Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
P377s
Peçanha, Ricardo
Sistemas particulados# : operações unitárias envolvendo partículas e fluidos /
Ricardo Peçanha. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2014.
424 p. : il. ; 24 cm.
Apêndice
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-352-7721-0
Thomas F. Malone
Chemical and Engineering News,
30 ago. 1982
v
À memória de meus pais, Nilo Peçanha (1909-1998)
e Altiva Pires Peçanha (1912-1989) que, de alguma
maneira, me possibilitaram passar da pergunta
“por quê?” à pergunta “como?”.
vii
Prefácio
■ avaliação,
■ ajuste operacional.
Referências
BROWN, G. G. & Associates. Unit Operations. New Jersey: John Wiley & Sons, 1950.
FURTER, W. F. A Century of Chemical Engineering. New York: Plenum Press, 1982.
CAPÍTULO 1
Caracterização de partículas
1.1 AMOSTRAGEM
O uso de técnicas de amostragem relaciona-se a uma necessidade prática
de caracterizar um todo, analisando-se apenas uma parte dele. Isso
porque os equipamentos e instrumentos de análise sempre têm uma
capacidade limite. A amostragem pode, então, ser definida como o
processo que permite obter uma amostra representativa das caracterís-
ticas do todo. Em princípio, a caracterização de tal amostra deveria
fornecer o mesmo resultado caso o todo original fosse analisado. O pro-
blema prático que se coloca, então, é o de desenvolver técnicas e/ou
equipamentos que nos permitam obter rapidamente essas amostras
representativas.
No caso específico da amostragem de partículas, mesmo que o material
recebido para análise tenha sido obtido originalmente com técnicas de
amostragem, seu transporte (p. ex., da mina até o pátio de estocagem
da indústria e daí para o laboratório de análises) está sujeito a uma
série de eventos de natureza mecânica, tais como impactos, quedas e
vibrações (estas últimas, às vezes por várias horas), que podem levar a
algum tipo de segregação ou classificação de partículas, internamente
à própria embalagem. Essa classificação, quando ocorre, deve-se a
diferenças de densidade, tamanho e forma das próprias partículas, 3
4 CAPÍTULO 1 : Caracterização de partículas
FIGURA 1.1
Amostragem de um todo homogêneo.
massa da partícula
ρS ≡ (1.1)
volume da partícula
densidade da partícula
SG S ≡ densidade da água
(1.2)
1.3 Densidade relativa de partículas 7
ou seja
ρS
SG S ≡ ρágua (1.3)
FIGURA 1.2
Picnômetro para sólidos.
m 2 − m1
SG S = ( m − m ) − ( m − m ) (1.4)
4 1 3 2
SG S = SG SL × SG L (1.5)
Note-se que o SGL pode ser obtido com três pesadas (picnômetro vazio,
com o líquido inerte e com água). Alternativamente, se um picnômetro
graduado em volume e com calibração confiável estiver disponível,
determina-se a densidade do líquido inerte com duas pesadas. Esta,
dividida pela densidade da água (valor tabelado na mesma temperatura
e pressão), é igual ao SGL a ser usado na Equação 1.5
A partir do valor da SGS (tabelado ou experimental), que não depende
de unidades, obtém-se ρS nas unidades desejadas através da própria
definição de SGS, Equação 1.3:
ρS = SG S ρágua (1.6)
lineares).
■ Tronco de cone reto: caracterizado por dois diâmetros e uma
Responda:
■ A partícula de formato irregular é caracterizada por quantas
dimensões lineares?
A impossibilidade prática de se determinar o número de dimensões
lineares necessárias para se caracterizar, univocamente, partículas de
formato irregular, que são as mais comumente encontradas nos sis-
temas particulados, resultou em duas metodologias de atribuição de
tamanhos às partículas: diâmetros de esferas equivalentes e diâmetros
estatísticos. Assim, em lugar de “tamanho de partícula” usa-se “diâmetro
de partícula”, conforme segue.
πd3P
VP = (1.7)
6
Ou seja:
6VP
dP = (1.8)
3
π
6
dP = L π (1.9)
3
1.4 Tamanho de partículas 11
6 ( m 2 − m1 )
DP = 3
π N ρS
(1.10)
ou seja,
SP
dS = π
(1.12)
6
dS = L π (1.13)
πd 2A
A
P = (1.14)
4
ou seja,
AP
d A = 2 (1.15)
π
1
d A = 2L π (1.16)
FIGURA 1.3
Peneira menos (–), partícula e peneira mais (+).
1.4 Tamanho de partículas 15
Define-se, então:
d −# + d +#
d# = (1.17)
2
O2
P = × 100 (1.19)
( O + D )2
ou então
P = (O × M )2 × 100 (1.20)
(
D2 ρS − ρ b )
v t , Stk = 18 µ
(1.21)
D ≡ dStk (1.22)
isto é,
18 µ v t ,Stk
d = (1.23)
Stk ( ρS − ρ b)
Assim, no cálculo do dStk de dada partícula, tem-se, antes, que determinar
experimentalmente sua velocidade terminal (vt,Stk) naquele fluido, sob
a ação do campo externo de forças de intensidade b.
No importante caso do campo gravitacional terrestre, cuja intensidade
é tradicionalmente representada por g, tem-se:
18 µ v t ,Stk
dStk = ( ρ S − ρ) g
(1.24)
18 CAPÍTULO 1 : Caracterização de partículas
FIGURA 1.4
Diâmetro de Ferret para três partículas distintas.
FIGURA 1.5
Diâmetro de Martin para três partículas distintas.
dStk
d ≅ 0,90 (1.25)
P
dA
d ≅ 1,34 (1.26)
P
d#
d ≅ 0,94 (1.27)
P
■ Cimento Portland
d Fe
d ≅ 1,3 (1.29)
Ma
1.4 Tamanho de partículas 21
■ Vidro moído
d Fe
d ≅ 1,2 (1.30)
Ma
d#
d ≅ 2,12 (1.31)
Stk
■ Quartzo moído
d#
d ≅ 0,89 (1.32)
P
FIGURA 1.6
Partículas cilíndricas de mesmo volume.
dP 2
φ = d (1.34)
S
Assim, para quantificar-se a esfericidade de uma partícula, depende-se
das técnicas e dos equipamentos usados na determinação de dP e dS,
vistos anteriormente.
Se a partícula sob análise possuir uma forma geométrica simples, sua
esfericidade pode ser calculada com fórmulas da geometria espacial. Por
exemplo, para um cubo de aresta L viu-se, anteriormente, que:
6
dP = L 3 π (Equação 1.9)
6
dS = L π (Equação 1.13)
2
6
L
3
π dA
χ = perímetro da projeção da partícula (1.36)
( )
Assim, para quantificar a circularidade de uma partícula, depende-se
das técnicas e dos equipamentos usados na determinação de d A,
1.5 Estatística de partículas 25
1
d A = 2L π (Equação 1.16)
1
π2L
χ= π = 0,8862 (constante característica do cubo
4L ou hexaedro regular)
FIGURA 1.7
Peneiras e “fundo” acopladas a agitador mecânico.
y i + z i = 1 (1.37)
FIGURA 1.8
Distribuição de frequências simples xi versus d#i .
32 CAPÍTULO 1 : Caracterização de partículas
FIGURA 1.9
Distribuição de frequências acumuladas yi versus d+# e zi versus d+# .
X ≡ x /d? (1.40)
X = X (d? ) (1.41)
y = y (d? ) (1.42)
z = z (d? ) (1.43)
∫ 0 X (d? ) dd?
k
y = (1.44)
1.5 Estatística de partículas 35
∫d
k
y = X (d? ) dd? (1.45)
?min
dy (d? )
X ( d ? ) = (1.46)
dd ? d? =k
∫k
d?max
z = X (d? ) dd? (1.47)
dz (d? )
X (d? ) = − dd (1.48)
? d? =k
com
d
ln ?
D50
u = (1.51)
2 ln σ
e
2
( )
u
erf ( u ) = π ∫0
exp − t 2 dt (1.52)
D84,1 D50
σ = D = D (σ ≥ 1) (1.53)
50 15,9
1
z = 2 [1 − erf ( u′)] (1.54)
com
D′50 ′
D15,9
σ ′ = D′ = D′ (σ ′ ≥ 1) (1.55)
84,1 50
1
ln 1 − y = n ln d? − n ln D63,2
ln (1.57)
Essa equação mostra que ln [ln (1/(1-y))] é uma função linear de ln d?.
Assim, sobre um diagrama log-log, plotando ln (1/(1-y)) no eixo das
ordenadas e d? no eixo das abscissas, tem-se uma reta de inclinação n.
Enfatize-se que não é correto fazer referência a “coeficiente linear” da
reta, pois em escalas logarítmicas não existe o valor zero (que no caso
seria d? = 0), para o qual se define o coeficiente linear da geometria
analítica, que usa escalas uniformes ou cartesianas.
40 CAPÍTULO 1 : Caracterização de partículas
de sua combustão é usado para gerar vapor d’água de alta pressão que,
expandido em turbinas, aciona geradores de eletricidade.
A missão Apollo 11 (julho/1969) trouxe para a Terra amostras do solo
lunar (denominado rigolito), cujas partículas, semelhantes a cacos de
vidro finíssimos, tinham DT muito bem ajustada pelo modelo RRB. Veio
daí a especulação de que o solo lunar, como o carvão pulverizado, seria
também um produto de moagem. No caso da Lua, a moagem se daria
pelo contínuo impacto de meteoros em sua superfície, os quais agiriam
como as bolas de aço dos moinhos de bolas. Diferentemente da Terra,
em que a maioria dos meteoros vaporiza-se devido ao atrito com o ar
antes de tocar o chão, na Lua não existe uma atmosfera gasosa, e os
sucessivos impactos de meteoros, ao longo de centenas de milhões de
anos, teriam pulverizado as camadas superficiais de seu solo.
O modelo RRB é superior ao LN tanto no ajuste de distribuições de
tamanhos assimétricas quanto nas obtidas com peneiras.
■ Modelo de Gates, Gaudin e Schuhmann (GGS)
Definição:
m
d?
y = D (1.58)
100
Essa equação mostra que log y é uma função linear de log d?. Assim,
sobre um diagrama log-log, plotando y no eixo das ordenadas e d? no
42 CAPÍTULO 1 : Caracterização de partículas
mx i
Ni = ρ C d3 (1.61)
S i ?i
C D?3
∑ Ci d?i3 Ni
i=1
= (1.63)
BD?2 n
∑ 2
Bi d?i Ni
i=1
1.5 Estatística de partículas 45
n
∑ xi
i =1 (1.66)
D? = n
x
∑di
i =1 ?i
1
D = (1.67)
? n
x
∑ di
i=1 ?i
46 CAPÍTULO 1 : Caracterização de partículas
i=1
dy
y ′ = dd (1.70)
?
1
D = (1.71)
? y′
∫
d? max
dd?
d? min d?
C ( d? ) d?3N ( d? )
K
CD?3
=
0 ∫ d?
dd?
(1.72)
BD?2 ( ? ) ? ( ? ) dd
K B d d2N d
0 ∫ d? ?
∫
K
C ( d? ) d?3 dd?
ρS C ( d? ) d?3
CD?3 d?
2 =
0
(1.74)
BD? mx ( d? )
∫
K
B ( d? ) d?2 dd?
ρS C ( d? ) d?3
0 d?
Considerando-se que m representa a massa da amostra analisada, isto
é, uma constante, e que ρS , B e C são, por hipótese, iguais para todas as
partículas da amostra, várias simplificações são possíveis em ambos os
lados da igualdade, resultando:
x ( d? )
K
0
D = K
∫ d?
dd?
(1.75)
? x ( d? )
0 ∫ d?2
dd?
D =
∫ 0
X ( d? ) dd?
(1.76)
? K X ( d? )
∫ 0 d?
dd?
1.5 Estatística de partículas 49
D =
∫ dy (d )
0
?
(1.77)
? 1 1
∫ 0 d?
dy ( d? )
1
D = (1.78)
? 1 1
∫ 0 d?
dy ( d? )
D63,2
D? = (para n > 1) (1.80)
1
Γ 1 −
n
em que
∞
Γ (r ) = ∫ 0 e −ηηr −1dη (função gama) (1.81)
Referências
ALLEN, T. Particle Size Measurement. 3. ed. London: Chapman and Hall, 1981.
GY, P. M. Sampling of Particulate Materials – Theory and Practice. 2. ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 1982.
HOUAISS, A.; VILLAR, M. S.; FRANCO, F. M. M. Dicionário Houaiss da Língua
Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
MASSARANI, G. Problemas em Sistemas Particulados. São Paulo: Edgard Blücher,
1984.
OHLWEILER, O. A. Química Analítica Quantitativa, v. 1/4, 3. ed. São Paulo: LTC
Editora, 1989.
PERRY, R. H. (Editor). Chemical Engineers’ Handbook. 5. ed. New York:
McGraw-Hill, 1973.
PERRY, R.H. (Late Editor); GREEN, D.W. (Editor). Perry’s Chemical Engineers’
Handbook. 6. ed. New York: McGraw-Hill, 1984.
WADELL, H. “Volume, Shape and Roundness of Rock Particles”. Journal of
Geology, v. 40, p. 443, 1932.
PROBLEMAS PROPOSTOS
Observação
Os apêndices A e B contêm informações importantes sobre a elaboração de
trabalhos escolares (listas de exercícios, testes e provas).
1.5 Estatística de partículas 51
FIGURA C1.1
A B
mesh (Tyler) yA ( < d#+) yB ( < d#+)
–16 + 24 1,00 0,94
–24 + 32 1,00 0,80
–32 + 42 0,91 0,72
–42 + 60 0,78 0,55
–60 + 80 0,44 0,39
–80 + 115 0,25 0,21
–115 0,00 0,00
Pede-se:
a) Calcule o diâmetro médio de Sauter de uma mistura dos dois
catalisadores, na proporção de 3 partes em massa de A para duas
de B.
1.14 Dispõe-se de amostras de um material moído nas seguintes faixas de
granulométricas (peneiras série Tyler): –10 + 14, –14 + 20, –20 + 28,
–28 + 35 e – 35 + 48. Pede-se:
a) Selecione massas dessas frações de tal modo que a mistura delas
tenha 50 kg e obedeça o modelo de distribuição de tamanhos LN
(Log-Normal) com parâmetros D50 = 0,6 mm e σ = 2,0.
1.15 O modelo de distribuição de tamanhos y = 1/[1 + (D50/d?) p] é conhecido
como “sigmóide”, em que y é a fração ponderal de partículas
menores que dado d? (sendo d? um diâmetro de partícula de tipo
não especificado), D50 é um parâmetro definido como o diâmetro de
partícula tal que y = 0,5 e p é um parâmetro empírico adimensional.
Dada a tabela a seguir,
pede-se:
a) Calcule o valor dos parâmetros D50 e p para a análise granulométrica
com peneiras da série Tyler.
1.16 A tabela a seguir mostra a análise granulométrica de uma resina
troca-ions obtida usando peneiras padronizadas da série Tyler.
Interação partícula-fluido
2.1 DINÂMICA
Nesse ponto, é muito importante lembrar que forças dependem de re-
ferencial e, também, que referencial é um corpo material no qual se en-
contra o observador, que analisa o movimento de outro corpo material
das redondezas do primeiro. Em geral, o observador é um ser humano,
provido de instrumentos de medição, tais como régua (para medir dis-
tâncias), cronômetro (para medir intervalos de tempo) e balança (para
medir massas).
Um referencial é classificado como inercial quando nele se verificam
as três leis de Newton (princípios da inércia, da dinâmica e da ação e
reação). Ou seja, as leis de Newton definem o referencial inercial. Se
um observador constata que dado corpo se move em relação a ele, em
trajetória retilínea e sem aceleração, ou está em repouso, então, pela
primeira lei de Newton, ele deve constatar também que a força resultante
sobre o corpo é nula. Se isso ocorre, o observador é dito ser inercial.
Porém, se apesar da trajetória retilínea sem aceleração ou repouso o
referido observador verificar que existe uma força resultante agindo no
corpo, ele é categorizado como não inercial. 59
60 CAPÍTULO 2 : Interação partícula-fluido
FIGURA 2.1
Partícula suspensa em fluido em escoamento.
■ ρ , densidade do fluido;
■ m, viscosidade dinâmica do fluido;
■ U∞, velocidade de aproximação (ou não perturbada) do fluido;
■ u1, u2, u3, velocidades do fluido próximas a partícula;
■ b, intensidade do campo externo de forças.
Embora os eixos triortogonais indicados no desenho sugiram o uso de
coordenadas cartesianas, com dada origem e certa orientação espacial,
de fato, o tipo de sistema de coordenadas não foi explicitado. Tal escolha
depende, fundamentalmente, da geometria das paredes que confinam
o sistema, isto é, do equipamento analisado.
As linhas de corrente mostradas esquematicamente na Figura 2.1 re
velam que o campo de velocidades do fluido nas proximidades da
partícula é bastante complexo. Basta lembrar que linhas de corrente
são, por definição, tangentes à velocidade do fluido em cada ponto. Fica
claro também que o tamanho e a forma da partícula são determinantes
da deformação das linhas de corrente nessa região. Note que, longe da
partícula, as linhas de corrente tendem a ser paralelas.
A segunda lei de Newton aplicada à partícula se escreve:
n
d
∑ fi = dt (m v )
(2.1)
i=1
2.1 Dinâmica 63
absoluta, L T–2);
■ w, velocidade angular da partícula (dimensão absoluta, T );
–1
fd = fD + fL
(2.5)
em que
fD é paralela a U∞ e denomina-se força de arraste
e
fL é perpendicular a U∞ e denomina-se força de sustentação.
Experimentalmente, já se estabeleceu que fD é fortemente dependente da
área da superfície da partícula, enquanto que fL depende principalmente
da forma da partícula.
Ocorre que as partículas comumente encontradas nas operações unitá-
rias são tais que, na prática, se tem:
fL ≅ 0
(2.6)
Ou seja, com boa aproximação, pode-se escrever para tais partículas que:
fd ≅ fD
(2.7)
Cumpre comentar brevemente dois casos em que a força de sustentação
(fL ) não é desprezível: partículas com perfil de aerofólio e partículas
com rotação intrínseca. Esses casos dificilmente ocorrem nas operações
unitárias.
■ Partículas com perfil de aerofólio
66 CAPÍTULO 2 : Interação partícula-fluido
FIGURA 2.2
Escoamento de fluido sobre partícula com perfil de aerofólio.
p u2
+ + g z = constante
(2.8)
ρ 2
em que p é pressão no fluido, ρ é densidade do fluido, u é velocidade
do fluido, g é aceleração da gravidade local e z é a cota do ponto consi-
derado, medida de baixo para cima, isto é, no sentido oposto a g.
2.1 Dinâmica 67
FIGURA 2.3
Linhas de corrente acima e abaixo de um aerofólio.
FIGURA 2.4
Escoamento de fluido sobre cilindro girante.
FIGURA 2.5
Linhas de corrente acima e abaixo de um cilindro girante.
FIGURA 2.6
Rotor de Flettner.
70 CAPÍTULO 2 : Interação partícula-fluido
dv
fC + fE + fD = m
(2.9)
dt
Tendo em vista as expressões de fC e fE, respectivamente Equações (2.3)
e (2.4), vem:
dv
C b − ρ Vp b + fD = m
(2.10)
dt
2.1 Dinâmica 71
C=m
(2.11)
A definição de densidade de partícula, Equação 1.1, permite escrever:
m = ρs Vp
(2.12)
Em vista desses dois últimos resultados, a segunda lei de Newton aplica-
da à partícula no caso de campos gravitacionais e centrífugos, se escreve:
dv
(ρs − ρ) Vp b + fD = m
(2.13)
dt
Nesse ponto do desenvolvimento, uma pergunta óbvia é: de que maneira
a força de arraste (fD) depende das variáveis envolvidas no problema?
A resposta a essa indagação só pode ser obtida em bases teóricas, isto é,
recorrendo-se exclusivamente a leis físicas conhecidas e métodos mate-
máticos, em casos muito idealizados. O exemplo mais conhecido é a lei
de Stokes, que, entre outras restrições, só vale para partículas esféricas,
baixas velocidades relativas partícula-fluido e fluidos newtonianos. A lei
de Stokes será estudada mais adiante.
Para partículas de formato irregular, a dependência de fD com as demais
variáveis envolvidas no problema pode ser estabelecida experimentalmente.
Nesse sentido, o primeiro passo é formar grupos adimensionais com as
referidas variáveis, o que é feito por meio de uma metodologia conhecida
como análise dimensional. O uso de grupos adimensionais na correlação
de dados experimentais, de fato, economiza tempo e recursos. Tradicional-
mente, essa técnica é apresentada em cursos básicos de mecânica dos fluidos.
O primeiro passo, de fato o mais importante da análise dimensional,
é a seleção das variáveis relevantes no problema estudado. O sucesso
dessa escolha depende muito da base teórica e experiência prática do in-
divíduo que analisa o problema. No presente caso, são cinco as variáveis
relevantes a serem consideradas:
■ fD (força de arraste), dimensões absolutas MLT–2;
■ d? (tamanho de partícula), dimensão absoluta L;
absolutas ML–1T–1;
72 CAPÍTULO 2 : Interação partícula-fluido
fD
Π1 = 2
(2.14) 2
d? U ∞ − v ρ
µ
Π2 =
(2.15)
d? U ∞ − v ρ
8Π1 fD
=
(2.16) 2
π 1 2 π d?
ρ U∞ − v
2 4
Esse novo grupo adimensional recebe o nome de “coeficiente de arraste”
e será representado pelo símbolo CD:
fD
CD =
(2.17) 2
1 2 π d?
ρ U∞ − v
2 4
Note que:
1
1. ρ U ∞ − v 2 é uma energia cinética por unidade de volume
2
de fluido característica do sistema fluido-partícula;
πd?2
2. é uma área característica da partícula, igual à área de um
4
círculo de diâmetro d?.
2.1 Dinâmica 73
d U −v ρ
Re p = ? ∞
(2.18)
µ
Note que tanto CD quanto Rep dependem do tamanho de partícula (d?).
Entretanto, até aqui, o tipo de tamanho de partícula não foi especificado.
Na área de sistemas particulados, convencionou-se adotar como padrão
o diâmetro de partícula dp, definido anteriormente (item 1.4-1) como
“diâmetro da esfera de mesmo volume que a partícula”. A escolha de
dp tem a ver com o fato de que a massa da partícula, característica fun-
damental no estudo de sua dinâmica, pode ser expressa em função de
dp e da densidade da partícula. A partir das definições de dp e ρS é fácil
mostrar que:
π d3p ρs
m=
(2.19)
6
Pode-se, então, reescrever CD e Rep conforme segue:
fD
CD =
(2.20) 2
1 2 π dp
ρ U∞ − v
2 4
dp U ∞ − v ρ
Re p =
(2.21)
µ
A respeito da área característica da partícula presente no denominador
de CD, convém mencionar que, em outras especializações de engenharia,
74 CAPÍTULO 2 : Interação partícula-fluido
πd 2p
A≡
(2.23)
4
Obtém-se então para o vetor força de arraste, que age sobre a partícula,
a clássica expressão:
A
fD = ρ U ∞ − v CD ( U ∞ − v )
(2.24)
2
Observe-se que o recurso matemático utilizado para dar consistência
vetorial à expressão da força de arraste foi o de desmembrar o quadrado
do módulo da velocidade relativa partícula-fluido em dois fatores de
mesma magnitude, mantendo inalterado o módulo da força.
A Equação (2.24) põe em destaque um fato extremamente importante: a
força de arraste que age na partícula tem a mesma direção e sentido que
o vetor velocidade relativa fluido-partícula, (U∞ – v), o que é consistente
com a lei de Stokes (veja adiante).
Finalmente, pode-se escrever a 2ª lei de Newton aplicada à partícula
para campos gravitacionais e centrífugos como:
A dv
(ρs − ρ) Vp b + ρ U ∞ − v CD ( U ∞ − v ) = m
(2.25)
2 dt
2.2 Velocidade terminal 75
v = v0+ g t
(2.26)
em que v é a velocidade do corpo no instante t, v0 é velocidade inicial
do corpo e g é a aceleração da gravidade. O adjetivo “livre”, no caso,
significa sem resistência. Essa expressão consta em qualquer livro texto
de Física básica, na parte referente a Mecânica, mais especificamente em
capítulo sobre Cinemática.
