Você está na página 1de 20

MECÂNICA DA FRATURA E DO DANO

PROF. EDUARDO BITTENCOURT

Porto Alegre, Junho de 2005


INDICE

1. INTRODUÇÃO
2. CAMPOS DE TENSÃO NA PONTA DE TRICAS E TAXA DE ALÍVIO DE ENERGIA
2.1 Casos planos e antiplanos
2.2 Taxa de alívio de energia e fatores de intensidade de tensão
2.3 Influência do sistema de aplicação de carga na taxa de alívio de energia
2.4 Exemplos de cálculos de fatores de intensidade de tensão
3. MECÂNICA DA FRATURA LINEAR ELÁSTICA
3.1 Teoria de Griffith
3.2 Propagação estável e instável de trincas
3.3 Influência do sistema de aplicação de carga na estabilidade da propagação
3.4 Ensaios para a determinação dos valores críticos dos fatores de intensidade de tensão
4. MECÂNICA DA FRATURA NÃO LINEAR
4.1 Integral J e outras integrais invariantes
4.2 Fratura elasto-plástica
4.3 Campos plásticos na ponta de trincas
4.3.1 Caso antiplano
4.3.2 Solução H-R-R
4.4 Modelo de Barrenblat-Dugdale
4.5 Ensaios para a determinação dos valores críticos de fratura elasto-plástica
4.6 Fratura dútil
5. SOLUÇÕES NUMÉRICAS APLICADAS À FRATURA
5.1 Elementos finitos “quarter-point”
5.2 Integral J
5.3 Outros tipos de soluções.
6. FADIGA
7. FRATURA NO CONCRETO (Modelo de Hilleborg)
8. FRATURA DINÂMICA
9. FRATURA EM INTERFACES
1. INTRODUÇÃO

1.1 - HISTÓRICO DE FRATURAS CATASTRÓFICAS

1876 Ashtabula, Michigan: Ponte de ferro-fundido de 23 m de altura que desaba quando da passagem de um
trem com 159 pessoas a bordo. 92 mortos (48 irreconhecíveis). Ruptura por fadiga e falha de projeto.

Fig. 1: Ponte Ashtabula, antes e depois do desatre.

1919 Boston: Tanque de ferro-fundido de uma destilaria de álcool com 9000000 lts de melaço se rompe. Uma
onda de 5 metros de altura de melaço se forma, viajando a uma velocidade de 35 Km/h por aproximadamente
duas quadras. 150 pessoas feridas e 21 mortas. As causas da ruptura teriam sido sobrecarga e problemas
construtivos do tanque. Foi um dos primeiros casos na história em que a compania responsável teve que pagar
indenizações pelas mortes e danos.

Fig. 2. Tanque, de mais de 16 metros de altura, antes da ruptura.

1944 Cleveland: Ruptura de um tanque de gás natural liquefeito. Com a ruptura, houve a vaporização do gás
que se incendiou, causando uma gigantesca bola de fogo. Uma milha quadrada foi completamente destruida,
deixando 79 casas, 2 fábricas, 217 carros destruídos. 131 pessoas mortas, 300 feridas
Fig. 3: Destroços nas proximidades do tanque de gá liquefeito, em Cleveland, 1944.

1942-52: Ruptura dos navios Liberty-ships. Os Liberty ships eram navios de carga, usados na II guerra
mundial. Tornaram-se lendários por terem sido projetados para fabricação em série, de modo a agilizar o
tempo construtivo (2700 foram construidos, sendo que no final da guerra o tempo médio de construção era 5
dias) e também por terem sido pioneiros no uso da solda substituindo rebites. No início 30% deles afundaram
com ruptura catastrófica (no final da guerra a taxa caiu para 5%). As causas das rupturas foram a inexistência
de barreiras a propagação das trincas, como o fim das chapas, existentes no caso de cascos rebitados; falta de
experiência dos soldadares (não havia tempo hábil para treiná-los em função da guerra) e uso de metais de
baixa tenacidade.

Fig. 4: Liberty ship.


Fig. 5: Ruptura catastrófica em duas partes do SS John P Gaines em alto mar, 1943.

