa de crescimento da renda 𝑌
𝑠
precisa ser igual a 𝑣 . Chamando 𝐺𝐴 de verdadeira taxa de crescimento da renda
𝑠
𝐺𝐴 ≡ (8)
𝑣
 Onde 𝐺𝐴 resulta das expectativas, decisões e erros dos diversos tomadores de
decisão.
Equação fundamental definindo um
caminho para o crescimento equilibrado
 Se a relação capital-produto é baseada na segunda definição (requerida) ou 𝑣𝑟 , tem-se
𝑠
𝐺𝑤 ≡ (9)
𝑣𝑟
 Sendo 𝐺𝑤 a taxa de crescimento requerida, essa equação não é mais um truísmo, na
medida em que v requerido não indica mais o efetivo;

 Igualando (8) e (9)

𝐺𝐴 . 𝑣 = 𝐺𝑤 . 𝑣𝑟

 Se 𝐺𝐴 =𝐺𝑤 então 𝑣 = 𝑣𝑟 . Representando um estado de crescimento equilibrado.


Equação fundamental definindo um
caminho para o crescimento equilibrado
 Como GA não pode exceder a taxa de crescimento da força de trabalho por causa da
hipótese de proporções fixas (Constância da relação trabalho-produto)
𝐿
𝐺𝐴 ≤ = n
𝐿

 Harrod referiu-se à taxa de crescimento da força de trabalho (na ausência de progresso


tecnológico) como taxa de crescimento “natural”.
 Se a economia está no pleno emprego, então GA = n
 Se a economia está crescendo em estado estável, mantendo o equilíbrio, então: GA = Gw.

 Então, o equilíbrio estável e com pleno emprego acarreta:

𝐺𝐴 = 𝐺𝑤 = n
Primeiro Problema de Harrod: impossibilidade
de equilíbrio com pleno emprego

 Nada garante que GA = Gw, pois a taxa verdadeira é o resultado de expectativas, decisões e
erros dos agentes;

 Não há razão para acreditar no equilíbrio com pleno emprego: , pois, s, v e n são
determinados todos independentemente e exogenamente;

 Ainda que o crescimento balanceado a pleno emprego seja possível, a combinação dos
parâmetros s, n e v é altamente improvável [é necessário a igualdade entre a taxa garantida
de crescimento s/v e à taxa natural de crescimento n];

 Conclusão no espírito keynesiano – não há razões para acreditar que o equilíbrio com
crescimento a pleno emprego sejam atingidos! Não há mecanismos no modelo de Harrod que
assegurem o atingimento dessa “Idade Dourada”.
Segundo Problema de Harrod: o
problema da estabilidade
 A taxa garantida de crescimento é fundamentalmente instável. Desvios entre
a taxa verdadeira e a taxa garantida longe de serem autocorretivos, são
cumulativos de fato;

 A partir de : 𝐺𝐴 . 𝑣 = 𝐺𝑤 . 𝑣𝑟

 Se, por acaso, 𝐺𝐴 > 𝐺𝑤 então 𝑣𝑟 > 𝑣 o que vai distanciar a taxa verdadeira de
crescimento ainda mais da garantida, aumentando cada vez mais a
discrepância entre o estoque de capital verdadeiro e o desejado.
Segundo Problema de Harrod: o
problema da estabilidade
 Formalização do problema da instabilidade (Sen, 1970)
Yt E = fluxo de renda esperado em t.
Yt  Yt 1
E
Yt 1
GtE  1 Yt E   2
Yt E
1  Gt E
Yt = fluxo de renda verdadeiro em t.
Gt= taxa de crescimento verdadeiro entre t-1 e t.

𝑌𝑡−1 = fluxo de renda verdadeiro em t-1.


Yt  Yt 1
Gt   3 Yt 
Yt 1
 4
Yt 1  Gt  GtE = taxa esperada de crescimento da renda do período t-1 para o período t.

1
Pelo multiplicador: Yt  It  5
s


Pelo acelerador (Princípio da aceleração): It  v Yt  Yt 1
E
  6
Segundo Problema de Harrod: o problema
da estabilidade
Se (6) for substituída em (5):

1
Yt  
s
v  Yt
E
 Yt 1  

Yt 
v
s
 Yt E  Yt 1   Yt E

Yt v  Yt E  Yt 1 
E
  
Yt s Yt E 
Substituindo (1) na equação acima:

Yt v
 t 7
E
E
G
Yt s
Segundo Problema de Harrod: o
problema da estabilidade
As expectativas dos empresários só vão se realizar (𝑌𝑡𝐸 = 𝑌𝑡 ) se 𝐺𝑡𝐸 for igual a s/v.