De acordo com a Equação 2.26, quando t tende para infinito, v tende
para infinito. Todavia, isso simplesmente não se verifica quando corpos
caem em contato com o ar. A previsão “errônea” da Equação 2.26 tem
uma explicação muito simples: a referida equação só vale para quedas
de corpos no vácuo, isto é, sem a presença da força de arraste, no caso,
devida ao ar, que oferece resistência ao movimento do corpo.
O fato bem estabelecido experimentalmente é que, quando uma partí-
cula cai em um fluido sob a ação de um campo externo de forças (o que
inclui o campo gravitacional do caso anterior), sua velocidade tende
a um valor constante, apropriadamente denominado velocidade ter-
minal, isto é, uma velocidade que, uma vez atingida, não se modifica.
O conceito de velocidade terminal tem grande importância na área
de sistemas particulados e corresponde, por definição, a um caso es-
pecífico de interação partícula-fluido: quedas de partículas em fluidos
estacionários (U∞ = 0) sob a ação de um campo externo de forças. É
claro que próximo da partícula o fluido se move lateralmente, de modo
a dar passagem a ela.
A Figura 2.7 mostra uma partícula sólida em queda em um fluido es-
tacionário, sob a ação de um campo externo de forças de intensidade b,
antes de atingir a velocidade terminal.
76 CAPÍTULO 2 : Interação partícula-fluido
FIGURA 2.7
Partícula caindo em fluido estacionário sob a ação de um campo externo.
(ρs − ρ) Vp b
vt =
(2.28)
A ρ CD
π d3P πd 2p
Lembrando que VP = (Equação 1.7) e que A ≡ (Equa-
ção 2.23) vem: 6 4
4 d p (ρs − ρ) b
vt =
(2.29)
3 ρ CD
Tem-se dois casos importantes a considerar em detalhe: campo gravita-
cional terrestre e campo centrífugo.
■ Campo gravitacional terrestre
Nesse caso, b ≡ g e a Equação 2.28 se escreve:
4 d p (ρs − ρ) g
vt =
(2.30)
3 ρ CD
FIGURA 2.8
Velocidade terminal de esferas em queda, sob a ação do campo gravitacional terrestre, em ar
e água a 70° F e 1 atm (Lapple et al. 1951, Perry, 1984).
4 d p (ρs − ρ) ω 2 r
vt =
(2.31)
3 ρ CD
τ=mB
(2.32)
em que m é a massa da partícula e B denomina-se mobilidade mecânica
da partícula, grandeza com dimensões absolutas T/M, muito usada no
estudo da dispersão de partículas coloidais na atmosfera, definida por:
v
B=
(2.33)
fD
Eliminando B entre as Equações 2.32 e 2.33, vem:
mv
τ=
(2.34)
fD
80 CAPÍTULO 2 : Interação partícula-fluido
Observe-se que quanto menor for a partícula analisada, menor será sua
massa e, portanto, menor será o tempo de relaxação a ela associado.
A Equação 2.34 pode ser, eventualmente, simplificada com expressões
para fD em função de m e/ou v. Por exemplo, se for válida a lei de Stokes
(veja a seguir), resulta que τ é proporcional a dp2.
Concluindo este item, destaque-se que as faixas de tamanhos de partí-
culas típicas das operações unitárias são tais, que os tempos de relaxa-
ção envolvidos são, efetivamente, desprezíveis quando comparados a
intervalos de tempo característicos da operação de equipamentos, tais
como os tempos de residência das partículas nos mesmos.
demonstrou que a força de arraste exercida pelo fluido sobre uma esfera
de raio R é:
fD = 6 π µR U ∞
(2.35)
Essa é a lei de Stokes em sua forma original. Sua dedução detalhada
pode ser encontrada, por exemplo, em Bird, Stewart e Lightfoot (2002).
A obtenção da lei de Stokes envolve o cálculo da força total (fT) que o
fluido exerce sobre a esfera, o que é feito mediante integração de ex-
pressões para as componentes ortogonais de fT que são a força normal
(fnorm) e a força cisalhante (fcis) que o fluido exerce sobre a superfície da
esfera. Para o caso do campo gravitacional terrestre, cuja intensidade é
g, resultam as seguintes expressões para essas forças:
4
fnorm = π R 3 ρ g + 2πµRU ∞
(2.36)
3
fcis = 4 π µRU ∞
(2.37)
fD = 2πµRU ∞ + 4 πµRU ∞
(2.38)
A primeira parcela da força de arraste (2πmRU∞) vem da integração
da força normal e denomina-se “arraste de forma”, pelas razões que se
seguem. Ao escoar em torno da esfera o fluido se deforma. Isto pode ser
facilmente vizualizado em túneis de vento, pelas distorções das linhas de
corrente (LCs) na referida região. Próximo da esfera, mas fora da camada
limite, as taxas de deformação estão associadas, principalmente, a tensões
normais no fluido. Nesse caso, as taxas de deformação são expressas por
gradientes longitudinais de velocidade (isto é, ao longo das LCs), sendo
desprezíveis os gradientes transversais (isto é, perpendiculares às LCs).
Essas tensões se transmitem através do fluido e atingem a superfície da
82 CAPÍTULO 2 : Interação partícula-fluido
fD = 3πµ D ( U ∞ − v )
(2.39)
em que D é o diâmetro da esfera.
Na forma escalar, a última equação se escreve:
fD = 3πµ D U ∞ − v
(2.40)
A Equação 2.22, oriunda da análise dimensional, para o caso de uma
esfera de diâmetro D, se escreve como:
π 2
f D = C D ρ D2 U ∞ − v
(2.41)
8
Eliminando-se f D entre as Equações 2.40 e 2.41 e isolando-se C D,
obtém-se:
24 µ
CD =
(2.42)
D U∞ − v ρ
2.3 Lei de Stokes 83
Ou, equivalentemente:
24
CD =
(2.43)
Re p
Observe-se que, sem fazer nenhum experimento, determinou-se como
estão relacionados CD e Rep de esferas (na verdade são dez restrições!),
grupos adimensionais esses gerados, justamente, com o objetivo de
correlacionar dados experimentais.
É preciso não esquecer-se de que as Equações 2.42 e 2.43 são válidas
apenas nos casos em que forem respeitadas as dez restrições da lei de
Stokes, uma vez que fez-se uso da Equação 2.40 em sua dedução.
Do desenvolvimento anterior, fica claro que a força que o fluido faz
sobre a partícula tem duas contribuições distintas:
1. uma parte estática, que está presente mesmo que não haja
movimento relativo fluido-partícula, e que se denomina empuxo;
2. uma parte dinâmica, que só aparece quando existe movimento
relativo fluido-partícula, e que se denomina força dinâmica.
No caso específico das operações unitárias, adotou-se a hipótese simpli-
ficadora, segundo a qual, são desprezíveis as forças do tipo sustentação
(lift) que o fluido exerce sobre a partícula e, sob tal condição, a força
dinâmica reduz-se a uma força de arraste. Viu-se também que a força
de arraste tem duas parcelas oriundas de fenômenos distintos: arraste
de forma e arraste por atrito.
Em vista da lei de Stokes, pode-se obter uma expressão para a velocidade
terminal de esferas, eliminando CD entre as Equações 2.2-29 e 2.42.
Todavia, é preciso lembrar que a Equação 2.2-29 tem, apenas, a restrição
de “fluido infinito”, isto é, a partícula analisada está, por hipótese, longe
de outras partículas e de paredes. Já a Equação 2.42 está sujeita às dez
restrições da lei de Stokes, uma das quais é a de “fluido infinito”. O
resultado é a clássica expressão:
D2 (ρS − ρ) b
v t, Stk =
(2.44)
18 µ
em que o símbolo vt,Stk enfatiza que a expressão só é válida se forem
respeitadas as dez restrições da lei de Stokes. Note que a Equação 2.44
é idêntica à Equação 1.21.
84 CAPÍTULO 2 : Interação partícula-fluido
18 µv t, Stk
dStk =
(2.45)
(ρs – ρ) b
4 D (ρs – ρ ) g
CD =
(2.46)
3 ρ v 2t
2.4 Dados experimentais 85
FIGURA 2.9
CD versus Rep para esferas (Morrison, 2012).
86 CAPÍTULO 2 : Interação partícula-fluido
Uma forma algébrica da correlação CD versus Rep, para esferas lisas, foi
obtida recentemente por Morrison (2012), conforme segue:
–7,94
Re p Re p
2,6 0,411
24 5,0 263.000
CD = + 1,52 + −8,00
Re p Re p Re p
1+ 1+ (2.48)
5,0 263.000
Re 0,80
p
+
461.000
A autora não recomenda o uso da equação para Rep maiores que 106, e
informa que, para Rep menores que 2, a equação reduz-se a CD = 24/Rep.
O diagrama CD versus Rep permite estabelecer com razoável precisão o que
significa na prática o termo “escoamento lento” (lei Stokes, restrição 8).
Usando logaritmos de base 10 na Equação 2.43 vem:
FIGURA 2.10
CD versus Rep para esferas lisas e rugosas (NASA, 2010).
FIGURA 2.11
Efeito simétrico de paredes cilíndricas sobre esfera lisa.
90 CAPÍTULO 2 : Interação partícula-fluido
24
CD =
(2.50)
k w Re p ∞
1
kw =
(2.51)
D
1 + 2,1 D
t
2.4 Dados experimentais 91
24
(2.52) D D
CD = 1 + 2,1 , < 0,05
Re p ∞ Dt Dt
24
lim C D =
(2.53)
Dt → ∞ Re p ∞
FIGURA 2.12
Rotâmetro usando uma esfera como flutuador.
π C D d p2 ρ U ∞2
fD =
(2.54)
8
Vê-se, então, que a única maneira de a força de arraste permanecer cons-
tante é CD e U∞ variarem em sentidos opostos quando o flutuador se
mover no interior do rotâmetro. Assim, em uma posição baixa dentro
do tubo o flutuador estará muito próximo da parede, em que o “efeito
de parede” é grande e CD é, correspondentemente, alto. Então, U∞ é pe-
queno, equivalendo isso a vazões baixas de fluido. Se a vazão aumentar,
U∞ aumentará e o flutuador subirá no interior do tubo e estacionará em
uma nova posição mais afastada de suas paredes em que CD é menor.
Conclui-se que o rotâmetro opera com “efeito de parede” variável.
Apenas como curiosidade, registre-se que o nome “rotâmetro” relacio-
na-se ao fato de que, em operação, o flutuador – que sempre possui
um eixo de simetria vertical – gira continuamente em torno desse eixo.
Esse fenômeno tem a ver com o chamado “escoamento secundário”
do fluido em torno do flutuador, relacionado principalmente com a
não uniformidade do perfil de velocidades na entrada e na saída do
equipamento. Na prática considera-se que, longe do flutuador, o es-
coamento é unidimensional.
■ Efeito de população
Esse fenômeno tem a ver com violações da restrição (7) da lei de Stokes
que prevê, fluido “infinito”.
Segundo Perry (1984), o efeito da concentração de partículas em sus-
pensão, sobre as forças que agem sobre as próprias partículas, comumente
referido por “efeito de população”, é tal que produz cerca de 1% de re-
dução na velocidade de sedimentação, para concentrações de sólidos em
suspensão da ordem de 0,1% em volume. O problema é extremamente
complexo, pois envolve efeitos de paredes móveis e choques partícula-par-
tícula. Para uma dada partícula em suspensão, o “efeito de população”
equivale a aumentos de densidade e viscosidade do fluido com que a
partícula interage. Assim, o “efeito de população” leva a aumentos do
coeficiente de arraste e, portanto, da força de arraste sobre a partícula.
94 CAPÍTULO 2 : Interação partícula-fluido
24
CD =
(2.55)
k ε Re p ∞
volume de líquido
ε=
(2.56)
volume de líquido + volume de sólido
Dois experimentos típicos, com uma dada população de partículas es-
féricas idênticas (D e ρs conhecidos), são descritos resumidamente a
seguir:
Ensaio 1: as partículas são suspensas em um líquido (ρ e m conhecidos
e ρs > ρ) sob agitação, de modo a se obter uma porosidade inicial
homogênea (ε conhecida). A seguir, a suspensão é posta a decantar
sob a ação da gravidade. Constata-se que há um período inicial em que
todas as partículas caem com a mesma velocidade que, então, apro-
priadamente, denomina-se velocidade de sedimentação. Constata-se,
2.4 Dados experimentais 95
v t ε = u f /ε
(2.57)
Relativamente aos “efeitos de população” propriamente ditos, os autores
correlacionaram vt ε e vt ∞ conforme segue:
v t ε /v t ∞ = ε β
(2.58)
em que vt ∞ é a velocidade terminal de uma micro esfera em fluido
infinito, isto é, sem “efeito de população”.
Com base na Equação 2.30, pode-se escrever expessões para vt ε e vt ∞,
como segue:
4 d p (ρs − ρ) g
vt ε=
(2.59)
3 ρ CD ε
em que CD ε é o coeficiente de arraste sob “efeito de população”.
4 d p (ρs − ρ) g
vt∞=
(2.60)
3 ρ CD∞
CD ∞
= εβ
(2.61)
CD ε
ou seja:
CD∞
= ε 2β
(2.62)
CDε
24
CD∞ =
(2.63)
Re p ∞
24 −2β
CDε =
(2.64) ε
Re p ∞
k ε = ε 2β
(2.65)
em que b é uma constante empírica adimensional, cujo valor depende
de Rep∞ conforme consta na Tabela 2.3.
24
lim C D =
(2.66)
ε →1 Re p ∞
24
CD =
(2.67)
k s Re p ∞
98 CAPÍTULO 2 : Interação partícula-fluido
2λ − A3 D
ks = 1+
(2.68) A1 + A 2 exp
D λ
6,21 × 10– 4 T
ks ≅ 1+
(2.69)
D
24
lim C D =
(2.70)
D→∞ Re p ∞
(2.71) 24
CD =
2λ –A 3 D Re p ∞
1 + A + A exp
D 1 2
λ
24
C ≅
(2.72)
D
6,21 × 10– 4 T
1 + Re p ∞
D
FIGURA 2.13
CD versus Rep, φ (adaptado de Haider and Levenspiel, 1989).
CD =
24
(2.73)
Re p
(
1 + 0,1806Re 0,6459
p + )
0,4251
6880,95
,Re p < 2,6 × 105
1+
Re p
Essa correlação baseia-se em 408 pontos experimentais e vale para
Rep < 2,6 × 105, isto é, não inclui a região de turbulência na camada
limite. Já a correlação de Morrison (2012), Equação 2.48, tem validade
estendida até Rep = 106, o que inclui boa parte da referida região.
Segundo os autores, a dependência de CD com Rep para partículas não
esféricas e isométricas e discos pode ser representada com boa aproxi-
mação por:
24
C D = 1 + [8,1717 exp ( –4,0655 φ ) ] × Re (p0,0964 + 0,5565 φ) +
Re p
73,69 Re pexp ( – 5,0748 φ) (2.74)
Re p + 5,378 exp (6,2122 φ)
2.5 Dois problemas importantes 101
CD =
1 24
K1 Re p
{ 1 + 0,1118 ( K 1 )
K 2 Re p 0,6567 }
0,4305 K1 K 22 Re p
+
3305 + K1 K 2 Re p
(2.75)
em que
–1
1 dp 2 – 1
K =
1
(2.76) + φ 2
3 dA 3
e
K 2 = 10 1,8148 (– log φ )
0,5743
(2.77)
Observe-se que nas Equações 2.74 a 2.77, analogamente a D/Dt (efeito
de parede), ε (efeito de população) e λ/D (efeito de deslizamento),
tanto a esfericidade (φ) quanto d p/ d A são novos grupos adimensionais
(razão de áreas e razão de diâmetros, respectivamente) que quantificam
os efeitos da forma das partículas sobre a interação partícula-fluido.
4 d p (ρs − ρ ) b
CD = 2 (2.78)
3 ρ U∞ − v
A expressão de Rep é bem conhecida:
dp U ∞ − v ρ
Re p = (2.79)
µ
Note-se que em nenhum dos tipos de problemas é possível calcular os
valores de CD e Rep, já que ambos dependem de dp e U ∞ − v .
24
CD = (2.80)
K1Re p
2.5 Dois problemas importantes 103
em que
C D = K 2 (2.82)
em que
d 2p (ρs − ρ) b K1
U∞ − v = (Re p < 0,5) (2.84)
18 µ
Tipo (b): explicitando-se dp na Equação 2.84, vem:
18 µ U ∞ − v
dp = (Re p < 0,5) (2.85)
(ρs − ρ) b K1
Regime de Newton (2 × 103 < Rep < 2 × 105)
Tipo (a): eliminando-se CD entre as Equações 2.78 e 2.82, substituin-
do-se Rep por sua expressão mais geral (Equação 2.79) e explicitando-se
U ∞ − v , vem:
4 d p (ρs − ρ ) b
U∞ − v = (2 × 103 < Re p < 2 × 105 ) (2.86)
3 ρ K2
104 CAPÍTULO 2 : Interação partícula-fluido
2
3 ρ U∞ − v K 2
dp = (2 × 103 < Re p < 2 × 10 4 ) (2.87)
4 (ρs − ρ ) b
4 d3p ρ ( ρS - ρ) b
log C D = - 2 log Re p + log (2.88)
3 µ2
Sobre o diagrama CD versus Rep, φ (Figura 2.13) a Equação 2.88 repre-
senta uma reta de inclinação – 2. Se Rep = 1, vem CD = 4 dp3 ρ (ρS − ρ ) /
3 m2, ou seja, a reta passa pelo ponto de coordenadas Rep = 1 e CD = 4 dp3
ρ (ρS − ρ ) / 3 m2.
Assim, conhecendo-se a inclinação da reta e um ponto pelo qual ela
passa, pode-se traçá-la sobre o referido diagrama. No ponto em que a
reta interceptar a curva de φ conhecido, tem-se o Rep solução no eixo
horizontal, bem como o CD solução no eixo vertical, que então permitem
o cálculo de U ∞ - v .
Os problemas do tipo (b), cuja incógnita é dp, podem ser resolvidos de
duas maneiras, conforme segue:
2.5 Dois problemas importantes 105
4 µ ( ρ − ρ) b
log C D = log Re p + log 2 S 3 (2.89)
3 ρ U∞ − v
calcula-se Rep (ou CD); (iii) com o valor de Rep (ou CD) e usando-se a
correspondente curva de φ (dado) presente na correlação CD versus Rep, φ
(Figura 2.13) ou o valor de φ (dado) e a Equação 2.74, calcula-se o valor
de CD (ou Rep); (iv) com a expressão geral de CD (Equação 2.78) (ou Rep
(Equação 2.79)) calcula-se um novo valor para dp = s; (v) compara-se
r e s e, com base em algum critério (por exemplo, módulo do desvio
absoluto entre r e s menor ou igual a 2% de r), encerra-se o processo
iterativo ou retorna-se à etapa (i) usando dp = s e assim por diante, até
o critério ser obedecido.
4 d3p ρ (ρS − ρ) b
C DRe 2p = (2.90)
3 µ2
CD 4 µ(ρS − ρ) b
= (2.91)
Re 3 ρ2 U ∞ − v 2
p
Seguem-se as correlações CD versus Rep, φ, CD Rep2 versus Rep, φ e CD/Rep
versus Rep, φ, obtidas por Coelho e Massarani (1996) a partir dos dados
de Pettyjohn e Christiansen (1948). Segundo os autores, as correlações
podem ser usadas para 0,67 < φ ≤ 1 e Rep < 5 × 104. Os valores de CD
2.5 Dois problemas importantes 107
FIGURA 2.14
Partícula suspensa em fluido que escoa entre placas planas e paralelas.
A dv
(ρs − ρ) Vp g + ρ U ∞ − v CD ( U ∞ − v ) = m (2.95)
2 dt
A
2
( ) dv
ρ U ∞ x − v x CD U ∞ x − v x = m x
dt (2.96)
A 2
ρ CD U ∞ x − v x =0 (2.97)
2
Observe-se que a hipótese de ausência de acelerações implica que módu-
lo, direção e sentido da velocidade da partícula não se modificam com
o tempo e, portanto, seu movimento é retilíneo e uniforme, isto é, sua
trajetória é necessariamente uma reta.
Considerando-se a natureza física das variáveis presentes na Equa-
ção 2.97, a única maneira de verificá-la é:
U = vx (2.98)
∞x
Conclusão: na direção do escoamento, a partícula tem a mesma velo-
cidade que o fluido.
2.6 Duas situações de interesse prático 111
dv y
(ρs − ρ) Vp g +
A
2
(
ρ − v y CD − v y = m )
dt
(2.99)
A
(ρs − ρ) Vp g −
2
ρ − vy CD = 0 (2.100)
2
Se a partícula tem diâmetro dp, sabe-se que Vp = π dp3/6 e que A = π
dp2/4, o que fornece finalmente:
4 d p (ρs − ρ ) g
vy = (2.101)
3 ρ CD
Ou seja (veja Equação 2.30):
v = vt (2.102)
y
Conclusão: na direção perpendicular ao escoamento do fluido, a partí-
cula desloca-se com velocidade terminal.
FIGURA 2.15
Partícula suspensa em fluido confinado em vaso sob rotação.
A dv
(ρs − ρ) Vp b + ρ U ∞ − v CD ( U ∞ − v ) = m (2.103)
2 dt
A
2
( )
dv
ρ U ∞ θ − v θ CD U ∞ θ − v θ = m θ
dt
(2.104)
A
2
(
ρ U ∞ θ − v θ CD U ∞ θ − v θ = 0) (2.105)
114 CAPÍTULO 2 : Interação partícula-fluido
U = vθ (2.106)
∞θ
Conclusão: na direção do movimento do fluido, a partícula tem a mesma
velocidade que o fluido (enfatize-se que, no caso, o fluido não escoa e
sim, move-se como um corpo rígido).
■ Direção r (U∞ r = 0; br = w2 r):
A dv
(ρs − ρ) Vp ω 2 r + ρ − v r CD ( − v r ) = m r (2.107)
2 dt
Note-se que nenhuma troca de sinais foi necessária, já que o vetor vr er
é paralelo e de mesmo sentido que o eixo r.
Procedendo como anteriormente, e com as mesmas justificativas,
adota-se a hipótese de aceleração nula para a partícula e obtém-se:
A
(ρs − ρ) Vp ω 2 r − ρ − vr
2
CD = 0 (2.108)
2
Se a partícula tem diâmetro dp, sabe-se que Vp = π dp3/6 e que A = π
dp2/4, o que fornece finalmente:
4 d p (ρs − ρ ) ω 2 r
vr = (2.109)
3 ρ CD
Ou seja (veja Equação 2.31):
v r = v t ( r ) (2.110)
Conclusão: na direção perpendicular ao movimento do fluido, a partí-
cula desloca-se com velocidade terminal (enfatize-se que o fluido não
escoa, mas move-se como um corpo rígido).
2.6 Duas situações de interesse prático 115
Referências
ALMEIDA, J. M. A. R.; ROMANO, P. N.; CARVALHO, Y.; PEÇANHA, R. P. “Caracterização
da Forma de Partículas Reentrantes com Vistas à Interação com Fluidos Newtonia-
nos”, Anais (CD) do XXXVI Congresso Brasileiro de Sistemas Particulados – Enemp
2013, Maceió, 20-23 outubro, 2013.
BROWN, G. G.; Associates. Unit Operations. New Jersey: John Wiley & Sons, 1950.
COELHO, R. M. L.; MASSARANI, G. “Fluidodinâmica de Partículas: Ainda sobre Cor-
relações em Base aos Dados Experimentais de Pettyjohn e Christiansen”, Relatório
LSP/COPPE 1/96, 1996.
116 CAPÍTULO 2 : Interação partícula-fluido
PROBLEMAS PROPOSTOS
Observação
Os apêndices A e B contêm informações importantes sobre a elaboração de
trabalhos escolares (listas de exercícios, testes e provas).
2.6 Duas situações de interesse prático 117
Nota de esclarecimento
Uma etapa crucial na solução de um problema típico de operações uni-
tárias é a identificação das propriedades materiais a serem utilizadas e
determinar, ou pelo menos estimar, seus valores. Na prática, isso é feito
consultando-se manuais, tais como o Perry (1984). Assim, na maioria dos
problemas que se seguem, com o objetivo de familiarizar o aluno com essa
importante base de dados, deixou-se a cargo dele a obtenção dessas pro-
priedades materiais.