Tem-se início então as primeiras investigações sistemáticas patrocinadas pela American Bureau of Shipping,
onde conclui-se que a fratura catastrófica era relacionada a 3 fatores: má qualidade do aço, concentradores de
tensão e soldas defeituosas. Surge, em 1947, primeira norma restritiva quanto a composição química dos aços
empregados na construção naval .

1953-54: Queda de 3 aviões Comets (de Havilland 106 Comet). Ele foi o primeiro avião a jato comercial,
introduzido em 1949 e colocado em operação em 1952 . Posteriormente descobriu-se que as quedas
ocorreram por propagação de trincas que se originaram nas proximidades dos cantos das janelas – quadradas
– do avião (na verdade no furo de um rebite), e que se propagavam por fadiga causada pela
pressurização/despressurização da cabine. Após a descoberta, nenhum avião pressurizado usaria janelas sem
cantos arredondados.

Fig. 6: O DH 106 Comet em vôo.


Fig. 7: Primeira reconstrução feita na história dos destroços de um acidente aéreo, realizada num Comet.

Fig. 8: Ensaio hidrostático à fadiga, após a ruptura.

1962 Melbourne: Ponte King bridge rompe sem carga. Causa da ruptura: metal de baixa qualidade, falha de
projeto.
1967 Point Pleasant, W. Virginia: Ponte Silver Bridge ligando o estado W. Virginia a Ohio. Vão central
tinha mais de 130 metros. Em lugar de cabos, a ponte era suspensa por correntes ligadas por pinos. Um dos
elos de corrente se rompeu por clivagem devido ao clima frio e sobre-carga, causando a ruptura dútil de um
dos pinos. Com a ruptura de uma das correntes, toda a estrutura colapsou, causando a morte de 46 pessoas. A
ruptura foi causada por microtrincas que cresceram por fadiga e corrosão combinados.

Fig. 9: Ponte Silver bridge


Fig. 10: Ponte Silver bridge após colapso.

O desastre da ponte Silver bridge tornou-se um marco pois foi a primeira estrutura civil a ter o colapso
investigado com aplicação dos conceitos modernos da mecânica da fratura.

Conforme Kanninen e Popelar [1], o National Bureau Standars (NBS) estimou que as perdas anuais diretas e
indiretas na economia americana devido à fratura (em 1982) chegavam a 120 bilhões de dólares/ano e que em
torno de 35 bilhões de dólares poderiam ser economizados se conhecimentos de mecânica da fratura fossem
aplicados.

1.2 – PARADOXO DA RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS

Conforme Inglis (1913), num corpo infinito com um furo elíptico, a tensão na extremidade do furo
vale (ver Fig. 11):

σy
b
a ρ

Fig. 11

 a
σ y = 1 + 2 
 b

O raio de curvatura ρ da elipse, se relaciona com os semi-eixos a e b da elipse conforme abaixo:

1 a a a
= ou =
ρ b2 b ρ
Para um furo redondo (a=b), temos σ y = 3σ . No entanto, para uma trinca ( ρ = 0) temos σ y → ∞ . Portanto,
independente do tamanho da trinca, sua orientação, carga externa, as tensões deveriam atingir valores
infinitamente altos. Tal afirmação põe em cheque todos os conceitos da Resistência dos Materiais pois sabe-se
que todos os corpos possuem algum tipo de defeito, mesmo que apenas a nível microscópico. Logo todos os
materiais entrariam em colapso sob qualquer solicitação, o que não faz sentido físico. Tal paradoxo só se
desfez quando do estabelecimento dos princípios da Mecânica da Fratura, A idéia fundamental da Mecânica
da Fratura, lançada em 1926 por Griffith, consiste em estabelecer uma relação da resistência à fratura com o
tamanho das trincas, fato ignorado na dedução de Inglis pois era unicamante baseada nos conceitos clássicos
da Mecânica.

1.3 – PILARES DA MECÂNICA DA FRATURA

Abaixo coloca-se os três desenvolvimentos mais importantes que levaram a Mecânica da Fratura
moderna:

Griffith (1926):
Estabeleceu uma relação
entre resistência à fratura e
comprimento de trinca.