Fazendo substituições de (2) 𝑌𝐸𝑡 e (4) 𝑌𝑡 em (7), podemos encontrar a relação entre taxa de
crescimento verdadeira e a esperada:

Yt 1
1  Gt   v G E 8
t  
Yt 1 s
1  G t 
E
Segundo Problema de Harrod: o
problema da estabilidade
𝑠
 Se 𝐺𝑡𝐸 = 𝑣 então 𝐺𝑡 = 𝐺𝑡𝐸
𝑠
 Exemplo: 𝐺𝑡𝐸 = 0,1 = 0,1
𝑣

 Se os empresários esperam uma taxa de crescimento equivalente à taxa garantida,


então suas expectativas serão realizadas e psicologicamente eles estariam
preparados a continuar em um avanço similar.
Segundo Problema de Harrod: o
problema da estabilidade
𝑠
 Se 𝐺𝑡𝐸 > então 𝐺𝑡 > 𝐺𝑡𝐸
𝑣
𝑠
 Exemplo: 𝐺𝑡𝐸 = 0,2 = 0,1
𝑣

𝑠
 Se os empresários esperam uma taxa de crescimento da renda maior que 𝑣, eles vão
investir mais o que, via multiplicador, aumentará ainda mais o nível de renda. Então,
a taxa verdadeira excederá suas expectativas otimistas e, dessa forma, eles revisarão
suas expectativas, supondo uma taxa de crescimento ainda maior para o período
seguinte.
Segundo Problema de Harrod: o
problema da estabilidade
𝑠
 Se 𝐺𝑡𝐸 < então 𝐺𝑡 < 𝐺𝑡𝐸
𝑣
𝑠
 Exemplo: 𝐺𝑡𝐸 = 0,1 = 0,2
𝑣

 Se os empresários esperam uma taxa de crescimento menor do que a taxa garantida,


eles reduzirão os investimentos o que, via multiplicador, reduzira ainda mais o nível de
renda. Então a taxa de crescimento verdadeira será menor que suas expectativas, eles
sentirão que foram superotimistas e revisarão suas expectativas negativamente para o
próximo período.
Segundo Problema de Harrod: o
problema da estabilidade
 Se as expectativas dos empresários são gerados assim:

𝐺𝑡𝐸 > 𝐺𝑡−1


𝐸 𝐸
𝑠𝑒 𝐺𝑡−1 > 𝐺𝑡−1

𝐺𝑡𝐸 < 𝐺𝑡−1


𝐸 𝐸
𝑠𝑒 𝐺𝑡−1 < 𝐺𝑡−1

 Então o sistema econômico é bastante instável.


 Se, por exemplo, a taxa verdadeira de crescimento da renda em t-1 é menor que a
esperada para t-1, os empresários serão induzidos a reduzir o investimento, reduzindo
ainda mais (via multiplicador) a taxa verdadeira de crescimento do produto e a economia
tenderá a uma recessão;
 Este problema é chamado de “fio da navalha”: dado um equilíbrio de pleno 𝑠
emprego,
qualquer pequeno desvio da taxa verdadeira em relação à taxa garantida ( ), vai gerar
𝑣
efeitos cumulativos desviando a economia do crescimento em estado estável.
Modelo de Domar
 A abordagem de Domar (1946) é um enfoque claro da natureza dual da taxa de
investimento numa economia capitalista:
 O investimento determina o nível verdadeiro de renda por intermédio do processo
multiplicador keynesiano (efeito demanda);
 O investimento, caso aumente o estoque de capital, aumenta o nível máximo potencial da
renda (efeito oferta - capacidade).

 Definindo σ como a taxa de mudança na capacidade potencial de produção associada


a determinado nível de investimento, tem-se:
, no qual 𝜎 é uma constante

 O investimento capaz de aumentar o nível de renda potencial máximo

(1)
Modelo de Domar

 O investimento também determina o nível efetivo de renda através do efeito


multiplicador
 1 
1
Y  .I Y  . I (2)
s ou em termos de taxa de mudança:
s
 Supondo que a economia esteja inicialmente em equilíbrio com pleno
emprego: então .
 Sendo (1) = (2):  
Y Y
1
I  I
s

I
  s (3)
I
Modelo de Domar

 Esta equação (formalmente idêntica a equação fundamental de Harrod)


mostra qual deve ser a taxa de crescimento do investimento que faz com que
a renda efetiva alcance o seu nível máximo de crescimento potencial, tendo
em conta que σ e s são constantes;

 Por causa da similaridade nos resultados, a literatura denomina modelo


Harrod-Domar (HD) para a generalização dos resultados obtidos por esses
autores;

 Se s e σ são constantes, a taxa de crescimento do investimento, que vai


manter a renda igual ao nível de renda máximo potencial (com pleno
emprego), é a taxa constante σs.
Comparação dos modelos e suas
principais críticas
 Comparando com Harrod:
 σ =1/v; Substituindo em (3), temos a equação fundamental de Harrod;
 Domar não faz qualquer referência a taxa de crescimento da força de trabalho, n;
 Domar não inclui uma função investimento. Sua taxa de crescimento de equilíbrio
é a taxa que garantiria a contínua igualdade entre renda efetiva e potencial, mas o
nível verdadeiro de investimento não é determinado dentro dos limites do modelo.

 Critícas ao modelo Harrod-Domar


 Supor rigidez de v é irrealista;
 Instabilidade decorre de hipóteses;
 Experiência histórica não confirmava previsões do modelo.

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