2.1 Usando a (1) Figura 5-80, Perry 6. ed.,1984; (2) um método iterativo
gráfico baseado na correlação CD x Rep para esferas (dados expe-
rimentais compilados por Schilichting, 1968) e (3) um método não
iterativo baseado na correlação CDRep2 x Rep, φ de Coelho e Massarani
(1996), pede-se:
a) Calcule a velocidade terminal de uma esfera (D = 0,5mm, SGS = 1,5)
que cai, sob a ação do campo gravitacional terrestre, em água a 70 oF
e 1 atm.
■ Se a temperatura da água for 105 oF (aumento de 50%) e, ainda assim, você
utilizar a solução (1), calcule o desvio absoluto e o desvio relativo percentual
resultantes.
■ Se a esfericidade da partícula for 0,8 e ainda assim você utilizar a
Observação:
desvio absoluto valor 1 – valor 2 (tem dimensão e depende de unida-
des)
desvio relativo percentual [(valor 1 – valor 2)/(valor 1)] × 100 (adimen-
sional)
Dependendo da escolha do “valor 1” e do “valor 2”, os desvios poderão
ter sinal positivo ou negativo.
2.2 Sabendo-se que o cloreto de sódio (NaCl, sal de cozinha) forma cris-
tais perfeitamente cúbicos, pede-se:
a) Calcule a velocidade terminal de um cristal de NaCl com 1 mm de
aresta, ao cair, sob a ação do campo gravitacional terrestre, em ben-
zeno a 30 °C e 1 atm.
Usar um método iterativo baseado na correlação CD x Rep, φ (Haider
and Levenspiel, 1989) e um método não iterativo baseado na correla-
ção CD Rep2 x Rep, φ (Coelho e Massarani, 1996).
118 CAPÍTULO 2 : Interação partícula-fluido
a) Calcule o volume de água (m3) que deve ser admitido em seus tan-
ques de lastro, de modo que este desça verticalmente com uma
velocidade constante e igual a 0,72 km/h.(Suponha que a água do
mar tenha densidade e viscosidade idênticas às da água a 20 °C e
1 atm.)
2.9 Uma bolha de CO2 aproximadamente esférica e com 2 mm de diâmetro
desprende-se do fundo de uma tulipa cheia de chopp, gastando 1,2
segundo para chegar à superfície livre do líquido. Sabendo que a tulipa
tem 18 cm de altura e que o garçom declarou que o chopp estava a
5 oC, e supondo-se que não haja transferência de massa (CO2) entre
a bolha e o chopp, que o tamanho da bolha não varie (na verdade ele
aumenta devido à contínua descompressão ao longo da subida) e que
a velocidade da bolha seja constante e igual à velocidade terminal (na
verdade, como o diâmetro da bolha aumenta durante a subida, empuxo
e arraste crescem continuamente e o movimento é acelerado),per-
gunta-se: o garçom é mentiroso ?
2.10 Uma esfera sólida (D e ρs conhecidos) cai, a partir do repouso, em
determinado fluido (ρ e m conhecidos) sob a ação do campo gravi-
tacional terrestre, cuja intensidade é g. Admitindo válidas as dez
restrições da lei de Stokes durante a fase acelerada da queda da
esfera, pede-se:
a) Mostre que o tempo necessário para que a esfera atinja 99% do valor
de sua velocidade terminal no referido fluido (t99) é dado por: t99 = 4,61
ρs D2/18 m.
2.11
a) Calcule a força de arraste que o ar exerce sobre um automóvel
da marca Ford, modelo Fiesta, ano 2012, que se desloca a 80 e a
120 km/h em uma estrada plana e horizontal e em ausência de
ventos.
b) Se o automóvel enfrentar uma ventania frontal de 60 km/h, qual será o
aumento percentual da força de arraste em relação ao caso anterior?
(Usar propriedades físicas do ar a 20 oC e 1 atm.)
Sugestão: áreas frontais e coeficientes de arraste de automóveis
podem ser obtidos na internet (http://ecomodder.com/wiki/index.php/
Vehicle_Coefficient_of_Drag_List).
2.12 Em um experimento cujo objetivo é estudar o efeito simétrico de pa-
redes sobre partículas esféricas, glicerol ( ρ = 1,26 g/cm3, m = 100 cP)
escoa de baixo para cima em um tubo de vidro, reto e vertical, com 2 in
de diâmetro interno e vazão volumétrica 0,25 m3/min. Em um dado
120 CAPÍTULO 2 : Interação partícula-fluido
3.1 ELUTRIAÇÃO
Elutriação é o processo de separação sólido-sólido, em que um fluido
em escoamento arrasta partículas seletivamente.
A técnica é bastante antiga e foi desenvolvida originalmente na área de
beneficiamento de minérios, para separar a parte nobre de minérios
moídos (rica em dada espécie mineral) da parte não nobre (pobre na
referida espécie mineral e conhecida como ganga). Embora a elutriação
tenha se desenvolvido para separar misturas de partículas de dois sólidos,
ela também pode ser usada para separar partículas de um mesmo sólido,
bem como de misturas de três ou mais sólidos; porém esses últimos
casos são raros.
A Figura 3.1 mostra, esquematicamente, um elutriador gravitacional
típico.
Em alguns modelos, a mistura de sólidos a ser separada é enviada ao
elutriador já suspensa no próprio fluido de elutriação. Tais equipamen-
tos dispensam o sistema de silo e válvula rotativa para sólidos, causa
frequente de problemas operacionais.
A “seletividade” do arraste de partículas pelo fluido em escoamento
depende, basicamente, de características das partículas (densidade,
tamanho e forma) e do fluido (densidade, viscosidade e velocidade). 125
126 CAPÍTULO 3 : Sistemas Particulados Diluídos
FIGURA 3.1
Elutriador gravitacional.
v = U ∞ + v t (3.1)
Expressando U∞ e vt no sistema de coordenadas (y) arbitrariamente
escolhido, vem:
3.1 Elutriação 127
FIGURA 3.2
Partícula no elutriador.
v = U ∞ j + v t (-j) (3.2)
v = U ∞ − v t (3.3)
Assim sendo, para dado fluido de elutriação, podem ocorrer três casos:
1) U∞ > vt ==> v é positivo e a partícula “sobe” (ou seja,
é elutriada);
2) U∞ = vt ==> v = 0 e a partícula fica “parada”;
3) U∞ < vt ==> v é negativo e a partícula “desce” (ou seja, é retida).
Observe-se que o segundo caso é o limite de interesse. Na prática,
eseja-se saber, para dado U∞ (velocidade de elutriação), qual o tama-
d
nho da partícula que, teoricamente, ficaria “parada” no interior do elu-
triador. Então, necessariamente, partículas maiores que esse tamanho
“descem” (são retidas) e menores “sobem” (são elutriadas).
Determinar o tamanho da partícula que ficaria “parada” no interior
do elutriador para um dado U∞ corresponde a resolver um problema do
tipo (b), analisado no item 2.5, desde que se conheça a esfericidade
(φ) da partícula. Como visto, então, a solução pode ser obtida usando
métodos iterativos e não iterativos.
128 CAPÍTULO 3 : Sistemas Particulados Diluídos
ou seja:
d pL (ρsP − ρ) C DL
= (3.5)
d pP (ρsL − ρ) C DP
Definição: a razão entre os diâmetros das partículas equitombantes,
Equação 3.5, denomina-se razão de sedimentação e será simbolizada
pela letra Z:
d pL
≡Z (3.6)
d pP
ou seja:
(ρsP − ρ) C DL
Z= (3.7)
(ρsL − ρ) C DP
24µ
C DL = (3.8)
DL v t L ρ
24µ
C DP = (3.9)
DP v t P ρ
Considerando-se que, por definição, vt L = vt P, as Equações 3.8 e 3.9
permitem concluir que:
C DL DP
= (3.10)
C DP DL
Tendo-se em conta a definição de Z (Equação 3.6), conclui-se que:
C DL 1
= (3.11)
C DP Z
ρsP − ρ 1 2
Z = (3.12)
ρsL − ρ
FIGURA 3.3
Velocidade terminal versus tamanho de partícula para leves (L) e pesados (P).
FIGURA 3.4
Caso limite de vt versus dp para leves (L) e pesados (P).
3.1 Elutriação 133
FIGURA 3.5
Separação completa de “leves” e “pesados” com elutriações e peneirações.
então, o material que passa pela peneira com U∞ = b, obtendo-se “pesa-
dos”maiores que e e menores que f, no fundo do elutriador. O material
elutriado é então peneirado sobre abertura igual a e, de modo que
apenas “leves” maiores que e não passem pela peneira. Finalmente,
elutria-se o material que passa pela peneira com U∞ = a, obtendo-se
“pesados” maiores que d e menores que e no fundo do elutriador,
enquanto “leves” maiores que d e menores que e constituem o elutriado.
Assim a separação é completa.
FIGURA 3.6
Equipamento de separação sólido-fluido.
3.2 Eficiência de coleta e Diâmetro de corte 137
η≡
( vazãomássica de sólidos na corrente"retido")
(3.15)
( vazãomássica de sólidos na corrente"alimentação")
Conforme definido pela Equação 3.15, η é adimensional e varia de 0 a
1. Se a Equação 3.15 for multiplicada por 100, tem-se a eficiência global
de coleta percentual que, então, variará de 0 a 100.
Para um dado sólido, isto é, para dada densidade de partícula, há que se
tomar cuidado com valores elevados de η , principalmente quando tal in-
formação for proveniente de catálogos de fabricantes de tais equipamen-
tos. Esses valores altos podem ser o resultado de testes conduzidos com
pós com elevada proporção de partículas grossas, e não tanto em razão
de um projeto bem feito do equipamento de separação sólido-fluido.
Eficiência individual de coleta (η)
■
FIGURA 3.7
Estimativa de η com “áreas iguais” (curva contínua).
3.2 Eficiência de coleta e Diâmetro de corte 139
η = η (d p ) (3.17)
y A = y A (d p ) (3.18)
Eliminando-se dp entre as Equações 3.17 e 3.18, vem:
η = η ( y A ) (3.19)
1
∫ a f ( x ) dx
b
y= (3.20)
b−a
No presente caso, resulta, então:
1
∫ 0 η ( y A ) dy A
1
η= (3.21)
1– 0
ou seja,
∫ 0 η ( y A ) dy A
1
η= (importante : η ≤ 1) (3.22)
140 CAPÍTULO 3 : Sistemas Particulados Diluídos
FIGURA 3.8
DTA e cortes arbitrários.
d 25
SI ≡ (3.23)
d75
Segundo essa definição, o corte ideal não é o corte 1 da Figura 3.8, mas
sim aquele em que d25 = d75, resultando SI = 1.
Se um equipamento de separação sólido-fluido opera com SI = 1, con-
forme definição anterior, a curva de η versus dp correspondente teria o
aspecto da curva contínua mostrada na Figura 3.9.
FIGURA 3.9
Definição de corte ideal.
3.3 Câmaras de poeira 143
FIGURA 3.10
Câmara de poeira.
144 CAPÍTULO 3 : Sistemas Particulados Diluídos
FIGURA 3.11
Partícula no duto e na câmara de poeira.
FIGURA 3.12
Câmara de poeira.
FIGURA 3.13
“Caso limite” de partícula coletada pela câmara de poeira.
H
tq ≡ (3.24)
vt
3.3 Câmaras de poeira 147
L
tr ≡ (3.25)
U∞
H L
= (3.26)
v t U∞
Assim vem:
H
vt = U∞ (3.27)
L
Se a câmara de poeira, sob avaliação, trata uma vazão volumétrica de
suspensão sólido-gás constante e conhecida (Q), pode-se escrever:
Q
U∞ = (3.28)
BH
Q
vt = (3.29)
BL
D2 (ρs – ρ)g
v t, Stk = (3.30)
18µ
148 CAPÍTULO 3 : Sistemas Particulados Diluídos
18µQ
D= (3.31)
BL (ρs – ρ) g
O fato de esse resultado ter sido obtido pela análise da posição mais
desfavorável de entrada da partícula na câmara de poeira, quer dizer que
partículas (esferas!) com diâmetro igual ou maior que D (fornecido pela
Equação 3.31) serão coletadas com η = 1 (ou η = 100%), independen-
temente das posições em que entrem na câmara de poeira. Ou seja, D
é o diâmetro das menores partículas (esferas!) que serão coletadas com
η = 1 pela referida câmara de poeira. Por essa razão, geralmente, apõe-se
o subscrito min (mínimo) ao D (notação de Perry, 1984):
18µQ
Dmin = (3.32)
BL (ρs – ρ) g
Assim, se a lei de Stokes é válida, independentemente da posição em
que entrem na câmara de poeira, as partículas (esferas!) com D ≥ Dmim
(Equação 3.32) serão coletadas com η = 1, enquanto aquelas com
D < Dmin serão coletadas com η < 1. Tais valores de η são inversamente
proporcionais a y (0 < y < H), que é a distância vertical que aquelas
partículas precisam percorrer (uma fração de H) para serem coletadas
pela câmara de poeira. Se fosse usada a notação do item 3.2.3 para
outros cortes que não d* (corte 50%), em vez de Dmin se usaria D100 na
Equação 3.32. De fato, alguns autores preferem este símbolo.
Neste ponto, é pertinente indagar se a lei de Stokes (que no caso fornece
a componente vertical da velocidade da partícula na câmara de poeira)
é de fato válida nas aplicações práticas desse equipamento.
Seja o caso típico de tratamento de gases quentes provenientes de uma
fornalha na qual se queima carvão mineral. Os gases contêm partículas
de cinza em suspensão, sendo ρS = 2,0 g/cm3 e D = 90 mm, isto é, mais
que o dobro do menor tamanho de partícula em que o emprego de
câmaras de poeira é recomendado (43 mm). Emprega-se propriedades
físicas do ar a 200 °C e 1 atm (ρ = 0,747 kg/m3, m = 25,8 × 10–6 kg/m s).
Em princípio, presume-se que vale a lei de Stokes e usa-se a Equa-
ção 3.30:
3.3 Câmaras de poeira 149
D2 (ρS – ρ)g
v t,Stk =
18µ
Usando unidades SI, vem então:
(90 × 10–6 )
2
( 2000 – 0,747) 9,81 m
v t, Stk = –6
≅ 0,342
18 × 25,8 × 10 s
Checando o valor de Rep, vem:
D vt ρ
Re p =
µ
FIGURA 3.14
Câmara de poeira e seção transversal de entrada.
Observe-se que Dmin foi calculado para a partícula que entra na câmara
de poeira com y = H, tendo resultado em η = 1. Procedendo de maneira
análoga, pode-se analisar a posição de entrada y = 0,9 H, porém man-
tendo a coleta da partícula no final da câmara. Como antes, a análise
se baseia no “princípio da independência dos movimentos”, isto é,
na igualdade dos tempos de queda (tq) e de residência (tr) da partícula e na
lei de Stokes. Considerando que as partículas estão uniformemente
distribuídas (em massa; não em número de partículas!) sobre a área
da seção transversal de entrada da câmara de poeira, o novo diâmetro
de partícula obtido corresponderá a η = 0,9. Isso se deve ao fato de par-
tículas com o referido diâmetro também entrarem na câmara de poeira
com y > 0,9 H (isto é, acima de uma faixa retangular de área 0,9 H × B),
e, portanto, não serem coletadas por ela.
Pode-se generalizar o procedimento anterior concluindo que a efi-
ciência de coleta de um dado diâmetro de partícula (η), que entra na
câmara de poeira na posição y e é coletada no final da câmara de poeira,
é, numericamente, igual à fração da área transversal de entrada (B × L)
correspondente a y × B (0 < y < H), isto é:
yB
η= (3.33)
BH
3.3 Câmaras de poeira 151
ou seja,
y
η= (3.34)
H
Assim, tem-se:
y = H ===> dp tal que η = 1
y = 0,9 H ===> dp tal que η = 0,9
y = 0,8 H ===> dp tal que η = 0,8
etc.
É extremamente importante perceber que a metodologia de analisar
casos limites, isto é, posições bem definidas de entrada de partículas e
de coleta no final da câmara de poeira, juntamente com a hipótese de
as partículas estarem uniformemente distribuídas sobre sua seção trans-
versal de entrada, levou a uma “função eficiência individual de coleta”
(η) de natureza puramente geométrica. No caso, estão envolvidas uma
dimensão linear do equipamento (H) e a cota da partícula sobre sua
seção transversal de entrada (y).
Pode-se, então, generalizar o modelo geométrico de “função eficiência
individual de coleta” (η) de câmaras de poeira (C. P.) como:
área transversal de escoamento"varrida"pela partícula
de diâmetro d ,que,entrando na C.P.na posiçãomais
p
desfavorável à coleta,é coletada no final da C.P. (3.35)
η=
(área transversal de escoamento da C.P.)
Este mesmo modelo geométrico será utilizado posteriormente para
quantificar a eficiência individual de coleta de ciclones e centrífugas.
Considerando-se que para qualquer posição y analisada sempre se tem
tq = tr, pode-se escrever sempre que:
y L
= (3.36)
v t U∞
Eliminando-se y entre as Equações 3.32 e 3.34, vem:
vt L
η= (3.37)
H U∞
152 CAPÍTULO 3 : Sistemas Particulados Diluídos
FIGURA 3.15
Estimativa visual de η sobre o perfil η versus yA.
v t = v t (d p ) (3.40)
y A = y A (d p ) (3.41)
Note-se que a Equação 3.41 é a própria DTA, supostamente descrita por
um modelo devidamente estruturado, isto é, quando dp cresce, yA tende
para 1.
Pode-se eliminar dp entre as Equações 3.40 e 3.41, obtendo-se:
v t = v t (y A ) (3.42)
Agora, pode-se eliminar vt entre as Equações 3.38 e 3.42, obtendo-se:
∫ 0 η ( y A ) dy A
1
η= (3.44)
154 CAPÍTULO 3 : Sistemas Particulados Diluídos
v t,Stk BL
η= (3.45)
Q
18 ηµ Q
D= (3.46)
BL (ρs – ρ) g
Para D = D* tem-se η = 0,5 e reescreve-se a Equação 3.46 como:
9µ Q
D* = (3.47)
BL (ρs – ρ) g
Dividindo-se membro a membro as duas últimas equações, vem:
D
*
= 2η (3.48)
D
ou seja:
D 2
η = 0,5 * (3.49)
D
y A = y A (D) (3.50)
Se for possível explicitar D na Equação 3.50, caso em que ela é referida
como não transcendente em D, resulta:
D = D(y A ) (3.51)
∫ 0 η ( y A ,D* ) dy A
1
η= (3.53)
A integração da Equação 3.53, tal como a da Equação 3.44, poderá ser
feita analitica ou numericamente.
Exatamente como no caso da Equação 3.44, se existir um Dmin, isto é,
um diâmetro de partícula acima do qual a eficiência de coleta seja 1,
deve-se usar a Equação 3.39.
Seja o caso concreto de avaliação de uma câmara de poeira (B, H e L da-
dos), em que a DTA obedece, por exemplo, ao modelo RRB (parâmetros
D63,2 e n conhecidos) e já se constatou que existe um Dmin. Fazendo-se
D = Dmin no modelo RRB (Equação 1.56) obtém-se o valor de yAmin. Por
hipótese, vale a lei de Stokes.
Observe-se também que as Equações 3.32 e 3.47 podem ser divididas
membro a membro, fornecendo para câmaras de poeira em geral:
Dmin
*
= 2 (3.54)
D
Eliminando-se D* entre as Equações 3.49 e 3.54, vem:
D 2
η= (3.55)
Dmin
156 CAPÍTULO 3 : Sistemas Particulados Diluídos
1 1 n
D = D63,2 ln (3.56)
1 − y A
Eliminando-se D entre as Equações 3.55 e 3.56, vem:
2n
D63,2 2 1
η= ln (3.57)
Dmin 1 − y A
Em vista da Equação 3.57, a Equação 3.39 pode ser reescrita no caso do
modelo RRB, como:
2n
D63,2 2 y Amin 1
η=
Dmin
∫0 ln dy A + (1– y Amin ) (3.58)
1– y A
v t (d p ) BL
η (d p ) = (3.59)
Q
Como φ é conhecido, a partir de dp pode-se calcular vt resolvendo um
problema do tipo (a), conforme visto no item 2.5. Portanto, sendo
η (d p) e Q também conhecidos, pode-se calcular a área B × L da câmara
de poeira, mas não os valores de B e L.
O projeto da câmara de poeira pode ser completado a partir de dois
fatos relevantes vistos anteriormente:
Para se evitar a deposição de partículas na tubulação que transporta
■
BL = C1 (3.61)
B = C 2 (3.62)
H = C 3 (3.65)
Pelas Equações 3.60 e 3.65, vem:
Q
B= (3.66)
C 3U ∞
Arbitrando-se L:
■
L = C 4 (3.68)
C1
B= (3.69)
C4
C4 Q
H= (3.70)
C1 U∞
FIGURA 3.16
Três câmaras de poeira em paralelo.
FIGURA 3.17
Três câmaras de poeira em série.
18 µ Q
Dmin =
N BL (ρs – ρ) g (3.71)
160 CAPÍTULO 3 : Sistemas Particulados Diluídos
3.4 CICLONES
O ciclone é um equipamento para a remoção de partículas sólidas
suspensas em gases. Partículas muito finas para serem coletadas por
câmaras de poeira, possivelmente o serão por ciclones. A denominação
“ciclone” tem a ver com semelhanças entre o escoamento no interior do
equipamento e o fenômeno natural de mesmo nome.
A Figura 3.18 mostra, esquematicamente, a vista superior e o corres-
pondente corte longitudinal de um ciclone típico.
Tal como na câmara de poeira, o princípio de funcionamento do ciclone
é inercial, isto é, as partículas se separam do gás pelo fato de que ρs > ρ .
Entretanto, no ciclone, a queda das partículas se dá na direção radial,
sob a ação de um campo centrífugo de forças, o que implica observador
não inercial. Se o observador for solidário à própria partícula sob análise,
viu-se no item 2.1 que a intensidade do campo centrífugo é w2 r.
O campo centrífugo resulta da rotação que é imposta à suspensão
sólido-gás ao ser introduzida no ciclone tangencialmente a uma câmara
cilíndrica, como mostra a vista superior da Figura 3.18. Assim, à queda
radial da partícula, acopla-se um movimento de rotação, o que resulta
uma trajetória tridimensional do tipo espiral.
3.4 Ciclones 161
FIGURA 3.18
Ciclone.
FIGURA 3.19
Região periférica da câmara tronco-cônica de ciclones.
3.4 Ciclones 163
coletado para a saída inferior do ciclone, de onde ele cai por gravidade
no depósito de partículas.
A experiência prática com ciclones é vasta e vem de diversos setores
industriais, o que, certamente, inclui o siderúrgico. O Perry (1984)
recomenda seu uso para a coleta de partículas com tamanhos na faixa
entre 5 e 200 mm. Entretanto, o limite inferior depende da própria
densidade das partículas a serem coletadas: partículas menores que 5 mm
podem ser coletadas, desde que sua densidade seja suficientemente alta.
A velocidade do gás na alimentação de ciclones deve estar na faixa de 20
a 70 ft/s. Quando a velocidade do gás é superior a 70 ft/s pode ocorrer
ressuspensão de partículas já coletadas, o que, no caso, corresponde a
partículas que atingiram as paredes internas do ciclone e que, de outra
forma, deslizariam sobre elas em direção ao depósito de partículas. Por
outro lado, se a velocidade for inferior a 20 ft/s, a eficiência de coleta
será muito baixa. Ciclones operam com baixas quedas de pressão, tipi-
camente, entre 3 e 5 in água.
Conforme se nota na Figura 3.18, o ciclone é caracterizado por diversas
dimensões geométricas. Na prática, isso deu margem ao surgimento de
diversos “tipos” ou “famílias” de ciclones, cada uma seguindo uma certa
proporção entre aquelas dimensões.
Apresenta-se, a seguir, um modelo de ciclone desenvolvido por Shep-
herd e Lapple (1939, 1940), e que foi incorporado à terceira edição do
“Perry”, que é de 1950. O fato de o referido ciclone, mais conhecido
como ciclone Lapple, ainda constar na oitava edição do “Perry”, que é
de 2008, mostra que suas proporções geométricas e desempenho são
bastante confiáveis.
A Figura 3.20 mostra a vista superior e o correspondente corte longitu-
dinal de um ciclone Lapple, destacando-se suas dimensões caracterís-
ticas, bem como a relação entre elas. Observe-se que as dimensões do
ciclone da referida figura estão, aproximadamente, nas proporções
dadas.
FIGURA 3.20
Ciclone Lapple – dimensões e geometria.
3.4 Ciclones 165
FIGURA 3.21
Caso limite de partícula coletada por ciclone Lapple.