Irwin (1948):
Reformulou as idéias de
Griffith permitindo sua
aplicação à Engenharia

Rice & Hutchinson (1968):


Formularam as bases da
Mecânica da Fratura não
linear.
2 – CAMPOS DE TENSÕES E TAXA DE ALÍVIO DE ENERGIA NA PONTA DA TRINCA

Existem 3 modos possíveis de ruptura. Modo I e II (casos planos) e modo III (caso anti-plano). A
figura abaixo mostra as três situações:

Modo I Modo II Modo III

Abaixo são estudados os campos de tensão que se desenvolvem na ponta da trinca nos três casos.

2.1 –TENSÕES EM MODO III DE RUPTURA (CASO ANTI-PLANO)

Considere um corpo com uma trinca de comprimento “a” em que o único deslocamento é na direção z (ver
figura abaixo), sendo:

u z = w( x, y ) (2.1)

Tal situação é denominada “anti-plana”. As únicas tensões seriam:

σ RZ
x
z σ θZ
R
θ

a
Considerando um material Hookeano, o problema é governado pelas seguintes equações:

ε ij =
1
(ui, j + u j ,i ) (2.2)
2

σ ij ,i = 0 (2.3)

 ν 
σ ij = 2µ  ε ij + ε kk δ ij  (2.4)
 1 − 2ν 

onde, σ ij são as tensões de Cauchy, ε ij deformações infinitesimais, ν e µ são o coeficiente de Poisson e o


módulo de elasticidade transversal, respectivamente. Estes últimos se relacionam com o módulo de
elasticidade longitudinal E através da relação:
E
µ= (2.5)
2(1 + ν )

Substituindo (2.1) em (2.2), temos,

1 1
ε xz = w, x e ε yz = w, y (2.6)
2 2

e substituindo (2.6) em (2.4),

σ xz = µ w, x e σ yz = µ w, y (2.6)

A eq. de equilíbrio (2.3) então fica:

w,ii = 0 ou ∇2 w = 0 (2.7)

Ou seja, a equação de equilíbrio corresponde a equação de Laplace. Colocada em coordenadas cilíndricas


temos (ver Timoshenko):

∂2w 1 ∂w 1 ∂ 2 w
+ + =0 (2.8)
∂r 2 r ∂r r 2 ∂θ 2

onde

∂w 1 ∂w
ε rz = e ε θz = (2.9)
∂r r ∂θ

∂w 1 ∂w
σ rz = µ e σ θz = µ (2.10)
∂r r ∂θ

Pode-se assumir que w(r ,θ ) = f (r ).g (θ ) onde f e g são funções a serem determinadas. Logo, (2.8) fica:

1 1
f ′′g + f ′g + g ′′f = 0 (2.11)
r r

ou

(r 2
)
f ′′ +rf ′ g + g ′′f = 0 (2.12)

Aplicando a conhecida técnica de separação de variáveis para a solução de equações diferenciais, temos que:

(r 2
)
f ′′ +rf ′ − g ′′
= = k2 (2.13)
f g

temos então duas equações independentes:

r 2 f ′′ +rf ′ − k 2 f = 0 (2.14)

g ′′ + gk 2 = 0 (2.15)
A solução das eqs. (2.14) e (2.15) são, respectivamente,

f (r ) = r k

g (θ ) = a cos kθ + b sen kθ

logo,

w(r ,θ ) = ar k cos kθ + br k sen kθ (2.16)

onde a e b dependem das condições de contorno do problema. Substituindo (2.16) em (2.10), temos

σ θz = −akµ r k −1 sen kθ + bkµ r k −1 cos kθ (2.17)

(observe que do ponto de vista da ruptura em modo III, a componente σ θz é a única que interessa).
Aplicando as condições de contorno:

σ θz = 0 para θ = ± π

Duas opções são possíveis:


b=0 e k= ± 1, ± 2, ± 3...
a=0 e k= ± 1/2, ± 3/2...