166 CAPÍTULO 3 : Sistemas Particulados Diluídos
D2 (ρs − ρ) ω2 r
v t, Stk (r ) = (3.77)
18 µ
9µv esp Bc
D= (3.78)
π Ne (ωr ) (ρs − ρ)
2
Do estudo da cinemática do movimento de rotação de pontos materiais,
sabe-se que:
ωr = v θ (3.79)
9 µ v esp Bc
D= (3.80)
π Ne v θ2 (ρs − ρ)
Considerando que as espiras descritas pelas partículas na câmara cilín-
drica do ciclone são suficientemente achatadas e podem ser assimiladas
a circunferências, tem-se:
v esp ≅ v θ (3.81)
168 CAPÍTULO 3 : Sistemas Particulados Diluídos
v θ = U∞θ (3.82)
Assim, obtém-se, finalmente:
9µ Bc
D= (3.83)
πNe U∞θ (ρs − ρ)
Analogamente ao caso da câmara de poeira, trata-se do diâmetro das
menores partículas (esferas!) que serão coletadas pelo ciclone com
η = 1,0. Por essa razão, como anteriormente, apõe-se o subscrito min
ao D (como no caso da câmara de poeira), isto é:
9 µ Bc
Dmin = (3.84)
π Ne U ∞θ (ρs − ρ)
Assim, se a lei de Stokes é válida, independentemente da posição
em que entrem no ciclone, as partículas (esferas!) com D ≥ D mim
(Equação 3.84) serão coletadas com η = 1, enquanto aquelas com
D < Dmin serão coletadas com η < 1. Tais valores de η são inversa-
mente proporcionais à distância radial que aquelas partículas precisam
percorrer (uma fração de Bc) para serem coletadas sobre a superfície
interna da câmara cilíndrica do ciclone. Se fosse utilizada a nota-
ção do item 3.2.3 para outros cortes que não d* (diâmetro de corte
50%), em vez de Dmin seria D100 na Equação 3.84 (como no caso da
câmara de poeira).
É digno de nota que a Equação (3.84) foi originalmente proposta por
Rosin, Rammler e Intelmann (1932).
Dados experimentais sobre U∞u, que é o valor médio de vu (r) dado pela
Equação 3.79, obtidos com medidores de velocidade que associam um
tubo de Pitot e um tubo estático (tais sistemas são, às vezes, referidos
como tubos de Prandtl), revelam que:
Q
U∞θ ≅ (3.85)
Bc H c
3.4 Ciclones 169
18 µ B3c
Dmin = (3.86)
π Ne Q (ρs − ρ)
Tal como no caso da câmara de poeira, é pertinente indagar se a lei
de Stokes (que no caso fornece a componente radial da velocidade da
partícula na câmara cilíndrica) é de fato válida nas aplicações práticas de
ciclone. No caso, é desnecessário um exemplo numérico como o do item
3.3.1, que resultou em Rep 0,9. Basta lembrar que vt,Stk é proporcional
a D2 e, também, que ciclones são indicados para a coleta de partículas
de tamanhos bem menores que aqueles retidos por câmaras de poeira.
Embora o campo centrífugo em ciclones seja mais intenso que o campo
gravitacional das câmaras de poeira, o que aumenta vt,Stk e Rep, o efeito
do tamanho de partículas muito menores predomina resultando Rep < 1.
O desempenho do ciclone Lapple também pode ser avaliado pelo diâme-
tro de corte (d*), isto é, o diâmetro das partículas que serão coletadas
com η = 0,5. O procedimento é inteiramente análogo ao usado na
obtenção de Dmin, ou seja, faz uso dos conceitos de tempo de queda e
tempo de residência. Neste caso, tal como na câmara de poeira, a par-
tícula cujo tamanho se deseja calcular é posicionada sobre o centro da
tubulação de alimentação do ciclone, cuja área transversal é Bc × Hc, e no
qual as partículas estão, por hipótese, uniformemente distribuídas. Para
que a referida partícula seja coletada no final da câmara cilíndrica, ela
terá de percorrer uma distância radial igual a Bc /2, isto é, a metade da dis-
tância radial percorrida pela partícula do Dmin, mostrada na Figura 3.21.
Se, como no caso do Dmin, vale a lei de Stokes, resulta:
9 µ Bc
D* = (3.87)
2 π U∞θ Ne (ρs − ρ)
Eliminando-se U∞u entre as Equações 3.85 e 3.87, vem:
9µ B3c
D* = (3.88)
π Ne Q (ρs − ρ)
170 CAPÍTULO 3 : Sistemas Particulados Diluídos
d? 2
*
η = d 2 (η < 1,0) (3.90)
d
1 + *?
d
Tal como ocorreu com câmaras de poeira, a presença de d* na expressão
de η lhe dá grande simplicidade algébrica. Normalmente, a função η
não depende da própria DTA, à qual pertence o d? considerado, nem da
densidade do sólido. Para dada operação de um ciclone Lapple, isto é, para
um certo conjunto de variáveis de processo e operação, a função η é subs-
tancialmente constante, exceto pelos efeitos (menores) do tipo de tamanho
de partícula usado (dp, d#, dStk etc.) e da esfericidade das partículas (φ), esta
última raramente quantificada na prática, que podem afetar a correlação
(no caso, Equação 3.90). Recorde-se que no modelo de d* (Rosin, Rammler
e Intelmann), que se baseia na Lei de Stokes, usa-se D e φ = 1.
Faz-se necessário um esclarecimento acerca da Equação 3.90, na qual
aparece d?, um tipo não especificado de tamanho de partícula (Capí-
tulo 1, item 1.5.2). No tema ciclone Lapple, Perry (1984) representa
3.4 Ciclones 171
FIGURA 3.22
η versus (d?/ d*) para ciclones Lapple (qualitativo).
9 µ ( Dc 4 )
3
*
D = (3.91)
5 π Q (ρs − ρ)
Efetuando-se as contas indicadas com as constantes presentes na Equa-
ção 3.91, e rearranjando a expressão adequadamente, vem:
D* µ Dc
= 0,0946 (3.92)
Dc Q (ρs − ρ)
Observe-se que o valor 0,0946 é uma constante característica dos ciclones
Lapple. Para ciclones com outras proporções geométricas, a constante
tem outros valores.
■ Velocidade na alimentação
20 ≤ U∞u ≤ 70 ft/s
Valor médio recomendado: U∞u = 50 ft/s
■ Queda de pressão
A queda de pressão provocada por ciclones (∆pc) é definida como a
diferença entre as pressões estáticas no duto de alimentação (A) e no
duto de passante (P), conforme mostrado na Figura 3.23.
Shepherd e Lapple mostraram que a queda de pressão de ciclones com
as proporções geométricas mostradas na Figura 3.20 é de 8 cargas de
velocidade do gás em sua alimentação, ou seja:
U2
∆pc = 8 ∞θ (3.93)
2g
Preservou-se, momentaneamente, o fator 1/2 na Equação 3.93, que,
como se sabe, relaciona-se à definição de energia cinética do fluido na
alimentação do ciclone.
3.4 Ciclones 173
FIGURA 3.23
Queda de pressão em ciclones (definição).
ρG g HG = ρ A g H A (3.94)
Ou seja:
ρG
HA = HG (3.95)
ρA
Usando-se o símbolo ∆pc, original de Lapple e Shepherd, para represen-
tar colunas de fluido, reescreve-se a Equação 3.95 como:
ρG
∆pCA = ∆pCG (3.96)
ρA
174 CAPÍTULO 3 : Sistemas Particulados Diluídos
ρG U∞θ
2
∆pCA = 8 (3.97)
ρ A 2g
∆pc Q
Pot sop = (3.100)
Rend
em que Q é a vazão volumétrica de gás a ser processada pelo ciclone e Rend
é o rendimento eletromecânico do conjunto motor-soprador normal-
mente empregado nesses casos. Tipicamente, tem-se 0,6 < Rend < 0,8,
dependendo do estado de conservação do equipamento.
Observe-se que a Equação 3.100 pressupõe que o gás é incompressível,
o que é uma hipótese razoável para a maioria das aplicações práticas de
ciclones, que são equipamentos de “fim de linha”, geralmente operando
abertos para a atmosfera.
3.4 Ciclones 175
π Ne (ρs − ρ) Q d*2
p
Bc = 3 (3.101)
9µ
∫0
y Amin
ηc = η ( y A ) dy A + (1 − y Amin ) (3.102)
3.4 Ciclones 177
∫ 0 η ( y A ) dy A
1
ηc = (η ≤ 1,0) (3.103)
Em qualquer dos casos anteriores, a integração é feita, em geral, usando-
se um método numérico, como a famosa Regra de Simpson. Calculado-
ras portáteis avançadas dispõem de sub-rotinas internas próprias para
a integração numérica.
Se o modelo matemático de DTA for conhecido, é possível construir dia-
gramas que permitam o cálculo não iterativo de d* para dado valor de η ,
que é, exatamente, o caso em exame. Recorde-se que, no Capítulo 1, foram
analisados três modelos de distribuição de tamanhos: LN, RRB e GGS.
Considere-se o caso mais complicado de todos, e que corresponde à
DTA descrita por um modelo de distribuição de tamanhos, tal que não
seja possível explicitar o tamanho de partícula (caso do modelo LN).
Inicialmente, explicita-se d p na Equação 3.90 (devida a Shepherd e
Lapple), o que fornece:
η
d p = d* (3.104)
1− η
1
yA = [1 + erf (u )] (3.105)
2
178 CAPÍTULO 3 : Sistemas Particulados Diluídos
com
d
ln p
D50 (3.106)
u=
2ln σ
( )
2 u
erf ( u ) =
π ∫
0
exp − t 2 dt (3.107)
FIGURA 3.24
Desempenho do ciclone Lapple para DTA descrita por modelo LN (adaptado de Massarani, 1984).
FIGURA 3.25
Desempenho do ciclone Lapple para DTA descrita por modelo RRB (adaptado de Massarani, 1984).
FIGURA 3.26
Desempenho do ciclone Lapple para DTA descrita por modelo GGS (adaptado de Massarani, 1984).
* 9µ B'c
d = (3.111)
2 π U'∞θ Ne (ρs − ρ)
'
Eliminando-se U ∞θ entre as Equações 3.110 e 3.111, vem:
* 9µ n'B'3
d = c
(3.112)
π Q Ne (ρs − ρ)
'
Finalmente, isolando-se Bc na Equação 3.112, vem:
π Q Ne (ρs − ρ) d*2
B'c = 3 (3.113)
9µ n'
3.5 CENTRÍFUGAS
No contexto das operações unitárias clássicas, centrífugas são equipa-
mentos para separar sólidos de líquidos. A centrifugação de dispersões
líquido-líquido e de misturas de gases foge ao referido escopo. Existem
também, as chamadas “centrífugas filtrantes”, que, embora no escopo
das operações unitárias, não serão aqui analisadas.
Na centrifugação, a suspensão sólido-líquido gira em altas velocidades
no interior de um vaso cilíndrico, comumente referido por “bacia” (em
inglês, bowl). O giro está associado a um campo centrífugo de forças,
que responde pela movimentação das partículas através do líquido e
em direção às paredes do vaso, sobre as quais se depositam. Em geral, o
vaso é indiretamente acionado por motor elétrico ou turbina (propulsão
por vapor d’água/ar comprimido), por meio de um sistema de polias e
3.5 Centrífugas 183
FIGURA 3.27
Centrífuga tubular.
3.5 Centrífugas 185
FIGURA 3.28
Centrífuga de cesto.
FIGURA 3.29
Partícula do “caso limite”, na centrífuga tubular.
3.5 Centrífugas 187
L
tr ≡ (3.115)
U∞z
D2 (ρs − ρ)ω2R
v t, Stk = (3.121)
18µ
Pode-se, então, substituir vt (R), da Equação 3.120, por vt, Stk, da Equa-
ção 3.121, e isolar D, obtendo:
9µ Q
D= (3.122)
π R L (ρs − ρ) ω2
2
O fato de esse resultado ser obtido pela análise da posição mais des-
favorável de entrada da partícula na bacia tubular significa que partículas
(esferas!) com diâmetro igual ou maior que D (fornecido pela Equa-
ção 3.122) serão coletadas com η =1 (ou η = 100%), independentemente
da posição em que entrarem na centrífuga. Ou seja, D é o diâmetro das
menores partículas (esferas!) que são coletadas com η = 1 pela referida
centrífuga tubular. Por essa razão, costuma-se usar o subscrito min
(mínimo) para explicitar tal fato, conforme segue:
9µQ
Dmin = (3.123)
πR L (ρs − ρ) ω2
2
190 CAPÍTULO 3 : Sistemas Particulados Diluídos
H2
R ' = R 2 − RH + (3.124)
2
3.5 Centrífugas 191
FIGURA 3.30
Seção transversal de uma bacia tubular.
Assim, vem:
H U∞ z
v t (R ) = (3.130)
2L
9µQ
D* = (3.132)
2πR L (ρs − ρ) ω2
2
πR 2 − πr 2
η= (3.133)
πR 2 − π (R − H)
2
3.5 Centrífugas 193
R2 − r2
η≅ (3.134)
2RH
É conveniente separar constantes e variáveis na Equação 3.134,
reescrevendo-a como:
R r2
η≅ − (3.135)
2H 2RH
Considerando-se que para qualquer posição inicial r da partícula na en-
trada da bacia tubular tem-se sempre tq = tr, pode-se escrever sempre que:
R −r L
= (3.136)
v t (R ) U ∞ z
Eliminando-se r entre as Equações 3.135 e 3.136, e tendo em vista a
Equação 3.119, vem:
2
2πRHL v t (R )
R −
R Q (3.137)
η≅ −
2H 2RH
Desenvolvendo-se o quadrado da diferença e desprezando-se o termo
proporcional a H2 (válido para centrífugas tubulares, em que R >> H),
vem:
2πRL v t (R )
η≅ (3.138)
Q
Se a lei de Stokes descreve a interação partícula-fluido na bacia tubular,
é possível simplificar bastante a função eficiência individual de coleta
(η), incorporando a ela o próprio diâmetro de corte (d* ≡ D*).
Nesse caso, reescreve-se a Equação 3.138 como:
2πRL v t,Stk (R )
η≅ (3.139)
Q
194 CAPÍTULO 3 : Sistemas Particulados Diluídos
9ηµQ
D= (3.140)
πR L (ρs − ρ) ω2
2
Para D = D* tem-se η = 0,5 e reescreve-se a Equação 3.140 como:
4,5µQ
D* = (3.141)
πR L (ρs − ρ) ω2
2
Dividindo-se membro a membro as duas últimas equações, vem:
D
*
= 2η (3.142)
D
ou seja:
D 2
η = 0,5 * (3.143)
D
b) Tempo de queda.
c) Tempo de residência.
d) Coleta no final da bacia.
Entretanto, considerando que em centrífugas de cesto a intensidade
do campo centrífugo varia muito com a posição radial da partícula, a
estratégia será ligeiramente diferente daquela usada com centrífugas
tubulares.
A Figura 3.31 mostra a seção longitudinal de uma bacia de centrífuga de
cesto isenta de sólidos, suas dimensões características e uma partícula
que, entrando na posição mais desfavorável à sua coleta, é coletada no
final da bacia. Tal como no caso da centrífuga tubular, note-se que o
observador (bonequinho) é do tipo não inercial, pois está acelerado em
relação às “estrelas fixas”. Para tal observador, a trajetória da partícula está
contida em um plano vertical e radial. Embora a trajetória da partícula
esteja representada por uma curva, o que, possivelmente, está mais
próximo da realidade, viu-se no item 2.6.2 que a hipótese de ausência
de acelerações implica uma trajetória retilínea.
FIGURA 3.31
Partícula do “caso limite” na centrífuga de cesto.
196 CAPÍTULO 3 : Sistemas Particulados Diluídos
tr =
( 2πRH − πH2 ) L
(3.147)
Q
É aqui que a estratégia muda em comparação com o procedimento
adotado para câmaras de poeira, ciclones e centrífugas tubulares, em
que prosseguia-se com tq = tr.
Observe-se que, diferentemente da Equação 3.114, a velocidade terminal
da partícula no campo centrífugo depende de r e não de R. Portanto,
é necessário considerar o valor instantâneo da velocidade da referida
partícula, isto é:
dr
v t (r ) = (3.148)
dt
3.5 Centrífugas 197
Seja então o caso em que vale a lei de Stokes, com suas dez restrições,
devidamente respeitadas. A velocidade terminal da partícula (esfera,
φ = 1) é dada pela Equação 2.44 particularizada para campos centrífugos
de intensidade w2 r, isto é:
D2 (ρs − ρ) ω2r
v t, Stk = (3.149)
18µ
Pode-se trocar vt, Stk, na Equação 3.149, por vt (r), dado pela Equa-
ção 3.148, obtendo, após simples rearranjo algébrico:
dr
= Kdt (3.150)
r
em que
D2 (ρs − ρ) ω2
K= (3.151)
18µ
dr
∫ = K ∫ dt
R tr
(3.152)
R-H r 0
R
ln = Kt r (3.153)
R –H
Substituindo-se na Equação 3.153 os valores de K e tr dados, respectiva-
mente, pelas Equações 3.151 e 3.147, e isolando-se D, vem:
198 CAPÍTULO 3 : Sistemas Particulados Diluídos
R
18µQ ln
R − H
D= (3.154)
πH ( 2R − H) L (ρs − ρ) ω2
A Equação 3.154 corresponde ao diâmetro das menores partículas
(esferas!) que serão retidas pela centrífuga de cesto com η = 1,0. Indica-se
R
18µQ ln
R − H (3.155)
Dmin =
( )
π 2RH − H2 L (ρs − ρ) ω2
tr =
(2πRH − πH2 ) L (3.157)
Q
3.5 Centrífugas 199
em que
2
*D* (ρs − ρ) ω2
K = (3.159)
18µ
Observe-se que nenhuma das variáveis presentes em K* depende de r
ou t, isto é, K* é uma constante.
A integração da Equação 3.158 fornece:
R
ln = K*t r (3.160)
R'
Substituindo-se na Equação 3.160, os valores de K* e tr dados, res-
pectivamente, pelas Equações 3.159 e 3.157, e isolando-se D*, vem:
R
18µQln
R'
D* = (3.161)
(
π 2RH − H L (ρs − ρ) ω2
2
)
em que R’ é dado, sem aproximações, pela Equação 3.124.
3.5.6 Eficiência individual de coleta de centrífugas de cesto
A Equação 3.133, que não está sujeita a aproximações, pode ser rees-
crita como:
R2 − r2
η= (3.162)
R 2 − ( R − H)
2
Desenvolvendo-se o quadrado da diferença, indicado no denominador
da Equação 3.162, e explicitando-se o valor de r, vem:
η
r = R 1− (3.163)
A
200 CAPÍTULO 3 : Sistemas Particulados Diluídos
em que
R2
A= (3.164)
2RH − H2
Se no instante t = 0 uma partícula entra na bacia tubular na posição
radial r, tal que R – H ≤ r ≤ R, e é coletada sobre r = R, no final da bacia,
isto é, após percorrer uma distância axial L, e se vale a lei de Stokes,
pode-se reescrever a Equação 3.152 como:
dr
∫ = K ∫ dt
R tr
(3.165)
r r 0
πR 2L
tr = (3.168)
AQ
Eliminando-se tr entre as Equações 3.167 e 3.168, vem:
η KπR 2L
− ln 1 − = (3.169)
A AQ
ou seja:
η 2KπR 2L
1− = exp − (3.170)
A AQ
3.5 Centrífugas 201
η=
R2
D2 (ρ − ρ) ω2 πL 2RH − H2
1 − exp −
s ( )
2 (3.171)
2RH − H 9µQ
Tal como estabelecido no estudo de câmaras de poeira e centrífugas
tubulares, é possível simplificar bastante a Equação 3.171, incorporan-
do a ela o diâmetro de corte (D*) da centrífuga de cesto. Para tal, em
primeiro lugar, divide-se por D*2 o numerador e o denominador do
argumento da exponencial, na Equação 3.171, que, assim, fica inalte-
rado. Em seguida, elimina-se o D*2 do denominador, com auxílio da
Equação 3.160, efetuam-se as simplificações possíveis e rearranja-se a
expressão, obtendo-se, finalmente:
R2 R 2 D 2
η= 1 − exp
− ln * (3.172)
2RH − H2 R' D
em que, enfatize-se, o argumento do ln é somente (R/R’)2.
Nesse ponto, vale a pena ressaltar que o cálculo da eficiência global de
coleta ( η ) a partir do perfil de eficiências individuais de coleta (η) para
a centrífuga de cesto segue exatamente a mesma metodologia detalhada
anteriormente, no item 3.3.2, para câmaras de poeira (Equações 3.39
a 3.44).
Considerando-se que a forma mais comum de se especificar a velo-
cidade angular de centrífugas é pelo número de rotações por minuto
(rpm), segue-se uma expressão para a intensidade do campo centrífugo
de forças (b) em função da posição radial considerada (r), expressa
na unidade de comprimento u(r), e da velocidade angular da bacia,
expressa em rpm.
2
b ≅ 0,011(rpm) r (b expresso em, u(r)/s 2 ) (3.173)
Outras expressões úteis fornecem a intensidade do campo centrífugo de
forças (b) como um múltiplo da intensidade do campo gravitacional
terrestre (g).
−3 2
b ≅ 1,118 × 10 (rpm) r g (r expresso em, m) (3.174)
202 CAPÍTULO 3 : Sistemas Particulados Diluídos
−5 2
b ≅ 1,118 × 10 (rpm) r g (r expresso em, cm) (3.175)
−2 2
b ≅ 1,096 × 10 (rpm) r g (r expresso em, ft) (3.176)
FIGURA 3.32
Escalonamento de centrífugas.
3.5 Centrífugas 203
2
D* (ρs − ρ) g
v*t,Stk ≡ (3.179)
18µ
e
2πR 2Lω2
ΣT ≡ (3.180)
g
( )
2
D* π 2RH − H2 L (ρs − ρ) ω2
Q= (3.185)
R
18µ ln
R'
Q=2
2
(
D* (ρs − ρ) g π 2RH − H Lω
2
)
2
R (3.186)
18µ 2g ln
R'
Define-se, então:
ΣC ≡
(
π 2RH − H2 Lω2)
R (3.187)
2g ln
R'
3.6 HIDROCICLONES
Tal como as centrífugas, hidrociclones são equipamentos para separar
sólidos de líquidos. A primeira patente de hidrociclone, nos Estados
Unidos, foi concedida a Eugene Bretney, em 1891, em que consta a de-
nominação “purificador de água” (Bretney, 1891). Outras denominações
correntes são: ciclone hidráulico (de onde, por contração, vem o nome
hidrociclone), ciclone líquido, hidroclone e até mesmo ciclone. Hidroci-
clones também são usados para separar dispersões líquido-líquido, bem
como misturas de sólidos suspensos em líquidos. Neste último caso
tem-se, mais apropriadamente, o elutriador centrífugo. Este item res-
tringe-se às aplicações de hidrociclones para separação sólido-líquido.
A Figura 3.33 mostra, esquematicamente, a vista superior e o corres-
pondente corte longitudinal de um hidrociclone típico.
208 CAPÍTULO 3 : Sistemas Particulados Diluídos
FIGURA 3.33
Hidrociclone.
QR (1 − C VR )
RL = (3.191)
Q A (1 − C VA )
QR − η C VA Q A
RL = (3.192)
Q A (1 − C VA )
C VA (1 − C VR )
RL = η (3.193)
1 − C VA C VR
em que QR e QA são, respectivamente, as vazões volumétricas das cor-
rentes de retido e de alimentação, e CVR e CVA são, respectivamente, as
frações em volume de sólidos nas correntes de retido e de alimentação
do hidrociclone.
FIGURA 3.34
Perfil η versus dp para hidrociclones.