Para tomar-se uma decisão, é necessário analisar-se a energia de deformação específica Φ :

1
Φ = σ ijε ij =
1
(σ θzεθz + σ rzε rz )
2 2
A energia de deformação por unidade de espessura pode ser escrita como:

 
R π
1
R π  
σ θzε θz + σ rzε rz  r dθ dr
E=∫
0
∫πΦ r1d2

θ dr = ∫
3 2
0
∫ 123 123 
−π 
dA
 σ θz rσ rz2

2

 2 µ 2µ 
Os termos em r resultam:
R R
E ∝ ∫ r 2( k −1 )rdr = ∫ r 2 k −1dr
0 0

Observe que para o domínio de integração ou volume tendendo a zero ( r → 0 ), apesar das tensões tenderem a
infinito, a energia tem que tender a zero. Logo 2k − 1 ≥ 0 , ou k ≥ 1 / 2 . No entanto, valores maiores que k=1/2
(como 1, 3/2, etc), substituidos em (2.17) eliminariam a singularidade das tensões em r, o que estaria em
desacordo com o esperado para o campo de tensões na ponta da trinca. Logo a única possibilidade para as
constantes de integração é a=0 e k=1/2. Resulta então:

bµ θ
σ θz = cos (2.18)
2 r 2

A constante b incorpora condições de contorno longe da trinca e pode ser convenientemente escrita como:
2 K III
b=
µ 2π

(2.18) pode então ser escrita como:

K III θ
σ θz = cos (2.19)
2πr 2

KIII é denominado fator de intensidade de tensões para o modo III de propagação de trincas e tem unidades de
tensão multiplicada pela raíz de um comprimento (MPa m1/2 ou N mm-3/2). KIII conterá todo o efeito das
condições de contorno longe da trinca. Assim a expressão (2.19) pode ser empregada para calcular as tensões
nas proximidades da trinca para qualquer situação anti-plana (casos elásticos).

2.2 –TENSÕES EM MODO I E II DE RUPTURA (CASOS PLANOS)

Em casos planos (EPT ou EPD), o estado de tensões na ponta da trinca é ilustrado na figura abaixo:

y
σ RR

x σ θR
z
R
θ σ θθ

O modo I de ruptura é causado pelas tensões σ θθ que valem:

KI 3 θ 1 3θ 
σ θθ =  cos + cos  (2.20)a
2πr  4 2 4 2

Já as demais componentes valem:

K I 5 θ 1 3θ 
σ RR =  4 cos 2 − 4 cos 2 
(2.20)b
2πr  

K I 1 θ 1 3θ 
σ θR =  4 sen 2 + 4 sen 2 
(2.20)c
2πr  

1 r  θ 3θ 
uθ = KI  − ( 2β + 1 ) sen + sen  (2.20)d
4µ 2π  2 2

1 r  θ 3θ 
uR = KI ( 2β − 1 ) cos − cos  (2.20)e
4µ 2π  2 2
onde

β = 3 − 4ν => EPD

3 −ν
β= => EPT
1 +ν

O modo II de ruptura é causado pelas tensões σ θR que valem:

K II  1 θ 3 3θ 
σ θR =  4 cos 2 + 4 cos 2 
(2.21)a
2πr  

Já as demais componentes valem:

K II  3 θ 3 3θ 
σ θθ = − 4 cos 2 − 4 cos 2 
(2.21)a
2πr  

K II  5 θ 3 3θ 
σ RR = − 4 sen 2 + 4 sen 2 
(2.21)a
2πr  

1 r  θ 3θ 
uR = K II  − ( 2β + 1 ) sen + 3 sen  (2.21)d
4µ 2π  2 2

1 r  θ 3θ 
uθ = K II  − ( 2β − 1 ) cos + 3 cos  (2.21)e
4µ 2π  2 2

KI e KII são os fatores de intensidade de tensões para os modos I e II de propagação de trincas respectivamente
e, assim como KIII, conterão todo o efeito das condições de contorno longe da trinca.