212 CAPÍTULO 3 : Sistemas Particulados Diluídos
FIGURA 3.35
Perfis η versus dp e η’ versus dp para hidrociclones.
e
η− RL
η' = (3.197)
1− RL
dp
exp α *' − 1
d
η' =
dp (3.198)
exp α *' + exp α − 2
d
y A = ηy R + (1 − η) y P (3.199)
dy R
η= η (3.200)
dy A
dy P
η = 1 − (1 − η) (3.201)
dy A
1 1 dy
= 1 + − 1 P (3.202)
η η dy R
Estas sete variáveis dimensionais são definidas com base em três dimensões
fundamentais (comprimento, massa e tempo), e originam uma matriz
dimensional 3 × 7, cujo posto (definido como a ordem do maior deter-
minante não nulo que pode ser isolado na referida matriz) é 3. Conclui-se,
então, que são necessários 7–3 = 4 grupos adimensionais para se estudar
o problema experimentalmente. Seguindo-se os passos formais da análise
dimensional, que se baseia no Teorema Π de Buckingham, obtém-se os
grupos adimensionais. No caso, interessam três grupos:
ρQ A
Π1 = (3.203)
µD
∆pD4
Π2 = (3.204)
ρQ 2A
2
d*' (ρs − ρ) Q A
Π3 = (3.205)
µD3
Esses grupos podem ser adequadamente modificados, multiplicando-os
e/ou dividindo-os por constantes adimensionais, conforme segue:
4ρQ A
≡ Re (númerode Reynolds) (3.206)
πµD
π 2∆pD4
2
≡ Eu (númerode Euler) (3.207)
8 ρQ A
2d*' ( ρs − ρ) Q A
2
FIGURA 3.36
Hidrociclone Rietema.
1 0,742
*'
Stk Eu = 0,0474 ln exp (8,96C VA ) (3.215)
R L
4,75
u
R L = 1218 Eu –0,30 (3.217)
D
Q A0,514 ρ0,271
D = 4,03 exp (−0,515C VA ) (3.219)
∆p0,243 µ 0,0282
Substituindo-se a expressão de Eu, Equação 3.211, na Equação 3.217, e
explicitando u, vem:
0,211
∆p
0,3
5,95
u = 0,227 D R L (3.220)
ρQ 2A
As Equações 3.218, 3.219 e 3.220 permitem tanto a avaliação quanto o
projeto de hidrociclones do tipo Rietema. Tal como no caso de ciclones,
os problemas são geralmente resolvidos com baterias de hidrociclones
idênticos, em paralelo.
■ Primeiro passo
Com a Equação 3.219 calcula-se D usando QA.
Se D é considerado adequado, prossiga com o segundo passo.
Se, de antemão, D é considerado inadequado (por exemplo, o hidroci-
clone é muito grande), volte ao primeiro passo com QA/n, em que n é
um número inteiro. Isso equivale a usar n hidrociclones em paralelo.
Observe-se que n deve ser tal que o D, a ele associado, seja adequado à
aplicação prática que se tem em vista.
■ Segundo passo
Com a Equação 3.220, calcula-se d* ’.
■ Terceiro passo
Com a Equação 3.198 (Lynch, Rao e Prisbrey), obter η’ para diversos
valores de dp, cobrindo toda a faixa de tamanhos de partículas da DTA.
■ Quarto passo
Obter o perfil η’ versus yA.
■ Quinto passo
Calcular η ' (a área sob a curva η’ versus yA, que pode ser obtida por in-
tegração numérica ou com a “técnica das áreas iguais” apresentada no
item 3.2.1, Figura 3.7).
■ Sexto passo
Com a Equação 3.197 e o valor de RL, obter ηcalc .
■ Sétimo passo
Comparar ηcalc com η .
Se ηcalc ≥ η → Fim.
Pode-se, então, calcular u (diâmetro da saída de retido) com a Equa-
ção 3.220, e as demais dimensões do(s) hidrociclone(s) com as propor-
ções da geometria Rietema (Figura 3.36).
Se ηcalc < η → voltar ao primeiro passo usando QA/2 ou QA/3 ou QA/4
etc. (ou, caso se tenha iniciado o projeto com n hidrociclones, QA/
(n + 1) ou QA/(n + 2) ou QA/(n + 3) etc.), o que equivale a usar 2 ou 3
ou 4 etc. (ou n + 1, ou n + 2, ou n + 3 etc.) hidrociclones em paralelo,
conforme necessário.
3.6 Hidrociclones 221
Referências
AMBLER, C. M. “The Evaluation of Centrifuge Performance”. Chemical Enginee-
ring Progress, 48(3), 250, 1952.
BRETNEY, E. “Water Purifier”, U.S. Pat. No. 453,105, (May 26, 1891).
CHU, L. Y.; Luo, Q. “Hydrocyclone with High Sharpness of Separation”. Filtration
& Separation, 733, November 1994.
KELSALL, D. F. “A Study of the Motion of Solid Particles in a Hydraulic Cyclone”.
Transactions of the Institution of Chemical Engineers, 30, 87, 1952.
KLIMPEL, R. R. “The Influence of a Chemical Dispersant on the Sizing Per-
formance of a 24-in Hydrocyclone”. Powder Technology, 31, 255, 1992.
LYNCH, A. J.; RAO, T. C.; PRISBREY, K. A. “Influence of Hydrocyclone Diameter
on Reduced Efficiency Curves”. International Journal of Mineral Processing, 1,
173, 1974.
MASSARANI, G. Fluidodinâmica em Sistemas Particulados. 2. ed Rio de Janeiro:
e-papers, 2002.
MEDRONHO, R. de A. “Scale-up of Hydrocyclones at Low Concentrations”,
Ph. D. Thesis, University of Bradford, 1984.
PERRY, R. H. (Late Editor); Green, D. W., (Editor). Perry’s Chemical Engineers’
Handbook 6. ed. New York: McGraw-Hill, 1984.
RIETEMA, K. “Performance and Design of Hydrocyclones, Parts I, II, III and IV”.
Chemical Engineering Science, 15, 298,1961.
ROSIN, P.; RAMMLER, E.; INTELMANN, W. “Grundlagen und Grenzen der
Zyklonentstaubung”. Zeitschrift des Vereines Deutscher Ingenieure, 76(18),
433, 1932.
SHEPHERD, C. B.; LAPPLE, C. E. “Flow Pattern and Pressure Drop in Cyclone
Dust Collectors”. Industrial and Engineering Chemistry, 31(3), 972, 1939.
222 CAPÍTULO 3 : Sistemas Particulados Diluídos
PROBLEMAS PROPOSTOS
Observação
Os apêndices A e B contêm informações importantes sobre a elaboração de
trabalhos escolares (listas de exercícios, testes e provas).
Nota de esclarecimento
Uma etapa crucial na solução de um problema típico de operações uni-
tárias é a identificação das propriedades materiais a serem utilizadas e
determinar, ou pelo menos estimar, seus valores. Na prática, isso é feito
consultando-se manuais, tais como o Perry (1984). Assim, na maioria dos
problemas que se seguem, com o objetivo de familiarizar o aluno com
essa importante base de dados, deixou-se a cargo dele a obtenção dessas
propriedades materiais.
3.1 Uma mistura de galena (SGS = 7,5) e sílica (SGS = 2,65) será submetida
a elutriação gravitacional por uma corrente de água que escoa a uma
velocidade de 0,02 ft/s na temperatura de 65 °F. A mistura tem 30%
(massa) de galena e a seguinte análise granulométrica com peneiras
padronizadas:
d# (mm) 20 30 40 50 60 70 80 90 100
y (%) 33 53 67 77 83 88 91 93 94,5
Se a distribuição de tamanhos anterior se aplica tanto à galena quanto
à sílica, pede-se:
a) Calcule as percentagens ponderais da galena, originalmente presente
na alimentação, que irão para o topo e para o fundo do elutriador;
b) Calcule a fração ponderal de galena nessas correntes (base seca).
3.2 A moagem de um minério gera uma mistura de dois sólidos A e B
(SGA = 1,5 e SGB = 2,7), que devem ser separados completamente
por meio de peneirações e elutriações gravitacionais sucessivas,
usando-se água a 20 °C como fluido de elutriação. Supondo que as
3.6 Hidrociclones 223
R L H ω Q T (°C)
Centrífuga I a b c d e 20
Centrífuga II a b c/2 2d 2e 40
226 CAPÍTULO 3 : Sistemas Particulados Diluídos
FIGURA C2.1
Sistemas Particulados
Concentrados
FIGURA 4.1
Escoamento de fluido em meio poroso.
∂ u
ρ + ( grad u ) u = − grad p + div τ + ρg (4.2)
∂t
em que ρ é a densidade do fluido, t é tempo, u é a velocidade
intersticial do fluido, p é a pressão estática do fluido, τ é o tensor
tensão no fluido (matriz 33 de tensões normais e cisalhantes) e
g é a aceleração da gravidade local.
Conforme sugere a Figura 4.2, essas equações de balanço aplicam-se a
um volume de controle infinitesimal (dV), cartesiano, no caso, locali-
zado no interior de um poro, através do qual o fluido escoa.
FIGURA 4.2
Volume infinitesimal de fluido em um poro do meio poroso.
FIGURA 4.3
Escoamento em tubo.
FIGURA 4.4
Volume infinitesimal de mistura sólido-fluido.
∂ (ρ ε )
+ div ( ε ρ u ) = 0 (4.3)
∂ t
∂ u
ε ρ + ( grad u ) u = − grad p + div τ − m + ρ g (4.4)
∂t
■ Conservação da massa do sólido (Equação da Continuidade para
o sólido)
∂
(1 − ε ) ρs + div (1 − ε ) ρs v = 0 (4.5)
∂ t
■ Conservação do momento linear do sólido (Equação do
Movimento para o sólido)
∂ v
(1 − ε ) ρs + ( grad v ) v = div T + m + (1 − ε )( ρs − ρ) g (4.6)
∂t
em que ε é a porosidade do meio poroso, m denomina-se força
resistiva por unidade de volume de mistura, que o fluido faz
sobre o sólido, ρs é a densidade do sólido, v é a velocidade
superficial do sólido e T é o tensor tensão no sólido. Essas são
as cinco novas variáveis trazidas pela Teoria de Misturas. Note-se
que os termos das Equações 4.4 e 4.6, têm dimensões de força
por unidade de volume de mistura sólido-fluido.
Por sua importância para o desenvolvimento que se segue, a força resis-
tiva (m) e o tensor tensão no sólido (T) merecem comentários à parte.
A força resistiva (m) foi definida como ação do fluido sobre o sólido.
Por essa razão, na equação de conservação do momento linear do
4.1 Escoamento em meios porosos 237
fluido, ela é antecedida de sinal negativo, já que a força que o sólido faz
sobre o fluido tem mesmo módulo, mesma direção e sentido oposto
(terceira lei de Newton ou Princípio da ação e reação). Evidentemente,
na equação de conservação do momento linear do sólido ela é ante-
cedida de sinal positivo. Observe-se que a força resistiva que o fluido
exerce sobre o meio poroso resulta apenas da velocidade relativa entre
o fluido e o meio poroso. A força de empuxo que o fluido exerce sobre o
meio poroso está contida no termo (1 – ε) (ρS – ρ) g. A reação ao
empuxo, força que o meio poroso exerce sobre o fluido, está contida
no termo ρ g. É muito importante lembrar que nas equações 4.4 e 4.6
todas essas forças são dadas por unidade de volume da mistura.
A tensão no sólido (T) é de natureza tensorial, tal como a tensão no fluido
(τ). Entretanto, T não tem uma parcela estática e outra viscosa, como
ocorre no caso de fluidos, em que tem-se grad p (que existe mesmo que
o fluido não escoe) somado ao div τ (que só existe quando o fluido escoa).
As aplicações práticas que pretende-se são tais, que diversas hipóteses
simplificadoras e realistas podem ser adotadas:
■ Fluido newtoniano (caso em que div τ = µ ∇ 2 u )
■ Meio poroso rígido (caso em que ε não varia com o tempo)
■ Meio poroso estacionário (caso em que v = 0)
■ Escoamento isotérmico (caso em que a temperatura é constante)
Define-se, então:
q ≡ ε u (4.7)
em que q é a velocidade superficial do fluido, conceito introduzido
anteriormente. Em outras áreas (p. ex., hidrologia/engenharia civil) usa-
se o nome velocidade de percolação.
A Figura 4.5 mostra um meio poroso, fixo no interior de tubo cilíndrico
horizontal de diâmetro interno D, através do qual escoa um fluido
newtoniano e incompressível, com vazão volumétrica constante Q,
conforme indicado.
Observe-se que, antes e depois do meio poroso, e portanto também
sobre suas superfícies de entrada e saída, a velocidade média do fluido é
4 Q/π D2. Conforme já mencionado, vem daí a denominação “velocida-
de superficial” no contexto de escoamento em meios porosos, definida
pela Equação 4.7.
238 CAPÍTULO 4 : Sistemas Particulados Concentrados
FIGURA 4.5
Escoamento em meio poroso.
FIGURA 4.6
Perfis longitudinais de velocidades intersticial e superficial.
4.1 Escoamento em meios porosos 239
∂ρ
ε + div ( ρ q ) = 0 (4.8)
∂t
■ Equação do Movimento
∂ q q
ρ ε + grad q = − grad p + div τ − m + ρ g (4.9)
ε
∂t ε
O escoamento de fluidos newtonianos em meios porosos, especialmente
o de água e ar, foi muito estudado do ponto de vista experimental. Da-
dos, ainda que de abrangência limitada, indicam que, para tais fluidos,
o termo div τ, representativo das interações fluido-fluido de natureza
viscosa, geralmente, tem contribuição desprezível quando comparada à
dos demais termos da Equação 4.9. Por esta razão adota-se, formalmente,
uma quinta hipótese simplificadora:
■ div τ = 0 (caso em que as interações viscosas fluido – fluido são
desprezíveis)
Nesse ponto, uma indagação óbvia é: de que variáveis depende a força
resistiva m? De forma mais explícita: como m se relaciona com as gran-
dezas que caracterizam o meio poroso, o fluido e o próprio escoamento?
A resposta a esta indagação é objeto do próximo item.
µ
m= q (4.11)
k
Posteriormente, estabeleceu-se de modo experimental que a dependência
linear de m com q, prevista pela lei de Darcy, só é correta para os casos
de meios porosos isotrópicos, isto é, em que k não depende da direção
espacial considerada, e escoamentos em baixas velocidades. A indaga-
ção óbvia, então, é: o que são baixas velocidades? A resposta a esta questão
será dada com base em outro modelo para m, válido para escoamentos
em altas velocidades, a ser introduzido adiante.
Em homenagem a Darcy, foi definida uma unidade de permeabilidade
para meios porosos, conforme segue:
1 Darcy (D) ≡ 10 −8 cm 2
4.1 Escoamento em meios porosos 241
µ C kρ q
m = 1 + q (4.12)
k µ
em que C é uma constante empírica e adimensional, relacionada à
conformação geométrica do meio poroso (tal como k), mas que não tem
qualquer denominação. Observe-se que o modelo de Forchheimer pos-
sui um termo em q e outro em q2, razão pela qual ele é, frequentemente,
referido por “forma quadrática de Forchheimer”.
Dois comentários importantes fazem-se necessários em relação à
Equação 4.12:
■ Observe-se que a fração no interior do parênteses é um grupo
adimensional do tipo Reynolds, o que leva à definição formal
do “número de Reynolds para escoamento em meios porosos”:
C kρ q
Re MP = (4.13)
µ
■ Note-se que, quando Re MP é muito menor que 1, o valor da
expressão entre parênteses tende para 1, e recai-se na lei de Darcy.
242 CAPÍTULO 4 : Sistemas Particulados Concentrados
4.1.4 Permeametria
Trata-se de uma técnica experimental relativamente simples, que per-
mite determinar tanto a permeabilidade (k) quanto a constante C de
um meio poroso, a partir de medidas de vazão e queda de pressão no
escoamento de fluidos, através do meio poroso.
A Figura 4.7 mostra esquematicamente um permeâmetro típico.
FIGURA 4.7
Permeâmetro.
FIGURA 4.8
Permeâmetro e sistema de coordenadas cilíndricas (r, u, z).
244 CAPÍTULO 4 : Sistemas Particulados Concentrados
q = q z k (4.14)
g = 0 k (4.15)
em que k é o vetor unitário da direção z.
Portanto, relativamente às equações de conservação de massa e de mo-
mento linear para o fluido (componentes escalares), conclui-se que
não é necessário trocar o sinal algébrico de q, bem como que não estão
presentes forças gravitacionais.
Além das quatro hipóteses adotadas nos item 4.1.2 (fluido newtoniano,
meio poroso rígido, meio poroso estacionário e escoamento isotérmico)
e das duas hipóteses adotadas no item 4.1.3 (div τ = 0, meio poroso
isotrópico), quatro hipóteses adicionais são consistentes com os ensaios
de permeametria: regime permanente, escoamento incompressível, es-
coamento unidirecional paralelo a z e porosidade uniforme. Observe-se
que a hipótese de regime permanente anula as acelerações locais, mas
não as convectivas (veja Equação 4.9). No caso da permeametria, as
acelerações convectivas não existem em razão da nova hipótese de
porosidade uniforme e, também, por que a área da seção transversal
do meio poroso não varia com z, o que tem a ver com a geometria do
permeâmetro. Para o escoamento de gases, a validade da hipótese de
incompressibilidade depende do número de Mach (Ma). Para Ma < 0,3,
a variação máxima de densidade de gases é inferior a 5% (Fox, McDonald
e Pritchard, 2003).
Assim, com estas dez hipóteses simplificadoras, as equações da conti-
nuidade e do movimento para o fluido ganham grande simplificação e
podem ser integradas facilmente, conforme segue:
■ Equação da Continuidade (forma escalar)
d qz
= 0 (isto é, qz não depende de z) (4.16)
d z
Esse fato já havia sido estabelecido antes, uma vez que, por definição,
qz é a velocidade média de área do fluido, calculada como se o meio
poroso não existisse. Então, na tubulação “limpa”, qz não depende de
z (já que a área da seção transversal do meio poroso não varia com z
e que o escoamento é incompressível). Vale a pena lembrar que, para
4.1 Escoamento em meios porosos 245
dp
0=− −m (4.17)
d z
dp µ C k ρq
0=− − 1 + z
q z (4.18)
dz k µ
Separando-se as variáveis e tendo-se em conta que qz não depende de
z, vem:
µ C k ρ qz
− ∫ dp = 1 + ∫z
p2 z2
q z dz (4.19)
p1 k µ 1
ou seja:
p1 − p 2 µ C ρ
= + qz (4.20)
qL k k
FIGURA 4.9
Dados de permeametria.
p1 − p 2 µ
= (4.21)
q L k
p1 − p 2
= δ (valor experimental) (4.22)
q L
µ
tg θ
C= δ
(4.25)
ρ
Estimativas de k:
■ Modelo Capilar
Este modelo está intimamente associado a trabalhos de Blake (1922),
Kozeny (1927) e Carman (1937). Na literatura nacional, ele é comumen-
te citado como modelo de Kozeny-Carman, denominação adotada aqui.
O modelo de Kozeny-Carman baseia-se em um meio poroso formado
por um feixe de tubos capilares retos, razão pela qual ele é comumente
referido como “modelo capilar”. Observe-se que os tubos capilares não
são, necessariamente, paralelos nem possuem, obrigatoriamente, seção
transversal circular. O modelo impõe a igualdade de áreas superficiais
e de porosidades do meio poroso de tubos capilares e do meio poroso
real. A lei Darcy (Equação 4.10) e a equação de Hagen-Poiseuille (1844),
que relacionam queda de pressão e vazão no escoamento de fluidos
newtonianos em tubos capilares, são usadas no desenvolvimento do
modelo. Sua dedução é relativamente simples, e pode ser vista passo a
passo em Massarani (2002), em que o modelo é colocado sob a forma:
(φ dp )
2 3
ε
k= (4.26)
36 β (1 − ε)
2
( φ Dp )
2 3
ε
k= (4.27)
36 β (1 − ε)
2
(φ d )
2 3
p ε
k= 2 (grãos: 0,6 < φ < 0,8) (4.28)
180 (1 − ε )
Para meios porosos formados com esferas idênticas de diâmetro D,
Massarani (1971) mostrou que b 4,167, o que permite reescrever a
Equação 4.26 como:
D2 ε 3
k= 2 (esferas) (4.29)
150 (1 − ε )
■ Correlações de Massarani (1971)
D2
k = # (grãos: 0,6 < φ < 0,8) (4.30)
961
d 2p (4.31)
k= (selas de Berl e anéis de Raschig ,
1030 recheios industriais)
Estimativas de C:
■ Correlação de Ergun (1952)
0,143
C= 32 (4.32)
ε
Restrições: 10-6 ≤ k ≤ 10-4 cm2; 0,35 ≤ ε ≤ 0, 45
■ Correlação de Costa-Massarani (1982)
0,98
−3 2
k0
0,37
k0
0,01
C=ε 0,13 + 0,10 (4.33)
k k
em que k0 = 10–6 cm2
Restrições: 10-9 ≤ k ≤ 10-3 cm2; 0,10 ≤ ε ≤ 0,75
Observe-se que a correlação de Costa-Massarani (1982), Equação 4.33,
é, na verdade, uma generalização da correlação de Ergun (1952),
Equação 4.32, já que a constante empírica 0,143 é substituída por uma
250 CAPÍTULO 4 : Sistemas Particulados Concentrados
∆p ∆q 2
+ + ∆z = −HL − Hs (4.34)
ρ g 2 g
4.1 Escoamento em meios porosos 251
mL
HL = (4.38)
ρg
∆p mL
+ ∆z = − (4.39)
ρ g ρg
dp
e z − ρ g = −m (4.40)
dz
em que ez é o vetor unitário da direção z
Desse modo, a resolução de problemas de escoamento em meios porosos
em que valem as dez hipóteses clássicas pode ser feita tanto com a equa-
ção da energia mecânica (Equação 4.39), do tipo escalar, quanto com a
equação do movimento (Equação 4.40), do tipo vetorial.
Note-se que a equação da energia mecânica (escalar) é mais fácil
de ser usada que a equação do movimento (vetorial), uma vez que
é desnecessário escolher um sistema de coordenadas, especificar a
orientação espacial de seus eixos, bem como fixar sua origem. Além
disso, não há a necessidade de se compatibilizar os sinais algébricos
da velocidade superficial do fluido (q) e da aceleração da gravidade
(g), em face do referencial escolhido. Evita-se, também, a resolução
de equações diferenciais, bem como a necessária especificação de
condições de contorno. Com a equação da energia mecânica é neces-
sário apenas lembrar a definição do operador ∆ (valor na saída – valor
na entrada), e que o eixo z tem sentido oposto a g.
FIGURA 4.10
Escoamento compressível em meio poroso.
q = q e z (4.41)
g = − g e z (4.42)
dp µ C k ρq
+ρg = − 1 + q (4.43)
dz k µ
4.1 Escoamento em meios porosos 255
Define-se então:
dp µ C k G G
+ρg = − 1+ µ ρ (4.45)
dz k
Supondo válida a equação de estado dos gases ideais, hipótese razoável
para pressões até cerca de 10 atm, tem-se:
pM
ρ= (4.46)
RT
em que M é massa molar do gás, R é a constante universal dos gases e
T é a temperatura absoluta.
Em vista da Equação 4.46, pode-se reescrever a Equação 4.45 como:
dp B
+A g p= (4.47)
dz Ap
que é uma equação diferencial ordinária não linear do tipo Bernoulli,
clássica, em que:
M
A≡ (4.48)
RT
e
µ C k G
B≡− 1 + µ G (4.49)
k
A Equação 4.47 pode ser linearizada com a seguinte mudança da variável
dependente: w = p2 (Boyce e Di Prima, 1992). A nova equação diferencial
em w é:
dw 2B
+2 A g w = (4.50)
dz A
cuja solução, por fator de integração, é:
B C
w = 2 + 2Agz (4.51)
A g e
256 CAPÍTULO 4 : Sistemas Particulados Concentrados
B C
p2 = 2 + 2 A g z (4.52)
A g e
B
C = p02 − 2 (4.53)
A g
B
p02 −
B A2 g
pL2 = 2 + (4.54)
A g e 2AgL
∆p ≡ p0 − pL (4.55)
pL = ( p0 − ∆p)
2 2
(4.56)
ou seja:
2 2 2
pL = p0 − 2 p0 ∆p + ∆p (4.57)
dp µ C k G G
= − 1 + −ρ g (4.63)
dz k µ ρ
Tendo em vista que nenhuma das grandezas à direita do sinal de igual-
dade depende de z, a Equação 4.63 pode ser integrada entre limites,
conforme segue:
∫ ∫
pL L
µ C k G G
dp = − 1 + + ρ g dz (4.64)
p0 k µ ρ 0
258 CAPÍTULO 4 : Sistemas Particulados Concentrados
ou seja:
µ C k G G
∆p = 1 + + ρ g L
k µ ρ
(4.65)
Note-se que o ∆p da Equação 4.65 é p0 – pL, isto é, positivo, conforme
definido pela Equação 4.55.