Pode-se concluir dos itens 2.1 e 2.2 que o estado de tensões nas proximidades da ponta da trinca pode ser
calculado para qualquer situação desde que seja possível determinar ou medir os fatores de intensidade de
tensão K. Todas as expressões vistas mostram uma singularidade na ponta da trinca ( r → 0 ) o que está de
acordo com as conclusões de Inglis, baseadas na Mecânica clássica, ou seja:

f (θ )
K
σ= (2.22)
2πr

Graficamente,

r
a
R
O círculo R que aparece na figura acima mostra a região – nas proximidades da trinca – onde o campo de
tensão é dominado pela presença da trinca e onde aplicam-se as expressões aqui deduzidas. Tal zona é
denominada zona de dominância do K. Longe da trinca, a mesma pode ser ignorada do estudo de tensões.
Dentro da zona assinalada, o efeito da forma do corpo, fixação e carregamente modificarão os valores de K
unicamente. Observe, no entanto, que a forma da distribuição de tensões permanece a mesma, independente
das condições de contorno.

2.3 –TAXA DE ALÍVIO DE ENERGIA

Sejam dois corpos idênticos, mesma carga, exceto que um tem uma trinca de comprimento a e outro tem uma
trinca de comprimento a+∆a (considere que a trinca abre em modo I). A diferença da energia potencial entre
os dois corpos pode ser calculada como a energia necessária para fechar o comprimento ∆a da trinca a+∆a.
Tal energia pode ser calculada multiplicando as forças que atuam na ponta da trinca a ( tθ = σ θθ nθ ), pelos
deslocamentos na ponta da trinca a+∆a ( ∆uθ ), conforme mostra a figura abaixo:


a

a+∆a

Assim a variação de energia potencial entre os dois casos pode ser escrita como (admitindo uma espessura
unitária do corpo):

∆a ∆a
∆Π = ∫ tθ ∆uθ dx = ∫ σ θθ (r ,0)n{θ [uθ (∆a − r ,π ) − u θ (∆a − r ,−π )]dr (2.23)
0 0 1

Define-se taxa de alívio de energia devido a progação (G) como:

dΠ ∆Π
G =− = − lim (2.24)
da ∆a → 0 ∆a

O sinal menos torna G uma grandeza positiva, uma vez que a energia potencial do corpo diminue quando há a
propagação de uma trinca. G é uma das grandezas fundamentais da Mecânica da Fratura, conforme será visto
no capítulo 3, e tem unidades de energia por unidade de área da trinca (N/mm; N/m; etc.). Substituindo as eqs.
(2.23) em (2.24), temos:

∆a
σ θθ (r ,0) [uθ (∆a − r ,π ) − uθ (∆a − r ,−π )]dr
1
∆a ∫0
G= − (2.25)
onde (ver (2.21)):

k + 1 ∆a − r
uθ (∆a − r ,π ) − uθ (∆a − r ,−π ) = − K I
µ 2π

e (ver (2.20)):

KI
σ θθ ( r ,0 ) =
2πr

resultando:

∆a
K I2 ( k + 1 ) ∆a − r
G=
4πµ ∆a ∫
0
r
dr (2.26)

Redefine-se r como:

r = ∆a sen2 β (2.27)

dr = 2∆a sen β cos β dβ (2.28)

onde

r =0→β =0
π
r = ∆a → β =
2

Substituindo (2.28) e (2.27) em (2.26), resulta (observe que a variável de integração passa a ser β e não mais
r, o que obriga a troca dos limites de integração conforme a relação acima):

π /2
K I2 ( k + 1 ) ∆a − ∆a sen 2 β
G= ∫ 2∆a sen β cos β dβ
4πµ ∆a 0
∆a sen 2 β

que pode ser reescrita como:

π/2 π/2
K I2 ( k + 1 ) K I2 ( k + 1 )  1
G= ∫ cos β dβ =
2
 (β + sen β cos β )
2πµ 0
2πµ 2 0

ou

( k +1) 2
G= KI

em EPD ( k + 1 = 4( 1 − ν ) ), resulta:

1 −ν 2 2
G= KI (2.29)
E
e em EPT ( k = ( 3 − ν ) ), resulta:
(1 +ν )

1 2
G= KI (2.30)
E

Em geral, pode-se dizer:

∆a ∆a
1 1
∆u1 + t 2 ∆u 2 + t3 ∆u3 )dx = − ∫ ( σ12∆3
u +σ ∆u + σ ∆u )dx
2 ∆a ∫
G= − (t
2 ∆a
1 12 1 22 2 32 3
1424
3 1 424
3
0 0 energia II energia I energia III

resultando:

1 −ν 2 2 1 −ν 2 2 1 +ν 2
G= KI + K II + K III (2.31)
E E E

2.4 – INFLUÊNCIA DO SISTEMA DE APLICAÇÃO DE CARGA NA TAXA DE


ALÍVIO DE ENERGIA

É interessante verificar como a rigidez do sistema que aplica carga no corpo afeta G. Tal sistema será aqui
denominado “máquina” e será identificado pelo sub-índice m. Assim, seja o corpo trincado abaixo (trinca de
comprimento a), ao qual é aplicado uma carga P, sofrendo um deslocamento total (corpo + máquina) UT.

P, UT

P, UT

Onde

UT = U + U M (2.32)

U = K −1 P = C P; U M = K M−1 P = CM P (2.33)

Onde K e KM são a rigidez do corpo e da máquina, respectivamente e C=1/K e CM =1/KM são a compliância
do corpo e da máquina, respectivamente. (Observe que, quando tem-se deslocamento prescrito, KM →∝ e
quando tem-se força prescrita, KM → 0 ). A energia potencial total do sistema pode ser escrita como:
1 1
Π = PU + PU M (2.34)
2 2

Substituindo (2.34) em (2.33), resulta,

1 U 2 1 U M2 1 U 2 1 ( U T − U )2
Π = + = + (2.35)
2 C 2 CM 2 C 2 CM

Usando a definição de G (2.24) e considerando que U(a), C(a) e CM independe de a, resulta:

dΠ  U ∂U U 2 ∂C ( U T − U ) ∂U  U 2 ∂C ∂C
G =− = − − − = 2 = P2 (2.36)
 C ∂a C ∂a UT ∂a  C ∂a UT ∂a UT
2
da UT UT CM UT 

Logo, a taxa de alívio de energia na ponta da trinca e por consequência os fatores de intensidade de tensão KI,
KII e KIII, independem da forma como a carga é aplicada (deslocamento ou força prescrita).

2.5 – EXEMPLO DE DETERMINAÇÃO DOS FATORES DE INTENSIDADE DE


TENSÃO

A equação (2.31) fornece uma poderosa ferramenta para o cálculo dos fatores de intensidade de tensão.
Abaixo um exemplo de tal aplicação é mostrada:

Seja um corpo em EPT com uma trinca de comprimento a (onde a>>b), solicitada conforme desenho abaixo:

b
a b

Tal situação pode ser representada simplificadamente conforme abaixo:

b
a
b

x
P

Da teoria de vigas sabemos que:


M
η ′′ = −
EI

onde η é a deflexão da viga numa certa seção x, M o correspondente momento fletor, E o módulo de
elasticidade e I o momento de inércia. Para o caso particular acima, temos duas vigas engastadas/livres com
uma carga na ponta, resultando:

P  x3 x2 
η=  − a  + c1 x + c2
EI  6 2

Aplicando as condições de contorno para determinar-se c1 e c2,

η(x=0)=0 → c2 = 0
η´(x=0)=0 → c1 = 0

Resulta:

Px 2  x a 
η=  − 
EI  6 2 

logo,

Pa 3 4 Pa 3
η( x = a ) = − =−
3EI Eb3t
onde t é a espessura da viga. O deslocamento total na ponta da trinca resulta então:

8 Pa 3
∆=
Eb3t
A compliância do conjunto pode então ser calculada como:

∆ 8a 3
C= =
P Eb 3t
Logo, da equação (2.36), temos:

1 2 24a 2 12 P 2 a 2
G= P =
2t Eb 3t Eb 3t 2
ou

Pa
K I = EG = 2 3b
b 2t
2.6 – VALORES DE K PARA ALGUNS CASOS CLÁSSICOS

a) Trinca a em um meio infinito submetido a tração remota σ perpendicular ao plano da trinca:

K I = σ πa

b) Trinca a em um meio infinito submetido a cisalhamento remoto τ paralelo ao plano da trinca:

K II =τ πa

c)
σ

K I =1.122 σ πa
2.7 – EXERCÍCIOS

Determinar, para os casos abaixo, os valores de KI (admitir EPT e uma espessura t).
a)
P

h2 a h1

b)

h2 a h1

c)

b
a
b

Você também pode gostar