Pode-se reescrever a Equação 4.65 em termos dos parâmetros A e B,
definidos no desenvolvimento anterior, como:
∆p B ∆p
=− + A p0 − g (4.66)
L ∆p 2
A p0 −
2
A A2 g 2 A A2 g
2 L + ∆p − p 0 + ∆p + A 2g p02 − B = 0 (4.67)
4 L 2
Note-se que, analogamente à Equação 4.58, a Equação 4.67 é uma
equação de segundo grau em ∆p. Apenas uma das raízes tem significado
físico, e este deve ser compatível com definição de ∆p (Equação 4.55).
Observe-se que, na maioria dos processos em escala industrial que
envolvem escoamento de gases em meios porosos, as forças dependentes
do campo gravitacional são desprezíveis quando comparadas às forças
de pressão e resistiva. Isso equivale a dizer que o peso de fluido mais a
reação ao empuxo (força que o sólido exerce sobre o fluido!), engloba-
dos no termo ρ g (Equação 4.43), geralmente podem ser desprezados na
prática, quer o gás escoe contra ou a favor da gravidade. Isso equivale a
tratar o escoamento de gases em meios porosos como se fosse horizontal,
o que se analisa a seguir.
Se o meio poroso da Figura 4.10 é posicionado na horizontal, o termo
relativo às forças de campo não está presente, e a nova equação é:
dp µ C k G G
=− 1 + (4.68)
dz k µ ρ
4.1 Escoamento em meios porosos 259
p2 B
= z+C (4.70)
2 A
Tal como no caso anterior, a condição de contorno pertinente é z = 0,
p = p0, o que resulta:
p2
C= 0 (4.71)
2
Assim, o perfil de pressões no gás no meio poroso é:
p2 B p2
= z+ 0 (4.72)
2 A 2
Tendo-se em vista que para p = pL, z = L, vem:
pL2 B p2
= L+ 0 (4.73)
2 A 2
Introduzindo-se a queda de pressão, conforme definida pela Equa-
ção 4.55, vem:
2BL
∆p 2 − 2 p0 ∆p − =0 (escoamento de gases) (4.74)
A
Tal como nos casos anteriores, a Equação 4.74 é uma equação de segun-
do grau em ∆p. Apenas uma das raízes tem significado físico, e este deve
ser compatível com definição de ∆p (Equação 4.55).
A análise do escoamento de gás em meio poroso horizontal pode ser
refeita com base na densidade média do gás dada pela Equação 4.62. O
resultado pode ser obtido diretamente da Equação 4.67, simplesmente
cancelando-se os termos proporcionais a g, isto é:
260 CAPÍTULO 4 : Sistemas Particulados Concentrados
A 2 A
∆p − p0 ∆p − B = 0 (4.75)
L
2L
4.2 FILTRAÇÃO
No contexto das operações unitárias, o termo filtração refere-se à se-
paração de suspensões sólido-fluido. A suspensão é forçada através de
uma barreira, ou septo poroso, denominado meio filtrante, que retém as
partículas mas permite que o fluido o atravesse. Ao fluido assim obtido
denomina-se filtrado, o qual pode conter partículas muito finas que
atravessaram o meio filtrante. Existem, basicamente, dois mecanismos
de retenção de partículas, os quais são analisados a seguir.
■ Filtração em superfície ou com formação de torta
Nesse caso, as partículas são retidas sobre a superfície do meio filtrante,
formando um depósito conhecido por “torta” ou “bolo” de filtração.
Por essa razão, o processo é conhecido por “filtração em superfície” ou
“filtração com formação de torta”. Embora a torta aumente de espessura
continuamente durante a filtração, sua porosidade deve ser tal, que per-
mita a passagem do fluido (líquido ou gás) que irá constituir o filtrado.
De fato, o meio filtrante só funciona como tal nos estágios iniciais da
filtração. Posteriormente, é a própria torta que retém as partículas. A
4.2 Filtração 261
FIGURA 4.11
Filtração em superfície ou com formação de torta.
FIGURA 4.12
Filtração em profundidade.
partículas retidas é maior. Em alguns casos, o meio filtrante pode ser limpo e
reutilizado (por exemplo, filtros de areia em estações de tratamento de água
para abastecimento municipal), enquanto em outros ele deve ser descartado
(por exemplo, filtro de óleo lubrificante em motores de automóveis).
Analisa-se a seguir a filtração de suspensões sólido-líquido em superfície,
ou com formação de torta, a mais comumente encontrada em indústrias
químicas e de processos, de um modo geral.
FIGURA 4.13
Filtração em superfície.
∂ρ
ε + div ( ρ q ) = 0 (4.76)
∂ t
Equação do Movimento:
∂ q q
ρ ε + grad = − grad p + div τ − m + ρ g (4.77)
ε
∂t ε
Tendo em vista as dez hipóteses relacionadas anteriormente, que o
campo gravitacional terrestre tem componente nula na direção do
264 CAPÍTULO 4 : Sistemas Particulados Concentrados
div q = 0 (4.78)
e
µ
0 = − grad p − q (4.79)
k
Observe-se que, devido à hipótese de escoamento unidirecional, o vetor
velocidade superficial q só tem componente paralela a x (no caso), que
então representa-se por qx.
O sistema de coordenadas, arbitrariamente escolhido para analisar o pro-
blema com base em equações de conservação para o líquido, mostra que:
q = q x ( − i ) (4.80)
em que i é o vetor unitário da direção x.
Assim, a Equação 4.78 pode ser reescrita, escalarmente como:
d
( − q x ) = 0 (isto é, q x não depende de x) (4.81)
dx
A Equação 4.81 é semelhante à Equação 4.16 e ambas são coerentes com
a definição de velocidade superficial, introduzida no item 4.1.2.
Em vista da Equação 4.80, pode-se reescrever a Equação 4.79, escalar-
mente, como:
dp µ
= qx (4.82)
dx k
A seguir, aplica-se a Equação 4.82 ao escoamento do filtrado (que, em
princípio, é uma suspensão sólido-líquido ainda que muito diluída),
tanto na torta quanto no meio filtrante.
A Figura 4.14 mostra a convenção adotada para representar as quedas de
pressão e espessuras da torta e do meio filtrante, em um dado instante
durante a filtração. Também se indica a porosidade da torta, ε, e uma
“fatia” de torta de espessura dx, associada à produção de um volume dV
de filtrado, em um intervalo de tempo dt.
4.2 Filtração 265
FIGURA 4.14
Filtração em superfície (convenções).
Observe-se que os valores de ∆p1 (torta) e ∆p2 (meio filtrante), indicados
na Figura 4.14, são definidos como “pressão de entrada” menos “pressão de
saída”, tanto para a torta quanto para o meio filtrante, isto é, são positivos.
■ Análise do escoamento do filtrado na torta
A partir da definição de porosidade (Equação 2.56) aplicada à torta de
filtração, é fácil mostrar que a fatia de torta de espessura dx e porosida-
de ε, indicada na Figura 4.14, contém uma massa de sólidos dm tal que:
dm = ρs (1 − ε) A dx (4.83)
Eliminando-se dx entre as Equações 4.82 e 4.83, vem:
1 µ qx
dp = dm (4.84)
k ρs (1 − ε) A
Define -se a resistividade da torta (a), como:
1
α≡ (4.85)
k ρs (1 − ε)
Observe-se que a é inversamente proporcional a k que, coloquialmente, é
uma medida da facilidade com que o escoamento ocorre em meios poro-
sos. Assim, uma grandeza inversamente proporcional a k é, por extensão,
uma medida da dificuldade com que o referido escoamento ocorre. Daí
atribuir-se a a o nome resistividade. Note-se que a tem dimensões de L/M.
266 CAPÍTULO 4 : Sistemas Particulados Concentrados
∆p 2 = R m µ q x (4.91)
A queda de pressão da filtração (∆p) é, portanto:
∆p = ∆p1 + ∆p 2 (4.92)
4.2 Filtração 267
αm
∆p = + Rm µ qx (4.93)
A
Tendo-se em vista a realização de experimentos de filtração, a monitoração
de m (massa de sólido na torta), presente na Equação 4.93, é bastante
problemática, uma vez que a torta se forma dentro do filtro, geralmente
um local de difícil acesso. Assim, é conveniente trocar a massa de sólido
(m) pelo correspondente volume de filtrado (V), o qual, sendo coletado
externamente ao filtro, é facilmente monitorado. Nesse sentido, pode-se
expressar a concentração de sólidos na suspensão sob filtração, como segue:
massa de sólido
C≡ (4.94)
massa de líquido suspensão
Observe-se que, quando a concentração de sólidos no filtrado é baixa,
fato comumente encontrado na prática, a massa de sólidos (m’) contida
em um certo volume da suspensão sob filtração é, aproximadamente,
igual à massa de sólidos (m) presentes na torta obtida por filtração do
referido volume da suspensão. Supõe-se que isso ocorra nas aplicações
que se tem em vista. Entretanto, por menor que seja o erro envolvido,
sabe-se que ele é para menos, já que m’ > m.
Note-se também que, quando a concentração de sólidos na suspensão
sob filtração é baixa, o volume de líquido (V’) contido em um certo
volume da suspensão é aproximadamente igual ao volume de filtrado
(V), obtido por filtração do referido volume da suspensão. Isso tem a ver
com o fato de que pouca torta irá se formar na filtração, retendo, assim,
pouco líquido em seu poros. Aqui também supõe-se que isso ocorra nas
aplicações que se tem em vista. Entretanto, por menor que seja o erro
cometido, sabe-se que ele é para menos, já que V’ > V.
Assim, as duas suposições anteriores, ambas implicando erros de mesmo
tipo (para menos), mas de magnitudes possivelmente diferentes, per-
mitem reescrever a Equação 4.1.2-19, como:
m
C≅ (4.95)
ρV
268 CAPÍTULO 4 : Sistemas Particulados Concentrados
1 dV
qx = (4.96)
A dt
Por fim, tendo em vista das Equações 4.95 e 4.96, pode-se reescrever a
Equação 4.93, como:
dt µ α ρC
= V + Rm (4.97)
dV A ( ∆p ) A
V=
(1 − ε) Vt ρs (4.98)
ρC
4.2.2 Cálculo de a e Rm
A maneira padrão de se obter os valores de a e R m, é por meio de
um ensaio de filtração da suspensão-problema, em escala de bancada,
usando-se o chamado filtro-folha de testes, que opera com bomba de
vácuo, isto é, sob ∆p constante. Assim, separando-se as variáveis na
equação de trabalho (Equação 4.97), vem:
µ α ρC
∫ dt = A ( ∆p ) A ∫ V dV + R m ∫ dV (4.99)
ou seja,
µ α ρ C V2
t= + R m V + C1 (4.100)
A ( ∆p ) A 2
em que C1 é uma constante a se determinar e que engloba as três in-
tegrações indefinidas presentes na Equação 4.99.
Considerando-se que para t = 0, V = 0, a Equação 4.100 mostra que C1 = 0,
o que fornece, finalmente:
t
= B1 V + B2 (4.101)
V
em que
αµρC
B1 = (4.102)
2 A 2 ( ∆p)
e
µ Rm
B2 = (4.103)
A ( ∆p)
270 CAPÍTULO 4 : Sistemas Particulados Concentrados
FIGURA 4.15
Filtração em superfície sob ∆p constante.
FIGURA 4.16
Filtro-folha de testes.
FIGURA 4.17
Curva característica típica de bomba centrífuga.
∆p = −ρ g HS (4.104)
FIGURA 4.18
Curvas características real e hipotética de bomba centrífuga.
dt 1
= (constante) (4.105)
dV Q
Em vista da Equação 4.105, a Equação 4.97 fornece:
1 µ α ρ C
= V + Rm (4.106)
Q A ( ∆p) A
Usando-se os parâmetros B1 e B2, definidos no item anterior, vem:
1
= 2 B1 V + B2 (4.107)
Q
■ Etapa de queda de pressão constante (desde t = t1 até t = t2)
274 CAPÍTULO 4 : Sistemas Particulados Concentrados
µ α ρ C
∫t ∫V ∫V
t2 V2 V2
dt = V dV + R m dV (4.108)
1 A ( ∆p) A 1 1
cuja integração fornece:
V
α µ ρ C V2
2
µ Rm
V ]V2
V
t 2 − t1 = 2 + (4.109)
A ( ∆p ) 2 V A ( ∆p ) 1
( )
t − t = B1 V22 − V12 + B2 ( V2 − V1 )
2 1 (4.110)
t 2 − t1
= B1 ( V2 + V1 ) + B2 (4.111)
V 2 − V 1
FIGURA 4.19
Perfis de pressão no sólido (pS) e pressão no líquido (p) em tortas.
1
(
pS = Txx + Tyy + Tzz
3
) (4.112)
Embora de uso corrente, o termo “pressão no sólido” é inadequado, uma
vez que, diferentemente dos fluidos (em que o conceito de pressão se
originou), sólidos não transmitem esforços via colisões perfeitamente
elásticas de suas moléculas. Nos sólidos, cristalinos ou amorfos, os
átomos têm posição relativa mais ou menos fixa, embora possam vibrar
em torno dessas posições.
Assim, em tortas compressíveis, a porosidade (ε) depende tanto de
posição (x) quanto de tempo (t). Nesses casos, consequentemente,
a resistividade da torta (a) também varia com posição e tempo, durante
a filtração. Torna-se necessário introduzir o conceito de resistividade
276 CAPÍTULO 4 : Sistemas Particulados Concentrados
dt µ < α > ρ C
= V + Rm (4.113)
dV A ( ∆p) A
Experimentos com tais tipos de torta mostram que < a > é, geralmente,
uma função do tipo potência de ∆p, isto é:
FIGURA 4.20
Filtração em superfície sob ∆p constante para tortas compressíveis.
FIGURA 4.21
Dependência de < a > com ∆p.
FIGURA 4.22
Calculo de S e a0 de tortas compressíveis.
4.2 Filtração 279
reta, determina-se o correspondente valor < a >*. Com ∆p*, < a >*
e S determina-se a0, com a Equação 4.115.
FIGURA 4.23
Lavagem de torta de filtração.
FIGURA 4.24
Perfis de concentração de solúveis no efluente de lavagem.
dV
QL = (4.116)
dt t =t final
Em vista da Equação 4.107 e designando o volume de filtrado obtido
ao final da etapa de filtração por Vfinal, pode-se reescrever a 4.116 como:
1
QL = (4.117)
2B1 Vfinal + B2
4.2.6 Filtro-prensa
A Figura 4.25 mostra um pequeno filtro-prensa móvel sobre rodas.
Observe-se os cabeçotes de início (esquerda) e final (direita) de filtro;
o volante, que permite a prensagem manual de quadros (pretos); os
meios filtrantes (brancos) e as placas pretas escondidas entre folhas
de meios filtrantes, além da bandeja para a coleta de vazamentos. Note-se,
FIGURA 4.25
Filtro-prensa (Internet: mx.all.biz).
282 CAPÍTULO 4 : Sistemas Particulados Concentrados
lavagem): ▲▲▲
Tem-se a considerar duas montagens de placas e quadros:
a) Montagem 1-2-1-2-1 …
A Figura 4.26 mostra, esquematicamente, uma vista lateral de um
filtro-prensa montado com placas de 1 botão (▲) e quadros (▲▲).
Mostra também, as folhas de meio filtrante entre os quadros e as
placas. Observe-se que o tamanho das folhas excede ligeiramente o dos
quadros e das placas, e note-se que, à esquerda e à direita de cada quadro
(2 botões), existe sempre uma placa (no caso, de 1 botão).
FIGURA 4.26
Filtro-prensa com montagem 1-2-1-2-1.
FIGURA 4.27
Estágio de filtração na montagem 1-2-1-2-1.
dV
QLS = (4.118)
dt t =t final
Analogamente à Equação 4.117, vem:
1
QLS = (4.119)
2B1 Vfinal + B2
4.2 Filtração 285
b) Montagem 1-2-3-2-1 …
A Figura 4.28 mostra, esquematicamente, uma vista lateral de um
filtro-prensa montado com placas de 1 botão (▲), quadros (▲▲) e placas
de 3 botões (▲▲▲), além das folhas de meio filtrante entre quadros
e placas. Observe-se que o tamanho das folhas excede ligeiramente o
dos quadros e das placas. Note-se que, à esquerda e à direita de cada
quadro (2 botões), existe sempre uma placa (no caso, de 1 e de 3
botões).
FIGURA 4.28
Filtro-prensa com montagem 1-2-3-2-1.
FIGURA 4.29
Estágio de lavagem da torta na montagem 1-2-3-2-1.
1 dV
QLC = (4.120)
4 dt t =t final
Analogamente à Equação 4.117, vem:
1 1
QLC = (4.121)
4 2B1 Vfinal + B2
V
P≡ (4.122)
t + tL + td
VP Vt,P
= (4.130)
VI Vt,I
Tendo-se em vista as Equações 4.128 e 4.129, a Equação 4.130 pode ser
reescrita como:
VP A P e P
= (4.131)
VI A I eI
Por outro lado, a Equação 4.125 permite escrever (usando os subscritos
P e I) :
K
t P = 2 VP2 (4.132)
AP
bem como,
K
t I = 2 VI2 (4.133)
AI
Dividindo-se membro a membro, as Equações 4.132 e 4.133, vem:
VP 2
tP AP
= (4.134)
t I V 2
I
AI
Tendo-se em conta a Equação 4.131, vem, finalmente:
e I 2
tI = tP (4.135)
eP
1
QLC,I = (4.136)
8B1 Vfinal,I
4.2 Filtração 291
VLC,I 1
= (4.137)
t LC,I 8B1 Vfinal,I
Como a qualidade da lavagem da torta nos testes com o filtro piloto e no
filtro industrial deve ser a mesma, pode-se reescrever a Equação 4.127,
incorporando o subscrito C (lavagem completa), como:
VLC,I
β≡ (4.138)
VtC,I
Eliminando-se VLC, I entre as Equações 4.137 e 4.138, vem:
t final,I
= B1 Vfinal,I (4.140)
Vfinal,I
Eliminando-se Vfinal,I entre as Equações 4.139 e 4.140, vem:
V
t LC,I = 8β t,I t final,I (4.141)
Vfinal,I
A Equação 4.130, para o final da etapa de filtração no piloto e no indus-
trial, mostra que:
Vt,I Vt,P
= (4.142)
Vfinal,I Vfinal,P
Assim, eliminando-se Vt,I/Vfinal,I entre as Equações 4.141 e 4.142, tem-se:
V
t LC,I = 8β t,P t final,I (4.143)
Vfinal,P
Finalmente, observe-se que as diversas razões de tempos de filtração
e de lavagem, de espessuras de quadros (isto é, de tortas) e de volumes
292 CAPÍTULO 4 : Sistemas Particulados Concentrados
Vfinal,I
PI = (4.146)
t final,I + t LC,I + t d,I
4.2 Filtração 293
VLC 1
= (4.148)
t LC 8B1 V + 4B2
Em vista da Equação 4.145, a Equação 4.148 fornece:
V
P= (4.150)
B1 V + B2 V + Ω V (8 B1 V + 4 B2 ) + t d
2
No jargão da área de otimização, a Equação 4.150 é conhecida como
“função- objetivo”, e otimizar o ciclo operacional do filtro-prensa corres-
ponde a maximizar sua produção (P).
O procedimento é bastante simples. Basta derivar P em relação a V,
e igualar o resultado a zero, determinando assim, o valor de V que
maximiza P. Na verdade, para garantir que se trata de um máximo de P,
é necessário que a derivada segunda de P, em relação a V, seja negativa,
o que, neste caso, também é fácil de ser verificado.
Resulta que o valor de V que maximiza P, é dado por:
td 1 2
V = (4.151)
B1 (1 + 8Ω)
294 CAPÍTULO 4 : Sistemas Particulados Concentrados
t d = B1 V 2
(4.152)
Considerando-se desprezível a resistência do meio filtrante (B2 = 0), a
Equação 4.101 simplifica-se para:
2
t = B1 V (4.153)
Comparando-se as Equações 4.152 e 4.153, conclui-se que:
t = t d (4.154)
isto é, se a torta não for lavada e se a resistência do meio filtrante for des-
prezível, o tempo de filtração ótimo para o filtro-prensa industrial será
igual ao tempo de desmantelamento, limpeza e remontagem do filtro.
Se a produção (P) do filtro é conhecida, pode-se determinar a área de
filtração (A) da unidade industrial substituindo-se os valores de B1
(Equação 4.102), B2 (Equação 4.103) e V otimizado (Equação 4.151),
na Equação 4.150, resultando:
td 1 2
A
K1 (1 + 8Ω)
P=
1 2 (4.155)
td
2t d + K 2 (1 + 4Ω)
K1 (1 + 8Ω)
V
e I = 2 t,I (4.157)
A
O número de quadros é dado, então, pela razão entre a área de filtração
(A) e a área de uma das faces do quadro (A1), valor esse que depende das
próprias dimensões dos quadros, a serem comprados de fabricantes de
filtros. Tais informações, geralmente, constam de catálogos industriais.
Escolhido A1, tem-se:
A
n= (4.158)
2A1
FIGURA 4.30
Filtro de tambor rotativo a vácuo (internet: urbinavinos.blogspot.com).
FIGURA 4.31
Filtro de tambor rotativo a vácuo e setores.
meio filtrante.
O fato de o filtro do tambor rotativo operar com bomba de vácuo ou
bateria de ejetores garante que a filtração ocorra sob queda de pressão
(∆p) constante e, portanto, a vazão de filtrado (dV/dt) deve diminuir
com o tempo, devido ao contínuo crescimento da torta. Entretanto,
sendo um equipamento de operação contínua, necessariamente, a
vazão de filtrado por ele produzida também é constante, o que, apa-
rentemente, é uma contradição. Na verdade, o que ocorre é que, em
dado instante, a vazão de filtrado diminui do setor 1 para o 6, uma vez
que o ∆p é o mesmo para espessuras de torta que crescem do setor 1
para o setor 6. Por construção, o filtrado produzido simultaneamente
pelos setores de 1 a 6 é coletado em uma mesma tubulação, e, por essa
razão, a vazão produzida pelo filtro de tambor rotativo é constante e
igual à média das vazões dos seis setores de filtração. Em um sentido
matemático estrito, em qualquer instante fixo, uma variação du sobre
os setores de filtração do tambor está associada a uma variação dV/dt
na vazão de filtrado.
O fato de, na equação de trabalho da filtração, t representar tempo de
filtração e V representar o correspondente volume de filtrado, requer
uma adaptação desta para o caso do filtro de tambor rotativo. Isso tem
a ver com o fato que, na operação do referido filtro, além do tempo de
filtração estão envolvidos outros processos (drenagem da torta, lavagem
da torta etc.). Definem-se então, os seguintes parâmetros:
I, fração da área superficial do tambor mantida submersa na sus-
pensão.
Observe-se, na Figura 4.31, que a superfície livre da suspensão no tanque
determina sobre a seção transversal do tambor o chamado ângulo de
submersão (). Assim, tem-se:
ϕ
I= ° (4.159)
360
4.2 Filtração 299
ou
φ rd
I= (4.160)
2π
N, número de rotações por unidade de tempo;
tr, tempo de filtração característico, tomado como o tempo de resi-
dência de um ponto da superfície do tambor, na suspensão;
Vr, volume de filtrado característico, tomado como o volume de fil-
trado, coletado durante um intervalo de tempo igual a tr;
Q, vazão volumétrica de filtrado (uma medida da produção do
filtro de tambor rotativo, uma vez que a todo instante ocorrem,
simultaneamente, diversos processos: filtração, drenagem de torta,
lavagem de torta etc.);
At, área total da superfície do tambor.
Assim, tem-se:
A = A t I (4.161)
I
t = tr = (4.162)
N
QI
V = Vr = Qt r = (4.163)
N
Substituindo-se as Equações 4.161, 4.162 e 4.163 na Equação 4.101,
válida para a filtração sob queda de pressão constante, vem:
1 IQ
= B1 + B2 (4.165)
Q N
FIGURA 4.32
Tortas impermeáveis: (a) partículas finas; (b) partículas deformáveis.
FIGURA 4.33
Tortas mistas: (a) partículas finas e AF; (b) partículas deformáveis e AF.
FIGURA 4.34
Filtração em profundidade em pré-capas: (a) delgada; (b) espessa.
4.3 SEDIMENTAÇÃO
É a operação para separar sólidos de líquidos por gravidade, conhecida
também por decantação, que ocorre em consequência de o sólido ser
mais denso que o líquido.
A Figura 4.35 mostra, esquematicamente, um corte vertical de um se-
dimentador contínuo. Observe-se que, tal como outros equipamentos
de separação sólido-fluido analisados anteriormente, o sedimentador
opera com três correntes: alimentação (A), passante (P) e retido (R). À
semelhança daqueles equipamentos, a corrente passante (P), geralmente,
contém partículas finas (por exemplo, coloidais).
Quando o objetivo da separação é produzir um passante (P) límpido,
o equipamento é referido, geralmente, como um clarificador. Se o in-
terresse é que o retido (R) seja uma suspensão com alta concentração de
sólidos, o equipamento é comumente referido como um espessador. A
corrente retido (R) é, frequentemente, denominada por lama ou lodo.
Conforme mostra a Figura 4.35, o sedimentador, normalmente, opera
aberto para a atmosfera, e é provido de raspadores, mantidos suspensos
por uma estrutura não mostrada na figura, que giram lentamente junto
304 CAPÍTULO 4 : Sistemas Particulados Concentrados
FIGURA 4.35
Sedimentador contínuo.
FIGURA 4.36
Sedimentador contínuo (internet: vadasahnos.com).
FIGURA 4.37
Teste de proveta.
FIGURA 4.38
Diagrama cartesiano do teste de proveta.
FIGURA 4.39
Efeitos de T e C0 sobre o teste de proveta.
dz
v= (4.166)
dt
Observe-se que para z > z∞, sempre que t aumenta, z diminui. Isso im-
plica que, nesse domínio, dz/dt é sempre negativa. Entretanto, no caso,
interessa apenas a magnitude (ou módulo) de v.
A Figura 4.40 mostra uma curva típica obtida pelo teste de proveta
com uma dada suspensão sólido-líquido de concentração inicial de só-
lidos C0. A velocidade de sedimentação (vL) associada ao ponto P de
coordenadas (tL, zL), genérico, pode ser obtida calculando-se a derivada
dz/dt no referido ponto, graficamente. Para tal, traça-se a reta tangente à
curva no ponto e constrói-se um triângulo retângulo, conforme indicado.
FIGURA 4.40
Determinação da velocidade de sedimentação no teste de proveta.
Assim, vem:
dz
vL = = tg α = −tg β (4.167)
dt t =t L
Observe-se que a tg a é negativa, enquanto a tg b é positiva. Consideran-
do que apenas o módulo de v interessa, e usando o triângulo retângulo
de cateto ziL – zL, vem:
4.3 Sedimentação 311
z iL − z L
vL = (4.168)
tL
πD2 πD2
C0 z 0 = CL z iL (4.170)
4 4
ou seja,
C z
CL = 0 0 (4.171)
z iL
FIGURA 4.41
Envoltórias para balanços materiais no sedimentador contínuo.
Q A C A = QP C P + QR C R (4.172)
C P = 0 (4.173)
4.3 Sedimentação 313
QA CA
QR = (4.174)
CR
Q A (ρ A − C A ) = QP ρP + QR (ρR − C R ) (4.175)
C
Q A (ρ A − C A ) = QP ρP + Q A A (ρR − C R ) (4.176)
CR
ρ ρ 1
QP = Q A C A A − R (4.177)
C A C R ρP
1 1 <ρ>
QP = Q A C A − (4.178)
C A C R ρP
O tipo de média a ser usado aparece naturalmente ao se impor a igual-
dade do novo termo (da Equação 4.178) e do termo original (da Equa-
ção 4.177):
1 1 ρ ρ
− <ρ>= A − R (4.179)
A
C CR C A CR
ρ A C R − ρR C A
<ρ>= (4.180)
CR − C A
314 CAPÍTULO 4 : Sistemas Particulados Concentrados
QP Q A C A 1 1 <ρ>
= − (4.181)
S S C A C R ρP
Como adotou-se anteriormente, a hipótese de CP = 0, isto é, de o pas-
sante ser isento de sólidos, resulta que QP/S é a velocidade superficial que
o líquido escoa para cima no sedimentador, representada, na notação
convencional, por qP. Assim, para que os sólidos não sejam arrastados
para a corrente P, essa velocidade deve ser menor ou igual à velocidade
de sedimentação dos sólidos (vL). Tal como em outros equipamentos
analisados anteriormente, interessa considerar o caso limite em que qP
= vL. Assim, a equação 4.181 pode ser reescrita como:
QA CA 1 1 <ρ>
vL = − (4.182)
S C A C R ρP
Conforme proposto originalmente por Talmadge e Fitch (1955), pa-
ra efeitos de projeto do sedimentador e sem perda de generalidade,
admite-se que, na parte cilíndrica do sedimentador, exista uma camada
de suspensão que opere na capacidade limite de arraste de sólidos. Se
a envoltória II (veja Figura 4.42) secciona horizontalmente a referida
camada, então S (que está subtendida na envoltória II) é atravessada
pela totalidade dos sólidos que se movem em direção a R.
Combinando balanços materiais para sólidos e líquido na envoltória II,
exatamente como feito anteriormente para a envoltória I, obtém-se uma
equação análoga à Equação 4.182, conforme segue:
QL CL 1 1 <ρ′ >
vL = − (4.183)
S C L C R ρP
em que QL e CL são, respectivamente, a vazão volumétrica e a concen-
tração de sólidos da suspensão que entra na envoltória II, e <ρ’ >,
analogamente a <ρ>, é uma densidade média de lama definida como:
ρL C R − ρR C L
< ρ′ > = (4.184)
CR − CL
4.3 Sedimentação 315
QL CL vL
=
S 1 1 < ρ′ >
− (4.185)
C L C R ρP
Ressalte-se que, na prática, é muito comum ocorrer <ρ’ > <ρ>. Se for
esse o caso, o “trabalho braçal” (cálculos de densidades de suspensões
a partir das densidades do sólido e do líquido e das concentrações de
sólido) reduz-se a dois destes cálculos (ρA e ρR).
A Equação 4.185, juntamente com a relação vL = f(CL), obtida por meio de
teste de proveta, permite calcular o menor valor de S que o s edimentador
deve ter para operar sem arraste de sólidos para a corrente P. Pelo fato de
S estar no denominador da fração à esquerda da igualdade, o valor de S
corresponde a ponto de mínimo do gráfico de QL CL/S versus vL.
Desse modo, para vários pontos (t L, z L) sobre a curva z versus t do
teste de proveta, traçam-se as tangentes à curva (como indicado na
Figura 4.40) e determinam-se pares de valores de vL (Equação 4.168)
e CL (Equação 4.171), os quais são usados no lado direito da Equa-
ção 4.185, gerando, então, os valores de QL CL/S. Essas informações
podem ser adequadamente organizadas, conforme mostrado na
Tabela 4.2.
FIGURA 4.42
Determinação da área mínima do sedimentador.
Q A C A = QL C L (4.187)
Eliminando-se QL CL entre as Equações 4.186 e 4.187, vem, finalmente:
QA CA
S= (4.188)
a
É evidente que áreas transversais maiores que S, obtida com a Equa-
ção 4.188, também podem ser usadas, com riscos ainda menores de
arraste de sólidos para a corrente passante (P).
4.3 Sedimentação 317
QA z
= 0 (4.189)
S proj t min
318 CAPÍTULO 4 : Sistemas Particulados Concentrados
FIGURA 4.43
Trechos linear e exponencial da curva z versus t do teste de proveta.
C z
z min = A 0 (4.190)
CR
Assim, o valor de tmin requerido para o cálculo de S com a Equação
4.189, pode ser obtido facilmente, a partir da curva z versus t do teste de
proveta, conforme mostrado na Figura 4.44:
Em geral, uma interpolação linear de zmin na tabela de dados experi-
mentais de z versus t do teste de proveta é suficientemente precisa para
o cálculo de tmin.
FIGURA 4.44
Determinação de tmin a partir de zmin.
4.3 Sedimentação 319
1
vL ∝ (4.191)
µ
Basicamente, tem-se dois tipos de problemas práticos a considerar,
quando estão envolvidos testes de proveta e sedimentadores industriais
operando em temperaturas diferentes, conforme segue:
1. Deseja-se calcular S para dado valor de QA (projeto de
sedimentadores)
320 CAPÍTULO 4 : Sistemas Particulados Concentrados
S ∝ µ (4.193)
Assim, com base na Equação 4.193, pode-se escrever para T1 e T2,
que:
S T1 µ T1
= (4.194)
S µ T2
T2
2. Deseja-se calcular QA, para dado valor de S (avaliação de
sedimentadores)
Considerando-se que para CP = 0 (hipótese de trabalho) tem-se QL CL
= QA CA, a mesma Equação 4.183 mostra outro fato bem conhecido da
Mecânica dos Fluidos:
v L ∝ Q A (4.195)
Das Equações 4.191 e 4.195, conclui-se que:
1
∝ QA (4.196)
µ
Assim, com base na Equação 4.196, pode-se escrever para T 1 e T 2,
que:
QAT µ T2
1
= (4.197)
QA µ T1
T2
■ Fatores de correção da área transversal
Na prática industrial, sedimentadores operam sob efeitos de pequenas
mudanças nos valores de certas variáveis difíceis de serem controladas
(ou cujo controle automático encareceria o processo), mas que afetam a
separação sólido-líquido, o que leva à introdução de fatores de correção
empíricos, conforme segue (Perry, 1984):
4.3 Sedimentação 321
S = S calc × f1 × f 2 (4.198)
proj
em que:
f1 leva em conta possíveis variações de temperatura, concentração
de sólidos, distribuição de tamanhos e pH da corrente de
alimentação.
f2 leva em conta a turbulência causada pela corrente de
alimentação, e que está associada à indesejável ressuspensão
de sólidos.
Os valores de f1 e f2 foram estabelecidos experimentalmente:
1,10 ≤ f1 ≤ 1,25
f2 = 1,1 se D > 100 ft
f2 = 1,5 se D < 15 ft
1,1 ≤ f2 ≤ 1,5 se 15 ≤ D ≤ 100 ft
Claramente, percebe-se que quanto maior for o diâmetro do sedimen-
tador (no caso suposto um cilindro de diâmetro D), isto é, quanto
maior for a vazão de suspensão que ele processa, menor será o fator de
correção utilizado.
V = VS + VL (4.199)
Considerando-se, tal como feito anteriormente, que a corrente passante
(P) é isenta de sólidos, isto é, CP = 0, vem:
QA CA
VS = t rs (4.200)
ρS
em que trs é o tempo de residência médio das partículas sólidas na zona
D, do sedimentador contínuo.
O método de Foust et al. (1960, 1980) baseia-se em duas hipóteses-
chave. A primeira é:
t rs = t R − t c (4.201)
em que tR é o tempo necessário no teste de proveta, para se chegar à
concentração uniforme desejada para o retido, isto é, quando CL = CR
e tc é o tempo crítico.
Observe-se que a Eq.4.201 é, de certa maneira, análoga à Equa-
ção 4.186, no sentido de que também quantifica valores de variáveis do
sedimentador contínuo (trs) a partir dos valores de variáveis obtidas do
teste de proveta (tR e tc).
O cálculo de tR baseia-se na Equação 4.171, que pode ser reescrita como:
C z
z iL = 0 0 (4.202)
CL
Particularizando-se a Equação 4.202 para o caso de interesse, isto é,
quando CL = CR, ziL = ziR e lembrando que C0 = CA, vem:
C z
z iR = A 0 (4.203)
CR
4.3 Sedimentação 323
FIGURA 4.45
Determinação de tR.
FIGURA 4.46
Determinação de tc.
324 CAPÍTULO 4 : Sistemas Particulados Concentrados
Wl ρ CL
= 1 − (4.206)
Ws C L ρS
em que CL é a concentração de sólidos de suspensões homogêneas hi-
potéticas, com a interface clarificado-sedimento de altura ziL, associadas
a instantes do teste de proveta entre tc e tR e em que a totalidade dos
sólidos encontra-se na zona D.
Eliminando-se Wl/Ws entre as Equações 4.205 e 4.206, vem:
tR 1
t rl = ρ ∫
(t − t )
dt − R c (4.207)
tc CL ρS
A integral definida, presente na Equação 4.207, pode ser calculada
estabelecendo-se a dependência de CL com t entre tc e tR, a partir dos
dados de z versus t do teste de proveta, conforme mostrado na Tabela 4.3.
4.3 Sedimentação 325
De posse dos pares ordenados (tL, 1/CL), e com o auxílio de uma calcu-
ladora científica portátil, pode-se facilmente ajustar uma função a esses
pares e, a seguir, integrá-la numericamente entre os limites tc e tR. Na
falta de tal recurso, plota-se ponto a ponto um diagrama cartesiano de
1/CL versus t entre tc e tR, conforme mostrado na Figura 4.47.
FIGURA 4.47
Cálculo do valor médio.
1
t rl = ρ ( t R − t c ) λ − (4.208)
ρS
326 CAPÍTULO 4 : Sistemas Particulados Concentrados
V = Q A C A ( t R − t c ) λ (4.209)
QA CA (tR − tc ) λ
ZD = (4.210)
S
Segundo Brown & Associates (1950), o valor de ZD deve ser acrescido
de:
■ 1 a 2 ft, para levar em conta o fundo em forma de tronco de
cone.
■ 1 a 2 ft, para levar em conta a capacidade de estocagem de
clarificado.
■ 1 a 3 ft, para levar em conta a submergência do duto de
alimentação.
Ou seja, as recomendações anteriores aumentam a altura calculada de
3 a 7 ft.
■ Método de Dorr e Lasseter (citado por Perry, 1950, Anderson e
Sparkman, 1959, e Orr Jr., 1966)
Esse método reconhece que a concentração de sólidos na zona D do
sedimentador contínuo aumenta em direção ao fundo do equipamento
e define a razão média (em volume) de líquido e sólido na zona D,
conforme segue:
VL
≡X (4.211)
VS médio
ou seja:
VL = X VS (4.212)
QA CA
VL = (tR − tc ) X (4.213)
ρS
VL = V − VS (4.214)
QA CA
V= ( t R − t c ) X + VS (4.215)
ρS
QA CA Q C
V= (tR − tc ) X + A A (tR − tc ) (4.216)
ρS ρS
isto é:
QA CA
V= ( t R − t c ) (1 + X ) (4.217)
ρS
V V
= 1+ L (4.218)
VS VS
V
= 1+ X
V
(4.219)
S
V V
ρ = S ρS + L ρ (4.220)
V V
Rearranjando-se a Equação 4.220, vem:
ρ ρ
V = VS S + VL (4.221)
ρ ρ
Eliminando-se V entre as Equações 4.219 e 4.221, vem:
ρS ρ
VS + VL
ρ ρ
= 1+ X (4.222)
VS
Em vista da definição de X (Equação 4.212), pode-se reescrever a Equa-
ção 4.222 como:
ρS ρ
+ X = 1+ X (4.223)
ρ ρ
ρ −ρ
1+ X = S (4.224)
ρ−ρ
Na prática, a densidade média da lama ( ρ) é de difícil cálculo. Com
base em considerações sobre a dinâmica da interação entre partículas
e líquido na zona D do sedimentador contínuo, Dorr e Lasseter (ci-
tados por Perry, 1950, Anderson e Sparkman, 1959, e Orr Jr., 1966)
propuseram:
4 ρ −ρ
1+ X ≅ S (4.225)
3 ρR − ρ
4.3 Sedimentação 329
4 QA CA ρ −ρ
V= (tR − tc ) S (4.226)
3 ρS ρR − ρ
Desse modo, a altura da zona D do sedimentador industrial (ZD) é dada
pela razão entre V e S, isto é:
4 QA CA ρ −ρ
ZD = (tR − tc ) S (4.227)
3 S ρS ρR − ρ
Face às incertezas inerentes à metodologia delineada antes, Anderson
and Sparkman (1959) sugerem que a altura do sedimentador deve ser,
no mínimo, o dobro do valor calculado para ZD.
Importante: se a temperatura em que foi realizado o teste de proveta não
for igual à de operação da unidade industrial, no cálculo de ZD com a
Equação 4.227 (projeto de sedimentadores), deve-se usar o valor de S
corrigido pela Equação 4.194, já que tR e tc presentes na referida equação,
são oriundos do teste de proveta. No cálculo de QA para um dado ZD (ava-
liação de sedimentadores), usa-se na Equação 4.227 o valor de S corrigi-
do pela Equação 4.194. Alternativamente pode-se usar o valor não corrigido
de S, e posteriormente corrige-se o valor obtido de QA pela Equação 4.197.
Como conclusão deste item, ressalte-se que o projeto do sedimentador
contínuo baseia-se, fundamentalmente, no teste de proveta que, sendo
do tipo batelada, implica a ocorrência de erros, vindo daí a necessidade
de “fatores de correção” empíricos, tanto na especificação da área trans-
versal quanto na da altura do sedimentador. Entretanto, é de se notar
que as incertezas em relação ao cálculo da altura são bem maiores que
as da área transversal, o que se deve ao fato de a altura depender das
estimativas de tc e tR, ambas oriundas do, já precário, teste de proveta e,
além disso, obtidas por meio de construções gráficas.
330 CAPÍTULO 4 : Sistemas Particulados Concentrados
4.4 FLUIDIZAÇÃO
Quando um fluido (líquido ou gás) escoa de baixo para cima através de
um leito de partículas não consolidadas e não confinadas, existe uma
faixa estreita de velocidade desse fluido, abaixo da qual o leito é fixo e
acima da qual é fluidizado, isto é, tem um comportamento semelhante
ao de um fluido. No leito fixo, as partículas ocupam sempre as mesmas
posições em relação ao vaso que contém o leito, e no leito fluidizado, as
partículas se movem através dele. De fato, existe um limite superior de
velocidade do fluido, acima do qual partículas serão arrastadas do leito.
Assim, quando se deseja promover o contato entre partículas sólidas e
um fluido, uma das alternativas é fluidizar as partículas com o fluido.
Mais do que a simples mobilidade das partículas, leitos fluidizados exi-
bem diversos outros fenômenos característicos de fluidos. Por exemplo:
FIGURA 4.48
Reator de craqueamento catalítico em leito fluidizado (Internet: genpro.com.br).
FIGURA 4.49
Leitos fluidizados: gás versus líquido.
FIGURA 4.50
Leito fluidizado para demonstrações em laboratório.
4.4 Fluidização 337
FIGURA 4.51
Curva característica de leitos fluidizados.
338 CAPÍTULO 4 : Sistemas Particulados Concentrados
FIGURA 4.52
Determinação gráfica da velocidade superficial mínima de fluidização.
340 CAPÍTULO 4 : Sistemas Particulados Concentrados
FIGURA 4.53
Leito fluidizado a gás (G) ou líquido (L).
∂ q q
ρ ε + grad = − grad p − m + ρ g (4.230)
ε
∂t ε
Note-se que, pelas mesmas razões apresentadas no item 4.1.1, o ter-
mo div τ não está presente na Equação 4.230, o que corresponde a
342 CAPÍTULO 4 : Sistemas Particulados Concentrados
dp
m = − dz e z + ρ g (4.232)
m = − (1 − ε) (ρs − ρ) g (4.233)
dp
m = − dz − ρ g (4.234)
m = (1 − ε ) ( ρs − ρ) g (4.235)
Eliminando-se m entre as Equações 4.234 e 4.235, e usando-se o con-
ceito de pressão piezométrica (P), vem:
dP
− = (1 − ε) (ρs − ρ) g (4.236)
dz
em que,
− ∫ dP = (1 − ε) (ρS − ρ) g ∫ 0 dz
PL L
(4.238)
P0
ou seja,
P0 − PL = (1 − ε) (ρS − ρ) g L (4.239)
p − pL = (1 − ε ) ( ρs − ρ) g L + ρ g L (4.242)
0
344 CAPÍTULO 4 : Sistemas Particulados Concentrados
m = (1 − εmf ) ( ρs − ρ) g (4.249)
mf
O modelo de Forchheimer para a força resistiva, Equação 4.12, na
condição de mínima fluidização, pode ser reescrito, escalarmente, como:
µ C mf k mf ρ q mf
mmf = 1+ q mf (4.250)
k mf µ
Eliminando-se mmf entre as Equações 4.249 e 4.250, obtém-se uma
equação de segundo grau em qmf, conforme segue:
2
a q mf + b q mf + c = 0 (4.251)
em que
C mf ρ
a= (4.252)
k mf
µ
b= (4.253)
k mf
c = (1 − εmf ) ( ρs − ρ) g (4.254)
A Equação 4.251 pode ser resolvida com a famosa fórmula de Baskara,
sendo que apenas a raiz positiva tem significado físico.
Se, na condição de mínima fluidização, o leito puder ser considerado
um leito fixo, hipótese com amplo respaldo experimental, kmf e Cmf
podem ser obtidos com os bem estabelecidos modelos de Kozeny-
Carman e de Costa-Massarani (1982), respectivamente (veja item
4.1.5), conforme segue.
346 CAPÍTULO 4 : Sistemas Particulados Concentrados
(φ D )
2
p ε3mf
k mf = (4.255)
36 β (1 − εmf ) 2
0,98
k0
0,37
k0
0,01
C mf = ε -3 2
0,13 + 0,10 (4.256)
k mf k
mf
mf
em que k0 = 10–6 cm2.
Percebe-se, assim, que os coeficientes a, b e c, da Equação 4.251 (equa-
ção de segundo grau), dependem fundamentalmente do conhecimento
do valor de εmf, o qual pode ser estimado a partir do trabalho de Wen e
Yu (1966) que, com base em dados maciços de fluidização, mostraram
que:
1
3 ≅ 14 (4.257)
φ εmf
e
1 - εmf
2 3 ≅ 11 (4.258)
φ εmf
A previsão de εmf com as correlações anteriores requer o conhecimento
prévio da esfericidade (φ) das partículas que constituem o leito. Na
prática, raramente tal informação está disponível.
No caso específico de fluidização com gases (subentendido, em vasos
com seção transversal uniforme como o da Figura 4.53), a velocidade
mínima de fluidização pode ser prevista com a famosa equação de
Ergun (1952), para o gradiente de pressão por atrito (isto é, excluindo
contribuições do peso de colunas fluidas) no escoamento de fluidos
em meios porosos rígidos, em regime permanente. Supondo-se que a
referida equação seja válida para o leito sob mínima fluidização, vem:
∆p
= 150
(1 − εmf ) 2
µ q mf
+ 1,75
2
1 − εmf ρ q mf
(4.259)
ε 3mf (φ d )
2
L mf ε3mf φ d p
p
4.4 Fluidização 347
em que
1,75
K1 = 3 (4.262)
εmf φ
150 (1 − εmf )
K2 = (4.263)
ε3mf φ2
d p q mf ρ
Re p,mf = (Número de Reynolds) (4.264)
µ
d3p ρ ( ρs − ρ) g
Ar = (Número de Archimedes) (4.265)
µ2
A Equação 4.264 define o número de Reynolds de partícula para o leito
na condição de mínima fluidização, enquanto a Equação 4.265 define
o número de Archimedes, o qual guarda relação simples com o grupo
adimensional CD Rep2 introduzido no Capítulo 2:
4
C D Re p2 = Ar (4.266)
3
A solução da Equação 4.261 pela clássica fórmula de Baskara tem uma
única raiz positiva com significado físico:
1/2
K 2 1 K2
Re p,mf = 2 + Ar − (4.267)
2 K1 K1
2 K1
348 CAPÍTULO 4 : Sistemas Particulados Concentrados
1
≡ C2 (4.269)
K 1
− 1, 2 − 0, 6 − 1 1,2
K C 2
C D, maxf Re 2p, maxf
1 D, maxf Re p, maxf
Re p, maxf
= +
24 K2
(4.275)
350 CAPÍTULO 4 : Sistemas Particulados Concentrados
em que
d p q maxf ρ
Re p, maxf = (4.276)
µ
(
m = 1 − εf h
fh
) (ρ s − ρ) g (4.279)
µ Cf h kf h ρ qf h
mf h = 1 + qf h (4.280)
kf h µ
Eliminando-se mf h entre as Equações 4.279 e 4.280, vem:
µ C f h kf h ρ qf h
q f h = (1 − εf h ) (ρs − ρ) g
1+ (4.281)
k f h µ
4.4 Fluidização 351
em que kfh e Cfh podem ser estimados com base em modelos, tais como
os de, respectivamente, Kozeny – Carman e Costa – Massarani:
(φ D ) ε
2 3
p fh
kf h =
36 β (1 − ε ) 2 (4.282)
fh
0,98
k0
0,37
k0
0,01
Cf h -3 2
= ε f h 0,13 + 0,10
k f h k
fh (4.283)
em que k0 = 10–6 cm2.
Observe-se que o valor de εfh pode ser calculado a partir da área trans-
versal do vaso que contém o leito fluidizado, da altura do leito, da
massa e da densidade dos sólidos. Entretanto, sabe-se que a constante
b do modelo de Kozeny-Carman, Equação 4.282, depende, entre outras
variáveis, da própria porosidade do leito (εfh), o que torna imprecisas
previsões baseadas na Equação 4.281.
Muitas fórmulas empíricas são conhecidas. Por exemplo, para leitos
fluidizados homogêneos e constituídos por esferas idênticas (diâmetro
D), tem-se (Angelino, 1976):
− 0,21
ε = 1,58 Re 0,33
pf h Ga M −v 0,22 (ε f h < 0,85) (4.284)
fh
− 0,11
ε = 1,20 Re 0,17
pf h Ga M−v 0,12 (ε f h > 0,85) (4.285)
fh
em que
D qf h ρ
Re pf h = (Número de Reynolds) (4.286)
µ
D3 ρ2 g
Ga = (Número de Galileu) (4.287)
µ
ρs − ρ
Mv = (Número de massa volumétrica) (4.288)
ρ
Sabe-se que o erro associado às Eqs 4.284 e 4.285 é da ordem de 8%.
352 CAPÍTULO 4 : Sistemas Particulados Concentrados
∆p = 1,15 (1 − ε ) ( ρs − ρ) g L + ρ g L (4.293)
total
No caso particular de fluidização com gases, as Equações 4.292 e 4.293
podem ser simplificadas para, respectivamente:
peso do sólido
∆p total ≅ 1,15
área transversal
(4.294)
e
∆p total × Q
Pot = (sopradores e bombas) (4.296)
Rend
em que Rend representa o rendimento eletromecânico do soprador ou
da bomba, que, na prática, tem valores entre 0,65 e 0,85. O rendimento
está associado, principalmente, a perdas de energia (ou irreversibili-
dades termodinâmicas) por atrito em mancais e gaxetas, bem como à
354 CAPÍTULO 4 : Sistemas Particulados Concentrados
FIGURA 4.54
Leito fluidizado a gás e compressor alternativo.
γ
γ p γ −1
p2 Q2 1 −
1
γ -1 p2
Pot = (compresssores) (4.297)
Rend
cp
γ= (4.298)
cv
c − cv = R (4.299)
p
em que R é a constante universal dos gases.
356 CAPÍTULO 4 : Sistemas Particulados Concentrados
Referências
ANDERSON, A. A.; SPARKMAN, J. E. “Review Sedimentation Theory”. Chemical Enginee-
ring, v. 66, p. 75, 1959.
ANGELINO, H. “Fluidisation”, PDD (Pubicações Didáticas Diversas) 7/76, COPPE/
UFRJ.(1976).
BADGER, W. L.; BANCHERO, J. T. Introduction to Chemical Engineering. New York: Mc
Graw-Hill, 1965.
BLAKE, F. C. “The Resistance of Packing to Fluid Flow”. Transactions of the American Ins-
titute of Chemical Engineers, v. 14, p. 415, 1922.
BOYCE, W. E.; DiPRIMA, R. C. Elementary Differential Equations and Boundary Value Pro-
blems. 5. ed. New Jersey: John Wiley & Sons, 1992.
CARMAN, P. C. Fluid Flow Through Granular Beds. Transactions of the Institution of
Chemical Engineers, (London), v. 15, p. 150, 1937.
COE, H. S.; CLEVENGER, G. H. “Methods of Determining the Capacities of Slime – Set-
tling Tanks”. Transactions of the American Institute of Mining Engineers, v. 55, p. 356, 1916.
COSTA, L. P.; MASSARANI, G. “Análise da Força Resistiva no Escoamento de Fluidos em
Meios Porosos III”. Anais do X ENEMP, São Carlos/SP, v. I, p. 86, 1982.
COULSON, J. M.; RICHARDSON, J. F. Chemical Engineering, Volume Two – Unit Operations.
3. ed. Oxford: Pergamon Press, 1978.
DARCY, H. P. G. Les Fontaines Publiques de La Ville de Dijon. Paris: Victor Dalmont, 1856,
p. 590.
ERGUN, S. “Fluid Flow Through Packed Columns”. Chemical Engineering Progress, v. 48,
2, p. 89, 1952.
FORCHHEIMER, P. “Wasserbewegung durch Boden”. Zeitschrift des Vereines Deutscher
Ingenieuer, v. 45, p. 1782, 1901.
FOUST, A. S. et al. Principles of Unit Operations. New Jersey: John Wiley & Sons, 1960.
_________Principles of Unit Operations. 2. ed. New Jersey: John Wiley & Sons, 1980.
FOX, R. W.; McDONALD, A. T.; PRITCHARD, P. J. Introduction to Fluid Mechanics. 6. ed.
New Jersey: John Wiley & Sons, 2003.
GELDART, D. “Types of Gas Fluidization”. Powder Technology, v. 7, p. 285, 1973.
GRACE, J. R. Chapter 8, Fluidization, in Handbook of Multiphase Systems, HETSRONI G.
(Editor-in-Chief). London: Hemisphere, 1982.
HANSEN DE ALMEIDA, N. “Escoamento Não Linear em Meios Porosos”. Tese de Mes-
trado, Programa de Engenharia Química, COPPE/UFRJ, 1970.
IVES, K. J. “Rapid Filtration”. Water Research, v. 4, p. 201, 1970.
KOZENY, J. “Ueber Kapillare Leitung des Wassers im Boden”, Sitzungsber Akad. Wiss.,
Wien, Abt. II A, v. 136, p. 271, 1927.
KRAUS, M. N. “Drawing a Tangent to a Curve”. Chemical Engineering, v. 86, march 12.
KUNII, D.; LEVENSPIEL, O. Fluidization Engineering. 2. ed. United Kingdom:
Butterworth-Heinemann, 1991.
4.4 Fluidização 357
PROBLEMAS PROPOSTOS
Observação
Os apêndices A e B contêm informações importantes sobre a elaboração de
trabalhos escolares (listas de exercícios, testes e provas).
Nota de esclarecimento
Uma etapa crucial na solução de um problema típico de operações unitárias, é
identificar as propriedades materiais a serem utilizadas, e determinar, ou pelo
menos estimar, seus valores. Na prática, isto é feito consultando-se manuais,
tais como o Perry (1984). Assim, com o objetivo de familiarizar o aluno com
essa importante base de dados, na maioria dos problemas que se seguem,
deixou-se a cargo do aluno a obtenção dessas propriedades materiais.
4.1 Uma tubulação (Dt = 3 ft, Lt = 10 ft) é recheada com partículas de
resina troca-ions para ser usada na desmineralização da água que
alimenta uma caldeira que usa gás natural como combustível. A água
é praeaquecida a 60 °C pelos gases de combustão e escoa com vazão
de 25 US gal/min por ft3 de recheio. As partículas da resina são cilín-
dricas (Dr = 2 mm, Hr = 3 mm) e formam um leito fixo de porosidade
0,50. O leito é fixado entre telas metálicas por meio de flanges. As
perdas de carga das telas podem ser desprezadas em comparação a
do leito. Supondo que o rendimento eletromecânico da bomba seja de
75%, pede-se:
a) Calcule a potência de bombeamento requerida nos seguintes
casos:
■ tubulação horizontal;
■ tubulação vertical e escoamento de baixo para cima;
■ tubulação vertical e escoamento de cima para baixo.
FIGURA C4.1
Pede-se:
a) Compare as perdas de carga de linha e da coluna recheada.
b) Calcule a vazão de água a 25 °C que uma bomba centrífuga de 5 HP
fornece a uma coluna de deionização, a seguir esquematizada
(Figura C4.1).
360 CAPÍTULO 4 : Sistemas Particulados Concentrados
Mesh (Tyler) – 14 + 20 – 20 + 28 – 28 + 35
% ponderal 20 60 20
FIGURA C4.2
Pede-se:
a) Determine a capacidade desse filtro de areia em metro cúbico de água
por hora, por metro quadrado de área transversal.
b) Se as camadas de areia e brita permutassem suas posições (mantidas
as espessuras originais), qual seria o efeito sobre a capacidade do
filtro? Justifique sua resposta.
4.5 Na montagem a seguir esquematizada (Figura C4.3), o reservatório
da esquerda é alimentado com excesso de líquido, de modo que seu
nível é constante. Considerando-se que as propriedades do líquido são
densidade 1,0 g/cm3 e viscosidade 3,6 cP, que o meio poroso é rígido
e sua porosidade é 0,39, e que as partículas usadas na confecção do
4.4 Fluidização 361
FIGURA C4.3
Cont.
t (min) 0 2 6 12 20 30 45 70 100
z (cm) 40,0 31,5 25,0 20,5 16,0 13,0 11,2 10,4 10,2
Pede-se:
a) Determine a capacidade máxima (m3/h) desse clarificador ao tratar
as águas residuais de uma planta de decapagem ácida de chapas
metálicas. (Lembre-se de que a área da seção tranversal e a altura
da zona de compactação do sedimentador disponível definem ca-
pacidades distintas.)
4.4 Fluidização 365
FIGURA C4.4
Justificativa
A elaboração de trabalhos (listas de exercícios, provas etc.) segundo as
normas que se seguem é vantajosa para o aluno por diversas razões:
Evita que o aluno se perca no emaranhado de informações qualitativas
e quantitativas que precisam ser consideradas, tais como, dados do
enunciado, hipóteses simplificadoras, parâmetros de modelos, valores
de propriedades físicas e resultados de cálculos intermediários.
Educa, de um modo geral, o raciocínio do aluno no sentido da exposição
objetiva e clara de ideias e argumentos.
No caso de ser um trabalho arquivado em casa, possibilita ao aluno
entendimento rápido e completo, a qualquer tempo, de todas as pas-
sagens da sua resolução.
No caso de um trabalho que vá ser corrigido por um professor, a obe-
diência às normas, além de facilitar sobremodo a correção, confere a ele
uma estrutura que, ainda que as respostas finais estejam erradas, pesa
positivamente em sua avaliação.
Normas:
1) Devem ser empregadas preferencialmente folhas de papel branco
sem pauta, sendo que somente uma das faces de cada folha deverá
ser utilizada pelo aluno.
2) As folhas deverão estar unidas por grampo, clipe ou qualquer
outro sistema equivalente.
3) Se a apresentação for manuscrita, a grafia deverá ser a melhor
possível. É preferível usar lápis/lapiseira, de modo que eventuais
erros possam ser corrigidos sem perda de tempo ou prejuízo da
qualidade da apresentação.
369
370 Apêndice A
Nota:
No sistema anglo-americano, os números anteriores seriam escritos da
seguinte maneira: 0.082; 3.14; 147.31; 1,678; 10,970.001; 1,522,431;
20,875,142.93 etc.
14) Indique a operação de multiplicação colocando os fatores entre
parênteses.
Por exemplo: L = (42) (59) = 2.478 ft
15) Indique a operação de divisão colocando os fatores acima e
abaixo de um traço de fração horizontal.
(5,68)(25,0)(0,964)
Por exemplo: Re P = = 50,1
(2,734)
16) Indique a operação de radiciação como potência de fatores entre
colchetes.
Por exemplo: v 2 = [(2)(9,91)(30)]1/2 ≅ 24,26m / s
17) Indique a operação com logaritmos de base 10 (dez) por log e a
de base Neperiana, ou Natural, por ln.
18) Ao realizar qualquer operação com números (soma, subtração,
multiplicação, divisão, potenciação etc.), ter em conta as regras da
Teoria de Erros (veja referências no final) para o estabelecimento
do número de algarismos significativos que devem figurar no
resultado da operação.
19) Qualquer dado retirado de manuais, livros-texto etc. para a
resolução de um problema deve vir acompanhado de citação
formal da fonte que o originou.
20) A construção de gráficos deve ser feita em papel apropriado
(milimetrado, semi-log, log-log etc.), e com o uso réguas
adequadas (de lados paralelos, francesas ou flexíveis); nunca à
mão livre.
simbolizada por gc, cujo valor é 32,174 (lbm ft)/(lbf s). Usa-se
muito o valor aproximado 32,2.
9. Analise os resultados intermediários e final que você obteve.
Eles são coerentes? Suas ordens de grandeza são razoáveis? Os
sinais algébricos (+/–) são consistentes? Se você concluir que um
resultado é absurdo, comente. No caso específico de uma prova
que posteriormente será corrigida por um professor, mesmo que
a sua resposta esteja errada, pesa positivamente na avaliação dele
o fato de você ter reconhecido que o resultado é absurdo.
10. Certas equações empíricas, isto é, baseadas em dados experimentais,
são válidas somente para um certo conjunto de unidades, que,
às vezes, não é coerente, isto é, não pertence a nenhum sistema
de unidades tradicional. De tão alertado para o uso de unidades
coerentes, é comum o aluno usá-las também nessas equações.
Nesse caso, evidentemente, unidades coerentes levam a resultados
totalmente errados. Correlações de grupos adimensionais não
sofrem desse problema. Seja lá qual for o caso, há que se atentar
também para a faixa de validade das variáveis correlacionadas.
Para concluir, lembre-se que no dia a dia da vida profissional de um
engenheiro responsável por uma unidade industrial, os problemas nunca
têm enunciado formal, típico de livros. Um exemplo bem simples ilustra
a diferença entre o enunciado formal e o do dia a dia. O operário/peão,
que é a pessoa em contato direto e permanente com a unidade de proces-
so de uma indústria, aproxima-se do engenheiro responsável e diz, meio
assustado: “Doutor, olha a chaminé do forno n° 4; eu já trabalho aqui faz
dois anos e a fumaça que ela ‘bota pra fora’ é sempre branquinha; hoje
está cinza-escuro, quase preta; e ainda por cima de vez em quando não
sai fumaça nenhuma, mas depois volta a sair. Eu nunca vi isso doutor!
Alguma coisa está errada!”. São problemas com “enunciado” desse tipo
que você vai ter de resolver.
Apêndice C
Uso de prefixos em unidades de medida
379
380
Apêndice D
Sistema de ANGLO-AMERICANO MÉTRICO
Unidades Absoluto Gravitacional Absoluto Gravitacional
LMTu LFTu LMFTu LMTu LFTu LMFTu
FPmS(1) FPf S(2) FPmPf S(3) MKS CGS MKf S CGf S MKKf S CGGf S
Grandeza
comprimento ft ft ft m cm m cm m cm
2 2 2
lbf s kgf s gf s
massa lbm slug ≡ lbm kg g UTM ≡ utm ≡ kg g
ft m cm
lbm ft kgm gcm
força pdl ≡ lbf lbf N≡ dina ≡ kgf gf kgf gf
s2 s2 s2
tempo s s s s s s s s s
temperatura oR oR oR K K K K K K
lbm ft slugft lbm ft kgm gcm UTMm utmcm kgm gcm
gc 1 1 32,2 1 2 1 1 1 9,81 981 2
pdls2 lbf s2 lbf s2 Ns dina s2 kgf s2 gf s2 kgf s 2
gf s
Nomenclatura: F, foot (pé) ; P, pound (libra); S, second (segundo); M, metre-UK ou meter-USA (metro); K, kilogram (quilograma); G, gram (grama); F, force
(força); M, mass (massa); L, length (comprimento); T, time (tempo); u, temperature (temperatura); m, massa; f, força. Observações: (a) Atenção em livros de
engenharia mecânica, pois neles, em geral, o símbolo lb subentende libra-força; (b) A temperatura (u) tem relevância quando ocorrem trocas de calor. Os sis-
temas anglo-americanos adotam oF (Farenheit) e, para temperaturas absolutas, oR (Rankine). Os métricos usam oC (Celsius) e, para temperaturas absolutas,
K (Kelvin); (c) A segunda Lei de Newton pode ser escrita como: F = m a / gc, em que gc é uma constante de proporcionalidade que depende do sistema
de unidades utilizado e garante a consistência dimensional de equações que usam sistemas de unidades do tipo LMFTu; (d) O sistema de unidades MKS
(também conhecido como Giorgi, em homenagem ao físico italiano Giovanni Giorgi) deu origem ao Sistema Internacional de Unidades (SI) instituído na XI
Conferénce Génerale des Poids et Mesures (CGPM), realizada em Sèvres, França, em 1960. (1)Inglês absoluto; (2)Britânico gravitacional/Técnico; (3)Americano
de engenharia/Técnico.
Apêndice E
Conversão de unidades
381
382
Dimensão: L (comprimento)
Apêndice E
unidade nm mm mm cm m km in ft
1 nm = 1 10–3 10–6 10–7 10–9 10–12 10–7/2,54 10–7/30,48
1 mm = 103 1 10–3 10–4 10–6 10–9 10–4/ 2,54 10–4/30,48
1 mm = 106 103 1 10–1 10–3 10–6 10–1/ 2,54 10 –1/30,48
1 cm = 107 104 10 1 10–2 10–5 1/2,54 1/30,48
1m= 109 106 103 102 1 10–3 102/2,54 102/30,48
1 km = 1012 109 106 105 103 1 105/ 2,54 105/30,48
1 in = 2,54 ×107 2,54 × 104 2,54 × 10 2,54* 2,54 × 10–2 2,54 × 10-5 1 1/12
1 ft = 30,48 × 107 30,48 × 104 30,48 × 10 30,48* 30,48 × 10–2 30,48 × 10-5 12 1
*Valores exatos
Outras unidades: 1 dm (decímetro) = 0,10 m; 1 Å (Angstrom) = 10–10 m; 1 fermi = 10–15 m; 1 milha terrestre (Int.) = 1609 m; 1 milha marítima (Int.) = 1852 m;
1 yard (jarda) = 0,9144 m; 1 AL (ano–luz) = 1016 m; 1 LP (comprimento de Planck) = 1,61624 × 10–35 m. Exemplo: 1 m = (102/2,54) in = 39,3701 in = (102/30,48)
ft = 3,2808 ft.
Dimensão: L2 (área)
L
unidade nm3 mm3 mm3 cm3 (ou dm3) m3 km3 in3 ft3
1 nm3 = 1 10–9 10–18 10–21 10–24 10–27 10–36 10–21/ (2,54)3 10–21/(30,48)3
1 mm3 = 109 1 10–9 10–12 10–15 10–18 10–27 10–12/(2,54)3 10–12/(30,48)3
1 mm3 = 1018 109 1 10–3 10–6 10–9 10–18 10–3/ (2,54)3 10–3/(0,3048)3
1 cm3 = 1021 1012 103 1 10–3 10–6 10–15 1/(2,54)3 1/(30,48)3
1 L = (ou dm3) 1024 1015 106 103 1 10–3 10–12 103/(2,54)3 103/(30,48)3
1 m3 = 1027 1018 109 106 103 1 10–9 106/(2,54)3 106/(30,48)3
1 km3 = 1036 1027 1018 1015 105 109 1 1015/(2,54)3 1015/(30,48)3
1 in3 = (2,54)3 (2,54)3 (2,54)3 (2,54)3 (2,54)3 (2,54)3 (2,54)3 1 1/(12)3
× 1021 × 1012 × 103 × 10–3 × 10–6 × 10–15
1 ft3 = (30,48)3 (30,48)3 (30,48)3 (30,48)3 (30,48)3 (30,48)3 (30,48)3 (12)3 1
× 1021 × 1012 × 103 × 10–3 × 10–6 × 10–15
Outras unidades: 1 US gal (galão americano) = 231 in3 = 3,785 L; 1 UK gal (galão britânico/imperial) = 1,20 U. S. gal = 277,42 in3; 1 bl (barril petróleo) = 42 U.
S. gal; 1 U. S. gal = 4 qt (quarto americano) = 8 pt (pint americano) = 128 oz (onça americana). Nota: Detalhes sobre a história da unidade de volume litro (L)
são dados no texto principal (item 1.3).
Dimensão: M (massa)
Apêndice E
1 ton = 1015 1012 109 106 103 1 2,2046 × 103 68,52178**
1 lbm = 4,536 × 1011 4,536 × 108 4,536 × 105 453,6 0,4536* 4,536 × 10–4 1 3,1080956 × 10–2
1 slug = 1,45939 × 1013 1,45939 × 1010 1,45939 × 107 14593,9 14,5939 0,0145939 32,174** 1
*O valor exato é: 0,45359237;
**valores aproximados.
Outras unidades: 1 u (unidade unificada de massa atômica) = 1/12 da massa de um átomo do isótopo 12 do carbono = 1,660 × 10–24 g; 1 UTM (Unidade
383
Técnica de Massa) = 9,806650 kg; 1 utm (unidade técnica de massa) = 980,6650 g; 1 onça (avoirdupois) = 228,35 g.
384
Dimensão: T (tempo)
Apêndice E
ano mês dia hora minuto segundo
1 ano = 1 12 365* 8760 5,256 × 105 3,15360 × 107
1 mês = 1/12 1 30 720 4,32 × 104 2,592 × 106
1 dia = 1/365* 1/30 1 24 1440 8,64 × 104
1 hora = 2,628 × 105 1/720 1/ 24 1 60 3600
1 minuto = 1/5,184 × 105 1/4,32 × 104 1/1440 1/60 1 60
1 segundo = 1/3,1104 × 107 1/2,592 × 106 1/8,64 × 104 1/3600 1/60 1
*Um valor mais aproximado: 1 ano = 365,24219879 dias, o que explica a existência de anos bissextos de 366 dias, a cada 4 anos.
Apêndice E
**a 0 °C e 1 atm;
***Um valor mais aproximado: 14,69595; Nota: dina/cm2 = bária (obsoleta).
Outras unidades: 1 bar = 106 dina/cm2; 1 mbar = 103 dina/cm 2 = 103 Pa; 1 torr = 1 mmHg;
385
386
Apêndice E
Dimensão: M L2/T2 (energia)
Dimensão: u (temperatura)
Apêndice E
1 °R (Rankine) = 5/9 5/9 4/9 1 1
387
388 Apêndice E
Referências
BRITISH GAS DATA BOOK, v. 1, Properties of Natural Gas: Treatment, Transmission, Dis-
tribution and Storage, D.R. Roe (editor), British Gas Corporation (1974).
HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de Física. 4. ed. LTC Editora,
v.1 – Mecânica., 1996.
PERRY, R. H. (Late Editor); GREEN, D. W. (Editor). Perry’s Chemical Engineers’ Handbook.
6. ed. New York: McGraw-Hill, 1984.
RAŽNJEVIC, K. Handbook of Thermodynamic Tables and Charts. New York: McGraw-Hill,
1976.
TUMA, J. J. Handbook of Physical Calculations. 2. ed. New York: McGraw-Hill, 1983.
Apêndice F
Peneiras Padronizadas, United States
Standard Sieve Series (USSS) e Tyler™
Referência
PERRY, R. H. (Late Editor); GREEN, D. W. (Editor). Perry’s Chemical Engineers’ Handbook,
6. ed. New York: McGraw-Hill, 1984.
Apêndice G
Função Gama
∞ x −1 − t
Γ (x) = ∫0 t e dt para 1 ≤ x ≤ 2
Referência
SPIEGEL, M. R.; LIU, J. Manual de Fórmulas e Tabelas Matemáticas. 2. ed. Coleção Schaum.
Bookman, 2004.
Apêndice H
Propriedades físicas da água na pressão
atmosférica padrão (nível do mar)
(Continua)
393
394 APÊNDICE H
Referência
FINNEMORE, E. J.; FRANZINI, J. B. Fluid Mechanics with Engineering Applications. 10. ed.
New York: McGraw-Hill, 2002.
Apêndice I
Propriedades físicas do ar na pressão
atmosférica padrão (nível do mar)
Referência
FINNEMORE, E. J.; FRANZINI, J. B. Fluid Mechanics with Engineering Applications. 10. ed.
New York: McGraw-Hill, 2002.
Apêndice J
Equação da energia mecânica/Bernoulli estendida
∆p ∆v 2
+ + ∆z = − HL − HS
ρg 2g
em que
L v2 L eq v 2
HL, tubos =f e HL, acidentes + f
D 2g D 2g
1 e / D 2,51
= −2log +
f 3,7 Re f
em que
A = −2,0log[(e/D)/(3,7) + 12/Re]
B = −2,0log[(e/D)/(3,7) + 2,51A/Re]
C = −2,0log[(e/D)/(3,7) + 2,51B/Re]
Referências
COLEBROOK, C. F. “Turbulent Flow in Pipes, with Particular Reference to the Transition
Region Between Smooth and Rough Pipe Laws”. Journal of the Institution of Civil
Engineers-London, v. 12, p. 393, 1939.
SERGHIDES, T. K. “Estimate Friction Factor Accurately”. Chemical Engineering, v. 91, 5,
p. 63, 1984.